História foi ouvida em um transporte publico na Argentina e viralizou nas redes sociais

 

Por La Nacion

Um descuido de um grupo que tinha uma conversa despretensiosa sobre traição foi parar no Twitter e, pouco depois, nos ouvidos dos citados. A confusa história nasceu no transporte público, como um segredo aberto entre amigos, e terminou com o fim de um relacionamento por causa de uma pessoa estranha a eles, que ouviu tudo o que o grupo disse e publicou em sua rede social. A viralização, etapa importantíssima para que o conteúdo transcenda todas as plataformas digitais, se encarregou de ligar as partes.

Uma usuária do Twitter, identificada como Dana Reyna, ouviu detalhadamente o que três meninas diziam em um ônibus e decidiu postar em seu perfil que uma pessoa chamada “Nacho” era infiel a “Agostina”.

“Se seu nome é Agostina e você tem um namorado chamado Nacho, ele te traiu com a Luana, e suas amigas Camila, Antonella e Sofía sabem de tudo e também sabem que Antonella gosta de Nacho. Seus amigos falam muito alto para viajar com gente ralé como eu”, brincou na publicação.

A partir desse momento, o tuíte chegou até Agostina, que, no dia seguinte, respondeu ao post de Dana e contou como ocorreu o caso que a teve como principal vítima.

“Pronto, gente! Não procurem mais, sou eu a traída”, publicou o perfil que afirmava ser Agostina. “Camila é minha melhor amiga. Ultimamente começamos a sair com eles porque a Sofi é namorada do Facu (amigo do meu namorado). Cami tinha uma vibe boa com as meninas, e eu sempre sentia algo estranho, claro. Elas estavam me sacaneando, e todo mundo sabia disso, menos eu.

À publicação, Agostina anexou capturas de tela de uma conversa no WhatsApp com Nacho, a quem explicou, em um primeiro momento, que a semelhança dos “persongens” da postagem a levou a desconfiar, e, depois, enviou a ele o link da publicação.

A partir desse momento, a criadora do post resolveu consolar Agostina, contando tudo o que tinha vivido desde que soube que um namorado a tinha traído.

“Rainha: ele te perdeu, não merecia mais de você, e mesmo que pareça feio, fico feliz que o tweet tenha chegado para que você não seja mais enganada. Qualquer coisa que precisar, fale comigo”, disse.

Sem contar como ficou sabendo da infidelidade do companheiro, Agostina voltou a responder à publicação e explicou, em tom de brincadeira, a “solidão” em que se encontrava: “O poder da fofoca, haha. Vamos, eu falo com você sobre qualquer coisa. Não tenho mais namorado nem amigos”.

Além do Twitter, a história também viralizou no TikTok, com diversos perfis se comovendo com os relatos.

“Olha, pra ter esses amigos, é melhor não ter. Embora esta rede seja fantástica para algumas coisas, aqui vários de nós queremos ser seus amigos. Então você não está sozinha!”, publicou um perfil. “Calma, daqui pra frente novas oportunidades e coisas boas vão aparecer, muita energia boa pra você”, disse outro. Fonte: https://oglobo.globo.com

 

Caso aconteceu na noite de terça-feira, na altura de Barros Filho, na Zona Norte do Rio. Não há, até o momento, informações sobre feridos

 

Tiroteio na Avenida Brasil, na altura de Barros Filho, para trânsito e faz motoristas descerem dos veículos Reprodução

 

Por O GLOBO — Rio de Janeiro

Um tiroteio na Avenida Brasil, na altura de Barros Filho, Zona Norte do Rio, fez motoristas descerem de seus carros e deitarem no chão para fugir das balas. O caso aconteceu na noite de terça-feira, por volta das 22h. Segundo a Polícia Militar, a troca de tiros foi feita entre traficantes do Morro do Chaves e da comunidade Proença Rosa. O trânsito chegou a ser interditado em duas pistas da via.

Nas imagens, é possível observar diversos carros parados na pista, dentre veículos de passeio e ônibus. Algumas pessoas chegam a se proteger próximo à lataria dos carros. Os relatos, segundo os motoristas, indica que os disparos efetuados pouco antes do shopping de Guadalupe, bairro vizinho.

De acordo com a Polícia Militar, equipes do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) foram acionados para uma ocorrência de disparos de arma de fogo, na Avenida Brasil, na altura de Barros Filho. No local, os criminosos dispararam contra os agentes, que reagiram. Não há, até o momento, informações de feridos.

A PM informa, ainda, que o policiamento foi reforçado na região.

 

Mortes na região

Na madrugada do último dia 30, uma adolescente e um menino morreram após serem baleados num tiroteio no Complexo do Chapadão, também na Zona Norte. Os irmãos de criação Kailany Vitória Fernandes, de 19 anos, e Lohan Samuel Nunes, de 11, estavam na porta da casa da família quando foram atingidos pelos disparos.

Segundo uma tia, que não quis ser identificada, dois homens numa moto passaram atirando. No momento, para proteger o filho de 2 anos, Kailany teria se jogado na frente da criança. Lohan Samuel foi a terceira criança morta por bala perdida no mês de abril, de acordo com um levantamento feito pela ONG Rio de Paz. Fonte: https://oglobo.globo.com

Bilionário afirmou que app de mensagens WhatsApp, da Meta, não é confiável

 

NOVA YORK | AFP

O dono do TwitterElon Musk, anunciou nesta terça-feira (9) que em breve chamadas de áudio e vídeos poderão ser feitas na plataforma.

"Para que você possa falar com pessoas de todo o mundo sem dar a elas seu número de telefone", tuitou o bilionário.

Em comentário posterior publicado na rede, Musk afirmou que o aplicativo de mensagens WhatsApp, operado pela Meta, não é confiável. Uma função de mensagens no Twitter poderia competir com a série de serviços gratuitos oferecidos por, entre outros, Messenger, Signal, Telegram e WhatsApp.

Ele acrescentou que o Twitter começará nesta quinta (11) a criptografar as mensagens diretas na plataforma, para proteger a privacidade dos usuários.

Desde que comprou o companhia, no ano passado, Musk implementou uma série de mudanças de forma aparentemente caótica, que chegou a irritar os usuários. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Segundo o WSJ, jornal americano será remunerado pelo buscador para ter conteúdo exibido em algumas de suas plataformas

 

Por O Globo — Rio

O jornal americano The New York Times vai receber, ao longo de três anos, cerca de US$ 100 milhões do Google.

Segundo o Wall Street Journal, a quantia faz parte de um acordo que vai permitir que o maior site de buscas do mundo exiba o conteúdo do jornal em algumas de suas plataformas.

A publicação informou ainda, citando pessoas a par do assunto, que o acordo inclui a participação do NYT no Google News Showcase, um produto que paga aos editores para apresentar seu conteúdo no Google News, e algumas outras plataformas.

O acordo foi anunciado em fevereiro, mas o NYT não havia informado sobre valores. Fonte: https://oglobo.globo.com

Grupo de Trabalho da USP produziu relatório com 39 propostas, mas desafio precisa se tornar política de Estado duradoura

 

Por Sílvia Helena Galvão de Miranda e Marcelo Cândido da Silva

Entre setembro de 2021 e janeiro de 2023, 26 pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) se mobilizaram num Grupo de Trabalho (GT), criado pela reitoria, para discutir políticas públicas de combate à fome no Brasil. O resultado é um documento com 39 propostas, que não pretende apresentar uma solução simples para um problema tão complexo e que tampouco desconsidera as contribuições e os avanços já acumulados pelo esforço de gestores públicos, atores da sociedade civil e estudiosos do assunto.

A fome está presente no Brasil desde a sua mais grave e dolorosa forma, quando as pessoas não têm acesso sequer a uma refeição diária, até aqueles casos em que, embora se alimentem, estão mal-nutridas. É a insegurança alimentar em seus diversos níveis, que gera problemas de saúde pública, da subnutrição à obesidade.

Desde a Constituição de 1988 houve uma considerável ampliação das políticas públicas e de ações da sociedade civil no combate à fome e à insegurança alimentar. Contudo, nos últimos anos assistimos aos efeitos danosos do desmonte de várias dessas políticas, e distingue-se hoje um duplo desafio: articular as políticas existentes nos diversos níveis da administração pública; e garantir a efetiva implementação e, em alguns casos, a reativação de instrumentos, por exemplo, aqueles previstos na Lei n.º 11.346/2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).

Nos estudos do GT, constatamos que parte da população ainda desconhece as políticas em vigor. Assim, além da ampliação e da atualização do Cadastro Único, para garantir acesso aos programas sociais de transferência de renda por todos aqueles que necessitam, é premente fortalecer as ações de educação alimentar e nutricional e criar e capacitar uma rede de gestores públicos municipais para a difusão de boas práticas na formulação, implementação e monitoramento das políticas de segurança alimentar e nutricional.

O sucesso das políticas de combate à fome e à insegurança alimentar depende também da qualidade da informação. A informação construída a partir da integração das mais diversas bases de dados permite não só uma visão de conjunto sobre o problema, mas o monitoramento das inúmeras ações da sociedade civil, visando à maior eficácia no combate à fome. Uma das propostas do relatório é a criação de plataformas online, no âmbito municipal, para a coordenação de organizações e iniciativas locais da sociedade civil, e a garantia da disponibilização e do acesso às informações sobre os resultados dessas iniciativas, de forma a fortalecer a transparência e os mecanismos de controle social.

Embora muito se fale sobre a indisponibilidade na oferta de alimentos como causa da fome, o caso brasileiro ilustra uma situação distinta. No Brasil, a fome deriva principalmente da falta de renda, seja pela ausência de oportunidades de empregos, de capacitação para os empregos existentes ou pelas limitações de acesso a recursos produtivos. Logo, cabe reforçar a necessidade de políticas de criação de empregos e a promoção do crescimento da economia.

