Papa na Audiência: a Igreja não é fortaleza, mas tenda que acolhe todos
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O Santo Padre encontrou, na manhã desta quarta-feira, na Praça São Pedro, milhares de peregrinos e fiéis, provenientes de diversas partes do mundo, para a Audiência Geral. E reiterou a natureza da Igreja: ou é "em saída" ou não é Igreja.
Cidade do Vaticano
Em sua catequese o Papa refletiu sobre os “Atos dos Apóstolos, partindo do versículo 14, 27, onde se lê: "Deus abriu a porta da fé aos pagãos": a missão de Paulo e Barnabé e o Concílio de Jerusalém.
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que São Paulo, após seu encontro transformador com Jesus, foi acolhido pela Igreja de Jerusalém, graças à mediação de Barnabé, e começou a proclamar a Boa Nova de Cristo.
No entanto, disse Francisco, devido à hostilidade de alguns, Paulo foi obrigado a se transferir para Tarso, sua cidade natal, seguido por Barnabé, que também foi envolvido na pregação da Palavra de Deus.
O evangelista Lucas diz que a sua pregação começou depois de uma forte perseguição, que não acometeu a evangelização, pelo contrário, foi uma boa oportunidade para ampliar o campo, onde lançar a boa semente da Palavra. Eis o longo itinerário da Palavra de Deus, que deve ser anunciada por todos os cantos da terra.
No entanto, Paulo e Barnabé chegaram, antes, à Antioquia da Síria, onde ficaram um ano inteiro, ensinando e ajudando a comunidade a criar raízes. Assim, Antioquia tornou-se o centro da propulsão missionária, graças à pregação dos dois evangelizadores, que tocou o coração dos fiéis. Precisamente em Antioquia os adeptos de Cristo foram chamados, pela primeira vez, de "cristãos".
Enviados pelo Espírito
Depois de Antioquia, Paulo e Barnabé, foram "enviados pelo Espírito" a outros lugares, anunciando a mensagem de Cristo e atraindo muitas pessoas para a fé cristã.
Esta foi a primeira etapa missionária de Paulo, que passou da pregação do Evangelho nas Sinagogas da diáspora ao anúncio em ambientes pagãos populares. Ao retornarem à Antioquia, Paulo e Barnabé contaram aos seus irmãos “como Deus abriu aos pagãos a porta da fé", cumprindo a “obra" para a qual o Espírito Santo os havia enviado. E o Papa explicou: “Do Livro dos Atos, emerge a natureza da Igreja, que não é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de ampliar seu espaço para dar acesso a todos. A Igreja deve ser “em saída” senão não é uma Igreja; é uma Igreja de “portas abertas", chamada a ser sempre a Casa aberta do Pai. Assim, se alguém quiser seguir a ação do Espírito e buscar a presença de Deus, não encontrará o obstáculo de uma porta fechada ”
Porém, disse Francisco, naquele momento começavam os problemas: a novidade de abrir as portas aos pagãos e judeus desencadeou uma controvérsia ferrenha. Alguns judeus sentiam a necessidade da circuncisão para se salvar e ser batizados. Para resolver a questão, Paulo e Barnabé pedem o parecer do conselho dos Apóstolos e anciãos de Jerusalém, que foi considerado o primeiro Concílio da história da Igreja: o Concílio de Jerusalém ou Assembleia de Jerusalém, sobre o qual Francisco disse:
Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões. “Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões ”
Essa decisão, ratificada com uma Carta apostólica, foi enviada a Antioquia.
Enfim, o Papa perguntou qual o significado da assembleia de Jerusalém em nossos dias? E respondeu: “A Assembleia de Jerusalém nos oferece uma luz importante sobre o modo de enfrentar as divergências e buscar a verdade na caridade. Recorda-nos que o método eclesial de resolver os conflitos se baseia no diálogo feito de escuta atenciosa e paciente e no discernimento à luz do Espírito. De fato, é o Espírito que nos ajuda a superar os fechamentos e as tensões e age nos corações para que, na verdade e no bem, chegue à unidade. Este texto nos ajuda a entender o significado de Sínodo, iluminados pelo Espírito Santo ”
Sínodo não é uma conferência, nem um parlamento, mas algo bem diferente”.
Ao término da sua catequese semanal, o Santo Padre passou a saudar os diversos grupos de fiéis presentes na Praça São Pedro. Eis o que disse aos peregrinos de língua portuguesa:
“ Queridos peregrinos de língua portuguesa, saúdo-os, cordialmente, a todos, em particular os diversos grupos vindos de Portugal e do Brasil. Que a sua peregrinação a Roma os ajude a estar preparados para fazer parte da Igreja em saída, mediante o testemunho alegre do Evangelho e do amor de Deus por todos os seus filhos. A Virgem Santa os guie e proteja!” https://www.vaticannews.va
Domingo, 20 de outubro: Dia Mundial das Missões-Mensagem do Papa
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Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo
Queridos irmãos e irmãs!
Pedi a toda a Igreja que vivesse um tempo extraordinário de missionariedade no mês de outubro de 2019, para comemorar o centenário da promulgação da Carta apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV (30 de novembro de 1919). A clarividência profética da sua proposta apostólica confirmou-me como é importante, ainda hoje, renovar o compromisso missionário da Igreja, potenciar evangelicamente a sua missão de anunciar e levar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
O título desta mensagem – «batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo» – é o mesmo do Outubro Missionário. A celebração deste mês ajudar-nos-á, em primeiro lugar, a reencontrar o sentido missionário da nossa adesão de fé a Jesus Cristo, fé recebida como dom gratuito no Batismo. O ato, pelo qual somos feitos filhos de Deus, sempre é eclesial, nunca individual: da comunhão com Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, nasce uma vida nova partilhada com muitos outros irmãos e irmãs. E esta vida divina não é um produto para vender – não fazemos proselitismo –, mas uma riqueza para dar, comunicar, anunciar: eis o sentido da missão. Recebemos gratuitamente este dom, e gratuitamente o partilhamos (cf. Mt 10, 8), sem excluir ninguém. Deus quer que todos os homens sejam salvos, chegando ao conhecimento da verdade e à experiência da sua misericórdia por meio da Igreja, sacramento universal da salvação (cf. 1 Tm 2, 4; 3, 15; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 48).
A Igreja está em missão no mundo: a fé em Jesus Cristo dá-nos a justa dimensão de todas as coisas, fazendo-nos ver o mundo com os olhos e o coração de Deus; a esperança abre-nos aos horizontes eternos da vida divina, de que verdadeiramente participamos; a caridade, que antegozamos nos sacramentos e no amor fraterno, impele-nos até aos confins da terra (cf. Miq 5, 3; Mt 28, 19; At 1, 8; Rm 10, 18). Uma Igreja em saída até aos extremos confins requer constante e permanente conversão missionária. Quantos santos, quantas mulheres e homens de fé nos dão testemunho, mostrando como possível e praticável esta abertura ilimitada, esta saída misericordiosa ditada pelo impulso urgente do amor e da sua lógica intrínseca de dom, sacrifício e gratuidade (cf. 2 Cor 5, 14-21)!
Sê homem de Deus, que anuncia Deus (cf. Carta ap. Maximum illud): este mandato toca-nos de perto. Eu sou sempre uma missão; tu és sempre uma missão; cada batizada e batizado é uma missão. Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. Para o amor de Deus, ninguém é inútil nem insignificante. Cada um de nós é uma missão no mundo, porque fruto do amor de Deus. Ainda que meu pai e minha mãe traíssem o amor com a mentira, o ódio e a infidelidade, Deus nunca Se subtrai ao dom da vida e, desde sempre, deu como destino a cada um dos seus filhos a própria vida divina e eterna (cf. Ef 1, 3-6).
Esta vida é-nos comunicada no Batismo, que nos dá a fé em Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, regenera à imagem e semelhança de Deus e insere no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Por conseguinte, neste sentido, o Batismo é verdadeiramente necessário para a salvação, pois garante-nos que somos filhos e filhas, sempre e em toda parte: jamais seremos órfãos, estrangeiros ou escravos na casa do Pai. Aquilo que, no cristão, é realidade sacramental – com a sua plenitude na Eucaristia –, permanece vocação e destino para todo o homem e mulher à espera de conversão e salvação. Com efeito, o Batismo é promessa realizada do dom divino, que torna o ser humano filho no Filho. Somos filhos dos nossos pais naturais, mas, no Batismo, é-nos dada a paternidade primordial e a verdadeira maternidade: não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como mãe (cf. São Cipriano, A unidade da Igreja, 4).
Assim, a nossa missão radica-se na paternidade de Deus e na maternidade da Igreja, porque é inerente ao Batismo o envio expresso por Jesus no mandato pascal: como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós, cheios de Espírito Santo para a reconciliação do mundo (cf. Jo 20, 19-23; Mt 28, 16-20). Este envio incumbe ao cristão, para que a ninguém falte o anúncio da sua vocação a filho adotivo, a certeza da sua dignidade pessoal e do valor intrínseco de cada vida humana desde a conceção até à sua morte natural. O secularismo difuso, quando se torna rejeição positiva e cultural da paternidade ativa de Deus na nossa história, impede toda e qualquer fraternidade universal autêntica, que se manifesta no respeito mútuo pela vida de cada um. Sem o Deus de Jesus Cristo, toda a diferença fica reduzida a ameaça infernal, tornando impossível qualquer aceitação fraterna e unidade fecunda do gênero humano.
O destino universal da salvação, oferecida por Deus em Jesus Cristo, levou Bento XV a exigir a superação de todo o fechamento nacionalista e etnocêntrico, de toda a mistura do anúncio do Evangelho com os interesses econômicos e militares das potências coloniais. Na sua Carta apostólica Maximum illud, o Papa lembrava que a universalidade divina da missão da Igreja exige o abandono duma pertença exclusivista à própria pátria e à própria etnia. A abertura da cultura e da comunidade à novidade salvífica de Jesus Cristo requer a superação de toda a indevida introversão étnica e eclesial. Também hoje, a Igreja continua a necessitar de homens e mulheres que, em virtude do seu Batismo, respondam generosamente à chamada para sair da sua própria casa, da sua família, da sua pátria, da sua própria língua, da sua Igreja local. São enviados aos gentios, ao mundo ainda não transfigurado pelos sacramentos de Jesus Cristo e da sua Igreja santa. Anunciando a Palavra de Deus, testemunhando o Evangelho e celebrando a vida do Espírito, chamam à conversão, batizam e oferecem a salvação cristã no respeito pela liberdade pessoal de cada um, em diálogo com as culturas e as religiões dos povos a quem são enviados. Assim a missio ad gentes, sempre necessária na Igreja, contribui de maneira fundamental para o processo permanente de conversão de todos os cristãos. A fé na Páscoa de Jesus, o envio eclesial batismal, a saída geográfica e cultural de si mesmo e da sua própria casa, a necessidade de salvação do pecado e a libertação do mal pessoal e social exigem a missão até aos últimos confins da terra.
