30ª VIAGEM APOSTÓLICA DE FRANCISCO. Texto integral da saudação do Papa na Oração do Pai Nosso
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Saudação do Papa Francisco por ocasião da oração do Pai Nosso na Nova Catedral Ortodoxa de Bucareste
ORAÇÃO DO PAI-NOSSO
Nova Catedral Ortodoxa, Bucareste
Beatitude, irmão querido; amados irmãos e irmãs!
Quero expressar a gratidão e emoção que sinto por me encontrar neste templo sagrado, que nos congrega em unidade. Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes, para se tornarem, juntos, pescadores de homens (cf. Mc 1, 16-17). A vocação pessoal não está completa sem a do irmão. Hoje queremos elevar um ao lado do outro, do coração do país, a oração do Pai-Nosso. Nela se encerra a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam um ao lado do outro. A oração do Pai-Nosso contém a certeza da promessa feita por Jesus aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18) e dá-nos a confiança para receber e acolher o dom do irmão. Por isso, gostaria de partilhar algumas palavras introdutórias à oração, que rezarei pelo nosso caminho de fraternidade e pela Roménia para que possa ser sempre casa de todos, terra de encontro, jardim onde florescem a reconciliação e a comunhão.
Sempre que dizemos «Pai-Nosso», reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e Deus vosso (cf. Jo 20, 17). É convite para que o «meu» se transforme em nosso, e o nosso se faça oração. Ajudai-nos, Pai, a levar a sério a vida do nosso irmão, a assumir a sua história. Ajudai-nos a não julgar o irmão pelas suas ações e os seus limites, mas aceitá-lo antes de mais nada como vosso filho. Ajudai-nos a vencer a tentação de nos sentirmos o filho mais velho, que, à força de estar no centro, esquece o dom do outro (cf. Lc 15, 25-32).
A Vós, que estais nos céus – os céus que abraçam a todos e onde fazeis nascer o sol para os bons e os maus, para os justos e os injustos (cf. Mt 5, 45) –, pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram juntos no vosso céu, depois de ter acreditado, amado e sofrido muito – mesmo em nossos dias – pelo simples facto de serem cristãos.
Como eles, também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de todos os nossos interesses. Que seja o vosso nome, Senhor, – e não o nosso – a mover-nos e despertar-nos para o exercício da caridade. Ao rezar, quantas vezes nos limitamos a pedir dons e enumerar pedidos, esquecendo que a primeira coisa a fazer é louvar o vosso nome, adorar a vossa pessoa, para depois reconhecer, na pessoa do irmão que colocastes junto de nós, o vosso reflexo vivo. No meio de tantas coisas que passam e pelas quais nos afadigamos, ajudai-nos, Pai, a procurar aquilo que permanece: a presença vossa e a do irmão.
Estamos à espera que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as dinâmicas do mundo não o favorecem. Dinâmicas guiadas pelas lógicas do dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas efémeros, ajudai-nos, Pai, a crer naquilo que rezamos: renunciar às seguranças cómodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de nos crermos autossuficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não perderemos de vista aquele Reino a que Vós nos chamais.
Seja feita a vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem (cf. 1 Tim 2, 4). Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não restringir dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica, que quer abraçar a todos. Ajudai-nos, Pai, enviando-nos – como no Pentecostes – o Espírito Santo, autor da coragem e da alegria, para que nos incite a anunciar a boa nova do Evangelho para além das fronteiras das nossas afiliações, línguas, culturas, nações.
Diariamente temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida (cf. Jo 6, 35.48), que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer nosso servo, pede-nos para servirmos uns aos outros (cf. Jo 13, 14). Pai, ao mesmo tempo que nos dais o pão de cada dia, alimentai em nós a nostalgia do irmão, a necessidade de o servir. Ao pedir o pão de cada dia, suplicamo-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a existência. O pão que pedimos, com a sua longa história que vai do grão semeado à espiga, da ceifa à mesa, inspire em nós o desejo de ser cultivadores de comunhãopacientes, que não se cansam de fazer germinar sementes de unidade, fermentar o bem, atuar sempre lado a lado com o irmão: sem suspeitas nem distanciamentos, sem forçar nem nivelar, na convivência das diferenças reconciliadas.
O pão que hoje pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o têm de sobra. O Pai-Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante as carestias de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que profanam o vosso nome, Pai. Ajudai-nos a ter fome de nos doarmos. Sempre que rezarmos, lembrai-nos que, para viver, não precisamos de nos poupar, mas de nos repartir em pedaços; de partilhar, não de acumular; de matar a fome aos outros mais do que encher-nos a nós mesmos, porque o bem-estar só é digno deste nome quando pertence a todos.
Cada vez que rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo do coração ao irmão (cf. Mt 18, 35), como Vós – Pai – perdoais os nossos pecados: deixar para trás o passado e abraçar, juntos, o presente. Ajudai-nos, Pai, a não ceder ao medo, nem ver um perigo na abertura; a ter a força de nos perdoarmos e prosseguir, a coragem de não nos contentarmos com a vida tranquila, mas de procurar sempre, com transparência e sinceridade, o rosto do irmão.
E quando o mal, deitado à porta do coração (cf. Gn 4, 7), nos induzir a fechar-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se fizer mais forte, ocultando a substância do pecado, que é distância de Vós e do nosso próximo, ajudai-nos de novo, Pai. Encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos, termos a ousadia de dizer: «Pai-Nosso». Amem. Fonte: vaticannews
30ª VIAGEM APOSTÓLICA DE FRANCISCO. Em Bucareste: Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos
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“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, disse o Papa na Missa celebrada em Bucareste na tarde desta sexta-feira (31/05), primeiro dia de sua visita à Romênia. Esta 30ª Viagem Apostólica Internacional de Francisco tem como lema "Caminhemos juntos"
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro.” Foi o que disse o Papa na missa celebrada no final da tarde desta sexta-feira (31/05) na Catedral de São José em Bucareste, último compromisso de Francisco no primeiro dia de sua visita à Romênia, na 30ª viagem apostólica internacional de seu Pontificado, viagem esta que tem como lema “Caminhemos juntos”. O Santo Padre estará até este domingo, 2 de junho, no país do Leste Europeu.
Tratou-se do primeiro encontro propriamente do Pontífice com a pequena comunidade católica da Romênia, país de maioria cristã ortodoxa (86%), onde os católicos representam cerca de 7% da população.
Partindo do Evangelho do dia (Lc 1,39-56), que narra a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel e nos traz também o Magnificat, em que Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, Francisco evocou o canto de esperança que – ressaltou – “nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila”. A homilia do Papa foi desenvolvida a partir daí.
Maria caminha
“Maria caminha... de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho.”
Especialista em trabalhar duro, prosseguiu o Santo Padre, Nossa Senhora “sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”.
“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, acrescentou.
Maria encontra
“Maria encontra Isabel já de idade avançada. Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» proclama Maria «feliz» porque acreditou, antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem. E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro.”
É o milagre suscitado pela cultura do encontro, ressaltou Francisco, “na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo”. “Maria, que caminha e encontra Isabel, lembra-nos onde Deus quis habitar e viver, qual é o seu santuário e onde podemos auscultar as palpitações do seu coração: no meio do seu Povo. Lá habita, lá vive, lá nos espera.”
Sintamos dirigido a nós o convite do profeta a não temer, a não cruzar os braços, exortou o Pontífice, “porque o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós, é um salvador poderoso. Este é o segredo do cristão: Deus está no meio de nós como poderoso salvador”.
Maria rejubila
“Maria rejubila, porque é a portadora do Emanuel, do Deus conosco. «Ser cristão é alegria no Espírito Santo». Sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas. Muitas vezes, o problema da fé não é tanto a falta de meios e estruturas, de quantidade, nem sequer a presença de quem não nos aceita; o problema da fé é a falta de alegria. A fé vacila, quando nos arrastamos na tristeza e no desânimo. Quando vivemos na desconfiança, fechados em nós mesmos, contradizemos a fé, porque, em vez de nos sentirmos filhos pelos quais Deus faz grandes coisas, reduzimos tudo à medida dos nossos problemas e esquecemo-nos de que não somos órfãos: temos no meio de nós um Pai, salvador e poderoso.”
“Pensemos nas grandes testemunhas destas terras!” – disse o Santo Padre concluindo sua reflexão. “Pessoas simples, que confiaram em Deus no meio das perseguições. Não colocaram a sua esperança no mundo, mas no Senhor, e assim continuaram para diante. Quero agradecer a estes vencedores humildes, a estes santos da porta ao lado que nos apontam o caminho.”
“Sede vós os promotores duma cultura do encontro que desminta a indiferença e a divisão e permita a esta terra cantar, com força, as misericórdias do Senhor”, disse por fim. Fonte: www.vaticannews.va
NESTA QUARTA, 29: Papa na Audiência Geral: “A salvação não se compra, é dom gratuito”.
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O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes de esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco iniciou seu ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos na Audiência Geral, desta quarta-feira (29/05).
O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do livro, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes de esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
“Esse livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, nos fala da viagem do Evangelho no mundo e nos mostra a ligação maravilhosa entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos dos Apóstolos são ‘um casal’ vivo e eficaz: A Palavra e o Espírito”, frisou o Papa.
A Palavra de Deus corre, é dinâmica
“A Palavra de Deus corre, é dinâmica, irriga todo terreno sobre o qual ela cai. E qual é a sua força? São Lucas nos diz que a palavra humana se torna eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dýnamis de Deus, a dinâmica de Deus, a sua força, que tem o poder de purificar a palavra, torná-la portadora de vida."
“Quando o Espírito visita a palavra humana, ela se torna dinâmica, como “dinamite”, capaz de iluminar os corações e anular esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os confins do povo de Deus. ”
Segundo Francisco, a “Aquele que dá sonoridade vibrante e eficiência à nossa palavra humana tão frágil, capaz até de mentir e fugir das próprias responsabilidades, é somente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado. O Espírito que o ungiu e o sustentou na missão, o Espírito graças ao qual escolheu os seus apóstolos e garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, e que garante também hoje ao nosso anúncio”.
Viver com confiança à espera da realização da promessa do Pai
O Papa frisou que “o Evangelho se conclui com a ressurreição e ascensão de Jesus e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte da superabundância da vida do Ressuscitado derramada sobre a Igreja. São Lucas nos diz que Jesus ‘se mostrou vivo depois da sua paixão: durante quarenta dias apareceu a eles, e falou-lhes do Reino de Deus’.”
“Cristo ressuscitado cumpre gestos humanos, como de o partilhar a refeição com os seus discípulos, e os convida a viver com confiança a espera da realização da promessa do Pai. Qual é a promessa do Pai?: “Vocês serão batizados com o Espírito Santo”.
“O batismo no Espírito Santo é a experiência que nos ajuda a entrar numa comunhão pessoal com Deus e participar de seu desejo universal de salvação, adquirindo o dom de parresia, a coragem, ou seja, a capacidade de pronunciar uma palavra “como filhos de Deus”, não somente como pessoas, mas como filhos de Deus: uma límpida, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos.”
A salvação não se paga
Segundo o Papa, “não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus. Tudo é dado gratuitamente e no seu tempo. O Senhor doa tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga. É dom gratuito”.
Francisco frisou que “diante da ansiedade de conhecer antecipadamente o tempo em que os eventos anunciados por Ele acontecerão, Jesus responde aos seus: «Não cabe a vocês saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.»”
Cristo ressuscitado convida os seus discípulos “a não viverem o presente com ansiedade, mas a fazer uma aliança com o tempo, saber esperar o desenrolar de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, a saber esperar os “passos” de Deus, Senhor do tempo e do espaço”.
Francisco disse ainda que o Senhor “ressuscitado convida os seus a não “fabricar” a missão por si mesmo, mas esperar que o Pai dinamize os seus corações com o seu Espírito”, a fim de que possam dar um “testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir além das fronteiras de Israel a fim de chegar às periferias do mundo”.
Unidade e perseverança
“Os apóstolos viveram juntos essa expectativa, como família do Senhor, no Cenáculo, cujas paredes ainda são testemunhas do dom com que Jesus se entregou aos seus discípulos na Eucaristia.”
“Como esperam a força, a dýnamis de Deus?”, perguntou o Papa. “Rezando com perseverança”, juntos. “Rezando na unidade e com perseverança. É com a oração que se vence a solidão, a tentação, a desconfiança e se abre o coração para a comunhão. A presença das mulheres e de Maria, mãe de Jesus, intensifica esta experiência: elas foram as primeiras a aprender do Mestre a testemunhar a fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo medo”.
Francisco concluiu a catequese, pedindo a Deus para que nos conceda “a paciência de esperar os seus passos, de não ‘fabricar’ nós mesmos a sua obra e permanecer dóceis, rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial”. Fonte: www.vaticannews.va
TERÇA-FEIRA 28: Homilia do Papa: “O pecado envelhece, o Espírito nos torna sempre jovens.
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A tristeza não é um comportamento cristão", disse Francisco na homilia missa celebrada na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
O Espírito Santo é o protagonista da passagem do Evangelho proposta na liturgia da missa, desta terça-feira (28/05), celebrada pelo Papa Francisco na Capela da Casa Santa Marta. “No discurso de despedida aos discípulos antes de subir ao Céus, Jesus”, disse o Papa em sua homilia, “nos faz uma verdadeira catequese sobre o Espírito Santo”. Jesus nos explica quem ele é. Os discípulos ficaram tristes ao ouvir que Jesus os deixará e Jesus os repreende por isso. Francisco afirmou: “Não, a tristeza não é um comportamento cristão”. Mas como não ficar triste? “E contra a tristeza, na oração, pedimos ao Senhor para que guarde em nós a juventude renovada do espírito”. Aqui, entra em jogo o Espírito Santo porque é Ele que faz com que haja em nós essa juventude que nos renova sempre.
O coração do cristão é jovem
O Papa citou uma santa que dizia: “Um santo triste é um triste santo”- recorda o Papa Francisco em uma mensagem enviada por ocasião do quinto centenário do nascimento de Santa Teresa d’Ávila, celebrado em 2014- “Portanto, um cristão triste é um triste cristão e isso não é bom. A tristeza não entra no coração do cristão, porque ele é jovem”, prosseguiu Francisco.
O Espírito Santo é aquele que nos torna capazes de carregar as cruzes. O Pontífice citou o exemplo de Paulo e Silas que na prisão cantavam hinos a Deus, conforme a primeira leitura de hoje, extraída do Livro dos Atos dos Apóstolos.
O Espírito Santo renova todas as coisas. “O Espírito Santo é aquele que nos acompanha na vida, que nos sustenta. É o Paráclito”, frisou o Papa. “Mas que nome estranho”, disse Francisco, recordando que numa missa para crianças, num domingo de Pentecostes, ele perguntou se elas sabiam quem fosse o Espírito Santo. E um menino lhe respondeu: o paralítico.
Muitas vezes nós pensamos que o Espírito Santo é um paralítico, que não faz nada... Pelo contrário, é Aquele que nos sustenta. Paráclito: a palavra paráclito significa “aquilo que está ao meu lado para me apoiar”, para que eu não caia, para que eu vá adiante, para que eu conserve essa juventude do Espírito. O cristão é sempre jovem: sempre. Quando o coração do cristão começa a envelhecer, a sua vocação de cristão começa a diminuir. Ou você é jovem de coração e de alma ou não é cristão.
Diálogo cotidiano com o Espírito
Francisco prosseguiu, dizendo que na vida haverá dor. Paulo e Silas foram acoitados e sofreram, “mas estavam cheios de alegria, cantavam...”.
Isso é juventude. Uma juventude que faz você olhar sempre a esperança. É isso, avante! Mas, para ter essa juventude é necessário um diálogo cotidiano com o Espírito Santo, que está sempre ao nosso lado. É o grande presente que Jesus nos deixou: esse apoio, o que faz a gente seguir em frente.
O pecado envelhece a alma
Mesmo que sejamos pecadores, o Espírito nos ajuda a nos arrepender e nos faz olhar para frente. “Fale com o Espírito”, disse o Papa. “Ele apoiará você e lhe dará novamente a juventude”. O pecado, por outro lado, envelhece: “Envelhece a alma, envelhece tudo”. Francisco sublinhou ainda: “Jamais esta tristeza pagã”. Na vida há momentos difíceis, mas nesses momentos “sentimos que o Espírito nos ajuda a ir em frente (...) e a superar as dificuldades. Até mesmo o martírio”. E o Papa concluiu:
Peçamos ao Senhor para não perder esta juventude renovada, para não ser cristãos aposentados que perderam a alegria e se deixam conduzir... O cristão nunca se aposenta, o cristão vive, vive porque é jovem, quando é cristão verdadeiro. Fonte: www.vaticannews.va
NESTA SEGUNDA 27: O abraço de Francisco a Raoni
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O encontro entre o Santo Padre e o líder indígena da etnia caiapó, Raoni Metuktire, foi nesta segunda-feira na Casa Santa Marta.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu em audiência privada na Casa Santa Marta na manhã desta segunda-feira, 27, o líder indígena brasileiro Raoni Metukire, da comunidade Caiapó. O cacique está na Europa desde 14 de maio, numa viagem de três semanas, para se encontrar com os chefes de Estado e a opinião pública para alertar sobre as crescentes ameaças à Amazônia.