No âmbito rural, o porcentual da população em situação de insegurança alimentar grave é assustadoramente elevado: 18,6% dos domicílios rurais, conforme a Rede Penssan. A incapacidade de produzir o próprio alimento, pela falta de equipamentos, de insumos, de assistência técnica e, mesmo, do acesso à terra, é um dos aspectos marcantes dessa situação tão contraditória. Este quadro no campo é agravado por mudanças no padrão alimentar, com o distanciamento da população do consumo de espécies vegetais nativas e de alimentos frescos. Essas mudanças alimentares nem sempre implicam uma melhor nutrição, como mostra o avanço do consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil, rural e urbano, seja pela sua conveniência ou pelo preço atrativo.

Os alimentos frescos, embora mais saudáveis, são geralmente mais caros e seu preparo demanda mais tempo. Em diversas escolas, nutricionistas têm conseguido incorporá-los à alimentação escolar, apesar das dificuldades de manter abastecimento regular e dos desafios de seu planejamento e execução, particularmente para compra de agricultores familiares.

As atividades do nosso GT não se extinguem com a apresentação do relatório. Em dezembro de 2022, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Combate à Fome. Este conta com diversas universidades e centros de pesquisa e conduzirá estudos sobre a insegurança alimentar e os desafios e estratégias para atendimento do direito humano à alimentação adequada. Como docentes da universidade pública e destinatários de recursos escassos num país profundamente desigual, temos consciência de nossas responsabilidades e esperamos, com nossas ações, continuar contribuindo para a solução deste grave problema. Todavia, para obter sucesso, o combate à fome precisa ser reconhecido como prioridade pela sociedade brasileira e se tornar uma política de Estado duradoura.

*COORDENADORES DO GT DA USP DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À INSEGURANÇA ALIMENTAR E À FOME, SÃO, RESPECTIVAMENTE, PROFESSORA TITULAR DA ESALQ-USP E PROFESSOR TITULAR DA FFLCH-USP. Fonte: https://www.estadao.com.br 

Se o educador é tolhido, jovens se tornam presas fáceis do extremismo

 

José Ruy Lozano

Sociólogo e autor de livros didáticos, é membro da Comunidade Reinventando a Educação (Core)

Quem trabalha na educação sabe há muito tempo. Se mostrarmos às equipes de limpeza e manutenção das escolas a foice e o martelo, e perguntarmos se já viram o símbolo rabiscado em alguma porta de banheiro ou carteira, dirão que não. Mas, se exibirmos uma suástica e fizermos a mesma pergunta, imediatamente responderão que a veem todos os dias.

Enquanto muitos gritavam contra suposta doutrinação esquerdista nas escolas, as suásticas riscadas nos móveis já indicavam o verdadeiro perigo à espreita. A princípio, atribuíamos os desenhos a uma certa tolice de adolescentes irresponsáveis e sua eterna ânsia de "causar". Não mais.

violência que adentrou as escolas e as ameaças virtuais que atormentam pais, alunos e educadores têm clara inspiração em ideologias nazifascistas, cuja expansão se deu simultaneamente, não por acaso, à difusão do discurso de criminalização da atuação docente, aqui conhecido pelo slogan "escola sem partido".

Tal discurso está muito presente nos EUA, onde movimentos reacionários organizados atuam para proibir livros com temática considerada "indecente" ou "divisiva", impedir a discussão de assuntos como escravidão e alterar o currículo em vários temas. São as "Mães pela Liberdade", a "Fundação para os Direitos Parentais" ou, a mais explícita, "Não à Esquerda na Educação". Paralelamente ao crescimento desses grupos, multiplicam-se nas escolas estadunidenses os episódios de massacre.

Não é coincidência. Quando se impede ou se dificulta o trabalho dos professores, a mente fértil e atormentada dos adolescentes vira presa fácil de discursos radicais, tão mais sedutores quanto mais violentos. Eles são atraídos por valores contrários a qualquer vínculo social solidário. Racismo, misoginia, homofobia e apologia às armas são temas comuns em fóruns virtuais e chats de jogos online, entre outros espaços.

O trabalho da educação escolar é primordialmente o de ensinar a conviver com o outro. É na escola que se aprende a resolver conflitos por meio da mediação e do diálogo, com regras estabelecidas publicamente. Apenas no espaço escolar desenvolvemos de forma ampla valores como respeito, tolerância e solidariedade. O lugar-comum de que a escola forma cidadãos tem esse significado: preparar as novas gerações para a vida coletiva, algo que o ultraindividualismo e sua lógica —esta sim divisiva, perigosa e violenta— não conseguem compreender (ou aceitar).

Para além do que se convencionou chamar de habilidades socioemocionais, no entanto, o currículo escolar tem conteúdos que alertam para o perigo do obscurantismo e valorizam a humanização das relações. Fazer uma leitura incisivamente crítica do modelo colonial implementado nas Américas e da escravização dos povos africanos em seu bojo, por exemplo, não é doutrinação ideológica, mas sim a apresentação aos alunos do que as ciências sociais produziram e constataram. As injustiças sociais que herdamos são iluminadas como tal, pela ação dos professores, evitando leituras equivocadas que podem levar à normalização da barbárie.

Se o professor é tolhido ou silenciado, os adolescentes tornam-se potenciais agentes do extremismo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Logo do TikTok; empresa - Dado Ruvic/Reuters

 

TikTok identificou usuários que assistiram a conteúdo voltado para o público LGBT no aplicativo por pelo menos um ano, segundo reportagem publicada pelo Wall Street Journal nesta sexta-feira (5).

Ex-funcionários da empresa disseram que informações relacionadas a vídeos dessa temática podiam ser visualizadas em um painel, no qual eram exibidos o conjunto de usuários que lhes assistiram e seus respectivos números de identificação.

Funcionários do TikTok nos EUA, Reino Unido e Austrália questionaram essa prática para executivos de alto escalão, dizendo temer que os funcionários pudessem compartilhar os dados com terceiros ou que pudessem ser usados para chantagear os próprios usuários, segundo a publicação.

A coleta de informações sobre o comportamento dos usuários é comum entre empresas de tecnologia para personalizar a experiência do usuário e fornecer anúncios direcionados. Contudo, o rastreamento com base em dados sensíveis, como orientação sexual, religião, raça, entre outros, pode ser considerado invasivo e pode levar a práticas discriminatórias.

No Brasil, por exemplo, a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), distingue o tratamento de dados pessoais (como nome, email, hábitos de consumo) dos dados sensíveis, que exigem maior cuidado. O TikTok não pede que usuários revelem sua orientação sexual para se cadastrarem, prática comum na internet.

Uma porta-voz do TikTok disse ao Wall Street Journal que o painel que os funcionários usavam para acessar os dados dos consumidores de conteúdo gay foi removido nos EUA há quase um ano.

A porta-voz também afirmou que a empresa não identifica informações potencialmente sensíveis, como orientação sexual ou raça dos usuários, com base no que assistem. Os dados representam os interesses dos usuários e não são necessariamente um sinal da identidade de alguém, disse.

Internamente, alguns funcionários do TikTok ainda argumentaram que a coleta de dados era segura, porque não indicava se os usuários realmente pertenciam a determinado grupo, segundo o jornal.

Outros funcionários discordaram, dizendo que o tema dos vídeos a que um usuário assistia é suficiente para inferir aspectos de sua identidade, principalmente para tópicos como sexualidade, segundo alguns ex-funcionários. Esses funcionários descreveram os dados como uma lista de usuários gays do TikTok.

A revelação ocorre em meio a uma ofensiva dos Estados Unidos contra o aplicativo. O governo americano tem duas grandes suspeitas em relação à rede social. A primeira é que ela seja usada pelo regime chinês para espionar cidadãos americanos. Como outros aplicativos, como Facebook e Instagram, o TikTok coleta todo tipo de dados de seus usuários e usa essas informações para alimentar seus algoritmos. A diferença é que a ByteDance, dona do app, é uma empresa chinesa e, portanto, estaria sujeita a uma lei de segurança nacional que exige que ela repasse os dados ao regime caso exigido.

A segunda suspeita é de que o algoritmo de recomendação de vídeo do TikTok, conhecido por sua capacidade de reter usuários em um looping eterno, tenha também fins de propaganda, influenciando a opinião pública ao promover ou suprimir postagens estratégicas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Então a vida não vale a pena? Nada disso! É justamente esse nada que nos leva a fazer tudo. Que nos amarra uns aos outros

 

Roberto DaMatta,Antropólogo

O inusitado da minha morte digital aliada à cultura de “progressismo populista”, inventora compulsiva de novidades de consumo, tem despertado temores infundados e preocupações legítimas nos especialistas. E, como eu não sou especializado em coisa alguma, exceto — como aprendi com Millôr — em “ciências ocultas e letras apagadas”, assinalei que não poderia haver inteligência sem complementar burrice, essa irmã dos imprevistos promovidos pela nossa sabedoria. Aí está a mudança climática que não me deixa mentir.

Os relatos da minha morte são muito exagerados. Vale citar, lembrou meu querido amigo Enylton de Sá Rego, o notável Mark Twain para remarcar que o cemitério em vida me concede a excepcional oportunidade de falar para os vivos com a licença poética dos mortos.

Morrer é como dormir e, dizem os desencarnados, é indubitável e não dói. No astral, logo você descobre que Deus não é gordo, como afirmou Vadinho a Dona Flor. Aliás, pude ouvir aqui que Ele está de dieta. Nas terras celestiais, fiz antropologia e visitei trabalho de campo, nos animados coquetéis do Purgatório, espaço de movimento incessante (almas chegando e saindo), e, com ajuda de Dante, mamãe e de Chico Xavier, escapei do Diabo de Machado de Assis, que me convidava para ser ministro de sua igreja, hoje finalmente próspera “no seu país”, conforme arrazoou com um riso polarizado.

Mas, como somos do privilégio — o código privativo de poucos —, decidi aproveitar a inusitada condição de ter estado nem lá nem cá para dizer algumas coisas.

