MÊS MISSIONÁRIO: Igreja no Brasil dá início ao Mês das Missões com temática que atualiza o convite do papa Francisco para uma Igreja em saída
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“A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, este é o tema escolhido pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM) para a Campanha Missionária de 2017 que será trabalhada durante todo o mês de outubro. A inspiração vem do convite do papa Francisco na Evangelii Gaudium para uma “nova etapa evangelizadora marcada pela alegria” (EG,1).
Mês das Missões é um período de intensificação das iniciativas de animação e cooperação missionária em todo o mundo. O objetivo é sensibilizar, despertar vocações missionárias. A coleta no Dia Mundial das Missões – instituído pelo papa Pio XI em 1926, que ocorre sempre penúltimo final de semana de outubro, este ano será nos dias 21 e 22.
Todos os recursos arrecadados são utilizados para a animação e cooperação missionária em todo o mundo, pois e uma coleta universal.
Tudo está em sintonia como os ensinamentos do papa Francisco quando afirma: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontraram com Jesus” (EG 1). Essa alegria precisa ser anunciada pela Igreja que caminha unida, em todos os tempos e lugares, e em perspectiva ad gentes. Por isso, o lema: “Juntos na missão permanente”.
Para o bispo auxiliar de São Luís (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Esmeraldo Barreto de Farias, a campanha não deve ser restrita aos conselhos missionários paroquiais ou diocesanos.
“Todos nós somos convidados a participar, pastorais, movimentos e as pessoas de boa vontade. A igreja é por natureza missionária e, cada um e nós, a partir do nosso batismo somos chamados a ser um missionário”, destaca o bispo.
Para facilitar o acesso ao conteúdo de divulgação que está disponível no site das POM, foi lançado também no final do 4º Congresso Missionário Nacional, que aconteceu de 7 a 10 de setembro, em Recife (PE), o aplicativo para celular, o ‘Zappar’, explica o diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM), padre Maurício da Silva Jardim
“A novidade é que este ano temos um aplicativo, e com este aplicativo, apontamos para a arte, tanto da Novena Missionária como a Oração Missionária, o cartaz, e o celular o lê e abre um vídeo de apresentação da Campanha e as pessoas podem acessar todo o material, inclusive os nove testemunhos: tudo aí dentro do aplicativo”.
A Campanha Missionária, na qual colaboram a CNBB por meio da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, a Comissão para a Amazônia e outros organismos que compõem o Conselho Missionário Nacional (Comina) é organizada pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM) que preparou um amplo material de divulgação e estudos. Entre eles, subsídios, DVD´s e orações. Fonte: http://cnbb.net.br
*NO CAMINHO DO AMOR: Santa Teresinha do Menino Jesus.
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Dom Milton Kenan, Bispo da Diocese de Barretos, São Paulo.
Os anos passam rápido. Teresa já está há quase nove anos naquele Carmelo tão sonhado, onde quisera “dar-me toda inteira a Ele, já não quero viver senão para Ele.” (CT 43B). Naqueles primeiros anos, Teresa acalentara o desejo de chegar ao recorde do amor a Deus: “Queria amá-Lo tanto...amá-Lo como jamais foi amado” (CT 74).
Teresa abordou a sua vida de carmelita com a firme resolução de realizar, custe o que custar, o seu ideal de santidade. "Quero ser santa (...), quero sê-lo" (Ct 45). "Chegar a ser uma grande santa" é o leitmotiv (Ct 52,80). O seu Senhor não "quer pôr limites à (sua) santidade" (Ct 83). O preço nunca será demasiado alto: "Jesus pede-te tudo, tudo, tudo, tanto quanto pode pedir aos maiores Santos" — e sublinha a palavra "tudo", respectivamente, duas, três e cinco vezes (Ct 57).
Teresa tem clara diante de si a meta que espera alcançar a custa do esforço e da luta acirrada; e lhe é claro também o caminho a percorrer, nada menos do que o próprio amor: "Por mim não conheço outro meio para chegar à perfeição senão 'O amor'... Amar, o nosso coração foi feito para isso!... Às vezes procuro outra palavra para exprimir o amor, mas na terra do exílio as palavras são impotentes para exprimirem todas as vibrações da alma, por isso temos de limitar-nos a esta única palavra: "Amar!..."(Ct 109).
Entretanto, há medida que os meses e anos passam, Teresa vai se dando conta de que as dificuldades não são pequenas: Tem de conviver com a distância não física mas afetiva das irmãs Paulina e Maria que na sua infância ocuparam o lugar da mãe (morta precocemente) que não estavam mais dispostas a recriar no Carmelo o ambiente afetuoso de Buissonets; o temperamento tão difícil de Madre Maria do Gonzaga, que oscilava entre afeto e desprezo; a comunidade constituída de personalidades tão diferentes. Referindo-se a estas dificuldades, nas sublimes páginas do Manuscrito C sobre o mandamento do amor, Teresa fala dos “tristes sentimentos da natureza” (Ms C 19r); dos “combates”, das “fraquezas”, dos “fracassos” (Ms C 23v); das “doenças morais que [são] crônicas: a falta de bom senso, de educação, de susceptibilidade de alguns caracteres, todas as coisas que não tornam a vida muito agradável” (Ms C 28r).
Tem conviver também com a aridez, o sono, as distrações nas horas de oração mental; mas, sobretudo, o triste estado de seu Pai, a quem chama de “seu Rei”, vítima de ausências, crises de agressividade, fugas repentinas.
Teresa a intrépida não se dobra diante do sofrimento. Sofre heroica e virilmente. Entrega-se nas mãos de Jesus como “a bolinha”, humilde e pequena como “um grão de areia”, “desconhecida” e “esquecida” (CT 103), “ignorada” e “debaixo dos pés de todos”, porém “vista por Jesus” (CT 95).
As humilhações que sofre com as recaídas do seu paizinho querido, a sua internação em Caen, num hospital destinado a pacientes de doenças mentais, levam Teresa a se confrontar com o mistério de Deus! Porque permite Deus semelhante provação a quem sempre O serviu com fidelidade? Certamente, diz-se — e Teresa repete-o —que o sofrimento é um privilégio reservado aos amigos de Deus e que no céu tudo terá a sua recompensa. Mas, existe o céu? Teresa, que na sua autobiografia cala de propósito muitas coisas, refere de passagem esta afirmação: "Tinha então grandes provações interiores de todas as espécies até me interrogar, por vezes, se haveria Céu" (Ms A 80v). É a pergunta sobre o mais além, que no fim da sua vida virá ao de cima com tanta crueldade e à qual Teresa respondeu, em Jesus, com uma fé e um amor magníficos.
Neste período Teresa faz a descoberta da “Sagrada Face”, o ícone do Filho amado do Pai que submete-se ao sofrimento por amor, unicamente por amor. No Rosto de Cristo coroado pelos espinhos, desfigurado por causa do sofrimento, Teresa vê a resposta para suas dúvidas: o Pai não poupara o Filho, entregou o Filho nas mãos dos pecadores. Graças a esta contemplação, Teresa faz a passagem de uma fé tradicional, para uma fé genuinamente “cristã”, assumida pessoal e responsavelmente; onde Jesus tornar-ase o seu argumento.
No meio da noite Cristo brilha incessantemente. Quem poderá dizer "as belezas escondidas de Jesus"? Apenas as vê na fé. "Sim, a Face de Jesus é luminosa, mas se no meio das feridas e das lágrimas é já tão bela, que será então quando a virmos no Céu? Oh! O Céu... Sim, para ver um dia a Face de Jesus, para contemplar eternamente a maravilhosa beleza de Jesus, o pobre grão de areia deseja ser desprezado na terra!..." (Ct 95). Mesmo na noite percebe-se "uma claridade semi-velada, a claridade que espalham à sua volta os olhos baixos da face do meu Prometido" (Ct 110).
A beleza de Jesus, Verbo eterno, é também a beleza do seu amor pelos homens... Ama-nos inefavelmente: "Jesus arde de amor por nós... Contempla a sua face adorável!... Vê esses olhos apagados e baixos!... Vê essas feridas... Contempla Jesus na sua Face... Aí verás como Ele nos ama" (Ct 87). “A tua Face é a minha única Pátria, ela é o meu Reino de amor" (PN 20). Aos poucos o sofrimento e o esforço pessoal perdem sua primazia para dar lugar não só à amorosa vontade do Senhor, mas antes de tudo, à sua mesma Ação divina.
