O PAPA FRANCISCO BEIJA OS PÉS DOS LÍDERES DO SUDÃO DO SUL, INSTANDO-OS A MANTER A PAZ.
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Na quinta-feira, o Papa Francisco ajoelhou-se para beijar os pés dos líderes guerrilheiros do Sudão do Sul, num gesto dramático após um retiro sem precedentes no Vaticano.
Papa, no entanto, pediu-lhes para não voltarem a uma guerra civil. Ele também apelou ao presidente Salva Kiir, seu ex-vice-presidente, Riek Machar, e a outros três vice-presidentes para que respeitem qualquer acordo de paz que eles assinaram e se comprometam a formar um governo de união em maio.
“Estou lhe pedindo como irmão para ficar em paz. Eu estou perguntando a você com meu coração, vamos em frente. Haverá muitos problemas, mas eles não nos superarão. Resolva seus problemas ”, disse Francis em suas observações.
Os líderes sudaneses pareciam estar chocados quando o papa de 82 anos, ajudado por ajudantes, se ajoelhou com dificuldade para beijar os sapatos dos dois principais líderes opostos e várias outras pessoas na sala.
O Vaticano reuniu líderes do Sudão do Sul para 24 horas de oração e pregação dentro da residência do papa em uma última tentativa de curar divisões amargas um mês antes de a nação devastada pela guerra criar um governo de unidade. Fonte: https://oinegro.com.br
O gesto do Servo dos servos de Deus
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O significado do que fez o Papa Francisco ao final do retiro espiritual pela paz no Sudão do Sul
Andrea Tornielli
O gesto surpreendente e comovente de Francisco ao final do retiro espiritual de dois dias pela paz no Sudão do Sul, que o Pontífice hospedou na sua casa, tem um sabor evangélico. E aconteceu exatamente uma semana antes que o próprio gesto se repita nas igrejas do mundo todo para lembrar a Última Ceia, quando Jesus, quase na véspera da sua Paixão, lavando os pés dos apóstolos, indicou a eles o caminho do serviço.
Na Casa Santa Marta, depois de ter pedido “como irmão” aos líderes do Sudão do Sul de “permanecer na paz”, Francisco, com visível sofrimento, quis se ajoelhar diante deles para beijar os seus pés. Ele então se prostrou diante do presidente da República do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit, e dos vice-presidentes designados presentes, entre eles, Riek Machar e Rebecca Nyandeng de Mabio.
Uma imagem forte que não se compreende se não no clima de recíproco perdão que caracterizou os dois dias de retiro. Não uma conferência político-diplomática, mas uma experiência de oração e de reflexão comum entre líderes que, mesmo tendo assinado um acordo de paz, custam a garantir que isso seja respeitado.
A paz, para os crentes, se invoca diante de Deus. E se invoca rezando ainda mais perante o sacrifício de tantas vítimas inocentes do ódio e da guerra. Alguma coisa deve ter acontecido naquelas horas na Santa Marta, principalmente entre os líderes do Sudão do Sul que acolheram o convite do bispo de Roma, que tem como título aquele de “Servo dos servos de Deus”. Ajoelhando-se com dificuldade para beijar os pés deles, o Papa se curvou diante àquilo que Deus suscitou durante esse encontro de oração.
Gestos semelhantes, ícone evangélico do serviço, não são novos na história recente do papado. Em 14 de dezembro de 1975, São Paulo VI, na Capela Sistina, celebrando os dez anos do cancelamento das excomunhões recíprocas entre as Igrejas de Roma e de Constantinopla, desceu do altar ao final da Missa, ainda vestindo os paramentos sagrados, e se lançou aos pés do metropolita Meliton de Calcedônia, representante do Patriarca Demétrio. Um gesto que invocava, além do lava-pés realizado por Jesus, também os eventos do Concílio de Florença quando, em 1439, os patriarcas ortodoxos se recusaram em beijar os pés do Papa Eugênio IV.
Em relação com os outros irmãos cristãos, como diante a quem se deixa tocar o coração e aceita gestos de reconciliação e de paz, os Papas, Servos dos servos de Deus, não têm temor em se humilhar para imitar o seu Mestre. Fonte: www.vaticannews.va
TERÇA-FEIRA, 9. HOMILIA DO PAPA: “ceder à falência é a desolação cristã”
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Durante a missa celebrada na Casa Santa Marta, o Pontífice comentou a Primeira Leitura, extraída do Livro dos Números (Nm 21,4-9), e falou do “espírito de cansaço” que “abala a esperança”.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano
Às vezes, os cristãos “preferem a falência”, que deixa espaço para as lamentações, para a insatisfação, “campo perfeito para o diabo semear”.
Na homilia da missa celebrada na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco refletiu sobre o “cansaço” narrado no Livro dos Números (Nm 21,4-9). “O povo de Deus não suportou a viagem”, está escrito na Primeira Leitura: “o entusiasmo” e a “esperança” da fuga da escravidão no Egito foram se perdendo aos poucos à margem do mar e depois no deserto, chegando a murmurar contra Moisés.
“O espírito de cansaço nos tira a esperança”, afirmou o Pontífice, “o cansaço é seletivo: sempre nos faz ver o lado ruim do momento que estamos vivendo e esquecer das coisas boas que recebemos”.
E nós, quando estamos desolados, não suportamos a viagem e buscamos refúgio nos ídolos ou na murmuração ou em tantas outras coisas … Isso é um modelo para nós. E este espírito de cansaço em nós cristãos nos leva também a um modo de viver insatisfeito: o espírito de insatisfação. Tudo é ruim, tudo nos incomoda... o próprio Jesus nos ensinou isso quando diz que este espírito de insatisfação nos faz parecer crianças quando brincam.
Campo para semear
Alguns cristãos cedem à “falência” sem perceber que este é o “campo perfeito para o diabo semear”. Às vezes, têm “medo das consolações”, prosseguiu o Papa, “medo da esperança”, “medo das carícias do Senhor”, conduzindo “uma vida de viúvas pagas para chorar”.
Esta é a vida de muitos cristãos. Vivem se lamentando, vivem criticando, vivem murmurando, vivem insatisfeitos. “O povo não suportou a viagem”. Nós cristãos muitas vezes não suportamos a viagem. E a nossa preferência é nos apegar à falência, isto é, à desolação. E a desolação pertence à serpente: a serpente antiga, aquela do paraíso terrestre. É um símbolo aqui: a mesma cobra que seduziu Eva e esta é uma maneira de mostrar a cobra que têm dentro, que morde sempre na desolação.
O medo da esperança
Passar a vida se lamentando: acontece com quem “prefere a falência”, “não suporta a esperança”, “não suporta a ressurreição de Jesus”.
Irmãos e irmãs, recordemos somente esta frase: “O povo não suportou a viagem”. Os cristãos não suportam a viagem. Os cristãos não suportam a esperança. Os cristãos não suportam a cura. Ficamos mais presos à insatisfação, ao cansaço, à falência. Que o Senhor nos liberte desta doença. https://www.vaticannews.va
Papa: ''Irritar-se com o Senhor é um modo de rezar''.
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“Irritar-se com o Senhor é um modo de rezar”: foi assim que Francisco respondeu aos jovens, com os quais se encontrou na paróquia romana de San Giulio, ressaltando que “Jesus gosta de ver a verdade do nosso coração”. O único momento em que “é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la”, porque – explicou – “todos devemos ajudar a levantar aqueles que caíram”. A reportagem é de Luisa Urbani, publicada em Vatican News, 07-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto
Dar de comer aos pobres
Durante o encontro, duas meninas, em nome de todos os jovens da paróquia, fizeram algumas perguntas ao pontífice. A pequena Eleonora perguntou ao Santo Padre: “O senhor já deu de comer aos pobres pessoalmente?”. “Sim, já fiz, várias vezes”, respondeu Francisco, salientando que é uma ação que “todos devemos fazer sempre”. Devemos “dar de comer aos outros assim como Deus nos dá de comer”.
Não ter medo de duvidar
Depois, a pergunta de Carlotta, uma das animadoras dos adolescentes: “Nestes meses, refletimos com os jovens sobre a relação com Deus, e, ao longo do caminho, surgiram dúvidas. Como podemos nos confiar sem reservas a Ele?”. “Todos, em um certo momento, têm dúvidas. Faz parte da vida duvidar. Nesse momento – explicou o papa – devemos apostar na fidelidade de Jesus. É uma fidelidade que nunca decepciona. Mais cedo ou mais tarde, o Senhor se faz sentir”. É importante não “ter medo de duvidar. Eu duvido, mas é bom compartilhar essa dúvida com os outros”.
Falar sobre as dúvidas com Jesus
A dúvida também estava no centro da segunda pergunta de Carlotta, que perguntou se isso realmente o pôs à prova. A resposta de Francisco foi cheia de indicações, de sugestões, de caminhos ditados pelo coração. “Nunca se pode sair sozinhos da dúvida”, porque “é preciso a companhia de alguém que te ajude a seguir em frente”. Por isso, é importante falar sobre as dúvidas com alguém e, acima de tudo, com Jesus.
“Irritar-se com o Senhor é um modo de rezar”, continuou o papa, enfatizando que “Jesus gosta de ver a verdade do nosso coração. Ele é tão paciente, ele nos espera.” O pontífice, explicando mais uma vez a importância da partilha da dúvida, lembra aos jovens que, “na vida, todos devemos ajudar a levantar aqueles que caíram”, e que “o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a se levantar. Caso contrário, não se pode olhar com superioridade”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
QUARTA-FEIRA, 3- AUDIÊNCIA GERAL DO PAPA: "Deus quer a fraternidade entre nós e os muçulmanos" Francisco.
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Na primeira audiência geral de abril, o Papa Francisco relembrou com milhares de pessoas presentes na Praça São Pedro sua recente viagem ao Marrocos.
Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
Na primeira audiência geral deste mês de abril, o Papa Francisco relembrou, junto com milhares de pessoas presentes na Praça São Pedro, sua recente viagem ao Marrocos. Convidado pelo Rei Mohammed VI, o Pontífice passou sábado e domingo no país norte-africano.
Para Francisco, tratou-se de “um novo passo no caminho do diálogo e do encontro com os irmãos e irmãs muçulmanos como “Servidor de esperança”. Foi uma viagem inspirada em dois santos: Francisco de Assis – que há 800 anos levou a mensagem de paz e fraternidade ao Sultão al-Malik al-Kamil – e João Paulo II, que depois de receber no Vaticano pela primeira vez um Chefe de Estado muçulmano, Rei Hassan II, realizou uma memorável visita ao Marrocos.
Jerusalém seja preservada
Francisco começou sua catequese agradecendo o povo e as autoridades que o receberam, e em seguida, ilustrou os momentos mais significativos do fim de semana.
Com o Rei Mohammed VI, o Papa sublinhou que as religiões têm um papel fundamental, defendendo a dignidade humana, promovendo a paz, a justiça e o cuidado da criação. Também assinaram um Apelo por Jerusalém, para que a Cidade Santa seja preservada como patrimônio da humanidade e lugar de encontro pacífico para os fiéis das três religiões monoteístas:
Mas alguém poderia se perguntar, observa Francisco: “Mas por que o Papa encontra os muçulmanos e não somente os católicos? Por que existem tantas religiões, como é possível existir tantas religiões? Mas com os muçulmanos somos descendentes do mesmo Pai, Abraão: mas por que Deus permite que existam tantas religiões? Deus quis permitir isso: os teólogos da Escolástica diziam a “volutas permissiva” de Deus. Ele quis permitir essa realidade: existem muitas religiões; algumas nascem da cultura, mas sempre olham para o céu, olham para Deus. Mas o que Deus quer é a fraternidade entre nós. E de maneira especial – por isto essa viagem - com nossos irmãos filhos de Abraão como nós, os muçulmanos. Não devemos temer a diferença: Deus permitiu isso. Mas devemos nos assustar se não trabalharmos em fraternidade, para caminharmos juntos na vida".
Durante um encontro com migrantes, ouviu-se o testemunho de como a vida muda quando quem emigra encontra uma comunidade que o acolhe como pessoa, mostrando assim como é importante estar abertos à diferença, sem deixar de conservar a identidade cultural e religiosa, sabendo valorizar a fraternidade humana.
Falando sobre o engajamento e da proximidade da Igreja marroquina aos migrantes, o Papa improvisou: “Não gosto de dizer ‘migrantes’. Gosto mais de dizer ‘pessoas migrantes’. Sabem por que? Porque ‘migrante’ é um adjetivo; ao invés, ‘pessoa’ é um substantivo. Nós caímos na ‘cultura do adjetivo’. Usamos tantos adjetivos e muitas vezes nos esquecemos dos substantivos, ou seja, da substância. O adjetivo vai junto com o substantivo, a uma ‘pessoa’. Isto é: ‘migrante’ não, ‘pessoa migrante’ sim. Assim se respeita, para não cair na ‘cultura do adjetivo’, que é ‘líquida’ demais, ‘gasosa’ demais”.
Um novo passo no caminho do encontro
Durante o encontro com sacerdotes, consagrados e membros do Conselho Mundial de Igrejas, lembrou-se que a comunidade cristã nessas terras, mesmo sendo um pequeno rebanho, é chamada a ser sal, luz e fermento, dando testemunho do amor fraterno.
Por fim, o Papa mencionou a missa celebrada no domingo, com fiéis de mais de 60 nacionalidades: “Uma singular epifania do Povo de Deus no coração de uma país islâmico: uma festa dos filhos que se sabem abraçados pelo Pai celestial e por isso podem ser servidores da esperança” https://www.vaticannews.va
*Exortação "Christus vivit": síntese ampla e texto integral
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Publicamos uma ampla síntese com o link ao texto integral da Exortação Apostólica do Papa Francisco, fruto do Sínodo dos jovens realizado em outubro de 2018
«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!».
