O itinerário místico de Elias na Tradição da Família Carmelitana
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
O que mais marca a Tradição Eliana no Carmelo é este caminhar constante do profeta em obediência à Palavra que o chama a cada momento. A Tradição Eliana da Família Carmelitana retomou esta imagem do caminho e começou a insistir no itinerário místico ou espiritual, realizado pelo profeta. Ela apresenta Elias como modelo do caminho que o carmelita ou a carmelita deve percorrer para realizar o ideal do Evangelho tal como este está expresso na Regra de Santo Alberto.
A Subida do Monte Carmelo começa com o convite: "Saia daqui, dirija-se para o oriente e esconda-se junto ao córrego Carit, que fica a leste do Jordão" (1 R 17,3). Os primeiros Carmelitas comentavam dizendo que Carit significa Caridade: “Saia daqui e esconda-se na caridade!”
VIVER NO CARMELO EM OBSÉQUIO DE JESUS CRISTO NO ESPÍRITO DE ELISEU, O SUCESSOR (1ª Parte)
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
(Texto para reflexão do Programa, A Palavra do Frei Petrônio, neste sábado, dia 20. Para interagir ao vivo no Facebook Live- adicione a página: www.facebook.com/frepetros)
Os textos da Bíblia sobre o profeta Eliseu são pouco lembrados entre nós. Até nas Constituições da Ordem do Carmo o nome do profeta Eliseu aparece apenas uma única vez quando elas falam da devoção aos nossos Santos e Santas: "O Carmelo celebra, com especial devoção, os seus Santos, colhendo neles a expressão mais viva e genuína do carisma e da espiritualidade da Ordem ao longo dos séculos. Com particular solenidade, sejam celebradas a festividade de Santo Elias Profeta, a memória de S. Eliseu Profeta e as festas dos protetores da Ordem, a saber, S. José, S. Joaquim e Santa Ana" (Constituições Nº 88). No entanto, no livro "Instituição dos Primeiros Monges", uma das primeiras sínteses da espiritualidade carmelitana do século XIV, são constantes as referências ao profeta Eliseu como sendo aquele discípulo que deu continuidade à missão de Elias.
Na Bíblia os textos sobre Eliseu apresentam muita semelhança com os textos sobre Elias. Eliseu repete a mesma frase de Elias: "Vivo é o Senhor em cuja presença estou" (1Rs 17,1 e 2Rs 5,16). Como Elias, Eliseu insiste na partilha e na ajuda mútua (1Rs 17,7-16 e 2Rs 4,17). Como Elias, ele consegue devolver a vida ao menino falecido (1Rs 17,17-24 e 2Rs 4,32-37). Como Elias, ele enfrenta sem medo os reis e os poderosos (1Rs 18,20-40 e 2Rs 6,14-23). Deste modo, a Bíblia sugere que Eliseu é o verdadeiro sucessor de Elias: "O espírito de Elias repousa sobre Eliseu!" (2Rs 2,15).
Em Eliseu aparecem também características novas. Ele se preocupa com a saúde do povo: purifica a água contaminada de Jericó (2Rs 2,19-22), ajuda a vencer a fome (2Rs 4,42-44; 7,1-16), cura a lepra de Naamã o sírio (2Rs 5,1-17), encontra remédio caseiro para purificar a sopa envenenada (2Rs 4,38-41) e contribui para a organização e o crescimento do grupo dos irmãos profetas (2Rs 6,1-7). Deste modo, Eliseu, o sucessor, alargou e aprofundou o carisma de Elias.
Os textos da Bíblia sobre Eliseu, são textos dos quais hoje dizemos: "Quem conta um conto, aumenta um ponto, e quem canta um canto, aumenta outro tanto". Porém, eles aumentam, não para falsificar os fatos, mas sim para deixar mais clara a mensagem. Era a maneira popular de contar uma história. Por isso, nem sempre é possível saber exatamente o que aconteceu de fato. Clara, porém, é a mensagem que se quer comunicar.
Vamos percorrer, um por um, os textos da Bíblia sobre o profeta Eliseu para saber como ele viveu e praticou a oração, a fraternidade e a missão profética. A primeira parte destes textos coincide com a parte final dos textos sobre Elias (1Rs 19,15 a 2Rs 2,18). Isto traz consigo alguma repetição, mas o destaque desta vez não será Elias, mas sim Eliseu. Encontramos nestes textos os seguintes itens que vamos destacar e analisar mais de perto e que podem servir como critério para avaliar nossa vida hoje.
1-Elias deve ungir Eliseu como profeta. (1 Reis 19,15-16)
A total gratuidade do chamado de Deus
2-Quem escapar da espada de Jeú, Eliseu o matará. (1 Reis 19,17-18)
Como entender tanta violência na missão do profeta Eliseu?