A coincidência providencial do Mês Missionário Extraordinário com a celebração do Sínodo Especial sobre as Igrejas na Amazônia leva-me a assinalar como a missão, que nos foi confiada por Jesus com o dom do seu Espírito, ainda seja atual e necessária também para aquelas terras e seus habitantes. Um renovado Pentecostes abra de par em par as portas da Igreja, a fim de que nenhuma cultura permaneça fechada em si mesma e nenhum povo fique isolado, mas se abra à comunhão universal da fé. Que ninguém fique fechado em si mesmo, na autorreferencialidade da sua própria pertença étnica e religiosa. A Páscoa de Jesus rompe os limites estreitos de mundos, religiões e culturas, chamando-os a crescer no respeito pela dignidade do homem e da mulher, rumo a uma conversão cada vez mais plena à Verdade do Senhor Ressuscitado, que dá a verdadeira vida a todos.
A este respeito, recordo as palavras do Papa Bento XVI no início do nosso encontro de Bispos Latino-Americanos na Aparecida, Brasil, em 2007, palavras que desejo transcrever aqui e subscrevê-las: «O que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do Batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. (...) O Verbo de Deus, fazendo-Se carne em Jesus Cristo, fez-Se também história e cultura. A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas uma regressão. Na realidade, seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado» [Discurso na Sessão Inaugural (13 de maio de 2007), 1: Insegnamenti III/1 (2007), 855-856].
A Maria, nossa Mãe, confiamos a missão da Igreja. Unida ao seu Filho, desde a encarnação, a Virgem colocou-se em movimento, deixando-se envolver-se totalmente pela missão de Jesus; missão que, ao pé da cruz, havia de se tornar também a sua missão: colaborar como Mãe da Igreja para gerar, no Espírito e na fé, novos filhos e filhas de Deus.
Gostaria de concluir com uma breve palavra sobre as Pontifícias Obras Missionárias, que a Carta apostólica Maximum illud já apresentava como instrumentos missionários. De facto, como uma rede global que apoia o Papa no seu compromisso missionário, prestam o seu serviço à universalidade eclesial mediante a oração, alma da missão, e a caridade dos cristãos espalhados pelo mundo inteiro. A oferta deles ajuda o Papa na evangelização das Igrejas particulares (Obra da Propagação da Fé), na formação do clero local (Obra de São Pedro Apóstolo), na educação duma consciência missionária das crianças de todo o mundo (Obra da Santa Infância) e na formação missionária da fé dos cristãos (Pontifícia União Missionária). Ao renovar o meu apoio a estas Obras, espero que o Mês Missionário Extraordinário de outubro de 2019 contribua para a renovação do seu serviço missionário ao meu ministério.
Aos missionários e às missionárias e a todos aqueles que de algum modo participam, em virtude do seu Batismo, na missão da Igreja, de coração envio a minha bênção.
Vaticano, 9 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2019.
Fonte: http://w2.vatican.va
Francisco: o remédio contra a hipocrisia é a autoacusação
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“Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece no Evangelho de hoje. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amizade”, afirmou o Papa na homilia da missa na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
A hipocrisia foi o tema da homilia do Papa Francisco na Missa desta manhã celebrada na Casa Santa Marta, sugerido pelo Evangelho do dia, que narra a história de Jesus que é convidado por um fariseu para jantar e é criticado pelo anfitrião, porque não havia lavado as mãos antes de estar à mesa.
E o Papa comenta: "Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece hoje no Evangelho. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amigos”.
A hipocrisia, continua ele, "é precisamente aparentar ser de um jeito e ser de outro”. É pensar secretamente de maneira diferente do que aparenta ser. E Jesus não suporta isso. E frequentemente chama os fariseus de hipócritas, sepulcros caiados.
O de Jesus não é um insulto, é a verdade. "Por fora, tu és perfeito, antes ainda, engomado precisamente com a concretude - diz ainda Francisco - mas por dentro és outra coisa".
E afirma que "a atitude hipócrita vem do grande mentiroso, o diabo". Ele é o "grande hipócrita" e os hipócritas são seus "herdeiros":
A hipocrisia é a linguagem do diabo, é a linguagem do mal que entra em nosso coração e é semeada pelo diabo. Não se pode viver com pessoas hipócritas, mas elas existem. Jesus gosta de desmascarar a hipocrisia. Ele sabe que será precisamente esse comportamento hipócrita que o levará à morte, porque o hipócrita não pensa se usa meios lícitos ou não, vai em frente: calúnia? "vamos caluniar"; falso testemunho? "busquemos um falso testemunho".
O Papa continua dizendo que alguém poderia objetar "que conosco não existe hipocrisia assim". Mas pensar isso, é um erro:
A linguagem hipócrita, não diria que é normal, mas é comum, é de todos os dias. O aparentar de uma maneira e ser de outra. Na luta pelo poder, por exemplo, as invejas, os ciúmes fazem você parecer uma maneira de ser e, por dentro, tem o veneno para matar, porque a hipocrisia sempre mata, sempre, mais cedo ou mais tarde mata.
É necessário ser curado deste comportamento. Mas qual remédio, pergunta Francisco? A resposta é dizer "a verdade diante de Deus. É acusar a si mesmo:
Precisamos aprender a nos acusar: "Eu fiz isso, eu penso assim, maldosamente ... sou invejoso, gostaria de destruir aquele ...", o que existe dentro, nosso, e dizer isso diante de Deus. Este é um exercício espiritual que não é comum, não é usual, mas procuremos fazê-lo: acusar a nós mesmos, vermo-nos no pecado, nas hipocrisias, na maldade que existe em nosso coração, porque o diabo semeia a maldade. E dizer ao Senhor: "Mas veja Senhor, como sou!", e dizer isso com humildade.
Aprendamos a acusar a nós mesmos, repete o Papa, acrescentando "talvez algo muito forte, mas é assim: um cristão que não sabe acusar a si mesmo não é um bom cristão" e corre o risco de cair na hipocrisia. E recorda da oração de Pedro quando disse ao Senhor: afasta-te de mim, porque sou um homem pecador.
"Que nós aprendamos a nos acusar – conclui o Papa - a nós, a nós mesmos". Fonte: https://www.vaticannews.va
A fúria soberanista contra Francisco
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Os lugares falam. Luxuosos, discretos, com o constante chamado à Europa das armas e dos cavaleiros. Prédios elegantes, conventos medievais e castelos encastoados no interior da província francesa, onde você respira o ar da guerra da Vendeia. O mundo da facção anti-Bergoglio faz questão dessa aparência de Ancien régime. Uma frente onde a riqueza se torna uma força de propaganda, com doações - confidenciais - prontas para serem investidas em ouro e imóveis. Eles têm cardeais de referência, como Raymond Leo Burke, estadunidense vindo da província que sempre esteve na vanguarda do mundo teocon próximo de Donald Trump. Os lugares, portanto. O comentário é de Andrea Palladino, publicado por L'Espresso, 06-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe um triângulo geopolítico a partir do qual começar a entender a guerra que o mundo reacionário e soberanista está liderando contra a Igreja do Papa Francisco. Um vértice está na Itália, com Roma como evidente epicentro. Não apenas a Cidade do Vaticano, mas uma série de fundações, associações, grupos desconhecidos para a maioria - mas em condições de mobilizar nomes que contam - espalhados entre o Aventino e os palácios liberty do bairro Trieste.
Há os Estados Unidos, onde Trump é o último chegado naquela estranha aliança que La Civiltà Cattolica - a revista da Companhia de Jesus - definiu de "ecumenismo do ódio". Redes de TV, rádios, escolas exclusivas, sites de sucesso, onde o verbo do catolicismo integralista se une e se funde com a infinita série de igrejas evangélicas. Aqui, em primeiro lugar, o que conta é a riqueza, o sucesso pessoal, o american way of life completo. Você é o que você ganha.
E por fim, o terceiro vértice, o Brasil de Jair Bolsonaro, hoje no centro das atenções. O Sínodo Pan-Amazônico (6 a 27 de outubro) é o local do confronto final. Aparentemente, por algumas passagens contidas no documento preparatório, o Instrumentum laboris, que lembra algumas teses defendidas pela parte progressista da conferência episcopal alemã (a possibilidade de ordenar padres idosos com família, reconhecidos pelas comunidades indígenas locais e uma maior abertura às mulheres). Mas o cerne, a questão-chave é outra completamente diferente. Diz respeito à proteção integral do meio ambiente - que na visão do Sínodo se une ao desenvolvimento humano - a luta pela democracia, a guerra contra a corrupção. E a opção preferencial pelos pobres. Uma visão "progressista" - na verdade evangélica - que se torna insuportável e perigosa para a frente hiper liberal mundial. Entre Europa, EUA e América Latina.
Tradição, família e propriedade
"O Cardeal Burke esteve nesta sede nem sei quantas vezes, celebrou Missa aqui, não sei se viu o altar ali atrás ...". Julio Loredo mostra a pequena capela escondida atrás de duas portas de correr na sede da associação Luci sull'Est, no coração de Roma. Nascido no Peru, cidadão espanhol, chegou à Itália em 1994, Loredo é o presidente da seção italiana da poderosa e antiga fundação Tradição, Família e Propriedade - TFP. Fundada em 1960 no Brasil por Plinio Corrêa de Oliveira, a TFP foi o principal lobby a inspirar o golpe militar em Brasília e no Rio, em 1964. Tem uma verdadeira obsessão: a defesa dos grandes latifúndios e a luta incansável contra as reformas agrárias. Os membros da TFP gostam de se definir a maior rede anticomunista e antissocialista do mundo. Coisas sérias e certas. Quando, em 1987, a constituinte brasileira, eleita após os vinte anos de ditadura militar, estava elaborando a carta fundamental atualmente em vigor, a Tradição, Família e Propriedade conseguiu - com um intenso trabalho de pressão - bloquear o princípio da redistribuição de terras.
O vínculo com o cardeal Burke é antigo, Loredo assegura: "Nós o conhecemos desde que ele era bispo de La Crosse, somos amigos desde sempre". Também intimamente ligado à associação é o bispo de Astana Athanasius Schneider, que com Burke assinou a carta contra o Sínodo pan-amazônico publicada em 24 de setembro passado, onde acusam o atual pontificado de "confusão doutrinal": "Também o conhecemos desde quando ele era um seminarista, nós o vimos se formar".
Ouro e castelos. Com o rosário nas mãos
A Tradição, Família e Propriedade do Brasil ampliou o campo de influência e recrutamento – principalmente entre os muito jovens - em 28 países. Não objetiva ter um número elevado de seguidores, mas criar redes de influência sobre os governos para temas típicos da internacional soberanista. Família tradicional, luta contra gênero e aborto, é claro. Mas também um programa político claro: "Nossas batalhas foram contra a linha do presidente Carter em favor dos direitos humanos, contra a teologia da libertação, contra o ambientalismo e o pacifismo", declara o site estadunidense. E hoje em Washington, a TFP tem sessenta funcionários, setenta e cinco voluntários em tempo integral e US $ 14 milhões em doações, que quase dobraram nos últimos cinco anos. Dinheiro que em parte investe na compra de ouro, como consta nos balanços dos últimos anos. E em uma quantidade industrial de rosários a serem mostrados - no estilo Salvini - em manifestações públicas: um lote de um milhão de dólares chegou de Giussano, na província de Monza e Brianza. Na Europa, podem contar com um tesouro acumulado graças a doações discretas e confidenciais.
