TICAL: Mensagem de fé.
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Tical- da cidade de São Félix/BA- fiel da Igreja da Ordem Primeira do Carmo de Cachoeira-BA, fala sobre a sua devoção. REPORTAGEM: Olhar Jornalístico (Frei Petrônio de Miranda, O. Carm).
*O PROFETA ELIAS (1Rs 17,1-6)
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Frei Joseph Chalmers O. Carm.
Invocação
Pedimos a presença do Espírito Santo para que nossa oração esteja de acordo com a vontade de Deus.
Pai, envia teu Espírito Santo para iluminar meu coração a fim de que tua Palavra possa se tornar o centro de minha existência. O profeta Elias apareceu sem nenhuma apresentação para realizar tua vontade em tempos difíceis. Dá-me a sabedoria para conhecer tua vontade e a coragem para colocá-la em prática em todos os momentos de minha vida. Pai, faço esta humilde oração por Jesus Cristo, seu Filho amado, pelo poder do Espírito Santo. Amém.
Texto
Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.
1Rs 17,1 “Elias, tesbita, de Tesbi em Galaad, disse a Acab: ‘Pela vida de Iahweh, o Deus de Israel, a quem sirvo: não haverá nestes anos nem orvalho nem chuva, a não ser quando eu o ordenar’.
2 A palavra de Iahweh foi-lhe dirigida nestes termos:
3 ‘Vai-te daqui, retira-te para o oriente e esconde-te na torrente de Carit, que está a leste do Jordão.
4 Beberás da torrente e ordenei aos corvos que te dêem lá alimento’.
5 Elias partiu, pois, e fez como Iahweh ordenara, indo morar na torrente de Carit, a leste do Jordão.
6 Os corvos lhe traziam pão de manhã e carne à tarde, e ele bebi da torrente.”
Os textos bíblicos usados neste livro são tirados da Bíblia de Jerusalém, mas qualquer tradução pode ser usada. As palavras podem ser um pouco diferentes de acordo com a tradução, mas o sentido é o mesmo.
Os textos bíblicos usados neste livro são tirados da Bíblia de Jerusalém, mas qualquer tradução pode ser usada. As palavras podem ser um pouco diferentes de acordo com a tradução, mas o sentido será o mesmo.
Ler
Qual o significado desse texto? Para compreender do que se trata , é importante ler também alguns versículos anteriores que resumem a lei do Rei Acab. Assim entenderemos a razão para as palavras e ações do profeta.
1Rs 16,29-34:
Introdução ao reinado de Acab (874-853)
29 Acab, filho de Amri, tornou-se rei no trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, e reinou vinte e dois anos sobre Israel, em Samaria.
30 Acab, filho de Amri, fez o mal aos olhos de Iahweh, mais do que todos os seus antecessores.
31 Como se não lhe bastasse imitar os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, desposou ainda Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e passou a servir Baal e adorá-lo;
32 erigiu-lhe um altar no templo de Baal, que construiu em Samaria.
33 Acab erigiu também um poste sagrado e cometeu ainda outros pecados, irritando Iahweh, Deus de Israel, mais que todos os reis de Israel que o precederam.
34 No seu tempo, Hiel de Betel reconstruiu Jericó, pelo preço de seu primogênito Abiram lançou-lhes os fundamentos e pelo preço de seu último filho Segub assentou-lhes as portas, conforme a predição que Iahweh fizera por intermédio de Josué, filho de Nun.”
O primeiro livro dos Reis faz parte de uma história maior. O interesse dessa história é explicar porque a monarquia não obteve êxito em Israel. De acordo com essa visão do autor dos textos sagrados, os reis de Israel não eram fiéis a Deus. A monarquia tentou transformar Iahweh num deus nacional a serviço do reino e de seus interesses. De acordo com o autor, o rei Acab, assim como seu pai, era um inimigo de Deus e da verdadeira religião.
A biografia de Elias, uma das fontes utilizadas pelo autor, deve ter começado com a apresentação do profeta. O autor dos livros dos Reis omite essa parte introdutória porque seu interesse é despertar a fé e não responder à curiosidade humana. Ele nos apresenta o profeta subitamente ao anunciar a longa seca ao rei Acab. Elias entrou em cena num momento crítico na luta contra o sincretismo religioso. Acab, rei de Israel, casou-se com Jezabel, a princesa de Tiro. A religião dela era o baalismo, que se baseava na idéia de que de alguma forma os seres humanos se relacionam e acalmam as forças misteriosas que os rodeiam. Eles faziam isso através de um ritual e esses poderes eram muitas vezes personificados e apresentados como deuses (baal). O rei Acab permitiu que Jezabel e seus servos continuassem a praticar sua religião em Israel. Construíram um templo dedicado a Baal em Samaria (1Rs 16,32). Salomão agiu da mesma forma com suas esposas estrangeiras (1Rs 11,1-8). No entanto, Jezabel era bem diferente das esposas de Salomão. Ela mantinha 450 profetas de Baal e 400 profetas de Aserá (o ídolo feminino) (1Rs 18,19). Havia muito mais profetas do que a rainha precisava para suas devoções pessoais e não há dúvida de que o trabalho desses profetas era a propagação de sua fé entre os israelitas. Jezabel estava decidida a substituir Iahweh por Baal e a livrar-se da religião tradicional de Israel.
Num determinado momento, Jezabel começou a perseguir os seguidores de Iahweh. Ela obteve sucesso no sentido de que a oposição foi forçada a esconder-se, mas um ódio profundo começa a se instaurar nos corações dos israelitas. Foi o profeta Elias quem cristalizou a oposição a Jezabel.