3-Elias chama Eliseu colocando nele o seu manto. ( 1 Reis 19,19-20)
O gesto do manto: chamado, missão, compromisso
4-Eliseu responde ao chamado e segue Elias. (1 Reis 19,21)
Aceitar o chamado com coerência, humildade e gratidão
5-Eliseu acompanha Elias, desde Guilgal até o rio Jordão. (2 Reis 2,1-6)
Caminhar juntos para aprofundar e confirmar o chamado
6-Cinquenta irmãos profetas olham para Elias e Eliseu. (2 Reis 2,7)
Crescer em fraternidade, consciência e doação
7-Eliseu pede a dupla porção do espírito de Elias. (2 Reis 2,8-10)
Preservar e irradiar a herança do Pai Elias
8-Elias é arrebatado ao céu num carro de fogo. (2 Reis 2,11-12)
Disponível para Deus a todo momento
9-Eliseu apanha o manto de Elias e se torna o herdeiro. (2 Reis 2,13-15)
O espírito de Elias repousa sobre Eliseu
10-O corpo de Elias não foi encontrado. (2 Reis 2,16-18)
Respeitar o mistério de Deus nas pessoas
11-Eliseu purifica a água contaminada de Jericó. (2 Reis 2,19-22)
Ampliar a ação profética junto ao povo
12-Eliseu amaldiçoa os rapazes que o xingam de careca. (2 Reis 2,23-25)
Com Deus não se brinca!
13-Eliseu se envolve com a política dos reis. (2 Reis 3,4-14)
Preservar a liberdade diante dos poderosos
14-Eliseu entra em transe através da música . (2 Reis 3,15)
Entrar em contato com Deus através dos sinais da natureza
15-Eliseu manda usar violência contra Moab. (2 Reis 3,16-27)
A pedagogia divina conduz o povo da violência para o amor.
16-Eliseu ensina a viúva como pagar suas dívidas. (2 Reis 4,1-7)
Provocar a ajuda mútua entre os vizinhos
17-Eliseu devolve a vida ao filho falecido da Sunamita. (2 Reis 4,8-37)
Fazer a vida renascer e florescer
18-Eliseu purifica a panela envenenada. (2 Reis 4,38-41)
Transformar veneno em saúde
19-Eliseu provoca a multiplicação dos pães. (2 Reis 4,42-44)
Partilhar com os outros o pão que se recebe
20-Eliseu cura a lepra de Naamã da Síria. (2 Reis 5,1-17)
Curar as pessoas com fé e remédios caseiros
21-Eliseu permite Naamã ajudar na adoração de outro deus. (2 Reis 5,18-19)
Ecumenismo: saber respeitar a religião dos outros
22-Eliseu castiga a mentira e o roubo de Giezi. (2 Reis 5,20-27)
Não compactuar nunca com a mentira e o roubo
23-Eliseu e o machado que caiu no rio Jordão. (2 Reis 6,1-7)
Descobrir e agradecer os milagres de Deus na vida
24-Eliseu, o conselheiro do rei. (2 Reis 6,8-13)
Um bom conselho abre a porta da liberdade
25-Eliseu e a captura do batalhão de soldados arameus. (2 Reis 6,14-23)
Evitar a vingança e provocar a confraternização
26-A desumanização causada pela guerra. (2 Reis 6,24-31)
O rei diz que o culpado é Javé, o Deus de Eliseu
27-Eliseu anuncia o fim do cerco da cidade. (2 Reis 6,32-7,20)
As surpresas de Deus ultrapassam a previsão humana
28-Eliseu e o resto da história da Sunamita. (2 Reis 8,1-6)
Conservar a memória do passado rende para o presente
29-Eliseu e Hazael de Damasco. (2 Reis 8,7-15)
Nem sempre se consegue evitar o mal
30-Um discípulo de Eliseu unge Jeú como rei. (2 Reis 9,1-13)
Atos por Deus aprovados podem causar desgraças depois
31- A doença e a morte do profeta Eliseu. (2 Reis 13,14-21)
Vida bem vivida gera vida até depois da sua morte
32-Um breve resumo da vida do profeta Eliseu. (Eclo 48,11-12)
A lembrança do profeta na memória do povo
33-Na sinagoga de Nazaré Jesus se refere ao profeta Eliseu. (Lucas 4,24-30)
A lembrança viva do profeta continuava incomodando
(Continua no próximo artigo a reflexão sobre o Profeta Eliseu. Aguarde)
Escapulário de Nossa Senhora do Carmo: Uma reflexão pastoral e espiritual
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Frei Edimar Fernando Moreira, O. Carm.
O escapulário de Nossa Senhora do Carmo é uma das principais formas de devoção mariana da Igreja Católica. Essa devoção está diretamente ligada à Ordem Carmelitana. Tal família religiosa surgiu no final do século XII, durante o tempo das cruzadas. Eremitas, vindos principalmente da Europa, se reuniram no Monte Carmelo, na Palestina, junto à fonte do profeta Elias, e, lá estabeleceram morada. Depois de alguns anos, pediram ao patriarca de Jerusalém que lhes dessem uma regra de vida sob a qual todos deveriam continuar vivendo. Lá, construíram estabeleceram uma capela dedicada à Nossa Senhora, no centro de onde ficavam as celas, onde morava cada eremita. Principalmente por conta das invasões bárbaras à Terra Santa, eles retornaram, por volta 1238, à Europa.
Quando os carmelitas chegaram à Europa, tiveram muitas dificuldades para serem reconhecidos como uma Ordem religiosa. Corriam o risco de se extinguirem. Segundo alguns relatos, surgidos principalmente a partir do século XV, São Simão Stock, que seria o geral da Ordem, no ano de 1251 teria feito uma oração a Nossa Senhora pedindo sua proteção sobre os Carmelitas. Ele, segundo essas tradições, teve uma visão dela lhe entregando o escapulário e prometendo sua proteção à todos que estivessem usando o escapulário. Historicamente, a figura de São Simão Stock, bem como o relato de sua visão e sobre o conteúdo da promessa são questões bastante imprecisas e controversas. É um relato sobre o qual pouco se sabe, mas muito se falou e escreveu. Mas, o que vem a ser o escapulário? Por que as os Carmelitas o usavam?
