Bento XVI: o Papa é um só, Francisco
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Bento XVI: o Papa é um só, Francisco
O Papa emérito recorda, em uma entrevista, que a história da Igreja sempre foi marcada por lutas internas e cismas: mas a unidade deve sempre prevalecer
Cidade do Vaticano
“A unidade da Igreja está sempre em perigo, há séculos. Foi assim em toda a sua história. Guerras, conflitos internos, ameaças de cismas. Mas sempre prevaleceu a consciência de que a Igreja é e deve ficar unida. A sua unidade sempre foi mais forte do que as lutas e as guerras internas”. Esta é a certeza de Bento XVI que recorda a todos: “O Papa é um só, Francisco”.
A sua preocupação pela unidade da Igreja é ainda mais forte nos tempos atuais, nos quais os cristãos mostram-se muitas vezes divididos em público e confrontam-se também em exaltadas discussões, muitas vezes usando de modo absolutamente impróprio o nome de Ratzinger. As palavras de Bento foram concedidas ao jornal Corriere della Sera, que anuncia a próxima publicação de um diálogo com o Papa emérito.
Unidade nas diversidades
São palavras que recordam o grande compromisso em reforçar a comunhão eclesial que caracterizou todo o pontificado de Bento XVI, até o último dia do seu ministério petrino: “Permaneçamos unidos, queridos Irmãos – disse no seu último discurso aos cardeais em 28 de fevereiro de 2013 – “nesta unidade profunda”, onde as diversidades – expressão da Igreja universal – concorram sempre para a harmonia superior e concorde” e assim servimos a Igreja e a humanidade inteira”. E prometeu a sua oração para a eleição do seu sucessor: “Que o Senhor vos mostre o que Ele quer. E entre vós, entre o Colégio Cardinalício, está também o futuro Papa ao qual já hoje prometo a minha reverência e obediência incondicionadas”. Fonte: www.vaticannews.va
A tristeza do Papa pelo pai e a filha que morreram no Rio Grande
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A foto acima foi feia por uma jornalista na fronteira entre México e Estados Unidos. Mostra os corpos de um pai e sua filha que procuravam abrigo nos Estados Unidos e, em vez disso, morreram no Rio Grande. Ali, nas margens do rio, em 2016, o Papa Francisco gritou: “Nunca mais morte e exploração!”
Benedetta Capelli/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
Tristeza imensa e dor profunda. Assim disse o Papa Francisco, segundo o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, depois de ver a imagem do pai e sua filha mortos afogados no Rio Grande, enquanto tentavam atravessar a fronteira entre México e Estados Unidos.
Gisotti explicou aos jornalistas que “o Papa está profundamente entristecido com a morte deles, reza por eles e por todos os migrantes que perderam suas vidas tentando fugir da guerra e da pobreza”.
Angie Valeria como Aylan
A calça de Angie Valeria são da mesma cor da camisa de Aylan. Não é só o vermelho que liga essas pequenas vidas ceifadas. Por trás deles está o desejo dos pais de oferecer um futuro diferente, há um drama da imigração que perdura há anos e que o Papa Francisco não para de denunciar, buscando sempre acender uma luz sobre as fadigas e o desespero de homens e mulheres que fogem em busca de uma vida melhor. Em 2 de setembro de 2015, a imagem de Aylan Kurdi, menino morto afogado que foi encontrado na praia turca de Bodrum, causou emoção e indignação. Hoje, os mesmos sentimentos são para Angie Valeria, de 2 anos, que morreu com o seu pai, Oscar.
Em fuga de El Salvador
Oscar Alberto Martínez, segundo a reconstrução da jornalista Julia Le Duc que tirou a foto publicada no jornal mexicano “La Jornada”, aguardava asilo há dois anos. Tinha feito o pedido às autoridades estadunidenses.
No domingo, ele partiu junto com a menina e sua esposa Tania Vanessa Ávalos. Queria atravessar o rio e entrar em Brownsville, no Texas. Oscar e Angie Valeria conseguem chegar à margem, mas Vanessa fica para trás. Então, ele volta para pegá-la depois de deixar a menina do outro lado do Rio, mas a criança se jogou na água para seguir seu pai. A correnteza os envolveu, levando embora seus sonhos, esperanças e planos futuros diante dos olhos de uma mãe que, do outro lado, viu tudo e permaneceu com o coração despedaçado.
Uma viagem muito arriscada
Os corpos serão repatriados nos próximos dias, enquanto o Ministério das Relações Exteriores de El Salvador convidou a não se arriscar numa viagem tão difícil. Outras 4 pessoas foram encontradas mortas perto do Rio Grande. Trata-se de uma mulher jovem, duas crianças e um recém-nascido. As autoridades afirmam que as vítimas provavelmente morreram de desidratação e exposição ao calor excessivo.
Uma crise formada de rostos, histórias, nomes e famílias
Em fevereiro de 2016, o Papa Francisco celebrou uma missa em Ciudad Juarez, na fronteira entre México e Estados Unidos, com os fiéis de ambos os lados do muro que os divide.
Naquela dia, o Pontífice, em sua homilia, lembrou que não se pode negar “a crise humanitária que nos últimos anos significou a migração de milhares de pessoas, seja de trem, de carro ou mesmo a pé, atravessando centenas de quilômetros por montanhas, desertos e estradas rudes”.
“Essa tragédia humana que a migração forçada representa é um fenômeno global nos dias de hoje. Essa crise, que pode ser medida em números, queremos que seja medida com nomes, histórias e famílias. São irmãos e irmãs que partem, movidos pela pobreza e violência, pelo narcotráfico e pelo crime organizado.”
Francisco pediu para rezar a fim de pedir a Deus “o dom da conversão, o dom das lágrimas”. “Nunca mais morte e exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma saída e há sempre uma oportunidade, há sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai”, concluiu. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA 26. Audiência Geral do Papa: “Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão”.
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A primeira comunidade cristã foi o tema da catequese do Pontífice. O Papa Francisco fará uma pausa nas Audiências Gerais no mês de julho. O próximo encontro está marcado para 7 de agosto.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco se reuniu com cerca de 15 mil fiéis e peregrinos na Praça São Pedro para a Audiência Geral desta quarta-feira (26/06) – a última antes da pausa de verão. De fato, o Pontífice retomará seu encontro semanal no dia 7 de agosto.
Sob um forte sol - os doentes foram acomodados na Sala Paulo VI-, o Papa deu continuidade ao seu ciclo sobre os Atos dos Apóstolos e hoje comentou a vida da primeira comunidade cristã de Jerusalém.
O extraordinário se faz ordinário
Esta primeira comunidade nasceu no dia de Pentecostes com a efusão do Espírito Santo e é considerada o paradigma de toda a comunidade. Cerca de três mil pessoas ingressaram naquela fraternidade, que é o “habitat” dos fiéis e o fermento eclesial da obra de evangelização. “O extraordinário se faz ordinário e a cotidianidade se torna o espaço da manifestação de Cristo vivo”, explicou o Papa.
A narração de Lucas permite observar dentro dos muros da “domus” onde os primeiros cristãos se recolhem como família de Deus, espaço da “koinonia”, isto é, da comunhão de amor entre irmãos e irmãs em Cristo.
Eles vivem de uma maneira bem clara: “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações” (2, 42).
Eis os traços do bom cristão: ouvir assiduamente o ensinamento apostólico, praticar uma alta qualidade de relações interpessoais, fazer memória do Senhor através da Eucaristia e dialogar com Deus na oração.
Divisões não têm vez
Diferentemente da sociedade humana, onde se tende a fazer os próprios interesses, inclusive em detrimento dos outros, a comunidade dos fiéis baniu o individualismo para favorecer a compartilha e a solidariedade. Autorreferencialidade, antagonismos e divisões não têm vez.
“Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão. Se o seu coração é egoísta, você não é cristão. Você é um mundano que pensa no próprio lucro. A proximidade e a unidade são o estilo dos redimidos. ”
Francisco recordou a importância de se colocar no lugar do outro, de se preocupar, não para fofocar, mas para ajudar, dar esmola, visitar os doentes e quem necessita de consolação.
E nessa estrada de comunhão e partilha com os necessitados, os primeiros cristãos eram capazes de seguir uma autêntica vida litúrgica.
O Papa então concluiu: “Peçamos ao Espírito Santo para que faça de nossas comunidades locais nas quais acolher e praticar a vida nova, as obras de solidariedade e de comunhão, locais em que as liturgias sejam encontro com Deus, que se torna comunhão com os irmãos e irmãs, locais que sejam portas abertas sobre a Jerusalém celeste.” Fonte: /www.vaticannews.va
CORPUS CHRISTI EM ROMA: Homilia integral do Papa Francisco
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Casal Bertone, Santa Maria Consoladora - Roma, 23 de junho de 2019
HOMILIA DO SANTO PADRE
Eucaristia na Solenidade do SS.mo Corpo e Sangue de Cristo
(Casale Bertone (Santa Maria Consolatrice) - Roma, 23 de junho de 2019)
Hoje, a Palavra de Deus ajuda-nos a descobrir dois verbos simples e essenciais para a vida de cada dia: dizer e dar.
Dizer. Na primeira leitura, Melquisedec diz: «Abençoado seja Abrão pelo Deus Altíssimo, e bendito seja o Deus Altíssimo» (Gn 14, 19-20). O dizer de Melquisedec é bendizer. Abençoa Abrão, em quem serão abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12, 3; Gal 3, 8). Tudo parte da bênção: as palavras de bem geram uma história de bem. O mesmo acontece no Evangelho: antes de multiplicar os pães, Jesus abençoa-os: «tomou os cinco pães, ergueu os olhos ao Céu, pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os e foi-os dando aos discípulos» (Lc 9, 16). De cinco pães, a bênção faz alimento para uma multidão: faz brotar uma cascata de bem.
Por que faz bem abençoar? Porque é transformar a palavra em dom. Quando se abençoa, não se está a fazer uma coisa para si mesmo, mas para os outros. Abençoar não é dizer palavras bonitas, nem usar palavras de circunstância; mas é dizer bem, dizer com amor. Assim fez Melquisedec: espontaneamente diz bem de Abrão, sem que este tenha dito ou feito algo por ele. Assim fez Jesus, mostrando o significado da bênção com a distribuição gratuita dos pães. Quantas vezes fomos abençoados, também nós, na igreja ou nas nossas casas! Quantas vezes recebemos palavras que nos fizeram bem, ou um sinal da cruz na fronte! Fomos abençoados no dia do Batismo e, no final de cada Missa, somos abençoados. A Eucaristia é uma escola de bênção. Deus diz bem de nós, seus filhos amados, encorajando-nos assim a continuar. E nós bendizemos a Deus nas nossas assembleias (cf. Sal 68, 27), reencontrando o gosto do louvor, que liberta e cura o coração. Vimos à Missa com a certeza de ser abençoados pelo Senhor, e saímos para, por nossa vez, abençoarmos, para sermos canais de bem no mundo.
É importante que nós, Pastores, nos lembremos de abençoar o povo de Deus. Queridos sacerdotes, não tenhais medo de abençoar! O Senhor quer dizer bem do seu povo; fica feliz em fazer-nos sentir o seu carinho por nós. E só depois de abençoados é que podemos abençoar os outros com a mesma unção de amor. Entretanto, é triste ver hoje quão facilmente se amaldiçoa, despreza, insulta. Assaltados por demasiado frenesi, não nos contemos, desafogando a raiva sobre tudo e todos. Muitas vezes, infelizmente, é quem grita mais e mais forte, é quem está mais irritado que parece ter razão e obter consensos. Não nos deixemos contagiar pela arrogância, não nos deixemos invadir pela amargura, nós que comemos o Pão que em si contém toda a doçura. O povo de Deus ama o louvor, não vive de lamentações; está feito para a bênção, não para a lamentação. Diante da Eucaristia, de Jesus que Se fez Pão, deste Pão humilde que contém a totalidade da Igreja, aprendamos a bendizer o que temos, a louvar a Deus, a abençoar e não a amaldiçoar o nosso passado, a dar boas palavras aos outros.
O segundo verbo é dar. Ao «dizer», segue-se o «dar», como no caso de Abrão que, abençoado por Melquisedec, «deu-lhe o dízimo de tudo» (Gn 14, 20); como no caso de Jesus que, depois de pronunciar a bênção, dava o pão para ser distribuído, desvendando assim o seu significado mais belo: o pão não é apenas produto de consumo, mas recurso de partilha. De facto, na narração da multiplicação dos pães, surpreendentemente nunca se fala de multiplicar. Na verdade, os verbos usados são «partir, dar, distribuir» (cf. Lc 9, 16). Em suma, não se destaca a multiplicação, mas a partilha. É importante: Jesus não realiza uma magia, não transforma os cinco pães em cinco mil, para depois dizer: «Agora distribuí-os». Não. Jesus reza, abençoa aqueles cinco pães e começa a parti-los, confiando no Pai. E não se esgotam mais aqueles cinco pães… Isto não é magia, mas confiança em Deus e na sua providência.
No mundo, procura-se sempre aumentar os lucros, aumentar o volume de negócios... Sim, mas com que finalidade? É o dar ou o ter? O partilhar ou o acumular? A «economia» do Evangelho multiplica partilhando, alimenta distribuindo; não satisfaz a voracidade de poucos, mas dá vida ao mundo (cf. Jo 6, 33). O verbo de Jesus não é ter, mas dar.
