EVANGELHO DO DIA- Tempo do Natal- 2 de janeiro. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, nós vos pedimos que o Salvador, qual nova luz dos céus para a redenção do mundo, se levante cada dia para renovar os nossos corações. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 1,19-28)
19Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu? 20Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo. 21Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não. 22Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo? 23Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3).24Alguns dos emissários eram fariseus. 25Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado. 28Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
3) Reflexão - Jo 1,19-28
O evangelho de hoje fala do testemunho de João Batista. Os judeus enviaram “sacerdotes e levitas” para interroga-lo. Da mesma maneira, alguns anos depois, mandaram pessoas para controlar a atividade de Jesus (Mc 3,22). Há uma semelhança muito grande entre as respostas do povo a respeito de Jesus e as perguntas que as autoridades dirigiram a João. Jesus perguntou aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?”. Eles responderam: “Elias, João Batista, Jeremias, algum dos profetas” (cf. Mc 8,27-28). As autoridades fizeram as mesmas perguntas a João: “Quem é você: o Messias?, Elias?, o Profeta?” João respondeu citando o profeta Isaías: “Eu sou a voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor”. Os três outros evangelhos também trazem a mesma afirmação a respeito de João: ele não é o Messias, mas veio para preparar a vinda do messias. (cf. Mc 1,3; Mt 3,3; Lc 3,4). Todos os quatro evangelhos dão uma atenção muito grande à atividade e ao testemunho de João Batista. Qual o motivo desta insistência deles em dizer que João não é o Messias?
João Batista tinha sido executado por Herodes em torno do ano 30. Mas até o fim do primeiro século, época em que foi escrito o Quarto Evangelho, a liderança do Batista continuava muito forte entre os judeus. Mesmo depois da sua morte a memória de João continuava a exercer uma grande influência na vivência da fé do povo. Ele era visto como o profeta (Mc 11,32). Era o primeiro grande profeta que apareceu depois de séculos ausência de profetas. Muitos o consideravam como o Messias. Quando, nos anos 50, Paulo passou por Éfeso lá na Ásia Menor, ele encontrou um grupo de pessoas que tinham sido batizadas no nome de João (cf. At 19,1-4). Por isso, era importante divulgar o testemunho do próprio João Batista dizendo que não era o Messias e apontando Jesus como o messias. Assim, o próprio João contribuía para irradiar melhor a Boa Nova de Jesus.
Como é que você batiza se não é o Messias, nem Elias, nem o profeta?” A resposta de João é outra afirmação que aponta Jesus como o Messias: "Eu batizo com água, mas no meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem, e que vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele". E um pouco mais adiante (Jo 1,33), João faz alusão às profecias que anunciavam a efusão do Espírito para os tempos messiânicos: “Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo” (cf Is 11,1-9; Ez 36,25-27; Joel 3,1-2).
4) Para um confronto pessoal
1) Teve algum João Batista na sua vida que preparou em você o caminho para Jesus?
2) João foi humilde. Não se fez maior do que era na realidade: você já foi batista para alguém?
5) Oração final
Os confins da terra puderam ver a salvação de nosso Deus. Aclamai o Senhor, povos todos da terra; regozijai-vos, alegrai-vos e cantai. (Sl 97, 3-4)
Paróquia cria banho solidário para moradores de rua em Rio Preto: 'Traz conforto para o coração'
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Ação funciona aos sábados e domingos em diferentes pontos da cidade.
Por G1 Rio Preto e Araçatuba
A paróquia Nossa Senhora do Brasil, em Rio Preto (SP), criou um projeto que busca dar conforto aos moradores de rua da cidade: o banho solidário.
A ação funciona durante aos sábados e domingos em diferentes pontos da cidade. O morador de rua ganha, além do banho, um kit de higiene, roupas limpas e uma toalha. Cada banho dura cerca de dez minutos.
Para Debora Souza de Carvalho, que é moradora de rua, a ação traz conforto para quem não tem uma família. “A gente se sente como se tivesse uma família, se sente amado. Traz um conforto para o coração”, contou a moradora.
A água que abastece os chuveiros vem de um reservatório, e uma bomba gera energia para esquentar a água. Além dos banhos, a paróquia também realiza corte de cabelo para quem participar da ação.
Segundo o zelador da paróquia, Ronaldo Pereira de Souza, essa não é a única ação realizada pela paróquia.
Pelo menos uma vez por mês, os funcionários abrem a igreja para que os moradores de rua tenham a oportunidade de tomar banho.
“Um dia do mês os moradores vêm e tomam banho aqui. É uma forma de dar mais oportunidade para os moradores de rua”, contou. Fonte: https://g1.globo.com
Com portas fechadas, fiéis rezam na porta da igreja e realizam festa do Padroeiro em Traipu
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De acordo com a população o Padre mandou a igreja ficar fechada por três dias
A comunidade católica de Santa Cruz, povoado da cidade de Traipu, região agreste de Alagoas, está revoltada. A população diz que o Padre Geraldo mandou que as portas da Igreja ficassem fechadas para que não ocorresse a festa de Bom Jesus dos Aflitos, padroeiro da comunidade.
De acordo com a denúncia, a igreja ficou fechada de 23 a 25 de dezembro e a festa aconteceu do lado de fora da igreja. A festa do Bom Jesus dos Aflitos acontece a mais de 100 anos ininterruptos, todo dia 25 de dezembro. “Os fiéis desta comunidade têm um apresso e uma fé grandiosa pelo nascimento do menino Jesus e fazem suas orações de agradecimento pelo ano produtivo e pedem proteção para o ano que se aproxima, principalmente na noite de natal. Mas neste ano não foi possível, pois o então sacerdote pediu à comissão da igreja que fechassem as portas da igreja durante os dias de festividades do Bom Jesus dos Aflitos e estavam proibidos de abri-la, onde todas a chaves da igreja foram recolhidas pelo Seminarista desta comunidade, que participa do Seminário Mater Ecclesiae em Itapecerica da Serra – SP e do qual está em férias do mesmo”, diz a postagem em uma rede social.
“Um ato de injustiça para essa população que ficou indignada com tais feitos, por essas pessoas que deveriam levar a palavra de Deus, mas que na verdade são motivos de divisão na comunidade e da igreja Católica deste distrito. No entanto, a comunidade não se calou e no dia 25/12/2019 foram REZAR A NOVENA DE NATAL NA PORTA DA IGREJA, MESMO ELA ESTANDO FECHADA, e alguns representantes da comunidade pagaram os tocadores que ficaram do lado de fora da igreja no sol quente durante todo o dia celebrando a chegada do menino Jesus”, continua a postagem.
Segundo a comunidade os motivos do Padre Geraldo seriam a reforma da igreja e a mudança de data das festividades do padroeiro.
Em entrevista à Rádio 96FM, nesta sexta-feira (27), o pároco afirmou que aconteceu um adiamento da festa. “Não por minha vontade e nem da comissão da igreja, mas devido a problemas externos no entorno da igreja, a tal ponto para me preocupar com a integridade física, porque recebi ameaças, e assim perdeu o sentido de realizarmos nesse momento a festa do nosso padroeiro”.
O Padre Geraldo disse ainda que não tem interesse em reformar a igreja e sim de construir um centro paroquial. “Eu não entendi o motivo dessa conversa, no dia 20 foi colocado uma nota explicando os detalhes explicando essa preocupação com as ameaças. E com relação a festa externa, não cabe ao pároco da igreja se preocupar com o evento porque é de responsabilidade da prefeitura. Em nenhum momento foi intenção em cancelar, mas muitas pessoas não têm preocupação com a festa em si, mas com a parte externa, as atrações musicais”.
O pároco explicou que as decisões devem ser tomadas pelo conselho e que apenas 200 pessoas frequentam a igreja, disse ainda que no último domingo (22) esteve na comunidade e ninguém o procurou. Fonte: https://arapiraca.7segundos.com.br
Vinte e nove missionários foram assassinados no mundo em 2019
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Registra-se uma espécie de “globalização da violência”: enquanto no passado os missionários assassinados se concentravam em boa parte numa nação, ou numa área geográfica, em 2019 o fenômeno se mostra mais generalizado e difuso. Neste ano 10 países da África, 8 da América, 1 da Ásia e 1 da Europa foram banhados pelo sangue dos missionários
Cidade do Vaticano
Na esteira do Mês Missionário Extraordinário de outubro de 2019, vivido pelas comunidades católicas em todas as latitudes, que foi também ocasião de redescobrir as figuras de tantas testemunhas da fé das Igrejas locais que deram a vida pelo Evangelho e nos contextos e nas situações mais variadas, a agência missionária Fides prosseguiu também este ano seu serviço de colher as informações relacionadas aos missionários assassinados ao longo dos doze meses transcorridos.
Todo batizado é um discípulo missionário
O termo “missionário” é aqui utilizado para todos os batizados, conscientes de que “em virtude do Batismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28, 19). Cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização” (Evangelii Gaudium 120).
De resto, o elenco anual da Fides já de há muito não diz respeito somente aos missionários ad gentes propriamente, mas busca registrar todos os batizados engajados na vida da Igreja mortos de modo violento, não expressamente “por ódio à fé”.
29 missionários assassinados ao longo do ano
Por esse motivo se prefere aqui não utilizar o termo “mártires”, a não ser em seu significado etimológico de “testemunhas”, para não entrar no mérito do juízo que a Igreja possa eventualmente dar sobre alguns deles propondo-os, após um atento exame, para a beatificação ou a canonização.
“Segundo os dados levantados pela Fides, ao longo do ano 2019 foram assassinados no mundo 29 missionários, em sua maioria padres: 18 sacerdotes, 1 diácono permanente, 2 religiosos não sacerdotes, 2 irmãs, 6 leigos.”
Após oito anos consecutivos em que o número mais elevado de missionários assassinados foi registrado na América, a partir de 2018 tem sido a África a ocupar o primeiro lugar nesta trágica classificação.
Globalização da violência
Na África em 2019 foram mortos 12 sacerdotes, 1 religioso, 1 religiosa e 1 leiga (15). Na América foram assassinados 6 sacerdotes, 1 diácono permanente, 1 religioso e 4 leigos (12). Na Ásia foi morta uma leiga. Na Europa foi assassinada um irmã.
