Bolsonaro sofre ameaças de morte em vídeos na internet
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PF tenta identificar e localizar autores das ameaças. Indicações são de bandidos de alguma facção criminosa
Duas novas ameaças originadas na internet contra o presidente eleito, Jair Bolsonaro, estão na mira do serviço de inteligência da Polícia Federal (PF). Vídeos que circulam nas redes sociais mostram homens armados fazendo ameaças e falando em atirar em Bolsonaro.
As informações são do jornal Extra.
O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito, publicou mensagens no Twitter no começo deste mês advertindo para o risco de os ataques verbais serem menosprezados.
“Subestimar este tipo de ameaça diária contra todo brasileiro e tratá-los como vítimas é combustível do caos em nosso país. Bandido no Brasil deita e rola em cima de nossas leis e da Justiça! Se Deus quiser, isso acabará em breve!”, escreveu o vereador na rede social.
Em uma das ameaças, um homem exibe um fuzil em direção a uma rua escura sem mostrar o rosto. Em outra delas, um homem segura duas pistolas, posicionado em frente à câmera, e diz que o presidente eleito “vai entrar na
A PF tenta identificar e localizar os autores das ameaças. As indicações são de bandidos de alguma facção criminosa. A investigação busca descobrir se as declarações têm fundamento e integram algum plano de ataque ou se são apenas bravatas.
Em meio a essas circunstâncias, Bolsonaro avalia ir a São Januário no próximo domingo para acompanhar a partida entre Vasco e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro. A equipe de segurança, porém, procura demovê-lo da ideia. Fonte: www.metropoles.com
Presidente do PSL chama de 'coincidência' forte presença do DEM no governo Bolsonaro
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Presidente do PSL chama de 'coincidência' forte presença do DEM no governo Bolsonaro
Luciano Bívar afirmou que as recentes indicações de políticos do DEM para assumir ministérios no governo do presidente eleito não são motivadas por um sentimento partidarista. "Ele não vai diferenciar homem de mulher, preto de branco e nem partido político. Ele vai fazer uma equipe técnica".
O presidente do PSL (Partido Social Liberal), Luciano Bívar afirmou, em entrevista à CBN nesta quarta-feira (20), que a decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro de indicar políticos do DEM para cargos de ministérios em seu governo é apenas "uma série de coincidências”.
Com a nomeação do deputado federal Luiz Mandetta para o Ministério da Saúde, já são três os nomes de políticos do DEM no quadro de ministérios para o ano que vem. Junto a ele estão Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, e Tereza Cristina, que assumirá a pasta da Agricultura.
De acordo com Bívar, o presidente eleito não é motivado por um sentimento partidarista e está apenas buscando montar uma equipe técnica. "Ele não vai diferenciar homem de mulher, preto de branco e nem partido político", afirmou.
Nesta quarta-feira, haverá uma reunião com os deputados do PSL em um hotel em Brasília para discutir o futuro da legenda nos próximos 4 anos. Com 52 deputados eleitos, o partido de Bolsonaro será a segunda maior bancada da Câmara, apenas atrás do PT.
Em relação à possibilidade do PSL indicar um candidato à Presidência da Câmara, Bívar revelou que seu desejo pessoal é que fosse um político do seu partido, mas sabe que não será uma tarefa fácil.
"A maioria dos deputados do PSL são novos e não têm nem articulações históricas com outros parceiros. Se a gente não chegar a um denominador comum, é natural que temos que nos agrupar a outros partidos que tenham propostas e candidatos que sejam mais viáveis a ganhar", disse.
Luciano Bívar afirmou ainda que, para a bancada do partido, as pautas essenciais do governo Bolsonaro são a reforma da Previdência e a reforma Tributária. Questionado sobre qual modelo de reforma da Previdência deve ser adotado, ele defendeu uma forma em que os direitos adquiridos sejam respeitados. Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com
O Deus medieval que Trump e Bolsonaro tentam desenterrar
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O Brasil vai querer voltar à era dos reis e vassalos, dos castelos e muralhas, das guerras religiosas e dos medos da modernidade?
Segundo Ernesto Araújo, o futuro ministro brasileiro de Relações Exteriores, Donald Trump e Jair Bolsonaro são dois deuses chamados para salvar a decadente civilização ocidental e com ela os Estados Unidos e o Brasil. Tudo sob o manto protetor do Deus medieval da ira. No Brasil, o país com o maior número de cristãos no mundo, os políticos usam e abusam da religião. Deus de repente se tornou algo perigoso, encarnado no slogan do novo presidente brasileiro, o capitão Jair Bolsonaro: "Deus acima de todos".
No momento histórico em que os políticos brasileiros mais recorreram para sua sobrevivência aos votos das igrejas, nas últimas eleições, é curioso que tenham acabado se precipitando em sua maior crise de identidade. A velha política que se alimentava da religiosidade, sobretudo dos mais pobres, é hoje entregue a uma nova sacralização que coloca Deus no centro da sociedade. E não o Deus da liberdade e da compaixão, mas o Deus das armas, das velhas cruzadas religiosas.
Não é de estranhar que o capitão reformado eleito presidente do Brasil tenha escolhido para dialogar com o mundo um diplomata como Araújo, que pretende salvar o Ocidente voltando a colocar a religião cristã no centro da história. "Só Deus pode salvar o Ocidente", escreveu o futuro ministro de Relações Exteriores, e apresentou como o paladino dessa salvação o presidente norte-americano, Trump, o único que, segundo ele, "pode salvar o Ocidente". Os dois deuses, destinados, segundo o diplomata, a salvar a civilização ocidental em crise seriam nada mais e nada menos que Trump e Bolsonaro.
Vivemos, porém, em um mundo em plena evolução tecnológica, com os horizontes quase infinitos da inteligência artificial e com o Homo Sapiens prestes a dar um salto quântico na batalha final contra a doença, a fome e a violência no mundo. Restringir a rica e milenar cultura ocidental, com sua capacidade de "conduzir a história", na expressão de Lavisse, à volta dos deuses ao governo, com suas teologias castradoras e o peso do obscurantismo medieval, é ignorar o que representou para o mundo e representa ainda hoje a civilização ocidental. É a essa civilização que o mundo, e não apenas o Ocidente, deve as conquistas e os valores mais valiosos da história da humanidade.
Foi o Ocidente que elaborou todos os conceitos sobre os quais os Estados modernos são fundados, desde o Renascimento à Reforma protestante. Foi o Ocidente que elaborou os conceitos de democracia, do iluminismo, do humanismo, da arte e da cultura de vanguarda que nutriram gerações inteiras. Foi o Ocidente que forjou os conceitos da secularidade do Estado, das liberdades democráticas. Foi o Ocidente que sancionou os direitos humanos, incluindo o direito à liberdade, ao voto, ao respeito pelos diferentes e as minorias.
Querer hoje, no Brasil, voltar aos anos mais obscuros do Ocidente, proclamando como seus novos deuses políticos à la Trump ou Bolsonaro, é querer voltar aos tempos dominados pelos dogmas religiosos das igrejas que acorrentavam as consciências, convocavam para as guerras santas e impediam aproveitar a existência em liberdade, atemorizando com castigos e demônios, fogueiras e inquisições.
Será verdade que o jovem Brasil, que carrega em suas veias o sangue da miscigenação, da pluralidade de credos, do gosto pela vida desfrutado em liberdade, deseja ressuscitar os tempos sombrios e autoritários da Idade Média?
O Brasil vai querer voltar à era dos reis e vassalos, dos castelos e muralhas, das guerras religiosas e dos medos da modernidade? O Deus não manipulado pelo poder é aquele que proclamou que seriam felizes os semeadores da paz, e não da discórdia. O deus do Brasil, pelo que conheço deste país, só pode ser aquele dos braços abertos que acolhe sem perguntar em que você acredita, em quem você vota, qual é a cor da sua pele e como quer viver sua sexualidade e criar sua família. Difícil imaginar, apesar da crispação da sociedade, que o deus brasileiro seja o deus da ira. Não combina com o que sempre amou e sonhou. Fonte: https://brasil.elpais.com
Bolsonaro existe? Foi esfaqueado mesmo, ou é tudo ‘fake news’?
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Hoje, pela primeira vez, a crônica cotidiana, a história que estamos vivendo, não é narrada exclusivamente pelo poder, como no passado.
Talvez a História nunca tenha estado tão insegura entre a verdade e a mentira. Nunca, nem mesmo o presente foi posto tanto em dúvida. Será que descobrimos, de repente, que a verdade no estado puro não existe e que tudo pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo?
Vejamos o Brasil. Tudo parece ser uma coisa e o contrário. Há até quem chegue a perguntar a si mesmo se o capitão Jair Bolsonaro, que conseguiu 57 milhões de votos nas urnas não se sabe como, existe realmente ou é uma miragem. Coloca-se em dúvida até mesmo que tenha sido esfaqueado.
Em um mundo no qual até intelectuais chegam a pôr em dúvida a existência do Holocausto judeu, com um saldo seis milhões de pessoas — homens, mulheres e crianças — exterminadas nos campos de concentração, podemos ter a impressão de que a verdade não existe e não será possível conhecê-la.
Isso é positivo ou negativo? É verdade que dessa forma todos nos sentimos mais vulneráveis e inseguros ao não ser capazes de distinguir entre verdade e mentira. E, ao mesmo tempo, talvez tenhamos de nos acostumar a conviver em uma realidade mais complexa do que pensávamos, que nos obriga a estar mais vigilantes, já que os limites entre realidade e aparência, entre notícia e fake news, estão ficando cada vez mais tornam-se se fazem cada dia mais tênues e indefinidos.