O morto é sempre resgatado como bom. Quando é amado, provoca tristeza porque, ao vê-lo, perdemos a oportunidade de lhe dizer — cara a cara, coração a coração — como foi admirado nesta terra do bem limitado. País onde pensamos que o sucesso é concebido como pequeno e feito para poucos. Se um o alcança, estamos crentes que ele tira a vez dos outros quando, na verdade, cada pessoa bem-sucedida abre saídas — êxitos — para seus pares.

Que o leitor entenda que, como morto, falo de um campo intermediário — aquela área dos tresloucados —, dos que não sabem se são queridos ou rejeitados. Mas, pasmem, é bom ser morto. Estamos fora do palco, podemos sair do texto...

Entramos aí num drama mais complicado: da saudade. Dos elogios e gratidões que — valha-me Deus! — eu poderia ter feito, mas, por inveja, raiva, despeito ou ciúme, não fiz.

Os vivos têm muitas possibilidades, inclusive a de morrer. Os mortos entram no nada, porque saíram de todas as fantasias e possibilidades. Mas, como dizia Manuel Bandeira, dormem profunda e — eu, afoito, acrescento — refrescantemente.

Então a vida não vale a pena? Nada disso! É justamente esse nada que nos leva a fazer tudo. Que nos amarra uns aos outros pela fortaleza e vertigem da carne — muito mais pelo amor da temporalidade reversível da saudade, essa encarnação suprema do amar.

Morto digital que fui, não pedirei nada porque vi o sofrimento das almas penadas (elas são uma multidão), que viveram sem entrega e sem doação, confissão e comiseração. O que me faz voltar compulsivamente, o que posso, diz-me numa entrevista uma dessas pidonas almas penadas, é o amor que neguei, o perdão que não concedi, a compaixão que me metia medo, minha incrível sovinice — e o terror da minha finitude. Só agora, morto, descobri que a realidade da finitude nos leva ao infinito impensável. E nessas entrelinhas sentimos a chama intensa do humano em nós. Porque o humano é o acaso — esse procurado angelical do eterno. Esse eterno dono do universo que chamamos Deus!

Tal como fui terminado pela IA e, um dia, serei silenciado pelo implacável que chamamos de “a nossa hora”. O caminho sem retorno, sem o qual nem eu nem vocês, leitores queridos, teríamos a inútil, mas essencial volúpia de gozar a vida. Fonte: https://oglobo.globo.com

Conhecido por apoiar atos extremistas no Brasil, Jimmy Levy foi abordado após liderar um grupo que cantava músicas religiosas em um shopping. Ele foi banido do estabelecimento.

Por g1

A polícia interrompeu um ato religioso realizado pelo cantor gospel Jimmy Levy dentro de um shopping em Miami, nos Estados Unidos. Ele foi conduzido a uma área restrita do estabelecimento, banido e impedido de retornar.

Jimmy publicou em suas redes sociais o momento em em que foi conduzido por policiais. "Foi tão lindo antes de ser interrompido pela polícia que me deteve e me baniu do shopping permanentemente", escreveu em suas redes sociais.

Ex-participante do programa American Idol, Levy ficou conhecido no Brasil por estimular os atos golpistas e questionar os resultados das eleições presidenciais de 2022.

Ele participou de manifestações em Miami ao lado de bolsonaristas e publicou posts em suas redes sociais apoiando os ataques a Brasília em 8 de janeiro. Fonte: https://g1.globo.com

 

Joaquim José da Silva Xavier, símbolo da Inconfidência Mineira, morreu no dia 21 de abril.

 

Por Thaís Leocádio, TV Globo — Belo Horizonte

O feriado desta sexta-feira (21) marca a morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, símbolo da Inconfidência Mineira. Para além do mártir, ele era um homem comum: trabalhava muito, gostava de ler, falava demais e dizem até que foi traído pela mulher.

O movimento do qual fez parte era anticolonialista e queria a instalação da República. Os "conspiradores" mineiros planejavam o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil. Por "traição à coroa", Tiradentes foi enforcado em 1792 e, depois, esquartejado.

Ele foi um homem tagarela, namorador, teimoso, corajoso, apaixonado por livros e defensor do conhecimento. Joaquim teve várias profissões, como dentista (“tira dentes”), minerador, comerciante e alferes.

“Um bom militar, diga-se de passagem”, afirma Luiz Villalta, professor do departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A República só foi proclamada no Brasil em 1889.

Na vida afetiva, Tiradentes teve um relacionamento com Antônia do Espírito Santo, 25 anos mais nova do que ele. Os dois moraram juntos, mas não chegaram a se casar.

“Há registros de que, com ela, teve uma filha. Mas não é improvável que tenha deixado outros descendentes. Ele viajava demais. Era obcecado pela conspiração. Ao que tudo indica, a amante se cansou dele e o traiu”, relata Luiz Villalta.

 

Por que é feriado?

Tiradentes morreu como traidor do Brasil, mas, anos depois, foi considerado herói. O dia da morte, 21 de abril, é feriado em todo o país desde 1890. O Decreto nº 155-B foi publicado em janeiro daquele ano.

Ele foi declarado patrono cívico da nação brasileira no dia 9 de dezembro de 1965, com a Lei de nº 4.897, no governo de Castello Branco.

O texto diz que a homenagem a ele pretende destacar que a condenação de Joaquim José da Silva Xavier não deve manchar a memória dele, que é "reconhecida e proclamada oficialmente pelos seus concidadãos, como o mais alto título de glorificação do nosso maior compatriota de todos os tempos".

 

Quem foi Tiradentes?

Após ficar três anos preso no Rio de Janeiro, Tiradentes foi enforcado em 1792. Esquartejado, ele teve as partes do corpo expostas em diferentes locais públicos de Vila Rica, atual Ouro Preto, para "servir de exemplo".

Em um destes pontos, há hoje uma estátua e uma placa onde se lê “aqui em poste de ignominia esteve exposta sua cabeça”. A rota do inconfidente pela cidade foi relembrada pelo g1 em 2018, quando o jornalista Lucas Figueiredo publicou a biografia moderna “O Tiradentes”.

“No começo, Tiradentes se envolveu na trama pelo mesmo motivo da maioria de seus companheiros: insatisfação pessoal com a Coroa. Com o passar do tempo, já dentro do movimento, Joaquim adquiriu consciência política e compreendeu que a luta em que estava envolvia causas nobres, como a instalação da República e o fim da cruel dominação portuguesa”, conta o biógrafo Figueiredo.

O apreço pela leitura e pelo conhecimento técnico também tem destaque na personalidade de Tiradentes. Lendo obras estrangeiras e nacionais, montava suas próprias estratégias de intervenção. Ele circulava bem por diferentes grupos sociais e tinha uma alma inquieta.

Segundo Villalta, entre os legados deixados pela Inconfidência Mineira estão “as falhas permanentes de nosso poder judiciário, desde aquela época notabilizado por produzir injustiças”. Apesar de ter sido um movimento que pregava a liberdade, o professor destaca que os inconfidentes não tocaram na questão da escravidão: “Não tinham a menor sensibilidade social”.

“Ele era alguém que queria muito vencer na vida, que acreditava que o esforço seria recompensado. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa muito teimosa e inocente. Às vezes, confuso; sempre generoso e com uma coragem infinita”, descreve Figueiredo.

“Tem gente que quer que Tiradentes seja um ‘santo’, mas ele foi um homem, com paixões, defeitos e qualidades. Era fanfarrão? Falava demais? Sim! Mas sua participação como tal era essencial para o sucesso do movimento. Ele era o agente que poderia incendiar o povo”, completa Villalta. Fonte: https://g1.globo.com

 

O inverno está chegando, mas o STF silencia sobre população em situação de rua

 

Conrado Hübner Mendes

Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e membro do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade - SBPC

Banalizamos a urgência da promoção de direitos existenciais dos grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira. Somos tão vocacionados para a violação de direitos que também banalizamos a própria noção de banalização. Nesse circuito de indiferença, inação e cumplicidade, o PIBB (Produto Interno da Brutalidade Brasileira) segue como nosso principal selo de inumanidade.

Entre esses grupos, a população em situação de rua é o mais sub-representado politicamente e desprovido de canais para influenciar decisões ou reivindicar qualquer coisa. Indivíduos isolados, em geral com vínculos sociais, familiares e afetivos rompidos, sem laços comunitários, com baixa capacidade de organização e mobilização, nem mesmo um "grupo", a rigor, conseguem formar.

Cidadãos de direito, subcidadãos de fato, ocupam o degrau mais baixo da subcidadania. E nem precisamos lembrar como as dimensões de gênero, raça, orientação sexual e capacidade física ou intelectual cavam ainda mais fundo esse poço. Quando jovens atearam fogo e mataram o líder indígena Galdino Pataxó, há 25 anos, alegaram confundi-lo com "morador de rua".

A política de zeladoria urbana da Prefeitura de São Paulo tem radicalizado a arbitrariedade contra essa população. "Política de porradaria" seria a versão não eufemística. Casos de violência física, verbal, patrimonial e institucional se intensificam sem controle e responsabilização.

Violam legislação municipal que exige comunicação com antecedência de ações de limpeza urbana; entrega de contralacre dos bens apreendidos; vedação de subtração de objetos como medicamentos, cobertores e travesseiros (Decreto 59.246/2020 e Portaria 4/2020).

Violam Resolução 40/2020 do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, que determina a autoridades "coibir atos ilegais de retirada de documentos e pertences" e respeitar a inviolabilidade e privacidade "do domicílio improvisado da pessoa em situação de rua".

A Defensoria Pública e a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama descrevem ações que se multiplicaram nos últimos anos: remoções de barracas e pertences (roupas, absorventes, cobertas, fraldas geriátricas), sem aviso prévio e contralacre, com agressão física e verbal; uso eventual de bala de borracha e spray de pimenta por guarda municipal.

Num caso da Vila Matilde, agentes municipais chegaram com tratores para, depois de remoção dos bens, cavar buracos e dificultar a presença de barracas. Reproduziram as imagens mais sombrias e traumáticas de covas coletivas da pandemia.

prefeito silencia sobre violações. Na tentativa de deixar sua marca, gestores medíocres ou mal-intencionados viram reféns da ciclotimia eleitoral. Precisam mostrar algum serviço para as próximas eleições e tentam resolver a jato um problema estrutural e histórico. O país já ensinou que as operações de lavagem a jato acabam mal.