A nossa carmelita afirma que "o mérito não consiste em dar muito, mas em receber muito". Não quer de modo nenhum "amontoar tesouros para o céu" (Ct 91), mas abandona agora o seu "negócio" espiritual no Senhor. "A tua Teresa — confessa a Celina — não se encontra neste momento nas alturas, mas Jesus ensina-lhe 'a tirar proveito de tudo, do bem e do mal que encontra em si' [São João da Cruz]. Ensina-lhe a jogar à banca do amor, ou antes, joga Ele por ela sem lhe dizer como se faz porque isso é assunto d'Ele e não de Teresa, o que ela tem de fazer é abandonar-se, entregar-se sem nada reservar para si, nem mesmo a alegria de saber quanto lhe rende o banco (...) Jesus não me ensina a contar os meus atos; ensina-me a fazer tudo por amor (...), mas isto faz-se na paz, no abandono, é Jesus que faz tudo e eu não faço nada" (Ct 142). Tendo já percorrido grande parte de sua estadia no Carmelo, nossa jovem santa se dá conta de que sua fraqueza é irremediável, e a necessidade que tem da misericórdia de Deus.
Teresa não espera de si mesma méritos e progressos, mas de Deus. É profunda a consciência da sua incapacidade. A partir de agora, procura mais deixar agir o Senhor do que transformar por si mesma a sua fraqueza em amor. Dá-se conta da prioridade do amor de Deus, que não só está na origem dos nossos atos de amor, mas também os aperfeiçoa.
Conforme o que Teresa nos explicou sobre o seu "pequeno caminho completamente novo", é de Deus de quem fez a sua grande descoberta, que se referirá à misericórdia divina precisamente enquanto misericórdia. Certamente que já antes Teresa tinha consciência da bondade de Deus e da sua compaixão. Mas agora aprende a reconhecer que o amor de Deus não só é real, primeiro e fiel, mas é um amor que desce ao pequeno, que busca o pequeno porque é pequeno, e que Ele é grande para com o pequeno. A pequenez, em vez de ser principalmente humildade, será a partir de agora principalmente confiança.
Desejosa de ser pequena e de chegar a sê-lo cada vez mais, Teresa ambicionará antes de tudo uma confiança completamente filial. "O que agrada a Deus na minha pequena alma — escreverá mais tarde — é ver-me amar a minha pequenez e a minha pobreza, é a esperança cega que tenho na sua misericórdia... Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor" (Ct 197). Com plena consciência e vontade confiar-se-á à obra da Graça nela, colaborará com ela e a ela se entregará.
Só no manuscrito autobiográfico C, escrito três meses antes de morrer, é que Teresa se referiu à descoberta do seu "pequeno caminho muito direito, muito curto, um pequeno caminho completamente novo" (cf. Ms C 2r-v). Tendo comprovado, ao comparar-se com os santos, por um lado que é como um grão de areia aos pés de uma montanha e, por outro, que "fazer-se crescer a si mesma é impossível" (quer dizer, que ela se faça crescer a si mesma, mas isto não exclui que Deus a faça crescer), Teresa põe-se a procurar nos "Livros Sagrados" uma solução: uma espécie de "ascensor", que a elevasse ao cimo da montanha da santidade.
Convém saber aqui que no dia 14 de setembro de 1894, um mês e meio depois da morte do Sr. Martin, Celina se tinha consagrado também ao Senhor no Carmelo de Lisieux. Quando entrou levava consigo um pequeno caderno onde tinha copiado as passagens mais belas do Antigo Testamento. Como então não era permitido às carmelitas jovens ler o Antigo Testamento na sua totalidade, Teresa, ávida da Palavra de Deus, tinha mergulhado no pequeno caderno de Celina. Foi assim como num dia de Outono de 1894 viveu o seu eureka tão importante.
Ao princípio, ficou impressionada com uma primeira frase: "Se alguém for pequenino, venha a mim" (Pr 9,4). Sentiu-se aqui pessoalmente retratada: não era a pequenez o seu especial problema no seu caminhar para chegar a ser uma grande santa? Ei-la aqui convidada a aproximar-se de Deus como "pequena", a ver-se "toda pequena".
Guiada pelo Espírito, prossegue na sua procura, com uma exegese totalmente pessoal e penetrante. Ei-la desconcertada ao ler a promessa de Deus: "Como uma mãe acaricia o seu filho, assim Eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos" (Is 66,13.12).
Detenhamo-nos um instante. Teresa cita duas vezes esta passagem, e duas vezes deixa transparecer a emoção que provoca nela. Eis o que sobre isto diz: "Ah! Nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma!" (Ms C 3r). Mais ainda: "Depois de semelhante linguagem, nada mais resta senão calar-nos, chorar de gratidão e de amor" (Ms B 1r).
Porquê uma emoção tão profunda? Porque, Teresa lê aqui na Bíblia, pela primeira vez na sua vida, que Deus é como uma mãe para o seu filho. E Teresa é hipersensível ao amor de uma mãe! Não tinha perdido, na idade de quatro anos e oito meses, a sua "incomparável" mãe, que morreu de câncer? (Ms A 4v). Esta perda brutal, na idade em que a filha tinha tanta necessidade do amor maternal para estruturar a sua personalidade, causou em Teresa um profundo traumatismo do qual não sairá até aos catorze anos, com a "graça do Natal". Imediatamente, depois da morte da sua mamãe, Teresa afeiçoou-se com todas as suas forças à sua Irmã Inês, a sua "segunda mamãe", que em breve partiria para o Carmelo. Nova ruptura quando a outra irmã, Maria, terceira mamãe por assim dizer, vai também ela para o convento...
E Teresa, a órfã, lê que Deus é como uma mamãe para com o seu filho pequeno! Então, conclui: "É preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena" — até ser o "pequenino" a quem Deus cumula com o seu amor de mãe. A sua conclusão é evidente: este "pequeno caminho muito direito, muito curto" que conduz ao cume do amor e da santidade, este "ascensor" que Teresa procura, "são os vossos braços, ó Jesus!" (Ms C 3r).
*Reflexão do Retiro- Na companhia e sob a guia de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.
29 de setembro: Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.
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Os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro
Com alegria, comemoramos a festa de três Arcanjos neste dia: Miguel, Gabriel e Rafael. A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção a estes amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro pois, como São Paulo, vivemos num constante bom combate. A palavra “Arcanjo” significa “Anjo principal”. E a palavra “Anjo”, por sua vez, significa “mensageiro”.
São Miguel
O nome do Arcanjo Miguel possui um revelador significado em hebraico: “Quem como Deus”. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que querem nos fazer perdedores também. “Houve então um combate no Céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu”. (Apocalipse 12,7-8)
São Gabriel
O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa “Força de Deus” ou “Deus é a minha proteção”. É muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré… O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe: ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus’…” a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho como se deu a Encarnação.
São Rafael
Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus. Rafael aparece no Antigo Testamento no livro de Tobit. Este arcanjo de nome “Deus curou” ou “Medicina de Deus”, restituiu à vista do piedoso Tobit e nos demonstra que a sua presença, bem como a de Miguel e Gabriel, é discreta, porém, amiga e importante. “Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus” (Tob 5,4).
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!
ENSINO RELIGIOSO: STF autoriza ensino religioso confessional nas escolas públicas
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O julgamento ficou empatado até o último momento, sendo decidido pelo voto da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia
Por 6 votos a 5, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira, 27, que o ensino religioso ministrado em escolas públicas pode ser confessional, ou seja, pode promover crenças específicas.
Depois de quatro sessões dedicadas ao tema, a Corte concluiu o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2010.
O caso girou em torno de um acordo entre Brasil e o Vaticano, firmado na Cidade do Vaticano em novembro de 2008.
O decreto em questão, assinado pelo então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, promulga um acordo entre Brasil e o Vaticano, que afirma que o “ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas” constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
Na avaliação da PGR, a redação evidencia a adoção de um ensino confessional, ou seja, com vinculação a certas religiões.
“Não vejo como se opor à laicidade a opção do legislador e não vejo contrariedade aqui que pudesse me levar a considerar inconstitucionais as normas questionadas”, disse a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, que desempatou o julgamento e definiu o resultado.
