#PROVÍNCIA300
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Nos próximos dias temos novidades sobre a celebração dos 300 anos da nossa Província. Além do logo- com algumas mudanças feitas pelo Frei Eduardo e sua equipe da Montessori – temos também um concurso musical para a escolha de 10 músicas carmelitas para o lançamento de um CD, com o tema: #PROVÍNCIA300. O objetivo é envolver as nossas paróquias- Grupos de cantos- conventos e a Ordem Terceira e óbvio, tornar os 300 anos assunto das mídias sociais com a #PROVINCIA300. Aguardem o edital e outras novidades.
Inicialmente a equipe reunida aqui no Rio na última terça 23, pensou em um prêmio de 3.000 para o 1º colocado, 2.000 para o segundo e 1.000 para o terceiro e as 10 melhores músicas vão fazer parte do CD dos 300.
COMENTÁRIO DA REGRA DO CARMO: Do Silêncio profético e do controle da língua.
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O silêncio no Carmelo
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Regra do Carmo, número 21: O silêncio, caminho para a prática da justiça.
Saber escutar o grito dos silenciados
O Texto da Regra
O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que é nele que se deve trabalhar. E como afirma o profeta: a justiça é cultivada pelo silêncio. E ainda: no silêncio e na esperança estará a força de vocês.
Por isso, determinamos que, depois da recitação das completas, guardem o silêncio até depois da Hora Primeira do dia seguinte. Fora desse tempo, embora a observância do silêncio não seja tão rigorosa, com tanto mais cuidado abstenham-se do muito falar, porque, conforme está escrito e não menos ensina a experiência: No muito falar não faltará o pecado; e: Quem fala sem refletir sentirá um mal-estar; e ainda: Quem fala em demasia prejudica a sua alma; e o Senhor no Evangelho: De toda palavra inútil que os homens disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça.
1- Um pouco de história: sobre o silêncio no Monte Carmelo e na Regra do Carmo
Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana?
Comparando o texto escrito por Alberto em 1207 com o texto aprovado pelo Papa Inocêncio IV em 1247, a gente nota uma diferença. Alberto dizia que se devia observar um silêncio estrito desde a oração das Vésperas no fim da tarde até à Hora Terceira do dia seguinte. O texto definitivo, aprovado pelo Papa, encurtou o tempo do silêncio estrito. Agora é desde a oração do Completório à noite até à Hora Primeira do dia seguinte. O motivo deste abrandamento do silêncio estrito deve ter sido a atividade pastoral, o contato com o povo. Mas continua a pergunta: qual o silêncio que a Regra pede e recomenda?
Há muitos tipos de silêncio: o silêncio de uma sala de estudo ou de uma biblioteca; o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da noite ou da madrugada; o silêncio da natureza, o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado e amordaçado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta, o silêncio de .... Qual o silêncio que a Regra pede e recomenda? Vejamos:
2- O ponto de partida: o controle da língua que conduz ao silêncio profético
Como nos números anteriores sobre as armas espirituais (Rc 18 e 19) e sobre o trabalho (Rc 20), assim também aqui no número sobre o silêncio (Rc 21), a Regra sintetiza e canaliza o rio rico e caudaloso da tradição monástica e eremítica do passado e a faz passar pelo jardim do Carmelo situado nas periferias das cidades no meio dos "menores" (pobres), para que o irrigue e produza frutos de justiça, de fraternidade e de santidade a serviço da Igreja e do povo.
O número 21 da Regra sobre o silêncio tem três partes: 1) Descreve o valor do silêncio;
2) Organiza o silêncio; 3) Recomenda a prática do silêncio.
O Valor do silêncio
Na primeira parte, usando frases da Bíblia, a Regra começa lembrando a recomendação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em silêncio (Rc 20). Em seguida, para descrever o valor do silêncio, ela cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Isto significa que o silêncio recomendado pela Regra tem a ver com a Bíblia: a sua origem está nos profetas. É um silêncio profético! Trata-se de um silêncio que é muito mais do que só ausência de barulho ou de falatório. Conforme as duas fraes do profeta Isaías, o silêncio tem a ver com a prática da justiça, com a esperança e a resistência (força). Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias.
Este silêncio profético tem dois aspectos, expressos nas duas frases de Isaías. A primeira frase diz que o cultivo do silêncio gera justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. A segunda frase do profeta sugere o contrário. Em vez de esforço ativo em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus.
A Institucionalização do silêncio
A segunda parte do número 21 da Regra descreve a organização do silêncio. Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do Carmelo. Na Regra, a organização ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, é silenciosa. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas. Acontece, independente de nós. O dia já é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio profético.
A recomendação do silêncio
A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve como a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, Alberto aponta os perigos do muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a recomendar o cultivo do silêncio ou o controle da língua, como sendo o caminho para se chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. A Regra diz: Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, com o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça. De um lado, o pecado, a morte. Do outro lado, a justiça, a vida. O muito falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.
Como se vê, no fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça que é fruto do silêncio e diz: Cada um procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça. É o silêncio profético!
3- Ponto de chegada: o silêncio profético que enfrenta a morte e conduz à vida
Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e diante da violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão frequente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira citação de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Este cultivo consiste num trabalho ativo nosso que faz silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, do diz-que-diz, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça. Faz nascer a visão justa das coisas. Gera em nós a justiça.
Na hora em que se desmantela dentro da cabeça da gente o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro da gente. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda citação do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança e produz a força da resistência. Dá força para a gente aguentar a situação de morte, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Como diz o poeta: Faz escuro mas eu canto. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição.
Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Trata-se da experiência mística. Por exemplo: Salmo 37,7 diz: Descansa em Javé e nele espera. Literalmente se diz: Esvazia-te diante de Javé e agüenta firme. A palavra esperar (agüentar), sugere a atitude da mulher em dores de parto. Ela agüenta firme, porque sabe que vai nascer vida nova, apesar das muitas dores.
Lamentação 3,26 diz: É bom esperar em silêncio a salvação de Javé. É a mesma experiência da certeza que vem de Deus. Não sai de frente de Deus, porque sabe que vai ser atendido.
Este mesmo silêncio foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Disto falaremos no subsídio do Círculo 18. O mesmo silêncio aconteceu na vida de Maria e na vida dos Santos e Santas Carmelitas. Sobre isto meditaremos no subsídio do Círculo 19.
Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra tem dois aspectos, expressos pelas duas frases de Isaías. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
# PROVÍNCIA-300: Resumo da história do Carmelo no Brasil-01
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(Foto: Sagração de Dom Gabriel Bueno Couto, O. Carm)
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
O Início do Carmelo no Brasil: 1580 a 1720
FUNDAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
1- OLINDA. Dia 26 de janeiro de 1580, o provincial de Portugal, frei João Cayado, assinou a decisão e em seguida, na expedição de Frutuoso Barbosa, quatro frades partiram para o Brasil: Bernardo Pimentel, António Pinheiro, Alberto de Santa Maria e Domingos Freyre (o vigário). No mesmo ano chegam no Brasil e escolhem como lugar a cidade de Olinda e se estabelecem na capela dedicada a Santo Antônio. Em 1584, fundação do Convento de Olinda. A licença oficial para a fundação e a aquisição do terreno é de 1º de dezembro de 1590.
