OLHAR CARMELITANO: Os Conselhos Evangélicos- A pobreza.
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Jesus Cristo, o homem pobre, nasceu e viveu numa condição humilde. Na sua vida terrena quis ser despojado de qualquer riqueza [1], poder e prestígio mundano [2]. Ele assumiu a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens[3] e identificando-se com os pequenos e os pobres[4]. Com os seus discípulos partilhou toda a sua vida[5], os projetos do Pai[6], a missão [7], a oração[8]. Por isto, foi para eles não só o Mestre, mas também o Amigo e o Irmão[9]. Na cruz, Jesus experimentou a pobreza mais radical e a nudez mais absoluta, segundo o projecto do Pai. De facto, na cruz entregou-se todo pela humanidade. De rico que era, Jesus fez-se pobre por nós, para que nos tornássemos ricos por meio da sua pobreza [10].
Seguindo Jesus, o homem pobre, as primeiras comunidades cristãs, animadas pela comunhão (koinonia) fraterna, viveram e praticaram a partilha dos bens materiais [11] e espirituais [12].
Seguindo Jesus e tendo como modelo a prática da Igreja primitiva, também nós queremos abraçar voluntariamente o Conselho evangélico da pobreza, fazendo voto de possuir tudo em comum e declarando que nenhuma coisa nos pertence como própria[13]. Cremos que tudo nos é dado como dom e que tudo, os nossos bens espirituais, materiais, culturais, adquiridos com o nosso trabalho, deve ser "restituído", do melhor modo possível, em favor das necessidades da Igreja e da nossa Ordem em favor da promoção humana e social de todos os homens [14].
Sabemos que a pobreza é uma realidade ambígua e complexa. De facto, pode ser um mal, se é carência dos meios de subsistência, causada pela injustiça, pelo pecado pessoal e social [15], mas pode ser também um estilo evangélico de vida, assumido por aqueles que confiam somente em Deus, partilhando os seus bens, solidarizando-se com os pobres, renunciando a todo desejo de domínio e de auto-suficiência. Na contemplação interiorizamos a atitude real de pobreza, que é um processo profundo de esvaziamento interior, pelo qual somos sempre menos donos da nossa atividade e ideias, virtudes e pretensões, e nos abrimos à ação de Deus. Deste modo, tornamo-nos realmente pobres como Cristo, não possuindo nem sequer a nossa pobreza escolhida neste processo, no qual o amor de Deus nos esvazia.
Por isso, nós que escolhemos livremente a pobreza como estilo evangélico de vida, sentimo-nos chamados, pelo Evangelho e pela Igreja, a despertar a consciência dos homens diante do problema da miséria gravíssima, da fome e da justiça social[16]. Atingiremos a sua finalidade, se, acima de tudo, a nossa pobreza der testemunho do sentido humano do nosso trabalho, como um meio de sustento da vida e como serviço aos outros[17]; se, além disso, nos preocuparmos em estudar e conhecer as causas económicas, sociais e morais da pobreza, fruto da injustiça[18]; se fizermos um uso sóbrio e modesto dos nossos bens, pondo-os ao serviço, também gratuito, da promoção humana e espiritual dos nossos contemporâneos[19]; se, enfim, fizermos um são e equilibrado discernimento sobre as nossas formas de presença no meio do povo, orientando-as para a libertação e promoção integral do homem[20].
Portanto, os religiosos professos solenes não podem possuir como próprios os bens materiais, mas tudo o que recebem pertence ao convento, à Província ou à Ordem, segundo as normas das presentes Constituições e dos Estatutos da Província[21].
Ainda que no foro canónico conserve o seu valor o que prescreve o n. 55, nos lugares em que as leis civis não reconhecem os efeitos da profissão solene, é lícito aos religiosos realizar actos jurídicos (doações, testamentos, etc.) no foro civil, em favor do convento, da Província ou da Ordem, com efeitos civis.
No caso, pois, que as leis civis não reconheçam nem mesmo a personalidade jurídica do convento, da Província ou da Ordem, é lícito agir no foro civil como se fossem proprietários, mantendo-se no foro canônico as leis acima expostas.
No uso dos bens materiais, sintamo-nos responsáveis diante de Deus pela observância da pobreza que professamos livremente, tendo presente que fazemos o voto de pobreza com o fim de viver, individual e comunitariamente, uma vida simples, banindo qualquer coisa que possa ofender a sensibilidade dos pobres. Os Estatutos da Província estabeleçam quanto deve ser colocado à disposição de cada religioso para as necessidades pessoais, segundo as exigências que podem variar de país para país. Também as normas que dizem respeito ao jejum e à abstinência, de que se fala no nº 40, podem estimular-nos à sobriedade de vida e a ajudar os pobres.
Não nos esqueçamos que, atualmente, o melhor modo de testemunhar o voto de pobreza é o cumprimento fiel da lei comum do trabalho. Abracemos, por isso, com entusiasmo, o preceito da Regra, que nos exorta a trabalhar assiduamente[22], conscientes de que, pelo nosso esforço, nos tornamos cooperadores de Deus na obra da criação[23] e, ao mesmo tempo, desenvolvemos a nossa personalidade e, através da caridade laboriosa, ajudamos os nossos confrades e todos os homens e conduzimos a Ordem a um bem-estar crescente. Além disso, prolongamos no tempo o caráter de nobreza dado ao trabalho por Jesus Cristo, que não menosprezou o esforço manual, e imitamos o exemplo da Virgem Maria que, durante a sua vida na terra, viveu uma vida cheia de cuidados familiares e de trabalho.
*CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA do MONTE CARMELO.
[1] Cfr Lc 9,58.
[2] Cfr Jo 6,15; 5,41.
[3] Cfr Fil, 2,7.
[4] Cfr Mt 25,40.
[5] Cfr Jo 1,39.
[6] Cfr Jo 15,15.
[7] Cfr Mt 10.
[8] Cfr Lc 11,1-4.
[9] Cfr Heb 2,11; Rm 8,29.
[10] Cfr 2 Cor 8,9; e também RD 12.
[11] Cfr Act 2,4-45; 4,32; 2 Cor 8,1-15.
[12] Cfr 1 Pd 4,10-11.
[13] Cfr Regra, c. 9.
[14] Cfr I Cons. Prov., 43, 46.
[15] Cfr SRS 16.
[16] Cfr ET 18.
[17] Cfr Regra, c. 15; ET 20.
[18] Cfr Congr. gen. 1980, 266; X Cons. Prov., 429 c).
[19] Cfr I Cons. Prov., 46, 47.
[20] Cfr I Cons. Prov., 49; III Cons. Prov., 162-169; Congr. gen. 1980, 266; VI Cons. Prov., 330.
[21] Cfr can. 668.
[22] Cfr Regra, c. 15; LE 27.
[23] Cfr GS 34.
Quinta-feira, dia 10 de janeiro/2019- depois da Epifania- Evangelho do dia. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus, pelo nascimento do vosso Filho, a aurora do vosso dia eterno despontou sobre as nações. Concedei ao vosso povo conhecer a fulgurante glória do seu redentor e por ele chegar à luz que não se extingue. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 4,14-22a)
14Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galileia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. 15Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos. 16Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. 17Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): 18O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, 19para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. 20E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir. 22Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de José?
3) Reflexão - Lc 4,14-22a
* Animado pelo Espírito Santo, Jesus volta para a Galileia e começa a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando pelas comunidades e ensinando nas sinagogas, ele chega em Nazaré, onde tinha sido criado. Estava de volta na comunidade, onde, desde pequeno, tinha participado das celebrações durante trinta anos. No sábado seguinte, conforme o seu costume, ele vai na sinagoga para estar com o povo e participar da celebração.
* Jesus se levantou para fazer a leitura. Escolheu o texto de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos. O texto refletia a situação do povo da Galileia no tempo de Jesus. Em nome de Deus, Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo e, com as palavras de Isaías, define a sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos. Retomando a antiga tradição dos profetas, ele proclama “um ano de graça da parte do Senhor”. Proclama o ano do jubileu. Jesus quer reconstruir a comunidade, o clã, para que fosse novamente expressão da sua fé em Deus! Pois, se Deus é Pai/Mãe, todos e todas devemos ser irmãos e irmãs uns dos outros.