O que sentimos hoje como uma inquietação, talvez porque estivemos séculos sentados tranquilos sobre nossas certezas, pode acabar sendo uma importante purificação. Durante séculos vivemos alimentados pelos dogmas que poder civil ou religioso nos impôs. Tudo era, sem que precisássemos nos preocupar em descobrir, branco ou preto, verdadeiro ou falso, bom ou mau, justo ou injusto. Era assim mesmo, ou será que tínhamos nos acostumado a conviver com a verdade imposta, o que nos dispensava da dúvida? As coisas eram como eram, porque sempre tinham nos ensinado assim. Teria dado muito trabalho colocá-las em discussão.
Sempre acreditamos nos livros de História, como se fossem textos sagrados que não pudessem ser discutidos. E se, na verdade, os livros de História nos quais bebemos durante séculos fossem, em sua maioria, uma grande fake news? Nós nos esquecemos de que, em grande parte, a História foi escrita pelos vencedores, nunca pelos perdedores. Como teriam escrito os mesmos fatos aqueles que perderam as guerras, as vítimas, os analfabetos que não podiam escrevê-la, mas que a sofreram em sua pele?
É melhor não sofrer tanto e aprender a conviver em um mundo que já não é nem será aquele em que nossos pais viveram
Será que estaria a salvo da contaminação das fake news o grande livro da Humanidade, a Bíblia, escrita no espaço de mil anos por autores desconhecidos, que as Igrejas cristãs consideram ter sido inspirada por Deus e, portanto, verdadeira? E se descobríssemos que historicamente a Bíblia não resistiria a uma crítica séria? Ou será que alguém pode acreditar que existiram seus personagens mais famosos, como Abraão, Noé, Matusalém e Moisés?
E analisando apenas os quatro evangelhos canônicos que os católicos consideram inspirados por Deus, quanto neles há de histórico e quanto há de catequese religiosa ou política? Qual é a versão verdadeira sobre o julgamento e condenação à morte do profeta Jesus se entre as versões dos quatro evangelistas há inúmeras diferenças bem visíveis? Qual é a figura real de Jesus, a que é apresentada aos judeus da época, cuja morte é totalmente atribuída aos romanos, ou aquela narrada aos gentios e pagãos, em que se carrega nas tintas contra os judeus e fariseus?
Talvez a inquietude que todos sentimos hoje, na nova era em que a Humanidade entrou ao não saber se estamos lidando com notícias verdadeiras ou falsas nem o quanto isso pode condicionar a convivência política e social, se deva, no fim das contas, a algo positivo, embora seja preciso se recompor e recuperar a serenidade para entender que vivemos em um mar agitado, no qual é difícil distinguir um peixe vivo de um pedaço de plástico.
Essa positividade que alguns pensadores começam a farejar na situação angustiante que vivemos, na qual verdade e mentira convivem abraçadas, talvez nasça de algo novo e ao mesmo tempo positivo que não existia no passado. Hoje, pela primeira vez, a crônica cotidiana, a história que estamos vivendo, não é narrada exclusivamente pelo poder, como no passado. Não é narrada pelos que se consideravam donos da verdade e a impunham com a espada na mão, se fosse necessário. Todos os poderes, civis e religiosos, fizeram isso. Hoje, a crônica começa a ser escrita e filtrada também pelos de baixo, pela periferia, por aqueles que não têm mais poder do que o oferecido pelas redes sociais.
Isso sem dúvida levará, como já está ocorrendo, a crises de identidade e à quebra de velhos paradigmas de segurança, como o que os dogmas e as verdades oficiais ofereciam antes. Era tudo mais cômodo e causava menos angústia. Mas não éramos também mais escravos do pensamento único do poder? O fato de não termos de nos preocupar em saber se o que nos ofereciam como história era verdade ou não, ou se era só a verdade de uma parte e não da outra, dava-nos tranquilidade. Hoje, estamos no meio de um ciclone que parece arrastar tudo e não é estranho que nos sintamos inseguros, irritados e até com medo.
Tão inseguros que ainda há quem não saiba realmente quem é Bolsonaro ou se ele é uma invenção, ou se os médicos de dois hospitais de prestígio inventaram a história da facada. E Lula? E Moro? Como se escreverá amanhã a história atual do Brasil? Será que os historiadores de hoje conseguirão nos contar no futuro a verdade ou a fake news sobre o que está vivendo uma sociedade que se sente presa entre a verdade e o boato, entre o que ela gostaria que fosse e o que efetivamente é a realidade — que, afinal, tem possivelmente tem tantas caras e nuances quanto as cores do arco-íris.
É melhor não sofrer tanto e aprender a conviver em um mundo que já não é nem será aquele em que nossos pais viveram. E essa sim é uma verdade. Se opressora ou libertadora, só poderemos saber quando baixar a poeira dessa agitação em torno de verdade e falsidade ou de meias verdades e meias mentiras. O famoso filósofo espanhol Fernando Savater me lembrava de que “se o mundo parasse de mentir, acabaria despedaçado em poucos dias”. Às vezes, uma meia verdade pode salvar o mundo de uma catástrofe. Até a Igreja católica, com seus séculos de experiência em conduzir o poder, cunhou as famosas “mentiras piedosas”.
Para terminar, é verdade que Bolsonaro existe, com mais sombras do que luzes e mais incógnitas do que realidades. E também existe Lula, com toda sua história e todas suas contradições. O que não sabemos é como a História nos contará um dia este momento, que em outras colunas em já chamei de dor de parto, mais do que de funeral e morte. E em todo parto existe, ao mesmo tempo, dor e felicidade, ansiedade e esperança.
E, acima de tudo, a certeza de que a vida, com todas suas amarguras e crueldades, verdades e mentiras, é o único e o melhor que temos. Que no Brasil predomine, apesar de tudo, a cultura da vida e não a da morte. Essa é a grande aposta e a grande resistência. Para isso, todos deveríamos andar de mãos dadas. Fonte: https://brasil.elpais.com
Desilusões
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Se essa eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política. A crônica é de Luis Fernando Verissimo, escritor, publicada por O Estado de S. Paulo, 08-11-2018.
Eis o texto.
“Desilusão, desilusão...” O samba Dança da Solidão, do grande Paulinho da Viola, cantado pela grande Marisa Monte, seria um fundo musical perfeito para estes estranhos tempos. Poderíamos chamá-lo de “leitmotiv” da nossa desesperança, se quiséssemos ser bestas. A desilusão começou quando? Dá para escolher. No fim da ditadura que o Bolsonaro diz que nunca existiu, quando Tancredo ia tomar posse como o primeiro presidente civil em 20 anos, mas os germes hospitalares de Brasília tinham outros planos? Depois viria o entusiasmo seguido de grande frustração com Collor, o Breve, tão bonito, tão moderno, tão raso, a desilusão com o PT e a desilusão com os políticos em geral, agravada com as revelações de que até grão senhores da Repúblicalevavam bola.
E a desilusão com o 7 x 1, e a desilusão com a seleção do Tite, e a desilusão com a votação maciça para presidente de um homem notoriamente despreparado para o cargo por eleitores desiludidos e iludidos. Agora os que claramente anseiam por heróis veem o Sergio Moro aceitar o Ministério da Justiça do novo governo, como recompensa (se não é, parece) por ter despachado o Lula para a cadeia ligeirinho e publicado a delação do Palocci contra o Lula dias antes da eleição. Até os mitos desiludem.
Por falar em escândalos... O samba do Paulinho também tem um verso que, ligeiramente adaptado, nos diz respeito. “Quando eu penso no futuro, não esqueço o passado.” Se essa eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política. A ditadura foi esquecida, até os generais estão voltando. Bolsonaro pode ter razão, a ditadura pode nunca ter acontecido, o golpe de 64 pode ter sido apenas um movimento de tropas, como disse o Toffoli.
Foi tudo um delírio, vamos esquecê-lo. Rubens Paiva, Stuart Angel, Vladimir Herzog, Manoel Fiel Filho e as centenas de supostos desaparecidos podem voltar. Acabou a farsa. E façam suas apostas: o que vai ser esclarecido primeiro, o caso da bomba no Riocentro, do qual nunca se ouviu mais nada, ou o caso da Marielle, que também não? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Foram os evangélicos que elegeram Bolsonaro?
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“Não há dúvidas de que o voto evangélico desempenhou importante papel na vitória de Bolsonaro, especialmente por sua capacidade em atingir setores que na última eleição votaram mais na candidatura do PT à Presidência. A campanha de Bolsonaro assumiu tanto no discurso como em atos práticos uma preferência para com este segmento. Daí a afirmar de que a culpa ou o mérito recai sobre os evangélicos é um passo longo que ignora uma série de outros elementos da conjuntura que, felizmente, não é tão simples e dicotômica como algumas análises parecem desejar que fossem”.
A análise é de Alexandre Brasil Fonseca, sociólogo, professor associado da UFRJ e doutor em sociologia pela USP com pós-doutorado pela Universidade de Barcelona. É autor de “Evangélicos e Mídia no Brasil” e de “Relações e Privilégios: Estado, secularização e diversidade religiosa no Brasil”.
Eis o artigo.
Olhar os números e dados disponíveis sobre as eleições é um exercício que pode levar a inúmeras conclusões. Uma delas que têm aparecido em diferentes espaços é de que teriam sido os evangélicos os responsáveis pela vitória de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil. Esse tipo de afirmação certamente soa como música nos ouvidos de pastores como Silas Malafaia e Magno Malta. Se fosse possível definir um tipo ideal do eleitor de Bolsonaro certamente ele seria evangélico, mas também teria que ser homem, residir em Santa Catarina, com isso poderia ser luterano, mas provavelmente imagino que seja batista. Certamente seria branco com idade em torno dos 30 anos, escolaridade de nível superior e renda acima de 10 salários mínimos. Essa figura está longe de ser o evangélico médio que povoa nosso cotidiano.