2- SALVADOR. Em 1586, três frades partem para Salvador da Baía de Todos os Santos: Alberto de Santa Maria, Belchior do Espírito Santo e Damião Cordeiro (coordenador) e em 24 de março de 1592 se faz a fundação oficial com Capela e escritura.
3- SANTOS. Pedro Viana com vários companheiros veio fundar um convento em Santos, cuja fundação ficou pronta no dia 31 de agosto de 1589.
4- RIO DE JANEIRO. Em 1890 chegaram alguns Carmelitas no Rio de Janeiro e receberam da Câmara a Capela de Nossa Senhora do Ó e no dia 28 de abril de 1590 receberam um terreno para construir um convento.
5- SÃO PAULO. A fundação é feita em 1894. Assim, em dez anos, de 1584 até 1594, fundaram cinco conventos, apesar das imensas dificuldades de viagem e de comunicação daqueles tempos iniciais. Já em 1591, no Capítulo Provincial da Província de Portugal em Lisboa, foi confirmada com satisfação e alegria a fundação dos quatro primeiros conventos na Terra de Santa Cruz.
6- VICARIATO. Começa a organização interna aqui no Brasil. Em 1959 nomeiam-se o Vigário e os quatro priores dos quatro conventos. Os frades que vinham de Portugal só ficavam aqui três anos e voltavam, arcando o vicariato com as despesas das viagens. Era proibida a admissão de índios e de mouros. Os frades que tinham vindo ao Brasil para facilitar a ordenação sacerdotal, deviam ficar sete anos.
7- Em 1606, o número dos carmelitas era de 99: Olinda (30), Salvador (30), Rio de Janeiro (14), Santos (10), São Paulo (8), Paraíba (7)
2- A EXPANSÃO
1- Na primeira metade do Século XVII foi a lenta e gradual expansão da presença do Carmelo em quase todo o território Brasileiro (nem sempre as datas correspondem):
1- Angra dos Reis, Rio de Janeiro-1593
2- São Cristóvão, Sergipe-1610
3- Mogi das Cruzes, São Paulo-1610
4- São Luiz do Maranhão-1616
5- Belém do Pará-1624
6- Recife, Pernambuco-1631
7- Goiana, Pernambuco-1636
8- Alcântara, Maranhão-1647
2- Numa carta de 1635 de frei Sebastião dos Anjos, procurador do Carmelo Brasileiro, para Portugal dizendo que está na hora de se criar uma província autônoma e sugere que já havia em torno de 200 frades carmelitas no Brasil.
3- Não se chegou a constituir uma província autônoma, mas em 1640 formaram-se dois vicariatos: Bahia com 9 conventos e Maranhão com 3 conventos.
Em 1675 era este o quadro do Carmelo no Brasil:
a) O vicariato do Estado do Brasil (Salvador da Baía) tem 11 conventos
1- Cidade da Bahia: casa de estudos com 60 frades conventuais
2- São Cristóvão, Sergipe, com 10 frades conventuais
3- Recife, Pernambuco, com 8 frades conventuais
4- Olinda, com 18 frades conventuais
5- Goiana com 10 frades conventuais
6- Paraíba com 6 frades conventuais
7- Rio de Janeiro com 36 frades conventuais
8- Ilha Grande com 6 frades conventuais
9- Santos com 10 frades conventuais
10- São Paulo com 16 frades conventuais
11- Mogi das Cruzes com 6 frades conventuais
a) O vicariato do Estado do Maranhão tem 4 conventos
1- São Luís, casa de estudos, com 30 frades conventuais
2- Belém do Pará com 18 frades conventuais
3- Capitania de Gurupá com 6 frades conventuais
4- Capitania de Tapitapera com 6 frades conventuais
5- Cada um destes vicariatos tinha um vigário nomeado pelo Provincial do Carmo de Portugal.
3- A CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA DE SANTO ELIAS DO BRASIL
1-Já em 1635, o frei Sebastião dos Anjos falava em criar uma província autônoma, mas a ideia encontrava muita resistência. Não é fácil separar-se da Casa Mãe. No Capítulo Geral de 1648, em Transpontina, decretou-se a criação da Província de Santo Elias, mas não vingou.
2- Motivos da resistência: a Coroa de Portugal não queria e mandou suspender a decisão do Capítulo Geral. O provincial de Portugal, frei João Coelho, escreveu ao Padre Geral em 29 de outubro de 1648, fazendo ver os graves inconvenientes: pobreza, escassez de conventos, falta de religiosos preparados, invasão de tropas holandesas que tinham feito estragos em alguns conventos de Pernambuco, Paraíba e Sergipe, invasão e ataques de piratas e nomeação de um prófugo como comissário.
3- Em 1683, no dia 15 de janeiro, frei Monsignani, superior geral da Ordem, mandou que, cada três anos, houvesse uma reunião à qual assistissem os Priores dos Conventos com seus sócios, o Vigário Provincial com seu sócio e dois definidores, sob a presidência de um religioso nomeado pelo Padre Geral e procedessem à eleição do Vigário Provincial. O eleito tomaria posse e teria a mesma autoridade que os provinciais nas suas províncias. A reunião teria o mesmo poder do Capítulo Provincial e os priores seriam eleitos pelo Vigário Provincial com seus definitório.
4- Em 1718 acontece a fundação do convento de Itu.
5- A situação continuou assim de 1685 até 1720, ano em que as duas vice províncias do Brasil, Bahia e Maranhão, foram elevadas à categoria de Província com todos os direitos e obrigações. Em 2020 faremos 300 anos de Província.
6- Em 1741, criou-se o vicariato de Pernambuco. Três anos depois, em 1744, o Carmelo de Pernambuco tornou-se Província. Isto tem a ver com a introdução da Reforma Touronense no Carmelo do Brasil.
2- A reforma de Touraine no Brasil
1- SÉCULO XVI. Começou no início do Séc XVII (1600) com Felipe Thibault (1572-1638) e João de São Sansão (1571-1636). Forte espiritualidade e muita expansão em diferentes partes da Ordem.
2- No Brasil começou em 1677, no convento de Goiana, com frei João de São José. A reforma dependia diretamente do provincial da Baía, mas a partir de dezembro de 1683, nomeou-se um comissário para a sua direção imediata e diária.
3- A reforma teve o apoio do Geral da Ordem, Ângelo Monsignani que mandou entregar a reforma os conventos: de Recife, Olinda e Vila Real (depois substituído pelo convento de Paraíba). Um deles devia ser noviciado. Nomeou um comissário especial que devia fazer visitas periódicas.
