DOMINGO, 12- Dia dos Pais- 19º Domingo do Tempo Comum – Ano B.
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Tema
A liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta, uma vez mais, da preocupação de Deus em oferecer aos homens o “pão” da vida plena e definitiva. Por outro lado, convida os homens a prescindirem do orgulho e da auto-suficiência e a acolherem, com reconhecimento e gratidão, os dons de Deus.
A primeira leitura mostra como Deus Se preocupa em oferecer aos seus filhos o alimento que dá vida. No “pão cozido sobre pedras quentes” e na “bilha de água” com que Deus retempera as forças do profeta Elias, manifesta-se o Deus da bondade e do amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os seus profetas e lhes dá a força para testemunhar, mesmo nos momentos de dificuldade e de desânimo.
O Evangelho apresenta Jesus como o “pão” vivo que desceu do céu para dar a vida ao mundo. Para que esse “pão” sacie definitivamente a fome de vida que reside no coração de cada homem ou mulher, é preciso “acreditar”, isto é, aderir a Jesus, acolher as suas propostas, aceitar o seu projeto, segui-lo no “sim” a Deus e no amor aos irmãos.
A segunda leitura mostra-nos as consequências da adesão a Jesus, o “pão” da vida… Quando alguém acolhe Jesus como o “pão” que desceu do céu, torna-se um Homem Novo, que renuncia à vida velha do egoísmo e do pecado e que passa a viver no caridade, a exemplo de Cristo.
LEITURA I – 1 Re 19,4-8
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias,
Elias entrou no deserto e andou o dia inteiro.
Depois sentou-se debaixo de um junípero
e, desejando a morte, exclamou:
«Já basta, Senhor. Tirai-me a vida,
porque não sou melhor que meus pais».
Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero.
Nisto, um Anjo do Senhor tocou-lhe e disse:
«Levanta-te e come».
Ele olhou e viu à sua cabeceira
um pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água.
Comeu e bebeu e tornou a deitar-se.
O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse:
«Levanta-te e come,
porque ainda tens um longo caminho a percorrer».
Ele levantou-se, comeu e bebeu.
Depois, fortalecido com aquele alimento,
caminhou durante quarenta dias e quarenta noites
até ao monte de Deus, Horeb.
AMBIENTE
Elias atua no Reino do Norte (Israel) durante o século IX a.C., num tempo em que a fé jahwista é posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros (especialmente Baal) assumem na cultura religiosa de Israel. Provavelmente, estamos diante de uma tentativa de abrir Israel a outras culturas, a fim de facilitar o intercâmbio cultural e comercial… Mas essas razões políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel. O ministério profético de Elias desenvolve-se sobretudo durante o reinado de Acab (873-853 a.C.), embora a sua voz também se tenha feito ouvir no reinado de Ocozias (853-852 a.C.).
Elias é o grande defensor da fidelidade a Jahwéh. Ele aparece como o representante dos israelitas fiéis que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel. Num episódio dramático, o próprio profeta chegou a desafiar os profetas de Baal para um duelo religioso que terminou com um massacre de quatrocentos profetas de Baal no monte Carmelo (cf. 1 Re 18). Esse episódio é, certamente, uma apresentação teológica dessa luta sem tréguas que se trava entre os fiéis a Jahwéh e os que abrem o coração às influências culturais e religiosas de outros povos.
Para além da questão do culto, Elias defende a Lei em todas as suas vertentes (veja-se, por exemplo, a sua defesa intransigente das leis da propriedade em 1 Re 21, no célebre episódio da usurpação das vinhas de Nabot): ele representa os pobres de Israel, na sua luta sem tréguas contra uma aristocracia e uns comerciantes todo-poderosos que subvertiam a seu bel-prazer as leis e os mandamentos de Jahwéh.
Após o massacre dos 400 profetas de Baal no monte Carmelo, Acab e a sua esposa fenícia juraram matar Elias; e o profeta fugiu para o sul, a fim de salvar a vida. Chegado à zona de Beer-Sheba, Elias internou-se no deserto. É precisamente nesse contexto que o episódio do Livro dos Reis que hoje nos é proposto nos situa.
MENSAGEM
A cena apresenta-nos um Elias abatido, deprimido e solitário face à incompreensão e à perseguição de que é alvo. O profeta sente que falhou, que a sua missão está condenada ao fracasso e que a sua luta o conduziu a um beco sem saída; sente medo e está prestes a desistir de tudo… O pedido que o profeta faz a Deus no sentido de lhe dar a morte (vers. 4) reflete o seu profundo desânimo, desilusão, angústia e desespero. É uma cena tocante, que nos recorda que o profeta é um homem e que está, por isso, condenado a fazer a experiência da sua fragilidade e da sua finitude.
No entanto, Deus não está longe e não abandona o seu profeta. O nosso texto refere, neste contexto, a solicitude e o amor de Deus, que oferece a Elias “pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água” (vers. 6). É a confirmação de que o profeta não está perdido nem abandonado por Deus, mesmo quando é incompreendido e perseguido pelos homens. A cena garante-nos a presença contínua de Deus e o seu cuidado com aqueles que chama e a quem dá o alimento e o alento para serem fiéis à missão, mesmo em contextos adversos. Repare-se como Deus não anula a missão do profeta, nem elimina os perseguidores; mas limita-Se a dar ao profeta a força para continuar a sua peregrinação.
Alimentado pela força de Deus, o profeta caminha durante “quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, o Horeb” (vers. 8). A referência aos “quarenta dias e quarenta noites” alude certamente à estadia de Moisés na montanha sagrada (cf. Ex 24,18), onde se encontrou com Deus e onde recebeu de Jahwéh as tábuas da Lei; também pode aludir à caminhada do Povo durante quarenta anos pelo deserto, até alcançar a Terra Prometida. Em qualquer caso, esta peregrinação ao Horeb – o monte da Aliança – é um regresso às fontes, uma peregrinação às origens de Israel como Povo de Deus… Perseguido, incompreendido, desesperado, Elias necessita revitalizar a sua fé e reencontrar o sentido da sua missão como profeta de Jahwéh e como defensor dessa Aliança que Deus ofereceu ao seu Povo no Horeb/Sinai.
ATUALIZAÇÃO
No quadro que o texto nos apresenta, Elias aparece como um homem vencido pelo medo e pela angústia, marcado pela decepção e pelo desânimo, que experimentou dramaticamente a sua impotência no sentido de mudar o coração do seu Povo e que, por isso, desistiu de lutar; a sua desilusão é de tal forma grande, que ele prefere morrer a ter de continuar. “Este” Elias testemunha essa condição de fragilidade e de debilidade que está sempre presente na experiência profética. É um quadro que todos nós conhecemos bem… A nossa experiência profética está, muitas vezes, marcada pelas incompreensões, pelas calúnias, pelas perseguições; outras vezes, é o sentimento da nossa impotência no sentido de mudar o mundo que nos angustia e desanima; outras vezes ainda, é a constatação da nossa fragilidade, dos nossos limites, da nossa finitude que nos assusta… Como responder a um quadro deste tipo e como encarar esta experiência de fragilidade e de debilidade? A solução será baixar os braços e abandonar a luta? Quem pode ajudar-nos a enfrentar o drama da desilusão e da decepção?
O nosso texto garante-nos que Deus não abandona aqueles a quem chama a dar testemunho profético. No “pão cozido sobre pedras quentes” e na “bilha de água” com que Deus retempera as forças de Elias, manifesta-se o Deus da bondade e do amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os seus profetas e lhes dá a força para testemunhar, mesmo nos momentos de dificuldade e de desânimo. Quando tudo parece cair à nossa volta e quando a nossa missão parece condenada ao fracasso, é em Deus que temos de confiar e é n’Ele que temos de colocar a nossa segurança e a nossa esperança.