E a solicitação que Ele faz aos discípulos é categórica: «Dai-lhes vós de comer» (Lc 9,13). Tentemos imaginar os raciocínios que terão feito os discípulos: «Não temos pão para nós, e devemos pensar nos outros? Por que devemos dar-lhes de comer, se eles vieram para escutar o nosso Mestre? Se não trouxeram comida, voltem para casa, ou então deem-nos dinheiro e nós compraremos». Não é que sejam errados estes raciocínios, mas não são os de Jesus, que não ouve razões: dai-lhes vós mesmos de comer. Aquilo que temos só produz fruto se o dermos (isto é o que nos quer dizer Jesus!); e não importa se é pouco ou muito. O Senhor faz grandes coisas com o nosso pouquinho, como no caso dos cinco pães. Ele não realiza prodígios com ações espetaculares, mas com coisas humildes, partindo com as mãos, dando, distribuindo, partilhando. A omnipotência de Deus é humilde, feita apenas de amor; e o amor faz grandes coisas com as coisas pequenas. Assim no-lo ensina a Eucaristia: n’Ela, está Deus encerrado num bocado de pão. Simples e essencial, pão partido e partilhado, a Eucaristia que recebemos transmite-nos a mentalidade de Deus. E leva a darmo-nos, a nós mesmos, aos outros. É antídoto contra afirmações como «lamento, mas não me diz respeito», «não tenho tempo, não posso, não é da minha conta».
Na nossa cidade faminta de amor e solicitude, que sofre de degradação e abandono, perante tantos idosos sozinhos, famílias em dificuldade, jovens que dificilmente conseguem ganhar o pão e alimentar os seus sonhos, o Senhor diz-te: «Dá-lhes tu de comer». E tu podes retorquir: «Tenho pouco, não sou capaz». Não é verdade! O teu pouco é tanto aos olhos de Jesus, se não o guardares para ti mas o colocares em jogo. E não estás sozinho: tens a Eucaristia, o Pão do caminho, o Pão de Jesus. Também nesta tarde, seremos alimentados pelo seu Corpo entregue. Se o recebermos com o coração, este Pão irradiará em nós a força do amor: sentir-nos-emos abençoados e amados, e teremos vontade de abençoar e amar, a começar daqui, da nossa cidade, das estradas que vamos percorrer nesta tarde. O Senhor passa pelas nossas estradas para dizer-bem de nós e para nos dar coragem. A nós, pede-nos também para sermos bênção e dom. Fonte: www.vaticannews.va
Papa: "Primeiro trabalho de um bispo é rezar"
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Refletindo sobre a responsabilidade eclesial a que é chamado um bispo, o Papa disse que o Episcopado "é o nome de um serviço, não de uma honra, porque ao bispo compete mais servir do que dominar".
Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
O Papa presidiu sábado (22/06) à tarde, na Basílica Vaticana, a Missa de consagração episcopal de Dom Alberto Ricardo Lorenzelli Rossi, nomeado no último dia 22 de maio Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santiago do Chile.
Francisco pronunciou a homilia ritual, com alguns acréscimos espontâneos. Em particular, refletindo sobre a responsabilidade eclesial a que é chamado um bispo, o Papa disse que o Episcopado "é o nome de um serviço, não de uma honra, porque ao bispo compete mais servir do que dominar".
“ O bispo é um servidor, pastor, pai, irmão, jamais um mercenário ”
Em seguida, convidou Dom Lorenzelli a "não esquecer que o primeiro trabalho do bispo é a oração: assim disse São Pedro no dia em que criou os diáconos: "A nós a oração e o anúncio da Palavra".
Disponibilidade
Outra recomendação é a proximidade ao povo de Deus, as pessoas para quem foi eleito: “Que quando te procurem, te encontrem logo, diretamente e sem burocracias. Seja próximo também dos pobres e indefesos”.
Quem é o novo bispo
O salesiano Lorenzelli nasceu na Argentina em uma família de imigrantes italianos e vive na Itália há mais de 40 anos. Até a nomeação era o diretor da Comunidade Salesiana no Vaticano e Capelão da Direção dos Serviços de Segurança e Defesa Civil do Estado da Cidade do Vaticano. Fonte: /www.vaticannews.va
30ª VIAGEM APOSTÓLICA DE FRANCISCO. Texto integral da saudação do Papa na Oração do Pai Nosso
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Saudação do Papa Francisco por ocasião da oração do Pai Nosso na Nova Catedral Ortodoxa de Bucareste
ORAÇÃO DO PAI-NOSSO
Nova Catedral Ortodoxa, Bucareste
Beatitude, irmão querido; amados irmãos e irmãs!
Quero expressar a gratidão e emoção que sinto por me encontrar neste templo sagrado, que nos congrega em unidade. Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes, para se tornarem, juntos, pescadores de homens (cf. Mc 1, 16-17). A vocação pessoal não está completa sem a do irmão. Hoje queremos elevar um ao lado do outro, do coração do país, a oração do Pai-Nosso. Nela se encerra a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam um ao lado do outro. A oração do Pai-Nosso contém a certeza da promessa feita por Jesus aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18) e dá-nos a confiança para receber e acolher o dom do irmão. Por isso, gostaria de partilhar algumas palavras introdutórias à oração, que rezarei pelo nosso caminho de fraternidade e pela Roménia para que possa ser sempre casa de todos, terra de encontro, jardim onde florescem a reconciliação e a comunhão.
Sempre que dizemos «Pai-Nosso», reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e Deus vosso (cf. Jo 20, 17). É convite para que o «meu» se transforme em nosso, e o nosso se faça oração. Ajudai-nos, Pai, a levar a sério a vida do nosso irmão, a assumir a sua história. Ajudai-nos a não julgar o irmão pelas suas ações e os seus limites, mas aceitá-lo antes de mais nada como vosso filho. Ajudai-nos a vencer a tentação de nos sentirmos o filho mais velho, que, à força de estar no centro, esquece o dom do outro (cf. Lc 15, 25-32).
A Vós, que estais nos céus – os céus que abraçam a todos e onde fazeis nascer o sol para os bons e os maus, para os justos e os injustos (cf. Mt 5, 45) –, pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram juntos no vosso céu, depois de ter acreditado, amado e sofrido muito – mesmo em nossos dias – pelo simples facto de serem cristãos.
Como eles, também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de todos os nossos interesses. Que seja o vosso nome, Senhor, – e não o nosso – a mover-nos e despertar-nos para o exercício da caridade. Ao rezar, quantas vezes nos limitamos a pedir dons e enumerar pedidos, esquecendo que a primeira coisa a fazer é louvar o vosso nome, adorar a vossa pessoa, para depois reconhecer, na pessoa do irmão que colocastes junto de nós, o vosso reflexo vivo. No meio de tantas coisas que passam e pelas quais nos afadigamos, ajudai-nos, Pai, a procurar aquilo que permanece: a presença vossa e a do irmão.
Estamos à espera que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as dinâmicas do mundo não o favorecem. Dinâmicas guiadas pelas lógicas do dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas efémeros, ajudai-nos, Pai, a crer naquilo que rezamos: renunciar às seguranças cómodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de nos crermos autossuficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não perderemos de vista aquele Reino a que Vós nos chamais.
Seja feita a vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem (cf. 1 Tim 2, 4). Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não restringir dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica, que quer abraçar a todos. Ajudai-nos, Pai, enviando-nos – como no Pentecostes – o Espírito Santo, autor da coragem e da alegria, para que nos incite a anunciar a boa nova do Evangelho para além das fronteiras das nossas afiliações, línguas, culturas, nações.
Diariamente temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida (cf. Jo 6, 35.48), que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer nosso servo, pede-nos para servirmos uns aos outros (cf. Jo 13, 14). Pai, ao mesmo tempo que nos dais o pão de cada dia, alimentai em nós a nostalgia do irmão, a necessidade de o servir. Ao pedir o pão de cada dia, suplicamo-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a existência. O pão que pedimos, com a sua longa história que vai do grão semeado à espiga, da ceifa à mesa, inspire em nós o desejo de ser cultivadores de comunhãopacientes, que não se cansam de fazer germinar sementes de unidade, fermentar o bem, atuar sempre lado a lado com o irmão: sem suspeitas nem distanciamentos, sem forçar nem nivelar, na convivência das diferenças reconciliadas.
O pão que hoje pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o têm de sobra. O Pai-Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante as carestias de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que profanam o vosso nome, Pai. Ajudai-nos a ter fome de nos doarmos. Sempre que rezarmos, lembrai-nos que, para viver, não precisamos de nos poupar, mas de nos repartir em pedaços; de partilhar, não de acumular; de matar a fome aos outros mais do que encher-nos a nós mesmos, porque o bem-estar só é digno deste nome quando pertence a todos.
Cada vez que rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo do coração ao irmão (cf. Mt 18, 35), como Vós – Pai – perdoais os nossos pecados: deixar para trás o passado e abraçar, juntos, o presente. Ajudai-nos, Pai, a não ceder ao medo, nem ver um perigo na abertura; a ter a força de nos perdoarmos e prosseguir, a coragem de não nos contentarmos com a vida tranquila, mas de procurar sempre, com transparência e sinceridade, o rosto do irmão.
E quando o mal, deitado à porta do coração (cf. Gn 4, 7), nos induzir a fechar-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se fizer mais forte, ocultando a substância do pecado, que é distância de Vós e do nosso próximo, ajudai-nos de novo, Pai. Encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos, termos a ousadia de dizer: «Pai-Nosso». Amem. Fonte: vaticannews
30ª VIAGEM APOSTÓLICA DE FRANCISCO. Em Bucareste: Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos
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“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, disse o Papa na Missa celebrada em Bucareste na tarde desta sexta-feira (31/05), primeiro dia de sua visita à Romênia. Esta 30ª Viagem Apostólica Internacional de Francisco tem como lema "Caminhemos juntos"
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro.” Foi o que disse o Papa na missa celebrada no final da tarde desta sexta-feira (31/05) na Catedral de São José em Bucareste, último compromisso de Francisco no primeiro dia de sua visita à Romênia, na 30ª viagem apostólica internacional de seu Pontificado, viagem esta que tem como lema “Caminhemos juntos”. O Santo Padre estará até este domingo, 2 de junho, no país do Leste Europeu.
Tratou-se do primeiro encontro propriamente do Pontífice com a pequena comunidade católica da Romênia, país de maioria cristã ortodoxa (86%), onde os católicos representam cerca de 7% da população.
Partindo do Evangelho do dia (Lc 1,39-56), que narra a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel e nos traz também o Magnificat, em que Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, Francisco evocou o canto de esperança que – ressaltou – “nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila”. A homilia do Papa foi desenvolvida a partir daí.
Maria caminha
“Maria caminha... de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho.”
Especialista em trabalhar duro, prosseguiu o Santo Padre, Nossa Senhora “sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”.
“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, acrescentou.
Maria encontra
“Maria encontra Isabel já de idade avançada. Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» proclama Maria «feliz» porque acreditou, antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem. E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro.”
É o milagre suscitado pela cultura do encontro, ressaltou Francisco, “na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo”. “Maria, que caminha e encontra Isabel, lembra-nos onde Deus quis habitar e viver, qual é o seu santuário e onde podemos auscultar as palpitações do seu coração: no meio do seu Povo. Lá habita, lá vive, lá nos espera.”
Sintamos dirigido a nós o convite do profeta a não temer, a não cruzar os braços, exortou o Pontífice, “porque o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós, é um salvador poderoso. Este é o segredo do cristão: Deus está no meio de nós como poderoso salvador”.
Maria rejubila
“Maria rejubila, porque é a portadora do Emanuel, do Deus conosco. «Ser cristão é alegria no Espírito Santo». Sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas. Muitas vezes, o problema da fé não é tanto a falta de meios e estruturas, de quantidade, nem sequer a presença de quem não nos aceita; o problema da fé é a falta de alegria. A fé vacila, quando nos arrastamos na tristeza e no desânimo. Quando vivemos na desconfiança, fechados em nós mesmos, contradizemos a fé, porque, em vez de nos sentirmos filhos pelos quais Deus faz grandes coisas, reduzimos tudo à medida dos nossos problemas e esquecemo-nos de que não somos órfãos: temos no meio de nós um Pai, salvador e poderoso.”
“Pensemos nas grandes testemunhas destas terras!” – disse o Santo Padre concluindo sua reflexão. “Pessoas simples, que confiaram em Deus no meio das perseguições. Não colocaram a sua esperança no mundo, mas no Senhor, e assim continuaram para diante. Quero agradecer a estes vencedores humildes, a estes santos da porta ao lado que nos apontam o caminho.”
“Sede vós os promotores duma cultura do encontro que desminta a indiferença e a divisão e permita a esta terra cantar, com força, as misericórdias do Senhor”, disse por fim. Fonte: www.vaticannews.va
NESTA QUARTA, 29: Papa na Audiência Geral: “A salvação não se compra, é dom gratuito”.
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O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes de esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco iniciou seu ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos na Audiência Geral, desta quarta-feira (29/05).
O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do livro, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes de esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
“Esse livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, nos fala da viagem do Evangelho no mundo e nos mostra a ligação maravilhosa entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos dos Apóstolos são ‘um casal’ vivo e eficaz: A Palavra e o Espírito”, frisou o Papa.
