Novo documento sobre o real significado da cena da Natividade
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Para os cristãos ocidentais, o novo ano litúrgico começa neste domingo, 1.º de dezembro, com o início do Advento. O Advento é, tradicionalmente, um tempo marcado por alegre espera pela chegada do Natal. E, no entanto, uma semana e meia antes deste momento chegar, o gabinete presidencial da Cidade do Vaticano já montou uma gigante árvore natalina na Praça de São Pedro. O comentário é de Robert Mickens, publicado por La Croix International, 28-11-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
É muito para uma simples espera, alegre ou não...
Quando montaram a árvore, o Papa Francisco nem sequer estava em Roma. Ele estava encerrando a sua visita pastoral a Bangkok, na Tailândia, antes de rumar para o Japão. Mas já no dia em que regressou ao Vaticano, o pontífice foi para a praça, não para inspecionar a árvore, mas para realizar a sua Audiência Geral.
“No próximo domingo começa o tempo litúrgico do Advento”, disse ele na conclusão da audiência. “Irei a Greccio para rezar no lugar do primeiro presépio que fez São Francisco de Assis”, continuou.
Falou também que pretende publicar uma carta aos fiéis em Greccio, município localizado na cordilheira dos Apeninos, ao norte de Roma. O objetivo deste novo documento papal, segundo informou, é ajudar os fiéis a “entender o significado” do presépio.
Diz-se que São Francisco de Assis desenvolveu o primeiro presépio em 1223 na encosta da cordilheira em Greccio, um dos seus eremitérios favoritos. Francisco quis fazer do fato da Encarnação do Verbo – Deus se fez carne – uma realidade para os pobres da cidade.
Bastante simples, não? Portanto, podemos nos perguntar: por que o papa precisa escrever uma carta aos fiéis para explicar o significado desta cena?
Obviamente, Francisco, que em breve completará 83 anos, acredita que muitos se esqueceram que a Encarnação do Verbo – o Verbo se fez carne – é o fundamento da fé cristã.
“E esta é a verdade, esta é a revelação de Jesus: esta presença de Jesus encarnado. E este é o ponto”, disse ele nos primeiros meses de seu pontificado durante uma missa matinal na Casa Santa Marta.
De acordo com o papa, algo assim é escandaloso para os que não creem.
“Nós podemos fazer todas as obras sociais que queremos e dirão: ‘Mas que boa a Igreja, que boa obra social que faz a Igreja’. Mas se nós dissermos que nós fazemos isto porque estas pessoas são a carne de Cristo, vira um escândalo”, explicou.
A nova carta do papa sobre a cena da Natividade irá se basear, provavelmente, neste pensamento e em outros que ele compartilhou ao longo dos anos a respeito da Encarnação.
Tocar a carne de Cristo na carne dos pobres
“Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres”, escreveu Francisco em 2017 na mensagem dedicada ao 1º Dia Mundial dos Pobres.
“O Corpo de Cristo, repartido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam a ressoar de grande atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: ‘Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no tempo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez’”, lê-se na sua mensagem.
Na mensagem que escreveu este ano para o Dia Mundial dos Pobres, Francisco reitera:
“A condição dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles. Antes, pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização”, disse.
“A promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica”, insistiu o papa.
O que Francisco está querendo dizer é que “quem não ama o seu irmão (ou irmã), a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4,20).
“O critério do amor cristão é a Encarnação do Verbo. (...) Um amor que não reconhece que Jesus veio em Carne, na Carne, não é o amor que Deus nos comanda”, disse o papa em outra de suas homilias proferidas na Casa Santa Marta há alguns anos.
Francisco pediu que o nosso amor seja “concreto, com as obras de misericórdia” pelas quais tocamos “a carne de Cristo ali, de Cristo Encarnado”.
Segundo ele, foi por esse motivo que o diácono Lourenço disse: ‘Os pobres são o tesouro da Igreja!’ (…) Porque eles são a carne sofredora de Cristo!”
Não sabemos o que o papa dirá em sua nova carta a respeito da significação do presépio.
Mas, sem dúvida, destacará que a cena retratada ultrapassa um simples símbolo popular, indo além de uma marca da identidade cristã que alguém pode exibir. Ela é também um desafio e um convite para que cuidemos dos pobres e marginalizados.
Esperemos o papa compartilhar os seus pensamentos sobre o verdadeiro significado do Natal. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
CARTA APOSTÓLICA SIGNUN ADMIRÁVEL DO SANTO PADRE FRANCESCO SOBRE O SIGNIFICADO E O VALOR DO PRESÉPIO.
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“Admirável sinal” (Admirabile Signum) é o título da Carta Apostólica que o Papa Francisco dedica ao presépio para ressaltar o seu significado e valor.
1- O admirável sinal da manjedoura, tão querido pelo povo cristão, sempre desperta espanto e admiração. Representar o evento do nascimento de Jesus é equivalente a anunciar o mistério da Encarnação do Filho de Deus com simplicidade e alegria. O presépio, de fato, é como um evangelho vivo, que transborda das páginas das Escrituras Sagradas. Enquanto contemplamos a cena do Natal, somos convidados a partir espiritualmente no caminho, atraídos pela humildade daquele que se tornou homem para conhecer todos os homens. E descobrimos que ele nos ama tanto que se junta a nós, para que também possamos nos unir a ele.
Com esta carta, gostaria de apoiar a bela tradição de nossas famílias, que preparam o berço nos dias anteriores ao Natal. Além do costume de montá-lo em locais de trabalho, escolas, hospitais, prisões, praças ... É realmente um exercício de imaginação criativa, que utiliza os materiais mais díspares para criar pequenas obras-primas da beleza. Aprende-se quando criança: quando pai e mãe, juntamente com seus avós, transmitem esse hábito alegre, que encarna uma rica espiritualidade popular. Espero que essa prática nunca falhe; de fato, espero que, onde caiu em desuso, possa ser redescoberto e revitalizado.
2- A origem da manjedoura é refletida em primeiro lugar em alguns detalhes evangélicos do nascimento de Jesus em Belém. O evangelista Lucas simplesmente diz que Maria "deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em panos e o colocou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles em casa" (2,7). Jesus é colocado em uma manjedoura, que em latim é chamada praesepium , da qual a manjedoura .
Entrando neste mundo, o Filho de Deus encontra um lugar onde os animais vão comer. Feno se torna o primeiro leito para Aquele que se revelará como "o pão que desceu do céu" ( Jo 6:41). Um simbolismo que Santo Agostinho, junto com outros Padres, havia entendido quando escreveu: "Deitado em uma manjedoura, ele se tornou nosso alimento" ( Serm . 189.4). Na realidade, o presépio contém diferentes mistérios da vida de Jesus e os faz sentir-se próximos da nossa vida cotidiana.
Mas chegamos imediatamente à origem do berço como o entendemos. Pensamos em Greccio, no vale de Reatina, onde São Francisco parou provavelmente de Roma, onde em 29 de novembro de 1223 ele recebeu a confirmação de seu governo do papa Honório III. Depois de sua viagem à Terra Santa, aquelas cavernas lembraram-lhe de uma maneira especial a paisagem de Belém. E é possível que o Poverello tenha sido atingido, em Roma, na Basílica de Santa Maria Maggiore, pelos mosaicos com a representação do nascimento de Jesus, bem ao lado do local onde, segundo uma tradição antiga, as mesas da manjedoura foram preservadas.
As fontes franciscanas contam em detalhes o que aconteceu em Greccio. Quinze dias antes do Natal, Francis chamou um homem local, chamado John, e pediu-lhe para ajudá-lo a fazer um pedido: "Gostaria de representar a Criança nascida em Belém e de alguma forma ver com os olhos do corpo as dificuldades em que foi encontrado pela falta de coisas necessárias para um recém-nascido, como ele foi deitado em um berço e deitado no feno entre o boi e o burro ». [1]Assim que ouviu, seu fiel amigo foi imediatamente montar tudo o que precisava no local designado, de acordo com o desejo do santo. Em 25 de dezembro, muitos frades chegaram a Greccio de várias partes e homens e mulheres também chegaram das fazendas da região, trazendo flores e tochas para iluminar a noite sagrada. Quando Francesco chegou, encontrou o berço com o feno, o boi e o burro. As pessoas que notaram mostraram uma alegria indescritível, nunca saboreada antes, na frente da cena do Natal. Então o padre, na manjedoura, celebrou solenemente a Eucaristia, mostrando o elo entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Naquela ocasião, em Greccio, não havia figuras: o berço foi criado e vivido por quem estava presente. [2]
É assim que nasce nossa tradição: toda a caverna e cheia de alegria, sem distanciamento entre o evento que se realiza e aqueles que se tornam participantes do mistério.
O primeiro biógrafo de São Francisco, Tommaso da Celano, lembra que naquela noite, o dom de uma visão maravilhosa foi acrescentada à cena simples e emocionante: um dos presentes viu o próprio Jesus Bambino deitado na manjedoura. A partir daquele presépio de Natal em 1223, "todos voltaram para sua casa cheios de alegria inefável". [3]
3-São Francisco, com a simplicidade desse sinal, realizou uma grande obra de evangelização. Seu ensino penetrou nos corações dos cristãos e permanece até os nossos dias como uma forma genuína de reproduzir a beleza de nossa fé com simplicidade. Por outro lado, o próprio local onde foi feito o primeiro berço expressa e evoca esses sentimentos. Greccio se torna um refúgio para a alma que se esconde na rocha para se deixar envolver em silêncio.
Por que o berço inspira espanto e nos move? Antes de tudo, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, reduz a nossa pequenez. O dom da vida, que sempre é misterioso para nós sempre, nos fascina ainda mais, pois aquele que nasceu de Maria é a fonte e o suporte de toda vida. Em Jesus, o Pai nos deu um irmão que vem nos procurar quando estamos desorientados e perdemos a direção; um amigo fiel que está sempre perto de nós; Ele nos deu seu Filho, que nos perdoa e nos levanta do pecado.
Compor o berço em nossa casa nos ajuda a reviver a história que foi vivida em Belém. Certamente, os Evangelhos sempre permanecem a fonte que permite conhecer e meditar sobre esse Evento; no entanto, sua representação no berço ajuda a imaginar as cenas, estimula os afetos, nos convida a nos envolver na história da salvação, contemporâneos do evento que é vivo e atual nos mais diversos contextos históricos e culturais.
De um modo particular, desde a origem franciscana, o berço é um convite a "sentir", a "tocar" a pobreza que o Filho de Deus escolheu para si em sua Encarnação. E assim, implicitamente, é um chamado para segui-lo no caminho da humildade, pobreza, despojo, que leva da manjedoura de Belém à cruz. É um chamado para encontrá-lo e servi-lo com misericórdia em seus irmãos e irmãs mais necessitados (ver Mt 25 : 31-46).
4- Agora, gosto de revisar os vários sinais do berço para entender o significado que eles carregam dentro deles. Primeiro, representamos o contexto do céu estrelado no escuro e o silêncio da noite. Não é apenas em fidelidade às histórias evangélicas que fazemos dessa maneira, mas também pelo significado que ela tem. Pense em quantas vezes a noite rodeia nossas vidas. Bem, mesmo nesses momentos, Deus não nos deixa em paz, mas se faz presente para responder às perguntas decisivas sobre o significado de nossa existência: quem sou eu? De onde eu venho? Por que eu nasci nessa época? Por que eu amo? Por que estou sofrendo? Por que eu vou morrer? Para responder a essas perguntas, Deus se tornou homem. Sua proximidade traz luz onde há trevas e ilumina aqueles que atravessam as trevas do sofrimento (ver Lc 1,79).
As paisagens que fazem parte do berço também merecem uma palavra e muitas vezes representam as ruínas de casas e edifícios antigos, que em alguns casos substituem a caverna de Belém e se tornam o lar da Sagrada Família. Essas ruínas parecem inspiradas na Legenda Aurea do dominicano Jacopo da Varazze (século XIII), onde lemos uma crença pagã de que o Templo da Paz em Roma entraria em colapso quando uma Virgem dava à luz. Essas ruínas são, acima de tudo, o sinal visível da humanidade caída, de tudo o que está em ruínas, que é corrupto e entristecido. Esse cenário diz que Jesus é a novidade no meio de um mundo antigo e veio para curar e reconstruir, para trazer nossa vida e o mundo de volta ao seu esplendor original.
