Finados: Homilia do Papa Francisco. “Memória, esperança e luz”.
- Detalhes
Na tarde deste Dia de Finados, o Papa Francisco foi ao Cemitério Laurentino de Roma para presidir a Santa Missa. Nas suas palavras: memória, esperança e luzes das Bem-Aventuranças para não errar o caminho
Na tarde desta sexta-feira (02/11/2018), dia da celebração dos fiéis defuntos, o Papa Francisco presidiu uma Santa Missa no Cemitério Laurentino, em Roma. Ao chegar no Cemitério, o Papa foi rezar no Jardim dos Anjos, onde estão sepultadas as crianças não nascidas e as crianças que morreram por outras causas.
Passado, futuro e o presente
Na sua homilia o Papa iniciou recordando que "a liturgia de hoje é uma liturgia concreta porque nos enquadra nas três dimensões da vida, que até as crianças entendem, ou seja, o passado, o futuro e o presente".
"Recordando o dia da memória", disse o Papa, "falamos no passado, dos que caminharam antes de nós, dos que nos deram vida, nos acompanharam…
“ É importante recordar e fazer memória, isso nos deixa mais fortes, como pessoa e como povo. Nos sentimos enraizados, nos faz entender quem somos e que não estamos sozinhos: um povo que tem uma história, tem um passado, tem uma vida ”
Nem sempre é fácil recordar, voltar para trás - disse o Papa - e lembrar da nossa vida, da nossa família, do nosso povo. Mas hoje é dia de memória e a memória nos leva às nossas raízes .
Esperança
"Hoje também é um dia de esperança, disse o Pontífice, como diz a segunda leitura, nos mostra o que nos espera. Um céu novo, uma terra nova, mais bela, a santa cidade de Jerusalém, nova e bela. Espera-se a beleza… Memória e esperança de nos encontrarmos, esperança de chegar onde há o amor que nos criou: o amor do Pai".
O Papa seguiu dizendo que entre memória e esperança há a terceira dimensão: o caminho que devemos seguir.
"Como fazer para não errar e seguir o caminho". Papa Francisco completou: "a resposta está no Evangelho, que nos diz para seguir as Bem-aventuranças. As Bem-aventuranças são as luzes que nos acompanham para não errar o caminho: este é o nosso presente.
Três dimensões
"Neste cemitério há as três dimensões da vida: Memória que vemos à nossa frente, a esperança que celebramos agora na fé, e as luzes para nos guiar no caminho que são as Bem-aventuranças.
“ Jamais devemos perder ou esconder a memória, das pessoas, da família e de povo ”
Concluindo o Papa desejou que "Deus nos dê a graça da esperança, saber esperar, olhar o horizonte e a graça de entender quais são as luzes que nos acompanharão para seguir no caminho e assim chegar onde nos esperam com tanto amor". Fonte: www.vaticannews.va
Carta dos Padres Sinodais aos jovens do mundo inteiro
- Detalhes
A Igreja e o mundo precisam urgentemente do entusiasmo dos jovens. "Sejam companheiros de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida. Vocês são o presente, sejam o futuro mais luminoso", exortam os Padres Sinodais na Carta a eles endereçada, cujo texto integral publicamo a seguir.
Cidade do Vaticano
Ao término da Missa de encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos dedicada aos jovens, presidida pelo Papa Francisco na manhã deste domingo (28/10) na Basílica de São Pedro, antes da bênção final o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu a carta dos Padres Sinodais aos jovens, a qual publicamos a seguir na íntegra:
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Carta dos Padres Sinodais aos jovens
A vocês, jovens do mundo, nós Padres Sinodais nos dirigimos com uma palavra de esperança, confiança e consolação. Nestes dias, nos reunimos para escutar a voz de Jesus, “o Cristo, eternamente jovem”, e reconhecer Nele as vozes dos jovens e seus gritos de exultação, lamentos e silêncios.
Sabemos de suas buscas interiores, das alegrias e das esperanças, das dores e angústias que fazem parte de sua inquietude. Agora, queremos que vocês escutem uma palavra nossa: desejamos ser colaboradores de sua alegria para que suas expectativas se transformem em ideais. Temos certeza de que com sua vontade de viver, vocês estão prontos a se empenhar para que seus sonhos tomem forma em sua existência e na história humana.
Que nossas fraquezas não os desanimem, que as fragilidades e pecados não sejam um obstáculo à sua confiança. A Igreja é sua mãe, não abandona vocês, está pronta para acompanhá-los em novos caminhos, nas sendas mais altas onde o vento do Espírito sopra mais forte, varrendo as névoas da indiferença, da superficialidade, do desânimo.
Quando o mundo, que Deus tanto amou a ponto de lhe doar seu Filho Jesus, é subordinado às coisas, ao sucesso imediato e ao prazer, pisoteando os mais fracos, ajudem-no a se reerguer e a dirigir seu olhar ao amor, à beleza, à verdade e à justiça.
Por um mês, nós caminhamos juntos, com alguns de vocês e muitos outros unidos a nós com a oração e o carinho. Desejamos continuar o caminho em todas as partes da terra onde o Senhor Jesus nos envia como discípulos missionários.
A Igreja e o mundo precisam urgentemente de seu entusiasmo. Sejam companheiros de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida.
Vocês são o presente, sejam o futuro mais luminoso.
28 de outubro de 2018
Fonte: https://www.vaticannews.va
Encerramento do Sínodo dos Bispos: "Ser testemunhas de Jesus, não doutrinaristas ou ativistas".
- Detalhes
"Obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”: disse o Papa na Missa conclusiva do Sínodo.
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano (28/10/2018)
“Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”: disse o Papa Francisco na homilia da missa na manhã deste XXX Domingo do Tempo Comum, celebrada na Basílica de São Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. Cerca de sete mil pessoas participaram da celebração.
Na homilia, o Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do cego Bartimeu feita por Jesus, do qual em sua reflexão propôs algumas indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja.
Três passos fundamentais no caminho da fé
Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do caminho: “de mendigo na margem da estrada para Jericó, torna-se discípulo que vai juntamente com os outros para Jerusalém. Também nós caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’ e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”: escutar, fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre.
Escutar
“O primeiro passo para ajudar o caminho da fé: escutar. É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”, ressaltou. Referindo à atitude de muitos que estavam com Jesus, que repreenderam Bartimeu para que estivesse calado, disse que estes “seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, e que este é um risco do qual sempre devemos nos precaver.
Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com amor, com paciência, como Deus faz conosco, com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca Se cansa, sempre Se alegra quando O procuramos. Peçamos, também nós, a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco.
Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre disse com veemência:
“Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda necessária para se avançar.”
Fazer-se próximo
Depois da escuta, o Papa apontou um segundo passo para acompanhar o caminho da fé: fazer-se próximo.
Vejamos Jesus, disse, “que não delega em ninguém da ‘grande multidão’ que O seguia, mas encontra Ele pessoalmente Bartimeu. Diz-lhe: ‘Que queres que Eu faça por ti?’. (...) É assim que Deus procede, envolvendo-Se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”. A fé passa para a vida.
“Quando a fé se concentra apenas em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração. E quando se concentra apenas na ação, corre o risco de tornar-se moralismo e reduzir-se ao social. Ao contrário, a fé é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Não podemos ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão entre nós, próximo dos irmãos. Proximidade: aqui está o segredo para transmitir, não algum aspeto secundário, mas o coração da fé.”
Francisco prosseguiu fazendo uma advertência: “Sempre existe aquela tentação que reaparece tantas vezes na Escritura: lavar as mãos, desinteressar-se. É o que faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que fez Caim com Abel, é o que fará Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo contrário, queremos imitar Jesus e, como Ele, meter as mãos na massa, sujá-las. Ele, o caminho (cf. Jo 14, 6), por Bartimeu deteve-Se ao longo da estrada; Ele, a luz do mundo (cf. Jo 9, 5), inclinou-Se sobre um cego”.
Reconhecemos que o Senhor sujou as mãos por cada um de nós e, fixando a Cruz, “recomecemos de lá, da lembrança de Deus que Se fez meu próximo no pecado e na morte. Fez-Se meu próximo: tudo começa de lá”, observou o Papa. “E, quando por amor d’Ele também nós nos fazemos próximo, tornamo-nos portadores de vida nova: não mestres de todos, não especialistas do sagrado, mas testemunhas do amor que salva.”
Testemunhar
“Testemunhar é o terceiro passo”, frisou o Santo Padre. “Não é cristão esperar que os irmãos inquietos batam às nossas portas; somos nós que devemos ir ter com eles, não lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como aqueles discípulos, para encorajar e levantar em seu nome. Manda-nos dizer a cada um: ‘Deus pede para te deixares amar por Ele’.”
“Quantas vezes – continuou Francisco –, em vez desta mensagem libertadora de salvação, nos levamos a nós mesmos, as nossas ‘receitas’, as nossas ‘etiquetas’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de fazer nossas as palavras do Senhor, despachamos como palavra d’Ele as nossas ideias! Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições que a presença amiga de Jesus! Então aparecemos como uma ONG, uma organização parestatal, e não como a comunidade dos redimidos que vivem a alegria do Senhor.”
Ouvir, fazer-se próximo, testemunhar.
“A fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o testemunho da nossa vida.”
E a todos vós que participastes neste ‘caminhar juntos’, concluiu Francisco, “digo obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus.” Fonte: https://www.vaticannews.va
Reflexão para o 29° Domingo do Tempo Comum
- Detalhes
O servo está sempre disponível, acessível ao seu Senhor, de prontidão. Jesus condena a atitude dos mestres que permitem ou até exigem que seus discípulos lhes lavem os pés, ao contrário será ele a lavar os pés dos discípulos
Padre César Augusto dos Santos - Cidade do Vaticano
A liturgia nos convida, especialmente hoje, a um exame de consciência em relação ao nosso modo de nos relacionarmos com nossos irmãos. Deus é o único Pai, o único Mestre, o único Senhor e, para nos ensinar como queria que fôssemos, como deverá ser a nova sociedade, se fez servo, servo de todos.
Assim, seremos mais cristãos, mais semelhantes a Jesus Cristo, à medida em que tomarmos posição de servos e nossa vida for um serviço, através de nossas ações e de nosso modo de ser, isto é, do modo de tratar as pessoas, de nos vestir, de nos postar.
No Evangelho Jesus diz aos seus discípulos que eles não devem seguir os exemplos dos líderes que gostam de serem tratados como senhores, ao contrário, os discípulos, quanto mais alta a função, deverão vivê-la na atitude de servo, não apenas nas ações, mas em todos os sentidos.
Desejar ocupar os primeiros lugares, receber cumprimentos cerimoniosos, usar roupas luxuosas, ser chamado por títulos honoríficos, tudo isso deverá estar longe do coração e da vida do autêntico discípulo. Jesus propõe: “... entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.”
O servo está sempre disponível, acessível ao seu senhor, de prontidão. Jesus condena a atitude dos mestres que permitem ou até exigem que seus discípulos lhes lavem os pés, ao contrário será ele a lavar os pés dos discípulos. Inclusive irá vivenciar isso de modo excepcional na cruz, quando nos lavará a todos do pecado.
Como poderei ser servo? Se sou casado, não me considerar superior ao meu cônjuge; se desempenho uma profissão de prestígio, não por isso considerar-me superior aos outros; se sou comerciante, não visar só meu lucro, mas apresentar boa mercadoria e com preço justo; se sou um religioso, ser acessível, disponível, simples e misericordioso no trato com os fiéis; enfim, o cristão segue em tudo a pessoa do Mestre.
Devo aprender com o episódio dos filhos de Zebedeu. O batismo me introduziu em uma nova sociedade. É necessário permitir ao Espírito Santo que construa em minha vida um novo homem, uma nova mulher. Minha alegria deverá estar não em posicionamentos de honra segundo este mundo caduco, mas com o mundo dos ressuscitados no batismo. Aceitar beber o cálice de Jesus, receber o seu batismo significa aceitar sofrer por causa da justiça, da verdade, pela construção de uma nova humanidade.