* No antigo Israel, a grande família, o clã ou a comunidade, era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da tradição e a defesa da identidade do povo. Era a maneira concreta de se encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã, a comunidade, era o mesmo que defender a Aliança com Deus. Na Galileia do tempo de Jesus, um duplo cativeiro marcava a vida do povo e estava contribuindo para a desintegração do clã, da comunidade: o cativeiro da política do governo de Herodes Antipas (4 aC a 39 dC) e o cativeiro da religião oficial. Por causa do sistema de exploração e de repressão da política de Herodes Antipas, apoiada pelo Império Romano, muita gente ficava sobrando e sem lugar, excluída e sem emprego (Lc 14,21; Mt 20,3.5-6). O clã, a comunidade, ficou enfraquecida. As famílias e as pessoas ficaram sem ajuda, sem defesa. E a religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época, em vez de fortalecer a comunidade, para que ela pudesse acolher os excluídos, reforçava ainda mais esse cativeiro. A Lei de Deus era usada para legitimar a exclusão de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos. Era o contrário da fraternidade que Deus sonhou para todos! Assim, tanto a conjuntura política e econômica como a ideologia religiosa, tudo conspirava para enfraquecer a comunidade local e impedir, assim, a manifestação do Reino de Deus. O programa de Jesus, baseado no profeta Isaías oferecia uma alternativa.
* Terminada a leitura, Jesus atualizou o texto e o ligou com a vida do povo dizendo: “Hoje se cumpriu esta escritura nos ouvidos de vocês!” A sua maneira de ligar a Bíblia com a vida do povo, provocou uma dupla reação. Uns acreditaram e ficaram admirados. Outros tiveram uma reação de descrédito. Ficaram escandalizados e já não queriam saber dele. Diziam: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22) Por que ficaram escandalizados? É que Jesus falou em acolher os pobres, os cegos, os oprimidos. Mas eles não aceitaram a sua proposta. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, ele mesmo foi excluído!
4) Para confronto pessoal
1) Jesus ligou a fé em Deus com a situação social do seu povo. E eu, como vivo a minha fé em Deus?
2) No lugar onde eu moro existem cegos, presos, oprimidos? O que faço?
5) Oração final
Seu nome será eternamente bendito, e durará tanto quanto a luz do sol. Nele serão abençoadas todas as tribos da terra, bem-aventurado o proclamarão todas as nações. (Sal 71, 17)
OLHAR DO DIA: A nova casa dos Carmelitas em Cachoeira-BA. (Quarta-feira, 9 de janeiro-2019).
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Fotos: Frei Sílvio Ferrari, O. Carm. Correspondente do Olhar Jornalístico em Cachoeira.
AO VIVO- COM FREI PETRÔNIO- Missa de André Corsini, Carmelita. (Quarta-feira, 9 de janeiro-2019)
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SANTORAL CARMELITA. 9 DE JANEIRO: Santo André Corsini
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Nasceu no século XIV, dentro de uma família muito conhecida em Florença: a família Corsini. Nasceu no ano de 1302. Seus pais, Nicolau e Peregrina não podiam ter filhos, mas não desistiam, estavam sempre rezando nesta intenção até que veio esta graça e tiveram um filho. O nome: André.
Os pais fizeram de tudo para bem formá-lo. Com apenas 15 anos, ele dava tanto trabalho e decepções para seus pais que sua mãe chegou a desabafar: “Filho, você é, de fato, aquele lobo que eu sonhava”. Ele ficou assustado, não imaginava o quanto os caminhos errados e a vida de pecado que ele estava levando, ainda tão cedo, decepcionava tanto e feria a sua mãe. Mas a mãe completou o sonho: “Este lobo entrava numa igreja e se transformava em cordeiro”. André guardou aquilo no coração e, sem a mãe saber, no outro dia, ele entrou numa igreja. Aos pés de uma imagem de Nossa Senhora ele orava, orava e a graça aconteceu. Ele retomou seus valores, começou uma caminhada de conversão e falou para o provincial carmelita que queria entrar para a vida religiosa. Não se sabe, ao certo, se foi imediatamente ou fez um caminho vocacional, o fato é que entrou para a vida religiosa na obediência às regras, na vida de oração e penitência. Ele foi crescendo nessa liberdade, que é dom de Deus para o ser humano.
Santo André ia se colocando a serviço dos doentes, dos pobres, nos trabalhos tão simples como os da cozinha. Ele também saía para mendigar para as necessidades de sua comunidade. Passou humilhação, mas sempre centrado em Cristo.
Os santos foram e continuam a ser pessoas que comunicaram Cristo para o mundo. Mas Deus tinha mais para André. Ele ordenou-se padre e como tal continuava nesse testemunho de Cristo até que Nosso Senhor o escolheu para Bispo de Fiesoli. De início, ele não aceitou e fugiu para a Cartuxa de Florença e ficou escondido; ao ponto de as pessoas não saberem onde ele estava e escolher um outro para ser bispo, pela necessidade. Mas um anjo, uma criança apareceu no meio do povo indicando onde ele estava escondido. Apareceu também uma outra criança para ele dizendo-lhe que ele não devia temer, porque Deus estaria com ele e a Virgem Maria estaria presente em todos os momentos. Foi por essa confiança no amor de Deus que ele assumiu o episcopado e foi um santo bispo. Até que em 1373, no dia de Natal, Nossa Senhora apareceu para ele dizendo do seu falecimento que estava próximo. No dia da Epifania do Senhor, ele entrou para o céu.
Santo André Corsini, rogai por nós!( Fonte: https://cleofas.com.br)
Noviço fervoroso
André recebeu o hábito do Carmo em 1318. Para experimentar a constância do jovem noviço, foram-lhe confiados os ofícios mais modestos, como varrer o convento, guardar o portão, servir à mesa, lavar pratos e utensílios de cozinha. Tal era seu fervor que considerava isso uma glória. Seus ex-companheiros de prazer, e até mesmo alguns parentes, o ridicularizavam por esse “rebaixamento”. Ele, porém, vivia já num mundo superior, o do silêncio e da oração.
Um dia em que ele guardava a porta do Convento, o demônio lá compareceu para tentá-lo. Apresentando-se como um nobre personagem, bem trajado e acompanhado de vários criados, bateu com força à porta, ordenando imperiosamente:
– Abre depressa! Sou teu parente e não quero que fiques aqui com esses frades maltrapilhos. Esta é também a vontade de teu pai e de tua mãe que te prometeram em casamento a uma linda jovem.
– Foi-me ordenado que a ninguém abrisse a porta. Ademais, não te conheço. Se aqui sirvo esses humildes irmãos, imito Jesus Cristo que se fez homem para nos servir. Foram meus pais que me consagraram a Deus e à Virgem, serviço no qual me rejubilo.
Mudando de tom, disse o importuno visitante:
– Rogo-te, André, abre-me a porta por um instante só. Quero falar contigo de certas coisas… Teu superior nada verá!
– Ainda que o prior nada visse, acima dele está Deus que perscruta os corações. É por amor a Ele que guardo esta porta, para que Ele me guarde e auxilie.
Ainda falando, o noviço fez o sinal da- cruz, e o tentador desapareceu instantaneamente, deixando uma nuvem de fumaça negra e fétida. André deu graças a Deus pela vitória, tornando-se, após vencer a tentação, ainda mais forte e perfeito.
Voando nas vias da santidade
Um ano mais tarde fez os votos solenes e redobrou o fervor na prática das virtudes, sobretudo da humildade. Seu maior prazer era servir aos outros, especialmente aos enfermos, tendo sempre presente a palavra do Senhor: “O que fizerdes ao menor destes pequeninos, é a Mim que o fazeis”.
Frei André nunca faltava à liturgia das horas santas. Jamais resistia às ordens dos superiores. Quanto mais lhe ordenavam, maior era a alegria que pervadia sua alma. Tinha bem claro que o tempo é dom precioso de Deus, por isso empregava no estudo todos os minutos que lhe restavam do cumprimento das obrigações impostas pela obediência.
Às sextas-feiras, com um cesto pendurado ao pescoço, saía mendigando pela rua principal de Florença. Imagine- se a reação indignada de alguns de seus parentes, todos personagens importantes na cidade! Incitavam os habitantes a escarnecê-lo e a insultá-lo. Ele, porém, após receber as piores injúrias, retirava-se contente, refletindo: “Jesus também foi gravemente injuriado, e, aniquilado pela dor, não se irritava”.
As virtudes são todas irmãs, quando se progride em uma, adianta-se também nas outras. Assim, tendo subido tanto na virtude da humildade, nosso Santo era igualmente exímio na prática da pureza. Fugia de todas as ocasiões de tentação e não tolerava que em sua presença se pronunciassem palavras inconvenientes.
Dom dos milagres
Em várias ocasiões, exerceu em benefício do próximo o precioso dom dos milagres. Um de seus tios sofria de uma doença que lhe corroia as carnes da perna. Para se distrair do incômodo, transformou sua casa em lugar de jogatinas. Visando conquistar para Jesus essa alma, André foi visitá-lo e lhe perguntou:
– Quereis ser curado?
– Vai-te daqui, mendigo, queres zombar de mim!