Como nota marginal, atentemos na forma de atuar de Deus: Ele não resolve magicamente os problemas do profeta, nem Se substitui ao profeta… O profeta deve continuar a sua missão, enfrentando os mesmos problemas de sempre; mas Deus “apenas” alimenta o profeta, dando-lhe a coragem para continuar a sua missão. Por vezes, pedimos a Deus que nos resolva milagrosamente os problemas, com um golpe mágico, enquanto nós ficamos, de braços cruzados, a olhar para o céu… O nosso Deus não Se substitui ao homem, não ocupa o nosso lugar, não estimula com a sua ação a nossa preguiça e a nossa instalação; mas está ao nosso lado sempre que precisamos d’Ele, dando-nos a força para vencer as dificuldades e indicando-nos o caminho a seguir.
A “peregrinação” de Elias ao Horeb/Sinai, para se reencontrar com as origens da fé israelita e para recarregar as baterias espirituais, sugere-nos a necessidade de, por vezes, encontrarmos momentos de “paragem”, de reflexão, de “retiro”, de reencontro com Deus, de redescoberta dos fundamentos da nossa missão… Essa “paragem” não será nunca um tempo perdido; mas será uma forma de recentrarmos a nossa vida em Deus e de redescobrirmos os desafios que Deus nos faz, no âmbito da missão que nos confiou.
ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO – JO 6,41-51)
Repetindo o tema central do texto que refletimos no passado domingo, também o Evangelho que hoje nos é proposto nos convida a acolher Jesus como o “pão” de Deus que desceu do céu para dar a vida aos homens… Para nós, seguidores de Jesus, esta afirmação não é uma afirmação de circunstância, mas um facto que condiciona a nossa existência, as nossas opções, todo o nosso caminho. Jesus, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, com o seu amor, com a sua proposta, veio dizer-nos como chegar à vida verdadeira e definitiva. Que lugar é que Jesus ocupa na nossa vida? É à volta d’Ele que construímos a nossa existência? O projeto que Ele veio propor-nos tem um real impacto na nossa caminhada e nas opções que fazemos em cada instante?
“Quem acredita em Mim, tem a vida eterna” – diz-nos Jesus. “Acreditar” não é, neste contexto, aceitar que Ele existiu, conhecer a sua doutrina, ou elaborar altas considerações teológicas a propósito da sua mensagem… “Acreditar” é aderir, de facto, a essa vida que Jesus nos propôs, viver como Ele na escuta constante dos projetos do Pai, segui-lo no caminho do amor, do dom da vida, da entrega aos irmãos; é fazer da própria vida – como Ele fez da sua – uma luta coerente contra o egoísmo, a exploração, a injustiça, o pecado, tudo o que desfeia a vida dos homens e traz sofrimento ao mundo. Eu posso dizer, com verdade e objetividade, que “acredito” em Jesus?
No seu discurso, Jesus faz referência ao maná como um alimento que matou a fome física dos israelitas em marcha pelo deserto, mas que não lhes deu a vida definitiva, não lhes transformou os corações, não lhes assegurou a liberdade plena e verdadeira (só o “pão” que Jesus oferece sacia verdadeiramente a fome de vida do homem). O maná pode representar aqui todas essas propostas de vida que, tantas vezes, atraem a nossa atenção e o nosso interesse, mas que vêm a revelar-se falíveis, ilusórias, parciais, porque não nos libertam da escravidão nem geram vida plena. É preciso aprendermos a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança no “pão” que não sacia a nossa fome de vida definitiva; é necessário aprendermos a discernir entre o que é ilusório e o que é eterno; é preciso aprendermos a não nos deixarmos seduzir por falsas propostas de realização e de felicidade; é necessário aprendermos a não nos deixarmos manipular, aceitando como “pão” verdadeiro os valores e as propostas que a moda ou a opinião pública dominante continuamente nos oferecem…
Porque é que os judeus rejeitam a proposta de Jesus e não estão dispostos a aceitá-lo como “o pão que desceu do céu”? Porque vivem instalados nas suas grandes certezas teológicas, prisioneiros dos seus preconceitos, acomodados num sistema religioso imutável e estéril e perderam a faculdade de escutar Deus e de se deixar desafiar pela novidade de Deus. Eles construíram um Deus fixo, calcificado, previsível, rígido, conservador, e recusam-se a aceitar que Deus encontre sempre novas formas de vir ao encontro dos homens e de lhes oferecer vida em abundância. Esta “doença” de que padecem os líderes e “fazedores” de opinião do mundo judaico não é assim tão rara… Todos nós temos alguma tendência para a acomodação, a instalação, o aburguesamento; e quando nos deixamos dominar por esse esquema, tornamo-nos prisioneiros dos ritos, dos preconceitos, das ideias política ou religiosamente corretas, de catecismos muito bem elaborados mas parados no tempo, das elaborações teológicas muito coerentes e muito bem arrumadas mas que deixam pouco espaço para o mistério de Deus e para os desafios sempre novos que Deus nos faz. É preciso aprendermos a questionar as nossas certezas, as nossas ideias pré-fabricadas, os esquemas mentais em que nos instalamos comodamente; é preciso termos sempre o coração aberto e disponível para esse Deus sempre novo e sempre dinâmico, que vem ao nosso encontro de mil formas para nos apresentar os seus desafios e para nos oferecer a vida em abundância.
*LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. Clique ao lado no link- EVANGELHO DO DIA.
ANO DO LAICATO: Em Belo Horizonte
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Assassinado sacerdote jesuíta na região amazônica do Peru
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Padre Carlos Montes Rivadiet, 73 anos, foi encontrado morto na manhã de sexta-feira, 10, em uma sala de aula do Colégio “Fé y Alegría”, da Comunidade indígena de Yamakentsa, em Imaza, Peru.
Cidade do Vaticano
O sacerdote jesuíta, padre Carlos Montes Rivadiet, 73 anos, foi encontrado morto, algemado e com sinais de violência na manhã de sexta-feira, em uma sala de aula do Colégio “Fé y Alegría”, da Comunidade indígena de Yamakentsa, em Imaza, Peru.
O religioso jesuíta, diretor da escola por 30 anos, era muito querido pelos nativos da região norte da selva amazônica.
Jesuítas pedem investigação
Após o assassinato, os jesuítas da localidade divulgaram um comunicado, onde expressam “perplexidade e tristeza pela morte do padre Carlos”, como também rejeitam “todas as formas de violência”.
“Esperamos – dizem os jesuítas - que as autoridades possam esclarecer as causas e as circunstâncias da morte do missionário jesuíta”.
Dos seus 73 anos, o sacerdote de origem espanhola dedicou 38 a serviço dos povos indígenas da região amazônica. Segundo a rádio local RPP, o diretor do Colégio havia sido ameaçado de morte por um aluno, pois havia sido expulso da escola.
Nota dos Bispos do Peru
A Conferência Episcopal Peruana, através do arcebispo de Trujillo, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, deplora o falecimento do sacerdote jesuíta.
O sacerdote - diz a nota dos Bispos peruanos - “dedicava-se à educação das famílias das comunidades autóctones da Amazônia”. Os prelados peruanos “expressam seus pesar a todos os membros da Companhia de Jesus, de modo especial ao Provincial dos Jesuítas, Padre Juan Carlos Morante”.
Por fim, a Conferência Episcopal Peruana também “solicita às autoridades locais para esclarecer o acontecimento e descobrir os responsáveis”.
REPAM
Também a Rede Eclesial Panamazônica (REPAM) expressou “seu profundo pesar” pela morte do sacerdote. Tendo chegado no Alto Marañon em 1980, “era muito querido pelos cidadãos da região, especialmente entre os membros das comunidades awajún e wampis”, diz um comunicado.
A vida de padre Carlos na missão jesuíta na Amazônia “nos deixa um legado de entrega, compromisso e responsabilidade. Um serviço de amor compartilhado e vivido junto aos povos originários, com quem foram forjados projetos de futuro”, que serão continuados por aqueles que trabalharam junto dele. Fonte: /www.vaticannews.va
Veja vídeos. Clique aqui:
https://larepublica.pe/sociedad/1295333-bagua-hallan-muerto-sacerdote-aula-colegio-video
"Os fiéis abandonam a Igreja, ou é a Igreja que abandona os fiéis?"
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"A Igreja está quase sempre atrasada para solucionar os grandes problemas".
