Lula conversa com Papa Francisco por telefone e convida religioso para visitar o Brasil
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Ligação ocorreu na manhã desta quarta-feira (31). Segundo o Palácio do Planalto, conversa também abordou combate à pobreza e busca pela paz no leste europeu.
O Papa Francisco e o presidente Lula. — Foto: Reprodução/Twitter LulaOficial
Por g1 — Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por telefone com o Papa Francisco, na manhã desta quarta-feira (31). Segundo o Palácio do Planalto, na conversa, Lula convidou o religioso para visitar o Brasil.
Sobre o convite, o governo brasileiro informou que o líder da Igreja Católica "ficou de analisar a possibilidade da visita".
Segundo o Planalto, Lula deve visitar o Vaticano para uma reunião com o Papa em junho ou julho deste ano.
O telefonema estava previsto na agenda oficial do presidente desta quarta. De acordo com o governo, Lula agradeceu ao religioso pela atuação "pela paz na Ucrânia" e no combate à pobreza.
"Lula ainda relatou ao papa suas conversas com outras lideranças em busca da paz na Ucrânia, e lamentou a escalada do conflito na região", diz nota do Planalto.
Segundo comunicado oficial, Lula também agradeceu pelos empenhos da Igreja Católica no Brasil pela "preservação da Amazônia, contra as forças que atacam a floresta".
Em uma rede social, o presidente disse que agradeceu ao Papa pelos "gestos na defesa da democracia em nosso país [o Brasil] nos últimos anos". Fonte: https://g1.globo.com
Lula envergonha o Brasil
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Para petista, inúmeras evidências de atrocidades na Venezuela não passam de ‘narrativas’ contra o ‘companheiro Maduro’; vexame rasga de vez a fantasia da ‘frente ampla democrática’
O presidente Lula da Silva envergonhou o Brasil de uma maneira como poucas vezes se viu nos últimos tempos – e olhe que o País passou muita vergonha durante o mandato do antecessor de Lula, Jair Bolsonaro. Depois de estender o tapete vermelho para Nicolás Maduro, pária mundial por razões óbvias, o petista declarou que o tirano venezuelano é um governante legitimamente eleito e que a Venezuela, portanto, é uma democracia exemplar.
Na opinião de Lula, todas as inúmeras denúncias de violações de direitos humanos, de manipulação das eleições e de perseguição a dissidentes e jornalistas naquele país não passam de “narrativa que se construiu contra a Venezuela”. Lula então sugeriu ao “companheiro Maduro” que “construa a sua narrativa”, que “será infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você”.
“Eles”, no caso, são os “nossos adversários”, conforme Lula chama aqueles que “vão ter que pedir desculpas pelo estrago que eles fizeram na Venezuela”. Encabeçam essa lista os Estados Unidos e a União Europeia, que impuseram sanções contra o regime chavista por conta das atrocidades cometidas por Maduro. Na “narrativa” de Lula, americanos e europeus simplesmente “não gostam” de Maduro, por puro “preconceito”, e por isso resolveram inviabilizar o governo chavista – e as agruras dos venezuelanos, com hiperinflação, escalada da miséria e da fome e êxodo de 7 milhões de cidadãos em poucos anos, seriam resultado das sanções internacionais, e não da ruína do país promovida pelo chavismo.
Não há dúvidas de que o Brasil deveria restabelecer relações com a Venezuela, grosseiramente rompidas, por razões puramente ideológicas, pelo governo Bolsonaro. Exportamos para o vizinho cerca de US$ 1 bilhão e importamos quase US$ 500 milhões. Ambos compartilham mais de 2 mil km de fronteira na Região Amazônica, delicada tanto do ponto de vista ambiental quanto em razão do narcotráfico. Cerca de 20 mil brasileiros vivem na Venezuela, e, entre imigrantes e refugiados, há mais de 300 mil venezuelanos no Brasil.
Nada disso significa, no entanto, que o Brasil deva ignorar que a Venezuela é hoje talvez a mais violenta ditadura da América Latina, só rivalizando com a da Nicarágua – outro país governado por um “companheiro” de Lula, o ditador Daniel Ortega. Não se espera que Lula saia por aí a denunciar os crimes desses tiranos, mas se espera, sim, que ele não insulte a inteligência alheia nem os venezuelanos que padecem horrores sob as patas de Maduro ao declarar que na Venezuela vigora uma democracia plena e que, por isso, Maduro é governante legitimamente eleito. Em relatório recente, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU informou que “os serviços secretos militares e civis do Estado venezuelano funcionam como estruturas efetivas e bem coordenadas na implementação de um plano orquestrado no mais alto nível do governo para reprimir dissidências através de crimes contra a humanidade”. Eis aí a “narrativa” que Lula pretende denunciar.
É difícil saber o que governou a decisão de Lula de afagar Maduro dessa maneira indecente. Ao fazê-lo, o presidente desqualificou o Brasil como eventual mediador entre Maduro e a oposição nas negociações para a distensão do regime. Ademais, internamente, o gesto de Lula tende a implodir de vez a fragilíssima “frente ampla” que o elegeu e com a qual prometeu governar, algo incompreensível diante da necessidade premente de construir governabilidade.
Nada disso parece importar para Lula. Em seus delírios, a Venezuela voltará a se beneficiar de vultosas obras de infraestrutura financiadas pelo Brasil, como se o Ministério da Fazenda não estivesse catando moedas no vão do sofá para fechar as contas. Lula também promete ajudar a Venezuela a integrar os Brics. Como se sabe, Rússia e China, junto com autocracias como Irã, Turquia e Arábia Saudita, planejam transformar esse grupo econômico de emergentes em um clube geopolítico antiocidental. A julgar pelo obsceno discurso de Lula, é uma narrativa que faz brilhar os olhos do chefão petista, que parece sonhar acordado com o dia de sua consagração como grande líder desse tal “Sul Global”. Fonte: https://www.estadao.com.br
Jornalistas são agredidos por seguranças de Maduro; Itamaraty lamenta
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Jornalistas são agredidos por seguranças de Maduro; Itamaraty lamenta
Por g1 — Brasília
Jornalistas foram agredidos na noite desta terça-feira (30) no Palácio do Itamaraty por seguranças do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
A agressão ocorreu após o término da reunião de presidentes da América do Sul, na sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
A confusão começou durante uma entrevista de Nicolás Maduro.
Os seguranças tentavam impedir a aproximação de profissionais da imprensa.
A TV Globo repudia o ato de violência contra os jornalistas, se solidariza com a repórter Delis Ortiz e aguarda as providências a serem tomadas pelo Palácio do Planalto para a punição dos responsáveis e para evitar que episódios como este se repitam.
O Itamaraty também lamentou o fato.
"O Ministério das Relações Exteriores lamenta o incidente no qual houve agressão a profissionais de imprensa, ao final da Reunião de Presidentes da América do Sul. Providências serão tomadas para apurar responsabilidades", disse a pasta em nota. Fonte: https://g1.globo.com
Lula errou ao dar carimbo de democracia ao governo do autocrata venezuelano
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Lula errou ao dar carimbo de democracia ao governo do autocrata venezuelano
Chavismo está há 25 anos na Venezuela, e desde que chegou fez exatamente o que Jair Bolsonaro pretendia no Brasil
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cumprimenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto Ricardo Stuckert/Presidência da República
Por Míriam Leitão
O presidente Lula errou durante a visita do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao Brasil. Ele acerta em normalizar a relação com a Venezuela, que é o nosso vizinho. Não tem que romper relação, ficar de mal. Mas isso é muito diferente de avalizar o governo venezuelano e dizer que é uma democracia.
Lula ontem falou em narrativa. Tenho especial implicância com essa palavra, pois os fatos têm que ser observados. Não é com narrativa, versão, que se constroi a verdade. Os fatos são a realidade.
A realidade da Venezuela é que há 25 anos o chavismo está no poder, e desde que chegou fez exatamente o que Jair Bolsonaro pretendia fazer quando atacou, por exemplo, o TSE, quando ameaçou ministros e quando conspirou por um golpe.
A primeira coisa que Hugo Chávez fez, em um regime que foi herdado por Maduro, foi mudar a composição do tribunal eleitoral. Cada vez que perdeu uma eleição, mudou as regras do jogo, as regras eleitorais.O governo venezuelano persegue seus opositores, são várias denúncias de ataques a direitos humanos feitas por instituições como a Anistia Internacional.
A verdade, que não depende de narrativa, é que a Venezuela não é mais uma democracia, é uma autocracia. São ditaduras do tempo atual, em que um presidente ou grupo se eterniza no poder comendo as instituições por dentro. Foi o que aconteceu na Venezuela.
Ter uma relação com o país é diferente de concordar com o regime e usar a imagem do próprio governo brasileiro para dar aval a um governo autocrata.
