O segundo dia do Encontro sobre a Proteção dos menores no Vaticano
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O segundo dia do Encontro no Vaticano sobre a Proteção dos Menores foi aberto pela oração da manhã em que se pediu para viver uma fé sem hipocrisia. Também nesta sexta-feira foi lida a experiência de uma vítima de abusos: "Quando eu fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho ... todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho sem saber a quem recorrer".
Sergio Centofanti, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Foi aberto nesta manhã de sexta-feira na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, na presença do Papa, o segundo dia do Encontro sobre "A Proteção dos Menores na Igreja" (21-24 fevereiro). http://www.pbc2019.org/it/conferenza/programma
Na oração inicial de hoje, guiada por Dom Pierbattista Pizzaballa, administrador apostólico de Jerusalém dos Latinos, após o canto do hino "Veni, Creator Spiritus", foi pronunciada em espanhol pela irmã Aurora Calvo Ruiz, superiora geral das Mercedárias da Caridade, uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos , onde o apóstolo convida a viver uma fé sincera, longe de qualquer falsidade e duplicidade: “O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor”.
Logo depois, a experiência de uma vítima de abuso foi lida em inglês:
“ Quando Jesus estava prestes a morrer, sua mãe estava com ele. Quando fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho. Quando eu precisei de alguém na igreja para falar sobre meus abusos e minha solidão, todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho, sem saber a quem recorrer. ”
Como no dia de ontem, depois de ouvir o testemunho, seguiu-se um longo silêncio. Na oração final, dom Pizzaballa rezou para que "ninguém jamais tivesse que temer a violência e a opressão" na Igreja, "mas sim encontrar nela toda segurança e ajuda". Então concluiu com este pedido a Deus:
“ Impeça àqueles que exercem o ministério na Igreja de abusar dos outros para seus próprios fins, mas dê a eles a humildade de servir os outros desinteressadamente como discípulos de Jesus. ”
No final da oração, o padre Federico Lombardi, moderador do Encontro, lembrou que hoje a Igreja celebra a Solenidade da Cátedra de São Pedro e "portanto - observou - toda a Igreja reza pelo Santo Padre, pelo seu serviço de ensinamento e guia" e acrescentou: "Fazemos os votos de todo o coração, junto com toda a Igreja ".
O padre Lombardi recordou em seguida o desejo do Papa Francisco de que todos os participantes no Encontro pudessem ter à sua disposição uma documentação oficial das Nações Unidas sobre os temas da luta contra a violência contra as crianças. Por esta razão, entre os documentos distribuídos aos presentes - sublinhou - há o mais recente relatório global das Nações Unidas sobre o combate à violência sobre crianças, intitulado “Toward a world free from violence. Global survey on violence against children” (Rumo a um mundo livre da violência. Pesquisa global sobre violência contra crianças), e o relatório Unicef 2017 “A familiar face”, isto é" um rosto familiar, para dizer que a violência contra as crianças, muitas vezes, vem de alguém que é familiar, próximo às crianças. E isso - disse o padre Lombardi - é resultado das investigações universais sobre o problema da violência contra crianças".
Os documentos foram enviados pela Sra. Marta Maria de Morais dos Santos Pais, representante oficial do secretário geral da ONU para o combate à violência contra as crianças, que enviou um e-mail dizendo estar honrada em por poder contribuir com esse "importante Encontro" sobre a proteção das crianças na Igreja e enviou os seus melhores votos "de uma reflexão frutuosa e de bons resultados deste encontro". Fonte: www.vaticannews.va
TERÇA-FEIRA 18. HOMILIA DO PAPA: “os pobres pagam a conta das guerras, o dilúvio da atualidade”.
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Na missa matutina na Casa Santa Marta, o Papa Francisco destacou que Deus nos ama com o coração, não com as ideias. A Ele é preciso pedir a graça de chorar diante das calamidades do mundo, aos perseguidos, a quem morre na guerra.
Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano
O dilúvio universal e as guerras de hoje: o Papa Francisco traça uma linha de continuidade entre o que foi narrado no Livro do Gênesis e a atualidade, recordando o sofrimento das crianças famintas e órfãs, dos mais fracos, dos pobres que pagam “a conta da festa”. Na homilia da missa na Casa Santa Marta, o Pontífice exortou a ter um coração que se pareça com o coração de Deus, capaz de sentir raiva, de sentir dor, mas sobretudo de ser irmão com os irmãos, pai com os filhos; um coração humano e divino.
Deus tem sentimentos
Comentando a primeira leitura, o Papa falou da dor de Deus diante da malvadeza dos homens e no arrependimento por tê-los criado, a ponto de prometer cancelá-los da face da terra. É um Deus que tem sentimentos – afirmou o Papa –, “não é abstrato” de ideias puras e “sofre”, e este é “o mistério do Senhor”. Os sentimentos de Deus, Deus pai que nos ama – e o amor é uma relação – mas é capaz de enraivecer-se, de irritar-se. É Jesus que vem e mostra o caminho para nós, com o sofrimento do coração, tudo... Mas o nosso Deus tem sentimentos. O nosso Deus nos ama com o coração, não nos ama com as ideias, nos ama com o coração. E quando nos acaricia, nos acaricia com o coração e quando nos repreende, como um bom pai, nos repreende com o coração. Ele sofre mais do que nós.
Os nossos tempos não são melhores que os tempos do dilúvio
É “uma relação de coração a coração, de filho a pai que se abre e se Ele é capaz de sentir dor no seu coração, também nós – prosseguiu o Papa – saremos capazes de sentir dor diante Dele”. “Não é sentimentalismo – afirmou –, esta é a verdade.” Francisco explicou que os tempos de hoje não são diferentes dos tempos do dilúvio; existem problemas, as calamidades do mundo, os pobres, as crianças, os famintos, os perseguidos, os torturados, “as pessoas que morrem na guerra porque lançam bombas como se fossem balas”.
Eu não creio que os nossos tempos sejam melhores do que os tempos do dilúvio, não creio: as calamidades são mais ou menos as mesmas, as vítimas são mais ou menos as mesmas. Pensemos por exemplo nos mais fracos, nas crianças. A quantidade de crianças famintas, de crianças sem educação: não podem crescer em paz. Sem pais porque foram massacrados pelas guerras… Crianças-soldado… Pensemos nessas crianças.
Chorar como Jesus
A graça a ser pedida – concluiu o Papa – é ter “um coração como o coração de Deus, que se pareça com o coração de Deus, um coração de irmãos com os irmãos, de pai com os filhos, de filho com os pais. Um coração humano, como aquele de Jesus, é um coração divino”. Há a grande calamidade do dilúvio, há a grande calamidade das guerras de hoje, onde a conta da festa é paga pelos mais fracos, os pobres, as crianças, aqueles que não têm recursos para ir avante. Pensemos que o Senhor está entristecido em seu coração e nos aproximemos Dele e digamos: “Senhor, olhe essas coisas, eu O compreendo”. Consolemos o Senhor: “Eu O compreendo e O acompanho”, acompanho na oração, na intercessão por todas essas calamidades que são fruto do diabo, que quer destruir a obra de Deus. Fonte: www.vaticannews.va
DOMINGO 17: “Sejamos testemunhas da felicidade de Deus, não de ídolos”. Francisco.
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Confira o texto integral da alocução do Papa Francisco antes da Oração Mariana do Angelus deste domingo (17), dirigido aos milhares de fiéis na Praça São Pedro.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (Lc 7, 17.20-26) nos apresenta as Bem-aventuranças na versão de São Lucas. O texto se articula em quatro bem-aventuranças e quatro mandamentos formulados com a expressão “ai de vós”. Com essas palavras, fortes e incisivas, Jesus nos abre os olhos, nos faz ver com o seu olhar, para além das aparências, longe da superfície e nos ensina a discernir as situações com a fé.
Jesus declara bem-aventurados os pobres, os que tem fome, os aflitos e os perseguidos; e alerta aqueles que são ricos, saciados, sorridentes e aclamados pela pessoas. A razão dessa paradoxal bem-aventurança está no fato de que Deus está próximo àqueles que sofrem e intervém para libertá-los das suas escravidões; Jesus vê isso, já vê a bem-aventurança além da realidade negativa. E, igualmente, o “ai de vós”, dirigido àqueles que hoje vivem bem, serve a “despertá-los” do engano perigoso do egoísmo e de abri-los à lógica do amor até que haja tempo.
A página do Evangelho de hoje nos convida, então, a refletir sobre o sentido profundo de ter fé, que consiste em confiarmos totalmente no Senhor. Trata-se de derrubar os ídolos mundanos para abrir o coração ao Deus vivo e verdadeiro; só Ele pode dar à nossa existência aquela plenitude tanto desejada ou difícil para se alcançar.
São muitos, de fato, inclusive nos nossos dias, aqueles que se propõem como distribuidores de felicidade: prometem sucesso a curto prazo, grande retorno de fácil alcance, soluções mágicas para cada problema e assim por diante. E aqui é fácil escorregar sem perceber no pecado contra o primeiro mandamento: a idolatria, substituir Deus com um ídolo. Idolatria e ídolos parecem coisas de outros tempos, mas, na verdade, são de todos os tempos! Descrevem algumas posturas contemporâneas melhor que muitas análises sociológicas.
Por isso Jesus nos abre os olhos para a realidade. Somos chamados para a felicidade, para sermos bem-aventurados, e nos tornamos desde o momento em que nos colocamos do lado de Deus, do seu Reino, da parte daquilo que não é efêmero, mas dura pela vida eterna. Somos felizes se nos reconhecemos necessitados perante Deus e se, como Ele e com Ele, estivermos próximos aos pobres, aos aflitos e a quem tem fome. A gente se torna capaz de alegria cada vez que, possuindo bens deste mundo, não fazemos ídolos a quem vendemos a nossa alma, mas somos capazes de compartilhar com os nossos irmãos. Sobre isso hoje a liturgia nos convida, mais uma vez, a nos interrogar e a praticar a verdade no nosso coração.
As Bem-aventuranças de Jesus são uma mensagem decisiva que nos motiva a não recolocar a nossa crença nas coisas materiais e passageiras, a não procurar a felicidade seguindo os vendedores de fumaça, os profissionais da ilusão. O Senhor nos ajuda a abrir os olhos, a capturar um olhar mais penetrante sobre a realidade, a sarar da miopia crônica que o espírito mundano nos contamina.
Com a sua Palavra paradoxal nos motiva e nos faz reconhecer aquilo que realmente nos enriquece, nos sacia, nos dá alegria e dignidade. Enfim, aquilo que realmente dá sentido e plenitude à nossa vida. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 13: "Na oração cristã não há espaço para o 'eu'". Francisco.
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Na audiência geral, Francisco lembrou que o 'Pai Nosso' não é uma oração individualista.: "No diálogo com Jesus, não deixamos o mundo fora da porta do nosso quarto... levamos as pessoas e situações em nosso coração!"
Cristiane Murray – Cidade do Vaticano
Na catequese pronunciada esta quarta-feira (13/02), o Papa propôs uma reflexão sobre o ‘Pai Nosso’, explicando como rezar melhor a oração que Jesus nos ensinou.
A Sala Paulo VI, dentro do Estado do Vaticano, ficou repleta de fiéis, romanos e turistas que receberam o Papa com o carinho de sempre, cantos e aplausos e em seguida, ouviram suas palavras com atenção.
Introspecção do diálogo com Jesus
Para rezar - iniciou o Papa - são necessários silêncio e introspecção.
“A verdadeira oração se realiza no segredo na consciência, do fundo do coração: com Deus é impossível fingir, é como o olhar de duas pessoas, o homem e Deus, quando se cruzam”. Mas apesar disso, Jesus não nos ensina uma oração intimista ou individualista. Não deixamos o mundo fora da porta do nosso quarto... levamos as pessoas e situações em nosso coração! “Na oração do Pai Nosso, há uma palavra que brilha pela sua ausência: uma palavra que em nossos tempos – como talvez sempre – todos consideram importante: a palavra ‘eu'.”
Primeiramente nos dirigimos a Deus como a Alguém que nos ama e escuta (seja santificado o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade) e, depois, quando lhe apresentamos uma série de petições (dai-nos hoje o nosso pão cotidiano, perdoai as nossas ofensas, não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos do mal), as fazemos na primeira pessoa do plural – “nós” – isto é, rezamos como uma comunidade de irmãos e irmãs. “Até as necessidades mais elementares do homem – como ter alimento para saciar sua fome – são todas feitas no plural. Na oração cristã, ninguém pede o pão para si, mas o suplica para todos os pobres do mundo”, disse Francisco.
Pedir a Jesus que nos faça ter compaixão
Na oração, o cristão leva todas as dificuldades e sofrimentos de quem está ao seu lado, tanto dos amigos como de quem lhe faz mal, imitando a compaixão que Jesus sentia pelos pecadores.
Mas pode acontecer – ressalvou o Papa – que alguém não perceba o sofrimento a seu redor, não sinta pena pelas lágrimas dos pobres, fique indiferente a tudo. Isto significa que seu coração está petrificado. Neste caso, seria bom pedir ao Senhor que o toque com o seu Espírito e sensibilize seu coração.“ Cristo não ficou alheio às misérias do mundo. Toda vez que percebia uma solidão, uma ferida no corpo ou no espírito, sentia forte compaixão.”