Assim começa a Exortação Apostólica pós-sinodal "Christus vivit"de Francisco, assinada segunda-feira, 25 de março, na Santa Casa de Loreto, e dirigida «aos jovens e a todo o povo de Deus». No documento, composto por nove capítulos divididos em 299 parágrafos, o Papa explica que se deixou «inspirar pela riqueza das reflexões e diálogos do Sínodo dos jovens», celebrado no Vaticano em outubro de 2018.
Primeiro capítulo: «Que diz a Palavra de Deus sobre os jovens?»
Francisco recorda que « numa época em que os jovens contavam pouco, alguns textos mostram que Deus vê com olhos diferentes» (6) e apresenta brevemente figuras de jovens do Antigo Testamento: José, Gedeão (7), Samuel (8), o rei David (9), Salomão e Jeremias (10), a jovem serva hebreia de Naaman e a jovem Rute (11). Depois passa para o Novo Testamento. O Papa recorda que «Jesus, o eternamente jovem, quer dar-nos um coração sempre jovem» (13) e acrescenta: «Notemos que Jesus não gostava que os adultos olhassem com desprezo para os mais jovens ou os mantivessem, despoticamente, ao seu serviço. Pelo contrário, pedia: “O que for maior entre vós seja como o menor” (Lc 22, 26). Para Ele, a idade não estabelecia privilégios; e o facto de alguém ter menos anos não significava que valesse menos ou tivesse menor dignidade». Francisco afirma: «Nunca nos arrependeremos de gastar a própria juventude a fazer o bem, abrindo o coração ao Senhor e vivendo contracorrente» (17).
Segundo capítulo: «Jesus Cristo sempre jovem»
O Papa aborda o tema dos primeiros anos de Jesus e recorda a narração evangélica que descreve o Nazareno «em plena adolescência, quando regressou para Nazaré com seus pais, depois que estes O perderam e reencontraram no Templo» (26). Não devemos pensar, escreve Francisco, que «Jesus fosse um adolescente solitário ou um jovem fechado em si mesmo. A sua relação com as pessoas era a dum jovem que compartilhava a vida inteira duma família bem integrada na aldeia», «ninguém O considerava um jovem estranho ou separado dos outros» (28). O Papa faz notar que Jesus adolescente, «graças à confiança que n’Ele depositam seus pais…move-Se livremente e aprende a caminhar com todos os outros» (29). Estes aspectos da vida de Jesus não deveriam ser ignorados na pastoral juvenil, «para não criar projetos que isolem os jovens da família e do mundo, ou que os transformem numa minoria selecta e preservada de todo o contágio». Precisamos, sim, «de projetos que os fortaleçam, acompanhem e lancem para o encontro com os outros, o serviço generoso, a missão» (30).
Jesus «vos ilumina, a vós jovens, mas a partir da própria juventude que partilha convosco » e n’Ele se podem reconhecer muitos traços típicos dos corações jovens (31). Junto «d’Ele, podemos beber da verdadeira fonte que mantém vivos os nossos sonhos, projetos e grandes ideais, lançando-nos no anúncio da vida que vale a pena viver» (32); «O Senhor chama-nos a acender estrelas na noite doutros jovens» (33).
Francisco fala então da juventude da Igreja e escreve: « Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia» (35).
É verdade que «nós, membros da Igreja, não precisamos de aparecer como sujeitos estranhos. Todos nos devem sentir irmãos e vizinhos, como os Apóstolos que «tinham a simpatia de todo o povo» (At 2, 47; cf. 4, 21.33; 5, 13). Ao mesmo tempo, porém, devemos ter a coragem de ser diferentes, mostrar outros sonhos que este mundo não oferece, testemunhar a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e o bem comum, do amor aos pobres, da amizade social» (36). A Igreja pode sempre cair na tentação de perder o entusiasmo e procurar «falsas seguranças mundanas. São precisamente os jovens que a podem ajudar a permanecer jovem» (37).
O Papa volta então a um dos ensinamentos que ele gosta muito e explica que é necessário apresentar a figura de Jesus «de modo atraente e eficaz» e diz: «Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado debruçada sobre si mesma, mas procure sobretudo refletir Jesus Cristo. Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar» (39).
Na exortação se reconhece que há jovens que sentem a presença da Igreja «como importuna e até mesmo irritante». Um comportamento que mergulha as raízes «mesmo em razões sérias e respeitáveis: os escândalos sexuais e económicos; a falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem reconhecer de maneira adequada a sensibilidade dos jovens; pouco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra de Deus; o papel passivo atribuído aos jovens no seio da comunidade cristã; a dificuldade da Igreja dar razão das suas posições doutrinais e éticas perante a sociedade atual» (40).
Há jovens que «reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas tão-pouco desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam. Para ser credível aos olhos dos jovens, precisa às vezes de recuperar a humildade e simplesmente ouvir, reconhecer, no que os outros dizem, alguma luz que a pode ajudar a descobrir melhor o Evangelho» (41). Por exemplo, uma Igreja demasiado temerosa e estruturada pode ser constantemente crítica «de todos os discursos sobre a defesa dos direitos das mulheres, e apontar constantemente os riscos e os possíveis erros dessas reclamações», enquanto uma Igreja «viva pode reagir prestando atenção às legítimas reivindicações das mulheres», embora «não concorde com tudo o que propõem alguns grupos feministas» (42).
Francisco apresenta então «Maria, a jovem de Nazaré», e o seu sim como aquele «de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um de vós: Sentes-te portador duma promessa?» (44). Para Maria «as dificuldades não eram motivo para dizer “não”» e assim colocando-se em jogo tornou-se a «influenciadora de Deus». O coração da Igreja também está cheio de jovens santos. O Papa recorda São Sebastião, São Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, o Beato mártir Andrew Phû Yên, Santa Catarina Tekakwitha, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, Beato Zeferino Namuncurá, Beato Isidoro Bakanja, Beato Pier Jorge Frassati, Beato Marcelo Callo, a jovem Beata Clara Badano.
Terceiro capítulo: «Vós sois o agora de Deus»
Não podemos limitar-nos a dizer, afirma Francisco, que «os jovens são o futuro do mundo: são o presente, estão a enriquecê-lo com a sua contribuição» (64). Por isso é preciso escutá-los mesmo se «prevalece a tendência de fornecer respostas pré-fabricadas e receitas prontas, sem deixar assomar as perguntas juvenis na sua novidade e captar a sua interpelação» (65).
«Hoje nós, adultos, corremos o risco de fazer uma lista de desastres, de defeitos da juventude actual... Mas, qual seria o resultado deste comportamento? Uma distância sempre maior» (66). Quem foi chamado a ser pai, pastor ou guia dos jovens deveria ter a capacidade «de individuar percursos onde outros só veem muros, é saber reconhecer possibilidades onde outros só veem perigos. Assim é o olhar de Deus Pai, capaz de valorizar e nutrir os germes de bem semeados no coração dos jovens. Por isso, o coração de cada jovem deve ser considerado ‘terra santa’» (67). Francisco convida também a não generalizar, porque existe uma «pluralidade de mundos juvenis» (68).
Falando depois do que ocorre aos jovens, o Papa recorda os jovens que vivem em contextos de guerra, aqueles explorados e vítimas de raptos, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros. E também aqueles que vivem perpetrando crimes e violências (72). «Muitos jovens são mentalizados, instrumentalizados e utilizados como carne de canhão ou como força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros. E o pior é que muitos se transformam em sujeitos individualistas, inimigos e difidentes para com todos, tornando-se assim presa fácil de propostas desumanizadoras e dos planos destrutivos elaborados por grupos políticos ou poderes económicos» (73). Ainda mais numerosos no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Francisco cita adolescentes e jovens que «ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a propagação do SIDA/HIV, as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua» (74), situações de marginalização duplamente dolorosas e difíceis para as mulheres. «Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto…A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com outras distrações, com banalidades» (75). O Papa convida os jovens a aprender a chorar pelos coetâneos que estão pior do que eles (76).
É verdade, explica Francisco, que «os poderosos prestam alguma ajuda, mas muitas vezes por um alto preço. Em muitos países pobres, a ajuda económica dalguns países mais ricos ou dalguns organismos internacionais costuma estar vinculada à aceitação de propostas ocidentais relativas à sexualidade, ao matrimónio, à vida ou à justiça social. Esta colonização ideológica prejudica de forma especial os jovens» (78). O Papa chama a atenção também para a cultura de hoje que apresenta o modelo juvenil de beleza e usa os corpos juvenis na publicidade: «não é um elogio para os jovens. Significa apenas que os adultos querem roubar a juventude para si mesmos» (79).
Acenando a «desejos, feridas e buscas», Francisco fala da sexualidade: «num mundo que destaca excessivamente a sexualidade, é difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas. Por esta e outras razões, a moral sexual é frequentemente «causa de incompreensão e alheamento da Igreja, pois é sentida como um espaço de julgamento e condenação» mesmo que existam jovens que expressam de maneira explícita o desejo de se confrontar sobre esses temas (81). O Papa, diante dos progressos da ciência, das tecnologias biomédicas e das neurociências recorda que «podem levar-nos a esquecer que a vida é um dom, que somos seres criados e limitados, podendo facilmente ser instrumentalizados por quem detém o poder tecnológico» (82).
A exortação se detém em seguida sobre o tema do «ambiente digital», que criou «uma nova maneira de comunicar» e que «pode facilitar a circulação duma informação independente». Em muitos países, a web e as redes sociais já constituem «um lugar indispensável para se alcançar e envolver os jovens» (87). Mas é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência, até ao caso extremo da dark web. Os meios de comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contacto com a realidade concreta…Difundem-se novas formas de violência através das redes sociais, como o cyberbullying; a web é também um canal de difusão da pornografia e de exploração de pessoas para fins sexuais ou através do jogo de azar» (88). Não se deve esquecer que «há interesses económicos gigantescos que operam no mundo digital», capazes de criar «mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático». Há circuitos fechados que «facilitam a divulgação de informações e notícias falsas, fomentando preconceitos e ódio... A reputação das pessoas é comprometida através de processos sumários on-line. O fenómeno diz respeito também à Igreja e seus pastores» (89). Num documento preparado por trezentos jovens de todo o mundo antes do Sínodo, se afirma que «as relaçõeson-line podem tornar-se desumanas e a imersão no mundo virtual favoreceu uma espécie de «migração digital», isto é, um distanciamento da família, dos valores culturais e religiosos, que leva muitas pessoas para um mundo de solidão» (90).
O Papa prossegue apresentando «os migrantes como paradigma do nosso tempo», e recorda os inúmeros jovens diretamente envolvidos nas migrações. «A preocupação da Igreja visa, em particular, aqueles que fogem da guerra, da violência, da perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais devidos também às alterações climáticas e da pobreza extrema» (91): alguns estão à procura de uma oportunidade, sonham um futuro melhor. Outros migrantes são «atraídos pela cultura ocidental, nutrindo por vezes expectativas irrealistas que os expõem a pesadas decepções. Traficantes sem escrúpulos, frequentemente ligados a cartéis da droga e das armas, exploram a fragilidade dos migrantes… Há que assinalar a particular vulnerabilidade dos migrantes menores não acompanhados… Nalguns países de chegada, os fenómenos migratórios suscitam alarme e temores, frequentemente fomentados e explorados para fins políticos. Assim se difunde uma mentalidade xenófoba, de clausura e retraimento em si mesmos, a que é necessário reagir com decisão» (92). Os jovens que migram experimentam a separação do seu contexto de origem e, muitas vezes, também um desenraizamento cultural e religioso(93). Francisco pede «especialmente aos jovens que não caiam nas redes de quem os quer contrapor a outros jovens que chegam aos seus países, fazendo-os ver como sujeitos perigosos» (94).
O Papa fala também dos abusos sobre menores, faz seu o compromisso do Sínodo para a adoção de rigorosas medidas de prevenção e exprime gratidão «a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido» (99), recordando que «graças a Deus», os sacerdotes que caíram nestes crimes horríveis não constituem a maioria; esta mantém um ministério fiel e generoso». Pede aos jovens, se vêem um sacerdote em risco, porque tomou um rumo errado, de ter a ousadia e a coragem de lhe lembrar o seu compromisso para com Deus e o seu povo (100).
O abuso não é o único pecado dos membros da Igreja. «Os nossos pecados estão à vista de todos; refletem-se, impiedosamente, nas rugas do rosto milenário da nossa Mãe», mas a Igreja não recorre a cirurgias estéticas, «não tem medo de mostrar os pecados dos seus membros». «Lembremo-nos, porém, que não se abandona a Mãe quando está ferida» (101). Este momento sombrio, com a ajuda preciosa dos jovens, «pode verdadeiramente ser uma oportunidade para uma reforma de alcance histórico para se abrir a um novo Pentecostes» (102).
Francisco recorda aos jovens que «há uma via de saída» em todas as situações escuras e dolorosas. Recorda a boa notícia que nos deu a manhã da Ressurreição. E explica que mesmo que o mundo digital pode expor a tantos riscos, há jovens que sabem ser criativos e geniais nestes âmbitos. É o caso do jovem servo de Deus Carlos Acutis, que «soube usar as novas técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho» (105), não caiu na armadilha e dizia: «todos nascem como originais, mas muitos morrem como fotocópias». Não deixes que isto te aconteça» (106), adverte o Papa. «Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te usar como escravo dos seus interesses» (107), busque a grande meta da santidade. «Ser jovem não significa apenas procurar prazeres transitórios e sucessos superficiais. Para a juventude desempenhar a finalidade que lhe cabe no curso da vida, deve ser um tempo de doação generosa, de oferta sincera» (108). «Se és jovem em idade, mas te sentes frágil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove» (109). Mas recordando sempre que «é muito difícil lutar contra…as ciladas e tentações do demónio e do mundo egoísta, se estivermos isolados» (110), serve, de fato, uma vida comunitária.
