Vida religiosa e consagrada na era digital
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"Como traduzir em testemunho a Boa Nova do Evangelho quando se impõe a cultura do olho eletrônico e virtual?", questiona o padre Alfredo Gonçalves, cs, assessor das pastorais sociais.
Eis o artigo.
A finalidade fundamental da Vida Religiosa Consagrada (VRC) tem sido testemunhar a Boa Nova de Jesus Cristo diante dos desafios históricos. Testemunho tanto mais evangélico quanto mais próximo aos pobres, pequenos, indefesos, marginalizados e excluídos. Dizia Santo Antonio: “A pregação será eficaz, terá eloquência, quando falam as obras. Cessem as palavras, falem as obras. Infelizmente, somos ricos de palavras e vazios de obras” (Discursos, I, 226).
Semelhante testemunho se verifica já na Igreja primitiva. Desde os primeiros séculos, sabemos dos padres e madres que se refugiavam no deserto, não para fugir do mundo, mas para vivenciar de forma mais viva e intensa a herança do Evangelho. Em seguida, passada a crise do ano mil, temos a inspiração profética dos chamados “frades menores”, em particular com São Domingos e São Francisco de Assis. Nos tempos modernos, por fim, de maneira especial no decorrer do século XIX, vale ressaltar a iniciativa dos “santos sociais”, fundadores e fundadoras de Institutos e Congregações de caráter marcadamente apostólico, mas sempre centradas no testemunho da vida comunitária.
Hoje, com a revolução informática, no universo predominantemente urbano, e em plena era digital, a marca registrada do testemunho evangélico se faz mais desafiadora. Por uma parte, vivemos cada vez mais em bairros urbanizados ou em vias de urbanização acelerada. Na vida urbana, como é notório, as famílias caem facilmente no isolamento, na fragmentação e no anonimato. Muitas vezes sequer conhecem os vizinhos de rua e de apartamento. As coisas se complicam ainda mais quando nos damos conta que o padrão das casas religiosas nem sempre se presta à acolhida dos pobres e necessitados. Ao contrário, o nível de vida comum na VRC de nossos dias tende a deixá-los do lado de fora. Muitas vezes, a diferença é tão estridente que a aproximação e a convivência seriam mesmo de estranhar!
Por outro lado, quem hoje em dia está seriamente interessado sobre o que se passa no interior de uma família ou de uma casa religiosa? Quem sabe como vivem e convivem os pais e filhos ou os consagrados e consagradas? Ocorre que o olhar crítico (ou não) sobre a realidade, sobre a vida e sobre as relações humanas em particular passa atualmente pela tela ou pela telinha – televisão ou celular. É como se as coisas se tivessem invertido. Enquanto o que vemos e ouvimos a olho nu ou a ouvido nu parecem converter-se em realidades fictícias, aquilo que vemos e ouvimos através da TV/Internet/Smartphone ganha um caráter de realidade “científica”. Em outras palavras, os fatos que não chegam registrados e filtrados pelo som e imagem digitais, simplesmente são ignorados, inexistem. Como se cada um devesse desconfiar de seus sentidos e de sua razão: só é “confiável” o que circula pelas redes sociais, a única fonte da notícia.
Até mesmo no interior de uma família ou de uma comunidade religiosa, quantas vezes nos comunicamos pelo Whatsapp. As viagens e o turismo não raro convertem-se em realidades quando, e só quando, “postamos” as imagens notadamente narcisísticas dos lugares visitados. Do contrário, é como se jamais tivessem existido. À mesa, tornou-se comum dar prioridade ao toque personalizado do celular, para não falar da capela ou Igreja! Em termos mais diretos, a realidade virtual substitui e supera a realidade dos acontecimentos diários e concretos. Uma tragédia só o será na medida em que se faz espetáculo na tela ou telinha. O mesmo vale para o testemunho, a amizade ou a solidariedade. Existe somente o que é veiculado pela mídia e pela Internet!
Como traduzir em testemunho a Boa Nova do Evangelho quando se impõe a cultura do olho eletrônico e virtual? Esta linguagem virtual ganha primazia sobre o face-a-face, o toque amigo, o sorriso, o abraço, a festa, a vida fraterna, a mesa farta? Como ser testemunho, primeiro entre nós, e depois na rua, no bairro, na cidade? Nesta era digital, como captar a lágrima e o riso, o olhar límpido e a palavra franca, “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias” que nos cercam – para usar a expressão da Gaudium et Spes (n.1)? E sobretudo como, diante da dor e do sofrimento, da solidão e do abandono, ser reflexo caloroso do amor e da esperança, do perdão e da misericórdia do Pai? Perguntas que só o exemplo vivo pode responder!
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
PROFETAS NÃO MORREM...
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ARQUIDIOCESE DA PARAÍBA: Missa Exequial de Dom José Maria Pires
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Seguem algumas indicações para a Celebração elaboradas pelo Mestre de Cerimônias Litúrgicas da Arquidiocese da Paraíba, Diácono Erionaldo Jerônimo Duarte:
-A Paramentação será no Mosteiro de São Bento;
- Os Sacerdotes e os Diáconos devem levar túnica branca e estola roxa;
- Missa dos fieis defuntos (por um bispo diocesano) - a Missa é celebrada segundo o rito comum a todas as Missas;
- Terminada a Oração Pós-Comunhão, os Bispos presentes dirigem-se para junto do féretro. Ali, voltado para o povo, o Arcebispo (ou o presidente do Regional) efetua o rito da última encomendação e despedida. Em seguida, forma-se o cortejo até o local do sepultamento. Chegando ali, abençoa a sepultura e, imediatamente, faz-se o sepultamento. Fonte: www.arquidiocesepb.org.br
Corpo de Dom José Maria Pires chega à Paraíba durante a madrugada
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Pontualmente às 01h55 desta terça-feira (29), o avião da Gol pousou no Aeroporto Castro Pinto trazendo o corpo do arcebispo emérito da Paraíba Dom José Maria Pires.
