Arcebispo Metropolitano de Maceió emite decreto direcionado às Comunidades Terapêuticas.
- Detalhes
As Comunidades que querem continuar exercendo o trabalho, tendo vínculo com a Igreja Católica e sem qualquer influência do poder político em suas administrações, deverão se adaptar o quanto antes
Por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, o Arcebispo Metropolitano de Maceió, dom Antônio Muniz Fernandes, O. Carm., assina decreto que regulamenta a participação das Comunidades Terapêuticas, no território Arquidiocesano, em projetos políticos e de poder.
As Comunidades que querem continuar exercendo o trabalho, tendo vínculo com a Igreja Católica e sem qualquer influência do poder político em suas administrações, deverão se adaptar o quanto antes, para não serem atingidas pelas normas da Igreja de Jesus Cristo presente na Arquidiocese de Maceió.
Leia o Decreto:
Província Eclesiástica de Maceió
Arquidiocese de Maceió
DECRETO
Da participação das Comunidades Terapêuticas em projetos políticos e de poder
DOM ANTÔNIO MUNIZ FERNANDES, O.CARM.
Por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica,
Arcebispo Metropolitano de Maceió,
DECIDE:
CONSIDERANDO que a conotação essencial dos cristãos leigos e leigas, fiéis operários da vinha do Senhor (cf. Mt 20,1-16), é a índole secular de seu seguimento de Cristo, que se realiza propriamente no mundo: “É específico dos leigos, por sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus” (CONCÍLIO VATICANO II, Const. Dogm. “Lumen gentium”, n. 31).
CONSIDERANDO que a presença do fiel leigo no campo social é caracterizada pelo serviço, sinal e expressão da caridade que se manifesta na vida familiar, cultural, profissional, econômica, política, segundo perfis específicos: obtemperando às diversas exigências de seu particular âmbito de atuação, os fiéis leigos exprimem a verdade de sua fé e, ao mesmo tempo, a verdade da doutrina social da Igreja, que encontra a sua plena realização quando é vivida em termos concretos para a solução dos problemas sociais. A própria credibilidade da doutrina social reside de fato no testemunho das obras, antes mesmo que na sua coerência e lógica interna (cf. JOÃO XXIII, Carta enc. “Mater et magistral”, n. 454; JOÃO PAULO II, Carta enc. “Centesimus annus”, n. 862-863).
CONSIDERANDO o Código de Direito Canônico, Cân. 300: “Nenhuma associação assuma o nome de “católica”, sem o consentimento da autoridade eclesiástica competente”.
DECRETAR que as Comunidades Terapêuticas, que fizeram uma opção político-partidária e de poder, tornando-se subsidiárias, estão proibidas de usar o nome “católica” e beneficiar-se dos ritos católicos; consequentemente, seja retirada a presença do Santíssimo Sacramento e não mais sejam celebradas Santas Missas nessas Comunidades Terapêuticas, em todo território da Arquidiocese de Maceió.
Maceió, 26 de dezembro de 2016.
DOM ANTÔNIO MUNIZ FERNANDES, O.CARM.
Arcebispo Metropolitano de Maceió.
Fonte: http://arquidiocesedemaceio.org.br
LIMOEIRO DE ANADIA/AL: O Olhar da Imaculada.
- Detalhes
No vídeo, o Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ, mostra a Imagem da Imaculada Conceição na entrada da cidade de Limoeiro de Anadia-Alagoas. NOTA: Com onze metros de altura e cerca de duas toneladas, a imagem de Nossa Senhora da Conceição veio de Sergipe transportada em uma carreta.
Aos pés da imagem, a Prefeitura de Limoeiro de Anadia está construindo uma praça com mirante, a fim de que os visitantes, viajantes e romeiros possam tirar fotos e apreciar as serras que cercam a cidade.
A imagem de Nossa Senhora da Conceição foi esculpida pelo artista sergipano Regivaldo da Silva Santana, mais conhecido como Giba. Natural de Porto da Folha, o escultor é especialista na construção de bustos, animais, artes sacras, entre outros. Leia a matéria na íntegra. Clique aqui:
Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. 26 de dezembro-2016. DIVULGAÇÃO: www.olharjornalistico.com.br
Papa: no Menino Jesus a interpelação das crianças migrantes
- Detalhes
Sábado, 24 de dezembro, Missa da Noite de Natal com o Papa Francisco na Basílica de S. Pedro. O Santo Padre afirmou que esta é uma noite de glória, alegria e luz e recordou as crianças que “jazem nas miseráveis manjedouras de dignidade”.
Na sua homilia Francisco declarou que no Menino que Deus nos dá “faz-se concreto o amor de Deus por nós”. Na simplicidade e fragilidade de um recém-nascido está Deus e não na “sala nobre de um palácio” – disse o Papa.
É um Menino que nos “interpela” e que “nos chama a deixar as ilusões do efémero para ir ao essencial, a renunciar às nossas insaciáveis pretensões” – afirmou o Santo Padre que se referiu à interpelação do Menino na manjedoura:
“Deixemo-nos interpelar pelo Menino na manjedoura, mas deixemo-nos interpelar também pelas crianças que, hoje, não são reclinadas num berço nem acariciadas pelo carinho de uma mãe e de um pai, mas jazem nas miseráveis ‘manjedouras de dignidade’: no refúgio subterrâneo para fugir aos bombardeamentos, no passeio de uma grande cidade, no fundo de uma barca sobrecarregada de migrantes. Deixemo-nos interpelar pelas crianças que não se deixam nascer, as que choram porque ninguém lhes sacia a fome, aquelas que na mão não têm brinquedos, mas armas.”
O “Mistério do Natal” interpela-nos – acrescentou Francisco – porque é ao mesmo tempo um mistério de esperança e de tristeza. O sabor da tristeza descobre-se quando José e Maria encontram portas fechadas e tiveram que pôr Jesus numa manjedoura – disse o Papa que sublinhou que o Natal é sobretudo o sabor da esperança: “Deus, enamorado de nós, atrai-nos com a sua ternura, nascendo pobre e frágil no meio de nós”.
O Papa salientou ainda que “Jesus nasce rejeitado por alguns e na indiferença da maioria. E a mesma indiferença pode reinar também hoje, quando o Natal se torna uma festa onde os protagonistas somos nós, em vez de ser Ele; quando as luzes do comércio põem na sombra a luz de Deus; quando nos afanamos com as prendas e ficamos insensíveis a quem está marginalizado” – observou.
No final da sua homilia na Missa da Noite de Natal neste ano de 2016 o Papa Francisco exortou os cristãos a entrarem “no verdadeiro Natal” com os pastores que estavam entre os marginalizados daquele tempo e sentirmo-nos “amados por Deus”.
Fonte: http://pt.radiovaticana.va
Papa à Cúria na apresentação dos votos natalícios - Texto integral.
- Detalhes
O Papa Francisco teve audiência, nesta quinta-feira (22/12) na Sala Clementina, com os membros da Cúria Romana para os tradicionais votos natalícios e no seu discurso falou dos critérios de orientação para a reforma da Cúria. Já a seguir, o Texto integral:
DISCURSO DO SANTO PADRE
À CÚRIA ROMANA na apresentação de votos natalícios. (22 de dezembro de 2016)
Amados irmãos e irmãs!
Gostaria de começar este nosso encontro, apresentando os meus cordiais votos a todos vós – Superiores, Oficiais, Representantes Pontifícios e Colaboradores nas Nunciaturas espalhadas pelo mundo, todas as pessoas que prestam serviço na Cúria Romana – e aos vossos familiares. Votos de um santo e sereno Natal e um feliz ano novo de 2017.
Ao contemplar o rosto do Menino Jesus, Santo Agostinho exclamou: «Imenso na natureza divina, pequeno na natureza de servo».[1] Também São Macário, monge do século IV e discípulo do abade Santo Antão, para descrever o mistério da Encarnação, recorreu ao verbo grego smikruno, isto é, fazer-se pequeno reduzindo-se quase ao mínimo: «Ouvi com atenção! Por sua imensa e inefável bondade, o Deus infinito, inacessível e incriado tomou um corpo e – diria – diminuiu-se infinitamente a sua glória».[2]
Assim, o Natal é a festa da amante humildade de Deus, de Deus que inverte a ordem da lógica esperada, a ordem do devido, do dialético e do matemático. Nesta inversão, está toda a riqueza da lógica divina que transtorna a limitação da nossa lógica humana (cf. Is 55, 8-9). Disse Romano Guardini: «Que grande inversão de todos os valores familiares ao homem – não só humanos, mas também divinos! Verdadeiramente este Deus subverte tudo aquilo que o homem pretende edificar por si mesmo».[3] No Natal, somos chamados a dizer «sim, com a nossa fé, não ao Dominador do universo nem mesmo às mais nobres das ideias, mas precisamente a este Deus que é o humilde-amante.
O Beato Paulo VI, no Natal de 1971, afirmava: «Deus poderia ter vindo revestido de glória, esplendor, luz, poder, assustando-nos, deixando os nossos olhos arregalados pela maravilha. Mas não! Veio como o menor dos seres, o mais frágil, o mais fraco. E porquê? Para que ninguém tivesse vergonha de se aproximar d’Ele, para que ninguém tivesse medo, precisamente para que todos pudessem senti-Lo vizinho, aproximar-se d’Ele, já sem qualquer distância entre nós e Ele. Houve um esforço, por parte de Deus, de mergulhar, afundar-Se dentro de nós, para que cada um – digo cada um de vós – possa familiarizar com Ele, possa ter confidência, possa aproximar-se d’Ele, possa sentir-se pensado por Ele, por Ele amado... por Ele amado. Reparai que esta é uma grande afirmação! Se compreenderdes isto, se lembrardes isto que vos estou a dizer, tereis compreendido todo o cristianismo».[4]
Na realidade, Deus escolheu nascer pequenino,[5] porque quis ser amado.[6] E assim a lógica do Natal é a subversão da lógica do mundo, da lógica do poder, da lógica do controle, da lógica farisaica e da lógica causalística ou determinista.
Foi precisamente sob esta luz suave e imponente do rosto divino de Cristo menino que escolhi, como tema deste nosso encontro anual, a reforma da Cúria Romana. Pareceu-me justo e oportuno partilhar convosco o quadro da reforma, pondo em evidência os critérios orientadores, os passos feitos, mas sobretudo a lógica do porquê de cada passo realizado e daquilo que será feito.
Na verdade, aqui vem-me espontaneamente à memória o antigo ditado que ilustra a dinâmica dos Exercícios Espirituais no método inaciano, ou seja: deformata reformare, reformata conformare, conformata confirmare e confirmata transformare.