O artigo é de José María Castillo, teólogo, publicado por Religión Digital, 04-08-2018. A tradução é de Graziela Wolfart. Em uma entrevista feita a mim, pelo nosso amigo Jesús Bastante, eu me perguntava "por que a Igreja não permite que as mulheres possam ser ordenadas como sacerdotes". Diante desta minha pergunta, alguns comentaristas me questionaram com recriminação, o que, à primeira vista, parece perfeitamente razoável: "Se o Evangelho não é uma religião, por que tanta insistência em ordenar mulheres como sacerdotes?".
Agradeço sinceramente a quem me fez esta pergunta. Porque me ofereceu uma oportunidade excelente para poder expressar algo que me parece importante. Explico.
Novamente é conveniente repetir que não é a mesma coisa falar de "igualdade" e falar de "diferença". Em poucas palavras, a "diferença" é um fato, enquanto que a "igualdade" é um direito. O homem e a mulher são "diferentes" e "iguais". São distintos, mas têm (ou deveriam ter) os mesmos direitos.
Estas transferências ou deslocamentos (de uma ordem das coisas a outra) são frequentes na vida. É frequente passar, sem se dar conta, do âmbito dos "fatos" ao dos "direitos". Que são duas coisas completamente distintas. Mas, quando se confundem, desembocamos na linguagem das bobagens, das ignorâncias ou simplesmente fazemos papel de ridículo.
Pois bem, por este procedimento das transferências indevidas, acontece também que, com bastante frequência, façamos, de um "fato sociológico", uma coisa que nunca deveria ser feita, que é montar ou elaborar um "argumento teológico". É um fato bem conhecido que, no tempo de Jesus, as mulheres, não só não tinham os mesmos direitos que os homens (Robert C. Knapp, "Los olvidados de Roma", 67-145), como, sobretudo, não podiam ser testemunhas oficiais de nada em causa alguma (J. Jeremias, "Jerusalén en tiempos de Jesús", 371-387). Este é o "fato sociológico".
Por isso Jesus, que sempre defendeu a dignidade e a igualdade das mulheres (Lc 8, 1-3; 7, 36-50; Mt 19, 1-12; Mc 10, 1-12; Jn 8, 1-11; 12, 1-8...), não podia constituir as mulheres como "testemunhas oficiais" suas, em uma sociedade que não admitia, nem aceitava tais testemunhas. Mas, insisto: esse é um "fato sociológico" daqueles tempos e culturas.
O doloroso (e sem sentido) é que, depois de vinte séculos, continuamos pensando e dizendo que aquele "fato social" da Antiguidade é um "argumento teológico" para a Igreja da Modernidade. Isso é um disparate tão monumental como seria o disparate de insistir que devem continuar existindo escravos, pela simples razão de que São Paulojustificou que entre os cristãos da Antiguidade os escravos foram obedientes a seus amos (Flm 16; 1 Cor 7, 21 s; Ef 6, 5; Col 3, 22; 1 Tim 6, 1 s; Tt 2, 9).
A Igreja está quase sempre atrasada. E por isso chega tarde quando se trata de dar solução aos grandes problemas que a humanidade lhe apresenta. Agora nos encontramos com o problema da falta crescente e galopante de sacerdotes. São milhares as paróquias que não podem celebrar a eucaristia.
E estando as coisas como estão, pelo visto, pensa-se que o mais importante é manter uma "norma social" da Antiguidade do que dar a devida resposta a um "direito dos fieis cristãos". Não estou inventando este "direito". Disse, com clareza, o Concílio Vaticano II, na "Constituição Dogmática sobre a Igreja": "todos os fiéis cristãos têm direito ("ius habent") de receber com abundância dos sagrados pastores... os auxílios da palavra de Deus e dos sacramentos..." (LG 37, 1).
Este é o ensinamento solene da Igreja. Mas parece que é mais solene o poder dos bispos e dos sacerdotes em enfrentar inclusive o Papa, o Concílio Ecumênico e milhões de fieis abandonados, com tal propósito de manter firme seu poder, sua dignidade, seus critérios e não sei se, em alguns casos, interesses inconfessáveis. E nos lamentamos pelo fato de que os fiéis abandonam a Igreja? Não seria necessário dizer, antes disso, que é a Igreja que abandona os fieis? E se é que falamos dos infiéis..., então melhor que nos calemos. Ou que gritemos todos ao Céus, pedindo misericórdia. Pois estamos precisando. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
VOCAÇÃO DOS SANTOS: Frei Petrônio
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Audiência Pública sobre o aborto
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Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil
O grupo dos que querem a legalização do aborto no Brasil é incansável: de forma sistemática, por todos os meios, tenta alcançar seus objetivos. Como não tem conseguido atingi-los através do poder legislativo – que existe, justamente, para aprovar leis -, procura alcançá-los agora, pelo poder judiciário, cuja missão, pela nossa Constituição, é a de fazer cumprir as leis, não a de produzi-las.
Desde sexta-feira passada, está acontecendo uma audiência pública para tratar desse assunto, que irá até amanhã. Dos sessenta participantes que exporão suas ideias nessa audiência, a maior parte representa grupos ligados à defesa da legalização do aborto. Por acaso?…
Essa nova movimentação em torno do aborto acontece a partir da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 442, a qual solicita ao Supremo Tribunal Federal – STF a supressão dos artigos 124 a 126 do Código Penal, que tipificam o crime de aborto. Segundo seus autores, a razão desse pedido é que tais artigos seriam inconstitucionais. É isso mesmo que você acabou de ler: depois de 78 anos de vigência desse Código, há quem afirme que esses artigos estão em desacordo com a Constituição de 1988.
Nossa Constituição garante “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida” (Art. 5º). Trata-se do mais importante direito do ser humano, fundamento dos demais direitos. Há vida humana desde o momento da concepção, e essa vida – frágil e indefesa – precisa ser protegida pela sociedade.
Não preciso me delongar aqui sobre a visão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil a respeito desse tema. Fiel à sua missão evangelizadora, a CNBB vem continuamente reafirmado “sua posição em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural”. Condena, “assim, todas e quaisquer iniciativas que pretendam legalizar o aborto no Brasil”, ao mesmo tempo em que defende a necessidade de se combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres mais pobres (Nota de 11.04.2017).
Recentemente, num texto intitulado “Aborto e Democracia”, a comissão da CNBB que cuida da Vida e da Família lembrou: “as propostas de legalização do aborto sempre foram debatidas democraticamente no parlamento brasileiro e, após ampla discussão social, sempre foram firmemente rechaçadas pela população e por seus representantes… Assistimos atualmente uma tentativa de legalização do aborto que burla todas as regras da democracia: quer-se mudar a lei mediante o poder judiciário”.
É hora de o Congresso Nacional assumir as responsabilidades que lhe são próprias. Fonte: https://www.cnbbne3.org.br
Igrejas do Rio sofrem, em média, cinco assaltos por semana
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Segundo ISP, de 2014 a 2017 foram registrados 1.105 furtos e roubos em instituições religiosas, em geral aos domingos
RIO — Segunda-feira, 2h da madrugada: três homens armados rendem o vigia da igreja Divino Espírito Santo e São João Batista, em Vila Isabel, pulam o muro da casa paroquial e amarram dois padres pelos pulsos. Após trancarem as vítimas em um quarto, os bandidos saem do local meia hora depois, levando cerca de R$ 8 mil (total arrecadado nas missas do fim de semana), além de celulares e outros pertences dos religiosos. O caso, ocorrido no dia 11 de junho, não é isolado. Cinco vezes por semana, em média, uma instituição é assaltada na cidade do Rio, segundo levantamento feito com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Quase dois meses após o assalto, os padres da paróquia de Vila Isabel, que tiveram armas apontadas para seus rostos, ainda se recuperam do trauma. Para diminuir o risco de novos ataques, a paróquia investiu em segurança: o muro ganhou uma cerca de aço cortante do tipo concertina, além de câmeras de segurança e um sistema de alarmes. Agora, a fachada da casa paroquial mais parece um presídio.
