Papa Francisco tem o seu próprio ''Sínodo do Cadáver''
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O Papa Francisco investiu os sínodos dos bispos com uma relevância que não se via há séculos, então talvez seja justo que ele tenha agora a sua própria versão da mais renomada cúpula de todas, o infame “Sínodo do Cadáver”, do ano 897. A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada em Crux, 22-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Acredite-se ou não, a principal manchete da ação dessa segunda-feira no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que ocorre entre os dias 6 e 27 de outubro, envolveu um vídeo de dois homens que roubaram estátuas indígenas que representavam uma mulher grávida nua que estava em exibição em uma igreja romana e depois, um por um, jogaram pedaços quebrados das imagens no Rio Tibre, em frente à fortaleza papal de Castel Sant’Angelo.
Até o momento em que este texto foi escrito, cerca de 115.000 pessoas haviam assistido ao vídeo do incidente no Youtube.
O porta-voz vaticano, o leigo italiano Paolo Ruffini, disse em resposta aos repórteres na segunda-feira que o furto e a destruição das estátuas eram “um ato de desafio” e um “golpe” que era “contra o espírito de diálogo”, enquanto o padre jesuíta italiano Giacomo Costa acrescentou que “roubar objetos nunca é construtivo”.
Na terça-feira, os participantes indígenas do Sínodo da Amazônia divulgaram uma declaração, denunciando o incidente por refletir “a intolerância religiosa, o racismo, atitudes vexatórias, que (...) demonstram uma resposta negativa para construir novos caminhos para a renovação da nossa Igreja”. Eles também alertaram que “esses atos podem se repetir ou subir o tom, e gerar efeitos maiores”.
O incidente ocorreu em meio a uma onda constante de críticas por parte de meios de comunicação católicos tradicionalistas, que definiram a estátua – que apareceu durante uma cerimônia de oração envolvendo o Papa Francisco, no Vaticano no dia 4 de outubro, bem como na procissão de abertura do Sínodo –como uma imagem pagã e sugerindo que sua presença em espaços e ritos católicos equivalia a sacrilégio.
Como disse uma vez o falecido cardeal Francis George, tudo na Igreja Católica já ocorreu pelo menos uma vez. De fato, existe um precedente para a mise-en-scène dessa segunda-feira, envolvendo não o fato de lançar uma estátua no Tibre, mas sim um papa.
Le Pape Formose et Étienne VII (“O Papa Formoso e Estevão VII”), óleo sobre tela, Jean-Paul Laurens, 1870 (Credit: Stock image/Crux)
Em 896, um novo pontífice chamado Estevão VI chegou ao poder sob o patrocínio da influente família Spoleto de Roma. O clã ainda mantinha um antigo rancor contra um papa anterior, Formoso, que havia apoiado seus rivais carolíngios como Sacro Imperador Romano.
Foi assim que, um ano depois, Estevão ordenou que os restos de Formoso fossem desenterrados e postos sob julgamento. O cadáver foi colocado em um trono durante os procedimentos, e um diácono foi até nomeado para falar em sua defesa – embora, como observam os historiadores, não de um modo muito agressivo.
Estevão acusou Formoso de várias formas de heresia e usurpação, e o falecido pontífice foi obedientemente considerado culpado. Seu papado foi declarado nulo, três dedos da mão direita usados para administrar as bênçãos foram cortados, e seus restos mortais foram jogados sem qualquer cerimônia no Tibre, de acordo com o antigo costume romano, quando o objetivo é uma damnatio memoriae, obliterando até mesmo a memória de um inimigo derrotado.
Sem dúvida, existem diferenças entre 1.100 anos atrás e a última segunda-feira.
Por um lado, ninguém jogou o papa no Tibre desta vez, embora esse contraste possa ser menos significativo do que pareça. Obviamente, as pessoas por trás do minidrama dessa segunda-feira viam as estátuas como símbolos daquilo que eles não gostam no Papa Francisco – o fato de ele abraçar as culturas e crenças não cristãs, sua agenda “terceiro-mundista” e progressista, sua indiferença à costumeira pompa e circunstância do rito tradicional, e assim por diante.
Em outras palavras, se aqueles dois homens tivessem a opção de jogar o próprio Francisco no rio, eles o teriam feito. As estátuas foram simplesmente o mais próximo que elas realmente puderam chegar.
Talvez a diferença mais relevante seja que o que aconteceu em 897 não foi realmente um “sínodo”, mesmo que Estevão tenha obrigado um punhado de prelados a estarem presentes para dar uma certa credibilidade superficial aos procedimentos. No máximo, o que aconteceu poderia ser chamado de um julgamento eclesiástico, embora isso seja exagerado.
Na realidade, foi apenas uma farsa realizada para conseguir alguns pontos políticos baratos – o que, pensando bem, talvez sugira que isso não foi tão diferente do que aconteceu na segunda-feira.
O que resta saber é se as consequências da ação dessa segunda-feira terão alguma semelhança com o que aconteceu com o Papa Estevão depois do Sínodo do Cadáver.
Todo o caso azedou a opinião pública sobre o novo papa, e começaram a surgir rumores de que o corpo de Formoso havia chegado às margens do Tibre com o poder de realizar milagres. Uma revolta popular levou à prisão de Estevão, e ele foi estrangulado até a morte na prisão, apenas seis meses depois.
Provavelmente, ninguém vai estrangular os homens que roubaram as estátuas na segunda-feira – embora algumas discussões acaloradas no Twitter indiquem que existem pelo menos algumas almas capazes disso por aí. No entanto, veremos se o ato, no entanto, se voltará contra os especialistas e os meios de comunicação que levaram as pessoas a um frenesi, oferecendo uma espécie de reductio ad absurdum teatral sobre todo o debate.
Enquanto isso, o Sínodo da Amazônia seguirá em frente, produzindo presumivelmente um conjunto de recomendações ao Papa Francisco que podem fornecer o esboço para uma nova abordagem pastoral para a maior floresta tropical do mundo. É um assunto sério, sendo conduzido por pessoas que levam a sério aquilo que está em jogo.
Não obstante, daqui a alguns anos, o que as pessoas realmente podem se lembrar desse sínodo não serão as suas conclusões, mas o seu cadáver... o que, se você pensar bem a respeito, é praticamente o oposto daquilo que uma damnatio memoriae bem executada supostamente deve fazer. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Quarta-feira, 23 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 39-48)
39Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa. 40Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem. 41Disse-lhe Pedro: Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos? 42O Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? 43Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! 44Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens. 45Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino dos infiéis. 47O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. 48Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.
3) Reflexão Lucas 12,39-48
O evangelho de hoje traz novamente uma exortação à vigilância com outras duas parábolas. Ontem, a parábola era de patrão e empregado (Lc 12,36-38). Hoje, a primeira parábola é do dono de casa e do ladrão (Lc 12,39-40) e a outra fala do proprietário e do administrador (Lc 12,41-47).
Lucas 12,39-40: A parábola do dono da casa e do ladrão
“Fiquem certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que lhe arrombasse a casa. Vocês também estejam preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que vocês menos esperarem”. Assim como o dono da casa não sabe a que hora chega o ladrão, assim ninguém sabe a hora da chegada do Filho do Homem. Jesus deixa bem claro: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai!" (Mc 13,32). Hoje, muita gente vive preocupada com o fim do mundo. Nas ruas das cidades, se vê escrito nas paredes: Jesus voltará! Teve até gente que, angustiada com a proximidade do fim do mundo, chegou a cometer suicídio. Mas o tempo passa e o fim não chega! Muitas vezes, a afirmação “Jesus voltará” é usada para meter medo nas pessoas e obrigá-las a freqüentar uma determinada igreja! De tanto esperar e especular em torno da vinda de Jesus, muita gente já nem percebe mais a presença dele no meio de nós, nas coisas mais comuns da vida, nos fatos do dia-a-dia. Pois o que importa mesmo não é saber a hora do fim deste mundo, mas sim ter um olhar capaz de perceber a vinda de Jesus já presente no meio de nós na pessoa do pobre (cf Mt 25,40) e em tantos outros modos e acontecimentos da vida de cada dia.
Lucas 12,41: A pergunta de Pedro
“Então Pedro disse a Jesus: "Senhor, estás contando essa parábola só para nós, ou para todos?" Não se vê bem o porquê desta pergunta de Pedro. Ela evoca um outro episódio, no qual Jesus respondeu a uma pergunta semelhante dizendo: “A vocês é dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas aos outros tudo é dado a conhecer em parábolas” (Mt 13,10-11; Lc 8,9-10).
Lucas 12,42-48ª: A parábola do proprietário e do administrador
Na resposta à pergunta de Pedro Jesus formula uma outra pergunta em forma de parábola: "Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor coloca à frente do pessoal de sua casa, para dar a comida a todos na hora certa?” Logo em seguida, o Jesus mesmo, na própria parábola, já dá a resposta: bom administrador é aquele que cumpre sua missão de servidor, nunca usa os bens recebidos em proveito próprio, e está sempre vigilante e atento. Talvez seja uma resposta indireta à pergunta de Pedro, como se dissesse: “Pedro, a parábola é realmente para você! É para você saber administrar bem a missão que Deus lhe deu como coordenador das comunidades. Neste sentido, a resposta vale também para cada um de nós. E aí toma muito sentido a advertência final: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.
A chegada do Filho do Homem e o fim deste mundo
A mesma problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros séculos. Muita gente das comunidades dizia que o fim deste mundo estava perto e que Jesus voltaria logo. Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de Paulo, diziam: “Jesus vai voltar logo!” (1 Tes 4,13-18; 2 Tes 2,2). Por isso, havia até pessoas que já não trabalhavam, porque achavam que a vinda fosse coisa de poucos dias ou semanas. Trabalhar para que, se Jesus ia voltar logo? (cf 2Ts 3,11). Paulo responde que não era tão simples como eles imaginavam. E aos que já não trabalhavam avisava: “Quem não quiser trabalhar não tem direito de comer!” Outros ficavam só olhando o céu, aguardando o retorno de Jesus sobre as nuvens (cf At 1,11). Outros reclamavam da demora (2Pd 3,4-9). Em geral, os cristãos viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria realizar o Juízo Final para encerrar a história injusta deste mundo cá de baixo e inaugurar a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova Terra. Achavam que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente ainda estaria viva quando Jesus fosse aparecer glorioso no céu (1Ts 4,16-17; Mc 9,1). Outros, cansados de esperar, diziam: “Ele não vai voltar nunca! (2 Pd 3,4). Até hoje, a vinda final de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? É que já não percebemos que Jesus já voltou, já está no nosso meio: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo." (Mt 28,20). Ele já está do nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. A plenitude ainda não chegou, mas uma amostra ou garantia do Reino já está no meio de nós. Por isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da natureza (Rm 8,22-25). E enquanto esperamos e lutamos, dizemos acertadamente: “Ele já está no meio de nós!” (Mt 25,40).
4) Para um confronto pessoal
1) A resposta de Jesus a Pedro serve também para nós, para mim. Será que sou um bom administrador, uma boa administradora da missão que recebi?
2) Como faço para estar vigilante sempre?
5) Oração final
Do nascer ao pôr-do-sol seja louvado o nome do Senhor. O Senhor é excelso sobre todos os povos, mais alta que os céus é sua glória. (Sl 112, 3-4)
Vozes que desafiam. Dorothy Stang, profetisa e mártir da Amazônia
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Por: Cleusa Maria Andreatta, Susana Rocca, Wagner Fernandes de Azevedo
Uma década antes de a encíclica Laudato Si’ ser publicada, nas terras de Anapu, na Amazônia brasileira, era “plantada em solo brasileiro” a semente de um modo de pensar, de se relacionar com o mundo, com a construção de novos valores, partindo da perspectiva de que "Deus está em todas coisas" e caminha com os desfavorecidos. Em 12 de fevereiro de 2005, a missionária estadunidense Dorothy Stang foi vítima daquilo que enfrentava: a exploração da terra e dos pobres em favor do lucro e da ganância de poucos. O seu legado ainda brota e se constitui como inspiração para o ponto de inflexão que se encontra a Igreja e todo o mundo.
Dorothy Stang nasceu em 1931, em Dayton, Ohio, Estados Unidos. Chegou ao Brasil na década de 1960, era missionária da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur. A irmã Dorothy desempenhou seu trabalho diretamente nas comunidades amazônicas, reconhecendo a realidade marcada pela desigualdade e pelas relações construídas pela exploração da floresta e das populações empobrecidas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores.
Dorothy Stang foi uma religiosa fruto de uma Igreja que se faz pobre com os pobres. Em entrevista especial à IHU On-Line, David Stang, irmão de Dorothy e também missionário, relata que "nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres e aqueles que tinham muito pouco, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades, tanto físicas quanto espirituais".
Na entrevista concedida em 2009, David destacava as percepções da mística de Dorothy Stang, que antes de entrar no centro do debate da Igreja com a encíclica Laudato Si', compreendia a necessidade de uma mística associada com a ecologia. "Dorothy acreditava que o divino está em todo o lugar, que Deus nos deu esta grande terra para ser compartilhada por todos nós".
Irmã Dorothy não construiu um legado apenas místico, mas teve na sua ação pastoral uma ação transformadora. A irmã Margarida Montoja, do Comitê Dorothy Stang, que concedeu entrevista à IHU On-Line em 2011, apontou a capacidade de organização e articulação política de Dorothy:
"1. Mapeou toda área de seu interesse e andava com estes mapas sempre em sua “boroca” (sacola de pano);
2. Fez levantamento dos possíveis donos dos lotes, descobriu onde havia grilagens e denunciou aos órgãos competentes;
3. Não trabalhava sozinha;
4. Descobriu o Projeto, Plano de Desenvolvimento Sustentável – PDS, que foi elaborado pelo governo FHC. Portanto, PDS não é invenção de Dorothy, é coisa de governo, pensado por uma equipe técnica. Ela descobriu isso que estava guardadinho em algum lugar e fez o governo executá-lo;
5. Escrevia tudo que acontecia, mesmo documentos, tudo com sua letrinha trêmula de idosa, mas, “tá tudo lá registrado, pra quem quiser ver e comprovar”, até citando nomes de seus algozes com muita antecedência;
6. Informava aos interessados toda caminhada feita pelo seu povo e pelos fazendeiros e madeireiros;
7. Ia à delegacia, ao Ibama, no MPF e estadual e onde pudesse denunciar os crimes;
8. Fazia parcerias com entidades e pessoas estratégicas para suas lutas e para realizar seus sonhos;
9. Sempre se colocava ao lado do povo e do meio ambiente;
10. Andava somente com o necessário em suas viagens;
11. Conhecia muito bem o alvo de sua luta;
12. Era minuciosa em suas anotações
13. Era uma grande mística que, aliada a seu espírito de luta, fez dela uma grande mulher, soube unir ação e oração".
A religiosa, portanto, soube conciliar a espiritualidade e a ação política. Em uma de suas frases marcantes expressava: "Não vou fugir nem abandonar a luta desses trabalhadores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor, numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar". Em entrevista à IHU On-Line, o procurador Felício Pontes Júnior definiu Dorothy como o "Anjo da Amazônia". "Tudo que ela tentou estabelecer foi o desenvolvimento integral dos povos da floresta. Isso implica também na relação do homem com a natureza. Ela trouxe para a prática a Teologia da Libertação em pleno século XXI", afirmou Felício.
O reconhecimento do trabalho de Dorothy foi mundial. Nos Estados Unidos, após a sua morte, foi premiada em diversas universidades com o título honoris causa, teve proclamado o "Dia Dorothy Stang", no estado do Colorado, e recebeu o prêmio de Direitos Humanos da ONU. Em memória dos 12 anos de sua morte, o portal National Catholic Reporter publicou um editorial intitulado "Dorothy Stang. A mais rara coragem cristã". A publicação fazia referência ao envolvimento direto de Dorothy com as populações amazônicas, destacando que "Suas sementes já brotaram, é o compromisso do Brasil em acelerar os acordos de terra para locais de desenvolvimento sustentável a agricultores pobres". Anos mais tarde, padre Amaro Lopes, também em Anapu, foi preso acusado de incitar conflitos de terra na região amazônica. Amaro, em entrevista ao Portal das CEBs, em fevereiro de 2019, declarou que a irmã Dorothy "ajudou-me a entender como se vive na prática o Evangelho. Defendendo os pequenos e pequenas em qualquer situação que ameaça a sua integridade física e de sobrevivência. Para mim foi uma mãe".