A Palavra de Deus corre, é dinâmica
“A Palavra de Deus corre, é dinâmica, irriga todo terreno sobre o qual ela cai. E qual é a sua força? São Lucas nos diz que a palavra humana se torna eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dýnamis de Deus, a dinâmica de Deus, a sua força, que tem o poder de purificar a palavra, torná-la portadora de vida."
“Quando o Espírito visita a palavra humana, ela se torna dinâmica, como “dinamite”, capaz de iluminar os corações e anular esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os confins do povo de Deus. ”
Segundo Francisco, a “Aquele que dá sonoridade vibrante e eficiência à nossa palavra humana tão frágil, capaz até de mentir e fugir das próprias responsabilidades, é somente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado. O Espírito que o ungiu e o sustentou na missão, o Espírito graças ao qual escolheu os seus apóstolos e garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, e que garante também hoje ao nosso anúncio”.
Viver com confiança à espera da realização da promessa do Pai
O Papa frisou que “o Evangelho se conclui com a ressurreição e ascensão de Jesus e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte da superabundância da vida do Ressuscitado derramada sobre a Igreja. São Lucas nos diz que Jesus ‘se mostrou vivo depois da sua paixão: durante quarenta dias apareceu a eles, e falou-lhes do Reino de Deus’.”
“Cristo ressuscitado cumpre gestos humanos, como de o partilhar a refeição com os seus discípulos, e os convida a viver com confiança a espera da realização da promessa do Pai. Qual é a promessa do Pai?: “Vocês serão batizados com o Espírito Santo”.
“O batismo no Espírito Santo é a experiência que nos ajuda a entrar numa comunhão pessoal com Deus e participar de seu desejo universal de salvação, adquirindo o dom de parresia, a coragem, ou seja, a capacidade de pronunciar uma palavra “como filhos de Deus”, não somente como pessoas, mas como filhos de Deus: uma límpida, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos.”
A salvação não se paga
Segundo o Papa, “não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus. Tudo é dado gratuitamente e no seu tempo. O Senhor doa tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga. É dom gratuito”.
Francisco frisou que “diante da ansiedade de conhecer antecipadamente o tempo em que os eventos anunciados por Ele acontecerão, Jesus responde aos seus: «Não cabe a vocês saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.»”
Cristo ressuscitado convida os seus discípulos “a não viverem o presente com ansiedade, mas a fazer uma aliança com o tempo, saber esperar o desenrolar de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, a saber esperar os “passos” de Deus, Senhor do tempo e do espaço”.
Francisco disse ainda que o Senhor “ressuscitado convida os seus a não “fabricar” a missão por si mesmo, mas esperar que o Pai dinamize os seus corações com o seu Espírito”, a fim de que possam dar um “testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir além das fronteiras de Israel a fim de chegar às periferias do mundo”.
Unidade e perseverança
“Os apóstolos viveram juntos essa expectativa, como família do Senhor, no Cenáculo, cujas paredes ainda são testemunhas do dom com que Jesus se entregou aos seus discípulos na Eucaristia.”
“Como esperam a força, a dýnamis de Deus?”, perguntou o Papa. “Rezando com perseverança”, juntos. “Rezando na unidade e com perseverança. É com a oração que se vence a solidão, a tentação, a desconfiança e se abre o coração para a comunhão. A presença das mulheres e de Maria, mãe de Jesus, intensifica esta experiência: elas foram as primeiras a aprender do Mestre a testemunhar a fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo medo”.
Francisco concluiu a catequese, pedindo a Deus para que nos conceda “a paciência de esperar os seus passos, de não ‘fabricar’ nós mesmos a sua obra e permanecer dóceis, rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial”. Fonte: www.vaticannews.va
TERÇA-FEIRA 28: Homilia do Papa: “O pecado envelhece, o Espírito nos torna sempre jovens.
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A tristeza não é um comportamento cristão", disse Francisco na homilia missa celebrada na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
O Espírito Santo é o protagonista da passagem do Evangelho proposta na liturgia da missa, desta terça-feira (28/05), celebrada pelo Papa Francisco na Capela da Casa Santa Marta. “No discurso de despedida aos discípulos antes de subir ao Céus, Jesus”, disse o Papa em sua homilia, “nos faz uma verdadeira catequese sobre o Espírito Santo”. Jesus nos explica quem ele é. Os discípulos ficaram tristes ao ouvir que Jesus os deixará e Jesus os repreende por isso. Francisco afirmou: “Não, a tristeza não é um comportamento cristão”. Mas como não ficar triste? “E contra a tristeza, na oração, pedimos ao Senhor para que guarde em nós a juventude renovada do espírito”. Aqui, entra em jogo o Espírito Santo porque é Ele que faz com que haja em nós essa juventude que nos renova sempre.
O coração do cristão é jovem
O Papa citou uma santa que dizia: “Um santo triste é um triste santo”- recorda o Papa Francisco em uma mensagem enviada por ocasião do quinto centenário do nascimento de Santa Teresa d’Ávila, celebrado em 2014- “Portanto, um cristão triste é um triste cristão e isso não é bom. A tristeza não entra no coração do cristão, porque ele é jovem”, prosseguiu Francisco.
O Espírito Santo é aquele que nos torna capazes de carregar as cruzes. O Pontífice citou o exemplo de Paulo e Silas que na prisão cantavam hinos a Deus, conforme a primeira leitura de hoje, extraída do Livro dos Atos dos Apóstolos.
O Espírito Santo renova todas as coisas. “O Espírito Santo é aquele que nos acompanha na vida, que nos sustenta. É o Paráclito”, frisou o Papa. “Mas que nome estranho”, disse Francisco, recordando que numa missa para crianças, num domingo de Pentecostes, ele perguntou se elas sabiam quem fosse o Espírito Santo. E um menino lhe respondeu: o paralítico.
Muitas vezes nós pensamos que o Espírito Santo é um paralítico, que não faz nada... Pelo contrário, é Aquele que nos sustenta. Paráclito: a palavra paráclito significa “aquilo que está ao meu lado para me apoiar”, para que eu não caia, para que eu vá adiante, para que eu conserve essa juventude do Espírito. O cristão é sempre jovem: sempre. Quando o coração do cristão começa a envelhecer, a sua vocação de cristão começa a diminuir. Ou você é jovem de coração e de alma ou não é cristão.
Diálogo cotidiano com o Espírito
Francisco prosseguiu, dizendo que na vida haverá dor. Paulo e Silas foram acoitados e sofreram, “mas estavam cheios de alegria, cantavam...”.
Isso é juventude. Uma juventude que faz você olhar sempre a esperança. É isso, avante! Mas, para ter essa juventude é necessário um diálogo cotidiano com o Espírito Santo, que está sempre ao nosso lado. É o grande presente que Jesus nos deixou: esse apoio, o que faz a gente seguir em frente.
O pecado envelhece a alma
Mesmo que sejamos pecadores, o Espírito nos ajuda a nos arrepender e nos faz olhar para frente. “Fale com o Espírito”, disse o Papa. “Ele apoiará você e lhe dará novamente a juventude”. O pecado, por outro lado, envelhece: “Envelhece a alma, envelhece tudo”. Francisco sublinhou ainda: “Jamais esta tristeza pagã”. Na vida há momentos difíceis, mas nesses momentos “sentimos que o Espírito nos ajuda a ir em frente (...) e a superar as dificuldades. Até mesmo o martírio”. E o Papa concluiu:
Peçamos ao Senhor para não perder esta juventude renovada, para não ser cristãos aposentados que perderam a alegria e se deixam conduzir... O cristão nunca se aposenta, o cristão vive, vive porque é jovem, quando é cristão verdadeiro. Fonte: www.vaticannews.va
NESTA SEGUNDA 27: O abraço de Francisco a Raoni
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O encontro entre o Santo Padre e o líder indígena da etnia caiapó, Raoni Metuktire, foi nesta segunda-feira na Casa Santa Marta.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu em audiência privada na Casa Santa Marta na manhã desta segunda-feira, 27, o líder indígena brasileiro Raoni Metukire, da comunidade Caiapó. O cacique está na Europa desde 14 de maio, numa viagem de três semanas, para se encontrar com os chefes de Estado e a opinião pública para alertar sobre as crescentes ameaças à Amazônia.
O encontro do Pontífice com o líder do povo Caiapó - ameaçado por madeireiros e pelo agronegócio - havia sido confirmado no último sábado pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti. Com a audiência – explicou ele - “o Papa reitera a sua atenção pela população e pelo ambiente da área amazônica, e o seu compromisso pela preservação da Casa Comum”.
Gisotti também havia explicado que “a audiência insere-se no contexto da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, que se realizará de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, sobre o tema ‘Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e por uma Ecologia Integral’”.
O líder indígena brasileiro também está recolhendo fundos para a proteção da reserva do Xingu, no Mato Grosso. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 22: "Rezar em toda situação, sem esquecer de nossos irmãos". Francisco.
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Papa: "Rezar em toda situação, sem esquecer de nossos irmãos"
Na audiência geral, Francisco encerrou o ciclo de catequeses sobre a oração do Pai Nosso, afirmando que “a oração cristã nasce da audácia de poder chamar Deus de ‘Pai’. No final do encontro, a saudação ao Card. José Falcão.
Cidade do Vaticano
Esta quarta-feira de sol e clima primaveril em Roma foi o cenário no qual cerca de 20 mil pessoas participaram do encontro semanal com o Papa, no Vaticano. Francisco entrou na Praça São Pedro e imediatamente deixou cinco crianças subirem no papamóvel e o acompanharem na volta da praça. É a ocasião em que o Pontífice cumprimenta todos os presentes distribuindo sorrisos e carinho. Em sua reflexão, ele encerrou o ciclo de catequeses sobre a oração do Pai Nosso, e concluiu que “a oração cristã nasce da audácia de poder chamar Deus de ‘Pai': “Trata-se de um ato de intimidade filial, fruto da graça de Jesus que nos introduz na familiaridade com Deus”.
Francisco continuou explicando que em diversas passagens do Novo Testamento, podemos ver como Jesus, com o seu exemplo e palavras, nos ensina o sentido da oração do Pai-Nosso. Por exemplo, quando os discípulos que, ao ver Jesus passar longos momentos em oração, pedem que Ele lhes ensine como rezar. Ou no Getsêmani, onde, ao invocar a Deus chamando-o de Abbá, Jesus demonstra a confiança num momento de angústia.
Em meio às trevas, Jesus invoca Deus com o nome de “Abbà”, com confiança filial e embora sinta medo e angústia, pede que seja feita a sua vontade.
Quando Jesus fala da necessidade de rezar de modo insistente, lembra-se sempre dos irmãos, sobretudo com a disponibilidade de perdoar as ofensas recebidas. Em suma, Jesus nos ensina que o cristão pode rezar em qualquer situação, seja com expressões retiradas da Bíblia, como os salmos, seja com expressões que brotaram dos corações de tantos homens e mulheres que se sabiam amados pelo Pai.
O primeiro protagonista de toda oração cristã é o Espírito Santo
É ele que sopra no coração do discípulo e nos torna capazes de rezar como filhos de Deus. É ele que nos ensina a rezar: “Este é o mistério da oração cristã: pela graça, somos atraídos ao diálogo de amor da Santíssima Trindade”.
Assim rezava Jesus, e por vezes usou expressões muito distantes do texto do Pai Nosso. Como quando na cruz, pronunciou as palavras ‘Deus meu por que me abandonastes’. A explicação é que naquele grito de angústia, está o núcleo da relação com o Pai, o fulcro da fé e da oração. Eis porque o cristão pode rezar em qualquer situação.
Francisco concluiu pedindo que nunca deixemos de recordar na oração ao Pai nossos irmãos e irmãs na humanidade, para que nenhum deles, especialmente os pobres, fique sem consolo e sem uma porção de amor.
Orações por missionária assassinada e cristãos na China
Em suas palavras finais, o Papa lembrou a Irmã espanhola Ines Nieves Sancho, missionária assassinada na República Centro-africana, pedindo a todos que rezassem com ele uma Ave Maria.
Sexta-feira, dia 24 de maio, celebra-se o dia de Nossa Senhora Auxiliadora, que é particularmente venerada na China, no Santuário da Virgem de Sheshan, em Xangai.
“ Nesta feliz ocasião, expresso minha proximidade a todos os católicos na China, que, entre tantas dificuldades e provações, continuam a esperar e amar. Que a nossa Mãe do Céu os ajude a ser testemunhas da caridade e da fraternidade, mantendo-os sempre unidos na comunhão da Igreja universal. ”
Dirigindo-se aos brasileiros, numerosos na Praça, o Papa recomendou que neste mês dedicado à Virgem Maria, busquemos contemplar mais intensamente a face do Senhor Jesus com a oração do Terço, para que Ele seja o centro de nossos pensamentos, de nossas ações e de nossa vida.
Enfim, fez uma saudação especial ao Cardeal José Falcão, arcebispo emérito de Brasília, que está completando 70 anos de ordenação sacerdotal. Dom José respondeu com um sorriso. Fonte: www.vaticannews.va
Papa Francisco aceita a renúncia de Dom Vilson, bispo de Limeira
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O Pontífice nomeou administrador apostólico "sede vacante" da diocese Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida (SP).
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco aceitou a renúncia apresentada por Dom Vilson Dias de Oliveira ao governo pastoral da diocese de Limeira (SP). O administrador apostólico "sede vacante" da diocese será Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida (SP).
"Sinto-me pequeno"
Em carta lida esta manhã aos fiéis, o bispo escreve:
“Diz bem o conhecido ditado: ‘um planta, outro rega’!