Não há dúvida que, na Cúria, o significado da re-forma pode ser duplo: antes de mais nada, torná-la con-forme à Boa Nova que deve ser proclamada jubilosa e corajosamente a todos, especialmente aos pobres, aos últimos e aos descartados; con-forme aos sinais do nosso tempo e a tudo o que de bom alcançou o homem, para melhor atender às exigências dos homens e das mulheres que somos chamados a servir;[7] ao mesmo tempo, trata-se de tornar a Cúria mais con-forme à sua finalidade que é colaborar no ministério próprio do Sucessor de Pedro[8] («cum Ipso consociatam operam prosequuntur», diz o Motu Proprio Humanam progressionem) e, por conseguinte, apoiar o Romano Pontífice no exercício do seu poder singular, ordinário, pleno, supremo, imediato e universal.[9]
Consequentemente, a reforma da Cúria Romana está orientada eclesiologicamente in bonum e in servitium, como o está o serviço do Bispo de Roma,[10] segundo uma significativa frase do Papa São Gregório Magno, retomada pelo capítulo III da constituição Pastor Aeternus do Concílio Vaticano I: «A minha honra é a da Igreja universal. A minha honra é a força firme dos meus irmãos. Sinto-me verdadeiramente honrado, quando não é negada a devida honra a cada um deles».[11]
Não sendo a Curia uma estrutura imóvel, a reforma é, antes de tudo, sinal da vivacidade da Igreja em caminho, em peregrinação, e da Igreja viva e, consequentemente, semper reformanda,[12] necessitada de ser reformada porque está viva. Torna-se necessário reiterar vigorosamente que a reforma não é fim em si mesma, mas constitui um processo de crescimento e sobretudo de conversão. Por isso, a reforma não tem uma finalidade estética, como se se quisesse tornar mais bela a Cúria; nem se pode entender como uma espécie de avivamento, maquilhagem ou truco para embelezar o velho corpo curial, e nem mesmo como uma operação de cirurgia plástica para tirar as rugas.[13] Amados irmãos, não são as rugas que se devem temer na Igreja, mas as manchas!
Nesta perspetiva, é preciso destacar que a reforma será eficaz única e exclusivamente se for implementada com homens «renovados» e não apenas com homens «novos».[14] Não basta contentar-se em mudar o pessoal, mas é preciso levar os membros da Cúria a renovar-se espiritual, humana e profissionalmente. A reforma da Cúria não se atua de forma alguma com a mudança das pessoas – que, sem dúvida, tem acontecido e acontecerá[15] – mas com a conversão nas pessoas. Na realidade, não basta uma formação permanente, é preciso também e sobretudo uma conversão e uma purificação permanente. Sem uma mudança de mentalidade, o esforço funcional não teria qualquer utilidade.[16]
Foi por esta razão que, nos nossos dois encontros natalícios anteriores, me detive no ano de 2014, tendo como modelo os Padres do deserto, sobre algumas «doenças» e em 2015, partindo da palavra «misericórdia», sobre uma espécie de catálogo das virtudes necessárias para quem presta serviço na Cúria e para quantos querem tornar fecunda a sua consagração ou o seu serviço à Igreja. A razão fundamental é que, como para toda a Igreja, também na Cúria o sempre reformanda deve transformar-se numa conversão pessoal e estrutural permanente.[17]
Era necessário falar de doenças e tratamentos, porque cada operação, para ter sucesso, deve ser antecedida por diagnósticos profundos, por análises cuidadosas e deve ser acompanhada e seguida por prescrições concretas.
Neste percurso, é normal, até mesmo salutar, encontrar dificuldades, que, no caso da reforma, poder-se-iam apresentar segundo diferentes tipologias de resistências: as resistências abertas, que nascem muitas vezes da boa vontade e do diálogo sincero; as resistências ocultas, que nascem dos corações assustados ou empedernidos que se alimentam das palavras vazias da hipocrisia espiritual; há também as resistências malévolas, que germinam em mentes doentes e aparecem quando o diabo inspira más intenções (muitas vezes disfarçadas sob pele de cordeiros). Este último tipo de resistência esconde-se por trás das palavras justificadoras e, em muitos casos, acusatórias, refugiando-se nas tradições, nas aparências, nas formalidades, no conhecido, ou então em querer reduzir tudo a um caso pessoal, sem distinguir entre o ato, o ator e a ação.[18]
A ausência de reação é sinal de morte! Por isso as resistências boas – e até as menos boas – são necessárias e merecem ser escutadas, acolhidas e encorajadas a expressar-se.
Tudo isto, para dizer que a reforma da Cúria é um processo delicado que deve ser vivido com fidelidade ao essencial, discernimento contínuo, coragem evangélica, sabedoria eclesial, escuta cuidadosa, ação tenaz, silêncio positivo, decisões firmes, muita oração, profunda humildade, clarividência, passos concretos em frente e – se necessário – passos também para trás, vontade decidida, vitalidade vibrante, poder responsável, obediência incondicional; mas, em primeiro lugar, com o abandono à orientação segura do Espírito Santo, confiando no seu apoio necessário.
ALGUNS CRITÉRIOS ORIENTADORES DA REFORMA
São principalmente doze: individualidade, pastoralidade, missionariedade, racionalidade, funcionalidade, modernidade, sobriedade, subsidiariedade, sinodalidade, catolicidade; profissionalismo, gradualidade.
1- Individualidade (conversão pessoal)
Volto a reiterar a importância da conversão individual, sem a qual serão inúteis todas as mudanças nas estruturas. A verdadeira alma da reforma são os seres humanos que estão envolvidos nela e a tornam possível. Com efeito, a conversão pessoal sustenta e reforça a comunitária.
Há uma forte relação de intercâmbio entre o comportamento pessoal e o comunitário. Uma única pessoa pode fazer muito bem a todo o corpo, como poderia danificá-lo e fazê-lo adoecer. E um corpo saudável é aquele que sabe recuperar, acolher, fortificar, cuidar e santificar os seus próprios membros.
2- Pastoralidade (conversão pastoral)
Fazendo apelo à imagem do pastor (cf. Ez 34, 16; Jo 10, 1-21) e sendo a Cúria uma comunidade de serviço, «far-nos-á bem, também a nós, chamados a ser Pastores na Igreja, deixar que a Face do Deus Bom Pastor nos ilumine, nos purifique, nos transforme e nos restitua plenamente renovados à nossa missão. Que também nos nossos ambientes de trabalho possamos sentir, cultivar e praticar um forte sentido pastoral, antes de tudo em relação às pessoas que encontramos todos os dias. Que ninguém se sinta ignorado ou maltratado, mas cada um possa experimentar, antes de tudo aqui, a atenção carinhosa do Bom Pastor».[19]
O compromisso de todo o pessoal da Cúria deve ser animado por uma pastoralidade e uma espiritualidade de serviço e comunhão, pois isto é o antídoto contra todos os venenos da vã ambição e da rivalidade ilusória. Neste sentido, o Beato Paulo VI advertiu: «Não seja, portanto, a Cúria Romana uma burocracia, como erradamente alguém a julga, pretensiosa e apática, apenas canonista e ritualista, um ringue de ocultas ambições e surdos antagonismos, como a acusam outros; mas seja uma verdadeira comunidade de fé e caridade, de oração e ação; de irmãos e filhos do Papa, que tudo fazem, cada um no respeito da competência alheia e com sentido de colaboração, para o servir no seu serviço aos irmãos e aos filhos da Igreja universal e de toda a terra».[20]
3- Missionariedade[21] (cristocentrismo)
É o fim principal de todo o serviço eclesial, ou seja, levar a boa nova a todos os confins da terra,[22] como nos lembra o magistério conciliar, porque «há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem “fidelidade da Igreja à própria vocação”, toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo».[23]
4- Racionalidade
Com base no princípio de que todos os Dicastérios são juridicamente iguais entre si, era necessária uma racionalização dos organismos da Cúria Romana,[24] para evidenciar que cada Dicastério tem competências próprias. Tais competências devem ser respeitadas, mas também distribuídas com racionalidade, eficácia e eficiência. Por isso nenhum Dicastério pode atribuir-se a competência doutro Dicastério, segundo o que está estabelecido pelo direito, e todos os Dicastérios fazem referência direta ao Papa.
5- Funcionalidade
A eventual incorporação num único Dicastério de dois ou mais Dicastérios competentes sobre matérias afins ou intimamente relacionadas serve, por um lado, para dar ao mesmo Dicastério uma maior relevância (mesmo exterior) e, por outro, a contiguidade e a interação das diferentes realidades no seio de um único Dicastério ajuda a ter maior funcionalidade (são exemplo disso mesmo os dois novos Dicastérios recentemente instituídos).[25]
A funcionalidade requer também a revisão contínua das funções e da atinência das competências e responsabilidades do pessoal e, consequentemente, a realização de deslocamentos, assunções, interrupções e também promoções.
6- Modernidade (atualização)
Ou seja, a capacidade de ler e auscultar os «sinais dos tempos». Neste sentido, «providenciemos solicitamente para que os Dicastérios da Cúria Romana se coadunem às situações do nosso tempo e adaptem às necessidades da Igreja universal».[26] Assim o solicitara o Concílio Vaticano II: os Dicastérios da Cúria Romana «sejam reorganizados, segundo as necessidades dos tempos, das regiões e dos ritos sobretudo quanto ao número, nome, competência e modo de proceder de cada um, bem como no que respeita à coordenação recíproca dos trabalhos».[27]
7- Sobriedade
Nesta perspectiva, são necessários uma simplificação e um aligeiramento da Cúria: incorporação ou fusão de Dicastérios segundo assuntos de competência e simplificação interna de cada um dos Dicastérios; eventuais supressões de Departamentos que se revelem desajustados das necessidades contingentes. Inserção nos Dicastérios ou redução das comissões, academias, comités, etc. Tendo sempre em vista a sobriedade indispensável para um testemunho digno e autêntico.
8- Subsidiariedade
Reordenamento de competências específicas dos vários Dicastérios, deslocando-as, se necessário, de um Dicastério para outro, a fim de alcançar a autonomia, a coordenação e a subsidiariedade nas competências e a interconexão no serviço.
Neste sentido, é necessário respeitar também os princípios da subsidiariedade e da racionalização na relação com a Secretaria de Estado e no seio dela mesma – entre as suas diferentes competências – para que, no cumprimento das próprias funções seja a ajuda direta e mais imediata do Papa.[28] E isto também para uma melhor coordenação dos vários setores dos Dicastérios e dos Departamentos da Cúria. A Secretaria de Estado poderá realizar esta sua importante função, precisamente na realização da unidade, interdependência e coordenação das suas Secções e dos seus vários setores.
9- Sinodalidade
O trabalho da Cúria deve ser sinodal: reuniões periódicas dos Chefes de Dicastério, presididas pelo Romano Pontífice;[29] audiências regulares previstas dos Chefes de Dicastério; reuniões habituais interdicasteriais. A redução do número de Dicastérios permitirá encontros mais frequentes e sistemáticos dos diferentes Prefeitos com o Papa e reuniões eficazes dos Chefes dos Dicastérios, não o podendo ser com um grupo demasiado grande.
A sinodalidade[30] deve ser vivida também dentro de cada Dicastério, dando particular realce ao Congresso e maior frequência pelo menos à Sessão ordinária. No seio de cada Dicastério, deve-se evitar a fragmentação que pode ser determinada por vários fatores, tais como a proliferação de setores especializados, que podem tender para serem autorreferenciais. A coordenação entre eles deveria ser tarefa do Secretário ou do Subsecretário.
10- Catolicidade
Entre os colaboradores, além dos sacerdotes e consagrados/as, a Cúria deve refletir a catolicidade da Igreja com a assunção de pessoal proveniente de todo o mundo, de diáconos permanentes e fiéis leigos, cuja escolha deve ser cuidadosamente feita com base na sua vida espiritual e moral exemplar e na sua competência profissional. É oportuno prever o acesso de um número maior de fiéis leigos, especialmente nos Dicastérios onde eles possam ser mais competentes que os clérigos ou os consagrados. Além disso é de grande importância a valorização do papel da mulher e dos leigos na vida da Igreja e a sua integração nas lideranças dos Dicastérios, com particular atenção à multiculturalidade.