Então, Elias apareceu em cena sem qualquer apresentação anterior para proclamar o julgamento de Deus nessa situação de apostasia. Elias anunciou ao rei Acab o início de uma grande seca como punição divina por sua ligação obstinada ao culto de Baal. Talvez não fosse uma punição, mas um sinal de que era Deus e não Baal que providenciava a chuva, tão necessária para as colheitas e para a própria vida. Baal era o deus da fertilidade e da chuva de acordo com seus seguidores. Com o anúncio da seca, Elias proclamou que Iahweh era Deus em Israel e apenas Ele poderia garantir a chuva para o crescimento da colheita. Isso era o equivalente a uma declaração de guerra!
O nome Elias, que significa “Iahweh é meu Deus”, nos diz muito sobre ele. De acordo com o livro do Êxodo (20,3), Deus não admitirá outros deuses diante dele. Elias é fiel à antiga aliança com Iahweh, o Deus de Israel. O conceito de aliança que Deus fez com algumas pessoas (Noé, Abraão etc) e com todo o povo escolhido, é fundamental para a Bíblia. Uma aliança era um laço que unia Deus e seu povo. Por toda a Bíblia a frase que descreve a natureza da aliança é: “Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (ex. Ex 6,7). Elias é o servo de Iahweh, o Deus que fez uma aliança com o povo de Israel. Deus é sempre fiel e exige fidelidade de seu povo.
Na mentalidade da época, a seca era interpretada como uma punição de Deus pelos pecados de infidelidade. Após a descrição do reinado de Acab com todos os seus pecados, Elias aparece para anunciar a seca como punição de Deus. Depois desse anúncio, Elias recebe a ordem de Deus para se dirigir ao leste, onde encontraria o suficiente para comer e beber. Parece que a vida do profeta está em perigo. Deus ordenou que os corvos alimentassem Elias. De acordo com a Bíblia, os corvos são criaturas impuras (Lv 11,15; Dt 14,14) e os bons israelitas não poderiam tocá-los. Alguns exegetas sugerem que a palavra “corvos” também poderia ser traduzida como “árabes”. Em hebraico não há muita diferença entre as palavras “árabes” e “corvos”. Sem dúvida, receber alimento de corvos é miraculoso, mas seria menos miraculoso se, em vez de corvos, os árabes alimentassem o profeta?
Refletir
Releia o texto de 1Rs 17,1-6.
O que Deus quer nos dizer nesse momento através do texto? Para ajudar nossa reflexão e a aplicação da Palavra de Deus a nossa vida, proponho algumas perguntas. Isso não é um teste. Não há resposta certa ou errada. Suas respostas podem ajudá-lo a aprofundar seu relacionamento com Deus. Não se apresse em responder cada pergunta:
- Como você se sentiu diante do poder de Deus que o profeta Elias mostrou quando anunciou a seca?
- A Palavra de Deus foi até Elias. Como Deus fala a você?
- Elias é o servo de Iahweh. Como você serve a Deus?
- O profeta Elias seguiu o mandamento de Deus para sair e se esconder perto da torrente de Carit. Que decisões você tomou para mudar de direção em sua vida de acordo com o que você acreditava ser a vontade de Deus?
- Deus ordenou que os corvos (árabes?) alimentassem o profeta. Como e quando você experimentou a Providência de Deus?
- Como você se sente diante dessas perguntas?
Responder
O que seu coração quer dizer a Deus agora? O que você sente? Você está zangado com Deus? Você quer mudar sua vida? Talvez você esteja satisfeito com seus preconceitos ou talvez esteja agradecido por tudo que Deus fez por você. Não existe sentimento inaceitável. A oração é um relacionamento com Deus e todo relacionamento é diferente. Nos salmos encontramos uma grande variedade de emoções humanas em relação a Deus. Podemos encontrar diversas orações na Bíblia ou na tradição cristã. Talvez algumas das palavras abaixo respondam ao que você sente.
“A Vós, ó Deus, louvamos,
a Vós, Senhor, cantamos.
a Vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.
A Vós cantam os anjos,
Os céus e seu poderes
Todos os querubins e serafins
Vos evocam numa canção sem fim:
Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!
Proclamam céus e terra
A vossa imensa glória”.[1]
É importante que você dê algum espaço a si mesmo para que seu coração tenha a oportunidade de falar diretamente com Deus com suas próprias palavras, mesmo se elas não forem tão bonitas como aquelas da Bíblia ou da Igreja.
Repousar
Existe uma fome profunda no coração humano. Nada é o suficiente. Sempre buscamos algo mais. Apenas Deus pode satisfazer a fome infinita do coração humano. A tragédia da existência humana é que sempre tentamos aplacar essa necessidade crescente com o que não é Deus. Todas essas coisas satisfazem apenas parcialmente e por um curto período de tempo, mas não para sempre.
O profeta Elias é o pai espiritual da Ordem Carmelita no sentido de que a Ordem vê nele uma inspiração para viver fielmente de acordo com a vontade de Deus. Toda a espiritualidade carmelitana está voltada para a transformação. Transformar-se significa fazer o possível para atingir o que fomos criados a ser nesta terra. Cristo é o protótipo de uma nova humanidade. Nossa tarefa é nos tornarmos como ele e encarnarmos algum aspecto do divino na natureza humana. Desta forma, cooperamos na transformação de nosso mundo. Contudo, não podemos fazer coisa alguma sem ele: é ele quem realiza nossa transformação, mas não sem nossa colaboração. A transformação é um mistério que tem a ver com o que acontece no coração do ser humano, que colabora com Deus para tornar-se um novo homem ou uma nova mulher, obra-prima de Deus. O que acontece no coração deve surtir efeito em como a pessoa vive sua vida diariamente.
O objetivo final da Lectio Divina é estar tão amadurecido na amizade com Jesus a ponto de seus valores tornarem-se nossos valores e começarmos a ver com os olhos de Deus e a amar com o coração de Deus. Uma amizade autêntica com Deus deve ser expressa num compromisso de servir aos outros de algum modo.