O encontro do Pontífice com o líder do povo Caiapó - ameaçado por madeireiros e pelo agronegócio - havia sido confirmado no último sábado pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti. Com a audiência – explicou ele - “o Papa reitera a sua atenção pela população e pelo ambiente da área amazônica, e o seu compromisso pela preservação da Casa Comum”.
Gisotti também havia explicado que “a audiência insere-se no contexto da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, que se realizará de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, sobre o tema ‘Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e por uma Ecologia Integral’”.
O líder indígena brasileiro também está recolhendo fundos para a proteção da reserva do Xingu, no Mato Grosso. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 22: "Rezar em toda situação, sem esquecer de nossos irmãos". Francisco.
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Papa: "Rezar em toda situação, sem esquecer de nossos irmãos"
Na audiência geral, Francisco encerrou o ciclo de catequeses sobre a oração do Pai Nosso, afirmando que “a oração cristã nasce da audácia de poder chamar Deus de ‘Pai’. No final do encontro, a saudação ao Card. José Falcão.
Cidade do Vaticano
Esta quarta-feira de sol e clima primaveril em Roma foi o cenário no qual cerca de 20 mil pessoas participaram do encontro semanal com o Papa, no Vaticano. Francisco entrou na Praça São Pedro e imediatamente deixou cinco crianças subirem no papamóvel e o acompanharem na volta da praça. É a ocasião em que o Pontífice cumprimenta todos os presentes distribuindo sorrisos e carinho. Em sua reflexão, ele encerrou o ciclo de catequeses sobre a oração do Pai Nosso, e concluiu que “a oração cristã nasce da audácia de poder chamar Deus de ‘Pai': “Trata-se de um ato de intimidade filial, fruto da graça de Jesus que nos introduz na familiaridade com Deus”.
Francisco continuou explicando que em diversas passagens do Novo Testamento, podemos ver como Jesus, com o seu exemplo e palavras, nos ensina o sentido da oração do Pai-Nosso. Por exemplo, quando os discípulos que, ao ver Jesus passar longos momentos em oração, pedem que Ele lhes ensine como rezar. Ou no Getsêmani, onde, ao invocar a Deus chamando-o de Abbá, Jesus demonstra a confiança num momento de angústia.
Em meio às trevas, Jesus invoca Deus com o nome de “Abbà”, com confiança filial e embora sinta medo e angústia, pede que seja feita a sua vontade.
Quando Jesus fala da necessidade de rezar de modo insistente, lembra-se sempre dos irmãos, sobretudo com a disponibilidade de perdoar as ofensas recebidas. Em suma, Jesus nos ensina que o cristão pode rezar em qualquer situação, seja com expressões retiradas da Bíblia, como os salmos, seja com expressões que brotaram dos corações de tantos homens e mulheres que se sabiam amados pelo Pai.
O primeiro protagonista de toda oração cristã é o Espírito Santo
É ele que sopra no coração do discípulo e nos torna capazes de rezar como filhos de Deus. É ele que nos ensina a rezar: “Este é o mistério da oração cristã: pela graça, somos atraídos ao diálogo de amor da Santíssima Trindade”.
Assim rezava Jesus, e por vezes usou expressões muito distantes do texto do Pai Nosso. Como quando na cruz, pronunciou as palavras ‘Deus meu por que me abandonastes’. A explicação é que naquele grito de angústia, está o núcleo da relação com o Pai, o fulcro da fé e da oração. Eis porque o cristão pode rezar em qualquer situação.
Francisco concluiu pedindo que nunca deixemos de recordar na oração ao Pai nossos irmãos e irmãs na humanidade, para que nenhum deles, especialmente os pobres, fique sem consolo e sem uma porção de amor.
Orações por missionária assassinada e cristãos na China
Em suas palavras finais, o Papa lembrou a Irmã espanhola Ines Nieves Sancho, missionária assassinada na República Centro-africana, pedindo a todos que rezassem com ele uma Ave Maria.
Sexta-feira, dia 24 de maio, celebra-se o dia de Nossa Senhora Auxiliadora, que é particularmente venerada na China, no Santuário da Virgem de Sheshan, em Xangai.
“ Nesta feliz ocasião, expresso minha proximidade a todos os católicos na China, que, entre tantas dificuldades e provações, continuam a esperar e amar. Que a nossa Mãe do Céu os ajude a ser testemunhas da caridade e da fraternidade, mantendo-os sempre unidos na comunhão da Igreja universal. ”
Dirigindo-se aos brasileiros, numerosos na Praça, o Papa recomendou que neste mês dedicado à Virgem Maria, busquemos contemplar mais intensamente a face do Senhor Jesus com a oração do Terço, para que Ele seja o centro de nossos pensamentos, de nossas ações e de nossa vida.
Enfim, fez uma saudação especial ao Cardeal José Falcão, arcebispo emérito de Brasília, que está completando 70 anos de ordenação sacerdotal. Dom José respondeu com um sorriso. Fonte: www.vaticannews.va
Papa Francisco aceita a renúncia de Dom Vilson, bispo de Limeira
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O Pontífice nomeou administrador apostólico "sede vacante" da diocese Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida (SP).
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco aceitou a renúncia apresentada por Dom Vilson Dias de Oliveira ao governo pastoral da diocese de Limeira (SP). O administrador apostólico "sede vacante" da diocese será Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida (SP).
"Sinto-me pequeno"
Em carta lida esta manhã aos fiéis, o bispo escreve:
“Diz bem o conhecido ditado: ‘um planta, outro rega’!
Queridos irmãos e irmãs, nesses últimos meses enfrentamos todo tipo de cruzes, por meio de ataques à nossa Igreja Particular de Limeira, a mim e a vários presbíteros. Reconheço minhas limitações, mas também levo no coração todo amor que aqui recebi do bom Povo de Deus presente nos 16 municípios que compreendem esta Igreja Particular de Limeira.
Com imensa gratidão, digo-lhes que sempre fui muito bem acolhido e aceito pelo povo desta importante Diocese de Limeira. Hoje me despeço de vocês como Bispo Diocesano e peço minha renúncia por amor à Igreja de Cristo e pelo bem desta Diocese para que os trabalhos pastorais possam continuar crescendo e se fortalecendo com a doação incansável de cada um de vocês que se dedicam ao Reino de Deus.
Foram quase 12 anos de minha nomeação (13/06) que tive a oportunidade de servir ao Senhor e à Santa Mãe Igreja nestas terras, enfrentei com alegria cada desafio da realidade aqui encontrada. Sei que a dimensão pastoral é imensa, e muito trabalhei para isso. No entanto, neste momento, sinto-me pequeno frente à grandeza da missionariedade que esta Igreja Particular tomou em suas proporções.
Levo no meu coração este aprendizado, na confiança e certeza de que a obra é de Deus, e me coloco à disposição da Santa Mãe Igreja para servi-la não importando o lugar e o ministério a mim confiado por Deus daqui para frente.
Minha bênção episcopal na certeza de que o Espírito Santo conduz a Igreja e cada um dos diocesanos que aqui se doaram e se doam no serviço eclesial. Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora das Dores, padroeira da Diocese de Limeira, nos abençoe e nos guarde. Em Cristo Jesus, nossa paz. Com estima,
Dom Vilson Dias de Oliveira, DC”
Fonte: www.vaticannews.va
Esmolaria Apostólica, a caridade silenciosa do Papa
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Esmolaria Apostólica, a caridade silenciosa do Papa
Um trabalho silencioso, realizado todos os dias, em nome do Papa, em favor daqueles que realmente tem necessidade: esta é a atividade da Esmolaria Apostólica. Em 2018, o braço da caridade do Papa distribuiu 3 milhões e meio de euros aos pobres, para pagar contas e aluguéis.
Sergio Centofanti - Cidade do Vaticano
A caridade da Igreja remonta aos tempos dos apóstolos. Jesus afirma que no final da vida seremos julgados pelo amor, o amor concreto de cada dia (Mt 25,31-46). São Tiago nos recorda fortemente que a fé sem obras é morta em si mesma: "Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não tem as obras? A fé seria capaz de salvá-lo? Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles: “Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adianta isso? Tg 2,14-16).
As origens da Esmolaria Apostólica
Nas primeiras comunidades cristãs, eram os diáconos, em particular, que cuidavam dos pobres. Mais tarde os Papas, como bispos de Roma, confiaram a tarefa da caridade ao chamado Esmoler: este nome aparece pela primeira vez em uma Bula de Inocêncio III, no século XIII. A Esmolaria nasce formalmente neste período. Leão XIII, o Papa da primeira Encíclica social, a Rerum novarum (1891), confia à Esmolaria a faculdade de conceder a Bênção Apostólica através de pergaminhos. O Papa Pecci denunciava as dramáticas condições daquela que ele chamou de "a infinita multidão de proletários", explorada por "um número muito pequeno de super ricos" e mobilizava toda a Igreja para que apoiasse os pobres criados pela Revolução Industrial.
Contas e aluguéis
Hoje, justamente graças aos recursos provenientes dos pergaminhos, além de outras doações, a Esmolaria pode ajudar em nome do Papa aqueles que passam por dificuldades. Em 2018, cerca de 3 milhões e meio de euros foram destinados àqueles que não podiam pagar aluguel, contas de luz e gás, medicamentos e necessidades básicas. Uma cifra ligeiramente superior àquela de 2017. As ajudas chegam a todos, sem distinções, muitos são italianos e romanos: não se deve esquecer que o Papa é o bispo de Roma.
Ajuda aos verdadeiros pobres
Geralmente são os párocos que escrevem ao Esmoler: eles indicam quem realmente precisa. O Esmoler envia ao pároco um cheque, que depois destina o valor a quem tem necessidade, acompanhado por um bilhete: “Doação do Santo Padre”.
A ajuda não passa por associações ou por várias entidades: chega diretamente à pessoa que o pároco considera em verdadeiro estado de necessidade. As contribuições que são enviadas a outros países, são solicitadas pelos Núncios espalhados por todo o mundo.
Um trabalho silencioso
A Esmolaria realiza todos os dias, em silêncio, sua atividade: sustenta refeitórios para os pobres, administra um ambulatório médico-sanitário sob a Colunata de Bernini, dedicado à "Mãe da Misericórdia", juntamente com os chuveiros e a barbearia para os sem-teto, além do dormitório na Via dei Penitenzieri, pertinho do Vaticano.
Dar de acordo com a lógica do Evangelho
O atual Esmoler, cardeal Konrad Krajewski, é considerado "o braço da caridade do Papa". Sua principal tarefa - diz - é "esvaziar a conta do Santo Padre para os pobres, segundo a lógica do Evangelho". Fonte: https://www.vaticannews.va
CARTA APOSTÓLICA SOB FORMA DE MOTU PRÓPRIO DO SUMO PONTÍFICE FRANCISCO
- Detalhes
“VOS ESTIS LUX MUNDI”
«Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte» (Mt 5, 14). Nosso Senhor Jesus Cristo chama cada fiel a ser exemplo luminoso de virtude, integridade e santidade. Com efeito, todos nós somos chamados a dar testemunho concreto da fé em Cristo na nossa vida e, de modo particular, na nossa relação com o próximo.
Os crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e lesam a comunidade dos fiéis. Para que tais fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam a todos na Igreja, de modo que a santidade pessoal e o empenho moral possam concorrer para fomentar a plena credibilidade do anúncio evangélico e a eficácia da missão da Igreja. Isto só se torna possível com a graça do Espírito Santo derramado nos corações, porque sempre nos devemos lembrar das palavras de Jesus: «Sem Mim, nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Embora já muito se tenha feito, devemos continuar a aprender das lições amargas do passado a fim de olhar com esperança para o futuro.
Esta responsabilidade recai, em primeiro lugar, sobre os sucessores dos Apóstolos, colocados por Deus no governo pastoral do seu povo, e exige deles o empenho de seguir de perto os passos do Divino Mestre. Na realidade, em virtude do seu ministério, eles regem «as Igrejas particulares que lhes foram confiadas como vigários e legados de Cristo, por meio de conselhos, persuasões, exemplos, mas também com autoridade e poder sagrado, que exercem unicamente para edificar o próprio rebanho na verdade e na santidade, lembrados de que aquele que é maior se deve fazer como o menor, e o que preside como aquele que serve» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Lumen gentium, 27). E aquilo que de forma mais impelente diz respeito aos sucessores dos Apóstolos concerne a todos aqueles que, de diferentes maneiras, assumem ministérios na Igreja, professam os conselhos evangélicos ou são chamados a servir o povo cristão. Por isso, é bom que se adotem, a nível universal, procedimentos tendentes a prevenir e contrastar estes crimes que atraiçoam a confiança dos fiéis.
Desejo que este compromisso se implemente de forma plenamente eclesial e, por conseguinte, seja expressão da comunhão que nos mantém unidos, na escuta mútua e aberta às contribuições de todos aqueles que têm a peito este processo de conversão.
Por isso estabeleço:
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1 – Âmbito de aplicação
- 1. Estas normas aplicam-se em caso de assinalações relativas a clérigos ou a membros de Institutos de Vida Consagrada ou de Sociedades de Vida Apostólica e concernentes a:
- a) delitos contra o sexto mandamento do Decálogo que consistam:
- em forçar alguém, com violência, ameaça ou abuso de autoridade, a realizar ou sofrer atos sexuais;
- em realizar atos sexuais com um menor ou com uma pessoa vulnerável;
III. na produção, exibição, posse ou distribuição, inclusive por via telemática, de material pornográfico infantil, bem como no recrutamento ou indução dum menor ou duma pessoa vulnerável a participar em exibições pornográficas;
- b) em condutas realizadas pelos sujeitos a que se refere o artigo 6, consistindo em ações ou omissões tendentes a interferir ou contornar as investigações civis ou as investigações canônicas, administrativas ou criminais, contra um clérigo ou um religioso relativas aos delitos a que se refere a alínea a) deste parágrafo.
- 2. Para efeitos destas normas, entende-se por:
- a) «menor»: toda a pessoa que tiver idade inferior a dezoito anos, ou a ela equiparada por lei;
- b) «pessoa vulnerável»: toda a pessoa em estado de enfermidade, deficiência física ou psíquica, ou de privação da liberdade pessoal que de fato, mesmo ocasionalmente, limite a sua capacidade de entender ou querer ou, em todo o caso, de resistir à ofensa;
- c) «material pornográfico infantil»: qualquer representação dum menor, independentemente do meio utilizado, envolvido em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, e qualquer representação de órgãos sexuais de menores para fins predominantemente sexuais.
Art. 2 - Receção das assinalações e proteção dos dados
- 1. Tendo em conta as indicações eventualmente adotadas pelas respetivas Conferências Episcopais, pelos Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e das Igrejas Arquiepiscopais Maiores, ou pelos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Metropolitanas sui iuris, as Dioceses ou as Eparquias, individualmente ou em conjunto, devem estabelecer, dentro de um ano a partir da entrada em vigor destas normas, um ou mais sistemas estáveis e facilmente acessíveis ao público para apresentar as assinalações, inclusive através da instituição duma peculiar repartição eclesiástica. As Dioceses e as Eparquias informam o Representante Pontifício que foram instituídos os sistemas referidos neste parágrafo.
- 2. As informações a que se refere este artigo são tuteladas e tratadas de forma a garantir a sua segurança, integridade e confidencialidade nos termos dos cânones 471-2° CICe 244-§ 2, 2° CCEO.
- 3. Ressalvado o disposto no artigo 3-§ 3, o Ordinário que recebeu a assinalação transmite-a sem demora ao Ordinário do lugar onde teriam ocorrido os factos, bem como ao Ordinário próprio da pessoa indicada, os quais procedem de acordo com o direito segundo o previsto para o caso específico.
- 4. Para efeitos deste título, são equiparadas às Dioceses as Eparquias, e ao Ordinário é equiparado o Hierarca.