— O pároco foi acordado de madrugada e, quando abriu a porta do quarto, viu uma arma apontada para sua cabeça. O assaltante disse: “Perdeu, padre, fica quieto” — conta o vigário paroquial Jefferson Araújo de Oliveira, que é sacerdote há 16 anos . — Já trabalhei em favela por muitos anos e nunca tive um problema como esse. Furtos pequenos, de cadeira e lâmpada, sempre houve. Mas bandido não entrava armado em igreja jamais. Antes, a figura religiosa impunha respeito, mas a postura dos criminosos mudou.
De 2014 a 2017, só na cidade do Rio, foram registradas 1.105 ocorrências, entre furtos (quando o criminoso não estabelece contato com a vítima) e roubos (quando, além de contato, há violência ou ameaça) em instituições religiosas, média de 23 assaltos por mês. O dia com mais ocorrências é o domingo, quando as igrejas cristãs estão mais cheias.
Desde o início do ano, pelo menos seis igrejas católicas foram alvo de roubo a mão armada, segundo a Arquidiocese do Rio. Na última quarta-feira, uma funcionária e uma paroquiana da Igreja Nossa Senhora da Luz, no Rocha, na Zona Norte, foram surpreendidas por um bandido, que levou objetos pessoais das duas, peças da igreja e uma quantidade não revelada de dinheiro.
Há dez dias, outro caso chamou a atenção: assaltantes roubaram o sacrário da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Vila Kosmos, que guardava âmbulas (vasos) com hóstias consagradas. Antes de saírem, os bandidos fizeram o sinal da cruz. O sacrário foi recuperado no dia seguinte por policiais militares. Já no dia 19 de junho, duas âmbulas e uma luneta banhada em ouro foram furtadas da Paróquia de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Praça Seca.
Em março, um homem armado fez um arrastão na paróquia Santo Cura D’Ars, na Vila Kennedy. O criminoso ameaçou de morte cerca de 15 fiéis e um padre. E obrigou-os a colocar seus pertences dentro de uma sacola.
Os dados do ISP indicam a quantidade de crimes cometidos em instituições religiosas, mas não discriminam as instituições por religião. Embora não seja possível afirmar que as igrejas católicas sejam o principal alvo de bandidos, a antropóloga Alba Zaluar, especialista em criminalidade e segurança pública, afirma que o fenômeno pode indicar que os bandidos têm menos respeito por elas.
— Mesmo que não seja uma manifestação de intolerância religiosa, é uma manifestação de menor respeito pela Igreja, principalmente a católica. Muitos traficantes têm sido convertidos por igrejas evangélicas, e a disseminação dessas denominações cresceu rapidamente — aponta Zaluar. Fonte: https://oglobo.globo.com
VOCAÇÃO E IDENTIDADE: Frei Petrônio
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*DOMINGO, DIA 5. 18º Domingo do Tempo Comum – Ano B
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Tema
A liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum repete, no essencial, a mensagem das leituras do passado domingo. Assegura-nos que Deus está empenhado em oferecer ao seu Povo o alimento que dá a vida eterna e definitiva.
A primeira leitura dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A ação de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores.
No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o “pão” da vida que desceu do céu para dar vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto é, que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem os seus valores, que adiram à sua proposta.
A segunda leitura diz-nos que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo.
ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO – JO 6,24-35)
O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência… Na verdade, o dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Como podemos “encher” a nossa vida e dar-lhe pleno significado? Onde encontrar o “pão” que mata a nossa fome de vida?
Jesus de Nazaré é o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o Evangelho deste domingo nos propõe. É em Jesus e através de Jesus que Deus sacia a fome e a sede dos homens e lhes oferece a vida em plenitude. Isto leva-nos às seguintes questões: que lugar é que Jesus ocupa na nossa vida? Ele é, verdadeiramente, a coordenada fundamental à volta da qual construímos a nossa existência? Para nós, Jesus é uma figura do passado (embora tenha sido um homem excepcional) que a história absorveu e digeriu, ou é o Deus que continua vivo e a caminhar ao nosso lado, oferecendo-nos vida em plenitude? Ele é “mais uma” das nossas referências (ao lado de tantas outras) ou a nossa referência fundamental? Ele é alguém a quem adoramos, com respeito e à distância, ou o irmão que nos indica o caminho, que nos propõe valores, que condiciona a nossa atitude face a Deus, face aos irmãos e face ao mundo?
O que é preciso fazer para ter acesso a esse “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”? De acordo com o Evangelho deste domingo, a resposta é clara: é preciso aderir (“acreditar”) a Jesus, o “pão” que o Pai enviou ao mundo para saciar a fome dos homens. Aderir a Jesus é escutar o seu chamamento, acolher a sua Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-l’O no caminho do amor, da partilha, do serviço, da entrega da vida a Deus e aos irmãos. Trata-se de uma adesão que deve ser consequente e traduzir-se em obras concretas. Não chegam declarações de boas intenções, ou atos institucionais que nos fazem constar dos livros de registo da nossa paróquia; aderir a Jesus é assumir o seu estilo de vida e fazer da própria vida um dom de amor, até à morte.
- No Evangelho deste domingo, Jesus mostra-Se profundamente incomodado quando constata que a multidão o procura pelas razões erradas e, sem preâmbulos, apressa-Se em desfazer os equívocos. Ele não quer, de forma nenhuma, que as pessoas O sigam por engano, ou iludidas. Há, aqui, um convite implícito a repensarmos as razões porque nos envolvemos com Cristo… É um equívoco procurar o Batismo porque é uma tradição da nossa cultura; é um equívoco celebrar o matrimônio na Igreja porque, assim, a cerimônia é mais espetacular e proporciona fotografias mais bonitas; é um equívoco assumir tarefas na comunidade cristã para nos auto-promovermos ou para resolvermos os nossos problemas materiais; é um equívoco receber o sacramento da Ordem porque o sacerdócio nos proporciona uma vida cômoda e tranquila; é um equívoco praticarmos certos atos de piedade para que Jesus nos recompense, nos livre de desgraças, nos pague resolvendo algumas das nossas necessidades materiais… A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida.
- A recusa de Jesus em realizar gestos espetaculares (como fazer o maná cair do céu), mostra que, normalmente, Deus não vem ao encontro do homem para lhe oferecer a sua vida em gestos portentosos, que deixam toda a gente espantada e que testemunham, de forma inequívoca, a sua presença no mundo; mas Deus atua na vida do homem de forma discreta, embora duradoura e permanente. Deus vem, todos os dias, ao encontro do homem e, sem forçar nem se impor, convida-o a escutar a Palavra de Jesus, propõe-lhe a adesão a Jesus e ao seu projeto, ensina-lhe os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos de Deus, para o conseguirmos perceber e encontrar, no caminho da nossa vida.
*LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE AO- LADO - NA PALAVRA- EVANGELHO DO DIA.
XVIII Domingo do Tempo Comum: Reflexão.
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"Deveremos diariamente, possibilitar o crescimento do homem novo, renovando nossa fé em Jesus, buscando o alimento que não perece, confiando sempre em sua Providência".
Padre César Augusto dos Santos SJ - Cidade do Vaticano
Quando, no deserto, o povo judeu começou a sentir fome e sede, pôs-se a lamentar-se, lembrando o passado recente, no Egito, quando, apesar da escravidão, estava sempre bem alimentado com muito pão e muita panela cheia de carne.
Deus os ouviu e como Pai providente, saciou-os com maná e codornas. Afinal fora Ele quem providenciara a libertação do senhorio egípcio, do mesmo modo que havia, séculos atrás, providenciado a ida e a ascensão de José, filho de Jacó, ao posto de vice-rei daquela terra dos faraós.
Agora, ao ouvir este novo clamor de seu querido povo, o Senhor fez coincidir as migrações daqueles pássaros com a fome dos judeus, como também fez coincidir o gotejamento de um arbusto típico do deserto sinaítico com a passagem do mesmo povo. Portanto, as aves e os pingos açucarados, ou seja, o maná, atividade normal da natureza naquele período, foram vistos e acolhidos pelos judeus como milagre.
Deus não respondeu ao povo com recriminações e castigos, mas ao contrário, dando-lhe alimento em abundância.