“Não vejo submissão do Estado à submissão de religião na norma. A pluralidade de crenças, a tolerância – que é princípio da Constituição Federal – combina-se com os dispositivos aqui atacados. Pode-se ter conteúdo confessional em matérias não obrigatórias nas escolas”, concluiu a ministra.
Além de Cármen Lúcia, votaram a favor da possibilidade de o ensino religioso ser confessional – ou seja, vinculado a religiões específicas – os ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes – coube a Moraes abrir a divergência no julgamento.
Em sentido divergente votaram o relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, e os ministros Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Luiz Fux e Rosa Weber.
Questão
Para Celso de Mello, a fé é questão essencialmente privada no Estado laico.
“A laicidade do Estado envolve a pretensão republicana de delimitar espaços próprios e inconfundíveis para o poder político e a fé. O Estado laico não pode nem pode ter preferências de ordem confessional e não pode portanto interferir na esfera das escolhas religiosas. O Estado não tem nem pode ter interesses confessionais”, sustentou Celso de Mello.
“Ninguém pode ser coagido a fazer parte de associação religiosa. Ninguém pode ser perguntado, indagado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, nem ser prejudicado por se recusar a responder. Ninguém é obrigado a indicar sua religião. Ninguém pode ser obrigado a prestar juramento religioso. Nesta República laica, o direito não se submete à religião”, frisou Celso de Mello.
Na avaliação de Marco Aurélio Mello, a garantia do Estado laico obsta que dogmas da fé determinem o conteúdo de atos estatais.
“Concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias, não podem guiar as decisões do Estado, devendo ficar circunscritas à esfera privada. A crença religiosa e espiritual – ou a falta dela, o ateísmo – serve precipuamente para ditar a conduta e a vida privada do cidadão que a possui ou não a possui. Paixões religiosas de toda ordem hão de ser colocadas à parte na condução do Estado”, disse Marco Aurélio Mello na sessão desta quarta-feira.
“É tempo de atentar para o lugar da religião na sociedade brasileira. Esta, embora aspecto relevante da comunidade, digno de tutela na Constituição Federal, desenvolve-se no seio privado no lar, na intimidade, nas escolas particulares. Nas públicas, espaço promovido pelo Estado para convívio democrático das diversas visões de mundo, deve prevalecer a ampla liberdade de pensamento, sem o direcionamento estatal a qualquer credo”, completou Marco Aurélio Mello.
Modalidade
Para o ministro Luís Roberto Barroso, relator da ação, somente o modelo não confessional de ensino religioso nas escolas públicas seria compatível com o princípio de um Estado laico. Como escolher a escola para seu filho: O Positivo te dá 8 dicas que podem ajudar Patrocinado
Nessa modalidade, explicou o ministro, a disciplina consiste na exposição neutra e objetiva de doutrinas, práticas, aspectos históricos e dimensões sociais das diferentes religiões.
A posição do ministro, no entanto, foi derrotada no julgamento concluído nesta quarta-feira. Fonte: Fonte: https://exame.abril.com.br
Papa: não estamos sozinhos na luta contra o desespero
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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou hoje quarta-feira, dia 27 de Setembro de 2017, às 10 horas locais de Roma, na Praça de S. Pedro, a tradicional Audiência Geral. “Não estamos sozinhos na luta contra o desespero. Jesus é capaz de vencer em nós tudo aquilo que se opõe ao bem”. E “se Deus está connosco, ninguém poderá roubar-nos aquela virtude de que temos necessidade para viver. Enfim, ninguém nos roubará a esperança”. Daí, a necessidade, segundo Francisco, de conhecermos muito bem os principais “inimigos” da esperança em geral e da esperança cristã de modo particular. Esta, caros ouvintes, é o fulcro da mensagem catequética do Papa Francisco, na Audiência Geral de hoje na Praça de S. Pedro repleta de fiéis e peregrinos provenientes de diversas partes da Itália e do mundo. Recordamos que o tema da catequese do Papa para este ano é, precisamente, o tema da esperança cristã.
Na Audiência Geral de hoje em que foi também lançada a Campanha da Caritas Internacionalis, sob o lema “Partilhar a viagem”, o Papa Francisco concentrou a sua catequese sobre os piores “inimigos da esperança”. Neste sentido o Pontífice advertiu sobre a necessidade de ter sempre presente e nunca esquecer que, e citamos, “ter tudo da vida é um infortúnio”; que “a esperança não é virtude para pessoas com o estômago cheio”; e sobretudo, que “ter uma alma vazia é o pior obstáculo à esperança”.
Na sua reflexão o Santo Padre partiu do “antigo mito da caixa de Pandora”, que, segundo o Papa, revela-nos a importância da esperança para a humanidade.
Francisco recorda que “é a esperança que mantém em pé a vida, que a protege e a faz crescer”; esta esperança porém, sublinhou é assaz diferente daquilo que se costuma dizer que “enquanto houver vida há sempre esperança”.
“Se os homens não tivessem cultivado a esperança – observou - “nunca teriam saído das cavernas e não teriam deixado marcas na história do mundo”. É uma das coisas mais divinas que existe no coração do homem.
Ao referir-se ao poeta francês Charles Péguy – nas palavras do Santo Padre “deixou páginas estupendas sobre a esperança” – o Papa observou que a imagem de um dos seus textos evoca “os rostos de tanta gente que passou por este mundo – agricultores, pobres, operários, migrantes em busca de um futuro melhor – que lutaram tenazmente não obstante a amargura de um hoje difícil, cheio de tantas provações, animados porém pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais serena”.
Assim, acrescentou o Pontífice,“a esperança é o impulso no coração de quem parte deixando a casa, a terra, às vezes até familiares e parentes, para buscar uma vida melhor, mais digna para si e para os próprios familiares”, mas é também “ o impulso no coração de quem acolhe, o desejo de encontrar-se, de conhecer-se, de dialogar”.
“A esperança é o impulso para “partilhar a viagem” da vida, como nos recorda a Campanha da Caritas que hoje iniciamos”.(…) “Irmãos, não tenhamos medo de partilhar a viagem! Não tenhamos medo de compartilhar a esperança!”.
Francisco recordou então que “a esperança não é virtude para pessoas com o estômago cheio”, e é precisamente por este motivo que, sublinhou, “os pobres são os primeiros portadores da esperança”, como José e Maria e os pastores de Belém. “Enquanto o mundo dormia recostado nas tantas certezas adquiridas, os humildes preparavam no silêncio a revolução da bondade. Eram pobres de tudo”, mas “eram ricos do bem mais precioso que existe no mundo, isto é, o desejo de mudança”.
Daí que, “às vezes – observou o Pontífice – ter tudo na vida é um infortúnio”:
“Pensem num jovem a quem não foi ensinada a virtude da espera e da paciência, que não teve que suar por nada, que queimou as etapas e aos vinte anos “já sabe como funciona o mundo”. Está destinado à pior condenação: a de não desejar mais nada. Parece um jovem, mas já entrou o autuno no seu coração”.
Mas também, sublinhou ainda o Papa, “a alma vazia é o pior obstáculo à esperança”; “um risco para o qual ninguém está excluído, porque ser tentados contra a esperança pode acontecer também quando se percorre o caminho da vida cristã”, como advertiam os monges da antiguidade, ao denunciar um dos priores inimigos do fervor, que é aquele “demónio do meio-dia”.
A preguiça, de fato, – como a definiam os Padres – “é uma tentação que nos surpreende quando menos esperamos: os dias tornam-se monótonos e enfadonhos”, nenhum valor mais parece merecer algum esforço na nossa vida. E quando isto acontece, advertiu Francisco, o cristão sabe que aquela condição deve ser combatida, nunca aceitá-la passivamente, pois, Deus nos criou para a alegria e para a felicidade, e não para ardermos em pensamentos melancólicos.
Por esta razão, concluiu dizendo o Santo Padre, devemos custodiar o coração, “opondo-nos às tentações da infelicidade, que certamente não provém de Deus. E lá onde as nossas forças parecem fracas e a batalha contra a angústia dura, podemos sempre recorrer ao nome de Jesus. Podemos repetir aquela oração simples, que encontramos também nos Evangelhos e que se tornou a base de tantas tradições espirituais cristãs: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim pecador!.
Não estamos sozinhos na luta contra o desespero. Jesus é capaz de vencer em nós tudo aquilo que se opõe ao bem. E se Deus está connosco, ninguém poderá roubar-nos aquela virtude de que temos necessidade para viver. Ninguém nos roubará a esperança”.
