DIA MUNDIAL DOS POBRES: "Os Pobres são porteiros do Céu”. Papa Francisco.
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“Os pobres são preciosos aos olhos de Deus, porque não falam a linguagem do eu”. Palavras do Papa Francisco durante a homilia na celebração da Missa comemorativa para o 3º Dia Mundial dos Pobres neste domingo, 17 de novembro
Jane Nogara - Cidade do Vaticano
Na manhã deste domingo (17) o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a Missa comemorativa para o 3º Dia Mundial dos Pobres. Durante a homilia que tinha como tema a citação de Lucas na qual alguém elogiava a magnificência do templo de Jerusalém, e Jesus disse não ficará ‘pedra sobre pedra’ (Lc 21, 6), o Pontífice refletiu: “Por que profetiza que este ponto firme, nas certezas do povo de Deus, cairia?”.
Coisas penúltimas e coisas últimas
A partir desse ponto o Papa disse:”Procuremos respostas nas palavras de Jesus. Ele nos diz que quase tudo passará: quase tudo, mas não tudo”. Segundo as palavras de Jesus “a desmoronar-se, a passar são as coisas penúltimas, não as últimas: o templo, não Deus; os reinos e as vicissitudes da humanidade, não o homem”.
O Papa explica: “Resta o que não passará jamais: o Deus vivo, infinitamente maior do que qualquer templo que Lhe construamos, e o homem, o nosso próximo ”
Em seguida, Francisco fala sobre os enganos que nos fazem desviar de Jesus para não ficarmos nas “coisas penúltimas”, e afirma: “Mas esta pressa este tudo e imediatamente não vem de Deus. Se nos afadigarmos pelo imediatamente, esqueceremos o que permanece para sempre: seguimos as nuvens que passam, e perdemos de vista o céu ”
Pois “atraídos pelo último alarido, deixamos de encontrar tempo para Deus e para o irmão que vive ao nosso lado”.
Perseverança e tentação do "eu"
Como fazer para evitar? “Como antídoto à pressa, Jesus propõe-nos hoje a cada um a perseverança”, e explica: “A perseverança é avançar dia a dia com os olhos fixos naquilo que não passa: o Senhor e o próximo ”
Um segundo engano que nos faz desviar de Jesus, diz o Papa “é a tentação do eu. Ora o cristão, dado que não procura o imediatamente mas o sempre, não é um discípulo do eu, mas do tu.”
Porém, observa o pontífice “E como se distingue a voz de Jesus? ‘Muitos virão em meu nome’: diz o Senhor. Mas não devemos segui-los”. Temos que encontrar os que falam a mesma linguagem de Jesus: “A linguagem do amor, a linguagem do tu. Não fala a linguagem de Jesus quem diz eu, mas quem sai do próprio eu. Todavia quantas vezes, mesmo ao fazer o bem, reina a hipocrisia do eu: faço o bem, mas para ser considerado virtuoso; dou, mas para receber em troca; ajudo, mas para ganhar a amizade daquela pessoa importante. Isto é falar a linguagem do eu ”
Recordando a todos como servir, o Papa diz: Pobres, porteiros do Céu
“Os pobres são preciosos aos olhos de Deus, porque não falam a linguagem do eu: não se aguentam sozinhos, com as próprias forças, precisam de quem os tome pela mão”. Então o Papa convida “quando os ouvimos bater às nossas portas, podemos receber o seu grito de ajuda como uma chamada para sair do nosso eu, aceitá-los com o mesmo olhar de amor que Deus tem por eles. Como seria bom se os pobres ocupassem no nosso coração o lugar que têm no coração de Deus!”.
Francisco finalizou sua homilia recordando mais uma vez “Os pobres facilitam-nos o acesso ao Céu: é por isso que o sentido da fé do povo de Deus os viu como os porteiros do Céu. Já desde agora, são o nosso tesouro, o tesouro da Igreja”. Fonte: www.vaticannews.va
Domingo 10: Angelus: é na fraternidade que a vida é mais forte do que a morte (32º Domingo do Tempo comum)
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Domingo 10: Angelus: é na fraternidade que a vida é mais forte do que a morte (32º Domingo do Tempo comum)
“Não há vida onde se tem a pretensão de pertencer somente a si mesmos e viver como ilhas: nessas atitudes prevalece a morte”, afirmou o Papa ao rezar com os fiéis e peregrinos a oração do Angelus neste domingo (10/11).
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida? A este quesito existencial o Papa respondeu em sua alocução dominical, ao comentar o Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum.
De quem será esposa?
No trecho de Lucas (cfr Lc 20,27-38), Jesus oferece um ensinamento sobre a ressurreição dos mortos ao responder a uma pergunta insidiosa dos saduceus, que não acreditavam na ressurreição.
A pergunta faz referência a um caso paradoxal: de quem será esposa, na ressurreição, uma mulher que teve sete maridos sucessivos, todos irmãos entre si, os quais um após o outro morreram?
Jesus, porém, não cai na armadilha e replica que os ressuscitados no além "nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram".
Com esta resposta, explicou o Papa, antes de tudo Jesus convida os seus interlocutores – e também a nós – a pensar que esta dimensão terrena em que vivemos agora não é a única, mas existe outra, não mais sujeita à morte, em que se manifestará plenamente que somos filhos de Deus. “ É de grande consolação e esperança ouvir esta palavra simples e clara de Jesus sobre a vida além da morte; é disto de que precisamos no nosso tempo, tão rico de conhecimento sobre o universo, mas tão pobre de sabedoria sobre a vida eterna. ”
O mistério da vida
Por trás da interrogação dos saduceus, prosseguiu Francisco, se esconde outra ainda mais profunda: depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida?
Jesus responde que a vida pertence a Deus, o qual nos ama a ponto de unir o seu nome ao nosso: é "o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’.Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele" (vv. 37-38). “A vida subsiste onde há relação, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte quando é construída sobre relações verdadeiras e laços de fidelidade.”
Do contrário, acrescentou o Papa, não há vida onde se tem a pretensão de pertencer somente a si mesmos e viver como ilhas: nessas atitudes prevalece a morte. "É o egoísmo. Eu vivo para mim mesmo: estou semeando morte no meu coração."
“Que a Virgem Maria nos ajude a viver todos os dias na perspectiva daquilo que afirmamos no Creio: 'Creio na ressurreição da carne e na vida eterna'.” Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira 5-Homilia do Papa: “Rejeitar a gratuidade do Senhor é o pecado de todos nós”
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"Pensemos nesta parábola que o Senhor nos dá hoje. O que eu prefiro? Aceitar sempre o convite do Senhor ou fechar-me em minhas próprias coisas, em minhas pequenezas?", perguntou o Papa Francisco ao celebrar a missa na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na manhã desta terça-feira (05/11) na capela da Casa Santa Marta.
O Pontífice comentou o Evangelho de hoje, em que o evangelista Lucas narra o desejo de um homem de dar uma grande festa, mas os convidados, com várias desculpas, não aceitam o seu convite. Então manda os servos a convidar os pobres e os aleijados para encherem a casa e saborearem o banquete.
Para Francisco, esta narração pode ser um resumo da história da salvação e também a descrição de inúmeros cristãos. Ele explica que “o jantar, a festa, é imagem do céu, da eternidade com o Senhor”. Em uma festa, afirmou, não se sabe quem estará lá, se conhecem pessoas novas, se encontram também pessoas que não gostaria de encontrar, mas o clima da festa é a alegria e a gratuidade. Porque uma verdadeira festa deve ser gratuita, disse o Papa. “E o nosso Deus nos convida sempre, não nos faz pagar o ingresso. Nas verdadeiras festas, não se paga a entrada: paga o dono, quem convida”.
Mas existem pessoas que, mesmo diante da gratuidade, colocam seus interesses em primeiro lugar:
Diante daquela gratuidade, daquela universalidade da festa, há aquela atitude que fecha o coração: “Eu não vou. Prefiro ficar sozinho, com as pessoas de quem eu gosto, fechado”. E isto é o pecado; o pecado do povo de Israel, o pecado de todos nós. O fechamento. “Não, para mim é mais importante isto do que aquilo. Não, o meu”. Sempre o meu.
Esta rejeição, prosseguiu Francisco, é também desprezo por quem convida, é dizer ao Senhor: “Não me perturbe com a tua festa”. É fechar-se “àquilo que o Senhor nos oferece: a alegria do encontro com Ele”.
E no caminho da vida, muitas vezes estaremos diante desta escolha, desta opção: ou a gratuidade do Senhor, estar com Ele, se encontrar com o Senhor ou fechar-me nas minhas coisas, no meu interesse. Por isso, o Senhor, falando de um dos fechamentos, dizia que é muito difícil que um rico entre no reino dos céus. Mas existem ricos bons, santos, que não são apegados à riqueza. Mas a maioria é apegada à riqueza, fechados. E por isso não podem entender o que é a festa. Mas têm a certeza das coisas que podem tocar.
A reação do Senhor diante da nossa recusa é decisiva: Ele quer que todas as pessoas sejam chamadas à festa, conduzidas, mesmo forçadas, más e boas. "Todos estão convidados. Todos, ninguém pode dizer: "Eu sou mau, não posso...". Não. O Senhor, porque você é mau, “espero especialmente você".
O Papa recordou a atitude do pai com o filho pródigo que retorna a casa: o filho tinha começado um discurso, mas ele não o deixa falar e o abraça. "O Senhor - disse - é assim. É a gratuidade". Referindo-se então à Primeira Leitura, onde o apóstolo Paulo adverte contra a hipocrisia, o Papa Francisco afirmou que diante dos judeus que recusavam Jesus porque se acreditavam justos, o Senhor disse: "Mas eu vos digo que as prostitutas e os publicanos vos precederão no reino dos céus". O Senhor, continua o Papa, ama os mais desprezados, mas nos chama. Mas quando nos fechamos, ele se afasta e se irrita, como diz o Evangelho que acabamos de ler. E concluiu:
Pensemos nesta parábola que o Senhor nos dá hoje. Como vai a nossa vida? O que eu prefiro? Aceitar sempre o convite do Senhor ou fechar-me em minhas próprias coisas, em minhas pequenezas? Peçamos ao Senhor a graça de aceitar sempre ir à Sua festa, que é gratuita. Fonte: www.vaticannews.va
Quinta-feira 31- homilia do Papa Francisco: “O amor de Cristo não é amor de telenovela”.