Conforta-nos as palavras do autor da Carta aos Hebreus, quando escreve: “...embora fosse Filho de Deus, aprendeu, com o seu sofrimento, como é difícil para o homem obedecer e aceitar a vontade de Deus”. Isso nos conforta ao reconhecermos como nos é difícil ser servos e também faz sermos compreensivos com tantas pessoas, especialmente com aquelas que são religiosas.
Concluamos nossa reflexão com a palavra de Jesus: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos.” (Mt 11,25). Fonte: https://www.vaticannews.va
Romero proclamado santo ... Um verdadeiro milagre! As razões usadas para prevenir ou retardar a canonização do "bispo mártir duas vezes"
- Detalhes
O falecido cardeal argentino Eduardo Pironio (1920-1998), a propósito da então quimérica beatificação de Mons. Oscar Romero e dos muitos adversários que a causa tinha na época, nos dizia com fina ironia: "Vocês sabem, o verdadeiro milagre de Romero será chegar um dia às honras dos altares como o santo da América. Isso mesmo: para fazer dele um santo é preciso um milagre". E é verdade. O comentário é publicado por Il Sismografo, 12-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para muitos, no próximo domingo, especialmente na América Latina, a canonização do arcebispo mártir de San Salvador parecerá como um inesperado e verdadeiro milagre, humanamente facilitada com generosidade e clarividência por duas figuras da Igreja: Papa Francisco e D. Vincenzo Paglia, o postulador tenaz e incansável que sempre acreditou na missão que lhe foi confiada pela Igreja salvadorenha.
Sabe-se que Mons. Romero - que depois de 38 anos, será proclamado santo na Praça de São Pedro, juntamente com outros cinco beatos, entre os quais o seu grande e fiel amigo, protetor e defensor, o papa Paulo VI – teve em vida muitos adversários e inimigos, mesmo dentro da Igreja de seu país, da América Latina e do Vaticano. Muitos deles continuaram a trabalhar incessantemente contra Mons. Oscar Romero, mesmo depois de seu martírio e, de certa forma, a sua oposição e hostilidade foi tão eficaz que atrasou significativamente o dia em que Oscar Romero foi oficialmente reconhecido mártir beato (23 de maio de 2015)
Aqui estão algumas das "razões" usadas por diversos prelados e círculos clericais, dentro e fora de El Salvador, para se opor ao processo de beatificação e canonização de Mons. Romero:
1) A primeira razão usada que foi posta em circulação, quase imediatamente após o martírio do arcebispo e nos mais altos ambientes do Vaticano, portanto inclusive em outras instâncias próximas a estes ambientes, mais ou menos expressava este pensamento: "Sim, tudo bem. Ele era um pastor zeloso e santo, mas vamos evitar dar uma bandeira aos setores da esquerda latino-americana". Com relutância, apenas formalmente, aceitava-se o martírio do bispo e também a sua santidade, mas se recomendava de desistir momentaneamente para não agradar a "esquerda" (na época, na Europa e no Vaticano, a "esquerda" na América Latina era identificada naqueles setores que lutavam a favor do respeito aos direitos humanos e que se opunham à disseminação das ditaduras militares, pagãs e anticristãs).
2) Mais tarde, a partir de El Salvador e de outras igrejas latino-americanas, bem como alguns setores restritos da diplomacia do Vaticano, surgiu uma outra razão, surpreendente: Mons. Romero, "homem próximo dos setores de esquerda foi imprudente", e de alguma maneira, com alguns de seus comportamentos, homilias e declarações, contribuiu para a polarização no país. É nessa dinâmica que seu assassinato começou a tomar forma. Em suma, para esses setores, Mons. Romero procurara por isso. Alguém, após a abertura da causa em 1997, observou que "Romero fazia questão de ser um mártir"; uma afirmação impregnada de uma mal velada veia de malícia, se não de verdadeira maldade.
3) Houveram opiniões ainda mais radicais sobre o martírio do bispo salvadorenho, muitas vindas de numerosos cardeais da Cúria, investidos de importantes cargos. Nesses ambientes, falava-se abertamente contra D. Romero dizendo que ele era um "pró-comunista" e que seu magistério episcopal era contrário ao da Igreja e dos Papas. Em particular, acusava-se D. Romero de ter quase sempre falado contra a repressão do governo de direita e dos militares bem menos do que das violências da frente armada marxista-leninista "Farabundo Martí". Obviamente, trata-se de uma falsa objeção, impossível de ser demonstrada com os documentos existentes, que são muitos.
Nesse contexto, chegou-se até a dizer que a ação pastoral de D. Romero - realizada isoladamente, pois, como mencionado por muitos, tinha sido isolado pelo resto do episcopado salvadorenho - havia se tornado um "obstáculo insidioso para a manutenção dos regimes democráticos na região". Nesse sentido, também foi escrito sobre a dimensão do "dano que o bispo Romero causou aos equilíbrios geopolíticos hegemônicos na região na época da Guerra Fria".
Mártir duas vezes
1-Romero, em vida e mesmo depois da sua morte, teve a infelicidade de ser caluniado, muitas vezes por homens da igreja, alguns dos quais celebram hoje entusiasticamente a sua canonização.
Sobre as calúnias post-mortem, o Papa Francisco disse a um grupo de peregrinos salvadorenhos:
"Eu gostaria de acrescentar algo que talvez passe despercebido. O martírio de Dom Romero não aconteceu apenas no momento da sua morte: foi um martírio-testemunho, sofrimento anterior, perseguição anterior, até a morte. Ele foi difamado, caluniado, sujado, já que o seu martírio foi continuado inclusive por irmãos dele no sacerdócio, no episcopado. Eu não falo por ouvir dizer, eu escutei essas coisas. Ou seja, é lindo vê-lo também assim: como um homem que continua a ser um mártir. Agora acredito que quase mais ninguém se atreva, mas, depois de ter dado a vida, ele continuou a dá-la, deixando-se açoitar por todas essas incompreensões e calúnias. Isso me dá forças, só Deus sabe. Só Deus sabe as histórias das pessoas e, quantas vezes, pessoas que já deram a vida ou que morreram continuam sendo apedrejadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a língua!" (Vaticano, 30 de outubro de 2015). Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
DIA DOS PROFESSORES: CNBB presta homenagem aos professores do Brasil
- Detalhes
A presidência CNBB, composta pelo cardeal Sérgio da Rocha, por dom Murilo Krieger e por dom Leonardo Steiner, presidente vice-presidente e secretário-geral, respectivamente, faz homenagem a todos os educadores do País por meio de uma Mensagem especial.
Leia a Mensagem.
MENSAGEM AOS PROFESSORES E ÀS PROFESSORAS
“Educar conforme a justiça!”
(2Tm 3,16)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, manifesta, neste dia de 15 de outubro de 2018, sua reverência e sua admiração aos professores e às professoras de nosso país. Queremos nos unir a todos aqueles que, em nossa sociedade, reconhecem e valorizam os que dedicam sua vida a ensinar e educar as novas gerações. Sua missão é importante, sua missão é sublime. Seu trabalho, unido ao dos pais, da família, é fundamental para a construção de uma sociedade em que prevaleçam a fraternidade e a solidariedade, a justiça e a paz.
Num encontro com educadores, o Papa Francisco, por meio de algumas perguntas, destacou aspectos importantes dessa nobre missão: “Velais pelos vossos alunos, ajudando-os a desenvolverem um espírito crítico, um espírito livre, capaz de cuidar do mundo atual? Um espírito que seja capaz de procurar novas respostas para os múltiplos desafios que a sociedade coloca hoje à humanidade? Sois capazes de estimulá-los para não se desinteressarem da realidade que os rodeia, não se desinteressarem daquilo que está acontecendo a seu redor?” (Visita à PUC de Quito – Equador, 07.07.2015).
Feitos esses questionamentos, o Papa deu-lhes algumas recomendações: “Para tal, é preciso tirar-lhes da sala de aula, a sua mente tem que sair da sala de aula, seu coração tem que sair da sala de aula. Como entra, nos currículos universitários ou nas diferentes áreas do trabalho educativo, a vida que nos rodeia com as suas perguntas, suas interpelações, suas controvérsias? Como geramos e acompanhamos o debate construtivo que nasce do diálogo em prol de um mundo mais humano? O diálogo, esta palavra-ponte, esta palavra que cria pontes”.
Sim, nossos professores e professoras são chamados a promover o diálogo, “esta palavra que cria pontes”. Dialogar é ter a capacidade de escutar o outro, de respeitar o diferente, de aproximar os contrários. O diálogo é o primeiro passo para descobrirmos que somos irmãos e irmãs, não adversários e, muito menos, inimigos. A diferença nos enriquece. Precisamos muito de educadores e educadoras que despertem nas crianças, adolescentes e jovens essa maneira de ser, de viver e de conviver, principalmente em tempos como os atuais, de polarização política, de discursos que dividem e da exacerbação do individualismo. É preciso educar as novas gerações para saberem ouvir, pesquisar, analisar, avaliar e permanecer abertas a novas perspectivas que podem dar maior fundamentação às suas existências.
Neste dia dos professores e das professoras, recordamos a necessidade de receberem um salário mais justo, um ambiente mais digno de trabalho. Pedimos que não desanimem diante da dispersão, da violência, da incompreensão. A força do Espírito fortaleça na missão de despertar crianças, adolescentes e jovens para a beleza da justiça, da verdade, da fraternidade e da vida.
Maria, a Senhora Aparecia, Mãe e Mestra, interceda pelos professores e pelas professoras do Brasil!
Brasília, 15 de outubro de 2018.
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: http://www.cnbb.org.br
AO VIVO- MISSA COM FREI PETRÔNIO EM ALAGOAS: Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. (Domingo, 14)
- Detalhes
Papa canoniza Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, e Papa Paulo VI
- Detalhes
Os dois foram duas das figuras mais importantes da Igreja Católica no século XX.
O Papa Francisco proclamou santos duas das figuras mais importantes da Igreja Católica no século XX: o Papa Paulo VI, cujo pontificado foi de 1963 a 1978, e Oscar Romero, arcebispo de El Salvador assassinado em 1980. Os dois foram canonizados neste domingo (14) em uma grande cerimônia na Praça de São Pedro, no Vaticano.
A cerimônia contou com dezenas de milhares de peregrinos, entre eles cerca de 5 mil salvadorenhos e alguns presidentes. Os presidentes de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén; Panamá, Juan Carlos Varela; do Chile, Sebastián Piñera; e da Itália, Sergio Matarella, assim como a rainha Sofia da Espanha estavam entre os participantes do ato solene.
"Declaramos e consideramos santos Paulo VI e Óscar Arnulfo Romero Galdámez", declarou Francisco em latim, na cerimônia em que também canonizou os religiosos Francisco Spinelli, Vicente Romano, María Catalina Kasper, a Nazaria Ignacia de Santa Teresa de Jesus e o leigo Núncio Sulprizio.
Na cerimônia, o Papa usou como vestes litúrgicas o cíngulo com sangue que Romero usava na cintura no dia de seu assassinato, bem como a casula (veste litúrgica) de Paulo VI.
O Papa Paulo VI é lembrado por ter presidido as sessões finais do Segundo Concílio Vaticano, reuniões que abriram a Igreja Católica para o mundo, e por ter conduzido a implementação de suas reformas modernizadoras.
Também é conhecido pela controversa encíclica Humane Vitae (Sobre a Vida Humana), na qual eternizou a proibição católica a métodos contraceptivos artificiais, como pílula anticoncepcional, em 1968.
Paulo se tornou Papa em 1963 após a morte do papa João XXIII. Passou boa parte da carreira no serviço diplomático do Vaticano, antes de se tornar cardeal de Milão. Ele morreu em 1978 e foi beatificado em 2014, após o primeiro milagre atribuído a ele.
