"Pecadores sim, corruptos jamais!": o Angelus do Papa na Solenidade de Cristo Rei
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"Certamente todos somos pecadores", disse o Papa no Angelus dominical. "Mas,quando vivemos sob o senhorio de Jesus, não nos tornamos corruptos, falsos, inclinados a encobrir a verdade. Não se leva uma vida dupla."
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Após celebrar a missa na Basílica Vaticana por ocasião da Jornada Mundial da Juventude diocesana, o Papa Francisco se reuniu com fiéis e peregrinos na Praça São Pedro para o Angelus dominical.
Em sua alocução, acompanhado de dois jovens da diocese de Roma, o Pontífice comentou o Evangelho da Liturgia deste último Domingo do Tempo Comum, que culmina numa afirmação de Jesus: "Eu sou Rei".
Ele pronuncia estas palavras perante Pilatos, enquanto a multidão grita para o condenar à morte. Anteriormente, Jesus não queria que o povo o aclamasse como rei, mas o fato é que a realeza de Jesus é bastante diferente da mundana, como explicou o Papa:
“Ele não vem para dominar, mas para servir. Ele não vem com os sinais do poder, mas com o poder dos sinais. Não está vestido com insígnias preciosas, mas está despido na cruz.”
A sua realeza vai além dos parâmetros humanos, disse ainda Francisco. “Ele não é rei como os outros, mas que é rei para os outros.”
Aplausos ou serviço?
O Papa prosseguiu destacando que Cristo disse que é rei no momento em que a multidão está contra ele, mostra-se livre do desejo de fama e glória terrena.
“E nós - perguntemo-nos - sabemos como imitá-lo nisto? No que fazemos, em particular no nosso compromisso cristão, contam os aplausos ou o serviço?”
Jesus não só evita qualquer busca da grandeza terrena, como também torna livre e soberano o coração de quem o segue.
“O seu reino é libertador, não há nada de opressivo. Ele trata cada discípulo como um amigo, não como um súdito.”
Portanto, acrescentou o Papa, seguindo Jesus, não se perde, mas se ganha dignidade. Porque Cristo não quer ao seu redor servilismo, mas pessoas livres.
Pecadores sim, corruptos jamais!
O fundamento desta liberdade de Jesus vem da verdade. É a sua verdade que nos liberta:
“A vida do cristão não é uma recitação em que se possa usar a máscara que é mais conveniente. Porque quando Jesus reina no coração, ele liberta-o da hipocrisia, dos subterfúgios, das duplicidades.”
Certamente todos somos pecadores, reconheceu o Papa. Mas, quando vivemos sob o senhorio de Jesus, não nos tornamos corruptos, falsos, inclinados a encobrir a verdade. Não se leva uma vida dupla.
“Pecadores sim, corruptos jamais!”
O Pontífice concluiu pedindo a intercessão de Nossa Senhora para nos ajude a procurar todos os dias a verdade de Jesus, que nos liberta das escravidões terrenas e nos ensina a governar os nossos vícios. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: José nos ensina a olhar para a periferia, para aquilo que o mundo não quer
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Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José. "Nunca como hoje, neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós. Por isso decidi dedicar-lhe um ciclo de catequeses, que espero nos possa ajudar ulteriormente a deixar-nos iluminar pelo seu exemplo e pelo seu testemunho", disse o Papa na Audiência Geral.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José, na Audiência Geral, desta quarta-feira (17/11), realizada na Sala Paulo VI, sobre o tema "São José e o ambiente em que viveu".
Francisco recordou que em "8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX proclamou São José padroeiro da Igreja universal".
Depois de 150 anos daquele evento, estamos vivendo um ano especial dedicado a São José, e na Carta Apostólica Patris corde recolhi algumas reflexões sobre a sua figura. Nunca como hoje, neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para nós. Por isso decidi dedicar-lhe um ciclo de catequeses, que espero nos possa ajudar ulteriormente a deixar-nos iluminar pelo seu exemplo e pelo seu testemunho.
A seguir, o Pontífice sublinhou que "na Bíblia há mais de dez personagens com o nome de José. O mais importante de todos é o filho de Jacó e Raquel, que, através de várias vicissitudes, de escravo, tornou-se a segunda pessoa mais importante no Egito depois do Faraó".
José tem fé na providência de Deus
O Papa explicou que "o nome José em hebraico significa “Deus aumente, Deus faça crescer”. É um desejo, uma bênção baseada na confiança na providência de Deus e refere-se especialmente à fecundidade e ao crescimento dos filhos. Este mesmo nome nos revela um aspecto essencial da personalidade de José de Nazaré. Ele é um homem cheio de fé em Deus, na sua providência. Ele crê na providência de Deus. Tem fé na providência de Deus. Toda a sua ação, narrada no Evangelho, é ditada pela certeza de que Deus “faz crescer”, “aumenta”, “acrescenta”, ou seja, que Deus providencia a continuação do seu plano de salvação. E nisto, José de Nazaré é muito parecido com José do Egito".
Segundo Francisco, "as principais referências geográficas que se referem a José, Belém e Nazaré, também desempenham um papel importante na compreensão de sua figura. O Filho de Deus não escolheu Jerusalém como o lugar de sua encarnação, mas Belém e Nazaré, duas aldeias periféricas, longe do clamor da crônica e do poder da época. Contudo, Jerusalém era a cidade amada pelo Senhor, a «cidade santa», escolhida por Deus para nela habitar. Ali, habitavam os doutores da Lei, os escribas e fariseus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo".
Deus se manifesta nas periferias geográficas e existenciais
"É por isso que a escolha de Belém e Nazaré nos diz que a periferia e a marginalidade são prediletas a Deus. Jesus não nasceu em Jerusalém, com toda a corte. Não. Ele nasceu na periferia. Viveu a sua vida até 30 anos naquela periferia, trabalhando como carpinteiro. Como José. Para Jesus, as periferias e a marginalidade são prediletas", disse ainda o Papa, acrescentando:
Não levar esta realidade a sério equivale a não levar a sério o Evangelho e a obra de Deus, que continua se manifestando nas periferias geográficas e existenciais. O Senhor age sempre escondido nas periferias. Na periferia da alma, nos sentimentos, nos sentimentos que talvez nos envergonha. Mas, o Senhor está ali para nos ajudar a ir adiante. O Senhor continua se manifestando nas periferias, geográficas e existenciais. Em particular, Jesus vai em busca dos pecadores, entra nas suas casas, fala com eles, chama-os à conversão. Jesus é repreendido por isso. "Olhem esse mestre", dizem os doutores da lei, "esse mestre que come com os pecadores, se suja". Mas também vai em busca daqueles que não praticaram o mal, mas que o sofreram: os doentes, os famintos, os pobres, os últimos. Jesus vai sempre em direção à periferia. Isso deve nos dar muita confiança, pois o Senhor conhece as periferias do nosso coração, as periferias de nossa alma, as periferias de nossa sociedade, de nossa cidade, de nossa família, aquela parte um pouco escura que nós não mostramos talvez por vergonha.
Olhar para aquilo que o mundo não quer
Segundo o Papa, "sob este aspecto, a sociedade daquela época não é muito diferente da nossa. Hoje, também há um centro e uma periferia. E a Igreja sabe que é chamada a anunciar a boa nova a partir das periferias. José, que é um carpinteiro de Nazaré e que confia no plano de Deus para a sua jovem noiva e para si mesmo, recorda à Igreja para fixar o olhar naquilo que o mundo ignora deliberadamente".
“José nos ensina a não olhar muito para as coisas que o mundo louva, mas a olhar para o ângulo, olhar para as sombras, para a periferia, para aquilo que o mundo não quer. Lembra a cada um que devemos dar importância ao que os outros descartam.”
"Neste sentido, ele é um mestre do essencial: nos lembra que o que é realmente valioso não atrai a nossa atenção, mas requer um discernimento paciente para ser descoberto e valorizado. Peçamos-lhe que interceda para que toda a Igreja possa recuperar este discernimento, esta capacidade de discernir e avaliar o que é essencial. Comecemos de novo a partir de Belém, comecemos de novo a partir de Nazaré", disse ainda Francisco.
São José, testemunha e protetor
Por fim, o Papa transmitiu "uma mensagem a todos os homens e mulheres que vivem nas periferias geográficas mais esquecidas do mundo ou que experimentam situações de marginalidade existencial". "Que encontrem em São José a testemunha e o protetor para quem olhar", disse o Pontífice, fazendo a seguinte oração:
São José,
vós que sempre confiastes em Deus,
e fizestes as vossas escolhas
guiado pela sua providência
ensinai-nos a não contar tanto com os nossos projetos
mas com o seu desígnio de amor.
Vós que viestes das periferias
ajudai-nos a converter o nosso olhar
e a preferir o que o mundo descarta e marginaliza.
Confortai quantos se sentem sozinhos
e apoiai quantos se comprometem em silêncio
para defender a vida e a dignidade humana. Amém.
Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: levemos aos pobres a esperança com ternura, sem os julgar
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O Papa Francisco pede, a nós cristãos, que sejamos “construtores incansáveis de esperança; luz enquanto o sol se obscurece; testemunhas de compaixão enquanto ao redor reina a distração; presenças atentas na indiferença generalizada”. Homilia da Santa Missa celebrada por ocasião do 5° Dia Mundial dos Pobres neste domingo 14 de novembro
Jane Nogara - Vatican News
Neste domingo (14/11) em que a Igreja celebra o 5° Dia Mundial dos Pobres, na homilia da Santa Missa celebrada na Basílica de São Pedro o Papa Francisco falou sobre as imagens utilizadas por Jesus para nos dar esperança. Depois de falar sobre o Evangelho de Marcos (13, 24-28) no qual se recorda que “da total obscuridade, há de vir o Filho do Homem” disse:
“Deste modo o Evangelho ajuda-nos a ler a história, captando dois aspetos dela: a dor de hoje e a esperança de amanhã. Por um lado, evocam-se todas as dolorosas contradições em que a realidade humana vive imersa em cada tempo; por outro, há o futuro de salvação que a espera, isto é, o encontro com o Senhor que vem para nos libertar de todo o mal”.
A dor e a esperança
Em seguida comentou dois desses aspetos, “com o olhar de Jesus”. Com relação ao primeiro aspecto comentou a dor de hoje. "Vivemos numa história marcada por tribulações, violências, sofrimentos e injustiças” e afirmou:
“O Dia Mundial dos Pobres que estamos celebrando, pede-nos que não viremos o rosto para o outro lado, não tenhamos medo de olhar de perto o sofrimento dos mais frágeis. Para eles o sol frequentemente é obscurecido pela solidão, a lua de suas expectativas apaga-se e os sonhos caem na resignação e acaba abalada a própria existência. Tudo isso por causa da pobreza a que muitas vezes se veem constrangidos, vítimas da injustiça e da desigualdade duma sociedade do descarte, que corre apressada sem os ver e, sem escrúpulos, os abandona ao seu destino”.
Porém, disse Francisco:
“Em contrapartida, existe o segundo aspeto: a esperança de amanhã. Jesus quer abrir-nos à esperança, arrancar-nos da angústia e do medo à vista da dor do mundo. Para isso assegura-nos: ao mesmo tempo que o sol se obscurece e tudo parece cair é precisamente quando Ele Se faz vizinho a nós”.
Porque, “a salvação de Deus não é só uma promessa reservada para o Além, mas cresce já agora dentro da nossa história ferida, abre caminho por entre as opressões e injustiças do mundo”.
O que Jesus nos pede, a nós cristãos?