Outra nota reside no fato que se registra uma espécie de “globalização da violência”: enquanto no passado os missionários assassinados se concentravam em boa parte numa nação, ou numa área geográfica, em 2019 o fenômeno se mostra mais generalizado e difuso. Neste ano 10 países da África, 8 da América, 1 da Ásia e 1 da Europa foram banhados pelo sangue dos missionários. Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira, 31 de dezembro-2019. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que estabelecestes o princípio e a plenitude de toda a religião na encarnação do vosso Filho, concedei que sejamos contados entre os discípulos daquele que é toda a salvação da humanidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (João 1, 1-18)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - 1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio junto de Deus. 3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. 10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. 14E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade. 15João dá testemunho dele, e exclama: Eis aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia antes de mim. 16Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. 17Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 18Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou
3) Reflexão
O Prólogo é a primeira coisa que se vê ao abrir o evangelho de João. Mas foi a última a ser escrita. É o resumo final, colocado no início. Nele João descreve a caminhada da Palavra de Deus. Ela estava junto de Deus desde antes da criação e por meio dela tudo foi criado. Tudo que existe é expressão da Palavra de Deus. Como a Sabedoria de Deus (Prov 8,22-31), a Palavra quis chegar mais perto de nós e se fez carne em Jesus. Viveu no meio de nós, realizou a sua missão e voltou para Deus. Jesus é esta Palavra de Deus. Tudo que ele diz e faz é comunicação que nos revela o Pai.
Dizendo "No princípio era a Palavra", João evoca primeira frase da Bíblia que diz: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Deus criou tudo por meio da sua Palavra. "Ele falou e as coisas começaram a existir" (Sl 33,9; 148,5). Todas as criaturas são uma expressão da Palavra de Deus. Esta Palavra viva de Deus, presente em todas as coisas, brilha nas trevas. As trevas tentam apagá-la, mas não conseguem. A busca de Deus, sempre de novo, renasce no coração humano. Ninguém consegue abafá-la. Não conseguimos viver sem Deus por muito tempo!
João Batista veio para ajudar o povo a descobrir e saborear esta presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida. O testemunho de João Batista foi tão importante, que muita gente pensava que ele fosse o Cristo (Messias). (At 19,3; Jo 1,20) Por isso, o Prólogo esclarece dizendo: "João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!"
Assim como a Palavra de Deus se manifesta na natureza, na criação, da mesma maneira ela se manifesta no "mundo", isto é, na história da humanidade e, de modo particular, na história do povo de Deus. Mas o "mundo" não reconheceu nem recebeu a Palavra. Ela "veio para o que era seu, mas os seus não a receberam". Aqui, quando fala mundo, João quer indicar o sistema tanto do império como da religião da época, ambos fechados sobre si e, por isso mesmo, incapazes de reconhecer e de receber a Boa Nova (Evangelho) da presença luminosa da Palavra de Deus.
Mas as pessoas que se abrem aceitando a Palavra, tornam-se filhos e filhas de Deus. A pessoa se torna filho ou filha de Deus não por mérito próprio, nem por ser da raça de Israel, mas pelo simples fato de confiar e crer que Deus, na sua bondade, nos aceita e nos acolhe. A Palavra entra na pessoa e faz com que ela se sinta acolhida por Deus como filha, como filho. É o poder da graça de Deus.
Deus não quer ficar longe de nós. Por isso, a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na pessoa de Jesus. O Prólogo diz literalmente: "A Palavra se fez carne e montou sua tenda no meio de nós!" Antigamente, no tempo do êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda no meio do povo (Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus, "cheio de graça e de verdade!" Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que está presente em tudo, desde o começo da criação.
4) Para um confronto pessoal
1) Tudo que existe é uma expressão da Palavra de Deus, uma revelação da sua presença. Será que sou suficientemente contemplativo para poder perceber e experimentar esta presença universal da Palavra de Deus?
2) O que significa para mim poder ser chamado filho de Deus?
5) Oração final
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e o que ele contém; exulte o campo e o que ele encerra, alegrem-se as árvores da floresta diante do Senhor, pois ele vem, ele vem julgar a terra. (Sl 95, 11-13)
Padre argentino acusado de abusos a menores se suicida
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As humilhações, que nunca serão julgadas, foram cometidas quando Eduardo Lorenzo trabalhou em dois lugares próximos de La Plata
O padre argentino Eduardo Lorenzo segurou uma arma e disparou na própria cabeça. Seu corpo foi encontrado poucas horas depois, na noite de segunda-feira, nas dependências da Caritas, em La Plata, onde estava alojado pelo arcebispado. Lorenzo estava prestes a ser preso por corrupção de menores e por abuso sexual de pelo menos cinco meninos. O arcebispo de La Plata disse na terça-feira que o padre “tirou a própria vida depois de longos meses de tensão e sofrimento” e pediu orações por ele. As vítimas declararam que a morte de Lorenzo “não repara o dano” e criticaram a lentidão da Justiça.
Eduardo Lorenzo cometeu os supostos abusos entre 1990 e 2001. A primeira denúncia contra ele foi apresentada em 2008, mas a promotora de La Plata, Ana Medina, decidiu que não havia “elementos suficientes para provar a existência do ato ilícito” e ordenou que o caso fosse arquivado. O assunto ficou semi esquecido, mas não encerrado, e em fevereiro deste ano o advogado do padre, Alfredo Gascón, solicitou que o caso fosse encerrado. Em julho, no entanto, duas novas denúncias foram apresentadas por dois homens que deram detalhes sobre os “jogos sexuais” que Lorenzo organizava com coroinhas de idades entre 13 e 16 anos.
Uma das vítimas, Julián, deu uma entrevista coletiva na qual explicou que durante 20 anos havia mantido em segredo os abusos sofridos e que a leitura na imprensa do que aconteceu com outra vítima, León, o primeiro denunciante, o havia mergulhado em uma crise. Finalmente, decidiu falar. “Quero que meus filhos vejam como o pai deles enfrentou dois anos e meio de abuso”, disse. Julián, um ex-escoteiro, deu detalhes de como o padre o recebia nu e o atraía para sua cama. “Quase toda sexta-feira organizava jantares com meninos”, disse ele.
Duas outras vítimas apresentaram denúncias. O caso foi reaberto e a promotora Ana Medina pediu à juíza de Garantias de La Plata, Marcela Garmendia, que ordenasse a prisão de Eduardo Lorenzo. Algumas semanas atrás, a juíza pediu a realização de um laudo psicológico do padre. Os especialistas concluíram que Lorenzo tinha “uma personalidade com características de manipulação, elevado autocentramento e egocentrismo, com pouca autocrítica e auto-observação impregnada de traços narcisistas”. Tentou dominar os psicólogos levantando continuamente a voz. “Tornei-me padre para dar uma mão, não quero que vejam agora como desmorono”, comentou.
Na semana passada, a juíza determinou a prisão provisória. O suicídio ocorreu quando a ordem ainda não havia sido expedida.
Os supostos abusos, que nunca serão julgados, foram cometidos quando Lorenzo trabalhou na igreja de San José Obrero, em Berisso, e na paróquia Inmaculada Madre de Dios, em Gonnet, duas localidades próximas de La Plata. Nos últimos anos foi capelão do Serviço Penitenciário de Buenos Aires e tornou-se amigo do padre Julio César Grassi, que cumpria pena de 15 anos de prisão por corrupção de menores e abuso sexual.
O arcebispo de La Plata, Víctor Manuel Fernández, divulgou uma declaração falando do sofrimento de Eduardo Lorenzo, pedindo orações por ele e dizendo: “O próprio Senhor nos ajudará a compreender algo no meio desse mistério sombrio e nos ensinará algo mesmo através dessa dor”.
As palavras do arcebispo indignaram os denunciantes, reunidos na Rede de Sobreviventes de Abuso Eclesiástico da Argentina. “A morte não repara o dano, a única coisa que repara o dano causado às vítimas é a justiça. A morte do padre Eduardo Lorenzo confirma que os sobreviventes disseram e sempre dizem a verdade”, declararam em um comunicado. Acrescentaram que tudo o que aconteceu foi possível “por causa de uma intolerável demora da Justiça”. Fonte: https://brasil.elpais.com
Igrejas evangélicas vão ajudar na coleta de assinaturas para partido de Bolsonaro
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Religiosos de distintas denominações vão apoiar o processo de formalização da nova sigla
Gustavo Schmitt
SÃO PAULO — Com pouco menos de quatro meses para ser criado a tempo das eleições municipais de 2020, o Aliança pelo Brasil, futuro partido do presidente Jair Bolsonaro, encontrou forte apoio de lideranças evangélicas na tarefa de coletar as 491 mil assinaturas exigidas para lançar a legenda. Do presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), bispo Robson Rodovalho, ao presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), religiosos de distintas denominações estão dispostos a apoiar o processo de formalização da nova sigla. Segundo informou a colunista Bela Megale, os bolsonaristas apostam também no apoio dos militares para a coleta das assinaturas.
Ao GLOBO, Rodovalho disse que o presidente Bolsonaro “merece essa ajuda”. Líder da Sara Nossa Terra, denominação com 2 milhões de fiéis em 1,2 mil templos no país, o bispo informou já ter sido procurado por um mensageiro do partido, e que uma das estratégias será atrair apoio durante os grandes eventos da igreja.
Na Sara Nossa Terra, as maiores aglomerações de fiéis acontecem em janeiro e fevereiro, incluindo o chamado “carnaval evangélico”, evento com shows de música gospel que reúne milhares de participantes.
— Vou ajudar. Estou à disposição. A visão que o presidente (Bolsonaro) tem pelo Brasil merece esse gesto de apoiamento — afirmou Rodovalho, que recebeu O GLOBO em sua igreja em São Paulo, na última segunda-feira.
O Aliança pelo Brasil anunciou, no último domingo no Twitter, que começará nesta semana a coleta de assinaturas para sua fundação. O desafio é justamente o prazo curto no calendário: a sigla precisa de todas as assinaturas até 4 de abril do ano que vem para ter o registro homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e assim lançar candidatos aos cargos de prefeito e vereador.