Às 7 mil pessoas presentes, o Papa perguntou: “Quando rezamos, nos abrimos ao grito de tanta gente, próxima ou distante? Ou penso na oração como uma espécie de anestesia, para ficar mais tranquilo? Isto seria um terrível equívoco”.
A oração deve abrir o coração ao próximo para que amemos com um amor compassivo e concreto, sabendo que tudo aquilo que fizermos “a um destes meus irmãos mais pequeninos, -afirma Jesus - foi a mim mesmo que o fizestes”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa e o martírio de João: a vida vale somente se doada no amor
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Papa e o martírio de João: a vida vale somente se doada no amor
O Papa Francisco, na homilia da Missa na Casa Santa Marta, convida a meditar sobre os quatro protagonistas do fim do Batista: o rei corrupto e indeciso, a mulher diabólica que odiava, a dançarina vaidosa e caprichosa, e o profeta decapitado, sozinho, na prisão, o "maior homem nascido de uma mulher", que rebaixou a si mesmo para fazer crescer Jesus.
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano (08/02/2019)
O martírio de João, “o maior homem nascido de mulher” segundo Jesus, é um grande testemunho: a vida tem valor somente na doação ao outros, “no amor, na verdade, na vida cotidiana, na família”. Assim o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia na homilia na missa celebrada na Casa Santa Marta. O trecho, extraído de São Marcos, fala da decapitação de São João Batista.
Quatro personagens nos quais o Senhos nos fala
O Papa convida a abrir o coração para que o Senhor nos fale. Existem quatro personagens: o rei Herodes “corrupto e indeciso”, Herodíades, a mulher do irmão do rei, “que sabia somente odiar”, Salomé, “a bailarina vaidosa”, e “o profeta decapitado solitário na prisão”. Uma narração que Francisco descreve começando pelo fim, com os discípulos de João que pedem o corpo do profeta para sepultá-lo.
João nos mostra Jesus
“O maior terminou assim”, comentou o Papa. “Mas João sabia, ele sabia que deveria se aniquilar”. Ele o havia dito desde o início, falando de Jesus: “Ele deve crescer, eu, ao invés, diminuir”. E ele diminuiu até a morte”. Foi o precursor, disse Francisco, o anunciador de Jesus, que disse “Não sou eu, este é o Messias”. “Ele o mostrou aos primeiros discípulos, recordou o Papa, e depois a sua luz se apagou aos poucos, até a escuridão daquela cela, na prisão, onde, solitário, foi decapitado”.
O martírio é um serviço
Mas por que isso aconteceu?, perguntou Francisco. “A vida dos mártires não é fácil de contar. O martírio é um serviço, um mistério, é um dom da vida muito especial e muito grande”. E, no final, as coisas se concluem violentamente, por causa de “atitudes que levam a tirar a vida de um cristão, de uma pessoa honesta, e a fazê-lo mártir”.
O rei corrupto que não consegue mudar de vida
O Papa então analisa as atitudes dos três protagonistas do martírio. Antes de tudo, o rei, que “acreditava que João fosse um profeta”, “o ouvia de bom grado”, a um certo ponto “o protegia”, mas o mantinha na prisão. Estava indeciso, porque João “repreendia o seu pecado”, o adultério. No profeta, explicou o Papa Francisco, Herodes “ouvia a voz de Deus, que lhe dizia: ‘Muda de vida’, mas não conseguia fazê-lo. O rei era corrupto, e onde há corrupção, é muito difícil sair”.
Um corrupto que “buscava equilíbrios diplomáticos” entre a própria vida, não só adúltera, mas também de “tantas injustiças que levava em frente”, e a sua consciência, “que sabia que aquele homem era santo”. E não conseguia desfazer o nó.
A mulher que tinha o espírito satânico de ódio
Então o Papa descreve Herodíades, a mulher do irmão do rei, morto por Herodes para ficar com ela. O Evangelho diz dela somente que "odiava" João, porque dizia as coisas claramente. "E sabemos que o ódio é capaz de tudo – comenta Francisco - é uma grande força. O ódio é o sopro de satanás. Pensemos que ele não sabe amar, não pode amar. O seu "amor" é o ódio. E essa mulher tinha o espírito satânico do ódio", que destrói.
O rei diz a Salomé: "Eu te darei tudo", como Satanás
Por fim, o terceiro personagem, a filha de Herodíades, Salomé, brava em dançar, "que agradou tanto aos convidados, como ao rei". Herodes, naquele entusiasmo, promete à moça "Eu te darei tudo". "Usa as mesmas palavras – recorda o Pontífice - que usou Satanás para tentar Jesus." Se você me adorar eu lhe darei tudo, todo o reino. " Mas Herodes não o podia saber: Por detrás desses personagens está satanás, semeador de ódio na mulher, semeador de vaidade na moça, semeador de corrupção no rei. E o "maior homem nascido de uma mulher" acabou sozinho, em uma cela escura da prisão, por capricho de uma dançarina vaidosa, o ódio de uma mulher diabólica e a corrupção de um rei indeciso. É um mártir, que deixou sua vida diminuísse, diminuísse, diminuísse, para dar lugar ao Messias.
O testemunho de um grande homem e grande santo
João morre ali, na cela, no anonimato, "como tantos dos nossos mártires", comenta o Papa Francisco, amargamente. O Evangelho diz somente que "os discípulos foram pegar o cadáver para sepultá-lo". Pensemos todos, acrescenta o Papa, que este "é um grande testemunho, de um grande homem, de um grande santo": A vida só tem valor no doá-la, no doá-la no amor, na verdade, no doá-la aos outros, na vida cotidiana, na família. Sempre doá-la. Se alguém pega a vida para si mesmo, para guardá-la, como o rei em sua corrupção ou a senhora com o ódio, ou a menina, a jovem com sua própria vaidade - um pouco adolescente, inconsciente - a vida morre , a vida acaba murchando, não serve.
João, conclui Francisco, deu a sua vida: "Eu, pelo contrário, devo diminuir para que Ele seja ouvido, seja visto, para que Ele se manifeste, o Senhor": Eu só aconselho a vocês a não pensarem muito sobre isso, mas de recordar a imagem, os quatro personagens: o rei corrupto, a senhora que só sabia odiar, a jovem vaidosa que não tem consciência de nada, e o profeta decapitado, sozinho em uma cela. Olhar para isso, e cada um abra o coração para que o Senhor lhe fale sobre isso. https://www.vaticannews.va
Íntegra do discurso do Papa no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi
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Íntegra do discurso do Papa no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi
Confira o discurso integral do Papa Francisco no Encontro inter-religioso realizado no Founder’s Memorial, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, nesta segunda-feira (04/02).
VISITA DO SANTO PADRE AOS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
- Encontro Inter-religioso -
Al Salamò Alaikum ! A paz esteja convosco!
De coração agradeço a Sua Alteza o Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan e ao Doutor Ahmad Al-Tayyib, Grande Imã de Al-Azhar, pelas suas palavras. Estou grato ao Conselho dos Anciãos pelo encontro que acabamos de ter na Mesquita do Xeque Zayed.
Saúdo cordialmente as Autoridades civis e religiosas e o Corpo Diplomático. Permitam-me também um sincero obrigado pela calorosa recepção que todos reservaram a mim e à nossa delegação.
Agradeço também a todas as pessoas que contribuíram para tornar possível esta viagem e que trabalharam com dedicação, entusiasmo e profissionalismo para este evento: os organizadores, o pessoal do Protocolo, o da Segurança e todos aqueles que, nos «bastidores», de várias maneiras deram a sua contribuição. Um agradecimento particular ao Senhor Mohammed Abdel Salam, ex-conselheiro do Grande Imã.
Daqui, da vossa pátria, dirijo-me a todos os países desta Península, saudando-os cordialmente com respeito e amizade.
De ânimo reconhecido ao Senhor, aproveitei o ensejo do VIII centenário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kamil para vir aqui como crente sedento de paz, como irmão que procura a paz com os irmãos. Desejar a paz, promover a paz, ser instrumentos de paz: para isto, estamos aqui.
Arca de fraternidade
O logotipo desta viagem representa uma pomba com um ramo de oliveira. É uma imagem que nos traz à memória a narração do dilúvio primordial, presente em várias tradições religiosas. Segundo a narração bíblica, para preservar a humanidade da destruição, Deus pede a Noé para entrar na arca com a sua família. Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca de fraternidade.
O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem da única família humana. Criador de tudo e de todos, quer que vivamos como irmãos e irmãs, morando nesta casa comum da criação que Ele nos deu. Funda-se aqui, nas raízes da nossa humanidade comum, a fraternidade como «vocação contida no desígnio criador de Deus».[1] Esta fraternidade diz-nos que todos temos igual dignidade, pelo que ninguém pode ser dono ou escravo dos outros.
Não se pode honrar o Criador sem salvaguardar a sacralidade de cada pessoa e de cada vida humana: cada um é igualmente precioso aos olhos de Deus. Com efeito, Ele não olha a família humana com um olhar de preferência que exclui, mas com um olhar de benevolência que inclui. Por isso, reconhecer os mesmos direitos a todo o ser humano é glorificar o Nome de Deus na terra. Assim, em nome de Deus Criador, é preciso condenar, decididamente, qualquer forma de violência, porque seria uma grave profanação do Nome de Deus utilizá-Lo para justificar o ódio e a violência contra o irmão. Religiosamente, não há violência que se possa justificar.
Inimigo da fraternidade é o individualismo
Inimigo da fraternidade é o individualismo, que se traduz na vontade de eu mesmo e o meu próprio grupo nos sobrepormos aos outros. Trata-se duma insídia que ameaça todos os aspetos da vida, mesmo a mais alta e inata prerrogativa do homem que é a abertura ao transcendente e a religiosidade. A verdadeira religiosidade consiste em amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Por isso, a conduta religiosa precisa de ser continuamente purificada duma tentação frequente: considerar os outros como inimigos e adversários. Cada credo é chamado a superar o desnível entre amigos e inimigos, assumindo a perspectiva do Céu que abraça os homens sem privilégios nem discriminações.
Desejo, pois, expressar apreço pelo compromisso deste país em tolerar e garantir a liberdade de culto, contrapondo-se ao extremismo e ao ódio. Assim procedendo, ao mesmo tempo que se promove a liberdade fundamental de professar o próprio credo, exigência intrínseca na própria realização do homem, vela-se também para que a religião não seja instrumentalizada e corra o risco de, admitindo violência e terrorismo, se negar a si mesma.
É certo que, «apesar de os irmãos estarem ligados por nascimento e possuírem a mesma natureza e a mesma dignidade, a fraternidade exprime também a multiplicidade e a diferença que existe entre eles».[2] Expressão disso mesmo é a pluralidade religiosa. Neste contexto, a atitude correta não é a uniformidade forçada nem o sincretismo conciliador: o que estamos chamados a fazer como crentes é trabalhar pela igual dignidade de todos em nome do Misericordioso, que nos criou e em cujo Nome se deve buscar a composição dos contrastes e a fraternidade na diversidade. Gostaria, aqui, de reiterar a convicção da Igreja Católica, segundo a qual «não podemos invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à sua imagem».[3]
No entanto, várias questões se impõem: Como salvaguardar-nos mutuamente na única família humana? Como alimentar uma fraternidade que não seja teórica, mas se traduza em autêntica união? Como fazer prevalecer a inclusão do outro sobre a exclusão em nome da própria afiliação? Enfim, como podem as religiões ser canais de fraternidade em vez de barreiras de separação?
A família humana e a coragem da alteridade
Se acreditamos na existência da família humana, segue-se daí que a mesma, enquanto tal, deve ser salvaguardada. Como se verifica em cada família, consegue-se isso, antes de mais nada, através dum diálogo diário e efetivo. Isto pressupõe a própria identidade, a que não se deve abdicar para agradar ao outro; mas, ao mesmo tempo, requer a coragem da alteridade,[4] que supõe o pleno reconhecimento do outro e da sua liberdade com o consequente compromisso de me gastar para que os seus direitos fundamentais sejam respeitados sempre, em toda parte e por quem quer que seja. Com efeito, sem liberdade, já não se é filho da família humana, mas escravo. E. dentre as liberdades, gostaria de salientar a liberdade religiosa. Esta não se limita à mera liberdade de culto, mas vê no outro verdadeiramente um irmão, um filho da minha mesma humanidade, que Deus deixa livre e, por conseguinte, nenhuma instituição humana pode forçar, nem mesmo em nome d’Ele.