Neste ponto o Papa perguntou o que se pede, a nós cristãos? E como resposta disse: “Nutrir a esperança de amanhã, curando a dor de hoje”. De fato, explicou, a esperança que nasce do Evangelho não consiste em esperar passivamente por um amanhã em que as coisas hão de correr melhor, mas em tornar concreta hoje a promessa de salvação de Deus: hoje, cada dia...
“A nós, é-nos pedido isto: ser, entre as ruínas quotidianas do mundo, construtores incansáveis de esperança; ser luz enquanto o sol se obscurece; ser testemunhas de compaixão enquanto ao redor reina a distração; ser presenças atentas na indiferença generalizada”.
“Compete-nos”, disse ainda “especialmente a nós cristãos, organizar a esperança, traduzi-la diariamente em vida concreta nas relações humanas, no compromisso sociopolítico”.
Agir concretamente pelo bem
A partir da imagem simples que Jesus oferece a de folhas que desabrocham sem fazer ruído e estas folhas aparecem quando o ramo se torna tenro Francisco afirmou que aqui está a palavra que faz germinar a esperança no mundo e alivia a dor dos pobres: a ternura. Depende de nós superar o fechamento, a rigidez interior e deixar de pensar apenas em nossos problemas.
“Jesus quer-nos ‘conversores de bem’: pessoas que, imersas no ar pesado que todos respiram, respondem ao mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Pessoas que agem: partilham o pão com os famintos, trabalham pela justiça, elevam os pobres e devolvem-lhes a sua dignidade”.
Por fim encorajou todos com as palavras de Lucas: “Coragem, o Senhor está próximo! Também para ti há um verão que desabrocha no coração do inverno. Mesmo da tua dor, pode ressurgir a esperança”. Concluindo Francisco disse: “Levemos ao mundo este olhar de esperança. Levemo-lo com ternura aos pobres, sem os julgar. Porque lá, junto deles, está Jesus; porque lá, neles, está Jesus, que nos espera”. Fonte: https://www.vaticannews.va
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O V DIA MUNDIAL DOS POBRES
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(XXXIII Domingo do Tempo Comum – 14 de novembro de 2021)
«Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7)
- «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7): estas palavras foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por ocasião duma refeição em Betânia na casa de Simão chamado «o leproso». Como narra o evangelista, entrou lá uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume muito precioso e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Este gesto suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas.
A primeira delas é a indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, que, ao considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários, equivalente ao salário anual dum trabalhador), pensam que teria sido melhor vendê-lo e dar o produto aos pobres. Segundo o Evangelho de João, é Judas que se faz intérprete desta posição: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?». E o evangelista observa: «Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava» (Jo 12, 5-6). Não é por acaso que esta crítica dura sai da boca do traidor: é a prova de que, quantos não reconhecem os pobres, atraiçoam o ensinamento de Jesus e não podem ser seus discípulos. Recordemos, a este propósito, as palavras fortes de Orígenes: «Judas, aparentemente, estava preocupado com os pobres. (…) Se, agora, ainda houver alguém que tem a bolsa da Igreja e fala a favor dos pobres como Judas, mas depois tira o que metem lá dentro, então tenha parte juntamente com Judas» (Comentário ao Evangelho de Mateus 11, 9).
A segunda interpretação é dada pelo próprio Jesus e permite individuar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. Diz Ele: «Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em Mim uma boa ação» (Mc 14, 6). Jesus sabe que está próxima a sua morte e vê, naquele gesto, a antecipação da unção do seu corpo sem vida antes de ser colocado no sepulcro. Esta visão ultrapassa todas as expetativas dos convivas. Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos. E é também em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizadas e discriminadas que o Filho de Deus aceita o gesto daquela mulher. Esta, com a sua sensibilidade feminina, demonstra ser a única que compreendeu o estado de espírito do Senhor. Esta mulher anónima – talvez por isso destinada a representar todo o universo feminino que, no decurso dos séculos, não terá voz e sofrerá violências –, inaugura a significativa presença de mulheres que participam no momento culminante da vida de Cristo: a sua crucifixão, morte e sepultura e a sua aparição como Ressuscitado. As mulheres, tantas vezes discriminadas e mantidas ao largo dos postos de responsabilidade, nas páginas do Evangelho são, pelo contrário, protagonistas na história da revelação. E é eloquente a frase conclusiva de Jesus, que associa esta mulher à grande missão evangelizadora: «Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde for proclamado o Evangelho, há de contar-se também, em sua memória, o que ela fez» (Mc 14, 9).
- Esta forte «empatia» entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho.
Com efeito, o rosto de Deus que Ele revela é o de um Pai para os pobres e próximo dos pobres. Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver. Não me canso de repetir que os pobres são verdadeiros evangelizadores, porque foram os primeiros a ser evangelizados e chamados a partilhar a bem-aventurança do Senhor e o seu Reino (cf. Mt 5, 3).
Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles «têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem» (Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 198-199).
- Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte. Isto constitui também um forte ensinamento para os seus discípulos de todos os tempos. As suas palavras – «sempre tereis pobres entre vós» – pretendem indicar também isto: a sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida que não prevê delegações. Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social. Aliás sabe-se que um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça. Enfim os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele.
Temos muitos exemplos de Santos e Santas que fizeram da partilha com os pobres o seu projeto de vida. Penso, entre outros, no Padre Damião de Veuster, Santo apóstolo dos leprosos. Com grande generosidade, respondeu à vocação de ir para a ilha de Molokai – tinha-se tornado um gueto acessível apenas aos leprosos –, a fim de viver e morrer com eles. Lançando-se ao trabalho, tudo fez para tornar digna de ser vivida a existência daqueles pobres doentes e marginalizados, reduzidos à degradação extrema. Fez-se médico e enfermeiro, sem se preocupar com os riscos que corria, levando a luz do amor àquela «colónia de morte», como era designada a ilha. A lepra atingiu-o também a ele, sinal duma partilha total com os irmãos e irmãs pelos quais dera a vida. O seu testemunho é muito atual nestes nossos dias, marcados pela pandemia de coronavírus: com certeza a graça de Deus está em ação no coração de muitas pessoas que, sem dar nas vistas, se gastam concretamente partilhando a sorte dos mais pobres.
- Por isso precisamos de aderir com plena convicção ao convite do Senhor: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). Esta conversão consiste, primeiro, em abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e, depois, em manifestar o Reino de Deus através dum estilo de vida coerente com a fé que professamos. Com frequência, os pobres são considerados como pessoas aparte, como uma categoria que requer um serviço caritativo especial. Seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação. Tornar-se seu discípulo implica a opção de não acumular tesouros na terra, que dão a ilusão duma segurança em realidade frágil e efémera; ao contrário, requer disponibilidade para se libertar de todos os vínculos que impedem de alcançar a verdadeira felicidade e bem-aventurança, para reconhecer aquilo que é duradouro e que nada e ninguém pode destruir (cf. Mt 6, 19-20).
Mas o ensinamento de Jesus aparece em contracorrente também neste caso, porque promete aquilo que só os olhos da fé podem ver e experimentar com certeza absoluta: «Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Se não se optar por tornar-se pobre de riquezas efémeras, poder mundano e vanglória, nunca se sará capaz de dar a vida por amor; viver-se-á uma existência fragmentária, cheia de bons propósitos mas ineficaz para transformar o mundo. Trata-se, portanto, de abrir-se decididamente à graça de Cristo, que pode tornar-nos testemunhas da sua caridade sem limites e restituir credibilidade à nossa presença no mundo.
- O Evangelho de Cristo impele a ter uma atenção muito particular para com os pobres e requer que se reconheça as múltiplas, demasiadas, formas de desordem moral e social que sempre geram novas formas de pobreza. Parece ganhar terreno a conceção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema económico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas. Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias. Deste modo assiste-se à criação incessante de armadilhas novas da miséria e da exclusão, produzidas por agentes económicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido humanitário e responsabilidade social.
Além disso, no ano passado, veio juntar-se outra praga que multiplicou ainda mais o número dos pobres: a pandemia. Esta continua a bater à porta de milhões de pessoas e, mesmo quando não traz consigo o sofrimento e a morte, todavia é portadora de pobreza. Os pobres têm aumentado desmesuradamente e o mesmo, infelizmente, continuará a verificar-se ainda nos próximos meses. Alguns países estão a sofrer gravíssimas consequências devido à pandemia, a ponto de as pessoas mais vulneráveis se encontrarem privadas de bens de primeira necessidade. As longas filas diante das cantinas para os pobres são o sinal palpável deste agravamento. Um olhar atento requer que se encontrem as soluções mais idóneas para combater o vírus a nível mundial, sem olhar a interesses de parte. De modo particular, é urgente dar respostas concretas a quantos padecem o desemprego, que atinge de maneira dramática tantos pais de família, mulheres e jovens. A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura.
- Entretanto permanece de pé uma questão, nada óbvia: Como se pode dar uma resposta palpável aos milhões de pobres que tantas vezes, como resposta, só encontram a indiferença, quando não a aversão? Qual caminho de justiça é necessário percorrer para que as desigualdades sociais possam ser superadas e seja restituída a dignidade humana tão frequentemente espezinhada? Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo. Portanto é decisivo dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação. Há muitas pobrezas dos «ricos» que poderiam ser curadas pela riqueza dos «pobres», bastando para isso encontrarem-se e conhecerem-se. Ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si na reciprocidade. Os pobres não podem ser aqueles que apenas recebem; devem ser colocados em condição de poder dar, porque sabem bem como corresponder. Quantos exemplos de partilha diante dos nossos olhos! Os pobres ensinam-nos frequentemente a solidariedade e a partilha. É verdade que são pessoas a quem falta algo e por vezes até muito, se não mesmo o necessário; mas não falta tudo, porque conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar.
- Impõe-se, pois, uma abordagem diferente da pobreza. É um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira decisiva as próximas décadas. Se os pobres são colocados à margem, como se fossem os culpados da sua condição, então o próprio conceito de democracia é posto em crise e fracassa toda e qualquer política social. Com grande humildade, temos de confessar que muitas vezes não passamos de incompetentes a respeito dos pobres: fala-se deles em abstrato, fica-se pelas estatísticas e pensa-se sensibilizar com qualquer documentário. Ao contrário, a pobreza deveria incitar a uma projetação criativa, que permita fazer aumentar a liberdade efetiva de conseguir realizar a existência com as capacidades próprias de cada pessoa. Pensar que a posse de dinheiro consinta e aumente a liberdade é uma ilusão de que devemos afastar-nos. Servir eficazmente os pobres incita à ação e permite encontrar as formas mais adequadas para levantar e promover esta parte da humanidade, demasiadas vezes anónima e sem voz, mas que em si mesma traz impresso o rosto do Salvador que pede ajuda.
- «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7): é um convite a não perder jamais de vista a oportunidade que se nos oferece para fazer o bem. Como pano de fundo, pode-se vislumbrar o antigo mandamento bíblico: «Se houver junto de ti um indigente entre os teus irmãos (…), não endurecerás o teu coração e não fecharás a tua mão ao irmão necessitado. Abre-lhe a tua mão, empresta-lhe sob penhor, de acordo com a sua necessidade, aquilo que lhe faltar. (…) Deves dar-lhe, sem que o teu coração fique pesaroso; porque, em recompensa disso, o Senhor, teu Deus, te abençoará em todas as empresas das tuas mãos. Sem dúvida, nunca faltarão pobres na terra» (Dt 15, 7-8.10-11). E no mesmo cumprimento de onda se coloca o apóstolo Paulo, quando exorta os cristãos das suas comunidades a socorrer os pobres da primeira comunidade de Jerusalém e a fazê-lo «sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Não se trata de serenar a nossa consciência dando qualquer esmola, mas antes contrastar a cultura da indiferença e da injustiça com que se olha os pobres.