- Quanta emoção deve nos acompanhar quando colocamos montanhas, riachos, ovelhas e pastores no berço! Dessa forma, lembramos, como os profetas anunciaram, que toda a criação participa da celebração da vinda do Messias. Os anjos e o cometa são o sinal de que nós também somos chamados a partir para alcançar a caverna e adorar o Senhor.
"Vamos até Belém, vamos ver este evento que o Senhor nos deu a conhecer" ( Lc 2:15): é o que dizem os pastores após o anúncio feito pelos anjos. É um ensinamento muito bonito que nos chega na simplicidade da descrição. Ao contrário de tantas pessoas que pretendem fazer mil outras coisas, os pastores se tornam as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que é dada. Eles são os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o evento da Encarnação. Para Deus que vem nos encontrar no Menino Jesus, os pastores respondem dirigindo-se a ele, para um encontro de amor e admiração agradecida. É precisamente esse encontro entre Deus e seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião, para constituir sua beleza única, que brilha de um modo particular no berço.
6- Em nossos berços, geralmente colocamos muitas estátuas simbólicas. Antes de tudo, os dos mendigos e as pessoas que não conhecem outra abundância além da do coração. Eles também estão próximos do Menino Jesus por si mesmos, sem que ninguém possa despejá-los ou removê-los de um berço tão improvisado que os pobres ao seu redor não se chocam. Os pobres, de fato, são os privilegiados desse mistério e, freqüentemente, os que são mais capazes de reconhecer a presença de Deus em nosso meio.
Os pobres e os simples do berço lembram que Deus se torna homem para aqueles que sentem a necessidade de seu amor e pedem sua proximidade. Jesus, "manso e humilde de coração" ( Mt.11.29), ele nasceu pobre, levou uma vida simples para nos ensinar a entender o essencial e viver disso. Do berço, surge claramente a mensagem de que não podemos nos deixar enganar pela riqueza e por tantas propostas efêmeras de felicidade. O palácio de Herodes fica ao fundo, fechado, surdo ao anúncio da alegria. Nascido no berço, o próprio Deus inicia a única revolução real que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Da manjedoura, Jesus proclama, com poder moderado, o chamado para compartilhar com este último como caminho para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém é excluído e marginalizado.
Muitas vezes crianças - mas até adultos! - eles adoram adicionar outras figuras ao berço que parecem não ter conexão com as histórias do evangelho. E, no entanto, essa imaginação pretende expressar que, neste novo mundo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres que levam os jarros de água às crianças que brincam ...: tudo isso representa a santidade diária, a alegria de fazer de maneira extraordinária as coisas da vida cotidiana, quando Jesus compartilha com nós sua vida divina.
7- Pouco a pouco, o berço nos leva à caverna, onde encontramos as estatuetas de Maria e José. Maria é uma mãe que contempla o filho e mostra para quem vem visitá-lo. Sua estatueta faz pensar no grande mistério que envolveu essa garota quando Deus bateu na porta do seu coração imaculado. No anúncio do anjo que a pediu para ser mãe de Deus, Maria respondeu com total e total obediência. Suas palavras: "Eis a serva do Senhor; faça-se por mim segundo a tua palavra" ( Lc1.38), somos para todos nós o testemunho de como abandonar a fé na vontade de Deus.Com esse "sim" Maria tornou-se mãe do Filho de Deus sem perder, consagrando de fato sua virgindade graças a ele. Vemos nela a Mãe de Deus, que não guarda seu Filho apenas para si mesma, mas pede a todos que obedeçam à sua palavra e a ponham em prática (ver Jo 2 : 5).
Ao lado de Maria, em uma atitude de proteger a criança e sua mãe, está São José. Geralmente é representado com o bastão na mão e, às vezes, mesmo segurando uma lâmpada. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. Ele é o zelador que nunca se cansa de proteger sua família. Quando Deus o adverte da ameaça de Herodes, ele não hesitará em partir e emigrar para o Egito (ver Mateus 2 : 13-15). E uma vez que o perigo tenha passado, ele trará a família de volta a Nazaré, onde será o primeiro educador de uma criança e adolescente Jesus. José carregava em seu coração o grande mistério que envolveu Jesus e Maria, sua noiva, e como homem justo, ele sempre confiou na vontade de Deus e a colocou em prática.
8- O coração do berço começa a palpitar quando, no Natal, colocamos a estátua do Menino Jesus. Deus se apresenta assim, em uma criança, para ser acolhido em nossos braços. Em fraqueza e fragilidade, ele esconde seu poder que cria e transforma tudo. Parece impossível, e ainda assim é: em Jesus, Deus era criança e, nessa condição, ele queria revelar a grandeza de seu amor, que se manifesta em um sorriso e em estender as mãos para alguém.
O nascimento de uma criança desperta alegria e admiração, porque se põe diante do grande mistério da vida. Vendo os olhos do jovem casal brilhando na frente de seu filho recém-nascido, entendemos os sentimentos de Maria e José que, observando o menino Jesus, perceberam a presença de Deus em suas vidas.
"Porque a vida se manifestou" ( 1 João 1: 2): assim o apóstolo João resume o mistério da Encarnação. O presépio nos faz ver, nos faz tocar neste evento único e extraordinário que mudou o curso da história, e do qual também ordenamos a numeração de anos, antes e depois do nascimento de Cristo.
A maneira de Deus agir quase atordoada, porque parece impossível que Ele renuncie a sua glória para se tornar um homem como nós. Que surpresa ver Deus assumindo nossos próprios comportamentos: ele dorme, toma leite da mãe, chora e brinca como todas as crianças! Como sempre, Deus desconcerta, é imprevisível, continuamente fora de nossos planos. Portanto, o berço, enquanto nos mostra Deus quando entrou no mundo, nos leva a pensar em nossa vida inserida na de Deus; ele nos convida a sermos seus discípulos, se queremos alcançar o sentido último da vida.
9- Quando a festa da Epifania se aproxima, as três estátuas dos Reis Magos são colocadas no berço. Olhando para a estrela, aqueles sábios e ricos cavalheiros do Oriente partiram para Belém conhecer Jesus e oferecer-lhe presentes de ouro, incenso e mirra. Esses dons também têm um significado alegórico: o ouro honra a realeza de Jesus; incenso sua divindade; mirra sua santa humanidade que conhecerá a morte e o enterro.
Observando esta cena no berço, somos chamados a refletir sobre a responsabilidade que todo cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós se torna portador da Bela Nova com aqueles que encontramos, testemunhando a alegria de ter encontrado Jesus e seu amor com ações concretas de misericórdia.
Os Magos ensinam que é possível começar de longe para alcançar Cristo. São homens ricos, estrangeiros sábios, sedentos pelo infinito, que partem para uma longa e perigosa jornada que os leva a Belém (ver Mt 2 : 1-12). Uma grande alegria os invade diante do Rei Criança. Não se deixam escandalizar pela pobreza do meio ambiente; eles não hesitam em ajoelhar-se e adorá-lo. Diante Dele, eles entendem que Deus, como regra com sabedoria soberana, o curso das estrelas, guia assim o curso da história, abaixando os poderosos e exaltando os humildes. E certamente, tendo retornado ao seu país, eles contarão esse surpreendente encontro com o Messias, inaugurando a jornada do Evangelho entre os povos.
1- Na frente da manjedoura, a mente segue de bom grado quando era criança e esperava impacientemente tempo para começar a construí-la. Essas lembranças nos levam a sempre tomar consciência do grande presente que nos foi dado pela transmissão de nossa fé; e, ao mesmo tempo, nos fazem sentir o dever e a alegria de participar dos filhos e netos da mesma experiência. Não é importante como o berço é configurado, ele pode sempre ser o mesmo ou ser modificado todos os anos; o que importa é que ele fale com a nossa vida. Em todos os lugares e de qualquer forma, o berço conta o amor de Deus, o Deus que se tornou criança, para nos dizer o quão perto ele está de todo ser humano, qualquer que seja sua condição.
Queridos irmãos e irmãs, o presépio faz parte do doce e exigente processo de transmissão da fé. Desde a infância e depois em todas as épocas da vida, ele nos educa a contemplar Jesus, a sentir o amor de Deus por nós, a sentir e crer que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos os filhos e irmãos, graças a aquele filho filho de Deus e da Virgem Maria. E sentir que a felicidade está nisso. Na escola de São Francisco, abrimos nossos corações a essa graça simples, deixamos maravilhar a oração humilde: nosso "obrigado" a Deus que queria compartilhar tudo conosco para nunca nos deixar em paz.
Dado em Greccio, no Santuário da Natividade, em 1 de dezembro de 2019, sétimo do pontificado.
FRANCESCO
[1] Tomás de Celano, Vita Prima , 84: Fontes Franciscanas (FF) , n. 468.
[2] Cf. ibid . 85: FF , n. 469.
[3] Ibidem. 86: FF , n. 470.
Fonte: http://w2.vatican.va
Papa: a morte é o abraço do Senhor a ser vivido com esperança
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Na homilia da missa matutina na Casa Santa Marta, o Papa Francisco fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentado-a como o momento do abraço com o Senhor.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
Na última semana do ano litúrgico, a Igreja nos convida a refletir sobre o fim do mundo, o fim de cada um de nós, e o faz também o Evangelho desta sexta-feira, em que Lucas repete as palavras de Jesus: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão".
A vulnerabilidade humana
Em sua homilia, o Papa reiterou que "tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento do fim, isto é, da morte. Nenhum de nós sabe exatamente quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência a adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim:
Todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. Ontem eu meditava sobre isto, sobre um belo artigo que saiu agora na (revista, ndr) ‘Civiltà cattolica’, que dizia que o que une todos nós é a vulnerabilidade: somos iguais na vulnerabilidade. Todos somos vulneráveis e a um certo ponto esta vulnerabilidade nos leva à morte. Por isso vamos ao médico para ver como vai a minha vulnerabilidade física, outros vão para curar alguma vulnerabilidade psíquica no psicólogo.
A ilusão de ser eternos e a esperança no Senhor
A vulnerabilidade, portanto, nos une e nenhuma ilusão nos abriga. Na minha terra, recordou o Papa, havia a moda de pagar antecipadamente o funeral com a ilusão de economizar dinheiro para a família. Quando veio à luz o golpe aplicado por essas empresas fúnebres, a moda passou. "Quantas vezes a ilusão nos engana", comentou o Pontífice, como a ilusão de “sermos eternos". A certeza da morte, ao invés, está escrita na Bíblia e no Evangelho, mas o Senhor nos apresenta como um "encontro com Ele" e está acompanhada pela palavra "esperança":
O Senhor nos fala para estarmos preparados para o encontro, mas a morte é um encontro: é Ele quem vem nos encontrar, é Ele quem vem nos pegar pela mão e nos levar até Ele. Eu não gostaria que essa simples pregação fosse um aviso fúnebre! É simplesmente Evangelho, é simplesmente vida, é simplesmente dizer um ao outro: somos todos vulneráveis e todos temos uma porta à qual o Senhor um dia baterá.
É necessário, portanto, preparar-se bem para o momento em que a campainha tocará, o momento em que o Senhor baterá à nossa porta: rezemos um pelo outro - é o convite do Papa também aos fiéis presentes na Missa - para estar prontos, para abrir a porta com confiança ao Senhor que vem:
Todas as coisas que juntamos, que poupamos, licitamente boas, mas não levaremos nada ... Mas, sim, levaremos o abraço do Senhor. Pensar na própria morte: eu vou morrer, quando? Não está determinado no calendário, mas o Senhor sabe. E rezar ao Senhor: "Senhor, prepara meu coração para morrer bem, para morrer em paz, para morrer com esperança". É esta a palavra que deve sempre acompanhar a nossa vida, a esperança de viver com o Senhor aqui e depois viver com o Senhor do outro lado. Rezemos uns pelos outros sobre isso. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa anuncia carta aos fiéis sobre o presépio
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Aos fiéis reunidos para a Audiência Geral, Francisco anunciou que irá a Greccio para rezar no lugar do primeiro presépio de São Francisco de Assis.