O diálogo e a oração
A coragem da alteridade é a alma do diálogo, que se baseia na sinceridade de intenções. Com efeito, o diálogo é comprometido pelo fingimento, que aumenta a distância e a suspeita: não se pode proclamar a fraternidade e, depois, agir em sentido oposto. Segundo um escritor moderno, «quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega ao ponto de já não ser capaz de distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor e, assim, começa a perder a estima por si mesmo e pelos outros».[5]
Em tudo isto, é indispensável a oração: esta, ao mesmo tempo que encarna a coragem da alteridade em relação a Deus, na sinceridade da intenção, purifica o coração de fechar-se em si mesmo. A oração feita com o coração é um restaurador de fraternidade. Por isso, «quanto ao futuro do diálogo inter-religioso, a primeira coisa que devemos fazer é rezar. E rezar uns pelos outros: somos irmãos! Sem o Senhor, nada é possível; com Ele, tudo se torna possível! Possa a nossa oração – cada um segundo a sua tradição – aderir plenamente à vontade de Deus, o Qual deseja que todos os homens se reconheçam irmãos e vivam como tais, formando a grande família humana na harmonia das diversidades».[6]
Não há alternativa: ou construiremos juntos o futuro ou não haverá futuro. De modo particular, as religiões não podem renunciar à tarefa impelente de construir pontes entre os povos e as culturas. Chegou o tempo de as religiões se gastarem mais ativamente, com coragem e ousadia e sem fingimento, por ajudar a família humana a amadurecer a capacidade de reconciliação, a visão de esperança e os itinerários concretos de paz.
A educação e a justiça
E voltamos, assim, à imagem inicial da pomba da paz. Também a paz, para levantar voo, precisa de asas que a sustentem: as asas da educação e da justiça.
A educação – educere, em latim, significa extrair, tirar fora – é trazer à luz os preciosos recursos da alma. É consolador verificar como, neste país, não se investe apenas na extração dos recursos da terra, mas também nos recursos do coração, na educação dos jovens. É um compromisso que almejo possa continuar e difundir-se por outros lados. A própria educação tem lugar na relação, na reciprocidade. À famosa máxima antiga «conhece-te a ti mesmo», devemos juntar «conhece o irmão»: a sua história, a sua cultura e a sua fé, porque, sem o outro, não há verdadeiro conhecimento de si mesmo. Como homens e mais ainda como irmãos, lembremos uns aos outros que nada do que é humano nos pode ficar alheio.[7] Em ordem ao futuro, é importante formar identidades abertas, capazes de vencer a tentação de se fechar em si mesmas e empedernir-se.
Investir na cultura favorece a diminuição do ódio e o aumento da civilidade e prosperidade. Educação e violência são inversamente proporcionais. As instituições católicas – apreciadas também neste país e na região – promovem tal educação para a paz e compreensão mútua para prevenir a violência.
Cercados frequentemente por mensagens negativas e notícias falsas, os jovens precisam de aprender a não ceder às seduções do materialismo, do ódio e dos preconceitos, a reagir à injustiça e também às experiências dolorosas do passado e a defender os direitos dos outros com o mesmo vigor com que defendem os próprios. Um dia, serão eles a julgar-nos: bem, se lhes tivermos dado bases sólidas para criar novos encontros de civilidade; mal, se lhes tivermos deixado apenas miragens e a desoladora perspectiva de nefastos conflitos de incivilidade.
A justiça é a segunda asa da paz; com frequência, esta não é comprometida por episódios individuais, mas é lentamente devorada pelo câncer da injustiça.
Portanto, não se pode crer em Deus sem procurar viver a justiça com todos, como diz a regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 12).
Paz e justiça são inseparáveis! Diz o profeta Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A paz morre, quando se divorcia da justiça, mas a justiça revela-se falsa se não for universal. Uma justiça circunscrita apenas aos familiares, aos compatriotas, aos crentes da mesma fé é uma justiça claudicante… uma injustiça disfarçada!
As religiões têm também a tarefa de lembrar que a ganância do lucro torna néscio o coração e que as leis do mercado atual, ao exigir tudo e súbito, não ajudam o encontro, o diálogo, a família: dimensões essenciais da vida que precisam de tempo e paciência. Que as religiões sejam voz dos últimos – estes não são estatísticas, mas irmãos – e estejam da parte dos pobres; velem como sentinelas de fraternidade na noite dos conflitos, sejam apelos diligentes à humanidade para que não feche os olhos perante as injustiças e nunca se resigne com os dramas sem conta no mundo.
O deserto que floresce
Depois de ter falado da fraternidade como arca de paz, gostaria agora de me inspirar numa segunda imagem: o deserto, que nos envolve.
Aqui, com clarividência e sabedoria, em poucos anos o deserto foi transformado num lugar próspero e hospitaleiro; de obstáculo impérvio e inacessível que era, o deserto tornou-se lugar de encontro entre culturas e religiões. Aqui o deserto floresceu, não apenas durante alguns dias no ano, mas para muitos anos vindouros. Este país, em que se tocam areia e arranha-céus, continua a ser uma importante encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o Sul do planeta, um lugar de desenvolvimento, onde espaços outrora inóspitos proporcionam empregos a pessoas de várias nações.
Mas o desenvolvimento também tem os seus adversários. E, se o inimigo da fraternidade é o individualismo, como obstáculo ao desenvolvimento apontaria a indiferença, que acaba por converter as realidades florescentes em zonas desertas. De facto, um desenvolvimento puramente utilitarista não gera progresso real e duradouro. Só um desenvolvimento integral e coeso prepara um futuro digno do homem. A indiferença impede de ver a comunidade humana para além dos lucros, e ver o irmão para além do trabalho que faz. Com efeito, a indiferença não olha para o amanhã; não se importa com o futuro da criação, não cuida da dignidade do forasteiro nem do futuro das crianças.
Neste contexto, alegro-me com o facto de se ter realizado precisamente aqui em Abu Dhabi, em novembro passado, o primeiro Fórum da Aliança inter-religiosa por Comunidades mais seguras, dedicado ao tema da dignidade da criança na era digital. Este evento retomou a mensagem lançada um ano antes, em Roma, no Congresso internacional sobre o mesmo tema, ao qual dei todo o meu apoio e encorajamento. Agradeço, pois, a todos os líderes que estão empenhados neste campo e asseguro o apoio, a solidariedade e a participação da Igreja Católica nesta causa importantíssima da proteção dos menores em todas as suas expressões.
Aqui, no deserto, abriu-se um caminho de fecundo desenvolvimento que, a partir do trabalho, dá esperança a muitas pessoas de vários povos, culturas e credos. E, entre elas, contam-se também muitos cristãos, cuja presença na região remonta séculos atrás tendo contribuído significativamente para o crescimento e bem-estar do país. Além das próprias capacidades profissionais, trazem-vos a genuinidade da sua fé. O respeito e a tolerância que encontram, bem como os necessários lugares de culto onde rezam, permitem-lhes aquele amadurecimento espiritual que se traduz em benefício para a sociedade inteira. Encorajo-vos a continuar por este caminho, para que quantos vivem aqui ou estão de passagem conservem a imagem não só das grandes obras erguidas no deserto, mas também duma nação que inclui e abraça a todos.
É com este espírito que almejo, não só aqui mas em toda a amada e nevrálgica região do Oriente Médio, oportunidades concretas de encontro: sociedades onde pessoas de diferentes religiões tenham o mesmo direito de cidadania e onde só à violência, em todas as suas formas, se tire tal direito.
Uma convivência fraterna, fundada na educação e na justiça, e um desenvolvimento humano, construído sobre a inclusão acolhedora e sobre os direitos de todos, constituem sementes de paz, que as religiões são chamadas a fazer germinar. Cabe a elas neste delicado momento histórico, talvez como nunca antes, uma tarefa que não se pode adiar mais: contribuir ativamente para desmilitarizar o coração do homem. A corrida aos armamentos, o alargamento das respetivas zonas de influência, as políticas agressivas em detrimento dos outros nunca trarão estabilidade. A guerra nada mais pode criar senão miséria; as armas nada mais, senão morte!
A fraternidade humana impõe-nos, a nós representantes das religiões, o dever de banir toda a nuance de aprovação da palavra guerra. Restituamo-la à sua miserável crueza. Estão sob os nossos olhos as suas consequências nefastas. Penso em particular no Iémen, na Síria, no Iraque e na Líbia. Juntos, irmãos na única família humana querida por Deus, comprometamo-nos contra a lógica da força armada, contra a monetarização das relações, o armamento das fronteiras, o levantamento de muros, o amordaçamento dos pobres; oponhamos a tudo isto a força suave da oração e o empenho diário no diálogo. Que o nosso estar juntos hoje seja uma mensagem de confiança, um encorajamento a todos os homens de boa vontade para que não se rendam aos dilúvios da violência nem à desertificação do altruísmo. Deus está com o homem que procura a paz. E, do céu, abençoa cada passo que se realiza, neste caminho, sobre a terra.
[1] Bento XVI, Discurso aos novos Embaixadores junto da Santa Sé (16/XII/2010).
[2] Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015 (8/XII/2014), 2
[3] Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs Nostra aetate, 5.
[4] Cf. Francisco, Discurso aos participantes na Conferência Internacional pela Paz (Al-Azhar Conference Centre, Cairo, 28/IV/2017).
[5] F. Dostoiévski, Os irmãos Karamazov, II, 2 (Milão 2012), 60.
[6] Francisco, Audiência Geral inter-religiosa (28/X/2015).
[7] Cf. Terêncio, Heautontimorumenos I, 1, 25.
Fonte: Fonte: www.vaticannews.va
XXIII- DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA: “A vida consagrada desabrocha e floresce na Igreja, se se isolar, murcha”. Francisco.
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A vida consagrada “é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: ‘Deus basta, o resto passa’; é louvor que brota apesar de tudo”, disse o Papa Francisco na missa deste 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e XXIII Dia Mundial da Vida Consagrada.
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“A vida consagrada não é sobrevivência, é vida nova. É encontro vivo com o Senhor no seu povo. É chamado à obediência fiel de cada dia e às surpresas inéditas do Espírito. É visão daquilo que importa abraçar para ter a alegria: Jesus.”
Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa na tarde deste sábado, 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e XXIII Dia Mundial da Vida Consagrada, celebrada na Basílica de São Pedro com os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica.
Festa do encontro
Ressaltando que a celebração da Apresentação do Senhor recorda a apresentação do Menino Jesus no templo, disse que esta “é a festa do encontro”. “Maria e José, jovens, encontram Simeão e Ana, idosos”, se encontram no templo. “Tudo se encontra quando Jesus chega”, frisou o Pontífice acrescentando que “o Deus da vida deve ser encontrado todos os dias da vida; não ocasionalmente, mas todos os dias”.
Seguir Jesus não é uma decisão tomada uma vez por toda; é uma opção diária, acrescentou.
“Quando O acolhemos como Senhor da vida, centro de tudo, coração pulsante de todas as coisas, então Ele vive e revive em nós. E acontece, também a nós, o que sucedeu no templo: ao redor d’Ele tudo se encontra, a vida torna-se harmoniosa. Com Jesus, reencontra-se a coragem de avançar e a força de permanecer firme.”
Voltar às fontes, reavivar o primeiro amor
Dirigindo-se aos religiosos que pouco antes haviam iluminado a Basílica Vaticana com suas velas acesas no início da celebração, Francisco lembrou que é importante voltar às fontes: “percorrer com a memória os encontros decisivos que tivemos com Ele, reavivar o primeiro amor, talvez escrever a nossa história de amor com o Senhor. Fará bem à nossa vida consagrada, para que não se torne tempo que passa, mas seja tempo de encontro.”
O Santo Padre destacou que a vida consagrada desabrocha e floresce na Igreja; se se isolar, murcha. “Hoje, festa do encontro, peçamos a graça de redescobrir o Senhor vivo, no povo crente, e de fazer encontrar o carisma recebido com a graça do dia de hoje.”
Chamado "segundo a Lei" e "segundo o Espírito"
Francisco explicou que há um dúplice chamado, “segundo a Lei”. É o de José e Maria, que vão ao templo para cumprir o que prescreve a Lei. E um chamado “segundo o Espírito”. É o de Simeão e Ana.
Dois jovens acorrem ao templo chamados pela Lei; dois idosos, movidos pelo Espírito. Que diz à nossa vida espiritual e à nossa vida consagrada este duplo chamado: da Lei e do Espírito? – perguntou o Papa. Que todos somos chamados a uma dupla obediência: à lei – no sentido daquilo que confere boa ordem à vida – e ao Espírito, que faz coisas novas na vida. Assim, nasce o encontro com o Senhor:
“O Espírito revela o Senhor, mas, para O acolher, é necessária a constância fiel de cada dia. Os próprios carismas mais elevados, sem uma vida ordenada, não dão fruto. Por outro lado, as melhores regras não são suficientes sem a novidade do Espírito: lei e Espírito andam juntos.”
Na vida religiosa, fidelidade a coisas concretas
Servindo-se ainda dos textos propostos para a liturgia do dia, Francisco lembrou aos religiosos que Deus nos chama a encontrá-Lo através da fidelidade a coisas concretas, ou seja, a oração diária, a Missa, a Confissão, uma caridade verdadeira, a Palavra de Deus… e isto todos os dias. “Coisas concretas, como na vida consagrada a obediência ao Superior e às Regras. Se se praticar esta lei com amor, sobrevem o Espírito e traz a surpresa de Deus, como no templo e em Caná. Então a água da cotidianidade transforma-se no vinho da novidade; e a vida, que parece mais presa, na realidade torna-se mais livre.”