A declaração de Amaro é um exemplo do quão impossível é deter a semente que foi plantada na Amazônia brasileira com a irmã Dorothy Stang. Seus assassinos tentaram pará-la com seis tiros, em 14 de fevereiro de 2005. Embora cinco pessoas tenham sido condenadas como mandantes ou participantes do crime, hoje nenhum deles está preso. No entanto, nem Dorothy está morta. De 06 de outubro a 27 de outubro de 2019, toda luta que empenhou por três décadas na Amazônia é o centro das atenções da Igreja. Como destaca o jornalista espanhol Luis Miguel Modino: "Dorothy está viva na memória de quem continua lutando em defesa da Amazônia. Quem a matou nunca pensou que se converteria em um símbolo de novos caminhos, um legado que está sendo posto em pauta através do processo sinodal".
A série Vozes que Desafiam. Mulheres na Igreja produzida pela equipe de Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos tem como objetivo recuperar e visibilizar figuras de mulheres e contribuir no reconhecimento do lugar delas na vida da Igreja. Abaixo, compartilhamos entrevistas, artigos e reportagens publicadas pelo Instituto Humanitas Unisinos que resgatam o legado profético de Dorothy Stang.
Irmã Dorothy: mártir, profeta, mística e santa proclamada pelo povo. Entrevista especial com David Stang
Relembrando alguns episódios de sua infância com a Irmã e sua irmã Dorothy, David Stang, em entrevista exclusiva por e-mail à página IHU On-Line, testemunha toda a admiração pela vida e pela entrega de Dorothy, derramando seu sangue “que corre nas terras brasileiras que ela tanto amou, levantando-se em nome dos que não têm direito e em nome da Floresta Amazônica”.
Ex-missionário católico no Quênia e na Tanzânia, e hoje residente no Colorado, EUA, David Stang critica ainda a justiça e alguns setores da imprensa brasileira, por seu preconceito em retratar sua irmã como uma revolucionária e traficante de armas, uma “agente norte-americana” – sem levar em consideração a sua cidadania brasileira e o seu trabalho de mais de 30 anos no Brasil – e por insultar a sua fé católica e “a bela e simples cruz católica que ela sempre trazia ao redor de seu pescoço”. E afirma que a família Stang ainda luta para que o caso seja federalizado.
Mas muito além dos limites da justiça terrena, David Stang relata a sua esperança naquilo que sua irmã, com o seu martírio, plantou na sociedade e na Igreja brasileiras. “Nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades”, afirma. “Ambos sentíamos o Espírito Santo dentro de nós e o Reino de Deus em nossos corações. Com a grandeza de Deus dentro de nós, não tínhamos por que ter medo”.
E é daí que surge a sua convicção em afirmar que sua Irmã Dorothy o “encorajou a estar vivo” e a dizer, sem hesitar, que Dorothy é uma mártir, uma profeta, uma mística e uma santa, tão proclamada pelo povo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Terça-feira, 22 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 35-38)
35Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: cingir-se-á, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á. 38Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos!
3) Reflexão
Por meio da parábola o evangelho de hoje traz uma exortação à vigilância.
Lucas 12,35: Exortação à vigilância
"Estejam com os rins cingidos e com as lâmpadas acesas”. Cingir-se significava amarrar um pano ou uma corda ao redor da veste talar, para que ela não atrapalhasse os movimentos do corpo. Estar cingido significava estar preparado, pronto para ação imediata. Na véspera da saída do Egito, na hora de celebrar a páscoa, os israelitas deviam estar cingidos, isto é, preparados, prontos para poder partir imediatamente (Ex 12,11). Quando alguém ia trabalhar, lutar ou executar uma tarefa ele se cingia (Ct 3,8). Na carta aos Efésios, Paulo descreve a armadura de Deus e diz que os rins devem estar cingidos com o cíngulo da verdade (Ef 6,14). As lâmpadas deviam estar acesas, pois a vigilância é tarefa tanto para o dia como para a noite. Sem luz não se anda na escuridão da noite.
Lucas 12,36: A parábola
Para explicar o que significa de estar cingido, Jesus conta uma pequena parábola. “Sejam como homens que estão esperando o seu senhor voltar da festa de casamento: tão logo ele chega e bate, eles imediatamente vão abrir a porta”. A tarefa de aguardar a chegada do patrão exige uma vigilância constante e permanente, sobretudo quando é de noite, pois, o patrão não tem hora marcada. Ele pode voltar a qualquer momento. O empregado deve estar atento, vigilante sempre!
Lucas 12,37: Promessa de felicidade
“Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá”. Aqui, nesta promessa de felicidade, os papeis se invertem. O patrão se torna empregado e começa a servir ao empregado que virou patrão. Evoca Jesus na última ceia que, mesmo sendo senhor e mestre, se fez servidor e empregado de todos (Jo 13,4-17). A felicidade prometida tem a ver com o futuro, com a felicidade no fim dos tempos, e é o oposto daquilo que Jesus prometeu numa outra parábola que dizia: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa? Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: 'Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber'? Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado? Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer" (Lc 17,7-10). .
Lucas 12,38: Repete a promessa de felicidade
“E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão se assim os encontra!” Repete a promessa de felicidade que exige vigilância total. O patrão pode voltar meia noite, três da madrugada, ou qualquer outra hora. O empregado deve estar acordado, cingido, pronto para poder entrar em ação.
4) Para um confronto pessoal
1) Somos empregados de Deus. Devemos estar cingidos, de prontidão, atentos e vigilantes, vinte e quatro horas por dia. Você está conseguindo? Como faz?
2) A promessa de felicidade futura é a inversão do presente. O que isto nos revela sobre a bondade de Deus para conosco, para comigo?
5) Oração final
Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque ele diz palavras de paz ao seu povo, para seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para ele. Sim, sua salvação está bem perto dos que o temem, de sorte que sua glória retornará à nossa terra. (Sl 84, 9-10)
Pacto das Catacumbas pela Casa Comum
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Pacto das Catacumbas pela Casa Comum: Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana
Nós, participantes do Sínodo Pan-amazônico, partilhamos a alegria de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco:
“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja.
Por eles, com eles, caminhemos juntos”[1].
Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre[2]. Recordamos com veneração todos os mártires membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum[3]. À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem. É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista.
Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro, invocamos o Espírito Santo, e nos comprometemos pessoal e comunitariamente com o que se segue:
- Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica socio diversidade para a humanidade e a Terra inteira.
- Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas, formados do pó da terra (Gn 2, 7-8)[4], hóspedes e peregrinos (1 Pd 1, 17b e 1 Pd 2, 11)[5], chamados a ser seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1, 26)[6]. Para tanto, comprometemo-nos com uma ecologia integral, na qual tudo está interligado, o gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1, 2).
- Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco saíram da arca (Gn 9, 9-10 e Gn 9, 12-17[7]).
- Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e, consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e culturas.
- Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso com todas as tradições espirituais.
- Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às suas formas de vida.
- Anunciar a novidade libertadora do evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro” (At 10, 28)[8].
- Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum
- Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades.
- Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra, valorizando em especial seu cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos.
- Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades.
- Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.
- Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação[9].
- Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público.
- Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.
Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna.
Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Hummes para nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às nossas igrejas:
“Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa”[10].
Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira”.[11]
Catacumbas de Santa Domitila
Roma, 20 de outubro de 2019
[1] Homília do Papa Francisco na Missa de abertura do Sínodo, Roma 06-10-2019
[2] Pacto por uma Igreja servidora e pobre. Catacumbas de Santa Domitila, Roma 16 de novembro de 1965. O Pacto assinado por 42 concelebrantes, recebeu em seguida a adesão de cerca de 500 padres conciliares.
[3] DAp 98, 140, 275, 383, 396.
[4] “7 Então o SENHOR Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e Ele tornou-se um ser vivente. 8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado”.
[5] “... vivei no temor o tempo de vossa permanência como migrantes” (1 Pd 1, 17b) e “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros...” (1 Pd, 2, 11).
[6] “26 Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine [cuide] sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que
se movem pelo chão’. 27 Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou”.
[7] 12 E Deus disse: “Eis o sinal da aliança que estabeleço entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. 13 Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra. 14 Quando eu cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris nas nuvens. 15 Então me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos, e as águas não se tornarão mais um dilúvio para destruir toda carne. 16 Quando o arco-íris estiver nas nuvens, eu o contemplarei como recordação da aliança eterna entre Deus e todas as espécies de seres vivos sobre a terra”. 17 Deus disse a Noé: “Este é o sinal da aliança que estabeleço entre mim e toda a carne sobre a terra”.
[8] 4 Então, Pedro tomou a palavra: “De fato”, disse, “estou compreendendo que Deus não faz discriminação entre as pessoas. 35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença (At 10, 34-35).
[9] Cfr DSD 302.1.3
[10] HUMMES, Card. Cláudio, 1ª. Congregação Geral do Sínodo Amazônico, Relação introdutória do Relator Geral, Roma, 07-10-2019 (BO 792).
[11] Laudato Si’, 237.
O Sínodo. Com os mártires da Amazônia viajo para o coração do Evangelho
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Missionários e religiosos que compartilharam o destino muitas vezes trágico dos índios mostram o rosto da Igreja
Este é o testamento: "Sim, quero que você entenda que o que está acontecendo não é o resultado de nenhuma ideologia ou facção teológica, ou mesmo da minha personalidade. Há apenas uma razão: Deus me chamou com o dom da vocação sacerdotal e eu respondi. Ele me chamou para servi-lo nesses pobres camponeses indefesos, pessoas oprimidas pela sede de lucro dos fazenderos, nas muitas violadas e despejadas, mulheres e crianças abandonadas, sem pão e sem teto. Se eu calar a boca, quem os defenderá? Agora eu quero que você entenda isso: 'O discípulo não é maior que o Mestre. Se eles me perseguirem, também o perseguirão ". Tudo o que está acontecendo é a consequência de estar ao lado de Cristo, a quem recebo dessas pessoas pobres. Pelo bem do evangelho que me levou a assumir as últimas consequências ».
Padre Josimo Morais Tavares levou um tiro nas costas ao subir as escadas do edifício episcopal da diocese de Imperatriz, no estado do Maranhão, no meio da Amazônia brasileira, agora a oeste do agronegócio e da agricultura intensiva. Ele tinha 33 anos, em 1986, coordenou a Comissão para o cuidado pastoral da terra e, por algum tempo, sua presença foi desconfortável para os potentados locais por causa de queixas e missão entre o povo das aldeias rurais, pessoas de quem ele era muito amado. "Celebrarei a missa diante de seu povo - um dos bispos históricos do Brasil, dom Luciano Mendes de Almeida, recordando depois seu funeral -. Uma das freiras que trabalharam com ele pegou a camisa molhada com o sangue e a colocou em uma cruz como sinal do dom da vida, mostrando as pessoas que cruzam com a camisa perfurada por balas ». Ainda hoje sua memória está muito viva entre essas pessoas. Para o padre Josimo, uma causa de canonização ainda não foi introduzida.
É precisamente esse padre que abre uma lista de poucos sacerdotes, religiosos e missionários leigos assassinados na Amazônia, apresentados nos últimos dias ao papa antes da assembleia no sínodo. Uma proposta formal feita pelo bispo brasileiro de Rio Branco, Joaquim Fernandez, pede o reconhecimento de seu martírio. Entre essas figuras, cujas biografias exemplares foram publicadas no site do Vaticano, há também a irmã Dorothy Stang, uma missionária norte-americana que operava na região do Xingu, no Estado do Pará, no Brasil, território onde a rodovia transamazônica foi construída.
A irmã Dorothy também teve que enfrentar sérias situações de conflito pela terra. Ele denunciou a violência e as ações injustas e predatórias de grandes proprietários de terra contra pequenos trabalhadores rurais e indígenas, cujas terras eram tentadoras e, portanto, foram invadidas por invasão ou tomadas à força. Ele defendeu os direitos dos últimos e, com eles, inventou formas de trabalho para obter uma pequena renda, associando-os a projetos de reflorestamento ativos. Ela foi assassinada em Anapu, em 2005, aos 73 anos, por ordem de um proprietário de terras. Pouco antes de ser morto, ele declarou: "Não quero fugir, nem abandonar a luta desses fazendeiros que não têm ninguém para protegê-los aqui, na floresta. Eles têm o direito sagrado a uma vida melhor em uma terra onde possam viver e produzir colheitas com dignidade e sem devastar o meio ambiente ». Uma manhã na floresta, a arma foi apontada para ela e perguntou se ela estava armada. Ele mostrou a Bíblia. “Aqui está minha arma!” Ele respondeu, também leu algumas passagens das Escrituras Sagradas para quem as atirou abertamente. A irmã Doroty a chama de "mártir da criação".
Outros já iniciaram uma causa de canonização, como o frade capuchinho equatoriano Alexandro Labaka Ugarte, o franciscano Agnese Arango Velsquez, a irmã brasileira Cleusa Coelho, missionária agostiniana, no Estado do Amazonas, em meio ao massacre dos índios. A irmã Cleusa tomou a defesa: em 1986, pouco antes dos 52 anos, ela foi assassinada no rio Paciá enquanto tentava resgatar algumas crianças indígenas. O corpo do missionário, massacrado e mutilado, foi encontrado dois dias depois. Esse também foi o caso do missionário paduan de origem paduanense, padre Ezechiele Ramin, assassinado em Rondônia em 1985 por sua missão ao lado dos suru índios: ele foi chamado para patrocinardo Sínodo. Ramin faz parte das fileiras de mulheres e homens que, movidos pela fé, foram para essas terras e não como colonos. No meio de populações consideradas aves de caça para caçar e caçar, escravizadas ou dizimadas desde a chegada dos colonizadores europeus, esses missionários eram testemunhas do Evangelho, cuidaram do respeito ao próximo e ao meio ambiente, tornando-se defensores da inculturação. "Desde o início, o testemunho e a solidariedade com os povos indígenas têm sido praticados ao alto preço da perseguição, pressão de todos os tipos, acusações difamatórias. Muitas vezes, missionários e obreiros da Igreja foram assassinados. Muitos foram os mártires! “Disse o cardeal brasileiro Claudio Hummes várias vezes. Não são apenas membros da Igreja,
A Igreja, porém, só pode recordar os muitos missionários que nesta região, rios e florestas, ofereceram suas vidas pelo amor de Jesus Cristo e os povos amazônicos, viveram naqueles lugares até o final, e há eles estão enterrados. Histórias heróicas e exemplares. Como sementes de um futuro mais humano e mais cristão ", cuja memória é fonte de esperança para os povos amazônicos". «Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam pesadas cruzes e aguardam o consolador libertador do Evangelho, a carícia de amor da Igreja. Para eles, com eles, caminhamos juntos. Muitos irmãos e irmãs deram e estão dando suas vidas pela Amazônia - lembrou o Papa na missa de abertura do Sínodo -. Fiéis ao fogo do Evangelho, que não destrói, mas unifica e aquece ».
De resto, esse é o sentido católico do martírio, imitando o Cordeiro que venceu o pecado, o mal do mundo, para regenerar a humanidade. A história das missões é, portanto, a história do martírio de Cristo, sempre renovada de acordo com a 'bem-aventurança das perseguições', prevista e garantida por Jesus aos seus discípulos. E se o martírio é uma vocação, uma dádiva que se adapta a Cristo, o testemunho frutífero dos mártires tem a particularidade de tornar manifesta uma mensagem: a salvação de Cristo, mesmo que em nossa cultura atual essa natureza do martírio cristão se perca de vista. . Mas o próprio Sínodo, focado na missão, quer mostrar total aderência a Cristo, aceitando a centralidade dos pobres, como apresentado no Evangelho. Reconhecê-los como verdadeiros construtores do Reino e ouvir seu clamor como o da Terra significa uma conversão missionária. Este é o significado da Via Crucis para a Amazônia quefoi realizada em Roma, em memória de seus mártires, com os padres sinodais a caminho de Castel Sant'Angelo, a caminho de San Pietro. Fonte: https://www.avvenire.it
Roma. Roubo de estatuetas de igrejas na Amazônia. Ruffini: gesto sem sentido
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Segunda-feira 21 de outubro 2019
Algumas estátuas de madeira, que representavam mulheres nativas grávidas, foram roubadas da igreja de Santa Maria em Traspontina e jogadas no Tibre. Nenhuma reivindicação
Algumas estatuetas de madeira, que representavam mulheres nativas grávidas, foram roubadas da igreja de Santa Maria em Traspontina, a poucos passos da Piazza San Pietro - onde outros objetos da Amazônia são exibidos , em conexão com o extraordinário Sínodo dos bispos na Amazônia , em andamento no Vaticano - para depois ser jogado no Tibre, como evidenciado pelo vídeo filmado pelos mesmos autores do roubo e publicado na internet.
