Quarta-feira, 15 de janeiro-2025. 1ª Semana do Tempo Comum. Ano Litúrgico-C. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 1, 29-39)
Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. 31E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los.
32À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. 33A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era.
35De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37Quando o encontraram, disseram: "Todos estão te procurando". 38Jesus respondeu: "Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim". 39E andava por toda a Galiléia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Jesus restaura a vida para o serviço. Depois de participar da celebração do sábado na sinagoga, Jesus entrou na casa de Pedro e curou a sogra dele. A cura fez com ela se colocasse de pé e, com a saúde e a dignidade recuperadas, começasse a servir as pessoas. Jesus não só cura a pessoa, mas cura para que a pessoa se coloque a serviço da vida.
Jesus acolhe os marginalizados. Ao cair da tarde, terminado o sábado na hora do aparecimento da primeira estrela no céu, Jesus acolhe e cura os doentes e os possessos que o povo tinha trazido. Os doentes e possessos eram as pessoas mais marginalizadas naquela época. Elas não tinham a quem recorrer. Ficavam entregues à caridade pública. Além disso, a religião as considerava impuras. Elas não podiam participar na comunidade. Era como se Deus as rejeitasse e as excluísse. Jesus as acolhe. Assim, aparece em que consiste a Boa Nova de Deus e o que ela quer atingir na vida da gente: acolher os marginalizados e os excluídos, e reintegrá-los na convivência da comunidade.
Permanecer unido ao Pai pela oração. Jesus aparece rezando. Ele faz um esforço muito grande para ter o tempo e o ambiente apropriado para rezar. Levantou mais cedo que os outros e foi para um lugar deserto, para poder estar a sós com Deus. Muitas vezes, os evangelhos nos falam da oração de Jesus no silêncio (Mt 14,22-23; Mc 1,35; Lc 5,15-16; 3,21-22). É através da oração que ele mantém viva em si a consciência da sua missão.
Manter viva a consciência da missão e não se fechar no resultado já obtido. Jesus se tornou conhecido. Todos iam atrás dele. Esta publicidade agradou aos discípulos. Eles vão em busca de Jesus para levá-lo de volta junto do povo que o procurava, e lhe dizem: Todos te procuram. Pensavam que Jesus fosse atender ao convite. Engano deles! Jesus não atendeu e disse: Vamos para outros lugares. Foi para isto que eu vim! Eles devem ter estranhado! Jesus não era como eles o imaginavam. Jesus tem uma consciência muito clara da sua missão e quer transmiti-la aos discípulos. Não quer que eles se fechem no resultado já obtido. Não devem olhar para trás. Como Jesus, devem manter bem viva a consciência da sua missão. É a missão recebida do Pai que deve orientá-los na tomada das decisões.
Foi para isto que eu vim! Este foi o primeiro mal-entendido entre Jesus e os discípulos. Por ora, é apenas uma pequena divergência. Mais adiante no evangelho de Marcos, este mal-entendido, apesar das muitas advertências de Jesus, vai crescer e chegar a uma quase ruptura entre Jesus e os discípulos (cf. Mc 8,14-21.32-33; 9,32;14,27). Hoje também existem mal-entendidos sobre o rumo do anúncio da Boa Nova. Marcos ajuda a prestar atenção nas divergências, para não permitir que elas cresçam até à ruptura.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus não veio para ser servido mas para servir. A sogra de Pedro começou a servir. E eu, faço da minha vida um serviço a Deus e aos irmãos e às irmãs?
2) Jesus mantinha a consciência da sua missão através da oração. E a minha oração?
5) Oração final
Povos todos, louvai o SENHOR, nações todas, dai-lhe glória; porque forte é seu amor para conosco e a fidelidade do SENHOR dura para sempre. (Sl 116)
'Deus existe. Deus existe no cérebro', diz neuropsicólogo e pesquisador.
- Detalhes
Jordan Grafman firmou parceria com a Ciência Pioneira, instituição do IDOR de apoio a pesquisas inovadoras, para criação de um centro virtual de pesquisas em 'neurociência das crenças', com pesquisadores brasileiros e estrangeiros
Cérebro humano — Foto: Freepik
Por Constança Tatsch
— São Paulo
Em julho passado, o neuropsicólogo e professor da faculdade de medicina da Northwestern University, nos Estados Unidos, Jordan Grafman publicou um artigo na revista Nature com o título: "Os neurocientistas não devem ter medo de estudar religião". Grafman sabe e não teme dizer: ele cutuca um vespeiro.
Segundo ele, “neurocientistas tendem a evitar estudos sobre religião ou espiritualidade por medo de serem vistos como não-científicos” e defendeu mais pesquisas sobre o tema. O objetivo não é desmascarar ou promover Deus ou a espiritualidade, mas investigar como isso se dá no cérebro e seus efeitos.
O professor está fazendo sua parte. Acabou de firmar uma parceria com a Ciência Pioneira, instituição do IDOR de apoio à ciência de fronteira/pesquisas inovadoras, para criarem juntos um centro virtual de pesquisas em "neurociência das crenças", com pesquisadores brasileiros e estrangeiros. O centro será uma parceria com o King’s College London e o Shirley Ryan AbilityLab. Grafman, especificamente, vai coordenar pesquisadores pós-docs sobre temas como cognição religiosa, bases cerebrais das crenças religiosas, papel da neurociência na exploração das crenças religiosas – em contraste com crenças não-religiosas – entre outros temas.
Em entrevista ao GLOBO, explicou sua busca científica e declarou: “Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro”. Leia a seguir os melhores trechos:
Escolhemos acreditar em algo ou a fé é algo irracional?
Aprendemos a acreditar. Muitas pessoas ao redor do mundo estão em famílias onde uma crença existia antes de nascerem, assim as crianças são expostas a crenças semelhantes em casa ou em diferentes locais de culto. Então, trata-se de absorver o mundo que está ao seu redor. Você adapta ou adota essas crenças por uma variedade de razões. Mas, sim, às vezes as pessoas realmente escolhem seu sistema de crenças. Elas analisam ou têm uma experiência emocional dramática e dizem: vou acreditar dessa forma por causa da experiência que tive.
Mesmo quem vem de uma família ateia, por exemplo, pode optar por acreditar?
Não acreditar em Deus também é uma crença. Mas certamente é possível escolher suas crenças ou ser influenciado através da sua exposição. Algumas pessoas estão procurando um sistema de crenças que elas possam adotar em parte porque é reconfortante, reduz a ansiedade. Uma vez que você foi exposto à ideia de Deus ou religião, adivinhe onde está? No seu cérebro. Então, até mesmo ateus têm uma representação de Deus em seus cérebros. Não podem escapar Dele. Por causa disso, isso pode soar radical, mas eu digo: Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro. Então podemos estudar Deus com segurança e em grande quantidade de detalhes estudando como o cérebro processa, representa e permite nossos comportamentos associados à religião.
Nosso cérebro é projetado para a crença?
Sim, com certeza. O que nós tentamos fazer, como humanos, ou qualquer espécie, é tentar explicar os eventos que estamos vendo. Nos tempos muito antigos, quando um vulcão entrava em erupção ou um terremoto ocorria, por exemplo, questionavam: o que causou isso? Quem causou isso? Bem, é mais poderoso do que nós, como humanos. Deve ser outro ser de algum tipo. Então, muitas das primeiras explicações de eventos naturais eram agentes sobrenaturais. Esse foi o começo. Mas depois evoluiu para uma questão social. Crenças frequentemente ajudam a organizar sociedades. Se você tem um grupo de pessoas que acreditam na mesma coisa, você se junta a elas, seja uma família, uma tribo, uma vila, uma cidade, ou um país. Se você acreditasse de uma certa maneira, poderia pensar que seu grupo é forte e, se houvesse uma batalha, poderia vencê-la. Se houvesse uma crença ligada à agricultura, creditaria a ela os frutos de seu trabalho. Isso é parte da evolução humana. A busca por explicações das coisas ao nosso redor nos deu alguma vantagem sobre outras espécies. Nós podíamos pensar sobre essas coisas, e isso nos tornou mais potentes. As religiões antigas claramente tinham esse papel nas sociedades.
Essas crenças costumam ser questionadas?
Uma vez que você se estabelece em uma crença, não precisa se preocupar com certas coisas. É uma crença estabelecida. No entanto, se você não acredita em muita coisa, ou não acredita em nada, sua vida pode ser movida pela ansiedade. E quase todo mundo quer reduzir a ansiedade. Nosso cérebro acha muito importante ter essas crenças. Elas são uma assinatura. Então, se eu quiser conhecer alguém, quero saber o que essa pessoa pensa e acredita. O que você pensa sobre o que está acontecendo na política do Brasil? Ou que música você gosta? Ou o que for. Então as crenças são uma assinatura para nossas identidades como indivíduos, e também como grupos.
Muitas questões que só tinham respostas em crenças, a ciência explicou. É mais difícil hoje acreditar em coisas sobrenaturais, já que temos a ciência explicando as coisas o tempo todo?
Sabemos muito mais, mas não sabemos tudo. Sim, eu acho que, para muitas pessoas, elas têm, por um lado, sua fé. E do outro lado, a ciência e os fatos. Fatos verdadeiros são muito importantes, mas eles não cobrem tudo, não podem explicar tudo. Se a sociedade fizer o trabalho certo, espero que façamos no futuro, então, enquanto tivermos fatos, podemos dizer que sabemos disso. E não sabemos daquilo. E então, se for esse o caso, ainda há espaço para a fé. Por exemplo, não sabemos o que acontece antes da vida. E, em certo sentido, ninguém sabe o que acontece depois.
Como a fé age no cérebro?
Sabemos sobre sonhos no cérebro. Sabemos sobre emoções no cérebro. Então podemos desenvolver conhecimento sobre redes cerebrais relacionadas a diferentes aspectos da crença e prática religiosa. Esse é o primeiro passo. É mapear a religião no cérebro. O segundo passo é ver a que essas redes estão relacionadas além da religião.
Como assim?
Fizemos pesquisas sobre fundamentalismo. Crenças e regiões no cérebro que são importantes para o fundamentalismo. Podemos fazer a mesma coisa com o fundamentalismo político, com o conservadorismo político. Talvez essas redes estejam próximas no espaço do cérebro. Se for assim, sabemos que ativação em uma rede cerebral pode afetar o funcionamento da rede vizinha. Então, se você for ativo em suas crenças religiosas, isso pode influenciar de uma forma muito sutil suas crenças política e vice-versa. E isso nem sempre está na sua consciência. Já sabemos que existe uma relação. Queremos mapear essas redes no cérebro para que possamos ver como elas se relacionam entre si.
Por que os cientistas ainda hoje evitam estudar espiritualidade?
A ciência não quer falar sobre isso. Em parte, é um dilema social. Muitos acadêmicos, não todos, mas muitos, não acreditam em Deus. E eles podem ridicularizar você se quiser fazer uma pesquisa sobre o assunto. Mesmo que você não acredite em Deus, mas queira fazer uma pesquisa sobre isso. Eles não sabem realmente por que você está fazendo essa pesquisa. Então acontece que muitas pessoas que são cientistas e são religiosas, se afastam disso. Os periódicos não querem publicar artigos sobre o assunto. Eles hesitam.
Por quê?
Bem, novamente, há algumas dinâmicas sociais envolvidas que indicam que eles simplesmente não querem nenhuma controvérsia. Há esse preconceito social. Agora, lembre-se, há mais locais de culto no mundo do que escolas ou prefeituras. Não estamos falando de um pequeno subconjunto de pessoas que vivem em algum lugar perdido. Realmente acho que há esse preconceito social, e não deveria haver, especialmente por causa da importância da religião na sociedade. Há todo um ramo dentro da neurociência chamado neurociência social. E o número de artigos sobre religião dentro da neurociência social é minúsculo. Acho que as pessoas têm medo, preocupadas com suas carreiras acadêmicas, etc. Então temos tentado encorajar as pessoas a fazer essas pesquisas.
Não se trata de estudar a religião, mas sim seus efeitos nos cérebros e vidas das pessoas.