A vida consagrada “é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: ‘Deus basta, o resto passa’; é louvor que brota apesar de tudo”, concluiu o Santo Padre afirmando ainda o que é a vida consagrada:
“Louvor que dá alegria ao povo de Deus, visão profética que revela aquilo que conta. Quando assim é, floresce e torna-se para todos um apelo contra a mediocridade: contra as quedas de altitude na vida espiritual, contra a tentação de jogar por baixo com Deus, contra a adaptação a uma vida cômoda e mundana, contra a reclamação, insatisfação e lamento da própria sorte, contra o habituar-se a ‘fazer aquilo que se pode’ e ao ‘sempre se fez assim’.”
Agradecimento do cardeal João Braz de Aviz ao Santo Padre
Ao término da celebração o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, cardeal João Braz de Aviz, dirigiu uma saudação e agradecimento ao Santo Padre por celebrar mais uma vez com os religiosos o Dia Mundial da Vida Consagrada.
Papa dá uma prímula às religiosas que moram no Vaticano
Neste 2 de fevereiro, o Papa Francisco, como no ano passado nesta data em que a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor e Dia da Vida Consagrada, fez chegar através de seu esmoleiro, cardeal Konrad Krajewski, uma prímula às religiosas que moram no Vaticano, cerca de cinquenta ao todo. Fonte: www.vaticannews.va
Homilia do Santo Padre na Missa da Festa da Apresentação do Senhor
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Hoje a Liturgia mostra Jesus que vai ao encontro do seu povo. É a festa do encontro: a novidade do Menino encontra a tradição do templo; a promessa encontra cumprimento; Maria e José, jovens, encontram Simeão e Ana, idosos. Enfim, tudo se encontra, quando chega Jesus.
Que significa isto para nós? Antes de mais nada, que também nós somos chamados a acolher Jesus, que vem ao nosso encontro. Encontrá-Lo: o Deus da vida deve ser encontrado todos os dias da vida; não ocasionalmente, mas todos os dias. Seguir Jesus não é uma decisão tomada uma vez por todas; é uma opção diária. E o Senhor não Se encontra virtualmente, mas diretamente, encontrando-O na vida. Caso contrário, Jesus torna-Se apenas uma bela recordação do passado. Mas, quando O acolhemos como Senhor da vida, centro de tudo, coração pulsante de todas as coisas, então Ele vive e revive em nós. E acontece, também a nós, o que sucedeu no templo: ao redor d’Ele tudo se encontra, a vida torna-se harmoniosa. Com Jesus, reencontra-se a coragem de avançar e a força de permanecer firme. O encontro com o Senhor é a fonte. Então é importante voltar às fontes: percorrer com a memória os encontros decisivos que tivemos com Ele, reavivar o primeiro amor, talvez escrever a nossa história de amor com o Senhor. Fará bem à nossa vida consagrada, para que não se torne tempo que passa, mas seja tempo de encontro.
Se recordarmos o nosso encontro fundante com o Senhor, dar-nos-emos conta de que não surgiu como uma questão privada entre nós e Deus. Não! Desabrochou no povo crente, ao lado de tantos irmãos e irmãs, em tempos e lugares concretos. Assim no-lo diz o Evangelho, mostrando como o encontro tem lugar no povo de Deus, na sua história concreta, nas suas tradições vivas: no templo, segundo a Lei, no clima da profecia, com os jovens e os idosos juntos (cf. Lc 2, 25-28.34). O mesmo se passa com a vida consagrada: desabrocha e floresce na Igreja; se se isolar, murcha. Aquela amadurece quando os jovens e os idosos caminham juntos, quando os jovens reencontram as raízes e os idosos acolhem os frutos. Mas estagna quando se caminha sozinho, quando se permanece fixado no passado ou se salta para a frente para tentar sobreviver. Hoje, festa do encontro, peçamos a graça de redescobrir o Senhor vivo, no povo crente, e de fazer encontrar o carisma recebido com a graça do dia de hoje.
O Evangelho diz-nos também que o encontro de Deus com o seu povo tem um ponto de partida e uma meta. Começa-se da chamada ao templo, e chega-se à visão no templo. A chamada é dupla. Há uma primeira chamada «segundo a Lei» (2, 22). É a de José e Maria, que vão ao templo para cumprir o que prescreve a Lei. Quase como um refrão, aparece assinalado quatro vezes no texto (cf. 2, 22.23.24.27). Não se trata de constrangimento: os pais de Jesus não vão forçados, nem para satisfazer um cumprimento meramente externo; vão para responder à chamada de Deus. Há depois uma segunda chamada, segundo o Espírito. É a de Simeão e Ana. Também esta é evidenciada com insistência: relativamente a Simeão, fala-se três vezes do Espírito Santo (cf. 2, 25.26.27) e termina com a profetisa Ana que, inspirada, louva a Deus (cf. 2, 38).
Dois jovens acorrem ao templo chamados pela Lei; dois idosos, movidos pelo Espírito. Que diz à nossa vida espiritual e à nossa vida consagrada esta dupla chamada: da Lei e do Espírito? Que todos somos chamados a uma dupla obediência: à lei – no sentido daquilo que confere boa ordem à vida – e ao Espírito, que faz coisas novas na vida. Assim, nasce o encontro com o Senhor: o Espírito revela o Senhor, mas, para O acolher, é necessária a constância fiel de cada dia. Os próprios carismas mais elevados, sem uma vida ordenada, não dão fruto. Por outro lado, as melhores regras não são suficientes sem a novidade do Espírito: lei e Espírito andam juntos.
Para compreender melhor esta chamada, que vemos hoje nos primeiros dias de vida de Jesus no templo, podemos ir aos primeiros dias do seu ministério público em Caná, onde transforma a água em vinho. Lá também há uma chamada à obediência, quando Maria diz: «Qualquer coisa que [Jesus] vos diga, fazei-a» (cf. Jo 2, 5). Qualquer coisa. E Jesus pede uma coisa singular... Não faz imediatamente uma coisa nova, não tira do nada o vinho que falta, mas pede uma coisa concreta e exigente: pede para encher seis grandes ânforas de pedra para a purificação ritual (que nos recordam a Lei). Significava acarretar cerca de seiscentos litros de água do poço: tempo e fadiga que pareciam inúteis, porque o que faltava não era água, mas o vinho! Contudo é precisamente daquelas ânforas cheias «até acima» (2, 7) que Jesus tira o vinho novo.
O mesmo se passa connosco: Deus chama-nos a encontrá-Lo através da fidelidade a coisas concretas, ou seja, a oração diária, a Missa, a Confissão, uma caridade verdadeira, a Palavra de Deus… e isto todos os dias. Coisas concretas, como na vida consagrada a obediência ao Superior e às Regras. Se se praticar esta lei com amor, sobrevem o Espírito e traz a surpresa de Deus, como no templo e em Caná. Então a água da quotidianidade transforma-se no vinho da novidade; e a vida, que parece mais presa, na realidade torna-se mais livre.
O encontro, que nasce da chamada, culmina na visão. Simeão diz: «Os meus olhos viram a Salvação» (Lc 2, 30). No Menino que vê, contempla a salvação. Não vê o Messias que realiza prodígios, mas um menino pequenito. Não vê nada de extraordinário, mas Jesus com os pais, que trazem ao templo duas rolas ou duas pombas, ou seja, a oferta mais humilde (cf. 2, 24). Simeão vê a simplicidade de Deus, e acolhe a sua presença. Não procura algo diferente; nada mais pede nem pretende. Basta-lhe ver o Menino e tomá-Lo nos braços: «Nunc dimittis… agora podes deixar-me ir» (cf. 2, 29). Basta-lhe Deus como é. N’Ele, encontra o sentido último da vida.
É a visão da vida consagrada, uma visão simples e profética, onde se tem o Senhor diante dos olhos e nas mãos e não precisa de mais nada. A vida é Ele, a esperança é Ele, o futuro é Ele. A vida consagrada é esta visão profética na Igreja: é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido; é voz que diz: «Deus basta, o resto passa»; é louvor que brota apesar de tudo, como manifesta a profetisa Ana: era uma mulher já muito idosa, que vivera tantos anos viúva, mas não era sorumbática, nostálgica nem fechada em si mesma; pelo contrário, chega, louva a Deus e só fala d’Ele (cf. 2, 38).
Eis a vida consagrada: louvor que dá alegria ao povo de Deus, visão profética que revela aquilo que conta. Quando assim é, floresce e torna-se para todos um apelo contra a mediocridade: contra as quedas de altitude na vida espiritual, contra a tentação de jogar por baixo com Deus, contra a adaptação a uma vida cômoda e mundana, contra a reclamação, insatisfação e lamento da própria sorte, contra o habituar-se a «fazer aquilo que se pode» e ao «sempre se fez assim». A vida consagrada não é sobrevivência, é vida nova. É encontro vivo com o Senhor no seu povo. É chamada à obediência fiel de cada dia e às surpresas inéditas do Espírito. É visão daquilo que importa abraçar para ter a alegria: Jesus.
Obs: texto sem os acréscimos feitos pelo Santo Padre. Fonte: www.vaticannews.va
SEXTA-FEIRA, 1º DE FEVEREIRO. HOMILIA DO PAPA: Ser perseverantes no momento da desolação”. Francisco.
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Na capela da Casa Santa Marta, o Papa celebrou a missa e comentou a primeira Leitura, extraída da Carta aos Hebreus. "Uma catequese sobre a perseverança: perseverar no caminho de fé, perseverar no serviço ao Senhor", disse Francisco.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano (01/02/2019)
Todos atravessamos fases de “desolação”, “momentos obscuros”, em que as coisas parecem perder o sentido, mas é ali que os cristãos devem “perseverar” para “chegar à promessa” do Senhor, sem “deixar-se abater” ou “retroceder”.
Na homilia celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco partiu da primeira Leitura (Hb 10,32-39) para refletir sobre o sentido da perseverança no caminho da vida. O autor da Carta aos Hebreus “fala aos cristãos que estão atravessando um momento difícil”, um momento de perseguição, assim como cada indivíduo atravessa fases de abatimento, “quando não sente nada” e há uma espécie de “distanciamento na nossa alma”. Momentos de desolação vividos pelo próprio Jesus.
A vida cristã não é um carnaval, não é festa e alegria contínua; a vida cristã tem momentos belíssimos e momentos ruins, momentos de torpor, de distanciamento, como disse, onde nada tem sentido... o momento da desolação. E neste momento, seja pelas perseguições internas, seja pelo estado interior da alma, o autor da Carta aos Hebreus diz: “Precisais de perseverança”. Sim. Mas perseverança para quê? “para cumprir a vontade de Deus e alcançar o que ele prometeu”. Perseverança para chegar à promessa.
Memória e esperança contra a desolação
Na homilia, o Papa destacou dois elementos, uma espécie de “receita” contra a desolação: memória e esperança. Como o apóstolo, afirma que é preciso antes de tudo evocar na memória os momentos belos: “os dias felizes do encontro com o Senhor”, “o tempo do amor”. E, em segundo lugar, ter esperança em relação àquilo que nos foi prometido. A vida é feita desta lembrança, reconheceu o Pontífice, momentos belos e outros ruins, o importante é não “deixar-se abater”, não “retroceder” nas fases de dificuldade.
Fazer resistência nos momentos ruins, mas uma resistência da memória e da esperança, uma resistência com o coração: o coração, quando pensa nos momentos belos, respira, quando olha para a esperança, pode respirar também. É isto que devemos fazer nos momentos de desolação para encontrar a primeira consolação e a consolação prometida pelo Senhor.
A perseverança dos mártires cristãos
Por fim, o Papa recordou a sua viagem apostólica à Lituânia, em setembro de 2018, e de como ficou impressionado com a coragem de tantos cristãos, tantos mártires que “perseveraram na fé”.
Também hoje, muitos, muitos homens e mulheres estão sofrendo por causa da fé, mas recordam o primeiro encontro com Jesus, têm esperança e vão avante. Este é um conselho que dá o autor da Carta aos Hebreus para os momentos inclusive de perseguição, quando os cristãos são perseguidos, atacados: “Precisais de perseverança”.
E “quando o diabo nos ataca com as tentações”, concluiu, “com as nossas misérias”, é preciso “sempre olhar para o Senhor, ter “a perseverança da Cruz recordando os primeiros momentos belos do amor, do encontro com o Senhor e a esperança que nos aguarda”. Fonte: www.vaticannews.va
QUINTA-FEIRA, 31: “Que os padres sejam alegres como Dom Bosco”. Francisco.
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O Papa Francisco inspirou sua homilia da Missa matutina celebrada na Casa Santa Marta em São João Bosco, cuja memória é recordada hoje pela Igreja. O cerne de sua exortação é que os sacerdotes não sejam funcionários, mas tenham a coragem de olhar a realidade com olhos de homem e de Deus.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na Casa Santa Marta e a sua homilia foi sobre a figura de São João Bosco que a Igreja recorda, nesta quinta-feira (31/01).
