Cursos sobre finanças para evangélicos são a nova face da segmentação na área de investimento
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Com citações da Bíblia, aulas na internet e em igrejas ensinam a sair do vermelho, acertar as contas e ter vida mais próspera
Ana Paula Ribeiro
Cuidar e ganhar dinheiro com base nos preceitos de Deus. Essa é a proposta de um dos cursos da Universidade da Família, uma entidade educacional voltada a todas as denominações evangélicas com sede em Pompeia, no interior paulista. Quem participa das aulas de estudos financeiros bíblicos tem contato com mandamentos que não diferem muito do que é transmitido nos tradicionais cursos de educação financeira: organizar o orçamento doméstico, traçar uma estratégia para sair das dívidas e estabelecer metas financeiras . A diferença é que as explicações são apoiadas em trechos da Bíblia .
— Dentro do povo evangélico, o dinheiro pode ser visto como impuro. Não é. O problema é deixar o dinheiro ser o nosso senhor. Nesse caso, a questão não é ter pouco ou muito, mas como administrá-lo — diz Paulo Cesar Maximiano, diretor da Universidade da Família.
Não existe um levantamento sobre o número de igrejas que oferecem cursos semelhantes no país, mas o público potencial é a fatia crescente de evangélicos na população brasileira, que já chega a 30%. Um dos argumentos usados pelo diretor da Universidade da Família é que o fiel, ao gerir melhor o próprio dinheiro, pode ajudar o próximo e aumentar as contribuições à entidade que frequenta.
O estudo financeiro bíblico oferecido no interior paulista usa a metodologia Crown (coroa, em inglês), criada nos anos 1970 nos Estados Unidos por lideranças cristãs e adaptada para o Brasil em 2002. De acordo com a Crown, 2.350 versículos (subdivisões dos textos bíblicos) tratam de finanças e administração.
A capixaba Mirna Borges, coach financeira desde 2016, conta com quase 200 mil seguidores no Instagram, outros 900 mil no YouTube e é parceira do canal do banco BTG Digital. Depois de fazer o curso da Universidade da Família, ela decidiu mostrar aos seus seguidores os paralelos entre a educação financeira e os trechos bíblicos aprendidos na Crown.
— Eu sentia falta de unir meu conhecimento de educação financeira à palavra de Deus. Algumas pessoas pararam de me seguir, criticaram ou me ofenderam quando comecei com esses estudos, mas quero mostrar que é possível ter uma vida próspera e também orientada pela palavra — diz Mirna.
Demanda alta
Uma das igrejas que abre espaço para essas aulas é a Igreja Batista do Povo (IBP), em São Paulo, que passou de poucos interessados, até 2015, para cerca de 150 alunos ao ano desde então.
— Foi um aumento causado por questões sociais, pela crise. E, do nosso lado, vem a preocupação com as famílias. Uma das principais causas do divórcio é a presença de problemas financeiros nesses lares — explica Rafael Gadelha, pastor responsável pela área das famílias na IBP, lembrando que também há um curso voltado para a educação financeira de crianças e adolescentes.
Ao início e ao fim de cada aula, é feita uma oração. Também há espaço para que cada participante faça um pedido para ser contemplado nas preces dos demais fiéis do grupo — e não necessariamente precisa ser relacionado às finanças pessoais. Todos também são convidados a ler e decorar os versículos da Bíblia relacionados a finanças que permeiam cada capítulo.
— O objetivo é chegar àquele Dia D, ou seja, não tardar para pagar e sair das dívidas. E poder começar a poupar. A ideia é: junte agora e compre depois — explica Leandro Oliveira, um dos instrutores do curso, acrescentando que evitar as dívidas faz parte de um dos salmos da Bíblia.
Pastor investidor
O pastor Leandro Barreto, fundador da Igreja Poiema, com sede em Taubaté, no interior paulista, diz que o objetivo da iniciativa é mostrar aos fiéis que eles podem ter uma vida próspera. Ele mesmo passou a ser um investidor, mas adota uma estratégia considerada pela maioria dos especialistas da área de altíssimo risco.
— Tenho tudo em renda variável, 70% em ações e 30% em fundos imobiliários — conta Barreto, ressaltando que não dá conselhos sobre em que investir, mas sobre a importância de aprender a lidar com o dinheiro.
Os cursos financeiros para evangélicos são apenas mais um tipo de segmentação na crescente indústria de planejamento de investimentos no atual cenário de queda dos juros de aplicações de renda fixa. Jayme Carvalho, responsável pela área jurídica da Planejar, associação que reúne planejadores financeiros, lembra que não há uma regulamentação para pessoas ou instituições que oferecem educação financeira. Portanto, é preciso ter cuidado sobre quem dá os conselhos e quais realmente fazem sentido para quem escuta.
— A atividade do educador, planejador ou coach financeiro não tem regulamentação específica, então alguns profissionais fazem a prova para ter o certificado CFP (de planejador financeiro). Mas só quem tem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode orientar sobre onde investir — alerta Carvalho. Fonte: https://oglobo.globo.com
Carismáticos católicos se aproximam de evangélicos nos ritos e em Bolsonaro
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Carismáticos católicos se aproximam de evangélicos nos ritos e em Bolsonaro
Há 50 anos no Brasil, grupo hoje forma um bloco mais conservador do que a média do núcleo católico brasileiro
Anna Virginia Balloussier
CACHOEIRA PAULISTA (SP)
À primeira vista, quem é de fora pode se confundir. A RCC (Renovação Carismática Católica), que em 2019 completou 50 anos no Brasil, tem tantos pontos de confluência com o evangelismo pentecostal que gera dúvidas sobre sua natureza religiosa.
Vide comentários como este em redes sociais: "Carismático é um católico que não tem coragem de ser evangélico".
Apesar de muita gente, inclusive nacos mais tradicionalistas do Vaticano, pensar parecido, o movimento ganhou simpatia interna ao modernizar celebrações numa igreja que só a partir dos anos 1960 deixou de rezar missas em latim, com o sacerdote em geral de costas para os fiéis.
Símbolos da RCC no país, padres cantores e liturgias mais animadas se fortalecem como contraofensiva à retração católica diante do avanço de igrejas evangélicas. Afinal, uma fé que nos anos 1980 monopolizava a religiosidade verde-amarela, com nove em cada dez brasileiros se curvando à Santa Sé, agora caiu para a metade da população, e a queda deve continuar nos próximos anos.
Os mesmos líderes carismáticos que atualizaram os ritos da igreja hoje formam um bloco mais conservador do que a média do núcleo católico brasileiro. E têm mais apreço de Jair Bolsonaro do que a cúpula da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), vista pelo presidente e seu entorno como uma chaga esquerdista.
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Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro, um católico com esposa, filhos e diversos aliados evangélicos, chegou a classificar a entidade que reúne o bispado nacional como "a parte podre da Igreja Católica".
Bolsonaro vê com ressalvas a CNBB, que foi uma pedra no caminho da reforma da Previdência e apoiou o Sínodo para a Amazônia, um mal-estar para o governo. Já com lideranças carismáticas a relação é mais amigável.
Assim que venceu a eleição, o presidente visitou a Canção Nova, em Cachoeira Paulista, cidade que também abriga o escritório do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Nacionais), o órgão que tanto enervou o governo com dados que mostravam a escalada das queimadas na Amazônia.
Já neste que é um dos maiores braços da RCC brasileira, o céu foi de brigadeiro. Bolsonaro ouviu do monsenhor Jonas Abib, fundador da comunidade, que "o Brasil tem o presidente que precisava ter". Na sua vez de discursar, disse que, ao elegê-lo, o país "deu o recado que quer, não quer este progressismo todo que pregam por aí".
A bancada católica pode não ser tão midiática quanto seu par evangélico, mas zela pelos mesmos valores "família" (leia-se contra o aborto e causas LGBTI) e tem forte DNA carismático. Em setembro, Bolsonaro indicou para vice-líder do governo um de seus expoentes, Eros Biondini (Pros-MG), cantor cristão que entoa versos como "com solo de guitarra e a batera no ritmo de Deus".
Biondini é cria do Ministério Fé e Política, braço da RCC que incentiva fiéis fora do clero a entrarem na política. Para ele, pautas como "a da defesa da vida" unem católicos e evangélicos no Congresso e dão uma capa conservadora aos carismáticos que batem ponto em Brasília.
No mês passado, a Folha foi à sede da Canção Nova, e outras semelhanças com o movimento pentecostal e neopentecostal ficaram evidentes. Na TV homônima ao movimento, um apresentador falava em "repreender o demônio", esse coisa-ruim "com uma imaginação doentia". A linguagem é típica de igrejas como a Universal.
Na missa do dia, o padre pregou a necessidade de combater "aquele velho dizer do politicamente correto", que comparou a um vírus que "vai se debruçando em discursos como o de que é preciso combater a intolerância". Algo que poderia muito bem sair de um guia de introdução ao bolsonarismo.
A RCC nasceu nos EUA em 1967, dois anos antes de aportar no Brasil, e a princípio foi recebida de cara feia por boa parte da igreja. Essa má vontade se reduziu a uma minoria. Hoje, populariza-se com padres jovens como Fábio de Melo e acampamentos como o Curadas Para Amar, "cujo objeto é levar as participantes a trilharem um caminho de cura interior".
Em 2011, a reportagem acompanhou na cidade o PHN (Por Hoje Não), camping anual com milhares de jovens em Cachoeira Paulista, e por lá viu iniciativas como funkeiros cristãos que adaptavam a "Dança do Créu", hit da época, para "céééééu, céééééu, bate na palma da mão quem tem Jesus no coração".
A informalidade é um traço que os avizinha a evangélicos, mas não se pode olhar "simplesmente da perspectiva de disputar rebanho, número de convertidos, coisas desse tipo", diz o padre Wagner Ferreira da Silva, vice-presidente da Canção Nova.
Carioca que frequentava grupos de oração na mesma Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em que Bolsonaro se formou militar, o clérigo diz que é uma "questão de coerência" a igreja se posicionar ante os que "assumem posturas contrárias ao Evangelho", daí tantos conservadores entre os carismáticos.
"Alguns nos acham conservadores, outros o contrário disso, porque somos alegres, batemos palma", contemporiza Francisco Júnior (PSD-GO), presidente da frente católica na Câmara. "Muitos nos acham pentecostais demais, porque exercemos os dons, orações em línguas, toda aquela situação."
Falar em idiomas estranhos, algo comum entre nichos evangélicos, é tido como uma capacidade milagrosa cedida a alguns cristãos. Está na Bíblia: "Estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios, falarão novas línguas".
Já o dom de falar com Jair Bolsonaro, que muitos carismáticos possuem, não é universal no grupo, afirma o deputado. Internamente, "alguns concordam mais, outros se irritam mais. O corte transversal é característico da Igreja. Temos bom relacionamento com presidente, mas não direto".
No ano passado, o então presidenciável do PSL teve seu apoio porque, como disse Júnior a um jornal de seu estado, “tudo o que defendo é o contrário das propostas do petismo". Fonte: www1.folha.uol.com.br
AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. Festa de Todos os Santos e Santas de Deus.
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AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. Festa de Todos os Santos e Santas de Deus. Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. Domingo, 3 de novembro-2019. www.instagram.com/freipetronio
Dia de Finados: momento de rezar pelos fiéis defuntos que estão na eternidade
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Reverência, lembrança, saudade daqueles que não estão mais entre nós. O Dia dos Fiéis Defuntos, mais conhecido como dia de Finados é celebrado pelos católicos para lembrar daqueles dos fieis defuntos que foram morar na eternidade, e, consequentemente rezar por aqueles que padecem no purgatório.
