RETIRO DO PAPA-QUINTA-FEIRA, 14: A hospitalidade como escola da misericórdia.
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A reflexão do abade se concentra primeiramente nas portas abertas. “Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o versículo 10 do Livro de Isaías.
Cidade do Vaticano
O acolhimento e a hospitalidade marcaram a meditação, realizada na manhã desta quinta-feira (14/03), pelo abade beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni, nos Exercícios espirituais para o Papa Francisco e os membros da Cúria Romana, na Casa do Divino Mestre, em Ariccia.
Começa com uma reflexão sobre o esplendor de Jerusalém, conforme descrito no capítulo 62 do Livro do Profeta Isaías. A imagem da Jerusalém que é descrita não é “uma cidade ideal”, esclarece o monge, mas sim “um ideal de cidade”.
As portas abertas das cidades
A reflexão do abade se concentra primeiramente nas portas abertas. “Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o versículo 10 do Livro de Isaías.
“Bonita é a imagem de portas abertas, para que toda a humanidade possa finalmente entrar, se encontrar e experimentar a grande promessa de Deus que se torna realidade, o futuro que se torna presença de luz, amor, paz e justiça para todos aqueles que caminham em direção ao rosto do Senhor, guiados por sua Palavra. Contrária a essa perspectiva é a construção de toda forma de muro, barreira e baluarte que não tem dentro de si uma porta hospitaleira e convidativa”, disse o abade beneditino.
Toda cidade é lugar de acolhimento
Para Giorgio La Pira, como prefeito de Florença, era necessário que da cidade saísse “uma mensagem renovada de paz e esperança”: “Esperanças de paz, esperanças civis, esperanças de Deus e esperanças do homem.”
O abade Bernardo Francesco Maria Gianni recorda que o Papa Francisco nos advertiu que estamos vivendo uma Terceira Guerra Mundial em pedaços, em fragmentos lacerantes em várias partes do mundo. Acho bonito, profético e profundamente atual esse apelo do prefeito para fazer de Florença e não só, mas de toda cidade, o lugar de acolhida no qual se renova uma mensagem de paz e esperança.
Essa é uma tarefa que o prefeito La Pira atribuiu ao seu serviço de homem político, mas é um serviço que a Igreja não pode deixar de apoiar, desejar, propor e testemunhar em nosso tempo aos prefeitos e aos homens políticos do mundo inteiro, para que a cidade realmente volte a ser, segundo a perspectiva que Isaías nos faz sonhar, um “símbolo para todos os povos”.
Oração na base de uma missão de paz
La Pira sabia que Florença poderia ser “uma renovada e reencontrada capital da paz e da justiça” graças à oração e contemplação: “Sem essas raízes místicas, a lei doada pelos seus mosteiros de clausura e pelos seus santos, ela não seria aquilo que é: cidade de contemplação e beleza teologal”, observa o abade beneditino.
Hospitalidade de São Bento
Bernardo Francesco Maria Gianni recorda as palavras de São Bento sobre a hospitalidade em que o Santo exorta a acolher todos os convidados como se fossem Cristo, mas diz que a troca do beijo da paz não deve ser feita antes da oração. Ter outro diante de mim envolve riscos. Portanto, a de São Bento, disse o abade, não é uma “hospitalidade, é uma hospitalidade lúcida que aceita o risco evangélico do amor e fortalece o homem que se expõe a esse risco com a única força que o fiel tem, ou seja, a oração”. Repercorrendo ainda as instruções sobre a acolhida dos convidados, o abade observa que é marcada pela oração e por um profundo sentido de humanidade.
Especialmente os pobres e os peregrinos são acolhidos com toda consideração e cuidado possível, pois é neles que se recebe Cristo de modo particular.
Hospitalidade como escola de misericórdia
O abade recorda que São Bento, em absoluto retiro no início de sua vida monástica, se esqueceu que o dia da Páscoa tinha chegado. O Senhor enviou-lhe um sacerdote com comida e água para interromper o jejum e a solidão.
Quando Bento viu esse hóspede chegar, sua expressão nos dá a medida de como tenha sido esse evento misterioso da chegada do sacerdote: “É realmente Páscoa, pois tive a graça de ver você”. Uma passagem da solidão à comunhão, do jejum à alegria fraterna da partilha, da morte para a vida.
É por isso que a hospitalidade é uma escola de misericórdia que fez Bernard de Clairvaux dizer: “O misericordioso compreende a verdade de seu próximo, conformando-se a ele com simpatia, de modo a viver suas alegrias e tristezas como se fossem suas, fraco com os fracos, pronto para se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram.”
Fazer nossa a lógica de Jesus
O abade exorta a aprender de uma hospitalidade radicalmente evangélica. “Ressoam ainda as palavras lembradas pelo Papa Francisco em que a força da fraternidade, que a adoração de Deus em espírito e verdade gera entre os humanos, é a nova fronteira do cristianismo”, disse o abade.
“Todo detalhe da vida do corpo e da alma, em que brilham o amor e a redenção da nova criatura que está se formando em nós, surpreende, como o verdadeiro milagre de uma ressurreição que já está em andamento.”
“Que o Senhor nos ajude a multiplicar esses milagres. Podemos multiplicá-los na medida em que fazemos nossa a lógica, aparentemente perdedora, do amor do Senhor Jesus, que é uma lógica, não podemos nos esquecer, inevitavelmente crucificada, de modo que a Páscoa seja gerada como um beijo do Espírito Santo com o qual o Pai restitui a plenitude da vida ao que foi cortado e rompido”, conclui o abade Bernardo Francesco Maria Gianni. Fonte: www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA- TERCEIRA MEDITAÇÃO: “Na Quaresma deixar que Deus restaure a nossa beleza”
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Na terceira meditação oferecida ao Papa Francisco e à Cúria Romana nos Exercícios espirituais em Ariccia, o abade de São Miniato convidou com o poeta Luzi a refletir sobre a indiferença, a doença de nossas cidades, e com La Pira sobre a erradicação da vida das metrópoles. “Falamos de beleza para os jovens. É o único modo com o qual se aceitam e aceitam os outros”.
Alessandro Di Bussolo, Mariângela Jaguraba – Cidade do Vaticano
Um convite a refletir sobre a indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros e da responsabilidade para com a realidade, sobre a erradicação da vida da cidade, procurando a beleza e a medida que vem do ser amado por Deus e amá-lo também nós.
Este é o centro da terceira meditação oferecida, na manhã desta terça-feira (12/03), pelo abade de São Miniato ao Monte em Florença, Bernardo Francesco Maria Gianni, beneditino, ao Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana. O tema das reflexões do pregador “O presente de infâmia, de sangue e indiferença”, é extraído dos versos de Mario Luzi em “Felicità turbate”, a poesia dedicada à abadia florentina em dezembro de 1997.
Olhar paras as feridas da cidade
Quando ele escreve, recordou o abade beneditino, Luzi tem nos olhos o massacre perpetrado pela máfia quatro anos antes na Via dei Georgofili, as cinco vítimas inocentes e a destruição de “uma parte preciosa do centro artístico de nossa cidade”, disse ele. “Somos convidados, a partir daquele evento dramático, a olhar, como sempre estamos procurando fazer, as feridas das cidades do mundo inteiro, até mesmo aquelas muito mais complexas e marcadas pelas injustiças de todos os tipos, em todo o nosso planeta, e fazê-lo com um olhar sobre a realidade que o nosso Papa nos ensinou, como prevalente respeito à ideia.
A indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros
O pregador se deteve num dos três “sinais do mal”, a indiferença, tão distante do “alcance caritativo” da poesia de Luzi e da ação política de Giorgio La Pira. A indiferença “que muitas vezes de forma sutil paralisa o nosso coração, torna o nosso olhar” opaco, nebuloso. O que Charles Taylor descreveu como a “proteção do eu”.
É como se a nossa pessoa vestisse uma tela, da qual e com a qual se proteger dos outros, daquela responsabilidade que os problemas do nosso tempo solicitam, à luz daquela paixão evangélica que o Senhor quer acender com a força do seu Santo Espírito em nosso coração.
Olhar para a realidade sem sonhar cidades ideais
Citando o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer e sua preocupação pela vida das gerações futuras, o abade Gianni sublinhou que deve estar em nosso coração a possibilidade de deixar para as novas gerações “um futuro melhor que o presente que vivemos, confiando nele, com um espírito radicalmente contrário à indiferença, mas todos movidos pela ardente participação”. Romano Guardini nos convidou ontem, recordou o beneditino, a acolher o futuro com responsabilidade “realizando-o o mais próximo possível junto com o Senhor”:
Olhar para a realidade evidentemente sem sonhar cidades ideais ou utópicas de nenhum tipo. A utopia não é uma perspectiva autenticamente evangélica. A Jerusalém celeste, que o visionário do Apocalipse contempla, não é uma utopia: é de fato o conteúdo de uma promessa real e confiável que o Senhor dá às suas igrejas na provação.
“A ação da Igreja e dos homens e mulheres de boa vontade”, esclareceu o abade Bernardo Francesco Maria Gianni, “acredito que seja realmente essa fecundidade gerada pela escuta obediente e apaixonada do Evangelho da vida” de Jesus. E a poesia de Mario Luzi, segundo o pregador, nos restitui a consciência “da tradição representada pelo fogo de seus antigos santos”. É aquela brasa que “com a santidade do tempo presente”, “pode realmente voltar a inflamar para ser uma luz de esperança na noite das cidades do nosso mundo”.
A erradicação da pessoa da vida da cidade
O abade de São Miniato ao Monte relatou as palavras de La Pira num encontro de prefeitos do mundo inteiro, em 2 de outubro de 1955: a crise do nosso tempo, disse o prefeito de Florença, “é uma crise de desproporção e desmedida em relação ao que é verdadeiramente humano”.
“A crise do nosso tempo pode ser definida como a erradicação da pessoa do contexto orgânico - isto é, vivo, conectivo - da cidade. Bem, essa crise só pode ser resolvida através de uma nova radicação, mais profunda, mais orgânica, da pessoa na cidade em que nasceu e em cuja história e tradição está organicamente inserida”.
Os remédios da beleza e medida
Deve ser vencida a tentação da indiferença, da “proteção de si”, da erradicação que também leva os homens da Igreja, a “sentirem-se estranhos, não interpelados pelo tecido vivo com as suas dificuldades, os seus problemas, suas contradições, que são as cidades onde somos chamados a levar, seja qual for o custo, a Palavra de Deus, encarnando-a”. Por isso, o pregador propõe os medicamentos da beleza e da medida: “Uma dimensão coral contra todo individualismo, um grande testemunho que a Igreja não pode deixar de dar, com sua índole radicalmente fraterna”.
Santo Agostinho: amando a Deus nos tornamos belos
Santo Agostinho, comentando a Primeira Carta de São João, “nos lembra o que é a verdadeira beleza e como é recebida”. “Que fundamento”, diz Agostinho, “teremos para amar se Ele não nos tivesse amado por primeiro? Amando, tornamo-nos amigos, mas Ele nos amou quando éramos seus inimigos para nos tornar amigos”:
Novamente, a primazia de Deus, a anterioridade de seu agir, o nosso ser amados, ser feitos e ser decorados por sua beleza. Ele nos amou por primeiro e nos deu a capacidade de amá-lo: amando-o, nos tornamos belos.
Falar aos jovens da beleza, é a sua única medida
“Num mundo que olha muito para as aparências”, concluiu o pregador dos Exercícios ao Papa Francisco e à Cúria Romana, “a beleza é a única medida com a qual os jovens se aceitam e aceitam outros jovens”. Então, voltamos a Agostinho: “A nossa alma, irmãos, é feia por causa do pecado. Ela torna-se bonita amando a Deus”:
“Como seremos belos? Amando Ele que é sempre belo. Quanto mais cresce o amor em nós, cresce também a beleza, a caridade, de fato, a beleza da alma. No entanto, Agostinho reconhece que o Senhor Jesus, a fim de nos dar a sua beleza, também se tornou feio, e o fez na cruz, aceitando aquela mudança também em seu corpo.”. Fonte: www.vaticannews.va
Retiro quaresmal: reordenar a própria vida em torno de Deus
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Pe. Wellistony C. Viana dá dicas práticas para viver a Quaresma, sobretudo a oração, mesmo para quem não pode partir em retiro.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana se encontram em retiro nas proximidades de Roma, em Ariccia.
Durante seis dias, o Papa suspende todas as audiências públicas e privadas e fica longe também das redes sociais (Twitter e Instagram) para se preparar para a Páscoa.
Mas e os leigos que não podem partir para um retiro quaresmal, como podem fazer esta preparação? Quem responde é o Diretor Espiritual do Colégio Pio Brasileiro, em Roma, Pe. Wellistony C. Viana.
A quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. Mas, essa preparação não acontece apenas por meio da oração, mas também da penitência e da prática da caridade. Na quarta-feira de cinzas ouvimos o Evangelho que falava do jejum, da esmola e da oração. Essas práticas resumem bem como devemos viver a quaresma: primeiro, pela prática da penitência: pode-se fazer o tradicional jejum, que significa simplesmente “comer menos e sem ostentação”. Contudo, existem várias outras formas de praticar o jejum: por exemplo: jejum do celular, do uso das redes sociais, da televisão, da bebida alcoólica etc. O jejum é uma prática que nos ajuda no autocontrole, na capacidade de renunciar ao supérfluo para, assim, preparar nossa vontade para acolher as coisas essenciais e sempre buscar a vontade de Deus. A esmola resume a prática da caridade, ou seja: nos lembra que a melhor preparação para a páscoa é fazer o bem aos outros. A esmola também pode ser feita de uma forma moderna: ajudando as pessoas com palavras de incentivo, tirando um tempo para dar atenção aos outros, visitando algum doente, dando comida, roupa, abrigo aos necessitados. Todas são formas de caridade que alargam nosso coração e nos preparam para a Páscoa. Por fim, também tem a prática da oração. A quaresma é um tempo forte de oração, de intimidade com Deus. Muitas vezes, nós não sabemos orar. Identificamos a oração com a leitura de algum texto, recitação de fórmulas prontas ou com a realização de novenas para algum santo.
E o que significa a oração?
Na realidade, podemos até orar quando fazemos essas práticas, mas nem sempre. A oração significa “encontrar-se com Deus” e pode ser que eu faça uma novena ou leia o evangelho e não me encontre com Ele. Pode ser que faça tudo isso de forma mecânica, para cumprir um rito. Se não colocamos o nosso coração nessas práticas, elas não podem ser consideradas oração. Santa Teresa D’Ávila distinguia cinco graus de oração: a oração vocal, a oração mental, a oração de quietude, a oração contemplativa adquirida e a oração contemplativa infusa. Não temos como falar de cada uma delas, mas faz bem recordar que é importante amadurecer em nossa vida de oração. Quem sabe, nessa quaresma, não seria interessante passar de uma oração puramente vocal para uma oração mental! A oração mental é o que chamamos de lectio divina: colocamo-nos diante de Deus por um tempo (pode ser 15, 20 min ou mais) para ler e meditar a Palavra de Deus. O método é muito simples: escolhemos um local e horário para ficarmos em silêncio. Depois, podemos ler o texto a ser meditado e perguntar: 1) O que este texto diz? Silenciamos uns minutos. Depois, lemos o texto mais uma vez e perguntamos: 2) O que este texto me diz? Meditamos um pouco mais. Continuamos perguntando: 3) O que este texto me faz dizer a Deus? É o momento de abrir o coração a Deus, falando a ele como se fala com um amigo. Por fim, 4) podemos usar a imaginação para entrar na cena daquele evangelho e ficar ali com Jesus algum momento. Seria muito bom que no tempo da quaresma pudéssemos exercitar este tipo de oração diariamente. Certamente seria uma ótima preparação para a Páscoa. E, claro, quem puder fazer um retiro espiritual, reservando alguns dias para ficar a sós com Deus, seria ideal. Geralmente, os padres, religiosos e religiosas reservam um tempo maior na quaresma para fazer seus exercícios espirituais. Os leigos nem sempre têm esta oportunidade.
Existem retiros diferentes para padres, religiosas e leigos?
“Retiro espiritual” significa reservar um tempo para ficar a sós com Deus. Pode ser um dia, dois dias, cinco dias ou mais. Por isso, não há diferença quanto ao tempo para padres, religiosas e leigos. Claro, os padres e religiosas, porque desenvolvem seu trabalho no âmbito eclesial, podem dispor de um tempo maior para realizar um retiro; os leigos, geralmente, não têm este privilégio devido ao trabalho extra eclesial. Mas, isso não significa que os leigos não possam fazer uma prática de oração mais intensa na quaresma. Por exemplo, tirar uns minutos diariamente para fazer sua lectio divina já é um grande passo! Depois, pode haver diferença entre o retiro de padres, freiras e dos leigos em relação às temáticas trabalhadas. Pregadores de retiro podem tratar de assuntos adaptados à vocação de cada um. Contudo, essas diferenças não mudam a finalidade essencial do retiro que é reordenar a própria vida em torno de Deus. Tantas vezes nós colocamos coisas, pessoas, nós mesmos no centro da vida e Deus na periferia. Um retiro é uma ótima oportunidade para fazer uma hierarquia de prioridades, colocando Deus no centro e tudo o mais girando em torno Dele. Seguindo esses passos, a gente pode celebrar melhor o mistério da Páscoa, que não é outra coisa senão a certeza que Deus nos dá em Cristo, de que nós fomos criados para viver eternamente ao lado Dele. Fonte: www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: Cultivemos saudáveis utopias, não as cinzas do mundo.
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Prossegue em Ariccia os Exercícios Espirituais para o Papa Francisco e a Cúria Romana. na tarde da segunda-feira (11/03) o abade Bernardo Gianni fez a meditação sobre o tema: “Estamos aqui para reavivar as brasas com o nosso sopro”
Cidade do Vaticano
Pinceladas de poesias, entremeadas com sonhos. O abade Bernardo Francesco Maria Gianni, que está propondo ao Papa Francisco e aos membros da Cúria romana as meditações para os exercícios espirituais, oferece copiosamente citações e invocações: um sopro delicado sobre as brasas da esperança e da confiança. O incansável construtor da paz Giorgio La Pira volta às suas reflexões, assim como a força evocativa da poesia de Mário Luzi e de Romano Gardini. Tudo orientado para propor um olhar evangélico sobre as cidades, para que possam se tornar “lugares ardentes de amor, de paz e de justiça”.
É o que nos faz celebrar Mário Luzi. A cidade que foi o sonho de Giorgio La Pira, é uma cidade na qual reavivar o fogo, para que a humanidade volte a contemplá-la com renovada esperança, reconhecendo-nos, como seguidamente tentamos dizer, um lugar onde passa o Senhor, um lugar visitado e visitável pelo Senhor.
Reavivar a chama do carisma de Deus
O beneditino olivetano, abade de São Miniato no Monte em Florença, recorda aos presentes que o fogo do amor de Jesus é confiado também ao “testemunho”, à “custódia” e à “paixão” de cada um. E este tempo da Quaresma permite reavivar o fogo que ficou menos ardente “por resignação, por hábito, por aquela “mornidão” justamente repreendida por importantes páginas do Apocalipse”.
É verdade, a Carta aos Romanos, capítulo 11 versículo 20 nos recorda: os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis. Mas como podemos nos considerar dispensados da busca apaixonada do combustível necessário para manter acesa, ardente, e em crescimento a chama da vocação que recebemos?
A presunção de não precisar de nada
O abade alerta sobre a presunção de não “precisar de nada”, com o qual, frisa, “nos consideramos realmente dispensados de considerar seriamente e cuidar deste dom imenso que o Senhor nos doou”, com “uma vida de oração, de escuta da sua Palavra, alimentando-nos da santa e divina Eucaristia, vivendo uma fraternidade radical que derive da escuta da Palavra e da conformação à lógica eucarística com a qual a vida divina se abre entrando dentro de nós”. “E realmente se entra”, insiste, “misticamente com a força do Espírito Santo”.
Um sopro que é a força do Espírito Santo que se digna de passar através de nós, que se digna transformar as nossas fraquezas, as nossas fragilidades, tornando-nos capazes de reacender novamente aquela chama dos desejos ardentes.
A sinfonia das estações
Recordando mais uma vez as palavras do profeta da esperança Giorgio La Pira, o monge lembra que um homem pode “nascer quando é velho”: e isso acontece “se nos sentimos necessitados da necessidade e desejosos do desejo”, quando realmente participamos “a este evento pascal de um autêntico renascimento a partir do alto”.
E então trata-se de redescobrir que dentro de nós há uma sinfonia, há uma polifonia no espírito muito mais rica e articulada do que aquela que o tempo mecânico dos nossos relógios parecem nos sugerir. São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios, usa palavras de extraordinária força evocativa e de grande verdade espiritual e antropológica: “Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso físico vai se arruinando, o nosso interior, pelo contrário, vai-se renovando dia a dia”.
Resistir às cinzas do mundo
Portanto, não se deve se render “às cinzas dentro e fora de nós” porque esta “segunda criação pode se realizar em cada homem, através de cada palavra, através de cada acontecimento”.
Uma perspectiva que a mim parece restituir à condição humana uma dignidade à qual não se deve banalmente se congratular com uma auto referencialidade pecaminosa. Pelo contrário, leva-a a uma inquietude que gere Páscoa por tudo e de qualquer modo em uma perspectiva que decidimos contemplar no espaço da convivência citadina, porque advertimos que principalmente ali, está reunida a grande tentação de se reconhecer só e somente como cinza inerte, fruto de uma combustão que deflagrou as esperanças e os sonhos principalmente - permitam-me dizer – das novas gerações.
A partir disso a importância de não buscar “resultados imediatos que produzam rendimentos políticos fáceis, rápidos e efêmeros”, mas ações capazes de gerar “novos dinamismos na sociedade”, capazes de dar plena floração ao ser humano.
A possibilidade de um novo início
Certamente a vida é “hábito, como uma constrição, como um relógio”, mas há sempre “o momento da decisão”: e esta é a “força do início”, a “força da novidade” que “nasce do espírito, do coração”. Na escolha ganha intensidade a liberdade do homem, que deveria se plasmar no exemplo de Cristo ao invés de dar “atenção às pessoas desiludidas e infelizes”, a “quem recomenda cinicamente de não cultivar esperanças na vida”, a quem “derrota logo todo o entusiasmo dizendo que nada vale o sacrifício de uma vida toda”.
Não ouçamos os “velhos” de coração que sufocam a euforia juvenil; vamos aos velhos que têm os olhos que brilham de esperança. Cultivemos saudáveis utopias. Deus nos quer capazes de sonhar como Ele e com Ele enquanto caminhamos atentos à realidade. Sonho, fogo, chama. Sonhar um mundo diverso e se um sonho se apaga voltar a sonhá-lo de novo, extraindo com esperança da memória das origens, e das brasas que talvez depois de uma vida não tão boa, estejam escondidas sob as cinzas do primeiro encontro com Jesus. Fonte: www.vaticannews.va
Giorgio La Pira: citado nos Exercícios espirituais para o Papa e a Cúria Romana
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Político, estudioso, terciário dominicano e franciscano, construtor da paz, Giorgio La Pira era um homem que olhava para o presente com a Bíblia sempre na mão.
Cidade do Vaticano
Quem foi Giorgio La Pira? Citado pelo monge beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni nas meditações dos Exercícios espirituais para o Papa e a Cúria Romana, em andamento na cidade de Ariccia?
Político, estudioso, terciário dominicano e franciscano, construtor da paz, Giorgio La Pira era um homem que olhava para o presente com a Bíblia sempre na mão.
Por duas vezes foi prefeito de Florença (Itália) e lutou a favor dos pobres, dos trabalhadores e desfavorecidos.
Cultivou sua vida espiritual
Estadista, parlamentar e diplomata, sempre cultivou sua vida espiritual. Considerava a política um compromisso de humanidade e santidade. Desejava a paz no mundo. Por isso, passou a se encontrar com chefes de estado e a participar de conferências e encontros internacionais. Convencido de que o Evangelho deveria inspirar a vida social, La Pira soube conciliar uma visão histórica e teológica das coisas e, como católico, acreditava num mundo sem fronteiras.
Giorgio La Pira nasceu, em Pozzallo (Ragusa), em 9 de janeiro de 1904. Em 1926, para completar os estudos de Jurisprudência, transferiu-se para Florença que tornou-se o centro de suas várias atividades de professor universitário, leigo comprometido com a Igreja, terciário dominicano e franciscano, político, prefeito e agente de paz no mundo.
A caridade para com os pobres
Orientado aos valores católicos, em seu caminho de fé, La Pira dedicou muitas horas à oração. Depois, iniciou sua carreira como professor universitário e mostrou ser um válido professor e educador dos jovens. Não negligenciou o interesse pelos textos teológicos, dentre os quais a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino.
Em 1928, ingressou no Instituto Secular da Realeza de Cristo, fundado pelo Padre Agostino Gemelli, inserido na Universidade Católica e vinculado à espiritualidade franciscana.
La Pira viveu seus dias entre oração e estudo pela manhã e dedicava o resto do tempo aos jovens com encontros de formação, organização da Ação Católica e caridade para com os pobres.
Participou de várias Conferências de São Vicente: de estudantes, profissionais e artistas. Em 1934, fundou para os indigentes e necessitados, a Obra do Pão de São Próculo que se reunia todos os domingos em torno do altar para a Eucaristia, pão para a alma e para o corpo.
Durante a II Guerra Mundial e depois da guerra, a Obra foi um o ponto de referência para os despejados, judeus, políticos procurados, desempregados e abandonados.
Em 1939, criou a revista “Principi”, na qual tomou posição contra a ditadura, racismo e invasões nazistas da Finlândia e Polônia.
Em 1940, o fascismo reprimiu a revista. La Pira foi perseguido e, em 8 de setembro de 1943, deixou Florença e foi para Fonterutoli perto de Siena e depois para Roma, retornando à cidade em agosto de 1944.
Papa Francisco o declarou venerável
No período da Libertação, iniciou-se a fase política de sua vida. Morreu em 5 de novembro de 1977. Foi sepultado no cemitério de Rifredi (FI), conforme desejado por ele.
