Símbolos e fatos eleitorais
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Símbolos e fatos eleitorais
Para ganhar eleição, é preciso que o discurso aponte para a mesma direção que o símbolo adotado
Geraldo Alckmin pode não agregar muitos votos, mas certamente transfere confiança a uma chapa liderada por Lula. Seu papel significa muito mais uma direção, uma declaração de princípios do PT e de seu candidato a presidente. Serve como símbolo em favor da estabilidade, do entendimento e, sobretudo, da democracia. Do outro lado, a presença do general Braga Netto na parceria com o presidente Jair Bolsonaro também é um símbolo, mas de sinal trocado. Sua presença na cédula eleitoral é a garantia de recrudescimento no caso da renovação do mandato de um governo já truculento.
Claro que símbolos apenas não ganham eleição. Alckmin pode virar apenas um vice decorativo, como Hamilton Mourão, sob Bolsonaro, ou Michel Temer, com Dilma Rousseff. Pode também ser um novo José Alencar, o vice de Lula que tinha voz e cargo no governo, sendo ministro da Defesa por quase dois anos. Mas, para ganhar eleição, é preciso também que o discurso aponte para a mesma direção que o símbolo adotado. No caso de Lula, que certamente já tem e não perderá os votos do eleitorado de esquerda, é preciso falar também a linguagem de Alckmin, que não é de direita, mas de centro. Tarefa que tem sido difícil para o candidato do PT, que enfrenta resistências dentro do seu partido.
Bolsonaro também não tem conseguido mexer no seu perfil autocrático, embora não faltem recomendações neste sentido. Fora a questão das vacinas contra a Covid, sobre as quais se calou, todas as suas declarações, gestos e ações mostram o mesmo capitão que falhou na sua primeira tentativa de dar um golpe nas instituições, mas que segue torpedeando-as praticamente todos os dias. Ele claramente não trai o símbolo que Braga Netto representaria na sua candidatura.
O eleitor, por sua vez, não pode ignorar esses sinais, que são claros e, em alguns casos, explícitos. Mas, a julgar pela última pesquisa Datafolha, vem crescendo a parcela dos brasileiros que não apenas aceita um governo autoritário como quer sua permanência por mais quatro anos. Ou isso, ou a ignorância e a alienação. Claro que há um contingente importante de eleitores declaradamente de extrema direita, que prega mesmo a intervenção militar e o fechamento do Supremo e do Congresso. Para estes, em última análise, Bolsonaro é apenas um instrumento. O que eles querem é a ditadura. Por quê? Não sei.
Mas há também entre os 26% de eleitores que apoiam o presidente um número relevante de pessoas desinformadas ou simplesmente desligadas. Entre estes, há os que não têm tempo e dinheiro para comprar crédito suficiente para usar seu celular como instrumento de informação. Apenas engolem o que chega nas suas timelines e se convencem com pacotes de bondades. Há os alienados de sempre, aquela turma do andar de cima (desculpe, Elio) que tem esta doença quase juvenil que prolifera há décadas no Brasil. Para estes, a coisa não lhes diz respeito. E há os conservadores que têm medo de mudança e de tudo que lhes pareça vanguardismo (que não é o caso de Lula e do PT) e sempre se aglomeram à direita.
A eleição, que neste momento indica a vitória de Lula no segundo turno, ainda vai sofrer diversos solavancos nos sete meses que nos separam da abertura das urnas. O crescimento de Bolsonaro evidenciado pelo Datafolha não chega a ser uma novidade e haverá outros muitos movimentos até outubro. Ontem, outra pesquisa, do Ipespe para a XP, mostrou queda de dois pontos de Bolsonaro em relação à enquete anterior do mesmo instituto. São assim as pesquisas, elas refletem fatos. O Datafolha identificou sua subida, em razão das “bondades”, e o Ipespe seu recuo, por causa da inflação.
Obviamente, além dos símbolos, as eleições dependem também dos fatos. Vejam o exemplo de 2018. Embora preso em Curitiba e com direitos políticos cassados, Lula ficou na sondagem do Datafolha até agosto, quando seu nome foi substituído pelo de Fernando Haddad. Em abril daquele ano, Lula tinha 31 pontos, contra 15 de Bolsonaro. No início de agosto, a diferença era de 39 contra 19. Na primeira medição com Haddad, no dia 21 de agosto, Bolsonaro apareceu na frente, com 24, contra 9 pontos do petista. Depois da facada, em setembro, ele disparou e fechou o primeiro turno com 46% dos votos contra 29% de Haddad. Fonte: https://oglobo.globo.com
Esquema de propina no MEC envolvia compra de Bíblias, dizem prefeitos
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Evento com a presença do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em Nova Odessa, em São Paulo; segundo um prefeito do interior paulista, aquisição de Bíblias era uma condição prévia para que Ribeiro fosse até a cidade Foto: Catarina Chaves/MEC
Relatos apontam para Arilton Moura como autor de pedido de dinheiro e aquisição dos livros em troca de verbas da educação
Renata Cafardo e Julia Affonso, O Estado de S.Paulo
A atuação do gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC) envolvia compra de Bíblias para serem distribuídas nas cidades que recebiam a visita do ministro Milton Ribeiro, e dinheiro para a igreja evangélica. Prefeitos de dois municípios afirmaram ao Estadão que o pastor Arilton Moura era quem fazia a negociação em troca de verbas da educação. Os relatos de cobrança de propinas para compra de Bíblias foram revelados pelo jornal O Globo e confirmados pelo Estadão.
Versões da Bíblia comentada por Gilmar Santos, outro pastor próximo de Ribeiro, foram distribuídas em um evento com o ministro na cidade de Nova Odessa, no interior de São Paulo. Santos é também o dono da editora Cristo para Todos, que produz os livros.
O prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton (Cidadania), relatou ao Estadão que foi convidado para almoçar após uma reunião no MEC, no começo de 2021. No restaurante, Arilton disse que se o prefeito tivesse “interesse” em recurso para escola no município, ele poderia “organizar”. Segundo o prefeito, o pastor pediu R$ 15 mil para custear despesas em Brasília e sugeriu que ele comprasse mil Bíblias, no valor de R$ 50 cada, para distribuir no município.
O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, afirmou também que foi levado a um restaurante de um hotel em Brasília depois de um evento no MEC. Lá, segundo o prefeito, Arilton perguntou se ele teria interesse em ter uma escola profissionalizante na cidade. “Eu disse que tinha outras demandas, como creche, terceirização de ônibus”, disse. Souza conta que o pastor então complementou dizendo que se ele quisesse poderia ter a escola na hora.
“Ele disse: Eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”, afirmou. Souza disse que respondeu que não faria esse tipo de negócio. A cidade de Boa Esperança, segundo ele, não teve qualquer ajuda do MEC em projetos.
Em um evento em Nova Odessa com a participação do ministro, houve pregação dos dois pastores além da distribuição de Bíblias. Uma secretária que esteve no evento e pediu para seu nome não ser publicado descreveu o cenário como “desconfortável, escandaloso para quem é da educação”.
Ela disse que as Bíblias estavam em mesas junto a profissionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do MEC, que resolviam eventuais dificuldades das Prefeituras com merenda, transporte e materiais didáticos. Durante o atendimento a prefeituras em Nova Odessa, em cima do palco, o pastor Moura perguntou se a plateia sabia o motivo de eles estarem ali. “Porque vimos a necessidade do evangelismo em cada município desses”, afirmou. Ao discursar, o ministro agradeceu o pastor Gilmar e o chamou de “meu amigo, meu irmão”. Procurado, o prefeito de Nova Odessa, Claudio José Schooder (PSD), conhecido como Leitinho, não respondeu até a conclusão desta edição.
Segundo um prefeito do interior paulista, que pediu para não ser identificado, a aquisição de Bíblias era uma condição prévia para que o ministro fosse até a cidade. O mesmo teria ocorrido em São João da Boa Vista, a 200 quilômetros da capital.
Procurada pela reportagem, a prefeita Maria Teresinha de Jesus Pedroza (DEM) negou que tenha comprado Bíblias para distribuição durante o evento. “O ministro foi convidado para vir a São João através de contatos que temos na política”, disse.