O caixão foi levado para o hangar do Governo do Estado, onde o arcebispo metropolitano da Paraíba, Dom Delson, e um grupo de padres e representantes de pastorais da Arquidiocese da Paraíba, esperavam para dar início ao cortejo até a Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, no Centro de João Pessoa.
A liberação do corpo foi assinada pelo Cônego Egídio de Carvalho Neto. Após uma bênção de Dom Delson, o caixão foi levado até o carro do Corpo de Bombeiros, onde foi colocado no alto do veículo.
Às 2h50 o cortejo teve início, com a escolta da Polícia Militar, em direção à BR 230, seguindo pela rodovia até o Viaduto de Oitizeiro, passando por Cruz das Armas, até a Basílica, onde alguns fiéis já esperavam para o velório. Fonte: https://paraibaonline.com.br
Corpo de Dom José vai ser velado e sepultado em João Pessoa
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O corpo do Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, chegará por volta das 14h no Aeroporto Castro Pinto, na Grande João Pessoa. O traslado será feito em carro aberto, num veículo do Corpo de Bombeiros, até a Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, no Centro da Capital. O cortejo deverá ser acompanhado pelo Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Delson, padres, diáconos e religiosos da Arquidiocese, e representantes de pastorais e movimentos sociais arquidiocesanos.
O velório começa ainda na madrugada desta terça-feira, 29. A Catedral vai ficar aberta durante todo o dia para as despedidas a Dom José. Fonte: https://paraibaonline.com.br
MORTE DE DOM JOSÉ MARIA PIRES: Prefeitura de João Pessoa manifesta pesar por morte de Dom José Maria Pires
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Ao mesmo tempo em que lamenta a morte, o prefeito Luciano Cartaxo registra sua homenagem a Dom José, o arcebispo que fez da Arquidiocese da Paraíba uma Igreja viva não apenas na fé, mas no comprometimento com os mais pobres, no combate às injustiças e na luta pela paz, dimensões expressivas da Teologia da Libertação, movimento marcante e que ajudou a mudar os rumos da história da Igreja Católica da América Latina.
Lembra o prefeito pessoense que impõe-se ressaltar a figura humana, digna, altiva, corajosa e ao mesmo tempo afável e quase angelical de Dom José, que soube elevar a voz em protesto, quando necessário, e moderar conflitos para preservar vidas.
O prefeito Luciano Cartaxo se associa, pois, neste momento, aos justos lamentos de toda a comunidade pelo passamento deste religioso que, como verdadeiro profeta, pregou, com vigor, os mais transcendentes ensinamentos do Cristo em solo paraibano, deixando indelével sentimento de saudade. Fonte: https://paraibaonline.com.br
MORTE DE DOM JOSÉ MARIA PIRES: Governo da Paraíba decreta luto de três dias por morte de arcebispo emérito
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NOTA DE PESAR
O Governo da Paraíba lamenta profundamente a morte do arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires e, ao mesmo tempo, decreta luto oficial por três dias em todo território paraibano.
Dom José tinha 98 anos e era, hoje, o bispo mais idoso do país. Sua morte aconteceu no dia em que se comemorava, no Brasil, o Dia do Catequista. A igreja perdeu um grande pastor e a Paraíba um filho querido. Fonte: https://paraibaonline.com.br
Dom Zumbi
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Partiu, aos 98 anos, D. José Maria Pires, arcebispo emérito de João Pessoa, dos grandes Padres da Igreja Latino-americana, na lista de Joseph Comblin. Foi um dos que mais trabalhou para trazer o Vaticano II para a Igreja brasileira, depois Medellin, Puebla e os encontros seguintes. O depoimento é de Luiz Alberto Gómez de Souza, sociólogo.
Esteve à frente do movimento negro, ele um negro assumido com orgulho. D. Helder Câmara o chamou de D. Pelé. Muitos depois preferiram dizer D. Zumbi. Foi presença constante nos intereclesiais das CEBs.
Trago um fato significativo. Ao final do encontro de Santa Maria (1992), foram convidados para subir ao palco bispos, sacerdotes e pastores. Do meio do povo veio o pedido: "que subam um pai e uma mãe de santo e um pajé". Foi negado pelo bispo local, talvez temendo represálias de mais acima. Imediatamente d. José Maria desceu, em protesto e solidariedade. Lembro também da indignação do irmão Marcelo Barros.
Voltou para sua Minas Gerais e, entre várias atividades pastorais, tinha uma que merecia especial atenção e carinho: o trabalho com padres casados e suas esposas.
Numa das conversas que tivemos em reuniões na CNBB, lembro de uma em particular. Começou recordando que o primeiro anuncio de Jesus Ressuscitado foi dado a mulheres. Assim, apesar de relatos com diferenças, os quatro evangelistas coincidiam em que Jesus Ressuscitado apareceu primeiro às mulheres, ou a uma em particular (Mt. 28, 5-10; Mc. 16, 1-11; Lc 24, 1-12, Jo 28, 11-18). Tome-se João, o testemunho talvez mais direto. Ali Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena: "vá encontrar os meus irmãos ... Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos "Eu vi o Senhor..." (Jo, 16-18). Só depois veio o amplo envio aos discípulos : "Assim como meu Pai me enviou, eu envio vocês" (Jo 20,21) [ já não estariam ali também discípulas, pergunto eu?]. E D. José Maria Piresterminou com um sorriso maroto, muito mineiro:"Se o presbiterato parte desse envio-anuncio, não teriam sido as mulheres as primeiras presbíteras?"