Neste ponto, faz-nos bem recordar as palavras de São João Crisóstomo: «Quem é generoso não deve pedir contas do comportamento, mas somente melhorar a condição de pobreza e satisfazer a necessidade. O pobre só tem uma defesa: a sua pobreza e a condição de necessidade em que se encontra. Não lhe peças mais nada; mesmo que fosse o homem mais malvado do mundo, se lhe vier a faltar o alimento necessário, libertemo-lo da fome. (…) O homem misericordioso é um porto para quem está em necessidade: o porto acolhe e liberta do perigo todos os náufragos, sejam eles malfeitores, bons ou como forem. Aos que se encontram em perigo, o porto acolhe-os, coloca-os em segurança dentro da sua enseada. Também tu, portanto, quando vês por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não o julgues, nem lhe peças conta do seu comportamento, mas liberta-o da desventura» (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).
- É decisivo aumentar a sensibilidade para se compreender as exigências dos pobres, sempre em mutação por força das condições de vida. Com efeito, nas áreas economicamente mais desenvolvidas do mundo, está-se menos predisposto hoje que no passado a confrontar-se com a pobreza. O estado de relativo bem-estar ao qual se habituaram torna mais difícil aceitar sacrifícios e privações. Está-se pronto a tudo só para não ficar privado daquilo que foi fruto de fácil conquista. Deste modo, cai-se em formas de rancor, nervosismo espasmódico, reivindicações que levam ao medo, à angústia e, nalguns casos, à violência. Este não é o critério sobre o qual construir o futuro; também estas são formas de pobreza, para as quais não se pode deixar de olhar. Devemos estar abertos a ler os sinais dos tempos que exprimem novas modalidades de ser evangelizadores no mundo contemporâneo. A assistência imediata para acorrer às necessidades dos pobres não deve impedir de ser clarividente para atuar novos sinais do amor e da caridade cristã como resposta às novas pobrezas que experimenta a humanidade de hoje.
Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, chegado já à sua quinta celebração, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão. Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais
e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento… É importante compreender como se sentem, o que estão a passar e quais os desejos que têm no coração. Façamos nossas as palavras inflamadas do Padre Primo Mazzolari: «Gostaria de pedir-vos para não me perguntardes se existem pobres, quem são e quantos são, porque tenho receio que tais perguntas representem uma distração ou o pretexto para escapar duma específica indicação da consciência e do coração. (…) Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam» (Revista «Adesso», n.º 7, 15 de abril de 1949). Os pobres estão no meio de nós. Como seria evangélico, se pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiríamos realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação.
Roma, São João de Latrão, na Memória de Santo Antônio, 13 de junho de 2021.
Francisco
Fonte: https://www.vatican.va
Papa Francisco aos pobres em Assis: "Esperança e resistência partilhadas"
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“É tempo que seja restituída a palavra aos pobres, porque durante demasiado tempo os seus pedidos não foram ouvidos”. Palavras de Francisco aos pobres em Assis nesta sexta-feira, 12 de novembro, recordando-lhes de manter a esperança e a resistência e que estas devem ser partilhadas
Jane Nogara - Vatican News
Por ocasião do Encontro de oração e testemunho da quinta edição do Dia Mundial dos Pobres o Papa Francisco foi a Assis nesta sexta-feira, 12 de novembro. Depois de ouvir os testemunhos de alguns presentes e do momento especial de oração o Papa dirigiu algumas palavras aos presentes.
Francisco iniciou agradecendo a presença de todos em Assis e recordando que a cidade de Assis “tem impresso o rosto de São Francisco” que recebeu o chamado para viver o Evangelho à letra. E disse que embora a sua santidade de alguma forma nos assusta porque parece impossível imitá-la, devemos recordar certos momentos da sua vida que valem mais do que os sermões. E falou dos pequenos sacrifícios os “fioretti” que o Santo fazia, que foram reunidos para mostrar a beleza da sua vocação: “somos atraídos por esta simplicidade de coração e de vida: é a própria atração de Cristo, do Evangelho”. O Papa recordou uma dessas passagens quando Francisco vivendo na pobreza extrema conseguia alguma coisa para comer embora fosse pouca ele sempre a considerava como “um tesouro do qual não se sentia digno”, e dizia:
“É precisamente isto que considero um grande tesouro, porque não há nada, mas o que temos nos foi dado pela Providência (...) Este é o ensinamento que São Francisco nos dá: saber contentar-se com o pouco que temos e partilhá-lo com os outros”
Homens e mulheres pedras vivas da Igreja
Ao recordar que o encontro se realizava na Porciúncula, uma das pequenas igrejas que São Francisco pensou em restaurar, o Papa disse: “Ele nunca teria pensado que o Senhor lhe pedisse para dar a sua vida para renovar não a igreja feita de pedras, mas a de pessoas, de homens e mulheres que são as pedras vivas da Igreja. E se estamos aqui hoje é precisamente para aprender com o que São Francisco fez”.
Marginalização espiritual
São Francisco “passava muito tempo nesta pequena igreja a rezar”, continuou o Papa, “recolhia-se aqui em silêncio e escutava o Senhor, o que Deus queria dele. Também nós viemos aqui para isto: queremos pedir ao Senhor que ouça o nosso grito e venha em nosso auxílio. Não esqueçamos que a primeira marginalização de que os pobres sofrem é espiritual”. O Papa recordou e agradeceu a todos os que ajudam os pobres, e disse que fica muito feliz quando “as pessoas param para falar e às vezes rezar com eles”.
Em seguida falou da acolhida.
“Acolher significa abrir a porta, a porta da casa e a porta do coração, e permitir àqueles que batem à porta de entrar. E que podem sentir-se à vontade, sem medo. Onde existe um verdadeiro sentido de fraternidade, existe também a experiência sincera de acolhimento”
A fraqueza pode se tornar uma força que melhora o mundo
Neste ponto do discurso o Papa falou sobre o encontro.
“Encontrar-se é a primeira coisa, ou seja, ir ao encontro uns dos outros com o coração aberto e a mão estendida. Sabemos que cada um de nós precisa do outro, e mesmo a fraqueza, se experimentada em conjunto, pode tornar-se uma força que melhora o mundo”
O Pontífice em seguida abordou a questão dos que afirmam que os responsáveis pela pobreza são os pobres.... além da “hipocrisia dos que querem se enriquecer para além das medidas, se coloca a culpa sobre os ombros dos mais fracos”. E para contrastar o Papa afirmou com veemência:
“É tempo que seja restituída a palavra aos pobres, porque durante demasiado tempo os seus pedidos não foram ouvidos. É tempo que se abram os olhos para ver o estado de desigualdade em que vivem tantas famílias. É tempo de arregaçar as mangas para restituir dignidade através da criação de empregos. É tempo que se volte a se escandalizar diante da realidade de crianças famintas, escravizadas, tiradas das águas quando naufragam, vítimas inocentes de todo o tipo de violência. É tempo que cessem as violências contra as mulheres e as mulheres sejam respeitadas e não tratadas como mercadoria. É tempo que se rompa o círculo da indiferença para retornar a descobrir a beleza do encontro e do diálogo”.
Coragem e sinceridade
Em seguida o Papa comentou os testemunhos das pessoas pobres agradecendo sua coragem e sinceridade. “Coragem, porque quiseram partilhar com todos nós, mesmo que façam parte da sua vida pessoal; sinceridade, porque se mostraram como são e abriram o seu coração com o desejo de serem compreendidos”.
Esperança e resistência
“Percebi um grande sentido de esperança. A marginalização, o sofrimento da doença e da solidão, a falta de muitos meios necessários não os impediu de olharem com os olhos cheios de gratidão para as pequenas coisas que lhes permitiram de resistir”
Por fim o Papa falou sobre resistir além da esperança: “Esta é a segunda impressão que eu percebi e que deriva da esperança. O que significa resistir? Ter a força para continuar apesar de tudo. A resistir não é uma ação passiva, pelo contrário, requer coragem para empreender um novo caminho sabendo que dará frutos”.
Concluindo disse: “Peçamos ao Senhor que nos ajude sempre a encontrar a serenidade e a alegria. Aqui na Porciúncula, São Francisco ensina-nos a alegria que vem de olhar para quem está próximo como a um companheiro de viagem que nos compreende e nos apoia, tal como nós somos para ele ou ela”. Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: seremos julgados por nossa incapacidade de ser guardiões do mundo
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Francisco volta a falar sobre a Conferência de Glasgow que está prestes a terminar, relançando a responsabilidade moral de enfrentar o grande desafio das mudanças climáticas para com as gerações presentes e futuras.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco enviou, nesta quinta-feira (11/11), uma carta aos católicos da Escócia por ocasião da Cop26, a Conferência da ONU sobre o Clima, que se conclui na sexta-feira, 12 de novembro, em Glasgow.
O Pontífice ressalta que não foi possível participar da Cop 26 e que sente muito por isso, mas ao mesmo tempo está feliz porque hoje os católicos escoceses se unem em oração pelas intenções do Papa e "por um resultado frutífero deste encontro, destinado a enfrentar uma das grandes questões morais de nosso tempo: a preservação da criação de Deus, que nos foi doada como um jardim para cultivar e como uma Casa comum para a nossa família humana".
Deus confiou o mundo aos nossos cuidados
"Imploramos os dons da sabedoria e força de Deus para aqueles que têm a tarefa de guiar a Comunidade internacional, à medida que procuram enfrentar este sério desafio com decisões concretas inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras. O tempo está se esgotando. Esta oportunidade não deve ser desperdiçada por medo de ter que enfrentar o julgamento de Deus por nossa incapacidade de sermos guardiões fiéis do mundo que Ele confiou aos nossos cuidados", ressalta Francisco na carta.
O Papa expressa aos católicos da Escócia o seu afeto no Senhor e os incentiva "a perseverar em sua fidelidade a Deus e à sua Igreja". Francisco saúda e reza pelos católicos escoceses e "suas famílias, pelos jovens, pelos idosos, os doentes e por aqueles que, de qualquer forma, estão sofrendo os efeitos da pandemia".
"Nestes tempos difíceis, que todos os seguidores de Cristo na Escócia renovem seu compromisso de serem testemunhas convincentes da alegria do Evangelho e de seu poder de levar luz e esperança a todos os esforços para construir um futuro de justiça, fraternidade e prosperidade, tanto material quanto espiritual".
Francisco conclui a carta, assegurando suas orações pelos católicos escoceses, suas famílias, suas paróquias e comunidades, e confiando-lhes à amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja. Fonte: https://www.vaticannews.va
A fé sem dom e gratuidade é como um jogo sem gol, diz o Papa no Angelus
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Uma fé sem dom e gratuidade é como um jogo bem jogado, mas sem gol. Uma fé sem obras de caridade nos torna tristes, disse Francisco ao comentar o Evangelho deste domingo.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
“Um teste sobre a nossa fé”: assim o Papa comentou o Evangelho deste 28° Domingo do Tempo Comum, ao rezar com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro o Angelus dominical.
O Evangelista Marcos narra o encontro de Jesus com um homem rico, do qual não se sabe nem a idade nem o nome. Neste “alguém”, disse o Papa, todos podemos nos reconhecer e nos permite fazer um “teste sobre a fé”.