A Constituição determina que o Brasil é um Estado laico, ou seja, que não incentiva ou tem relações econômicas com nenhuma religião específica. E a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) veda qualquer forma de proselitismo. Fonte: https://www.estadao.com.br
Lula vai à Justiça contra padre que o acusou de 'comprar o STF' e ser o 'maior ladrão do mundo'
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Por Nelson Lima Neto
O padre Edison Geraldo Bovo
O ex-presidente Lula recorreu à Justiça de SP ao apresentar ação com pedido de explicações contra o padre Edison Geraldo Bovo, que fez acusações contra o líder petista em missa no último dia 10 de março.
A defesa de Lula quer saber se o padre tem provas das acusações que fez, entre elas a de que o ex-presidente "comprou o STF". Bovo também definiu Lula como o "maior ladrão que o mundo já viu".
Os advogados de Lula aguardam as respostas para o possível ingresso de uma ação de danos morais por difamação, injúria e calúnia em função das falas do padre da paróquia de Laranjal Paulista, no interior de São Paulo.
Dois trechos da fala do padre durante sermão no último final de semana:
"O mais estúpido é o ladrão. O maior ladrão que o mundo já viu, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, né. Coitada da família dele, dos pais, da mãe que tem vergonha disso. Onde você pesquisar no mundo, é o pior"
"Esse dinheirinho é usado para pagar Supremo Tribunal, os advogados, para dizer 'ele é inocente', 'ele não fez nada', 'ele é bonzinho'. [Lula] vai se candidatar e muita gente vai votar nele. Para com isso, gente. Se vocês não querem viver, se vocês estão cansados da vida, não judiem dos seus filhos, não judiem da geração que vai chegar". Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Com apoio do Brasil, ONU aprova resolução contra a Rússia; ataques prosseguem na Ucrânia
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Com apoio do Brasil, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na tarde desta quarta-feira (2) uma resolução contra a invasão russa à Ucrânia. No sétimo dia da guerra, os russos prosseguem com os ataques em diversas cidades ucranianas.
A reunião foi convocada pelo Conselho de Segurança e feita de forma emergencial para discutir a situação no Leste Europeu. Para a aprovação, foi necessário maioria de 2/3 dos votantes. Foram 141 votos a favor, cinco contrários e 35 abstenções.
Além da votação na ONU, uma nova rodada de negociações entre os dois países foi confirmada para hoje, segundo um assessor do governo ucraniano. No começo da tarde (horário de Brasília), a delegação russa já havia chegado no ponto de encontro em Belarus, onde aguardaria os negociadores ucranianos.
A primeira conversa entre as delegações após o início dos ataques ocorreu na segunda-feira (28) e teve duração de cinco horas, mas terminou sem um avanço. Na terça-feira (1º), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a Rússia deve parar o bombardeio de cidades ucranianas antes que as negociações possam ocorrer.
Ainda nesta quarta, porém, o departamento de polícia regional de Kharkiv e a Universidade Nacional de Kharkiv foram alvo de um ataque militar, de acordo com o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia e imagens geolocalizadas pela CNN. O conselho da cidade de Mariupol também disse que a cidade ao sul estava sob controle ucraniano, mas travada em batalhas com tropas russas.
O Ministério da Defesa russo também anunciou nesta quarta que as forças armadas tomaram a cidade de Kherson. Autoridades ucranianas rebateram e afirmaram que ainda estão no controle da região, que fica ao sul.
Na terça-feira (1º), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o fechamento do espaço aéreo americano para a Rússia – isolando ainda mais o país de Vladimir Putin. Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
Lavrov diz que 3ª guerra seria atômica e destrutiva, e Rússia inicia exercícios nucleares
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No último domingo (27), presidente russo deu ordem para colocar armas nucleares de represália em posição de alerta grave. Movimentação ocorre longe do campo de batalha na Ucrânia.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse nesta quarta-feira (2) que, se uma Terceira Guerra Mundial ocorresse, envolveria armas nucleares e seria destrutiva, informou a agência de notícias RIA.
Também nesta quarta-feira, as Forças Armadas do Kremlin iniciaram exercícios com submarinos nucleares e lança-mísseis terrestres em regiões na Rússia — mas longe do campo de batalha na Ucrânia.
No último domingo (27), o presidente Vladimir Putin deu ordem para colocar armas nucleares de represália em posição de alerta grave. Fonte: https://g1.globo.com
Putin ordena ataque à Ucrânia, que denuncia 'invasão em grande escala' ao país
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Centros de comando militares da Ucrânia na capital, Kiev, e em Kharkiv são alvo de ataque de mísseis; tropas russas chegam a Mariupol e Odessa
O Globo e agências internacionais
Putin no pronunciamento em que anunciou a invasão da Ucrânia, na manhã desta quinta em Moscou Foto: RUSSIAN POOL / via REUTERS Newsletters
MOSCOU — O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou na manhã desta quinta-feira em Moscou uma operação militar contra o Ucrânia, afirmando que não quer a "ocupação" do país, mas sua "desmilitarização". Segundo o chanceler ucraniano, Putin iniciou uma "invasão em grande escala" contra o país.
— Tomei a decisão por uma operação miitar — anunciou Putin em uma inesperada mensagem pela TV, denunciando um suposto genocício orquestrado pela Ucrânia contra a população de origem russa no Leste do país.
Pouco depois do anúncio, surgiram relatos de ataques a várias cidades ucranianas, incluindo a capital, Kiev, que amanheceram ao som de sirenes de alerta. Informações não oficiais, que teriam partido do governo da Ucrânia, dão conta de que já haveria 7 pessoas mortas pelos ataques russos. Militares ucranianos também divulgaram terem abatido cinco aviões e um helicóptero russos na região de Luhansk, o que não foi confirmado pela Rússia.
Os centros de comando militares da Ucrânia na capital e em Kharkiv foram alvo de ataque de mísseis, informou o site de notícias Ukrainska Pravda, citando uma fonte do Ministério do Interior ucraniano. Segundo a Interfax, tropas russas entraram nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, o principal município sob controle de Kiev na linha de frente com os separatistas pró-Moscou no Leste do país.
O ataque começou enquanto o Conselho de Segurança da ONU se reunia pela segunda vez nesta semana, com apelos dos países-membros para que Moscou não lançasse a ação. Vários países se apressaram em condenar a ação militar russa na Ucrânia, entre eles França, Portugal, Japão, Itália e Suécia. A China afirmou que está acompanhando de perto a crise e aconselhou seus cidadãos na Ucrânia a permanecerem em casa.
Na Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, classificou o ataque russo de "injustificado".
"O presidente (Vladimir) escolheu uma guerra premeditada que vai causar uma catastrófica perda de vida e sofrimento humano", disse Biden em uma declaração. "A Rússia sozinha é responsável pela morte e a destruição que esse ataque vai causar. O mundo cobrará contas da Rússia", acrescentou Biden, afirmando que anunciará ainda nesta quinta, junto com os aliados americanos, mais punições à Rússia.
A União Europeia também considerou o ataque "injustificado", afirmando que responsabilizará Moscou pela invasão, segundo anunciou a chefe da Comissão Executiva do bloco, Ursula von der Leyen.
"Nestas horas sombrias, nossos pensamentos estão com a Ucrânia e as mulheres, homens e crianças inocentes que enfrentam esse ataque não provocado e temem por suas vidas", disse ela no Twitter. "Vamos responsabilizar o Kremlin", acrescentou von der Leyen.
Os líderes da UE devem realizar uma cúpula de emergência em Bruxelas, ainda nesta quinta-feira, depois que uma primeira rodada de sanções da UE à Rússia entrou em vigor no dia anterior.
O ataque foi iniciado um dia após Moscou declarar que as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk haviam pedido ajuda para repelir "agressões" de Kiev, em meio a crescentes alertas dos EUA de que um grande ataque era iminente.
O presidente russo, que justificou a ação citando o pedido de ajuda dos separatistas e o que chamou de política agressiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra Moscou, pediu aos militares ucranianos que "deponham as armas".
Puin ainda advertiu que aqueles que "tentarem interfir conosco (...) devem saber que a resposta da Rússia será imediata e conduzirá a consequências que jamais conheceram".
— Estou seguro de que os soldados e oficiais russos cumpriram seu dever com coragem. A segurança do país está garantida — afirmou.
A operação foi lançada depois de Moscou vetar voos sobre parte da região de Rostov, a Leste de sua fronteira com a Ucrânia, que, por sua vez, anunciou o "perigo potencial" para a aviação civil ao restringir o tráfego em seu espaço aéreo. Posteriormente, todos os voos foram cancelados em Rostov.