O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves comparou a votação dos candidatos e a relação entre a proporção de católicos e evangélicos nos Estados. Há pontos fora da curva, particularmente na Região Sul e de forma destacada em Santa Catarina, Estado em que Bolsonaro obteve a segunda maior votação percentual e onde a presença evangélica (20%) é menor do que a média nacional encontrada no Censo de 2010 (22%). Situação que somente ocorre em outros dez Estados. Neste caso é importante lembrar que o fato de haver alguma associação não implica, necessariamente, em uma causa, questão sinalizada pelo autor em alguns momentos de seu artigo.
Sobre a presença evangélica nos Estados é interessante notar, por exemplo, que no segundo Estado com maior percentual de evangélicos, o Espírito Santo (33,1%), aconteceu a derrota do Senador Magno Malta do PR, líder evangélico no parlamento, candidato à reeleição e bastante próximo ao presidente eleito. Já no Piauí, estado com menor percentual de evangélicos no Brasil (9,7%), aconteceu a reeleição da deputada federal Rejane Dias, evangélica e filiada ao PT.
Evangélicos se tornaram um ator político e eleitoral importante no Brasil recente, disso não há dúvida e várias candidaturas levaram isso em consideração seriamente. A principal delas foi a de Jair Bolsonaro. O presidente eleito tem dialogando com várias lideranças do seguimento evangélico desde que deu início à sua campanha há alguns anos atrás. Conversas que envolvem grupos evangélicos variados, indo muito além daqueles que já habitavam o universo político-eleitoral. Certamente há identificações e alguma convergência de opiniões, mas não se pode ignorar que também há um conjunto de ações intencionais que são direcionadas tendo em vista um determinado público.
Outros candidatos fizeram périplos similares com menor ou maior consistência e competência. Tivemos várias idas de Meirelles do MDB a eventos de evangélicos no tempo em que atuou como Ministro e depois como candidato. Alckmin do PSDBtambém buscou esta frente intensamente, incluindo lideranças evangélicas e políticas em sua grande coligação. Marina da Rede também fez reuniões e mesmo o PSOL contou com o apoio dos “Evangélicos com Boulos”. Provavelmente o candidato que tenha mais tardiamente considerado de forma mais efetiva este segmento tenha sido exatamente Fernando Haddad do PT que, somente, na segunda semana do segundo turno participou de uma reunião específica com pastores e lideranças evangélicas.
Olhar os resultados das pesquisas em relação à religião e a votação de Bolsonaro de fato impressiona. Os dados do IBOPE divulgados no dia 27 de outubro dão números um pouco mais modestos, talvez pela coleta de dados ter ocorrido posteriormente à do Datafolha (divulgado no dia 25 de outubro). Pela análise das duas é correto afirmar que entre os 42 milhões de eleitores evangélicos Bolsonaro obteve cerca de 20 milhões de votos e Haddad 10 milhões. Brancos, nulos e abstenções teriam ficado em torno de 12 milhões, o que representaria cerca de 67% dos votos válidos de evangélicos para Bolsonaro, enquanto Haddad teria recebido 33%. Também é importante sublinhar que pelos levantamentos feitos pelo IBOPE no decorrer do segundo turno a campanha de Haddad virou, entre evangélicos, um pouco mais de 2 milhões de votos.
A diferença de votos entre os evangélicos foi praticamente a mesma diferença final geral obtida entre os candidatos. Considerar que a totalidade desta diferença se explica pela religião é algo totalmente desprovido de sentido e razoabilidade. É preciso observar o percentual a mais que o candidato obteve nos vários estratos oferecidos pelas pesquisas. Foi entre evangélicos, mas também na Região Sul, entre pessoas com nível superior e com renda acima de 5 salários mínimos que houve uma maior adesão à candidatura de Bolsonaro, com percentuais significativamente mais altos do que os obtidos na média da população.
Concordo com a afirmação de Eustáquio de que o voto evangélico foi fundamental para a eleição de Jair Bolsonaro, sendo que considero que sua importância se deu mais por aspectos qualitativos do que quantitativos. Uma primeira questão a sublinhar é que ao final a rejeição à Bolsonaro no segmento evangélico permaneceu em patamares baixos (28%), inferiores à média geral de 39% na população. Ainda mais devido ao fato de que, na média geral, houve um “empate técnico” das rejeições dos candidatos na reta final da campanha.
Outro fator é que a campanha direcionada aos evangélicos em vários níveis, inclusive na pauta dos valores, favoreceu o avanço de Bolsonaro em um segmento populacional em que este grupo é mais presente. Falo aqui de pessoas com escolaridade de nível médio (34% são evangélicos) e renda entre 2 e 5 salários mínimos (32% são evangélicos), grupos em que a vitória de Bolsonaro se efetivou exatamente por terem votado de forma distinta do que votaram na eleição de 2014. Nestas eleições tanto entre os mais pobres o PT manteve a liderança, como também manteve o baixo desempenho entre os mais ricos, a diferença se deu nos segmentos médios, os quais acabaram por dar a vitória ao candidato do PSL.
Portanto, é importante sublinhar que a religião não explica isoladamente o não-voto no PT, faz parte e fundamenta uma narrativa, mas não é suficiente. O PT ainda aparece como o partido preferido entre os evangélicos, como também para o conjunto da sociedade, partido que mais elegeu governadores e deputados federais e que tem à sua frente o desafio de se recolocar como oposição após anos em que ocupou o lugar de vidraça.
Para se relativizar ainda mais uma possível determinação do voto evangélico é um salutar exercício pensar que existiram motivações variadas que levaram, por exemplo, a cerca de 30% de pessoas LGBTI a votarem em Bolsonaro ou a um pouco menos da metade de pretos e pardos a também tomarem essa decisão. Existem motivos que perpassam a sociedade como um todo e que envolvem diversos segmentos. Nas análises é preciso incluir a associação com a crise por que passa o país e que é relacionada à questão da corrupção e às gestões do PT, por um lado e, por outro lado, que demarcam a identificação construída pela campanha de Bolsonaro de que este seria resposta para e negação da “velha política”. Neste sentido o resultado pífio de partidos históricos como PSDB e MDB - mesmo com recursos financeiros, estrutura e tempo de TV – são sintomáticos. Também há uma situação de grave insegurança pública que afeta o conjunto da população brasileira de forma emblemática. Ter um discurso enfático sobre essa questão foi uma das bandeiras de Bolsonaro e deve fazer parte do repertório de explicações que buscam compreender as motivações para o voto no candidato.
Lembro do título de um livro organizado pelo professor Wilson Gomes diante dos holofotes que foram direcionados para o neo pentecostalismo no final do século passado. Ao propor uma abordagem analítica e crítica sobre os fenômenos que vinham ocorrendo e que recebiam um conjunto de afirmações preconceituosas o autor afirmou que era importante ter em mente que os neopentecostais não representavam “nem anjos, nem demônios”.
Ao pensar no resultado eleitoral de 2018 penso ser temerário parabenizar lideranças evangélicas em relação à vitória do Bolsonaro, como também – a depender do gosto do freguês – apontar o dedo para o segmento afirmando ser este o “culpado” por esta vitória. A complexidade de fatores e as multivariadas explicações envolvidas não nos permitem ir tão longe. Ainda lembrando do texto de Gomes, penso ser possível afirmar sim uma “eficiência comunicativa” da campanha de Bolsonaro em relação aos evangélicos, grupo que reúne expressivo segmento populacional com significativa organicidade. E isto envolve tanto uma estratégia, mas passa também por convicções e pelo compartilhamento de visões de mundo e valores. Aqui é importante lembrar da necessidade e da importância de uma candidatura ter verossimilhança na campanha eleitoral, elemento que esteve muito presente em Bolsonaro e que foi pouco percebido, por exemplo, na campanha de Alckmin.
Questão que não ficou somente no discurso, mas que tem se manifestado concretamente em atos que reafirmam e reforçam o compromisso de Bolsonaro para com este grupo de eleitores. Situação que passa tanto pela escolha de seu lema de campanha, mas que também inclui ida a cultos, encontros com religiosos e mesmo a oração antes do seu primeiro discurso. Concretamente também temos entre os nomeados na equipe de transição a presença de, pelo menos, duas lideranças ligadas ao mundo evangélico com perfis distintos que dão bem a dimensão de como Bolsonaro tem atuado junto a amplos segmentos evangélicos, grupo que envolvem diferentes realidades, mas que se convencionou chamar de uma coisa só.
Há o Procurador da Fazenda e pastor da Igreja Cidade Viva Sérgio Queiroz, sua comunidade tem origem na Primeira Igreja Batista de João Pessoa e tem perfil de classe média e alta, possuindo Queiroz doutorado em teologia. O outro evangélico é Pablo Tatim, advogado que é membro da Diretoria e procurador da Igreja Assembleia de Deus Ministério da Restauração. Tatim foi chefe de gabinete do Ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, de quem era assessor parlamentar em seu mandado como deputado federal pelo RS. Atualmente desempenha o papel de Secretário Executivo do Ministério da Secretaria-Geral da Presidência, pasta que tem o deputado federal pelo DF Ronaldo Fonseca à frente. Além da relação com Tatim, tanto Nogueira como Fonseca têm em comum o fato de serem pastores da Assembleia de Deus e de não terem sido reeleitos.