Lula se esquece que foi apoiado pelas democracias do mundo porque lutou eleitoralmente contra uma pessoa que representava esse risco no Brasil. O risco desse mesmo processo. Não há nada mais parecido com o projeto Bolsonaro de golpe do que os golpes que o chavismo deu na Venezuela.
Cada autocrata tem sua narrativa, mas não significa que é realidade.
A diplomacia brasileira sempre se orgulhou de ter excelente relação diplomática com todos os países. Isso deve ser motivo de orgulho, mas é bem diferente de dar um carimbo de democracia aos governos do qual você gosta. Fonte: https://oglobo.globo.com
Lula deixa evangélicos de fora do “Conselhão”; Padre Júlio Lancellotti é o único religioso
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Em outros governos petistas, até mesmo Silas Malafaia, que hoje é bolsonarista ferrenho, fez parte do colegiado
Nesta gestão, ao contrário de outras, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não chamou nenhum evangélico para integrar a nova versão do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado "Conselhão", que foi recriado nesta quinta-feira (4).
O único religioso a integrar o órgão consultivo é o padre católico Júlio Lancellotti, da pastoral Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo.
Com uma das maiores taxas de desaprovação ao atual governo, segundo pesquisa Ipec divulgada em abril, e amplamente alinhado à reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), lideranças evangélicas ficaram de fora.
O Conselhão
A lista de 246 componentes do Conselhão, divulgada nesta quinta, incluiu representantes de movimentos sociais, do setor financeiro, juristas e empresários, além de personalidades artísticas e culturais da sociedade civil.
O Conselhão foi criado em 2003, no primeiro mandato de Lula. Na ocasião, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, integrava o órgão. Na época, ele apoiou Lula no segundo turno e chegou a fazer uma oração pedindo sua vitória sobre o então candidato José Serra.
Em dezembro de 2004, Malafaia foi substituído no colegiado pelo também pastor Jabes Alencar, que liderava a Assembleia de Deus Bom Retiro. Alencar também se tornou apoiador de Bolsonaro no último governo. Fonte: https://revistaforum.com.br
PF faz buscas na casa de Bolsonaro e prende ex-ajudante, tenente-coronel Mauro Cid
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Ex-presidente e aliado são alvos da Operação Venire, deflagrada no bojo do inquérito das milícias digitais; celular de Bolsonaro foi apreendido em Brasília
BLOG
Blog do Fausto Macedo
Por Pepita Ortega, Lorenna Rodrigues, Marcio Dolzan e Júlia Affonso
A Polícia Federal fez buscas na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quarta-feira, 3, e prendeu o tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, além de outras cinco pessoas no âmbito de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. Outros dois assessores de Bolsonaro estão entre os presos - Max Guilherme e Sergio Cordeiro.
Os outros mandados de prisão preventiva atingiram o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ) João Carlos Brecha, o sargento Luís Marcos dos Reis e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.
Os investigadores ainda fizeram buscas na casa do deputado federal Gutemberg Reis, em Duque de Caxias, e no apartamento funcional em Brasília. A PF apreendeu o celular pessoal do parlamentar.
Tanto o ex-chefe do Executivo federal como os aliados foram instados a prestar depoimento à PF sobre o caso. Bolsonaro havia sido intimado para ser ouvido na PF às 10h. O ex-presidente não compareceu no horário marcado.
A chefe da Central de Vacinas de Duque de Caxias, Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, foi conduzida à sede da Polícia Federal no Rio para prestar esclarecimentos.
Durante as diligências na residência do ex-presidente, em Brasília, os investigadores apreenderam o celular de Bolsonaro. Ao deixar sua casa na manhã desta quarta-feira, 3, o ex-presidente reforçou que nem ele, nem sua filha Laura foram vacinados contra a covid-19. Ele se disse 'surpreso' com a ofensiva e alegou 'não existe adulteração de sua parte' e 'que nunca lhe foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum'.
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Batizada Venire, a ofensiva vasculhou, ao todo, 16 endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. As ordens foram expedidas no bojo do inquérito das milícias digitais, que tramita sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal.
Segundo a PF, as inserções falsas sob suspeita se deram, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, e 'tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários'.
A corporação indica que, com a alteração, foi possível a emissão de certificados de vacinação com seu respectivo uso para burla de restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia.
"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", indica a PF.
A Controladoria-Geral da União já investigava se houve inserção de dados falsos no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro nos sistemas do Ministério da Saúde. O órgão chegou a derrubar o sigilo do documento, em razão de 'interesse público geral e preponderante', mas as informações só serão divulgadas após o encerramento da apuração sobre inserção de dados falsos.
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A CGU chegou a solicitar dados ao Ministério da Saúde sobre 'dia e hora em que foi registrada a aplicação da vacina ministrada no ex-presidente da República no dia 19/07/2021, na UBS Parque Peruche -SP, o responsável pela efetivação de tal registro e o nome da pessoa que aplicou o imunizante naquela oportunidade'.
Bolsonaro impôs sigilo de um século sobre o seu cartão de vacinação e alegou privacidade. Durante a pandemia, ele questionou a eficácia da vacina inúmeras vezes e desestimulou a vacinação da população.
A ofensiva aberta pela PF nesta quarta-feira mira supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
Segundo a PF, o nome da operação, Venire, tem relação com o 'princípio Venire contra factum proprium', principio base do Direito Civil e do Direito Internacional, 'que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa'. " Significa 'vir contra seus próprios atos, ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos'", informou a corporação.
Um dos alvos principais da ofensiva, Mauro Cid é um dos aliados mais próximos do ex-presidente. O tenente coronel é alvo de uma série de investigações em tramite no Supremo Tribunal Federal, na maior parte delas, figurando como investigado ao lado de Bolsonaro - como no caso da apuração sobre o caso das joias, revelado pelo Estadão.
Cid é alvo do inquérito das milícias digitais - no bojo do qual foi deflagrada a Venire - desde que ele foi aberto. Antes, o coronel era investigado por atos antidemocráticos - investigação que foi arquivada e originou a apuração sobre ataques a instituições de forma organizada nas redes sociais. Foi nesse inquérito que a PF encontrou diálogos entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e o blogueiro Allan dos Santos.
À época em que Bolsonaro passou a externar publicamente temores sobre a possibilidade de ser preso, o Estadão apurou que as investigações que mais preocupavam o ex-presidente eram as que atingiam seu ajudante de ordens. O ex-chefe do Executivo não é alvo de mandado de prisão no bojo da Venire. Fonte: https://www.estadao.com.br
Alckmin participa de evento com líder religioso que apoiou Bolsonaro
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Presidente das Assembleias de Deus do Ministério da Madureira recebe presidente interino e ministro da articulação política de Lula
Por Lauriberto Pompeu
O presidente interino Geraldo Alckmin participa nesta sexta-feira de uma reunião da Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério da Madureira. O evento é comandado pelo bispo Samuel Ferreira, líder máximo do grupo religioso. Na campanha presidencial de 2022, Ferreira pediu votos para o ex-presidente Jair Bolsonaro e o recebeu em um culto em São Paulo.
Além de Alckmin, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também comparece. A presença de membros da gestão de Luiz Inácio da Silva no evento representa um aceno ao grupo que está distante do petista e ficou contra ele na eleição.
A Assembleia de Madureira é uma das mais influentes igrejas evangélicas do país e também tem penetração no Congresso. O deputado Cezinha da Madureira (PSD-SP) é pastor da igreja e comandou a bancada evangélica em 2021. Cezinha também apoiou Bolsonaro e chegou a andar na mesma moto em que o ex-presidente durante uma “motociata” na campanha.
Em 2022, Samuel Ferreira chegou a dizer que conta com o voto do eleitorado de São Paulo antes de passar a palavra para Bolsonaro discursar.
— Quero dizer a vocês que hoje nós estamos iniciando esta grande caminhada nesses dias que antecedem o pleito. Nós contamos com o trabalho, a luta, o voto e toda a disposição que você puder fazer no estado de São Paulo — afirmou na ocasião.
Lula viajou na noite de ontem para Portugal e Alckmin exerce interinamente o cargo de presidente. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), também está presente no evento, que é fechado à imprensa. Fonte: https://oglobo.globo.com
Democracias não prestam vênia a ditaduras
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Ausência de celebração militar do aniversário do golpe de 64 é retorno à normalidade institucional. Homenagens oficiais do governo Bolsonaro à ditadura eram insubmissão à Constituição
Durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, as Forças Armadas comemoraram o golpe de 31 de março de 1964. A orientação para os quartéis celebrarem a data foi um pedido do presidente Bolsonaro, cuja carreira política sempre se valeu do discurso de saudosismo da ditadura militar. Agora, com o governo de Lula da Silva, retorna-se à normalidade institucional. Não haverá nenhuma homenagem oficial à instauração do regime militar.