Quarto capítulo: «O grande anúncio para todos os jovens»
A todos os jovens o Papa anuncia três grandes verdades. Um «Deus que é amor» e portanto « Deus ama-te. Nunca duvides disto» (112) e depois «lançar-te, com segurança, nos braços do teu Pai divino» (113). Francisco afirma que a memória do Pai «não é um “disco rígido” que grava e armazena todos os nossos dados, a sua memória é um coração terno e rico de compaixão, que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios de mal…Porque te ama. Procura ficar um momento em silêncio, deixando-te amar por Ele» (115). E o seu é um amor que «entende mais de levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (116).
A segunda verdade é que «Cristo salva-te». « Nunca esqueças que «Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros» (119). Jesus nos ama e nos salva porque «só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, que todas as nossas fragilidades e que todas as nossas mesquinhices» (120). E «o seu perdão e a sua salvação não são algo que compramos, ou que temos de adquirir com as nossas obras ou com os nossos esforços. Jesus perdoa-nos e liberta-nos gratuitamente» (121). A terceira verdade é que «Ele vive!». «É preciso recordá-lo…porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos. De nada nos aproveitaria isto: deixava-nos como antes, não nos libertaria» (124). Se «Ele vive, isso é uma garantia de que o bem pode triunfar na nossa vida…Então podemos deixar de nos lamentar e podemos olhar em frente, porque com Ele é possível sempre olhar em frente» (127).
Nestas verdades aparece o Pai e aparece Jesus. E onde estão o Pai e Jesus, também está o Espírito Santo. «Todos os dias invoca o Espírito Santo…Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor. Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas» (131).
Quinto capítulo: «Percursos de juventude»
«O amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não nos impedem de sonhar, não nos pedem para restringir os nossos horizontes. Pelo contrário, esse amor instiga-nos, estimula-nos, lança-nos para uma vida melhor e mais bela. A palavra «inquietude» resume muitas das aspirações do coração dos jovens» (138). Pensando a um jovem o Papa vê aquele que tem os pés sempre um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Sempre a olhar para diante (139). A juventude não pode ser um «tempo suspenso», porque é «a idade das escolhas» em âmbito profissional, social, político e também na escolha do seu par e na opção de ter os primeiros filhos. A ânsia «pode tornar-se uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros» (142). Francisco convida os jovens a não observar a vida da sacada, a não passar a vida diante dum visor, a não se reduzir a veículo abandonado, a anão olhar o mundo como turistas. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos paralisam…Vivei!» (143). Convida-os a «viver o presente» para viver plenamente e com gratidão cada um dos pequenos presentes da vida sem «ser insaciáveis» e «obcecados por prazeres sem fim» (146). Viver o presente, de fato, «não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa vazios e sempre insatisfeitos» (147).
«Não conhecerás a verdadeira plenitude de ser jovem, se… não viveres na amizade de Jesus» (150). A amizade com Jesus é indissolúvel, porque nunca nos deixa (154) e assim como o amigo, «conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus, também conversamos»: rezando «abrimos o jogo a Ele, damos-Lhe lugar «para que Ele possa agir, possa entrar e possa vencer» (155). «Não prives a tua juventude desta amizade», «viverás a experiência estupenda de saber que estás sempre acompanhado» como os discípulos de Emaús (156): São Oscar Romero dizia: «O cristianismo não é um conjunto de verdades em que é preciso acreditar, de leis que se devem observar, de proibições. Apresentado assim, repugna. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto que reclama o meu amor. O cristianismo é Cristo».
O Papa falando do crescimento e da maturação, indica portanto a importância de buscar «um desenvolvimento espiritual», de «buscar o Senhor e guardar a sua Palavra», de manter «a união com Jesus…porque não crescerás na felicidade e santidade só com as tuas forças e a tua mente» (158). Também o adulto deve maturar, sem perder os valores da juventude: «Em cada momento da vida, podemos renovar e fazer crescer a nossa juventude. Quando comecei o meu ministério como Papa, o Senhor alargou os meus horizontes e deu-me uma renovada juventude. O mesmo pode acontecer com um casal já com muitos anos de matrimónio, ou com um monge no seu mosteiro» (160). Crescer «quer dizer conservar e alimentar as coisas mais preciosas que te oferece a juventude, mas ao mesmo tempo significa estar disponível para purificar o que não é bom» (161).
«Lembro-te, porém, que não serás santo nem te realizarás copiando os outros. Quando se fala em imitar os santos, não significa copiar o seu modo de ser e de viver a santidade» (162). Francisco propõe «percursos de fraternidade» para viver a fé, recordando que «o Espírito Santo quer impelir-nos a sair de nós mesmos, para abraçar os outros…Por isso, é sempre melhor vivermos a fé juntos e expressar o nosso amor numa vida comunitária» (164), superando «a tentação de nos fecharmos em nós mesmos, nos nossos problemas, sentimentos feridos, lamentações e comodidades» (166). «Deus ama a alegria dos jovens e convida-os sobretudo à alegria que se vive na comunhão fraterna» (167).
O Papa fala depois dos «jovens comprometidos», afirmando que podem correr «o risco de se fechar em pequenos grupos…Têm a sensação de viver o amor fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu. Isto agrava-se, se a vocação do leigo for concebida unicamente como um serviço interno da Igreja…esquecendo-se que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e caridade política» (168). Francisco propõe «aos jovens irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: «buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar» (169).
«O empenho social e o contacto direto com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação» (170). O Papa cita o exemplo positivo dos jovens nas paróquias, escolas e movimentos que «costumam ir fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres» (171). Enquanto «outros jovens participam em programas sociais que visam construir casas para os sem-abrigo, bonificar áreas contaminadas, ou recolher ajudas para os mais necessitados. Seria bom que esta energia comunitária fosse aplicada não só em ações esporádicas, mas de forma estável». Os universitários «podem unir-se de forma interdisciplinar para aplicar os seus conhecimentos na resolução de problemas sociais e, nesta tarefa, podem trabalhar lado a lado com jovens doutras Igrejas e doutras religiões» (172). Francisco encoraja os jovens a assumirem este compromisso: «Vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram para as ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna…São jovens que querem ser protagonistas da mudança…Não deixeis para outros o ser protagonista da mudança!» (174).
Os jovens são chamados a ser «missionários corajosos» testemunhando do Evangelho em toda parte, com a sua própria vida, o que não significa «falar da verdade, mas vivê-la» (175). A palavra, porém, não deve ser mantida em silêncio: «Sede capazes de ir contracorrente, compartilhar Jesus, comunicar a fé que Ele vos deu» (176). Para onde Jesus nos manda? «Não há fronteiras, não há limites: envia-nos a todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nossos olhos mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todos» (177). Não se pode esperar que «a missão seja fácil e cómoda» (178).
Sexto capítulo: «Jovens com raízes»
Francisco diz que lhe faz mal «ver que alguns propõem aos jovens construir um futuro sem raízes, como se o mundo começasse agora» (179). Se uma pessoa «vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos. Assim procedem as ideologias de variadas cores, que destroem (ou desconstroem) tudo o que for diferente, podendo assim reinar sem oposições.» (181). Os manipuladores usam também a adoração da juventude: «O corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto e, consequentemente, tudo o que tenha a ver com este corpo é idolatrado e desejado sem limites, enquanto o que não for jovem é olhado com desprezo. Mas é uma arma que acaba por degradar os jovens» (182). «Queridos jovens, não permitais que usem a vossa juventude para promover uma vida superficial, que confunde beleza com aparência » (183), porque há beleza no trabalhador que regressa a casa surrado na esposa mal penteada e já um pouco idosa, que continua a cuidar do seu marido doente, na fidelidade dos casais que se amam no outono da vida. Hoje, ao invés, promovem-se «uma espiritualidade sem Deus, uma afetividade sem comunidade nem compromisso com os que sofrem, o medo dos pobres vistos como sujeitos perigosos, e uma série de ofertas que pretendem fazer-vos acreditar num futuro paradisíaco que sempre será adiado para mais tarde» (184): o Papa convida os jovens a não se deixarem dominar por essa ideologia que leva a «autênticas formas de colonização cultural» (185) que desenraíza os jovens das pertenças culturais e religiosas das quais são provenientes com uma tendência para “homogeneizá-los” transformando-os em sujeitos manipuláveis feitos em série (186).
Fundamental é a «relação com os idosos», que ajuda os jovens a descobrir a riqueza viva do passado, conservando-a na memória. «A Palavra de Deus recomenda que não se perca o contacto com os idosos, para poder recolher a sua experiência» (188). «Isto não significa que tenhas de estar de acordo com tudo o que eles dizem, nem que deves aprovar todas as suas ações» trata-se «simplesmente de se manter aberto para recolher uma sabedoria que se comunica de geração em geração» (190). «Ao mundo, nunca foi nem será de proveito a ruptura entre gerações…É a mentira que deseja fazer-te crer que só o novo é bom e belo» (191).
Falando de «sonhos e visões», Francisco observa: «Se os jovens e os idosos se abrirem ao Espírito Santo, juntos produzem uma combinação maravilhosa: os idosos sonham e os jovens têm visões» (192); se «os jovens se enraizarem nos sonhos dos idosos, conseguem ver o futuro» (193). É preciso, portanto «arriscar juntos», caminhando juntos jovens e idosos: as raízes «não são âncoras que nos prendem», mas «são um ponto de arraigamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios» (200).
Sétimo capítulo: «A pastoral dos jovens»
O Papa explica que a pastoral juvenil foi abalroada pelas mudanças sociais e culturais e os jovens não encontram resposta para as suas inquietudes, necessidades, problemas e feridas» (202). Os próprios jovens «são agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados mas livres para encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e ousadia». Por conseguinte, «precisa colocar em campo a sagacidade, o engenho e o conhecimento que os próprios jovens têm da sensibilidade, linguagem e problemáticas dos outros jovens» (203). A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, «convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo» (204).
A pastoral juvenil só pode ser sinodal, isto é, capaz de dar forma a um "caminhar juntos" e envolve duas grandes linhas de ação: a primeira é a busca, a segunda é o crescimento. Para a primeira, Francisco confia na capacidade dos próprios jovens de «encontrar os caminhos atraentes para convidar»: «devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação». O mais importante, porém, «é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem» (210). Deve-se privilegiar «a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração», aproximando-se dos jovens «com a gramática do amor, não com o proselitismo» (211). No que diz respeito ao crescimento, Francisco chama a atenção de propor aos jovens tocados por uma experiência intensa de Deus «encontros de “formação” onde se abordam apenas questões doutrinais e morais…Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir» (212). Qualquer projeto formativo «deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral». De igual modo é importante que «estejam centrados» sobre o querigma, isto é «a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado», e sobre o crescimento «no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço» (213). Por isso, «a pastoral juvenil deveria incluir sempre momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo» (214). E deve ajudar os jovens a «crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos pobres» (215).
As instituições da Igreja tornem-se, portanto «ambientes adequados», desenvolvendo «capacidade de acolhida»: «Nas nossas instituições devemos oferecer lugares que eles possam gerir a seu gosto, com a possibilidade de entrar e sair livremente, lugares que os acolham e onde lhes seja possível encontrar-se, espontânea e confiadamente, com outros jovens tanto nos momentos de sofrimento ou de chatice como quando desejam festejar as suas alegrias» (218).
Francesco descreve então «a pastoral das instituições educacionais», afirmando que a escola «precisa duma urgente autocrítica». E recorda que «há escolas católicas que parecem ser organizadas somente para conservar o existente…A escola transformada num “bunker”, que protege dos erros “de fora”: tal é a caricatura desta tendência». Quando os jovens saem advertem «um desfasamento insanável entre o que lhes ensinaram e o mundo onde lhes cabe viver». Na realidade, «uma das maiores alegrias dum educador é ver um aluno constituir-se como uma pessoa forte, integrada, protagonista e capaz de se doar» (221). Não se pode separar a formação espiritual da formação cultural: «Eis a vossa tarefa: responder aos estribilhos paralisantes do consumismo cultural com escolhas dinâmicas e fortes, com a investigação, o conhecimento e a partilha» (223). Entre as «áreas de desenvolvimento pastoral », o Papa indica as «expressões artísticas» (226), a «prática desportiva» (227), e o compromisso pela salvaguarda do meio ambiente (228).
Serve «uma pastoral juvenil popular», «mais ampla e flexível que estimula, nos distintos lugares onde se movem concretamente os jovens, as lideranças naturais e os carismas que o Espírito Santo já semeou entre eles. Trata-se, antes de mais nada, de não colocar tantos obstáculos, normas, controles e enquadramentos obrigatórios aos jovens crentes que são líderes naturais nos bairros e nos diferentes ambientes. Devemos limitar-nos a acompanhá-los e estimulá-los» (230). Pretendendo «uma pastoral juvenil asséptica, pura, caracterizada por ideias abstratas, afastada do mundo e preservada de toda a mancha, reduzimos o Evangelho a uma proposta insípida, incompreensível, distante, separada das culturas juvenis e adaptada só a uma elite juvenil cristã que se sente diferente, mas na verdade flutua num isolamento sem vida nem fecundidade» (232). Francisco convida a ser «uma Igreja com as portas abertas. Não é necessário sequer que uma pessoa aceite completamente todos os ensinamentos da Igreja para poder participar em alguns dos nossos espaços dedicados aos jovens» (234): «deve haver espaço também para «todos aqueles que têm outras visões da vida, professam outras crenças ou se declaram alheios ao horizonte religioso» (235). O ícone desta abordagem é-nos oferecido pelo episódio evangélico dos discípulos de Emaús: Jesus interroga-os, escuta-os com paciência, ajuda-os a reconhecer o que estão vivendo, a interpretar à luz das Escrituras o que viveram, aceita ficar com eles, entra na noite deles. São eles mesmos que escolhem retomar sem demora o caminho na direção oposta. (237).