Ex-deputado e com experiência de coleta de assinaturas para criação de partidos como PL e PRB, Rodovalho disse que considera melhor atuar em grandes eventos. Nos cultos, o público é menor, avalia. No entanto, o bispo destaca que as assinaturas não seriam coletadas dentro da igreja ou dos eventos, mas que não teria problema se fosse na porta.
— Nas igrejas, os cultos são rápidos e o ajuntamento de pessoas não é tão numeroso, com exceção de templos muito grandes. Mas, como precisa de muitas assinaturas para validar, penso que os eventos, que duram alguns dias, seriam mais proveitosos — explicou.
Outras conversas
Rodovalho disse que conversou com outras lideranças que também se colocaram à disposição para ajudar:
— Conversei com alguns líderes que se disponibilizaram. Não são muitos, mas não encontrei ninguém reticente. Eu acredito que a Assembleia de Deus, do pastor Silas Câmara (deputado federal do Amazonas pelo Republicanos), também faria com bom coração.
Silas Câmara diz que, se convocado para ajudar na criação do Aliança, vai trabalhar a favor da coleta. Irmão do pastor Samuel Câmara, que dirige a igreja Assembleia de Deus de Belém, Silas afirmou que não vê problemas em auxiliar na coleta de assinaturas, e que vê boa vontade das lideranças de diferentes igrejas em ajudar o presidente.
— Não vejo nenhum problema. Eu ajudarei, se for convocado. Se precisar, eu ajudo com alegria — disse Silas Câmara, ressaltando que apoiará “como deputado federal”.
Samuel Câmara, por sua vez, também se disse disposto a ajudar Bolsonaro na criação do partido, mas deixou claro que os evangélicos “jamais perfilarão em um só partido”. Com tom menos efusivo, Samuel diz que qualquer gesto não significará apoio incondicional ao governo ou ao presidente.
— A igreja é também um grupo social que tem vontade política. E, no quebra-cabeça de hoje, as pessoas que gostam do Bolsonaro vão acompanhar isso. E elas estão dentro da nossa igreja. Então, não criaríamos dificuldade. Mas não faria disso uma bandeira (política). Fonte: https://oglobo.globo.com
Crises econômicas elevam o número de fiéis evangélicos
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Estudo relaciona pela primeira vez economia e fé, com seus impactos na política
Crises econômicas têm impulsionado a expansão da população evangélica no Brasil, com reflexos sobre a balança política, pois esse movimento favorece a eleição de candidatos ligados a essa fé.
Essa é a conclusão de um estudo dos economistas Francisco Costa, Angelo Marcantonio e Rudi Rocha, que, pela primeira vez, aferiu o impacto da abertura comercial dos anos 1990 em diferentes regiões do país sobre as preferências religiosas da população.
A hipótese dos autores é que os brasileiros adversamente atingidos por crises se tornam mais suscetíveis à forte retórica religiosa de cura dos problemas pela fé apresentada pelas religiões evangélicas.
Daí a escolha de incluir o “Pare de sofrer”, lema da Igreja Universal do Reino de Deus, já no título do artigo em inglês (“Stop Suffering! Economic Downturns and Pentecostal Upsurge”), que está sendo avaliado para publicação em um periódico estrangeiro.
Simulação feita pelos autores a pedido da Folha indica que problemas como o aumento do desemprego e a queda da renda nas áreas afetadas pelo choque econômico explicam um crescimento de cerca de 10% no número de adeptos a denominações como as pentecostais e neopentecostais, entre 1991 e 2000. Isso representou a adição de 1,3 milhão novos evangélicos apenas naquela década.
Os pesquisadores conseguiram mensurar a queda salarial explicada apenas pelo choque da abertura comercial ao comparar o que ocorreu com a renda e o desemprego em diferentes regiões do país, descontando o impacto de fatores como educação, gênero e idade entre 1991 e 2000.
A partir da conta, calcularam o quanto a redução de rendimento afetava a expansão da população evangélica.
Sua conclusão foi que, para cada 1% de queda esperada da renda, a adesão ao pentecostalismo cresceu 0,8%, nos anos 1990. Em termos estatísticos, é um efeito significativo.
A pesquisa mostra ainda que parte dos evangélicos convertidos pela crise é dissidente do catolicismo, que, embora ainda seja a religião dominante no Brasil, vem encolhendo.
Segundo o trabalho, o impacto religioso da abertura comercial nas regiões que perderam —pelo menos, temporariamente— competitividade não se circunscreveu aos anos subsequentes à primeira metade da década 1990, quando a tarifa média de importação caiu quase 60%.
Os resultados indicam que o fenômeno de adesão ao pentecostalismo persistiu na década seguinte, ainda que em ritmo mais lento.
Eles revelam ainda que o movimento de conversão foi acompanhado por uma mudança de preferência eleitoral que favoreceu políticos associados às religiões evangélicas.
Ao contrário do ritmo de conversão de novos adeptos associada ao choque de tarifas —que, embora tenha persistido, perdeu fôlego—, o impulso à eleição de candidatos pentecostais continuou ganhando força.
Segundo os autores, cada 1% de queda provável na renda associada à abertura comercial resultou em um aumento de 2% na parcela dos votos recebidos por esses políticos no longo prazo. “O efeito de aumento da população evangélica continuou entre 2000 e 2010, embora menos robusto. Mas, na política, ele vem aumentando. Parece um fenômeno que ganhou vida própria, após um choque”, diz Rocha, que é professor da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
Em uma terceira linha de investigação, a pesquisa revela que a escolha de políticos ligados ao pentecostalismo tem levado a um aumento da proposição de leis relacionadas a temas caros a essas religiões, como oposição ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Para Costa, que é professor da FGV EPGE (Escola de Economia e Finanças da FGV), as conclusões relacionadas à esfera política chamam a atenção para um risco sobre o qual o país precisa refletir:
“Mesmo em estados democráticos laicos, como o Brasil, esses choques econômicos abrem espaço para o florescimento de grupos religiosos partidários que podem levar ao retrocesso de valores democráticos que possibilitaram sua ascensão”.
Para os dois economistas, é possível inferir que outros eventos recessivos das últimas décadas no Brasil tenham contribuído tanto para alimentar o contínuo crescimento da população evangélica quanto para alavancar sua representação política.
“O que descobrimos ao fazer essa pesquisa parece bater muito com o voto recente no [presidente Jair] Bolsonaro”, diz Rocha.
O capitão reformado foi eleito em 2018 com forte apoio da bancada evangélica, em um período em que o Brasil vivia uma lenta recuperação econômica após uma das recessões mais severas da história.
A percepção de que a necessidade de apoio espiritual e atenção individual aumenta em momentos de crise pode estar contribuindo para a criação de novas igrejas.
Foi o que motivou Gilson Alves, por exemplo, a criar a Igreja Apostólica Livres para Adorar, de orientação neopentecostal, no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, há quatro anos. “Vi que era mais fácil acolher as pessoas em um ministério pequeno”, diz.
Antes disso, Alves —conhecido como bispo Gilson— foi ligado às denominações Paz e
Além dos 40 frequentadores assíduos, os cultos no salão instalado no primeiro andar de sua própria casa recebem outros visitantes ocasionais, como um casal de venezuelanos refugiados que esteve na igreja recentemente.
“Somos procurados por pessoas com problemas como alcoolismo, drogas e dificuldades financeiras”, afirma bispo Gilson, que, além de administrar a igreja, cuida dos três filhos pequenos, enquanto sua mulher trabalha como empregada doméstica.
RELIGIÃO AVANÇA NO MUNDO POR OFERECER UMA REDE DE PROTEÇÃO
O fenômeno de expansão de religiões evangélicas não é exclusividade do Brasil. Pesquisas mostram que essa é uma das denominações cristãs que mais crescem no mundo.
No país, ministérios como o fundado por bispo Gilson fazem parte de uma terceira onda de renovação do movimento evangélico, iniciada nos anos 1970. Rocha, Costa e Marcantonio ressaltam que essas igrejas se destacam por sua interpretação mais literal dos textos sagrados.
Segundo especialistas, a rede de apoio criada pelos evangélicos e a abordagem feita nos cultos sobre os problemas do dia a dia ajudam a explicar a atração de novos adeptos em crises econômicas.
“Faz muito sentido [a conclusão do estudo]. Os brasileiros de posições mais conservadoras se sentem muito isolados nos centros urbanos. Os evangélicos são uma exceção porque têm a igreja”, diz Breno Barlach, gerente de projetos da consultoria Plano CDE.
Segundo ele, que coordenou um estudo feito neste ano sobre o perfil dos conservadores brasileiros, os templos se tornaram tanto um espaço de convivência como de troca.
“É ali que o pequeno empreendedor constrói sua rede de contatos, que a mulher, deslocada do mercado de trabalho, se torna vendedora”, afirma.
A participação nessa rede —que os estudiosos do tema chamam de clube— exige uma contrapartida elevada dos participantes. “Você não pode se dizer evangélico se não frequenta assiduamente os cultos”, diz Barlach.
Mas, como ressalta Costa, da FGV, o custo de oportunidade dessa escolha despenca durante crises econômicas.
“A queda da renda reduz a capacidade de consumo mundano e torna o consumo etéreo oferecido pela religião mais atraente”, diz.
Para o economista Rodrigo Soares, professor da Universidade Columbia, uma questão suscitada pelo estudo é o papel de outros atores em crises econômicas. “Por algum motivo, as igrejas evangélicas parecem ter exercido um papel que nem o Estado nem a Igreja Católica conseguiram.”
Outro caminho para mais investigações apontado pela pesquisa é a relação entre a expansão da população evangélica e o aumento do voto em políticos associados à religião, segundo o economista Claudio Ferraz, professor da Universidade British Columbia.
Assim como Soares, Ferraz leu o estudo de Rocha, Costa e Marcantonio. Para ele, a pesquisa comprova, de forma sólida, a relação entre a desaceleração da abertura e a conversão ao pentecostalismo.
“A dificuldade vem em saber se um aumento de eleitores pentecostais atraiu políticos ou se políticos e a mídia que dominam têm um efeito de persuasão que aumenta a fatia de pentecostais”, diz.