O Pontífice lembrou que no dia de sua ordenação, a mãe de São João Bosco, uma mulher humilde e camponesa, “que não tinha estudado na faculdade de teologia”, lhe disse: “Hoje, você começará a sofrer”. Queria enfatizar uma realidade, mas também chamar a atenção, porque se o seu filho pensou que não haveria sofrimento, significava que algo não estava certo. “É uma profecia de mãe”, uma mulher simples, mas com um coração cheio do espírito. Para um sacerdote, o sofrimento é um sinal de que tudo vai bem, mas não porque ele seja um “faquir”, mas pelo que fez Dom Bosco, que teve a coragem de olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus. “Ele, disse o Papa Francisco, “naquela época maçônica, anticlerical”, de “uma aristocracia fechada, onde os pobres eram realmente os pobres, o descarte, viu aqueles jovens nas ruas e disse: “Não pode ser!”.“Olhou com os olhos de homem, um homem que é irmão e pai também, e disse: “Mas não, isso não pode ser assim! Esses jovens talvez acabarão sendo condenados e precisarão do apoio de pe. Cafasso. Não, não pode ser assim”, se comoveu como homem e como homem começou a pensar nas maneiras de fazer crescer os jovens, amadurecer os jovens. Estradas humanas. E depois teve a coragem de olhar com os olhos de Deus e ir até Deus e dizer: “Mostra-me isso... isso é uma injustiça... o que fazer diante disso ... Você criou essas pessoas para uma plenitude e elas estão numa verdadeira tragédia...”. E assim, olhando para a realidade com o amor de um pai, pai e mestre, diz a liturgia de hoje, e olhando para Deus com os olhos de um mendigo que pede algo de luz, começa a seguir em frente.
Pe. Giuseppe Cafasso confortava os encarcerados, em Turim, no século XIX e muitas vezes acompanhava até a forca, os condenados à morte. Ele ficou conhecido como “o padre da forca” e foi um grande amigo de São João Bosco.
O sacerdote, reiterou o Papa, deve ter “essas duas polaridades”: “olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Isso significa passar “muito tempo diante do tabernáculo”. “Olhar dessa maneira fez-lhe ver o caminho, pois ele não foi com o Catecismo e o Crucifixo somente, para dizer: “façam isso...”. Os jovens o teriam dito: “Deixa pra lá! Nos vemos amanhã”. Não, não: ele estava próximo a eles, com a vivacidade deles. Fez os jovens distrair, também em grupo, como irmãos. Ele foi, caminhou com eles, ouviu com eles, viu com eles, chorou com eles e os levou adiante assim. Um sacerdote que olha humanamente as pessoas, que está ao alcance de todos.”
O Papa enfatiza assim, que os sacerdotes não devem ser funcionários ou empregados que recebem, por exemplo, "das 15 às 17h30". "Temos tantos funcionários, bons - continua ele - que fazem o seu trabalho, como devem fazer os funcionários. Mas o padre não é um funcionário, não pode sê-lo".
Francisco então exorta a olhar com os olhos de homem e "virá a você aquele sentimento, aquela sabedoria de entender que são seus filhos, seus irmãos. E depois, ter coragem de ir e lutar lá: o sacerdote é alguém que luta ao lado de Deus".
O Papa sabe que “sempre existe o risco de olhar muito o humano e nada o divino, ou muito o divino e nada o humano", mas "se não arriscarmos, não faremos nada na vida", adverte.
Um pai, de fato, arrisca pelo filho, um irmão se arrisca por um irmão quando existe amor. Isso certamente comporta sofrimentos, começam as perseguições, a tagarelice: "Este padre está lá, na rua", com aqueles jovens mal-educados que "quebram o vidro da janela com a bola".
O Papa então agradece a Deus por nos ter dado São João Bosco que desde criança começou a trabalhar, sabia o que era ganhar o pão a cada dia e havia entendido o que era a piedade, "qual era a verdadeira piedade". Este homem - sublinha ainda Francisco ao concluir - teve de Deus um grande coração de pai e mestre: “E qual é o sinal de que um padre está fazendo bem, olhando para a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus? A alegria. A alegria. Quando um padre não encontra alegria por dentro, pare imediatamente e pergunte o por quê. E a alegria de Dom Bosco é conhecida: é o mestre da alegria, hein! Porque ele fazia os outros se alegrarem e ele mesmo se alegrava. E ele próprio sofria. Peçamos ao Senhor, por intercessão de Dom Bosco, hoje, a graça de que os nossos sacerdotes sejam alegres: alegres porque têm o verdadeiro sentido de olhar para as coisas da pastoral, o povo de Deus, com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Fonte: www.vaticannews.va
QUARTA-FEIRA, 30: Papa na Audiência Geral: os jovens são fermento de paz no mundo
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O Papa se deteve, na habitual catequese, em sua recente Viagem Apostólica ao Panamá, convidando os fiéis a darem graças a Deus, junto com ele, “por esta graça” que o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
A Sala Paulo VI, no Vaticano, ficou repleta de fiéis que participaram da Audiência Geral com o Papa Francisco, nesta quarta-feira (30/01/2019).
O Papa se deteve, na habitual catequese, em sua recente Viagem Apostólica ao Panamá, convidando os fiéis a darem graças a Deus, junto com ele, “por esta graça” que o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”.
Francisco agradeceu o acolhimento caloroso e familiar do presidente do Panamá e demais autoridades, e também dos voluntários e das pessoas que corriam para saudá-lo “com grande fé e entusiasmo”.
O Papa disse que as pessoas levantavam as crianças, como se estivessem dizendo: “Eis o meu orgulho, eis o meu futuro! Quanta dignidade nesse gesto, e quanto é eloquente para o inverno demográfico que estamos vivendo na Europa”, disse ele.
Jornada Mundial da Juventude
“O motivo dessa viagem foi a Jornada Mundial da Juventude. Todavia, nos encontros com os jovens se realizaram outros ligados à realidade do país: com as autoridades, bispos, jovens detentos, consagrados e uma casa-família. Tudo foi contagiado e amalgamado pela presença alegre dos jovens: uma festa para eles e uma festa para o Panamá, e também para toda a América Central, marcada por várias situações e necessitada de esperança e paz.”
Francisco recordou que antes da Jornada Mundial da Juventude, foram realizados os encontros dos jovens indígenas e afro-americanos, “uma iniciativa importante que manifestou ainda melhor o rosto multiforme da Igreja na América Latina. Depois com a chegada de grupos de várias partes do mundo, formou-se uma grande sinfonia de rostos e línguas, típica desse evento. Ver todas as bandeiras desfilarem juntas, dançando nas mãos dos jovens alegres de se encontrar é um sinal profético, um sinal contracorrente em relação à triste tendência atual aos nacionalismos conflitantes. É um sinal de que os jovens cristãos são fermento de paz no mundo”.
Forte impressão mariana
O Papa disse ainda que esta JMJ teve uma forte impressão mariana, pois o seu tema foram as palavras da Virgem ao Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Segundo Francisco, foi forte ouvir as palavras proferidas pelos representantes dos jovens dos cinco continentes e vê-las transparecer em seus rostos. Enquanto houver novas gerações capazes de dizer “eis-me aqui” a Deus, haverá um futuro para o mundo.
O Pontífice recordou alguns momentos da JMJ como a Via-Sacra com os jovens, afirmando que no Panamá “os jovens levaram com Jesus e Maria o peso da condição de muitos irmãos e irmãos que sofrem na América Central e no mundo inteiro. Dentre eles se encontram muitos jovens, vítimas de várias formas de escravidão e pobreza.
Responsabilidade dos adultos
A seguir, recordou a Liturgia Penitencial com os jovens reclusos no Centro Correcional de Menores e a visita ao Lar do Bom Samaritano que acolhe os portadores de Hiv/Aids.
O Papa falou também da Vigília e da missa com os jovens, ressaltando que na celebração eucarística “fez um apelo à responsabilidade dos adultos para que não faltem às novas gerações educação, trabalho, comunidade e família”.
Para Francisco, o encontro com os bispos da América Central foi um momento de consolo. “Juntos nos deixamos instruir pelo testemunho de São Óscar Romero, a fim de aprender melhor o “sentir com a Igreja”, que era o seu lema episcopal, estando próximos aos jovens, aos pobres, os sacerdotes e ao santo povo fiel de Deus.”
Jovens discípulos missionários
Teve um forte valor simbólico a consagração do altar da Igreja de Santa Maria La Antigua que foi restaurada. “Um sinal da beleza reencontrada, para a glória de Deus, para a fé e a festa do seu povo”, disse o Papa.
“Que a família da Igreja no Panamá e no mundo inteiro possa obter do Espírito Santo sempre nova fecundidade, para que continue e se difunda na terra a peregrinação dos jovens discípulos missionários de Jesus Cristo”, concluiu Francisco. Fonte: www.vaticannews.va
Em oração do Angelus, Papa cita vítimas da tragédia de Brumadinho
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Por Agência Brasil
Após a oração do Angelus de hoje (27), no Lar do Bom Samaritano Juaz Díaz, na Cidade do Panamá, o Papa Francisco lembrou as vítimas do rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no início da tarde de sexta-feira (25). Pelo menos, 37 pessoas morreram.
O Pontífice citou também a tragédia ocorrida no estado mexicano de Hidalgo, onde a explosão de um oleoduto perfurado ilegalmente mantou até o momento 114 pessoas.
“Desejo expressar meus sentimentos de pesar pelas tragédias que atingiram os estados de Minas Gerais, no Brasil, e Hidalgo, no México. Confio à misericórdia de Deus todas as pessoas falecidas. Ao mesmo tempo, rezo pelos feridos e expresso meu afeto e proximidade espiritual a seus familiares e a toda a população. ”
O PAPA NO PANAMÁ: Íntegra do discurso do Papa na Via-Sacra com os Jovens
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Confira o pronunciamento do Papa Francisco que encerrou a Via-Sacra da JMJ 2019.
Cidade do Vaticano
Leia a íntegra do discurso do Papa Francisco na Via-Sacra com os jovens realizada no Campo Santa Maria la Antigua situado na orla marítima, em Cidade do Panamá, nesta sexta-feira (25/01).
VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO PANAMÁ
Via-Sacra com os jovens
Senhor, Pai de misericórdia, nesta Faixa Costeira, juntamente com tantos jovens vindos de todo o mundo, acabamos de acompanhar o vosso Filho no caminho da cruz; caminho esse, que Ele quis percorrer para nos mostrar quanto Vós nos amais e como estais envolvido na nossa vida.
O caminho de Jesus para o Calvário é um caminho de sofrimento e solidão que continua nos nossos dias. Ele caminha e sofre em tantos rostos que padecem a indiferença satisfeita e anestesiante da nossa sociedade que consome e se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus irmãos.
Também nós, vossos amigos, Senhor, nos deixamos levar pela apatia e o imobilismo. Tantas vezes nos derrotou e paralisou o conformismo. Foi difícil reconhecer-Vos no irmão sofredor: desviamos o olhar, para não ver; refugiamo-nos no barulho, para não ouvir; tapamos a boca, para não gritar.
Sempre a mesma tentação. É mais fácil e «remunerador» ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso; é mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor.
Como é fácil cair na cultura do bullying, do assédio e da intimidação!
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, identificastes-Vos com todo o sofrimento, com quem se sente esquecido.
Para Vós, Senhor, não é assim, porque quisestes abraçar todos aqueles que muitas vezes consideramos não dignos de um abraço, uma carícia, uma bênção; ou, pior ainda, nem nos damos conta de que precisam disso.
Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, unistes-Vos à «via-sacra» de cada jovem, de cada situação para a transformar numa via de ressurreição.
Pai, hoje a Via-Sacra do vosso Filho prolonga-se:
no grito sufocado das crianças impedidas de nascer e de tantas outras a quem se nega o direito a ter uma infância, uma família, uma instrução; que não podem jogar, cantar, sonhar;
nas mulheres maltratadas, exploradas e abandonadas, despojadas e ignoradas na sua dignidade;
nos olhos tristes dos jovens que veem ser arrebatadas as suas esperanças de futuro por falta de instrução e trabalho digno;
na angústia de rostos jovens, nossos amigos, que caem nas redes de pessoas sem escrúpulos – entre elas, encontram-se também pessoas que dizem servir-Vos, Senhor –, redes de exploração, criminalidade e abuso, que se alimentam das suas vidas.
A Via-Sacra do vosso Filho prolonga-se em tantos jovens e famílias que, absorvidos numa espiral de morte por causa da droga, do álcool, da prostituição e do tráfico humano, ficam privados não só do futuro, mas também do presente. E, assim como repartiram as vossas vestes, Senhor, acaba repartida, maltratada a sua dignidade.
A Via-Sacra do vosso Filho prolonga-se nos jovens com rostos franzidos que perderam a capacidade de sonhar, criar e inventar o amanhã e «passam à aposentação» com o dissabor da resignação e do conformismo, uma das drogas mais consumidas no nosso tempo.
Prolonga-se na dor oculta e indignada de quantos, em vez de solidariedade por parte duma sociedade repleta de abundância, encontram rejeição, sofrimento e miséria, e além disso acabam assinalados e tratados como portadores e responsáveis de todo o mal social.