11- Profissionalismo
É indispensável que cada Dicastério adote uma política de formação permanente do pessoal, para evitar o enferrujamento e a queda na rotina do funcionalismo.
Por outro lado, é indispensável a arquivação definitiva da prática do promoveatur ut amoveatur.
12- Gradualidade (discernimento)
A gradualidade é o fruto daquele indispensável discernimento que envolve processo histórico, estipulação de tempos e etapas, verificação, verificação, correções, experimentação, aprovações ad experimentum. Nestes casos, portanto, não se trata de indecisão, mas da flexibilidade necessária para se poder alcançar uma verdadeira reforma.
ALGUNS PASSOS FEITOS[31]
Menciono brevemente e limitando-me a alguns passos realizados na implementação dos critérios orientadores, das recomendações feitas pelos Cardeais, durante as Reuniões plenárias antes do Conclave, da COSEA, do Conselho de Cardeais, bem como dos Chefes de Dicastério e de outras pessoas e peritos.
- Em 13 de abril de 2013, foi anunciado o Conselho dos Cardeais (Consilium Cardinalium Summi Pontifici) – o chamado C8, que se tornou C9 a partir de 1 de julho de 2014 – primariamente para aconselhar o Papa no governo da Igreja universal e sobre outros temas relacionados,[32] e também com a tarefa específica de propor a revisão da Constituição apostólica Pastor Bonus.[33]
- Com o Quirógrafo de 24 de junho de 2013, foi ereta a Pontifícia Comissão Referente sobre o Instituto para as Obras de Religião, a fim de se conhecer de modo mais aprofundado a posição jurídica do IOR e permitir uma sua melhor «harmonização» com «a missão universal da Sé Apostólica. Tudo para «permitir que os princípios do Evangelho permeiem também as atividades de natureza económica e financeira» e para alcançar uma completa e reconhecida transparência no seu trabalho.
- Com o Motu Proprio de 11 de julho de 2013, proveu-se a delinear a jurisdição dos órgãos judiciários do Estado da Cidade do Vaticano em matéria penal.
- Com o Quirógrafo de 18 de julho de 2013, foi instituída a COSEA (Pontifícia Comissão referente de estudo e orientação sobre a organização da estrutura económico-administrativa),[34] com a tarefa de estudar, analisar e recolher informações, em colaboração com o Conselho dos Cardeais para o estudo dos problemas organizativos e económicos da Santa Sé.
- Com o Motu Proprio de 8 de agosto de 2013, foi instituído o Comité de Segurança Financeira da Santa Sé para prevenir e contrastar o branqueamento de capitais, o financiamento do terrorismo e a proliferação de armas de destruição de massa. Tudo isso, para levar o IOR e todo o sistema económico vaticano à regular adoção e cumprimento completo, com empenho e diligência, de todas as normas internacionais sobre a transparência financeira.[35]
- Com o Motu Proprio de 15 de novembro de 2013, foi consolidada a Autoridade de Informação Financeira (AIF),[36] instituída por Bento XVI, com Motu Proprio de 30 de dezembro de 2010, para prevenir e contrastar atividades ilegais em campo financeiro e monetário.[37]
- Com o Motu Proprio de 24 de fevereiro de 2014 (Fidelis dispensator et prudens), foram eretas a Secretaria para a Economia e o Conselho para a Economia,[38] substituindo o Conselho dos 15 Cardeais, tendo o dever de harmonizar as políticas de controle a respeito da gestão económica da Santa Sé e da Cidade do Vaticano.
- Com o mesmo Motu Proprio (Fidelis dispensator et prudens) de 24 de fevereiro de 2014, foi ereto o Departamento do Auditor Geral (DAG) como novo ente da Santa Sé encarregado de fazer a revisão (audit) dos Dicastérios da Cúria Romana, das instituições ligadas à Santa Sé – ou que fazem referência a ela – e das administrações do Governatorado do Estado da Cidade do Vaticano.[39]
- Com o Quirógrafo de 22 de março de 2014, foi instituída a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores para «promover a tutela da dignidade dos menores e dos adultos vulneráveis, através das formas e modalidades, cônsones à natureza da Igreja, que se considerem mais oportunas».
- Com o Motu Proprio de 8 de julho de 2014, foi transferida a Secção Ordinária da Administração do Património da Sé Apostólica para a Secretaria para a Economia.
- Em 22 de fevereiro de 2015, foram aprovados os Estatutos dos novos Organismos Económicos.
- Com o Motu Proprio de 27 de junho de 2015, foi ereta a Secretaria para a Comunicação com a tarefa de «dar resposta ao atual contexto comunicativo, caraterizado pela presença e o desenvolvimento dos mídias digitais, pelos fatores da convergência e da interatividade», e também reestruturar globalmente, através dum processo de reorganização e de incorporação de «todas as realidades que até hoje, de diferentes maneiras, se ocuparam da comunicação», a fim de «corresponder cada vez melhor às exigências da missão da Igreja».
- Em 6 de setembro de 2016, foi promulgado o Estatuto da Secretaria para a Comunicação, que entrou em vigor em outubro passado.[40]
- Com os dois Motu Proprio de 15 de agosto de 2015, proveu-se à reforma do processo canónico para as causas de declaração de nulidade do matrimónio: Mitis et misericors Iesus, no Código dos Cânones das Igrejas Orientais; Mitis Iudex Dominus Iesus, no Código de Direito Canónico.[41]
- Com o Motu Proprio de 4 de junho de 2016 (Come una madre amorevole), pretendeu-se obviar à negligência dos Bispos no exercício do seu cargo, particularmente em relação aos casos de abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis.
- Com o Motu Proprio de 15 de agosto de 2016 (Sedula Mater), foi constituído o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, fazendo apelo antes de mais nada à finalidade pastoral geral do ministério petrino: «empenhamo-nos com prontidão por tudo dispor para que as riquezas de Cristo Jesus fluam apropriada e profusamente entre os fiéis».
- Com o Motu Proprio de 17 de agosto de 2016 (Humanam progressionem), foi constituído o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, a fim de que o desenvolvimento se implemente «mediante o cuidado pelos bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação». Neste Dicastério confluirão, a partir de 1 janeiro de 2017, quatro Conselhos Pontifícios: Justiça e Paz, Cor Unum, Pastoral dos Migrantes e Agentes Sanitários. Ocupar-me-ei diretamente «ad tempus» da Secção para a pastoral dos migrantes deste novo Dicastério.[42]
- Em 18 de outubro de 2016, foi aprovado o Estatuto da Pontifícia Academia para a Vida.
O nosso encontro teve início falando do significado do Natal como subversão dos nossos critérios humanos para destacar que o coração e o centro da reforma é Cristo (cristocentrismo).
Gostaria de concluir simplesmente com uma palavra e uma oração. A palavra serve para reiterar que o Natal é a festa da amante humildade de Deus. A oração é a convocatória natalícia do Padre Matta el Meskin (monge contemporâneo) que, dirigindo-se ao Senhor Jesus nascido em Belém, assim se exprime: «Se para nós a experiência da infância é uma coisa difícil, não o é para Vós, Filho de Deus. Se tropeçamos no caminho que leva à comunhão convosco segundo esta pequena estatura, Vós sois capaz de remover todos os obstáculos que nos impedem de o fazer. Sabemos que não tereis paz enquanto não nos achardes de acordo com a vossa semelhança e com esta estatura. Permiti-nos hoje, ó Filho de Deus, que nos aproximemos do vosso coração. Concedei-nos a graça de não nos julgarmos grandes nas nossas experiências. Ao contrário, concedei que nos tornemos pequenos como Vós, para poder estar junto de Vós e receber de Vós humildade e mansidão em abundância. Não nos priveis da vossa revelação, a epifania da vossa infância nos nossos corações, para podermos curar, com ela, todo o orgulho e arrogância. Temos uma necessidade extrema (...) de que reveleis em nós a vossa simplicidade, fazendo-nos a nós, antes a Igreja e todo o mundo, semelhantes a Vós. O mundo está cansado e esgotado, porque encontra-se em competição para ver quem é o maior. Há uma concorrência desumana entre governos, entre Igrejas, entre povos, no seio das famílias, entre uma paróquia e outra: quem é o maior entre nós? O mundo é atormentado por dolorosas feridas, porque a sua grande epidemia é esta: quem é o maior? Mas hoje encontramos em Vós, Filho de Deus, o nosso único remédio. Nós e o mundo inteiro não acharemos salvação nem paz, se não voltarmos a encontrar-Vos de novo na manjedoura de Belém. Ámen».[43]
Obrigado! Desejo-vos um santo Natal e um feliz ano novo de 2017!
[1] Sermo 187, 1: PL 38, 1001: «Magnus dies angelorum, parvus in die hominum (…) magnus in forma Dei, brevis in forma servi».
[2] Hom. IV, 9: PG 34, 480.
[3] Il Signore, Milão 1977, 404.
[4] Homilia, 25 de dezembro de 1971.
[5] Cf. São Pedro Crisólogo, Sermo 118: PL 52, 617.
[6] Santa Teresa do Menino Jesus – enamorada pela pequenez de Jesus –, na sua última carta (25 de agosto de 1897, dirigida a um sacerdote que lhe fora confiado como «irmão espiritual») escreveu: «Não posso temer um Deus que, por mim, Se fez assim tão pequenino! Amo-O! De facto, Ele é apenas amor e misericórdia» (LT 266: Obras completas, Roma 1997, 606).
[7] Cf. Carta apostólica sob forma de Motu Proprio pela qual se institui o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, 16 de agosto de 2016.
[8] A Cúria Romana tem por função ajudar o Papa no seu governo quotidiano da Igreja, ou seja, nas tarefas que lhe são próprias: a) conservar todos os fiéis «no vínculo de uma só fé e da caridade» e também na «unidade de fé e comunhão»; b) «para que o episcopado fosse uno e indiviso» (Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor aeternus, prólogo). Isto mesmo retoma o Concílio Vaticano II, dizendo: «Este sagrado Concílio, seguindo os passos do Concílio Vaticano I, com ele ensina e declara que Jesus Cristo, pastor eterno, edificou a Santa Igreja tendo enviado os Apóstolos, como Ele fora enviado pelo Pai (cf. Jo 20, 21); e quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem pastores na sua Igreja até ao fim dos tempos. Mas, para que o mesmo episcopado fosse uno e indiviso, colocou o bem-aventurado Pedro à frente dos outros Apóstolos e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 18).
[9] Efetivamente, a propósito da Cúria Romana, o Concílio Vaticano II explica que, «no exercício do poder supremo, pleno e imediato sobre a Igreja universal, o Romano Pontífice serve-se dos Dicastérios da Cúria Romana, que, por isso, trabalham em seu nome e com a sua autoridade, para bem das Igrejas e ao serviço dos sagrados pastores» (Decr. Christus Dominus, 9). Assim lembra-nos, antes de mais nada, que a Cúria é um organismo de ajuda ao Papa, especificando ao mesmo tempo que o serviço dos organismos da Cúria Romana é sempre realizado nomine et auctoritate do mesmo Romano Pontífice. É por isso que a atividade da Cúria é realizada in bonum Ecclesiarum et in servitium Sacrorum Pastorum, isto é, orientada quer para o bem das Igrejas particulares, quer para apoio dos seus Bispos. As Igrejas particulares são «formadas à imagem da Igreja universal, das quais e pelas quais existe a Igreja católica, una e única» (Lumen gentium, 23).