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Na Missa da manhã desta quinta-feira (31) o Papa convida a entender a ternura do amor de Deus em Jesus por cada um de nós: somente assim podemos compreender realmente o amor de Cristo
Giada Aquilino - Cidade do Vaticano
Que o Espírito Santo nos faça compreender "o amor de Cristo por nós" e prepare os nossos corações para "nos deixarmos amar" pelo Senhor. Esta é a recomendação do Papa Francisco na Missa da manhã desta quinta-feira, na Casa Santa Marta, detendo-se na primeira leitura de hoje, tirada da Carta de São Paulo aos Romanos. Na sua homilia, o Pontífice explica como o Apóstolo dos gentios poderia até parecer "um pouco orgulhoso", "demasiado confiante" ao afirmar que nem "a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada" conseguirão separar-nos "do amor de Cristo".
O amor de uma mãe
No entanto, o Papa afirma, lendo São Paulo, "somos mais do que vencedores" com o amor do Senhor. São Paulo foi um deles porque, explica Francisco, desde o momento em que "o Senhor o chamou na estrada de Damasco, começou a compreender o mistério de Cristo": "tinha-se apaixonado por Cristo", tomado - observa o Papa - de "um amor forte", "grande", não uma "trama" de "telenovela". Um amor "sincero", a ponto de "sentir que o Senhor sempre o acompanhava em coisas belas e feias".
“Ele sentia isto com amor. E eu me pergunto: eu amo o Senhor assim? Quando chegam os maus momentos, quantas vezes se sente o desejo de dizer: "O Senhor abandonou-me, já não me ama mais" e gostaria de deixar o Senhor. Mas Paulo estava certo de que o Senhor nunca abandona. Compreendera o amor de Cristo em sua própria vida. Este é o caminho que Paulo nos mostra: o caminho do amor, sempre, no bom e no mau, sempre e avante. Esta é a grandeza de Paulo”.
Dar a vida pelo outro
O amor de Cristo, acrescenta o Pontífice, “não se pode descrever”, é algo muito grande.
Foi Ele quem foi enviado pelo Pai para nos salvar e o fez com amor, deu a vida por mim: não há amor maior do que dar a vida por outra pessoa. Pensemos em uma mãe, o amor de uma mãe, por exemplo, que dá a vida pelo filho, acompanha-o sempre, a vida toda, nos momentos difíceis, mas ainda é pouco… É um amor próximo de nós, o amor de Jesus não é um amor abstrato, é um amor eu-tu, eu-tu, cada um de nós, com nome e sobrenome.
O pranto de cada um de nós
No Evangelho de Lucas, o Papa nota “algo do amor concreto de Jesus”. Falando de Jerusalém, Jesus recordou quando tentou recolher seus filhos “como a galinha com seus pintinhos debaixo das asas”, e lhe foi impedido. Então “chorou”.
O amor de Cristo o leva ao pranto, ao pranto por cada um de nós. Que ternura há nesta expressão. Jesus podia condenar Jerusalém, dizer coisas negativas… E se lamenta porque não se deixa amar como os pintinhos da galinha. A ternura do amor de Deus em Jesus. E Paulo tinha entendido isso. Se não formos capaz de sentir, de entender a ternura do amor de Deus em Jesus por cada um de nós, jamais poderemos entender o que é o amor de Cristo. É um amor assim, espera sempre, paciente, o amor que joga a última carta com Judas: “Amigo”, desobriga-o, até o fim. Também com os nossos grandes pecados, até o fim Ele ama com esta ternura. Não sei se pensamos em Jesus tão terno, em Jesus que chora, como chorou diante do túmulo de Lázaro, como chorou aqui, olhando Jerusalém.
Um amor que se faz lágrima
Portanto Francisco exorta a nos perguntar se Jesus chora por nós, ele que nos deu “tantas coisas” enquanto nós muitas vezes decidimos “tomar outro caminho”. O amor de Deus “se faz lágrima, se faz pranto, pranto de ternura em Jesus”, reitera. Por isso, conclui o Pontífice, São Paulo “tinha se apaixonado por Cristo e nada podia separá-lo d’Ele”. Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira 29: Homilia do Papa Francisco: “A esperança é o ar que o cristão respira”.
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Celebrando a missa na capela da sua residência, o Pontífice dedicou a homilia à esperança: "Um cristão que não é capaz de ser propenso, de estar em tensão pela outra margem, falta alguma coisa: acabará corrompido".
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
A esperança é como lançar a âncora até a outra margem: o Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta na manhã desta terça-feira (29/10) e utilizou esta imagem para exortar a viver “em tensão” rumo ao encontro com o Senhor. Caso contrário, se acaba corrompido e a vida cristã corre o risco de se tornar uma “doutrina filosófica”.
A reflexão partiu da Primeira Leitura da Liturgia de hoje, extraída da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,18-25), na qual o Apóstolo “canta um hino à esperança”.
Certamente, “alguns romanos” foram se lamentar e Paulo exortou a olhar avante: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. O Papa falou depois da Criação “propensa” à “revelação”. “Esta é a esperança: viver voltados para a revelação do Senhor, para aquele encontro com o Senhor”, destacou Francisco. Podem existir sofrimentos e problemas, mas “isto é amanhã”, enquanto hoje “você tem o penhor” de tal promessa, que é o Espírito Santo que “nos espera” e “trabalha” já a partir deste momento.
Lançar a âncora
Com efeito, a esperança é “como lançar a âncora até a outra margem” e agarrar-se à corda. Mas “não somente nós”, toda a Criação “na esperança será libertada”, entrará na glória dos filhos de Deus. E também nós que possuímos as “primícias do Espírito”, o penhor, “gememos interiormente esperando a adoção”.
A esperança é este viver em tensão, sempre; saber que não podemos fazer o ninho aqui: a vida do cristão é “em tensão por”. Se um cristão perde esta perspectiva, a sua vida se torna estática e as coisas que não se movem, se corrompem. Pensemos na água: quando a água está parada, não corre, não se move, se corrompe. Um cristão que não é capaz de ser propenso, de estar em tensão pela outra margem, falta alguma coisa: acabará corrompido. Para ele, a vida cristã será uma doutrina filosófica, viverá assim, dirá que é fé, mas sem esperança.
A mais humilde das virtudes
O Papa afirmou que é difícil entender a esperança. Se falarmos da fé, nos referimos à “fé em Deus que nos criou, em Jesus que nos redimiu e recitamos o Creio e sabemos coisas concretas sobre a fé”; se falarmos de caridade, falamos em “fazer o bem ao próximo, aos outros, muitas obras de caridade que se fazem ao outro”. Mas a esperança é difícil de compreender: “é a mais humilde das virtudes”, que “somente os pobres podem ter”:
Se quisermos ser homens e mulheres de esperança, devemos ser pobres, pobres, não ligados a nada. Pobres. E abertos para a outra margem. A esperança é humilde, é uma virtude que deve ser trabalhada – digamos assim – todos os dias: todos os dias é preciso retomá-la, todos os dias é preciso tomar a corda e ver que a âncora está ali fixa e eu a seguro pela mão; todos os dias é necessário recordar que temos o penhor, que é o Espírito que trabalha em nós com pequenas coisas.
A esperança é a virtude que não se vê
Para explicar como viver a esperança, o Papa fez referência ao ensinamento de Jesus no trecho do Evangelho de hoje, quando compara o Reino de Deus ao grão de mostarda lançado no campo. “Vamos esperar que cresça”, não precisa ir lá todos os dias para ver como está, caso contrário “nunca crescerá”, afirmou Francisco, referindo-se à “paciência” porque, como diz Paulo, “a esperança necessita de paciência”. É “a paciência de saber que nós semeamos, mas é Deus a fazê-lo crescer”. “A esperança é artesanal, pequena, prosseguiu, é “semear um grão e deixar que seja a terra a fazê-la crescer”.
No Evangelho de hoje, para falar de esperança, Jesus usa também a imagem do “fermento” que uma mulher pegou e misturou com três porções de farinha. Um fermento não mantido na geladeira, mas “misturado na vida”, assim como o grão é enterrado sob a terra.
Por isso, a esperança é uma virtude que não se vê: trabalha por debaixo; nos faz olhar por debaixo. Não é fácil viver na esperança, mas eu diria que deveria ser o ar que um cristão respira, ar de esperança; do contrário, não poderá caminhar, não poderá ir avante porque não saberá aonde ir. A esperança – isto sim é certo – nos dá uma segurança: a esperança não desilude. Jamais. Se você espera, não será desiludido. É preciso abrir-se a esta promessa do Senhor, voltados para aquela promessa, mas sabendo que existe o Espírito que trabalha em nós. Que o Senhor nos dê, a todos nós, esta graça de viver em tensão, em tensão mas não para os nervos, os problemas, não: em tensão pelo Espírito Santo que nos lança para a outra margem e nos mantêm na esperança. Fonte: www.vaticannews.va
Íntegra da homilia do Papa na missa de encerramento do Sínodo para a Pan-amazônia
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"Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus", disse Francisco na homilia.
Cidade do Vaticano
Segue o texto integral da homilia do Papa Francisco na missa de encerramento do Sínodo para a Região Pan-amazônica, celebrada pelo Pontífice neste domingo (27/10), na Basílica de São Pedro.
HOMILIA DO SANTO PADRE- Eucaristia do XXX Domingo do Tempo Comum no encerramento da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-amazônia. (Basílica de São Pedro, 27 de outubro de 2019)
Hoje, a Palavra de Deus ajuda-nos a rezar por meio de três personagens: na parábola de Jesus, rezam o fariseu e o publicano; na primeira Leitura, fala-se da oração do pobre.
1- A oração do fariseu principia assim: «Ó Deus, dou-Te graças». É um ótimo começo, porque a melhor oração é a de gratidão e louvor. Mas olhemos o motivo – referido logo a seguir –, pelo qual dá graças: «por não ser como o resto dos homens» (Lc 18, 11). E dá também a explicação do motivo: jejua duas vezes por semana, enquanto na época era obrigado a fazê-lo uma vez por ano; paga o dízimo de tudo o que possui, enquanto o mesmo era prescrito apenas para os produtos mais importantes (cf. Dt 14, 22-23). Em suma, vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares. Mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40). Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. Vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada aproveitam, como diz São Paulo (cf. 1 Cor 13). E sem amor, qual é o resultado? No fim de contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De facto, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas com crédito. Está no templo de Deus, mas pratica a religião do eu.
E além de Deus, esquece o próximo; antes, despreza-o, isto é, não lhe atribui preço, não tem valor. Considera-se melhor do que os outros, que designa, literalmente, por «o resto, os restantes (loipoi)» (Lc 18, 11). Por outras palavras, são «restos», descartados dos quais manter-se à larga. Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, apaga as suas gestas, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, mesmo hoje! Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimo-lo no rosto dilaniado da Amazónia. A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», esquecida do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo cristãos que rezam e vão à Missa ao domingo são seguidores desta «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e vilipendiadores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus.