O escapulário é uma um longo pedaço de tecido marrom, com um buraco no qual passa a cabeça, da largura dos ombros, que cobre a parte da frente e das costas da pessoa, até os pés. Os religiosos o colocam sobre a túnica. Antigamente, ele era utilizado como um avental. Por questões de praticidade, difundiu-se entre os leigos, devotos de Nossa Senhora do Carmo, a prática de usar uma versão menor do escapulário, na qual geralmente carrega, além de um pedaço de tecido, as estampas de Nossa Senhora do Carmo, de um lado, e do Sagrado Coração de Jesus do outro. Essa devoção, mesmo que tenha uma origem questionável, ainda pode, a partir de reflexões mais condizentes com nosso tempo, estar em íntima relação com o espirito cristão. Buscaremos, agora, uma proposta para uma reflexão contemporânea para o uso do escapulário a partir de três dimensões.
O escapulário, entendido como hábito, é sinal de consagração por meio da agregação à Família Carmelitana. Naquele tempo, no século XII, esse símbolo, mostrava tanto a pertença quanto a proteção por parte do dono daquele feudo ou fazenda. Assim, quem usava o escapulário de Nossa Senhora do Carmo pertencia ao grupo dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, como é o nosso nome “completo”. Hoje, a Ordem reconhece que todos os que usam o escapulário são carmelitas. Por isso, há uma tradição que geralmente quem faz a imposição do escapulário é um ou uma carmelita ou alguém devidamente autorizado. A pessoa é acolhida nesta família, e dela deve participar de acordo com seu carisma próprio. Somos chamados a ser uma presença orante, fraterna e profética no meio do povo. Desse modo, como cristãos que vivem um carisma específico, devemos viver como Maria, toda para Deus.
O escapulário é sinal de entrega total a Deus. A espiritualidade carmelitana chama isso de “viver em obséquio de Jesus Cristo” (Regra do Carmo, n. 2). Para isso, nós devemos “estar dia e noite meditando na Lei do Senhor” (Regra do Carmo, n. 10). O escapulário toma nossa frente e nossas costas. Isso significa que cada um que usa o escapulário deve também, como Maria, estar todo para Deus. Maria foi obediente e se ofereceu “todinha” a Deus (cf. Lc 1, 26). Nós também, como carmelitas, devemos fazer o mesmo. Essa entrega ao Pai, por sua vez, nos leva ao próximo.
Como já vimos, o escapulário é, antes de qualquer coisa, um avental. Usamos avental para o trabalho! Antigamente, o usavam aqueles que estavam a serviço no campo, na horta, nos afazeres da casa. Nossa Senhora nos ensina que devemos estar sempre a serviço. Nas bodas de Canã, ela, mesmo sendo apenas convidada para a festa, estava na cozinha, atenta às realidades das pessoas que podem levá-las a ter sua dignidade humana violada. O carmelita é convidado a estar na cozinha do mundo! Sabemos que o melhor caminho é estar atentos a fazer o que “Ele” nos disser, servindo ao Senhor, principalmente nos mais necessitados (cf. Jo 2, 1-12). Por isso, quem veste esse avental deve estar sempre em atitude de serviço (cf. Jo 13, 1-20).
Por isso, vemos que o escapulário de Nossa Senhora do Carmo nos compromete a seguir os passos de Maria de Nazaré em atitude de obediência a Deus e no serviço a Cristo na busca de uma vivência fraterna entre os irmãos. Vestir o escapulário, portanto, não é um privilégio, mas um convite a missão. Vivendo em obséquio de Jesus Cristo e meditando dia e noite na Lei do Senhor, o carmelita segue, junto com Maria, os passos de Jesus de Nazaré. Ele nos convida a trabalhar, guiados pelo Espírito Santo, na construção do Reino de Deus. Confiantes na proteção de Nossa Senhora e com o coração todo voltado para Deus, nos colocamos com nossa irmã como discípulos-missionários na construção de um reino de Amor e Justiça. Esse caminho não é fácil! É por ele, porém, que nosso bentinho se aproxima da nossa missão assumida no Batismo e torna um sinal visível de uma devoção verdadeira e profética.
A Paz de cemitério ou a paz de Jesus?
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Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ.
Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 16 de maio-2017.
No Evangelho dessa terça-feira, 16, Jesus diz: “Deixo-vos a paz, a minha vou dou”... (JO 14, 27-31a). Mas afinal, qual a paz de Jesus? Na Missa nos saudamos uns aos outros com a paz do Cristo. Nós rezamos pela paz, nós somos contra a guerra e torcemos pala paz. Queremos a paz para os nossos amigos e amigas. Torcemos para que a nossa família, trabalho, casa, rua, cidade, país e mundo vivam em paz. Quando vamos na igreja ficamos em paz, seja diante de Jesus na Eucaristia ou nos momentos de orações, retiros... Enfim, quando entramos no cemitério sentimos uma paz, mesmo que seja a paz angustiante ao pensarmos na realidade da morte. Mas de fato, esta é paz que Jesus nos deixou?