Art. 3 – Assinalação
- 1. Exceto nos casos previstos nos cânones 1548-§ 2 CICe 1229-§ 2 CCEO, sempre que um clérigo ou um membro dum Instituto de Vida Consagrada ou duma Sociedade de Vida Apostólica saiba ou tenha fundados motivos para supor que foi praticado um dos factos a que se refere o artigo 1, tem a obrigação de assinalar prontamente o facto ao Ordinário do lugar onde teriam ocorrido os factos ou a outro Ordinário dentre os referidos nos cânones 134 CICe 984 CCEO, ressalvado o estabelecido no § 3 deste artigo.
- 2. Qualquer pessoa pode apresentar uma assinalação respeitante às condutas a que se refere o artigo 1, servindo-se das modalidades referidas no artigo anterior ou de qualquer outro modo apropriado.
- 3. Quando a assinalação diz respeito a uma das pessoas indicadas no artigo 6, a mesma é encaminhada para a autoridade individuada com base nos artigos 8 e 9. A assinalação pode sempre ser dirigida à Santa Sé, diretamente ou através do Representante Pontifício.
- 4. A assinalação contém os elementos o mais possível detalhados, tais como indicações de tempo e local dos factos, das pessoas envolvidas ou informadas, bem como qualquer outra circunstância que possa ser útil para assegurar uma cuidadosa avaliação dos factos.
- 5. As informações podem também ser adquiridas ex officio.
Art. 4 – Tutela de quem faz a assinalação
- 1. O facto de fazer uma assinalação, como estabelece o artigo 3, não constitui uma violação do sigilo profissional.
- 2. Ressalvado quanto previsto no cânone 1390 CICe nos cânones 1452 e 1454 CCEO, são proibidos e podem abranger a conduta referida no artigo 1-§ 1, alínea b), danos, retaliações ou discriminações pelo facto de ter feito uma assinalação.
- 3. A quem faz uma assinalação, não pode ser imposto qualquer ónus de silêncio a respeito do conteúdo da mesma.
Art. 5 – Cuidados prestados às pessoas
- 1. As autoridades eclesiásticas empenham-se para que sejam tratados com dignidade e respeito quantos afirmam que foram ofendidos, juntamente com as suas famílias, e proporcionam-lhes em particular:
- a) acolhimento, escuta e acompanhamento, inclusive através de serviços específicos;
- b) assistência espiritual;
- c) assistência médica, terapêutica e psicológica de acordo com o caso específico.
- 2. São tuteladas a imagem e a esfera privada das pessoas envolvidas, bem como a confidencialidade dos dados pessoais.
TÍTULO II
DISPOSIÇÕES RELATIVAS AOS BISPOS E EQUIPARADOS
Art. 6 – Âmbito subjetivo de aplicação
As normas processuais a que alude este título dizem respeito às condutas referidas no artigo 1 implementadas por:
- a) Cardeais, Patriarcas, Bispos e Legados do Romano Pontífice;
- b) clérigos que se ocupam ou ocuparam do governo pastoral duma Igreja particular ou duma entidade a ela assimilada, latina ou oriental, incluindo os Ordinariatos pessoais, pelos factos praticados durante munere;
- c) clérigos que se ocupam ou ocuparam do governo pastoral duma Prelatura pessoal, pelos factos praticados durante munere;
- d) aqueles que são ou foram Moderadores supremos de Institutos de Vida Consagrada ou de Sociedades de Vida Apostólica de direito pontifício, bem como de Mosteiros sui iuris, pelos factos praticados durante munere.
Art. 7 – Dicastério competente
- 1. Para efeitos deste título, entende-se por «Dicastério competente» a Congregação para a Doutrina da Fé, para os delitos a ela reservados pelas normas em vigor, bem como, em todos os outros casos, naquilo que é da respetiva competência estabelecida na lei própria da Cúria Romana:
- a Congregação para as Igrejas Orientais;
- a Congregação para os Bispos;
- a Congregação para a Evangelização dos Povos;
- a Congregação para o Clero;
- a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
- 2. A fim de se assegurar a melhor coordenação, o Dicastério competente informa a Secretaria de Estado e os outros Dicastérios diretamente interessados acerca da assinalação e do resultado da investigação.
- 3. As comunicações previstas neste título entre o Metropolita e a Santa Sé realizam-se através do Representante Pontifício.
Art. 8 – Procedimento aplicável em caso de assinalação relativa a um Bispo da Igreja Latina
- 1. A autoridade que recebe uma assinalação transmite-a quer à Santa Sé quer ao Metropolita da Província Eclesiástica onde tem domicílio a pessoa indicada.
- 2. No caso da assinalação se referir ao Metropolita ou estiver vacante a Sé Metropolitana, aquela será transmitida à Santa Sé, bem como ao Bispo sufragâneo mais antigo por promoção, a quem, neste caso, se aplicam as sucessivas disposições relativas ao Metropolita.
- 3. No caso da assinalação se referir a um Legado Pontifício, a mesma é transmitida diretamente à Secretaria de Estado.
Art. 9 - Procedimento aplicável a Bispos das Igrejas Orientais
- 1. No caso de assinalações contra um Bispo duma Igreja Patriarcal, Arquiepiscopal Maior ou Metropolitana sui iuris, a mesma é transmitida ao respetivo Patriarca, Arcebispo Maior ou Metropolita da Igreja sui iuris.
- 2. Se a assinalação se referir a um Metropolita duma Igreja Patriarcal ou Arquiepiscopal Maior, que exerce o seu cargo dentro do território destas Igrejas, aquela é transmitida ao respetivo Patriarca ou Arcebispo Maior.
- 3. Nos casos anteriores, a autoridade que recebeu a assinalação transmite-a também à Santa Sé.
- 4. Se a pessoa assinalada for um Bispo ou um Metropolita fora do território da Igreja Patriarcal, Arquiepiscopal Maior ou Metropolitana sui iuris, a assinalação é transmitida à Santa Sé.
- 5. No caso da assinalação se referir a um Patriarca, um Arcebispo Maior, um Metropolita duma Igreja sui iurisou um Bispo das outras Igrejas Orientais sui iuris, aquela é transmitida à Santa Sé.
- 6. As sucessivas disposições relativas ao Metropolita aplicam-se à autoridade eclesiástica a quem é transmitida a assinalação nos termos deste artigo.
Art. 10 – Deveres iniciais do Metropolita
- 1. A não ser que a assinalação se revele claramente infundada, o Metropolita solicita prontamente ao Dicastério competente o encargo para iniciar a investigação. Se o Metropolita considerar a assinalação claramente infundada, informa disso mesmo o Representante Pontifício.
- 2. O Dicastério provê sem demora, e em todo o caso dentro de trinta dias a contar da receção da primeira assinalação pelo Representante Pontifício ou da solicitação do encargo por parte do Metropolita, fornecendo as instruções adequadas sobre como proceder no caso concreto.
Art. 11 – Entrega da investigação a pessoa diferente do Metropolita
- 1. Se o Dicastério competente considerar oportuno confiar a investigação a uma pessoa diferente do Metropolita, este será informado. O Metropolita entrega todas as informações e os documentos relevantes à pessoa encarregada pelo Dicastério.
- 2. No caso referido no parágrafo anterior, as sucessivas disposições relativas ao Metropolita aplicam-se à pessoa encarregada de conduzir a investigação.
Art. 12 – Realização da investigação
- 1. O Metropolita, uma vez obtido o encargo do Dicastério competente e no respeito das instruções recebidas, pessoalmente ou através de uma ou mais pessoas idôneas:
- a) recolhe as informações relevantes a propósito dos factos;
- b) toma conhecimento das informações e documentos necessários para a investigação guardados nos arquivos dos departamentos eclesiásticos;
- c) obtém, quando necessária, a colaboração doutros Ordinários ou Hierarcas;
- d) solicita informações aos indivíduos e às instituições, mesmo civis, que forem capazes de fornecer elementos úteis para a investigação.
- 2. Se for necessário ouvir um menor ou uma pessoa vulnerável, o Metropolita adota modalidades adequadas, que tenham em conta o seu estado.
- 3. No caso de haver fundados motivos para considerar que informações ou documentos relativos à investigação possam ser subtraídos ou destruídos, o Metropolita adota as medidas necessárias para a sua preservação.
- 4. Mesmo quando se serve doutras pessoas, o Metropolita permanece, em todo o caso, responsável pela direção e a realização das investigações, bem como pela execução precisa das instruções previstas no artigo 10-§ 2.
- 5. O Metropolita é assistido por um notário, escolhido livremente de acordo com os cânones 483-§ 2 CICe 253-§ 2 CCEO.
- 6. O Metropolita é obrigado a agir de forma imparcial e livre de conflito de interesses. Se considerar que se encontra em conflito de interesses ou não é capaz de manter a imparcialidade necessária para garantir a integridade da investigação, é obrigado a abster-se e referir a circunstância ao Dicastério competente.
- 7. À pessoa sob investigação é reconhecida a presunção de inocência.
- 8. O Metropolita, se solicitado pelo Dicastério competente, informa a pessoa da investigação contra ela, ouve-a sobre os factos e convida-a a apresentar um memorial de defesa. Em tais casos, a pessoa investigada pode servir-se dum procurador.
- 9. De trinta em trinta dias, o Metropolita transmite ao Dicastério competente um relatório informativo sobre o estado das investigações.
Art. 13 – Intervenção de pessoas qualificadas
- 1. De acordo com eventuais diretrizes da Conferência Episcopal, do Sínodo dos Bispos ou do Conselho dos Hierarcas sobre o modo como ajudar o Metropolita nas investigações, os Bispos da respetiva Província, individualmente ou em conjunto, podem elaborar listas de pessoas qualificadas, dentre as quais o Metropolita pode escolher as mais idôneas para o assistir na investigação, conforme as necessidades do caso e, em particular, tendo em conta a cooperação que pode ser oferecida pelos leigos nos termos dos cânones 228 CICe 408 CCEO.
- 2. Em todo o caso, o Metropolita é livre para escolher outras pessoas igualmente qualificadas.
- 3. Quem quer que assista o Metropolita na investigação é obrigado a agir de forma imparcial e livre de conflito de interesses. Se considerar que se encontra em conflito de interesses ou não é capaz de manter a imparcialidade necessária para garantir a integridade da investigação, é obrigado a abster-se e referir a circunstância ao Metropolita.
- 4. As pessoas que assistem o Metropolita prestam juramento de cumprir digna e fielmente o encargo.
Art. 14 – Duração da investigação
- 1. As investigações devem ser concluídas no prazo de noventa dias ou no tempo indicado pelas instruções previstas no artigo 10-§ 2.
- 2. Por justos motivos, o Metropolita pode pedir a extensão do prazo ao Dicastério competente.
Art. 15 - Medidas cautelares
Se os factos ou as circunstâncias o exigirem, o Metropolita propõe ao Dicastério competente a adoção de disposições ou de medidas cautelares apropriadas contra o investigado.
Art. 16 – Instituição dum Fundo
- 1. As Províncias Eclesiásticas, as Conferências Episcopais, os Sínodos dos Bispos e os Conselhos dos Hierarcas podem estabelecer um Fundo destinado a sustentar as despesas com as investigações, instituído de acordo com os cânones 116 e 1303-§ 1,1º CICe 1047 CCEO, e administrado segundo as normas do direito canônico.
- 2. A pedido do Metropolita designado, os fundos necessários para a investigação são colocados à sua disposição pelo administrador do Fundo, salvaguardado o dever de apresentar a este último um relatório financeiro no fim da investigação.
Art. 17 - Transmissão das atas e do votum
- 1. Completada a investigação, o Metropolita transmite as atas ao Dicastério competente juntamente com o seu próprio votum sobre os resultados da investigação e dando resposta a eventuais quesitos postos nas instruções referidas no artigo 10-§ 2.
- 2. A não ser que haja sucessivas instruções do Dicastério competente, as faculdades do Metropolita cessam quando a investigação estiver completada.
- 3. No respeito pelas instruções do Dicastério competente, o Metropolita, se lhe for pedido, informa acerca do resultado da investigação a pessoa que afirma ter sido ofendida ou os seus representantes legais.
Art. 18 – Medidas sucessivas
O Dicastério competente, a não ser que decida organizar uma investigação suplementar, procede nos termos do direito, de acordo com o previsto para o caso específico.
Art. 19 – Observância das leis estatais
Estas normas aplicam-se sem prejuízo dos direitos e obrigações estabelecidos em cada local pelas leis estatais, particularmente aquelas relativas a eventuais obrigações de assinalação às autoridades civis competentes.
Estas normas são aprovadas ad experimentum por um triênio.
Estabeleço que esta Carta Apostólica sob forma de Motu Próprio seja promulgada através da sua publicação no jornal L’Osservatore Romano, entrando em vigor no dia 1 de junho de 2019, e seja depois publicada no boletim Ata Apostolicae Sedis.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 9 de maio do ano 2019, sétimo de pontificado.
Francisco
Fonte: http://w2.vatican.va
Novas normas para toda a Igreja contra quem abusa ou encobre
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Novas normas para toda a Igreja contra quem abusa ou encobre
O motu proprio do Papa Francisco “Vos estis lux mundi” estabelece novos procedimentos para denunciar moléstias e violências, e garantir que bispos e superiores religiosos prestem contas de seu trabalho. Foi introduzida a obrigatoriedade a clérigos e religiosos de denunciar os abusos. Cada diocese deverá dotar-se de um sistema facilmente acessível ao público para receber as assinalações.
ANDREA TORNIELLI
«Vos estis lux mundi, Vós sois a luz do mundo Nosso Senhor Jesus Cristo chama cada fiel a ser exemplo luminoso de virtude, integridade e santidade».
Do Evangelho de Mateus foram extraídos o título e as primeiras palavras do novo Motu proprio do Papa Francisco dedicado à luta aos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, e às ações ou omissões dos bispos e dos superiores religiosos «tendentes a interferir ou contornar» as investigações sobre os abusos. O Papa recorda que os «crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e lesam a comunidade dos fiéis», e menciona a responsabilidade particular que têm os sucessores dos apóstolos em prevenir tais crimes. O documento representa um fruto ulterior do encontro sobre a proteção dos menores realizado no Vaticano em fevereiro de 2019. Estabelece novas normas para combater os abusos sexuais e garantir que bispos e superiores religiosos prestem contas de suas ações. É uma normativa universal, que se aplica a toda a Igreja Católica.
Um “guichê” para as denúncias em cada diocese
Entre as novidades previstas está a obrigatoriedade, para todas as dioceses do mundo de dotarem-se até junho de 2020 de «um ou mais sistemas estáveis e facilmente acessíveis ao público para apresentar as assinalações» a respeito dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, o uso de material pornográfico infantil e o acobertamento dos próprios abusos. A normativa não especifica no que consistem esses «sistemas», para deixar às dioceses a escolha operativa, que poderá ser diferente de acordo com as várias culturas e condições locais. O que se quer é que as pessoas que sofreram abusos possam recorrer à Igreja local certas de que serão bem acolhidas, que serão protegidas de represálias e que suas denúncias serão tratadas com a máxima seriedade.
A obrigatoriedade de denunciar
Outra novidade diz respeito à obrigatoriedade para todos os clérigos, os religiosos e as religiosas de «assinalar prontamente» à autoridade eclesiástica todas as notícias de abusos das quais tiverem conhecimento, assim como as eventuais omissões e acobertamentos na gestão dos casos de abusos. Se até hoje esta obrigação chamava em causa, num certo sentido, somente a consciência individual, de agora em diante se torna um preceito legal estabelecido universalmente. A obrigatoriedade em si é sancionada somente para os clérigos e religiosos, mas todos os leigos também podem e são encorajados a utilizar o sistema para assinalar abusos e moléstias às autoridades eclesiásticas competentes.
Não somente abusos contra menores
O documento compreende não somente as moléstias e as violências contra os menores e os adultos vulneráveis, mas diz respeito também à violência sexual e às moléstias que derivam do abuso de autoridade. Esta obrigatoriedade inclui também qualquer caso de violência contra religiosas por parte de clérigos, assim como também o caso de moléstias a seminaristas ou noviços de maior idade.
Os “acobertamentos”
Entre os elementos de maior relevo está a identificação, como categoria específica, da chamada conduta de acobertamento, que consiste «em ações ou omissões tendentes a interferir ou contornar as investigações civis ou as investigações canónicas, administrativas ou criminais, contra um clérigo ou um religioso relativas aos delitos» de abuso sexual. Trata-se daqueles que, exercendo cargos de particular responsabilidade na Igreja, ao invés de investigar os abusos cometidos por outros, os esconderam, protegendo o suposto réu ao invés de tutelar as vítimas.