Em 9 de janeiro de 1986, o arcebispo de Florença, Silvano Piovanelli, iniciou o processo de sua beatificação.
Em 5 de novembro de 2007, trinta anos depois de sua morte, seus restos mortais foram trasladados para a basílica florentina de São Marcos, ao lado do convento que tinha escolhido, pouco depois de chegar a Florença, como sua moradia, partilhando como terciário dominicano, a vida dos frades.
O Papa Francisco o declarou venerável em 5 de julho de 2018.
Fonte: https://www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA. 2ª Meditação: “Tornar nossas cidades símbolos de paz, fraternidade e acolhida”.
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O sonho de Giorgio La Pira na meditação desta segunda-feira do Abade de San Miniato, ao Papa e aos membros da Cúria Romana reunidos em Ariccia para os Exercícios Espirituais: fazer com que cada cidade redescubra a sua vocação universal de ser o reflexo na terra da Jerusalém celeste.
Cecilia Sepia e Silvonei José - Cidade do Vaticano
Segunda Meditação para o Papa Francisco e os membros da Cúria Romana reunidos desde a tarde deste domingo em Ariccia, na Casa do Divino Mestre, para a semana de Exercícios Espirituais, que se concluirá na sexta-feira, 15 de marco. O abade beneditino de San Miniato no Monte, Bernardo Francesco Maria Gianni, oferece mais uma reflexão que recorda Giorgio La Pira, o prefeito de Florença construtor de paz, que sonhava e queria uma cidade símbolo de beleza, fraternidade, acolhida universal e amor cristão no modelo da Jerusalém descrito pelo profeta Isaías no capítulo 60.
O nosso Papa nos recordou, na bela mensagem escrita para o aniversário da Pontifícia Academia para a Vida, que a comunidade humana é o sonho de Deus desde antes da criação do mundo: 'a comunidade humana é o sonho de Deus '! Poderíamos quase dizer que Giorgio La Pira sonhou o sonho de Deus. E não é um trocadilho, pois neste seu sonho, nesta sua paixão, também muitas vezes incompreendido por homens da Igreja do seu tempo, bem como de grande parte da sua gente, estava realmente uma percepção muito alta do mistério que habita cada cidade.
Espaços de reconciliação e encontro
Um projeto que ontem não contemplava somente Florença, mas todas as cidades do mundo entendidas como "espaço de reconciliação, de paz, de encontro" para reagir a um mundo muitas vezes condenado", pelo desespero e resignação, a trevas que se acreditam invencíveis". O abade de San Miniato no Monte, fala também de uma "misterialidade universal" que leva cada cidade a redescobrir a sua verdadeira vocação: isto é, o reflexo aqui na terra da Jerusalém celeste, onde as pessoas vivem coesas, animadas por desejos ardentes e grandes esperanças.
Um sonho, disse ainda o abade, que longe de ser uma divagação irracional de sonho e sem algum significado é, ao invés, tão concreto que chega a abrir o horizonte à ação de Deus. Revisitar as cidades, renová-las na base e no topo, como escrevia La Pira, torna-se, portanto, fundamental para o bem das pessoas e das estruturas políticas, técnicas e econômicas.
Eis o olhar de fé, o olhar contemplativo ... É o projeto que procura implementar no curso desta nova história santa, a história de Cristo no mundo, tentando, apesar de todas as resistências, de refratar na cidade do homem as harmonias, as belezas, os esplendores da cidade de Deus: venha o vosso reino, assim na terra como no céu".
O agir da Igreja
Retomando os escritos de Giorgio La Pira e os versos do poeta Mario Luzi, que se faz intérprete deste extraordinário sonho, o monge beneditino pede, no entanto, que não sejam envolvidas somente as estruturas civis, mas a Igreja in primis trabalhe para que vença e se torne concreto o desejo de Deus para todos os homens.
Não podemos tolerar que o desejo de Deus seja somente uma tentativa. Como Igreja devemos fazer com que, sem hesitação, que essa tentativa de Deus se atue incondicionalmente, sem encontrar, especialmente em nós, resistência alguma... É um 'sonho' que já teve realizações admiráveis ao longo dos séculos passados; é um "sonho" que terá outras mais amplas e admiráveis realizações ao longo dos próximos séculos". O olhar de esperança enraizado na fé trinitária. E isso se entende; porque o projeto é sempre um; um é sempre o modelo, o projeto que o Espírito Santo construiu não para permanecer ideal, distante e ineficaz para a vida terrestre dos homens, mas sim, para operar nela como fermento transfigurador.
Testemunho, conversão, olhar evangélico
A chamada é então ao testemunho que nasce do fogo do Espírito Santo: a única chama capaz de deter as "labaredas devastadoras do mundo". O testemunho como gesto concreto, como confiança em Deus, como diálogo de amor que devolve a cada cidade sua missão universal: "nada de destruição, nada de guerra, mas somente oração, progresso, beleza, trabalho, paz! As cidades são história visível: um patrimônio sagrado que se constrói e se transmite com tanto amor, de geração em geração: precisamente como Jerusalém". No testemunho, mas também no olhar evangélico, lúcido e total que guiou La Pira, e na conversão do coração, o monge Bernardo Francesco Maria Gianni reconhece os antídotos para todos os graves períodos de crise e de transição das cidades onde tudo parece entrar em colapso. Reconstruir, torna-se então a palavra-chave sugerida pelo abade, como soube fazer o arquiteto e urbanista Giovanni Michelucci, após os ferimentos infligidos a Florença e não só pelas bombas da Segunda Guerra Mundial: cidades orgânicas, que vivem graças à contribuição de todos, do simples trabalhador ao prefeito, o bispo, os presbíteros, os artesãos.
É uma perspectiva que pede novamente esse mesmo olhar contemplativo que torna a cidade, mesmo com todas as suas contradições, as suas fragilidades, suas injustiças, eu diria nesta visão orgânica, os seus ferimentos, uma espécie de tabernáculo, que todos nós queremos voltar a ver como nos ensinou a fazê-lo o nosso Papa na Evangelii Gaudium.
Olhar contemplativo sobre as cidades
Precisamos - concluiu -, reconhecer a cidade a partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descobre o Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. Ele vive entre os cidadãos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não deve ser fabricada, mas descoberta, desvelada. Deus não se esconde daqueles que o buscam com o coração sincero, ainda que o façam de modo impreciso. Fonte: www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: “O cuidado do coração para reconhecer a presença de Deus”.
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A poesia de Mario Luzi, a recordação de Giorgio La Pira, as reflexões do Papa Francisco marcaram a primeira meditação do abade beneditino Francesco Maria Gianni ao qual foram confiados os Exercícios Espirituais ao Papa e à Cúria Romana sobre o tema: “A cidade dos desejos ardentes: olhares e gestos pascais na vida do mundo”
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco estava sentado na quarta fila para ouvir a primeira meditação do monge beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni, abade de São Miniato no Monte, Florença, que abriu os Exercícios Espirituais para a Quaresma em Ariccia, no início da noite deste domingo (10/03). Para a primeira meditação o abade inspirou-se em uma poesia de Mario Luzi de 1997: “Estamos aqui para isso”. A reflexão do abade parte do seu mundo, da sua casa, da colina nos arredores de Florença, “local da geografia da graça” para Giorgio La Pira, “o prefeito santo” como foi definido pelo beneditino. A partir disso o Papa e seus coirmãos são convidados a olhar para Florença, para descobrir “um sinal, um indício de como Deus habite na cidade”.
O olhar sobre o deserto das cidades
Partindo desse ponto segue a exortação a assumir um olhar “de graça, de gratidão, de mistério sobre Florença”, “um olhar de fé” sobre uma cidade que muitas vezes oferece “a cinza, empoeirada, inerte, sem sinal de vida de um fogo que não queima mais que não arde mais”.
Portanto, um olhar do alto: certamente não para cair nas tentações do maligno que quase gostaria que possuíssemos todas as coisas do mundo, dominando-as, condicionando-as; mas vice-versa, o olhar animado pelo Espírito Santo, pela Palavra do Senhor, um olhar de contemplação, de gratidão, de vigilância se necessário, de profecia. E é um olhar que não tem dificuldade em reconhecer como tantas vezes – até demais! – realmente as nossas cidades são um deserto.
Reacender o fogo do amor
Um olhar – explica o monge Bernardo – que é estímulo para reacender um fogo, para dar novamente vida verdadeira em Cristo, no Evangelho: Uma cidade que, com o amor da Igreja – como todas as cidades deste mundo – com a santidade da Igreja pode voltar, deve voltar a se acender o fogo do amor. Essa é a modesta contribuição que gostaria de dar a cada um de vocês, de coração: um olhar de mistério sobre Florença, para que a nossa ação pastoral, a nossa dedicação às pessoas que nos são confiadas pelo Senhor, possam realmente ser de novo chama viva de desejo ardente, e voltar a ser um jardim de beleza, de paz, de justiça, de medida, de harmonia.
Onde há amor, também há um olhar
Citando o místico da Idade Média, Ricardo de São Vítor, “onde há amor, também há um olhar”, o abade de São Miniato no Monte recorda a necessidade de reconhecer “os sinais e os indícios que o Senhor não se cansa de deixar na sua passagem na nossa história, na nossa vida”. É naquele amor que se pode ler o olhar de Giorgio La Pira sobre Florença, de Jesus sobre Jerusalém e sobre todos os que encontrava. Uma perspectiva que introduz “uma dinâmica pascal” tornando-nos conscientes que “o momento histórico é grave” porque a “amplidão universal da fraternidade parece muito enfraquecida”. É a força da fraternidade – afirma – a nova fronteira do cristianismo.
Cada detalhe da vida do corpo e da alma, onde brilham o amor e o resgate da nova criatura vai se formando em nós – gosto muito deste ‘brilhar’ do amor: de novo a luz, o fogo – surpreende como o verdadeiro milagre de uma ressurreição já em ato.
Deixemo-nos olhar por Jesus
Recordando que o humanismo, como evidenciou Papa Francisco, é assim a partir de Cristo, o abade convida a entrever “o rosto de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, também da que foi fragmentada pelos sofrimentos da vida ou marcada pelo pecado”. É a imagem do misericordiae vultus.
Deixemo-nos guiar por Ele. Jesus é o nosso humanismo: façamo-nos inquietar sempre pela sua pergunta: “Vós, que dizeis que eu seja?”. Deixemo-nos ser olhados por ele para aprender – diria – a olhar como Ele olhava. O jovem rico, fixando-o, amou-o: o encontro de olhares de Zaqueu que sobe na árvore para olhar o Senhor Jesus, que levanta o olhar para ir ao seu encontro.
O coração em conversão
Um olhar que faz desaparecer o medo de não reconhecer o Senhor que vem, como confessava Santo Agostinho. Porém, o olhar que já mudou o coração. “Se não estás atento ao teu coração, não saberás jamais se Jesus está te visitando ou não”, aludindo a Agostinho, a um cuidado do coração, que é um dos objetivos importantes destes dias: um coração atento, em conversão que recorde e recordando se abra para reconhecer a presença de Deus nesta nossa História e como ela se abra a esperanças ardentes, inéditas e inauditas.
Ter o Senhor diante dos olhos e entre as mãos
O chamado do monge Bernardo é missão dos consagrados chamados a “uma vida simples e profética na sua simplicidade, onde o Senhor está diante dos olhos e entre as mãos e não se precisa de mais nada”.
“A vida é Ele, a esperança é Ele, o futuro é Ele. A vida consagrada é esta visão profética na Igreja: é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido”. São palavras do Papa Francisco em 2 de fevereiro de 2019 no encontro com os consagrados. Mas são palavras que creio que possam servir para todos nós aqui presentes”. Fonte: https://www.vaticannews.va
SEXTA-FEIRA, 8. HOMILIA DO PAPA: “Na Quaresma, pedir a graça da coerência e deixar de ser hipócrita”.
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Durante a missa celebrada na eo Papa Francisco comentou a primeira Leitura, extraída do livro Profeta Isaías, e explicou a diferença que existe na nossa vida entre o real e o formal, condenando toda forma de hipocrisia.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano
Peçamos esta graça na Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências: palavras do Papa Francisco na homilia desta sexta-feira (08/03), ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta. O Pontífice inspirou sua reflexão no trecho extraído do livro do profeta Isaías.
A alegria da penitência
A simplicidade das aparências deveria ser redescoberta sobretudo no período da Quaresma, através do exercício do jejum, da esmola e da oração. Os cristãos, de fato, deveriam fazer penitência mostrando-se alegres; ser generosos com quem se encontra na necessidade sem “tocar os tambores”; dirigir-se ao Pai quase “escondido”, sem buscar a admiração dos outros. No tempo de Jesus, explicou o Papa, o exemplo era nítido na conduta do fariseu e do publicano; hoje, os católicos se sentem “justos” porque pertencem a certa “associação”, vão à “missa todos os domingos” e não são “como aqueles pobretões que não entendem nada”.