IMPACTO DA ECONOMIA SOBRE CONVERSÃO PODE PERSISTIR NO LONGO PRAZO
Desde os anos 1990, o pentecostalismo tem um crescimento significativo no Brasil. Só naquela década, a população evangélica dobrou, de 13,2 milhões para 26,2 milhões.
Como mostra a estimativa feita pelos autores do estudo, parte desse aumento pode ser atribuída às consequências do choque comercial em regiões prejudicadas pela abertura.
Resta identificar outras causas da expansão. Não há dados recentes do Censo sobre preferências religiosas, mas dados do Datafolha indicam que a fatia de evangélicos na população brasileira continuou crescendo. Depois de atingir 22,9% em 2010, voltou a pular, para cerca de 31%, em 2019.
Embora Rocha e Costa acreditem que as dificuldades econômicas recorrentes do país tenham continuado a impulsionar a procura por igrejas pentecostais, o estudo não incluiu uma análise da dinâmica evangélica nos anos recentes.
Para medir a alta no número de adeptos ao pentecostalismo, os autores analisaram os dados até 2010. O impacto político foi mensurado até 2014.
A escolha da abertura econômica como pano de fundo da investigação é explicada pela possibilidade de analisar o impacto de desacelerações da atividade em varáveis diversas. Como diferentes regiões dentro de um país se especializam em ramos de atividade distintos, os efeitos de uma liberalização comercial variam bastante.
Há desde áreas pouco afetadas, como cidades litorâneas do Nordeste onde o turismo é forte, a outras muito atingidas, como municípios da região metropolitana de São Paulo especializados na produção de roupas e equipamentos eletrônicos, cujas tarifas de importação despencaram nos anos 1990.
Os efeitos heterogêneos têm servido como uma espécie de laboratório para economistas.
Um trabalho de Rafael Dix-Carneiro, da Universidade Duke, e Brian Kovak, da Universidade Carnegie Mellon, mostrou, por exemplo, que os efeitos negativos da abertura nas regiões que se tornaram mais expostas à competição externa foram persistentes.
Segundo o estudo, a distância de salários e crescimento no emprego entre as áreas afetadas positiva e negativamente pela liberalização aumentou durante 20 anos no Brasil após o choque comercial da década de 1990.
Dix-Carneiro ressalta que o trabalho não conclui se o balanço da abertura para o país como um todo foi positivo ou negativo. “Ele mostra que choques comerciais têm efeitos disruptivos no mercado de trabalho, que evoluem de forma lenta e duradoura”, afirma.
Soares —que é coautor com Dix-Carneiro e Gabriel Ulyssea de outro trabalho, que identifica um aumento da criminalidade em regiões negativamente afetadas pela abertura comercial no Brasil— ressalta que a metodologia desses estudos permite a descoberta de consequências de crises econômicas de difícil mensuração em outros contextos.
Uma área de interesse crescente, que pode ser relacionada à pesquisa de Costa, Rocha e Marcantonio, é a relação entre o impacto da globalização em diferentes regiões dos países e a expansão do conservadorismo. O tema está no centro das discussões de eventos como o brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que pode ocorrer em breve após a ampla vitória parlamentar do primeiro-ministro Boris Johnson na semana passada.
Segundo os três pesquisadores brasileiros, seu trabalho é o primeiro a mostrar uma relação de causa e consequência entre uma crise econômica e o entrincheiramento de grupos políticos em democracias modernas e pode contribuir para o debate sobre o tema tanto no Brasil quanto no exterior. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O que se sabe sobre a sexualidade de Jesus? Houve um evangelho erótico?
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Os Evangelhos que a Bíblia católica nos oferece são uma fonte de sabedoria. Basta ter a coragem de lê-los sem preconceitos, sem artifícios de sacerdotes e pastores
Entre os muitos mistérios contidos nos Evangelhos cristãos e suas ainda muitas perguntas sem respostas, acredita-se que pôde ter existido um Evangelho secreto de Marcos, anterior ao que hoje conhecemos como um dos quatro Evangelhos canônicos e considerado o mais antigo. E até mesmo um Evangelho erótico.
“Quanto à possibilidade de que tenha existido um Evangelho secreto de Marcos, há por exemplo uma passagem muito concreta que difere claramente do Marcos oficial. Um texto que criou muitos problemas, pois houve algumas seitas, como os carpocracianos, que o interpretaram em chave homossexual ou erótica. Por isso deve ter desaparecido da versão posterior, que é a oficial atualmente. O texto diz: “E chegaram a Betânia. Havia ali uma mulher cujo irmão tinha morrido. Aproximando-se de Jesus, ajoelhou-se e lhe disse: ‘Filho de David, tem misericórdia de mim”, mas os discípulos a afastaram, e Jesus, "enfurecido, saiu com ela para o jardim, onde estava o monumento, e logo depois ouviu-se um grito procedente dali.” Jesus se aproximou e removeu a pedra da entrada do monumento. Em seguida, entrando no local onde estava o jovem, estendeu sua mão e o ressuscitou. “Levantando os olhos, o jovem o amou e começou a lhe pedir que o deixasse ficar com ele. E, ao sair do monumento, eles entraram na casa do jovem, que era rico. Passados seis dias, Jesus lhe disse o que tinha que fazer e, durante a noite, o jovem veio até ele, usando um vestido de linho sobre seu corpo nu. E ficou com ele naquela noite, pois Jesus lhe mostrou o mistério do reino de Deus.”
A ideia que estudiosos da Bíblia, como John Dominic Crossan, têm sobre essa passagem é que esta versão figurava no Marcos secreto, sendo depois censurada. Acredita-se que poderia ser um texto usado durante o ritual nudista do batismo, razão pela qual alguns fiéis teriam lhe dado uma interpretação de tipo erótica. Por isso, teria sido excluído da versão oficial. Mas há quem pense que, mais do que ser eliminado, esse texto foi diluído em diversas partes no texto oficial de Marcos. Por exemplo, restos daquele texto estariam no curioso episódio de Marcos que conta que, no momento em que foram deter Jesus no Jardim das Oliveiras, “todos o abandonaram e fugiram” e que “um jovem, envolto em um lençol sobre o corpo nu”, seguia Jesus e, após tê-lo alcançado, “largando o lençol, fugiu nu”. E depois, levantando-se, se voltou à margem do Jordão.
Crossan afirma que, nos tempos de Clemente de Alexandria, chegaram a existir três versões do Evangelho de Marcos: o secreto, o canônico e o erótico, e que o Marcos secreto deve ter exercido um papel muito importante na liturgia do batismo, pois, do contrário, simplesmente o teriam destruído. Por outro lado, Jesus não batizava, embora tenha sido batizado por João Batista, e o batismo nudista não tinha por que ser visto de forma homossexual como fizeram algumas seitas dissidentes.
Tudo isso, explicam os especialistas bíblicos, revela a importância que muitos Evangelhos considerados apócrifos teriam tido se não tivessem sido censurados e inclusive eliminados muitas vezes só porque podiam ferir a sensibilidade dos legalistas e dos alérgicos a qualquer tipo de sexualidade.
Hoje não se descarta que Jesus, se for verdade que não se casou —coisa cada vez mais difícil de provar, considerando a cultura daquele tempo, em que era inconcebível que um homem não se casasse e tivesse uma família—, pode ter sido homossexual, como, por sinal, aparece na sátira produzida pelo Porta dos Fundos, um produto humorístico que não deveria escandalizar ninguém. Chegou-se a supor que o companheiro de Jesus fosse o jovem discípulo João, um dos poucos dos quais não se fala que tenha formado uma família.
A questão do possível casamento de Jesus com Madalena, que não era a prostituta que a Igreja afirmou durante anos, e sim uma mulher de alta formação intelectual, do movimento gnóstico, do qual existe um Evangelho escrito por ela entre os manuscritos encontrados no Alto Egito, é outro dos temas sobre os quais a Igreja prefere fechar os olhos.
Há quem tenha visto, por exemplo, na passagem da crucificação, onde se conta que foi Madalena, e não sua mãe ou os apóstolos, por exemplo, a primeira pessoa à qual Jesus apareceu após ser ressuscitado, a demonstração de que ela era sua mulher. Até mesmo São Tomás de Aquino, doutor da Igreja, atormentava-se pensando por que Jesus não tinha aparecido primeiro aos apóstolos e o havia feito a uma mulher, já que, além disso, naquele tempo o testemunho de uma mulher não tinha valor nem durante um julgamento. Não se acreditava na palavra da mulher.
Jesus, que já havia quebrado todos os preconceitos burgueses e culturais para pregar a força da liberdade do espírito, quis naquele momento fundamental, como foi a passagem da morte à vida, deixar o registro, ainda que de maneira metafórica, de que ele não aceitava preconceitos sociais. E que se para ele não existia diferença entre judeus e gentios, entre justos e pecadores, tampouco existia entre homem e mulher. Foi para outra mulher, a Samaritana, perto de um poço, que revelou que chegaria o dia em que os filhos de Deus não precisariam disputar templos e catedrais para a adoração de Deus; renderiam culto em seu próprio coração e na liberdade de espírito.
Os Evangelhos que a Bíblia católica nos oferece são uma fonte de sabedoria antiga e moderna ao mesmo tempo. Apesar de terem sido censurados, a maioria dos outros Evangelhos existentes nos primeiros anos e séculos do cristianismo constituem ainda hoje não só uma importante fonte literária, mas libertadora de tabus. Basta ter a coragem de lê-los sem preconceitos, sem artifícios de sacerdotes e pastores. Esses textos possuem uma grande força espiritual e humana. E nos convocam a nos libertarmos de preconceitos e imposições externas castradoras da cultura. Querer domesticá-los e usá-los para acorrentar consciências seria o maior pecado, para o qual Jesus dizia que não havia perdão. Fonte: https://brasil.elpais.com
A revolução cultural cristã
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Os cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos
Luiz Felipe Pondé
A violência é a parteira da história. Essa ideia era comum entre intelectuais de esquerda no século 20. Hoje, a ideia é politicamente incorreta. A esquerda se fez vegana. A expressão Revolução Cultural chinesa era objeto de orgasmo para gente chique como Sartre e Beauvoir: a via maoísta.
