EVANGELHO DOMINICAL: Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras.
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Papa no Angelus: uma vida de caridade, não de egoísmo, prepara para o encontro com Deus
Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras, disse o Papa, ao comentar a parábola das 10 virgens proposta pelo Evangelho de hoje.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Os fiéis compareceram à Praça São Pedro para rezar o Angelus com o Papa Francisco não obstante o aumento do número de contágios na Itália, mantendo a devida distância. Em sua alocução, o Pontífice comentou o Evangelho deste domingo (Mt 25,1-13), que convida a prolongar a reflexão sobre a vida eterna iniciada por ocasião da Festa de Todos os Santos e da Comemoração de Finados.
Jesus narra a parábola das 10 virgens convidadas a uma festa nupcial, símbolo do Reino dos céus. Naquele tempo, havia o hábito de celebrar as núpcias à noite, portanto o cortejo dos convidados deveria se realizar com as lâmpadas acesas.
Algumas jovens são imprevidentes: pegam as lâmpadas, mas não pegam o óleo; as sábias, ao invés, pegam os dois. O esposo demora para chegar e todos acabam cochilando. Quando é anunciado, as imprevidentes vão comprar o óleo e o esposo chega neste momento. As jovens sábias entram com ele para a festa do casamento; outras chegaram demasiado tarde e são recusadas.
Fé e caridade
Com esta parábola, explicou o Papa, Jesus quer nos dizer que devemos estar preparados para o encontro com Ele. “Não somente para o encontro final, mas também para os pequenos e grandes encontros de todos os dias.”
Não é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade e das boas obras. Ser sábios e prudentes significa não esperar o último momento para corresponder à graça de Deus, mas fazê-lo ativamente desde já, começar agora: “Sim, mais para frente me converto. Converta-se agora! Mude hoje de vida! – “Sim, sim: amanhã”. Para dizer o mesmo amanhã, que jamais chegará. Hoje!”
Viver o hoje repleto de esperança
Se quisermos estar prontos para o último encontro com o Senhor, devemos desde já cooperar com Ele e realizar boas ações inspiradas no seu amor. Mas infelizmente, lamentou Francisco, se esquece que a meta da nossa vida é o encontro definitivo com Deus, perdendo assim o sentido da espera e absolutizando o presente. “Quando alguém absolutiza o presente, olha somente para o presente, perde o sentido da espera, que é tão bonito. Esperar o Senhor é tão necessário e nos tira das contradições do momento.”
E então a preocupação é somente possuir, emergir, estabilizar-se. "Sempre mais."
Se deixarmos guiar por aquilo que parece mais atraente, pela busca dos nossos interesses, a nossa vida se torna estéril, disse ainda Francisco; não acumularemos nenhuma reserva de óleo para a nossa lâmpada, e esta se apagará antes do encontro com o Senhor.
“Devemos viver o hoje, mas o hoje que vai em direção ao amanhã, em direção àquele encontro, o hoje repleto de esperança.”
Ao invés, se formos vigilantes e fizermos o bem correspondendo à graça de Deus, podermos aguardar com serenidade a chegado do esposo, mesmo dormindo, porque temos a reserva de óleo acumulada com as boas obras de todos os dias, “acumulada com a espera do Senhor, que Ele venha o mais rápido possível e que venha para me levar com Ele”.
Invoquemos a intercessão de Maria Santíssima, concluiu o Papa, “para que nos ajude a viver, como Ela fez, uma fé atuante: essa é a lâmpada luminosa com a qual podemos atravessar a noite além da morte e alcançar a grande festa da vida”. Fonte: https://www.vaticannews.va
A oração perseverante produz uma transformação progressiva. Francisco
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"A oração é o leme que guia a rota de Jesus", disse o Papa na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira que voltou a ser realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Jesus, mestre de oração” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (04/11), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico. Francisco retomou as audiências gerais em sua biblioteca, depois da sinalização de um caso positivo de coronavírus durante a Audiência Geral de 21 de outubro, e para evitar qualquer risco para a saúde dos participantes.
“Infelizmente, voltamos a fazer a audiência na biblioteca, para nos defender do contágio da Covid. Isto nos ensina que devemos estar atentos às prescrições das autoridades, sejam as autoridades políticas e sejam as autoridades de saúde a fim de nos defender dessa epidemia. Ofereçamos ao Senhor esta distância entre nós para o bem de todos. Pensemos nos doentes, naqueles que entram como descartados. Pensemos nos médicos, enfermeiros, enfermeiras, voluntários, a todos aqueles que trabalham com os doentes nesse momento, que arriscam a vida e o fazem por amor à sua vocação, por amor ao próximo. Rezemos por eles. Obrigado.
“Durante a sua vida pública, Jesus recorre constantemente ao poder da oração. Mesmo em momentos de maior dedicação aos pobres e aos doentes, Jesus nunca negligenciava o seu diálogo íntimo com o Pai. Quanto mais estava imerso nas necessidades do povo, tanto mais sentia a necessidade de descansar na Comunhão trinitária”, frisou o Pontífice.
Segundo Francisco, “na vida de Jesus existe um segredo, escondido aos olhos humanos, que representa o ponto fulcral de tudo. A oração de Jesus é uma realidade misteriosa, da qual só intuímos algo, mas que permite ler toda a sua missão na justa perspectiva. Naquelas horas solitárias, antes do amanhecer ou de madrugada, Jesus mergulha na sua intimidade com o Pai, ou seja, no Amor do qual toda a alma tem sede. É isto que sobressai dos primeiros dias do seu ministério público. Jesus vai sempre além, vai além na oração com o Pai, vai além nos povoados, a outros horizontes a fim de pregar a outros povos”.
A oração é o leme que guia a rota de Jesus. Não é o sucesso, não é o consentimento, não é aquela frase sedutora “todos te procuram”, que ditam as etapas da sua missão. É o modo menos confortável que traça o caminho de Jesus, mas que obedece à inspiração do Pai, que Jesus ouve e acolhe na sua prece solitária.
A partir do exemplo de Jesus, podemos obter algumas caraterísticas da oração cristã. A primeira, é que a oração é o primeiro desejo do dia, algo que se pratica ao amanhecer, antes que o mundo desperte.
Segundo o Papa, “um dia vivido sem oração corre o risco de se transformar numa experiência aborrecida ou tediosa: tudo o que nos acontece poderia se transformar-se para nós num destino mal suportado e cego. Jesus, ao contrário, educa a obediência à realidade e, portanto, à escuta”. A seguir, Francisco acrescentou:
A oração é, antes de mais nada, escuta e encontro com Deus. Os problemas da vida quotidiana não se tornam obstáculos, mas apelos do próprio Deus a ouvir e encontrar quantos estão à nossa frente. Assim, as provações da vida transformam-se em ocasiões para crescer na fé e na caridade. O caminho diário, incluindo as dificuldades, adquire a perspectiva de uma “vocação”. A oração tem o poder de transformar em bem o que de outra forma seria uma condenação na vida; tem o poder de abrir um grande horizonte para a mente e de alargar o coração.
A segunda característica é que “a oração é uma arte a praticar com insistência. Todos somos capazes de orações episódicas, que nascem da emoção de um momento; mas Jesus nos educa a outro tipo de oração: aquela que conhece uma disciplina, um exercício e é assumida no âmbito de uma regra de vida. A oração perseverante produz uma transformação progressiva, fortalece em tempos de tribulação, concede a graça de ser amparados por Aquele que nos ama e nos protege sempre”.
A terceira “caraterística da oração de Jesus é a solidão”, disse o Papa. “Quem reza não foge do mundo, mas prefere lugares desertos. Ali, no silêncio, podem surgir muitas vozes que escondemos no íntimo: os desejos mais afastados, as verdades que nos obstinamos a sufocar. E, acima de tudo, Deus fala no silêncio. Cada pessoa precisa de um espaço para si, onde cultivar a sua vida interior, onde as ações têm sentido. Sem vida interior tornamo-nos superficiais, agitados, ansiosos; a ansiedade nos faz mal. Devemos buscar a oração. Sem vida interior fugimos da realidade e também fugimos de nós mesmos. Somos homens e mulheres em fuga sempre”.
A quarta característica da oração de Jesus é que ela “é o lugar onde percebemos que tudo vem de Deus e para Ele retorna. Por vezes, nós seres humanos acreditamos que somos senhores de tudo ou, caso contrário, perdemos toda a autoestima. Vamos de um lugar para outro. A oração nos ajuda a encontrar a correta dimensão na relação com Deus, nosso Pai, e com toda a criação”.
Por fim, “a oração de Jesus é abandonar-se nas mãos do Pai. Como Jesus no Horto das Oliveiras, naquela angústia: “Pai, se é possível que isso passe. Mas seja feita a tua vontade”. “O abandono nas mãos do Pai. É bonito quando estamos agitados e buscamos a oração e o Espírito Santo nos transforma por dentro e nos faz abandonar nas mãos do Pai. Pai, que seja feita a tua vontade”, concluiu Francisco. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: rezemos pelos mortos, especialmente pelas vítimas do coronavírus
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Em um tuíter Francisco dirige um pensamento àqueles que morreram sozinhos durante a pandemia e àqueles que perderam as suas vidas para curá-los. À tarde, o Pontífice preside à Missa na igreja do Campo Santo Teutônico no Vaticano, a seguir a visita às Grutas Vaticanas.
Debora Donnini – Vatican News
O convite para rezar pelos fiéis falecidos foi dirigido esta manhã pelo Papa Francisco num tuíter com uma referência especial ao contexto em que o mundo está vivendo, marcado pela pandemia.
“Hoje rezamos por todos os #FiéisDefuntos e especialmente pelas vítimas do #coronavírus: por aqueles que morreram sozinhos, sem o carinho de seus entes queridos; e por todas as pessoas que deram a vida a serviço dos enfermos”.
Missa no Campo Santo Teutônico
Por ocasião da comemoração de hoje dos fiéis defuntos, à tarde o Papa não se afastará muito da Casa Santa Marta para celebrar a Missa às 16 horas (hora local) de forma estritamente privada, sem a presença dos fiéis, na igreja do Pontifício Colégio Teutônico de Santa Maria em Camposanto. No final, irá se deter em oração no cemitério, depois descerá às Grutas Vaticanas para prestar homenagem aos Pontífices falecidos.
Anos anteriores
Nos anos anteriores em 2 de novembro, Francisco tinha ido a vários cemitérios: no ano passado às Catacumbas de Priscilla, na Via Salaria. Em 2018 no Cemitério da Laurentina, nos subúrbios do extremo sul de Roma, para celebrar a Missa em sufrágio dos mortos com uma comovente parada diante dos túmulos das crianças, daquelas que morreram prematuramente devido a doença ou acidente e daquelas que nunca nasceram, sepultadas no chamado "Jardim dos Anjos".
Em 2017 foi a vez do Cemitério americano de Netuno, onde os soldados estadunidenses que morreram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial estão enterrados, renovando nessa ocasião o apelo de Bento XV: "Nunca mais a guerra". Mais tarde recolheu-se em oração no santuário das Fossas Ardeatinas. Em 2016 presidiu à Celebração Eucarística no Cemitério de Prima Porta, enquanto nos três anos anteriores - 2015, 2014 e 2013 - não no dia 2 de novembro mas no dia 1º de novembro, na Solenidade de Todos os Santos, foi ao monumental cemitério de Verano de Roma. Fonte: https://www.vaticannews.va
Domingo de todos os santos e santas: Alegria e sentido de humor na Gaudete et exsultate
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- O que ficou dito até agora não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é «alegria no Espírito Santo» (Rm14, 17), porque, «do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria».[99]Recebemos a beleza da sua Palavra e abraçamo-la «em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo» (1 Ts 1, 6). Se deixarmos que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então poderemos realizar o que pedia São Paulo: «Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!» (Flp 4, 4).