– Se desejais ser curado, aceitai ao menos um conselho.
A mansidão do Santo abrandou a arrogância do ímpio, que disse:
– Se for possível a minha cura, farei tudo quanto pretenderes.
O frade lhe recomendou jejuar durante seis dias e, no sétimo, rezar sete Pai-Nossos, sete Ave-Marias e uma Salve Rainha.
– Se fizerdes isto, prometo que a gloriosa Virgem obterá de seu Filho vossa cura.
Embora incrédulo e sem devoção alguma, o doente assim fez. No sétimo dia estava curado. Exultante, procurou André para dizer-lhe:
– Sois verdadeiramente um amigo de Deus, meu sobrinho! Nada mais sinto, posso caminhar como um jovem.
Com efeito, suas carnes estavam renovadas. Desde então, mudou de vida, não mais cessando de dar graças a Deus e a sua Imaculada Mãe.
Sacerdote e bispo
Em 1328, André recebeu a ordenação sacerdotal. Os pais haviam preparado tudo para a celebração da sua primeira Missa, a qual pretendiam fosse soleníssima e contasse com a presença de todos os parentes.
Sabendo desta pretensão familiar, o Santo retirou-se para um pequeno convento distante, onde ofereceu a Deus as primícias do sacerdócio, com grande recolhimento e devoção.
Como prêmio, imediatamente após a Comunhão, a Santíssima Virgem lhe apareceu, dizendo: “És meu servo, escolhi- te, e em ti serei glorificada”. Estas palavras penetraram-lhe fundo no coração, tornando-o ainda mais humilde e puro.
Após exercer o ministério da pregação em Florença, estudou três anos na Universidade de Paris e foi aprimorar os estudos com o Cardeal Corsini, seu tio, na cidade de Avignon, então Sede do Papado. Aí Deus operou por sua intercessão a cura de um cego.
De retorno à pátria, foi eleito prior do convento de Florença. Pouco tempo permaneceu nesse cargo. Tendo falecido o Bispo de Fiésole, cidade próxima, o capítulo da Catedral o elegeu para sucessor. Mas o Santo, tomando conhecimento da eleição, ocultou-se num convento dos Cartuxos, na tentativa de fugir de tão perigoso fardo.
Quando os cônegos já iam fazer nova eleição, Deus revelou a um menino o retiro do seu servo. Temeroso de resistir à vontade do Céu, Frei André consentiu então em receber a sagração episcopal, em 1360, aos 58 anos.
Vida mais austera ainda
A elevação à dignidade de Bispo da Santa Igreja produziu uma mudança em seu modo de viver: ele redobrou suas austeridades, acrescentando mais um cinto de ferro sobre o cilício que usava. Por leito, tinha apenas uns ramos de videira estendidos no chão. Recitava diariamente os salmos penitenciais e a ladainha dos santos, submetendo- se a uma rude disciplina. Todo o seu tempo era dividido entre a oração, as funções episcopais e a meditação das Sagradas Escrituras. Com mais rigor ainda, evitava toda ocasião de tentação contra a virtude angélica, e não suportava a presença de lisonjeadores nem murmuradores.
Seus exemplos e sermões produziam tão maravilhosos frutos que logo foi considerado um dos grandes apóstolos da Itália.
Multiplicou os pães
Às quintas-feiras costumava lavar os pés dos pobres, imitando a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Certa vez um deles recusava-se a lhe apresentar os pés, pois estavam cobertos de úlceras. O Santo venceu-lhe a resistência, lavou-os e estes ficaram completamente curados.
Após a cerimônia do lava-pés, nunca despedia os pobres sem lhes amenizar a indigência com uma generosa distribuição de pães. Certa vez em que havia poucos, ele, com uma bênção, os multiplicou e assim pôde satisfazer a todos os necessitados.
Possuía também uma singular aptidão para harmonizar os espíritos divididos, da qual se valeu para apaziguar todas as sedições tanto em sua Diocese quanto em Florença. Informado disto, o Papa Urbano V o enviou como legado a Bolonha, para conciliar as facções que excitavam a nobreza e o povo um contra outro. Santo André restabeleceu a paz nessa cidade, a qual durou enquanto ele viveu.
Caminhou alegre para a morte
Durante a Missa de Natal de 1372, o Santo Bispo sentiu-se acometido de uma febre que logo o dominou. Longe de se alarmar com a proximidade da morte, caminhou em direção a ela com tranqüilidade, e até com surpreendente alegria. Faleceu a 6 de janeiro de 1373, aos 72 anos de idade.
“A fama de santidade que circundou sua vida, após a morte difundiu-se rapidamente na Itália e na Europa”, lembrou S.S. João Paulo II, no 7° centenário de nascimento de Santo André Corsini.
Se Deus o honrou com muitos milagres em vida, a voz do povo o “canonizou” imediatamente após sua morte. O Papa Eugênio IV, posto a par dos efeitos que a intercessão do Santo produzia em toda a região de Florença, autorizou que seus restos mortais fossem expostos à veneração dos fiéis. E Urbano VIII o canonizou em 1629.
(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 22 a 25). Fonte: http://www.arautos.org
OLHAR CARMELITANO: Os Conselhos Evangélicos e os Votos
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Fundamento e essência da vida consagrada é o seguimento radical de Jesus Cristo. Os Conselhos evangélicos de obediência, pobreza, castidade, professados publicamente na Igreja, são uma forma radical de testemunho do seguimento de Cristo[1]. Seguindo, de facto, a Cristo obediente, pobre, casto, descentramo-nos de nós mesmos e orientamo-nos na história em busca do Reino de Deus.
A nossa vida consagrada, configurada à vida de Cristo por meio dos três Conselhos evangélicos assumidos pelos votos e de outros valores evangélicos, é dom de Deus[2]. Embora não seja motivada pela «mentalidade do mundo»[3], todavia insere-nos no mundo[4] como testemunhas dos valores do ser e do gratuito. Tais valores, vividos no espírito das bem-aventuranças, transfiguram o mundo segundo o projecto do Pai.
A obediência: escuta e discernimento do projeto de Deus
Por meio da obediência religiosa, sinceramente observada pelas obras[5], oferecemos a submissão plena da vontade a Deus. Fonte e motivo da nossa obediência é Jesus Cristo. Ele viveu a sua liberdade não na auto-suficiência ou autonomia pessoal, mas na obediência ao Pai[6]. A obediência de Jesus, além de ser compromisso para realizar as obras do Pai[7] é tambem fidelidade ao homem e à sua salvação[8]. Jesus obedece porque ama o Pai[9] e porque ama o homem. Jesus é todo de Deus e todo para o homem. O único fim da sua vida é o de realizar o Reino de Deus. A esta causa permanece fiel até à morte[10].
Habitados pelo Espírito de Jesus, não estamos sob a lei mas sob a graça[11]. Deixando-nos guiar pelo Espírito[12], seremos educados para o discernimento da vontade de Deus[13] e para a compreensão da verdade plena[14].
Seguir a Cristo obediente[15] significa para nós, hoje, escutar juntos a Palavra de Deus[16], acolhida e vivida na Igreja; saber ler os "sinais dos tempos", a fim de discernir a vontade de Deus hoje[17] e cumprir fielmente a missão que Ele nos dá cada dia.
Isto comporta um processo contínuo de transformação, a fim de interiorizar profundamente a vontade de Deus, que é totalmente criativa e doadora de vida, de modo a que não só escolhamos livremente agir segundo os preceitos divinos, mas, purificando-nos, adiramos sempre mais à vontade de Deus, que nos ama.
Na nossa obediência a Deus, comprometemo-nos não só individualmente, mas tambem como comunidade. A comunidade, de facto, é o lugar no qual se busca, juntos, a vontade de Deus. Nesta busca, somos discípulos uns dos outros e corresponsáveis na escuta e no cumprimento da Palavra, lida à luz dos sinais dos tempos e interpretada segundo o carisma da Ordem[18]. Pois a obediência coloca-nos como irmãos uns ao lado dos outros e todos diante das exigências do Evangelho e das expectativas do Reino de Deus.
O Prior, consciente de que no centro da comunidade está Cristo presente e o seu Evangelho, põe-se ao serviço da vontade de Deus e dos irmãos, guiando-os na obediência a Cristo, madura e responsavelmente, através do diálogo e do discernimento oportuno[19], mas permanecendo firme a sua autoridade de decidir e de mandar o que deve ser feito[20]. O Prior na comunidade é estímulo para viver o nosso carisma e é sinal e vínculo de união. Seja «honrado humildemente, pensando, mais que na sua pessoa, em Cristo, que o pôs acima de vós»[21].
Em caso grave o Superior Maior pode dar um preceito formal (praeceptum) a um religioso em virtude do voto de obediência. Tal preceito deve ser dado por escrito ou na presença de duas testemunhas[22].
*CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA do MONTE CARMELO.
[1] EE 10
[2] Cfr PC 1.
[3] Rm 12,2.
[4] Cfr Jo 17,18.
[5] Cfr Regra, c. 1.
[6] Cfr Heb 10,5-10.
[7] Cfr Jo 6,38; 17,4.
[8] Cfr Jo 13,1.
[9] Jo 14,31.
[10] Cfr Fil 2,8; Heb 5,7-8; Lc 22,42.
[11] Cfr Rm 6,14; 8,9.
[12] Cfr ET 10.
[13] Cfr Rm 12,2.
[14] Cfr Jo 16,13.
[15] Cfr Regra, prólogo.
[16] Cfr Regra, cc. 7, 8, 14.
[17] Cfr Regra, c. 11.
[18] Cfr VI Cons. Prov., 333.
[19] Cfr Regra, cc. 2, 3, 1; ET 25; RD 13.
[20] Cfr Regra, c. 1; PC 14; ET 25; can. 618.
[21] Regra, c. 18.
[22] Cfr cann. 49, 601.
Profissão dos Noviços-2019: Ladainha
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Quarta-feira, dia 9 de janeiro/2019- depois da Epifania- Evangelho do dia. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus, luz de todas as nações, concedei aos povos da terra viver em perene paz, e fazei resplandecer em nossos corações aquela luz admirável que vimos despontar no povo da antiga aliança. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 6, 45-52)
45Imediatamente ele obrigou os seus discípulos a subirem para a barca, para que chegassem antes dele à outra margem, em frente de Betsaida, enquanto ele mesmo despedia o povo. 46E despedido que foi o povo, retirou-se ao monte para orar. 47À noite, achava-se a barca no meio do lago e ele, a sós, em terra. 48Vendo-os se fatigarem em remar, sendo-lhes o vento contrário, foi ter com eles pela quarta vigília da noite, andando por cima do mar, e fez como se fosse passar ao lado deles. 49À vista de Jesus, caminhando sobre o mar, pensaram que fosse um fantasma e gritaram; 50pois todos o viram e se assustaram. Mas ele logo lhes falou: Tranqüilizai-vos, sou eu; não vos assusteis! 51E subiu para a barca, junto deles, e o vento cessou. Todos se achavam tomados de um extremo pavor, 52pois ainda não tinham compreendido o caso dos pães; os seus corações estavam insensíveis.
3) Reflexão - Mc 6, 45-52
* Depois da multiplicação dos pães (evangelho de ontem), Jesus obriga os discípulos a entrar no barco. Por que? Marcos não explica. O evangelho de João informa o seguinte. De acordo com a esperança da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar o povo no deserto. Por isso, diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu que Jesus devia ser o messias esperado, anunciado por Moisés (cf. Dt 18,15-18) e quis fazer dele um rei (cf. Jo 6,14-15). Este apelo do povo era uma tentação tanto para Jesus como para os discípulos. Por isso, Jesus obrigou-os a embarcar. Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia dominante, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte (Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração.
* Marcos descreve com arte os acontecimentos. De um lado, Jesus sobe o monte para rezar. De outro lado, os discípulos descem para o mar e entram no barco. Parece até um quadro simbólico que prefigura o futuro: é como se Jesus já subisse para o céu, deixando os discípulos sozinhos em meio às contradições da vida, no barquinho frágil da comunidade. Era noite. Eles estavam em alto mar, todos juntos num pequeno barco, querendo avançar remando, mas o vento era contrário. Estavam cansados. Já era a quarta vigília, isto é, entre 3 e 6 da madrugada. As comunidades do tempo de Marcos eram como os discípulos. Noite! Vento contrário! Não conseguiam nada, apesar de todo o esforço que faziam! Jesus parecia ausente! Mas ele estava presente e vinha até elas, mas elas, como os discípulos de Emaús, não o reconheciam (Lc 24,16).
* No tempo de Marcos, em torno do ano 70, o barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das profecias e figuras do Antigo Testamento, como de alguns pagãos convertidos que pensavam ser possível uma certa aliança da fé em Jesus com o império. Marcos procura ajudar os cristãos a respeitar o mistério de Jesus e a não querer reduzir Jesus ao tamanho dos próprios desejos e idéias.
* Jesus chega andando sobre as águas do mar da vida. Eles gritam de medo, porque pensam que se trata de um fantasma. Como na história dos discípulos de Emaús, Jesus faz de conta que quer seguir adiante (Lc 24,28). Mas o grito deles faz com que ele mude de rumo, se aproxime deles e diga: “Calma, gente! Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo, quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou várias vezes o seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7). Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo!
* Jesus sobe no barco e o vento pára. Mas o espanto dos discípulos, em vez de terminar, aumenta. O próprio evangelista Marcos faz um comentário crítico e diz: “Eles não tinham entendido nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido” (6,52). A afirmação coração endurecido evoca o coração endurecido do faraó (Ex 7,3.13.22) e do povo no deserto (Sl 95,8) que não queria ouvir Moisés e só pensava em voltar para o Egito (Nm 20,2-10), onde havia pão e carne com fartura (Ex 16,3).
4) Para confronto pessoal
1) Noite, mar agitado, vento contrário! Você já se sentiu assim alguma vez? Como fez para vencer?
2) Você já se espantou alguma vez porque não reconheceu Jesus presente e atuante em sua vida?
5) Oração final
Ele se apiedará do pobre e do indigente, e salvará a vida dos necessitados. Ele o livrará da injustiça e da opressão, e preciosa será a sua vida ante seus olhos. (Sal 71, 13-14)
Profissão dos Noviços-2019: O Rito
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A ORAÇÃO NO CARMELO: O QUE É A ORAÇÃO?
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Mariano Cera
Para Santa Teresa existe uma exigência essencial antes de aprofundar a oração: a pureza de coração. A oração, encontro entre Deus e o ser humano: encontro que acontece no fundo da alma, lá onde a Bíblia chama de “coração”. Neste coração está o centro de nossa vida religiosa. É ali que Deus mora, e é desta profundidade do espírito que Deus fala.
Mas não se pode escutar esta Palavra de Deus. O encontro se torna impossível quando uma multidão turbulenta de diferentes pensamentos e sentimentos, de afetos e desejos... se aglomeram no coração. É necessário sossego, silêncio, liberdade interior. A pureza de coração não é o vazio, mas o Amor de Deus que exclui o amor de si mesmo. Um só apego humano pode obscurecer a nossa visão ou encontro com Deus: aqui está a raiz de toda a dificuldade da oração. Para realizar uma profunda vida de oração precisamos ser capazes de colocar Deus acima de tudo e de todos.
A oração do cristão é essencialmente oração de Cristo.
A oração, no seu conteúdo genérico, é a vivência de uma relação pessoal e verdadeira entre o ser humano e Deus. O pecado produziu uma ruptura entre a humanidade e Deus. Somente através do Cristo Redentor existe a possibilidade de reatar-se o vínculo de união ser humano-Deus.
O Cristo é o primogênito entre muitos irmãos e nele se recapitula toda a humanidade. Somente por meio dele se restabelecem as relações entre Deus e o ser humano. Por isso, podemos afirmar que existe uma única oração verdadeira, possível: a oração de Cristo.
O cristão se apropria da oração de Jesus em todas as suas dimensões, porque a sua oração, como a Dele, é vivificada pelo mesmo Espírito. Portanto, nossa oração não existe se não é a oração de Cristo. Ou seja, enquanto estamos unidos a Ele e incorporados a Ele: união e incorporação que são realizadas pela graça do batismo.
A novidade da oração cristã está em ser a mesma oração de Cristo, comunicada aos seres humanos.
Cristo nos faz seus membros, vive em nós mediante seu Espírito precisamente enquanto fez nossa a sua oração, e assim nos introduz no mistério da sua relação pessoal com o Pai.
A essência teológica da oração cristã reside em entrar em diálogo com Deus Trindade por meio da mediação de Cristo. A oração do cristão é a oração de um ser humano que foi elevado à ordem sobrenatural e introduzido na família de Deus: filho do Pai em Jesus Cristo (Gl 4,5). A oração cristã é, portanto, essencialmente trinitária, cristiforme e filial. Diálogo de filho com Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Diálogo, escuta, silêncio. A oração então, é antes de tudo diálogo e comunicação entre Deus e o ser humano, onde o centro não somos nós, mas Ele: Ele e nós. Assim a oração se torna amizade.[1]
Outro aspecto mais profundo da oração é a escuta.
É necessário fazer silêncio, transparência, criar a verdade dentro de nós. Deus não falará conosco antes que tenhamos aprendido a tirar as máscaras que escondem nossos rostos. A escuta da Palavra é possível quando e na medida em que a alma preparar em si uma vasta zona de silêncio.