O milagre atribuído pela Congregação para a Causa de Todos os Santos a Paulo VI foi a cura de um feto de uma doença supostamente irreversível. Este é o terceiro papa que Francisco converte em santo depois de João XXIII (1958-1963) e João Paulo II (1978-2005).
Romero, que foi arcebispo de San Salvador, é reverenciado em seu país como herói nacional e defensor dos pobres, da paz e da justiça. Ele denunciava publicamente a repressão da ditadura militar de El Salvador no início da guerra civil do país, entre 1980 e 1992.
Ele foi assassinado por um esquadrão da morte de direita quando celebrava uma missa em 1980. Seu assassinato foi um dos mais chocantes do longo conflito entre uma série de governos apoiados pelos Estados Unidos e rebeldes de esquerda, durante o qual milhares de pessoas foram assassinadas por esquadrões da morte de direita. Ninguém nunca foi julgado por sua morte.
Francisco, o primeiro papa latino-americano, reconheceu Romero como "mártir da Igreja" em 2014, e o colocou no caminho da santidade em 2015, dizendo ao beatificá-lo que ele havia sido assassinado "por ódio à fé".
Em San Salvador, outras milhares de pessoas assistiram à cerimônia de canonização em telões instalados na catedral da cidade em que fica seu túmulo. Fonte: https://g1.globo.com
7 NOVOS SANTOS NESTE DOMINGO, 14: Jesus é radical, dá tudo e pede tudo, disse o Papa na Missa com canonizações
- Detalhes
O Papa Paulo VI, Dom Oscar Romero, Francisco Spinelli, Vicente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia e Núncio Sulprizio foram canonizados pelo Papa Francisco na manhã deste domingo, 14 de outubro, em cerimônia realizada na Praça São Pedro, na presença de 70 mil fiéis.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
“Jesus é radical. Dá tudo e pede tudo (…). Não Se contenta com uma «percentagem de amor»: não podemos amá-Lo a vinte, cinquenta ou sessenta por cento. Ou tudo ou nada”.
Dirigindo-se aos mais de 70 mil fiéis presentes na Praça São Pedro na Missa em que foram proclamados sete novos Santos, o Papa Francisco recordou que somos chamados a viver a “vocação comum à santidade, não às meias medidas, mas à santidade”.
E os novos santos, “em diferentes contextos, traduziram na vida a Palavra de hoje: sem tibieza, nem cálculos, com o ardor de arriscar e deixar tudo. Que o Senhor nos ajude a imitar os seus exemplos”, foi o convite do Santo Padre.
A canonização
Após o canto do Veni Creator, no início da celebração, o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, acompanhado pelos postuladores, dirigiu-se ao Santo Padre pedindo que se procedesse à canonização dos sete Beatos, lendo então a biografia de cada um deles. Foi então cantada a Ladainha de todos os Santos e ao final o Papa Francisco leu a fórmula da canonização, inserindo-os assim no álbum dos Santos, para então serem venerados por toda a Igreja. Seguiu-se o canto do Jubilate.
As relíquias de cada Santo apresentadas na cerimônia foram: de Paulo VI, a camiseta com manchas de sangue das feridas provocadas pelo atentado ocorrido em Manilla, nas Filipinas; de Dom Óscar Arnulfo Romero, parte de um osso; de Francisco Spinelli, osso do pé; de Vicente Romano, uma vértebra; de Núncio Sulprizio, o fragmento do osso do dedo da mão; de Maria Catarina Kasper, osso da espinha dorsal e de Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus, mecha de cabelos.
Da observância da lei ao dom de si mesmo
“O que devo fazer para ter em herança a vida eterna?”. A pergunta deste desconhecido – que pode ser cada um de nós – narrada no Evangelho de Marcos, ofereceu ao Pontífice a inspiração para falar em sua homilia sobre a radicalidade exigida no seguimento sincero de Jesus.
Jesus fixou o olhar no homem e amou-o, mudando-lhe a perspectiva, “pede-lhe para passar da observância das leis ao dom de si mesmo, do trabalhar para si ao estar com Ele. E faz-lhe uma proposta «cortante» de vida: «Vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres (…), vem e segue-Me»”.
A mesma proposta Jesus faz a cada um de nós. E para ser dele – observa o Papa – “não basta não fazer nada de mal”, ou segui-lo apenas quando nos apetece, ou ainda "ficar contentes com observar preceitos, dar esmolas e recitar algumas orações”, mas devemos encontrar n’Ele o Deus que sempre nos ama, o sentido da nossa vida, a força para nos entregarmos.
Abandonar o que deixa pesado o coração
Ao dizer para vender tudo o que tem e dar o dinheiro aos pobres, Jesus pede a cada um de nós “para deixar aquilo que torna pesado o coração, esvaziar-se de bens para dar lugar a Ele, único bem”:
“Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus, quando se está estivado de coisas. Pois, se o coração estiver repleto de bens, não haverá espaço para o Senhor, que Se tornará uma coisa mais entre as outras. Por isso, a riqueza é perigosa e – di-lo Jesus – torna difícil até mesmo salvar-se. Não, porque Deus seja severo; não! O problema está do nosso lado: o muito que temos e o muito que ambicionamos sufocam-nos o coração e tornam-nos incapazes de amar (…). Quando se coloca no centro o dinheiro, vemos que não há lugar para Deus; e não há lugar sequer para o homem”.
Ou tudo ou nada
“Jesus é radical – reitera o Papa - dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração indiviso”. E pergunta:
“Também hoje Se nos dá como Pão vivo; poderemos nós, em troca, dar-Lhe as migalhas? A Ele, que Se fez nosso servo até ao ponto de Se deixar crucificar por nós, não Lhe podemos responder apenas com a observância de alguns preceitos. A Ele, que nos oferece a vida eterna, não podemos dar qualquer bocado de tempo. Jesus não Se contenta com uma «percentagem de amor»: não podemos amá-Lo a vinte, cinquenta ou sessenta por cento. Ou tudo ou nada”.
“ O nosso coração é como um íman: deixa-se atrair pelo amor, mas só se pode apegar a um lado e tem de escolher: amar a Deus ou as riquezas do mundo; viver para amar ou viver para si mesmo ”
“O nosso coração é como um íman: deixa-se atrair pelo amor, mas só se pode apegar a um lado e tem de escolher: amar a Deus ou as riquezas do mundo; viver para amar ou viver para si mesmo”:
“Perguntemo-nos de que lado estamos nós... Perguntemo-nos a que ponto nos encontramos na nossa história de amor com Deus... Contentamo-nos com alguns preceitos ou seguimos Jesus como enamorados, prontos verdadeiramente a deixar tudo por Ele? Jesus pergunta a cada um e a todos nós como Igreja em caminho: somos uma Igreja que se limita a pregar bons preceitos ou uma Igreja-esposa, que pelo seu Senhor se lança no amor? Seguimo-Lo verdadeiramente ou voltamos aos passos do mundo, como aquele homem? Em suma, basta-nos Jesus ou procuramos as seguranças do mundo?”
Peçamos a graça – foi a exortação de Francisco - de saber deixar por amor do Senhor "as riquezas, os sonhos de funções e poderes, as estruturas já inadequadas para o anúncio do Evangelho, os pesos que travam a missão, os laços que nos ligam ao mundo”.
Autocomplacência egocêntrica
“Sem um salto em frente no amor - disse o Papa - a nossa vida e a nossa Igreja adoecem de «autocomplacência egocêntrica»”, procurando a alegria em qualquer prazer passageiro. “Fechamo-nos numa tagarelice estéril, acomodamo-nos na monotonia duma vida cristã sem ardor, onde um pouco de narcisismo cobre a tristeza de permanecermos inacabados”.
“ Sem um salto em frente no amor, a nossa vida e a nossa Igreja adoecem de «autocomplacência egocêntrica» ”
Foi o que aconteceu com aquele homem que “retirou-se pesaroso” – disse o Papa. “Embora tivesse encontrado Jesus e recebido o seu olhar amoroso, foi-se embora triste. A tristeza é a prova do amor inacabado. É o sinal dum coração tíbio. Pelo contrário, um coração aliviado dos bens, que ama livremente o Senhor, espalha sempre a alegria, aquela alegria de que hoje temos tanta necessidade”.
Voltar às fontes da alegria
“Hoje - prosseguiu o Santo Padre - Jesus convida-nos a voltar às fontes da alegria, que são o encontro com Ele, a opção corajosa de arriscar para O seguir, o gosto de deixar tudo para abraçar o seu caminho. Os Santos percorreram este caminho”:
“Paulo VI fez isso, seguindo o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida dos pobres. Mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus. Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade”.
O Papa recorda que é significativo que ao lado dos outros Santos proclamados neste dia, está Dom Óscar Romero, “que deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria incolumidade, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”.
O mesmo aconteceu com os outros santos - observou o Pontífice, citando um a um - "que em diferentes contextos, traduziram na vida a Palavra de hoje: sem tibieza, nem cálculos, com o ardor de arriscar e deixar tudo. Que o Senhor nos ajude a imitar os seus exemplos!” Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa afasta da Igreja outros dois bispos chilenos por abusos sexuais
- Detalhes
Bispos punidos são o arcebispo emérito de La Serena e o arcebispo emérito de Iquique. Decisão foi anunciada após visita do presidente Sebastián Piñera ao Vaticano.
Papa Francisco recebe o presidente chileno Sebastián Piñera neste sábado (13) no Vaticano.
O Papa Francisco afastou da Igreja outros dois bispos chilenos por ligação com "abusos de menores", anunciou o Vaticano nesto sábado (13) depois de Francisco ter recebido o presidente chileno, Sebastián Piñera, em audiência privada.
Os bispos Francisco José Cox Huneeis, arcebispo emérito de La Serena, e Marco Antonio Ordenes Fernández, arcebispo emérito de Iquique, receberam a maior punição da Igreja Católica "como resultado de atos manifestos de abuso de menores", afirmou a Santa Sé em um comunicado.
A nota afirma que a decisão do Papa foi definitiva e não está aberta a apelação.
Em maio, em uma iniciativa sem precedentes, 34 bispos do Chilecolocaram seus cargos à disposição do Papa, depois de participar de uma reunião de crise com o pontífice convocada após suspeita de terem encoberto casos de pedofilia cometidos por religiosos em suas dioceses.
Em junho, o Papa Francisco aceitou as renúncias de D. Juan Barros, bispo de Osorno (sul do Chile), Cristian Caro Cordero (Puerto Montt), de Gonzalo Duarte García de Cortazar (Valparaiso) e dos responsáveis pelas dioceses de Rancagua e Talca.
Em setembro, foram aceitas as renúncias dos bispos Carlos Eduardo Pellegrín Barrera (da diocese de San Bartolomé de Chillán) e do bispo Cristián Enrique Contreras Molina (da diocese de San Felipe). Fonte: https://g1.globo.com
Papa aos brasileiros: "Busquem Nossa Senhora Aparecida em seus corações"
- Detalhes
"Que cada um de vocês a encontre em seu coração, assim como os pescadores a encontraram no rio. Busquem nas águas de seus corações e a encontrarão, porque Ela é mãe", disse o Papa ao povo brasileiro.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
Por ocasião da Festa de Nossa Senhora Aparecida, o Bispo de Imperatriz (MA), Dom Vilsom Basso, e Lucas Galhardo, da Pastoral Juvenil da CNBB, gravaram com o Papa Francisco uma mensagem para o povo brasileiro, em meio aos trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre os jovens.
“Ao povo do Brasil, a minha cordial saudação nesta festa de Nossa Senhora Aparecida. Que cada um de vocês a encontre em seu coração, assim como os pescadores a encontraram no rio. Busquem nas águas de seus corações e a encontrarão, porque Ela é mãe. Que Ela nos acompanhe e rezem por mim.” Fonte: https://www.vaticannews.va
Saiba quem são os sete novos Santos
- Detalhes
A cerimônia com as canonizações neste domingo, 14, será transmitida pelo Vatican News.