Queridos irmãos e irmãs, nesses últimos meses enfrentamos todo tipo de cruzes, por meio de ataques à nossa Igreja Particular de Limeira, a mim e a vários presbíteros. Reconheço minhas limitações, mas também levo no coração todo amor que aqui recebi do bom Povo de Deus presente nos 16 municípios que compreendem esta Igreja Particular de Limeira.
Com imensa gratidão, digo-lhes que sempre fui muito bem acolhido e aceito pelo povo desta importante Diocese de Limeira. Hoje me despeço de vocês como Bispo Diocesano e peço minha renúncia por amor à Igreja de Cristo e pelo bem desta Diocese para que os trabalhos pastorais possam continuar crescendo e se fortalecendo com a doação incansável de cada um de vocês que se dedicam ao Reino de Deus.
Foram quase 12 anos de minha nomeação (13/06) que tive a oportunidade de servir ao Senhor e à Santa Mãe Igreja nestas terras, enfrentei com alegria cada desafio da realidade aqui encontrada. Sei que a dimensão pastoral é imensa, e muito trabalhei para isso. No entanto, neste momento, sinto-me pequeno frente à grandeza da missionariedade que esta Igreja Particular tomou em suas proporções.
Levo no meu coração este aprendizado, na confiança e certeza de que a obra é de Deus, e me coloco à disposição da Santa Mãe Igreja para servi-la não importando o lugar e o ministério a mim confiado por Deus daqui para frente.
Minha bênção episcopal na certeza de que o Espírito Santo conduz a Igreja e cada um dos diocesanos que aqui se doaram e se doam no serviço eclesial. Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora das Dores, padroeira da Diocese de Limeira, nos abençoe e nos guarde. Em Cristo Jesus, nossa paz. Com estima,
Dom Vilson Dias de Oliveira, DC”
Fonte: www.vaticannews.va
Esmolaria Apostólica, a caridade silenciosa do Papa
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Esmolaria Apostólica, a caridade silenciosa do Papa
Um trabalho silencioso, realizado todos os dias, em nome do Papa, em favor daqueles que realmente tem necessidade: esta é a atividade da Esmolaria Apostólica. Em 2018, o braço da caridade do Papa distribuiu 3 milhões e meio de euros aos pobres, para pagar contas e aluguéis.
Sergio Centofanti - Cidade do Vaticano
A caridade da Igreja remonta aos tempos dos apóstolos. Jesus afirma que no final da vida seremos julgados pelo amor, o amor concreto de cada dia (Mt 25,31-46). São Tiago nos recorda fortemente que a fé sem obras é morta em si mesma: "Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não tem as obras? A fé seria capaz de salvá-lo? Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles: “Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adianta isso? Tg 2,14-16).
As origens da Esmolaria Apostólica
Nas primeiras comunidades cristãs, eram os diáconos, em particular, que cuidavam dos pobres. Mais tarde os Papas, como bispos de Roma, confiaram a tarefa da caridade ao chamado Esmoler: este nome aparece pela primeira vez em uma Bula de Inocêncio III, no século XIII. A Esmolaria nasce formalmente neste período. Leão XIII, o Papa da primeira Encíclica social, a Rerum novarum (1891), confia à Esmolaria a faculdade de conceder a Bênção Apostólica através de pergaminhos. O Papa Pecci denunciava as dramáticas condições daquela que ele chamou de "a infinita multidão de proletários", explorada por "um número muito pequeno de super ricos" e mobilizava toda a Igreja para que apoiasse os pobres criados pela Revolução Industrial.
Contas e aluguéis
Hoje, justamente graças aos recursos provenientes dos pergaminhos, além de outras doações, a Esmolaria pode ajudar em nome do Papa aqueles que passam por dificuldades. Em 2018, cerca de 3 milhões e meio de euros foram destinados àqueles que não podiam pagar aluguel, contas de luz e gás, medicamentos e necessidades básicas. Uma cifra ligeiramente superior àquela de 2017. As ajudas chegam a todos, sem distinções, muitos são italianos e romanos: não se deve esquecer que o Papa é o bispo de Roma.
Ajuda aos verdadeiros pobres
Geralmente são os párocos que escrevem ao Esmoler: eles indicam quem realmente precisa. O Esmoler envia ao pároco um cheque, que depois destina o valor a quem tem necessidade, acompanhado por um bilhete: “Doação do Santo Padre”.
A ajuda não passa por associações ou por várias entidades: chega diretamente à pessoa que o pároco considera em verdadeiro estado de necessidade. As contribuições que são enviadas a outros países, são solicitadas pelos Núncios espalhados por todo o mundo.
Um trabalho silencioso
A Esmolaria realiza todos os dias, em silêncio, sua atividade: sustenta refeitórios para os pobres, administra um ambulatório médico-sanitário sob a Colunata de Bernini, dedicado à "Mãe da Misericórdia", juntamente com os chuveiros e a barbearia para os sem-teto, além do dormitório na Via dei Penitenzieri, pertinho do Vaticano.
Dar de acordo com a lógica do Evangelho
O atual Esmoler, cardeal Konrad Krajewski, é considerado "o braço da caridade do Papa". Sua principal tarefa - diz - é "esvaziar a conta do Santo Padre para os pobres, segundo a lógica do Evangelho". Fonte: https://www.vaticannews.va
CARTA APOSTÓLICA SOB FORMA DE MOTU PRÓPRIO DO SUMO PONTÍFICE FRANCISCO
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“VOS ESTIS LUX MUNDI”
«Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte» (Mt 5, 14). Nosso Senhor Jesus Cristo chama cada fiel a ser exemplo luminoso de virtude, integridade e santidade. Com efeito, todos nós somos chamados a dar testemunho concreto da fé em Cristo na nossa vida e, de modo particular, na nossa relação com o próximo.
Os crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e lesam a comunidade dos fiéis. Para que tais fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam a todos na Igreja, de modo que a santidade pessoal e o empenho moral possam concorrer para fomentar a plena credibilidade do anúncio evangélico e a eficácia da missão da Igreja. Isto só se torna possível com a graça do Espírito Santo derramado nos corações, porque sempre nos devemos lembrar das palavras de Jesus: «Sem Mim, nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Embora já muito se tenha feito, devemos continuar a aprender das lições amargas do passado a fim de olhar com esperança para o futuro.
Esta responsabilidade recai, em primeiro lugar, sobre os sucessores dos Apóstolos, colocados por Deus no governo pastoral do seu povo, e exige deles o empenho de seguir de perto os passos do Divino Mestre. Na realidade, em virtude do seu ministério, eles regem «as Igrejas particulares que lhes foram confiadas como vigários e legados de Cristo, por meio de conselhos, persuasões, exemplos, mas também com autoridade e poder sagrado, que exercem unicamente para edificar o próprio rebanho na verdade e na santidade, lembrados de que aquele que é maior se deve fazer como o menor, e o que preside como aquele que serve» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Lumen gentium, 27). E aquilo que de forma mais impelente diz respeito aos sucessores dos Apóstolos concerne a todos aqueles que, de diferentes maneiras, assumem ministérios na Igreja, professam os conselhos evangélicos ou são chamados a servir o povo cristão. Por isso, é bom que se adotem, a nível universal, procedimentos tendentes a prevenir e contrastar estes crimes que atraiçoam a confiança dos fiéis.
Desejo que este compromisso se implemente de forma plenamente eclesial e, por conseguinte, seja expressão da comunhão que nos mantém unidos, na escuta mútua e aberta às contribuições de todos aqueles que têm a peito este processo de conversão.
Por isso estabeleço:
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1 – Âmbito de aplicação
- 1. Estas normas aplicam-se em caso de assinalações relativas a clérigos ou a membros de Institutos de Vida Consagrada ou de Sociedades de Vida Apostólica e concernentes a:
- a) delitos contra o sexto mandamento do Decálogo que consistam:
- em forçar alguém, com violência, ameaça ou abuso de autoridade, a realizar ou sofrer atos sexuais;
- em realizar atos sexuais com um menor ou com uma pessoa vulnerável;
III. na produção, exibição, posse ou distribuição, inclusive por via telemática, de material pornográfico infantil, bem como no recrutamento ou indução dum menor ou duma pessoa vulnerável a participar em exibições pornográficas;
- b) em condutas realizadas pelos sujeitos a que se refere o artigo 6, consistindo em ações ou omissões tendentes a interferir ou contornar as investigações civis ou as investigações canônicas, administrativas ou criminais, contra um clérigo ou um religioso relativas aos delitos a que se refere a alínea a) deste parágrafo.
- 2. Para efeitos destas normas, entende-se por:
- a) «menor»: toda a pessoa que tiver idade inferior a dezoito anos, ou a ela equiparada por lei;
- b) «pessoa vulnerável»: toda a pessoa em estado de enfermidade, deficiência física ou psíquica, ou de privação da liberdade pessoal que de fato, mesmo ocasionalmente, limite a sua capacidade de entender ou querer ou, em todo o caso, de resistir à ofensa;
- c) «material pornográfico infantil»: qualquer representação dum menor, independentemente do meio utilizado, envolvido em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, e qualquer representação de órgãos sexuais de menores para fins predominantemente sexuais.
Art. 2 - Receção das assinalações e proteção dos dados
- 1. Tendo em conta as indicações eventualmente adotadas pelas respetivas Conferências Episcopais, pelos Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e das Igrejas Arquiepiscopais Maiores, ou pelos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Metropolitanas sui iuris, as Dioceses ou as Eparquias, individualmente ou em conjunto, devem estabelecer, dentro de um ano a partir da entrada em vigor destas normas, um ou mais sistemas estáveis e facilmente acessíveis ao público para apresentar as assinalações, inclusive através da instituição duma peculiar repartição eclesiástica. As Dioceses e as Eparquias informam o Representante Pontifício que foram instituídos os sistemas referidos neste parágrafo.
- 2. As informações a que se refere este artigo são tuteladas e tratadas de forma a garantir a sua segurança, integridade e confidencialidade nos termos dos cânones 471-2° CICe 244-§ 2, 2° CCEO.
- 3. Ressalvado o disposto no artigo 3-§ 3, o Ordinário que recebeu a assinalação transmite-a sem demora ao Ordinário do lugar onde teriam ocorrido os factos, bem como ao Ordinário próprio da pessoa indicada, os quais procedem de acordo com o direito segundo o previsto para o caso específico.
- 4. Para efeitos deste título, são equiparadas às Dioceses as Eparquias, e ao Ordinário é equiparado o Hierarca.
Art. 3 – Assinalação
- 1. Exceto nos casos previstos nos cânones 1548-§ 2 CICe 1229-§ 2 CCEO, sempre que um clérigo ou um membro dum Instituto de Vida Consagrada ou duma Sociedade de Vida Apostólica saiba ou tenha fundados motivos para supor que foi praticado um dos factos a que se refere o artigo 1, tem a obrigação de assinalar prontamente o facto ao Ordinário do lugar onde teriam ocorrido os factos ou a outro Ordinário dentre os referidos nos cânones 134 CICe 984 CCEO, ressalvado o estabelecido no § 3 deste artigo.
- 2. Qualquer pessoa pode apresentar uma assinalação respeitante às condutas a que se refere o artigo 1, servindo-se das modalidades referidas no artigo anterior ou de qualquer outro modo apropriado.
- 3. Quando a assinalação diz respeito a uma das pessoas indicadas no artigo 6, a mesma é encaminhada para a autoridade individuada com base nos artigos 8 e 9. A assinalação pode sempre ser dirigida à Santa Sé, diretamente ou através do Representante Pontifício.
- 4. A assinalação contém os elementos o mais possível detalhados, tais como indicações de tempo e local dos factos, das pessoas envolvidas ou informadas, bem como qualquer outra circunstância que possa ser útil para assegurar uma cuidadosa avaliação dos factos.
- 5. As informações podem também ser adquiridas ex officio.
Art. 4 – Tutela de quem faz a assinalação
- 1. O facto de fazer uma assinalação, como estabelece o artigo 3, não constitui uma violação do sigilo profissional.
- 2. Ressalvado quanto previsto no cânone 1390 CICe nos cânones 1452 e 1454 CCEO, são proibidos e podem abranger a conduta referida no artigo 1-§ 1, alínea b), danos, retaliações ou discriminações pelo facto de ter feito uma assinalação.
- 3. A quem faz uma assinalação, não pode ser imposto qualquer ónus de silêncio a respeito do conteúdo da mesma.
Art. 5 – Cuidados prestados às pessoas
- 1. As autoridades eclesiásticas empenham-se para que sejam tratados com dignidade e respeito quantos afirmam que foram ofendidos, juntamente com as suas famílias, e proporcionam-lhes em particular:
- a) acolhimento, escuta e acompanhamento, inclusive através de serviços específicos;
- b) assistência espiritual;
- c) assistência médica, terapêutica e psicológica de acordo com o caso específico.
- 2. São tuteladas a imagem e a esfera privada das pessoas envolvidas, bem como a confidencialidade dos dados pessoais.
TÍTULO II
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AOS BISPOS E EQUIPARADOS
Art. 6 – Âmbito subjetivo de aplicação
As normas processuais a que alude este título dizem respeito às condutas referidas no artigo 1 implementadas por:
- a) Cardeais, Patriarcas, Bispos e Legados do Romano Pontífice;
- b) clérigos que se ocupam ou ocuparam do governo pastoral duma Igreja particular ou duma entidade a ela assimilada, latina ou oriental, incluindo os Ordinariatos pessoais, pelos factos praticados durante munere;
- c) clérigos que se ocupam ou ocuparam do governo pastoral duma Prelatura pessoal, pelos factos praticados durante munere;
- d) aqueles que são ou foram Moderadores supremos de Institutos de Vida Consagrada ou de Sociedades de Vida Apostólica de direito pontifício, bem como de Mosteiros sui iuris, pelos factos praticados durante munere.
