Padre é preso por crimes sexuais contra adolescentes no Amazonas
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Segundo a Polícia Civil. religioso mantinha um arquivo com mais de 260 vídeos de relações sexuais com menores de idade
Segundo a Diocese de Coari, padre Paulo Araújo da Silva foi afastado de suas funções
Carol Queirozda CNN em Manaus
O padre Paulo Araújo da Silva, 31 anos, foi preso no último domingo (18) em Coari (AM), a cerca de 370 quilômetros de Manaus, sob suspeita de praticar crimes sexuais contra adolescentes. Segundo a Polícia Civil, ele agia de forma violenta e fazia ameaças e torturas psicológicas contra as vítimas.
Conforme as autoridades policiais, as investigações tiveram início em setembro de 2023 após denúncias anônimas recebidas pelo Disque 100. As notificações davam conta de que uma adolescente de 17 anos estava sendo vítima de crimes como estupro, gravação de vídeos sexuais, aborto, ameaça e violência doméstica.
De acordo com o delegado José Barradas, da delegacia de Coari, a vítima foi identificada e levada à delegacia para prestar depoimento, momento em que relatou que desde os 14 anos mantinha relações sexuais com o padre e que chegou a engravidar dele. O religioso teria a obrigado a abortar.
“Nesse contexto, entra a participação de Francisco Rayner Barros Batista, de 34 anos, que está foragido. Ele é amigo do infrator e foi o responsável por fornecer à adolescente um medicamento que ela ingeriu e resultou no aborto. O feto foi expelido no quintal da casa de Francisco Rayner e enterrado no local. Isso foi confirmado tanto por fotos quanto pelo depoimento da vítima”, explicou o delegado.
Ainda segundo a polícia, a adolescente também estava sofrendo violência psicológica, tendo em vista que o padre, conforme as investigações, a obrigava a manter relações sexuais com ele e fazia constantes ameaças caso ela não continuasse. Segundo relato da vítima, ele dizia que “iria acabar com a vida dela”, pois sela seria “dele” e “de mais ninguém”.
Durante a prisão do padre na paróquia, os investigadores encontraram ele na cama com uma jovem que tinha acabado de completar 18 anos. A polícia diz ele mantinha relações com essa jovem desde quando ela era menor de idade.
No quarto dele, a polícia apreendeu cerca de R$ 30 mil em espécie, além de mais de 260 vídeos de cenas de sexo com adolescentes e com outras pessoas. Todo o material vai ser analisado pela perícia, juntamente com o computador do suspeito.
A autoridade policial destacou que as investigações continuarão, pois pode haver outras pessoas envolvidas. Nos depoimentos das testemunhas, foi mencionado que o padre aliciava outras pessoas. Além de manter relações com essa vítima, ele pedia para que ela trouxesse outras amigas, para que todos tivessem relações sexuais em conjunto.
Em nota, a Diocese de Coari, disse que repudia toda forma de abuso e exploração e manifestou solidariedade às vítimas e a suas famílias. A diocese informou ainda que tomou todas as providências canónicas necessárias, que determina a lei da Igreja, afastando o referido religioso de todas as funções que desempenhava na Igreja Católica.
A organização religiosa também diz que se colocou em “total disponibilidade” para colaborar com as autoridades. Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
A política em debate
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Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)
O período da campanha eleitoral, pela sua decisiva importância política, requer especial atenção e empenho não somente dos candidatos e dos partidos políticos, mas também dos eleitores. Participar da vida política do país tem sido uma tarefa cada vez mais difícil, mas irrenunciável numa sociedade democrática. O exercício consciente da cidadania não se restringe à via partidária e ao voto, mas a participação na política através dos partidos é muito importante na democracia participativa. O descrédito ou a indiferença diante da política ou dos políticos não devem pautar a conduta dos cidadãos, cuja participação se faz muito necessária não somente na época das eleições. A afirmação da ética na política é tarefa permanente que desafia a todos, políticos e eleitores, devendo ocorrer já durante a campanha eleitoral para se prolongar após as eleições, durante o mandato dos eleitos.
A conduta ética que se espera dos candidatos e eleitores diante dos adversários políticos é de respeito. A Igreja Católica, através dos pronunciamentos do Papa Francisco e da Conferência Episcopal, tem insistido na necessidade de respeito entre as pessoas ou grupos de diferentes tendências políticas. Numa sociedade democrática, há lugar para a diversidade de opiniões políticas, mas jamais para a agressão, seja nas redes sociais, em casa, nas ruas, no ambiente de trabalho ou em qualquer outro. Os adversários no campo político não devem ser vistos como inimigos a serem combatidos. O caminho da agressividade e da intolerância representa a negação da política. A discussão de ideias e propostas políticas não pode ser motivo para agressões ou para a divulgação de informações falsas. A polêmica ofensiva deve ceder espaço para o diálogo construtivo em que as propostas políticas sejam claramente apresentadas. O crescimento da influência das redes sociais na vida política merece especial atenção e exige maior discernimento para não se deixar levar pela desinformação.
Os debates no período eleitoral podem contribuir muito para o conhecimento dos candidatos e de suas propostas, em vista de uma participação consciente e responsável nas eleições. Contudo, devem ser debates sobre o programa efetivo de ação a que se propõem realizar, considerando as necessidades maiores da população local. Os eleitores necessitam conhecer, de fato, os candidatos a partir do seu histórico pessoal e das propostas políticas que defendem. O respeito de um candidato diante do seu oponente, mesmo ao tecer-lhe críticas, é sinal também de respeito ao eleitor.
Os cristãos e os membros das diversas confissões religiosas têm a grave responsabilidade de contribuir para a convivência respeitosa e pacífica entre os candidatos e entre os eleitores neste período político eleitoral.
*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 11 de agosto de 2024. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Quarta-feira, 21 de agosto-2024. 20ª Semana do Tempo Comum- Ano Litúrgico/ B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não podem ver; acendei em nossos corações a chama da caridade para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas promessas que superam todo desejo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 20,1-16a)
1Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha. 2Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha. 3Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. 4Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário. 5Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo. 6Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?7Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha. 8Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros. 9Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário. 10Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário. 11Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor. 13O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? 14Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. 15Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom? 16Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.
3) Reflexão Mateus 20,1-16
O evangelho de hoje traz uma parábola que só é relatada por Mateus. Ela não existe nos outros três evangelhos. Como em todas as parábolas, Jesus conta uma história feita de elementos do dia-a-dia da vida do povo. Ele retrata a situação social do seu tempo, na qual os ouvintes se reconhecem. Mas ao mesmo tempo, na história desta parábola, acontecem coisas que nunca acontecem na realidade da vida do povo. É que, ao falar do patrão, Jesus pensa em Deus, seu Pai. Por isso, na história da parábola, o patrão faz coisas surpreendentes que não acontecem no dia-a-dia da vida dos ouvintes. É nesta atitude estranha do patrão, que deve ser procurada a chave para a compreensão do mensagem da parábola.
Mateus 20,1-7: As cinco vezes que o patrão sai em busca de operários
"O Reino do Céu é como um patrão, que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha” Assim começa a história que fala por si e nem precisaria de muito comentário. No que segue, o patrão sai mais quatro vezes chamando operários para trabalhar na sua vinha. Jesus alude ao terrível desemprego daquela época. Alguns detalhes da história: (1) O próprio patrão sai pessoalmente cinco vezes para contratar operários. (2) Na hora de contratar os operários, é só com o primeiro grupo que ele acerta o salário: um denário por dia. Com os da nona hora ele diz: Eu lhes pagarei o que for justo. Com os outros ele não acertou nada. Apenas os contratou para trabalhar na vinha. (3) No fim do dia, na hora de acertar as contas com os operários, o patrão manda que o administrador faça o serviço.
Mateus 20,8-10: A estranha maneira de acertar as contas no fim do dia
Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: Chame os trabalhadores, e pague uma diária a todos. Comece pelos últimos, e termine pelos primeiros. Aqui, na hora de acertar as contas, acontece algo estranho que não acontece na vida comum. Parece a inversão das coisas. O pagamento começa com os que foram contratados por último e que trabalharam apenas uma única hora. O pagamento é o mesmo para todos: um denário, como tinha sido combinado com os que foram contratados no começo do dia. No fim, chegaram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um deles recebeu também uma moeda de prata. Por que o patrão faz isso? Você faria assim? É aqui neste gesto surpreendente do patrão que está escondida a chave da mensagem desta parábola.
Mateus 20,11-12: A reação normal dos operários diante da estranha atitude do patrão
Os últimos a receber o salário eram os que foram contratados por primeiro. Estes, assim diz a história, ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão e disseram: “Esses últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor do dia inteiro!” É a reação normal do bom senso. Creio que todos nós teríamos a mesma reação e diríamos a mesma coisa ao patrão. Ou não?