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano
O Santo Padre preside na manhã deste domingo (14/10), na Praça São Pedro, à canonização de sete novos Santos da Igreja: Paulo VI, Dom Oscar Romero, Francisco Spinelli, Vicente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia e Núncio Sulprizio. O Vatican News transmitirá a cerimônia a partir das 10h10min, horário italiano (5h10, horário de Brasília; 9h10h, horário de Portugal).
Eis alguns dados biográficos sobre cada um dos novos Santos:
Paulo VI
João Batista Montini nasceu em Concesio, província de Brescia, norte da Itália, em 26 de setembro de 1897. Foi ordenado sacerdote diocesano em 29 de maio de 1920. Em 1937, foi nomeado Substituto da Secretaria de Estado.
Durante a Segunda Guerra Mundial, promoveu assistência caritativa e hospitalidade aos perseguidos pelo nazismo-fascismo, especialmente aos judeus.
Montini foi pró-Secretário de Estado para Assuntos Ordinários da Igreja e, em 1954, foi nomeado arcebispo de Milão. Em 1958, foi criado Cardeal. Em 21 de junho de 1963, foi eleito Sucessor de Pedro, assumindo o nome Paulo VI.
Entre as suas inúmeras iniciativas, destacam-se: direção e aplicação do Concílio Vaticano II; viagens apostólicas; diálogo ecumênico e inter-religioso.
Tendo sido acometido por uma doença muito breve, Paulo VI faleceu em Castel Gandolfo na noite de 6 de agosto de 1978. Foi beatificado em 2014 por Papa Francisco.
Oscar Arnulfo Romero Galdámez
Oscar Arnulfo Romero nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador.
Em 1942, recebeu a ordenação sacerdotal e, durante vinte anos, foi pároco na diocese de San Miguel. Em 1970 foi nomeado Auxiliar de San Salvador e, em 1977, arcebispo de San Salvador.
Neste ínterim, uma grave crise política abateu-se sobre o país, que terminou com uma guerra civil. Ao constatar a onda de violência contra os mais fracos e a matança de padres e catequistas, Dom Oscar Romero sentiu o dever pastoral de adotar uma atitude de fortaleza e defesa do povo oprimido.
Em 24 de março de 1980, foi assassinado enquanto celebrava Missa. Em 2015, foi beatificado pelo Papa Francisco.
Francisco Spinelli
Francisco Spinelli nasceu em Milão, em meados de 1800. Ao ser ordenado sacerdote, em 1875, começou a fazer apostolado entre os pobres da paróquia do seu tio, Padre Pedro.
Em 1882, conheceu Catarina Comensoli, que queria ser religiosa de uma Congregação que se dedicasse à Adoração Eucarística. Entre inúmeras vicissitudes, fundou um Instituto, junto com o Padre Francisco.
Madre Comensoli fundou a Congregação das Irmãs Sacramentinas e Francisco Spinelli a Congregação das Irmãs Adoradoras do Santíssimo Sacramento.
As Irmãs Adoradoras tem a missão de adorar, dia e noite, Jesus na Eucaristia e servir aos irmãos pobres e sofredores, nos quais Jesus revela o seu "Rosto". Assim, em Rivolta d'Adda, começaram a buscar Jesus entre os pobres, marginalizados, excluídos, idosos solitários e a dar-lhes assistência em escolas, oratórios, hospitais.
Francisco Spinelli faleceu em 6 de fevereiro de 1913. Foi beatificado por São João Paulo II, em 21 de junho de 1992, no Santuário Mariano de Caravaggio.
Vicente Romano
Vicente Romano, sacerdote diocesano nasceu em Torre del Greco, na Itália, em 3 de junho de 1751 e foi ordenado sacerdote em 1775.
Seu ministério foi imediatamente caracterizado por uma atenção especial aos últimos e pelo compromisso da educação de crianças e jovens.
Em 1794, quando a terrível erupção do Vesúvio destruiu quase toda a cidade, trabalhou pela sua reconstrução e criou a "rastreadora": esta era uma sua estratégia missionária para reunir, com o crucifixo na mão, alguns grupos de pessoas, aos quais fazia pregações e os acompanhava à igreja ou oratório para rezar juntos.
Vicente Romano faleceu em 20 de dezembro de 1831 e foi beatificado, por Paulo VI, em 17 de novembro de 1963.
Os seus restos mortais são venerados na Basílica da Santa Cruz de Torre del Greco. Inclusive o lugar do seu nascimento é meta de peregrinações.
Maria Catarina Kasper
Maria Catarina nasceu em 26 de maio de 1820 em Dernbach, na Alemanha. Para ajudar a sua grande família, trabalhou na lavoura, pedreira e tecelagem.
Nesse contexto, em 1845, junto com algumas amigas, teve a ideia de fundar um Instituto de religiosas para servir as classes sociais mais baixas. Por isso, três anos mais tarde, em 1848, fundou a "Casa das Pobres Servas de Jesus Cristo". A Congregação difundiu-se, rapidamente, para além dos confins da Alemanha e da Europa, chegando às Américas e até à Índia.
Acometida por um ataque cardíaco, Maria Catarina Kasper faleceu em 2 de fevereiro de 1898 e foi beatificada por Paulo VI, em 1978.
Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus March Mesa
Nazária nasceu em Madri, Espanha, em 10 de janeiro de 1889, mas, por motivos econômicos, teve que se transferir para o México com a sua família. No navio em que viajavam encontrou algumas freiras da Congregação das Irmãzinhas dos Idosos Abandonados. Em 1908, entrou para este Instituto religioso e, em 1911, proferiu os votos religiosos. Mas, a sua missão desenvolveu-se no continente americano.
Foi enviada à Bolívia, em 1920, onde, fundou uma nova Congregação, como uma "cruzada de amor”: a Congregação das “Irmãs Missionárias da Cruzada Pontifícia”, teve inicio em 1925, mas, depois, passou depois a ser chamada “Missionárias Cruzadas da Igreja”, para servir os pobres e as mulheres necessitadas.
No entanto, por causa da guerra civil na Espanha (1936-1939), Nazária corria grave risco de vida. Então, em 1938, transferiu-se para a Argentina, onde instituiu várias obras em prol dos jovens e dos pobres.
Devido às suas condições de saúde precárias, Nazária Inácia faleceu em Buenos Aires, em 1943, e foi beatificada por São João Paulo II em 27 de setembro de 1992.
Núncio Sulprizio
Núncio nasceu em 13 de abril de 1817, na província italiana de Pescara. Com seis anos de idade ficou órfão de pai e mãe e foi confiado aos cuidados da sua avó materna. Com ela, começou a frequentar Jesus na Eucaristia e a invocar a Santíssima Virgem.
Com o falecimento da sua avó, Núncio foi viver com um tio, que o ensinou a profissão de ferreiro. No entanto, o trabalho duro e os maus-tratos, aos quais seu tio o submetia, fizeram-no adoecer. Acometido por uma tuberculose óssea, transferiu-se para Nápoles, onde ficou internado no Hospital. Ali, recebeu a Primeira Comunhão tão desejada.
A doença degenerou-se rapidamente, tanto que, em 5 de maio de 1836, Núncio Sulprício entregou sua alma a Deus, com apenas 19 anos de idade.
Em 1890, o Papa Leão XIII decretou as virtudes heroicas de Núncio Sulprício, propondo-a como modelo para os jovens. Em 1º de dezembro de 1963, Paulo VI presidiu à sua Beatificação. Fonte: https://www.vaticannews.va
Maria de Nazaré: modelo de discipulado cristão (Lc 1,26-56) – Narração da fé de uma pequenina
- Detalhes
"Um aspecto da fé dos pequeninos consiste em acontecer nas periferias de todos os tipos. As muitas periferias – sociais, econômicas, políticas, étnicas, de gênero, culturais, religiosas – são o lugar privilegiado para desabrochar a fé, por ser onde não imperam o deus dinheiro, a violência e a ideologia."
O comentário é do padre jesuíta Jaldemir Vitório, em artigo que trata da figura de Maria de Nazaré no Evangelho Segundo São Lucas, publicado na revista Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 50, n. 2, Maio/Agosto 2018, p. 289-306. O artigo foi reproduzido, com autorização do autor, por CPAL Social, 09-10-2018.
Eis o artigo.
A figura de Maria, no início da catequese lucana, tem uma importante função narrativa: apresentá-la como modelo dos discípulos de Jesus de Nazaré. Maria encarna aquilo que os discípulos são chamados a ser, ao se deixarem conduzir pelo Mestre, ao longo do evangelho. Lc 1,26-56 descreve a dinâmica da fé de uma “pequenina”, que se reconhece “humilde serva”, sem qualquer importância sociorreligiosa, em quem o Senhor “fez grandes coisas”. Este artigo explicita as grandes linhas da fé da “pequenina” Maria de Nazaré, enquanto serva do Senhor e servidora do próximo, em cuja vida contemplação e ação se entrecruzam e cuja fé é proclamada no Magnificat. A narração do diálogo com a prima Isabel descreve duas “pequeninas” expressando sua fé no Deus de Israel, atento aos empobrecidos e marginalizados da história. A perícope lucana estudada fala das periferias como lugar privilegiado da fé e os pobres como os mais aptos para compreender a ação de Deus em favor da humanidade carente de salvação.
Introdução
A fé dos pequeninos de todos os tempos norteia a caminhada dos discípulos do Reino, em busca de fidelidade a Deus e de honestidade no trato com o semelhante. O evangelho de Lucas contém uma declaração lapidar de Jesus, suficiente para desmontar certas estruturas religiosas, com o verniz cristão, porém, carregadas de arrogância e de desprezo pelos marginalizados social e religiosamente: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas aos sábios (sophói) e entendidos (synetói) e as revelastes aos pequeninos (nepiói)” (Lc 10,21)[1]. Portanto, o testemunho de fé dos pequeninos torna-se referência segura de fé autêntica, ao mesmo tempo em que desmerece a pretensão dos arrogantes, cuja religiosidade é vazia, muito distante da verdadeira fé.
A catequese lucana apresenta Maria de Nazaré como paradigma da fé de um pequenino. O díptico formado pela anunciação (Lc 1,26-38) e pela visitação a Isabel (Lc 1,39-56) permite perceber a raiz e a dinâmica da fé, que vai de Deus ao próximo, da contemplação à ação, da escuta à prática da Palavra. As entrelinhas da perícope evangélica são perpassadas de dinamismo espiritual, exemplar para o leitor da catequese lucana de todos os tempos e lugares, mormente, quem deseja fazer a experiência de fé como a “humilde serva” de Nazaré.
Este texto tem o objetivo de fazer a análise narrativa de Lc 1,26-56 para verificar como foi construído o personagem Maria de Nazaré e sua função na catequese do evangelista Lucas[2]. A identidade de Maria de Nazaré delineia-se em suas falas e em seus gestos. No que faz e no que diz, mostra-se quem é![3]
O evangelista propõe aos leitores e às leitoras, no início de sua catequese, um modelo de discipulado cristão, calcado no testemunho de Maria de Nazaré. Quem se der ao trabalho de lê-la, assimilá-la e transformá-la em projeto de vida, terá a mesma grandeza humana e espiritual da mãe do Messias Jesus, a discípula exemplar.