Muitos gostam de visitar os cemitérios para deixar flores, acender velas por seus mortos, outros preferem assistir a Santa Missa ou apenas fazer uma oração/prece. O importante nesse momento não é o ritual ou a forma, mas a lembrança que habita o coração de todo ser humano.
O dia de finados, celebrado neste sábado, 2 de novembro, não é para ser um dia triste, mas um dia para olhar para trás e lembrar dos bons momentos que ficaram registrados no coração. Mas também é momento para refletir o que se professa todos os Domingos no Credo: “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. Afinal, o curso natural da vida é a morte. Para os cristãos, essa passagem para a vida eterna, na qual estaremos em plena comunhão com Deus.
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, gravou uma mensagem especial de esperança e fé para o dia dos fiéis defuntos.
“No dia de finados, dediquemos a oração a pessoas já falecidas reavivando nossa fé. Permaneçamos assim em comunhão com os que nos precederam na experiência da morte certos de que nos reencontraremos pela Graça de Deus Pai”, ressalta em um trecho do vídeo (disponível no final da matéria).
Em um artigo publicado no portal da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, explica que desde a época do cristianismo primitivo os cristãos rezavam por seus mortos, em especial pelos mártires, no local onde estes eram frequentemente enterrados: nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma.
“A oração pelos que já morreram é uma prática de várias religiões e que o cristianismo manteve. Documentos e monumentos dos primeiros séculos da nossa era já testemunham a prática entre os cristãos. Há túmulos cristãos dos séculos II e III que trazem orações pelos falecidos ou inscrições como: ‘Que cada amigo que veja isso reze por mim’”, destaca no texto.
Ainda de acordo com artigo de dom Orani, o costume de rezar pelos mortos foi sendo introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica. “O principal responsável pela instituição de uma data específica dedicada à alma dos mortos foi o monge beneditino Odilo da Abadia Beneditina de Cluny, na França”.
O catecismo da Igreja Católica diz que graças a Cristo, a morte tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente “morto com Cristo”, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este “morrer com Cristo” e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor. (§1010)
Visitas aos cemitérios
Em todo o Brasil, os cemitérios recebem milhares de pessoas que farão visitas aos seus entes queridos. Celebrações eucarísticas durante todo o dia estão programadas. Esta prática está grafada no parágrafo 2300 do Catecismo: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal (Tb 1,16-18) que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo”. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, vai celebrar a Santa Missa, às 9h, no cemitério Parque da Colina, no bairro Nova Cintra, em BH.
Sepultura e cremação
Desde outubro de 2016, a Igreja católica no mundo passou a adotar uma nova instrução da Congregação para a Doutrina da Fé sobre propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas no caso de cremação. A instrução ‘Ad resurgendum cum Christo’ da Congregação para a Doutrina da Fé foi apresentada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller. Segundo o documento, “a prática da cremação difundiu-se bastante em muitas Nações e, ao mesmo tempo, difundem-se também novas ideias contrastantes com a fé da Igreja”.
Código de Direito Canônico
A norma eclesiástica vigente em matéria de cremação de cadáveres é regulada pelo Código de Direito Canônico: “A Igreja recomenda vivamente que se conserve o piedoso costume de sepultar os corpos dos defuntos; mas não proíbe a cremação, a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.
Conservação as cinzas
“Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica”.
Segundo o documento, a conservação das cinzas em casa não é consentida. Somente em casos de circunstâncias graves e excepcionais, o Ordinário, de acordo com a CNBB ou o Sínodo dos Bispos das Igrejas Orientais, poderá autorizar a conservação das cinzas em casa. As cinzas, no entanto, não podem ser divididas entre os vários núcleos familiares e deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de conservação das mesmas.
Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos.
“Espera-se que esta nova Instrução possa fazer com que os fiéis cristãos tenham mais consciência de sua dignidade de filhos de Deus. Estamos diante de um novo desafio para evangelização da morte”, disse o Cardeal Müller, no lançamento da instrução ainda em 2016. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Quando eu morrer...
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Cemitério São João Batista/RJ. Neste cemitério, além dos frades carmelitas; Nuno e Bento, estão sepultados diversas personalidades, como José de Alencar, Cândido Portinari, Carmem Miranda, Tom Jobim, Santos Dumont, Vinícius de Moraes, Chacrinha, Clara Nunes, Cazuza, Elke Maravilha, Dias Gomes, Cazuza, Irineu Marinho, Olavo Bilac, Marcelo Caetano Presidente de Portugal, Santos-Dumont, nove ex-presidentes da República entre outros. www.olharjornalistico.com.br
Vida Comunitária: alguns elementos antropológicos e psicogrupais.
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Vida Comunitária: alguns elementos antropológicos e psicogrupais.
Pe. Edenio Valle, SVD
Introdução
Neste texto pretendo apresentar alguns elementos da chamada Psicologia social de grupo, com a intenção de ajudar as comunidades religiosas a considerarem com mais realismo e propriedade o que se passa em seu interior.
Quem conhece por dentro a realidade das comunidades religiosas sabe que essas são atravessadas pelas mesmas tensões que caracterizam qualquer outro grupo humano. Essas podem até superar as existentes em outros grupos pelo fato de se proporem como meta a busca de um sentido espiritual mais exigente ( missão e partilha ) em uma instituição e estilo de vida centrados nos valores do Evangelho do Reino no seguimento de Jesus. .
Para entender essa aparente contradição entre um ideal tão elevado e uma realidade freqüentemente tão humana é importante conhecer melhor algo do que acontece em grupos humanos. A presente reflexão quer ser uma ajuda nessa direção. Conhecer melhor a realidade de um grupo não é uma garantia imediata para o amadurecimento das relações que aí se estabelecem, mas pode colaborar no sentido de tornar mais verdadeiros os objetivos que a Vida Religiosa se propõe como uma comunidade de discípulos/as de Jesus pautada pela comunhão, pelo respeito mútuo e pela solidariedade que tanta falta fazem à sociedade humana hoje ainda mais marcada pelo subjetivismo, pela massificação e o hedonismo consumista.
- São muitos os objetivos, motivações e interesses que podem levar as pessoas a se organizarem em grupos dos mais diversos tipos. Ninguém pode viver sem estar de alguma maneira ligado a algum tipo de grupo. Isto é algo natural e necessário. De um modo geral tendemos a não prestar muita atenção ao que se passa em algo aparentemente tão “natural” ao qual fomos habituados desde a mais tenra infância já no seio de nossas famílias e culturas de origem. No entanto, os grupos humanos não são uma mera conseqüência das necessidades fisiológicas da sobrevivência de nossa espécie, como quer a Psicologia Evolucionária hoje em moda, por mais que essas pesem. Eles são construídos culturalmente a partir de uma complexa série de outras necessidades de natureza psicológica, social e cultural. São uma imposição também das necessidades econômicas. Nascem de interesses individuais, alguns extremamente narcisistas, que se contrapõem no dia a dia da vida grupal, tornando tensa a convivência. A dinâmica normal de um grupo é, por isto, marcada por um jogo sutil de forças que se atraem e se opõem. É nesse subsolo cheio de ambigüidades e aparências enganosas que se estabelece a trama afetiva dos processos reais de um grupo.
- O que os grupos humanos proclamam ser nem sempre bate com o que eles são de fato, psicossocialmente falando. Se tudo no jogo grupal fosse e saudável, as coisas não seriam tão sinuosas e contraditórias quanto são de fato. Freud mostrou que a família – o mais natural dos grupos, possui uma vida subterrânea, inconsciente, carregada de uma afetividade ambígua e instintiva que parece ter uma dinâmica bem distinta da que proclamam nossos idéias e ideais, especialmente quando infantilizados e não personalizados ). Os membros do grupo são capazes de sentir, captar e assimilar, quase que por osmose, as insinuações que vêm desse subsolo. Ter ou não consciência desse processo subjacente depende em grande parte da maior ou menor maturidade afetiva e interrelacional do grupo enquanto tal mas também do amadurecimento de seus componentes tomados individualmente. Trata-se de um clima emocional que resulta do que os participantes percebem dentro de si mesmos e transmitem uns aos outros em um sistema de sucessivos “feed backs”, reforçando em cada um a necessidade de encontrar alguma sintonia com os ventos que sopram no ambiente e que não raro são contrários. O clima grupal resulta, assim, largamente da projeção dos anseios, defesas e emoções subjetivas dos membros, embora esses estados subjetivos estejam ligados a certas situações, ações e reações objetivas ligadas a fatos externos que servem como causa deslanchadora dos sentimentos coletivos. A afetividade grupal é assim, a um só tempo, de natureza afetiva pessoal ( subjetiva ) e de cunho psicossocial ( objetiva ). É a essa luz que devemos nos perguntar a respeito da qualidade psicoafetiva de nossas comunidades religiosas reais.
Ela tem também duas outras raízes de grande peso que não abordaremos aqui por falta de tempo: ela possui uma base bioquímica e neuropsicológica de enorme repercussão sobre o comportamento individual e coletivo e sobre ela pesam, também, elementos culturais diversos como os costumes, as crenças e os valores éticos, políticos e religiosos que influenciam o grupo. e a socieadade.
- A dinâmica afetiva do grupo costuma ser intensa; possui memória e mecanismos reativos próprios que são mais que a mera soma do que é sentido, dito ou proclamado pelo conjunto dos participantes. Não devemos, contudo, conceber essa afetividade como se fosse uma entidade psicológica que subsiste por se mesma quase que mágica e/ou metafisicamente. De um modo geral, pode-se afirmar que a afetividade costuma exercer nos grupos humanos um papel maior que as duas outras dimensões constitutivas do clima grupal: a cognitiva ( os processos da razão ) e a conativa ( a relativa à ação prática ). Em certas circunstâncias, o jogo afetivo grupal chega a parecer gozar de uma verdadeira autonomia como se tivesse vida própria. De fato, porém, ele reflete não só o que vai nas emoções e sentimentos dos membros do grupo e só pode ser compreendido em sua inteireza quando associamos esses elementos e motivações mais profundos aos demais processos que constituem o todo da personalidade de cada um e do grupo. Há aqui elementos estáveis e outros que têm duração passageira e podem se exacerbar positiva ou negativamente mas se situam sempre dentro das balizas do que é humano.
- Além disto, não podemos olvidar que os grupos humanos, mesmo os mais amadurecidos e sintônicos, estão sempre submetidos a dois outros fatores, um muito amplo e, outro, extremamente concreto. Em primeiro lugar, eles experimentam todas as limitações próprias à incomunicação que os seres humanos vivem, na radical incompletude de seu existir. Esse fator tem uma influência nem sempre levada em conta pelas comunidades religiosas. Mas, em segundo lugar, as pressões, influências e tensões próprias a cada época. Não à toa se fala muito na unidimensionalidade do sistema neo-capitalista que nos envolve institucional e engole ideologicamente. Essa funciona como a grande tenaz que prende os indivíduos e os grupos nas garras do “stress” econômico, político e social, conduzindo-os a reações fortes e inesperadas. Além do mais, provoca reações religiosas como as que assistimos nos países islâmicos ( homens bombas ) e que levam milhões de brasileiros a buscar arrimo grupal e solução para seus males pessoas no neo-pntcostalismo que nos foi presenteado pelo baixo protestantismo carismático de massa.