- Os profetas anunciavam o tempo de Jesus, que estamos a viver, como uma revelação da alegria: «exultai de alegria» (Is12, 6). «Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém» (Is40, 9). «Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e Se compadece dos desamparados» (Is 49, 13). «Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu Rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso» (Zac 9, 9). E não esqueçamos a exortação de Neemias: «não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força» (8, 10).
- Maria, que soube descobrir a novidade trazida por Jesus, cantava: «o meu espírito se alegra» (Lc1, 47) e o próprio Jesus «estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo» (Lc10, 21). Quando Ele passava, «a multidão alegrava-se» (Lc 13, 17). Depois da sua ressurreição, onde chegavam os discípulos, havia grande alegria (cf. At 8, 8). Jesus assegurou-nos: «vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria! (...) Eu hei de ver-vos de novo! Então o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 20.22). «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11).
- Existem momentos difíceis, tempos de cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural, que «se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados».[100]É uma segurança interior, uma serenidade cheia de esperança que proporciona uma satisfação espiritual incompreensível à luz dos critérios mundanos.
- Normalmente a alegria cristã é acompanhada pelo sentido do humor, tão saliente, por exemplo, em São Tomás Moro, São Vicente de Paulo, ou São Filipe Néri. O mau humor não é um sinal de santidade: «lança fora do teu coração a tristeza» (Qo11, 10). É tanto o que recebemos do Senhor «para nosso usufruto» (1 Tm6, 17), que às vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus.[101]
- Assim nos convida o seu amor paterno: «meu filho, se tens com quê, trata-te bem (...). Não te prives da felicidade presente» (Sir14, 11.14). Quer-nos positivos, agradecidos e não demasiado complicados: «no dia da felicidade, sê alegre. (…) Deus criou os homens retos, eles, porém, procuraram maquinações sem fim» (Qo7, 14.29). Em cada situação, devemos manter um espírito flexível, fazendo como São Paulo: aprendi a adaptar-me «às situações em que me encontre» (Flp 4, 11). Isto mesmo vivia São Francisco de Assis, capaz de se comover de gratidão perante um pedaço de pão duro, ou de louvar, feliz, a Deus só pela brisa que acariciava o seu rosto.
- Não estou a falar da alegria consumista e individualista muito presente nalgumas experiências culturais de hoje. Com efeito, o consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria. Refiro-me, antes, àquela alegria que se vive em comunhão, que se partilha e comunica, porque «a felicidade está mais em dar do que em receber» (At20, 35) e «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor9, 7). O amor fraterno multiplica a nossa capacidade de alegria, porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros: «alegrai-vos com os que se alegram» (Rm 12, 15). «Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes» (2 Cor 13, 9). Ao contrário, «concentrando-nos sobretudo nas nossas próprias necessidades, condenamo-nos a viver com pouca alegria».[102]
"Católicos não se envolvem em política". É mesmo? Então diga isto ao Papa Francisco.
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O Santo Padre é perfeitamente claro: "Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão". Mas de que política ele está falando?
De maneira lamentável (profundamente e assustadoramente lamentável), há muitos católicos que não entendem a diferença entre política e dinâmicas partidárias. Assim, tampouco entendem o significado da separação entre Igreja e Estado, confundindo-a com uma suposta (e absurda) separação total entre a Igreja e a política.
O termo “política” vem da palavra grega “pólis“, que significa “cidade“. Originalmente, a política é a “gestão da cidade”, da comunidade, da vida social, focada no bem comum. Essa gestão, obviamente, requer a participação de todos os cidadãos.
“Política” é, portanto, o exercício do poder de decisão: seja o poder pessoal de decisão sobre a própria vida, seja o poder de participar nas decisões da própria comunidade. Todo ser humano é um ser político neste sentido.
Historicamente, esse poder de decisão tem sido terceirizado a “representantes” dos cidadãos. Na assim chamada “democracia”, esses representantes se organizam em partidos: trata-se de grupos que, em teoria, defendem propostas específicas de gestão da comunidade.
Na prática, nem sempre é fácil saber qual é, exatamente, a proposta específica de cada partido para promover o real bem-estar da população; é bastante comum que os partidos digam xis e façam ípsilon, ou se aliem de maneiras pouco coerentes com as propostas que supostamente defendem. A partir dessa confusa “gestão da comunidade” feita pelos representantes do povo, surge no próprio povo a ideia errônea de que “política” é apenas a dinâmica partidária (ou partidarista), com todos os seus famosos “bastidores” onde não param de explodir escândalos de corrupção ou, pelo menos, de incompetência.
A dinâmica partidária é apenas um aspecto da política: não é “a” política.
O católico tem, primeiramente, o dever de entender essa diferença para, em seguida, exercer o dever de fazer a sua parte na boa gestão da comunidade. O bem comum, afinal, deve ser promovido por todos – e não apenas esperado de braços cruzados. Daí a fazer “politicagem” há uma grande diferença. O católico não faz “politicagem”. O católico participa da política. E de maneira claramente fiel à boa nova de Jesus Cristo, que nos assegurou que somos todos filhos de Deus Pai e nos convidou a “amar-nos uns aos outros como Ele nos ama”. Pois bem, isto exige um comprometimento com o bem comum.
Durante uma audiência na Sala Paulo VI, no Vaticano, o papa Francisco foi perguntado sobre como deve ser o nosso compromisso evangélico no tocante à sociedade e, por conseguinte, à vida política.
O Santo Padre respondeu com clareza:
Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum.
Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu me pergunto: está suja por quê? Porque os cristãos não se envolveram nela com espírito evangélico? É uma pergunta que eu faço.
É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas eu, o que eu faço? Isto é um dever! Trabalhar pelo bem comum é um dever do cristão.
Prefere ouvi-lo da boca do próprio Santo Padre? Então ouça.
Fonte: https://pt.aleteia.org
Papa anuncia 13 novos cardeais, incluindo o primeiro americano negro a receber a nomeação
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Arcebispo de Washington, Wilton Gregory, está entre os nomes listados neste domingo pelo Pontífice
O Globo e agências internacionais
VATICANO — O Papa Francisco anunciou, neste domingo, que nomeará 13 novos cardeais católicos no próximo mês, incluindo o arcebispo de Washington, Wilton Gregory, que é o primeiro americano negro a receber o título. A indicação de Gregory reforça a sua posição como um importante líder americano, num momento em que os Estados Unidos debatem o racismo histórico e as manifestações por justiça racial eclodem por todo o país.
Gregory também é o primeiro cardeal americano desde 2016, quando o papa nomeou os cardeais Blase Cupich, de Chicago, Joseph Tobin, de Newark, e Kevin Farrell, chefe do escritório do Vaticano para questões familiares.
Gregory se tornou o primeiro homem negro a liderar os católicos em Washington, quando o próprio Francisco o nomeou como sucessor do cardeal Donald Wuerl, em abril de 2019. Sua ordenação era esperada, já que todos os arcebispos de Washington se tornaram cardeais desde que se tornou uma diocese independente, em 1947.
O arcebispo falou sobre questões raciais inúmeras vezes. Após a morte de George Floyd pelas mãos da polícia em Minneapolis em maio, ele disse que “o incidente revela o vírus do racismo entre nós mais uma vez, mesmo enquanto continuamos a lidar com a pandemia do coronavírus”.
Os novos cardeais foram listados num anúncio surpresa feito aos fiéis pelo Papa de sua janela com vista para a Praça de São Pedro, no Vaticano. Eles serão oficializados no alto escalão numa cerimônia conhecida como Consistório, no dia 28 de novembro.
Nove dos 13 nomeados são elegíveis para entrar no conclave que vai escolher o sucessor de Francisco, após a sua morte ou renúncia. Os demais não vão ter essa permissão porque têm mais de 80 anos. Eles foram elevados ao alto escalão por causa de seus respectivos serviços prestados à Igreja ao longo de tantos anos.
A seleção de mais cardeais eleitores aumenta a possibilidade de que o próximo Papa seja alguém que continuará as políticas de Francisco. Ele já nomeou cerca de 57% dos cardeais eleitores, cujo número sobe para 128 com as novas nomeações. Os outros foram indicados pelos dois predecessores mais conservadores, Bento XVI e João Paulo II.
As regras da Igreja geralmente limitam o número de cardeais eleitores a 120, mas os papas dobraram esse limite. Além dos Estados Unidos, os novos eleitores vêm da Itália, África, Ruanda, Filipinas, Chile e Brunei. Fonte: https://oglobo.globo.com
O Papa: as religiões estão a serviço da paz e da fraternidade
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"A partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio", disse Francisco.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco participou do encontro de Oração pela Paz no Espírito de Assis, na tarde desta terça-feira (20/10), na Praça do Capitólio, no centro de Roma.
O evento, intitulado “Ninguém se salva sozinho - Paz e Fraternidade”, foi promovido pela Comunidade de Santo Egídio que anualmente celebra, de cidade em cidade, esta iniciativa de oração e diálogo em prol da paz, entre os fiéis de várias religiões, a fim de recordar o encontro convocado por São João Paulo II, em 1986, em Assis.
Em seu discurso, o Santo Padre manifestou alegria e gratidão a Deus por este momento de oração e pela presença do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. “Muito aprecio o fato de que ele e outras personalidades, não obstante as dificuldades de viajar, tenham querido participar deste encontro de oração”, disse Francisco.
Diversidade de religião não justifica a indiferença
Recordando o encontro em Assis, o Papa sublinhou que “naquela visão de paz, havia uma semente profética que, graças a Deus, foi amadurecendo, passo a passo, com encontros inéditos, iniciativas de pacificação, novos pensamentos de fraternidade. Com efeito, olhando para trás, ao mesmo tempo que nos deparamos infelizmente, nos anos passados, com fatos dolorosos como conflitos, terrorismo ou radicalismo, às vezes em nome da religião, temos também de reconhecer os passos frutuosos no diálogo entre as religiões. É um sinal de esperança que nos incita a trabalhar juntos como irmãos. Assim, chegamos ao importante Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, que assinei com o Grande Imame de al-Azhar, Ahmed al-Tayyeb, em 2019”.
Citando um trecho de sua Encíclica “Fratelli tutti”, Francisco disse que «o mandamento da paz está inscrito nas profundezas das tradições religiosas». A seguir, acrescentou:
Os fiéis compreenderam que a diversidade de religião não justifica a indiferença nem a inimizade. Antes pelo contrário, a partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio.
“As religiões estão a serviço da paz e da fraternidade. Por isso, este encontro impele os líderes religiosos e todos os fiéis a rezarem insistentemente pela paz, não se resignarem jamais com a guerra e agirem mediante a força suave da fé para pôr fim aos conflitos.”
A paz é a prioridade de qualquer política
“Hoje, o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza”, disse ainda o Papa. Segundo ele, “o mundo, a política, a opinião pública correm o risco de habituar-se ao mal da guerra, como companheira natural da história dos povos”. Francisco convidou a tocar a carne daqueles que pagam as consequências, a prestar atenção aos prófugos, aos que sofreram radiações atômicas ou ataques químicos, às mulheres que perderam os filhos, às crianças mutiladas ou privadas de sua infância. O Pontífice recordou que “hoje, as tribulações da guerra são agravadas também pela pandemia de coronavírus e pela impossibilidade, em muitos países, de se ter acesso aos tratamentos necessários”.
Entretanto os conflitos continuam e, com eles, o sofrimento e a morte. Pôr fim à guerra é dever inadiável de todos os responsáveis políticos perante Deus.
“A paz é a prioridade de qualquer política. Deus pedirá contas a quem não procurou a paz ou fomentou tensões e conflitos, de todos os dias, meses, anos de guerra que assolaram os povos.”
“Basta! É uma resposta inequívoca a toda violência”, disse o Papa, recordando o “basta” que Jesus disse aos discípulos quando eles lhe mostraram duas espadas antes da Paixão. Aquele “basta” de Jesus “atravessa os séculos e chega, forte, até nós hoje: basta com as espadas, as armas, a violência e a guerra”!