2-A oração do publicano ajuda-nos a compreender o que é agradável a Deus. Aquele começa, não pelos méritos, mas pelas suas faltas; não pela riqueza, mas pela sua pobreza: não uma pobreza económica – os publicanos eram ricos e cobravam também injustamente, à custa dos seus compatriotas –, mas uma pobreza de vida, porque no pecado nunca se vive bem. Aquele homem reconhece-se pobre diante de Deus, e o Senhor ouve a sua oração, feita apenas de sete palavras mas de atitudes verdadeiras. De facto, enquanto o fariseu estava à frente, de pé (cf. Lc 18, 11), o publicano mantém-se à distância e «nem sequer ousava levantar os olhos ao céu», porque crê que o Céu está ali e é grande, enquanto ele se sente pequeno. E «batia no peito» (cf. 18, 13), porque no peito está o coração. A sua oração nasce do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências. Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Porque, do diabo, vêm escuridão e falsidade; de Deus, luz e verdade. Foi bom – e vos agradeço, queridos padres e irmãos sinodais – termos dialogado, nestas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos.
Hoje, contemplando o publicano, descobrimos o ponto donde recomeçar: do facto de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Ao passo que a raiz de todo o erro espiritual, como ensinavam os monges antigos, é crer-se justo. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa. Esta atitude inicial é tão importante que Jesus no-la mostra com uma confrontação paradoxal, colocando lado a lado na parábola a pessoa mais piedosa e devota de então, o fariseu, e o pecador público por excelência, o publicano. E a sentença final inverte as coisas: quem é bom, mas presunçoso, falha; quem é deplorável, mas humilde, acaba exaltado por Deus. Se olharmos para dentro de nós com sinceridade, vemo-los ambos em nós: o publicano e o fariseu. Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos, capazes de nos sentirmos justos, campeões na arte de nos justificarmos! Isto, com os outros, muitas vezes dá certo; mas, com Deus, não. Rezemos pedindo a graça de nos sentirmos carecidos de misericórdia, pobres intimamente. Por isso mesmo faz-nos bem frequentar os pobres, para nos lembrarmos que somos pobres, para nos recordarmos de que a salvação de Deus só age num clima de pobreza interior.
3- Assim chegamos à oração do pobre. Esta – diz Ben Sirá – «chegará às nuvens» (35, 17). Enquanto a oração de quem se considera justo fica em terra, esmagada pela força de gravidade do egoísmo, a do pobre sobe, direita, até Deus. O sentido da fé do Povo de Deus viu nos pobres «os porteiros do Céu»: são eles que nos abrirão, ou não, as portas da vida eterna; eles que não se consideraram senhores nesta vida, que não se antepuseram aos outros, que tiveram só em Deus a sua própria riqueza. São ícones vivos da profecia cristã.
Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade das suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser guardada, confiando em Deus. Ele é Pai e – diz ainda Ben Sirá – «ouvirá a oração do oprimido» (35, 13). Quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são escutadas, acabando talvez vilipendiadas ou silenciadas porque incómodas. Rezemos pedindo a graça de saber escutar o clamor dos pobres: é o clamor de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu clamor, também a nossa oração atravessará as nuvens. Fonte: www.vaticannews.va
FINAL DO SÍNODO PARA AMAZÔNIA: “Ouvir o grito dos pobres, grito de esperança da Igreja”.
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"A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», porém, muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos", disse Francisco em sua homilia.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu a missa de encerramento da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, neste domingo (27/10), na Basílica de São Pedro.
O Pontífice iniciou sua homilia, dizendo que neste domingo, “a Palavra de Deus nos ajuda a rezar por meio de três personagens: na parábola de Jesus, rezam o fariseu e o publicano; na primeira Leitura, fala-se da oração do pobre”.
Em sua oração, “o fariseu vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares, mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo. Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. O drama desse homem é que vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada seriam, como diz São Paulo. E sem amor, qual é o resultado? No fim das contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De fato, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas com crédito. Está no templo de Deus, mas pratica outra religião, a religião do eu”. Muitos grupos ilustres, cristãos católicos, vão por esta estrada.
E além de Deus, o fariseu esquece o próximo, o despreza, ou seja, não lhe dá valor. Considera-se melhor que os outros designados por ele como «o resto, os restantes».
“Em outras palavras, são «restos», descartados dos quais manter-se à distância. Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, cancela suas histórias, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, ainda hoje! Vimos isso no Sínodo quando falamos da exploração da Criação, das pessoas, dos habitantes da Amazônia, do tráfico de pessoas, do comércio de pessoas!”
Segundo o Papa, “os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimos isso no rosto desfigurado da Amazônia”.
“A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», porém, muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos, esquecida do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo os cristãos que rezam e vão à missa aos domingos são seguidores dessa «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e escarnecedores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus. Provavelmente, hoje nos acompanham nesta missa não apenas os indígenas da Amazônia: mas também os pobres das sociedades desenvolvidas, os irmãos e irmãs doentes da Comunità dell’Arche. Estão conosco.”
A oração do publicano nos ajuda a compreender o que é agradável a Deus. Ele não começa pelas suas virtudes, “mas pelas suas faltas; não pela riqueza, mas pela sua pobreza: não uma pobreza econômica, os publicanos eram ricos e cobravam também injustamente às custas de seus compatriotas, mas uma pobreza de vida, porque no pecado nunca se vive bem”.
Segundo Francisco, “aquele homem reconhece-se pobre diante de Deus, e o Senhor ouve a sua oração, feita apenas de sete palavras, mas de atitudes verdadeiras. De fato, enquanto o fariseu estava à frente, de pé, o publicano mantém-se à distância e «nem sequer ousava levantar os olhos ao céu», porque crê que o Céu está ali e é grande, enquanto ele se sente pequeno. E «batia no peito», porque no peito está o coração”.
“A sua oração nasce do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências. Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Porque, do diabo, vêm escuridão e falsidade; de Deus, luz e verdade. Foi bom, e lhes agradeço, queridos padres e irmãos sinodais, termos dialogado, nestas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos.”
O Papa sublinhou que através do publicano, “descobrimos o ponto de onde recomeçar: do fato de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa”.
Jesus faz um confronto entre as atitudes da pessoa mais piedosa e devota de então, o fariseu, e o pecador público por excelência, o publicano. “E a sentença final inverte as coisas: quem é bom, mas presunçoso, falha; quem é deplorável, mas humilde, acaba exaltado por Deus. Se olharmos para dentro de nós com sinceridade, vemos os dois em nós: o publicano e o fariseu. Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos, capazes de nos sentirmos justos, campeões na arte de nos justificarmos! Isto, com os outros, muitas vezes dá certo; mas, com Deus, não”.
Peçamos a Deus “a graça de nos sentirmos necessitados de misericórdia, pobres intimamente. Por isso, faz-nos bem frequentar os pobres, para nos lembrarmos que somos pobres, para nos recordarmos de que a salvação de Deus só age num clima de pobreza interior”.
O Livro do Eclesiástico fala que a oração do pobre «chegará até as nuvens». “Enquanto a oração de quem se considera justo fica por terra, esmagada pela força de gravidade do egoísmo, a do pobre sobe, direta, até Deus. O sentido da fé do Povo de Deus viu nos pobres «os porteiros do Céu»: são eles que nos abrirão, ou não, as portas da vida eterna; eles que não se consideraram senhores nesta vida, que não se antepuseram aos outros, que tiveram só em Deus a sua própria riqueza. São ícones vivos da profecia cristã”.
“Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade de suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser protegida, confiando em Deus. Ele é Pai e «ouvirá a oração do oprimido». Quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são ouvidas, acabando talvez desprezadas ou silenciadas porque incômodas.”
Francisco concluiu, dizendo que devemos rezar “pedindo a graça de saber ouvir o grito dos pobres: é o grito de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu grito, temos a certeza de que a nossa oração atravessará as nuvens”. Fonte: www.vaticannews.va
Papa na Audiência: a Igreja não é fortaleza, mas tenda que acolhe todos
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O Santo Padre encontrou, na manhã desta quarta-feira, na Praça São Pedro, milhares de peregrinos e fiéis, provenientes de diversas partes do mundo, para a Audiência Geral. E reiterou a natureza da Igreja: ou é "em saída" ou não é Igreja.
Cidade do Vaticano
Em sua catequese o Papa refletiu sobre os “Atos dos Apóstolos, partindo do versículo 14, 27, onde se lê: "Deus abriu a porta da fé aos pagãos": a missão de Paulo e Barnabé e o Concílio de Jerusalém.
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que São Paulo, após seu encontro transformador com Jesus, foi acolhido pela Igreja de Jerusalém, graças à mediação de Barnabé, e começou a proclamar a Boa Nova de Cristo.
No entanto, disse Francisco, devido à hostilidade de alguns, Paulo foi obrigado a se transferir para Tarso, sua cidade natal, seguido por Barnabé, que também foi envolvido na pregação da Palavra de Deus.
O evangelista Lucas diz que a sua pregação começou depois de uma forte perseguição, que não acometeu a evangelização, pelo contrário, foi uma boa oportunidade para ampliar o campo, onde lançar a boa semente da Palavra. Eis o longo itinerário da Palavra de Deus, que deve ser anunciada por todos os cantos da terra.
No entanto, Paulo e Barnabé chegaram, antes, à Antioquia da Síria, onde ficaram um ano inteiro, ensinando e ajudando a comunidade a criar raízes. Assim, Antioquia tornou-se o centro da propulsão missionária, graças à pregação dos dois evangelizadores, que tocou o coração dos fiéis. Precisamente em Antioquia os adeptos de Cristo foram chamados, pela primeira vez, de "cristãos".
Enviados pelo Espírito
Depois de Antioquia, Paulo e Barnabé, foram "enviados pelo Espírito" a outros lugares, anunciando a mensagem de Cristo e atraindo muitas pessoas para a fé cristã.