O tema é importante e merece ser bem compreendido. Não cabe, num Estado Democrático de Direito, realizar homenagens oficiais a períodos ditatoriais, nos quais, entre outros abusos, liberdades fundamentais e direitos políticos foram negados. Nenhuma instituição pública – cuja razão de existir remete, em última análise, ao princípio democrático – tem legitimidade para celebrar golpe militar.
Por isso, foi um passo importante quando, no governo de Fernando Henrique Cardoso, pôs-se fim, nos quartéis, à Ordem do Dia referente à celebração do golpe de 1964. A medida não tinha nenhuma dimensão de vingança ou mesmo de humilhação dos militares. A existência das Forças Armadas está prevista na Constituição, tendo, portanto, o seu lugar no Estado Democrático de Direito. O que não tem cabimento no regime democrático é o envolvimento dos militares em questões políticas. As Forças Armadas estão plenamente submetidas ao poder civil.
A abstenção do Estado de toda e qualquer homenagem ao golpe militar não tem a pretensão de reescrever a história nem de moldar a compreensão da população sobre os fatos passados. A história não pertence ao poder estatal. No ambiente de liberdade próprio de um regime democrático, cada um tem o direito de realizar sua avaliação sobre os fatos políticos pretéritos, o que não significa, por óbvio, afirmar que todas as opiniões têm o mesmo peso. Não dá para negar, por exemplo, que houve censura e tortura durante o regime militar. É tarefa da sociedade, de modo muito concreto dos historiadores, debruçar-se sobre as fontes históricas, de forma a propiciar, com o tempo, um conhecimento cada vez mais acurado sobre o período, o que inclui reconhecer matizes, sombras e também dúvidas.
É preciso advertir, no entanto, que a celebração do golpe militar de 1964 no governo Bolsonaro foi mais do que uma disputa sobre um tema histórico, o que, como se disse acima, é, por si só, um grave equívoco. Não cabe ao Estado escrever a história. Não cabe ao governante de plantão aproveitar-se do aparato estatal para difundir suas versões sobre a história. Na determinação de Jair Bolsonaro para que as Forças Armadas celebrassem o 31 de março, o grande tema em questão não era o que ocorreu em 1964, e sim a rejeição das escolhas feitas pela sociedade brasileira em 1988, com a promulgação da Constituição. Mais do que negacionismo a respeito da história nacional, havia uma insubmissão à ordem jurídica vigente.
Eis o grande problema das celebrações do golpe militar durante o governo Bolsonaro: elas eram uma declaração de afronta ao Estado Democrático de Direito. Ao louvar a ditadura e ao homenagear torturador, Jair Bolsonaro estava, na realidade, desprezando a Constituição de 1988; em concreto, fustigava o livre funcionamento do Congresso e do Judiciário. E ainda transmitia a mensagem subliminar de que, a depender das circunstâncias, as Forças Armadas poderiam ser convocadas para tutelar o poder civil. Ora, tudo isso é rigorosamente inconstitucional.
Mesmo que, por hipótese, tudo isso ficasse “apenas” no plano simbólico, já seria gravíssimo. Constitui evidente abuso de poder valer-se de uma data do calendário nacional para instigar as Forças Armadas contra o regime constitucional. Mas, como se verificou nos ataques ao sistema eleitoral e nos atos do 8 de Janeiro, essa afronta à Constituição não ficou no plano das ideias. Produziu danos concretos.
A não celebração do 31 de março de 1964 é, portanto, um modo de defender e promover o efetivo respeito à Constituição de 1988. Democracias não prestam vênia, nem por um dia, a ditaduras. Fonte: https://www.estadao.com.br
Escândalo à vista
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Evangélicos protocolam PEC que amplia imunidade tributária das igrejas
Deputados da bancada evangélica na Câmara - Divulgação - Divulgação
A bancada evangélica protocolou na Câmara uma proposta de emenda constitucional que amplia ainda mais a imunidade tributária conferida a igrejas. Se vingar, templos de qualquer culto ficarão livres também dos impostos sobre os bens e serviços que consomem. O Edir Macedo poderá comprar jatinhos sem pagar IPI, ICMS e Imposto de Importação; o sacristão poderá adquirir o vinho da missa sem recolher os impostos com alíquotas mais elevadas que recaem sobre bebidas alcoólicas, os "sin taxes" (impostos sobre o pecado). É o paraíso fiscal na Terra, mas restrito a igrejas e outros poucos eleitos, como partidos políticos e sindicatos.
A imunidade tributária a igrejas até já funcionou como um reforço ao princípio da liberdade religiosa. No passado, era fácil para a fé oficial, que era parte do Estado, dificultar a vida das concorrentes apenas as tributando pesadamente. Mas esses mecanismos devem ser analisados à luz do contexto histórico em que ocorrem. Ainda mais remotamente, a "jiziat", o imposto especial que os muçulmanos cobravam de membros de outras religiões, foi visto como gesto de tolerância. Quem pagava essa taxa ficava sob a proteção do califa e podia praticar sua fé. A alternativa, vale lembrar, era ter a religião proscrita.
E, no contexto atual, no Brasil, a imunidade não é mais um complemento da liberdade de culto. Hoje, seria constitucionalmente impossível cobrar mais impostos de uma igreja que de outra, o que é uma excelente razão para que todas os paguem. Ainda que se acredite na falsa premissa de que religiões só praticam o bem, há inúmeras outras entidades voltadas à promoção de ações sociais que recolhem tributos. Acho que deve prevalecer o princípio da solidariedade tributária, segundo o qual todos pagam para que cada um pague menos.
Para provar que o Diabo existe, há sinais de que o PT, para ganhar as almas dos evangélicos, poderá apoiar esse escândalo. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Filme sobre Haddad, 'o último bastião da esquerda', já tem 270 horas gravadas e 'final feliz', diz diretor
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Filme sobre Haddad, 'o último bastião da esquerda', já tem 270 horas gravadas e 'final feliz', diz diretor
Diretor de fotografia de 'Cidade de Deus' e 'Dois Papas', César Charlone acompanha o ministro desde 2016
Um documentário que vem sendo filmado desde 2016 pelo cineasta César Charlone sobre a trajetória política do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já soma mais de 270 horas de gravações. O trabalho chegou a ter uma versão finalizada no ano passado, mas foi reaberto após a eleição de Lula (PT).
"Quando o filme fica pronto, o Lula ganha. E ele sobe ao palco na [avenida] Paulista [em São Paulo, após vencer o segundo turno] e diz: 'Cadê o Haddad? Eu não vou começar o discurso sem o Haddad'. Isso tinha que estar no filme", conta o diretor à coluna.
O longa acompanha momentos dramáticos da vida do atual ministro, como quando disputou a reeleição à Prefeitura de São Paulo com João Doria e saiu derrotado, suas idas a Curitiba para visitar Lula na prisão e seu périplo nas eleições de 2018, em que enfrentou Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno e perdeu.
Responsável pela direção de fotografia de longas como "Cidade de Deus", "Ensaio Sobre a Cegueira" e "Dois Papas", César Charlone diz que Haddad chamou a sua atenção em 2016 por encarnar uma espécie de "último bastião da esquerda" num momento em que o mundo era varrido por "um tsunami de direita".
"Pensei que valia a pena seguir esse cara e ver a trajetória dele como seria", diz. "Ele e a família, muito generosamente, aceitaram que a gente colasse neles e seguisse um pouco desse cotidiano."
Em 1º de janeiro deste ano, Charlone foi a Brasília para fazer filmagens da posse Lula e acompanhar a chegada de Haddad ao Ministério da Fazenda. "Tem uma coisa muito legal, cinematograficamente, de fim, dele indo para o final feliz. É um o 'happy ending' holywoodiano", brinca o cineasta.
"A eleição de Lula nos obrigou a dar uma pequena marcha à ré e a começar a repensar o formato do filme. Estamos nesse processo aí", afirma ele, que ainda não tem previsão para levar o trabalho aos cinemas. "Haddad concordou que precisava desse 'epílogo'."
O cineasta diz ter feito todas as filmagens sozinho. "O cinema ficou muito fácil agora. Eu, acostumado, a ter uma equipe grande, aqui estou sozinho com a câmera. Numa sacola, levo lentes e cartões", explica.
A direção do documentário, no entanto, é "tripartite": ele divide o trabalho com o brasileiro Joaquim Castro e com o uruguaio Sebastián Bednarik. A produção é da uruguaia Coral Cine.
A ex-senadora e secretária municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Marta Suplicy, recebeu convidados como o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), em sua festa de aniversário. A comemoração foi realizada em seu apartamento, localizado na região dos Jardins, no sábado (18).