Nenhum grupo social pode alcançar, sozinho, a paz
O Pontífice recordou que, em 1965, nas Nações Unidas, São Paulo VI deu eco a este apelo quando afirmou: «Nunca mais a guerra!». Esta é a súplica de todos nós, dos homens e mulheres de boa vontade. É o sonho de todos aqueles que buscam e são artesãos da paz, cientes de que «toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou».
Nenhum povo, nenhum grupo social pode alcançar, sozinho, a paz, o bem, a segurança e a felicidade. Ninguém. A lição da pandemia atual, se quisermos ser honestos, é «a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Recordamo-nos de que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvar-nos juntos».
“A fraternidade, que brota da consciência de sermos uma única humanidade, deve penetrar na vida dos povos, nas comunidades, no íntimo dos governantes, nos foros internacionais. Estamos juntos, nesta tarde, como pessoas de diferentes tradições religiosas, para comunicar uma mensagem de paz. Isto mostra claramente que as religiões não querem a guerra; pelo contrário, desmentem quem sacraliza a violência, pedem a todos que rezem pela reconciliação e atuem para que a fraternidade abra novas sendas de esperança”, concluiu o Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va
Domingo, 18 de outubro-2020: Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões
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MENSAGEM DE SUA SANTIDADE, O PAPA FRANCISCO, PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020
“Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 8)
Queridos irmãos e irmãs!
Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, toda a Igreja viveu o Mês Missionário Extraordinário. Estou convicto de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades no caminho indicado pelo tema “Batizados e enviados: A Igreja de Cristo em missão no mundo”.
Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do Covid-19, o caminho missionário, para toda a Igreja, continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: “Eis-me aqui, envia-me” – É a resposta sempre nova à pergunta do Senhor: “Quem enviarei?” (Is 6, 8). Esse chamado vem do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela tanto a Igreja quanto a humanidade na atual crise mundial.
“À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furiosa. Percebemos estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários, chamados a remar juntos, todos carentes de mútuo encorajamento. Nesta barca, estamos todos. Tal como aqueles discípulos falaram a uma só voz, angustiados: “Vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também percebemos que não podemos continuar por conta própria, mas apenas juntos” (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/3/2020).
Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e com medo. Dor e morte nos fazem experimentar nossa fragilidade humana, mas, ao mesmo tempo, têm nos feito reconhecer como participantes de um forte desejo de vida e de libertação do mal. Nesse contexto, o chamado à missão, o convite para sair de si mesmo por amor a Deus e ao próximo, apresenta-se como uma oportunidade de partilha, serviço e intercessão. A missão que Deus confia, a cada um de nós, faz-nos passar do ego medroso e fechado ao ego encontrado e renovado pelo dom de si.
No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é para todos, para cada um de nós (cf. Jo 19, 26-27). E pede nossa disponibilidade pessoal para sermos enviados, porque Ele é Amor em constante movimento missionário, sempre saindo de si mesmo para dar vida. Por amor à humanidade, Deus Pai enviou o seu Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: Sua Pessoa e sua obra estão em total obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4,34; 6,38; 8,12-30; Heb 10,5-10). Por sua vez, Jesus, crucificado e ressuscitado por nós, atrai-nos à sua missão de amor e, com o seu Espírito que anima a Igreja, nos faz seus discípulos e nos envia em missão ao mundo e a todos os povos.
“A missão, a “Igreja em saída”, não é um programa, uma intenção a ser concretizada por pura força de vontade. É Cristo que faz a Igreja sair de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, nos movemos porque o Espírito nos empurra e conduz” (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus sempre nos ama primeiro e com esse amor chega até nós e nos chama. Nossa vocação pessoal vem do fato de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs no amor que Jesus nos testemunhou. Todos, no entanto, têm uma dignidade humana fundada no convite divino de serem filhos e filhas de Deus e tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade de fé, o que sempre foram no coração de Deus.
A própria vida, recebida gratuitamente, sem a nossa própria ação, já constitui um convite implícito para entrar na dinâmica da doação: uma semente que, nos batizados, amadurecerá como uma resposta de amor no casamento ou na virgindade por causa do Reino de Deus. A vida humana surge do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém é excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8,31-39). Para Deus, o mal – inclui o pecado – torna-se um desafio para responder com amor ainda maior (cf. Mt 5,38-48; Lc 23,33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida original da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, continua a missão de Jesus na história e nos envia para todos os lugares para que, por meio do nosso testemunho de fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e, assim, possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todos os lugares e épocas.
A missão é uma resposta livre e consciente ao chamado de Deus. No entanto, discernimos esse chamado apenas quando vivemos uma relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: Estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo em nossa vida, para ouvir o chamado à missão, tanto no casamento, como na virgindade consagrada ou no sacerdócio ordenado e, em qualquer caso, na vida cotidiana comum? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus, o Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, compartilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Estamos prontos, como Maria, a Mãe de Jesus, a nos colocar sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Essa disponibilidade interior é muito importante para responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isso respondido não em abstrato, mas na Igreja e na história de hoje.
Compreender o que Deus está nos dizendo nestes tempos de pandemia também se torna um desafio para a missão da Igreja. Doenças, sofrimentos, medos e o isolamento nos desafiam. A pobreza daqueles que morrem sozinhos, dos despejados, dos que perdem seu emprego e salário, dos que não têm abrigo e comida nos questionam. Obrigados à distância física e a ficar em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também do relacionamento comunitário com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, essa situação deve nos tornar mais atentos à maneira como nos relacionamos com os outros. E a oração, pela qual Deus toca e move o nosso coração, nos abre para as necessidades de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como para o cuidado com toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia nos fez compartilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Nesse contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – “Quem enviarei?” – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 8). Deus continua a procurar a quem enviar ao mundo e aos povos para testemunhar seu amor, sua salvação do pecado e da morte, sua libertação do mal (cf. Mt 9,35-38; Lc 10,1-11).
Celebrar o Dia Mundial das Missões também significa reafirmar como a oração, a reflexão e a ajuda material de suas ofertas são oportunidades para participar ativamente da missão de Jesus em sua Igreja. A caridade, expressa nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro, destina-se a apoiar o trabalho missionário realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, a fim de atender às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas, em todo o mundo, para a salvação de todos.
Que a Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu próprio Filho Jesus, continue a amparar e a interceder por nós.
Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.
Francisco. Fonte: http://w2.vatican.va
Francisco: "Cristãos chamados a ser presença viva na sociedade"
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“Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo”. Palavras do Papa Francisco na reflexão do Angelus deste domingo 18 de outubro
Jane Nogara – Vatican News
A passagem do Evangelho de São Mateus, na qual Jesus luta contra a hipocrisia de seus adversários que o elogiam, inspirou a reflexão do Papa no Angelus deste XXIX Domingo do Tempo Comum, quando recordou que Jesus sabia que queriam “colocá-lo em apuros ao fazer-lhe a pergunta insidiosa: ‘É lícito, ou não, pagar imposto a César?’”. “Porém Jesus, conhece a malícia e sai da armadilha. Pede a eles que lhe mostrem a moeda do imposto, ele a toma em suas mãos e pergunta: de quem é esta imagem impressa. Eles respondem que é de César, ou seja, do Imperador. Então Jesus responde: "Devolvei o que é de César a César e a Deus o que é de Deus".
Então o Papa explica: “Com esta resposta, Jesus coloca-se acima da polêmica. Por um lado, ele reconhece que o imposto a César deve ser pago, porque a imagem na moeda é sua; mas, acima de tudo, ele lembra que cada pessoa traz dentro de si uma outra imagem, a de Deus, e por isso é a Ele, e somente a Ele, que todos estão endividados com sua própria existência”
Francisco pondera que nesta sentença “encontramos não apenas o critério da distinção entre as esferas política e religiosa, mas também diretrizes claras para a missão dos crentes de todos os tempos, até mesmo para nós hoje". Assim como o pagamento de impostos é um dever do cidadão, continua o Pontífice, o mesmo acontece com a afirmação da “primazia de Deus na vida e na história humana, respeitando o direito de Deus ao que lhe pertence”.
Presença viva na sociedade
Francisco pondera: “Disso deriva a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho dele aos homens e mulheres de seu tempo”. Afirmando em seguida: “Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo”
Fazendo um caloroso apelo aos cristãos: “Trata-se de comprometer-se com humildade e, ao mesmo tempo, com coragem, dar sua própria contribuição para a construção da civilização do amor, onde reina a justiça e a fraternidade”.
Que Maria Santíssima ajude a todos a fugir de toda hipocrisia e a serem cidadãos honestos e construtivos. E sustente a nós, discípulos de Cristo na missão de testemunhar que Deus é o centro e o sentido da vida”. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa na Audiência Geral: quem reza não é um iludido
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O Livro dos Salmos “é composto apenas de preces. Um livro que se tornou pátria, ginásio e casa de incontáveis orantes. Faz parte dos livros sapienciais, porque comunica o “saber rezar” através da experiência do diálogo com Deus", disse Francisco.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“A oração dos Salmos” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (14/10), realizada na Sala Paulo VI, por causa do dia chuvoso aqui em Roma.
O Livro dos Salmos “é composto apenas de preces. Um livro que se tornou pátria, ginásio e casa de incontáveis orantes. Faz parte dos livros sapienciais, porque comunica o “saber rezar” através da experiência do diálogo com Deus. Nos salmos encontramos todos os sentimentos humanos: alegrias, tristezas, dúvidas, esperanças e amarguras que coloram a nossa vida”, disse o Pontífice.
Os Salmos são invocações
“O Catecismo afirma que cada salmo «é de tal sobriedade que pode, com verdade, ser rezado por homens de qualquer condição e de todos os tempos». Ao ler e reler os salmos, aprendemos a linguagem da oração. Os salmos são a palavra de Deus que nós, humanos, usamos para falar com Ele”, sublinhou o Papa, acrescentando:
Neste livro não encontramos pessoas etéreas nem abstratas, pessoas que confundem a oração com uma experiência estética ou alienante. Os salmos não são textos compostos de forma teórica, são invocações, muitas vezes dramáticas, que nascem da experiência viva da existência. Para os recitar basta ser quem somos. Para rezar bem, devemos rezar como somos. Não maquiados. Não maquiar a alma para rezar. “Senhor, eu sou assim”. Ir diante de Deus como somos, com as coisas bonitas e feias que ninguém conhece, mas nós por dentro conhecemos. Nos salmos ouvimos as vozes de orantes de carne e osso, cuja vida, como a de todos, está repleta de problemas, dificuldades e incertezas. O salmista não contesta radicalmente este sofrimento: ele sabe que pertence à vida. Contudo, nos salmos o sofrimento se transforma em interrogação.
Segundo o Papa, “entre as muitas perguntas, há uma que permanece suspensa, como um grito incessante que percorre todo o livro de um lado para o outro: “Até quando Senhor? Até quando?" Cada dor pede libertação, cada lágrima invoca consolação, cada ferida aguarda a cura, cada calúnia, uma sentença de absolvição. Até quando terei de sofrer por causa disso?”
O orante é precioso aos olhos de Deus
“Ao fazer constantemente tais perguntas, os salmos nos ensinam a não nos habituarmos à dor e nos lembram que a vida não é salva, se não for curada. A existência do homem é um sopro, a sua história é fugaz, mas o orante sabe que é precioso aos olhos de Deus, e por isso faz sentido gritar. E isso é importante. Quando nós vamos rezar, vamos porque sabemos que somos preciosos aos olhos de Deus. É a graça do Espírito Santo dentro que nos impele a ir a essa sabedoria de que somos preciosos aos olhos de Deus.”