A proteção das pessoas vulneráveis
Vos estis lux mundi acentua a importância de tutelar os menores (pessoas com menos de 18 anos) e as pessoas vulneráveis. De fato, é ampliada a noção de “pessoa vulnerável” , não mais restrita somente às pessoas que não têm “o uso habitual” da razão, mas compreende também os casos ocasionais e transitórios de incapacidade de entender e querer, além das desabilidades de ordem física. Nisto, o novo Motu próprio se inspira na recente Lei vaticana (n. CCXCVII de 26 de março de 2019).
O respeito das leis dos Estados
A obrigatoriedade de assinalar ao ordinário do local ou ao superior religioso não interfere nem modifica qualquer outra obrigação de denúncia eventualmente existente nas leis dos respectivos países: as normas, de fato, «aplicam-se sem prejuízo dos direitos e obrigações estabelecidos em cada local pelas leis estatais, particularmente aquelas relativas a eventuais obrigações de assinalação às autoridades civis competentes».
Proteção a quem denuncia e às vítimas
Também são significativos os parágrafos dedicados a tutelar quem se oferece para fazer as denúncias. Quem refere notícias de abusos, segundo prevê o Motu próprio, não pode, de fato, ser submetido a «danos, retaliações ou discriminações» em decorrência daquilo que assinalou. Uma atenção também ao problema das vítimas que, no passado, foram reduzidas ao silêncio: essas normas universais preveem que «não pode ser» imposto a elas «qualquer ônus de silêncio a respeito do conteúdo » da assinalação. Obviamente, o segredo de confissão permanece absoluto e inviolável e, portanto, não é de modo algum tocado por esta normativa. Vos estis lux mundi estabelece ainda que as vítimas e suas famílias devem ser tratadas com dignidade e respeito e devem receber uma apropriada assistência espiritual, médica e psicológica.
As investigações a cargo dos bispos
O Motu proprio disciplina as investigações a cargo dos bispos, dos cardeais, dos superiores religiosos e daqueles que têm a responsabilidade, mesmo que temporariamente, de guiar uma diocese ou outra Igreja particular. Esta disciplina deverá ser observada não somente se essas pessoas forem investigadas por abusos sexuais realizados diretamente, mas também se forem denunciadas por terem «acobertado» ou não terem investigado abusos dos quais tiveram conhecimento e que cabia a elas combater.
O papel do metropolita
É significativa a novidade a respeito do envolvimento na investigação prévia do arcebispo metropolita, que recebe da Santa Sé o mandato de investigar caso a pessoa denunciada seja um bispo. O seu papel, tradicional da Igreja, fica assim reforçado e comprova a vontade de valorizar os recursos locais inclusive para questões acerca da investigação dos bispos. Aquele que for encarregado de investigar, depois de trinta dias deve transmitir à Santa Sé « um relatório informativo sobre o estado das investigações », que «devem ser concluídas no prazo de noventa dias» (são possíveis adiamentos por «fundados motivos »). Isso estabelece tempos precisos e, pela primeira vez, pede-se que os Dicastérios interessados ajam com tempestividade.
Envolvimento dos leigos
Citando o artigo do Código canônico, que destaca a preciosa contribuição dos leigos, as normas do Motu próprio preveem que o metropolita, ao conduzir as investigações, possa contar com a ajuda de «pessoas qualificadas», segundo « as necessidades do caso e, em particular, tendo em conta a cooperação que pode ser oferecida pelos leigos ».
O Papa afirmou mais de uma vez que as especializações e as capacidades profissionais dos leigos representam um recurso importante para a Igreja. As normas preveem agora que as conferências episcopais e as dioceses possam preparar listas de pessoas qualificadas disponíveis a colaborar, mas a responsabilidade última sobre as investigações permanece confiada ao metropolita.
Presunção de inocência
Reitera-se o princípio da presunção de inocência da pessoa investigada, que será avisada da existência da própria investigação quando for solicitado pelo Dicastério competente. A acusação, de fato, deve ser notificada obrigatoriamente somente quando houver a abertura de um processo formal e, se considerada oportuna para garantir a integridade da investigação ou das provas, pode ser omitida na fase preliminar.
Conclusão da investigação
O Motu próprio não traz modificações às penas previstas para os delitos, mas estabelece o procedimento para fazer a assinalação e realizar a investigação prévia. No encerramento da investigação, o metropolita (ou em determinados casos o bispo da diocese sufragânea com maior ancianidade de nomeação) encaminha os resultados ao Dicastério vaticano competente e cessa, assim, a sua tarefa. O Dicastério competente procede então « nos termos do direito, de acordo com o previsto para o caso específico», agindo, portanto, com base nas normas canônicas já existentes. Com base nos resultados da investigação prévia, a Santa Sé pode imediatamente impor medidas preventivas e restritivas à pessoa investigada.
Empenho concreto
Com este novo instrumento jurídico desejado por Francisco, a Igreja Católica realiza um novo e incisivo passo na prevenção e combate dos abusos, que enfatiza ações concretas. Como escreve o Papa no início do documento: «Para que tais fenómenos, em todas as suas formas, não aconteçam mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por ações concretas e eficazes que envolvam a todos na Igreja». Fonte: https://www.vaticannews.va
SEXTA-FEIRA 10: Homilia do Papa Francisco. “Que os cristãos se abram com docilidade à voz do Senhor, sem teimosia”.
- Detalhes
O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta e Na homilia comentou a leitura do dia, extraída dos Atos dos Apóstolos.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
A conversão de Saulo de Tarso no caminho de Damasco é “uma mudança de página na história da Salvação", é "a porta aberta sobre a universalidade da Igreja". Foi o que disse o Papa Francisco esta manhã na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, comentando o episódio dos Atos dos Apóstolos.
No centro da homilia, portanto, está a figura do Apóstolo dos Gentios que, cego, permanece em Damasco por três dias sem comida nem água, até que Ananias, enviado pelo Senhor, lhe restitui a visão, dando-lhe a possibilidade de iniciar o caminho de conversão e pregação "repleto do Espírito Santo".
O Papa evidenciou duas características, dirigindo-se em especial a um grupo de irmãs de Cottolengo presentes na missa por ocasião dos 50 anos de sua vida religiosa e a alguns sacerdotes eritreus que vivem Itália.
Coerência e zelo
Paulo era um “homem forte” e “apaixonado pela pureza da lei", mas era "honesto" e, mesmo com um “caráter difícil”, era "coerente":
Antes de tudo, era coerente porque era um homem aberto a Deus. Se ele perseguia os cristãos era porque estava convencido de que Deus queria isto. Mas como é possível? Estava convencido disto. É o zelo que tinha pela pureza da casa de Deus, pela glória de Deus. Um coração aberto à voz do Senhor. E arriscava, arriscava, ia avante. E outra característica do seu comportamento é que era um homem dócil, tinha a docilidade, não era teimoso.
Docilidade e abertura à voz de Deus
Talvez o seu temperamento fosse teimoso – acrescentou o Papa -, mas não a sua alma. Paulo era "aberto às sugestões de Deus". Com o "fogo interior" prendia e matava os cristãos, mas, “uma vez que ouviu a voz do Senhor, se tornou como uma criança, se deixou levar":
Todas aquelas convicções que tinha, ficam caladas, esperam a voz do Senhor: “Que devo fazer, Senhor?”. E ele se encaminha e vai ao encontro em Damasco, ao encontro daquele outro homem dócil e se deixa catequizar como uma criança. Se deixa batizar como uma criança. E depois retoma as forças e o que faz? Fica quieto. Vai para a Arábia rezar, quanto tempo não sabemos, talvez anos, não sabemos. A docilidade. Abertura à voz de Deus e docilidade. É um exemplo da nossa vida e fico feliz em falar disto hoje diante dessas irmãs que festejam os 50 anos de vida religiosa. Obrigado por ouvir a voz de Deus e obrigado pela docilidade.
A "docilidade das mulheres de Cottolengo" fez com que o Papa se lembrasse de sua primeira visita, nos anos 70, a uma das estruturas que, no espírito de São José Benedito Cottolengo, acolhem em todo o mundo portadores de deficiências físicas e psíquicas. Francisco contou que passou de quarto em quarto guiado por uma freira, como as que estavam na missa hoje na Casa Santa Marta, e que passam a vida "ali, entre os descartados". Sem esta perseverança e docilidade, afirma o Papa, não poderiam fazer o que fazem.
O carisma cristão
Perseverar. E este é um sinal da Igreja. Eu gostaria de agradecer hoje, através de vocês, a tantos homens e mulheres, corajosos, que arriscam a vida, que vão avante, que buscam inclusive novas estradas na vida da Igreja. Buscam novas estradas! “Mas, padre, não é pecado?”. Não, não é pecado! Busquemos novas estradas, isto nos fará bem a todos! Com a condição de que sejam as estradas do Senhor. Mas ir avante: avante na profundidade da oração, na profundidade da docilidade, do coração aberto à voz de Deus. E assim se fazem as verdadeiras mudanças na Igreja, com pessoas que sabem lutar no pequeno e no grande.
O "cristão", concluiu Francisco, deve ter "este carisma do pequeno e do grande" e a oração dirigida a São Paulo no final da homilia é justamente o pedido da "graça da docilidade à voz do Senhor e do coração aberto ao Senhor; a graça de não nos assustar de fazer grandes coisas, de ir avante, com a condição de que tenhamos a delicadeza de cuidar das pequenas coisas". Fonte: https://www.vaticannews.va
Por que o Papa Francisco incomoda?
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"Um clima de tensão ao interno da comunidade cristã insiste em retomar um modelo eclesial distante da cultura. A principal insatisfação recai sobre o magistério do Papa Francisco, sobretudo nos assuntos de moral contidas em Amoris Laeticia", escreve Ademir Guedes Azevedo, padre, missionário passionista e mestrando em teologia fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Eis o artigo.
Um clima de tensão ao interno da comunidade cristã insiste em retomar um modelo eclesial distante da cultura. A principal insatisfação recai sobre o magistério do Papa Francisco, sobretudo nos assuntos de moral contidas em Amoris Laeticia. É importante buscar uma síntese para não sofrermos com a rotineira manipulação dos meios de comunicação.
As questões que, inicialmente, levantamos aqui são: 1) Por que a promoção da acolhida, que busca incluir a todos, incomoda tanto? 2) Tendo em conta que os principais opositores de Francisco são clérigos, por que uma eclesiologia em saída lhes deixa em estado de pânico? Tentemos analisar cada uma das questões.
Sobre a graça da acolhida, o que está em jogo é sempre a alteridade. Durante muito tempo a formação dos candidatos ao sacerdócio foi guiada por uma moral casuística. Para cada pecado, vinha aplicada uma penitência específica. Aos poucos, infelizmente, foi se nutrindo um certo desprezo para com os irmãos (ãs) que não se enquadravam dentro do modelo de perfeição, pois eram vistos como impuros, menos portadores da Graça. Tinha-se a impressão de que deviam carregar o chocalho da lepra, posto por uma moral dualista (pura x impuro). Com certeza, esse tipo de atitude se baseia em rótulos que geram preconceitos, ferindo a fraternidade cristã.
Em certa medida este dualismo metafísico, baseado numa pureza idealista, foi (ou é ainda?) enfatizado nas pregações dos pastores de almas. Basta analisar hoje o discurso sexual de muitos movimentos neo-pentecostais. Aqui o sexo e o corpo são plataformas do diabo. Cria-se um tipo de neurose religiosa, a qual sente a necessidade de incluir estes dois elementos na pregação. É tão forte o impacto deste tipo de pregação que, alguns casais que abraçam o matrimônio católico, durante o ato sexual, precisam cobrir as imagens dos santos e o crucifixo do quarto deles, pois não se sentem à vontade para consumar o amor que sentem um pelo outro através do ato sexual. A consciência do pecado é reduzida apenas ao dado sexual. Os outros mandamentos da lei de Deus são relegados aos esquecimento.
Para corrigir este grave erro, o nosso Papa propõe em primeiro lugar a acolhida. Por meio desta inicia-se um processo de discernimento que ajuda a própria pessoa a obedecer a voz da sua consciência, ou seja, ninguém tem o direito de julgar e condenar ao próximo. A própria pessoa, guiada pela voz de sua consciência, terá um profundo conhecimento de suas ações e será capaz de decidir. É isso que o papa deseja. Acolhida e discernimento são as chaves para o encontro com a Graça libertadora. Os pastores de almas não devem impor nada, nem pôr o dedo na ferida dos outros. Pelo contrário, devem oferecer a unção da misericórdia. É por isso que a acolhida inclusiva que o papa assumiu como uma das prioridades do seu pontificado incomoda a muitos, tendo em vista que esta requer escuta e um longo processo de acompanhamento com os irmãos mais fragilizados. E isso nem sempre parece agradar aos clérigos de escritório.
Entremos na segunda questão que insiste numa eclesiologia de saída. É muito diferente uma pessoa que abraça o estilo missionário (estilo do Evangelho) de uma outra que vive para manter estruturas voltadas apenas para os sacramentos. Não estamos dizendo que a vida sacramental não seja importante. Pelo contrário, a missão se nutre da Palavra e da Eucaristia, fontes inexauríveis da Graça de Deus e presença viva do Ressuscitado em nosso meio. O que insistimos é que uma eclesiologia de saída está sempre em diálogo com o mundo, deixando-se interpelar pelos problemas reais das pessoas, questionando os excesso das pompas e ostentações medievais. É um estilo que busca encontrar-se com as pessoas, que não vive para si mesmo. Através deste modelo de Igreja, o papa não mediu palavras para denunciar os abusos do clericalismo que se trata de uma doença que afeta jovens e idosos irmãos presbíteros que se concebem como seres poderosos, com o direito de usarem o santo sacramento da Ordem para a autor referencialidade e a promoção da própria imagem. Sede de poder e cargos religiosos, irresponsabilidade no uso dos bens materiais e crescente aumento dos vícios de corte são os sintomas desta terrível doença que o papa pretende curar com a proposta de uma Igreja em saída.
Neste sentido, a nova reforma da cúria romana poderá ser uma oportunidade para retomar o anúncio central de nossa fé: Deus nos amou a todos e mandou o seu Filho para nos salvar. É somente através da evangelização que o mundo conhecerá esta novidade. Por isso, a nova reforma pretende pôr ao centro o anúncio do kerigma, o qual se torna credível através do testemunho e da unidade da comunidade cristã. Mas isso precisa de muita conversão e de uma forma de cristianismo menos imperial e mais profética, tal como os primeiros cristãos experimentaram.
É assim que o nosso papa vive a profecia e, talvez por isso, incomoda aos que vivem presos a uma visão de Igreja com os pés fora da realidade. Vamos também tomar parte na obra da evangelização e remar na barca de Jesus junto ao nosso Papa? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
NESTE DIA 8. AUDIÊNCIA GERAL COM O PAPA: “A caridade se faz com doçura, não com acidez", afirma o Papa ao recordar viagem apostólica”. Francisco.
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Poucas horas depois de concluir sua 29ª viagem apostólica, o Papa Francisco compartilhou com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro os momentos mais emocionantes de sua visita aos dois países europeus.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
De volta de mais uma viagem apostólica, o Papa Francisco realizou a Audiência Geral na Praça São Pedro comentando justamente as etapas na Bulgária e Macedônia do Norte.
Nas pegadas de São João XXIII
Depois de agradecer às autoridades civis e eclesiásticas que o acolheram, o Pontífice destacou que na Bulgária foi guiado pela “memória viva de São João XXIII”, que ali exerceu o cargo de Delegado Apostólico por quase dez anos.
Com o lema "Pacem in terris", convidei todos a trilhar o caminho da fraternidade; e, neste caminho, em particular, tive a alegria de dar um passo em frente no encontro com o Patriarca da Igreja Ortodoxa Búlgara Neófito e os membros do Santo Sínodo.
Como cristãos, recordou o Papa, a vocação e missão é ser sinal e instrumento de unidade.
Em Sófia, Francisco recordou ainda a oração silenciosa diante da imagem sagrada dos dois santos irmãos Cirilo e Metódio.
“ Também hoje há a necessidade de evangelizadores apaixonados e criativos, para que o Evangelho alcance aqueles que ainda não o conhecem e possa irrigar novamente as terras onde as antigas raízes cristãs secaram. ”
O último ato da viagem à Bulgária foi realizado juntamente com os representantes de diferentes religiões para invocar o dom da paz.
Na terra natal de Madre Teresa
Na Macedônia do Norte, a visita foi acompanhada pela presença espiritual de Santa Madre Teresa de Calcutá, que nasceu em Skopje em 1910.
