Anvisa monitora dois navios de cruzeiro que registraram dezenas de casos de Covid a bordo
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Anvisa monitora dois navios de cruzeiro que registraram dezenas de casos de Covid a bordo
Dois navios de cruzeiro estão parados nos portos de Santos (SP) e Salvador (BA) por causa de surtos de Covid a bordo. Dos 4 mil que estavam no navio MSC Splendida, 51 tripulantes e 27 passageiros foram diagnosticados com Covid. Muitos deixaram a embarcação nesta quinta-feira (30) e foram levados para um hotel na cidade.
O navio partiu de Santos no último domingo (26) para uma viagem de sete dias. Depois de passar pelo litoral de Santa Catarina, ele seguiria nesta quinta-feira para o Rio de Janeiro, mas precisou retornar ao porto da cidade paulista por causa dos casos de Covid.
A Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, informou que o navio só deve deixar o porto de Santos após a finalização da análise dos dados epidemiológicos pelas autoridades de saúde. Enquanto isso, ninguém está autorizado a embarcar ou sair da embarcação.
Não é a primeira vez que passageiros são diagnosticados com Covid durante a temporada de cruzeiros, que começou no mês passado. Na viagem anterior do MSC Esplendida, a Anvisa confirmou outros 19 casos. E em Salvador, passageiros estão impedidos de desembarcar do navio Costa Diadema. Segundo a Anvisa, 68 casos foram confirmados, entre passageiros e tripulantes. Fonte: https://terrabrasilnoticias.com
Mulher descobre que está com covid no voo e se isola no banheiro: 'Quatro horas'
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Marisa Fotieo sentiu um incômodo na garganta no meio de um voo dos Estados Unidos à Islândia e fez um dos testes rápidos que tinha levado consigo. Com o diagnóstico, e preocupada com a saúde dos outros passageiros, a professora resolveu ficar no banheiro da aeronave.
A professora Marisa Fotieo estava em um voo dos Estados Unidos à Islândia na última semana quando descobriu que havia contraído a covid-19, reporta a estação de notícias 13 On Your Side. A professora explica que percebeu que tinha um incômodo na garganta ao sobrevoar o oceano.
Marisa, que havia levado consigo alguns testes rápidos, foi para o banheiro da aeronave fazer um. Ela descobriu que estava contaminada em alguns segundos. Na sequência, a professora informou seu diagnóstico à comissária de bordo, que lhe disse que o avião não tinha assentos suficientes para que ela ficasse isolada.
Marisa, preocupada com a saúde dos outros passageiros, se ofereceu a ficar no banheiro pelo resto do voo. "Eu não acredito que passei quatro horas naquele banheiro", conta ela. "Mas você tem que fazer o que você precisa fazer", complementa.
A NBC News reporta que o pai e irmão de Marisa, que também estavam no avião, testaram negativo após o pouso. A professora ficou em Reyjavik, capital da Islândia, de quarentena por 10 dias enquanto sua família foi para a Suíça. Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com
Celular de empresário pega fogo no carro e incêndio danifica veículo e notebook: 'Fumaça por todo lado', diz
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Por conta das altas temperaturas, o celular pegou fogo na tarde deste domingo (26). Luiz Arzani, de 59 anos, contou que se assustou ao perceber a fumaça que vinha debaixo de um edredom que estava por cima do banco do carro.
Celular de empresário de Lins pega fogo e danifica aparelho, carro e notebook — Foto: Luiz Arzani /Arquivo Pessoal
Por Desirèe Assis*, g1 Bauru e Marília
Um celular pegou fogo dentro de um carro por conta das altas temperaturas e o incêndio danificou o veículo, além de notas de dinheiro e um notebook de um empresário de Lins (SP).
Ao g1, Luiz Arzani, de 59 anos, contou que se assustou ao perceber a fumaça que vinha debaixo de um edredom que estava por cima do banco do carro. Na tentativa de apagar o fogo, solicitou ao genro que pegasse o extintor da sorveteria que é proprietário.
“Eu vi que debaixo do edredom estava saindo muita fumaça quando abri a porta do carro. Nisso, chamei meu genro e gritei para ele correr para pegar um extintor de incêndio. Foi muito rápido, tinha fumaça por todo lado”, diz.
Depois de apagar o incêndio com ajuda da filha e do genro, Luiz diz que viu que era o celular que estava pegando fogo uma vez que o carro estava estacionado no sol. Junto ao aparelho, um computador, R$ 300 e o carro foram danificados.
“Se passa um minuto a mais, tinha queimado o carro inteiro”, salienta. Fonte: https://g1.globo.com
Fome: hipermercado de Belo Horizonte é ocupado por famílias que pedem cestas básicas
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Segundo o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ato também acontece em outras cidades do país.
Por Carolina Caetano, g1 Minas — Belo Horizonte
Hipermercado de Belo Horizonte é ocupado por famílias que pedem cestas básicas
Cerca de 500 famílias de Belo Horizonte e da Grande BH ocuparam, nesta quinta-feira (16), um hipermercado no bairro Santa Efigênia, na Região Leste de Belo Horizonte. O grupo reivindica cestas básicas.
Segundo o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que organiza a ação, o protesto denuncia a fome. Os manifestantes pedem por comida no Natal.
A Polícia Militar acompanha o protesto.
"Não estamos impedindo a passagem de ninguém. Fome não é caso de policia, tem que ser tratada como precisa", disse Indira.
As famílias fazem parte de ocupações em Belo Horizonte e na região metropolitana.
O hipermercado foi procurado pelo g1, mas ainda não houve retorno.
O MLB disse no fim da tarde que uma reunião com o estabelecimento sobre doações de cestas básicas será realizada nesta sexta-feira (16). A ação terminou por volta das 18h. Fonte: https://g1.globo.com
Juiz recusa denúncia contra padre que chamou repórter de 'viadinho'
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Erick Rianelli e Pedro Figueiredo são casados (foto: Erick Rianelli/Instagram/Reprodução)
Paulo Antônio Müller foi acusado de homofobia, mas juiz considerou as falas liberdade de expressão
Aline Brito - Correio Braziliense
O juiz Bruno César Singulani França rejeitou, nesta segunda-feira (6/12), a acusação do Ministério Público do Estado (MPE) contra o padre Paulo Antônio Müller por homofobia. O caso foi julgado na Vara Única de Tapurah, a 414 km de Cuiabá, e o magistrado considerou que as falas do padre eram liberdade de expressão e comportamentos de toda religião que "busca o aperfeiçoamento da conduta humana".
Nos autos do processo, o magistrado alegou que tudo não passou de algo normal em qualquer religião que tem como missão a elevação do espírito e "a reprovação de atos e práticas consideradas não saudáveis espiritualmente para aquele determinado credo". O juiz afirmou ainda que é "natural em qualquer grupo religioso que se recrimine condutas e o cristianismo está permeado de exemplos em que se desestimula a conduta humana desagradável a Deus, o que se denominou de pecado"
Para França, o direito não deve considerar algo como discurso de ódio somente porque incomoda algumas pessoas. "A democracia é baseada na pluralidade de ideias, muitas delas díspares e repelentes umas das outras. Calar um dos argumentos contrários às próprias convicções é conduta que não se coaduna com o atual estágio civilizatório e do avanço do direito", completou.
O MPMT, recorreu da decisão que rejeitou a denúncia. Ao contrário do entendimento do magistrado, que não viu a utilização de discurso de ódio por parte do padre, a promotora de Justiça que atua no caso afirmou que o líder religioso "ultrapassou os limites da livre manifestação acerca de suas crenças religiosas, uma vez que no dia dos fatos, durante a celebração religiosa de domingo da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, proferiu ofensas e manifestações discriminatórias contra os jornalistas Erick Rianelli e Pedro Figueiredo, bem como contra a população LGBTQIA+".
Relembre o caso
Em 13 de junho deste ano, em uma missa transmitida ao vivo pelo Facebook, o padre causou repercussão nacional ao xingar os jornalistas de "viadinho". O pároco levou o relacionamento dos repórteres ao sermão para repudiar uniões homoafetivas.
Durante a live, Paulo Antônia falou que essa não deve ser a conduta do homem. "Que essa não seja sua cabecinha, nem do seu filho, nem da sua filha. Pegue a Bíblia e olhe o livro de gênesis. Deus criou o homem e a mulher, concebeu família para os dois se unirem", aconselhou.
"Queremos orar por você que é casado na igreja, é noivo, namorado. Vamos pedir a Deus que possamos viver bem esse tempo. A gente faz o namoro, não como a Globo mostrou durante essa semana com dois viados. Um repórter com um viadinho chamado Pedrinho. Ridículo", opinou.
Consta nos autos do processo que, durante a celebração religiosa, o padre fez várias declarações ofensivas. Entre elas, disse "que chamem a união de dois viados e duas lésbicas como querem, mas não de casamento, por favor, isso é falta de respeito para com Deus, isso é sacrilégio, é blasfêmia. Casamento é uma coisa bonita e digna".
A polêmica surgiu após o repórter Erick Rianelli se declarar ao vivo no telejornal Bom Dia RJ, ao marido Pedro Figueiredo. Em um momento espontâneo e apaixonado o jovem disse "meu amor, meu marido: eu te amo! Feliz Dia dos Namorados para a gente, para todos os casais apaixonados que estão nos assistindo, que todo mundo tenha um Dia dos Namorados maravilhoso". A declaração foi feita em 2020, mas voltou a repercutir este ano e recebeu diversos ataques nas redes sociais. Além de Erick, os demais jornalistas do telejornal também enviaram recados para os companheiros.