Mateus 20,13-16: A explicação surpreendente do Patrão que fornece a chave da parábola
A resposta do patrão é esta: “Amigo, eu não fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?” Estas palavras trazem a chave que explica a atitude do patrão e aponta a mensagem que Jesus quer comunicar: (1) O patrão não foi injusto, pois ele agiu de acordo com o que tinha sido combinado com o primeiro grupo de operários: um denário por dia. (2) É decisão soberano do patrão de dar aos últimos o mesmo que tinha sido combinado com os da primeira hora. Estes não têm direito de reclamar. (3) Atuando dentro da justiça, o patrão tem o direito de fazer o bem que ele quer com as coisas que lhe pertencem. O operário da parte dele tem este mesmo direito. (4) A pergunta final toca no ponto central: Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?' Deus é diferente mesmo! Ele não cabe nos nossos pensamentos (Is 55,8-9).
O pano de fundo da parábola é a conjuntura daquela época, tanto de Jesus como de Mateus. Os operários da primeira hora são o povo judeu, chamado por Deus para trabalhar em sua vinha. Eles sustentaram o peso do dia, desde Abraão e Moisés, bem mais de mil anos. Agora, na undécima hora, Jesus chama os pagãos para ir trabalhar na sua vinha e eles chegam a ter a preferência do coração de Deus. “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.
4) Para um confronto pessoal
1) Os da undécima hora chegam, levam vantagem e recebem prioridade na fila diante da entrada do Reino de Deus. Quando você espera duas horas numa fila e chega alguém que, sem mais, se coloca na frente de você, você aceitaria? Dá para comparar as duas situações?
2) A ação de Deus ultrapassa nossos cálculos e nosso jeito humano de atuar. Ele surpreende e às vezes incomoda. Isto já aconteceu alguma vez na sua vida? Qual a lição que tirou?
5) Oração final
A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias. (Sl 22, 6)
V Encontro da Igreja na Amazônia Legal: “ser cada vez mais uma Igreja inserida”
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Teve início nesta segunda-feira, 19 de agosto de 2024 o V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, que reúne na Maromba de Manaus, de 19 a 22 de agosto, os bispos e outros representantes das 58 igrejas locais que fazem parte da região.
Padre Modino – Regional Norte 1 da CNBB
Com o tema, “A Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia: Memória e Esperança”, o encontro é organizado pela Comissão Episcopal Especial para a Amazônia e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil).
O fato de “nos encontrarmos é sempre importante, para criarmos mais comunhão, para pensarmos juntos a evangelização, permanecermos fiéis ao espírito missionário da nossa Igreja na Amazônia, revermos a nossa caminhada”, segundo o cardeal Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1). Uma caminhada missionária, sinodal da Igreja da Amazônia, com horizontes muito bonitos e significativos, afirma o purpurado. Isso se concretiza em “sermos cada vez mais uma Igreja mais inserida”, lembrando a encarnação proposta em Santarém, que hoje deve acontecer em realidades que são outras.
O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) destacou a necessidade de “cada vez mais inserirmos a vida dos povos indígenas”, falando sobre a situação muito difícil em termos de meio ambiente em que vive a Amazônia. O cardeal Steiner destacou o incentivo do Papa Francisco a levarmos em consideração toda a realidade, uma perspectiva que “nos anima, mas é uma perspectiva exigente, porque não podemos deixar ninguém para trás. Queremos caminhar todos juntos, mas levando em consideração as realidades que estamos a viver”.
Um encontro iniciado com uma celebração marcada pela vida da Igreja e dos povos da Amazônia, seguida da abertura oficial do encontro, que representa uma alegria muito grande para a arquidiocese de Manaus, segundo seu arcebispo. O cardeal Steiner pediu que “seja um encontro onde podermos continuar a sonhar, para sermos uma Igreja profundamente encarnada, levando em consideração os sonhos do Papa Francisco”, e a partir daí “sermos uma Igreja que realmente canta a liberdade, e ao cantar a liberdade, se encarnar nas culturas que aqui existem, para que possamos realmente ser sinal de esperança”.
Uma alegria partilhada pelo arcebispo emérito de Huancayo (Peru) e presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), cardeal Pedro Barreto, que lembrou que “é um fruto do processo sinodal vivido nesta região tão querida”. Ele destacou a larga história da Igreja na Amazônia, ressaltando a necessidade de “sermos conscientes que recolhemos uma sagrada herança dos nossos antecessores que trabalharam na Amazônia”. O cardeal Barreto agradeceu “todo o esforço que estão fazendo para caminhar em comunhão, participando todos na única missão de Cristo”.
Em nome da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, lembrou a longa história de encontros da Igreja da Amazônia, iniciado com o primeiro encontro inter-regional em 1952, destacando que “a perseverança nos ensina que vale a pena continuar esse processo com todo entusiasmo”. Ele refletiu sobre os retrocessos que acontecem cada dia na Amazônia, citando os desmatamentos, e mostrando a preocupação do episcopado brasileiro para com os povos originários, “esses são os que mais sofrem”, denunciando “a gravidade das coisas que estão acontecendo em nosso país”, algo que lhes preocupa e que buscam dar respostas. Ele mostrou a apertura da CNBB a todos, e lembrou o tema da Campanha da Fraternidade de 2025, sobre a ecologia integral, “uma oportunidade para sensibilizar a todo o Brasil”.
A Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), que está completando 10 anos, o fato de estar presente no território a leva a mostrar suas alegrias e preocupações, segundo sua vice-presidente, a irmã Carmelita Conceição. A religiosa citou a realidade da seca, que desafia a “dar um sinal de vida e esperança na Amazônia”, vendo o encontro como uma ajuda para “vermos o que fazer e como nos posicionar diante de tantos desafios”.
A representante do Governo Brasileiro, Kenarik Boujikian, Secretária Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria Geral da Presidência da República, afirmou que o papel da instituição que representa é manter o diálogo da sociedade civil e os movimentos sociais com o Governo, lembrando a importância dos movimentos populares para o Papa Francisco. Ela destacou a importância das messas de diálogo, apresentando um caderno de respostas às demandas da Igreja brasileira, que não pretende dar soluções, mas ele é uma ferramenta de trabalho, dividido em quatro eixos: emergência climática; direitos dos povos das águas, do campo e das florestas; regularização fundiária: denúncias e violações de direitos nos territórios. Um caderno para fazer novas construções, pequenas coisas que na realidade podem impactar.
Diante dessa realidade, “a REPAM-Brasil quer ser um serviço eclesial, articulado com muitos movimentos e muitas organizações da sociedade civil, em busca de preservar os direitos dos nossos povos, dos nossos territórios e da nossa Amazônia como um todo”, segundo se presidente, o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Respondendo ao caderno, o bispo afirmou que “as nossas ações apoiam e visibilizam as iniciativas das comunidades, pastorais e organizações eclesiais, a partir de uma espiritualidade encarnada, na defesa da vida dos povos e da biodiversidade amazônica para construir o bem viver”, algo feito com fé e esperança.
Ele lembrou a visita realizada a 13 ministérios e outras entidades, levando os resultados da escuta aos povos, que tem como consequência o caderno de respostas. Diante de uma situação que tende a se agravar, dom Evaristo Spengler agradeceu as respostas, destacando a importância das políticas públicas necessárias ao cuidado com a casa comum, com a Criação e com a nossa querida Amazônia.
O arcebispo de São Luis e presidente da Comissão Especial Episcopal para a Amazônia, dom Gilberto Pastana, lembrou os membros da comissão desde sua criação em 2003, que hoje é formada pelos presidentes dos regionais da Amazônia Legal. Um encontro de “muita convivência, partilha da vida e da missão, e comprometimento com a causa do Reino”, para dar continuidade às conclusões assumidas no IV Encontro, realizado em Santarém em 2022. Lembrando o tema e o lema, ressaltou a importância do processo de escuta feito em preparação ao encontro, em busca de “construir novos caminhos para a Igreja na Amazonia, para a ecologia e para o território”.
Insistindo em que “a missão nos desafia”, ele disse que “queremos ser fiéis aos desafios do Senhor”, chamando a “dar continuidade a toda essa riqueza colhida e observada nos avanços, dificuldades e desafios em nossas ações evangelizadoras”. Igualmente, ele pediu “fortificar o nosso compromisso missionário”, e “identificar os passos concretos que o Espírito Santo revela à Igreja na Amazônia para realizar e crescer a comunhão, a missão e a participação.” Fonte: https://www.vaticannews.va
Telhado de igreja do século 17 desaba em Angra dos Reis (RJ)
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A construção é uma das mais antigas da cidade e estava interditada pela Defesa Civil
Igreja da Ordem Primeira do Carmo após desabamento do telhado - Igreja da Ordem Primeira do Carmo/Divulgação
São Paulo
O telhado da igreja da Ordem Primeira do Carmo, no centro de Angra dos Reis (RJ), desabou na tarde desta segunda-feira (19). A igreja faz parte de um conjunto arquitetônico construído há mais de 400 anos e que é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 1944.
O desabamento foi comunicado pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição, que definiu a notícia como lastimável.
A igreja estava interditada há um mês pela Defesa Civil municipal devido à fragilidade da estrutura e não havia ninguém no local no momento do desabamento.
"Informamos que a paróquia, junto com o poder público, desde a primeira vistoria da Defesa Civil não mediu esforços para que tal situação não ocorresse e estavam progressivamente ocorrendo os devidos encaminhamentos", diz nota divulgada pela igreja.