É importante lembrar, ademais, que os grupos ( os carmelitas, por exemplo ) têm uma história. Ou seja, eles também vêem de um processo: evoluíram, regrediram, retrocederam e avançaram psicoafetiva e comportamentalmente ao longo dos tempos, mudando suas feições e características, devido às vivências e acontecimentos experimentados ao longo do tempo e dos quais guardam memória, mesmo que não consciente. Mas – fato fundamenta – há uma identidade por baixo de todos esses processos. Como a vida de uma pessoa, também essa identidade existe em função dos altos e baixos que a comunidade viveu. Só captando essas alternâncias é que podemos entender a gênese, a estrutura e as funções que caracterizam o modo peculiar de ser e de reagir desse ou daquele grupo.
- No momento cresce na Vida Consagrada a consciência da importância da comunidade e da vivência grupal para a realização do que a Vida Religiosa se propõe no presente momento de sua história. Estamos em busca de uma nova figura histórica. Por essa razão nossas concepções a respeito da vida em comunidade já não são tão homogêneas quanto o eram no passado. Tomamos consciência de que um grupo de pessoas que, por razões religiosas profundas, se propõe viver segundo um estilo de vida, valores e objetivos marcados pelo ideal evangélico não permanece sempre o mesmo e precisa amadurecer psicossocialmente se quiser tornar real o ideal carismático profundo que o constituiu em um passado mais remoto e que hoje é buscado de maneiras social e culturais bem diversas.. Constata-se hoje nas congregações um grande desejo de tornar mais “verdadeira” a unidade e a amizade que deveriam ser um sinal evangélico para o mundo dividido que nos cerca. Do desejo ideal à concretização, porém, percebemos cada vez mais que vai uma enorme diferença. Daí a urgência sentida por muitos de métodos mais acurados de análise dos processos e mecanismos que se dão no seio de nossos grupos de vida e trabalho. Essa é uma condição sine qua non para a concretização do que tão belamente dizem os documentos da Igreja e as Constituições de nossas várias famílias religiosas.
CARMELITAS: VIVER EM OBSÉQUIO DE JESUS CRISTO
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Frei Bruno Secondin O. Carm. In Memoriam
No Carmelo sempre estivemos convencidos da centralidade do seguimento do Senhor pela nossa vida. E com os novos comentários da Regra a cristologia tem sido melhor entendida e interpretada. E o cristocentrismo foi interpretado de maneira nova e mais inspiradora em comparação com a primeira. Sobretudo o sentido da frase inicial: “Viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo fielmente de coração puro e consciência reta” (R 2) foi melhor precisado. É a chamada à norma suprema irrenunciável, que deve tudo guiar e filtrar. As várias prescrições da Regra são a aplicação prática e séria do seguimento.
- Seguir e não imitar: temos prestado pouca atenção a este aspecto. E no entanto é importante, no contexto da nossa Regra. Naquele momento era intensa a religiosidade da imitação, da lembrança literal e biográfica. Pensemos no que fez São Francisco e na religiosidade popular do 1200. O Carmelo, ao invés, quis penetrar dinamicamente na identidade e sabedoria do Mestre. Trata-se de um encontro na fé e no amor, na contemplação e na partilha mútua da mesma causa e da mesma meta. Seguimento exige adesão interior, empenho aberto, adaptação e criatividade, diversificação, etc.
- Uma comunidade de discípulos irmãos é a primeira consequência: não uma comunidade para fazer alguma coisa, ligada a uma obra a fazer funcionar. Mas um discipulado que se vive em várias modalidades, seguindo o Mestre, e cadenciando o tempo de acordo com o grande mistério da salvação. Veja-se o ritmo da ascese e o do combate: estão ligados à Páscoa e às exigências do Batismo (Páscoa pessoal).
- Viver em Cristo: encontramos algumas vezes esta expressão (R 1; 18; 20). Não se trata de uma indicação genérica, mas de um valor intenso. Isto quer dizer habitar na Palavra para ser impregnados e habitados pela Palavra (R 10; 19; 22) em todas as situações da vida. E, de fato, a Regra é como uma grande lectio divina, que traduz em decisões práticas, coerentes, toda a sabedoria da Palavra.
- Viver na presença sacramental de Cristo: sobretudo na celebração da Missa se mostra-se isto central e fonte de um dinamismo transformador, excepcional. Para lá devem, cada dia vir juntos (com-venire debeatis) e de lá apreender forma e estilo nos relacionamentos mútuos. Mas podemos reconhecer que há ainda outros sinais “sacramentais”, que se ressaltam: antes de tudo os irmãos e a sua participação viva no projeto (propositum); as autoridades constituídas (o prior, o patriarca, os santos padres...) são mediação e epifania de uma presença de Cristo, que se deve acolher e amar; mas a própria estrutura do lugar é de um certo modo revelação de uma presença a ser amada e respeitada (cf. o templo no centro).
- Esperar a volta do Senhor: é um elemento muito importante na espiritualidade daquele tempo. E por isto havia tantas formas de devoção para salvar a própria alma no momento do juízo final. Na Regra este medo e esta forma de preocupação têm outro registro. Trata-se de uma espera vivida com fidelidade serena, de coração vigilante e transparência em tudo. Mas a espera da chegada definitiva torna-se sobretudo princípio inspirador para não absolutizar as normas e os resultados. Estímulo para uma identidade flexível e até mesmo nômade. “O quotidiano mover-se” até à Capela é sinal antropológico e topográfico de um caminhar rumo ao último encontro, totalmente transfigurados pela Palavra, pela Páscoa e pela fraternidade, pela sobriedade e pela vigilância.
- Uma cristologia aberta a novas experiências: justamente a falta de formas devocionais evidentes (num contexto muito fanático por devoções) e a atenção aos valores vitais da cristologia (Palavra, Páscoa, luta espiritual, serviço, fraternidade, etc.) indicam um caminho cristológico aberto e personalizado. O Carmelo que padroniza em algumas imagens a sua cristologia (p.ex. o Menino, o Mestre, flagelado, crucificado, eucarístico, Sagrado Coração) não é conforme à Regra. Quando, ao invés, sabe fazer sintonia da variedade de respostas e de símbolos, de figuras e leituras de Cristo, aí então é fiel ao propositum.
À luz da Palavra. Uma preciosa confirmação desta cristologia no-la oferece o Evangelho de João: estou pensando no momento de se formar o primeiro grupo de discípulos (Jo 1, 35-51). Para completeza seria necessário incluir também as afirmações “cristológicas” do Batista. Normalmente lemos nesta página o processo vocacional: não está aí toda a verdade desta narrativa.
- Múltiplos títulos dados a Jesus: notemos que há uma dezena de títulos diversos dados pelos discípulos para indicar o que encontraram e o que querem comunicar. Começa João Batista por chamá-lo “Cordeiro de Deus”. Depois os dois discípulos o chamam de “Mestre” (Natanael também dirá o mesmo). André fala dele a Simão e o chama de “Messias”. Filipe o descreve como “Aquele sobre quem escreveram Moisés e os profetas”; e acrescenta dados anagráficos: “Jesus, filho de José de Nazaré”. Natanael , enfim, o admira como “Filho de Deus e Rei de Israel”. Mas até Jesus mesmo se dá um título: “O Filho do homem”. Poderemos ainda acrescentar alguns títulos dados pelo Batista um pouco antes: “Aquele que existia primeiro; o habitado pelo Espírito”, “o que batiza no Espírito” (v. 33s).
- Ser discípulos para João é uma caminhada para a verdade, uma descoberta progressiva, que se torna uma confissão proclamada. Cada um contribui com a sua sensibilidade mais aberta (o Batista e André) ou mais tradicional (Natanael e Filipe). Não se trata de afirmações teóricas, de palavras já confeccionadas, que se repetem. Trata-se de uma convicção amadurecida por dentro, conservando e refletindo, interpretando. A fé que anima a comunidade nutre-se e se consolida com o caminho de fé de cada um.
- Fruto dos microprocessos pessoais de reflexão e discernimento, de assombro e dúvida é a nova comunidade. Quem encontrou alguma coisa que o “tocou” por dentro comunica-o de maneira pessoal e convicta. A primeira carta de João também ainda recorda este processo de verificação e de comunicação (cf. 1Jo 1,1-4)
- Na Regra podemos também ver que não se impõem títulos que vinculam, quanto, de preferência, horizontes em cuja direção perscrutar. Depois cada um, conforme os carismas, encontra as suas preferências de imagens e de destaques. Prova disto são os nossos grandes Santos com a variedade de linguagem cristológica. É um modelo aberto, que nós também devemos assumir em vista de uma resposta pessoal e não repetitiva.
- Na formação justamente é necessário oferecer aos jovens a possibilidade de um encontro direto e pessoal, de uma resposta pessoal e original, não puramente repetitiva ou devocional. E cada um deve tornar-se mediação para o outro, seja com as palavras, seja com os gestos, para um aprofundamento e um encontro direto e iluminador (pensemos em Cefas-Pedro e em Natanael).
- Até mesmo os próprios votos devem ser lidos e apresentados como um seguimento de Cristo pobre, casto, obediente, mas também orante e missionário. Então não haverá setores para controlar com escrúpulo, com medo de pecar. Mas serão modalidades de seguimento e de adesão conformadora, como diz a VC: “A vida consagrada constitui memória viva do modo de existir e de agir de Jesus como Verbo Encarnado diante do Pai e diante dos irmãos” (VC 22). Aí está em jogo a diferença entre um comportar-se como “religioso” e uma maturidade de “crente”: dentro deve amadurecer a “confissão” de fé.
Trabalho pessoal e em grupo:
1-Conseguimos reconhecer este tipo de cristologia na Regra?
2-Sabemos formar para uma adesão profunda e conformadora no seguimento, ou preferimos antes formas devocionais e práticas de piedade?
3-O texto de João que é que sugere para a nossa formação?
CARMELITAS: A Oração Silenciosa
- Detalhes
A Ratio nos diz que a oração é essencialmente um relacionamento pessoal, um diálogo entre Deus e o ser humano. Somos convidados a cultivá-la e a encontrar tempo e espaço para estarmos com o Senhor. A amizade só pode crescer através “da freqüente compatibilidade com Aquele que nos ama” (Santa Teresa d’Ávila – Livro da Vida 8,5) (Ratio 31). A Ratio continua dizendo que além de todas as questões da forma da oração, o importante é cultivar um relacionamento profundo com Cristo. Ela cita Santa Teresa mais uma vez dizendo que a oração perfeita “não consiste em muito pensar, e sim em muito amar” (Fundações 5,2; Castelo Interior 4, 1, 7) (Ratio). As Constituições nos lembram que: “A oração em silêncio é de grande ajuda no desenvolvimento de um espírito de contemplação. Portanto, devemos praticá-la diariamente por um período de tempo apropriado” (Art. 80).
Então o que é a oração em silêncio e o que é um período de tempo apropriado? Nossas vidas são muito agitadas, mas precisamos estabelecer prioridades. A oração é absolutamente essencial. O período de tempo depende do relacionamento da pessoa com Deus e, até certo ponto, depende da criatividade em encontrar espaço e tempo.