A democracia prevê a participação social dos cidadãos e cidadãs de um país nos processos decisórios, neste sentido hoje se impõe aos partidos políticos considerar e promover discussões que tenham no horizonte as diferentes gramáticas e narrativas existentes na sociedade. Em relação aos evangélicos há uma enorme diversidade e fortes estruturas econômicas que envolvem empresas diversas que atuam junto ao segmento. Porém também há grupos e pessoas identificadas com a religião e que estão envolvidas em diferentes movimentos sociais, sejam de sem-terra; sem teto; de promoção e defesa dos Direitos Humanos, entre tantos outros. As esquerdas não podem cair no equívoco de crer que há uma indesejável divisão do Brasil entre “nós e eles” que coloca os evangélicos todos somente de um lado. Muitos pastores gostam de repetir e defender isto, mas como já pregou o, já aqui citado, Pastor Sérgio Queiroz é possível encontrar entre os primeiros e diretos assessores-discípulos de Jesus representantes tanto da extrema direita com da extrema esquerda daquela época. A diversidade e a descentralização são características centrais da comunidade evangélica, entender isso é um primeiro passo para quem tenha real interesse em estabelecer diálogo.
Afirmar uma “culpa evangélica” na eleição de Bolsonaro interessa especialmente àqueles que estão ao lado do presidente eleito e que empenharam tempo e recursos em apoio a ele. Pelos dados do IBOPE do dia 27 de outubro, pode-se afirmar, por exemplo, que percentualmente o desempenho de Bolsonaro foi mais significativo entre pessoas residentes na Região Sul e entre pessoas com renda superior a 5 salários mínimos. Se olharmos para a questão quantitativa, considerando quantos votos a mais da média da população que ele obteve em determinados segmentos, temos que entre pessoas que se declararam brancas e entre homens ele teve o volume mais significativo de votos. Nos dois casos, tanto no quantitativo de votos como no percentual, o segmento evangélico aparece na terceira posição.
Não há dúvidas de que o voto evangélico desempenhou importante papel na vitória de Bolsonaro, especialmente por sua capacidade em atingir setores que na última eleição votaram mais na candidatura do PT à Presidência. A campanha de Bolsonaro assumiu tanto no discurso como em atos práticos uma preferência para com este segmento. Daí a afirmar de que a culpa ou o mérito recai sobre os evangélicos é um passo longo que ignora uma série de outros elementos da conjuntura que, felizmente, não é tão simples e dicotômica como algumas análises parecem desejar que fossem.
Afirmar que a responsabilidade da vitória de Bolsonaro foi dos evangélicos pode ser cômodo e até mesmo prático, mas está longe de ser útil enquanto análise social e penso que seja ainda menos útil para a reflexão daqueles que foram às urnas com livros nas mãos. Vaticinar essa responsabilidade ignora uma série de anseios e desejos que povoaram expressiva parcela da população e desconsidera uma campanha que utilizou na sua narrativa um conjunto de informações relacionadas a valores, os quais – é preciso sublinhar pelo pitoresco que representa – se consolidaram a partir de uma estrutura de difusão de mentiras.
Entender o voto em Bolsonaro, passa por considerar estes elementos, mas também considerar a adesão consciente e os desejos e respostas que esta candidatura materializou, alcançando, entre tantos outros, uma significativa parcela dos evangélicos. Grupo que, curiosamente, já foi identificado – antes da chegada dos smartphones – exatamente como o “povo do Livro”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Mentiras e vídeos
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“É uma peculiaridade interessante da comunicação em nossos tempos: a mentira, a falsificação e o engano deliberado foram incluídos no rol dos bons costumes e das virtudes familiares. Imagino que o velho Gepeto iria perder o emprego, tantos são os Pinóquios que pululam pelo mundo. Tudo isso abençoado pelo Senhor, Saravá treis veis!”, constata Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, em artigo publicado por CartaCapital, 06-11-2018. Segundo ele, “o pequeno fascismo desliza sorrateiro para a alma de cada indivíduo, sem ser percebido, ainda que continue a simular a defesa dos sacrossantos princípios da família, dos costumes e da religião”.
Eis o artigo.
O fenômeno Bolsonaro deu origem a um vendaval de interpretações. Sociólogos, economistas e cientistas políticos debruçaram-se sobre o personagem de gestos e falas tão agressivos quanto balbuciantes.
As considerações a respeito das características pessoais do então candidato, hoje eleito, abriram espaço para a avaliação de seu eleitorado. A palavra fascista foi distribuída com abusiva generosidade pelos adversários do capitão para marcar o lombo dos bolsominions.
Peço licença para modestas considerações. A guerra de fake news e vídeos nas redes sociais, todos reconhecem, teve um papel decisivo na formação das escolhas dos eleitores. Essas batalhas foram cuidadosamente preparadas nos laboratórios da malta rica e poderosa, daqui e de fora, em um exercício deliberado de controle dos espíritos machucados pelas incertezas da crise econômica aviada nos gabinetes dos mercados financeiros e executada nas retortas dos desenganos e das frustrações eleitorais de 2014.
A ascensão de Bolsonaro recebeu os favores do desencanto, do ressentimento e do ódio. O desencanto transmutou-se em ressentimento e o ressentimento decantou suas moléculas no ódio indiscriminado, “contra tudo isso aí”.
Nas precipitações químicas do desencanto para o ressentimento e do ressentimento para o ódio criou-se a cadeia de reações entre a mentira e a crença: o kit gay, o estupro da filha pelo candidato adversário e outras tantas ridicularias pousaram sem resistência nas consciências trôpegas e ansiosas dos brasileiros desamparados e desinformados. O truque consistiu em proclamar mentiras em nome dos bons costumes e dos valores familiares.
Essa é uma peculiaridade interessante da comunicação em nossos tempos: a mentira, a falsificação e o engano deliberado foram incluídos no rol dos bons costumes e das virtudes familiares. Imagino que o velho Gepeto iria perder o emprego, tantos são os Pinóquios que pululam pelo mundo. Tudo isso abençoado pelo Senhor, Saravá treis veis!
Em sua configuração atual, a sociedade dos mercados escancara a incapacidade de entregar o que promete aos cidadãos. A celebração do sucesso colide com a exclusão social; o desemprego tromba com a desigualdade de oportunidades.
Nesse ambiente competitivo, algozes e vítimas das promessas irrealizadas de felicidade e segurança assestam seus ressentimentos contra os “inimigos” imaginários, produtores do seu desencanto. Os inimigos são os outros: os imigrantes, os pobres preguiçososque preferem o Bolsa Família e recusam a vara de pescar, comunistas imagináriosetc.
As normas sociais da concorrência utilitarista que guiam o sujeito pós-moderno levam à morte o indivíduo iluminista de Adam Smith, aquele consciente de sua liberdade e empenhado na preservação de sua autonomia. Ele foi substituído por um indivíduo depressivo em seus insucessos e frustrações, sempre preocupado em retirar de si, com doses maciças de Prozac, a essência de todo o conflito.
A rejeição pós-moderna é mais profunda porque, de forma devastadora, erodiu os sentimentos de pertinência à mesma comunidade de destino, suscitando processos subjetivos de diferenciação e (des)identificação em relação aos “outros”. E essa recusa do outro vem assumindo cada vez mais as feições de um individualismo tosco, agressivo e antirrepublicano.
Na Genealogia da Moral, Nietzsche não hesita em afirmar que “grande perigo para os homens são os indivíduos doentios, não os maus, não os predadores. São os desgraçados, os destruídos, os vencidos de antemão – são eles, são os fracos que mais solapam a vida entre os homens, que envenenam e colocam em questão da maneira mais perigosa nossa confiança na vida e nos homens”.
Os aforismos de Nietzsche exclamam protestos contra as virtudes do cristianismo, contra o ressentimento e a má consciência dos fracos, permanentemente mergulhados na mediocridade da sociedade de massa.
A “psicologização” utilitarista da existência, diz Elisabeth Roudinesco, avassalou a sociedade e contribuiu para o avanço da despolitização, filha dileta do que Michel Foucault e Gilles Deleuze chamaram de “pequeno fascismo da vida cotidiana”, praticado e celebrado pelo indivíduo ressentido, ao mesmo tempo protagonista e vítima de um processo social que não compreende.
O pequeno fascismo desliza sorrateiro para a alma de cada indivíduo, sem ser percebido, ainda que continue a simular a defesa dos sacrossantos princípios da família, dos costumes e da religião. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
E agora, o que fazer com o Brasil de Bolsonaro?
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“A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido”, escreve Juan Arias, jornalista, em artigo publicado por El País, 31-10-2018.
Eis o artigo.
O Brasil acordou no último domingo, 28, de um pesadelo. Descobriu que a maioria dos eleitores, mais de 55 milhões, tinha elegido democraticamente para presidente da República Jair Bolsonaro, um capitão da reserva, de extrema-direita, expulso do Exército e que se propõe, como “desígnio divino”, a acabar com a esquerda que governou o país durante 13 anos. Já fazia mais de 70 anos que isso não acontecia.
Para os outros 45 milhões que votaram no candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, fica agora a tarefa de organizar uma frente de oposição democrática que impeça o novo presidente de levar a cabo as ameaças feitas durante a campanha eleitoral contra a democracia e a favor da tortura e da ditadura militar.
Em seu primeiro discurso, Bolsonaro não disparou um revólver, um gesto típico seu. Levantou o texto da Constituição jurando que seu Governo “será escravo dela”. E fez alarde de respeitar todas as liberdades. Jurou que será o presidente de todos os brasileiros. Também daqueles que não pensam como ele, daqueles a quem aconselhou o exílio antes que pudessem ser eliminados? Juntamente com a Constituição, também brandiu um exemplar da Bíblia, que segundo ele lhe permitirá “libertar o Brasil”.