Outros ataques
Além das falas do padre, o casal também foi criticado por um empresário de uma rede de hamburguerias do Distrito Federal. O vídeo da declaração circulou em um grupo do WhatsApp e um dos participantes, Alexandre Geleia, dono do Geleia Burguer, se pronunciou incomodado.
"Falo o que penso e o que eu acho. Se ficou incomodado, me desculpe, garoto. Só acho que não precisa e não é necessário passar em TV aberta, em jornal esse tipo de coisa. É a minha opinião e não vou mudar por ser uma figura pública", afirmou Alexandre por meio de áudios. As mensagens chegaram até Erick e Pedro, que pediram boicote a rede de lanchonetes.
"Recebi alguns relatos sobre um empresário de Brasília que reagiu com homofobia a um vídeo em que eu declarei amor ao meu marido. Agradeço por todas as mensagens de apoio! Sobre o empresário... acho que nenhum LGBT do DF vai comer mais nas lojas dele", disse Erick no Twitter.
Decisão do STF
Em 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia, enquadrando como uma forma de racismo. Além disso, a Suprema Corte também determinou que religiosos e fiéis não poderão ser punidos por racismo ao externarem suas convicções doutrinárias sobre orientação sexual desde que suas manifestações não configurem discurso discriminatório.
Na época, os ministros entenderam que Congresso não pode deixar de tomar as medidas legislativas que foram determinadas pela Constituição para combater atos de discriminação.
O MPMT, com base nessas decisões do STF, argumentou, no caso do padre, que é dever do Estado criminalizar as condutas atentatórias dos direitos fundamentais, inclusive a que se fundamenta na orientação sexual das pessoas ou em sua identidade de gênero. "O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou expressão de gênero e a orientação sexual", enfatizou. Fonte: https://www.em.com.br
O labirinto da pornografia
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Da espiral da dependência de conteúdos pornográficos brotam terríveis patologias sociais: violência, abuso sexual, pedofilia
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
A pornografia é um negócio poderoso e devastador. Causa dependência, desestrutura a afetividade, desestabiliza a família e passa uma pesada conta no campo da saúde mental. Mas o mais grave, de longe, é a estratégia de “mesmitificação” do material pornográfico. Eliminou-se o carimbo de proibido. Deu-se ao conteúdo pornográfico um toque de leveza, de algo sexy e divertido. Na prática, no entanto, a pornografia tem a garra da adicção e as consequências psicológicas, afetivas e sociais da dependência mais cruel. Joga o usuário num labirinto sombrio. Na era da internet, a pornografia invadiu computadores, implodiu relacionamentos e algemou muita gente. A pornografia produz uma imagem cínica do amor e transmite uma visão da sexualidade como puro domínio do outro.
Norman Doidge, importante psiquiatra canadense, tem tratado do tema com clareza e realismo. Mostrou, por exemplo, o que acontece no cérebro do consumidor assíduo de pornografia. A repugnância inicial aos conteúdos pornográficos, fruto dos naturais filtros morais, vai cedendo espaço ao acostumamento. O usuário demanda uma dose cada vez maior e mais “sofisticada” para obter os mesmos resultados. É a espiral da dependência. E dela brotam terríveis patologias sociais: violência, abuso sexual, pedofilia.
Frequentes denúncias de pedofilia na internet demonstram que a rede está se transformando no principal meio de aliciamento e exploração sexual de crianças. Apesar de proibidas pelas legislações, imagens de crianças em cenas de sexo pipocam constantemente na internet.
Abusadores criminosos põem à disposição do público arquivos com fotos pornográficas. Depois de localizadas, elas passam a circular entre usuários da rede e até em locais que poderiam ser considerados públicos. A crescente presença da pornografia infantil tem chocado a sociedade.
O problema, independentemente da justa indignação da opinião pública, não é de fácil solução. Envolve, de fato, inúmeras dificuldades de caráter político e operacional. Um mundo que não é capaz de estabelecer uma política unitária no combate às drogas dificilmente conseguirá desenhar uma plataforma comum na guerra à pornografia.
Na verdade, medidas preventivas são bastante limitadas. Policiar um sistema tão vasto e com tantos recursos técnicos seria uma tarefa extremamente cara e de resultados incertos. Embora seja possível bloquear o acesso aos sites publicamente conhecidos como pornográficos, os programas de filtros, apresentados como uma alternativa para impedir o acesso às páginas inconvenientes, diminuem o problema, mas não bloqueiam a perversa criatividade dos delinquentes do ciberespaço.
Algumas medidas, no entanto, podem e devem ser adotadas. A Polícia Federal tem feito um trabalho excelente, responsável e competente. A frequente identificação e prisão de predadores da internet é alentadora. Os responsáveis pela divulgação de pornografia infantil, racismo, publicidade de drogas ou outros crimes devem ser rigorosamente punidos. Denunciar é um dever.
Afinal, a rede mundial não pode ser transformada num instrumento da patologia e do crime.
Mas a raiz do problema, independentemente da irritação que eu possa despertar em certas falanges politicamente corretas, está na onda de baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional. Hoje, diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.
Atualmente, graças ao impacto da TV e da internet, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. Não é preciso ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce. Com o apoio das próprias mães, fascinadas com a perspectiva de um bom cachê, inúmeras crianças estão sendo prematuramente condenadas a uma vida “adulta” e sórdida. Promovidas a modelos e privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo e falando como adultos. A inocência infantil está sendo impiedosamente banida. Por isso, a multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve surpreender ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas da escalada de erotização infantil promovida por alguns setores do negócio do entretenimento.
Os problemas levantados pelo mau uso da internet, embora gravíssimos, são infinitamente menores que os benefícios trazidos por este notável canal de aproximação dos povos, de democratização dos conhecimentos e de globalização da solidariedade. Seus desvios não serão resolvidos por meio de ineficazes tutelas governamentais. Você, e só você, pode defender sua família.
Chegou para a família a hora do diálogo, da formação e do protagonismo responsável. A educação para o exercício da liberdade é o grande desafio dos nossos dias. A aventura da liberdade responsável, desguarnecida de ilusórias intervenções do Estado, acabará gerando uma sociedade mais consciente e amadurecida. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
A discórdia divina.
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Achar-se superior aos outros é atitude que agitava o mundo e o Olimpo ainda antes da internet
Páris escolhe a deus mais bela, em tela do alemão Lucas Cranach: conflito criado por Éris, a discórdia Foto: Reprodução/Meropolitan Museum
Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo
28 de novembro de 2021 | 03h00
Ela era rancorosa. Adorava semear intrigas. Amarga ao extremo, fazia detrações contínuas. Todas passaram a evitar Éris, a encarnação da discórdia. Deixou de ser convidada e ficou ainda mais amarga. Pior, houve uma disputada festa de casamento e ela desejava muito ter recebido a cartinha com seu nome. O envelope nunca chegou. Vingou-se com um plano maligno que provocaria uma guerra longa e mudaria toda a literatura ocidental.
“Não me queriam com os noivos? Sem problema. Vou estragar o banquete deles!” Éris mandou forjar uma belíssima fruta de ouro. Era uma obra de arte, um troféu. A deusa das dissensões sabia muito sobre a natureza de todos e apostou na vaidade como mecanismo de desforra da sua dor social. Para aumentar, ela cunhou sobre a peça: “Para a mais bela”. Viraria um prêmio disputado pela soberba das deusas. Daria confusão saber quem obteria a peça e era, exatamente, o que Éris desejava.
O plano foi executado com perfeição. Ao perceberem a fruta dourada sobre a mesa, instalou-se ruidosa discussão. Afrodite/Vênus (registro os nomes grego e romano) pegou-a com natural homenagem: ela era a deusa do amor e da beleza. Palas Atena/Minerva era igualmente cheia de ideias elevadas sobre si. A esposa do chefe, Hera/Juno, achou que o posto lhe dava a vitória no certame indireto que o plano malévolo de Éris engendrava. Zeus/Júpiter tinha um grave problema pela frente: indispor-se com qual das três mulheres? Tema delicado.
O caminho é conhecido por quem lê mitologia. O poder olímpico mais alto encarregou um pastor-príncipe, Páris, de escolher o destino do fruto da discórdia. O juiz escolheu Vênus como a vencedora, por ela ter lhe oferecido o amor de Helena, a mais bela das mortais. As outras deusas ficaram muito irritadas e todo o conflito está na origem da Guerra de Troia. Achar-se superior aos outros e querer o reconhecimento de tal desnível agitava o mundo ainda antes da internet.
Meu objetivo não é o choque registrado na Ilíada de Homero. Quero falar de Éris. Ela era filha da rainha do Olimpo. Sua mãe a rejeitara. Motivo? Não era muito bonita. Os romanos a batizaram, mais latinamente, de Discórdia. Rejeição da mãe, falta de beleza? Fica compreensível que ela tivesse o gênio difícil. Em outra fonte, Hesíodo, o escritor associa a deusa à noite (Nix) e a torna mãe de entidades tristes como Hisminas (deusa das discussões), Disnomia (deusa do desrespeito) e o triste Ponos, entidade do desânimo e da fadiga.
Deusa amarga, rejeitada e geradora de sérios atritos entre homens e deuses. Sempre admirei quem atribuísse seus maus bofes, seu azedume a uma entidade externa. Você tende a brigar muito? Não, responderia um grego piedoso, foi a deusa Éris que falou por mim. Bebe demais? Não. São espíritos alcoólicos que me induzem para que eu me encharque no vício. Deusas, deuses, espíritos, almas perdidas, demônios, entidades malévolas seriam os verdadeiros causadores do mal. As vozes me ordenaram que atacasse você. Obsessores fizeram com que eu postasse este ataque.