«Sempre missionários». Lembra que não há necessidade de fazer um longo percurso para que os jovens se tornem missionários»: «Um jovem que vai em peregrinação pedir ajuda a Nossa Senhora e convida um amigo ou um companheiro para que o acompanhe, com este gesto simples está a realizar uma valiosa ação missionária» (239).A pastoral juvenil «deve ser sempre uma pastoral missionária» (240). E os jovens precisam de ser respeitados na sua liberdade, «mas necessitam também de ser acompanhados» pelos adultos, a família deveria ser o primeiro espaço de acompanhamento (242), e também pela comunidade: «Isto implica que se olhe para os jovens com compreensão, estima e afeto, e não que sejam julgados continuamente ou lhes seja exigida uma perfeição que não corresponde à sua idade» (243). Adverte-se a carência de pessoas especializadas e dedicadas ao acompanhamento (244) e «e algumas jovens notam uma falta de figuras femininas de referência dentro da Igreja» (245). Os mesmos jovens «descreveram-nos» as caraterísticas que esperam encontrar num acompanhador; «ser um cristão fiel comprometido na Igreja e no mundo; uma tensão contínua para a santidade; não julgar, mas cuidar; escutar ativamente as necessidades dos jovens; responder com gentileza; conhecer-se; saber reconhecer os seus limites; conhecer as alegrias e as tribulações da vida espiritual. Uma qualidade de primária grandeza é saber reconhecer-se humano e capaz de cometer erros: não perfeitos, mas pecadores perdoados» (246). Devem saber «caminhar juntos» aos jovens respeitando a sua liberdade.
Oitavo capítulo: «A vocação»
«O ponto fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem é, antes de tudo, a sua amizade» (250). A vocação missionária tem a ver com o nosso serviço aos outros. «Com efeito, a nossa vida na terra atinge a sua plenitude, quando se transforma em oferta» (254).«Para realizar a própria vocação, é necessário desenvolver-se, fazer germinar e crescer tudo aquilo que uma pessoa é. Não se trata de inventar-se, criar-se a si mesmo do nada, mas descobrir-se a si mesmo à luz de Deus e fazer florescer o próprio ser» (257). E este “ser para os outros” na vida de cada jovem está relacionado com duas questões fundamentais: a formação duma nova família e o trabalho» (258).
No que diz respeito ao «amor e à família», o Papa escreve que os «jovens sentem fortemente a chamada ao amor e sonham encontrar a pessoa certa com quem formar uma família» (259), e o sacramento do matrimónio «corrobora este amor com a graça de Deus, arraigando-o no próprio Deus» (260). Deus nos criou sexuados. Ele próprio criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso e portanto, sem tabus. É um dom que o Senhor nos dá. «E fá-lo com dois propósitos: amar-se e gerar vida. É uma paixão…O verdadeiro amor é apaixonado» (261). Francisco observa que «o aumento de separações, divórcios…pode causar grandes sofrimentos e crises de identidade nos jovens. Por vezes, têm de assumir responsabilidades desproporcionadas para a sua idade» (262). Apesar de todas as dificuldades, «Quero dizer-vos…que vale a pena apostar na família e que nela encontrareis os melhores estímulos para amadurecer e as mais belas alegrias para partilhar. Não deixeis que vos roubem a possibilidade de amar a sério» (263). «Julgar que nada pode ser definitivo é um engano e uma mentira...peço-vos para serdes revolucionários, peço-vos para irdes contracorrente» (264).
No que diz respeito ao trabalho, o Papa escreve: «Peço aos jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda doutros. Isto não faz bem, porque «o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências» (269). E depois de notar como no mundo do trabalho os jovens experimentam formas de exclusão e marginalização (270), afirma a propósito do desemprego juvenil: «É uma questão…que a política deve considerar como prioritária, sobretudo hoje que a velocidade dos avanços tecnológicos, aliada à obsessão de reduzir os custos laborais, pode levar rapidamente à substituição de inúmeros postos de trabalho por máquinas» (271). E aos jovens diz: «É verdade que não podes viver sem trabalhar e que, às vezes, tens de aceitar o que encontras, mas nunca renuncies aos teus sonhos, nunca enterres definitivamente uma vocação, nunca te dês por vencido» (272).
Francisco conclui este capítulo falando das "vocações a uma consagração especial". «No discernimento duma vocação, não se deve excluir a possibilidade de consagrar-se a Deus…Porquê excluí-lo? Podes ter a certeza de que, se reconheceres uma chamada de Deus e a seguires, será isso que dará plenitude à tua vida» (276).
Nono capítulo: «O discernimento»
O Papa recorda que «sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião» (279). «Uma expressão do discernimento é o esforço por reconhecer a própria vocação. É uma tarefa que requer espaços de solidão e silêncio, porque se trata duma decisão muito pessoal que mais ninguém pode tomar no nosso lugar» (283). «O dom da vocação será, sem dúvida, um dom exigente. Os dons de Deus são interativos e, para os desfrutar, é preciso pôr-me em campo, arriscar» (289).
A quem ajuda os jovens no discernimento pedem-se três sensibilidades. A primeira é a atenção à persona: «trata-se de escutar o outro, que se nos dá com as suas palavras» (292). A segunda consiste no discernir, isto é «trata-se de individuar o ponto certo onde se discerne o que é a graça e o que é tentação»(293). A terceira consiste em «escutar os impulsos “para diante” que o outro experimenta. É a escuta profunda do ponto «para onde o outro quer verdadeiramente ir» (294).Quando alguém escuta a outro desta maneira, «a dado momento deve desaparecer para o deixar seguir o caminho que ele descobriu. Desaparecer como desaparece o Senhor da vista dos seus discípulos» (296). Devemos «suscitar e acompanhar processos, não impor percursos. Trata-se de processos de pessoas, que sempre são únicas e livres. Por isso é difícil elaborar receituários» (297).
A exortação se conclui com «um desejo» do Papa Francisco: «Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre…A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé...E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós» (299). Fonte: www.vaticannews.va
*Leia o documento na íntegra. Clique aqui:
http://mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com/2019/04/exortacao-apostolica-pos-sinodal.html
O Papa e a recusa ao beija-mão, a polêmica na web enfurece, mas o porta-voz do Vaticano explica: "Razões higiênicas"
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Ele estaria com algum corte nos dedos? Não, deve ser uma maneira de favorecer uma interpretação mais humilde da figura do Papa. Talvez ele só estivesse com pressa. Ou, espere, é mais um esforço para libertar o papado de incrustações monárquicas. Oh Deus, uma falta de respeito pelos fiéis. A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 28-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
As conversas nas redes sociais e nos editoriais se entrelaçaram para encontrar uma explicação por trás do gesto do Papa Francisco em retirar sua mão para impedir que uma longa fila de pessoas em Loreto beijasse seu anel de prata.
O vídeo, publicado por vários meios de comunicação, em que Bergoglio tira a mão repetidamente – no final com um ritmo cada vez mais rápido - criando um efeito quase hilário, se tornou viral em uma hora, acabando nas mais prestigiadas home pages ou objeto de "memes" e paródias. No final, todos ficaram intrigados sobre a razão por essa relutância do pontífice argentino sempre afeito a fortes abraços, selfies e gestos antiprotocolares.
Por um lado, havia aqueles que trovejavam contra uma atitude irreverente - ou até mesmo "inquietante", como alardeava um site norte-americano - de um Papa em relação ao papel por ele ocupado. Pelo outro, aqueles que ficaram empolgados com essa última "virada” (a ser adicionada à lista dos sapatos pretos, da residência em Santa Marta e dos almoços com os pobres) que finalmente redimensiona a imagem do Pontífice, Bispo de Roma e não imperador romano.
Alguém, no meio disso tudo, também tentou lembrar que o próprio Bento XVI havia manifestado em várias ocasiões que não gostava do beija-mão dos fiéis, pelo menos não de longas filas de pessoas. E, indo ainda mais longe, o próprio João Paulo II - lembraram alguns usuários - havia pedido a seus colaboradores, por ocasião de uma audiência com um grupo de cinquenta peregrinos, que evitassem o beija-mão e a genuflexão.
Para revelar o mistério do "kiss-gate" (como alguém o chamou, ironizando a grande repercussão dada principalmente pela mídia dos EUA), evento que monopolizou as informações sobre o Vaticano nos últimos três dias, chegando quase a obscurecer até mesmo a breve, mas intensa, visita do Papa ao santuário mariano de Loreto, no qual ele anunciou a publicação da exortação apostólica após o Sínodo dos jovens, pensou nesta quinta-feira o diretor interino da Sala de Imprensa do Vaticano, Alessandro Gisotti.
Ao final de uma audiência pela manhã, o porta-voz perguntou diretamente a Franciscoas razões de seu gesto, depois de lido e ouvido "interpretações de todos os tipos". E a resposta foi desarmante justamente por causa de sua simplicidade: "Higiene".
Sim, realmente higiene: «Quando há longas filas de fiéis, o Santo Padre quer evitar o risco de contágio. Não para si mesmo, mas para os próprios fiéis", disse Gisotti a jornalistas na Sala de Imprensa do Vaticano. Nenhum problema para pequenos grupos ou indivíduos: "Quantas pessoas beijam a mão do Papa! Sabemos disso e não é de hoje... Vimos ontem com a Ir. Maria Concetta Esu (religiosa italiana que foi missionária na África durante sessenta anos, ndr) que beijou com grande ternura a mão do Papa. O Santo Padre tem alegria em abraçar e ser abraçado pelas pessoas".
Uma escolha plausível - aliás adotada pelo Papa em outras ocasiões - diante de uma fila de quase sessenta pessoas, todas prontas para se atirarem de joelhos e colocarem seus lábios no mesmo ponto. O vídeo transmitido na mídia mostra apenas 22, mas olhando para a gravação integral percebe-se que havia muitos mais fiéis esperando para cumprimentar o Papa, que, deve ser lembrado, imediatamente depois também tinha que ir a um salão próximo para cumprimentar os doentes, entre os quais várias crianças.
Nem todo mundo pensa assim. Já há aqueles que gritam "meras desculpas" nas páginas do Facebook ou aqueles que se afeiçoaram à lógica do "gesto de humildade" e de ruptura com práticas antigas e ultrapassadas. O debate provavelmente continuará por mais alguns dias: é mais fácil que um Papa tire a mão em respeito à saúde de seus fiéis, do que os internautas retirarem as suas dos teclados. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
O PAPA EM MARROCO. DE 30-31 DE MARÇO-2019. Texto integral do discurso do Papa aos migrantes, em Marrocos
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Confira a íntegra do discurso proferido pelo Papa Francisco, no último compromisso do dia em Rabat, no Marrocos. O encontro foi realizado na sede da Caritas diocesana.
VIAGEM APOSTÓLICA AO MARROCOS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Encontro com os migrantes
(Sede da Cáritas diocesana - Rabat, 30 de março de 2019)
Queridos amigos!
Sinto-me feliz por esta possibilidade de vos encontrar durante a minha visita ao Reino de Marrocos, que me proporciona renovada ocasião para expressar a minha proximidade a todos vós e, juntamente convosco, debruçar-me sobre uma ferida, grande e grave, que continua a afligir os inícios deste século XXI. Uma ferida que brada ao céu; não queremos que a indiferença e o silêncio sejam a nossa resposta (cf. Ex 3, 7). E, mais ainda, quando se constata que são muitos milhões os refugiados e outros migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar as vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas. Ninguém pode ficar indiferente perante este sofrimento.
Agradeço ao bispo D. Santiago as suas palavras de boas-vindas e o empenho da Igreja ao serviço dos migrantes. Obrigado também a Jackson pelo seu testemunho; obrigado a todos vós – migrantes e membros das associações que estão ao seu serviço – por terdes vindo aqui, nesta tarde, para estarmos juntos, fortalecermos os laços entre nós e continuarmos a trabalhar para garantir condições de vida digna para todos. Todos somos chamados a responder aos numerosos desafios colocados pelas migrações contemporâneas, com generosidade, prontidão, sabedoria e clarividência, cada qual segundo as próprias possibilidades (cf. Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, de 2018).
Há alguns meses, realizou-se aqui, em Marrocos, a Conferência Intergovernamental de Marraquexe que ratificou a adoção do Pacto Mundial para uma Migração Segura, Ordenada e Regular. «O Pacto sobre as migrações constitui um importante passo em frente na comunidade internacional, que nas Nações Unidas, pela primeira vez a nível multilateral, aborda o tema num documento relevante» (Discurso aos Membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 7 de janeiro de 2019).
