Quem é o padre que acompanhou Bolsonaro na viagem para Londres
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Padre Paulo Antônio de Araújo compõe a comitiva presidencial ao lado do pastor evangélico Silas Malafaia
Além do pastor Silas Malafaia, o padre Paulo Antônio de Araújo acompanha o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Reino Unido, para as cerimônias alusivas ao funeral da rainha Elizabeth II. Registros com o padre foram feitos pelo mandatário e pelo filho Eduardo Bolsonaro, que não especificaram o papel dos religiosos na agenda oficial.
De perfil discreto, o padre Paulo Antônio de Araújo não possui perfil nas redes sociais, diferentemente de Malafaia, que é bastante atuante no ambiente virtual.
Araújo integra a congregação católica Servos da Eucaristia, organização conservadora criada em 1979 na cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Paranaense de 63 anos, ele ordenou-se na Igreja Católica em 1985.
A relação oficial de integrantes da comitiva ainda não foi divulgada pelo Palácio do Planalto ou pelo Itamaraty.
Também acompanham a comitiva presidencial a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e os filhos do presidente Flávio e Eduardo, além do chefe da assessoria internacional do Palácio do Planalto, Filipe Martins, e do ex-secretário de Comunicação do governo federal Fábio Wajngarten.
O maquiador e amigo da primeira-dama Agustin Fernandez publicou registros ao lado de Michelle em Londres, mas não especificou se viajou no avião presidencial. Ele é frequentemente visto com ela em agendas. Fonte: https://www.metropoles.com
Marina Silva: ‘Sou cristã e nunca instrumentalizei a fé nem as igrejas’
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Por Pedro Venceslau
Oito anos depois de apoiar Aécio Neves (PSDB) no 2° turno da campanha presidencial de 2014, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que disputa uma vaga de deputada federal em São Paulo pela Rede Sustentabilidade, anunciou, em tom solene, na segunda-feira passada, que se engajaria na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Marina já fazia campanha colada em Fernando Haddad (PT), candidato ao governo do Estado. A ideia é ajudar a reduzir o antipetismo enraizado em parte da classe média, especialmente no interior, e também entre evangélicos.
Nessa entrevista ao Estadão, concedida por telefone em São Carlos, onde cumpria agenda ao lado de Haddad, Marina disse que relevou os ataques do PT e que as pesquisas mostram que o eleitorado de Lula hoje é muito maior que a esquerda ou direita.
Em 2014, a sra. foi muito atacada pela campanha da presidente Dilma e o PT, e apoiou Aécio Neves no 2° turno. A sra. relevou?
O tema relevar é o gesto que aconteceu na segunda-feira após uma conversa de duas horas em caráter individual. Após essa conversa houve um compromisso público e transparente em cima de um documento que está sendo reconhecido no mundo inteiro como uma agenda estratégica para tirar o Brasil da condição de pária ambiental. Colocar o Brasil no caminho de assinar o acordo com o Mercosul. Isso é olhar de baixo pra cima para ver o que está acima de nós. É isso que importa. Quando a banalização do mal ameaça o tecido social, homens e mulheres precisam defender a democracia e depois tratar de suas diferenças. Existem coisas que estão acima de nós. Acima de mim está a democracia, a proteção da Amazônia e a pobreza.
Como a sra., que é evangélica, explica a resistência dos evangélicos ao ex-presidente Lula e apoio ao presidente Jair Bolsonaro? Algumas lideranças apoiaram a sra. no passado.
Silas Malafaia já esteve com o presidente Lula e com José Serra. Comigo ele nunca esteve. Lideranças como Marcos Feliciano, Magno Malta, Renê Terranova e Bispo Manoel Ferreira já estiveram com Lula e Dilma. Esse papo de que Lula vai fechar igrejas não é verdade. Sou cristã evangélica da Assembleia de Deus e nunca instrumentalizei a fé nem as igrejas em minhas campanhas políticas. A maior parte dessas lideranças não caminharam comigo. Uma parte deles esteve com a presidente Dilma.
Esse é o momento de defender o voto útil para tentar evitar que tenha 2° turno?
Esse é o momento de mobilizar a sociedade para derrotar Bolsonaro. Temos que nos dirigir aos cidadãos donos de seu voto. Nesse momento difícil da história do Brasil a gente percebe o que Hannah Arendt chama de banalização do mal contaminando e degradando o tecido social brasileiro. Os homens e mulheres que defendem a democracia têm que se juntar para preservá-la. Fiz o gesto de uma recomposição política e programática. Acredito que o presidente Lula é quem reúne as melhores condições de ajudar o Brasil a derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, que é a banalização do mal. É legítimo que existam candidaturas. É uma eleição em dois turnos. Não gosto dessa coisa de voto útil. Para mim essa atribuição deve ser útil da melhor forma possível.
Em 2018 a sra. foi vítima do voto útil. Neste ano o avalia que ele é necessário?
Em 2018, de fato, isso aconteceu, mas foi uma decisão das pessoas. Não vi um movimento. Por isso eu insisto: vamos dialogar com as pessoas. É legítimo que quem está disputando uma eleição queira ganhar no 1° turno. Se ganhar no 1° turno é melhor, mas se não ganhar será preciso um esforço maior de todos os democratas para criarmos um novo ecossistema político.
Como a sra. explica o fato de Bolsonaro colocar tanta gente na rua e a dificuldade do campo político que apoia Lula em mobilizar como no passado?
A pontuação do Lula nas pesquisas é muito maior que o recorte de esquerda e direita. São muito mais os brasileiros que não querem a continuidade do Bolsonaro. Não sei fazer a comparação entre as métricas das ruas. O importante é que a métrica da ética, democracia, liberdade de expressão e direitos humanos vai prevalecer em legítima defesa do Brasil. Fonte: https://www.estadao.com.br
O apito de cachorro
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Agressão de um deputado bolsonarista contra Vera Magalhães é consequência direta do ataque do presidente à jornalista, que ousou lhe fazer uma pergunta incômoda
O deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) acossou a jornalista Vera Magalhães durante o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo promovido anteontem pela TV Cultura. Na ocasião, disse que Vera era “uma vergonha para o jornalismo” – a mesma frase usada pelo presidente Jair Bolsonaro ao agredir a mesma jornalista durante recente debate entre candidatos à Presidência.
O episódio não serve somente para confirmar o padrão bolsonarista de desrespeito a mulheres, a jornalistas profissionais e à imprensa independente. Foi uma oportunidade para ver, na prática, como o discurso virulento de Bolsonaro se presta a atiçar seus camisas pardas a transformar palavras em ação. É a versão bolsonarista do “dog whistle”, expressão da política norte-americana que pode ser traduzida literalmente como “apito de cachorro” e que serve para definir frases do líder que são entendidas por seus seguidores como uma espécie de comando.
Assim, quando o presidente Bolsonaro ataca violentamente uma jornalista, o apito soa e essa jornalista se torna imediatamente alvo preferencial dos arruaceiros bolsonaristas. Portanto, o deputado que a agrediu não fez mais que emular seu adestrador. Esse truculento parlamentar não teria se sentido à vontade para intimidar uma jornalista, e ainda filmar sua agressão para torná-la pública como se fosse um grande feito, se seu líder, o presidente da República, já não o tivesse feito.
É por isso que aos bolsonaristas que pretendem se desvincular desse episódio, como é o caso de Tarcísio Gomes de Freitas, candidato a governador de São Paulo, não basta condenar o deputado Douglas Garcia. É preciso condenar o próprio presidente Bolsonaro, que soprou o apito. O candidato Tarcísio chamou o deputado de “idiota” e pediu desculpas à jornalista. Mas nada disse sobre a mesmíssima agressão que Bolsonaro cometeu contra Vera Magalhães.
Recorde-se que a jornalista Vera Magalhães se tornou foco dos fanáticos bolsonaristas porque fez uma pergunta que incomodou Bolsonaro durante um debate. Foi o que bastou para sua vida virar um inferno. Agressões contra jornalistas no exercício da profissão, quase sempre mulheres, tornaram-se norma desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto.
Em vez de responder à pergunta – que dizia respeito à campanha de vacinação contra a covid-19 – ou até mesmo, se achasse que era o caso, contestar civilizadamente o modo como a questão foi formulada, Bolsonaro resolveu ofender Vera Magalhães em sua dignidade e profissionalismo. Eis o padrão de comportamento do presidente em relação à imprensa que não lhe presta vassalagem: um misto de agressividade e diversionismo. Diante de perguntas incômodas, Bolsonaro agride e desqualifica quem as formula, sem responder ao que foi perguntado.
Eventuais críticas ao trabalho da imprensa profissional e independente jamais serão mal recebidas em uma democracia. Os próprios jornalistas, não raras vezes, as expõem. O que é absolutamente inaceitável – e inconstitucional, vale lembrar – são agressões de qualquer natureza contra jornalistas no livre exercício da profissão.