Todo relacionamento tem seu próprio ritmo. Geralmente, após um período de tempo, um relacionamento tende a ser menos complicado quando as duas pessoas se acostumam com o jeito uma da outra. Quando você não conhece bem uma pessoa, é difícil sentar em silêncio com ela. Temos a tendência de conversar. Ao conhecermos melhor a pessoa, o relacionamento torna-se mais fácil e sentar-se no silêncio amistoso torna-se normal e agradável. Quando entramos em harmonia com o outro podemos começar a ler seu silêncio. Trata-se de um relacionamento íntimo. O silêncio pode ser mais eloqüente do que muitas palavras.
É muito normal que no decorrer do tempo nossa oração se torne mais e mais simples. Pode ser que já tenhamos uma palavra que resuma tudo que queremos dizer a Deus. Dizer essa palavra significa milhares de coisas. Jesus abriu seu coração a seus discípulos e partilhou conosco o nome especial que tinha para Deus. Esse nome é “Abba”. Essa palavra contém todo relacionamento de Jesus com o Pai. É muito útil trabalhar nossa própria estenografia com Deus para que possamos lembrar durante o dia da presença constante de Deus conosco ao repetirmos uma simples palavra ou frase.
Cada relacionamento com o Senhor é diferente. Se você aproveita o máximo em sentar-se e conversar com o Senhor, ou de meditar sobre um tema, ou de ler e pensar sobre uma passagem da Escritura, ou de refletir sobre um livro espiritual, isso é bom. Por favor, continue a fazer isso. No entanto, podem existir momentos numa jornada de oração quando a pessoa se torna um pouco confusa e procura para onde ir. Também é comum ser levado ao silêncio durante a oração e, a princípio, isso pode parecer estranho e assustador. Não sabemos o que fazer e temos a sensação de estarmos perdendo tempo. A grande tentação é deixar de lado a oração porque não podemos mais encontrar o consolo que tivemos e ceder à sensação de perda de tempo. Como Santa Teresa d’Ávila, insisto que você não ceda a essa tentação e tenha uma “determinação muito determinada” de agarrar-se à oração especialmente quando ela não está de acordo com os seus planos.
É uma experiência muito comum passar por períodos prolongados de aridez na oração. Mais uma vez sentimos como se estivéssemos desistindo ou chateados. Sentimos que Deus foi embora não deixando endereço. Se, de alguma forma, mesmo no meio da confusão e da aridez, estamos convencidos do valor da oração, devemos apenas nos sentar na poeira e esperar por Deus. Em ocasiões muito estranhas em que um pensamento santo flutua sobre o rio de nossa consciência, temos a tendência de nos precipitarmos sobre ele e sufocá-lo, exaurindo-o por estarmos ressecados. No entanto, existe outra forma de lidar com esses pensamentos santos ocasionais. Não importa o quanto possam parecer santos, eles são nossos pensamentos, por isso subtende-se que deixamos que eles venham ou não. Se esses pensamentos forem verdadeiramente de Deus, retornarão em outro momento.
Existem muitos métodos de esperar por Deus no silêncio. Gostaria de propor um método de oração que pode fazer com que o silêncio seja muito produtivo e que pode nos ajudar a esperar por Deus no silêncio. Trata-se de um método de oração cristão baseado na rica tradição contemplativa e, especialmente, num livro clássico dessa tradição, “A Nuvem do Não-Saber”, um escrito anônimo do século XIV. Não estou sugerindo que devemos deixar de lado outras formas pessoais de oração, mas esse método pode aprofundar esses outros métodos e torná-los mais produtivos. O mais importante para esse tipo de oração é estar convencido de que Deus não está longe, mas muito perto. Deus faz sua morada em nós (cf. Jo 14,23).
Esse método de oração pode ser chamado de oração do silêncio ou de oração do desejo porque, no silêncio, nos voltamos para Deus com nosso desejo. Ele também foi chamado de oração em segredo, seguindo o conselho de Jesus para entramos em nosso quarto e rezarmos ao Pai ocultamente (M 6,6). A primeira fase dessa oração é encontrar um local adequado onde as interrupções sejam reduzidas ao mínimo. Depois se coloque numa posição confortável que você possa manter durante todo tempo da oração. Recomenda-se um mínimo de 20 minutos. Pode-se começar essa oração com uma pequena leitura da Bíblia. Não é hora de pensar no significado das palavras. Esse tipo de meditação fica para outra hora. Agora é hora de simplesmente estar na presença de Deus e de consentir na ação divina com nossa intenção. Então, com os olhos fechados, introduza gentilmente uma palavra sagrada em seu coração. Uma palavra sagrada é aquela que tem um grande significado para você em seu relacionamento contínuo com Deus. A palavra sagrada deve ser sagrada para você. De acordo com o ensinamento de “A Nuvem do Não Saber”, é melhor que essa palavra seja breve, de uma sílaba se possível. Sugiro algumas palavras: “Deus, Senhor, Amor, Jesus, Espírito, Pai, Maria, Sim”. Escolha uma palavra significativa para você. Talvez você pense em uma, se pedir a ajuda de Deus.
Quando peço que você introduza uma palavra sagrada no seu coração, não estou sugerindo que você a pronuncie com seus lábios, ou mesmo mentalmente, mas acolha-a dentro de você sem pensar em seu significado. Não é necessário forçar a palavra sagrada. Ela deve ser muito gentil. A palavra sagrada não é um mantra a ser repetido constantemente. A palavra concentra nosso desejo e sempre a usamos do mesmo modo simplesmente voltando nosso coração para o Senhor assim que percebemos que estamos distraídos. Essa é uma oração de intenção e não de atenção. Nossa intenção é estar na presença de Deus e consentir na ação divina em nossas vidas. A palavra sagrada expressa essa intenção e, assim, quanto tomamos consciência de que estamos pensando em algo diferente, podemos decidir se continuamos com a distração por ser mais interessante, ou se voltamos nossa intenção para a presença de Deus e consentimos com aquilo que Deus quer realizar em nós. Voltamos nosso coração para Deus pelo uso da palavra sagrada. Ela é um símbolo de nossa intenção. Não é necessário repeti-la freqüentemente, apenas quando desejamos voltar nosso coração para Deus.
Durante essa oração, não é hora de conversar com Deus usando belas palavras ou mesmo de ter pensamentos santos, mesmo se pensamos que são inspirações de Deus. É melhor deixar essas coisas para outro momento. Nosso silêncio e nosso desejo valem mais do que palavras.
Através da palavra que escolhemos, expressamos nosso desejo e nossa intenção de permanecer na presença de Deus e de consentir com a ação divina purificante e transformadora. Voltamos para a palavra sagrada, que é o símbolo de nossa intenção e de nosso desejo, apenas quando tomamos consciência de estarmos envolvidos em algo diferente.
A oração consiste simplesmente em estar na presença de Deus sem pensar em nada em especial. Se você compreende como estar em silêncio com outra pessoa sem pensar ou fazer algo em especial, então você será capaz de compreender do que trata a oração. Nem todas as pessoas se adaptam a esse método de oração. Se você sentir um chamado interior para um silêncio maior, ele pode ajudá-lo.
No final do período que você decidiu dedicar à oração, talvez você possa dizer um Pai Nosso ou outra oração lentamente. É bom permanecer em silêncio por alguns momentos para se preparar para levar o fruto de sua oração para sua vida pessoal.
(Convido você a rezar agora e usar brevemente esse método de oração em segredo. Fique à vontade e entre na sala secreta de seu coração onde Deus mora. Para marcar o final do tempo de oração recitarei lentamente uma oração comum. Esse é o momento de reajustar-se ao momento presente).
Sexta-feira, 1º de novembro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 1-6)
1Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam. 2Havia ali um homem hidrópico. 3Jesus dirigiu-se aos doutores da lei e aos fariseus: É permitido ou não fazer curas no dia de sábado? 4Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5Depois, dirigindo-se a eles, disse: Qual de vós que, se lhe cair o jumento ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado? 6A isto nada lhe podiam replicar.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.
Lucas 14,1: O convite em dia de sábado
“Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.
Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?
Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?" Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4).
Lucas 14,4-6: A cura
Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?" Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorres a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso” . Pois diante da evidência não há argumento que a negue.
4) Para um confronto pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?
5) Oração final
Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. (Sl 110, 1-2)
FESTA DE TODOS OS SANTOS: “Os santos nos ajudam a enfrentar a vida com coragem e esperança”. Francisco.
- Detalhes
“A recordação dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para enfrentá-las com mais coragem e esperança", disse o Papa Francisco ao rezar com os fiéis a oração mariana na Praça São Pedro por ocasião da Solenidade de Todos os Santos.
Cidade do Vaticano
“Somos todos chamados à santidade”: foi o que recordou o Papa Francisco ao rezar com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro o Angelus por ocasião da Solenidade de Todos os Santos, celebrada no dia 3 no Brasil. A data é festejada com um feriado não só no Vaticano, mas em toda a Itália.
“Os Santos e as Santas de todos os tempos não são simplesmente símbolos, seres humanos distantes, inalcançáveis. Pelo contrário, são pessoas que viveram com os pés no chão”, afirmou o Pontífice.
Eles experimentaram a fadiga diária da existência com os seus sucessos e fracassos, encontrando no Senhor a força para se levantar e continuar o caminho.
Isso demonstra que a santidade é uma meta que não pode ser alcançada apenas pelas próprias forças, mas é o fruto da graça de Deus e da nossa livre resposta a ela.
Santidade: dom e chamado
Portanto, acrescentou o Papa, a santidade é dom e chamado.
Enquanto graça de Deus, isto é, dom, explicou, é algo que não podemos comprar ou trocar, mas acolher, participando assim da mesma vida divina através do Espírito Santo que habita em nós desde o dia do nosso Batismo.
Trata-se de amadurecer sempre mais a consciência de que estamos enxertados em Cristo, como o ramo está unido à videira, e por isso podemos e devemos viver com Ele e Nele como filhos de Deus. “Então a santidade é viver em plena comunhão com Deus, já agora, durante a peregrinação terrena.”
Além de ser um dom, disse ainda Francisco, a santidade é também chamado, vocação comum dos discípulos de Cristo; é o caminho de plenitude que cada cristão é chamado a percorrer na fé, caminhando para a meta final: a comunhão definitiva com Deus na vida eterna.
A santidade torna-se assim uma resposta ao dom de Deus, porque se manifesta como assunção de responsabilidade. “Nesta perspectiva, é importante assumir um sério e cotidiano compromisso de santificação nas condições, deveres e circunstâncias da nossa vida, procurando viver tudo com amor, com caridade”, recomendou o Papa.
Compromisso
Olhando para as vidas dos santos, prosseguiu Francisco, somos encorajados a imitá-los. Entre eles, estão muitas testemunhas de uma santidade "da porta ao lado, daqueles que vivem perto de nós e são reflexo da presença de Deus".
“ A recordação dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para enfrentá-las com mais coragem e esperança. ”
Igreja do céu e da terra
Ao final da oração mariana, falando ainda da Solenidade de Todos os Santos e do Dia de Finados, o Papa disse que essas duas festas cristãs nos recordam o vínculo que existe entre a Igreja da terra e a do céu, “entre nós e os nossos entes queridos que passaram para a outra vida”.
E lembrou que no amanhã celebrará a Eucaristia nas catacumbas de Priscila, “um dos lugares de sepultura dos primeiros cristãos de Roma”.