As pessoas que buscam as aparências jamais se reconhecem pecadores e se você disser a elas: “Mas você também é pecador!” – “Mas sim, todos temos pecados!”, e relativizam tudo e voltam a se tornar justos. Buscam até aparecer com cara de santinhos: tudo aparência. E quando existe esta diferença entre a realidade e a aparência, o Senhor usa o adjetivo: “Hipócrita”.
A hipocrisia dos "profissionais da religião"
Cada pessoa é tentada pelas hipocrisias e o tempo que nos conduz à Páscoa pode ser ocasião para reconhecer as próprias incoerências, para identificar as camadas de maquiagem de modo a “esconder a realidade”. Francisco insistiu no aspecto da hipocrisia, um tema que emergiu com força durante a XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Os jovens, afirmou, ficam impressionados com aqueles que buscam aparecer, mas depois se comportam consequentemente, sobretudo quando esta hipocrisia é vivida por “profissionais da religião”. O Senhor, ao invés, pede coerência.
Muitos cristãos, mesmo católicos, que se dizem católicos praticantes, como exploram as pessoas! Como exploram os operários! Como os mandam para casa no início do verão para readmiti-los no final, de modo que não tenham direito à aposentadoria, não têm direito de ir avante. E muitos deles se dizem católicos: vão à missa no domingo… mas agem assim. E isso é pecado mortal! Quantas pessoas humilham seus operários...
Beleza da simplicidade
Neste tempo da Quaresma, o Pontífice convidou os fiéis a redescobrirem a beleza da simplicidade, da realidade que “deve estar unida à aparência”.
Peça ao Senhor a força e vai humildemente avante, com aquilo que pode. Mas não maquie a alma, porque, se fizer isso, o Senhor não o irá reconhecer. Peçamos ao Senhor a graça de sermos coerentes, de não sermos vaidosos, de não aparecer mais dignos daquilo que somos. Peçamos esta graça nesta Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências. Fonte: https://www.vaticannews.va
Campanha da Fraternidade: Mensagem do Papa Francisco ao povo brasileiro
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Campanha da Fraternidade: Mensagem do Papa Francisco ao povo brasileiro
Papa: "Os cristãos devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça".
Silvonei José – Cidade do Vaticano
Como já é tradição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abre oficialmente nesta quarta-feira de Cinzas, (06/03), a Campanha da Fraternidade (CF). Neste ano de 2019 o tema é “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).
Nesta Campanha, que se desenvolve mais intensamente no período da Quaresma, a Igreja Católica busca chamar a atenção dos cristãos para o tema das políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis.
Igreja quer estimular a participação em políticas públicas
Nesta CF 2019, a Igreja no Brasil pretende estimular a participação dos cristãos em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais da fraternidade. O texto-base da campanha descreve, entre outros tópicos, sobre o ciclo e etapas de uma política pública e faz a distinção entre as políticas de governo e as políticas de Estado, bem como apresenta os canais de participação social, como os conselhos previstos na Constituição Federal de 1988.
Todos os anos, a CNBB apresenta a CF como caminho de conversão quaresmal. É uma atividade ampla de evangelização que pretende ajudar os cristãos e pessoas de boa vontade a vivenciarem a fraternidade em compromissos concretos, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de temas específicos. Em 2019, a Conferência convida todos a percorrer o caminho da participação na formulação, avaliação e controle social das políticas públicas em todos os níveis como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados ao povo brasileiro.
Mensagem do Papa Francisco
O Papa Francisco também este ano enviou uma mensagem por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade. Eis a íntegra da mensagem do Santo Padre:
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Com o início da Quaresma, somos convidados a preparar-nos, através das práticas penitenciais do jejum, da esmola e da oração, para a celebração da vitória do Senhor Jesus sobre o pecado e a morte. Para inspirar, iluminar e integrar tais práticas como componentes de um caminho pessoal e comunitário em direção à Páscoa de Cristo, a Campanha da Fraternidade propõe aos cristãos brasileiros o horizonte das “políticas públicas”.
Muito embora aquilo que se entende por política pública seja primordialmente uma responsabilidade do Estado cuja finalidade é garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se sentir protagonistas das iniciativas e ações que promovam «o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição» (Gaudium et spes, 74).
Cientes disso, os cristãos - inspirados pelo lema desta Campanha da Fraternidade «Serás libertado pelo direito e pela justiça» (Is 1,28) e seguindo o exemplo do divino Mestre que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28) - devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça. De fato, como lembra o Documento de Aparecida, «são os leigos de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus» (n. 505).
De modo especial, àqueles que se dedicam formalmente à política - à que os Pontífices, a partir de Pio XII, se referiram como uma «nobre forma de caridade» (cf. Papa Francisco, Mensagem ao Congresso organizado pela CAL-CELAM, 1/XII/2017) – requer-se que vivam «com paixão o seu serviço aos povos, vibrando com as fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e mediáticos, sendo competentes e pacientes face a problemas complexos, sendo abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, conjugando a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação» (ibid.).
Refletindo e rezando as políticas públicas com a graça do Espírito Santo, faço votos, queridos irmãos e irmãs, que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, ajude todos os cristãos a terem os olhos e o coração abertos para que possam ver nos irmãos mais necessitados a “carne de Cristo” que espera «ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós» (Bula Misericórdia vultus, 15). Assim a força renovadora e transformadora da Ressurreição poderá alcançar a todos fazendo do Brasil uma nação mais fraterna e justa. E para lhes confirmar nesses propósitos, confiados na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, de coração envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.
Vaticano, 11 de fevereiro de 2019.
Fontes: www.vaticannews.va
QUINTA-FEIRA 28. HOMILIA DO PAPA: “Há a misericórdia de Deus, mas também a sua ira
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Não se deixe vencer pelas paixões, não espere para converter seu coração a Deus. O Papa Francisco, na homilia da missa matinal na Casa Santa Marta, convida a fazer todos os dias o exame de consciência, uma breve avaliação das ações que realizamos porque "nenhum de nós tem certeza de como a vida vai acabar".
Benedetta Capelli - Cidade do Vaticano
Parar, tomar consciência dos próprios fracassos, saber que o fim pode vir de um momento para outro e não viver repetindo que a compaixão de Deus é infinita: uma justificativa para fazer o que se quer. O Papa Francisco, na homilia da missa da manhã na Casa Santa Marta, retoma "os conselhos" contido no Livro do Eclesiástico e exorta a mudar o coração, a converter-se ao Senhor.
Domine as paixões
"A sabedoria é algo cotidiano": destaca Francisco, nasce da reflexão sobre a vida e do parar para pensar como vivemos. Vem escutando as sugestões, como as do Eclesiástico, que se assemelham às indicações "de um pai a um filho, de um avô ao neto".
Não siga seus instintos, sua força, seguindo as paixões do seu coração. Todos nós temos paixões. Mas tenha cuidado, domine as paixões. Pegue-as na mão, as paixões não são coisas ruins, são, por assim dizer, o "sangue" para realizar muitas coisas boas, mas se você não for capaz de dominar suas paixões, elas irão dominar você. Pare, pare.
Não adie a sua conversão
O foco do Papa é sobre a relatividade da vida. Ele cita o verso de um salmo que diz: "Ontem eu passei – disse Francisco - e vi um homem; hoje voltei e não estava mais ali". Nós não somos eternos - sublinha o Pontífice - não podemos pensar em fazer o que queremos, confiando na misericórdia infinita de Deus.
Não seja tão imprudente, de arriscar e crer que você vai se dar bem. "Ah, eu me dei bem até agora, eu vou conseguir ...". Não. Você se deu bem, sim, mas agora não sabe... Não diga: "a compaixão de Deus é grande, Ele irá perdoar os meus muitos pecados", e assim eu continuo fazendo o que eu quero. Não diga isso. E o último conselho desse pai, desse "avô", "Não espere para se converter ao Senhor", não espere para se converter, para mudar de vida, para aperfeiçoar a sua vida, para arrancar de você o joio ruim, todos nós temos , devemos arrancá-lo ... "Não espere para se converter ao Senhor e não adiar de dia em dia, porque de repente se manifestará a ira do Senhor ".
Cinco minutos para mudar o coração
"Não espere para se converter": este é o convite do Papa, que exorta a não adiar a mudança de vida, a tocar com as mãos os fracassos e insucessos que cada um tem, a não ter medo, mas a ser "mais soberano", mais capaz de dominar o que nos apaixona.
Façamos este pequeno exame de consciência todos os dias para nos convertermos ao Senhor: "Mas amanhã tentarei fazer com que isso não aconteça mais". Acontecerá, talvez, um pouco menos, mas você conseguiu governar e não ser governado por suas paixões, pelas muitas coisas que nos acontecem, porque nenhum de nós tem certeza de como sua vida terminará e quando terminará. Esses 5 minutos no final do dia nos ajudarão, nos ajudarão muito a pensar e a não adiar a mudança do coração e a conversão ao Senhor. Que o Senhor nos ensine com sua sabedoria a seguir esse caminho. Fonte: www.vaticannews.va
O segundo dia do Encontro sobre a Proteção dos menores no Vaticano
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O segundo dia do Encontro no Vaticano sobre a Proteção dos Menores foi aberto pela oração da manhã em que se pediu para viver uma fé sem hipocrisia. Também nesta sexta-feira foi lida a experiência de uma vítima de abusos: "Quando eu fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho ... todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho sem saber a quem recorrer".
Sergio Centofanti, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Foi aberto nesta manhã de sexta-feira na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, na presença do Papa, o segundo dia do Encontro sobre "A Proteção dos Menores na Igreja" (21-24 fevereiro). http://www.pbc2019.org/it/conferenza/programma
Na oração inicial de hoje, guiada por Dom Pierbattista Pizzaballa, administrador apostólico de Jerusalém dos Latinos, após o canto do hino "Veni, Creator Spiritus", foi pronunciada em espanhol pela irmã Aurora Calvo Ruiz, superiora geral das Mercedárias da Caridade, uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos , onde o apóstolo convida a viver uma fé sincera, longe de qualquer falsidade e duplicidade: “O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor”.
Logo depois, a experiência de uma vítima de abuso foi lida em inglês:
“ Quando Jesus estava prestes a morrer, sua mãe estava com ele. Quando fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho. Quando eu precisei de alguém na igreja para falar sobre meus abusos e minha solidão, todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho, sem saber a quem recorrer. ”
Como no dia de ontem, depois de ouvir o testemunho, seguiu-se um longo silêncio. Na oração final, dom Pizzaballa rezou para que "ninguém jamais tivesse que temer a violência e a opressão" na Igreja, "mas sim encontrar nela toda segurança e ajuda". Então concluiu com este pedido a Deus:
“ Impeça àqueles que exercem o ministério na Igreja de abusar dos outros para seus próprios fins, mas dê a eles a humildade de servir os outros desinteressadamente como discípulos de Jesus. ”
No final da oração, o padre Federico Lombardi, moderador do Encontro, lembrou que hoje a Igreja celebra a Solenidade da Cátedra de São Pedro e "portanto - observou - toda a Igreja reza pelo Santo Padre, pelo seu serviço de ensinamento e guia" e acrescentou: "Fazemos os votos de todo o coração, junto com toda a Igreja ".
O padre Lombardi recordou em seguida o desejo do Papa Francisco de que todos os participantes no Encontro pudessem ter à sua disposição uma documentação oficial das Nações Unidas sobre os temas da luta contra a violência contra as crianças. Por esta razão, entre os documentos distribuídos aos presentes - sublinhou - há o mais recente relatório global das Nações Unidas sobre o combate à violência sobre crianças, intitulado “Toward a world free from violence. Global survey on violence against children” (Rumo a um mundo livre da violência. Pesquisa global sobre violência contra crianças), e o relatório Unicef 2017 “A familiar face”, isto é" um rosto familiar, para dizer que a violência contra as crianças, muitas vezes, vem de alguém que é familiar, próximo às crianças. E isso - disse o padre Lombardi - é resultado das investigações universais sobre o problema da violência contra crianças".
Os documentos foram enviados pela Sra. Marta Maria de Morais dos Santos Pais, representante oficial do secretário geral da ONU para o combate à violência contra as crianças, que enviou um e-mail dizendo estar honrada em por poder contribuir com esse "importante Encontro" sobre a proteção das crianças na Igreja e enviou os seus melhores votos "de uma reflexão frutuosa e de bons resultados deste encontro". Fonte: www.vaticannews.va
TERÇA-FEIRA 18. HOMILIA DO PAPA: “os pobres pagam a conta das guerras, o dilúvio da atualidade”.
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Na missa matutina na Casa Santa Marta, o Papa Francisco destacou que Deus nos ama com o coração, não com as ideias. A Ele é preciso pedir a graça de chorar diante das calamidades do mundo, aos perseguidos, a quem morre na guerra.
Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano
O dilúvio universal e as guerras de hoje: o Papa Francisco traça uma linha de continuidade entre o que foi narrado no Livro do Gênesis e a atualidade, recordando o sofrimento das crianças famintas e órfãs, dos mais fracos, dos pobres que pagam “a conta da festa”. Na homilia da missa na Casa Santa Marta, o Pontífice exortou a ter um coração que se pareça com o coração de Deus, capaz de sentir raiva, de sentir dor, mas sobretudo de ser irmão com os irmãos, pai com os filhos; um coração humano e divino.