A construção é uma das mais antigas de Angra dos Reis. Começou em 1593 e foi concluída em 1617, segundo a prefeitura. O conjunto arquitetônico tem estilo colonial e dois pavimentos divididos em duas igrejas, coro, torre, sineira, corredor lateral, claustro, sala do capítulo, cozinha, sacristia, celas, biblioteca e cartório.
O Iphan havia autorizado o escoramento emergencial em andaimes metálicos sob o forro da nave da igreja, para estabilizar a estrutura do edifício enquanto era preparado o material técnico para reforma da construção.
O projeto de escoramento estava sendo desenvolvido pela Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas do município.
Uma equipe do Iphan fará uma vistoria na igreja nesta terça-feira (20) para avaliar a situação. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Os movimentos digitais de ódio
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Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
O ódio é uma das paixões tão antiga quanto a humanidade, mas sua manifestação moderna nas redes sociais e plataformas digitais trouxe novos desafios éticos e sociais. O Papa Francisco utiliza a expressão “movimentos digitais de ódio” para descrever as formas de agressividade, insultos, difamações e afrontas verbais que são amplificadas pelas plataformas digitais, com o objetivo de desfigurar e destruir a reputação do outro. Esses meios proporcionam um ambiente onde a agressividade social se expande, permitindo que as ideologias percam o respeito e a civilidade (Fratelli Tutti, 43-44). O Papa também alerta para os perigos dos movimentos digitais de ódio, que muitas vezes se apresentam como formas de “ajuda mútua”, mas que, na verdade, fomentam o isolamento, o individualismo e a xenofobia.
No contexto das redes sociais, o ódio é frequentemente utilizado como um instrumento para manter a polarização entre diferentes grupos ideológicos e políticos. Plataformas como YouTube e Twitter veem um aumento no engajamento quando os usuários compartilham conteúdos carregados de ódio, o que incentiva a criação e disseminação de tais mensagens. O Papa Francisco também condena essa prática, afirmando que promover mensagens de ódio na web é uma forma de “cultura do descarte”, que despoja o ser humano de sua dignidade (Mensagem aos participantes da 13ª edição do Festival da Doutrina Social, Verona, 24/11/2023).
Friedrich Nietzsche, em sua “Genealogia da Moral”, entende o ódio como uma manifestação do ressentimento dos fracos contra os fortes, particularmente dos escravos em relação à moralidade de seus senhores. Esse ressentimento, que transforma o ódio em uma força moldadora da moralidade e da cultura, é visto por Nietzsche como uma característica central da moral dos escravos, fundamentada na vingança e na negação dos valores dos fortes. Ele alerta que, na impotência dos fracos, o ódio pode assumir proporções monstruosas e espiritualmente venenosas, um fenômeno que se reflete nas redes sociais, onde indivíduos e grupos marginalizados usam o ódio para se autoafirmar e atacar inimigos ideológicos.
Santo Tomás de Aquino, em sua “Suma Teológica”, no Tratado sobre as paixões, define o ódio como uma paixão da alma que surge instintivamente em resposta ao que é percebido como nocivo ou repugnante, destacando que o amor é a causa do ódio, pois só odiamos o que contraria o bem que amamos. Embora o ódio possa parecer mais forte por sua sensibilidade e imediatismo, Santo Tomás argumenta que o amor é a força primordial e mais poderosa. Mesmo nas redes sociais, onde o ódio parece prevalecer, o impulso pelo bem ainda é mais profundo, embora menos visível.
O Papa Francisco propõe um caminho alternativo ao ódio: a humildade e a ternura. Ele argumenta que estas não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam maltratar os outros para se sentirem importantes (Evangelii Gaudium, 288). Esse ensinamento é fundamental no contexto atual, onde a comunicação digital muitas vezes incentiva a agressividade e a desumanização do outro. Francisco exorta os cristãos e a sociedade em geral a rejeitarem o ódio e a abraçarem o amor e o respeito mútuo como fundamentos de uma verdadeira fraternidade (Fratelli Tutti, 46.242, 282-284).
O ódio nas redes digitais é um fenômeno complexo, enraizado em emoções humanas profundas e muitas vezes manipulado para servir a agendas políticas e ideológicas. Somos desafiados a rejeitar essa força destrutiva e a buscar uma cultura de amor, respeito e fraternidade. Em última análise, o ódio pode parecer poderoso, mas é o amor que tem o potencial de transformar e unir a humanidade em sua diversidade. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Peru: Vaticano expulsa o fundador Luis Figari do Sodalício de Vida Cristã
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Anos atrás Luis Fernando Figari já havia sido afastado do movimento que criou na década de 1970, por causa de alegações de abuso psicológico e sexual, inclusive de menores, e por irregularidades financeiras, com o veto de retornar ao seu país. Agora veio a medida do Dicastério para a Vida Consagrada, tornada pública pela Conferência Episcopal Peruana.
Salvatore Cernuzio - Vatican News
Expulso do movimento que ele mesmo criou. O caso de Luis Fernando Figari, fundador no Peru da Sociedade de Vida Apostólica Sodalitium Christianae Vitae, mais comumente conhecida como Sodalício de Vida Cristã (SVC), que já foi comissionada no passado por casos de abuso e má gestão financeira por parte da administração, chegou ao fim com uma medida da Santa Sé. Figari, em particular, é acusado de violência física, psicológica e sexual, inclusive contra menores de idade.
Foi a Conferência Episcopal Peruana que divulgou o decreto emitido pelo Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que, de acordo com o cânon 746 do Código de Direito Canônico, estabeleceu a expulsão de Figari da realidade nascida na década de 1970 e muito difundida na América Latina por meio dessas comunidades, chamadas “sodálites”, formadas por leigos e sacerdotes consagrados que vivem juntos com votos perpétuos de celibato e obediência. Durante anos, o Sodalício foi uma das realidade mais ativas na evangelização da América do Sul.
As acusações
As primeiras acusações de abuso surgiram no início dos anos 2000, após denúncias de ex-membros e de investigações realizadas pela mídia. O caso explodiu em 2015 com a publicação de um livro que reúne os testemunhos das vítimas. A obra fala sobre abuso físico, psicológico e sexual por parte dos líderes do movimento e do próprio fundador Figari.
O veto do retorno ao Peru
Em 2018, o Ministério Público peruano havia solicitado a prisão preventiva de vários membros e ex-membros da organização, incluindo Figari. E o próprio Sodalício havia criado um grupo de investigação que, por meio de um relatório, identificou os autores de tais crimes - então afastados do movimento - cometidos entre 1975 e 2002 contra cerca de 36 pessoas, incluindo 19 menores.
No mesmo ano, Figari foi impedido por uma medida do Vaticano de retornar ao seu país, “exceto por razões muito sérias e sempre com a permissão por escrito” do comissário nomeado após a crise, o bispo colombiano Noel Antonio Londoño Buitrago, prelado de Jericó (Antioquía), que ficou ao lado do cardeal estadunidense Joseph William Tobin, desde 2016 o “delegado papal” para liderar o governo dessa realidade eclesial e que depois permaneceu como “referente”, em particular para questões econômicas.
O veto a um retorno ao Peru foi motivado pelo temor de que Figari pudesse “causar mais danos contra o povo”, “ocultar e destruir provas contra ele” ou “obstruir o curso da justiça” tanto eclesiástica quanto civil. Isso foi explicado em uma carta assinada pelo cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Vida Consagrada, publicada em junho de 2018, em resposta às acusações da mídia local de que o Vaticano de alguma forma “protegeria” Figari.
Os enviados do Papa
Em julho de 2023, o Papa Francisco havia enviado dois investigadores especiais ao país andino para “investigar, ouvir e relatar” o caso do Sodalitium Christianae Vitae. Eram os dois especialistas que, alguns anos antes, haviam feito o mesmo trabalho no Chile, profundamente abalado por escândalos de abuso, passados e presentes: os investigadores Charles Scicluna, arcebispo de Malta, e o padre espanhol Jordi Bertomeu, ambos membros do Dicastério para a Doutrina da Fé. Fonte: https://www.vaticannews.va
Quinta-feira, 15 de agosto-2024. 19ª SEMANA DO TEMPO COMUM-B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,21-19,1)
18:21Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? 22Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. 26Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! 27Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 28Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me deves! 29O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! 30Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. 31Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. 32Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. 33Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? 34E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. 35Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração. 19:1Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão.
3) Reflexão Mateus 18,21-19,1
No evangelho de ontem ouvimos as palavras de Jesus sobre a correção fraterna (Mt 18,15-20). No evangelho de hoje (Mt 18,21-39) o assunto central é o perdão e a reconciliação.
Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!.