“ Nesta mulher, pequena mas cheia de força graças à ação do Espírito Santo, vemos a imagem da Igreja naquele país e em outras periferias do mundo: uma comunidade pequena que, com a graça de Cristo, torna-se um lar acolhedor onde muitos encontram refrigério para sua vida. ”
Sobre o contexto social e político do país, Francisco recordou que a Macedônia do Norte é um país independente desde 1991, por isso “quis encorajar, acima de tudo, sua tradicional capacidade de acolher diferentes pertenças étnicas e religiosas; bem como o seu compromisso em acolher e socorrer um grande número de migrantes e refugiados durante o período crítico de 2015 e 2016”. E o Papa pediu um aplauso ao povo local, pelo "amor" com o qual acolhem as pessoas migrantes não obstante os problemas que possam causar.
Caridade com ternura
Francisco compartilhou com os fiéis que ficou impressionado com a "ternura evangélica" das irmãs de Madre Teresa de Calcutá, ternura que nasce da oração e da adoração.
“ Elas acolhem a todos, se sentem irmãs, mães de todos e o fazem com ternura. Nós cristãos às vezes perdemos a dimensão da ternura e quando não há ternura, nos tornamos demasiados sérios, ácidos. Essas irmãs são doces na ternura, fazem caridade como deve ser feita, sem fantasiá-la. Fazer caridade sem ternura, amor, é como jogar um copo de vinagre na obra de caridade, é ácido. A caridade é doce, não ácida. E essas irmãs são um belo exemplo. Que Deus as abençoe. ”
O Papa citou ainda o encontro com os jovens de diferentes denominações cristãs e também de outras religiões, “todos unidos pelo desejo de construir algo de belo na vida. Lá exortei para que sonhassem grande e se arriscarem”. Outro momento foi com o sacerdotes e as pessoas consagradas. “Homens e mulheres que deram suas vidas a Cristo.”
A Santa Missa foi celebrada na praça de Skopje, ocasião para renovar, mais uma vez em uma periferia da Europa de hoje, “o milagre de Deus que, com os nossos poucos pães e peixes, partidos e compartilhados, sacia a fome das multidões”.
"Nós confiamos à sua inesgotável Providência o presente e o futuro dos povos que visitei nesta viagem", concluiu o Papa, rezando com os fiéis uma Ave-maria para que Deus abençoe a Bulgária e a Macedônia do Norte.
Jean Vanier e festas marianas
Na saudação em francês, Francisco fez sua homenagem a Jean Vanier, que morreu na terça-feira, e ressaltou sua obra pelos mais pobres e indefesos, inclusive pelos nascituros condenados à morte no ventre de suas mães. "Que Jean Vanier permaneça um exemplo a todos nós. Que ele nos ajude do céu."
Por fim, o Papa recrdou duas recorrências marianas neste 8 de maio: a Súplica a Nossa Senhora de Pompéia e Nossa Senhora de Luján, pedindo orações pela Argentina Fonte: www.vaticannews
O texto do encontro do Papa com sacerdotes, religiosos e religiosas em Skopje
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"Que grande sabedoria se encerra nas palavras de Santa Teresa Benedita da Cruz, quando afirma: «Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado".
Cidade do Vaticano
A Catedral do Sagrado Coração de Jesus, em Skopja, foi palco do último compromisso do Papa Francisco na Macedônia do Norte: o encontro com sacerdotes (e familiares), religiosos e religiosas. No texto abaixo, não estão inseridas as diversas improvisações do Papa:
"Queridos irmãos e irmãs!
Obrigado pela oportunidade que me dais de vos poder encontrar. Vivo com uma gratidão especial este momento em que posso ver a Igreja respirar plenamente com os seus dois pulmões – rito latino e rito bizantino – para se encher do ar sempre novo e renovador do Espírito Santo. Dois pulmões necessários, complementares, que nos ajudam a saborear melhor a beleza do Senhor (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 116). Demos graças pela possibilidade de respirar juntos, a plenos pulmões, como o Senhor foi bom para connosco.
Agradeço os vossos testemunhos, sobre os quais gostaria de voltar. Aludíeis ao facto de ser poucos e ao risco de ceder a algum complexo de inferioridade. Enquanto vos ouvia, vinha-me à mente a imagem de Maria de Betânia, que, tomando uma libra de perfume de nardo puro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos. O evangelista conclui a descrição da cena, dizendo: «A casa encheu-se com a fragrância do perfume» (Jo 12, 3). Aquele nardo foi capaz de impregnar tudo e deixar uma marca inconfundível.
Há situações – e não são poucas – em que sentimos necessidade de fazer contas à vida: começamos a olhar quantos somos... e somos poucos; os meios que temos... e são poucos; depois vemos a quantidade de casas e obras a sustentar... e são demasiadas! Poderíamos continuar a enumerar as múltiplas realidades em que experimentamos a precariedade dos recursos que temos à disposição para levar por diante o mandato missionário que nos foi confiado. Quando isto acontece, parece que o saldo do balanço apareça «em vermelho», seja negativo.
É verdade que o Senhor nos disse: se queres construir uma torre, calcula as despesas; «não suceda que, depois de assentar os alicerces, [tu] não a possas acabar» (cf. Lc 14, 29). Mas, o «fazer as contas» pode-nos levar à tentação de olhar demasiado para nós próprios e, curvados sobre as nossas realidades e misérias, podemos acabar quase como os discípulos de Emaús, proclamando o querigma com os nossos lábios enquanto o nosso coração se fecha num silêncio marcado por subtil frustração, que o impede de escutar Aquele que caminha ao nosso lado e é fonte de júbilo e alegria.
Irmãos, «fazer as contas» é sempre necessário, quando nos pode ajudar a descobrir e aproximar de muitas vidas e situações que todos os dias sentem dificuldade em fazer quadrar as contas: famílias que não conseguem continuar, pessoas idosas e sozinhas, doentes forçados a estar na cama, jovens tristes e sem futuro, pobres que nos lembram o que somos, isto é, uma Igreja de mendigos necessitados da Misericórdia do Senhor. Só é lícito «fazer as contas», se isto leva a mover-nos tornando-nos solidários, atentos, compreensivos e solícitos em abeirar-nos das fadigas e precariedade em que vivem submersos muitos dos nossos irmãos necessitados duma Unção que os levante e cure na sua esperança.
Só é lícito fazer as contas para exclamar com força e implorar com o nosso povo: «Vinde, Senhor Jesus!»
Não quero abusar da imagem de Madre Teresa, mas esta terra soube dar ao mundo e à Igreja, precisamente nela, um sinal concreto de como a precariedade duma pessoa, ungida pelo Senhor, tenha sido capaz de impregnar tudo, quando o perfume das Bem-aventuranças se espalha sobre os pés cansados da nossa humanidade. Quantos foram tranquilizados pela ternura do seu olhar, confortados pelas suas carícias, levantados pela sua esperança e alimentados pela coragem da sua fé, capaz de fazer sentir aos mais abandonados que não estavam abandonados por Deus! A história é escrita por estas pessoas que não têm medo de gastar a sua vida por amor: sempre que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes (cf. Mt 25, 40). Que grande sabedoria se encerra nas palavras de Santa Teresa Benedita da Cruz, quando afirma: «Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado».[1]
Com frequência, cultivamos fantasia sem limites pensando que as coisas seriam diferentes, se fôssemos fortes, poderosos e influentes. Mas o segredo da nossa força, poder e influência, e até da juventude, não estará porventura noutra parte que não no facto de «quadrarem as contas»? Pergunto-vos isto, porque me impressionou o testemunho de Davor, quando partilhou connosco aquilo que marcou o seu coração. Foste muito claro! O que te salvou do carreirismo foi voltar à primeira vocação, indo procurar o Senhor ressuscitado onde podia ser encontrado. Partiste, deixando o seguro para caminhar pelas ruas e praças desta cidade; aqui sentiste renovar-se a tua vocação e a tua vida; abaixando-te até à vida diária dos teus irmãos para compartilhar e ungir com o perfume do Espírito, o teu coração sacerdotal começou de novo a bater com maior intensidade.
Aproximaste-te para ungir os pés cansados do Mestre, os pés cansados de pessoas concretas e, no local onde se encontravam, o Senhor estava à tua espera para te ungir novamente na tua vocação. Muitas vezes gastamos as nossas energias e recursos, as nossas reuniões, debates e programações para manter abordagens, ritmos, perspetivas que não só não entusiasmam ninguém, mas não conseguem sequer levar um pouco daquela fragância evangélica capaz de confortar e abrir caminhos de esperança, e privam-nos do encontro pessoal com os outros. Como são justas estas palavras de Madre Teresa «aquilo de que não preciso, pesa-me»![2] Deixemos de lado todos os pesos que nos separam da missão e impedem que o perfume da misericórdia alcance o rosto dos nossos irmãos. Uma libra de nardo foi capaz de impregnar tudo e deixar uma marca inconfundível.
Não nos privemos do melhor da nossa missão, não apaguemos as palpitações do espírito.
Obrigado, Padre Goce e Gabriella e vossos filhos Filip, Blagoj, Luca, Ivan, por terdes partilhado connosco as vossas alegrias e preocupações do ministério e da vida familiar. E também o segredo para continuar para diante nos momentos difíceis que tivestes de passar.
O vosso testemunho tem aquela «fragância evangélica» das primeiras comunidades. Lembremo-nos de que, «no Novo Testamento, se fala da “igreja que se reúne em casa” (cf. 1 Cor 16, 19; Rm 16, 5; Col 4, 15; Flm 2). O espaço vital duma família podia transformar-se em igreja doméstica, em local da Eucaristia, da presença de Cristo sentado à mesma mesa. Inesquecível é a cena descrita no Apocalipse: “Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (3, 20). Esboça-se assim uma casa que abriga no seu interior a presença de Deus, a oração comum e, por conseguinte, a bênção do Senhor» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia, 15). Desta forma, dais vivo testemunho de como «a fé não nos tira do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele» (Ibid., 181). Não a partir daquilo que nós gostaríamos que fosse, não como «perfeitos» ou imaculados, mas na precariedade das nossas vidas, das nossas famílias ungidas cada dia na confiança do amor incondicional que Deus tem por nós. Confiança que nos leva – como bem nos lembraste, Padre Goce – a desenvolver algumas dimensões importantes, mas tão esquecidas na sociedade desgastada por relações frenéticas e superficiais: as dimensões da ternura, da paciência e da compaixão para com os outros.
Sempre me apraz pensar em cada uma das famílias como «ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados e inermes» (Ibid., 30). Elas são capazes, graças à fé acumulada ao longo das lutas diárias, de «transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 286).
Obrigado por terdes manifestado o rosto familiar de Deus connosco, que não deixa de nos surpreender no meio do arrumo da louça!
Queridos irmãos, obrigado mais uma vez por esta oportunidade eclesial de respirar a plenos pulmões. Peçamos ao Espírito que não cesse de nos renovar na missão com a confiança de saber que Ele quer impregnar tudo com a sua presença." Fonte: vaticannews
Por que os opositores do papa podem se arrepender de um novo conclave
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Os opositores do Papa Francisco, sejam eles de dentro ou de fora da Igreja, estão depositando suas esperanças em um futuro conclave. A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 25-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Há pessoas que simplesmente não gostam deste pontificado”, disse o cardeal Walter Kasper à emissora estatal alemã ARD no início deste ano. “Elas querem que ele acabe o mais rápido possível, para então haver, por assim dizer, um novo conclave. Eles também querem que ele lhes seja favorável, de modo que haja um resultado que atenda às suas ideias.” Mas, se seguirmos um novo livro sobre a eleição que escolheu este papa, os grupos anti-Francisco estão diante de uma luta íngreme.
Em “The Election of Pope Francis” [A Eleição do Papa Francisco], Gerard O’Connell oferece um relato sinótico do conclave de 2013, dando aos leitores uma posição privilegiada sobre o drama que se seguiu à renúncia de Bento XVI e o surgimento do primeiro papa latino-americano.
Com base em entrevistas com cardeais eleitores, o experiente correspondente vaticano da revista America explica como e por que os votos foram dados ao cardeal Jorge Bergoglio. Embora tudo isso tenha ocorrido há seis anos, o livro oferece três intuições sobre a política das eleições papais que continuam válidas hoje.
A primeira é o inevitável fracasso de quem comanda uma campanha aberta pelo papado – ou que permite que uma campanha seja empreendida em seu nome. Os cardeais veem o que há por trás deles, e resistem a eles, ainda mais se forem bem financiados e estiverem coordenados com a mídia. Essas campanhas são vistas como uma interferência no processo de discernimento que ocorre em um conclave, onde os eleitores são obrigados a estar abertos ao Espírito Santo que “sopra onde quer”.
O mesmo vale para os prelados que se posicionam debaixo dos holofotes nos anos antes de um conclave com livros, tuítes e entrevistas que oferecem um “papado paralelo”. É improvável que eles recebam muitos votos de seus colegas cardeais quando se formarem a fila para votar em frente ao desconcertante afresco de Michelangelo, o Juízo Final. A alergia a campanhas está ligada a um velho ditado que afirma: “Aquele que entra em um conclave como papa sai como cardeal”.
Embora esse ditado seja verdade, ele foi desafiado por pelo menos dois conclaves nas últimas décadas, inclusive em 1963, quando o cardeal Giovanni Montini foi eleito Paulo VI e, em 2005, com a escolha do cardeal Joseph Ratzinger como Bento XVI. Ambos os candidatos eram os primeiros colocados e ambos foram escolhidos porque estavam muito acima dos restantes.
Favorito sem campanha
Para o conclave de 2013, no entanto, O’Connell demonstra que a candidatura de Bergoglio para o papado permaneceu ao alcance do radar, e ele só emergiu como candidato pouco antes da eleição. Ele também afirma categoricamente que não houve uma campanha orquestrada pelo “Time Bergoglio”.
O arcebispo de Buenos Aires, explica o livro, telefonou para o autor para explicar que planejava chegar em Roma no dia 3 ou 4 de março, menos de 10 dias antes do início do conclave. Embora mais tarde ele tenha antecipado a sua hora de chegada, dificilmente se tratava de gestos de alguém que esperava ser eleito.
Na época do último conclave, Bergoglio tinha 76 anos e havia ultrapassado a idade da aposentadoria episcopal; ele não tinha uma rede em Roma fazendo lobby pela sua candidatura, e o bloco progressista de cardeais conhecido como o grupo Sankt Gallen – que alguns dizem que pressionou pela sua eleição – havia realizado seus últimos encontros em 2006.
Sim, Bergoglio recebeu votos suficientes nas eleições de 2005 para impedir a eleição de Ratzinger, mas, em 2013, ele não era visto como um favorito. O’Connell relata que havia pouco acordo entre os cardeais sobre quem deveria ser eleito até os últimos dias antes do conclave. Foi apenas gradualmente que eles começaram a reconhecer que o homem que se tornaria o Papa Francisco estava bem no meio deles.
O divisor de águas foi um discurso no sábado, 9 de março de 2013, quando o arcebispo de Buenos Aires eletrizou os cardeais com um discurso pedindo que a Igreja evangelizasse nas periferias e evitasse a doença da autorreferencialidade. A partir daquele momento, ele começou a ser levado a sério como candidato.
Demais candidatos
Enquanto isso, enquanto Bergoglio só entraria na disputa perto do fim, os três candidatos fortemente indicados em 2013 desapareceram gradualmente, apesar das várias redes de lobby por trás deles.
O principal concorrente, há seis anos, era o cardeal Angelo Scola, que recebeu 30 votos na primeira votação (Bergoglio recebeu 26). Com o apoio do jornal La Repubblica e de influentes grupos católicos na Itália, os bispos do país estavam tão certos de o terem escolhido que enviaram um comunicado de imprensa agradecendo a Deus pela eleição do prelado de Milão, enquanto Bergoglioaparecia na sacada de São Pedro.
Mas O’Connell explica que, apesar dos seus muitos dons, a maioria dos cardeais eleitores sentiram que o erudito Scola teria dificuldade para se conectar com o povo. Depois, estava o cardeal de São Paulo, Odilo Scherer. Como latino-americano com qualidades pastorais, ele foi levado seriamente em consideração. Mas ele também era o candidato da Cúria Romana e, na opinião de um cardeal italiano, “corria o risco de ser seu fantoche”. Ele, então não conseguiu impressionar quando o seu discurso durante as reuniões pré-conclave ultrapassou o tempo especificado.
Outro candidato era o cardeal Marc Ouellet, de Roma, um teólogo multilíngue do Quebec, Canadá, prefeito da Congregação para os Bispos. Um grupo conservador de cardeais achava que ele era o escolhido, dada a sua associação com a escola de teologia Communio, que era vista como um contrapeso à teologia mais progressista da era pós-Vaticano II.
Ouellet era conhecido como um homem gentil, mas O’Connell explica que os eleitores temiam que ele “não ouvisse o que as pessoas dizem”, mantivesse posições teológicas intransigentes e tivesse “habilidades administrativas” fracas.