Deus tem sentimentos
Comentando a primeira leitura, o Papa falou da dor de Deus diante da malvadeza dos homens e no arrependimento por tê-los criado, a ponto de prometer cancelá-los da face da terra. É um Deus que tem sentimentos – afirmou o Papa –, “não é abstrato” de ideias puras e “sofre”, e este é “o mistério do Senhor”. Os sentimentos de Deus, Deus pai que nos ama – e o amor é uma relação – mas é capaz de enraivecer-se, de irritar-se. É Jesus que vem e mostra o caminho para nós, com o sofrimento do coração, tudo... Mas o nosso Deus tem sentimentos. O nosso Deus nos ama com o coração, não nos ama com as ideias, nos ama com o coração. E quando nos acaricia, nos acaricia com o coração e quando nos repreende, como um bom pai, nos repreende com o coração. Ele sofre mais do que nós.
Os nossos tempos não são melhores que os tempos do dilúvio
É “uma relação de coração a coração, de filho a pai que se abre e se Ele é capaz de sentir dor no seu coração, também nós – prosseguiu o Papa – saremos capazes de sentir dor diante Dele”. “Não é sentimentalismo – afirmou –, esta é a verdade.” Francisco explicou que os tempos de hoje não são diferentes dos tempos do dilúvio; existem problemas, as calamidades do mundo, os pobres, as crianças, os famintos, os perseguidos, os torturados, “as pessoas que morrem na guerra porque lançam bombas como se fossem balas”.
Eu não creio que os nossos tempos sejam melhores do que os tempos do dilúvio, não creio: as calamidades são mais ou menos as mesmas, as vítimas são mais ou menos as mesmas. Pensemos por exemplo nos mais fracos, nas crianças. A quantidade de crianças famintas, de crianças sem educação: não podem crescer em paz. Sem pais porque foram massacrados pelas guerras… Crianças-soldado… Pensemos nessas crianças.
Chorar como Jesus
A graça a ser pedida – concluiu o Papa – é ter “um coração como o coração de Deus, que se pareça com o coração de Deus, um coração de irmãos com os irmãos, de pai com os filhos, de filho com os pais. Um coração humano, como aquele de Jesus, é um coração divino”. Há a grande calamidade do dilúvio, há a grande calamidade das guerras de hoje, onde a conta da festa é paga pelos mais fracos, os pobres, as crianças, aqueles que não têm recursos para ir avante. Pensemos que o Senhor está entristecido em seu coração e nos aproximemos Dele e digamos: “Senhor, olhe essas coisas, eu O compreendo”. Consolemos o Senhor: “Eu O compreendo e O acompanho”, acompanho na oração, na intercessão por todas essas calamidades que são fruto do diabo, que quer destruir a obra de Deus. Fonte: www.vaticannews.va
DOMINGO 17: “Sejamos testemunhas da felicidade de Deus, não de ídolos”. Francisco.
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Confira o texto integral da alocução do Papa Francisco antes da Oração Mariana do Angelus deste domingo (17), dirigido aos milhares de fiéis na Praça São Pedro.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (Lc 7, 17.20-26) nos apresenta as Bem-aventuranças na versão de São Lucas. O texto se articula em quatro bem-aventuranças e quatro mandamentos formulados com a expressão “ai de vós”. Com essas palavras, fortes e incisivas, Jesus nos abre os olhos, nos faz ver com o seu olhar, para além das aparências, longe da superfície e nos ensina a discernir as situações com a fé.
Jesus declara bem-aventurados os pobres, os que tem fome, os aflitos e os perseguidos; e alerta aqueles que são ricos, saciados, sorridentes e aclamados pela pessoas. A razão dessa paradoxal bem-aventurança está no fato de que Deus está próximo àqueles que sofrem e intervém para libertá-los das suas escravidões; Jesus vê isso, já vê a bem-aventurança além da realidade negativa. E, igualmente, o “ai de vós”, dirigido àqueles que hoje vivem bem, serve a “despertá-los” do engano perigoso do egoísmo e de abri-los à lógica do amor até que haja tempo.
A página do Evangelho de hoje nos convida, então, a refletir sobre o sentido profundo de ter fé, que consiste em confiarmos totalmente no Senhor. Trata-se de derrubar os ídolos mundanos para abrir o coração ao Deus vivo e verdadeiro; só Ele pode dar à nossa existência aquela plenitude tanto desejada ou difícil para se alcançar.
São muitos, de fato, inclusive nos nossos dias, aqueles que se propõem como distribuidores de felicidade: prometem sucesso a curto prazo, grande retorno de fácil alcance, soluções mágicas para cada problema e assim por diante. E aqui é fácil escorregar sem perceber no pecado contra o primeiro mandamento: a idolatria, substituir Deus com um ídolo. Idolatria e ídolos parecem coisas de outros tempos, mas, na verdade, são de todos os tempos! Descrevem algumas posturas contemporâneas melhor que muitas análises sociológicas.
Por isso Jesus nos abre os olhos para a realidade. Somos chamados para a felicidade, para sermos bem-aventurados, e nos tornamos desde o momento em que nos colocamos do lado de Deus, do seu Reino, da parte daquilo que não é efêmero, mas dura pela vida eterna. Somos felizes se nos reconhecemos necessitados perante Deus e se, como Ele e com Ele, estivermos próximos aos pobres, aos aflitos e a quem tem fome. A gente se torna capaz de alegria cada vez que, possuindo bens deste mundo, não fazemos ídolos a quem vendemos a nossa alma, mas somos capazes de compartilhar com os nossos irmãos. Sobre isso hoje a liturgia nos convida, mais uma vez, a nos interrogar e a praticar a verdade no nosso coração.
As Bem-aventuranças de Jesus são uma mensagem decisiva que nos motiva a não recolocar a nossa crença nas coisas materiais e passageiras, a não procurar a felicidade seguindo os vendedores de fumaça, os profissionais da ilusão. O Senhor nos ajuda a abrir os olhos, a capturar um olhar mais penetrante sobre a realidade, a sarar da miopia crônica que o espírito mundano nos contamina.
Com a sua Palavra paradoxal nos motiva e nos faz reconhecer aquilo que realmente nos enriquece, nos sacia, nos dá alegria e dignidade. Enfim, aquilo que realmente dá sentido e plenitude à nossa vida. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 13: "Na oração cristã não há espaço para o 'eu'". Francisco.
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Na audiência geral, Francisco lembrou que o 'Pai Nosso' não é uma oração individualista.: "No diálogo com Jesus, não deixamos o mundo fora da porta do nosso quarto... levamos as pessoas e situações em nosso coração!"
Cristiane Murray – Cidade do Vaticano
Na catequese pronunciada esta quarta-feira (13/02), o Papa propôs uma reflexão sobre o ‘Pai Nosso’, explicando como rezar melhor a oração que Jesus nos ensinou.
A Sala Paulo VI, dentro do Estado do Vaticano, ficou repleta de fiéis, romanos e turistas que receberam o Papa com o carinho de sempre, cantos e aplausos e em seguida, ouviram suas palavras com atenção.
Introspecção do diálogo com Jesus
Para rezar - iniciou o Papa - são necessários silêncio e introspecção.
“A verdadeira oração se realiza no segredo na consciência, do fundo do coração: com Deus é impossível fingir, é como o olhar de duas pessoas, o homem e Deus, quando se cruzam”. Mas apesar disso, Jesus não nos ensina uma oração intimista ou individualista. Não deixamos o mundo fora da porta do nosso quarto... levamos as pessoas e situações em nosso coração! “Na oração do Pai Nosso, há uma palavra que brilha pela sua ausência: uma palavra que em nossos tempos – como talvez sempre – todos consideram importante: a palavra ‘eu'.”
Primeiramente nos dirigimos a Deus como a Alguém que nos ama e escuta (seja santificado o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade) e, depois, quando lhe apresentamos uma série de petições (dai-nos hoje o nosso pão cotidiano, perdoai as nossas ofensas, não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos do mal), as fazemos na primeira pessoa do plural – “nós” – isto é, rezamos como uma comunidade de irmãos e irmãs. “Até as necessidades mais elementares do homem – como ter alimento para saciar sua fome – são todas feitas no plural. Na oração cristã, ninguém pede o pão para si, mas o suplica para todos os pobres do mundo”, disse Francisco.
Pedir a Jesus que nos faça ter compaixão
Na oração, o cristão leva todas as dificuldades e sofrimentos de quem está ao seu lado, tanto dos amigos como de quem lhe faz mal, imitando a compaixão que Jesus sentia pelos pecadores.
Mas pode acontecer – ressalvou o Papa – que alguém não perceba o sofrimento a seu redor, não sinta pena pelas lágrimas dos pobres, fique indiferente a tudo. Isto significa que seu coração está petrificado. Neste caso, seria bom pedir ao Senhor que o toque com o seu Espírito e sensibilize seu coração.“ Cristo não ficou alheio às misérias do mundo. Toda vez que percebia uma solidão, uma ferida no corpo ou no espírito, sentia forte compaixão.”
Às 7 mil pessoas presentes, o Papa perguntou: “Quando rezamos, nos abrimos ao grito de tanta gente, próxima ou distante? Ou penso na oração como uma espécie de anestesia, para ficar mais tranquilo? Isto seria um terrível equívoco”.
A oração deve abrir o coração ao próximo para que amemos com um amor compassivo e concreto, sabendo que tudo aquilo que fizermos “a um destes meus irmãos mais pequeninos, -afirma Jesus - foi a mim mesmo que o fizestes”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa e o martírio de João: a vida vale somente se doada no amor
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Papa e o martírio de João: a vida vale somente se doada no amor
O Papa Francisco, na homilia da Missa na Casa Santa Marta, convida a meditar sobre os quatro protagonistas do fim do Batista: o rei corrupto e indeciso, a mulher diabólica que odiava, a dançarina vaidosa e caprichosa, e o profeta decapitado, sozinho, na prisão, o "maior homem nascido de uma mulher", que rebaixou a si mesmo para fazer crescer Jesus.
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano (08/02/2019)
O martírio de João, “o maior homem nascido de mulher” segundo Jesus, é um grande testemunho: a vida tem valor somente na doação ao outros, “no amor, na verdade, na vida cotidiana, na família”. Assim o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia na homilia na missa celebrada na Casa Santa Marta. O trecho, extraído de São Marcos, fala da decapitação de São João Batista.
Quatro personagens nos quais o Senhos nos fala
O Papa convida a abrir o coração para que o Senhor nos fale. Existem quatro personagens: o rei Herodes “corrupto e indeciso”, Herodíades, a mulher do irmão do rei, “que sabia somente odiar”, Salomé, “a bailarina vaidosa”, e “o profeta decapitado solitário na prisão”. Uma narração que Francisco descreve começando pelo fim, com os discípulos de João que pedem o corpo do profeta para sepultá-lo.
João nos mostra Jesus
“O maior terminou assim”, comentou o Papa. “Mas João sabia, ele sabia que deveria se aniquilar”. Ele o havia dito desde o início, falando de Jesus: “Ele deve crescer, eu, ao invés, diminuir”. E ele diminuiu até a morte”. Foi o precursor, disse Francisco, o anunciador de Jesus, que disse “Não sou eu, este é o Messias”. “Ele o mostrou aos primeiros discípulos, recordou o Papa, e depois a sua luz se apagou aos poucos, até a escuridão daquela cela, na prisão, onde, solitário, foi decapitado”.
O martírio é um serviço
Mas por que isso aconteceu?, perguntou Francisco. “A vida dos mártires não é fácil de contar. O martírio é um serviço, um mistério, é um dom da vida muito especial e muito grande”. E, no final, as coisas se concluem violentamente, por causa de “atitudes que levam a tirar a vida de um cristão, de uma pessoa honesta, e a fazê-lo mártir”.
O rei corrupto que não consegue mudar de vida
O Papa então analisa as atitudes dos três protagonistas do martírio. Antes de tudo, o rei, que “acreditava que João fosse um profeta”, “o ouvia de bom grado”, a um certo ponto “o protegia”, mas o mantinha na prisão. Estava indeciso, porque João “repreendia o seu pecado”, o adultério. No profeta, explicou o Papa Francisco, Herodes “ouvia a voz de Deus, que lhe dizia: ‘Muda de vida’, mas não conseguia fazê-lo. O rei era corrupto, e onde há corrupção, é muito difícil sair”.
Um corrupto que “buscava equilíbrios diplomáticos” entre a própria vida, não só adúltera, mas também de “tantas injustiças que levava em frente”, e a sua consciência, “que sabia que aquele homem era santo”. E não conseguia desfazer o nó.
A mulher que tinha o espírito satânico de ódio
Então o Papa descreve Herodíades, a mulher do irmão do rei, morto por Herodes para ficar com ela. O Evangelho diz dela somente que "odiava" João, porque dizia as coisas claramente. "E sabemos que o ódio é capaz de tudo – comenta Francisco - é uma grande força. O ódio é o sopro de satanás. Pensemos que ele não sabe amar, não pode amar. O seu "amor" é o ódio. E essa mulher tinha o espírito satânico do ódio", que destrói.