Diante das palavras de Jesus sobre a correção fraterna e a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” Sete é um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete é sinônimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: "Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” É como se dissesse: “Sempre, não! Pedro, mas setenta vezes sempre!” Pois não há proporção entre o amor de Deus para conosco e o nosso amor para com o irmão. Aqui se evoca o episódio de Lamec do AT. “Lamec disse para as suas mulheres: da e Sela, ouçam minha voz; mulheres de Lamec, escutem minha palavra: Por uma ferida, eu matarei um homem, e por uma cicatriz matarei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete" (Gn 4,23-24). A tarefa das comunidades é a de reverter o processo da espiral da violência. Para esclarecer a sua resposta a Pedro Jesus conta a parábola do perdão sem limite.
Mateus 18,23-27: A atitude do patrão
Esta parábola é uma alegoria, isto é, Jesus fala de um patrão, mas pensa em Deus. Isto explica os contrastes enormes desta parábola. Como veremos, apesar de se tratar de coisas normais diários, existe algo nesta história que não acontece nunca na vida diária. Na história que Jesus conta, o patrão segue as normas do direito da época. Era um direito dele de prender o empregado com toda a sua família e mantê-lo na prisão até que tivesse pago pelo trabalho escravo a sua dívida. Mas diante do pedido do empregado endividado, o patrão perdoa a dívida. O que chama a atenção é o tamanho da dívida: dez mil talentos. Um talento equivale a 35 kg. Segundo os cálculos feitos, dez mil talentos equivalem a 350 toneladas de ouro. Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida inteira, jamais seriam capazes de juntar 350 toneladas de ouro. O cálculo extremo é proposital. Nossa dívida frente a Deus é incalculável e impagável.
Mateus 18,28-31: A atitude do empregado
Ao sair daí, esse empregado perdoado encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas de prata. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: 'Pague logo o que me deve'. Dívida de cem denários é o salário de cem dias de trabalho. Alguns calculam que era de 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Nem dá para entender a atitude do empregado: Deus lhe perdoou 350 toneladas de outro e ele não quer perdoas 30 gramas de ouro. Em vez de perdoar, ele faz com o companheiro aquilo que o patrão ia fazer, mas não fez. Mandou prender o companheiro de acordo com as normas da lei, até que fosse paga a dívida. Atitude chocante para qualquer ser humano. Chocou os outros companheiros. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. Qualquer um de nós teria tido a mesma atitude de desaprovação.
Mateus 18,32-35: A atitude de Deus
“O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: 'Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?' O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida”. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 350 toneladas de ouro, é nada mais que justo que nós perdoemos ao irmão a pequena dívida de 30 gramas de ouro. O perdão de Deus é sem limites. O único limite para a gratuidade da misericórdia de Deus vem de nós mesmos, da nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt 18,34). É o que dizemos e pedimos no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6,12-15).
A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e fraternidade
A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades cristãs, o rigor de alguns na observância da Lei levava para dentro da convivência os mesmos critérios da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começavam a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão, homem e mulher, raça e religião. Em vez da comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação. Juntando palavras de Jesus, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma Boa Notícia para os pobres.
4) Para um confronto pessoal
1) Perdoar. Tem gente que diz: “Perdôo, mas não esqueço!” E eu? Sou capaz de imitar a Deus?
2) Jesus deu o exemplo. Na hora de ser morto pediu perdão para os seus assassinos (Lc 23,34). Será que sou capaz de imitar Jesus?
5) Oração final
Desde o nascer ao pôr-do-sol, seja louvado o nome do Senhor. O Senhor é excelso sobre todos os povos, sua glória ultrapassa a altura dos céus. (Sl 112, 3-4)
Quarta-feira, 14 de agosto-2024. 19ª SEMANA DO TEMPO COMUM-B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,15-20)
Naquele tempo, disse Jesus: 15Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. 16Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. 17Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. 18Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu. 19Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. 20Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.
3) Reflexão Mateus 18,15-20
No evangelho de hoje e de amanhã vamos ler e meditar a segunda parte do Sermão da Comunidade. O evangelho de hoje fala da correção fraterna (Mt 18,15-18) e da oração em comum (Mt 18,19-20). O de amanhã fala do perdão (Mt 18,21-22) e traz a parábola do perdão sem limites (Mt 18,23-35). A palavra chave desta segunda parte é “perdoar”. O acento cai na reconciliação. Para que possa haver reconciliação que permita o retorno dos pequenos, é importante saber dialogar e perdoar. pois o fundamento da fraternidade é o amor gratuito de Deus. Só assim a comunidade será um sinal do Reino. Não é fácil perdoar. Certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem: "Eu perdôo, mas não esqueço!" Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação.
A organização das palavras de Jesus nos cinco grandes Sermões do evangelho de Mateus mostra que, já no fim do primeiro século, as comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade (Mt 18,1-35), por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder em caso de algum conflito entre os membros da comunidade e como encontrar critérios para solucionar os conflitos. Mateus reuniu aquelas frases de Jesus que pudessem ajudar as comunidades do fim do primeiro século a superar os dois problemas agudos que elas enfrentavam naquele momento, a saber, a saída dos pequenos por causa do escândalo de alguns e a necessidade de diálogo para superar o rigorismo de outros e acolher os pequenos, os pobres, na comunidade.
Mateus 18,15-18: A correção fraterna e o poder de perdoar.
Estes versículos trazem normas simples de como proceder no caso de algum conflito na comunidade. Se um irmão ou uma irmã pecar, isto é, se tiver um comportamento não de acordo com a vida da comunidade, não se deve logo denunciá-los. Primeiro, procure conversar a sós. Procure saber os motivos do outro. Se não der resultado, leve mais duas ou três pessoas da comunidade para ver se consegue algum resultado. Só em caso extremo, deve levar o problema para a comunidade toda. E se a pessoa não quiser escutar a comunidade, que ela seja para você “como um publicano ou pagão”, isto é, como alguém que já não faz parte da comunidade. Não é você que está excluindo, mas é a pessoa, ela mesma, que se exclui a si mesma. A comunidade reunida apenas constata e ratifica a exclusão. A graça de poder perdoar e reconciliar em nome de Deus foi dada a Pedro (Mt 16,19), aos apóstolos (Jo 20,23) e, aqui no Sermão da Comunidade, à própria comunidade (Mt 18,18). Isto revela a importância das decisões que a comunidade toma com relação a seus membros.
Mateus 18,19: A oração em comum
A exclusão não significa que a pessoa seja abandonada à sua própria sorte. Não! Ela pode estar separada da comunidade, mas nunca estará separada de Deus. Caso a conversa na comunidade não der resultado e a pessoa não quiser integrar-se na vida da comunidade, resta o último recurso de rezar juntos ao Pai para conseguir a reconciliação. E Jesus garante que o Pai vai atender: “Se dois de vocês na terra estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está no céu”.
Mateus 18,20: A presença de Jesus na comunidade.
O motivo da certeza de ser ouvido pelo Pai é a promessa de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles!” Jesus é o centro, o eixo, da comunidade e, como tal, junto com a Comunidade ele estará rezando conosco ao Pai, para que conceda o dom do retorno ao irmão ou à irmã que se excluiu.
4) Para um confronto pessoal
- Por que será que é tão difícil perdoar? Na nossa comunidade existe espaço para a reconciliação? De que maneira?
- Jesus disse: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estarei no meio deles". O que significa isto para nós hoje?
5) Oração final
Louvai, ó servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. Bendito seja o nome do Senhor, agora e para sempre. (Sl 112, 1-2)
O sequestro da fé
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Jesus não tem escapado ao escrutínio da investigação histórica
Filme 'O sequestro do Papa' — Foto: Divulgação
Miguel de Almeida
Numa tarde qualquer, um padre entra secundado por alguns policiais na casa de uma família judia e leva o filho de 6 anos. O garoto será educado pela Igreja. O pai não poderá sequer reclamar ao Papa, porque é ele quem ordena o rapto. A lei permite: não católicos não podem criar crianças na religião.“O sequestro do Papa”, obra-prima do italiano Marco Bellocchio, 84 anos, conta a história verídica de Edgardo Mortara na Bolonha do século XIX. Filho de judeus, foi batizado às escondidas por uma empregada.
Não se sequestram mais crianças para serem educadas pela Igreja (até o momento em que escrevo). Também o Papa não possui o mesmo poder absolutista. Por ceder um anel ou outro, Papa Francisco é chamado de comunista pela extrema direita. O secularismo avançou com a ciência — a expectativa de vida quase dobrou desde o rapto de Edgardo, em 1857. Nada disso parece importar.
Tipicamente humano, o avanço do conhecimento com os desafios aos dogmas bíblicos produz um reavivamento das religiões, num aguçamento de vai e volta de crenças. Já se manipulam os genes, até com a prevenção a futuras doenças, embora ainda permaneça uma religiosidade apoiada em superstições brotadas no sol do deserto oriental.
O Papa não abduz mais as crianças de famílias judias, assim como a excomunhão perdeu seu valor de face; não se queimam mais os ímpios nas fogueiras das praças e o índex de livros proibidos não incomoda os fiéis, pelo contrário, cada vez mais surge uma literatura especializada em destronar Deus (só com H: Harari, Hitchens… etc.) e ironizar os preceitos e as fantasias bíblicas (a virgindade de Maria ou a ressurreição como exemplos).