Então, na véspera do conclave, Ouellet deu uma entrevista à principal emissora do Canadá, na qual ele falou sobre a possibilidade de se tornar papa. Os eleitores sentiram que a declaração foi dada em um mau momento e mostrava uma falta de juízo. O’Connell ressalta que o último cardeal a dar uma entrevista na véspera do conclave foi o cardeal Giuseppe Siri, o favorito para suceder João Paulo I em 1978. Ele acabou como segundo colocado.
Resistência às pressões externas
O segundo ponto do livro é como os conclaves são projetados para resistir às pressões externas, graças às decisões de João Paulo II e Bento XVI.
Grande parte disso se deve à longa história de tentativas de manipular conclaves, como em 1903, quando o imperador austríaco Franz Joseph usou um veto na eleição que escolheu o Papa Pio X. Hoje, os cardeais entregam seus telefones antes de entrar na Capela Sistina e são separados do mundo enquanto votam.
O’Connell lembra aos leitores que, antes do conclave de 2013, Mario Cuomo, ex-governador de Nova York, concedeu uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera exaltando as virtudes do cardeal de Nova York, Timothy Dolan, para o papado. Ele o descreveu como “o homem certo para este momento extraordinário da história” que poderia “provocar uma primavera no Vaticano”.
Essa intervenção foi mal recebida, e os eleitores “não gostaram nem um pouco” disso, explica o livro.
Imagine, então, o que os cardeais de hoje devem pensar sobre as críticas de Steve Bannon ao Papa Francisco e sobre o seu plano de comissionar “gladiadores” ideológicos em um antigo mosteiro a 100 quilômetros de Roma. O lobby por parte do ex-estrategista-chefe do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz a intervenção do governador Cuomo parecer inofensiva e sofrerá uma forte resistência.
O mesmo pode ser dito sobre o Red Hat Report, um grupo que está planejando gastar mais de um milhão de dólares para compilar dossiês sobre os cardeais para tentar influenciar o próximo conclave. Ao fazer suas escolhas sobre os candidatos papais, O’Connell explica que os cardeais ignoram os grupos de lobby e buscam líderes confiáveis que tenham experiência na liderança de grandes dioceses.
“Eu acho que é a Igreja local com uma forte fé católica que pode produzir o próximo papa”, disse o cardeal indiano Telesphore Toppo antes da eleição de Francisco. “O papa deve de alguma forma representar toda a Igreja e deve ter suas raízes em uma Igreja local verdadeiramente unida.”
Durante seu papado, Francisco completou o Colégio dos Cardeais com bispos de variados cantos do mundo, muitos dos quais atuam nas linhas de frente do trabalho da Igreja. O campo está aberto agora no que se refere a possíveis candidatos.
Continuidade entre papados
A terceira lição do livro de O’Connell é a regra da continuidade entre os papados.
Uma recente tentativa de colocar Bento XVI contra Francisco sobre os abusos sexuais clericais é amplamente vista em Roma como uma manobra pré-conclave, destinada a pavimentar o caminho para um candidato preparado para romper com este pontificado.
No entanto, tanto Bento quanto Francisco rejeitam as tentativas de criar atrito entre eles, assim como a maioria dos cardeais eleitores. Não existe algo como um pontificado “autoproclamado”: cada papa se baseia no ministério do seu antecessor. A regra da continuidade é que é improvável que o próximo papa atrase dramaticamente o relógio em relação ao papado de Francisco, que se enraizou nas reformas do Concílio Vaticano II e na tradição viva da Igreja.
Isso não quer dizer que o próximo papa não traga nada de novo para o papel: Franciscoe Bento XVI são personalidades muito diferentes, com estilo e abordagem próprios. Mas o livro de O’Connell mostra que os seus destinos estão tão interligados que, sem a histórica renúncia de Bento XVI em 2013, Bergoglio nunca teria sido eleito.
Pode-se dizer também que Francisco assegurou que Ratzinger fosse eleito. Sem a decisão do jesuíta latino-americano de renunciar à sua pretensão ao papado em 200 5, o cardeal alemão nunca teria ascendido à cátedra de São Pedro.
Um diário secreto de um cardeal que participou da eleição de 2005 revelou como Bergoglio recebeu 35 votos naquele conclave, o suficiente para impedir a eleição de Ratzinger. O’Connell escreve que vários eleitores lhe disseram que o cardeal argentino, sentindo que seria um conclave prolongado e que prejudicaria a unidade da Igreja, retirou sua candidatura. Oito anos depois, seria a dramática decisão de Bento XVI de renunciar que abriria espaço para que um forasteiro como Bergoglio fosse eleito.
Estilo de vida humilde e austero
“A eleição do Papa Francisco” vale a pena ser lido apenas pelas anedotas e pelas intuições obtidas pelo autor a partir de sua proximidade com as principais figuras do conclave de 2013.
O’Connell relata as conversas pessoais que teve com Bergoglio no período que antecedeu sua eleição e dá uma ideia de por que o arcebispo jesuíta de Buenos Aires impressionou os cardeais com seu estilo de vida humilde e austero e sua proximidade com os marginalizados,
Ele explica como, na Argentina, Bergoglio transformou o imponente escritório do seu antecessor em uma despensa para que alimentos e roupas fossem distribuídos aos pobres, enquanto ele morava em um simples apartamento de um quarto.
O’Connell também falou com a religiosa que dirige a Domus Paulus VI, a residência do clero em Roma, onde Bergoglio ficou durante o pré-conclave e mais tarde retornou como papa para pagar a conta. Uma de suas faxineiras disse: “Ele [Francisco] era o único padre que arrumava a própria cama”.
No domingo antes do conclave, quando os cardeais tradicionalmente celebram a missa em suas Igrejas titulares em Roma, em meio a uma grande fanfarra da mídia, o homem que estava prestes a ser eleito como Papa Francisco, decidiu evitar os holofotes e rezou a missa em privado para um pequeno grupo de amigos na capela da Domus.
Depois, ele almoçou com a irmã de 90 anos de um ex-embaixador papal na Argentina, Ubaldo Calabresi, que o nomeou bispo e apoiou seu ministério. Dois dias depois, ele entrou na Capela Sistina para o conclave, e, na quarta-feira 13 de março de 2013, após seis rodadas de votação, recebeu 85 votos dos 115 eleitores. Então, ele saiu para saudar o mundo como o 266º sucessor de São Pedro.
O próximo conclave parece ter tudo para ser uma poderosa batalha, mas o palco está preparado para outra surpresa. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
NESTE DIA 24. AUDIÊNCIA GERAL COM O PAPA: “Nem tudo se resolve com a justiça; é preciso perdoar”. Francisco.
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O Papa Francisco retomou seu ciclo de catequeses sobre a oração do “Pai-Nosso”, comentando hoje a frase “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Com a Praça São Pedro ainda enfeitada com as flores da Páscoa, o Papa Francisco se reuniu com milhares de fiéis e peregrinos para a Audiência Geral. O Pontífice retomou seu ciclo de catequeses sobre a oração do “Pai-Nosso”, comentando hoje a frase “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Não existem na Igreja "self made man"
Realmente não existe espaço para a presunção quando unimos as mãos para rezar, disse o Papa. “Não existem na Igreja 'self made man', homens que se fizeram sozinhos. Somos devedores de Deus e de tantas pessoas que nos deram condições de vida favoráveis. A nossa identidade se constrói a partir do bem recebido, sendo a vida o primeiro deles.
"Quem reza, aprende a dizer 'obrigado' e nós esquecemos disso, somos egoístas", disse o Papa. Quem reza, prosseguiu, pede a Deus que seja benévolo com ele. Por mais que nos esforcemos, permanece sempre uma dívida diante de Deus, que jamais poderemos restituir: Ele nos ama infinitamente mais do que aquilo que nós podemos amá-Lo. E por mais que nos comprometamos a viver segundo os ensinamentos cristãos, sempre haverá algo para o qual pedir perdão.
Quem recebe, deve doar
Todo cristão sabe que existe para ele o perdão dos pecados, nada no Evangelho faz pensar o contrário. Todavia, a graça de Deus assim tão abundante, é sempre empenhativa. “Quem recebeu deve aprender a dar, e não prender para si o que recebeu. No Evangelho de Mateus se dá destaque justamente a esta frase do perdão fraterno: Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.
“Isso é forte. Ouvi algumas vezes pessoas dizerem que jamais perdoariam. Mas se você não perdoa, Deus não perdoará.” Francisco contou a experiência de um sacerdote que foi ministrar o último sacramento a uma idosa que não estava disposta a perdoar. “Se você não perdoar, Deus não perdoará”, repetiu o Papa. “Pensemos aqui se somos capazes de perdoar. Se não conseguir, peça ao Senhor que lhe dê a força.”
Nem tudo se resolve com a justiça
Aqui reencontramos a junção entre o amor por Deus e pelo próximo. Amor chama amor, perdão chama perdão. Francisco então citou a parábola da dívida do servo com o Rei. “Se você não se esforçar em perdoar, não será perdoado; se não se esforçar em amar, não será amado.”
Jesus insere nas relações humanas a força do perdão. Na vida, nem tudo se resolve com a justiça. É preciso amar além do devido, pois o mal conhece as suas vinganças e se não for interrompido, corre o risco de se expandir sufocando o mundo inteiro.
Lei de talião
Jesus substitui a lei de talião pela lei do amor: Agora não é mais “o que fizer a mim, eu restituo a você”, mas “o que Deus fez a mim, eu faço a você”. “Pensemos nesta semana de Páscoa tão bela se eu estou disposto a perdoar e, se não me sinto capaz, pedir ao Senhor a graça de perdoar. Perdoar é uma graça”, convidou o Pontífice, que concluiu:
“ Deus doa a cada cristão a graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente daqueles que realizaram coisas ruins. Com uma palavra, um abraço e um sorriso podemos transmitir aos outros aquilo que recebemos de mais precioso: o perdão. ”
Revezamento pela Esperança
Ao final da Audiência, o Papa saudou os jovens da Arquidiocese de Milão, que no dia anterior haviam recebido terços da JMJ por parte do Pontífice, por ocasião do seu onomástico (23 de abril, festa de São Jorge).
Na Praça também estava presente uma delegação do “Revezamento pela Esperança – Direção Papa Francisco”.
Trata-se de uma maratona dedicada a crianças e jovens que sofrem de leucemia, tumores e doenças raras. O revezamento atravessou cinco regiões italianas, percorrendo 530 km de Pádua até a Praça São Pedro, no Vaticano.
O último bastão foi entregue ao Papa por uma criança de quatro anos que foi curada de uma grave forma de tumor. Fonte: www.vaticannews
Papa diz que pessoas que rejeitam homossexuais 'não têm coração humano'
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Declaração foi feita a comediante britânico Stephen K. Amos em programa de TV. 'Se uma pessoa tem uma tendência ou outra, isso não lhe tira a dignidade como pessoa', disse o Papa.
Por Agência EFE
Papa Francisco disse que ' dar mais importância ao adjetivo (gay) do que ao substantivo (homem) não é bom'
O Papa Francisco afirmou durante uma conversa com o comediante britânico Stephen K. Amos - que ainda não foi ao ar, mas teve trechos antecipados nesta sexta-feira (19) pela rede de televisão "BBC" nas redes sociais - que as pessoas que rejeitam os homossexuais "não têm coração humano".
Na conversa para o programa "Pilgrimage: The Road To Rome", o comediante conta ao Papa Francisco que não é crente e que viajou a Roma "em busca de respostas e fé".
"Porém, como homem gay, não me sinto aceito", disse Stephen.
Diante dessa questão, o Papa Francisco disse imediatamente que dar "mais importância ao adjetivo [gay] do que ao substantivo [homem] não é bom". "Todos somos seres humanos, temos dignidade. Se uma pessoa tem uma tendência ou outra, isso não lhe tira a dignidade como pessoa", disse Francisco.
"As pessoas que decidem rejeitar o outro por um adjetivo não têm coração humano", acrescentou Francisco, deixando Amos visivelmente emocionado.
O Papa Francisco já havia defendido em várias ocasiões a necessidade de respeitar pessoas homossexuais e, na viagem de retorno a Roma após uma visita ao Brasil, em 2013, perguntou quem era ele para julgar os gays.
Além disso, no Sínodo de Bispos sobre a família realizado em outubro de 2014 foi aprovado um extenso documento no qual lançava uma reflexão sobre problemas da família atual, como os divorciados casados novamente, e apoiava uma Igreja Católica que acolhesse todos, incluindo os homossexuais. Fonte: https://g1.globo.com
SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO: A VIA-SACRA NO COLISEU
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A VIA-SACRA NO COLISEU PRESIDIDA POR SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO. ROMA, 19 DE ABRIL DE 2019. SEXTA-FEIRA SANTA.
*Meditações da irmã Eugenia Bonetti
Com Cristo e com as mulheres no caminho da cruz
INTRODUÇÃO
Passaram-se já quarenta dias desde a imposição das cinzas, quando começamos o caminho da Quaresma. Hoje revivemos as últimas horas da vida terrena do Senhor Jesus até ao momento em que, suspenso na cruz, gritou o seu «consummatum est – tudo está consumado». Reunidos neste lugar, onde, no passado, milhares de pessoas sofreram o martírio por ter permanecido fiéis a Cristo, queremos agora percorrer este «caminho doloroso» juntamente com todos os pobres, com os excluídos da sociedade e os novos crucificados da história atual, vítimas dos nossos fechamentos, dos poderes e legislações, da cegueira e do egoísmo, mas sobretudo do nosso coração endurecido pela indiferença. Esta é uma doença de que também nós cristãos sofremos. Possa a cruz de Cristo – instrumento de morte, mas também de vida nova que mantém unidos num abraço terra e céu, norte e sul, leste e oeste – iluminar a consciência dos cidadãos, da Igreja, dos legisladores e de quantos se professam seguidores de Cristo, para que a todos chegue a Boa Nova da redenção.
I- ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte
«Nem todo o que Me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céus» (Mt 7, 21)
Reflexão
Senhor, quem mais do que Maria, tua Mãe, soube ser teu discípulo? Ela aceitou a vontade do Pai, inclusive no momento mais escuro da sua vida, e, com o coração despedaçado, ficou ao teu lado. Aquela que Te gerou, trouxe no ventre, acolheu nos braços, nutriu com amor e acompanhou durante a tua vida terrena, não podia deixar de percorrer o mesmo caminho do Calvário e partilhar contigo o momento mais dramático e doloroso da tua e da sua existência.
Oração
Senhor, quantas mães vivem ainda hoje a experiência da tua Mãe e choram pela sorte das suas filhas e dos seus filhos! Quantas, depois de os ter gerado e dado à luz, veem-nos padecer e morrer por doença, por falta de comida, de água, de cuidados médicos e de oportunidades de vida e futuro! Pedimos-Te por aqueles que ocupam posições de responsabilidade para que escutem o grito dos pobres que, de todas as partes do mundo, se eleva para Ti: grito de todas aquelas vidas jovens, que de diferentes maneiras são condenadas à morte pela indiferença gerada por políticas excludentes e egoístas. Que não falte a nenhum dos teus filhos o trabalho e o necessário para uma vida honesta e digna.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a fazer a tua vontade»
- Nos momentos de dificuldade e transtorno
- Nos momentos de sofrimento físico e moral
- Nos momentos de trevas e solidão.
II- ESTAÇÃO
Jesus carrega a cruz
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-Me» (Lc 9, 23)
Reflexão
Senhor Jesus é fácil trazer o crucifixo ao peito ou dependurá-lo como ornamento nas paredes das nossas belas catedrais ou de nossas casas, mas não é tão fácil encontrar e reconhecer os novos crucificados de hoje: os sem-abrigo, os jovens sem esperança, sem emprego nem perspetivas, os imigrantes obrigados a viver nas barracas à margem da nossa sociedade, depois de terem enfrentado tribulações inauditas. Infelizmente, estes acampamentos, sem segurança, são queimados e arrasados juntamente com os sonhos e as esperanças de milhares de mulheres e homens marginalizados, explorados, esquecidos. Além disso, quantas crianças são discriminadas por causa da sua proveniência, da cor da pele ou da sua condição social! Quantas mães sofrem a humilhação de ver os seus filhos ridicularizados e excluídos das oportunidades que têm os seus coetâneos e colegas de escola!