Na conclusão da sua audiência e come de costume, também hoje não faltou a habitual saudação do Papa Francisco aos peregrinos de língua oficial portuguesa presentes na Praça de S. Pedro: Saúdo, disse Francisco, todos os peregrinos de língua portuguesa, em particular os fiéis de Arruda dos Vinhos e Sobral e os diversos grupos do Brasil. Queridos amigos, a esperança cristã nos leva a olhar para o futuro como homens e mulheres que não se cansam de sonhar com um mundo melhor. Que Maria, causa da nossa esperança, vos guie nesse caminho. Fonte: http://pt.radiovaticana.va/
O papa é católico? Editorial do jornal The Guardian
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“Francisco vê a Igreja como um hospital; seus inimigos a veem (como Lutero fez) como uma espécie de fortaleza contra erros e infiéis. O importante, porém, é que Francisco, depois de anos de discussão, está vencendo o debate”, afirma, em editorial, o jornal inglês The Guardian, 25-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Um grupo de clérigos conservadores acusou o Papa Francisco de heresia pelas suas tentativas de liberar o trato da Igreja às pessoas divorciadas. Isso levanta uma questão interessante: por quanto tempo um papa deve estar morto antes que as suas opiniões possam ser ignoradas com segurança?
Para muitas pessoas, a resposta é “por tempo algum”: não são apenas os humanistas, os muçulmanos e os protestantes, mas também a grande maioria dos católicos do mundo que dão pouca atenção à doutrina católica quando eles não concordam com ela. A direita católica ignora mais de 100 anos de um consistente ensino papal contra os excessos do capitalismo, junto com denúncias mais recentes da pena de morte, das guerras de agressão e da destruição ambiental. A esquerda católica ignora os ensinamentos do papa sobre a sexualidade – e todos ignoram a proibição da contracepção.
Os próprios papas, no entanto, devem levar seus antecessores muito a sério, mesmo que nenhuma das partes esteja escrevendo infalivelmente. As encíclicas papais soam como documentos legais, reforçados com notas de rodapé para provar que a doutrina não mudou, e que eles estão apenas repetindo o que seus antecessores queriam dizer, mesmo quando contradizem o que foi claramente dito.
Esses magníficos roupões escondem algumas coisas fantasiosas às vezes. É um artigo de fé – literalmente – que a doutrina nunca pode mudar, apenas se desenvolver, e o olho da fé pode ver claramente as sutis diferenças entre mudança, desenvolvimento e decadência.
Assim, as denúncias do século XIX sobre a democracia e a liberdade de pensamento e de consciência são agora ignoradas, mas a recusa do Papa João Paulo II de admitir as mulheres ao sacerdócio parece que vai ficar de pé por mais alguns séculos, pelo menos.
O que dizer, porém, da denúncia igualmente clara do Papa João Paulo II dos casais divorciados em segunda união que recebem a comunhão, reafirmada com força apenas 14 anos atrás? “Aqueles que persistem obstinadamente no pecado grave manifesto”, como ele se referiu aos divorciados recasados, devem ser banidos da participação no rito central da Igreja.
Mesmo na época, isso foi amplamente ignorado – a sua carta é uma daquelas leis a partir das quais os historiadores podem concluir que o comportamento banido era lugar-comum. Deve haver poucas comunidades católicas no Ocidente sem divorciados em segunda união que comungam, e todos sabem disso. Afastá-los do altar causaria um escândalo público, e isso também é banido. Portanto, é improvável que a carta tenha qualquer efeito sobre os fatos in loco.
Mas os esforços do papa atual, Francisco, para reverter a política dos seus antecessores provocaram uma reviravolta vigorosa. Se ele está mudando a doutrina, como seus oponentes acusam, ou meramente a interpretação da doutrina, como afirmam seus defensores, não há dúvida de que ele quer que a Igreja encoraje algumas pessoas que violam suas normas sobre sexualidade a comungarem. A questão simplesmente não é mais controversa em nenhuma outra Igreja, apesar da clara afirmação de Jesus sobre o princípio da oposição ao divórcio.
Somente a Igreja Católica tem a combinação entre burocracia e autoritarismo que torna tão difícil para o clero aprender com a experiência dos seus rebanhos. A própria ideia de que a Igreja deveria aprender com o mundo e não ensiná-lo é uma afronta para alguns católicos.
O desdobramento mais recente é a publicação de uma longa carta que acusa o papa da heresia pelas suas crenças sobre a segunda união, assinado por 62 clérigos conservadores, que parecem interessados em combater novamente a Reforma 500 anos depois: eles também acusam Francisco de várias heresias luteranas incompreensíveis para a mente não treinada.
Francisco vê a Igreja como um hospital; seus inimigos a veem (como Lutero fez) como uma espécie de fortaleza contra erros e infiéis. O importante, porém, é que Francisco, depois de anos de discussão, está vencendo o debate. Existem 4.000 bispos na Igreja em todo o mundo; apenas um, que tem 94 anos, assinou a carta. Inúmeros católicos podem não concordar com Francisco. Mas ninguém na hierarquia se atreve a ignorá-lo publicamente, pelo menos enquanto ele está vivo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
NESTA TERÇA, 26: Papa em S. Marta: a familiaridade com Jesus nos faz livres
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O Papa Francisco celebrou na manhã desta terça-feira (26/09) a Missa na capela da Casa Santa Marta. Na sua homilia, falou do conceito de família, inspirando-se no Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia.
Para Jesus, família são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática. No Evangelho, é o Senhor que chama “mãe”, “irmãos” e “família” os que o circundavam e o ouviam na pregação. E isso, observou o Papa, "faz pensar no conceito de familiaridade com Deus e com Jesus”, que é algo a mais em relação ao ser “discípulos” ou “amigos”; “não é uma atitude formal nem educada e muito menos diplomática”, afirmou o Papa.
E então "o que significa esta palavra que os padres espirituais na Igreja tanto usaram e nos ensinaram?".
Antes de tudo, explicou Francisco, significa "entrar na casa de Jesus: entrar naquela atmosfera, viver aquela atmosfera, que está na casa de Jesus. Viver ali, contemplar, ser livres, ali. Porque os filhos são os livres, os que moram na casa do Senhor são os livres, os que têm familiaridade com Ele com os livres. Os outros, usando uma palavra da Bíblia, são os ‘filhos da escrava’, digamos assim, são cristãos, mas não ousam se aproximar, não ousam ter esta familiaridade com o Senhor, e sempre há uma distância que os separa do Senhor".
Mas familiaridade com Jesus, como nos ensinam os grandes Santos, acrescentou o Papa, significa também “estar com Ele, olhá-Lo, ouvir a sua Palavra, tentar praticá-la, falar com Ele" .
E a palavra é oração, destacou Francisco: "aquela oração que se faz inclusive na rua: 'Mas, Senhor o que acha?' Esta é a familiaridade, não? Sempre. Os santos tinham isso. Santa Teresa, é bonito, porque diz que via o Senhor em todos os lugares, era familiar com o Senhor por todos os lados, mesmo entre as panelas na cozinha, era assim".
Por fim, familiaridade é "permanecer" na presença de Jesus como Ele mesmo nos aconselha na Última Ceia ou como nos recorda o início do Evangelho, destacou Francisco, quando João indica: "este é o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. E André e João foram atrás de Jesus" e, como está escrito, “permaneceram, ficaram com Ele todo o dia”.
Esta é, portanto, reiterou o Papa, a atitude de familiaridade, não aquela dos cristãos que, porém, mantêm distância de Jesus. E então Francisco pede a cada um: "vamos dar um passo nesta atitude de familiaridade com o Senhor. Aquele cristão, com problemas, que vai no autocarro, no metrô e interiormente fala com o Senhor ou pelo menos sabe que o Senhor o vê, lhe está próximo: esta é a familiaridade, é proximidade, é sentir-se da família de Jesus. Peçamos esta graça para todos nós, entender o que significa familiaridade com o Senhor. Que o Senhor nos conceda esta graça". Fonte: http://pt.radiovaticana.va
Crise do padre. O que fazer?
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O padre Francesco Cosentino, da Diocese de Catanzaro-Squillace, professor e diretor de retiros e encontros espirituais, atualmente é membro na Congregação para o Clero e Professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, reflete sobre a 'crise do padre', em artigo publicado por Settimana News, 02-07-2017. A tradução é de Ramiro Mincato.