Marido de Marta, o empresário Márcio Toledo foi o responsável pela organização da confraternização. Passaram por lá nomes como o deputado estadual de São Paulo Emidio de Souza (PT), o advogado Marco Aurélio de Carvalho, a ex-presidente do Coaf Adrienne Senna Jobim, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim e o jornalista, escritor e colunista da Folha Tom Farias. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Lira critica Nikolas por discurso transfóbico e diz que Câmara não é palco para exibicionismo
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Presidente da Câmara fez reprimenda contra deputado bolsonarista e diz não admitir desrespeito
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez um discurso transfóbico no plenário da Câmara nesta quarta-feira (8), data em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher - Reprodução TV Câmara
BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez uma reprimenda pública contra o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), que colocou uma peruca e fez um discurso transfóbico no plenário da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (8), em ataque a mulheres trans no Dia Internacional da Mulher.
Lira afirmou que o plenário da Casa não é "palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos".
"Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje. A todas e todos que se sentiram ofendidas e ofendidos minha solidariedade", escreveu Lira nas redes sociais.
No discurso transfóbico, o deputado disse que mulheres têm perdido espaço para "homens que se sentem mulheres". "Eles estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é a realidade", afirmou Nikolas.
De peruca, Nikolas ainda disse que o cerne de seu discurso era a "liberdade", por exemplo, de um "pai recusar que um homem de 2 metros de altura, um marmanjo, entre no banheiro junto com a sua filha".
Deputado federal mais votado no Brasil em 2022, Nikolas ainda disse que as mulheres têm perdido espaço para mulheres trans nos esportes e em concursos de beleza. "É uma pessoa que simplesmente se sente algo e impõe para você."
"Então, mulheres, retomem a sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade, formem suas famílias, porque, dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas", concluiu Nikolas.
Após o fim do discurso, Nikolas foi aplaudido por deputados bolsonaristas, que gritaram "Nicolete", em referência à personagem transfóbica criada pelo deputado.
A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) disse que entrará, junto com a bancada do partido, com um pedido de cassação do mandato de Nikolas pelo discurso transfóbico no plenário da Câmara.
"Transfobia é crime no Brasil e é importante dizer e convidar outros parlamentares a se somarem que eu, ao lado da bancada do PSB e de muitos outros parlamentares, estou neste momento entrando com pedido de cassação do mandato do deputado Nikolas Ferreira", afirmou.
"Essa é a Casa do Povo e não dá para a gente fingir que nada aconteceu. Para que a gente siga os trabalhos depois dessa fala de um moleque, porque isso não é um homem, é um moleque, que subiu aqui para trazer uma fala cheia de ódio e cheia de preconceito. Exigimos respeito", seguiu a deputada.
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) afirmou ainda que a legenda irá entrar com uma notícia-crime contra Nikolas no STF (Supremo Tribunal Federal), assim como irá acionar a Comissão de Ética, "porque quem comete um crime e está no Parlamento merece responder por isso".
"Nada mais típico de um machista desocupado do que fazer isso justamente no dia 8 de março. Tentou fazer ali uma piada sobre aquilo que não tem graça", afirmou Sâmia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ditador companheiro
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Ditador companheiro
Simpatia do PT por tiranias de esquerda ameaça afetar diplomacia do governo Lula
Alberto Cantalice, membro do diretório nacional do PT e diretor da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, expressou não mais que um truísmo. Disse que Venezuela e Nicarágua são ditaduras —e que não faz sentido criticar o autoritarismo de Jair Bolsonaro (PL) e, ao mesmo tempo, poupar esses dois regimes latino-americanos.
A obviedade da afirmação não evitou que lideranças petistas mais identificadas com a velha guarda desautorizassem Cantalice, que também fizera crítica a Cuba, posteriormente relativizada.
Entre os representantes dessa ala, ligações afetivas com os dirigentes estrangeiros de esquerda e uma fetichização da história de movimentos populares parecem falar mais alto do que as evidências presentes de graves violações a direitos humanos e outros crimes
Enquanto esse tipo de controvérsia fica restrito ao âmbito do partido, trata-se de uma questão "interna corporis", ou seja, que diz respeito apenas à legenda e seus filiados. Se o PT quiser queimar seu capital político louvando ditaduras, é direito seu fazê-lo.
O problema é que há indícios de que a ambiguidade petista em relação às ditaduras de esquerda esteja novamente afetando posicionamentos diplomáticos do Brasil, agora sob a administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que a transforma numa questão pública.
E, com efeito, o governo brasileiro demorou mais de um mês para oferecer acolhimento aos opositores do regime nicaraguense de quem Daniel Ortega, em mais um lance de sua escalada autoritária, suprimiu a cidadania, convertendo-os em mais de 300 apátridas.
Governantes sul-americanos de uma esquerda menos fossilizada, casos do Chile e da Colômbia, foram bem mais rápidos no tempo de reação e na condenação a outras violações de direitos humanos por parte do líder sandinista.
Não se pede que o Brasil rompa com países suspeitos de torturar presos ou que oriente sua atuação diplomática pelo moralismo. Relações internacionais, ninguém o ignora, são pautadas primordialmente pelo interesse. O Brasil pode e deve relacionar-se tanto com Cuba como com a Arábia Saudita.
É importante, entretanto, que os interesses sejam modulados por princípios. A própria Constituição, em seu artigo 4º, elenca dez deles, entre os quais estão a prevalência dos direitos humanos e a concessão de asilo político. A sinalização visa tanto ao público externo, isto é, a comunidade de nações, como ao interno, os cidadãos brasileiros.
Lula foi eleito para governar para todos, não apenas para petistas e aliados ideológicos. Isso exige que enterre de vez suas simpatias por ditaduras amigas, pois agora representa o Estado brasileiro. Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
"Não contratem mais aquela gente lá de cima", diz vereador caxiense sobre baianos
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"Não contratem mais aquela gente lá de cima", diz vereador caxiense sobre baianos
Sandro Fantinel (Patriota) também comparou com argentinos, que seriam "limpos, trabalhadores e corretos"
O vereador caxiense Sandro Fantinel (Patriota), ao abordar na sessão desta terça-feira (28) da Câmara de Caxias do Sul o caso dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, fez referência à contratação de trabalhadores baianos para atuar na vindima.
— Com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema.
Ele sugeriu a agricultores, produtores e empresas agrícolas da região dar a preferência a "trabalhadores argentinos", que seriam "limpos, trabalhadores, corretos". A fala foi dita na sessão ordinária, no plenário da Câmara. Após a manifestação, a situação causou revolta e críticas por parte de outros parlamentares, como Lucas Caregnato (PT) e Rafael Bueno (PDT), além de um boletim de ocorrência registrado pelo deputado estadual Leonel Radde (PT).
Fantinel criticou a falta de mão de obra para o trabalho do campo, que se agrava no período de safra. Ele, então, abordou o caso de Bento Gonçalves, que chamou de "exagerado e midiático", e prestou sua solidariedade aos empresários e produtores rurais pelas "dificuldades de se empreender no setor". E citou, então, o relato de um ex-colaborador da empresa terceirizada, que fazia a contratação dos trabalhadores resgatados, em que afirmaria que os funcionários estariam "cansados, estressados e alguns de ressaca por uma noite de bebedeira". Na sequência, Fantinel citou um alojamento que visitou recentemente e criticou a situação encontrada.
— Sou contra qualquer tipo de maus-tratos a funcionários de qualquer área. Conheço vários produtores da Serra, conheço os alojamentos onde os funcionários ficam. São simples, humildes, mas são temporários. O importante é que sejam limpos. Por causa desse caso, visitei um alojamento aqui próximo de Caxias que o produtor me chamou para ir ver. Ele havia contratado os funcionários por 30 dias e cedeu o alojamento. Os caras trabalharam uma semana e meia e pediram as contas. Não dava para entrar no alojamento, com o fedor de urina e podre, e com a imundícia que eles deixaram em uma semana e meia. E a culpa é de quem? Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia pros "bonito" também? Temos que botar eles em hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho? — questionou o vereador.
Na sequência, o parlamentar caxiense pediu, como um conselho, para que os agricultores, produtores e empresas agrícolas "não contratem mais aquela gente lá de cima", e sugeriu que as empresas buscassem mão de obra argentina para trabalhar nas produções. Para Fantinel, a única cultura do povo baiano é "viver na praia tocando tambor", e por isso "era normal que se fosse ter esse tipo de problema", se referindo à situação análoga à escravidão.
“Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente”. SANDRO FANTINEL-Vereador caxiense pelo Patriota
— Todos os agricultores que têm argentinos trabalhando, hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. Em nenhum lugar do Estado, na agricultura, teve um problema com argentinos. Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente. Que isso sirva de lição. E vou mais longe: o problema foi tão grave, foi uma escravidão tão grave, que além dos caras voltarem bêbados para o trabalho, teve vários desse mesmo grupo que não quiseram ir embora, e quiseram permanecer na empresa e continuar trabalhando. Se estava tão ruim a escravidão, como que alguns do próprio grupo não quiseram ir embora? — declarou Fantinel.