Nosso grande bispo certamente estará, na Casa do Pai, acompanhando a Igreja brasileira. Testemunho vivo e atuante dos tempos valentes da mesma, no mistério da comunhão dos santos, peçamos que a impulsione para seguir caminhos de profecia e de compromisso com os pobres, "em saída", como pede Francisco. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
José Maria Pires, o bispo de pés descalços
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Faleceu na noite de ontem, 27-08-2017, D. José Maria Pires, arcebispo emérito de João Pessoa, aos 98 anos de idade. “Para dom José Maria Pires, o oitavo sacramento é a alegria. Sempre se diz que quando alguém alegre entra em uma casa é como se em um quarto escuro, a janela se abrisse para a luz entrar. Esse será a tarefa de dom José: com os pés descalços, abrir as janelas da Santa Igreja”, escreve Fernando Altemeyer Junior, mestre em Teologia e Ciências da Religião pela Universidade Católica de Louvain-la-Neuve, Bélgica, licenciado em Filosofia, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e professor PUC-SP, em artigo publicado no Facebook, 27-08-2017.
Segundo ele, “não terá sido esse o pedido de um outro José, o bergamasco Roncalli, quando convocou o Concílio? Ainda hoje precisamos de bispos que abram as janelas de nossas Igrejas para que a alegria do Cristo nos rejuvenesça. Gente como dom José, de pés descalços, camisa arregaçada na luta pelos pobres e uma alegria convicta no coração, verdadeiros filhos e herdeiros do Concílio”.
- José Maria Pires, faleceu no mesmo dia da morte, em 1999, de D. Helder Câmarae, em 2006, D. Luciano Mendes de Almeida. “27 de agosto, dia em que os profetas vão ao céu” é o título da nota sobre o falecimento de D. José Maria Pires no sítio Religión Digital, 28-08-2017.
Eis o artigo.
Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba-PB, nascido em 15/03/1919, na pequenina cidade de Córregos em Minas Gerais, nordeste do estado, participou das quatro sessões do Vaticano II. À época, sendo o único bispo negro brasileiro, e uma das vozes mais importantes do episcopado brasileiro irá assumir a nova imagem de Igreja proposta pelo Concílio. Despertará com sua pregação a vontade de tantos irmãos na ajuda eficaz aos que sofrem injustiças. Atenderá ao apelo de Deus na história e não permanecerá impassível diante do grito do sofredor. Ele perceberá que a Igreja estava mudando e alegremente avançará com coragem! É essa coisa simples feita por gente simples que é capaz de mudar o mundo, simplesmente.
Este filho de gente pobre teve por pais Eleutério Augusto Pires e Pedrelina Maria de Jesus, e aprenderá desde cedo que deve permanecer com os pés no chão. Em um depoimento emocionante nos funerais do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 29-08-1976, dirá: “Eu andei pelas mesmas ruas pelas quais Juscelino andou. Ele andava de pés descalços e eu também. Era comum as crianças pobres andarem descalças na rua”. Ao pisar o chão de sua terra natal aprenderá as lições permanentes de como ser padre, bispo e pastor. Jamais esquecerá de que é alguém de pés descalços. E é nesse contato com o chão que se torna um pastor fiel. Foi ordenado padre em Diamantina-MG, em 20/12/1941 (já completou 70 anos de sacerdócio!), atuando como pároco, diretor de colégio, e missionário diocesano.
É sagrado bispo em Diamantina, Minas Gerais, em 22/09/1957 (em 2012 comemora os 55 anos de episcopado), iniciando seu ministério na diocese de Araçuai-MG, como seu terceiro bispo, de 1957 a 1965. Seu lema episcopal será Scientiam Salutis (a ciência da salvação).
Nomeado pelo Papa Paulo VI, será o quarto arcebispo metropolitano da Paraíbade 02.12.1965 até 29.11.1995, quando renuncia por idade. Desde então, como bispo emérito peregrino, vive como pregador ambulante levando o Evangelho com vigor que causa uma santa inveja.
Desde muito cedo aprendeu a arte do bem falar: silêncio primeiro, palavra adequada depois. Em seguida assume com primor e delicadeza, a certeza de ser um bispo pastor: amigo, evangélico, simples e, sobretudo, servidor dos empobrecidos.
Sua ação em favor dos simples é um programa de vida. Vejamos seu discurso de posse como arcebispo metropolitano da Paraíba, secundado por Dom Helder Pessoa Câmara, em plena ditadura militar brasileira, com sua ideologia da segurança nacional, que nega a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Dom Helder assim se expressa para falar de Dom José: “Dom José Maria vai às causas, vai às raízes... E fala claro, sem perder a serenidade, mas chamando as coisas pelos nomes. Quem quiser livrar-se de um Cristianismo desencarnado, quem quiser livrar-se de ensinamentos inodoros, incolores, pregados no vácuo, leia suas páginas (prefácio do livro Do Centro para a margem, Editora Acauã, Paraíba, 1978, p. 7)”.
São suas estas palavras coerentes, ao tomar posse como arcebispo: “Não quero trazer-vos uma mentalidade de Minas Gerais, costume ou uma civilização do estado em que nasci, naquilo em que esta civilização, esta mentalidade, estes costumes forem diferentes da civilização, da mentalidade e dos costumes da Paraíba. Assim como Cristo, fazendo-se homem, assumiu a natureza humana e, por assim dizer, ocultou, guardou o que ele era, como Deus, e apresentou-se a nós sem deixar de ser Deus, mas foi aprendendo conosco a ser homem, a viver como a humanidade, também o novo prelado vem aqui não para ensinar, mas antes de tudo para aprender a ser paraibano. Eu iniciarei o meu ministério aprendendo convosco. Só me integrando é que poderei cumprir minha missão de servir (É santa a terra em que piso, João Pessoa – PB, 26.03.1966, in Sampaio Geraldo Lopes Ribeiro, Dom José Maria Pires - Uma voz fiel à mudança social, Ed. Paulus, 2005, p. 17)”.
