Deus se fez pequeno e próximo
- Detalhes
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta, RS
O anúncio do nascimento de Jesus, que os pastores recebem, revela a grandeza e, ao mesmo tempo, a simplicidade do maior acontecimento da história, que devem encontrar a partir de um “sinal” (cf. Lc 2,11): “Encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura.” (Lc 2,12). Todo o esplendor do Natal se resume no fato que Deus se fez pequeno e próximo. Naquele tempo, como hoje, passa quase despercebido aos olhos humanos e segundo a lógica das notícias relevantes. “E não havia lugar para eles na sala” (Lc2,7). Perdidos entre tantas ocupações e preocupações “veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Haverá lugar para uma manjedoura, com uma pequena imagem do Menino Jesus, nos ambientes e vidas saturadas pelo Papai Noel?
Fez-se pequeno. “A Palavra eterna fez-se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós” (Bento XVI). Este menino tão normal e frágil é o Emanuel, o Deus-conosco. O anúncio aos pastores diz: “nasceu-vos hoje o Salvador, que é o Messias, o Senhor.” (Lc 2,11). Ninguém o teria imaginado assim. Fugiu a todas as expectativas da chegada do Messias. Foi prometido por Deus, anunciado pelos profetas e esperado com ânsia por todos, sobretudo por Maria, sua Mãe. Tão pequeno, tão frágil, totalmente sujeito aos cuidados de Maria e José. Como haverá de apresentar-se ao mundo como Messias? Desde seu nascimento aprendemos que a onipotência de Deus se manifesta na sua misericórdia. Deus assume um rosto humano. Ele pode ser visto, ser tocado. Comunica-se conosco com palavras humanas. Sem deixar de ser Deus, faz-se um de nós e vive como nós. Prova a alegria e o sofrimento. Isto tudo porque Deus é unicamente movido pelo amor, qual Bom Pastor que se inclina sobre a humanidade ferida. Então, não cremos num Deus distante e indiferente, nem somente em belas teorias, mas no “Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Sua vida e seu jeito de ser é o evangelho para a humanidade, que fixa o olhar nele para buscar sentido para viver. São Paulo dirá que “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens.” (Fl 2, 6). O Natal nos ajude a nos esvaziarmos de nossas pretensões de grandeza e poder. Esvazie o orgulho que incha, fere e afasta. Esvazie nossa ânsia de “consumistas desenfreados” (Papa Francisco). Ao contemplar o nascimento de Jesus, dizia Santa Terezinha: “Não posso temer um Deus que se fez tão pequeno por mim. [...] Eu o amo!”
Trouxe alegria. O anúncio do Natal é uma “notícia de grande alegria” (Lc 2,10). E o motivo é único: “A luz verdadeira, aquela que ilumina todo o homem, estava chegando ao mundo” (Jo 1,9). A noite fica iluminada. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam na região tenebrosa resplandeceu uma luz” (Is 9,1). Jesus Cristo será sempre a razão da alegria para todo o ser humano. Ele é o grande presente do Natal. Não é uma alegria que se confunde com bem-estar ou com a fruição de um banquete festivo. “Hoje, amados filhos de Deus, nasceu nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade” (São Leão Magno).
Contemplemos, neste Natal, o mistério do Deus Menino, que se faz pequeno e nos traz alegria. Festejemos e alegremo-nos, pois “o sol nascente nos veio visitar” (Lc 1, 78). Feliz e abençoado Natal a todos diocesanos e vossas famílias.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
Seminários e Igrejas: para além do modelo tridentino?
- Detalhes
"Exigências até mesmo excessivas se não encontrassem luminosa confirmação na vida concreta dos padres que marcaram e continuam marcando a vida cristã de muitos". O comentário é do padre italiano Lorenzo Prezzi, publicado por Settimana News, 14-12-2016. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O dom da vocação presbiteral: é esse o título da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis que a Congregação para o clero publicou em 8 de dezembro de 2016. É um texto de 92 páginas cujo conteúdo (o dom do sacerdócio) torna-se mais evidente quando vemos, por exemplo, a beatificação acontecida em 11 de dezembro em Vientiane (Laos) de um jovem missionário (Mario Borzaga) ou o reconhecimento das virtudes heroicas (2 de dezembro) do Padre Mario Ciceri, generoso sacerdote milanês (1900-1945). Fica mais fácil entender o teor do “dom” também quando lemos o comovente e dramático testemunho de um padre idoso na Irlanda atual (Padre Brendan Hoban).
Luzes e sombras do documento
A vivência fala mais do que os documentos, mas os textos não devem ser subestimados, pois direcionam ao longo do tempo a formação. A ratio anterior é de 1970, parcialmente modificada em 1985. É possível prever que a atual deva permanecer como referência por algumas décadas. A impressão geral é de um documento em parte atual, e em parte orientado ao passado. Está atualizado com algumas anotações importantes relativas à propedêutica, o primeiro momento de formação das vocações seminarísticas, como também à atenção aos meios de comunicação e ao seu contexto de desempenho, ou ao delicado tema da avaliação psicológica e à prevenção de abusos, ou ao recorrente e louvável chamamento à maturidade humana como atenção contínua no processo de formação, ou ainda à formação espiritual e intelectual.
Contudo, ainda é o seminário pós-tridentino que serve de referência; o deslocamento dos números a novas Igrejas não causa novidades relevantes; a relação entre seminaristas e o presbitério local é mais anunciado que desenvolvido; os protagonistas permanecem sendo os formadores, não os indivíduos nem a comunidade; cala-se a respeito do clero uxorado da tradição oriental (mesmo que o texto não seja direcionado a eles) e nada se fala sobre a longa questão dos “viri probati”. Mesmo num contexto mundial de crescimento do clero (406 mil em 2005, 415 mil em 2014) e dos seminaristas (114 mil em 2005 e 116 mil em 2014) existem áreas em grande recuo (Europa e América do Norte) e outras (Ásia e América Latina) praticamente estagnadas. Mesmo considerando o contexto de um crescimento global da população católica.
“A ideia básica é que os seminários podem formar discípulos missionários ‘apaixonados’ pelo Mestre, pastores ‘com o cheiro das ovelhas’ que vivam no meio delas para servi-las e levar-lhes a misericórdia de Deus. Para isso é necessário que cada sacerdote sinta-se sempre um discípulo seguindo um caminho, sempre necessitado de uma formação integral, entendida como contínua configuração com Cristo” (introdução).