A questão central é óbvia: a omissão do sujeito e o ato de delegar suas escolhas a terceiros, visíveis ou invisíveis. Não compartilho dessa crença consoladora. Meus ressentimentos brotam de mim. Sou minha Éris quando, por falta de autoconhecimento, sou controlado pela dor ou pelo veneno da inveja. Eu crio o veneno, elaboro e destilo o fel, bebo, cuspo e vomito sobre o mundo. O ódio é meu. O desânimo me pertence. Provocar discórdia pode ser um prazer Karnal. Meus defeitos possuem meu nome e sobrenome. Creio que alguma virtude que eu possa ter, igualmente, apresente minha rubrica autoral. Mesmo que houvesse espíritos malignos ou benignos, entidades inspiradoras ou destruidoras da paz, eu teria de dar ouvido a elas. Assim como a lei brasileira não vai me livrar da cadeia se eu ceder à “lábia” de um criminoso e participar de um ato vil, ouvindo santos ou bandidos eu serei Leandro sempre. Sempre acreditei nisto: a absoluta responsabilidade dos meus atos.
Não interpreto essa ideia (em parte elaborada com a leitura de Sartre) como vaidade de me achar importante. Não! Considero uma espécie de prisão que encerra minha consciência e que me leva a aceitar ou rejeitar influências.
Como Hamlet, posso dizer a algum Laertes ofendido que, se a loucura do príncipe o ofendeu, eu também sou inimigo dela. É um excelente álibi. Pelo menos posso invocar a multiplicidade de ações que eu posso engendrar. Sou multifacetado e vivo no tempo soberano, logo, o Leandro de ontem agrediu? Lamento, era eu mesmo, integralmente, mas hoje eu percebo que fui idiota. Não foi Éris, não foi o Hamlet-louco, porém, Leandro. O Leandro mais calmo, hoje, insiste no pedido de perdão. Um dia, os deuses, contemplando as chamas de Troia e as muitas tragédias provocadas pela fruta dourada, teriam pensado: tudo isso foi culpa da deusa terrível. Os deuses poderiam fazer psicanálise? Tenho esperança.
* Leandro Karnal é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras e autor de A Coragem da Esperança, entre outros
Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Filho que mandou matar o pai para receber herança é condenado a 20 anos
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Filho que mandou matar o pai para receber herança é condenado a 20 anos
Conforme o Ministério Público mineiro, outros três acusados devem ir a julgamento; homicídio duplamente qualificado aconteceu em Ipatinga, no Vale do Aço
O Tribunal do Júri de Ipatinga, no Vale do Aço, condenou a 20 anos de prisão Matheus Andrade Gonçalves, de 28 anos, apontado como o mandante do homicídio duplamente qualificado do próprio pai, o aposentado Evenilson Gonçalves, de 48, que morreu na porta de casa, executado com três tiros na cabeça. O réu, que já estava preso preventivamente, não poderá recorrer em liberdade.
Conforme a denúncia, oferecida pela 11ª Promotoria de Justiça da cidade do interior mineiro, o crime ocorreu em 27 julho de 2018, no Bairro Bom Retiro, e foi motivado pelo interesse do filho na herança do pai. Além disso, o relacionamento deles era marcado por conflitos recorrentes. A sentença foi dada na última terça-feira (16/11).
Por motivo torpe e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, outros quatro homens também foram denunciados pelo envolvimento no assassinato. Entretanto, um deles, de 37 anos, foi absolvido. Conforme a Justiça, ele sabia do plano de homicídio em curso, mas não teve participação direta.
No dia do crime, três homens, a mando do filho da vítima, foram para a porta da residência onde morava o aposentado. Inicialmente, dois dos autores desembarcaram do veículo em que estavam para vigiar o alvo.
No momento em que o homem ia guardar o carro na garagem do imóvel, ele foi surpreendido por um dos autores, que iniciou os disparos. Além dos três tiros que atingiram a cabeça de Evenilson, outros quatro acertaram as pernas e a mão dele. Na sequência, todos fugiram. O veículo usado na ação criminosa pertencia ao homem de 37 anos que foi inocentado.
Conforme o MPMG, o processo foi desmembrado. Com isso, os outros três acusados ainda irão a julgamento. Fonte: https://www.em.com.br
Equipe da PGE vai acompanhar professora denunciada por aluna por 'doutrinação'
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Secretário da Educação esteve no Colégio Estadual Thales de Azevedo nesta sexta-feira (19)
A Secretaria Estadual da Educação (SEC) acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para prestar assistência jurídica à professora que foi intimada pela polícia após a denúncia de uma aluna. Uma equipe deve acompanhá-la na delegacia.
O titular da SEC, Jerônimo Rodrigues, esteve no Colégio Estadual Thales de Azevedo nesta sexta-feira (19). Ele participou de uma reunião com a professora, o corpo docente e os gestores escolares na unidade escolar. Nesta sexta, estudantes se reuniram com cartazes na área interna da escola para prestar apoio à professora.
A SEC informou ainda que uma equipe de psicólogos da SEC está disponível para prestar atendimento à professora e à comunidade escolar. A pasta também reafirmou que a escola está em consonância com a lei. "A SEC destaca que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) assegura o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, além de garantir o livre exercício da docência. Os conteúdos ministrados pela professora em sala de aula estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular do Estado e são acompanhados pela Coordenação Pedagógica da escola", diz e-mail enviado pela secretaria ao CORREIO. A secretaria também manifestou apoio à professora.
Boletim de ocorrência
Segundo a Polícia Civil, a mãe de uma adolescente registrou na Dercca que a filha teria sido hostilizada por colegas devido à sua opinião política.
A estudante teria sido também impedida de participar de atividades em grupos com colegas, sob o consentimento da professora, segundo a Polícia Civil. No entanto, segundo a APLB Sindicato, o que motivou o registro do BO foi o fato de a professora discutir temas como questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade em sala de aula, classificado como "esquerdista".
As pessoas envolvidas no caso estão sendo ouvidas pela Dercca. "É importante ressaltar que cabe à Polícia Civil investigar qualquer registro em suas unidades, agindo de modo imparcial ao apurar ocorrências que chegam a seu conhecimento. Só o desenrolar das investigações, portanto, poderá confirmar a veracidade das informações relatadas", diz nota enviada pela polícia.
Casos de hostilidade
Ainda de acordo com o sindicato, dois episódios marcam a perseguição aos professores da unidade escolar. "No mês de agosto foi realizado um seminário online pela escola e após o evento um grupo de estudantes e seus responsáveis expediram uma nota atacando os professores e palestrantes. Em outra ocasião, durante uma aula remota da disciplina de Inglês, a mãe de uma estudante, a mesma que deu entrada na queixa contra a professora de Filosofia, invadiu o espaço da aula online para inquirir e exigir explicações sobre a temática, que segundo ela seria inadequada por se tratar de feminismo", diz a nota divulgada pelo sindicato.
De acordo com a APLB, após receber a intimação na última terça-feira (16), a professora ficou muito abalada emocionalmente e teve que receber atendimento médico. A identidade dela não foi divulgada.
A equipe que gerencia a escola divulgou uma nota sobre o caso e diz que "as alegações são de que os conteúdos de Ciências Humanas são de "cunho esquerdista" e os de Linguagens são de "doutrinação feminista".
A escola também repudiou a situação e afirmou que a intimação policial fere "a liberdade de cátedra e autonomia pedagógica, princípios constitucionais fundamentais". A escola diz ainda que a intimação também "viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº9.394) e do Plano Nacional de Educação (Lei nº13.005)". A unidade escolar também pede apoio de entidades e movimentos sociais para garantir a autonomia pedagógica.
Apoio jurídico
Para o coordenador-geral Rui Oliveira é inadmissível esta perseguição aos docentes. “Infelizmente são ações de grupos ligados à pessoas de extrema direita, que desrespeitam e ferem a liberdade de cátedra. Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência. Vamos continuar denunciando toda a forma de abuso e perseguição”, destacou.
O sindicato diz ainda que lamenta toda a situação e que vai se empenhar para que o caso seja apurado. "A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos, bem como também irá se articular para denunciar nos veículos de comunicação e nas Casas Legislativas, como Câmara de Vereadores e Assembleia Estadual, exibindo faixas e cartazes pedindo total solidariedade a todos os profissionais em Educação". Fonte: https://www.correio24horas.com.br
Professora da Bahia recebe intimação policial após queixa de aluna sobre conteúdo 'esquerdista'
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SÃO PAULO
Uma professora de filosofia do colégio estadual Thales de Azevedo, em Salvador (BA), recebeu uma intimação para comparecer à Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente após uma aluna apresentar queixa sobre o conteúdo apresentado em sala de aula, com temas relacionados a questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade.
Segundo a APLB (Associação dos Professores Licenciados do Brasil), seção da Bahia, a professora precisou ser levada a um hospital para atendimento médico após receber a intimação e ficar emocionalmente abalada.
A direção da escola divulgou nota de repúdio e afirmou que a intimação fere a liberdade de cátedra e a autonomia pedagógica.
"Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das ciências humanas são de cunho ‘esquerdista’ e os conteúdos de linguagens são de ‘doutrinação feminista’ têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes", diz a nota.
Para o colégio, a intimação policial censura o exercício laboral da professora e afronta o corpo docente e a gestão da escola. "Essa situação, portanto, viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação".
A aluna teria procurado a delegacia acompanhada da mãe por discordar dos temas abordados durante as aulas de filosofia. Um grupo de professores da escola afirmou que, antes de registrar a queixa, a aluna tinha um comportamento pouco amistoso e perseguia a professora.
A APLB diz que há tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica para "cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores". Para a associação, essas tentativas são protagonizadas por grupos de extrema direita.
"Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência", disse Rui Oliveira, coordenador da associação.
Além do caso da professora que recebeu a intimação, em agosto um grupo de estudantes e de pais e mães divulgou nota com críticas a professores e palestrantes após a realização de um seminário online pela escola.
A APLB afirma também que, em outra ocasião, a mãe da estudante que procurou a polícia invadiu o espaço de aula online de inglês para exigir explicações sobre a temática apresentada, que na avaliação dela seria feminista.
"A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos", diz nota da associação.
A entidade promete procurar a Assembleia Legislativa e a Câmara de Vereadores para pedir solidariedade aos profissionais da escola. A direção da escola pede o apoio de entidades e movimentos sociais que defendem a educação pública, gratuita e laica para os professores que estariam sendo perseguidos.
A pesquisa "Valorização da Carreira Docente: um olhar sobre os professores", do Instituto Península, mostra que os professores brasileiros acreditam em seu papel transformador na vida dos estudantes e da sociedade, têm orgulho da profissão e são realizados profissionalmente. Mais de dois terços deles, no entanto, sentem que a profissão não é respeitada no Brasil e que as políticas públicas voltadas a eles não os valorizam. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
USINA NUCLEAR: sirene localizada no condomínio do Frade, em Angra dos Reis,
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Nesta segunda-feira (15), por volta das 9h20, uma sirene localizada no condomínio do Frade, em Angra dos Reis, que integra o sistema do plano de emergência da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), foi acionada de forma indevida durante um teste silencioso que acontece diariamente.
O sinal soou durante aproximadamente 20 segundos, sendo, em seguida, cancelado pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, responsável pela operação do equipamento. Na sequência, foi tocada uma mensagem sonora para avisar à população local de que se tratava apenas de um teste.
Uma equipe de telecomunicações da Eletronuclear foi deslocada até o local para avaliar a sirene, na medida em que a empresa faz a manutenção do aparelho. Constatado que o acionamento se deu devido a um sinal espúrio, a companhia está agora trabalhando para identificar a razão do episódio.
A Eletronuclear frisa que Angra 1 e 2 continuam operando normalmente, a 100% de potência, de forma inteiramente segura. Fonte: radiocostazul
COP-26: o planeta pede socorro
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COP-26: o planeta pede socorro
Mostrar se há vontade política para destinar mais recursos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e ajudar os mais pobres
Dom Odilo Pedro Scherer, O Estado de S.Paulo
CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO
O problema das mudanças climáticas, posto em debate na Conferência de Glasgow. O que está em jogo é o futuro da vida em nosso planeta azul. Órgãos de governo, empresas, cientistas, pesquisadores e especialistas no tema debateram e compartilharam preocupações e ideias para estabelecer metas e determinar medidas concretas para frear a degradação das condições de vida na Terra.
Também a Igreja Católica compartilha essa preocupação e participa do esforço para cuidar do ambiente da vida. Não é de hoje que ela ensina o respeito à natureza, que não é vista apenas como algo a ser desfrutado para o desenvolvimento humano: ela é obra de Deus Criador e manifestação de sua providência para com o ser humano e todas as criaturas. Cabe ao homem cuidar e administrar este “jardim”, em benefício de todos.
Embora isso já estivesse presente no ensinamento cristão tradicional, a palavra mais explícita da Igreja sobre as questões ambientais é mais recente, como também acontece no âmbito geral da cultura. Contudo, lembro-me bem de uma chamada do padre de minha comunidade de origem, no Paraná, nos anos 1950, advertindo contra o desmatamento indiscriminado e a erosão das terras: “A terra está ferida e a água vermelha dos córregos e rios é seu sangue que escorre”, dizia ele.
O papa Bento XVI, na encíclica Caritas in veritate (2009), ao tratar do desenvolvimento humano integral, recordou que a natureza nos precede, tendo-nos sido dada por Deus como precioso ambiente da vida. Ela nos fala do Criador e do seu amor pela humanidade. A natureza está à disposição do homem, mas não para qualquer intervenção e uso. Nela, o Criador imprimiu ordenamentos intrínsecos, que o homem deve conhecer e respeitar (cf. n.º 48). O homem pode servir-se responsavelmente da natureza para viver, mas precisa respeitar os equilíbrios intrínsecos da mesma natureza.
No mesmo documento, o papa Ratzinger tratou das implicações éticas e morais da conduta humana em relação à natureza. A questão não pode ser abordada apenas do ponto de vista técnico e econômico, pois também está associada aos deveres que nascem da relação do homem com o ambiente e com as demais pessoas. Essa relação envolve a nossa responsabilidade para com a humanidade inteira, sem esquecer os pobres e as gerações futuras. Sem esse discernimento, a natureza acaba sendo um tabu intocável ou, ao contrário, uma reserva da qual o homem vai se apossando até o exaurimento. Nem uma nem outra dessas atitudes corresponde à visão cristã sobre a natureza.
Em 2015, o papa Francisco publicou a encíclica Laudato sì – sobre o cuidado da casa comum, dedicada inteiramente à ecologia integral, com alguns conceitos novos e incisivos. Nas questões ambientais, tudo está interligado: o ambiente da vida, a pessoa humana e os demais seres, as questões econômicas, a justiça social e a paz. Não se pode tratar de uma delas sem levar em conta as demais dimensões deste conjunto de relações de uma ecologia integral. Também é bem ilustrativa a imagem da casa comum, usada pelo papa na encíclica: nosso planeta é a casa comum da inteira família humana. Descuidar ou pôr em risco a segurança desta casa é uma ameaça para a existência da própria humanidade. E o cuidado desta casa é uma responsabilidade de todos os seus habitantes. Ninguém está dispensado de fazer a sua parte.
Francisco propõe uma verdadeira “conversão ecológica”, que leve a mudanças de atitudes, padrões de vida, de modelos de desenvolvimento econômico e cultural e de formas de fazer política. Os padrões insustentáveis de produção e consumo, fora de controle, da sociedade global, levam à degradação das relações humanas e do planeta. Somente uma nova consciência ambiental e solidária será capaz de evitar o pior e de cuidar bem da Terra, preservar os recursos naturais e garantir o desenvolvimento humano sustentável, com justiça social, paz e esperança na nossa casa comum.
No dia 31 de outubro passado, Francisco conclamou os líderes mundiais a ouvirem “o grito da Terra e dos pobres”, pedindo que a Conferência de Glasgow forneça respostas eficazes para as graves questões climáticas globais e esperança concreta para as gerações futuras. Na mensagem enviada ao presidente da COP-26, Alok Sharma, o papa escreveu que é hora de mostrar se realmente existe vontade política para destinar, com honestidade, responsabilidade e coragem, mais recursos para mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas e para ajudar as populações mais pobres e vulneráveis, que são as que mais sofrem com os efeitos dessas mudanças.
Na sua intervenção na Conferência de Glasgow, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, insistiu: os Acordos de Paris podem parecer ambiciosos, mas são inadiáveis. E desafiou os países mais capazes e ricos a liderarem uma finança e uma economia descarbonizadas.
Trata-se de uma mudança de época e de um desafio civilizatório, que requer o esforço de todos. Também dos cidadãos comuns. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Relatório do Facebook alerta para circulação de violência na plataforma no Brasil
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Documentos mostram percepção de disseminação de discurso político incendiário, mas orientam equipe a focar EUA e Reino Unido
SÃO PAULO e BAURU (SP)
Um relatório interno do Facebook recomenda que a empresa investigue a grande circulação de conteúdo violento na plataforma e em seu aplicativo de mensagens WhatsApp no Brasil. De acordo com o texto, a percepção no país é a de que a circulação de conteúdo violento é muito maior no Facebook e no WhatsApp do que em plataformas como Instagram, TikTok e Twitter.
"Precisamos examinar seriamente por que a violência explícita continua a ter um alcance maior no Facebook e no WhatsApp no Brasil", recomenda o documento.
A informação consta dos chamados Facebook Papers, relatórios internos encaminhados à Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e fornecidos ao Congresso americano pelos advogados de Frances Haugen, ex-funcionária da empresa. A Folha faz parte do consórcio de veículos de mídia que teve acesso a esses papéis, que foram revisados pelos advogados e tiveram trechos ocultados. O Facebook recentemente mudou o nome da empresa que reúne suas plataformas para Meta.
O documento aponta que, no Brasil, também existe a percepção de que desinformação, linguagem política incendiária, bullying e exploração de crianças são problemas muito maiores no Facebook do que em outras plataformas. A empresa recomenda que uma equipe investigue "por que o alcance [de conteúdo de exploração infantil] é maior [no Facebook] do que em outras plataformas no Brasil e na Colômbia".
Enquanto isso, nos EUA e no Reino Unido a visão geral é que o conteúdo noticioso é o maior veículo de desinformação cívica, ligada à integridade eleitoral ou das instituições, no Facebook. Na Indonésia, as contas falsas é que são percebidas como principal motor na disseminação de desinformação.
A percepção avaliada pela empresa é de que, no Brasil, considera-se que o Facebook é a plataforma em que o discurso político incendiário tem o maior alcance. Na Índia, o TikTok; nos EUA, o Twitter.
No entanto, a recomendação do relatório é que a divisão de integridade cívica da empresa —que lida com desinformação eleitoral— "continue a se concentrar no conteúdo enganoso que circula nos EUA e no Reino Unido" e que o setor de desinformação em geral tenha uma abordagem mais ampla, incluindo outros países.
Uma das principais críticas feitas ao Facebook é que a empresa negligencia a moderação de conteúdo em países vistos como menos importantes que os EUA, o Reino Unido e nações da União Europeia.