Por outro lado, Deus, como pedagogo, trabalhou o ponto frágil do povo que era a confiança em Sua Providência. Os israelitas deviam, a cada dia, esperar o alimento das mãos de Deus. As aves deveriam ser abatidas; não era possível criá-las e o maná, por sua vez, não podia ser armazenado, pois se estragava. A cada dia dispunham de alimento físico e também espiritual, isto é alimentar-se de fé na Providência.
No Evangelho, Jesus proporcionou ao povo alimento em abundância. Apenas viu frustrado seu objetivo, quando alimentou o povo com peixes e pão. O Senhor desejava, com esse sinal, mostrar o valor da partilha de todos os bens, isto é, alimentá-los com o dom de serem generosos, de partilharem seus bens, mas o povo queria apenas o alimento perecível.
Jesus, então, alertou o povo dizendo: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará.” O Senhor sabe que os alimentos comuns - comida, viagens, estudos - nada nos satisfaz, mas apenas sua Palavra, que é Palavra de Vida. “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, não terá mais fome; e quem crê em mim nunca mais terá sede.”
A segunda leitura se refere à nossa inconstância, apesar do compromisso radical feito no Batismo. Deveremos diariamente, possibilitar o crescimento do homem novo, renovando nossa fé em Jesus, buscando o alimento que não perece, confiando sempre em sua Providência.
Se algo nos falta ou aos nossos irmãos, saibamos que de há muito Deus providenciou, mas alguém o subtraiu, não partilhando. A carência material de alguns denuncia a pobreza espiritual de outros. Fonte: www.vaticannews.va
Como a Igreja pode punir os maus bispos?
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“Se o padre não estiver disposto a aceitar restrições, teria de ser expulso e perder o apoio financeiro da Igreja. O confinamento seria mais seguro para crianças do que expulsá-lo para dentro da população em geral” escreve Thomas Reese, jesuíta e jornalista, ex-editor-chefe da revista America, em artigo publicado por Religion News Service, 31-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Eis o artigo.
O recente escândalo de abuso sexual envolvendo o cardeal Theodore McCarrick mais uma vez levanta a questão de como a Igreja pode punir maus padres e bispos, especialmente quando o Estado não pode atuar em função do estatuto de limitações ou outras razões. Nos maus velhos tempos, tempos da Inquisição, a Igreja poderia sentenciar padres maus à prisão, tortura ou morte.
Então, o que pode a Igreja fazer hoje?
A verdade é que, exceto a expulsão do ofício, a Igreja pouco pode fazer a não ser que o padre esteja disposto a aceitar o castigo. A Igreja já não tem uma força policial para obrigar alguém a fazer alguma coisa, embora se um padre é financeiramente dependente da Igreja, ele pode ter pouca escolha a não ser fazer o que é mandado. Caso contrário, a Igreja não tem mais poder sobre um padre do que qualquer empresa tem sobre um empregado. Um padre ou bispo pode recusar a acatar a punição e simplesmente ir embora.
Os padres são capazes de fazer as mesmas coisas ruins como qualquer outro pecador, de quebrar os Dez Mandamentos à violação de leis civis e penais. Depois que o Estado fizer ou não seu trabalho, a Igreja é confrontada com a questão do que fazer.
A esperança da Igreja para os padres é a mesma esperança de qualquer pecador – que se arrependam e mudem suas maneiras de agir. Como resultado, castigo ou penitência (oração e jejum, por exemplo) é normalmente visto como método terapêutico.
Até mesmo a excomunhão, expulsão de uma pessoa da Igreja, é vista no direito canônico como terapêutica. A esperança é que a pessoa excomungada se arrependa e retorne à Igreja. Eis porque a excomunhão não funciona como uma punição para abusadores. Se eles se arrependessem e confessassem seus pecados, suas excomunhões teriam que ser suspensas.
O castigo eclesial normal dos padres que abusam de crianças é a expulsão (laicização) do sacerdócio, mesmo para aqueles que se arrependem. Exceções podem ser feitas para idosos e enfermos. A Igreja não quer retirar um padre velho com Alzheimer de um lar de idosos e deixá-lo na calçada, mesmo que ele fosse um abusador.
Advogados e consultores de relações públicas recomendam que os Bispos expulsem padres abusivos e cortem todos os laços com eles. Isso reduz a responsabilização futura e evita acusações de ter sido condescendente com o padre. Alguns, no entanto, temem que se um padre é solto sem supervisão, ele estará mais propenso a praticar o abuso novamente.
A alternativa é colocar o padre num mosteiro, numa casa de repouso para padres ou outras instalações onde não terá acesso a crianças e onde não poderá deixar a propriedade sem permissão e supervisão. Este é o mais perto que a Igreja pode chegar de colocar um padre na prisão.
Se o padre não estiver disposto a aceitar essas restrições, teria de ser expulso e perder o apoio financeiro da Igreja. O confinamento seria mais seguro para crianças do que expulsá-lo para dentro da população em geral.
Ordens religiosas têm estado mais dispostas do que os Bispos para manter seus padres abusivos sob supervisão e confinamento. Comunidades religiosas se colocam como uma família e são responsáveis por seus membros, para o bem ou para mal. Os Bispos tendem a cortar laços com padres abusivos, a menos que eles estejam idosos ou enfermos.
A situação de McCarrick é incomum. A pedido do Papa Francisco, as alegações contra McCarrick foram investigadas pela Arquidiocese de Nova York e consideradas credíveis e fundamentadas. Neste ponto, se ele fosse um simples padre, o Arcebispo de Nova York poderia ter pedido ao Vaticano para laicizá-lo. Se McCarrick não estivesse com 88 anos de idade, o Arcebispo provavelmente o teria enviado para algum lugar longe de crianças onde ele ficaria até morrer. Em todo caso, não seria permitido que ele atuasse como padre novamente.
Como McCarrick é Bispo e Cardeal, o próximo passo é definido pelo Papa que já o ordenou a se abster de qualquer ministério sacerdotal e gastar seu tempo em oração e penitência até que "as acusações feitas contra ele sejam examinadas em um julgamento canônico regular". Não é incomum pedir a alguém que se abstenha do ministério sacerdotal antes do julgamento, mas a liminar de "oração e penitência" dá a impressão que o Papa considerou a culpa de McCarrick em sua mente.
Além disso, o Papa aceitou a demissão de McCarrick do Colégio Cardinalício, algo que normalmente teria acontecido somente depois de que ele fosse considerado culpado. Não houve uma demissão do Colégio Cardinalício desde 1927, quando o Cardeal francês Louis Billot se demitiu por causa de divergências políticas com Papa Pio XI. Outros Cardeais acusados de abuso ou de encobrimento não perderam seus chapéus vermelhos.
Não está claro como o julgamento será realizado. O Papa pode nomear um tribunal especial ou enviar o caso à Congregação Para a Doutrina da Fé, que lida com casos de padres abusivos.
Os julgamentos da Igreja são conduzidos principalmente pelos juízes revisando documentos apresentados por todos os lados ao invés do testemunho direto e sustentação oral. Em qualquer caso, não poderia ser feito em público.
Mesmo se McCarrick for condenado, o julgamento final e a possível punição seria responsabilidade do Papa.
Como McCarrick é idoso e está fraco, é difícil acreditar que o Papa irá laicizá-lo e jogá-lo na rua. Uma vez que ele já se demitiu do Colégio Cardinalício, existe pouca coisa a ser feita que o Papa já não tenha ordenado: uma vida de oração e penitência, longe dos olhos do público sem o direito de exercer seu ministério sacerdotal. Se o Cardeal se recusar a aceitar essa punição, a Igreja pode expulsá-lo do sacerdócio e cortar seu apoio financeiro.
Nos séculos anteriores, papas puseram padres e cardeais na cadeia. Papa Clemente XIII, por exemplo, prendeu injustamente o pe. Lorenzo Ricci, Superior Geral dos Jesuítas, até sua morte em 1775 no Castel Sant'Angelo em Roma. Isso, claro, já não é possível hoje. Apenas o Estado tem este tipo de poder hoje em dia.