Cidade do Vaticano
Na Praça São Pedro, o Papa Francisco recordou aos fiéis que no próximo domingo tem início o tempo litúrgico do Advento e fez um anúncio:
“Irei a Greccio para rezar no lugar do primeiro presépio que fez São Francisco de Assis e enviar a todo o povo fiel uma carta para entender o significado do presépio. Faço votos a todos vocês que, no Advento, a espera do Salvador preencha os seus corações de esperança e os encontre alegres no serviço aos mais necessitados.”
O desejo de recordar o nascimento de Jesus veio a Francisco durante uma viagem à Palestina e ali teve o desejo de reproduzir a cena do nascimento de Jesus. Quando, no outono de 1223, foi a Roma para ver o Papa Honório III, pediu ao Santo Padre a permissão para que o realizasse.
Tendo obtido permissão, São Francisco voltou a Greccio, que havia conhecido antes e que lhe lembrava Belém. Disse ao jovem Giovanni Velita, um morador da Região de Rieti e que se tornou seu amigo anos atrás: "Quero celebrar aqui a noite de Natal. Escolha uma caverna onde se construirá uma manjedoura e se conduzirá um boi e um burro até lá, e tentaremos reproduzir, na medida do possível, a caverna de Belém! Este é o meu desejo, porque quero ver, pelo menos uma vez, com meus próprios olhos, o nascimento do Divino Infante".
E assim, em 24 de dezembro de 1223, o nascimento do Menino Jesus foi encenado. Havia a gruta, o boi e o burro. Nenhum dos presentes assumiu o papel de José e Maria, porque Francisco não queria que o nascimento de Jesus fosse um "espetáculo". Só mais tarde, nos presépios do mundo, os outros personagens foram acrescentados.
Em Greccio, todos os anos, a memória deste evento é encenada. Não apenas um presépio vivo, mas uma reconstituição dos momentos que levaram São Francisco a realizar o presépio de Jesus. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa em Hiroshima: imoral o uso e a posse de armas nucleares
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“Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!” São as palavras conclusivas do Papa Francisco no Encontro pela Paz, realizado em Hiroshima, no Memorial da Paz, neste domingo (24)
Jane Nogara - Cidade do Vaticano
Depois de Nagasaki, o Papa Francisco foi até Hiroshima, a outra cidade japonesa devastada pela bomba atômica em 1945 para o Encontro pela Paz. O Encontro realizou-se no Memorial da Paz, e foi o último compromisso deste domingo 24 de novembro.
Em seu discurso, depois de recordar do trágico instante em que tudo “foi devorado por um buraco negro de destruição e morte”, o Papa disse:
“Aqui, faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que continuaram a consumir a sua energia vital ”
Em seguida explica a sua presença:
“Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz”.
Francisco declarou que “humildemente, [quereria] ser a voz daqueles cuja voz não é escutada” pois crescem as tensões e as injustiças que ameaçam a convivência e o cuidado da casa comum para garantir um futuro de paz.
Energia atômica para fins de guerra é imoral
“Desejo reiterar – afirma - com convicção, que o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum”. E afirma também: “O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, assim como é imoral a posse de armas nucleares, como eu já disse há dois anos. Seremos julgados por isso”.
Predecessores
Depois recorda algumas palavras de seus predecessores sobre este tema, como o Papa São João XXIII que exortou “Estou convencido de que a paz não passa de um ‘som de palavras’, se não se fundar na verdade, se não se construir segundo a justiça, se não se animar e consumar no amor, e se não se realizar na liberdade”. Assim como São Paulo VI: “Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”.
O Santo Padre pondera: “Quando nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo, esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos”.
Caminho de paz
Então Francisco observa aos presentes que:
“Recordar, caminhar juntos e proteger: são três imperativos morais que adquirem, precisamente aqui em Hiroshima, um significado ainda mais forte e universal e são capazes de abrir um verdadeiro caminho de paz ”
Memória
Mas para isso, “não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”. Temos que manter a memória viva, que ajude a dizer de geração em geração: nunca mais!”
Por fim o Papa exorta a todos “Por isso mesmo, somos chamados a caminhar unidos, com um olhar de compreensão e perdão” e acrescenta: “Abramo-nos à esperança, tornando-nos instrumentos de reconciliação e de paz. Isto será possível sempre, se formos capazes de nos proteger e reconhecer como irmãos em um destino comum”.
E acrescenta: “Que sejam suplantados os interesses exclusivos de certos grupos, a fim de se atingir a grandeza daqueles que lutam corresponsavelmente para garantir um futuro comum”.
Conclui seu discurso evocando: "Em uma única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeios, das experimentações atômicas e de todos os conflitos, elevemos juntos um grito:
“ Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento! ”. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa pede mais compaixão pela dor dos sobreviventes do terremoto, tsunami e acidente nuclear de 2011
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Cerca de 800 pessoas aceitaram o convite e participaram do encontro com Francisco na manhã desta segunda-feira (25), em Tóquio. Os três desastres, que fizeram mais de 18 mil vítimas fatais em março de 2011, ainda trazem consequências na vida da sociedade, e o Papa exorta compaixão com os sobreviventes através do combate à cultura da indiferença.
Andressa Collet - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco começou a semana e a sua segunda-feira (25) no Japão encontrando as vítimas de um dos anos inesquecíveis para a história de vida de milhares de japoneses: era março de 2011 quando um terremoto de magnitude 9 ainda provocou um tsunami e causou um acidente nuclear em Fukushima – esse último, comprovado por especialistas como um desastre provocado pelo homem, e não apenas uma consequência da força da natureza no nordeste do país. Ao testemunhar esses três desastres ao Pontífice, Toshiko, Tokuun e Matsuki, no Centro de Convênios Bellesalle Hanzomon, um dos mais importantes de Tóquio, que recebeu cerca de 800 pessoas.
Um momento de silêncio pelas 18 mil vítimas fatais
O Pontífice iniciou o discurso falando da importância de encontrar e de ouvir os sobreviventes dos desastres, que tanto sofreram, mas que, com a sua presença, demonstram “esperança aberta para um futuro melhor”. E daí, a convite de uma das vítimas, Matsuki, o Papa motivou para um momento de silêncio e oração “pelas mais de 18 mil pessoas que perderam a vida, pelas suas famílias e pelos que ainda estão desaparecidos”.
Em seguida veio o agradecimento às forças locais que trabalharam na reconstrução das áreas afetadas e auxiliaram as mais de 50 mil pessoas evacuadas por causa das catástrofes e que, ainda hoje, moram “em alojamentos provisórios, sem poder ainda regressar às suas casas”. O Pontífice também estendeu gratidão ao mundo todo que se mobilizou, com “a oração e a assistência material e financeira”, para socorrer as populações atingidas.
O apelo pelo suporte aos sobreviventes
O apelo pelo suporte continua mesmo depois de 8 anos dos três desastres, afirmou o Papa, ao lembrar que muitos afetados agora estão esquecidos, precisando enfrentar “terras e florestas contaminadas e os efeitos a longo prazo das radiações”. Pela solidariedade e apoio de toda a comunidade, Francisco exortou:
“Ninguém se ‘reconstrói’ sozinho, ninguém pode começar de novo sozinho. É essencial encontrar uma mão amiga, uma mão irmã, capaz de ajudar a erguer não só a cidade, mas também o olhar e a esperança. ”
O combate à cultura da indiferença
Ao responder um questionamento do sobrevivente Tokuun, sobre o problema das guerras, dos refugiados, da alimentação, das desigualdades econômicas e dos desafios ambientais, Francisco disse que é preciso tomar decisões corajosas sobre o uso dos recursos naturais, em particular, sobre as fontes de energia, mas sobretudo trabalhar para combater um dos males que mais nos afeta: a indiferença.
“ Urge mobilizar-se para ajudar a tomar consciência que, se um membro da nossa família sofre, todos sofremos com ele; porque não se alcança uma interconexão se não se cultiva a sabedoria da mútua pertença – pertencemo-nos uns aos outros –, a única capaz de assumir os problemas e as soluções de maneira global. ”
Aqui o Papa Francisco fez referência ao acidente nuclear em Fukushima que continua trazendo consequências, em especial, no tecido da sociedade para restabelecer os laços das comunidades locais:
“Daqui brota a preocupação com o prolongamento do uso da energia nuclear, como justamente apontaram os meus irmãos bispos do Japão, que pediram a abolição das centrais nucleares. O nosso tempo sente-se tentado a fazer do progresso tecnológico a medida do progresso humano. ”
Esse “paradigma tecnocrático” de progresso e desenvolvimento, acrescentou o Papa, afeta a vida das pessoas e o funcionamento da sociedade. O momento é de reflexão crítica e de grande responsabilidade com as futuras gerações sobre quem queremos ser, exortou Francisco: “que espécie de mundo, que tipo de legado queremos deixar a quem vier depois de nós?” Nesse caminho, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”.
“Queridos irmãos, no trabalho contínuo de recuperação e reconstrução depois dos três desastres, muitas mãos se devem juntar e muitos corações se devem unir como se fossem um só. Dessa forma, as pessoas que sofreram receberão apoio e saberão que não foram esquecidas. Saberão que muitas pessoas compartilham, ativa e eficazmente, o seu sofrimento, e continuarão a estender uma mão fraterna para ajudar. Mais uma vez, louvemos e demos graças por todos aqueles que procuraram, com simplicidade, aliviar o peso das vítimas. Que essa compaixão seja o caminho que permita a todos encontrar esperança, estabilidade e segurança para o futuro. ” Fonte: https://www.vaticannews.va
Tailândia: O apelo do Papa pelo reconhecimento da dignidade da mulher
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A missionária xaveriana Dorineide Pantoja Ferreira vive em Bangcoc e está se inserindo num projeto voltado para os adolescentes nas favelas. Em entrevista ao Vatican News, ela comenta as palavras do Pontífice e fala também da pertinência do Sínodo Amazônico para a Tailândia na luta pelo reconhecimento da liderança da mulher na Igreja e na sociedade.
Bianca Fraccalvieri – Bangcoc
“Penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso.” Este foi um trecho do primeiro discurso do Papa Francisco em terras tailandesas, pronunciado diante das autoridades, da sociedade civil e do corpo diplomático.
O Pontífice tocou num dos problemas sobre os quais seja o governo, seja a Igreja, têm um olhar especial: o do turismo sexual, do tráfico de seres humanos e do trabalho forçado. Há dois anos e sete meses na Tailândia, a Irmã brasileira Dorineide Pantoja Ferreira está se inserindo num projeto voltado para os adolescentes que vivem em favelas, que são, segundo a missionária, o grupo mais vulnerável socialmente.
Trata-se de oferecer uma formação humana para que os jovens possam chegar à idade adulta com maturidade. No caso dos meninos, o esforço é para que reconheçam o valor das mulheres. E no caso das meninas, elas são alertadas para os riscos que correm e são acompanhadas num percurso para aprender a gozar da “beleza de ser mulher”.
Aqui na Tailândia, como em outras partes do mundo, o alistamento é feito pela forma “padrão”: meninas, neste caso sobretudo do Laos e Myanmar, são atraídas com a promessa de um bom emprego, mas acabam caindo na rede do tráfico e na prostituição, favorecidas por um contexto social de grande vulnerabilidade.
Comentando as palavras do Santo Padre, Ir. Dora – como é conhecida – se diz satisfeita com o apelo para que haja maior reconhecimento da dignidade da mulher, para que ela possa usufruir “da liberdade e do direito de gerir a sua própria vida”. A missionária recorda ainda o Sínodo apenas concluído sobre a Amazônia, cujo um dos temas foi justamente o da liderança feminina:
“Faço votos de que, seja as palavras do Papa, seja o Sínodo para a Amazônia, sejam de inspiração para a Igreja na Tailândia e que a mulher seja mais valorizada e reconhecida.”
Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa em visita a Patriarca Supremo dos budistas: religiões são faróis de esperança
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No Templo Real Wat Ratchabophit, em Bangcoc, na Tailândia, o Papa Francisco encontrou o líder budista Somdet Phra Ariyavongsagatanana IX no início desta quinta-feira (21). Em discurso, o Pontífice encorajou novamente a cultura do encontro como instrumento possível neste mundo de divisões e exclusões, lembrando o “quão importante é que as religiões se manifestem cada vez mais como faróis de esperança, enquanto promotoras e garantes de fraternidade.”