No Antigo Testamento nos deparamos com o Profeta Elias-Pai e guia dos Carmelitas- envolto no silêncio angustiante e na paz provocadora que o fez perceber a presença amorosa de Deus transformando a sua vida e o jogando de volta na caminha missionária. (1º Reis 19, 9-15)
Na primeira leitura da Missa dessa terça-feira, nos deparamos com o apedrejamento de Paulo Apóstolo e a sua fuga para continuar na Missão de paz e conforto espiritual para a primeira comunidade cristã. (At 14, 19-28). A exemplo do Profeta Elias que, no silêncio da brisa suave encontrou o Deus da paz provocadora, também o apóstolo Paulo estava cheio de paz a ponte de, mesmo passando pelo apedrejamento, continuar anunciando o Cristo vivo e Ressuscitado.
Portanto, meu caro seguidor das redes sociais e do Olhar Jornalístico, se engana quem pensa que a paz de Cristo é aquela que fica estática e fecha os olhos para as mazelas da sociedade; corrupção, fome, guerra, injustiça social. Não, não!!! A Paz de Cristo é inovadora, transformadora e criativa. Quem tem a verdadeira paz de Cristo abre os olhos e, a exemplo do Profeta Elias, de Paulo e dos diversos homens e mulheres seguidores e seguidoras de Jesus, são capazes de se jogar no mundo e na luta- cheios de paz- na defesa da vida e no anuncio da Boa nova.
Enfim, quando você vê um homem ou uma mulher envolto em uma paz que apenas silencia e não grita contra a presença da morte dos inocentes vítimas de um sistema consumista, egoísta e desumano, essa pessoa pode ter tudo, menos a paz de Cristo!. E tenho dito!
Como a Vocação se manifesta na vida
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Um chamado ou uma vocação pode vir de dentro da gente: “Eu me sinto chamado para isto ou para aquilo”. Também pode vir de fora. Alguém bate na porta e diz: “Maria, será que você pode vir ajudar a gente?” Geralmente, a vocação é algo que vem, ao mesmo tempo, de dentro e de fora da gente. É como uma semente que está dentro da terra. Mas se não houver chuva e sol que vem de fora, a semente que está dentro da gente não cresce e não se desenvolve.
Tem semente de alface e semente de jacarandá. Semente de alface, tendo sol e chuva, cresce rápida. Semente de jacarandá cresce bem mais devagar. A semente da vocação dentro da gente é de jacarandá: cresce devagar, durante tantos anos quantos anos dura nossa vida.
Vocação é como gente. Ninguém nasce sozinho, mas nasce de pai e mãe, no meio de uma família. Não cresce sozinho, mas com a ajuda de outras pessoas. Dizia o cearense filósofo lá do sertão que nunca estudou: “Eu não sou pessoa não. Sou pedaço de pessoa. Pessoa é a comunidade, e quanto mais eu participo na comunidade, mais pessoa eu fico”. É assim que cresce a vocação dentro da gente: convivendo.
Vocação pode nascer de muitas maneiras. Por exemplo, quando, diante de uma injustiça, você percebe que tem a possibilidade de fazer algo para mudar a situação, então, dentro de você, nasce um sentimento de responsabilidade que a faz dizer: “Não posso ficar parada! Devo fazer alguma coisa!” Pois bem, esta consciência forte que você, eu ou a comunidade às vezes sentimos de que podemos e devemos fazer algo para mudar o rumo dos acontecimentos ao nosso redor, é uma vocação. Vem de Deus através da consciência. Assim existem muitas vocações, muitos chamados.
Tem gente que vive procurando durante anos para saber “O que será que Deus quer de mim”. Quando depois de muitos anos de busca e de reza, finalmente, encontra a resposta que procurava, a pessoa diz: “Até que enfim encontrei o que eu queria. Acho que nasci para isso!” Naquele momento, tudo se encaixa e a pessoa se sente no lugar onde Deus a queria desde o momento em que nasceu.
No tempo do profeta Jeremias, as pessoas diziam a mesma coisa, mas com outras palavras. Jeremias sentia Deus dizendo a ele assim: “Jeremias, antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que fosse dado á luz, eu o consagrei, para fazer de você o profeta das nações” (Jr 1,5). Hoje dizemos: “Acho que estou no lugar onde Deus me quer. Nasci para isto!”.
Círculo Bíblico: O PROFETA ELIAS: ONDE ENCONTRAR OS SINAIS DE DEUS NA VIDA?
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Frei Carlos Mesters, Carmelita.
Adaptação: Frei Petrônio de Miranda, Carmelita.
ABERTURA
1- Um canto para começar
(Sugestão: Levanta Elias, do CD- Levanta Elias).
2- O animador acolhe o pessoal
3- Invocar a luz e a força do Espírito Santo
(Pode-se cantar um canto ou uma oração ao Espírito Santo).
PARTIR DE UM FATO DA VIDA
Hoje vamos refletir sobre o Profeta Elias. No título está escrito: "O profeta Elias: onde encontrar os sinais de Deus na vida?" Às vezes imaginamos os Santos e os Profetas como pessoas que nunca tiveram momentos de fraqueza e de escuridão. Foi exatamente o contrário! Como todos nós, eles passaram por momentos difíceis e de grande desânimo, em que Deus parecia estar ausente. É sobre isto que vamos refletir e rezar hoje.