Estamos realmente focando nos aspectos intelectuais da religião. Ou seja, como você descreve ou lê sobre religião? Estamos interessados em entender as emoções que podem fazer da religião um sistema de crenças distinto. E pode haver uma relação entre emoção, política e religião, por exemplo, por causa da natureza de suas representações no cérebro. Podemos descobrir tudo isso estudando o cérebro. Agora, também há outras facetas interessantes. Muitas vezes as pessoas rezam porque acreditam que a oração as ajudará a se curar se tiverem uma doença, ou elas também rezam pelos outros. E muitas relatam melhora. Agora, isso dura muito tempo? Elas são curadas? Bem, depende do problema, certo? Há lugares que as pessoas visitam, onde vão com uma doença, andam longas distâncias ou viajam grandes distâncias para se banhar nas águas e rezar e tentar obter uma cura. Muitas religiões têm esse aspecto onde você vai a um lugar onde presumivelmente um milagre ocorreu. Então, novamente, goste ou não, essa é uma atividade da qual bilhões de pessoas participam — ou de uma forma pequena, apenas rezando em seus quartos, ou de uma forma maior, viajando para esses lugares. Então, é realmente motivador para as pessoas irem lá, e estamos interessados nesse tipo de trabalho também.
Há estudos que apontam que a espiritualidade é boa para a saúde e bem-estar, mas como isso funciona?
De muitas maneiras. Alta ansiedade leva ao estresse. Um pouco de estresse, não é tão ruim. Muito estresse, não é bom, mata células e neurônios no cérebro. Então, se você consegue administrar isso, não importa como faça, é bom. Mas nem precisamos chegar a isso. Basta considerar a palavra placebo. Se você acredita que o que está tomando vai funcionar, geralmente funciona. É por isso que você dá medicamentos placebo, para mostrar se há um efeito real de um medicamento ou não. Esse é um exemplo perfeito de quão frequentemente, como eu não sei, cerca de 30% das pessoas se beneficiam do placebo. Como isso acontece? Bem, esse é o poder da crença no cérebro, ajudando a estimular, por exemplo, mecanismos anti-inflamatórios, ou ativando outros processos cerebrais que ajudam a controlar a ansiedade, reduzir o estresse, etc. Essa é uma maneira pela qual a fé e a crença podem afetar a saúde. Agora, se nenhum de nós acreditasse, se a ideia de Deus desaparecesse, e não houvesse mais religião, a fé fosse reduzida, eu me pergunto o que isso faria com a nossa saúde.
Pode falar mais sobre esse centro de estudos no Rio?
É muito complicado estudar essas coisas no mundo. Há muitas disputas sobre o que é Deus. Deus existe, por exemplo? Outras formas de agentes sobrenaturais existem? Então escolhemos, com a ajuda do Centro de Neurociência e Psicologia de Valores e Crenças, o programa IDOR que agora foi estabelecido, olhar para o cérebro. Isso elimina muitos dos problemas que vêm com o estudo da religião no mundo. E a iniciativa que é feita no Rio é muito, muito única e importante, e o impacto vai além do Brasil. É internacional. E também está além da religião. Porque, como falamos antes, crenças incluem crenças políticas, podem incluir crenças econômicas, sobre outras pessoas. Crenças nos dão esse repertório. É muito importante. Fonte: https://oglobo.globo.com
Teça-feira, 14 de janeiro-2025. 1ª Semana do Tempo Comum. Ano Litúrgico-C. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 1, 21-28)
21Estando com seus discípulos em Cafarnaum, Jesus, num dia de sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei.
23Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24"Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus". 25Jesus o intimou: "Cala-te e sai dele"!26Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: "Que é isso? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!" 28E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a região da Galiléia.
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
A sequência dos evangelhos dos dias desta semana. O evangelho de ontem informava sobre a primeira atividade de Jesus: chamou quatro pessoas para formar comunidade com ele (Mc 1,16-20). O evangelho hoje descreve a admiração do povo diante do ensinamento de Jesus (Mt 1,21-22) e o primeiro milagre expulsando um demônio (Mt 1,23-28). O evangelho de amanhã narra a cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31), a cura de muitos doentes (Mc 1,32-34) e a oração de Jesus num lugar isolado (Mc 1.35-39). Marcos recolheu estes episódios, que eram transmitidos oralmente nas comunidades, e os uniu entre si como tijolos numa parede. Nos anos 70, ano em que ele escreve, as Comunidades necessitavam de orientação. Descrevendo como foi o início da atividade de Jesus, Marcos indicava como elas deviam fazer para anunciar a Boa Nova. Marcos faz catequese contando para as comunidades os acontecimentos da vida de Jesus.
Jesus ensina com autoridade, diferente dos escribas. A primeira coisa que o povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar, que impressiona. Por este seu jeito diferente, Jesus cria consciência crítica no povo com relação às autoridades religiosas da época. O povo percebe, compara e diz: Ele ensina com autoridade, diferente dos escribas. Os escribas da época ensinavam citando autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua experiência de Deus e da vida. Sua palavra tem raiz no coração.
Vieste para nos destruir! Em Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um demônio. Jesus combate e expulsa o poder do mal que tomava conta das pessoas e as alienava de si mesmas. O possesso gritava: “Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” O homem repetia o ensinamento oficial que apresentava o messias como “Santo de Deus”, isto é, como um Sumo Sacerdote, ou como rei, juiz, doutor ou general. Hoje também, muita gente vive alienada de si mesma, enganada pelo poder dos meios de comunicação, da propaganda do comércio. Repete o que ouve dizer. Vive escrava do consumismo, oprimida pelas prestações em dinheiro, ameaçada pelos cobradores. Muitos acham que sua vida ainda não é como deveria ser se eles não puderem comprar aquilo que a propaganda anuncia e recomenda.
Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!” O espírito sacudiu o homem, deu um grande grito e saiu dele. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a consciência e a liberdade. Faz a pessoa recuperar o seu perfeito juízo (cf. Mc 5,15). Não é nem era fácil, nem ontem, nem hoje, fazer com que a pessoa comece a pensar e atuar diferentemente da ideologia oficial.
Ensinamento novo! Ele manda até nos espíritos impuros. Os dois primeiros sinais da Boa Nova que o povo percebe em Jesus, são estes: o seu jeito diferente de ensinar as coisas de Deus, e o seu poder sobre os espíritos impuros. Jesus abre um novo caminho para o povo conseguir a pureza. Naquele tempo, uma pessoa declarada impura já não podia comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida por Deus a Abraão. Ela teria que purificar-se primeiro. Esta e muitas outras leis e normas dificultavam a vida do povo e marginalizavam muita gente como impura, longe de Deus. Agora, purificadas pelo contato com Jesus, as pessoas impuras podiam comparecer novamente na presença de Deus. Era uma grande Boa Notícia para eles!
4) Para um confronto pessoal
1) Será que posso dizer: “Eu sou plenamente livre, senhor de mim mesmo”? Se não o posso dizer de mim mesmo, então algo em mim é possesso por outros poderes. Como faço para expulsar este poder estranho?
2) Hoje muita gente não vive, mas é vivido. Não pensa, mas é pensado pelos meios de comunicação. Já não tem pensamento crítico. Já não é dono de si mesmo. Como expulsar este “demônio”?
5) Oração final
Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso teu nome em toda a terra! Sobre os céus se eleva a tua majestade! Que coisa é o homem, para dele te lembrares, que é o ser humano, para o visitares? (Sl 8, 2.5)
Segunda-feira, 13 de janeiro-2025. 1ª Semana do Tempo Comum-Ano Litúrgico / C. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 1, 14-20)
14Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15"O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos, e crede no Evangelho!" 16E, passando à beira do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17Jesus lhes disse: "Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens". 18E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. 19Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.
3) Reflexão
Depois que João foi preso, Jesus voltou para a Galiléia proclamando a Boa Nova de Deus. João foi preso pelo rei Herodes por ter denunciado o comportamento imoral do rei (Lc 3,18-20). A prisão de João Batista não assustou a Jesus! Pelo contrário! Ele viu nela um sinal da chegada do Reino. E hoje, será que sabemos ler os fatos da política e da violência urbana para anunciar a Boa Nova de Deus?
Jesus proclamava a Boa Nova de Deus. A Boa Nova é de Deus não só porque ela vem de Deus, mas também e sobretudo porque Deus é o seu conteúdo. Deus, Ele mesmo, é a maior Boa Notícia para a vida humana. Ele responde à aspiração mais profunda do nosso coração. Em Jesus aparece o que acontece quando um ser humano deixar Deus entrar e reinar. Esta Boa Notícia do Reino de Deus anunciada por Jesus tem quatro aspectos:
- Esgotou-se o prazo! Para os outros judeus o prazo ainda não tinha se esgotado. Faltava muito para o Reino poder chegar. Para os fariseus, por exemplo, o Reino só poderia chegar quando a observância da Lei fosse perfeita. Jesus tem outra maneira de ler os fatos. Ele diz que o prazo já se esgotou.
- O Reino de Deus chegou! Para os fariseus a chegada do Reino dependia do esforço deles. Só chegaria, depois que eles tivessem observado toda a lei. Jesus diz o contrário: “O Reino chegou!” Já estava aí! Independente do esforço feito! Quando Jesus diz “O Reino chegou!”, ele não quer dizer que o Reino estava chegando só naquele momento, mas sim que já estava aí. Aquilo que todos esperavam, já estava presente na vida deles, e eles não o sabiam, nem o percebiam (cf. Lc 17,21). Jesus o percebeu! Pois ele lia a realidade com um olhar diferente. E é esta presença escondida do Reino no meio do povo, que Jesus vai revelar aos pobres da sua terra. É esta a semente do Reino que vai receber a chuva da sua palavra e o calor do seu amor.
- Convertei-vos! O sentido exato é mudar o modo de pensar e de viver. Para poder perceber a presença do Reino na vida, a pessoa terá que começar a pensar e viver de maneira diferente. Terá que mudar de vida e encontrar outra forma de convivência! Terá que deixar de lado o legalismo do ensino dos fariseus e permitir que a nova experiência de Deus invada sua vida e lhe dê olhos novos para ler e entender os fatos.
- Acreditem nesta Boa Notícia! Não era fácil aceitar esta mensagem. Não é fácil você começar a pensar diferentemente de tudo que aprendeu, desde pequeno. Isto só é possível através de um ato de fé. Quando alguém vem trazer uma notícia diferente, difícil de ser aceita, você só a aceitará se a pessoa que traz a notícia for de confiança. Aí, você dirá aos outros: “Pode aceitar! Eu conheço a pessoa! Ela não engana. É de confiança!”. Jesus é de confiança!
O primeiro objetivo do anúncio da Boa Nova é formar comunidade. Jesus passa, olha e chama. Os primeiros quatro chamados, Simão, André, João e Tiago, escutam, largam tudo e seguem a Jesus para formar comunidade com ele. Parece amor à primeira vista! Conforme a narração de Marcos, tudo aconteceu logo no primeiro encontro com Jesus. Comparando com os outros evangelhos, a gente percebe que os quatro já conheciam a Jesus (Jo 1,39; Lc 5,1-11). Já tiveram a oportunidade de conviver com ele, de vê-lo ajudar o povo e de escutá-lo na sinagoga. Sabiam como ele vivia e o que pensava. O chamado não foi coisa de um só momento, mas sim de repetidos chamados e convites, de avanços e recuos. O chamado começa e recomeça sempre de novo! Na prática, coincide com a convivência dos três anos com Jesus, desde o batismo até o momento em que Jesus foi levado ao céu (At 1,21-22). Então, por que Marcos o apresenta como um fato repentino de amor à primeira vista? Marcos pensa no ideal: o encontro com Jesus deve provocar uma mudança radical na nossa vida!
4) Para um confronto pessoal
1) Um fato político, a prisão de João, levou Jesus a iniciar o anúncio da Boa Nova de Deus. Hoje, os fatos da política e da polícia influem no anúncio que fazemos da Boa Nova ao povo?
2) “Convertei-vos! Acreditem nesta Boa Notícia!” Como isto está acontecendo na minha vida?