1-A pequenez agraciada por Deus
O paradoxo da narrativa evangélica corresponde ao modo divino de agir[4]. Ao longo da história, as mediações divinas foram pessoas simples do povo, sem qualquer destaque social (Ex 4,10; Jz 11,1; Jr 1,6). Eis porque Deus envia o anjo Gabriel, “a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré” (Lc 1,26). Os galileus eram vítimas dos preconceitos dos habitantes da Judeia, que os consideravam “povo da terra”, judeus de categoria inferior, pela contaminação religiosa e cultural, de longa data (Jo 7,49). Aliás, chamavam aquela região de “Galileia dos pagãos” (Is 8,23b). Para completar, o anjo Gabriel dirige-se a Nazaré, cidade perdida nas montanhas, fora das grandes rotas de comércio e de trânsito. Um sinal de sua absoluta falta de importância pode-se deduzir de a Bíblia fazer alusão a milhares de cidades, exceto Nazaré. Nenhum fato bíblico, importante ou não, é reportado como tendo acontecido nessa cidadezinha ignorada. Jo 1,46 reporta a admiração de Natanael, quando Filipe refere-se a Jesus, na condição de Messias: “De Nazaré pode sair algo de bom?” O preconceito que recaiu sobre Jesus, igualmente, recaía sobre Maria. Entretanto, ela não se deixou bloquear por esse peso malévolo, antes, assumiu com grandeza de alma o que Deus lhe propunha. A disponibilidade para Deus, no episódio da anunciação, revela um modo de proceder da Mãe de Jesus. O sim dito a Deus, naquele momento preciso, fluiu na sequência de muitos outros “sins”, com os quais sua vida era tecida. As palavras de disponibilidade ao projeto divino brotavam de uma vida toda centrada no querer de Deus, embora o cotidiano de Maria, em nada, se diferenciasse do dia a dia das demais mulheres de Nazaré (BOFF, 2003).
Outro paradoxo diz respeito ao ser Maria, ao mesmo tempo, virgem (parthénos) e desposada (emnesteuméne) com José, “da casa de Davi” (Lc 1,27). Deus se afeiçoará de tal mulher e, com ela, fará uma espécie de aliança, confiando-lhe a enorme tarefa de ser a mãe do “filho do Altíssimo”, a quem seria dado “o trono de Davi, seu pai” (Lc 1,32).
Só os simples estão aptos para enfrentar experiências de fé dessa magnitude. Os sábios e poderosos estão incapacitados, por serem cheios de si mesmos e seus projetos, a ponto de não haver espaço em seus corações para acolher, com total abertura, o que vem de Deus. “O fato de Maria, menina pobre de Nazaré, conceber Jesus Messias, o Filho de Deus, indica que o Deus da vida inverte a ordem social: os pobres e oprimidos se tornam sujeitos da história com o projeto de solidariedade e fraternidade” (NAKANOSE, 2012, p. 14)[5].
A simplicidade de Maria impede-a de compreender a saudação angélica, que a chama de “cheia de graça” (kecharitoméne[6]), agraciada, “eleita pelo favor de Deus”[7], e declara: “O Senhor está contigo!” (Lc 1,28)[8]. “Não é de se admirar que Maria, pessoa humilde e pobre, tenha ficado confusa e impressionada diante da saudação do anjo” (MESTERS, 1978, p. 57). Daí a perturbação e a incerteza do significado de tudo aquilo (Lc 1,29). A condição humilde (tapeínosis – Lc 1,48) não a permitia tomar as palavras do anjo Gabriel como evidentes [9]. Pareciam não se enquadrar em sua realidade! Sua autoconsciência era a de uma mulher simples do povo, sem qualquer predicado especial para justificar o que ouvia o anjo comunicar-lhe. Teria havido um engano? Gabriel se equivocara e se dirigira à pessoa errada? A “intervenção da força assombradora e assombrosa de Deus”, em sua vida, extrapolava todos os limites do imaginável (OLIVEIRA, 2000, p. 57).
Maria “confessa que foi sua situação de pequenez que atraiu o olhar misericordioso de Deus” (BOFF, 2009, p. 342). Deus volveu o olhar “sobre a humildade (tapeínosis) de sua serva” (Lc 1,48) e percebeu estar à altura de se tornar colaboradora na obra salvífica, em favor da humanidade[10]. A decisão divina, portanto, teve uma motivação específica. Por isso, Maria foi destinada “a fazer coisas grandes”, em nome do Deus Santo e Poderoso (Lc 1,49).
A observação do narrador, em Lc 1,56, para fechar a cena da visitação, corresponde a Lc 1,38, declaração conclusiva da cena da anunciação. A radicalidade de Maria, ao se colocar inteiramente nas mãos de Deus, equipara-se à sua radicalidade no serviço à prima Isabel. A informação – “Maria permaneceu com ela cerca de três meses” – deve ser interpretada para além da conotação cronológica. De fato, o leitor é informado que Maria serviu Isabel, durante todo o tempo em que necessitou. E só voltou para Nazaré, quando percebeu não ser mais necessária sua ajuda. Enquanto a prima careceu de cuidados, esteve junto dela para servir, com total gratuidade, pensando, apenas, na atenção a lhe ser dispensada. Só se sentiu liberada ao perceber que a prima estava em condições de retomar, por si só, a rotina doméstica[11]. A fé de Maria e o seu sim a Deus expressaram-se como dedicação integral à prima fragilizada pela gravidez na velhice, da mesma forma como se entregara, totalmente, ao projeto de Deus. “Maria é, assim, apresentada como uma mulher pobre da periferia, consciente e comprometida com a causa dos pobres” e com a causa de Deus (NAKANOSE, 2013, p. 15; cf. MESTERS, 1978, p. 32-33.41-44).
2- Serva do Senhor e servidora do próximo
A perícope lucana da anunciação começa com uma observação temporal enigmática: “no sexto mês” (Lc 1,26). O leitor pergunta-se a que se refere. A resposta só ocorrerá no v. 36, quando a expressão “sexto mês” reaparece. Isabel e sua necessidade de cuidados estão no pano de fundo da cena. O anjo Gabriel confronta Maria em duas vertentes: por um lado, apresenta-lhe o projeto divino, referente à geração de um “Filho de Deus”, pela “força do Altíssimo”, cujo Espírito Santo a cobriria com sua sombra (Lc 1,35); por outro lado, confronta-a com a gravidez da velha prima estéril, já em estado avançado de gestação (Lc 1,36).
Na perspectiva do anjo Gabriel, a alusão à concepção da estéril Isabel, em paralelo com a concepção virginal de Maria, tinha como objetivo mostrar como “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Entretanto, pode-se dar um passo além e entender a referência a Isabel como um desafio para a fé de Maria. Que haveria de fazer, sabendo da gravidez de alto risco da prima, certamente, carente de ajuda? Como reagiria, após a surpreendente experiência de ser declarada “agraciada”, e gozar a especial proteção divina (Lc 1,28)? Qual será a sequência dos fatos?
A cena da visita a Isabel ilumina a cena da anunciação, ao revelar a profundidade da misericórdia de Maria que, “naqueles dias, levanta-se e vai apressada à montanha, a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). O narrador lança mão de um recurso literário, chamado elipse, para falar, em um único versículo, de Maria saindo de Nazaré e chegando à Judeia[12]. Cabe ao leitor imaginar as agruras de uma viagem de quase cento e cinquenta quilômetros, a pé, por uma estrada infestada de ladrões, devendo ser percorrida em uma semana, com a necessidade de pernoitar em hospedarias coletivas. O versículo sintético permite supor ter Maria empreendido sozinha a viagem, sem medo, consciente da responsabilidade de servir a prima carente de cuidados. E, mais, despreocupada com as tarefas domésticas, deixadas para trás, como se não lhe dissessem mais respeito. A missão, agora, consistia em se colocar toda a serviço da prima, à ponto de dar à luz.
Maria, na cena da anunciação, é desafiada a abrir o coração, simultaneamente, a Deus, cujo enviado lhe comunicava algo de importância transcendente, e à prima, que habitava muito distante, porém, carecia de seus cuidados. “A palavra de Deus fez com que ela saísse de si mesma e se esquecesse dos seus problemas, para poder pensar nos problemas dos outros” (MESTERS, 1978, p. 30). A vida de Maria passa a girar entre dois polos: a missão de gerar Jesus, “o santo filho de Deus” (Lc 1,35) e a de levar conforto para a prima necessitada.
O diálogo com o anjo Gabriel produz uma dinâmica espiritual que une, em Maria, a total abertura para Deus e para o próximo carente[13]. Assim, a cena da visitação decorre espontânea da cena da anunciação, como dois momentos mútuo relacionados de um só movimento. A serva de Deus, de maneira natural, transforma-se em serva da prima carente, sem qualquer sinal de coação. O gesto de servir ao próximo decorre, espontaneamente, do serviço a Deus.
3-A contemplação desdobra-se em ação
Uma tentação recorrente consiste em pensar a fé em termos dualistas, de modo a desconectar elementos que, por natureza, estão unidos. Este é o caso da contemplação e da ação ou, em outras palavras, da oração e da vida. A fé dos pequeninos tende a não cair nessa armadilha, ao superar os impulsos de uma fé racionalista pela experiência de fé existencial, histórica, em conformidade com a tradição cristã original.
A catequese lucana narrou Maria de Nazaré como a serva do Senhor que soube coligar, com perfeição, os dois polos da espiritualidade cristã. A cena da anunciação apresenta-a, inteiramente, contemplativa, num diálogo aberto e franco com o “anjo Gabriel enviado por Deus” (Lc 1,26). Trata-se de uma oração em que o diálogo entre Deus e a orante está enraizado na história. Maria recebe, da parte de Deus, a revelação de estar envolvida pela graça divina e ter sempre consigo o Senhor. Cabe ao leitor intuir a ação divina no agir cotidiano de Maria, desdobrando-se em gestos de bondade. A condição de kecharitoméne, jamais, poderia dar espaço ao egoísmo, tampouco à insensibilidade em face ao sofrimento alheio. Antes, a riqueza da graça recebida mostra-se verdadeira numa vida virtuosa, feita de serviço ao próximo.
A sequência da conversa entre Maria e o anjo Gabriel toca um tema de extrema sensibilidade na sociedade da época: a eventualidade de se gerar um filho sem a participação masculina. O diálogo é feito de discernimento, com pedido de esclarecimentos e esforço de compreensão por parte de Maria. Como argumento, o anjo Gabriel apresenta o caso de Isabel, prima de Maria, a ponto de entrar em trabalho de parto, embora sendo idosa e tida na conta de estéril. Uma premissa põe fim à resistência de Maria: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Só, então, Maria dá um “sim” resoluto: “Eis aqui a serva do Senhor, realize-se em mim conforme a tua palavra” (Lc 1,38).
A disposição de, em tudo, obedecer ao querer divino é característico dos pequeninos[14]. De modo especial, nas situações em que a pura razão se torna incapaz de compreender o sentido dos fatos e só resta buscar outra forma de racionalidade, às vezes, perceptível de leve, à luz da fé. Esse foi o caso de Maria!
O diálogo-contemplação dá, então, lugar para o agir misericordioso, desdobrando-se num gesto de total entrega ao cuidado da prima Isabel. Sem contemporizar, Maria parte, às pressas (spoudés), para uma terra distante onde está alguém que dela necessita. A narrativa parca do evangelho abre espaço para a imaginação do leitor, que contempla a alegria de Maria em poder servir; a entrega generosa a quem dela necessita, sem qualquer exigência ou condição; a liberdade em relação a tudo quanto lhe era caro em Nazaré, onde estavam suas responsabilidades familiares e, sobretudo, a certeza de estar correspondendo ao querer de seu Deus. Enfim, é “a alegria pelo dom de uma vida” (CALDIROLA, 2013, p. 13).
A presença de Maria, junto à prima grávida, é portadora de alegria especial, oriunda do Espírito de Deus! Por isso, a criancinha dá pulos de alegria no ventre de Isabel, que “repleta (eplésthe) do Espírito Santo” (Lc 1,41), participa da graça (cháris) concedida a Maria. Maria, agraciada pelo Espírito Santo (Lc 1,35) vindo do alto, torna-se irradiadora do Espírito, numa comunicação natural de algo que lhe fora concedido. O misterioso transbordar do Espírito Santo foge-lhe do controle, fazendo a alegria reinar ao seu redor.