Na noite de quarta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, havia feito um pronunciamento dramático de nove minutos na TV. Falando a maior parte do tempo em russo — e se dirigindo à população russa —, pediu que a Rússia não invadisse o país.
— O povo ucraniano quer a paz — disse, citando a história comum das duas nações. — O governo ucraniano quer a paz e está fazendo tudo para construí-la.
Horas antes, o Parlamento ucraniano havia aprovado um estado de emergência após o governo adotar uma série de medidas de preparação para uma guerra, desde convocar reservistas a pedir para seus cidadãos deixarem a Rússia imediatamente.
A Rússia também havia esvaziado sua embaixada em Kiev, e muitos países, incluindo o Brasil, pediram para seus cidadãos deixarem o país. Fonte: https://oglobo.globo.com
Eleições 2022: direita x esquerda
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O que têm em comum um extremista de esquerda e um extremista de direita é a antidemocracia.
Ruy Altenfelder, O Estado de S.Paulo
Num sistema democrático, a alternância entre governos de direita e de esquerda é legítima.
Isaiah Berlin, um clássico do liberalismo, considera de esquerda o liberalismo que se opõe ao excessivo poder da autoridade baseada na força da tradição na qual identifica a principal característica da direita.
Berlin sustenta que o regime autoritário da União Soviética desqualificou e tornou imprestável a distinção entre direita e esquerda, ao usurpar a palavra esquerda. Semelhante afirmação mostra que “esquerda” tem, para quem a enuncia, um significado positivo, embora possa ter, como todas as palavras da linguagem política, que não é uma linguagem rigorosa, ambos os significados, positivo e negativo, conforme quem delas se apropria e o contexto em que tal apropriação ocorre.
Isso explica, também, por que o próprio Berlin chama de esquerda a doutrina liberal que mais lhe agrada, e para cuja reformulação dedicou suas obras mais conhecidas e justamente mais celebradas. O liberalismo de que fala é o social, que se diferencia do clássico próprio dos partidos liberal-liberistas por uma componente igualitária, suficiente, por si só, para incluí-lo sem contradições entre as doutrinas de esquerda.
Norberto Bobbio, um dos mais respeitados pensadores políticos contemporâneos, distingue o significado descritivo e o significado emotivo das palavras. Trata-se de uma distinção fundamental, sobre a qual nenhum crítico depositou a devida atenção. Quem se considera de esquerda, do mesmo modo que quem se considera de direita, admite que as respectivas expressões estão referidas a valores positivos. Essa é a razão pela qual um e outro não deixam de incluir a liberdade entre estes valores. O contraste entre liberatórios e autoritários corresponde a uma outra distinção que não se superpõe à distinção entre direita e esquerda, mas com ela se cruza. Do ponto de vista analítico, o objetivo foi o de fazer emergir da prática política habitualmente seguida e das opiniões correntes, tanto as doutas quanto as populares, o significado descritivo dos termos, independentemente do seu significado emotivo.
Nenhuma pessoa de esquerda pode deixar de admitir que a esquerda de hoje não é mais a esquerda de ontem. Enquanto existirem homens movidos por um profundo sentimento de insatisfação e de sofrimento perante as iniquidades das sociedades contemporâneas – hoje talvez menos ofensivas do que em épocas passadas, mas bem mais visíveis –, eles carregarão consigo os ideais que há mais de um século têm distinguido todas as esquerdas da História.
Talvez, ensina Bobbio, seja a esquerda democrática que possa e deva escutar as vozes que ensinam que o homem é malvado, mas precisa ser, ao mesmo tempo, auxiliado de todos os modos, incluindo os mais prosaicos, como a assistência à saúde e a aposentadoria.
A distinção entre direita e esquerda – que por cerca de dois séculos, a partir da Revolução Francesa, serviu para dividir o universo político entre duas partes opostas – não tem mais nenhuma razão para ser utilizada. É usual a referência a Sartre, que parece ter sido um dos primeiros a dizer que direita e esquerda são duas caixas vazias. E que, por isso, não teriam mais nenhum valor heurístico ou classificatório, e menos ainda avaliativo.
A árvore das ideologias está sempre verde. “Esquerda” e “direita” indicam programas contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução pertence habitualmente à ação política, contrastes não só de ideias, mas de interesses e de valorações a respeito da direção a ser seguida pela sociedade, contrastes que existem em todas as sociedades e que não vejo como possam simplesmente desaparecer. Pode-se, naturalmente, replicar que os contrastes existem, mas não são mais os do tempo em que nasceu a distinção: modificaram-se tanto que tornaram anacrônicos e inadequados os velhos nomes.
Sociedades democráticas são sociedades que toleram, que pressupõem a existência de diversos grupos de opinião e de interesse em concorrência entre si; tais grupos, às vezes, se contrapõem, às vezes se superpõem, em certos casos se integram para, depois, se separarem.
Outro exemplo histórico de síntese dos opostos, derivado desta vez das fileiras da direita, foi a ideologia da revolução conservadora, nascida após a Primeira Guerra Mundial como resposta da direita à revolução subversiva que havia levado a esquerda ao poder num grande país e parecia destinada a se difundir em outras regiões.
Um extremista de esquerda e um de direita têm em comum a antidemocracia, que se aproxima não pela parte que representam no alinhamento político, mas apenas na medida em que representam as alas extremas naquele alinhamento, pois os extremos se tocam.
No momento em que no Brasil e no mundo graves crises se prolongam à luz do dia, potencializando a reprodução de imensas zonas de miséria e injustiça, os questionamentos de Bobbio nos estimulam para que se afiem os instrumentos de análise e não se perca de vista o valor das diferenciações.
*ADVOGADO, É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS (APLJ)
Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Bolsonaro fala de 'ditadura da caneta' e diz que 'nos próximos dias vai acontecer algo que vai salvar o Brasil.
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Por Lauro Jardim
Um enigmático Jair Bolsonaro falou hoje aos seus seguidores no cercadinho do Palácio da Alvorada.
Fez uma crítica velada ao STF ("ditadura que vem pelas canetas") e previu para breve um acontecimento que "vai salvar o Brasil", mas sem dizer o que é. E nem foi perguntado por seus fieis, que apenas gritaram "glória a Deus" depois de sua fala.
Eis o que disse Bolsonaro:
— Pessoal, qual é a diferença de uma ditadura feita pelas armas, como a gente vê em Cuba e Venezuela (esqueceu de citar a ditadura militar de 1964) e uma ditadura que vem pelas canetas? Qual é a diferença? Nenhuma. Vocês sabem o que está acontecendo no Brasil. Eu acredito em Deus e nos próximos dias vai acontecer algo que vai salvar o Brasil, tenho certeza. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Pastor admite intermediar emenda para favorecer filhos políticos: ‘Quer dinheiro?’; veja vídeo
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Líder da Assembleia de Deus no Brasil, José Wellington Bezerra da Costa afirma que recurso só chega ao prefeito com aval da igreja
Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus no Brasil, admitiu que a igreja tem feito a intermediação do pagamento de emendas parlamentares para eleger três de seus filhos em São Paulo, maior colégio eleitoral do País. José Wellington também proibiu o apoio de pastores a candidatos que não sejam “ungidos” pela denominação evangélica.
Os filhos do pastor – o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP) e a vereadora Rute Costa (PSDB-SP) – tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos, no ano passado. Nas eleições que disputaram, os três foram abertamente apoiados pela igreja durante as campanhas.
“A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus”, disse José Wellington durante reunião de obreiros, realizada na última segunda-feira, em São Paulo. “O eleitorado que ali está, irmãos, não é do prefeito, mas são irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que os nossos candidatos continuem trabalhando.”
José Wellington controla a Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil, a mais antiga do segmento, há três décadas. Em São Paulo, é líder do Ministério do Belém, vertente mais tradicional da denominação no Sudeste, e apoiou a campanha de Jair Bolsonaro em 2018. No culto, ele afirmou que os filhos são livres para escolher os beneficiados, mas revelou como abordam os prefeitos: “Você quer dinheiro? Quer, mas chame então o pastor da Assembleia de Deus”.
No ano passado, o deputado Paulo Freire Costa teve acesso a R$ 16 milhões em emendas, valor destinado a cada um dos congressistas. Ele indicou verbas para 26 beneficiários, incluindo R$ 395 mil para Campinas, onde é pastor, e R$ 600 mil para dois municípios (Bilac e Santópolis do Aguapeí) na modalidade transferência especial, apelidada de “pix orçamentário” por repassar um “cheque em branco” para prefeituras sem fiscalização federal.