As etapas da formação
A formação inicial comporta quatro etapas: propedêutica, discipular (estudos filosóficos), configuradora (estudos teológicos) e síntese vocacional (pastoral). Um percurso que se desenvolve ao longo de 7-8 anos, para cuja definição participam em menor escala as Conferências episcopais e os seminários individuais. Mesmo confirmando os seminários menores ou formas similares (comunidades de acolhimento, grupos vocacionais, etc.), presta-se atenção também às vocações adultas (direcionando uma atenção especial aos “convertidos”), aos indígenas e aos migrantes.
Entre os fundamentos da formação, a referência à identidade presbiteral em conexão com o batismo, como configuração com Cristo. “O progressivo crescimento interior no caminho de formação deve orientar principalmente a transformar o futuro presbítero num homem de discernimento’” (n.43), seja sobre si mesmo como sobre os outros. Acompanhados nisso tanto pelos formadores como pela comunidade.
A etapa propedêutica visa a uma maior consciência de si mesmo e da Igreja (Catequese da Igreja católica), mesmo em ralação ao ponto de partida (paróquia, associação, movimento ou outro); aquela discipular (estudos filosóficos) induz a um trabalho sistemático sobre a personalidade, sobre o caráter na relação profunda com Jesus.
Aqui é previsto um acompanhamento específico psicológico e espiritual. O momento dos estudos teológicos (etapa configuradora) persegue a formação espiritual própria do presbítero, a progressiva configuração com o Cristo e uma supervisionada integração entre maturidade humana e espiritual, entre oração e teologia. Após a ordenação diaconal abre-se a quarta e última fase, aquela pastoral, com percursos que podem se desenvolver mesmo fora do seminário.
Para a formação permanente insiste-se sobre a fraternidade presbiteral, sobre o acompanhamento dos jovens padres (que não devem ser expostos a situações perigosas e delicadas), sobre a verificação de sua própria atuação (fraquezas, confrontos culturais, rotinas, celibato, etc.). O encontro com amigos, a direção espiritual, os exercícios, o refeitório, as associações sacerdotais podem resultar importantes. A vida em comum no clero diocesano é estruturada ao redor da oração, da Palavra, da troca e do confronto.
“A vida comum objetiva também sustentar o equilíbrio afetivo e espiritual daqueles que nela participam e promover a comunhão com o bispo. Será necessário cuidar que tais formas permaneçam abertas para todo o presbitério e para as necessidades pastorais da diocese” (n. 88e).
Formação integral
Muito se insiste no conceito de formação integral, denunciando o perigo de “uma mera adesão, exterior e formal, às exigências educacionais” (n. 92). Volta a insistência “numa reta e harmônica espiritualidade (em uma) bem estruturada humanidade” (n. 93), incluindo aqui a relação com a família e as mulheres. A dimensão espiritual é posta sob o signo do Espírito e da Palavra. O sacramento (eucaristia e penitência) introduz à consideração dos “votos”. “Seria gravemente imprudente admitir ao sacramento da ordem um seminarista que não tenha amadurecido uma serena e livre afetividade, fiel à castidade celibatária” (n.110). Sem uma sólida competência filosófica e teológica e uma preparação cultural geral, não se enfrentam os desafios do ministério. O estilo pastoral é aquele caracterizado por um “sereno acolhimento e acompanhamento vigilante de todas as situações, mesmo as mais complexas, mostrando a beleza e as exigências da verdade evangélica, sem desviar para obsessões legalistas e intransigentes” (n.120).
Ao papel central do bispo e dos formadores alia-se um aceno ao presbitério, à família, aos consagrados, aos especialistas e aos próprios seminaristas. Dos muitos números dedicados à organização dos estudos, limito-se a sinalizar a relevância concedida à teologia pastoral, à doutrina social e ao ecumenismo.
A última parte do documento é dedicada aos critérios e às normas para a admissão e abandono do seminário. Com uma primeira ênfase sobre a verificação cuidadosa dos seminaristas provenientes de outros seminários e institutos e a confirmação da recusa de aceitar homossexuais com tendências profundamente radicadas ou adesão à “cultura gay” (nn. 198-199). “Máxima atenção deverá ser prestada ao tema da tutela dos menores e dos adultos vulneráveis” (n. 202).
A manutenção do modelo do seminário tridentino reflete sua extraordinária força espiritual e inteligência, mas também a dificuldade para superá-lo e adaptá-lo a tempos e culturas tão diversas. É difícil ver a continuidade entre a reiterada e sincera ênfase dada à comunidade do seminário com a substancial individualidade do exercício do ministério, assim como permanece ainda a ser escrita a novidade do “corpo presbiteral” ao redor do bispo (Vaticano II) sem deslocar o centro da formação inicial àquela permanente. Se o fruto do Concílio de Trento em relação ao ministério foi o seminário, hoje é o presbitério ao redor ao bispo local que passa a sinalizar a nova consciência eclesial. O temor de estruturas menores (n. 188) e de investimentos mais essenciais no pessoal educativo perpassam todo o documento. Assim como, de um ponto de vista do caminho de estudos, não se percebe em ato a reconhecida prioridade da Escritura. O sistema geral privilegia a dogmática e a filosofia sobre o restante.
Nenhum relevo especial é reconhecido aos movimentos eclesiásticos, inclusive os neocatecumenais que contam com 103 seminários (com 2000 padres e 220 seminaristas). Sugere-se aos seminaristas provenientes de suas fileiras “desenvolver ligações mais profundas com a realidade diocesana” (n.60) e aprecia-se o papel da alimentação espiritual desempenhado pelos padres na pastoral (n. 88f). Considerada arquivada a tensão diocesanos-movimentos, até mesmo a ambígua referência à liturgia não preocupa os redatores, que contudo ressaltam: “Os seminaristas precisam aprender o núcleo substancial e imutável da liturgia e também tudo que pertence a sedimentações específicas históricas e é portanto suscetível a atualizações, observando sempre diligentemente a legislação litúrgica e canônica em matéria” (n.167).
E onde há carência de padres?
Com regularidade a atenção é redirecionada à família, seja de origem, seja como instituto da vida cristã. Com uma ênfase à mulher. A familiaridade “com a realidade feminina, tão presente nas paróquias e em muitos contextos eclesiais, resulta conveniente e essencial à formação humana e espiritual do seminarista e deve ser sempre entendida em sentido positivo” (n. 95). Mesmo a vida consagrada tem o seu papel, mas é citada mais especificamente no tema dos carismas, e bem menos naquele dos “votos” e da vida comunitária.