A oração dos salmos é o testemunho deste grito: um grito múltiplo, porque na vida a dor assume mil formas, e tem o nome de doença, ódio, guerra, perseguição, desconfiança... Até ao supremo “escândalo”, o da morte. A morte aparece no Saltério como o inimigo mais irracional do homem: que crime merece um castigo tão cruel, que envolve a aniquilação e o fim? O orante dos salmos pede a Deus que intervenha onde todos os esforços humanos são vãos. É por isso que a oração, já em si mesma, é o caminho da salvação e o início da salvação.
As lágrimas não são universais
Francisco recordou que “neste mundo todos sofrem: quer acreditemos em Deus quer o rejeitemos. Mas no Saltério, a dor torna-se relação: um grito de ajuda à espera de encontrar um ouvido que ouça. Não pode permanecer sem sentido, sem propósito. Até as dores que sofremos não podem ser apenas casos específicos de uma lei universal: são sempre as “minhas” lágrimas”. E acrescentou:
Pensem nisso, as lágrimas não são universais. São as minhas lágrimas. Cada um tem as suas. As minhas lágrimas, as minhas dores me impelem a ir adiante com a oração. São as minhas lágrimas que ninguém jamais derramou antes de mim. Muitos choraram, muitos, mas as minhas lágrimas são minhas, a minha dor é minha, o meu sofrimento é meu.
O Papa disse que antes de entrar na Sala Paulo VI encontrou-se com os pais do sacerdote da Diocese de Como, na Itália, que foi "morto em seu serviço para ajudar. As lágrimas desses pais são as lágrimas deles e cada um deles sabe o quanto sofreu ao ver o filho que deu a vida no serviço aos pobres. Quando queremos consolar alguém não encontramos palavras, porque não podemos chegar à sua dor, porque a sua dor é sua, as lágrimas são suas. O mesmo acontece conosco. A dor é minha, as lágrimas são minhas. Com essas lágrimas e essa dor me dirijo a Deus. Para Deus, todas as dores dos homens são sagradas".
A porta de Deus está aberta
“Diante de Deus não somos desconhecidos, nem números. Somos rostos e corações, conhecidos um por um, pelo nome. Nos salmos, o fiel encontra uma resposta. Ele sabe que mesmo que todas as portas humanas estivessem trancadas, a porta de Deus está aberta. Mesmo que o mundo inteiro tivesse emitido um veredicto de condenação, em Deus há salvação”, frisou ainda o Papa.
“O Senhor ouve”: às vezes na oração é suficiente saber isto. Os problemas nem sempre se resolvem. Quem reza não é um iludido: sabe que muitas questões da vida terrena permanecem sem solução, sem saída; o sofrimento nos acompanhará e depois de superar uma batalha, haverá outras que nos esperam. Mas se formos ouvidos, tudo se torna mais suportável.
Segundo Francisco, “a pior coisa que pode acontecer é sofrer no abandono, sem ser recordado. É disto que a oração nos salva. Pois pode acontecer, e até frequentemente, que não compreendamos os desígnios de Deus. Mas os nossos gritos não estagnam aqui na terra: elevam-se até Ele, que tem o coração de Pai e chora por cada filho e filha que sofre e morre”.
“Me faz bem nos momentos tristes pensar em Jesus que chorava, quando chorou olhando Jerusalém, quando chorou diante do Túmulo de Lázaro. Deus chorou por mim. Deus chora por nossas dores, Deus quis se fazer homem para poder chora. Pensar que Jesus chora comigo na dor é um consolo. Nos ajuda a ir em frente. Se permanecermos em relação com Ele, a vida não nos poupa o sofrimento, mas se abre a um grande horizonte de bem e envereda-se rumo à sua realização. Coragem! Avante com a oração. Jesus está sempre junto de nós”, concluiu o Pontífice. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: o Evangelho não é reservado a poucos eleitos, Deus prepara seu banquete para todos
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A Igreja é chamada a ir até as encruzilhadas de hoje, isto é, às periferias geográficas e existenciais da humanidade (...). Trata-se de não se acomodar nas formas cômodas e usuais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir a todos as portas do nosso coração e das nossas comunidades, porque o Evangelho não é reservado a poucos eleitos". Deus prepara para todos seu banquete: "justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos."
Jackson Erpen – Vatican News
“O Evangelho não é reservado a poucos eleitos. Também aqueles que estão à margem”, os “rejeitados e desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor. Para todos Ele prepara seu banquete: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos.”
A parábola do banquete nupcial descrita no Evangelho de São Mateus, proposto para este XXVIII Domingo do Tempo Comum, inspirou a reflexão do Papa no Angelus, que recordou, que “não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é preciso estar disponível para um caminho de conversão, que muda o coração. A veste da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é graça. E requer ser acolhido com estupor e alegria.”
Dirigindo-se aos presentes na Praça São Pedro em um domingo chuvoso, Francisco começou explicando que com a parábola, “Jesus traça o projeto que Deus concebeu para a humanidade. O rei que "preparou a festa de casamento do seu filho" é a imagem do Pai que organizou para toda a família humana uma maravilhosa festa de amor e comunhão ao redor de seu Filho unigênito”.
Ele manda seus servos chamarem os convidados que, por estarem ocupados com outros afazeres, recusam o convite, "não querem ir à festa", como nós muitas vezes fazemos, ao darmos preferência “aos nossos interesses e coisas materiais, em vez do Senhor que nos chama”.
Ninguém é excluído da casa de Deus
“Mas o rei da parábola não quer que a sala fique vazia, porque deseja doar os tesouros de seu reino” - explica o Papa - e diz aos seus servos para irem às encruzilhadas dos caminhos para convidar aqueles que encontrarem.
“É assim que Deus se comporta: quando ele é recusado, em vez de desistir, repropõe e convida a chamar todos aqueles que estão na encruzilhada dos caminhos, sem excluir ninguém. Ninguém é excluído da casa de Deus”
Evangelho não é reservado a poucos eleitos
É para essa humanidade das encruzilhadas – enfatiza o Pontífice - que o rei da parábola envia seus servos, “na certeza de encontrar pessoas dispostas a sentarem-se à mesa. Assim, a sala de banquetes enche-se de "excluídos", aqueles que estão "fora", daqueles que nunca pareceram dignos de participar de uma festa, de um banquete de casamento. Antes pelo contrário, o rei diz aos mensageiros" para chamarem todos, "bons e maus, todos. Deus chama também os maus (..). Jesus, Deus não tem medo de nosso alma ferida de tanta maldade, porque nos ama, nos convida":
“E a Igreja precisamente é chamada a ir até as encruzilhadas de hoje, isto é, às periferias geográficas e existenciais da humanidade, aqueles lugares à margem, aquelas situações em que se encontram acampados e vivem migalhas de humanidade sem esperança. Trata-se de não se acomodar nas formas cômodas e usuais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir a todos as portas do nosso coração e das nossas comunidades, porque o Evangelho não é reservado a poucos eleitos. Também aqueles que estão à margem marginalizados, mesmo aqueles que são rejeitados, aqueles desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor. Para todos Ele prepara seu banquete: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos.”
Telefonema ao padre Júlio Lancelotti
Neste contexto, Francisco fala de seu telefonema ao padre Júlio Lancelotti na tarde de sábado, ele que trabalha com o Povo da Rua:
“Ontem à tarde, consegui telefonar para um padre italiano idoso, missionário da juventude no Brasil, mas sempre trabalhando com os excluídos, com os pobres. E vive essa velhice em paz: "queimou" a sua vida com os pobres. Esta é a nossa Mãe Igreja, este é o mensageiro de Deus que vai às encruzilhadas dos caminhos.”
A gratuidade da graça e da misericórdia
Todavia – continuou o Papa – o Senhor coloca uma condição: usar o traje de festa, uma “espécie de capa que cada convidado recebia de presente na entrada, pois "as pessoas iam como estavam vestidas, como podiam se vestir, não usavam roupas de gala.” Mas ao entrar na sala repleta e saudar os “convidados de último hora”, o rei observa que um deles está sem as vestes. Como rejeitou o presente gratuito, “se auto excluiu. Assim, não restou ao rei que jogá-lo fora. Mas, "por quê?", pergunta Francisco, que explica:
“Porque não aceitava o dom. Porque o chamado de Jesus é um dom. É um presente, é uma graça. Este homem aceitou o convite, mas decidiu que não significava nada para ele: era uma pessoa autossuficiente, que não tinha o desejo de mudar ou de se deixar transformar pelo Senhor. O traje de festa - aquele manto que é um dom, um presente - simboliza a misericórdia que Deus nos dá gratuitamente. A graça. O convite de Deus que te leva à festa, é uma graça. Sem a graça tu não podes dar um passo na vida cristã. Tudo é graça. Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é preciso estar disponível para um caminho de conversão, que muda o coração. A veste da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é precisamente a graça. E requer ser acolhido com estupor e alegria: "Obrigado Senhor por me ter dado este dom".”
Sair das visões estreitas
Que Maria Santíssima – pediu o Francisco ao concluir - nos ajude a imitar os servos da parábola do Evangelho, no sair de nossos esquemas e de nossas visões estreitas, anunciando a todos que o Senhor nos convida ao seu banquete, para nos oferecer a graça que salva, para dar-nos o dom. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco cita Vinicius de Moraes em nova encíclica
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Texto que critica neoliberalismo e populismo inclui trecho da letra da música 'Samba da Bênção'
A primeira página do jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano mostra o Papa Francisco com sua última encíclica intitulada "Fratelli Tutti" Foto: REMO CASILLI / REUTERS
Ansa e El País
ROMA - Em meio a um forte discurso de apelo social e político, a nova encíclica do Papa Francisco, "Todos Irmãos" ("Fratelli Tutti", no original em italiano), traz uma citação do poeta e compositor brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980).
No sexto capítulo do texto, dedicado ao "diálogo" e à "amizade social", Francisco menciona uma passagem da letra da música "Samba da Bênção": "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".
Em seguida, Francisco escreve que "várias vezes" já convidou a fazer crescer "uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro". "É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque o todo é superior à parte", diz o Papa.
A necessidade de diálogo é um dos principais temas da terceira encíclica assinada pelo Papa em quase oito anos de Pontificado. No documento, o Pontífice mergulha na definição de conceitos como populismo e neoliberalismo, rejeitando-os abertamente, e defende uma concepção de mundo com valores próximos aos de um socialismo democrático.
Desde o seu título, a encíclica é dedicada a a São Francisco de Assis, tendo sido publicada no dia do seu nome. Ela foi assinada no sábado no mosteiro onde viveu o monge de quem o Papa tomou o nome após o conclave de 2013. A cerimônia foi sua primeira saída de Roma em sete meses, devido à pandemia.
As ideias políticas que Francisco expõe não são novas, e a maioria faz parte de seus discursos públicos. "Todos Irmãos", basicamente, funciona como uma síntese de seu programa político. O Papa ataca o consumismo, a globalização implacável, o liberalismo econômico, a tirania da propriedade privada sobre o direito aos bens comuns, a falta de empatia com os imigrantes e até o controle que as empresas digitais exercem sobre a população e a informação.
O neoliberalismo e as formas menos compassivas de capitalismo são mais uma vez objeto de críticas abertas na proposta política detalhada pelo Papa. Há também críticas à falta de aprendizado após a última crise econômica, que não serviram para que a "atividade financeira especulativa e a riqueza fictícia" fossem regulamentadas. “O mercado sozinho não resolve tudo, embora mais uma vez eles queiram que acreditemos neste dogma da fé neoliberal. É um pensamento pobre e repetitivo, que sempre propõe as mesmas receitas diante de qualquer desafio que surja ”, afirma. “Existem regras econômicas que foram eficazes para o crescimento, mas não para o desenvolvimento humano integral”, insiste o texto.
"Todos Irmãos", cujo título foi criticado antes de sua publicação por associações de mulheres cristãs por se referir somente a metade dos fiéis, começou a ser escrita durante a pandemia. O Papa inspirou-se, em parte, nas desigualdades e falhas do sistema que o período pandêmico explicitava, ele explica numa introdução pessoal.