Templo
Apesar do apoio a Bolsonaro, José Wellington já foi próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje favorito nas pesquisas de intenção de voto para a disputa ao Planalto. Na reunião em que discorreu sobre as emendas estavam presentes pré-candidatos em outubro, incluindo o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), aliado de Bolsonaro. Aos subordinados, José Wellington costuma dizer que ora por todos e dá espaço a concorrentes de diferentes partidos no púlpito do templo.
Nos últimos anos, a Assembleia de Deus do Belém, uma das vertentes da denominação no Brasil, viu outras alas ocuparem espaços políticos no Congresso. A presidência da bancada evangélica na Câmara passou ontem das mãos do deputado Cezinha de Madureira para as de Sóstenes Cavalcante, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (mais informações nesta página). As duas igrejas são consideradas “irmãs” do Belém, mas disputam poder onde estão instaladas.
Aos líderes, José Wellington expôs a preocupação com o apoio de pastores a candidatos que não são da Assembleia de Deus e apontou o pagamento de emendas como forma de dar força aos nomes escolhidos para representar os fiéis no Legislativo. “Meus irmãos, trabalhem para eleger os nossos irmãos na fé, procurem eleger os nossos irmãos na fé. Glória! Seja fiel a este nome: Assembleia de Deus no Brasil.”
A chancela dos recursos pelos pastores serve, nas palavras do patriarca assembleiano, “para evitar qualquer nuvem negra sobre o comportamento dos nossos companheiros”. José Wellington fez um alerta para que os pastores não aceitem emendas diretamente para as igrejas, ou seja, a intermediação tem de ser feita para destinar recursos às prefeituras ou a outras instituições. “A igreja não precisa de dinheiro do Estado”, insistiu.
Procurado pela reportagem, o pastor confirmou que põe líderes da igreja em contato com prefeitos beneficiados por emendas de seus filhos parlamentares, mas negou troca de favores. “Quando o prefeito de uma cidade precisa de uma verba, é evidente que nós mandamos o pastor da nossa igreja para que ele tenha conhecimento com o prefeito. O nosso deputado vai entender, naturalmente, se a verba for coisa lícita, for necessária, mas pelos canais oficiais”, disse ele. “A igreja não tem qualquer compromisso político.”
Ao admitir que a igreja lança candidatos e pede voto para os fiéis, José Wellington disse ser preciso manter a doutrina. “O candidato da minha igreja, eu ponho ele no púlpito, eu ponho ele na minha casa, eu ponho ele no meu carro, eu ponho ele onde eu quiser. Outros candidatos de fora, não”, afirmou. “Quem trouxe a política para o ministério da Assembleia de Deus fui eu porque entendi que existem interesses da igreja, especialmente legais. Alguns deputados estão fazendo coisas meio marotas contra nossa doutrina pública, que precisamos manter.” Fonte: https://politica.estadao.com.br
As consequências do negacionismo
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A defasagem da imunização infantil em um país mundialmente reputado por sua cobertura vacinal é uma anomalia que tem nome e sobrenome
Conforme apurou o Estadão, com 15 dias de campanha de imunização infantil, o Brasil poderia ter vacinado 75% das crianças, mas vacinou apenas 10%. O SUS teria capacidade de aplicar 1 milhão de doses por dia, mas a média está em 130 mil. Neste ritmo, a campanha levará seis meses. As causas são múltiplas – escassez de imunizantes, falhas de planejamento, desinformação –, mas apontam para um mesmo epicentro: o Palácio do Planalto.
A defasagem, que coincide com o retorno às aulas e o aumento das mortes e da pressão hospitalar pela variante Ômicron, é tanto mais chocante quando se considera que o Brasil tem uma infraestrutura e uma cultura vacinal, sobretudo infantil, mundialmente reputadas. Esse sistema prevaleceu na imunização dos adultos, que aderiram massivamente à vacinação, mas, justamente na hora de vacinar as crianças, sua resistência imunológica começa a dar mostras de comprometimento ante a virulência do presidente e suas hostes negacionistas.
Há meses a imunização infantil está em curso nos países desenvolvidos. Entre os vizinhos, o Chile já vacinou 77% de suas crianças e a Argentina, 72%. Não fosse o descaso do governo, boa parte das crianças teria começado o ano letivo já imunizada com duas doses. Mas as primeiras doses só chegaram à maioria das cidades no dia 17, um mês após a aprovação da Anvisa. Somadas as vacinas em estoque e contratadas, 5,5 milhões de crianças ainda não têm vacina garantida. O Instituto Butantan afirma ter 10 milhões de doses para pronta entrega. Mas, no caso da Coronavac, a desídia de Jair Bolsonaro pela vacinação se soma ao seu temor de associá-la ao governador de São Paulo, João Doria, seu concorrente na eleição.
Em ano eleitoral, a politicagem combinada à incompetência cria uma tempestade perfeita que ameaça as crianças e dá sobrevida ao vírus. A sabotagem bolsonarista à vacinação adulta está se repetindo na infantil, mas, qual uma nova variante, com mais eficiência e virulência.
A quantidade e a sofisticação das informações falsas estão muito maiores do que no ano passado. As investidas contra a imunização infantil são tanto mais graves na medida em que hoje se tem mais informação sobre a segurança e eficácia das vacinas, e são especialmente cruéis, por manipularem os instintos de proteção dos pais, produzindo o efeito inverso de expor seus filhos a riscos evitáveis.
Jair Bolsonaro e seu sabujo no Ministério da Saúde têm feito – quase que literalmente – o diabo para incentivar a hesitação vacinal. Bolsonaro já disse que nenhuma criança brasileira morreu de covid, mas, após os acidentes de trânsito, a doença foi a principal causa de morte de crianças, cerca de 600, e as taxas de mortalidade são de 5 a 10 vezes maiores do que na Europa ou EUA. Além disso, o presidente questionou a honestidade dos técnicos da Anvisa e faz terrorismo sobre os efeitos adversos da vacina em aberrante contraposição aos consensos pediátricos sobre riscos e benefícios. Ainda hoje o Ministério da Saúde dá sinais trocados sobre a eficácia e a segurança das vacinas e faz campanha para condicionar a vacinação infantil a um atestado médico inédito na cobertura vacinal brasileira.
Bolsonaro – que, em vez de esboçar um gesto de compaixão aos aflitos pelo vírus, lhes reservou apenas escárnio – foi às redes sociais se solidarizar com um podcaster americano notório por disseminar teses negacionistas e que hoje é pivô de um debate sobre responsabilidade editorial e liberdade de expressão. Tivesse o presidente um currículo liberal, vá lá, mas quando esse “paladino da liberdade” é o mesmo que prestigia torturadores e instrumentaliza o Ministério da Justiça para perseguir críticos, a manobra para excitar suas bases eleitorais se mostra indisfarçável. “Prefiro morrer a perder minha liberdade”, bravateou recentemente. Esse risco inexiste. Mas a sua defesa insana de uma suposta “liberdade individual” de se infectar e infectar os outros, que já condenou inúmeros brasileiros à morte, agora está ameaçando aqueles que nem sequer têm a liberdade de escolher entre se imunizar ou se expor ao vírus mortal: as crianças. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Coordenador das prévias do PSDB diz que problema no aplicativo foi ‘incompetência ou ataque hacker’
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Os candidatos Eduardo Leite, Arthur Virgilio e João Doria nas prévias tucanas | Foto: Divulgação
Por Bela Megale
Coordenador das prévias do PSDB, o ex-deputado federal Marcus Pestana afirmou à coluna que faz parte do grupo de filiados que não conseguiu votar na eleição interna do partido. Pestana disse que só dois motivos podem explicar a instabilidade do sistema que impediu a conclusão da escolha do tucano que disputará a eleição para Presidência em 2022: “incompetência ou ataque hacker”.
— As empresas foram contratadas para prestar esse serviço e não criaram nenhuma tecnologia nova. O trabalho foi implementar sistemas que já existem. Há duas opções para explicar a falha: incompetência ou ataque hacker — disse Pestana à coluna.
As empresas responsáveis pelo desenvolvimento do aplicativo de votação das prévias do PSDB chegaram a sugerir que o processo acontecesse ao longo de três dias, para que os 45 mil filiados pudessem participar. A eleição interna da legenda estava marcada para este domingo (21), mas terminou frustrada por problemas na ferramenta. Apenas 10% dos inscritos conseguiram votar e a eleição interna foi suspensa.