4- A reforma não foi tranquila. No desejo de aderir à Reforma, assim parece, estava também o desejo de se tornar independente da província da Bahia. Em 1699 eles conseguem uma aprovação até do rei de Portugal. Assim, os conventos de Recife, Goiana e Paraíba obtêm certa autonomia que será o berço da futura província de Pernambuco. Os conventos de Olinda e Nazaré continuam pertencendo à província da Bahia. Olinda foi da reforma, mas voltou a ser da Província.
5- Em 1714 pedem para ter um vigário provincial para poder ter maior autonomia. Obtiveram a licença, mas diante da forte oposição, em 1716 a licença foi revogada. Em 1724 voltaram a pedir obtiveram a licença de ser vicariato. O primeiro vigário Provincial é o frei Miguel da Assunção. Tudo isto foi confirmado pelo Papa Bento XIII em janeiro de 1725. Tinham três conventos (Recife, Goiana e Paraíba) e fundaram uma casa em Lisboa junto à corte real e junto à nunciatura apostólica.
6- De 1725 até 1745 criaram as seguintes seis fundações, chamadas hospícios: Goiana, Paraíba, Coronel, Piedade, Camaragibe, Porto Calvo (Alagoas). Em 1744 conseguiram o decreto de ser província, mas faltava o número necessário de frades membros. Mesmo assim em 1749 foram autorizados pela Santa Sé a ser Província e a fundar “três estações missionais” entre os índios.
7- Em torno do ano 1750, a província da Reforma contava com 112 frades: 81 sacerdotes, 10 professos clérigos, 1 noviço clérigo, 15 irmãos e 5 noviços irmãos. Ao todo, no Brasil havia três províncias com em torno de 500 frades.
3- A Restauração no Século XX
1- Por causa do decreto de Pombal que proibia a entrada de gente nova nas várias Congregações e Ordens, na segunda metade do século XIX foi diminuindo o número dos frades. Dos Franciscanos sobrou um único frade. Dos Carmelitas sobraram três ou quatro.
2- Esta situação levou o Papa a incentivar as Ordens e Congregações na Europa a enviarem missionários para o Brasil. E assim foi feito. A iniciativa do Papa tinha vários objetivos:
* Renovar a Vida Religiosa
* Impedir que os bens da Igreja caíssem na mão do Estado
* Implantar a Reforma de Trento
3- Assim começou o processo da Romanização da Igreja no Brasil e se consolidou o sistema da Cristandade que se caracterizava pela devoção ao Papa, à Nossa Senhora e à Eucaristia.
4- Neste contexto foi feita a restauração da nossa Província.
* Primeiro, vieram os espanhóis no início dos anos 90 do século XIX, mas não deu certo. Eles Chegaram a reformar o convento de Angra dos Reis para que pudessem servir como Noviciado.
* Em 1904, a pedido do Padre Geral, vieram os frades da Holanda.
CARMELITAS: Semana Santa-2019
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Com imagens da Semana Santa-2019 realizada na Província Carmelitana de Santo Elias, ouça a música; Ressurreição, de Frei Petrônio de Miranda, Frade Carmelita/RJ. Domingo de Páscoa, 21 de abril-2019.
LETRA
Ressurreição (1 Coríntios 15)
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
1-Se não acreditamos na ressurreição, se ficamos na noite da- escuridão/ É vã, a nossa fé, é vã a nossa fé. (bis)
2-Se Ele foi condenado e a cruz venceu, se no Monte Calvário Ele- padeceu/ É vã, a nossa fé, é vã a nossa fé. (bis)
3-Se na cruz foi o fim quando Ele gritou, se o saldado com a lança- o derrotou / É vã, a nossa fé, é vã a nossa fé. (bis)
4-Se a sombra da morte o dominou, se botaram na tumba e não- mais voltou/ É vã, a nossa fé, é vã a nossa fé. (bis)
5-Se a morte venceu e o fim chegou, se no terceiro dia Ele- não voltou/ É vã, a nossa fé, é vã a nossa fé. (bis)
Arcebispo vê aumento no número de fiéis e mais participação dentro da Igreja
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*Por Raíssa França com Cristóvão Santos
Dom Antônio Muniz
A Semana Santa é a celebração da Paixão, Morte e ressurreição de Jesus Cristo. Neste sábado (20) - conhecido como sábado de Aleluia - o entrevistado do Cada Minuto é o arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz que avaliou a participação dos fiéis dentro da Igreja e afirmou que atualmente há mais “qualidade daqueles que participam de tudo aquilo que a Igreja prega”. O arcebispo também comentou sobre os escândalos envolvendo casos de pedofilia e disse que quem cometeu deve ser julgado.
Além disso, dom Antônio também falou sobre a Campanha da Fraternidade 2019 e disse que após o lançamento da Geladeira Solidária, a igreja vai fazer o guarda-roupa e a farmácia solidária para os mais necessitados de Maceió.
Confira a entrevista completa abaixo:
1) Na sua opinião, as pessoas de hoje em dia vivem a “tradição” da Semana Santa? Ou esse número caiu?
Não. Pra ser sincero eu tenho constatado que tem aumentado, mas tem aumentado a qualidade daqueles que participam. Não é por simples tradição, a qualidade significa por convicção. As pessoas têm procurado mais a Igreja e tem participado com muito afinco com tudo aquilo que é proposto pela Igreja para este tempo e também para a vida. As pessoas vivem consciente da fé cristã como necessidade de vida, como uma necessidade quase que básica das pessoas.
2) O senhor acha que com o uso assíduo das redes sociais, as pessoas tiveram mais acesso a palavra de Deus já que alguns padres fazem o uso das mídias e evangelizam, ou o senhor acha que as redes acabam prejudicando os fiéis?
Não, não vejo como atrapalho. Vejo qualificação daqueles que usam esses meios. Afinal de contas entre o meio e a verdade existe uma fake news. É preciso que tenhamos uma consciência muito clara daquilo que estamos consumindo e do que está entrando na nossa vida, entrando no nosso lar. Então é mais ou menos uma qualificação e uma educação que precisa ser feita.
3) Com o cenário atual da política, como o senhor avalia a posição de alguns padres de falarem sobre política para os fiéis dentro da igreja?
Eu acho que precisamos ter uma compreensão ampla e consciente do que seja política. Política é tudo aquilo que diz respeito a vida na cidade. Como nós temos um contingente como os padres - todos moram na cidade - o que eles falam e refletem, muita coisa existe com relação a preocupação a esta vida na cidade, esse coletivo. A emissão de opiniões são difusas e diversas porque elas tratam da vida e a vida é ampla, diferente, a vida não é singular, é plural. O papa, inclusive, orienta que a política é uma auto expressão da caridade cristã. Então para se fazer o bem e a caridade é preciso que se tenha uma consciência política.