Ninguém sabe como o país poderá ser guiado agora por um presidente de extrema direita, votado maciçamente pelos evangélicos, que estará cercado por generais do Exército em seu Governo e que tinha afirmado no Congresso que o Brasil “não é um país laico” e quem não gostasse poderia ir embora. Seu lema é “Deus acima de tudo”.
Portanto, cabe agora às forças progressistas e democráticas criar uma frente de oposição responsável que cuide para que o novo presidente cumpra seu juramento de não se afastar da Constituição e governar de acordo com os cânones das democracias modernas. O lógico seria que essa oposição fosse liderada por Fernando Haddad, que em poucas semanas foi capaz de conquistar 45 milhões de eleitores, muitos dos quais, embora não comungando com o PT, o apoiaram para tentar deter Bolsonaro. E ele o fez. Entusiasmou e manteve uma postura sem extremismos, sensata e de diálogo.
Não é, no entanto, esse tipo de oposição que parece querer hoje a parte mais radical do PT, que preferiria um confronto direto com o presidente-capitão. Foi esse radicalismoque impediu, já no primeiro turno das eleições, que fosse criada uma ampla frente democrática contra a extrema-direita, liderada por um candidato de centro-esquerda, uma vez que a rejeição de milhões de eleitores ao PT tinha sido o estopim que desencadeou o fogo da candidatura de Bolsonaro. Não foi possível porque nem o PTnem Lula – que é quem continua, da prisão, dirigindo o partido – permitiram. Preferiram a derrota a deixar que outra força de esquerda detivesse o perigo que se aproximava da democracia.
Haddad, que é visto pela ala esquerda do PT como um socialdemocrata, conseguiu, no entanto, amalgamar durante a campanha as maiores e mais responsáveis figuras políticas democráticas e progressistas do país dispostas a formar uma ampla frente de oposição para servir como contraponto à extrema direita do ex-paraquedista. Essa oposição democrática foi capaz de romper o clima de ódio e negatividade que permeava a sociedade. E conseguiu criar gestos simbólicos de resistência democrática e festiva, como ir às urnas com um livro ou flores na mão, como contraponto à paixão do novo presidente pelas armas.
Apenas uma oposição desse tipo, que sirva ao mesmo tempo para reunificar todas as forças democráticas fazendo-as dialogar e colaborar juntas, será capaz de cuidar para que o país não se veja despojado dos seus melhores valores democráticos, conquistados com tanto esforço depois da ditadura militar.
A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Dom Leonardo Steiner: momento de reconciliação e diálogo nacional
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Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fala ao Vatican News sobre as eleições presidenciais no Brasil, que deu a vitória ao candidato Jair Bolsonaro. Para Dom Leonardo o fato de as eleições terem corrido em um ambiente harmônico é um bom sinal “sinal de que os brasileiros querem um país com convivência mais fraterna, mais irmã!”.
Futuro do Brasil
Quanto ao futuro, do Brasil, depende de “como se comportará o Supremo Tribunal, o Executivo e o Legislativo, são os três poderes que devem ajudar o Brasil”. Porém, para o Bispo, “existe uma preocupação porque muitas das afirmações durante o tempo das eleições não eram favoráveis aos indígenas, quilombolas, pobres e aos direitos humanos”. Então tudo depende deste período pós eleição se muda a linguagem e as atitudes.
Reconciliação e comunhão
Dom Leonardo acredita que “como sociedade brasileira da qual a CNBB faz parte, agora temos um momento necessariamente de comunhão”. Recordando a nota da CNBB antes das eleições diz que foi falado de “reconciliação”, várias entidades buscam isso neste momento. “Depois da eleição busquemos defender a democracia com a reconciliação”.
Democracia
Ao falar de democracia, diz o bispo “fala-se no sentido de que as pessoas possam participar ativamente, viver na liberdade, mas ao mesmo tempo ter políticas públicas em benefício de todos, essa é a tarefa de toda a sociedade”.
Tempo de estender a mão
Hoje no Brasil existe divisões mas também tensões, e não só na sociedade, mas nas nossas próprias famílias, por isso chegou o tempo de fazer um movimento “de estender a mão, saber ouvir! O tempo das eleições foi um tempo que não soube ouvir, havia a capacidade de agressão e não da palavra, não da escuta – diz o bispo – e esse tempo da escuta e da palavra deve vir agora.
Abrir-se ao diálogo
Ao comentar sobre qual seria o papel da Igreja para que este Brasil dividido possa se reencontrar, Dom Leonardo diz que não será uma tarefa fácil, depende da atitude dos governantes, evidenciado que “quando um governo assume precisa ouvir a sociedade, não se impor, senão os movimentos sociais começam a se manifestar ir às ruas e isso leva a tensões e divisões maiores ainda. Por isso o Governo precisa estender a mão e abrir-se ao diálogo”.
Papel da Igreja
Quanto ao papel da Igreja para diminuir as divisões, Dom Leonardo confirma que a CNBB “nunca indicou um candidato, mas foram indicados critérios para escolher um candidato. Tais critérios são a democracia, diálogo, opção pelos pobres, defesa da vida em todos os sentidos, não apenas a questão do aborto, mas fala-se de toda a abrangência que a palavra vida tem, inclusive a questão do meio ambiente. Porém, frisou Dom Leonardo, “como Igreja é preciso ajudar a articular para o diálogo e criar um movimento dentro do Brasil, para que possamos sentar todos juntos ao redor de uma mesa”. “É um trabalho difícil mas a Igreja não vai se furtar a esta tarefa que o Evangelho nos confia, de criarmos uma fraternidade. Fraternidade significa um rumo, um rumo que é de justiça, de verdade e de amor.
Mensagem ao novo Presidente
“Desejo a Bolsonaro um bom governo, que ele possa governar para os brasileiros, para todos os brasileiros, todos. Se ele o fizer, certamente terá feito um bom governo”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Com Bolsonaro, evangélicos passam do veto à proposição da agenda de costumes
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Presidente e bancada religiosa se beneficiariam com debate restrito à pauta de comportamento. Questões econômicas e de segurança tendem a se impor e podem transformar religiosos em "vidraça"
"Eu vim aqui mais para ouvir do que falar", disse o então pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro diante de uma multidão de evangélicos na 26ª Marcha para Jesus, em maio, em São Paulo. Os organizadores calcularam em dois milhões de pessoas a quantidade de participantes do evento anual —a Polícia Militar não divulgou estimativa. "Hoje é dia de consagração. Que o Senhor abençoe e proteja as nossas famílias. Nós amamos Israel", discursou brevemente, na ocasião, o hoje presidente eleito do Brasil, finalizando a curta intervenção com seu lema de campanha: "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Meses depois, assim que teve sua eleição confirmada, Bolsonaro fez questão de, em sua primeira aparição pública, passar uma mensagem religiosa. Junto a seus apoiadores, inclusive, rezou, em uma imagem transmitida em rede nacional. Meio católico, meio evangélico, ele assumirá a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2019 com um apoio massivo do segundo grupo, que vem ampliando sua presença na política nacional eleição após eleição desde a década de 1980.
Um católico que frequenta a Igreja Batista há décadas, como ele mesmo se define, o presidente eleito neste domingo carrega para o Palácio do Planalto uma agenda religiosa que ainda não tinha encontrado tanta legitimidade no Executivo. É de se esperar, portanto, que os evangélicos deixem a posição de veto que ocuparam durante o Governo Dilma Rousseff para a de protagonistas, com a promoção de pautas. Isso não garante, contudo, apoio incondicional ao futuro Governo, ponderam estudiosos da relação entre política e religião no Brasil ouvidos pelo EL PAÍS. "O processo de politização da religião envolve ricos muito altos. Não se trata de uma força da religião na política apenas, mas de uma força da política na religião", analisa o sociólogo Roberto Dutra, professor da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
Durante a campanha, Bolsonaro recebeu o apoio público das maiores lideranças evangélicas do país. “De todos os candidatos, o único que fala o idioma do evangélico é Bolsonaro”, disse no início de outubro o pastor José Wellington Bezerra, presidente emérito da Assembleia de Deus, a maior congregação evangélica do Brasil. Responsável por celebrar o último casamento de Bolsonaro, com Michelle Firmo, em 2013, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, esqueceu críticas antigas sobre o radicalismo do presidente eleito para embarcar na candidatura do PSL à Presidência. Já o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, não se limitou a dizer que votaria em Bolsonaro. Sua emissora de televisão reservou 30 minutos exclusivospara o candidato enquanto seus adversários se enfrentavam em debate na Rede Globo.
A lista de apoiadores evangélicos conta ainda com o bispo Robson Rodovalho, criador da Sara Nossa Terra, e tem como grande unificador a bandeira de combate à "ideologia de gênero" e em favor da família tradicional, segundo a pesquisadora norte-americana Amy Erica Smith. Autora do livro Religion and Brazilian Democracy: Mobilizing the People of God (Religião e democracia no Brasil: mobilizando o povo de Deus), a ser lançado em abril próximo, Smith veio ao Brasil estudar organizações comunitárias, e descobriu nas igrejas os grupos mais organizados.
A pesquisadora lembra que o ativismo político dos evangélicos data da década de 1980, durante a Constituinte, e faz parte de uma estratégia para ampliar o poder de evangelização. "Os evangélicos achavam que as políticas públicas do Estado brasileiro estavam prejudicando sua capacidade para evangelizar. Queriam chegar ao poder para obter coisas como licenças para rádio". A mobilização rendeu, nesta eleição, uma ampliação da bancada evangélica do Congresso Nacional de 78 para 91 parlamentares na próxima legislatura, de acordo com as contas do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo Roberto Dutra, é uma bancada muito renovada, mais nova e com perfil de atuação mais agressiva nas redes sociais. Amy Smith lembra, por outro lado, que os evangélicos ainda estão sub-representados no Congresso, porque eles já compõem cerca de 30% da população brasileira, mas passarão a representar apenas 15% do parlamento.