Pestana informou que a própria Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), que desenvolveu o aplicativo, e a empresa de segurança cibernética Kryptus, responsável pela sua auditoria, voltaram atrás na proposta de três dias de votação. A avaliação feitas por ambas era que o longo período deixaria o sistema mais vulnerável a ataques hackers, em especial nas madrugadas.
A ferramenta apresentou instabilidade desde a manhã deste domingo, o que fez o prazo do término da votação ser estendido das 15h para as 18h. O início foi às 7h. Com a permanência do problema, a votação foi suspensa. Concorrem ao posto os governadores João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Negacionismo como critério
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Negacionismo como critério
Ao revogar condecorações de cientistas respeitados, Bolsonaro deixou claro que só respeita quem aplaude o charlatanismo
Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
Ao excluir dois respeitados cientistas brasileiros da lista dos pesquisadores que foram agraciados com condecorações da Ordem Nacional do Mérito Científico, Marcus Guimarães Lacerda e Adele Schwartz Benzaken, apenas por não endossarem as bandeiras políticas do governo na área da saúde pública, o presidente Jair Bolsonaro foi muito além da grosseria e do primarismo que sempre o caracterizaram.
Acima de tudo, revelou a dimensão do inconsequente negacionismo científico de seu governo, o que ocorreu no mesmo dia em que o País totalizou mais de 610 mil mortes causadas pela pandemia. Especialista em infectologia, Lacerda desenvolveu pesquisas que revelaram não haver benefícios no uso de altas doses de cloroquina em pacientes graves de covid-19. Especialista em HIV e aids, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e premiada pela Unesco e pelo Unicef, Benzaken formulou políticas para prevenção, vigilância e controle de infecções sexualmente transmissíveis e preparou uma cartilha voltada para a saúde de homens transexuais.
Com essa iniciativa desastrosa, do ponto de vista da liturgia de seu cargo, e torpe, do ponto de vista moral, Bolsonaro também acabou gerando uma fortíssima reação por parte da comunidade científica. Ela tem tudo para ser mais uma prova arrasadora para fundamentar as contundentes acusações feitas a ele pelo relatório da CPI da Covid-19, recém-concluída pelo Senado.
Em desagravo a Lacerda e Benzaken, que foram excluídos da Ordem Nacional do Mérito Científico dias após seus nomes terem sido anunciados por um decreto assinado pelo próprio Bolsonaro como agraciados com honrarias oficiais “na classe de comendador”, por seus “conhecimentos sobre saúde pública”, mais de 20 cientistas também recusaram a homenagem que lhes seria prestada. Em carta pública enviada ao Palácio do Planalto, afirmaram que, apesar de as condecorações da Ordem Nacional do Mérito Científico serem as mais importantes na vida acadêmica do País, eles não poderiam aceitá-las por estarem sendo concedidas por um governo que vem boicotando reiteradamente as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva.
“Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade científica brasileira nas últimas décadas”, declararam os cientistas, com o apoio de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Imunologia, e de organismos vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU).
Com esse duro protesto, que desmoraliza ainda mais a imagem do País no exterior, a comunidade científica brasileira desnudou a principal diretriz de Bolsonaro em matéria de saúde pública: em seu governo, não há lugar para quem não faz parte do charlatanismo por ele estimulado nem para quem se recusa a tocar bumbo para aplaudir seu negacionismo. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Proclamação da República: entenda por que 15 de novembro é feriado nacional
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Há 132 anos, o marechal Deodoro da Fonseca se juntava a tropas de rebelados no Campo de Santana, no Centro do Rio. Sem resistência, monarquia caiu, e Dom Pedro II e sua família foram expulsos do país no dia seguinte.
O Brasil comemora nesta segunda-feira, 15 de novembro, o Feriado da Proclamação da República.
Há exatos 132 anos, em 1889, o marechal Deodoro da Fonseca se juntava a tropas de rebelados no Campo de Santana, no Centro do Rio, com os quais depôs o gabinete de Dom Pedro II. O imperador e sua família partiriam em exílio para a Europa no dia seguinte.
O 15 de novembro é feriado nacional desde 1949, segundo a Lei Federal 662, do presidente Eurico Gaspar Dutra.
O texto também fixava como datas comemorativas os dias:
1º de janeiro — Confraternização Universal;
21 de abril — Tiradentes;
1º de maio — Dia do Trabalho;
7 de setembro — Independência do Brasil;
2 de novembro — Finados;
25 de dezembro — Natal.
‘Abram esta merda!’
Ao contrário do grito do Ipiranga de Dom Pedro I no 7 de setembro de 1822, com o qual declarou a Independência, Deodoro não foi de muitas palavras naquele novembro, 67 anos depois.
“O problema é que não houve uma ‘proclamação da República’”, ensina o historiador Milton Teixeira.
Na tarde daquele 15 de novembro, Deodoro, mesmo se recuperando de uma crise de asma, decidiu apoiar o crescente movimento contra Pedro II. Vizinho do então chamado Campo da Aclimação, desceu de casa e se encontrou com militares enfileirados diante do Quartel-General do Império — onde hoje é o Palácio Duque de Caxias.
“Deodoro não proclamou a República de imediato. Ele queria derrubar o presidente do conselho de ministros, Afonso Celso de Assis Figueiredo. Derrubou, mandou prendê-lo. E pediu que o imperador designasse um substituto. Aí o imperador designa Gaspar da Silveira Martins, que era arqui-inimigo do Deodoro”, lembra o professor.
“Deodoro recebe a notícia, à noite, e diz: ‘Então derruba logo todo o sistema’”, emendou.
Quando Deodoro chegou ao Quartel-General do Exército, a porta estava fechada. “‘Abram esta merda!’”, cita Milton.
Afonso Celso acabou deposto. Não muito longe dali, no Arco do Teles, na Praça 15, a Câmara de Vereadores realizava a solenidade que pôs fim ao Império do Brasil.
“A República, na verdade, foi proclamada à noite. Por isso, na bandeira do Brasil, estão as estrelas visíveis na noite do dia 15”, destaca.
Contexto para a queda do Império
O regime monárquico já não correspondia às vontades da população. Em paralelo, desde a Guerra do Paraguai, nos anos 1870, o Exército pleiteava mais participação no governo — no que não era atendido.
Também havia atritos entre Pedro II e a elite agrária, que exigia indenização pela libertação dos escravos com a Lei Áurea, de 1888.
E crescia no Sudeste, que substituiu o Nordeste como polo econômico, a influência do positivismo — de onde veio o lema “Ordem e progresso” estampado em nossa bandeira. Fonte: https://g1.globo.com
Clube dos negacionistas paga preço por rejeitar ciência na pandemia.
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Trump perdeu as eleições, presidente da Tanzânia morreu de covid, Boris Johnson mudou estratégia após adoecer e Bolsonaro é acusado de crimes contra a humanidade
Renato Vasconcelos, O Estado de S.Paulo
No início da pandemia, eles formavam a “Aliança do Avestruz”, clube informal de líderes que optaram por enfiar a cabeça no chão e fingir que o coronavírus era uma gripe passageira. Hoje, com a vacinação e a redução das contaminações, a estratégia parece ter sido um tiro n’água. Donald Trump saiu das urnas derrotado nos EUA. Jair Bolsonaro foi acusado de charlatanismo e crimes contra a humanidade no Brasil. E o presidente da Tanzânia, John Magufuli, morreu de covid-19.
O grupo reúne ainda outros populistas – de esquerda e de direita –, como Andrés Manuel López Obrador, do México, o britânico Boris Johnson, Daniel Ortega, na Nicarágua, e os ditadores Alexander Lukashenko, de Belarus, e Gurbanguli Berdymukhamedov, do Turcomenistão. Até agora, Bolsonaro é o único acusado formalmente de crimes durante a pandemia.
A reação é variada, segundo analistas, porque depende da reação ao negacionismo em cada sociedade. “Há fatores que fazem com que a taxa de aprovação de um governo reaja de forma mais ou menos sensível à posição negacionista de um governante, como a presença de uma oposição coesa, uma sociedade civil vibrante e instituições funcionais capazes de articular propostas alternativas e de incentivar a correção de curso, quando necessário”, disse Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
Essa tendência é observada quando comparados os casos de líderes negacionistas em países democráticos e autocracias. Bolsonaro passou pelo escrutínio de uma CPI e a condução da pandemia foi um fator determinante para a derrota de Trump, em 2020. Mas em regimes autoritários, que mantêm uma fachada democrática, a contestação é quase nula.