Na região de Moselle, na França, na pequena cidade de Creutzwald, localiza-se a luxuosa vila La Clarière, que hospedou as conferências do cardeal Walter Brandmüller, outro ponto de referência da frente que se opõe ao papa Francisco. Adquirida em 2003 e completamente restaurada, foi inaugurada em 2006 pelo cardeal Jorge Arturo Estévez Medina, conhecido como "cardeal Pinochet", devido à sua proximidade com o ditador chileno ("rezo por ele todos os dias", declarou ele no final dos anos 1990). Aqui tem sede da Federação para a Civilização Cristã, um think tank fundado em 2010 que por alguns anos atuou como um lobby em Bruxelas, o centro de uma densa rede de associações, da Itália à Polônia, da Alemanha à Bélgica.
A influência russa no nome do Congresso de Viena
Na Itália, um importante papel dessa área é desempenhado por Roberto de Mattei, historiador do cristianismo que tem laços antigos com o mundo da Tradição, Família e Propriedade. Antievolucionista, antigays, convicto de que os “desastres naturais são, eventualmente, exigência da justiça de Deus", é um dos protagonistas da guerra contra Bergoglio, na linha de frente ao antissínodo. Em 28 de setembro, ele organizou um flash mob em Castel Sant'Angelo, chamado "Acies ordinata", propondo uma oração contra "os maus espíritos da Amazônia". Ele é líder da Fundação Lepanto, com sede em Roma, no complexo medieval de Santa Balbina, de propriedade do Ipab Santa Margherita. Mas ele também tem um endereço em Washington, sinal de laços estreitos com os teocon: "Mais do que uma sede, temos muitos amigos nos Estados Unidos".
Então fé atlântica, é claro. Mas em maio de 2014, de Mattei também foi convidado a Viena para uma reunião, destinada a permanecer em segredo, organizada pelo oligarca russo Konstantin Malofeev. Entre outros, estavam presentes Marion Maréchal-Le Pen, então líder do Partido da Liberdade Austríaco Heinz-Christian Strache e sempre presente filósofo Aleksandr Dugin, o mais amado pelos soberanistas: "Estavam presentes também parlamentares italianos, mas foi um encontro confidencial e eu não gostaria de violar a privacidade deles", diz ele. Ele foi convidado como historiador, o tema era o bicentenário do Congresso de Viena: "Mas imediatamente me senti desconfortável, minhas ideias são antitéticas às de Dugin". Segundo de Mattei, aquele encontro tinha um objetivo claro: "Na minha opinião, há uma manobra da Rússia de infiltração no mundo tradicional e conservador europeu. Em relação a alguns partidos políticos, começando pela Liga, e os movimentos pró-vida. Parece-me que a Rússia está desempenhando o papel que a CIA teve nas décadas anteriores”.
E a influência atlântica hoje? "Nos Estados Unidos, são os movimentos pró-vida que condicionam a política, enquanto na Rússia acontece o contrário, é a política que condiciona". A antiga cortina de ferro tornou-se fluida. Mas o objetivo é o mesmo: parar o impulso reformador do papa Francisco. Fonte: Ahttp://www.ihu.unisinos.br
Visita surpresa do Papa à Comunidade Novos Horizontes
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O Papa Francisco foi a Frosinone para uma visita surpresa à "Cittadella Cielo" da Comunidade "Novos Horizontes", fundada por Chiara Amirante.
Cecilia Seppia – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco chegou de surpresa em Frosinone - cerca de 80 km de Roma - na manhã desta terça-feira, para uma visita privada à "Cittadella Cielo", a estrutura da Comunidade "Novos Horizontes", fundada em 1993 por Chiara Amirante, que oferece hospitalidade e apoio às pessoas com dificuldades por meio de centros de escuta e apoio à vida, casas de família, locais e laboratórios de agregação e reinserção no trabalho.
É precisamente nestes locais que, há muitos anos, são tratadas as feridas da alma daqueles que em algum momento da vida acabaram entrando no túnel das drogas, da dependência, do jogo, da prostituição, e como consequência, no túnel do descarte, da marginalização social e da rejeição pela própria família.
São cerca de 9h15 da manhã quando o Ford Focus azul com o Pontífice a bordo segue pela rua Tommaso Landolfi. São poucas as pessoas que tem conhecimento da visita, mas a voz corre com a velocidade das redes sociais e, em pouco tempo a internet é inundada por imagens feitas pela população, que registram a passagem do ilustre visitante, ao mesmo tempo que muitas pessoas começam a se dirigir para a frente dos portões da estrutura, esperando poder ao menos saudar o Santo Padre.
As notícias oficiais chegarão mais tarde, mas esta visita na terça-feira tem todo o ar de uma Sexta-feira da Misericórdia. O Papa é acompanhado por Andrea Bocelli.
A proximidade de Francisco à Comunidade Novos Horizontes é forte e sólida. No dia 8 de junho, por ocasião do 25º aniversário da Comunidade, o Papa telefonou para dar as felicitações em meio aos festejos, enviou uma carta e uma mensagem em vídeo para expressar seu carinho e incentivo às mais de 3.000 pessoas reunidas para celebrar o evento no Palazzetto dello Sport de Frosinone, na Solenidade de Pentecostes.
Durante o telefonema, o Santo Padre saudou em particular todos os "Piccoli della Gioia" (Pequenos da alegria), nome pelo qual são chamados os leigos consagrados que colocam suas vidas a serviço da comunidade. Fonte: https://www.vaticannews.va
Homilia do Papa neste domingo, 22: “Sempre em tempo para curar com o bem o mal feito”. Francisco
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“Quem provocou lágrimas, faça alguém feliz; quem tirou indevidamente, doe a quem tem necessidade. Fazendo assim, seremos louvados pelo Senhor "porque agimos com astúcia".
Silvonei José - Cidade do Vaticano
"Obter gratidão com a corrupção, infelizmente é habitual hoje em dia". Foi o que disse o Papa no Angelus deste domingo (22/09). O Pontífice parte da parábola do Evangelho do dia que, como explica, "tem como protagonista um administrador inteligente e desonesto que, acusado de ter esbanjado os bens do patrão, está prestes a ser despedido. Nesta situação difícil, ele não recrimina, não procura justificação, nem se deixa desencorajar, mas encontra uma saída para ter a certeza de um futuro tranquilo.
“A 'riqueza desonesta' é o dinheiro - também chamado 'esterco do diabo' - e em geral os bens materiais. A riqueza pode levá-lo a erguer muros, criar divisões e discriminação" disse o Papa Francisco. "Jesus, pelo contrário, - disse Bergoglio - convida seus discípulos a inverter a direção: “Faça amigos com a riqueza'. É um convite a saber transformar bens e riquezas em relações, porque as pessoas valem mais do que as coisas e contam mais do que a riqueza possuída".
De fato, na vida - enfatizou o Papa -, dá frutos não quem têm muitas riquezas, mas quem cria e mantêm vivos tantos laços, tantas relações, tantas amizades através das diferentes "riquezas", isto é, os diferentes dons que Deus lhe deu. Mas Jesus indica também a finalidade última da sua exortação: "Façam amigos com a riqueza, para que esses o recebam nas moradas eternas. A acolher no Paraíso, se formos capazes de transformar as riquezas em instrumentos de fraternidade e de solidariedade, não estará apenas Deus, mas também aqueles com quem partilhamos, administrando-o bem, o que o Senhor colocou nas nossas mãos”.
O Pontífice explica a moral da página do Evangelho do dia: "Irmãos e irmãs, esta página faz ressoar em nós a pergunta do administrador desonesto, expulso pelo seu patrão: "O que vou fazer agora?". Diante de nossos fracassos e falências, Jesus nos assegura que estamos sempre em tempo para curar com o bem o mal feito.
“Quem provocou lágrimas, faça alguém feliz; quem tirou indevidamente, doe a quem tem necessidade. Fazendo assim, seremos louvados pelo Senhor "porque agimos com astúcia", ou seja, com a sabedoria de quem se reconhece como filho de Deus e se põe em jogo pelo Reino dos céus".
Precisamos "ser astutos para garantir não o sucesso mundano, mas a vida eterna - concluiu - de modo que no momento do Juízo final as pessoas necessitadas que ajudamos possam testemunhar que nelas vimos e servimos o Senhor". https://www.vaticannews.va
Quinta-feira 19: Homilia do Papa. “O ministério é um dom, não uma função ou um pacto de trabalho”.
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Na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco destacou que quando nos apropriamos do dom e o centralizamos em nós mesmos, este se torna “uma função”, perdendo o coração do ministério, episcopal ou presbiteral que seja. Da falta de contemplação do dom, nascem “todos os desvios que conhecemos”.
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta e diante dos muitos bispos e sacerdotes que concelebraram com ele, falou do dom do ministério.
O Pontífice os convidou a refletir sobre a primeira Carta de São Paulo a Timóteo, proposta pela liturgia, destacando a palavra “dom”, seguindo o conselho de Paulo ao jovem discípulo: “Não descuides o dom da graça que tu tens”.
Não é um pacto de trabalho: “Eu devo fazer”, o fazer está em segundo plano; eu devo receber o dom e protegê-lo como dom e dali brota tudo, na contemplação do dom. Quando nós nos esquecemos disto, nos apropriamos do dom e o transformamos em função, perde-se o coração do ministério, perde-se o olhar de Jesus que olhou para todos nós e disse: “Segue-me”, perde-se a gratuidade.
O risco de centralizar o ministério em nós mesmos
O Papa adverte então para um risco:
Desta falta de contemplação do dom, do ministério como dom, brotam todos aqueles desvios que nós conhecemos, dos piores, que são terríveis, àqueles mais cotidianos, que nos fazem centralizar o nosso ministério em nós mesmos e não na gratuidade do dom e no amor por Aquele que nos deu o dom, o dom do ministério.
É importante fazer, mas primeiramente contemplar e proteger
Citando o apóstolo Paulo, Francisco recordou que o dom é “conferido mediante uma palavra profética com a imposição das mãos por parte dos presbíteros” e que vale para os bispos, mas também “para todos os sacerdotes”.
O Papa destacou ainda “a importância da contemplação do ministério como dom e não como função”. Fazemos aquilo que podemos, esclareceu, com boa vontade, inteligência, “também com esperteza”, mas sempre para proteger este dom.
O fariseu que esquece os dons da cortesia e do acolhimento
Esquecer a centralidade de um dom, acrescentou o Pontífice, é algo humano e deu como exemplo o fariseu que, no Evangelho de Lucas, acolhe Jesus em sua casa, ignorando “as inúmeras regras de acolhimento”, ignorando os dons. Jesus faz notar isso, indicando a mulher que doa tudo aquilo que o anfitrião esqueceu: a água para os pés, o beijo do acolhimento e a unção da cabeça com o óleo.