Poucos iriam querer que a Igreja tivesse esse poder atualmente, mas se o Estado é impossibilitado de punir um abusador por causa do estatuto de limitações, se torna decepcionante para as vítimas e o público o ver sair impune. Infelizmente, existem limites jurídicos e práticos para que a Igreja consiga castigar padres e Bispos abusivos, especialmente se eles se recusarem a cooperar. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Padre de Mogi que estava desaparecido é encontrado em São Paulo
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Por volta das 21h desta segunda-feira (30), o padre Sérgio Luiz da Rocha Silva, que estava desaparecido desde a segunda-feira da semana passada, foi encontrado na Praça da Sé, em São Paulo, por missionários da Missão Belém. As informações são da Diocese de Mogi das Cruzes, São Paulo.
Padre Sérgio foi encontrado, segundo o bispo dom Pedro Luiz Stringhini, “relativamente lúcido”. Ele foi acolhido pela recém-inaugurada casa da Arquidiocese de São Paulo, passou pelo Hospital Santana e agora repousa na residência do bispo.
A diocese informa ainda que Sérgio, de 51 anos, está bem. O padre já foi encaminhado a um tratamento específico, com acompanhamento psicológico e espiritual, sem previsão de retorno às atividades pastorais. Fonte: www.odiariodemogi.net.br
AGOSTO, MÊS VOCACIONAL: “Vocações existem, elas precisam ser despertadas”
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Dom José Roberto Palau, bispo referencial da pastoral Vocacional da CNBB.
Todos os anos durante o mês de agosto, a Igreja no Brasil celebra o ‘Mês Vocacional’ e cada domingo é dedicado à celebração de uma determinada vocação. Este ano, a temática é “Seguir Jesus a luz da fé” e o lema “Eu sei em quem depositei a minha fé”.
O portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) conversou com o bispo auxiliar de São Paulo (SP) e referencial da Pastoral Vocacional, dom José Roberto Fortes Palau, sobre os principais aspectos do mês dedicado as vocações.
Por que celebrar o mês Vocacional?
O mês de agosto é um mês temático, então, no primeiro domingo celebramos o dia do padre, a vocação ao ministério sacerdotal. No segundo domingo, nós celebramos o dia dos pais, a vocação a paternidade, a família. No terceiro domingo, celebramos a vocação a vida consagrada, os religiosos e religiosas e no quarto domingos celebramos o dia do catequista, o serviço prestado a igreja por todos os batizados nos mais variados ministérios. Por isso, no mês de agosto focamos as diversas vocações que existem na igreja.
O que as vocações representam na vida dos cristãos, e de que forma eles devem vivenciar esse tema?
Todos nós cristãos, todos nós batizados somos chamados a servir a Igreja na evangelização. O papa Francisco tem insistindo muito numa ‘Igreja em saída’, uma Igreja evangelizadora, que dá testemunho do Evangelho de Cristo. Por isso, que todas as vocações são importantes, de tal forma, que nós também nos santificamos na nossa vocação. Então, quem é chamado a vocação a vida familiar se santifica vivendo o evangelho numa vida de família, no seu ambiente de trabalho, se sanificando. E aquele que é chamado a uma vocação mais específica, por exemplo, a vida consagrada, busca a santidade servindo como consagrado. De tal forma que todos nós colaboramos para o crescimento e a santidade da Igreja.
Como a temática das vocações deve ser trabalhado nas comunidades?
Todo mês de agosto nós fazemos um trabalho vocacional nas comunidades. Nós temos um subsídio preparado pelo Setor de Vocações e Ministérios da CNBB, que as comunidades têm a oportunidade de ter esse material em mãos, e durante todo mês de agosto fazer reflexões sobre as mais diversas vocações que existem na Igreja. Então, por ser um mês temático a gente procura trabalhar a questão vocacional de modo muito particular a vocação à vida consagrada. Vocações existem, elas precisam ser despertadas. Nós precisamos de padres, religiosos e religiosas para servir à Igreja e agosto é um mês especial para despertar essas vocações na Igreja. Em 2019, vai acontecer de 5 a 8 de setembro, em Aparecida (SP), o 4º Congresso
Vocacional do Brasil, cujo tema será: “Vocação e discernimento”. Qual a importância desse evento para Igreja no Brasil?
Nós vamos discutir as mais variadas vocações e a Igreja precisa de que todos os batizados, aqueles que são cristãos participem de suas comunidades. De modo muito particular, precisamos fortalecer a cultura vocacional em nossas dioceses, paróquias e comunidades. O Congresso Vocacional do Brasil é um despertar, é uma sacudida para que a gente possa trabalhar esse tema em nossas comunidades e, assim, criar uma cultura vocacional. Então, acredito que o Congresso será de suma importância para a Igreja no Brasil no despertar para questão vocacional.
Durante o mês vocacional, também será lançado o texto base do 4º Congresso Vocacional do Brasil que vai acontecer de 5 a 8 de setembro de 2019, em Aparecida (SP), cujo tema será: “Vocação e discernimento”.
O mês vocacional foi instituído em 1981, pela CNBB, em sua 19ª Assembleia Geral. O objetivo principal era o de conscientizar as comunidades da responsabilidade que compartilham no processo vocacional. O cartaz pode ser encontrado no site das Edições CNBB. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Nicarágua: o Papa Francisco reza, os bispos pedem a reabertura do diálogo
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Nicarágua: o Papa Francisco reza, os bispos pedem a reabertura do diálogo
O diálogo é o caminho a ser seguido para levar a reconciliação à Nicarágua. Esta é a convicção reafirmada segunda-feira, ao final de um encontro, pelos bispos nicaraguenses. O Papa Francisco assegura a sua oração ao amado povo da Nicarágua.
Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano
Os bispos da Nicarágua esperam que a mesa de negociações, aberta com a mediação da Igreja, possa ser reativada o quanto antes. Depois dos protestos contra o governo e a dura repressão que custou a vida a pelo menos 360 pessoas, o país vive dias de tensão e angústia. O Papa Francisco segue com atenção a situação e continua a assegurar a sua oração. "Renovando minha oração pelo amado povo da Nicarágua - disse no último dia 1º de julho durante o Angelus –, desejo unir-me aos esforços que estão realizando os bispos do país e tantas pessoas de boa vontade".
O governo rejeita o pedido de eleições antecipadas
Mas aos esforços ligados em particular à promoção do diálogo nacional seguiu-se a dura resposta do governo de Daniel Ortega. Por ocasião do 39º aniversário da revolução sandinista, o presidente nicaraguense acusou os bispos de "manobras de golpe contra o governo". Em entrevista à emissora "Fox News", o presidente rejeitou os pedidos de demissão e de eleições antecipadas. As próximas eleições - acrescentou ele - serão realizadas como previstas em 2021.
Orações pela Nicarágua
Enquanto isso, no país, milhares de pessoas saíram novamente às ruas de Manágua para protestar contra seu governo. Continuam também a chegar notícias de igrejas invadidas e profanadas. Neste doloroso cenário, a oração é a verdadeira esperança da Igreja. No domingo, realizou-se o Dia de Oração, organizado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano. Iniciativas semelhantes foram promovidas em todo o mundo para manifestar proximidade e solidariedade ao povo da Nicarágua. Fonte: https://www.vaticannews.va
26 DE JULHO: Festa de Sant`Ana e São João.
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Igreja celebra a memória dos avós de Jesus: Sant’Ana e São Joaquim
O dia 26 de julho é uma data especial que a Igreja celebra a memória de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Maria, avós de Jesus. Também nesse dia, é comemorado o dia dos avós. Os Santos são lembrados por terem educado Maria no caminho da fé, alimentando seu amor pelo Criador e preparando-a para sua missão. Essa formação, influenciou profundamente na educação de Jesus.
De acordo com artigo do arcebispo metropolitano de São Paulo (SP), cardeal Odilo Scherer, Joaquim e Ana estão situados na passagem do Antigo para o Novo Testamento, mas não são citados no Novo Testamento. Segundo o bispo, é possível chegar aos seus nomes através de uma tradição muito respeitada da Igreja primitiva.