A Revolução Cultural chinesa nos anos 1960 foi um massacre. Uso a expressão revolução cultural cristã aqui como analogia com a Revolução Cultural chinesa.
O cristianismo teve sua revolução cultural principalmente entre os séculos 4º e 6º d.C., após a conversão do imperador Constantino (272 d.C. - 337 d.C.). Foi violenta, sangrenta, boçal e eficaz, como a chinesa. Mas, enquanto pega bem louvar a chinesa, é chique, nos jantares inteligentes, xingar a cristã.
É justamente a revolução cultural cristã que a jornalista britânica Catherine Nixey narra no seu excelente livro “A Chegada das Trevas: Como os Cristãos Destruíram o Mundo Clássico” (pela editora portuguesa Desassossego).
A rigor não há nada de novo no que ele narra, para quem conhece um pouco do traçado, mas o livro tem inúmeros méritos: conciso, elegante, bom aparelho crítico com relação às fontes, oferecendo uma bela síntese do modo como muitos cristãos, entre eles os famosos monges do deserto, chamados por ela de “fedorentos”, destruíram templos, estátuas, pergaminhos (livros) e fontes essenciais do que era a cultura clássica.
Esses cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos e bem distantes da ideia que se tem desses heróis do paliocristianismo. Nomes como João Crisóstomo, Santo Agostinho e Basílio Magno saem bem chamuscados depois das passagens em que ficam claras suas reservas para com a
cultura clássica.
Nixey reconhece que muito foi salvo graças a cristãos cultos, mas, como ela mesma repete, muito, muito, muito mais foi destruído graças às taras da maioria dos idiotas da fé. Filha de pais cristãos, Nixey está longe dos tiques nervosos do anticlericalismo típico de quem conhece pouco do cristianismo em geral.
O mundo clássico era belo, rico, produtivo e com tendências que chamaríamos, anacronicamente, de tolerante, em oposição ao cristianismo, que, com sua marca monoteísta e proselitista, varreu o mundo greco-romano com a sanha do Deus único.
Mas Nixey não é nenhuma idealista do mundo clássico. Por exemplo, sua descrição dos banhos romanos, objeto de ódio dos cristãos “puritanos”, não deixa dúvida: eram imundos, fedorentos, promíscuos. Sua água fedia e a chance de você pegar todo tipo de doença era enorme.
Todavia, a revolução cultural cristã, como a chinesa, devastou a herança clássica. Teríamos mais tesouros, além de Platão, Aristóteles, Sófocles, Marco Aurélio, Sêneca, entre outros, se esses malucos fanáticos não tivessem se posto a destruir as fontes. No que tange à beleza dos templos greco-romanos, a devastação foi monstruosa.
Um dos pontos mais fortes do livro está no desmonte da ideia de que os oficiais romanos eram, na sua maioria, uns tarados pelo sangue inocente cristão.
A análise dos autos em que oficiais romanos tentavam salvar cristãos fanáticos do martírio é excelente. Muito distante da falsa imagem que parte da história oficial do cristianismo e o cinema construíram, a maioria dos oficiais romanos era gente razoável que estava muito longe de querer “rolo” com um bando de fanáticos.
E aqui, vem, a meu ver, o coração da tese da autora. Descrevendo um desses oficiais romanos encarregados de lidar com a sanha fanática dos mártires malucos, Nixey diz algo assim: “Como membro da elite romana, e de toda elite, era um homem bem educado o bastante para não crer na religião, qualquer que fosse ela, mas, também, era bem formado o bastante para não desdenhar de nenhuma delas”.
Aqui reside toda a diferença de uma verdadeira atitude culta em relação às religiões: se, por um lado, a adesão a elas revela uma certa pobreza de espírito, o desprezo para com elas, revela uma certa pobreza de alma. Desdenhar das religiões é um atestado de fraqueza intelectual.
*Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.
Segunda-feira, 16 de dezembro-2019. 3ª Semana do Advento. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Inclinai, ó Deus, o vosso ouvido de Pai À voz da nossa súplica, E iluminar as trevas do nosso coração com a visita do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 21, 23-27)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 23Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade? 24Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço. 25Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele? 26E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta. 27Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.
3) Reflexão
O evangelho de hoje descreve o conflito que Jesus teve com as autoridades religiosas da época depois que expulsou os vendedores do Templo. Os sacerdotes e anciãos do povo queriam saber com que autoridade Jesus fazia as coisas a ponto de entrar no Templo e expulsar os vendedores (cf. Mt 21,12-13). As autoridades se consideravam os donos de tudo e achavam que ninguém podia fazer nada sem a licença delas. Por isso, perseguiam a Jesus e procuravam mata-lo. Algo semelhante estava acontecendo nas comunidades cristãs dos anos setenta-oitenta, época em que foi escrito o evangelho de Mateus. Os que resistiam às autoridades do império eram perseguidos. Havia outros que, para não serem perseguidos, tentavam conciliar o projeto de Jesus com o projeto do império romano (cf. Gal 6,12). A descrição do conflito de Jesus com as autoridades do seu tempo era uma ajuda para os cristãos continuarem firmes nas perseguições e não se deixarem manipular pela ideologia do império. Também hoje, alguns que exercem o poder, tanto na sociedade como na igreja e na família, querem controlar tudo como se fossem eles os donos de todos os aspectos da vida do povo. Às vezes, chegam até a perseguir os que pensam diferente. Com estes pensamentos e problemas na cabeça, vamos ler e meditar o evangelho de hoje.
Mateus 21,23: A pergunta das autoridades religiosas a Jesus
“Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se aproximaram, e perguntaram: Com que autoridade fazes tais coisas? Quem foi que te deu essa autoridade?" Jesus circula, novamente, na enorme praça do Templo. Logo aparecem alguns sacerdotes e anciãos para interrogá-lo. Depois de tudo que Jesus já tinha feito, na véspera, eles querem saber com que autoridade ele faz as coisas. Eles não perguntam pela verdade nem pelo motivo que levou Jesus a expulsar os vendedores (cf. Mt 21,12-13). Perguntam apenas pela autoridade. Eles acham que Jesus deve prestar conta a eles. Pensam ter o direito de controlar tudo. Não querem perder o controle das coisas.
Mateus 21,24-25ª: A pergunta de Jesus às autoridades
Jesus não se nega a responder, mas mostra a sua independência e liberdade e diz: "Eu também vou fazer uma pergunta para vocês. Se responderem, eu também direi a vocês com que autoridade faço isso. De onde era o batismo de João? Do céu ou dos homens?". Pergunta inteligente, simples como a pomba e esperta como a serpente! (cf. Mt 10,16). A pergunta vai revelar a falta de honestidade dos adversários. Para Jesus, o batismo de João era do céu, vinha de Deus. Ele mesmo tinha sido batizado por João (Mt 3,13-17). Os homens do poder, ao contrário, tinham tramado a morte de João (Mt 14,3-12). Mostraram, assim, que não aceitavam a mensagem de João e que consideravam o batismo dele como coisa dos homens e não de Deus.
Mateus 21,25b-26 : Raciocínio das autoridades
Os sacerdotes e os anciãos perceberam o alcance da pergunta e raciocinavam entre si da seguinte maneira: "Se respondemos que vinha do céu, ele vai dizer: Então, por que vocês não acreditaram em João? Se respondemos que vinha dos homens, temos medo da multidão, pois todos consideram João como um profeta”. Por isso, para não se expor, responderam: “Não sabemos!” Resposta oportunista, fingida e interesseira. O único interesse deles era não perder a sua liderança junto do povo. Dentro deles mesmos, já tinham decidido tudo: Jesus devia ser condenado e morto (Mt 12,14).
Mateus 21,27: Conclusão final de Jesus
E Jesus disse a eles: Pois eu também não vou dizer a vocês com que autoridade faço essas coisas". Por causa da sua total falta de honestidade, eles não merecem resposta de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1-Alguma vez, você já se sentiu controlado ou observado, indevidamente, pelas autoridades, em casa, no trabalho, na igreja? Qual foi a sua reação?
2-Todos e todas temos alguma autoridade. Mesmo numa simples conversa entre duas pessoas, cada uma exerce algum poder, alguma autoridade. Como uso o poder, como exerço a autoridade: para servir e libertar ou para dominar e controlar?
5) Oração final
Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos, ensina-me tuas veredas. Faz-me caminhar na tua verdade e instrui-me, porque és o Deus que me salva, e em ti sempre esperei. (Sal 24, 4-5)
Netflix no céu: Eu gosto da minha liberdade de expressão sem 'mas'
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— Senhor, temos um problema.
— O que se passa, Pedro?
— Já vistes o novo especial do Porta dos Fundos, na Netflix?
— A tua pergunta é se eu, Deus todo-poderoso, Senhor do Universo, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, vi um programa da Netflix? Já, sim. Subscrevi o serviço de streaming por causa do “Breaking Bad” e agora tenho visto tudo.
— Estais a ser irônico, Senhor?
— Claro, Pedro.
— Eu preferia quando Vos exprimíeis por meio de parábolas, Senhor. Com a ironia ainda é mais difícil entender o que Vós quereis dizer.
— Neste milênio estou a experimentar a ironia. Habitua-te.
— Bom, é o seguinte: um grupo de comediantes brasileiros fez um filme em que Vós sois gay.
— Oh! Como é possível? Estou tão ofendido!
— A sério, Senhor?
— Não. Presta atenção ao tom. A ironia depende muito do tom.
— Mas, Senhor, eles podem fazer isso? Será que podemos rir de tudo? Quais são os limites do humor?
— Essa questão interessa-me muito.
— Ironia?
— Bravo.
— Muita gente ficou ofendida, Senhor. Dom Henrique Soares, da Arquidiocese de Palmares, cancelou a sua assinatura da Netflix em homenagem a Vós.
— Que homenagem bonita. Sabe quando, na última ceia, eu peguei o pão e disse: “Tomai e comei todos. Fazei isto em memória de mim”? Devia ter acrescentado: “E cancelai serviços de streaming em memória de mim”, também.
— Essa eu percebi. É ironia. Mas Eduardo Bolsonaro também não gostou do filme.
— Quem é?
— É o filho do presidente do Brasil. Foi visitar o pai ao hospital com uma pistola no cinto.