[10] Paulo VI, Discurso à Cúria Romana, 21 de setembro de 1963: «Aliás tal concordância entre o Papa e a sua Cúria é uma norma constante. E não é só nas grandes horas da história que tal concordância revela a sua existência e a sua força; mas vigora sempre, em cada dia, em cada ato do ministério pontifício, como convém ao órgão de imediata aderência e absoluta obediência, de que o Romano Pontífice se serve para exercer a sua missão universal. E é esta relação essencial da Cúria Romana com o exercício da atividade apostólica do Papa a justificação, mais ainda a glória da própria Curia, derivando desta mesma relação a sua necessidade, a sua utilidade, a sua dignidade e a sua autoridade; com efeito, a Cúria Romana é o instrumento de que o Papa precisa e do qual o Papa se serve para desempenhar o próprio mandato divino. Um instrumento digníssimo, ao qual – não deve surpreender ninguém – todos, e Nós mesmos em primeiro lugar, pedem tanto, exigem tanto! A sua função reclama competência e virtude sumas, porque sumo é precisamente o seu cargo. Função delicadíssima, que é a de ser guardiã ou eco das verdades divinas e de dirigir a palavra e dialogar com os espíritos humanos; função vastíssima, pois tem por confins o orbe inteiro; função nobilíssima, que é ouvir e interpretar a voz do Papa e, ao mesmo tempo, não lhe deixar faltar toda a informação útil e objetiva, todo o filial e ponderado conselho».
[11] Ep. ad Eulog. Alexandrin., epist. 30: PL 77, 933. Na verdade, a Cúria Romana «haure do Pastor da Igreja universal a própria existência e competência. Com efeito, ela vive e atua na medida em que estiver em relação com o ministério petrino e nele se basear» (João Paulo II, Const. ap. Pastor Bonus, Introd. n. 7; cf. art. 1).
[12] A história atesta que a Cúria Romana se encontra em estado de permanente «reforma», pelo menos nos últimos cem anos. «De facto, a reforma anunciada em 13 de abril de 2013 com o comunicado da Secretaria de Estado é já a quarta a começar da implementada por São Pio X com a constituição Sapienti Consilio, de 1908. Esta reforma tornava-se certamente urgente na perspetiva do novo ordenamento canónico, já em preparação; mas mostrava-se ainda mais necessária com o fim do poder temporal. Seguiu-se-lhe a reforma feita pelo Beato Paulo VI com a Regiminis Ecclesiae Universae (1967), depois da celebração do Concílio Vaticano II. O mesmo Papa previra um reexame do texto, à luz duma primeira experimentação. Em 1988, chega a constituição Pastor Bonus de São João Paulo II, que na estrutura geral seguia o esquema de Paulo VI, mas insere uma classificação diferente dos vários organismos e respetivas competências em sintonia com o CIC 1983. No meio destas etapas fundamentais, registam-se outras intervenções importantes. Bento XV, por exemplo, criou e inseriu entre as Congregações romanas a Congregação para os Seminários (até então uma Secção dentro da Congregação Consistorial) e as Universidades dos Estudos (1915) e outra para as Igrejas Orientais (1917: anteriormente, estava constituída como secção na S. Congregatio de Propaganda Fide). João Paulo II fez mudanças na organização da Cúria mesmo depois da Pastor Bonus e, em seguida, foram feitas intervenções significativas por Bento XVI: basta pensar na instituição do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (2010), a transferência das competências sobre os Seminários da Congregação para a Educação Católica para a Congregação para o Clero e da competência sobre a Catequese desta última para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (2013). A isto vieram juntar-se as outras intervenções de simplificação realizadas ao longo dos anos restando algumas válidas até ao dia de hoje, com a unificação de vários Dicastérios sob uma única presidência» [Marcello Semeraro, «La riforma di Papa Francesco» in Il Regno (Ano LXI, n. 1240 – 15 de julho de 2016), 433-441].
[13] Neste sentido Paulo VI, quando falava à Cúria Romana em 21 de setembro de 1963, disse: «É explicável que tal ordenamento sinta o peso da sua idade venerável, que se faça sentir a disparidade dos seus órgãos e da sua atividade relativamente às necessidades e usos dos novos tempos, que ao mesmo tempo se sinta a necessidade de simplificar e descentralizar e de se ampliar e habilitar para novas funções».
[14] Em 22 de fevereiro de 1975, por ocasião do Jubileu da Cúria Romana, disse Paulo VI: «Nós somos a Cúria Romana (...). Ora a nossa consciência, que desejamos bem clara não apenas na sua definição canónica, mas também no seu conteúdo moral e espiritual, impõe a cada um de nós um ato penitencial conforme à disciplina própria do Jubileu, ato que podemos chamar de autocrítica para verificarmos, no segredo dos nossos corações, se o nosso comportamento corresponde ao múnus que nos foi confiado. A este confronto interior estimula-nos, antes de mais nada, a coerência da nossa vida eclesial, e, depois, a análise que, a Igreja e a sociedade, fazem a nosso respeito, com exigência muitas vezes não objetiva e tanto mais severa quanto mais representativa é esta nossa posição, da qual devia irradiar sempre uma exemplaridade ideal. (...) Dois sentimentos espirituais darão, por isso, sentido e valor à nossa celebração jubilar: um sentimento de sincera humildade, isto é, de verdade acerca de nós mesmos, declarando-nos os primeiros a ter necessidade da misericórdia de Deus» [Insegnamenti di Paolo VI, vol. XIII (1975), 172-176].
[15] Neste sentido, a sucessão das gerações faz parte da vida; ai de nós, se pensarmos ou vivermos esquecidos desta verdade. Por conseguinte, a alternância das pessoas é normal, necessária e desejável.
[16] Durante o seu discurso à Cúria em 20 de dezembro de 2010, Bento XVI lembrou, inspirando-se numa visão de Santa Hildegarda de Bingen, que o próprio rosto da Igreja pode, infelizmente, estar «salpicado de pó» e «o seu vestido rasgado». Por isso – recordava eu, em idêntica ocasião de 2014 – a cura «é fruto também da consciencialização da doença e da decisão pessoal e comunitária de se curar suportando com paciência e perseverança o tratamento» (Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2014).
[17] Trata-se de entender a reforma como uma transformação, ou seja, uma mutação para diante, um melhoramento: mudar/modificar in melius.
[18] Cf. Francisco, Homilia, Domus Sanctae Marthae, 1 de dezembro de 2016.
[19] Francisco, Homilia por ocasião do Jubileu da Cúria Romana, 22 de fevereiro de 2016; cf. Idem, Discurso na inauguração dos trabalhos do Consistório, 12 de fevereiro de 2015.
[20] Paulo VI, Discurso à Cúria Romana, 21 de setembro de 1963.
[21] «A tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar (…). A comunidade dos cristãos, realmente, nunca é algo de fechado em si mesmo. Nela, a vida íntima – vida de oração, ouvir a Palavra e o ensino dos Apóstolos, caridade fraterna vivida e fração do pão – não adquire todo o seu sentido senão quando ela se torna testemunho, que provoca a admiração e a conversão e se desenvolve na pregação e no anúncio da Boa Nova. Assim, é a Igreja toda que recebe a missão de evangelizar e a atividade de cada um é importante para o todo» (Idem, Evangelii nuntiandi, 14-15). Como escrevi na Exortação apostólica Evangelii gaudium, «não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos», sendo necessário «passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária» (n. 15).
[22] É preciso não perder a tensão para o anúncio àqueles que estão longe de Cristo, porque isto é o primeiro dever da Igreja (cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Missio, 34).
[23] Francisco, Evangelii gaudium, 26. «Sonho com uma opção missionária (= missão paradigmática) capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial (= missão programática) se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à Auto preservação» (ibid., 27). Neste sentido, «o que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade», porque «a missão programática, como o nome indica, consiste na realização de atos de índole missionária. A missão paradigmática, por sua vez, implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas particulares» (Idem, Discurso aos Bispos responsáveis do CELAM, na 28ª JMJ do Rio de Janeiro, 28 de julho de 2013).
[24] Cf. Paulo VI, Regimini Ecclesiae Universae, art. 1-§ 2; João Paulo II, Pastor Bonus, art. 2-§ 2.
[25] «Hoje é de Roma que parte o convite à “atualização” (…), isto é, ao aperfeiçoamento de todas as coisas, internas e externas, da Igreja. A Roma papal hoje é outra completamente diferente e, por graça de Deus, muito mais digna, mais sábia e mais santa; muito mais consciente da sua vocação evangélica, muito mais comprometida na sua missão cristã, muito mais desejosa e, por isso, capaz de perene renovação» (Paulo VI, Discurso à Cúria Romana, 21 de setembro de 1963).
[26] Francisco, Motu Proprio Sedula Mater, 15 de agosto de 2016.
[27] Decr. Christus Dominus, 9.
[28] Entre as funções do Secretário de Estado, enquanto primeiro colaborador do Sumo Pontífice no exercício da sua missão suprema e executor das decisões que o Papa toma com a ajuda dos órgãos consultivos, deveria aparecer como primordial a reunião periódica e frequente com os Chefes de Dicastério. Em todo o caso, é uma necessidade primária a coordenação e a cooperação dos Dicastérios entre si e com os outros Departamentos.
[29] Cf. João Paulo II, Const. ap. Pastor Bonus, 22.
[30] Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta (cf. Francisco, Discurso na comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de 2015; Idem, Exort. ap. Evangelii gaudium, 171). Eis as etapas de auscultação para a Reforma da Cúria: 1) Recolha de pareceres no Verão de 2013: dos Chefes de Dicastério e outros; dos Cardeais do Conselho, de diferentes Bispos e Conferências Episcopais da área territorial de proveniência; 2) Reunião dos Chefes de Dicastério, em 10 de setembro de 2013 e 24 de novembro de 2014; 3) Consistório de 12-13 de fevereiro de 2015; 4) Carta do Conselho dos Cardeais aos Chefes de Dicastério, em 17 de setembro de 2014, para eventuais «descentralizações»; 5) Intervenções de diferentes Chefes de Dicastério nas reuniões do Conselho de Cardeais que lhes solicitara propostas e pareceres para a reforma do respetivo Dicastério (cf. Marcello Semeraro, «La riforma di Papa Francesco» in: Il Regno, pp. 433–441).
[31] Para aprofundar os passos dados, as razões e os objetivos do processo de reforma, recomenda-se como particular referência as três Cartas Apostólicas sob forma de Motu Proprio com que se interveio até hoje para a criação, a alteração e a supressão de alguns Dicastérios da Cúria Romana.
[32] Quanto ao ritmo do trabalho, este ocupa os membros do Conselho de manhã e de tarde, tendo-se realizado até hoje 93 reuniões.
[33] As sessões de trabalho do Conselho já ultrapassam as dezasseis (em média, uma de dois em dois meses), assim repartidas no tempo: I Sessão: 1-3 de outubro de 2013; II Sessão: 3-5 de dezembro de 2013; III Sessão: 17-19 fevereiro de 2014; IV Sessão: 28-30 de abril de 2014; V Sessão: 1-4 de julho de 2014; VI Sessão: 15-17 de setembro de 2014; VII Sessão: 9-11 de dezembro de 2014; VIII Sessão: 9-11 de fevereiro de 2015; IX Sessão 13-15 de março de 2015; X Sessão 8-10 de junho de 2015; XI Sessão 14-16 de setembro de 2015; XII Sessão: 10-12 de dezembro de 2015; XIII Sessão: 8-9 de fevereiro de 2016; XIV Sessão: 11-13 de abril de 2016; XV Sessão: 6-8 de junho de 2016; XVI Sessão: 12-14 de setembro de 2016; XVII Sessão: 12-14 de dezembro de 2016.