Esta foi a primeira etapa missionária de Paulo, que passou da pregação do Evangelho nas Sinagogas da diáspora ao anúncio em ambientes pagãos populares. Ao retornarem à Antioquia, Paulo e Barnabé contaram aos seus irmãos “como Deus abriu aos pagãos a porta da fé", cumprindo a “obra" para a qual o Espírito Santo os havia enviado. E o Papa explicou: “Do Livro dos Atos, emerge a natureza da Igreja, que não é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de ampliar seu espaço para dar acesso a todos. A Igreja deve ser “em saída” senão não é uma Igreja; é uma Igreja de “portas abertas", chamada a ser sempre a Casa aberta do Pai. Assim, se alguém quiser seguir a ação do Espírito e buscar a presença de Deus, não encontrará o obstáculo de uma porta fechada ”
Porém, disse Francisco, naquele momento começavam os problemas: a novidade de abrir as portas aos pagãos e judeus desencadeou uma controvérsia ferrenha. Alguns judeus sentiam a necessidade da circuncisão para se salvar e ser batizados. Para resolver a questão, Paulo e Barnabé pedem o parecer do conselho dos Apóstolos e anciãos de Jerusalém, que foi considerado o primeiro Concílio da história da Igreja: o Concílio de Jerusalém ou Assembleia de Jerusalém, sobre o qual Francisco disse:
Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões. “Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões ”
Essa decisão, ratificada com uma Carta apostólica, foi enviada a Antioquia.
Enfim, o Papa perguntou qual o significado da assembleia de Jerusalém em nossos dias? E respondeu: “A Assembleia de Jerusalém nos oferece uma luz importante sobre o modo de enfrentar as divergências e buscar a verdade na caridade. Recorda-nos que o método eclesial de resolver os conflitos se baseia no diálogo feito de escuta atenciosa e paciente e no discernimento à luz do Espírito. De fato, é o Espírito que nos ajuda a superar os fechamentos e as tensões e age nos corações para que, na verdade e no bem, chegue à unidade. Este texto nos ajuda a entender o significado de Sínodo, iluminados pelo Espírito Santo ”
Sínodo não é uma conferência, nem um parlamento, mas algo bem diferente”.
Ao término da sua catequese semanal, o Santo Padre passou a saudar os diversos grupos de fiéis presentes na Praça São Pedro. Eis o que disse aos peregrinos de língua portuguesa:
“ Queridos peregrinos de língua portuguesa, saúdo-os, cordialmente, a todos, em particular os diversos grupos vindos de Portugal e do Brasil. Que a sua peregrinação a Roma os ajude a estar preparados para fazer parte da Igreja em saída, mediante o testemunho alegre do Evangelho e do amor de Deus por todos os seus filhos. A Virgem Santa os guie e proteja!” https://www.vaticannews.va
Domingo, 20 de outubro: Dia Mundial das Missões-Mensagem do Papa
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Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo
Queridos irmãos e irmãs!
Pedi a toda a Igreja que vivesse um tempo extraordinário de missionariedade no mês de outubro de 2019, para comemorar o centenário da promulgação da Carta apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV (30 de novembro de 1919). A clarividência profética da sua proposta apostólica confirmou-me como é importante, ainda hoje, renovar o compromisso missionário da Igreja, potenciar evangelicamente a sua missão de anunciar e levar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
O título desta mensagem – «batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo» – é o mesmo do Outubro Missionário. A celebração deste mês ajudar-nos-á, em primeiro lugar, a reencontrar o sentido missionário da nossa adesão de fé a Jesus Cristo, fé recebida como dom gratuito no Batismo. O ato, pelo qual somos feitos filhos de Deus, sempre é eclesial, nunca individual: da comunhão com Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, nasce uma vida nova partilhada com muitos outros irmãos e irmãs. E esta vida divina não é um produto para vender – não fazemos proselitismo –, mas uma riqueza para dar, comunicar, anunciar: eis o sentido da missão. Recebemos gratuitamente este dom, e gratuitamente o partilhamos (cf. Mt 10, 8), sem excluir ninguém. Deus quer que todos os homens sejam salvos, chegando ao conhecimento da verdade e à experiência da sua misericórdia por meio da Igreja, sacramento universal da salvação (cf. 1 Tm 2, 4; 3, 15; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 48).
A Igreja está em missão no mundo: a fé em Jesus Cristo dá-nos a justa dimensão de todas as coisas, fazendo-nos ver o mundo com os olhos e o coração de Deus; a esperança abre-nos aos horizontes eternos da vida divina, de que verdadeiramente participamos; a caridade, que antegozamos nos sacramentos e no amor fraterno, impele-nos até aos confins da terra (cf. Miq 5, 3; Mt 28, 19; At 1, 8; Rm 10, 18). Uma Igreja em saída até aos extremos confins requer constante e permanente conversão missionária. Quantos santos, quantas mulheres e homens de fé nos dão testemunho, mostrando como possível e praticável esta abertura ilimitada, esta saída misericordiosa ditada pelo impulso urgente do amor e da sua lógica intrínseca de dom, sacrifício e gratuidade (cf. 2 Cor 5, 14-21)!
Sê homem de Deus, que anuncia Deus (cf. Carta ap. Maximum illud): este mandato toca-nos de perto. Eu sou sempre uma missão; tu és sempre uma missão; cada batizada e batizado é uma missão. Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. Para o amor de Deus, ninguém é inútil nem insignificante. Cada um de nós é uma missão no mundo, porque fruto do amor de Deus. Ainda que meu pai e minha mãe traíssem o amor com a mentira, o ódio e a infidelidade, Deus nunca Se subtrai ao dom da vida e, desde sempre, deu como destino a cada um dos seus filhos a própria vida divina e eterna (cf. Ef 1, 3-6).
Esta vida é-nos comunicada no Batismo, que nos dá a fé em Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, regenera à imagem e semelhança de Deus e insere no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Por conseguinte, neste sentido, o Batismo é verdadeiramente necessário para a salvação, pois garante-nos que somos filhos e filhas, sempre e em toda parte: jamais seremos órfãos, estrangeiros ou escravos na casa do Pai. Aquilo que, no cristão, é realidade sacramental – com a sua plenitude na Eucaristia –, permanece vocação e destino para todo o homem e mulher à espera de conversão e salvação. Com efeito, o Batismo é promessa realizada do dom divino, que torna o ser humano filho no Filho. Somos filhos dos nossos pais naturais, mas, no Batismo, é-nos dada a paternidade primordial e a verdadeira maternidade: não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como mãe (cf. São Cipriano, A unidade da Igreja, 4).
Assim, a nossa missão radica-se na paternidade de Deus e na maternidade da Igreja, porque é inerente ao Batismo o envio expresso por Jesus no mandato pascal: como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós, cheios de Espírito Santo para a reconciliação do mundo (cf. Jo 20, 19-23; Mt 28, 16-20). Este envio incumbe ao cristão, para que a ninguém falte o anúncio da sua vocação a filho adotivo, a certeza da sua dignidade pessoal e do valor intrínseco de cada vida humana desde a conceção até à sua morte natural. O secularismo difuso, quando se torna rejeição positiva e cultural da paternidade ativa de Deus na nossa história, impede toda e qualquer fraternidade universal autêntica, que se manifesta no respeito mútuo pela vida de cada um. Sem o Deus de Jesus Cristo, toda a diferença fica reduzida a ameaça infernal, tornando impossível qualquer aceitação fraterna e unidade fecunda do gênero humano.
O destino universal da salvação, oferecida por Deus em Jesus Cristo, levou Bento XV a exigir a superação de todo o fechamento nacionalista e etnocêntrico, de toda a mistura do anúncio do Evangelho com os interesses econômicos e militares das potências coloniais. Na sua Carta apostólica Maximum illud, o Papa lembrava que a universalidade divina da missão da Igreja exige o abandono duma pertença exclusivista à própria pátria e à própria etnia. A abertura da cultura e da comunidade à novidade salvífica de Jesus Cristo requer a superação de toda a indevida introversão étnica e eclesial. Também hoje, a Igreja continua a necessitar de homens e mulheres que, em virtude do seu Batismo, respondam generosamente à chamada para sair da sua própria casa, da sua família, da sua pátria, da sua própria língua, da sua Igreja local. São enviados aos gentios, ao mundo ainda não transfigurado pelos sacramentos de Jesus Cristo e da sua Igreja santa. Anunciando a Palavra de Deus, testemunhando o Evangelho e celebrando a vida do Espírito, chamam à conversão, batizam e oferecem a salvação cristã no respeito pela liberdade pessoal de cada um, em diálogo com as culturas e as religiões dos povos a quem são enviados. Assim a missio ad gentes, sempre necessária na Igreja, contribui de maneira fundamental para o processo permanente de conversão de todos os cristãos. A fé na Páscoa de Jesus, o envio eclesial batismal, a saída geográfica e cultural de si mesmo e da sua própria casa, a necessidade de salvação do pecado e a libertação do mal pessoal e social exigem a missão até aos últimos confins da terra.
A coincidência providencial do Mês Missionário Extraordinário com a celebração do Sínodo Especial sobre as Igrejas na Amazônia leva-me a assinalar como a missão, que nos foi confiada por Jesus com o dom do seu Espírito, ainda seja atual e necessária também para aquelas terras e seus habitantes. Um renovado Pentecostes abra de par em par as portas da Igreja, a fim de que nenhuma cultura permaneça fechada em si mesma e nenhum povo fique isolado, mas se abra à comunhão universal da fé. Que ninguém fique fechado em si mesmo, na autorreferencialidade da sua própria pertença étnica e religiosa. A Páscoa de Jesus rompe os limites estreitos de mundos, religiões e culturas, chamando-os a crescer no respeito pela dignidade do homem e da mulher, rumo a uma conversão cada vez mais plena à Verdade do Senhor Ressuscitado, que dá a verdadeira vida a todos.
A este respeito, recordo as palavras do Papa Bento XVI no início do nosso encontro de Bispos Latino-Americanos na Aparecida, Brasil, em 2007, palavras que desejo transcrever aqui e subscrevê-las: «O que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do Batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. (...) O Verbo de Deus, fazendo-Se carne em Jesus Cristo, fez-Se também história e cultura. A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas uma regressão. Na realidade, seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado» [Discurso na Sessão Inaugural (13 de maio de 2007), 1: Insegnamenti III/1 (2007), 855-856].
A Maria, nossa Mãe, confiamos a missão da Igreja. Unida ao seu Filho, desde a encarnação, a Virgem colocou-se em movimento, deixando-se envolver-se totalmente pela missão de Jesus; missão que, ao pé da cruz, havia de se tornar também a sua missão: colaborar como Mãe da Igreja para gerar, no Espírito e na fé, novos filhos e filhas de Deus.