Havia este homem que era bom, um bom fariseu, mas esqueceu o dom da cortesia, o dom do acolhimento, que também é um dom. Sempre se esquecem os dons quando há algum interesse por trás, quando eu quero fazer isto, fazer, fazer... Sim, devemos, os sacerdotes, todos nós devemos fazer coisas e a primeira tarefa é anunciar o Evangelho, mas protegê-lo, proteger o centro, a fonte, de onde brota esta missão, que é propriamente o dom que recebemos gratuitamente do Senhor.
O Senhor nos ajude a não nos tornar ministros empresários
A oração final de Francisco ao Senhor é para que “nos ajude a proteger o dom, a ver o nosso ministério primeiramente como um dom, depois um serviço”, para não arruiná-lo “e não se tornar ministros empresários, executores”, e tantas coisas que afastam da contemplação do dom e do Senhor, “que nos deu o dom do ministério”. Uma graça que o Pontífice pediu para todos os presentes, mas especialmente para aqueles que festejam os 25 anos de ordenação. Fonte: https://www.vaticannews.va
Terça-feira 17: Homilia do Papa Francisco.
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A compaixão é a linguagem de Deus e nos salva da indiferença, afirma o Papa. Se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é A linguagem humana, disse o Papa Francisco ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta.
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
Abrir o coração à compaixão e não fechar-se na indiferença. Este foi o convite que o Papa Francisco fez esta manhã (17/09/2019) ao celebrar a missa na Casa Santa Marta. A compaixão, de fato, nos leva para o caminho da verdadeira justiça”, salvando-nos assim do fechamento em nós mesmos.
Sentiu compaixão
Toda a reflexão foi feita a partir do trecho do Evangelho de Lucas da liturgia de hoje (Lc 7,11-17), em que é narrado o encontro de Jesus com a viúva de Naim, que chora a morte do seu único filho, enquanto é levado ao túmulo.
O evangelista diz que Jesus “sentiu compaixão para com ela”, como se fosse “foi vítima da compaixão”, explicou o Papa. Havia muita gente que acompanhava aquela mulher, mas Jesus viu a sua realidade: ficou sozinha hoje e até o final da vida, é viúva, perdeu o único filho. É propriamente a compaixão que faz compreender profundamente a realidade:
A compaixão faz ver as realidades como são; a compaixão é como a lente do coração: nos faz entender realmente as dimensões. E no Evangelho, Jesus sente muitas vezes compaixão. A compaixão também é a linguagem de Deus. Não começa, na Bíblia, a aparecer com Jesus: foi Deus quem disse a Moisés “vi a dor do meu povo” (Ex 3,7); é a compaixão de Deus, que envia Moisés a salvar o povo. O nosso Deus é um Deus de compaixão, e a compaixão é – podemos dizer – a fraqueza de Deus, mas também a sua força. Aquilo que de melhor dá a nós: porque foi a compaixão que o levou a enviar o Filho a nós. É uma linguagem de Deus, a compaixão.
A compaixão não é pena
A compaixão “não é um sentimento de pena” que se sente, por exemplo, quando vemos morrer um cachorro na rua: “coitadinho, sentimos um pouco de pena”, afirmou Francisco. Mas é “envolver-se no problema dos outros, é arriscar a vida ali”. O Senhor, de fato, arrisca a vida e vai.
Outro exemplo feito pelo Papa Francisco vem do Evangelho da multiplicação dos pães, quando Jesus diz aos discípulos que deem de comer à multidão que o seguiu, enquanto eles preferiam que fosse embora. “Os discípulos eram prudentes”, notou o Papa.
”Eu creio que naquele momento Jesus tenha ficado bravo, no coração”, prosseguiu Francisco, considerando a resposta que deu: ‘Deem vocês de comer!’”. O seu convite é para cuidar das pessoas, sem pensar que depois de um dia assim poderiam ir aos vilarejos para comprar pão. “O Senhor, diz o Evangelho, sentiu compaixão porque via aquelas pessoas como ovelhas sem pastor”, recordou o Papa. De um lado, portanto, o gesto de Jesus, a compaixão e, de outro, a atitude egoísta dos discípulos, que “buscam uma solução sem se comprometer”, sem sujar as mãos, como dizendo: “que se virem”:
E se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é a linguagem humana. Cuidar até certo ponto e não pensar além. A indiferença. Um dos nossos fotógrafos, do l’Osservatore Romano, tirou uma foto que agora está na Esmolaria, que se chama “Indiferença”. Já falei outras vezes disto. Uma noite de inverno, diante de um restaurante de luxo, uma senhora que vive na rua estende a mão a outra senhora que sai, bem coberta, do restaurante, e esta senhora olha para o outro lado. Esta é a indiferença. Vejam aquela foto: esta é a indiferença. A nossa indiferença. Quantas vezes olhamos para o outro lado… E assim fechamos a porta para a compaixão. Podemos fazer um exame de consciência: eu habitualmente olho para o outro lado? Ou deixo que o Espírito Santo me leve para o caminho da compaixão? Que é uma virtude de Deus…
A seguir, o Papa se disse comovido com uma palavra do Evangelho de hoje, quando Jesus diz a esta mãe: “Não chore”. “Uma carícia de compaixão”, afirmou Francisco. Jesus toca no caixão, ordenando ao jovem que levante. O jovem então fica sentado e começa a falar. E o Papa ressaltou propriamente o final: “E Jesus o entregou à sua mãe”: Ele o entregou: um ato de justiça. Esta palavra se usa na justiça: restituir. A compaixão nos leva para o caminho da verdadeira justiça. É preciso sempre devolver àqueles que têm certo direito, e isso nos salva sempre do egoísmo, da indiferença, do fechamento em nós mesmos. Continuemos a Eucaristia de hoje com esta palavra: “O Senhor sentiu compaixão”. Que Ele tenha também compaixão de cada um de nós: nós precisamos disso. Fonte: https://www.vaticannews.va
Segunda 16: Homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta
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O Papa na Casa Santa Marta: rezar pelos governantes, eles farão o mesmo pelo povo.
Depois da pausa de verão, o Papa celebrou nesta manhã (16/09) a missa matutina na Capela da Casa Santa Marta. Sua reflexão foi centralizada na Primeira Carta de São Paulo a Timóteo encorajando a rezar a Deus também pelos governantes.
Cidade do Vaticano
Rezar também pelos governantes e pelos políticos, para que “possam levar adiante com dignidade sua vocação”. São palavras do Papa Francisco na Missa desta manhã (16/09/2019) na capela da Casa Santa Marta, a primeira depois da pausa de verão.
A oração
Refletindo sobre a Primeira Carta de São Paulo apóstolo a Timóteo, o Pontífice observa quanto seja encorajado a “todo o povo de Deus” a rezar, por um “pedido universal”: sejam feitos “sem cólera e sem polêmicas”, evidencia Francisco, “pedidos, súplicas, orações e agradecimentos para todos os homens” e ao mesmo tempo “pelos reis e por todos os que estão no poder” para que tenham “uma vida calma e tranquila, digna e dedicada a Deus”.
Paulo evidencia o ambiente de uma pessoa que crê: é a oração. É a oração de intercessão, aqui: “Que todos rezemos por todos, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, digna e dedicada a Deus”. É necessária a oração a para que isso seja possível. Mas há um detalhe que gostaria de me deter: “Para todos os homens – e depois acrescenta – pelos reis e por todos os que estão no poder”. Portanto trata-se da oração pelos governantes, pelos políticos, pelas pessoas que são responsáveis de levar adiante uma instituição política, um país, uma província.
Rezar pelos que pensam diversamente
Esses, afirma, recebem “adulações por parte de seus favoritos ou insultos”. Há políticos, mas também padres e bispos, diz o Papa, que são insultados, “alguns o merecem”, acrescenta, mas já se torna “um hábito” recordando o que define um “acúmulo de insultos e de palavrões, de depreciações”. Ainda assim quem está no governo “têm a responsabilidade de conduzir o país”: e nós – pergunta-se o Pontífice – “o deixamos só, sem pedir a Deus que o abençoe?”. “Tenho certeza” – prossegue – que não se reza pelos governantes, ao contrário: poderia parecer que a oração aos governantes seja “insultar-lhes”. E assim, constata, “segue nossa vida nas relações” com quem está no poder. Mas São Paulo, explica, é “claro” ao pedir que se “reze por cada um deles para que possam levar adiante uma vida calma, tranquila, digna para seu povo”. Por fim recorda como os italianos passaram recentemente por uma "crise de governo”.
Quem de nós rezou pelos governantes? Quem de nós rezou pelos parlamentares? Para que possam ir de acordo e levar adiante a pátria? Parece que o espírito patriótico não chega à oração; mas sim às desqualificações, ao ódio, às brigas, e termina assim. Portanto, quero que em todos os lugares as pessoas rezem, levantando as mãos puras para o céu, sem raiva e sem polêmicas”. É preciso discutir e esta é a função de um parlamento. Discutir, mas não destruir o outro. Aliás, é preciso rezar pelo outro, por aquele que tem uma opinião diferente da minha.
Chamado à conversão
Diante dos que pensam que aquele político é “muito comunista” ou “corrupto”, o Papa, citando a passagem do Evangelho de Lucas de hoje, não pede para “discutir sobre política”, mas para rezar. Depois, há quem diga que “a política é suja”. Mas, Paulo VI, sublinhou Francisco, considerava a política “a mais alta forma de caridade”:
Pode ser suja assim como qualquer outra profissão, qualquer uma... Somos nós que sujamos uma coisa, mas não é a coisa em si que é suja. Acredito que devemos nos converter e rezar pelos políticos de todas as cores, todos eles! Rezar pelos governantes. É isso que Paulo nos pede. Enquanto ouvia a Palavra de Deus, esse fato muito bonito do Evangelho me veio à mente, o governante que reza por um dos seus, esse centurião que reza por um dos seus. Até os governantes devem rezar pelo seu povo e o centurião reza por um servo: “Mas não, ele é meu servo, eu sou responsável por ele”. Os governantes são responsáveis pela vida de um país. É bom pensar que, se o povo reza pelos governantes, os governantes também serão capazes de rezar pelo povo, como esse centurião que reza pelo seu servo. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa a consagrados: encontrar na doação a fonte da nossa identidade
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“O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças”: disse o Papa no encontro em Maputo com bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Reavivemos nosso chamado vocacional, e que o nosso sim comprometido proclame as grandezas do Senhor e alegre o espírito do nosso povo em Deus nosso Salvador. E encha de esperança, paz e reconciliação o vosso país, nosso querido Moçambique. Foi o que disse o Papa Francisco no aguardado encontro com os bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados, seminaristas, catequistas e animadores pastorais, na tarde desta quinta-feira (05/09) na Catedral da Imaculada Conceição, em Maputo, capital do país do sudeste da África, primeira etapa desta sua 31ª Viagem Apostólica Internacional.