Art. 7 – Dicastério competente
- 1. Para efeitos deste título, entende-se por «Dicastério competente» a Congregação para a Doutrina da Fé, para os delitos a ela reservados pelas normas em vigor, bem como, em todos os outros casos, naquilo que é da respetiva competência estabelecida na lei própria da Cúria Romana:
- a Congregação para as Igrejas Orientais;
- a Congregação para os Bispos;
- a Congregação para a Evangelização dos Povos;
- a Congregação para o Clero;
- a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
- 2. A fim de se assegurar a melhor coordenação, o Dicastério competente informa a Secretaria de Estado e os outros Dicastérios diretamente interessados acerca da assinalação e do resultado da investigação.
- 3. As comunicações previstas neste título entre o Metropolita e a Santa Sé realizam-se através do Representante Pontifício.
Art. 8 – Procedimento aplicável em caso de assinalação relativa a um Bispo da Igreja Latina
- 1. A autoridade que recebe uma assinalação transmite-a quer à Santa Sé quer ao Metropolita da Província Eclesiástica onde tem domicílio a pessoa indicada.
- 2. No caso da assinalação se referir ao Metropolita ou estiver vacante a Sé Metropolitana, aquela será transmitida à Santa Sé, bem como ao Bispo sufragâneo mais antigo por promoção, a quem, neste caso, se aplicam as sucessivas disposições relativas ao Metropolita.
- 3. No caso da assinalação se referir a um Legado Pontifício, a mesma é transmitida diretamente à Secretaria de Estado.
Art. 9 - Procedimento aplicável a Bispos das Igrejas Orientais
- 1. No caso de assinalações contra um Bispo duma Igreja Patriarcal, Arquiepiscopal Maior ou Metropolitana sui iuris, a mesma é transmitida ao respetivo Patriarca, Arcebispo Maior ou Metropolita da Igreja sui iuris.
- 2. Se a assinalação se referir a um Metropolita duma Igreja Patriarcal ou Arquiepiscopal Maior, que exerce o seu cargo dentro do território destas Igrejas, aquela é transmitida ao respetivo Patriarca ou Arcebispo Maior.
- 3. Nos casos anteriores, a autoridade que recebeu a assinalação transmite-a também à Santa Sé.
- 4. Se a pessoa assinalada for um Bispo ou um Metropolita fora do território da Igreja Patriarcal, Arquiepiscopal Maior ou Metropolitana sui iuris, a assinalação é transmitida à Santa Sé.
- 5. No caso da assinalação se referir a um Patriarca, um Arcebispo Maior, um Metropolita duma Igreja sui iurisou um Bispo das outras Igrejas Orientais sui iuris, aquela é transmitida à Santa Sé.
- 6. As sucessivas disposições relativas ao Metropolita aplicam-se à autoridade eclesiástica a quem é transmitida a assinalação nos termos deste artigo.
Art. 10 – Deveres iniciais do Metropolita
- 1. A não ser que a assinalação se revele claramente infundada, o Metropolita solicita prontamente ao Dicastério competente o encargo para iniciar a investigação. Se o Metropolita considerar a assinalação claramente infundada, informa disso mesmo o Representante Pontifício.
- 2. O Dicastério provê sem demora, e em todo o caso dentro de trinta dias a contar da receção da primeira assinalação pelo Representante Pontifício ou da solicitação do encargo por parte do Metropolita, fornecendo as instruções adequadas sobre como proceder no caso concreto.
Art. 11 – Entrega da investigação a pessoa diferente do Metropolita
- 1. Se o Dicastério competente considerar oportuno confiar a investigação a uma pessoa diferente do Metropolita, este será informado. O Metropolita entrega todas as informações e os documentos relevantes à pessoa encarregada pelo Dicastério.
- 2. No caso referido no parágrafo anterior, as sucessivas disposições relativas ao Metropolita aplicam-se à pessoa encarregada de conduzir a investigação.
Art. 12 – Realização da investigação
- 1. O Metropolita, uma vez obtido o encargo do Dicastério competente e no respeito das instruções recebidas, pessoalmente ou através de uma ou mais pessoas idôneas:
- a) recolhe as informações relevantes a propósito dos factos;
- b) toma conhecimento das informações e documentos necessários para a investigação guardados nos arquivos dos departamentos eclesiásticos;
- c) obtém, quando necessária, a colaboração doutros Ordinários ou Hierarcas;
- d) solicita informações aos indivíduos e às instituições, mesmo civis, que forem capazes de fornecer elementos úteis para a investigação.
- 2. Se for necessário ouvir um menor ou uma pessoa vulnerável, o Metropolita adota modalidades adequadas, que tenham em conta o seu estado.
- 3. No caso de haver fundados motivos para considerar que informações ou documentos relativos à investigação possam ser subtraídos ou destruídos, o Metropolita adota as medidas necessárias para a sua preservação.
- 4. Mesmo quando se serve doutras pessoas, o Metropolita permanece, em todo o caso, responsável pela direção e a realização das investigações, bem como pela execução precisa das instruções previstas no artigo 10-§ 2.
- 5. O Metropolita é assistido por um notário, escolhido livremente de acordo com os cânones 483-§ 2 CICe 253-§ 2 CCEO.
- 6. O Metropolita é obrigado a agir de forma imparcial e livre de conflito de interesses. Se considerar que se encontra em conflito de interesses ou não é capaz de manter a imparcialidade necessária para garantir a integridade da investigação, é obrigado a abster-se e referir a circunstância ao Dicastério competente.
- 7. À pessoa sob investigação é reconhecida a presunção de inocência.
- 8. O Metropolita, se solicitado pelo Dicastério competente, informa a pessoa da investigação contra ela, ouve-a sobre os factos e convida-a a apresentar um memorial de defesa. Em tais casos, a pessoa investigada pode servir-se dum procurador.
- 9. De trinta em trinta dias, o Metropolita transmite ao Dicastério competente um relatório informativo sobre o estado das investigações.
Art. 13 – Intervenção de pessoas qualificadas
- 1. De acordo com eventuais diretrizes da Conferência Episcopal, do Sínodo dos Bispos ou do Conselho dos Hierarcas sobre o modo como ajudar o Metropolita nas investigações, os Bispos da respetiva Província, individualmente ou em conjunto, podem elaborar listas de pessoas qualificadas, dentre as quais o Metropolita pode escolher as mais idôneas para o assistir na investigação, conforme as necessidades do caso e, em particular, tendo em conta a cooperação que pode ser oferecida pelos leigos nos termos dos cânones 228 CICe 408 CCEO.
- 2. Em todo o caso, o Metropolita é livre para escolher outras pessoas igualmente qualificadas.
- 3. Quem quer que assista o Metropolita na investigação é obrigado a agir de forma imparcial e livre de conflito de interesses. Se considerar que se encontra em conflito de interesses ou não é capaz de manter a imparcialidade necessária para garantir a integridade da investigação, é obrigado a abster-se e referir a circunstância ao Metropolita.
- 4. As pessoas que assistem o Metropolita prestam juramento de cumprir digna e fielmente o encargo.
Art. 14 – Duração da investigação
- 1. As investigações devem ser concluídas no prazo de noventa dias ou no tempo indicado pelas instruções previstas no artigo 10-§ 2.
- 2. Por justos motivos, o Metropolita pode pedir a extensão do prazo ao Dicastério competente.
Art. 15 - Medidas cautelares
Se os factos ou as circunstâncias o exigirem, o Metropolita propõe ao Dicastério competente a adoção de disposições ou de medidas cautelares apropriadas contra o investigado.
Art. 16 – Instituição dum Fundo
- 1. As Províncias Eclesiásticas, as Conferências Episcopais, os Sínodos dos Bispos e os Conselhos dos Hierarcas podem estabelecer um Fundo destinado a sustentar as despesas com as investigações, instituído de acordo com os cânones 116 e 1303-§ 1,1º CICe 1047 CCEO, e administrado segundo as normas do direito canônico.
- 2. A pedido do Metropolita designado, os fundos necessários para a investigação são colocados à sua disposição pelo administrador do Fundo, salvaguardado o dever de apresentar a este último um relatório financeiro no fim da investigação.
Art. 17 - Transmissão das atas e do votum
- 1. Completada a investigação, o Metropolita transmite as atas ao Dicastério competente juntamente com o seu próprio votum sobre os resultados da investigação e dando resposta a eventuais quesitos postos nas instruções referidas no artigo 10-§ 2.
- 2. A não ser que haja sucessivas instruções do Dicastério competente, as faculdades do Metropolita cessam quando a investigação estiver completada.
- 3. No respeito pelas instruções do Dicastério competente, o Metropolita, se lhe for pedido, informa acerca do resultado da investigação a pessoa que afirma ter sido ofendida ou os seus representantes legais.
Art. 18 – Medidas sucessivas
O Dicastério competente, a não ser que decida organizar uma investigação suplementar, procede nos termos do direito, de acordo com o previsto para o caso específico.
Art. 19 – Observância das leis estatais
Estas normas aplicam-se sem prejuízo dos direitos e obrigações estabelecidos em cada local pelas leis estatais, particularmente aquelas relativas a eventuais obrigações de assinalação às autoridades civis competentes.
Estas normas são aprovadas ad experimentum por um triênio.
Estabeleço que esta Carta Apostólica sob forma de Motu Próprio seja promulgada através da sua publicação no jornal L’Osservatore Romano, entrando em vigor no dia 1 de junho de 2019, e seja depois publicada no boletim Ata Apostolicae Sedis.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 9 de maio do ano 2019, sétimo de pontificado.
Francisco
Fonte: http://w2.vatican.va
Novas normas para toda a Igreja contra quem abusa ou encobre
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Novas normas para toda a Igreja contra quem abusa ou encobre
O motu proprio do Papa Francisco “Vos estis lux mundi” estabelece novos procedimentos para denunciar moléstias e violências, e garantir que bispos e superiores religiosos prestem contas de seu trabalho. Foi introduzida a obrigatoriedade a clérigos e religiosos de denunciar os abusos. Cada diocese deverá dotar-se de um sistema facilmente acessível ao público para receber as assinalações.
ANDREA TORNIELLI
«Vos estis lux mundi, Vós sois a luz do mundo Nosso Senhor Jesus Cristo chama cada fiel a ser exemplo luminoso de virtude, integridade e santidade».
Do Evangelho de Mateus foram extraídos o título e as primeiras palavras do novo Motu proprio do Papa Francisco dedicado à luta aos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, e às ações ou omissões dos bispos e dos superiores religiosos «tendentes a interferir ou contornar» as investigações sobre os abusos. O Papa recorda que os «crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e lesam a comunidade dos fiéis», e menciona a responsabilidade particular que têm os sucessores dos apóstolos em prevenir tais crimes. O documento representa um fruto ulterior do encontro sobre a proteção dos menores realizado no Vaticano em fevereiro de 2019. Estabelece novas normas para combater os abusos sexuais e garantir que bispos e superiores religiosos prestem contas de suas ações. É uma normativa universal, que se aplica a toda a Igreja Católica.
Um “guichê” para as denúncias em cada diocese
Entre as novidades previstas está a obrigatoriedade, para todas as dioceses do mundo de dotarem-se até junho de 2020 de «um ou mais sistemas estáveis e facilmente acessíveis ao público para apresentar as assinalações» a respeito dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, o uso de material pornográfico infantil e o acobertamento dos próprios abusos. A normativa não especifica no que consistem esses «sistemas», para deixar às dioceses a escolha operativa, que poderá ser diferente de acordo com as várias culturas e condições locais. O que se quer é que as pessoas que sofreram abusos possam recorrer à Igreja local certas de que serão bem acolhidas, que serão protegidas de represálias e que suas denúncias serão tratadas com a máxima seriedade.
A obrigatoriedade de denunciar
Outra novidade diz respeito à obrigatoriedade para todos os clérigos, os religiosos e as religiosas de «assinalar prontamente» à autoridade eclesiástica todas as notícias de abusos das quais tiverem conhecimento, assim como as eventuais omissões e acobertamentos na gestão dos casos de abusos. Se até hoje esta obrigação chamava em causa, num certo sentido, somente a consciência individual, de agora em diante se torna um preceito legal estabelecido universalmente. A obrigatoriedade em si é sancionada somente para os clérigos e religiosos, mas todos os leigos também podem e são encorajados a utilizar o sistema para assinalar abusos e moléstias às autoridades eclesiásticas competentes.
Não somente abusos contra menores
O documento compreende não somente as moléstias e as violências contra os menores e os adultos vulneráveis, mas diz respeito também à violência sexual e às moléstias que derivam do abuso de autoridade. Esta obrigatoriedade inclui também qualquer caso de violência contra religiosas por parte de clérigos, assim como também o caso de moléstias a seminaristas ou noviços de maior idade.
Os “acobertamentos”
Entre os elementos de maior relevo está a identificação, como categoria específica, da chamada conduta de acobertamento, que consiste «em ações ou omissões tendentes a interferir ou contornar as investigações civis ou as investigações canónicas, administrativas ou criminais, contra um clérigo ou um religioso relativas aos delitos» de abuso sexual. Trata-se daqueles que, exercendo cargos de particular responsabilidade na Igreja, ao invés de investigar os abusos cometidos por outros, os esconderam, protegendo o suposto réu ao invés de tutelar as vítimas.