Um último passo - destacado por toda tradição carmelitana - nos diz que o ponto culminante da oração é o amor: “não é outra coisa a oração mental senão é uma íntima relação de amizade, na qual, freqüentemente, nos entretemos a sós com Aquele que sabemos que nos ama”[2]
A oração é amor quando as palavras não têm mais sentido, quando é suficiente um simples olhar para perceber tudo. Quem consegue permanecer muito tempo nesse ponto alto, está saboreando um grande dom de Deus; e quem permanece sempre nele, é santo. Mas é preciso apontar sempre para o alto, para dar força à nossa oração: que nossa vida se torne amor, toda amor, somente amor. “Para avançar sempre mais neste caminho –diz Santa Teresa- o essencial não está no muito pensar, mas no muito amar”.[3]
Podemos dizer que se a oração encontra seu fundamento na fé e o seu ímpeto na esperança, o seu dinamismo essencial brota da caridade, que inspira e anima todas as atitudes do orante.
Jesus nos deixou a oração por excelência, o Pai Nosso, como modelo. Mas também nos deu outras verdadeiras lições sobre a oração:
- Nos ensinou a não falarmos muito quando oramos: “orando, não usem muitas palavras, como fazem os pagãos” (Mt 6,7).
- Ensinou a nunca orar para que nos vejam: “quando orarem, não sejam como os hipócritas... para serem vistos pelos homens” (Mt 6,5).
- Nos disse que antes de orar devemos perdoar: “Quando vocês estiverem orando, perdoem tudo o que tiverem contra alguém, para que o Pai de vocês que está no céu também perdoe os pecados de vocês” (Mc 11,25).
- Nos exortou a sermos constantes na oração: “precisamos orar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18,1).
- Devemos orar com fé: “tudo o que vocês na oração pedirem com fé, vocês receberão” (Mt 21,22).
É evidente, portanto, a insistência de Jesus na oração. Temos que orar sempre, orar com persistência e perseverança.
A oração no Evangelho, não significa multiplicar atos ou palavras, mas orientar a alma e a vida toda para Deus, para quem vivemos por Cristo, Nele e com Ele.
A passagem da oração à atitude contemplativa é automática quando a oração é comunicação profunda com Deus. “A contemplação começa quando nós nos confiamos a Deus, não importa o modo que Ele escolhe para aproximar-se de nós. É uma atitude de abertura a Deus, pela qual descobrimos em toda parte a sua presença. Como Maria, refletimos sobre nossas experiências, pois são elas que nos dão consciência do sentido de Deus”.[4]
VARIEDADES DE ORAÇÕES
Falando das várias formas de oração, podemos distinguir a oração pública ou litúrgica e a oração particular. Considerada na sua ‘expressão’, a oração pode ser mental ou vocal.
A oração litúrgica
Esta foi sempre reconhecida como a oração por excelência, a ação sagrada da Igreja unida à História Sagrada. É na ação litúrgica que a Palavra de Deus está presente em todo o seu mistério de força criadora, redentora, santificadora. Esta é a fé.
Na ação litúrgica se anuncia constantemente o retorno de Cristo e a realização de todas as promessas. Esta é a esperança. Finalmente, na liturgia o mistério do amor de Jesus está presente no Sacrifício eucarístico. Eis a caridade.[5]
A colaboração da Igreja em Cristo se dá nas três grandes ações litúrgicas: a Santa Missa, a administração dos Sacramentos, a recitação da Liturgia das Horas. Todo cristão é chamado a participar destas distintas ações litúrgicas para dar à sua oração não apenas um caráter privado, mas também uma dimensão social, comunitária, eclesial, que dará frutos na medida do empenho pessoal.[6]
A oração individual
Para que a participação na ação litúrgica da Igreja dê frutos, é necessário uma intervenção "pessoal", uma verdadeira atividade humana que nos permita descobrir o sentido das ações litúrgicas e que nos faça tirar delas o melhor fruto possível.
A Igreja insiste na importância das práticas pessoais ‘de piedade’, como a oração da manhã e da tarde, a oração do Terço, etc.[7]
A oração verbal e mental
“Não é necessário entender essa distinção como se existisse diferença absoluta e essencial entre as duas..., mas no sentido de que o ser humano pode se dedicar a Deus e às verdades divinas somente com a mente, em perfeito silêncio..., mas pode também expressar seus conceitos e sentimentos com palavras. Para que sua vida espiritual seja perfeita, o ser humano necessita das duas formas de oração”.[8]
Santa Teresa explica melhor quando diz que a oração não é verbal ou mental pelo fato da boca estar aberta ou fechada, pois a oração mental também pode terminar em um diálogo. Por isso seria melhor dizer que a oração vocal é aquela que se faz usando uma fórmula pré-estabelecida, enquanto que a mental é aquela que se faz espontaneamente, expressando sentimentos que brotam do coração.[9]
A mais bela de todas as orações verbais é o Pai Nosso, que brotou da ternura do coração do Senhor. “Algumas vezes, quando meu espírito se encontra numa aridez tão grande que é impossível fazer um pensamento para unir-me ao bom Deus, rezo lentamente um Pai Nosso e depois a saudação do Angelus. Estas orações me arrebatam, nutrem a minha alma bem mais que se as tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes”.[10]
Brenninger nos diz que o valor e a eficácia da oração verbal depende, antes de tudo, da devoção interior. Mas se pode aumentar:
- da origem da oração: o Pai Nosso que nos foi ensinado por Jesus supera em eficiência e em dignidade todas as outras;
- da santidade daquele que reza: quanto mais santidade possui a alma, tanto mais seu louvor e sua súplica são preciosos aos olhos de Deus;
- da companhia dos outros: o Senhor disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20).[11]
Oração mental é aquela que se faz espontaneamente, que não se prende a fórmulas pré-estabelecidas. É uma oração mais pessoal, na qual transparecem mais as características, as tendências, as necessidades da pessoa. Santa Teresa insiste no caráter afetivo desta oração. Ela afirma que o que deve guiar a razão é que a alma perceba o amor de Deus e responda a este amor falando intimamente com Ele.[12]
Podemos praticar mais a oração mental durante as ocupações cotidianas, o que coincide mais ou menos, com o exercício da “presença de Deus” (veja na pg. ).
Este exercício da "presença de Deus" é fundamental, porque é ele que mantém a alma conscientemente unida a Deus. Este exercício é, ao mesmo tempo, recolhimento interior e ruptura com as coisas do mundo que nos distraem. A presença de Deus constitui na essência de toda verdadeira oração: é a própria oração difundida por toda vida e virtualmente operante em toda ela.[13]
A oração contemplativa
Os místicos nos ensinam que nesta etapa da vida de oração, o cristão é inteiramente transformado no amor de Deus que habita nele. Os sentidos, a mente, todas as aptidões foram purificadas pelo fogo do amor. Todas as coisas revelam, na sua transparência, a presença divina.
O preço da contemplação é a noite escura dos sentidos e do espírito. Somos transformados em Deus. Agora não oramos mais, mas toda a nossa vida é um ato de oração, é sacramento da ação de Deus na história humana.
A luz da sua palavra penetra em nós sem encontrar resistência. Mesmo empenhados na complexidade dos nossos serviços pastorais, não conseguimos viver se não para amar, por amor e no amor. Tudo é dom de Deus.[14]
A oração como vida[15]
Todo movimento em direção a Deus – aspiração, murmúrio, desejo, alegria, hesitação – é sempre uma oração. A oração é antes de tudo tarefa do coração: consiste no querer sempre, e acima de tudo, a vontade de Deus. O verdadeiro caminho da oração é a vida. Uma oração contínua é uma vida inteiramente voltada ao serviço de Deus.
É o amor que dá consistência e unidade à vida. Ação e contemplação não são mais que dois momentos de um mesmo e único amor.
“Jesus, que minha vida seja uma oração contínua; que nada possa distrair-me de ti: nem minhas ocupações, nem minhas alegrias, nem meus sofrimentos... que Isabel desapareça e permaneça apenas Jesus”.[16]
A oração é contínua quando o amor é contínuo. O amor é contínuo quando é único e total. Entendida desta maneira, a oração é sempre possível em qualquer circunstância e em meio a qualquer ocupação. Para um cristão que ama verdadeiramente o Senhor, seria impossível interrompê-la, como seria impossível interromper a respiração. E assim, se compreende como todos, também aqueles que vivem entre os afazeres do mundo, podem cumprir a palavra do Evangelho: “Precisamos rezar sempre”.