Também Jesus não tem escapado ao escrutínio da investigação histórica. Ao longo dos séculos sua epopeia foi reconstruída, com episódios cortados ou rearrumados para deixá-lo mais adequado na fita. “Heresy” (ainda inédito por aqui), da historiadora e jornalista inglesa Catherine Nixey, apoia-se em diversos relatos (tal a Bíblia) e livros banidos pela religião oficial. O avanço católico, depois de se tornar o credo de Roma no século IV, tratou de derrubar os templos pagãos e desaparecer com narrativas menos cristãs (heréticas, como diziam) de alguns de seus ícones. Mas sempre sobram testemunhas. (Você está enganado se acha que apenas os relógios Rolex unem Bolsonaro a Lula.)
Na nova obra de Nixey, cujo subtítulo é “Jesus e os outros filhos de Deus”, surgem vários episódios da vida de Cristo capazes de desorientar os pios das redes sociais. Mesmo sendo divino, escapou de ser uma flor de correção. Nixey elenca algumas versões sobre a vida de Cristo, entre as quais teria assassinado adversários e rejeitado os pais. Comenta-se ainda sobre a existência de um irmão gêmeo e de seu comportamento assaz errático com seus semelhantes — essa história de reaparecer só na Quarta de Cinzas, sei não. Como se vê, a vida não é fácil para ninguém. Não me assusto porque, afinal, ele teria vindo à Terra para ser um igual dos homens — portanto, capaz de cometer seus (digamos) deslizes. Ninguém é perfeito, diria Billy Wilder pela boca de Jack Lemmon.
Mas em nossa época digital cada um possui a sua opinião e os seus fatos. Quase todos os republicanos acreditam que Trump venceu a eleição em 2020. Outros duvidam da chegada do homem à Lua. Apesar de Nietzsche, ainda no século XIX, haver declarado que a humanidade matou Deus, os novos adventos tecnológicos não parecem arrefecer o desejo pela religiosidade. Pelo contrário.
Em nome da fé não se sequestram mais garotos porque os religiosos contemporâneos exercem seu poder por outros meios. Está tudo dominado, tudo terceirizado. Cada vez mais se dá pela lei dos homens; a partir do Estado dito laico que as mordaças são tecidas. Crenças são vertidas em legislação, sob o risco de aprisionamento. A laicidade é um sonho de verão — haja vista a tolerância com os jogadores de futebol agradecendo seus gols a alguma entidade divina ou o descaso com a perseguição aos rituais afrodescendentes.
Embora fosse útil, não é mais a economia que pauta a política — é a religião. “Deus acima de tudo” e “Deus, pátria, família” estão estampados nos discursos da extrema direita. Não adiantam os fatos — como a derrocada de Roma com a adoção do catolicismo ou o início da Revolução Industrial sem a mão pesada da igreja apostólica. Isso é História, e lá não existem milagres, só reprises: a fé dos outros que nos condenam ao atraso aumenta quando a humanidade anda mais rápido. É quando deixam de contar os dízimos e fazem leis. Fonte: https://oglobo.globo.com
Quinta-feira, 8 de agosto-2024. 18ª SEMANA DO TEMPO COMUM-B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Manifestai, ó Deus, vossa inesgotável bondade para com os vosso filhos que vos imploram e se gloriam de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação, e conservando-a renovada. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 16, 13-23)
13Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? 14Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. 15Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? 16Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! 17Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. 20Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. 21Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia. 22Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá! 23Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!
3) Reflexão Mateus 16,13-23
Estamos na parte narrativa entre o Sermão das Parábolas (Mt 13) e o Sermão da Comunidade (Mt 18). Nestas partes narrativas que ligam entre si os cinco Sermões, Mateus costuma seguir a sequência do Evangelho de Marcos. De vez em quando, ele cita outras informações, também conhecidas por Lucas. E aqui e acolá, ele traz textos que só aparecem no evangelho de Mateus, como é o caso da conversa entre Jesus e Pedro do evangelho de hoje. Este texto recebe interpretações diversas e até opostas nas várias igrejas cristãs.
Naquele tempo, as comunidades cultivavam uma ligação afetiva muito forte com as lideranças que tinham dado origem à comunidade. Por exemplo, as comunidades de Antioquia na Síria cultivavam a sua ligação com a pessoa de Pedro. As da Grécia, com a pessoa de Paulo. Algumas comunidades da Ásia, com a pessoa do Discípulo Amado e outras com a pessoa de João do Apocalipse. Uma identificação com estes líderes da sua origem ajudava as comunidades a cultivar melhor a sua identidade e espiritualidade. Mas também podia ser motivo de briga, como no caso da comunidade de Corinto (1 Cor 1,11-12).
Mateus 16,13-16: As opiniões do povo e dos discípulos a respeito de Jesus.
Jesus faz um levantamento da opinião do povo a respeito da sua pessoa, o Filho do Homem. As respostas são variadas: João Batista, Elias, Jeremias, algum dos profetas. Quando Jesus pergunta pela opinião dos discípulos, Pedro se torna porta-voz e diz: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” A resposta não é nova. Anteriormente, os discípulos já tinham dito a mesma coisa (Mt 14,33). No Evangelho de João, a mesma profissão de fé é feita por Marta (Jo 11,27). Ela significa que em Jesus se realizam as profecias do Antigo Testamento.
Mateus 16,17: A resposta de Jesus a Pedro: "Feliz você, Pedro!"
Jesus proclama Pedro “Feliz!”, porque recebeu uma revelação do Pai. Aqui também a resposta de Jesus não é nova. Anteriormente, Jesus tinha louvado o Pai por ele ter revelado o Filho aos pequenos e não aos sábios (Mt 11,25-27) e tinha feito a mesma proclamação de felicidade aos discípulos por estarem vendo e ouvindo coisas novas que, antes deles, ninguém conhecia nem tinha ouvido falar (Mt 13,16).
Mateus 16,18-20: As atribuições de Pedro: Ser pedra e tomar conta das chaves do Reino.
- Ser Pedra: Pedro deve ser pedra, isto é, deve ser fundamento firme para a igreja a ponto de ela poder resistir contra as portas do inferno. Com estas palavras de Jesus a Pedro, Mateus anima as comunidades perseguidas da Síria e da Palestina que viam em Pedro a liderança marcante da sua origem. Apesar de fraca e perseguida, a comunidade tem fundamento firme, garantido pela palavra de Jesus. A função de ser pedra como fundamento da fé evoca a palavra de Deus ao povo no exílio: “Vocês que buscam a Deus e procuram a justiça, olhem para a rocha (pedra) de onde foram talhados, olhem para a pedreira de onde foram extraídos. Olhem para Abraão seu pai e para Sara sua mãe. Quando os chamei, eles eram um só, mas se multiplicaram por causa da minha bênção”. (Is 51,1-2). Indica que em Pedro existe um novo começo do povo de Deus.
- As chaves do Reino: Pedro recebe as chaves do Reino. O mesmo poder de ligar e desligar é dado também às comunidades (Mt 18,18) e aos outros discípulos (Jo 20,23). Um dos pontos em que o evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação e o perdão. É uma das tarefas mais importantes dos coordenadores e coordenadoras das comunidades. Imitando Pedro, devem ligar e desligar, isto é, fazer com que haja reconciliação, aceitação mútua, construção da fraternidade, até setenta vezes sete (Mt 18,22).
Mateus 16,21-22: Jesus completa o que faltava na resposta de Pedro, e este reage.
Jesus começou a dizer: “que devia ir a Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Dizendo que devia ir e devia ser morto, ou que era necessário sofrer, ele indicava que o sofrimento estava previsto nas profecias. O caminho do Messias não é só de triunfe de glória, também de sofrimento e de cruz! Se Pedro aceita Jesus como Messias e Filho de Deus, deverá aceitá-lo também como o Messias Servo que vai ser morto. Mas Pedro não aceita a correção de Jesus e procura dissuadi-lo. Levou Jesus para um lado, e o repreendeu, dizendo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!".
Mateus 16,23: A resposta de Jesus a Pedro: pedra de tropeço
A resposta de Jesus é surpreendente. Pedro queria orientar Jesus tomando a dianteira. Jesus reage: "Sai daqui para atrás de mim. Você é satanás e uma pedra de tropeço para mim. Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!" Pedro deve seguir Jesus, e não o contrário. É Jesus que dá a direção. Satanás é aquele que desvia a pessoa do caminho traçado por Deus. Novamente, aparece a expressão pedra, mas agora em sentido oposto. Pedro, ora é pedra de apoio, ora é pedra de tropeço! Assim eram as comunidades da época de Mateus, marcadas pela ambiguidade. Assim, somos todos nós e assim é, no dizer de João Paulo II, é o próprio papado, marcado pela mesma ambiguidade de Pedro: pedra de apoio na fé e pedra de tropeço na fé.
4) Para um confronto pessoal
- Quais as opiniões que na nossa comunidade existem sobre Jesus? Estas diferenças na maneira de viver e expressar a fé enriquecem a comunidade ou prejudicam a caminhada?
- Que tipo de pedra é a nossa comunidade? Qual a missão que resulta disso para nós?