O diálogo, tal como foi preconizado na bela carta programática do Papa Paulo VI, Ecclesiam Suam, e ainda melhor expresso na Constituição Lumen Gentium se tornou para dom José Maria o critério da vida pastoral. Tornar-se-á exímio defensor do povo negro, sendo em sua vida alcunhado por dois apelidos carinhosos e densamente simbólicos: no começo de sua vida episcopal será chamado como dom Pelé (por Dom José Vicente Távora, bispo dos operários), ligando-o ao futebolista brasileiro de fama internacional. Depois de alguns anos, será “renomeado” por dom Pedro Casaldáliga(prelado emérito de São Felix) como dom Zumbi, para conectá-lo à causa do povo negro no Brasil, fazendo memória do líder dos quilombos brasileiros, Zumbi dos Palmares. Os apelidos não conseguiram retirar-lhe sua identidade mais profunda, que é a de alguém que sempre assumiu sua origem, sua etnia, e seu amor aos pobres como uma chave interpretativa do mundo e como forma efetiva da encarnação cristã no nordeste brasileiro, mergulhado em tantas injustiças e contradições que exigiam fidelidade radical ao Cristo. Dom José não é um homem de meias palavras nem de meias ações. Quem o ouve sempre percebe que ele está inteiro no que diz, naquilo que fala e no que sonha e compartilha com seus interlocutores. Ao ouvi-lo, sente-se que se está diante de um verdadeiro pastor: não há arrogância em suas palavras. Sentimo-nos encorajados e desafiados, jamais amedrontados. Dom José é o verdadeiro irmão e pastor, que não abdica do diálogo, pois crê e ama o interlocutor.
Poderemos seguir os passos deste bispo negro, em todos os recantos da terra brasileira sempre animando as pequenas comunidades de base, as causas dos empobrecidos e as lutas por justiça social, sem extremismos. Estará entre os operários da primeira hora, quando surgiu a Comissão Pastoral da Terra - CPT, e ainda entre os apoiadores e animadores do Conselho Indigenista Missionário, CIMI e ainda de cada uma das dezenas de pastorais sociais, gestadas pelo povo e acolhidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, quando das presidências proféticas de Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheiter e dom Luciano Mendes de Almeida, naquilo que será chamado momento de ouro da Igreja brasileira, vivido entre as décadas de 1970 e 1980.
Verá nascer com as dores de parto, a poética Missa dos Quilombos, depois proibida e estará entre os animadores da Missa da Terra Sem Males, também proscrita e que pretendiam abrir novos caminhos litúrgicos na inculturação e diálogo inter-religioso. Enfrentara a ganância de fazendeiros e coronéis nordestinos, com a simplicidade das pombas. Não pedirá favores aos poderes políticos ou econômicos, confiando sempre na Palavra de Deus e na compaixão dos pobres. O caminho pode ser mais lento e singelo, mas as raízes serão sempre mais profundas e seguras. Ele clamará contra os latifundiários como Nabot contra o rei Acab. Dirá em 05 de março de 1976 na carta pastoral para todos os diocesanos: “quando se cansar a paciência do pobre que está sendo esmagado pelos poderosos, a de Deus também se cansará e Deus virá fazer a justiça que os homens se recusaram a fazer (Carta Pastoral de março de 1976)”.
Dom José vê, compreende e fala do sofrimento dos agricultores. Conhece os problemas do campo e assume um compromisso como igreja para ser a Igreja com os fracos e oprimidos, ou seja, uma Igreja que toma posição ao lado do pobre por fidelidade ao Evangelho e por amor ao povo. Denuncia o sistema capitalista por seus frutos e por sua segregação das grandes massas. Dirá em 1967: “Dar esmolas, todos acham que é razoável. Mas aceitar que é um roubo guardar o supérfluo quando a outros falta o necessário, isto lhes cheira a marxismo. Realmente, dentro da mentalidade dominante, não é fácil aceitar a receita da Populorum Progressio que é a mesma do Evangelho”.
Sua mensagem é de vida plena e, sobretudo de conversão. Dirá que é preciso ir do centro para a margem. Este será seu contínuo processo vital. Movimentar-se em direção dos pequenos. Ir para a margem da sociedade, da Igreja, do mundo.
Fará este gesto ético e religioso motivado por uma profunda vivência de Cristo, além de ser um aprendiz permanente na prática da não-violência ativa, como ação de firmeza permanente. Como discípulo de Cristo saberá mostrar ainda hoje as riquezas do Concílio Vaticano II, como um projeto de vida. Uma Igreja que se distancie dos “centros” e que se aproxime das “margens” do mundo.
Uma Igreja que não espere nem confie nos poderosos e nos senhores do mundo. Uma Igreja que deve continuar a cumprir a missão profética de proclamar os direitos dos oprimidos mesmo sabendo que sobre ela pesa a cólera dos governantes, pois só esta fé autêntica é que poderá salvar a pobres e ricos. Nesta Igreja não há lugar para acomodados e passivos. Dirá de forma incisiva: “O catolicismo brasileiro não criou no povo uma consciência de sua cultura, de seus valores, de sua idiossincrasia. A consciência dominante do povo é hierárquica, como aceitação passiva e talvez o maior obstáculo ao verdadeiro desenvolvimento, pois gera acomodação e conformismo”.
Para dom José Maria Pires, o oitavo sacramento é a alegria. Sempre se diz que quando alguém alegre entra em uma casa é como se em um quarto escuro, a janela se abrisse para a luz entrar. Esse será a tarefa de dom José: com os pés descalços, abrir as janelas da Santa Igreja. Não terá sido esse o pedido de um outro José, o bergamasco Roncalli, quando convocou o Concílio? Ainda hoje precisamos de bispos que abram as janelas de nossas Igrejas para que a alegria do Cristo nos rejuvenesça. Gente como dom José, de pés descalços, camisa arregaçada na luta pelos pobres e uma alegria convicta no coração, verdadeiros filhos e herdeiros do Concílio.
