Incêndio atinge igreja matriz de Monte Santo/BA
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As chamas atingiram a sacristia, cortinas e o teto da igreja. Grande parte do material litúrgico foi destruído pelo fogo
Um incêndio atingiu a igreja matriz da cidade de Monte Santo, cidade a cerca de 360 quilômetros da capital baiana, na madrugada deste sábado (20). As informações são do G1 Bahia.
De acordo com informações do secretário de Agricultura, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Ordem Pública, Zeliomar Almeida, o fogo começou por volta das 3h, não havia ninguém no local no momento do acidente.
Zeliomar afirma ainda que inicialmente os moradores tentaram apagar as chamas com a ajuda de carros-pipas. As chamas atingiram a sacristia, cortinas e o teto da igreja. Grande parte do material litúrgico foi destruído pelo fogo.
O secretário relata que quando o fogo conseguiu ser controlado, parte da igreja já havia sido destruída. Os bombeiros chegaram ao local por volta das 7h30, 4 horas após o início das chamas, e fizeram o rescaldo para evitar que o fogo recomeçasse.
A demora no socorro dos bombeiros se deve a distância da sede da cidade, a mais próxima fica a 125 quilômetros do município, em Senhor do Bonfim. Fonte: http://bahia.ba
VIVENDO A SEMANA SANTA: VIGÍLIA PASCAL
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A - INTRODUÇÃO
Antes da reforma litúrgica de 1955, a primeira parte da liturgia era reservada quase ao clero e aos ministros. Essa cerimônia tinha participação de apenas um grupo restrito de fiéis. Após a reforma de Pio XII e do Vaticano II, essas celebrações foram reformuladas.
A celebração da noite do Sábado Santo abrange diversas partes: 1. A celebração da luz; 2. A Celebração Do Círio; 3. A Celebração da palavra; 4. A liturgia Batismal; 5. A liturgia eucarística.
1- A celebração da luz
É o início da comemoração da Ressurreição do Senhor.
Esse fato é a Nossa Vitória, garantia de nossa fé. As cerimônias são um convite á Alegria, à Esperança.
A bênção do fogo novo, tirado da pedra, é símbolo da luz, da fé que procede de Cristo, pedra Fundamental da Igreja. Dele sai o fogo que ilumina e abrasa os corações. É um costume que se originou na Gália (França) e pretende ser um sacramental substitutivo das fogueiras pagãs, que se acendiam no início da primavera, em louvor da divindade Votan, com a finalidade de se obter uma colheita dos frutos da terra.
O costume de se extrair fogo, golpeando uma pedra, provém da Antiguidade germânica pagã. A pedra passa a ser símbolo do Cristo que ilumina e abrasa os corações. Ele é a pedra angular que, sob os golpes da cruz, jorrou sobre nós o Espírito Santo.
2- O Círio Pascal
O círio pascal provém do costume romano de iluminar a noite com muitas lâmpadas. Esses lâmpadas passam a ser símbolos do Senhor Ressuscitado dentro da noite da morte.
Originalmente o círio tinha a altura de um homem, simbolizando Cristo-luz que brilha nas trevas.
Os teólogos francos e galicanos enriquecem-no com elementos simbólicos. Aparecem assim as inscrições de Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim, e a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ômega). Coloca-se ainda o ano litúrgico corrente, pois Cristo é o centro da História e a ele compete o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos.
Colocam-se, ainda, cinco grãos de incenso, nunca espécie de cravo de cera vermelha, rezando: Por suas santas chagas, suas chagas gloriosas, Cristo Senhor nos proteja e nos guarde.
Amém. O sacerdote acende depois o círio, que é a Luz de Cristo. Entoa-se o refrão: Eis a luz de Cristo. E todos respondem: Demos graças a Deus!
À porta de igreja ergue-se o círio e canta-se pela Segunda vez: Eis a luz de Cristo! E todos respondem: Demos graças a Deus!
Todos acendem suas velas no fogo do círio pascal e a procissão entra pela nave da igreja, que está nas trevas. Chegando ao altar, entoa-se pela terceira vez o canto: Eis a luz de Cristo! E o povo responde: Demos graças a Deus!
Acendem-se então todas as luzes da Igreja. O cortejo, que se forma atrás do círio pascal, é repleto de símbolos. É alusão às palavras de João: Eu sou a Luz do mundo; o que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). O círio, conduzido à frente, recorda a coluna de fogo pela qual Javé precedia na escuridão da noite o povo de Israel, ao sair da escravidão do Egito, e lhe mostrava o caminho (Êx 13,21).
Chegado ao altar, depois da solene entronização e incensação do círio, o sacerdote entoa a Proclamação solene da Páscoa, cantando o Exultet, tirado da palavra latina inicial desse canto solene. As idéias centrais desse canto, de autor desconhecido, são tiradas dos pensamentos de Santo Agostinho e de Santo Ambrósio. Canta as maravilhas da libertação do Senhor, vindo em socorro da humanidade e protegendo seu povo eleito. É um canto de louvor, ação de graças a Deus pelas maravilhas operadas na libertação do Egito. Esses fatos maravilhosos atingem sua plenitude pela vida, morte e ressurreição de Jesus, única Luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. É o cântico da Vitória de Cristo que realizou a Passagem, a Páscoa, para a vida do amor e da fraternidade.
3- A liturgia da palavra
A liturgia da palavra abrange as leituras bíblicas, sendo duas do Novo Testamento, a Epístola e o Evangelho. É uma alusão ao mistério de nossa Libertação. Por razões de ordem pastoral, é aconselhável a omissão de algumas leituras. Pode-se diminuir o número de leitores do Antigo Testamento, mas nunca se deve omitir a narração da passagem do Mar Vermelho, pelo seu caráter de figura tipológica do mistério Pascal. Para cada leitura há um Salmo Responsorial e uma oração. Após a sétima leitura, que é a última do Antigo Testamento, acendem-se as velas do altar e o sacerdote entoa o canto Gloria in excelsis, juntando ao canto o som festivo dos sinos da igreja.
Após a primeira leitura do Novo Testamento (Epístola), o sacerdote (ou outra pessoa indicada, ou o coral) entoa o cântico solene do Aleluia, quebrando o clima de tristeza que acompanha o tempo da Quaresma. Esse canto solene, repetido gradativamente três vezes, em tom cada vez mais alto, representa a saída de Cristo da sepultura e a entrada solene no mundo da glória e da luz dos céus. Por fim, proclama-se o evangelho, contando o relato da ressurreição, fato central da fé cristã.
4- A liturgia batismal
Após a liturgia da palavra segue-se o batismo de alguns fiéis perante a comunidade. É o momento justo para a celebração do sacramento do batismo, como entrada solene na comunidade daqueles que acreditam no Cristo ressuscitado.
A apresentação dos candidatos à comunidade e o cântico da ladainha de Todos os Santos mostram a universalidade da Igreja. A bênção da água batismal é feita com o simbolismo do mergulho do círio pascal na água, dando-lhe a força do Espírito Santo.
A renúncia do mal e a profissão solene de fé dão um caráter participativo à comunidade. Caso haja batizado de adultos, eles recebem também o sacramento da confirmação pela imposição das mãos do ministro do batismo, caso o bispo esteja presidindo a celebração. Quando não há batismo-confirmação, sempre se benze a água, que é levada solenemente até a pia batismal. É feita ainda a aspersão da água benta, recordando o batismo que deve ser renovado pela contínua inserção na fé e renúncia ao mal.
5- Liturgia eucarística
A liturgia eucarística, com a apresentação das oferendas e a prece, atinge o clímax da celebração pascal. O prefácio exalta o verdadeiro Cordeiro, que morrendo, destruiu a Morte e, ressuscitando, deu-nos uma vida Nova. Toda a prece eucarística é plena de alegria, louvor e ação de graças, pois Cristo se faz presente pessoalmente e não apenas nos sinais-símbolos.
A presença do Ressuscitado se faz atuante no ósculo da Paz, recordando Jesus que dirigi a saudação aos discípulos na tarde do dia da Ressurreição.
O DOMINGO DE PÁSCOA
No início do cristianismo, o Domingo de Páscoa não tinha uma liturgia própria, porque, a celebração pascal se desenvolvia até a madrugada. Após a reforma litúrgica de 1955 e 1970, o Domingo passa a ser considerado como uma festividade verdadeira e própria.
A celebração desse dia é plena de alegria e esperança. As leituras são sempre as mesmas em todos os ciclos anuais. A seqüência pascal marca a emoção e a espera da comunidade. Jesus Cristo é vencedor da Morte. Ele rompeu as barreiras do tempo e do espaço. Ele é um convite à nossa ressurreição.
Em muitas comunidades, muitos fiéis não tomaram parte no Tríduo Sacro. Por isso os sacerdotes e a comunidade precisam tomar consciência da unidade da morte e ressurreição de Cristo como sendo um todo do Mistério Pascal.
B - CELEBRAÇÃO DA VIGÍLIA PASCAL: Ressurreição do senhor
INTRODUÇÃO
Noite mais clara que o dia! Assim canta a Igreja na Vigília Pascal, mãe de todas as celebrações da Igreja. Com o acender do círio pascal, na noite escura, dá-se início á celebração. Assim a Ressurreição de Jesus dentre os mortos ilumina o mundo com a serenidade de sua luz.
A Vigília Pascal foi restaurada, mas ainda não se tem consciência de sua riqueza e necessidade. A “Semana Santa” não termina com a sepultura de Jesus, nem a Páscoa consiste seu sentido a partir da Ressurreição da Jesus. Nela também nasce e toma sentido toda a vida cristã. Celebrar esta noite santíssima é ressuscitar com Cristo. A vitória de Cristo é a vitória de todo o cristão.
A Páscoa cristã tem sua história no Antigo Testamento. A ordem de Deus era que fosse celebrada sempre. Recordando as maravilhas operadas por Deus na História da salvação Olhamos também para o futuro: a realização de todas as promessas garantidas pela Ressurreição e a realização da vida nova e vida de cada um que nasceu de novo.
A celebração da Vigília Pascal tem quatro momentos:
Liturgia da Luz
Liturgia da Palavra
Liturgia Batismal
Liturgia Eucarística
I - LITURGIA DA LUZ
1- BÊNÇÃO DO FOGO E PREPARAÇÃO DA CÍRIO
Segundo antiga tradição, o fogo aceso com pederneira (tirando da pedra), simboliza o Cristo, a luz que sai do túmulo de pedra. Com ele se acende o Círio Pascal. Ele é a imagem e símbolo de Cristo ressuscitado, luz do mundo, que entra pela Igreja escura e vai iluminando lentamente, até atingir o clarão total. A luz é Cristo.
O Círio é preparado: faz-se nele uma cruz explicando que Cristo salvou pela Cruz. São colocadas as letras A e Z, dizendo que Cristo nos salva pelas suas chagas. Acende-se o Círio e se inicia a procissão em direção ao altar. É a coluna de fogo que guia o novo povo resgatado de uma escravidão e salvo pelas águas do batismo. Entrando no Reino de Deus, presente na Eucaristia.
2- PROCLAMAÇÃO DA PÁSCOA
Canto da proclamação da Páscoa (Perônio): na alegria de Cristo Ressuscitado são proclamadas as festas pascais. Celebram-se as maravilhas de Deus nesta noite. Celebra-se a alegria da luz. Não se esquece da abelhinha que produziu a cera com a qual foi feito o Círio, imagem e símbolo de Cristo que conduz o seu povo.
II - LITURGIA DA PALAVRA
1- INTRODUÇÃO
A celebração da Vigília Pascal tem um elemento forte: a liturgia da Palavra. Nela celebra-se o Cristo que é Palavra do Pai, luz do mundo. Ele está presente na Palavra lida na comunidade. É a proclamação da História da Salvação e das maravilhas realizadas por Deus, até chegar a Cristo, maravilha que permanece não como uma história passada, mas como vida da qual participamos. São 7 (sete) leituras do Antigo Testamento, sendo uma da Carta de São Paulo aos Romanos e outra dos Evangelhos. Do Antigo Testamento não é obrigatório ler todas. Recomenda-se, porém , que sejam escolhidas pelo menos três. E a leitura do Êxodo (14,15-15,1) não pode ser omitida. A Igreja recomenda que o critério de escolha das leituras seja o pastoral e não a comunidade. Elas são uma excelente catequese do Ministério Pascal de Cristo.
2- PRIMEIRA LEITURA (Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-31a)
A Criação do mundo e do homem, primeiro gesto de salvação de Deus: Criação e Ressurreição vêm juntas, pois em Cristo ressuscita se faz presente a nova criação. A criação em Cristo encontra seu 7o dia, dia do repouso, e o homem, o ingresso no Paraíso. Em Cristo todas as coisas se fazem novas. Todo o mundo criado, juntamente com o povo fiel, canta a glória do Cristo. O homem é o centro da criação. Em Cristo, novo homem, novo Adão da história, a criação e toda a humanidade tomam novo sentido e têm nele sua garantia. O mundo é o lugar da salvação.
3- SEGUNDA LEITURA (Gn 22,1-18 ou 22,1-2.9a.10-13.15-18)
O Sacrifício de Abraão, nosso Pai na Fé.
Abraão é chamado por Deus a constituir o povo de Deus. Tantas são as promessas. Mas Abraão é colocado à prova. Responde com fé e generosidade!
O povo de Deus é nascido não do sangue, mas da fé no Deus que chama a compartilhar de seu plano de vida. Cristo é o novo cordeiro que está em nosso lugar, na resposta total e fiel a Deus. Sua descendência será grande como as areis da praia.
4- TERCEIRA LEITURA (Êx 14,15-15,1)
Passagem do Mar Vermelho.
O povo de Deus tem uma forte experiência de libertação através das águas do mar. São as maravilhas de Deus que acompanham a criação e formação do povo de Deus.
O novo povo passa pelas águas do batismo, que lhe dão não uma liberdade humana, mas a passagem da morte de cada cristão através de sua passagem com Cristo nos sacramentos.
5-QUARTA LEITURA ( Is 54,5-14)
A Nova Jerusalém caminha para o esplendor da luz do Senhor.
A Nova Jerusalém é figura da Igreja, novo povo de Deus, reunido em Cristo numa só família pelo seu sacrifício pascal. Novo povo, na unidade do Pai, do Filho e do Espírito, é instruído pela Palavra de Deus. Será povo Santo.
6- QUINTA LEITURA ( Is 55,1-11)
A salvação é oferecida gratuitamente a todos os povos.
O povo de Deus não isolado e fechado. A salvação é como um banquete oferecido a todos os povos. É uma aliança prometida a todos. Deus é generoso em sua promessa, sua Palavra não cai em vão, mas produz sempre o fruto.
7- SEXTA LEITURA ( Br 3,9-15.32-4,4)
Fonte de vida e sabedoria.
Fazemos parte de um povo novo pelo Batismo. Somos constantemente chamados a procurar a sabedoria e a caminhar na luz de sua lei, que é um jugo suave e de leve peso. A lei dos ressuscitados é o amor de Cristo.
8- SÉTIMA LEITURA ( Ez 36,16-17a.18-28)
Um coração novo e um Espírito novo.
Pela Ressurreição de Cristo todos serão transformados e reunidos em um único povo purificado pela água do Batismo. O coração transformado receberá um Espírito novo, estabelecendo-se uma aliança de amor e de mútua pertença, fruto da Páscoa. A oração que segue a leitura evoca a ação de Jesus restaurador de todas as coisas. A Igreja reunida é o ponto de chegada de todo o caminho de salvação iniciando no gesto criador de Deus.
9- HINO DE LOUVOR
Canto do Glória:
Depois de uma longa Quaresma, tempo de reflexão e penitência, chegamos ao momento de celebrar a alegria da Ressurreição. É o hino de louvor e adoração ao Cristo vivo, na unidade do Pai e do Espírito.
1- ORAÇÃO
Rezemos a alegria desta noite santíssima iluminada pela Ressurreição. Pedimos a Deus o espírito filial e o reavivamento da comunidade cristã.
11- OITAVA LEITURA (Epístola) (Rm 6,3-11)
Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais.
Pelo Batismo estamos unidos à morte de Cristo, com ele caminhamos na Vida nova. Somos semelhantes a ele. A morte não tem mais domínio sobre ele. Consideremo-nos mortos ao pecado e vivos para Deus.
12- ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
(Canto do Aleluia)
Aleluia! Louvado seja Deus!
O sacerdote entoa solenemente a Aleluia que significa: Louvores a Deus. É o momento da explosão de alegria. Santo Agostinho dizia ao seu povo: com o canto do Aleluia nós exprimimos o tempo da alegria, do repouso e do triunfo representados pelos dias pascais. Não temos ainda o objetivo de nosso louvor, ma caminhamos para ele, o Cristo, no seu reino definitivo.
13- EVANGELHO
Ano A: (Mt 28,1-10)
Ao raiar do dia, surge a nova luz. O anúncio feito às mulheres é simples: “Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito”. Tornam-se elas as primeiras anunciadoras: “Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos”.
Ano B: (Mc 16, 1-7)
As mulheres entram no túmulo e viram um jovem vestido de branco. Tiveram medo. Disse ele: “Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei aos discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, para Galiléia. Lá o vereis”.
Ano C: (Lc 24, 1-12)
“Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” Voltaram as mulheres do túmulo e foram contar aos discípulos. Pedro correu ao túmulo e foram contar aos discípulos. Pedro correu ao túmulo, debruçou-se, mas só viu as ligaduras. Voltou para casa admirado com o sucedido.
III - LITURGIA BATISMAL
1- EXORTAÇÃO
A Igreja, desde os primeiros séculos, ligou a noite pascal com a celebração do Batismo. Toda a celebração é estruturada sobre o tema do Batismo e nossa vida em Cristo Ressuscitado. Baseia-se no pensamento de Paulo que o Batismo é uma imersão em Cristo, na sua morte e o ressurgimento com Cristo na sua ressurreição.
Nas comunidades de muitos catecúmenos, neste momento da celebração recebem o Batismo aqueles que devem se batizados.
Se houver Batismo de adultos, estes recebem também a Crisma e Eucaristia. Batismo, Crisma e Eucaristia formam um só sacramento da iniciação cristã.
Com palavras próprias ou seguindo a fórmula do Missal Romano, o Celebrante faz breve exportação ao povo sobre o significado e a importância do Batismo.
2- LADAINHA DE TODOS OS SANTOS
O rito da Liturgia Batismal inicia-se com a ladainha de todos os santos. Invocamos a presença de toda Igreja celeste e terrestre para que esteja orando junto, implorando o Dom do Batismo não é algo pessoal, mas pertence a todo o povo de Deus no qual é inserido o batizado. Todos enxertados em Cristo
3-BÊNÇÃO DA ÁGUA BATISMAL
A solene bênção relembra e faz memória de todas as maravilhas operadas por Deus mediante a água do Jordão.
Coloca-se o Círio dentro da água, pedindo ao Cristo que infunda nesta água a força do Espírito Santo, para que quem nela for batizado seja sepultado na morte com Cristo e ressuscite com ele para a vida.
Segue-se o rito do Batismo, se houver pessoas para serem batizadas.
4- RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS DO BATISMO
Terminado o rito do Batismo, a comunidade faz a renovação de suas promessas batismais e de seu aprofundamento na fé. É o momento em que nos inserimos mais profundamente no mistério da Cristo Ressuscitado, através dos ritos da Igreja.
Ficam todos de pé com as velas acesas.
IV - LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO EUCARÍSTICA
É o momento culminante da celebração. A comunidade, reunida em torno da Páscoa, renova o mistério da imolação e glorificação de Cristo. Batizados em Cristo, ungidos por seu Espírito, entramos em comunhão total com ele, fazendo sua a nossa vida, participando do seu mistério.
Transformados em homens e mulheres novos, nesta noite santíssima fazemos uma ação de Graças a Deus, pelo que Deus realizou em Cristo: ele é o cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo; morrendo, destruiu a morte e, ressuscitando, restaurou-nos a vida.
Vivos em Cristo, com ele viveremos no amor. O abraço da paz será o símbolo da paz instaurada por Cristo. Paz que dá testemunho ao mundo da vitória do Ressuscitado. As promessas se cumpriram: surgiu um novo céu e uma nova terra no gesto de amor e de fraternidade universal.
C - PREPARAÇÃO
1- Introdução
Esta é uma noite sacramental. A proclamação da Ressurreição do Senhor, mais do que um ato de fé, deve ser celebrada como uma atualização da Graça Pascal para a Comunidade. A História da Salvação, resumida nas diversas Leituras, converge para a alegria e a certeza de uma participação atual no Projeto Pascal de Deus.
Celebrar é integrar-se nessa mesma História, é tornar-se hoje personagem vivo de uma Salvação que continua acontecendo através da presença viva de Jesus Ressuscitado. Daí, a centralidade e a importância da Liturgia Batismal, que significa este mergulho do homem no mistério da Morte e Ressurreição do Senhor.