Em nota, a Meta afirmou que os resultados dessas pesquisas "não medem a prevalência ou a quantidade de um determinado tipo de conteúdo nos nossos serviços, mas mostra a percepção das pessoas sobre o conteúdo que elas veem nas nossas plataformas. Essas percepções são importantes, mas dependem de uma série de fatores, incluindo o contexto cultural".
"Divulgamos trimestralmente a prevalência de materiais que violam nossas políticas e estamos sempre buscando identificar e remover mais conteúdos violadores", encerra o texto.
No início de abril, uma ex-funcionária, Sophie Zhang, afirmou que a empresa deixou de agir diante de líderes de países como Honduras que usaram a plataforma de forma ilegítima, por exemplo por meio de contas de comportamento inautêntico, para fins autoritários. Segundo ela, a hoje Meta resolveu não agir, mesmo após alertas, alegando que não valia a pena.
Um levantamento feito em março pela Agência Lupa apontou que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), havia violado regras da rede social para publicações sobre a pandemia ao menos 29 vezes neste ano, até aquela altura. Ainda assim, ele não havia recebido qualquer punição: ao contrário do que fez em outros países, a plataforma não removeu nem fez alertas sobre nenhum desses conteúdos.
No último dia 24 de outubro, porém, o Facebook excluiu uma live de Bolsonaro, transmitida dias antes, em que ele leu uma suposta notícia dizendo que "vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]". Médicos afirmam que a associação entre o imunizante e a Aids é falsa, inexistente e absurda.
Um porta-voz da empresa disse que o motivo para a exclusão foram as políticas da rede relacionadas à imunização contra o coronavírus. "Nossas políticas não permitem alegações de que as vacinas contra a Covid-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas."
Outro documento tornado público por Haugen e obtido pela Folha mostra que o Facebook, apesar das promessas de combate à desinformação que pode ameaçar eleições, ainda resiste a pagar o preço político para aplicar suas regras.
Relatório interno sobre a eleição geral da Índia de 2019 atesta que foram usadas ferramentas para reduzir o alcance da desinformação cívica, como diminuir a distribuição de posts de grande compartilhamento —estratégias baseadas na experiência de eleições nos EUA (legislativas) e no Brasil (presidenciais) em 2018. Ainda assim, o texto ressalva que tudo isso "respeitou a ‘white list’ política, para limitar riscos de relações públicas".
A chamada "white list" desobriga determinadas figuras públicas de cumprir as regras de comunidade —que proíbem, por exemplo, desinformação em relação à Covid, incitação a violência, nudez não consensual e ameaças à integridade eleitoral. Na prática, enquanto usuários "normais" podem ser suspensos ou penalizados por violar essas normas, os membros da lista têm o conteúdo analisado por equipes que revisam as decisões e, muitas vezes, liberam a postagem.
Foi o que aconteceu com o jogador de futebol Neymar, que fez lives no Facebook e no Instagram mostrando nudes enviados pela modelo Najila Trindade, que o acusou de estupro. Apesar de a plataforma ter regras claras contra a exposição não consensual de nudez, a chamada "pornografia de vingança", os vídeos do atleta ficaram no ar mais de 24 horas nas duas plataformas, com mais de 50 milhões de visualizações, antes de serem derrubadas —o erro foi apontado em relatório dos Facebook Papers.
A preocupação com a imagem da empresa e a necessidade de ofensivas de relações públicas aparecem novamente no relatório que analisa a percepção de usuários sobre o Facebook. O documento mostra que no Brasil a impressão é de que a circulação do discurso de ódio e bullying na plataforma é maior (o Twitter vem em segundo lugar). Na Índia, o TikTok lidera essa lista e nos EUA, o Twitter.
A recomendação em relação ao problema é "redobrar esforços de relações públicas em torno de discurso de ódio e bullying no Facebook".
Para estudar as tendências de desinformação no Brasil, os analistas do Facebook compilaram uma série de reportagens de veículos jornalísticos compartilhadas na plataforma. O objetivo era entender o que poderia estar impulsionando o compartilhamento, por meio da plataforma, de conteúdos falsos ou distorcidos durante o período analisado (março e abril de 2020).
Constam da lista episódios em que Bolsonaro atacou a imprensa e ao menos três ocasiões em que ele minimizou ou negou a gravidade da pandemia.
Além de textos de veículos como o jornal britânico The Guardian e a agência de notícias Reuters, os analistas incluíram uma reportagem da Folha sobre a decisão tomada por Facebook, Twitter e Instagram de excluir um vídeo em que Bolsonaro aparece passeando por Brasília e provocando aglomerações. À época, as empresas entenderam que o conteúdo criava desinformação e poderia "causar danos reais às pessoas".
Em outro documento revelado por Haugen, a empresa define "danos sociais coordenados" como "atividade coordenada ou direcionada por um Estado ou agentes hostis com a intenção de causar sérios prejuízos sociais" e propõe uma gradação de malefícios causados e punições a eles.
Entre esses danos estariam "tentativas de deslegitimar o processo eleitoral ou o resultado de eleições justas, com coordenação ou incitação a derrubar um governo ou uma instituição, baseando-se em desinformação" —como exemplo, são citados a Etiópia e os EUA.
Nessa categoria, segundo o texto do Facebook, se encaixam páginas ligadas à Ordem Dourada do Brasil, descrita como uma "organização apoiada por militares que combina religião evangélica, conteúdo pró-Bolsonaro, teoria da conspiração, defesa da ditadura militar, e conteúdo pró-armas".
Essas páginas, de acordo com o documento, têm "alta coordenação, postagens em massa e pessoas com múltiplos perfis amplificando conteúdo". A recomendação é de que as páginas sejam removidas ou tenham alcance restrito.
Procurada, a Meta enviou uma nota. "Bilhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil, usam nossos serviços porque veem utilidade neles e têm boas experiências. Já investimos US$ 13 bilhões em segurança globalmente desde 2016 —estamos a caminho de investir US$ 5 bilhões só neste ano— e temos mais de 40 mil pessoas trabalhando para manter as pessoas seguras nos nossos aplicativos", diz o texto.
"Também investimos em pesquisas internas para ajudar a identificar de forma proativa onde podemos melhorar nossos produtos e políticas." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Com Meta, Zuckerberg responde à Apple e ao TikTok, não à sociedade
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Sem dar atenção ao escândalo, empresa oferece alternativa de futuro à perspectiva atual de plataformas com 'pessoas mais velhas' e modelo de negócios estrangulado
Nelson de Sá
Jornalista, publica a coluna Toda Mídia e cobre cultura e tecnologia
Quando Mark Zuckerberg apresentou os resultados de sua empresa para o terceiro trimestre, no início desta semana, o foco não foram os Arquivos ou Papéis do Facebook, apelidos dados às informações vazadas sobre a plataforma ao longo do último mês.
O crescimento da receita, essencialmente publicitária, veio menor do que o projetado por analistas de mercado. E os vilões do CEO na apresentação foram Apple e TikTok.
A primeira passou a exigir dos aplicativos que usam seu sistema operacional, casos de Facebook e Instagram, que perguntem aos usuários se aceitam ser monitorados.
Com isso, os anunciantes agora têm mais dificuldade para alcançar —e saber que alcançaram— o público-alvo. Daí reduzirem gastos publicitários e saírem procurando alternativas, como adquirir veículos de mídia e suas bases de usuários e assinantes.
Já o TikTok aparece mês a mês como aplicativo mais baixado e está tirando os "jovens adultos" que convergiam para as plataformas de Zuckerberg, hoje tomadas por "pessoas mais velhas" —expressões usadas pelo próprio CEO.
Nenhum dos dois problemas é novidade. Zuckerberg já vinha atacando o TikTok pela origem chinesa, chegando a posar com a bandeira americana, e a Apple com campanha que incluiu anúncio em jornal.
Quando começou a ser exigida a anuência dos usuários ao monitoramento, meses atrás, foram páginas inteiras de WSJ, New York Times, Washington Post e Financial Times. Num dos enunciados, "Estamos nos erguendo contra a Apple em defesa das pequenas empresas de toda parte" (acima).
Nas duas frentes, não deu certo. Mas a resposta maior à Apple e ao TikTok já estava sendo preparada, como se podia perceber no rumor em torno de "metaverso" há meses, na cobertura de Facebook.
E na quinta Zuckerberg apareceu com a mudança de nome da holding, para Meta Platforms ou só Meta, e sobretudo com novo chamariz para anunciantes e jovens adultos.
Como alertou o WSJ cruamente, é uma nova roupagem para algo que "já existiu e fracassou", o Second Life. Mas desta vez poderá ser diferente, dados os avanços em tecnologia.
Para o Meta, como a empresa quer ser chamada, o importante é oferecer uma alternativa de futuro, diferente da perspectiva atual de plataformas povoadas por "pessoas mais velhas" e com um modelo de negócios estrangulado pela Apple e pelo Google.
Em vez de iOS, seu Oculus (agora também Meta). Em vez de TikTok, seu Horizon Worlds.
Nada disso tem relação com o escândalo deste último mês, que avolumou a cobrança por intervenção estatal, seja para ampliar o controle de seu conteúdo, seja para dividir a empresa, que teria que se desfazer de Instagram e WhatsApp.
O problema é que democratas e republicanos têm ideias opostas sobre o que fazer. Projetos apresentados pelos primeiros se concentram em responsabilizar o Facebook pela promoção de desinformação.
Já no caso de um projeto do senador republicano Marco Rubio, o Facebook seria responsabilizado por censurar visões políticas, como fez com Donald Trump. Outros, independentes, temem qualquer imposição sobre conteúdo e defendem as ações antitruste.