O tema da alegria diz respeito, também, a Maria, quando declara se alegrar, profundamente, pela salvação recebida de seu Deus: “Alegra-se meu espírito por causa do meu Deus salvador” (Lc 1,47). O Espírito que, nela, é fonte de alegria converte-a em missionária da alegria e da esperança, característica de quem abre o coração para servir o próximo, sem interpor dificuldades. Ela é a imagem dos pequeninos transformando a contemplação em ação, como alegre doação de si mesmos aos irmãos carentes.
Maria toma uma decisão que comprometerá toda sua vida com inteira liberdade, sem a preocupação de ter a autorização de José, a quem fora prometida em casamento (Lc 1,27). Sua “maternidade é uma opção livre. [...] não consulta José, ela toma sua própria ‘decisão’” (MENA LÓPEZ, 2006, p. 140). Trata-se de atitude inusitada, considerando a condição das mulheres na época, dependentes dos pais e, posteriormente, dos maridos. “A atuação autônoma de Maria é contrária ao costume do mundo patriarcal do seu tempo” (NAKANOSE, 2013, p. 14). A fé exigiu dela romper com o machismo imperante, na sociedade e na religião, e abrir espaço para uma relação de igualdade e respeito entre homem e mulher, esposo e esposa, como se verá nas cenas seguintes, nas quais Maria e José são descritos em total comunhão (Lc 2,4.16.33.48).
4-Fé vivida e fé proclamada
O Magnificat (Lc 1,46-55) apresenta um elemento importante na fé dos pequeninos: a proclamação da fé vivida[15]. Proclamar a fé consiste em anunciar o Deus em quem se crê e sob cuja guia se caminha. É a tarefa de revelar sua identidade, reconhecida em seus feitos em favor da humanidade, deixando de lado as falas teóricas.
A “teologia” confessada por Maria transparece nas entrelinhas de seu hino de louvor. Trata-se de um Deus desconcertante, a lançar seu olhar sobre (epiblépo) uma humilde mulher das montanhas da Galileia, habitante de uma cidade desconhecida e mal afamada. O Deus de infinita majestade se dá ao trabalho de se debruçar sobre um ser humano extremamente humilde (tapeinós), “uma vida destituída de qualquer importância social, como a da imensa maioria do povo humilde e pobre. Era isso que fazia dela uma autêntica tapeiné, uma Maria como tantas outras que existem no mundo” (BOFF, 2009, p. 341; Lc 1,48). Por ser irrelevante social e religiosamente, Deus lhe confia uma tarefa de extrema importância. E Maria reconhece as coisas grandiosas (megála) feitas pelo Santo em seu favor (Lc 1,49), como fizera ao longo da história de Israel. “É a memória dos pobres, dos que não esqueceram, como os sacerdotes no templo, quem é o nosso Deus, de que lado ele está e o que é que ele quer” (GALLAZZI, 2006, p. 130).
A preocupação e o interesse do Santo de Israel por ela têm dimensões mais vastas e vêm de longa data. “A correlação entre santidade e misericórdia, que foi uma constante na experiência histórica da fé israelita, aparece também aqui” (CALERO DE LOS RIOS; ÁLVAREZ PAULINO, 1999, p. 351). A misericórdia (éleos) divina estende-se a toda humanidade, passando de geração em geração, para aqueles que lhe abrem o coração e vivem no temor do Senhor (Lc 1,50). Excluem-se os que têm seus corações enclausurados no egoísmo, incapazes de reconhecer o quanto são amados pelo Deus Salvador (theós sotér – Lc 1,47). Portanto, o Deus dos pequenos, longe de ser faccioso e excludente, é o Deus da misericórdia universal, confrontado com a liberdade humana, a quem compete acolher ou não sua oferta de amor. Enquanto os pequeninos e os pecadores acolhem o dom divino, os grandes e poderosos o rejeitam.
Os v. 51-53 descrevem a visão de sociedade, na leitura teológica dos pequeninos. “A voz que se expressa em Miriam é a voz dos marginalizados e humildes, ela anuncia precisamente a felicidade para estes grupos” (NAVIA VELASCO, 2003, p. 17). Os soberbos e arrogantes (hyperéphanoi), bem como os poderosos (dynástai) e os ricos (ploutoúntes) são contrapostos aos humildes (tapeinói) e aos famintos (peinóntes). Enquanto os primeiros são confundidos em seus raciocínios, destronados e reduzidos à indigência, os segundos são elevados e repletos de bens. “O cântico de Maria proclama, de forma profética, a ação transformadora de Deus nas relações sociais. Embora use termos em contraposição, não defende mera troca de papéis: quem está em cima passaria para baixo e vice-versa. [...] Maria alimenta a esperança de que vale a pena sonhar e criar alternativas em vista de uma nova sociedade” (MURAD, 2017, p. 78). Por conseguinte, o modo como a pobre nazarena lê a realidade, nada tem de alienado, tampouco ingênuo. Antes, atinge a raiz das injustiças, geradoras de exclusão, opressão e morte. Essa teologia engajada sublinha um elemento importante na fé dos pequeninos: a capacidade de pensar Deus contrário à injustiça e, ao mesmo tempo, disposto a fazer uma autêntica revolução, de modo a superar as estruturas socioeconômicas, geradoras de desequilíbrios sociais, a penalizar, sempre mais, os pobres e a gerar marginalização social.
Os v. 54-55 ilustram o agir divino com o exemplo de Israel. O pano de fundo é a teologia do êxodo, quando Deus ouve o clamor de um povo massacrado pela prepotência do faraó, a ponto de ser eliminado, sente-se afetado e lhe envia um libertador. A ação em favor de Israel resulta da misericórdia entranhada no coração de Deus, que não o permite assistir impassível ao sofrimento dos pequenos. Outro elemento diz respeito à fidelidade divina. A promessa de outrora – “como falou a nossos pais” – permanece de pé e vale para sempre (eís tón aióna), englobando Abraão e toda sua descendência (tó spérmati autoú), inclusive Maria.
Maria assume essa teologia, que fala de um Deus afetado pelos pequeninos, a quem acompanha e protege com sua misericórdia, impedindo que os soberbos e poderosos prevaleçam, transformando-os em vítimas[16]. Esse é o Deus da fé de Maria, proclamado no Magnificat, numa teologia militante, inteiramente, aderente à sua história pessoal e à história de seu povo. E, mais, “todo o canto inscreve-se no mesmo sopro libertador//, típico do evangelho de Lucas, evangelho dos pobres, e da dimensão profética de Jesus” (RUIZ, 1980, p. 783 – grifo do autor).
5-Diálogos interligados pela fé
A dupla anunciação-visitação apresenta Maria dialogando em dois níveis inter-relacionados. Embora pareçam justapostos, na verdade, fluem em perfeita continuidade. O diálogo com o anjo do Senhor tem sequência no diálogo com a prima Isabel. É a dinâmica da oração dos pequeninos que vai de Deus ao próximo e do próximo a Deus, numa circularidade ascendente e descendente, cuja plenificação é o diálogo eterno com a Trindade.
O colóquio com o anjo Gabriel gira em torno da missão que Deus quer confiar a Maria. A proposta divina deixou-a perturbada, por lhe abrir horizontes jamais imaginados. A consciência da pequenez a impedia de se colocar diante de Deus, pensando ter alguma importância. Por isso, quando o anjo a declara “repleta de graça” e objeto da predileção divina, a ponto de Deus estar com ela, de maneira especial, só lhe cabe ficar perturbada e confusa (dietaráchte). O sentido das palavras do anjo não era claro. Daí a necessidade de pensar profundamente (dielogízeto) o que, afinal, significavam. Como alguém sem importância poderia gozar de tal estima divina? Que sentido tem Deus se preocupar com uma criatura que vive na periferia da periferia do mundo? Que Deus é esse que “perde seu tempo” com alguém sem qualquer peso social e religioso? A fé de Maria é questionada nas bases, na medida em que se vê obrigada a repensar a imagem de Deus, para pensá-lo às voltas com os pequenos desse mundo.
Na sequência do diálogo, Maria é confrontada com uma missão de suma importância, por “ter achado graça diante de Deus” (Lc 1,30): a de ser a mãe do Messias, cujo nome será Jesus (Lc 1,31). Deus tem confiança em Maria, porque a vida de sua serva lhe é toda confiada. O olhar divino volta-se para os pequeninos, com quem Deus conta para realizar “grandes coisas”.
A resposta de Maria ao anjo Gabriel, interpondo a dificuldade de “não conhecer homem” (ándra ou ginósko), aponta para a consciência das implicações do que lhe está sendo proposto. Mesmo diante de Deus, Maria sabe agir com prudência e reflexão, de modo a evitar compromissos precipitados, impossíveis de serem postos em prática.
As palavras do anjo, realmente, são enigmáticas (Lc 1,35). Embora a tradição bíblica conhecesse a concepção por parte de mulheres estéreis, como aconteceu com as matriarcas de Israel (Gn 11,30; 16,1-2; 25,21; 29,31; 30,1-2), bem como com Isabel, conforme a revelação do anjo a Maria, no versículo seguinte, a concepção sem a participação masculina era algo impensável. A referência a Isabel serve para ilustrar a onipotência divina. Entretanto, para o caso específico de Maria, de fato, não serve de modelo.
A resposta de Maria é resoluta: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Mesmo sem compreender, totalmente, o que Deus esperava dela, colocou-se como serva (doulé) e se mostrou disposta a abraçar o que se lhe pedia. A pequenina de Nazaré torna-se modelo de fé ao não condicionar a obediência a Deus à compreensão racionalizante de seu santo querer. A razão da fé dos pequenos é de natureza distinta da dos racionalistas e dos teóricos, por não condicionar a obediência à compreensão racional exaustiva do querer divino e de sua efetivação. Maria deixa de lados tais dúvidas e se abre, inteiramente, à proposta de Deus, com total convicção de tê-lo consigo, como dissera o anjo Gabriel.
A fala com a prima Isabel vem na sequência do diálogo com o anjo, pois o evangelista não se deu ao trabalho de narrar detalhes da viagem de Nazaré até as montanhas da Judeia, tudo acontecendo no espaço de um versículo (Lc 1,39). Ela é “uma jovem decidida, dotada de iniciativa própria e radical autonomia, que atravessa um extenso território sozinha, para levar a cabo seu propósito” (NAVIA VELASCO, 2003, p. 11). O v. 40 chama a atenção pelo fato de Maria ter entrado na casa de Zacarias e saudado Isabel, como se tivesse passado por ele sem vê-lo. Zacarias é desprovido de importância, pois o objetivo da viagem de Maria consiste em servir a prima Isabel. É possível entender que a casa seja de Zacarias. Porém, quando Maria chegou, ele não estava aí. Assim, Maria não tinha como saudá-lo! Se estivesse presente, a tradição a obrigava cumprimentá-lo, em primeiro lugar. Assim, os personagens da cena são, apenas, duas pequeninas, expressando a fé das mulheres marginalizadas!
Isabel, de certo modo, retoma os elogios que o anjo Gabriel tecera para Maria (Lc 1,28), ao declará-la: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Ser agraciada (kecharitoméne) e bendita (eulogoméne[17]) parecem uma realidade única. Com isso, Isabel ratifica as palavras do anjo.
Fica a impressão de Isabel ter presenciado o diálogo de Maria com o anjo Gabriel, ao se declarar honrada de receber a visita da “mãe do meu Senhor” (hé méter toú kyríou mou) (Lc 1,43), como se conhecesse o conteúdo da cena anterior. O “santo filho de Deus” (Lc 1,35) é reconhecido como “senhor”, com toda carga de messianidade contida no termo. De certa forma, Isabel é a primeira a reconhecer e confessar o messianismo de Jesus.
O sinal da messianidade do filho que Maria traz no ventre tornou-se patente na alegria que a criança manifestou, dando saltos (eskírtesen) no ventre de Isabel, que se torna repleta do Espírito Santo (Lc 1,41).