[34] Foi ereta em 18 de julho de 2013 (e suprimida em 22 de maio de 2014) para oferecer apoio técnico de consultoria especializada e elaborar soluções estratégicas de melhoramento, visando evitar gastos de recursos económicos, favorecer a transparência nos processo de aquisição de bens e serviços, aperfeiçoar a administração do património mobiliário e imobiliário, agir com prudência cada vez maior na área financeira, assegurar uma correta aplicação das normas contabilísticas e garantir assistência sanitária e previdência social a todos os que têm direito: «uma simplificação e racionalização dos Organismos existentes e uma programação mais cuidadosa das atividades económicas de todas as Administrações do Vaticano» (Quirógrafo de 18 de julho de 2013).
[35] Por exemplo, as Recomendações elaboradas pelo Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI). Hoje a atividade do IOR desenrola-se plenamente de acordo com a legislação vigente no Estado da Cidade do Vaticano em matéria de branqueamento de capitais e de combate ao financiamento do terrorismo.
[36] A AIF é o Departamento de prevenção e luta contra o branqueamento do produto de atividades criminosas e o financiamento do terrorismo (cf. Estatuto, cap I, art 1- § 1). Com a tarefa, entre outras coisas, de supervisionar o cumprimento das obrigações estabelecidas para prevenir e contrastar a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, emanar disposições de implementação e adotar instruções e provisões de caráter particular com os sujeitos subordinados às obrigações.
[37] A AIF foi instituída também para renovar o empenho da Santa Sé na adoção dos princípios e aplicação dos instrumentos jurídicos desenvolvidos pela Comunidade internacional, ajustando ainda mais o quadro institucional para efeitos de prevenção e combate da lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e proliferação de armas de destruição de massa.
[38] O Conselho tem o «dever de supervisionar a gestão económica e vigiar sobre as estruturas e as atividades administrativas e financeiras dos Dicastérios da Cúria Romana, das instituições relacionadas com a Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano» (Motu Proprio Fidelis dispensator et prudens, 1).
[39] O Departamento do Auditor Geral atua com plena autonomia e independência nos termos da legislação vigente e do seu próprio Estatuto, referindo diretamente ao Sumo Pontífice. Submete ao Conselho para a Economia um programa anual de auditoria bem como um relatório anual das suas atividades. Objetivo do programa de auditoria é individuar as mais importantes áreas gerenciais e organizacionais de potenciais riscos». O Departamento do Auditor Geral é a instituição que realiza a auditoria contabilística dos Dicastérios da Cúria Romana, das Instituições ligadas à Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano. A atividade do DAG visa fornecer pareceres profissionais e independentes a propósito da adequação dos procedimentos contabilísticos e administrativos (sistema de controlo interno) e a sua efetiva aplicação (compliance audit); bem como a credibilidade dos orçamentos dos diferentes Dicastérios e o Balanço consolidado (financial audit) e a regularidade da utilização dos recursos financeiros e materiais (value for money audit).
[40] «O contexto comunicativo atual, caraterizado pela presença e o desenvolvimento dos mídias digitais, pelos fatores da convergência e da interatividade, exige repensar o sistema informativo da Santa Sé e obriga a uma reorganização que, valorizando tudo o que se foi desenvolvendo ao longo da história no âmbito da estrutura da comunicação da Sé Apostólica, avance decididamente para uma integração e gestão unitária».
[41] Com o Motu Proprio de 31 de maio de 2016 (De concordia inter Codices), foram alteradas algumas normas do Código de Direito Canónico.
[42] «O Organismo será competente para as questões que dizem respeito a migrações, necessitados, doentes e excluídos, marginalizados, vítimas de conflitos armados e catástrofes naturais, reclusos, desempregados e pessoas cuja dignidade corre perigo».
[43] L’umanità di Dio, Qiqajon, Magnano 2015, 183-84.
Fonte: http://pt.radiovaticana.va
24 DE DEZEMBRO: Nascimento do Menino!
- Detalhes
No vídeo, homilia do Frei Petrônio de Miranda, Carmelita, na Igreja de Nossa Senhora Aparecida-Comunidade Capim- Lagoa da Canoa-AL, Diocese de Penedo, na noite Santa de Belém, 24 de dezembro. Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. 24 de dezembro-2016. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com
É NATAL!
- Detalhes
BOM DIA, BOA TARDE, BOA NOITE! Apesar das noites escuras de 2016 ainda é possível olhar para a Estrela de Belém. Feliz Natal! Abraço carinhoso.
VOCÊ ACREDITA? Milagre de 627 anos não se repete e prenuncia catástrofe para 2017
- Detalhes
Segundo a tradição católica, desastres acontecem quando o sangue de São Januário não se liquefaz em relíquia.
RIO — Muitos consideram que 2016 foi um ano ruim, mas 2017 se anuncia como um ano pior. Ao menos para os católicos que acreditam no milagre de São Januário. Desde 1389, o sangue seco do santo armazenado numa relíquia se liquefaz em três datas anuais, sendo uma delas o dia 16 de dezembro. Porém, na cerimônia da última sexta-feira, o milagre não aconteceu.
De acordo com a tradição, o fato de a liquefação não acontecer prenuncia um grande desastre. Foram poucas as vezes que isso aconteceu ao longo dos últimos 627 anos. Numa delas, em 1527, dezenas de milhares de pessoas morreram pela praga; em anos mais recentes, em 1939, começou a Segunda Guerra Mundial.
— Nós não devemos pensar em desastres e calamidades — afirmou o monsenhor Vincenzo De Gregorio, abade da Capela Real do Tesouro de São Januário em Nápoles, na Itália, ao jornal italiano “La Stampa”. — Nós somos homens de fé e devemos continuar rezando.
Anualmente, o milagre da liquefação acontece no sábado anterior ao primeiro domingo de maio, em homenagem à Virgem Maria; no dia 19 de setembro, dia de São Januário; e no dia 16 de setembro, em referência à erupção do Monte Vesúvio de 1631, que teria sido contido após uma estátua do santo ser exposta para o vulcão.
Segundo a tradição católica, São Januário foi bispo da arquidiocese de Benevento que se opôs à perseguição romana e acabou condenado à morte em 305 por decapitação. Seu corpo e sua cabeça foram recolhidos por um senhor de idade, e levados para um local seguro, onde uma mulher encheu um frasco com seu sangue, que seria o que está guardado até hoje na relíquia.
Fonte: http://oglobo.globo.com
Natal perene!
- Detalhes
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi, como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo: JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria, em Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador! Ele é Emanuel, Deus Conosco”. Este é o solene anúncio oficial do Natal, feito pela Igreja na primeira Missa da noite de Natal!
O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a ser um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance. Jesus é Deus entre nós, o “Emanuel – Deus conosco”, a face da misericórdia do Pai.
São Francisco de Assis inventou o presépio, a representação iconográfica do nascimento de Jesus, para que refletíssemos nas grandes lições desse maior acontecimento da história da humanidade, seu marco divisor, fonte de inspiração para pintores e místicos.
Que tal se fizéssemos um Natal contínuo, pensando mais no divino Salvador, na sua doutrina, no seu amor, nas virtudes que nos ensinou, unindo-nos mais a ele pela oração e encontro pessoal com ele, imitando o seu exemplo, praticando as obras de misericórdia, convivendo melhor com nossa família...
Desse modo a mensagem do Natal vai continuar durante todo o Ano Novo, que assim será abençoado e feliz. FELIZ NATAL E ABENÇOADO ANO NOVO!. Fonte: http://www.cnbb.org.br
“O clericalismo instrumentaliza a lei e tiraniza o povo”.
- Detalhes
O mal do clericalismo, presente nos tempos de Jesus e ainda hoje na Igreja, é uma “prepotência e tirania” para com o povo fiel de Deus por parte dos sumos sacerdotes que, esquecendo-se de Abraão e de Moisés, instrumentalizaram a lei criando uma lei “intelectualista, sofisticada e casuística”. Disse-o o Papa Francisco na homilia que fez no dia 13 de dezembro, durante a missa matutina na Capela da Residência Santa Marta. Francisco destacou também que “o pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos pastores”. A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 13-12-2016. A tradução é de André Langer. O povo humilde e pobre que tem fé no Senhor é a vítima dos “intelectuais da religião”, “os seduzidos pelo clericalismo”, que no Reino dos céus serão precedidos pelos pecadores arrependidos, disse o Pontífice argentino, segundo indicou a Rádio Vaticano.
Refletindo sobre o Evangelho do dia, no qual Jesus recordou qual era o papel destes últimos: “Eles tinham a autoridade jurídica, moral e religiosa”, “decidiam tudo”. Anás e Caifás, por exemplo, “julgaram Jesus”, eram os sacerdotes e os chefes que “decidiram matar Lázaro”, e Judas foi vê-los para “negociar” e assim “vendeu Jesus”. Um estado de “prepotência e tiraria para com o povo” ao qual chegaram, disse o Papa, instrumentalizando a lei: “Mas uma lei que eles refizeram inúmeras vezes: tantas vezes até chegar a 500 mandamentos. Tudo estava regulado, tudo! Uma lei cientificamente construída, porque essa gente era sábia, conhecia bem. Faziam todos estes matizes, não? Mas era uma lei sem memória: tinham se esquecido do primeiro mandamento, que Deus deu ao nosso pai Abraão: ‘Caminha na minha presença e seja irrepreensível’. Eles não caminhavam: sempre permaneceram nas próprias convicções. E não eram irrepreensíveis!” Eles, continuou o Papa, “tinham se esquecido dos Dez Mandamentos de Moisés”: “Com a lei feita por eles”, “intelectualista, sofisticada e casuística”, “anularam a lei feita pelo Senhor”; falta-lhes a memória “que conecta o hoje com a Revelação”.
Sua vítima, assim como foi Jesus, é o “povo humilde e pobre que confia no Senhor”, “aqueles que são descartados”, destacou o Papa, que conhece o arrependimento, embora não cumpra a lei, mas sofre estas injustiças. Sentem-se “condenados e abusados”, destacou Francisco, por quem é “vaidoso, orgulhoso, soberbo”.
E um “descarte dessas pessoas”, observou o Papa, também foi Judas: “Judas foi um traidor, pecou muito gravemente, eh? Pecou forte. Mas depois o Evangelho diz: “Arrependido, foi até eles para devolver as moedas”. E eles, o que fizeram? Mas você era o nosso sócio. Fica tranquilo… Nós temos o poder de perdoar tudo!’ Não! ‘Se vira. É um problema seu’. E o deixaram sozinho: descartado! O pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos pastores. Porque eles haviam esquecido o que é ser um pastor. Eram os intelectuais da religião, aqueles que tinham o poder, que levavam adiante as catequeses do povo com uma moral feita pela sua inteligência e não a partir da revelação de Deus”.
“Um povo humilde, descartado e machucado por essas pessoas”. Também hoje, observou Francisco, na Igreja essas coisas acontecem. “Existe este espírito de clericalismo”, disse o Papa: “Os clérigos se sentem superiores, afastam-se das pessoas”, “não têm tempo para escutar os pobres, os sofredores, os encarcerados, os doentes”. “O mal do clericalismo é uma coisa muito triste! É uma nova edição desta gente. E a vítima é a mesma: o povo pobre e humilde, que tem esperança no Senhor. O Pai sempre procurou se aproximar de nós: enviou o seu Filho. Estamos esperando, uma espera alegre e exultante. Mas o Filho não entrou no jogo desta gente: o Filho foi com os doentes, os pobres, os descartados, os publicanos, os pecadores (e é escandaloso isso…), as prostitutas. Também hoje Jesus diz a todos nós e também a quem está seduzido pelo clericalismo: ‘Os pecadores e as prostitutas precederão vocês no Reino dos Céus’”.