4) Como o senhor avalia o impacto da imagem da igreja diante dos escândalos envolvendo toda Igreja Católica?
O escândalo, o próprio evangelho sempre vai dizer que vai acontecer, ai daqueles que tiverem provocado! O escândalo principalmente contra crianças, vulneráveis, pessoas indefesas. Você aproveitar-se dessa situação e provocar um escândalo, aí acho que você precisa ser julgado do ponto de vista teológico, criminal e civil você deve responder pelos seus atos. Acontece isso em um médico, em qualquer classe… acontece por roubo, tudo isto! E as pessoas devem responder por aquilo que fazem, não é a Igreja, também não é a classe. Não são todos os médicos… mas como Igreja precisamos estar atentas e coibir no momento certo. O povo tem entendido e a Igreja, o Papa Francisco, tem entendido muito bem e tem trabalhado sem pausa para tratar esses assuntos.
5) Como surgiu a ideia da geladeira solidária? O senhor pretende expandir para outros bairros?
Se qualquer paróquia ou qualquer outra instituição quiser fazer vai ser sempre bem-vindo. O povo vai dizer ‘muito obrigado’ por esse gesto de solidariedade. Não é uma propriedade privada.. Inclusive, nós copiamos de outros países. Eu, por exemplo, copiei da Bélgica. Outros viram essa iniciativa e isso circula. A ideia vai passando e vamos trabalhando no processo de educação para quem doa e recebe. Para quem doa para lutar contra o desperdício de alimentos e para quem recebe para que não coma sozinho, para que ele saiba partilhar.
6) A campanha da Fraternidade deste ano é sobre políticas públicas. Quais são as propostas para Maceió?
Levantamos algumas propostas: aumentamos o leque do acolhimento das pessoas vulneráveis, drogados, bêbados, a população de rua. A casa Betânia, que acolhe mulheres, passou de 20 para 40; a casa do Cego que acolhia 60 passou para 90. Estamos ampliando aquilo que seria uma política pública na qual somos protagonistas e colaboradores. Criamos como sinal a geladeira solidária para mostrar que faz parte da política pública e não só de caridade. Política que priorize a vulnerabilidade dos seus cidadãos e cidadãs. A gente criando aquilo, estamos mostrando que é possível que a política pública seja pautada pela solidariedade. Aquele que tem muito está oferecendo e disponibilizando para aquele que tem menos e isso pode ser uma norma de ouro para a política pública. Agora depois da Páscoa vamos abrir o guarda-roupa já que o inverno está chegando e vamos fazer um guarda-roupa solidário para que as pessoas que tem um corpo só pra tanta roupa, eles vão disponibilizar para aqueles que estão nus e precisando. Também vamos fazer na linha da saúde a farmácia solidária. Vamos combater o desperdício da comida, mas também o desperdício de remédio que muitas pessoas que não sabem o que fazer com vários remédios. São gestos que podem ser lidos e vivemos como a caridade de Cristo, e que podem inspirar as nossas políticas públicas e assistência social. Fonte: www.cadaminuto.com.br
*estagiário sob a supervisão da editoria
SEMANA SANTA: Frei Igor
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SEMANA SANTA: Frei Pablo
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SENHOR MORTO: Uma Prece
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O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ, direto da Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Salvador/BA, faz uma Prece diante da famosa imagem do Senhor Morto, do escultor baiano, Francisco Manoel das Chagas, codinome- O Cabra. 19 de abril-2019.
SEMANA SANTA: Frei Alejandro
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Mensagem do Frei Alejandro Rocha, O. Carm, da Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Vicente de Carvalho, Rio de Janeiro. 18 de abril-2019.
MONJAS CARMELITAS: Convite-01
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Convite das Monjas Carmelitas do Mosteiro "Flos Carmeli", de Jaboticabal, São Paulo, para um Encontro Vocacional a ser realizado no dia 5 de maio-2019. Informações pelo E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. ou através do Tel. (16) 3202-0626. Falar com irmã Maria do Carmo. Divulgação: www.olharjornalistico.com.br
Bispo Carmelita descalço da Nicarágua ameaçado de morte é transferido para Roma.
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Nicarágua.“Não pedi para sair, fui chamado pelo Santo Padre”. Papa Francisco transfere o o Bispo Silvio Báez para Roma
"Não abandono o povo de Deus, aonde for o levarei em meu coração de pastor. Não me esquecerei da Nicarágua", disse Báez, que viajará para Roma por tempo indefinido. A reportagem é publicada por La Prensa, 10-04-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
O bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, será transferido para Roma por um tempo indeterminado, conforme foi anunciado nesta quarta-feira, em uma coletiva de imprensa. A transferência foi um pedido do Papa Francisco. “Não pedi para sair, fui chamado pelo Santo Padre. A decisão de eu abandonar a Nicarágua é uma responsabilidade do Santo Padre”, disse Báez.
Báez, considerado um dos bispos mais críticos do regime orteguista, viajará depois das festas da Páscoa. Ainda não se sabe quanto tempo ficará fora, no entanto disse que espera logo estar de volta no país.
“Afirmo com toda a sinceridade: neste momento experimento uma grande dor em meu coração, a dor de não poder estar fisicamente com meu amado povo nicaraguense”, disse Baéz ao Papa Francisco, assim que este lhe pediu para deixar a Nicarágua.
“Não abandono o povo de Deus, aonde for o levarei em meu coração de pastor. Não me esquecerei da Nicarágua”, disse o bispo auxiliar de Manágua, que voltou na noite desta terça-feira ao país.
Plano para assassiná-lo
No último dia 3 de abril, a ex-embaixadora dos Estados Unidos na Nicarágua, Laura Dogu, disse que havia um plano para assassinar o bispo auxiliar. Báez garantiu que sim, existia o tal plano. “Recebi uma ligação às 11 da noite, já estava na cama e me disseram que tinham plena certeza de que havia um plano para me assassinar. Me disseram onde podia ser, como andavam vestidos e que tomasse minhas precauções. É verdade que a embaixada dos Estados Unidos me comunicou. Com um nível de alta certeza, eu avisei o cardeal e a Conferência Episcopal”, disse Báez.
Báez se reuniu no último dia 4 de abril com o Papa Francisco no Palácio Apostólico, em Roma. Embora não se tenha divulgado os temas da audiência privada, fontes da Igreja católica disseram a La Prensa que a situação da crise sociopolítica que existe na Nicarágua foi o centro da conversa.
Campanha de desprestígio
Os simpatizantes orteguistas mantêm uma campanha de desprestígio e ódio contra o bispo católico, um dos mais críticos do regime. Essa campanha incluiu obrigar os funcionários públicos a assinar uma carta dirigida ao papa, pedindo-lhe para tirar Báezde suas funções na Arquidiocese de Manágua. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
OTC DE BRAGANÇA: Missa.
