Filho manda matar o pai, mãe ajuda a acobertar e os dois são presos em velório
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O pai foi encontrado na sala de sua residência semi-decapitado
Um homem de 58 anos identificado como Adijalmo Alves da Silva foi assassinado na noite do último sábado (1º), dentro de sua casa, no Bairro Vila Esperança, em Marcelândia (710 km de Cuiabá). Um dia depois, durante o velório da vítima, seu filho, de 18 anos, e a esposa, de 51 anos, foram presos. O jovem, acusado de matar o pai, e a mulher acusada de acobertar o filho.
Adijalmo foi encontrado na sala de sua residência, semi-decapitado. Próximo ao corpo dele foram encontradas uma faca, com muito sangue, e uma enxada, ferramentas utilizadas no crime.
A Polícia Judiciária Civil de Marcelândia foi acionada e, em menos de 24 horas, resolveu o caso, identificando seis pessoas que participaram do crime.
A princípio, o filho e a esposa da vítima disseram que estavam na igreja no momento do assassinato, afirmando que teriam retornado meia-hora depois e encontrado Adijalmo já sem vida.
Porém, as investigações apontavam que o depoimento dos dois não batia com a cena do crime, visto que não havia sinal de arrombamento na casa e as armas que teriam sido utilizadas eram todas da própria residência. Além disso, ele teriam demorado para chamar a polícia – pois a perícia apontou que Adijalmo já estava morto algumas horas depois que as equipes chegaram à casa.
Os dois acabaram presos no velório da vítima e o filho confessou ter mandado matar o pai. Segundo a Polícia Civil, o jovem planejou o assassinato com sua companheira, uma adolescente de 17 anos. Os dois ainda contaram com a ajuda de mais dois adolescentes, que mostraram a casa onde o homicídio seria cometido ao executor, uma terceira pessoa que ainda não foi encontrada.
A esposa da vítima não estava na casa quando tudo aconteceu, porém, mesmo depois de saber a verdade, seguiu confirmando a versão do filho. O jovem, que é usuário de drogas, disse à polícia que teria mandado matar o pai porque os dois viviam se desentendendo devido ao suposto comportamento agressivo de Adijalmo com toda a família.
A esposa, o filho e a nora da vítima estão detidos na Delegacia de Polícia de Marcelândia. O suspeito de ser o executor, de 22 anos, está foragido.
Os dois adolescentes que teriam mostrado a casa ainda estão à solta, visto que suas participações ainda não foram totalmente elucidadas. Os três são primos da companheira do filho da vítima. Fonte: https://olivre.com.br
Terça-feira 4: Avaliar o ano 2018.
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FREI ALBERTO: A Família
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"A família é sagrada porque é família". Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
Michelle Obama, uma viagem trepidante
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De um humilde bairro de Chicago à Casa Branca. Michelle Obama repassa sua emocionante biografia num esperado livro de memórias, no qual convivem a combativa aluna de Direito, a mãe estressada de primeira viagem e a primeira-dama dos EUA.
Michelle Obama começou a processar o ocorrido desde que seu marido, Barack Obama, cogitou a possibilidade de disputar a presidência até a fria manhã de inverno (20 de janeiro de 2017) em que subiu numa limusine com Melania Trump e a acompanhou à posse do novo presidente dos Estados Unidos. “Comparo esses anos à experiência de sermos disparados por um canhão. Com tudo o que passava voando ao nosso lado a mil quilômetros por hora, enquanto nos limitávamos a nos agarrar como se a nossa vida dependesse disso”, conta, dias antes do lançamento oficial da sua esperada autobiografia. Aos 54 anos, sente que sua vida continua progredindo. Não pensa em parar. Em sua nova casa, num bairro tranquilo e luxuoso de Washington, o tempo começa a parecer diferente. Descalça e de bermudas, um de seus trajes favoritos para se sentir à vontade, desfruta das coisas simples. Ainda não pode sair à rua sem seguranças, mas gestos cotidianos, como preparar um sanduíche de queijo e degustá-lo sozinha no jardim, a fazem lembrar que sua nova vida já é um fato. “Por sorte, nestes dois últimos anos pude respirar mais tranquila”, acrescenta. Foi justamente em seu novo lar onde sentiu que tinha muitas coisas para contar e decidiu começar a escrever. Em Minha História (Objetiva), uma biografia com mais de 500 páginas, ajusta contas com o passado, desde que era uma aluna negra numa elegante universidade majoritariamente branca, até sua vida como mãe estressada de primeira viagem e os oito anos como primeira-dama dos Estados Unidos.