A Eucaristia une-se fortemente ao Batismo, como parte de uma só realidade sacramental: tornar-se um só Corpo com o Senhor Ressuscitado. A própria Liturgia do Sábado Santo, quando bem celebrada e participada, evidencia por si mesma a melhor Mensagem de Páscoa, que dispensa uma Homilia especial.
2- Sugestões
1-Fazer uma verdadeira fogueira, suficientemente distante da igreja, para que possibilite uma procissão de todos os fiéis. Cada família pode ser convidada a trazer algum pedaço de madeira ou um graveto, que juntará à fogueira, com o sentido de participar na realização deste fogo novo.
2-Ao proclamar as palavras que acompanham a incisão do Círio, o Celebrante deve fazê-lo recitando ou cantando, convidando a Comunidade a repeti-las.
3-Círio Pascal: cantar o Precônio às luz das velas, fazendo com que a Comunidade participe do canto através de aclamações. (P. Ex.: Vem, amigo, vem, irmão,/ hoje é Páscoa do Senhor./ Vem, Senhor Jesus. Amém.)
3-Liturgia da Palavra: preparar de tal forma que não seja cansativa, seja participada e comunicativa.
- fazer uma entrada solene da Bíblia, que será colocada perto do Círio Pascal e incensada antes de começar as Leituras. Se possível, fazer entrar 2 Bíblias, ama aberta no Antigo Testamento, e outra no Novo Testamento.
- fazer as leituras em forma dialogada.
- alternar entre ler, contar espontaneamente ou até cantar o conteúdo das Leituras.
- usar slides, cartazes com os temas, representação visual, corporal.
- cantar os Salmos de meditação ou substituir por cantos conhecidos, que expressem o tema da
Leitura proclamada.
1-Antes do Glória, montar e enfeitar o altar principal, fazendo uma procissão.
2- Mais uma vez, enquanto possível, levar as crianças para um outro local onde tenham uma Celebração da Palavra adaptada a elas. Fazê-las irromper na Comunidade no momento do Glória, com cantos e gritos de alegria.
3-Liturgia Batismal: deve ser feita de tal modo que realmente seja percebida como parte integrante da Celebração Pascal. É a Ressurreição de Jesus que se comunica sacramentalmente ao ser humano. O melhor é realizar um verdadeiro Batizado, principalmente se for de adulto. O sentido da Vigília pascal se expressa melhor no Batismo de imersão, que poderia ser feito principalmente com crianças, à semelhança da imersão do Círio Pascal. Na Ladainha de todos os Santos, acrescentar também os Santos de devoção da Comunidade. Se não for cantada, fazer com que pessoas ou grupos de pessoas façam as invocações de alguns Santos. Na renovação das promessas do Batismo, ao invés de aspergir com água benta, providenciar algumas vasilhas nas quais a água batismal seja distribuída e apresentada à Comunidade, para que possa fazer o Sinal da Cruz.
4-O abraço da Paz pode ser dado no fim da Celebração, de modo que permita uma troca alegre e demorada de Feliz Páscoa entre todos os participantes da Celebração.
3- Preparar
1-Para a bênção do fogo:
- uma fogueira (num lugar fora da igreja, onde o povo se reúne);
- o Círio Pascal;
- cinco grãos de incenso; um estilete;
- utensílio adequado para acender a vela com o fogo novo;
- lanterna para iluminar os textos a serem lidos;
- velas para os que participam da vigília;
- incenso; talha de barro ou turíbulo;
- utensílio para se tirar as brasas acesas do fogo novo e deitá-las na talha de barro ou turíbulo;
- tochas ( acompanharão o Círio Pascal).
Para a proclamação da Páscoa ( Exultet) e para a liturgia da palavra:
- candelabro para o Círio Pascal, posto junto à mesa da Palavra;
- uma estante para o (a) cantor(a) proclamar o Exulte e para os leitores da liturgia da palavra;
- Lecionários;
- foguetes e sino.
Para a liturgia batismal:
- potes, jarros ou recipientes adequados, com água;
- aspérgio ou um ramo apropriado para se lançar a água benta;
- quando se administram os sacramentos da Iniciação cristã: óleo dos catecúmenos, santo crisma,
vela batismal, Ritual do Batismo.
4- Pessoal e Serviços
- Montadores da fogueira;
- Acendedora do fogo novo;
- Carregador(a) do Círio Pascal;
- Carregadores das tochas ( acompanharão o Círio Pascal );
- Carregadores(as) das talhas de barro ou dos turíbulos;
- Apagadores e acendedores das luzes da igreja;
- Cantor(a) da proclamação da Páscoa (Exulte);
- Leitores; são propostas nove leituras: sete do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento (Epístola e Evangelho). Por razões pastorais pode-se diminuir o número de leituras do Antigo Testamento, sendo que a terceira (Êx 14,15-15,1) não pode ser omitida;
- Salmista(s) ou cantor(es) para os Salmos Responsoriais das Leituras;
- Arrumadeiras do altar (enfeites e adornos apropriados, no momento em que se entoa o Hino de Louvor);
- Batedores de Sinos;
- Soltadores de foguetes; ( ao entoar o hino Glória a Deus nas alturas, tocam-se os sinos e soltam-se os foguetes);
- Carregadoras dos jarros ou potes, com água;
- Benzedeiras, (ministras ou ministros) para aspergirem a assembléia com a água benta;
- Apresentadores(as) dos catecúmenos;
- Organizadores(as) da procissão até a pia batismal ou ao batistério;
- Servidoras(es) da mesa do pão.
IRMÃ EUGÊNIA BONETTI: O ANJO DA ESTRADA, LUTA EM FAVOR DOS “ÚLTIMOS DA FILA”.
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O nosso serviço é voltado em particular, àquelas que deixam a rua para iniciar um caminho de reintegração social e familiar.
Por Anna Pozzi
A missionária da Consolata, irmã Eugênia Bonetti, dedica-se ao combate do tráfico de jovens destinadas à exploração sexual. Foi convidada a participar do I Congresso Latino-Americano de Pastoral de Rua, realizado na Colômbia de 19 a 24 de outubro de 2008.
O grito da jovem Maria
Um dia, do escritório da Cáritas italiana, irmã Eugênia dirigia-se para a missa. O grito de socorro de uma jovem nigeriana lhe interrompeu o caminho e daquele momento em diante, mudou seus projetos de vida e de missão. Irmã Eugênia, 69 anos, dos quais 24 vividos no Quênia, ainda tem bem presente aquele episódio aterrador. O rosto de Maria - era este o nome da jovem agredida - demonstrava horror e desespero. O seu grito encontrou eco no coração de irmã Eugênia. Um pedido de socorro, de misericórdia, mas também um grito de denúncia e de condenação. A luta da missionária, das estradas da África transferiu-se, às estradas e ruas da Itália, de dia e de noite, em favor e ao lado das mulheres condenadas à escravidão sexual. Meras prostitutas para quem as usa; vítimas e escravas para quem conhece as suas histórias de desonra e submissão.
Irmã Eugênia encontrou milhares delas na Nigéria, em Turim, Tirana, Milão, Bucareste e em outros lugares de origem, trânsito e destinação de jovens traficadas. Desde que em 1993 começou a enfrentar o problema, jamais deixou de atender pessoalmente os inúmeros casos que encontrou, além de ter criado uma rede de pessoas, que com ela agem, na prevenção, denúncia, e combate a este crime.
Coração africano
“Quando parti para a Missão do Quênia - narra a missionária - no longínquo ano de 1967, pensava que a minha vida fosse dedicada à África. Lutávamos para promover a educação, especialmente das jovens e para a emancipação das mulheres, num contexto fortemente machista. Quanta alegria, determinação e coragem! Eu sentia que a mensagem do Evangelho, de esperança e libertação, trazida por Cristo, se realizava nos ideais que me haviam fascinado na juventude e que me acompanharam na busca vocacional e no desejo de me tornar missionária na África”.
Hoje, às vésperas dos 70 anos de idade e dos 50 de Profissão Religiosa, irmã Eugênia continua cheia de energia e de projetos, determinada, batalhadora, sempre próxima das pessoas, especialmente das mulheres. Atrás do rosto desta grande empreendedora, decidida e eficiente, bate um coração que muito se dedicou a África; um coração vital, hospitaleiro, misericordioso, que sabe acolher as riquezas e as fraquezas das pessoas, a alegria e o cansaço, as esperanças e as decepções. Com seu caráter forte e batalhador, não podia aceitar, impassível, a dolorosa decisão de ter que voltar para a Itália em 1991. E a outra vocação surgiu no encontro fortuito com Maria. “Suas roupas, suas atitudes, mostravam abertamente de onde vinha e o que fazia. As pessoas que cruzavam nosso caminho admiravam-se de ver uma religiosa ao lado de uma prostituta. Eu mesma não sabia como explicar isto às pessoas. Estava apressada para chegar em tempo à missa. Diante do pedido de socorro, parei para escutá-la. E graças a Maria, descobri mais uma vocação dentro da minha vocação missionária”.
As muitas Marias da vida
Na época, Maria tinha 30 anos e três filhos, deixados na Nigéria. Comprada e vendida por diversos traficantes, meses de viagem em condições desumanas, Maria não imaginava que o trabalho que lhe foi oferecido significaria vender o corpo para pagar uma dívida absurda, ajudar sua família e obter os documentos. Sua história é semelhante a de muitas outras jovens nigerianas, e que tende a atingir meninas sempre mais jovens e com menor grau de instrução, enganadas por uma rede de traficantes que negocia a exploração das escravas: 30 mil apenas na Itália.
O desafio
“Esta nova situação - diz irmã Eugênia - me desafiava, como pessoa e como religiosa, eu que questionava a minha vida, a minha vocação e as minhas motivações missionárias. Eu sonhava com a África e queria levar estas mulheres para a minha casa! Seu grito, porém, dizia-me algo mais. Talvez que eu pudesse ser o instrumento para uma nova missão, nova fronteira, ligada à dignidade da pessoa; em especial a pessoa humilhada, esmagada, explorada. Cristo colocou o ser humano e a sua dignidade como centro da sua obra redentora e deve ser este fundamento do nosso agir e do nosso serviço. A missão está lá onde vivem as pessoas, muitas vezes em condições desumanas. É ali que devemos mostrar que somos discípulos missionários de Jesus Cristo”.
Uma resposta corajosa
Nos Estados Unidos, o trabalho da irmã Eugênia foi duplamente reconhecido pelo Departamento de Estado, em 2004 e em 2007 por sua luta contra as escravidões modernas. Em 2007, George W. Bush e sua esposa Laura, em viagem pela Itália, quiseram encontrar-se pessoalmente com ela. “O que podemos fazer para apoiar o seu trabalho?” perguntaram. E irmã Eugênia respondeu: “combater muito mais do que já se faz, todas as formas de pobreza e corrupção. Promover a educação, trabalho e formação humana para que cada pessoa possa criar em si a consciência do valor da própria vida e dignidade”.
“A Igreja e todos os cristãos, são chamados a fazer alguma coisa” – sustenta a missionária – “O silêncio e a indiferença podem ser uma forma de conivência”. Irmã Eugênia procurou e encontrou aliados: em primeiro lugar as 250 religiosas pertencentes a 70 congregações diferentes, que, em mais de uma centena de centros e casas de acolhida, lutam diariamente para tirar estas jovens das ruas e oferecer-lhes uma chance de futuro. “Nossa força é o trabalho em rede”, explica. “Uma rede que abrange uns 30 países, de origem, trânsito e destinação das jovens traficadas. Em toda parte, outras Irmãs locais fazem um trabalho precioso de prevenção e sensibilização, de proteção às moças e suas famílias, e de acolhida e inserção na sociedade das que voltam para casa.
O reconhecimento
As jovens surpreendem. Como Joy, que retornou à Nigéria. Quando se encontra com irmã Eugênia abraça-a longamente. Joy é uma jovem bela e sorridente. Diplomou-se recentemente em psicologia com o objetivo de ajudar outras jovens, traumatizadas como ela, a cicatrizar as feridas da alma, e a recomeçar a viver. “Obrigada, irmã Eugênia, muito obrigada!” Não se cansa de repetir-lhe e de abraçá-la, com um largo sorriso e olhos brilhantes de reconhecimento. É assim esta “rocha” chamada Eugênia, que não resiste e se emociona a cada reencontro.
No Congresso de Bogotá, pediram a ela para que apresentasse o trabalho que está sendo feito na Itália para recuperar e reintegrar quem é vítima de exploração sexual. “A nossa experiência de religiosas que procuram há vários anos dar respostas adequadas a este tipo de problema, através de uma centena de comunidades de acolhida para mulheres exploradas e os seus filhos, suscita sempre grande admiração. Para nós consagradas, esta resposta, nada mais é do que uma maneira de viver a nossa fidelidade e atualidade dos nossos carismas de fundação, que tem especial preocupação com a promoção da mulher e a proteção às crianças. O nosso serviço é voltado, em particular, àquelas que deixam “a rua” para iniciar um caminho de reintegração social e familiar. É este um trabalho que fazemos em conjunto com a Cáritas e com todas as forças que operam neste sentido. Graças a esta colaboração, milhares de mulheres puderam mudar de vida e reintegrar-se na sociedade. Só trabalhando em comunhão e não por competição, conseguimos tais resultados”, concluiu. Fonte: http://mc.consolata.org.br
VIVENDO A SEMANA SANTA: SEXTA-FEIRA SANTA
- Detalhes
A reforma litúrgica de Pio XII, em 1955, introduz a comunhão aos fiéis. No mais, conservou a maior parte dos costumes anteriores. O Vaticano II fez profundas modificações nessa liturgia. A celebração já tinha sido fixada na parte da tarde pelo ORDO precedente. Havia também a possibilidade de se fazer a liturgia da Palavra na parte da manhã e deixando para tarde a veneração da cruz e a comunhão. Os motivos pastorais, no entanto, exigiram que se fizesse uma só cerimônia, para não obrigar as pessoas a se reunirem duas vezes no mesmo dia.
Nesse dia não há assim celebração da eucaristia - missa, mas apenas a Comemoração da paixão e morte do Senhor. Essa atitude de respeito pelo jejum, abstinência, tristeza e silêncio é feita na Esperança. Pela morte veio a Vida; pelo fracasso aparente, salvação dos homens. Esse Mistério da salvação dos homens pela morte do Filho de Deus é loucura para quem vive numa sociedade de consumo, de produção, de sucesso e de glórias efêmeras. Mas aquilo que é loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais que os homens (1Cor 1,25).
A celebração da Morte do Senhor consta de leituras bíblicas (Is 52,13 até 53,12; Hb 4,14-16; 5,7-9) e da narração da Paixão do Senhor (Jo 18,1-19,42). Logo após a liturgia da palavra, fazem-se as Preces da Igreja Universal. Essa oração universal mostra a dimensão da catolicidade da Igreja como a grande Comunidade. Seguem-se a Adoração da Cruz e a Liturgia da Comunhão. A Sexta-feira Santa é um convite ao respeito e à simplicidade, recordando a Morte de Senhor. Só entende a Vida quem compreende o Mistério da Dor e do Sofrimento. Comemorar a morte do Senhor é comprometer-se com Cristo Verdade e Vida, que nos dá o sentido do Transcendente e do Eterno.
O Mistério da Redenção ganha sentido maior na ressurreição, ou seja, na passagem do mundo da tristeza para a Alegria, da escravidão para a Liberdade, das trevas para a Luz, do egoísmo do pecado para Vida de Amor.
A - Celebração da Paixão do Senhor
1-Introdução
Hoje não celebramos a Eucaristia, porque a Igreja tem esta longa tradição de não celebrar missa na Sexta-feira Santa.
Nós nos reunimos para comemorar e reviver a paixão do Senhor. A Igreja contempla Cristo que, morrendo, se oferece como vítima ao Pai, para libertar toda a humanidade do pecado e da morte. Nós adoramos nesta celebração o mistério de nossa salvação e dispomos nosso coração na fé e no arrependimento, para que possamos ser curados e santificados pelo sacrifício de Cristo.
Aos pés da Cruz, a Igreja em oração quer trazer as dores de toda a humanidade, para que o sangue precioso de Cristo possa curar todos os males e fazer crescer a semente do reino plantada pela sua Palavra, regada com seu sangue e cuidada com a força da sua Ressurreição.
A celebração de hoje tem 4 partes:
Paixão proclamada: Liturgia da palavra
Paixão invocada: Solene Oração Universal
Paixão venerada: Adoração da Cruz
Paixão comungada: Comunhão eucarística.
Proclamando o acontecimento da Paixão, nós nos tornamos participantes e recebemos a força de sua Cruz. Assim, diante do mistério da morte de Cristo, nós nos sentimos impelidos a não deixar ninguém fora deste sangue que nos liberta e lava. Cheios de amor, veneramos a cruz, num gesto de adoração àquela que se entregou até à última expressão do Amor. Nada faltou da parte de Deus, para nos amar e demonstrar a verdade de sua proposta de vida nova.
Comungando, fazemos um só corpo com ele e com todo o povo de Deus. Como diz a oração final da celebração: “Ó Deus, que nos renovastes pela santa morte e ressurreição do vosso Cristo, conservai em nós obra de vossa misericórdia, para que, pela participação deste mistério, vos consagramos sempre a nossa vida”.
B - LITURGIA
1- INÍCIO DA CELEBRAÇÃO
Os celebrantes e ministros aproximam-se em silêncio do altar.
Todo o povo se ajoelha.
Os celebrantes podem prostrar-se ou ajoelhar-se, em sinal de profunda reflexão e compenetração no mistério que vão celebrar. Após alguns instantes, levantam-se e dirigem-se aos seus lugares.
O povo fica de pé.
Voltando para o povo, o celebrante que preside reza a oração.
2- ORAÇÃO
Pedimos a Deus que, pelo sangue de Cristo derramado na cruz, se lembre de suas misericórdias e nos santifique pela sua constante proteção.
PAIXÃO PROCLAMADA
Liturgia da Palavra
3- PRIMEIRA LEITURA ( Is 52,13-53,12)
A Palavra de Deus apresenta o cântico do Servo de Javé, uma profecia sobre o Cristo sofredor que assumiu nossas dores, curando-nos por suas chagas. Ele ofereceu sua vida como expiação. Sua morte é vida para todos nós, pecadores. O salmo reza com Jesus na Cruz sua entrega a Deus: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”. A morte de Jesus culmina num grande grito de certeza de vida que está nas mãos de Deus: “ Senhor, eu ponho em vós minha esperança”. No servo sofredor estamos todos nós, também para viver. (Pág. 141, no 4)
4- SEGUNDA LEITURA
A Palavra de Deus desta leitura explica quem é servo de Javé, sofredor: Ele é o sumo sacerdote, aquele que nos dá plena segurança de nos aproximarmos do trono da graça, “para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”. Ele é o mediador e sabe entender nossas enfermidades, pois passou por elas, menos no pecado. Pela sua obediência, teve seus clamores ouvidos. Deus o ressuscita. Dá-nos assim garantia que nossa luta contra todo mal será ouvida e temos uma ressurreição semelhante à sua. “Por isso Deus o elevou acima de tudo”, nos diz São Paulo (F12,9). Por meio de seu sofrimento e morte temos na casa do Pai um medidor, da nossa parte, a nos garantir.
5- EVANGELHO (Paixão do Senhor) (Jo 18,1 - 19,42)
João narra a Paixão não somente um fim trágico de Cristo, mas como o caminho de sua glorificação. Jesus dizia: Quando for exaltado da terra atrairei todos a mim. Jesus não morre empurrado por um sistema. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem plena consciência de sua missão de unir todos os dispersos. Tem força suficiente para crer que sua paixão e morte são Revelação do amor do Pai: O Pai amou tanto o mundo que deu seu Filho.
Esta morte está direcionado exercendo total influxo na Igreja, figurada por Maria ao pé da Cruz recebendo o discípulo.
Ali nascem os sacramentos do sangue, Eucaristia e água, batismo. Ele culmina com o Dom do Espírito: Inclinando a cabeça, entregou o Espírito. Bem dizem os santos padres: Do lado de Cristo adormecido na Cruz nasceu a nova Eva, a Igreja, fecundada pelo Espírito, gerando filhos para Deus.
PAIXÃO INVOCADA
6- SOLENE ORAÇÃO UNIVERSAL
No dia da celebração da paixão de Cristo para a salvação de todos, a Igreja abre os braços e o coração para realizar uma oração de intercessão pela salvação do mundo, A Igreja, que tem por cabeça o Cristo Sacerdote, em nome e por meio dela apresenta ao Pai suas grandes intenções. Toda a humanidade é trazida nesta oração aos pés da Cruz, na qual Cristo morre. É o primeiro resultado da morte de Cristo: abrir-se e preocupar-se com o mundo inteiro.