Existe algo trágico na condição humana. Os escritores da Bíblia chamam de “A Queda” e atribuem todos os problemas do mundo ao pecado humano. Qualquer que seja a razão, há sem dúvida algo errado, algo que destrói mesmo as melhores intenções. Nascemos com instintos naturais que, com o passar dos anos, tornam-se necessidades vorazes. Por exemplo, nascemos com uma necessidade de sermos amados, de termos algum controle sobre nossas vidas e, simplesmente, sobreviver tanto no nível físico quanto no psicológico. As necessidades humanas básicas entram facilmente em conflito com outras pessoas e suas necessidades. Existe um egoísmo profundo em todo ser humano que, se não for controlado, nos aprisionará. Esses instintos, junto com o condicionamento da cultura e do ambiente social que recebemos ao crescermos, irão formar nosso falso eu.[2] Existem várias formas de descrever e explicar o falso eu. É através de nosso falso eu que tentamos nos salvar em vez de confiarmos em Deus que pode nos salvar sozinho.
O falso eu leva à miséria e à morte, por isso a transformação é essencial. A jornada espiritual leva à transformação, que é a morte do falso eu e o nascimento do verdadeiro eu, feito à imagem e semelhança de Deus. Trata-se realmente de uma questão de vida e de morte porque aquele que busca salvar sua vida, vai perdê-la, mas aquele que perde sua vida por causa de Deus, vai salvá-la (Mt 10,39; Mc 8,35; Lc 9,24).
Começamos a jornada de nossa transformação quando respondemos a Deus que nos convida a refletir seriamente sobre nosso relacionamento com Ele. Também podemos deixar passar alguns anos. São anos de preparação para essa jornada do espírito na qual devemos tentar e tentar novamente, alcançar uma compreensão de nossa verdadeira necessidade espiritual. Talvez recebamos diversas “chamadas para despertar” durante nossa vida, várias chamadas de Deus, eventos que nos sacodem, que nos indicam o que Deus quer de nós.
O que acontece quando decidimos levar Deus a sério? Num famoso exemplo, Santa Teresa d’Ávila descreve o ser humano como um castelo composto de muitas moradas.[3] A porta do castelo é a oração e parece que muitas pessoas não vão além da porta. As primeiras moradas do castelo são chamadas de salas de autoconhecimento[4], que deve acompanhar cada passo da jornada espiritual. De acordo com Santa Teresa, a humildade significa “caminhar na verdade”[5], conhecer e aceitar a verdade sobre nós mesmos. O autoconhecimento não é fácil e muitas vezes preferimos permanecer numa situação de profunda auto-ilusão. Nossa vocação é sermos transformados por Deus para nos tornarmos como Deus, aprendendo a ver com os olhos de Deus e a amar com um coração divinizado. Eu fui chamado a percorrer esse caminho de transformação como um frade carmelitano. Cada um de nós tem seu próprio caminho a percorrer e uma vida a viver. Deus nos conhece profundamente. Nosso chamado, seja como casados, solteiros, sacerdotes, religiosos, é o caminho que devemos percorrer para chegarmos à nossa transformação.
O falso eu, que nos envolve como um casulo, deve ser destruído para que possamos experimentar a liberdade de filhos e filhas de Deus. O primeiro passo é reconhecer e aceitar o que realmente somos, caso contrário continuaremos a viver num mundo de ilusão. O falso eu é um perito em disfarces. A vida na família ou na comunidade revela quem você é porque você não pode se esconder quando vive com outras pessoas. Talvez durante o período de namoro a pessoa possa apresentar seu melhor lado, mas após o casamento, o outro lado começa a se impor. É muito melhor quando o marido e a mulher se comprometem mutuamente com a jornada espiritual porque assim, cada um será capaz de compreender as dificuldades que o outro tem que enfrentar. Tomara que todos os membros numa comunidade religiosa estejam comprometidos em percorrer o caminho espiritual.
Podemos nos cercar de todos os tipos de desculpas quanto ao modo como vivemos ou quanto ao modo como agimos em determinadas situações. Essas desculpas são comuns e nos acostumamos a rejeitar o que Deus nos pede de tal modo que não percebemos mais a contradição.
O falso eu nos convence que estamos certos e que algumas propostas do Evangelho não se aplicam a nós. Deus está sempre presente, mas temos o poder de impedir a ação do Espírito. É isso que o falso eu quer, pois ele compreende intuitivamente que seguir o Espírito será sua destruição. Deus nos transforma diariamente e não apenas quando estamos engajados naquilo que consideramos como atividades sagradas. Temos que cooperar diariamente. Não basta apenas dizer poucas ou muitas orações. Devemos colocar a vontade de Deus em ação nos mínimos detalhes de nossas vidas.
Começamos a reorganizar nossas vidas de acordo com a mensagem de Jesus Cristo lentamente. Deixamos para trás o pecado grave e isso não é fácil, mas o sofrimento em fazer isso logo será inundado pela alegria inicial de seguir Cristo. Ao nos acostumarmos a viver uma vida cristã, existe o perigo de cair na rotina. Se desejarmos realmente seguir a vontade de Deus e colocá-la em prática, encontraremos obstáculos e o falso eu se rebelará contra toda tentativa de ataque contra ele. Esse conflito interior provoca dificuldades e obscuridade. Esse pode ser um tempo de sofrimento, mas devemos permanecer fiéis. Deus curará as feridas causadas pelo falso eu e nos libertará para que nos tornemos tudo que Deus nos criou a ser.
Quais são esses obstáculos? O falso auto-sistema baseia-se na mentira de que podemos alcançar a felicidade perfeita se recebermos estima suficiente, se controlarmos nossa vida e nos sentirmos seguros. Supondo que fomos criados com uma capacidade infinita, buscamos quantidades infinitas de afeição, de segurança e de controle. Quando tentamos mudar nosso enfoque das coisas terrenas para questões religiosas, o falso eu também começa a mover-se na mesma direção e sente-se perfeitamente à vontade numa situação religiosa. Entretanto, o falso eu está sempre centrado nele mesmo onde quer que se encontre.