Minha História foi colocada à venda na terça-feira em 34 países. A biografia de Michelle Obama, pela qual a Penguin Random House pagou um valor superior a 60 milhões de dólares (224 milhões de reais), terá uma segunda parte, assinada por seu marido, e será publicada no ano que vem. Markus Dohle, CEO do grupo editorial, que negociou pessoalmente a compra de direitos, brincou com os funcionários dias antes do anúncio afirmando que haviam ficado com os bolsos vazios. É que o ex-casal presidencial se transformou em um símbolo que gera muito dinheiro. Recebem valores de seis dígitos por participar de conferências e debates, e meses atrás assinaram um contrato exclusivo com a Netflix para produzir documentários e filmes. Todos os olhares estão agora em Michelle. Suas campanhas em defesa de uma dieta saudável para melhorar a saúde infantil fizeram com que 45 milhões de crianças se alimentem de maneira saudável nos colégios e 11 milhões pratiquem alguma atividade física; são apenas uma amostra do que seria capaz de gerir se tivesse poder. As pesquisas em seu país a colocam como um dos personagens públicos mais valorizados, mas a senhora Obama esclarece dúvidas em sua biografia. Não, não pensa em se dedicar à política: “Não tenho a menor intenção de concorrer a um cargo público. Nunca”. Claro que, algumas vezes, negativas tão firmes tendem a significar o contrário. Como cidadã e membro do Partido Democrata, lhe preocupa o rumo tomado pelos Estados Unidos. Não suporta a tensão política que leva a uma “divisão tribal entre vermelhos e azuis” e a ideia de que devemos escolher um lado e apoiá-lo até o final.
Envolvida na divulgação do livro, a autora respondeu várias perguntas por e-mail, evitando qualquer assunto minimamente político e temas que não estão no livro. De antemão especificou que não falaria de Donald Trump, ainda que nas memórias o descreva como o típico “aproveitador” e “a materialização mais feia do poder”. Acostumada desde criança a enfrentar essa máxima ancestral da comunidade negra que afirma que você deve ser bom em dobro para chegar à metade da distância, Michelle mantém a esperança diante da adversidade política. Pessoalmente confia na força das instituições e encoraja a votar maciçamente como elemento imprescindível para apoiar a mudança.
Michelle Robinson (Chicago, 1964) cresceu no South Side, um bairro humilde de maioria negra. Ela se define como ambiciosa, teimosa, alguém que pode chegar a levantar a voz quando se irrita e até, como reconhece que fazia quando criança com seu irmão, usar os punhos se for preciso. Claro que o tempo e a experiência aplacaram seu caráter, ainda que diante dos problemas continue procurando respostas concretas. Cresceu e se educou no que denomina o “som do esforço” inculcado por sua tia Robbie, sua exigente professora de piano com quem dividiam a casa, cada família em um andar. “Robbie foi um exemplo importante para mim. Em minhas memórias conto que às vezes discutíamos. Quando comecei com as aulas de piano, tinha quatro ou cinco anos, mas, mesmo sendo pequena, não conseguia gostar de seu método de ensino. Tinha minhas próprias ideias sobre como aprender as escalas e os acordes, pulava de uma parte do livro a outra e aprendia música de ouvido. Mas Robbie estava empenhada em que eu deveria seguir seu caminho, de modo que, a cada poucos dias, a teimosa garota e sua igualmente obstinada professora diminuíam suas diferenças diante do piano da segunda”. Com o passar do tempo, descobriu que aquela experiência foi o período em que começou a desenvolver sua própria voz, uma fase que fazia parte de um processo que considera absolutamente decisivo à pessoa que chegou a ser: “Nas décadas seguintes precisei aprender a utilizar minha voz em inúmeros cenários, do bairro com seus valentões às classes universitárias, passando pelas salas de reuniões dos escritórios de advocacia e as praças e estádios do mundo. E me dei conta de como tive sorte de ter pais e professores, pessoas como Robbie, que não me fizeram calar. Pelo contrário, me permitiram desenvolver e utilizar minha voz. Espero que os pais fomentem esses valores em seus próprios filhos. E espero que ninguém, especialmente as jovens, jamais tenha medo de fazer ouvir sua voz”.