PAIXÃO VENERADA
7-ADORAÇÃO DA CRUZ
A liturgia está centrada no sacrifício de Cristo. Por isso se apresenta a Cruz para a adoração. Não adoramos a madeira da Cruz, mas a pessoa de Cristo crucificado e o mistério significado por esta morte por nós. Mesmo sendo um momento de morte, liturgia não deixa de estabelecer que Cristo está vivo e ressuscitado.
Adoramos vossa Cruz, Senhor, louvamos e glorificamos vossa santa Ressurreição, pois pelo lenho da Cruz veio a alegria ao mundo inteiro.
A Cruz é sinal da vitória de Cristo que arrebenta as portas do mal. É a expressão máxima do amor do Pai: “Deus tanto amou o mundo, que lhe deu o seu único Filho” (Jo 3,16).
A Cruz é a árvore da vida, cujo fruto bendito nos faz viver eternamente. Não podemos esquecer que na Cruz está o projeto de morte de todos os males do mundo. Ela é libertação.
PAIXÃO COMUNGADA
8- COMUNHÃO EUCARÍSTICA
O momento da comunhão é a profissão de fé no Cristo que está vivo e que, pela comunhão, nos torna um só corpo com ele. O sangue que nos remiu nos livrou da morte e do mal, afastou o tentador, que queria dominar sobre nós e estabelecer em nós o mal, e introduziu-nos no Reino de justiça, de amor e de paz.
Assim nós estamos em comunhão com Cristo e com toda Igreja, e fazemos de nossa vida a vida de Cristo. Comungando Cristo, comungamos seus sentimentos, ao se entregar ao Pai, e comungarmos a vida que ressurge.
ENCERRAMENTO
9- ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Pedimos a Deus que, pela nossa participação no mistério da paixão e morte de Cristo, conserve em nós a obra de sua misericórdia.
10- ORAÇÃO SOBRE O POVO
O sacerdote pede para o povo a bênção de Deus, perdão, consolo e crescimento na fé, e que a redenção se confirme em nós.
Assim termina esta celebração, mas a vivência do Tríduo Pascal continua. Mesmo a celebração das tradições populares da Procissão do Enterro e das Dores de Maria não devem nos desviar daquele pensamento central da Igreja para os dias de hoje e de amanhã: meditação, silêncio e reflexão diante do túmulo de Jesus, que morreu e “desceu à mansão dos mortos” como rezamos no Creio. É a solidariedade de Cristo com todos os mortos, como foi solidário com todos os vivos. Significa que Cristo é Salvação de todos, em todos os tempos. Sua morte é uma vez por todas. Sejamos solidários com Cristo que é solidário conosco.
C - PREPARAÇÃO
1- Preparar
Paramentos de cor vermelha
A cruz (coberta com o véu; para prender o véu, usa-se alfinete ou fita crepe);
dois castiçais;
Tapete, almofadas ou genuflexórios desguarnecidos (para a prostração);
Missal;
Lecionários;
Toalhas;
Corporais.
2- Pessoal e Serviços
Arrumadoras da cruz para a procissão;
Preparadoras do lugar para a celebração da Paixão do Senhor;
Leitores(as): uma leitura do Antigo testamento (profeta Isaías) e as leituras do Novo Testamento: Epístola aos Hebreus e a história da Paixão do Senhor;
Salmista ou cantor;
Transportadores (acólitos) dos castiçais;
Carregadores(as) da cruz para adoração;
Apresentadores(as) da cruz para a assembléia;
Arrumadeiras do altar (serviço de mesa);
Transportadores(as) do pão consagrado para a distribuição aos fiéis.
3-Sugestões para Preparar a Celebração
1-Por mais austera que pareça a Celebração da Sexta-feira Santa, é preciso cuidar bem para que seja comunicativa e participada.
2-Um cuidado especial com as Leituras, principalmente a da Paixão: é importante ilustrá-las, visualizá-las, fazer participar através de intervenções de cantos, aclamações, cartazes, slides, símbolos, ou até representação semiteatral. Mais uma vez, é pedagógico que as crianças tenham uma Celebração da Palavra em outro local, adaptada a elas.
3-Sendo a Cruz o símbolo central deste dia, as várias comunidades ou segmentos da Paróquia podem ser convidadas a trazer uma pequena cruz de madeira, com inscrições que apontam os seus sofrimentos e pecados atuais. No momento da Oração universal, cada um apresenta a sua cruz com uma súplica correspondente. Mesmo as pessoas podem ser convidadas a trazer seu pequeno crucifixo para serem bentos no final da Celebração.
4-Na Oração universal : distinguir entre quem convida e o Presidente que recita a oração. Pessoas diversas encarregar-se-ão do convite e, durante a pequena pausa, podem colocar um pouco de incenso sobre o turíbulo ou recipiente fixo, significando a súplica que sobe até Deus. Se não houver incenso (serve também resina de manqueira), cada pessoa traz uma vela acesa e permanece segurando-a até o fim da Oração universal.
5-É importante valorizar a Adoração da Cruz, dando tempo para que o para que o povo possa tocar a Cruz e fazer de fato a sua homenagem pessoal durante a própria Celebração. Se de fato parecer cansativo demais para a Comunidade, fazer com que venham por famílias ou então em grupos, conforme as associações, movimentos, setores, ministérios etc. para um instante de adoração.
Instituição da Sagrada Eucaristia
- Detalhes
Foto: A SEMANA SANTA NA PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS- CARMELITAS: Dia da Paixão de Cristo na Escola Maria Montessori. (Quarta-feira, 17 de abril-2019)
(A Escola Maria Montessori, mantida pela Associação Educacional Carmelitana Maria Montessori, é uma das instituições de ensino mais tradicionais e respeitadas do Distrito Federal. Foi construída em julho de 1970, apenas 10 anos após a fundação de Brasília. Fonte: http://www.escolamontessori.com.br )
Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
O Tríduo Pascal é aberto com a Missa da Ceia do Senhor. Nossa atenção neste dia sagrado de Quinta-Feira Santa está voltada para o altar do Senhor. O altar está no centro da casa sagrada, a nossa Catedral Metropolitana, casa de Deus, casa de irmãos e irmãs que se unem para a mais perfeita comunhão.
Somos o Povo de Deus, Igreja Santa, um povo que celebra a vida em comunhão, com Deus e com os seus irmãos, mediados por sua Igreja, que a todos congrega em um único espírito, o Espírito de Deus.
Nesta noite somos chamados a colocar no centro de nossa reflexão o testamento de Cristo com quem o Senhor não deixa aos seus discípulos uma herança material ou espiritual, mas a Si mesmo; Ele deixa Seu Corpo em sacrifício e Seu Sangue derramado para a salvação do mundo.
A Última Ceia de Jesus, da qual fazemos memória nesta liturgia sagrada, isto é a sua morte na cruz, que meditaremos na Sexta-Feira Santa à tarde, e a sua ressurreição (iniciando com a grande e solene Vigília Pascal), constituem os momentos de um mesmo mistério, o da Páscoa de Cristo, isto é, a sua passagem deste mundo para o mundo do Pai. Uma passagem dolorosa e alegre.
Quantas luzes, quantas vozes, quanta criatividade ao redor deste altar. Porém, também somos advertidos por Jesus: se, portanto, trouxerdes a sua oferta ao altar e aí se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe seu presente lá diante do altar e vá primeiro se reconciliar, (cf. Mt 5, 23 -24). Seria místico, farisaico, vaidoso e enganoso, distrair-se desta responsabilidade. O altar é o lugar do nosso encontro fraterno. Na mesa sagrada Jesus invariavelmente nos dá um compromisso: Vem, e verás (cf. Jo 1, 39). Quem tem sede venha a mim e beba (cf. Jo 7, 37).
Em muitas ocasiões Jesus quis significar este convívio, como o sinal do Reino de Deus, que está próximo. Convivência a partir da qual não exclui os pecadores para celebrar seu retorno ou para favorecê-lo.
Ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus diz: “Este é o meu corpo que é dado por vós”. “É como se ele estivesse dizendo: eu me coloco a seu serviço. O apóstolo Pedro se recusa a lavar os pés e essa atitude de Cristo lhe dá a oportunidade de explicar o verdadeiro significado de seu gesto incomum. Um gesto que vai muito além de uma razão de natureza humana ou um desejo de oferecer um exemplo, mas lembra a necessidade de ser "salvo"”.
Jesus, em outras palavras, diz a São Pedro que ele não pode salvar a si mesmo por si mesmo, que ele não pode pensar em vencer o egoísmo e o pecado com sua própria força, mas ele deve aceitar a salvação que o Senhor lhe deu por meio do sacrifício.
Ao privilegiar este gesto, humilde e solene ao mesmo tempo realizado por Jesus, o evangelista nos revela o sentido profundo da Eucaristia e da cruz. Nós não celebramos a Eucaristia porque é um belo ritual, mas para entrar na própria lógica do dom do amor de Cristo ao homem e para que o sacrifício de Cristo invada toda a nossa vida.
Este é o caso de Levi, que passou em um instante do banco de seus ofícios para a mesa com Jesus, (cf Mc 2,13-15). Assim foi com Zaqueu e muitos outros: Jesus sentou-se à mesa com os seus amigos.
Há proximidade neste gesto, há intimidade, há amizade. Há declarações inéditas de amor; tome e coma; tome e beba. Ao redor da mesa, naquela noite, houve um começo, olhares atônitos, depois cheios de amor, como os nossos.
Se lá estivéssemos naquela noite, certamente estaríamos inebriados de tanto amor ao lado do amado, o nome está oculto; mas poderia ser cada um de nós reunidos para celebrar esta santa ceia.
Do altar de mármore ao altar incandescente de amor, um altar de carne, vivo e palpitante. Ao redor do altar com audácia. O altar é, portanto, o lugar onde Jesus se entrega, faz uma refeição, Ele é o cordeiro imolado.
Hoje também recordamos os cristãos primitivos, especialmente os mártires eles nos antecederam neste relacionamento de amor. As relíquias dos mártires estão preservadas no mármore do altar; são cristãos que corresponderam a este amor, com amor e por isso deram suas vidas por Jesus.
Quem se senta à mesa de Jesus aprende a fazer de sua vida um presente, uma oblação. Aprende a dar a vida no cotidiano. O altar é uma mesa onde celebramos a imolação do Cordeiro: há aqueles que têm flores e luzes, aqueles que espalham toalhas de mesa, aqueles que espalham fragrâncias e incenso. Sobre tudo, há aqueles que doam suas vidas, neste altar, todo os dias.
Há ministros e há o sacerdote que age “in persona Christi”. Também há altares sem toalhas de mesa, sem flores, sem adornos e cobertos de pó. Há altares em torno dos quais não há mais coroas, nem canções, nem luzes, altares sobre os quais o sacerdote não se levanta há anos. Sem a Eucaristia não há Igreja.
Estamos no ano sacerdotal arquidiocesano e somos chamados a agradecer a Deus pela beleza de ser sacerdote, de ter um chamado do sacerdócio na família, na comunidade, na Igreja. De ser testemunho credível do Cristo Ressuscitado e se exercer o seu ministério na mansidão, na caridade, na misericórdia, gastando o seu ministério em favor de santificar o povo de Deus, sendo construtores de pontes e caminhando ao encontro dos que estão afastados: sacerdotes que ajudam o povo santo de Deus a crescer na caridade, no amor e na misericórdia. Lembro, os padres de nosso presbitério, da sadia amizade presbiteral: sejamos homens que possamos louvar as virtudes daqueles que chegam ao nosso encontro e dos nossos próprios colegas. A boa fama das pessoas é uma obrigação que cada padre deve zelar no seu ministério, porque como bom pai da comunidade, o presbítero é aquele que primeiro acolhe. O padre é aquele que cura as feridas do outro. A lealdade de uma ação apostólica fortalece a caminhada sacerdotal. O padre é aquele que vive a amizade samaritana para com todos.
Em volta da mesa está o futuro; a nossa aproximação é uma prefiguração da unidade dos filhos de Deus. Em uma forma estilizada, nosso destino é antecipado; tornar-se a família dos filhos de Deus. O altar, um vislumbre do futuro.
Ao redor do altar estamos como pecadores, mas no processo de conversão. Com o fardo de nossos trabalhos e nossos relacionamentos nem sempre é fácil, mas buscamos estar reconciliados.
Na Quinta-feira Santa aparece um sinal mais visível e fascinante em um grau elevado de significação e demonstração radical do amor de Deus: o gesto do lava pés. O Senhor quer que subamos ao altar purificados. Não nos sintamos humilhados pelo convite para a confissão de nossas falhas. Seria mais humilhante nos declararmos irresponsáveis pelo pecado.
Altar, lugar do relacionamento amoroso e sincero com o Senhor; Ele quer que sejamos fiéis nesta comunhão de irmãos que todos os dias, todos os domingos conforme nos pede a santa Mãe Igreja.
Estamos em sua casa, ao redor do altar para celebrar a mais perfeita comunhão sagrada, a memória do Senhor. Não por preceito, mas por amor. É indispensável, então, reconstruir a verdadeira relação com Jesus. “Todos os olhos estavam fixos nele”. (cf Lc 4, 20), Também os sacerdotes, são chamados a manter o olhar fixo em Jesus; de modo especial, são sacerdotes porque, como bem sabemos, a vitalidade e fecundidade como pastores nascem e se fortalecem justamente na íntima união com Jesus Cristo.
Os sacerdotes, pastores do rebanho, são os trabalhadores da vinha, e devem primeiro deixar-se converter; para de fato fazerem a experiência de Jesus Cristo e com Jesus Cristo, sempre com o olhar fixo Nele.
O testemunho sacerdotal faz com que o povo, também viva esta mesma experiência de intimidade e encontro pessoal com o Senhor, (cf. Hb 12, 1-13). O profeta Isaías descreve algumas características do ungido do Senhor indicando o estilo de vida.
Jesus atrai sobre si a figura do Messias, do ungido do Senhor e, diante de todos, declara, quase com um manifesto programático, sua vocação e missão no mundo. O Sacerdote é chamado a dar a sua vida por Jesus através do seu ministério, um ministério da caridade.
Esta é a liberdade, não um “sim” formal, mas o sim generoso e sincero, um Sim à vida, iluminado por aquele magnifico Sim de Maria, que hoje encoraja e revigora o Sim ministerial a serviço do altar, para dar a vida em favor do Povo, por amor, como fez Jesus Cristo o eterno e grande sacerdote do Pai.
A Santa Missa “in Coena Domini”, isto é, no banquete sagrado da ceia, recorda aquela Última Ceia do Senhor com os seus discípulos, na qual lhes deu o mandamento do amor, depois de terem lavado os pés e instituído os sacramentos da Eucaristia, e das Ordens Sagradas.
“Aos seus discípulos, Jesus deixa uma ordem, um convite:" Faça isso em memória de mim”. A palavra “memória” na Sagrada Escritura tem um significado muito particular. Não significa apenas comemorar, mas fazer-se presente, atualizar.
A Eucaristia, portanto, não é uma comemoração pura da Paixão e da Morte de Jesus, mas é uma atualização para nós hoje, do sacrifício de Cristo na Cruz - a Eucaristia alimenta a vida da Igreja na certeza inabalável de que ela não está sozinha nas tribulações e provações.
Estamos conscientes de que apesar dos acontecimentos dramáticos da história, a Igreja é incessantemente apoiada e guiada pelo amor onipotente do seu Senhor.
Verdadeiramente na Eucaristia, Cristo fez a promessa que fez aos seus discípulos de uma maneira incrível e extraordinária, antes de retornar ao Pai: “Eis que estou contigo todos os dias até o fim do mundo”.
A Eucaristia é a presença de Deus em nosso meio. O texto do Evangelho termina com estas palavras: “Eu vos dei este exemplo, para que, como eu fiz, também vós deveis fazer”.
E assim, toda vez que celebramos a sagrada Eucaristia, a humanidade se reconcilia com Deus, a lei do amor é escrita novamente no coração do homem, a nova criatura é regenerada.
Vivemos em comunhão com Deus e com nossos irmãos, encontramos força na jornada, muitas vezes difícil, porém, devemos sempre lembrar que nos tornamos participantes da vida eterna, a alegria que dissolve a tristeza e floresce no coração da Igreja.
Agradecemos ao Senhor por este imenso presente, aprendemos a desfrutar da sua presença entre nós e a deixar-nos transformar pelo seu amor. Nossa Gratidão aos irmãos e amados sacerdotes pelo SIM dado no cotidiano da vida e do ministério sagrado. Fonte: Fonte: http://arqrio.org
Bons pastores
- Detalhes
Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Quinta-feira Santa de manhã é um momento solene e especial celebrativo em nossa Arquidiocese. Além da bênção dos óleos dos enfermos e do batismo e a consagração do óleo do crisma temos a renovação dos compromissos sacerdotais dos padres. É um belo encontro dos padres da arquidiocese, ao final do tempo quaresmal, e, antes de iniciar o tríduo pascal, de marcar o momento com a unidade e fraterna comunhão entre nós vivendo os compromissos que um dia fizemos em nossa ordenação presbiteral. Desde manhã já começam a chegar e às 8h30min iniciaremos a grande celebração. Momento marcante em nossa vida diocesana. É a chamada Missa do Crisma. Nessa celebração Eucarística Solene, comemoramos a instituição do sacerdócio ministerial em torno ao Bispo Diocesano e concelebrada por todos os Bispos Auxiliares e todo o Presbitério: é o momento forte de afeto presbiteral e de unidade do presbitério com o seu Bispo Diocesano.
Recordo o texto do Evangelho desse dia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18).
Nesse contexto agradeço de coração a todos os presbíteros pela unidade e pela missão desempenhada nessa grande cidade, tão sofrida e martirizada por tantos acontecimentos. Junto com uma grande ação de graças por tudo o que vivemos nestes tempos e pelo empenho de todos e de cada um partilho algumas reflexões nestes tempos tão difíceis da história do nosso tempo. Junto dos queridos padres em suas comunidades quero compartilhar algumas preocupações de meu coração de Bispo Diocesano para com os padres e para com toda a comunidade arquidiocesana.
Apresento algumas reflexões que podem nos ajudar em nossa conversão pessoal e comunitária nestes dias em que estamos para iniciar o Tríduo Pascal e celebrar a Páscoa do Senhor Ressuscitado:
1-Proximidade:o presbítero é um homem que deve ser próximo do seu Bispo Diocesano, dos seus irmãos no presbitério e de todo o povo santo de Deus. É nossa vocação ser ponte, unirmos a comunidade. Nesse sentido é oportuna a advertência do Papa Francisco: “A proximidade, amados irmãos, é a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho (o Senhor usa-a para descrever o Reino). Já temos por adquirido que a proximidade é a chave da misericórdia, pois não seria misericórdia senão fizesse sempre de tudo, como boa samaritana, para eliminar as distâncias. Mas penso que precisamos de assumir melhor o fato de que a proximidade é também a chave da verdade; não só da misericórdia, mas também a chave da verdade. Podem-se eliminar as distâncias na verdade? Certamente. Com efeito, a verdade não é só a definição que permite nomear situações e coisas mantendo-as à distância com conceitos e raciocínios lógicos. Não é só isso. A verdade é também fidelidade (emeth), aquela que te consente de designar as pessoas pelo seu próprio nome, como o Senhor as designa, antes de as classificar ou definir «a sua situação». A propósito, existe o hábito – mau, não é? – da «cultura do adjetivo»: este é assim, este é assado… Não! Este é filho de Deus. Depois, terá virtudes ou defeitos; mas digamos a verdade fiel da pessoa e não o adjetivo feito substância” (https://www.acidigital.com/noticias/homilia-do-papa-francisco-na-missa-do-crisma-de-quinta-feira-santa-67635, último acesso em 05 de abril de 2019.)
2-Ajudemo-nos no caminho da santidade:observamos que na sociedade líquida em que vivemos existe a tentação de condenar as pessoas. Há uma desconfiança generalizada e as pessoas não aceitam dialogar. Não se tem mais apreço pela verdade fática dos acontecimentos e muitas vezes a maledicência fica generalizada pelas mídias digitais disseminando mentiras que, repetidas maledicentemente, se tornam verdades. O Papa Francisco nos lembra da necessidade de nos dedicarmos ao ofício do Confessionário e ao imperioso sacramento da Reconciliação: “A proximidade na Confissão, podemos meditá-la contemplando a passagem da mulher adúltera (cf. Jo 8, 3-11). Lá se vê claramente como a proximidade é decisiva, porque as verdades de Jesus sempre aproximam e se dizem (podem-se dizer sempre) face a face. Fixar o outro nos olhos – como o Senhor, quando Se levanta depois de ter estado de joelhos junto da adúltera que queriam lapidar, e lhe diz «também Eu não te condeno» (8, 11) – não é ir contra a lei. E pode-se acrescentar «de agora em diante não tornes a pecar», não com um tom que pertence à esfera jurídica da verdade-definição (o tom de quem deve determinar quais são as condições da Misericórdia divina), mas com uma frase dita na área da verdade-fiel que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo deste «não tornes a pecar» é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.” (https://www.acidigital.com/noticias/homilia-do-papa-francisco-na-missa-do-crisma-de-quinta-feira-santa-67635, último acesso em 05 de abril de 2019.)