Eis o artigo.
O ministério sacerdotal perde valor e significado. Atrai cada vez menos. Parece mover-se com dificuldades, como se estivesse "fora do tempo", isto é, em um tempo que não é mais o seu. Assim, Padre Armando Matteo fotografou, em seu site, a "crise do padre", sem muitos rodeios.
Penso que se deva dar prosseguimento àquelas observações, e tentarei fazê-lo, embora sob uma ótica um pouco mais otimista do que meu amigo Matteo, enfrentando algumas questões e abrindo algumas pistas de reflexão.
Qual identidade?
Para abordar seriamente a "crise do presbítero", é necessário fazer referência a questão - tanto debatida, mas sem solução fácil - de sua identidade. Não se trata apenas de um teórico argumento teológico, mas, pelo contrário, quando se fala de identidade presbiteral é preciso não se fixar logo sobre um modelo abstrato, mas sobre a figura do padre, assim como se configurou na história concreta da comunidade de fé. Ainda mais, deve-se fazer referência à Palavra de Deus, que representa o horizonte subjacente dentro do qual devem surgir os critérios do ministério presbiteral.
Se é verdade que, como afirma o conhecido teólogo Greshake em Essere preti in questo tempo (Queriniana, 2008), "nos últimos anos o tema do “padre" tornou-se uma espécie de muro das lamentações, onde tantos sacerdotes batem com a cabeça, assim como bispos desesperados e também leigos desorientados", é igualmente verdade que, antes de questionar-se sobre a crise numérica, o modelo de vida e as atribuições pastorais, é preciso voltar-se à questão de fundo: o que Jesus realmente queria quando reuniu em torno a si os apóstolos e os enviou em missão?
Somente se esta questão for tomada a sério poder-se-á enfrentar a crise, talvez até descobrindo que ela não é pois tão dramática, não porque não seja real, mas pelo fato de afetar aspectos provavelmente não tão essenciais ao ministério.
Assim, como primeira provocação – deixando para depois escavar mais a fundo sobre o tema, - gostaria de debruçar-me sobre a questão da identidade.
Um olhar sobre a história
Podemos recordar suas origens, quando o cristianismo organizou-se em pequenas comunidades, errantes e nômades, centradas principalmente na evangelização; mais tarde, como sabemos, as coisas mudaram consideravelmente.
Durante anos, de fato, talvez séculos, o ministério presbiteral foi se configurando no interior da nascente cristandade, isto é, daquele processo de simbiose entre religião, sociedade e cultura, que, se por um lado, favoreceu a integração e expansão de fé, por outro lado, de alguma maneira, obscureceu a potência profética do Evangelho, a força da sua fraqueza, a riqueza da sua pobreza e, em geral, a sua voz "obstinadamente outra" em relação ao mundo.
O modelo de Igreja, a simbologia litúrgica, as formas de fé e, não por último, a própria figura do padre passaram, lentamente, a parecer-se mais ao modelo do Império Romano do que ao da identidade evangélica. É verdade que a Igreja tornou-se estrutura fundamental da sociedade, e que o cristianismo alastrava-se como incêndio, desenvolvendo sua capacidade de presença e incidência na vida pública; no entanto, é igualmente verdade que o cristianismo deixou de ser uma resposta pessoal a um chamado evangélico, para tornar-se um fator natural e cultural; a Igreja mudou sua forma externa e suas estruturas, e, consequentemente, o ministério presbiteral também teve que se adequar.
O padre sobre um “pedestal”, autoridade indiscutível capaz de exercer certo poder espiritual, mas não só, era um modelo bem integrado com uma sociedade marcada pela fé religiosa, em que acreditar era algo "normal".
Este é, para mim, o primeiro motivo sério para a crise atual. Hoje, com o desenvolvimento moderno da liberdade da pessoa, o crescimento do valor da democracia, o mundo fortemente marcado pelo secularismo e pelo abandono da fé, ainda pode reger aquela ideia e aquele modelo de padre que, mesmo diante das inovadoras indicações do papa Francisco, parece ser o sonho latente de muitos e a imagem escondida por trás de algumas estratégias pastorais? Pode-se ainda continuar falando de "serviço", mas com uma convicção secreta de monarcas absolutos?
Uma crise provisória?
Talvez, a crise atual do cristianismo, que força a Igreja a tornar-se novamente minoritária, poderia ser uma ocasião profícua: Deus quer seu povo de volta ao deserto e à diáspora, para aliviá-lo de um sistema imperial e mundano, para destruir um cristianismo que se tornou um subsistema da sociedade, e permitir-lhe recuperar um espírito evangélico. Este caminho, profético e corajosamente traçado pelo atual pontificado, deixa ainda perplexas muitas figuras do clero.
O medo de abandonar um modelo "seguro", no qual fomos formados e habituados, por ora vence sobre a coragem de se tentar novas vias. Na paralisia, esquece-se que a identidade do presbítero está em caminho, está aberta, em constante evolução.
Não existe o presbítero "válido de uma vez por todas", mas um ministro chamado, no concreto da história, feita de rostos, de alegrias e de lágrimas, em um mundo real que possui coordenadas precisas e dentro das quais, se realmente se quer incidir, é preciso habitar. Não como um chefe, um supervisor ou um estranho, mas como um companheiro de estrada. Se tudo muda, me pergunto também sobre a identidade e o modelo de presbítero: pode-se continuar parado? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
*UM OLHAR DE SANTA TERESINHA- O ENCONTRO COM JESUS: Vida no amor e na verdade
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Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita.
“Minha vocação é o AMOR”. (Ms B, f. 3r)
“O amor pode suprir uma longa vida. Jesus não considera o tempo, pois no céu o tempo não existe mais. Ele só deve considerar o AMOR”. (CT 111)
Para Santa Teresinha Jesus é, no plano doutrinal, o Cristo. Entretanto, no plano afetivo, ao empregar o nome Jesus, demonstra familiaridade e proximidade com Ele, entrega amorosa “nota dominante” de sua doutrina e de sua vida e característica de sua santidade. Queria amar o bom Deus de forma muita intensa. E “o bom Deus” é Jesus. Na parede de sua cela escrevera: “Jesus é o meu único amor” (Proc. Ord., 1730). “Com o amor não somente avanço, mas vôo” (Ms A, f. 80v). Sua divisa carmelitana era “O amor, só com amor se paga”, lema tomado de João da Cruz (Cântico espiritual, estr. 9,7). “A cada instante o Amor Misericordioso me renova, purifica e não deixa em meu coração vestígio algum de pecado” (Ms A, f. 84r). O amor é para Santa Teresinha a fonte de energia que fecunda toda a sua vida espiritual.
Para compreender o amor de Deus e traduzi-lo em palavras compreensíveis desde a Bíblia, passando pela Liturgia e pelos santos, precisamos de usar muitos raciocínios e elecubrações. Santa Teresinha pouco usa a literatura teológica para compreender o AMOR. Sua atitude preferida, no amor como em tudo o mais, é uma atitude vivencial muito profunda: aquela que reconhece a transcendência divina e os privilégios da graça da filiação divina, conciliando com audaciosa confiança a dimensão da justiça e da misericórdia do amor de Deus. O caráter filial de seu amor é o corolário de sua síntese de vida: permanecer sempre “bem pequenina” em face de Deus, confiante como a criancinha em seu pai, sabendo ser-lhe agradecida seja quando está adormecida, seja quando está acordada (Ms A, f. 75v).
Santa Teresinha expressa seu amor em gestos concretos, para “agradar a Jesus”, num eco ao próprio Jesus: “Faço sempre aquilo que é do agrado de meu Pai” (Jo 8,29). Perguntava-se às vezes angustiada: “O puro amor existirá mesmo em meu coração? Meus imensos desejos não são um sonho, uma loucura? ” (Ms B, f. 4v). Desejava viver um amor desinteressado; amar o bom Deus por Ele mesmo, sem qualquer introversão egoística. São frequentes as suas palavras confirmando este anseio. Numerosas vezes fala deste seu desejo ardente e confidencia que teria medo se “Jesus me dissesse que sou egoísta” (CT 65).
*Retiro Espiritual Carmelitano n. 6: A CAMINHO COM TERESA DO MENINO JESUS- Subsídio elaborado por AUGUSTA DE CASTRO COTTA C.D.P. e EMANUELE BOAGA O.Carm. In Memoriam.