A proteção das pessoas vulneráveis
Vos estis lux mundi acentua a importância de tutelar os menores (pessoas com menos de 18 anos) e as pessoas vulneráveis. De fato, é ampliada a noção de “pessoa vulnerável” , não mais restrita somente às pessoas que não têm “o uso habitual” da razão, mas compreende também os casos ocasionais e transitórios de incapacidade de entender e querer, além das desabilidades de ordem física. Nisto, o novo Motu próprio se inspira na recente Lei vaticana (n. CCXCVII de 26 de março de 2019).
O respeito das leis dos Estados
A obrigatoriedade de assinalar ao ordinário do local ou ao superior religioso não interfere nem modifica qualquer outra obrigação de denúncia eventualmente existente nas leis dos respectivos países: as normas, de fato, «aplicam-se sem prejuízo dos direitos e obrigações estabelecidos em cada local pelas leis estatais, particularmente aquelas relativas a eventuais obrigações de assinalação às autoridades civis competentes».
Proteção a quem denuncia e às vítimas
Também são significativos os parágrafos dedicados a tutelar quem se oferece para fazer as denúncias. Quem refere notícias de abusos, segundo prevê o Motu próprio, não pode, de fato, ser submetido a «danos, retaliações ou discriminações» em decorrência daquilo que assinalou. Uma atenção também ao problema das vítimas que, no passado, foram reduzidas ao silêncio: essas normas universais preveem que «não pode ser» imposto a elas «qualquer ônus de silêncio a respeito do conteúdo » da assinalação. Obviamente, o segredo de confissão permanece absoluto e inviolável e, portanto, não é de modo algum tocado por esta normativa. Vos estis lux mundi estabelece ainda que as vítimas e suas famílias devem ser tratadas com dignidade e respeito e devem receber uma apropriada assistência espiritual, médica e psicológica.
As investigações a cargo dos bispos
O Motu proprio disciplina as investigações a cargo dos bispos, dos cardeais, dos superiores religiosos e daqueles que têm a responsabilidade, mesmo que temporariamente, de guiar uma diocese ou outra Igreja particular. Esta disciplina deverá ser observada não somente se essas pessoas forem investigadas por abusos sexuais realizados diretamente, mas também se forem denunciadas por terem «acobertado» ou não terem investigado abusos dos quais tiveram conhecimento e que cabia a elas combater.
O papel do metropolita
É significativa a novidade a respeito do envolvimento na investigação prévia do arcebispo metropolita, que recebe da Santa Sé o mandato de investigar caso a pessoa denunciada seja um bispo. O seu papel, tradicional da Igreja, fica assim reforçado e comprova a vontade de valorizar os recursos locais inclusive para questões acerca da investigação dos bispos. Aquele que for encarregado de investigar, depois de trinta dias deve transmitir à Santa Sé « um relatório informativo sobre o estado das investigações », que «devem ser concluídas no prazo de noventa dias» (são possíveis adiamentos por «fundados motivos »). Isso estabelece tempos precisos e, pela primeira vez, pede-se que os Dicastérios interessados ajam com tempestividade.
Envolvimento dos leigos
Citando o artigo do Código canônico, que destaca a preciosa contribuição dos leigos, as normas do Motu próprio preveem que o metropolita, ao conduzir as investigações, possa contar com a ajuda de «pessoas qualificadas», segundo « as necessidades do caso e, em particular, tendo em conta a cooperação que pode ser oferecida pelos leigos ».
O Papa afirmou mais de uma vez que as especializações e as capacidades profissionais dos leigos representam um recurso importante para a Igreja. As normas preveem agora que as conferências episcopais e as dioceses possam preparar listas de pessoas qualificadas disponíveis a colaborar, mas a responsabilidade última sobre as investigações permanece confiada ao metropolita.
Presunção de inocência
Reitera-se o princípio da presunção de inocência da pessoa investigada, que será avisada da existência da própria investigação quando for solicitado pelo Dicastério competente. A acusação, de fato, deve ser notificada obrigatoriamente somente quando houver a abertura de um processo formal e, se considerada oportuna para garantir a integridade da investigação ou das provas, pode ser omitida na fase preliminar.
Conclusão da investigação
O Motu próprio não traz modificações às penas previstas para os delitos, mas estabelece o procedimento para fazer a assinalação e realizar a investigação prévia. No encerramento da investigação, o metropolita (ou em determinados casos o bispo da diocese sufragânea com maior ancianidade de nomeação) encaminha os resultados ao Dicastério vaticano competente e cessa, assim, a sua tarefa. O Dicastério competente procede então « nos termos do direito, de acordo com o previsto para o caso específico», agindo, portanto, com base nas normas canônicas já existentes. Com base nos resultados da investigação prévia, a Santa Sé pode imediatamente impor medidas preventivas e restritivas à pessoa investigada.
Empenho concreto
Com este novo instrumento jurídico desejado por Francisco, a Igreja Católica realiza um novo e incisivo passo na prevenção e combate dos abusos, que enfatiza ações concretas. Como escreve o Papa no início do documento: «Para que tais fenómenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam a todos na Igreja». Fonte: https://www.vaticannews.va
SEXTA-FEIRA 10: Homilia do Papa Francisco. “Que os cristãos se abram com docilidade à voz do Senhor, sem teimosia”.
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O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta e Na homilia comentou a leitura do dia, extraída dos Atos dos Apóstolos.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
A conversão de Saulo de Tarso no caminho de Damasco é “uma mudança de página na história da Salvação", é "a porta aberta sobre a universalidade da Igreja". Foi o que disse o Papa Francisco esta manhã na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, comentando o episódio dos Atos dos Apóstolos.
No centro da homilia, portanto, está a figura do Apóstolo dos Gentios que, cego, permanece em Damasco por três dias sem comida nem água, até que Ananias, enviado pelo Senhor, lhe restitui a visão, dando-lhe a possibilidade de iniciar o caminho de conversão e pregação "repleto do Espírito Santo".
O Papa evidenciou duas características, dirigindo-se em especial a um grupo de irmãs de Cottolengo presentes na missa por ocasião dos 50 anos de sua vida religiosa e a alguns sacerdotes eritreus que vivem Itália.
Coerência e zelo
Paulo era um “homem forte” e “apaixonado pela pureza da lei", mas era "honesto" e, mesmo com um “caráter difícil”, era "coerente":
Antes de tudo, era coerente porque era um homem aberto a Deus. Se ele perseguia os cristãos era porque estava convencido de que Deus queria isto. Mas como é possível? Estava convencido disto. É o zelo que tinha pela pureza da casa de Deus, pela glória de Deus. Um coração aberto à voz do Senhor. E arriscava, arriscava, ia avante. E outra característica do seu comportamento é que era um homem dócil, tinha a docilidade, não era teimoso.
Docilidade e abertura à voz de Deus
Talvez o seu temperamento fosse teimoso – acrescentou o Papa -, mas não a sua alma. Paulo era "aberto às sugestões de Deus". Com o "fogo interior" prendia e matava os cristãos, mas, “uma vez que ouviu a voz do Senhor, se tornou como uma criança, se deixou levar":
Todas aquelas convicções que tinha, ficam caladas, esperam a voz do Senhor: “Que devo fazer, Senhor?”. E ele se encaminha e vai ao encontro em Damasco, ao encontro daquele outro homem dócil e se deixa catequizar como uma criança. Se deixa batizar como uma criança. E depois retoma as forças e o que faz? Fica quieto. Vai para a Arábia rezar, quanto tempo não sabemos, talvez anos, não sabemos. A docilidade. Abertura à voz de Deus e docilidade. É um exemplo da nossa vida e fico feliz em falar disto hoje diante dessas irmãs que festejam os 50 anos de vida religiosa. Obrigado por ouvir a voz de Deus e obrigado pela docilidade.
A "docilidade das mulheres de Cottolengo" fez com que o Papa se lembrasse de sua primeira visita, nos anos 70, a uma das estruturas que, no espírito de São José Benedito Cottolengo, acolhem em todo o mundo portadores de deficiências físicas e psíquicas. Francisco contou que passou de quarto em quarto guiado por uma freira, como as que estavam na missa hoje na Casa Santa Marta, e que passam a vida "ali, entre os descartados". Sem esta perseverança e docilidade, afirma o Papa, não poderiam fazer o que fazem.
O carisma cristão
Perseverar. E este é um sinal da Igreja. Eu gostaria de agradecer hoje, através de vocês, a tantos homens e mulheres, corajosos, que arriscam a vida, que vão avante, que buscam inclusive novas estradas na vida da Igreja. Buscam novas estradas! “Mas, padre, não é pecado?”. Não, não é pecado! Busquemos novas estradas, isto nos fará bem a todos! Com a condição de que sejam as estradas do Senhor. Mas ir avante: avante na profundidade da oração, na profundidade da docilidade, do coração aberto à voz de Deus. E assim se fazem as verdadeiras mudanças na Igreja, com pessoas que sabem lutar no pequeno e no grande.
O "cristão", concluiu Francisco, deve ter "este carisma do pequeno e do grande" e a oração dirigida a São Paulo no final da homilia é justamente o pedido da "graça da docilidade à voz do Senhor e do coração aberto ao Senhor; a graça de não nos assustar de fazer grandes coisas, de ir avante, com a condição de que tenhamos a delicadeza de cuidar das pequenas coisas". Fonte: https://www.vaticannews.va
Por que o Papa Francisco incomoda?
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"Um clima de tensão ao interno da comunidade cristã insiste em retomar um modelo eclesial distante da cultura. A principal insatisfação recai sobre o magistério do Papa Francisco, sobretudo nos assuntos de moral contidas em Amoris Laeticia", escreve Ademir Guedes Azevedo, padre, missionário passionista e mestrando em teologia fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Eis o artigo.
Um clima de tensão ao interno da comunidade cristã insiste em retomar um modelo eclesial distante da cultura. A principal insatisfação recai sobre o magistério do Papa Francisco, sobretudo nos assuntos de moral contidas em Amoris Laeticia. É importante buscar uma síntese para não sofrermos com a rotineira manipulação dos meios de comunicação.
As questões que, inicialmente, levantamos aqui são: 1) Por que a promoção da acolhida, que busca incluir a todos, incomoda tanto? 2) Tendo em conta que os principais opositores de Francisco são clérigos, por que uma eclesiologia em saída lhes deixa em estado de pânico? Tentemos analisar cada uma das questões.
Sobre a graça da acolhida, o que está em jogo é sempre a alteridade. Durante muito tempo a formação dos candidatos ao sacerdócio foi guiada por uma moral casuística. Para cada pecado, vinha aplicada uma penitência específica. Aos poucos, infelizmente, foi se nutrindo um certo desprezo para com os irmãos (ãs) que não se enquadravam dentro do modelo de perfeição, pois eram vistos como impuros, menos portadores da Graça. Tinha-se a impressão de que deviam carregar o chocalho da lepra, posto por uma moral dualista (pura x impuro). Com certeza, esse tipo de atitude se baseia em rótulos que geram preconceitos, ferindo a fraternidade cristã.
Em certa medida este dualismo metafísico, baseado numa pureza idealista, foi (ou é ainda?) enfatizado nas pregações dos pastores de almas. Basta analisar hoje o discurso sexual de muitos movimentos neo-pentecostais. Aqui o sexo e o corpo são plataformas do diabo. Cria-se um tipo de neurose religiosa, a qual sente a necessidade de incluir estes dois elementos na pregação. É tão forte o impacto deste tipo de pregação que, alguns casais que abraçam o matrimônio católico, durante o ato sexual, precisam cobrir as imagens dos santos e o crucifixo do quarto deles, pois não se sentem à vontade para consumar o amor que sentem um pelo outro através do ato sexual. A consciência do pecado é reduzida apenas ao dado sexual. Os outros mandamentos da lei de Deus são relegados aos esquecimento.
Para corrigir este grave erro, o nosso Papa propõe em primeiro lugar a acolhida. Por meio desta inicia-se um processo de discernimento que ajuda a própria pessoa a obedecer a voz da sua consciência, ou seja, ninguém tem o direito de julgar e condenar ao próximo. A própria pessoa, guiada pela voz de sua consciência, terá um profundo conhecimento de suas ações e será capaz de decidir. É isso que o papa deseja. Acolhida e discernimento são as chaves para o encontro com a Graça libertadora. Os pastores de almas não devem impor nada, nem pôr o dedo na ferida dos outros. Pelo contrário, devem oferecer a unção da misericórdia. É por isso que a acolhida inclusiva que o papa assumiu como uma das prioridades do seu pontificado incomoda a muitos, tendo em vista que esta requer escuta e um longo processo de acompanhamento com os irmãos mais fragilizados. E isso nem sempre parece agradar aos clérigos de escritório.