Testemunhos: desafios, sofrimentos e esperança viva
O discurso do Santo Padre foi precedido, além da saudação de boas-vindas ao ilustre visitante feito pelo presidente da Comissão para o Clero e a Vida Consagrada, Dom Hilário da Cruz Massinga, do testemunho de um sacerdote, de uma religiosa e de um catequista, testemunhos marcados pelos sérios desafios, sofrimentos, mas também pela viva esperança.
Na reflexão do Pontífice, um convite a renovar a resposta ao chamado vocacional, a renovar a fé e a esperança:
“Encontramo-nos nesta catedral, dedicada à Imaculada Conceição da Virgem Maria, para compartilhar como família aquilo que nos acontece; como família, que nasceu naquele sim que Maria deu ao anjo. Ela, nem por um momento olhou para trás. Quem narra estes acontecimentos do início do mistério da Encarnação é o evangelista Lucas. No seu modo de o fazer, talvez possamos descobrir resposta para as perguntas que fizestes hoje, e encontrar também o estímulo necessário para responder com a mesma generosidade e solicitude de Maria.”
Contrastar a crise de identidade sacerdotal
Perguntáveis que fazer com a crise de identidade sacerdotal, como lutar contra ela? A propósito, o que vou dizer relativamente aos sacerdotes é algo que todos (bispos, catequistas, consagrados, seminaristas) somos chamados a cultivar e fomentar, ressaltou Francisco.
“Perante a crise de identidade sacerdotal – disse o Papa –, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na sala é de hierarquia.”
Se Jesus não o enriquece, sacerdote é o mais pobre de todos
“Creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens”, ressaltou o Pontífice, acrescentando:
“O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças.”
Voltar a Nazaré para nos renovarmos como pastores
Tendo precedentemente aludido ao Anúncio do Anjo feito a Zacarias em Jerusalém e a Maria em Nazaré, apresentado pelo evangelista São Lucas, Francisco enfatizou que voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade, para nos renovarmos como pastores-discípulos-missionários.
“Vós próprios faláveis de certo exagero na preocupação de gerar recursos para o bem-estar pessoal, por ‘caminhos tortuosos’ que muitas vezes acabam por privilegiar atividades com uma retribuição garantida e criam resistências a dedicar a vida ao pastoreio diário”, ressaltou.
Doação na proximidade ao povo fiel de Deus
“Não podemos correr atrás daquilo que redunda em benefícios pessoais; os nossos cansaços devem estar mais relacionados com ‘a nossa capacidade de compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove’.”
“Para nós, sacerdotes – acrescentou o Santo Padre–, as histórias do nosso povo não são um noticiário: conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração.” “E, assim, a nossa vida sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus…, etc., o que sempre, sempre cansa.”
Fugir do "mundanismo espiritual" ditado pelo consumismo
Francisco observou que renovar o chamado “passa, muitas vezes, por verificar se os nossos cansaços e preocupações têm a ver com um certo ‘mundanismo espiritual’ ditado ‘pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores’”.
“Renovar o chamado passa por optar, dizer sim e cansar-nos com aquilo que é fecundo aos olhos de Deus, que torna presente, encarna o seu Filho Jesus. Oxalá encontremos, neste saudável cansaço, a fonte da nossa identidade e felicidade!”
Um olhar aos jovens: reconhecer a própria vocação
Por fim, o Pontífice dirigiu-se também ao jovens que se interrogam ou que já se sentem chamados para a vida consagrada:
“Tu que ainda te interrogas ou tu que já estás a caminho duma consagração definitiva dar-te-ás conta de que ‘a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve seu chamado’”.
“Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra.”
Francisco concluiu destacando que a Igreja em Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação: “não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”. Fonte: https://www.vaticannews.va
31ª VIAGEM DO PAPA. Papa aos jovens de Moçambique: continuem sendo testemunho de paz e reconciliação ao país
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Numa festa inter-religiosa e culturalmente rica da juventude, o Papa Francisco pronunciou o segundo discurso do dia em Maputo, em Moçambique, nesta quinta-feira (5). Os jovens foram a expressão da paz e da reconciliação do país, através de cantos, apresentações artísticas e tradições religiosas, sempre encorajados pelo Pontífice que incentivou a não se resignar diante das provações e ter cautela com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar os sonhos.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco, no seu segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5), encontrou os jovens no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido como Maxaca - uma sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco títulos nacionais. Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil jovens cristãos, muçulmanos e hinduístas para um grande encontro inter-religioso com o Pontífice.
Durante cerca de uma hora intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu conhecer um pouco da realidade local das diferentes confissões religiosas que se apresentaram, através da arte do canto e de coreografias especiais, demonstrando diferentes temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um hino comum às denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o discurso do Pontífice.
Jovens: vocês são importantes e precisam saber disso!
“ O que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vocês são importantes! Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês são importantes! Mas com humildade porque não são apenas o futuro de Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o presente de Moçambique! Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o melhor que hoje podem dar. ”
O Papa iniciou o discurso enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que caracteriza o povo de Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, em algumas regiões do mundo, a alegria de viver de vocês!”, sublinhou Francisco.
A presença das diferentes confissões religiosas no local também foi elogiada pelo Pontífice, demonstrando a união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação. Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.
“ Vocês, jovens, caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem perder nem deixar que lhe roubem. ”
As inimigas da esperança: resignação e ansiedade
O Papa, então, procurou responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões interligadas, sobre como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para solucionar os problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do próprio caminho de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte, uma expressão “de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança, mas também de ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para não deixar que “roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar conforme as tradições de casa.
Francisco também alertou para ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a resignação e a ansiedade”. “São grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a porta que pedem para passar é muito cara… O pedágio que pedem para passar é muito caro! É muito caro. Paga-se com a própria felicidade e até com a própria vida. Resignação e ansiedade: duas atitudes que roubam a esperança. Quantas promessas de felicidade vazias que acabam por mutilar vidas! Certamente conhecem amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido com vocês – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que tudo cai em cima de vocês, ficam prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque essa atitude «faz com que encaminhe pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).”
A inspiração do esporte: Eusébio da Silva e Maria Mutola
E para dar um exemplo de inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o jogador Eusébio da Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de Maputo. O atleta não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da família e da morte prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse Francisco, “chegando a marcar 77 gols para o Maxaquene!”
O Pontífice então fez a analogia do jogo em equipe para falar da importância de se empenhar pelo país com a tática da união e independentemente daquilo que diferencia as pessoas. “Como é importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família se destrói pela inimizade. Um país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra porque são incapazes de sentar e falar, de sentar e falar. Sejam capazes de criar a amizade social!"
O Papa lembrou, então, o provérbio africano conhecido e citado mundialmente para “sonhar junto”, que diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser chegar longe, vai acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos da juventude por um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados com “esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas”.
O outro exemplo do esporte citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que aprendeu a perseverar, apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros Jogos Olímpicos que disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta tentativa, quando a atleta dos 800 metros alcançou venceu nas Olimpíadas de Sidney. “A ansiedade não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove títulos mundiais”, comentou Francisco.
A importância dos idosos e da Casa Comum
O Papa ainda aconselhou a não esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a realizar sonhos sem que “o primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar as pessoas mais experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria síntese, como aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da marrabenta nasceu o pandza, com toque moderno.
O comprometimento com o cuidado da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num país que tamanha beleza natural, mas que também já sofreu com o embate de dois ciclones. O desafio de proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos para ser “artesãos da mudança tão necessária”.
O poder da mão estendida e da amizade ao país
Dessa forma explicativa, Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos caminhos de paz, liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da solidariedade”, para responder às provações e problemas vividos no país. “Grande é o poder da mão estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a solidariedade cresça entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a história. A solidariedade é a melhor arma para transformar a história”. E Francisco finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto Jesus os ama: “ É o amor do Senhor que se entende mais de levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid., 116). Eu sei que vocês acreditam nesse amor que torna possível a reconciliação” Fonte: https://www.vaticannews.va
Convite de Francisco no voo para a África: rezar pela tragédia nas Bahamas
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Em viagem rumo a Maputo, o Papa conclui a tradicional saudação aos jornalistas presentes no voo pedindo que rezem pelas vítimas do furacão que atingiu gravemente as Bahamas. Pouco anos, os votos de “frutos” para esta visita à África
Alessandro de Carolis - voo Roma-Maputo
Uma parte do coração está lá, próximo da última “periferia”, o povo do Caribe atingido pela catástrofe provocada pelo “Dorian Hurricane”. Antes de concluir a saudação cordial aos jornalistas a bordo do avião que o leva a Moçambique, o Papa pegou novamente o microfone para convidar a uma oração pessoal todos aqueles que estão partilhando com ele a longa viagem rumo ao sul do continente africano.
Francisco foi informado sobre as devastações deixadas pelo furacão sobretudo nas Bahamas – notícias e imagens falam de milhares de sem-teto e de mortos ao longo das estradas marcadas pela destruição da tempestade. “São pobres pessoas que, de um dia para o outro, perdem a casa, perdem tudo, inclusive a vida”, disse o Santo Padre. Eis as suas palavras: “Eu gostaria de convidar vocês, cada um em seu coração, a fazer uma oração pelas vítimas do furacão nas Bahamas: são pobres pessoas que repentinamente, de um dia para o outro, perdem a casa, perdem tudo, inclusive a vida. Cada um em seu coração faça uma oração por estes irmãos e irmãs que estão sofrendo (por causa) deste furacão nas Bahamas. Obrigado.”
A devastação do furacão Dorian
A passagem do “Dorian” na América-Central evoca por analogia o rastro de mortes e destruição deixados por “Idai” e “Kenneth” entre março e abril passados em Moçambique, primeira etapa da semana que o Papa transcorrerá no continente africano, incluindo a visita a Madagascar e algumas horas nas Ilhas Maurício.
“Esperamos que esta viagem um pouco longa dê frutos”, dissera Francisco no início da saudação aos jornalistas, precedido das palavras do novo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em sua primeira viagem nessa nova função.
Francisco e a saudação aos jornalistas
O Papa mostrou grande familiaridade com as novidades relacionadas ao grupo dos jornalistas a bordo. Disse querer conceder uma “homenagem” e, por conseguinte, um “espaço especial” à jornalista da EFE (Agência de imprensa espanhola, que celebra 80 anos de fundação), que, portanto, terá a oportunidade, durante a coletiva de imprensa no voo de retorno da África, de dirigir perguntas suplementares a Francisco.
O Santo Padre quis destacar a ausência nesta viagem de Valentina Alazraki, jornalista de “Televisa”, decana dos vaticanistas na Sala de Imprensa, que nesta ocasião faria sua 153º viagem apostólica.
O Pontífice definiu como uma preciosidade o último livro da jornalista mexicana sobre as mulheres maltratadas (Grécia e as outras”, escrito com Luigi Ginami), que – afirmou – faz entender “a dor e a exploração das mulheres nos dias de hoje”.