Prolonga-se na solidão resignada dos idosos abandonados e descartados.
Prolonga-se nos povos nativos, despojados de suas terras, raízes e cultura, silenciando e apagando toda a sabedoria que possam oferecer.
A Via-Sacra do vosso Filho prolonga-se no grito da nossa mãe Terra, que é ferida nas suas entranhas pela contaminação da atmosfera, a esterilidade dos seus campos, o lixo das suas águas, e se vê espezinhada pelo desprezo e o consumo enlouquecido que ignora razões.
Prolonga-se numa sociedade que perdeu a capacidade de chorar e comover-se à vista do sofrimento.
Sim, Pai! Jesus continua a caminhar, carregar e padecer em todos estes rostos enquanto o mundo, indiferente, consuma o drama da sua própria frivolidade.
E nós, Senhor, que fazemos?
Como reagimos à vista de Jesus que sofre, caminha, emigra no rosto de tantos amigos nossos, de tantos desconhecidos que aprendemos a tornar invisíveis?
E nós, Pai de misericórdia…
consolamos e acompanhamos o Senhor, inerme e sofredor, nos mais pequenos e abandonados?
ajudamo-Lo a carregar o peso da cruz, como o Cireneu, fazendo-nos operadores de paz, criadores de alianças, fermento de fraternidade?
permanecemos ao pé da cruz, como Maria?
Contemplemos Maria, mulher forte. D’Ela, queremos aprender a ficar de pé junto da cruz. Com a sua mesma decisão e coragem, sem evasões nem miragens. Ela soube acompanhar o sofrimento de seu Filho, vosso Filho; apoiá-Lo com o olhar e protegê-Lo com o coração. Que dor sofreu! Mas não A abateu. Foi a mulher forte do «sim», que apoia e acompanha, protege e abraça. É a grande guardiã da esperança.
Também nós queremos ser uma Igreja que apoia e acompanha, que sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que caminham ao nosso lado.
De Maria, aprendemos a dizer «sim» à resistência forte e constante de tantas mães, tantos pais, avós que não cessam de apoiar e acompanhar os seus filhos e netos quando estão com problemas.
D’Ela, aprendemos a dizer «sim» à paciência obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam do princípio nas situações em que tudo parece estar perdido, procurando criar espaços, ambientes familiares, centros de atenção que sejam uma mão estendida nas dificuldades.
Em Maria, aprendemos a força para dizer «sim» àqueles que não se calaram nem calam perante uma cultura dos maus-tratos e abuso, do descrédito e agressão, e trabalham para proporcionar oportunidades e condições de segurança e proteção.
Em Maria, aprendemos a acolher e hospedar todos aqueles que foram abandonados, que tiveram de sair ou perder a sua terra, as raízes, a família e o emprego.
Como Maria, queremos ser Igreja que favoreça uma cultura que saiba acolher, proteger, promover e integrar; que não estigmatize e, menos ainda, generalize com a condenação mais absurda e irresponsável que é ver todo o migrante como portador de mal social.
D’Ela, queremos aprender a estar de pé junto da cruz, não com um coração blindado e fechado, mas com um coração que saiba acompanhar, que conheça a ternura e o devotamento; que se entenda de compaixão para tratar com respeito, delicadeza e compreensão. Queremos ser uma Igreja da memória, que respeite e valorize os idosos e reclame para eles o seu lugar.
Como Maria, queremos aprender a «estar».
Ensinai-nos, Senhor, a estar ao pé da cruz, ao pé das cruzes; despertai nesta noite os nossos olhos, o nosso coração; resgatai-nos da paralisia e da confusão, do medo e do desespero. Ensinai-nos a dizer: estou aqui juntamente com o vosso Filho, juntamente com Maria e tantos discípulos amados que desejam acolher o vosso Reino no seu coração. Fonte: www.vaticannews.va
O PAPA NO PANAMÁ: íntegra da homilia aos menores do Centro de Reabilitação.
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No terceiro dia da viagem apostólica ao Panamá, Papa Francisco celebrou uma liturgia penitencial no Centro de Reabilitação de menores "As Garças", em Pacora, a 40 Km da Cidade do Panamá. Confira na íntegra a homilia proferida pelo Santo Padre.
O Papa Francisco encontrou menores do Centro de Reabilitação "Las Garças" nesta sexta-feira (25/01/2019), em Pacora, região metropolitana da Cidade do Panamá, e celebrou a liturgia penitencial.
Confira a íntegra da homilia do Pontífice:
"«Este acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15, 2), acabamos de ouvir no início do trecho evangélico. Assim murmuravam alguns fariseus e escribas, muito escandalizados e incomodados com o comportamento de Jesus.
Pretendiam, com esta afirmação, desqualificá-Lo e desacreditá-Lo à vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos seus procedimentos mais comuns e caraterísticos: «Este acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).
Enquanto aqueles se limitavam a murmurar ou indignar-se, bloqueando e fechando assim qualquer possibilidade de mudança, conversão e inclusão, Jesus aproxima-Se, compromete-Se (coloca em risco a sua reputação) e sempre convida a fixar um horizonte capaz de renovar a vida e a história. Dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – o da murmuração e fofocas – e o outro que convida à transformação e conversão – o do Senhor.
O olhar da murmuração e bisbilhotice
Muitos não suportam nem gostam desta opção de Jesus; antes, manifestam o seu descontentamento, inicialmente por entre dentes mas no final aos gritos, procurando desacreditar o seu comportamento e o de quantos estão com Ele. Não aceitam e rejeitam esta opção de estar próximo e oferecer novas oportunidades. Sobre a vida do povo, parece-lhes mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro das pessoas. Rótulos que, em última análise, nada mais produzem senão divisão: daqui os bons, além os maus; daqui os justos, além os pecadores.
Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas. E, quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar e murmurar, entra num círculo vicioso de divisões, censuras e condenações; entra numa conduta social de marginalização, exclusão e oposição tal que leva a dizer irresponsavelmente como Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). E, normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos mais frágeis e indefesos.
Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!
O olhar da conversão
Ao invés, todo o Evangelho está marcado pelo outro olhar que nasce precisamente do coração de Deus. O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam a casa (Lc 15, 11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação. Comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível.
Deste modo quebra também com outra murmuração difícil de detectar, que «fura os sonhos» pois repete como sussurro contínuo: tu não consegues, não consegues… É o murmúrio interior que brota em quem, tendo chorado o seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar. É quando se está intimamente convencido que aquele que nasceu «publicano» tem que morrer «publicano»; e isto não é verdade!
Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O seu olhar desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam.
A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa – nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries, não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui. Aqui? Sim, aqui. Nasce de ter sentido – como partilhaste tu, Luís – que, naqueles momentos em que tudo parecia ter acabado, algo te disse: Não! Não está tudo acabado, porque tens uma finalidade grande que te permite entender que Deus Pai estava e está com todos nós e nos dá pessoas para caminhar connosco e ajudar-nos a alcançar novas metas.
E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: «Alegrai-vos comigo!» (Lc 15, 6).
Irmãos, vós fazeis parte da família, tendes muito para partilhar. Ajudai-nos a saber qual é a melhor maneira para viver e acompanhar o processo de transformação de que todos, como família, temos necessidade.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos. É uma aliança que temos de nos animar a realizar: vós, rapazes, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do Ministério, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos juntos, lutai sem cessar por encontrar caminhos de inserção e transformação. Isto, o Senhor o abençoa, sustenta e acompanha.
Em breve, continuaremos a Celebração Penitencial, na qual todos poderemos experimentar o olhar do Senhor, que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos. Olhar de Deus que desmente as desqualificações e nos dá a força para criar as alianças necessárias que nos ajudem a desmentir as murmurações, alianças fraternas que permitam à nossa vida ser sempre um convite à alegria da salvação." Fonte: www.vaticannews.va
O PAPA NO PANAMÁ-ÍNTEGRA DO DISCURSO NO ENCONTRO COM OS BISPOS DA AMÉRICA CENTRAL: “Romero amou a Igreja como mãe que o gerou na fé”. Francisco.
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"Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens", disse Francisco em seu discurso.
Cidade do Vaticano
Leia a íntegra do discurso do Papa Francisco no encontro com os Bispos da América Central, nesta quinta-feira (24/01), na Igreja de São Francisco de Assis, em Cidade do Panamá.
VISITA APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO PANAMÁ DISCURSO
Amados irmãos!
Agradeço ao Arcebispo de São Salvador, D. José Luis Escobar Alas, as palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos. Sinto-me feliz por poder encontrar-vos e partilhar, de forma mais familiar e direta, os vossos anseios, projetos e sonhos de pastores a quem o Senhor confiou o cuidado do seu povo santo. Obrigado pela receção fraterna.
Encontrar-me convosco oferece-me também a oportunidade de poder abraçar e sentir-me mais próximo dos vossos povos, poder fazer meus os seus anseios e também os seus desânimos mas sobretudo aquela fé corajosa que sabe animar a esperança e provocar a caridade. Obrigado por me permitirdes aproximar desta fé provada mas simples do rosto pobre do vosso povo, que sabe que «Deus está presente, não dorme; está ativo, observa e ajuda» (São Óscar Romero, Homilia, 16/XII/1979).
Este encontro recorda-nos um acontecimento eclesial de grande relevância. Os pastores desta região foram os primeiros a criar na América um organismo de comunhão e participação que deu, e continua a dar, abundantes frutos. Refiro-me ao Secretariado Episcopal da América Central (SEDAC): um espaço de comunhão, discernimento e empenho que nutre, revitaliza e enriquece as vossas Igrejas. Pastores que souberam progredir, dando um sinal que, longe de ser um elemento apenas programático, indicou como o futuro da América Central – e de qualquer outra região no mundo – passa necessariamente pela lucidez e capacidade que se possui para ampliar a visão, unir esforços num trabalho paciente e generoso de escuta, compreensão, dedicação e empenho, e poder assim discernir os novos horizontes para onde nos está a conduzir o Espírito (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235).[1]
Nestes setenta e cinco anos passados desde a sua fundação, o SEDAC procurou partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e esperanças dos povos da América Central, cuja história se forjou entrelaçando-se com a história do vosso povo. Muitos homens e mulheres, sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos ofereceram a vida até ao derramamento do próprio sangue, para manter viva a voz profética da Igreja contra a injustiça, o empobrecimento de tantas pessoas e o abuso do poder. Recordam-nos que «quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 107). E fazê-lo, não como esmola, mas como vocação.
Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens. A sua vida e magistério são fonte constante de inspiração para as nossas Igrejas e particularmente para nós, bispos.
O lema que escolheu para o brasão episcopal, e campeia na lápide da sua sepultura, expressa claramente o seu princípio inspirador e a realidade da sua vida de pastor: «Sentir com a Igreja». Uma bússola que marcou a sua vida na fidelidade, mesmo nos momentos mais turbulentos.
Este é um legado que pode tornar-se testemunho ativo e vivificante para nós, chamados por nossa vez ao martírio pela entrega diária ao serviço dos nossos povos; e, sobre tal legado, gostaria de me basear nesta reflexão que desejo partilhar convosco. Sei que, entre nós, há pessoas que o conheceram pessoalmente – como o cardeal Rosa Chávez – de modo que, se me equivocar em alguma observação, Eminência, pode-me corrigir. Invocar a figura de Romero significa invocar a santidade e o caráter profético que vive no DNA das vossas Igrejas particulares.
Sentir com a Igreja
1-Perceção e gratidão
Santo Inácio, ao propor as regras para sentir com a Igreja, procura ajudar o exercitante a superar qualquer tipo de falsas dicotomias ou antagonismos que possam reduzir a vida do Espírito, na tentação habitual de acomodar a Palavra de Deus ao próprio interesse. Assim, possibilita ao exercitante a graça de se sentir e saber parte dum corpo apostólico maior do que ele, mas ao mesmo tempo conservando a consciência real das suas forças e possibilidades: não dar parte de fraco, nem fazer-se esquisito ou imprudente, mas sentir-se parte de um todo, que será sempre mais do que a soma das partes (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235) e que está acompanhado por uma Presença que sempre o superará (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 8).
Por isso, na esteira de São Óscar, gostaria de colocar, no centro deste primeiro ponto do sentir com a Igreja, a perceção e a gratidão por tanto bem recebido, sem o merecer. Romero foi capaz de sintonizar e aprender a viver a Igreja, porque amava intimamente quem o gerara na fé. Sem este amor íntimo, será muito difícil entender a sua história e conversão, dado que foi precisamente esse amor que o guiou atè à entrega no martírio; um amor, que brota da perceção de receber um dom totalmente gratuito, que não nos pertence, libertando-nos de toda a pretensão e tentação de nos considerarmos seus propietários ou os únicos intérpretes. Não inventamos a Igreja: esta não nasceu connosco e continuará sem nós. Tal atitude, longe de nos abandonar à apatia, desperta uma insondável e extraordinária gratidão que tudo alimenta. O martírio não é sinónimo de pusilanimidade nem a atitude de alguém que não ama a vida nem sabe reconhecer o seu valor. Pelo contrário, o mártir é aquele que é capaz de encarnar e traduzir na vida esta ação de graças.