No estado atual das instituições americanas, nada indica que seja possível obter consenso. E o agora Meta segue em frente, regulado ou constrangido apenas pela concorrência, de outras Big Techs. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Morre Bob Coveiro, cachorro que vivia em cemitério desde enterro de tutora
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Lívia Marra
Há cerca de dez anos, Bob decidiu que sua casa seria no cemitério da Saudade, em Taboão da Serra (SP), onde sua tutora acabara de ser enterrada. O cachorro, que depois ficou conhecido por acompanhar sepultamentos no local, morreu no dia 25 e agora também descansa ali.
Querido por todos, o pet adorava uma bolinha e levava conforto aos enlutados. Era cuidado, recebia atendimento veterinário e tinha até uma casinha com o nome que ganhou: Bob Coveiro.
De acordo com relatos de funcionários, o cachorro chegou ao cemitério para o enterro da tutora e não quis mais ir embora. Familiares até tentaram levar Bob para casa, mas ele voltou.
Em vídeo publicado pela ONG Patre, que atua na cidade, um trabalhador contou que Bob também acompanhou de perto a exumação do corpo da tutora.
Na última segunda, o cachorro seguia um dos agentes que cuidava dele quando foi atropelado por um motociclista, que não prestou socorro, de acordo com a ONG.
Seu corpinho foi colocado em caixão com flores, e as homenagens contaram também com coroas. Em uma estava escrito “saudade eterna”.
“Queremos parabenizar o funerária Campos que cuidou do corpinho com tanto carinho, agradecemos ao vereador Anderson Nóbrega e o secretário dr. Eduardo Nóbrega por intermediarem o enterro no local que ele viveu, e ao prefeito Aprígio que autorizou essa despedida de amor”, disse a ONG em despedida.
Em página dedicada a Bob em rede social, a protetora Valéria, responsável pela atualização dos posts, diz que o objetivo era que mais pessoas “conhecessem esse ser tão especial”. Afirma que Bob era um “professor” e que conseguiu ensinar que “se o ser humano respeitar e amar, um cão sem dono pode ser feliz e ser bem cuidado”. Para ela, o cachorro também ensinou “que precisamos nos preocupar com a dor do próximo, consolar mais do que ser consolado”. Fonte: https://bompracachorro.blogfolha.uol.com.br
Brasil registra 7 mil assassinatos e 45 mil estupros de crianças e adolescentes por ano
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Maioria dos crimes violentos ocorre dentro da própria casa e pandemia agrava a tragédia
Número de vítimas de mortes violentas aumenta a cada ano no país, segundo o relatório do Unicef (Shutterstock)
A cada ano, 7 mil crianças e adolescentes são mortos de forma violenta no Brasil e ao menos 45 mil são vítimas de violência sexual. Os números foram revelados pelo Panorama da Violência Letal e Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Brasil, lançado nesta sexta-feira (22), pelo Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O estudo diz que a violência ocorre de formas variadas, conforme a faixa etária da vítima. Crianças morrem na maior parte das vezes em decorrência de violência doméstica, cujo autor é conhecido, como um pai ou um padrasto. Um caso de grande repercussão neste ano foi a morte de Henry Borel, de 4 anos. O namorado da mãe do garoto, o ex-vereador do Rio conhecido como Dr. Jairinho, foi preso acusado do crime - ele nega.
No ano passado, 300 menores de até 9 anos de idade foram mortos de forma violenta no país. Foi praticamente um caso por dia, boa parte deles dentro da própria casa. O mesmo vale para a violência sexual, em geral também cometida dentro de casa por pessoas próximas. Já os adolescentes, que representam a maioria das vítimas, são mortos majoritariamente na rua. São vítimas, apontam os pesquisadores, da violência armada e do racismo. O estudo também destaca a alta proporção de jovens mortos durante intervenções policiais.
"A violência doméstica é um crime contra a infância. A violência urbana é um crime contra a adolescência, que atinge principalmente meninos negros", diferencia Florence Bauer, representante no Brasil da Unicef. "Embora sejam fenômenos complementares e simultâneos, é crucial entendê-los também em suas diferenças para desenhar políticas públicas efetivas de prevenção e resposta às violências", acrescenta ela.
A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, afirma que a violência contra crianças e adolescentes é um problema grave, que precisa ser cada vez mais discutido por nossa sociedade. "São vítimas dentro de suas próprias casas enquanto são pequenas e sofrem com a violência nas ruas quando chegam à pré-adolescência", diz ela. "O poder público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano."
O trabalho é uma análise inédita dos boletins de ocorrência das 27 unidades da Federação registrados nos últimos cinco anos. Abrange mortes violentas intencionais (homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, mortes decorrentes de intervenção policial) e a violência sexual contra crianças e adolescentes.
Entre 2016 e o ano passado foram identificadas 35.626 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade no Brasil. Isso corresponde a uma média de 7,1 mil mortes violentas por ano. São cerca de 20 por dia.
Dados preocupantes
A maioria das vítimas de mortes violentas neste período era de adolescentes; 31 mil casos estavam na faixa etária de 15 a 19 anos. Entretanto, no mesmo período, foram identificadas pelo menos 1.449 mortes violentas de crianças de até 9 anos de idade. O número dessas mortes vem aumentando desde 2016, chegando a 300 crianças em 2020.
Olhando apenas para a primeira infância (até 4 anos), os dados são ainda mais preocupantes. Nos 18 estados que dispunham dos dados completos para o período, as mortes violentas de crianças de até 4 anos aumentaram 89% de 2016 a 2020. Passaram de 121 casos para 229.
O aumento foi puxado pelo crescimento do número de mortes por arma de fogo nessa faixa etária, que triplicaram nesse período. Foram de 28 para 85. Nos últimos anos, o governo Jair Bolsonaro tem flexibilizado o acesso a armas de fogo para civis, sob o argumento de ampliar as oportunidades de legítima defesa aos cidadãos. Especialistas criticam a política e apontam riscos de aumento da mortalidade com mais armas em circulação.
Entre as crianças de até 9 anos mortas de forma violenta, 44% eram brancas; 33% eram meninas. Do total, 40% morreram dentro de casa; quase metade (46%) perdeu a vida por causa do uso de arma de fogo; e 28% pelo uso de armas brancas ou agressão física.
Meninos negros são maiores vítimas
Em todas as idades, as principais vítimas de mortes violentas são os meninos negros. O perfil, no entanto, se intensifica ainda mais na adolescência. Para os meninos, a faixa etária dos 10 aos 14 anos marca a transição da violência doméstica para a prevalência da violência urbana. Nesta idade, começam a predominar mortes fora de casa, por arma de fogo e por autores desconhecidos.
Quando os adolescentes chegam à faixa etária de 15 a 19 anos, essa transição no perfil da violência letal está consolidada. As mortes violentas têm alvo específico: mais de 90% das vítimas são meninos, e 80% são negros. Esses meninos, pretos e pardos, morrem fora de casa, por armas de fogo. Em uma proporção significativa, são vítimas de intervenção policial.
Em 2020, nos 24 estados em que há dados (exceções são Bahia, Distrito Federal e Goiás), um total de 787 óbitos de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos foram identificadas como "Mortes Decorrentes de Intervenção Policial". Esse número representa 15% do total das mortes violentas intencionais nessa faixa etária, e indica uma média de mais de duas mortes por dia no país.
Violência sexual
A violência sexual é um crime que acontece prioritariamente na infância e no início da adolescência. Por causa de problemas com os dados de 2016, a análise desses registros refere-se ao período entre 2017 e 2020. Nesses quatro anos, foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos. É uma média de quase 45 mil casos por ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas nesses quatro anos - ou seja, um terço do total.
A maioria das vítimas de violência sexual é menina - quase 80%. Para elas, um número muito alto de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13 anos a idade mais frequente. Para os meninos, o crime se concentra na infância, especialmente entre 3 e 9 anos de idade. A maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência da vítima. Para os casos em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos.
De acordo com especialistas, a pandemia representou um risco ainda maior para esse tipo de crime. Com as crianças longe da escola e em um convívio social mais restrito, diminuem as chances de que sejam notados os sinais de abuso e o crime, denunciado.
Agência Estado/Dom Total: https://domtotal.com
NOTA DE FALECIMENTO: As nossas orações pela alma de Dona Margarida
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As nossas orações pela alma da Sra. Margarida de Oliveira Andrade, mãe do Frei José Aparecido, O. Carm, falecida nesta sexta-feira 22, na cidade de Munhoz-MG. As nossas orações.
Como as redes digitais demolem a cultura e ampliam a ansiedade
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Em plataformas como TikTok, a história da produção artística passa a ser irrelevante
Ronaldo Lemos
Advogado, professor das Universidades de Columbia em Nova York e Tsinghua (em Pequim). É fundador do ITS ( Instituto de Tecnologia e Sociedade) Rio. Apresenta a série Expresso Futuro no Canal Futura e é colunista da Folha
SÃO PAULO
[resumo] Autor defende que uma nova forma de cultura em emergência nas redes digitais atua com força avassaladora e trata como irrelevante a história da produção artística e seus significados, que se transformam em massa amorfa instrumentalizada para a ostentação.
Sabe todos os livros, os filmes e as músicas que você consumiu ao longo da vida e que participaram de sua formação e de sua memória? Ou ainda, os textos, poemas, quadros e até o grafite no muro da cidade que você achou marcantes? Tudo isso tem cada vez menos valor para nossa experiência coletiva.
Para uma nova forma de cultura que emerge com força avassaladora nas redes digitais, toda a história da produção artística tem praticamente o mesmo significado: nenhum. Tudo não passa de uma massa amorfa pronta que pode ser instrumentalizada independentemente de seu conteúdo, ou então simplesmente esquecida.