“Precisei aprender a usar minha voz em inúmeros lugares, do bairro com seus valentões às classes universitárias e as praças do mundo”
Pertencer à minoria afro-americana marcou sua vida, mas aprendeu a viver com isso. Desde criança sentiu que sempre precisava vencer batalhas. “Vocês ficarão sabendo” se transformou em algo assim como seu lema frente à adversidade. Foi uma aluna de destaque. Nos colégios em que estudou fez parte das crianças que eram separadas do restante para conseguir melhor rendimento, uma ideia que reconhece como “controversa”. E se endividou como muitos jovens americanos para poder pagar a faculdade de advocacia em Harvard. “Com o tempo cheguei a avaliar que minha educação não teve nada de mágico. Eu não tinha nenhum gênio e tesouro particular. Não era um prodígio de nenhuma forma. Simplesmente, me esforcei muito em dar o melhor de mim mesma. Como minha mãe gosta de dizer, em minha cidade existem milhares de Michelles por todos os lados, meninas e meninos com talento, diligentes, honestos e genuínos que se preocupam pelas coisas. Eles também poderiam ter sido presidentes, presidentas, primeiras-damas e primeiros-cavalheiros. Minha mãe não o diz como piada ou por gentileza. Minha vida deu muitas voltas. Acabei sendo a primeira-dama dos EUA, de maneira que minha história se tornou pública, mas em meu bairro existe mais de uma criança cuja história orgulharia a todos nós”, afirma.
Sua biografia, narrada cronologicamente, não traz detalhes íntimos. Quando seu sonho parecia ter se realizado, após se formar em Harvard e ser contratada por um importante escritório de advocacia no 47° andar de um edifício em Chicago, onde trabalhou por um tempo como chefa de seu futuro esposo e recebia um bom salário, decidiu deixar o emprego movida por sua vocação do serviço público. Na época já havia se apaixonado pelo brilhante advogado com quem dividia escritório. Marian, sua mãe e conselheira, costumava alertá-la quando tinha dúvidas: “Primeiro ganhe dinheiro e depois se preocupe com sua felicidade”. E ela seguiu o conselho ao pé da letra. Começou a trabalhar como diretora de uma organização sem fins lucrativos, que ajudava jovens a desenvolver uma carreira profissional, e como vice-diretora de um hospital melhorando o acesso à saúde das classes mais desfavorecidas. Após se casar, vestida de branco sob os acordes de You and I (We Can Conquer the World) [Eu e Você (podemos conquistar o mundo), de Stevie Wonder, começou a consolidar um “nós” tão sólido como eterno.