Andressa Collet - Cidade do Vaticano
O segundo compromisso oficial do Papa Francisco desta quinta-feira (21), em Bagcoc, na Tailândia, foi visitar o Patriarca Supremo dos budistas, Somdet Phra Ariyavongsagatanana IX, no Templo Wat Ratchabophit. O monge, nomeado em 2017, tem a tarefa de guiar o Conselho Supremo da comunidade, promover a religião e assegurar que todos observem os ensinamentos de Buda e os rituais estabelecidos pelo Conselho.
Papa exalta cultura do encontro
Na cerimônia oficial, depois de uma primeira intervenção do Patriarca Supremo, o Papa Francisco tomou uso da palavra. No discurso, o Pontífice começou agradecendo pelas boas vindas do monge budista, inclusive pelo início da sua visita ao país começar justamente no Templo Real de Wat Ratchabophit, “símbolo dos valores e ensinamentos” que caracterizam o povo da Tailândia. E lembrou das palavras de João Paulo II, ao afirmar:
“Foi nas fontes do budismo que a maioria dos tailandeses bebeu e modelou a sua maneira de venerar a vida e os seus idosos, realizar um estilo de vida sóbrio baseado na contemplação, desapego, trabalho duro e disciplina (cf. São João Paulo II, Ecclesia in Asia, 6/XI/1999, 6); caraterísticas que alimentam o traço distintivo de vocês, tão peculiar: o povo do sorriso. ”
Dessa maneira, recordando João Paulo II, Papa Francisco exaltou o percurso dos antecessores das duas comunidades, demonstrando estima e reconhecimento mútuo para aumentar o respeito e a amizade. Um caminho iniciado há 50 anos quando o décimo sétimo Patriarca Supremo, Somdej Phra Wanarat (Pun Punnasiri), visitou o Papa Paulo VI no Vaticano: foi “um marco muito importante no desenvolvimento do diálogo entre as nossas tradições religiosas”, enfatizou Francisco.
Um diálogo que depois permitiria o então Papa João Paulo II fazer uma visita ao Patriarca Supremo, Somdej Phra Ariyavongsagatanana (Vasana Vasano). Além disso, Francisco lembrou do recente encontro no Vaticano quando recebeu uma delegação de monges do templo de Wat Pho.
“Pequenos passos que ajudam a testemunhar, não só nas nossas comunidades, mas também neste nosso mundo tão instigado a gerar e propagar divisões e exclusões, que a cultura do encontro é possível. Sempre que temos oportunidade de nos reconhecer e apreciar, mesmo nas nossas diferenças (cf. Evangelii gaudium, 250), oferecemos ao mundo uma palavra de esperança, capaz de encorajar e sustentar aqueles que acabam por ser sempre os mais prejudicados pela divisão. Tais possibilidades nos lembram quão importante é que as religiões se manifestem cada vez mais como faróis de esperança, enquanto promotoras e garantes de fraternidade. ”
A presença da Igreja Católica no país
O Papa Francisco então fez referência à chegada do cristianismo na Tailândia há cerca de quatro séculos e meio e agradeceu ao povo local que “permitiu aos católicos, mesmo sendo um grupo minoritário, desfrutar de liberdade na prática religiosa, vivendo desde há muitos anos em harmonia com os seus irmãos e irmãs budistas”.
Crescer ao estilo da “boa vizinhança”
O Pontífice reiterou “empenho pessoal e de toda a Igreja” para fortalecer o diálogo aberto e respeitoso. Além disso, e motivando para um crescimento no estilo de ‘boa vizinhança’, o Papa finalizou o discurso encorajando novos caminhos a serem percorridos em conjunto e pelo bem dos mais pobres e da Casa Comum.
“ Graças aos intercâmbios acadêmicos, que permitem uma maior compreensão mútua, e também ao exercício da contemplação, da misericórdia e do discernimento – tão comuns às nossas tradições –, poderemos crescer num estilo de boa ‘vizinhança’. Poderemos promover entre os fiéis das nossas religiões o desenvolvimento de novos projetos de caridade, capazes de gerar e incrementar iniciativas concretas no caminho da fraternidade, especialmente com os mais pobres, e em referência à nossa casa comum tão maltratada. Desta forma, contribuiremos para a formação duma cultura de compaixão, fraternidade e encontro, tanto aqui como noutras partes do mundo (cf. ibid., 250). ”
Trabalhar pela paz mundial
Durante o cordial colóquio entre o Papa Francisco e o Patriarca budista, falou-se sobre valor da fraternidade entre as duas religiões, para favorecer a paz. "Se somos irmãos, podemos ajudar a paz mundial", os pobres e os que sofrem, disse o Papa, porque "ajudar os pobres é sempre um caminho de bênção".
Em seguida, o tema focado foi o valor da educação, o papel dos missionários que vêm "não para conquistar, mas para ajudar", porque "o proselitismo é proibido", e a importância de uma colaboração recíproca entre as duas religiões. Por fim, antes das saudações das duas delegações, o Santo Padre e o Patriarca abençoaram um ao outro.
Entre os presentes oferecidos por Francisco ao Patriarca, também o Documento sobre a “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum", assinado em Abu Dhabi em fevereiro passado. O Papa disse: "Devemos trabalhar juntos para que nossa humanidade seja mais fraterna". Fonte: www.vaticannews.va
DIA MUNDIAL DOS POBRES: "Os Pobres são porteiros do Céu”. Papa Francisco.
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“Os pobres são preciosos aos olhos de Deus, porque não falam a linguagem do eu”. Palavras do Papa Francisco durante a homilia na celebração da Missa comemorativa para o 3º Dia Mundial dos Pobres neste domingo, 17 de novembro
Jane Nogara - Cidade do Vaticano
Na manhã deste domingo (17) o Papa Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a Missa comemorativa para o 3º Dia Mundial dos Pobres. Durante a homilia que tinha como tema a citação de Lucas na qual alguém elogiava a magnificência do templo de Jerusalém, e Jesus disse não ficará ‘pedra sobre pedra’ (Lc 21, 6), o Pontífice refletiu: “Por que profetiza que este ponto firme, nas certezas do povo de Deus, cairia?”.
Coisas penúltimas e coisas últimas
A partir desse ponto o Papa disse:”Procuremos respostas nas palavras de Jesus. Ele nos diz que quase tudo passará: quase tudo, mas não tudo”. Segundo as palavras de Jesus “a desmoronar-se, a passar são as coisas penúltimas, não as últimas: o templo, não Deus; os reinos e as vicissitudes da humanidade, não o homem”.
O Papa explica: “Resta o que não passará jamais: o Deus vivo, infinitamente maior do que qualquer templo que Lhe construamos, e o homem, o nosso próximo ”
Em seguida, Francisco fala sobre os enganos que nos fazem desviar de Jesus para não ficarmos nas “coisas penúltimas”, e afirma: “Mas esta pressa este tudo e imediatamente não vem de Deus. Se nos afadigarmos pelo imediatamente, esqueceremos o que permanece para sempre: seguimos as nuvens que passam, e perdemos de vista o céu ”
Pois “atraídos pelo último alarido, deixamos de encontrar tempo para Deus e para o irmão que vive ao nosso lado”.
Perseverança e tentação do "eu"
Como fazer para evitar? “Como antídoto à pressa, Jesus propõe-nos hoje a cada um a perseverança”, e explica: “A perseverança é avançar dia a dia com os olhos fixos naquilo que não passa: o Senhor e o próximo ”
Um segundo engano que nos faz desviar de Jesus, diz o Papa “é a tentação do eu. Ora o cristão, dado que não procura o imediatamente mas o sempre, não é um discípulo do eu, mas do tu.”
Porém, observa o pontífice “E como se distingue a voz de Jesus? ‘Muitos virão em meu nome’: diz o Senhor. Mas não devemos segui-los”. Temos que encontrar os que falam a mesma linguagem de Jesus: “A linguagem do amor, a linguagem do tu. Não fala a linguagem de Jesus quem diz eu, mas quem sai do próprio eu. Todavia quantas vezes, mesmo ao fazer o bem, reina a hipocrisia do eu: faço o bem, mas para ser considerado virtuoso; dou, mas para receber em troca; ajudo, mas para ganhar a amizade daquela pessoa importante. Isto é falar a linguagem do eu ”
Recordando a todos como servir, o Papa diz: Pobres, porteiros do Céu
“Os pobres são preciosos aos olhos de Deus, porque não falam a linguagem do eu: não se aguentam sozinhos, com as próprias forças, precisam de quem os tome pela mão”. Então o Papa convida “quando os ouvimos bater às nossas portas, podemos receber o seu grito de ajuda como uma chamada para sair do nosso eu, aceitá-los com o mesmo olhar de amor que Deus tem por eles. Como seria bom se os pobres ocupassem no nosso coração o lugar que têm no coração de Deus!”.
Francisco finalizou sua homilia recordando mais uma vez “Os pobres facilitam-nos o acesso ao Céu: é por isso que o sentido da fé do povo de Deus os viu como os porteiros do Céu. Já desde agora, são o nosso tesouro, o tesouro da Igreja”. Fonte: www.vaticannews.va
Domingo 10: Angelus: é na fraternidade que a vida é mais forte do que a morte (32º Domingo do Tempo comum)
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Domingo 10: Angelus: é na fraternidade que a vida é mais forte do que a morte (32º Domingo do Tempo comum)
“Não há vida onde se tem a pretensão de pertencer somente a si mesmos e viver como ilhas: nessas atitudes prevalece a morte”, afirmou o Papa ao rezar com os fiéis e peregrinos a oração do Angelus neste domingo (10/11).
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida? A este quesito existencial o Papa respondeu em sua alocução dominical, ao comentar o Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum.
De quem será esposa?
No trecho de Lucas (cfr Lc 20,27-38), Jesus oferece um ensinamento sobre a ressurreição dos mortos ao responder a uma pergunta insidiosa dos saduceus, que não acreditavam na ressurreição.
A pergunta faz referência a um caso paradoxal: de quem será esposa, na ressurreição, uma mulher que teve sete maridos sucessivos, todos irmãos entre si, os quais um após o outro morreram?
Jesus, porém, não cai na armadilha e replica que os ressuscitados no além "nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram".
Com esta resposta, explicou o Papa, antes de tudo Jesus convida os seus interlocutores – e também a nós – a pensar que esta dimensão terrena em que vivemos agora não é a única, mas existe outra, não mais sujeita à morte, em que se manifestará plenamente que somos filhos de Deus. “ É de grande consolação e esperança ouvir esta palavra simples e clara de Jesus sobre a vida além da morte; é disto de que precisamos no nosso tempo, tão rico de conhecimento sobre o universo, mas tão pobre de sabedoria sobre a vida eterna. ”
O mistério da vida
Por trás da interrogação dos saduceus, prosseguiu Francisco, se esconde outra ainda mais profunda: depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida?
Jesus responde que a vida pertence a Deus, o qual nos ama a ponto de unir o seu nome ao nosso: é "o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’.Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele" (vv. 37-38). “A vida subsiste onde há relação, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte quando é construída sobre relações verdadeiras e laços de fidelidade.”
Do contrário, acrescentou o Papa, não há vida onde se tem a pretensão de pertencer somente a si mesmos e viver como ilhas: nessas atitudes prevalece a morte. "É o egoísmo. Eu vivo para mim mesmo: estou semeando morte no meu coração."
“Que a Virgem Maria nos ajude a viver todos os dias na perspectiva daquilo que afirmamos no Creio: 'Creio na ressurreição da carne e na vida eterna'.” Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira 5-Homilia do Papa: “Rejeitar a gratuidade do Senhor é o pecado de todos nós”
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"Pensemos nesta parábola que o Senhor nos dá hoje. O que eu prefiro? Aceitar sempre o convite do Senhor ou fechar-me em minhas próprias coisas, em minhas pequenezas?", perguntou o Papa Francisco ao celebrar a missa na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na manhã desta terça-feira (05/11) na capela da Casa Santa Marta.
O Pontífice comentou o Evangelho de hoje, em que o evangelista Lucas narra o desejo de um homem de dar uma grande festa, mas os convidados, com várias desculpas, não aceitam o seu convite. Então manda os servos a convidar os pobres e os aleijados para encherem a casa e saborearem o banquete.