3-A ternura do Bom Pastor:o padre é chamado a ser um servidor da comunidade e para isso doa sua vida ao Senhor. O padre é chamado a acolher a todos, em especial os pecadores, os pobres, os humilhados, os descartados, os que vivem em situação de risco. E a acolhida é prenha de ternura, como a ternura do Cristo Bom Pastor. Assim nos ensina e dá testemunho o Papa Francisco: “O sacerdote vizinho, que caminha no meio do seu povo com proximidade e ternura de bom pastor (e, na sua pastoral, umas vezes vai à frente, outras vezes no meio e outras vezes ainda atrás), as pessoas não só o veem com muito apreço; mas vão mais além: sentem por ele qualquer coisa de especial, algo que só sentem na presença de Jesus. Por isso, reconhecer a nossa proximidade não é apenas…mais uma coisa. Com efeito nisso se decide se queremos tornar Jesus presente na vida da humanidade ou se, pelo contrário, O deixamos no plano das ideias, encerrado em belas letras, quando muito encarnado nalgum bom hábito que pouco a pouco se torna rotina.” (https://www.acidigital.com/noticias/homilia-do-papa-francisco-na-missa-do-crisma-de-quinta-feira-santa-67635, último acesso em 05 de abril de 2019.)
4-O cuidado alegre e generoso com os mais pobres e necessitados:uma das ações fundamentais do ministério presbiteral é socorrer os que passam dificuldades. Vimos nestes dias de tantos sofrimentos a missão da Igreja, com os padres a frente, cuidando de tantas situações dolorosas. Muitos padres e muitas comunidades puderam testemunhar, nos episódios das últimas enchentes, com o caos que se estabeleceu em nossa cidade na primeira semana de abril próximo passado, da proximidade com os mais pobres e com os que perderam vidas e pertences com as chuvas. Não só as chuvas, mas, também, os desabamentos de prédios em nossa cidade, com vários mortes e muitos desabrigados. Isso é colocar-se ao lado dos que sofrem. Ensina o Papa Francisco que: “Coração trespassado do Senhor: integridade suave, humilde e pobre, que atrai todos a Si. D’Ele devemos aprender que, anunciar uma grande alegria àqueles que são muito pobres, só se pode fazer de forma respeitosa e humilde, até à humilhação. Não pode ser presunçosa a evangelização; não pode ser rígida a integridade da verdade, porque a verdade fez-Se carne, fez-Se ternura, fez-Se criança, fez-Se homem, fez-Se pecado na cruz (cf. 2 Cor 5, 21). O Espírito anuncia e ensina «a verdade completa» (Jo 16, 13), e não tem medo de a dar a beber aos goles. O Espírito diz-nos, em cada momento, aquilo que devemos dizer aos nossos adversários (cf. Mt 10, 19) e ilumina-nos sobre o pequeno passo em frente que podemos dar naquele momento. Esta integridade suave dá alegria aos pobres, reanima os pecadores, faz respirar aqueles que estão oprimidos pelo demônio”. (https://www.acidigital.com/noticias/texto-completo-homilia-do-papa-francisco-na-missa-do-crisma-de-quinta-feira-santa-21615, último acesso em 14 de abril de 2019.)
5-Sacerdotes que sejam testemunhas da misericórdia do Senhor: Os presbíteros manifestam a misericórdia do Evangelho. Esse é o programa do Pontificado do Papa Francisco e deve ser, depois de termos celebrado o Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, uma meta para todos os presbíteros: “Como sacerdotes, somos testemunhas e ministros da Misericórdia cada vez maior do nosso Pai; temos a doce e reconfortante tarefa de a encarnar como fez Jesus que «andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando» (At 10, 38), de mil e uma maneiras, para que chegue a todos. Podemos contribuir para inculturá-la, a fim de que cada pessoa a receba na sua experiência pessoal de vida e possa, assim, compreendê-la e praticá-la – de forma criativa – no modo de ser próprio do seu povo e da sua família. (https://www.acidigital.com/noticias/texto-completo-homilia-do-papa-durante-a-missa-do-crisma-desta-quinta-feira-santa-51369, último acesso em 10 de abril de 2019.)
6-Promotores da cultura do Encontro: “é próprio do ministério presbiteral proporcionar, com a vida e o ministério presbiteral, um encontro do fiel com o Senhor: O primeiro âmbito onde vemos que Deus Se excede numa Misericórdia cada vez maior, é o do encontro. Ele dá-Se totalmente e de um modo tal que, em cada encontro, passa diretamente à celebração duma festa. Na parábola do Pai Misericordioso, ficamos estupefatos ao ver aquele homem que corre, comovido, a lançar-se ao pescoço de seu filho; vendo como o abraça e beija e se preocupa por lhe pôr o anel que o faz sentir-se igual, e as sandálias próprias de quem é filho e não um assalariado; e como, em seguida, põe tudo em movimento, mandando que se organize uma festa.” (https://www.acidigital.com/noticias/texto-completo-homilia-do-papa-durante-a-missa-do-crisma-desta-quinta-feira-santa-51369, último acesso em 10 de abril de 2019.)
Diante de tantas atividades pastorais que os presbíteros exercem na sua missão própria, da oração comum da Igreja pela oração da Liturgia das Horas, pela celebração do sacramento da Eucaristia diária, em favor do povo Santo de Deus; quero agradecer o generoso ministério sacerdotal e a encorajar a todos a anunciar o Evangelho do Senhor Ressuscitado para todas as pessoas. Neste ano vocacional sacerdotal este é um grande sinal que entusiasma as novas gerações. Gastar a sua vida para tornar Jesus Ressuscitado mais amado, seguido e testemunhado nesta grande cidade. As dificuldades próprias da violência, da exploração, da falta de paz devem animar o nosso coração de pastores a caminhar lado a lado com o povo, compartilhando suas alegrias e suas dores, e que as suas tristezas sejam consoladas para que testemunhemos a misericórdia do Senhor Ressuscitado.
Peço que os presbíteros levem meu abraço de uma Santa e abençoada Páscoa para todos os fiéis de suas comunidades. Trago a todos e a cada um em meu coração de Bispo Diocesano e, na oração diária, os acompanho com o afeto do meu coração e o máximo do que posso fazer para que possamos levar a missão que o Senhor e a Igreja espera de cada um de nós, de sermos única e exclusivamente, à exemplo do Senhor, Bons Pastores: “À imagem do Bom Pastor, o presbítero é um homem de misericórdia e de compaixão, está perto do seu povo e é servidor de todos. Quem quer que se encontre ferido na própria vida pode encontrar nele atenção e escuta... O sacerdote é chamado a aprender isto, a ter um coração que se comove... Hoje podemos pensar a Igreja como um «hospital de campo». É necessário curar as feridas, e elas são numerosas. Há tantas chagas! Existem muitas pessoas feridas por problemas materiais, por escândalos, até na Igreja... Pessoas feridas pelas ilusões do mundo... Nós, sacerdotes, devemos estar ali, próximos destas pessoas. Misericórdia significa, antes de tudo, curar as feridas.” (https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-12/papa-francisco-sacerdocio.html, último acesso em 10 de abril de 2019)
Que sejamos expressões da ternura divina e que caminha sempre ao encontro do outro para que ele se enamore do Ressuscitado! Abençoada Páscoa a todos! Fonte: http://arqrio.org
SEMANA SANTA: O significado de cada dia
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Domingo de Ramos
O Domingo de Ramos abre, por excelência, a Semana Santa, pois celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo, em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, a Morte e a Ressurreição. Este domingo é chamado assim, porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde o Senhor passaria montado num jumento. Com isso, Ele despertou, nos sacerdotes da época e mestres da Lei, inveja, desconfiança e medo de perder o poder. Começa, então, uma trama para condená-Lo à morte. A liturgia dos ramos não é uma repetição apenas da cena evangélica, mas um sacramento da nossa fé, na vitória do Cristo na história, marcada por tantos conflitos e desigualdades.
Segunda-feira Santa
Neste dia, proclama-se, durante a Missa, o Evangelho segundo São João. Seis dias antes da Páscoa, Jesus chega a Betânia para fazer a última visita aos amigos de toda a vida. Está cada vez mais próximo o desenlace da crise. “Ela guardava este perfume para a minha sepultura” (cf. João 12,7); Jesus já havia anunciado que Sua hora havia chegado. A primeira leitura é a do servo sofredor: “Olha o meu servo, sobre quem pus o meu Espírito”, disse Deus por meio de Isaías. A Igreja vê um paralelismo total entre o servo de Javé cantado pelo profeta Isaías e Cristo. O Salmo é o 26: “Um canto de confiança”.
Terça-feira Santa
A mensagem central deste dia passa pela Última Ceia. Estamos na hora crucial de Jesus. Cristo sente, na entrega, que faz a “glorificação de Deus”, ainda que encontre, no caminho, a covardia e o desamor. No Evangelho, há uma antecipação da Quinta-feira Santa. Jesus anuncia a traição de Judas e as fraquezas de Pedro. “Jesus insiste: ‘Agora é glorificado o Filho do homem e Deus é glorificado nele’”. A primeira leitura é o segundo canto do servo de Javé; nesse canto, descreve-se a missão de Jesus. Deus o destinou a ser “luz das nações, para que, a salvação alcance até os confins da terra”. O Salmo é o 70: “Minha boca cantará Teu auxílio.” É a oração de um abandonado, que mostra grande confiança no Senhor.
Quarta-feira Santa
Em muitas paróquias, especialmente no interior do país, realiza-se a famosa “Procissão do Encontro” na Quarta-feira Santa. Os homens saem, de uma igreja ou local determinado, com a imagem de Nosso Senhor dos Passos; as mulheres saem de outro ponto com Nossa Senhora das Dores. Acontece, então, o doloroso encontro entre a Mãe e o Filho. O padre proclama o célebre “Sermão das Sete Palavras”, fazendo uma reflexão, que chama os fiéis à conversão e à penitência.
Quinta-feira Santa
Santos óleos – Uma das cerimônias litúrgicas da Quinta-feira Santa é a bênção dos santos óleos usados durante todo o ano pelas paróquias. São três os óleos abençoados nesta celebração: o do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. Ela conta com a presença de bispos e sacerdotes de toda a diocese. É um momento de reafirmar o compromisso de servir a Jesus Cristo.
Lava-pés – O Lava-pés é um ritual litúrgico realizado, durante a celebração da Quinta-feira Santa, quando recorda a última ceia do Senhor. Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, quer demonstrar Seu amor por cada um e mostrar a todos que a humildade e o serviço são o centro de Sua mensagem; portanto, esta celebração é a maior explicação para o grande gesto de Jesus, que é a Eucaristia. O rito do lava-pés não é uma encenação dentro da Missa, mas um gesto litúrgico que repete o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou o padre, que lava os pés de algumas pessoas da comunidade, está imitando Jesus no gesto; não como uma peça de teatro, mas como compromisso de estar a serviço da comunidade, para que todos tenham a salvação, como fez Jesus.
Instituição da Eucaristia – Com a Santa Missa da Ceia do Senhor, celebrada na tarde ou na noite da Quinta-feira Santa, a Igreja dá início ao chamado Tríduo Pascal e faz memória da Última Ceia, quando Jesus, na noite em que foi traído, ofereceu ao Pai o Seu Corpo e Sangue sob as espécies do Pão e do Vinho, e os entregou aos apóstolos para que os tomassem, mandando-os também oferecer aos seus sucessores. A palavra “Eucaristia” provém de duas palavras gregas “eu-cháris”, que significa “ação de graças”, e designa a presença real e substancial de Jesus Cristo sob as aparências de Pão e Vinho.
Instituição do sacerdócio – A Santa Missa é, então, a celebração da Ceia do Senhor, quando Jesus, num dia como hoje, véspera de Sua Paixão, “durante a refeição, tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é meu corpo’.” (cf. Mt 26,26). Ele quis, assim como fez na última ceia, que Seus discípulos se reunissem e se recordassem d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim”. Com essas palavras, o Senhor instituiu o sacerdócio católico e deu-lhes poder para celebrar a Eucaristia.
Sexta-feira Santa
A tarde da Sexta-feira Santa apresenta o drama incomensurável da morte de Cristo no Calvário. A cruz, erguida sobre o mundo, segue de pé como sinal de salvação e esperança. Com a Paixão de Jesus, segundo o Evangelho de João, contemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do discípulo Amado, da Mãe, do soldado que o transpassou o lado. Há um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da santa cruz, momento em que esta é apresentada solenemente à comunidade.
Via-sacra – Ao longo da Quaresma, muitos fiéis realizam a Via-Sacra como uma forma de meditar o caminho doloroso que Jesus percorreu até a crucifixão e morte na cruz. A Igreja nos propõe esta meditação para nos ajudar a rezar e a mergulhar na doação e na misericórdia de Jesus que se doou por nós. Em muitas paróquias e comunidades, são realizadas a encenação da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo por meio da meditação das 14 estações da Via-Crucis.
Sábado Santo
O Sábado Santo não é um dia vazio, em que “nada acontece”. Nem uma duplicação da Sexta-feira Santa. A grande lição é esta: Cristo está no sepulcro, desceu à mansão dos mortos, ao mais profundo que pode ir uma pessoa. O próprio Jesus está calado. Ele, que é Verbo, a Palavra, está calado. Depois de Seu último grito na cruz – “Por que me abandonaste?” –, Ele cala no sepulcro agora. Descanse: “tudo está consumado!”.
Vigília Pascal – Durante o Sábado Santo, a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando Sua Paixão e Morte, Sua descida à mansão dos mortos, esperando, na oração e no jejum, Sua Ressurreição. Todos os elementos especiais da vigília querem ressaltar o conteúdo fundamental da noite: a Páscoa do Senhor, Sua passagem da morte para a vida. A celebração acontece no sábado à noite. É uma vigília em honra ao Senhor, de maneira que os fiéis, seguindo a exortação do Evangelho (cf. Lc 12,35-36), tenham acesas as lâmpadas, como os que aguardam seu senhor chegar, para que, os encontre em vigília e os convide a sentar à sua mesa.
Bênção do fogo – Fora da Igreja, prepara-se a fogueira. Estando o povo reunido em volta dela, o sacerdote abençoa o fogo novo. Em seguida, o Círio Pascal é apresentado ao sacerdote. Com um estilete, o padre faz nele uma cruz, dizendo palavras sobre a eternidade de Cristo. Assim, ele expressa, com gestos e palavras, toda a doutrina do império de Cristo sobre o cosmos, exposta em São Paulo. Nada escapa da Redenção do Senhor, e tudo – homens, coisas e tempo – estão sob Sua potestade.
Procissão do Círio Pascal – As luzes da igreja devem permanecer apagadas. O diácono toma o Círio e o ergue, por algum tempo, proclamando: “Eis a luz de Cristo!”. Todos respondem: “Demos graças a Deus!”. Os fiéis acendem suas velas no fogo do Círio Pascal e entram na igreja. O Círio, que representa o Cristo Ressuscitado, a coluna de fogo e de luz que nos guia pelas trevas e nos indica o caminho à terra prometida, avança em procissão.
Proclamação da Páscoa – O povo permanece em pé com as velas acesas. O presidente da celebração incensa o Círio Pascal. Em seguida, a Páscoa é proclamada. Esse hino de louvor, em primeiro lugar, anuncia a todos a alegria da Páscoa, a alegria do Céu, da Terra, da Igreja, da assembleia dos cristãos. Essa alegria procede da vitória de Cristo sobre as trevas. Terminada a proclamação, apagam-se as velas.
Liturgia da Palavra – Nesta noite, a comunidade cristã se detém mais que o usual na proclamação da Palavra. As leituras da vigília têm uma coerência e um ritmo entre elas. A melhor chave é a que nos deu o próprio Cristo: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes (aos discípulos de Emaús) o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (Lc 24, 27).
Domingo da Ressurreição
É o dia santo mais importante da religião cristã. Depois de morrer crucificado, o corpo de Jesus foi sepultado, ali permaneceu até a ressurreição, quando seu espírito e seu corpo foram reunificados. Do hebreu “Peseach”, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade. A presença de Jesus ressuscitado não é uma alucinação dos Apóstolos. Quando dizemos “Cristo vive” não estamos usando um modo de falar, como pensam alguns, para dizer que vive somente em nossa lembrança.
Com informação dos Jovens Conectados. Fonte: http://www.cnbb.org.br
SEMANA SANTA: Quarta-feira, 17 de abril-2019. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que fizestes vosso Filho padecer o suplício da cruz, para arrancar-nos à escravidão do pecado, concedei aos vossos servos a graça da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 26, 14-25)
14Um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse: “Que me dareis se eu vos entregar Jesus?” Combinaram trinta moedas de prata. 16E daí em diante, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo. 17No primeiro dia dos Pães sem fermento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?” 18Jesus respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a ceia pascal em tua casa, junto com meus discípulos’”. 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a ceia pascal. 20Ao anoitecer, Jesus se pôs à mesa com os Doze. 21Enquanto comiam, ele disse: “Em verdade vos digo, um de vós me vai entregar”. 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar-lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” 23Ele respondeu: “Aquele que se serviu comigo do prato é que vai me entregar. 24O Filho do Homem se vai, conforme está escrito a seu respeito. Ai, porém, daquele por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria que tal homem nunca tivesse nascido!” 25Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”. Palavra da salvação.
3) Reflexão
Ontem o evangelho falou da traição de Judas e da negação de Pedro. Hoje, fala novamente da traição de Judas. Na descrição da paixão de Jesus do evangelhos de Mateus acentua-se fortemente o fracasso dos discípulos. Apesar da convivência de três anos, nenhum deles ficou para tomar a defesa de Jesus. Judas traiu, Pedro negou, todos fugiram. Mateus conta isto, não para criticar ou condenar, nem para provocar desânimo nos leitores, mas para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos! Esta maneira de descrever a atitude de Jesus era uma ajuda para as Comunidades na época de Mateus. Por causa das freqüentes perseguições, muitos tinham desanimado e abandonado a comunidade e se perguntavam: "Será que é possível voltar? Será que Deus nos acolhe e perdoa?" Mateus responde sugerindo que nós podemos romper com Jesus, mas Jesus nunca rompe conosco. O seu amor é maior do que a nossa infidelidade. Esta é uma mensagem muito importante que colhemos do evangelho durante a Semana Santa.
Mateus 26,14-16: A Decisão de Judas de trair Jesus. Judas tomou a decisão, depois que Jesus não aceitou a crítica dos discípulos a respeito da mulher que gastou um perfume caríssima só para ungir Jesus (Mt 26,6-13). Ele foi até os sacerdotes e perguntou: “Quanto vocês me pagam se eu o entregar?” Combinaram trinta moedas de prata. Mateus evoca as palavras do profeta Zacarias para descrever o preço combinado (Zc 11,12). Ao mesmo tempo, a traição de Jesus por trinta moedas evoca a venda de José pelos seus próprios irmãos, avaliado pelos compradores em vinte moedas (Gn 37,28). Evoca ainda o preço de trinta moedas a ser pago pelo ferimento a um escravo (Ex 21,32).
Mateus 26,17-19: A Preparação da Páscoa. Jesus era da Galiléia. Não tinha casa em Jerusalém. Ele passava as noites no Horto das Oliveiras (cf. Jo 8,1). Nos dias da festa de páscoa a população de Jerusalém triplicava por causa da quantidade enorme de peregrinos que vinham de toda a parte. Não era fácil para Jesus encontrar uma sala ampla para poder celebrar a páscoa junto com os peregrinos que tinham vindo com ele desde a Galiléia. Ele manda os discípulos encontrar uma pessoa em cuja casa decidiu celebrar a Páscoa. O evangelho não oferece ulteriores informações e deixa que a imaginação complete o que falta nas informações. Era um conhecido de Jesus? Um parente? Um discípulo? Ao longo dos séculos, a imaginação dos apócrifos soube completar a falta de informação, mas com pouca credibilidade.
Mateus 26,20-25: Anúncio da traição de Judas. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar de Judas fazer as coisas em segredo, Jesus está sabendo. Mesmo assim, ele faz questão de se confraternizar com o círculo dos amigos, do qual Judas faz parte. Estando todos reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. É "aquele que põe a mão no prato comigo". Esta maneira de anunciar a traição acentua o contraste. Para os judeus a comunhão de mesa, colocar juntos a mão no mesmo prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Mateus sugere assim que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de Jesus é maior que a traição!