É contraditório, mas não surpreendente, que bolsonaristas digam ser tão zelosos com a liberdade de expressão e com os preceitos constitucionais, mas não respeitem a liberdade de imprensa consagrada pela Constituição. O fato de alguém como o deputado Daniel Silveira, que faz da violência seu programa político, ser tido como um “herói” da liberdade de expressão no País por esses bolsonaristas mais empedernidos diz muito sobre a ideia de “liberdade” que Bolsonaro dissemina entre seus apoiadores.
A despeito de todas as agressões de que têm sido vítimas, jornalistas jamais deixarão de fazer as perguntas que tanto incomodam Bolsonaro. Mais cedo ou mais tarde, o presidente terá de responder sobre as “rachadinhas”, dezenas de imóveis comprados com dinheiro vivo e cheques suspeitos depositados na conta da primeira-dama por Fabrício Queiroz, o notório faz-tudo do clã Bolsonaro, entre outras perguntas inconvenientes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Cabeleireira baiana aciona Tebet por uso de imagem na propaganda eleitoral
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Negra Jhô aparece em peça da candidata; campanha diz ter adquirido o vídeo em banco de imagens internacional
A cabeleireira baiana Valdemira Telma de Jesus Sacramento, famosa em Salvador como Negra Jhô, acionou na Justiça a campanha da presidenciável Simone Tebet (MDB) por uso indevido de sua imagem na propaganda eleitoral veiculada na televisão.
A cabeleira se notabilizou tanto no Brasil quanto no exterior pela valorização da estética afro nas ruas do Pelourinho, em Salvador. Dona de um salão de beleza especializado em turbantes e tranças, Negra Jhô já foi tema de composição do cantor Saulo, um dos clientes dela.
Negra Jhô aparece em um vídeo da candidata por um segundo, mas, alega, tempo suficiente para perder apoio para um evento que organiza na capital baiana. Na imagem, a cabeleireira está de turbante, em frente à porta de um casarão histórico no Pelourinho, onde trabalha.
Por meio de nota, a campanha de Tebet informou ter adquirido o vídeo no banco de imagens internacional Shutterstock. O conteúdo já foi removido tanto da propaganda da candidata quanto da plataforma que comercializa as imagens.
Negra Jhô disse que tomou um susto ao tomar conhecimento, por meio de terceiros, na sexta-feira (9), que a imagem dela estava sendo veiculada na propaganda da candidata, pelo menos, desde o feriado da Independência do Brasil, dia 7 de setembro.
"Eu sou uma mulher negra livre. Não sou escrava para ter a imagem vendida por um site", disse Negra Jhô. "É tanta gente que tira foto minha aqui no Pelourinho, mas não assinei nenhum termo para autorizar a comercialização de minha imagem."
Ao saber da veiculação na propaganda, Negra Jhô recorreu às redes sociais, no sábado (10), para repudiar o uso da imagem dela. Somente no Instagram, a mensagem da cabeleireira baiana foi transmitida para cerca de 15 mil seguidores.
"Eu, Valdemira Telma de Jesus Sacramento, conhecida no Brasil pelo nome artístico e social Negra Jhô, venho a público repudiar o uso indevido, e, sem autorização, da minha imagem na campanha eleitoral da candidata Simone Tebet, a qual nunca tive nenhum tipo de diálogo ou contato pessoal", disse no comunicado.
"Todxs sabem da minha índole, ética e compromisso com o meu povo preto. Repudio veementemente o uso da minha imagem. As providências cabíveis já estão sendo tomadas, e peço a todxs que me conhecem que compartilhem essa nota", finaliza o texto.
A advogada Helenice Santos, que representa a cabeleireira, informou já ter protocolado uma ação na 5ª Vara Cível e Comercial de Salvador com um pedido de indenização no valor de R$ 100 mil, além da retirada imediata da imagem da cliente da campanha e da plataforma.
Segundo a cabeleireira, a exposição involuntária na campanha da emedebista rendeu questionamentos sobre o posicionamento político dela.
"Nem sabia que essa moça era candidata nem que era senadora. A vida tá tão agitada, que nem tenho tempo de acompanhar a política, até porque já tenho meus candidatos", disse. "Não me senti bem ao ver o vídeo, como não estou bem até agora".
A repercussão do caso tem atrapalhado a organização da 13ª edição da Feijoada —evento cultural que será realizado com várias atrações, no próximo dia 25, no Pelourinho—, além de provocado a perda de apoio financeiro para a festa, argumenta.
"Quem viu, pensou: ô, Negra Jhô está com essa mulher, então não vou apoiar. Me prejudicou. Estou muito chateada", afirmou. "Eu tomei o maior susto porque passou na televisão aberta. A culpa não é nem da moça, coitada, mas da campanha dela", disse.
A advogada da cabeleireira informou que foi solicitada uma antecipação de tutela para retirar a imagem da cliente do vídeo, o que já foi cumprido.
Por nota, a assessoria de comunicação da campanha de Tebet informou que "a referida imagem foi adquirida pela campanha de Simone Tebet na plataforma Shutterstocks, um Banco de Imagens internacional".
"A imagem, em vídeo e foto, fica disponível, pode ser selecionada em sistema de busca por palavra-chave e foi licenciada rigorosamente dentro das normais legais. Mesmo diante disso, em razão e respeito às posições políticas da detentora, nossa campanha não vai mais fazer uso da mesma", finaliza o comunicado. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
'O Ministério da Defesa não terá qualquer acesso diferenciado às urnas', dizem fontes do TSE
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Defesa quer fazer apuração paralela de eleição, mas não há qualquer acordo sobre isso
Por Míriam Leitão
O TSE vai soltar uma nota esclarecendo o diálogo com os militares. A informação que eu consegui apurar é que não há decisão sobre os militares enviando QR Code de boletins de urnas para o Comando de Defesa Cibernética do Exército, fazendo essa apuração paralela.
– O Ministério da Defesa não terá qualquer acesso diferenciado às urnas
O que foi conversado naquela reunião em agosto é que as áreas técnicas da Defesa e do tribunal iriam desenvolver uma proposta de viabilidade dessa apuração que os militares querem fazer, para se decidir se seria possível.
A manchete da Folha de S. Paulo é de que os técnicos do Exército disseram que têm projeto para fazer essa conferência paralela, em que não usarão o sistema das informações das urnas disponíveis na internet, como costumeiramente qualquer pessoa pode fazer, mas sim o acesso direto em algumas das urnas. O jornal diz que fontes militares disseram que isso será feito em 385 urnas. Isso é negado pelo TSE.
(Atualização: O TSE divulgou nota no meio da manhã confirmando o que eu escrevi acima: que não houve nenhuma alteração nem qualquer acordo com as Forças Armadas para permitir acesso diferenciado real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral)
Veja a íntegra da nota:
"O Tribunal Superior Eleitoral informa, em relação à apuração das eleições 2022, que não houve nenhuma alteração do que definido no primeiro semestre, nem qualquer acordo com as Forças Armadas ou entidades fiscalizadoras para permitir acesso diferenciado em tempo real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral.
O TSE reitera informação amplamente divulgada em junho passado (https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Junho/nota-de-esclarecimento-contagem-simultanea-de-votos-ja-e-possivel) sobre a contagem de votos, a partir da somatória dos BUs, ser possível há várias eleições e que para o pleito deste ano, foi implementada a novidade de publicação dos boletins de urnas pela rede mundial de computadores, após o encerramento da votação para acesso amplo e irrestrito de todas as entidades fiscalizadoras e do público em geral.
Independentemente dessa possibilidade, como ocorre há diversas eleições, qualquer interessado poderá ir às seções eleitorais e somar livremente os BUs de uma, de dez, de trezentas ou de todas as urnas." Fonte: https://oglobo.globo.com
A César o que é de César
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Ao condenar a manipulação religiosa para fins eleitorais, a CNBB faz importante defesa do regime democrático. O Estado é laico e, nele, deve imperar a liberdade política
Perante as inúmeras tentativas de usar a religião para angariar votos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lembrou recentemente que a manipulação religiosa “desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”. Em nota publicada no último dia 2, os bispos católicos manifestaram preocupação com a instrumentalização da religião “protagonizada por políticos e religiosos”.
O problema não é teórico e vem causando danos muito além da própria liberdade política. A manipulação da religião para fins políticos tem sido ocasião de violência. No dia 31 de agosto, um fiel foi baleado dentro da igreja da Congregação Cristã no Brasil, em Goiânia, por discordar das falas do pastor que pregava o voto contra a esquerda. O disparo foi feito por um policial militar de folga que se envolveu na discussão política.