O rei diz a Salomé: "Eu te darei tudo", como Satanás
Por fim, o terceiro personagem, a filha de Herodíades, Salomé, brava em dançar, "que agradou tanto aos convidados, como ao rei". Herodes, naquele entusiasmo, promete à moça "Eu te darei tudo". "Usa as mesmas palavras – recorda o Pontífice - que usou Satanás para tentar Jesus." Se você me adorar eu lhe darei tudo, todo o reino. " Mas Herodes não o podia saber: Por detrás desses personagens está satanás, semeador de ódio na mulher, semeador de vaidade na moça, semeador de corrupção no rei. E o "maior homem nascido de uma mulher" acabou sozinho, em uma cela escura da prisão, por capricho de uma dançarina vaidosa, o ódio de uma mulher diabólica e a corrupção de um rei indeciso. É um mártir, que deixou sua vida diminuísse, diminuísse, diminuísse, para dar lugar ao Messias.
O testemunho de um grande homem e grande santo
João morre ali, na cela, no anonimato, "como tantos dos nossos mártires", comenta o Papa Francisco, amargamente. O Evangelho diz somente que "os discípulos foram pegar o cadáver para sepultá-lo". Pensemos todos, acrescenta o Papa, que este "é um grande testemunho, de um grande homem, de um grande santo": A vida só tem valor no doá-la, no doá-la no amor, na verdade, no doá-la aos outros, na vida cotidiana, na família. Sempre doá-la. Se alguém pega a vida para si mesmo, para guardá-la, como o rei em sua corrupção ou a senhora com o ódio, ou a menina, a jovem com sua própria vaidade - um pouco adolescente, inconsciente - a vida morre , a vida acaba murchando, não serve.
João, conclui Francisco, deu a sua vida: "Eu, pelo contrário, devo diminuir para que Ele seja ouvido, seja visto, para que Ele se manifeste, o Senhor": Eu só aconselho a vocês a não pensarem muito sobre isso, mas de recordar a imagem, os quatro personagens: o rei corrupto, a senhora que só sabia odiar, a jovem vaidosa que não tem consciência de nada, e o profeta decapitado, sozinho em uma cela. Olhar para isso, e cada um abra o coração para que o Senhor lhe fale sobre isso. https://www.vaticannews.va
Íntegra do discurso do Papa no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi
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Íntegra do discurso do Papa no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi
Confira o discurso integral do Papa Francisco no Encontro inter-religioso realizado no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, nesta segunda-feira (04/02).
VISITA DO SANTO PADRE AOS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
- Encontro Inter-religioso -
Al Salamò Alaikum ! A paz esteja convosco!
De coração agradeço a Sua Alteza o Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan e ao Doutor Ahmad Al-Tayyib, Grande Imã de Al-Azhar, pelas suas palavras. Estou grato ao Conselho dos Anciãos pelo encontro que acabamos de ter na Mesquita do Xeque Zayed.
Saúdo cordialmente as Autoridades civis e religiosas e o Corpo Diplomático. Permitam-me também um sincero obrigado pela calorosa recepção que todos reservaram a mim e à nossa delegação.
Agradeço também a todas as pessoas que contribuíram para tornar possível esta viagem e que trabalharam com dedicação, entusiasmo e profissionalismo para este evento: os organizadores, o pessoal do Protocolo, o da Segurança e todos aqueles que, nos «bastidores», de várias maneiras deram a sua contribuição. Um agradecimento particular ao Senhor Mohammed Abdel Salam, ex-conselheiro do Grande Imã.
Daqui, da vossa pátria, dirijo-me a todos os países desta Península, saudando-os cordialmente com respeito e amizade.
De ânimo reconhecido ao Senhor, aproveitei o ensejo do VIII centenário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kamil para vir aqui como crente sedento de paz, como irmão que procura a paz com os irmãos. Desejar a paz, promover a paz, ser instrumentos de paz: para isto, estamos aqui.
Arca de fraternidade
O logotipo desta viagem representa uma pomba com um ramo de oliveira. É uma imagem que nos traz à memória a narração do dilúvio primordial, presente em várias tradições religiosas. Segundo a narração bíblica, para preservar a humanidade da destruição, Deus pede a Noé para entrar na arca com a sua família. Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca de fraternidade.
O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem da única família humana. Criador de tudo e de todos, quer que vivamos como irmãos e irmãs, morando nesta casa comum da criação que Ele nos deu. Funda-se aqui, nas raízes da nossa humanidade comum, a fraternidade como «vocação contida no desígnio criador de Deus».[1] Esta fraternidade diz-nos que todos temos igual dignidade, pelo que ninguém pode ser dono ou escravo dos outros.
Não se pode honrar o Criador sem salvaguardar a sacralidade de cada pessoa e de cada vida humana: cada um é igualmente precioso aos olhos de Deus. Com efeito, Ele não olha a família humana com um olhar de preferência que exclui, mas com um olhar de benevolência que inclui. Por isso, reconhecer os mesmos direitos a todo o ser humano é glorificar o Nome de Deus na terra. Assim, em nome de Deus Criador, é preciso condenar, decididamente, qualquer forma de violência, porque seria uma grave profanação do Nome de Deus utilizá-Lo para justificar o ódio e a violência contra o irmão. Religiosamente, não há violência que se possa justificar.
Inimigo da fraternidade é o individualismo
Inimigo da fraternidade é o individualismo, que se traduz na vontade de eu mesmo e o meu próprio grupo nos sobrepormos aos outros. Trata-se duma insídia que ameaça todos os aspetos da vida, mesmo a mais alta e inata prerrogativa do homem que é a abertura ao transcendente e a religiosidade. A verdadeira religiosidade consiste em amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Por isso, a conduta religiosa precisa de ser continuamente purificada duma tentação frequente: considerar os outros como inimigos e adversários. Cada credo é chamado a superar o desnível entre amigos e inimigos, assumindo a perspectiva do Céu que abraça os homens sem privilégios nem discriminações.
Desejo, pois, expressar apreço pelo compromisso deste país em tolerar e garantir a liberdade de culto, contrapondo-se ao extremismo e ao ódio. Assim procedendo, ao mesmo tempo que se promove a liberdade fundamental de professar o próprio credo, exigência intrínseca na própria realização do homem, vela-se também para que a religião não seja instrumentalizada e corra o risco de, admitindo violência e terrorismo, se negar a si mesma.
É certo que, «apesar de os irmãos estarem ligados por nascimento e possuírem a mesma natureza e a mesma dignidade, a fraternidade exprime também a multiplicidade e a diferença que existe entre eles».[2] Expressão disso mesmo é a pluralidade religiosa. Neste contexto, a atitude correta não é a uniformidade forçada nem o sincretismo conciliador: o que estamos chamados a fazer como crentes é trabalhar pela igual dignidade de todos em nome do Misericordioso, que nos criou e em cujo Nome se deve buscar a composição dos contrastes e a fraternidade na diversidade. Gostaria, aqui, de reiterar a convicção da Igreja Católica, segundo a qual «não podemos invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à sua imagem».[3]
No entanto, várias questões se impõem: Como salvaguardar-nos mutuamente na única família humana? Como alimentar uma fraternidade que não seja teórica, mas se traduza em autêntica união? Como fazer prevalecer a inclusão do outro sobre a exclusão em nome da própria afiliação? Enfim, como podem as religiões ser canais de fraternidade em vez de barreiras de separação?
A família humana e a coragem da alteridade
Se acreditamos na existência da família humana, segue-se daí que a mesma, enquanto tal, deve ser salvaguardada. Como se verifica em cada família, consegue-se isso, antes de mais nada, através dum diálogo diário e efetivo. Isto pressupõe a própria identidade, a que não se deve abdicar para agradar ao outro; mas, ao mesmo tempo, requer a coragem da alteridade,[4] que supõe o pleno reconhecimento do outro e da sua liberdade com o consequente compromisso de me gastar para que os seus direitos fundamentais sejam respeitados sempre, em toda parte e por quem quer que seja. Com efeito, sem liberdade, já não se é filho da família humana, mas escravo. E. dentre as liberdades, gostaria de salientar a liberdade religiosa. Esta não se limita à mera liberdade de culto, mas vê no outro verdadeiramente um irmão, um filho da minha mesma humanidade, que Deus deixa livre e, por conseguinte, nenhuma instituição humana pode forçar, nem mesmo em nome d’Ele.
O diálogo e a oração
A coragem da alteridade é a alma do diálogo, que se baseia na sinceridade de intenções. Com efeito, o diálogo é comprometido pelo fingimento, que aumenta a distância e a suspeita: não se pode proclamar a fraternidade e, depois, agir em sentido oposto. Segundo um escritor moderno, «quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega ao ponto de já não ser capaz de distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor e, assim, começa a perder a estima por si mesmo e pelos outros».[5]
Em tudo isto, é indispensável a oração: esta, ao mesmo tempo que encarna a coragem da alteridade em relação a Deus, na sinceridade da intenção, purifica o coração de fechar-se em si mesmo. A oração feita com o coração é um restaurador de fraternidade. Por isso, «quanto ao futuro do diálogo inter-religioso, a primeira coisa que devemos fazer é rezar. E rezar uns pelos outros: somos irmãos! Sem o Senhor, nada é possível; com Ele, tudo se torna possível! Possa a nossa oração – cada um segundo a sua tradição – aderir plenamente à vontade de Deus, o Qual deseja que todos os homens se reconheçam irmãos e vivam como tais, formando a grande família humana na harmonia das diversidades».[6]
Não há alternativa: ou construiremos juntos o futuro ou não haverá futuro. De modo particular, as religiões não podem renunciar à tarefa impelente de construir pontes entre os povos e as culturas. Chegou o tempo de as religiões se gastarem mais ativamente, com coragem e ousadia e sem fingimento, por ajudar a família humana a amadurecer a capacidade de reconciliação, a visão de esperança e os itinerários concretos de paz.
A educação e a justiça
E voltamos, assim, à imagem inicial da pomba da paz. Também a paz, para levantar voo, precisa de asas que a sustentem: as asas da educação e da justiça.
A educação – educere, em latim, significa extrair, tirar fora – é trazer à luz os preciosos recursos da alma. É consolador verificar como, neste país, não se investe apenas na extração dos recursos da terra, mas também nos recursos do coração, na educação dos jovens. É um compromisso que almejo possa continuar e difundir-se por outros lados. A própria educação tem lugar na relação, na reciprocidade. À famosa máxima antiga «conhece-te a ti mesmo», devemos juntar «conhece o irmão»: a sua história, a sua cultura e a sua fé, porque, sem o outro, não há verdadeiro conhecimento de si mesmo. Como homens e mais ainda como irmãos, lembremos uns aos outros que nada do que é humano nos pode ficar alheio.[7] Em ordem ao futuro, é importante formar identidades abertas, capazes de vencer a tentação de se fechar em si mesmas e empedernir-se.
Investir na cultura favorece a diminuição do ódio e o aumento da civilidade e prosperidade. Educação e violência são inversamente proporcionais. As instituições católicas – apreciadas também neste país e na região – promovem tal educação para a paz e compreensão mútua para prevenir a violência.
Cercados frequentemente por mensagens negativas e notícias falsas, os jovens precisam de aprender a não ceder às seduções do materialismo, do ódio e dos preconceitos, a reagir à injustiça e também às experiências dolorosas do passado e a defender os direitos dos outros com o mesmo vigor com que defendem os próprios. Um dia, serão eles a julgar-nos: bem, se lhes tivermos dado bases sólidas para criar novos encontros de civilidade; mal, se lhes tivermos deixado apenas miragens e a desoladora perspectiva de nefastos conflitos de incivilidade.
A justiça é a segunda asa da paz; com frequência, esta não é comprometida por episódios individuais, mas é lentamente devorada pelo câncer da injustiça.
Portanto, não se pode crer em Deus sem procurar viver a justiça com todos, como diz a regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 12).
Paz e justiça são inseparáveis! Diz o profeta Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A paz morre, quando se divorcia da justiça, mas a justiça revela-se falsa se não for universal. Uma justiça circunscrita apenas aos familiares, aos compatriotas, aos crentes da mesma fé é uma justiça claudicante… uma injustiça disfarçada!
As religiões têm também a tarefa de lembrar que a ganância do lucro torna néscio o coração e que as leis do mercado atual, ao exigir tudo e súbito, não ajudam o encontro, o diálogo, a família: dimensões essenciais da vida que precisam de tempo e paciência. Que as religiões sejam voz dos últimos – estes não são estatísticas, mas irmãos – e estejam da parte dos pobres; velem como sentinelas de fraternidade na noite dos conflitos, sejam apelos diligentes à humanidade para que não feche os olhos perante as injustiças e nunca se resigne com os dramas sem conta no mundo.
O deserto que floresce
Depois de ter falado da fraternidade como arca de paz, gostaria agora de me inspirar numa segunda imagem: o deserto, que nos envolve.