O que chama a atenção é a maneira de Mateus descrever estes fatos. Entre a traição e a negação ele colocou a instituição da Eucaristia (Mt 26,26-29): a traição de Judas, antes (Mt 25,20-25); a negação de Pedro e a fuga dos discípulos, depois (Mt 25,30-35). Deste modo, ele destaca para todos nós a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos. O seu amor não depende do que os outros fazem por ele.
4) Para um confronto pessoal
1) Será que eu seria capaz de ser como Judas e de negar e trair a Deus, a Jesus, aos amigos e amigas?
2) Na semana santa é importante eu reservar algum momento para compenetrar-me da inacreditável gratuidade do amor de Deus por mim.
5) Oração final
Quero louvar com um cântico o nome de Deus e exaltá-lo com ações de graças; “Vede, humildes e alegrai-vos! Vós que buscais a Deus, vosso coração reviva! Pois o SENHOR atende os pobres, não despreza os seus cativos. (Sl 68, 31.33-34)
Perspectiva e leitura latino-americanas do vaticano II
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WILSON DALLAGNOL
Cabe traduzir o acontecimento do Vaticano II para a realidade eclesial e teológica latino-americana. As novidades e os ventos novos do Concílio repercutiram profundamente no contexto dos povos da América Latina e do Terceiro Mundo. É importante perceber que o pobre e a situação de pobreza e de subdesenvolvimento vão influenciar no modo de ser e agir da Igreja. A vida ameaçada e os direitos humanos negados vão encontrar na consciência da Igreja um espaço muito grande. A caminhada das CEBs e a reflexão teológica, por parte dos teólogos da libertação, vão contribuir em muito para a ação orgânica da Igreja.
“Tradução” do Vaticano II para a América Latina
A Igreja Latino-americana, articulada em torno do CELAM, procura "traduzir" o Concílio Vaticano II para o contexto latino-americano (cf. DM 14, II, 4.6). As Igrejas do continente latino-americano seguiram muito de perto "as pegadas da renovação conciliar"[1], sobretudo nas assembleias do CELAM de Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992). Merece especial destaque a 2a. CELAM, realizada no pós-Concílio e que traduziu o "espírito" do Vaticano II para a realidade e para a Igreja deste Continente.
"A Assembléia de Medellín, partindo da análise estrutural da realidade latino-americana, abriu caminhos para uma aplicação mais concreta das exigências conciliares na situação de injustiça vivida pelos povos do Continente"[2].
Na Conferência de Medellín, graças à intuição de alguns bispos, foi possível assumir a opção pelos pobres, procurando tornar a Igreja acessível aos mais humildes e fazer com que a ação evangelizadora da Igreja desse prioridade à libertação dos pobres e olhasse com maior profundidade a urgência de transformar a sociedade marcada pela injustiça[3]. Segundo Jon Sobrino, "Medellín sente a obrigação ética e a necessidade teórica de remeter-se ao povo pobre"[4]. Este voltar ético e teórico também remete ao Povo de Deus e à Igreja, onde a hierarquia começa a ser a voz dos sem voz.
"É fato inegável que o episcopado latino-americano produziu recentemente um abundante e inovador corpo doutrinal. Mas o mais inovador é que ao elaborá-lo se referiu aos pobres, ao Povo de Deus, não somente como a seu destinatário nem só como ocasião para sua agenda doutrinal, mas como àqueles cuja realidade e cuja fé deve ser posta em palavra doutrinal...
"Medellín, só para lembrar o símbolo mais notável do magistério latino-americano, analisou à luz da revelação divina, da doutrina do Vaticano II, de João XXIII e de Paulo VI, a situação do continente latino-americano e a resposta cristã da Igreja a essa situação..."[5].
É perceptível que existe uma autoridade doutrinal do povo pobre que está expressa em todos os documentos da Igreja latino-americana. Sem os pobre, a doutrina é genericamente correta, mas ineficaz[6].
A centralidade do pobre
O pobre passou a ocupar lugar central na reflexão e a ação da Igreja latino-americana. Aqui se quer destacar a centralidade do pobre como um autêntico lugar teológico:
"O que ocorre é que os pobres se convertem no 'autêntico lugar teológico da compreensão da verdade e da práxis cristã e por isto também da constituição da Igreja' (Jon Sobrino). Um lugar teológico que obriga a recolocar a questão de Deus e das imagens que dele fazemos, quando não levamos devidamente em conta este lugar. Que obriga a recolocar a questão de Jesus Cristo e das imagens que dele fazemos, quando esquecemos esta 'imagem de Cristo' que são os pobres deste mundo. E, o que aqui nos interessa mais diretamente, obriga a recolocar a questão da Igreja"[7].
Compreender a verdade da fé, para a teologia latino-americana, é necessariamente passar pelo pobre. Este lugar teológico (hermenêutico), assumido como ponto de partida, obriga a recolocar uma série de temas e posicionamentos sob outra perspectiva. O documento conclusivo da 3a. CELAM, em Puebla, destacou o potencial evangelizador dos pobres (DP 1147). Eles evangelizam pela sua interpelação de justiça e, ao mesmo tempo, pelo que crêem, também evangelizam de forma positiva. Seu jeito de ser concretiza a Boa Notícia do Reino de Deus[8].
"Sabe-se que um bom grupo de padres conciliares, depois de o 'Povo de Deus' ter sido assumido como ponto de partida para a eclesiologia conciliar, pensou ser preciso dar um passo a mais na concretização do tema: se se quisesse responder 'à inspiração de Deus e às expectativas dos homens' seria preciso colocar 'o mistério de Cristo nos pobres e a evangelização dos pobres como o centro e a alma do trabalho doutrinal e legislativo deste concílio"[9].
O lugar social, a partir do qual se faz a leitura teológica, ganha importância, pois a Igreja se vê obrigada a levá-lo a sério, uma vez que Jesus atuou no meio de seu povo[10]. Ali assume uma atitude permanente de serviço e de testemunho da verdade, abdicando do julgamento e da dominação.
"Na Igreja, o mais importante é o povo simples, porque é à 'gente simples' que Deus revela os segredos do Reino (Lc 10, 21) e para que este povo seja protagonista na Igreja é que existem todos os carismas. Mas não se deve olhar apenas para o interior da Igreja, para se entender isso. Pelo contrário, é preciso olhar primariamente para o povo pobre e oprimido como tal, pois é a partir dele, antes de mais nada, que tem sentido o profetismo eclesial"[11].
É o dinamismo popular da Igreja que lhe dá força carismática, capacidade inventiva e criativa. É das bases, muitas vezes reduzidas ao silêncio, que brota o potencial renovador e libertador, o qual dá sangue novo a todo o corpo eclesial. Parece ser daí que surge o novo de onde nasce a Igreja e de onde se busca o verdadeiro sujeito eclesial[12]. Este sujeito não pode ser reduzido ao silêncio, pois silenciá-lo significa calar e abafar as “sementes dos Verbo” que são lançadas pelo Espírito em todas as partes do mundo. No respeito ao sujeito do sensus fidei, que é o sensus fidelium, está aquela obediência criativa que deve seguir em toda a Igreja.
"A Igreja do futuro será uma Igreja que se construirá de baixo para cima, por meio de comunidades de base de livre iniciativa e associação. Temos de fazer todo o possível para não impedir este desenvolvimento, mas antes promovê-lo e orientá-lo corretamente"[13].
A Igreja e a teologia latino-americanas defrontam-se com um povo crucificado, com quem é preciso identificar-se, isto com a finalidade de entender o caráter sacerdotal da Igreja[14]. Isto torna possível a solidariedade. Sem ela a Igreja não será a Igreja de Jesus.
"Esta comunhão com o Crucificado 'é praticada ali, onde os cristãos se sentem solidários com os homens que, na sociedade, vivem manifestamente à sombra da cruz: os pobres, os incapazes, os marginalizados, os prisioneiros e os perseguidos' (Jürgen Moltmann). E não há comunhão com o Crucificado sem a constante interpelação para que 'toda a Igreja se ponha na periferia, na impotência dos pobres, aos pés de um Deus crucificado, para, a partir daí, alimentar a esperança cristã e propiciar a necessária eficácia da ação da Igreja' (Jon Sobrino)"[15].
Senso comum da vida e direitos fundamentais
Muitas vezes causa certa surpresa a alguns ouvidos menos atentos quando, do senso comum da vida brotam verdadeiras maravilhas. Fala-se aqui do testemunho vivido e manifestado pelo povo simples. Sua sabedoria brota espontaneamente e revela a riqueza da grande Revelação de Deus entre os seus filhos.
O sociólogo e educador Hugo Asmann faz uma série de questões que tocam a consciência da Igreja e do fazer teológico, a partir do senso comum da vida:
"Que acontece com o senso comum dos cristãos empobrecidos quando assumem afoitamente sua identidade eclesial, quando se declaram o novo jeito de toda a Igreja ser e, nessa desinibição eclesial, falam a bispos e padres da importância dos novos ministérios que eles mesmos geram desde as bases? Que acontece com as limitadas, mas vitais motivações do senso comum quando são elevadas à consciência de que Deus está com a gente, declarando teologais as relações históricas do cotidiano, na medida em que se entretece nelas a luta por uma sociedade mais fraterna e justa? Que acontece com a sensação de interioridade dos pobres quando se sentem 'em casa' na Igreja e interiorizam que são os privilegiados do Reino? Que acontece com o auto-apreço e a dignidade moral dos oprimidos quando removem, em suas celebrações penitenciais, velhos entulhos do moralismo centrado exclusivamente na boa ou má intenção das consciências individuais, e descobrem a dimensão social do pecado estrutural numa sociedade fundada na injustiça? Que acontece com os recursos explicativos de que se vale o senso comum quando a base se apropria da Bíblia e a começa chamar de espelho da vida do povo e alimento na luta?"[16].
A cotidianidade dos oprimidos, seu direito à sobrevivência, ao prazer e à alegria de viver, são elementos que se revestem de profunda dose de respeito. Isto está presente no senso comum e alimentam a esperança e a fé[17]. O certo é que lá no coração do senso comum lateja a fé que quer desabrochar e que dá à existência dos pobres um alento de esperança libertária.
A caminhada das CEBs
As CEBs são uma novidade histórica na caminhada da Igreja. É neste novo jeito de ser Igreja que alguns teólogos identificaram um sujeito privilegiado de mediação eclesial e de salvação.
Para Leonardo Boff, os encontros intereclesiais de CEBs evidenciam que não há portadores exclusivos da inteligência da fé. No mundo e submundo dos pobres é possível encontrar muitas surpresas. Ao expor as características da Igreja neste caminhar com os pobres diz que ela é Povo de Deus, Koinonia e ministerialidade[18]. Os portadores da inteligência da fé são aqueles que concretizam a verdade revelada em Jesus Cristo. Estes portadores, estreitamente vinculados às CEBs, possuem uma fé vivida, ligada à vida e visceralmente comprometida com a libertação do povo[19]. Este elemento é determinante quando se trata de organizar a Igreja e colocá-la em relação com a sociedade. Isto, muitas vezes, obriga a rever as estruturas de serviço da Igreja e o jeito de os cristãos atuarem nas estruturas da sociedade contemporânea.
As CEBs têm gerado um dinamismo novo no que se refere à participação dos fiéis nas decisões da Igreja[20]. Esta questão toca no problema (e solução) do poder de regime e de magistério na Igreja[21]. A prática das CEBs, desde o conselho comunitário de pastoral até a Assembléia Diocesana, têm ajudado a superar diversos desencontros a nível de Igreja[22]. Acontece que elas ajudam a superar o exercício piramidal de poder, levando ao poder-serviço. Elas não dispensam e nem menosprezam a ação das atuais autoridades da Igreja, mas as redimensionam, buscando sempre a decisão na participação e na comunhão[23].
Os méritos da Teologia da Libertação
A Teologia da Libertação surge exatamente no contexto das CEBs para refletir sua prática eclesial e política. É outro evento que vem contribuir para um maior dinamismo da vida da Igreja e sua caminhada com os pobres. Ela recolhe o sensus fidei, a vida do povo, sua realidade, sua luta por libertação. Está próxima e visceralmente ligada ao sensus fidelium. A partir dele é que reflete qual é o Plano de Deus e os mais diferentes temas teológicos.
"Acostumados, por mais de um século, a analisar pormenorizadamente 'o caráter histórico dos fatos salvíficos', não nos fixamos com a mesma atenção no 'caráter salvífico dos fatos históricos'. É mérito da Teologia da Libertação ter-se centrado neste ponto de vista, e ter descoberto, a partir deste sinal dos tempos, que a pobreza injusta da maior parte da humanidade revela este terrível paradoxo: de, 'com freqüência, os que se dizem cristãos são responsáveis por muitos dos males que se abatem sobre os mais pobres, ao mesmo tempo em que os que se dizem não-crentes se dedicam verdadeiramente e até com sacrifício total à libertação dos mais pobres e oprimidos' (Ignacio Ellacuría). Basta este exemplo para compreender a importância decisiva, para a fé cristã, deste dever permanente da alegria de perscrutar a fundo os sinais dos tempos"[24].
Os fatos históricos passam a ser sinais dos tempos que muito têm a dizer para os cristãos, à consciência da Igreja e para a própria teologia. É na Gaudium es Spes é que se encontra a referência e a valorização destes sinais, os quais precisam ser perscrutados e interpretados à luz do Evangelho (GS 4). É exatamente deles que é possível conhecer e entender o mundo. Eles permitem ouvir as esperanças, aspirações e o caráter dramático que muitas pessoas vivem.
“Movido pela fé, conduzido pelo Espírito do Senhor que enche a orbe da terra, o Povo de Deus esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e nas aspirações de nossos tempos, em que participa com os outros homens, quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus. A fé, com efeito, esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do homem. E por isso orienta a mente para soluções plenamente humanas” (GS 11, &1).
É exatamente um mérito da Teologia da Libertação ser capaz de estar atenta a estes sinais de libertação que estão presente no cotidiano da vida do povo. E é particularmente a partir do povo simples, excluído, empobrecido e pobre que a Teologia da Libertação encontrou seu desenvolvimento.
Ao apontar as perspectivas da Teologia da Libertação, Libânio e Murad dizem que ela está ligada ao destino dos pobres[25]. É quando ela olha o reverso da história e nele é capaz de decifrar a força histórica dos pobres, como prediletos de Deus.
Concluindo este capítulo, é possível afirmar que o Concílio Vaticano II foi um marco histórico na vida da Igreja e da teologia. A participação do Povo de Deus ganha novo ânimo na elaboração das questões de fé e na liturgia. Há um resgate dos sensus fidelium, como sujeito eclesial, sendo sua valorização uma das facetas positivas do evento conciliar.
A relação sensus fidei – sensus fidelium – teologia – magistério da Igreja passam por uma nova perspectiva, mais dialógica e interativa, pois a eclesiologia do Vaticano II respeita a ação competente e qualificada do sensus fidelium, em sua dimensão histórica, o que gera mais comunhão e participação na vida da Igreja e na relação com o mundo e a sociedade. Assim é que se compreende melhor a questão da infalibilidade in credendo e in docendo.
Quando o Vaticano II é “traduzido” para a realidade da Igreja latino-americana, nota-se um confirmar da caminhada feita por muitas Comunidades Eclesiais de Base, bem como o estímulo a muitas iniciativas pastorais junto ao povo. O pobre passa a ter um lugar central na ação da Igreja e na reflexão teológica, com destaque especial para a CEBs e o desabrochar de muitas reflexões teológicas oriundas da Teologia da Libertação.
[1]Cf. CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002), n. 30.
[2]Idem. Ibid., n. 46.
[3]Cf. José COMBLIN. Os Cristãos Rumo ao Século XXI, pg. 33.
[4]Jon SOBRINO. Ibid., pg. 61.
[5]Idem. Ibid., pg. 60.
[6]Cf. Idem. Ibid., pg. 61.
[7]R. VELASCO. Ibid., pg. 428; ver também Érico J. HAMMES. “Filii in Filio”: A divindade de Jesus como Evangelho da filiação no seguimento. Um estudo em J. Sobrino. Dissertatio Universitatis Gregorinae, Roma, 1995, pg. 100-103.
[8]Cf. Jon SOBRINO. Ibid., pg. 66.
[9]R. VELASCO. Ibid., pg. 248.
[10]Idem. Ibid., pg. 311.
[11]Idem. Ibid., pg. 373.
[12]Cf. Idem Ibid., pg. 378.
[13]K. RAHNER. In R. VELASCO. Ibid., pg. 379.
[14]Cf. R. VELASCO. Ibid., pg. 340.
[15]Idem. Ibid., pg. 340
[16]Hugo ASMANN. CEBs: quando a vivência da Fé remexe o senso comum dos pobres, pg. 568.
[17]Cf. Idem. Ibid., pg. 568.
[18]Cf. Antônio da SILVA PEREIRA. Participação dos fiéis nas decisões da Igreja(I), pg. 463.
[19]Cf. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja: Consciência e práxis das CEBs(V). pg. 72.
[20]Cf. Idem. Participação dos fiéis nas decisões da Igreja(I),. pg. 447. "Notamos que a participação dos fiéis nas decisões da Igreja, a nível de CEBs, apesar de não ser ainda total, é já de alguma maneira uma tônica nas CEBs". Idem. Ibid., pg. 449.
[21]Cf. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja a luz do Código de Direito Canônico(III), pg. 773.
[22]CF. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja: Consciência e práxis das CEBs(V). pg. 71.
[23]Cf. Idem. Ibid., p. 81.
[24]R. VELASCO. Ibid., pgs. 306-307.
[25] Cf. J. B. LIBÃNIO e A. MURAD. Introdução à Teologia, pg. 191.
WILSON DALLAGNOL
Cabe traduzir o acontecimento do Vaticano II para a realidade eclesial e teológica latino-americana. As novidades e os ventos novos do Concílio repercutiram profundamente no contexto dos povos da América Latina e do Terceiro Mundo. É importante perceber que o pobre e a situação de pobreza e de subdesenvolvimento vão influenciar no modo de ser e agir da Igreja. A vida ameaçada e os direitos humanos negados vão encontrar na consciência da Igreja um espaço muito grande. A caminhada das CEBs e a reflexão teológica, por parte dos teólogos da libertação, vão contribuir em muito para a ação orgânica da Igreja.
“Tradução” do Vaticano II para a América Latina
A Igreja Latino-americana, articulada em torno do CELAM, procura "traduzir" o Concílio Vaticano II para o contexto latino-americano (cf. DM 14, II, 4.6). As Igrejas do continente latino-americano seguiram muito de perto "as pegadas da renovação conciliar"[1], sobretudo nas assembléias do CELAM de Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992). Merece especial destaque a 2a. CELAM, realizada no pós-Concílio e que traduziu o "espírito" do Vaticano II para a realidade e para a Igreja deste Continente.
"A Assembléia de Medellín, partindo da análise estrutural da realidade latino-americana, abriu caminhos para uma aplicação mais concreta das exigências conciliares na situação de injustiça vivida pelos povos do Continente"[2].
Na Conferência de Medellín, graças à intuição de alguns bispos, foi possível assumir a opção pelos pobres, procurando tornar a Igreja acessível aos mais humildes e fazer com que a ação evangelizadora da Igreja desse prioridade à libertação dos pobres e olhasse com maior profundidade a urgência de transformar a sociedade marcada pela injustiça[3]. Segundo Jon Sobrino, "Medellín sente a obrigação ética e a necessidade teórica de remeter-se ao povo pobre"[4]. Este voltar ético e teórico também remete ao Povo de Deus e à Igreja, onde a hierarquia começa a ser a voz dos sem voz.
"É fato inegável que o episcopado latino-americano produziu recentemente um abundante e inovador corpo doutrinal. Mas o mais inovador é que ao elaborá-lo se referiu aos pobres, ao Povo de Deus, não somente como a seu destinatário nem só como ocasião para sua agenda doutrinal, mas como àqueles cuja realidade e cuja fé deve ser posta em palavra doutrinal...
"Medellín, só para lembrar o símbolo mais notável do magistério latino-americano, analisou à luz da revelação divina, da doutrina do Vaticano II, de João XXIII e de Paulo VI, a situação do continente latino-americano e a resposta cristã da Igreja a essa situação..."[5].
É perceptível que existe uma autoridade doutrinal do povo pobre que está expressa em todos os documentos da Igreja latino-americana. Sem os pobre, a doutrina é genericamente correta, mas ineficaz[6].