Nos quatro minutos do vídeo, um homem é visto entrando na igreja e subtraindo as estátuas de Pachamama exibidas em uma delas nos corredores. Então ele começa em direção a Ponte Sant'Angelo, onde joga as estátuas na água. O vídeo está sem comentários ou reivindicações de qualquer tipo.
"Aprendemos com as redes sociais desse gesto - comentou Paolo Ruffini, prefeito do ministério da comunicação do Vaticano -. Só posso dizer que roubar algo de um lugar, além disso sagrado, é um golpe, um gesto sem sentido, que contradiz o espírito de diálogo que deve sempre animar a todos: um roubo que fala por si ".
As estatuetas foram trazidas por um grupo de povos indígenas ao Sínodo da Amazônia e a cerimônia foi exibida pela primeira vez, no início do Sínodo, nos jardins do Vaticano e eles acenderam , imediatamente, as paixões da ultra blogfera, que os transformou em um "caso" paralelo ao Sínodo. Segundo a interpretação de um jornalista, a imagem teria sido uma má representação da Virgem Maria ou uma sacralização de Pachamama , a Mãe Terra.
Em vão, tanto o prefeito do Departamento de Comunicação, Paolo Ruffini , como o padre Giacomo Costa , secretário da Comissão de Comunicação, explicaram que a estátua não escondia nenhum significado oculto. Era exatamente o que era: uma mulher nativa grávida. Certamente, dado que, para os nativos, a Amazônia está associada à imagem feminina, poderia estar associada à região, portadora de vida para si e para o mundo. Ruffini também convidou para não ver o mal onde ele não existe. Agora o epílogo, com o roubo das estátuas e o lançamento no Tibre. Fonte: https://www.avvenire.it
Coletiva Sínodo: defesa dos povos indígenas e diaconato permanente
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No início da terceira e última semana de trabalhos sinodais, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o cardeal Schönborn, arcebispo de Viena; o bispo de Rieti, dom Pompili; Pe. Dario Bossi, provincial dos Missionários Combonianos no Brasil; e a representante do grupo étnico Sateré Mawé, no Brasil, Marcivana Paiva
Alessandro Di Bussolo / Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Com este Sínodo, o Papa Francisco quer despertar a consciência de toda a Igreja sobre o destino dos povos indígenas da Amazônia, que há 500 anos vivem sob ameaça de extinção. Os missionários serviram a essas populações, mas a situação permanece dramática.”
O arcebispo de Viena, na Áustria, cardeal Christoph Schönborn, na coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé esta segunda-feira (21/10) sobre o Sínodo para a Amazônia, admitiu que jamais esteve na região, mas como padre sinodal “aprendeu muito sobre a coragem dos povos indígenas”.
“Nós como herdeiros das potências coloniais devemos estar muito atentos e conscientes do que significa para estes povos encontrar-se em risco de extinção. O Papa nos pede para prestar atenção a quem não tem voz, aos povos e aos pobres esquecidos”, ressaltou.
Em Viena 180 diáconos permanentes
O ex-aluno do teólogo Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, e colaborador de São João Paulo II, recordou aos jornalistas ter falado na Sala do Sínodo sobre a experiência da diocese que guia há 21 anos.
“Em Viena temos 180 diáconos permanentes, em sua maioria casados. Uma experiência nascida graças à intuição de meu predecessor cardeal Koning, que colocou em prática um das novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II”, destacou.
“Hoje nossos diáconos permanentes prestam serviço em paróquias, nas comunidades, nas Caritas e também nos cárceres. O diaconato permanente pode ajudar realmente a pastoral na Amazônia”, observou o purpurado.
Schönborn: toda a Igreja é corresponsável pela Amazônia
Para o cardeal Schönborn, outra ajuda à Igreja na Amazônia pode vir de uma mais equânime “distribuição do clero”. A Colômbia – foi o exemplo que deu – “tem mais de 1200 padres nos EUA, no Canadá e na Espanha. Se ao menos uma parte pudesse transferir-se para a Amazônia seria uma grande ajuda”.
A Europa, em relação aos outros continentes, acrescentou o presidente dos bispos austríacos, “tem uma superabundância de sacerdotes, mesmo porque, devemos admitir, a remuneração é melhor do que em zonas pobres”.
Em suma, para o purpurado, “toda a América Latina, aliás, toda a Igreja católica é corresponsável pela Amazônia. Se há uma necessidade de ajuda, a Igreja deve esforçar-se para enviar missionários, como já fez no passado”. E deve fazer autocrítica: “Tivemos a confiança de buscar, de confiar realmente nas vocações dos indígenas?”, perguntou-se Schönborn.
“A Amazônia é decisiva para o clima do mundo – concluiu o cardeal, tocando o tema da ecologia integral – e nós devemos perguntar-nos qual é a nossa contribuição para aumentar os perigos para a Amazônia. Por exemplo, usando celulares construídos com os minerais extraídos da floresta amazônica.”
Pompili: a questão ecológica é "a questão"
Suas palavras foram ressoadas nas do bispo da diocese italiana de Rieti, dom Domenico Pompili: “Agora a questão ecológica é a questão. A Laudato si’ demonstrou que não há desenvolvimento no médio-longo prazo, se este não é sustentável”.
“Não precisamos nem dos negacionistas, que negam a evidência do problema, nem dos terroristas que veem o fim do mundo cada vez mais próximo, mas ninguém hoje pode evitar refletir seriamente, como nós estamos fazendo no Sínodo”, observou.
Justamente para ajudar os padres sinodais nesta reflexão, informou o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, o diretor emérito do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, o climatologista alemão Hans J. Schellnhuber interveio esta segunda-feira na Sala do Sínodo.
A tragédia do terremoto de 2016 no centro da Índia – foi o testemunho de dom Pompili – “é a amostra de um difícil e não resolvido problema na relação homem-ambiente. E hoje a reconstrução, aliás, a ‘regeneração’ deve ser feita seguindo rigorosos critérios e eco-sustentáveis. Infelizmente, ainda há dezenas de milhares de deslocados”.
Pe. Bossi: não ao ouro nas liturgias, extração causa poluição
O superior provincial dos missionários combonianos no Brasil – que são membros da Repam e da rede Igreja e Mineração, Pe. Dario Bossi, há 15 anos na Amazônia, falou na coletiva sobre os danos ao ambiente e às populações da Amazônia provocados pelas indústrias da extração minerária.
“Seria um sinal muito forte se a Igreja conseguisse eliminar o uso do ouro em suas liturgias e sacramentos”, disse respondendo a uma pergunta. Os garimpeiros, denunciou o comboniano, “para o equivalente a um anel de ouro reviram centenas de quilos de terras e poluem os rios com mercúrio e cianeto”. Somente 10% do ouro é usado para processos efetivamente úteis, como a utilização na medicina, o restante é armazenado ou utilizado para joalheria”.
“Em nosso território de Piquiá de Baixo, no distrito industrial de Açailândia (MA) – contou o missionário – encontra-se a maior mineradora a céu aberto de extração de ferro do mundo, com um processo de exportação ao longo de 900Km, que atravessa mais de 100 comunidades.”
Os frutos deste “modelo extrativista predatório”, esclareceu, são o desmatamento e a poluição. Para não falar das tragédias ocorridas com a ruptura das barragens minerárias, como as de Mariana em 2015 e de Brumadinho este ano.
A extração minierária é o mal comum da Amazônia
“A associação entre governo e grandes empresas é muito perigosa – denunciou o provincial dos combonianos –, modificam-se as leis e se reduz a fiscalização.” A Igreja encontra-se ao lado das comunidades atingidas, com a rede ecumênica Igrejas e Mineração, e uma comissão ad hoc do episcopado brasileiro.
“Ninguém mais suporta esse sistema”, denunciou Pe. Bossi. A extração minerária é um mal comum da Amazônia, e em 25% do território amazônico já foram identificados novos pontos apropriados para a extração.”
Felizmente, as com unidades indígenas reagem: “há 10 anos a comunidade de Piquiá de Baixo está se organizado para pedir ressarcimentos integrais 0pelos danos sofridos, e agora estão conseguindo construir um novo bairro distante das áreas poluídas”.
Paiva: pedido de apoio a quem se torna "invisível" na cidade
“Para os indígenas que chegam às cidades o maior perigo é a invisibilidade: quando se é invisível, não se tem direitos.” Quem explicou isso foi a brasileira Marcivana Rodrigues Paiva, representante do grupo étnico Sateré Mawé, que falou da questão da “urbanização”, fenômeno sempre crescente para os povos indígenas, que obrigados a deixar suas terras migram para os grandes centros urbanos.
Somente em Manaus, por exemplo, “há 45 populações indígenas, 35 mil habitantes ao todo, que falam 16 línguas”. “Sem território, não têm direito à nossa identidade”, denunciou Marcivana, lançando um apelo “em favor das populações indígenas que chegam às cidades” mediante uma “pastoral indígena” endereçada a eles.
Ruffini: o precesso de escuta no Sínodo não terminou
O prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, informou que o relator geral do Sínodo, o cardeal Claudio Hummes – arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Repam eclesial pan-amazônica (Repam), apresentou na manhã desta segunda-feira na Sala do Sínodo o esboço do documento final da Assembleia especial.
Quatro temas principais: “O caminho do povo da Amazônia, a conversão integral à plenitude e à vida, a conversão pastoral, sinodal e missionária, e, por fim, a conversão cultural e ecológica, portanto, a questão da inculturação”. Mas, concluiu Ruffini, “o cardeal esclareceu que o processo de escuta não terminou”.
Estátuas roubadas: "furto que se comenta por si mesmo"
Por fim, o prefeito Ruffini interveio, respondendo a um jornalista, para comentar o gesto na manhã desta segunda-feira, praticado por desconhecidos que roubaram da igreja de Santa Maria in Traspontina – nas adjacências do Vaticano – e jogaram no rio Tibre as estátuas de madeira representando mulheres indígenas grávidas utilizadas durante a cerimônia no Vaticano, em 4 de outubro, na presença do Papa Francisco. O gesto foi filmado pelos autores que depois publicaram em redes sociais.
“Já dissemos nesta sede mais vezes que essas estátuas representavam a vida, a fertilidade, a mãe terra. É um gesto, parece-me, que contradiz o espírito de diálogo que deveria sempre animar todos. Não sei o que mais poderia dizer a não ser que se trata de um furto, e que talvez se comente inclusive por si mesmo”, esclareceu Ruffini. Fonte: https://www.vaticannews.va
A Arena Fonte Nova recebeu 49 mil admiradores de Santa Dulce dos Pobres
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Palco de partidas de futebol e shows de música, a Arena Fonte Nova, em Salvador , se converteu em uma “grande catedral”, como definiu um mestre de cerimônias do evento, na tarde de domingo, 20 de outubro, para sediar a celebração pela canonização da freira baiana Irmã Dulce . Uma semana depois de ela se tornar a Santa Dulce dos Pobres , com a canonização no Vaticano, 49 mil admiradores da religiosa praticamente lotaram o estádio de futebol para o evento que culminou em uma missa, iniciada por volta das 17h e conduzida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.
Os três anéis da arena, reformada para a Copa do Mundo de 2014, estavam quase totalmente tomados. A tarde foi repleta de música católica e homenagens à santa. A principal delas foi a espetáculo “Império de Amor”.
Antes de celebrar a “missa santa”, dom Murilo Krieger declarou a jornalistas que o espatáculo lhe tocou por demonstrar a obra que Irmã Dulce deixou é viva. Fazem parte do grupo que se apresentou 550 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (CESA), núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), além de idosos.
O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse ser uma alegria estar em Salvador e participar da celebração brasileira em ação de Graças pela canonização de Santa Dulce dos Pobres. “Hoje é festa na Bahia, no Brasil, no mundo inteiro e no céu. Para dom Joel, Santa Dulce dos Pobres marcou a vida praticando a solidariedade num mundo no qual a indiferença está globalizada, segundo o Papa Francisco”, disse.
O governador Rui Costa participou da celebração, acompanhado da primeira-dama e presidente das Voluntárias Sociais da Bahia (VSBA), Aline Peixoto, e de José Maurício Moreira e Cláudia Araújo, que receberam a graça da cura, reconhecida pelo Vaticano. Para Rui, Santa Dulce dos Pobres está acima das religiões pela generosidade, história e cuidado com o próximo.
“Com a canonização de Santa Dulce dos Pobres, a Bahia torna-se uma referência ainda maior do que já é da fé, com suas mais de 300 igrejas, como a do Bonfim, de Nossa Senhora da Conceição da Praia, do Rosário dos Pretos e de São Francisco. Isso vai ser muito bom também para reforçar o destino religioso que é a nossa capital”, afirmou o governado
A cantora Margareth Meneses também participou da homenagem. “Ter participado da canonização, cantado na cerimônia, e agora estar nessa homenagem é para mim uma grande emoção. A energia, a força que ela teve e que continua, tudo isso é muito bonito. Proporcionar acolhimento aos seres humanos mais abandonados não tem preço”.
A superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha de Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita Lopes Pontes, disse que a canonização fortalece a obra e permite que a missão de Irmã Dulce seja ampliada. “Não é somente o atendimento de saúde. A gente tem que acolher bem as pessoas que chegam para conhecer a história de Irmã Dulce e o seu memorial”. A instituição realiza 2,2 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano e 12 mil cirurgias.
Dom Murilo Krieger ressaltou que a canonização de Santa Dulce dos Pobres não é importante somente para religião católica. “Ela é um exemplo para todos nós. Eu tenho certeza que os nossos irmãos, sejam de que religião forem, reconhecem a generosidade de Irmã Dulce e também que ela fez o bem para todos, sem perguntar de qual religião era a pessoa que recebia a ajuda. Assim, todos vamos aprendendo a nos respeitar mutuamente”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Sínodo: 14ª Congregação Geral
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Teve início na manhã desta segunda-feira com a oração da Hora Média, na Sala do Sínodo, no Vaticano, a última semana de trabalhos dos Sínodo dos Bispos dedicado à região Pan-amazônica.
Silvonei José - Cidade do Vaticano
Na presença do Santo Padre realizou-se a 14ª Congregação Geral, durante a qual o Relator-geral, cardeal Cláudio Hummes, apresentou o Projeto do Documento final do Sínodo. Na segunda parte da manhã e no período da tarde novamente os Círculos Menores.
A reflexão proposta no início dos trabalhos sinodais nesta manhã de segunda-feira foi feita pelo arcebispo de Trujillo, Peru, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte.
O arcebispo peruano iniciou a sua meditação propondo o Salmo 110,22: “Bendigam ao Senhor todas as suas obras”. O Papa Francisco escolheu como início de sua Encíclica Laudato Si, a poesia do Cântico do Irmão Sol. O Papa também confiou a São Francisco este Sínodo, nos jardins do Vaticano, no dia 4 de outubro. É por isso que convido vocês a percorrer uma parte do caminho espiritual de São Francisco, disse dom Vidarte.
Francisco substitui a beleza medieval, reservada apenas aos poderosos, com a beleza destes últimos, no tocar e beijar o leproso. Esta oração, composta no Monte Averna, nos diz que o Deus de Francisco não é mais um Deus guerreiro, mas o Deus sofredor, o Deus que padece e compadece a dor do ser humano, ferido pela mortalidade. Embriagado pelo encontro com o Deus da ternura, Francisco está sempre pronto a louvar o Senhor.
Não há nuvens que possam obscurecer a dignidade da pessoa, prodígio de Deus; não há nuvens que obscureçam o valor da vida, maravilha de Deus; nem nuvens que ameacem o dom dos irmãos, que o perdão pode fazer brilhar. Sim, porque para Francisco a beleza não é uma questão de estética, mas de amor, de fraternidade a todo custo, de graças a todo custo. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens, pelo sereno e todo tempo... Tu és beleza! Conhecer o Sumo Bem, reconhecer seus benefícios e devolver ao Sumo Bem o louvor (conhecer, reconhecer e retribuir), são os verbos que marcam o ritmo do caminho espiritual de São Francisco de Assis. O Deus conhecido por Francisco é o todo: meu Deus e meu tudo. Deus et Omnia é repetido por Francisco no seu louvor ao Deus Altíssimo, Deus todo em todos. (1º Cor 15,28).
Francisco se refere ao Salmo 110,22: "Bendizei ao Senhor por todas as suas obras" e ao Salmo 18,2: "Os céus narram a glória de Deus. Também os qualificadores: belo, radiante, claro, precioso, expressam as qualidades divinas que tornam as criaturas aptas a ajudar o homem que, tendo pecado, é incapaz de um louvor digno.