“Quero me assegurar que as pessoas saibam que o casamento pode ser extremamente difícil e extremamente gratificante”
Sincera e algumas vezes politicamente incorreta, relata sem problemas, bem ao estilo da narrativa americana, a relação com seu marido, do primeiro beijo às discussões cotidianas motivadas por esperanças infrutíferas na hora do jantar. “Tentei ser a mais sincera possível. Sei que muita gente acha que eu e Barack somos um exemplo de relação pela qual vale a pena lutar. Nós dois valorizamos que achem isso, mas também quero me certificar que as pessoas saibam que o casamento pode ser extremamente difícil e extremamente gratificante, e que na maioria dos casos você não pode ter uma coisa sem a outra. Não quero que as pessoas vejam fotos de nós dois nos abraçando atrás das estantes e sorrindo juntos sob o brilho dos holofotes e pensem que conseguimos somente estalando os dedos. Eu comparo essa situação às redes sociais. O que vemos nas notícias que publicamos são os momentos especiais da vida de outras pessoas, as festas, as férias e os beijos em uma cesta de balão, mas não vemos as dificuldades, as longas conversas e o esforço que custa avançar para se entender mutuamente. E justamente aí se formam os vínculos verdadeiros entre duas pessoas. Pensei que era meu dever, especialmente diante dos casais jovens, contar nossa história com mais detalhes”.
Desde que se conheceram, Barack Obama se destacava por seu brilhantismo. As empresas o disputavam, mas ele parecia mais interessado pelos direitos civis e a organização comunitária. Foi professor de direito na Universidade de Chicago e diretor da revista Harvard Law Review antes de ser eleito como senador pelo Partido Democrata no Estado de Illinois. A vida do casal foi regida pelo mantra de que a igualdade é importante, mas todo o peso da maternidade caiu sobre ela, uma situação que se agravou quando seu marido entrou de cabeça na política, o que a obrigou a retroceder em suas ambições e se transformar na mulher de um político com toda a carga de solidão que isso acarreta. No final de 2006, quando chegou o grande momento e surgiu a possibilidade de disputar a presidência, ocorreram cenas de brigas e lágrimas pela repercussão que a decisão teria sobre sua família. Ele queria se candidatar e ela não queria que ele o fizesse, mas a decisão final ficou nas mãos dela. A política ganhou. A família precisou se mudar de Chicago a Washington e ela se transformou na primeira-dama, um trabalho que oficialmente não existe, mas acabou lhe dando uma plataforma de conhecimento e contatos que nunca teria imaginado. “Conheci pessoas que considero superficiais e hipócritas, e outras (professoras, esposas de militares...) cujos espírito é tão profundo e forte que se torna espantoso”.
Durante dois mandatos presidenciais foi enaltecida como a mulher mais poderosa do mundo e elevada à categoria de mulher negra mal-humorada. Posou sorridente com pessoas que insultavam seu marido, mas que ainda assim desejavam uma recordação. Durante oito anos morou na Casa Branca e sua vida foi submetida a uma exposição permanente. Dormia em uma cama com lençóis italianos; tinha maquiadora, cabeleireira e assessora pessoal sobre como se vestir. Viajava em uma caravana de veículos que nem sequer parava nos faróis, se esqueceu do que significava fazer compras, as refeições eram preparadas por uma equipe de chefs de fama internacional, mas em todo esse delírio tentou não perder as perspectivas. Como terapia, optou por manter seu eterno grupo de amigas, mães de Chicago às quais se refere como um porto seguro de sabedoria feminina. “Quando nos mudamos para a Casa Branca, sabia que continuaria precisando do apoio delas. Foram meu ancoradouro. Costumava convidá-las, especialmente se precisava de uma lufada de ar fresco, e por isso vinham a atos públicos como se fossem as brincadeiras de procurar ovos de Páscoa e festas de Natal. Vinham quando eu precisava falar. Às vezes me sentava e conversava com uma amiga durante horas, do almoço ao jantar. Não passávamos o tempo falando de política e do que se passava no mundo, costumávamos conversar sobre nossas famílias, nossos altos e baixos e esperanças sobre o futuro, que eram os assuntos que sempre haviam nos conectado. Às vezes comentavam como era estranho estar naquela casa tão bonita e com tanta história e conversar como se estivéssemos em nossa cozinha de Chicago em uma tarde de sábado”.