A centralidade do pobre
O pobre passou a ocupar lugar central na reflexão e a ação da Igreja latino-americana. Aqui se quer destacar a centralidade do pobre como um autêntico lugar teológico:
"O que ocorre é que os pobres se convertem no 'autêntico lugar teológico da compreensão da verdade e da práxis cristã e por isto também da constituição da Igreja' (Jon Sobrino). Um lugar teológico que obriga a recolocar a questão de Deus e das imagens que dele fazemos, quando não levamos devidamente em conta este lugar. Que obriga a recolocar a questão de Jesus Cristo e das imagens que dele fazemos, quando esquecemos esta 'imagem de Cristo' que são os pobres deste mundo. E, o que aqui nos interessa mais diretamente, obriga a recolocar a questão da Igreja"[7].
Compreender a verdade da fé, para a teologia latino-americana, é necessariamente passar pelo pobre. Este lugar teológico (hermenêutico), assumido como ponto de partida, obriga a recolocar uma série de temas e posicionamentos sob outra perspectiva. O documento conclusivo da 3a. CELAM, em Puebla, destacou o potencial evangelizador dos pobres (DP 1147). Eles evangelizam pela sua interpelação de justiça e, ao mesmo tempo, pelo que crêem, também evangelizam de forma positiva. Seu jeito de ser concretiza a Boa Notícia do Reino de Deus[8].
"Sabe-se que um bom grupo de padres conciliares, depois de o 'Povo de Deus' ter sido assumido como ponto de partida para a eclesiologia conciliar, pensou ser preciso dar um passo a mais na concretização do tema: se se quisesse responder 'à inspiração de Deus e às expectativas dos homens' seria preciso colocar 'o mistério de Cristo nos pobres e a evangelização dos pobres como o centro e a alma do trabalho doutrinal e legislativo deste concílio"[9].
O lugar social, a partir do qual se faz a leitura teológica, ganha importância, pois a Igreja se vê obrigada a levá-lo a sério, uma vez que Jesus atuou no meio de seu povo[10]. Ali assume uma atitude permanente de serviço e de testemunho da verdade, abdicando do julgamento e da dominação.
"Na Igreja, o mais importante é o povo simples, porque é à 'gente simples' que Deus revela os segredos do Reino (Lc 10, 21) e para que este povo seja protagonista na Igreja é que existem todos os carismas. Mas não se deve olhar apenas para o interior da Igreja, para se entender isso. Pelo contrário, é preciso olhar primariamente para o povo pobre e oprimido como tal, pois é a partir dele, antes de mais nada, que tem sentido o profetismo eclesial"[11].
É o dinamismo popular da Igreja que lhe dá força carismática, capacidade inventiva e criativa. É das bases, muitas vezes reduzidas ao silêncio, que brota o potencial renovador e libertador, o qual dá sangue novo a todo o corpo eclesial. Parece ser daí que surge o novo de onde nasce a Igreja e de onde se busca o verdadeiro sujeito eclesial[12]. Este sujeito não pode ser reduzido ao silêncio, pois silenciá-lo significa calar e abafar as “sementes dos Verbo” que são lançadas pelo Espírito em todas as partes do mundo. No respeito ao sujeito do sensus fidei, que é o sensus fidelium, está aquela obediência criativa que deve seguir em toda a Igreja.
"A Igreja do futuro será uma Igreja que se construirá de baixo para cima, por meio de comunidades de base de livre iniciativa e associação. Temos de fazer todo o possível para não impedir este desenvolvimento, mas antes promovê-lo e orientá-lo corretamente"[13].
A Igreja e a teologia latino-americanas defrontam-se com um povo crucificado, com quem é preciso identificar-se, isto com a finalidade de entender o caráter sacerdotal da Igreja[14]. Isto torna possível a solidariedade. Sem ela a Igreja não será a Igreja de Jesus.
"Esta comunhão com o Crucificado 'é praticada ali, onde os cristãos se sentem solidários com os homens que, na sociedade, vivem manifestamente à sombra da cruz: os pobres, os incapazes, os marginalizados, os prisioneiros e os perseguidos' (Jürgen Moltmann). E não há comunhão com o Crucificado sem a constante interpelação para que 'toda a Igreja se ponha na periferia, na impotência dos pobres, aos pés de um Deus crucificado, para, a partir daí, alimentar a esperança cristã e propiciar a necessária eficácia da ação da Igreja' (Jon Sobrino)"[15].
Senso comum da vida e direitos fundamentais
Muitas vezes causa certa surpresa a alguns ouvidos menos atentos quando, do senso comum da vida brotam verdadeiras maravilhas. Fala-se aqui do testemunho vivido e manifestado pelo povo simples. Sua sabedoria brota espontaneamente e revela a riqueza da grande Revelação de Deus entre os seus filhos.
O sociólogo e educador Hugo Asmann faz uma série de questões que tocam a consciência da Igreja e do fazer teológico, a partir do senso comum da vida:
"Que acontece com o senso comum dos cristãos empobrecidos quando assumem afoitamente sua identidade eclesial, quando se declaram o novo jeito de toda a Igreja ser e, nessa desinibição eclesial, falam a bispos e padres da importância dos novos ministérios que eles mesmos geram desde as bases? Que acontece com as limitadas, mas vitais motivações do senso comum quando são elevadas à consciência de que Deus está com a gente, declarando teologais as relações históricas do cotidiano, na medida em que se entretece nelas a luta por uma sociedade mais fraterna e justa? Que acontece com a sensação de interioridade dos pobres quando se sentem 'em casa' na Igreja e interiorizam que são os privilegiados do Reino? Que acontece com o auto-apreço e a dignidade moral dos oprimidos quando removem, em suas celebrações penitenciais, velhos entulhos do moralismo centrado exclusivamente na boa ou má intenção das consciências individuais, e descobrem a dimensão social do pecado estrutural numa sociedade fundada na injustiça? Que acontece com os recursos explicativos de que se vale o senso comum quando a base se apropria da Bíblia e a começa chamar de espelho da vida do povo e alimento na luta?"[16].
A cotidianidade dos oprimidos, seu direito à sobrevivência, ao prazer e à alegria de viver, são elementos que se revestem de profunda dose de respeito. Isto está presente no senso comum e alimentam a esperança e a fé[17]. O certo é que lá no coração do senso comum lateja a fé que quer desabrochar e que dá à existência dos pobres um alento de esperança libertária.
A caminhada das CEBs
As CEBs são uma novidade histórica na caminhada da Igreja. É neste novo jeito de ser Igreja que alguns teólogos identificaram um sujeito privilegiado de mediação eclesial e de salvação.
Para Leonardo Boff, os encontros intereclesiais de CEBs evidenciam que não há portadores exclusivos da inteligência da fé. No mundo e submundo dos pobres é possível encontrar muitas surpresas. Ao expor as características da Igreja neste caminhar com os pobres diz que ela é Povo de Deus, Koinonia e ministerialidade[18]. Os portadores da inteligência da fé são aqueles que concretizam a verdade revelada em Jesus Cristo. Estes portadores, estreitamente vinculados às CEBs, possuem uma fé vivida, ligada à vida e visceralmente comprometida com a libertação do povo[19]. Este elemento é determinante quando se trata de organizar a Igreja e colocá-la em relação com a sociedade. Isto, muitas vezes, obriga a rever as estruturas de serviço da Igreja e o jeito de os cristãos atuarem nas estruturas da sociedade contemporânea.
As CEBs têm gerado um dinamismo novo no que se refere à participação dos fiéis nas decisões da Igreja[20]. Esta questão toca no problema (e solução) do poder de regime e de magistério na Igreja[21]. A prática das CEBs, desde o conselho comunitário de pastoral até a Assembléia Diocesana, têm ajudado a superar diversos desencontros a nível de Igreja[22]. Acontece que elas ajudam a superar o exercício piramidal de poder, levando ao poder-serviço. Elas não dispensam e nem menosprezam a ação das atuais autoridades da Igreja, mas as redimensionam, buscando sempre a decisão na participação e na comunhão[23].
Os méritos da Teologia da Libertação
A Teologia da Libertação surge exatamente no contexto das CEBs para refletir sua prática eclesial e política. É outro evento que vem contribuir para um maior dinamismo da vida da Igreja e sua caminhada com os pobres. Ela recolhe o sensus fidei, a vida do povo, sua realidade, sua luta por libertação. Está próxima e visceralmente ligada ao sensus fidelium. A partir dele é que reflete qual é o Plano de Deus e os mais diferentes temas teológicos.
"Acostumados, por mais de um século, a analisar pormenorizadamente 'o caráter histórico dos fatos salvíficos', não nos fixamos com a mesma atenção no 'caráter salvífico dos fatos históricos'. É mérito da Teologia da Libertação ter-se centrado neste ponto de vista, e ter descoberto, a partir deste sinal dos tempos, que a pobreza injusta da maior parte da humanidade revela este terrível paradoxo: de, 'com freqüência, os que se dizem cristãos são responsáveis por muitos dos males que se abatem sobre os mais pobres, ao mesmo tempo em que os que se dizem não-crentes se dedicam verdadeiramente e até com sacrifício total à libertação dos mais pobres e oprimidos' (Ignacio Ellacuría). Basta este exemplo para compreender a importância decisiva, para a fé cristã, deste dever permanente da alegria de perscrutar a fundo os sinais dos tempos"[24].
Os fatos históricos passam a ser sinais dos tempos que muito têm a dizer para os cristãos, à consciência da Igreja e para a própria teologia. É na Gaudium es Spes é que se encontra a referência e a valorização destes sinais, os quais precisam ser perscrutados e interpretados à luz do Evangelho (GS 4). É exatamente deles que é possível conhecer e entender o mundo. Eles permitem ouvir as esperanças, aspirações e o caráter dramático que muitas pessoas vivem.
“Movido pela fé, conduzido pelo Espírito do Senhor que enche a orbe da terra, o Povo de Deus esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e nas aspirações de nossos tempos, em que participa com os outros homens, quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus. A fé, com efeito, esclarece todas as coisas com luz nova. Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do homem. E por isso orienta a mente para soluções plenamente humanas” (GS 11, &1).
É exatamente um mérito da Teologia da Libertação ser capaz de estar atenta a estes sinais de libertação que estão presente no cotidiano da vida do povo. E é particularmente a partir do povo simples, excluído, empobrecido e pobre que a Teologia da Libertação encontrou seu desenvolvimento.
Ao apontar as perspectivas da Teologia da Libertação, Libânio e Murad dizem que ela está ligada ao destino dos pobres[25]. É quando ela olha o reverso da história e nele é capaz de decifrar a força histórica dos pobres, como prediletos de Deus.
Concluindo este capítulo, é possível afirmar que o Concílio Vaticano II foi um marco histórico na vida da Igreja e da teologia. A participação do Povo de Deus ganha novo ânimo na elaboração das questões de fé e na liturgia. Há um resgate dos sensus fidelium, como sujeito eclesial, sendo sua valorização uma das facetas positivas do evento conciliar.
A relação sensus fidei – sensus fidelium – teologia – magistério da Igreja passam por uma nova perspectiva, mais dialógica e interativa, pois a eclesiologia do Vaticano II respeita a ação competente e qualificada do sensus fidelium, em sua dimensão histórica, o que gera mais comunhão e participação na vida da Igreja e na relação com o mundo e a sociedade. Assim é que se compreende melhor a questão da infalibilidade in credendo e in docendo.
Quando o Vaticano II é “traduzido” para a realidade da Igreja latino-americana, nota-se um confirmar da caminhada feita por muitas Comunidades Eclesiais de Base, bem como o estímulo a muitas iniciativas pastorais junto ao povo. O pobre passa a ter um lugar central na ação da Igreja e na reflexão teológica, com destaque especial para a CEBs e o desabrochar de muitas reflexões teológicas oriundas da Teologia da Libertação.
[1]Cf. CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002), n. 30.
[2]Idem. Ibid., n. 46.
[3]Cf. José COMBLIN. Os Cristãos Rumo ao Século XXI, pg. 33.
[4]Jon SOBRINO. Ibid., pg. 61.
[5]Idem. Ibid., pg. 60.
[6]Cf. Idem. Ibid., pg. 61.
[7]R. VELASCO. Ibid., pg. 428; ver também Érico J. HAMMES. “Filii in Filio”: A divindade de Jesus como Evangelho da filiação no seguimento. Um estudo em J. Sobrino. Dissertatio Universitatis Gregorinae, Roma, 1995, pg. 100-103.
[8]Cf. Jon SOBRINO. Ibid., pg. 66.
[9]R. VELASCO. Ibid., pg. 248.
[10]Idem. Ibid., pg. 311.
[11]Idem. Ibid., pg. 373.
[12]Cf. Idem Ibid., pg. 378.
[13]K. RAHNER. In R. VELASCO. Ibid., pg. 379.
[14]Cf. R. VELASCO. Ibid., pg. 340.
[15]Idem. Ibid., pg. 340
[16]Hugo ASMANN. CEBs: quando a vivência da Fé remexe o senso comum dos pobres, pg. 568.
[17]Cf. Idem. Ibid., pg. 568.
[18]Cf. Antônio da SILVA PEREIRA. Participação dos fiéis nas decisões da Igreja(I), pg. 463.
[19]Cf. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja: Consciência e práxis das CEBs(V). pg. 72.
[20]Cf. Idem. Participação dos fiéis nas decisões da Igreja(I),. pg. 447. "Notamos que a participação dos fiéis nas decisões da Igreja, a nível de CEBs, apesar de não ser ainda total, é já de alguma maneira uma tônica nas CEBs". Idem. Ibid., pg. 449.
[21]Cf. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja a luz do Código de Direito Canônico(III), pg. 773.
[22]CF. Idem. Participação dos leigos nas decisões da Igreja: Consciência e práxis das CEBs(V). pg. 71.
[23]Cf. Idem. Ibid., p. 81.
[24]R. VELASCO. Ibid., pgs. 306-307.
[25] Cf. J. B. LIBÃNIO e A. MURAD. Introdução à Teologia, pg. 191.
SEMANA SANTA: Terça-feira, 16 de abril-2019. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos celebrar de tal modo os mistérios da paixão do Senhor, que possamos alcançar vosso perdão. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 13, 21-33.36-38)
21Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: “Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará”. 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem estava falando. 23Bem ao lado de Jesus estava reclinado um dos seus discípulos, aquele que Jesus mais amava. 24Simão Pedro acenou para que perguntasse de quem ele estava falando. 25O discípulo, então, recostando- se sobre o peito de Jesus, perguntou: “Senhor, quem é?” 26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der um bocado passado no molho”. Então, Jesus molhou um bocado e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Depois do bocado, Satanás entrou em Judas. Jesus, então, lhe disse: “O que tens a fazer, faze logo”. 28Mas nenhum dos presentes entendeu por que ele falou isso. 29Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus estava dizendo: “Compra o que precisamos para a festa”, ou que desse alguma coisa para os pobres. 30Então, depois de receber o bocado, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31Depois que Judas saiu, Jesus disse: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, Deus também o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33Filhinhos, por pouco tempo eu ainda estou convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’. 36Simão Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” Jesus respondeu-lhe: “Para onde eu vou, não podes seguir-me agora; mais tarde me seguirás”. 37Pedro disse: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei minha vida por ti!” 38Jesus respondeu: “Darás tua vida por mim? Em verdade, em verdade, te digo: não cantará o galo antes que me tenhas negado três vezes. Palavra da salvação
3) Reflexão
* Estamos na terça feira da Semana Santa. Os textos do evangelho destes dias nos confrontam com os fatos terríveis que levaram à prisão e à condenação de Jesus. Os textos não trazem só as decisões das autoridades religiosas e civis contra Jesus, mas também relatam as traições e negações dos próprios discípulos que possibilitaram a prisão de Jesus pelas autoridades e contribuíram enormemente para aumentar o sofrimento de Jesus.
* João 13,21: O anúncio da traição. Depois de ter lavado os pés dos discípulos (Jo 13,2-11) e de ter falado da obrigação que temos de lavar os pés uns dos outros (Jo 13,12-16), Jesus se comoveu profundamente. E não era para menos. Enquanto ele estava fazendo aquele gesto de serviço e de total entrega de si mesmo, ao lado dele um discípulo estava tramando a maneira de como traí-lo naquela mesma noite. Jesus expressa a sua comoção e diz: “Em verdade lhes digo: um de vocês vai me trair!” Não diz: “Judas vai me trair”, mas “um de vocês”. É alguém do círculo da amizade dele que vai ser o traidor”.
* João 13,22-25: A reação dos discípulos. Os discípulos levam susto. Não esperavam por esta declaração tão séria de que um deles seria o traidor. Pedro faz um sinal a João para ele perguntar a Jesus qual dos doze iria cometer a traição. Sinal de que eles nem sequer desconfiavam quem pudesse ser o traidor. Ou seja, sinal de que a amizade entre eles ainda não tinha chegado à mesma transparência de Jesus para com eles (cf. Jo 15,15). João se inclinou para perto de Jesus e perguntou: “Quem é?”
* João 13,26-30: Jesus indica Judas. Jesus disse: é aquele a quem vou dar um pedaço de pão umedecido no molho. Ele pegou um pedaço de pão, molhou e deu a Judas. Era um gesto comum e normal que os participantes de uma ceia costumavam fazer entre si. E Jesus disse a Judas: “O que você tem que fazer, faça logo!” Judas tinha a bolsa comum. Era o encarregado de comprar as coisas e de dar esmolas para os pobres. Por isso, ninguém percebeu nada de especial no gesto e na palavra de Jesus. Nesta descrição do anúncio da traição está uma evocação do salmo em que o salmista se queixa do amigo que o traiu: “Até o meu amigo, em quem eu confiava e que comia do meu pão, é o primeiro a me trair” (Sl 41,10; cf. Sl 55,13-15). Judas percebeu que Jesus estava sabendo de tudo (Cf. Jo 13,18). Mesmo assim, não voltou atrás, e manteve a decisão de trair Jesus. É neste momento que se opera a separação entre Judas e Jesus. João diz que o satanás entrou nele. Judas levantou e saiu. Ele entrou para o lado do adversário (satanás). João comenta: “Era noite”. Era a escuridão.
* João 13,31-33: Começa a glorificação de Jesus. É como se a história tivesse esperado por este momento da separação entre a luz e as trevas. Satanás (o adversário) e as trevas entraram em Judas quando ele decidiu de executar o que estava tramando. Neste mesmo momento se fez luz em Jesus que declara: “Agora o Filho do Homem foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo!” O que vai acontecer daqui para frente é contagem regressiva. As grandes decisões foram tomadas, tanto da parte de Jesus (Jo 12,27-28) e agora também da parte de Judas. Os fatos se precipitam. E Jesus já dá o aviso: “Filhinhos, é só mais um pouco que vou ficar com vocês”. Falta pouco para que se realize a passagem, a Páscoa.
* João 13,34-35: O novo mandamento. O evangelho de hoje omite estes dois versículos sobre o novo mandamento do amor e passa a falar do anúncio da negação de Pedro.
* João 13,36-38: Anúncio da negação de Pedro. Junto com a traição de Judas, o evangelho traz também a negação de Pedro. São os dos dois fatos que mais contribuíram para o sofrimento de Jesus. Pedro diz que está disposto a dar a vida por Jesus. Jesus o chama à realidade: “Você dar a vida por mim? O galo não cantará sem que me renegues três vezes”. Marcos tinha escrito: “O galo não cantará duas vezes e você já me terá negado três vezes” (Mc 14,30). Todo mundo sabe que o canto do galo é rápido. Quando de manhã cedo o primeiro galo começa a cantar, quase ao mesmo tempo todos os galos estão cantando. Pedro é mais rápido na negação do que o galo no canto.
4) Para um confronto pessoal
1) Judas, amigo, torna-se traidor. Pedro, amigo, torna-se negador. E eu?
2) Colocando-me na situação de Jesus: como enfrenta negação e traição, o desprezo e a exclusão?
5) Oração final
És tu, Senhor, a minha esperança, és minha confiança, SENHOR, desde a minha juventude. Sobre ti me apoiei desde o seio materno, desde o colo de minha mãe és minha proteção; em ti está sempre o meu louvor. (Sl 70, 5-6)
NOTRE-DAME: Os principais fatos históricos sobre a catedral de Notre-Dame, consumida pelo fogo em Paris
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A Catedral de Notre-Dame, com mais de 850 anos, foi consumida pelo fogo nesta segunda-feira
Ao longo dos seus mais de 850 anos de existência, a Catedral de Notre-Dame, em Paris, viu passarem pelo trono francês três dezenas de reis, sobreviveu à Revolução Francesa, coroou Napoleão Bonaparte como imperador, testemunhou a ascensão da República na França e resistiu a duas guerras mundiais.