5) Oração final
Tu, Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra, tu és excelso acima de todos os deuses. (Sl 96, 9)
Papa convida a festejarmos a data do Batismo como um novo aniversário
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No Angelus na Festa do Batismo de Jesus, o Papa Francisco voltou a insistir a que que recordemos a data do nosso Batismo, pois é a data em que nascemos no Espírito de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
A festa do Batismo de Jesus, que hoje celebramos, nos faz pensar em tantas coisas, também no nosso Batismo. Jesus, que se une ao seu povo para receber o Batismo para o perdão dos pecados.
Gosto de recordar as palavras de um hino da liturgia de hoje: Jesus vai para ser batizado por João “com a alma nua e os pés descalços”. A alma nua e os pés descalços.
E quando Jesus recebe o batismo se revela o Espírito: «Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer». O rosto e a voz.
Primeiro de tudo, o rosto. Ao revelar-se Pai por meio do Filho, Deus estabelece um lugar privilegiado para entrar em diálogo e comunhão com a humanidade. É o rosto do Filho amado.
Em segundo lugar, a voz. Rosto e voz: «Tu és o meu Filho amado». Este é um outro sinal que acompanha a revelação de Jesus.
Queridos irmãos e irmãs, a festa de hoje nos faz contemplar o rosto e a voz de Deus, que se manifestam na humanidade de Jesus. E então, perguntemo-nos: nos sentimos amados? Eu me sinto amado e acompanhado por Deus ou penso que Ele esteja distante de mim? Somos capazes de reconhecer o seu rosto em Jesus e nos nossos irmãos? E somos habituados a ouvir a voz?
E eu vos faço uma pergunta: cada um de nós se lembra da data do seu Batismo? Isso é muito importante! Pense: em que dia fui batizado ou batizada? E se não me lembro, ao chegar em casa, perguntemos aos pais e padrinhos a data do Batismo. E festejar a data como um novo aniversário: a do nascimento precisamente no Espírito de Deus. Não se esqueçam! Esta é uma tarefa de casa: a data do meu Batismo. Fonte: https://www.vaticannews.va
Batismo do Senhor e o final do tempo litúrgico do Natal
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“Tu és meu Filho amado”
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
O Tempo do Natal fez-nos contemplar o Menino Jesus nascido na gruta de Belém. Olhamos para a Sagrada Família, modelo para as famílias cristãs, na qual Jesus cresceu, se desenvolveu, trabalhou. No dia primeiro de janeiro celebramos Maria Mãe de Deus e hoje, com Festa do Batismo do Senhor, encerramos este tempo litúrgico (Isaías 42,1-7, Salmo 28, Atos dos Apóstolos 10,34-38 e Lucas 3, 15-16.21-22).
João Batista, o precursor de Jesus, aponta para presença do Messias. Não deixa o povo imaginar que seja ele, pois o que virá é “mais forte do que eu”, do qual “não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias”, “eu batizo com água”, mas Ele “vos batizará no Espírito Santo e no fogo”.
Mesmo assim, “quando todo povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”. As palavras de João Batista e a voz vinda do céu revelam a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Depois de batizado, Jesus reza dirigindo-se ao Pai. O Céu de abre e desce o Espírito Santo.
O Festa do Batismo de Jesus é um convite para rezarmos e refletirmos sobre o Sacramento do Batismo. O batismo marca o início da missão de Jesus, momento em que recebe o reconhecimento público e oficial da sua identidade. Assim também, para os cristãos o batismo é um início, uma mudança profunda na vida e um novo caminho que se abre.
Jesus, após ser batizado, reza. Entra em contato com o Pai e o céu abre-se sobre Ele. No Sacramento do Batismo abre-se o céu ao batizando e ouve-se a mesma voz dirigida a Jesus: “Tu és meu Filho amado”. O batismo é adoção na família de Deus, na comunhão com a Santíssima Trindade, na comunhão do Pai, com o Filho e o Espírito Santo. Por isso, o batismo é administrado em nome da Santíssima Trindade. Os batizados renascem como filhos de Deus. Já são filhos de pais humanos, agora passam a ser também filhos de Deus.
Por que usamos a água no batismo? A água é o elemento da fecundidade. Sem água não há vida. No começo do cristianismo, a água tornou-se o símbolo do seio materno da Igreja. Assim como a criança, antes de nascer, estava envolta em substância líquida, agora ela entra no ventre da Igreja. Tertuliano afirma que “Cristo nunca existe sem água”. Com isto ele disse que Cristo jamais existe sem a Igreja e a vida do cristão existe e de concretiza na Igreja. O batizado faz parte desta nova família indicando que ser batizado não é apenas uma questão espiritual, individual, subjetiva, mas que é algo concreto, envolvendo outras pessoas. Enquanto filhos de Deus e inseridos na Igreja, podemos recitar o “Pai-nosso”. Rezamos usando nós.
João Batista fala do batismo “no Espírito Santo e no fogo”. Ensina que o batismo não é um gesto ou um desejo humano para orientar-nos para Deus com as próprias forças. No batismo é Deus que vem ao nosso encontro. É o próprio Deus que age. É Jesus que age através do Espírito Santo. É Deus que assume e torna os batizados seus filhos.
Deus não age de modo mágico e contra a liberdade humana. Ele interpela a liberdade e convida a cooperar com o fogo do Espírito Santo. São dois aspectos que caminham juntos no batismo. Ele sempre será um dom de Deus que nos fez seus filhos adotivos e membros da Igreja. Mas, sempre solicitará a nossa cooperação, a disponibilidade da nossa liberdade para dizer “sim” que tornará a graça divina uma ação sempre eficaz. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Homens gays podem ser padres desde que não transem, diz Vaticano
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Conferência dos Bispos da Itália revoga proibição de 2016 que barrava homens com 'tendências homossexuais'
São Paulo
O Vaticano publicou hoje novas orientações para seminários que permitem que homens gays se tornem padres —desde que sejam celibatários. O documento, elaborado pela CEI (Conferência Episcopal Italiana), recua de uma instrução de 2016 que barrava seminaristas que tivessem "tendências homossexuais profundas".
O movimento da CEI é mais um aceno do papado de Francisco à população LGBTQIA+, junto a falas tidas como acolhedoras do pontífice e decisões como a que permitiu que padres abençoem casais do mesmo sexo e pessoas em seu segundo casamento. Essa medida, entretanto, não reconheceu o casamento gay na Igreja Católica.
As novas orientações foram publicadas sem alarde no site da CEI nesta quinta-feira (9). Segundo o documento, diretores de seminários devem levar em consideração a orientação sexual de um seminarista, mas apenas como um aspecto de vários.
"Ao lidar com tendências homossexuais no processo de formação, é adequado que a avaliação não se reduza apenas a este aspecto, mas sim busque entender seu significado em toda a estrutura da personalidade do jovem", afirma o texto.
Segundo o Vaticano, as novas orientações foram aprovadas em novembro e são válidas imediatamente, podendo ser reavaliadas depois de um período de três anos.
Apesar da postura mais aberta em relação a pessoas LGBT na Igreja, Francisco se envolveu em uma polêmica em maio do ano passado quando uma fala sua sobre gays em seminários vazou na imprensa italiana —o papa teria dito que os seminários já estão "cheios de viadagem".
Segundo os relatos de bispos próximos ao papa, Francisco também teria se posicionado contra a possibilidade que homens gays se tornassem padres —posição agora revista pela Igreja.
Em janeiro de 2023, Francisco disse ainda que a homossexualidade não é crime, mas é pecado, em uma entrevista à agência Associated Press em que pedia o fim de leis pelo mundo que criminalizam a orientação sexual.
"Ser homossexual não é crime", disse. "Não é crime. Sim, mas é um pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir um pecado de um crime. Também é pecado não ter caridade com o próximo."
Na entrevista, Francisco reconheceu que lideranças católicas em algumas partes do mundo ainda apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQIA+. "Esses bispos precisam ter um processo de conversão", afirmou o pontífice, acrescentando que tais lideranças devem agir com ternura —"por favor, como Deus tem por cada um de nós". Fonte: www1.folha.uol.com.br
Jesus foi batizado, será que eu deveria ser?, questionou-se ex-espírita convertido católico
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O analista de dados Arthur Rezende, 24, conta sobre sua migração do espiritismo para o catolicismo
Arthur Rezende, que decidiu se converter católico depois da pandemia - Karime Xavier/Folhapress
São Paulo
O analista de dados Arthur Rezende, 24, converteu-se ao catolicismo após querer entender melhor o que tinha a dizer "uma instituição de 2.000 anos, sólida". Ele conta sobre essa jornada em depoimento à Folha.
Meus pais são espíritas, mas eu era espírita não só porque eles eram. Estudava os livros básicos da doutrina, o do Allan Kardec. Desde pequeno frequentava o centro, já participei de reuniões mediúnicas.
No Brasil tem vários tipos de espírita, como os ex-católicos que se converteram ao espiritismo e renegam tudo o que tem a ver com a Igreja Católica. E tem as pessoas que se convertem às duas coisas, né? São católicos, são espíritas, tem uma certa mistura ali.
A visão que eu sempre tive era de que [as duas religiões] são coisas diferentes e tal. Minha visão era bem a visão do brasileiro médio sobre a Igreja Católica.
Na pandemia, parei de frequentar o centro por razões óbvias. Foi quando comecei a pesquisar mais na internet [sobre catolicismo], mais pelo interesse na religião como um todo.
E aí, nessa época, eu falei: cara, não sou batizado, né? Esse foi um grande clique de conversão para mim.
Eu não era batizado. Jesus foi batizado. Será que eu deveria ser batizado? Será que não? Mas o que é o batismo?
Segundo a Igreja Católica, o batismo é um sacramento. Ah, mas o que é um sacramento? E aí fui estudando e entrando em contato com coisas definitivamente católicas.
Num primeiro momento, [acessei] muito material do padre Paulo Ricardo. Lembro de cair num vídeo dele assim: por que o católico não pode ser espírita?
Acho que a [incompatibilidade] central é a definição de quem é Cristo.
Para o espírita, Jesus é um ser evoluído, que foi criado como todos nós, nasceu simples e ignorante, e foi evoluindo ao longo de milhares de anos. Hoje faz parte dos espíritos iluminados, é como se fosse um guia espiritual da Terra.
Na Igreja Católica, Jesus Cristo é Deus que se fez homem, na trindade Pai, Filho e Espírito Santo.
Na minha concepção, se a gente fosse capaz de compreender Deus, ele não seria Deus. Se a gente conseguisse racionalmente olhar e dizer "ah, Deus é isso". Mas, ao mesmo tempo, existe um caminho racional. Eu fui atrás das duas coisas e comecei a comparar [espiritismo e catolicismo].
Sempre achei importante ter uma religião, né? Eu estava num limbo. Não, acho que não dá mais para ser espírita. E virar católico parecia uma coisa radical.
A fé é de Deus para nós, né? Então, não é dizer "ah, eu virei católico porque eu fui estudar". Mas, para mim, o processo de conversão passou por essa parte racional, vamos dizer assim.
Dava para contar nos dedos as vezes em que eu tinha ido na missa —sei lá, para o batismo de alguma prima. Tive uma ex-namorada que era católica. Eu não conseguia imaginar casar [com ela] justamente pensando nessa diferença de religião.
Antes, para mim a igreja era algo completamente irracional. Eu via as pessoas indo se confessar e achava, "pô, que hipocrisia, ficar fazendo um monte de merda e depois ir lá e se confessar". Tipo, para que serve isso?
Percebi que a ideia que eu tinha, de que era uma historinha que meia dúzia de pessoas inventaram, falava sobre uma instituição de 2.000 anos, sólida. Bom, acho que preciso ser humilde e entender quais são os argumentos de São Tomás de Aquino para essas coisas que a igreja defende, por exemplo.
Estudei os sacramentos: o que é o batismo, o que é o casamento, o que é a confissão —essa percepção de que não é o padre que está ali decidindo se vai perdoar [quem confessa um pecado].
O argumento é que isso que foi instituído por Jesus, dando a autoridade aos seus sucessores, que são os apóstolos, e depois aos sucessores deles, os padres. Quando o padre dá o perdão dos pecados, está agindo "in persona Christi", no lugar de Cristo.