“Nestes dias, em que, infelizmente, circulam também mensagens de cultura negativa sobre a morte e sobre os mortos, convido vocês a não negligenciarem, se possível, uma visita e uma oração ao cemitério”, foi o convite final do Pontífice. Fonte: www.vaticannews.va
Quinta-feira, 31 de outubro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 13, 31-35)
31No mesmo dia chegaram alguns dos fariseus, dizendo a Jesus: Sai e vai-te daqui, porque Herodes te quer matar. 32Disse-lhes ele: Ide dizer a essa raposa: eis que expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e ao terceiro dia terminarei a minha vida. 33É necessário, todavia, que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém. 34Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste! 35Eis que vos ficará deserta a vossa casa. Digo-vos, porém, que não me vereis até que venha o dia em que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!
3) Reflexão Lucas 13, 31-35
O evangelho de hoje nos faz sentir o contexto ameaçador e perigoso no qual Jesus vivia e trabalhava. Herodes, o mesmo que tinha matado João Batista, quer matar Jesus.
Lucas 13,31: O aviso dos fariseus a Jesus
“Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram, e disseram a Jesus: "Deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar". É importante notar que Jesus recebeu o aviso da parte dos fariseus. Algumas vezes, os fariseus estão juntos com o grupo de Herodes querendo matar Jesus (Mc 3,6; 12,13). Mas aqui, eles são solidários com Jesus e querem evitar a morte dele. Naquele tempo, o poder do rei era absoluto. Ele não prestava conta a ninguém da sua maneira de governar. Herodes já tinha matado a João Batista e agora está querendo acabar também com Jesus.
Lucas 13,32-33: A resposta de Jesus
“Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho”. A resposta de Jesus é muito clara e corajosa. Ele chama Herodes de raposa. Para anunciar o Reino Jesus não depende da licença das autoridades políticas. Ele até manda um recado informando que vai continuar seu trabalho hoje e amanhã e que só vai embora depois de amanhã, isto é, no terceiro dia. Nesta resposta transparece a liberdade de Jesus frente ao poder que queria impedi-lo da realizar a missão recebida do Pai. Pois quem determina os prazos e a hora é Deus e não Herodes! Ao mesmo tempo, na resposta transparece um certo simbolismo relacionado com a morte e a ressurreição ao terceiro dia em Jerusalém. E para dizer que não vai ser morto na Galiléia, mas sim em Jerusalém, capital do seu povo, e que vai ressuscitar no terceiro dia.
Lucas 13,34-35: Lamento de Jesus sobre Jerusalém
"Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!” Este lamento de Jesus sobre a capital do seu povo evoca a longa e triste história da resistência das autoridades aos apelos de Deus que chegavam a elas através de tantos profetas e sábios. Em outro lugar Jesus fala dos profetas perseguidos e mortos desde Abel até Zacarias (Lc 11,51). Chegando em Jerusalém pouco antes da sua morte, olhando a cidade do alto do Monte das Oliveiras, Jesus chora sobre ela, porque ela não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 19,44).
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus qualifica o poder político como raposa. O poder político do seu país merece esta qualificação?
2) Jesus tentou muitas vezes converter o povo de Jerusalém, mas as autoridades religiosas resistiram. E eu, quanto vezes resisti?
5) Oração final
Procurai o SENHOR e o seu poder, não cesseis de buscar sua face. Lembrai-vos dos milagres que fez, dos seus prodígios e dos julgamentos que proferiu. (Sl 104, 4-5)
Quarta-feira, 30 de outubro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 13, 22-30)
22Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus ia atravessando cidades e aldeias e nelas ensinava.23Alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os homens que se salvam? Ele respondeu:24Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão.25Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos, ele responderá: Digo-vos que não sei de onde sois.26Direis então: Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças.27Ele, porém, vos dirá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim todos vós que sois malfeitores.28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, e vós serdes lançados para fora.29Virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus.30Há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos.
3) Reflexão Lucas 13, 22-30
O evangelho de hoje traz mais um episódio acontecido durante a longa caminhada de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, cuja descrição ocupa mais de uma terça parte do evangelho de Lucas (Lc 9,51 a 19,28).
Lucas 13,22: A caminho de Jerusalém
“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém”. Mais uma vez Lucas menciona que Jesus está a caminho de Jerusalém. Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). O que é claro e definido, desde o começo, é o destino da viagem: Jerusalém, a capital, onde Jesus será preso e morto (Lc 9,31.51). Raramente, informa o percurso e os lugares por onde Jesus passava. Só no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), ficamos sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Deste modo, Lucas sugere o seguinte ensinamento: temos que ter claro o objetivo da nossa vida, e assumi-lo decididamente como Jesus fez. Devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém, onde nos aguarda o “êxodo” (Lc 9,31), a paixão, morte e ressurreição.
Lucas 13,23: A pergunta sobre os número dos que se salvam
Nesta caminhada para Jerusalém acontece de tudo: informações sobre massacres e desastres (Lc 13,1-5), parábolas (Lc 13,6-9.18-21), discussões (Lc 13,10-13) e, no evangelho de hoje, perguntas do povo: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?" Sempre a mesma pergunta em torno da salvação!
Lucas 13,24-25: A porta estreita
Jesus diz que a porta é estreita: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão”. Será que Jesus diz isto só para encher-nos de medo e obrigar-nos a observar a lei como ensinavam os fariseus? O que significa esta porta estreita? De que porta se trata? No Sermão da Montanha Jesus sugere que a entrada para o Reino tem oito portas. São as oito categorias de pessoas das bem-aventuranças: (1) pobres em espírito, (2) mansos, (3) aflitos, (4) famintos e sedentos de justiça, (5) misericordiosos, (6) puros de coração, (7) construtores da paz e (8) perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10). Lucas as reduziu para quatro: (1) pobres, (2) famintos, (3) tristes e (4) perseguidos (Lc 6,20-22). Só entra no Reino quem pertence a uma destas categorias enumeradas nas bem-aventuranças. Esta é a porta estreita. É o novo olhar sobre a salvação que Jesus nos comunica. Não há outra porta! Trata-se da conversão que Jesus pede de nós. Ele insiste: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: Senhor, abre a porta para nós! E ele responderá: Não sei de onde são vocês”. Enquanto a hora do julgamento não chegar, é tempo favorável para a conversão, para mudar nossa visão sobre a salvação e entrar em uma das oito categorias.
Lucas 13,26-28: O trágico mal-entendido
Deus responde aos que batem na porta: “Não sei de onde são vocês”. Mas eles insistem e argumentam: Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças! Não basta ter convivido com Jesus, de ter participado da multiplicação dos pães e de ter escutado seus ensinamentos nas praças das cidades e povoados. Não basta ter ido à igreja e de ter participado das instruções do catecismo. Deus responderá: Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!”. Mal-entendido trágico e falta total de conversão, de compreensão. Jesus declara injustiça aquilo que os outros consideram ser coisa justa e agradável a Deus. É uma visão totalmente nova sobre a salvação. A porta é realmente estreita.
Lucas 13,29-30: A chave que explica o mal-entendido
“Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos". Trata-se da grande mudança que se operou com a vinda de Deus até nós em Jesus. A salvação é universal e não só do povo judeu. Todos os povos terão acesso e poderão passar pela porta estreita.
4) Para um confronto pessoal
1) Ter o objetivo claro e caminhar para Jerusalém: Será que tenho objetivos claros na minha vida ou deixo-me levar pelo vento do momento da opinião pública?
2) A porta é estreita. Qual a visão que tenho da Deus, da vida, da salvação?
5) Oração final
Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis. Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)
Pastoral do Batismo: História e espiritualidade do Sacramento
- Detalhes
- História do Batismo no Brasil
- De uma carta, enviada do Brasil para Portugal, falando dos índios que encontraram por aqui: “Gente boa! Pena que não são batizados!” Ou seja: sem batismo a pessoa é condenada!
- Os índios tinham os seus ritos próprios de iniciação para proteger a vida da criança. Estes ritos se misturaram com os ritos da Igreja.
- No começo havia muito pouca preparação. Havia gente que se batizava duas ou três vezes. A partir de 1549, começa a formação das aldeias pelos padres Jesuitas.
- Em torno de 1600, a metade dos índios já tinha morrido por motivo de doenças, provocadas pelo contato com os brancos. Havia pagé que “desbatizava” as crianças! Achavam que podia ser motivo de morte. Daí, a preocupação do missionário em mostrar que o batismo era para dar um bem, e não para dar a morte!
- Na mente de muitos índios, o batismo era associado com morte e com entrega aos brancos. A lei vinda de Portugal exigia que o senhor do engenho batizasse os negros. Havia negros marcados com fogo para mostrar que eram batizados.
- A história do batismo no Brasil tem suas contradições. Mesmo assim, apesar de tudo, os negros e índios souberam transformar o sinal de morte em sinal de vida. Souberam fazer com que o batismo se tornasse sinal de cidadania e sinal de gente. O batismo tornou-se um sinal de poder participar de irmandades e de poder participar das festas. O Batismo, apesar de tudo, transformou-se em sinal de vida e de liberdade, de dignidade, de consciência nova de gente e de filho de Deus. Buscando o batismo, o povo buscava uma coisa boa e positiva!
- Se quisermos renovar a pastoral do batismo, não basta conversar sobre o batismo, mas temos que ver o que o povo vive e vê no batismo; o que o povo deseja e busca no Batismo. Quem precisa ser batizada é a igreja. Ela deve renovar-se e descobrir o sentido do batismo a partir do povo, com uma visão mais positiva e mais simpática para o povo!
- A renovação do Vaticano II e de Medellin
- O Concílio Vaticano II pede uma preparação dos pais e padrinhos para que possam participar melhor da celebração do batismo
- A Assembléia dos bispos de Medellin (1968) constata que 90% dos povos da América Latina buscam o batismo, mas não o conhecem nem o praticam. Aí disseram: quando o povo vem para batizar, vamos aproveitar para explicar melhor o que vem a ser o batismo. Os bispos uniram a catequese à preparação para a celebração do batismo.
- Quando começaram a crescer as Comunidades Eclesiais de Base, surgiu o costume de acentuar também a participação. Quando o pessoal das comunidades vinha pedir o batismo para os filhos, a preparação para o sacramento insistia muito no dever de os pais e padrinhos participarem da vida da Comunidade. Assim, junto com a preparação para celebração e a catequese, começa a insistência na participação, e na necessidade de voltar para a Igreja e de começar a participar, inclusive, dos movimentos populares.
- O Concílio Vaticano II, porém, pedia e pede, em primeiro lugar, que haja preparação para a celebração das cerimônia do Batismo.
- Os motivos que levam o povo a buscar o batismo
- Os motivos que levam o povo a pedir o batismo para os filhos são variados:
* por causa da tradição.
* para ser cristão: “Sem batismo está faltando algo. Não basta nascer!”
* para não chorar
* para não ter mau olhado e não ser vítima
* para poder ter a festa do batismo que é a festa do nascimento, da vida nova
* para homenagear o padrinho
* para dar um bem para a criança
* para garantir a vida depois da morte e não ser alma penada
* para tirar o pecado
* e vários outros
- Estas motivações são válidas, mas são incompletas. Elas não tem ligação com Jesus. Jesus é central na nossa fé. O povo não tem claro que o batismo está ligado a Jesus. Não sabe que está ligado com a Morte e Ressurreição de Jesus.
- Na realidade, mesmo sem saber, o povo já está vivendo o mistério da morte ressurreição de Jesus. Sua a vida é uma luta sem fim, de manhã até à noite! É a páscoa de Jesus acontecendo no dia a dia. Esta vida já é batismal. Sem o saber, o povo já participa da morte e ressurreição de Jesus. Jesus já está no centro da vida do povo. Ele mesmo diz: “Quando você ajudou aquele pobre,era eu!”