Entremos na segunda questão que insiste numa eclesiologia de saída. É muito diferente uma pessoa que abraça o estilo missionário (estilo do Evangelho) de uma outra que vive para manter estruturas voltadas apenas para os sacramentos. Não estamos dizendo que a vida sacramental não seja importante. Pelo contrário, a missão se nutre da Palavra e da Eucaristia, fontes inexauríveis da Graça de Deus e presença viva do Ressuscitado em nosso meio. O que insistimos é que uma eclesiologia de saída está sempre em diálogo com o mundo, deixando-se interpelar pelos problemas reais das pessoas, questionando os excesso das pompas e ostentações medievais. É um estilo que busca encontrar-se com as pessoas, que não vive para si mesmo. Através deste modelo de Igreja, o papa não mediu palavras para denunciar os abusos do clericalismo que se trata de uma doença que afeta jovens e idosos irmãos presbíteros que se concebem como seres poderosos, com o direito de usarem o santo sacramento da Ordem para a autor referencialidade e a promoção da própria imagem. Sede de poder e cargos religiosos, irresponsabilidade no uso dos bens materiais e crescente aumento dos vícios de corte são os sintomas desta terrível doença que o papa pretende curar com a proposta de uma Igreja em saída.
Neste sentido, a nova reforma da cúria romana poderá ser uma oportunidade para retomar o anúncio central de nossa fé: Deus nos amou a todos e mandou o seu Filho para nos salvar. É somente através da evangelização que o mundo conhecerá esta novidade. Por isso, a nova reforma pretende pôr ao centro o anúncio do kerigma, o qual se torna credível através do testemunho e da unidade da comunidade cristã. Mas isso precisa de muita conversão e de uma forma de cristianismo menos imperial e mais profética, tal como os primeiros cristãos experimentaram.
É assim que o nosso papa vive a profecia e, talvez por isso, incomoda aos que vivem presos a uma visão de Igreja com os pés fora da realidade. Vamos também tomar parte na obra da evangelização e remar na barca de Jesus junto ao nosso Papa? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
NESTE DIA 8. AUDIÊNCIA GERAL COM O PAPA: “A caridade se faz com doçura, não com acidez", afirma o Papa ao recordar viagem apostólica”. Francisco.
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Poucas horas depois de concluir sua 29ª viagem apostólica, o Papa Francisco compartilhou com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro os momentos mais emocionantes de sua visita aos dois países europeus.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
De volta de mais uma viagem apostólica, o Papa Francisco realizou a Audiência Geral na Praça São Pedro comentando justamente as etapas na Bulgária e Macedônia do Norte.
Nas pegadas de São João XXIII
Depois de agradecer às autoridades civis e eclesiásticas que o acolheram, o Pontífice destacou que na Bulgária foi guiado pela “memória viva de São João XXIII”, que ali exerceu o cargo de Delegado Apostólico por quase dez anos.
Com o lema "Pacem in terris", convidei todos a trilhar o caminho da fraternidade; e, neste caminho, em particular, tive a alegria de dar um passo em frente no encontro com o Patriarca da Igreja Ortodoxa Búlgara Neófito e os membros do Santo Sínodo.
Como cristãos, recordou o Papa, a vocação e missão é ser sinal e instrumento de unidade.
Em Sófia, Francisco recordou ainda a oração silenciosa diante da imagem sagrada dos dois santos irmãos Cirilo e Metódio.
“ Também hoje há a necessidade de evangelizadores apaixonados e criativos, para que o Evangelho alcance aqueles que ainda não o conhecem e possa irrigar novamente as terras onde as antigas raízes cristãs secaram. ”
O último ato da viagem à Bulgária foi realizado juntamente com os representantes de diferentes religiões para invocar o dom da paz.
Na terra natal de Madre Teresa
Na Macedônia do Norte, a visita foi acompanhada pela presença espiritual de Santa Madre Teresa de Calcutá, que nasceu em Skopje em 1910.
“ Nesta mulher, pequena mas cheia de força graças à ação do Espírito Santo, vemos a imagem da Igreja naquele país e em outras periferias do mundo: uma comunidade pequena que, com a graça de Cristo, torna-se um lar acolhedor onde muitos encontram refrigério para sua vida. ”
Sobre o contexto social e político do país, Francisco recordou que a Macedônia do Norte é um país independente desde 1991, por isso “quis encorajar, acima de tudo, sua tradicional capacidade de acolher diferentes pertenças étnicas e religiosas; bem como o seu compromisso em acolher e socorrer um grande número de migrantes e refugiados durante o período crítico de 2015 e 2016”. E o Papa pediu um aplauso ao povo local, pelo "amor" com o qual acolhem as pessoas migrantes não obstante os problemas que possam causar.
Caridade com ternura
Francisco compartilhou com os fiéis que ficou impressionado com a "ternura evangélica" das irmãs de Madre Teresa de Calcutá, ternura que nasce da oração e da adoração.
“ Elas acolhem a todos, se sentem irmãs, mães de todos e o fazem com ternura. Nós cristãos às vezes perdemos a dimensão da ternura e quando não há ternura, nos tornamos demasiados sérios, ácidos. Essas irmãs são doces na ternura, fazem caridade como deve ser feita, sem fantasiá-la. Fazer caridade sem ternura, amor, é como jogar um copo de vinagre na obra de caridade, é ácido. A caridade é doce, não ácida. E essas irmãs são um belo exemplo. Que Deus as abençoe. ”
O Papa citou ainda o encontro com os jovens de diferentes denominações cristãs e também de outras religiões, “todos unidos pelo desejo de construir algo de belo na vida. Lá exortei para que sonhassem grande e se arriscarem”. Outro momento foi com o sacerdotes e as pessoas consagradas. “Homens e mulheres que deram suas vidas a Cristo.”
A Santa Missa foi celebrada na praça de Skopje, ocasião para renovar, mais uma vez em uma periferia da Europa de hoje, “o milagre de Deus que, com os nossos poucos pães e peixes, partidos e compartilhados, sacia a fome das multidões”.
"Nós confiamos à sua inesgotável Providência o presente e o futuro dos povos que visitei nesta viagem", concluiu o Papa, rezando com os fiéis uma Ave-maria para que Deus abençoe a Bulgária e a Macedônia do Norte.
Jean Vanier e festas marianas
Na saudação em francês, Francisco fez sua homenagem a Jean Vanier, que morreu na terça-feira, e ressaltou sua obra pelos mais pobres e indefesos, inclusive pelos nascituros condenados à morte no ventre de suas mães. "Que Jean Vanier permaneça um exemplo a todos nós. Que ele nos ajude do céu."
Por fim, o Papa recrdou duas recorrências marianas neste 8 de maio: a Súplica a Nossa Senhora de Pompéia e Nossa Senhora de Luján, pedindo orações pela Argentina Fonte: www.vaticannews
O texto do encontro do Papa com sacerdotes, religiosos e religiosas em Skopje
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"Que grande sabedoria se encerra nas palavras de Santa Teresa Benedita da Cruz, quando afirma: «Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado".
Cidade do Vaticano
A Catedral do Sagrado Coração de Jesus, em Skopja, foi palco do último compromisso do Papa Francisco na Macedônia do Norte: o encontro com sacerdotes (e familiares), religiosos e religiosas. No texto abaixo, não estão inseridas as diversas improvisações do Papa:
"Queridos irmãos e irmãs!
Obrigado pela oportunidade que me dais de vos poder encontrar. Vivo com uma gratidão especial este momento em que posso ver a Igreja respirar plenamente com os seus dois pulmões – rito latino e rito bizantino – para se encher do ar sempre novo e renovador do Espírito Santo. Dois pulmões necessários, complementares, que nos ajudam a saborear melhor a beleza do Senhor (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 116). Demos graças pela possibilidade de respirar juntos, a plenos pulmões, como o Senhor foi bom para connosco.
Agradeço os vossos testemunhos, sobre os quais gostaria de voltar. Aludíeis ao facto de ser poucos e ao risco de ceder a algum complexo de inferioridade. Enquanto vos ouvia, vinha-me à mente a imagem de Maria de Betânia, que, tomando uma libra de perfume de nardo puro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. O evangelista conclui a descrição da cena, dizendo: «A casa encheu-se com a fragrância do perfume» (Jo 12, 3). Aquele nardo foi capaz de impregnar tudo e deixar uma marca inconfundível.
Há situações – e não são poucas – em que sentimos necessidade de fazer contas à vida: começamos a olhar quantos somos... e somos poucos; os meios que temos... e são poucos; depois vemos a quantidade de casas e obras a sustentar... e são demasiadas! Poderíamos continuar a enumerar as múltiplas realidades em que experimentamos a precariedade dos recursos que temos à disposição para levar por diante o mandato missionário que nos foi confiado. Quando isto acontece, parece que o saldo do balanço apareça «em vermelho», seja negativo.
É verdade que o Senhor nos disse: se queres construir uma torre, calcula as despesas; «não suceda que, depois de assentar os alicerces, [tu] não a possas acabar» (cf. Lc 14, 29). Mas, o «fazer as contas» pode-nos levar à tentação de olhar demasiado para nós próprios e, curvados sobre as nossas realidades e misérias, podemos acabar quase como os discípulos de Emaús, proclamando o querigma com os nossos lábios enquanto o nosso coração se fecha num silêncio marcado por subtil frustração, que o impede de escutar Aquele que caminha ao nosso lado e é fonte de júbilo e alegria.
Irmãos, «fazer as contas» é sempre necessário, quando nos pode ajudar a descobrir e aproximar de muitas vidas e situações que todos os dias sentem dificuldade em fazer quadrar as contas: famílias que não conseguem continuar, pessoas idosas e sozinhas, doentes forçados a estar na cama, jovens tristes e sem futuro, pobres que nos lembram o que somos, isto é, uma Igreja de mendigos necessitados da Misericórdia do Senhor. Só é lícito «fazer as contas», se isto leva a mover-nos tornando-nos solidários, atentos, compreensivos e solícitos em abeirar-nos das fadigas e precariedade em que vivem submersos muitos dos nossos irmãos necessitados duma Unção que os levante e cure na sua esperança.
Só é lícito fazer as contas para exclamar com força e implorar com o nosso povo: «Vinde, Senhor Jesus!»
Não quero abusar da imagem de Madre Teresa, mas esta terra soube dar ao mundo e à Igreja, precisamente nela, um sinal concreto de como a precariedade duma pessoa, ungida pelo Senhor, tenha sido capaz de impregnar tudo, quando o perfume das Bem-aventuranças se espalha sobre os pés cansados da nossa humanidade. Quantos foram tranquilizados pela ternura do seu olhar, confortados pelas suas carícias, levantados pela sua esperança e alimentados pela coragem da sua fé, capaz de fazer sentir aos mais abandonados que não estavam abandonados por Deus! A história é escrita por estas pessoas que não têm medo de gastar a sua vida por amor: sempre que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes (cf. Mt 25, 40). Que grande sabedoria se encerra nas palavras de Santa Teresa Benedita da Cruz, quando afirma: «Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado».[1]
Com frequência, cultivamos fantasia sem limites pensando que as coisas seriam diferentes, se fôssemos fortes, poderosos e influentes. Mas o segredo da nossa força, poder e influência, e até da juventude, não estará porventura noutra parte que não no facto de «quadrarem as contas»? Pergunto-vos isto, porque me impressionou o testemunho de Davor, quando partilhou connosco aquilo que marcou o seu coração. Foste muito claro! O que te salvou do carreirismo foi voltar à primeira vocação, indo procurar o Senhor ressuscitado onde podia ser encontrado. Partiste, deixando o seguro para caminhar pelas ruas e praças desta cidade; aqui sentiste renovar-se a tua vocação e a tua vida; abaixando-te até à vida diária dos teus irmãos para compartilhar e ungir com o perfume do Espírito, o teu coração sacerdotal começou de novo a bater com maior intensidade.
Aproximaste-te para ungir os pés cansados do Mestre, os pés cansados de pessoas concretas e, no local onde se encontravam, o Senhor estava à tua espera para te ungir novamente na tua vocação. Muitas vezes gastamos as nossas energias e recursos, as nossas reuniões, debates e programações para manter abordagens, ritmos, perspetivas que não só não entusiasmam ninguém, mas não conseguem sequer levar um pouco daquela fragância evangélica capaz de confortar e abrir caminhos de esperança, e privam-nos do encontro pessoal com os outros. Como são justas estas palavras de Madre Teresa «aquilo de que não preciso, pesa-me»![2] Deixemos de lado todos os pesos que nos separam da missão e impedem que o perfume da misericórdia alcance o rosto dos nossos irmãos. Uma libra de nardo foi capaz de impregnar tudo e deixar uma marca inconfundível.
Não nos privemos do melhor da nossa missão, não apaguemos as palpitações do espírito.
Obrigado, Padre Goce e Gabriella e vossos filhos Filip, Blagoj, Luca, Ivan, por terdes partilhado connosco as vossas alegrias e preocupações do ministério e da vida familiar. E também o segredo para continuar para diante nos momentos difíceis que tivestes de passar.
O vosso testemunho tem aquela «fragância evangélica» das primeiras comunidades. Lembremo-nos de que, «no Novo Testamento, se fala da “igreja que se reúne em casa” (cf. 1 Cor 16, 19; Rm 16, 5; Col 4, 15; Flm 2). O espaço vital duma família podia transformar-se em igreja doméstica, em local da Eucaristia, da presença de Cristo sentado à mesma mesa. Inesquecível é a cena descrita no Apocalipse: “Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (3, 20). Esboça-se assim uma casa que abriga no seu interior a presença de Deus, a oração comum e, por conseguinte, a bênção do Senhor» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia, 15). Desta forma, dais vivo testemunho de como «a fé não nos tira do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele» (Ibid., 181). Não a partir daquilo que nós gostaríamos que fosse, não como «perfeitos» ou imaculados, mas na precariedade das nossas vidas, das nossas famílias ungidas cada dia na confiança do amor incondicional que Deus tem por nós. Confiança que nos leva – como bem nos lembraste, Padre Goce – a desenvolver algumas dimensões importantes, mas tão esquecidas na sociedade desgastada por relações frenéticas e superficiais: as dimensões da ternura, da paciência e da compaixão para com os outros.