Então, eu estava nesse limbo. Achei que precisava resolver isso. Tem um serviço de assinatura católica muito legal, Minha Biblioteca Católica. Eles mandam um formulário em que perguntam: você é católico? Botei: não. Mas teve um momento em que falei: não dá para voltar pra trás, certo? Sou católico.
O batismo não foi essa experiência mística para mim. Quando vejo outros adultos e crianças sendo batizados, me emociona. Mas no dia lá acho que eu estava meio anestesiado. Foi em 2022.
Me casei em setembro de 2023. Minha esposa é católica. Descobri que ela era meio "católica de IBGE" [não praticante]. Ela ficou mais interessada e se aproximou da igreja mais ou menos nessa época em que eu estava me convertendo.
A liturgia ao redor da missa é belíssima. E eu gosto de música, né? Então, poder ter a oportunidade de estar num coral, com um canto gregoriano, com um órgão, acho belíssimo.
Na minha bolha, a percepção é de que tem mais pessoas se convertendo, tentando deixar de ser um "católico de IBGE" para ser um católico que entende o que é a igreja. Na Catedral da Sé, 300 jovens e adultos receberam o sacramento do Cristo [no último sábado de novembro], a crisma.
Quando a pessoa entende que a igreja não é essa visão estereotipada que a gente vê na escola, não é esse monte de bobagem, ela vai perceber uma riqueza absurda. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
São Sebastião, peregrino de esperança
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Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist., arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
O ano de 2025 surge no horizonte como uma especial oportunidade dada pela providência de reavivar nos corações a chama da esperança. Na noite de Natal, o Papa Francisco abriu na Basílica de São Pedro a Porta Santa, inaugurando o Jubileu do ano santo de 2025, ressaltando que com a vinda do Salvador “a porta da esperança foi escancarada para o mundo” e, a partir de então, “Deus diz a cada um: há esperança também para ti! Há esperança para cada um de nós”.
É dentro desse contexto jubilar que nossa arquidiocese se prepara para celebrar no próximo dia 20 de janeiro a Festa São Sebastião. A vida do padroeiro dos cariocas surge como um verdadeiro testemunho de esperança cristã.
Vivendo num momento de grande adversidade, dado o contexto da perseguição do Império Romano aos cristãos, demonstrou coragem, intrepidez, perseverança e fidelidade à fé. Seu duplo martírio, primeiro pelas flechas, depois com a decapitação, poderia ser visto, na lógica humana, como uma derrota. Os olhos da fé, porém, nos fazem ver adiante.
No primeiro martírio, a esperança surge com um gesto solidário: jogado no rio como se estivesse morto, foi resgatado por Santa Irene, cuidado de suas feridas pela comunidade cristã. No segundo martírio, a esperança é a promessa do encontro com o Senhor mesmo que disse: “Para que onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14, 3).
Também hoje, muitas são as adversidades enfrentadas pelos cristãos. Perseguições, contravalores, ideologias, polarizações e outras atitudes que tentam enfraquecer a fé são postas como barreiras à esperança. Também no âmbito social a desesperança surge com a violência, a pobreza e tantas outras situações que parecem ter a última palavra.
São Sebastião, porém, nos ensina que a vivência das virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade é a resposta efetiva daqueles que encontraram a vida nova trazida por Cristo Jesus.
Desde o início, essa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que em março de 2025 completa seus 460 anos, testemunha que a intercessão de seu padroeiro é um constante sinal de esperança. Já o demonstra a antiga tradição da Batalha das Canoas, onde diante da adversidade da invasão estrangeira, São Sebastião surge do céu para defender o povo carioca.
E em outros momentos, como nos períodos de pestes e enfermidades, tais como a gripe espanhola no início do século XX, ou a pandemia de Covid-19 em 2020, o Rio de Janeiro sabe que tem no céu um especial protetor que roga por essa cidade, tão ferida por muitas flechas, mas com um povo que sabe contornar as dificuldades com alegria, fé e esperança.
O Jubileu de 2025 nos convida a recordar que somos “peregrinos de esperança.” Ao longo da Trezena, São Sebastião peregrina em sua imagem pelas mais diferentes realidades de nossa grande cidade. São paróquias e capelas em bairros de todas as regiões, hospitais, presídios, asilos, centros de socioeducação para menores, escolas, instituições culturais e repartições públicas. Nos lugares visitados pela imagem missionária, as pessoas são convidadas a ver em nosso santo soldado um sinal de que a luta cristã pelo bem não é perdida, mas é vencida pela esperança que, como nos ensina o Apóstolo Paulo, não decepciona (Rm 5, 5).
O nosso pedido a São Sebastião, nesse ano santo jubilar, pode ser resumido naquele trecho de seu hino, que com tanto fervor cantaremos no dia 20: “Grande fé, esperança e fortaleza/ pelos lares cristãos acendei!”.
Rezemos a oração a São Sebastião:
Glorioso mártir São Sebastião, valoroso padroeiro e defensor da cidade do Rio de Janeiro, vós que derramastes vosso sangue e destes a vossa vida em testemunho da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, alcançai-nos do mesmo Senhor, a graça de sermos vencedores do nosso verdadeiro inimigo: o pecado, que nos faz viver sem fé, sem esperança e sem caridade.
Protegei, com a vossa poderosa intercessão, os filhos desta Terra de Santa Cruz.
Livrai-nos de toda epidemia corporal, moral e espiritual.
Fazei que se convertam aqueles que, por querer ou sem querer, são instrumentos de infelicidade para os outros.
E que o justo persevere na sua fé e propague o amor de Deus, até o triunfo final.
São Sebastião, advogado contra as epidemias, a fome e as guerras, rogai por nós sem cessar.
Ó glorioso batalhador da fé, socorrei-nos em nossas fraquezas e necessidades urgentes, rogai por nós junto a Deus. Amém. Fonte: https://arqrio.org.br
A esperança não decepciona
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Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Nossa situação é dramática. Estamos todos os dias submetidos a um “teste de esperança”. Perguntamos diante da situação que vivemos, com a pandemia, a crise de governo, desagregação social, aumento dos famintos, entre tantos males que afligem nosso querido país: se podemos ter esperança?
Alguém diz que há tempo o Brasil não é mais alegre como antes, mesmo em meio às injustiças estruturais que o assola. É certo que neste tempo de pandemia a depressão atinge todo mundo. Chama atenção, porém, ser o Brasil, o segundo da lista de países atingidos por esta tristeza que pode ser mortal, segundo pesquisa da OMS feita no ano passado. Por isso, talvez pese tanto, o distanciamento social que devemos manter neste momento, para evitar o agravamento da pandemia.
Para muitos, o mundo não tem conserto, é caso perdido. Como os antigos gregos acreditam na lei do eterno retorno: o que foi, será, e o que será é o que foi. A humanidade está num atoleiro ou pântano, aprisionada pelo vazio de todas as coisas que, ao fim e ao cabo darão em nada. A conclusão é óbvia: vamos nos divertir e aproveitar a vida antes que acabe. O homem é um “ser para a morte” filosofa o existencialismo ateu.
Para responder à pergunta podemos recorrer à sabedoria humana que nos aconselha a renovar nossas forças através da análise da história (já passamos por coisas piores), da atenção à conjuntura (a semente morre mas nasce algo novo) e das técnicas psicológicas para esconjurar o desânimo (meditação e solidariedade). E então poderemos dizer que sim! Há esperança, pois a esperança é a última que morre, diz o ditado popular.
No entanto para quem crê em Jesus Cristo a esperança não morre nunca e mais ainda; “a esperança não decepciona”(Rm 5,5). Ela é âncora segura em todas as circunstâncias da vida. Devemos esperar contra toda esperança (cf Hb 6,18). Por que? Porque “Jesus Cristo é nossa esperança” (1Tm 1,1). Ele morreu e ressuscitou. A morte o tragou, mas lá de dentro da morte ele “matou” a morte e ela não tem mais poder, não tem a última palavra. A última palavra é do Deus da vida. É isto que comemoramos na Páscoa.
A cruz e o sofrimento são realidades provisórias em nossa vida e na história humana. O calvário é lugar de passagem. O definitivo é a ressurreição, a vida que vence a morte. O pecado e a maldade no mundo fazem muito estrago, muito barulho, mas como um tambor, está vazio. Não tem força para ir até o fim. Será sempre derrotado pelo dinamismo divino da vida, infundida por Deus na Criação redimida por Cristo.
Morrendo na Cruz por amor, Jesus Cristo, o homem Deus, desencadeou no mundo um processo de libertação pessoal e social que ninguém poderá conter. Ele é a pedra fundamental de um novo mundo, o mundo da graça e da alegria dos redimidos. Quem cair sobre esta pedra se espatifa e quem sobre o qual ela cair será esmagado. Somente os que souberem fazer dela seu abrigo será parte desta construção de Amor e libertação que Deus está fazendo no mundo a partir dos que creem em Cristo e dos que mesmo não crendo praticam sem saber o que ele ensinou.
Vão se as esperanças, uma após outra, mas o coração continua a esperar, quebram-se as ondas, uma após outra, mas o mar não se acaba, assim como a esperança não acaba jamais neste mundo.
A todos os leitores desta coluna que perderam parentes e amigos nesta pandemia, apresento minhas condolências fraternas. Expresso minha proximidade de cristão que ora e intercede para que Deus, pois somente Ele pode, confortar o coração de cada um, e manter acesa a chama da esperança. Fonte: www.cnbb.org.br
Jesus morreu para salvar, não para condenar, afirma pastor 'reconvertido' em igreja LGBTQIA+
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Arlei Lopes Batista, 48, vice-diretor de escola, chegou a palestrar em defesa da 'cura gay'
Arlei Lopes evangélico e pastor LGBTQIA+ - Karime Xavier/Folhapress
São Paulo
Arlei Lopes Batista, 48, encontrou guarida numa igreja evangélica inclusiva após décadas numa denominação tradicional, que via a homossexualidade como pecado. Durante esse período, foi, inclusive, palestrante em defesa da chamada "cura gay".
Em depoimento à Folha, ele fala sobre a descoberta de um evangelicalismo que não discrimina a comunidade LGBTQIA+.
Durante parte da infância, fiquei entre a Igreja Católica, porque morava com os meus avós. Fiz a primeira comunhão, a crisma.
Meus pais eram empresários de parques de diversões. Fui morar com eles por volta dos 10 anos. Minha mãe faleceu quando eu tinha 12. Aí começa todo um processo de mudança na minha vida.
Saio [de casa] por conta de violência familiar [da parte do pai]. Vou para a casa de uma prima. A filha dela era da igreja onde fiquei por quase 30 anos. O pastor acabou me adotando. Chego nessa família pastoral com uns 14 anos. Ali construí minha base bíblica. Só que é uma herança que depois me custou muito.
Eu já tinha vivenciado [minha homossexualidade]. Todos [da igreja] sabiam. O discurso era de que era errado e tal, era pecado. Eu tinha que renunciar à homossexualidade. Fazia oração, jejum.
Lembro que, se era atraído por alguém na rua, me martirizava por conta do desejo. Tinha que sublimar. Foi um período de muita angústia. Batia na minha cabeça quando ia dormir. Eu achava que ia ficar louco, né?
Estava muito depressivo, ia me jogar na frente do ônibus. Chorei e disse: "Deus, se o Senhor existe mesmo, me ajuda". Depois de alguns minutos, senti como se algo estivesse empurrando aquela tristeza para fora de mim.
Chego na igreja e acabo falando mais das minhas dores. Ali tenho um lugar de acolhimento, uma comunidade que me ouve. Em nenhum momento eles forçaram a algum processo de reorientação sexual.
Tive algumas relações sexuais [com homens] nessa época, todas confessadas ao pastor. Era um processo de alívio para aquele sentimento de culpa, e o barco continuava.
Fui tendo acesso a livros de pessoas que renunciaram à homossexualidade e construindo um viés de renúncia. Nessa fase, conheço uma moça da igreja. Ficamos 22 anos casados e adotamos três filhas —não porque não podíamos ter, foi por opção mesmo.