5) Oração final
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza. De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito. (Sl 50, 12-13)
Nicarágua: detido reitor do Seminário de Matagalpa
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O padre Jarvin Tórrez e um agente de pastoral da Paróquia Santa María de Guadalupe foram detidos no dia 5 de agosto pelas autoridades nicaraguenses.
Vatican News
No dia 5 de agosto, outro sacerdote foi preso na Diocese de Matagalpa, na Nicarágua.
O reitor do Seminário San Luis Gonzaga, padre Jarvin Tórrez, foi detido pelas autoridades, segundo relatos de paroquianos à imprensa independente. Nesta ocasião, também foi preso um agente de pastoral da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, também administrada pelo padre Tórrez.
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Já são treze os sacerdotes detidos nos últimos dias na Nicarágua. Em sua maioria pertencentes à Diocese de Matagalpa, cujo bispo dom Rolando José Álvarez foi exilado no dia 14 de janeiro.
Em março de 2023, a República da Nicarágua solicitou à Santa Sé o fechamento das respectivas sedes diplomáticas, sem uma ruptura total das suas relações. Fonte: https://www.vaticannews.va
Evangelho do Dia: A Voz de um Profeta
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Evangelho do Dia: Um Olhar - (Mt 14,1-12)- com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita da Ordem do Carmo e Jornalista. Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Vila Kosmos- Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Sábado, 3 de agosto-2024.
Sexta-feira, 2 de agosto-2024. 17ª SEMANA DO TEMPO COMUM-B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo: redobrai de amor para convosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,54-58)
54Foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos diziam admirados: Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? 55Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isso? 57E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado. 58E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.
3) Reflexão
O evangelho de hoje conta como foi a visita de Jesus à Nazaré, sua comunidade de origem. A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. Onde não há fé, Jesus não pode fazer milagre.
Mateus 13, 53-57ª: Reação do povo de Nazaré frente a Jesus.
É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador, mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião. O povo ficou admirado, não entendeu a atitude de Jesus: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” Jesus, filho do lugar, que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Nazaré ficou escandalizado e não o aceitou: “Não é ele o filho do carpinteiro?” O povo não aceitou o mistério de Deus presente num homem comum como eles conheciam Jesus. Para poder falar de Deus ele teria de ser diferente. Como se vê, nem tudo foi bem sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que se recusavam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa, mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram aqui conosco? Então, de onde vem tudo isso?" Não deram conta de crer.
Mateus 13, 57b-58: Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré.
Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: "Um profeta só não é honrado em sua própria pátria e em sua família". De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.
Os irmãos e as irmãs de Jesus.
A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
4) Para um confronto pessoal
- Em Jesus algo mudou no seu relacionamento com a Comunidade de Nazaré. Desde que você começou a participar na comunidade, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a família? Por que?
- A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?
5) Oração final
Eu, porém, miserável e sofredor, seja protegido, ó Deus, pelo vosso auxílio. Cantarei um cântico de louvor ao nome do Senhor, e o glorificarei com um hino de gratidão. (Sl 68, 30-31)
Quinta-feira, 1º de agosto-2024. 17ª SEMANA DO TEMPO COMUM-Ano Litúrgico B. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo: redobrai de amor para convosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,47-53)
Naquele tempo, disse Jesus a multidão: 47O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie.48Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.49Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos50e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.51Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.52Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas.53Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.
Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar
"O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”. A história contada é bem conhecida do povo da Galiléia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).
Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola
Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes." Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo
Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola
No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Ele responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas". A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.
(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a idéia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. . O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!
4) Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?
5) Oração final
Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor por toda a vida. Salmodiarei ao meu Deus enquanto existir. (Sl 145, 1-2)
Festa de São Tiago Apóstolo - 25 de julho.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que pelo sangue de São Tiago consagrastes as primícias dos trabalhos Apostólicos, concedei que a vossa igreja seja confirmada pelo seu testemunho e sustentada pela sua proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 20, 20-28)
20A mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e prostrou-se para lhe fazer um pedido. 21Ele perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23“Sim”, declarou Jesus, “do meu cálice bebereis, mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda não depende de mim. É para aqueles a quem meu Pai o preparou”. 24Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse: “Sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, 27e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. 28Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.
3) Reflexão (Mateus 20,20-28)
Jesus e os discípulos estão a caminho de Jerusalém (Mt 20,17). Jesus sabe que vão matá-lo (Mt 20,8). O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não será fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas será conseqüência do compromisso livremente assumido de ser fiel à missão que recebeu do Pai junto aos pobres da sua terra. Jesus já tinha avisado que o discípulo deve seguir o mestre e carregar sua cruz atrás dele (Mt 16,21.24), Mas os discípulos não entendiam bem o que estava acontecendo (Mt 16,22-23; 17,23). O sofrimento e a cruz não combinavam com a idéia que eles tinham do messias.
Mateus 20,20-21: O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. A mãe dos filhos de Zebedeu, como porta-voz de seus dois filhos Tiago e João, chega perto de Jesus para pedir um favor: "Promete que meus dois filhos se sentem, um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino". Eles não tinham entendido a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete as tensões nas comunidades, tanto no tempo de Jesus e de Mateus, como hoje nas nossas comunidades.
Mateus 20,22-23: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza. Ele responde aos filhos e não à mãe: "Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso, vocês podem beber o cálice que eu vou beber?" Trata-se do cálice do sofrimento. Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar sua vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Era uma resposta sincera e Jesus confirma: "Vocês vão beber do meu cálice”. Ao mesmo tempo, parece uma resposta precipitada, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mt 26,51). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. E Jesus completa: “Não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou esquerda. É meu Pai quem dará esses lugares àqueles para os quais ele mesmo preparou". O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice do sofrimento da cruz.
Mateus 20,24-27: Entre vocês não seja assim
“Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram com raiva dos dois irmãos”. O pedido que a mãe fez em nome dos dois, provocou briga e discussão no grupo. Jesus os chamou e falou sobre o exercício do poder:"Vocês sabem: os governadores das nações têm poder sobre elas, e os grandes têm autoridade sobre elas. Entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês; e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês. Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!”. Naquele tempo, os que detinham o poder não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 14,3-12). O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste na atitude de serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve preparar uma alternativa. Quando império romano desintegrar, vítima das suas próprias contradições internas, as comunidades deverão estar preparadas para oferecer ao povo um modelo alternativo de convivência social.
Mateus 20,28: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua vida e a sua missão: “O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Nesta auto-definição de Jesus estão implicados três títulos que o definem e que eram para os primeiros cristãos o início da Cristologia: Filho do Homem, Servo de Javé e Irmão mais velho (Parente próximo ou Goêl). Jesus é o messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu da mãe que disse: “Eis aqui a serva do Senhor!”(Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.
4) Para um confronto pessoal
- Tiago e João pedem favores, Jesus promete sofrimento. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço na oração? Como acolho o sofrimento que acontece na vida e que é o contrário daquilo que pedimos na oração?
- Jesus diz: “Entre vocês não deve ser assim!” Nosso jeito de viver na comunidade e na igreja está de acordo com este conselho de Jesus?
5) Oração final
Então se comentava entre os povos: “O Senhor fez por eles maravilhas”. Maravilhas o Senhor fez por nós, encheu-nos de alegria. (Sl 125, 2-3)
22 de julho, Santa Maria Madalena.
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SANTA MARIA MADALENA: A APÓSTOLA DOS APÓSTOLOS
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos é festejada no dia vinte e dois de Julho, pelo calendário litúrgico romano. Ela foi a grande discípula do Senhor Jesus, a primeira a ver o Ressuscitado e proclamá-lo para os outros apóstolos, de modo que ela mereceu o título de ser a apóstola dos apóstolos. Santo Agostinho interpretou esta missão de Santa Maria Madalena, para anunciar aos outros o Ressuscitado, como graça grandiosa dada pelo Senhor à uma mulher para servir de modelo para todas as pessoas seguidoras do Senhor Jesus.
O anúncio de Maria Madalena aos apóstolos.
Maria Madalena anunciou aos apóstolos que o Senhor fora retirado do sepulcro (cf. Jo 20, 2). Os apóstolos foram até lá, no sepulcro e encontraram os panos de linho com que o corpo tinha sido envolvido. Pedro e João ficaram numa atitude de observação. Desta forma, os discípulos voltaram para o lugar onde moravam e de onde saíram pois eles correram para o sepulcro (cf. Jo 20,5-10)1.
Maria continuou no sepulcro.
Enquanto os dois apóstolos voltaram para casa, Maria permaneceu no sepulcro, estando do lado de fora, chorando (cf. Jo 20,11). Os seus olhos procuravam o Senhor sem encontrá-lo dando-se em lágrimas, segundo o relato do Evangelho de São João, que para Santo Agostinho os olhos de Madalena eram mais aflitos por Ele ter sido retirado do sepulcro do que por ter sido morto no lenho, pois tinha presente em Jesus o grande Mestre, cuja vida lhes fora subtraída2.
A dor pelo choro de Maria Madalena.