Aqui, com clarividência e sabedoria, em poucos anos o deserto foi transformado num lugar próspero e hospitaleiro; de obstáculo impérvio e inacessível que era, o deserto tornou-se lugar de encontro entre culturas e religiões. Aqui o deserto floresceu, não apenas durante alguns dias no ano, mas para muitos anos vindouros. Este país, em que se tocam areia e arranha-céus, continua a ser uma importante encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o Sul do planeta, um lugar de desenvolvimento, onde espaços outrora inóspitos proporcionam empregos a pessoas de várias nações.
Mas o desenvolvimento também tem os seus adversários. E, se o inimigo da fraternidade é o individualismo, como obstáculo ao desenvolvimento apontaria a indiferença, que acaba por converter as realidades florescentes em zonas desertas. De facto, um desenvolvimento puramente utilitarista não gera progresso real e duradouro. Só um desenvolvimento integral e coeso prepara um futuro digno do homem. A indiferença impede de ver a comunidade humana para além dos lucros, e ver o irmão para além do trabalho que faz. Com efeito, a indiferença não olha para o amanhã; não se importa com o futuro da criação, não cuida da dignidade do forasteiro nem do futuro das crianças.
Neste contexto, alegro-me com o facto de se ter realizado precisamente aqui em Abu Dhabi, em novembro passado, o primeiro Fórum da Aliança inter-religiosa por Comunidades mais seguras, dedicado ao tema da dignidade da criança na era digital. Este evento retomou a mensagem lançada um ano antes, em Roma, no Congresso internacional sobre o mesmo tema, ao qual dei todo o meu apoio e encorajamento. Agradeço, pois, a todos os líderes que estão empenhados neste campo e asseguro o apoio, a solidariedade e a participação da Igreja Católica nesta causa importantíssima da proteção dos menores em todas as suas expressões.
Aqui, no deserto, abriu-se um caminho de fecundo desenvolvimento que, a partir do trabalho, dá esperança a muitas pessoas de vários povos, culturas e credos. E, entre elas, contam-se também muitos cristãos, cuja presença na região remonta séculos atrás tendo contribuído significativamente para o crescimento e bem-estar do país. Além das próprias capacidades profissionais, trazem-vos a genuinidade da sua fé. O respeito e a tolerância que encontram, bem como os necessários lugares de culto onde rezam, permitem-lhes aquele amadurecimento espiritual que se traduz em benefício para a sociedade inteira. Encorajo-vos a continuar por este caminho, para que quantos vivem aqui ou estão de passagem conservem a imagem não só das grandes obras erguidas no deserto, mas também duma nação que inclui e abraça a todos.
É com este espírito que almejo, não só aqui mas em toda a amada e nevrálgica região do Oriente Médio, oportunidades concretas de encontro: sociedades onde pessoas de diferentes religiões tenham o mesmo direito de cidadania e onde só à violência, em todas as suas formas, se tire tal direito.
Uma convivência fraterna, fundada na educação e na justiça, e um desenvolvimento humano, construído sobre a inclusão acolhedora e sobre os direitos de todos, constituem sementes de paz, que as religiões são chamadas a fazer germinar. Cabe a elas neste delicado momento histórico, talvez como nunca antes, uma tarefa que não se pode adiar mais: contribuir ativamente para desmilitarizar o coração do homem. A corrida aos armamentos, o alargamento das respetivas zonas de influência, as políticas agressivas em detrimento dos outros nunca trarão estabilidade. A guerra nada mais pode criar senão miséria; as armas nada mais, senão morte!
A fraternidade humana impõe-nos, a nós representantes das religiões, o dever de banir toda a nuance de aprovação da palavra guerra. Restituamo-la à sua miserável crueza. Estão sob os nossos olhos as suas consequências nefastas. Penso em particular no Iémen, na Síria, no Iraque e na Líbia. Juntos, irmãos na única família humana querida por Deus, comprometamo-nos contra a lógica da força armada, contra a monetarização das relações, o armamento das fronteiras, o levantamento de muros, o amordaçamento dos pobres; oponhamos a tudo isto a força suave da oração e o empenho diário no diálogo. Que o nosso estar juntos hoje seja uma mensagem de confiança, um encorajamento a todos os homens de boa vontade para que não se rendam aos dilúvios da violência nem à desertificação do altruísmo. Deus está com o homem que procura a paz. E, do céu, abençoa cada passo que se realiza, neste caminho, sobre a terra.
[1] Bento XVI, Discurso aos novos Embaixadores junto da Santa Sé (16/XII/2010).
[2] Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015 (8/XII/2014), 2
[3] Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs Nostra aetate, 5.
[4] Cf. Francisco, Discurso aos participantes na Conferência Internacional pela Paz (Al-Azhar Conference Centre, Cairo, 28/IV/2017).
[5] F. Dostoiévski, Os irmãos Karamazov, II, 2 (Milão 2012), 60.
[6] Francisco, Audiência Geral inter-religiosa (28/X/2015).
[7] Cf. Terêncio, Heautontimorumenos I, 1, 25.
Fonte: Fonte: www.vaticannews.va
XXIII- DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA: “A vida consagrada desabrocha e floresce na Igreja, se se isolar, murcha”. Francisco.
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A vida consagrada “é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: ‘Deus basta, o resto passa’; é louvor que brota apesar de tudo”, disse o Papa Francisco na missa deste 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e XXIII Dia Mundial da Vida Consagrada.
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“A vida consagrada não é sobrevivência, é vida nova. É encontro vivo com o Senhor no seu povo. É chamado à obediência fiel de cada dia e às surpresas inéditas do Espírito. É visão daquilo que importa abraçar para ter a alegria: Jesus.”
Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa na tarde deste sábado, 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e XXIII Dia Mundial da Vida Consagrada, celebrada na Basílica de São Pedro com os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica.
Festa do encontro
Ressaltando que a celebração da Apresentação do Senhor recorda a apresentação do Menino Jesus no templo, disse que esta “é a festa do encontro”. “Maria e José, jovens, encontram Simeão e Ana, idosos”, se encontram no templo. “Tudo se encontra quando Jesus chega”, frisou o Pontífice acrescentando que “o Deus da vida deve ser encontrado todos os dias da vida; não ocasionalmente, mas todos os dias”.
Seguir Jesus não é uma decisão tomada uma vez por toda; é uma opção diária, acrescentou.
“Quando O acolhemos como Senhor da vida, centro de tudo, coração pulsante de todas as coisas, então Ele vive e revive em nós. E acontece, também a nós, o que sucedeu no templo: ao redor d’Ele tudo se encontra, a vida torna-se harmoniosa. Com Jesus, reencontra-se a coragem de avançar e a força de permanecer firme.”
Voltar às fontes, reavivar o primeiro amor
Dirigindo-se aos religiosos que pouco antes haviam iluminado a Basílica Vaticana com suas velas acesas no início da celebração, Francisco lembrou que é importante voltar às fontes: “percorrer com a memória os encontros decisivos que tivemos com Ele, reavivar o primeiro amor, talvez escrever a nossa história de amor com o Senhor. Fará bem à nossa vida consagrada, para que não se torne tempo que passa, mas seja tempo de encontro.”
O Santo Padre destacou que a vida consagrada desabrocha e floresce na Igreja; se se isolar, murcha. “Hoje, festa do encontro, peçamos a graça de redescobrir o Senhor vivo, no povo crente, e de fazer encontrar o carisma recebido com a graça do dia de hoje.”
Chamado "segundo a Lei" e "segundo o Espírito"
Francisco explicou que há um dúplice chamado, “segundo a Lei”. É o de José e Maria, que vão ao templo para cumprir o que prescreve a Lei. E um chamado “segundo o Espírito”. É o de Simeão e Ana.
Dois jovens acorrem ao templo chamados pela Lei; dois idosos, movidos pelo Espírito. Que diz à nossa vida espiritual e à nossa vida consagrada este duplo chamado: da Lei e do Espírito? – perguntou o Papa. Que todos somos chamados a uma dupla obediência: à lei – no sentido daquilo que confere boa ordem à vida – e ao Espírito, que faz coisas novas na vida. Assim, nasce o encontro com o Senhor:
“O Espírito revela o Senhor, mas, para O acolher, é necessária a constância fiel de cada dia. Os próprios carismas mais elevados, sem uma vida ordenada, não dão fruto. Por outro lado, as melhores regras não são suficientes sem a novidade do Espírito: lei e Espírito andam juntos.”
Na vida religiosa, fidelidade a coisas concretas
Servindo-se ainda dos textos propostos para a liturgia do dia, Francisco lembrou aos religiosos que Deus nos chama a encontrá-Lo através da fidelidade a coisas concretas, ou seja, a oração diária, a Missa, a Confissão, uma caridade verdadeira, a Palavra de Deus… e isto todos os dias. “Coisas concretas, como na vida consagrada a obediência ao Superior e às Regras. Se se praticar esta lei com amor, sobrevem o Espírito e traz a surpresa de Deus, como no templo e em Caná. Então a água da cotidianidade transforma-se no vinho da novidade; e a vida, que parece mais presa, na realidade torna-se mais livre.”
A vida consagrada “é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: ‘Deus basta, o resto passa’; é louvor que brota apesar de tudo”, concluiu o Santo Padre afirmando ainda o que é a vida consagrada:
“Louvor que dá alegria ao povo de Deus, visão profética que revela aquilo que conta. Quando assim é, floresce e torna-se para todos um apelo contra a mediocridade: contra as quedas de altitude na vida espiritual, contra a tentação de jogar por baixo com Deus, contra a adaptação a uma vida cômoda e mundana, contra a reclamação, insatisfação e lamento da própria sorte, contra o habituar-se a ‘fazer aquilo que se pode’ e ao ‘sempre se fez assim’.”
Agradecimento do cardeal João Braz de Aviz ao Santo Padre
Ao término da celebração o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, cardeal João Braz de Aviz, dirigiu uma saudação e agradecimento ao Santo Padre por celebrar mais uma vez com os religiosos o Dia Mundial da Vida Consagrada.
Papa dá uma prímula às religiosas que moram no Vaticano
Neste 2 de fevereiro, o Papa Francisco, como no ano passado nesta data em que a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor e Dia da Vida Consagrada, fez chegar através de seu esmoleiro, cardeal Konrad Krajewski, uma prímula às religiosas que moram no Vaticano, cerca de cinquenta ao todo. Fonte: www.vaticannews.va
Homilia do Santo Padre na Missa da Festa da Apresentação do Senhor
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Hoje a Liturgia mostra Jesus que vai ao encontro do seu povo. É a festa do encontro: a novidade do Menino encontra a tradição do templo; a promessa encontra cumprimento; Maria e José, jovens, encontram Simeão e Ana, idosos. Enfim, tudo se encontra, quando chega Jesus.
Que significa isto para nós? Antes de mais nada, que também nós somos chamados a acolher Jesus, que vem ao nosso encontro. Encontrá-Lo: o Deus da vida deve ser encontrado todos os dias da vida; não ocasionalmente, mas todos os dias. Seguir Jesus não é uma decisão tomada uma vez por todas; é uma opção diária. E o Senhor não Se encontra virtualmente, mas diretamente, encontrando-O na vida. Caso contrário, Jesus torna-Se apenas uma bela recordação do passado. Mas, quando O acolhemos como Senhor da vida, centro de tudo, coração pulsante de todas as coisas, então Ele vive e revive em nós. E acontece, também a nós, o que sucedeu no templo: ao redor d’Ele tudo se encontra, a vida torna-se harmoniosa. Com Jesus, reencontra-se a coragem de avançar e a força de permanecer firme. O encontro com o Senhor é a fonte. Então é importante voltar às fontes: percorrer com a memória os encontros decisivos que tivemos com Ele, reavivar o primeiro amor, talvez escrever a nossa história de amor com o Senhor. Fará bem à nossa vida consagrada, para que não se torne tempo que passa, mas seja tempo de encontro.
Se recordarmos o nosso encontro fundante com o Senhor, dar-nos-emos conta de que não surgiu como uma questão privada entre nós e Deus. Não! Desabrochou no povo crente, ao lado de tantos irmãos e irmãs, em tempos e lugares concretos. Assim no-lo diz o Evangelho, mostrando como o encontro tem lugar no povo de Deus, na sua história concreta, nas suas tradições vivas: no templo, segundo a Lei, no clima da profecia, com os jovens e os idosos juntos (cf. Lc 2, 25-28.34). O mesmo se passa com a vida consagrada: desabrocha e floresce na Igreja; se se isolar, murcha. Aquela amadurece quando os jovens e os idosos caminham juntos, quando os jovens reencontram as raízes e os idosos acolhem os frutos. Mas estagna quando se caminha sozinho, quando se permanece fixado no passado ou se salta para a frente para tentar sobreviver. Hoje, festa do encontro, peçamos a graça de redescobrir o Senhor vivo, no povo crente, e de fazer encontrar o carisma recebido com a graça do dia de hoje.
O Evangelho diz-nos também que o encontro de Deus com o seu povo tem um ponto de partida e uma meta. Começa-se da chamada ao templo, e chega-se à visão no templo. A chamada é dupla. Há uma primeira chamada «segundo a Lei» (2, 22). É a de José e Maria, que vão ao templo para cumprir o que prescreve a Lei. Quase como um refrão, aparece assinalado quatro vezes no texto (cf. 2, 22.23.24.27). Não se trata de constrangimento: os pais de Jesus não vão forçados, nem para satisfazer um cumprimento meramente externo; vão para responder à chamada de Deus. Há depois uma segunda chamada, segundo o Espírito. É a de Simeão e Ana. Também esta é evidenciada com insistência: relativamente a Simeão, fala-se três vezes do Espírito Santo (cf. 2, 25.26.27) e termina com a profetisa Ana que, inspirada, louva a Deus (cf. 2, 38).