Nunca me vi como bissexual. Entendo hoje, olhando para trás, que a amizade, o companheirismo e o toque em si faziam com que eu tivesse as relações sexuais [com a esposa]. Sempre me vi como homossexual, mas que renunciava à sua sexualidade por conta da igreja.
Nisso fui crescendo na igreja, me tornei obreiro, depois presbítero, depois pastor.
No meio-tempo, ainda tive o que nós chamávamos de quedas. Não deixava de ser adultério, porque eu estava casado. Só que nunca foi escondido. Ela sempre se colocou nesse papel de "vou te ajudar a se libertar".
Na leitura fundamentalista [da Bíblia] que nós tínhamos, era pecado e não tinha o que fazer. Então eu tinha que matar a minha carne, levar a minha sexualidade para a cruz e não vivê-la da forma que eu nasci para viver.
Encontrei várias pessoas que também estavam tentando renunciar à sexualidade. Criei um grupo na internet, de amor, aceitação e perdão. A gente passou de umas cinco pessoas para virar mais de 700.
Por dez anos, fiz parte do Exodus Brasil [rede evangélica que defendia ser possível a "cura gay"].
Tinha grupo que colocava os meninos em como se fossem casas de recuperação. No meu ministério, não trabalhamos com esse fundamentalismo tão opressor. De certa forma, o que eu fazia era mostrar a graça de Deus para meninos e meninas que queriam renunciar à sexualidade por conta da fé. Era uma mistura de psicanálise e teologia.
Eu me tornei palestrante do Exodus. O primeiro seminário de sexualidade da igreja do Silas Malafaia fui eu quem fiz. Minha ex-esposa estava até junto, ela e nossa filhinha adotiva, que devia ter um ano e pouquinho.
Até o dia em que, no aeroporto de Viracopos, eu estava tomando meu café e veio uma pessoa. No fim daquela conversa, me deu o número do telefone. Passei a gostar afetivamente dele. Aquilo ficou no meu coração. Não consegui mais ter relação sexual com minha esposa nem ministrar sobre sexualidade. Entrei em crise.
O casamento parou ali, mas a gente empurrou por um tempo. Ficamos quase quatro anos sem ter nenhuma relação. Na crise, encontrei a igreja inclusiva [que não recrimina a comunidade LGBTQIA+] e passei a sentir a presença de Deus naquele lugar.
Entra uma nova crise. Peraí, como que uma igreja evangélica tem público gay? Tudo o que vivi não era verdade?
Fui para uma última reunião do Exodus. Pergunto o que os líderes tinham para refutar a teologia afirmativa. Para minha surpresa, nenhum deles tinha, de forma robusta, conhecimento sobre ela.
Essa teologia trata a leitura bíblica de forma histórico-crítica. Quando o texto bíblico fala "não se deite um homem com outro", estou olhando para ele de forma literal. A teologia afirmativa reconhece o fator histórico, considera em que época aquilo foi escrito. Se eu fizer uma leitura literal da Bíblia, então vou ser a favor da escravidão, por exemplo.
Voltei querendo conhecer mais profundamente a teologia afirmativa. Só que me decepcionei com a igreja que eu estava conhecendo naquele momento. Pastores casados deram em cima e, para mim, foi um choque. Era uma questão mais moral, tipo, se já está casado, por que precisa de uma outra pessoa?
Fui para Curitiba com uma psicóloga que fazia "cura gay". Ela tentou fazer uma modelagem. Eu tinha que andar com o marido dela, tinha que capinar, porque ele estava fazendo horta. Meu pai [o pastor] pagava para eu estar lá.
Eu não podia nem usar a internet. Fiquei dez dias e fui embora. Voltei para o casamento.
O que me fez deixar a igreja fundamentalista foi ela [a ex]. Disse assim: "O que estou fazendo? Não posso acabar com a vida dela". Ela era uma pessoa jovem que poderia casar novamente.
Fui indo numa outra, onde me fortaleci em relação à afirmação [da homossexualidade]. Aí o conheci [Daniel, seu marido]. Depois de um tempo, a gente foi para a Betesda, uma igreja heteronormativa que virou afirmativa.
Fomos neste ano para a Igreja Batista Soul Livre porque vimos a necessidade de um auxílio maior para a nossa comunidade LGBTQIA+, para ajudar essas pessoas a continuar com fé em Deus de uma forma saudável, sem fundamentalismo.
Não acredito mais nesse Deus punitivo. Jesus Cristo morreu para salvar o mundo, não para condenar. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
27 de dezembro- O Santo do dia
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São João Evangelista
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A partir do dia 25 de dezembro entramos no período litúrgico denominado como Oitava do Natal, que são oito dias como se fosse um só. Ou seja, o Natal é tão importante que não pode ser celebrado em um dia só, mas se estende por oito dias. É como se a cada dia desses oito dias fosse Natal, e podemos desejar uns aos outros um Santo e Abençoado Natal. É um período de grande alegria, pois o Emanuel, o Deus conosco, o Príncipe da Paz, está no meio de nós. Após a Oitava do Natal, que se encerra no dia 1º de janeiro, continua o tempo do Natal, que segue até a festa do Batismo do Senhor.
O período da Oitava do Natal é especial, pois, conforme dissemos, celebramos em primeiro lugar o nascimento de Jesus, o grande mistério da Encarnação, mas praticamente em todos os dias da Oitava celebramos a festa de um santo. No dia 26 de dezembro celebramos a festa litúrgica de Santo Estevão; no dia 27, celebramos São João Evangelista; no dia 28, os Santos Inocentes; neste ano, no domingo dia 29, a Festa da Sagrada Família; e, por fim, no dia 1º de janeiro, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.
Seria enriquecedor se pudéssemos participar da Santa Missa todos os dias do período da Oitava do Natal, pois, afinal de contas, conforme dissemos, cada dia é Natal. E, em cada dia, a celebração de um santo em especial. Cada um desses santos tem uma particularidade com a vida de Jesus. Santo Estevão foi o primeiro mártir; São João foi apóstolo e evangelista; os Santos Inocentes não puderam se defender e morreram ainda recém-nascidos, em sua maioria, por maldade de Herodes; na Sagrada Família recordamos que o Messias teve uma família aqui na terra e nasceu pelo seio de Maria; e, no dia 1º de janeiro, recordamos Nossa Senhora como a Mãe de Jesus e Mãe de Deus, quando comemoramos também o Dia Mundial da Paz, neste ano o 58º.
São João Evangelista foi um dos doze apóstolos de Jesus, considerado o discípulo amado, um dos mais jovens entre os doze. Foi a João Evangelista que Jesus, na agonia da Cruz, entregou a sua Mãe para que João cuidasse. João e Maria estavam aos pés da cruz, e Jesus, ao entregar sua Mãe a João, entrega-a a todos nós. João acolhe Maria consigo e cuida dela até ela subir ao céu.
João segundo algumas tradições, morreu de velhice, uma morte natural, quando tinha noventa e quatro anos. João, além de ser o autor do quarto Evangelho, escreveu também três cartas. Nesses escritos, João revela, sobretudo, o amor de Deus por nós, manifestado em Jesus Cristo. Um dos escritos mais famosos de João, além de seu Evangelho, é o livro do Apocalipse de São João.
Não podemos confundir João Evangelista com João Batista, pois são diferentes. Ambos viveram em tempos um pouco distintos. João Batista é o primo de Jesus, o precursor, que preparou o caminho para a chegada de Jesus. Já João Evangelista foi o discípulo amado de Jesus e o autor do Evangelho e das cartas. A festa de São João Batista comemora-se duas vezes: no dia 24 de junho, o nascimento, e no dia 29 de agosto, o martírio. Já João Evangelista veio posteriormente, escolhido como apóstolo de Jesus, e celebra-se a sua festa litúrgica no dia 27 de dezembro. Os dois têm uma grande importância na história da salvação, mas aparecem em momentos diferentes dessa história.
João seria o mais novo dos doze apóstolos, com provavelmente cerca de vinte e quatro anos de idade quando foi chamado por Jesus. Consta que seria solteiro e vivia com os seus pais em Betsaida. Nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos. Era pescador de profissão, consertava as redes de pesca. Trabalhava junto com seu irmão Tiago Maior e em provável sociedade com André e Pedro, todos apóstolos.
O nome de João significa “Deus misericordioso”. Trata-se de uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. João, sobretudo, anunciava a face desse Deus misericordioso, que nos revelou o seu Filho, Jesus Cristo, a fim de nos salvar e resgatar aqueles que andavam nas trevas do pecado.
João esteve presente em momentos marcantes da vida de Jesus, por isso era considerado o discípulo amado. No episódio da transfiguração no Monte Tabor, Jesus chama Pedro, Tiago e João. Na Santa Ceia, quem reclina a cabeça no peito de Jesus é João. E, no momento da agonia de Jesus na Cruz, foi o apóstolo que esteve presente até os últimos momentos de Jesus, ao lado da Virgem Maria, enquanto os outros fugiram. João é sempre o homem da elevação espiritual, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa “filhos do trovão”.
O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos: em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia apóstolos que sobrevivessem. É de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião de mais de 90 anos, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, o tinha visto com os próprios olhos, o tinha tocado com as próprias mãos, o tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.
São João, já no auge de sua velhice, se deparou com uma perseguição por parte do Império Romano à Igreja de Cristo e aos cristãos. Alguns desses fatos são até relatados no livro do Apocalipse. Além dessas perseguições, ainda havia muitas heresias que desencadearam o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo. São João só não foi assassinado ou preso pelo Império, primeiro por graça de Deus e, segundo, porque soube se refugiar e ficar recluso na Ásia.
Completada a sua jornada aqui na terra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem sabermos uma data exata. Foi no fim do primeiro século ou no início do segundo século, no tempo do imperador Trajano (98–117 d.C.).
Portanto, celebremos com alegria a festa de São João Evangelista nesse dia 27 e peçamos a Deus que, por intercessão desse grande santo da Igreja, possamos defender até o fim nossa Igreja Católica e, da mesma forma, defender a nossa fé. Aprendamos do apóstolo a nutrir o amor a Jesus e à Virgem Maria, e que eles nos guiem no caminho do bem.
Que o Espírito Santo, que sempre faz novas todas as coisas, nos faça seguir os passos de Jesus e ouvir a sua voz, tornando-nos fiéis à sua missão. Amém. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Como os nazistas tentaram se apropriar de 'Noite feliz', uma das canções natalinas mais conhecidas no mundo
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Como os nazistas tentaram se apropriar de 'Noite feliz', uma das canções natalinas mais conhecidas no mundo
Ideólogos e propagandistas do Terceiro Reich reescreveram diversas canções natalinas, incluindo uma das mais famosas
Os nazistas tentaram se apropriar do Natal e não hesitaram em tentar substituir Jesus por Hitler - Getty Images
BBC News Brasil
"Noite feliz, noite feliz
Todos dormem
Entre as estrelas que espalham sua luz
Apenas o Chanceler permanece em guarda
Vigiando e protegendo o futuro da Alemanha
Noite feliz, noite feliz
Adolf Hitler é a estrela da Alemanha
E nos mostra grandeza
E nos dá luz
E nos dá luz."
Pode parecer uma piada de mau gosto, mas não é.
Esta versão nazista da clássica canção de Natal "Noite Feliz", apresentada pela primeira vez há mais de dois séculos, existiu e foi apresentada durante o Natal na Alemanha e nos países e territórios ocupados pelos exércitos do chamado Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.
A nova versão fazia parte da estratégia do regime de Adolf Hitler de se apropriar da celebração religiosa e transformá-la em mais uma arma no vasto arsenal ideológico e de propaganda com o qual assegurava o controle social da população.
Natal, mais uma vítima
Os nazistas não foram os primeiros a colocar o Natal na mira.
"As ideologias totalitárias não aceitam ter qualquer tipo de rival. A história mostra que todos os regimes totalitários procuraram proibir as celebrações religiosas ou tentar cooptá-las", explica o historiador canadense Gerry Bowler à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Os jacobinos durante a Revolução Francesa, os bolcheviques na Rússia e até mesmo os revolucionários mexicanos viam a religião como uma ameaça a seus interesses e a combatiam", acrescenta o autor de "Papai Noel - uma biografia".