Este Pacto permite reconhecer e tomar consciência de que «não se trata apenas de migrantes» (cf. Tema do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado em 2019), como se as suas vidas fossem uma realidade alheia ou marginal que nada tivesse a ver com o resto da sociedade; como se o seu estatuto de pessoa com direitos ficasse «suspenso» por causa da sua situação atual; «efetivamente, um migrante não é mais ou menos humano segundo a sua localização dum lado ou do outro da fronteira».[1]
Em jogo está a fisionomia que queremos assumir como sociedade e o valor de cada vida. Muitos passos positivos foram dados em diferentes áreas, especialmente nas sociedades desenvolvidas, mas não podemos esquecer que o progresso dos nossos povos não se pode medir apenas pelo desenvolvimento tecnológico ou económico. Aquele depende sobretudo da capacidade de se deixar mover e comover por quem bate à porta e, com o seu olhar, desabona e exautora todos os falsos ídolos que hipotecam e escravizam a vida; ídolos que prometem uma felicidade ilusória e efémera, construída à margem da realidade e do sofrimento dos outros. Como se torna deserta e inóspita uma cidade, quando perde a capacidade da compaixão! Uma sociedade sem coração... uma mãe estéril. Não estais marginalizados, mas no centro do coração da Igreja.
Quis propor quatro verbos – acolher, proteger, promover e integrar – a quantos desejam tornar mais concreta e real esta aliança, para que sabiamente prefiram envolver-se a emudecer, socorrer a isolar, construir a abandonar.
Queridos amigos, gostaria de reafirmar aqui a importância destes quatro verbos. De certo modo, formam um quadro de referência para todos. Com efeito, neste serviço estamos todos envolvidos – de formas diferentes, mas todos envolvidos – e todos somos necessários para garantir uma vida mais digna, segura e solidária. Apraz-me pensar que o primeiro voluntário, assistente, socorrista, amigo dum migrante é outro migrante que conhece pessoalmente o sofrimento do caminho. Não é possível pensar em estratégias de grande alcance, capazes de dar dignidade, limitando-se a ações de assistência ao migrante. Isto é essencial, mas insuficiente. É preciso que vós, migrantes, vos sintais os primeiros protagonistas e gestores em todo este processo.
Estes quatro verbos podem ajudar a criar alianças capazes de resgatar espaços onde acolher, proteger, promover e integrar. Em suma, espaços onde dar dignidade.
«Considerando o cenário atual, acolher significa, antes de tudo, oferecer a migrantes e refugiados possibilidades mais amplas de entrada segura e legal nos países de destino» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, de 2018). De facto, a ampliação dos canais regulares de migração é um dos principais objetivos do Pacto Mundial. Este esforço comum é necessário para não conceder novos espaços aos «mercadores de carne humana» que se aproveitam dos sonhos e carências dos migrantes. Enquanto este serviço não for plenamente implementado, dever-se-á enfrentar a premente realidade dos fluxos irregulares com justiça, solidariedade e misericórdia. As formas de expulsão coletiva, que não permitem uma gestão correta dos casos particulares, não devem ser aceites; ao passo que os percursos extraordinários de regularização, sobretudo nos casos de famílias e menores, se devem incentivar e simplificar.
Proteger significa assegurar a «defesa dos direitos e da dignidade dos migrantes e refugiados, independentemente da sua situação migratória» (Ibidem). Cingindo-nos à realidade desta região, a proteção deve ser assegurada, antes de tudo, ao longo das rotas migratórias, que infelizmente são muitas vezes palco de violência, exploração e abusos de todo o género. Aqui, julgo necessário também prestar uma atenção particular aos migrantes em situação de grande vulnerabilidade, aos numerosos menores não acompanhados e às mulheres. Essencial é poder garantir a todos uma assistência médica, psicológica e social capaz de devolver dignidade a quem a perdeu ao longo do caminho, como fazem dedicadamente os operadores desta estrutura onde nos encontramos. Entre vós, há alguns que podem testemunhar como estes serviços de proteção são importantes para dar esperança durante o tempo em que estão hospedados nos países que os acolheram.
Promover significa assegurar a todos, migrantes e residentes, a possibilidade de encontrar um ambiente seguro onde se possam realizar integralmente. Esta promoção começa pelo reconhecimento de que ninguém é um descarte humano, mas é portador duma riqueza pessoal, cultural e profissional que pode trazer muito valor ao local onde está. As sociedades de acolhimento serão enriquecidas se souberem valorizar da melhor forma a contribuição dos migrantes, evitando todo o tipo de discriminação e qualquer sentimento xenófobo. A aprendizagem da língua local, enquanto veículo essencial de comunicação intercultural, há de ser vivamente encorajada, bem como toda a forma positiva de responsabilização dos migrantes face à sociedade que os acolhe, aprendendo a respeitar as pessoas e os laços sociais, as leis e a cultura, prestando assim uma contribuição mais intensa para o desenvolvimento humano integral de todos.
Mas não esqueçamos que a promoção humana dos migrantes e suas famílias começa também pelas comunidades de origem, onde, juntamente com o direito de emigrar, se deve garantir também o de não ser forçado a emigrar, isto é, o direito de encontrar na pátria condições que permitam uma vida digna. Aprecio e encorajo os esforços dos programas de cooperação internacional e de desenvolvimento transnacional, livres de interesses particulares, nos quais os migrantes estão envolvidos como os principais protagonistas (cf. Discurso aos participantes no fórum internacional sobre «migração e paz», 21 de fevereiro de 2017).
Integrar significa empenhar-se num processo que valorize, simultaneamente, o patrimônio cultural da comunidade que acolhe e o patrimônio dos migrantes, construindo assim uma sociedade intercultural e aberta. Sabemos que não é nada fácil entrar numa cultura que nos é estranha – tanto para quem chega como para quem acolhe –, colocar-nos no lugar de pessoas tão diferentes de nós, entender os seus pensamentos e as suas experiências. Por isso, muitas vezes renunciamos ao encontro com o outro e erguemos barreiras para nos defender (cf. Homilia no Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018). Assim, o ato de integrar requer não se deixar condicionar pelo medo e pela ignorância.
Aqui há um caminho que se deve percorrer juntos, como autênticos companheiros de viagem; uma viagem que empenha a todos, migrantes e residentes, na construção de cidades acolhedoras, plurais e solícitas pelos processos interculturais, cidades capazes de valorizar a riqueza das diferenças no encontro com o outro. E, também neste caso, muitos de vós podem testemunhar, pessoalmente, como é essencial um tal compromisso.
Queridos amigos migrantes, a Igreja é sabedora das angústias que marcam o vosso caminho e sofre convosco. Ao encontrar-vos nas vossas situações tão diferenciadas, ela pretende lembrar que Deus quer vivificar a todos nós. Ela deseja estar ao vosso lado para construir convosco o que for melhor para a vossa vida. Com efeito, todo o ser humano tem direito à vida, todo o ser humano tem o direito de ter sonhos e poder encontrar o seu justo lugar na nossa «casa comum»! Toda a pessoa tem direito ao futuro.
Quero ainda expressar a minha gratidão a todas as pessoas que estão ao serviço dos migrantes e refugiados em todo o mundo, e hoje particularmente a vós, operadores da Caritas, que tendes a honra de manifestar o amor misericordioso de Deus a tantos nossos irmãos e irmãs em nome de toda a Igreja, bem como a todas as associações parceiras. Bem sabeis e tendes experiência de que, para o cristão, «não se trata apenas de migrantes», mas é o próprio Cristo que bate à nossa porta.
O Senhor, que durante a sua vida terrena viveu na própria carne a angústia do exílio, abençoe a cada um de vós, vos dê a força necessária para não desanimardes e para serdes uns para os outros «porto seguro» de acolhimento. Obrigado.
[1] Mohammed VI, Rei de Marrocos, Discurso na Conferência Intergovernamental sobre as Migrações (Marraquexe 10 de dezembro de 2018). Fonte: Fonte: https://www.vaticannews.va
“A Confissão é a passagem da miséria à misericórdia”. Papa Francisco
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O Pontífice presidiu no final da tarde desta sexta-feira (29) a Celebração Penitencial, na Basílica de São Pedro, que dá início à iniciativa mundial “24 Horas de Oração para o Senhor”. Na homilia, o perdão de Deus como força para vida nova. Durante a cerimônia, o Papa se ajoelha como penitente, para depois confessar uma dezena de fiéis.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu a Celebração da Penitência, com o rito da reconciliação no final da tarde desta sexta-feira (29), na Basílica de São Pedro. A cerimônia deu início à iniciativa “24 Horas de Oração para o Senhor” que começou em Roma, mas tomou dimensões mundiais até chegar aos cinco continentes. Em cada diocese, uma igreja ficará aberta por 24 horas consecutivas para oferecer a possibilidade de rezar, se confessar e fazer adoração.
Antes do pecado, o pecador
Na homilia, o Papa usou da interpretação de Santo Agostinho para comentar o Evangelho de João (8, 1-11), da mulher surpreendida em adultério que, segundo a Lei de Moisés, devia ser apedrejada: “ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia”. Os que vieram para atirar pedras contra ela ou para acusar Jesus foram embora. E Jesus ficou porque lá estava “o que era precioso aos seus olhos: aquela mulher, aquela pessoa”.
“ Para Ele, antes do pecado, vem o pecador. No coração de Deus, eu, tu, cada um de nós vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das normas, dos juízos e das nossas quedas. Peçamos a graça de um olhar semelhante ao de Jesus; peçamos para ter o enquadramento cristão da vida: nele, antes do pecado, olhamos com amor o pecador; antes do erro, o transviado; antes do caso, a pessoa. ”
O Papa repetiu Santo Agostinho ao decorrer de toda a homilia: “ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia”. Com Jesus, misericórdia de Deus encarnada, o Pontífice enaltece que chegou o momento de dar uma esperança segura à miséria humana: “dar, não tanto leis externas que muitas vezes deixam Deus e o homem distantes, mas a lei do Espírito, que entra no coração e o liberta”.
Confissão, miséria e misericórdia
Francisco lembrou que é Jesus, com a força do Espírito Santo, que liberta do mal que temos dentro mas que, mesmo assim, é um mal forte e com poder sedutor que atrai. “Para se desprender dele, não basta o nosso esforço, é preciso um amor maior. Sem Deus, não se pode vencer o mal: só o amor d’Ele eleva por dentro; só a sua ternura, derramada no coração, é que torna livre. Se queremos a libertação do mal, temos de dar espaço ao Senhor, que perdoa e cura; e fazê-lo sobretudo através do Sacramento que estamos prestes a celebrar. A Confissão é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de Deus no coração. Sempre que nos abeiramos dela, lemos que somos preciosos aos olhos de Deus, que Ele é Pai e nos ama mais de quanto nos amamos a nós mesmos.”
O perdão dos pecados é um novo começo
O Papa então abordou a solidão, como a falta de motivação para recomeçar, e indicou o perdão “arrebatador de Deus” que recebemos no Batismo, como a força para renascer.
“ O perdão nos proporciona um novo começo, nos torna criaturas novas, nos faz palpar a vida nova. O perdão de Deus não é uma fotocópia que se reproduz idêntica em cada passagem pelo confessionário. Receber o perdão dos pecados, através do sacerdote, é uma experiência sempre nova, original e inimitável. ”
E o medo da Confissão?
Ao finalizar a homilia, Francisco convidou a superar o medo da Confissão dando ênfase à misericórdia e não às misérias, recordar da ternura, saborear a paz e experimentar a liberdade. “Com efeito, isto é o coração da Confissão: não os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e do qual sempre precisamos. Entretanto há ainda uma dúvida que nos pode vir: «Não vale a pena se confessar! Volto sempre aos pecados habituais». Mas o Senhor nos conhece, sabe que a luta interior é difícil, que somos fracos e propensos a cair muitas vezes reincidentes na prática do mal. Então, nos propõe começar a ser reincidentes no bem, no pedido de misericórdia. Será Ele a nos erguer, fazendo de nós criaturas novas.” Fonte: https://www.vaticannews.va
24 HORAS DE ORAÇÃO PARA O SENHOR: Texto integral da homilia do Papa na Celebração Penitencial
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O Papa Francisco presidiu no final da tarde desta sexta-feira (29), na Basílica de São Pedro, a Celebração da Penitência, com o rito da reconciliação na Basílica de São Pedro. A cerimônia deu início à iniciativa “24 Horas de Oração para o Senhor”.
A seguir, a íntegra da homilia do Papa Francisco desta sexta-feira (29), na Basílica de São Pedro, em celebração que deu início à iniciativa "24 Horas de Oração para o Senhor".
HOMILIA DO SANTO PADRE
Celebração Penitencial
(Basílica de São Pedro, 29 de março de 2019)
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia» (Santo Agostinho, In Johannis 33, 5): assim interpreta Santo Agostinho o final do Evangelho que acabamos de ouvir. Foram-se embora aqueles que tinham vindo para atirar pedras contra a mulher ou para acusar Jesus a propósito da Lei. Foram-se embora; nada mais lhes interessava. Mas Jesus continua... E continua, porque lá ficou o que era precioso a seus olhos: aquela mulher, aquela pessoa. Para Ele, antes do pecado, vem o pecador. No coração de Deus, eu, tu cada um de nós vem em primeiro lugar; vem antes dos erros, das normas, dos juízos e das nossas quedas. Peçamos a graça dum olhar semelhante ao de Jesus; peçamos para ter o enquadramento cristão da vida: nele, antes do pecado, olhamos com amor o pecador; antes do erro, o transviado; antes do caso, a pessoa.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia». Naquela mulher surpreendida em adultério, Jesus não vê uma alínea da Lei, mas uma situação concreta que O reclama. Por isso, fica ali com a mulher, mantendo-Se quase todo o tempo em silêncio; entretanto, por duas vezes, efetua um gesto misterioso: escreve com o dedo por terra (Jo 8, 8). Não sabemos o que terá escrito, e talvez não seja a coisa mais importante: a atenção do Evangelho centra-se no facto de o Senhor escrever. Vem à mente o episódio do Sinai, quando Deus escrevera as tábuas da Lei com o seu dedo (cf. Ex 31, 18), tal como faz agora Jesus. Depois, através dos profetas, Deus prometera que não mais escreveria em tábuas de pedra, mas diretamente nos corações (cf. Jr 31, 33), nas tábuas de carne dos nossos corações (cf. 2 Cor 3, 3). Com Jesus, misericórdia de Deus encarnada, chegou o momento de escrever no coração do homem, dando uma segura esperança à miséria humana: dar, não tanto leis externas que muitas vezes deixam Deus e o homem distantes, mas a lei do Espírito, que entra no coração e o liberta. Assim sucede com aquela mulher, que encontra Jesus e recomeça a viver. Segue a sua estrada, para não mais pecar (cf. Jo 8, 11). É Jesus, com a força do Espírito Santo, que nos liberta do mal que temos dentro, do pecado que a Lei podia obstaculizar, mas não remover.