Repercussões na Câmara
O vereador Lucas Caregnato (PT) se posicionou logo na sequência da fala de Fantinel, em questão de ordem, e pediu ao vereador do Patriota a retirada dos trechos "agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema" e "deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente" dos anais da Câmara.
— A gente acabou de se deparar com uma situação de xenofobia e preconceito ao povo baiano nas palavras do vereador Fantinel, então solicito que o vereador suprima sua fala, não desresponsabilizando ele do ato que acabou de acontecer neste parlamento — afirmou Caregnato, que teve seu pedido acatado por Fantinel.
Já Rafael Bueno (PDT) pediu que o Legislativo emita uma nota se desculpando pelas falas do vereador, pois, segundo ele, "vai ficar ruim para a Câmara". Zé Dambrós (PSB), presidente da Casa, afirmou que não será feita nota, pois "cada vereador tem livre arbítrio para suas falas e deve responder pelo que fala e pelos seus atos". Mais tarde, na sessão, após ser criticado pelo vereador Caregnato, Fantinel se explicou e afirmou não ter se referido a todo o povo da Bahia, de quem "não tem absolutamente nada contra".
— Minha fala era relacionada ao processo em andamento que aconteceu em Bento Gonçalves, que era relacionado a funcionários da Bahia. Quando eu falei da questão da imundícia, não quero ser atrelado à fala de outros parlamentares, era de uma questão aqui do interior, de trabalhadores que não eram nem nordestinos. Retirei partes da minha fala dos anais, porque muitas vezes aqui, no calor da emoção, dizemos uma palavra ou outra que não deveríamos, somos humanos e cometemos erros. Conheço situações parecidas no interior, e sei que muitas são forjadas e a culpa muitas vezes não é nem sequer dos trabalhadores, mas daqueles que forjam para ganhar nas costas deles. Temos sindicatos que não trabalham, fiscais que não trabalham.
O deputado estadual Leonel Radde (PT) afirmou, em publicação nas suas redes sociais, que registrou um boletim de ocorrência na policial contra a fala do vereador Sandro Fantinel, e disse que "o Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas". Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br
Liberdade só para patota
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A Câmara de São Miguel do Oeste (SC), por 10 votos a 1, cassou o mandato da vereadora Maria Tereza Capra (PT) porque a parlamentar denunciou que um grupo de munícipes bolsonaristas teria feito uma “saudação nazista” em frente a um quartel do Exército, pouco depois da derrota eleitoral do então presidente Jair Bolsonaro para o petista Lula da Silva.
Ou seja: a Câmara de São Miguel do Oeste achou que era o caso de punir com nada menos que a perda do mandato uma parlamentar que exerceu seu direito de expressar indignação com aquele gesto que lhe pareceu infame. Para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, a vereadora petista “propagou notícia falsa”, além de “atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao município de São Miguel do Oeste o crime de fazer saudação nazista e de ser berço de uma célula neonazista”.
Numa cidade que votou em peso em Bolsonaro (foram 65% no segundo turno), presume-se que não seja nada popular denunciar como simpatizantes do nazismo os inconformados com a derrota de seu “mito”. Daí a cassar um mandato conferido pelo voto direto, que é o castigo mais significativo que um parlamentar pode sofrer, vai uma imensa distância.
É um caso exemplar do duplo padrão moral bolsonarista: os mesmos campeões da liberdade de expressão, que denunciam a “ditadura” do Judiciário quando este procura pôr cobro aos abusos e crimes que cometem nas redes sociais, são aqueles que, sem mais nem menos, decidem que uma vereadora não pode falar o que pensa – a despeito de a inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões e palavras ser garantida pelo artigo 29, inciso VIII, da Constituição.
O fato é que a saudação dos bolsonaristas, registrada em vídeos que circularam amplamente por meio das redes sociais, é tão semelhante ao infame sieg heil nazista que as embaixadas da Alemanha e de Israel no Brasil e o Museu do Holocausto sentiram-se compelidos a repudiar aquela manifestação.
No frigir dos ovos, é irrelevante a interpretação que se faça daquela saudação. O que importa é notar a falácia do discurso bolsonarista sobre liberdade de expressão. Em nome de uma suposta defesa de uma garantia fundamental consagrada pela Constituição, tanto Bolsonaro como parlamentares bolsonaristas e um séquito de apoiadores já disseram, nos mais diversos meios, as maiores barbaridades.
Nessa visão absolutamente deturpada da garantia constitucional, decerto os insultos e ameaças de morte recebidos por Maria Tereza Capra e por outras duas vereadoras catarinenses não seriam mais do que o exercício do direito à manifestação de “opinião” ou das prerrogativas do mandato parlamentar. No mesmo sentido, acampar diante de quartéis para pedir um golpe militar e ameaçar o presidente da República, ministros do Supremo Tribunal Federal e seus familiares também seriam “livres manifestações” cobertas pelas “quatro linhas” da Constituição.
O episódio de São Miguel do Oeste resume, portanto, o espírito do bolsonarismo: em nome da “liberdade de expressão”, o que esses liberticidas reivindicam é o monopólio da irresponsabilidade. Fonte: https://www.estadao.com.br
A força do golpismo
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Embora a bancada golpista no Congresso esteja isolada, sua mera existência mostra que a antidemocracia foi normalizada, como se fizesse parte do jogo. É preciso deixar claro que não faz
O maior atentado à democracia desde a ditadura militar não foi um raio em céu azul, mas a precipitação de uma tempestade perfeita fabricada pela usina de despautérios radicada por quatro anos no Palácio do Planalto, que, dia e noite, vomitava sua fumaça preta no firmamento de Brasília.
A marcha da insensatez progrediu num crescendo, desde que, no pleito de 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro dizia em tom de galhofa que, “para fechar o STF, basta um cabo e um soldado” até as turbas invadindo as sedes dos Três Poderes, culminando com a depredação do STF.
Na verdade, essa página da história da infâmia nacional foi rascunhada muito antes, nos idos dos anos 80, com o capitão Jair Bolsonaro planejando plantar bombas em quartéis. A facilidade com que os vândalos fatiaram as barreiras policiais no 8 de janeiro espelha a complacência em meio à qual o deputado do baixo clero Bolsonaro excretou seu destempero no Congresso por anos a fio. Mas seus vitupérios folclóricos – o delírio de fuzilar FHC e mais “uns 30 mil”, a blague abjeta aludindo ao estupro de uma colega ou a apologia a um torturador na tribuna da Câmara – são só as secreções mais repugnantes de um espírito profundamente autoritário e truculento que se imiscuiu sem resistência nas cavidades da República.
Bolsonaro só opera no confronto. A animosidade é o ar que respira. Na sua falta, ele a incita, transformando adversários em inimigos e conjurando conspirações fantasmagóricas. Mas o maior inimigo de Bolsonaro não é o PT – de quem emulou as táticas populistas –, nem a “velha política” fisiológica – a quem prestou a mais vil vassalagem –, nem mesmo o STF – que tentou aparelhar com seus sabujos. Seu verdadeiro inimigo é a Constituição.
“Ao longo de sua carreira política”, já dissemos nesta página, “ele tem representado e verbalizado a voz dos perdedores de 1988, aqueles que se opuseram e continuam a se opor ao Estado Democrático de Direito” – às liberdades civis, às garantias individuais, aos direitos humanos, à soberania popular. “Daí que a sua batalha atual seja contra as eleições e as urnas. Tudo integra o mesmo pacote autoritário e antirrepublicano.”
A farsa terrorista do capitão Bolsonaro nos anos 80 se repetiu como tragédia consumada pelas legiões bolsonaristas em 2023. Agora que os pobres diabos da tropa de choque “patriótica” estão presos às centenas e seu “mito”, rejeitado nas urnas, está acoelhado nos arrabaldes da Disneylândia lambendo suas feridas, é tentador supor que a tempestade se dissipou e que a história não se repetirá.
No entanto, menos de um mês após o 8 de janeiro, aqueles que ajudaram a disseminar o espírito liberticida nos últimos anos se congraçavam na inauguração da nova legislatura. Os mesmos que passaram quatro anos fazendo do golpismo um ativo eleitoral estão lá no Congresso, como se nada tivesse acontecido, como se a antidemocracia fizesse parte do jogo. Sob o manto da imunidade parlamentar, a bancada golpista esfrega as mãos para mais quatro anos de arruaça.
Com personagens tão caricatos quanto estridentes, é difícil encontrar o equilíbrio entre não subestimá-los e não superdimensioná-los, entre contemporizar o 8 de janeiro e insuflar o pânico. Sim, eles estão em baixa, com menos poder do que nunca desde 2018. Mas quase elegeram o presidente do Senado. Rogério Marinho nunca foi radical, é o típico oportunista do establishment. Mas exatamente essa miscigenação entre a face sistêmica da política e sua face extremista é um alerta ao risco de naturalização do golpismo. Como advertiu a sobrevivente do extremismo islâmico Ayaan Hirsi Ali, “tolerância com a intolerância é covardia”.