Em tempos confusos, como são os atuais, a nota da CNBB é muito importante, reafirmando um aspecto fundamental do regime democrático. A manipulação religiosa não é apenas um desvirtuamento de valores e convicções pessoais para fins político-eleitorais. Ao colocar o exercício da liberdade política como uma escolha entre o bem e o mal, essa instrumentalização da fé ataca o caráter laico do Estado – a separação entre Igreja e Estado – e a própria ideia de liberdade política. A mensagem dos manipuladores é a de que a adesão a um credo religioso implica uma específica escolha na urna. Não poucas vezes, a tramoia é feita sem nenhum pudor, sendo o próprio líder religioso candidato a cargo político.
Ao condenarem a manipulação religiosa, os bispos católicos reafirmam a existência de um âmbito de liberdade fundamental no Estado Democrático de Direito. Líder religioso não pode impor um determinado voto a seus fiéis – assim como patrão, cônjuge ou quem quer que seja não pode impor voto a ninguém. Há liberdade política, reconhecida e protegida pela Constituição.
A CNBB menciona um aspecto fundamental relativo à autonomia entre religião e política. “A Igreja (católica) é advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido”, diz a nota da entidade, citando um ensinamento do papa Bento XVI. A manipulação religiosa consiste justamente em identificar credo religioso com um político ou partido específico. Em suas expressões mais severas – que limitam de forma ainda mais radical a liberdade política –, essa manipulação chega a apresentar candidatos a cargos políticos como enviados de Deus.
É preciso defender a liberdade política. E, precisamente por existir liberdade política, cada pessoa tem o direito de definir o seu voto de acordo com suas convicções e sua visão de mundo. O caráter laico do Estado não impõe valores, sejam religiosos ou cívicos, a seus cidadãos. Cada um é livre para, dentro da lei, escolher e apoiar o que bem entender.
No caso dos católicos, os bispos lembram que “nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas”. Logicamente, cada credo religioso tem suas doutrinas e suas especificidades. De toda forma, o que parece necessário destacar é a gritante incongruência entre discurso religioso (seja qual ele for) e desrespeito a quem pensa de forma diferente.
A manipulação religiosa da política tem sido fonte contínua de atritos e tensões, produzindo um ambiente de agressividade incompatível com o Estado Democrático de Direito. Segundo o Estadão revelou, lideranças evangélicas ligadas à esquerda estão preocupadas com a escalada da violência política, também dentro de instituições religiosas. Há disputa, pluralidade de ideias e embate de propostas, mas a democracia é fundamentalmente um regime de paz.
A liberdade – em suas diversas dimensões, também a política e a religiosa – não é um slogan vazio, e muito menos pretexto para agredir os demais. É um princípio fundamental inegociável, que, entre outras consequências, demanda respeito ao outro e à sua consciência. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Temores eleitorais
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Multiplicação de armas e tensões políticas justificam cuidados contra violência
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal - Antonio Augusto/Secom/TSE
De 2018 até julho deste ano, cresceu em 187% no país o número de armas de fogo nas mãos de caçadores, atiradores e colecionadores (os chamados CACs), categoria beneficiada pelo afrouxamento do Estatuto do Desarmamento por meio de decretos presidenciais editados por Jair Bolsonaro (PL).
Há 1 milhão de artefatos apenas nas mãos desse grupo, o que eleva os temores quanto a degeneração da polarização política em violência física —o que pode acontecer mesmo sem pistolas ou revólveres, como se viu nesta sexta (9) com o assassinato à faca, segundo a polícia, de um petista por um bolsonarista em Confresa (MT).
Deve-se levar em consideração, além do número de produtos em circulação, a fragilidade do monitoramento de armas e munições a cargo do Exército e da Polícia Federal, além da retórica belicosa do mandatário maior da nação.
Dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral (Giel/Unirio) apontam um aumento de 23% nos casos de violência contra lideranças políticas ante 2020. Foram 214 no primeiro semestre deste 2022, para 174 no mesmo período de dois anos atrás, quando se realizaram eleições municipais.
Às vésperas do 7 de Setembro, de forma monocrática, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, restringiu o número de armas e munições que podem ser adquiridas por CACs, antevendo mais casos de violência —como outro assassinato de petista por bolsonarista, em Foz do Iguaçu (PR), em julho deste ano.
A decisão, por defensável que seja, deveria caber ao plenário do STF. Isso não se dá porque o ministro Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, travou o julgamento dos decretos de constitucionalidade mais que duvidosa por meio de um pedido de vista.
Não parece necessário tanto tempo de análise para concluir que as medidas violam o espírito da lei, o Estatuto do Desarmamento.
É importante que se assegure a segurança de eleitores e candidatos antes e no dia das eleições. Nesse sentido, deve-se também garantir que não haja armas próximas às seções eleitorais, como determinou o Tribunal Superior Eleitoral.
Cabe igualmente às forças de segurança garantir que o pleito ocorra de forma ordeira. Até aqui, 12 estados pediram ao TSE ajuda das Forças Armadas no primeiro turno.
Deve-se atentar para as diversas formas que a violência política pode assumir, incluindo assédio, coerção e humilhação. Desde a restauração da democracia, o país tem um histórico de eleições limpas e pacíficas a preservar. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Sakamoto: Bolsonarista mata petista horas após Jair defender 'extirpar' oposição
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Sakamoto: Bolsonarista mata petista horas após Jair defender 'extirpar' oposição
15 facadas e um machado não é legítima defesa, mas ódio; violência aumenta às vésperas do primeiro turno
Leonardo Sakamoto UOL
Polícia Civil afirma que o assassinato aconteceu na zona rural de Confresa (MT) – Divulgação
O Brasil produziu mais um cadáver por ódio político. Coincidentemente, a briga que levou ao crime começou algumas horas após o presidente da República defender, em comício na praia de Copacabana, que era necessário "extirpar da vida pública" adversários políticos da esquerda.
A Polícia Civil do Mato Grosso informou que Benedito dos Santos, eleitor de Lula, foi morto a golpes de faca e machado por Rafael de Oliveira, apoiador de Bolsonaro, após uma discussão política entre ambos na zona rural de Confresa, no Nordeste do Estado, descambar para a briga na noite de 7 de setembro.
"O que levou ao crime foi a opinião política divergente. A vítima estava defendendo o Lula e o autor, defendendo o Bolsonaro", afirmou o delegado Victor Oliveira ao portal G1. O assassino confessou o crime e está preso.
Santos teria dado um soco em Oliveira e pegado uma faca, mas foi desarmado e correu. Oliveira o perseguiu e passou a golpeou pelas costas. Já caído no chão, foi acertado com facadas no olho, no pescoço e na testa - segundo o delegado, foram 15 golpes. Depois, ele foi a um barracão buscar um machado para decapitar a vítima, que ainda estava viva, acertando-o no pescoço.
E 15 facadas e um machado não é legítima defesa, mas ódio.
A morte é uma péssima notícia para uma sociedade que vê a violência por motivos políticos escalar na medida que nos aproximamos do 1º turno das eleições.
O presidente já havia sido duramente criticado após o assassinato do tesoureiro do PT e guarda civil, Marcelo Arruda, pelo agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho.
Guaranho ficou sabendo da festa de aniversário de temática lulista de Arruda e foi lá provocar. O caso terminou com o petista morto e o bolsonarista preso.
Preocupado com o impacto do caso para a sua imagem, Bolsonaro deu declarações para encobrir que Guaranho reproduzia a sua retórica quanto a adversários. Em sua conta do Facebook, por exemplo, o assassino ecoava Bolsonaro em dezenas de postagens, chegando a afirmar que o Brasil precisa de uma "limpeza" dos petistas.
O presidente, desde então, diz que "fuzilar a petralhada" é figura de linguagem.
Com o caso de Foz do Iguaçu, Bolsonaro foi bastante cobrado para pedir a seus apoiadores em todo o Brasil baixarem a fervura. Mas, ao invés de condenar a violência e pedir para que seus seguidores e os demais brasileiros desarmem os espíritos para a eleição, Bolsonaro foi no sentido contrário.
Ele atuou para desmerecer a gravidade do caso, tentando, primeiro, convencer uma parcela da população de que foi um crime comum. Depois, buscando responsabilizar a vítima.
No dia 12 de julho, por exemplo, usou o famigerado "mas" para tentar mostrar que o "outro lado", ou seja, o do agressor, também tinha suas razões.
"Nada justifica a troca de tiros, mas lá fora... Está sendo concluída a investigação pela Polícia Civil do Paraná para a gente ver que teve um problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou uma pedra no vidro daquele cara que estava que estava no carro pro lado de fora. Depois ele voltou, e começou aquele tiroteio lá onde morreu o aniversariante", disse aos seus seguidores na porta do Palácio do Alvorada.
Depois, pediu desculpas porque vídeos mostraram que nenhuma pedra foi arremessada.