Gostaria de concluir com uma breve palavra sobre as Pontifícias Obras Missionárias, que a Carta apostólica Maximum illud já apresentava como instrumentos missionários. De facto, como uma rede global que apoia o Papa no seu compromisso missionário, prestam o seu serviço à universalidade eclesial mediante a oração, alma da missão, e a caridade dos cristãos espalhados pelo mundo inteiro. A oferta deles ajuda o Papa na evangelização das Igrejas particulares (Obra da Propagação da Fé), na formação do clero local (Obra de São Pedro Apóstolo), na educação duma consciência missionária das crianças de todo o mundo (Obra da Santa Infância) e na formação missionária da fé dos cristãos (Pontifícia União Missionária). Ao renovar o meu apoio a estas Obras, espero que o Mês Missionário Extraordinário de outubro de 2019 contribua para a renovação do seu serviço missionário ao meu ministério.
Aos missionários e às missionárias e a todos aqueles que de algum modo participam, em virtude do seu Batismo, na missão da Igreja, de coração envio a minha bênção.
Vaticano, 9 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2019.
Fonte: http://w2.vatican.va
Francisco: o remédio contra a hipocrisia é a autoacusação
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“Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece no Evangelho de hoje. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amizade”, afirmou o Papa na homilia da missa na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
A hipocrisia foi o tema da homilia do Papa Francisco na Missa desta manhã celebrada na Casa Santa Marta, sugerido pelo Evangelho do dia, que narra a história de Jesus que é convidado por um fariseu para jantar e é criticado pelo anfitrião, porque não havia lavado as mãos antes de estar à mesa.
E o Papa comenta: "Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece hoje no Evangelho. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amigos”.
A hipocrisia, continua ele, "é precisamente aparentar ser de um jeito e ser de outro”. É pensar secretamente de maneira diferente do que aparenta ser. E Jesus não suporta isso. E frequentemente chama os fariseus de hipócritas, sepulcros caiados.
O de Jesus não é um insulto, é a verdade. "Por fora, tu és perfeito, antes ainda, engomado precisamente com a concretude - diz ainda Francisco - mas por dentro és outra coisa".
E afirma que "a atitude hipócrita vem do grande mentiroso, o diabo". Ele é o "grande hipócrita" e os hipócritas são seus "herdeiros":
A hipocrisia é a linguagem do diabo, é a linguagem do mal que entra em nosso coração e é semeada pelo diabo. Não se pode viver com pessoas hipócritas, mas elas existem. Jesus gosta de desmascarar a hipocrisia. Ele sabe que será precisamente esse comportamento hipócrita que o levará à morte, porque o hipócrita não pensa se usa meios lícitos ou não, vai em frente: calúnia? "vamos caluniar"; falso testemunho? "busquemos um falso testemunho".
O Papa continua dizendo que alguém poderia objetar "que conosco não existe hipocrisia assim". Mas pensar isso, é um erro:
A linguagem hipócrita, não diria que é normal, mas é comum, é de todos os dias. O aparentar de uma maneira e ser de outra. Na luta pelo poder, por exemplo, as invejas, os ciúmes fazem você parecer uma maneira de ser e, por dentro, tem o veneno para matar, porque a hipocrisia sempre mata, sempre, mais cedo ou mais tarde mata.
É necessário ser curado deste comportamento. Mas qual remédio, pergunta Francisco? A resposta é dizer "a verdade diante de Deus. É acusar a si mesmo:
Precisamos aprender a nos acusar: "Eu fiz isso, eu penso assim, maldosamente ... sou invejoso, gostaria de destruir aquele ...", o que existe dentro, nosso, e dizer isso diante de Deus. Este é um exercício espiritual que não é comum, não é usual, mas procuremos fazê-lo: acusar a nós mesmos, vermo-nos no pecado, nas hipocrisias, na maldade que existe em nosso coração, porque o diabo semeia a maldade. E dizer ao Senhor: "Mas veja Senhor, como sou!", e dizer isso com humildade.
Aprendamos a acusar a nós mesmos, repete o Papa, acrescentando "talvez algo muito forte, mas é assim: um cristão que não sabe acusar a si mesmo não é um bom cristão" e corre o risco de cair na hipocrisia. E recorda da oração de Pedro quando disse ao Senhor: afasta-te de mim, porque sou um homem pecador.
"Que nós aprendamos a nos acusar – conclui o Papa - a nós, a nós mesmos". Fonte: https://www.vaticannews.va
A fúria soberanista contra Francisco
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Os lugares falam. Luxuosos, discretos, com o constante chamado à Europa das armas e dos cavaleiros. Prédios elegantes, conventos medievais e castelos encastoados no interior da província francesa, onde você respira o ar da guerra da Vendeia. O mundo da facção anti-Bergoglio faz questão dessa aparência de Ancien régime. Uma frente onde a riqueza se torna uma força de propaganda, com doações - confidenciais - prontas para serem investidas em ouro e imóveis. Eles têm cardeais de referência, como Raymond Leo Burke, estadunidense vindo da província que sempre esteve na vanguarda do mundo teocon próximo de Donald Trump. Os lugares, portanto. O comentário é de Andrea Palladino, publicado por L'Espresso, 06-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe um triângulo geopolítico a partir do qual começar a entender a guerra que o mundo reacionário e soberanista está liderando contra a Igreja do Papa Francisco. Um vértice está na Itália, com Roma como evidente epicentro. Não apenas a Cidade do Vaticano, mas uma série de fundações, associações, grupos desconhecidos para a maioria - mas em condições de mobilizar nomes que contam - espalhados entre o Aventino e os palácios liberty do bairro Trieste.
Há os Estados Unidos, onde Trump é o último chegado naquela estranha aliança que La Civiltà Cattolica - a revista da Companhia de Jesus - definiu de "ecumenismo do ódio". Redes de TV, rádios, escolas exclusivas, sites de sucesso, onde o verbo do catolicismo integralista se une e se funde com a infinita série de igrejas evangélicas. Aqui, em primeiro lugar, o que conta é a riqueza, o sucesso pessoal, o american way of life completo. Você é o que você ganha.
E por fim, o terceiro vértice, o Brasil de Jair Bolsonaro, hoje no centro das atenções. O Sínodo Pan-Amazônico (6 a 27 de outubro) é o local do confronto final. Aparentemente, por algumas passagens contidas no documento preparatório, o Instrumentum laboris, que lembra algumas teses defendidas pela parte progressista da conferência episcopal alemã (a possibilidade de ordenar padres idosos com família, reconhecidos pelas comunidades indígenas locais e uma maior abertura às mulheres). Mas o cerne, a questão-chave é outra completamente diferente. Diz respeito à proteção integral do meio ambiente - que na visão do Sínodo se une ao desenvolvimento humano - a luta pela democracia, a guerra contra a corrupção. E a opção preferencial pelos pobres. Uma visão "progressista" - na verdade evangélica - que se torna insuportável e perigosa para a frente hiper liberal mundial. Entre Europa, EUA e América Latina.
Tradição, família e propriedade
"O Cardeal Burke esteve nesta sede nem sei quantas vezes, celebrou Missa aqui, não sei se viu o altar ali atrás ...". Julio Loredo mostra a pequena capela escondida atrás de duas portas de correr na sede da associação Luci sull'Est, no coração de Roma. Nascido no Peru, cidadão espanhol, chegou à Itália em 1994, Loredo é o presidente da seção italiana da poderosa e antiga fundação Tradição, Família e Propriedade - TFP. Fundada em 1960 no Brasil por Plinio Corrêa de Oliveira, a TFP foi o principal lobby a inspirar o golpe militar em Brasília e no Rio, em 1964. Tem uma verdadeira obsessão: a defesa dos grandes latifúndios e a luta incansável contra as reformas agrárias. Os membros da TFP gostam de se definir a maior rede anticomunista e antissocialista do mundo. Coisas sérias e certas. Quando, em 1987, a constituinte brasileira, eleita após os vinte anos de ditadura militar, estava elaborando a carta fundamental atualmente em vigor, a Tradição, Família e Propriedade conseguiu - com um intenso trabalho de pressão - bloquear o princípio da redistribuição de terras.
O vínculo com o cardeal Burke é antigo, Loredo assegura: "Nós o conhecemos desde que ele era bispo de La Crosse, somos amigos desde sempre". Também intimamente ligado à associação é o bispo de Astana Athanasius Schneider, que com Burke assinou a carta contra o Sínodo pan-amazônico publicada em 24 de setembro passado, onde acusam o atual pontificado de "confusão doutrinal": "Também o conhecemos desde quando ele era um seminarista, nós o vimos se formar".
Ouro e castelos. Com o rosário nas mãos
A Tradição, Família e Propriedade do Brasil ampliou o campo de influência e recrutamento – principalmente entre os muito jovens - em 28 países. Não objetiva ter um número elevado de seguidores, mas criar redes de influência sobre os governos para temas típicos da internacional soberanista. Família tradicional, luta contra gênero e aborto, é claro. Mas também um programa político claro: "Nossas batalhas foram contra a linha do presidente Carter em favor dos direitos humanos, contra a teologia da libertação, contra o ambientalismo e o pacifismo", declara o site estadunidense. E hoje em Washington, a TFP tem sessenta funcionários, setenta e cinco voluntários em tempo integral e US $ 14 milhões em doações, que quase dobraram nos últimos cinco anos. Dinheiro que em parte investe na compra de ouro, como consta nos balanços dos últimos anos. E em uma quantidade industrial de rosários a serem mostrados - no estilo Salvini - em manifestações públicas: um lote de um milhão de dólares chegou de Giussano, na província de Monza e Brianza. Na Europa, podem contar com um tesouro acumulado graças a doações discretas e confidenciais.
Na região de Moselle, na França, na pequena cidade de Creutzwald, localiza-se a luxuosa vila La Clarière, que hospedou as conferências do cardeal Walter Brandmüller, outro ponto de referência da frente que se opõe ao papa Francisco. Adquirida em 2003 e completamente restaurada, foi inaugurada em 2006 pelo cardeal Jorge Arturo Estévez Medina, conhecido como "cardeal Pinochet", devido à sua proximidade com o ditador chileno ("rezo por ele todos os dias", declarou ele no final dos anos 1990). Aqui tem sede da Federação para a Civilização Cristã, um think tank fundado em 2010 que por alguns anos atuou como um lobby em Bruxelas, o centro de uma densa rede de associações, da Itália à Polônia, da Alemanha à Bélgica.