O celibato é amplamente evocado: “Como sinal desse comprometimento total com Deus e com o próximo, a Igreja latina considera a continência perfeita do celibato para o reino dos céus especialmente conveniente para o sacerdócio” (n. 110). Não sendo aplicável às Igrejas orientais católicas, a ratio pode ignorar o tema do clero uxorado, mesmo que os padres do rito oriental casados já tenham se difundido na diáspora. Da mesma forma pode silenciar-se sobre a tão debatida questão dos “viri probati”, ou seja, da ordenação para homens adultos e casados. A prática e a urgência pastoral de algumas Igrejas do Ocidente e não apenas, sugeririam ao menos a percepção do problema. Em um texto de A. Borras (Quand les prêtes viennent à manquer, Mediaspaul, Paris, 2016) percebe-se o estado de “precariedade absoluta” de clero em algumas Igrejas, não solucionável nem com a “imigração” de clero estrangeiro, nem com a utilização “imprópria” de diáconos permanentes. Nesse caso, “sem recolocar em causa a disciplina comum à Igreja latina, poder-se-ia, contudo, prever algumas dispensas a essa regra não em nome do bem dos indivíduos interessados, mas naquele das comunidades em aguardo de padres”. Em todo caso, isso teria certamente reflexo no tema dos seminários.
É ressaltada com bastante ênfase a pregação do papa Francisco, principalmente em alguns temas como o relativo às tentações e às virtudes do presbítero. Entre as primeiras pode-se mencionar o clericalismo, o exercício indevido de poder, a orientação de funcionários do sacro, a rotina e a mundanidade espiritual. Para as segundas, no n. 115, são citadas: a fidelidade, a coerência, a sabedoria, o acolhimento a todos, a bondade afável, a autorizada firmeza, o desprendimento, o empenho, a confiança na graça. Exigências até mesmo excessivas se não encontrassem luminosa confirmação na vida concreta dos padres que marcaram e continuam marcando a vida cristã de muitos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Audiência: Natal é abrir o coração à esperança
- Detalhes
Quarta-feira, 14 de dezembro, na audiência geral o Papa Francisco propôs mais uma catequese sobre a esperança cristã.
O Santo Padre recordou o profeta Isaías que nos convida a abrirmo-nos à esperança, acolhendo a Boa-Nova da salvação que está a chegar. No fim do exílio na Babilônia, é a possibilidade de Israel reencontrar Deus. O Senhor aproxima-se – assinalou o Papa – e aquele «pequeno resto» que atravessou a crise e que continuou a crer e a esperar poderá ver as maravilhas do Senhor.
O pequeno resto a que se refere Francisco é o pequeno povo que ficou depois do exílio, aquele resto que “no exílio resistiu na fé, que atravessou a crise e continuou a crer e a esperar mesmo no meio da escuridão”.
O Papa na sua catequese sublinhou algumas das palavras do canto de Isaías no capítulo 52:
«O Senhor mostra a força do seu braço poderoso (…) e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus». «Diz a Sião: “O rei é o teu Deus!”». Estas palavras mostram a fé num Deus que Se inclina misericordiosamente sobre o homem, para o libertar de tudo o que desfigura nele a imagem de Deus – observou o Santo Padre.
E a plenitude de tanto amor é precisamente o Reino instaurado por Jesus, aquele Reino de perdão e paz que chega no Natal e se realiza definitivamente na Páscoa – declarou.
Os motivos da nossa esperança são estes – disse Francisco – “quando tudo parece perdido, quando, à vista de tantas realidades negativas, torna-se difícil acreditar e vem a tentação de dizer que já nada tem sentido, faz-se ouvir a Boa Nova: Deus está a chegar, para realizar algo de novo, instaurar um Reino de paz, vem trazer liberdade e consolação. O mal não triunfará para sempre, acabará a tribulação”.
Somos chamados a ser homens e mulheres de esperança, que proclamam a vinda deste Reino feito de luz e destinado a todos. “Esta mensagem é urgente!” – lembrou o Papa dizendo que devemos também correr, como o mensageiro sobre os montes de que fala o profeta, porque o mundo não pode esperar, a humanidade tem fome e sede de justiça e de paz.
E a promessa cumpre-se no Menino de Belém, uma criança que nasce “necessitada de tudo” colocada “numa manjedoura”: ali está todo poder do Deus que salva. “É preciso abrir o coração – o Natal é o dia para abrir o coração!” – declarou o Santo Padre.
O Papa afirmou que no Natal é preciso abrir o coração a toda a “pequenez” que está ali naquele Menino. Um Natal que devemos preparar “com esperança neste tempo de Advento”. “É a surpresa de um Deus Menino, de um Deus pobre, de um Deus débil, de um Deus que abandona a sua grandeza para se fazer próximo de cada um de nós” – disse Francisco no final da sua catequese.
Nas saudações destaque para aquela dedicada aos peregrinos de língua portuguesa na qual o Papa fez votos de um “Santo Natal de Jesus, vivido com a mesma fé humilde e obediente de Maria e José”. O Santo Padre pediu para vermos na força do Menino Jesus “a vitória final sobre os poderes arrogantes da terra”.
O Papa Francisco a todos deu a sua benção! http://pt.radiovaticana.va
Missa para os 80 anos. Papa: minha velhice seja alegre e fecunda
- Detalhes
Uma velhice fecunda e feliz: é a oração que pede Francisco no dia em que completa 80 anos (17/12). E o Papa comemorou com uma missa concelebrada com os cardeais na Capela Paulina, no Vaticano.
Na homilia, inspirando-se na liturgia do dia, o Papa Francisco pediu a graça da memória. No percurso do Advento, em que a vigilante espera se transforma mais intensa, a liturgia nos faz parar um pouco para ler a origem de Jesus. Fazer memória, olhar para trás para poder prosseguir melhor avante. “Este é o significado da liturgia de hoje: a graça da memória, pedir esta graça. Não esquecer. É próprio do amor não esquecer, ter sob os olhos o bem que recebemos. É próprio do amor olhar para a história: de onde viemos, os nossos pais, os nossos antepassados. O caminho da fé. E esta memória nos faz bem, porque torna mais intensa esta vigilante espera pelo Natal.”
Os pilares da memória cristã
Assim é o caminho para o cristão, explicou o Papa: “Nos fizeram uma promessa, uma promessa que será plena no final, mas se consolida com cada aliança que nós fazemos com o Senhor, aliança de fidelidade, e nos faz ver que não somos nós quem elegemos, nos faz entender que todos nós fomos eleitos. A eleição, a promessa e a aliança são como os pilares da memória cristã.”
Francisco prossegue dizendo que quando ouvimos este trecho do Evangelho, há uma história de grande graça, mas também de pecado. “No caminho, sempre encontramos graça e pecado. Na história de salvação, tem grandes pecadores na lista. E há santos. Nós na própria vida encontraremos o mesmo. Momentos de grande fidelidade ao Senhor, de alegria no serviço e alguns momentos ruins de infidelidade, de pecado, que nos faz sentir a necessidade de salvação. E esta é também a nossa segurança. Porque quando precisamos de salvação, confessamos a fé.”