Políticas públicas para a população em situação de rua têm tradição repressora e higienista. Têm também tradição de errar consistentemente e agravar o problema. Costumam ser feitas no escuro empírico, sem evidências qualitativas e quantitativas.

A ideia de que se pode propor soluções para o mundo sem investigá-lo é um sintoma sério de ignorância e estupidez. De arrogância e autoritarismo também. Isso quando não se atribui responsabilidade à falta de caráter, de vontade, de esforço e competência. A desgraça e infortuna de indivíduos são reduzidas a uma falha moral.

Entre as poucas evidências que temos, sabe-se que nenhuma política para essa população obtém resultado se não acompanhada de programas de moradia e trabalho, respeitadas a autonomia de cada um. Mas essa rara evidência se tem preferido ignorar.

Na cidade de São Paulo, esses indivíduos não estão destituídos apenas do direito de propriedade ou moradia. Na rua, buscam ter, quando muito, a liberdade de não sentir fome, de dormir sem frio e acordar sem medo. Mas a autoridade municipal lhes subtrai, ilegalmente, a propriedade de pertences de sobrevivência, higiene e mínimo bem-estar.

Como pedir urgência para algo sempre urgente, sempre ignorado? O STF, sob relatoria de Alexandre de Moraes, tem a oportunidade de reconhecer essa séria violação de direitos fundamentais e exigir de autoridades urbanas o respeito a regras básicas de não arbitrariedade e não violência.

Que o município de São Paulo cumpra seu próprio decreto. E que parâmetros normativos de proteção aos cidadãos mais vulneráveis entre os vulneráveis sejam respeitados nas cidades do país. Pede-se pouco, apenas um grão de decência constitucional, não o fim da limpeza urbana. Com direitos, sem medo, sem violência.

O inverno está chegando e o frio, na rua, mata. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

Sou otimista quanto ao futuro das empresas de comunicação, mas não deixo de considerar que o renascer do nosso setor será resultado de um doloroso processo

 

Carlos Alberto Di Franco

O jornalista Carlos Alberto Di Franco escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

 

Estou em Roma. Aqui, como aí, no Brasil, há gente desencantada com o jornalismo e fascinada com as redes sociais. Acreditam, talvez ingenuamente, que a agitação do mundo digital vai resgatar a verdade conspurcada. Como se as redes fossem um espaço plural que se contrapõe a uma suposta hegemonia da mídia tradicional. Não percebem que os algoritmos tendem a criar redutos fechados, bolhas impermeáveis ao contraditório.

Sou apaixonado pelo jornalismo. Escrevo na imprensa tradicional e participo intensamente das novas mídias. Ambas são importantes. Não são excludentes. É preciso navegar com profissionalismo e seriedade.

O combate às fake news, uma demanda importante e necessária, não deve justificar censura, limitações à liberdade de expressão e prisões arbitrárias e ilegais. Quem vai dizer o que podemos ou não consumir? Quem vai definir o que é ou não fake news? O Estado? O Executivo? Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)? Transferir para o Estado a tutela da liberdade é muito perigoso. Fake news se combatem não com menos informação, mas com mais informação, e informação mais qualificada.

A reinvenção do jornalismo, a recuperação do encanto, passa necessariamente pelo retorno aos sólidos pilares da ética e da qualidade informativa.

A crise do jornalismo está ligada à falência da objetividade e ao avanço do subjetivismo engajado e das narrativas divorciadas dos fatos. Quase sem perceber, alguns jornais sucumbem à síndrome da opinião invasiva. Ganham traços de redes sociais. Falam para si mesmos, e não para sua audiência.

É preciso apostar na informação. Sentir o cheiro da notícia. Persegui-la. Buscar novas fontes e encaixar as peças de um enorme quebra-cabeças para apresentá-lo o mais completo possível. Entre as competências necessárias para exercer um bom jornalismo, algumas parecem ser inatas, e, por mais que se tente aprender, inútil será o esforço. É assim o tal “faro jornalístico”. Uma capacidade quase inexplicável que alguns profissionais têm de descobrir histórias inéditas, de furar a concorrência e manter pulsando a certeza de que é possível produzir conteúdo de qualidade que sirva ao interesse público.

Nunca se pôs em xeque o papel essencial do instinto jornalístico. Nem eu pretendo fazê-lo agora. Como já venho reiterando há tempos neste espaço, apenas essa vibração será capaz de devolver a alma que, por vezes, percebo faltar ao trabalho das redações. O que quero é acrescentar um aspecto que julgo importante nesta discussão: na era digital, a intuição pode e deve ser apoiada pelos números. A informação precisa ser bem fundamentada.

Realidades que pareciam alheias aos negócios da mídia estão cada vez mais próximas dos veículos. É o caso do Big Data. A cada dia os acessos digitais aos portais de notícias geram quantidades incríveis de dados sobre o comportamento de nossas audiências, mas ainda não fomos capazes de enxergar o potencial que há por trás dessa montanha de informação desestruturada. Nas redações brasileiras, multiplicam-se as telas coloridas que trazem, minuto a minuto, indicadores e gráficos mirabolantes. Ao final de um dia de trabalho, qualquer editor está habilitado a responder quais foram as reportagens mais lidas. Mas e depois disso? Já não basta que definamos nós o que precisam os consumidores de informação. É preciso ouvir o que eles têm a dizer. O ambiente digital rompeu a comunicação unidirecional que, por muitas décadas, imperou nas redações. O fenômeno das redes sociais estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para o seu leitor real. Além disso, perdemos o domínio da narrativa. Chegou a hora das pautas com pegada.

Ao longo deste ano, alguns jornalistas da grande mídia, sobretudo na cobertura de política, em nome de suposta independência, têm enveredado excessivamente pelo que eu chamaria de jornalismo de militância. E isso não é legal. Não fortalece a credibilidade e incomoda seus próprios leitores.

Na verdade, há um crescente distanciamento entre o que veem e reportam e o que se consolida paulatinamente como fatos ou percepções de suas próprias audiências, posto que a estas foi dado o poder de fazer suas reflexões e até mesmo apurações, facilitadas e potencializadas pela internet.

É necessário perceber, para o bem e para o mal, que perdemos a hegemonia da informação. Impõe-se um jornalismo menos anti e mais propositivo. Precisamos olhar para nossas coberturas e nos questionarmos se há valor diferencial naquilo que estamos entregando aos nossos consumidores. Sabendo que, se a resposta for negativa, poucas serão as possibilidades de monetizar nosso conteúdo. Afinal, ninguém pagará pelo que pode encontrar de forma similar e gratuita na rede.

Sou otimista em relação ao futuro das empresas de comunicação, mas não deixo de considerar que o renascer do nosso setor será resultado de um doloroso processo. Exigirá uma boa dose de audácia para dinamitar antigos processos e modelos mentais que, até este momento, vêm freando as tentativas de reinvenção. Chegou a hora do encantamento. Fonte: https://www.estadao.com.br

A parlamentar Renata Souza (Psol) participava de um encontro em uma instituição; segundo a Polícia Civil, uma operação ocorreu no local nesta sexta-feira

 

Por O Globo — Rio de Janeiro

Um evento realizado na Casa de Mulheres da Maré, na Zona Norte do Rio, precisou ser interrompido devido a um tiroteio na região, na tarde desta sexta-feira. A deputada estadual Renata Souza (Psol) era uma das convidadas e precisou se abrigar, junto a 70 mulheres que participavam do encontro, por conta dos disparos, que, segundo elas, partiu de um helicóptero da Polícia Civil. De acordo com a corporação, uma operação da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas foi realizada no Complexo da Maré nesta sexta-feira.

Renata Souza, que é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), esteve presente no lançamento da pesquisa "Os impactos da violência armada na vida das mulheres da Maré: gênero, território e prática artística”, realizada pela ONG Redes da Maré.

Com o tiroteio, o encontro precisou ser interrompido e as participantes, incluindo a parlamentar, se abrigaram dentro da sede da ONG. Renata afirma que não foi a primeira vez que viveu essa situação, que definiu como "aterrorizante", mas, como deputada, foi a primeira experiência do tipo.

— Como parlamentar, representante do povo, sim, é a primeira situação de perigo real que enfrento junto dos moradores da favela — afirma Renata Souza, que pede um "cessar fogo". — Precisamos de segurança, com inteligência, investigação e prevenção de tiroteios. Não se combate a violência com mais violência. A política de confronto nunca garantiu segurança e paz na favela.

A parlamentar, enquanto estava sentada no chão da ONG, gravou um vídeo em que cobra o governador Cláudio Castro (PL):

— O que a gente está vendo aqui hoje é, de fato, a situação limite. Vivi muito isso aqui no cotidiano e, hoje, viver isso aqui, é a demonstração que o governador Cláudio Castro não garante segurança para quem vive na favela, na periferia.

Segundo a deputada estadual, ela também entrou em contato com Castro por telefone e relatou a situação. O GLOBO procurou o Palácio Guanabara e aguarda um posicionamento.

Em vídeos compartilhados nas redes sociais, circulam imagens de um helicóptero sobrevoando a comunidade, junto ao som de tiros. De acordo com a Polícia Civil, a comunidade recebeu uma operação da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas nesta sexta-feira.

Em nota, o Governo do Estado informou que "policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), que fazem ações diárias no entorno do Complexo da Maré para evitar que cargas roubadas entrem na comunidade, foram atacados a tiros por criminosos da localidade, na Avenida Brasil, em um dos acessos à Nova Holanda. Uma viatura foi alvejada com 4 tiros de fuzil".