E na tentativa de convencer que esse tipo violência não tem cunho político, o presidente vem repetindo números de homicídios no Brasil, apontando que houve uma redução de mortes sob o seu governo. Para ele, se as mortes caíram no país, o bolsonarismo é vida, não morte, e ele não tem a ver com o ocorrido.
A sobreposição dos discursos de lideranças políticas, religiosas e sociais ao longo do tempo, fomentando ódio contra políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna a agressão "necessária'' para tirar o país do caos e extirpar o "mal", alimentando a violência. Da mesma forma, a sobreposição de discursos afirmando que o crime não tem relação política acaba por normalizar a violência política, que passa a ser encarada como briga de bêbado na esquina.
Depois, neste Sete de Setembro, falando a seus seguidores no comício da praia de Copacabana, ele voltou à tônica: "Compare o Brasil, os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua. De comum esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos esses chefes dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição. Não é apenas voltar à cena do crime. Esse tipo de gente tem que ser extirpado na vida pública."
Com isso, ajuda a semear ainda mais sangue em uma eleição que será marcada por tumultos.
Não admira que o governo diga que não haverá violência política. Para ele, tudo isso é apenas "liberdade de expressão".
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. Fonte: https://www.brasildefato.com.br
O Golpe da Independência
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É triste quando um povo celebra sua identidade e sua história desfilando tanques e cultivando cadáveres.
Cem anos atrás, o Brasil comemorava um século da independência com uma grande exposição internacional no Rio de Janeiro, em que se celebrava a entrada do País na modernidade do rádio e da eletricidade. Havia nela o Pavilhão da Estatística, dedicado à “ciência da certeza”, que apresentava os resultados do censo brasileiro de 1920, o primeiro em quase 50 anos (*). Fake news, nunca mais! 1922 foi, também, o ano da Semana de Arte Moderna, em que pintores e escritores se propunham a mostrar o Brasil como ele era e falava de verdade, do Macunaíma de Mário de Andrade aos operários de Tarsila do Amaral, livres das amarras da pintura clássica e do português castiço das velhas elites educadas em Coimbra.
O tema era o Brasil do futuro, e ninguém olhava muito para o dia em que, cem anos antes, a Família Real dera um golpe de Estado contra a revolução liberal portuguesa, que limitava seus poderes, e colocara a coroa brasileira na cabeça do herdeiro, Pedro I, “antes que um outro aventureiro o faça”, como diz a lenda. Mas a República Velha não se movia, e o povo, que havia assistido bestializado ao fim do Império, continuava sem entender o que República e mundo moderno lhe traziam.
Cinquenta anos depois, o Sete de Setembro foi comemorado olhando para trás, com o traslado do corpo de Dom Pedro para o Brasil. Eram os anos de chumbo, a repressão do governo militar brasileiro chegava a seu auge e Portugal vivia sob a ditadura do Estado Novo salazarista. Nada melhor do que o cadáver do jovem e impetuoso imperador para celebrar esta comunhão, trazido com todas as honras para repousar no Museu do Ipiranga. Faltava, no entanto, o coração, guardado no formol, que volta agora, finalmente, para o Brasil neste bicentenário que quase ninguém comemora e em que os fantasmas do autoritarismo e da violência política voltam a assombrar.
O que se comemora nos dias nacionais dos diversos países? Nos Estados Unidos, o 4 de julho marca o dia, em 1776, em que representantes das 13 colônias, reunidos num congresso, declararam sua separação da Grã-Bretanha; na França, o 14 de julho celebra a queda da Bastilha, em 1789, que marca o fim do absolutismo monárquico; no Chile, o 18 de setembro comemora a organização do primeiro governo autônomo do país; e, na Noruega, o 17 de maio celebra a primeira Constituição, de 1814. São todos de uma mesma época, de surgimento dos Estados nacionais, com seus três componentes centrais: um Estado moderno, ou seja, um governo organizado, com capacidade de angariar e utilizar bem recursos técnicos, financeiros e militares; cidadãos compartilhando a mesma história e dotados de direitos civis, políticos e sociais; e um território definido em que essa população vive, com fronteiras mantidas e defendidas pelo Estado e seus cidadãos, de forma soberana.
Dos três, o Brasil independente herdou um imenso e quase desconhecido território; um Estado patrimonial organizado para cobrar impostos e explorar as riquezas dos territórios que dominava; e uma população formada sobretudo por negros escravizados, indígenas, brancos e mestiços empobrecidos e analfabetos, vivendo no campo e na periferia das cidades. Desde a Colônia que setores da população se revoltavam contra os governantes, reivindicando autonomia, mas foram sufocados um a um. No Segundo Reinado, estavam todos dominados, com o imperador e uma pequena elite brincando de democracia constitucional.
Havia pessoas, mas não cidadãos, por muito mais tempo do que poderia. Estima-se que, quando os portugueses chegaram, cerca de 5 milhões de nativos viviam no território brasileiro. Trezentos anos depois, estes povos haviam sido exterminados ou se refugiado no interior desconhecido. No primeiro censo brasileiro, de 1872, dos 10 milhões de recenseados, menos de 5% foram classificados como indígenas, e desapareceram dos censos seguintes, até serem relembrados recentemente.
Nos países em que os habitantes se tornaram cidadãos, a educação pública teve um papel central. Nos Estados Unidos, na época da independência, 60% da população já sabia ler; em meados do século 19, eram quase 100%. Na Noruega, a educação pública já era obrigatória desde meados do século 18. No Chile e na Argentina, políticos intelectuais como Domingo Faustino Sarmiento e Andrés Bello estimularam a criação das primeiras redes de escolas públicas e de universidades modernas em meados do século 19. No Brasil, o tema da educação pública só começa a ser discutido na década de 1920, a primeira universidade é de 1934 e em 1960 metade da população era ainda analfabeta.
Se o lado positivo dos novos Estados nacionais foram a formação da cidadania e o desenvolvimento de um setor público representativo e capaz de apoiar e proteger seus cidadãos, o lado negativo foram o nacionalismo e o militarismo, jogando uns povos contra outros e enaltecendo o culto das armas e da violência. É bonito quando um povo celebra sua identidade e sua história dançando nas ruas e se confraternizando, como no Chile e na Noruega; mas triste quando o faz desfilando tanques e cultivando cadáveres.
(*) Sobre as comemorações da Independência e a história das estatísticas públicas no Brasil, vejam o recente livro do IBGE ‘As estatísticas nas comemorações da independência do Brasil’ (2022), editado por Nelson de Castro Senra. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Bolsonaro envergonha o País no Bicentenário
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Bolsonaro fez de tudo, exceto homenagear o Bicentenário. Aproveitou uma festa cívica para fazer descarada campanha eleitoral, usando recursos públicos e abusando de obscenidades
Era para ser um dia de grande festa cívica. O País comemorava o Bicentenário da Independência. Mas o presidente da República preferiu fazer campanha eleitoral, em uma lamentável confusão de âmbitos, com utilização político-partidária de recursos públicos e profusão de obscenidades. Jair Bolsonaro imprimiu ao 7 de Setembro o exato caráter de seu governo: uma administração que divide, envergonha e dá de ombros à lei e à moralidade.
Ontem, Jair Bolsonaro fez de tudo, exceto homenagear o Bicentenário. Não tem a mínima ideia do que significa ser chefe de Estado. No evento em Brasília, em dado momento, escanteou o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, para colocar a seu lado, em posição de destaque, Luciano Hang, bolsonarista de alta estirpe. Sem nenhum pudor, imperou o escárnio com a história do País.
Em vez de festa da Independência, o País assistiu ontem a atos de campanha de reeleição no mais genuíno estilo bolsonarista. Jair Bolsonaro não propôs nada nem se comprometeu com algum programa de governo. Fez grosseria pública, chegando a comparar sua mulher, Michelle, com a do ex-presidente Lula. Eis o nível daquele que diz defender a família brasileira. Entende-se bem por que é tão alta sua taxa de rejeição entre as mulheres. Jair Bolsonaro simplesmente provoca asco. Para que não houvesse dúvida do seu caráter, ainda puxou um indecoroso coro a respeito de sua alardeada virilidade. Em respeito ao leitor, não reproduziremos aqui o que disse o presidente, mas é o caso de perguntar: há limites para este senhor?
Tal é a sua desfaçatez que, no meio de obscenidades, Jair Bolsonaro ainda ousou recorrer ao discurso da “luta do bem contra o mal”, na manipuladora disjuntiva que só serve a quem não tem nada a apresentar ao País. Jair Bolsonaro encarna o bem? Ora, o verdadeiro bem não é mal-educado, não causa vergonha ao País e, nunca é demais lembrar, não manipula milhões em dinheiro vivo na compra de imóveis. O candidato que deseja se apresentar ao eleitor como o grande herói do combate à corrupção até agora não explicou a origem do dinheiro usado nos negócios imobiliários da família nem esclareceu as suspeitas de rachadinha que envolvem quase todo o clã Bolsonaro e seus agregados.