O Senhor não desilude
Ao parar e olhar para trás, acrescentou o Papa, vemos que o caminho foi belo, que o Senhor não nos desiludiu, que o Senhor é fiel. Vemos também que seja na história, seja na nossa vida, houve momentos de fidelidade e momentos tristes de pecado. “Mas o Senhor, com a mão estendida para nos levantar, vai avante e esta é a vida cristã.”
“Que este caminho jamais nos tire a graça da memória, de olhar para trás e ver tudo aquilo que o Senhor fez por nós e pela Igreja”, pediu por fim o Pontífice. Assim entenderemos porque hoje a Igreja nos faz ler este trecho, que pode parecer “tedioso”, a história de um Deus que quis caminhar com o seu povo e fazer-se, no final, um de nós.
“Que o Senhor nos ajude a retomar esta graça da memória. ‘Mas é difícil, é tedioso, houve tantos problemas......’ Mas a história da Carta aos Hebreus tem uma frase belíssima para as nossas lamentações: fique tranquilo, você ainda não chegou a dar o sangue. Um pouco de humorismo também daquele autor inspirado para nos ajudar a ir avante. Que o Senhor nos dê esta graça.”
Velhice
No final, o Papa agradeceu a presença dos cardeais no dia de seu aniversário e fez uma reflexão sobre a velhice:
“Há alguns dias, me vem à cabeça uma palavra que parece feia: velhice. Assusta. Mas lembro do que disse a vocês em 15 de março, no nosso primeiro encontro. A velhice é sede de sabedoria, esperamos que também para mim seja assim. Também penso em como chegou tão depressa, e penso no poema de Plínio: passo silencioso, e a velhice chega de uma só vez. Mas se pensar como uma etapa da vida para ter alegria, sabedoria e esperança, alguém começa a viver. E penso em outro poema que disse a vocês naquele dia: a velhice é tranquila e religiosa. Rezem para que a minha seja assim: tranquila, religiosa e fecunda e também alegre. Obrigado.” Fonte: http://pt.radiovaticana.va
4º DOMINGO DO ADVENTO: Maria e José.
- Detalhes
ALAGOAS: Menor de Lagoa da Canoa é morto a tiros.
- Detalhes
Um adolescente com aproximadamente 13 anos do município de Lagoa da Canoa foi executado a tiros, na manhã desta sexta-feira (16) em uma estrada da zona rural de Girau do Ponciano na estrada que dá acesso ao povoado Caldeirões.
Comentários de alguns moradores de Lagoa da canoa, o menor que foi executado por nome de Gabriel, praticava vários furtos e assaltos de mão armada na cidade. Segundo a Polícia Militar, em Girau do Ponciano, o adolescente foi abordado por homens armados A vítima foi atingida por vários disparos na cabeça e morreu no local.
Ainda não há informações sobre o autor do crime nem dos motivos do homicídio. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Arapiraca. Fonte: http://canoense.com
A MORADA DE DEUS: Frei Petrônio.
- Detalhes
Alvo de operação da PF, pastor Malafaia diz que não é bandido.
- Detalhes
O pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, chegou à sede da superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, para depor, por volta das 16h desta sexta-feira (16). Ele é um dos alvos da Operação Timóteo, deflagrada hoje pela PF, que investiga irregularidades em cobranças de royalties da exploração mineral.
Malafaia foi levado coercitivamente para depor. Antes de prestar o depoimento, conversou com jornalistas na porta da superintendência e disse que se apresentou espontaneamente.
O pastor diz ser inocente. Exaltado, confirmou ter recebido um cheque no valor de R$ 100 mil de um amigo, que também é pastor, depositado diretamente em sua conta bancária. Ele disse que o valor era uma "oferta" por ter orado por uma pessoa, em 2011, que agora, descobriu fazer parte do esquema criminoso. O valor, segundo ele, foi declarado no Imposto de Renda.
"Em 2013, eu recebi em meu escritório o pastor Michael Abud, meu amigo há mais de 20 anos, sobre um membro da igreja dele, que é empresário, para me dar uma oferta pessoal. Ele me deu uma oferta de R$ 100 mil depositado na minha conta, declarado no Imposto de Renda", disse.
Ao ser indagado sobre o depósito ter sido em sua conta pessoal, e não na da Igreja, Malafaia respondeu que "é muito fácil" fazer essa diferenciação. "Recebo oferta, como vários pastores. Eu fui na igreja desse pastor Abud, que é meu amigo, em 2011. 'Ore aqui por um empresário que está envolvido em negócios'. Eu orei por ele. Em 2013, o Michael Abud me liga e diz: 'Silas, sabe aquele empresário por quem você orou? Ele quer fazer uma oferta pessoal. Eu não recebi oferta só de R$ 100 mil não. Recebo ofertas até maiores e declaro no Imposto de Renda. Não tem nada escondido, não tem nada oculto. A diferença é que as pessoas dão oferta ou para o pastor ou para a instituição. Muito mais na instituição do que para o pastor", disse.
O pastor disse que recebe cheques de altos valores para a igreja e, também, pessoalmente. Valores, de acordo com ele, muitas vezes superior a R$ 100 mil, chegando a R$ 5 milhões.
Malafaia reclamou de ter sido convocado para prestar esclarecimentos hoje. "Não sou bandido, não estou envolvido com corrupção, não sou ladrão. Estou indignado. Que Estado de Direito é esse? Sabe o porquê disso? Porque, há dez dias atrás, eu falei que sou a favor de uma justiça independente, forte, mas não absoluta. Retaliação, é isso? Querem aparecer em cima de mim?", falou em tom alto. "Essa é uma tentativa de denegrir, e tem interesses pessoais, porque eu me posiciono, porque eu me coloco. Isso é uma safadeza, uma molecagem. Estou desafiando a provar que estou envolvido com esses canalhas. Metam eles na cadeia", disse.
Segundo ele, é impossível saber se as pessoas que depositam dinheiro ou fazem doações são criminosos. "Amanhã, um vagabundo qualquer, um bandido qualquer, um traficante qualquer, um canalha qualquer deposita um cheque na minha ou qualquer igreja. E o cara é descoberto. Quer dizer que o pastor é bandido?."
Malafaia deixou a Superintendência da PF por volta das 18h e disse ter prestado todos os esclarecimentos necessários. "Foi tudo esclarecido. O delegado, muito competente, perguntou tudo o que tinha direito. Eu respondi tudo", relatou Malafaia. "Sou suspeito de usar contas da minha instituição? Lembrei-me de ter recebido a visita de um amigo meu, de 20 anos, que levou um membro dele [o empresário] para fazer uma oferta e eu vou desconfiar que o cara está envolvido? Nem ele, o pastor Michael Abud, sabe do envolvimento desse cara, tenho certeza".