Graças às 500 páginas do livro sabemos, entre outras coisas, que é uma fanática da organização, que odeia o tabaco, que suas filhas nasceram por fecundação in vitro e como era a cama que dividia com Barack quando eram namorados. “Não acho que é benéfico para ninguém retocar sua história; nem a mim, nem a ele, nem a nenhuma das pessoas às quais gostaria que minha biografia chegasse. Não acho que ninguém deva se envergonhar de sua vida, particularmente os que precisaram lutar. Todos passamos por crises de confiança. Os problemas de fertilidade são comuns. Fracassar, duvidar de si mesmo, sentir-se vulnerável são experiências que nos tornam humanos. Ao refletir, descobri que a essência de minha história, o centro do meu processo de chegar a ser, era definida por meus momentos de luta. Essa foi a razão pela qual decidi contar minha vida”.
Ao longo de sua biografia deixa bem clara a separação familiar de poderes que se instalou durante os oito anos que morou na Casa Branca, tanto que quase parece que soube da morte de Bin Laden ao mesmo tempo que o restante do mundo. Obama fechado em seu escritório, reunido, revisando relatórios... e ela ocupada com sua horta nos jardins da Casa Branca, um de seus principais projetos, e, como sempre, vigiando a educação de suas filhas, Malia e Sasha, tentando evitar que o fato de seu pai ser o presidente dos EUA interferisse muito em sua relação com os jovens de sua idade.
“Quando sua vida é uma vitrine - sua forma de falar e sua forma de criar seus filhos -, é preciso ter algo em que se refugiar. Usei meu passado”
Ao longo de sua vida, Marian, sua mãe, a quem levou para morar com eles na Casa Branca, foi o esteio no qual se apoiou sempre que precisava se ausentar para acompanhar o presidente em viagens oficiais e visitar famílias que acabavam de perder tudo o que tinham arrasadas por um furacão e acompanhar em um funeral os pais das crianças assassinadas após um tiroteio em um colégio. Somente sua mãe parecia se livrar dos rigores impostos pelo serviço de segurança. Ela gostava de se sentar para conversar com os empregados da residência presidencial e sair para passear sem a pressão da popularidade. Os Obama foram a família presidencial número 44. Nessa época, quando olhava as fotos das pessoas que haviam consagrado sua vida à política (os Clinton, os Gore, os Bush), se perguntava se viviam felizes e seus sorrisos eram autênticos. Agora que sua foto ocupa o mesmo lugar de seus predecessores, aprendeu a relativizar as coisas. Já não analisa minuciosamente seus conjuntos e não se sente julgada o tempo todo. Ela e seu marido deixaram de se chamar Potus e Flotus (nomes em código para os agentes de segurança). “Cresci como uma menina da classe trabalhadora, criada por bons pais. Esperava que minha família e sua comunidade se sentissem orgulhosos de mim. Muitas vezes cheguei a ser a única mulher negra da reunião, e me transformei em uma pessoa que se esforçava por definir a si mesma ao mesmo tempo em que dividia seu casamento com sua carreira profissional e suas duas filhas. Eu me encontrei em situações que jamais havia imaginado, abrindo caminho pelo mundo através de muitas tentativas e erros”, acrescenta. “Enquanto estive na Casa Branca, nunca esqueci de nada disso, e acho que foi o que me ajudou a suportar muitas das dificuldades que cruzaram meu caminho. Quando toda sua vida é uma vitrine, sua forma de falar e seu aspecto, sua forma de criar seus filhos e de se comportar, é preciso ter algo onde se refugiar. Meu passado serviu como refúgio”.
Histórias e personagens se sucedem ao longo das páginas, como o momento em que conheceu seu admirado Nelson Mandela, e uma nota sobre sua viagem à Europa e seu encontro com a rainha Elizabeth II, a quem abraçou carinhosamente, rompendo anos de protocolo, enquanto conversavam sobre a vontade que as duas tinham de tirar os sapatos. É difícil colocar toda uma vida em um volume. Cada um sentirá falta de novos detalhes. Em suas memórias não aborda muitas das decisões políticas de seu marido, mas também não diz nada a respeito, por exemplo, da viagem a Johannesburgo para o enterro do presidente do país no qual estiveram presidentes de outros Governos. Vendo a série de fotografias desse dia, parece que ela não gostou muito da selfie que seu marido fez com o primeiro-ministro britânico David Cameron e a primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt.