Devemos sempre lembrar que Deus nos ama e faz tudo para nosso crescimento e transformação. Quando encontramos dificuldades no caminho, é importante tentar ver a mão de Deus em ação. O que Deus diz diante das situações em que nos encontramos? Podemos aprender algo sobre nós mesmos através de nossas respostas aos problemas da vida?
Precisamos de períodos de silêncio ao deixarmos de lado todas as nossas preocupações e ouvirmos a voz de Deus que, muitas vezes, nos fala sem palavras. Devemos ficar muito tranqüilos para discernir o que Deus está nos dizendo. Agora sugiro que você reserve um momento para a oração. O Apêndice I possui algumas pistas para a “oração do silêncio”. Outro termo para essa forma de oração é “oração em segredo”, no sentido do Evangelho de Mateus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6,6).
Agir
A oração não é uma prática isolada. Ela deve surtir algum efeito em nossa vida. O fruto da oração pode ser percebido em nossa vida diária, em como tratamos habitualmente aqueles que vivem conosco, com quem trabalhamos ou aqueles que encontramos casualmente. São Paulo descreve o fruto do Espírito Santo na vida da pessoa. Se nossa oração é autêntica, este fruto crescerá dentro de nós: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei” (Gl 5,22-23).
A partir de nossa leitura da Palavra de Deus ou a partir de nossa oração, algumas palavras ou frases talvez o toquem e o acompanhem durante o dia para lembrá-lo da presença de Deus. A oração deve estar encarnada na realidade diária. Existe dentro de nós algo equivalente a uma fita cassete ou cd. Essas fitas ou discos contém a memória de tudo que vivemos assim como de nossas reações diante desses eventos. Já mencionei que o processo da contemplação transforma o coração humano e nos dá outra perspectiva, que é a perspectiva de Deus. Antes de pensarmos em ver a partir da perspectiva da Deus, seria interessante tentar ver o mundo a partir da perspectiva de outra pessoa. Isso é impossível, mas a tentativa nos ajuda a emergir de nossa solidão e egoísmo e, pelo menos, começar a compreender porque alguém age de certa forma. Essas fitas internas tecem comentários em todas as situações em que nos encontramos. Esses comentários estão normalmente a nosso favor e contra os outros.
Podemos usar uma frase ou palavra da Bíblia para reescrever o disco interno junto com um comentário positivo em vez daquele que sempre usamos. Deixe essa frase ou palavra ecoar dentro de você durante o dia, especialmente nos momentos de dificuldade ou quando você se sentir tentado a responder a alguém com raiva ou ironia.
Talvez uma palavra ou uma frase surja espontaneamente a partir de sua própria oração. Se isso não acontecer, você deve escolher alguma palavra do texto bíblico que estamos usando para oração, para recordar durante o dia. Por exemplo:
“o Deus de Israel, a quem sirvo”;
“a Palavra de Iahweh veio a mim”;
“saia daqui”;
“ele fez como Iahweh disse”.
O mais importante é lembrar da presença de Deus durante os altos e baixos do dia a dia. Permita que seu relacionamento com o Senhor penetre em toda sua vida.
O profeta Elias respondeu com fé à ordem de Deus. A fé nem sempre é fácil. Ela nos ajuda a ver o mundo e a reagir a ele como Deus. Em sua carta aos Romanos, São Paulo nos ensina no que implica uma vida de fé:
“9 Que vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem;
10 com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando o outro como mais digno de estima.
11 Sede diligentes, sem preguiça, fervorosos de espírito, servindo ao Senhor,
12 alegrando-vos na esperança, perseverando na tribulação, assíduos na oração,
13 tomando parte nas necessidades dos santos, buscando proporcionar a hospitalidade.
14 Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis.
15 Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram.
16 Tende a mesma estima uns pelos outros, sem pretensões de grandeza, mas sentindo-vos solidários com os mais humildes: não vos deis ares de sábios.
17 A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens,
18 procurando, se possível, vivei em paz com todos, por quanto de vós depende” (Rm 12,9-18).
O que você precisa fazer para viver sua fé em Deus hoje?
*Do livro, O Som do Silêncio, de Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral da Ordem do Carmo.
[1] Te Deum, oração tradicional da Igreja.
[2] Ver Thomas Keating, Invitation to Love, (Element, Massachusetts & Dorset, 1992), caps. 1-4, e Elizabeth Smith e Joseph Chalmers, A Deeper Love, cap. 8.
[3] Castelo Interior, em Obras completas de Santa Teresa d’Ávila.
[4] Castelo Interior, I, 1-2.
[5] Castelo Interior, VI, 10,7.
*O PROFETA ELIAS: A RESSURREIÇÃO DO FILHO DA VIÚVA (1Rs 17,17-24)
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Frei Joseph Chalmers O. Carm.
Invocação
Ó Pai Misericordioso, tens um cuidado especial para com os pobres e os que sofrem. Teu profeta Elias rezou pela vida do filho da viúva e foi ouvido. Aceita agora meu pedido pela presença de teu Espírito durante este momento de oração e também em minha vida diária, a fim de que a Palavra possa estar sempre em meus lábios e em meu coração. Faço esta oração em nome de Cristo nosso Senhor. Amém.
Texto
Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.
1Rs 17,17 Depois disso, aconteceu que o filho dessa mulher, dona da casa, adoeceu e seu mal foi tão grave que ele veio a falecer.
18 Então ela disse a Elias: “Que há entre mim e ti, homem de Deus? Vieste à minha casa para reavivar a lembrança de minhas faltas e causar a morte do meu filho!”
19 Ele respondeu: “Dá-me teu filho.” Tomando-o dos braços dela, levou-o ao quarto de cima onde morava e colocou-o sobre seu leito.
20 Depois clamou a Iahweh, dizendo: “Iahweh, meu Deus, até a viúva que me hospeda queres afligir, fazendo seu filho morrer?”
21 Estendeu-se por três vezes sobre o menino e invocou Iahweh: “Iahweh, meu Deus, eu te peço, faze voltar a ele a alma deste menino!”