A nota informa ainda que "os policiais perseguiram os criminosos, que escoltavam uma carga roubada de polietileno, no valor de R$ 2 milhões, e foi recuperada no interior da antiga garagem de uma empresa de ônibus desativada, na entrada da comunidade. Durante o confronto, os policiais tomaram conhecimento de um atendimento com defensores públicos na comunidade ao lado, no Parque União, e se ofereceram para retirar a defensora do local, mas ela se recusou a entrar na viatura policial. Não há informações sobre feridos." Fonte: https://oglobo.globo.com

O bilionário Elon Musk - Jim Watson - 10.fev.22/AFP

Ou seja, os sujeitos não apenas querem confiar à IA a tarefa de criar Deus —ou alguma coisa muito superior a um ser humano, pelo menos— como também acham que ela vai abrir as portas da imortalidade.

 

Não resisto à tentação de começar esta coluna repetindo uma piada clássica sobre os primórdios da computação. Dizem que, nos anos 1950, quando os EUA puseram seu primeiro supercomputador em funcionamento —um monstro valvulado, maior do que a maioria dos apartamentos paulistanos de hoje—, o presidente Dwight Eisenhower (1890-1969) teria perguntado à máquina se Deus existia. A resposta: "Agora existe".

Pois bem: anda difícil escapar à sensação de que, quando o assunto é inteligência artificial, tem muita gente poderosa por aí concordando com o interlocutor de Eisenhower. Os investimentos bilionários na área, com toda aquela aversão clássica a críticas ou regulação externa tão cara ao Vale do Silício, frequentemente se fazem acompanhar da crença de que seria desejável e/ou inevitável desenvolver inteligências artificiais similares ou superiores à humana em breve. Pra ontem, se for possível.

E a coisa não para por aí, é claro. Circulou nesta semana, pelas redes sociais, o apelo de um desses futurólogos para que obtenhamos o máximo de gravações de áudio e vídeo dos nossos entes queridos já idosos. O motivo: com os avanços da IA (vou ter de abreviar esse negócio, não vai ter jeito), em breve poderemos usar esses dados para criar simulações computacionais extremamente realistas de quem nos deixar. Quer falar com o finado vovô? É só baixar este aplicativo aqui, ó.

Depois de respirar fundo, rezar um pai-nosso e uma ave-maria e assim domar meu instinto de cobrir de cadeiradas quem defende esse tipo de coisa, dei-me conta de algo curioso. A nova heresia dos devotos da IA não passa, no fundo, no fundo, de uma versão secularizada —portanto, (superficialmente) não religiosa— de uma das vertentes mais antigas da teologia cristã: o milenarismo.

Simplificando brutalmente uma discussão teológica que poderia ser um livro, podemos dizer que uma das grandes inspirações do milenarismo é a narrativa em ritmo de videogame do livro do Apocalipse, o último da Bíblia. Também é comum, hoje em dia, que essa corrente de pensamento se manifeste por meio da crença no arrebatamento, suposto momento dramático em que os verdadeiros cristãos seriam arrebatados ao céu de corpo e alma. (Não é por acaso, aliás, que a ideia de fazer o "upload" da consciência humana para um computador tenha sido apelidada de "arrebatamento geek".)

Em comum com o milenarismo cristão, as crenças dos devotos da IA (e também a dos que acham que a biotecnologia será capaz de produzir alguma forma de imortalidade biológica) têm como corolário a possibilidade de um reino dos céus a ser vivenciado em breve, aqui mesmo na Terra.

Há outra semelhança ainda mais perturbadora: o sectarismo. Enquanto os milenaristas cristãos acreditavam (e alguns ainda acreditam) que só um punhado de eleitos de Deus terá acesso às chaves do reino, o paraíso dos devotos da IA e da biotecnologia é de quem puder pagar por ele.

Não estou convencido de que seja possível criar uma IA com inteligência similar ou superior à humana, e me parece praticamente certo que a busca pela imortalidade biológica ignora aspectos básicos do funcionamento dos seres vivos. Mas, mesmo que tais ideias fossem exequíveis, o essencial é perceber que elas brotam do que há de mais escroto na natureza humana. Além disso, vale ressaltar que todas as tentativas de milenaristas para exercer poder no mundo real terminaram em desgraça para todos os envolvidos. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Supremo jamais poderia julgar caso de extrema gravidade no espaço virtual

 

 

O ministro Alexandre de Moraes durante visita ao complexo da Papuda, quando chegou a inspecionar a comida de presos suspeitos de envolvimento nos ataques golpistas de 8 de janeiro - Divulgação - 10.abr.2023/STF - Divulgação

 

Alberto Zacharias Toron

Advogado criminalista e doutor em direito penal (USP), é professor de processo penal (Faap), conselheiro federal da OAB e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim)

Com elogiável rapidez, o Supremo Tribunal Federal anunciou o julgamento dos primeiros cem acusados de participar dos deploráveis atos de vandalismo ocorridos em Brasília —verdadeira ação golpista que alguns até qualificam como intentona.

Mas, segundo esta Folha ("STF julgará se 100 acusados viram réus 100 dias após ataques golpistas de 8 de janeiro", 12/4), o julgamento se fará de forma virtual e os advogados "poderão apresentar sustentações orais até 23h59 do dia 17 de abril".

Malgrado a previsão regimental para a realização de julgamentos dessa forma, um caso dessa importância jamais poderia ser julgado no espaço virtual. A nação —e não apenas as partes— tem o direito de acompanhar os debates entre a acusação e as diferentes defesas, além do voto de cada ministro e a discussão entre eles. Não podemos ficar privados de conhecer os argumentos lançados no debate, sem falar no fundamento dos votos dos ministros. Tudo, até para se afastar especulações indevidas, deveria ser público e transparente como a luz do dia!

Ainda que se possa dizer que as partes consigam acompanhar em tempo real o lançamento dos votos e conhecer os argumentos e os fundamentos dos mesmos, isso para o grande público é imperceptível.

No plenário virtual parece haver apenas uma superposição de votos, sem debate efetivo. É certo que um ministro pode ver o voto do colega e voltar atrás, mas isso não é debate.

É um verdadeiro acinte à causa da democracia e do processo civilizatório que um caso da dimensão e do significado do "8 de janeiro" não seja julgado publicamente pelo STF, como foi o do mensalão (AP-470).

Sabemos que a ferramenta do plenário virtual veio para viabilizar o julgamento em tempo razoável da enorme quantidade de casos em trâmite na corte. Todavia, ao menos o julgamento de ações penais deve ser público no sentido pleno da palavra.

Outro lado da questão é o verdadeiro cerceamento ao direito de defesa no poder de convencimento dos ministros. A sustentação oral se faz olhando nos olhos dos juízes, não sozinho entre quatro paredes.

Como apropriadamente alertaram os advogados Mário Luiz Oliveira da Costa, presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp), e Renato Silveira, professor da USP e presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), a sustentação oral "é uma das etapas mais bonitas e valiosas do processo, em que advogados e julgadores podem interagir e contribuir para uma melhor prestação jurisdicional, que efetivamente examine os principais fundamentos jurídicos (e, quando o caso, fáticos) envolvidos, colocando-se o patrono da causa —que tem obrigação de dominar todos os aspectos em debate— à disposição dos julgadores para prestar quaisquer esclarecimentos que possam auxiliar a uma melhor compreensão da lide posta a exame" ("Sustentações orais e sessões virtuais de julgamento – um convite ao diálogo"). Não por acaso, o ex-ministro Celso de Mello afirmava que ela "traduz prerrogativa jurídica de essencial importância", compondo o "estatuto constitucional do direito de defesa" (HC nº 86.551)

Esse momento privilegiado na interlocução deixa de existir quando o advogado "manda" sua sustentação oral, ou, na linguagem da internet, faz um "upload" dela.

E fica a pergunta: se o juiz não quer ouvir o advogado em tempo real na sessão presencial, ou mesmo na telepresencial, que funciona muito bem, por que haveria de querê-lo em casa? Quem garante que os argumentos orais da defesa serão ouvidos? Quiçá por um assessor? É uma ilusão.

A Justiça, numa democracia, não pode funcionar assim, como uma espécie de fordismo na linha de produção de julgamentos. Perdemos todos com essa maneira menos transparente de julgar e se compromete gravemente o direito de defesa. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Aplicativo anunciou novidades para evitar clonagem, prevenir programas maliciosos e fortalecer criptografia

 

Nova verificação de registro pedirá autorização em aparelho antigo conectado à conta. O aviso informa horário da tentativa de acesso e o dispositivo usado. O usuário ainda terá que confirmar a operação em uma segunda tela. - Divulgação/WhatsApp

 

SÃO PAULO

Para acessar a conta de WhatsApp em um novo aparelho, usuários precisarão aprovar o procedimento no celular antigo. A novidade visa alertar sobre tentativas não autorizadas de transferência do perfil a outro dispositivo, e foi anunciada pela Meta nesta quinta-feira (13).

A transferência costuma ser a primeira etapa do golpe do WhatsApp clonado, em que terceiros conseguem entrar na conta da pessoa.

Atualmente, é preciso inserir um código de verificação enviado por SMS na hora de um efetuar um novo login. No entanto, golpistas conseguem burlar o reconhecimento, entrando em contato com o alvo e simulando precisar dos caracteres informados pelo WhatsApp para prestar algum serviço.

A necessidade de autorização no celular anterior serve como mais uma etapa de proteção, de acordo com comunicado divulgado pelo aplicativo de mensagens.

O WhatsApp também diz ter reforçado a segurança contra programas maliciosos, que podem explorar o telefone sem autorização do dono. O aplicativo adicionou etapas de verificação automática para evitar acesso de desconhecidos além do dono do celular.

A empresa também vai passar a informar se uma conversa é protegida por criptografia. Basta selecionar o contato desejado e clicar no botão "Criptografia". Já era possível confirmar essa medida de segurança, mas o aplicativo requeria a leitura de um QR Code.

As três medidas pretendem reforçar a proteção de contas no WhatsApp, segundo a Meta.

A empresa recomenda ainda que os usuários habilitem as opções de verificação em duas etapas e de backups protegidos com criptografia de ponta a ponta. A primeira se refere à habilitação de uma senha de seis caracteres para se conectar ao WhatsApp; a segunda, à proteção das conversas armazenadas na nuvem.