Com a ausência de Alazraki, o Papa concluiu com um sorriso passando o timão a Phil Pullella, o co-decano a bordo, da agência Reuters, narrador de dezenas de viagens papais. Fonte: https://www.vaticannews.va
22º Domingo do Tempo Comum: Papa no Angelus: Jesus convida à generosidade desinteressada
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"A retribuição humana, de fato, geralmente distorce os relacionamentos, os torna comerciais, introduzindo o interesse pessoal em uma relação que deveria ser generosa e gratuita. Em vez disso, Jesus convida à generosidade desinteressada, para abrir-nos o caminho em direção a uma alegria muito maior, a alegria de ser partícipes do próprio amor de Deus que nos espera, todos nós, no banquete celeste."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco, que começou o Angelus desculpando-se pelo atraso - explicando ter ficado 25 minutos preso no elevador do Palácio Apostólico - destacou em sua alocução a generosidade desinteressada e a humildade indicanda por Jesus.
Sua reflexão foi inspirada no Evangelho de São Lucas que narra a presença de Jesus em um banquete na casa de um chefe dos fariseu. “Jesus olha e observa como os convidados correm, se apressam para conseguir os primeiros lugares”.
Afirmar superioridade sobre os outros
“É um comportamento bastante difundido, também em nossos dias – observou o Papa - e não somente quando somos convidados para um almoço: habitualmente busca-se o primeiro lugar para afirmar uma suposta superioridade sobre os outros.”
Comportamento prejudicial à comunidade
Mas essa corrida pela busca dos primeiros lugares faz mal à comunidade – afirma Francisco - quer civil como eclesial, porque destrói a fraternidade: “odos conhecemos estas pessoas: galgadores, que sempre se agarram para subir, subir. Fazem mal à fraternidade, prejudicam a fraternidade".
Diante dessa cena, Jesus conta duas breves parábolas. O Papa recorda então a primeira, dirigida a uma pessoa convidada para um banquete, e é advertida para não ocupar o primeiro lugar, sob o risco de ser convidada pelo dono da festa a cedê-lo para outra pessoa e ocupar o último lugar, o que seria uma vergonha.
Escolher o último lugar
“Em vez disso – recordou o Santo Padre - Jesus nos ensina a ter a atitude oposta, a sentar-se no último lugar: “Portanto, não devemos buscar por iniciativa própria a atenção e a consideração de outros, mas sim deixar que sejam os outros a dá-la”: “Jesus nos mostra sempre o caminho da humildade – devemos aprender o caminho da humildade! - porque é o mais autêntico, o que também permite ter relações autênticas. A verdadeira humildade, não a humildade fingida, aquela que no Piemonte se chama a “mugna quacia”, não, aquela não. A verdadeira humildade.”
A generosidade humilde é cristã
Já na segunda parábola – continuou Francisco - Jesus se dirige ao dono da festa, sugerindo que na escolha dos convidados, chame os “pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir"”: “Também aqui, Jesus vai completamente contracorrente, manifestando como sempre a lógica de Deus Pai. E também acrescenta a chave para interpretar esse seu discurso. E qual é a chave? Uma promessa: se fizeres assim, “receberás a recompensa na ressurreição dos justos". Isso significa que aquele que assim se comportar, terá a recompensa divina, muito superior à retribuição humana que se espera: eu te faço esse favor esperando que tu me faça outro. Não, isso não é cristão. A generosidade humilde é cristã”.
Jesus convida à generosidade desinteressada
O Papa observa que a retribuição humana, “geralmente distorce os relacionamentos, os torna comerciais, introduzindo o interesse pessoal em uma relação que deveria ser generosa e gratuita”.
Jesus, por sua vez, “convida à generosidade desinteressada, para abrir-nos o caminho em direção a uma alegria muito maior, a alegria de ser partícipes do próprio amor de Deus que nos espera, todos nós, no banquete celeste”.
Ao concluir, Francisco pediu a Virgem Maria que “nos ajude a reconhecer-nos como somos, isto é, pequenos; e a nos alegrarmos em dar, sem esperar recompensa”. https://www.vaticannews.va
NESTE DOMINGO: Antes do Angelus, Papa fica preso 25 minutos no elevador
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Atraso no início do Angelus causou apreensão. Foi o próprio Papa Francisco a explicar a causa do atraso: 25 minutos preso no elevador do Palácio Apostólico. Foi "salvo" pelos bombeiros do Vaticano.
Giada Aquilino e Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Os olhares estavam todos voltados para a janela do Apartamento Pontifício, aguardando a abertura das cortinas que indicam a chegada do Papa Francisco, que antes de rezar o Angeluscom os fiéis reunidos na Praça São Pedro, propõe uma reflexão sobre o Evangelho do domingo.
Como costuma ser pontual, o passar dos minutos sem a presença do Pontífice começou a provocar certa apreensão entre os peregrinos e turistas, mas também por quem acompanhava a transmissão pelos meios de comunicação. O mistério foi desvendado pelo próprio Francisco, em suas primeiras palavras:
"Antes de tudo, tenho que me desculpar pelo atraso, mas houve um incidente: fiquei preso no elevador por 25 minutos! Houve uma queda de tensão e o elevador parou. Graças a Deus vieram os bombeiros - agradeço muito a eles! - e depois de 25 minutos de trabalho, conseguiram fazê-lo funcionar. Uma aplauso aos bombeiros!"
O Corpo de Bombeiros no Vaticano
Um Corpo de Bombeiros da Igreja já existia no tempo dos Estados Pontifícios, sempre bem equipado e dotado de equipamentos de combate a incêndio, como evidenciado por gravuras e aquarelas que remontam ao ano 1820.
No início do século XX, um serviço da Guarda Contra Incêndios operava nos Sacros Palácios Apostólicos. Em 1941, sob o Pontificado de Pio XII, foi criado o Núcleo dos Bombeiros quando – em plena Segunda Guerra Mundial - a situação bélica sugeria constituir uma realidade operacional bem organizada, treinada e equipada com meios eficazes de intervenção de emergência na Cidade do Vaticano e em áreas extraterritoriais.
A Caserna do Núcleo passou a ter sua sede em locais especialmente preparados para este fim nos Palácios Vaticanos, com entrada pelo Pátio do Belvedere, onde está até hoje.
Reorganização
Em 2002, com a Lei sobre o Governo do Estado, foi instituída a Direção de Serviços de Segurança e Proteção Civil, à qual passou a ser submetido o Corpo da Gendarmaria e o Corpo de Bombeiros. A partir de então, teve início uma verdadeira reorganização do Corpo, que foi dotado de pessoal altamente qualificado. A caserna também passou por uma reestruturação radical.
As intervenções
Os “Vigili del Fuoco” além das tarefas específicas de intervenções para combater incêndios, são responsáveis por atividades de ações de emergência e preventivas, para proteger pessoas e bens, inclusive histórico-artísticos.
Ademais, fazem o controle de equipamentos anti- incêndio localizados na Cidade do Vaticano e em algumas áreas extraterritoriais.
Eles também realizam tarefas de proteção civil em colaboração com seus colegas da Gendarmaria: uma equipe interveio nos locais atingidos pelo terremoto na Itália central em 2016.
Atualmente, a equipe é composta por 30 policiais, chefiados por um oficial coordenador. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa Francisco também vai à missa
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Francisco participou de uma Celebração Eucarística no Vaticano como um fiel a mais. A informação é de Religión Digital, 22-08-2019.
A imagem diz tudo: o papa Francisco, sentado na oitava fila, assistindo à missa como mais um paroquiano, que ontem foi em memória do seu predecessor Pio X, em uma das capelas de São Pedro.
Em uma cerimônia que assistiram uma vintena de fiéis, Francisco participou da Eucaristia, mas não no altar, mas sim como um comum fiel. Escutou as leituras, tomou a comunhão e recebeu a benção do celebrante, antes de voltar a seus compromissos como Pontífice. Uma demonstração a mais de que esse pontificado é único. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Cardeais atacam sínodo e miram o Papa Francisco
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Religiosos alemães dizem que evento sobre Amazônia seria uma ‘desculpa’ para tratar de política, abolição do celibato e sacerdócio feminino
José Maria Mayrink, O Estado de S. Paulo
O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé (1912-1917), Gerhald Muller, de 71 anos, e seu colega Walter Brundemuller, de 90 anos - um dos signatários da carta Dubia, que pede esclarecimentos sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual se discutem situações como a comunhão dos divorciados -, disseram que o documento sobre o Sínodo contém heresia, estupidez e apostasia.
No livro recém-publicado Römische Begegnungen (Encontros em Roma, em livre tradução), Muller acusa o papa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja. No texto, há amplas críticas a aproximações com “política” e “intrigas”, além de falas sobre uma secularização da Igreja ao modelo protestante. São amplas as queixas, por exemplo, à celebração dos 500 anos da Reforma (em 2017), que teve em seu final a presença do pontífice.
Marxismo
Em relação ao encontro de outubro, Muller concentra suas objeções aos conceitos de cosmovisão (com acenos a mitos e rituais evocando a “mãe natureza”), ecoteologia, cultura indígena e ministério sacerdotal, com a possibilidade de ordenar padres casados, presente no instrumento de trabalho. “A cosmovisão dos povos indígenas é uma concepção materialista semelhante ao marxismo e não é compatível com a doutrina cristã”, afirmou o cardeal, em entrevista em 17 de julho. Àqueles que por acaso veem nele um defensor do eurocentrismo, Muller afirma que por 15 anos visitou o Peru, em viagens regulares de ao menos três meses. Nessas, manteve contatos constantes com Gustavo Gutierrez, principal teórico da Teologia da Libertação.
O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé adverte que a tarefa dos cristãos não é preservar a natureza como ela é, mas ter a responsabilidade pelo progresso da humanidade, na educação e na justiça social, pela paz. Os homens, incluindo os índios da Amazônia, são assim chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus.
“É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas”, afirmou o cardeal Brundemuller.
O Sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros, sem contar os convidados do papa. Estarão presentes os bispos titulares dos nove Estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os países estrangeiros cortados pela floresta são Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
Dom Cláudio
O cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e nomeado pelo papa relator-geral do sínodo, não comentou ao Estado as críticas dos cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho. Mas seu pensamento está em uma entrevista concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, e publicada agora no semanário alemão Stimmen der Zeit.
Para Hummes, o foco da próxima reunião está em criar “uma Igreja indígena para as populações indígenas” e “inculturada”. Ele ainda destaca que o evento responde a um desejo do papa Francisco, sobre o qual conversavam - e “rezavam” - desde 2015.
Francisco diz que ordenação de casados não será tema central
“Absolutamente, não.” Em uma clara resposta a setores da Igreja que levantam dúvidas sobre o sínodo, o papa afirmou esta semana que a possibilidade de ordenar “viri probati” - normalmente idosos, ligados a comunidades amazônicas e de virtude comprovada - não será tema central do encontro. “É simplesmente um ponto do Instrumentum Laboris. O foco são os ministros da evangelização e as diferentes formas de atuação”, disse em entrevista publicada anteontem pelo jornal italiano La Stampa.