Os louvores do Senhor feitos por São Francisco e que começam: "Altíssimo, Todo-Poderoso, Bom Senhor", o título: Cântico do Irmão Sol, que é a criatura mais bela. Pela manhã, quando o sol nasce, todo homem deveria louvar a Deus, que criou aquela estrela, pela qual nossos olhos são iluminados durante o dia. E à tarde, ao cair da noite, todo homem deveria louvar a Deus por aquela outra criatura: o irmão Fogo, por quem os nossos olhos são iluminados durante a noite”.
Ele ainda diz: "Somos todos como cegos e o Senhor ilumina os nossos olhos através destas duas criaturas. Por elas e por as outras criaturas, que usamos todos os dias, devemos sempre louvar o Criador glorioso”. São Francisco descobre em Deus o lugar da Criação, devolve a Criação a Deus, vê Deus em todas as coisas e ousa chamá-las irmãs. Ele é o irmão universal (cf. LS 11), porque vê em Deus não só o Pai de todos, mas o Pai de todas as coisas. Fonte: https://www.vaticannews.va
Festa da Padroeira: Os Zabumbeiros
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Imagens da comemoração da Festa de Nossa Senhora Aparecida/2019- Comunidade Capim, Paróquia São Maximiliano Maria Kolbe em Lagoa da Canoa/AL- Diocese de Penedo. Sábado, 12 de outubro-2019-Missa das 19h- CÂMERA: Plínio de Miranda. www.olharjornalistico.com.br www.instagram.com/freipetronio
Segunda-feira, 21 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 13-21)
13Disse-lhe então alguém do meio do povo: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança. 14Jesus respondeu-lhe: Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós? 15E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas. 16E propôs-lhe esta parábola: Havia um homem rico cujos campos produziam muito. 17E ele refletia consigo: Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita. 18Disse então ele: Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens. 19E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te. 20Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão? 21Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus.
3) Reflexão Lucas 12, 13-21
O episódio narrado no evangelho de hoje só se encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos outros evangelhos. Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a GalilEia até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte das informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se encontram nos outros três evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma herança.
Lucas 12,13: Um pedido para repartir herança
“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". Até hoje, a distribuição da herança entre os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e, muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17. cf. 2Rs 2,11).
Lucas 12,14-15: Resposta de Jesus: cuidado com a ganância
“Jesus respondeu: "Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?" Na resposta de Jesus transparece a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se sente enviado por Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que brigam entre si por causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem despertou nele a missão de orientar as pessoas, pois “ele falou a todos: Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens". Fazia parte da sua missão esclarecer as pessoas a respeito do sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em ter muitas coisas mas sim em ser rico para Deus (Lc 12,21). Pois, quando a ganância toma conta do coração, não há como repartir a herança com equidade e paz.
Lucas 12,16-19: Parábola que faz pensar no sentido da vida
Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o sentido da vida: "A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir-se uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
Lucas 12,20: Primeira conclusão da parábola
“Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito freqüente nos livros sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para ele (Ecl 2,12.18-19.21).
Lucas 12,21: Segunda conclusão da parábola
“Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”. Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt20,27; Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt 18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24).
4) Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus para ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas orações?
2) O consumismo cria necessidades e desperta em nós a ganância. Como você faz para não ser vítima da ganância provocado pelo consumismo?
5) Oração final
Aclamai o Senhor, por toda a terra. Servi o Senhor com alegria. Vinde, entrai exultantes em sua presença. (Sl 99, 1-2)
Juíza ordena parar estátua e retirar monumentos a Nossa Senhora em Aparecida
- Detalhes
Ação judicial foi movida por associação de ateus e agnósticos que alegaram desrespeito à laicidade do Estado
Uma associação de ateus e agnósticos moveu ação judicial para impedir a construção de uma estátua da Padroeira do Brasil na cidade de Aparecida, SP, e para que sejam retirados cinco monumentos, já instalados em rótulas da cidade, que evocam episódios milagrosos relacionados com Nossa Senhora Aparecida. As peças foram elaboradas como parte das celebrações pelos 300 anos do encontro da imagem original de Nossa Senhora da Conceição no Rio Paraíba do Sul, em 12 de outubro de 1717.
No processo, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) alega o uso de verba e espaços públicos para promover uma religião em particular, a católica, ferindo-se com isto a laicidade do Estado.
As obras
A estátua gigante de Nossa Senhora Aparecida foi feita e doada pelo artista plástico Gilmar Pinna. A montagem da obra foi interrompida e as peças podem ser vistas amontoadas no local de construção, junto à Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Com uma interpretação que parece mais antirreligiosa do que laica sobre o conceito de laicidade do Estado, os autores do processo dizem que, mesmo tratando-se de uma doação, a prefeitura não pode subsidiar monumentos ligados a manifestação alguma de fé.
Quanto aos demais monumentos instalados em cinco rotatórias da cidade, a alegação é de uso indevido de espaços públicos para privilegiar, novamente, uma religião em particular, muito embora o projeto tenha usado legalmente recursos do governo estadual já destinados exclusivamente a investimentos em turismo. O turismo religioso, a propósito, além de ser legal, constitui a mais importante atividade econômica do município.
Prefeitura vai recorrer
É com base na legalidade dos investimentos públicos em turismo religioso que a prefeitura de Aparecida informou que vai recorrer assim que for oficialmente notificada da decisão judicial.
O prefeito afastado de Aparecida, Ernaldo Cesar, divulgou a seguinte nota:
Sobre a decisão proferida pela Justiça de Aparecida, em relação aos investimentos realizados pela Prefeitura para fomentar o turismo, tenho a informar:
- A existência histórica da cidade de Aparecida, DEVE-SE EXCLUSIVAMENTE ao encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, sem a qual, não só a cidade não existiria, mas também os mais de 12 MILHÕES DE TURISTAS que visitam a cidade, não a visitariam anualmente;
- Ao instalar em PROPRIEDADES EXCLUSIVAS do Município (e não em áreas doadas a terceiros, como alude a decisão), monumentos de caráter turístico, já que a vocação do turismo em Aparecida é religiosa, a Prefeitura buscou criar novos roteiros e eixos turísticos que já estão beneficiando o comércio local e trazendo recursos para os espaços localizados fora da área tradicionalmente frequentada, colaborando assim para o desenvolvimento da cidade como um todo;
- Os recursos efetivamente investidos, são oriundos do Governo do Estado de São Paulo, PARA INVESTIMENTO EXCLUSIVO EM TURISMO, dada a condição de Estância Turística de nossa cidade;
- Os monumentos turísticos instalados, assim como toda política de desenvolvimento municipal do turismo, é realizada com ampla discussão e aprovação do Conselho Municipal de Turismo e beneficia a pessoas de diferentes crenças religiosas, já que entre comerciantes e hoteleiros, há pessoas de fé católica, evangélica, espírita, umbandistas e até ateus, que ganham seu sustento do turismo religioso que é vocação de Aparecida há séculos.
ERNALDO CÉSAR MARCONDES
Prefeito Municipal de Aparecida
A decisão judicial
O Ministério Público se manifestou pela improcedência da demanda apresentada pela associação ateia, mas a juíza Luciene Ferreira Allemand considerou que a investigação feita por esse órgão, via inquérito civil, foi unilateral “e tem índole meramente informativa, destinada apenas a colher elementos para o ajuizamento, se for o caso, da ação civil pública, por isso não se fazendo necessário estabelecer o contraditório“.
A decisão da juíza considera:
“Por certo que o Município é conhecido por abrigar o Santuário Nacional e possuir um vasto comércio religioso e turístico, que fomenta a economia local. Porém, não se pode permitir a subvenção de uma religião específica pelo Poder Público, tampouco que as verbas públicas sejam utilizadas para construção de obras religiosas quando existentes outras destinações de suma importância”.
A juíza acrescentou a sua perspectiva de que a população católica tem o direito de defender os seus interesses, mas não pode ser “algoz do espaço [democrático] de todas as outras crenças”.
Ela determinou ainda à prefeitura a “proibição definitiva” de financiar obras ligadas à religião. Fonte: https://pt.aleteia.org
Um Cristo amazônico... e mulher?
- Detalhes
Por que um encontro de católicos assusta Bolsonaro, os generais e os destruidores da floresta
Dizem que Deus tem senso de humor. Para alguns, um senso de humor bastante estranho. Talvez isso explique como num mundo povoado por déspotas de direita —Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Orbán, Recep Erdogan, Rodrigo Duterte etc— e de esquerda —Daniel Ortega e Nicolás Maduro—, aquele que desponta como o mais importante defensor da democracia, da igualdade e da diversidade seja justamente o representante de uma instituição paquidérmica e com um passado bastante tenebroso. Papa Francisco é puro alento para quem testemunha o autoritarismo se alastrar pelo mundo. Em especial quando faz um discurso como o da abertura do Sínodo da Amazônia, no domingo de 6 de outubro: “Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus [...] alimenta-se com a partilha, não com os lucros. [..] O fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”. O recado é claro como água benta. Expressa também o anseio de que o Sínodo da Amazônia seja “histórico” e marque um reposicionamento da Igreja Católica, o que tem assustado desde bispos e fiéis ultraconservadores até o antipresidente Jair Bolsonaro (PSL), seus generais, grileiros e exploradores da Amazônia.
Fazia muito tempo que uma reunião da Igreja Católica não recebia tanta atenção. Tanta que até nos interiores de Mato Grosso do Sul surgiram outdoors: “Por Igrejas Sem Partido: Não ao Sínodo da Amazônia”, numa paródia com o projeto ideológico “Escola Sem Partido”, que busca censurar conteúdos e professores nas escolas. Bolsonaro e seus generais colaboraram bastante para aumentar as expectativas referentes ao Sínodo, ao considerarem o encontro uma ameaça à soberania nacional, admitirem que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está monitorando a reunião e forçar a diplomacia brasileira a passar o vexame de pedir para o governo participar – e ouvir um “não” como resposta.
O Sínodo da Amazônia foi idealizado quando a ideia de Bolsonaro ser presidente do Brasil era só uma piada ruim. Sua concepção surgiu tanto do conhecimento do Papa Francisco sobre o papel da maior floresta tropical do mundo na emergência climática quanto da percepção dos bispos da região da acelerada destruição do bioma e de seus povos. No Brasil, a devastação e as políticas contra as populações da floresta já tinham avançado nos governos de Dilma Rousseff (PT) e se acelerado com Michel Temer (MDB). Com Bolsonaro, têm alcançado níveis de tragédia. O aumento dos alertas de desmatamento e dos incêndios em 2019 colocaram o planeta em estado de alarme, gerando uma crise internacional e dando um significado ainda maior para o Sínodo.
Por obra e graça do Papa, a Amazônia estará no noticiário até pelo menos 27 de outubro, quando a reunião que reúne 185 bispos, 57 deles brasileiros, além de especialistas e convidados, será encerrada com um documento que irá balizar e sustentar a atuação da Igreja Católica na região. Embora a Amazônia se espalhe por nove países, é o Brasil que abriga 60% da floresta e é o Brasil que tem um governante cujo principal projeto é abrir a floresta para a exploração predatória, gerando uma crise internacional após outra.
Em seu discurso na abertura da Organização das Nações Unidas, Bolsonaro chegou a atacar Raoni, um dos maiores líderes indígenas do país, indicado para o Nobel da Paz, assim como negar as chamas que o mundo inteiro testemunhou por imagens. O pânico que a irresponsabilidade violenta de Bolsonaro tem provocado multiplicou a atenção do planeta para o Sínodo e emprestou ao Papa Francisco luzes ainda mais celestiais em meio às trevas do autoritarismo.
O Papa compreendeu cedo que o desafio é o clima, mas enfrenta o desafio de empurrar uma instituição pesada e lenta para a vanguarda
O documento “Instrumentum Laboris”, elaborado para orientar os debates do Sínodo a partir da consulta a mais de 80 mil pessoas na Amazônia, defende exatamente o oposto do que é a política do governo brasileiro para a floresta. E reivindica um outro tipo de desenvolvimento, colocando a Amazônia no centro e os povos da floresta como protagonistas. Enquanto o Bolsonaro quer assimilar os indígenas para mudar a Constituição e abrir as terras hoje públicas e protegidas para terras para exploração e lucros privados, o Sínodo propõe um Cristo com “face amazônica”. Um dos principais caminhos seria a "interculturação", uma ideia de que a Igreja deve se abrir para os conhecimentos dos povos indígenas e ser mudada por estas outras experiências de ser e de apreender o mundo. Uma espécie de multiculturalismo ao modo do Vaticano.
A ideia da Amazônia como “Casa Comum”, propagada pelo Papa Francisco, é compartilhada pela juventude que protagoniza os grandes protestos pelo clima, inspirada pela adolescente Greta Thunberg. A ativista alertou que “Nossa casa está em chamas”, referindo-se à emergência climática vivida pelo planeta, muito antes de o presidente francês Emmanuel Macron usar uma frase similar para referir-se aos incêndios da Amazônia, o que provocou ataques de Bolsonaro que viu na afirmação uma “ameaça à soberania”. O documento que resultará de 21 dias de debates deverá ser levado em dezembro à Cúpula do Clima, no Chile, esta que Bolsonaro não quis que acontecesse no Brasil.
O Papa está afinado com sua época e compreendeu antes da maioria das pessoas públicas do mundo que o grande desafio é o clima. Para isso precisa escolher desafinar dos déspotas que se alastram como peste e, ao mesmo tempo, empurrar uma Igreja que se move muito lentamente para um papel de vanguarda. O Papa parece ter entendido que o tempo mudou. Em todos os sentidos. Se sua Igreja entendeu é o que veremos.
Os idealizadores do Sínodo da Amazônia têm a ambição de que a reunião possa significar um marco histórico para o reposicionamento da Igreja Católica, um novo momento de “opção pelos pobres” a partir da Amazônia e da crise climática. Também o Papa propõe um deslocamento da Amazônia para o centro, lugar que ela obrigatoriamente ocupa, mas que não é nem compreendido nem reconhecido por governantes e também por parcelas da população.
Ordenar homens casados e dar oficialmente mais poder às mulheres estão entre as estratégias em debate para enfrentar a perda de fiéis para os evangélicos
O Sínodo tem ainda o desafio de solucionar problemas bem urgentes da própria Igreja Católica na região amazônica, como a crescente e acelerada perda de fieis para as igrejas evangélicas, em especial as neopentecostais. Segundo pesquisa do Datafolha, a região é a única em que há o mesmo número de católicos e de evangélicos no Brasil. No restante do país, os católicos ainda são maioria, mas diminuindo a cada pesquisa. No Xingu, por exemplo, há 800 comunidades e apenas 30 padres, a maioria com mais de 65 anos e dificuldades para se deslocar numa região difícil. Entre os temas mais espinhosos do Sínodo está a possibilidade de abrir espaço para a ordenação de homens casados, com “uma vida cristã exemplar”, o que tornaria possível que indígenas pudessem se tornar essa figura inédita. Se isso acontecer, a Igreja Católica pode mudar a correlação de forças com os evangélicos e aumentar sua presença desde dentro, o que é uma mudança enorme para quem acompanha a trajetória desta instituição de dois milênios.
A Igreja Católica também tem sofrido grande pressão para reconhecer a importância das mulheres, abrindo mais espaço formal para elas, como a possibilidade de presidir a eucaristia. O protagonismo das mulheres é um fato na Amazônia brasileira, onde elas já lideram uma parcela significativa dos movimentos sociais e das comunidades. As freiras costumam estar muito mais presentes e inseridas no cotidiano e nas lutas que os padres. É raro encontrar um movimento de emancipação que não tenha uma freira ocupando um lugar chave. Lacrar os olhos para a realidade explícita, recusando às mulheres a necessária resposta oficial, é uma estupidez que tem custado caro à Igreja Católica. Uma estupidez, porém, que é abraçada com adoração pelos católicos ultraconservadores, como se pode perceber pela sua reação carregada de rancor às propostas de inovação do Sínodo. Estes dias de outubro no Vaticano podem mostrar que pode ser mais fácil conferir feições amazônicas a Cristo do que dar a ele um rosto de mulher.
O Sínodo da Amazônia pretende – e vai – afetar muito mais do que o mundo católico. Para nos ajudar a compreender o que está em debate, entrevistei o padre argentino Augusto Zampini-Davies, hoje diretor de Desenvolvimento e Fé do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, no Vaticano. Um dos especialistas que elaborou o “Instrumentum Laboris”, documento que deu as diretrizes e conduz os debates no Sínodo, aos 50 aos ele é também um dos mais influentes teólogos que representam e difundem o pensamento do papado de Francisco. Formado em Direito, filho de tradicional família argentina, antes de ser padre e se tornar um PhD em Teologia, trabalhou com bancos e multinacionais, o que teria dado a ele o conhecimento profundo de como negociam os que hoje com frequência combate. Segundo a imprensa italiana, recebeu “o chamado para mudar” numa viagem com a namorada. E mudou.