Os discursos inaugurais dos presidentes das Casas Legislativas e do Judiciário prometendo punição exemplar a todos que participaram, financiaram e estimularam os atentados são um sinal alentador de que a sabedoria popular foi assimilada: “Um povo que não aprende com a sua história está condenado a repeti-la”. É preciso sepultar o bolsonarismo, sem esquecê-lo. Sua trajetória, grotesca como é, deve servir como uma espécie de monumento às avessas a um outro dito da sabedoria popular: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Fonte: https://www.estadao.com.br
Wallace se desculpa por post sobre tiros em Lula: "Jamais incitaria a violência"
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Oposto do Cruzeiro fez enquete a fãs perguntando se atirariam no rosto do Presidente, após visita a clube de tiro
Por Da Redação do Ge
Wallace se retratou nas redes sociais, na tarde desta terça-feira, pela enquete em que abriu para seus fãs fazendo menção a tiros no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de pedir desculpas, o jogador do Cruzeiro disse que "não tinha intenção de incitar a violência".
+ CBV repudia post de Wallace sobre tiros em Lula; Cruzeiro lamenta e pede desculpas
Wallace se retrata nas redes sociais após post sobre Lula
"Quem me conhece sabe que eu jamais incitaria violência em hipótese alguma, principalmente ao nosso Presidente. Então, venho aqui pedir desculpas, foi um post infeliz que eu acabei fazendo. Errei."
- Estou aqui pra falar sobre os stories de ontem, junto com a enquete, que acabou gerando uma repercussão social muito ruim. Estou aqui pedindo desculpas, porque quando você erra, não tem jeito. Você tem que assumir seu erro e se desculpar. Jamais tive a intenção de incitar à violência ou ódio, não é da minha pessoa. Não foi isso que o esporte me ensinou e não é isso que quero passar pra ninguém. Um abraço - completou o jogador do Cruzeiro.
O caso ganhou contornos extra esportivos. Após a publicação, o Ministro da Secretaria da Comunicação do Governo Federal, Paulo Pimenta, anunciou que acionou a Advocacia-Geral da União (AGU).
Em publicação nas redes sociais, o ministro afirmou que vai tomar as "providências necessárias" após o jogador do Cruzeiro realizar enquete sobre um ataque ao Presidente eleito em outubro.
Na segunda-feira, o campeão olímpico postou fotos em um clube de tiro e abriu uma caixa de perguntas aos fãs. Um deles pergunta se o jogador daria um tiro no rosto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em resposta, Wallace abriu uma enquete para saber se algum de seus seguidores faria isso. O jogador apagou o post algumas horas depois, mas prints ainda circulam nas redes sociais.
Em contato com o ge, a Confederação Brasileira de Vôlei disse repudiar a incitação à violência.
- A CBV repudia qualquer tipo de violência ou incitação a atos violentos, e entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como o respeito, a tolerância e a igualdade - disse a entidade, via equipe de comunicação.
O Cruzeiro, em nota, disse lamentar a publicação e pediu desculpas aos torcedores.
- O Sada Cruzeiro lamenta profundamente a publicação realizada pelo nosso atleta Wallace e o seu conteúdo. Vivemos um momento delicado, em que precisamos ter muita cautela com as nossas manifestações. As redes sociais podem parecer um espaço em que tudo está liberado, sem muita avaliação das possibilidades de interpretação, e isso é uma armadilha gigantesca. Reforçaremos com todo o nosso staff, atletas e comissão técnica sobre a importância da responsabilidade no uso das mídias digitais. Ressaltamos, principalmente, que a violência nunca deve ser exaltada ou estimulada, e da parte do Sada Cruzeiro pedimos sinceras desculpas a todos - disse o clube.
O que diz a lei
O Código Penal, em seu artigo 286, descreve o delito de incitação ao crime, que consiste em incentivar ou estimular publicamente a realização de um crime. A previsão é de pena de detenção de 3 a 6 meses, além de multa. Fonte: https://ge.globo.com
O dízimo golpista
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Sob o governo bolsonarista, os religiosos conservadores sentiram-se confortáveis na sedição contra a democracia
Miguel de Almeida
Editor e diretor de cinema
‘Em nome do pai, dos filhos, dos espíritos e dos santos, amém’ é o enredo de 2023 da Gaviões da Fiel. As alas da escola reunirão na avenida espíritas, evangélicos, católicos e seguidores do candomblé e da umbanda. Contra a intolerância religiosa, a alegria da música e a irreverência carnavalesca.
No ano passado, a mesma Gaviões desfilou sob o tema “Basta!”, em referência direta aos desmandos na saúde, educação e política esperneados por aquele ex-líder da extrema direita. Dizia a letra do samba: A democracia alienada e a ditadura disfarçada/basta de hipocrisia/é hora da luta sair do papel.
E, logo depois das eleições presidenciais, a torcida da Gaviões protagonizou a mais linda reação aos golpistas, quando, a caminho do Rio, em razão de um jogo contra o Flamengo, rompeu os bloqueios dos caminhoneiros em avenidas de São Paulo. Os bolsonaristas em fuga ainda puderam ver pelo retrovisor, no alto de um viaduto, a faixa estendida pela torcida corintiana: “Somos pela Democracia”.
O samba pela concórdia religiosa chega à avenida depois da prisão de alguns pastores golpistas. Não apenas postaram a catilinária habitual contra as urnas eletrônicas, como invadiram os palácios no 8 de janeiro. Ancorados no dízimo arrecadado — aquele que não paga imposto —, ajudaram a destruir o patrimônio público.
Não é de hoje, sempre existiram maus religiosos disfarçados em nome da fé. Ainda sob tal escudo, perpetraram muitos crimes. Na eleição passada, o discurso de campanha escondeu a incompetência na gestão da pandemia — quase 700 mil vítimas — para vociferar o discurso fundamentalista de algumas denominações evangélicas contra religiões afro. A começar pela célebre ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Tudo depois ecoado por parlamentares tuiteiros de cabelo pintado.
O número de golpistas presos, tamanha a barbárie da tentativa de golpe, deixou em segundo plano a prisão e a conspiração urdida por pastores evangélicos, sob inspiração do capitão e de seus militares de pijama (nem todos). Sob o governo bolsonarista, os religiosos conservadores sentiram-se confortáveis na sedição contra a democracia, como na propagação de suas aversões. Releram a Bíblia de acordo com seus interesses financeiros e políticos. Com sucesso, incentivaram ataques aos terreiros de religiões afro e a seus seguidores.
Logo depois da tentativa de golpe do 8 de janeiro, ao postarem opiniões e vídeos para caracterizar como manifestações democráticas o que foi um ataque ao resultado das eleições, praticaram outras ações criminosas. Protegidos pelo lero-lero da liberdade de expressão, buscam destruir o Estado Democrático e difundir entre a população narrativas escusas sempre pintadas pelo verniz da fé.
Durante a pandemia, em lugar de pedir compras rápidas de vacinas ou de respiradores, para proteger seu rebanho, revelaram seus interesses ao lutar para que seus templos não ficassem fechados. Afinal, o dízimo on-line não se mostrava tão eficiente como a coleta presencial.
O Brasil de 2023 precisa não apenas discutir o papel dos militares na sociedade, sem medo de golpe ou de quarteladas, como deveria enfrentar a sedição empreendida pelos pastores de extrema direita. Por décadas, o catolicismo conservador se viu confrontado por reações de quem não comungava com atrasos civilizatórios — como a luta contra o divórcio ou a pílula anticoncepcional. Eram duros debates, porém não se colocava, tal como posto agora por setores evangélicos, preconceito religioso. Tratava-se de rejeitar a proverbial catequização, em nome da fé, de igualar a todos sob as mesmas crenças.
É ainda o caso de usar a liberdade de opinião para discursar malquerenças dentro dos templos contra os gays. Embora a homofobia seja considerada crime pela Constituição, os pastores brigam para mostrar seus púlpitos como espaços livres da lei geral. Assim, pela enviesada fé, a recorrência no preconceito.
A França, de maneira mais grave, enfrenta há alguns anos o que se avizinha no Brasil. Os imãs brigam para impor preconceitos e costumes estranhos à sociedade francesa. Também querem espaços onde valham seus preceitos islâmicos fundamentalistas — quase sempre contrários à secular tolerância legal religiosa do país, num evidente caráter de retrocesso civilizatório. Lá, como aqui, a extrema direita se esconde atrás das liberdades civis para exterminar conquistas como… a liberdade de opinião. Isso não é um samba. Fonte: https://oglobo.globo.com
A força da intolerância
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A maioria dos brasileiros, diz pesquisa, não acredita no arrefecimento do sectarismo político, razão pela qual urge que as autoridades atuem para restabelecer um diálogo mínimo
Apenas três em cada dez brasileiros dizem acreditar que a tolerância política aumentará em 2023, de acordo com um levantamento feito pelo instituto de pesquisa Ipsos em dezembro. O resultado nacional é considerado baixo, mas não está distante da média global negativa (34%) aferida pelo instituto em 36 países. De fato, a percepção de aumento da intolerância política está longe de ser um problema exclusivo do Brasil.