- Hoje, quem traz Jesus de volta para o centro das atenções do povo, são os evangélicos que pregam todos os dias no rádio. Falam de Jesus o tempo todo. “Jesus vai voltar!” Por isso, muita gente está levando criança para receber uma bênção nos crentes.
- O povo não sabe explicar bem, mas ele tem suas intuições de fé. O mistério de Deus, de Jesus, já está acontecendo em sua vida. O grande desafio nosso é fazer com que o povo descubra esta riqueza que ele possui e vive sem saber. Como revelar e comunicar esta riqueza, como partilhar esta experiência? Esta é a tarefa básica da PASTORAL DO BATISMO!
- As tarefas da Pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo deve evangelizar pelo diálogo. Um ponto importante é: dialogar e partilhar com as pessoas para que descubram o mistério de Deus e de Jesus, presente em sua vida. Pois o povo também tem Deus e tem o Espírito de Deus. Este diálogo deve partir dos sentimentos que o povo tem, dos interesses deles. Deve partir do lugar onde a pessoa está.
- Para isto é importante tentar descobrir o sentido das intuições e metáforas que o povo usa. Por exemplo, o povo diz: “A criança é dada por Deus!” - “Deus é o doador da vida!” - “A criança é fraca e ameaçada, mas Deus defende a vida dela!” Com outras palavras, Deus está bem presente na vida dos pais e também das crianças. A nós da pastoral, cabe revelar que este Deus é o Deus de Jesus!
- Esta maneira de pensar combina com alguns pontos fundamentais da nossa fé e com alguns pontos fundamentais do próprio batismo:
* Deus é o defensor da vida, sob todos os seus aspectos
* O batismo consagra a vida e a coloca na mão de Deus
* A alegria dos pais de poder devolver a Deus o que dele receberam
* O batismo confirma a dignidade da criança como gente e filho da Deus
* O batismo é o momento para revelar o nome da criança
* O nascimento e o batismo ajudam a superar inimizades e unificam a família
* Em torno da criança e do seu batismo, a família se humaniza
* O batismo confirma a fé dos pais e dos avós (a tradição é positiva)
* O batismo aproxima da Igreja que é católica, universal
- O que deve ser aprofundado
- Foi feito um cochicho com a pergunta: o que deve ser mais aporfundado. A resposta do pessoal reflete os problemas e as dificuldades da prática:
* Preparação, quanto tempo?
* Hora da inscrição
* Variedade das religiões cristãs que tem batismo
* Ligar pastoral do batismo com pastoral familiar
* Pos-batismo ou pré-batismo: o que é mais importante?
* Preparação mais personalizada
* Batizar na mesma paróquia, sim ou não?
* Isto significa uma volta ao sacramentalismo?
* Como unir acolhimento e exigências?
* Pastoral do batismo e catequese
* O óleo no batismo é só para o sacerdote?
* Batizar e continuar na Igreja, como fazer?
* Visão mais ecumênica do batismo
* As normas de batismo na Diocese de Itaguaí
* Pastoral de conjunto na Diocese
- Reflexão do Padre Domingos
- A partir do resultado do cochichco, o padre Domingos refletiu sobre a fé dos pais de dos padrinhos, sobre as exigências que fazemos, e sobre a participação.
- Ele fez duas constatações muito importantes:
- a) A maior parte dos pais e padrinhos não participa.
- b) A pastoral do batismo não trouxe o pessoal de volta para a Igreja.
- Pais e padrinhos praticam a religião do jeito deles, não do nosso jeito. A prática deles, apesar de diferente, tem coisas boas. Por exemplo, revela uma confiança grande em Deus; uma atenção às pessoas com sentimento de justiça que acolhe os marginalizados; vão à igreja não por obrigação, mas sim quando o coração pede. Apesar de não praticar, eles se sentem ligados à Igreja Católica.
- Aí surge a questão: “Se o jeito deles também é bom, então o que estou fazendo na comunidade? Que sentido ainda tem eu me esforçar tanto?” Padre Domingos respondeu: Participar mais ativamente na comunidade é um dom, é vocação, é missão! No tempo de Jesus só havia doze pessoas na comunidade e depois mais setenta e dois! Doze e setenta e dois para todos! Na comunidade vivemos a religião a favor e em serviço de TODOS! Mas nem todos precisam estar na comunidade!
- Baseado nisso, ele distinguiu dois tipos de pastoral:
- a) Pastoral da fé: testemunhar a fé gratuitamente
- b) Pastoral do discipulato: atrair outros para participar.
- A comunidade anuncia gratuitamente a Boa Nova de Deus para todos, sem esperar retorno. Ela também se preocupa em fazer discípulos que possam continuar a tarefa da comunidade. Em qual das duas pastorais devemos situar a pastoral do batismo?
- Objetivo da pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo pertence à pastoral da fé e não à pastoral do discipulato. A pastoral do batismo não é para atrair mais gente para dentro da comunidade, nem para levar as pessoas a participar mais da igreja. Ela existe para anunciar gratuitamente a Boa Nova de Deus
- Temos que superar a idéia de que só vive o batismo aquele que participa ativamente na comunidade. Uma coisa é o batismo de adulto, que deve ter muitas exigências. Outra coisa é o batismo de criança. A teologia do Batismo que está no NT é de batismo de adultos. O batismo que nós administramos é batismo de criança. O batismo de criança deve ressaltar antes de tudo o dom gratuito de Deus para esta criança!
- A pastoral do batismo não pode ser motivo para discriminar os não-participantes. Nem pode ser para dificultar o acesso ao batismo. Nem para levar a pessoa à participar mais na comunidade. Nem deve ser usada para para falar sobre os sacramentos, nem para aumentar o conhecimento da doutrina da Igreja.
- O Objetivo principal da pastoral do batismo é este: ACENDER, REANIMAR, INTENSIFICAR A FÉ dos pais e padrinhos
Acender, quando apagou!
reanimar, quando está fraca!
intensificar, quando está viva!
- Isto exige que conheçamos a vida de fé da família que pede o batismo. A fé que se exige para o batismo, não precisa ser uma fé perfeita. Basta que seja uma fé inicial, disposta a crescer. Fé não é sinônimo de participação na comunidade!
- Sobre o Batismo das Crianças
- Qual o significado da batismo das crianças? Como fazê-lo e o que fazer? O Batismo é sinal do amor de Deus na vida daquela criança. Mesmo havendo deficiência da nossa parte, o amor de Deus é maior do que a nossa deficiência! Por isso, o Batismo das crianças deve ser facilitado cada vez mais. Na América Latina, nunca pode ser negado o batismo aos pobres. Deveríamos criar dificuldade com o batismo dos ricos, isto sim!
- Devemos encontrar uma maneira de levar o batismo a todas as crianças, como sinal do Reino de Deus que chegou para todos, independente do merecimento nosso. Devemos levar o batismo com menos rancor, e muito mais como Boa Nova do amor de Deus para aquela criança. Este aspecto da Boa Nova do amor de Deus deve transparecer na celebração. Devemos ligar a intuição de fé do povo com a fé da Igreja e com o evangelho.
- O objetivo principal da pastoral do batismo não é conseguir a participação dos pais e dos padrinhos na comunidade. O objetivo principal é celebrar o amor gratuito de Deus para com esta criança! Isto não significa banalizar o Batismo. Pelo contrário! Mas é celebrar a chegada do Reino de Deus. Fazendo uma boa preparação para a celebração e fazendo uma boa e bonita celebração, muita gente vai despertar e querer participar. Exigindo menos, se consegue mais! Batismo de adulto, este sim, exige uma longa e profunda preparação.
- Então vamos cair de novo no cacramentalismo? Não! Na medida em que se exige menos, vamos ganhar mais. Fazendo uma boa celebração do batismo estamos evangelizando. Bem celebrado, o sacramento do batismo anima a fé. Todos os símbolos do batismo contribuem para isto:
* cruz | Estes símbolos expressam vida nova,
* óleo | expressam o mistério de Deus na vida,
*..luz | expressam a caminhada de Jesus,
* roupa nova | expressam a comunidade.
- No começo da igreja, o Padrinho era aquele que introduzia o batizando na fé. Era o “introdutor na fé”. Ou seja, a comunidade indicava alguém para acompanhar a pessoa ou a família. Este acompanhante era o laço entre a comunidade e a família. Hoje, além do padrinho que o povo indica, a comunidade poderia indicar alguém para ir acompanhando a família, mostrando interesse.
- A tendência atual é dar menos importância às palestras e insistir num acompanhamento mais personalizado em forma de diálogo, sem ter um conteúdo especial, mas com a preocupação de rezar a vida da criança e da família.
- Depois da celebração do batismo, voltar a visitar a família, de vez em quando, e rezar com ela o que se viveu na celebração do batismo, explicitando assim todo o seu conteudo para a vida da família e da criança. Até o vídeo do batismo pode ajudar na evangelização!
- Sugestões concretas vindas dos grupos
- Foi feito um trabalho de grupo com a seguinte pergunta: “Que meios concretos podemos adotar para acender, reanimar e intensificar a fé dos pais?” Padre Domingos pediu que, na discussão, tivêssemos bem presente que nós da equipe somos apenas colaboradores. Os pais é que são os principais responsáveis. No plenário, vieram as seguintes sugestões:
- Parati: Devemos acentuar mais o aspecto do batismo como bênção de Deus para a criança. O batismo é um momento importante de contato entre a Comunidade Cristã e a grande massa batizada. Devemos usar bem este momento. Um bom contato se faz muito melhor por meio do diálogo do que por meio de uma palestra. As Comunidades são o lugar por exclelência onde Cristo está vivo como Boa Nova de Deus
- Itaguaí: Devemos ajudar a buscar as raízes no contato com as pessoas. Usar de muito carinho, caso por caso. Usar de mais ardor e em grupos menores. Rezar e celebrar mais as datas que marcam a vida da família.
- Jacuacanga: Devemos visitar as famílias que pedem o batismo para a criança e aproximar-nos delas. Procurar re-inventar o “Introdutor da fé”, tentando unir pastoral familiar com a pastoral do batismo, de tal modo que haja contato antes, durante e depois da celebração.
- Angra dos Reis: Dialogar e ouvir mais as pessoas. Insistir mais nas visitas. Na celebração devemos usando mais e melhor os símbolos. Sobretudo devemos cuidar melhor do acolhimento.
- Não consegui tomar nota das respostas das outras paróquias ou municípios. No breve debate, apareceu uma sugestão muito útil de como usar melhor os símbolos:
* Uma pia batismal bem bonita e visível e não uma bacia de plástico.
* Um Círio grande e vistoso e não um toco de vela.
* Um recipiente digno para o óleo e não uma latinha.
- Complementações finais do Padre Domingos.
- Depois que os grupos das paróquias relataram suas conclusões, padre Domingos fez umas considerações finais, insistindo sobretudo em alguns pontos bem concretos de como preparar melhor o pessoal para a celebração do Batismo. Não consegui tomar nota de tudo, mas ele disse que tudo está no livrinho que escreveu e que pode ser adquirido
- Ele acentuou a importância da celebração como algo que tem grande valor em si mesmo para o anúncio da Boa Nova de Deus. Disse que a gente não deve querer explicar demais o rito, mas sim celebrá-los de tal maneira que o rito fale por si mesmo. Deve ser uma celebração de alegria e de ressurreição que possa trazer paz ao coração. Ele disse que não se deve insistir demais no moralismo e na responsabilidade. Celebrar sobretudo o dom e a graça de Deus que geram responsabilidade por si mesma!.