22 Iahweh atendeu à súplica de Elias e a alma do menino voltou a ele e ele reviveu.
23 Elias tomou o menino, desceu-o do quarto de cima para dentro da casa e entregou-o à sua mãe, dizendo: “Olha, teu filho está vivo.”
24 A mulher respondeu a Elias: “Agora sei que és um homem de Deus e que Iahweh fala verdadeiramente por tua boca!”.
Ler
Esse texto nos fala de um desafio ainda maior para Deus. Deus já alimentou Elias através dos corvos ou dos árabes, e através dos serviços da viúva, mas agora o que Deus pode fazer diante da morte? Muitos povos antigos pensavam que a morte era um deus, mas esse relato mostra que não existe outro deus a não ser o Senhor. O verdadeiro Deus é o Senhor da vida!
Esse relato acentua a reputação do profeta e estabelece a autoridade de sua palavra. A viúva interpreta a morte de seu filho como uma punição pelos pecados. Essa era a mentalidade da época, também presente no Novo Testamento (cf. Jo 9,2). A viúva pensa que a presença do homem de Deus fez com que Deus lembrasse de seus pecados. Elias se estende sobre o menino. Esse gesto, análogo aos que foram realizados pelo profeta Eliseu (2Rs 4,34) e por São Paulo (At 20,10), simboliza a volta do poder doador da vida de Deus, o verdadeiro artífice do milagre.
No Novo Testamento, o profeta Elias é visto como o precursor de Jesus. Explicita ou implicitamente, o ministério de Elias é visto como um modelo para o ministério de Jesus. Como exemplo, vejamos o milagre de Jesus quando ele ressuscita o filho da viúva de Naim:
“Ele foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Seus discípulos e numerosa multidão caminhavam com ele.
12 Ao se aproximar da porta da cidade, coincidiu que levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade estava com ela.
13 O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe. ‘Não chores!’
14 Depois, aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse ele, então: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’
15 E o morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe.
16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo’.
17 E essa notícia difundiu-se pela Judéia inteira e por toda a redondeza” (Lc 7,1-17).
Refletir
Releia a história de 1Rs 17,17-24.
Aqui estão algumas perguntas que nos ajudarão a refletir sobre o texto. A pergunta fundamental é sempre: o que esse texto significa para mim ou o que Deus está me dizendo nesse momento em especial da minha vida através desse texto?
- Você já perdeu alguém bem próximo? Como isso afetou seu relacionamento com Deus?
- Você já passou por uma doença grave? Como você se relacionou com Deus durante e após essa experiência?
- Que importância você dá a seus pecados? Você acha que eles são um impedimento em seu relacionamento com Deus?
- Seu modo habitual de rezar lhe diz alguma coisa sobre seu relacionamento com Deus? Você acha que tem um relacionamento íntimo ou distante de Deus?
- Você acha que sua oração foi ouvida? Como você se sentiu quando recebeu uma resposta de Deus?
- Você já esteve na presença de um amigo de Deus? Como essa experiência o afetou?
Responder
Que resposta seu coração quer dar a Deus? Talvez uma oração da Bíblia ou da Tradição Cristã possa nos ajudar. Contudo, é sempre bom usar suas próprias palavras. Eis uma oração tirada dos salmos:
Quando te invoco, responde-me, meu justo Deus! Na angústia tu me aliviaste: tem piedade de mim, ouve a minha prece!
3 Ó homens, até quando tereis o coração pesado, e amareis o nada, e buscareis a ilusão?
4 Sabeis que Iahweh faz maravilhas para seu fiel: Iahweh ouve quando eu o invoco.
5 Tremei e não pequeis, refleti no vosso leito e ficai em silêncio.
6 Oferecei sacrifícios justos e confiai em Iahweh.
7 Muitos dizem: “Quem nos fará ver o bem?” Iahweh, levanta sobre nós a luz da tua face.
8 Puseste em meu coração mais alegria do que quando seu trigo e seu vinho transbordam.
9 Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Iahweh, me fazes viver em segurança (Sl 4,2-9).
Repousar
Continuar na jornada espiritual nos introduz num longo processo onde Deus nos recria de acordo com a imagem do Filho. A destruição do “velho eu” é dolorosa, mas o nascimento de um “novo eu” significa que tudo valeu a pena. Se o casulo ou o ovo pudesse sentir, ele certamente não gostaria de ser quebrado. Mas se não fosse quebrado, a borboleta ou a ave não nasceria. Purificação é um outro nome para esse processo. Somos purificados para que possamos receber Deus, que deseja nos preencher com a vida divina. Contudo, somos muito fracos para receber esse dom inestimável. Deus purifica gradualmente nossos sentidos espirituais para nos abrir à vida divina. Na jornada espiritual existem altos e baixos, momentos de luz e de sombras, de força e de fraqueza. Devemos ter paciência e perseverança quando Deus está dando os últimos retoques à obra de arte que é nossa vida. Muitos artistas não gostam de revelar seu trabalho antes de tê-lo terminado. Deus age assim conosco. Normalmente Deus não permite que vejamos o que Ele está realizando em nossas vidas. A oração do silêncio (ver Apêndice I) nos ensina a reservar um espaço para que Deus possa continuar trabalhando em nós, confiantes de que a obra das mãos de Deus será boa. Olhando para a criação, Deus viu que tudo era bom (Gn 1,31a).
Ao libertarmos nossas próprias vidas, podemos repousar em Deus e dar mais espaço à ação divina. A purificação em nossas vidas será lenta. Pois, ao nos tornarmos mais conscientes da presença e da ação de Deus em nossas vidas como a fonte de toda felicidade, estaremos preparados para desmanchar o falso eu que percebemos agora como um grande fardo. Depositamos nossa esperança de felicidade no falso eu. Agora, pouco a pouco, há um desenvolvimento gradual de um auto-esquecimento e de um auto-abandono progressivo, confiando no poder de Deus que nos leva à plenitude da vida humana. Tudo que gostamos ou não, nossos desejos, emergem lentamente numa submissão radical à vontade de Deus, não apenas durante a oração, mas também em toda nossa vida.