O homem começa com uma pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?”. Eis a sua religiosidade, observou Francisco: um dever, uma fazer para obter. Mas esta é uma relação comercial com Deus. Ao invés, a fé não é um rito frio e mecânico. É questão de liberdade e de amor.
Então podemos fazer o primeiro teste: para mim, que é a fé? Se é principalmente um dever ou uma moeda de troca, estamos no caminho errado, porque a salvação é um dom e não um dever, é gratuita e não se pode comprar. O primeiro passo, portanto, é nos libertar de uma fé “comercial e mecânica”.
Na sequência, Jesus ajuda aquele “alguém” oferecendo-lhe a verdadeira face de Deus. O texto diz: “Jesus olhou para ele com amor”. Eis de onde nasce e renasce a fé: não de um dever ou de algo a fazer, mas de um olhar de amor a acolher. Não se baseia nas nossas capacidades e projetos. Se a sua fé está cansada e você quer rejuvenescê-la, o Papa indica:
Busque o olhar de Deus: coloque-se em adoração, deixe-se perdoar na Confissão, fique diante do Crucifixo. Enfim, deixe-se amar por Ele.
Depois da pergunta e do olhar, há um convite de Jesus: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres”.
“Talvez é isto que nos falte também a nós. Com frequência, fazemos o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Não podemos nos contentar dos deveres, preceitos e algumas orações. “A fé não pode se limitar aos “nãos”, porque a vida cristã è um “sim”; um “sim” de amor.
Uma fé sem dom e gratuidade é como um jogo bem jogado, mas sem gol. Uma fé sem obras de caridade nos torna tristes. “Que Nossa Senhora, que disse a Deus um 'sim' total, um 'sim' sem 'mas', nos faça saborear a beleza de fazer da vida um dom.”. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: comunidades abertas e humildes evitam males
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“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto é a raiz de tantos dos grandes males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra os que são diferentes”. Palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo 26 de setembro
Jane Nogara - Vatican News
No Angelus deste domingo (26/09) o Papa Francisco destacou um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João que fala em nome de todo o grupo de discípulos (Mc 9, 38-41). João fala de um homem que expulsava o demônio em nome do Senhor, e o impediram de fazê-lo porque não fazia parte do grupo deles. Então o Papa recordou que Jesus convidou a não dificultar os que fazem o bem porque contribuem para a realização do plano de Deus, explicando:
"As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é a do fechamento. Os discípulos gostariam de impedir uma obra do bem só porque a pessoa que o fez não pertencia ao seu grupo".
“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto - como sabemos - é a raiz de tantos dos grandes males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra aqueles que são diferentes”
Comunidades humildes e abertas a todos
Francisco colocou a questão em relação à Igreja recordando a todos “precisamos estar vigilantes também quanto ao fechamento na Igreja” e detalhou “o diabo, que é o divisor - é isso que a palavra "diabo" significa - sempre insinua suspeitas a fim de dividir e excluir. Ele tenta com astúcia, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam ao ponto de excluir até mesmo os que expulsaram o próprio diabo!”
Ponderando em seguida:
“Às vezes nós também, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos ‘os melhores da classe’ e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir nossa ‘licença de crentes’ para julgar e excluir”
Superar a tentação de julgar
“Peçamos a graça – continuou o Santo Padre - de superar a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do ‘nicho’, da mentalidade de nos guardarmos ciosamente no pequeno grupo dos que se consideram bons. O Espírito Santo não quer fechamentos; ele quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos”.
Não compactuar com o mal
Francisco fala também da severidade de Jesus ao exortar contra o julgamento impróprio afirmando que “o risco é ser inflexível para com os outros e indulgente para com nós mesmos”. E que “Jesus nos exorta a não compactuar com o mal”.
“Se alguma coisa em ti é motivo de escândalo, corte-a! Jesus é radical, exigente, mas para nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e dar frutos no amor”
Então perguntemo-nos: o que há em mim que é contrário ao Evangelho? O que, concretamente, Jesus quer que eu corte em minha vida?”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: Quer se destacar? Sirva! Torna-nos livres e mais semelhantes a Jesus
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"Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo às custas dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não pode me retribuir ou apenas de meus parentes e amigos?": perguntas a nos fazermos, sugeriu Francisco.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Quer se destacar? Sirva! Nossa fidelidade ao Senhor depende de nossa disposição em servir. O serviço não nos diminui, mas nos faz crescer. E ao servirmos os esquecidos, que não podem nos retribuir, “também nós recebemos o terno abraço de Deus”.
O “serviço”, um tema caro ao Papa esteve no centro de sua alocução que precedeu a oração mariana do Angelus neste 25º Domingo do Tempo Comum: “Se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço.”
Dirigindo-se aos peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco começou explicando a discussão entre os discípulos narrada por Marcos sobre quem entre eles era o maior. E citou a frase que Jesus disse a eles, uma frase “que vale também para nós hoje” - “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” -, acrescentando que quem ser o primeiro, deve ir para a fila, pegar o último lugar "e servir a todos".
Quer se destacar? Sirva!
E justamente esta frase pronunciada pelo Mestre marca uma inversão nos critérios daquilo que realmente importa:
O valor de uma pessoa não depende mais do papel que ela desempenha, do sucesso que tem, do trabalho que faz, do dinheiro no banco; não, não, não, não depende disso; a grandeza e o sucesso, aos olhos de Deus, têm um padrão, uma medida diferente: são medidos no serviço. Não no que se tem, mas no que se dá. Quer se sobressair? Sirva. Este é o caminho.
Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus
Hoje em dia a palavra "serviço" – disse o Papa – “parece um pouco desbotada, desgastada pelo uso. Mas no Evangelho tem um significado preciso e concreto. Servir não é uma expressão de cortesia: é fazer como Jesus que, resumindo em poucas palavras a sua vida, disse que veio «não para ser servido, mas para servir». Portanto, se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço:
Nossa fidelidade ao Senhor depende de nossa disposição em servir. E isso, bem o sabemos, custa, geralmente isso custa, “tem gosto de cruz”. Mas, à medida que aumenta o cuidado e a disponibilidade para com os outros, tornamo-nos mais livres interiormente, mais semelhantes a Jesus. Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus, sobretudo quando servimos aqueles que não têm nada para nos restituir, os pobres, abraçando suas dificuldades e necessidades, com a terna compaixão: e ali descobrimos ser, por sua vez, amados e abraçados por Deus.
Em primeiro lugar, servir a quem não pode nos retribuir
Para ilustrar a importância da doação gratuita, Jesus coloca uma criança entre os discípulos, "os gestos de Jesus são mais fortes que as palavras que usa", observou o Papa. “A criança, no Evangelho – explicou – não simboliza tanto a inocência mas a pequenez. Porque os pequenos, como as crianças, dependem dos outros, dos grandes, têm necessidade de receber. Jesus abraça aquela criança e diz que quem acolhe um pequenino, uma criança, o acolhe”:
Eis antes de tudo a quem servir: aqueles que têm necessidade de receber e não tem como retribuir. Acolhendo quem está à margem, abandonado, acolhemos Jesus, porque Ele está ali. E em um pequeno, em um pobre a quem servimos, também nós recebemos o terno abraço de Deus.
O serviço não nos diminui, nos faz crescer
Interpelados pelo Evangelho, o Papa sugere que nos interroguemos:
Eu, que sigo Jesus, me interesso por quem é mais abandonado? Ou, como os discípulos naquele dia, estou em busca de gratificações pessoais? Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo às custas dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não pode me retribuir ou apenas de meus parentes e amigos? São perguntas que podemos nos fazer.
Que a Virgem Maria, humilde serva do Senhor, nos ajude a compreender que o serviço não nos diminui, mas nos faz crescer. E que há mais alegria em dar do que em receber. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: um cristianismo sem cruz é mundano e torna-se estéril
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Quantas vezes, disse Francisco, “aspiramos a um cristianismo de vencedores, a um cristianismo triunfalista, que tenha relevância e importância, receba glória e honra. Mas um cristianismo sem cruz é mundano, e torna-se estéril”.
Vatican News
No campo esportivo de Prešov, o Papa Francisco viveu um dos momentos mais significativos de sua viagem à Eslováquia ao presidir a Divina Liturgia Bizantina de São João Crisóstomo.
No dia em que a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz, toda a homilia do Pontífice foi voltada a meditar o “escândalo” e a “loucura” da morte de Jesus.
“A cruz era instrumento de morte, e, contudo, dela veio a vida”, disse o Papa. Por isso, o santo povo de Deus a venera. Aos olhos do mundo, a cruz é um fracasso. Quantas vezes, disse Francisco, “aspiramos a um cristianismo de vencedores, a um cristianismo triunfalista, que tenha relevância e importância, receba glória e honra. Mas um cristianismo sem cruz é mundano, e torna-se estéril”.
Deus, prosseguiu, escolheu o caminho mais difícil: a cruz. Para que não houvesse na terra ninguém tão desesperado que não conseguisse encontrá-Lo, até mesmo na angústia, na escuridão, no abandono, no escândalo da sua miséria e dos próprios erros.
Alguns santos, acrescentou o Papa, ensinaram que a cruz é como um livro que, para o conhecer, é preciso abri-lo e ler. Significa deter o olhar sobre Crucificado, deixar-se impressionar pelas suas chagas, se comover e chorar diante de Deus ferido de amor por nós.
“Se não fizermos assim, a cruz permanece um livro não lido, cujo título e autor são bem conhecidos, mas que não influencia a vida. Não reduzamos a cruz a um objeto de devoção, e menos ainda a um símbolo político, a um sinal de relevância religiosa e social”, recomendou o Papa.
Da contemplação do Crucifixo, ensinou Francisco, provém o segundo passo: dar testemunho. E são muitos os que sofreram e morreram na Eslováquia por causa do nome de Jesus! Hoje o país está livre da perseguição, mas sofre a ameaça do mundanismo e da mediocridade.
“A cruz não quer ser uma bandeira elevada ao alto, mas a fonte pura de uma maneira nova de viver. Qual? A do Evangelho, a das Bem-aventuranças.”
Não só santos e mártires foram testemunhas, mas também pessoas humildes e simples, que deram a vida amando até ao fim.
“São os nossos heróis, os heróis da vida quotidiana; e são as suas vidas que mudam a história”, disse ainda o Papa, que concluiu:
“É assim que a fé se espalha: com a sabedoria da cruz e não com o poder do mundo; com o testemunho e não com as estruturas. E hoje, a partir do silêncio vibrante da cruz, o Senhor pergunta também a você: «Quer ser minha testemunha?»” Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco: viver sem medo de ser verdadeiro. O hipócrita não sabe amar
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Na catequese, o Pontífice convidou os cristãos a se inspirarem em Paulo, homem reto que não tem medo da verdade. A hipocrisia, afirmou, pode colocar em perigo a unidade na Igreja.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
A hipocrisia foi o tema da Audiência Geral desta quarta-feira (25/08). Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco citou um episódio narrado pelo Apóstolo ocorrido em Antioquia.
O protagonista é Pedro e o que está em jogo é a relação entre a Lei e a liberdade. O objeto da crítica foi o comportamento de Pedro à mesa, que mudou de acordo com a companhia. A Lei proibia a um judeu de partilhar refeições com não judeus. Pedro estava à mesa sem qualquer dificuldade com os cristãos que tinham vindo do paganismo, mas quando alguns cristãos de Jerusalém, circuncidados, chegaram à cidade, ele já não o fez, para não incorrer nas críticas deles. Isto é grave aos olhos de Paulo, até porque Pedro estava a ser imitado por outros discípulos e o seu comportamento criou uma divisão injusta na comunidade.