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Imagens da Santa Missa na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Bragança Paulista, São Paulo neste domingo, 7 de abril-2019. Na celebração, presidida por Frei Petrônio de Miranda, O. Carm- Delegado Provincial da Ordem Terceira do Carmo- houve o ritual de entrada para o Postulantado, Noviciado e Votos Provisórios.
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: Da comunhão de bens e do não ter propriedade: Regra do Carmo, números 12 a 13
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ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: Da comunhão de bens e do não ter propriedade: Regra do Carmo, números 12 a 13
Os Cristãos tinham tudo em comum- A Providência Divina passa pela organização fraternal
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
O Texto da Regra
- Nenhum dos irmãos diga que algo é propriedade sua, mas tudo entre vocês seja comum, e seja distribuído a cada um pela mão do prior, quer dizer, pelo irmão por ele designado para este serviço, conforme cada qual estiver precisando, levando-se em consideração as idades e as necessidades de cada um.
- Contudo, na medida em que alguma necessidade de vocês o exigir, lhes é permitido possuir burros ou mulos, e algum tipo de animais ou de aves para criação.
1- Um pouco de história: sobre a comunhão de bens
Na época em que os primeiros carmelitas começavam a sua vida no Monte Carmelo, os grandes mosteiros da Europa tinham muitas propriedades de terra. Por isso, podiam levar uma vida autônoma, distante do povo, dedicados inteira e exclusivamente à oração e ao trabalho (Ora et Labora). Os monjes tinham pouco contato com o povo e viviam alheios às grandes mudanças econômicas, sociais e políticas que estavam ocorrendo nos séculos XII e XIII. Por causa da insegurança gerada pelas mudanças, surgiam grupos fanáticos (Cátaros, Albigenses e outros) que confundiam e desviavam o povo, sobretudo o povo pobre, os menores. Os monjes não se sentiam chamados para ajudá-los, e o clero secular não estava preparado nem tinha condições de dar uma resposta ao problema dos pobres que enchiam as cidades (burgos), e de anunciar-lhes a Boa Nova.
Diante desta problemática foi surgindo, aos poucos, um novo tipo de Vida Religiosa que procurava ser uma resposta de Deus à nova situação em que vivia o povo. Era o movimento dos Mendicantes. Foi sobretudo São Francisco de Assis que soube dar forma a este novo tipo de Vida Religiosa. Os mendicantes eram pobres com os pobres, partilhavam tudo entre si e com o povo. Não tinham propriedade e viviam em pequenas fraternidades a serviço do povo, sobretudo dos menores, e anunciavam a eles a Boa Nova. Em troca, recebiam alguma esmola. Daí o nome Mendicante.
Ora, a insistência da Regra de Alberto na comunhão de bens e na proibição de os frades carmelitas terem alguma propriedade estava de acordo com este novo tipo de Vida Religiosa que estava surgindo na Igreja. A observância destas normas da Regra (Rc 12 e 13) fazia com que eles, aos poucos, fossem empurrados para dentro da igreja que se renovava, levados a ficar do lado dos "menores" com a missão de serem no meio deles testemunhas vivas do Evangelho.
A fraternidade assim vivida era semente e amostra da nova sociedade que eles sonhavam. Eles já não serviam ao senhor feudal, mas sim a Jesus e a Nossa Senhora, e eram irmãos entre si. Não eram como as dioceses e os mosteiros, mas viviam perto do povo e concretizavam para eles o evangelho. Esta vida fraterna no meio do povo era um ensaio do Reino, uma Boa Notícia para os pobres. O voto de pobreza não era só um meio de ascese para poder rezar melhor, mas também uma forma concreta de se contestar a injusta desigualdade social. Dentro do contexto daquela época, sua vida tinha um alcance político.
Era a necessidade das pessoas (não o lucro) que os orientava na posse comum dos bens e na sua distribuição. A distribuição era feita por um responsável indicado pelo prior (Rc 12). Os bens em comum eram coisas simples: aquilo que recebiam do povo; burros e galinhas (para o trabalho e a viagem); fruto do trabalho (roçado em torno das celas).
No entanto, não era fácil de observar aquela exigência da Regra de não ter propriedade. Como vimos na Introdução, durante os primeiros quarenta anos, de 1207 até à aprovação definitiva da Regra em 1247, os papas tiveram que intervir várias vezes, para impedir que este ponto fosse abandonado. Em 1247, na aprovação final, o papa Inocêncio IV, mesmo permitindo que possuissem alguns animais (Rc 13), reforçou a proibição acrescentando no número 4 a cláusula “com abdicação de propriedade”.
2- O ideal da fraternidade: fazer do uso comunitário dos bens um caminho espiritual
O primeiro passo neste caminho:
Não devo relacionar os bens comigo, com a minha pessoas, nem apropriar-me deles como sendo meus, mas sim fazer com que sejam relacionados com a comunidade a que pertenço. Não isolá-los do conjunto, mas possuí-los como parte do todo. Usar todos os bens materiais e espirituais, dons e qualidades, conquistas e diplomas, estudos e capacidades, tudo, como sendo uma parte dentro de um conjunto maior que é a comunidade.
O segundo passo neste caminho:
Devo ver as coisas e os bens como dons recebidos. Pois tudo me é distribuido pela mão do responsável pela comunidade. A distribuição não é anônima, mas é feita por um irmão ou uma irmã, e ele ou ela olha as necessidades e a idade de cada um. O voto de pobreza não consiste em privar-me de tudo, mas sim em aprender a receber tudo que tenho e sou como um dom bem pessoal vindo da comunidade para mim, nesta minha necessidade e nesta minha idade.
O terceiro passo neste caminho:
Devo olhar as coisas com um olhar que abre tudo para Deus. Se tudo me vem do irmão e da comunidade, se tudo faz parte de um conjunto maior, onde tudo tem o seu lugar, inclusive eu, a minha pessoa, então tudo tem a sua organização a partir daquele que criou tudo para todos e que faz com que tudo seja revelação da sua presença. Tudo se torna relativo frente ao absoluto de Deus. Não se agarrando a nada, recebe-se tudo. O caminho para se chegar ao todo passa pelo nada. Esta atitude transformará minha vida numa oração permanente de louvor e de ação de graças, como diz o salmo: "Eu sou oração!" (Sl 109,4). Transforma a comunidade e faz com que ela seja comunidade orante e profética a serviço do povo, sobretudo dos "menores".