- Algumas sugestões concretas de como preparar melhorar a celebração:
- Não é necessário que tudo seja feito dentro de uma única celebração. Pode-se aproveitar de uma celebração dominical para apresentar a criança à Assembléia.
- O pedido de batismo: “O que vocês pedem?...” também pode ser feito antes, em outra ocasião.
- Em alguns lugares criaram um rito de acolhimento das gestantes, como preparação remota para o batismo.
- Nas celebrações dominicais rezar pelas crianças que vão ser batizadas, dizer os nomes dos pais e da criança que vai ser batizada.
- Usar as bênçãos para abençoar as famílias que se preparam para o batismo: usar hinos, orações e bênçãos na preparação. Que tudo seja bem orante!
- Rezar com eles, por ex., o salmo 23: “O Senhor é meu pastor” e comentá-lo.
- Toques e bênçãos para a criança. Rito “Effata!”...
- É importante que a preparação seja mais personalizada, menos na linha de aula e de curso; que a família sinta e experimente que alguém se preocupe com ela e com a criança; reza por ela e pela criança.
- Conteúdos básicos da teologia do Batismo a partir do NT
* A Boa Nova de Deus se revela no Batismo das Crianças
* Pontos importantes que podem ser acentuados na celebração através dos símbolos:
- passar pela água: água abundante, que possa significar o mergulho na morte e na ressurreição de Jesus (cf. Rom 6)
- banho de purificação: o batismo traz o perdão dos pecados e a comunhão com Deus; a misericórdia de Deus já está aí, o perdão já está garantido para o futuro da criança.
- a luz de Cristo: a iluminação trazida pela participação na morte e ressurreição de Jesus, que ilumina a vida da gente
- ser batizado no Espírito Santo: expresso na invocação, na alegria e no canto.
- o novo nascimento: a vida nova de Deus expressa pelo batismo une a criança a Jesus que é a fonte de vida nova
Bibliografia
- Procurando novos caminhos para a pastoral do batismo de crianças: 1ª parte: É da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Foi feito pelo Padre Domingos
- Número 125 da revista de Liturgia traz um artigo do Padre Domingos sobre como preparar a celebração do Batismo
OLHAR CARMELITANO: O Profeta Elias e o Silêncio Profético
- Detalhes
Frei Carlos Mesters, O. Carm
Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra do Carmo recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana? Nas reflexões que seguem, eu me inspirei no comentário que Kees Waayman fez da Regra e dos textos bíblicos sobre o Profeta Elias.
Há muitas formas de silêncio: O silêncio que se pede numa biblioteca ou num hospital. O silêncio da noite ou da natureza. O silêncio da morte. O silêncio que precede à tempestade. O silêncio do medo ou do aluno que não sabe a resposta. O silêncio do censurado ou do povo silenciado. O silêncio do fulano frustrado, do jovem abafado, do lutador derrubado. O silêncio do namorado na presença da namorada. O silêncio de Deus que nunca aparece. O silêncio do místico. O silêncio da quebra interior quando tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Tantos silêncios! Qual o silêncio que a Regra do Carmo pede e recomenda?
A recomendação do silêncio na Regra do Carmo
Para descrever o valor do silêncio, a Regra cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: A justiça é cultivada pelo silêncio, e É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Trata-se de um silêncio que tem a sua origem nos profetas. Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias. As duas frases de Isaías indicam os dois passos do silêncio profético, ambos de grande atualidade.
Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem, é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e de violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão freqüente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira frase de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. Devemos fazer silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça, tanto religiosos como culturais. Faz nascer a visão justa das coisas. O cultivo do silêncio gera em nós a justiça.
Na hora em que se desmantela dentro da nossa cabeça o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro de nós. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra do Carmo. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda frase do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. Esta segunda frase de Isaías sugere o contrário da primeira. Em vez de esforço ativo nosso em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança. Dá força para poder resistir, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição. Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Ele foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Trata-se da experiência mística.
O silêncio profético na caminhada do profeta Elias
Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de morte da parte de Jezabel, ele aparece como era na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai para o deserto (1Rs 19,1-3). Cego, sem enxergar, não percebe o anjo de Deus que lhe traz comida. Ele só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Está desanimado. Quer morrer: Não sou melhor que meus pais! Mas Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, recupera sua força. No silêncio do deserto, ele caminha quarenta dias e quarenta noites até o Horeb (Sinai), a Montanha de Deus (1Rs 19,8). Elias busca reencontrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, na época do êxodo, havia nascido o povo.
Mas a busca parece não estar bem orientada. Alguma coisa não está dando certo. Elias diz ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Ele diz que ficou sozinho, mas havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Elias tem a visão limitada. Ele pensa que é o único a defender a causa de Deus! (1Rs 19,14) Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai de Elias. Ele continua com a mesma visão limitada, achando ser ele o único que defende a Deus! (1Rs 19,14) Enquanto não mudar esta sua maneira limitada de perceber a presença de Deus, não poderá percebê-la na vida e nos fatos.
Deus vai passar! Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, um fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, na época do êxodo, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam Elias na busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando, no Monte Carmelo, enfrentou os profetas de Baal (1Rs 18,36-38).
Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo, à experiência de Deus no êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso aconteceu o inesperado, a surpresa total: Deus não estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo! Parece até um refrão que volta três vezes: Javé não estava no furacão! Javé não estava no terremoto! Javé não estava no fogo! Se Ele não está nestes sinais, então onde está Deus? Onde encontrá-lo?
É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está mais nestes sinais familiares e tradicionais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! É a escuridão da noite! Ora, é neste momento, que se abre para Elias um novo horizonte. É no silêncio de todas as vozes que a voz de Deus se manifesta.
Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada! Vacare Deo dizem até hoje os carmelitas, isto é, esvaziar-se para Deus!
Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. É a libertação de Elias. Reencontrando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo e descobre que não é ele, Elias, que defende a Deus, mas sim que é Deus quem defende a Elias. Libertado por Deus, ele é livre para libertar os outros!
A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18). Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.
Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra e vivido por Elias tem dois aspectos. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
Encontro de Francisco com o Pe. Martin repreende bispos conservadores, levanta algumas dúvidas sobre inclusão na Igreja
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“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”. O comentário é de Robert Shine, editor do New Ways Ministry, publicado por News Way Ministry, 18-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
A audiência privada entre o Papa Francisco e o padre jesuíta James Martin reverberou em todos os lados do debate sobre igualdade LGBTQ na Igreja Católica. Mas, além da afirmação papal ao ministério LGBTQ do sacerdote americano, qual o significado deste encontro? A reflexão de hoje destaca dois comentários referentes ao assunto.
Diretor do programa católico Faith in Public Life, John Gehring escreveu no New York Times, sobre a audiência privada dizendo que era um “endosso do departamento eclesiástico de mais autoridade” ao livro de Martin, intitulado Building a Bridge, escrito a partir de uma palestra de 2016 quando da entrega do Prêmio Bridge Building, concedido pelo New Ways Ministry. Mas Gehring refletiu também sobre o significado para além deste primeiro sentido:
“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”.
“Desde a sua eleição, há seis anos, o Papa Francisco tem proposto um modelo diferente de exemplo moral: engajando-se e persuadindo, reenquadrando questões contenciosas, afastando-as de ideologias estreitas e ampliando as imaginações morais (...) Os guerreiros culturais nos EUA já causaram um grande prejuízo à nossa imaginação política e moral coletiva. Mais marcados pelo poder do que fiéis ao Evangelho, tais lideranças eclesiásticas demonizam a comunidade LGBTQ, viram as costas aos migrantes que fogem do perigo e ignoram os clamores dos pobres enquanto alegam defender os valores cristãos. Um pastor humilde porém persistente em Roma nos recorda que há um caminho diferente para aqueles de nós que ainda acreditam em uma fé que busca por justiça”.
Os editores do National Catholic Reporter concordam que Francisco pretendeu enviar a “mensagem bastante clara” sobre o ministério do Pe. Martin, de que “Está tudo OK com [este] padre, então parem de incomodá-lo”. O evento foi positivo segundo as mensagens publicadas na internet pelo próprio religioso, e um encontro recebido com entusiasmo pelo New Ways Ministry. Ao mesmo tempo, os editores da publicação deram a entender que essa audiência privada levantou muitas outras dúvidas na questão da inclusão LGBTQ na Igreja:
“Se o papa está sinalizando uma nova atitude na Igreja em relação à comunidade LGBTQ, o que exatamente isso significa? Além disso, é mesmo justo esperar exatidão em uma área que por tanto tempo esteve repleta de contendas que podiam acabar em ódio? (...) Não queremos estragar este bom momento, mas nos sentimos obrigados a dizer: por maior que seja, é apenas um momento (…) Com certeza estamos esperançosos com a série de avanços que neste papado se misturaram com os ensinamentos e as atitudes que levaram católicos LGBTQs a ficar à margem. Ficaremos felizes com estes avanços, mas com o entendimento sóbrio de que, enquanto católicos LGBTQs estiverem às margens e enquanto os papas puderem mudar ao mesmo tempo em que o magistério católico sobre a sexualidade, em tantas áreas, permanece inalterado, haverá muito trabalho ser feito”.
Parte desse trabalho é o de defender o ministério do Pe. Martin contra os ataques da direita que ele tem recebido há dois anos. Na esteira do encontro papal e dos ataques abertos de Dom Charles Chaput contra o sacerdote, a iniciativa Faithful America lançou uma petição em apoio ao jesuíta, e já ganhou quase 14 mil assinaturas, dizendo:
“Estamos com o Pe. James Martin, SJ, e apoiamos o seu trabalho de tornar a Igreja mais inclusiva para os filhos e filhas LGBTQs de Deus. Obrigado, Padre Jim!”
Para adicionar o seu nome em apoio ao Pe. Martin e seu trabalho na construção de pontes de inclusão na Igreja. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
SÃO SIMÃO E SÃO JUDAS TADEU: Liturgia da Palavra
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 6, 12-19)
12Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.13Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:14Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,15Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;16Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor.17Descendo com eles, parou numa planície. Aí se achava um grande número de seus discípulos e uma grande multidão de pessoas vindas da Judéia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades.18E os que eram atormentados dos espíritos imundos ficavam livres.19Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos.
3) Reflexão Lucas 6, 12-19
O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) descreve a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e (2) informa que uma multidão imensa de gente queria encontrar-se com Jesus para ouvi-lo, tocar nele e ser curada (Lc 6,17-19).
Lucas 6,12-13: Jesus passa noite em oração e escolhe os doze apóstolos
Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus subiu a uma montanha e passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos nomes estão registrados nos evangelhos. A eles deu o título de apóstolo. Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais a missão e diz que Jesus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
Lucas 6,14-16: Os nomes dos doze apóstolos
Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento: Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também se chamava Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?
Lucas 6,17-19: Jesus desce da montanha e a multidão o procura
Ao descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, pois vinham da Judéia e também lá de Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos! Aqui transparece o ecumenismo, a abertura universal da missão, tema preferido de Lucas que escreve para pagãos convertidos.
As pessoas chamadas por Jesus, consolo para nós.
Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes dos Doze apóstolos e de outros homens e mulheres que seguiram Jesus de perto. Os Doze, chamadas por Jesus para formar com ele a primeira comunidade, não eram santos. Eram pessoas comuns, como todos nós, com suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um deles. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós.