Paulo recorda aos cristãos que eles não devem absolutamente escutar aqueles que pregam a necessidade de serem circuncidados e assim ficar “sob a Lei” com todas as suas prescrições. Na sua repreensão, Paulo usa um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia (cf. Gl 2, 13).
A observância da Lei por parte dos cristãos levou a este comportamento hipócrita, que o Apóstolo pretende combater com força e convicção.
Fingir é maquiar a alma
Para Francisco, hipocrisia é o medo da verdade. As pessoas preferem fingir do que ser elas mesmas. "É como maquiar a alma, maquiar as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade." Fingir impede a coragem de dizer a verdade abertamente, e assim facilmente se evita a obrigação de a dizer sempre, em todo o lado e apesar de tudo.
"O fingimento leva a isto: às meias verdades", disse ainda o Papa. E as meias verdades são um fingimento, são um modo de agir não verdadeiro e que impede a coragem, de dizer abertamente a verdade. Num ambiente em que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente.
O Papa recorda que há vários exemplos na Bíblia onde a hipocrisia é combatida, como o velho Eleazar, e situações em que Jesus repreende fortemente aqueles que parecem justos no exterior, mas no interior estão cheios de falsidade e iniquidade.
“O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência.”
O hipócrita não sabe amar
Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer, adverte Francisco: no trabalho, na política e até mesmo na Igreja, onde “é particularmente detestável”. “Infelizmente, existe hipocrisia na Igreja. Há muitos cristãos e ministros hipócritas.”
Francisco encerra sua catequese citando as palavras de Jesus: «Seja este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal» (Mt 5, 37).
“Irmãos e irmãs, pensemos nisso que Paulo condena: a hipocrisia; e que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de sermos verdadeiros, de dizer a verdade, de sentir a verdade, de nos conformar à verdade. Assim poderemos amar. O hipócrita não sabe amar. Agir de outra forma é pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou.” Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa no Angelus: deixemos que Cristo nos coloque em crise
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"Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, nos preocupemos se não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos diluído sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter por suas ‘palavras de vida eterna’", disse Francisco no Angelus deste domingo, 22 de agosto, XXI Domingo do Tempo Comum. "Que Maria Santíssima, que carregou seu Filho Jesus na carne e se uniu a seu sacrifício, nos ajude a dar sempre testemunho de nossa fé com a vida concreta", rezou o Papa
Raimundo de Lima - Vatican News
“Não devemos buscar Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida.”
Foi o que disse o Papa na alocução que precedeu o Angelus, ao meio-dia deste XXI Domingo do Tempo Comum, este 22 de agosto, rezando a oração mariana com os fiéis e peregrinos presentes na Praça são Pedro.
Jesus, o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida
Explicando a Liturgia do dia, Francisco destacou que o Evangelho (Jo 6, 60-69) nos mostra a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse sinal e a acreditar n’Ele, que é o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida; e revelou que o pão que Ele dará é sua a carne e o seu sangue.
Estas palavras, disse o Santo Padre, soam duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, tanto que, a partir daquele momento, muitos de seus discípulos voltam atrás, ou seja, deixam de seguir o Mestre. Então Jesus pergunta aos Doze: "Não quereis também vós partir?", e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de ficar com Ele: "Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus".
O Pontífice deteve-se brevemente na atitude daqueles que se retiram e voltam para trás, decidindo não seguir mais Jesus. De onde nasce essa descrença? Qual é o motivo desta recusa? – perguntou Francisco.
O escândalo da encarnação de Deus
“As palavras de Jesus causam grande escândalo: Ele está dizendo que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne humana. A encarnação de Deus é o que suscita escândalo e que representa para estas pessoas - mas muitas vezes também para nós - um obstáculo. De fato, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é sua própria carne; que para entrar em comunhão com Deus, antes de observar as leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele.”
O Santo Padre prosseguiu ressaltando que Deus se fez carne e sangue: abaixou-se ao ponto se tornar homem como nós, humilhou-se a ponto de assumir nosso sofrimento e nosso pecado, e nos pede para procurá-lo, portanto, não fora da vida e da história, mas no relacionamento com Cristo e com os irmãos e irmãs.
"Loucura" do Evangelho
Ainda hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar escândalo e não é fácil de aceitar. É o que São Paulo chama de "loucura" do Evangelho diante daqueles que buscam os milagres ou a sabedoria do mundo (cf. 1 Cor 1, 18-25).
E este "escândalo" é bem representado pelo sacramento da Eucaristia: que sentido pode haver, aos olhos do mundo, ajoelhar-se diante de um pedaço de pão? Por qual motivo se alimentar assiduamente deste pão?
“Diante do gesto prodigioso de Jesus que alimenta milhares de pessoas com cinco pães e dois peixes, todos o aclamam e querem levá-lo em triunfo. Mas quando Ele mesmo explica que esse gesto é sinal de seu sacrifício, ou seja, do dom de sua vida, de sua carne e de seu sangue, e que aqueles que querem segui-lo devem assimilá-lo, sua humanidade dada por Deus e pelos outros, então não, esse Jesus não agrada mais”, observou o Papa.
Deixemo-nos colocar em crise
"Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, nos preocupemos se não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos diluído sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter por suas 'palavras de vida eterna'", frisou Francisco.
Após a oração mariana, o Pontífice saudou os fiéis presentes na praça provenientes de vários países e de diferentes regiões da Itália. Havia também numerosos grupos de jovens aos quais o Papa dirigiu seu encorajamento para trilhar no caminho do Evangelho. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: vacinar-se é um ato de amor
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Numa mensagem em vídeo para os povos da América Latina, o Papa Francisco os convida a vacinar-se contra o coronavírus: um gesto simples, mas profundo, para um futuro melhor. Mensagem à qual se somam os apelos conjuntos de prelados do continente americano: é necessário ser responsável pelo bem comum, porque somos uma família
Raimundo de Lima - Vatican News
“Com espírito fraterno, uno-me a esta mensagem de esperança por um futuro mais luminoso. Graças a Deus e ao trabalho de muitos, hoje temos vacinas para nos proteger da Covid-19. Elas dão a esperança de acabar com a pandemia, mas somente se elas estiverem disponíveis para todos e se colaborarmos uns com os outros.”
É o que afirma o Santo Padre numa mensagem em vídeo aos povos latino-americanos, lançando um apelo à consciência de cada um fazendo votos de uma atitude responsável para enfrentar juntos a pandemia.
O amor é também social e político
“Vacinar-se, com vacinas autorizadas pelas autoridades competentes, é um ato de amor. E ajudar a fazer de modo que a maioria das pessoas se vacinem é um ato de amor. Amor por si mesmo, amor pelos familiares e amigos, amor por todos os povos. O amor também é social e político, há amor social e amor político, é universal, sempre transbordante de pequenos gestos de caridade pessoal capazes de transformar e melhorar as sociedades”, prossegue o Papa.
Vacinar-se, um modo simples de promover o bem-comum
Francisco conclui afirmando que vacinar-se é uma forma simples mas profunda de promover o bem comum e de cuidar uns dos outros, especialmente dos mais vulneráveis. “Peço a Deus que cada um possa contribuir com seu pequeno grão de areia, seu pequeno gesto de amor. Por menor que seja, o amor é sempre grande. Contribua com estes pequenos gestos para um futuro melhor.”
Apelo conjunto dos prelados latino-americanos
O apelo do Papa é reforçado por vários cardeais do continente, que foram unânimes em nos lembrar da necessidade de vacinar-se contra o coronavírus. José Horacio Gómez, do México, presidente dos bispos dos EUA, espera que com a ajuda da fé as pessoas possam enfrentar os riscos da pandemia e que todos nós possamos nos vacinar. Carlos Aguiar Retes, arcebispo de Cidade do México, pediu a vacinação do norte ao sul do continente porque - afirma - estamos todos interligados e a esperança deve ser sem exclusão. O cardeal Hummes se faz porta-voz das mesmas palavras do Papa: vacinar-se é um ato de amor por todos e aponta que os esforços heroicos dos profissionais da saúde produziram vacinas seguras e eficazes para toda a família humana. O cardeal salvadorenho Rosa Chávez falou de uma "responsabilidade moral para toda a comunidade": "Nossa escolha de vacinar afeta os outros". O cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga também expressou seu apoio à campanha de conscientização: "Ainda temos mais a aprender sobre o vírus, mas uma coisa é verdade: as vacinas autorizadas funcionam e salvam vidas, são uma chave para a cura pessoal e universal". Do Peru, dom Miguel Cabrejos Vidarte, presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), apelou à unidade e voltou ao aspecto de proteger nossa saúde integral, convidando as pessoas a se vacinarem porque "a vacinação é segura e eficaz". Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa no Angelus: a humildade é o segredo para alcançar o Céu
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Francisco disse na sua alocução no dia da Solenidade da Assunção que "Maria, em sua pequenez, conquista os céus primeiro. O segredo de seu sucesso está precisamente em se reconhecer pequena e necessitada". Com Deus, somente aqueles que se reconhecem como nada são capazes de receber tudo.
Silvonei José - Vatican News
"No Evangelho deste domingo, Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu, destaca-se o Magnificat. Este cântico de louvor é como uma fotografia" da Mãe de Deus. Maria 'alegra-se em Deus, porque olhou para a humildade de sua serva'. A humildade é o segredo de Maria. É a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela." Estas são palavras do Papa Francisco antes do Angelus na solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria, pronunciadas da janela de seu escritório no Palácio Apostólico do Vaticano diante dos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. "O olho humano - continuou o Papa - busca a grandeza e fica deslumbrado com o que é vistoso. Deus, por outro lado, não olha para as aparências, mas para o coração e se encanta com a humildade. Hoje, olhando para Maria assunta, podemos dizer que a humildade é o caminho que leva para o céu".
A palavra 'humildade' vem do latim humus, que significa 'terra'", disse o Papa. É paradoxal: para chegar ao topo, ao céu, você tem que permanecer baixo, como a terra! Jesus ensina: "Aquele que se humilha será exaltado. Deus não nos exalta por nossos dons, por nossas riquezas e habilidades, mas por nossa humildade. Deus exalta quem se abaixa, quem serve. Maria, de fato, a si mesma não atribui outro 'título' a não ser de serva: ela é "a serva do Senhor". Ela não diz mais nada sobre si mesma, ela não busca mais nada para si mesma.
Hoje, então, - enfatizou Francisco - podemos nos perguntar: como vivo a humildade? Procuro ser reconhecido por outros, afirmar-me e ser elogiado, ou eu penso em servir? Eu sei escutar, como Maria, ou será que eu só quero falar receber atenção? Eu sei ficar em silêncio, como Maria, ou eu estou sempre falando? Será que sei dar um passo para trás, evitar brigas e discussões ou eu apenas tento me sobressair?
"Conquista os céus primeiro"
Maria, em sua pequenez, conquista os céus primeiro". O segredo de seu sucesso está precisamente em se reconhecer pequena e necessitada", sublinhou o Papa Francisco. Com Deus, somente aqueles que se reconhecem como nada são capazes de receber tudo. Somente aqueles que se esvaziam são preenchidos por Ele. E Maria é a "cheia de graça" precisamente por causa de sua humildade. Para nós também, a humildade é o ponto de partida, o início de nossa fé. É fundamental ser pobre em espírito, ou seja, necessitados de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite que o Senhor realize grandes coisas. O poeta Dante chama a Virgem Maria de "humilde e elevada mais do que criatura''.