Maria retinha uma dor junto ao sepulcro, estando numa situação de choro. No entanto ela inclinou-se para o interior do sepulcro (Jo, 20,11b). Segundo Santo Agostinho ela não ignorava que não se achava ali Aquele a quem procurava, uma vez que ela própria anunciou aos discípulos que o corpo do Senhor dali tinha sido retirado e vindo até o sepulcro, procuraram o corpo do Senhor e não o encontraram3. Qual seria o significado do choro? Será que não dava crédito aos seus olhos? Ou seria ela movida por uma inspiração divina? Ela olhou dentro e viu dois anjos, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado , um à cabeceira e outro aos pés (cfr. Jo 20,12)4.
A palavra dos anjos.
“Por que choras?” (Jo 20, 13). Os anjos censuraram as lágrimas de Maria Madalena, segundo Santo Agostinho, porque de certo modo eles anunciavam a alegria futura, o encontro com o Jesus Ressuscitado5. Ela respondeu aos anjos que as pessoas levaram seu Senhor embora, indicando a parte pelo todo, assim como os fieis confessaram que Jesus Cristo é Verbo, alma, carne, Ele foi crucificado, sepultado, sendo apenas a sua carne que foi sepultada e ela, Maria Madalena e outras pessoas não sabiam onde o puseram. (cf. Jo 20, 13)6. Essa era segundo o bispo de Hipona a causa da dor, pois ela não sabia aonde ir para consolar aquela dor. No entanto a alegria sucederia aos choros, já anunciada pelos anjos que a ela censuravam o pranto7.
Ela viu Jesus.
Ela voltou-se e viu Jesus de pé, mas não o reconheceu, de modo que Jesus lhe disse: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”(Jo 20,15). Pensando que fosse o jardineiro ela queria saber onde tinha sido colocado o corpo do Senhor. Mas Jesus lhe disse: “Maria!” e ela lhe disse: “Rabbuni, que dizer: Mestre!” (Jo 20,16). O bispo de Hipona afirmou que Ela honrava um homem e Deus a quem suplicava um benefício e na qual tinha aprendido a discernir as realidades humanas e divinas. Ela chamava de Senhor, aquele do qual não era escrava para chegar por meio Dele, a quem era de fato, seu Senhor. Ela disse Rabbuni ao perceber o seu corpo, mas também o reconheceu com o coração, o Senhor8.
A palavra de Jesus.
“Jesus lhe disse: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus’” (Jo 20,17). Para Santo Agostinho existe um ensinamento muito importante nas palavras de Jesus para Maria Madalena. Jesus lhe ensinou a fé para aquela mulher, que o chamou de Mestre, e Aquele jardineiro, o Senhor, que sendo o Ressuscitado semeava no coração dela, assim como em seu jardim, o grão de mostarda que deveria crescer pelas virtudes9. Ele pediu para Maria Madalena para não o tocar pois Jesus quis que se cressem n’Ele assim, daquela forma, que tocando-o espiritualmente pois Ele próprio e o Pai são um (Jo 17, 21. A palavra de Jesus para não tocá-lo, aludia também à fé no seguidor e na seguidora de Cristo, reconhecendo-o igual ao Pai10.
A continuação do diálogo com Maria Madalena.
Jesus disse a ela que Ele não tinha subido ao seu Pai e ao Pai dela, para lá sem o tocar, quando ela crer Jesus como Deus, não desigual em relação ao Pai, mas sim igual a Ele11. Jesus disse ao meu Deus e vosso Deus: “Meu tem o significado por natureza, vosso, por graça”12. Jesus falou de sua condição humana e divina: “é meu Deus, sob o qual eu também sou homem, e é vosso, porque entre Ele e vós, sou Mediador”13. Jesus é reconhecido na sua ressurreição como homem e como Deus, o verdadeiro e único Mediador entre
Deus e a humanidade.
“Vi o Senhor” (Jo 20,18): A Apóstola dos Apóstolos.
Maria Madalena foi enviada por Jesus para dizer aos apóstolos que ela viu o Senhor ressuscitado e contou o que Ele lhe havia dito (cfr. Jo 20,18)14. Maria Madalena tornou-se a grande anunciadora de Jesus Ressuscitado entre os discípulos do Senhor, a qual ela é considerada a Apóstola dos Apóstolos, a primeira pessoa, mulher a ver o Jesus Ressuscitado e o anunciou aos outros, aos discípulos.
Nós somos chamados a ser como Maria Madalena, anunciadores da ressurreição do Senhor em nossas vidas de seguidores e de seguidoras do Senhor Jesus Cristo. Ao longo da vida nós temos momentos de oração, de convívio com o Ressuscitado pela eucaristia e outros sacramentos e também somos chamados a fazer obras de caridade, ajudando às pessoas necessitadas, pobres. Nós vivamos a alegria e o amor do Senhor que está em nosso meio e em todas as pessoas que lutam pela justiça, pela fraternidade, pelo amor neste mundo e um dia viver para sempre com o Senhor e com todas as pessoas que assumiram o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, assim como fez Santa Maria Madalena. Fonte: https://www.cnbb.org.br
SENHORA DO CARMO
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Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Neste mês de julho, dia 16, a Igreja recorda a Mãe de Jesus, por um de seus títulos mais conhecidos: Nossa Senhora do Carmo ou do monte Carmelo. O monte Carmelo era local de vegetação exuberante, por isso o nome Carmelo que quer dizer jardim ou pomar. Muitas mulheres trazem este nome e são homenageadas neste dia.
Este título é herança e recordação do Profeta Elias, como defensor do único Deus. No monte Carmelo o profeta derrotou a idolatria, repropondo o culto ao Deus único. Foi neste monte que o profete viu uma nuvem surgir do mar em época de seca prolongada, nuvem que cresceu e fez chover (1Rs 18,20-46). Segundo a tradição, neste monte, o profeta instituiu um grupo de discípulos penitentes e solitários, dedicados à oração.
Posteriormente neste local de forma mais organizada, surgiu no século XII um grupo de monges dedicados a orar initerruptamente, louvando a Deus. Ali construiram uma capelinha na qual invocavam a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Quando foram expulsos pelos sarracenos, os monges foram para Europa, onde a devoção se espalhou. Neste período difícil, o superior da Ordem Carmelita, S. Simão Stok, invoca Nossa Senhora e ela lhe aparece, como a vemos na imagem de Nossa Senhora do Carmo, e lhe entrega o escapulário, com a promessa de que, os que o usarem obteriam de Cristo a salvação eterna.
Esta devoção veio para a América Latina quando os frades carmelitas chegaram ao Brasil junto com os portugueses. Nas figuras de Elias, chamado Profeta do Carmelo e Maria, chamada a Flor do Carmelo, encontramos uma ligação entre a Antiga e Nova Aliança.
A espiritualidade carmelita propõe a profecia de amar a Deus acima de tudo e, trabalhar para que seja glorificado como o fez Elias. É a profecia. Também propõe Maria como modelo de vida de fé e oração, simples e escondida, na qual todos os gestos são meios de acolher a vida divina que está em nosso meio. É a contemplação.
No centro de Santo André, situa-se o templo religioso, a igreja de Nossa Senhora do Carmo, chamada popularmente igreja do Carmo, na praça do mesmo nome: Praça do Carmo. É um ponto referencial da cidade, por ser hoje a Catedral da Diocese de Santo André, criada em 1954 e que este ano comemora setenta anos de sua criação. Porém, a Catedral do Carmo, além da referência religiosa e histórica, tem um valor devocional e religioso imenso.
Construída por iniciativa do Padre Capra, foi feita com doações dos fiéis, como a de Antonio Queiroz dos Santos que deu o terreno e uma doação generosa, por entidades de classe, entre outros. A pedra fundamental foi lançada em 1917 e sua construção, dirigida pelo engenheiro Pounchon e outros, se deu por etapas, até que foi inaugurada em 1958.
A escolha do artista para a decoração da igreja foi realizada por meio de concurso ganho pelos irmãos Bastiglia, que trabalharam nela de 1952 até 1957. Ela foi recentemente restaurada e é amparada pela Lei nº 846, de 30.11.1953, que declara o bem como “monumento arquitetônico”.
Peçamos a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, que ela não permita afogarmos nas nossas pequenas preocupações, também nas grandes. Que ela nos ajude a aceitar o mistério de Jesus Cristo de forma mais radical em nossa vida. Sobretudo nos ajude a manter acesa a chama da gratidão a Deus: “Minha alma engrandece o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu salvador!”. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Quinta-feira, 11 de julho-2024. 14º Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 10, 7-15)
7Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai! 9Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, 10nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento. 11Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida. 12Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. 13Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós. 14Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés. 15Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.
3) Reflexão Mateus 10,7-15
O evangelho de hoje traz a segunda parte do envio dos discípulos. Ontem vimos a insistência de Jesus em dirigir-se primeiro para as ovelhas perdidas de Israel. Hoje, veremos as instruções concretas de como realizar a missão.
Mateus 10,7: O objetivo da missão: revelar a presença do Reino.