Paralelos
“É impossível listar todos os absurdos ditos por esses demagogos populistas e tiranos. Todos os líderes mundiais cometeram erros, mas há algo realmente nefasto nas manipulações desses líderes mais infames”, escreveu Frida Ghitis, colunista do Washington Post, ao tentar apontar quem foi o pior desempenho.
No Turcomenistão, Berdymukhamedov, que durante a pandemia recomendou a inalação de uma erva contra a covid e proibiu o registro de casos e menções à doença no país, foi reeleito para mais um mandato com 98% dos votos, mesmo após 15 anos no poder. Na Nicarágua, Ortega está próximo de conquistar seu quinto mandato como presidente, após prender sete pré-candidatos.
A tendência ao negacionismo científico se manifestou ao longo da pandemia, principalmente, em países autoritários ou liderados por governantes com alguma tendência populista. Alguns paralelos entre populistas e autocratas explicam essa relação, de acordo com Stuenkel. “Uma questão que une essas lideranças é a tentativa de concentrar o poder no Executivo, de estabelecer estruturas decisórias com alto poder no gabinete, e todos possuem algum grau de messianismo, uma narrativa de que só eles são capazes de lidar com os desafios.”
Por serem personalistas e centralizadores, projetos com características autoritárias e populistas afastam a possibilidade da revisão das ações adotadas pelo governo, pois funcionariam como uma admissão de culpa dos governos. No entanto, nem todo populista ou autocrata teve uma abordagem negacionista.
Vietnã e China controlaram a pandemia com relativo sucesso, apesar de sistemas políticos fechados, enquanto Reino Unido e EUA, apoiados em mecanismos de freios e contrapesos bem estabelecidos, impediram que atitudes negacionistas se espalhassem e estão entre os pioneiros na vacinação. Boris Johnson, por exemplo, abandonou o clube após passar alguns dias com covid na UTI.
Mudança
No começo da pandemia, o líder britânico afirmou que a Inglaterra apostaria em uma estratégia de imunidade de rebanho. Após contestações de autoridades médicas e de projeções estatísticas que apontaram a tragédia que ocorreria sem medidas restritivas, Johnson voltou atrás e se tornou um dos primeiros líderes a colocar nas ruas uma campanha de vacinação em massa, em dezembro de 2020.
“No caso de Johnson, houve uma mudança, um processo de aprendizagem. Essa é outra marca registrada de democracias com instituições resilientes, que pressionam os líderes quando eles cometem erros, e há um incentivo para que haja uma correção de curso”, afirma Stuenkel.
Na Tanzânia, o negacionismo do presidente Magufuli foi levado às últimas consequências. “O coronavírus, que é o demônio, não pode sobreviver em um corpo de Cristo. Vai queimar instantaneamente”, disse ele, no início da pandemia. Entre maio de 2020 e julho de 2021, o país não registrou nenhum caso ou morte por covid, mas o número de doenças pulmonares disparou. Magufuli se opôs ao distanciamento social e rejeitou as vacinas – que, segundo ele, eram uma “conspiração ocidental para saquear a África”.
Em vez da imunização, Magufuli prescreveu uma combinação de inalação de vapor e oração contra o vírus. No começo deste ano, ele adoeceu. Após sua última aparição pública, em 27 de fevereiro, opositores e jornalistas especularam que ele estaria se tratando da covid-19 no exterior. Magufuli morreu em 17 de março. Oficialmente, a causa da morte não foi revelada. O governo disse apenas que ele sofria de “problemas cardíacos”. Fonte: https://internacional.estadao.com.br
Arthur Lira ataca CPI para blindar negacionistas
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O presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente Jair Bolsonaro, após reunião no Palácio do Planalto | Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Por Bernardo Mello Franco
Para Arthur Lira, não basta sentar em cima de mais de 130 pedidos de impeachment. O presidente da Câmara também quer blindar os bolsonaristas que usaram as redes para espalhar mentiras na pandemia.
A CPI da Covid pediu o indiciamento de sete deputados por incitação ao crime. Eles estimularam o descumprimento de medidas sanitárias e difundiram informações falsas sobre máscaras e vacinas. A lista é encabeçada pelo ministro Onyx Lorenzoni, que está licenciado da Câmara. Também inclui Eduardo Bolsonaro, Osmar Terra, Ricardo Barros, Bia Kicis, Carla Zambelli e Carlos Jordy.
O relatório da CPI dedica mais de 200 páginas às fake news. “Não suporto mais essas máscaras na nossa cara”, tuitou Kicis, quando médicos e cientistas explicavam a importância do equipamento. A deputada afirmou que o uso das máscaras causaria “malefícios” e “prejuízos” à saúde. Em outra postagem, sustentou que as vacinas poderiam afetar o DNA humano.
Na cruzada para desinformar a população, Carla Zambelli mentiu até sobre a própria saúde. Em agosto de 2020, ela disse ter se curado da Covid-19 “com tratamento precoce e hidroxicloroquina”. “Muito obrigada pelas mensagens de apoio e orações!”, escreveu. O hospital que atendeu a deputada informou que seus exames para o coronavírus deram negativo. Ela apagou o tuíte, mas não admitiu a lorota.
As investigações ajudaram a mostrar que o negacionismo mata. Em dezembro de 2020, deputados e blogueiros bolsonaristas pressionaram o governo do Amazonas a revogar um decreto de lockdown. O estado recuou, as infecções dispararam e a rede hospitalar entrou em colapso.
As fake news “amplificaram o risco de contaminação das pessoas, levaram à sobrecarga do sistema de saúde e, lamentavelmente, causaram mais óbitos”, concluiu o relatório aprovado na terça-feira. No dia seguinte, Lira atacou a CPI e classificou os pedidos de indiciamento como “inaceitáveis”.
Numa fala inflamada, o deputado invocou a imunidade parlamentar e disse que os colegas não podem ser punidos por “expressar sua opinião”. O discurso confunde liberdade de expressão com licença para cometer crimes contra a saúde pública. O presidente da Câmara sabe disso, mas prefere fechar os olhos para proteger os aliados. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Live de Bolsonaro fora do ar: Facebook diz que não aceita alegação de que vacina contra Covid-19 pode matar
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Durante transmissão na semana passada, presidente fez relação inexistente entre imunizante e Aids
O presidente Jair Bolsonaro associou a vacina contra Covid-19 ao HIV em live Foto: Reprodução
O Facebook retirou do ar a live da quinta-feira, dia 21, em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) associou vacinas contra Covid-19 ao desenvolvimento da Aids. Essa é a primeira vez que a rede social retira do ar uma live do presidente. O vídeo também foi retirado do Instagram.
De acordo com um porta-voz do Facebook, "nossas políticas não permitem alegações de que as vacinas de COVID-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas".
Durante a exibição do vídeo, Bolsonaro leu uma suposta notícia de que vacinados contra Covid estariam desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida. A comunidade médica reagiu às alegações do presidente, desmentindo suas afirmações, classificadas de fake news.
Na manhã desta segunda-feira, o presidente respondeu a um comentário do Facebook que o questionava sobre a relação entre vacina e Aids. Bolsonaro publicou uma imagem que dizia que "na última quinta-feira, o presidente Bolsonaro leu uma matéria revista Exame na sua live".
Entretanto, a referida matéria da "Exame" foi publicada em outubro de 2020, quando as vacinas contra a Covid-19 ainda estavam sendo produzidas, e falava apenas em uma possibilidade. Já na transmissão de quinta-feira, Bolsonaro citou supostos "relatórios oficiais" do governo do Reino Unido sobre pessoas que já teriam sido vacinadas — o que foi desmentido pelo governo britânico.
Em nota, o Comitê de HIV/aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) disse que "não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a COVID-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida". Esclareceu ainda que pessoas que vivem com HIV/aids devem ser completamente vacinadas contra a Covid-19. Fonte: https://oglobo.globo.com
PRESIDENTE DA ALESP CONDENA PRONUNCIAMENTO CONTRA O PAPA FRANCISCO, DOM ORLANDO E A CNBB
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O bispo de Mogi das Cruzes (SP) e presidente do Regional Sul 1 (Estado de São Paulo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Pedro Luiz Stringhini, entregou oficialmente a Carta Aberta ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), o deputado estadual Carlão Pignatari, na tarde desta segunda-feira, 18 de outubro. O assessor político da CNBB, padre Paulo Renato, também participou da entrega junto aos deputados estaduais do Estado de São Paulo Emídio de Souza, André do Prado, Reinaldo Alguz e o ex-deputado padre Afonso Lobato.