Falece em 27 de agosto de 2017 com 98,4 anos de muita profecia, mergulho na vida e pé na estrada ao lado de Jesus peregrino. Vai em paz, quilombola de Deus.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Morre Dom José Maria Pires
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Nota Oficial
Morre Dom José Maria Pires
É com grande pesar que a Arquidiocese da Paraíba comunica que faleceu na noite deste domingo, dia 27 de agosto de 2017, o Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires. Dom José estava internado num hospital em Belo Horizonte, e morreu vítima de complicações de uma pneumonia.
“A igreja perde, neste domingo em que comemoramos o Dia do Catequista, um grande pastor. Dom José foi um dos catequistas mais ativos e humildes à frente do seu rebanho, e que soube impor a sua voz, sempre que necessário, em defesa dos menos favorecidos. O ‘Dom Pelé’, como ficou carinhosamente conhecido, faz a sua passagem deixando em nós o exemplo de como ser Igreja, de como estar à frente do Povo de Deus. Descanse em paz, Dom José! Temos a certeza de que, crentes na ressurreição, ao lado do Pai, o senhor agora vai abençoar do Céu todos os que fazem a Arquidiocese da Paraíba”, fala comovido o Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson.
Sobre Dom José:
Dom José Maria Pires nasceu no dia 15 de março de 1919, na cidade de Córregos (MG), filho de Eleutério Augusto Pires e Pedrelina Maria de Jesus. Foi ordenado presbítero no dia 20 de dezembro de 1941, em Diamantina (MG). No dia 25 de maio de 1957 recebeu a nomeação episcopal, e a sagração ocorreu no dia 22 de setembro de 1957, em Diamantina.
Foi formado em Teologia e Filosofia pelo Seminário de Diamantina (MG), cursos que realizou entre 1936 e 1941. Antes de ser Bispo, Dom José foi pároco de Açucena-MG (1943-1946); diretor do Colégio Ibituruna em Governador Valadares-MG (1946-1953); missionário diocesano (1953-1955); e pároco de Curvelo-MG (1956-1957). Atuou como Bispo em Araçuaí-MG (1957-1965), de onde veio para ser Arcebispo da Paraíba (1966-1995). Foi também membro da Comissão Central da CNBB e Presidente da Comissão Episcopal Regional-NE2.
Na biografia de Dom José destaca-se a sua atuação na época da Ditadura Militar, quando desenvolveu um trabalho pautado na conjunção da atividade religiosa com a defesa dos direitos humanos, com vistas à mudança social. Prestou apoio nos conflitos pela terra na Paraíba, defendendo camponeses de perseguições. E lutou contra a discriminação e o racismo, incentivando a organização e a luta dos afro-brasileiros.
Dom José tinha como lema episcopal: “Scientiam Salutis” (A ciência da Salvação). Foi o quarto Arcebispo da Paraíba. O seu antecessor foi Dom Mário de Miranda Vilas-Boas, que assumiu o cargo em 1959 e renunciou em 21/05/1965. O Mons. Pedro Anísio Bezerra Dantas foi Vigário Capitular da Arquidiocese da Paraíba de 21/05/1965 a 27/03/1966 (período compreendido entre a renúncia de Dom Mário e a posse de Dom José). Dom José Maria Pires ficou à frente da Arquidiocese de 1966 até 29/11/1995. Foi sucedido por Dom Marcelo Pinto Carvalheira.
Detalhes do velório e do sepultamento ainda estão sendo acertados.
Assessoria de Imprensa e Comunicação da Arquidiocese da Paraíba. Fonte: www.arquidiocesepb.org.br
DOM JOSÉ MARIA PIRES: Morreu na noite deste domingo (27), arcebispo emérito da Paraíba
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A informação foi confirmada pela Arquidiocese da Paraíba, que informou que o bispo estava internado em um hospital de Belo Horizonte, em Minas Gerais, para tratar uma pneumonia.
A reportagem é publicada por G1 Paraíba, 28-08-2017. Dom José foi hospitalizado depois de chegar doente de uma viagem a trabalho para celebrar em uma festa de Nossa Senhora do Rosário e os médicos já tinham adiantado que o quadro dele era delicado por conta da idade. Até as 23h30 deste domingo ainda não tinham sido definidos os detalhes do velório e do sepultamento.
Natural de Córregos, em Minas Gerais, dom José Maria Pires tinha 70 anos de ordenação como padre e 60 como bispo. Como bispo, foi presidente da Comissão Episcopal do Nordeste 2, que reúne os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Ele foi o quarto bispo da região metropolitana de João Pessoa e esteve à frente da Igreja Católica na Arquidiocese entre os anos de 1966 e 1995.
A última visita com agenda oficial do Dom José a Paraíba aconteceu em maio, quando ele participou da posse do atual Arcebispo, dom Manoel Delson. Alguns dias antes, ele tinha representado a Arquidiocese durante a assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, evento em que era o bispo mais velho. E no último dia 13 ele fez uma palestra sobre Concílio Vaticano II e Doutrina Social da Igreja em Belo Horizonte.
Em nota oficial, dom Delson destacou que a morte de dom José aconteceu no domingo em que a Igreja celebra a vocação do catequista e tratou o bispo como "um grande pastor". "Dom José foi um dos catequistas mais ativos e humildes à frente do seu rebanho, e que soube impor a sua voz, sempre que necessário, em defesa dos menos favorecidos", diz na nota. Dom Delson também lembrou que dom José era chamado carinhosamente de 'Dom Pelé' pelos paraibanos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Tarde Te amei! (Festa de Santo Agostinho, 28 de agosto)
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Santo Agostinho.
Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.
Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…
Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.
Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.
Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.
Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!
E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…
Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!