O mais triste do dia de ontem é que Jair Bolsonaro fez tudo isso e, a rigor, nada representou nenhuma novidade. Ele fez exatamente o que vem fazendo desde os tempos do Exército, quando ameaçava colocar bombas em quartéis e desrespeitava a farda e a hierarquia militares. Tanto é assim que, em um evento cívico da mais alta importância – a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil –, nem os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, tampouco o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, estiveram presentes. Eles certamente anteviram o papelão de Bolsonaro e não quiseram passar constrangimento. Evitaram endossar as atitudes e as falas de um presidente da República que dá insistentes mostras de que nada entendeu sobre o cargo que ocupa e suas responsabilidades.
É preciso advertir, no entanto, que ontem o presidente Bolsonaro não apenas desrespeitou a dignidade do cargo e a natureza da festa cívica – o que por si só é lamentável. Não foi um deslize de quem é indiferente à civilidade e aos bons modos. Jair Bolsonaro infringiu a lei, seja porque se valeu da estrutura pública de um evento cívico para fazer campanha eleitoral, seja porque tentou de todas as formas usar o prestígio das Forças Armadas em proveito político-partidário.
Não há dúvida – e assim registram as pesquisas de opinião que Jair Bolsonaro tanto desacredita – que uma parcela significativa da população o apoia. Em diversas cidades, muita gente foi às ruas manifestar sua adesão ao bolsonarismo. O fato, no entanto, é que, seja qual for o tamanho do apoio popular, nada autoriza a infração da lei. Jair Bolsonaro não pode valer-se do cargo e do dinheiro do contribuinte para fazer campanha eleitoral. Em respeito ao regime democrático e às liberdades políticas, há limites civilizatórios e legais. A escandalosa violação das leis eleitorais promovida por Bolsonaro demanda uma punição exemplar. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Exército alerta moradores de Copacabana para 'possíveis danos' com os tiros de canhão no 7 de Setembro.
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Por Lauro Jardim
Os moradores dos prédios vizinhos ao Forte de Copacabana receberam hoje um alerta do Comando Militar do Leste, a propósito da festa militar-eleitoral idealizada por Jair Bolsonaro para supostamente comemorar nesta quarta-feira o Bicentenário da Independência.
O aviso é direto: por causa da salva de tiros programada, num total de 29 disparos, os vidros das janelas podem quebrar durante o evento. A recomendação, portanto, é: nada de janelas cerradas "a fim de evitar possíveis danos, tais como quebra ou fissura dos vidros."
Eis o comunicado curto endereçado à "prezada vizinhança":
"Haverá a realização de salva de tiros de artilharia no Forte de Copacabana de hora em hora, a partir das 8h da manhã. Às 16h, a última salva terá 21 tiros. Sugerimos que as janelas voltadas para o Forte estejam abertas durante os disparos, a fim de evitar possíveis danos, tais como quebra ou fissura dos vidros." Fonte: https://oglobo.globo.com
Os negócios da família Bolsonaro
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Os negócios da família Bolsonaro
Se pretende ser visto pelo eleitor como campeão da luta contra a corrupção, Bolsonaro tem de explicar ao País de onde veio o dinheiro vivo com o qual ele e a família compraram 51 imóveis
Em 2018, Jair Bolsonaro elegeu-se prometendo combater a corrupção. Agora, tenta a reeleição com a mesma tática. Coloca-se como o candidato antipetista, cuja missão é impedir a volta da corrupção do PT. De fato, o partido de Lula da Silva tem muito a explicar ao País e, principalmente, a dizer sobre o que fará de diferente para não acontecer de novo tudo o que se viu nas gestões petistas. No entanto, enquanto não esclarecer as muitas questões obscuras envolvendo o patrimônio e as finanças de sua família, Bolsonaro não tem moral para cobrar transparência ou lisura de Lula. É literalmente o roto falando do esfarrapado.
No debate na Band, Bolsonaro chamou Lula de ex-presidiário. O líder petista esteve preso em razão de uma condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá. Lula foi solto depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar que o juiz da primeira instância Sérgio Moro, além de ter atuado de forma parcial no caso, era incompetente para julgar a causa. Encaminhado depois à Justiça Federal de Brasília, o processo foi arquivado em razão do decurso do prazo prescricional.
Ou seja, os benefícios de uma empreiteira, entregues na modalidade de reforma de um imóvel na praia e reconhecidos numa delação, suscitaram a prisão de Lula, prisão esta que Bolsonaro faz questão de relembrar na campanha eleitoral. A ironia – ou a incrível desfaçatez – é que Jair Bolsonaro e sua família não têm problemas apenas com um único imóvel na praia. Levantamento realizado pelo site UOL, a partir de dados públicos, revelou que, desde os anos 90, o presidente, seus irmãos e seus filhos negociaram nada menos que 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. Em valores corrigidos pelo IPCA, o montante pago em dinheiro vivo equivale a R$ 25,6 milhões.
Não é crime comprar imóveis usando dinheiro vivo, mas é muito estranho esse peculiar padrão de comportamento ao longo de tanto tempo, envolvendo quantias tão grandes. Além disso, há duas circunstâncias agravantes. Durante o período, Jair Bolsonaro sempre ocupou cargos políticos, recebendo seu salário em conta bancária. A princípio, não havia por que movimentar tanto dinheiro vivo.
Em segundo lugar, existem fundadas suspeitas de que, nos gabinetes parlamentares de Jair Bolsonaro e de seus filhos, foi corrente a prática da “rachadinha”, um sistema de apropriação pelo parlamentar dos salários de seus assessores. Revelado pelo Estadão, o assunto veio à tona depois das eleições de 2018, quando o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro investigava Flávio Bolsonaro por condutas suspeitas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Um dos principais investigados era Fabrício Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro e homem de confiança da família. Em 2020, Flávio foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Depois de muitas idas e vindas processuais – o filho mais velho do presidente obteve o foro privilegiado no caso –, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a denúncia.
Ao longo desses anos, as suspeitas de rachadinha e lavagem de dinheiro envolvendo a família Bolsonaro só ganharam novos indícios, em especial dois fatos: os cheques de Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro e a movimentação atípica de dinheiro vivo na loja de chocolate de Flávio no Rio de Janeiro. No entanto, Jair Bolsonaro nunca explicou essas suspeitas. Sempre que questionado, respondeu agredindo, ironizando ou simplesmente encerrando a entrevista.
Não é possível que, neste ano, Jair Bolsonaro peça o voto do eleitor falando em combate à corrupção do PT sem antes explicar essa combinação de dinheiro vivo na compra de imóveis, movimentações bancárias suspeitas e indícios de rachadinha nos gabinetes parlamentares. Não basta imitar Lula e dizer que a Justiça encerrou o processo contra seu filho ou se dizer perseguido pela imprensa que o questiona. É preciso explicar de onde veio tanto dinheiro vivo para comprar os numerosos imóveis da família. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Auxílio Brasil, religiosos e JN não alteram corrida eleitoral; leia análise
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Por Mario Vitor Rodrigues
Lula segue firme na liderança, com 44% das intenções de votos, contra 32% de Bolsonaro, aponta pesquisa Ipec
As campanhas dos dois líderes na corrida presidencial, do ex-presidente Lula e o atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro, aguardavam a pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira com expectativas distintas: os petistas apostavam no bom desempenho de Lula no JN para, no mínimo, manter a distância de 12 pontos divulgada há uma semana pelo instituto. Já os bolsonaristas confiavam na inclusão de perguntas envolvendo a importância da religião do candidato para o eleitor e a regulamentação de crédito consignado para quem recebe auxílio do governo para encurtar a distância.
Para frustração de Bolsonaro e possivelmente alívio de Lula, nada mudou: após ouvir pessoalmente 2.000 pessoas em todas as regiões do País, entre 26 e 28 de agosto, o Ipec anunciou que Lula segue firme na liderança, com 44% das intenções de votos, contra 32% de Bolsonaro, 7% de Ciro Gomes, 3% de Simone Tebet e 1% de Felipe D’Ávila. No segundo turno, Lula seria eleito com 50% conta 37% de Bolsonaro. Vale ressaltar que apenas um grupo menor dos entrevistados acompanhou o debate de ontem, na Bandeirantes, ao contrário da sequência de entrevistas no Jornal Nacional.
Seria açodado afirmar que o resultado é devastador para as pretensões de Bolsonaro se reeleger, mas, a continuar nesse ritmo, será questão de tempo poder fazer essa afirmação.