A pergunta é esta: "Onde encontrar os sinais de Deus na vida?" Há muitas respostas. Nem todas iguais. Antes de darmos a nossa resposta, vamos ouvir algumas das respostas dos outros:
"Deus fala pela Bíblia, pela Igreja, pelas pessoas santas!”
- "Fecho os olhos, faço silêncio e o escuto dentro de mim!"
- "Quando um pobre bate na porta, eu digo: É Deus que chama!"
- "Sinto Deus nas festas bonitas, nas procissões e romarias"
- "Para mim, Deus está em todo canto, sempre, em tudo e todos!"
- "Praia, mar, montanha, pôr do sol: tudo me fala de Deus!"
Vamos conversar sobre este assunto e aprender uns dos outros:
- O que pensar de cada uma destas respostas?
- Qual a resposta que nós damos a esta pergunta?
MEDITAR A PALAVRA DE DEUS.
Vamos agora ouvir a Palavra de Deus. A leitura do Texto da Bíblia é um momento solene. É Deus quem nos dirige a Palavra. Por isso, vamos abrir o coração para Ele, cantando um canto de aclamação.
Para introduzir a leitura. O texto que vamos ouvir descreve como Elias ficou com medo e fugiu. Procurou Deus no terremoto, no fogo e na tempestade, e não o encontrou. Deus se fez presente de maneira bem diferente do que Elias imaginava. Enquanto formos ouvindo a leitura, fiquemos com esta pergunta na cabeça: "Como se deu o encontro entre Deus e Elias?"
LEITURA DO TEXTO DA BÍBLIA: 1 REIS 19,1-14
Momento de silêncio para a Palavra de Deus poder calar em nós.
Vamos descobrir o que Deus nos tem a dizer por meio deste texto:
1- O que você sentiu dentro de você ao ouvir esta história?
2- Como se deu o encontro entre Deus e Elias?
- Conte como se deu o encontro entre Deus e você
- Como este texto ilumina o problema que discutimos no início?
CELEBRAR A PALAVRA DE DEUS
Jesus também teve momentos muito difíceis. Foi no Horto das Oliveiras e na Cruz. Vamos unir-nos a Ele e expressar em forma de prece as intenções e sentimentos que neste momento estão no nosso coração.
Aqui, na presença de Deus, vamos formular e assumir juntos um compromisso de praticar a Palavra que ouvimos e meditamos. Vamos rezar o Salmo 22 que Jesus rezou quando estava na Cruz. Ele nos revela os sentimentos de Jesus na hora de morrer.
FINAL
Podemos concluir com canto, VAI ELIAS, do CD- Levanta Elias.
OLHAR DE DOMINGO: 14 de maio-2017.
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A CAMINHO DE ROMA: Frei Donizetti Barbosa e Frei Petrônio de Miranda... Quer dizer, a Rua Roma, aqui no Rio de Janeiro.
OLHAR DO DIA: Sábado, 13.
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OLHAR DO DIA: Frei Carlos Mesters- Em recuperação - aqui no Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro, recebe visitas da cidade de Angra dos Reis. www.olharjornalistico.com.br
*Padre Josimo Tavares, outro Cristo no nosso meio.
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Dia 10 de maio de 2017, dia que o ex-presidente Lula está depondo diante do juiz Moro, em Curitiba, PR, celebramos 31 anos do martírio do padre Josimo Tavares. Por isso o recordamos. Após tentativa de assassinato contra padre Josimo Moraes Tavares, no dia 15 de abril de 1986, quando cinco tiros foram disparados contra a Toyota em que ele viajava na defesa dos camponeses, profundamente ameaçado de morte - e de ressurreição! -, incompreendido por colegas padres e agentes de pastoral, inclusive, padre Josimo foi convocado a elaborar um relatório de suas atividades e a esclarecer as circunstâncias que levaram a tantas ameaças de morte contra ele.
*Leia na íntegra. Clique aqui:
*MARIA: A Padroeira dos Carmelitas
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Frei Christopher O’Donnell, O. Carm.
A mais antiga devoção mariana entre os carmelitas é, provavelmente, a invocação da Padroeira. Não significa que a ideia de Mãe, parte da herança cristã comum à toda Igreja, foi ignorada. Mas numa era feudal, a reflexão carmelitana sobre o oratório consagrado à Maria influenciou rapidamente a devoção de Maria como Padroeira do Carmelo como, por exemplo, em Baconthorpe (+ cerca de 1348). O domínio sobre o lugar é dado a ela. Os próprios eremitas escolheram este título. A afirmação de Baconthorpe é mais explícita em seu Laus religionis carmelitanae:
Assim como os profetas no Carmelo ofereceram um serviço místico à Virgem, os irmãos mais tarde, não esqueceram a resposta mística de seus predecessores, mas realizaram-na, pois, no mesmo Carmelo, eles ofereceram seus pescoços em escravidão à Virgem. Por isso, são verdadeiramente chamados “Irmãos de Maria do Monte Carmelo”.
Como observa Baconthorpe neste mesmo trabalho, existem elos recíprocos:
Portanto, é mais oportuno aos carmelitas que invoquem Maria, sua especial advogada, após cada uma das horas canônicas, ajoelhados e recitando a antífona “Salve Regina”. Corretamente, esta Ordem é fortemente venerada por tal grande advogada, de forma que cada um possa dizer: “terás o mesmo louvor”.