Atingida pelo fogo nesta segunda-feira, a igreja era uma das mais famosas do mundo e um dos principais pontos turísticos da França. A causa do incêndio ainda não é conhecida. Uma grande operação está em curso para controlar as chamas, mas o porta-voz da administração da catedral afirmou que tudo está queimando e "não restará nada" da parte de madeira da estrutura.
Um dos elementos mais memoráveis da catedral são suas gárgulas, esculturas com aspecto animalesco monstruoso.
As estátuas eram usadas na Idade Média para ornar desaguadouros - canos projetados para fora do telhado que ajudam a escoar água das chuvas. Acreditava-se que elas protegiam a catedral contra espíritos malévolos.
As gárgulas de Notre-Dame faziam parte do projeto arquitetônico desde o período medieval, mas haviam sido removidas, até que novos exemplares foram acrescentados à fachada durante a grande restauração feita no século 19, segundo o livro The Gargoyles of Notre-Dame: Medievalism and the Monsters of Modernity (As Gárgulas de Notre-Dame: o Medievalismo e os Monstros da Modernidade, em tradução livre).
Recentemente, muitas haviam sido substituídas por tubos de plástico, pois estavam muito corroídas, o que tornava perigoso mantê-las no alto do edifício.
Abaixo, a BBC News Brasil lista os principais fatos históricos sobre a catedral.
Igreja completou 850 anos em 2013
A catedral de Notre-Dame começou a ser construída em 1163, por decisão de Maurice de Sully, bispo de Paris. A ideia era erguer uma catedral dedicada à Virgem Maria. Por isso, o nome Notre-Dame - "Nossa Senhora", em francês. O lançamento da pedra fundamental teria ocorrido na presença do Papa Alexandre III.
A catedral, de estilo gótico, fica localizada no coração de Paris, a Île de la Cité - uma ilha no rio Sena, considerada o berço da antiga vila de Paris. Em 2013, a igreja completou 850 anos de existência. O fato foi marcado por um ano de comemorações na França, que contou com restaurações, exposições e um simpósio científico.
Construção levou 180 anos
A catedral de Notre-Dame só foi completamente concluída 180 anos depois do início da construção. Porém, já por volta de 1250 estavam erguidas as duas torres da fachada. Mesmo antes de terminada, a obra em construção já atraía cavaleiros medievais que, durante as Cruzadas, iam ao local rezar e pedir proteção antes de partir para o Oriente.
Em 2013, a catedral completou 850 anos de existência
Escavações abaixo da Notre-Dame revelaram vestígios de cidade romana
O local onde fica a catedral foi um dia uma cidade romana chamada Lutécia. Escavações realizadas no terreno sugerem que havia na área um possível templo pagão romano, dedicado a Júpiter. A estrutura teria sido substituída por uma igreja cristã, anterior à construção de Notre-Dame. Parte das escavações deram origem a um museu, a Cripta Arqueológica, que podia ser visitada nos subterrâneos da Notre-Dame, indicando como era a vida no Império Romano.
Foi pilhada durante a Revolução Francesa e quase demolida
A última vez em que a catedral sofreu grandes danos foi durante a Revolução Francesa (1789-1799). Neste período, a igreja foi pilhada, e uma torre do século 13 foi desmantelada. Também foram destruídas 28 estátuas da galeria dos reis e de todas as grandes esculturas dos portais, com exceção do Virgem do Trovão, localizada no entrada do claustro.
Durante esta época, a igreja foi transformada em um tempo do Culto à Razão, uma espécie de religião da nova República. Em seu interior, as estátuas da Virgem Maria foram substituídas por esculturas da Deusa da Liberdade, e cruzes foram removidas.
Alguns de seus sinos originais da torre norte foram derretidos durante a revolução para a fabricação de balas de canhão. Os substitutos, fabricados no século 19, eram considerados "desafinados" e foram trocados em 2013 para marcar seu aniversário de 850 anos. A catedral chegou a ser usada como um depósito durante a revolução e quase chegou a ser demolida, antes de voltar a ser um templo católico, em 1801.
A coroação de Napoleão
Apesar de muito antiga e imponente, a catedral de Notre-Dame só passou a abrigar importantes celebrações francesas com a ascensão de Napoleão Bonaparte, que escolheu a igreja para ser coroado imperador da França, em 2 de dezembro de 1804.
Para receber a cerimônia, a Notre-Dame precisou passar por alguns processos de recuperação - já que, antes disso, estava vivendo um processo de degradação. A coroação de Napoleão foi posteriormente retratada em uma grande pintura, com 10 metros de largura e 6 metros de altura - encomendada pelo próprio imperador. Hoje no Museu do Louvre, a obra retrata Napoleão coroando sua esposa como imperatriz. A obra foi pintada por Jacques-Louis David, nomeado por Napoleão como pintor oficial do império.
'O Corcunda de Notre Dame', romance de Victor Hugo
O romance histórico O Corcunda de Notre-Dame, do escritor francês Victor Hugo, foi publicado em 1831, e ajudou a popularizar a catedral no mundo todo com a história do tocador de sinos corcunda Quasímodo.
Seu título original era Notre-Dame de Paris, já que o livro não se concentrava apenas no personagem do corcunda, mas descrevia a antiga catedral em dois capítulos inteiros e ilustrava a sociedade medieval da Paris e os diversos tipos que convivam nela, dos pedintes à nobreza.
A história se passa no século 15. Nas torres góticas da catedral vive Quasímodo, abandonado ao nascimento por sua mãe nos degraus de Notre-Dame. Ele é adotado então pelo arquidiácono Claude Frollo. Desprezado por sua aparência e vítima de agressões frequentes, ele é visto com empatia por Esmeralda, uma linda dançarina cigana a quem ele passa a devotar toda as suas atenções.
Esmeralda, no entanto, também atraiu a atenção do sinistro Frollo e quando ela rejeita suas tentativas de aproximação para favorecer o Capitão Phoebus, Frollo cria um plano para destruí-la. Quasímodo tenta impedi-lo. Mas o fim é trágico para todos.
Em seu romance Victor Hugo descreve o péssimo estado de conservação da construção gótica na época. A pressão criada pela popularização da obra literária ajudou a fazer com que a catedral fosse restaurada entre 1844 e 1864.
Arrecadação de fundos em 2018
No ano passado, a catedral de Notre-Dame lançou um pedido urgente de arrecadação de fundos para recuperar sua estrutura, que estava começando a desmoronar. O valor necessário para a restauração era estimado em 150 milhões de euros.
"Partes da catedral podem cair. É um grande risco", afirmou Michel Picot, responsável pela campanha, em entrevista à BBC em 2018. Além de elementos decorativos, como esculturas e pinturas, partes da estrutura da catedral também estavam ameaçadas. A agulha (estrutura mais alta da igreja), por exemplo, precisou ser reforçada com uma braçadeira de emergência.
"É uma joia única, a nível mundial, então eu acredito que pedir ajuda, não mendigar, é a melhor coisa a se fazer. Não é um monumento da França, é um monumento mundial", falou Picot. Fonte: https://www.bbc.com
Incêndio atinge a Catedral de Notre-Dame, em Paris
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A polícia isolou a área e está retirando os turistas que estavam dentro da construção medieval. Torre desmoronou em meio às chamas.
Um grande incêndio atingiu a catedral de Notre-Dame, em Paris, nesta segunda-feira (15), um importante símbolo da cidade.
O fogo foi relatado primeiro por usuários em redes sociais. Não está claro ainda o que o causou, mas pode estar relacionado a uma obra que vinha sendo feita no telhado. A emissora France 2 disse que a polícia está tratando o caso como um acidente.
Não há feridos até o momento, de acordo com Laurent Nunez, secretário de Estado no Ministério do Interior. "Um incêndio terrível está acontecendo na Catedral de Notre-Dame. Os bombeiros de Paris estão tentando dominar as chamas (...) Peço a todos que respeitem o perímetro de segurança", escreveu a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, no Twitter.
A polícia isolou a área e está retirando os turistas que havia dentro da catedral. Pouco mais de uma hora depois do início do fogo, procuradoria de Paris abriu uma investigação para averiguar as causas do incêndio, informou o jornal "Le Figaro".
Obras
Uma grande operação dos bombeiros está tentando controlar as chamas, que afetam sobretudo a torre central da catedral, visitada por milhares de pessoas todos os dias.
Também há chamas saindo das duas torres dos sinos, de acordo com testemunhas no local. O incêndio pode estar ligado às obras que vinham sendo feitas no telhado do edifício. A torre central estava rodeada por um andaime. Imagens postadas em rede social mostram que uma parte dela caiu em meio às chamas. Testemunhas afirmam que o telhado também desmoronou:
A turista Kassia Rouan, que estava no parque adjacente à catedral no momento do incêndio, afirmou que "quando os bombeiros chegaram, já havia muitas chamas vindo do teto" da catedral.
"Nós vimos muita fumaça, pensamos que era por causa das obras que estão fazendo. Cada vez tinha mais e mais [fumaça]. Fomos para a frente e fomos afastados para evitar que fôssemos afetados pela fumaça. Vimos as chamas saindo da catedral. Muito triste ", relatou a turista.
A brasileira Mariana Souza, de 33 anos, estava em frente à catedralminutos antes do prédio ser atingido pelo incêndio. "A gente saiu de lá, cinco minutos depois olhamos para trás e o negócio [estava] pegando fogo. Não ouvi nenhum barulho, só vimos muita fumaça mesmo", contou.
O presidente Emmanuel Macron foi até o local e comentou o incêndio no Twitter.
“A catedral Notre-Dame vítima das chamas. Emoção de toda uma nação. [Envio] pensamentos para todos os católicos e todos os franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste esta noite de ver queimar essa parte de nós", escreveu.
O presidente dos EUA, Donald Trump, expressou horror em relação ao caso. "Que horrível assistir ao incêndio gigante na Catedral de Notre-Dame em Paris. Talvez tanques de água aéreos pudessem ser usados para apagá-lo. É preciso agir rápido!" escreveu no Twitter.
A Defesa Civil francesa afirmou, porém, que não pode utilizar aviões cortafogo. Pelas redes sociais, o órgão informou que o despejo de água por aeronaves do tipo "poderia levar ao colapso integral da estrutura".
Famosa no mundo todo
Situada na pequena ilha chamada Île de la Cité, em Paris, a catedral fica rodeada pelas águas do rio Sena. Não é a igreja mais antiga, nem a maior ou a mais alta do mundo, mas certamente é uma das mais famosas.
Testemunha dos mais importantes eventos na história da França, desde sua fundação a catedral testemunhou o nascimento de 80 reis, dois imperadores e cinco repúblicas. Ela também assistiu à participação da França em duas guerras mundiais.
Como reporta a rede BBC, suas famosas gárgulas, que protegem a construção contra espíritos malévolos, testemunharam glórias e tragédias ao longo dos séculos. A Notre-Dame por exemplo foi saqueada e quase demolida durante a Revolução Francesa.
Mas o monumento, erguido em homenagem a Nossa Senhora - daí o nome, Nossa Senhora de Paris -, sobreviveu a tudo isso.
A catedral começou a ser construída em 1163 e só foi concluída 180 anos depois. Mesmo antes de terminada, a obra em construção já atraía cavaleiros medievais que, durante as Cruzadas, iam a Notre Dame rezar e pedir proteção antes de partir para o Oriente. Em 1431, com as obras já concluídas, foi entre suas paredes que um menino de dez anos, de saúde delicada - Henrique 6º, da Inglaterra -, foi coroado rei da França.
E em 1804, ao som dos tubos do grande órgão da catedral, Napoleão foi coroado imperador dentro dela. Fonte: https://g1.globo.com
Semana Santa ainda serve para o Século XXI?
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Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora
A Semana Santa é a semana mais importante para o mundo cristão. É quando celebramos a Páscoa da Ressurreição e, para isso, meditamos sobre a forma com que isto aconteceu na vida de Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus. Não é somente um homem, não é apenas um mestre, mas é homem e Deus verdadeiros. Como homem, assumiu todas as dores e sofrimentos da humanidade. Como Deus, foi capaz de vencer a morte e ressuscitar. E esta grande graça é transmitida a todos nós, todos aqueles que n’Ele acreditam. Nós também vamos morrer, mas vamos ressuscitar com Ele, pela força d’Ele.
A Semana Santa celebra esses mistérios e, por isso, passa pela reflexão da dor, dos sofrimentos, das injustiças. Cristo sofreu em três aspectos. O aspecto físico – torturas, crucifixão e morte; o aspecto moral – humilhação e desprezo; e o aspecto espiritual – mesmo na cruz sentiu o abandono espiritual. ‘Meu Pai, meu Pai, por que me abandonaste?’ (cf. Mc 15,34). Mas, na verdade, não era o abandono do Pai, era assumir, em sua vida, aquilo que pode acontecer com muitas pessoas, o estado de abandono.
O homem atual precisa olhar para Cristo, cuja mensagem principal é o amor. ‘Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo seu irmão’ (cf. Jo 15,13). Muitas vezes vivemos uma cultura de ódio, de vingança, de disputa. A cultura de Cristo é a cultura do amor. Por isso, saber sofrer, morrer e viver com amor é uma das mensagens mais importantes que o homem do século XXI deve aprender. A dor e o sofrimento são realidades da vida, ninguém pode delas escapar. E, por isso, quando nós vemos Cristo sofrer da forma que sofreu, e da maneira com que assumiu o sofrimento e a morte, nós aprendemos com Ele a lição mais importante para a vida.
Celebrar a Semana Santa tem um grande significado para a humanidade no século XXI ou em qualquer outro tempo em que possamos viver: a humanidade tem fases, e em todas essas fases históricas a mensagem de Cristo tem um sentido não só importante, mas indispensável. Se o homem não aprender a lição de Cristo, nunca será homem verdadeiro. O homem que exclui a Deus não é homem inteiro. Por isso, celebrar esses mistérios, os mais importantes da nossa fé, tem uma grande importância, de fato, para todos nós que vivemos nessa época de progressos tão significativos e às vezes de lacunas tão dolorosas na nossa vida humana, na nossa relação com o próximo e com Deus.
A Páscoa é a passagem. Passagem da morte para a vida, passagem de uma situação negativa para uma situação positiva, passagem de uma vida de pecado para uma vida na graça de Deus.
Celebrar os mistérios da Semana Santa, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, significa apresentar Jesus como Deus que continua nos salvando. O ato salvador de Cristo não está preso a um determinado momento da história. Ele é perpétuo, por isso ele vai tendo efeitos nos vários momentos históricos da vida da humanidade. Fonte: http://www.cnbb.org.br
SEMANA SANTA: Segunda-feira, 15 de abril-2019. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Concedei, ó Deus, ao vosso povo, que desfalece por sua fraqueza, recobrar novo alento pela Paixão do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 12, 1-11)
1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. 2Lá, ofereceram-lhe um jantar. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3Maria, então, tomando meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa inteira encheu-se do aroma do perfume. 4Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que entregaria Jesus, falou assim: 5“Por que este perfume não foi vendido por trezentos denários para se dar aos pobres?” 6Falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas, porque era ladrão: ele guardava a bolsa e roubava o que nela se depositava. 7Jesus, porém, disse: “Deixa-a! que ela o guarde em vista do meu sepultamento. 8Os pobres, sempre os tendes convosco. A mim, no entanto, nem sempre tereis”. 9Muitos judeus souberam que ele estava em Betânia e foram para lá, não só por causa dele, mas também porque queriam ver Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. 10Os sumos sacerdotes, então, decidiram matar também Lázaro, 11pois por causa dele muitos se afastavam dos judeus e começaram a crer em Jesus.
3) Reflexão
* Estamos entrando na Semana Santa, a semana da páscoa de Jesus, da sua passagem deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A liturgia de hoje coloca diante de nós o início do capítulo 12 do evangelho de João, que faz a ligação entre o Livro dos Sinais (cc 1-11) e o Livro da Glorificação (cc.13-21). No fim do "Livro dos Sinais", apareceram com clareza a tensão entre Jesus e as autoridades religiosas da época (Jo 10,19-21.39) e o perigo que Jesus corria. Várias vezes tentaram matá-lo (Jo 10,31; 11,8.53; 12,10). Tanto assim, que Jesus era obrigado a levar uma vida clandestina, pois podia ser preso a qualquer momento (Jo 10,40; 11,54).
* João 12,1-2: Jesus, perseguido pelos judeus, vai à Betânia. Seis dias antes da páscoa, Jesus vai à Betânia na casa das suas amigas Marta e Maria e de Lázaro. Betânia significa Casa da Pobreza. Ele estava sendo perseguido pela polícia (Jo 11,57). Queriam matá-lo (Jo 11,50). Mesmo sabendo que a polícia estava atrás de Jesus, Maria, Marta e Lázaro receberam Jesus em casa e ofereceram um jantar para ele. Acolher em casa uma pessoa perseguida e oferecer-lhe um jantar era perigoso. Mas o amor faz superar o medo
* João 12,3: Maria unge Jesus. Durante o jantar, Maria unge os pés de Jesus com meio litro de perfume de nardo puro (cf. Lc 7,36-50). Era um perfume cheiroso, caríssimo, de trezentos denários. Em seguida, ela enxuga os pés de Jesus com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume. Em todo este episódio, Maria não fala. Só age. O gesto cheio de simbolismo fala por si mesmo. Lavando os pés, Maria se faz servidora. Jesus vai repetir o gesto na última ceia (Jo 13,5).
* João 12,4-6: Reação de Judas. Judas critica o gesto de Maria. Acha que é um desperdício. De fato, trezentos denários eram o salário de trezentos dias! O salário de quase um ano inteiro foi gasto de uma só vez! Judas acha que o dinheiro deveria ser dado aos pobres. O evangelista comenta que Judas não tinha nenhuma preocupação com os pobres, mas que era um ladrão. Tinha a bolsa comum e roubava dinheiro. Julgamento forte que condena Judas. Não condena a preocupação com os pobres, mas sim a hipocrisia que usa os pobres para se promover e se enriquecer. Nos seus interesses egoístas, Judas só pensava em dinheiro. Por isso não percebeu o que estava no coração de Maria. Jesus enxerga o coração e defende Maria.
* João 12,7-8: Jesus defende a mulher. Judas olha o gasto e critica a mulher. Jesus olha o gesto e defende a mulher: “Deixa-a! Ela o conservou para o dia da minha sepultura!" Em seguida, Jesus diz: "Pobres sempre tereis, mas a mim nem sempre tereis!" Quem dos dois vivia mais perto de Jesus: Judas ou Maria? Como discípulo,Judas convivia com Jesus há quase três anos, vinte e quatro horas por dia. Fazia parte do grupo. Maria só o encontrava uma ou duas vezes ao ano, por ocasião das festas, quando Jesus vinha a Jerusalém e visitava a casa dela. Só a convivência sem o amor não faz conhecer. Tolhe o olhar. Judas era cego. Muita gente convive com Jesus e até o louva com muito canto, mas não o conhece de verdade nem o revela (cf. Mt 7,21). Duas afirmações de Jesus merecem um comentário mais detalhado: (1) “Pobres sempre tereis”, e (2) “Ela guardou o perfume para me ungir no dia do meu sepultamento”.
* 1. “Pobres sempre tereis” Será que Jesus quis dizer que não devemos preocupar-nos com os pobres, visto que sempre vai haver gente pobre? Será que a pobreza é um destino imposto por Deus? Como entender esta frase? Naquele tempo, as pessoas conheciam o Antigo Testamento de memória. Bastava Jesus citar o começo de uma frase do AT, e as pessoas já sabiam o resto. O começo da frase dizia: “Vocês vão ter sempre os pobres com vocês!” (Dt 15,11a). O resto da frase que o povo já conhecia e que Jesus quis lembrar, era este: “Por isso, eu ordeno: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente, na terra onde você estiver!” (Dt 15,11b). Conforme esta Lei, a comunidade deve acolher os pobres e partilhar com eles seus próprios bens. Mas Judas, em vez de “abrir a mão em favor do pobre” e de partilhar com ele seus próprios bens, queria fazer caridade com o dinheiro dos outros! Queria vender o perfume de Maria por trezentos denários e usá-los para ajudar os pobres. Jesus cita a Lei de Deus que ensinava o contrário. Quem, como Judas, faz campanha com o dinheiro da venda dos bens dos outros, não incomoda. Mas aquele que, como Jesus, insiste na obrigação de acolher os pobres e de partilhar com eles os próprios bens, este incomoda e corre o perigo de ser condenado.
* 2. "Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento" A morte na cruz era o castigo terrível e exemplar, adotado pelos romanos para castigar os subversivos que se opunham ao império. Uma pessoa condenada à morte de cruz não recebia sepultura e não podia ser ungida, pois ficava pendurada na cruz até que os animais comessem o cadáver, ou recebia sepultura rasa de indigente. Além disso, conforme a Lei do Antigo Testamento, ela devia ser considerada como "maldita por Deus" (Dt 21, 22-23). Jesus ia ser condenado à morte de cruz, conseqüência do seu compromisso com os pobres e da sua fidelidade ao Projeto do Pai. Não ia ter enterro. Por isso, depois de morto, não poderia ser ungido. Sabendo disso, Maria se antecipa e o unge antes de ser crucificado. Com este gesto, ela mostra que aceitava Jesus como Messias, mesmo crucificado! Jesus entende o gesto dela e o aprova.