Oração
Agradecemos-Te, Senhor, porque, com a tua própria vida, nos deste exemplo de como se manifesta o amor verdadeiro e desinteressado pelo próximo, particularmente pelos inimigos ou, simplesmente, por quem não é como nós. Senhor Jesus, quantas vezes também nós, como teus discípulos, nos declaramos abertamente teus seguidores nos momentos em que realizavas curas e prodígios, quando davas de comer à multidão e perdoavas os pecados. Mas não foi tão fácil compreender-Te quando falavas de serviço e perdão, de renúncia e sofrimento. Ajuda-nos a saber como colocar sempre a nossa vida ao serviço dos outros.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a esperar»
- Quando nos sentimos abandonados e sozinhos
- Quando é difícil seguir os teus passos
- Quando o serviço aos outros se torna difícil.
III- ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez
«Tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores» (Is 53, 4)
Reflexão
Senhor Jesus, na estrada íngreme que leva ao Calvário, quiseste experimentar a fragilidade e fraqueza humanas. Que seria hoje a Igreja sem a presença e a generosidade de tantos voluntários, os novos samaritanos do terceiro milénio? Em noite fria de janeiro, numa estrada dos arredores de Roma, três africanas, pouco mais do que crianças, aninhadas no chão ao redor dum braseiro aqueciam o seu corpo jovem seminu. Alguns rapazolas que passavam de carro, para se divertir lançaram material inflamável no fogo, queimando-as gravemente. Naquele mesmo momento, passou uma das muitas unidades de voluntários de rua que as socorreram, levando-as ao hospital e acabando depois por alojá-las numa casa-família. Quanto tempo foi e ainda será necessário para que aquelas meninas se curem não apenas das queimaduras nos membros, mas também da tristeza e humilhação de se encontrar com um corpo mutilado e desfigurado para sempre?
Oração
Senhor, agradecemos-Te pela presença de tantos novos samaritanos do terceiro milénio que ainda hoje vivem a experiência do caminho, inclinando-se com amor e compaixão sobre as inúmeras feridas físicas e morais de quem vive, cada noite, o medo e o pavor das trevas, da solidão e da indiferença. Senhor, infelizmente muitas vezes hoje já não sabemos individuar quem passa necessidade, ver quem está ferido e humilhado. Muitas vezes reivindicamos os nossos direitos e interesses, mas esquecemos os dos pobres e dos últimos da fila. Senhor, concede-nos a graça de não ficar insensíveis às suas lágrimas, aos seus sofrimentos, ao seu grito de dor, porque, através deles, podemos encontrar-Te.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a amar»
- Quando cansa ser samaritano
- Quando nos custa perdoar
- Quando não queremos ver o sofrimento dos outros.
IV- ESTAÇÃO
Jesus encontra Maria, sua Mãe
«Uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações» (Lc2, 35)
Reflexão
Maria, o velho Simeão predissera-Te, quando foste ao templo para apresentares Jesus menino e para o rito da purificação, que uma espada trespassaria o teu coração. Agora é o momento de renovar o teu fiat, a tua adesão ao querer do Pai, mesmo se o acompanhamento dum filho ao patíbulo, tratado como malfeitor, provoca uma dor lancinante. Senhor, tem piedade de tantas, demasiadas mães que deixaram partir as suas jovens filhas para a Europa na esperança de ajudar a sua família em pobreza extrema, mas encontraram humilhações, desprezo e, às vezes, até a morte. Como a jovem Tina barbaramente assassinada na estrada quando tinha apenas vinte anos, deixando uma bebé de poucos meses.
Oração
Maria, neste momento, Tu vives o mesmo drama de tantas mães que sofrem pelos seus filhos que partiram para outros países na esperança de encontrar oportunidades para um futuro melhor para eles e suas famílias, mas, infelizmente, o que encontram é humilhação, desprezo, violência, indiferença, solidão e até a morte. Dá-lhes força e coragem.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, faz que saibamos sempre dar apoio e conforto e estar presente para oferecer ajuda»
- Às mães que choram a sorte dos seus filhos
- A quem, na vida, perdeu toda a esperança
- A quem, todos os dias, sofre violência e desprezo.
V- ESTAÇÃO
O Cireneu ajuda Jesus a levar a cruz
«Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo» (Gal 6, 2)
Reflexão
Senhor Jesus, a caminho do Calvário, sentiste forte o peso e a fadiga de carregar aquela tosca cruz de madeira. Em vão, esperaste pelo gesto de ajuda vindo dum amigo, dum dos teus discípulos, duma das inúmeras pessoas cujos sofrimentos aliviaste. Só um desconhecido, Simão de Cirene, e por constrição Te deu uma mão. Onde estão hoje os novos cireneus do terceiro milênio? Onde os encontramos? Quero recordar a experiência dum grupo de religiosas de diferentes nacionalidades, proveniências e congregações com as quais todos os sábados, há mais de dezassete anos, visitamos em Roma um Centro para mulheres imigradas sem documentos: mulheres, frequentemente jovens, à espera de conhecer o seu destino, oscilando entre expulsão e possibilidade de permanecer. Nestas mulheres, quanto sofrimento encontramos, mas também quanta alegria ao depararem-se com religiosas originárias dos seus países, que falam a sua língua, limpam as suas lágrimas, compartilham momentos de oração e de festa, tornam menos duros os longos meses passados por detrás de barras de ferro e no asfalto de cimento!
Oração
Por todos os cireneus da nossa história, para que jamais esmoreça neles o desejo de Te acolher sob a fisionomia dos últimos da terra, cientes de que, ao acolher os últimos da nossa sociedade, Te acolhemos a Ti. Que estes samaritanos sejam porta-voz de quem não tem voz.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a levar a nossa cruz»
- Quando estamos cansados e desanimados
- Quando sentimos o peso das nossas fraquezas
- Quando nos pedes para compartilhar os sofrimentos dos outros.
VI- ESTAÇÃO
A Verônica limpa o rosto de Jesus
«Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40)
Reflexão
Pensemos nas crianças que, em tantas partes do mundo, não podem ir à escola, mas são exploradas nas minas, nos campos, na pesca, vendidas e compradas – por traficantes de carne humana – para transplante de órgãos, e também usadas e exploradas nas nossas estradas por muitos, inclusive cristãos, que perderam o sentido da sacralidade própria e alheia. Como aquela menor de corpinho frágil, encontrada uma noite em Roma, com uma fila de homens a bordo de carros luxuosos para dela se aproveitarem. E, no entanto, poderia ter a idade das suas filhas... Que grande desequilíbrio pode criar esta violência na vida de tantas jovens que sentem apenas o abuso, a arrogância e a indiferença de quem, de noite e de dia, as procura, usa, explora, para depois as jogar de novo na estrada como presa do próximo mercante de vidas!
Oração
Senhor Jesus, limpa os nossos olhos, para sabermos descobrir o teu rosto nos nossos irmãos e irmãs, especialmente em todas aquelas crianças que, em tantas partes do mundo, vivem na indigência e na miséria. Crianças privadas do direito a uma infância feliz, a uma educação escolar, à inocência. Criaturas usadas como mercadoria de pouco valor, vendidas e compradas à vontade do freguês. Senhor, pedimos-Te que tenhas piedade e compaixão deste mundo doente e nos ajudes a redescobrir a beleza da dignidade, nossa e alheia, de seres humanos criados à tua imagem e semelhança.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a ver»
- O rosto das crianças inocentes que pedem ajuda
- As injustiças sociais
- A dignidade que cada pessoa encerra em si e é espezinhada.
VII- ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez
«Ao ser insultado, não respondia com insultos, (…) mas entregava-Se Àquele que julga com justiça» (1 Ped 2, 23)
Reflexão
Quantas vinganças no nosso tempo! A sociedade atual perdeu a noção do grande valor do perdão, dom por excelência, remédio para as feridas, fundamento da paz e da convivência humana. Numa sociedade onde o perdão é visto como fraqueza, Tu, Senhor, pedes-nos para não nos determos na aparência. E não o fazes com as palavras, mas sim com o exemplo. Tu, a quem Te maltrata, respondes «por que Me persegues?», bem sabendo que a verdadeira justiça nunca se pode basear no ódio e na vingança. Torna-nos capazes de pedir e dar perdão.
Oração
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). Também Tu, Senhor, sentiste o peso da condenação, da rejeição, do abandono, do sofrimento infligido por pessoas que Te tinham encontrado, acolhido e seguido. Foi na certeza de que o Pai não Te havia abandonado que encontraste a força para aceitar a sua vontade, perdoando, amando e oferecendo esperança a quem, como Tu, hoje caminha pela mesma estrada da zombaria, do desprezo, do escárnio, do abandono, da traição e da solidão.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a dar conforto»
- A quem se sente ofendido e insultado
- A quem se sente traído e humilhado
- A quem se sente julgado e condenado.
VIII- ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres
«Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos» (Lc 23, 28)
Reflexão
A situação social, econômica e política dos migrantes e das vítimas do tráfico de seres humanos interpela-nos e mexe conosco. Devemos ter a coragem – como afirma vigorosamente o Papa Francisco – de denunciar como crime contra a humanidade o tráfico de seres humanos. Todos nós, especialmente os cristãos, devemos crescer na consciência de que somos todos responsáveis pelo problema e todos podemos e devemos ser parte da solução. A todos, mas sobretudo a nós mulheres, é pedida a coragem do desafio. A coragem de saber ver e agir, individualmente e como comunidade. Só juntando as nossas pobrezas é que estas poderão tornar-se uma grande riqueza, capaz de mudar a mentalidade e aliviar os sofrimentos da humanidade. O pobre, o estrangeiro, o diferente não deve ser visto como um inimigo a rejeitar ou a combater, mas sim como um irmão ou uma irmã a acolher e ajudar. Não são um problema, mas um recurso precioso para as nossas cidadelas blindadas, onde o bem-estar e o consumo não aliviam o crescente cansaço e fadiga.
Oração
Senhor, ensina-nos a possuir o teu olhar; aquele olhar de acolhimento e misericórdia, com que vês os nossos limites e os nossos medos. Ajuda-nos a ver assim as divergências de ideias, costumes e perspetivas. Ajuda a reconhecermo-nos como parte da mesma humanidade e a fazermo-nos promotores de novos e ousados caminhos de acolhimento da pessoa diferente, para juntos criarmos comunidade, família, paróquia e sociedade civil.
Rezemos juntos, dizendo: «Ajuda-nos a compartilhar o sofrimento alheio»
- Com quem sofre pela morte de entes queridos
- Com quem sente dificuldade em pedir ajuda e conforto
- Com quem experimentou abusos e violências.
IX-ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez
«Foi maltratado, mas humilhou-Se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro» (Is53, 7)
Reflexão
Senhor, pela terceira vez, caíste, exausto e humilhado, sob o peso da cruz. Precisamente como tantas moças, forçadas à vida de estrada por grupos de traficantes de escravos, as quais não aguentam a fadiga e a humilhação de ver o seu corpo jovem manipulado, abusado, destruído, juntamente com os seus sonhos. Aquelas jovens mulheres sentem-se como que desdobradas: por um lado procuradas e usadas, por outro rejeitadas e condenadas por uma sociedade que se recusa a ver este tipo de exploração, causado pela afirmação da cultura do usa e joga fora. Numa das muitas noites passadas pelas estradas de Roma, eu procurava uma jovem que acabava de chegar à Itália. Não a vendo no seu grupo, chamava-a insistentemente pelo nome: «Mercy». Na escuridão, vislumbrei-a aninhada e adormecida na beira da estrada. À minha chamada, acordou e disse-me que não aguentava mais. «Estou exausta»: repetia. Pensei na sua mãe: se soubesse o que aconteceu à filha, secavam-lhe as lágrimas.
Oração
Senhor, quantas vezes nos fizeste esta pergunta incômoda: «Onde está o teu irmão? Onde está a tua irmã?» Quantas vezes nos lembraste que o seu grito lancinante tinha chegado a Ti! Ajuda-nos a compartilhar o sofrimento e a humilhação de tantas pessoas tratadas como desperdício. É demasiado fácil condenar seres humanos e situações de mal-estar que humilham a nossa falsa modéstia, mas não é tão fácil assumirmos as nossas responsabilidades como indivíduos, governos e também comunidades cristãs.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, dá-nos força e coragem para denunciar»
- À vista da exploração e da humilhação vivida por tantos jovens
- À vista da indiferença e do silêncio de muitos cristãos
- À vista de leis injustas carentes de humanidade e solidariedade.
X- ESTAÇÃO
Jesus é despojado das suas vestes
«Revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência» (Col 3, 12)
Reflexão
Dinheiro, bem-estar, poder. São os ídolos de todos os tempos. Também e sobretudo do nosso, que se vangloria de passos enormes dados no reconhecimento dos direitos da pessoa. Tudo é adquirível, inclusive o corpo dos menores, depredados da sua dignidade e do seu futuro. Esquecemos a centralidade do ser humano, a sua dignidade, beleza, força. Enquanto no mundo se vão levantando muros e barreiras, queremos recordar e agradecer àqueles que nestes últimos meses, com funções diferentes, arriscaram a própria vida, especialmente no mar Mediterrâneo, para salvar a vida de tantas famílias à procura de segurança e oportunidades. Seres humanos, em fuga de pobreza, ditaduras, corrupção, escravidão.
Oração
Ajuda-nos, Senhor, a redescobrir a beleza e a riqueza que cada pessoa e cada povo encerram em si mesmos como um presente teu, único e irrepetível, para ser colocado ao serviço de toda a sociedade e não para servir interesses pessoais. Pedimos-Te, Jesus, que o teu exemplo e o teu ensinamento de misericórdia e perdão, de humildade e paciência nos tornem um pouco mais humanos e, consequentemente, mais cristãos.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, dá-nos um coração cheio de misericórdia»
- Perante a avidez do prazer, do poder e do dinheiro
- Perante as injustiças infligidas aos pobres e aos mais frágeis
- Perante a miragem de interesses pessoais.
XI- ESTAÇÃO
Jesus é pregado na cruz
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34)
Reflexão
A nossa sociedade proclama a igualdade em direitos e dignidade de todos os seres humanos. Mas pratica e tolera a desigualdade. Aceita até as suas formas mais extremas. Homens, mulheres e crianças são comprados e vendidos como escravos pelos novos mercantes de seres humanos. Depois, as vítimas deste tráfico são exploradas por outros indivíduos. E por fim jogadas fora, como mercadoria sem valor. Quantos enriquecem devorando a carne e o sangue dos pobres!
Oração
Senhor, quantas pessoas acabam ainda hoje pregadas numa cruz, vítimas duma exploração desumana, privadas da dignidade, da liberdade, do futuro. O seu grito de ajuda interpela-nos como homens e mulheres, como governos, como sociedade e como Igreja. Como é possível continuarmos a crucificar-Te, tornando-nos cúmplices do tráfico de seres humanos? Dá-nos olhos para ver e um coração para sentir os sofrimentos de tantas pessoas que ainda hoje são pregadas na cruz pelos nossos sistemas de vida e consumo.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, piedade»
- Pelos novos crucificados de hoje, espalhados por toda a terra
- Pelos poderosos e legisladores da nossa sociedade
- Por quem não sabe perdoar nem sabe amar.
XII- ESTAÇÃO
Jesus morre na cruz
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34)
Reflexão
Também Tu, Senhor, sentiste na cruz o peso da zombaria, do escárnio, dos insultos, das violências, do abandono, da indiferença. Apenas Maria, tua Mãe, e poucas mais discípulas permaneceram lá, testemunhas do teu sofrimento e da tua morte. Que o seu exemplo nos inspire a comprometer-nos para não deixar sentir a solidão a quantos agonizam hoje nos inúmeros calvários espalhados pelo mundo, incluindo os campos de arrecadação que parecem «lágueres» nos países de trânsito, os navios a que é recusado um porto seguro, as longas negociações burocráticas para o destino final, os centros de permanência, os pontos de acesso, os campos para trabalhadores sazonais.
Oração
Nós Te pedimos, Senhor: ajuda a aproximar-nos dos novos crucificados e desesperados do nosso tempo. Ensina-nos a limpar as suas lágrimas, a confortá-los como souberam fazer Maria e as outras mulheres ao pé da tua cruz.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a dar a nossa vida»
- A quantos sofreram injustiças, ódio e vingança
- A quantos foram injustamente caluniados e condenados
- A quantos se sentem sozinhos, abandonados e humilhados.
XIII- ESTAÇÃO
Jesus é descido da cruz
«Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24)
Reflexão
Quem se lembra, nesta época de notícias depressa arquivadas, daquelas vinte e seis jovens nigerianas engolidas pelas ondas, cujos funerais foram celebrados em Salerno? Foi duro e longo o seu calvário. Primeiro, a travessia do deserto do Saara, empilhadas em transportes improvisados. Depois, a paragem forçada nos espaventosos centros de arrecadação na Líbia. Por fim, o salto para o mar, onde encontraram a morte às portas da «terra prometida». Duas delas traziam no ventre o dom duma nova vida, bebés que nunca verão a luz do sol. Mas a sua morte, como a de Jesus descido da cruz, não foi em vão. Todas estas vidas, confiamo-las à misericórdia do Pai nosso e de todos, mas sobretudo Pai dos pobres, dos desesperados e dos humilhados.