Mais diretamente, o pontífice afirmou que essa reunião é filha direta de sua encíclica verde, Laudato Si, na qual expõe o planeta como uma casa comum. “Quem não a leu não entenderá o sínodo”, diz Francisco. O papa defendeu a Amazônia como parte importante a ser preservada, a exemplo dos oceanos. Sua perda, segundo ele, poderia levar à redução da biodiversidade e ao surgimento de doenças mortíferas.
Na entrevista, o chefe da Igreja Católica não fugiu das discussões políticas na região, destacando por exemplo que os governos locais devem responder diretamente sobre “as minas ao ar livre” que envenenam os rios, por exemplo. “A ameaça à vida dessas populações e desse território envolve interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, afirmou.
No texto divulgado na Alemanha, na semana passada, o cardeal d. Cláudio Hummes também afirmou que é necessário confrontar “resistências” existentes “tanto na Igreja quanto fora dela”. Para ele, “ interesses econômicos e o paradigma tecnocrático se opõem a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se impor pela força”. Ele fala ainda de crimes ambientais que ficaram impunes e destaca a necessidade de o encontro tratar de direitos humanos.
Medalha
Uma medalha cunhada especificamente para o sínodo foi apresentada anteontem, na qual aparece uma imagem do trabalho missionário da Igreja na Amazônia via rito do batismo e da eucaristia.
Em seu texto oficial, o Vaticano alega que “o enfoque missionário na Amazônia exige mais do que nunca um magistério eclesial exercido na escuta do Espírito Santo, que seja capaz de assegurar tanto a unidade como a diversidade e, portanto, uma cultura de encontro em harmonia multiforme”. Fonte: https://brasil.estadao.com.br
Uma carta aos irmãos sacerdotes para encorajá-los e apoiá-los
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O agradecimento do Papa Francisco ao serviço diário dos sacerdotes que em todas as partes do mundo acompanham o Povo de Deus
Andrea Tornielli – Cidade do Vaticano
O drama dos abusos, o grito assustado das vítimas de pessoas que jamais teriam imaginado, pesa como chumbo na vida de todos os sacerdotes. Há padres que são vistos com desprezo, com suspeita, por culpas que não têm, mas que permanecem como feridas abertas para todo o corpo eclesial.
Com a carta aos sacerdotes por ocasião dos cento e sessenta anos da morte do santo cura d’Ars, modelo de padre que viveu ao serviço do povo de Deus, Papa Francisco – que não deixou de enfrentar o dever da denúncia e da repreensão, quando necessário – responde agradecendo o exército silencioso dos sacerdotes que não traíram nem a fé nem a confiança. Nesta carta, assinada na Basílica de São João de Latrão, sede do Bispo de Roma, que parece evidenciar que a escreveu como pastor e Bispo de Roma, o Papa manifesta proximidade, apoio, conforto a todos os sacerdotes do mundo.
Aos padres que todos os dias, muitas vezes com dificuldades, desafiando desilusões e incompreensões, deixam as portas das igrejas abertas e celebram os sacramentos. Aos padres que vencendo a tristeza e a habitualidade, continuam a apostar n’Ele acolhendo os que precisam de uma palavra, de conforto, de acompanhamento. Aos padres que diariamente visitam seu povo, doando-se sem reservas, chorando com os que choram, alegrando-se com os que estão felizes. Aos padres que vivem na “trincheira”, que muitas vezes arriscam a própria vida para estar perto do seu povo. Aos padres que devem percorrer dias e dias de canoa para chegar a vilarejos e aldeias remotas para visitar as ovelhas isoladas do seu rebanho.
Há uma grandiosidade que se fala pouco na vida ordinária da Igreja. Uma grandiosidade capaz de fazer a história mesmo se jamais conquistará as páginas dos manuais ou as luzes da ribalta. É a grandiosidade do serviço no escondimento, de quem se doa sem protagonismos, confiando apenas na graça de Deus. É a grandiosidade da vida presenteada aos outros pelos padres “pecadores perdoados”, como o Papa define também a si mesmo, que tendo experimentado e continuando a experimentar a misericórdia, deixam a Deus a iniciativa e o seguem no serviço à sua comunidade.
Precisava de uma palavra de encorajamento, de estima de proximidade. Precisava de um agradecimento como o que o Papa escreveu na sua carta. Porque a dor causada no corpo eclesial pela infidelidade de poucos – como ocorreu com a terrível tragédia dos abusos – não corresse o risco de fazer esquecer a fidelidade de muitos, vivida apesar das fadigas e dos limites humanos. Por isso o Papa Francisco quis agradecer aos padres que ainda hoje oferecem a própria existência a Deus servindo-o com o seu povo, e renova o “sim” inicial da própria vocação recordando do chamado recebido. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa aos sacerdotes: "dou graças a Deus por todos vocês"
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Papa Francisco enviou uma carta por ocasião dos cento e sessenta anos da morte do Cura d’Ars: apoio, proximidade e encorajamento a todos os padres que apesar das fadigas e desilusões celebram todos os dias os sacramentos e acompanham o Povo de Deus
Sergio Centofanti – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco escreveu uma carta aos sacerdotes, recordando os cento e sessenta anos da morte do Cura d’Ars, padroeiro dos párocos. Uma carta que exprime encorajamento e proximidade aos “irmãos presbíteros, que sem fazer alarde”, deixam tudo para se empenhar na vida diária das suas comunidades; aos sacerdotes que trabalham na “trincheira”; também a todos aqueles que diariamente enfrentam desafios sem pensar em si mesmos, “para que o povo de Deus seja cuidado e acompanhado”.
“Dirijo-me a cada um de vocês – escreve o Papa – que, em muitas ocasiões, de modo inobservado e sacrificado, no cansaço ou na fadiga, na doença ou na desolação, assumem a missão como um serviço a Deus e ao seu povo e, mesmo com todas as dificuldades do caminho, escrevem as páginas mais belas da vida sacerdotal”.
Dor
A carta do Papa tem início com um olhar ao escândalo dos abusos: “Nos últimos tempos pudemos ouvir mais claramente o clamor, muitas vezes silencioso e silenciado, de irmãos nossos, vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais por parte dos ministros ordenados”. Mas, explica Francisco, mesmo sem “negar ou ignorar o dano causado”, seria “injusto não reconhecer que tantos sacerdotes que de maneira constante e íntegra, oferecem tudo o que são e que têm pelo bem dos outros”. Os padres “que fazem da sua vida uma obra de misericórdia em regiões ou situações muitas vezes inóspitas, remotas ou abandonadas, arriscando sua própria vida”.
O Papa agradece todos “pela coragem e constante exemplo” e escreve que os “tempos da purificação eclesial que estamos vivendo, nos tornarão mais alegres e simples e em um futuro não muito distante, serão muito fecundos”.
Convida então a não desencorajar, porque “o Senhor está purificando a sua Esposa e a todos nos está convertendo a Ele. Permite-nos experimentar a prova para que comprendamos que, sem Ele, somos pó”.
Gratidão
A segunda palavra-chave é “gratidão”. Francisco recorda que a “vocação, mais do que uma escolha nossa, é resposta de um chamado gratuito do Senhor”. O Papa exorta a “retornar aos momentos luminosos” em que experimentamos o chamado do Senhor para consagrar toda a nossa vida ao seu serviço, voltar “ao sim” crescido no seio de uma “comunidade cristã”.
Em momentos de dificuldade, de fragilidade, de fraqueza, “quando a pior de todas as tentações é a de ficar a ruminar a desolação”, é crucial – explica o Pontífice – “não perder a memória cheia de gratidão da passagem do Senhor na nossa vida” que “nos convidou a apostar n’Ele e pelo seu povo”.
A gratidão “é sempre uma arma poderosa”. Só se formos capazes de contemplar e agradecer por todos os gestos de amor, generosidade, solidariedade e confiança, bem como de perdão, paciência, suportação e compaixão com que fomos tratados, é que deixaremos o Espírito obsequiar-nos com aquele ar puro capaz de renovar (e não remendar) a nossa vida e missão”.
Francisco agradece os irmãos sacerdotes “pela fidelidade aos compromissos assumidos”. É “muito significativo” - observa – que em uma sociedade e em uma cultura que transformou o “gasoso” em valor, a existência de pessoas que apostem na felicidade de doar a vida.
Agradece pela celebração diária da Eucaristia e pelo ministério do sacramento da Reconciliação, vivido “sem rigorismos, nem laxismos”, ocupando-se das pessoas e “acompanhando-as no caminho da conversão”.
Agradece pelo anúncio do Evangelho “feito a todos com ardor”: “Obrigado por todas as vezes que, deixando-se comover por dentro, vocês acolheram os que caíram, curaram suas feridas… Nada é mais urgente do que isso: proximidade, vizinhança, ficar próximo da carne do irmão que sofre”.
O coração do pastor – afirma Francisco – é aquele que “aprendeu o gosto espiritual de se sentir um só com o seu povo, que não esquece que saiu dele… com estilo de vida austero e simples, sem aceitar privilégios que não têm sabor de Evangelho”. Mas o Papa agradece e convida a agradecer também “pela santidade do Povo fiel de Deus”, manifestada “nos pais que criam seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham para levar o pão para casa, nos doentes, nas religiosas idosas que continuam a sorrir”.
Coragem
A terceira palavra é “coragem”. O Papa quer encorajar os sacerdotes: “A missão à qual fomos chamados não significa que devemos ser imunes ao sofrimento, à dor e até mesmo à incompreensão, ao contrário, pede-nos para os enfrentar e assumir a fim de deixar que o Senhor os transforme e nos configure mais a Ele”.
Um bom teste para saber como se encontra o coração do pastor – escreve Francisco – “é perguntar-se como enfrentamos a dor”. De fato, às vezes pode acontecer, de se comportar como o levita ou o sacerdote da parábola do Bom Samaritano, que ignora o homem caído no chão, outras vezes aproxima-se da dor intelectualizando, e refugiando-se em frases comuns (“a vida é assim, não se pode fazer nada”) terminando por dar espaço ao fatalismo. “Ou então aproxima-se com um olhar de preferência seletiva gerando apenas isolamento e exclusão”.
O Papa adverte também o que Bernanos definiu como o “elixir mais precioso do demônio”, isto é, “a tristeza adocicada que os padres do Oriente chamavam acédia. A tristeza que paralisa a coragem de continuar no trabalho, na oração”, que “torna estéril todas as tentativas de transformação e conversão, propagando ressentimento e aversão”.
Francisco convida a pedir “ao Espírito Santo que venha despertar-nos”, para “dar uma sacudida na nossa sonolência”, para desafiar a habitualidade e “nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva do Ressuscitado”.
“Ao longo da nossa vida, pudemos contemplar que com Jesus Cristo renasce sem cessar a alegria”. Uma alegria, afirma o Pontífice, que “não nasce de esforços voluntariosos ou intelectualistas, mas da confiança de saber que continuam eficazes as palavras de Jesus a Pedro”.