O Papa Francisco disse em seguida que é bom pensar que a criatura mais humilde e alta da história, a primeira a conquistar os céus com toda si mesma, de corpo e alma, passou a maior parte de sua vida entre as paredes de sua casa, no cotidiano. Os dias da cheia de graça não foram muito impressionantes. Eram muitas vezes iguais, no silêncio: no exterior, nada de extraordinário. Mas o olhar de Deus sempre permaneceu sobre ela, admirado pela sua humildade, sua disponibilidade, pela beleza de seu coração, nunca tocada pelo pecado. Esta é uma grande mensagem de esperança para nós; para você, que vive dias iguais, cansativos e muitas vezes difíceis.
Vamos celebrá-la hoje com o amor de filhos
Maria nos recorda hoje que Deus também chama você para este destino de glória - continuou o Papa . "Estas não são palavras bonitas, é a verdade. Não é um final feliz engenhosamente criado, uma ilusão piedosa ou uma falsa consolação. Não, é a pura realidade, viva e verdadeira como Nossa Senhora assunta ao Céu".
O Papa então convidou os fiéis presentes na Praça São Pedro: Vamos celebrá-la hoje com o amor de filhos, animados pela esperança de um dia estar com ela no Céu!
Francisco pediu então que todos rezassem a Nossa Senhora para que ela possa nos acompanhar no caminho da Terra para o céu. Pediu ainda a Nossa Senhora que nos recorde que o segredo do caminho está contido na palavra humildade. E que a pequenez e o serviço são os segredos para alcançar a meta''. Fonte: https://www.vaticannews.va
Ao recordar o Cura d'Ars, Papa convida a rezar pelos sacerdotes
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No dia em que a Igreja recorda São João Maria Vianney, Francisco indica neste Santo, padroeiro dos Párocos do mundo, uma fonte de inspiração para os sacerdotes, chamados a "pregar o Evangelho da salvação".
Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano
“Hoje, memória de São João Maria Vianney, convido-vos a rezar de maneira especial pelos vossos párocos e por todos os sacerdotes. Que eles, inspirados pelo exemplo do Santo Cura D'Ars, ofereçam suas vidas à missão de pregar o Evangelho da salvação.”
Esta foi a exortação do Papa na Audiência Geral ao saudar os fiéis de língua portuguesa presentes na Sala Paulo VI - ou que acompanhavam a transmissão do tradicional encontro das quartas-feiras pelas redes sociais. Aos fiéis de língua francesa, Francisco indicou São João Maria Vianney como “testemunha de amor, misericórdia e solidariedade”.
Uma vida a serviço do povo de Deus
Conhecido como "o Cura de Ars", João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786 em Dardilly, perto de Lyon. Foi ordenado sacerdote aos 29 anos e em 1818 foi enviado para Ars, um pequeno vilarejo no sudeste da França, habitado por 230 pessoas.
Ele dedica todas as suas energias ao cuidado dos fiéis. Ele está sempre disponível para ouvir e perdoar, passa até 16 horas por dia no confessionário. Todos os dias, uma multidão de penitentes de vários lugares da França se confessa com ele.
Ars foi rebatizado de "o grande hospital das almas". Ele faz vigílias, reza e jejua para contribuir para a expiação dos pecados dos fiéis. “Direi a você qual é a minha receita - confidencia a um confrade -: dou uma pequena penitência aos pecadores e faço o resto no lugar deles”.
Ele morreu em 4 de agosto de 1859, aos 73 anos. Seus restos mortais repousam em Ars, no Santuário a ele dedicado. Beatificado em 1905 por Pio X, foi canonizado em 1925 por Pio XI e em 1929.
Um modelo para todos os sacerdotes
Durante seu Pontificado, o Papa recordou repetidamente a figura do Santo Cura d'Ars. Na carta escrita em 4 de agosto de 2019, por ocasião do 160º aniversário da morte de São João Maria Vianney, Francisco expressa o encorajamento e a proximidade aos “ irmãos presbíteros, que sem fazer alarde «deixam tudo» para vos empenhar na vida quotidiana das vossas comunidades; aos que trabalham na "trincheira"; a quantos aguentam o peso do dia e do calor e, sujeitos a uma infinidade de situações, as enfrentam diariamente e sem se dar ares de importância para que o povo de Deus seja cuidado e acompanhado."
Uma característica que distingue a vida de São João Maria Vianney é a oração. No Angelus de 4 de agosto de 2019, Francisco recorda também que o Santo Cura d'Ars é "modelo de bondade e de caridade para todos os sacerdotes". “O testemunho deste pároco humilde totalmente dedicado ao seu povo - acrescenta o Papa - ajuda a redescobrir a beleza e a importância do sacerdócio ministerial na sociedade contemporânea”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: aprender da amizade com Jesus o amor desinteressado e sem cálculo pelos outros
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"É justo apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem além das nossas expectativas, deseja viver conosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca!"
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
No centro de uma fé imatura não existe Deus, mas as nossas necessidades. Assim, para viver uma relação de amor verdadeiro com o Senhor, devemos interrogar-nos sobre os motivos pelo qual O buscamos, fugindo assim da tentação idolátrica que leva a buscá-Lo apenas para o “próprio uso e consumo”, e depois de satisfeitos, “nos esquecemos dele”.
Jesus o Pão da vida: a narrativa do Evangelho de João da liturgia deste XVIII Domingo do Tempo Comum, ofereceu ao Santo Padre a ocasião para exortar-nos a buscar uma relação com Deus que “vá além das lógicas do interesse e do cálculo”, ou seja, a ter com Ele uma relação de amor.
Dirigindo-se aos fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro a uma temperatura de 34ºC, Francisco comenta que as pessoas que haviam testemunhado a multiplicação dos pães não haviam compreendido o significado do gesto, “se restringiram ao milagre externo e ao pão material.”
O risco da "tentação idolátrica"
Neste sentido, o Papa propõe a primeira pergunta que poderíamos fazer a nós mesmos: “Por que buscamos o Senhor? Por que eu busco o Senhor? Quais são as motivações da minha fé, da nossa fé?”:
“Temos necessidade de discernir isso, porque entre as tantas tentações que temos na vida, entre as tantas tentações há uma que poderíamos chamar de tentação idolátrica. É aquela que nos leva a buscar a Deus para nosso próprio uso e consumo, para resolver os problemas, para obter, graças a Ele, o que não conseguimos obter sozinhos, por interesse.”
Amor verdadeiro é desinteressado e gratuito
Mas assim – observou o Papa - a fé permanece superficial e miraculosa: “buscamos a Deus para matar nossa fome e depois quando estamos satisfeitos nos esquecemos dele”:
“No centro desta fé imatura não existe Deus, estão as nossas necessidades. Penso nos nossos interesses, tantas coisas...É justo apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem além das nossas expectativas, deseja viver conosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca. Isso é interesse, e tantas vezes na vida nós somos interesseiros!”
Passar de uma fé mágica para uma fé que agrada a Deus
Vem então um segundo questionamento: "Mas, como fazer para purificar a nossa busca por Deus? Como passar de uma fé mágica, que só pensa nas próprias necessidades, para uma fé que agrada a Deus?”. E é o próprio Jesus que responde, afirmando que “a obra de Deus é acolher Aquele que o Pai enviou, ou seja, Ele mesmo, Jesus”:
“Não é acrescentar práticas religiosas ou observar especiais preceitos; é acolher Jesus, é acolhê-Lo na vida, é viver uma história de amor com Ele. Será Ele quem purificará a nossa fé. Sozinhos, não somos capazes. Mas o Senhor deseja uma relação de amor conosco: antes das coisas que recebemos e fazemos, existe Ele a ser amado. Existe uma relação com Ele que vai além das lógicas do interesse e do cálculo.”
A partir da amizade com Jesus, aprender a amar-nos uns aos outros
E isso – disse Francisco - vale não só em relação a Deus, mas também nas nossas relações humanas e sociais:
“[ Quando buscamos sobretudo a satisfação das nossas necessidades, corremos o risco de usar as pessoas e de instrumentalizar as situações para os nossos objetivos. Quantas vezes ouvimos sobre uma pessoa: 'Mas ele usa as pessoas e depois se esquece'. Usar as pessoas em proveito próprio, é feio isso! E uma sociedade que coloca no centro os interesses em vez das pessoas, é uma sociedade que não gera vida. O convite do Evangelho é este: em vez de nos preocuparmos apenas com o pão material que nos alimenta, acolhamos Jesus como o pão da vida e, a partir da amizade com Ele, aprendamos a amar-nos uns aos outros. Com gratuidade e sem cálculos. Amor gratuito e sem cálculos, sem usar as pessoas, com gratuidade, com generosidade, com magnanimidade.]”
Rezemos agora à Virgem Santa - disse o Santo Padre ao concluir - Aquela que viveu a mais bela história de amor com Deus, para que nos conceda a graça de nos abrirmos ao encontro com o seu Filho. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: os avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para jogar fora
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O Papa: os avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para jogar fora
Em sua homilia, Francisco afirma que "hoje há necessidade duma nova aliança entre jovens e idosos, necessidade de partilhar o tesouro comum da vida, sonhar juntos, superar os conflitos entre as gerações para preparar o futuro de todos."
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, dom Rino Fisichella, presidiu a missa do primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, neste domingo (25/07), na Basílica de São Pedro.
Devido à recente cirurgia no cólon, o Santo Padre não presidiu a celebração, mas a sua homilia foi lida por dom Fisichella. O Papa inicia a sua homilia com o seguinte versículo do Evangelho deste domingo: «Jesus disse a Filipe: “Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?”» “Jesus não se limita a ensinar, mas deixa-se interpelar também pela fome que se faz sentir na vida das pessoas. E assim alimenta a multidão, distribuindo os cinco pães de cevada e os dois peixes recebidos de um jovem. Ao fim, sobram ainda numerosos pedaços de pão, dizendo aos seus discípulos que os recolham, «para que nada se perca».”
Neste Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa se deteve nestes três momentos: Jesus vê a fome da multidão; Jesus partilha o pão; Jesus recomenda a recolher os pedaços que sobraram. Três momentos que se resumem em três verbos: ver, partilhar e guardar.
Ver: Jesus vê a fome da multidão
Jesus levanta os olhos e vê a multidão faminta depois de tanto ter caminhado para o encontrar. “O milagre começa assim, com o olhar de Jesus; um olhar não indiferente nem apressado, mas que sente as agulhadas da fome que atribulam a humanidade cansada. Preocupa-se conosco, cuida de nós, quer saciar a nossa fome de vida, amor e felicidade. Jesus tem um olhar contemplativo, isto é, capaz de parar em frente da vida do outro e ler dentro dela.”
Este é também o olhar que os avós e os idosos tiveram sobre a nossa vida. Foi o modo como cuidaram de nós, desde a nossa infância. Depois de uma vida feita muitas vezes de sacrifícios, não se mostraram indiferentes a nosso respeito nem apressados sem nos ligar; mas tiveram olhos atentos, cheios de ternura. No nosso crescimento quando nos sentíamos incompreendidos ou com medo dos desafios da vida, eles deram-se conta de nós, do que estava a mudar no nosso coração, das nossas lágrimas escondidas e dos sonhos que trazíamos dentro de nós. Todos nos sentamos no colo dos avós, que nos pegaram no colo. E foi também graças a este amor que nos tornamos adultos.