A entrevista foi feita por Skype dias antes do início do Sínodo da Amazônia. Ela mostra por que o Papa Francisco usou 13 vezes a palavra “fogo” em seu discurso de abertura.
Pergunta. O Sínodo fala sobre “Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral". Isso implica uma autocrítica da Igreja Católica sobre a sua atuação na Amazônia?
Resposta. Não necessariamente. Implica que os caminhos atuais, ou os antigos, não alcançam responder à realidade atual. Nunca havíamos vivido uma escala de exploração e de destruição de populações indígenas e de ecologia integral como a que vivemos hoje. Necessitamos novos caminhos, primeiro, para responder a essa realidade nova. Não se pode responder a um problema novo com uma solução antiga. A Igreja também vai evoluindo, vai mudando. Alguns contextos, inclusive dentro da Igreja, têm que ser revisados.
- Mas, no passado, a igreja foi uma grande destruidora de culturas indígenas e da floresta...
“A Igreja não quer estar ao lado dos opressores e dos neocolonizadores”
- Exato. O ser humano sempre mudou o meio ambiente, não? Mas é certo que na época da colonização, os colonizadores, os que vinham em nome de imperadores católicos, vinham com uma ideia de colonizar e de explorar. Por sorte que havia missionários católicos também que tratavam de frear isso. O certo é que agora temos uma oportunidade histórica de esclarecer que a Igreja está do lado do pobre, do lado dos oprimidos, do lado do cuidado, do lado da criação. E essa é uma oportunidade histórica. Não só para sanar feridas passadas, mas também para marcar um rumo em direção ao futuro. Não queremos estar ao lado dos opressores e dos neocolonizadores.
- Neocolonizadores?
- Podemos dizer opressores ou neocolonizadores, que é o nome dado àqueles que defendem um determinado modelo que oprime as pessoas ou destrói o planeta. O que acontece hoje em dia é que algumas opressões são um pouco mais sutis. Assim, muita gente acredita que não seriam opressores, porque supostamente estariam promovendo um determinado modelo de agroindústria, o que traria benefícios para o país. Nós dizemos: isso é exploração. Isso é uma exploração que está destruindo a Amazônia e que está destruindo esses povos.
- Quando o senhor se refere a neocolonizadores, está se referindo, por exemplo, aos ruralistas no Brasil?
- Estou me referindo à exploração, ao desmatamento irracional em nome da agroindústria. O que ocorreu com os incêndios na floresta é um exemplo. Estamos nos referindo à exploração da mineração, a ilegal, mas também a legal, que às vezes é legal apenas porque tem autorização, mas está invadindo territórios indígenas. E estamos nos referindo à indústria do petróleo. Estamos nos referindo aos que contaminam a floresta, os rios, e estamos nos referindo também aos grandes megaprojetos, os que se dizem a favor do desenvolvimento latino-americano, mas que estão destruindo o coração da América Latina e o coração do mundo.
- Quando se fala em novos caminhos para a Igreja, de que forma isso atinge as mulheres da Igreja que estão atuando na floresta? Quem acompanha o cotidiano na Amazônia percebe claramente que as freiras têm muito mais presença e protagonismo, pelo menos na Amazônia brasileira, do que os padres. Mas elas não têm o mesmo reconhecimento, não podem fazer o que os padres fazem, o que é uma limitação que tem afetado a Igreja. Tanto que a grande mártir deste século é uma freira, a missionária americana Dorothy Stang, que foi assassinada a tiros em Anapu, no Pará, em 2005, por defender projetos de desenvolvimento sustentável de pequenos agricultores.
“As mulheres dizem: “Nós não queremos ser cidadãs de segunda classe dentro da Igreja”
- Na realidade, não temos muitos padres na Amazônia. E as comunidades necessitam líderes. E há comunidades na Amazônia que são matriarcados, cujas líderes são mulheres. E há outras comunidades onde, ainda que não sejam matriarcados, as mulheres têm uma participação importante. Isso surgiu no processo de consulta, que durou mais de um ano e meio. Fizemos mais de 350 assembleias locais e foram consultadas mais de 80 mil pessoas. O tema da mulher saiu com força neste processo, porque as mulheres dizem: “Bom, nós somos protagonistas ativas e queremos mais protagonismo. E não queremos ser cidadãs de segunda dentro da igreja”. Além disso, as mulheres têm muito o que aportar. Elas mantêm relação com a vida e o cuidado e também a concepção de uma economia mais circular, que flui e que inclui. Elas nos disseram que têm muito o que aportar e que querem que a Igreja revise os ministérios e também as funções que as mulheres têm dentro da Igreja.
- E qual é a perspectiva de que uma mudança real neste sentido aconteça a partir do Sínodo?
- Bom... O certo é que as mulheres já têm uma influência real nas comunidades da Amazônia.
- Mas não têm o reconhecimento formal, da Igreja, em termos de igualdade, certo?
- Algum reconhecimento, sim. O que precisa ser discutido é se as mulheres podem assumir outras funções dentro da Igreja para poder contribuir com a evangelização e, sobretudo, para contribuir com esta Igreja que quer promover caminhos de ecologia integral. Elas querem ter mais protagonismo e liderança. Agora, como os padres sinodais vão responder a esse pedido, teremos que esperar para ver.
- Hoje, grande parte das lideranças dos movimentos sociais e dos povos da floresta são mulheres. E não só na Amazônia. Em todos os lugares e também no ativismo climático, com adolescentes como Greta Thunberg,Anuna de Wever, Adélaïde Charlier e Luisa Neubauer...
- Por isso é importante. Se a Igreja quer se preparar frente a essa nova realidade ecológica, o papel das mulheres está comprovado. Ou seja, como a Igreja vai ler este sinal dos tempos para poder propor caminhos que realmente sejam caminhos de mudança? De uma cultura de destruição a uma cultura de cuidado. De uma cultura de individualismo a uma cultura comunitária, que é o que Jesus nos ensinou. E as mulheres têm uma chave, hoje em dia, sobretudo na Amazônia, muito, muito importante para aportar. E os padres sinodais terão que dar lugar para ver como poderão no futuro canalizar esse aporte de uma maneira mais contundente.
- Parece que elas não estão pedindo licença...
- E não é só o problema das mulheres, o problema também é que não há padres. A Igreja terá que buscar caminhos para que possamos ter líderes da comunidade que não sejam os clássicos padres que temos agora, porque eles não estão lá.
- Como equacionar a emergência representada pelo colapso climático e pela destruição acelerada da Amazônia com a famosa lentidão, para tomar decisões e reconhecer erros, que caracteriza a Igreja Católica?
- É verdade que a Igreja é lenta, mas nós somos também uma das instituições mais avançadas deste momento na defesa da Amazônia. Quando recentemente todo mundo estava falando dos incêndios na Amazônia, e abrindo os olhos, para nós essa preocupação já estava colocada há anos. Muita gente acredita que o Papa convocou o Sínodo pelos incêndios. Mas faz dois anos que estamos preparando o Sínodo. Os incêndios ocorrem todos os anos, e cada vez é pior. Agora, captaram a atenção da mídia pela magnitude. Mas isso vem acontecendo há anos. Assim como a contaminação dos rios por mercúrio, pela atividade de mineração. Eu estive há pouco com um líder indígena cuja mulher tem câncer devido ao mercúrio da água. E ela não pode se curar com suas medicinas tradicionais, precisa se curar com medicinas que estão baseadas justamente em plantas da Amazônia, mas quem hoje produz os medicamentos é um laboratório. Isso é uma injustiça e isto vem ocorrendo faz tempo. Assim como há anos existem governos permitindo atividades que exploram a Amazônia e que não a cuidam. Nesse sentido, a Igreja está antecipando-se um pouquinho aos problemas, e, por uma vez, acredito que estamos na vanguarda, não?
- Por isso a preocupação de alguns governos como o de Jair Bolsonaro com o Sínodo?
- Talvez tenha muita gente preocupada com o Sínodo porque justamente o Sínodo não é uma convocatória sobre o Papa ou sobre os bispos nem sobre alguns especialistas, mas um encontro que tem a autoridade moral de ter consultado mais de 80 mil pessoas. Tem um peso grande. Não podem dizer: “Ah, isso disse o Papa!”. Sim, disse o Papa porque o Papa está fazendo eco do clamor das pessoas. O problema da ecologia integral é urgente. Não podemos esperar 10 anos para responder a um tema urgente. E estamos aproveitando este momento para nos renovarmos, aprendendo com os povos indígenas, isso que chamamos de “interculturação”. As comunidades católicas têm muito o que aportar, mas também temos muito o que aprender. Precisamos "interculturar" para promover uma cultura do cuidado em toda a Amazônia. É verdade que a Igreja também é um pouquinho lenta, mas, bom, às vezes também dá passos firmes, não? Às vezes, quando se vai muito rápido, depois não se pode prosseguir. Esperemos que não sejamos tão lentos desta vez.
“Não podemos esperar 10 anos para responder a um tema urgente como a destruição da Amazônia”
- Que tipo de ações podem sair desse Sínodo?
- O Sínodo trata sobre o documento que se chama "Instrumentum Laboris", que está online. Por exemplo, o tema da exploração mineral, da exploração petrolífera, da exploração madeireira, da soja... Como vamos ajudar para que isso não seja exploração? Outro tema é o modelo de desenvolvimento. Os países fazem isso, e me refiro a todos os países, não só ao Brasil. Porque isso ocorre no Brasil de Bolsonaro e também na Venezuela de Maduro, não? Todos os países exploram a Amazônia em nome do "nós queremos desenvolver". E isso é o que queremos mudar. Que a ideia de desenvolvimento não seja um desenvolvimento destrutivo. Por exemplo: propostas para que a comunidade internacional também reconheça a importância da Amazônia para o mundo, e que se criem instrumentos financeiros para que os países possam cuidar dela. Outro tema que vai ser tratado é o direito à água. Na Amazônia, a vida é dada pela água, pelos rios, que agora estão contaminados. Como vamos fazer para que isso não ocorra mais e para que os que contaminaram paguem e limpem? E também para que, no modelo de business plan, se entenda que não dá para contaminar porque é muito caro. Outro tema é como a Igreja vai se posicionar frente às migrações e aos deslocamentos internos. Na Amazônia a maioria vive em urbes, em grandes urbes. E nas grandes urbes acontece o de sempre, não? Tráfico de pessoas, narcotráfico, perda de identidade, alcoolismo, perda de trabalho. O que vamos fazer diante disso? E como a Igreja vai se posicionar frente aos governos? Profetismo significa denunciar, mas também propor.
- Profetismo?
- A voz profética, sim. Só denúncia não é profetismo. O profeta denuncia, mas propõe. Isso está mal, mas o que podemos fazer? E também os novos caminhos da interculturação. Isso é muito importante, porque, como dissestes antes, tínhamos um conceito de impor nossa própria cultura, não? Bom, agora nós vamos nos interculturar.
- E o que significa "interculturar" neste contexto?
- Esse foi um grito que saiu em quase todas as consultas. Esse movimento de interculturalidade, que é trazer a mensagem de Jesus, mas aprender também com as sabedorias ancestrais dos povos. E dessa interculturalidade promover uma comunidade rica em espírito, que possa cuidar do território e da população.
- E como essa "interculturação" funcionaria na prática? Como é que um representante da Igreja Católica chega num povo indígena, que tem outra língua e outra linguagem, e que vive numa outra linguagem, que tem a sua própria vivência do que os brancos ocidentais chamam espiritualidade, e eles chamam inclusive de outra coisa ou nem chamam. Como pode a Igreja dialogar sem que isso seja uma violência?
- Em milhares de comunidades há alguns indígenas que são cristãos, não necessariamente católicos, mas o Cristianismo já está em parte das comunidades, não? E as que não são têm muita afinidade, também, com o Cristianismo, e isso muito graças ao Papa Francisco. Mas a interculturação é mais para a Igreja do que para os outros. Temos que aprender com os povos indígenas, aprender sobre a sua relação com a natureza que, às vezes, nós perdemos. Como essa relação com a natureza pode ser incorporada no ensino do catequismo, nas práticas litúrgicas, nas celebrações.
- Isso significa que a Igreja mudaria com o aporte de outros pensamentos e modos de pensar, de outras maneiras de se relacionar com a natureza e com o humano?
- Sim, e melhoraríamos, ou deveríamos melhorar. Uma chave para entender o Sínodo é a palavra "conversão". Mudar. Uma Igreja que sai para as periferias, que está aberta ao diálogo, que não impõe. É uma conversão à ecologia integral, uma conversão de que temos que mudar o modo que compramos, assim como o modo que descartamos. Temos que mudar inclusive o modo como utilizamos os materiais de nossos templos, o modo como consumimos, o modo como viajamos. Uma igreja sinodal que caminha junto a outros, e que vai encontrando novos caminhos para melhorar o modo de se relacionar com os demais, consigo mesma, com a natureza e com Deus. Nós não nos juntamos para falar o que já sabemos. Isso sabemos, está bem. Nos juntamos para discutir quais são os novos caminhos. Novos caminhos são novos, não são velhos. E isso significa conversão. Significa mudar. Ou seja, não é só dizer aos demais o que tem que mudar. A Igreja também quer mudar.
“Os melhores aliados para a mudança que precisa acontecer na Igreja e no mundo são os povos indígenas”
- E no que é mais urgente mudar no que se relaciona à Amazônia?
- Temos que começar a aplicar essa ideia de ecologia integral em todas as nossas atividades. Como gerar alianças para esse cuidado da Casa Comum e esse coração da Casa Comum que é a Amazônia? Isso é transversal. Não só a Igreja precisa mudar, mas o mundo inteiro precisa mudar. Queremos predicar com o exemplo, queremos promover também uma mudança nossa. Na Amazônia, contamos com a vantagem de que os melhores aliados para essa mudança são as populações indígenas. Então, isso é novo. Encontrar novos caminhos de ecologia integral com as populações indígenas... Só isso já é novo e uma mudança enorme. Queremos uma mudança radical para uma ecologia integral. Esperamos que isso tenha um efeito dominó para regiões fora da Amazônia. Queremos conseguir fazer isso desde a Amazônia, com essa ideia de que a Amazônia é uma periferia, e agora a periferia vai ao centro. E vai ao centro também da Igreja. E deste centro vamos sair para outras regiões.
- Nunca houve um interesse tão grande no Brasil por um Sínodo... A que o senhor atribui? “A Amazônia tem um efeito direto sobre o planeta, então todos têm o direito de opinar. E quem mais têm direito de opinar são os povos indígenas”
- A Amazônia é como se fosse um coração do planeta. O Papa Francisco costuma dizer que tudo o que acontece na Amazônia acontece no mundo. A Amazônia é destruída para manter um determinado estilo de vida. Os nove países amazônicos têm que mudar seu modelo de exploração destrutiva por um modelo mais harmônico. E, bom, ninguém tem a receita. Por que tanto interesse? Porque isso está no centro da agenda de todos os países amazônicos, está no centro da agenda das Nações Unidas, está no centro do que vai ocorrer nos próximos 10 anos. Isso alimenta também o conflito político interno do Brasil neste momento, e por isso desperta interesse. Outro interesse muito importante é que aqui estamos falando de muito dinheiro. De muito dinheiro mesmo. Tem gente que ganha muito dinheiro com a exploração da Amazônia e por isso não vai querer mudar. Não estamos falando de uma questão acadêmica. É uma conversão importante que vai custar dinheiro. E então a oposição vai ser grande. Tudo isso gera muito interesse, e sobretudo agora, com o lamentável acontecimento dos incêndios.
- O governo brasileiro já manifestou várias vezes sua preocupação com o Sínodo. Tanto Bolsonaro quanto os generais Augusto Heleno, Villas Bôas, referem-se a questões de soberania, a uma ação política de esquerda do Vaticano. O governo admitiu inclusive que a Abin está monitorando o Sínodo. Como o Vaticano analisa essas preocupações e ações?