Romero sentiu com a Igreja, porque, antes de mais nada, amou a Igreja como mãe que o gerou na fé, considerando-se membro e parte dela.
2-Um amor, com sabor a povo
Este amor, feito de adesão e gratidão, levou-o a abraçar, com paixão mas também com dedicação e estudo, toda a contribuição e renovação propostas pelo magistério do Concílio Vaticano II. Nele encontrava a mão segura para seguir Cristo. Não foi ideólogo nem ideológico; a sua ação nasceu duma compenetração sobre os documentos conciliares. Iluminado por este horizonte eclesial, sentir com a Igreja significa para Romero contemplá-la como Povo de Deus. Com efeito, o Senhor não quis salvar-nos permanecendo cada um isolado e separado, mas quis constituir um povo que O confessasse na verdade e O servisse na santidade (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 9). Um povo que, na sua totalidade, possui, guarda e celebra a «unção do Santo» (Ibid., 12), e perante o qual Romero se colocava à escuta para não recusar a inspiração d’Ele (cf. São Óscar Romero, Homilia, 16/VII/1978). Mostra-nos assim que o pastor, para procurar e encontrar o Senhor, deve aprender e escutar as pulsações do coração do seu povo, sentir «o odor» dos homens e mulheres de hoje até ficar impregnado das suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias (cf. Const. past. Gaudium et spes, 1) e, deste modo, compreender em profundidade a Palavra de Deus (cf. Const. dogm. Dei Verbum, 13). Deve escutar o povo que lhe foi confiado até respirar e descobrir, através dele, a vontade de Deus que nos chama (cf. Francisco, Discurso na Vigília de Oração pelo Sínodo sobre a Família, 4/X/2014). Deve escutar sem dicotomias nem falsos antagonismos, porque só o amor de Deus é capaz de harmonizar todos os nossos amores num mesmo sentir e olhar.
Em suma, para ele, sentir com a Igreja é tomar parte na glória da Igreja, que consiste em trazer no próprio íntimo toda a kenosis de Cristo. Na Igreja, Cristo vive no meio de nós e, por isso, ela deve ser humilde e pobre, pois uma Igreja arrogante, uma Igreja cheia de orgulho, uma Igreja autossuficiente não é a Igreja da kenosis (cf. São Óscar Romero, Homilia, 1/X/1978).
3-Trazer dentro de si mesmo a kenosisde Cristo
Esta não é apenas a glória da Igreja, mas também uma vocação, um convite para fazermos dela a nossa glória pessoal e caminho de santidade. A kenosis de Cristo não é algo do passado, mas garantia atual para sentir e descobrir a sua presença operante na história; uma presença que não podemos nem queremos silenciar, porque sabemos e experimentamos que só Ele é «Caminho, Verdade e Vida». A kenosis de Cristo lembra-nos que Deus salva na história, na vida de cada ser humano, já que a mesma é também a sua história e, nela, vem ao nosso encontro (cf. São Óscar Romero, Homilia, 7/XII/1978). Irmãos, é importante não ter medo de nos aproximarmos e tocarmos as feridas do nosso povo, que são também as nossas feridas, e fazê-lo segundo o estilo do Senhor. O pastor não pode estar longe do sofrimento do seu povo; mais ainda, poderíamos dizer que o coração do pastor mede-se pela sua capacidade de deixar-se comover à vista de tantas vidas feridas e ameaçadas. Fazê-lo segundo o estilo do Senhor significa deixar que este sofrimento toque e marque as nossas prioridades e gostos, o uso do tempo e do dinheiro e inclusive a forma de rezar, para podermos ungir tudo e todos com a consolação da amizade de Jesus numa comunidade de fé que possua e abra um horizonte sempre novo que dê sentido e esperança à vida (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 49). A kenosis de Cristo exige que se abandone a virtualidade da existência e dos discursos para escutar o rumor e o apelo constante de pessoas reais que nos desafiam a criar laços. E – permiti que vos diga – as redes servem para criar vínculos, mas não raízes; são incapazes de nos conferir pertença, de nos fazer sentir parte de um mesmo povo. E, sem este sentir, todas as nossas palavras, reuniões, encontros, escritos serão sinal duma fé que não soube acompanhar a kenosis do Senhor, uma fé que ficou a meio do caminho.
A kenosis de Cristo é jovem
Esta Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade única para sair ao encontro e aproximar-se ainda mais da realidade dos nossos jovens, cheia de esperanças e sonhos, mas também profundamente marcada por tantas feridas. Com eles, poderemos ler de forma renovada a nossa época e reconhecer os sinais dos tempos, pois, como afirmaram os Padres Sinodais, os jovens são um dos «lugares teológicos» onde o Senhor nos dá a conhecer algumas das suas expetativas e desafios para construir o futuro (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 64). Com eles, poderemos ver melhor como tornar o Evangelho mais acessível e credível no mundo em que vivemos; são uma espécie de termómetro para saber a que ponto estamos como comunidade e como sociedade.
Os jovens trazem dentro uma inquietude que devemos apreciar, respeitar, acompanhar e que faz muito bem a todos nós, porque nos provoca lembrando-nos que o pastor nunca deixa de ser discípulo e está a caminho. Esta sã inquietude coloca-nos em movimento, antecipando-nos. Assim no-lo recordaram os Padres Sinodais ao dizer que, «em certos aspetos, os jovens podem estar mais adiantados do que os pastores» (Ibid., 66). Deve-nos encher de alegria constatar que a sementeira não foi em vão. Muitas das aspirações e intuições, que formam tal inquietude, desenvolveram-se dentro da família, alimentadas por uma avó ou uma catequista, ou na paróquia, na pastoral educativa ou juvenil; desejos, que cresceram na escuta do Evangelho e em comunidades de fé viva e fervorosa onde este encontra terra onde germinar. Quanto devemos agradecer pelo facto de haver jovens desejosos de Evangelho! Esta realidade estimula-nos a um esforço maior para ajudá-los a crescer, oferecendo-lhes espaços maiores e melhores que os possam gerar segundo o sonho de Deus. A Igreja, por sua natureza, é Mãe e, como tal, gera e resguarda a vida protegendo-a de tudo o que possa ameaçar o seu desenvolvimento: uma gestação na liberdade e para a liberdade. Por isso, exorto-vos a promover programas e centros educativos que saibam acompanhar, apoiar e responsabilizar os vossos jovens; «roubai-os» à rua, antes que a cultura de morte, «vendendo-lhes fumo» e soluções mágicas, se apodere e aproveite da sua imaginação. Fazei-o, não com paternalismo como quem olha de cima para baixo, pois não é isso o que o Senhor nos pede, mas como pais, como de irmão para irmão. São rosto de Cristo para nós e, a Cristo, não O podemos olhar de cima para baixo, mas de baixo para cima (cf. São Óscar Romero, Homilia, 2/IX/1979).
Infelizmente, há muitos jovens que foram seduzidos por respostas imediatas que hipotecam a vida. Diziam-nos os Padres Sinodais que aqueles, por constrição ou falta de alternativas, se encontram mergulhados em situações altamente conflituosas e sem solução à vista: violência doméstica, feminicídio – uma chaga, que aflige o nosso continente –, bandas armadas e criminosas, tráfico de droga, exploração sexual de menores e de tantos que já não o são, etc. Custa constatar que, na raiz de muitas destas situações, está uma experiência de orfandade, fruto de uma cultura e uma sociedade transviada. Lares desfeitos devido tantas vezes a um sistema económico que deixou de ter como prioridade as pessoas e o bem comum, fazendo da especulação o «seu paraíso» onde continuar a «engordar» sem se importar à custa de quem. Assim, os nossos jovens sem o calor duma casa, nem família, nem comunidade, nem pertença são deixados à mercê do primeiro vigarista que lhes apareça.
Não nos esqueçamos que «uma verdadeira dor que sai do homem pertence, antes de tudo, a Deus» (Georges Bernanos, Diario de un cura rural, 74). Não separemos o que Ele quis unir no seu Filho.
O futuro exige que se respeite o presente, reconhecendo a dignidade das culturas dos vossos povos e esforçando-se por valorizá-las. Também nisto se joga a dignidade: na auto-estima cultural. Os vossos povos não são o «horto» da sociedade nem de ninguém; têm uma história rica que deve ser aceite, valorizada e incentivada. Nestas terras, foram plantadas as sementes do Reino; temos obrigação de as identificar, cuidar e proteger para que nenhum bem plantado por Deus definhe devido a interesses espúrios que, por todo o lado, semeiam corrupção e crescem despojando os mais pobres. Cuidar das raízes é tutelar o rico património histórico, cultural e espiritual que esta terra soube amalgamar ao longo dos séculos. Comprometei-vos e erguei a voz contra a desertificação cultural e espiritual dos vossos povos, que provoca uma indigência radical, pois deixa-os sem a indispensável imunidade vital que sustenta a dignidade nos momentos de maior dificuldade.
Na última carta pastoral, afirmáveis: «Ultimamente a nossa região tem sofrido o impacto da migração realizada de forma nova, por ser maciça e organizada, e que evidenciou os motivos que levam a uma migração forçada e os perigos que cria para a dignidade da pessoa humana» (SEDAC, Mensagem ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, 30/XI/2018).
Muitos dos migrantes têm rosto jovem; procuram um bem maior para a própria família, não temendo arriscar e deixar tudo para lhe oferecer o mínimo de condições que garantam um futuro melhor. Aqui não basta a denúncia, mas devemos anunciar concretamente uma «boa nova». Graças à sua universalidade, a Igreja pode oferecer uma hospitalidade fraterna e acolhedora, de modo que as comunidades de origem e destino dialoguem e contribuam para superar medos e difidências e fortalecer os laços que as migrações, no imaginário coletivo, ameaçam romper. «Acolher, proteger, promover e integrar» podem ser os quatro verbos com que a Igreja, nesta situação migratória, conjugue a sua maternidade no momento atual da história (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 147).
Todos os esforços que puderdes realizar para lançar pontes entre as comunidades eclesiais, paroquiais, diocesanas, bem como através das Conferências Episcopais, constituem um gesto profético da Igreja, que, em Cristo, é «o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Const. dogm. Lumen gentium, 1). Assim dissipa-se a tentação de ficar apenas pela denúncia e reliza-se o anúncio da Vida nova que o Senhor nos dá.
Lembremo-nos da exortação de São João: «Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele? Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 17-18).
Todas estas situações nos interpelam; são situações que nos chamam à conversão, à solidariedade e a uma ação educativa incisiva nas nossas comunidades. Não podemos ficar indiferentes (cf. Sínodo sobre os Jovens, Documento final, 41-44). O mundo descarta: sabemo-lo e lamentamo-lo. A kenosis de Cristo, não: já o experimentamos e continuamos a experimentar na própria carne com o perdão e a conversão. Esta tensão constringe-nos a questionar-nos sem cessar: De que parte queremos estar?
A kenosis de Cristo é sacerdotal
São bem conhecidos a amizade do Arcebispo Romero com o Padre Rutilio Grande e o impacto que o assassínio deste teve na sua vida; foi um acontecimento que marcou profundamente o seu coração de homem, sacerdote e pastor. Romero não era um administrador de recursos humanos, não geria pessoas nem organizações; sentia com amor de pai, amigo e irmão. Uma medida um pouco alta, mas útil para avaliar o nosso coração episcopal, uma medida à vista da qual podemos interrogar-nos: Quanto me afeta a vida dos meus sacerdotes? Que impacto deixo ter em mim aquilo que vivem, chorando com as suas dores, congratulando-me e regozijando-me com as suas alegrias? Comecemos a medir o funcionarismo e clericalismo eclesiais – infelizmente tão difusos, constituindo uma caricatura e uma perversão do ministério – por estes interrogativos. Não é questão de mudar estilos, hábitos ou linguagem (certamente importantes); é questão sobretudo de impacto e capacidade de espaço, nos nossos programas episcopais, para receber, acompanhar e sustentar os nossos sacerdotes: um «espaço real» para nos ocuparmos deles. Isto faz de nós pais fecundos.
Normalmente recai sobre eles, duma maneira especial, a responsabilidade de fazer com que este povo seja o povo de Deus. Encontram-se na primeira linha: carregam sobre si o cansaço do dia e o seu calor (cf. Mt 20, 12), estão sujeitos a inumeráveis situações diárias que podem deixá-los mais vulneráveis e, por isso, precisam também da nossa proximidade, da nossa compreensão e encorajamento, da nossa paternidade. O resultado do trabalho pastoral, da evangelização na Igreja e da missão não se baseiam na riqueza dos meios e recursos materiais, nem na quantidade de eventos ou atividades que realizamos, mas na centralidade da compaixão: um dos grandes distintivos que podemos, como Igreja, oferecer aos nossos irmãos. A kenosis de Cristo é a expressão máxima da compaixão do Pai. A Igreja de Cristo é a Igreja da compaixão; e isto começa em casa. É sempre bom perguntar-nos como pastores: Que impacto tem em mim a vida dos meus sacerdotes? Sou capaz de ser um pai ou consolo-me com ser um mero executor? Deixo que me incomodem? Lembro-me das palavras de Bento XVI quando falava aos seus compatriotas no início do pontificado: «Cristo não nos prometeu uma vida confortável. Quem deseja comodidades, com Ele errou direção. Mas Ele mostra-nos o caminho rumo às coisas grandes, o bem, rumo à vida humana autêntica» (Discurso às Delegações e peregrinos alemães, 25/IV/2005).