Malafaia disse que vai esperar o final das investigações para analisar o que fará sobre o fato de ter sido alvo da operação. "Vou até o final, porque quem é amanhã que vai me dar toda essa mídia se encerrar [a investigação] e vocês falarem: 'olha, pastor, encerraram e não tem nada contra o senhor'? Eu vivo de conceito da opinião pública. Vivo disso. Recebo ofertas de milhares e centenas de milhares das pessoas. E quem é que vai recuperar isso? Quem é que vai recuperar o dano que está me causando e quem vai recuperar a minha honra?"
Indagado por jornalistas se não seria, então, o caso de devolver o dinheiro, de fonte ilegal, que foi depositado em sua conta, Malafaia respondeu: "Se, de fato, é um dinheiro ilícito, é claro que eu devolveria. Não preciso de roubo". No entanto, ele acrescentou que não teria como devolver um dinheiro, fruto de doação, se ele não sabe a origem do dinheiro. "Vou devolver o que, se recebi uma oferta? Ninguém devolve oferta. Você recebe as ofertas e não sabe quem é o cara que dá. Se a Justiça mandar eu devolver um valor, eu vou devolver", disse.
Sobre o fato de, há alguns meses, ter se posicionado no Twitter a favor das conduções coercitivas, principalmente no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pastor Malafaia disse que agora é diferente. "Acho engraçado os esquerdopatas. Quando o Lula foi levado coercitivamente, eu botei no Twitter. Tem que levar. Agora, são quantas denúncias contra o Lula? Essa cambada de corrupto e de PT quer me comparar com isso? É uma afronta. Quem está me denunciando? Quem é que foi preso e disse que eu recebia dinheiro? Querem comparar? Tem que ter lógica, gente", afirmou.
Operação Timotéo
A Polícia Federal deflagrou hoje a Operação Timóteo, com ações em 11 estados e no Distrito Federal. Estão sendo realizadas buscas e apreensões em 52 endereços relacionados a uma organização criminosa investigada por esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral.
"Entre uns dos investigados por esse apoio na lavagem do dinheiro está uma liderança religiosa, que recebeu valores do principal escritório de advocacia responsável pelo esquema. A suspeita a ser esclarecida pelos policiais é se esse líder religioso pode ter 'emprestado' contas correntes de uma instituição religiosa sob sua influência, com a intenção de ocultar a origem ilícita dos valores", informou a corporação. Fonte: http://noticias.uol.com.br
Entre movimentos sociais e políticos, dom Paulo é sepultado em São Paulo
- Detalhes
Com a Catedral da Sé lotada e sob aplausos, o corpo do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, foi sepultado nesta sexta-feira (16) sob o olhar de autoridades da política e do clero, além de centenas de fiéis. O religioso morreu na última quarta-feira (14), aos 95 anos.
O caixão foi fechado por volta das 14h30 e levado ao altar. Logo depois, foi realizada uma missa de duas horas de duração, encerrada com a condução do corpo à cripta da catedral. A imprensa e o público não puderam acompanhar o sepultamento. A cripta foi aberta ao público logo depois, e o acesso ficaria livre até as 20h desta sexta. Nos próximos dias, poderá ser visitada das 9h às 12h e das 13h30 às 16h30.
O público da despedida a dom Paulo foi, de certa forma, um resumo de sua trajetória. Enquanto do lado de fora da Sé movimentos sociais davam seu adeus em forma de protesto na escadaria da catedral, passavam ao lado do corpo do arcebispo emérito políticos de diferentes campos, assim como alguns dos principais nomes da Igreja Católica no Brasil.
A missa foi aberta pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e conduzida por diversos integrantes do clero. O cônego Antônio Aparecido Pereira foi muito aplaudido ao lembrar a trajetória de dom Paulo, com destaque para a atenção aos pobres e a luta contra as atrocidades da ditadura militar. Ao encerrar sua fala com o bordão de dom Paulo, "coragem, esperança!", foi ovacionado.
Padres e fiéis se uniram para gritar o nome do arcebispo emérito. Uma cena que, a princípio, caberia mais a uma torcida de futebol. Mas dom Paulo era torcedor fanático do Corinthians, cuja bandeira estava postada logo abaixo do altar.
O ato contou com militantes de movimentos como a Frente Brasil Popular e a União Nacional da Moradia Popular, além de integrantes de pastorais.
Militante desde a década de 80, Evaniza Rodrigues, da União Nacional da Moradia Popular, relembrou o apoio de dom Paulo à causa em 1996, quando a ONU debatia se moradia era ou não um direito humano.
"No Corpus Christi, que é a festa mais importante da arquidiocese, ele colocou como tema o direito à moradia. Daquela torre da catedral desceu uma faixa imensa dizendo: 'Moradia é um direito humano'", conta.
Segundo Evaniza, a Igreja deixou de ser tão atuante na vida das pessoas nos últimos tempos. Ela disse esperar que a Igreja "continue sendo um lugar de acolhida do povo, para o povo se organizar e lutar" contra o desemprego, a reforma da Previdência e o "desmonte das políticas sociais". "Essas seriam lutas que, com certeza, dom Paulo estaria na frente com a gente."
Entre as autoridades, compareceram o governador paulista, Geraldo Alckmin, e o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, ambos do PSDB; o prefeito Fernando Haddad (PT); e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Numa cena rara, o quarteto dividiu a primeira fila da ala destinada a autoridades.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no velório na quinta-feira. O presidente Michel Temer (PMDB) não foi ao velório nem ao enterro, mas enviou uma coroa de flores.
Entre as autoridades do clero presentes, estava o arcebispo de Vitória, Dom Luiz Vilela; o arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta; arcebispo emérito do Rio, cardeal dom Eusébio Scheid; o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, cardeal dom Sérgio da Rocha e o arcebispo emérito de Aparecida e ex-presidente da CNBB, dom Raymundo Damasceno Assis.
"Paulo nos estimula, como conferência episcopal, a ser uma Igreja profética, isto é, que anuncia a esperança, a vida nova que vem de Jesus, mas que também denuncia as injustiças, a violência, para afirmar a dignidade e os direitos, sobretudo dos mais pobres e fragilizados", disse dom Sérgio.
A missa de exéquias – honras fúnebres – teve duas horas de duração. A catedral, que tem capacidade para 2.300 pessoas está lotada. Uma grande faixa da Pastoral do Povo de Rua foi estendida em meio aos populares que assistem a celebração. Em sua homilia, dom Odilo lembrou o lema de dom Paulo, "de esperança em esperança", e disse que a frase serviu como "fio condutor" de sua vida.