A influência russa no nome do Congresso de Viena
Na Itália, um importante papel dessa área é desempenhado por Roberto de Mattei, historiador do cristianismo que tem laços antigos com o mundo da Tradição, Família e Propriedade. Antievolucionista, antigays, convicto de que os “desastres naturais são, eventualmente, exigência da justiça de Deus", é um dos protagonistas da guerra contra Bergoglio, na linha de frente ao antissínodo. Em 28 de setembro, ele organizou um flash mob em Castel Sant'Angelo, chamado "Acies ordinata", propondo uma oração contra "os maus espíritos da Amazônia". Ele é líder da Fundação Lepanto, com sede em Roma, no complexo medieval de Santa Balbina, de propriedade do Ipab Santa Margherita. Mas ele também tem um endereço em Washington, sinal de laços estreitos com os teocon: "Mais do que uma sede, temos muitos amigos nos Estados Unidos".
Então fé atlântica, é claro. Mas em maio de 2014, de Mattei também foi convidado a Viena para uma reunião, destinada a permanecer em segredo, organizada pelo oligarca russo Konstantin Malofeev. Entre outros, estavam presentes Marion Maréchal-Le Pen, então líder do Partido da Liberdade Austríaco Heinz-Christian Strache e sempre presente filósofo Aleksandr Dugin, o mais amado pelos soberanistas: "Estavam presentes também parlamentares italianos, mas foi um encontro confidencial e eu não gostaria de violar a privacidade deles", diz ele. Ele foi convidado como historiador, o tema era o bicentenário do Congresso de Viena: "Mas imediatamente me senti desconfortável, minhas ideias são antitéticas às de Dugin". Segundo de Mattei, aquele encontro tinha um objetivo claro: "Na minha opinião, há uma manobra da Rússia de infiltração no mundo tradicional e conservador europeu. Em relação a alguns partidos políticos, começando pela Liga, e os movimentos pró-vida. Parece-me que a Rússia está desempenhando o papel que a CIA teve nas décadas anteriores”.
E a influência atlântica hoje? "Nos Estados Unidos, são os movimentos pró-vida que condicionam a política, enquanto na Rússia acontece o contrário, é a política que condiciona". A antiga cortina de ferro tornou-se fluida. Mas o objetivo é o mesmo: parar o impulso reformador do papa Francisco. Fonte: Ahttp://www.ihu.unisinos.br
Visita surpresa do Papa à Comunidade Novos Horizontes
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O Papa Francisco foi a Frosinone para uma visita surpresa à "Cittadella Cielo" da Comunidade "Novos Horizontes", fundada por Chiara Amirante.
Cecilia Seppia – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco chegou de surpresa em Frosinone - cerca de 80 km de Roma - na manhã desta terça-feira, para uma visita privada à "Cittadella Cielo", a estrutura da Comunidade "Novos Horizontes", fundada em 1993 por Chiara Amirante, que oferece hospitalidade e apoio às pessoas com dificuldades por meio de centros de escuta e apoio à vida, casas de família, locais e laboratórios de agregação e reinserção no trabalho.
É precisamente nestes locais que, há muitos anos, são tratadas as feridas da alma daqueles que em algum momento da vida acabaram entrando no túnel das drogas, da dependência, do jogo, da prostituição, e como consequência, no túnel do descarte, da marginalização social e da rejeição pela própria família.
São cerca de 9h15 da manhã quando o Ford Focus azul com o Pontífice a bordo segue pela rua Tommaso Landolfi. São poucas as pessoas que tem conhecimento da visita, mas a voz corre com a velocidade das redes sociais e, em pouco tempo a internet é inundada por imagens feitas pela população, que registram a passagem do ilustre visitante, ao mesmo tempo que muitas pessoas começam a se dirigir para a frente dos portões da estrutura, esperando poder ao menos saudar o Santo Padre.
As notícias oficiais chegarão mais tarde, mas esta visita na terça-feira tem todo o ar de uma Sexta-feira da Misericórdia. O Papa é acompanhado por Andrea Bocelli.
A proximidade de Francisco à Comunidade Novos Horizontes é forte e sólida. No dia 8 de junho, por ocasião do 25º aniversário da Comunidade, o Papa telefonou para dar as felicitações em meio aos festejos, enviou uma carta e uma mensagem em vídeo para expressar seu carinho e incentivo às mais de 3.000 pessoas reunidas para celebrar o evento no Palazzetto dello Sport de Frosinone, na Solenidade de Pentecostes.
Durante o telefonema, o Santo Padre saudou em particular todos os "Piccoli della Gioia" (Pequenos da alegria), nome pelo qual são chamados os leigos consagrados que colocam suas vidas a serviço da comunidade. Fonte: https://www.vaticannews.va
Homilia do Papa neste domingo, 22: “Sempre em tempo para curar com o bem o mal feito”. Francisco
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“Quem provocou lágrimas, faça alguém feliz; quem tirou indevidamente, doe a quem tem necessidade. Fazendo assim, seremos louvados pelo Senhor "porque agimos com astúcia".
Silvonei José - Cidade do Vaticano
"Obter gratidão com a corrupção, infelizmente é habitual hoje em dia". Foi o que disse o Papa no Angelus deste domingo (22/09). O Pontífice parte da parábola do Evangelho do dia que, como explica, "tem como protagonista um administrador inteligente e desonesto que, acusado de ter esbanjado os bens do patrão, está prestes a ser despedido. Nesta situação difícil, ele não recrimina, não procura justificação, nem se deixa desencorajar, mas encontra uma saída para ter a certeza de um futuro tranquilo.
“A 'riqueza desonesta' é o dinheiro - também chamado 'esterco do diabo' - e em geral os bens materiais. A riqueza pode levá-lo a erguer muros, criar divisões e discriminação" disse o Papa Francisco. "Jesus, pelo contrário, - disse Bergoglio - convida seus discípulos a inverter a direção: “Faça amigos com a riqueza'. É um convite a saber transformar bens e riquezas em relações, porque as pessoas valem mais do que as coisas e contam mais do que a riqueza possuída".
De fato, na vida - enfatizou o Papa -, dá frutos não quem têm muitas riquezas, mas quem cria e mantêm vivos tantos laços, tantas relações, tantas amizades através das diferentes "riquezas", isto é, os diferentes dons que Deus lhe deu. Mas Jesus indica também a finalidade última da sua exortação: "Façam amigos com a riqueza, para que esses o recebam nas moradas eternas. A acolher no Paraíso, se formos capazes de transformar as riquezas em instrumentos de fraternidade e de solidariedade, não estará apenas Deus, mas também aqueles com quem partilhamos, administrando-o bem, o que o Senhor colocou nas nossas mãos”.
O Pontífice explica a moral da página do Evangelho do dia: "Irmãos e irmãs, esta página faz ressoar em nós a pergunta do administrador desonesto, expulso pelo seu patrão: "O que vou fazer agora?". Diante de nossos fracassos e falências, Jesus nos assegura que estamos sempre em tempo para curar com o bem o mal feito.
“Quem provocou lágrimas, faça alguém feliz; quem tirou indevidamente, doe a quem tem necessidade. Fazendo assim, seremos louvados pelo Senhor "porque agimos com astúcia", ou seja, com a sabedoria de quem se reconhece como filho de Deus e se põe em jogo pelo Reino dos céus".
Precisamos "ser astutos para garantir não o sucesso mundano, mas a vida eterna - concluiu - de modo que no momento do Juízo final as pessoas necessitadas que ajudamos possam testemunhar que nelas vimos e servimos o Senhor". https://www.vaticannews.va
Quinta-feira 19: Homilia do Papa. “O ministério é um dom, não uma função ou um pacto de trabalho”.
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Na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco destacou que quando nos apropriamos do dom e o centralizamos em nós mesmos, este se torna “uma função”, perdendo o coração do ministério, episcopal ou presbiteral que seja. Da falta de contemplação do dom, nascem “todos os desvios que conhecemos”.
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta e diante dos muitos bispos e sacerdotes que concelebraram com ele, falou do dom do ministério.
O Pontífice os convidou a refletir sobre a primeira Carta de São Paulo a Timóteo, proposta pela liturgia, destacando a palavra “dom”, seguindo o conselho de Paulo ao jovem discípulo: “Não descuides o dom da graça que tu tens”.
Não é um pacto de trabalho: “Eu devo fazer”, o fazer está em segundo plano; eu devo receber o dom e protegê-lo como dom e dali brota tudo, na contemplação do dom. Quando nós nos esquecemos disto, nos apropriamos do dom e o transformamos em função, perde-se o coração do ministério, perde-se o olhar de Jesus que olhou para todos nós e disse: “Segue-me”, perde-se a gratuidade.
O risco de centralizar o ministério em nós mesmos
O Papa adverte então para um risco:
Desta falta de contemplação do dom, do ministério como dom, brotam todos aqueles desvios que nós conhecemos, dos piores, que são terríveis, àqueles mais cotidianos, que nos fazem centralizar o nosso ministério em nós mesmos e não na gratuidade do dom e no amor por Aquele que nos deu o dom, o dom do ministério.
É importante fazer, mas primeiramente contemplar e proteger
Citando o apóstolo Paulo, Francisco recordou que o dom é “conferido mediante uma palavra profética com a imposição das mãos por parte dos presbíteros” e que vale para os bispos, mas também “para todos os sacerdotes”.
O Papa destacou ainda “a importância da contemplação do ministério como dom e não como função”. Fazemos aquilo que podemos, esclareceu, com boa vontade, inteligência, “também com esperteza”, mas sempre para proteger este dom.
O fariseu que esquece os dons da cortesia e do acolhimento
Esquecer a centralidade de um dom, acrescentou o Pontífice, é algo humano e deu como exemplo o fariseu que, no Evangelho de Lucas, acolhe Jesus em sua casa, ignorando “as inúmeras regras de acolhimento”, ignorando os dons. Jesus faz notar isso, indicando a mulher que doa tudo aquilo que o anfitrião esqueceu: a água para os pés, o beijo do acolhimento e a unção da cabeça com o óleo.
Havia este homem que era bom, um bom fariseu, mas esqueceu o dom da cortesia, o dom do acolhimento, que também é um dom. Sempre se esquecem os dons quando há algum interesse por trás, quando eu quero fazer isto, fazer, fazer... Sim, devemos, os sacerdotes, todos nós devemos fazer coisas e a primeira tarefa é anunciar o Evangelho, mas protegê-lo, proteger o centro, a fonte, de onde brota esta missão, que é propriamente o dom que recebemos gratuitamente do Senhor.
O Senhor nos ajude a não nos tornar ministros empresários
A oração final de Francisco ao Senhor é para que “nos ajude a proteger o dom, a ver o nosso ministério primeiramente como um dom, depois um serviço”, para não arruiná-lo “e não se tornar ministros empresários, executores”, e tantas coisas que afastam da contemplação do dom e do Senhor, “que nos deu o dom do ministério”. Uma graça que o Pontífice pediu para todos os presentes, mas especialmente para aqueles que festejam os 25 anos de ordenação. Fonte: https://www.vaticannews.va
Terça-feira 17: Homilia do Papa Francisco.