De acordo com o assessor político da CNBB, padre Paulo Renato, o deputado estadual Carlão Pignatari se mostrou consternado pelo fato, pediu desculpas à CNBB, ao Papa Francisco e ao episcopado brasileiro em nome da ALESP.
Na abertura da 49ª Sessão Ordinária direto do plenário Juscelino Kubitschek, o presidente da ALESP, em nome do parlamento paulista, repudiou toda palavra que vá além da crítica e que se constitua em ataques que extrapolem os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar. Segundo ele, para o político o dom da palavra é um direito inalienável mas encontra limites no respeito e na própria lei. Segundo ele, a divergência legitima a democracia mas não autoriza a barbárie.
O presidente da ALESP disse que a tribuna do parlamento não comporta manifestações de ódio e que não é aceitável que um deputado suba à tribuna para professar ofensas. “Em nome do parlamento paulista eu rogo um pedido de desculpas expresso ao Papa Francisco, a dom Orlando Brandes”, disse.
O presidente da ALESP disse discordar totalmente das expressões proferidas contra o Papa e dom Orlando no último dia 14 de outubro, além de destacar que são antirregimentais e determinou a retirada das notas taquigráficas das ofensas proferidas, nos termos do artigo 18 do Regimento Interno da casa. Na sequência, ele leu integralmente a Carta Aberta entregue pela CNBB.
No documento, a CNBB rejeita “fortemente as abomináveis agressões” proferidas da Tribuna da ALESP pelo deputado estadual Frederico D’Avila no último dia 14 de outubro. O documento reitera que “com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes”. Além da entrega à ALESP, a CNBB vai buscar uma reparação jurídica a ser corrigida “pelo bem da democracia brasileira”.
Pedido de desculpas
Na mesma sessão, o deputado que proferiu as ofensas no dia 14 de outubro se dirigiu à tribuna da ALESP e pediu desculpas pelos excessos cometidos em seu pronunciamento. Ele alegou ter sido inflamado por problemas pessoais ocorridos nos dias anteriores. “Meu pronunciamento foi inapropriado, exagerado, descabido e infeliz”, disse o deputado.
O caso será levado ao Conselho de Ética da ALESP. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Bolsonaro ouve sermão crítico em Aparecida e causa aglomeração entre aplausos e vaias
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Presidente Jair Bolsonaro visita a Basílica Nacional de Aparecida no feriado de 12 de outubro. Foto: Epitacio Pessoa/Estadão
Sem ser citado diretamente na homilia, Bolsonaro acompanhou missa da tarde com referências à pandemia, fome e desemprego; de manhã, arcebispo fez apelo por desarmamento da população, contrariando postura do governo
José Maria Tomazella, enviado especial
APARECIDA – Depois de ouvir críticas sobre a liberação de armas e a condução da pandemia pelo seu governo nas celebrações do Dia da Padroeira, o presidente Jair Bolsonaro tirou a máscara e causou aglomeração, nesta terça-feira, 12, no Santuário Nacional de Aparecida. Ele, que já tinha provocado um grande ajuntamento de pessoas na chegada, desfilou com o corpo fora do carro quando saiu do santuário. Parte do grupo, que se espremia nas cercas de segurança, o aplaudiu e chamou de “mito”, enquanto um coro menor gritava “lixo”. Um chinelo foi arremessado do meio do público, mas não atingiu o presidente.
Bolsonaro assistiu à missa da tarde na companhia dos ministros Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações, e João Roma, da Cidadania. Na homilia, à frente do presidente, o padre José Ulysses da Silva, porta-voz do santuário, fez uma referência indireta à postura armamentista do governo. “Se conseguíssemos abraçar a proposta de Jesus nós seríamos um povo mais desarmado e fraterno”, afirmou o padre.
Citando um trecho do evangelho lido por Bolsonaro durante a celebração, o religioso lamentou os mortos pela covid-19 e disse que “a vida é um valor que deve prevalecer sobre todo e qualquer outro valor, sobre nossos interesses políticos, econômicos e até religiosos”. Desde o início da pandemia, o presidente sempre se posicionou contra as medidas de isolamento social, alegando prejuízo econômico. Segundo o padre, é graças à solidariedade da população que o País não atravessa uma crise ainda mais violenta. “Nós sabemos quantas pessoas perderam a vida para cuidar da nossa. Há mesas vazias, há desemprego e há sequelas da enfermidade”, afirmou. Disse, ainda, que além do “dragão da pandemia” há o “dragão da ganância” que suga a vida de quem mais precisa e “tem muita gente sofrendo”.
Presidente Jair Bolsonaro visita a Basílica Nacional de Aparecida no feriado de 12 de outubro. Foto: Epitacio Pessoa/Estadão
As declarações do padre ecoaram a homilia da principal missa do dia, celebrada pelo arcebispo de Aparecido, dom Orlando Brades, pela manhã: para ser pátria amada, não pode ser pátria armada".
Na cerimônia da tarde, Bolsonaro se apresentou para receber o sacramento católico da comunhão e participou do ritual de consagração à Nossa Senhora. Importante para os católicos e devotos da santa, o ritual não é aceito pelos evangélicos, que compõem importante base de apoio ao presidente. Durante a missa, Bolsonaro e seus ministros usaram máscaras, embora a direção do santuário já tivesse decidido permitir a participação presidencial na celebração mesmo sem a proteção facial. Antes da missa, o presidente se reuniu com o padre Carlos Eduardo Catalfo, reitor do santuário, e com dom Orlando, que presidiu a celebração.
Mentiras e fake news
Além de criticar a política de liberação do uso de armas do governo Bolsonaro, dom Orlando também se referiu ao viés negacionista de Bolsonaro, defendendo a vacina e a ciência. Também pediu uma pátria “sem ódio, uma república sem mentiras, sem fake news”.
O arcebispo lembrou que o Brasil está enlutado pelas mais de 600 mil mortes na pandemia da covid-19 e defendeu a preservação da Amazônia. Também pediu um abraço aos índios, aos negros, às crianças, aos pobres e às “nossas autoridades, para que, juntos, construamos o Brasil Pátria Amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada”.
Quando esteve no santuário de Aparecida em seu primeiro ano de mandato, no 12 de outubro de 2019, Bolsonaro foi aplaudido, mas também foi vaiado pelos fiéis. Naquele dia, o arcebispo havia usado a homilia da missa para criticar duramente “o dragão do tradicionalismo” e afirmar que “a direita é violenta, é injusta, estão fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo”. Depois, na presença do presidente, amenizou o tom, dizendo que os dragões seriam as ideologias “tanto da direita quanto da esquerda”.
O presidente passa o feriado no Forte dos Andradas, em Guarujá, litoral paulista. Após a visita a Aparecida, ele retornou ao local, que funciona como hotel de trânsito da Marinha. Nesta quarta-feira, 13, ele retoma a agenda indo a Miracatu, no Vale do Ribeira, para uma entrega de títulos de regularização fundiária. Na segunda, 11, ele fez um passeio de moto até a Praia da Enseada, com capacete sem viseira – o que é proibido pelas leis de trânsito – e causou aglomerações, mais uma vez sem usar máscara. O uso do protetor facial é obrigatório por lei estadual. No sábado, 9, o presidente esteve em Peruíbe, onde visitou uma feira. Ele foi multado em R$ 500 pela prefeitura local por não usar máscara. Fonte: https://politica.estadao.com.br
Com vocês, a cota evangélica
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Por Miguel de Almeida
Caso André Mendonça se torne ministro do STF, por causa da pressão dos pastores evangélicos, a boiada, enfim, terá passado — ao vivo e em cores.
Será a consagração da ideia de cotas forjada sob a guerra identitária. A esquerda inventou, a direita copiou. Parece estranho, mas é como a política hoje enxerga a sociedade, a partir de nichos, setores, clivagens e grupos organizados.
Com vocês, as cotas religiosas.
Porque, afinal, como dizem os pastores, representam 30% dos brasileiros. Pois é.