Parodiando perversamente Roland Barthes: reduzir toda atividade criativa ao seu “grau zero” tornou-se não um experimento acadêmico, mas uma atividade de massa.
Essa é a Grande Ruptura. Uma nova forma de representação e comunicação para a qual o cânone é irrelevante ou não tem significado textual, apenas instrumental. Os sinais da Grande Ruptura estão em toda parte. Tanto na cultura mainstream como, principalmente, nas culturas de nicho (ou melhor, de meganichos, já que milhões de pessoas participam deles).
Para os mais otimistas, essa é uma realização inesperada dos projetos mais radicais da arte moderna e das vanguardas. Mas com um twist: ter como consequência voltar-se contra si mesma.
Como consequência, ataca a própria possibilidade de produção de artefatos culturais que possam ser compartilhados intersubjetivamente, ou que possam persistir na memória para além da experiência imediata. Em outras palavras, é a serpente que começa a consumir sua própria cauda.
Dá para enxergar um fiapo da Grande Ruptura quando o Spotify, a plataforma de música mais popular do Ocidente, organiza seu repertório não só em gêneros como rock ou pop (classificações do passado reconhecidas coletivamente), mas a partir de estados emocionais (“moods”), refletindo sensações como alegria, tristeza, preocupação, concentração e assim por diante. O coletivo e a memória (representados por categorias como gênero) são substituídos pela experiência sensorial imediata de um estado de espírito.
Não por acaso, a empresa obteve em 2021 uma patente do processo de análise das emoções do usuário e do seu ambiente para recomendar o que ouvir a seguir. Os dados coletados incluem o estado emocional do usuário e a análise de sua forma de falar (se tem stress emocional ou sotaques), além de informações contextuais como o lugar onde se encontra (ônibus, casa, parque) e seu contexto social (se está sozinho, em um pequeno grupo, em uma festa etc.).
Em outras palavras, preocupa-se em determinar a experiência imediata do usuário, inclusive emocional, mais do que suas preferências e gostos acumulados culturalmente na memória, arquivados por meio das classificações de gênero, nome do artista ou da música.
No entanto, essa é só uma ponta visível de um fenômeno mais complexo e profundo. Não é o Spotify que lidera esse processo de ruptura, a empresa apenas se apropriou de alguns de seus aspectos.
O “locus solus” da ruptura está sendo forjado em outros lugares: nos games, nos canais de áudio do Discord, nos fóruns anárquicos na internet e na darkweb, em ferramentas de edição e design para crianças como o Gacha Club, em plataformas como o Roblox e, sobretudo, no TikTok.
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA GRANDE RUPTURA?
Em 2011, o crítico cultural inglês Simon Reynolds publicou o livro “Retromania: O Vício da Cultura Popular com Seu Próprio Passado”, que resumiu o estado das práticas culturais no Ocidente naquele início de década.
Sua tese era simples e poderosa: a cultura popular se transformou em pastiche. Nada de novo se criava. Ao contrário, tudo era remix ou releitura de algo que havia sido feito antes.
Na visão de Reynolds, todo o cânone cultural havia se tornado “matéria-prima” pronta para ser reapropriada, relida ou remixada de forma infinita, sem a criação de nada original.
Na tese do autor, o cânone era central, porque a partir dele tudo mais se derivaria. A primeira característica da Grande Ruptura é que o cânone não é mais central, mas irrelevante. A cultura que surge a partir dela é, essencialmente, uma arte da ferramenta, não dos conteúdos.
Assim, torna-se importante não o modo como algo é representado ou o conteúdo do que é representado, mas sim a forma e outros elementos “meta”: o exibicionismo da capacidade do que as inúmeras ferramentas de criação e manipulação de conteúdos podem fazer.
Como elas podem alterar, editar, sintetizar, distorcer e manipular conteúdos já existentes ou recém-criados. E, com isso, impactar a experiência emocional dos usuários, sua formação de memórias e a própria percepção da realidade.
Em outras palavras, todo o corpo cultural histórico é utilizado e remixado na Grande Ruptura, como Reynolds descreveu. A questão é que esse uso é essencialmente instrumental, desprovido de qualquer significado intrínseco ou contextual.
Não importa mais o que está sendo remixado, quem é seu autor, o gênero ou seu significado original. O que é importante é exibir (ou ostentar) como as ferramentas de manipulação digital atuais são capazes de produzir perturbações e alterações nos conteúdos e na apreensão que fazemos deles para produzir experiências sensoriais imediatas e automáticas, que apelam primordialmente ao inconsciente.
Nesse sentido, não interessa se o objeto digital a ser manipulado é um quadro de Chagall, com suas conexões com a história, ou uma selfie tirada acidentalmente no celular. O que importa é a manipulação em si. Chagall ou a selfie tirada acidentalmente têm o mesmo valor como significante: nenhum.
Ao mesmo tempo, ambos têm valor idêntico como combustível para o exibicionismo dos potenciais usos das ferramentas de transformação e síntese.
Outra característica da Grande Ruptura é que seu objetivo final não é transmitir informação, mas modular experiências imediatas, especialmente estados emocionais; é muito mais experiência do que conteúdo.
Para isso seus artefatos são instrumentalizados mais para produzir alegorias e mesmo manipulação emocional do que para comunicar qualquer coisa. A informação ou conteúdo textual, quando presentes, servem apenas de veículo para transportar efeitos emocionais.
No espectro das emoções humanas trabalhadas pela Grande Ruptura, existe uma que reina sobre todas as outras: a ansiedade. A Grande Ruptura é, em grande medida, ainda que não totalmente, a cultura da ansiedade.
É assim que a simbiose entre a Grande Ruptura e o TikTok se materializa. O TikTok é hoje a plataforma de mídia que mais cresce no planeta, sendo o único aplicativo não ligado ao Facebook a conseguir a façanha de ser utilizado por 3 bilhões de usuários, e com sinais de crescimento. Não por coincidência, foi o aplicativo mais baixado desde o início da pandemia, tendência que continua em 2021.
O TikTok é construído em torno de uma inteligência artificial capaz de entender rapidamente, e com poucos elementos de informação contextuais, as preferências dos seus usuários.
Antes mesmo de alguém dar um like em um conteúdo, a empresa já tem informações para determinar seu grupo social e preferências, derivados da marca do celular, do perfil de uso da bateria e até da forma como o dono do aparelho toca na tela, digita e o segura.
Um dos problemas da “era dos dados” em que vivemos é justamente que sua coleta vai muito além do modelo de escolha racional. Não somos nós que racionalmente escolhemos os conteúdos que aparecerão nas nossas redes sociais. Esses conteúdos são escolhidos e ordenados por algoritmos.
Que por sua vez levam em consideração tanto nossas escolhas conscientes (em quais posts ou perfis você deu um like), como também inconscientes.
Por exemplo, mesmo que o usuário não tenha dado nenhum like, é possível determinar que tipo de foto ou imagem realmente o impacta, prendendo sua atenção ou gerando uma reação emocional.
Tudo isso por meio de reações fisiológicas que independem de qualquer escolha, como o tempo em que um usuário olha para uma foto, sua expressão facial, o jeito que seus dedos se deslocam pela tela, o movimento dos seus olhos em direção à imagem e assim por diante.
Esse tipo de análise é capaz de revelar preferências e vários tipos de vieses que os próprios usuários das redes sociais não teriam coragem de confirmar publicamente —ou até mesmo que possivelmente desconhecem sobre si mesmos do ponto de vista consciente.
Dados e algoritmos são capazes de captar essas preferências sem a necessidade de qualquer escolha, analisando apenas contextos, reações e padrões de uso. O celular converte-se, assim, no objeto técnico mais íntimo que já existiu. Capaz de acessar não só as preferências racionais dos usuários, mas também o seu inconsciente.
Ou ainda, o contexto e o ambiente no qual o usuário habita, sua rotina diária, com quem se encontra, o mapa das suas amizades, flutuações emocionais, estado de saúde física e mental, contatos e assim por diante.
Poucas são as plataformas que fazem isso melhor que o TikTok. Na concorrência com o Facebook, o TikTok desenvolveu como ninguém a capacidade de analisar preferências inconscientes. E nem adianta tentar enganar a plataforma, clicando ou se engajando com vídeos “sérios” ou “respeitáveis”, que poderiam refletir melhor a imagem que gostaríamos de racionalmente projetar de nós mesmos.
A plataforma saberá que as preferências íntimas do usuário são outras —e continuará a oferecer conteúdos de acordo com elas, de forma irresistível.
É nesse contexto que a Grande Ruptura floresce. Muitos produtores de conteúdo do TikTok já perceberam, de propósito ou acidentalmente, que o que mais produz “engajamento” são as preferências inconscientes.
Com isso, adaptaram progressivamente seus conteúdos com essa finalidade. Passaram a produzir artefatos que provocam ou retratam experiências emocionais, verdadeiras galerias de estados emocionais inconscientes, alimentando de forma direta com as preferências inconscientes dos usuários.
Um exemplo, ainda que imperfeito, é um dos maiores hits do ano passado do TikTok: o vídeo em que um homem chamado Nathan Apodaca anda de skate. Enquanto isso, filma a si mesmo bebendo suco de framboesa e cranberry, com a trilha sonora da música “Dreams”, da banda Fleetwood Mac. Importa no vídeo de 23 segundos muito mais o estado emocional que ele projeta, de relaxamento ou tranquilidade, e muito menos quem é aquela pessoa, onde ela está, ou que música é essa.
O exemplo é imperfeito porque a Grande Ruptura é composta de conteúdos muito mais abstratos e radicais do que a imagem de um homem andando de skate. Essa é outra característica da Grande Ruptura: sua abstração e sua radicalidade.