Para Francisco, esta narração pode ser um resumo da história da salvação e também a descrição de inúmeros cristãos. Ele explica que “o jantar, a festa, é imagem do céu, da eternidade com o Senhor”. Em uma festa, afirmou, não se sabe quem estará lá, se conhecem pessoas novas, se encontram também pessoas que não gostaria de encontrar, mas o clima da festa é a alegria e a gratuidade. Porque uma verdadeira festa deve ser gratuita, disse o Papa. “E o nosso Deus nos convida sempre, não nos faz pagar o ingresso. Nas verdadeiras festas, não se paga a entrada: paga o dono, quem convida”.
Mas existem pessoas que, mesmo diante da gratuidade, colocam seus interesses em primeiro lugar:
Diante daquela gratuidade, daquela universalidade da festa, há aquela atitude que fecha o coração: “Eu não vou. Prefiro ficar sozinho, com as pessoas de quem eu gosto, fechado”. E isto é o pecado; o pecado do povo de Israel, o pecado de todos nós. O fechamento. “Não, para mim é mais importante isto do que aquilo. Não, o meu”. Sempre o meu.
Esta rejeição, prosseguiu Francisco, é também desprezo por quem convida, é dizer ao Senhor: “Não me perturbe com a tua festa”. É fechar-se “àquilo que o Senhor nos oferece: a alegria do encontro com Ele”.
E no caminho da vida, muitas vezes estaremos diante desta escolha, desta opção: ou a gratuidade do Senhor, estar com Ele, se encontrar com o Senhor ou fechar-me nas minhas coisas, no meu interesse. Por isso, o Senhor, falando de um dos fechamentos, dizia que é muito difícil que um rico entre no reino dos céus. Mas existem ricos bons, santos, que não são apegados à riqueza. Mas a maioria é apegada à riqueza, fechados. E por isso não podem entender o que é a festa. Mas têm a certeza das coisas que podem tocar.
A reação do Senhor diante da nossa recusa é decisiva: Ele quer que todas as pessoas sejam chamadas à festa, conduzidas, mesmo forçadas, más e boas. "Todos estão convidados. Todos, ninguém pode dizer: "Eu sou mau, não posso...". Não. O Senhor, porque você é mau, “espero especialmente você".
O Papa recordou a atitude do pai com o filho pródigo que retorna a casa: o filho tinha começado um discurso, mas ele não o deixa falar e o abraça. "O Senhor - disse - é assim. É a gratuidade". Referindo-se então à Primeira Leitura, onde o apóstolo Paulo adverte contra a hipocrisia, o Papa Francisco afirmou que diante dos judeus que recusavam Jesus porque se acreditavam justos, o Senhor disse: "Mas eu vos digo que as prostitutas e os publicanos vos precederão no reino dos céus". O Senhor, continua o Papa, ama os mais desprezados, mas nos chama. Mas quando nos fechamos, ele se afasta e se irrita, como diz o Evangelho que acabamos de ler. E concluiu:
Pensemos nesta parábola que o Senhor nos dá hoje. Como vai a nossa vida? O que eu prefiro? Aceitar sempre o convite do Senhor ou fechar-me em minhas próprias coisas, em minhas pequenezas? Peçamos ao Senhor a graça de aceitar sempre ir à Sua festa, que é gratuita. Fonte: www.vaticannews.va
Quinta-feira 31- homilia do Papa Francisco: “O amor de Cristo não é amor de telenovela”.
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Na Missa da manhã desta quinta-feira (31) o Papa convida a entender a ternura do amor de Deus em Jesus por cada um de nós: somente assim podemos compreender realmente o amor de Cristo
Giada Aquilino - Cidade do Vaticano
Que o Espírito Santo nos faça compreender "o amor de Cristo por nós" e prepare os nossos corações para "nos deixarmos amar" pelo Senhor. Esta é a recomendação do Papa Francisco na Missa da manhã desta quinta-feira, na Casa Santa Marta, detendo-se na primeira leitura de hoje, tirada da Carta de São Paulo aos Romanos. Na sua homilia, o Pontífice explica como o Apóstolo dos gentios poderia até parecer "um pouco orgulhoso", "demasiado confiante" ao afirmar que nem "a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada" conseguirão separar-nos "do amor de Cristo".
O amor de uma mãe
No entanto, o Papa afirma, lendo São Paulo, "somos mais do que vencedores" com o amor do Senhor. São Paulo foi um deles porque, explica Francisco, desde o momento em que "o Senhor o chamou na estrada de Damasco, começou a compreender o mistério de Cristo": "tinha-se apaixonado por Cristo", tomado - observa o Papa - de "um amor forte", "grande", não uma "trama" de "telenovela". Um amor "sincero", a ponto de "sentir que o Senhor sempre o acompanhava em coisas belas e feias".
“Ele sentia isto com amor. E eu me pergunto: eu amo o Senhor assim? Quando chegam os maus momentos, quantas vezes se sente o desejo de dizer: "O Senhor abandonou-me, já não me ama mais" e gostaria de deixar o Senhor. Mas Paulo estava certo de que o Senhor nunca abandona. Compreendera o amor de Cristo em sua própria vida. Este é o caminho que Paulo nos mostra: o caminho do amor, sempre, no bom e no mau, sempre e avante. Esta é a grandeza de Paulo”.
Dar a vida pelo outro
O amor de Cristo, acrescenta o Pontífice, “não se pode descrever”, é algo muito grande.
Foi Ele quem foi enviado pelo Pai para nos salvar e o fez com amor, deu a vida por mim: não há amor maior do que dar a vida por outra pessoa. Pensemos em uma mãe, o amor de uma mãe, por exemplo, que dá a vida pelo filho, acompanha-o sempre, a vida toda, nos momentos difíceis, mas ainda é pouco… É um amor próximo de nós, o amor de Jesus não é um amor abstrato, é um amor eu-tu, eu-tu, cada um de nós, com nome e sobrenome.
O pranto de cada um de nós
No Evangelho de Lucas, o Papa nota “algo do amor concreto de Jesus”. Falando de Jerusalém, Jesus recordou quando tentou recolher seus filhos “como a galinha com seus pintinhos debaixo das asas”, e lhe foi impedido. Então “chorou”.
O amor de Cristo o leva ao pranto, ao pranto por cada um de nós. Que ternura há nesta expressão. Jesus podia condenar Jerusalém, dizer coisas negativas… E se lamenta porque não se deixa amar como os pintinhos da galinha. A ternura do amor de Deus em Jesus. E Paulo tinha entendido isso. Se não formos capaz de sentir, de entender a ternura do amor de Deus em Jesus por cada um de nós, jamais poderemos entender o que é o amor de Cristo. É um amor assim, espera sempre, paciente, o amor que joga a última carta com Judas: “Amigo”, desobriga-o, até o fim. Também com os nossos grandes pecados, até o fim Ele ama com esta ternura. Não sei se pensamos em Jesus tão terno, em Jesus que chora, como chorou diante do túmulo de Lázaro, como chorou aqui, olhando Jerusalém.
Um amor que se faz lágrima
Portanto Francisco exorta a nos perguntar se Jesus chora por nós, ele que nos deu “tantas coisas” enquanto nós muitas vezes decidimos “tomar outro caminho”. O amor de Deus “se faz lágrima, se faz pranto, pranto de ternura em Jesus”, reitera. Por isso, conclui o Pontífice, São Paulo “tinha se apaixonado por Cristo e nada podia separá-lo d’Ele”. Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira 29: Homilia do Papa Francisco: “A esperança é o ar que o cristão respira”.
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Celebrando a missa na capela da sua residência, o Pontífice dedicou a homilia à esperança: "Um cristão que não é capaz de ser propenso, de estar em tensão pela outra margem, falta alguma coisa: acabará corrompido".
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
A esperança é como lançar a âncora até a outra margem: o Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta na manhã desta terça-feira (29/10) e utilizou esta imagem para exortar a viver “em tensão” rumo ao encontro com o Senhor. Caso contrário, se acaba corrompido e a vida cristã corre o risco de se tornar uma “doutrina filosófica”.
A reflexão partiu da Primeira Leitura da Liturgia de hoje, extraída da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,18-25), na qual o Apóstolo “canta um hino à esperança”.
Certamente, “alguns romanos” foram se lamentar e Paulo exortou a olhar avante: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. O Papa falou depois da Criação “propensa” à “revelação”. “Esta é a esperança: viver voltados para a revelação do Senhor, para aquele encontro com o Senhor”, destacou Francisco. Podem existir sofrimentos e problemas, mas “isto é amanhã”, enquanto hoje “você tem o penhor” de tal promessa, que é o Espírito Santo que “nos espera” e “trabalha” já a partir deste momento.
Lançar a âncora
Com efeito, a esperança é “como lançar a âncora até a outra margem” e agarrar-se à corda. Mas “não somente nós”, toda a Criação “na esperança será libertada”, entrará na glória dos filhos de Deus. E também nós que possuímos as “primícias do Espírito”, o penhor, “gememos interiormente esperando a adoção”.
A esperança é este viver em tensão, sempre; saber que não podemos fazer o ninho aqui: a vida do cristão é “em tensão por”. Se um cristão perde esta perspectiva, a sua vida se torna estática e as coisas que não se movem, se corrompem. Pensemos na água: quando a água está parada, não corre, não se move, se corrompe. Um cristão que não é capaz de ser propenso, de estar em tensão pela outra margem, falta alguma coisa: acabará corrompido. Para ele, a vida cristã será uma doutrina filosófica, viverá assim, dirá que é fé, mas sem esperança.
A mais humilde das virtudes
O Papa afirmou que é difícil entender a esperança. Se falarmos da fé, nos referimos à “fé em Deus que nos criou, em Jesus que nos redimiu e recitamos o Creio e sabemos coisas concretas sobre a fé”; se falarmos de caridade, falamos em “fazer o bem ao próximo, aos outros, muitas obras de caridade que se fazem ao outro”. Mas a esperança é difícil de compreender: “é a mais humilde das virtudes”, que “somente os pobres podem ter”:
Se quisermos ser homens e mulheres de esperança, devemos ser pobres, pobres, não ligados a nada. Pobres. E abertos para a outra margem. A esperança é humilde, é uma virtude que deve ser trabalhada – digamos assim – todos os dias: todos os dias é preciso retomá-la, todos os dias é preciso tomar a corda e ver que a âncora está ali fixa e eu a seguro pela mão; todos os dias é necessário recordar que temos o penhor, que é o Espírito que trabalha em nós com pequenas coisas.
A esperança é a virtude que não se vê
Para explicar como viver a esperança, o Papa fez referência ao ensinamento de Jesus no trecho do Evangelho de hoje, quando compara o Reino de Deus ao grão de mostarda lançado no campo. “Vamos esperar que cresça”, não precisa ir lá todos os dias para ver como está, caso contrário “nunca crescerá”, afirmou Francisco, referindo-se à “paciência” porque, como diz Paulo, “a esperança necessita de paciência”. É “a paciência de saber que nós semeamos, mas é Deus a fazê-lo crescer”. “A esperança é artesanal, pequena, prosseguiu, é “semear um grão e deixar que seja a terra a fazê-la crescer”.
No Evangelho de hoje, para falar de esperança, Jesus usa também a imagem do “fermento” que uma mulher pegou e misturou com três porções de farinha. Um fermento não mantido na geladeira, mas “misturado na vida”, assim como o grão é enterrado sob a terra.
Por isso, a esperança é uma virtude que não se vê: trabalha por debaixo; nos faz olhar por debaixo. Não é fácil viver na esperança, mas eu diria que deveria ser o ar que um cristão respira, ar de esperança; do contrário, não poderá caminhar, não poderá ir avante porque não saberá aonde ir. A esperança – isto sim é certo – nos dá uma segurança: a esperança não desilude. Jamais. Se você espera, não será desiludido. É preciso abrir-se a esta promessa do Senhor, voltados para aquela promessa, mas sabendo que existe o Espírito que trabalha em nós. Que o Senhor nos dê, a todos nós, esta graça de viver em tensão, em tensão mas não para os nervos, os problemas, não: em tensão pelo Espírito Santo que nos lança para a outra margem e nos mantêm na esperança. Fonte: www.vaticannews.va
Íntegra da homilia do Papa na missa de encerramento do Sínodo para a Pan-amazônia
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"Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus", disse Francisco na homilia.