O conceito de um país formado por cidadãos com direitos iguais, respeitados em suas liberdades individuais, como falavam pensadores como Stuart Mill e Tocqueville, diante da declarada guerra santa no Bozoquistão, é uma doce canção. Com muita fé, o que se avizinha é uma reedição dos tempos de Constantino, no século IV, quando os arcaicos cristãos destruíam estátuas desnudas, apagavam obras de filósofos pagãos ou derrubavam templos de deuses greco-romanos. Além de perseguir e exterminar o que chamavam de hereges, como aconteceu com a matemática Hipátia, cuja pele foi arrancada pelos fanáticos da época (outros ultrajes em “The Darkening Age”, de Catherine Nixey).
Exagero? Passa longe a empatia religiosa quando se fala das religiões afro-brasileiras. São contundentes os relatos de ataques a terreiros em várias cidades, em sinal de evidente intolerância. O direito das minorias, ou o princípio do Estado laico, é violentado pelo Bozo quando promete — e cumpre — indicar alguém “terrivelmente evangélico” para o STF. Ou ao revelar que pediu a André Mendonça, caso aprovado no Senado, que abra sempre as sessões da Corte com uma oração.
Trump, ao escolher os ministros da Suprema Corte, dizia cumprir a promessa de indicar perfis conservadores. Jamais se ateve ao primado religioso como preâmbulo. Podia ser um batista ou um católico apostólico romano, tanto faz, desde que fiel a princípios tradicionalistas.
Quais sejam: mandar no corpo do outro, na vontade e na consciência alheias em nome de uma pretensa superioridade moral (outras invasões em “Ascensão e queda de Adão e Eva”, de Stephen Greenblatt).
Tais ditaduras pareciam superadas, ao menos aliviadas, dentro da imensidão das metrópoles contemporâneas, com o esvaziamento de ameaças como o fogo dos infernos, o medo dos trovões e a excomunhão diante do avanço da ciência. Os grandes centros urbanos sugeriam ser recantos paradisíacos inacessíveis ao olhar repressor da autoridade religiosa.
Era um engano?
Desde a Segunda Guerra Mundial, quando se montou uma aliança para derrotar os diversos tipos de retrocesso, a humanidade caminhou célere com a chegada das novas tecnologias. Diversas conquistas, como vacinas contra doenças destruidoras, enquanto prolongavam a vida, ao mesmo tempo ajudavam a desmontar as teologias ancoradas em equivocados pressupostos.
Como pega mal queimar hereges nas fogueiras, a saída foi retornar de fato à política. Deixar a prosaica evangelização, hoje vista como ingênua, para ganhar poder e submeter a sociedade às leis do Estado.
Em nome de Deus, alianças com populistas de extrema direita, arrivistas de variados quilates, quase sempre sátiros. Do tipo Trump.
Um livro como “A quarta revolução”, de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, conta como os lobbies (não importa o credo, mesmo sendo incréus) ajudaram a dividir a sociedade, em busca de suas exclusivas vantagens, e vergaram o Estado. Grupos organizados, aos poucos, colocaram nas costas de todos o peso de suas regalias — ou reivindicações. Aí entram os sindicatos de trabalhadores e os subsídios/isenções a setores específicos — como as multinacionais fabricantes de refrigerantes e automóveis. Comparecem os militares com aposentadorias especiais e as pensões para suas filhas solteironas. Rezam junto os quadros do funcionalismo público — com destaque fervoroso para o Judiciário.
O avanço dos grupos organizados, escrevem os autores, se deu a partir de estratégias e visões defendidas pelos movimentos de esquerda. Quando o Estado aparece como o pai de todos — ao menos daqueles capazes de gritar mais alto.
Depois de os movimentos identitários de esquerda forjarem as diversas reivindicações, justas ou não — na representação política, nos cargos do funcionalismo público, nas vagas das universidades etc. —, a turma de Malafaia avança no butim ao criar a cota evangélica. Às favas os desorganizados. Quem não rezar, não mama. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Ataques em manifestação anti-Bolsonaro fazem não-petistas reavaliarem participação em novos atos
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Por Mariana Carneiro
Ciro Gomes discursa em carro de som na Avenida Paulista | Fotoarena/Infoglobo
O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, não foi o único político hostilizado na Avenida Paulista durante a manifestação pelo impeachment de Jair Bolsonaro, no último sábado (2). O ataque contra o pedetista, com paus e pedras, foi mais grave. Mas sobraram vaias também para a ex-petista Heloísa Helena, hoje na Rede Sustentabilidade, para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e até para a presidente da UNE, Marianna Dias, que é do PC do B.
Na hora, a opção de todos foi não chamar a atenção para a situação, mas o mal-estar provocado pelas agressões está levando os líderes de oposição não-petistas a reavaliar sua presença e até o formato dos próximos atos contra Jair Bolsonaro.
"No meu caso nem foi o PT, foi o PCO (Partido da Causa Operária), esse partido sem voto e que nem vereador tem", contou Siqueira, do PSB, que lamentou principalmente as agressões contra Ciro Gomes. "Nos entristece isso acontecer num momento em que buscamos a unidade. Temos que refletir se vale a pena continuar dessa forma.”
Siqueira é um dos dirigentes de esquerda que estará com Lula em reunião em Brasília nesta terça-feira para discutir, entre outros assuntos, a composição de alianças para 2022.
Não que o PSB pense em abandonar o "Fora Bolsonaro". Mas o partido considera que talvez seja mais proveitoso se concentrar na busca de aliados para 2022 nos estados.
No PDT, os ataques com paus e pedras a Ciro Gomes estão fortalecendo a ideia de descentralizar as manifestações, criando palanques próprios fora da Paulista, onde tanto Ciro quanto líderes de outras agremiações possam discursar sem serem alvos de petistas e lulistas e, principalmente, sem ter de se submeter ao monopólio do PT sobre os atos.
Também no caso de Ciro os ataques partiram do PCO. O presidente da sigla, Rui Costa Pimenta, chamou o candidato do PDT de canalha pouco antes de ele subir ao palanque. Mas não só. Vestidos com camisas da CUT e gritando “vai para Paris!” militantes petistas cercaram o carro do pedetista e agrediram assessores, seguranças e aliados.
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“Eles não gostam quando a gente denuncia que o PT adotou o mesmo modelo econômico do PSDB e o mesmo presidencialismo de coalizão, que levou ao mensalão e ao petrolão. Mas uma coisa é o Fora Bolsonaro, outra coisa é a eleição”, diz o presidente do PDT paulistano, Antônio Neto. No domingo, depois dos ataques, Ciro deu uma entrevista coletiva em que pediu aos petistas uma "trégua de Natal" entre para derrubarem Bolsonaro.
Ao responder a Ciro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ironizou. "O PT está em trégua há muito tempo", disse ela à colunista Mônica Bergamo, da "Folha de S. Paulo". Gleisi ainda disse estar feliz porque Ciro, que tem feito ataques ao PT, concorda com ela.
O PT se queixa, por exemplo, das peças publicitárias críticas a Luiz Inácio Lula da Silva feitas pelo marqueteiro de Ciro, João Santana. Em uma delas, ele provoca Lula ao dizer que faltam propostas ao ex-presidente, que só promete picanha e cerveja ao eleitor.
Mas, apesar do pedido de trégua, não há sinal de que o PDT vá mudar de estratégia eleitoral. Para o partido, o que está em jogo é a vaga de quem vai enfrentar Lula no segundo turno em 2022, dado o desgaste de Bolsonaro com a pandemia e a inflação. Por isso, os pedetistas acham que fazer uma aliança que contemple também os setores de centro que estão sendo expulsos dos atos Fora Bolsonaro é questão de sobrevivência.
Na mesma linha vai o PSB, que tenta separar a mobilização contra Bolsonaro das discussões eleitorais. Para Carlos Siqueira, o partido precisa de alianças amplas para eleger seus principais candidatos a governador no ano que vem.
No Rio, por exemplo, ele considera que a aliança prioritária para eleger Marcelo Freixo é com o PSD, de Eduardo Paes e Gilberto Kassab. Em Pernambuco, onde a petista Marília Arraes pleiteia se candidatar ao governo, não há chance de a sigla abrir mão da cabeça de chapa na sucessão do governador Paulo Câmara (PSB). “Aliança se faz com os diferentes. Não se vence uma eleição sem buscar o centro político”, diz Siqueira. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
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