NESTE DOMINGO EM ROMA: Deus chama todos a trabalhar pelo seu Reino - Papa no Ângelus
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Domingo, 24 de Setembro de 2017. Ao meio dia, o Papa Francisco assomou, como habitualmente, à Janela do Palácio Apostólico para rezar com os fieis, reunidos na Praça de São Pedro, a oração do Ângelus. Antes, porém, fez uma breve reflexão sobre a página evangélica deste domingo, em que São Mateus nos coloca perante a parábola do trabalhador-a-dia que Jesus conta para comunicar dois aspectos do Reino de Deus:
“O primeiro é que Deus quer chamar todos a trabalhar para o seu Reino; e o segundo, que no fim Ele quer dar a todos a mesma recompensa, isto é a salvação, a vida eterna”.
Essa parábola narra a história do patrão de uma vinha que paga com o mesmo preço a trabalhadores que tinham trabalhado o dobro de horas de outros trabalhadores. Então os que trabalharam mais protestam por essa injustiça.
Na realidade – disse o Papa – o que Jesus quer com esta parábola não é “falar do problema do trabalho e do justo salário, mas sim do Reino de Deus”, onde não há desempregados, pois que cada um é chamado a fazer a sua parte; e no fim, para todos haverá a recompensa que vem da justiça divina – não humana, por nossa sorte – afirmou o Papa, explicando que se trata da “salvação que Jesus Cristo obteve para nós com a sua morte e ressurreição. Uma salvação que não é merecida, mas doada, pelo que os “últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos””.
Com esta parábola – prosseguiu Francisco – Jesus quer abrir os nossos corações à lógica do amor do Pai, amor que é gratuito e generoso. Há, todavia, que se deixar “maravilhar e fascinar pelos “pensamentos” e pelas “vias” de Deus que, como recorda o profeta Isaías, não são os nossos pensamentos e as nossas vias. Com efeito, os pensamentos humanos são, muitas vezes, marcados pelo egoísmo e interesses pessoais, e os nossos angustiosos e tortuosos caminhos não são comparáveis às ampla rede estradal do Senhor.
“Ele faz uso da misericórdia, é cheio de generosidade e de boa vontade que derrama sobre cada um de nós, abre a todos os territórios sem confins do seu amor e da sua graça, os únicos que podem dar ao coração humano a plenitude da sua alegria”.
O Papa aprofundou ainda mais o sentido da parábola do trabalhador e o olhar daquele patrão que vendo trabalhadores sem trabalho os convidou a trabalhar já ao meio do dia, dando-lhes ao fim o mesmo salário que os que tinham começado de manhã cedo.
É um olhar – disse Francisco – “cheio de atenção, de benevolência; é um olhar que chama, que convida a levantar-se, a pôr-se a caminho, porque quer a vida para cada um de nós, quer uma vida cheia, empenhada, salvada do vazio da inércia. Deus não exclui ninguém e quer que cada uma atinja a sua plenitude”.
Terminada a sua reflexão, o Papa rezou com os presentes a saudação do Anjo a Maria, à qual pediu, previamente, para nos ajudar a acolher na nossa vida, a lógica do amor, que nos liberta da presunção de merecer a recompensa de Deus e do julgamento negativo sobre os outros.
Após a oração do Ângelus, Francisco recordou que, ontem em Oklahoma City, nos Estados Unidos, foi proclamado Beato Stanley Francis Rother, sacerdote missionário, morto devido à sua fé e à sua obra de evangelização e promoção humana a favor dos mais pobres na Guatemala.
O seu exemplo heróico – afirmou o Papa – nos ajude a ser corajosos testemunhos do Evangelho, empenhando-nos a favor da dignidade do homem.
A concluir, Francisco saudou os romanos e peregrinos doutras partes do mundo, citando alguns grupos em particular, e a todos
desejou bom domingo, pedindo, como sempre, que não nos esqueçamos de rezar por ele. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
*25º Domingo do Tempo Comum – Ano A: Um Olhar.
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ATUALIZAÇÃO (Mt 20, 1-16)
Antes de mais, o nosso texto deixa claro que o Reino de Deus (esse mundo novo de salvação e de vida plena) é para todos sem exceção. Para Deus não há marginalizados, excluídos, indignos, desclassificados… Para Deus, há homens e mulheres – todos seus filhos, independentemente da cor da pele, da nacionalidade, da classe social – a quem Ele ama, a quem Ele quer oferecer a salvação e a quem Ele convida para trabalhar na sua vinha. A única coisa verdadeiramente decisiva é se os interpelados aceitam ou não trabalhar na vinha de Deus. Fazer parte da Igreja de Jesus é fazer uma experiência radical de comunhão universal.
Todos têm lugar na Igreja de Jesus… Mas todos terão a mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há trabalhadores mais importantes do que os outros, não há trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres que aceitaram o convite do Senhor – tarde ou cedo, não interessa – e foram trabalhar para a sua vinha. Dentro desta lógica, que sentido é que fazem certas atitudes de quem se sente dono da comunidade porque “estou aqui há mais tempo do que os outros”, ou porque “tenho contribuído para a comunidade mais do que os outros”? Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos. Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e todos devem ser acolhidos, amados e considerados de igual forma.
O nosso texto denuncia ainda essa concepção de Deus como um “negociante”, que contabiliza os créditos dos homens e lhes paga em consequência. Deus não faz negócio com os homens: Ele não precisa da mercadoria que temos para Lhe oferecer. O Deus que Jesus anuncia é o Pai que quer ver os seus filhos livres e felizes e que, por isso, derrama o seu amor, de forma gratuita e incondicional, sobre todos eles. Sendo assim que sentido fazem certas expressões da vivência religiosa que são autênticas negociatas com Deus (“se tu me fizeres isto, prometo-te aquilo”; “se tu me deres isto, pago-te com aquilo”)?
Entender que Deus não é um negociante, mas um Pai cheio de amor pelos seus filhos, significa também renunciar a uma lógica interesseira no nosso relacionamento com ele. O cristão não faz as coisas por interesse, ou de olhos postos numa recompensa (o céu, a “sorte” na vida, a eliminação da doença, o adivinhar a chave da lotaria), mas porque está convicto de que esse comportamento que Deus lhe propõe é o caminho para a verdadeira vida. Quem segue o caminho certo, é feliz, encontra a paz e a serenidade e colhe, logo aí, a sua recompensa.
Com alguma frequência encontramos cristãos que não entendem porque é que Deus ama e aceita na sua família, em pé de igualdade com os filhos da primeira hora, esses que só tardiamente responderam ao apelo do Reino. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, ciumentos, invejosos e condenam, mais ou menos veladamente, essa lógica de misericórdia que, à luz dos critérios humanos, lhes parece muito injusta. Na sua perspectiva, a fidelidade a Deus e aos seus mandamentos merece uma recompensa e esta deve ser tanto maior quanto maior a antiguidade e a qualidade dos “serviços” prestados a Deus. Que sentido faz esta lógica à luz dos ensinamentos de Jesus?
(Leia na íntegra. Clique ao lado do no link- EVANGELHO DO DIA)
AO VIVO- 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Reflexão do Frei Petrônio, Carmelita, direto do Rio de Janeiro.
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A busca por 'cura gay' que incluiu 4 terapeutas, acampamento de conversão, Viagra forçado e pensamentos suicidas
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Mathew Shurka tinha 16 anos quando decidiu contar para o pai que era gay. Apavorado, tinha certeza que "o homem que mais admirava" o aceitaria.
"Eu amo você e vou ajudá-lo", respondeu seu pai. A "ajuda" veio em forma de terapias que prometiam "curá-lo" da homossexualidade. Em cinco anos, a partir de 2004, o americano passou por quatro terapeutas, um acampamento de "conversão", foi obrigado a tomar Viagra para se relacionar com mulheres, ficou depressivo e pensou em se suicidar. "Meu pai não é religioso. Ele só pensava: 'Meu filho não vai sobreviver neste mundo como um homem gay'", conta.
Na última segunda-feira, o juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu uma liminar que autoriza psicólogos do Brasil a oferecerem a seus pacientes formas de terapia de reversão sexual. Esse tipo de procedimento era vedado no país pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1999.