3- O fundamento da fraternidade: o modelo das comunidades dos primeiros cristãos
Os números 10 a 15 da Regra descrevem o miolo da vida carmelitana, o ideal da fraternidade orante e profética. A proibição de ter propriedade e a comunhão de bens (Rc 12 e 13) estão no centro desta descrição. São o miolo do miolo. A própria estrutura literária o revela:
A- Tarefa de cada um: Oração e vigília individual (RC 10)
B- Oração litúrgica em comum (RC 11)
C- Comunhão de bens e proibição de ter coisa própria (RC 12 e 13)
B- Celebração Eucarística em comum (RC 14)
D- Tarefa da comunidade: Revisão e zelo pelo bem comum (RC 15)
Alberto tinha diante de si o modelo da comunidade dos primeiros cristãos de Jerusalém, da qual se diz nos Atos dos Apóstolos: "Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles" (At 4,32). Assim também entre os carmelitas: tudo era de todos! Naquele tempo, este era também o ideal que animava a renovação da Igreja e da Vida Religiosa.
Comparando o ideal da Regra (Rc 10 a 15) com o que dizem os Atos dos Apóstolos a respeito da comunidade dos primeiros cristãos (At 2,42-47; 4,32-35), aparece o seguinte esquema:
1. Oração e vigilância (Rc 10) 2. Oração litúrgica (Rc 11) 3. Comunhão de bens (Rc 12 e 13) 4. Celebrar eucaristia (Rc 14) 5. Revisão semanal (Rc 15) |
"Perseveravam na oração" (At 2,42; 4,24) "Frequentavam o Templo" (At 2,46-47) "Tinham tudo em comum" (At 2,42.44; 4,32.34-35) "Fração do pão nas casas" (At 2,42.46) "Eram um só coração e uma só alma" (At 4,32; 1,14) |
Estes cinco pontos que marcaram a vida comunitária dps primeiros cristãos, formam também a base da fraternidade do jeito que está deve ser vivida pela família carmelitana. Vejamos:
1- A fraternidade deve alimentar-se da Palavra de Deus e da oração permanente: isto exige Leitura Orante e meditação constante (Rc 10).
2- A fraternidade deve ter a sua expressão comunitária: oração litúrgica ou celebração comunitária da Palavra de Deus (Rc 11).
3-A fraternidade deve ter a sua expressão econômica bem concreta na partilha dos bens, na igualdade básica real, na pobreza que os leva a ficar do lado dos "menores" (pobres) (Rc 12 e 13).
4- A fraternidade deve alimentar-se da Eucaristia, que é a participação na Morte e Ressurreição: doação radical de si a Deus e aos irmãos (Rc 14).
5- A fraternidade se consolida e se aprofunda através da revisão semanal, que promove a co-rresponsabilidade de todos no andamento do conjunto e no bem-estar de cada um dos irmãos (Rc 15).
Este ideal de fraternidade orante e profética no meio do povo, próprio dos Carmelitas, está situado dentro do conjunto da Regra da seguinte maneira:
Rc 4 a 9 A infraestrutura da vida Garante as condições necessárias |
Rc 10 a 15 O ideal a ser realizado Imita a comunidade de Jerusalém |
Rc 16 a 21 Os meios para realizar o ideal A riqueza da tradição Monacal |
A 1ª parte (Rc 4 a 9) lhe assegura o espaço ou lhe fornece a infraestrutura necessária.
A 2ª parte (Rc 10 a 15) o descreve como sendo cópia da comunidade de Jerusalém.
A 3ª parte (Rc 16 a 21) lhe proporciona os meios necessários para poder realizá-lo
*Do livro; AO REDOR DA FONTE-COMENTÁRIO da Regra do Carmo
OTC DE JACAREÍ: Missa.
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Imagens da Santa Missa no Santuário de Nossa Senhora do Carmo de Jacareí, São Paulo neste domingo, 7 de abril-2019. Na celebração, presidida por Frei Petrônio de Miranda, O. Carm- Delegado Provincial da Ordem Terceira do Carmo- houve o ritual de entrada para o Postulantado, Noviciado e Votos Provisórios.
AO VIVO- BRAGANÇA PAULISTA/SP NESTE DOMINGO, 7. Santa Missa na Paróquia Nossa Senhora do Rosário
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AO VIVO- BRAGANÇA PAULISTA/SP NESTE DOMINGO, 7. Santa Missa na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm- Delegado Provincial para a Ordem Terceira.
AO VIVO- JACAREÍ/SP NESTE DOMINGO, 7. Santa Missa com a Venerável Ordem Terceira do Carmo de Jacareí, São Paulo,
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AO VIVO- JACAREÍ/SP NESTE DOMINGO, 7. Santa Missa com a Venerável Ordem Terceira do Carmo de Jacareí, São Paulo, no Santuário Nossa Senhora do Carmo, com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Delegado Provincial para a Ordem Terceira.
5º domingo da Quaresma - Ano C - Acolhida, perdão e ternura (Domingo, dia 7).
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*Terezinha Cotta, rc.
"Quando todos se retiram, Jesus assume a proposta de Deus: Ele veio para salvar e dar a vida e espera de nós pecadores o arrependimento e o compromisso com uma vida nova: 'Eu também não te condeno, vai e doravante não peques mais'.
"Este Evangelho questiona as famílias, as Igrejas cristãs e a sociedade: quando é que as pedras ficarão no chão e todos reconhecerão seus próprios pecados contra as mulheres, os empobrecidos, os indígenas, os negros, a população LGBT e todos os demais excluídos?"
O trecho do Evangelho de hoje (Jo 8,1-11), não pertence ao Evangelho de João. De fato, em alguns manuscritos ela apareceu após versículo 38 do cap. 21 do Evangelho de Lucas. Trata-se de uma tradição que foi reconhecida como inspirada por Deus, e para qual foi encontrado definitivamente um lugar, cujo ensinamento eloquente se tornou proverbial.
Estamos diante da insistente estratégia dos adversários de tentar colocar Jesus em contradição com a Lei de Deus para acusá-lo de blasfêmia. Para aqueles escribas e fariseus, na realidade, a mulher não era o foco principal, o que realmente queriam era encontrar motivos de condenação contra Jesus.
A acusação apresentada a Jesus causa indignação por ser parcial, porque o homem que cometeu adultério com ela está sendo poupado. De acordo com a Lei (Lv 20,10 e Dt 22,22-24), ele é tão culpado quanto ela, mas não foi levado a este julgamento.
A atitude de Jesus de silenciar e se inclinar e escrever no chão dá aos seus adversários tempo para reflexão... E ao se erguer ao invés de uma resposta a pergunta deles vem uma provocação: “Aquele dentre vós que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra”. E inclina-se novamente e continua a escrever no chão.
O silêncio desconcertante, seguido por esta clara interpelação, leva aqueles homens e a nós também a uma maior profundidade nos julgamentos, ao reconhecimento de nossos próprios pecados e vulnerabilidades. Jesus, somente Ele, poderia condenar aquela mulher e não o fez. Ele foi para ela Boa Notícia, oportunidade de conversão e vida nova.
Quando todos se retiram, Jesus assume a proposta de Deus: Ele veio para salvar e dar a vida e espera de nós pecadores o arrependimento e o compromisso com uma vida nova: “Eu também não te condeno, vai e doravante não peques mais”.