Na missa dessa manhã na capela da Residência Santa Marta participaram os nove cardeais que auxiliam o Papa na reforma da cúria e no governo da Igreja universal, o chamado C9. Eles estão reunidos na 17ª reunião, que começou na segunda-feira e termina hoje, quarta-feira, com o Pontífice. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Papa Francisco enfrenta ‘guerra civil’ na igreja católica
- Detalhes
A decisão do Papa Francisco de retomar a opção preferencial pelos pobres e dar uma guinada na conduta da Igreja Católica transformou os cardeais ultraconservadores da instituição em combatentes aguerridos do argentino. Herdeiro dos papados de João Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013), o jesuíta Francisco enfrenta a fúria da Cúria conservadora, contrária às suas reformas. A reportagem é de Mauro Lopes e Sérgio Kraselis, publicada por Calle2, 17-12-2016.
Nos corredores do Vaticano, altos funcionários chamam Francisco à boca pequena de “esse argentinozinho”. Se, num primeiro momento, o novo Papa enfrentou uma oposição silenciosa, hoje ela está escancarada. A batalha explodiu em setembro de 2016 com a carta divulgada por quatro cardeais, definida como verdadeira “guerra civil” pelo jornalista italiano Marco Politi, do jornal Il Fatto e um dos mais respeitados vaticanistas.
Francisco quer reformas e as reformas tendem a mexer nas estruturas. É óbvio que quem é favorecido pela estrutura não quer mudança', analisa Cesar Kuzma, um dos mais expressivos teólogos católicos brasileiros da nova geração.
Para guerrear contra Francisco, os conservadores escolheram as questões de fundo moral, aproveitando-se da onda reacionária que varre o planeta. A escalada começou em 2014, tomou impulso no segundo semestre de 2015 e agora está em seu momento-auge.
Dois momentos deste combate foram um livro lançado por cinco cardeais afirmando que o segundo casamento equivaleria a adultério, para a doutrina cristã, e um abaixo-assinado endereçado ao Papa com quase 800 mil assinaturas de católicos, entre eles 100 bispos, em defesa da família.
Para termos uma ideia do que Francisco enfrenta é preciso retroceder na história. Ao ser apresentado ao mundo, o novo Papa surgiu no balcão do Vaticano vestido de branco, sem ouro algum. Num gesto inédito, curvou-se diante da multidão que ocupava a Praça São Pedro e pediu que as pessoas rezassem por ele. Com isso, rompeu uma tradição secular que se construiu em torno da figura do Papa desde a Idade Média, abalada com João XXIII no Concílio Vaticano II, há 50 anos, e que foi reconstruída por seus dois antecessores. Um Papa humilde, sem ornamentos e vestes pomposas.
Com a chegada de Francisco, voltaram à tona ideais concebidos no Concílio Vaticano II, cujo ápice foi a Teologia da Libertação na América Latina, combatida ferozmente pelos conservadores da Cúria. O confronto atual chega a ponto de cardeais e teólogos conservadores armarem oposição cerrada a todas as ideias de atualização dos conceitos da Igreja em relação à família propostas por Francisco, chamando-as de “heréticas”. Numa entrevista, o cardeal norte-americano Raymond L. Burke, que tem buscado se apresentar como líder da oposição, afirmou que seu grupo poderá decretar “um ato formal de correção de um erro grave” contra o Papa, se ele não ceder às exigências. Francisco respondeu dizendo que as críticas “não são honestas” e foram feitas “com espírito mau para fomentar a divisão”.
A pressão dos conservadores não tem paralisado Francisco. No encerramento do Jubileu da Misericórdia (um Ano Santo proclamado por ele entre outubro de 2015 e novembro último), o Papa operou uma significativa mudança na posição da Igreja quanto ao aborto, extinguindo a pena de excomunhão às mulheres que o realizam e permitindo que os padres concedam o perdão a este pecado.
O foco dos conservadores nas questões de fundo “moral” permanece, apesar da enorme fragilidade do discurso da Cúria e de dezenas de bispos e cardeais que nos últimos anos acobertaram os milhares de casos de abusos sexuais cometidos por religiosos contra crianças e jovens ao redor do planeta.
Um dos líderes do bloco conservador, o cardeal George Pell, prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, é alvo de um processo no qual é pesadamente acusado de encobrir casos de pedofilia na Austrália durante os anos 1970 e 1980 e, mais recentemente, de ele próprio estar envolvido em casos de abusos.
Há outros dois temas em disputa neste momento: a liturgia, especialmente o rito da missa, e a relação da Igreja com o planeta, a sociedade, os seres humanos e muito particularmente com os pobres.
Os conservadores defendem a restauração do rito tridentino da missa – onde havia um único celebrante que rezava de costas para as pessoas, em latim, pois a missa era “do padre”. Pode parecer incrível, mas os conservadores querem mesmo que este “modelo” de ritual seja restaurado. O Papa tem reduzido o espaço do arquiconservador cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino.
A questão da relação da Igreja com o mundo, a humanidade e especialmente os pobres é o terceiro polo da disputa. Os pobres são o centro da Igreja, tem anunciado Franciscodesde os primeiros dias de seu Papado. Ele promoveu três edições do Encontro Mundial dos Movimentos Populares (no Vaticano, em 2014 e em 2016, e na Bolívia, em 2015) e tem criticado de maneira cada vez intensa o capitalismo. No encerramento da terceira edição de encontro, em 5 de novembro, ele disse que o mundo está dividido entre “um projeto-ponte dos povos contra o projeto-muro do dinheiro” e defendeu “a destinação universal dos bens”, além de denunciar a “internacional do dinheiro”.
Em 27 de novembro, Francisco avançou no tema dos pobres para dentro da Igreja ao questionar 800 gestores financeiros participantes do Simpósio sobre Economia da Congregação, em Roma: “A hipocrisia dos consagrados que vivem como ricos fere a consciência dos fiéis e prejudica a Igreja”. Francisco alertou que a gestão destas organizações (e de toda a Igreja) deve “escutar o sussurro de Deus e o grito dos pobres, dos pobres de sempre e dos novos pobres”. Os conservadores têm urticária quando escutam ou leem essas palavras do Papa e acusam-no (por enquanto nos bastidores) de “ressuscitar a Teologia da Libertação”.
O equilíbrio de forças no interior da Igreja, fortemente impactado pela onda conservadora dos últimos 35 anos, parece manter Francisco em relativo isolamento na cúpula católica. Num discurso sem precedentes diante da Cúria romana em um tradicional encontro de Natal, em 22 de dezembro de 2014, ele investiu frontalmente contra o espírito da hierarquia diante de cardeais e bispos entre constrangidos e indignados. Nele, apontou o que chamou de “as 15 enfermidades” da Cúria, entre elas a de “perder a capacidade de chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram. É a enfermidade dos que perdem os ‘sentimentos de Jesus’, porque o seu coração, com o passar do tempo, endurece-se e torna-se incapaz de amar incondicionalmente o Pai e o próximo”.
De lá para cá, alguma água passou por debaixo da ponte e, segundo seus aliados e alguns vaticanistas, Francisco está, aos poucos, modificando o perfil da Igreja. É o que diz dom Cláudio Hummes, o cardeal brasileiro que se tornou conhecido mundialmente pelo fato de, estando ao lado do Papa no exato momento de sua eleição, cumprimentá-lo sussurrando em seu ouvido uma frase que inspirou Bergoglio a escolher o nome de Francisco: “Não se esqueça dos pobres”.
Hummes assegura que a imensa maioria dos cardeais está ao lado do Papa: “Sem querer relativizar este fato, são quatro cardeais. E na Igreja somos mais de 200. Sem querer relativizar demasiadamente, são quatro de um grupo enorme que está dando todo o seu apoio ao Papa”.
Francisco tem atacado com contundência o clericalismo (a doutrina que estrutura e organiza em boa medida o pensamento conservador na Igreja) e seguidamente compara os clérigos católicos (padres, bispos e cardeais) e leigos poderosos nas estruturas eclesiais aos chefes religiosos que perseguiram Jesus até sua morte.
O combate ao clericalismo está na origem do atual papado: foi o centro do discurso do então cardeal Bergoglio no colégio de cardeais reunidos para a sucessão de Bento XVI, em 7 de março de 2013, seis dias antes de ser escolhido, e é considerado decisivo para sua eleição. A contundência de Francisco é resultante de um mandato que recebeu de seus eleitores, o que tornam arriscadas quaisquer previsões sobre o equilíbrio de poder na Igreja.
Os movimentos no tabuleiro da Igreja estão sendo pensados de olho no próximo Papa, pois Francisco, aos 80 anos, não terá tempo para concluir suas reformas. Ele sabe disso e está redesenhando o colégio eleitoral do próximo Papa com frieza e tirocínio típicos dos jesuítas. Para o teólogo brasileiro César Kuzma, Francisco “não joga no escuro e nem mesmo faz apostas para ver onde vai dar, ao contrário, ele sabe o que quer e sabe o que deve buscar. Ele também sabe que não terá um Pontificado longo e que não terá como resolver e mudar tudo.”
Por isso, ao nomear 13 cardeais com direito a voto (menos de 80 anos de idade) em 19 de novembro, ele é responsável por 1/3 do total de indicações do colégio de cardeais com direito a voto neste momento (44 de um total de 121). Em três rodadas de nomeações desde 2013, o Papa já conseguiu um feito memorável na história da Igreja: acabou com a maioria europeia. São agora 54 cardeais do Velho Continente contra 67 do resto do mundo. Espera-se mais uma ou duas rodadas de nomeações à frente. Com isso, o cálculo e a esperança dos conservadores para o próximo Papa pode estar em risco, o que explica a radicalização da luta no interior da Igreja nas últimas semanas, com este caráter de “guerra civil”.
A batalha no Brasil
A nomeação em massa de bispos conservadores por João Paulo II e Bento XVImodificou profundamente o perfil da Igreja no país. Se, mesmo nos anos 1970-80, quando a Igreja era protagonista das causas populares no país, a hierarquia apresentava-se dividida, na virada do século os conservadores passaram à ofensiva.
Hoje, dois dos expoentes do conservadorismo são os arcebispos de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, exatamente o candidato que procurou contrapor-se a Bergoglio, e o do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta.
Ambos lideraram a visita de uma comitiva de bispos a Michel Temer em 10 de novembro a pretexto de uma audiência sobre a Rede Vida (emissora de TV católica) mas que se tornou um ato de apoio à PEC do teto dos gastos e de bênção ao governo, exatamente no dia da primeira votação da proposta que congelou os gastos sociais no país.
O Rio tornou-se uma espécie de quartel-general do segmento mais radicalizado da direita eclesial, que se expressou com virulência durante o segundo turno da eleição municipal na capital do Estado. Padres e membros da Cúria chegaram a ameaçar de “excomunhão” os católicos que faziam campanha por Marcelo Freixo, do PSOL.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se manteve calada desde 2013, evitando confrontos com os conservadores, começou a se mover na direção de Francisco nos últimos meses: divulgou notas duras contra a PEC que corta os gastos sociais e a reforma do ensino médio. Seu presidente, dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, foi nomeado cardeal pelo Papa em 19 de novembro.