— Ah, sim. Um homem que absorveu bem a minha mensagem de paz e de amor.
— Exato… Estais a ser irônico de novo?
— Claro.
— Estais imparável, Senhor. Ele disse: “Somos a favor da liberdade de expressão, mas vale a pena atacar a fé de 86% da população?”.
— Ah. Uma dessas pessoas que diz “somos a favor da liberdade de expressão, mas”. O “mas” é que interessa, Pedro. Eu gosto da minha liberdade de expressão sem “mas”. É liberdade de expressão sem “mas”, e café sem açúcar. Em ambos, não fica tão docinho, mas não estraga o verdadeiro sabor.
— Então não estais ofendido, Senhor? Não vale a pena lançar uma praga sobre o Brasil?
— Não. Até porque duvido que eles notariam. Fonte: www1.folha.uol.com.br
*Ricardo Araújo Pereira
Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.
*Dia 15: 3º Domingo do Advento - Ano A.
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A liturgia deste domingo lembra a proximidade da intervenção libertadora de Deus e acende a esperança no coração dos crentes. Diz-nos: "não vos inquieteis; alegrai-vos, pois a libertação está a chegar".
A primeira leitura anuncia a chegada de Deus, para dar vida nova ao seu Povo, para o libertar e para o conduzir, num cenário de alegria e de festa, para a terra da liberdade.
O Evangelho descreve-nos, de forma bem sugestiva, a ação de Jesus, o Messias (esse mesmo que esperamos neste Advento): Ele irá dar vista aos cegos, fazer com que os coxos recuperem o movimento, curar os leprosos, fazer com que os surdos ouçam, ressuscitar os mortos, anunciar aos pobres que o "Reino" da justiça e da paz chegou. É este quadro de vida nova e de esperança que Jesus nos vai oferecer.
A segunda leitura convida-nos a não deixar que o desespero nos envolva enquanto esperamos e aguardarmos a vinda do Senhor com paciência e confiança.
LEITURA I (Is 35, 1-6a.10): ATUALIZAÇÃO
Para os otimistas, o nosso tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas, em que se abre todo um mundo de possibilidades ao homem; para os pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas, de risco de holocausto nuclear... Para uns e para outros, é um tempo de desafios, de interpelações, de procura, de risco... Como é que nós nos relacionamos com este mundo? Vemo-lo com os olhos da esperança, ou com os óculos negros do desespero?
Os crentes não podem, contudo, esquecer que "Deus aí está": a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. É com esta certeza da presença de Deus e com a convicção de que Ele não nos deixará abandonados nas mãos das forças da morte que somos convidados a caminhar pela vida e a enfrentar a história.
O Advento é o tempo em que se anuncia e espera a intervenção salvadora de Deus em favor do seu Povo. No entanto, Ele só virá se eu estiver disposto a acolhê-l'O; Ele só intervirá se eu estiver disposto a receber de braços abertos a proposta de libertação que Ele me vem fazer... Estou preparado para acolher o Senhor? Ele tem lugar na minha vida? A sua proposta libertadora encontrará eco no meu coração?
O profeta é o homem que rema contra a maré... Quando todos cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte do sol poente, um novo amanhã. Ele vai, então, gritar aos quatro ventos a esperança, fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta empenhada por um mundo melhor. É este testemunho de esperança que procuramos dar?
EVANGELHO (Mt 11, 2-11): ATUALIZAÇÃO
O texto evangélico identifica Jesus com a presença salvadora e libertadora de Deus no meio dos homens. Neste tempo de espera, somos convidados a aguardar a sua chegada, com a certeza de que Deus não nos abandonou, mas continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-nos a salvação.
Os "sinais" que Jesus realizou enquanto esteve entre nós têm de continuar a acontecer na história; agora, são os discípulos de Jesus que têm de continuar a sua missão e de perpetuar no mundo, em nome de Jesus, a ação libertadora de Deus.
Os que vivem amarrados ao desespero de uma doença incurável encontram em nós um sinal vivo do Cristo libertador que lhes traz a salvação?
Os "surdos", fechados num mundo sem comunicação e sem diálogo, encontram em nós a Palavra viva de Deus que os desperta para a comunhão e para o amor?
Os "cegos", encerrados nas trevas do egoísmo ou da violência, encontram em nós o desafio que Deus lhes apresenta de abrir os olhos à luz?
Os "coxos", impedidos de andar, encontram em nós a proximidade dos caminhos de Deus?
Os presos, privados da liberdade, escondidos atrás das grades em que a sociedade os encerra, encontram em nós a Boa Nova da liberdade?
Os "pobres", marginalizados, sem voz nem dignidade, sentem em nós o amor de Deus?
Mais uma vez, somos interpelados e questionados pela figura vertical e coerente de João... Ele não é um pregador da moda, cujas ideias variam conforme as flutuações da opinião pública ou os interesses dos poderosos; nem é um charlatão bem vestido, que prega para ganhar dinheiro, para defender os seus interesses, ou para ter uma vida cômoda e sem grandes exigências... Mas é um profeta, que recebeu de Deus uma missão e que procura cumpri-la, com fidelidade e sem medo.
A minha vida e o meu testemunho profético cumprem-se com a mesma verticalidade e honestidade, ou estou disposto e vender-me a interesses menos próprios, se isso me trouxer benefícios?
A "dúvida" de João acerca da messianidade de Jesus não é chocante, mas é sinal de uma profunda honestidade... Devemos ter mais medo daqueles que têm certezas inamovíveis, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, do que daqueles que procuram, honestamente, as respostas às questões que a vida todos os dias coloca.
Sou um fundamentalista, que nunca se engana e raramente tem dúvidas, ou alguém que sabe que não tem o monopólio da verdade, que ouve os irmãos, e que procura, com eles, descobrir o caminho verdadeiro?
*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA
Sábado, 14 de dezembro-2019. 2ª Semana do Advento. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, que desponte em nossos corações o esplendor da vossa glória, para que, vencidas as trevas do pecado, a vinda do vosso Unigênito revele que somos filhos da luz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 17, 10-13)
Ao descerem do monte, 10os discípulos perguntaram a Jesus: Por que dizem os escribas que Elias deve voltar primeiro? 11Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas. 12Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do Homem. 13Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Os discípulos acabaram de presenciar Moisés e Elias reverenciando Jesus na transfiguração sobre o Monte (Mt 17,3). Era crença geral do povo de que Elias devia voltar para preparar a vinda do Reino. Dizia o profeta Malaquias: “Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total. (Mal 3,23-24; cf. Eclo 48,10). Os discípulos querem saber: "O que significa o ensinamento dos doutores da Lei, quando dizem que Elias deve vir antes?" Pois Jesus, o messias, já estava aí, já tinha chegado, e Elias ainda não veio. Qual o valor desse ensinamento do retorno de Elias?
Jesus responde: “Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo”. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.
Naquela situação de dominação romana que desintegrava o clã e a convivência familiar, o povo esperava que Elias voltasse para reconstruir as comunidades: reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais. Esta era a grande esperança do povo. Hoje, da mesma maneira, o sistema neoliberal do consumismo desintegra as famílias e promove a massificação que destrói a vida comunitária.
Reconstruir e refazer o tecido social e a convivência comunitária das família é perigoso, pois mina pela base o sistema de dominação. Por isso, João Batista foi morto. Ele tinha um projeto de reforma da convivência humana (cf. Lc 3,7-14). Ele realizava a missão de Elias (Lc 1,17). Por isso foi morto.
Jesus continua a mesma missão de João de reconstruir a vida em comunidade. Pois se Deus é Pai, somos todos irmãos e irmãs. Jesus reuniu os dois amores: amor a Deus e amor ao próximo e lhe deu visibilidade na nova maneira de conviver . Por isso, como João foi morto. Por isso, Jesus, o Filho do Homem será morto do mesmo jeito.
4) Para um confronto pessoal
1) Colocando-me na posição dos discípulos: a ideologia do consumismo tem poder sobre mim?
2) Colocando-me na posição de Jesus: tenho força para reagir e criar nova convivência humana?
5) Oração final
Que tua mão proteja teu escolhido, o homem que fortaleceste. De ti não nos separaremos mais, tu nos farás viver e invocaremos o teu nome. (Sl 79, 18-19)
Hino de Santa Luzia
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Hino de Santa Luzia
Divulgação: www.instagram.com/freipetronio
Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro.
13 de dezembro-2019, Festa de Santa Luzia.
Ó Santa Luzia,
Pedi a Jesus
Que sempre nos dê
Dos olhos a luz.
1-Aplaudamos todos
Com muita alegria
Os feitos heroicos
De Santa Luzia.
2-Siracusa, pátria
De tão grande Santa
Em que floresceu
Tão mimosa planta.
3-Melhor que Lucrécia
Melhor que Suzana
Soube defender-se
Das paixões humanas.
4-Eis a Virgem Sabia
Pura e vigilante
Une a fé as obras
Ama a Deus amante.
5-Odiou o corpo
Pra salvar a alma
E de Virgem Mártir
Traz nas mãos a palma.
6-Morreu e foi Santa
A Igreja o diz
Que Virgem ditosa!
Que Virgem feliz!
7-Desprezou o mundo
Gloria e vã riqueza
Hoje luz na glória
À celeste mesa.
8-Ó Santa Luzia
Vosso nome é luz
Vossa vida exemplo
Que a Jesus conduz.
O Corpo de Santa Luzia: Reportagem do Olhar.
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O Pe. Leonardi Giuseppe, dos Padres Cavanis- Direto de Veneza, Itália- fala sobre Santa Luzia- A Mártir. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 13 de dezembro-2019. www.olharjronalistico.com.br Conheça os Padres Cavanis. Acesse: www.cavanis.org
Jesus gay em especial do Porta dos Fundos atrai a ira não só de cristãos, mas também de muçulmanos
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Em outro programa, de 2018, Cristo era um mau caráter beberrão e hétero, mas não caiu no radar de religiosos
Para o Natal do ano passado, o Porta dos Fundos lançou um especial na Netflix, "Se Beber Não Ceie", em que Jesus era um baita de um mau caráter beberrão —e um bem hétero, aliás, de casinho com Maria Madalena.