Nesta semana, o WhatsApp ainda anunciou outras novidades, como a liberação de um novo sistema de pagamento pelo aplicativo e a versão beta um novo modo que permite conectar até quatro celulares a uma única conta. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Ataques a escolas evidenciam que plataformas digitais precisam agir para conter violência

 

A covardia e a barbárie dos recentes ataques a escolas no País jogaram luz sobre a violência que se propaga na internet e sobre o papel das redes sociais na incitação a esse tipo de crime. Uma amostra do tamanho do problema acaba de ser divulgada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública: em poucos dias, a recém-lançada Operação Escola Segura solicitou a exclusão de 431 contas do Twitter que continham palavras-chave − as chamadas hashtags − relacionadas a ataques contra escolas em diferentes localidades do Brasil. Foram feitos pedidos também à plataforma TikTok para que retirasse do ar três perfis cujo conteúdo relacionado ao tema buscava espalhar medo na população.

Infelizmente, tais contas são apenas a ponta do iceberg − e que as redes sociais abrigam um volume infinitamente maior de grupos que se valem do mundo virtual para estimular a prática de atentados em estabelecimentos de ensino. Não surpreende, portanto, que as atenções se voltem para as plataformas digitais e para a sua responsabilidade no sentido de impedir a propagação de crimes. Sem dúvida, essas empresas têm muito a fazer, e se engana quem pensa que a internet é terra sem lei.

No Brasil, o Marco Civil da Internet define direitos e obrigações para usuários e provedores. Eis uma realidade que não pode passar despercebida: por mais que aperfeiçoamentos legislativos sejam sempre bem-vindos, o País dispõe de um marco legal sobre o tema − e é a partir dele que as redes sociais devem pautar sua atuação.

As plataformas digitais podem e devem agir para evitar a disseminação de conteúdos flagrantemente ilegais. Mais ainda quando esses conteúdos buscam incentivar a prática de crimes bárbaros. Condições técnicas, por óbvio, elas têm de sobra. Prova disso é que são ágeis na hora de impor seus termos de uso, impedindo que usuários infrinjam as regras de compartilhamento de informações. Algo que fica evidente, por exemplo, no bloqueio de conteúdos pornográficos em redes sociais que proíbem esse tipo de postagem.

Sob o Marco Civil da Internet, as plataformas têm obrigações a cumprir − e não podem ficar indiferentes ou deixar de agir quando cientes e notificadas de crimes. O esforço para conter a atuação de quem incita ataques a escolas é um desafio gigantesco, e todos devem fazer a sua parte. No caso dos meios de comunicação, cabe destacar a responsabilidade de veículos como o Estadão, que decidiu não publicar nome e foto dos agressores nem vídeos dos recentes atentados, a fim de evitar o chamado “efeito contágio”, considerando que esse tipo de criminoso, não raro, busca também visibilidade.

O uso da internet e de redes sociais em ataques a escolas, assim como em outros crimes bárbaros, é fenômeno global − um triste sinal dos tempos que precisa ser combatido com rigor e redobrado empenho também no mundo virtual. Eis uma tarefa para múltiplos atores, desafio que requer a ação do governo e da sociedade. Evidentemente, parte importante dessa responsabilidade cabe às plataformas, que podem e devem agir mais. Fonte: https://www.estadao.com.br

Ator Leo Bahia e médico Gerson Salvador falam sobre o filme Depois do Universo

 

Cynthia Araújo

CADA PESSOA VÊ UM SIGNIFICADO DIFERENTE, MAS, PARA MIM, MOSTRA COMO A MORTE É UM DISTANCIAMENTO FÍSICO: AS IDEIAS, OS MOMENTOS QUE A GENTE COMPARTILHA, OS ENSINAMENTOS QUE PODE DEIXAR PARA ALGUÉM, ISSO É IMORTAL, ETERNO. EU SINTO QUE O FILME MOSTRA COMO PODEMOS DIALOGAR COM A VIDA E O MUNDO, TÃO COMPLEXOS, DE DIFERENTES ÂNGULOS

LEO BAHIA

No final do ano passado, vi no catálogo da Netflix que um filme brasileiro estava entre os mais vistos da plataforma no mundo.

Depois do Universo estreou no dia 27 de outubro de 2022. Logo me chamou a atenção, porque reúne duas coisas que me interessam muito: histórias sobre pessoas com doenças graves e enredos em que pianos têm um papel importante. O filme conta a história de Nina (Giulia Be), uma pianista que tem lúpus e precisa de um transplante de rim.

Eu fiquei ainda mais interessada pelo filme ao saber que o querido amigo Gerson Salvador foi consultor técnico do filme. Gerson era nosso colega aqui na Folha de São Paulo e escrevia o Blog "Linha de Frente". Antes mesmo de assistir, pedi a ele uma entrevista para o Morte sem Tabu, porque acho fantástico quando as obras no audiovisual se preocupam com a qualidade das informações que passam, especialmente quando envolvem questões de saúde.

Logo nos primeiros minutos do filme, outra feliz surpresa. Leo Bahia, que eu havia conhecido alguns meses antes no teatro, como Marilton Borges do musical "Os sonhos não envelhecem", interpreta Yuri, um dos personagens mais carismáticos e sensíveis de Depois do Universo.

Abaixo você confere as entrevistas que realizei com o médico infectologista e escritor Gerson Salvador e com o ator, cantor e compositor Leo Bahia.

 

MORTE SEM TABU: Como é o trabalho de um médico consultor técnico no audiovisual?

GERSON SALVADOR: Na minha experiência, a consultoria técnica pode acontecer desde o roteiro até a produção, inclusive no set de filmagem.

A primeira consultoria técnica que eu fiz para audiovisual foi na série documental da Netflix Mundo Mistério, em que o apresentador Felipe Castanhari explora mistérios da ciência e da história. Eu fiz uma pesquisa para o episódio sobre a Grande Peste para dar suporte técnico para o roteiro. Então eu respondia perguntas e também revisava o texto final.

No filme Depois do Universo, com apoio de uma equipe de especialistas, eu trabalhei desde o roteiro até a produção, em diferentes etapas. Colaboramos com o laboratório do protagonista Gabriel (Henrique Zaga), que interpreta um médico que atua no SUS. Depois trabalhamos junto com o pessoal da direção de arte, cenografia e figurino. Na maquiagem, participamos especialmente da caracterização da Nina (Giulia Be), que é a outra protagonista, porque são apresentadas alterações no corpo em razão da doença que ela tem, lúpus. Também orientamos atores em cena, quando as gravações eram relacionadas a questões médicas.

O último trabalho de consultoria técnica que fiz foi para a 3ª temporada da série da Universal TV "Unidade Básica".

 

MORTE SEM TABU: Em qual momento você foi convidado para participar do filme?

GERSON SALVADOR: Um dos produtores do filme, Luciano Reck, fez o convite para o projeto ainda na fase de roteiro. Nessa fase da consultoria para o roteiro, eu trabalhei diretamente com o diretor e roteirista Diego Freitas, que tinha uma grande preocupação tanto de fazer um filme verossímil, representando as coisas como são e acontecem, quanto de ser respeitoso com as pessoas que tem lúpus, que fazem hemodiálise, aguardam transplante.

 

MORTE SEM TABU: Que tipo de informações são importantes no roteiro e na produção de filmes que contam a história de pessoas com doenças graves?

GERSON SALVADOR: O filme Depois do Universo conta a história da Nina, uma jovem que tem uma doença crônica, e quer passar a mensagem de que a doença não define um indivíduo. Apesar de ter lúpus com manifestações graves, como uma doença renal crônica, que exige a hemodiálise, ela mantém o sonho de ser pianista na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Muitas pessoas em situações semelhantes podem se identificar com a história e se sentir representados nessa ideia de que nossa vida vai muito além da doença, que podemos fazer muitas coisas com e apesar dela.

Em relação à produção, foi desafiador encontrar locação em hospital, então o pessoal da arte construiu um hospital cenográfico. Foi muito importante trabalhar com a equipe de cenografia desde as primeiras plantas e ver o hospital construído. Também trabalhamos com a equipe de figurino discutindo os trajes dos profissionais de saúde; com a equipe de maquiagem, especialmente para a caracterização da Nina, em que incluímos marcas no rosto características do lúpus, que a gente chama de "rash malar"; e fístula em seu braço que foi feita pela maquiadora com o suporte de um cirurgião vascular de nossa equipe.

Foi uma experiência muito especial para mim, tanto pelo que aprendi, quanto pelos excelentes profissionais que conheci.

 

MORTE SEM TABU: No filme, Nina tem lúpus e precisa fazer sessões de hemodiálise, mas, em dado momento, sua situação de saúde se agrava e ela precisa encontrar logo um doador ou uma doadora de rim. Pode falar um pouco sobre a relação entre o lúpus e o comprometimento dos rins?

GERSON SALVADOR: O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença que afeta o corpo em diversos aparelhos. Pode dar lesões de pele, alterações nas articulações, no sangue, no sistema nervoso central, pode inflamar a membrana que envolve o coração (pericárdio), e pleura que envolve o pulmão, o peritônio, que fica no abdômen. E pode também causar doença renal crônica, que acontece em 10 a 30% dos casos. É uma doença que acomete mais frequentemente mulheres jovens, como a protagonista Nina.

 

MORTE SEM TABU: Na sua experiência, é comum a doação de órgãos entre vivos? Em quais casos costuma acontecer?

GERSON SALVADOR: Eu nunca trabalhei diretamente com transplante, mas, sobre a doação de órgãos entre pessoas vivas, acho importante dizer que o doador ou a doadora precisa ter boas condições de saúde, ser capaz juridicamente, estar de acordo com a doação, tem que ter no mínimo 21 anos. Essa pessoa passará por uma avaliação geral de saúde, não pode ter insuficiência renal, precisa avaliar o risco cirúrgico e, claro, precisa fazer testes de compatibilidade, para evitar a rejeição do órgão, que poderia causar até mesmo a morte do receptor.