Bowler lembrou que "os líderes soviéticos tentaram abolir o Natal, e depois optaram por concentrar todas as comemorações na época do Ano Novo".
No entanto, desde o período entre guerras, o Natal na Alemanha já vinha sendo alvo de sérios ataques, não dos nazistas, mas dos comunistas e social-democratas.
"Os propagandistas do SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha) retrataram repetidamente o Natal como um exemplo de exploração burguesa, e usaram o solstício de inverno como uma metáfora da "nova vida e do novo ser" que se seguiriam à revolução socialista", diz o historiador americano Joe Perry, que também estudou as tentativas nazistas de se apoderar da festividade.
Por sua vez, os comunistas não hesitaram em atacar as tradicionais feiras de Natal, e impedir qualquer tipo de celebração religiosa em público.
Este clima permitiu que os nazistas se tornassem defensores da festividade religiosa em um primeiro momento, e depois começaram a usá-la para fins de propaganda.
Um exemplo disso foi a carta publicada em 1925 pelo futuro ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, em vários meios de comunicação pró-nazismo, na qual ele acusava os comerciantes judeus pela mercantilização excessiva do Natal.
"Para os judeus, a celebração mais íntima do cristianismo é apenas uma oportunidade para um grande golpe", ele escreveu.
Em seguida, comparou as lojas de departamento de propriedade de judeus a "bazares orientais" que exploravam "os pobres volksgenossen (camaradas) alemães".
Sepultando o menino Jesus
Quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha, no início de 1933, eles mudaram de estratégia.
"Primeiro, eles tentaram se apropriar do Natal colocando figuras e símbolos nazistas nas árvores, nas decorações e nas feiras de Natal, ou incentivando as mulheres a preparar biscoitos em forma de suástica", conta Bowler.
"Mas quando eles conseguem ganhar poder total, seus objetivos se tornam mais ambiciosos, e eles querem nazificar o Natal, e gradualmente paganizá-lo, eliminando todos os elementos religiosos da celebração, incluindo o menino Jesus", ele acrescenta.
E para atingir este objetivo, eles contaram com a ajuda de intelectuais e até mesmo de alguns religiosos, revelou Perry em seu livro "Christmas in Germany: a Cultural History" ("Natal na Alemanha: uma história cultural", em tradução livre).
"O pastor cristão alemão Wilhelm Bauer, em seu livro de 1935 Celebrações para cristãos alemães, ofereceu o roteiro para uma celebração 'germanizada'", afirma Perry, que é professor de história europeia moderna na Universidade da Geórgia, nos EUA.
"O texto descrevia o Natal como a ocasião em que uma 'estrela da manhã' surgia da escuridão em 25 de dezembro, mas omitia qualquer referência a Belém, José, Maria ou até mesmo Jesus", revela.
O processo de nazificação da celebração incluiu a reformulação das canções natalinas mais populares.
Noite feliz foi uma das que tiveram este destino. Assim, no início da década de 1940, todas as referências a Jesus na canção foram substituídas por menções a Hitler.
"Os nazistas se esforçaram muito para colonizar as canções de Natal", diz Perry, que observou que, entre 1920 e 1945, dezenas de músicas natalinas foram reescritas ou escritas por simpatizantes do partido.
O motivo?
"As canções de Natal ultrapassavam a fronteira entre o público e o privado. Os alemães cantavam em casa, é claro, mas também durante os cultos religiosos, em festas com amigos, em celebrações em grupo e em noticiários e transmissões de rádio", explica.
"Os nazistas sabiam do impacto emocional que elas geravam."
A modificação da música não ficou sem resposta por parte dos Aliados. Assim, no Natal de 1941, o então presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, cantaram a versão original após uma reunião de cúpula na Casa Branca para planejar suas ações contra a Alemanha nazista.
Um símbolo
"Noite Feliz" não é uma canção de Natal qualquer, mas uma das mais populares nos países de língua alemã.
A música - cuja letra foi escrita pelo sacerdote austríaco Joseph Mohr, e a melodia composta pelo professor e organista Franz Xaver Gruber - foi tocada pela primeira vez na véspera do Natal de 1818, no vilarejo de Obendorf, perto de Salzburgo, na Áustria, enquanto o continente europeu se recuperava da devastação das guerras napoleônicas.
"O fato de conhecermos "Noite Feliz" hoje é um milagre, porque ela foi criada para uma comunidade muito pequena", explica o músico venezuelano César Muñoz, em um vídeo que dedicou à obra.
A bela canção começou a se propagar, de boca em boca, pelos vilarejos vizinhos até chegar à corte imperial austríaca e, de lá, se espalhou para outras cortes, afirma o especialista.
No entanto, como o manuscrito original ficou perdido por décadas, a identidade de seus autores era desconhecida. Somente em 1995, quando o documento foi encontrado, foi possível constatar que Mohr e Gruber eram seus criadores.
Oito décadas antes, a música estava no centro de um evento inédito e sem precedentes que, de acordo com especialistas, acabaria popularizando-a: a trégua de Natal.
"Em 24 de dezembro de 1914, ano em que começou a Primeira Guerra Mundial, todos os soldados, a partir de suas trincheiras, cada um em seu idioma, cantaram juntos a canção de Natal, decretando aquela como uma noite feliz", lembra Muñoz.
Em 2011, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) a declarou como Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Uma fé para os fracos
Durante o nazismo, vários de seus dirigentes e ideólogos consideraram que as medidas para cooptar o Natal eram insuficientes - e que era necessário ir além.
"A SS (polícia nazista) queria paganizar completamente a celebração, e até propôs mudá-la de 25 de dezembro para 21 de dezembro, dia do solstício de inverno, e assim associá-la a antigos deuses germânicos, como Wotan, eliminando o menino Jesus e São Nicolau como personagens que trazem presentes para as crianças", explica.
Mas qual era o problema dos nazistas com o Natal? Bowler argumenta que a raiz do conflito não estava na festividade em si, mas no cristianismo como um todo.
"Hitler e Mussolini consideravam o cristianismo uma religião para os fracos", explica o historiador, lembrando que o fato de Jesus ser judeu e ter se deixado crucificar por líderes religiosos judeus não era bem visto pelos ideólogos fascistas.
"O fascismo diz respeito à força e imposição da vontade. E, por isso, Cristo devia ser retirado do Natal e substituído por divindades pagãs", acrescenta.
Isso, apesar do fato de que, em 1921, em um comício realizado em uma cervejaria de Munique, o próprio Hitler condenou "os judeus covardes por pregarem o salvador do mundo na cruz".
As manobras nazistas não agradaram aos líderes religiosos, que clandestinamente instruíram seus ministros e sacerdotes a continuar realizando as celebrações de Natal como eram tradicionalmente, e a ignorar as mudanças aprovadas pelo governo.
Alguns até se opuseram publicamente.
"Um sacerdote ameaçou excomungar as mulheres que se juntassem à Liga Nacional Socialista das Mulheres (uma das organizações do partido nazista)", lembra Perry.
Os fiéis seguiram o exemplo, diz Bowler, que atribui a estas resistências cotidianas e silenciosas a capacidade de a celebração ter sobrevivido a esse período.
"O Natal estava arraigado demais na sociedade alemã", afirma.
"Pode-se dizer que a Alemanha é um dos países que mais amam o Natal, porque muita música foi produzida lá, e tradições hoje globais, como a árvore de Natal e a guirlanda de Natal, surgiram lá. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Solenidade do Natal do Senhor.
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Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Missa da Noite
“Nasceu hoje para nós o Salvador, o Messias que é o Cristo, Senhor” (Sl 95,96)
Chegamos à grande celebração da Noite do Natal do Senhor, depois de um período de quatro semanas do tempo do Advento em que vivemos a expectativa da chegada do Messias, nesta noite Deus Pai nos presenteia com a chegada do seu Filho. O desejado, o esperado, por todas as nações, o Deus conosco, o Emanuel, o príncipe da paz. São as diversas expressões para exaltar a grandeza de Deus, que revelou o seu Filho a todos nós. Um Deus que quis se fazer homem, habitar entre os homens para indicar o caminho da paz.
O Verbo se fez carne e habitou entre nós, a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus, desde a criação do mundo, Deus usou da Palavra para criar o universo e depois essa Palavra se fez carne a partir do Sim de Maria e habitou entre nós. Nesta noite Santa somos chamados a voltar o nosso olhar para a manjedoura e adorar o rei dos reis. Ao olhar o menino Jesus na manjedoura podemos nos voltar para a Cruz, pois, Ele veio ao mundo para nos salvar do pecado através da morte de Cruz.
Na celebração do Natal do Senhor comemoramos o seu nascimento para essa vida terrena, e na Páscoa a nossa redenção eterna. O mesmo acontece conosco em cada aniversário comemoramos o nosso nascimento para esse mundo e quando morremos nascemos para a vida eterna. A celebração do Natal tem o seu grau de importância, mas a festa central do calendário cristão é a Páscoa.
Seria importante participarmos da celebração da missa antes de ir para casa cear com a família e confraternizar. Sobretudo recordar o verdadeiro sentido do Natal que é celebrarmos o nascimento de Jesus, o Verbo que se fez carne.
Na noite Santa do Natal somos convidados a entoar novamente o hino do Glória, agradecendo ao Senhor por nos ter presenteado com a vinda de seu Filho no meio de nós. O hino do Glória não foi entoado ao longo das quatro semanas do advento para que fosse reservado para entoarmos com grande alegria nessa noite santa. Podemos nos unir ao coro dos anjos e proclamar: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados”. Jesus já nasceu há mais de dois mil anos em Jerusalém, mas agora Ele deve nascer em nosso coração. Celebremos essa noite com gratidão no coração, a mesma gratidão que nutria a Virgem Maria e São José.
Peçamos a Deus que, nesta Noite Santa, o menino Jesus nos traga a paz. Paz nas famílias, no nosso país, no mundo, que enfrenta duas grandes guerras. No Natal as desavenças devem ser superadas e as famílias devem se unir em torno do presépio. Jesus é a causa de nossa alegria, por isso, se Ele nasceu essa noite deve ser alegre.
Existe um cântico entoado na Igreja ao longo do tempo do Natal que diz: “É natal de Jesus, festa de alegria, esperança e luz”. Que neste Natal o menino Jesus nos encha de alegria, de esperança em dias melhores e ilumine com a sua Luz as trevas. Sejamos missionários e levemos a alegria que vem de Jesus para os entristecidos, agradeçamos a Deus o dom da nossa vida.
Podemos inclusive levar a Palavra de Deus para aqueles que ficaram em casa e para os familiares que vamos encontrar na ceia, e antes de comer, confraternizar e entregar presentes, proclamar o Evangelho preparado para esta noite, rezar um Pai Nosso e pedir para a criança menor da família colocar o menino Jesus na manjedoura. Dessa forma celebraremos verdadeiramente o Natal.
A primeira leitura da missa desta noite é do profeta Isaías (Is 9, 1-6), Isaías anuncia aquilo que aconteceria a partir do nascimento de Jesus Cristo. Isaías estava no contexto do exílio da Babilônia e o povo encontrava-se triste e desanimado. Isaías diz que o povo que andava na escuridão viu uma grande luz e para aqueles que andavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu, a tristeza deu lugar a alegria. As trevas representam a escuridão e o pecado, e Cristo vem iluminar as trevas e nos redimir do pecado. Naquele momento o povo voltava de um período de escuridão e de pecado que era o exílio da Babilônia e de agora em diante o povo voltou para a sua terra, sob a luz do Senhor, com o propósito de não pecar mais, Deus se propõe a selar uma aliança eterna com esse povo.
O menino que vai nascer restabelecerá a aliança rompida pelo povo e selará uma aliança eterna entre a humanidade e Deus. Ele há de ser o príncipe da paz, conselheiro admirável, Deus forte. Ele anunciará a paz e o seu reinado será sobretudo em prol dos humildes, pregará a justiça e a paz.