Cidade do Vaticano
Segue o texto integral da homilia do Papa Francisco na missa de encerramento do Sínodo para a Região Pan-amazônica, celebrada pelo Pontífice neste domingo (27/10), na Basílica de São Pedro.
HOMILIA DO SANTO PADRE- Eucaristia do XXX Domingo do Tempo Comum no encerramento da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-amazônia. (Basílica de São Pedro, 27 de outubro de 2019)
Hoje, a Palavra de Deus ajuda-nos a rezar por meio de três personagens: na parábola de Jesus, rezam o fariseu e o publicano; na primeira Leitura, fala-se da oração do pobre.
1- A oração do fariseu principia assim: «Ó Deus, dou-Te graças». É um ótimo começo, porque a melhor oração é a de gratidão e louvor. Mas olhemos o motivo – referido logo a seguir –, pelo qual dá graças: «por não ser como o resto dos homens» (Lc 18, 11). E dá também a explicação do motivo: jejua duas vezes por semana, enquanto na época era obrigado a fazê-lo uma vez por ano; paga o dízimo de tudo o que possui, enquanto o mesmo era prescrito apenas para os produtos mais importantes (cf. Dt 14, 22-23). Em suma, vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares. Mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40). Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. Vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada aproveitam, como diz São Paulo (cf. 1 Cor 13). E sem amor, qual é o resultado? No fim de contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De facto, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas com crédito. Está no templo de Deus, mas pratica a religião do eu.
E além de Deus, esquece o próximo; antes, despreza-o, isto é, não lhe atribui preço, não tem valor. Considera-se melhor do que os outros, que designa, literalmente, por «o resto, os restantes (loipoi)» (Lc 18, 11). Por outras palavras, são «restos», descartados dos quais manter-se à larga. Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, apaga as suas gestas, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, mesmo hoje! Os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimo-lo no rosto dilaniado da Amazónia. A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», esquecida do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo cristãos que rezam e vão à Missa ao domingo são seguidores desta «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e vilipendiadores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus.
2-A oração do publicano ajuda-nos a compreender o que é agradável a Deus. Aquele começa, não pelos méritos, mas pelas suas faltas; não pela riqueza, mas pela sua pobreza: não uma pobreza económica – os publicanos eram ricos e cobravam também injustamente, à custa dos seus compatriotas –, mas uma pobreza de vida, porque no pecado nunca se vive bem. Aquele homem reconhece-se pobre diante de Deus, e o Senhor ouve a sua oração, feita apenas de sete palavras mas de atitudes verdadeiras. De facto, enquanto o fariseu estava à frente, de pé (cf. Lc 18, 11), o publicano mantém-se à distância e «nem sequer ousava levantar os olhos ao céu», porque crê que o Céu está ali e é grande, enquanto ele se sente pequeno. E «batia no peito» (cf. 18, 13), porque no peito está o coração. A sua oração nasce do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências. Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Porque, do diabo, vêm escuridão e falsidade; de Deus, luz e verdade. Foi bom – e vos agradeço, queridos padres e irmãos sinodais – termos dialogado, nestas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos.
Hoje, contemplando o publicano, descobrimos o ponto donde recomeçar: do facto de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Ao passo que a raiz de todo o erro espiritual, como ensinavam os monges antigos, é crer-se justo. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa. Esta atitude inicial é tão importante que Jesus no-la mostra com uma confrontação paradoxal, colocando lado a lado na parábola a pessoa mais piedosa e devota de então, o fariseu, e o pecador público por excelência, o publicano. E a sentença final inverte as coisas: quem é bom, mas presunçoso, falha; quem é deplorável, mas humilde, acaba exaltado por Deus. Se olharmos para dentro de nós com sinceridade, vemo-los ambos em nós: o publicano e o fariseu. Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos, capazes de nos sentirmos justos, campeões na arte de nos justificarmos! Isto, com os outros, muitas vezes dá certo; mas, com Deus, não. Rezemos pedindo a graça de nos sentirmos carecidos de misericórdia, pobres intimamente. Por isso mesmo faz-nos bem frequentar os pobres, para nos lembrarmos que somos pobres, para nos recordarmos de que a salvação de Deus só age num clima de pobreza interior.
3- Assim chegamos à oração do pobre. Esta – diz Ben Sirá – «chegará às nuvens» (35, 17). Enquanto a oração de quem se considera justo fica em terra, esmagada pela força de gravidade do egoísmo, a do pobre sobe, direita, até Deus. O sentido da fé do Povo de Deus viu nos pobres «os porteiros do Céu»: são eles que nos abrirão, ou não, as portas da vida eterna; eles que não se consideraram senhores nesta vida, que não se antepuseram aos outros, que tiveram só em Deus a sua própria riqueza. São ícones vivos da profecia cristã.
Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade das suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser guardada, confiando em Deus. Ele é Pai e – diz ainda Ben Sirá – «ouvirá a oração do oprimido» (35, 13). Quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são escutadas, acabando talvez vilipendiadas ou silenciadas porque incómodas. Rezemos pedindo a graça de saber escutar o clamor dos pobres: é o clamor de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu clamor, também a nossa oração atravessará as nuvens. Fonte: www.vaticannews.va
FINAL DO SÍNODO PARA AMAZÔNIA: “Ouvir o grito dos pobres, grito de esperança da Igreja”.
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"A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», porém, muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos", disse Francisco em sua homilia.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu a missa de encerramento da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, neste domingo (27/10), na Basílica de São Pedro.
O Pontífice iniciou sua homilia, dizendo que neste domingo, “a Palavra de Deus nos ajuda a rezar por meio de três personagens: na parábola de Jesus, rezam o fariseu e o publicano; na primeira Leitura, fala-se da oração do pobre”.
Em sua oração, “o fariseu vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares, mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo. Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. O drama desse homem é que vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada seriam, como diz São Paulo. E sem amor, qual é o resultado? No fim das contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De fato, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas com crédito. Está no templo de Deus, mas pratica outra religião, a religião do eu”. Muitos grupos ilustres, cristãos católicos, vão por esta estrada.
E além de Deus, o fariseu esquece o próximo, o despreza, ou seja, não lhe dá valor. Considera-se melhor que os outros designados por ele como «o resto, os restantes».
“Em outras palavras, são «restos», descartados dos quais manter-se à distância. Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, cancela suas histórias, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens. Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, ainda hoje! Vimos isso no Sínodo quando falamos da exploração da Criação, das pessoas, dos habitantes da Amazônia, do tráfico de pessoas, do comércio de pessoas!”
Segundo o Papa, “os erros do passado não foram suficientes para deixarmos de saquear os outros e causar ferimentos aos nossos irmãos e à nossa irmã terra: vimos isso no rosto desfigurado da Amazônia”.
“A «religião do eu» continua, hipócrita com os seus ritos e as suas «orações», porém, muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos, esquecida do verdadeiro culto a Deus, que passa sempre pelo amor ao próximo. Até mesmo os cristãos que rezam e vão à missa aos domingos são seguidores dessa «religião do eu». Podemos olhar para dentro de nós e ver se alguém, para nós, é inferior, descartável… mesmo só em palavras. Rezemos pedindo a graça de não nos considerarmos superiores, não nos julgarmos íntegros, nem nos tornarmos cínicos e escarnecedores. Peçamos a Jesus que nos cure de criticar e queixar dos outros, de desprezar seja quem for: são coisas que desagradam a Deus. Provavelmente, hoje nos acompanham nesta missa não apenas os indígenas da Amazônia: mas também os pobres das sociedades desenvolvidas, os irmãos e irmãs doentes da Comunità dell’Arche. Estão conosco.”
A oração do publicano nos ajuda a compreender o que é agradável a Deus. Ele não começa pelas suas virtudes, “mas pelas suas faltas; não pela riqueza, mas pela sua pobreza: não uma pobreza econômica, os publicanos eram ricos e cobravam também injustamente às custas de seus compatriotas, mas uma pobreza de vida, porque no pecado nunca se vive bem”.
Segundo Francisco, “aquele homem reconhece-se pobre diante de Deus, e o Senhor ouve a sua oração, feita apenas de sete palavras, mas de atitudes verdadeiras. De fato, enquanto o fariseu estava à frente, de pé, o publicano mantém-se à distância e «nem sequer ousava levantar os olhos ao céu», porque crê que o Céu está ali e é grande, enquanto ele se sente pequeno. E «batia no peito», porque no peito está o coração”.
“A sua oração nasce do coração, é transparente: coloca diante de Deus o coração, não as aparências. Rezar é deixar-se olhar dentro por Deus sem simulações, sem desculpas, nem justificações. Porque, do diabo, vêm escuridão e falsidade; de Deus, luz e verdade. Foi bom, e lhes agradeço, queridos padres e irmãos sinodais, termos dialogado, nestas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos.”
O Papa sublinhou que através do publicano, “descobrimos o ponto de onde recomeçar: do fato de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa”.
Jesus faz um confronto entre as atitudes da pessoa mais piedosa e devota de então, o fariseu, e o pecador público por excelência, o publicano. “E a sentença final inverte as coisas: quem é bom, mas presunçoso, falha; quem é deplorável, mas humilde, acaba exaltado por Deus. Se olharmos para dentro de nós com sinceridade, vemos os dois em nós: o publicano e o fariseu. Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos, capazes de nos sentirmos justos, campeões na arte de nos justificarmos! Isto, com os outros, muitas vezes dá certo; mas, com Deus, não”.
Peçamos a Deus “a graça de nos sentirmos necessitados de misericórdia, pobres intimamente. Por isso, faz-nos bem frequentar os pobres, para nos lembrarmos que somos pobres, para nos recordarmos de que a salvação de Deus só age num clima de pobreza interior”.
O Livro do Eclesiástico fala que a oração do pobre «chegará até as nuvens». “Enquanto a oração de quem se considera justo fica por terra, esmagada pela força de gravidade do egoísmo, a do pobre sobe, direta, até Deus. O sentido da fé do Povo de Deus viu nos pobres «os porteiros do Céu»: são eles que nos abrirão, ou não, as portas da vida eterna; eles que não se consideraram senhores nesta vida, que não se antepuseram aos outros, que tiveram só em Deus a sua própria riqueza. São ícones vivos da profecia cristã”.
“Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade de suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser protegida, confiando em Deus. Ele é Pai e «ouvirá a oração do oprimido». Quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são ouvidas, acabando talvez desprezadas ou silenciadas porque incômodas.”
Francisco concluiu, dizendo que devemos rezar “pedindo a graça de saber ouvir o grito dos pobres: é o grito de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu grito, temos a certeza de que a nossa oração atravessará as nuvens”. Fonte: www.vaticannews.va
Papa na Audiência: a Igreja não é fortaleza, mas tenda que acolhe todos
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O Santo Padre encontrou, na manhã desta quarta-feira, na Praça São Pedro, milhares de peregrinos e fiéis, provenientes de diversas partes do mundo, para a Audiência Geral. E reiterou a natureza da Igreja: ou é "em saída" ou não é Igreja.
Cidade do Vaticano
Em sua catequese o Papa refletiu sobre os “Atos dos Apóstolos, partindo do versículo 14, 27, onde se lê: "Deus abriu a porta da fé aos pagãos": a missão de Paulo e Barnabé e o Concílio de Jerusalém.
O livro dos Atos dos Apóstolos narra que São Paulo, após seu encontro transformador com Jesus, foi acolhido pela Igreja de Jerusalém, graças à mediação de Barnabé, e começou a proclamar a Boa Nova de Cristo.
No entanto, disse Francisco, devido à hostilidade de alguns, Paulo foi obrigado a se transferir para Tarso, sua cidade natal, seguido por Barnabé, que também foi envolvido na pregação da Palavra de Deus.
O evangelista Lucas diz que a sua pregação começou depois de uma forte perseguição, que não acometeu a evangelização, pelo contrário, foi uma boa oportunidade para ampliar o campo, onde lançar a boa semente da Palavra. Eis o longo itinerário da Palavra de Deus, que deve ser anunciada por todos os cantos da terra.