O Pe. Adroaldo Palaoro, em um de seus comentários sobre o Evangelho dominical nos faz refletir sobre o movimento desumanizador que pode nos conduzir a “sociedade do desprezo”. Nesta sociedade o espírito da acusação e de humilhação do outro é um espírito de morte. Ele prossegue explicitando onde encontramos hoje as “pedras na mão”. São “as pedras do whatsapp, do twitter, das mensagens preconceituosas, das fake-news, que bloqueiam o futuro das pessoas através da crítica sem piedade, do desprezo que destrói, da indiferença que congela as relações”.
Neste ano de 2019 celebramos o dia 08 de março com um sentimento muito profundo de pesar e dor pelas numerosas notícias de feminicídio. Este Evangelho questiona as famílias, as Igrejas cristãs e a sociedade: quando é que as pedras ficarão no chão e todos reconhecerão seus próprios pecados contra as mulheres, os empobrecidos, os indígenas, os negros, a população LGBT e todos os demais excluídos?
Não se trata de eliminar os que erram ou de não aceitar diferenças, mas de superar as intolerâncias e as hipocrisias dos que se sentem perfeitos e apresentar o caminho da Misericórdia de Deus, uma possibilidade de vida nova. Esta misericórdia alcança os pecadores públicos, os marginalizados, os desclassificados para devolver a todos a dignidade.
*Religiosa da Congregação Nossa Senhora do Cenáculo. Ela possui graduação e mestrado em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus - CES. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
ORDEM TERCEIRA DO CARMO: Encontros...
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ENCONTROS DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO. Eleição e Votos dos irmãos (as): Sábado, dia 6 em Sapopemba- Grande São Paulo. Domingo pela manhã, em Bragança Paulista, e à tarde em Jacareí/SP.
CARMELITAS- REGRA: Da Permanência nas Celas e da Oração continua. Regra do Carmo, número 10.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Meditar dia e noite na Lei do Senhor e vigiar em orações: A carteira de identidade do Carmelo
Texto da Regra
Permaneça cada um em sua cela ou na proximidade dela, meditando dia e noite na Lei do Senhor e vigiando em orações, a não ser que esteja ocupado em outros justificados afazeres.
Um pouco de história: sobre a permanência na cela e a oração contínua
O número 10 da Regra teve muito peso e influência na história da Ordem. Por causa dele o Carmelo tornou-se sinônimo de lugar de oração. Oração e meditação não são uma atividade ao lado das outras, mas são a própria vida do Carmelo. Não são um ladrilho ao lado dos outros, mas são a parede que sustenta todos os ladrilhos. Este número 10 tem quatro pontos que merecem nossa atenção: 1) permanecer na cela ou junto dela; 2) meditar na lei do Senhor e vigiar em orações; 3) dia e noite; 4) a não ser que estejam ocupados em outros justificados afazeres.
A permanência nas celas
No início, tratava-se de grutas separadas, espalhadas pelas encostas do Monte Carmelo, como o atestam as antigas pinturas e os relatos dos peregrinos daquela época. Até hoje, lá no Monte Carmelo, ao redor das ruínas da primeira capela, perto da fonte de Elias, ainda existem algumas destas antigas grutas. Mais tarde, depois do retorno para a Europa em 1238, as celas eram os quartos dos conventos. A cela ou o quarto oferece o espaço físico da solidão. É o elemento eremítico, sempre retomado na tradição carmelitana. A Cela é símbolo também da "cela interior", para a qual deve ser recolhida a mente dispersa. A solidão material sem esta solidão interior não vale e não tem sentido. A cela interior deve ser criada e alimentada através da permanência na cela material.
Meditar na Lei do Senhor e vigiar em orações
Originalmente, na Bíblia, a Lei do Senhor era o Pentateuco, os primeiros cinco livros do AT, também chamados os cinco livros de Moisés. Aqui na Regra, o seu sentido é mais amplo e indica a Bíblia inteira, lida a partir do Evangelho. O Senhor é Jesus. A Lei de Jesus é o Evangelho. Vigiar em orações é estar atento, com a mente sempre voltada para Deus. Meditando na Lei do Senhor, escutamos a Palavra que Deus nos tem a dizer. Vigiando em orações, damos a Ele a nossa resposta. Assim imitamos os apóstolos, cuja vida se resumia numa "dedicação total à oração e ao serviço da palavra" (At 6,4). Assim, pouco a pouco, se começa a ver tudo à luz de Deus.
Dia e Noite
Isto é, sempre, mesmo quando não se está na cela. Aqui não há nenhuma ressalva. Ninguém nos pode dispensar desta atividade básica. Quando as outras atividades cessam, é ela, a meditação da Palavra e a oração, que permanece e reaparece como que naturalmente. É a vida na solidão, enchida pela presença da Palavra do Senhor. Dia e Noite indica também o ritmo do tempo e da natureza, reflexo da Palavra criadora de Deus. O carmelita, a carmelita, é chamada a abrir-se para a ação da Palavra criadora e recriadora de Deus e deixar-se marcar pelo seu ritmo, como sístole e diástole do ritmo do coração.
A não ser que deva ocupar-se em outros justificados afazeres
Esta ressalva refere-se, não à meditação e à oração, mas sim à permanência nas celas. Naquele tempo, os justificados afazeres eram, por exemplo, as romarias, o trabalho na roça, tratar dos animais, as saídas para a evangelização. Hoje, os justificados afazeres que permitem ou obrigam sair da cela são outros. No dia 15 de fevereiro de 1432, o papa Eugênio IV ajudou a entender a expressão justificados afazeres. Ele abrandou o sentido e disse: “Vocês podem, em horas convenientes, licita e livremente permanecer nas suas igrejas, nos seus claustros e âmbitos, e por aí locomover-se”.
Tudo isto que Alberto pede no número 10 da Regra vem da grande tradição monacal que aqui se prolonga. Quando na família carmelitana há ameaça de se esquecer este elemento eremítico, então, de dentro da Ordem, de onde menos se espera, surge sempre a reação, exigindo uma volta para esta solidão.