“Vão e anunciem: O Reino do Céu está próximo”. O objetivo principal é anunciar a proximidade do Reino. Aqui está a novidade trazida por Jesus. Para os outros judeus ainda faltava muito para o Reino poder chegar. Só chegaria, depois que eles tivessem realizado a sua parte. A chegada do Reino dependia do esforço deles. Para os fariseus, por exemplo, o Reino só chegaria quando a observância da Lei fosse perfeita. Para os Essênios, quando o país fosse purificado. Jesus pensa diferente. Ele tem outra maneira de ler os fatos. Ele diz que o prazo já se esgotou (Mc 1,15). Quando ele diz que o Reino está próximo ou que o Reino chegou, Jesus não quer dizer que o Reino estava chegando só naquele momento, mas sim que já estava aí, independentemente do esforço feito pelo povo. Aquilo que todos esperavam, já estava presente no meio do povo, gratuitamente, mas o povo não o sabia, nem o percebia (cf. Lc 17,21). Jesus o percebeu! Pois ele lia a realidade com um olhar diferente. E é esta presença escondida do Reino no meio do povo, que ele vai revelar e anunciar aos pobres da sua terra (Lc 4,18). Esta é a semente de mostarda que vai receber a chuva da sua palavra e o calor do seu amor.
Mateus 10,8: Os sinais da presença do Reino: acolher os excluídos.
Como anunciar a presença do Reino? Só por meio de palavras e discursos? Não! Os sinais da presença do Reino são antes de tudo gestos concretos, realizados de graça: “Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça”. Isto significa que os discípulos devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica tanto a religião como a sociedade excludente, e aponta saídas concretas.
Mateus 10,9-10: Não levar nada no caminho
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada: “Não levem nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento”. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz (Mc 10,13), mostra que confia no povo. Acredita que vai ser acolhido, que vai poder participar da vida e do trabalho do povo do lugar e que vai poder sobreviver com aquilo que receberá em troca, pois o operário direito ao seu alimento. Isto significa que os discípulos devem confiar na partilha Por meio desta prática eles criticam as leis de exclusão e resgatam os antigos valores da convivência comunitária.
Mateus 10,11-13: Partilhar a paz na comunidade.
Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas devem procurar uma pessoa de Paz e permanecer nesta casa. Isto é, devem conviver de maneira estável. Assim, por meio desta nova prática, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano, e anunciam um novo modelo de convivência. Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem gritar: O Reino chegou! Anunciar o Reino não consiste, em primeiro lugar, em ensinar verdades e doutrinas, mas sim em provocar a uma nova maneira fraterna de viver e de conviver a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai e Mãe de todos e de todas.
Mateus 10,14-15: A severidade da ameaça.
Como entender esta ameaça tão severa? É que Jesus não veio trazer uma coisa totalmente nova. Ele veio resgatar os valores comunitários do passado: a hospitalidade, a partilha, a comunhão de mesa, a acolhida aos excluídos. Isto explica a severidade contra os que recusam a mensagem. Pois eles não recusam algo novo, mas sim o seu próprio passado, a sua própria cultura e sabedoria! A pedagogia de Jesus tem por objetivo desenterrar a memória, resgatar a sabedoria do povo, reconstruir a comunidade, renovar a Aliança, refazer a vida.
4) Para um confronto pessoal
1) Como realizar hoje a recomendação de não levar nada no caminho quando se vai em missão?
2) Jesus manda procurar uma pessoa de paz, para poder viver na casa dela. Quais seria hoje uma pessoa de paz a quem nos dirigir no anúncio da Boa Nova?
5) Oração final
Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha. Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou. (Sl 79, 15-16)
Quarta-feira, 10 de julho-2024. 14º Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 10, 1-7)
1Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade. 2Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. 3Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. 4Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 5Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem entrareis em Samaria; 6ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel. 7Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
3) Reflexão Mateus 10,1-7
No capítulo 10 do Evangelho de Mateus começa o segundo grande discurso, o Sermão da Missão. Mateus organizou o seu evangelho como uma nova edição da Lei de Deus ou como um novo “pentateuco” com seus cinco livros. Por isso, o seu evangelho traz cinco grande discursos ou ensinamentos de Jesus, seguidos por partes narrativas, nas quais ele descreve como Jesus praticava o que tinha ensinado nos discursos. Eis o esquema:
Introdução: nascimento e preparação do Messias (Mt 1 a 4)
- Sermão da Montanha: a porta de entrada no Reino (Mt 5 a 7)
Narrativa Mt 8 e 9
- Sermão da Missão: como anunciar e irradiar o Reino (Mt 10)
Narrativa Mt 11 e 12
- Sermão das Parábolas: o mistério do Reino presente na vida (Mt 13)
Narrativa Mt 14 a 17
- Sermão da Comunidade: a nova maneira de conviver no Reino (Mt 18)
Narrativa 19 a 23
- Sermão da vinda futura do Reino: a utopia que sustenta a esperança (Mt 24 e 25)
Conclusão: paixão, morte e ressurreição (Mt 26 a 28).
O evangelho de hoje traz o início do Sermão da Missão, no qual se acentuam três assuntos: (1) o chamado dos discípulos (Mt 10,1); (2) a lista dos nomes dos doze apóstolos que vão ser os destinatários do sermão da missão (Mt 10,2-4); (3) o envio dos doze (Mt 10,5-7).
Mateus 10,1: O chamado dos doze discípulos
Mateus já tinha falado do chamado dos discípulos (Mt 4,18-22; 9,9). Aqui, no começo do Sermão da Missão, ele traz um resumo: “Então Jesus chamou seus discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritos maus, e para curar qualquer tipo de doença e enfermidade”. A tarefa ou missão do discípulo é seguir Jesus, o Mestre, formando comunidade com ele e realizando a mesma missão de Jesus: expulsar os espíritos maus, curar qualquer tipo de doença e enfermidade. No evangelho de Marcos, eles recebem a mesma dupla missão, formulada com outras palavras: Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,14-15). 1) Estar com ele, isto é, formar comunidade, na qual Jesus é o eixo. 2) Pregar e ter poder para expulsar demônio, isto é, anunciar a Boa Nova e combater o poder do mal que estraga a vida do povo e aliena as pessoas. Lucas diz que Jesus rezou a noite toda e, no dia seguinte, chamou os discípulos. Rezou a Deus para saber a quem escolher (Lc 6,12-13).
Mateus 10,2-4: A lista dos nomes dos doze apóstolos.
Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento. Por exemplo, Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também tinha o nome de Levi (Mc 2,14), que é outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete têm nome que vem do tempo dos patriarcas. Dois se chamam Simão; dois, Tiago; dois, Judas; um, Levi! Só tem um com nome grego: Filipe. Isto revela o desejo do povo de refazer a história desde o começo! Seria como hoje numa família bem brasileira, na qual todos os filhos têm nomes do tempo dos índios Raoni, Ubiratan, Jussara, etc, e só têm nome americano Washington. Vale a pena pensar nos nomes que hoje damos para os filhos. Como eles, cada um de nós é chamado por Deus pelo nome.
Mateus 10,5-7: O envio ou missão dos doze apóstolos para as ovelhas perdidas de Israel.
Depois de ter enumerado os nomes dos doze, Jesus os envia com estas recomendações: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Vão e anunciem: O Reino do Céu está próximo”. Nesta única frase há uma tripla insistência em mostrar que a preferência da missão é para com a casa de Israel: (1) Não tomar o caminho dos pagãos, (2) não entrar nas cidades samaritanas, (3) ir primeiro para as ovelhas perdidas de Israel. Aqui transparece uma resposta à dúvida dos primeiros cristãos em torno da abertura para os pagãos. Paulo, que afirmava com tanta firmeza a abertura para os pagãos, concorda em dizer que a Boa Nova trazida por Jesus devia ser anunciada primeiro aos judeus e, depois, aos pagãos (Rom 9,1 a 11,36; cf. At 1,8; 11,3; 13,46; 15,1.5.23-29). Mais adiante, no mesmo evangelho de Mateus, na conversa de Jesus com a mulher cananéia, acontecerá a abertura para os pagãos (Mt 15,21-29).
O envio dos apóstolos para todos os povos. Depois da ressurreição de Jesus, há vários episódios do envio dos apóstolos não só para os judeus, mas para todos os povos. Em Mateus: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estarei com convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). Em Marcos: “Ide por todo mundo, proclamai a Boa Nova a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado” (Mc 15-16). Em Lucas: "Assim está escrito: O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. E vocês são testemunhas disso. (Lc 24,46-48; At 1,8) João resume tudo nesta frase: “Como Pai me enviou, eu envio vocês!” (Jo 20,21) :
4) Para um confronto pessoal
- Você já pensou no significado do seu nome? Já perguntou a seus pais por que motivo lhe deram o nome que você tem? Você gosta do seu nome?
- Jesus chama os discípulos. O seu chamado tem uma dupla finalidade: formar comunidade e ir em missão. Como vivo esta dupla finalidade na minha vida?
5) Oração final
Recorrei ao Senhor e ao seu poder, procurai continuamente sua face. Recordai as maravilhas que operou, seus prodígios e julgamentos por seus lábios proferidos. (Sl 104, 4-5)
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