Na oração – explica o Papa – “experimentamos aquela nossa bendita precariedade que nos lembra que somos discípulos carecidos do auxilio do Senhor e nos liberta da tendência prometeuca dos que confiam unicamente em suas próprias forças”.
A oração do pastor “nutre-se e encarna-se no coração do Povo de Deus. Traz as marcas da alegria e das feridas do seu povo”. Uma confiança que preserva-nos a todos de procurar ou querer respostas fáceis, rápidas ou pré-fabricadas, permitindo ao Senhor ser Ele (e não as nossas receitas e prioridades) a mostrar-nos um caminho de esperança”. Portanto “reconheçamos a nossa fragilidade, sim, mas deixemos que Jesus a transforme e nos projete sempre de novo para a missão”.
Para manter o coração animado, o Papa observa que não devem ser negligenciadas duas ligações constitutivas da nossa identidade. A primeira com Jesus. É o convite a não esquecer “o acompanhamento espiritual, tendo um irmão com quem falar, confrontar-se, debater e discernir o próprio caminho”.
A segunda ligação é com o povo. “Não se isolem do seu povo e dos presbíteros ou das comunidades. E muito menos não em grupos fechados ou elitistas… um ministro corajoso é um ministro sempre em saída”. O Papa pede aos sacerdotes para “estar perto dos que sofrem, de estar sem vergonha perto das misérias humanas e, porque não, vivê-las como próprias para as tornar Eucaristia”. Para serem “artesãos de relação e comunhão, abertos e confiantes e esperançosos da novidade que o Reino de Deus quer suscitar hoje”.
Louvor
A última palavra proposta na carta é “louvor”. É impossível falar de gratidão e encorajamento sem contemplar Maria que “nos ensina o louvor capaz de abrir o olhar para o futuro e devolver a esperança ao presente”. Porque “olhar Maria é voltar a crer na força revolucionária da ternura e do afeto”.
Por isso – conclui o Papa – “se alguma vez nos sentirmos tentados a isolar-nos e fechar-nos em nós mesmos e nos nossos projetos, protegendo-nos dos caminhos sempre poeirentos da história, ou se o lamento, a queixa, a crítica ou a ironias tomam conta das nossas ações sem vontade de lutar, esperar e amar … olhemos a Maria para que purifique os nossos olhos de todos os “ciscos” que nos possa impedir de estarmos atentos e despertos para contemplar e celebrar a Cristo que vive no meio do seu Povo”.
“Irmãos – são as palavras no final da carta – digo mais uma vez, não cesso de dar a graças a Deus por todos vocês… deixemos que seja a gratidão a suscitar o louvor e que nos encoraje mais uma vez na missão de ungir os nossos irmãos na esperança. A ser homens que testemunhem com a sua vida a compaixão e a misericórdia que só Jesus nos pode dar”. Fonte: www.vaticannews.va
Agosto não será um mês 'vazio' no Vaticano.
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Estejam preparados para as manchetes que o papa-que-não-sai-de-férias produzirá nestes “dias de cão” do verão romano. A reportagem é de Robert Mickens, publicada por La Croix International, 26-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Antigamente, a Festa de São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho, significava o fim do ano de trabalho e o começo de um tempo de inatividade no Vaticano.
O papa e sua equipe na Cúria Romana começavam a sair da cidade para tirar suas férias de verão. João Paulo II e Bento XVI costumavam passar vários dias nos Alpesno início de julho, antes de se retirarem para a vila papal de Castel Gandolfo durante o resto do verão.
Os escritórios vaticanos ficavam escassamente povoados, e os assuntos e projetos mais importantes ficavam em suspenso. A burocracia central da Igreja era basicamente colocada no piloto automático, e só uma grande emergência poderia despertá-la do seu sono (o que aconteceu de vez em quando).
Mas tudo isso mudou em junho de 2013 com a chegada do Papa Francisco. Sendo um jesuíta da Argentina, onde é inverno durante o verão romano, ele era bem conhecido (e frequentemente criticado) por nunca tirar férias.
“Bem, sim, me disseram isso!”, admitiu Francisco um ano depois, quando jornalistas que o acompanhavam de volta para Roma em uma visita em agosto de 2014 à Coreia do Sul insistiram para saber se era saudável para ele não fazer uma pausa.
"Eu tirei férias, agora, em casa, como costumo fazer, porque... uma vez eu li um livro interessante, o título era: ‘Alegre-se por ser neurótico’!” A referência era a um livro originalmente publicado em 1936 pelo psiquiatra estadunidense Louis E. Bisch (+1963).
“Eu também tenho algumas neuroses”, brincou o papa. “Mas é preciso tratar bem delas, das neuroses. Servir-lhes o mate todos os dias”, disse ele.
“Uma dessas neuroses é que eu sou um pouco apegado ao habitat. A última vez que eu tirei férias fora de Buenos Aires, com a comunidade jesuíta, foi em 1975”, explicou o papa.
“Eu sempre tiro férias – de verdade! – mas, no habitat: mudo de ritmo. Durmo mais, leio as coisas de que eu gosto, ouço música, rezo mais... E isso me relaxa. Em julho e parte de agosto, eu fiz isso, e foi bom”, disse Francisco.
E, assim, a defesa descansou.
Mas não o Papa Francisco. Nem mesmo nos Dias de Cão do Verão – que tradicionalmente se estendem do início de julho até meados de agosto.
“Viagens de negócios”, em vez de viagens de férias, longe de Roma
Isso ficou claro no primeiro ano do seu pontificado, quando, em vez de partir para os Alpes em julho, como seus antecessores, Francisco decidiu ir para a ilha italiana de Lampedusa, refúgio e porto de entrada europeu para migrantes e requerentes de asilo náufragos.
Essa visita no dia 8 de julho de 2013 foi para destacar a situação de todos os refugiados e imigrantes. E agora, seis anos depois, uma das características mais marcantes do pontificado é que Francisco se tornou uma voz profética e um defensor global dessas “pessoas em movimento”.
O papa, agora com 82 anos, também viajou durante agosto nos últimos anos. Sua visita de 13 a 18 de agosto à Coreia do Sul em 2014 foi a primeira. Dois anos depois, no dia 4 de agosto, ele foi à cidade natal do seu padroeiro, São Francisco, para celebrar o VIII Centenário do Perdão de Assis.
E, no ano passado, o papa passou o último fim de semana de agosto em Dublin, para o Encontro Mundial das Famílias. Essa viagem terminou com uma nota dramática, quando o ex-núncio papal nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Maria Viganò, lançou um violento ataque contra Francisco, acusando-o de conspiração, de mentiras e de outras formas de corrupção. Viganò exigiu até a renúncia do papa.
Reformas não param em agosto
Francisco não deve fazer nenhuma “viagem de negócios” neste mês de agosto. Ele permanecerá no Vaticano e retomará suas audiências gerais de quarta-feira, as quais – como parte das suas “férias em casa” – foram suspensas durante todo o mês de julho.
Espera-se que ele estude os esboços finais da constituição apostólica – e as sugestões que bispos e teólogos de todo o mundo recentemente fizeram – para uma grande revisão e reforma da Cúria Romana.
Mesmo que esse documento esteja sendo revisado para uma publicação final, que provavelmente não ocorrerá até o fim deste ano, é possível esperar que o papa continuará anunciando reformas e nomeações concretas.
Ele fez isso em quase todos os meses de agosto desde a sua eleição. No ano passado, Francisco reescreveu a seção 2.267 do Catecismo da Igreja Católica para codificar a imoralidade da pena de morte.
“Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que ‘a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa’, e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo”, afirma a nova cláusula.
Ele também publicou a sua “Carta ao Povo de Deus” em agosto passado, na qual identifica o clericalismo como um dos principais fatores da crise dos abusos sexuais entre padres.
Em meados de agosto de 2016, o papa fundiu oficialmente vários dicastérios vaticanos e criou o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, nomeando como seu prefeito um bispo irlandês-americano – agora cardeal –, Kevin Farrel. Além disso, Francisc ofinalizou a fusão de vários outros escritórios e anunciou a criação do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
O mês de agosto de 2016 também foi o momento em que o papa formou uma comissão internacional de estudos sobre as mulheres diaconas, que abriu uma discussão mundial sobre uma questão que ainda não foi resolvida.
Nomeações sob o sol de agosto
Antigamente (ou seja, na era pré-Francisco), o Vaticano às vezes esperava até agosto – quando a maioria dos meios de comunicação de férias não prestava muita atenção – para fazer certas ações ou nomeações pessoais que pudessem ser controversas.
Algumas pessoas ainda se lembram do dia 17 de agosto de 2009. Foi quando Bento XVI enviou uma das autoridades mais importantes do Vaticano (o seu vice-“ministro das Relações Exteriores”) para o distante posto diplomático da Venezuela. O movimento provocou uma desordem interna no governo de Bento XVI, e, conforme alguns argumentam, foi quando o pontificado começou a sair dos trilhos.
A autoridade que foi enviada à Venezuela naquela época é agora cardeal e atual secretário de Estado do papa. Seu nome é Pietro Parolin. Francisco o nomeou para o seu cargo atual em 31 de agosto de 2013.
O Papa Francisco fez outra nomeação importante em agosto de 2013, quando escolheu um padre polonês de 49 anos do dicastério das cerimônias litúrgicas papais para ser esmoleiro (chefe) do dicastério da caridade do papa. Esse homem, Konrad Krajewski, tornou-se cardeal cinco anos mais tarde, para a surpresa de quase todos no Vaticano.
Ao longo dos anos, Francisco fez várias outras nomeações importantes – especialmente de bispos em lugares-chave em todo o mundo – durante o mês normalmente calmo de agosto. Ele criou alguns desses homens cardeais.
O que esperar de agosto
Nas últimas semanas, o papa fez importantes nomeações para o departamento de comunicação do Vaticano.
Ele escolheu Matteo Bruni, um leigo italiano nascido na Inglaterra, para ser diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé no dia 18 de julho. Uma semana depois, ele escolheu Cristiane Murray, uma leiga brasileira que trabalhava na Rádio Vaticano desde 1995, como vice de Bruni.
Mais mudanças estão sendo planejadas para o Dicastério para a Comunicação, incluindo o estabelecimento de uma espécie de “agência de notícias” vaticana. Não está claro quando essa reforma será anunciada, mas ela pode ocorrer já no próximo mês.
O papa também precisa nomear um prefeito para a Secretaria para a Economia, um posto que está vago desde fevereiro passado, quando o cardeal George Pell completou seu mandato de cinco anos no comando. Mas o cargo está vago, de fato, há dois anos, depois que o cardeal retornou para a sua Austrália natal no fim de junho de 2017, para ser julgado (e condenado) por abuso sexual.
Há fortes sugestões de que o Papa Francisco nomeará em breve o sucessor de Pell e vários outras autoridades importantes para o diversificado setor financeiro do Vaticano. Isso também pode ocorrer naquele que parece ser outro mês tórrido de agosto.
Então, como dizem os ingleses, “keep calm and carry on” [mantenha a calma e siga em frente]. Porque é exatamente isso que o papa vai fazer. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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