O cristão não reza somente quando se dirige a Deus direta e imediatamente com suas práticas devocionais. Mas toda vez que pratica o bem por amor a Deus, não importando suas obrigações, em qualquer obra de apostolado, de caridade, de penitência, de humildade e de serviço oculto.
Vista assim, a oração não se apresenta mais como uma fórmula exterior, uma ação à margem da vida, nem sobreposta a ela, nem como um ato intermitente, mas se revela como o hábito mais necessário da pessoa. Quando o Senhor convidava os apóstolos a orar incessantemente, já dava uma clara indicação a respeito da natureza da oração, cuja essência, para um cristão, se identifica com a própria essência da vida.
Quando a vida é um canto de amor, nossa oração nunca termina.[17] “A vida do Carmelo é uma união perene com Deus, desde a manhã até a noite e da noite até a manhã. Se não fosse Ele a encher nossas celas e nossos claustros, como tudo seria vazio!”[18]
[1] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 24-29: tomamos literalmente algumas passagens.
[2] S. Teresa de Jesus, Opere, Vita 8.
[3] S. Teresa de Jesus, Opere, M. IV, 1,7.
[4] A Formação no Carmelo, Roma 1988, n. 10.
[5] CALATI B., Il metodo monastico della preghiera, in ANCILLI E. op.cit., V. 1°, pg. 245-249.
[6] AA.VV., La preghiera liturgica, Teresianum Roma 1964.
[7] ANCILLI E., op. cit. 1°v., pg. 31-32.
[8] BRENNINGER G., Dottrina spirituale del Carmelo, Roma 1952, pg. 646.
[9] S. Teresa de Jesus., Opere, C. 22,24,25; M. I, 1,7.
[10] S. Teresa do Menino Jesus, Gli Scritti, n.318.
[11] BRENNINGER E. op.cit., v.1°, pg. 34.
[12] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 33-34.
[13] ANCILLI E., op. cit., v.1°, pg. 34.
[14] FREI BETTO, La preghiera nell’azione, EDB 1977, pg. 66-68.
[15] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 34-35. Também VALABEK R. M. Sarete raggianti, Roma 1993, pg. 31-33: FREI BETTO, op.cit., pg. 20-29.
[16] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L.45.
[17] ANCILLI E., op.cit. v.1°, pg. 35.
[18] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L. 179.
Segunda-feira, dia 7 de janeiro/2019- depois da Epifania- Evangelho do dia. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Nós vos pedimos, Ó Deus, que o esplendor da vossa glória ilumine os nossos corações para que, passando pelas trevas deste mundo, cheguemos à pátria da luz que não se extingue. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 4,12-17.23-25)
12Quando soube que João tinha sido preso, Jesus retirou-se para a Galiléia. 13Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia, 14no território de Zabulon e de Neftali, para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galileia, entregue às nações pagãs! 16 O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu”. 17Daí em diante, Jesus começou a anunciar: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. 23Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo. 24Sua fama também se espalhou por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, sofrendo de diversas enfermidades e tormentos: possessos, epiléticos e paralíticos. E ele os curava. 25Grandes multidões o acompanhavam, vindas da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e da região do outro lado do Jordão.
3) Reflexão - Mt 4,12-17.23-25)
* Uma breve informação sobre o objetivo do Evangelho de Mateus. O Evangelho de Mateus foi escrito na segunda metade do primeiro século para animar as pequenas e frágeis comunidades de Judeus convertidos que vivam na região da Galileia e da Síria. Elas sofriam perseguições e ameaças da parte dos irmãos judeus pelo fato de aceitarem Jesus como messias e de acolherem os pagãos. Para fortalecê-las na fé, o evangelho de Mateus insiste em dizer que Jesus é realmente o Messias e que a salvação trazida por ele não é só para os judeus, mas para toda a humanidade. Logo no início do seu evangelho, na genealogia, Mateus já aponta para a vocação universal de Jesus, pois como “Filho de Abraão” (Mt 1,1.17) ele será “fonte de bênção para todas as nações do mundo” (Gên 12,3). Na visita dos magos, vindos do Oriente, ele sugere novamente que a salvação se dirige aos pagãos (Mt 2,1-12). No texto de evangelho de hoje, ele mostra como a luz que brilhou na “Galileia dos Gentios” brilha também fora das fronteiras de Israel, na Decápole e no além-Jordão (Mt 4,12-25). Mais adiante, no Sermão da Montanha, Jesus dirá que a vocação da comunidade cristã é ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14) e pede amor aos inimigos (Mt 5,43-48). Jesus é o Servo de Deus que anuncia o direito às nações (Mt 12,18). Ajudado pela mulher Cananeia, o próprio Jesus ultrapassa as fronteiras da raça (Mt 15,21-28). Ultrapassa também as leis da pureza que impediam a abertura do Evangelho para os pagãos (Mt 15,1-20). E no final, quando Jesus envia seus discípulos a todas as Nações, fica ainda mais clara a universalidade da salvação (Mt 28,19-20). Da mesma maneira, as comunidades são chamadas a abrir-se para todos, sem excluir ninguém, pois todos são chamados a viver como filhos e filhas de Deus.
* O evangelho de hoje descreve como se iniciou esta missão universal. Foi a notícia da prisão de João Batista que levou Jesus a começar sua pregação. João tinha dito: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 3,2). Por isso ele foi preso por Herodes. Quando Jesus soube que João foi preso, voltou para a Galileia anunciando a mesma mensagem: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 4,17) Com outras palavras, desde o início, a pregação do evangelho trazia riscos, mas Jesus não recuou. Deste modo, Mateus anima as comunidades que estavam correndo os mesmos riscos de perseguição. E ele cita o texto de Isaías: "O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz!" Como Jesus, as comunidades são chamadas a ser "Luz dos povos".
* Jesus começa o anúncio da Boa Nova andando por toda a Galileia. Ele não fica parado, esperando que o povo chegue e vá até ele. Ele mesmo vai nas reuniões do povo, nas sinagogas, para anunciar sua mensagem. O povo leva a ele os doentes, os endemoniados, e Jesus acolhe a todos e os cura. Este serviço aos doentes faz parte da Boa Nova e revela ao povo a presença do Reino.
* Assim, a fama de Jesus se espalha por toda a região, atravessa as fronteiras da Galileia, penetra na Judeia, chega até Jerusalém, vai para o além Jordão e alcança a Síria e a Decápole. Era nestas mesmas regiões, que se encontravam as comunidades para as quais Mateus estava escrevendo o seu evangelho. Agora, elas ficam sabendo que, apesar de todas as dificuldades e riscos, elas já estão sendo essa luz que brilha nas trevas.
4) Para confronto pessoal
1) Será que alguma luz se irradia de você para os outros?
2) Hoje, muitos se fecham na religião católica. Como viver hoje a universalidade da salvação?
5) Oração final
Vou proclamar o decreto do SENHOR: Ele me disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei! (Sal 2, 7)
PROFISSÃO DOS NOVIÇOS: Homilia
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Sexta-feira, dia 4 de janeiro-2019 -TEMPO DO NATAL- Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1) Oração
Ó Deus, sede a luz dos vossos fiéis e abrasai seus corações com o esplendor da vossa glória, para reconhecerem sempre o Salvador e a ele aderirem totalmente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 1, 35-42)
35No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. 36E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. 37Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. 38Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? 39Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima. 40André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. 41Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). 42Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).
3) Reflexão - Jo 1, 35-42)
* No evangelho de hoje, João Batista, novamente, aponta Jesus como “Cordeiro de Deus”. E dois dos seus discípulos, animados pelo próprio João, foram em busca de Jesus e perguntam: “Onde o senhor mora?”. Jesus responde: "Venham e vejam!" É convivendo com Jesus, que eles mesmos poderão verificar e confirmar se era isto que estavam buscando. O encontro confirmou a busca, pois os dois nunca mais esqueceram a hora do encontro. Quase setenta anos depois, João lembra: “Eram quatro horas da tarde!”
* Quando uma pessoa é muito amada, ela costuma receber muitos apelidos, nomes ou títulos que expressam o carinho. No Evangelho de João, Jesus recebe muitos títulos e nomes que expressam o que ele significava para os primeiros cristãos. Estes nomes traduzem o desejo dos primeiros cristãos de conhecer melhor quem é Jesus para poder amá-lo com maior coerência. O quarto Evangelho é uma catequese muito bem feita. Os títulos e nomes de Jesus, que vão aparecendo durante os encontros e as conversas das pessoas com ele, fazem parte desta catequese. Eles ajudam os leitores e as leitoras a descobrir como e onde Jesus se revela nos encontros do dia-a-dia da vida. Ao longo dos seus 21 capítulos, através destes nomes e títulos, o evangelista João nos vai revelando quem é Jesus.