A fala de Isabel corresponde ao reconhecimento do que o anjo Gabriel dissera a Maria, como forma de respaldar a declaração divina, tornando-a ainda mais veraz. Isabel dá mostras de estar unida a Deus, como é o caso de Maria. Por isso, o diálogo entre elas transita entre o humano e o divino, entre o céu e a terra, entre a transcendência e a história, como dois polos inter-relacionados. A pequenina de Nazaré encontrou a pequenina da Judeia e ambas são capazes de se compreender, como se fossem almas gêmeas. “As duas mulheres pobres acreditam na ação salvífica de Deus na história, manifestada na tradição dos pobres do Antigo Testamento: ele está a favor dos pobres, está no meio deles” (NAKANOSE, 2013, p. 15).
As palavras finais de Maria, no Magnificat (Lc 1,46-55), à primeira vista, podem dar a impressão de quebrar o diálogo com Isabel. Entretanto, na perspectiva narrativa do texto, fecham com chave de ouro o conjunto dos diálogos – com o anjo Gabriel e com a prima Isabel –, ao descrever a misericórdia de Deus em ação na história humana, sempre se colocando ao lado dos pequeninos e dos marginalizados, como se pode ver no díptico da anunciação-visitação. O Deus que encheu de graça a mãe de Jesus, a pequenina de Nazaré, é o mesmo que toma a defesa dos humildes e sem peso social. O Deus que deixou de lado as mulheres da capital, tão importantes e louvadas, por valorizar uma mulher simples das montanhas da Galileia, é o mesmo Deus que destrona os poderosos e priva os ricos de seus motivos de orgulho, ou seja, a posse de bens. O Deus que voltou seu olhar complacente para a virgem de Nazaré é o mesmo que, ao longo dos tempos, revela-se cheio de misericórdia para com os desprezados desse mundo. Por conseguinte, processa-se uma clara conexão entre a teologia da anunciação e ateologia do Magnificat, proclamada no diálogo entre Maria e Isabel.
6-A fé nas periferias
Os lugares privilegiados da fé dos pequeninos são as periferias humanas de todos os tipos. Aí a experiência de Deus tende a adquirir maior consistência, na medida em que a idolatria do ter e do poder têm menos chance de se imporem. Uma tentação a ser superada, em vista de se chegar à fé autêntica, é o fideísmo, onde o pobre tudo espera de Deus, numa fé passiva e acomodada, contando com intervenções miraculosas, para resolver-lhe os problemas. Pelo contrário, pensa-se, aqui, a fé como engajamento dos pequenos na transformação da realidade, a partir de gestos singelos de misericórdia e de luta pela justiça, tendo como horizonte o mundo querido por Deus, onde a dignidade humana é respeitada e a condição de filhos e filhas de Deus resplandece em cada ser humano.
O duo lucano da anunciação-visitação, em cujo pano de fundo está a experiência de fé de Maria e de Isabel, situa-se, geograficamente, nas periferias. A anunciação acontece num ambiente de dupla marginalização. A Galileia era uma região secularmente marcada pelo desprezo dos judaítas (os habitantes da Judeia), que, por motivos históricos, consideravam os galileus como judeus de nível inferior, muito distintos de quem morava nas proximidades do Templo, especialmente, na capital Jerusalém, lugar da habitação de Deus, no meio do seu povo.
À marginalização regional, somava-se a marginalização local, da qual Nazaré era vítima. Situada nas montanhas da Galileia, não tinha qualquer importância comercial, religiosa ou política. Não havia, aí, famílias importantes. Nada em Nazaré se destacava. Para completar, pesava sobre ela o estigma da má-fama, que recaía sobre todos quantos provinham daí.
Exatamente a essa periferia, vítima da marginalização e do desprezo, Deus envia o anjo Gabriel, com a tarefa de comunicar a Maria sua condição de “agraciada” (Lc 1,28) e lhe propor a imensa tarefa de ser a mãe de Jesus, destinado a reinar, eternamente, sobre a casa de Jacó (Lc 1,31-33). Afinal, na periferia da periferia, se realizaria a esperança acalentada ao longo de tantos séculos do surgimento do Messias, restaurador da realeza davídica, na condição de “filho do Altíssimo” (Lc 1,32).
A cena segue os padrões da teologia de Israel, que se refere a Deus contando com a colaboração dos fracos e dos pequeninos para fazer acontecer grandes coisas. Inesperado e surpreendente é o convite divino ser dirigido a uma jovem fora do circuito sociorreligioso da época, de modo especial, de Jerusalém, onde, com certeza, havia muitas pretendentes à função de mãe do Messias esperado. A Galileia e Nazaré, sem dúvida, estavam fora de qualquer expectativa messiânica plausível.
A cena da visitação, por sua vez, situa-se, também, na periferia. Agora, na região montanhosa da Judeia, numa cidade, cujo nome é omitido. Em todo caso, não é a capital, Jerusalém, cuja centralidade na religião judaica vinha de longe, desde sua fundação pelo rei Davi (2Sm 5,6-9) e a construção do Templo, pelo rei Salomão (1Rs 6–8). Se Nazaré era a periferia da periferia, a cidade onde habitava Isabel pode ser considerada a periferia do centro.
Na periferia, Maria proclama sua fé com o Magnificat e a vive como serviço à prima Isabel. Vive a espiritualidade como doação e cuidado com o semelhante. Pratica o culto da solidariedade e da gratuidade, sem interpor objeções, nem medir sacrifícios. Em suma, uma vez mais, na periferia, faz uma experiência radical de entrega de sua vida nas mãos de Deus, como desdobramento das palavras dirigidas ao anjo Gabriel: “Eis aqui a serva do Senhor...” (Lc 1,38). O serviço ao Senhor acontece fora do âmbito da sinagoga e do Templo, ao se tornar servidora da prima necessitada de cuidados, nas montanhas da Judeia.
Sua fé independe das estruturas religiosas, em geral, encravadas nos centros urbanos ou em locais de grande afluxo de multidões, como é o caso dos santuários e dos lugares de peregrinação. Basta haver um ser humano carente de cuidados! Onde se encontram tais seres humanos, senão nas muitas periferias de nosso mundo?[18] Aí os pequeninos têm chance de viver sua fé como serviço. Na tradição lucana, Maria é apresentada como exemplo consumado desse modelo de fé, agindo nas muitas periferias do mundo.
Conclusão
A dupla cena da narrativa lucana, anunciação-visitação, permite delinear a fé dos pequeninos de todos os tempos, ao descrever gestos e palavras de Maria de Nazaré. A mãe de Jesus de Nazaré torna-se paradigma exemplar de fé dos simples, “do que acontece com todos os pequenos, infelizes e amargurados deste mundo”, não apenas por sua condição sociorreligiosa e cultural, mas, de modo especial, no seu modo de se relacionar com Deus (anunciação) e com o próximo (visitação) (BOFF, 2009, p. 342). Sem qualquer distinção humana que pudesse torná-la merecedora do beneplácito divino, por pura gratuidade, torna-se agraciada por Deus – kecharitoméne –, que a faz merecedora de ser a mãe de Jesus, “o filho do Altíssimo”, a quem seria dado “o trono de Davi” (Lc 1,32). Por sua pequenez, foi engrandecida aos olhos de Deus. A dinâmica da fé da pequenina Maria permite-a passar do “serviço a Deus” ao “serviço ao próximo”. A fé dos pequeninos caracteriza-se por não se limitar à relação com Deus, pela oração, e, sim, por estabelecer relações de amor misericordioso e de cuidado com os necessitados. É o pobre que se coloca todo ao serviço dos empobrecidos, partilhando de sua pobreza, com total naturalidade, sem exigir nada em troca. O encontro com Deus desdobra-se no encontro com o próximo e a contemplação torna-se serviço, num movimento ininterrupto de abertura e de doação, como se fora um círculo a englobar todas as dimensões da existência, numa unidade bem integrada.
O Magnificat de Maria, “teodiceia dos pobres”, chama a atenção para a fé dos pequeninos, capazes de falar de Deus, sem o perigo dos dogmatismos abstratos e das doutrinas desencarnadas (BOFF, 2009, p. 372). Maria fala do Deus libertador, solidário com os pequenos e os pobres, com quem conta para realizar grandes coisas. “O Deus do Magnificat não é um Deus neutro. No conflito enfrentado com os homens, Deus se mostra decididamente partidário dos que não têm, não sabem e não podem, não para canonizar essa situação, mas para libertá-la e redimi-la” (CALERO DE LOS RIOS; ÁLVAREZ PAULINO, 1999, p. 359). A estreita vinculação com a história leva-o a tomar partido pelos deserdados desse mundo e a agir em detrimento dos ricos e poderosos, cuja soberba abate e cujo orgulho desmascara. Esse é o Deus fiel à humanidade sofredora, proclamado na oração dos pequeninos. “Desde que olhou misericordiosamente, ternamente, amorosamente, ‘a humilhação’ de sua serva, Deus não afastou seu olhar de nossa humilhação: da pobreza que fere, da ferida que sangra, da alma que se comove, da morte que nos ameaça, de tantas e tantas baixezas humilhantes” (APARICIO RODRIGUEZ, 1998, p. 363)[19].
Um aspecto da fé dos pequeninos consiste em acontecer nas periferias de todos os tipos. As muitas periferias – sociais, econômicas, políticas, étnicas, de gênero, culturais, religiosas – são o lugar privilegiado para desabrochar a fé, por ser onde não imperam o deus dinheiro, a violência e a ideologia. Porém, o simples fato de ser periferia socioeconômica não se torna, necessariamente, o lugar do desabrochar da fé dos pequeninos, pois os despossuídos socioeconomicamente podem ter o coração apegado ao dinheiro, serem violentos e sem entranhas de misericórdia no trato com o próximo. Os pequeninos, diante de Deus e do próximo, têm a capacidade de caminhar na contramão do mundo dos grandes e dos prepotentes. Daí se verem obrigados a caminhar à margem da sociedade da exclusão, o reino dos tiranos e dos inimigos de Deus. O caminho dos pequeninos segue por trilhas diferentes, que passam por Deus e pelo próximo necessitado, num estilo de fé inteiramente existencial, sem espaço para devocionalismos vazios, que enredam o crente em práticas religiosas, que lembram as muitas “obras” do farisaísmo judaico do tempo de Jesus, sem espaço para a caridade. Ao caminhar pelas veredas da fé que se desdobra em misericórdia, o pequeno se torna grande aos olhos de Deus, sem se preocupar com a grandeza aos olhos do mundo. Por conseguinte, a fé dos pequenos, em última análise, é a fé dos verdadeiramente grandes.
Referências:
- ALETTI, J.-N. Quand Luc raconte. Paris: Cerf, 2012.
• ALTER, R. The Art of Biblical Narrative. New York: Basic Books, 1981.
• APARICIO RODRIGUEZ, A. El “Magnificat” desde la humillación. Ephemerides Mariologicae, Madrid, v. 48, p. 335-363, 1998.
• BOFF, C. M. Mariologia Social – O significado da Virgem para a sociedade. São Paulo: 2009, 2ª ed.
• BOFF, C. O cotidiano de Maria de Nazaré. São Paulo: Salesiana, 2003.
• BROWN, R. E. O nascimento do Messias – Comentário das narrativas da infância nos Evangelhos de Mateus e Lucas. São Paulo: Paulinas, 2005.
• CALDIROLA, D. Di donne e di gioia – Itinerario spirituale nel Vangelo de Luca. Milano: Ancora, 2013.
• CALERO DE LOS RIOS, A. M.; ÁLVAREZ PAULINO, M. A. El Dios del Magnificat. Isidorianum, Sevilla, v. 8, nº 15, p. 337-361, jan./jun. 1999.
• ESCUDERO FREIRE, C. Devolver el evangelio a los pobres – A propósito de Lc 1-2. Salamanca: Sigueme, 1978.
• FABRIS, R. O Evangelho de Lucas, in FABRIS, R.; MAGGIONI, B., Os Evangelhos II. São Paulo: Loyola, 2006, 4ª ed., p. 9-247.