“Além das várias respostas dadas pelos diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estar hiperconectado, houve uma fragmentação que dificultava a solução dos problemas que afetam a todos. [...] O mundo avançava implacavelmente para uma economia que, com os avanços tecnológicos, buscava reduzir os 'custos humanos', e alguns querem que acreditemos que mercados livres bastam para que tudo esteja garantido. Mas o duro e inesperado golpe desta pandemia descontrolada obrigou-nos pela força a pensar de novo no ser humano, em todos, mais do que em benefício de alguns ”.
Radicalmente social, o postulado revisita ensinamentos de São Francisco de Assis em um mundo em crise, mas não encontrou apoio claro em uma Igreja profundamente dividida durante esses anos. A tentativa de construir pontes entre mundos diferentes — também em ambientes leigos e não católicos, onde às vezes é mais bem recebida — tem sido arriscada e muitas vezes malsucedida. A encíclica fornece alguns elementos para melhor compreender seu roteiro de todos esses anos.
Francisco defende o direito às migrações e cobra uma reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) e do sistema financeiro mundial. Além de Vinicius, Francisco também cita Martin Luther King, Desmond Tutu e Mahatma Mohandas Gandhi. Anteriormente, o argentino já havia publicado as encíclicas "Lumen Fidei" ("Luz da Fé"), iniciada por Bento XVI, e "Laudato Si'" ("Louvado Sejas"), a primeira na história da Igreja Católica dedicada à ecologia. Fonte: https://oglobo.globo.com
Publicada “Fratelli tutti”, a Encíclica social do Papa Francisco
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Fraternidade e amizade social são os caminhos indicados pelo Pontífice para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico, com o compromisso de todos: pessoas e instituições. Reafirmado com vigor o não à guerra e à globalização da indiferença.
Vatican News
Quais são os grandes ideais mas também os caminhos concretos para aqueles que querem construir um mundo mais justo e fraterno nas suas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições? Esta é a pergunta à qual pretende responder, principalmente, “Fratelli tutti”: o Papa define-a como uma "Encíclica Social" (6) que toma o seu título das "Admoestações" de São Francisco de Assis, que usava essas palavras "para se dirigir a todos os irmãos e irmãs e lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho" (1). A Encíclica tem como objetivo promover uma aspiração mundial à fraternidade e à amizade social. No pano de fundo, há a pandemia da Covid-19 que - revela Francisco - "irrompeu de forma inesperada quando eu estava escrevendo esta carta". Mas a emergência sanitária global mostrou que "ninguém se salva sozinho" e que chegou realmente o momento de "sonhar como uma única humanidade", na qual somos "todos irmãos". (7-8).
No primeiro de oito capítulos, intitulado "As sombras dum mundo fechado", o documento debruça-se sobre as muitas distorções da época contemporânea: a manipulação e a deformação de conceitos como democracia, liberdade, justiça; o egoísmo e a falta de interesse pelo bem comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do descarte; o desemprego, o racismo, a pobreza; a desigualdade de direitos e as suas aberrações como a escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres subjugadas e depois forçadas a abortar, o tráfico de órgãos (10-24). Estes são problemas globais que requerem ações globais, sublinha o Papa, apontando o dedo também contra uma "cultura de muros" que favorece a proliferação de máfias, alimentadas pelo medo e pela solidão (27-28).
A muitas sombras, porém, a Encíclica responde com um exemplo luminoso, o do bom samaritano, a quem é dedicado o segundo capítulo, "Um estranho no caminho". Nele, o Papa assinala que, numa sociedade doente que vira as costas à dor e é "analfabeta" no cuidado dos mais frágeis e vulneráveis (64-65), somos todos chamados a estar próximos uns dos outros (81), superando preconceitos e interesses pessoais. De fato, todos nós somos corresponsáveis na construção de uma sociedade que saiba incluir, integrar e levantar aqueles que sofrem (77). O amor constrói pontes e nós "somos feitos para o amor" (88), acrescenta o Papa, exortando em particular os cristãos a reconhecerem Cristo no rosto de cada pessoa excluída (85). O princípio da capacidade de amar segundo "uma dimensão universal" (83) é também retomado no terceiro capítulo, "Pensar e gerar um mundo aberto": nele, Francisco exorta cada um de nós a "sair de si mesmo" para encontrar nos outros "um acrescentamento de ser" (88), abrindo-nos ao próximo segundo o dinamismo da caridade que nos faz tender para a "comunhão universal" (95). Afinal – recorda a Encíclica - a estatura espiritual da vida humana é medida pelo amor que nos leva a procurar o melhor para a vida do outro (92-93). O sentido da solidariedade e da fraternidade nasce nas famílias que devem ser protegidas e respeitadas na sua "missão educativa primária e imprescindível" (114).
O direito a viver com dignidade não pode ser negado a ninguém, afirma ainda o Papa, e uma vez que os direitos são sem fronteiras, ninguém pode ser excluído, independentemente do local onde nasceu (121). Deste ponto de vista, o Papa lembra também que é preciso pensar numa "ética das relações internacionais" (126), porque cada país é também do estrangeiro e os bens do território não podem ser negados àqueles que têm necessidade e vêm de outro lugar. O direito natural à propriedade privada será, portanto, secundário em relação ao princípio do destino universal dos bens criados (120). A Encíclica também coloca uma ênfase específica na questão da dívida externa: embora se mantenha o princípio de que toda a dívida legitimamente contraída deve ser paga, espera-se, no entanto, que isto não comprometa o crescimento e a subsistência dos países mais pobres (126).
Ao tema das migrações é, ao invés, dedicado em parte o segundo e todo o quarto capítulo, "Um coração aberto ao mundo inteiro": com as suas "vidas dilaceradas" (37), em fuga das guerras, perseguições, catástrofes naturais, traficantes sem escrúpulos, arrancados das suas comunidades de origem, os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Nos países destinatários, o justo equilíbrio será entre a proteção dos direitos dos cidadãos e a garantia de acolhimento e assistência aos migrantes (38-40). Especificamente, o Papa aponta algumas "respostas indispensáveis" especialmente para aqueles que fogem de "graves crises humanitárias": incrementar e simplificar a concessão de vistos; abrir corredores humanitários; oferecer alojamento, segurança e serviços essenciais; oferecer possibilidade de trabalho e formação; favorecer a reunificação familiar; proteger os menores; garantir a liberdade religiosa. O que é necessário acima de tudo" - lê-se no documento -, é uma legislação (governance) global para as migrações que inicie projetos a longo prazo, indo além das emergências individuais, em nome de um desenvolvimento solidário de todos os povos (129-132).
O tema do quinto capítulo é "A política melhor", ou seja, a que representa uma das formas mais preciosas da caridade porque está ao serviço do bem comum (180) e conhece a importância do povo, entendido como uma categoria aberta, disponível ao confronto e ao diálogo (160). Este é o popularismo indicado por Francisco, que se contrapõe ao "populismo" que ignora a legitimidade da noção de "povo", atraindo consensos a fim de instrumentalizar ao serviço do seu projeto pessoal (159). Mas a melhor política é também a que protege o trabalho, "uma dimensão indispensável da vida social" e procura assegurar que cada um tenha a possibilidade de desenvolver as suas próprias capacidades (162). A verdadeira estratégia contra a pobreza, afirma a Encíclica, não visa simplesmente a conter os necessitados, mas a promovê-los na perspectiva da solidariedade e da subsidiariedade (187). A tarefa da política, além disso, é encontrar uma solução para tudo o que atenta contra os direitos humanos fundamentais, tais como a exclusão social; tráfico de órgãos, e tecidos humanos, armas e drogas; exploração sexual; trabalho escravo; terrorismo e crime organizado. Forte o apelo do Papa para eliminar definitivamente o tráfico de seres humanos, "vergonha para a humanidade", e a fome, porque é "criminosa" porque a alimentação é "um direito inalienável" (188-189).
A política da qual há necessidade, sublinha ainda Francisco, é aquela centrada na dignidade humana e que não está sujeita à finança porque "o mercado por si só, não resolve tudo": os "estragos" provocados pela especulação financeira mostraram-no (168). Assumem, portanto, particular relevância os movimentos populares: verdadeiros "torrentes de energia moral", devem ser envolvidos na sociedade, de uma forma coordenada. Desta forma - afirma o Papa -, pode-se passar de uma política "para" os pobres para uma política "com" e "dos" pobres (169). Outro desejo presente na Encíclica diz respeito à reforma da ONU: perante o predomínio da dimensão econômica, de fato, a tarefa das Nações Unidas será dar uma real concretização ao conceito de "família de nações", trabalhando para o bem comum, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos humanos. Recorrendo incansavelmente à "negociação, aos mediadores e à arbitragem" - afirma o documento pontifício - a ONU deve promover a força da lei sobre a lei da força (173-175).
Do sexto capítulo, "Diálogo e amizade social", emerge também o conceito de vida como "a arte do encontro" com todos, também com as periferias do mundo e com os povos originais, porque "de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo" (215). Particular, então, a referência do Papa ao "milagre da amabilidade", uma atitude a ser recuperada porque é "uma estrela na escuridão" e uma "libertação da crueldade, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída" que prevalecem em época contemporânea (222-224). Reflete sobre o valor e a promoção da paz, o sétimo capítulo, intitulado "Percursos dum novo encontro", no qual o Papa sublinha que a paz é "proativa" e visa formar uma sociedade baseada no serviço aos outros e na busca da reconciliação e do desenvolvimento mútuo. A paz é uma "arte" em que cada um deve desempenhar o seu papel e cuja tarefa nunca termina (227-232). Ligado à paz está o perdão: devemos amar todos semexceção - lê-se na Encíclica -, mas amar um opressor significa ajudá-lo a mudar e não permitir que ele continue a oprimir o seu próximo (241-242). Perdão não significa impunidade, mas justiça e memória, porque perdoar não significa esquecer, mas renunciar à força destrutiva do mal e da vingança. Nunca esquecer "horrores" como a Shoah, os bombardeamentos atómicos em Hiroshima e Nagasaki, perseguições e massacres étnicos - exorta o Papa - devem ser sempre recordados, novamente, para não nos anestesiarmos e manterem viva a chama da consciência coletiva. E também é importante fazer memória do bem. (246-252).
Parte do sétimo capítulo se detém, então, sobre a guerra: "uma ameaça constante", que representa a "negação de todos os direitos", "o fracasso da política e da humanidade", "a vergonhosa rendição às forças do mal". Além disso, devido às armas nucleares, químicas e biológicas que afetam muitos civis inocentes, hoje já não podemos pensar, como no passado, numa possível "guerra justa", mas temos de reafirmar fortemente "Nunca mais a guerra! A eliminação total das armas nucleares é "um imperativo moral e humanitário"; em vez disso - sugere o Papa - com o dinheiro do armamento deveria ser criado um Fundo Mundial para acabar de vez com a fome (255-262). Francisco expressa uma posição igualmente clara sobre a pena de morte: é inadmissível e deve ser abolida em todo o mundo. "O homicida não perde a sua dignidade pessoal - escreve o Papa – e o próprio Deus Se constitui seu garante" (263-269). Ao mesmo tempo, a necessidade de respeitar "a sacralidade da vida" (283) é reafirmada onde "partes da humanidade parecem sacrificáveis ", tais como os nascituros, os pobres, os deficientes, os idosos (18).