Dois jovens acorrem ao templo chamados pela Lei; dois idosos, movidos pelo Espírito. Que diz à nossa vida espiritual e à nossa vida consagrada esta dupla chamada: da Lei e do Espírito? Que todos somos chamados a uma dupla obediência: à lei – no sentido daquilo que confere boa ordem à vida – e ao Espírito, que faz coisas novas na vida. Assim, nasce o encontro com o Senhor: o Espírito revela o Senhor, mas, para O acolher, é necessária a constância fiel de cada dia. Os próprios carismas mais elevados, sem uma vida ordenada, não dão fruto. Por outro lado, as melhores regras não são suficientes sem a novidade do Espírito: lei e Espírito andam juntos.
Para compreender melhor esta chamada, que vemos hoje nos primeiros dias de vida de Jesus no templo, podemos ir aos primeiros dias do seu ministério público em Caná, onde transforma a água em vinho. Lá também há uma chamada à obediência, quando Maria diz: «Qualquer coisa que [Jesus] vos diga, fazei-a» (cf. Jo 2, 5). Qualquer coisa. E Jesus pede uma coisa singular... Não faz imediatamente uma coisa nova, não tira do nada o vinho que falta, mas pede uma coisa concreta e exigente: pede para encher seis grandes ânforas de pedra para a purificação ritual (que nos recordam a Lei). Significava acarretar cerca de seiscentos litros de água do poço: tempo e fadiga que pareciam inúteis, porque o que faltava não era água, mas o vinho! Contudo é precisamente daquelas ânforas cheias «até acima» (2, 7) que Jesus tira o vinho novo.
O mesmo se passa connosco: Deus chama-nos a encontrá-Lo através da fidelidade a coisas concretas, ou seja, a oração diária, a Missa, a Confissão, uma caridade verdadeira, a Palavra de Deus… e isto todos os dias. Coisas concretas, como na vida consagrada a obediência ao Superior e às Regras. Se se praticar esta lei com amor, sobrevem o Espírito e traz a surpresa de Deus, como no templo e em Caná. Então a água da quotidianidade transforma-se no vinho da novidade; e a vida, que parece mais presa, na realidade torna-se mais livre.
O encontro, que nasce da chamada, culmina na visão. Simeão diz: «Os meus olhos viram a Salvação» (Lc 2, 30). No Menino que vê, contempla a salvação. Não vê o Messias que realiza prodígios, mas um menino pequenito. Não vê nada de extraordinário, mas Jesus com os pais, que trazem ao templo duas rolas ou duas pombas, ou seja, a oferta mais humilde (cf. 2, 24). Simeão vê a simplicidade de Deus, e acolhe a sua presença. Não procura algo diferente; nada mais pede nem pretende. Basta-lhe ver o Menino e tomá-Lo nos braços: «Nunc dimittis… agora podes deixar-me ir» (cf. 2, 29). Basta-lhe Deus como é. N’Ele, encontra o sentido último da vida.
É a visão da vida consagrada, uma visão simples e profética, onde se tem o Senhor diante dos olhos e nas mãos e não precisa de mais nada. A vida é Ele, a esperança é Ele, o futuro é Ele. A vida consagrada é esta visão profética na Igreja: é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: «Deus basta, o resto passa»; é louvor que brota apesar de tudo, como manifesta a profetisa Ana: era uma mulher já muito idosa, que vivera tantos anos viúva, mas não era sorumbática, nostálgica nem fechada em si mesma; pelo contrário, chega, louva a Deus e só fala d’Ele (cf. 2, 38).
Eis a vida consagrada: louvor que dá alegria ao povo de Deus, visão profética que revela aquilo que conta. Quando assim é, floresce e torna-se para todos um apelo contra a mediocridade: contra as quedas de altitude na vida espiritual, contra a tentação de jogar por baixo com Deus, contra a adaptação a uma vida cômoda e mundana, contra a reclamação, insatisfação e lamento da própria sorte, contra o habituar-se a «fazer aquilo que se pode» e ao «sempre se fez assim». A vida consagrada não é sobrevivência, é vida nova. É encontro vivo com o Senhor no seu povo. É chamada à obediência fiel de cada dia e às surpresas inéditas do Espírito. É visão daquilo que importa abraçar para ter a alegria: Jesus.
Obs: texto sem os acréscimos feitos pelo Santo Padre. Fonte: www.vaticannews.va
SEXTA-FEIRA, 1º DE FEVEREIRO. HOMILIA DO PAPA: Ser perseverantes no momento da desolação”. Francisco.
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Na capela da Casa Santa Marta, o Papa celebrou a missa e comentou a primeira Leitura, extraída da Carta aos Hebreus. "Uma catequese sobre a perseverança: perseverar no caminho de fé, perseverar no serviço ao Senhor", disse Francisco.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano (01/02/2019)
Todos atravessamos fases de “desolação”, “momentos obscuros”, em que as coisas parecem perder o sentido, mas é ali que os cristãos devem “perseverar” para “chegar à promessa” do Senhor, sem “deixar-se abater” ou “retroceder”.
Na homilia celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco partiu da primeira Leitura (Hb 10,32-39) para refletir sobre o sentido da perseverança no caminho da vida. O autor da Carta aos Hebreus “fala aos cristãos que estão atravessando um momento difícil”, um momento de perseguição, assim como cada indivíduo atravessa fases de abatimento, “quando não sente nada” e há uma espécie de “distanciamento na nossa alma”. Momentos de desolação vividos pelo próprio Jesus.
A vida cristã não é um carnaval, não é festa e alegria contínua; a vida cristã tem momentos belíssimos e momentos ruins, momentos de torpor, de distanciamento, como disse, onde nada tem sentido... o momento da desolação. E neste momento, seja pelas perseguições internas, seja pelo estado interior da alma, o autor da Carta aos Hebreus diz: “Precisais de perseverança”. Sim. Mas perseverança para quê? “para cumprir a vontade de Deus e alcançar o que ele prometeu”. Perseverança para chegar à promessa.
Memória e esperança contra a desolação
Na homilia, o Papa destacou dois elementos, uma espécie de “receita” contra a desolação: memória e esperança. Como o apóstolo, afirma que é preciso antes de tudo evocar na memória os momentos belos: “os dias felizes do encontro com o Senhor”, “o tempo do amor”. E, em segundo lugar, ter esperança em relação àquilo que nos foi prometido. A vida é feita desta lembrança, reconheceu o Pontífice, momentos belos e outros ruins, o importante é não “deixar-se abater”, não “retroceder” nas fases de dificuldade.
Fazer resistência nos momentos ruins, mas uma resistência da memória e da esperança, uma resistência com o coração: o coração, quando pensa nos momentos belos, respira, quando olha para a esperança, pode respirar também. É isto que devemos fazer nos momentos de desolação para encontrar a primeira consolação e a consolação prometida pelo Senhor.
A perseverança dos mártires cristãos
Por fim, o Papa recordou a sua viagem apostólica à Lituânia, em setembro de 2018, e de como ficou impressionado com a coragem de tantos cristãos, tantos mártires que “perseveraram na fé”.
Também hoje, muitos, muitos homens e mulheres estão sofrendo por causa da fé, mas recordam o primeiro encontro com Jesus, têm esperança e vão avante. Este é um conselho que dá o autor da Carta aos Hebreus para os momentos inclusive de perseguição, quando os cristãos são perseguidos, atacados: “Precisais de perseverança”.
E “quando o diabo nos ataca com as tentações”, concluiu, “com as nossas misérias”, é preciso “sempre olhar para o Senhor, ter “a perseverança da Cruz recordando os primeiros momentos belos do amor, do encontro com o Senhor e a esperança que nos aguarda”. Fonte: www.vaticannews.va
QUINTA-FEIRA, 31: “Que os padres sejam alegres como Dom Bosco”. Francisco.
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O Papa Francisco inspirou sua homilia da Missa matutina celebrada na Casa Santa Marta em São João Bosco, cuja memória é recordada hoje pela Igreja. O cerne de sua exortação é que os sacerdotes não sejam funcionários, mas tenham a coragem de olhar a realidade com olhos de homem e de Deus.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na Casa Santa Marta e a sua homilia foi sobre a figura de São João Bosco que a Igreja recorda, nesta quinta-feira (31/01).
O Pontífice lembrou que no dia de sua ordenação, a mãe de São João Bosco, uma mulher humilde e camponesa, “que não tinha estudado na faculdade de teologia”, lhe disse: “Hoje, você começará a sofrer”. Queria enfatizar uma realidade, mas também chamar a atenção, porque se o seu filho pensou que não haveria sofrimento, significava que algo não estava certo. “É uma profecia de mãe”, uma mulher simples, mas com um coração cheio do espírito. Para um sacerdote, o sofrimento é um sinal de que tudo vai bem, mas não porque ele seja um “faquir”, mas pelo que fez Dom Bosco, que teve a coragem de olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus. “Ele, disse o Papa Francisco, “naquela época maçônica, anticlerical”, de “uma aristocracia fechada, onde os pobres eram realmente os pobres, o descarte, viu aqueles jovens nas ruas e disse: “Não pode ser!”.“Olhou com os olhos de homem, um homem que é irmão e pai também, e disse: “Mas não, isso não pode ser assim! Esses jovens talvez acabarão sendo condenados e precisarão do apoio de pe. Cafasso. Não, não pode ser assim”, se comoveu como homem e como homem começou a pensar nas maneiras de fazer crescer os jovens, amadurecer os jovens. Estradas humanas. E depois teve a coragem de olhar com os olhos de Deus e ir até Deus e dizer: “Mostra-me isso... isso é uma injustiça... o que fazer diante disso ... Você criou essas pessoas para uma plenitude e elas estão numa verdadeira tragédia...”. E assim, olhando para a realidade com o amor de um pai, pai e mestre, diz a liturgia de hoje, e olhando para Deus com os olhos de um mendigo que pede algo de luz, começa a seguir em frente.
Pe. Giuseppe Cafasso confortava os encarcerados, em Turim, no século XIX e muitas vezes acompanhava até a forca, os condenados à morte. Ele ficou conhecido como “o padre da forca” e foi um grande amigo de São João Bosco.
O sacerdote, reiterou o Papa, deve ter “essas duas polaridades”: “olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Isso significa passar “muito tempo diante do tabernáculo”. “Olhar dessa maneira fez-lhe ver o caminho, pois ele não foi com o Catecismo e o Crucifixo somente, para dizer: “façam isso...”. Os jovens o teriam dito: “Deixa pra lá! Nos vemos amanhã”. Não, não: ele estava próximo a eles, com a vivacidade deles. Fez os jovens distrair, também em grupo, como irmãos. Ele foi, caminhou com eles, ouviu com eles, viu com eles, chorou com eles e os levou adiante assim. Um sacerdote que olha humanamente as pessoas, que está ao alcance de todos.”
O Papa enfatiza assim, que os sacerdotes não devem ser funcionários ou empregados que recebem, por exemplo, "das 15 às 17h30". "Temos tantos funcionários, bons - continua ele - que fazem o seu trabalho, como devem fazer os funcionários. Mas o padre não é um funcionário, não pode sê-lo".
Francisco então exorta a olhar com os olhos de homem e "virá a você aquele sentimento, aquela sabedoria de entender que são seus filhos, seus irmãos. E depois, ter coragem de ir e lutar lá: o sacerdote é alguém que luta ao lado de Deus".
O Papa sabe que “sempre existe o risco de olhar muito o humano e nada o divino, ou muito o divino e nada o humano", mas "se não arriscarmos, não faremos nada na vida", adverte.
Um pai, de fato, arrisca pelo filho, um irmão se arrisca por um irmão quando existe amor. Isso certamente comporta sofrimentos, começam as perseguições, a tagarelice: "Este padre está lá, na rua", com aqueles jovens mal-educados que "quebram o vidro da janela com a bola".
O Papa então agradece a Deus por nos ter dado São João Bosco que desde criança começou a trabalhar, sabia o que era ganhar o pão a cada dia e havia entendido o que era a piedade, "qual era a verdadeira piedade". Este homem - sublinha ainda Francisco ao concluir - teve de Deus um grande coração de pai e mestre: “E qual é o sinal de que um padre está fazendo bem, olhando para a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus? A alegria. A alegria. Quando um padre não encontra alegria por dentro, pare imediatamente e pergunte o por quê. E a alegria de Dom Bosco é conhecida: é o mestre da alegria, hein! Porque ele fazia os outros se alegrarem e ele mesmo se alegrava. E ele próprio sofria. Peçamos ao Senhor, por intercessão de Dom Bosco, hoje, a graça de que os nossos sacerdotes sejam alegres: alegres porque têm o verdadeiro sentido de olhar para as coisas da pastoral, o povo de Deus, com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Fonte: www.vaticannews.va
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