*Confissões 10, 27-29
A ORIGEM DOS QUATROS EVANGELHOS
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*Pe. João damasceno Penna
Vamos conhecer um pouco mais a origem de cada um em si destes mesmos Evangelhos. Verificaremos inicialmente os seus destinatários.
Mateus – Escreve para os Judeus recém-convertidos – Por trás de cada palavra sua, existe um contexto catequético, em relação aos irmãos da cultura judaica, para uma certa abertura em vista de um possível diálogo missionário. O que está em jogo aqui é a conversão destes judeus simpatizantes ao cristianismo nascente. Ele inicia o seu Evangelho com uma “genealogia” (espécie de carteira de identidade daquele povo judeu), para mostrar que Jesus é o Messias esperado pelos Profetas vindo pela linhagem do Rei Davi, para ser vamos dizer assim, um outro Moisés.
Marcos – Escreve para os Cristãos/judeus convertidos pela pregação de Pedro (comunidade Petrina). Sua catequese é estritamente batismal, como aparece muitas vezes embutida em todo o texto. Sua pregação tem como objetivo levá-los da iniciação cristã até o Seguimento, através de uma fé adulta (madura), para que a partir da humanidade de Jesus, possam responder quem afinal é mesmo esse “Filho do Homem”. Começa o seu Evangelho dizendo: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. O seu zelo pelo lado humano de Jesus, revela uma preocupação histórica de passar com certa segurança o seu conteúdo salvífico. Lembra-nos já os Atos dos Apóstolos, quando Pedro ao escolher Estevão e os outros diáconos para a pregação e serviço da mesa, deixando para ele, João e Tiago o encargo do Ministério da Palavra, como se dissessem: Vamos Escrever o Evangelho! Na verdade é claro que pouca coisa fora para o pergaminho nesta época, mas, é bom lembrar que o ministério da própria pregação oral, já era em si uma forma de confeccionar o conteúdo que mais tarde seria propriamente posto por escrito.
Lucas – (poderíamos dizer que ele escreveu vamos dizer assim o Evangelho de Paulo, movido pelo tema principal: O Espírito Santo) – Ele escreve a partir da pregação de Paulo, a pedido de um certo Teófilo, para cristãos convertidos do paganismo helênico espalhados por todo o Império Romano.
João – Escreve para os Cristãos (Cristãs) da Ásia Menor, convertidos por ele, num período de muita tribulação causada pelos imprevistos da grande perseguição romana. Aqui neste Evangelho, ele procura fazer uma Cristologia descendente, para explicar o mistério do Verbo Encarnado __ Jesus é o Cristo, Filho de Deus – Caminho, Verdade e Vida. Combate dúvidas sobre questões ligadas à Divindade de Jesus, semeadas por um certo Cerinto que defendia: “Jesus era um simples judeu, filho de Maria e José, que no Batismo recebeu o verbo (o Cristo) e na Paixão o perdeu, gritando então ‘Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes!’”. Combate também às seitas gnósticas. Enfim, combate todos os anticristos de sua época. Segundo a maioria de seus estudiosos, João é o Evangelho mais simbólico, detalhado, histórico e ao mesmo tempo teológico. João é quem mais nos dá pistas sobre o que escreveram a respeito de Jesus. Para confirmar isto tudo, leiam Jo, 20, 30.31; 21,24-25.
*Pe. João damasceno Penna nasceu em 27 de setembro de 1962, filho natural da princesa serrana Timbaúba/PE, é sacerdote diocesano na arquidiocese de São Sebastião no Rio de Janeiro.
21º Domingo do Tempo Comum (Mt 16, 13-20): Um Olhar. Dia do Catequista.
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Comentário de Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ.
Eu não quero esse Jesus Cristo...
Eu não quero este Jesus Cristo que fala alto nos palanques e na TV, corre, condena, grita e transforma a sua mensagem em poluição audiovisual. Não, o meu Jesus não é o Jesus do marketing, dos grandes shows, da corrida pelo ibope. Ele não é fashion, não tem cor. Ele ultrapassa as religiões, os ritos, os dogmas, ama a todos sem pré-conceitos, fala pouco, perdoa, contempla e ora. Passa na brisa suave e mora nas favelas, nas florestas, nos morros, nas montanhas e no silêncio da madrugada triste das penitenciárias, dos abrigos e das casas de recuperação dos drogados.
Eu não quero este Jesus dos templos televisivos. Não, o meu Jesus Caminha com o mendigo no silêncio da noite, sorri com o ancião abandonado em um asilo, dorme com os menores nos viadutos das grandes metrópoles. Silencia na dor dos índios, na saudade dos migrantes, nas alegrias e tristezas do agricultor. Ele ressuscita na luta de cada comunidade, no grito dos homossexuais espancados, das prostitutas, travestis, das lésbicas e drogados. Sim, o meu Jesus é trindade e se faz presente em cada grupo social na marcha contra os políticos corruptos e desumanos.
Eu não quero este Jesus Cristo competitivo no mercado financeiro da marca Bombril, com mil e uma utilidades. Eu fujo do sagrado comercial e sexualmente sedutor, consumido e comido nas fartas mesas do sistema econômico. Não, o meu Jesus não tem preço ou marca, Ele não se queima, não se corrompe e não se vende. Ele é frágil, humilde, carinhoso, misericordioso, manso, pequenino e só os puros de coração poderão ver e contemplá-lo.
Eu não quero este Jesus Cristo pop estar estampado nas camisetas, disputando espaço com a Madonna, o Pelé, o Justin Bieber, o Neymar, a Lady Gaga e todos os artistas e personalidades mundiais. Não, o meu Jesus não gosta de ser reconhecido. Ele não é o super-homem, ao contrário, foi condenado e crucificado em uma cruz. O meu herói caminha com os presos políticos, com os mutilados, desesperados e sedentos de paz e igualdade social.