No oitavo e último capítulo, o Pontífice se detém sobre "Religiões ao serviço da fraternidade no mundo" e reitera que o terrorismo não se deve à religião, mas a interpretações erradas de textos religiosos, bem como a políticas de fome, pobreza, injustiça e opressão (282-283). Um caminho de paz entre a religiões é, portanto, possível; por isso, é necessário garantir a liberdade religiosa, direito humano fundamental para todos os crentes (279). Uma reflexão, em particular, a Encíclica faz sobre o papel da Igreja: ela não relega a sua missão à esfera privada e, embora não fazendo política, não renuncia à dimensão política da existência, à atenção ao bem comum e à preocupação pelo desenvolvimento humano integral, segundo os princípios evangélicos (276-278).
Enfim, Francisco cita o "Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum", assinado por ele mesmo em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib: desta pedra miliar do diálogo inter-religioso, o Pontífice retoma o apelo para que, em nome da fraternidade humana, o diálogo seja adoptado como caminho, a colaboração comum como conduta, e o conhecimento mútuo como método e critério (285).
Fonte: Vatican News Service – IP - SP
Papa: encontrar a cura também para os grandes vírus humanos e socioeconômicos
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"Um pequeno vírus continua causando feridas profundas e desmascara as nossas vulnerabilidades físicas, sociais e espirituais. Mostrou a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso aos cuidados médicos, de tecnologia, educação, milhões de crianças não podem ir à escola, e assim por diante", disse Francisco na Audiência Geral.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Curar o mundo. Preparar o futuro junto com Jesus que salva e cura.” Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (30/09), realizada no Pátio São Dâmaso, dedicada ao tema da pandemia de coronavírus.
O Pontífice recordou que “nas últimas semanas, à luz do Evangelho, refletimos juntos sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar que a pandemia realçou e acentuou”. “O mal-estar já existia. A pandemia o acentuou e aumentou. Percorremos os caminhos da dignidade, da solidariedade e da subsidiariedade, caminhos indispensáveis para promover a dignidade humana e o bem comum”, sublinhou Francisco.
Na qualidade de discípulos de Jesus, começamos a seguir os seus passos optando pelos pobres, repensando o uso dos bens e cuidando da Casa comum. No meio da pandemia que nos aflige, ancoramo-nos nos princípios da Doutrina Social da Igreja, deixando-nos guiar pela fé, esperança e caridade. Aqui encontramos uma ajuda sólida para ser agentes de transformação que sonham alto, não se detêm nas mesquinharias que dividem e magoam, mas encorajam a gerar um mundo novo e melhor.
O Papa frisou que gostaria que este percurso continuasse quando terminar suas catequeses sobre o tema da pandemia, que possamos continuar caminhando juntos, «mantendo o nosso olhar fixo em Jesus», que salva e cura o mundo.
O Evangelho nos mostra que “Jesus curou doentes de todos os tipos, restituiu a visão aos cegos, a palavra aos mudos, a audição aos surdos. Quando curava doenças e enfermidades físicas, curava também o espírito, perdoando os pecados, porque Jesus perdoa sempre, assim como as “dores sociais”, incluindo os marginalizados. Jesus, que renova e reconcilia cada criatura, nos concede os dons necessários para amar e curar como Ele sabia fazer, para cuidar de todos sem distinção de raça, língua ou nação”.
Segundo Francisco, “para que isto aconteça realmente, temos necessidade de contemplar e apreciar a beleza de cada ser humano e de cada criatura. Fomos concebidos no coração de Deus. «Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário». Além disso, toda criatura tem algo a dizer-nos sobre Deus Criador. Reconhecer esta verdade e dar graças pelos laços íntimos da nossa comunhão universal com todas as pessoas e todas as criaturas ativa «um cuidado generoso e cheio de ternura». Ajuda-nos também a reconhecer Cristo presente nos nossos irmãos e irmãs pobres e sofredores, a encontrá-los e a ouvir o seu grito e o grito da terra que lhe faz eco”. A seguir, acrescentou:
Mobilizados interiormente por estes gritos que exigem de nós outro rumo, exigem mudanças, poderemos contribuir para a cura das relações com os nossos dons e capacidades. Poderemos regenerar a sociedade e não voltar à chamada “normalidade”, que é uma normalidade doente, que estava doente antes da pandemia. A pandemia a acentuou. Agora voltamos à normalidade. Não, isso não é bom. Esta normalidade era doente de injustiça, desigualdade e degradação ambiental.
O Papa observou que “a normalidade a que somos chamados é a do Reino de Deus, onde «os cegos veem, os coxos caminham, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres...». Ninguém se faça de bobo olhando para o outro lado! Na normalidade do Reino de Deus o pão chega a todos e sobeja, a organização social baseia-se em contribuir, partilhar e distribuir, não em possuir, excluir e acumular. Estes dois gestos, certo? Este, o gesto que faz uma sociedade, uma família, um bairro, uma cidade, todos, continuar: dar-se, dar, que não é dar esmola, não: é dar do coração. E não o gesto que puxa para trás com egoísmo, a ansiedade de possuir. A forma cristã de fazer isto não é uma forma mecânica: é uma forma humana. Não poderemos sair da crise, evidenciada pela pandemia, mecanicamente: com novos aparelhos... que são muito importantes! “Eh, Padre, há inteligência artificial...”: é importante, nos faz ir adiante. Não tenha medo dessas coisas, mas sabendo que nem mesmo os meios mais sofisticados podem fazer uma coisa: eles podem fazer muitas coisas, mas não podem fazer uma coisa: a ternura. E a ternura é o sinal da presença de Jesus, o aproximar-se ao próximo para fazer com que vá adiante, para curar, ajudar, sacrificar-se pelo outro. Não se esqueçam disso”.
Um pequeno vírus continua causando feridas profundas e desmascara as nossas vulnerabilidades físicas, sociais e espirituais. Mostrou a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso aos cuidados médicos, de tecnologia, educação, milhões de crianças não podem ir à escola, e assim por diante. Estas injustiças não são naturais nem inevitáveis. São obra do homem, provêm de um modelo de crescimento desligado dos valores mais profundos. O desperdício de alimento. O desperdício do alimento que sobra. Com esse desperdício é possível dar de comer a todos! E isto fez com que muitas pessoas perdessem a esperança e aumentou a incerteza e a angústia. É por isso que, para sairmos da pandemia, temos que encontrar a cura não só para o coronavírus, mas também para os grandes vírus humanos e socioeconômicos. E certamente não podemos esperar que o modelo econômico subjacente ao desenvolvimento injusto e insustentável resolva os nossos problemas. Não o fez e não o fará, porque não pode fazê-lo, embora certos falsos profetas continuam prometendo o “efeito dominó” que nunca chega. Vocês já ouviram falar do teorema do copo: o importante é que o copo se encha e depois transborda sobre os pobres e outros, e eles recebem as riquezas. Mas existe um fenômeno: o copo começa a encher e quando está quase cheio, o copo cresce e cresce e nunca transborda, nunca. Fiquem atentos!
Segundo o Pontífice, “temos que trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade, e não a indiferença, a exploração e os interesses particulares. Temos de ir adiante com ternura. Uma sociedade solidária e equitativa é uma sociedade mais saudável. Uma sociedade participativa, onde os “últimos” são considerados como os “primeiros”, fortalece a comunhão. Uma sociedade onde a diversidade é respeitada é muito mais resistente a qualquer tipo de vírus”.
O Papa concluiu sua catequese, convidando a colocar “este caminho de cura sob a proteção da Virgem Maria, Nossa Senhora da Saúde. Ela, que carregou Jesus no seu ventre, nos ajude a ser confiantes. Animados pelo Espírito Santo, podemos trabalhar juntos para o Reino de Deus que Cristo inaugurou neste mundo, vindo entre nós. Um reino de luz no meio das trevas, de justiça no meio de tantos ultrajes, de alegria no meio de tanta dor, de cura e salvação no meio da doença e da morte. Deus nos conceda “viralizar” o amor e globalizar a esperança à luz da fé”.
Nas pegadas de São Jerônimo
Após a catequese, o Pontífice lembrou que hoje assinou a Carta Apostólica «Sacrae Scripturae affectus», no 16º centenário da morte de São Jerônimo. “Que o exemplo deste grande doutor e Padre da Igreja, que colocou a Bíblia no centro de sua vida, desperte em todos um amor renovado pela Sagrada Escritura e o desejo de viver em diálogo pessoal com a Palavra de Deus”. Fonte: https://www.vaticannews.va
24º Domingo do Tempo Comum: “Nem tudo se resolve com a justiça, é preciso perdoar para ser perdoado”. Francisco.
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"No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humana se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça.", disse o Papa no Angelus, ressaltando que temos necessidade desse amor misericordioso de Deus e devemos aplicá-lo em todas as relações humanas.
Jackson Erpen – Vatican News
"Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar (...). Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida!”.
Inspirado na passagem de São Mateus (Mt 18, 21-35), proposta pela liturgia do dia, o Papa dedicou sua reflexão no Angelus deste XXIV Domingo do Tempo Comum ao perdão, enfatizando que devemos "aplicar o amor misericordioso nas relações humanas."
Dirigindo-se a um número sempre maior de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco pediu que a intercessão da Mãe de Deus sempre nos recorde do quanto somos devedores de Deus: “se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Patrão indulgente e compassivo
O cerne da parábola do rei misericordioso contada por Jesus é a indulgência que o patrão demonstra para com o servo com a dívida maior.
A súplica "Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo" é encontrada duas vezes na parábola, começou explicando o Papa:
“A primeira vez é pronunciada pelo servo que deve a seu patrão dez mil talentos, uma soma enorme, hoje seriam milhões de euros. A segunda vez é repetida por outro servo do mesmo patrão. Ele também está em dívida, não com seu senhor, mas com o mesmo servo que tem uma dívida enorme. E a dívida dele é muito pequena, talvez como o salário de uma semana.”
O patrão – conforme descrito pelo evangelista – teve compaixão - nunca esquecer esta palavra. Jesus teve compaixão - , deixou o servo ir embora, perdoando sua dívida. Como a dívida era enorme, o perdão também o foi.
Mas o servo, por sua vez, após perdoado, mostra-se implacável com seu companheiro que lhe devia uma soma modesta, e manda-o para a prisão até que este quite a sua pequena dívida. O patrão fica indignado ao saber, chama o servo malvado e faz com que seja condenado: "Mas eu te perdoei tanto e és incapaz de perdoar este pouco?"
No comportamento divino, justiça é permeada pela misericórdia
Francisco explica que na Parábola encontramos duas atitudes diferentes: a de Deus - representado pelo rei, que perdoa tanto, porque Deus perdoa sempre - e a do homem:
“No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humano se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso.”
De fato, “há necessidade desse amor misericordioso”, que é também a base da resposta do Senhor à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar um irmão que peca contra ele.
Aplicar o amor misericordioso nas relações humanas
O “setenta vezes sete”, na linguagem simbólica da Bíblia, “significa que somos chamados a perdoar sempre”:
“Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida! Mesmo em família. Quantas famílias desunidas, que não sabem se perdoar, quantos irmãos e irmãs que têm este rancor. É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política.”
Perdoar é uma luta contínua contra o rancor
O Papa recordou então da Missa celebrada pela manhã, quando ficou profundamente tocado por uma frase do Livro do Eclesiástico: "Lembra-te de teu fim, e deixa de odiar", exortando ao exercício contínuo do perdão:
“Bela frase! Mas pense no fim! Pense que estarás em um caixão e levarás o ódio para lá. Pense no final, deixe de odiar! Deixe do rancor. Pensemos nesta frase tão tocante: “Lembre-se do teu fim e deixa de odiar”. E não é fácil perdoar, porque nos momentos tranquilos alguém diz: “Sim, mas eles ou ele me aprontaram de tudo, mas também eu aprontei tantas. Melhor perdoar para ser perdoado”. Mas então o ressentimento volta, como uma mosca incômoda no verão que vai e vem e volta ... Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar.”