- Nós esclarecemos ao governo Bolsonaro. Isto não é contra a soberania, ao contrário. Primeiro, que o Sínodo é um Sínodo da Igreja, não é um Sínodo de Governo. E, segundo, que não é um Sínodo da Amazônia brasileira. É um Sínodo de toda a Amazônia. E é um Sínodo, sim, que vai tratar de um modelo de desenvolvimento que vai contra a ecologia integral. Então, o que está em discussão é esse modelo de desenvolvimento, e não a soberania. As Forças Armadas brasileiras têm um papel importante porque elas estão presentes na Amazônia. Nós não temos problema com isso. O tema é estar presente para quê? Se estão presentes para cuidar da Amazônia, para que os direitos humanos dos indígenas sejam respeitados, para que as leis sejam respeitadas, para que não se contamine os rios e para que quem contamine tenha que pagar.... Se isso é soberania, vai ter nosso apoio. Assim, não têm nada a temer. Agora, se o que entendem por soberania é “eu estou aí com a força para deixar que meus amigos façam o que querem”, bom, isso não é soberania. O que dissemos aos militares brasileiros é que não se preocupem, porque ninguém vai discutir a soberania brasileira sobre a Amazônia. O que estamos discutindo é que toda a Amazônia, e não só a brasileira, tem um efeito direto no que ocorre com o planeta. Então as pessoas têm direito a opinar. E os que mais têm direito a opinar são os habitantes da Amazônia. E estes são os que escutamos. E eles estão nos dizendo que temos que discutir tudo isso.
- Como é ser visto como inimigo?
- Os governos podem ver como uma aliança, mais do que como um inimigo. O mais importante é mudar o modelo de desenvolvimento, de forma a cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável que todos os países assinaram. Agora, se a política é não respeitar os objetivos de desenvolvimento sustentável, se a política é conceber o desenvolvimento só como uma questão material e não cultural nem espiritual nem do bem viver, se este desenvolvimento é só uma questão de explorar a natureza para ter mais ganhos, bom, então, sim, alguém pode tomar o Sínodo como uma ameaça. A Igreja já vem dizendo desde o final dos anos 1960 que desenvolvimento não é isso. Desenvolvimento é desenvolvimento integral, que engloba todas as pessoas e que engloba a natureza. Se nós desenvolvemos causando iniquidade e desigualdade, isso não é desenvolvimento, isso não é progresso. No Brasil, se usa muito a palavra progresso, não? Bem, isso não é progresso. Progresso é progredir com as pessoas, é progredir com a natureza. É isso que todos esses movimentos juvenis estão dizendo: “Que tipo de mundo vão nos deixar?”. Tem que mudar urgente esse modelo. Estamos tentando implementar essa ideia de bem viver, essa ideia de crescer e de aproveitar junto com outros, não à custa de outros, e não à custa da destruição da floresta e de seus povos.
- Este é o caso do atual governo brasileiro?
“Não importa se é Bolsonaro, Maduro ou Morales. Se há um modelo de desenvolvimento que está destruindo o planeta, como poderíamos ficar calados?”
- O que dissemos ao governo brasileiro é: a soberania não é nenhum problema. Ou seja, os militares podem ficar tranquilos. E sobretudo os militares brasileiros, que se gabam de não ser corruptos. Se eles querem impor um cuidado sobre a Amazônia, para cumprir as leis, não têm razão para se preocupar.
- Todos os textos que eu li sobre o Sínodo defendem uma política oposta a do governo Bolsonaro. Por exemplo, a demarcação das terras indígenas. É um governo que interrompeu qualquer demarcação de terra indígena e quer inclusive rever as que já foram demarcadas. Então, claramente há um embate de visões sobre a Amazônia e sobre desenvolvimento.
- Mas todas essas propostas não foram feitas pensando em Bolsonaro. Essas propostas foram feitas pensando nas pessoas que pedem, que necessitam. Todas essas discussões foram e são matéria de foros internacionais, não? Não é uma invenção do Sínodo.
- Sim, mas acontece que, nesse momento, o Sínodo diz uma coisa e o governo do Brasil diz outra...
“Quem é o inimigo da pátria? O que fala em favor do povo de um território ou o que não quer escutar o povo de um território?”
- A Igreja é uma igreja também profética, não? Isso não é contra Bolsonaro. A Igreja quer propor um modelo de desenvolvimento que respeite a ecologia integral e quer ter uma voz profética frente à destruição do outro. Se tem um modelo de desenvolvimento que está destruindo o planeta, como não vamos falar? Se este modelo de desenvolvimento está afetando todas as pessoas, toda a população? Se está afetando todas as futuras gerações? Como não vamos falar? Temos que ficar calados? Não importa se é Bolsonaro ou se é Evo Morales ou se é Maduro. O que importa é proteger as populações indígenas e o território. E, protegendo-o, propor um modelo de desenvolvimento que seja realmente sustentável e harmônico, e que a Amazônia possa exercer sua missão. Do contrário, todos seremos afetados.
- Os bispos da Amazônia fizeram uma carta onde eles dizem que estão sendo tratados como “inimigos da pátria” e estão sendo criminalizados pelo governo Bolsonaro. Como o senhor analisa essa afirmação?
- Essa é a tática para caçar as vozes proféticas. Em vez de discutir o tema, se ataca as pessoas. Eles não são nenhum inimigo da pátria, são amigos da pátria. Queria que existissem mais bispos como os da Amazônia. São um exemplo de pastores. E não são inimigos de ninguém. Mas, se o que estão dizendo dói a um determinado partido político, ou a um governo, o que tem que discutir é o tema. Por que os bispos estão dizendo isso? Porque eles estão fazendo eco das vozes indígenas, das vozes da terra. E isso não é ser inimigo da pátria. Ao contrário. Agora, quem é o inimigo da pátria? O que fala em favor do povo de um território ou o que não quer escutar o povo de um território?
- Vocês foram procurados pelo governo brasileiro?
- Sim, o governo enviou uns diplomatas ao Vaticano para conversar. As pessoas que vieram eram muito profissionais.
- E o que que eles queriam?
“A pobreza é um tema de poder — e de falta de poder”
- Um enviado de Bolsonaro veio nos visitar para conversar sobre o Sínodo, para ver a possibilidade de participação. Nós lhes explicamos que não poderiam participar porque era um Sínodo da Igreja, não um Sínodo político. Explicamos que tudo o que vai ser tratado no Sínodo vai estar em um documento. Não há segredos.
- Vocês foram procurados pelos governos de outros países amazônicos? Ou só pelo Brasil?
- Recebemos algumas perguntas de outros governos, mas por escrito. De forma direta, só pelo Brasil.
- Há uma visão que marca a Igreja Católica e que aparece nos documentos e manifestações sobre o Sínodo que é a “opção pelos pobres”. No caso da Amazônia, os povos da floresta são tratados nos documentos como pobres. Mas minha experiência é de que os povos da floresta não se veem como pobres. Eles não estão nessa equação de pobres e ricos. Quando precisam se colocar, eles se colocam como ricos, não como pobres. Isso não é um equívoco da Igreja no modo de olhar?
- Nós sabemos disso. E foi motivo de discussão. Mas a opção pelos pobres não é no sentido de pobres ou ricos. A opção pelos pobres é um conceito teológico que vem da Bíblia. Pobre não é só aquele que não tem dinheiro. Pobre é o que pode ser explorado. Também pode ser pobre espiritualmente. Ou pode ser o vulnerável. Não podemos dizer que Jesus era pobre, ou Maria. Mas, bom, eram pobres em comparação com os poderosos. É um tema de poder, e de falta de poder. Esta é uma opção por todos os que estão na periferia, por todos os que estão empobrecidos no sentido amplo. No Brasil, particularmente, há muita discussão. Mas, quando dizemos "opção pelos pobres", esta é uma opção por todos os que têm uma desvantagem, como aquele que tem menos poder que outro. Portanto, requer um cuidado especial, porque senão os outros os comem. E é o que acontece com as comunidades indígenas, não só na Amazônia, mas em todo o mundo neste momento. As grandes companhias, os governos podem destroçar as comunidades indígenas. Além disso, a opção pelos pobres é uma resposta. Nem toda a população da Amazônia é indígena. E nem toda a população indígena vive na floresta. Muitos vivem nas cidades. E, nas cidades, normalmente os que migraram sofrem exploração e falta de trabalho. Então é isso também a opção pelos pobres. Então, quando se diz "opção pelos pobres" é uma opção pelos que não têm poder.
- Mas o entendimento do que é ser pobre e do que é ser rico é um entendimento muito forte e muito imediato —e com grandes efeitos políticos. Então, quando os povos da floresta se contrapõem a essa lógica dizendo sobre si mesmos que são ricos, porque têm a floresta para se alimentar, pra fazer sua casa, porque têm a sua cultura e o seu lazer, tratá-los como pobres não seria algo quase colonialista, porque impõe sua própria lógica sobre o outro? Não seria aculturar —e não interculturar?
- Não, isso vem de um conceito nosso, um conceito de nossa fé. É um conceito que ganhou relevância em muitas partes do mundo e em quase todas as partes do mundo este conceito de pobreza se entende. O Brasil, em particular, é um dos poucos países onde o termo "opção pelos pobres" teve uma certa oposição. Mas isso não significa que não se possa usar como conceito teológico. O que estamos dizendo é que os territórios dos indígenas estão sendo destroçados, e que há um grito, um clamor pela defesa. Então, estão em desvantagem. Quando nós lemos a opção pelos pobres, todos nos incluímos.
- A Teologia da Libertação, as comunidades eclesiais de base significavam uma opção pelos pobres. E me parece que essa opção faz sentido em várias questões. Porém, o que os povos da floresta estão tentando evitar é justamente serem convertidos em pobres nas periferias das cidades. Na floresta, eles são ricos. Na periferia urbana, eles são convertidos em pobres. Ao responder que são ricos a quem os chama de pobres, como faz o próprio Bolsonaro com o objetivo de abrir a floresta para a exploração predatória, defendem-se justamente de quem os considera pobres por não viver segundo o conceito ocidental capitalista de riqueza. O que quero dizer é que, quando os povos da floresta entram nesta equação, esses conceitos se complicam. É a esta realidade que me refiro.
- Sim, mas se eu estou doente, não sou pobre, mesmo se for rico? E se eu estou preso, mesmo sendo rico não me torno pobre? Jesus disse...
- Acho que Jesus não conhecia a floresta amazônica...
“Se não mudarmos a forma de tratar a Amazônia, não haverá salvação”
- Sim, mas Jesus foi o que saiu às periferias. Os leprosos não necessariamente eram pobres porque não tinham bens materiais. Eram pobres porque estavam excluídos da sociedade. Os povos da Amazônia estão excluídos de um modelo. E, pior, um modelo que quer destruí-los. O pobre é um conceito amplo, mas é um conceito que nós aplicamos a todos, não só aos da floresta.
- A ideia de fazer um Sínodo sobre a Amazônia também vem de uma preocupação de que os evangélicos, especialmente os neopentecostais, estão crescendo muito no Brasil. Hoje, algumas das principais lideranças na Amazônia são evangélicas...
- Sim, pois se não há há pastores, não há padres e não há igreja, não há celebrações, não há missa... Bom, e os evangélicos, sim. Pessoas vieram e disseram: “Vejam, eu continuo sendo católico, mas não há padre, não há missa, e aqui tenho todos os domingos uma celebração (evangélica) cheia de vida, cheia de gente. Então eu vou”. Então, claro que é uma preocupação. E também é uma preocupação a relação com os evangélicos, como melhorar o diálogo com os pastores e com as comunidades.
- O Papa falou em 2013 que a Amazônia é como um teste decisivo, é "um banco de provas para a Igreja e a sociedade". O que significa isso?
- Todo o mundo está vivendo o problema da crise ecológica. E todo mundo está vivendo esta necessidade de conversão, de relação melhor consigo mesmo, com o outro, com a natureza e com Deus. Todos vivemos. Mas nem todos nos damos conta. Como respondemos à Amazônia é um banco de provas de como vamos responder ao mundo. E o mesmo com as mudanças de conversão. Porque se nós não mudarmos a maneira como estamos tratando a Amazônia... À custa de destruir o planeta... Isso é também um banco de provas. Se isso não mudar, não há salvação. Mas se na Amazônia houver mudanças, isso vai ser um banco de provas que poderemos aplicar ou replicar ou coordenar em outras regiões.
- O senhor acha que o Sínodo poderá influenciar os debates e decisões da Cúpula do Clima, no Chile, aumentando a discussão e a pressão para discutir soluções para a Amazônia? Este é um dos objetivos?
“Ter uma Igreja com rosto amazônico é trazer a periferia ao centro”
- Eu acredito que sim, porque há muito interesse no Sínodo. Há muita abertura de vários países, incluindo os organizadores da COP-25, para que possamos contribuir com os resultados do Sínodo, que seguramente serão riquíssimos para todos, e não só para a Igreja.
- Como o Sínodo pode impactar positivamente em situações emergenciais como a que está acontecendo agora, na Volta Grande do Xingu, no Pará? Além da destruição do ecossistema e de espécies endêmicas, povos indígenas e ribeirinhos desta área estão em alto risco de perder seu modo de vida, por causa do controle e da administração predatória da água pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O Ministério Público Federal considera que está em curso um ecocídio e também um genocídio. Belo Monte, aliás, é uma das principais produtoras de violência e de destruição naquela região. Como o Sínodo pode impactar realidades urgentes como esta?
- Não acredito que o Sínodo vá atuar em realidades urgentes como essa. O que o Sínodo faz é recolher testemunhos do que acontece e discutir linhas de ação, caminhos. Depois, são as pessoas do local que vão implementar estes caminhos, mas com o apoio de uma decisão do Papa com todos os bispos. Já será, então, uma decisão da Igreja, o que dá mais peso para poder fazer o que é necessário fazer. O Sínodo vai discutir as grandes linhas de ação para que depois os agentes de todos os países que estão sofrendo possam responder com mais força.
- O que significa afirmar uma “Igreja com rosto amazônico”?
- A palavra "Sínodo" é caminhar... Caminhar juntos. E uma igreja sinodal é uma igreja que caminha com outros. Eu gosto muito dessa imagem. Caminha com outros para melhorar o mundo, para cuidar do mundo. E, depois, uma igreja com "rosto amazônico". Muita gente se escandaliza: “Isso significa que temos que pintar os rostos?”. Não, isso é uma ideia de trazer a periferia ao centro. Agora temos rosto amazônico, porque eles (os indígenas) estão em risco, porque é essa riqueza que queremos proteger. Não está mal que emprestemos o rosto amazônico, assim como em representações culturais, muitas vezes, se desenha um rosto muito europeu, de um Jesus ou uma Virgem Maria. Assim, não está mal, agora, pensar em uma igreja com um rosto amazônico por um momento, não? Para que, desde a Amazônia, possamos encontrar esses novos caminhos. Essas duas imagens, a de caminhar junto com outros e a de um rosto amazônico, me enchem de esperança.
- Como um dos articuladores do Sínodo, o que deixa o senhor mais entusiasmado? Quais são as potências deste encontro que lhe dão mais alegria?
- Para começar, eu nunca vi tanta esperança. Há muita gente com grandes esperanças. Eu tive que ler quase todas as consultas e isso foi uma lufada de ar fresco, isso foi... espetacular. Porque, mais além do que escutar os gritos e as dores da Amazônia, com essa consulta foi possível descobrir também a riqueza. Há uma vida aí que nos enche de esperança, que nos enche de entusiasmo, e isso é o que nos dá energia para protegê-la. E também essa possibilidade de mudança. Porque vamos discutir quais são os novos caminhos. E isso me entusiasma como perito, como especialista, como sacerdote, como católico, como ser humano. Que nós possamos aportar algo ao mundo através da fé e da Igreja, nas comunidades, para o cuidado da Casa Comum, para uma ecologia integral. Se pudermos fazer isso, vai ser um momento histórico da Igreja. E isso me enche de entusiasmo e de orgulho. Queremos um caminho de cuidado e não de destruição, queremos caminhos de integração e não de expulsão, queremos que o progresso seja verdadeiramente para viver melhor, e não para destruir as futuras gerações. Estamos realmente colocando-nos ao lado do oprimido e tecendo uma rede para dizer: isso, assim, não pode ser.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Brasil, Construtor de Ruínas, Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Fonte: https://brasil.elpais.com
29º Domingo do Tempo Comum: O poder da oração
- Detalhes
A oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, ela não passa de magia e de superstição. (...) Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 29º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico. A tradução é de André Langer.
Referências bíblicas:
Segunda leitura: 2 Tm 3,14-4,2
Evangelho: Lc 18,1-8
Eis o texto.
Quem está no caminho do Reino? No domingo passado, vimos que é aquele que voltou no caminho, que voltou atrás, para tomar e abrir novos caminhos, que se encontra no caminho do Reino. Hoje, vemos que é aquela que reza com insistência e perseverança que se encontra no caminho do Reino. Por outro lado, a oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, não passa de magia e de superstição: “A oração não nos dispensa de lutar, mas ela deve permitir que as armas da nossa luta sejam aquelas do Evangelho. Nós, talvez, resolveríamos os problemas da nossa comunidade e da Igreja em geral com maior serenidade, se soubéssemos rezar com efetividade e sem jamais nos cansar” (A.-M. Bernard). Mas o que devemos compreender da Palavra de Deus que nós proclamamos hoje?