Eu não quero este Jesus Cristo do cinema 3D, HD e digital que enriquece empresários do sagrado e transforma os seguidores em fanáticos. Não, o meu Jesus não tem tablet, aiphone ou iPad. Ele vive escondido em um pequeno casebre castigado pelas enchentes, sofre com a seca, as chacinas, a prostituição infantil e as epidemias, chora com os aidéticos e vive a procura de um pedaço de terra e de um teto para morar. Ele é o mesmo de ontem, de hoje e de sempre, porém, muitos não o aceitam, não o procuram e fecham os olhos para não o ver.
Comentário do italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose.
O relato é denso, fruto do testemunho sobre o evento, mas também da meditação da Igreja de Mateus, que aprofunda cada vez mais o mistério de Cristo. Jesus vai com os discípulos aos territórios de Cesareia, a cidade fundada 30 anos antes pelo tetrarca Filipe, filho de Herodes, o grande, aos pés do monte Hermon. E, exatamente lá onde César é venerado como divino, precisamente em uma cidade edificada em sua honra, eis a ocasião para a pergunta sobre Jesus: quem é verdadeiramente Jesus? É ele mesmo quem faz essa pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem”?
Os discípulos relatam que as pessoas pensam que Jesus é um profeta, um dos grandes profetas presentes na memória coletiva de Israel: talvez Elias, que era esperado, talvez Batista, morto por Herodes, mas que voltou à vida (Mt 14, 1-12), ou talvez Jeremias, visto que, como ele (cf. Jr 7), Jesus proferia palavras contra o templo de Jerusalém.
A pergunta de Jesus não tinha como propósito obter como resposta uma fórmula doutrinal, muito menos dogmática, mas pedia aos discípulos para manifestar a sua relação com ele, o seu envolvimento com a sua vida, a confiança que punham no seu rabi. Sim, quem é Jesus? É uma pergunta que devemos nos fazer e refazer ao longo dos dias.
Pedro teve por graça o dom do discernimento, viu bem quem era Jesus e, por isso, pode ser a primeira pedra, aquela que marca a solidez de toda a construção, um homem capaz de reforçar e confirmar os irmãos, também por ser, por sua vez, sustentado e confirmado pela oração de Jesus (Lc 22, 32).
Nessa passagem, aparece a palavra “Igreja”, que retornará apenas mais uma vez em todos os Evangelhos, também em Mateus (Mt 18, 17). Igreja, ekklesía, significa assembleia dos chamados-por este é o nome dado pelos heleno-cristãos às suas comunidades, também para se diferenciarem da sinagoga (assembleia) dos judeus não cristãos. Pois bem, a Igreja tem Jesus como construtor – “Eu construirei a minha Igreja” – e ela lhe pertence para sempre: nunca será nem de Pedro nem de outros, mas de propriedade do Senhor (Kýrios).
Comentário de Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta.
A pergunta “quem é Jesus” não pode ser respondida simplesmente com os dogmas. A resposta deve ser prática, brotar do chão da vida. Nossa vida é a que tem que dizer quem é Jesus Cristo para nós. “Que diz tua vida de mim”?
Do esforço dos primeiros séculos da Igreja por compreender a Jesus, devemos fazer nossas, não as respostas que deram, mas as perguntas que foram feitas.
A verdadeira pergunta é: “que é, que significa Jesus Cristo em nossa vida”? Não basta dizer que cremos em Jesus. É preciso nos perguntar: em que Jesus cremos e quem é Jesus para nós?.
O Poder das chaves. Comentário do Pe. Johan Konings, Jesuíta.
Costumamos dizer que o papa detém o poder das chaves. Mas que significa isso? A liturgia de hoje nos ajuda a compreender melhor esse tema.
Pela primeira leitura, aprendemos que o poder das chaves significa a administração da casa ou da cidade. O administrador do palácio do rei, Sobna, será substituído por Eliacim, que receberá as chaves da casa de Davi.
No evangelho, Pedro, em nome dos doze apóstolos, proclama Jesus Messias e Filho de Deus. Jesus, em compensação, proclama Pedro fundamento da Igreja e confia-lhe as chaves do Reino dos Céus. Dá-lhe também o poder de ligar e desligar, o que significa obrigar e deixar livre, ou seja, o poder de decisão na comunidade (em Mt 18,18, esse poder é dado à Igreja como tal).
As chaves do Reino dos Céus significam o ministério ou serviço pastoral; portanto, uma realidade no nível da fé. Nessa expressão, Reino dos Céus não é o céu como vida do além, mas o Reino de Deus (os judeus chamavam a Deus de os Céus). Trata-se do Reino de Deus entendido como comunidade, contraposta às portas do inferno, a cidade de satanás, que não prevalecerá sobre a comunidade cujas chaves Pedro recebe.
Trata-se, pois, de duas cidades que se enfrentam aqui na terra. Pedro é o prefeito da cidade de Deus aqui na terra. Respondendo pelos Doze, administra as responsabilidades da fé e da evangelização. Na medida em que a Igreja realiza algo do Reino de Deus neste mundo, Jesus pode dizer que Pedro tem as chaves do Reino dos Céus, isto é, do domínio de Deus. Ele administra a comunidade de Deus no mundo.
Quem exerce esse serviço hoje é o papa, bispo de Roma e sucessor de Pedro. Mas já os antigos romanos diziam: o prefeito não deve se meter nas mínimas coisas. Pedro e seus sucessores não exercem sua responsabilidade sozinhos. A responsabilidade ordinária está com os bispos, como pastores das igrejas particulares (= dioceses). É o que se chama de colegialidade dos bispos. O bispo de Roma, irmão eleito entre seus pares, deve cuidar especificamente dos problemas que dizem respeito a todas as igrejas particulares. O papa é o Servo da Unidade.