Se o calcanhar de Aquiles de Lula é o tema corrupção, o de Bolsonaro é a economia. Tanto é assim, e não lhe falta essa clareza, que o presidente foi atrás dos votos dos mais de 20 milhões de brasileiros beneficiados pelo Auxílio Brasil. No início deste mês, tratou de promover o reajuste do benefício em R$ 200 e sua prorrogação até o fim do ano – sem contar o vale-caminhoneiro de R$ 1000 e o aumento do vale-gás para R$ 120.
Fato é que, até o momento, das duas uma: ou bem a percepção da melhora no poder de compra ainda não foi sentida por essa parcela da população, ou a rejeição ao governo (43%) está conseguindo empanar até mesmo o esperado impacto que esse tipo de medida eleitoreira impõe.
Na prática, o tempo passa e as cartadas do presidente para buscar votos novos, para além de sua bolha de seguidores, ainda não surtiram o efeito esperado.
Se imaginarmos que as próximas pesquisas devem pegar a repercussão negativa dos recentes ataques de Bolsonaro às mulheres e jornalistas, tudo indica que teremos outro governo em 2023.
MARIO VITOR RODRIGUES É JORNALISTA. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
CAMPANHA ELEITORAL 2022
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Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Começo citando uma frase bíblica: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11). Novamente estão aí os candidatos na corrida para a conquista de votos, mas qual a verdadeira intenção de fundo, a humildade no serviço ao povo, principalmente aos mais desfavorecidos e ao bem comum ou a exaltação pessoal com interesses egoístas e sem compromisso social?
No mês de outubro vamos eleger Presidente, Governadores, Senadores, Deputados Federais, Estaduais e Distritais. É uma tarefa muito difícil, porque ninguém tem estrela na testa. Todos têm, sim, uma história de vida, que precisa ser checada. O eleitor precisa estar de antena ligada para não ser conivente com uma má administração, dando um voto sem responsabilidade em candidato desqualificado.
Três virtudes podem perfeitamente identificar o perfil de um bom candidato, uma delas citada acima, a humildade, mas também a gratuidade e a caridade. Quem tem estas qualidades, investe no que assumiu como proposta no tempo da campanha, deixa de lado o comodismo, a zona egoísta de conforto e age de forma honesta e transparente para trabalhar seriamente em benefício do povo.
Estamos numa cultura política viciada de muitas falcatruas, de arrogâncias, carreirismos e explorações egoístas, que emperra a viabilidade de uma nação comprometida e de destaque no cenário mundial. O peso de tudo isto recai sobre os eleitores neste momento, porque o voto livre e sagrado é emitido por todos os cidadãos, dando aos candidatos plenos poderes para administrar.
É fundamental na política cultivar a virtude da humanidade, de forma que o candidato possa ocupar, com simplicidade, o posto para o qual foi eleito. Agindo desta forma, evita se sentir superior aos outros, mas alguém que coloca seus próprios talentos para ajudar no desenvolvimento do país. Infelizmente não é o que vemos no cenário político brasileiro, porque se tornou cabide de emprego fácil.
Existe um abismo entre o povo e a classe política com seus privilégios. Acontece que o político sai do meio do povo e se distancia dele na hora de administrar o bem público, principalmente aquilo que beneficia a maioria. Na lógica cristã, o valor da pessoa não depende do cargo que ocupa, mas a capacidade relacional de humildade, ser simples e dedicado com honestidade na missão assumida. Fonte: https://www.cnbb.org.br
‘Meu presidente’ e ‘Ladrão no JN’: entrevista de Lula na Rede Globo divide redes sociais
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sabatina no Jornal Nacional, em 25/8/2022. Foto: Reprodução/TV Globo
Por Samuel Lima e Gustavo Queiroz
A presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Jornal Nacional, da TV Globo, tomou conta da discussão das redes sociais na noite desta quinta-feira, 25. Aliados e apoiadores do petista elogiaram a postura de Lula na entrevista, enquanto bolsonaristas o criticaram por declarações sobre o MST e o agronegócio. Críticas à Rede Globo uniram petistas e bolsonaristas, o que fez o nome do jornalista William Bonner ser um dos assuntos mais comentados no Twitter.
Ao menos seis dos dez assuntos mais comentados no Twitter ao final da entrevista eram de apoio ao petista. A hashtag #LulaNoJN chegou ao topo dos trending topics em diferentes momentos do dia. Ao final da entrevista na Globo, o termo “Lula” havia alcançado 607 mil tuítes; #LulaNoJN (358 mil posts) e Bonner (155 mil posts) apareciam na sequência. Em resposta ao termo “Mentiroso no JN” de segunda-feira, bolsonaristas subiram a tag #LadrãoNoJN, com 19 mil tuítes.
Defensores da campanha do ex-presidente repercutiram elogios e comparações do desempenho de Lula no Jornal Nacional com o do presidente Jair Bolsonaro (PL), sabatinado na segunda-feira, 22. O candidato a deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) disse que Bolsonaro “parece um bobo da corte”, frase usada por Lula na entrevista, e avaliou ter sido “absurda” a diferença entre Lula e Bolsonaro no programa.
Ex-candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), em 2018, a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) criticou os jornalistas que entrevistaram o ex-presidente. “Vivi para ver Lula sentado na frente do Bonner, ouvindo Bonner admitir que tudo aquilo que o JN afirmou durante anos era equivocado”, escreveu. O movimento apareceu ainda no WhatsApp, com grupos lulistas reclamando das perguntas abordadas.
A direita também criticou a Rede Globo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) alegou que a entrevista foi favorável a Lula. “E Bonner termina se desculpando com Lula. Quem sabe agora estão indo tomar uma cervejinha para celebrar o bom bate papo de boteco entre as comadres”, declarou. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro exploram o final da entrevista, quando Bonner corrige uma informação sobre as perdas registradas por corrupção pela Petrobras.
O núcleo duro do bolsonarismo ainda critica Lula com base em declarações dadas ao Jornal Nacional sobre o agronegócio e a atuação do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O petista afirmou que o setor agrícola tem empresários que desprezam a preservação do meio ambiente.
Entre lavajatistas, o assunto principal durante a entrevista foi a corrupção. O ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) — que virou assunto antes da sabatina ao se oferecer a fazer perguntas ao político — alegou que Lula “mentiu descaradamente” como em interrogatórios da Lava Jato.
A repercussão da entrevista de Lula no Jornal Nacional também esteve ancorada em posts de artistas e celebridades, público que a esquerda conta para conquistar novos votos. A advogada e influenciadora Deolane Bezerra, os cantores Emicida, Teresa Cristina e Caetano Veloso e o ex-BBB Gil do Vigor foram alguns que comentaram sobre a sabatina no Twitter.
Páginas de humor que apoiam Lula também fizeram piada com o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter pedido para ligar a televisão na Globo ao final da live com seguidores, que ocorreu mais cedo.
Alcance. De acordo com levantamento da Quaest, a entrevista de Lula na Globo teve mais engajamento do que a de Bolsonaro. O levantamento indica que 15 milhões de pessoas em média foram impactadas por postagens sobre o tema durante o programa, contra 9 milhões de Bolsonaro e 2 milhões de Ciro Gomes (PDT). O petista obteve 48% de menções positivas, contra 52% de menções negativas considerando a exibição completa. Foi pior que Ciro (54% a 46%) e melhor que Bolsonaro (35% a 65%).
Segundo a Quaest, os três momentos em que Lula teve maior porcentual de apoio ocorreram quando citou medidas contra a corrupção em seu governo, quando defendeu a aliança com Geraldo Alckmin (PSB) e quando criticou o ódio na política. Já os três momentos em que recebeu mais críticas foram quando não respondeu como definiria o Procurador-Geral da República (PGR), quando chamou Bolsonaro de “bobo da corte” e quando defendeu o diálogo como solução para o orçamento secreto.
Três candidatos à Presidência já foram entrevistados no Jornal Nacional. Além de Lula, o presidente Jair Bolsonaro e Ciro Gomes também estiveram presentes na sabatina. Nesta sexta-feira, a senadora Simone Tebet (MDB) participa do programa. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
O dever de proteger a paz das eleições.
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Em mensagem tranquilizadora ante a apreensão gerada pelo bolsonarismo, PMs garantem que tropas estão sob controle
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Na quarta-feira, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, recebeu os 27 comandantes das Polícias Militares (PMs) dos Estados e do Distrito Federal para alinhar procedimentos e discutir questões referentes à segurança nas eleições de 2022. Entre os temas discutidos, Alexandre de Moraes pediu que seja estudada a possibilidade de “eventual restrição ao porte de armas” para a categoria de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) nos dias do primeiro e do segundo turnos das eleições.