Diferente do que acontece na doação de órgãos de pessoas falecidas, em que existe uma lista única por ordem de entrada, requisitos de urgência e compatibilidade e condição clínica, pessoas vivas podem doar órgãos para familiares ou, mediante autorização judicial, para terceiros.

É importante destacar que o Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo, garantido a toda a população por meio do SUS, que é responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país.

 

MORTE SEM TABU: Por que as pessoas leitoras do Morte sem Tabu devem assistir a Depois do Universo?

GERSON SALVADOR: O Morte sem Tabu é um espaço de reflexão ética sobre finitude. Depois do Universo, além de ser uma história muito bonita, por falar sobre sonhar e amar apesar da doença e das limitações que ela traz, tem muitas reflexões éticas sobre adoecer e morrer, além de ser um linda história de amor e arte. Então acredito que os leitores do blog irão gostar muito.

 

MORTE SEM TABU: Eu sei que você já fez trabalhos na televisão, mas fiquei apaixonada pela sua atuação no musical "Os sonhos não envelhecem". Conta para as pessoas que conheceram você em Depois do Universo sobre a sua trajetória?

LEO BAHIA: Quando era mais novo, eu queria fazer vestibular para Medicina, mas, enquanto tentava ser aprovado, comecei a me interessar por música e fazer aula de canto. Eu tinha alguns amigos que estavam fazendo a versão de 2008 da peça "O Despertar da Primavera" e eles sugeriram que eu fizesse um teste. E aí eu percebi que conseguia passar muito mais horas envolvido nesse universo, estudando texto e me preparando para esse teste, do que para qualquer outra coisa que eu já tivesse tentado fazer antes. Foi a primeira vez que eu me vi verdadeiramente focado, com a atenção totalmente voltada para algo que eu estava amando fazer.

Eu não consegui o papel, mas, quando voltei para o cursinho pré- vestibular, em uma aula de física, percebi que Medicina não fazia mais sentido para mim.

Então eu resolvi fazer vestibular de Música na Unirio, com habilitação em canto lírico, que depois também vi que não era bem a minha praia. Mas eu já estava muito inserido no mundo da Música e do Teatro, fiz parte do programa de teatro musical da universidade e fiquei um tempo envolvido com musicais. Em 2016, comecei a migrar para o audiovisual, onde me encontrei como ator. E hoje eu também trabalho em composições musicais, algo que eu quero explorar cada vez mais. Eu vejo a Música como um meio muito potente de compartilhar processos e ideias.

 

MORTE SEM TABU: Como surgiu o Yuri?

LEO BAHIA: Foi paixão à primeira vista. A produtora de elenco Vanessa Veiga me convidou para fazer esse teste e eu me identifiquei muito com o Yuri. O roteiro do Diego Freitas e da Ana Reber é muito rico, muito complexo e dá muitas camadas a todos os personagens. É um humor muito bem escrito e todas as facetas do Yuri estavam ali, era ler e entender de que forma eu iria entrar naquele personagem que já estava pronto, descobrir as minhas partes em comum com ele. Foi realmente um casamento, um processo de preparação muito gostoso.

 

MORTE SEM TABU: Você se inspirou em alguém para compor o Yuri?

LEO BAHIA: Eu me inspirei muito naquele Leo que queria estudar Medicina, mas ao mesmo tempo não compartilhava muitos interesses com o universo que envolve a Medicina. O Yuri é um médico meio perdido, talvez meio fora de lugar, quem sabe por não ter tanto empenho por aquele trabalho específico, como tem o protagonista Gabriel. Eu sinto que o personagem tem muito daquele Leo que não conseguia focar no estudo para o vestibular de Medicina, porque era atravessado por outros sentimentos, outros interesses. No caso do Yuri, ao menos naquele momento do filme, ele está muito mais voltado para suas questões amorosas.

 

MORTE SEM TABU: Quais as dificuldades de interpretar um personagem com veia cômica em uma obra dramática?

LEO BAHIA: Eu acho uma delícia encontrar esses pontos de soltura nas obras dramáticas, encontrar o contraponto. O Yuri, embora traga essa leveza para o filme, dialoga com todas as suas complexidades. Acho que é um pouco a forma como eu encaro a vida, com leveza diante das dificuldades e problemas, mas também mergulhando em suas águas profundas. Ele é aquela pessoa que alivia as dores, que traz um pouco de humor, com quem você pode contar, apesar de também ter os seus próprios problemas. Eu gosto de rir dos problemas, até me divertir com eles, acho que faz os monstros ficarem um pouco menores. É claro que nem sempre a gente consegue, mas, para mim, buscar essa leveza se tornou uma condição de sobrevivência, porque as situações difíceis sempre vão existir. Se eu puder rir um pouco delas, isso me ajuda até mesmo a encontrar caminhos diferentes para resolver e organizar a vida.

 

MORTE SEM TABU: Como você recebeu o final do filme?

LEO BAHIA: Eu acho o final de Depois do Universo muito bonito, muito sensível. Cada pessoa vê um significado diferente, mas, para mim, mostra como a morte é um distanciamento físico: as ideias, os momentos que a gente compartilha, os ensinamentos que pode deixar para alguém, isso é imortal, eterno. Eu sinto que o filme mostra como podemos dialogar com a vida e o mundo, tão complexos, de diferentes ângulos. E, embora seja surpreendente de certa forma, eu acho que o final sintetiza bem a mensagem que ele quer passar.

 

MORTE SEM TABU: Quais são os seus próximos projetos?

LEO BAHIA: Eu estou na nova série dramática da Globoplay, "O Jogo que mudou a História", com um personagem apaixonado por futebol que é viúvo, tem um filho e é muito diferente do Yuri. A série conta a história da guerra do tráfico entre os bairros cariocas Parada de Lucas e Vigário Geral, que começou com um jogo de futebol. Eu também estou gravando uma música para um projeto chamado "Vale a pena gravar de novo", sobre o lado B da Música Popular Brasileira, que é um projeto incrível. Será meu primeiro single e estou muito animado, doido para lançar. Assim que sair, mando para vocês incluírem na playlist do blog. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

 

Por Carolina Delboni

A saúde mental dos adolescentes está em crise e ela só vai sair deste buraco se afeto, gentileza e escuta forem as principais vias na construção da relação entre eles e os adultos

Corre ao cinema ou às plataformas de streaming para assistir ao filme O Filho. Uma história inspirada em muitas histórias reais e que termina com uma dedicatória: "a Gabriel". Gabriel era um menino com depressão crônica, filho de pais separados, que abandonou a convivência em sociedade porque era dolorido demais viver.

Isso: dor da vida. Para alguns, viver é mais dolorido que morrer. Num determinado ponto do filme, Nicholas, como é chamado o personagem que vive o adolescente, é internado no hospital e os médicos psiquiatras insistem aos pais para mantê-lo ali, pois ele precisa de tratamento psiquiátrico e químico.

Eu não vou contar como o filme se desenrola, obviamente, mas sugiro que assistam e prestem atenção aos inúmeros diálogos que o pai tem com o filho. À escuta, à disposição em estar presente, o carinho, o afeto, a segurança do abraço.

Independente do desenrolar da história, se faz presente uma relação respeitosa e amorosa entre pai e filho num momento em que este menino adolescente deprime de tanta dor em viver. Mas onde eu quero chegar? Continua comigo.

Ir mal em uma prova, não ser aceito num grupo de colegas, se achar feio em uma determinada roupa ou achar que não passará em uma boa faculdade são situações que, em um primeiro momento, parecem comuns na vida de um adolescente.

Os exemplos corriqueiros que citei acima apareceram em relatos colhidos em Fairfax, nos Estados Unidos, em 2014, e foram contados no The Washington Post pela colunista Petula Dvorak recentemente. Apesar da aparente distância espacial e temporal com nossa realidade, as situações descritas apontam para uma atualidade em que adolescentes ainda enfrentam barreiras e falta de apoio para dar conta dos problemas de saúde mental. Falta suporte. Falta apoio. Falta escuta.

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Em certos contextos - como o que vivemos atualmente e muito bem definiu o doutor em História Social, Dante Gallian quando diz que existe uma epidemia de transtornos mentais na sociedade e precisamos entender qual a vacina para isso - elas podem ganhar contornos assustadores.

No Brasil, um dos estudos mais usados para tratar desse assunto é a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A sua edição mais recente é de 2019 e mostra que cerca de um terço dos estudantes de 13 a 17 anos sentiam-se tristes na maioria das vezes ou sempre. E 21,4% sentiam que a vida não valia a pena ser vivida.

Em 2019, 21% dos adolescentes entrevistado na pesquisa PenSe disseram que a vida não valia ser vivida  

Veja: "a vida não valia a pena ser vivida". Como pode este pensamento sair da cabeça de jovens num dos exatos momentos em que a vida mais pulsa? O que leva adolescentes, aqueles que a gente julga ser "o futuro", a desistir da vida? A perder o brilho nos olhos. Não é possível que este fato não te incomode.

O estudo contempla dados de 2019. Estamos falando de antes da pandemia e é inegável que após dois anos de isolamento social tivemos pioras significativas no brilho dos olhos de nossos jovens e eu te pergunto: como permitimos que a luz se apague justamente numa das fases mais explosivas e empolgantes da vida? Como?

A pandemia do coronavírus levou esse grupo a novos casos de ansiedade e depressão, segundo apontou uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o que só agravou a fase já conturbada da vida que é a adolescência.

"A gente vem observando um aumento de manifestações de sofrimento. Há muita decepção e uma sensação de desespero junto disso", aponta Leila Salomão, professora do Instituto de Psicologia da USP.

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Na busca por alternativas a esse cenário, faz-se necessária a importância de uma rede de apoio aos adolescentes. Dos pais aos amigos, educadores e colegas, vários são os pares que podem ficar atentos à saúde mental desse grupo.

Mas aqui vai um alerta: os pais nem sempre são os mais preparados e procurados pelos filhos e muito disso está diretamente relacionado a um descompasso que existe entre os adultos e os adolescentes. E sabe por quê?