Meditação e Vigilância
Dentro de nós existe uma fonte que jorra para a vida eterna (Jo 4,14). É o dom do Espírito Santo que reza e atua em nós (Jo 7,37-39), querendo colocar-nos a serviço de Deus e dos irmãos. Esta fonte ficou encoberta por muitas camadas de sujeira: distrações, apegos, acomodação, alienação, auto-satisfação, etc. São João da Cruz descreve estes enganos e desenganos com perfeição na "Subida do Monte Carmelo" e na "Noite Escura". O esforço constante deve ser: "recolher-se na cela", recolher-se da distração e da alienação em que costumamos viver, desapegar do apego, incomodar o acomodado ou, como diz Jesus, perder a vida para poder possuí-la. Assim, aos poucos, o acesso à fonte vai ser desobstruído e a água poderá inundar livremente a vida. É a graça da oração que nos ajuda a fazer a Subida do Monte Carmelo,
Elias se escondeu na torrente Karit. O carmelita, a carmelita, se esconde na cela, não para fugir do mundo ou porque tem medo, mas para estar no mundo sem ser do mundo (Jo 17,14-16). Vivendo junto dos córregos da Palavra de Deus, esta Palavra se torna a nossa morada, a nossa cela, na qual devemos permanecer dia e noite. Ruminando e meditando a Lei do Senhor, a Palavra entra em nós, como a água entra na árvore plantada junto dos córregos (Sl 1,3; Jr 17,8). Aos poucos, nasce em nós uma nova maneira de ver e de julgar. O próprio Jesus vai abrindo nossos olhos e nos revela a sua presença no pequeno, no marginalizado, lá onde ninguém o procura
Maria meditava e ruminava todas as coisas no seu coração e, assim, ia descobrindo a presença da Palavra de Deus em tudo que acontecia. Melhor do que qualquer outro, ela compreendeu que a Lei do Senhor, a Lei suprema, é o amor. Deixando-se invadir pelo amor, pôde reconhecer, acolher e encarnar a Palavra em sua vida e tornar-se a sua servidora. Ela vigiava em oração para guardar e fazer irradiar o que tinha descoberto na ruminação.
Na história do Brasil, os grileiros foram ocupando as terras dos posseiros, formando o latifúndio, impedindo que grande parte da população tenha acesso aos bens necessários para poder levar uma vida digna de gente. O mesmo acontece na história pessoal. Dentro de cada um de nós existe um falso eu, o ego, o eu grileiro, que tenta tomar conta de tudo e procura manter o domínio, oprimindo e marginalizando o posseiro, o eu verdadeiro. A meditação da palavra, dia e noite, contribui para expulsar o grileiro que ocupou todo o espaço dentro de mim, e libertar o posseiro que vive escondido e marginalizado dentro de mim. O eu verdadeiro é onde Deus se revela à consciência das pessoas.
O objetivo da Meditação da Lei do Senhor é para, aos poucos, ir mudando a visão que nós temos das coisas, das pessoas, da vida, e receber a visão de Deus que faz enxergar diferente, agir diferente, e ajuda a criar alternativas concretas. Meditação e vigília fazem com que dentro de nós morra o "velho homem"; fazem com que o pensamento dominante da sociedade seja criticado e anulado, e renasça em nós uma nova visão da vida. Condição para isto é que se esteja do lado dos "menores", ou como hoje ensina a Igreja: que se faça seriamente a opção pelos pobres.
O uso da Bíblia na descrição do ideal do Carmelo
A expressão "meditar dia e noite na Lei do Senhor" vem do Salmo (Sl 1,2). Vem ainda do livro de Josué (Js 1,8). A expressão "vigiar em orações" vem de Luc 21,36. A mesma recomendação ocorre várias vezes nas cartas de Paulo (Ef 6,18; Col 4,2) e de Pedro (1 Pd 4,7). Para quem conhece a Bíblia de memória, cada texto traz consigo o seu contexto. Quem evoca um texto, evoca também o contexto, em que este texto está situado. Vejamos de perto o contexto:
Meditar dia e noite na lei do Senhor
Salmo 1,2 menciona a meditação na lei do Senhor para descrever o modelo da pessoa justa. É meditando dia e noite na lei do Senhor, que tal pessoa se torna como uma árvore, plantada junto dos córregos, que dá fruto no tempo devido; suas folhas nunca murcham e tudo que faz será bem sucedido.
Josué recebe a ordem de Moisés para meditar dia e noite na lei do Senhor (Js 1,8). É para ele poder ser "forte e corajoso" (Js 1,9) e ser bem sucedido na sua missão de introduzir o povo na terra prometida e garantir, assim, a liberdade conquistada na saída do Egito.
Vigiar em orações
No seu último discurso, Jesus recomendou aos discípulos que vigiassem sempre em oração (Lc 21,36). Um pouco mais tarde, ele mesmo, o próprio Jesus, lá no Horto das Oliveiras, mostrou o que significa "vigiar em oração". Rezou e vigiou até o seu suor transformar-se em sangue (Lc 22,39-44). A carta aos Hebreus comenta e explica: "Nos dias da sua vida terrestre, Jesus apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido por causa da sua obediência!" (Hb 5,7).
Paulo pede que as comunidades vigiem em oração e orem também por ele, Paulo, para que possa anunciar bem a Boa Nova (Ef 6,18-20; Col 4,2-4). E Pedro pede para a comunidade levar uma vida de autodomínio e de sobriedade, dedicada à oração, pois o fim está próximo (1Pd 4,7).
Assim, quanto mais uma pessoa conhecer a Bíblia, tanto mais perceberá o contexto que é evocado pelas citações e evocações da Bíblia na Regra. A leitura orante diária da Bíblia, ajudará a perceber melhor todo o sentido e alcance da Regra para a vida, e fará perceber que a própria Regra é fruto de uma leitura assídua e constante da Bíblia. Com efeito, a Regra usa a Bíblia livremente. Por exemplo, neste número 10, formou uma única frase com um texto do AT e outro do NT para expressar o pensamento não da Bíblia, mas sim de Alberto e dos primeiros carmelitas. A Palavra de Deus estava na boca e no coração, e tudo que diziam e escreviam era feito na palavra do Senhor (Rc 19).
O Autor da Regra conhecia a Bíblia de memória e a assimilou em sua vida a ponto de já não distinguir entre as suas próprias palavras e as da Bíblia. Ele exprime o seu próprio pensamento com frases tiradas da Bíblia. Quando dizemos Autor da Regra, pensamos tanto em Santo Alberto como nos primeiros carmelitas. Foi Alberto que assinou a Regra e assumiu a sua autoria. Mas ele mesmo diz que o seu texto é fruto da proposta que lhe foi apresentada pelos carmelitas (Rc 3). Assim, no uso que a Regra faz da Bíblia transparece como os nossos primeiros irmãos carmelitas usavam a Bíblia.
O ensinamento que a Regra nos dá não está só naquilo que ela ensina sobre a leitura da Bíblia, mas também na maneira como ela mesma usa a Bíblia. A Regra do Carmo não só recomenda a leitura da Bíblia, mas também a pratica e dela é o resultado. Ela soube encarnar a Palavra de Deus a ponto de assumí-la como sua. Parafraseando a expressão do apóstolo Paulo (Gál 2,20) os primeiros carmelitas poderiam dizer a todos nós: "Nós falamos pela Regra a vocês, mas já não somos nós, é a própria Palavra de Deus que fala por nós!" Sobre o uso da Bíblia na Regra falaremos longamente no subsídio do círculo 14.
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