Assim - completou o Papa - esta parábola “ajuda-nos a compreender plenamente o sentido daquela frase que recitamos na oração do Pai-Nosso: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido»:
“Essas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pense no fim, no perdão de Deus e deixe de odiar, mande embora o rancor, aquela mosca incômoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Confiemo-nos à materna intercessão da Mãe de Deus: que ela nos ajude a perceber o quanto somos devedores a Deus e a recordá-lo sempre, para assim ter o coração aberto à misericórdia e à bondade. Fontehttps://www.vaticannews.va
Papa Francisco: 'Prazer sexual serve para embelezar o amor'
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Papa Francisco: 'Prazer sexual serve para embelezar o amor'
Em entrevista a Carlo Petrini, criador do movimento Slow Food, pontífice falou sobre sexualidade e sobre gastronomia. Para ele, 'o prazer é simplesmente divino'
O papa Francisco é torcedor do time argentino San Lorenzo de Almagro Foto: Getty Images
O Papa Francisco chama os prazeres culinário e sexual de algo "simplesmente divino", em um livro de entrevistas publicado nesta quarta-feira (9) na Itália.
"A Igreja condenou os prazeres desumanos, grosseiros, vulgares, mas por outro lado sempre aceitou os prazeres humanos, sóbrios, morais", estima o papa argentino quando questionado por Carlo Petrini, escritor e gourmet italiano.
"O prazer vem diretamente de Deus, não é católico, nem cristão, nem nada parecido, é simplesmente divino", enfatiza o pontífice.
"O prazer de comer serve para manter uma boa saúde, da mesma forma que o prazer sexual serve para embelezar o amor e garantir a continuidade da espécie", disse Francisco.
O Papa se opõe categoricamente a uma "moralidade abençoada" que rejeita a noção de prazer, como aconteceu na história da Igreja Católica, porque "é uma interpretação errônea da mensagem cristã".
Esta visão "causou enormes danos, que ainda são perceptíveis em alguns casos", acrescentou. O papa também destaca sua admiração pelo filme "A Festa de Babette", que se passa em uma comunidade protestante dinamarquesa ultrapuritana do século XIX e que é uma homenagem à gastronomia.
"Para mim é um hino à caridade cristã, ao amor", considera o Papa. Fonte: https://oglobo.globo.com
Francisco: pandemia, podemos sair melhores dela se todos juntos buscarmos o bem comum
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"A resposta cristã à pandemia e às consequentes crises socioeconômicas se baseia no amor, antes de tudo, no amor de Deus que sempre nos precede", disse o Papa na Audiência Geral desta quarta-feira.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Curar o mundo”. Amor e bem comum. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (09/09), realizada no Pátio São Dâmaso, situado dentro do Vaticano.
Nesta segunda Audiência Geral pública desde o início da pandemia de coronavírus, Francisco ressaltou que “a crise que estamos vivendo por causa da pandemia afeta a todos. Podemos sair melhores dela se todos juntos buscarmos o bem comum. Pelo contrário, sairemos piores”.
Infelizmente, estamos assistindo ao surgimento de interesses de parte. Por exemplo, há quem deseje apropriar-se de possíveis soluções, como no caso das vacinas, e depois vendê-las a outros. Algumas pessoas se aproveitam da situação para fomentar divisões: para procurar vantagens econômicas ou políticas, gerando ou aumentando os conflitos. Outros simplesmente não se importam com o sofrimento dos outros, passam adiante e seguem o seu caminho. São devotos de Pôncio Pilatos. Lavam as mãos.
Resposta cristã à pandemia
Segundo o Pontífice, “a resposta cristã à pandemia e às consequentes crises socioeconômicas se baseia no amor, antes de tudo, no amor de Deus que sempre nos precede. Ele nos ama por primeiro. Ele sempre nos precede no amor e nas soluções. Ele nos ama incondicionalmente, e quando aceitamos este amor divino, podemos responder de forma semelhante”.
Amo não só aqueles que me amam: a minha família, os meus amigos, o meu grupo, mas também aqueles que não me amam, amo também aqueles que não me conhecem, ou que são estrangeiros, e também aqueles que me fazem sofrer ou que considero inimigos. Esta é a sabedoria cristã, este é o ensinamento de Jesus. O ponto mais alto da santidade é amar o inimigo, mas não é fácil. Não é fácil. Claro, amar todos, inclusive os inimigos, é difícil, diria que é uma arte! Mas é uma arte que pode ser aprendida e melhorada. O verdadeiro amor, que nos torna fecundos e livres, é sempre expansivo e inclusivo. Este amor cuida, cura e faz bem. Muitas vezes uma carícia faz mais bem do que muitos argumentos, uma carícia de perdão e não muitos argumentos para se defender. É o amor inclusivo que cura.
O amor é inclusivo, social, familiar e político
O Papa disse ainda que “o amor não se limita às relações entre duas ou três pessoas, amigos, ou família. Inclui as relações cívicas e políticas, incluindo a relação com a natureza. Sendo nós seres sociais e políticos, uma das mais altas expressões de amor é o amor social e político, que é decisivo para o desenvolvimento humano e para enfrentar qualquer tipo de crise".
“Sabemos que o amor fecunda famílias e amizades; mas é bom lembrar que também fecunda relações sociais, culturais, econômicas e políticas, permitindo-nos construir uma “civilização do amor”, como gostava de dizer São Paulo VI e, na sua esteira, São João Paulo II.”
"Sem esta inspiração, a cultura do egoísmo, da indiferença, do descarte, prevalece, a cultura da indiferença, o descarte, ou seja, descartar quem eu não quero bem, aquele que não posso amar ou aqueles que me parecem ser inúteis na sociedade. Hoje, na entrada, um casal me disse: "Reze por nós, pois temos um filho deficiente". Eu perguntei: "Quantos anos ele tem?" "Muitos". "O que fazem?" "Nós o acompanhamos, nós o ajudamos". Toda uma vida inteira de pais por aquele filho deficiente. Isso é amor. Os inimigos, os adversários políticos, mesmo no nosso parecer, parecem ser deficientes políticos, sociais. Parecem ser. Somente Deus sabe se eles são ou não. Nós devemos amá-los, devemos dialogar, devemos construir esta civilização do amor, esta civilização política, social, de unidade de toda a humanidade. Pelo contrário, haverá guerras, divisões, invejas, até mesmo guerras na família. O amor é inclusivo, é social, é familiar, é político. O amor permeia tudo."
O coronavírus nos mostra que o verdadeiro bem para cada um é um bem comum, não somente individual e, vice-versa, o bem comum é um verdadeiro bem para a pessoa. Se uma pessoa busca apenas o seu próprio bem, ela é egoísta. Ao invés disso, a pessoa é mais, é mais nobre, quando o seu próprio bem a abre a todos, e o compartilha. A saúde não é apenas individual, mas também um bem público. Uma sociedade saudável é aquela que cuida da saúde de todos, de todos.
O verdadeiro amor não conhece a cultura do descarte
“Um vírus que não conhece barreiras, fronteiras, distinções culturais nem políticas deve ser enfrentado com um amor sem barreiras, fronteiras nem distinções. Este amor pode gerar estruturas sociais que nos encorajam a partilhar em vez de competir, que nos permitem incluir os mais vulneráveis em vez de os descartar, e que nos ajudam a expressar o melhor da nossa natureza humana e não o pior. O verdadeiro amor não conhece a cultura do descarte. Não sabe o que é”, sublinhou Francisco.
Segundo o Papa, “quando amamos e geramos criatividade, confiança e solidariedade, então emergem iniciativas concretas para o bem comum. E isto é verdade tanto a nível de pequenas e grandes comunidades como a nível internacional. O que se faz na família, no bairro, nos vilarejos, nas grades cidades e internacionalmente é a mesma coisa. É a mesma semente que cresce, cresce e dá fruto. Se você na família, no bairro começa com a inveja, com a luta, será guerra no final. Ao invés, se você começar com amor, compartilhando amor, perdão, será amor e perdão para todos. A seguir, acrescentou:
Pelo contrário, se as soluções para a pandemia tiverem a marca do egoísmo, quer de pessoas, empresas ou nações, talvez consigamos sair do coronavírus, mas certamente não da crise humana e social que o vírus evidenciou e acentuou. Portanto, atenção a não construir sobre areia! Para construir uma sociedade saudável, inclusiva, justa e pacífica, devemos fazê-lo sobre a rocha do bem comum. O bem comum é uma rocha. E esta é a tarefa de todos, e não apenas de alguns especialistas. Santo Tomás de Aquino disse que a promoção do bem comum é um dever de justiça que recai sobre todos os cidadãos. Todo cidadão é responsável pelo bem comum. E, para os cristãos, é também uma missão. Como ensina Santo Inácio de Loyola, orientar os nossos esforços diários para o bem comum é uma forma de receber e difundir a glória de Deus.
Uma boa política é possível
“Infelizmente”, disse ainda Francisco, “a política muitas vezes não goza de boa reputação, e nós sabemos porquê. Isso não significa que os políticos sejam todos maus, não, não estou dizendo isso. Estou dizendo que, infelizmente, a política muitas vezes não tem uma boa reputação".
“Mas não nos devemos resignar a esta visão negativa, mas reagir demonstrando com fatos que uma boa política é possível, aliás, indispensável, aquela que coloca no centro a pessoa humana e o bem comum.”
"É possível na medida em que cada cidadão e, em particular, aqueles que assumem compromissos e encargos sociais e políticos, enraízam as suas ações em princípios éticos e os animam com amor social e político. Os cristãos, especialmente os fiéis leigos, são chamados a dar bom testemunho disso e podem fazê-lo através da virtude da caridade, cultivando a sua intrínseca dimensão social."
O Papa concluiu sua catequese, afirmando que “chegou o momento de aumentar o nosso amor social, contribuindo todos, começando pela nossa pequenez. O bem comum requer a participação de todos. Se cada um contribuir com a sua parte, e se ninguém for excluído, podemos regenerar boas relações no âmbito comunitário, nacional e internacional e também em harmonia com o meio ambiente. Assim, nos nossos gestos, mesmo os mais humildes, algo da imagem de Deus que levamos dentro de nós se tornará visível, porque Deus é Trindade. Deus é amor. Esta é a mais bonita definição de Deus que está na Bíblia, dada a nós pelo apóstolo João que tanto amava Jesus: Deus é amor. Com a sua ajuda, podemos curar o mundo trabalhando juntos para o bem comum, não apenas para o meu bem, mas para o bem comum de todos”. Fonte: https://www.vaticannews.va
23º Domingo do Tempo Comum: “A fofoca é uma peste pior que a Covid”. Francisco.
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Francisco volta a falar no Angelus sobre a fofoca: "por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar". A passagem do Evangelho deste domingo fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária e a dimensão pessoal.
Silvonei José – Vatican News
“As fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja. O grande fofoqueiro é o diabo, que sempre sai dizendo coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar. A fofoca é uma peste pior que a Covid, pior: foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, 23º do Tempo Comum, na Praça São Pedro, acrescentando: "O ensinamento de Jesus nos ajuda muito, porque pensemos num exemplo: quando nós vemos um erro, um defeito, um escorregão de um irmão ou de uma irmã, normalmente a primeira coisa que fazemos é contar aos outros, fofocar".
A passagem do Evangelho deste domingo comentado pelo Papa fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária, que exige a proteção da comunhão, e a dimensão pessoal, que exige atenção e respeito por cada consciência individual.
"Para corrigir o irmão que cometeu um erro, Jesus sugere uma pedagogia de recuperação, articulada em três etapas. Primeiro diz: "Avisa-o entre você e ele sozinho", ou seja, não coloque o seu pecado em praça pública. É uma questão de ir ao irmão com discrição, não para o julgar, mas para o ajudar a perceber o que fez", salienta Bergoglio, "contudo, pode acontecer que, apesar das minhas boas intenções, a primeira intervenção falhe. Neste caso é bom não desistir, que se arranje, eu lavo as minhas mãos, não, isso não é cristão, mas recorrer ao apoio de algum outro irmão ou irmã".