Assim, na cultura medieval feudal, Maria é vista como a Suserana do lugar, a sua Padroeira, pois tudo está sob seu domínio. O carmelita é, portanto, um vassalo num incondicional serviço.
- Bostius afirmou que tudo que diz respeito ao Carmelo, tanto geográfica como juridicamente, pertence à Maria: as casas, as igrejas dedicadas a ela, os hábitos. A tese principal de seu trabalho é que nada ou ninguém no Carmelo escapa ao domínio de Maria. Tudo pertence a ela como feudo, como heranças, como propriedade dela.
Talvez seja válido observar que, apesar de parecer próximo a essas ideias feudais, a tradição carmelitana nunca abraçou a devoção de “escravidão à Maria”. Na forma proposta pelo cardeal de Bérulle, isso foi sugerido às freiras descalças francesas, mas foi considerado estranho na época. Sem dúvida, apesar de alguns carmelitas sentirem-se atraídos pela escravidão mariana de São Grignon de Montfort, tal devoção nunca foi uma corrente forte ou defendida na Ordem. Como podemos ver adiante, existem alguns paralelos no misticismo mariano de Mary Petyt e Miguel de Santo Agostinho.
A noção de padroeira é tão tradicional e profunda que poderia parecer que pertence à essência do carisma mariano da Ordem. Uma chave para sua compreensão é que, diferente de alguns outros modos de se considerar Maria, o patronato implica num relacionamento de duas vias: Maria protege os Irmãos; os Irmãos servem a Maria. A dimensão deste duplo relacionamento para com Maria é característico do modo de vida carmelitano. No próximo capítulo examinaremos suas implicações mais de perto. A mentalidade feudal do relacionamento do padroado na Idade Média não é mais apropriada hoje em dia. Ele talvez seja melhor considerado hoje na forma de consagração, tema que consideraremos mais adiante.
*UMA PRESENÇA AMOROSA: MARIA E O CARMELO: Um Estudo da Herança Mariana na Ordem do Carmo.
Jesus, o filho, no cântico de Maria, sua mãe.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
O Evangelho de Lucas gosta de imitar o jeito do Antigo Testamento. O Cântico de Maria é uma retomada do cântico de Ana, mãe do profeta Samuel (1Sm 2,1-10). Maria, a mãe de Jesus, representa o povo do Antigo Testamento que reconhece em Jesus a chegada do Novo e, por isso, canta a sua gratidão. Jesus é o Novo que chega; ele realiza a promessa do Antigo que se despede.
Lucas 1,46-47: Minha alma proclama a grandeza do Senhor
Para entender bem todo o significado do Cântico de Maria, é importante lembrar que Lucas, quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades. No Antigo Testamento, o povo de Deus era simbolizado como sendo a Filha de Sião. Maria é a nova Filha de Sião. Ela representa o novo povo de Deus que nasce ao redor e a partir de Jesus. Quando Maria começa a cantar, não é só ela que canta, mas nela e com ela cantam as pequenas comunidades cristãs, cantamos todos nós. Como Maria, as comunidades proclamam a grandeza do Senhor e se alegram em Deus, pois em Jesus e por Jesus, Deus veio realizar as promessas de salvação que animaram a esperança que guiou o povo durante séculos. Jesus é o “sim” de Deus a todas as promessas do passado (2Cor 1,19-20).
Lucas 1,48: Todas as gerações me proclamam bem-aventurada
Maria proclama a mudança que aconteceu na sua própria vida, “porque Deus olhou para a humilhação da sua serva”. Ela e, depois dela, as comunidades têm consciência das coisas grandes que Deus operou nelas em favor de toda a humanidade: “todas as nações vão proclamar-me bem-aventurada”. Isto acontece assim, não por mérito de Maria nem dos pobres, mas por iniciativa da misericórdia de Deus.
Lucas 1,49-50: O todo poderoso fez grandes coisas em mim
Deus realizou maravilhas em Maria e nas Comunidades. Para vir ao mundo, Deus não pediu licença ao imperador romano, o dono do mundo, mas foi falar com uma moça pobre e humilde, lá em Nazaré, para ela dar o seu consentimento. Ela deu o seu consentimento e, por isso, a Palavra de Deus se fez carne e começou a viver no meio de nós. Os pobres deram o seu consentimento e, por isso, Deus pôde chegar perto e encarnar-se na vida deles, para que eles se tornassem, como diz a profecia de Isaías, a “Luz das Nações” (Is 42,6; 49,6). É esta experiência tão bonita do amor de Deus, que é celebrada no cântico de Maria e das Comunidades.
Lucas 1,51-53: Derruba os poderosos e eleva os humildes
Em seguida, Maria canta a fidelidade de Deus para com seu povo e proclama a salvação que Ele estava realizando. A expressão "braço de Deus" evoca a libertação do Êxodo e indica a força salvadora de Deus. Finalmente, depois de tantos séculos de espera ansiosa, a esperança dos pobres se realizou. Com a vinda de Jesus aconteceu a mudança que lês tanto esperavam: “dispersou os soberbos de coração, derrubou os poderosos dos seus tronos, elevou os humildes, encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”. Isto não significa que a mudança fosse apenas uma virada da mesa: os de cima para baixo e os de baixo para cima. Não! Nas comunidades dos pobres as causas das desigualdades e das injustiças começam a ser eliminadas e agora todos e todas poderão conviver na fraternidade, na justiça e na paz.