"Esta mesma esperança unida à fé inabalável deu-lhe a sabedoria dos humildes, capazes de reconhecer a dignidade e a beleza de cada criatura, especialmente de cada pessoa humana", disse o cardeal.
O caixão deixou o altar sob muitos aplausos e gritos de "viva dom Paulo".
A cripta onde dom Paulo foi sepultado foi aberta ao público pouco depois da missa. Centenas de fiéis fizeram fila para entrar no local. Nos bancos da catedral, muitos rezavam.
Para dom Odilo, dom Paulo deixa para o momento político de hoje uma mensagem a favor "do que é justo, do que é honesto", do respeito a todos e da defesa dos mais pobres.
Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, disse que a defesa dos direitos humanos feita por dom Paulo continua sendo muito importante. "Quando nós vemos os terrorismos, a Síria, aquelas coisas bárbaras, quanto falta uma voz profética que fale, que não tenha medo, não recue. Claro, nós temos o papa Francisco, que faz isso, mas ele precisa de outras pessoas que se juntem e gritem como ele. Dom Paulo fazia isso. Ninguém o calava, o segurava. Ele ia confiando em Deus e pronto."
Biografia
Paulo Evaristo nasceu em 14 de setembro de 1921 na pequena Forquilhinha, na região de Criciúma, antiga colônia de imigrantes alemães em Santa Catarina. Ele morreu aos 95 anos após sofrer de broncopneumonia.
A exemplo do irmão mais velho, frei Crisóstomo, Paulo Evaristo entrou em um seminário franciscano. Foi professor de Teologia no seminário franciscano de Petrópolis (RJ), onde trabalhou dez anos em favelas, período que descreveria como o mais feliz da vida. Em maio de 1966, foi nomeado bispo auxiliar do então cardeal de São Paulo, dom Agnelo Rossi, que o designou para a região de Santana, na zona norte.
Dedicava-se aos presos da Casa de Detenção do Carandiru e criava núcleos das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), experiência pioneira na arquidiocese, quando, em 1970, tornou-se o novo arcebispo de São Paulo.
Um ano antes, tivera os primeiros contatos com vítimas do regime militar, início da luta em defesa dos direitos humanos que marcaria sua carreira. Designado pelo cardeal para verificar as condições em que se encontravam os frades dominicanos e outros religiosos na prisão, constatou que eles estavam sendo torturados.
Os militares não gostaram da nomeação de dom Paulo. Quando foi elevado a cardeal, em março de 1973, uma das suas primeiras medidas foi criar a Comissão Justiça e Paz, formada por advogados e outros profissionais, para atender pessoas perseguidas pela ditadura. Funcionava na Cúria Metropolitana, sinônimo de refúgio e esperança para as famílias de mortos e de desaparecidos.
Dom Paulo tornou-se um símbolo de resistência contra a ditadura militar e, entre outras ações, denunciou torturas nos quartéis, visitou presos em suas celas e liderou protestos. Fonte: noticias.bol.uol.com.br
FREI MARCELO AQUINO: Convite:
- Detalhes
Maria Angela, Anita Gomes e Rosina Azevedo, Helena Corazza, Mirian Kolling, Ana Flora Anderson participaram do velório do Cardeal Arns
- Detalhes
Inspiradas em Dom Paulo, elas estão a serviço da Igreja
Maria Angela, Anita Gomes e Rosina Azevedo, Helena Corazza, Mirian Kolling, Ana Flora Anderson. São mulheres que na quinta-feira, 15, logo pela manhã foram à Catedral da Sé rezar ao lado do corpo do Cardeal Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que morreu na quarta-feira, 14, e será sepultado nesta sexta-feira, 16, na cripta da Catedral, após a missa das 15h.
Embora elas tenham convivido com Dom Paulo por motivos diferentes, o que as une é a gratidão por terem tido a oportunidade de conviver com este homem que marcou profundamente a Igreja, a sociedade e a vida de pessoas de uma forma concreta e cheia de significado.
São mulheres fortes, que continuam a luta pela justiça e pelos direitos humanos. E, embora hajam muitas outras como Marina Bandeira, que foi coordenadora da Comissão Justiça e Paz Nacional; Margarida Genevois, a única mulher que trabalhava na Comissão Justiça e Paz de São Paulo; Ruth Maria de Carvalho, uma das primeiras leigas consagradas de São Paulo ou ainda Ana Dias, a esposa de Santo Dias, assassinado durante a ditadura militar, algumas contaram suas experiências à reportagem do O SÃO PAULO.
Irmã Helena Corazza, religiosa paulina
“Trabalhei com Dom Paulo de 1977 até 1980 coordenando um Setor da Arquidiocese. Naquele tempo, tínhamos um empenho de articular as religiosas na pastoral. Uma vez por mês, havia um encontro de todas com ele. Uma preocupação que ele tinha já naquela época era a respeito das migrações, que a Igreja se fizesse presente na vida dos migrantes, evitando o anonimato. Ele também se preocupava muito com a formação para a comunicação do clero. Lembro-me ainda de uma missa na Catedral da qual eu participei, em que ele falou sobre a ditadura e as muitas noites que passou no Departamento de Ordem e Política Social (Dops) para conseguir ver ou falar com algum preso que queria ajudar.”
Irmã Miria Kolling, compositora e cantora
“Ele foi o profeta da esperança. Fico muito comovida porque, quando ele celebrou o Jubileu, o Frei Fabretti e eu compusemos uma missa com a letra do padre Lucio Floro, “De esperança em esperança”. Dom Paulo, defensor dos pobres, amigo do povo como Jesus, deixa para nós essa marca do compromisso e da misericórdia para o mundo.
Maria Angela Borsoi, secretária de Dom Paulo durante 40 anos
“Estou muito alegre e serena em ação de graças, aqui pertinho do nosso Dom Paulo. Agradeço a Deus o privilégio de conhecê-lo a pelo menos 50 anos atrás e ter trabalhado com ele em Santana, quando ele era bispo auxiliar, na equipe de evangelização. Dom Paulo ateou fogo missionário naquele grupo, composto de leigos, religiosos e padres. E fiquei sendo secretária dele, pois naquela época eu era uma das únicas que sabia datilografar e tinha uma máquina portátil. Eles perceberam que eu tinha facilidade para escrever e por isso me convidaram. Quando ele foi nomeado arcebispo de São Paulo, eu então fui me despedi dele, pois achava que não iria continuar o trabalho. Mas ele disse: ‘Como não? Só se você não quiser.’ E eu continuei. São os caminhos de Deus! Hoje, aos 77 anos, percebo tudo o que me foi dado para viver e estou ainda mais feliz, porque a vida de Dom Paulo é de domínio público e a todos os que me perguntarem, essa velha tem muita história para contar.”