A sociedade brasileira – e aqui não há novidade – está profundamente dividida no que concerne às afiliações ideológicas e partidárias dos cidadãos. Não há no País um centro político democrático, ao menos não como força eleitoral, capaz de conquistar corações e mentes da maioria pelo apelo a consensos mínimos. Sobressai a estridência dos polos. Prevalece o distúrbio comunicacional – muita gritaria e pouca escuta. Ambos com sequelas terríveis até para o ambiente privado dos indivíduos. Quantos laços familiares, de trabalho e de amizade foram desfeitos nos últimos anos em virtude de posições políticas tidas como irreconciliáveis?
A intentona perpetrada por radicais bolsonaristas no dia 8 passado só aumentou a percepção de que o Brasil virou uma terra de gente infensa ao diálogo e incapaz de respeitar diferenças de opinião. É evidente que não há diálogo possível com extremistas; menos ainda com extremistas criminosos. A eles, o isolamento e o peso da lei. Mas, em geral, essa percepção não só está errada, como deve ser ativamente desconstruída – desde a mais alta autoridade executiva da República, o presidente Lula da Silva, até o mais anônimo dos cidadãos.
A grande maioria dos brasileiros, incluindo muitos dos que votaram em Jair Bolsonaro, condena o emprego da violência como forma de ação política. Há, portanto, saídas para essa intolerância que paralisa o País, desde, é claro, que autoridades e cidadãos, imbuídos de boa-fé, ajam para superá-la. Como disse ao Estadão o cientista político Miguel Lago, “a capacidade de condenar essa atividade (o assalto contra as sedes dos Poderes) é um prenúncio de que é possível arregimentar forças em defesa da civilidade”.
O desafio do País não é superar as divergências políticas entre os cidadãos, mesmo as mais aferradas. Elas são próprias de qualquer democracia digna do nome. O desafio é voltar a trilhar um caminho de amadurecimento democrático no qual a coabitação seja possível. Para isso, há que reconstruir um consenso, entre tantos outros, em torno do respeito inarredável ao grande pacto que nos une como cidadãos: a Constituição. A Lei Maior protege a livre manifestação de divergências e, ao mesmo tempo, coíbe a intolerância.
A coabitação entre divergentes só é possível em um ambiente de tolerância e respeito às leis, vale dizer, quando ideias, valores e visões de mundo por vezes conflitantes – desde que não configurem crimes – não são desqualificados a priori por quem se acha o único portador da “verdade” ou de uma ideia do que seja o “bem”; tampouco seus defensores são tratados como inimigos de uma facção rival por aqueles que pensam diferente.
Idealmente, o encerramento da eleição deveria sobrestar essas diferenças, ao menos até o próximo ciclo eleitoral, e unir os cidadãos em torno de um projeto comum de País. Mas isso não aconteceu. Ao contrário.
Agora cabe ao vencedor, o presidente Lula, tomar a iniciativa de chamar todos os brasileiros ao diálogo, de mostrar, e não apenas com palavras, que, de fato, governará para todos. Na prática, isso significa ampliar as forças políticas presentes em seu governo, contemplando o maior número possível de interesses da sociedade. Dividindo poder entre uma frente realmente ampla e democrática.
A intolerância política não desaparece de uma hora para outra por força de vontade; é preciso ações concretas para isolar os extremistas e dialogar com os divergentes que “estão inseridos no jogo democrático”, como bem disse Miguel Lago.
Lula será um presidente bem-sucedido se entender que sua vitória eleitoral não foi apenas sua ou do PT. Que o presidente compreenda a dimensão de sua responsabilidade histórica. Fonte: https://www.estadao.com.br
O que faremos depois de 8 de janeiro?
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Na democracia não existe mito, herói; país não pode correr risco de repetir erros
Renato Stanziola Vieira, Maria Carolina Amorim e Vinícius Assumpção
Respectivamente, presidente, 1ª vice-presidente e 2º vice-presidente do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais)
Uma semana depois da festa cívica que coroou o exercício da vontade popular por meio do voto secreto, universal e periódico, o país sofreu o pior ataque da história da República desde 1988. Diante do mais duro golpe à democracia, feroz ao atingir o âmago das simbólicas instituições, os líderes dos Poderes correram para tomar as medidas mais eficazes a socorrê-las e a população como um todo. A democracia sofreu ultraje covarde e inacreditável.
Feito o diagnóstico, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, além de repudiar veementemente o ataque, oficiou aos chefes dos Poderes constituídos, colocando-se à disposição para o fortalecimento da democracia. Ofereceu esforços para ações concretas, acompanhamento de investigações e análise do necessário à mais rápida volta à normalidade.
Esclarecido isso, e enfatizada a solidariedade inalienável para a realização do Estado democrático de Direito, deve-se pontuar, contudo, que na democracia não existe mito, herói. O país mal se livrou dos emblemas de uma e outra figura perniciosa e não pode correr o risco de repetir o erro, entregando os anseios pela reconfiguração democrática aos exercícios de poder em uma ou outra pessoa, ainda que com as melhores intenções.
O Poder Executivo tomou decisão política ao decretar a intervenção no Distrito Federal para debelar o comprometimento da ordem pública, em atitude a indicar que há motivos para corrigir a inoperância (por aparentemente deliberada omissão em prever e conter os bárbaros atos preparados) de um ente federativo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Bolsonaristas mijam com Deus sobre a cultura brasileira.
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Face cultural do bolsonarismo pode ajudar a explicar ataque a obras de arte por golpistas em Brasília
Francisco Bosco
Doutor em teoria literária pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ensaísta, foi presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes) de 2015 até o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Autor, entre outros livros, de "O Diálogo Possível: Por uma Reconstrução do Debate Público Brasileiro"
Janela quebrada por golpistas no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 8.jan.23/Folhapress
[RESUMO] A dimensão cultural do bolsonarismo e sua agenda reacionária ajudam a explicar a destruição de obras de arte durante os ataques golpistas aos três Poderes no último domingo (8). As ideias que fundamentaram a pauta cultural do antigo governo estão contidas em textos do ex-chanceler Ernesto Araújo, para quem a nação tem primazia sobre o Estado, e a cultura cristã, sobre as formas jurídicas. Essa nação com Deus é contrária aos sentidos mais singulares da cultura brasileira —diversa, popular, modernista e cosmopolita. A médio prazo, resta tentar integrar dezenas de milhões de pessoas que não se reconhecem como parte desse majestoso leito cultural.
Perplexo com o ataque dos bolsonaristas (me recuso a usar a expressão bolsonaristas radicais, um pleonasmo) aos prédios públicos projetados por seu bisavô, o também arquiteto Paulo Niemeyer se indagou: "Quem destrói a própria casa?". A resposta me parece evidente: quem não considera ser sua a casa em que mora.
O bolsonarismo é um movimento cuja face institucional é antissistêmica e cuja face política é iliberal. Essas duas dimensões foram as mais evidentes no ataque aos prédios que hospedam os três Poderes da República. A "vox populi" bolsonarista investe há um tempo contra o sistema político, nas figuras do Executivo e do Legislativo, e contra a Suprema Corte, tida como usurpadora da soberania popular, por sua atuação considerada contrária à posição da malta autopercebida como a maioria conservadora.
O bolsonarismo, no entanto, tem também uma face cultural, como se sabe. Essa dimensão é tão importante quanto as demais. Seu aspecto mais evidente é toda a agenda reacionária, que veio disputar a hegemonia cultural progressista tanto na sociedade quanto nas instituições que instauram políticas públicas.
Esse conflito configura as chamadas guerras culturais, que se tornaram explícitas no Brasil desde o famigerado episódio, ocorrido nos idos de 2011, quando o governo Dilma lançou um programa de combate à homofobia nas escolas, logo chamado pelos ultraconservadores de kit gay e considerado proselitismo sexual ("ideologia de gênero").
Foi nessa página infeliz de nossa história que Jair Bolsonaro começou a ganhar protagonismo nacional. Desde então, a maioria silenciosa conservadora se tornou vociferante e, com o triunfo institucional de seus representantes, passou a dar o tom nas disputas culturais, bloqueando os avanços da agenda liberal e encontrando sua maior resistência na atuação do STF, que, por isso, se tornou ele mesmo objeto de disputa e inimigo-mor dos conservadores.