Segundo o bispo belga dom André De Witte, vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra, a hierarquia no Brasil está “silenciosa, mas não afastada” em relação ao Papa, que apoia as pastorais sociais e movimentos de base. O bispo belga, no Brasil há 40 anos, afirma que há de fato um novo modelo na administração da Igreja, uma mudança de paradigma que apenas a Teologia da Libertação tinha ousado antes de Francisco, porque implica que os líderes eclesiásticos (dos padres aos bispos, cardeais e até o Papa) abram mão de seus poderes e assumam uma relação direta com os católicos e católicas. Os cristãos católicos no Brasil e no mundo finalmente são convidados pela Igreja, no Papado de Francisco, a ingressarem na idade adulta.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
FREI REINALDO PARAÍSO: Ordenação.
- Detalhes
Deus se fez pequeno e próximo
- Detalhes
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta, RS
O anúncio do nascimento de Jesus, que os pastores recebem, revela a grandeza e, ao mesmo tempo, a simplicidade do maior acontecimento da história, que devem encontrar a partir de um “sinal” (cf. Lc 2,11): “Encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura.” (Lc 2,12). Todo o esplendor do Natal se resume no fato que Deus se fez pequeno e próximo. Naquele tempo, como hoje, passa quase despercebido aos olhos humanos e segundo a lógica das notícias relevantes. “E não havia lugar para eles na sala” (Lc2,7). Perdidos entre tantas ocupações e preocupações “veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Haverá lugar para uma manjedoura, com uma pequena imagem do Menino Jesus, nos ambientes e vidas saturadas pelo Papai Noel?
Fez-se pequeno. “A Palavra eterna fez-se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós” (Bento XVI). Este menino tão normal e frágil é o Emanuel, o Deus-conosco. O anúncio aos pastores diz: “nasceu-vos hoje o Salvador, que é o Messias, o Senhor.” (Lc 2,11). Ninguém o teria imaginado assim. Fugiu a todas as expectativas da chegada do Messias. Foi prometido por Deus, anunciado pelos profetas e esperado com ânsia por todos, sobretudo por Maria, sua Mãe. Tão pequeno, tão frágil, totalmente sujeito aos cuidados de Maria e José. Como haverá de apresentar-se ao mundo como Messias? Desde seu nascimento aprendemos que a onipotência de Deus se manifesta na sua misericórdia. Deus assume um rosto humano. Ele pode ser visto, ser tocado. Comunica-se conosco com palavras humanas. Sem deixar de ser Deus, faz-se um de nós e vive como nós. Prova a alegria e o sofrimento. Isto tudo porque Deus é unicamente movido pelo amor, qual Bom Pastor que se inclina sobre a humanidade ferida. Então, não cremos num Deus distante e indiferente, nem somente em belas teorias, mas no “Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Sua vida e seu jeito de ser é o evangelho para a humanidade, que fixa o olhar nele para buscar sentido para viver. São Paulo dirá que “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens.” (Fl 2, 6). O Natal nos ajude a nos esvaziarmos de nossas pretensões de grandeza e poder. Esvazie o orgulho que incha, fere e afasta. Esvazie nossa ânsia de “consumistas desenfreados” (Papa Francisco). Ao contemplar o nascimento de Jesus, dizia Santa Terezinha: “Não posso temer um Deus que se fez tão pequeno por mim. [...] Eu o amo!”
Trouxe alegria. O anúncio do Natal é uma “notícia de grande alegria” (Lc 2,10). E o motivo é único: “A luz verdadeira, aquela que ilumina todo o homem, estava chegando ao mundo” (Jo 1,9). A noite fica iluminada. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam na região tenebrosa resplandeceu uma luz” (Is 9,1). Jesus Cristo será sempre a razão da alegria para todo o ser humano. Ele é o grande presente do Natal. Não é uma alegria que se confunde com bem-estar ou com a fruição de um banquete festivo. “Hoje, amados filhos de Deus, nasceu nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade” (São Leão Magno).
Contemplemos, neste Natal, o mistério do Deus Menino, que se faz pequeno e nos traz alegria. Festejemos e alegremo-nos, pois “o sol nascente nos veio visitar” (Lc 1, 78). Feliz e abençoado Natal a todos diocesanos e vossas famílias.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
Seminários e Igrejas: para além do modelo tridentino?
- Detalhes
"Exigências até mesmo excessivas se não encontrassem luminosa confirmação na vida concreta dos padres que marcaram e continuam marcando a vida cristã de muitos". O comentário é do padre italiano Lorenzo Prezzi, publicado por Settimana News, 14-12-2016. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O dom da vocação presbiteral: é esse o título da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis que a Congregação para o clero publicou em 8 de dezembro de 2016. É um texto de 92 páginas cujo conteúdo (o dom do sacerdócio) torna-se mais evidente quando vemos, por exemplo, a beatificação acontecida em 11 de dezembro em Vientiane (Laos) de um jovem missionário (Mario Borzaga) ou o reconhecimento das virtudes heroicas (2 de dezembro) do Padre Mario Ciceri, generoso sacerdote milanês (1900-1945). Fica mais fácil entender o teor do “dom” também quando lemos o comovente e dramático testemunho de um padre idoso na Irlanda atual (Padre Brendan Hoban).
Luzes e sombras do documento
A vivência fala mais do que os documentos, mas os textos não devem ser subestimados, pois direcionam ao longo do tempo a formação. A ratio anterior é de 1970, parcialmente modificada em 1985. É possível prever que a atual deva permanecer como referência por algumas décadas. A impressão geral é de um documento em parte atual, e em parte orientado ao passado. Está atualizado com algumas anotações importantes relativas à propedêutica, o primeiro momento de formação das vocações seminarísticas, como também à atenção aos meios de comunicação e ao seu contexto de desempenho, ou ao delicado tema da avaliação psicológica e à prevenção de abusos, ou ao recorrente e louvável chamamento à maturidade humana como atenção contínua no processo de formação, ou ainda à formação espiritual e intelectual.
Contudo, ainda é o seminário pós-tridentino que serve de referência; o deslocamento dos números a novas Igrejas não causa novidades relevantes; a relação entre seminaristas e o presbitério local é mais anunciado que desenvolvido; os protagonistas permanecem sendo os formadores, não os indivíduos nem a comunidade; cala-se a respeito do clero uxorado da tradição oriental (mesmo que o texto não seja direcionado a eles) e nada se fala sobre a longa questão dos “viri probati”. Mesmo num contexto mundial de crescimento do clero (406 mil em 2005, 415 mil em 2014) e dos seminaristas (114 mil em 2005 e 116 mil em 2014) existem áreas em grande recuo (Europa e América do Norte) e outras (Ásia e América Latina) praticamente estagnadas. Mesmo considerando o contexto de um crescimento global da população católica.
“A ideia básica é que os seminários podem formar discípulos missionários ‘apaixonados’ pelo Mestre, pastores ‘com o cheiro das ovelhas’ que vivam no meio delas para servi-las e levar-lhes a misericórdia de Deus. Para isso é necessário que cada sacerdote sinta-se sempre um discípulo seguindo um caminho, sempre necessitado de uma formação integral, entendida como contínua configuração com Cristo” (introdução).
As etapas da formação
A formação inicial comporta quatro etapas: propedêutica, discipular (estudos filosóficos), configuradora (estudos teológicos) e síntese vocacional (pastoral). Um percurso que se desenvolve ao longo de 7-8 anos, para cuja definição participam em menor escala as Conferências episcopais e os seminários individuais. Mesmo confirmando os seminários menores ou formas similares (comunidades de acolhimento, grupos vocacionais, etc.), presta-se atenção também às vocações adultas (direcionando uma atenção especial aos “convertidos”), aos indígenas e aos migrantes.
Entre os fundamentos da formação, a referência à identidade presbiteral em conexão com o batismo, como configuração com Cristo. “O progressivo crescimento interior no caminho de formação deve orientar principalmente a transformar o futuro presbítero num homem de discernimento’” (n.43), seja sobre si mesmo como sobre os outros. Acompanhados nisso tanto pelos formadores como pela comunidade.
A etapa propedêutica visa a uma maior consciência de si mesmo e da Igreja (Catequese da Igreja católica), mesmo em ralação ao ponto de partida (paróquia, associação, movimento ou outro); aquela discipular (estudos filosóficos) induz a um trabalho sistemático sobre a personalidade, sobre o caráter na relação profunda com Jesus.
Aqui é previsto um acompanhamento específico psicológico e espiritual. O momento dos estudos teológicos (etapa configuradora) persegue a formação espiritual própria do presbítero, a progressiva configuração com o Cristo e uma supervisionada integração entre maturidade humana e espiritual, entre oração e teologia. Após a ordenação diaconal abre-se a quarta e última fase, aquela pastoral, com percursos que podem se desenvolver mesmo fora do seminário.
Para a formação permanente insiste-se sobre a fraternidade presbiteral, sobre o acompanhamento dos jovens padres (que não devem ser expostos a situações perigosas e delicadas), sobre a verificação de sua própria atuação (fraquezas, confrontos culturais, rotinas, celibato, etc.). O encontro com amigos, a direção espiritual, os exercícios, o refeitório, as associações sacerdotais podem resultar importantes. A vida em comum no clero diocesano é estruturada ao redor da oração, da Palavra, da troca e do confronto.
“A vida comum objetiva também sustentar o equilíbrio afetivo e espiritual daqueles que nela participam e promover a comunhão com o bispo. Será necessário cuidar que tais formas permaneçam abertas para todo o presbitério e para as necessidades pastorais da diocese” (n. 88e).
Formação integral
Muito se insiste no conceito de formação integral, denunciando o perigo de “uma mera adesão, exterior e formal, às exigências educacionais” (n. 92). Volta a insistência “numa reta e harmônica espiritualidade (em uma) bem estruturada humanidade” (n. 93), incluindo aqui a relação com a família e as mulheres. A dimensão espiritual é posta sob o signo do Espírito e da Palavra. O sacramento (eucaristia e penitência) introduz à consideração dos “votos”. “Seria gravemente imprudente admitir ao sacramento da ordem um seminarista que não tenha amadurecido uma serena e livre afetividade, fiel à castidade celibatária” (n.110). Sem uma sólida competência filosófica e teológica e uma preparação cultural geral, não se enfrentam os desafios do ministério. O estilo pastoral é aquele caracterizado por um “sereno acolhimento e acompanhamento vigilante de todas as situações, mesmo as mais complexas, mostrando a beleza e as exigências da verdade evangélica, sem desviar para obsessões legalistas e intransigentes” (n.120).
Ao papel central do bispo e dos formadores alia-se um aceno ao presbitério, à família, aos consagrados, aos especialistas e aos próprios seminaristas. Dos muitos números dedicados à organização dos estudos, limito-se a sinalizar a relevância concedida à teologia pastoral, à doutrina social e ao ecumenismo.
A última parte do documento é dedicada aos critérios e às normas para a admissão e abandono do seminário. Com uma primeira ênfase sobre a verificação cuidadosa dos seminaristas provenientes de outros seminários e institutos e a confirmação da recusa de aceitar homossexuais com tendências profundamente radicadas ou adesão à “cultura gay” (nn. 198-199). “Máxima atenção deverá ser prestada ao tema da tutela dos menores e dos adultos vulneráveis” (n. 202).