“Ana é representada na arte como a mãe que ensina e educa, sentada numa cátedra ou cadeira, o livro na mão, tendo Maria menina junto dela a ouvir atentamente os ensinamentos da mãe. O livro na mão lembra a palavra de Deus e a tradição religiosa do povo de Israel; a outra mão aponta para o alto, indicando os caminhos que levam a Deus”, desta.
A devoção a Sant’Ana chegou ao Brasil trazida pelos portugueses. Ana é a imagem da mãe educadora, da avó que ensina os netos; imagem também dos catequistas, que educam e iniciam as pessoas nas coisas de Deus.
Nesse contexto da celebração do dia dos avós, o papel de cuidar se inverte. Na velhice, são os idosos que precisam de cuidado. Por isso, a Pastoral da Pessoa Idosa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem sido referência de apoio espiritual e no cuidado com a saúde física e emocional da pessoa idosa.
Em Belo Horizonte, a pastoral tem feito um trabalho com aqueles idosos que frequentemente são esquecidos pelo estado, pela comunidade e até mesmo pelas próprias famílias. Todos os meses eles fazem visitas a lares para evangelizar e servir.
Em entrevista ao jornal da Arquidiocese de Belo Horizonte, a coordena arquidiocesana da Pastoral da Pessoa Idosa, Nilce Ferreira Pires, conta como é a rotina dela e outros 26 líderes voluntários da Pastoral nas visitas que fazem aos idosos.
“ É um trabalho recompensador. O sorriso de um idoso nos traz uma felicidade desmedida. Gosto muito de visitá-los”, afirma.
A festa de São Joaquim e Sant’Ana destaca a importância dos avós na vida da família, principalmente, na transmissão da fé que é essencial para qualquer sociedade. Os avós de Jesus ajudam a cultivar os valores da perseverança e confiança em Deus e também a nossa colaboração na obra da redenção.
A Pastoral da Pessoa Idosa foi criada pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann em 1993 também criadora da Pastoral da Criança. Segundo sua fundadora, o objetivo é fazer com que os idosos tenham uma vida melhor, mais saúde, mais alegria e possam participar ativamente das comunidades onde estão inseridos. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Madalena. As meditações de Carlo Maria Martini
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O Evangelho não é simplesmente um livro: o encontro com seus protagonistas liga os cristãos entre si e torna decifráveis a cada um o próprio momento e o próprio caminho. Maria de Magdala, cujo caminho fascina e interroga crentes e não crentes há séculos, emerge mais viva do que nunca das meditações de Carlo Maria Martini recentemente publicadas no livro Maria Maddalena (Milão: Edizioni Terra de Santa, 2018, 160 páginas), que surpreenderá até mesmo os leitores mais habituais do cardeal. O comentário é do filósofo e padre italiano Sergio Massironi, da Arquidiocese de Milão, em artigo publicado em L’Osservatore Romano, 21-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O biblista pastor demonstra como as ciências exegéticas podem não desarmar, mas sim libertar a energia interna do texto, conectando a vida contemporânea a eventos narrados justamente para que Deus continue se revelando.
Martini educou os fiéis e as pessoas em busca de um sentido para entrar em diálogo direto com as figuras evangélicas, encontrando nelas interlocutores reais, amigos para os quais é possível levar as questões do presente. “Pensei nas seguintes perguntas: Maria de Magdala, qual foi o teu princípio e fundamento, ou seja, sobre o que se baseou a tua fé, na educação de fé que certamente recebeste? Uma segunda pergunta que gostaria de fazer a Maria de Magdala é esta: de onde vens, o que aconteceu contigo? O que eram esses sete demônios e como conheceste Jesus depois de teres sido libertada? E, enfim, também gostaria de lhe perguntar, se tivermos tempo, como ela participava, lia, via as pequenas ambições, as invejas, os personalismos do grupo apostólico do qual ela era testemunha, como os olhava, como entrava nisso ou ficava de fora disso”.
Evidentemente, são problemas de hoje, que é justo levar consigo para a lectio divina. De fato, a oração nunca é sem um contexto, sem circunstâncias que invocam uma palavra de Deus nunca antes ouvida totalmente.
Em Maria Madalena, entrelaçam-se, assim, página após página, o texto sagrado e a sede espiritual das mulheres às quais se dirige o idoso cardeal. Inéditas por alguns anos, as meditações originam-se de um dos últimos cursos de exercícios espirituais que ele pregou. A transcrição não esconde o afeto que flui entre os interlocutores originais, de modo que algo do amor entre Jesus e as mulheres que o seguiam reverbera na sua comunicação: “Eu aceitei com muita alegria este convite para rever vocês, as quais reconheço todas uma por uma. Reconheço-as na sua beleza interior e exterior, porque, quando a alma permanece na sua constante proposta de serviço a Deus, permanece bela, e essa beleza se difunde. Admiro tudo isso em cada uma de vocês. Penso nos muitos tempos passados com vocês desde 1980 até hoje, com diversas vicissitudes, mas sempre com a ajuda do Senhor. Portanto, estou muito contente em revê-las, quero-as muito bem, tenho-as presentes há muito tempo na minha oração e ainda mais a partir de hoje ou, melhor, há muito tempo já rezo por vocês”.
É incomum que um bispo fale assim com mulheres, mas a sua liberdade de explicitar seus sentimentos e, mais ainda, o próprio fato de tentar se explicitar assim honram a novidade do Evangelho. O livro nos insere em uma experiência de maturidade humana e cristã, em que a missão compartilhada gerou comunhão e reciprocidade, sem romantismos, em um nível de intensidade não comum entre pessoas adultas, muito menos eclesiásticas.
“Maria Madalena, como tu buscavas o Senhor, como o proclamaste, como o conheceste?”, pergunta-se Martini, levando novamente o Ordo Virginum ambrosiano às raízes do seu próprio carisma. O método seguido pelo pregador é rigoroso e atravessa o texto bíblico de cima a baixo, no sinal de uma mulher tocada no coração.
“Eu procurei uma ordem bastante lógica: os textos que falam de fatos, os textos que falam de sentimentos, os textos que falam de concomitâncias e afinidades. Vocês podem lê-los de outra forma e, especialmente, prestar muita atenção também nos trechos paralelos (...) de modo a terem o conjunto da figura e se deixarem iluminar, de algum modo, deixarem que ela penetre dentro de vocês e pedirem como graça que possam conhecer o coração de Deus assim como ela o conheceu, isto é, com aquela totalidade, com aquele sobressalto, com aquela superação de si que é própria do mistério divino.”
O grande exegeta não se preocupa com a possível confusão entre as diversas Mariasnomeadas nos evangelhos: pelo contrário, é como se uma complementasse a outra, de modo que, sem dissecar os textos, meditando sobre Maria Madalena, encontremo-nos “introduzidos pela sua história no coração de Deus, no coração de Jesus, porque, se é lá que ela tem o seu lugar, ela é o sinal do excesso cristão”.
Nesse sentido, contra toda abordagem morbidamente curiosa do mal alheio, “podemos entender a sua experiência: sete demônios fazem um número completo e talvez indiquem uma série de situações feias e incuráveis, fazendo-nos entender o amor, o afeto, a dedicação, o reconhecimento, a ternura de Maria para com Jesus. O importante, portanto, não é determinar quais são esses sete demônios, mas o contrário que se seguiu, isto é, a libertação”.
Nada de hagiográfico nesse modo de se aproximar de Madalena: em vez disso, emerge o perfil de uma mulher sobre a qual o Reino de Deus teve tal impacto que se revelou atrativo em si mesmo. Nenhuma Maria nos evangelhos liga alguém a si mesma: em vez disso, Jesus aparece mais transparente nelas, como um filho único, um mestre inigualável, um homem novo.
Acima de tudo, é feminina a generosidade da resposta delas: um movimento de totalidade que desafia costumes e ameaças. E é justamente a diferença substancial da lentidão dos apóstolos que as torna reveladoras dos traços de Deus, aos quais a masculinidade instintivamente resiste.