Ana Flora Anderson, biblista
“Dom Paulo tinha uma visão à frente do seu tempo. A questão da mulher na Igreja, por exemplo, seja na Comissão de Justiça e Paz, sejam as Consagradas e leigas consagradas. Desde que foi publicada a notícia de sua morte, amigos ingleses que trabalharam na época da ditadura têm me telefonado para saber sobre a vida de Dom Paulo. Ontem recebi um e-mail do diretor no National Catholic Reporter, dos Estados Unidos da América, que foi um jornal que enviou repórteres ao Brasil durante a ditadura dúzias de vezes, para conversar com Dom Paulo.
Irmã Anita Gomes, religiosa vicentina, que trabalhou, a pedido de Dom Paulo, no Amparo Maternal
“Quando ele me mandou para lá, encontrei uma casa que estava desmoronando. Então eu pensei: o que vou fazer aqui? Mas, Dom Paulo me chamou, pôs a mão no meu ombro e nunca mais tirou. Ele arrumou tudo o que podia. Em primeiro lugar, precisava pintar. Então eles chamou um grupo de seminaristas, que ficou um mês pintando e renovou um pouco a estrutura. Dom Paulo viajava muito, mas sempre trazia aquilo que podia para ajudar. Foi uma força, pois sem essa força eu não poderia fazer nada, porque o Amparo Maternal era mal visto pela sociedade, e com ele, aos poucos, essa visão foi mudando. As pessoas não gostavam porque o Amparo acolhia moças pobres que engravidavam e não tinham onde ficar. Lá fiquei por 34 anos, com sua mão sobre meu ombro. Dom Paulo foi um grande pai para o Amparo.”
Maria Helena Lima de Freitas, da ordem franciscana secular e uma das iniciadoras do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo
“O que eu quero dizer como mãe, mulher e avó é que, quando profetas históricos, como Dom Paulo, têm como apoio os leigos, as mulheres e o povo, nós aprendemos qual o caminho para sermos acolhidos. Eu tive a experiência pessoal de perceber que, quando a instituição abre as portas, nós ajudamos a construir a história do país. Participei do Movimento Constituinte e fui convidada pela Ruth Maria de Carvalho para participar do Conselho de Leigos e isso nos ajudou muito a atuar na cidade. Eu, por exemplo, só fui para os Conselhos de saúde, porque participei destes movimentos dentro da Igreja.” Fonte: http://www.arquisp.org.br
Dom Mauro Morelli fala da convivência com o Cardeal Arns
- Detalhes
Dom Mauro Morelli fala da convivência com o Cardeal Arns
Bispo emérito de Duque de Caxias (RJ) foi auxiliar de Dom Paulo Evaristo Arns na Arquidiocese de São Paulo entre 1975 e 1981
O bispo emérito de Duque de Caxias (RJ), Dom Mauro Morelli, escreveu sobre a convivência com o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, de quem foi bispo auxiliar na Arquidiocese de São Paulo entre 1975 e 1981. Aos 95 anos, Dom Paulo morreu na quarta-feira, 14, e está sendo velado na Catedral da Sé, onde será sepultado, na cripta, nesta sexta-feira, 16, após a missa das 15h.
Abaixo segue a íntegra do texto de Dom Mauro:
Dom Paulo Evaristo, apóstolo da justiça e da paz
Com o coração agradecido uno-me a tantas vozes louvando a Deus pela vida do mestre, pastor e profeta arrebatado hoje para o Reino da Vida.
Em 1968, ocorreu de fato a efetiva separação e ruptura da Igreja com o Estado. Neste contexto, o Papa Paulo VI, em 1970, convoca o Cardeal Rossi a Roma para assumir a Congregação para a Evangelização dos Povos e designa dom Paulo como arcebispo da capital paulista
Franciscano enamorado da Senhora Pobreza e irmão de toda a criatura, historiador e profundo conhecedor da Teologia dos Padres da Igreja dos primeiros séculos, o bispo catarinense Paulo Evaristo fora providencialmente escolhido para um pastoreio que exigiria firmeza na Fé, capacidade de leitura da realidade e determinação. Paulo VI tinha um olhar penetrante.
Com a presidência de Dom Paulo, a regional paulista da CNBB reveste-se de estrutura colegiada promovendo o ministério da coordenação que provoca intenso intercâmbio entre as dioceses, com a participação dos presbíteros e leigos, casais e jovens. Um processo de planejamento pastoral foi inaugurado e instalado como exercício da colegialidade pastoral e da sinodalidade eclesial como instrumento de resposta adequada da evangelização às exigências e provocações da realidade dominada pela ferocidade do Poder Econômico.
Como fruto do diálogo dos bispos com religiosos e religiosas, em assembleia conjunta, firmado o documento “Vida Religiosa na Igreja Particular”. Superando a si mesmo, o episcopado paulista assume a defesa da vida e da dignidade humana com o pronunciamento pastoral contra a tortura: Testemunho de Paz (Documento de Brodosqui), posteriormente reeditado como “Não oprimas teu irmão”.
À frente da arquidiocese de São Paulo, Dom Paulo Evaristo por recomendação do papa Paulo VI, aplicando os princípios da colegialidade pastoral e da sinodalidade encaminha um projeto inovador de Igreja nas grandes cidades em que autonomia e comunhão seriam marcas das estruturas eclesiásticas, não a independência e o isolamento. O colégio episcopal por ele presidido assume a tarefa da formação de nove dioceses com regime especial de comunhão de bens e de responsabilidades. A sinodalidade é vivenciada no processo de planejamento pastoral em que se definiam diretrizes e prioridades. Assim em todas as regiões e em todos os níveis da Igreja Arquidiocesana quatro prioridades tornam-se compromisso da igreja em sua vida e missão: Comunidades Eclesiais de Base, Operação Periferia, Mundo do Trabalho e Direitos Humanos.
O testemunho pessoal de Dom Paulo foi a força que aglutinou as energias da cidadania que não se dobrou diante da repressão violenta e cruel. A coerência de dom Paulo abrindo mão do palácio por uma simples casa, a comunhão de bens por ele praticada e incentivada, a determinação de caminhar de esperança em esperança sem se abater, de tranco em tranco com ousadia e muita coragem, fez dele o pastor amado pelos pobres, oprimidos e perseguidos. Em longos anos como emérito, sem desmerecer os que o sucederam, permaneceu sendo o bispo de São Paulo.