Protagonismo
"Tanto para Bolsonaro quanto para os parlamentares, é muito interessante que o debate fique restrito à questão da agenda de comportamento: o que eles chamam de ideologia de gênero, pauta gay, questões sobre cotas —para o que a esquerda contribui muito com essa linguagem da política identitária", diz o sociólogo. "Se o debate ficar preso nisso, a tendência é que essa bancada evangélica tenha um protagonismo muito grande e consiga vitórias expressivas em relação à redução da maioridade penal ou eliminação de qualquer terminologia e conceituação sobre gênero na educação. Mas a pauta não vai ser só essa".
Dutra diz que, embora Bolsonaro fuja do debate sobre economia e políticas sociais, essas questões serão, junto com a segurança pública, as mais importantes de seu Governo. "Quando a política social, o crescimento econômico e a segurança pública, para que ele não tem solução nenhuma, naufragarem, a bancada evangélica vai virar vidraça", prevê, acrescentando que, com uma agenda econômica liberal radicalizada, "não haverá fé que segure o apoio dos evangélicos". Amy Smith chama atenção especialmente para a questão da violência. "Se o governo for muito sangrento, e pode ser, talvez ele perca um pouco da popularidade dentro das comunidades evangélicas. Há um movimento evangélico minoritário, mas forte, que acredita que a repressão de bandidos não é algo cristão. A violência retórica o prejudica. Se enfocar na repressão da comunidade gay, mas não na violência, pode ser que tenha mais apoio”, analisa.
Outro risco para Bolsonaro é tentar se escorar demais na comunidade evangélica, que impulsionou parte de sua campanha mobilizada contra o material escolar anti-homofobia popularmente conhecido como "kit gay". "Esse uso da religião como meio para a política pode levar ao desgaste da imagem entre os evangélicos. O uso do púlpito não é bem visto", diz Dutra, para quem problemas no Governo Bolsonaro podem contribuir para fomentar lideranças progressistas de esquerda entre os evangélicos. "[Marcelo] Crivella faz um Governo muito mal avaliado no Rio [de Janeiro]. Só não repercutiu muito fortemente na eleição do Estado porque o debate foi nacionalizado. Logo, logo, todo mundo vai lembrar que a prefeitura do Rio esta muito mal administrada", diz.
De qualquer forma, a influência evangélica na política brasileira deve aumentar, aposta Amy Smith, tanto pela busca de espaço político das igrejas quanto pelo crescimento da comunidade religiosa. Esses movimentos podem até culminar na eleição de um presidente evangélico de fato, mas isso dependeria do estabelecimento de uma unidade que não existe. "Tem uma expressão que se diz entre os evangélicos: ‘irmão vota em irmão”. Mas isso não acontece", diz Smith. "No período Lula [2003-2010], os evangélicos aderiram ao Governo pela política social. Eles têm afinidade e uma relação muito grande com a educação. Aproveitaram oportunidades. São pobres, não são só evangélicos. São identidades múltiplas, de classes populares", resume Dutra. Fonte: https://brasil.elpais.com
“O dia seguinte às eleições não é um conto de fadas”
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Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG),
Concluído o processo eleitoral 2018, o arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo chama a atenção, em artigo, para um aspecto: “As eleições marcam o início de um novo ciclo, resultado da vontade dos cidadãos”. Para ele, as eleições não têm força mágica, com o poder imediato de tudo mudar, mas constituem um importante passo, na tarefa de se percorrer um longo caminho.
“Não se pode acreditar na solução imediata dos problemas, simplesmente porque determinado candidato venceu o pleito. O dia seguinte às Eleições não é um ‘conto de fadas’. Para vencer seus muitos desafios, o povo brasileiro necessita buscar respostas alicerçadas em um profundo humanismo, em princípios e valores fundamentais conforme exige o sistema democrático”, disse.
O religioso defende que é ilusória a possibilidade de se conquistar o bem comum fora dos trilhos da democracia, por meio de escolhas unilaterais ou imposições. “A participação cidadã, além de possibilitar a escolha dos representantes do povo nas eleições, assegura aos governados a prerrogativa de acompanhar e direcionar a atuação dos próprios governantes”, disse.
O sistema democrático, recorda dom Walmor, oferece mecanismos para que o poder do Estado não seja apropriado por interesses particulares ou objetivos ideológicos. “A partir das eleições é necessário renovar a compreensão de que uma autêntica democracia requer um Estado regido pelo Direito, sobre a base de uma rica concepção do ser humano, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja Católica”, defende.
Compromisso com a democracia – Os eleitos, acima de tudo, têm o compromisso de defender a democracia, para além do mero respeito formal a determinadas regras. “É preciso aceitar, com convicção, os valores que inspiram os procedimentos democráticos: o zelo pelos direitos e pela dignidade humana, a busca do bem comum”, reforça. Sem o consenso sobre a importância desses valores, a democracia perde a sua estabilidade, defende dom Walmor.
Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) é perigoso quando os representantes do povo, nos três poderes, navegam no leito do relativismo ético que leva à manipulação de valores, que passam a ser negociados, em vez de serem compreendidos como critérios objetivos a serem respeitados. “Uma democracia sem princípios converte-se, facilmente, em totalitarismo, aberto ou dissimulado”, disse.
Dom Walmor defende que para se preservar o regime democrático é preciso agir em conformidade com a lei moral, que é soberana e sustenta o indispensável equilíbrio entre os poderes. Nesse horizonte, defende, espera-se competência humanística daqueles que exercem o poder. “Assim se legitima a autoridade perante o povo e se conquista credibilidade”, destaca.
Para corrigir as deformações do sistema democrático – a corrupção política, a traição de princípios morais e a inaceitável negociação da justiça social – dom Walmor aponta que os partidos políticos devem ser capazes de favorecer a participação cidadã, consolidando o entendimento da responsabilidade de todos pelos rumos da sociedade em um sistema democrático. “É exigido qualificado desempenho dos que ocupam cargos nos três poderes, mas também é indispensável a colaboração cidadã de cada pessoa na definição dos rumos do país”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Um dia após derrota, Haddad deseja 'sucesso' a Bolsonaro pelo Twitter
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Petista disse que escreve mensagem 'de coração leve
BRASÍLIA - No dia seguinte após perder a eleição, Fernando Haddad (PT) usou o Twitter para parabenizar o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pela vitória. Disse que escreve a mensagem "de coração leve" para que "ela estimule o melhor de todos nós". Neste domingo, ele avisou a dirigentes petistas que não ligaria para Bolsonaro, um gesto tradicional entre os políticos de reconhecimento da derrota. Os correligionários ressaltaram que xingamento e "falta de civilidade" por parte do capitão reformado levaram Haddad à decisão.
“Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte”! Fernando Haddad
Fonte: https://oglobo.globo.com
Bolsonaro faz concessão à TV Globo e libera acesso a condomínio
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Emissora foi autorizada a preparar estrutura para transmissão ao vivo em sua casa no RJ
Depois de passar toda a campanha eleitoral criticando a imprensa, inclusive acusando a TV Globo de “perverter as tradições familiares”, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), mirando a proximidade do poder, autorizou a emissora a entrar em seu condomínio no Rio de Janeiro.
Um carro de link, para transmissões ao vivo, da mesma emissora permaneceu durante toda a madrugada deste domingo (28/10) de votação em segundo, no espaço residencial na Barra da Tijuca.
A estrutura está montada em frente à casa do presidenciável, na rua C do Vivendas da Barra. As vans das outras emissoras estão estacionadas na área externa ao condomínio. Na frente da casa, há também um carro de link de uma produtora especializada em produção de conteúdo para TV na internet.
A residência de Bolsonaro é vigiada dia e noite por agentes federais. Eles alugaram uma casa no próprio condomínio e fazem plantão na garagem do político, no acesso à rua e na portaria. Também circulam todo o tempo pelas becos e ruelas do conjunto residencial. Há ainda seguranças de uma empresa privada e agentes da polícia militar colaborando com o serviço de vigilância. Fonte: https://www.metropoles.com
Por que o Brasil sempre precisa ser governado por algum deus?
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O novo deus militar, diante do qual a maioria dos brasileiros parece disposta a se ajoelhar, se parece mais com o Deus do Antigo Testamento, o do “olho por olho e dente por dente”
Milhões de evangélicos e católicos se dispõem a votar no novo deus, o capitão Bolsonaro. Existe, entre crentes e agnósticos nesse país, uma inclinação a querer ser governados não por um político normal e sim por um deus, capaz de resolver todos os seus problemas. Primeiro foi Getúlio Vargas. Adorado pelas massas, de agnóstico acabou, por conveniência, flertando com os católicos e introduziu o ensino da religião na escola pública. Acabou se suicidando com um tiro no coração. Depois veio Lula, o deus da boa nova, o que trazia o Brasil ao paraíso reencarnado. Havia antecipado o futuro. É católico e foi comparado a Jesus Cristo. Acabou na cadeia condenado por corrupção. E agora vem o deus Bolsonaro que já foi católico e agora é evangélico. Ainda não chegou ao trono e já tentaram matá-lo. E está convencido de que Deus agiu para que não morresse. “Deus acima de tudo!”
O novo deus militar, diante do qual a maioria dos brasileiros parece disposta a se ajoelhar, se parece mais com o Deus do Antigo Testamento, o dos trovões e raios, o vingador, o do “olho por olho e dente por dente”, do que com o do Novo Testamento, o reino do diálogo, da dialética e do paradoxo. O que levou Jesus a dizer que “quem com a espada fere, pela espada morre”, e ao mesmo tempo: “não vim trazer a paz e sim a guerra”. O que predicava que o Reino era para os últimos, os desprezados e sem dinheiro, e ao mesmo tempo se sentava à mesa dos ricos. É um Deus difícil de assimilar o que oferece um Reino “que não é desse mundo”, mas tem que agir misturado ao barro humano.