Martini observa: “Deus é dom de si, e tenho certeza de que muitos não entendem Deus, não o aceitam, vivem em uma forma de semiagnosticismo porque nunca souberam o que significa um gesto de verdadeira saída de si mesmos, um gesto de verdadeiro dom gratuito, porque é apenas assim que se entende que há alguma sintonia com o mistério de Deus. Enquanto pensarmos no mistério de Deus como alguém que está em si mesmo, que se mantém forte nos seus privilégios, que é poderoso, que é capaz de se defender, de ser o primeiro, não captaremos isso; em vez disso, quando percebemos algo que se doa, que se sacrifica, que se aprofunda pelo outro, então entramos. Todas as vezes que a pessoa está verdadeiramente curvada sobre si mesma, o que ela entende do mistério de Deus é superstição: é algo de grandioso, de imenso, de adorável, mas não é o mistério do Deus cristão verdadeiro”.
Trata-se de um modo de conceber Deus – explica o cardeal – que, em Israel, permanece sempre “de algum modo evasivo, isto é, nunca é definível – ‘É assim e ponto final’ –, mas eu sempre permaneço com a respiração suspensa, recebo a sua ação de amor, peço o seu perdão, amo-o, adoro-o, mas depois nunca sei como agirá. Porque Ele está na sua liberdade e no seu amor criativo e construtivo”, o que impede de trata-lo quase “geométrica ou matematicamente: se for assim, derivam daí A, B, C ou D, e tudo está em seu lugar. Mas não, Deus é aquele que se doa, é aquele que está apaixonado, é aquele que está repleto de paixão, ora ardente, ora furiosa: eis, esse é o mistério de Deus como Maria Madalena o conheceu e como todo bom judeu o conhece”.
Poderíamos dizer que Martini identifica, por esse caminho, o núcleo cristocêntrico do êxtase evangélico: é como se, no grupo de Jesus, o componente feminino se revelasse como depositário daquilo que, em Deus, está transbordando e além da média, daquilo que é exagerado, ultrapassando a troca “do ut des”. Trata-se de dar em perda, do desequilíbrio próprio da gratuidade, “de algo que sai dos trilhos ordinários da vida cotidiana em que a pessoa tenta manter sempre a igualdade”. Ao excesso do mal que está no mundo – explica o cardeal – opõe-se o excesso do bem que apareceu nas palavras e na vida de Jesus, mas também nos comportamentos, para além das convenções e do senso de medida, de quem por ele se deixou amar.
A resistência de Maria de Magdala até os pés da cruz, portanto, vai muito além do puro afeto e é índice daquilo que a Igreja deve, desde as origens, aos seus membros mulheres. O cardeal convida, inacianamente, à composição do lugar: “Gostaria de fazer passar diante dos seus olhos estas imagens, imaginando que estão com Maria Madalena, que as veem com ela e que as entendem como ela as entendeu”.
E aqui nos é restituída, por exemplo, a cena joanina da divisão das vestes entre os soldados. É uma das passagens do livro em que mais transparece a sensibilidade de um homem da Igreja instruído pela profundidade feminina, isto é, de um pastor que escutou e estimou as mulheres, reconhecendo a elas, no próprio ministério, o lugar que elas têm no Novo Testamento. “Aqui Maria Madalena realmente vê que seu amado está feito em pedaços, porque, através dessa divisão das vestes, a humanidade de Jesus é despedaçada: não importa mais nada, não é mais digno sequer de ter uma veste, portanto, de viver entre as pessoas: é expulso deste mundo. Mas Maria Madalena tem uma consolação aqui, porque essa túnica, feita de uma única peça – tecida toda em uma peça de cima a baixo, sem costuras – não é dividida, e, talvez, Maria Madalena a conhecia bem, talvez ela mesma tivesse cuidado dela, porque seguia Jesus e prestava atenção às suas coisas. E, enquanto sofre vendo Jesus despojado, sente no seu coração o mistério pelo qual Deus, de alguma maneira, mostra que esse Jesus não é eliminado totalmente, a sua vida não é espalhada e jogada aos quatro ventos, mas há algo dele que se conserva, como símbolo daquela unidade que, depois, os Padres viram nessa veste inconsútil e não dividida. (...) E, provavelmente, quando Madalena realiza a sua obra de pacificação, de recostura entre os vários membros da comunidade, ela pensa nesse fato, está diante dela como um modelo, porque o Senhor permitiu que não ocorresse esse rasgo: a Igreja não deve ser rasgada, mas é una”.
É evidente que os evangelhos, percorridos novamente com Maria de Magdala, movem a consciência e a sintonizam em frequências incomuns. Martini espera que se aprendam “quase de cor os textos que lhe dizem respeito, para poder repensá-los claramente”: ele tem em mente um verdadeiro habitar as Escrituras na companhia daqueles que nos falam delas. Em um mundo necessitado de recosturas e de profundas curas, parece necessário que a vida das comunidades cristãs se estruture, além de sobre os aspectos hierárquicos e funcionais, sobre a capacidade de atenção e de amor sem cálculo que Jesus viu nas suas discípulas.
É cultivando uma amizade com elas que ainda hoje “revela-se o excesso de Deus e sai-se daquela gestão do divino que, depois, se torna também gestão do humano através de formas de dominação, de subjugação, de posse e não de dedicação e de capacidade de promover o outro”.
Para a Igreja, é uma purificação contínua – ecclesia sempre reformanda – que precisa, mais do que de “cotas rosas”, de um retorno aos evangelhos. De fato, são setenta vezes sete os demônios dos quais a Esposa de Cristo espera ser libertada. E, então, a sua beleza resplandecerá 100 vezes em comparação com aquela de quem, tendo sido perdoado pouco, ama pouco. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Promotores chilenos investigam casos de abuso sexual na Igreja Católica
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Ativista diz que impunidade de clérigos está acabando, já que denúncias serão analisadas na Justiça comum
RIO — Autoridades civis chilenas estão investigando 36 acusações de abuso sexual contra bispos, clérigos e laicos na Igreja Católica.
As investigações estão entre os 144 relatos de abuso sexual, que envolvem 158 membros da Igreja, feitos desde 2000, informou o comunicado do Ministério Público do Chile.
— Nós nos encontramos (com a Igreja chilena) e procuramos chegar a um acordo coordenado que ajudará a avançar com esses casos — afirmou Luis Torres, chefe da divisão de Direitos Humanos e Crime de Gênero do Ministério Público do Chile.
Os promotores reuniram denúncias de todo o país pela primeira vez, em uma tentativa de assumir o controle sobre os constantes escândalos de abuso sexual dentro da Igreja.
Até agora, a maioria dos casos tornados públicos foram direcionados pela legislação chilena à Igreja, onde são analisados de acordo com a lei canônica. Agora, grupos de vítimas avaliam que as sanções aplicadas foram inadequadas, dada a gravidade dos crimes. Em alguns casos, a Igreja sequer tomou medidas.
Além dos 36 casos sob investigação, 108 foram encerrados, com 23 pessoas condenadas, duas exoneradas e 22 casos foram encaminhados para outra instância judicial porque os crimes teriam sido cometidos antes do ano 2000. O restante foi suspenso por falta de provas ou outras razões.
Segundo o relatório, 139 bispos, sacerdotes ou diáconos estavam envolvidos em delitos. Das 266 supostas vítimas, 178 eram crianças e adolescentes.
Em maio, o Papa Francisco convocou 34 bispos chilenos para Roma, onde ele os questionou sobre o conteúdo de um relatório compilado por seu principal investigador sobre casos de abuso sexual e os acusou de “negligência grave” na investigação das denúncias.
Para Anne Barrett-Doyle, do grupo Bishop Accountability, os casos relatados às autoridades civis representam uma “gota no oceano” em comparação com as ocorrências relatadas apenas às autoridades da Igreja e outras não relatadas.
— É significativo que o promotor tenha tomado uma ação tão responsável contra a Igreja Católica — disse ela. — Está muito claro que a impunidade da instituição no Chile está acabando, que os bispos e cardeais responderão agora às leis seculares da mesma forma que os cidadãos comuns. Fonte: https://oglobo.globo.com
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