O conteúdo mais típico do fenômeno é composto de imagens digitais reprocessadas de games, de vídeos, de outras contas do TikTok, editadas, distorcidas, filtradas, “croppadas” e moduladas para produzir experiências emocionais inconscientes, difíceis de serem descritas em palavras ou mesmo apreendidas racionalmente.
As emoções que esses conteúdos tocam derivam, na maioria dos casos, do sentimento de ansiedade e variações (medo, pânico, apreensão, stress, tensão, horror) ou contraposições (relaxamento, distração, meditação, cura, dissipação, luta permanente contra ataques de pânico).
São dois lados da mesma moeda que estão presentes na Grande Ruptura: o veneno e o remédio. De um lado há conteúdos abstratos e radicais, altamente manipulados e que se valem de qualquer coisa (imagens originalmente digitais, personagens de games, partes recortadas de outras imagens digitais, trechos de músicas reprocessados e distorcidos), com função de provocar novas experiências de tensão e ansiedade, bem como outras formas de perturbação emocional.
De outro lado ocorre o oposto. Toda uma sorte de conteúdos ansiolíticos, tais como milhões de vídeos de relaxamento, uso de fidget toys (brinquedos que provocam estímulo sensorial por meio de toques, cores e sons), hipnose, manipulação de slime e outras modalidades de experiências sensoriais mais radicais do que qualquer “baba antropofágica”. Tudo capaz de deixar Lygia Clark ao mesmo tempo espantada e preocupada.
Mesmo quando os conteúdos não são originados da manipulação de objetos digitais, mas sim captados a partir de pessoas e situações reais, a abstração e radicalidade continuam presentes.
Por exemplo, um dos principais fenômenos do TikTok são os vídeos com coreografias faciais. Pessoas que ligam a câmera para si mesmas e movimentam os olhos e a face de modo a produzir sensações em quem assiste, ao som de música ou ruídos. Não há texto, não há mensagem, não há conteúdo.
Apenas a face humana, muitas vezes manipulada por meio de ferramentas para ampliar seu impacto sensorial, buscando transmitir empatia digital e emoções difíceis de descrever, tudo disseminado por meio de algoritmos de inteligência artificial.
Aliás, é bom lembrar que um dos principais cronistas do TikTok atualmente é Kieran Press-Reynolds, jornalista de 21 anos e filho do escritor Simon Reynolds. Kieran é autor de um excelente artigo sobre as coreografias faciais no TikTok.
O núcleo típico da Grande Ruptura, contudo, não depende sequer de conteúdos captados na “realidade”. Consiste apenas no reprocessamento de imagens originariamente digitais, captadas em games como o Roblox, ou ainda, usando ferramentas infantis para construção de personagens ou “skins”, como o Gacha Life.
Cada um desses programas funciona como uma “caixa de areia” onde é possível criar e apagar qualquer coisa. A Grande Ruptura usa o conteúdo construído por esses “sandboxes”, que são posteriormente reprocessados, editados, “croppados”, com camadas sucessivas de aplicação de novas ferramentas, produzindo distanciamento cada vez maior da realidade.
O resultado desses vídeos é radical. O que Jean-Luc Godard ensaiou fazer no seu filme “Adeus à Linguagem” (2014) é hoje feito de forma muito mais eficaz por crianças de 5 a 12 anos no TikTok.
Digo eficaz porque “Adeus à Linguagem” é um filme 72 minutos que funciona como ensaio linguístico, mas falha miseravelmente como veículo emocional. Diga-se o que quiser do brilhantismo do filme, mas ele é essencialmente chato, apelando primordialmente para nosso lado racional e muito pouco para o lado emocional.
No TikTok, o filme não teria chance de viralizar (aliás, esse seria um bom experimento: fazer upload do filme recortado em trechos para ver como o algoritmo da plataforma e o público irão reagir, quanto “engajamento” acontecerá).
Apesar de “Adeus à Linguagem”, em sua radicalidade, ter elementos em comum com alguns dos vídeos que caracterizam a Grande Ruptura, o filme de Godard falha como veículo de perturbação emocional. E nisso os usuários que produzem conteúdos no TikTok —treinados e impulsionados por meio de tentativa e erro, tendo por base o algoritmo capaz de medir reações inconscientes— são bem-sucedidos.
Vídeos ultrarradicais na forma (nos cortes, na manipulação da imagem e do som, na justaposição, no remix, na estranheza de modo geral) são igualmente eficazes em despertar engajamento e experiências emocionais, inclusive viciantes. Mesmo no curto tempo que duram, de 1 a 60 segundos, transmitem sua cota de ansiedade ou outra perturbação emocional.
É claro que quem domina a Grande Ruptura e as ferramentas necessárias para sua concretização ganha “engajamento”. E o “engajamento” produz celebridades, poder e dinheiro. Inclusive para o próprio TikTok.
Por exemplo, não são poucos os ícones da plataforma, com centenas de milhares de seguidores, que não falam sequer uma palavra. Aparecem apenas por segundos nos vídeos realizando alguma expressão facial. Seu apelo é direcionado para o inconsciente, não para a racionalidade.
Perturbação emocional, aliás, é o que fica desses conteúdos. O que foi mostrado, quais foram as imagens, personagens, gênero ou mesmo o autor dos conteúdos não importa. A principal memória que se forma, por design, é o estado emocional que o vídeo buscou transmitir.
Essa é outra característica da Grande Ruptura: a total ausência de autoria ou de “catalografia”, créditos, arquivos ou qualquer coisa parecida. Outro sonho concretizado da ala mais radical da modernidade, na forma de anjo troncho.
É irrelevante saber quais são os autores da grande maioria desses conteúdos. São criações anônimas que se utilizam de bilhões de referências a outras obras, também não creditadas e também igualmente irrelevantes textualmente. Só o estado emocional transportado por elas importa.
Ou ainda, só a ferramenta é importante. Nesse sentido, os dois elementos centrais da Grande Ruptura são a modulação emocional (com a predominância da ansiedade) e a arte da ferramenta. Junte-se a eles os algoritmos e a inteligência artificial capazes de ler as preferências inconscientes de bilhões de pessoas.
E o smartphone, esse objeto técnico que funciona como ferramenta de psicometria individualizada e também como portal para consumo do resultado de todos esses processos.
O que mais importa nos vídeos da Grande Ruptura é justamente exibir as infinitas “graças” que essa manipulação pode gerar, tornando premonitório o título do livro de David Foster Wallace, “Infinite Jest” (a piada infinita, em português).
Entramos em um momento em que vão ganhando preponderância artefatos culturais que possuem a estrutura de uma piada: ambicionam entregar uma reação emocional inevitável. Com a diferença de que o texto dessa piada infinita é irrelevante, e em vez de riso ela entrega ansiedade, suas variações e oposições.
Tudo se resume a um jogo duplo de dopamina. Por um lado, a ferramenta e suas infinitas capacidades de edição e manipulação digital. Do outro, os artefatos resultantes, consumidos por meio de objetos técnicos íntimos que nos compreendem mais do que nós mesmos.
Todos esses elementos em simbiose uns com os outros, observados e impulsionados por algoritmos de delicada graça, como no poema de Richard Brautigan. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Homem mata esposa e filha a facadas em Pouso Alegre, MG
- Detalhes
Ele também teria tentado matar a outra filha que conseguiu fugir do local e acionar a polícia; homem se matou em seguida.
Por g1 Sul de Minas — Pouso Alegre, MG
Um homem de 47 anos matou a esposa e uma das filhas a facadas em Pouso Alegre (MG) na noite desta sexta-feira (15). Segundo a Polícia Militar, Evandro Donizete Soares também tentou assassinar uma outra filha, que conseguiu fugir. Ela saiu da casa, trancou o portão por fora e acionou a polícia.
"Uma das filhas narrou que estava chegando em casa na companhia de duas pessoas e se deparou com o pai, próximo ao corredor, com uma faca na mão, ensanguentado e muito descontrolado. Ele teria ido em direção a ela, e nesse momento ela trancou o portão e acionou a polícia", disse o tenente da Polícia Militar, Lucas Lopes Martins.
Ainda segundo a PM, a ocorrência foi no bairro Jardim Aeroporto. Quando a equipe chegou ao local, Suzan Flávia Moraes Neves Santos de 44 anos e a filha de 18, Gabriely Aparecida Neves Soares, foram encontradas já sem vida no banheiro. O corpo de Evando Donizete Soares estava pendurado com uma corda no pescoço no fundo da casa.
Segundo a polícia, os vizinhos disseram que não era comum ouvir brigas no local.
"Conversando com alguns populares ali, todos estranharam essa situação, não era corriqueira essa situação de briga lá, aparentemente, uma vizinha disse que no horário aproximado do fato ouviu um pedido de socorro, mas não conseguiu determinar de onde vinha, de quem era, e por não se repetir esse pedido, ela acabou não chamando a polícia, mas a informação era de que não era constante essa situação", disse o tenente.
A filha que conseguiu se salvar também disse que o pai estaria abalado pela perda dos pais e que tinha ciúme excessivo da esposa.
"A solicitante, que é uma das filhas, disse que ele fazia uso de bebida alcoólica e que recentemente ele estaria psicologicamente abalado devido à perda dos pais. Parece que foi em um intervalo curto a perda do pai e da mãe e isso o abalou. Ele também estaria com ciúme excessivo da esposa, informações prestadas pela filha", disse o tenente.
Os corpos das vítimas foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Pouso Alegre (MG). Já o corpo do homem será levado para Maria da Fé (MG), sua cidade natal. Fonte: https://g1.globo.com
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