Michelle Obama sempre pensou que tinha um plano. Qual é o seu agora?
“Tirei um tempo para pensar. Sabia que, quando saíssemos da Casa Branca, precisaria relaxar e processar o que acabávamos de viver. Em relação ao que virá, ainda não fiz muitos planos concretos. Evidentemente, Barack e eu estamos ligados ao serviço público. Faz parte de nosso DNA. Consequentemente, dedicaremos muito tempo a trabalhar para melhorar a vida das pessoas dentro e fora dos Estados Unidos. Através de nosso trabalho com a Fundação Obama procuramos motivar uma nova geração de líderes de todo o mundo, e em outubro apresentarei uma iniciativa chamada Global Girls Alliance [Aliança Mundial de Garotas] dirigida a empoderar as adolescentes através da educação. Nesse momento existem no mundo 98 milhões de meninas adolescentes sem escolarização. São jovens brilhares e trabalhadoras com um potencial infinito. Só precisam da oportunidade de receber educação, de maneira que possam transformar promessa em realidade. É um assunto que me apaixona e me deixa esperançosa em trabalhar”. Por enquanto, se sente feliz com sua biografia. Fonte: https://brasil.elpais.com
CACHOEIRA: Provérbio Popular
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O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ-Direto da cidade de Cachoeira/BA- registra uma senhora falando sobre um provérbio popular; “Passarinho que canta muito caga no ninho”.
Combate ao racismo em 1968: 50 antes e 50 depois
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Roseli Fischmann é professora livre-docente sênior da Faculdade de Educação (FE-USP)
A longa trajetória rumo à conquista dos direitos humanos, e especificamente dos direitos civis, teve em 1968 um de seus principais marcos, sublinhado, especialmente em solo norte-americano, por acontecimentos dramáticos. Os assassinatos do doutor Martin Luther King Jr., em 4 de abril de 1968, e do senador Robert Kennedy, em 5 de junho de 1968, banharam com sangue uma luta múltipla, diversa, que já vira antes (e, infelizmente, continuaria a ver depois) ser derramado sangue de tantos que tiveram suas vidas ceifadas.
King e Kennedy compartilharam a luta pelos direitos civis, mas também (ou exatamente por isso) uma confiança no pacifismo que fez com que se opusessem, por exemplo, à guerra no Vietnã. Colocar o foco sobre o assassinato de Luther King, assim, é tratar de uma determinada vertente do combate ao racismo, diferente da adotada por Malcolm X ou pelos Panteras Negras. Nesse sentido, Bob Kennedy tinha proximidade com Luther King na abordagem, diferindo dele, porém, por atuar no contexto do Estado norte-americano, como senador, na escuta dos movimentos sociais de então, que tinham, em King, uma de suas mais notáveis lideranças.
Ao mesmo tempo, trazer ao centro da reflexão a liderança do dr. King é reconhecer que 1968 aconteceu, nos ganhos e nas perdas, como resultado de árduo trabalho realizado nas décadas anteriores por movimentos sociais contra o racismo, que se estruturaram em diferentes organizações, com pautas de mobilização criadas e desenvolvidas coletivamente. Semelhantes pautas reconheciam o caráter histórico do combate ao racismo e, por isso, as dificuldades ali implicadas, em especial a importância de trabalho contínuo, que deveria perdurar, sendo suas conquistas graduais, levando à definição de prioridades para cada momento.