Nossas idéias, opiniões e palavras sustentam nosso falso eu e usamos isso para nos convencer de que estamos sempre certos. Há um tempo para deixarmos de lado nossas palavras, até mesmo as mais belas, e nossos pensamentos, mesmo os mais santos. No entanto, é difícil permanecer em silêncio sem pensar em algo em particular. O método de oração apresentado no Apêndice I pode nos ajudar a permanecer em silêncio e a não seguir qualquer distração. O silêncio pode ser vazio e isso não tem um significado cristão, mas o silêncio também pode estar repleto de significado se temos o desejo de estar na presença de Deus e de consentirmos com a ação purificadora e transformadora de Deus diariamente em nossas vidas.
Quando tentamos permanecer em silêncio por algum tempo, estamos sujeitos a distrações. Na oração em segredo, usamos uma palavra sagrada[1] para voltarmos nosso coração para Deus quando pensamos em outra coisa. A oração em segredo é uma oração de intenção e não de atenção, o que deve ser levado em conta é a vontade e não a imaginação. É importante não julgar nossa própria oração. Se tentarmos rezar com um bom motivo, de estar na presença de Deus aberto à ação divina, essa é a verdadeira oração, mesmo se sentirmos que foi uma completa perda de tempo. Deus pode usar nosso desejo para nossa saúde espiritual. Apenas Deus pode julgar o coração humano e se estamos realmente rezando.
Sugiro que você veja as orientações para a oração em segredo no Apêndice I e tente passar vinte minutos aproximadamente em silêncio. Se você começar a pensar em alguma coisa, volte seu coração mais uma vez para Deus com a palavra sagrada, que é uma palavra curta, sagrada para você, que age como um símbolo de sua intenção de estar na presença de Deus e de seu consentimento com a ação divina em sua vida.
Agir
Apresentamos algumas sugestões de frases tiradas do texto que você pode usar durante o dia como uma lembrança da presença de Deus, mas é sempre melhor usar qualquer coisa que tenha um significado para você:
“homem de Deus?”;
“clamou a Iahweh”;
“Iahweh, meu Deus”;
“eu te peço”;
“teu filho está vivo”;
“a Palavra de Deus é a verdade”;
“Iahweh ouviu sua oração”.
Uma boa árvore produz bons frutos. Se formos fiéis à prática da oração como um relacionamento com Deus, ela produzirá bons frutos em nossa vida. Muitas vezes não experimentamos coisa alguma durante a oração, mas devemos escutar e estarmos atentos à atividade de Deus em todos os momentos de nossa vida. Na história da ressurreição do filho da viúva, o profeta Elias rezou com grande fervor pelo menino. Você se lembra de alguém em especial hoje? Carregue essa pessoa (ou pessoas) em seu coração durante o dia e lembre-se de rezar por ela. Não se esqueça de que Deus está bem perto e sempre escuta o que você diz. “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).
*Do livro, O Som do Silêncio, de Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral da Ordem do Carmo.
[1] Para o conceito “palavra sagrada” neste método de oração, ver especialmente Thomas Keating, Open Mind, Open Heart, cap. 5 & Elizabeth Smith e Joseph Chalmers, A Deeper Love, pp. 36-53.
TERÇA-FEIRA, 17. 1º DIA DO TRÍDUO DE SANTO ELIAS
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O Carmo da Lapa, Rio de Janeiro, celebrou nesta terça-feira o 1º Dia do Tríduo de Santo Elias- Pai e Guia do Carmelo. No homilia, o Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, presidente da celebração, falou sobre a importância da amorosidade e sensibilidade a partir da reza-devoção, seja a Nossa Senhora do Carmo ou ao Profeta Elias.
Segundo o Frei, existe muita reza e pouca compaixão e amor ao irmão (a). Elias, em suas atitudes e ações, não era um homem de Deus no sentido de ritos ou palavras, mas de carinho e defesa do próximo mais próximo, seja através da viúva de Sarepta, da vinha de Nabut ou na súplica pela volta da chuva. Portanto, a espiritualidade Eliana Carmelitana nos leva a adesão e contemplação no sentido histórico e não ficar com os pés nas nuvens - oração devocional vazia- descomprometida com a história e com a própria igreja samaritana e acolhedora.
Amanhã, o presidente da celebração será o Frei Donizetti Barbosa, O. Carm e também será transmitido ao vivo aqui no olhar e nas mídias sociais.
TRÍDUO DE SANTO ELIAS: Convite.
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CARMELO: Um Olhar sobre Maria
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*Frei Christopher O’Donnell, O. Carm.
Doutrina
As grandes verdades sobre Maria foram defendidas no século XIII. O dogma de sua Maternidade Divina tem sido celebrado desde o Concílio de Éfeso (431). A Assunção de Maria está presente na liturgia desde o século VI e sua festa litúrgica teve uma oitava a partir de Leão IV (+ 855). A Virgindade Perpétua de Maria é questão pacífica desde o tempo do Concílio não-ecumênico Lateranense de 649. O quarto Concílio Lateranense usou a frase “Maria sempre virgem” em sua fórmula do Credo para os albigenses e cátaros. Acreditava-se também na Imaculada Conceição, mas muitos teólogos tinham sérias reservas, principalmente os seguidores de Tomás de Aquino. Sua festa começa a ser celebrada na liturgia a partir do século XII. Foi o papa siro-siciliano Sérgio (+ 701) quem estabeleceu uma procissão solene em Roma para quatro grandes festas marianas: o Nascimento de Maria (08 de setembro), a Apresentação (02 de fevereiro), a Anunciação (25 de março) e a Assunção (15 de agosto).