Com a morte de Paulo VI novos ventos sopraram e agitaram a Barca de Pedro. Em tempo de crise a busca de refúgio e de preservação da espécie dá ensejo ao surgimento da centralização e do conservadorismo. A crise atual é mais séria e profunda do que muitos imaginam! Crise civilizatória. Assim perdemos a oportunidade de ser Igreja nos grandes centros urbanos sem esquartejar bairros e ruas, reféns de nossos feudos e estruturas inadequadas
Sinto-me honrado e privilegiado pelos dez anos de fraternidade e companheirismo com o saudoso franciscano pastor das periferias geográficas e existenciais, intrépido defensor da dignidade humana e promotor de democracia, Paulo Evaristo Arns que me ordenou bispo. Nossa jornada começou numa carona que lhe dei em 08.12.69 para o almoço depois da ordenação episcopal do capuchinho Dom Daniel Tomasella, segundo bispo de Marília.
Inúmeras viagens e memórias do meu mestre e irmão bispo Paulo Evaristo. Na comunhão dos santos interceda pela Terra da Santa Cruz neste tempo de trevas. Paz e Bem. Fonte: http://www.arquisp.org.br
Autoridades enviam condolências à Arquidiocese pela morte do Cardeal Arns
- Detalhes
Axel Zeidler, cônsul-geral da República Federal da Alemanha, e ministro do STF, Ricardo Lewandowiski, estão os que manifestaram pesar pela morte do Cardeal Arns.
Desde o falecimento do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, na quarta-feira, 14, aos 95 anos, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, tem recebido mensagens condolências de diferentes autoridades.
A seguir, algumas das mensagens recebidas:
Axel Zeidler, cônsul-geral da República Federal da Alemanha
Eminentíssimo Senhor Cardeal Dom Odilo Scherer,
Foi com enorme pesar que tomei conhecimento do falecimento do Arcebispo Emérito Dom Paulo Evaristo Arns.
Corajoso lutador pelos direitos humanos e líder em tempos difíceis, Dom Paulo Evaristo Arns será sempre lembrado como amigo do povo. A morte do ‘Cardeal da Esperança’ representa uma enorme perda para o Brasil e para o mundo inteiro.
Gostaria de apresentar minhas sinceras condolências, também em nome de todos os colaboradores do Consulado Geral da República Federal da Alemanhã.
Ricardo Lewandowiski, ministro do Supremo Tribunal de Federal (STF)
Profundamente consternados com o falecimento do Reverendísismo Dom Frei Paulo Evaristo Arns, externamos nossas condolências, desejando que sejam consolados nesta dor. Atenciosamente Yara e Ricardo Lewandowiski. Fonte: http://www.arquisp.org.br
Mensagem de Pesar do Papa Francisco pela morte do Cardeal Arns
- Detalhes
Nesta quinta -feira (15), Papa Francisco enviou uma mensagem ao Cardeal Odilo Pedro Scherer por ocasião do falecimento do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns
Em um telegrama enviado hoje à nossa Arquidiocese, o Papa Francisco expressou seu pesar e elevou suas orações pelo falecimento do Cardeal Paulo Evaristo Arns no dia14 de dezembro, aos 95 anos, por causa de uma broncopneumonia. Leia abaixo a mensagem:
Brasília, 15 de dezembro de 2016
Eminência,
Na ausência do Senhor Núncio Apostólico, Dom Giovanni d’ Aniello, apraz-me transmitir a Vossa Eminência, da parte de Sua Santidade Papa Francisco e do Eminentíssimo Secretário de Estado, as seguintes mensagens:
Emmo e Revmo Dom Odilo Pedro Scherer
Cardeal Arcebispo de São Paulo
Recebida com grande pesar a notícia da morte do venerado irmão Cardeal Paulo Evaristo Arns, venho exprimir –lhe a si e bispos auxiliares, ao clero, comunidades religiosas e fiéis da Arquidiocese de São Paulo, bem como à família do falecido, meus pêsames pelo desaparecimento desse intrépido pastor, que no seu ministério eclesial se revelou autêntica testemunha do Evangelho no meio do seu povo, a todos apontando a senda da verdade, na caridade e do serviço à comunidade em permanente atenção pelos mais desfavorecidos.
Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor e elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, enquanto envio a essa comunidade arquidiocesana que chora a perda do seu amado pastor e à Igreja do Brasil, que nele teve um seguro ponto de referência, e a quantos partilham esta hora de tristeza que anuncia a Ressurreição, uma confortadora bênção apostólica.
Francisco P.P
Tendo sabido do falecimento do Cardeal Paulo Evaristo Arns, desejo testemunhar minhas condolências a Vossa Eminência e toda essa comunidade que ele apascentou durante quase trinta anos, procurando manter alto o farol da fé nos caminhos dos homens, sensível aos fermentos de renovação presentes no contexto eclesial e civil e movido sempre pela preocupação de realizar com fidelidade as orientações conciliares na edificação e consolidação da Igreja. Ao recordar os valiosos serviços por ele prestados à Igreja inteira com grande solicitude pastoral, a minha admiração e fraterna estima tornam-se oração que se une à Vossa pelo falecido Cardeal, invocando junto com o Divino Mestre o Prêmio Reservado aos seus discípulos fiéis. Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado. Fonte: http://www.arquisp.org.br
Malheiros: ‘Dom Paulo era aquele que acolhia, protegia e que nos chamava'
- Detalhes
Desembargador conviveu com o Cardeal Arns desde a década de 1970
O Desembargador Antônio Carlos Malheiros, integrante da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, foi um dos primeiros a chegar à Catedral da Sé para o funeral do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que morreu nesta quarta-feira, 14, aos 95 anos de idade.
Amigo de Dom Paulo desde a década de 1970, Malheiros recordou a postura do Cardeal Arns durante o período da Ditadura Militar.
“Ele era proteção para aqueles que eram perseguidos pela ditadura. Dom Paulo era realmente aquele que acolhia, protegia e que nos chamava. Chamava, em primeiro lugar, os membros da justiça e paz para ajudar nessa proteção. Ele nunca se afastava, nunca era omisso, ele sempre presente na nossa frente, no nosso lado, nos orientando e impulsionando na luta dos direitos humanos”.
Malheiros também disse que hoje se sente “um pouco órfão. Ele era um parceiro, um paizão, então a gente se sente um pouco órfão pela partida dele”, um “extraordinário homem, que marcou o século XX no Brasil e no mundo e também o século XXI”.
Para o desembargador, a memória de Dom Paulo deve ser sempre preservada e inspirar ações. “Que a gente procure recuperar sempre as coisas que ele disse, as coisas que fez, aprender essas lições e efetivamente fazer as coisas que ele gostaria que a gente continuasse fazendo ou até mesmo fazê-las pela primeira vez”.
Fonte: http://www.arquisp.org.br
Pág. 309 de 665