Jesus diz: "se ele não ouvir, leve consigo um ou duas pessoas novamente para que tudo se resolva com a palavra de duas ou três testemunhas. As duas testemunhas solicitadas não são para acusarem e julgar, mas para ajudar, para a recuperação", continua o Pontífice. "Também o amor de dois ou três irmãos pode ser insuficiente. Neste caso - acrescenta Jesus -, "dizê-lo à comunidade", ou seja, à Igreja. Em algumas situações, toda a comunidade está envolvida. Há coisas que não podem deixar indiferentes os outros irmãos: é necessário um amor maior para recuperar o irmão. Mas por vezes até isto pode não ser suficiente. Jesus diz: "Se nem mesmo à comunidade ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano”. Esta expressão, aparentemente tão desdenhosa - disse o Papa Francisco -, convida-nos de fato a colocar o nosso irmão de volta nas mãos de Deus: "só o Pai poderá demonstrar um amor maior do que o de todos os irmãos juntos. É o amor de Jesus, que acolheu os publicanos e pagãos, escandalizando as pessoas bem pensantes da época".
Francisco disse que “não é fácil pôr em prática este ensinamento de Jesus, por várias razões. Há o medo de que o irmão ou irmã reaja mal; por vezes não há confidência suficiente com ele ou ela... E outras razões.
"Não se trata de uma questão de condenação sem apelo, mas do reconhecimento de que por vezes as nossas tentativas humanas podem falhar, e que só estando sozinho perante Deus pode colocar o nosso irmão perante a sua própria consciência e a responsabilidade pelos seus atos".
Francisco encerrou a sua alocução pedindo a Nossa Senhora que “nos ajude a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que nas nossas comunidades possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão recíproco e sobretudo no poder invencível da misericórdia de Deus”. Fonte: https://www.vaticannews.va
22º Domingo do Tempo Comum: “Cada um de nós deve tomar a própria cruz” Papa Francisco
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“Se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”, palavras do Papa Francisco ao falar sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a nossa própria cruz”
Jane Nogara – Vatican News
Na oração do Angelus deste domingo (30/08) o Santo Padre refletiu sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a própria cruz”. Francisco discorreu sobre o Evangelho de Mateus quando Jesus pela primeira vez falou aos seus discípulos sobre o final que o espera na Cidade Santa:
“Diz que terá que ‘sofrer muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia’”
A reação dos discípulos a esta predição é considerada imatura por Jesus: “Ainda têm uma fé imatura e muito ligada à mentalidade deste mundo”. Eles não querem que Jesus passe por isso.
“Para Pedro e os outros discípulos - mas também para nós! - a cruz é um ‘escândalo’, enquanto Jesus considera um ‘escândalo’ fugir da cruz, o que significaria fugir da vontade do Pai, da missão que Ele lhe confiou para nossa salvação”
Tomar a própria cruz
Jesus, continua Francisco, aponta o caminho do verdadeiro discípulo mostrando duas atitudes: “A primeira é ‘renunciar a si mesmo’, o que não significa uma mudança superficial, mas uma conversão, uma inversão de valores. A outra atitude é tomar a própria cruz” Explicando que “não se trata apenas de suportar pacientemente as tribulações diárias, mas de carregar com fé e responsabilidade aquela parte do esforço e do sofrimento que a luta contra o mal implica”.
“Façamos com que a cruz pendurada na parede de casa, ou a pequena que usamos no pescoço, seja um sinal de nosso desejo de nos unirmos a Cristo no serviço a nossos irmãos com amor, especialmente os pequenos e mais frágeis”
Jesus crucificado, verdadeiro Servo do Senhor
Em seguida recorda ainda que a cruz é sinal sagrado do Amor de Deus e do Sacrifício de Jesus, e não deve ser reduzida a um objeto de superstição ou uma joia ornamental.
“Toda vez que fixamos o olhar na imagem de Cristo crucificado, pensamos que Ele, como verdadeiro Servo do Senhor, cumpriu Sua missão dando a vida, derramando Seu sangue para a remissão dos pecados”
Por fim ensina que “se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: a desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas
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“Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”: convidou o Papa na audiência geral. É Cristo “que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”. A economia está doente, devemos sair melhores da pandemia, disse
Raimundo de Lima - Vatican News
“No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!” Foi o que disse o Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira (26/08), na Biblioteca do Palácio Apostólico, no Vaticano, dando prosseguimento a suas reflexões nesta série de catequeses intitulada “Curar o Mundo” dedicada à pandemia. A catequese de hoje, a quarta da série, teve como tema “O destino universal dos bens e a virtude da esperança”.
“Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”, foi o convite inicial do Santo Padre, que completou: “É Ele que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”.
Pandemia evidenciou e agravou problemas sociais
Francisco prosseguiu afirmando que a pandemia pôs em evidência e agravou os problemas sociais, especialmente a desigualdade. “Alguns podem trabalhar de casa, enquanto para muitos outros isto é impossível. Algumas crianças, apesar das dificuldades, podem continuar a receber uma educação escolar, enquanto para muitas outras houve uma brusca interrupção. Algumas nações poderosas podem emitir moeda para enfrentar a emergência, enquanto que para outras isso significaria hipotecar o futuro.”
Estes sintomas de desigualdade revelam uma doença social, frisou o Papa, “é um vírus que provém de uma economia doente. É o resultado de um crescimento econômico desigual, que é independente dos valores humanos fundamentais. No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!”
O Pontífice chamou a atenção para o fato que este modelo econômico é indiferente aos danos infligidos à casa comum:
“Estamos perto de superar muitos dos limites do nosso maravilhoso planeta, com consequências graves e irreversíveis: desde a perda de biodiversidade e alterações climáticas ao aumento do nível dos mares e à destruição das florestas tropicais. A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir e dominar os irmãos e irmãs, a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação.”
Deus confiou a terra e seus recursos à gestão comum
Dito isso, o Papa lembrou que Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse. Deus pediu-nos que dominássemos a terra em Seu nome, cultivando-a e cuidando dela como se fosse um jardim, o jardim de todos.
Francisco destacou que “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar, “guardar” significa proteger..., preservar. Em seguida, fez uma advertência: “cuidado para não interpretar isto como uma carta branca para fazer da terra aquilo que se quer.
“Existe ‘uma relação responsável de reciprocidade’ entre nós e a natureza. Recebemos da criação e damos por nossa vez. Cada comunidade pode tirar da bondade da terra o que precisa para a sua sobrevivência, mas também tem o dever de a proteger.”
Propriedade privada e destino universal dos bens
O Santo Padre evocou alguns elementos bíblicos e conceitos contidos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) e documentos conciliares que dão embasamento ao princípio do “destino universal dos bens” da terra.
A terra precede-nos e foi-nos dada, foi dada por Deus “a toda a humanidade” (CIC, 2402). “E por isso é nosso dever assegurar que os seus frutos cheguem a todos, e não apenas a alguns. Este é um elemento-chave da nossa relação com os bens terrenos. Como recordaram os padres do Concílio Vaticano II, ‘quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros’ (Const. past. Gaudium et spes, 69).”
“A propriedade dum bem faz do seu detentor um administrador da providência de Deus, com a obrigação de o fazer frutificar e de comunicar os seus benefícios aos outros (CIC, 2404).”
A “subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens é uma ‘regra de ouro’ do comportamento social, e o primeiro princípio de toda a ordem ético-social”, asseverou o Papa Francisco.
Propriedade e dinheiro, instrumentos para a missão
“A propriedade e o dinheiro são instrumentos que podem servir para a missão. Mas transformamo-los facilmente em fins individuais ou coletivos. E quando isto acontece – observou Francisco –, os valores humanos essenciais são minados. O homo sapiens deforma e torna-se uma espécie de homo oeconomicus - num sentido menor - individualista, calculista e dominador.”
“Esquecemos que – continuou o Pontífice –, sendo criados à imagem e semelhança de Deus, somos seres sociais, criativos e solidários, com uma imensa capacidade de amar. De fato, somos os seres mais cooperadores entre todas as espécies, e florescemos em comunidade, como se pode ver na experiência dos santos.”
“Quando a obsessão de possuir e dominar exclui milhões de pessoas dos bens primários; quando a desigualdade econômica e tecnológica é tal que rasga o tecido social; e quando a dependência do progresso material ilimitado ameaça a casa comum, então não podemos ficar de braços cruzados assistindo. Não, isso é desolador.”
Cristo partilhou tudo conosco
Com o olhar fixo em Jesus “e com a certeza de que o seu amor opera através da comunidade dos seus discípulos, devemos agir em conjunto – foi a exortação do Santo Padre – na esperança de gerar algo diferente e melhor. A esperança cristã, enraizada em Deus, é a nossa âncora. Sustenta a vontade de partilhar, fortalecendo a nossa missão como discípulos de Cristo, que partilhou tudo conosco”. Francisco ressaltou que isso foi compreendido pelas primeiras comunidades cristãs, que, como nós, viveram tempos difíceis.
“Estamos passando por uma crise. A pandemia nos colocou a todos em crise. Mas lembrem-se: não se pode sair de uma crise da mesma forma, ou saímos melhores, ou saímos piores. Esta é a nossa opção. Após a crise, continuaremos com este sistema econômico de injustiça social e desprezo pelo meio ambiente, pela criação, pela casa comum? Pensemos nisso”, frisou o Pontífice.
Recordando que nas primeiras comunidades cristãs seus membros tinham tudo em comum, dando testemunho da graça de Cristo, o Papa concluiu com uma premente exortação:
“Que as comunidades cristãs do século XXI recuperem esta realidade, dando assim testemunho da Ressurreição do Senhor. Se cuidarmos dos bens que o Criador nos concede, se partilharmos o que possuímos para que ninguém sinta a sua falta, então de fato podemos inspirar a esperança de regenerar um mundo mais saudável e mais justo.”
Depois da crise pandêmica devemos sair melhores
“E para concluir – disse Francisco –, pensemos nas crianças. Leiam as estatísticas: quantas crianças, hoje, morrem de fome por uma má distribuição da riqueza, por um sistema econômico como disse antes; e quantas crianças, hoje, não têm direito à escola, pelo mesmo motivo? Que seja esta imagem, de crianças necessitadas por causa da fome e da falta de instrução, que nos ajude a entender que depois desta crise devemos sair melhores!”
Ao término da catequese, na saudação aos fiéis, dirigindo-se aos de língua portuguesa fez-lhes votos de uma fé grande para ver a realidade com o olhar de Deus e uma grande caridade para aproximar-se das pessoas com coração misericordioso.
Igreja na Polônia celebra Nossa Senhora de Czestochowa
Saudando os de língua polonesa o Papa lembrou que hoje a Igreja na Polônia celebra a solenidade de Nossa Senhora Negra de Czestochowa. E recordando sua visita àquele Santuário mariano, quatro anos atrás, por ocasião da JMJ, disse unir-se hoje aos milhares de peregrinos que ali se reúnem, junto ao Episcopado polonês, para confiar a si mesmos, as famílias, a nação e toda a humanidade à sua materna proteção.
Francisco exortou-os a pedir à Mãe Santíssima que interceda por todos nós, e sobretudo por aqueles que de diferentes modos sofrem por causa da pandemia, trazendo-lhes um conforto.
Quinta e sexta-feira, Santa Mônica e Santo Agostinho
Saudando os de língua italiana, exortou-os a serem, em todos os ambientes, testemunhas da gratuidade do amor de Deus e lembrou que amanhã e depois de amanhã (quinta e sexta-feira), a liturgia recorda dois grandes Santos, Santa Mônica e seu filho Santo Agostinho, unidos na terra por vínculos familiares e no céu pelo mesmo destino de glória. “Que o exemplo deles e intercessão impelem cada um a uma busca sincera da Verdade evangélica”, foi a exortação final do Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va
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