Também foram discutidas medidas para garantir a segurança dos mesários e assegurar a hierarquia e a disciplina policiais. Na saída do encontro, o comandante-geral da PM de Rondônia, James Padilha, disse que os oficiais presentes na reunião foram “enfáticos e uníssonos” na mensagem ao presidente do TSE de que suas “tropas estão sob controle”.
A rigor, essa informação, num Estado Democrático de Direito, deveria ser corriqueira e absolutamente consolidada: a polícia atua dentro da lei e da hierarquia, com total isenção político-partidária. Como lembrou James Padilha, “os mecanismos de segurança pública devem se comportar com isenção, tranquilidade e parcialidade para que possam atuar como instituições de Estado que são, e não instituições de governo”.
No entanto, nas circunstâncias atuais, a mensagem transmitida ao presidente do TSE pelos comandantes das PMs teve uma dimensão especialmente tranquilizadora. O presidente Jair Bolsonaro tem um histórico de apoio velado a atos de indisciplina nas forças de segurança estaduais, numa mistura perigosíssima entre polícia e política que, entre outros danos, enfraquece a indispensável hierarquia que deve haver nessas corporações. Além disso, grupos bolsonaristas têm insinuado que, a depender de seus devaneios, poderão recorrer à intimidação e à violência, tanto no 7 de Setembro como nas eleições.
Eis a que ponto se chegou. O País tem um consolidado histórico de eleições em paz, mas as tensões e os atritos criados pelo próprio presidente da República têm despertado apreensão sobre o funcionamento ordeiro e pacífico do pleito. A preocupação ganhou especial concretude em julho, quando um bolsonarista assassinou a tiros um petista, em Foz do Iguaçu, apenas em razão da militância política da vítima. Depois do ocorrido, o TSE firmou acordo com o Ministério Público Eleitoral para combater a violência política.
O crime em Foz do Iguaçu suscitou também uma consulta de parlamentares ao TSE sobre a possibilidade de proibir o porte de armas de todos os cidadãos do País nos dias das eleições, autorizando apenas que as forças de segurança pública transitem armadas. O caso, cujo relator é o vice-presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, ainda não foi analisado pela Corte.
Eleições são tempo de paz e de ordem, de exercício livre e respeitoso dos direitos políticos. Não é período de agressão e, muito menos, de rebelião policial. Que todos estejam dentro da lei, para que a liberdade possa reinar. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
A estratégia alternativa da campanha de Bolsonaro para a entrevista ao JN
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O vice Walter Braga Netto, três ministros e o senador Flávio Bolsonaro tiveram 'sessão de treinamento particular' com o presidente
Por Malu Gaspar
O presidente Jair Bolsonaro dá entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada Antônio Cruz/Agência Brasil/08-08-2019
A preparação do presidente Jair Bolsonaro para a entrevista que dará hoje ao Jornal Nacional vem ocupando boa parte do tempo da coordenação da campanha à reeleição ao longo de toda a semana.
Mas como o presidente se recusou a fazer media training -espécie de simulação da entrevista-, o núcleo político do governo botou em prática uma estratégia alternativa.
Cada integrante do grupo aproveitou reuniões já marcadas com o presidente ou agendou conversas para falar em separado com Bolsonaro sobre o que achavam que deveria ou não ser dito a William Bonner e Renata Vasconcellos hoje à noite.
O vice Walter Braga Netto, os ministros Ciro Nogueira (Casa Civl), Fabio Faria (Comunicações) e Paulo Guedes (Economia), e o senador Flávio Bolsonaro já tiveram sua "sessão de treinamento particular" com Bolsonaro nos últimos dias.
O principal recado passado ao presidente nessas conversas foi o de que, ao contrário do que ocorreu em 2018, quando as redes sociais foram essenciais para a vitória, nesta eleição a TV aberta terá importância crucial.
Isso porque o público que Bolsonaro precisa atrair para chegar ao segundo turno - mulheres, eleitores de classe média e de periferias, que já votaram nele e depois se arrependeram - está mais acostumado à TV aberta e à Globo do que o seguidor bolsonarista.
Nas palavras de um dos estrategistas da campanha, "Ele precisa falar para a mulher que está em casa esperando para ver Pantanal".
Segundo a última pesquisa Datafolha, num eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista fica com 56% dos votos das mulheres, ante apenas 34% do atual ocupante do Palácio do Planalto.
Por isso, a recomendação geral foi a de que ele se concentre em falar sobre economia, com destaque para o Auxílio Brasil, a super safra de grãos e a deflação, e de políticas para mulheres.
Nesse quesito, vale atacar Lula por causa da desastrosa fala dele no último comício, em São Paulo – quando disse que quem quiser bater em mulher, “que vá bater em outro lugar”, mas não dentro de casa ou no Brasil – e colocar peso nos escândalos de corrupção do governo do PT.
O que Bolsonaro não deve fazer, em hipótese alguma, é falar em urna eletrônica e kit anti-homofobia (chamado de forma pejorativa de "kit gay"), segundo esses assessores. Nada disso, obviamente, impede que o presidente faça alguma declaração de impacto ou tenha guardado na manga algum truque para colocar Bonner e Renata contra a parede.
Mas se depender do treinamento disfarçado do núcleo político bolsonarista, o presidente da República surgirá mais controlado e propositivo nos 40 minutos de entrevista. Fonte: https://oglobo.globo.com
Confusão de Bolsonaro com youtuber no Palácio da Alvorada repercute na imprensa internacional.
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Presidente foi chamado de 'tchutchuca do Centrão' por Wilker Leão e tentou tomar o celular do influencer
Por O Globo — Rio de Janeiro
Confusão de Bolsonaro com YouTuber no Palácio da Alvorada repercute na imprensa internacional Reprodução
A confusão entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e um youtuber na manhã desta quinta-feira, em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, repercutiu na imprensa internacional. A mídia estrangeira noticiou que o mandatário foi chamado de "tchutchuca do Centrão" e tentou agarrar a camisa e tirar o celular do influencer Wilker Leão.
O youtuber questionava medidas tomadas por Bolsonaro, quando foi confrontado pelo presidente. Antes do embate, Wilker já havia sido derrubado no chão por apoiadores do presidente. A confusão foi registrada pelo portal G1.
A agência de notícias "Bloomberg" noticiou que Bolsonaro tentou agarrar de forma rude o aparelho usado por Leão para fazer uma live. "Imagens de vídeo (...) mostram o presidente saindo de seu carro e atacando o homem que estava segurando seu telefone, aparentemente para gravar um vídeo, enquanto insultava o líder", diz o texto.
A Associated Press (AP) informou que Bolsonaro "lutou brevemente com um desordeiro e tentou tomar seu telefone". A publicação destacou que o incidente ocorreu no terceiro dia da corrida presidencial e mostra "possíveis desafios para o líder, às vezes irascível, de manter-se disciplinado na campanha".
A reportagem da AP foi reproduzida em jornais como o americano "The Washington Post" e o britânico "The Independent", e também pela rede de televisão "ABC", uma das mais populares dos Estados Unidos.
Em Portugal, o "Diário de Notícias" destacou que Bolsonaro foi chamado de "tchutchuca do Centrão". A publicação explicou para o leitor português o que a expressão quer dizer:
"Termo retirado de uma música da banda funk Bonde do Tigrão, significa 'mulher submissa' e 'centrão', o conjunto de parlamentares assumidamente clientelistas a quem o presidente supostamente se rendeu de forma a se precaver de eventual impeachment", diz o "Diário de Notícias".
O site argentino "Infobae" afirmou que o presidente brasileiro "protagonizou um episódio polêmico", no qual "acabou brigando com o jovem, agarrando sua camisa, depois de usar o braço para tentar segurá-lo". Fonte: https://oglobo.globo.com
Campanha eleitoral é tempo de paz
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Ao colocar em dúvida a lisura das eleições, a retórica golpista de Jair Bolsonaro pode dificultar – ou mesmo interditar – o necessário debate sobre propostas e projetos para o País
Hoje é o início oficial da campanha eleitoral. Agora a propaganda eleitoral, inclusive na internet, é permitida. Pode haver distribuição de material gráfico, caminhada, carreata ou passeata, acompanhadas ou não por carro de som. Também é permitida a divulgação paga de anúncios de propaganda eleitoral. No período da campanha, os candidatos, partidos, federações e coligações podem realizar comícios e usar alto-falantes e amplificadores de som. A chamada propaganda gratuita no rádio e na televisão – que nada tem de gratuita – começará no próximo dia 26.
A simples menção ao que se pode fazer a partir de hoje evidencia que a Lei Eleitoral precisa ser respeitada com mais rigor. Basta ver as motociatas do presidente Jair Bolsonaro nos últimos meses. Além de desrespeitarem os prazos do calendário eleitoral, esses eventos de evidente caráter eleitoral custam caro aos cofres públicos.