O salmo responsorial é o 95 (96), o refrão desse salmo vai de encontro com o que ouvimos na primeira leitura e com o que celebramos nessa noite e diz: “Nasceu hoje para nós o Salvador, o Messias que é o Cristo, Senhor.” O Messias era esperado há muito tempo por todo o povo judeu, eles esperavam que o Messias viria como um forte guerreiro, mas ao contrário, o Messias veio pobre e humilde, a fim de reconduzir todos para Deus e ensinar o caminho do amor. Entoemos um cântico de louvor ao Senhor nessa Noite Santa.
A segunda leitura é da carta de São Paulo a Tito (Tt 2, 11-14), Paulo diz a Tito que a graça de Deus se manifestou sobre todos nós, pois Deus nos presenteou com o nascimento de seu Filho. A morte de Cristo na Cruz foi para selar a aliança entre Deus e a humanidade e para redimir a humanidade do pecado. Foi um sinal da graça e da misericórdia de Deus. Jesus nasceu uma vez em Jerusalém, nessa noite Ele deverá nascer em nosso coração. Na celebração do Natal um mistério nos aponta para o outro, ou seja, o nascimento de Jesus nos aponta para a morte na Cruz que iremos celebrar dentro de alguns meses. Temos que olhar a manjedoura sem deixar de contemplar a Cruz. Cabe a nós agora, aguardar a segunda vinda de Cristo, que não sabemos quando será, mas estejamos em constante oração e vigilância.
O Evangelho desta Noite Santa é de Lucas, (Lc 2, 1-14), esse trecho do Evangelho de Lucas relata quando José e Maria foram até a sua cidade Natal a fim de registrarem-se como moradores, e cumprir o decreto do imperador Cesar Augusto. Eles subiram de Nazaré, na Galileia, para Belém na Judéia, por serem da descendência de Davi.
Aconteceu que enquanto subiam completou-se o tempo da gravidez de Maria e Ela deu à luz ao seu Filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Não havia lugar para o Filho de Deus nascer, e Jesus nasce em uma estrebaria, ou seja, local que se guardava os animais. O Filho de Deus nasce humilde para mostrar a humanidade que não importa o ter e o poder, mas sim o amor. O Filho de Deus tinha que nascer assim, para mostrar a humanidade que o reino de Deus não se constrói através de guerras e espadas, mas se constrói no silêncio, na humildade e no amor.
Podemos ainda, a partir desse Evangelho lançar para nós mesmos, em nosso interior a pergunta: Será que nos dias de hoje, Maria e José encontrariam lugar para o seu filho nascer? Em nossa casa, na nossa família tem espaço para abrigar a Sagrada Família? Nessa noite abramos as portas de nossa casa para acolher o menino Jesus. Por isso, antes de confraternizar, ceiar, comer, trocar e presentes façamos um momento de oração diante do presépio para tornar essa noite especial.
Os pastores que habitavam aquela região, ao verem no céu uma estrela diferente se perguntaram o que seria aquilo. Um anjo do Senhor lhes aparece e diz para eles não terem medo e lhes anuncia uma grande alegria. Naquela mesma noite na cidade de Davi nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor. Eles vão até o local e encontram tudo conforme o anjo lhes tinha dito, encontram o menino envolto em faixas e deitado na manjedoura.
Celebremos com alegria essa noite Santa do nascimento de nosso Salvador, Jesus Cristo. Que nessa noite não nos esqueçamos que o centro da festa, que é Jesus Cristo. Elevemos aos céus um pedido pela paz nessa noite, e que o Messias que nasceu em Belém traga a paz para todos os povos e que cessem as guerras. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Biden comuta 37 condenações à morte em prisão perpétua. Nestes dias, o apelo do Papa
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O presidente cessante dos Estados Unidos anunciou que os condenados à morte em prisões federais terão as suas penas reclassificadas, passando da execução para prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional. O Papa Francisco, que manteve uma conversa telefônica com o líder dos EUA nos últimos dias, lançou um apelo à oração pelos prisioneiros no corredor da morte no país. Apelo apoiado por bispos e associações humanitárias dos EUA
Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano
A oração do Papa foi atendida. Trinta e sete homens e mulheres no corredor da morte nos EUA terão as suas sentenças comutadas de execução para prisão perpétua. O anúncio foi feito pelo presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, no domingo 23 de dezembro, às vésperas do Natal e da abertura do Jubileu, segundo um comunicado da Casa Branca que refere que estes indivíduos terão as suas penas reclassificadas para prisão perpétua, sem a possibilidade de liberdade condicional.
A nota da Casa Branca
A mesma nota da Casa Branca - sublinhando que Biden “acredita que a América deve acabar com o uso da pena de morte em nível federal, exceto em casos de terrorismo e assassinatos em massa motivados pelo ódio” - explica que “esta histórica ação de clemência baseia-se na reforma da justiça criminal pelo presidente." No início de dezembro, Biden já havia anunciado comutações de sentenças para aproximadamente 1.500 estadunidenses que “demonstraram uma reabilitação bem-sucedida e um compromisso em tornar as comunidades mais seguras”. Estas incluíram 39 indultos para indivíduos condenados por crimes não violentos.
O apelo de Francisco no Angelus
A decisão do líder democrático, poucos dias antes do final do seu mandato, surge depois do veemente apelo do Papa Francisco no Angelus da Imaculada Conceição de 8 de dezembro, quando, dirigindo-se a todos os fiéis presentes na Praça de São Pedro e conectados via streaming, pediu para “rezar pelos prisioneiros que estão no corredor da morte nos Estados Unidos”. “Rezemos – disse o Papa – para que a sua pena seja comutada, alterada. Pensemos nestes nossos irmãos e irmãs e peçamos ao Senhor a graça de os salvar da morte."
O compromisso dos bispos e das associações
As palavras de Francisco – que sempre reiterou a inadmissibilidade da pena de morte, alterando mesmo o Catecismo da Igreja Católica neste ponto – foram imediatamente acohidas e relançadas pela USCCB, a Conferência Episcopal católica dos EUA, que pediu a todos os crentes nos EUA para unirem-se para pedir ao presidente Biden para comutar para prisão perpétua as sentenças de morte daqueles que estavam detidos no corredor da morte em prisões federais.
Antes dos bispos, a Catholic Mobilizing Network (Cmn), organização católica nacional que luta pela abolição da pena capital nos Estados Unidos, iniciou uma campanha para comutar as sentenças de 40 pessoas. A diretora executiva, Krisanne Vaillancourt Murphy, enfatizou que era a única e última oportunidade para Biden abraçar o ensino católico e salvar a vida dessas pessoas. O compromisso da associação chegou ao Papa que o relançou em nível global. Fonte: https://www.vaticannews.va
Telefonema Papa – Biden
Digno de nota, ademais, o telefonema de quatro dias atrás entre o Papa Francisco e Joe Biden, que, entre os vários temas abordados na conversa, agradeceu ao Pontífice pelo “seu trabalho de promoção dos direitos humanos”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco, 88, vê diminuir pressão sobre sua saúde e críticas de conservadores
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Aniversariante nesta terça (17), papa chega ao fim de 2024 mais ativo e com menos contestação a sua condução da Igreja
Francisco recebe bolo de uma jornalista no voo de volta a Roma após visitar a Córsega, na França, no último domingo (15); papa completa 88 anos nesta terça (17) - Alessandra Tarantino - 15.dez.24/AFP
Milão
O vigor exibido recentemente pelo papa Francisco tem sido uma surpresa para quem o considerava em curva mais descendente, entre problemas de saúde, críticas ferozes de opositores e boatos de renúncia. Não foi um 2024 fácil, especialmente devido ao contexto internacional, no qual o papa busca posicionar o Vaticano como mediador. Ao completar 88 anos, nesta terça-feira (17), ele dá sinais de que o pontificado pode não estar tão perto do fim.
Exceto por episódios de gripes no início do ano, que limitaram sua participação em eventos ligados à Páscoa, a saúde de Francisco se mostrou mais estável. Mesmo com a mobilidade restrita, manteve uma agitada agenda de audiências privadas e eventos com fiéis no Vaticano, além de três viagens internacionais, incluindo 11 dias no Sudeste Asiático e na Oceania.
Ao nomear 21 cardeais no último dia 7, ele apareceu com um hematoma no queixo, causado, segundo o Vaticano, por uma batida na mesa de cabeceira, mas que não prejudicou seu trabalho. Pelos próximos meses, Francisco estará envolvido com diversos eventos ligados ao Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos e que será inaugurado por ele em Roma, no próximo dia 24.
"É um papa que tem alguns problemas de saúde, mas muitas pessoas gostariam de chegar aos 88 anos em seu estado. Salvo por acontecimentos surpreendentes, o fim do pontificado não parece tão próximo como alguns imaginam", diz à Folha Massimo Faggioli, professor de teologia histórica da Universidade Villanova, nos Estados Unidos. "Na minha opinião, ele não pretende renunciar por motivos de idade, não é sua intenção."
Os rumores sobre uma eventual renúncia diminuíram de volume, assim como as críticas públicas da ala mais conservadora, que se opõe a Francisco. Alguns críticos saíram de cena por questões de idade ou de saúde e outros se desmotivaram, diante da movimentação do papa para afastar temas espinhosos.
Momento eclesiástico mais relevante do ano, o Sínodo da Sinodalidade –a palavra vem do grego e significa "caminhar juntos"–, que debateu o futuro da Igreja ao longo de três anos, foi concluído com resultado positivo em outubro, mas sem atrair entusiasmo. Foi importante para instaurar uma dinâmica de discussões mais participativa, que, espera-se, vá continuar.
Já em relação ao papel das mulheres, de mais reconhecimento e participação em tomadas de decisão, Francisco preferiu não avançar. Subtraiu o debate sobre o diaconato feminino da pauta de trabalho de bispos e leigos e determinou que um grupo especial pesquise o tema até metade de 2025.
"É uma das questões sobre as quais Francisco não mostra um crescimento de compreensão durante o seu pontificado. Permaneceu com uma linguagem bastante paternalista e caricatural", diz Faggioli, citando situações em que o papa evoca a resposta "a igreja é mulher". "Para algumas igrejas, como nos EUA, na Austrália, na Alemanha e na França, é uma questão urgente e grave, na qual o sínodo ajudou muito pouco."
Para o professor, trata-se mais de uma característica geracional do que de uma posição ideológica. "Não é um conservadorismo; é um homem que nasce em 1936 na Argentina e que vive grande parte da vida como jesuíta. Acentuado pelo fato de que ele é um papa que trabalha muito sozinho. E isso, em certas questões, não é bom."
O ano também foi marcado por deslizes de linguagem de Francisco. Em maio, ele teria dito, em encontro com bispos italianos, que os seminários estão "cheios de viadagem". O Vaticano foi obrigado a pedir desculpas aos "que se sentiram ofendidos".
Em setembro, o alvo foram os médicos. "Um aborto é um homicídio", disse a jornalistas. "Os médicos que se prestam a isso são, permitam-me a palavra, sicários." Em nota, a federação italiana de cirurgiões respondeu que "essa delicada tarefa" é realizada na aplicação da legislação –no país, a interrupção voluntária da gravidez é legalizada desde 1978–, com respeito à saúde e à dignidade das mulheres.
A declaração sobre o aborto aconteceu na volta de uma visita oficial à Bélgica, em setembro, um dos momentos mais negativos do ano para Francisco. Diante de autoridades, o pontífice demonstrou despreparo para responder a cobranças por ações mais concretas contra abusos sexuais cometidos pelo clero e por mais poder às mulheres.
No plano diplomático, o modo de dizer do papa também causou tensões. Em um livro recém-publicado, afirma que, segundo alguns especialistas, "aquilo que está acontecendo em Gaza tem as características de um genocídio", algo que, segundo ele, deveria ser investigado para determinar se de fato se enquadra na definição de organismos internacionais.
A embaixada de Israel junto à Santa Sé reagiu: "Qualquer tentativa de chamar essa autodefesa com qualquer outro nome significa isolar o Estado judeu".
A fala contribuiu para deteriorar a relação com parte do mundo judaico. "Isso se acumula a uma série de declarações que foram vistas por parte do judaísmo ortodoxo e do judaísmo político sionista como um papa que redescobriu e utiliza uma linguagem antijudaica", diz o professor Faggioli.