A manutenção do modelo do seminário tridentino reflete sua extraordinária força espiritual e inteligência, mas também a dificuldade para superá-lo e adaptá-lo a tempos e culturas tão diversas. É difícil ver a continuidade entre a reiterada e sincera ênfase dada à comunidade do seminário com a substancial individualidade do exercício do ministério, assim como permanece ainda a ser escrita a novidade do “corpo presbiteral” ao redor do bispo (Vaticano II) sem deslocar o centro da formação inicial àquela permanente. Se o fruto do Concílio de Trento em relação ao ministério foi o seminário, hoje é o presbitério ao redor ao bispo local que passa a sinalizar a nova consciência eclesial. O temor de estruturas menores (n. 188) e de investimentos mais essenciais no pessoal educativo perpassam todo o documento. Assim como, de um ponto de vista do caminho de estudos, não se percebe em ato a reconhecida prioridade da Escritura. O sistema geral privilegia a dogmática e a filosofia sobre o restante.
Nenhum relevo especial é reconhecido aos movimentos eclesiásticos, inclusive os neocatecumenais que contam com 103 seminários (com 2000 padres e 220 seminaristas). Sugere-se aos seminaristas provenientes de suas fileiras “desenvolver ligações mais profundas com a realidade diocesana” (n.60) e aprecia-se o papel da alimentação espiritual desempenhado pelos padres na pastoral (n. 88f). Considerada arquivada a tensão diocesanos-movimentos, até mesmo a ambígua referência à liturgia não preocupa os redatores, que contudo ressaltam: “Os seminaristas precisam aprender o núcleo substancial e imutável da liturgia e também tudo que pertence a sedimentações específicas históricas e é portanto suscetível a atualizações, observando sempre diligentemente a legislação litúrgica e canônica em matéria” (n.167).
E onde há carência de padres?
Com regularidade a atenção é redirecionada à família, seja de origem, seja como instituto da vida cristã. Com uma ênfase à mulher. A familiaridade “com a realidade feminina, tão presente nas paróquias e em muitos contextos eclesiais, resulta conveniente e essencial à formação humana e espiritual do seminarista e deve ser sempre entendida em sentido positivo” (n. 95). Mesmo a vida consagrada tem o seu papel, mas é citada mais especificamente no tema dos carismas, e bem menos naquele dos “votos” e da vida comunitária.
O celibato é amplamente evocado: “Como sinal desse comprometimento total com Deus e com o próximo, a Igreja latina considera a continência perfeita do celibato para o reino dos céus especialmente conveniente para o sacerdócio” (n. 110). Não sendo aplicável às Igrejas orientais católicas, a ratio pode ignorar o tema do clero uxorado, mesmo que os padres do rito oriental casados já tenham se difundido na diáspora. Da mesma forma pode silenciar-se sobre a tão debatida questão dos “viri probati”, ou seja, da ordenação para homens adultos e casados. A prática e a urgência pastoral de algumas Igrejas do Ocidente e não apenas, sugeririam ao menos a percepção do problema. Em um texto de A. Borras (Quand les prêtes viennent à manquer, Mediaspaul, Paris, 2016) percebe-se o estado de “precariedade absoluta” de clero em algumas Igrejas, não solucionável nem com a “imigração” de clero estrangeiro, nem com a utilização “imprópria” de diáconos permanentes. Nesse caso, “sem recolocar em causa a disciplina comum à Igreja latina, poder-se-ia, contudo, prever algumas dispensas a essa regra não em nome do bem dos indivíduos interessados, mas naquele das comunidades em aguardo de padres”. Em todo caso, isso teria certamente reflexo no tema dos seminários.
É ressaltada com bastante ênfase a pregação do papa Francisco, principalmente em alguns temas como o relativo às tentações e às virtudes do presbítero. Entre as primeiras pode-se mencionar o clericalismo, o exercício indevido de poder, a orientação de funcionários do sacro, a rotina e a mundanidade espiritual. Para as segundas, no n. 115, são citadas: a fidelidade, a coerência, a sabedoria, o acolhimento a todos, a bondade afável, a autorizada firmeza, o desprendimento, o empenho, a confiança na graça. Exigências até mesmo excessivas se não encontrassem luminosa confirmação na vida concreta dos padres que marcaram e continuam marcando a vida cristã de muitos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Audiência: Natal é abrir o coração à esperança
- Detalhes
Quarta-feira, 14 de dezembro, na audiência geral o Papa Francisco propôs mais uma catequese sobre a esperança cristã.
O Santo Padre recordou o profeta Isaías que nos convida a abrirmo-nos à esperança, acolhendo a Boa-Nova da salvação que está a chegar. No fim do exílio na Babilônia, é a possibilidade de Israel reencontrar Deus. O Senhor aproxima-se – assinalou o Papa – e aquele «pequeno resto» que atravessou a crise e que continuou a crer e a esperar poderá ver as maravilhas do Senhor.
O pequeno resto a que se refere Francisco é o pequeno povo que ficou depois do exílio, aquele resto que “no exílio resistiu na fé, que atravessou a crise e continuou a crer e a esperar mesmo no meio da escuridão”.
O Papa na sua catequese sublinhou algumas das palavras do canto de Isaías no capítulo 52:
«O Senhor mostra a força do seu braço poderoso (…) e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus». «Diz a Sião: “O rei é o teu Deus!”». Estas palavras mostram a fé num Deus que Se inclina misericordiosamente sobre o homem, para o libertar de tudo o que desfigura nele a imagem de Deus – observou o Santo Padre.
E a plenitude de tanto amor é precisamente o Reino instaurado por Jesus, aquele Reino de perdão e paz que chega no Natal e se realiza definitivamente na Páscoa – declarou.
Os motivos da nossa esperança são estes – disse Francisco – “quando tudo parece perdido, quando, à vista de tantas realidades negativas, torna-se difícil acreditar e vem a tentação de dizer que já nada tem sentido, faz-se ouvir a Boa Nova: Deus está a chegar, para realizar algo de novo, instaurar um Reino de paz, vem trazer liberdade e consolação. O mal não triunfará para sempre, acabará a tribulação”.
Somos chamados a ser homens e mulheres de esperança, que proclamam a vinda deste Reino feito de luz e destinado a todos. “Esta mensagem é urgente!” – lembrou o Papa dizendo que devemos também correr, como o mensageiro sobre os montes de que fala o profeta, porque o mundo não pode esperar, a humanidade tem fome e sede de justiça e de paz.
E a promessa cumpre-se no Menino de Belém, uma criança que nasce “necessitada de tudo” colocada “numa manjedoura”: ali está todo poder do Deus que salva. “É preciso abrir o coração – o Natal é o dia para abrir o coração!” – declarou o Santo Padre.
O Papa afirmou que no Natal é preciso abrir o coração a toda a “pequenez” que está ali naquele Menino. Um Natal que devemos preparar “com esperança neste tempo de Advento”. “É a surpresa de um Deus Menino, de um Deus pobre, de um Deus débil, de um Deus que abandona a sua grandeza para se fazer próximo de cada um de nós” – disse Francisco no final da sua catequese.
Nas saudações destaque para aquela dedicada aos peregrinos de língua portuguesa na qual o Papa fez votos de um “Santo Natal de Jesus, vivido com a mesma fé humilde e obediente de Maria e José”. O Santo Padre pediu para vermos na força do Menino Jesus “a vitória final sobre os poderes arrogantes da terra”.
O Papa Francisco a todos deu a sua benção! http://pt.radiovaticana.va
Missa para os 80 anos. Papa: minha velhice seja alegre e fecunda
- Detalhes
Uma velhice fecunda e feliz: é a oração que pede Francisco no dia em que completa 80 anos (17/12). E o Papa comemorou com uma missa concelebrada com os cardeais na Capela Paulina, no Vaticano.
Na homilia, inspirando-se na liturgia do dia, o Papa Francisco pediu a graça da memória. No percurso do Advento, em que a vigilante espera se transforma mais intensa, a liturgia nos faz parar um pouco para ler a origem de Jesus. Fazer memória, olhar para trás para poder prosseguir melhor avante. “Este é o significado da liturgia de hoje: a graça da memória, pedir esta graça. Não esquecer. É próprio do amor não esquecer, ter sob os olhos o bem que recebemos. É próprio do amor olhar para a história: de onde viemos, os nossos pais, os nossos antepassados. O caminho da fé. E esta memória nos faz bem, porque torna mais intensa esta vigilante espera pelo Natal.”
Os pilares da memória cristã
Assim é o caminho para o cristão, explicou o Papa: “Nos fizeram uma promessa, uma promessa que será plena no final, mas se consolida com cada aliança que nós fazemos com o Senhor, aliança de fidelidade, e nos faz ver que não somos nós quem elegemos, nos faz entender que todos nós fomos eleitos. A eleição, a promessa e a aliança são como os pilares da memória cristã.”
Francisco prossegue dizendo que quando ouvimos este trecho do Evangelho, há uma história de grande graça, mas também de pecado. “No caminho, sempre encontramos graça e pecado. Na história de salvação, tem grandes pecadores na lista. E há santos. Nós na própria vida encontraremos o mesmo. Momentos de grande fidelidade ao Senhor, de alegria no serviço e alguns momentos ruins de infidelidade, de pecado, que nos faz sentir a necessidade de salvação. E esta é também a nossa segurança. Porque quando precisamos de salvação, confessamos a fé.”
O Senhor não desilude
Ao parar e olhar para trás, acrescentou o Papa, vemos que o caminho foi belo, que o Senhor não nos desiludiu, que o Senhor é fiel. Vemos também que seja na história, seja na nossa vida, houve momentos de fidelidade e momentos tristes de pecado. “Mas o Senhor, com a mão estendida para nos levantar, vai avante e esta é a vida cristã.”
“Que este caminho jamais nos tire a graça da memória, de olhar para trás e ver tudo aquilo que o Senhor fez por nós e pela Igreja”, pediu por fim o Pontífice. Assim entenderemos porque hoje a Igreja nos faz ler este trecho, que pode parecer “tedioso”, a história de um Deus que quis caminhar com o seu povo e fazer-se, no final, um de nós.
“Que o Senhor nos ajude a retomar esta graça da memória. ‘Mas é difícil, é tedioso, houve tantos problemas......’ Mas a história da Carta aos Hebreus tem uma frase belíssima para as nossas lamentações: fique tranquilo, você ainda não chegou a dar o sangue. Um pouco de humorismo também daquele autor inspirado para nos ajudar a ir avante. Que o Senhor nos dê esta graça.”
Velhice
No final, o Papa agradeceu a presença dos cardeais no dia de seu aniversário e fez uma reflexão sobre a velhice:
“Há alguns dias, me vem à cabeça uma palavra que parece feia: velhice. Assusta. Mas lembro do que disse a vocês em 15 de março, no nosso primeiro encontro. A velhice é sede de sabedoria, esperamos que também para mim seja assim. Também penso em como chegou tão depressa, e penso no poema de Plínio: passo silencioso, e a velhice chega de uma só vez. Mas se pensar como uma etapa da vida para ter alegria, sabedoria e esperança, alguém começa a viver. E penso em outro poema que disse a vocês naquele dia: a velhice é tranquila e religiosa. Rezem para que a minha seja assim: tranquila, religiosa e fecunda e também alegre. Obrigado.” Fonte: http://pt.radiovaticana.va
4º DOMINGO DO ADVENTO: Maria e José.
- Detalhes
Pág. 308 de 664