Tudo isso é bastante conhecido. Entretanto, seria oportuno perguntar o que têm a ver com a querela as obras de Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Burle Marx, Bruno Giorgi e Frans Krajcberg , entre outras, todas vandalizadas, rasgadas, defenestradas, destruídas ou mesmo mijadas. A mijada, aliás, é especialmente reveladora do ressentimento dos agressores em relação a essas obras.
No entanto, "As Mulatas", de Di Cavalcanti, "O Flautista", de Giorgi, e a tapeçaria de Burle Marx não são exatamente uma performance interativa com o corpo de um homem nu ou quaisquer das peças da mostra "Queermuseu" que tanto ameaçaram a identidade ultraconservadora. O que levou os bolsonaristas a expandir sua fúria sobre essas obras de arte, com o requinte de ódio de urinar sobre o tapete do maior entre nossos paisagistas, internacionalmente reconhecido?
Sei que as lideranças atuantes do bolsonarismo já são pavorosas o suficiente, mas peço licença ao extenuado democrata liberal para exumar uma figura que nos ajuda a compreender a dimensão cultural do bolsonarismo: o ex-chanceler Ernesto Araújo foi talvez quem mais se propôs a explicitar o que seria o programa cultural dos cidadãos de bem, patriotas e doidivanas de barracas.
Discípulo de Olavo de Carvalho, foi nesse tempo o ideólogo oficial do governo, enquanto seu mestre seguia como ideólogo-geral do movimento. Suas ideias contêm todas as principais perspectivas da tradição antimoderna, desde o século 18. Por exemplo, o nacionalismo, uma das trincheiras fundamentais de Araújo.
Diferentemente do nacionalismo fascista ou nazista, afirmados em um contexto de ameaça existencial à soberania territorial, aquele defendido por Araújo começa por se opor à modernidade e termina por se opor, internamente, à ideia de nação hegemônica no Brasil ao longo do século 20.
Para ele, é inaceitável que a modernidade tenha reduzido a nação ao Estado. Como Herder (1744-1803) em sua cruzada anti-Iluminista, ele procura restabelecer a primazia cultural e comunitária sobre o estatuto meramente político e jurídico da ideia de Estado.
Em nota schmittiana, ele comenta: "Nação era um povo que se sentia povo, um sujeito histórico frente a outros sujeitos históricos, diferente dos demais povos". Nada, portanto, de globalismo, ONU, essas instituições degradantes do Homo economicus materialista. A nação tem primazia sobre o Estado. A cultura, sobre as formas jurídicas. Mas de que cultura se trata? Antes de tudo, de uma cultura cristã.
Em artigo na revista New Criterion, o chanceler lamentava que "falar de Deus parece que preocupa as pessoas. Isso é triste". É escusado lembrá-lo de que ele pode falar de Deus à vontade; o que preocupava as pessoas é que sua crença determinasse as decisões da política interna e externa brasileira. Araújo não se intimidava: "Meus detratores me chamaram de louco por acreditar em Deus e por acreditar que Deus age na história —mas eu não me importo. Deus está de volta, e a nação está de volta: uma nação com Deus".
O problema é que essa nação com Deus vai contra os sentidos culturais mais singulares que o Brasil foi capaz de produzir e que permanecem sendo nossa maior contribuição civilizatória ao mundo. Esses sentidos foram afirmados pelo modernismo brasileiro, mas Araújo elege o romantismo como momento de fundação de seu nacionalismo.
Não o romantismo de um Castro Alves, mas aquele que imagina nações míticas, épicas, fantasiosas. O romantismo sob cujas premissas colonizadas um dramaturgo brasileiro, lembra Antonio Candido, certa vez encenou um drama nativista, sobre indígenas, em francês —assim como Araújo encena uma doutrina nacionalista imitadora do trumpismo.
Mas nem haveria contradição nisso, pois é essa a nação brasileira para o ex-chanceler: o "fruto supremo" desse "mistério" que é o "ritual iniciático" das grandes navegações portuguesas, como escreve no artigo para a New Criterion. Não existe o Brasil brasileiro, e sim o projeto expansionista cristão.
Nem mulatos, cafuzos ou mamelucos; nem maxixe, samba, cafuné, chulé ou Pelé. O Brasil do chanceler "tem uma origem profunda e sagrada, ligada aos mais profundos arcanos da alma ocidental tal qual manifestados na nação portuguesa".
Quinhentos anos depois, depois de Gregório de Matos, do lundu, da língua portuguesa desossada pelos africanos, da gramatiquinha de Mário de Andrade, de Pixinguinha, dos orixás na Bahia, das lutas de guaranis-kaiowás, krenaks, yanomamis, depois do reino da elipse no futebol, depois da bossa nova, depois dos Racionais, depois de tudo o que constitui o Brasil como um país singular, a proposta de Araújo é a "recuperação da alma do Ocidente a partir do sentimento nacional".
Nada de axé, Dodô e Curuzu. O verdadeiro Brasil está na alma cristã que cimenta uma suposta comunidade ocidental. Tudo vazado em um tom altissonante, grandiloquente, que o torna merecedor do "complexo de épico" de que falava Tom Zé.
É claro que os prosaicos zumbiotas terroristas não estão a par do nefelibatismo do ex-Quixote do Itamaraty, às voltas com a batalha de Salamina, as Termópilas, o Santo Graal, o sonho de Constantino, a conversão dos vikings, a virgem negra de Czestochowa e um punhado mais dos heróis, ancestrais e profundos arcanos do Ocidente, que precisamos recuperar para salvar esse Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro.
Mas, essencialmente, o patriota bolsonarista compartilha, sabendo-o ou não, de uma concepção cultural que não se identifica com a formação mestiça, modernista, antropofágica da cultura brasileira.
A cultura bolsonarista, quando esclarecida, quer diluir a brasilidade em uma reverenciada alta cultura ocidental, feita de obras que "honram Deus" (era a linha do ex-presidente-relâmpago da Funarte, o exorcista cultural Dante Mantovani). Na sua versão baixa cultura, produz um amálgama que bota no mesmo saco desde o modernismo à "máfia do dendê" —expressão do "borderline-mor" da República, Carluxo, que, por sua vez, designa um amálgama de ódio ao progressismo e à distorção do funcionamento da lei Rouanet.
Tudo isso esteve contido na urina despejada sobre Burle Marx, na casa de Niemeyer, ambos representantes culturais —é imperioso observar— de uma modernidade que se revelou incapaz de cumprir suas promessas. São essas promessas "manquées" da história brasileira a fonte inesgotável de produção de ressentimento e adesão a contraprojetos políticos, sociais e culturais.
Assim como temos o desafio de integrar os grupos sociais vulneráveis na dignidade econômica e social, temos que fazer com que grupos que não se identificam com a cultura brasileira mestiça, modernista e cosmopolita passem a se reconhecer nela. Ao mesmo tempo, precisamos fazer com que as elites legitimadoras (hoje menos poderosas em razão do novo ecossistema comunicacional) reconheçam também outras formas culturais como parte da diversidade brasileira.
Desafio imenso, a exigir outro texto, com sugestões nesse sentido. Será preciso, por exemplo, integrar os evangélicos à cultura brasileira de prestígio (Caetano Veloso deu um passo nessa direção ao gravar a canção "Deus Cuida de Mim" com o pastor Kleber Lucas ). Também integrar —por que não?— no repertório laico a canção católica de um padre Marcelo Rossi ou padre Fábio de Mello, ambos compositores de louvores que nada devem em qualidade musical à média de uma boa canção pop. Será preciso reconhecer o valor estético e social de toda a história da canção do Centro-Oeste (ou mais exatamente o Mega-Centro-Oeste), das duplas caipiras ao feminejo.
Não me parece por acaso que essa seja a região mais bolsonarista entre todas, junto com o Sul, cuja cultura foi igualmente pouco incorporada ao veio central da cultura brasileira, de hegemonia sudestina-nordestina. Os juízos estéticos das elites culturais sudestinas para com a produção do Centro-Oeste foram quase sempre degradantes. Será preciso quebrar esse padrão.
No campo da cultura, a identificação dos sertanejos com o bolsonarismo não é perfeita, como costuma lembrar o crítico Gustavo Alonso. É preciso aproveitar as brechas para os movimentos de reintegração (e, contudo, não havia nem sequer um sertanejo no Festival do Futuro, dimensão musical de um governo de que se deseja "união e reconstrução").
O momento imediato é de investigar e punir os bárbaros que atentaram contra o Estado de Direito. Mas, considerando que o bolsonarismo é feito de dezenas de milhões de pessoas e que essas pessoas não se reconhecem no majestoso leito da cultura brasileira —diversa, popular, modernista, cosmopolita etc.—, a médio e longo prazo precisaremos tentar inverter o sentido do movimento: integrar, em vez de segregar.
Afinal, um país com metade da população feita de bárbaros, de estrangeiros em sua casa, é um país em guerra. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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