Lucas 1,54-55: Em favor de Abraão e sua descendência para sempre
No fim, Maria lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e da sua fidelidade. Em Jesus se realiza a esperança, suscitada nos pobres pela promessa feita por Deus a Abraão e a seus filhos para sempre. A Boa Nova de Deus veio, não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às suas promessas.
*Humanizar no Carmelo: Encontro em São João del Rei-MG.
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(Foto: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Eduardo Valim, Prior da Ordem Terceira do Carmo de São João del Rei-MG, esposa e filho neste domingo, 7).
A subida do Monte Carmelo, digo, a vivência da Espiritualidade Carmelitana por parte de um irmão terceiro carmelita (a), em primeiro lugar, implica em seguir a Cristo com todo o seu ser e servi- Lo “fielmente com coração puro e total dedicação”. O espírito de Cristo misericordioso, manso e humilde de coração deve “contaminar” todo o seu ser a ponto de poder repetir com o Apóstolo São Paulo, “não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20), de forma que todo o agir ocorra “sob sua palavra”. Como dizia o Beato Carmelita, Frei Tito Brandsma, “Assim como Maria, devemos nos engravidar de Jesus”. Ou seja, quem tem e vive Jesus transborda mansidão, alegria, perdão e humanidade...
*Leia na íntegra. Clique aqui:
http://mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com.br/2017/05/humanizar-no-carmelo.html
CÍRCULOS BÍBLICOS DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO: O BOM PASTOR.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm, Mercedes Lopes e Francisco Orofino
Jesus é o Bom Pastor: "Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância!"
João 10,1-18
Acolhida:
1- Criar um bom ambiente. Dar as boas vindas. Colocar as pessoas à vontade.
2- Canto inicial. Sugestão: "Eu vim para que todos tenham vida"
3- Apresentar brevemente o assunto que vai ser refletido, meditado e rezado neste encontro.
4- Invocar a luz do Espírito Santo.
Olhar de perto as coisas da nossa vida
No encontro de hoje, vamos meditar sobre a imagem do Bom Pastor. Jesus é o bom pastor que veio para que todos tenham vida em abundância! O pastor era a imagem e o símbolo do líder. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líder, mas na realidade, são ladrões e assaltantes. Pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo. Vamos conversar sobre isto.
1- Você já teve a experiência de ter sido enganado assim? Conte como foi.
2- Quais são os critérios que voce usa para avaliar uma liderança?
Olhar no espelho da vida: Introdução à leitura do texto
O texto que vamos ouvir fala das ovelhas do rebanho de Deus e usa várias imagens para falar dos que tomam conta do rebanho. Durante a leitura, vamos prestar atenção nas imagens que Jesus usa para se apresentar a nós como verdadeiro pastor:
1- Leitura do texto: João 10,1-18
2- Momento de silêncio.
3- Perguntas para a reflexão:
O que mais chamou a sua atenção? Por que?
1- Quais as imagens que Jesus aplica a si mesmo e o que elas significam?
2- Quantas vezes, neste texto, Jesus usa a palavra vida e o que ele diz sobre a vida?
3- Pastor-Pastoral. Será que nossas pastorais continuam a missão de Jesus-Pastor?
Celebrar a vida que Deus nos deu
Sugestões para a celebração:
1- Canto: "Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão"
2- Colocar os símbolos de Jesus como Bom Pastor.
3- Colocar em forma de prece o que refletimos sobre o evangelho e sobre a vida. Como refrão após cada prece digamos: "O Senhor é meu pastor, nada me falta!"
4- Agora, depois que meditamos a Palavra de Deus, o que esta Palavra está pedindo de mim, de nós?
5- Rezar um salmo. Sugestão: Salmo 23(22): “O Senhor é meu pastor, nada me falta..”
6- Terminar tudo com um Pai-Nosso.
Uma ajuda para o grupo: Situando
1-Discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si:
2- Comparação: pastor e assaltante (Jo 10,1-5)
3- Comparação: Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10)
4- Comparação: Jesus não é simplesmente um pastor, mas sim o Bom Pastor (Jo 10,11-18)
5-Temos aqui um outro exemplo de como foi escrito o evangelho de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10,1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.
Comentando
1-João 10,1-5:
1-Imagem: Entrar pela porteira e não por outro lugar
Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: "Quem não entra pela porteira mas sobe por outro lugar é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas!" Para entender esta comparação, tem que lembrar o seguinte. Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.
2-João 10,6-10: 2ª Imagem: Jesus é a porteira
Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava "entrar pela porteira". Jesus então explicou: "Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes". De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo tomar a iniciativa de não seguir o fulano que se apresenta como pastor, mas não busca a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: "Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente!" Este é o critério!
3- João 10,11-15: 3ª Imagem: doar a vida pelas ovelhas
Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, diz que é o pastor. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que ele insiste. Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o Pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Assim, para quem quer vencer sua cegueira é importante conferir a própria opinião com a do povo. Era isto que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Jesus, ao contrário, diz que no povo há uma percepção infalível para saber quem é o bom pastor. Os fariseus pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras como tirar este tipo de cegueira. 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas.
4- João 10,16-18: A meta onde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor
Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão seguí-lo. Aqui transparece a atitude ecumênica das comunidades do Discípulo Amado, de que falamos na Introdução.