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A compaixão é a linguagem de Deus e nos salva da indiferença, afirma o Papa. Se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é A linguagem humana, disse o Papa Francisco ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta.
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
Abrir o coração à compaixão e não fechar-se na indiferença. Este foi o convite que o Papa Francisco fez esta manhã (17/09/2019) ao celebrar a missa na Casa Santa Marta. A compaixão, de fato, nos leva para o caminho da verdadeira justiça”, salvando-nos assim do fechamento em nós mesmos.
Sentiu compaixão
Toda a reflexão foi feita a partir do trecho do Evangelho de Lucas da liturgia de hoje (Lc 7,11-17), em que é narrado o encontro de Jesus com a viúva de Naim, que chora a morte do seu único filho, enquanto é levado ao túmulo.
O evangelista diz que Jesus “sentiu compaixão para com ela”, como se fosse “foi vítima da compaixão”, explicou o Papa. Havia muita gente que acompanhava aquela mulher, mas Jesus viu a sua realidade: ficou sozinha hoje e até o final da vida, é viúva, perdeu o único filho. É propriamente a compaixão que faz compreender profundamente a realidade:
A compaixão faz ver as realidades como são; a compaixão é como a lente do coração: nos faz entender realmente as dimensões. E no Evangelho, Jesus sente muitas vezes compaixão. A compaixão também é a linguagem de Deus. Não começa, na Bíblia, a aparecer com Jesus: foi Deus quem disse a Moisés “vi a dor do meu povo” (Ex 3,7); é a compaixão de Deus, que envia Moisés a salvar o povo. O nosso Deus é um Deus de compaixão, e a compaixão é – podemos dizer – a fraqueza de Deus, mas também a sua força. Aquilo que de melhor dá a nós: porque foi a compaixão que o levou a enviar o Filho a nós. É uma linguagem de Deus, a compaixão.
A compaixão não é pena
A compaixão “não é um sentimento de pena” que se sente, por exemplo, quando vemos morrer um cachorro na rua: “coitadinho, sentimos um pouco de pena”, afirmou Francisco. Mas é “envolver-se no problema dos outros, é arriscar a vida ali”. O Senhor, de fato, arrisca a vida e vai.
Outro exemplo feito pelo Papa Francisco vem do Evangelho da multiplicação dos pães, quando Jesus diz aos discípulos que deem de comer à multidão que o seguiu, enquanto eles preferiam que fosse embora. “Os discípulos eram prudentes”, notou o Papa.
”Eu creio que naquele momento Jesus tenha ficado bravo, no coração”, prosseguiu Francisco, considerando a resposta que deu: ‘Deem vocês de comer!’”. O seu convite é para cuidar das pessoas, sem pensar que depois de um dia assim poderiam ir aos vilarejos para comprar pão. “O Senhor, diz o Evangelho, sentiu compaixão porque via aquelas pessoas como ovelhas sem pastor”, recordou o Papa. De um lado, portanto, o gesto de Jesus, a compaixão e, de outro, a atitude egoísta dos discípulos, que “buscam uma solução sem se comprometer”, sem sujar as mãos, como dizendo: “que se virem”:
E se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é a linguagem humana. Cuidar até certo ponto e não pensar além. A indiferença. Um dos nossos fotógrafos, do l’Osservatore Romano, tirou uma foto que agora está na Esmolaria, que se chama “Indiferença”. Já falei outras vezes disto. Uma noite de inverno, diante de um restaurante de luxo, uma senhora que vive na rua estende a mão a outra senhora que sai, bem coberta, do restaurante, e esta senhora olha para o outro lado. Esta é a indiferença. Vejam aquela foto: esta é a indiferença. A nossa indiferença. Quantas vezes olhamos para o outro lado… E assim fechamos a porta para a compaixão. Podemos fazer um exame de consciência: eu habitualmente olho para o outro lado? Ou deixo que o Espírito Santo me leve para o caminho da compaixão? Que é uma virtude de Deus…
A seguir, o Papa se disse comovido com uma palavra do Evangelho de hoje, quando Jesus diz a esta mãe: “Não chore”. “Uma carícia de compaixão”, afirmou Francisco. Jesus toca no caixão, ordenando ao jovem que levante. O jovem então fica sentado e começa a falar. E o Papa ressaltou propriamente o final: “E Jesus o entregou à sua mãe”: Ele o entregou: um ato de justiça. Esta palavra se usa na justiça: restituir. A compaixão nos leva para o caminho da verdadeira justiça. É preciso sempre devolver àqueles que têm certo direito, e isso nos salva sempre do egoísmo, da indiferença, do fechamento em nós mesmos. Continuemos a Eucaristia de hoje com esta palavra: “O Senhor sentiu compaixão”. Que Ele tenha também compaixão de cada um de nós: nós precisamos disso. Fonte: https://www.vaticannews.va
Segunda 16: Homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta
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O Papa na Casa Santa Marta: rezar pelos governantes, eles farão o mesmo pelo povo.
Depois da pausa de verão, o Papa celebrou nesta manhã (16/09) a missa matutina na Capela da Casa Santa Marta. Sua reflexão foi centralizada na Primeira Carta de São Paulo a Timóteo encorajando a rezar a Deus também pelos governantes.
Cidade do Vaticano
Rezar também pelos governantes e pelos políticos, para que “possam levar adiante com dignidade sua vocação”. São palavras do Papa Francisco na Missa desta manhã (16/09/2019) na capela da Casa Santa Marta, a primeira depois da pausa de verão.
A oração
Refletindo sobre a Primeira Carta de São Paulo apóstolo a Timóteo, o Pontífice observa quanto seja encorajado a “todo o povo de Deus” a rezar, por um “pedido universal”: sejam feitos “sem cólera e sem polêmicas”, evidencia Francisco, “pedidos, súplicas, orações e agradecimentos para todos os homens” e ao mesmo tempo “pelos reis e por todos os que estão no poder” para que tenham “uma vida calma e tranquila, digna e dedicada a Deus”.
Paulo evidencia o ambiente de uma pessoa que crê: é a oração. É a oração de intercessão, aqui: “Que todos rezemos por todos, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, digna e dedicada a Deus”. É necessária a oração a para que isso seja possível. Mas há um detalhe que gostaria de me deter: “Para todos os homens – e depois acrescenta – pelos reis e por todos os que estão no poder”. Portanto trata-se da oração pelos governantes, pelos políticos, pelas pessoas que são responsáveis de levar adiante uma instituição política, um país, uma província.
Rezar pelos que pensam diversamente
Esses, afirma, recebem “adulações por parte de seus favoritos ou insultos”. Há políticos, mas também padres e bispos, diz o Papa, que são insultados, “alguns o merecem”, acrescenta, mas já se torna “um hábito” recordando o que define um “acúmulo de insultos e de palavrões, de depreciações”. Ainda assim quem está no governo “têm a responsabilidade de conduzir o país”: e nós – pergunta-se o Pontífice – “o deixamos só, sem pedir a Deus que o abençoe?”. “Tenho certeza” – prossegue – que não se reza pelos governantes, ao contrário: poderia parecer que a oração aos governantes seja “insultar-lhes”. E assim, constata, “segue nossa vida nas relações” com quem está no poder. Mas São Paulo, explica, é “claro” ao pedir que se “reze por cada um deles para que possam levar adiante uma vida calma, tranquila, digna para seu povo”. Por fim recorda como os italianos passaram recentemente por uma "crise de governo”.
Quem de nós rezou pelos governantes? Quem de nós rezou pelos parlamentares? Para que possam ir de acordo e levar adiante a pátria? Parece que o espírito patriótico não chega à oração; mas sim às desqualificações, ao ódio, às brigas, e termina assim. Portanto, quero que em todos os lugares as pessoas rezem, levantando as mãos puras para o céu, sem raiva e sem polêmicas”. É preciso discutir e esta é a função de um parlamento. Discutir, mas não destruir o outro. Aliás, é preciso rezar pelo outro, por aquele que tem uma opinião diferente da minha.
Chamado à conversão
Diante dos que pensam que aquele político é “muito comunista” ou “corrupto”, o Papa, citando a passagem do Evangelho de Lucas de hoje, não pede para “discutir sobre política”, mas para rezar. Depois, há quem diga que “a política é suja”. Mas, Paulo VI, sublinhou Francisco, considerava a política “a mais alta forma de caridade”:
Pode ser suja assim como qualquer outra profissão, qualquer uma... Somos nós que sujamos uma coisa, mas não é a coisa em si que é suja. Acredito que devemos nos converter e rezar pelos políticos de todas as cores, todos eles! Rezar pelos governantes. É isso que Paulo nos pede. Enquanto ouvia a Palavra de Deus, esse fato muito bonito do Evangelho me veio à mente, o governante que reza por um dos seus, esse centurião que reza por um dos seus. Até os governantes devem rezar pelo seu povo e o centurião reza por um servo: “Mas não, ele é meu servo, eu sou responsável por ele”. Os governantes são responsáveis pela vida de um país. É bom pensar que, se o povo reza pelos governantes, os governantes também serão capazes de rezar pelo povo, como esse centurião que reza pelo seu servo. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa a consagrados: encontrar na doação a fonte da nossa identidade
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“O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças”: disse o Papa no encontro em Maputo com bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Reavivemos nosso chamado vocacional, e que o nosso sim comprometido proclame as grandezas do Senhor e alegre o espírito do nosso povo em Deus nosso Salvador. E encha de esperança, paz e reconciliação o vosso país, nosso querido Moçambique. Foi o que disse o Papa Francisco no aguardado encontro com os bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados, seminaristas, catequistas e animadores pastorais, na tarde desta quinta-feira (05/09) na Catedral da Imaculada Conceição, em Maputo, capital do país do sudeste da África, primeira etapa desta sua 31ª Viagem Apostólica Internacional.
Testemunhos: desafios, sofrimentos e esperança viva
O discurso do Santo Padre foi precedido, além da saudação de boas-vindas ao ilustre visitante feito pelo presidente da Comissão para o Clero e a Vida Consagrada, Dom Hilário da Cruz Massinga, do testemunho de um sacerdote, de uma religiosa e de um catequista, testemunhos marcados pelos sérios desafios, sofrimentos, mas também pela viva esperança.