Além dessas verdades de fé, existia uma ampla crença em outras verdades sobre Maria. Em distintos lugares encontramos importantes afirmações sobre a união de Maria com seu Filho na Redenção. Em São Bernardo e, mais tarde, em Santo Alberto Magno e em São Boaventura, encontramos esboços da doutrina da mediação de Maria. O Memorare, atribuído a São Bernardo, tem algumas frases dele mesmo, apesar de em sua forma atual ser do século XV ou mesmo anterior. A maternidade espiritual de Maria, afirmando que ela é nossa Mãe e Mãe da Igreja, foi ensinada com muito mais clareza a partir do século XI, quando teólogos como Anselmo de Lucca (+ 1086) e Rupert de Deutz (+ 1130) começaram a aprofundar a verdade latente na cena aos pés da cruz relatada por João (19,25-28a). A apresentação de Maria como Rainha já estava presente com freqüência nos sermões e nos hinos do século VI. Foi encontrada há muito tempo nas liturgias, tanto do Oriente quanto do Ocidente e tornaram-se marcantes no século XIII.
Devoção
Quando olhamos para as orações e devoções marianas no século XIII encontramos uma grande riqueza. Já existiam então muitos santuários e lugares de peregrinação marianos. Por exemplo, na Inglaterra foram fundados dois antigos santuários: Walsingham (1061) e Glastonbury (do século VII, reconstruído em 1186). O santuário de Einsiedeln, na Suíça, data do século X. Poemas em língua vernácula são encontrados especialmente a partir da metade do século XII.
Existiam muitas devoções a Maria naquele tempo. A coleção de orações de diversos tipos começou no período carolíngio. Uma das mais conhecidas era o Livro das Orações Sagradas (Libellus sacrarum precum), datado do final do século IX, contendo várias orações marianas. Mais tarde, encontramos os Livros das Horas, cuja essência foi o Pequeno Ofício da Bem-aventurada Virgem. Sua origem foi uma devoção adicional (cursus) acrescentada ao Ofício canônico assim como aos ofícios votivos da Bem-aventurada Virgem, que surgiram com os carolíngios. Este material foi reorganizado por São Pedro Damião (+ 1072) e recomendado por ele para uso diário.
Existiam muitos hinos e orações marianas circulando no século XIII, que foram incorporados à liturgia e às orações comunitárias carmelitanas. A primeira parte da Ave Maria já existia mais ou menos a partir do século VII. Era um elemento do Pequeno Ofício e foi recomendada por Pedro Damião para recitação freqüente. O acréscimo do nome “Jesus” pode vir do tempo de Urbano IV (+ 1264), mas a segunda parte da oração (“Santa Maria...”) é do século XV. Os hinos comuns durante esse período incluíam o Ave maris stella que data do século IX. As quatro grandes antífonas marianas já eram conhecidas: Alma redemptoris mater (século XII), Salve regina (talvez do século XI), Ave regina caelorum (século XII) e o Regina coeli (provavelmente do século XIII).
Outras formas mais populares de oração foram encontradas nesta época. As ladainhas marianas surgem mais ou menos no século XI com a Ladainha de Loreto, datando do final do século XII, com 73 invocações. Uma ladainha irlandesa com 76 invocações pode datar do século XII. Da mesma forma, saudações a Maria, muitas vezes repetidas 150 vezes correspondendo ao Saltério (Grusspsalter), começaram a ser usadas a partir de 1130. Estas últimas teriam dado origem ao Rosário, que tomou sua forma atual no começo do século XV. Coleções das Alegrias (cinco) e Dores (sete) de Maria (Marienklagen) também são do século XII. A grande seqüência Stabat Mater é provavelmente do final do século XIII, talvez do franciscano Jacopone da Todi (+ 1306). O costume de dizer três Aves Marias à noite pode datar do século XI. Gregório IX (+ 1241) ordenava que os sinos tocassem para que o povo pudesse oferecer as Aves Marias às Cruzadas. A primeira coleção de legendas sobre Maria apareceu no século XI, o Liber de miraculis santae Dei genetricis Mariae.
As vidas de Maria, muitas vezes baseadas vagamente nos Ofícios, tornaram-se populares no século XII. Irmandades marianas são encontradas a partir da primeira metade do século XIII, especialmente na França e na Itália.
Uma importante área de interesse para a antiga mariologia carmelitana foi ressaltada por E. Boaga. Ela lembra o número de santuários e de lugares sagrados na Palestina que foram associados à Maria nas escrituras, nos apócrifos e nas tradições orais.[i] Posteriormente, eles nos ajudarão a compreender mais plenamente o significado da escolha de Maria como Protetora do oratório do Monte Carmelo.
A Escravidão de Maria
Finalmente, podemos lembrar o surgimento, no século XI, do que se chamaria mais tarde de “escravidão de Maria”. São Bernardo, por exemplo, chamava-se de pajem de Maria (servuli). Isso pode ser significativo para a difundida ideia carmelitana da vassalagem, que encontraremos posteriormente.
Não só os carmelitas
Como veremos, os carmelitas que foram para a Europa assumiram muitas dessas práticas e crenças existentes. Se nos restringirmos a estudar apenas o que é carmelitano, corremos o risco de subestimar e mesmo de negligenciar uma parte considerável de nossa herança mariana. Em vez disso, devemos tentar ver toda vida mariana dos primeiros frades carmelitanos, das quais apenas algumas partes serão específicas deles mesmos.
Existem diversos paralelos com outras ordens, tais como os cistercienses,[ii] os cônegos premonstratenses[iii] e, é claro, os dominicanos.[iv] Precisamos em primeiro lugar, levantar a questão da identidade carmelitana, descrita particularmente nas primeiras Constituições e títulos da Ordem.