O programa não caiu no radar de religiosos. O alvoroço estava guardado para 2019: "A Primeira Tentação de Cristo", o filme preparado para este fim de ano pelo grupo humorístico, despertou uma fúria interreligiosa que pôs na mesma arca de evangélicos a muçulmanos.
A grita evangélica foi a primeira a ecoar. Portais do segmento estamparam manchetes como "não escondem mais seu ódio" (Gospel Mais) e "o vilipêndio à fé com a conivência da Netflix" (Pleno News).
A Igreja Universal do Reino de Deus destacou em seu site um artigo que questiona o média-metragem em que "o Senhor Jesus é retratado como um adolescente indeciso em relação à Sua missão na Terra, que usa drogas, tem um relacionamento homossexual com o diabo e acredita que Deus é seu tio".
Um Deus, ressalta o texto, "arrogante e debochado, que despreza José e tem um romance extraconjugal com Maria, retratada como promíscua e interesseira".
Deputados ligados a bancadas religiosas fustigaram a produção, e um abaixo-assinado no site Charge.org acumulava 1,2 milhão de assinaturas até a tarde de quinta (12). Pede "o impedimento do filme" por "ofender gravemente os cristãos".
O parlamentar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é batista, deu seu pitaco. "Somos a favor da liberdade de expressão, mas vale a pena atacar a fé de 86% da população?"
O deputado Marco Feliciano (sem partido-SP) também se mostrou indignado. "Essa questão do Porta dos Fundos já passou do limite do razoável. Qualquer estudante de primeiro ano de direito sabe que nenhum direito é absoluto, nem mesmo a vida. Prova disso é que a Constituição permite a pena de morte em tempos de guerra”, diz à reportagem.
Desde o começo de dezembro no ar, a obra coleciona manifestações de repúdio que não se restringem a evangélicos.
Numa rede social, dom Henrique Soares, à frente da Arquidiocese de Palmares (PE), contou que cancelou sua assinatura no serviço de streaming. “Tinha que desfazê-la! Era o mínimo que poderia fazer! Desfi-la e senti-me feliz, contente, como quem presta uma homenagem a Alguém muito amado!"
Tido em alta conta por fileiras conservadoras do catolicismo brasileiro, o bispo questionou como é que pode, "em pleno tempo de preparação para o Natal do Senhor", a Netflix dar "um bofetão no rosto de todos os cristãos" e "cuspir na nossa cara, zombando da nossa fé".
A Anaji (Associação Nacional dos Juristas Islâmicos), por meio de seu presidente, Girrad Mahmoud Sammour, engrossou a coalizão ecumênica contra Porta dos Fundos/Netflix.
Os juristas muçulmanos, que têm Jesus como profeta, afirmam que a Constituição brasileira "deixa bem claro a proteção e respeito ao Sagrado". Se a Carta garante a liberdade de expressão, impõe a ela um "caráter relativo". Se atropelar o "ordenamento jurídico" e fomentar "aversões ou agressões a grupos religiosos", já era.
Sammour defende que é preciso ser solidário "aos nossos irmãos cristãos", já que "Deus diz no alcorão para nos auxiliarmos na virtude e piedade e não no pecado e hostilidade".
"Todos os cidadãos de bem", portanto, estão convocados a denunciar os vídeos, "independente da religião, pois a liberdade deve ser para todos sem exceção, pois amanhã os injustiçados seremos nós".
"Je Vous Salue, Marie", do francês Jean-Luc Godard, e "A Vida de Brian", do Monty Python, são exemplos de produções que revoltaram cristãos em décadas passadas.
Em outros cantos do mundo, são muçulmanos que costumam protagonizar embates com grupos culturais. De tempos em tempos, ilustrações de Maomé acendem o pavio dessa polêmica.
Para boa parte dessa comunidade religiosa, a representação de seu profeta máximo é uma das maiores ofensas à sua fé, capaz de provocar um ultraje tão grande quanto, digamos, ativistas que introduziram estátuas de Nossa Senhora em suas vaginas num protesto na visita do papa ao Brasil em 2013.
Caso de um jornal dinamarquês que, em 2006, publicou uma série de charges com Maomé —que, numa delas, tem no lugar do turbante uma bomba.
Sátiras assim anabolizam um preconceito generalizado contra a religião, reclamam muçulmanos. Por vezes, bastam para atentados terroristas como o que matou, em 2015, 12 pessoas na redação do Charlie Hebdo, semanário francês conhecido por tirar sarro de políticos e líderes religiosos.
"Eles [cristãos] sentiram na pele o que um muçulmano passa diariamente, de generalização quando uma célula podre faz algo de errado, de desrespeito ao nosso profeta", afirma Sammour à reportagem.
O presidente da Anaji enquadrou a produção como um catalisador de ódio. Por que retratar Jesus como gay seria isso? Ele responde: "Não há nenhuma indicação de que ele tenha sido homossexual, seja na Torá, no Evangelho ou no Corão. Estão criando algo que não existe, colocando as pessoas umas contra as outras".
O desagravo dos juristas islâmicos aos cristãos integra-se às chamadas guerras culturais, uma batalha no campo moral que costuma opor pelotões conservadores que se sentem ameaçados pelo que veem como uma horda progressista desprovida de valores "família".
Serviu não só para dar liga a um front que uniu vários credos. Também deu corda para bicadas internas, como franjas católicas ultraconservadoras que indagaram por que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) demorou tanto para se posicionar.
O Templário de Maria foi um desses grupos. Ao sublinhar o apoio dos muçulmanos, publicou em letras garrafais: "CNBB se mantém calada".
A entidade, por fim, falou. Na quinta (12), horas após ser procurada pela Folha, compartilhou uma nota assinada por seu presidente, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
"Quando há desrespeito em produções midiáticas, os meios de comunicação tornam-se violentos, verdadeiras armas que contribuem para ridicularizar e matar os valores mais profundos de um povo", diz. "Não podemos nos deixar conduzir por atitudes de quem, utilizando a inteligência recebida de Deus, agride esse mesmo Deus."
Gregório Duvivier, que encarna Jesus no filme, evoca o britânico Mick Hume, autor de "Direito a Ofender". "Sim, esse conteúdo pode ser ofensivo. Mas ofensa é um critério totalmente subjetivo. Contrariamente à calúnia, o Estado não tem o direito de arbitrar sobre o que é por si só ofensivo porque isso não existe."
Continua Duvivier, que é também colunista da Folha: "O Velho Testamento, pra mim, é super ofensivo. Não pode tocar em mulher menstruada".
O humorista lembra que o próprio Porta é uma feijoada de crenças. "Rafael Portugal [José, no filme] é evangélico. Antonio Tabet [que faz Deus] é espírita. Evelyn Castro [Maria] é católica. Eu, ateu praticante."
O que Duvivier diz que não consegue entender é por que, em 2018, "Jesus era mau caráter e não teve protesto, e neste ano ele é gay e fazem um escândalo".
"Me entristece perceber que, pra muita gente, Jesus ser gay é uma ofensa, quando na verdade é uma característica", afirma
Fábio Porchat, que interpreta o paquera do filho de Deus. "Muita gente diz que Jesus é branco, e ele não era. Característica. Mas estamos evoluindo, e a homofobia já é crime."
Tabet também se manifestou à Folha: "Acredito que meu Deus de amor, onisciente, onipresente e onipotente, tenha prioridades maiores que se ofender com um grupo de comediantes brasileiros. Dito isso, seria previsível que homens oportunistas e vaidosos, que acham que falam em nome de Deus mesmo sem procuração, queiram mobilizar fieis menos esclarecidos em torno de campanhas de boicote ou censura".
"No mais, a Netflix é uma plataforma de streaming. Você escolhe o que quer ver", diz Duvivier. "Isso não faz sentido."
Procurada, a plataforma não quis se pronunciar. Segundo Porchat, remover "A Primeira Tentação de Cristo" do ar, como pedem os opositores religiosos, "não é uma coisa nem que passou pela cabeça do Porta dos Fundos".
A Netflix só confirma que a retirada não está em seus planos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Sexta-feira, 13 de dezembro-2019. 2ª Semana do Advento. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus onipotente, dai ao vosso povo esperar vigilante a chegada do vosso Filho, para que, instruídos pelo próprio Salvador, corramos ao seu encontro como nossas lâmpadas acesas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 11, 16-19)
Naquele tempo disse Jesus: 16 “Com quem vou comparar esta geração? É parecida com crianças sentadas nas praças, gritando umas para as outras: 17 ‘Tocamos flauta para vós, e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes!’ 18 Veio João, que não come nem bebe, e dizem: ‘Tem um demônio’. 19 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores’. Mas a sabedoria foi reconhecida em virtude de suas obras”.conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
3) Reflexão
Os líderes, os sábios, não gostam quando alguém os critica ou questiona. Isto acontecia no tempo de Jesus e acontece hoje, tanto na sociedade, como na igreja. João Batista veio, criticou, e não foi aceito. Diziam:”tem o demônio!” Jesus veio, criticou e não foi aceito. Diziam: -“Beberão!”. –“Louco!” (Mc 3,21) -“Tem o diabo!” (Mc 3,22) -“É um samaritano!” (Jo 8,48) -“Não é de Deus!” (Jo 9,16). Hoje acontece o mesmo. Há pessoas que se agarram ao que sempre foi ensinado e não aceitam outra maneira de explicar e viver a fé. Logo inventam motivos e pretextos para não aderir: -“É marxismo!” -“É contra a Lei de Deus!” -“É desobediência à tradição e ao magistério!”
Jesus se queixa da falta de coerência do seu povo. Eles inventavam sempre algum pretexto para não aceitar a mensagem de Deus que Jesus lhes trazia. De fato, é relativamente fácil encontrar argumentos e pretextos para refutar os que pensam diferente de nós.
Jesus reage e mostra a incoerência deles. Eles se consideravam sábios, mas não passavam de crianças que querem divertir o povo na praça e que reclamam quando o povo não brinca conforme a música que eles tocam. Os que se diziam sábios não têm nada de realmente sábio. Apenas aceitavam o que combinava com as idéias deles. E assim eles mesmos pela sua atitude incoerente se condenavam a si mesmos.
4) Para um confronto pessoal
1) Até onde sou coerente com a minha fé?