5-Alargando: A imagem do Pastor na Bíblia
Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).
Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo que é o próprio Deus: "O Senhor é meu pastor nada me falta!" (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: "Oxalá ouvisseis hoje a sua voz!" (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surge o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3,15; 23,4).
Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubavam o povo. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: "Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!" (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor, é o cordeiro!
FAMÍLIA CARMELITA SECULAR
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Irmão Paulo Daher –OTC-Angra dos Reis
Coordenador da Comissão para Ordem Terceira da Província Carmelitana de Santo Elias
A Família Carmelita Secular é formada pelos Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo, pelas Confrarias do Escapulário, pelas Fraternidades, pelos Grupos de Espiritualidade Carmelita filiados à Ordem do Carmo e por todos aqueles que são devotos do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, ou seja, que usam o Escapulário por devoção e imposto por um Sacerdote, participando dos benefícios espirituais adquiridos por essa devoção e que o usam de modo coerente com as práticas cristãs.
Usar o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo é comprometer-se com Jesus, é atender ao mandato de Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser”; é cumprir integralmente o compromisso batismal de seguir e servir Jesus na missão de evangelizar e implantar o Reino de amor e paz.
A Família Carmelitana Secular é composta por todos os fiéis leigos carmelitas que está espalhada por todo mundo e aqui no Brasil é composta notadamente pelos irmãos e irmãs das Ordem Terceira do Carmo, mas temos também algumas Confrarias e Fraternidades. No Brasil temos Sodalícios na Província Pernambucana (nordeste) e na Província Carmelitana de Santo Elias que abrange os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Brasília. Na Província de Santo Elias são 33 os Sodalícios.
Para pertencer a uma Ordem Terceira do Carmo é necessário que a pessoa seja convidada por um irmão, por uma irmã, por um sacerdote ou ainda demonstre interesse próprio de pertencer ao Sodalício, mas é extremamente importante que o interessado à admissão, tenha VOCAÇÃO para a vida religiosa, pois apesar se tratar de grupos de leigos, trata-se de uma vida religiosa na Ordem do Carmo. De nada adianta ter somente vontade e achar bonito e ser devoto de Nossa Senhora; a vocação ao Carmelo é uma chama viva que abrasa o coração para sempre no sentido de ser discípulos e discípulas de Jesus Cristo, vivendo e praticando a espiritualidade carmelita, pois o “Carmelo é, há séculos, uma via privilegiada e segura para o caminho de santidade” (cf Regra da OTC – Preâmbulo – p. 16).
Os terceiros carmelitas são chamados a viver no mundo secular (trabalho, família, escola etc) a sua vocação, iluminando o ambiente com a luz de Cristo e espalhando à devoção a Nossa Senhora do Carmo. “Hoje, portanto, os seculares são chamados, na especificidade de sua vocação, a iluminar e a dar justo valor a todas as realidades temporais, de forma que sejam vividas segundo os valores proclamados por Cristo... Espera-se que os leigos carmelitas sejam colaboradores da nova evangelização...” (cf Regra da OTC 10 – pgs 21 e 22). Os Sodalícios possuem uma Regra de Vida, aprovada pelo Prior Geral da Ordem e pela Santa Sé, e são regidos pelos estatutos locais, mas são ligados à Ordem do Carmo e têm como Superior, o Prior Geral Carmelita a quem devem obediência na pessoa do Provincial e do Delegado Provincial. Apesar das Ordens Terceiras estarem inseridas numa Paróquia, elas são diretamente ligadas à Ordem do Carmo que confere a Carta de Provisão para a fundação de um Sodalício e na aprovação do Estatuto.
O vínculo fundamental do terceiro com o Carmelo é a PROFISSÃO PERPÉTUA através da emissão dos votos de obediência, pobreza e castidade segundo as obrigações do próprio estado. É desta maneira que ocorre a consagração do terceiro a Deus. A Profissão ocorre depois de um período de formação que tem as seguintes etapas: Postulantado (um ano); Noviciado (um ano), que após o discernimento adequado o noviço emite os votos provisórios por três anos. Após a continuidade da formação ao longo desses três anos, o Conselho da OTC aconselha ou não que o irmão ou a irmã faça sua profissão definitiva ou perpétua. O fato de emitir votos perpétuos não significa que acabou a formação, pois a mesma é permanente para todo o Sodalício. Todos os anos, por ocasião da Festa de Nossa Senhora do Carmo, os membros da OTC, de forma individual ou coletiva, renovam a profissão.
A vocação carmelita é exercida na Igreja, chamados ao apostolado em várias modalidades que a Paróquia onde a OTC está inserida possui, e desta forma o terceiro deve engajar-se numa atividade eclesial/Pastoral. “Como todo os Carmelitas, o leigo Carmelita é chamado a realizar algum tipo de serviço parte integrante do carisma... para muitos terceiros esta é a contribuição fundamental para a edificação do Reino” (cf Regra da OTC – 46 – p. 44).
O terceiro carmelita, assim deve esforçar-se no trabalho eclesial e social, buscando proclamar a mensagem sempre nova do Senhor da vida e da história. Alguns Sodalícios mantém assistência social em creches, distribuição de cestas básicas, escolas etc. Individualmente, também exercem seu papel cristão no mundo secular e eclesial, espalhando o carisma do Carmelo; assim é possível viver a vocação cristã e carmelita.
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