Sabemos que o nosso trabalho, nas visitas e encontros que realizamos, sobretudo nas paróquias, tem uma dimensão e uma componente administrativas, a que é necessário atender. É preciso certificar-se que seja feito, mas isto não significa que caiba a nós mesmos utilizar em tarefas administrativas o pouco tempo que temos. O fundamental nas visitas e que não podemos delegar, é a escuta. Há muitas coisas que fazemos todos os dias e que deveríamos confiar a outrem. Aquilo que, ao contrário, não podemos delegar é a capacidade de ouvir, a capacidade de acompanhar a saúde e a vida dos nossos sacerdotes. Não podemos delegar noutros a porta aberta para eles; uma porta aberta para criar as condições que tornem possível a confiança mais do que o medo, a sinceridade mais do que a hipocrisia, o intercâmbio franco e respeitoso mais do que o monólogo disciplinar.
Vêm-me à memória estas palavras de Rosmini: «Não há dúvida de que apenas os grandes homens podem formar outros grandes homens (…). Nos primeiros séculos, a casa do bispo era o seminário dos sacerdotes e diáconos. A presença e a santa conversação do seu prelado revelavam-se uma lição candente, contínua, sublime, na qual se aprendia conjuntamente a teoria nas suas doutas palavras e a prática nas assíduas ocupações pastorais. E foi assim que os jovens Atanásios cresceram junto dos Alexandres» (António Rosmini, Las cinco llagas de la santa Iglesia, 63).
É importante que o pároco encontre o pai, o pastor no qual «se vê espelhado» e não o administrador que quer «passar revista às tropas». Com todas as coisas em que nos diferenciamos e até mesmo aquelas em que não estamos de acordo e as discussões que possam haver – sendo normal e desejável que existam –, é fundamental que os padres sintam o bispo como um homem capaz de gastar-se e expor-se por eles, fazê-los caminhar para diante e estender-lhes a mão quando estão empantanados; como um homem de discernimento que saiba orientar e encontrar caminhos concretos e praticáveis nas várias encruzilhadas de cada história pessoal.
Etimologicamente, o termo «autoridade» deriva da raiz latina augere que significa aumentar, promover, fazer progredir. No pastor, a autoridade consiste de modo particular em ajudar a crescer, em promover os seus presbíteros, em vez de se promover a si mesmo (isto faz dele um solteirão). A alegria do pai/pastor é ver que os seus filhos cresceram e tornaram-se fecundos. Irmãos, seja esta a nossa autoridade e o sinal da nossa fecundidade.
A kenosis de Cristo é pobre
Irmãos, sentir com a Igreja é sentir com o povo fiel, o povo de Deus que sofre e espera; é saber que a nossa identidade ministerial nasce e compreende-se à luz desta pertença única e constitutiva do nosso ser. Neste sentido, gostaria de recordar convoco o que Santo Inácio nos escrevia a nós, jesuítas: «A pobreza é mãe e muro», gera e preserva. Mãe, porque nos chama à fecundidade, à geração, à capacidade de doação que seria impossível num coração avarento ou empenhado a acumular. E muro, porque nos protege duma das mais subtis tentações que nós, consagrados, temos de enfrentar: a mundanidade espiritual, o revestir de valores religiosos e «piedosos» a ambição de poder e protagonismo, a vaidade e, inclusivamente, o orgulho e a soberba. Muro e mãe, que nos ajudam a ser uma Igreja cada vez mais livre, porque está centrada na kenosis do seu Senhor. Uma Igreja, que não deseja que a sua força esteja – como dizia D. Romero – no apoio dos poderosos ou da política, mas que disso se despreende com nobreza para caminhar sustentada unicamente pelos braços do Crucificado, que é a sua verdadeira força. E isto traduz-se em sinais concretos e evidentes; isto interpela-nos e impele-nos a um exame de consciência a propósito das nossas opções e prioridades no uso dos recursos, influências e posições. A pobreza é mãe e muro, porque guarda o nosso coração para que não escorregue em concessões e comprometimentos que enfraquecem a liberdade e parresia a que nos chama o Senhor.
Irmãos, antes de terminar, coloquemo-nos sob o manto da Virgem, rezemos juntos para que Ela guarde o nosso coração de pastores e nos ajude a servir melhor o Corpo de seu Filho, o santo Povo fiel de Deus que caminha, vive e reza aqui na América Central.
Que Jesus vos abençoe e a Virgem Maria vos proteja! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Muito obrigado!
Fonte: www.vaticannews.va
Papa Francisco: irei ao Japão em novembro
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Conversando com os jornalistas durante o voo em direção do Panamá, o Papa falou sobre migrantes e viagens.
Cidade do Vaticano
Irei ao Japão em novembro, preparem-se: foi o que o disse o Papa Francisco no voo para o Panamá, respondendo a um jornalista japonês que lhe perguntou se planejava uma viagem ao seu país. Francisco disse que quer ir também ao Iraque, mas os bispos locais dizem que no momento não é seguro.
Uma jornalista deu ao Papa um desenho do adolescente imigrante que morreu no mar mediterrâneo e que tinha o seu boletim escolar costurado em suas roupas. O Papa ficou comovido e disse que gostaria de falar sobre isso na viagem de retorno.
Respondendo a uma pergunta feita pelo enviado do canal de televisão italiano RAI 1 sobre os muros erguidos para deter os migrantes em Tijuana, na fronteira entre o México e os Estados Unidos, afirmou que o medo nos deixa loucos e convidou a ler o editorial do L’Osservatore Romano intitulado “Os muros do medo”. Fonte: www.vaticannews.va
SEGUNDA-FEIRA 21. HOMILIA DO PAPA: “As Bem-aventuranças, verdadeiro estilo de vida do cristão”.
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Podemos pensar que somos bons católicos, mas não nos comportarmos como bons cristãos. O verdadeiro estilo do cristão é aquele indicado pelas Bem-aventuranças. Foi o que disse o Papa na homilia da missa na Casa Santa Marta comentando a emblemática expressão do Evangelho do dia de Marcos: "Vinho novo em odres novos". (Mc 2, 18-22)
Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano. (21/01/2019)
O Evangelho, a Palavra do Senhor é o "vinho novo" que nos foi dado, mas acolhê-lo não é suficiente para sermos bons cristãos; isso exige de nós um "comportamento novo", um "estilo novo" que é precisamente "o estilo cristão" e que somente as "Bem-aventuranças" podem nos indicar. Este é o significado da palavra-chave que encerra o Evangelho de Marcos de hoje: "Vinho novo em odres novos", e daqui nasce a .
Viver acusando os outros não é cristão
"Para entender qual é o estilo cristão - disse Francisco -, melhor entender talvez nossas atitudes que são de um estilo não-cristão", e cita três, o "estilo acusatório", o "estilo mundano" e o "estilo egoísta": O estilo acusatório é o estilo daqueles fiéis que sempre procuram acusar os outros, vivem acusando: "Não, mas isso, aquilo ... Não isso, não ... ele não é correto, ele era um bom católico ..." e sempre desqualificando os outros . Um estilo - eu diria - de promotores de justiça falidos: estão sempre tentando acusar os outros. Mas eles não percebem que é o estilo do diabo: na Bíblia o diabo é chamado de "grande acusador", que está sempre acusando os outros.
"Essa – destacou Francisco - é uma moda entre nós", e era também no tempo de Jesus que em mais de um episódio reprovou os acusadores: "Em vez de olhar a palha nos olhos dos outros, olhe para a trave nos seus olhos "; ou ainda: "Aqueles que não pecaram podem atirar a primeira pedra". Portanto, explicou o Papa, "viver acusando os outros e" procurando defeitos" não é "cristão", não é odre novo”.
A mundanidade estraga muitas pessoas
Isso também vale para o estilo de vida que Francisco definiu como "mundano", que é "do mundo", típico daqueles católicos que recitam o Credo, mas vivem de "vaidade, orgulho, apegados ao dinheiro, autossuficientes":
O Senhor lhe ofereceu o vinho novo, mas você não mudou os odres, você não mudou. A mundanidade, a mundanidade é o que estraga muitas pessoas, muitas pessoas! Pessoas boas, mas entram neste espírito de vaidade, de orgulho, de serem vistas ... Não há humildade e humildade faz parte do estilo cristão. Devemos aprender isto de Jesus, de Nossa Senhora, de São José, eles eram humildes.
A indiferença não faz parte do cristão
E ainda há outro estilo que se "vê em nossas comunidades" e que não é cristão: é "o espírito egoísta", o "espírito da indiferença". "Penso em ser um bom cristão – explicou Francisco -, eu faço as coisas mas não me preocupo com os problemas dos outros, não me preocupo com as guerras, as doenças, com as pessoas que sofrem" , não me preocupo com o próximo. É "a hipocrisia" que Jesus repreendia aos doutores da Lei. Então qual é o estilo cristão verdadeiro?
O estilo cristão é o das Bem-aventuranças: mansidão, humildade, paciência no sofrimento, amor à justiça, capacidade de suportar perseguições, não julgar os outros ... E esse é o espírito cristão, o estilo cristão. Se você quer saber como é o estilo cristão, para não cair neste estilo acusatório, no estilo mundano e no estilo egoísta, leia as Bem-aventuranças. E este é o nosso estilo, as Bem-aventuranças são os odres novos, são o caminho para chegar. Para ser um bom cristão devemos ter a capacidade de recitar o credo com o coração, mas também de recitar com o coração o Pai Nosso. Fonte: www.vaticannews.va
DOMINGO 20. Papa no Angelus: "Entregar-se ao Senhor é viver na graça"
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Antes de rezar o Angelus com os fiéis, o Papa refletiu sobre o início da missão pública de Jesus, quando, nas Bodas de Caná, transformou a água em vinho: o primeiro milagre do Mestre.
Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
Apesar do chuvoso domingo do inverno romano, o Papa atraiu à Praça São Pedro milhares de pessoas para ouvi-lo e rezar com ele a oração mariana do Angelus.
Ao meio-dia, Francisco apareceu na sacada de seu escritório e depois de cumprimentar os fiéis, fez uma reflexão sobre o início da missão pública de Jesus, que caracteriza o tempo litúrgico ‘comum’.
Bodas de Jesus com a humanidade
O Evangelho do dia narra o primeiro milagre de Jesus, seu primeiro ‘sinal’ – como diz o Evangelista João – que ocorreu nas bodas de Caná, na Galileia. E não foi um caso que tenha se realizado num matrimônio - explicou o Papa - porque naquela cerimônia, Deus se casou com a humanidade: esta é a Boa Notícia, mesmo se aqueles que o convidaram ainda não sabiam que o Filho de Deus estava sentado à sua mesa e que o verdadeiro esposo era Ele.
“De fato, todo o mistério do sinal de Caná se baseia na presença deste divino esposo que começa a revelar-se. Jesus se manifesta como esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e nos revela a profundidade da relação que nos une a Ele"
“ É uma nova Aliança de amor ”
O Papa prosseguiu com o relato da festa, que justamente quando estava no auge, o vinho acabou! Percebendo, Maria disse ao Filho: “Eles não têm mais vinho”. A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. Como é possível celebrar as núpcias e fazer festa se falta aquilo que os profetas indicavam como um elemento típico do banquete messiânico?
Jesus transforma a água em vinho
Jesus então disse aos serventes: "Enchei as ânforas de água. E as encheram até a borda. Disse-lhes novamente: "Agora tomai algumas e levai-as àquele que dirige o banquete”. Maria se dirige aos empregados e suas palavras coroam o quadro esponsal de Caná: “Façam o que Ele lhes disser”. Maria – recordou o Papa – nos repete hoje a mesma coisa: "Tudo o que Ele lhes disser, façam-no". Suas palavras são um legado precioso que a nossa Mãe nos deixou.
Maria confia nas palavras do Mestre e intercede por nós
“Servir o Senhor significa escutar e pôr em prática a sua palavra. É a recomendação simples e essencial da Mãe de Jesus, é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber daquela ânfora equivale a entregar-se à Palavra e aos Sacramentos para experimentar a graça de Deus em nossa vida”.
Terminando, o Papa improvisou algumas palavras, destacando uma experiência que certamente muitos já tiveram na vida: “Quando estamos em situações difíceis, quando surgem problemas que não sabemos como resolver, quando muitas vezes sentimos ansiedade e angústia, quando nos falta alegria, vamos a Maria e digamos: "Não temos vinho. O vinho acabou: olha como eu estou; olha para o meu coração, olha para a minha alma". Digam-no à mãe. E ela irá a Jesus e dirá: "Olha ele, olha ela: eles não têm vinho". depois, ela virá a nós e dirá: "Tudo o que ele te disser, faça-o". Fonte: www.vaticannews.va
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