A oração como expressão da fé
No evangelho de hoje, através de uma parábola que coloca em cena um juiz iníquo e uma mulher completamente privada, primeiramente porque ela é mulher e também viúva, portanto, sem recursos, o Cristo do Evangelho de Lucas nos diz que é preciso rezar com insistência e perseverança. Eu teria vontade de dizer: dize-me como tu rezas e eu te direi em que tipo de Deus tu acreditas! O que me faz dizer isso é a resposta de Jesus, no final do evangelho, traduzida em uma pergunta: “Mas, o Filho do Homem, quando voltar, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8b).
Com efeito, no momento em que Lucas escreve, muitos haviam perdido toda esperança. Eles acreditavam que Jesus voltaria logo para inaugurar o Reino que ele havia anunciado. Mas não veio nada, nem o Senhor, nem os tempos novos. Eles continuam suplicando. E nada! Por que, então, os fazia esperar assim? Teria Deus ficado surdo aos seus apelos assim como o juiz iníquo implorado com insistência por esta pobre viúva. Não parece ser esta, de certa forma, a nossa atitude em relação a Deus, que parece estar ausente da nossa vida e surdo às nossas orações? Pessoalmente, é exatamente isso que estou vivendo atualmente, diante desta terrível doença que me atinge e que me tira todas as minhas energias. Quando rezamos, em que Deus acreditamos? O que lhe pedimos? Recordemos aquilo que dizia o cardeal francês Etchegaray em relação à oração: “A oração não é nem refúgio, nem fuga, nem apelo ao milagre. A verdadeira oração exige que nós procuremos fazer aquilo que pedimos para Deus fazer”.
Esta é uma coisa mais do que difícil de fazer! Por outro lado, se a viúva do evangelho obtém justiça, não é por causa desse juiz iníquo. Foi simplesmente por sua tenacidade, por sua perseverança e por seu compromisso que ela obteve justiça. O mesmo vale para cada um de nós; não é porque Deus se pareça a esse juiz iníquo. Não! Simplesmente porque Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso. O cardeal Etchegaray continua: “Se eu peço o pão nosso de cada dia, devo eu mesmo dar esse pão para quem ele falta. Se eu rezo pela paz, devo eu mesmo me comprometer com o estabelecimento da paz. A oração não é feita de palavras ao vento: nós só podemos rezar quando estamos inteiramente comprometidos com o que pedimos”.
Assim, diremos, Deus é paciente e foi o que disse o religioso francês, André Rebré: “Em relação à paciência de Deus, o que significa a nossa impaciência? Ela desqualifica os homens chamados a serem parceiros de Deus para tornarem a terra mais humana, e aumentar a paz, a justiça e a liberdade. Para isso é necessário tempo, todo o tempo da história, mas também o trabalho, as iniciativas e as lutas dos homens, o testemunho de fé dos crentes. Porque o tempo da paciência de Deus reclama a nossa atividade, como aquela da viúva que multiplica as tratativas. Teremos nós a mesma obstinação, a mesma confiança, a mesma fé que ela? É a pergunta que Jesus nos faz: O Filho do Homem quando vier, encontrará fé sobre a terra?”.
A fé como compromisso
Mas, qual é o fundamento da nossa fé? Os dogmas? A regras? As leis? Não! A nossa fé se fundamenta sobre a Palavra de Deus. Uma Palavra que nós encontramos, em primeiro lugar, nos textos sagrados e que nos fala de justiça, paz, liberdade. Mas também uma Palavra que deve ser dita hoje, para o mundo de hoje. É por isso que a Palavra não pode ficar fechada nos textos sagrados; ela precisa ser atualizada. Se a Palavra é viva e pode ainda falar de justiça, de paz e de liberdade às mulheres e aos homens do nosso tempo, ela necessita desta liberdade de palavra para exprimir uma Palavra nova de Deus; caso contrário, que paremos de afirmar que a Palavra de Deus é viva.
Na segunda leitura a Timóteo, Paulo nos diz: “Proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda a paciência e doutrina” (2 Tm 4,2). Existe um risco de dizer e proclamar a Palavra, porque a Palavra deve necessariamente perturbar, porque ela fala de justiça, de paz e de liberdade; o que perturba todo o mundo. É e por isso que Paulo acrescenta: “Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina... Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas” (2 Tm 4,3-4). O que isto quer dizer? Ao interpretar, muitas vezes, os textos bíblicos de maneira literal, não fizemos destes relatos fábulas que afastaram e que ainda afastam mais de um crente? Como, então, exprimir uma Palavra nova de Deus, uma Palavra que liberta e que dá esperança a pessoas que já não querem mais ouvir a Palavra, porque se desiludiram com as interpretações fundamentalistas que fizemos? Os missionários do Evangelho necessitam, pois, de honestidade para reconhecer seus erros e a humildade de não pretender deter a verdade sobre Deus e sobre o mundo.
A fé não pode ser uma certeza; ela só pode ser uma esperança. Foi, sem dúvida, o que fez Bernanos dizer: “Minha fé é 24 horas de dúvida, menos um minuto de esperança”. A fé cristã não é um saber, nem uma ideologia; ela é o encontro com alguém, com Cristo, com o Filho de Deus, que João chama de Palavra: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Comprometer-se a segui-lo é tornar-se Palavra e Verbo de Deus: “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). E mais ainda: “Ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,13). A fé como compromisso nos torna, pois, filhos e filhas de Deus, dos Cristos ressuscitados, dos Cristos vivos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
29º Domingo do Tempo Comum: “Faze-me justiça contra o meu adversário!” (Lc 18,3).
- Detalhes
A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho do 29° Domingo do Tempo Comum - Ciclo C (20/09/2019) que corresponde ao texto bíblico de Lucas 18,1-8.
O maior poder do mundo não é a bomba, nem o grande capital, nem um estado autoritário e violento, nem uma igreja triunfante, mas o rosto impotente do órfão, da viúva, do refugiado, do excluído..., o rosto que sofre e se indigna, que olha e suplica, pois carrega no mais profundo de si mesmo toda a energia de Deus; este é o poder que desestabiliza, o grito dos indignados. Falamos da eficácia do “rosto suplicante”, ou seja, do argumento dos indignados que gritam com seu rosto, exigindo justiça.
Vivemos em um mundo que parece dominado pela voz daqueles que vivem para impor e abafar a voz dos mais vulneráveis, um mundo fundado na propaganda de um sistema que quer silenciar todos os gritos e enganar-nos a todos com o circo midiático das mentiras organizadas (fake news).
Para que este mundo se transforme e a justiça se faça presente, continua sendo necessário o grito das viúvas, a indignação dos pobres e excluídos, a voz de todos os oprimidos da terra, aos quais o mesmo Jesus diz: “juntai-vos e gritai ao Deus onipotente”.
Pois bem, é chegado o momento de nos comprometer a elevar a voz, como tantos homens e mulheres de nosso tempo. Chegou o momento dos(das) grandes indignados(as), como a viúva do evangelho com sua palavra suplicante e com sua voz que denuncia todo tipo de injustiça.
“É muito bom gritar através das personagens o que quero gritar para o mundo” (Adriana Esteves)
Em um mundo onde a realidade feminina era invisível, Jesus tornou-a visível. Sua conduta e seu ensinamento foram radicalmente “contra-culturais” com relação à mulher. Ele foi um autêntico reformador e inclusive revolucionário. Considerando seus gestos e palavras, percebe-se que Jesus se mostrava sensível a tudo o que pertencia à esfera feminina, em contraposição ao mundo masculino cultural, centrado na dominação e submissão da mulher.
Com sua presença e sua linguagem Jesus faz emergir o mundo vital das mulheres; ao tirá-las do seu anonimato e trazê-las à luz, Ele realça e louva os traços característicos da mulher. Por isso, Jesus narrou preciosas parábolas tendo as mulheres como protagonistas, especialmente as mais pobres, como no Evangelho deste domingo: Jesus deu voz àquela que, por sua condição de viuvez, não tinha chance nenhuma de expressar seu clamor por justiça.
A mensagem e a prática de Jesus, portanto, significam uma ruptura com a situação imperante e a introdução de um novo tipo de relação, fundado não na ordem patriarcal da subordinação, mas no amor como mútua doação que inclui a igualdade entre homem e mulher. A mulher irrompe como pessoa, filha de Deus, destinatária do sonho de Jesus e convidada a ser, junto com os homens, também discípula e membro de um novo tipo de comunidade.
Em um contexto social e religioso no qual as relações se estabelecem através do poder, da hierarquia, da maneira de exercer a autoridade, onde o mais forte se impõe sobre o fraco, o rico sobre o pobre, o homem sobre a mulher, o que possui informação sobre o ignorante, a cena da parábola deste domingo nos introduz em uma nova ordem das relações que devem caracterizar o Reino.
A maneira de Jesus tratar as pessoas marginalizadas, sobretudo as viúvas, pôs em marcha um movimento de inclusão que quebrava toda pretensão de poder e de imposição.
Na tradição bíblica, as viúvas são, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, as pessoas mais indefesas, as mais pobres entre os pobres. A viúva, de modo especial, é o símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada; ela não tem marido nem filhos que a defendam e não conta com nenhum apoio social. É nesta situação de total abandono que sua vida se converte em um grito: “Fazei-me justiça!”.
Na Bíblia, as viúvas aparecem submetidas à arbitrariedade dos poderosos, mas tem uma voz que chega até Deus. Elas ocupam um lugar especial no evangelho de Lucas, visibilizada aqui na parábola da viúva suplicante, aquela do grito que tudo consegue. Sua persistência inspira em todos nós a luta por libertação das estruturas de dominação, em todas as dimensões da vida.
Contrariamente àqueles que pensam que não vale a pena sair às ruas para gritar e protestar (no plano social e religioso, político e eclesial), o evangelho deste domingo nos situa diante do grito da viúva, capaz de mudar a ordem injusta do sistema.
Muitas vezes, tudo parece ficar restrito a um grito, mas esse grito é mais profundo e eficaz que todas as vozes opressoras, ocas, prepotentes, intolerantes, do sistema dominante. Esse grito da viúva que chega ao coração de Deus (e à cabeça do juiz injusto), continua sendo promessa de vida para nós.
Jesus também foi um indignado que adotou uma atitude crítica e rebelde frente ao sistema político e religioso de seu tempo; Ele se comportou como um “transgressor”, frente à ordem estabelecida, centrada no poder e na exclusão.
O conflito, nascido de sua indignação, define seu modo de ser, caracteriza sua forma de viver e constitui o critério ético de sua prática libertadora. A transgressão e a resistência foram as opções fundamentais durante os anos de sua atividade pública, tanto no terreno religioso como no político, ambos inseparáveis em uma teocracia que não suportava sua liberdade e tornou-se a chave para explicar seu trágico final.
A indignação de Jesus de Nazaré com os poderes econômicos, religiosos, políticos e patriarcais constitui um desafio para os cristãos e cristãs de hoje e um chamado a incorporar-se ao movimento dos indignados. E não para sacralizá-lo, mas para mobilizar e somar forças no empenho por “um outro mundo possível”.
Precisamos alimentar uma espiritualidade da indignação, quando é preciso reagir frente à impiedade, à violência e à injustiça que campeiam e envenenam as relações entre as pessoas. Somos habitados pelo mesmo Espírito que movia Jesus a ser presença original e provocativa no contexto do seu tempo.
Na vivência do seguimento de Jesus, há algo contraditório entre nós cristãos: somos seguidores do maior transgressor da história e, no entanto, nos acovardamos escondidos atrás de leis, doutrinas, ritos, que nos levam a alimentar uma cultura de indiferença e de frieza frente à realidade que nos cerca. Precisamos ativar a atitude evangélica da denúncia nesta sociedade perplexa que somos, neste tempo incerto que vivemos, neste planeta ameaçado que habitamos.
Em definitiva, trata-se de deixar ressoar o clamor dos(as) “descartados”, tantas pessoas e grupos hoje excluídos do direito ao pão, ao trabalho, à terra, ao teto, à justiça...; deixar ecoar o grito da terra frente a tanta destruição; deixar fluir últimos e dos excluídos é escutar a voz do próprio Deus que “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”.
Para meditar na oração
Orar, como diz S. Inácio de Loyola, é buscar e encontrar Deus em todas as o grito de tantas vítimas da violência institucionalizada. Se pararmos para escutar, ouviremos gritos insistentes. Há um clamor uníssono tão forte capaz de atravessar os céus, ultrapassar as nuvens e não deixar de ser escutado. No fundo, é o próprio Deus que grita nos seus filhos e filhas; escutar o grito dos coisas, detectar sua presença como anúncio ou como denúncia, como carícia ou como grito. A oração é sempre um clamor, é uma aspiração, é gemido do Espírito em nós, expressão dos desejos mais profundos da humanidade e do próprio coração.
A oração, portanto, não é nunca um clamor estéril, nem sequer um desafogo psíquico, mas um desejo esperançado, fundado na confiança de que o Deus, todo misericórdia e cuidado a partir dos últimos, não abandona nunca.
- Frente ao contexto social e político no qual vivemos, sua voz está a serviço de quem?
- Sua voz é prolongamento do grito indignado da viúva ou é voz conivente com a morte?. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sínodo, coletiva de imprensa: entre as propostas, a de um rito amazônico
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Sínodo, coletiva de imprensa: entre as propostas, a de um rito amazônico
Apresentados na Sala de Imprensa da Santa Sé os relatórios dos Círculos Menores. Entre os participantes estavam dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima (Brasil), dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Mauricio Lopez, secretário executivo Repam e irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia).
Amedeo Lomonaco, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Os relatórios dos Círculos Menores não são textos definitivos, mas são um primeiro passo de um tecido nascido da escuta e orientado pelo discernimento. Em alguns grupos, o debate e o confronto estão abertos. As posições dos padres sinodais nem sempre coincidem, mas cada um oferece a sua própria contribuição. Com essa premissa, o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação, abriu a coletiva para a apresentação dos relatórios dos Círculos Menores na Sala de Imprensa da Santa Sé.
Renovação e fortalecimento da vida consagrada
O Sínodo sobre a Região Pan-amazônica é também uma exortação. Irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia) reiterou que o convite é pensar na Amazônia e abrir novos caminhos para a Igreja. É necessário torná-los possíveis e praticáveis, indo além dos medos. Ir. Daniela Adriana Cannavina lembrou também que durante o trabalho sinodal foi dado espaço às contribuições das mulheres. Referindo-se à vida consagrada, indicou uma prioridade: a de continuar a promover uma vida centrada no Evangelho. Devemos resistir à indiferença, acrescentou, porque a vida consagrada é um ícone da aceitação da vida. Ela também indicou quatro chaves fundamentais. A primeira é a da inculturalidade. A segunda é a itinerância que assegura a presença de uma Igreja em saída. As outras duas chaves para abrir novos caminhos são o fortalecimento da presença missionária, a partir dos carismas, e a promoção do diálogo entre pastores e leigos em um ambiente de co-responsabilidade.
Universalidade e complementaridade
A experiência do caminho sinodal é única. Cada Sínodo é uma emoção intelectual cada vez mais profunda. Dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, sublinhou que o Sínodo nos exorta a refletir também sobre o significado da universalidade da Igreja. A Igreja, disse ele, é uma só, mas é composta por muitos povos, um diferente do outro. Todos os povos devem ser respeitados e isto, explicou dom Fisichella, implica também o reconhecimento da complementaridade: cada povo, cada cultura e cada tradição têm algo a dizer para que o patrimônio comum possa ser compreendido e iluminado. Cada cultura da Amazônia, acrescentou, expressa algum elemento que nos permite compreender a grandeza da fé cristã.
Rito amazônico
Dom Rino Fisichella lembrou também que foi feita uma proposta para seguir o caminho de um "rito amazônico" que permita desenvolver sob o aspecto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar, a singular riqueza da Igreja Católica na Amazônia. Os ritos, explicou o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, são a expressão da evangelização: quando o anúncio do Evangelho atinge uma cultura, é inculturado através das formas mais coerentes para expressar o mistério. Na época contemporânea, um rito, limitado apenas à liturgia, foi concedido para o caminho neocatecumenal. No caso do rito amazônico, especificou dom Fisichella, "estamos diante de uma proposta que diz respeito ao rito em sua totalidade".