E ainda assim o mal é forte, tem um poder sedutor: atrai, encandeia. Para desprender-se dele, não basta o nosso esforço, é preciso um amor maior. Sem Deus, não se pode vencer o mal: só o amor d’Ele eleva por dentro; só a sua ternura, derramada no coração, é que torna livre. Se queremos a libertação do mal, temos de dar espaço ao Senhor, que perdoa e cura; e fá-lo sobretudo através do Sacramento que estamos prestes a celebrar. A Confissão é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de Deus no coração. Sempre que nos abeiramos dela, lemos que somos preciosos aos olhos de Deus, que Ele é Pai e ama-nos mais de quanto nos amamos a nós mesmos.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia». Só eles… Quantas vezes nos sentimos sozinhos e perdemos o encadeamento da vida! Muitas vezes já não sabemos como recomeçar, cansados de nos aceitarmos. Temos necessidade de começar do princípio, mas não sabemos donde. O cristão nasce pelo perdão, que recebe no Batismo; e daqui é que sempre renasce: do perdão arrebatador de Deus, da sua misericórdia que nos restaura. Só como perdoados podemos recomeçar revigorados, depois de termos experimentado a alegria de ser amados até ao extremo pelo Pai. Só através do perdão de Deus é que acontecem em nós coisas verdadeiramente novas. Pensemos na frase que o Senhor nos disse hoje, através do profeta Isaías: «Vou realizar algo de novo» (43, 19). O perdão proporciona-nos um novo começo, torna-nos criaturas novas, faz-nos palpar a vida nova. O perdão de Deus não é uma fotocópia que se reproduz idêntica em cada passagem pelo confessionário. Receber o perdão dos pecados, através do sacerdote, é uma experiência sempre nova, original e inimitável. Da situação de estar sozinhos com as nossas misérias e os nossos acusadores, como a mulher do Evangelho, faz-nos passar ao estado de erguidos e encorajados pelo Senhor, que nos faz recomeçar.
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia». Que fazer para me afeiçoar à misericórdia, para superar o medo da Confissão? Acolhamos o sucessivo convite de Isaías: «Não o notais?» (43, 19). Notar, dar-se conta do perdão de Deus. É importante. Seria bom, depois da Confissão, permanecer – como aquela mulher – com o olhar fixo em Jesus, que acabou de nos libertar: fixo, não mais nas nossas misérias, mas na sua misericórdia. Fixar o Crucificado e exclamar maravilhados: «Eis aonde foram parar os meus pecados! Tomaste-los sobre Vós... Não me apontastes o dedo acusador, mas abristes-me os braços e mais uma vez me perdoastes». É importante recordar o perdão de Deus, lembrar a sua ternura, saborear de novo a paz e a liberdade que experimentamos. Com efeito, isto é o coração da Confissão: não os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e do qual sempre precisamos. Entretanto há ainda uma dúvida que nos pode vir: «Não vale a pena confessar-se! Volto sempre aos pecados habituais». Mas o Senhor conhece-nos, sabe que a luta interior é difícil, que somos fracos e propensos a cair muitas vezes reincidentes na prática do mal. Então propõe-nos começar a ser reincidentes no bem, no pedido de misericórdia. Será Ele a erguer-nos, fazendo de nós criaturas novas. Recomecemos, pois, da Confissão, devolvamos a este sacramento o lugar que merece na vida e na pastoral!
«Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia». Também hoje vivemos, na Confissão, este encontro de salvação: nós, com as nossas misérias e o nosso pecado; o Senhor, que nos conhece, ama e liberta do mal. Avancemos para este encontro, pedindo a graça de o redescobrir. Fonte: https://www.vaticannews.va
QUINTA-FEIRA, 28. HOMILIA DO PAPA: “O coração endurecido nos faz perder a fidelidade ao Senhor”.
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Ouvir a voz do Senhor para não deixar que nosso coração endureça: este é o convite do Papa Francisco ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta.
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou na manhã desta quinta-feira (28/03) a missa na capela da Casa Santa Marta e em sua homilia fez um forte convite à conversão.
Comentando a liturgia do dia, o Papa advertiu para o risco de se ter um coração que não ouve a voz do Senhor e, indo avante assim por “dias, meses e anos”, se torna como “a terra sem água”, se endurece. No Evangelho de hoje, Jesus é claro: “Quem não está comigo, está contra mim”. “Ou se tem o coração obediente, ou perdemos a fidelidade”, comentou Francisco.
O risco de perder a fidelidade
“Nós, muitas vezes, somos surdos e não ouvimos a voz do Senhor. Sim, ouvimos o telejornal, as fofocas do bairro: isso sim, ouvimos sempre”. O Senhor exorta a ouvir a sua voz e não endurecer o coração. A Primeira Leitura, extraída do profeta Jeremias, descreve justamente esta experiência de Deus diante do “povo teimoso, que não quer ouvir”, disse o Papa de maneira vigorosa. Este trecho de Jeremias é, portanto, “um pouco a lamentação do Senhor”: Deus ordena ao povo de ouvir a sua voz relacionando-a com a promessa de que sempre será o seu Deus e “vocês serão o meu povo”.
Mas o povo não o ouviu e não prestou atenção; ao contrário, “seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para a frente e ao invés de se dirigirem a mim, me viraram as costas”. O Papa pediu a cada um para refletir se não fez a mesma coisa.
Sempre na Primeira Leitura, Deus recorda que, desde a saída do Egito, enviou “todos os seus servos, os profetas”, mas não foi ouvido. Ao invés, “se obstinaram no erro, procedendo ainda pior que seus pais”. “Se falares todas essas coisas”, diz o Senhor, “eles não te escutarão” e termina com “esta declaração triste” que “é um testemunho de morte”: “a fé morreu”.
Um povo sem fidelidade, que perdeu o sentido da fidelidade. E esta é a pergunta que hoje a Igreja quer que nós façamos, cada um: Eu perdi a fidelidade ao Senhor? – “Não, não, vou todos os domingos à missa …” – Sim, sim: mas aquela fidelidade do coração: eu perdi aquela fidelidade ou o meu coração está duro, obstinado, surdo, não deixa entrar o Senhor, se vira sozinho com três ou quatro coisas e depois faz o que quer? Esta é uma pergunta para cada um de nós: todos devemos fazê-la, porque a Quaresma serve para isso, para reavaliar o estado do nosso coração. “Ouça hoje a voz do Senhor” é o convite da Igreja. “Não endureçam o coração”. Quando alguém vive com o coração duro, que não ouve o Senhor, vai além de não ouvi-lo e quando há algo do Senhor que não gosta, deixa-O de lado com algum pretexto, descreditando o Senhor, caluniando e difamando-O.
Jesus diz: quem não está comigo, está contra mim
“Foi o que aconteceu com Jesus e a multidão”, disse o Papa comentando o Evangelho do dia, para explicar o que significa descreditar o Senhor. Jesus fazia milagres, curava os doentes e esses obstinados o que disseram? “É por meio de Belzebu que Ele expulsa os demônios”, recordou Francisco, acrescentando que “descreditar o Senhor” é “o penúltimo passo dessa rejeição”. O “último passo do qual não há volta é a blasfêmia contra o Espírito Santo”, prosseguiu o Papa, recordando as fortes palavras de Jesus no final do Evangelho:
Jesus tenta convencê-los, mas não consegue... E no final, assim como o profeta termina com esta frase clara – “a fé morreu” – Jesus termina com outra frase que pode nos ajudar: “Quem não está comigo, está contra mim”. “Não, não, eu estou com Jesus, mas mantendo certa distância, não me aproximo muito”: não, isso não existe. Ou você está com Jesus ou contra Jesus; ou é fiel ou infiel; ou tem o coração obediente ou perdeu a fidelidade. Cada um de nós pense, hoje, durante a missa e depois durante o dia: pensar um pouco. “Como vai a minha fidelidade? Eu, para rejeitar o Senhor, procuro algum pretexto?”. Não perder a esperança. E essas duas palavras– “a fé morreu” e “quem não está comigo, está contra mim” – ainda deixam espaço para a esperança, inclusive a nós.
Voltar ao Senhor
O Papa conclui a homilia recordando, porém, que somos chamados a regressar ao Senhor, como exorta a fazer a Aclamação ao Evangelho: “Voltai a mim de todo coração”, diz o Senhor, “porque sou misericordioso e piedoso”. “Sim, o seu coração é duro como esta pedra, tantas vezes você me descreditou para não me obedecer, mas ainda há tempo”: “Voltai a mim de todo o coração”, diz o Senhor, “porque eu sou misericordioso e piedoso: esquecerei tudo. A mim importa que você venha. Isso é o que importa, diz o Senhor. E esquece todo o resto. Este é tempo da misericórdia, da piedade do Senhor: abramos o coração para que Ele venha a nós. Fonte: https://www.vaticannews.va
Audiência: alimento não é propriedade privada. O apelo do Papa pelas crianças famintas
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Na catequese desta quarta-feira, o Pontífice começou a analisar a segunda parte da oração do Pai-Nosso, em que apresentamos a Deus as nossas necessidades. E a súplica analisada foi: o pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Alimento não é propriedade privada, mas providência a compartilhar, com a graça de Deus: palavras do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, na Praça São Pedro.
Na catequese, o Pontífice começou a analisar a segunda parte da oração do Pai-Nosso, aquela em que apresentamos a Deus as nossas necessidades. E a súplica analisada foi: o pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Jesus não está indiferente
Esta oração provém de uma evidência que frequentemente esquecemos, isto é, de que não somos criaturas autossuficientes e que precisamos nos nutrir todos os dias. Jesus não exige súplicas refinadas. Nos Evangelhos, há uma multidão de mendigos que suplicam libertação e salvação: há quem pede pão, cura, purificação, a visão... Jesus jamais passa indiferente ao lado desses pedidos e dores.
Jesus, portanto, nos ensina a pedir o pão cotidiano: “Quantas mães e pais, ainda hoje, vão dormir com o tormento de não ter no dia seguinte pão suficiente para os próprios filhos! Imaginemos esta oração rezada não na segurança de um cômodo apartamento, mas na precariedade de um quarto onde as pessoas se adaptam, onde falta o necessário para viver. As palavras de Jesus assumem uma força nova. ”
A oração cristã começa deste nível. Não é um exercício para ascetas, mas parte da realidade, do coração, da carne de pessoas que estão na necessidade.
Nem mesmo os mais altos místicos cristãos podem prescindir da simplicidade deste pedido: e o pão significa também água, remédio, casa, trabalho... O pão que o cristão pede na oração não é o “meu”, mas o “nosso”. Jesus quer assim. Ele nos ensina a pedi-lo não só para si mesmo, mas para toda a fraternidade do mundo. Se não for rezado assim, o “Pai-Nosso deixa de ser uma oração cristã. Se Deus é nosso Pai, como podemos nos apresentar a Ele senão de mãos dadas?”
Empatia e solidariedade
E se o pão que Ele nos dá o roubamos entre nós, como podemos declarar-nos seus filhos? Esta invocação contém uma atitude de empatia e de solidariedade. Na minha fome sinto a fome das multidões, e então rezarei a Deus até que o pedido não seja realizado.
Francisco convidou os fiéis a pensarem nas crianças famintas nos países que estão em guerra: “Crianças famintas no Iêmen, na Síria, em muitos países onde não há pão, no Sudão do Sul. Pensemos nessas crianças e vamos rezar juntos: Pai, nos dai hoje o pão nosso de cada dia. ”
Alimento não é propriedade privada
Jesus nos educa a pedir a Deus as necessidades de todos e nos repreende o fato de não estarmos acostumados a dividir o pão com quem está próximo de nós.
“Era um pão entregue a toda a humanidade e, ao invés, foi consumido somente por alguns: o amor não pode tolerar isto. O amor de Deus também não pode tolerar este egoísmo”, disse o Papa, acrescentando: “ Alimento não é propriedade privada, vamos colocar isso na cabeça, mas providência a compartilhar, com a graça de Deus. ”
Ao multiplicar os pães e peixes, Jesus realiza o milagre da compartilha. Ele próprio, multiplicando aquele pão oferecido, antecipou a oferta de Si no Pão eucarístico. De fato, somente a Eucaristia é capaz de saciar a fome de infinito e o desejo de Deus que anima o homem, inclusive na busca do pão cotidiano. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco recua mão para que fiéis não beijem anel.
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Cenas repercutem nas redes sociais e dividem opiniões. Biógrafo do religioso disse que ele é “o vigário de Cristo, e não imperador romano”
Uma cena curiosa chamou a atenção após vídeo do papa Francisco recebendo fiéis em um santuário católico em Loreto, na Itália, viralizar. Na segunda-feira (25/3), quando as pessoas tentaram beijar o anel do líder religioso, ele recuou bruscamente a mão.