Em relação à Guerra da Ucrânia, houve mais equilíbrio em relação aos primeiros meses de conflito, quando Francisco buscava transmitir equidistância, nem sempre tratando a Rússia como agressora. Embora persista a recusa em se mostrar como antirrusso, há um apoio moral mais claro à Ucrânia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
3º- Domingo do Advento: As propinas de cada dia e João Batista
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Provocações de São João Batista
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Durante o Tempo do Advento a Igreja nos oferece três companhias preciosas. É um período em que se lê muito o Profeta Isaías, por sinal um livro que pode ser conhecido integralmente com muito proveito, nesta quadra do ano litúrgico. Depois, a grande figura de São João Batista, a quem foi dado preparar os caminhos mais próximos da manifestação do Messias. João abriu estradas para o Jesus adulto, no início de seu ministério público. Depois, diante da Luz verdadeira que vem a este mundo, foi desaparecendo, até perder a cabeça, sendo imolado por causa da verdade! Mais ainda, irrompe a figura da Virgem Maria, que vai ocupar o espaço litúrgico e de nossa oração, de modo especial na última semana antes do Natal. Como gostamos de insistir, Jesus virá nos últimos tempos que nos fazem clamar “Vinde, Senhor Jesus” em todas as Missas, ele vem em nosso dia a dia nas múltiplas manifestações com que nos brinda, e ele veio, nascido em Belém de Judá, cujo memorial celebramos no Tempo do Natal!
Para iluminar nossa vivência do Advento, é oportuno notar que quando irrompe diante de nossos olhos uma novidade, surgem com ela as interrogações e provocações a uma reação. Pensemos nas guerras de nossos dias, as convulsões políticas que acompanhamos recentemente e nossa violência ou as escandalosas desigualdades sociais que assistimos. Também os fatos mais corriqueiros, positivos ou negativos, podem ser compreendidos como sinais que pedem nossa resposta, tanto que um mínimo de consciência pessoal e social causa indignação quando se espalha a indiferença e a insensibilidade. Passar pela rua e ver um acidente de trânsito suscita curiosidade, dela se vai à pergunta sobre as causas, verifica-se a ocorrência de ajuda às pessoas envolvidas, provoca-se a coragem de parar e perguntar se se pode fazer algo. É um processo que pode durar segundos ou horas, mas faz parte de nossa humanidade desejar envolver-nos e participar, responder com gestos concretos aos fatos que nos cercam.
Diante do fato mais significativo de toda a história, o mistério do Verbo de Deus encarnado, em torno do qual gira o tempo, não é possível ficar indiferentes. Ao preparar a estrada do mundo e dos corações para a manifestação de Jesus Cristo, seu precursor João Batista (cf. Lc 3,10-18) suscitou na multidão a pergunta que muda a vida: “Que devemos fazer?” Nos tempos que correm, quando a humanidade deve, de novo, dar as boas-vindas ao Menino de Belém de Judá, nosso Senhor Jesus Cristo, Redentor da humanidade, repete-se a mesma interrogação. Das respostas dadas por João Batista, colhemos indicações precisas e atuais.
Prepara-se a vinda de Jesus e se estabelece o clima para com ele conviver, quando quem “tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Existem no mundo recursos para uma vida digna de todos os seus habitantes. A natureza pode oferecer o necessário para alimentar sua população. São conceitos de uma “demografia” diferente, que parte da partilha e da comunhão, semelhante à coleta feita por São Paulo: “De fato, quando existe a boa vontade, ela é bem aceita com aquilo que se tem; não se exige o que não se tem. Não se trata de vos pôr em aperto para aliviar os outros. O que se deseja é que haja igualdade: que, nas atuais circunstâncias, a vossa fartura supra a penúria deles e, por outro lado, o que eles têm em abundância complete o que acaso vos falte. Assim, haverá igualdade, como está escrito: Quem recolheu muito não teve de sobra, e quem recolheu pouco não teve falta” (2 Cor 8,12-15). Fala-se tanto de uma crise mundial, e não poucos alertam para sua possível chegada às nossas plagas, e chegará mesmo, porque a era do individualismo, da ganância e do consumo descontrolado veio na frente. Independente das eventuais crises, realiza-se como pessoa humana quem se lança na aventura da partilha e da comunhão! Não fique sem reação o apelo constante do Papa Francisco por uma mudança de mentalidade e de prática na administração dos bens das pessoas, dos governos e dos povos!
E a palavra de João Batista se torna atual também em outras circunstâncias:
“Produzi frutos que mostrem vossa conversão, e não comeceis a dizer a vós mesmos: ‘Nosso pai é Abraão!’, pois eu vos digo: Deus pode das pedras suscitar filhos para Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” Conversão significa mudar de rota, escolher caminhos novos! Como acontece com organizações da sociedade que no final do ano avaliam suas atividades, mais motivos temos nós, pela ação do Espírito Santo, para fazer um corajoso exame de consciência e projetar os nossos passos de crescimento na vida cristã, contando também com as graças do Jubileu da Esperança, que se aproxima.
Como “até alguns publicanos foram para o batismo e perguntaram: ‘Mestre, que devemos fazer?’, João respondeu: ‘Não cobreis nada mais do que foi estabelecido.’” Se existe um mal a ser corrigido em nosso tempo, como em quase toda a história da humanidade, é a corrupção e o uso indevido das verbas públicas! Não é segredo para ninguém saber da quantidade de dinheiro que escapa pelo ralo em nosso tempo, e como até figuras de proa por este país afora encontram formas para receber propinas! E, por falar em dinheiro, podemos voltar ao assunto da partilha do pão, para observar o que se publica frequentemente sobre o desperdício de alimentos, dando conta que já seria suficiente para resolver o problema da fome a reversão de tal tendência!
Extremamente atual a recomendação de João, quando “alguns soldados também lhe perguntaram: ‘E nós, que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não maltrateis a ninguém; não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo’”. Parece um trecho de noticiário de nossos dias! Conversão é coisa para todos e para todas as profissões e os diversos estados de vida!
Renovamos a proposta já apresentada neste Advento de uma arrumação geral da casa de nossa vida, nossas Comunidades, nossas Paróquias e de toda a Igreja, para clamarmos com autenticidade: “Vinde, Senhor Jesus!” Fonte: https://www.cnbb.org.br
Terceiro Domingo do Advento: Um Olhar de Alegria
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Como e onde encontrar a alegria?
Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
Já ouvimos comentários sobre a sociedade do cansaço. Somos construtores de uma sociedade desvirtuada da essência da vida e partimos para a produção na ilusão de que o quanto mais se tem mais se realiza na vida. Cansamos e não vivemos. O modo do trabalho de hoje está mal conduzido, pois, trabalhamos muito e pouco sobra. Nos estressamos e perdemos a alegria de viver. O trabalho, quando se torna fonte de justiça, equilibramos as relações e descobrimos a beleza do trabalho como dom, criatividade, alegria, sustentação, harmonia na vida.
O povo hebreu ao sair do exílio, exulta de alegria e canta as maravilhas da presença do Senhor que os libertou da escravidão: “Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3,16-18). O caminho para encontrar a alegria é o amor e a justiça. A presença do Senhor sustenta e confirma o amor entre nós humanos. O Apóstolo Paulo exorta: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Fl 4,4). Destacamos que a presença de Deus na vida é o caminho que equilibra as relações, justifica o acesso ao s bens necessários para educar em harmonia, fomentar a fraternidade e a solidariedade.
Estamos no Domingo da Alegria. A Palavra de Deus nos prepara para a vinda do Senhor. A preparação deve ser concreta e fiel. Voltar ao Senhor, escutar o que o Espírito nos diz e agir conforme a sua inspiração. É preciso dar tempo para que não caiamos no estresse da vida material, sobrepondo a dignidade humana. O que lucramos excessivamente perdemos no resgate da saúde mental, física e espiritual. Tempo de preparação para o Natal deve ser tempo de crescimento espiritual e resolver as relações humanas machucadas, sofridas, desgastadas.
O que devemos fazer? João Batista respondeu: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!… Não cobreis mais do que foi estabelecido.” Havia soldados que também perguntaram o que devemos fazer; ele lhes respondeu: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” (Lc 3,10-18). A voz de João Batista deve ser ouvida neste Tempo do Advento, porque manda preparar os caminhos do Senhor. Eis o tempo da justiça, da verdade, da fraternidade, da mística do encontro. É lamentável que trocamos o tempo bonito do encontro da oração, da reflexão natalina e ficamos trancados, sufocados nas horas extras impedindo a pa rticipação da mística do encontro nos grupos de reflexão, da oração, da meditação para aliviar os sufocos das contas acumuladas. Nos estraçalhamos na sociedade do cansaço porque não temos mais tempo para a vida, para o Senhor que nos conforta, nos alivia e nos conduz para a dignidade humana.
Que saibamos nos organizar neste Tempo do Advento quando nos preparamos para receber o Menino Jesus em nossas famílias, em nossa vida e na comunidade com mais espiritualidade, liberdade, leveza e encanto. Que não desviemos o verdadeiro sentido do Natal nas trocas estressantes das coisas e perdemos a oportunidade de crescer na fé e na justiça.
Que as portas do Ano Jubilar, Peregrinos de Esperança se abram e nos faça caminhar ao encontro do Senhor que nos liberta de todo o cansaço e escassez na vida e busquemos o Senhor que se deixa encontrar. É isso que devemos fazer. Eis a verdadeira alegria. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Terça-feira, 10 de dezembro-2024. Evangelho do dia- Lectio Divina. 2ª Semana do Advento - com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que manifestastes o vosso Salvador até os confins da terra, dai-nos esperar com alegria a glória do seu natal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,12-14)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:12Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou? 13E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram. 14Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Uma parábola não é um ensinamento a ser recebido passivamente e a ser decorado de memória, mas é um convite para participar na descoberta da verdade. Jesus começa perguntando: “O que vocês acham?” Uma parábola é uma pergunta com resposta não definida. A resposta vai depender da nossa reação e participação como ouvintes. Então, vamos buscar a resposta desta parábola da ovelha perdida.
Jesus conta uma história muito breve e muito simples: um pastor tem 100 ovelhas, perde uma, deixa as 99 nas montanhas e vai em busca da ovelha perdida. E Jesus pergunta: “O que vocês acham?” Ou seja: “Vocês fariam o mesmo?” Qual terá sido a resposta dos pastores e das outras pessoas que ouviram Jesus contar esta história? Fariam a mesma coisa? Qual a minha resposta à pergunta de Jesus? Pense bem antes de responder.
Se você tivesse 100 ovelhas e perdesse uma, o que faria? Não esqueça de que as montanhas são lugares de difícil acesso, cheios precipícios, onde rondam animais perigosos e onde ladrões e assaltantes se escondem. E lembre-se que você perdeu apenas uma única ovelha. Você continua na posse de 99 ovelhas. Perdeu pouco! Você iria abandonar as 99 naquelas montanhas? Será que uma pessoa com um pouco de bom senso faria o que fez o pastor da parábola de Jesus? Pense bem!
Os pastores que escutaram a história de Jesus, devem ter pensado e comentado: “Só um pastor sem juízo age desse jeito!” Eles devem ter perguntado a Jesus: “Jesus, desculpe, mas quem é esse pastor de que o senhor está falando? Fazer o que ele fez é uma loucura total!”
Jesus responde: “Esse pastor é Deus, nosso Pai, e a ovelha perdida é você!” Com outras palavras, esta loucura, quem a comete é Deus por causa do seu grande amor para com os pequenos, os pobres, os excluídos! Só mesmo um amor muito grande é capaz de cometer uma loucura assim. O amor com que Deus nos ama é maior que a prudência e o bom senso humano. O amor de Deus comete loucuras. Graças a Deus! Senão fosse assim, estaríamos perdidos!
4) Para um confronto pessoal
1) Coloque-se na pele da ovelha perdida e anime a sua fé e sua esperança. Você é essa ovelha!
2) Coloque-se na pele do pastor e verifique se o seu amor para com os pequenos é verdadeiro.
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação. (Sl 95, 1-2)
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