No entanto, Paulo e Barnabé chegaram, antes, à Antioquia da Síria, onde ficaram um ano inteiro, ensinando e ajudando a comunidade a criar raízes. Assim, Antioquia tornou-se o centro da propulsão missionária, graças à pregação dos dois evangelizadores, que tocou o coração dos fiéis. Precisamente em Antioquia os adeptos de Cristo foram chamados, pela primeira vez, de "cristãos".
Enviados pelo Espírito
Depois de Antioquia, Paulo e Barnabé, foram "enviados pelo Espírito" a outros lugares, anunciando a mensagem de Cristo e atraindo muitas pessoas para a fé cristã.
Esta foi a primeira etapa missionária de Paulo, que passou da pregação do Evangelho nas Sinagogas da diáspora ao anúncio em ambientes pagãos populares. Ao retornarem à Antioquia, Paulo e Barnabé contaram aos seus irmãos “como Deus abriu aos pagãos a porta da fé", cumprindo a “obra" para a qual o Espírito Santo os havia enviado. E o Papa explicou: “Do Livro dos Atos, emerge a natureza da Igreja, que não é uma fortaleza, mas uma tenda capaz de ampliar seu espaço para dar acesso a todos. A Igreja deve ser “em saída” senão não é uma Igreja; é uma Igreja de “portas abertas", chamada a ser sempre a Casa aberta do Pai. Assim, se alguém quiser seguir a ação do Espírito e buscar a presença de Deus, não encontrará o obstáculo de uma porta fechada ”
Porém, disse Francisco, naquele momento começavam os problemas: a novidade de abrir as portas aos pagãos e judeus desencadeou uma controvérsia ferrenha. Alguns judeus sentiam a necessidade da circuncisão para se salvar e ser batizados. Para resolver a questão, Paulo e Barnabé pedem o parecer do conselho dos Apóstolos e anciãos de Jerusalém, que foi considerado o primeiro Concílio da história da Igreja: o Concílio de Jerusalém ou Assembleia de Jerusalém, sobre o qual Francisco disse:
Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões. “Foi abordada uma questão teológica, espiritual e disciplinar muito delicada: a relação entre a fé em Cristo e a observância da Lei de Moisés. Durante a assembleia foram decisivos os discursos de Pedro e Tiago, "pilares" da Igreja mãe. Ambos convidavam a não impor a circuncisão aos pagãos, mas apenas a pedir para rejeitar a idolatria, em todas as suas expressões ”
Essa decisão, ratificada com uma Carta apostólica, foi enviada a Antioquia.
Enfim, o Papa perguntou qual o significado da assembleia de Jerusalém em nossos dias? E respondeu: “A Assembleia de Jerusalém nos oferece uma luz importante sobre o modo de enfrentar as divergências e buscar a verdade na caridade. Recorda-nos que o método eclesial de resolver os conflitos se baseia no diálogo feito de escuta atenciosa e paciente e no discernimento à luz do Espírito. De fato, é o Espírito que nos ajuda a superar os fechamentos e as tensões e age nos corações para que, na verdade e no bem, chegue à unidade. Este texto nos ajuda a entender o significado de Sínodo, iluminados pelo Espírito Santo ”
Sínodo não é uma conferência, nem um parlamento, mas algo bem diferente”.
Ao término da sua catequese semanal, o Santo Padre passou a saudar os diversos grupos de fiéis presentes na Praça São Pedro. Eis o que disse aos peregrinos de língua portuguesa:
“ Queridos peregrinos de língua portuguesa, saúdo-os, cordialmente, a todos, em particular os diversos grupos vindos de Portugal e do Brasil. Que a sua peregrinação a Roma os ajude a estar preparados para fazer parte da Igreja em saída, mediante o testemunho alegre do Evangelho e do amor de Deus por todos os seus filhos. A Virgem Santa os guie e proteja!” https://www.vaticannews.va
Domingo, 20 de outubro: Dia Mundial das Missões-Mensagem do Papa
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Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo
Queridos irmãos e irmãs!
Pedi a toda a Igreja que vivesse um tempo extraordinário de missionariedade no mês de outubro de 2019, para comemorar o centenário da promulgação da Carta apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV (30 de novembro de 1919). A clarividência profética da sua proposta apostólica confirmou-me como é importante, ainda hoje, renovar o compromisso missionário da Igreja, potenciar evangelicamente a sua missão de anunciar e levar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
O título desta mensagem – «batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo» – é o mesmo do Outubro Missionário. A celebração deste mês ajudar-nos-á, em primeiro lugar, a reencontrar o sentido missionário da nossa adesão de fé a Jesus Cristo, fé recebida como dom gratuito no Batismo. O ato, pelo qual somos feitos filhos de Deus, sempre é eclesial, nunca individual: da comunhão com Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, nasce uma vida nova partilhada com muitos outros irmãos e irmãs. E esta vida divina não é um produto para vender – não fazemos proselitismo –, mas uma riqueza para dar, comunicar, anunciar: eis o sentido da missão. Recebemos gratuitamente este dom, e gratuitamente o partilhamos (cf. Mt 10, 8), sem excluir ninguém. Deus quer que todos os homens sejam salvos, chegando ao conhecimento da verdade e à experiência da sua misericórdia por meio da Igreja, sacramento universal da salvação (cf. 1 Tm 2, 4; 3, 15; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 48).
A Igreja está em missão no mundo: a fé em Jesus Cristo dá-nos a justa dimensão de todas as coisas, fazendo-nos ver o mundo com os olhos e o coração de Deus; a esperança abre-nos aos horizontes eternos da vida divina, de que verdadeiramente participamos; a caridade, que antegozamos nos sacramentos e no amor fraterno, impele-nos até aos confins da terra (cf. Miq 5, 3; Mt 28, 19; At 1, 8; Rm 10, 18). Uma Igreja em saída até aos extremos confins requer constante e permanente conversão missionária. Quantos santos, quantas mulheres e homens de fé nos dão testemunho, mostrando como possível e praticável esta abertura ilimitada, esta saída misericordiosa ditada pelo impulso urgente do amor e da sua lógica intrínseca de dom, sacrifício e gratuidade (cf. 2 Cor 5, 14-21)!
Sê homem de Deus, que anuncia Deus (cf. Carta ap. Maximum illud): este mandato toca-nos de perto. Eu sou sempre uma missão; tu és sempre uma missão; cada batizada e batizado é uma missão. Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. Para o amor de Deus, ninguém é inútil nem insignificante. Cada um de nós é uma missão no mundo, porque fruto do amor de Deus. Ainda que meu pai e minha mãe traíssem o amor com a mentira, o ódio e a infidelidade, Deus nunca Se subtrai ao dom da vida e, desde sempre, deu como destino a cada um dos seus filhos a própria vida divina e eterna (cf. Ef 1, 3-6).
Esta vida é-nos comunicada no Batismo, que nos dá a fé em Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, regenera à imagem e semelhança de Deus e insere no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Por conseguinte, neste sentido, o Batismo é verdadeiramente necessário para a salvação, pois garante-nos que somos filhos e filhas, sempre e em toda parte: jamais seremos órfãos, estrangeiros ou escravos na casa do Pai. Aquilo que, no cristão, é realidade sacramental – com a sua plenitude na Eucaristia –, permanece vocação e destino para todo o homem e mulher à espera de conversão e salvação. Com efeito, o Batismo é promessa realizada do dom divino, que torna o ser humano filho no Filho. Somos filhos dos nossos pais naturais, mas, no Batismo, é-nos dada a paternidade primordial e a verdadeira maternidade: não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como mãe (cf. São Cipriano, A unidade da Igreja, 4).
Assim, a nossa missão radica-se na paternidade de Deus e na maternidade da Igreja, porque é inerente ao Batismo o envio expresso por Jesus no mandato pascal: como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós, cheios de Espírito Santo para a reconciliação do mundo (cf. Jo 20, 19-23; Mt 28, 16-20). Este envio incumbe ao cristão, para que a ninguém falte o anúncio da sua vocação a filho adotivo, a certeza da sua dignidade pessoal e do valor intrínseco de cada vida humana desde a conceção até à sua morte natural. O secularismo difuso, quando se torna rejeição positiva e cultural da paternidade ativa de Deus na nossa história, impede toda e qualquer fraternidade universal autêntica, que se manifesta no respeito mútuo pela vida de cada um. Sem o Deus de Jesus Cristo, toda a diferença fica reduzida a ameaça infernal, tornando impossível qualquer aceitação fraterna e unidade fecunda do gênero humano.
O destino universal da salvação, oferecida por Deus em Jesus Cristo, levou Bento XV a exigir a superação de todo o fechamento nacionalista e etnocêntrico, de toda a mistura do anúncio do Evangelho com os interesses econômicos e militares das potências coloniais. Na sua Carta apostólica Maximum illud, o Papa lembrava que a universalidade divina da missão da Igreja exige o abandono duma pertença exclusivista à própria pátria e à própria etnia. A abertura da cultura e da comunidade à novidade salvífica de Jesus Cristo requer a superação de toda a indevida introversão étnica e eclesial. Também hoje, a Igreja continua a necessitar de homens e mulheres que, em virtude do seu Batismo, respondam generosamente à chamada para sair da sua própria casa, da sua família, da sua pátria, da sua própria língua, da sua Igreja local. São enviados aos gentios, ao mundo ainda não transfigurado pelos sacramentos de Jesus Cristo e da sua Igreja santa. Anunciando a Palavra de Deus, testemunhando o Evangelho e celebrando a vida do Espírito, chamam à conversão, batizam e oferecem a salvação cristã no respeito pela liberdade pessoal de cada um, em diálogo com as culturas e as religiões dos povos a quem são enviados. Assim a missio ad gentes, sempre necessária na Igreja, contribui de maneira fundamental para o processo permanente de conversão de todos os cristãos. A fé na Páscoa de Jesus, o envio eclesial batismal, a saída geográfica e cultural de si mesmo e da sua própria casa, a necessidade de salvação do pecado e a libertação do mal pessoal e social exigem a missão até aos últimos confins da terra.
A coincidência providencial do Mês Missionário Extraordinário com a celebração do Sínodo Especial sobre as Igrejas na Amazônia leva-me a assinalar como a missão, que nos foi confiada por Jesus com o dom do seu Espírito, ainda seja atual e necessária também para aquelas terras e seus habitantes. Um renovado Pentecostes abra de par em par as portas da Igreja, a fim de que nenhuma cultura permaneça fechada em si mesma e nenhum povo fique isolado, mas se abra à comunhão universal da fé. Que ninguém fique fechado em si mesmo, na autorreferencialidade da sua própria pertença étnica e religiosa. A Páscoa de Jesus rompe os limites estreitos de mundos, religiões e culturas, chamando-os a crescer no respeito pela dignidade do homem e da mulher, rumo a uma conversão cada vez mais plena à Verdade do Senhor Ressuscitado, que dá a verdadeira vida a todos.
A este respeito, recordo as palavras do Papa Bento XVI no início do nosso encontro de Bispos Latino-Americanos na Aparecida, Brasil, em 2007, palavras que desejo transcrever aqui e subscrevê-las: «O que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do Batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. (...) O Verbo de Deus, fazendo-Se carne em Jesus Cristo, fez-Se também história e cultura. A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas uma regressão. Na realidade, seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado» [Discurso na Sessão Inaugural (13 de maio de 2007), 1: Insegnamenti III/1 (2007), 855-856].
A Maria, nossa Mãe, confiamos a missão da Igreja. Unida ao seu Filho, desde a encarnação, a Virgem colocou-se em movimento, deixando-se envolver-se totalmente pela missão de Jesus; missão que, ao pé da cruz, havia de se tornar também a sua missão: colaborar como Mãe da Igreja para gerar, no Espírito e na fé, novos filhos e filhas de Deus.
Gostaria de concluir com uma breve palavra sobre as Pontifícias Obras Missionárias, que a Carta apostólica Maximum illud já apresentava como instrumentos missionários. De facto, como uma rede global que apoia o Papa no seu compromisso missionário, prestam o seu serviço à universalidade eclesial mediante a oração, alma da missão, e a caridade dos cristãos espalhados pelo mundo inteiro. A oferta deles ajuda o Papa na evangelização das Igrejas particulares (Obra da Propagação da Fé), na formação do clero local (Obra de São Pedro Apóstolo), na educação duma consciência missionária das crianças de todo o mundo (Obra da Santa Infância) e na formação missionária da fé dos cristãos (Pontifícia União Missionária). Ao renovar o meu apoio a estas Obras, espero que o Mês Missionário Extraordinário de outubro de 2019 contribua para a renovação do seu serviço missionário ao meu ministério.