A seguir, o Papa fez as seguintes perguntas: "E nós! Que olhar temos para com os avós e os idosos? Quando foi a última vez que fizemos companhia ou telefonamos a um idoso para o certificar da nossa proximidade e deixar-nos abençoar pelas suas palavras?"
“Sofro quando vejo uma sociedade que corre, apressada e indiferente, ocupada com tantas coisas e incapaz de parar para dar um olhar, uma saudação, uma carícia. Tenho medo duma sociedade onde todos formamos uma multidão anônima e já não somos capazes de erguer os olhos e reconhecer-nos. Os avós, que alimentaram a nossa vida, hoje têm fome de nós: da nossa atenção, da nossa ternura; de sentir-nos perto deles. Ergamos o olhar para eles, como Jesus faz conosco.”
Partilhar: Jesus partilha o pão
O segundo momento é partilhar. Jesus partilha o pão. "Depois de ter visto a fome daquelas pessoas, Jesus quer alimentá-las. Mas isto acontece graças à dádiva dum jovem, que oferece os seus cinco pães e os dois peixes. É belo encontrar, no centro deste prodígio que beneficiou tantos adultos – cerca de cinco mil pessoas –, um rapaz, um jovem, que partilha o que tem."
Hoje há necessidade duma nova aliança entre jovens e idosos, necessidade de partilhar o tesouro comum da vida, sonhar juntos, superar os conflitos entre as gerações para preparar o futuro de todos. Sem esta aliança de vida, sonhos e futuro, corremos o risco de morrer de fome, porque aumentam os laços desfeitos, as solidões, os egoísmos e as forças desagregadoras. Frequentemente, na nossa sociedade, deixamos a vida guiar-se por esta ideia: «cada um pensa por si». Mas isto mata! O Evangelho nos exorta a partilhar o que somos e temos: só assim poderemos ser saciados.
A propósito, o Papa recordou o que diz o profeta Joel: jovens e idosos juntos. "Os jovens, profetas do futuro que não esquecem a história donde provêm; os idosos, sonhadores sempre incansáveis que transmitem experiência aos jovens, sem lhes bloquear o caminho. Jovens e idosos, o tesouro da tradição e o frescor do Espírito. Jovens e idosos juntos. Na sociedade e na Igreja: juntos."
Guardar: Jesus recomenda a recolher os pedaços que sobraram
O terceiro momento citado pelo Papa é guardar. Jesus recomenda a recolher os pedaços que sobraram. "Depois de terem comido, o Evangelho observa que sobraram muitos pedaços de pão. E Jesus recomenda: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Assim é o coração de Deus: não apenas nos dá mais do que precisamos, mas preocupa-se também que nada se perca, nem um pedaço sequer."
Um pedaço de pão pode parecer insignificante, mas aos olhos de Deus nada deve ser descartado; e, com mais forte razão, ninguém deve ser descartado. É um convite profético que, hoje, somos chamados a fazer ressoar em nós e no mundo: recolhei, conservai cuidadosamente, guardai.
“Os avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para jogar fora. Mas são aqueles preciosos pedaços de pão deixados na mesa da nossa vida, que ainda nos podem nutrir com uma fragrância que perdemos, «a fragrância da memória».”
Não percamos a memória de que os idosos são portadores, porque somos filhos daquela história e, sem raízes, murcharemos. Guardaram-nos no caminho do nosso crescimento, agora cabe a nós guardar a vida deles, aliviar as suas dificuldades, atender às suas necessidades, criar as condições que lhes permitam ver facilitadas as suas tarefas diárias e não se sintam sozinhos.
Francisco nos convidou a fazer as seguintes perguntas: «Visitei os avós? Os idosos da minha família ou do meu bairro? Prestei-lhes atenção? Dediquei-lhes algum tempo?» Guardemo-los, para que nada se perca: nada da sua vida e dos seus sonhos. Cabe a nós, hoje, prevenir o lamento de amanhã por não termos dedicado suficiente atenção a quem nos amou e nos deu a vida.
A homilia do Papa se conclui com as seguintes palavras: "Os avós e os idosos são pão que nutre a nossa vida. Sejamos agradecidos pelos seus olhos atentos, que se aperceberam de nós, pelos seus braços que nos deram colo, pelas suas mãos que nos acompanharam e levantaram, pelos jogos que fizeram conosco e pelas carícias com que nos consolaram. Por favor, não nos esqueçamos deles. Aliemo-nos com eles. Aprendamos a parar, a reconhecê-los, a ouvi-los. Nunca os descartemos. Guardemo-los amorosamente. E aprendamos a partilhar tempo com eles. Sairemos melhores. E juntos, jovens e idosos, nos saciaremos à mesa da partilha, abençoada por Deus." Fonte: https://www.vaticannews.va
Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos
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(4º domingo de julho – 25 de julho de 2021)
«Eu estou contigo todos os dias»
Queridos avôs, queridas avós!
«Eu estou contigo todos os dias» (cf. Mt 28, 20) é a promessa que o Senhor fez aos discípulos antes de subir ao Céu; e hoje repete-a também a ti, querido avô e querida avó. Sim, a ti! «Eu estou contigo todos os dias» são também as palavras que eu, Bispo de Roma e idoso como tu, gostaria de te dirigir por ocasião deste primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, conosco –, preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado.
Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempestade inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um tratamento mais duro. Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos próprios entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se forçados à solidão por um tempo muito longo, isolados.
O Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de ter sido afastado; a nossa solidão – agravada pela pandemia – não O deixa indiferente. Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor enviou-lhe um anjo para o consolar. Estava ele, triste, fora das portas da cidade, quando lhe apareceu um Enviado do Senhor e lhe disse: «Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente».[1] Giotto dá a impressão, num afresco famoso[2], de colocar a cena de noite, uma daquelas inúmeras noites de insónia a que muitos de nós se habituaram, povoadas por lembranças, inquietações e anseios.
Ora, mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: «Eu estou contigo todos os dias». Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!
Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis em alguns lugares.
Mas o Senhor envia-nos os seus mensageiros também através da Palavra divina, que Ele nunca deixa faltar na nossa vida. Cada dia, leiamos uma página do Evangelho, rezemos com os Salmos, leiamos os Profetas! Ficaremos comovidos com a fidelidade do Senhor. A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor nos pede hoje na vida. De facto, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em cada estação da vida. Eu mesmo posso dar testemunho de que recebi a chamada para me tornar Bispo de Roma quando tinha chegado, por assim dizer, à idade da aposentação e imaginava que já não podia fazer muito de novo. O Senhor está sempre junto de nós – sempre – com novos convites, com novas palavras, com a sua consolação, mas está sempre junto de nós. Como sabeis, o Senhor é eterno e nunca vai para a reforma. Nunca.
No Evangelho de Mateus, Jesus diz aos Apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (28, 19-20). Estas palavras são dirigidas também a nós, hoje, e ajudam-nos a entender melhor que a nossa vocação é salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Atenção! Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto.
Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autónomo ou precisas de ser assistido, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo.
Portanto existe uma renovada vocação, também para ti, num momento crucial da história. Perguntar-te-ás: Mas, como é possível? As minhas energias vão-se exaurindo e não creio que possa ainda fazer muito. Como posso começar a comportar-me de maneira diferente, quando o hábito se tornou a regra da minha existência? Como posso dedicar-me a quem é mais pobre, se já tenho tantas preocupações com a minha família? Como posso alongar o meu olhar, se não me é permitido sequer sair da residência onde vivo? Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? Quantos de vós se interrogam: Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? O próprio Jesus ouviu Nicodemos dirigir-Lhe uma pergunta deste tipo: «Como pode um homem nascer, sendo velho?» (Jo 3, 4). Isso é possível – responde o Senhor –, abrindo o próprio coração à obra do Espírito Santo, que sopra onde quer. Com a liberdade que tem, o Espírito Santo move-Se por toda a parte e faz aquilo que quer.
Como afirmei já mais de uma vez, da crise que o mundo atravessa, não sairemos iguais: sairemos melhores ou piores. E «oxalá não seja mais um grave episódio da história, cuja lição não fomos capazes de aprender [somos de cabeça dura!]. Oxalá não nos esqueçamos dos idosos que morreram por falta de respiradores (...). Oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça» (Papa Francisco, Enc. Fratelli tutti, 35). Ninguém se salva sozinho. Devedores uns dos outros. Todos irmãos.
Nesta perspectiva, quero dizer que há necessidade de ti para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã: aquele em que viveremos – nós com os nossos filhos e netos –, quando se aplacar a tempestade. Todos devemos ser «parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas» (Ibid., 77). Entre os vários pilares que deverão sustentar esta nova construção, há três que tu – melhor que outros – podes ajudar a colocar. Três pilares: os sonhos, a memória e a oração. A proximidade do Senhor dará – mesmo aos mais frágeis de nós – a força para empreender um novo caminho pelas estradas do sonho, da memória e da oração.
Uma vez o profeta Joel pronunciou esta promessa: «Os vossos anciãos terão sonhos e os jovens terão visões» (3, 1). O futuro do mundo está nesta aliança entre os jovens e os idosos. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. É preciso que testemunhes, também tu, a possibilidade de se sair renovado duma experiência dolorosa. E tenho a certeza de que não será a única, pois, na tua vida, terás tido tantas e sempre conseguiste triunfar delas. E, dessa experiência que tens, aprende como sair da provação atual.
Nisto se vê como os sonhos estão entrelaçados com a memória. Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. E, a transmitir isto, és tu que viveste a tribulação das guerras. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros. Segundo Edith Bruck que sobreviveu à tragédia do Holocausto, «mesmo que seja para iluminar uma só consciência, vale a pena a fadiga de manter viva a recordação do que foi… e continua. Para mim, a memória é viver».[3] Penso também nos meus avós e naqueles de vós que tiveram de emigrar e sabem quanto custa deixar a própria casa, como fazem muitos ainda hoje à procura dum futuro. Talvez tenhamos algum deles ao nosso lado a cuidar de nós. Esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor. Mas, sem a memória, não se pode construir; sem alicerces, tu nunca construirás uma casa. Nunca. E os alicerces da vida estão na memória.
Por fim, a oração. Como disse o meu predecessor, Papa Bento (um idoso santo, que continua a rezar e trabalhar pela Igreja), «a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos».[4] Disse-o quase no fim do seu pontificado, em 2012. É belo! A tua oração é um recurso preciosíssimo: é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo (cf. Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 262). Sobretudo neste tempo tão difícil para a humanidade em que estamos – todos na mesma barca – a atravessar o mar tempestuoso da pandemia, a tua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã, mas indica a todos a serena confiança de um porto seguro.
Querida avó, querido avô! Ao concluir esta minha mensagem, gostaria de indicar, também a ti, o exemplo do Beato (e proximamente Santo) Carlos de Foucauld. Viveu como eremita na Argélia e lá, naquele contexto periférico, testemunhou «os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão» (Enc. Fratelli tutti, 287). A sua história mostra como é possível, mesmo na solidão do próprio deserto, interceder pelos pobres do mundo inteiro e tornar-se verdadeiramente um irmão e uma irmã universal.
Peço ao Senhor que cada um de nós, graças também ao seu exemplo, alargue o próprio coração e o torne sensível aos sofrimentos dos últimos e capaz de interceder por eles. Oxalá cada um de nós aprenda a repetir a todos, e em particular aos mais jovens, estas palavras de consolação que ouvimos hoje dirigidas a nós: «Eu estou contigo todos os dias». Avante e coragem! Que o Senhor vos abençoe.