A decisão do juiz, que causou polêmica, foi motivada por um ação de uma psicóloga que queria oferecer serviços de "cura gay" e pode ser mudada nas instâncias superiores. Há quase 30 anos, a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças. Nos EUA, nove Estados e o Distrito Federal têm leis proibindo a "cura gay" - no restante do país, tais tratamentos são legais.
Criado em uma pequena cidade conservadora perto de Nova York, membro de uma família com tradição judaica, Shurka nunca havia conhecido uma pessoa abertamente gay ou casais gays.
"Meu pai me dizia que eu ia sofrer muito, e eu tinha medo desse sofrimento - já havia apanhado na escola e sofria pressão para me relacionar com meninas. Quando um homem que eu amava e confiava me disse que havia uma solução para isso, eu acreditei", afirma.
Todos os terapeutas encontrados pela família nos cinco anos de tratamento eram profissionais graduados e registrados. "Isso dava mais credibilidade ao tratamento. Para o meu pai, era a oportunidade de dar a mim a vida que ele imaginou."
O primeiro terapeuta lhe disse que sua orientação sexual era fruto de um trauma de infância. "Mas eu tive uma infância maravilhosa. Não conseguia pensar em trauma algum. Acabei criando coisas que não haviam existido. Fiquei bravo com minha mãe por não ter me criado másculo o suficiente."
Viagra
Como parte da terapia, o jovem foi orientado a não falar com mulheres - para não se tornar efeminado - e a conviver mais com homens, de modo a torná-lo mais "macho". Por causa do tratamento, ficou três anos sem falar com a mãe e as irmãs. "Eu virava a cara, literalmente", conta.
Sua mãe passou a ser contrária à terapia de "conversão". "Ela chegava a me dizer: 'Filho, você é gay, não tem problema. Eu te amo'. E eu tinha muito medo e achava que, como ela era a culpada por minha homossexualidade, sua aceitação só piorava as coisas."Sem que o primeiro tratamento fizesse muito efeito, Shurka e seu pai procuraram outro profissional, em Los Angeles, do outro lado do país. Viajaram para a cidade só para conhecê-lo - o tratamento continuou por telefone. "No começo uma vez por semana, mas depois quase todos os dias."
"No começo, sentia que a terapia estava funcionando. Fiz muitos amigos homens e estava pronto para me relacionar com mulheres. Tinha inventado minha heterossexualidade", conta ele. Mas, por baixo disso, ainda sentia atração por homens. Passou a se sair mal na escola, ter crises de ansiedade e ir ao hospital com frequência achando que estava sofrendo um infarto.
Admitiu então para seu terapeuta que não estava conseguindo transar com mulheres.
"Meu terapeuta ligou para o meu pai e, juntos, decidiram que eu deveria tomar Viagra. Eu tinha 18 anos, era um rapaz saudável, e passei a tomar Viagra quando saía com mulheres."
Intervenção
Aos 19, Shurka se apaixonou por um homem e tentou namorá-lo. Seu terapeuta interferiu outra vez: ele e seu pai abordaram o rapaz e o mandaram embora. "Ao telefone, chorava com meu terapeuta, me perguntando porque era gay e porque ele (o namorado) havia me deixado. Meu terapeuta fingia não saber por quê."
Oito meses depois, seu ex-namorado lhe contou o que o pai e o terapeuta tinham feito. Foi a motivação necessária para romper o relacionamento com o pai e abandonar o tratamento com o profissional, de quem já era dependente - "eu amava, acreditava e confiava nele".
Shurka voltou a falar com a mãe, que lhe convenceu a fazer uma terapia normal. "Era bem melhor, mas não importava o quão bom era, eu sentia que não estava tentando o suficiente. Eu estava convencido de que ser gay era uma escolha e que era minha culpa." Sozinho, entrou e saiu de mais dois tratamentos na linha da "cura gay".
"Aos 20, sem conseguir terminar a faculdade, confuso, entrei em uma depressão profunda, engordei 30 kg. Ficava dias sem sair do meu apartamento, não gostava de nada do que eu era. Me cortava, pensando em me suicidar."
O jovem chegou a passar um fim de semana em um acampamento de "cura gay", onde cerca de 60 homens eram obrigados a reencenar casos de abuso sexual que supostamente os teriam levado à homossexualidade.
Aos 21, Shurka se mudou para Manhattan, em Nova York, onde trabalhou como garçom em um restaurante gerenciado por uma lésbica. "Ela era uma mulher forte, que me inspirou muito." Também passou a ver muitos homens gays bem-sucedidos que frequentavam o restaurante.
"Basicamente, estava vendo pela primeira vez como tudo aquilo era normal", diz. Voltou a frequentar terapias, mas, dessa vez, regulares, embora fosse muito difícil confiar nos profissionais outra vez.
Aceitação
Dois anos depois, em 2012, Shurka saiu do armário, ainda muito inseguro e temeroso com a reação das pessoas. Naquele ano, frequentou um curso para desenvolvimento pessoal. Voltou convicto de que teria de fazer as pazes com o pai e com o terapeuta.
"Depois de cinco anos sem falar com ele e de tê-lo processado durante o divórcio dos meus pais, fui falar com ele. Quando eu disse de novo que era gay e que estava feliz com isso, ele repetiu o discurso de que eu ia ser infeliz, me machucar. Não acreditei", afirma.
"Mas respondi: 'Pai, não tem com o que se preocupar. Vai ficar tudo bem. Vou viver uma vida maravilhosa'. E ele aceitou." Hoje, conta, seu pai é um dos seus melhores amigos. Pediu desculpas por tê-lo levado a terapias de "cura gay" e até foi para a parada gay com o filho neste ano.
Shurka também se encontrou-se com o terapeuta que lhe prometera "curar" e que ministrou Viagra e interferiu em seu relacionamento quando tinha 19 anos. "Ele chorou e admitiu ter 'tratado' outros 13 meninos. Disse que não os havia 'curado'."
O terapeuta, afirma, se arrepende e diz não acreditar mais em "cura gay".
Falando à BBC Brasil de seu escritório em Nova York, Mathew Shurka, hoje com 28 anos, tornou-se um ativista contra a terapia de "reversão sexual" nos Estados Unidos e no mundo à frente da campanha "Born Perfect" ("nascido perfeito", em tradução literal).
Segundo ele, a maior parte das pessoas que acaba em tratamentos do tipo são adolescentes, filhos de pais assustados que veem no terapia uma solução. E o tratamento, afirma, multiplica as chances de suicídio entre a população gay.
"Mesmo depois de sair do armário, as pessoas que passam pelo tratamento da 'cura gay' foram tão abusadas psicologicamente e têm tantos traumas que ainda têm dificuldade de se aceitar", diz.
Ele mesmo sofre de ansiedade e ainda está se curando dos anos nas terapias pelas quais passou. "Mas estou rodeado de pessoas que me amam e me apoiam." Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
PADRE ZEZINHO: Entrevista.
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Pe. Zezinho com o Papa nos 51 anos de ordenação sacerdotal
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Cidade do Vaticano (RV) – José Fernandes de Oliveira, SCJ, ou simplesmente Padre Zezinho, completa este 21 de setembro 51 anos de ordenação sacerdotal. A data foi celebrada na Missa presidida pelo Papa Francisco na Casa Santa Marta.
Seu pai era violeiro e foi dele que herdou o amor pela música. Quando criança, José Fernandes passou a conviver com os padres, que davam assistência à sua família. Zezinho é o mais jovem de seis irmãos. Quando tinha dois anos de idade, sua família mudou-se de Machado para Taubaté, depois de seu pai ter sofrido um acidente e ficar paralítico. Aos onze anos, ingressou no seminário dos padres dehonianos.
Ordenado padre aos 25 anos de idade, em 1966 nos Estados Unidos, adotou no ano seguinte o teatro e a música como meios de evangelização e, em 1969, também os meios de comunicação com este propósito.
Em visita à Rádio Vaticano na manhã desta quinta-feira, o Padre Zezinho falou sobre sua participação na celebração e, naturalmente, sobre sua vocação:
“Ele tem uma maneira muito bonita de falar, de orar. Participar da Missa com ele é realmente uma aula de como se celebrar uma Missa. Ele é realmente uma pessoa totalmente entregue ao altar. Fiquei encantado! Não dá para assistir Missa dele, tem que participar! E também o sermão foi espetacular, em todo o sentido. Realmente ele é um mestre de comunicação. E para mim que dei aula 32 anos como comunicador e padre e professor, foi mais uma aula que eu gostei de receber do Papa”.