Aos missionários e às missionárias e a todos aqueles que de algum modo participam, em virtude do seu Batismo, na missão da Igreja, de coração envio a minha bênção.
Vaticano, 9 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2019.
Fonte: http://w2.vatican.va
Francisco: o remédio contra a hipocrisia é a autoacusação
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“Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece no Evangelho de hoje. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amizade”, afirmou o Papa na homilia da missa na Casa Santa Marta.
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
A hipocrisia foi o tema da homilia do Papa Francisco na Missa desta manhã celebrada na Casa Santa Marta, sugerido pelo Evangelho do dia, que narra a história de Jesus que é convidado por um fariseu para jantar e é criticado pelo anfitrião, porque não havia lavado as mãos antes de estar à mesa.
E o Papa comenta: "Há uma atitude que o Senhor não tolera: a hipocrisia. É o que acontece hoje no Evangelho. Convidam Jesus para jantar, mas para julgá-lo, não para fazer amigos”.
A hipocrisia, continua ele, "é precisamente aparentar ser de um jeito e ser de outro”. É pensar secretamente de maneira diferente do que aparenta ser. E Jesus não suporta isso. E frequentemente chama os fariseus de hipócritas, sepulcros caiados.
O de Jesus não é um insulto, é a verdade. "Por fora, tu és perfeito, antes ainda, engomado precisamente com a concretude - diz ainda Francisco - mas por dentro és outra coisa".
E afirma que "a atitude hipócrita vem do grande mentiroso, o diabo". Ele é o "grande hipócrita" e os hipócritas são seus "herdeiros":
A hipocrisia é a linguagem do diabo, é a linguagem do mal que entra em nosso coração e é semeada pelo diabo. Não se pode viver com pessoas hipócritas, mas elas existem. Jesus gosta de desmascarar a hipocrisia. Ele sabe que será precisamente esse comportamento hipócrita que o levará à morte, porque o hipócrita não pensa se usa meios lícitos ou não, vai em frente: calúnia? "vamos caluniar"; falso testemunho? "busquemos um falso testemunho".
O Papa continua dizendo que alguém poderia objetar "que conosco não existe hipocrisia assim". Mas pensar isso, é um erro:
A linguagem hipócrita, não diria que é normal, mas é comum, é de todos os dias. O aparentar de uma maneira e ser de outra. Na luta pelo poder, por exemplo, as invejas, os ciúmes fazem você parecer uma maneira de ser e, por dentro, tem o veneno para matar, porque a hipocrisia sempre mata, sempre, mais cedo ou mais tarde mata.
É necessário ser curado deste comportamento. Mas qual remédio, pergunta Francisco? A resposta é dizer "a verdade diante de Deus. É acusar a si mesmo:
Precisamos aprender a nos acusar: "Eu fiz isso, eu penso assim, maldosamente ... sou invejoso, gostaria de destruir aquele ...", o que existe dentro, nosso, e dizer isso diante de Deus. Este é um exercício espiritual que não é comum, não é usual, mas procuremos fazê-lo: acusar a nós mesmos, vermo-nos no pecado, nas hipocrisias, na maldade que existe em nosso coração, porque o diabo semeia a maldade. E dizer ao Senhor: "Mas veja Senhor, como sou!", e dizer isso com humildade.
Aprendamos a acusar a nós mesmos, repete o Papa, acrescentando "talvez algo muito forte, mas é assim: um cristão que não sabe acusar a si mesmo não é um bom cristão" e corre o risco de cair na hipocrisia. E recorda da oração de Pedro quando disse ao Senhor: afasta-te de mim, porque sou um homem pecador.
"Que nós aprendamos a nos acusar – conclui o Papa - a nós, a nós mesmos". Fonte: https://www.vaticannews.va
A fúria soberanista contra Francisco
- Detalhes
Os lugares falam. Luxuosos, discretos, com o constante chamado à Europa das armas e dos cavaleiros. Prédios elegantes, conventos medievais e castelos encastoados no interior da província francesa, onde você respira o ar da guerra da Vendeia. O mundo da facção anti-Bergoglio faz questão dessa aparência de Ancien régime. Uma frente onde a riqueza se torna uma força de propaganda, com doações - confidenciais - prontas para serem investidas em ouro e imóveis. Eles têm cardeais de referência, como Raymond Leo Burke, estadunidense vindo da província que sempre esteve na vanguarda do mundo teocon próximo de Donald Trump. Os lugares, portanto. O comentário é de Andrea Palladino, publicado por L'Espresso, 06-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe um triângulo geopolítico a partir do qual começar a entender a guerra que o mundo reacionário e soberanista está liderando contra a Igreja do Papa Francisco. Um vértice está na Itália, com Roma como evidente epicentro. Não apenas a Cidade do Vaticano, mas uma série de fundações, associações, grupos desconhecidos para a maioria - mas em condições de mobilizar nomes que contam - espalhados entre o Aventino e os palácios liberty do bairro Trieste.
Há os Estados Unidos, onde Trump é o último chegado naquela estranha aliança que La Civiltà Cattolica - a revista da Companhia de Jesus - definiu de "ecumenismo do ódio". Redes de TV, rádios, escolas exclusivas, sites de sucesso, onde o verbo do catolicismo integralista se une e se funde com a infinita série de igrejas evangélicas. Aqui, em primeiro lugar, o que conta é a riqueza, o sucesso pessoal, o american way of life completo. Você é o que você ganha.
E por fim, o terceiro vértice, o Brasil de Jair Bolsonaro, hoje no centro das atenções. O Sínodo Pan-Amazônico (6 a 27 de outubro) é o local do confronto final. Aparentemente, por algumas passagens contidas no documento preparatório, o Instrumentum laboris, que lembra algumas teses defendidas pela parte progressista da conferência episcopal alemã (a possibilidade de ordenar padres idosos com família, reconhecidos pelas comunidades indígenas locais e uma maior abertura às mulheres). Mas o cerne, a questão-chave é outra completamente diferente. Diz respeito à proteção integral do meio ambiente - que na visão do Sínodo se une ao desenvolvimento humano - a luta pela democracia, a guerra contra a corrupção. E a opção preferencial pelos pobres. Uma visão "progressista" - na verdade evangélica - que se torna insuportável e perigosa para a frente hiper liberal mundial. Entre Europa, EUA e América Latina.
Tradição, família e propriedade
"O Cardeal Burke esteve nesta sede nem sei quantas vezes, celebrou Missa aqui, não sei se viu o altar ali atrás ...". Julio Loredo mostra a pequena capela escondida atrás de duas portas de correr na sede da associação Luci sull'Est, no coração de Roma. Nascido no Peru, cidadão espanhol, chegou à Itália em 1994, Loredo é o presidente da seção italiana da poderosa e antiga fundação Tradição, Família e Propriedade - TFP. Fundada em 1960 no Brasil por Plinio Corrêa de Oliveira, a TFP foi o principal lobby a inspirar o golpe militar em Brasília e no Rio, em 1964. Tem uma verdadeira obsessão: a defesa dos grandes latifúndios e a luta incansável contra as reformas agrárias. Os membros da TFP gostam de se definir a maior rede anticomunista e antissocialista do mundo. Coisas sérias e certas. Quando, em 1987, a constituinte brasileira, eleita após os vinte anos de ditadura militar, estava elaborando a carta fundamental atualmente em vigor, a Tradição, Família e Propriedade conseguiu - com um intenso trabalho de pressão - bloquear o princípio da redistribuição de terras.
O vínculo com o cardeal Burke é antigo, Loredo assegura: "Nós o conhecemos desde que ele era bispo de La Crosse, somos amigos desde sempre". Também intimamente ligado à associação é o bispo de Astana Athanasius Schneider, que com Burke assinou a carta contra o Sínodo pan-amazônico publicada em 24 de setembro passado, onde acusam o atual pontificado de "confusão doutrinal": "Também o conhecemos desde quando ele era um seminarista, nós o vimos se formar".
Ouro e castelos. Com o rosário nas mãos
A Tradição, Família e Propriedade do Brasil ampliou o campo de influência e recrutamento – principalmente entre os muito jovens - em 28 países. Não objetiva ter um número elevado de seguidores, mas criar redes de influência sobre os governos para temas típicos da internacional soberanista. Família tradicional, luta contra gênero e aborto, é claro. Mas também um programa político claro: "Nossas batalhas foram contra a linha do presidente Carter em favor dos direitos humanos, contra a teologia da libertação, contra o ambientalismo e o pacifismo", declara o site estadunidense. E hoje em Washington, a TFP tem sessenta funcionários, setenta e cinco voluntários em tempo integral e US $ 14 milhões em doações, que quase dobraram nos últimos cinco anos. Dinheiro que em parte investe na compra de ouro, como consta nos balanços dos últimos anos. E em uma quantidade industrial de rosários a serem mostrados - no estilo Salvini - em manifestações públicas: um lote de um milhão de dólares chegou de Giussano, na província de Monza e Brianza. Na Europa, podem contar com um tesouro acumulado graças a doações discretas e confidenciais.
Na região de Moselle, na França, na pequena cidade de Creutzwald, localiza-se a luxuosa vila La Clarière, que hospedou as conferências do cardeal Walter Brandmüller, outro ponto de referência da frente que se opõe ao papa Francisco. Adquirida em 2003 e completamente restaurada, foi inaugurada em 2006 pelo cardeal Jorge Arturo Estévez Medina, conhecido como "cardeal Pinochet", devido à sua proximidade com o ditador chileno ("rezo por ele todos os dias", declarou ele no final dos anos 1990). Aqui tem sede da Federação para a Civilização Cristã, um think tank fundado em 2010 que por alguns anos atuou como um lobby em Bruxelas, o centro de uma densa rede de associações, da Itália à Polônia, da Alemanha à Bélgica.
A influência russa no nome do Congresso de Viena
Na Itália, um importante papel dessa área é desempenhado por Roberto de Mattei, historiador do cristianismo que tem laços antigos com o mundo da Tradição, Família e Propriedade. Antievolucionista, antigays, convicto de que os “desastres naturais são, eventualmente, exigência da justiça de Deus", é um dos protagonistas da guerra contra Bergoglio, na linha de frente ao antissínodo. Em 28 de setembro, ele organizou um flash mob em Castel Sant'Angelo, chamado "Acies ordinata", propondo uma oração contra "os maus espíritos da Amazônia". Ele é líder da Fundação Lepanto, com sede em Roma, no complexo medieval de Santa Balbina, de propriedade do Ipab Santa Margherita. Mas ele também tem um endereço em Washington, sinal de laços estreitos com os teocon: "Mais do que uma sede, temos muitos amigos nos Estados Unidos".
Então fé atlântica, é claro. Mas em maio de 2014, de Mattei também foi convidado a Viena para uma reunião, destinada a permanecer em segredo, organizada pelo oligarca russo Konstantin Malofeev. Entre outros, estavam presentes Marion Maréchal-Le Pen, então líder do Partido da Liberdade Austríaco Heinz-Christian Strache e sempre presente filósofo Aleksandr Dugin, o mais amado pelos soberanistas: "Estavam presentes também parlamentares italianos, mas foi um encontro confidencial e eu não gostaria de violar a privacidade deles", diz ele. Ele foi convidado como historiador, o tema era o bicentenário do Congresso de Viena: "Mas imediatamente me senti desconfortável, minhas ideias são antitéticas às de Dugin". Segundo de Mattei, aquele encontro tinha um objetivo claro: "Na minha opinião, há uma manobra da Rússia de infiltração no mundo tradicional e conservador europeu. Em relação a alguns partidos políticos, começando pela Liga, e os movimentos pró-vida. Parece-me que a Rússia está desempenhando o papel que a CIA teve nas décadas anteriores”.
E a influência atlântica hoje? "Nos Estados Unidos, são os movimentos pró-vida que condicionam a política, enquanto na Rússia acontece o contrário, é a política que condiciona". A antiga cortina de ferro tornou-se fluida. Mas o objetivo é o mesmo: parar o impulso reformador do papa Francisco. Fonte: Ahttp://www.ihu.unisinos.br
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