* Também hoje, nossas comunidades devem poder dizer: "Venham e vejam!" É ver e experimentar para poder testemunhar. O apóstolo João escreve na sua primeira carta: "A vida se manifestou. Nós a vimos e dela damos testemunho!" (1Jo 1,2)
* As pessoas que vão sendo chamadas professam a sua fé em Jesus através de títulos como: Cordeiro de Deus (Jo 1,36); Rabi (Jo 1,38); Messias ou Cristo (Jo 1,41); “aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas” (Jo 1,45); Jesus de Nazaré, o filho de José (Jo 1,45), Filho de Deus (Jo 1,49); Rei de Israel (Jo 1,49); Filho do Homem (Jo 1,51). São oito títulos em apenas quinze versos! A cristologia dos primeiros cristãos não começa com reflexões teóricas, mas com nomes e títulos que exprimem o carinho, o compromisso e o amor.
* André descobriu que Jesus é o Messias. Ele gostou tanto do encontro, que partilhou sua experiência com o irmão e deu testemunho: "Encontramos o Messias!" Em seguida, conduziu o irmão até Jesus. Encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus! É assim que a Boa Nova se espalha pelo mundo, até hoje! Conosco pode acontecer o que aconteceu com o irmão de André. No encontro com Jesus, ele teve seu nome mudado de Simão para Cefas (Pedra ou Pedro). Mudança de nome significa mudança de rumo. O encontro com Jesus pode produzir mudanças profundas na vida da gente. Deus queira!
4) Para um confronto pessoal
1) Como foi o chamado de Jesus em sua vida? Teve alguma mudança de rumo?
2) Você lembra a hora e o lugar de acontecimentos importantes da sua vida?
5) Oração final
Exultem em brados de alegria diante do Senhor que chega, porque ele vem para governar a terra. Ele governará a terra com justiça, e os povos com eqüidade. (Sal 97, 8-9)
PROFISSÃO DOS NOVIÇOS: Convite
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ORAÇÃO NO CARMELO: A Prática da Presença de Deus
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Foi o carmelitas descalços de Lourenço da Ressurreição quem primeiro viveu e tornou famosa a Prática da presença de Deus. Essa prática é muito simples e, ao mesmo tempo, muito difícil. A Regra nos lembra: “que tudo seja feito na Palavra do Senhor” (Regra 19). Isso é um eco da carta aos Colossenses: “E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou ações, o façam em nome do Senhor Jesus” (Cl 3,17). A prática da presença de Deus é um método de oração simples porque não requer qualquer regra complicada. Significa simplesmente viver na verdade. Deus está presente em cada momento de nossas vidas, mantendo-nos vivos.
Essa prática envolve partilhar com Deus tudo que acontece com você. Não é necessário conversar com Deus apenas sobre coisas sagradas. Podemos falar com Deus sobre o que nos interessa e partilhar com Deus o que acontece conosco. Lourenço da Ressurreição conversou com Deus sobre todos os detalhes práticos de seu trabalho como cozinheiro e tesoureiro comunitário. Santa Teresa d’Ávila nos lembra que Deus caminha entre os utensílios da cozinha. Deus está no meio da realidade que nos rodeia, seja ela qual for. Nós não trazemos Cristo para as circunstâncias em que vivemos. Ele está lá antes de nós.
A prática da presença de Deus é um modo de continuar o diálogo com Deus durante todo o dia. O Concílio Vaticano Segundo enfatizou o perigo da divisão entre fé e vida. Elas são e devem ser uma. Partilhar os eventos do dia é um modo de permitir que a Palavra de Deus influencie tudo que fazemos, pensamos ou dizemos.
Se não temos vergonha de fazer ou dizer alguma coisa na presença de Deus, estamos vivendo uma ilusão ou nossas ações e palavras estão realmente de acordo com a vontade de Deus. Nosso falso eu levantará todos os tipos de razões para nos assegurar de que estamos certos e que não precisamos de mudança. Para vivermos na presença de Deus e trilharmos o caminho espiritual, a honestidade é uma virtude algumas vezes dolorosa, mas essencial.
A ORAÇÃO NO CARMELO-01
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Mariano Cera
I- IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
Na Vida dos Padres do deserto se conta este episódio. Um dia um jovem monge pediu ao velho mestre: “Por que estás sempre rezando? A oração é tão importante assim para ti?” Então o bom mestre leva o jovem à fonte, lhe segura a cabeça e coloca-a dentro d‘água, segurando-a forte, enquanto o jovem se debatia... Finalmente o tira para fora já meio asfixiado e lhe pergunta: “Enquanto estavas debaixo d‘água, qual a coisa que mais desejavas?” Responde o jovem: “Queria respirar!” Então, concluiu o velho mestre: “Assim é para mim. Orar se tornou a respiração da minha vida”.
“À fórmula da nossa existência falta algo, que nossa ilusória auto-suficiência não dá: necessitamos de um suplemento de causalidade providencial; necessitamos de Deus, de conversar com Ele, de encontrar Nele aquela segurança, aquela plenitude que nos pode vir somente da sua concomitante bondade. É preciso rezar para viver” (Paulo VI).
O ser humano tem necessidade de rezar, porque tem absoluta necessidade de Deus. Necessita de Deus para preencher de eternidade seu vazio existencial e assim, atenuar sua angustiante e misteriosa saudade.
"Senhor, ensina-nos a orar". Este é apenas um dos muitos pedidos que os apóstolos fazem ao Mestre. Mas, nesse pedido, está o ser humano de todos os tempos exprimindo um profundo desejo de seu coração.
A oração nos coloca em contato com Deus, cria uma comunhão, um face a face, um coração-a-coração, no qual a riqueza de Deus se derrama sobre a miséria da criatura e a faz definitivamente feliz. Eis porque a oração sempre foi considerada uma necessidade fundamental do ser humano de todo tempo e em qualquer lugar.
A oração é um fenômeno primário da vida religiosa. Todo crente sente a necessidade de comunicar-se com Deus. Por isso, a oração se encontra em todas as religiões teístas como ato fundamental da vida religiosa.
Nas religiões primitivas, segundo F. Heiler, a oração é a expressão imediata de experiências profundas que possuem origem no sentimento de necessidade, de gratidão. É o livre derramar-se de um devoto, que no diálogo com um Outro, mais ou menos Absoluto, extravasa suas angústias, confessa seus pecados, confia os próprios desejos, dá prova de sua dedicação ou de sua gratidão.
As pesquisas da psicologia religiosa sobre o fenômeno da oração mostram que a atividade de orar é o ato de toda a pessoa humana que se dirige a um Absoluto. Esta atividade exige entrar em si mesmo, distanciar-se das coisas ordinárias e, ao mesmo tempo, provoca um movimento e uma abertura em direção do Outro, que se expressa num diálogo.[1]
No mundo de hoje, onde o ser humano, estressado pelas múltiplas tarefas e preso a mil problemas, percebe-se sozinho, experimentando a falta de comunicação. Então ele ou ela pode preencher sua solidão pela oração e dialogar com Deus, a quem vê como um Amigo.
Pela oração, Deus volta a ser a resposta das interrogações existenciais, o significado para compreender nossa própria existência, para nos descobrirmos como seres espirituais.
Neste contexto de nova religiosidade, a oração se torna o meio da união, a resposta dialógica, o ponto de encontro, o momento silencioso.
A resposta do Carmelo
“Diante desta necessidade e da crescente sede de oração e de contemplação, nós carmelitas não podemos permanecer indiferentes. Recebemos um desafio. Devemos aceitá-lo, viver a nossa razão de ser, permitindo que Deus seja Deus na nossa vida e despertando a sensibilidade nos outros para que descubram a Sua presença na própria vida, destruindo os ídolos de uma falsa religiosidade e os efeitos negativos de um mundo secularizado. Isso exige uma inserção que se torna, por sua vez, em fonte de contemplação, como de fato aconteceu na história da salvação realizada por Cristo”.[2]
Na Regra Carmelitana a atualidade da oração se baseia no cristocentrismo, que está bem sintetizado no “viver em obséquio de Jesus Cristo”.
Este empenho de orientar nossa vida para Cristo através da fé, destrói todo obstáculo que se levanta contra nossa dependência d’Ele.
O Cristo, “Senhor do lugar”, centraliza todos os outros momentos da jornada. O ponto alto dessa centralidade é o “oratório”. Todos os dias, os irmãos se dirigem a ele para fazer memória do mistério pascal, fonte e forma da obediência a Cristo e da comunhão fraterna. Os eremitas interpretam espiritualmente a responsabilidade histórica do serviço ao Senhor.