RV: Depois de 51 anos, o que o senhor aprendeu então do Papa hoje?
“Hoje ele falou de São Mateus, aquele que era traidor da pátria, porque ele pegava dinheiro do povo para mandar para um outro país e falou também ... imagina se ele não estava falando com a gente... E depois ele disse também uma coisa que me marcou, muito várias vezes: “Mas como é que é? Como é que é?”, o comportamento das pessoas quando veem alguém que se converteu e que não é mais o pecador que eu era. Então ele disse que as pessoas depois, vendo a mudança de Mateus, perguntavam: “Como é que é? Como que é que é? O que houve que aconteceu com ele? O que foi? O que é? O que é?, várias vezes. Como por dizer assim: as pessoas não estão prontas para enfrentar alguém que se converte. Ele mostrou também, acentuou muito o olhar de Jesus. Segundo o Papa, ele acha que o que mudou mesmo o Mateus que estava ali naquela arcada coletando impostos não foi nada, foi somente o olhar, porque daquele momento – diz ele – ele deve ter visto o olhar de Jesus que nunca tinha ouvido e visto e naquele momento alguma coisa aconteceu, o Papa diz foi o olhar de Jesus. Ele olhou com amor! E isso também me marcou muito, porque o Papa faz a mesma coisa, né. Ele mira no olho e fala. Então eu até acredito que foi mesmo isso palavras, porque não foram palavras, foi “Vem, seguem-me!”. Então eu acho que o quadro é bem este: você conversa com alguém, mas antes de mandar “siga-me!”, ele deve ter olhado bem nos olhos e disse: eu te conheço!”.
RV: 51 anos atrás o senhor também recebeu também este olhar. O senhor teve alguns momentos nestes 51 anos em que disse “não, acho que este olhar não era para mim?”
“Felizmente não! Eu desde criança queria ser padre, e sempre quis isso. Sofrimento houve, mas não por causa disto. Dúvida sobre Jesus, tive uma ou outra, mas muito pouco. E dúvida de que eu gostaria de ser padre, nunca houve não. Eu queria, eu queria, eu queira. E quando era difícil eu disse: mas eu quis isso. Quando houve momentos difíceis de calúnias, agressões, deturpações, eu disse: mas eu quis isso! Eu sabia muito bem que poderia acontecer isto. Então não houve decepção. Eu acho que quem pega a sua cruz e segue Jesus, ele sabe que vai ser crucificado. Então não me assustou nem um pouco. Todas as agressões, todas as dificuldades, dentro e fora da Igreja, não atrapalharam não. Eu acho que eu consegui entender que eu queria ser padre, custasse o que custasse, eu queria isso. Então fazia parte do sacerdócio. Eu cantei várias vezes isso também”. (SP). Fonte: http://br.radiovaticana.va
FESTA DE SÃO MATEUS: “A Porta para encontrar Jesus é reconhecer-se pecador”. Papa Francisco.
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“A porta para encontrar Jesus é reconhecer-se pecador”, afirmou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta quinta-feira, (21/09/2017) na Capela da Casa Santa Marta.
A sua homilia repassou a conversão de São Mateus – que hoje a Igreja festeja - episódio retratado pelo pintor italiano Caravaggio, numa tela muito cara ao Papa Francisco. São Três as etapas do acontecimento: 1º Encontro, 2º- Festa e 3º- Escândalo.
1º MOMENTO: O ENCONTRO.
Jesus havia curado um paralítico e encontra Mateus, sentado no banco dos impostos. Fazia o povo de Israel pagar os impostos para depois dá-los aos romanos e por isto era desprezado, considerado um traidor da pátria.
Jesus olhou para ele e disse: “Segue-me”. Ele levantou-se e o seguiu, como narra o Evangelho do dia.
De um lado, o olhar de São Mateus, um olhar desconfiado, olhava “de lado”. “Com um olho, Deus” e “com o outro o dinheiro”, “agarrado ao dinheiro como pintou Caravaggio”, e também com um olhar impertinente. De outro, o olhar misericordioso de Jesus que – disse o Papa – olhou para ele com tanto amor”.
A resistência daquele homem que queria o dinheiro “cai”: levantou-se e o seguiu. “É a luta entre a misericórdia e o pecado”, sintetiza o Papa.
O amor de Jesus pode entrar no coração daquele homem porque “sabia ser pecador”, sabia “não ser bem querido por ninguém”, era desprezado.
E justamente “a consciência de pecador abriu a porta para a misericórdia de Jesus”. Assim, “deixou tudo e foi”. Este é o encontro entre o pecador e Jesus:
“É a primeira condição para ser salvo: sentir-se em perigo; a primeira condição para ser curado: sentir-se doente. E sentir-se pecador, é a primeira condição para receber este olhar de misericórdia. Mas pensemos no olhar de Jesus, tão bonito, tão bom, tão misericordioso. E também nós, quando rezamos, sentimos este olhar sobre nós; é o olhar de amor, o olhar da misericórdia, o olhar que nos salva. Não ter medo”.
Como Zaqueu, também Mateus, sentindo-se feliz, convidou depois Jesus para comer em sua casa. A segunda etapa é justamente “a festa”.
2º MOMENTO: A FESTA.
Mateus convidou todos os amigos, “aqueles do mesmo sindicato”, pecadores e publicanos. Certamente à mesa, faziam perguntas ao Senhor e ele respondia.
Isto – observou o Papa – faz pensar naquilo que disse Jesus no capítulo 15 de Lucas: “Haverá mais festa no Céu por um pecador que se converta do que por cem justos que permanecem justos”.
Trata-se da festa do encontro do Pai, a festa da misericórdia”. Jesus, de fato, trata a todos com misericórdia sem limite, afirma Francisco.
3º MOMENTO: O ESCÂNDULO.
Então, o terceiro momento, o do “escândalo”. Os fariseus vendo que publicanos e pecadores sentaram-se à mesa com Jesus, perguntavam aos seus discípulos: “Por que o vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” “Um escândalo sempre começa com esta frase: “Por que?””, explica o Papa. “Quando vocês ouvem esta frase, cheira” – sublinha – e “por trás vem o escândalo”.
Tratava-se, em substância, da “impureza de não seguir a lei”. Conheciam muito bem “a Doutrina”, sabiam como seguir “pelo caminho do Reino de Deus”, conheciam “melhor do que ninguém como se devia fazer”, mas “haviam esquecido o primeiro mandamento do amor”.
E assim, “fecharam-se na gaiola dos sacrifícios, quem sabe pensando: “Mas, façamos um sacrifício a Deus”, façamos tudo o que se deve fazer, “assim, nos salvamos”. Em síntese, acreditavam que a salvação viesse deles próprios, sentiam-se seguros.
“Não! Deus nos salva, nos salva Jesus Cristo”, enfatizou o Papa:
“Aquele “por que” que tantas vezes ouvimos entre os fiéis católicos quando viam obras de misericórdia. “Por que?” E Jesus é claro, é muito claro: “Ir e aprender”. E os mandou aprender, não? “Ide e aprendei o que quer dizer misericórdia - (aquilo que) eu quero – e não sacrifícios, porque eu não vim, de fato, para chamar os justos, mas os pecadores”. Se tu queres ser chamado por Jesus, reconhece-te pecador”.
Francisco exorta, portanto, a reconhecer-se pecadores, não de forma abstracta, mas “com pecados concretos”: “todos nós os temos, tantos”, afirma.
“Deixemo-nos olhar por Jesus com aquele olhar misericordioso cheio de amor”, prosseguiu.
E permanecendo-se ainda no escândalo, ressaltou que existem tantos:
“Existem tantos, tantos. E sempre, também na Igreja hoje. Dizem: “Não, não se pode, é tudo claro, é tudo, não, não... eles são pecadores, devemos afastá-los”. Também tantos Santos são perseguidos ou se levanta suspeitas sobre eles. Pensemos em Santa Joana d’Arc, mandada para a fogueira, porque pensavam que fosse uma bruxa, pensem no Beato Rosmini. “Misericórdia eu quero, e não sacrifícios”. E a porta para encontrar Jesus é reconhecer-se como somos, a verdade. Pecadores. E ele vem, e nos encontramos. É tão bonito encontrar Jesus!” Fonte: http://pt.radiovaticana.va
CNBB: A Igreja no Brasil
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