Um site católico conservador, o LifeSiteNews, que frequentemente critica o papa, chamou o episódio de “perturbador” na manchete de um artigo que incluía uma longa história dos anéis que os papas usam e de seu significado.
No Twitter, houve quem não entendesse a ação, criticasse e, também, defendesse. O biógrafo papal Austen Ivereigh, defensor de Francisco, contra-atacou: “Ele está se certificando de que eles se envolvam com ele, não o tratem como uma relíquia sagrada. Ele é o vigário de Cristo, não um imperador romano”.
A defesa também veio do padre jesuíta Russell Pollit: “É hora de o hábito de beijar os anéis dos bispos desaparecer por completo. É ridículo e não tem nada a ver com tradição. É uma importação das monarquias. Grande parte da pompa em torno dos bispos deveria ser descartada”.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o Vaticano não disse por que Francisco insistiu em não ter o anel beijado na longa fila de recepção.
O item de ouro, chamado de “anel do pescador”, em referência a São Pedro, que era um pescador, é destruído depois do fim do papado. Ou seja, quando o sucessor assume, uma nova peça é construída. De acordo com jornais italianos, Francisco evita ter a mão beijada porque pensa ser esse um modo excessivo de reverência.
Observadores do Vaticano destacaram que Bento 16 e João Paulo II, antecessores de Francisco, também não gostavam de ter suas mãos beijadas. Fonte: https://www.metropoles.com
PAPA FRANCISCO NA AUDIÊNCIA GERAL: "Pai-Nosso é uma oração combativa. Deus quer a nossa salvação"
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Na catequese da Audiência Geral, o Papa Francisco deu prosseguimento à série sobre o Pai-Nosso, falando desta vez da terceira invocação: "Seja feita vossa vontade".
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
“Seja feita a vossa vontade” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência desta quarta-feira (20/03). Prosseguindo a série sobre o “Pai-Nosso”, o Pontífice aprofundou a terceira invocação, depois do “Seja santificado o vosso nome” e “Venha a nós o vosso Reino”.
Deus bate à porta do nosso coração
A vontade de Deus foi encarnada em Jesus, explicou o Papa, e esta vontade é buscar e salvar aquilo que está perdido. E nós, na oração, pedimos que a oração de Deus se realize, que seu desenho de salvação se realize primeiro em cada um de nós e depois em todo o mundo:“Vocês já pensaram que Deus está me procurando, a cada um de nós, pessoalmente? Deus é grande, quanto amor está por trás disso. ” Com seu amor, prosseguiu, Deus bate à porta do nosso coração para nos atrair a Ele e nos levar avante no caminho da salvação. Deus está próximo a cada um de nós com o seu amor para nos levar pela mão até a salvação.
O amor de Deus nos liberta
Rezando “seja feita a vossa vontade” não somos convidados a abaixar servilmente a cabeça, “como se fôssemos escravos”. “Deus nos quer livres e Seu amor nos liberta.” O “Pai-Nosso”, de fato, é a oração dos filhos que conhecem o coração de seu pai e estão certos do seu desígnio de amor.
Ai de nós se, pronunciando essas palavras, levantássemos as costas em sinal de rendição diante de um destino que nos repugna e não conseguimos transformar.
Pelo contrário, é uma oração repleta de confiança em Deus que quer para nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, inclusive combativa, porque no mundo existem muitas, demasiadas realidade que não são segundo o plano de Deus. “Ele quer a paz.”
Nada é aleatório na fé cristã
O “Pai-Nosso”, disse ainda Francisco, é uma oração que acende em nós o mesmo amor de Jesus pela vontade do Pai, uma chama que leva a transformar o mundo com o amor. “ Não há nada de aleatório na fé dos cristãos: há, ao invés, uma salvação que espera manifestar-se na vida de cada homem e mulher e realizar-se na eternidade. ”
Se rezamos, é porque acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade vencendo o mal com o bem. A este Deus faz sentido obedecer e abandonar-se mesmo na hora da provação mais dura.
Deus, por amor, pode nos levar a caminhar por sendas difíceis, a experimentar feridas e espinhas dolorosas, mas jamais nos abandonará. “Para um fiel, esta, mais do que uma esperança, é uma certeza. Deus está comigo!”, recordou Francisco.
O Papa terminou a catequese convidando os fiéis a rezarem cada um na sua língua a oração do Pai-Nosso. Fonte: https://www.vaticannews.va
SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MARÇO. HOMILIA DO PAPA: “Imitar a misericórdia do Senhor. A esmola não é só material, mas também espiritual”.
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Durante a missa celebrada na Casa Santa Marta, o Papa fala da misericórdia de Deus e oferece conselhos para viver plenamente o tempo da Quaresma.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano
Não julgar os outros, não condenar e perdoar: deste modo, se imita a misericórdia do Pai. Na missa celebrada na Casa Santa Marta (18/03), o Papa Francisco recordou a todos que na vida, para não errar, é preciso “imitar Deus”, “caminhar diante dos olhos do Pai”. Partindo do Evangelho do dia, extraído de Lucas (Lc 6,36-38), o Pontífice falou antes de mais sobre a misericórdia de Deus, capaz de perdoar as ações mais “graves”.
A misericórdia de Deus é algo tão grande, tão grande. Não nos esqueçamos disto. Quantas pessoas [dizem]: “Eu fiz coisas tão graves. Eu comprei meu lugar no inferno, não poderei voltar atrás”. Mas pense na misericórdia de Deus, não? Recordemos aquela história da pobre viúva que foi se confessar com o cura d’Ars (o marido tinha se suicidado; tinha se lançado da ponte num rio, não?). E chorava. Disse: “Mas eu sou uma pecadora, coitada. Mas coitado do meu marido! Está no inferno! Ele se suicidou e o suicídio é um pecado mortal. Está no inferno”. E o cura d’Ars disse: “Mas espere senhora, porque da ponte até o rio existe a misericórdia de Deus”. Mas até o fim, até o fim, há a misericórdia de Deus.
Bons hábitos na Quaresma
Para colocar-se no sulco da misericórdia, Jesus indica conselhos práticos. Antes de tudo, não julgar: um péssimo costume do qual abster-se, sobretudo neste tempo de Quaresma.
É um hábito que se infiltra na nossa vida sem que percebamos. Sempre! Até mesmo para começar uma conversa, não? “Mas você viu aquela pessoa o que fez?”. O julgamento sobre o outro. Pensemos quantas vezes por dia nós julgamos. Mas por favor! Parecemos todos juízes, não! Todos. Mas sempre para começar uma conversa, um comentário a respeito do outro, julgam: “Mas olha, fez uma plástica! Está pior do que antes”. O julgamento.
Depois, perdoar, mesmo que seja “tão difícil”, porque as nossas ações dão “a medida a Deus de como deve fazer conosco”.
Mantenhamos os bolsos abertos
Na homilia, o Papa convidou todos a aprender a sabedoria da generosidade, via mestra para renunciar às “fofocas”, em que “julgamos continuamente, condenamos continuamente e dificilmente perdoamos”.
O Senhor nos ensina: “Dai”. “Dai e vos será dado”: sejam generosos em doar. Não tenham os bolsos fechados; sejam generosos em doar aos pobres, àqueles que precisam e dar também tantas coisas: dar conselhos, dar sorrisos às pessoas, sorrir. Sempre dar, dar. “Dai e vos será dado. E vos será dado numa boa medida, calcada, sacudida, transbordante”, porque o Senhor será generoso: nós somos um e Ele nos dará cem de tudo aquilo que nós damos. E esta é a atitude que blinda o não julgamento, o não condenar e o perdoar. A importância da esmola, mas não só a esmola material, mas também a esmola espiritual; dedicar tempo a quem precisa, visitar um doente, sorrir. Fonte: www.vaticannews.va
PAPA FRANCISCO: 2º Domingo da Quaresma: “A oração ilumina. O sofrimento cristão não é sadomasoquismo”.
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A liturgia do II Domingo da Quaresma propõe o evento da Transfiguração do Senhor, que mostra a perspectiva cristã do sofrimento: "Ninguém alcança a vida eterna senão seguindo Jesus, carregando a própria cruz na vida terrena”.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
O evento da Transfiguração do Senhor inspirou as palavras do Papa Francisco antes de rezar com os fiéis na Praça São Pedro a oração mariana do Angelus.
O evangelista Lucas nos mostra Jesus transfigurado sobre a montanha, que é o local da luz, símbolo fascinante da singular experiência reservada aos discípulos Pedro, Tiago e João.
Eles sobem a montanha com o Mestre, o veem imergir-se em oração e, a um certo ponto, o seu rosto muda de aparência. E ao lado de Jesus apareceram Moisés e Elias, que falam com Ele de sua morte.
Ninguém alcança a vida eterna senão seguindo Jesus
Francisco explicou que a Transfiguração se realiza num momento singular da missão de Cristo, depois de confiar aos discípulos que sofrerá, morrerá e ressuscitará no terceiro dia.
Jesus quer que saibam que este é o caminho através do qual o Pai fará alcançar a glória para o seu Filho, ressuscitando-o dos mortos. “E este será também o caminho dos discípulos: ninguém alcança a vida eterna senão seguindo Jesus, carregando a própria cruz na vida terrena. Cada um de nós tem a própria cruz. O Senhor nos mostra o fim deste percurso, que é a Ressurreição, a beleza, carregando a própria cruz.”
A perspectiva cristã do sofrimento
Portanto, acrescentou o Papa, a Transfiguração de Cristo nos mostra a perspectiva cristã do sofrimento: "Não é sadomasoquismo, é uma passagem necessária, mas transitória".
O ponto de chegada ao qual somos chamados é luminoso como o rosto de Cristo transfigurado: Nele está a salvação, a bem-aventurança, a luz, o amor de Deus sem limites.
Mostrando a sua glória, Jesus nos garante que a cruz, as provações, as dificuldades nas quais nos debatemos têm a sua solução e a sua superação na sua Páscoa.
O Papa fez então um convite aos fiéis: “Nesta Quaresma, subamos também nós a montanha com Jesus! De que modo? Com a oração. A oração silenciosa, a oração do coração, a oração sempre buscando o Senhor. Permaneçamos alguns momentos em recolhimento, todos os dias um pouquinho, fixemos o olhar interior no seu rosto e deixemos que a sua luz nos adentre e se irradie na nossa vida. ”
É assim, reiterou Francisco: a oração em Cristo e no Espírito Santo transforma a pessoa a partir de dentro e pode iluminar os outros e o mundo circunstante.
"Quantas vezes encontramos pessoas que iluminam, que emanam luz dos olhos, que têm aquele olhar luminoso! Rezam e a oração faz isto: nos faz luminosos com a luz do Espírito Santo." “Prossigamos com alegria o nosso itinerário quaresmal”, concluiu o Pontífice. “Vamos dar espaço à oração e à Palavra de Deus. Que a Virgem nos ensine a permanecer com Jesus mesmo quando não o entendemos e compreendemos. Porque somente permanecendo Nele veremos a sua glória.” Fonte: www.vaticannews.va
Suzano: Papa Francisco convida a promover a cultura da paz
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Diante desta “abominável tragédia”, o Papa convida a promover a “cultura da paz com o perdão, a justiça e o amor fraterno, como Jesus nos ensinou“. O Pontífice reza pela recuperação dos feridos e concede a todos a sua benção apostólica.
Cidade do Vaticano
“Profundamente entristecido”, o Papa Francisco enviou um telegrama ao bispo de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, manifestando sua solidariedade e conforto espiritual às famílias atingidas pelo “insano ataque” à escola Raul Brasil.
Diante desta “abominável tragédia”, o Papa convida a promover a “cultura da paz com o perdão, a justiça e o amor fraterno, como Jesus nos ensinou“. O Pontífice reza pela recuperação dos feridos e concede a todos a sua benção apostólica.
O telegrama assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, foi lido ao final da celebração eucarística realizada em Suzano.
Eis o texto do telegrama:
«EXMO. E REVMO.
DOM PEDRO LUIZ STRINGHINI
BISPO DE MOGI DAS CRUZES
PROFUNDAMENTE ENTRISTECIDO PELA NOTÍCIA DO INSANO ATAQUE CONTRA ALUNOS, PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA ESTADUAL RAUL BRASIL, NA CIDADE DE SUZANO, SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO DESEJA ASSEGURAR ATRAVÉS DE VOSSA EXCELÊNCIA REVMA. SOLIDARIEDADE E CONFORTO ESPIRITUAL ÀS FAMÍLIAS QUE PERDERAM SEUS ENTES QUERIDOS, AO MESMO TEMPO QUE ELEVA ORAÇÕES PELA RECUPERAÇÃO DOS FERIDOS. O SANTO PADRE CONVIDA A TODOS, DIANTE DESTA ABOMINÁVEL TRAGÉDIA, A PROMOVER A CULTURA DA PAZ COM O PERDÃO, A JUSTIÇA E O AMOR FRATERNO, COMO JESUS NOS ENSINOU. COMO PENHOR DE CONFORTO, O PAPA FRANCISCO CONCEDE ÀS PESSOAS ATINGIDAS POR ESTE LUTO E QUANTOS PARTICIPAM NA MISSA DE EXÉQUIAS A BÊNÇÃO APOSTÓLICA
CARDEAL PIETRO PAROLIN
SECRETÁRIO DE ESTADO DE SUA SANTIDADE».
RETIRO DO PAPA: Memória, esperança e paciência indicam o futuro
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O Papa agradeceu ao abade Bernardo por ter falado de memória, “esta dimensão deuteronômica que esquecemos”, mas também de esperança, de trabalho e de paciência, indicando o caminho para o futuro.