Na reflexão do Pontífice, um convite a renovar a resposta ao chamado vocacional, a renovar a fé e a esperança:
“Encontramo-nos nesta catedral, dedicada à Imaculada Conceição da Virgem Maria, para compartilhar como família aquilo que nos acontece; como família, que nasceu naquele sim que Maria deu ao anjo. Ela, nem por um momento olhou para trás. Quem narra estes acontecimentos do início do mistério da Encarnação é o evangelista Lucas. No seu modo de o fazer, talvez possamos descobrir resposta para as perguntas que fizestes hoje, e encontrar também o estímulo necessário para responder com a mesma generosidade e solicitude de Maria.”
Contrastar a crise de identidade sacerdotal
Perguntáveis que fazer com a crise de identidade sacerdotal, como lutar contra ela? A propósito, o que vou dizer relativamente aos sacerdotes é algo que todos (bispos, catequistas, consagrados, seminaristas) somos chamados a cultivar e fomentar, ressaltou Francisco.
“Perante a crise de identidade sacerdotal – disse o Papa –, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na sala é de hierarquia.”
Se Jesus não o enriquece, sacerdote é o mais pobre de todos
“Creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens”, ressaltou o Pontífice, acrescentando:
“O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças.”
Voltar a Nazaré para nos renovarmos como pastores
Tendo precedentemente aludido ao Anúncio do Anjo feito a Zacarias em Jerusalém e a Maria em Nazaré, apresentado pelo evangelista São Lucas, Francisco enfatizou que voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade, para nos renovarmos como pastores-discípulos-missionários.
“Vós próprios faláveis de certo exagero na preocupação de gerar recursos para o bem-estar pessoal, por ‘caminhos tortuosos’ que muitas vezes acabam por privilegiar atividades com uma retribuição garantida e criam resistências a dedicar a vida ao pastoreio diário”, ressaltou.
Doação na proximidade ao povo fiel de Deus
“Não podemos correr atrás daquilo que redunda em benefícios pessoais; os nossos cansaços devem estar mais relacionados com ‘a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove’.”
“Para nós, sacerdotes – acrescentou o Santo Padre–, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração.” “E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus…, etc., o que sempre, sempre cansa.”
Fugir do "mundanismo espiritual" ditado pelo consumismo
Francisco observou que renovar o chamado “passa, muitas vezes, por verificar se os nossos cansaços e preocupações têm a ver com um certo ‘mundanismo espiritual’ ditado ‘pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores’”.
“Renovar o chamado passa por optar, dizer sim e cansar-nos com aquilo que é fecundo aos olhos de Deus, que torna presente, encarna o seu Filho Jesus. Oxalá encontremos, neste saudável cansaço, a fonte da nossa identidade e felicidade!”
Um olhar aos jovens: reconhecer a própria vocação
Por fim, o Pontífice dirigiu-se também ao jovens que se interrogam ou que já se sentem chamados para a vida consagrada:
“Tu que ainda te interrogas ou tu que já estás a caminho duma consagração definitiva dar-te-ás conta de que ‘a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve seu chamado’”.
“Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra.”
Francisco concluiu destacando que a Igreja em Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação: “não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”. Fonte: https://www.vaticannews.va
31ª VIAGEM DO PAPA. Papa aos jovens de Moçambique: continuem sendo testemunho de paz e reconciliação ao país
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Numa festa inter-religiosa e culturalmente rica da juventude, o Papa Francisco pronunciou o segundo discurso do dia em Maputo, em Moçambique, nesta quinta-feira (5). Os jovens foram a expressão da paz e da reconciliação do país, através de cantos, apresentações artísticas e tradições religiosas, sempre encorajados pelo Pontífice que incentivou a não se resignar diante das provações e ter cautela com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar os sonhos.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco, no seu segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5), encontrou os jovens no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido como Maxaca - uma sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco títulos nacionais. Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil jovens cristãos, muçulmanos e hinduístas para um grande encontro inter-religioso com o Pontífice.
Durante cerca de uma hora intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu conhecer um pouco da realidade local das diferentes confissões religiosas que se apresentaram, através da arte do canto e de coreografias especiais, demonstrando diferentes temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um hino comum às denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o discurso do Pontífice.
Jovens: vocês são importantes e precisam saber disso!
“ O que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês são importantes! Mas com humildade porque não são apenas o futuro de Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente de Moçambique! Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que hoje podem dar. ”
O Papa iniciou o discurso enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que caracteriza o povo de Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, em algumas regiões do mundo, a alegria de viver de vocês!”, sublinhou Francisco.
A presença das diferentes confissões religiosas no local também foi elogiada pelo Pontífice, demonstrando a união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação. Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.
“ Vocês, jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem perder nem deixar que lhe roubem. ”
As inimigas da esperança: resignação e ansiedade
O Papa, então, procurou responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões interligadas, sobre como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para solucionar os problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do próprio caminho de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte, uma expressão “de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança, mas também de ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para não deixar que “roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar conforme as tradições de casa.
Francisco também alertou para ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a resignação e a ansiedade”. “São grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a porta que pedem para passar é muito cara… O pedágio que pedem para passar é muito caro! É muito caro. Paga-se com a própria felicidade e até com a própria vida. Resignação e ansiedade: duas atitudes que roubam a esperança. Quantas promessas de felicidade vazias que acabam por mutilar vidas! Certamente conhecem amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido com vocês – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que tudo cai em cima de vocês, ficam prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque essa atitude «faz com que encaminhe pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).”
A inspiração do esporte: Eusébio da Silva e Maria Mutola
E para dar um exemplo de inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o jogador Eusébio da Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de Maputo. O atleta não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da família e da morte prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse Francisco, “chegando a marcar 77 gols para o Maxaquene!”
O Pontífice então fez a analogia do jogo em equipe para falar da importância de se empenhar pelo país com a tática da união e independentemente daquilo que diferencia as pessoas. “Como é importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família se destrói pela inimizade. Um país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra porque são incapazes de sentar e falar, de sentar e falar. Sejam capazes de criar a amizade social!"
O Papa lembrou, então, o provérbio africano conhecido e citado mundialmente para “sonhar junto”, que diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser chegar longe, vai acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos da juventude por um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados com “esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas”.
O outro exemplo do esporte citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que aprendeu a perseverar, apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros Jogos Olímpicos que disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta tentativa, quando a atleta dos 800 metros alcançou venceu nas Olimpíadas de Sidney. “A ansiedade não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove títulos mundiais”, comentou Francisco.
A importância dos idosos e da Casa Comum
O Papa ainda aconselhou a não esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a realizar sonhos sem que “o primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar as pessoas mais experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria síntese, como aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da marrabenta nasceu o pandza, com toque moderno.
O comprometimento com o cuidado da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num país que tamanha beleza natural, mas que também já sofreu com o embate de dois ciclones. O desafio de proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos para ser “artesãos da mudança tão necessária”.
O poder da mão estendida e da amizade ao país
Dessa forma explicativa, Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos caminhos de paz, liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da solidariedade”, para responder às provações e problemas vividos no país. “Grande é o poder da mão estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a solidariedade cresça entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a história. A solidariedade é a melhor arma para transformar a história”. E Francisco finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto Jesus os ama: “ É o amor do Senhor que se entende mais de levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid., 116). Eu sei que vocês acreditam nesse amor que torna possível a reconciliação” Fonte: https://www.vaticannews.va
Convite de Francisco no voo para a África: rezar pela tragédia nas Bahamas
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Em viagem rumo a Maputo, o Papa conclui a tradicional saudação aos jornalistas presentes no voo pedindo que rezem pelas vítimas do furacão que atingiu gravemente as Bahamas. Pouco anos, os votos de “frutos” para esta visita à África
Alessandro de Carolis - voo Roma-Maputo
Uma parte do coração está lá, próximo da última “periferia”, o povo do Caribe atingido pela catástrofe provocada pelo “Dorian Hurricane”. Antes de concluir a saudação cordial aos jornalistas a bordo do avião que o leva a Moçambique, o Papa pegou novamente o microfone para convidar a uma oração pessoal todos aqueles que estão partilhando com ele a longa viagem rumo ao sul do continente africano.
Francisco foi informado sobre as devastações deixadas pelo furacão sobretudo nas Bahamas – notícias e imagens falam de milhares de sem-teto e de mortos ao longo das estradas marcadas pela destruição da tempestade. “São pobres pessoas que, de um dia para o outro, perdem a casa, perdem tudo, inclusive a vida”, disse o Santo Padre. Eis as suas palavras: “Eu gostaria de convidar vocês, cada um em seu coração, a fazer uma oração pelas vítimas do furacão nas Bahamas: são pobres pessoas que repentinamente, de um dia para o outro, perdem a casa, perdem tudo, inclusive a vida. Cada um em seu coração faça uma oração por estes irmãos e irmãs que estão sofrendo (por causa) deste furacão nas Bahamas. Obrigado.”
A devastação do furacão Dorian
A passagem do “Dorian” na América-Central evoca por analogia o rastro de mortes e destruição deixados por “Idai” e “Kenneth” entre março e abril passados em Moçambique, primeira etapa da semana que o Papa transcorrerá no continente africano, incluindo a visita a Madagascar e algumas horas nas Ilhas Maurício.
“Esperamos que esta viagem um pouco longa dê frutos”, dissera Francisco no início da saudação aos jornalistas, precedido das palavras do novo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em sua primeira viagem nessa nova função.
Francisco e a saudação aos jornalistas
O Papa mostrou grande familiaridade com as novidades relacionadas ao grupo dos jornalistas a bordo. Disse querer conceder uma “homenagem” e, por conseguinte, um “espaço especial” à jornalista da EFE (Agência de imprensa espanhola, que celebra 80 anos de fundação), que, portanto, terá a oportunidade, durante a coletiva de imprensa no voo de retorno da África, de dirigir perguntas suplementares a Francisco.
O Santo Padre quis destacar a ausência nesta viagem de Valentina Alazraki, jornalista de “Televisa”, decana dos vaticanistas na Sala de Imprensa, que nesta ocasião faria sua 153º viagem apostólica.
O Pontífice definiu como uma preciosidade o último livro da jornalista mexicana sobre as mulheres maltratadas (Grécia e as outras”, escrito com Luigi Ginami), que – afirmou – faz entender “a dor e a exploração das mulheres nos dias de hoje”.
Com a ausência de Alazraki, o Papa concluiu com um sorriso passando o timão a Phil Pullella, o co-decano a bordo, da agência Reuters, narrador de dezenas de viagens papais. Fonte: https://www.vaticannews.va
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