Abrir novos caminhos
Este Sínodo é uma oportunidade que temos para nos colocarmos em contato com a vida, com o ambiente, mas sobretudo com a vida das comunidades. Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima (Brasil), ressaltou que a assembléia sinodal é uma oportunidade para escutar a voz da Amazônia. É uma oportunidade para reconhecer os caminhos já traçados pelos mártires e abrir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Recordando a realidade da sua diocese, identificou a migração como um dos principais desafios. Há uma crise humanitária e o Papa Francisco, explicou, nos convida a sermos capazes, como Igreja, de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes. Também são necessários novos colaboradores para chegar até mesmo às pequenas comunidades, longe das pequenas cidades. Entre as propostas há também a dos "viri probati", isto é, a ordenação de adultos casados. O celibato, disse o prelado, é um dom da Igreja e deve ser considerado como algo muito precioso. Dom Mário Antônio da Silva recordou então que o Papa Francisco nos pede que prestemos atenção a toda a Criação. A ecologia integral, acrescentou, leva-nos a pensar também nas gerações futuras.
Ver a realidade com o olhar de Deus
A coletiva de imprensa também teve um momento de silêncio e reflexão que durou 30 segundos. A propor esse momento de silêncio foi Mauricio Lopez, secretário da Rede Eclesial Panamazônica (Repam), depois de fazer a pergunta: qual é o olhar de Deus sobre a realidade amazônica? É necessário observar a realidade, disse ele, com o olhar de Deus. Quero voltar ao lugar onde trabalhamos todos os dias e dizer ao povo da Amazônia, destacou Mauricio Lopez, que honramos suas vidas. Quero dizer, as vozes de vocês foram ouvidas. As periferias, acrescentou, não querem roubar o lugar do centro: trata-se de iluminar o centro a partir das periferias. E não se deve perder de vista o que é realmente importante: as pessoas. Seguindo o itinerário proposto pelo Papa Francisco, disse Mauricio López, devemos promover uma autêntica conversão pastoral, ecológica e sinodal, a conversão ecológica.
Pecados ecológicos
Em resposta às perguntas dos jornalistas, os participantes da coletiva de imprensa focaram sobre o tema dos pecados ecológicos. Irmã Daniela Adriana Cannavina disse que a exclusão dos irmãos indígenas, a pobreza por causa das atividades de mineração, são pecados. Tudo isso, disse ela, que aproxima a vida à morte é pecado. Dom Rino Fisichella explicou que o pecado é o fechamento do homem em si mesmo: quem vive neste fechamento corre o risco de morrer de asfixia. O pecado fundamental é o comportamento do homem que se fecha diante de Deus. A criação, observou dom Fisichella, é uma manifestação de Deus. Quando alguém não reconhece Deus na criação, disse, não há desculpa e se cai numa dimensão de pecado. Dom Mário Antônio da Silva pediu uma conversão sincera: tudo isso, explicou ele, que nos leva ao uso necessário e sensato dos bens da Criação é virtuoso. Tudo o que, pelo contrário, nos leva a utilizar os bens da criação para o lucro não só "fede", mas traz consigo a injustiça.
Fundos e solidariedade
Uma jornalista recordou que a Fundação Ford, que não é contrária ao aborto, conseguiu fundos para a Rede Eclesial Panamazônica (Repam). Dom Mário Antônio da Silva lembrou que a Igreja defende a vida desde a concepção até o fim natural. Os fundos, disse ele, devem ser utilizados para promover a vida das crianças, das mulheres e das famílias. A Repam, sublinhou o prelado, usa as doações feitas por fundações para promover a vida. O Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, disse que considera uma coisa boa que o dinheiro seja usado para promover obras de caridade.
Sínodo: trabalhos em andamento
A coletiva de imprensa terminou com um breve retrato da situação atual dos trabalhos sinodais. As propostas feitas até agora, disse finalmente dom Mário Antônio da Silva, são até o momento discussões que estão em andamento. Esta é ainda uma fase de coleta das propostas que serão depois confiadas ao discernimento. A próxima fase, concluiu, será a do documento final a ser confiado ao Papa e ao seu discernimento. Fonte: https://www.vaticannews.va
SÍNODO PARA A AMAZÔNIA: Os desafios de vocações para o sacerdócio indígena entram na pauta do Sínodo
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Padre Justino Sarmento Resende é um dos raros sacerdotes indígenas e o único a participar do Sínodo para Amazônia. Salesiano, ele vem da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e é especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada. Nas discussões do Sínodo de hoje, dia 17 de outubro, padre Justino falou sobre as barreiras para a formação de sacerdotes indígenas.
A história pessoal do padre já mostra como a sociedade tem dificuldade de enxergar que indígenas podem e devem ser sacerdotes, caso sejam chamados a essa vocação. Segundo padre Justino, sua vocação surgiu ainda muito jovem, quando viu missionários catequizando seus avós, com muita boa vontade, mas com grande dificuldade de comunicação e de entender a língua Tuyuka. “Foi aí que eu pensei que poderia ser sacerdote para transmitir a Palavra de Deus na minha própria língua”.
Quando decidiu estudar num seminário, sofreu resistência de todos os lados, inclusive de um padre. “Os não indígenas achavam que nós não tínhamos capacidade de compreender as disciplinas exigentes da formação de sacerdotes. Meus familiares também não apoiaram. Minha mãe chorou porque queria criar os netos e essa questão da família é muito forte para os nossos povos. Meu avô disse que ser padre não é para nós Tuyukas. Até o padre que acompanhava de vez em quando nossa tribo falou que ser sacerdote não é para indígenas, nós deveríamos era jogar bola”, contou padre Justino.
O caminho não foi simples: “tive que estudar muito e continuo estudando até hoje, depois de 25 anos de sacerdócio. Precisei de uma formação básica para ser padre. Depois de concluir o seminário, voltei a estudar missiologia. Quando percebi a importância de ter mais pessoas envolvidas na educação escolar indígena, fiz um mestrado em educação. Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, indaga o sacerdote.
Padre Justino realiza oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. Ele escreveu o livro “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”, que ainda não foi publicado, mas já é usado como texto base nas catequeses das tribos onde atua. “Trouxe ao Sínodo essa ideia de que a inculturação é um processo importante e necessário, não é descaracterizar a eucaristia nem impor o catolicismo aos indígenas, é levar a Palavra dentro da nossa cultura, da nossa língua. Os indígenas precisam viver a mensagem de Jesus da melhor forma possível.”
Quando questionado sobre a proposta de ter sacerdotes casados nas tribos da Amazônia e sobre a dificuldade de os indígenas viverem o celibato, padre Justino foi enfático: “o celibato não é fácil para ninguém. É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.
Manuela Castro – Cidade do Vaticano. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Festa do evangelista São Lucas: Liturgia
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1) Oração
Ó Deus, que escolhestes São Lucas para revelar em suas palavras e escritos
o mistério do vosso amor para com os pobres, concedei aos que já se gloriam do vosso nome perseverar num só coração e numa só alma, e a todos os povos do mundo ver a vossa salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 10, 1-9)
1Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir.2Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.3Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.4Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho.5Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa! 6Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós.7Permanecei na mesma casa, comei e bebei do que eles tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que se vos servir.9Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo.
3) Reflexão
* Hoje, festa do evangelista São Lucas, o evangelho traz o envio dos setenta e dois discípulos que devem anunciar a Boa Nova de Deus nos povoados, aldeias e cidades da Galileia. Os setenta e dois somos todos e todas nós que viemos depois dos Doze. Através da missão dos discípulos e discípulas, Jesus tenta resgatar os valores comunitários da tradição do povo que estavam sendo abafados pelo duplo cativeiro da dominação romana e da religião oficial. Jesus procura renovar e reorganizar as comunidades para que sejam novamente uma expressão da Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Por isso, ele insiste na hospitalidade, na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida aos excluídos. Esta insistência de Jesus transparece nos conselhos que dava aos discípulos e às discípulas quando os enviava em missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo, João Batista, os fariseus e outros. Eles também formavam comunidades de discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15). Mas como veremos havia uma grande diferença.
Lucas 10,1-3: A Missão.
Jesus envia os discípulos para os lugares aonde ele próprio deve ir. O discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova. Ele os envia dois a dois. Isto favorece a ajuda mútua, pois a missão não é individual, mas sim comunitária. Duas pessoas representam melhor a comunidade.
Lucas 10,2-3: A Co-responsabilidade.
A primeira tarefa é rezar para que Deus envie operários. Todo discípulo e discípula deve sentir-se responsável pela missão. Por isso deve rezar ao Pai pela continuidade da missão. Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio de lobos. A missão é tarefa difícil e perigosa. Pois o sistema em que eles viviam os discípulos e ainda vivemos era e continua sendo contrária à reorganização do povo em comunidades vivas.
Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem bolsa, nem sandálias. Mas devem levar a paz. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que vai ser recebido, e o povo se sente respeitado e confirmado. Por meio desta prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da convivência comunitária. Não saudar ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com coisas que não pertencem à missão.
Lucas 10,7: A Partilha.
Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas sim permanecer na mesma casa. Isto é, devem conviver de maneira estável, participar da vida e do trabalho do povo do lugar e viver do que recebem em troca, pois o operário merece o seu salário. Isto significa que devem confiar na partilha. Assim, por meio desta nova prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.
Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.
Os fariseus, quando iam em missão, iam prevenidos. Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria comida. Assim, em vez de ajudar a superar as divisões, as observâncias da Lei da pureza enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. Os discípulos de Jesus devem comer o que o povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria comida. Isto significa que devem aceitar a comunhão de mesa. No contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor e anunciam um novo acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.
Lucas 10,9a: A Acolhida aos excluídos.
Os discípulos devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto significa que devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que hoje faz a pastoral dos excluídos, migrante e marginalizados.
Lucas 10,9b: A chegada do Reino.
Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem e devem gritar aos quatro ventos: O Reino chegou! Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas sim levar a uma nova maneira de viver e de conviver como irmãos e irmãs a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe de todos nós.
4) Para um confronto pessoal
1) Hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida aos excluídos: são as pilastras que sustentam a vida comunitária. Como isto está sendo realizado na minha comunidade?
2) O que é para mim ser Cristão ou ser Cristã? Numa entrevista na TV, alguém respondeu ao repórter: “Sou cristão procuro viver o evangelho, mas não participo na comunidade da Igreja”. O repórter comentou: “Então você se considera um bom jogador de futebol, mas não faz parte de nenhum time!” É o meu caso?
5) Oração final
Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis. Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)
Ordenação de homens casados como solução para a Amazônia? Uma voz discordante
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Pela primeira vez nos informes diários à imprensa feitos pelo Vaticano durante o Sínodo dos Bispos para a Amazônia deste ano uma voz discordante surgiu hoje, quarta-feira, para falar da ideia de ordenação de homens casados como forma de resolver a escassez sacerdotal na região. A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 16-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Não vejo no celibato o obstáculo principal” para se ter mais padres, disse Dom Wellington Vieira, da Diocese de Cristalândia, no Tocantins, enfatizando que ninguém o nomeara porta-voz da assembleia sinodal, mas mesmo assim fez questão de acrescentar: “Acho que muitos no sínodo compartilham da minha opinião”.
“Com certeza, o maior problema é a nossa incoerência, é a nossa infidelidade, são os escândalos, a falta de santidade que, muitas vezes, por meio dos ministros ordenados, tornam-se um impedimento para que os jovens decidam seguir esse caminho”, disse o religioso.
“Temos que permitir que as pessoas possam ouvir o chamado de Jesus, e às vezes por causa das nossas ações elas ficam incapacitadas de ouvir”, disse Dom Wellington Vieira.
“Eu tenho a certeza que tendo uma vida santa, não terei falta de ministros ordenados em minha Igreja particular. Muitos jovens, com todas as ofertas do mundo contemporâneo, estão perdidos, procurando valores nos quais se apoiar”, continuou o bispo de Cristalândia, acrescentando: “Não posso acreditar que Jesus tenha perdido o seu poder de atração”.
O prelado brasileiro também trouxe uma outra dimensão do debate em torno da escassez de padres, que é o desequilíbrio na forma como estes estão distribuídos. Dentro dos países, disse ele, às vezes os padres não querem assumir os trabalhos em lugares normalmente considerados difíceis.
“Temos um problema com uma distribuição igualitária no nível local”, disse. “A falta de padres poderia ser mitigada se distribuíssemos melhor, mas às vezes nem sempre existe um espírito missionário, uma disposição para ir a regiões de fronteira e áreas difíceis”.
Reconhecendo que a questão de como resolver a escassez de padres e garantir que as pessoas tenham acesso aos sacramentos vem sendo discutida no Sínodo dos Bispos, Dom Wellington falou que “temos muitas ideias que são também diferentes”.
Contudo, o prelado de 51 anos afirmou que não tem havido desentendimentos no encontro.
“As pessoas acham que estamos discutindo ou brigando uns contra os outros, mas não é o caso”, disse ele, alegando que o sínodo está sendo marcado por um “ambiente muito fraternal de um respeito grande e mútuo”.
Os assessores oficiais do Vaticano, no entanto, se esforçaram em salientar, nesta quarta-feira, que os participantes não querem o que os debates fiquem centrados em alguns problemas específicos, e sim que querem focalizar o quadro mais amplo das temáticas.
“Olhamos para a árvore, não para os ramos”, disse Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, ao tentar expressar aquilo que descreveu como um sentimento comum dentro da assembleia sinodal.
“Estamos mais ou menos na metade do caminho, e o que surgiu ontem com bastante força é uma necessidade compartilhada por toda a assembleia, e nos pequenos grupos também: não focalizar os temas individuais que dividem o processo sinodal, mas identificar uma visão comum e unificada”, disse Ruffini.
Em seguida, Ruffini destacou vários temas gerais que, segundo disse, emergiram nos debates até o momento.
- A proteção do meio ambiente amazônico como parte da “casa comum” da humanidade, que leva a um chamado à conversão ecológicae denuncia os pecados ecológicos.
- A interculturalidade e o diálogo como partes-chave da missão da Igreja.
- O acesso aos sacramentos.
- A educação/formação do clero e dos leigos.
- Leigos e leigas.
- A migração, o despovoamento de áreas rurais e a vida nas cidades.
- Os direitos humanos.
O destino dos povos indígenas amazônicos foi destacado quarta-feira por Yesica Patiachi Tayori, agente pastoral do Vicariato Apostólico de Puerto Maldonado, no Peru, e especialista na língua e cultura do povo Harakbut.
“Os indígenas no sínodo são os guardiões da floresta, mas cuidar da nossa casa comum é responsabilidade de todos”, disse ela.
“Estamos com medo de perder os nossos idiomas, sermos extintos, sufocados por modelos de desenvolvimento que vêm de fora”, explicou Patiachi Tayori.
“Pedimos que o Santo Padre leve a nossa mensagem às autoridades internacionais, nos ajudando a não sermos extintos, respeitando os nossos costumes, as nossas tradições e os nossos idiomas, bem como o nosso direito de viver a autodeterminação”, concluiu.
Houve algumas palavras sobre o papel da mulher nos informes à imprensa dados nesta quarta-feira, com Dom Wellington Vieira e Dom Pedro José Conti, da Diocese de Macapá, destacando os papéis na linha de frente desempenhados por elas na região. Nenhum deles, no entanto, respondeu diretamente a perguntas sobre a possibilidade de mulheres ordenadas ao diaconato ou sobre a representação delas no próprio sínodo.
Finalmente, um jornalista do sítio LifeSite News perguntou sobre uma estátua indígena de uma mulher grávida nua exibida na cerimônia nos jardins do Vaticano pouco antes de a assembleia sinodal começar. O profissional de imprensa perguntou qual era precisamente o significado espiritual da estátua.
Ruffini disse que iria procurar mais informações sobre o assunto, porém respondeu dizendo que, a seu ver, era simplesmente uma estátua a representar a vida e que “procurar ver um símbolo pagão é ver o mal onde não existe o mal”.
O padre jesuíta italiano Giacomo Costa, que também tem ajudado nos informes diários à imprensa, falou que a sua impressão era a de que a estátua retratava uma “indígena que traz a vida e que representa a vida”.
“Penso que seja só uma figura feminina sem nenhum valor sagrado ou pagão”, disse ele, expressando um ceticismo com os que dizem que a estátua poderia ser também uma representação indígena da Virgem Maria.
Na quarta e na quinta-feira desta semana, os participantes do Sínodo dos Bispos estarão reunidos em 12 pequenos grupos de trabalho organizados por idioma, que estão divididos em cinco grupos espanhóis, quatro de língua portuguesa, dois italianos e um inglês/francês. É o segundo ciclo das sessões em pequenos grupos, com a ideia sendo a de produzir ideias para a comissão redatora que tem trabalhado sobre uma versão preliminar do documento final do sínodo.
Na quarta-feira, Ruffini informou que o Vaticano deseja divulgar cópias dos relatórios produzidos nos pequenos grupos na sexta-feira de tarde. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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