Porque o adulto tende a desvalorizar a dor do adolescente. Tende a minimizar o sofrimento do adolescente. Tende a menosprezar o sentimento que vive dentro do adolescente.

Eu já trouxe esse assunto aqui e talvez ele seja dos mais urgentes na atualidade. É preciso aprender a escutar a dor do outro com mais empatia e gentileza. É preciso descer do salto da autoridade parental para se relacionar com o filho adolescente de maneira mais próxima e humana.

"O adulto precisa estar presente e compreender. O entorno precisa estar preparado para estabelecer um diálogo e compreensão sem muita invasão. Os filhos precisam sentir que podem contar com os pais", recomenda Leila Salomão.

Veja: "os filhos precisam sentir que podem contar com os pais". Seu filho conta com você? Seu filho te conta o que passa dentro da cabecinha dele? Ele fala das angústias, dos medos e receios?

Eu sei que você vai me dizer que adolescentes não falam, são monossilábicos, e eu vou discordar. Eles podem falar pouco ou menos do que os adultos gostariam, mas eles falam. E mais ainda, eles escutam. Capacidade esta quase em extinção na vida humana dos seres crescidos.

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Nós, adultos, perdemos nossa capacidade de escutar o outro. A gente ouve com o sentido, mas não escuta com o sentimento. E dessa forma, a relação de confiança entre pais e filhos tão recomendada é comprometida quando os primeiros não têm plena noção do que está se passando com os segundos - inclusive fisicamente.

Isso porque a fase da adolescência traz por si só um sofrimento natural explicado por diversos fatores, entre eles as alterações hormonais e também pelo fato de a região do cérebro que "regula as emoções" ainda não estar completamente desenvolvida, o que pode acontecer até os 25 anos de idade.

Além disso, é o momento que o adolescente se depara com mais emoções sem ter experiência de vida suficiente para lidar com elas. Mas nem sempre os adultos têm noção de tudo isso. "De vez em quando ele vai falhar, é natural dentro desse processo, mas a gente tem pouca paciência com eles. Eles se sentem injustiçados e isso separa mais as gerações", diz a professora Sabine Pompéia, do departamento de Psicobiologia da Unifesp.

Lembra da caixinha de experiências que eu falei alguns textos atrás? É dela que estamos falando aqui. E o segredo desta relação está no equilíbrio entre a compreensão e a cobrança para que a gente possa empoderar o adolescente estimulando que ele gerencie suas próprias emoções.

"O ponto é: aceitar que ele seja assim, mas tentar corrigir. Tem que pegar no pé, mas estar aberto para acolher quando dá errado. Se não tem esse diálogo com os adultos, o adolescente se isola muito e ele fica em um risco muito maior [de se expor à depressão]", completa Sabine.

Nesse caminho, os pais podem cair na armadilha do "você está exagerando" quando o filho está lutando contra problemas de saúde mental. Mas como fazer diferente? Como conseguir ajudar o adolescente a fortalecer seu controle emocional nessa fase tão complicada da vida?

"Parte de como podemos ajudar os mais jovens é normalizando o estresse", indicou a psicóloga Lisa Damour em entrevista ao The Washington Post. Ela também lembra da importância de se mostrar aberto e caloroso mesmo nos momentos mais simples - aqueles que muitas vezes parece "banal" - da vida do adolescente.

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Ou seja, não ser um pai ou mãe "limpador de para-brisa". O que estou querendo dizer? Em uma forte chuva, o limpador de para-brisa vai freneticamente de um lado para o outro para manter a visão do motorista mais clara possível, certo? Na relação entre pais e filhos, as coisas não devem funcionar exatamente assim.

Quando o adolescente se atrapalha na entrega de uma tarefa, por exemplo, ou se depara com algum outro problema, nem sempre é papel dos pais tomar as rédeas e resolver a situação sozinhos. Adolescentes devem ser estimulados a tirar proveito das experiências de erro. Nesses casos, funciona mais os pais se mostrarem abertos a escutar e reduzir a intensidade de pensamentos negativos do que sair secando chuva.

Também é preciso dar esperanças - no plural mesmo. O estresse acentuado pelo qual um adolescente passa é natural. Mas, quando ele passa do ponto - dando sinais comportamentais como apatia ou muita agitação - e chega a níveis de depressão e ansiedade, é importante que o adolescente saiba que aquilo não é permanente e que os sintomas de uma depressão não vão defini-lo.

Pergunte sobre pensamentos de automutilação. Nos últimos anos, a prática tem chamado atenção de pais e especialistas. No filme, O filho, o pai do adolescente Nicholas enlouquece quando vê que o menino continua a se cortar. Ele não entende o que pode estar acontecendo e pergunta insistentemente ao filho por quê ele faz aquilo.

Nicholas diz que é para tirar a dor que carrega dentro do peito. É para desfocar do sentimento que ele não consegue suportar e para isso, ele precisa produzir alguma outra dor. E é esta a resposta em 99% dos casos de mutilação de adolescentes.

O que fazer? A recomendação é ouvir, escutar e deixar claro que o adolescente tem apoio. A gente precisa começar a dar apoio aos adolescentes. A gente precisa começar a cuidar dos machucados que eles fazem.

Por que é que a gente corre e acode uma criança quando ela cai e não faz o mesmo com o adolescente? Adolescentes se machucam e também precisam de carinho, de band-aid dentro do peito. E como é que a gente faz isso? Mostrando que se importa.

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O psiquiatra americano Jerome Motto percebeu que quando médicos enviavam mensagens de check-in atenciosos a seus pacientes, eles sentiam-se mais valorizados e, o que poderia ser um ato pequeno ou até burocrático, passou a ser uma ferramenta importante capaz de reduzir significativamente o risco de suicídio de uma pessoa - isto inclui um adolescente.

Onde estou querendo chegar? Ao início deste texto: em 2019, 21% dos nossos adolescentes disseram que a vida não valia a pena. Vivemos um colapso, uma crise de saúde mental na adolescência e as melhores ferramentas ainda são a escuta, o afeto e gentileza para com o outro.

A gente vive a negligência absoluta à saúde mental desta geração e ela já nos deu sinais de que não dá conta de tamanha dor, de tamanha violência. Adolescentes também precisam ser cuidados. E tenho certeza que somos capazes. Fonte: https://www.estadao.com.br

 

Terminei a semana mais convencido de que não somos superiores às outras formas de vida

 

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor

Este artigo foi sacudido pelos acontecimentos de Blumenau: um homem de 25 anos matando quatro crianças a machadadas.

No entanto ele começava suave, com lembranças de Dona Vanna, da Livraria Leonardo da Vinci, no Rio. Ela viajava sempre e trazia novos livros. Numa das últimas viagens, trouxe, entre outros, um que me interessou pelo título e pela capa: “Android Epistemology”. É uma reflexão teórica sobre as máquinas pensantes, e a capa colorida mostrava alguns recortes da figura humana, entrelaçados por fios coloridos. Nem todos os artigos são acessíveis a um leigo como eu. Destaquei algumas frases de um deles e pensava em trabalhar com ela:

— A oposição à teoria dos androides é uma das últimas resistências à demolição científica da ideia da condição única e especial dos humanos e de sua posição no Universo.

Coincidência, pensei. A ecologia que estudo há alguns anos também coloca em xeque o antropocentrismo, a suposição da superioridade humana sobre outras espécies. Os seres humanos não são os únicos para quem o mundo existe. No passado, essa ideia era tão forte que, segundo ela, o cocô de cavalo não tem cheiro desagradável porque o animal foi desenhado por Deus para acompanhar os humanos.

O livro trazido por Dona Vanna tinha uma sátira aos humanos, produzida por uma civilização de máquinas que visitava a Terra. Elas se perguntavam por que somos tão violentos. E a resposta era porque toda a nossa evolução foi feita a ferro e fogo, com garras e dentes. E por que éramos tão perigosos? Somos mortais e, por causa disso, temos pouco a perder.

Estava juntando algumas ideias para tentar responder a um amigo que me disse que o mundo estava virado. E está sim. Um sociólogo que morreu em 2015, Ulrich Beck, dizia que o mundo vivia uma metamorfose, algo diferente de uma revolução, que é intencional. Vivemos consequências descontroladas da modernização. O país não é mais referência, porque o mundo está interligado, classes sociais não nos explicam mais, mas classes de risco diante das ameaças das mudanças climáticas.

Neste mundo de pernas pro ar, creio que o meio ambiente e o avanço do meio digital de uma certa maneira acabarão por nos dar uma outra e mais modesta dimensão do humano.

Nada neste artigo poderia explicar o fato de que um homem matou crianças a machadadas em Blumenau. A globalização, diferente do colonialismo, que se justifica pela suposta inferioridade do colonizado, tem pelo menos um horizonte normativo: os direitos humanos.

Mas um crime dessa natureza também nos obriga a reexaminar o que é o humano. Sou plenamente favorável às restrições que a imprensa adotou na cobertura de casos como esse. No entanto sou favorável à discreta busca do conhecimento. Na década de 1970, creio, o FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos) criou um grupo especial para fazer longas entrevistas com criminosos em série. Como funcionavam essas mentes, que gatilhos acionam sua violência extrema? Foi por meio das pesquisas atuais sobre a influência de contágio de crimes espetaculares que a imprensa se inspirou para mudar seu comportamento diante deles.

Não sei precisamente a que levaria um esforço redobrado de conhecimento do tipo de mente criminosa que ataca crianças em escolas. Já tivemos um caso em Minas; outro em Saudades, Santa Catarina; e este em Blumenau. Minha esperança é que saiam algumas indicações para uma política preventiva.

Teremos 50 policiais vigiando redes sociais, mas precisam ser alimentados por informação adequada. Nem sempre poderão contar com bons indícios.

Terminei a semana mais convencido de que não somos superiores às outras formas de vida e, agora, com o livro que Dona Vanna trouxe, nem de que somos também os mais inteligentes. Fonte: https://oglobo.globo.com