Pedro era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o coração dele encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser satanás (Mc 8,33) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Negou Jesus na hora do perigo (Lc 22,56-62). Jesus deu a ele o apelido de Pedra . Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).
Tiago e João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter um certo ciúme, pois queria Jesus só para o grupo dele e proibiu os outros usar o nome de Jesus para expulsar demônios (Mc 9,38).
Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
André, irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
Bartolomeu parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).
Tomé foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).
Mateus ou Levi era publicano, cobrador de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Os publicanos eram pessoas comprometidas com o sistema opressor da época.
Simão, ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelota (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.
Judas era o que tomava conta do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
Tiago de Alfeu e Judas Tadeu, destes dois os evangelhos nada informam a não ser o nome.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você tira deste gesto de Jesus?
2) Os primeiros cristãos lembravam os nomes dos doze apóstolos que estavam na origem das suas comunidades. Você lembra dos nomes das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? Você lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa para a sua formação cristã. O que mais lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?
5) Oração final
Exaltai o Senhor nosso Deus, prostrai-vos ante seu santo monte, porque santo é o Senhor, nosso Deus. (Sl 99, 9)
Igreja abre a porta para ordenar homens casados na Amazônia
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Sínodo vota a recomendar que pessoas com família possam ser padres em regiões onde os fiéis não podem receber a eucaristia
O sínodo sobre a Amazônia, realizado durante o mês de outubro no Vaticano, termina com uma grande novidade. Duas das grandes propostas formuladas por um grande grupo de bispos da Amazônia, a ordenação de mulheres diaconisas e homens casados em regiões onde os fiéis não podem receber a eucaristia, ganharam neste sábado um importante impulso. A assembleia de bispos, da qual participaram 185 padres sinodais com direito a voto — e um grande número de especialistas e relatores —, recomendou que em algumas regiões possa ser estudada a possibilidade de ordenar homens com família. Uma decisão que o Papa deverá aprovar, mas que representa uma abertura histórica da Igreja e coloca sobre a mesa a questão do celibato.
A assembleia de bispos realizada no Vaticano desde o início de outubro tinha como objetivo discutir a proteção do meio ambiente na Amazônia, sobre as comunidades indígenas que o povoam e, particularmente, sobre a possibilidade de ordenar mulheres e homens casados para compensar a falta de sacerdotes. Este último ponto foi votado a favor por 128 membros e contra por 41. Uma aprovação baixa com relação ao restante das propostas, mas suficiente para que o Papa deva agora estudar sua aprovação na exortação apostólica que escreverá antes do fim do ano. Quanto à questão de ordenar diaconisas, também fortemente contestada, Francisco anunciou que reativará a comissão de estudos.
A decisão do sínodo tem caráter histórico e, embora o documento afirme explicitamente que se refere apenas à questão da eucaristia, trata colateralmente de uma questão tão espinhosa quanto o celibato no catolicismo. O setor ultraconservador da Igreja já expressou nas últimas semanas sua total rejeição a essa possível abertura, considerando que entraria em choque com a doutrina católica. Seus grandes promotores, como o bispo Erwin Kräutler, insistem que isso só tem a ver com a eucaristia. No entanto, esse prelado também apontou — em uma entrevista ao EL PAÍS — que a possibilidade de ter acesso aos sacramentos está acima da “graça do celibato”.
O ponto 111 do documento votado explica assim a questão: “Propomos estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente […] de ordenar sacerdotes homens idôneos e reconhecidos da comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado, podendo ter família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã por meio da pregação da palavra e da celebração dos sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica”.
A abertura, além disso, não afeta apenas a Amazônia. De acordo com o texto redigido, está escrito que “alguns se pronunciaram por uma abordagem universal do tema”. Uma nuance — “alguns” em termos do Vaticano significaria um número considerável — que amplia o horizonte da abertura e gerará um acalorado debate na Igreja nos próximos meses.
Francisco também adiantou que dotará de mais pessoal a comissão para estudar a possibilidade de ordenar diaconisas. Um órgão criado em 2016 que depois de dois anos de estudo chegou a um ponto morto sobre qual foi o papel ou se existiram as chamadas diaconisas nos primeiros anos do cristianismo. Durante esse sínodo, a necessidade de dar maior relevância à mulher na Igreja foi amplamente abordada, uma vez que nas comunidades amazônicas são essenciais para o funcionamento, como todos os participantes reconheceram. O papa disse que “recolhe a luva” lançada a ele pelas mulheres durante o sínodo para serem ouvidas.
O problema das mulheres, no entanto, é mais complicado. O diaconato permanente do sexo feminino não tinha muita chance de avançar, pois já havia sido analisado em paralelo na mencionada comissão. O caminho proposto até agora para aceitá-lo, alegando que nos primeiros tempos da Igreja havia ordenações de mulheres similares às dos homens, não goza de consenso relevante até o momento. Fonte: https://brasil.elpais.com
DOMINGO 27: AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO, CARMELITA
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AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, CARMELITA. Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, Rio de Janeiro. “Muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos", Papa Francisco. Domingo, 27 de outubro-2019. www.instagram.com/freipetronio
30º Domingo do Tempo Comum - Ano C: Um Olhar Orante
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A liturgia deste domingo ensina-nos que Deus tem um "fraco" pelos humildes e pelos pobres, pelos marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade, na sua finitude (e até no seu pecado), que estão mais perto da salvação, pois são os mais disponíveis para acolher o dom de Deus.
O Evangelho define a atitude correta que o crente deve assumir diante de Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e autossuficientes, convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de "pobre" que Lucas propõe aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.
EVANGELHO- ATUALIZAÇÃO (Lc 18,9-14)
Este texto coloca, fundamentalmente, o problema da atitude do homem face a Deus. Desautoriza completamente aqueles que se apresentam diante de Deus carregados de autossuficiência, convencidos da sua "bondade", muito certos dos seus méritos, como se pudessem ser eles a exigir algo de Deus e a ditar-Lhe as suas condições; propõe, em contrapartida, uma atitude de reconhecimento humilde dos próprios limites, uma confiança absoluta na misericórdia de Deus e uma entrega confiada nas mãos de Deus. É esta segunda atitude que somos convidados a assumir.
Este texto coloca, também, a questão da imagem de Deus... Diz-nos que Deus não é um contabilista, uma simples máquina de recompensas e de castigos, mas que é o Deus da bondade, do amor, da misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação (mesmo que o homem não mereça) como puro dom. A única condição para "ser justificado" é aceitar humildemente a oferta de salvação que Ele faz.
A atitude de orgulho e de autossuficiência, a certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação (de um lado os "bons", de outro os "maus"), que provocam segregação e exclusão... Isto acontece com alguma frequência nas nossas comunidades cristãs (e até em muitas comunidades religiosas). Como entender isto, à luz da parábola que Jesus hoje nos propõe?
Nos últimos séculos os homens desenvolveram, a par de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma consciência muito viva das suas capacidades. Isto levou-os, com frequência, à presunção da sua autossuficiência... O desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da química, dos sistemas políticos convenceram o homem de que podia prescindir de Deus pois, por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido esta presunção? Podemos chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos nossos próprios meios?
O que está no centro da parábola não é o fariseu nem o publicano. É Deus. Deus deu a Lei a Moisés, mas nunca disse que Se identificava pura e simplesmente com os preceitos jurídicos. Pelo contrário, com os profetas, não pára de dizer que é um Deus que não faz senão amar o seu povo.
O sentido da história: Jesus não põe em causa a justiça destes homens, como não põe em causa a retidão e a generosidade do fariseu que ultrapassa as exigências da Lei; o que Jesus critica ao fariseu da parábola e, sobretudo, aos seus ouvintes é que eles desprezavam todos os outros. Ora, não se pode entrar em relação com Deus quando se manifesta desprezo em relação aos irmãos: "Aquele que diz que ama a Deus e não ama o seu irmão é um mentiroso".
*Leia a reflexão na íntegra. Clique ao lado no link- EVANGELHO DO DIA.
Quinta-feira, 24 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 49-53)
49Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso? 50Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra! 51Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação. 52Pois de ora em diante haverá numa mesma casa cinco pessoas divididas, três contra duas, e duas contra três; 53estarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz algumas frases soltas de Jesus. A primeira sobre o fogo na terra só ocorre em Lucas. As outras têm frases mais ou menos paralelas em Mateus. Isto nos remete para o problema da origem da composição destes dois evangelhos que já fez correr muita tinta ao longo dos últimos dois séculos e só será resolvido plenamente quando pudermos conversar com Mateus e Lucas, depois da nossa ressurreição.
Lucas 12,49-50: Jesus veio trazer fogo sobre a terra
"Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso! Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra!” A imagem do fogo ocorre muito na Bíblia e não tem um sentido único. Pode ser imagem de devastação e castigo e também pode ser imagem de purificação e iluminação (Is 1,25; Zc 13,9). Pode até evocar proteção como transparece em Isaías: “Se passar pelo fogo, estarei contigo” (Is 43,2). João Batista batizava com água, mas depois dele Jesus haveria de batizar pelo fogo (Lc 3,16). Aqui, a imagem do fogo é associada à ação do Espírito Santo que desceu no dia de Pentecostes sob a imagem de línguas de fogo (At 2,2-4). Imagens e símbolos nunca têm um sentido obrigatório, totalmente definido, que não permitiria divergência. Nesse caso já não seria imagem nem símbolo. É da natureza do símbolo provocar a imaginação dos ouvintes e expectadores. Deixando liberdade aos ouvintes, a imagem do fogo combinado com a imagem do batismo indica a direção na qual Jesus quer que a gente dirija a imaginação. Batismo é associado com água e é sempre expressão de um compromisso. Em outro lugar o batismo aparece como símbolo do compromisso de Jesus com a sua paixão: “Você podem ser batizados com o batismo com que serei batizado?”. (Mc 10,38-39).
Lucas 12,51-53: Jesus veio trazer a divisão
Jesus sempre fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33; 20,21.26). Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece dizer o contrário: “Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão”. Esta afirmação não significa que Jesus estivesse a favor da divisão. Não! Jesus não quer a divisão. Mas o anúncio da verdade de que ele, Jesus de Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Dentro da mesma família ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente contra. Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão, um “sinal de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus: “Ficarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas comunidades: muita divisão, muita discussão, como conseqüência do anúncio da Boa Nova entre os judeus daquela época, uns aceitando, outros negando. O mesmo vale para o anúncio da fraternidade como o valor supremo da convivência humana. Nem todos concordavam com este anúncio, pois preferiam manter seus privilégios. Por isso, não tinham medo de perseguir os que anunciavam a fraternidade e a partilha. Esta é a divisão que surgia e que está na origem da paixão e morte de Jesus. Era o que estava acontecendo. Era o julgamento em andamento. Jesus quer é a união de todos na verdade (cf. Jo 17,17-23). Até hoje é assim. Muitas vezes, lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna um “sinal de contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram acomodadas na rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas “inovações” do Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para condenar as mudanças como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira fé.
4) Para um confronto pessoal
1) Buscando a união, Jesus era causa de divisão. Isto já aconteceu com você?
2) Diante das mudanças na Igreja, como me situo?
5) Oração final
Exultai no Senhor, ó justos, pois aos retos convém o louvor. Celebrai o Senhor com a cítara, entoai-lhe hinos na harpa de dez cordas. (Sl 33, 1-2)
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