O ideal contemplativo da Ordem está bem descrito num código fundamental, o livro “Liber de Instituitione primorum monachorum”. “Esta vida de perfeição religiosa encerra duas grandes metas. Uma, que nós podemos atingir através do nosso esforço e no exercício das virtudes, com a ajuda da graça divina. Esta meta consiste em oferecer a Deus um coração santo e puro de toda mancha de pecado. A outra, concedida por pura gratuidade de Deus, consiste em saborear, não apenas depois de nossa morte, mas já nesta vida mortal, o afeto do amor e o gozo da luz do entendimento, algo sobrenatural do poder da presença de Deus”.[3]
Tal ideal foi considerado e vivido segundo o método “objetivo”, assim como era apresentado especialmente pela lectio divina, do qual temos marcas profundas na De Instituitione, na Ignea Saggita de Nicolau Gálico e em outros documentos posteriores.
Maria e Elias
Nossos Pais sempre interpretaram o obséquio a Jesus Cristo em relação à Virgem Maria, sua padroeira, em cujo obséquio querem viver, porque nela encontram o modelo de uma existência plena em Cristo.
“Nós, como Carmelitas, olhamos para Maria para compreender e viver profundamente sua atitude de escuta e resposta à Palavra de Deus, evitando assim identificar a religiosidade com um pietismo alienante ou com um secularismo que se fecha à transcendência. Como Ela, queremos buscar uma familiaridade sempre mais íntima de vida com Deus e construir, desta forma, profundas e vivificantes relações com os outros. Considerar Maria como modelo inspirador de nossa vida significa para nós, em última análise, aproximar-nos ao Cristo e conformar-nos a Ele na tríplice abertura: a Deus, através da escuta e da oração; a nós mesmos, através da encarnação da nossa identidade; e aos outros, através do serviço generoso, especialmente às pessoas humildes e abandonadas”.[4]
Os Carmelitas no século XVII elaboraram uma doutrina mariana para levar uma vida segundo Maria (vida marieforme), isto é, conforme seu beneplácito e seu espírito e atingir a plena união com Deus e com Cristo, realizando assim uma vida deiforme e divina.
Enfim, o obséquio de Cristo foi considerado em relação a Elias. Nossos Pais, que habitavam “junto à fonte”, foram cativados por sua oração e por seus gestos. Vivendo o obséquio a Cristo, tinham presente a figura e a vida do grande profeta, o homem que viveu na presença do Senhor e que conduziu a Ele seu povo. Elias é o homem que falou face a face com Deus.[5]
A Regra Carmelitana
A nova releitura da Regra destaca a comunidade que apoia sua vida sobre a Palavra vivida “die ac nocte”: nossa comunidade, unindo vida de oração e de trabalho, contempla dia e noite o rosto de Deus.
Os Carmelitas promovem a Palavra e a Oração comunitariamente. Pelo fato de estarem reunidos em nome do Senhor, experimentam juntos a sua presença no meio deles.
Buscamos a Deus e aprofundamos sua presença por meio da palavra divina, que é lida comunitariamente, especialmente na liturgia, e "partilhada" na reflexão comunitária.
As reuniões comunitárias são ocasiões para interpretar juntos os sinais dos tempos e discernir as orientações que Deus quer dar à sua vida e à sua obra.
Partilhando um projeto comunitário de vida, encontramos linhas de apostolado para levar aos seres humanos a salvação de Cristo.
Assim, a oração não permanece desencarnada e fora da realidade, mas se torna a sua parte final.
A oração autêntica leva à preocupação pelo irmão, porque a verdadeira união com Deus, realizada na oração, o faz perceber Deus como Salvador.[6]
Com nos diz E. Bianchi: “A comunidade chamada, alimentada, edificada pela Palavra, deve se tornar Palavra de Deus feita carne, feita história. Porque assim ela ainda estabelece sua tenda entre os homens. ‘Scripturae faciunt christianos’. Mas a vida dos cristãos deve ser a palavra de Deus feita carne na história, em meio aos homens. A Palavra deve se tornar carne na comunidade, como o Cristo no seio da Virgem Maria”.[7]
Teresa do Menino Jesus nos diz: “Como é grande o poder da oração! É como uma rainha, que tem em cada instante livre acesso junto ao rei e pode obter tudo aquilo que pede”.[8]
[1]ANCILLI E., La Preghiera, dois volumes, Città Nuova 1988, 1°, pg. 15.
Declaramos que a presente pesquisa, na primeira parte, depende muito destes dois volumes que apresentam uma riqueza sobre o desenvolvimento da oração. Algumas vezes tomamos o texto literalmente.
[2] THUIS F. J., Colpiti dal mistero di Dio, Roma 1983, pg. 14
[3] De Institutione primorum monachorum, cap. 2
[4] "Volta às fontes": documento do V Conselho das Províncias, Monte Carmelo 1979, n. 7. Veja Boaga, Como pedras vivas...no Carmelo, Roma 1989, pg. 89-105
[5] Ibidem. nn. 8-10: também Boaga, ob. c. pg. 68-83
[6] THUIS F. J., ob.c. pg. 27-29
[7] BIANCHI E., In principio la parola, pg. 195
[8] S. Teresa do Menino Jesus, Gli Scritti, pg. 317
Quinta-feira, dia 3 de janeiro-2019 -TEMPO DO NATAL- Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus, pelo nascimento do vosso Filho, iniciastes maravilhosamente a redenção do vosso povo. Concedei aos vossos servos e servas uma fé tão firme, que nos deixemos conduzir por ele e cheguemos à glória prometida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 1, 29-34)
29No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30É este de quem eu disse: Depois de mim virá um homem, que me é superior, porque existe antes de mim. 31Eu não o conhecia, mas, se vim batizar em água, é para que ele se torne conhecido em Israel. 32(João havia declarado: Vi o Espírito descer do céu em forma de uma pomba e repousar sobre ele.) 33Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água disse-me: Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo. 34Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.
3) Reflexão - Jo 1, 29-34
* No Evangelho de João história e símbolo se misturam. No texto de hoje, o simbolismo consiste sobretudo em evocações de textos conhecidos do Antigo Testamento que revelam algo a respeito da identidade de Jesus. Nestes poucos versos (João 1,29-34) existem as seguintes expressões com densidade simbólica: 1) Cordeiro de Deus; 2) Tirar o pecado do mundo; 3) Existia antes de mim; 4) A descida do Espírito sob a imagem de uma pomba; 5) Filho de Deus.
* 1. Cordeiro de Deus. Este título evocava a memória do êxodo. Na noite da primeira Páscoa, o sangue do Cordeiro Pascal, passado nas portas das casas, tinha sido sinal de libertação para o povo (Ex 12,13-14). Para os primeiros cristãos Jesus é o novo Cordeiro Pascal que liberta o seu povo (1Cor 5,7; 1Pd 1,19; Ap 5,6.9).
* 2. Tirar o pecado do mundo. Evoca a frase tão bonita da profecia de Jeremias: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmãos dizendo: “Procure conhecer a Javé” Por que todos, grandes e pequenos, me conhecerão, pois eu perdôo suas culpas e esqueço seus erros” (Jer 31,34).
* 3. Existia antes de mim. Evoca vários textos dos livros sapienciais, nos quais se fala da Sabedoria de Deus que existia antes de todas as outras criaturas e que estava junto de Deus como mestre-de-obras na criação do universo e que, por fim, foi morar no meio do povo de Deus (Prov 8,22-31; Eclo 24,1-11).
* 4. Descida do espírito como imagem de uma pomba. Evoca a ação criadora onde se diz que “o espírito de Deus pairava sobre as águas “ (Gn 1,2). O texto de Gênesis sugere a imagem de um pássaro que fica esvoaçando em cima do ninho. Imagem da nova criação em andamento através da ação de Jesus.
* 5. Filho de Deus: é o título que resume todos os outros. O melhor comentário deste título é a explicação do próprio Jesus: “As autoridades dos judeus responderam: "Não queremos te apedrejar por causa de boas obras, e sim por causa de uma blasfêmia: tu és apenas um homem, e te fazes passar por Deus." Jesus disse: "Por acaso, não é na Lei de vocês que está escrito: 'Eu disse: vocês são deuses'? Ninguém pode anular a Escritura. Ora, a Lei chama de deuses as pessoas para as quais a palavra de Deus foi dirigida. O Pai me consagrou e me enviou ao mundo. Por que vocês me acusam de blasfêmia, se eu digo que sou Filho de Deus? Se não faço as obras do meu Pai, vocês não precisam acreditar em mim. Mas se eu as faço, mesmo que vocês não queiram acreditar em mim, acreditem pelo menos em minhas obras. Assim vocês conhecerão, de uma vez por todas, que o Pai está presente em mim, e eu no Pai." (Jo 10,33-39)
4) Para um confronto pessoal
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele operou maravilhas. Sua mão e seu santo braço lhe deram a vitória. (Sal 97, 1)
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