Ao que parece, os brasileiros religiosos hoje preferem o Deus que castiga e mata. Preferem o que encarna o fariseu que, em pé, na primeira fila, no templo, se gabava: “Te dou graças, Senhor, porque eu não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como esse publicano”. Este, inclinando-se ao solo, “batia no peito dizendo: Deus, tenha piedade de mim, que sou um pecador”. O evangelho diz que o publicano saiu purificado e o fariseu, o justo, reprovado por Deus.
No verdadeiro cristianismo, o que mudou a vingança pelo perdão, deveriam caber justos e pecadores, crentes e ateus, ricos e pobres, sábios e ignorantes, reis e vassalos. Nele há espaço para todos, ainda que com preferência aos mais despossuídos e esquecidos pelo poder. Se o Brasil apostar dessa vez pelo deus da raiva, o da justiça sem misericórdia, temo muito que possamos voltar aos tempos sombrios em que a violência era bendita pela Igreja.
O novo deus que os brasileiros parecem querer escolher poder ser mais perigoso porque aparece como o que não mente. O que não engana e não se corrompe. E ainda que pareça um paradoxo, esse novo deus pode ser aterrador porque sabemos que está disposto a cumprir o que promete, sem esperança de que possa se arrepender. Sabemos, por exemplo, que o novo deus militar gosta da tortura, da pena de morte, da velha lei do talião. Que lhe pareceria normal dar um autogolpe se não o deixarem governar como quer. Que acha que certas pessoas como negros, índios, homossexuais e mulheres são inferiores às outras. Sabemos que esse novo deus militar dos brasileiros é capaz de realizar o que promete e ameaça. Nele, o não mentir pode ser trágico.
Seus seguidores religiosos se esquecem que é verdade que Deus não mente, mas também que existem verdades que nos alimentam e libertam e verdades que nos prendem e envenenam. Não seria melhor, em política, deixar a Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens? Nada mais perigoso, de fato, do que quando os políticos decidem brincar de Deus. E o Brasil hoje não está preparado para brincadeiras perigosas. Fonte: https://brasil.elpais.com
EDITORIAL ELPAIS: Bolsonaro não é a solução
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O programa político do candidato põe em risco o futuro democrático do Brasil
Neste domingo se realiza no Brasil o segundo turno das eleições presidenciaisnas quais o ultradireitista Jair Bolsonaro parte como claro favorito. Com uma vitória retumbante no primeiro turno, com 46% dos votos, Bolsonaro superou em 17 pontos seu principal rival, do Partido dos Trabalhadores, e tudo parece indicar que o maior país da América Latina poderá converter em presidente um candidato que não hesita em mostrar um claro desprezo pelas regras do jogo democrático. Aquele que pode se tornar o trigésimo oitavo presidente do Brasil colocou seus concidadãos diante de uma decisão radical: manter o sistema democrático ou inclinar-se de facto por uma alternativa autoritária. Esta é, na realidade, a característica fundamental da eleição, uma convocação para a qual não cabem posições intermediárias frente ao risco de ter início um retrocesso democrático. A separação de poderes e os direitos e liberdades dos cidadãos são componentes imprescindíveis da democracia e do Estado de Direito, e é paradoxal que o voto possa colocá-los em risco com a opção por um programa político como o apresentado por Bolsonaro.
Ao longo do último mês, esse ex-militar nostálgico da ditadura se dedicou a demonizar perigosamente seus adversários políticos, tachando-os de "criminosos vermelhos", prometendo que "vão ser varridos do país" e os ameaçando com a "prisão e o exílio". Bolsonaro não hesitou em promover um discurso de ódio contra as mulheres e as minorias, que constituem metade da população, reabrindo uma brecha de corte racial em um país com uma das taxas mais elevadas de violência na região, um problema que ele quer combater com mais violência: "Se um ladrão tem uma arma, nós temos que ter um fuzil", disse ele em um de seus discursos de campanha. Tudo isso faz do candidato um perigo real de consequências incalculáveis para a região. A eleição de um candidato que expressa abertamente seu desprezo pelos padrões mínimos de qualidade democrática compromete seriamente o presente e o futuro de uma das economias emergentes mais importantes do planeta e de um país que parecia destinado a desempenhar um papel de protagonista no século XXI .
É compreensível que uma parte do povo brasileiro queira mostrar que está farta da corrupção, e que os cidadãos sintam e expressem legítima ansiedade depois de sofrer uma crise econômica dilacerante que o PT administrou mal, incrementando de novo os índices de desigualdade. Mas Bolsonaro não é a solução. Se a corrupção, a deterioração institucional e uma classe média empobrecida representam os problemas estruturais que o gigante latino-americano atravessa, a concentração de poder nas mãos de um militar autoritário em um país já enfraquecido institucionalmente só ajudaria a precipitar a saída do Brasil dos esquemas democráticos para transformá-lo, provavelmente, em uma ditadura eleitoral. O impulso legítimo de purgar um sistema e punir suas elites extrativistas não pode resultar na escolha de um candidato que põe em causa a própria sobrevivência da democracia. Fonte: https://brasil.elpais.com
Bolsonaro, um candidato que cresceu no Facebook e não quer sair de lá
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Presidenciável do PSL tem milhões de seguidores nas redes, recusa os debates e dá entrevistas contadas para manter seu discurso sob controle
É talvez um dos momentos mais surrealistas da campanha eleitoral brasileira. Sem dúvida, o mais escatológico. Ocorreu na Internet, crucial campo de batalha nesta eleição. Jair Messias Bolsonaro, claríssimo favorito no segundo turno, veterano deputado, explica ao vivo aos seus oito milhões de seguidores no Facebook que não participará do debate televisivo com que tradicionalmente se encerra a campanha. Convalescente da facada que sofreu no começo de setembro, esmiúça ao vivo – “numa live do Facebook” – os motivos da sua ausência. Diz que tem autorização médica para ir para o cara a cara, mas prefere não correr riscos. De repente, levanta a camiseta… E mostra a bolsa de colostomia enquanto diz: "O pessoal quer que eu vá ao debate, mas posso ter um problema com a bolsa, posso ter que voltar para o hospital, e tudo isso para debater com um poste". Eis aí, em estado puro, o candidato que revolucionou a política do Brasil.
Bolsonaro levou um grau adiante o conceito de fazer política nas redes sociais. Evita intermediários. Esquiva críticas. Tem um controle quase absoluto sobre sua mensagem. Dá as costas aos debates e também aos comícios desde que um desequilibrado com simpatias esquerdistas o esfaqueou. Fala à mídia tradicional, apenas o necessário, e só para os veículos com afinidade e outros terrenos seguros.
Barack Obama foi o primeiro a vislumbrar o potencial da Internet para arrecadar dinheiro; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi travou sua batalha no Twitter e fez vibrar centenas de milhares de pessoas em todos os cantos do país, participando de comícios simultâneos graças a um holograma; Donald Trump descobriu no Twitter uma alternativa aos sempre incômodos meios tradicionais; finalmente, o italiano Matteo Salvini descobriu o potencial das lives do Facebook. Agora, Bolsonaro levou a estratégia a uma nova fase: só se deixa ver na tela.
Bolsonaro mostra sua bolsa de colostomia em uma transmissão ao vivo pelo Facebook
O ex-militar, que dedicou seu voto na destituição de Dilma Rousseff ao torturador da ex-presidenta, conseguiu fazer da necessidade uma virtude. Sem um partido poderoso ou aliados óbvios, e com apenas oito segundos de propaganda contra os partidos de longa data, ele planejou uma estratégia voltada para as redes sociais, um ecossistema que premia e potencializa o tribalismo, o radicalismo e o histrionismo. Um terreno fértil para difundir seu conservadorismo de extrema direita sem renunciar a distorções ou a mentiras flagrantes.
Usa diferentes canais, com discursos diferentes dirigidos a diferentes públicos, explica Francisco Carvalho de Brito, diretor do Internet Lab, consultoria de direito e tecnologia. "Bolsonaro usa o FB para divulgar sua agenda, para falar com suas bases, que não confiam na grande mídia. Quando quer moderar seu discurso, concorda em dar entrevistas para a televisão para enviar sinais aos mercados, às instituições ... Ele usa o Twitter para responder rapidamente às questões (polêmicas) ... Usa os grupos de WhatsApp como fã-clubes em que se pode fazer parte da sua rede ... "
Na reta final da campanha, o Facebook fechou 69 páginas e 43 contas vinculadas ao grupo empresarial Raposo Fernandes Associados por violar as regras sobre spam e deturpação, mas a tecnológica tem rejeitado o pedido de reduzir no Brasil o limite de pessoas às quais se pode enviar mensagens de WhatsApp de 20 para 5, como acontece na Índia. "É muito preocupante, caminhamos sobre o gelo porque as fake news são fabricadas em escala industrial, mas a checagem de informações é um processo que leva um longo tempo", destacou esta semana Thiago Tavares, diretor da SaferNet, ONG que analisa as redes em busca de possíveis crimes, informa a France Presse.
A página oficial no Facebook de Bolsonaro tem oito milhões de seguidores (ainda longe de seus 49 milhões de votos no primeiro turno) na reta final de uma campanha em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, começou com 3,6 milhões e o militar aposentado, com 5,5 milhões. Um enorme salto para um político cuja primeira mensagem no Facebook teve apenas 70 curtidas.