Sempre me apraz pensar em cada uma das famílias como «ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados e inermes» (Ibid., 30). Elas são capazes, graças à fé acumulada ao longo das lutas diárias, de «transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 286).
Obrigado por terdes manifestado o rosto familiar de Deus connosco, que não deixa de nos surpreender no meio do arrumo da louça!
Queridos irmãos, obrigado mais uma vez por esta oportunidade eclesial de respirar a plenos pulmões. Peçamos ao Espírito que não cesse de nos renovar na missão com a confiança de saber que Ele quer impregnar tudo com a sua presença." Fonte: vaticannews
Por que os opositores do papa podem se arrepender de um novo conclave
- Detalhes
Os opositores do Papa Francisco, sejam eles de dentro ou de fora da Igreja, estão depositando suas esperanças em um futuro conclave. A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 25-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Há pessoas que simplesmente não gostam deste pontificado”, disse o cardeal Walter Kasper à emissora estatal alemã ARD no início deste ano. “Elas querem que ele acabe o mais rápido possível, para então haver, por assim dizer, um novo conclave. Eles também querem que ele lhes seja favorável, de modo que haja um resultado que atenda às suas ideias.” Mas, se seguirmos um novo livro sobre a eleição que escolheu este papa, os grupos anti-Francisco estão diante de uma luta íngreme.
Em “The Election of Pope Francis” [A Eleição do Papa Francisco], Gerard O’Connell oferece um relato sinótico do conclave de 2013, dando aos leitores uma posição privilegiada sobre o drama que se seguiu à renúncia de Bento XVI e o surgimento do primeiro papa latino-americano.
Com base em entrevistas com cardeais eleitores, o experiente correspondente vaticano da revista America explica como e por que os votos foram dados ao cardeal Jorge Bergoglio. Embora tudo isso tenha ocorrido há seis anos, o livro oferece três intuições sobre a política das eleições papais que continuam válidas hoje.
A primeira é o inevitável fracasso de quem comanda uma campanha aberta pelo papado – ou que permite que uma campanha seja empreendida em seu nome. Os cardeais veem o que há por trás deles, e resistem a eles, ainda mais se forem bem financiados e estiverem coordenados com a mídia. Essas campanhas são vistas como uma interferência no processo de discernimento que ocorre em um conclave, onde os eleitores são obrigados a estar abertos ao Espírito Santo que “sopra onde quer”.
O mesmo vale para os prelados que se posicionam debaixo dos holofotes nos anos antes de um conclave com livros, tuítes e entrevistas que oferecem um “papado paralelo”. É improvável que eles recebam muitos votos de seus colegas cardeais quando se formarem a fila para votar em frente ao desconcertante afresco de Michelangelo, o Juízo Final. A alergia a campanhas está ligada a um velho ditado que afirma: “Aquele que entra em um conclave como papa sai como cardeal”.
Embora esse ditado seja verdade, ele foi desafiado por pelo menos dois conclaves nas últimas décadas, inclusive em 1963, quando o cardeal Giovanni Montini foi eleito Paulo VI e, em 2005, com a escolha do cardeal Joseph Ratzinger como Bento XVI. Ambos os candidatos eram os primeiros colocados e ambos foram escolhidos porque estavam muito acima dos restantes.
Favorito sem campanha
Para o conclave de 2013, no entanto, O’Connell demonstra que a candidatura de Bergoglio para o papado permaneceu ao alcance do radar, e ele só emergiu como candidato pouco antes da eleição. Ele também afirma categoricamente que não houve uma campanha orquestrada pelo “Time Bergoglio”.
O arcebispo de Buenos Aires, explica o livro, telefonou para o autor para explicar que planejava chegar em Roma no dia 3 ou 4 de março, menos de 10 dias antes do início do conclave. Embora mais tarde ele tenha antecipado a sua hora de chegada, dificilmente se tratava de gestos de alguém que esperava ser eleito.
Na época do último conclave, Bergoglio tinha 76 anos e havia ultrapassado a idade da aposentadoria episcopal; ele não tinha uma rede em Roma fazendo lobby pela sua candidatura, e o bloco progressista de cardeais conhecido como o grupo Sankt Gallen – que alguns dizem que pressionou pela sua eleição – havia realizado seus últimos encontros em 2006.
Sim, Bergoglio recebeu votos suficientes nas eleições de 2005 para impedir a eleição de Ratzinger, mas, em 2013, ele não era visto como um favorito. O’Connell relata que havia pouco acordo entre os cardeais sobre quem deveria ser eleito até os últimos dias antes do conclave. Foi apenas gradualmente que eles começaram a reconhecer que o homem que se tornaria o Papa Francisco estava bem no meio deles.
O divisor de águas foi um discurso no sábado, 9 de março de 2013, quando o arcebispo de Buenos Aires eletrizou os cardeais com um discurso pedindo que a Igreja evangelizasse nas periferias e evitasse a doença da autorreferencialidade. A partir daquele momento, ele começou a ser levado a sério como candidato.
Demais candidatos
Enquanto isso, enquanto Bergoglio só entraria na disputa perto do fim, os três candidatos fortemente indicados em 2013 desapareceram gradualmente, apesar das várias redes de lobby por trás deles.
O principal concorrente, há seis anos, era o cardeal Angelo Scola, que recebeu 30 votos na primeira votação (Bergoglio recebeu 26). Com o apoio do jornal La Repubblica e de influentes grupos católicos na Itália, os bispos do país estavam tão certos de o terem escolhido que enviaram um comunicado de imprensa agradecendo a Deus pela eleição do prelado de Milão, enquanto Bergoglioaparecia na sacada de São Pedro.
Mas O’Connell explica que, apesar dos seus muitos dons, a maioria dos cardeais eleitores sentiram que o erudito Scola teria dificuldade para se conectar com o povo. Depois, estava o cardeal de São Paulo, Odilo Scherer. Como latino-americano com qualidades pastorais, ele foi levado seriamente em consideração. Mas ele também era o candidato da Cúria Romana e, na opinião de um cardeal italiano, “corria o risco de ser seu fantoche”. Ele, então não conseguiu impressionar quando o seu discurso durante as reuniões pré-conclave ultrapassou o tempo especificado.
Outro candidato era o cardeal Marc Ouellet, de Roma, um teólogo multilíngue do Quebec, Canadá, prefeito da Congregação para os Bispos. Um grupo conservador de cardeais achava que ele era o escolhido, dada a sua associação com a escola de teologia Communio, que era vista como um contrapeso à teologia mais progressista da era pós-Vaticano II.
Ouellet era conhecido como um homem gentil, mas O’Connell explica que os eleitores temiam que ele “não ouvisse o que as pessoas dizem”, mantivesse posições teológicas intransigentes e tivesse “habilidades administrativas” fracas.
Então, na véspera do conclave, Ouellet deu uma entrevista à principal emissora do Canadá, na qual ele falou sobre a possibilidade de se tornar papa. Os eleitores sentiram que a declaração foi dada em um mau momento e mostrava uma falta de juízo. O’Connell ressalta que o último cardeal a dar uma entrevista na véspera do conclave foi o cardeal Giuseppe Siri, o favorito para suceder João Paulo I em 1978. Ele acabou como segundo colocado.
Resistência às pressões externas
O segundo ponto do livro é como os conclaves são projetados para resistir às pressões externas, graças às decisões de João Paulo II e Bento XVI.
Grande parte disso se deve à longa história de tentativas de manipular conclaves, como em 1903, quando o imperador austríaco Franz Joseph usou um veto na eleição que escolheu o Papa Pio X. Hoje, os cardeais entregam seus telefones antes de entrar na Capela Sistina e são separados do mundo enquanto votam.
O’Connell lembra aos leitores que, antes do conclave de 2013, Mario Cuomo, ex-governador de Nova York, concedeu uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera exaltando as virtudes do cardeal de Nova York, Timothy Dolan, para o papado. Ele o descreveu como “o homem certo para este momento extraordinário da história” que poderia “provocar uma primavera no Vaticano”.
Essa intervenção foi mal recebida, e os eleitores “não gostaram nem um pouco” disso, explica o livro.
Imagine, então, o que os cardeais de hoje devem pensar sobre as críticas de Steve Bannon ao Papa Francisco e sobre o seu plano de comissionar “gladiadores” ideológicos em um antigo mosteiro a 100 quilômetros de Roma. O lobby por parte do ex-estrategista-chefe do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz a intervenção do governador Cuomo parecer inofensiva e sofrerá uma forte resistência.
O mesmo pode ser dito sobre o Red Hat Report, um grupo que está planejando gastar mais de um milhão de dólares para compilar dossiês sobre os cardeais para tentar influenciar o próximo conclave. Ao fazer suas escolhas sobre os candidatos papais, O’Connell explica que os cardeais ignoram os grupos de lobby e buscam líderes confiáveis que tenham experiência na liderança de grandes dioceses.
“Eu acho que é a Igreja local com uma forte fé católica que pode produzir o próximo papa”, disse o cardeal indiano Telesphore Toppo antes da eleição de Francisco. “O papa deve de alguma forma representar toda a Igreja e deve ter suas raízes em uma Igreja local verdadeiramente unida.”
Durante seu papado, Francisco completou o Colégio dos Cardeais com bispos de variados cantos do mundo, muitos dos quais atuam nas linhas de frente do trabalho da Igreja. O campo está aberto agora no que se refere a possíveis candidatos.
Continuidade entre papados
A terceira lição do livro de O’Connell é a regra da continuidade entre os papados.
Uma recente tentativa de colocar Bento XVI contra Francisco sobre os abusos sexuais clericais é amplamente vista em Roma como uma manobra pré-conclave, destinada a pavimentar o caminho para um candidato preparado para romper com este pontificado.
No entanto, tanto Bento quanto Francisco rejeitam as tentativas de criar atrito entre eles, assim como a maioria dos cardeais eleitores. Não existe algo como um pontificado “autoproclamado”: cada papa se baseia no ministério do seu antecessor. A regra da continuidade é que é improvável que o próximo papa atrase dramaticamente o relógio em relação ao papado de Francisco, que se enraizou nas reformas do Concílio Vaticano II e na tradição viva da Igreja.
Isso não quer dizer que o próximo papa não traga nada de novo para o papel: Franciscoe Bento XVI são personalidades muito diferentes, com estilo e abordagem próprios. Mas o livro de O’Connell mostra que os seus destinos estão tão interligados que, sem a histórica renúncia de Bento XVI em 2013, Bergoglio nunca teria sido eleito.
Pode-se dizer também que Francisco assegurou que Ratzinger fosse eleito. Sem a decisão do jesuíta latino-americano de renunciar à sua pretensão ao papado em 200 5, o cardeal alemão nunca teria ascendido à cátedra de São Pedro.
Um diário secreto de um cardeal que participou da eleição de 2005 revelou como Bergoglio recebeu 35 votos naquele conclave, o suficiente para impedir a eleição de Ratzinger. O’Connell escreve que vários eleitores lhe disseram que o cardeal argentino, sentindo que seria um conclave prolongado e que prejudicaria a unidade da Igreja, retirou sua candidatura. Oito anos depois, seria a dramática decisão de Bento XVI de renunciar que abriria espaço para que um forasteiro como Bergoglio fosse eleito.
Estilo de vida humilde e austero
“A eleição do Papa Francisco” vale a pena ser lido apenas pelas anedotas e pelas intuições obtidas pelo autor a partir de sua proximidade com as principais figuras do conclave de 2013.
O’Connell relata as conversas pessoais que teve com Bergoglio no período que antecedeu sua eleição e dá uma ideia de por que o arcebispo jesuíta de Buenos Aires impressionou os cardeais com seu estilo de vida humilde e austero e sua proximidade com os marginalizados,
Ele explica como, na Argentina, Bergoglio transformou o imponente escritório do seu antecessor em uma despensa para que alimentos e roupas fossem distribuídos aos pobres, enquanto ele morava em um simples apartamento de um quarto.
O’Connell também falou com a religiosa que dirige a Domus Paulus VI, a residência do clero em Roma, onde Bergoglio ficou durante o pré-conclave e mais tarde retornou como papa para pagar a conta. Uma de suas faxineiras disse: “Ele [Francisco] era o único padre que arrumava a própria cama”.
No domingo antes do conclave, quando os cardeais tradicionalmente celebram a missa em suas Igrejas titulares em Roma, em meio a uma grande fanfarra da mídia, o homem que estava prestes a ser eleito como Papa Francisco, decidiu evitar os holofotes e rezou a missa em privado para um pequeno grupo de amigos na capela da Domus.
Depois, ele almoçou com a irmã de 90 anos de um ex-embaixador papal na Argentina, Ubaldo Calabresi, que o nomeou bispo e apoiou seu ministério. Dois dias depois, ele entrou na Capela Sistina para o conclave, e, na quarta-feira 13 de março de 2013, após seis rodadas de votação, recebeu 85 votos dos 115 eleitores. Então, ele saiu para saudar o mundo como o 266º sucessor de São Pedro.
O próximo conclave parece ter tudo para ser uma poderosa batalha, mas o palco está preparado para outra surpresa. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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