Toda eleição se reveste de grande importância para a vida do País. É o momento por excelência em que o cidadão avalia o exercício do poder político, tanto no Executivo como no Legislativo. A campanha eleitoral é um chamado a que cada eleitor faça um diagnóstico dos mandatos que terminam e analise as propostas dos diferentes candidatos para os diversos cargos. É tempo, portanto, de se informar ainda com mais empenho e mais responsabilidade. Está em jogo o futuro da educação, da saúde, da economia, do emprego, da moralidade pública, da preservação ambiental e de tantos outros temas que afetam diretamente a vida e os sonhos da população.
Numa República, todos são iguais perante a lei. Mas, se o princípio da igualdade vale sempre, a eleição é uma das ocasiões em que se vivencia de forma mais explícita sua força. Seja qual for sua raça, origem, credo religioso, orientação ideológica, grau de instrução, situação patrimonial ou local de residência, todas as mulheres e todos os homens têm exatamente o mesmo direito de intervir no futuro do País. Nas urnas, a voz de cada um tem rigorosamente o mesmo valor. Campanha eleitoral é, portanto, momento por excelência de respeito e diálogo. O bom funcionamento da democracia demanda essa livre circulação de ideias.
Se toda campanha eleitoral tem traços comuns, a de 2022 tem características próprias. É a primeira campanha eleitoral desde a Constituição de 1988 que foi precedida por ataques sistemáticos do presidente da República contra as urnas eletrônicas, por suas tentativas de interferência na apuração dos votos e por suas insinuações de que pode vir a não respeitar o resultado das eleições.
Trata-se de fenômeno inteiramente inédito, que deve despertar a vigilância máxima por parte da sociedade e das instituições. Em regimes democráticos, o Poder Executivo não interfere na realização das eleições e os eleitos tomam posse. É preciso advertir, no entanto, que a retórica golpista de Jair Bolsonaro também tensiona a democracia noutro aspecto, igualmente fundamental. Ao colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral, ela pode dificultar – ou mesmo interditar – o imprescindível debate sobre as propostas para os problemas nacionais.
Campanha eleitoral deve ser ocasião de especial normalidade institucional precisamente para que todos possam livre e serenamente pensar as questões nacionais, dialogar com quem queira e fazer suas escolhas políticas. Não é tempo de medo, suscitando na população temores de que as regras do jogo talvez não sejam cumpridas. Em função disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou, de forma prudente e dentro da lei, no exercício de suas atribuições institucionais, que a desinformação sobre o processo eleitoral seja coibida e exemplarmente punida, podendo inclusive suscitar a cassação de candidaturas.
A pauta da campanha eleitoral não são as urnas eletrônicas, o que representaria um perverso diversionismo, privando a população de conhecer, refletir e debater sobre o que realmente importa para o País. É hora de enfrentar os temas com responsabilidade, conhecendo os candidatos, suas trajetórias e suas propostas. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Painel gigante para 7 de Setembro em Porto Alegre associa esquerda a bandido e PCC
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Painel gigante instalado em edifício residencial de Porto Alegre convoca para atos de 7 de Setembro e sugere que eleições opõem o Brasil a comunistas, associados ao PCC, à censura e ao narcotráfico - Helder Martins/Dhidrone
Uma faixa de mais de dez metros de altura dividida ao meio foi instalada na madrugada da última quinta, dia 11 de agosto, em um dos pontos de maior visibilidade da saída de Porto Alegre (RS).
Um lado amarelo, com a bandeira do Brasil no topo, outro lado vermelho, com a foice e o martelo cruzados, ícones do comunismo, o painel gigante opõe em cada metade "vida" versus "aborto", "bandido preso" versus "bandido solto", "valores cristãos" versus "ideologia de gênero", "liberdade" versus "censura".
Ainda do lado amarelo, "agro", "menos impostos", "polícia" e "ordem e progresso". Do lado vermelho, "MST", "mais impostos", "PCC" e "narcotráfico". No topo, a frase: "Você decide". No rodapé, o chamado para os atos marcados para o 7 de Setembro.
O grupo de WhatsApp dos moradores do edifício Caraíba, no viaduto da Conceição, cuja empena cega ampara a propaganda de desinformação e alarmismo, amanheceu em polvorosa.
"Houve muita discussão e até briga no grupo do condomínio", conta o estudante de medicina João Vitor Sperança, 21, que mora no local. "A grande maioria dos moradores ficou indignada, tem muita mentira. Queremos que seja retirado e alguns já denunciaram o caso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral)."
"Tem morador com medo de ser agredido por associação do conteúdo a quem mora no edifício", conta Sperança, que explica que o condomínio vendeu o espaço para uma agência de publicidade. "Está o maior rolo aqui."
A empresa LIFEpoa, responsável pelo comércio do espaço, informou por meio de nota divulgada em seu perfil numa rede social que veicula campanhas "desde que estejam de acordo com as normas do mercado publicitário e com a legislação vigente".
A nota informa ainda que o conteúdo é de responsabilidade dos anunciantes e que "conviver com simpatia ou rejeição a estas [campanhas] faz parte da liberdade que deve prevalecer na sociedade". O texto sugere que o conteúdo do painel é uma questão de opinião e conclui: "E que Deus abençoe a todos".
"Há uma série de associações tortas e comparações falsas de coisas que sabemos não terem nada a ver", avalia o estudante de Cuiabá que se mudou para a cidade para frequentar a faculdade de medicina de Porto Alegre (UFCSPA).
Para ele, mesmo sem assinatura ou logo, a propaganda tem afinidade com o bolsonarismo, "que sequestrou a bandeira nacional como símbolo" e que "trata a esquerda como comunista, associando ela a todos tipo de fantasma, como o aborto e o MST".
"Isso só mostra que, infelizmente, a gente ainda não evoluiu no Brasil em certos debates", diz ele, que afirma não ser comunista e que pretende votar em Lula nas eleições deste ano.
Na tarde desta sexta-feira, a ex-deputada Manuela D´Ávila (PC do B), que desistiu de concorrer a cargo nas eleições deste ano, postou a imagem acompanhada da frase "Todas as mentiras das redes ganham as ruas de Porto Alegre. Isso é criminoso. Quem pagou?".
Leonardo Zigon Hoffmann, sócio da LIFE, disse à Folha que a versão original do anúncio tinha a um "Já ir", associado à coluna amarela, e um "Já era", à coluna vermelha. O bordão "Jair ou Já era" foi usado por Eduardo Bolsonaro (PL) anteriormente, e faz referência ao primeiro nome do seu pai, atual presidente e candidato à reeleição. Por enxergar alusão direta ao candidato Jair Bolsonaro (PL), a peça foi alterada pelo cliente para então ser aprovada pelo jurídico da LIFE.
Hoffmann diz não estar autorizado a revelar o nome de quem pagou pela peça ou o valor pago. O preço padrão para um anúncio do mesmo porte exibido por um mês gira em torno de R$ 89 mil. Já o painel da avenida Benjamin Constant, uma das principais da zona norte da cidade, custa R$ 76 mil.
No caso de ordem judicial para a retirada, o tempo de exibição é encurtado sem que haja ressarcimento ao cliente. O empresário cita que já houve anúncios contrários ao presidente (embora assinados) e que, no próximo mês, firmou uma parceria com o Grupo Universitário para resguardo do espaço a uma campanha pelo voto consciente. Nesses casos, o valor do anúncio pode chegar a 10% do normal, e resguarda a empresa de problemas com a Justiça no período pré-eleitoral.
O vereador Matheus Gomes (PSOL) declarou ter entrado com representação do seu gabinete contra a peça junto ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e o Ministério Público, além da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, responsável pelo regramento da instalação de publicidade na capital gaúcha.
A Lei do Mobiliário Urbano impede que se divulguem peças com "preconceitos de origem, etnia, raça, sexo, cor, idade, religiosidade, orientação sexual, identidade de gênero e quaisquer outras formas de discriminação". A legislação também veta calúnias a pessoas, órgãos e entidades.
"O painel tem exposições caluniosas. É uma contrapropaganda e isso está fora do padrão", avalia Gomes. "Do ponto de vista político, temos uma série de elementos que propagam o ódio e incitam a violência contra setores da sociedade, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o maior produtor de arroz orgânico do país, associado a organizações criminosas."
Leonel Radde (PT), candidato a deputado federal que se declara como policial civil antifascista, disse que o material propaga "calúnias e fake news" e que vai acionar a empresa.
Procurados, TRE-RS e TSE não responderam aos pedidos da reportagem de informações sobre o trâmite das denúncias. Por meio de nota, o Ministério Público do Rio Grande do Sul informou que recebeu duas denúncias nesta sexta (12) e que elas "foram encaminhadas ao promotor com atribuição na fiscalização da propaganda eleitoral, que irá analisá-las". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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