O brasileiro estreou a página em um momento-chave. Em junho de 2013, as ruas (e as redes) explodiram. O aumento do transporte público em São Paulo (com Haddad prefeito) catalisou a indignação popular e levou milhões para as ruas convocados por outros brasileiros comuns, distantes de partidos, sindicatos e movimentos sociais. Alguns políticos tradicionais viram nas redes sociais a possibilidade de se reinventar e buscar relevância. Grupos sociais da direita também vislumbraram o filão. Com isso houve um vertiginoso crescimento de uma dinâmica que viu surgirem grupos como o ultraliberal e agressivo Movimento Brasil Livre (MBL), o questionamento das eleições vencidas por pequena margem por Dilma Rousseff em 2014, a sua destituição, novos protestos em massa ... e em 2017, o salto de Bolsonaro para a arena, com cenas de multidões que o recebiam no aeroporto transmitidas pelas redes e visitas a quartéis.
O Movimento Brasil Livre foi um dos agitadores das grandes manifestações de 2015 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Essas foram as primeiras marchas da direita como tal desde o fim da ditadura em 1985. O ex-militar já ambicionava há três anos se candidatar nesta eleição presidencial. O MBL empreendeu uma guerra cultural em sintonia com os evangélicos e Bolsonaro. Desde a criação de sua página no Facebook, o favorito para presidir o maior país da América Latina utilizou esse canal a partir de janeiro de modo intensivo para difundir a agenda que defendia como deputado federal: a oposição ao projeto de lei que criminaliza a homofobia, sua proposta de voto em cédula para evitar uma suposta fraude nas urnas eletrônicas, a rejeição de uma Comissão da Verdade – que investigou os abusos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar –, e assim por diante. Mas não descuida do Whatsapp, ao qual tanto deve. No ano passado, ele lhe dedicou até um projeto de lei, que buscava impedir que o aplicativo fosse tirado do ar pela Justiça. Fonte: https://brasil.elpais.com
CNBB divulga nota sobre o segundo turno das eleições 2018
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Reunidos entre os dias 23 e 24 de outubro na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), os bispos que integram o Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da entidade emitiram uma Nota sobre o segundo turno das Eleições 2018. No documento, os bispos reforçam que as eleições são ocasião de exercício da democracia que requer dos candidatos propostas e projetos que apontem para a construção de uma sociedade em que reinem a justiça e a paz social. Os bispos exortam a que se deponham as armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Abaixo, a íntegra do documento.
NOTA DA CNBB
Por ocasião do segundo turno das eleições de 2018
Jesus Cristo é a nossa paz! (cf. Ef 2,14)
O Brasil volta às urnas para eleger seu novo presidente e, em alguns Estados e no Distrito Federal, seu governador. Fiel à sua missão evangelizadora, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de seu Conselho Episcopal Pastoral (Consep), reunido em Brasília-DF, nos dias 23 e 24 de outubro, vem ratificar sua posição e orientações a respeito deste importante momento para o País.
Eleições são ocasião de exercício da democracia que requer dos candidatos propostas e projetos que apontem para a construção de uma sociedade em que reinem a justiça e a paz social. Cabe à população julgar, na liberdade de sua consciência, o projeto que melhor responda aos princípios do bem comum, da dignidade da pessoa humana, do combate à sonegação e à corrupção, do respeito às instituições do Estado democrático de direito e da observância da Constituição Federal.
Na missão de pastores e profetas, nós, bispos católicos, ao assumirmos posicionamentos pastorais em questões sociais, econômicas e políticas, o fazemos, não por ideologia, mas por exigência do Evangelho que nos manda amar e servir a todos, preferencialmente aos pobres. Por isso, “a Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76). Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada” (CNBB – Mensagem ao Povo de Deus – 19 de abril de 2018). Inúmeros são os testemunhos de bispos que, na história do país, se doaram e se doam no serviço da Igreja em favor de uma sociedade democrática, justa e fraterna.
A CNBB reafirma seu compromisso, sobretudo através do diálogo, de colaborar na busca do bem comum com as instituições sociais e aqueles que, respaldados pelo voto popular, forem eleitos para governar o País.
Exortamos a que se deponham armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Toda atitude que incita à divisão, à discriminação, à intolerância e à violência, deve ser superada. Revistamo-nos, portanto, do amor e da reconciliação, e trilhemos o caminho da paz!
Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, invocamos a bênção de Deus para o povo brasileiro.
Brasília-DF, 24 de outubro de 2018
Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de São Salvador
Presidente da CNBB em exercício
Dom Guilherme Antônio Werlang
Bispo de Lajes
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: http://www.cnbb.org.br
Críticas de Mano Brown ao PT marcam ato de Haddad no Rio; assista
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Discurso do rapper destoou do clima de otimismo por eventual virada do petista sobre Jair Bolsonaro; 'Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo', disse
RIO – Um discurso crítico do rapper Mano Brown marcou um ato de campanha de Fernando Haddad (PT) no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 23. O cantor e compositor criticou o clima de festa e de otimismo do evento, que clamava por uma virada sobre Jair Bolsonaro (PSL) e culpou a falha de comunicação do PT com os eleitores das classes populares pela eleição do militar, que considera definida.
"Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada", disse o rapper, que ouviu algumas vaias. De acordo com a organização, 70 mil pessoas estavam presentes na praça abaixo dos Arcos da Lapa. "Não gosto do clima de festa. O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo. Se somos o partido dos trabalhadores, temos que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber."
Ao discursar no encerramento do ato, Haddad disse que respeitava e entendia o que disse Brown. “O que ele disse é sério”, afirmou o candidato do PT, defendendo que é preciso “dar razão” às pessoas que estão votando em Bolsonaro não porque confiam nele, mas porque “estão desesperadas”. “Tem irmãos e irmãs nossos que estão na periferia revoltados com tudo que está acontecendo e com razão. Temos que, nesta semana, abraçar essas pessoas, que sempre estiveram conosco”, afirmou Haddad.
Presente no evento, o músico Caetano Veloso também comentou a fala de Brown. "Eu acho que a fala de Mano Brown é muito importante porque traz a complexidade do nosso momento. A mera festa pode parecer que temos uma mensagem simples a passar."
Haddad disse sentir, “desde ontem (segunda-feira)”, um clima de “virada” no ar, defendeu que se “abrace” o eleitor de baixa renda que sempre votou no PT para conquistar votos na última semana e voltou a atacar o adversário Jair Bolsonaro (PSL).
“Vamos ganhar a eleição. Não tenho dúvida”, afirmou Haddad, logo no início do discurso. “Bolsonaro disse em discurso transmitido na Avenida Paulista no domingo (passado) que, depois das eleições, eu teria dois destinos: a prisão ou o exílio. Resolvi derrotar Jair Bolsonaro no (próximo) domingo”, disse o petista.
Haddad também criticou Bolsonaro, o que chamou de discurso de ódio e violência do candidato adversário e sua recusa a participar de debates. Numa referência à entrevista com Bolsonaro transmitida nesta terça-feira, 23, pela afiliada do SBT no Piauí, em que Bolsonaro disse que era preciso acabar com o “coitadismo” das minorias, Haddad subiu o tom.
O Mano Brown tem toda razão. Precisamos voltar pra periferia de coração aberto porque a periferia não votou com a gente no primeiro turno. Vamos voltar para a base pra governar o Brasil com a base, como sempre fizemos.
Jair, se olha no espelho. Coitado é você, que não passa de um soldadinho de araque que fala grosso porque tem gente armada em volta”, afirmou Haddad, lembrando que Bolsonaro evitou os debates no segundo turno e citando o que chamou de falta de propostas, tanto como parlamentar quanto como candidato.
No fim do discurso, Haddad defendeu o direito à manifestação por parte dos movimentos sociais. Dirigindo-se ao candidato derrotado pelo PSOL no primeiro turno das eleições 2018 e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o candidato do PT disse que Guilherme Boulos tem que ter o direito de se manifestar sem ser ameaçado. “No nosso governo, vá para as ruas, Boulos!”, exclamou Haddad. Fonte: https://politica.estadao.com.br
ELEIÇÃO-2018: O novo presidente precisará propor um caminho marcado pela Esperança capaz de proporcionar vida em abundância para todos
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De Roma, onde participa até o dia 28/10 como padre sinodal da XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, dom Jaime Spengler, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada e arcebispo de Porto Alegre (RS) concedeu entrevista ao VaticanNews na qual, entre outros assuntos, falou sobre as Eleições 2018 no Brasil.
Para o arcebispo, estamos vivendo uma crise de confiança muito grande, apesar de as instituições funcionarem. Em sua avaliação, as Eleições 2018 deixaram a desejar no debate de programas e propostas para o país. “Nos falta um projeto de nação que seja capaz de aglutinar o nosso povo e de dizer vamos olhar para a frente e pensar no futuro”, ressaltou.
Na avaliação do religioso, não temos apenas uma crise ética, à qual já estamos acostumados a lidar, mas também uma crise antropológica que aponte qual a noção de pessoa humana que orienta as decisões das diversas instâncias da sociedade e também as decisões do mundo político.
Dom Jaime, apesar do contexto, conclama a olharmos para frente. “Seja lá quem for eleito, no próximo domingo, terá uma missão enorme pela frente: unir a nação e povo brasileiros”, disse. O novo presidente precisará propor um caminho marcado pela Esperança de algo novo que seja capaz de proporcionar “vida em abundância para todos”.
O padre sinodal recordou as palavras proferidas pelo papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando disse aos jovens: “Não permitamos que nos roubem a esperança”. “Nesse momento da Nação, não podemos permitir que sejamos roubados na esperança. Porque sabemos que a esperança dá horizontes e cria utopias e estes são necessários para uma sociedade sadia”, concluiu. Fonte: http://www.cnbb.org.br
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