* João 12,9-11: A multidão e as autoridades. Ser amigo de Jesus pode ser perigoso. Lázaro corre perigo de morte por causa da vida nova que recebeu de Jesus. Os judeus decidiram matá-lo. Um Lázaro vivo era prova viva de que Jesus era o Messias. Por isso, a multidão o procurava, pois o povo queria experimentar de perto a prova viva do poder de Jesus. Uma comunidade viva corre perigo de vida porque é prova viva da Boa Nova de Deus!
4) Para um confronto pessoal
1) Maria foi mal interpretada por Judas. Você já foi mal interpretada alguma vez? Como você reagiu?
2) O que nos ensina o gesto de Maria? Que alerta nos traz a reação de Judas?
5) Oração final
O SENHOR é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é quem defende a minha vida; a quem temerei? Ele me dá abrigo na sua tenda no dia da desgraça. Esconde-me em sua morada, sobre o rochedo me eleva. (Sl 26, 1.5)
Domingo de Ramos: Jesus só precisou de um jumentinho
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“E levaram o jumentinho a Jesus” (Lc 19,35). A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho do Domingo de Ramos - Ciclo C (14/04/2019) que corresponde ao texto bíblico de Lucas 19,28-40.
Eis o comentário.
Celebramos hoje o chamado “Domingo de Ramos”, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Nada de mobilizações, nada de comissão de preparação da festa; não teve um mestre de cerimônias para que tudo acontecesse dentro das normas estabelecidas; não pediu que a polícia lhe acompanhasse, nem guarda-costas para sua segurança pessoal. Jesus nunca buscou as grandes manifestações populares. A improvisação contou com a espontaneidade do povo simples e, como tal, nada de grandes solenidades, de aparato espetacular. Para Jesus, bastava-lhe um jumentinho. O resto ficou a cargo da iniciativa da multidão que se uniu a Ele, enfeitando o caminho e entoando hinos messiânicos.
Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação de vida com os últimos deste mundo. Ali, nas periferias e nas margens, há uma esperança latente e alentadora daqueles que se empenham por imprimir um movimento novo à história; é nele que está a semente de uma vida diferente, criativa e mais promissora.
E Jesus foi o ponto de partida de uma ousada mudança na história da humanidade.
Os evangelistas sinóticos relatam a vida pública de Jesus como uma subida das “periferias” até a capital política e religiosa. E Jesus “entra” em Jerusalém, montado num jumentinho e aclamado por seus seguidores. Escolhe um jumentinho como símbolo de um messianismo de paz e simplicidade. Nada, portanto, de uma manifestação espetacular; Ele rompe com a imagem de um triunfador e despoja-se de todo indício de poder. Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos, quer levar vida a uma cidade que carregava forças de morte em seu interior. Ele quer pôr o coração de Deusno coração da grande cidade; deseja recriar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comunhão, o lugar da justiça e fraternidade...
Mantos colocados como tapetes pelo solo, ramos de oliveira e palmas e tudo o que saía de dentro das pessoas: o canto, o grito de louvor, as vivas, os aplausos. O povo simples faz as coisas de maneira simples, mas que se tornam simpáticas, festivas. Além disso, Jesus não precisava mais que isso.
Jesus não quis entrar em Jerusalém como os conquistadores militares, mas como o homem simples, como o Salvador simples. Porque, para Jesus era uma entrada que queria ser como uma nova oferta de salvação à cidade de Jerusalém, e a salvação não é oferecida com títulos de grandeza; isso sim, ela é oferecida com cantos, danças, alegria. Jesus quer que todos descubram a novidade do Evangelho com vibração e com sentido festivo; quando Ele nos oferece o dom salvação, faz com alegria e é também com alegria que somos chamados a acolhê-lo.
Como mensageiro de paz, chegou Jesus a Jerusalém montado num jumentinho. Não precisava de soldados e nem de instituições de violência para se defender. Sem armas de guerra, sem um possante cavalo, sem poderes e nem ambições..., mas montado num jumentinho de paz; um jumentinho emprestado e novo, não domado, pois Jesus não possuía nem um jumentinho.
O texto de Lucas supõe que Jesus tinha conhecidos naquela região, à entrada da aldeia (Betfagé). O jumentinho não era seu, mas contava com amigos que o emprestaram.
Este jumentinho é símbolo da vida campesina e pacífica, animal do pobre; é conhecida sua resistência na lida do cotidiano do campo: carrega peso, lavra a terra, suporta longas viagens.... Não é animal para a guerra e nem para alimentar a vaidade daqueles que querem demonstrar seu poder diante dos outros. Jesus se serve de um jumentinho para dizer que não quer se impor pelas armas e pela força; seu senhorio é diferente, retomando as tradições campesinas de seu povo.
Como o jumentinho não tem arreio, nem apetrechos (é um jumentinho novo, nunca montado), os discípulos estendem seus próprios mantos na garupa, para que assim Jesus pudesse montar com dignidade e, sobre sua garupa, pudesse entrar na cidade, descendo pelo Monte das Oliveiras.
Jesus chegou a Jerusalém de maneira pacífica, mas muito provocadora, pois instaurar o Reino como Ele propunha implicava um desafio para o sistema imperial de Roma e para a política sacerdotal do templo.
Que Jesus era uma pessoa desconcertante, não resta dúvida. Continuamente Ele assumia atitudes que desconcertavam a todos, ou realizava alguns gestos que causavam assombro... Sempre evitou grandes manifestações que poderiam se prestar a enganos e equívocos em torno à sua pessoa.
Quando quiseram fazê-lo rei, escapou e se refugiou na montanha. Como é que agora, o primeiro dia de sua última semana, lhe ocorre armar um rebuliço? Como profeta, Jesus toma consciência que agora já não é mais o momento dos discursos, mas dos gestos; já não é o momento das palavras, mas dos fatos; já não é o momento de esconder-se, mas de mostrar a cara; já não é o momento das prudências, mas dos riscos; já não é o momento de ocultar sua messianidade, mas de proclamá-la.
A Igreja também necessita de gestos, mas de gestos evangélicos. Muito mais que grandes discursos, a Igreja necessita de gestos simples que o povo entenda, viva e sinta.
Temos demasiados “exibicionismos clericais” que tem pouco a ver com a simplicidade de Jesus; temos grandes solenidades, que possivelmente são bem-intencionadas, mas que expressam pouco da simplicidade e da pobreza de Jesus.
Com frequência confundimos nossa vitalidade cristã com as grandes massas em torno às grandes figuras da Igreja. Medimos nossa fé pelas estatísticas daqueles que assistem a essas grandes manifestações. E logo, todos somos conscientes de que tudo continua igual, que as grandes massas não vão mudar depois dos grandes aplausos e vivas.
Jesus mesmo viveu essa experiência. Essa mesma multidão que hoje o acompanha, dentro de uns dias pedirá que o crucifiquem. Os entusiasmos massivos têm muito pouco de personalização da fé. É mais o sentimentalismo do momento que uma experiência profunda do Evangelho.
Jesus não fundou uma Igreja de grandes massas. Pelo contrário, falou de uma Igreja “pequeno rebanho”, “sal e fermento”, esvaziada de vaidades e carregada de simplicidade.
Não estamos insistindo em demasia no prestígio da Igreja? Não estamos por demais preocupados com uma Igreja que brilha, em vez de uma Igreja simples, pobre e despojada? Não temos na Igreja “carros possantes” em excesso e pouquíssimos jumentinhos?
Para meditar na oração
Nosso zelo e amor pelo Evangelho e pela semente do Reino que nele está contida, deve favorecer o advento de uma “Nova Jerusalém”; é preciso cuidar o coração, esvaziá-lo, limpá-lo, aquecê-lo, transformá-lo em humilde receptáculo, para que o Espírito do Senhor possa ali pousar e nele habitar como num ninho acolhedor, transmitindo-lhe vida, luz, calor, paz, ternura...
- Como você descreve sua “Jerusalém interior”: cidade da paz e do encontro ou cidade da intolerância e da violência? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
A Cruz de Jesus ontem... A Cruz hoje.
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A Cruz de Jesus
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
Eis a cruz ó madeiro sagrado, eis a cruz ó altar consumado, eis a cruz, eis a cruz, de Jesus.
1-No Monte das Oliveiras Ele sente a aflição, está em silêncio e desolação. Meu Pai afasta de mim essa dor, mas não seja feita a minha vontade mas/ Do Senhor (bis)
2-Judas Iscariotes traiu meu Salvador, ô quanto sofrimento ó quanta dor. No coração de Pedro a noite chegou, nega o Filho de Deus/ O Salvador. (bis)
3- Ele foi julgado e condenado com desamor, e logo Pilatos Barrabás soltou. Cuspiam
Nele e diziam salve o Rei dos Judeus, batiam em sua cabeça/ Ô quanto dor. (bis)
4-No caminho do calvário as santas mulheres encontrou, no caminho do calvário Verônica aflita/ As lágrimas enxugou. (bis)
5-Para o calvário a cruz Ele carregou, Simão Cirineu logo o ajudou. Para o calvário a cruz Ele carregou, a sua santa Mãe/ O consolou. (bis)
6-No suplício da cruz Dimas suplicou, e o perdão dos pecados ele ganhou. Pobre Filho de Deus homem da dor, os pecados de Dimas/ Ele deletou. (bis)
7-No alto da cruz Ele foi condenado, no alto da cruz Ele foi abandonado, no madeiro Ele sente uma grande dor, os pregos e a lança o/ Sangue jorrou. (bis)
8- No alto da cruz Ele gritou, meu Deus, meu Deus por que/ Me abandonou. O que fizeram com o meu Senhor, fazem todos os dias, ô/ Quanta horror. (bis)
Sábado, 13 de abril-2019. 5ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, vós sempre cuidais da salvação dos homens e nesta Quaresma nos alegrais com graças mais copiosas. Considerai com bondade aqueles que escolhestes, para que a vossa proteção paterna acompanhe os que se preparam para o batismo e guarde os que já foram batizados. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 11, 45-56)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 45Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. 46Alguns deles, porém, foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus realizara. 47Os pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: Que faremos? Esse homem multiplica os milagres. 48Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação. 49Um deles, chamado Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: Vós não entendeis nada! 50Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda a nação. 51E ele não disse isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizava que Jesus havia de morrer pela nação, 52e não somente pela nação, mas também para que fossem reconduzidos à unidade os filhos de Deus dispersos. 53E desde aquele momento resolveram tirar-lhe a vida. 54Em consequência disso, Jesus já não andava em público entre os judeus. Retirou-se para uma região vizinha do deserto, a uma cidade chamada Efraim, e ali se detinha com seus discípulos. 55Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente de todo o país subia a Jerusalém antes da Páscoa para se purificar. 56Procuravam Jesus e falavam uns com os outros no templo: Que vos parece? Achais que ele não virá à festa? - Palavra da salvação.
3) Reflexão João
* O evangelho de hoje traz a parte final do longo relato da ressurreição de Lázaro em Betânia, na casa de Marta e Maria (João 11,1-56). A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal (milagre) de Jesus no evangelho de João e é também o ponto alto e decisivo da revelação que ele vinha fazendo de Deus e de si mesmo.
* A pequena comunidade de Betânia, onde Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das pequenas comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia Menor. Betânia quer dizer "Casa dos pobres". Eram comunidades pobres de gente pobre. Marta quer dizer "Senhora" (coordenadora): uma mulher coordenava a comunidade. Lázaro significa "Deus ajuda": a comunidade pobre esperava tudo de Deus. Maria significa "amada de Javé": era a discípula amada, imagem da comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro comunicava esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é fonte de vida para todos que nele acreditam.
* João 11,45-46: A repercussão do sétimo Sinal no meio do povo
Depois da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste sinal no meio do povo. O povo estava dividido. “Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele”. Mas outros “foram ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia. Para poder entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar em conta que a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para poder viver e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um desconhecido profeta da Galiléia que criticava o Templo e as autoridades. Isto também explica como alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.
* João 11,47-53: A repercussão do sétimo Sinal no meio das autoridade
A notícia da ressurreição de Lázaro fez crescer a popularidade de Jesus. Por isso, os líderes religiosos convocam o conselho, o sinédrio, a autoridade máxima, para discernir o que fazer. Pois, “esse homem está realizando muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação”. Eles tinham medo dos romanos. De fato, o passado, desde a invasão romano em 64 antes de Cristo até à época de Jesus, já tinha mostrado várias vezes que os romanos reprimiam com toda a violência qualquer tentativa de rebelião popular (cf Atos 5,35-37). No caso de Jesus, a reação romana poderia levar à perda de tudo, inclusive do Templo e da posição privilegiada dos sacerdotes. Por isso, Caifás, o sumo sacerdote, decide: “É melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer”. E o evangelista faz este bonito comentário: “Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote nesse ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir juntos os filhos de Deus que estavam dispersos”. Assim, a partir deste momento, os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e motivados pelo medo dos romanos, decidem matar Jesus.
* João 11,54-56: A repercussão do sétimo Sinal na vida de Jesus
O resultado final é que Jesus tinha que viver como clandestino. “Ele não andava mais em público entre os judeus. Retirou-se para uma região perto do deserto. Foi para uma cidade chamada Efraim, onde ficou com seus discípulos”. A páscoa estava próxima. Nessa época do ano, a população de Jerusalém triplicava por causa do grande número de peregrinos e romeiros. A conversa de todos era em torno de Jesus: "Que é que vocês acham? Será que ele não vem para a festa?" Da mesma maneira, na época em que foi escrito o evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do imperador Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para os outros viam-se obrigadas a viver na clandestinidade.
* Uma chave para entender o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro
Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria mandaram chamar Jesus: "Aquele a quem amas está doente!" (Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: "Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho de Deus!" (Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos judeus estavam na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os judeus, representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida nova.. Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de conflito entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro.
Marta diz que crê na ressurreição. Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam na Ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era apenas fé na ressurreição no fim dos tempos e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Esta fé antiga não renovava a vida. Pois não basta crer na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a Ressurreição já está presente aqui e agora na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre estes a morte já não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a "ressurreição e a vida". Mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, Marta confessa a sua fé: "Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo" (Jo 11,27).
Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: "Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!"(Jo 11,39). Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: "Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?" (Jo 11,40). Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: "Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!" (Jo 11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador: "Lázaro, vem para fora!" E Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor comentou: "A nós cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade. Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!"
4) Para um confronto pessoal
1) O que significa para mim, bem concretamente, crer na ressurreição?
2) Parte do povo aceitava Jesus, parte não aceitava. Hoje, parte do povo aceita a renovação da igreja, e parte não aceita. E eu?
5) Oração final
Ouvi, nações, a palavra do SENHOR, anunciai às terras distantes; dizei: ‘Aquele mesmo que dispersou Israel vai reuni-lo novamente e dele cuidará qual pastor do seu rebanho.’ Pois o SENHOR libertou Jacó, livrou-o do poder de outro mais forte. (Jr 31, 10-11)
Sexta-feira, 12 de abril-2019. 5ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Perdoai, ó Deus, nós vos pedimos, as culpas do vosso povo. E, na vossa bondade, desfazei os laços dos pecados que em nossa fraqueza cometemos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 10, 31-42)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 31Os judeus pegaram pela segunda vez em pedras para o apedrejar. 32Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais? 33Os judeus responderam-lhe: Não é por causa de alguma boa obra que te queremos apedrejar, mas por uma blasfêmia, porque, sendo homem, te fazes Deus. 34Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois deuses (Sl 81,6)? 35Se a lei chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (ora, a Escritura não pode ser desprezada), 36como acusais de blasfemo aquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, porque eu disse: Sou o Filho de Deus? 37Se eu não faço as obras de meu Pai, não me creiais. 38Mas se as faço, e se não quiserdes crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai. 39Procuraram então prendê-lo, mas ele se esquivou das suas mãos. 40Ele se retirou novamente para além do Jordão, para o lugar onde João começara a batizar, e lá permaneceu. 41Muitos foram a ele e diziam: João não fez milagre algum, 42mas tudo o que João falou deste homem era verdade. E muitos acreditaram nele. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* Estamos chegando perto da Semana Santa, em que comemoramos e atualizamos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Desde a quarta semana da quaresma, os textos dos evangelhos diários são tirado quase exclusivamente do Evangelho de João, dos capítulos que acentuam a tensão dramática entre, de um lado, a revelação progressiva que Jesus faz do mistério do Pai que o enche por inteiro e, de outro lado, o fechamento progressivo da parte dos judeus que se tornam cada vez mais impenetráveis à mensagem de Jesus. O trágico deste fechamento é que ele é feito em nome da fidelidade a Deus. É em nome de Deus que eles rejeitam Jesus.
* Esta maneira de João apresentar o conflito entre Jesus e as autoridade religiosas não é só algo que aconteceu no longínquo passado. É também um espelho que reflete o que acontece hoje. É em nome de Deus que algumas pessoas se transformam em bombas vivas e matam os outros. É em nome de Deus que nós, membros das três religiões do Deus de Abraão, judeus, cristãos e muçulmanos, nos condenamos e nos combatemos mutuamente, ao longo da história. É tão difícil e tão necessário o ecumenismo entre nós. Em nome de Deus foram feitas muitas barbaridades e continuam sendo feitas até hoje. A quaresma é um período importante para parar e perguntar qual a imagem de Deus que habita o meu ser?
* João 10,31-33: Os judeus querem apedrejar Jesus. Os judeus apanham pedras para matar Jesus. Jesus pergunta: "Por ordem do meu Pai, tenho feito muitas coisas boas na presença de vocês. Por qual delas vocês me querem apedrejar?" A resposta: "Não queremos te apedrejar por causa de boas obras, e sim por causa de uma blasfêmia: tu és apenas um homem, e te fazes passar por Deus." Querem matar Jesus por blasfêmia. A lei mandava apedrejar tais pessoas.
* João 10,34-36: A Bíblia chama todos de Filhos de Deus. Eles querem matar Jesus porque ele se faz passar por Deus. Jesus responde em nome da mesma Lei de Deus: "Por acaso, não é na Lei de vocês que está escrito: 'Eu disse: vocês são deuses'? Ninguém pode anular a Escritura. Ora, a Lei chama de deuses as pessoas para as quais a palavra de Deus foi dirigida. O Pai me consagrou e me enviou ao mundo. Por que vocês me acusam de blasfêmia, se eu digo que sou Filho de Deus?”.
* Estranhamente, Jesus diz “a lei de vocês”. Ele deveria dizer “nossa lei”. Por que ele fala assim? Aqui transparece novamente a ruptura trágica entre Judeus e Cristãos, dois irmãos, filhos do mesmo pai Abraão, que se tornaram inimigos irredutíveis a ponto de os cristãos dizerem “a lei de vocês”, como se não fosse mais nossa lei.
* João 10,37-38: Ao menos acreditem nas obras que faço. Jesus torna a falar das obras que ele faz e que são a revelação do Pai. Se não faço as obras do Pai não precisam crer em mim. Mas se as faço, mesmo que vocês não acreditem em mim, acreditem ao menos nas obras, para que você possam chegar a perceber que o Pai está em mim e eu no pai. As mesmas palavras Jesus vai pronunciar para os discípulos na última Ceia (Jo 14,10-11).
* João 10,39-42: Novamente querem matá-lo, mas ele escapou das mãos deles. Não houve nenhum sinal de conversão. Eles continuam achando que Jesus é blasfemo e insistem em querer matá-lo. Não há futuro para Jesus. Sua morte está decretada, mas sua hora ainda não chegou. Jesus sai e atravessa o Jordão para o lugar onde João tinha batizado. Assim mostra a continuidade da sua missão com a missão de João. Ajudava o povo a perceber a linha da ação de Deus na história. O povo reconhece em Jesus aquele que João tinha anunciado.
4) Para um confronto pessoal
1) Os judeus condenam Jesus em nome de Deus, em nome da imagem que eles têm de Deus. Já aconteceu eu condenar alguém em nome de Deus e depois descobrir que eu estava errado?
2) Jesus se diz “Filho de Deus”. Quando eu professo no Credo que Jesus é o Filho de Deus, qual o conteúdo que eu coloco nesta minha profissão de fé?
5) Oração final
Eu te amo, SENHOR, minha força, SENHOR, meu rochedo, minha fortaleza, meu libertador; meu Deus, minha rocha, na qual me refúgio; meu escudo e baluarte, minha poderosa salvação. (Sl 17, 2-3)
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