Há quem não goste de que se fale em poder na Igreja, muito menos no poder papal. Mas quem já teve de coordenar algum serviço sabe que precisa de autoridade, pois senão nada acontece. No desprezo da administração pastoral da Igreja pode haver um quê de antiautoritarismo juvenil. Aliás, os jovens de hoje, pelo menos de modo confuso, já estão cansados do antiautoritarismo e percebem a falta de autoridade.
Sem cair no autoritarismo de épocas anteriores, convém ter uma compreensão adequada da autoridade como serviço na Igreja. O evangelho nos ensina que essa autoridade está intimamente ligada à fé. Pedro é responsável pelo governo porque respondeu pela fé dos Doze. Por outro lado, se é verdade que Pedro e seus sucessores têm a última palavra na responsabilidade pastoral, eles devem também escutar as penúltimas palavras de muita gente. Devemos chegar a uma obediência adulta na Igreja: colaborar com os responsáveis num espírito de unidade, sabendo que se trata de uma causa comum, não nossa, mas de Deus. Nem mistificação da autoridade, nem anarquia.
Grito dos Excluídos/as 2017. CNBB solicita “efetivo apoio”
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"O Grito dos Excluídos/as é o Grito dos pobres e descartados/as da sociedade capitalista neoliberal: uma sociedade estruturalmente injusta e perversa! O Grito dos Excluídos/as é o Grito do Brasil, é o nosso Grito, é o Grito de Jesus de Nazaré" escreve Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG).
Eis o artigo.
No dia 12 de julho passado, o Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da CNBB, Dom Guilherme Antônio Werlang (Bispo de Ipameri - GO), enviou uma Carta, dirigida aos “Cardeais, Arce/Bispos, Agentes de Pastoral e Lideranças”, solicitando “efetivo apoio” das Dioceses, Paróquias e Comunidades ao Grito dos Excluídos/as 2017.
A Carta começa fazendo uma breve memória do evento: “O Grito dos Excluídos/as chega ao seu 23º ano, fruto da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era ‘Fraternidade e os Excluídos/as’ e o lema: ‘Eras tu, Senhor?’. Ao contemplar as faces da exclusão na sociedade brasileira, setores ligados às Pastorais Sociais da Igreja optaram por estabelecer canais de diálogo permanente com a sociedade promovendo, a cada ano, na semana da Pátria, o Grito dos Excluídos/as”.
Continua a Carta: “O Grito dos Excluídos/as não quer se limitar ao sete de setembro. Vai muito além. Em preparação ao evento são promovidas rodas de conversa, seminários, fóruns temáticos e conferências, envolvendo entidades, instituições, movimentos e organizações da sociedade civil, fortalecendo as legítimas reivindicações sociais e reforçando a presença solidária da Igreja (reparem: a presença solidária da Igreja!) junto aos mais vulneráveis, sintonizando-a aos seus anseios e possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e solidária”.
Fazendo uma breve análise do momento histórico que vivemos, a Carta - em tom profético - anuncia e denuncia: “Em 2017, o 23º Grito dos Excluídos/as tem como lema ‘Por direitos e democracia, a luta é todo dia’. Vivemos tempos difíceis. Os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. O ajuste fiscal, as reformas - trabalhista e da previdência - estão retirando direitos dos trabalhadores para favorecer aos interesses do mercado. O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população”.
Enfim, a Carta faz um agradecimento e um novo apelo: “Agradecemos aos senhores pelo apoio recebido ao longo destes anos e nos comprometemos a continuar gritando pela ‘vida em primeiro lugar’. Agora, solicitamos-lhes, mais uma vez, o efetivo apoio (reparem novamente: o efetivo apoio!) ao Grito dos Excluídos/as 2017”.
Conclui reconhecendo que o Grito dos Excluídos/as “é uma iniciativa que desperta para a solidariedade, para a organização e que renova a esperança dos pobres e os torna sujeitos de uma nova sociedade, sinal do Reino de Deus”.
Sobre o envolvimento com os Movimentos Populares, os cristãos e cristãs ouçamos o convite do Papa Francisco e sigamos o seu testemunho.
O convite: “Soube que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este Encontro” (Discurso aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra - Bolívia, 09/07/15).
O testemunho: “Assistimos ao vídeo que vocês apresentaram como conclusão do 3º Encontro. Vimos os rostos de vocês nos debates sobre o modo de enfrentar ‘a desigualdade que gera violência’. Tantas propostas, muita criatividade e grande esperança na voz de vocês, que talvez tivesse mais motivos para se queixar, permanecer emudecida nos conflitos, cair na tentação do negativo. E, no entanto, vocês olham para a frente, pensam, debatem, propõem e agem. Congratulo-me com vocês, acompanho vocês (reparem mais uma vez: acompanho vocês!) e peço-lhes que continuem a abrir caminhos e a lutar. Isto me dá força, dá-nos força. Penso que este nosso diálogo, que se acrescenta aos esforços de muitos milhões de pessoas que trabalham diariamente pela justiça no mundo inteiro, começa a ganhar raízes” (Discurso aos participantes do 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Roma, 05/11/16). Quanta simplicidade, quanta abertura e quanta confiança encontramos nas palavras do nosso irmão Francisco! Meditemos!
O Grito dos Excluídos/as é o Grito dos pobres e descartados/as da sociedade capitalista neoliberal: uma sociedade estruturalmente injusta e perversa! O Grito dos Excluídos/as é o Grito do Brasil, é o nosso Grito, é o Grito de Jesus de Nazaré!
Militantes dos Sindicatos de Trabalhadores/as, dos Movimentos Populares, das Pastorais Sociais, das Comunidades e outras Organizações da sociedade civil, participemos do Grito dos Excluídos/as! A presença de cada um e cada uma de nós fará a diferença e fortalecerá a luta! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
BORBOREMA: Padre Assassinado.
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