Oração
Senhor, nesta hora, ouvimos ressoar mais uma vez o grito que o Papa Francisco elevou de Lampedusa, meta da sua primeira viagem apostólica: «Quem chorou?» E agora, depois de naufrágios sem fim, continuamos a gritar: «Quem chorou?» Quem chorou?: perguntamo-nos diante daqueles vinte e seis caixões alinhados e encimados por uma rosa branca. Apenas cinco delas foram identificadas. Com ou sem nome, todas elas, porém, são nossas filhas e irmãs. Todas merecem respeito e memória. Todas nos pedem para nos sentirmos responsáveis: instituições, autoridades e nós também, com o nosso silêncio e a nossa indiferença.
Rezemos juntos, dizendo: «Senhor, ajuda-nos a compartilhar o pranto»
- Perante os sofrimentos alheios
- Perante todos os caixões sem nome
- Perante o choro de tantas mães.
XIV- ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro
«Tudo está consumado» (Jo 19, 30).
Reflexão
O deserto e os mares tornaram-se os novos cemitérios de hoje. Perante estas mortes, não há respostas. Mas há responsabilidades. Irmãos que deixam morrer outros irmãos. Homens, mulheres, crianças que não pudemos ou não quisemos salvar. Enquanto os governos discutem, fechados nos palácios do poder, o Saara enche-se de esqueletos de pessoas que não resistiram à fadiga, à fome, à sede. Quanta dor custam os novos êxodos! Quanta crueldade que se encarniça sobre quem foge: as viagens do desespero, as extorsões e as violências, o mar transformado em túmulo de água!
Oração
Senhor, faz-nos entender que somos todos filhos do mesmo Pai. Possa a morte do teu Filho Jesus dar aos chefes das nações e aos responsáveis pela legislação a consciência do seu papel na defesa de toda a pessoa criada à tua imagem e semelhança.
CONCLUSÃO
Queremos lembrar a história da pequenina Favour, de nove meses, que deixou a Nigéria juntamente com seus jovens pais à procura dum futuro melhor na Europa. Durante a longa e perigosa viagem no Mediterrâneo, a mãe e o pai foram mortos juntamente com centenas de outras pessoas que se haviam confiado a traficantes sem escrúpulos para poder chegar à «terra prometida». Só Favour sobreviveu; como Moisés, também ela foi salva das águas. Que a sua vida se torne luz de esperança no caminho rumo a uma humanidade mais fraterna!
Oração
No final da tua Via-Sacra, pedimos-Te, Senhor, que nos ensines a permanecer vigilantes, juntamente com a tua Mãe e as mulheres que Te acompanharam no Calvário, à espera da tua ressurreição. Que esta seja farol de esperança, alegria, vida nova, fraternidade, acolhimento e comunhão entre os povos, as religiões e as leis, para que cada filho e filha do homem sejam verdadeiramente reconhecidos na sua dignidade de filho e filha de Deus e nunca mais sejam tratados como escravos! Fonte: http://www.vatican.va
*Missionária da Consolata e presidente da Associação “Slaves no more”. (Escravos nunca mais). Morou 24 anos no Quênia (costa leste da África) retornou à Itália para um centro de escuta para imigrantes.
MISSA DO CRISMA COM O PAPA: Íntegra da homilia
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Cidade do Vaticano
Nesta Quinta-feira Santa (18/04/2019), o Papa Francisco presidiu a Missa do Crisma, na Basílica de São Pedro. Segue, abaixo, a íntegra da homilia do Pontífice.
O Evangelho de Lucas, que acabamos de ouvir, faz-nos reviver a emoção do momento em que o Senhor Se assume a profecia de Isaías, lendo-a solenemente no meio do seu povo. A sinagoga de Nazaré estava cheia de parentes, vizinhos, conhecidos, amigos... e outros não muito amigos. E todos tinham os olhos fixos n’Ele. A Igreja tem sempre os olhos fixos em Jesus, o Ungido que o Espírito envia para ungir o povo de Deus.
Com frequência, os Evangelhos apresentam-nos esta imagem do Senhor no meio das multidões, cercado e comprimido pelas pessoas que lhe trazem os doentes, pedem-Lhe que expulse os espíritos malignos, escutam os seus ensinamentos e caminham com Ele. «As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-Me» (Jo 10, 27).
O Senhor nunca perdeu este contato direto com o povo, sempre manteve a graça da proximidade, com o povo no seu conjunto e com cada pessoa no meio daquelas multidões. Vemo-lo na sua vida pública, mas o mesmo aconteceu desde o princípio: o esplendor do Menino atraiu docilmente pastores, reis e idosos sonhadores como Simeão e Ana. E foi assim também na Cruz: o seu Coração atrai todos a si (cf. Jo 12, 32): verónicas, cireneus, ladrões, centuriões...
Aqui, o termo «multidões» não é depreciativo. Aos ouvidos de alguém, poderia talvez soar como uma massa anónima, indiferenciada; mas no Evangelho, quando as multidões interagem com o Senhor, que Se coloca no meio delas como um pastor no rebanho, vemos que aquelas se transformam: no espírito do povo, desperta o desejo de seguir Jesus, brota a admiração, toma forma o discernimento.
Gostaria de refletir convosco sobre estas três graças que caracterizam o relacionamento entre Jesus e as multidões.
A graça do seguimento
Lucas diz que as multidões «procuravam-No» (Lc 4, 42) e «seguiam com Ele» (Lc 14, 25), «apertavam-No» e «empurravam-No» (cf. Lc 8, 42-45) «juntando-se grande multidões para O ouvirem» (Lc 5, 15). Este seguimento do povo não é calculista, é um seguimento sem condições, cheio de carinho. Contrasta com a mesquinhez dos discípulos, cujo comportamento face ao povo se revela quase cruel quando sugerem ao Senhor que o mande embora para irem procurar algo de comer. Creio que o clericalismo começou aqui: nesta atitude de querer assegurar-se o próprio alimento e comodidade, desinteressando-se das pessoas. O Senhor cortou pela raiz esta tentação. «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,37), foi a resposta de Jesus: «Ocupai-vos do povo!».
A graça da admiração
A segunda graça, que a multidão recebe ao seguir Jesus, é a duma admiração cheia de alegria. O povo fica admirado com Jesus (cf. Lc 11, 14), com os seus milagres, mas sobretudo com a sua própria Pessoa. O povo gostava muito de saudá-Lo ao longo da estrada, ser abençoado por Ele e bendizê-Lo, como aquela mulher que do meio da multidão bendisse a sua Mãe. E o Senhor, por sua vez, ficava admirado com a fé do povo, regozijava-Se e não perdia ocasião de o fazer notar.
A graça do discernimento
A terceira graça, que recebe o povo, é a do discernimento. «As multidões, que souberam [para onde fora Jesus], seguiram-No» (Lc 9, 11). «A multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade» (Mt 7, 28-29; cf. Lc5, 26). Cristo, a Palavra de Deus feita carne, suscita nas pessoas este carisma do discernimento; certamente, não um discernimento de especialistas em assuntos controversos. Quando os fariseus e os doutores da lei discutiam com Ele, aquilo que o povo reconhecia era a Autoridade de Jesus: a força da sua doutrina, capaz de penetrar nos corações, e o facto de os espíritos malignos Lhe obedecerem; e ainda deixar sem palavra aqueles que urdiam diálogos insidiosos. O povo alegrava-se com isso.
Aprofundemos um pouco esta visão evangélica da multidão. Lucas indica quatro grandes grupos que são destinatários preferenciais da unção do Senhor: os pobres, os prisioneiros de guerra, os cegos, os oprimidos. Nomeia-os em geral, mas depois, no decorrer da vida do Senhor, vemos com alegria que estes ungidos adquirem rosto e nome próprios. Assim como a unção com o azeite se aplica num ponto e a sua ação benéfica se expande por todo o corpo, também o Senhor, assumindo a profecia de Isaías, nomeia várias «multidões» às quais O envia o Espírito, obedecendo a uma dinâmica que poderíamos chamar de «preferência inclusiva»: a graça e o carisma que se dá a uma pessoa ou a um grupo em particular redunda, como toda a ação do Espírito, em benefício de todos.
Os pobres (ptochoi) são aqueles que estão curvados, como os mendigos que se inclinam para pedir. Mas é pobre (ptochè) também a viúva, que unge com os seus dedos as duas moedinhas que constituíam tudo o que tinha naquele dia para viver. A unção daquela viúva para dar a esmola passa despercebida aos olhos de todos, exceto aos de Jesus, que vê com bondade a sua pequenez. Com ela, o Senhor pode cumprir plenamente a sua missão de anunciar o Evangelho aos pobres. Paradoxalmente, são os discípulos que ouvem a boa nova de que existem tais pessoas. Ela, a mulher generosa, nem se deu conta de «ter aparecido no Evangelho» (ou seja, que o seu gesto haveria de ser mencionado no Evangelho): o feliz anúncio de que as suas ações «têm peso» no Reino e contam mais do que todas as riquezas do mundo, ela vive-o dentro de si, como tantos santos e santas de «ao pé da porta».
Os cegos são representados por um dos rostos mais simpáticos do Evangelho: Bartimeu (cf. Mc10, 46-52), o mendigo cego que recuperou a vista e, a partir daquele momento, só teve olhos para seguir Jesus pela estrada. A unção do olhar! O nosso olhar, ao qual os olhos de Jesus podem devolver aquele brilho que só o amor gratuito pode dar, aquele brilho que nos é roubado diariamente pelas imagens interessadas ou banais com que nos submerge o mundo.
Para designar os oprimidos (tethrausmenous), Lucas usa um termo que contém a palavra «trauma». Isto é suficiente para evocar a parábola (talvez a preferida de Lucas) do Bom Samaritano, que unge com azeite e enfaixa as feridas (traumata: Lc 10, 34) do homem que fora espancado deixando-o meio morto na beira da estrada. A unção da carne ferida de Cristo! Naquela unção, está o remédio para todos os traumas que deixam pessoas, famílias e populações inteiras fora de jogo, como excluídas e supérfluas, à margem da história.
Os prisioneiros são os cativos de guerra (aichmalotos), aqueles que eram conduzidos a ponta de lança (aichmé). Jesus usará o termo para Se referir à prisão e deportação de Jerusalém, sua amada cidade (Lc 21, 24). Hoje as cidades são feitas prisioneiras não tanto a ponta de lança, como sobretudo com os meios mais subtis de colonização ideológica. Só a unção da nossa cultura própria, forjada pelo trabalho e a arte dos nossos antepassados, é que pode libertar as nossas cidades destas novas escravidões.
Concretizando para nós, queridos irmãos sacerdotes, não devemos esquecer que os nossos modelos evangélicos são este «povo», esta multidão com estes rostos concretos, que a unção do Senhor levanta e vivifica. São aqueles que completam e tornam real a unção do Espírito em nós, que fomos ungidos para ungir. Fomos tomados dentre eles e podemos, sem medo, identificar-nos com esta gente simples. Eles são imagem da nossa alma e imagem da Igreja. Cada um encarna o coração único do nosso povo.
Nós, sacerdotes, somos o pobre e queremos ter o coração da viúva pobre quando damos esmola e tocamos a mão do mendigo fixando-o nos olhos. Nós, sacerdotes, somos Bartimeu, e levantamo-nos cada manhã para rezar: «Senhor, que eu veja!» (cf. Mc 10, 51). Nós, sacerdotes, somos, nos vários momentos do nosso pecado, o ferido espancado deixado meio morto pelos ladrões. E queremos ser os primeiros a estar entre as mãos compassivas do Bom Samaritano, para depois podermos com as mãos ter compaixão dos outros.
Confesso-vos que, quando crismo e ordeno, gosto de espalhar bem o Crisma na testa e nas mãos de quantos são ungidos. Ungindo bem, experimenta-se que ali se renova a nossa própria unção. Uma coisa quero dizer: Não somos distribuidores de azeite em garrafa. Ungimos, distribuindo-nos a nós mesmos, distribuindo a nossa vocação e o nosso coração. Enquanto ungimos, somos de novo ungidos pela fé e pela afeição do nosso povo. Ungimos, sujando as nossas mãos ao tocar as feridas, os pecados, as amarguras do povo; ungimos perfumando as nossas mãos ao tocar a sua fé, as suas esperanças, a sua fidelidade e a generosidade sem reservas da sua doação.
Aquele que aprende a ungir e a abençoar fica curado da mesquinhez, do abuso e da crueldade.
Rezemos para que o Pai, ao colocar-nos com Jesus no meio do nosso povo, renove em nós a efusão do seu Espírito de santidade e faça com que nos unamos para implorar a sua misericórdia para o povo que nos está confiado e pelo mundo inteiro. Assim, as multidões dos povos, reunidos em Cristo, podem tornar-se o único Povo fiel de Deus, que terá a sua plenitude no Reino (cf. Oração Consecratória dos Presbíteros). Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 17. AUDIÊNCIA COM O PAPA: “A oração ao Senhor nos salva dos nossos "Getsêmanis" pessoais”. Francisco.
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NESTE DIA 17: Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco recebeu um busto em bronze e um capacete de Ayrton Senna, cuja morte está completando 25 anos em 2019. A homenagem foi entregue por Bianca Senna, sobrinha do piloto e presidente do Instituto Ayrton Senna. Fonte: vaticannews.va
O Papa Francisco interrompeu o ciclo de catequeses sobre o Pai-Nosso para comentar as palavras de Jesus durante a Sua Paixão, na vigília do Tríduo Pascal.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
O tríduo pascal que estamos prestes a viver foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (17/04).
Na Praça São Pedro, de modo especial o Pontífice refletiu sobre algumas palavras que Jesus dirigiu ao Pai durante a Sua Paixão. A primeira invocação foi feita depois da Última Ceia, quando disse: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho” e ainda “glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”.
Glória é amar
Pode parecer paradoxal que Jesus peça a glória ao Pai quando a Paixão está para acontecer, observou o Papa. A glória na verdade indica o revelar-se de Deus, é o sinal distintivo da sua presença salvadora entre os homens e é o que acontece na Páscoa. “Ali Deus finalmente revela a sua glória, que descobrimos ser toda amor: amor puro, louco e impensável, para além de todo limite e medida.
“ Queridos irmãos e irmãs, façamos nossa a oração de Jesus: peçamos ao Pai para retirar os véus dos nossos olhos para que nesses dias, olhando para o Crucifixo, possamos acolher que Deus é amor. Quantas vezes O imaginamos patrão e não Pai, juiz severo ao invés de Salvador misericordioso! Mas Deus na Páscoa cancela as distâncias, mostrando-se na humildade de um amor que pede o nosso amor. ”
Portanto, nós damos glória ao Pai quando vivemos tudo o que fazemos com amor, com o nosso coração. A verdadeira glória é a do amor, porque é a única que dá vida ao mundo, e não a glória mundana, feita de aclamação e audiência. No centro não está o eu, mas o outro. Ninguém glorifica a si mesmo.
Cada um tem seu próprio Getsêmani
Depois da Última Ceia, Jesus entra no jardim do Getsêmani e também ali reza ao Senhor com a palavra mais tenra e doce: «Abbà», Pai (cfr Mc 14,33-36). “ Nos nossos Getsêmanis, com frequência escolhemos permanecer sós ao invés de dizer 'Pai' e entregarmo-nos, como Jesus, à sua vontade, que é o nosso verdadeiro bem. O problema maior não é a dor, mas como é enfrentada. A solidão não oferece saída; a oração sim, porque é relação, entrega. Quando entrarmos nos nossos Getsêmani, recordemos de rezar assim: 'Pai'. ”
Romper o círculo do mal com o perdão
Por fim, Jesus dirige ao Senhor uma terceira oração por nós: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34). Jesus reza por quem foi malvado com ele, no momento da dor mais aguda, quando recebia os pregos nos pulsos e nos pés. “Aqui, ao vértice da dor chega o amor: chega o perdão, isto é, o dom à enésima potência, que quebra o círculo do mal.
Rezando nesses dias o “Pai-Nosso” – tema neste período das catequeses –, o Papa fez votos que possamos pedir uma dessas graças: viver para a glória de Deus, isto é, com amor; que saibamos confiar no Pai nas provações; e encontrar no seu abraço o perdão e a coragem de perdoar. Fonte: https://www.vaticannews.va
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