O Século XX
No século XX tivemos o chamado “Movimento Mariano”, um tempo de grande entusiasmo, congressos, escritos, crescimento devocional.[v] Esse tempo culminou na definição do dogma da Assunção (1950) e no Ano Mariano (1954). Depois disso houve um declínio, apesar do significativo ensinamento do Vaticano II. Com o importante documento de Paulo VI, Marialis cultus (1974) e de João Paulo II, Redemptoris Mater (1987) houve uma gradual recuperação. A partir da metade de 1970 houve uma abundância de trabalhos eruditos, essenciais sob todos os aspectos, de mariologia.[vi]
Na ordem, o ano de 1950 também foi um clímax do século XX com o caloroso endosso do Escapulário por Pio XII na carta Neminem profecto latet.[vii] Mas os anos seguintes testemunharam algum declínio e falta de energia da parte da Ordem. A historicidade da visão do Escapulário foi submetida a um minucioso exame. Apesar da evidência desta visão ser considerada inadequada por severos estudiosos como Jean de Launoy (+ 1678) e Herbert Thuston (+ 1939), suas opiniões não influenciaram muito a apreciação que a Ordem tinha do Escapulário. Mas os valentes esforços de B. M. Xiberta em defender a autenticidade da visão do Escapulário[viii] foram gradualmente colocados em dúvida. Foram feitas afirmações mais específicas, que não confortaram aqueles cuja tranqüila certeza anterior sobre a visão do Escapulário tinha sido perturbada.[ix] O Privilégio Sabatino, baseado numa suposta visão de João XXII foi considerado como uma mentira medieval.[x] No Próprio da Missa Carmelitana de 1972 não houve festa ou memorial para Simão Stock. A revisão inicial do Calendário para a Igreja Universal, posteriormente, omitiu a festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Mas também houve uma recuperação, um tanto irregular, da consciência mariana carmelitana datando do capítulo geral extraordinário de 1968. Tal capítulo apresentou Maria nos termos do Vaticano II e defendeu o significado do Escapulário.[xi]
Estas questões encontram-se por trás do capítulo geral de 1971 e são, de certo modo, percebidas em alguns encontros do conselho das províncias, congregações gerais e capítulos. A revisão do Missal Romano em 1969 restaurou a celebração de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Para a Ordem Carmelitana a Missa e o Ofício de São Simão Stock foram reintegrados pela Santa Sé em 1979.
Junto a esses desenvolvimentos podemos ver na bibliografia anual no Carmelus que tem havido um crescente interesse na mariologia carmelitana e nos escritos realizados pelos membros da Ordem sobre a Virgem Maria. Em 1989 aconteceram três congressos marianos na Ordem: no Centro Santo Alberto em Roma, Sassone fora de Roma e Nova Iorque. Uma conferência em Reno (1998) foi celebrada pela grande família carmelitana nos Estados Unidos.
Portanto, o tempo atual é apropriado para abordarmos novamente o carisma mariano da Ordem e para apresentá-lo em termos apropriados à Igreja contemporânea. Esse breve trabalho quer examinar as origens e o desenvolvimento do carisma mariano carmelitano. Depois, apresentará a reflexão sobre Maria nos documentos oficiais da Ordem desde o Vaticano II, antes de esboçar algumas perspectivas mariológicas contemporâneas, dentro das quais teremos que expressar nosso carisma.
[i] E. Boaga, “Irigini Mariane dei carmelitane”, Marianum 53 (1991) 183-198.
[ii] Ver G. Vitti e M. Falletti, “La devozione a Maria nell’Ordine Cistencense”, Marianum 54 (1992) 287-348.
[iii] Ver N. L. Reuviaux, “La dévotion à Notre Dame dans l’Ordre de Prémontré” em H. du Manoir, ed., Maria: Etudes sur la sainte Vierge. 8 vols. (Paris: Beauchesne, 1949-1971) 2: 713-720.
[iv] Ver A. Duval, “La dévotion mariale dans l’Ordre des Frères Prêcheurs” em Du Manoir, Maria 2:737-782.
[v] Roschini, Maria 4:425-495; R. Laurentin, La question mariale (Paris: Seuil, 1963) = Mary’s Place in the Church (London: Burns and Oates, 1965) cap. 2.
[vi] Ver subsídio anual de E. R. Carroll em Marian Studies.
[vii] AAS 42 (1950) 390-391.
[viii] De visione sancti Simonis Stock (Roma: Carmelite Institute, 1950).
[ix] C. P. Ceroke, “The Credibility of the Scapular Promise”, Carmelus 11 (1964) 81-123.
[x] L. Saggi, La “Bolla sabatina”: ambiente, texto, tempo (Roma: Carmelite Institute, 1967); cf. Carmelus 13 (1966) 245-302; 14 (1967) 63-69.
[xi] AOC 27 (1968) 45, 51.
ABC de Maria
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 )
Ave Maria
Bendita Flor,
Cheia de Graça,
De suave odor!
És toda bela,
Flor do meu Carmo!
Grande e singela
Heróica Virgem,
Íris de paz,
Judite audaz!
Lembra-te santa
Mãezinha-amor:
"Nós do Carmelo,
Oh! sim! contigo,
Por ti, em ti
Queremos ser".
Rege-nos sempre,
Sempre protege-nos:
Teus filhos somos.
Ui! Que serpente!...
Vem, ó Sem-Mácula,
Xeque lhe dá.
Zele por nós
Teu Bom-Jesus,
Princípio e fim,
Primeiro e último,
O Rei da Luz.
Amém. Jesus!
16 DE JULHO, O CARMELO TEM UMA MÃE...
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16 de julho. "Os Beneditinos tem São Bento, Os Franciscanos tem São Francisco, os Dominicanos tem São Domingos... Já os Carmelitas tem uma Mãe, Nossa Senhora do Carmo". Salve a Mãe do Carmelo! Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
CARMO DA LAPA, RIO DE JANEIRO...
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Última noite da Novena da Virgem do Escapulário, a Senhora do Carmo.
CACHOEIRA- BA: Última noite da Novena.
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Domingo, dia 15. Última Noite da Novena de Nossa Senhora do Carmo. Fotos: Face: Leonardo Marques.
NOVENA 2018: Agradecimento
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