2) Tenho consciência crítica com relação ao sistema social e eclesiástico que, muitas vezes, inventa motivos e pretextos para legitimar a situação e impedir qualquer mudança?
5) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do Senhor encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)
Neopentecostais armados atormentam minorias religiosas brasileiras
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Evangélicos ligados a gangues criminosas vêm atacando membros de minorias religiosas
Terrence McCoy
THE WASHINGTON POST
Ele ouviu batidas fortes na porta. Estranho, pensou o sacerdote –ele não estava esperando ninguém. Marcos Figueiredo foi até a entrada do terreiro e abriu a porta. Armas. Três delas. Todas apontadas para ele.
O “Bonde de Jesus” havia chegado. Eram três membros de uma quadrilha de cristãos evangélicos extremistas que assumiu o controle do bairro pobre de Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Primeiro a quadrilha montou barreiras nas ruas para impedir a entrada da polícia e criar um refúgio seguro para o tráfico a uma hora de carro do Rio de Janeiro. Agora, estava atacando qualquer pessoa cuja religião não se alinhasse com a sua. Isso incluía impor o fechamento de templos de religiões de matriz africana, como o terreiro de candomblé de Marcos Figueiredo.
“Ninguém aqui quer saber de macumba”, disse um dos agressores a Figueiredo, segundo o depoimento que ele deu às autoridades. “Você tem uma semana para acabar com isso daqui tudo.”
Eles foram embora dando tiros no ar e deixando Figueiredo com uma escolha impossível: sua fé ou sua vida.
É uma decisão que mais brasileiros estão sendo forçados a tomar. À medida que o cristianismo evangélico reconfigura o mapa espiritual do maior país da América Latina, atraindo dezenas de milhões de fiéis, conquistando poder político e ameaçando a hegemonia histórica da Igreja Católica, seus fiéis mais radicais, em muitos casos filiados a gangues criminosas, vêm atacando com frequência crescente membros de minorias religiosas não cristãs no Brasil.
Sacerdotes foram mortos. Crianças foram apedrejadas. Uma idosa foi gravemente ferida. Provocações e ameaças de morte são comuns. As quadrilhas hasteiam a bandeira de Israel, país visto por alguns evangélicos como necessário para assegurar o retorno de Cristo à terra.
Como a santeria e o vodu, o candomblé tem suas raízes nas crenças trazidas para a América Latina por escravos vindos da África ocidental. E está desaparecendo de comunidades inteiras.
“Alguns deles se dizem ‘traficantes de Jesus’, criando uma identidade singular”, disse Gilbert Stivanello, comandante da unidade de crimes de intolerância da polícia do Rio de Janeiro. “Eles portam armas e vendem drogas, mas se sentem no direito de proibir as religiões de matriz africana, dizendo que estão ligadas ao demônio.”
A violência crescente deixa os evangélicos tradicionais chocados. “Quando vejo esses terreiros, rezo contra eles, porque há uma influência demoníaca em ação ali”, comentou o missionário americano David Bledsoe, que vive no Brasil há duas décadas. “Mas eu condenaria esses atos.”
O Rio de Janeiro, que durante muito tempo abrigou um conjunto diverso de religiões afro-brasileiras, hoje também é o centro do neopentecostalismo brasileiro, uma vertente acirrada do movimento evangélico que é mais frequentemente vinculada à intolerância.
O prefeito do Rio, Marecelo Crivella (Republicanos) é bispo de uma igreja pentecostal. O Rio é a cidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), batizado no rio Jordão e conduzido ao cargo pelo voto pentecostal.
E foi no Rio que nasceu a poderosa Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo, aliado estreito de Bolsonaro e autor de um livro que condena as religiões afro-brasileiras como “diabólicas” e “filosofias usadas por demônios”. O livro chegou a ser proibido por algum tempo por um juiz que o considerou “abusivo e prejudicial”.
Frequentemente defendidas pelos pastores pentecostalistas brasileiros, ideias como essas agora ecoam nas favelas cariocas.
As denúncias de ataques contra adeptos das religiões afro-brasileiras aumentaram de 14 em 2016 para 123 nos dez primeiros meses deste ano no estado do Rio de Janeiro. As autoridades estaduais dizem que essas cifras são inferiores ao número real; muitas vítimas teriam medo de abrir a boca.
Mais de 200 terreiros foram fechados neste ano em função de ameaças, segundo a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), sediada no Rio. É o dobro do número do ano passado. Milhares de pessoas foram privadas de seus locais de culto.
Marcos Figueiredo não tinha dinheiro para se mudar para outro lugar. Não podia fundar uma congregação nova. Tinha que fazer uma opção.
Resistir? Ou fechar seu terreiro? Ele tinha uma semana para decidir.
REVOLUÇÃO ESPIRITUAL
Em uma geração o Brasil passou por uma transformação espiritual como a de poucos outros lugares no planeta. Ainda em 1980, cerca de nove em cada dez brasileiros se identificavam como católicos. Mas essa parcela caiu vertiginosamente, para 50%, e em pouco tempo será superada pela dos evangélicos, que hoje formam um terço da população.
O televangelismo corre solto na TV. A indústria de música evangélica movimenta cerca de US$1 bilhão. Políticos evangélicos puxaram o país para a direita nas questões sociais. E o sistema carcerário, há anos o maior centro de recrutamento das quadrilhas criminosas, virou o campo de uma conversão.
Pesquisas revelam que 81 das cem organizações religiosas que trabalham com questões sociais dentro dos presídios são evangélicas. A IURD diz que despachou um exército de 14 mil fiéis voluntários para converter os detentos.
A professora de sociologia Cristina Vital da Cunha, da Universidade Federal Fluminense, estuda há décadas o evangelismo nas favelas cariocas. Ela disse: “Alguns pastores e denominações fizeram uma aposta estratégica na conversão dos traficantes nos locais privilegiados na hierarquia do crime”.
Jorge Duarte, 63, era sacerdote do terreiro de candomblé mais antigo do Parque Paulista. Ele se recorda de quando o Terceiro Comando Puro tomou o poder, por volta de 2012.
O Terceiro Comando Puro controlava a programação dos terreiros, decretando um toque de recolher, permitindo as celebrações religiosas apenas em dias determinados e limitando o número de fiéis que podiam ir aos terreiros. Carros desconhecidos que entrassem na comunidade eram barrados por homens armados. O uso de roupas brancas, tradicionais no candomblé, foi proibido em público.
Começaram a chegar a Parque Paulista histórias de perseguição religiosa em outras partes da cidade: disseram a uma menina de 11 anos que ela ia arder no inferno e depois lhe deram uma pedrada na cabeça. Uma mulher de 65 anos foi apedrejada. Imagens de seu rosto ferido se espalharam pela televisão em toda a cidade.
Uma sacerdotisa de candomblé foi forçada sob a mira de armas a destruir todos os artefatos em seu terreiro, enquanto bandidos a atormentavam.
“Todo o mal precisa ser desfeito em nome de Jesus!”, disse um homem em um vídeo da agressão. “Sou a favor da honra e glória de Jesus!”, acrescentou outro. “Quebre tudo, porque você é o diabo!”, outro comandou.
Faz dois anos que Carmen Flores foi forçada a destruir seus artefatos –seus vasos de cerâmica e estatuetas de orixás. Mas ela ainda ouve as provocações em sua cabeça.
“Tenho medo de alguém vir para cá e nos massacrar”, disse Flores, 68. “Tenho medo de sair para a rua. Tenho medo de pegar o ônibus. E não sou só eu.”
TERROR RELIGIOSO
Pouco depois da visita que fizeram a Marcos Figueiredo, os homens do Bonde de Jesus foram ao terreiro mais antigo do Parque Paulista. Quatro membros da quadrilha bateram à porta, apontaram uma arma para a sacerdotisa de 86 anos e mandaram que ela destruísse todos os objetos religiosos da casa e ateasse fogo a ela.
“É tortura psicológica”, disse sua neta, Vivian Lessa. “Você tem uma coisa como sagrada e é forçada a quebrar essa coisa, enquanto eles ficam dizendo ‘ninguém vem te salvar’.”
Isso mostrou a Figueiredo tudo o que ele precisava saber. Se a quadrilha estava disposta a fazer isso com uma senhora de 86 anos, o que não faria com ele? Ele não resistiria. Fecharia o terreiro.
Em agosto, a polícia anunciou a prisão do Bonde de Jesus, formado por oito membros do Terceiro Comando Puro. Segundo as autoridades, no prazo de algumas semanas seus integrantes haviam destruído ou forçado o fechamento de um terreiro depois de outro. Um dos homens era o líder do Terceiro Comando no Parque Paulista. Além de suas responsabilidades na quadrilha, trabalhava como pastor evangélico.
Figueiredo viu os relatos da imprensa mas não viu os rostos de seus agressores entre os detidos. Eles ainda estavam lá fora e retornariam. E quando o fizessem, como ele poderia confiar que outros moradores o ajudassem, sendo que não haviam ajudado antes? Como poderia confiar que o governo ajudaria, quando tantos políticos são evangélicos?
Seria mais seguro fechar o terreiro. Em pouco tempo, todos os terreiros que ele conhecia no Parque Paulista tinham desaparecido.
“Este daqui fechou”, disse Figueiredo, percorrendo o bairro de carro e apontando para uma casa abandonada.
“Fechado, também”, falou, vendo outra. “Lá na frente havia outro terreiro, mas fechou as portas.”
Olhando para o bairro, onde sua religião foi proibida, Figueiredo enxergou o futuro.
“A teocracia”, disse.
Com reportagem de Heloísa Traiano
Tradução de Clara Allain
O OLHAR NO MÉXICO: Nossa Senhora de Guadalupe-01
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12 DE DEZEMBRO, NOSSA SENHORA DE GUADALUPE: Nota: Nossa Senhora de Guadalupe ou Virgem de Guadalupe é a denominação de uma aparição mariana da Igreja Católica de origem mexicana, cuja imagem tem como seu principal local de culto a Basílica de Guadalupe, localizada no sopé do monte Tepeyac, ao norte da Cidade do México. Fonte: https://pt.wikipedia.org Divulgação: www.instagram.com/freipetronio
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