Roma, São João de Latrão, na Festa da Visitação da Virgem Santa Maria, 31 de maio de 2021.
FRANCISCO
[1] O episódio é narrado no Protoevangelho de Tiago.
[2] Trata-se da imagem escolhida como logótipo do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.
[3] «La memoria è vita, la scrittura è respiro», in L'Osservatore Romano (26 de janeiro de 2021).
[4] Visita à casa-família “Viva gli anziani”, 12 de novembro de 2012.
Fonte: https://www.vaticannews.va
CARTA APOSTÓLICA NA FORMA DE MOTU "PROPRIO" DO ALTO PONTIFF FRANCIS
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CARTA APOSTÓLICA NA FORMA DE MOTU "PROPRIO" DO ALTO PONTIFF FRANCIS
"TRADITIONIS CUSTODES" SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA ANTES DA REFORMA DE 1970
Guardiães da tradição, os bispos, em comunhão com o bispo de Roma, constituem o princípio visível e o fundamento da unidade nas suas Igrejas particulares.[1] Sob a direção do Espírito Santo, através do anúncio do Evangelho e da celebração da Eucaristia, eles governam as Igrejas particulares que lhes são confiadas.[2]
Para promover a harmonia e a unidade da Igreja, com paternal solicitude para com aqueles que em algumas regiões aderiram às formas litúrgicas anteriores à reforma desejada pelo Concílio Vaticano II , os meus venerados Predecessores São João Paulo II e Bento XVI , concederam e regulamentou o corpo docente para usar o Missal Romano publicado por São João XXIII no ano de 1962.[3] Pretendiam assim "facilitar a comunhão eclesial para os católicos que se sentem vinculados a algumas formas litúrgicas anteriores" e não a outras.[4]
Na esteira da iniciativa do meu Venerável Predecessor Bento XVI de convidar os bispos a verificar a aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum , três anos após sua publicação, a Congregação para a Doutrina da Fé fez uma ampla consulta aos bispos em 2020, cujos resultados foram cuidadosamente considerados à luz da experiência adquirida nos últimos anos.
Agora, tendo considerado os desejos formulados pelo episcopado e ouvido o parecer da Congregação para a Doutrina da Fé, desejo, com esta Carta Apostólica, continuar ainda mais na busca constante da comunhão eclesial. Portanto, achei apropriado estabelecer o seguinte:
Art. 1. Os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano.
Art. 2. Ao Bispo diocesano, como moderador, promotor e custódio de toda a vida litúrgica na Igreja particular que lhe foi confiada,[5] É a responsabilidade de regular as celebrações litúrgicas na própria diocese.[6] Portanto, é da sua competência exclusiva autorizar o uso do Missale Romanum de 1962 na diocese, segundo as orientações da Sé Apostólica.
Art. 3. O bispo, nas dioceses em que até agora haja a presença de um ou mais grupos que celebram segundo o Missal anterior à reforma de 1970:
- 1. Cuide para que tais grupos não excluam a validade e a legitimidade da reforma litúrgica, dos ditames do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Sumos Pontífices;
- 2. indica um ou mais lugares onde os fiéis aderentes a estes grupos podem se reunir para a celebração eucarística (mas não nas igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais);
- 3. estabelecer no lugar indicado os dias em que são permitidas as celebrações eucarísticas com a utilização do Missal Romano promulgado por São João XXIII em 1962.[7] Nestas celebrações as leituras devem ser proclamadas na língua vernácula, utilizando as traduções da Sagrada Escritura para uso litúrgico, aprovadas pelas respectivas Conferências Episcopais;
- 4. Nomeie um sacerdote que, como delegado do bispo, se encarregue das celebrações e da pastoral desses grupos de fiéis. O sacerdote é idôneo para este ofício, é competente para usar o Missale Romanumantes da reforma de 1970, possui um conhecimento da língua latina que lhe permite compreender plenamente as rubricas e os textos litúrgicos, é animado por uma viva caridade pastoral e sentido de comunhão eclesial. De facto, é necessário que o sacerdote responsável tenha em vista não só a dignidade da celebração litúrgica, mas também o cuidado pastoral e espiritual dos fiéis.
- 5. nas paróquias pessoais canonicamente erigidas em benefício desses fiéis, faça uma avaliação adequada da sua real utilidade para o crescimento espiritual, e avalie se as mantém ou não.
- 6º tomará cuidado para não autorizar a constituição de novos grupos.
Art. 4. Os padres ordenados após a publicação deste Motu proprio, que pretendam celebrar com o Missale Romanum de 1962, devem apresentar um pedido formal ao Bispo diocesano, que consultará a Sé Apostólica antes de conceder a autorização.
Art. 5. Os sacerdotes que já celebram segundo o Missale Romanum de 1962 pedem ao Bispo diocesano autorização para continuar a fazer uso da faculdade.
Art. 6. Os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, então erigidos pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, são da competência da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Art. 7. A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, para os assuntos da sua competência, exercerão a autoridade da Santa Sé, velando pela observância destas disposições .
Art. 8º São revogadas as normas, instruções, concessões e costumes precedentes que não atendam ao disposto neste Motu Proprio .
Tudo o que deliberei com esta Carta Apostólica em forma de Motu Proprio , ordeno que seja observado em todas as suas partes, apesar do contrário, ainda que digno de menção particular, e estabeleço que seja promulgado mediante publicação. no jornal "L'Osservatore Romano", imediatamente entrando em vigor e posteriormente publicado no Comentário Oficial da Santa Sé, Acta Apostolicae Sedis .
Dado em Roma, em São João de Latrão, aos 16 de julho de 2021, Memória Litúrgica de Nossa Senhora do Carmelo, nono de Nosso Pontificado.
FRANCIS
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[1] Veja CONC. ECUM. CUBA. II, Constituição Dogmática. sobre a Igreja “ Lumen Gentium ”, 21 de novembro de 1964, n. 23: AAS 57 (1965) 27.
[2] Veja CONC. ECUM. CUBA. II, Constituição Dogmática. Sobre a Igreja " Lumen Gentium ", 21 de novembro de 1964, n. 27: AAS 57 (1965) 32; CONC. ECUM. CUBA. II, Decr. sobre a missão pastoral dos bispos na Igreja " Christus Dominus ", 28 de outubro de 1965, n. 11: AAS 58 (1966) 677-678; Catecismo da Igreja Católica , n. 833.
[3] Ver JOHN PAUL II, Litt. Ap. Motu proprio datae “ Ecclesia Dei ”, 2 de julho de 1988: AAS 80 (1998) 1495-1498; BENTO XVI, Litt. Ap. Motu proprio datae “ Summorum Pontificum ”, 7 de julho de 2007: AAS 99 (2007) 777-781; Litt. Ap. Motu proprio datae “ Ecclesiae unitatem ”, 2 de julho de 2009: AAS 101 (2009) 710-711.
[4] JOÃO PAULO II, Litt. Ap. Motu proprio datae “ Ecclesia Dei ”, 2 de julho de 1988, n. 5: AAS 80 (1988) 1498.
[5] Veja CONC. ECUM. CUBA. II, Constituição sobre a sagrada liturgia “ Sacrosanctum Concilium ”, 4 de dezembro de 1963, n. 41: AAS 56 (1964) 111; Caeremoniale Episcoporum , n. 9; CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Instr. sobre algumas coisas que devem ser observadas e evitadas a respeito da Santíssima Eucaristia “ Redemptionis Sacramentum ”, 25 de março de 2004, nn. 19-25: AAS 96 (2004) 555-557.
[6] Cf. CIC , cân . 375, §1 ; posso. 392 .
[7] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Decreto " Quo magis " sobre a aprovação de sete novos prefácios para a forma extraordinária do Rito Romano, 22 de fevereiro de 2020, e o Decreto " Cum sanctissima " sobre a celebração litúrgica em homenagem aos santos na forma extraordinária do rito romano, 22 de fevereiro de 2020: L'Osservatore Romano , 26 de março de 2020, p. 6.
Fonte: https://www.vatican.va
Papa: nenhum doente fique só. Sistema de saúde gratuito e acessível a todos
- Detalhes
Do Hospital Agostino Gemelli, onde se recupera de uma cirurgia, o Papa Francisco rezou de modo especial por todos os enfermos e fez um apelo por um sistema de saúde acessível a todos. Da janela do décimo andar, recebeu o carinho dos fiéis - uma imagem que não se via desde 2005, quando no dia 13 de março São João Paulo II pronunciou algumas palavras em público após uma traqueotomia.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
“Estou feliz por poder manter o encontro dominical do Angelus, também aqui da Policlínica “Gemelli”. Agradeço a todos: senti muito a proximidade e o amparo de suas orações. Obrigado de coração!”
Um sentimento de gratidão marcou o Angelus deste domingo, realizado do Hospital Agostino Gemelli, onde o Papa Francisco está internado há uma semana, desde que se submeteu a uma cirurgia no intestino.
Da janela do seu apartamento no décimo andar da Policlínica, rodeado por crianças enfermas, o Papa acenou aos fiéis presentes na pequena praça que fica na entrada da estrutura e dali fez uma breve meditação sobre o Evangelho do dia, destacando de modo especial uma frase de Jesus aos discípulos: "curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo" (Mc 6,13).
"Este 'óleo' é certamente o sacramento da Unção dos enfermos, que dá conforto ao espírito e ao corpo. Mas este 'óleo' é também a escuta, a proximidade, o cuidado, a ternura de quem cuida da pessoa doente: é como uma carícia que faz sentir melhor, alivia a dor e soleva."
Para Francisco, mais cedo ou mais tarde, todos necessitamos desta “unção” e todos podemos oferecê-la a alguém, com uma visita, um telefonema, uma mão estendida a quem necessita de ajuda. "Recordemos que no protocolo do juízo final Mateus, 25, uma das coisas que nos perguntarão será a proximidade aos doentes.
Sistema de saúde acessível a todos
Todavia, esta dimensão pessoal do cuidado deve ser alargada para uma dimensão social, em que todos os cidadãos possam usufruir de um sistema de saúde.
"Nesses dias de internação no hospital, prosseguiu o Pontífice, experimentei quanto é importante um bom serviço de saúde gratuito, acessível a todos, como existe na Itália e em outros países. Um sistema de saúde gratuito, que garanta um bom serviço acessível a todos. Não se pode perder este bem precioso. É preciso mantê-lo! E para isso é necessário que todos se empenhem, porque serve a todos e pede a contribuição de todos."
O Santo Padre lamentou que às vezes, na Igreja, quando alguma instituição de saúde passa por problemas financeiros, inclusive por má gestão, o primeiro pensamento é vender a estrutura: "Mas a sua vocação na Igreja não é ter dinheiro, mas prestar um serviço e um serviço é sempre gratuito, não se esqueçam, salvar as instituições gratuitas".
Por fim, Francisco dirigiu uma palavra a quem trabalha em hospitais, pedindo orações pelos enfermos:
"Quero expressar o meu apreço e o meu encorajamento aos médicos e a todos os agentes de saúde e aos funcionários dos hospitais. E rezemos por todos os doentes, aqui estão alguns amigos crianças doentes. Por que as crianças sofrem? Por que sofrem as crianças é uma pergunta que toca o coração. Acompanhemo-las com a oração e rezemos por todos os doentes, especialmente por aqueles em condições mais difíceis: ninguém fique só, cada um possa receber a unção da escuta, da proximidade, da ternura e do cuidado. E é o que pedimos por intercessão de Maria, nossa Mãe, saúde dos enfermos." Fonte: https://www.vaticannews.va
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