Cidade do Vaticano
Antes de regressar ao Vaticano, o Papa Francisco agradeceu ao abade Bernardo Gianni por ter pregado o retiro quaresmal a ele e aos membros da Cúria Romana por seis dias.
“Agora cabe a mim”, começou o Pontífice. “Gostaria de agradecer-lhe, irmão Bernardo, por sua ajuda nesses dias. Impressionou-me o seu trabalho de nos fazer entrar, como fez o Verbo, no humano; e entender que Deus sempre se faz presente no humano, “indivisa et inconfusa”, deixando vestígios.
Guia turístico
O Papa agradeceu ao abade por ter falado de memória, “esta dimensão deuteronômica que esquecemos”, mas também de esperança, de trabalho e de paciência, indicando o caminho para o futuro.
E brincou quando, no início dos Exercícios, ficou “um pouco” desorientado com a leitura dos temas e mais parecia que a Cúria tivesse contratado um guia turístico que os levasse pelas ruas de Florença, entre os seus poetas.
Para Francisco, o abade foi corajoso como os padres conciliares que assinaram a Gaudium et Spes, “talvez o documento que mais teve resistência, inclusive hoje”.
“Eu lhe agradeço muito, reze por nós que somos todos pecadores – todos, eh? – mas queremos ir avante assim, servindo o Senhor. Obrigado e leve a minha e a nossa saudação aos monges”, finalizou o Papa.
Durante seis dias, o Pontífice os membros da Cúria Romana foram convidados a meditar sobre o tema “A cidade dos desejos ardentes: olhares e gestos pascais na vida do mundo”, com inúmeras referências de personalidades e poetas da cidade de Florença. Fonte: www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA-QUINTA-FEIRA, 14: A hospitalidade como escola da misericórdia.
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A reflexão do abade se concentra primeiramente nas portas abertas. “Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o versículo 10 do Livro de Isaías.
Cidade do Vaticano
O acolhimento e a hospitalidade marcaram a meditação, realizada na manhã desta quinta-feira (14/03), pelo abade beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni, nos Exercícios espirituais para o Papa Francisco e os membros da Cúria Romana, na Casa do Divino Mestre, em Ariccia.
Começa com uma reflexão sobre o esplendor de Jerusalém, conforme descrito no capítulo 62 do Livro do Profeta Isaías. A imagem da Jerusalém que é descrita não é “uma cidade ideal”, esclarece o monge, mas sim “um ideal de cidade”.
As portas abertas das cidades
A reflexão do abade se concentra primeiramente nas portas abertas. “Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o versículo 10 do Livro de Isaías.
“Bonita é a imagem de portas abertas, para que toda a humanidade possa finalmente entrar, se encontrar e experimentar a grande promessa de Deus que se torna realidade, o futuro que se torna presença de luz, amor, paz e justiça para todos aqueles que caminham em direção ao rosto do Senhor, guiados por sua Palavra. Contrária a essa perspectiva é a construção de toda forma de muro, barreira e baluarte que não tem dentro de si uma porta hospitaleira e convidativa”, disse o abade beneditino.
Toda cidade é lugar de acolhimento
Para Giorgio La Pira, como prefeito de Florença, era necessário que da cidade saísse “uma mensagem renovada de paz e esperança”: “Esperanças de paz, esperanças civis, esperanças de Deus e esperanças do homem.”
O abade Bernardo Francesco Maria Gianni recorda que o Papa Francisco nos advertiu que estamos vivendo uma Terceira Guerra Mundial em pedaços, em fragmentos lacerantes em várias partes do mundo. Acho bonito, profético e profundamente atual esse apelo do prefeito para fazer de Florença e não só, mas de toda cidade, o lugar de acolhida no qual se renova uma mensagem de paz e esperança.
Essa é uma tarefa que o prefeito La Pira atribuiu ao seu serviço de homem político, mas é um serviço que a Igreja não pode deixar de apoiar, desejar, propor e testemunhar em nosso tempo aos prefeitos e aos homens políticos do mundo inteiro, para que a cidade realmente volte a ser, segundo a perspectiva que Isaías nos faz sonhar, um “símbolo para todos os povos”.
Oração na base de uma missão de paz
La Pira sabia que Florença poderia ser “uma renovada e reencontrada capital da paz e da justiça” graças à oração e contemplação: “Sem essas raízes místicas, a lei doada pelos seus mosteiros de clausura e pelos seus santos, ela não seria aquilo que é: cidade de contemplação e beleza teologal”, observa o abade beneditino.
Hospitalidade de São Bento
Bernardo Francesco Maria Gianni recorda as palavras de São Bento sobre a hospitalidade em que o Santo exorta a acolher todos os convidados como se fossem Cristo, mas diz que a troca do beijo da paz não deve ser feita antes da oração. Ter outro diante de mim envolve riscos. Portanto, a de São Bento, disse o abade, não é uma “hospitalidade, é uma hospitalidade lúcida que aceita o risco evangélico do amor e fortalece o homem que se expõe a esse risco com a única força que o fiel tem, ou seja, a oração”. Repercorrendo ainda as instruções sobre a acolhida dos convidados, o abade observa que é marcada pela oração e por um profundo sentido de humanidade.
Especialmente os pobres e os peregrinos são acolhidos com toda consideração e cuidado possível, pois é neles que se recebe Cristo de modo particular.
Hospitalidade como escola de misericórdia
O abade recorda que São Bento, em absoluto retiro no início de sua vida monástica, se esqueceu que o dia da Páscoa tinha chegado. O Senhor enviou-lhe um sacerdote com comida e água para interromper o jejum e a solidão.
Quando Bento viu esse hóspede chegar, sua expressão nos dá a medida de como tenha sido esse evento misterioso da chegada do sacerdote: “É realmente Páscoa, pois tive a graça de ver você”. Uma passagem da solidão à comunhão, do jejum à alegria fraterna da partilha, da morte para a vida.
É por isso que a hospitalidade é uma escola de misericórdia que fez Bernard de Clairvaux dizer: “O misericordioso compreende a verdade de seu próximo, conformando-se a ele com simpatia, de modo a viver suas alegrias e tristezas como se fossem suas, fraco com os fracos, pronto para se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram.”
Fazer nossa a lógica de Jesus
O abade exorta a aprender de uma hospitalidade radicalmente evangélica. “Ressoam ainda as palavras lembradas pelo Papa Francisco em que a força da fraternidade, que a adoração de Deus em espírito e verdade gera entre os humanos, é a nova fronteira do cristianismo”, disse o abade.
“Todo detalhe da vida do corpo e da alma, em que brilham o amor e a redenção da nova criatura que está se formando em nós, surpreende, como o verdadeiro milagre de uma ressurreição que já está em andamento.”
“Que o Senhor nos ajude a multiplicar esses milagres. Podemos multiplicá-los na medida em que fazemos nossa a lógica, aparentemente perdedora, do amor do Senhor Jesus, que é uma lógica, não podemos nos esquecer, inevitavelmente crucificada, de modo que a Páscoa seja gerada como um beijo do Espírito Santo com o qual o Pai restitui a plenitude da vida ao que foi cortado e rompido”, conclui o abade Bernardo Francesco Maria Gianni. Fonte: www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA- TERCEIRA MEDITAÇÃO: “Na Quaresma deixar que Deus restaure a nossa beleza”
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Na terceira meditação oferecida ao Papa Francisco e à Cúria Romana nos Exercícios espirituais em Ariccia, o abade de São Miniato convidou com o poeta Luzi a refletir sobre a indiferença, a doença de nossas cidades, e com La Pira sobre a erradicação da vida das metrópoles. “Falamos de beleza para os jovens. É o único modo com o qual se aceitam e aceitam os outros”.
Alessandro Di Bussolo, Mariângela Jaguraba – Cidade do Vaticano
Um convite a refletir sobre a indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros e da responsabilidade para com a realidade, sobre a erradicação da vida da cidade, procurando a beleza e a medida que vem do ser amado por Deus e amá-lo também nós.
Este é o centro da terceira meditação oferecida, na manhã desta terça-feira (12/03), pelo abade de São Miniato ao Monte em Florença, Bernardo Francesco Maria Gianni, beneditino, ao Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana. O tema das reflexões do pregador “O presente de infâmia, de sangue e indiferença”, é extraído dos versos de Mario Luzi em “Felicità turbate”, a poesia dedicada à abadia florentina em dezembro de 1997.
Olhar paras as feridas da cidade
Quando ele escreve, recordou o abade beneditino, Luzi tem nos olhos o massacre perpetrado pela máfia quatro anos antes na Via dei Georgofili, as cinco vítimas inocentes e a destruição de “uma parte preciosa do centro artístico de nossa cidade”, disse ele. “Somos convidados, a partir daquele evento dramático, a olhar, como sempre estamos procurando fazer, as feridas das cidades do mundo inteiro, até mesmo aquelas muito mais complexas e marcadas pelas injustiças de todos os tipos, em todo o nosso planeta, e fazê-lo com um olhar sobre a realidade que o nosso Papa nos ensinou, como prevalente respeito à ideia.
A indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros
O pregador se deteve num dos três “sinais do mal”, a indiferença, tão distante do “alcance caritativo” da poesia de Luzi e da ação política de Giorgio La Pira. A indiferença “que muitas vezes de forma sutil paralisa o nosso coração, torna o nosso olhar” opaco, nebuloso. O que Charles Taylor descreveu como a “proteção do eu”.
É como se a nossa pessoa vestisse uma tela, da qual e com a qual se proteger dos outros, daquela responsabilidade que os problemas do nosso tempo solicitam, à luz daquela paixão evangélica que o Senhor quer acender com a força do seu Santo Espírito em nosso coração.
Olhar para a realidade sem sonhar cidades ideais
Citando o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer e sua preocupação pela vida das gerações futuras, o abade Gianni sublinhou que deve estar em nosso coração a possibilidade de deixar para as novas gerações “um futuro melhor que o presente que vivemos, confiando nele, com um espírito radicalmente contrário à indiferença, mas todos movidos pela ardente participação”. Romano Guardini nos convidou ontem, recordou o beneditino, a acolher o futuro com responsabilidade “realizando-o o mais próximo possível junto com o Senhor”:
Olhar para a realidade evidentemente sem sonhar cidades ideais ou utópicas de nenhum tipo. A utopia não é uma perspectiva autenticamente evangélica. A Jerusalém celeste, que o visionário do Apocalipse contempla, não é uma utopia: é de fato o conteúdo de uma promessa real e confiável que o Senhor dá às suas igrejas na provação.
“A ação da Igreja e dos homens e mulheres de boa vontade”, esclareceu o abade Bernardo Francesco Maria Gianni, “acredito que seja realmente essa fecundidade gerada pela escuta obediente e apaixonada do Evangelho da vida” de Jesus. E a poesia de Mario Luzi, segundo o pregador, nos restitui a consciência “da tradição representada pelo fogo de seus antigos santos”. É aquela brasa que “com a santidade do tempo presente”, “pode realmente voltar a inflamar para ser uma luz de esperança na noite das cidades do nosso mundo”.
A erradicação da pessoa da vida da cidade
O abade de São Miniato ao Monte relatou as palavras de La Pira num encontro de prefeitos do mundo inteiro, em 2 de outubro de 1955: a crise do nosso tempo, disse o prefeito de Florença, “é uma crise de desproporção e desmedida em relação ao que é verdadeiramente humano”.
“A crise do nosso tempo pode ser definida como a erradicação da pessoa do contexto orgânico - isto é, vivo, conectivo - da cidade. Bem, essa crise só pode ser resolvida através de uma nova radicação, mais profunda, mais orgânica, da pessoa na cidade em que nasceu e em cuja história e tradição está organicamente inserida”.
Os remédios da beleza e medida
Deve ser vencida a tentação da indiferença, da “proteção de si”, da erradicação que também leva os homens da Igreja, a “sentirem-se estranhos, não interpelados pelo tecido vivo com as suas dificuldades, os seus problemas, suas contradições, que são as cidades onde somos chamados a levar, seja qual for o custo, a Palavra de Deus, encarnando-a”. Por isso, o pregador propõe os medicamentos da beleza e da medida: “Uma dimensão coral contra todo individualismo, um grande testemunho que a Igreja não pode deixar de dar, com sua índole radicalmente fraterna”.
Santo Agostinho: amando a Deus nos tornamos belos
Santo Agostinho, comentando a Primeira Carta de São João, “nos lembra o que é a verdadeira beleza e como é recebida”. “Que fundamento”, diz Agostinho, “teremos para amar se Ele não nos tivesse amado por primeiro? Amando, tornamo-nos amigos, mas Ele nos amou quando éramos seus inimigos para nos tornar amigos”:
Novamente, a primazia de Deus, a anterioridade de seu agir, o nosso ser amados, ser feitos e ser decorados por sua beleza. Ele nos amou por primeiro e nos deu a capacidade de amá-lo: amando-o, nos tornamos belos.
Falar aos jovens da beleza, é a sua única medida
“Num mundo que olha muito para as aparências”, concluiu o pregador dos Exercícios ao Papa Francisco e à Cúria Romana, “a beleza é a única medida com a qual os jovens se aceitam e aceitam outros jovens”. Então, voltamos a Agostinho: “A nossa alma, irmãos, é feia por causa do pecado. Ela torna-se bonita amando a Deus”:
“Como seremos belos? Amando Ele que é sempre belo. Quanto mais cresce o amor em nós, cresce também a beleza, a caridade, de fato, a beleza da alma. No entanto, Agostinho reconhece que o Senhor Jesus, a fim de nos dar a sua beleza, também se tornou feio, e o fez na cruz, aceitando aquela mudança também em seu corpo.”. Fonte: www.vaticannews.va
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