• FITZMYER, J. A., El Evangelio segundo Lucas II. Madrid: Cristiandad, 1987.
• GALLAZZI, S. Javé é misericórdia – Lendo Lucas 1–2 pela hermenêutica do conflito. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, Petrópolis, nº 53, p.127-135, 2006.
• MARGUERAT, D.; WÉNIN, A. Sapori del racconto biblico. Una nuova guida a testi millenari. Bologna: EDB, 2013.
• MENA LÓPEZ, M. Leitura de Lucas 1–2 a partir de uma perspectiva afro-feminista. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, Petrópolis, nº 53, p.136-146, 2006.
• MESTERS, C. Maria, a mãe de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1978, 2ª ed.
• MURAD, A. Maria – Toda de Deus e tão humana. Compêndio de Mariologia. São Paulo; Aparecida: Paulinas; Santuário, 2017, 6ª reimp.
• NAKANOSE, S. Maria pôs-se a caminho: Uma leitura de Lucas 1,39-45. Vida Pastoral, São Paulo, v. 54, nº 292, p. 11-22, set./out. 2013.
• NAVIA VELASCO, C. Maria e Isabel – Diálogo entre mulheres. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, Petrópolis, nº 46, p. 9-17, 2003.
• OLIVEIRA, A. de. O “Assombramento” de Maria na Anunciação (Lc,26-38), Disdaskalia, Lisboa, v. 30, p. 33-58, 2000. Disponível em: https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/18501/1/V03002-033-058.pdf. Acesso em 21/03/2018
• PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus; Loyola, 2013.
• RUIZ, G. El Magnificat: Dios está por los que pierden. Sal Terrae, Santander, v. 68, nº 810, p. 781-790, nov. 1980.
• SKA, J.-L.; SONNET, J.-P.; WÉNIN, A. L´analyse narrative des récits de l´Ancien Testament. Paris: Cerf, 1999.
• VITÓRIO, J. Análise narrativa da Bíblia – Primeiros passos de um método. São Paulo: Paulinas, 2016. - Notas:
- “Os pequenos são os ignorantes, desprovidos da cultura religiosa, que – num ambiente teocrático como o judaico – é também o passaporte para o reconhecimento e o papel social e religioso. Em outras palavras, os pequenos são os pobres, os excluídos da cultura salvífica da lei. [...] Jesus adota na sua atividade o estilo de Deus, que revela a sua preferência pelos pobres (cf. 4,18), que são ao mesmo tempo os simples e humildes, e a eles concede a verdadeira sabedoria” (FABRIS, 2006, p. 123). O sentido literal de népios é criança, [lat. infans] (Mt 21,16; Rm 2,20; 1Cor 13,11; Gl 4,1.3; 1Ts 2,7; Hb 5,13). Porém, pode adquirir sentido figurado, por exemplo, na expressão “como crianças em Cristo” (hós népiois en christo) (1Cor 3,1).
- “A composição dos personagens lucanos é, com frequência, complexa. [...] Recordemos a capacidade lucana primária de construir com poucas palavras uma figura narrativa cujos traços derivam de vários registros, que conferem ao personagem espessura e credibilidade em face ao leitor. A caracterização lucana evidencia-se, em primeiro lugar, pelo frequente recurso ao componente afetivo, em segundo, pelo uso de elementos burlescos, em terceiro, pelo gosto da dimensão paradoxal” (MARGUERAT-WÉNIN, 2013, p. 167). A leitura da catequese lucana deve ter sempre em vista seu foco cristológico. Tudo, nela, aponta para a cristologia. “Talvez, a obra lucana seja, de fato, o primeiro ensaio de cristologia verdadeiramente narrativa” (ALETTI, 2012, p. 276).
- “A identificação dos personagens bíblicos se constrói no decorrer de suas falas e de suas ações. [...] O narrador comporta-se com discrição, procurando intervir o menos possível com informações dadas fora da narração. O conhecimento do personagem resultará do esforço do leitor de estar atento a suas falas e a seus gestos” (VITÓRIO, 2016, p. 79-80).
- Como acontece nas narrativas bíblicas, “o personagem ‘Deus’ tem um papel determinante. [...] Por trás das palavras está a imagem de Deus que (o narrador) deseja transmitir aos leitores. [...] Os personagens ‘humanos’ da Bíblia, em última análise, definem-se por sua relação com o personagem ‘Deus’. [...] Sem história vivida e interpretada não existe teologia!” (VITÓRIO, 2016, p. 80-81). Uma leitura atenta revela ser Lc 1,26-56 a história de Deus na vida de Maria de Nazaré, enquanto discípula, que “ouve (akoúo) a Palavra de Deus e a observa (phulásso)” (Lc 11,28), como se espera de todo discípulos e discípula de Jesus.
- “Lucas não idealiza a pobreza. Mas alerta que o apego à materialidade das coisas afasta as pessoas de Deus. Há uma íntima relação da riqueza acumulada com o orgulho e a vaidade. Quem se faz poderoso, sábio e entendido não compreende a originalidade do Reino de Deus. Aquele(a) que está no grupo dos ‘pequeninos’ pode entrar no mistério do Pai e acolher sua mensagem” (MURAD, 2017, p. 72).
- “Kecharitomene vem do verbo factitivo charitoun (‘favorecer alguém, conceder graça a alguém’), da mesma raiz de charis (‘graça, favor’)” (BROWN, 2005, p. 343). O particípio perfeito passivo do verbo, cujo agente é Deus (passivo teológico), pressupõe uma ação divina que se prolonga na vida de Maria de Nazaré.
- Assim FABRIS (2006, p. 31-32) traduz o verbo grego. Para ele, “Maria é escolhida pelo amor benévolo de Deus, pela ‘graça’, para uma tarefa excepcional, aquela que os profetas antigos prenunciavam”. FITZMYER (1987, p. 114) traduz por “favorecida”, pois “Maria é ‘a favorecida por Deus’ [...] pois Deus faz dela a mãe do futuro descendente de Davi e verdadeiro filho do Altíssimo”.
- “Na Sagrada Escritura, quando a pessoa tem uma missão importante e difícil, recebe de Deus a promessa de que não ficará sozinha, pois ele vai lhe dar força para realizá-la. Veja, por exemplo, na vocação de Isaac (Gn 26,3.24), de Jacó (Gn 28,15), de Moisés (Ex 3,11s e 4,12), de Gedeão (Jz 6,12) e de Jeremias (Jr 1,19). Ao dizer: ‘o Senhor está contigo’, pede-se que a pessoa não tenha medo, confie em Deus e se comprometa. Assim também acontece com Maria” (MURAD, 2017, p. 54).
- O vocábulo humildade, aplicado a Maria, está longe de ter uma conotação moral, apontando para uma atitude interna. “E, sim, está em conexão como uma situação exterior de miséria, sofrimento, impotência, debilidade, pequenez, escravidão, falta de influência na sociedade etc. Maria pertence, sem dúvida, às classes sociais baixas de seu povo, a essa camada que não tem voz nem influência social ou política. Forma parte dos pobres de Yahvé, e comparte com seu povo todos os sofrimentos que derivam de uma situação político-social de dependência” (ESCUDERO FREIRE, 1978, p. 205 – grifos do autor).
- Tapeínosis, vocábulo usado apenas em Lc 1,48, diz respeito à condição sociorreligiosa de Maria, moça do interior, sem nenhum predicado que a distinguisse. A forma verbal tapeinóo, com semântica idêntica, ocorre em Lc 14,11; 18,14: “Quem se exalta, será humilhado (tapeinothésetai); quem se humilha (tapeinón) será exaltado”.
- Aqui está presente um tema importante na catequese lucana: a radicalidade da misericórdia que aparece, por exemplo, em Lc 7,36-50 (a pecadora na casa do fariseu Simão); 10,30-37 (a parábola do bom samaritano); 15,11-32 (a parábola do pai misericordioso); 23,39-43 (o crucificado que perdoa até o fim).
- “Elipse é quando (na narração) se passa em silêncio um período, omitindo-se de narrar fatos acontecidos naquele espaço de tempo. [...] A elipse funciona como princípio de economia narrativa” (VITÓRIO, 2016, p. 116-117).
- Na perícope estudada, os diálogos assumem uma importância preponderante, traço característico das narrativas bíblicas, onde, “em última análise, a narração é orientada para o diálogo” (ALTER, 1981, p. 66). “A representação de diálogos é a técnica mais significativa e a melhor ilustrada de opção ‘cênica’ da narração bíblica. A interação dos personagens corresponde sempre à interação de suas palavras” (SKA; SONNET; WÉNIN, 1999, p. 30 – grifo dos autores). Cada palavra dos personagens tem um peso especial na tessitura semântica do texto. Para a importância dos diálogos nas narrações bíblicas, cf. ALTER, 1981, p. 63-87.
- “Em momentos históricos transcendentais para a constituição e libertação do povo de Israel, Deus escolhe pessoas radicalmente incapacitadas para tarefa tão árdua, porém supera tal desproporção com sua presença histórica e sua atividade salvífica” (ESCUDERO FREIRE, 1978, p. 209).
- Para uma “leitura social do Magnificat”, cf. BOFF, 2009, p. 333-380.
- A teologia do Magnificat corresponde à teologia da história do Antigo Testamento. Nessa, “o grande, o arrogante e o prepotente são abatidos irremediavelmente por Deus; o pequeno, o insignificante e o inseguro são exaltados pela potência divina. Esta lei se manifesta como verdadeira constante ao longo da história de Israel e é, sem dúvida, o pano de fundo que explica a atividade de Deus em favor de Maria, dada sua insignificância, sua indigência e sua confiança no Senhor” (ESCUDERO FREIRE, 1978, p. 211).
- Como em kecharitoméne, o agente do particípio perfeito passivo de eulogéo é Deus. A ação divina no passado mantém seus efeitos no presente.
- O Papa Francisco (EG 20.46) tem nos alertado a “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” e “chegar às periferias humanas”. Em suas falas, tem chamado a atenção para as “periferias existenciais”, em que os seres humanos se encontram.
- “‘Ver a tapeínosis//’ é expressão da compaixão divina para com o sofrimento humano. Portanto ‘ver’ ou ‘olhar’ a ‘humilhação’ é expressão da opção de Deus pelos pobres e de sua vontade de libertá-los. De fato, o ‘olhar’ de Deus simboliza muitas vezes sua solicitude em libertar os que estão aflitos” (BOFF, 2009, p. 342). Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
O significado da oferta das flores à Mãe Aparecida
- Detalhes
Essa tradição vem de muito tempo: na Idade Média os vassalos tinham o costume de oferecer a seus soberanos coroas de flores, em sinal de submissão e de respeito. Os cristãos adotaram este uso em honra da Mãe de Jesus, oferecendo-lhe rosas em sua homenagem e respeito. Vem desse costume também, a origem da oração do rosário com a prática da recitação da Ave-Maria a partir do século XII, no Ocidente, como expressão da piedade mariana.
O ato está relacionado também, ao Sim de Maria, já que Ela gerou Cristo, se dispondo a missão primeira de Deus aos cristãos, que é a vida, como explica Padre Ferdinando.
“O gesto de ofertar flores está profundamente ligado à entrega da própria vida, dos dons da gratidão, da generosidade, do reconhecimento do amor de Maria para com Deus e para com cada um de nós, povo de Deus.”
A Oferta das Flores acontece sempre após a bênção do Santíssimo. Os devotos são convidados a seguirem em procissão ao Altar Central e fazerem a sua expressão de fé, carinho e ternura para com a Mãe de Deus, recordando os compromissos listados pelo sacerdote. Fonte: http://www.a12.com
Quinta-feira 11: Olhar do dia.
- Detalhes
Tudo pronto- com os zabumbeiros- para a última noite da Novena de Nossa Senhora Aparecida na Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL.
Pág. 243 de 664