Como é sabido, Martin Luther King Jr. era pastor da Igreja Batista. O estudo de suas prédicas e discursos demonstra a trajetória de um líder que vai se renovando ao longo do caminho, pelo caminhar que um pouco escolhe e outro tanto é levado a fazer (para lembrar Antonio Machado). De modo sumário, suas primeiras falas trazem forte entonação religiosa que, aos poucos, vai sendo matizada pela perspectiva mais especificamente ética para chegar finalmente à abordagem dos direitos civis. São exemplos de como uma visão religiosa pode evoluir, em abrangência, para a compreensão e prática de como dialogar com o Estado laico, como se propõem a ser, por sua Constituição, os Estados Unidos da América.
Por exemplo, no início de sua vida pública tratava a discriminação racial como pecado, em especial no mandamento cristão de “amar ao próximo como a si mesmo”. Assim, o combate ao racismo seria um dever dos cristãos, o gesto imprescindível e irrenunciável para proteger os irmãos pecadores racistas de si mesmos, para que não mais pecassem.
Com o tempo e a ampliação dos grupos a quem se dirigia, não apenas da igreja da qual era pastor, nem somente de cristãos, atinge um patamar de discurso que expressa a sua própria consciência ampliada. O combate ao racismo se coloca para ele não mais (ou não mais apenas) como um “dever de cristão”, mas passa a ser encarado e tratado como direito civil. A transição que faz, então, é de tratar a discriminação racial não mais, ou não apenas como pecado, mas na categoria que lhe cabe: como crime.
A menção anterior às décadas que prepararam o ano de 1968 e às que o sucederam pode agora ser exemplificada, assim como o sentido de haver uma pauta de reivindicações e uma lista de prioridades no combate ao racismo nos Estados Unidos. Dentre as prioridades, à educação das crianças foi atribuído o primeiro lugar, acompanhado pelo direito de ir e vir, ligado ao direito ao trabalho.
Como se sabe, a segregação racial vigorou como lei em muitos estados norte-americanos, restos e sequelas do final da escravidão a que chegaram por meio de guerra civil. Ora, o regime segregacionista estabelecia que houvesse escolas para crianças brancas e escolas para crianças negras, rigidamente separadas, sem qualquer exceção. Sucede que para algumas crianças negras, estudar na escola que lhe era permitido pela segregação, significava viajar para outra cidade, independentemente de sua idade ou condição física e psicológica. Contra esse estado de coisas, a família de Linda Brown, então uma menina de sete anos, decidiu lutar.
Matriculada em uma escola “para negros”, Linda seguiu no início daquele ano letivo, em setembro de 1950, levada por seu pai, Oliver Leon Brown, pastor da Igreja Afro-Metodista Episcopal, para a escola “para brancos”, próximo à sua casa, com toda a naturalidade. Sendo impedida de frequentar a escola “legalmente”, nesse caso, pela lei da segregação racial, seu pai decidiu entrar com processo na Justiça, que ficou historicamente conhecido como Brown v. Board of Education of Topeka, Kansas. Foi apoiado pela National Association for the Advancement of Colored People – NAACP, cujos advogados o representaram. Observe-se que a NAACP era uma das muitas associações que se organizaram em torno do combate ao racismo pela via judicial, e que se ligavam aos grupos liderados por Luther King. Finalmente, em 1954, os litigantes chegaram à Suprema Corte norte-americana, que acolheu o caso, dando vitória à família Brown. Em sua decisão, a Suprema Corte reconheceu que toda criança tem o direito de ir à escola pública em condições de igualdade às demais, sem qualquer obstáculo ou empecilho, sem qualquer discriminação, vitória essa que impôs o fim da segregação racial nas escolas de todo o território norte-americano. Era, de fato, a primeira quebra na segregação racial, obtida junto à Justiça, portanto por meios pacíficos, reconhecendo a possibilidade de mudança nas leis, mudança no Estado.
O segundo exemplo refere-se à mobilização havida para o fim da segregação racial no transporte público, praticada mediante separação de lugares nos ônibus, ficando para os negros os assentos no fundo do veículo, em número bem menor do que os assentos reservados, na frente e no meio, para os brancos. Na prática, era frequente que os negros e negras viajassem amontados, em pé, enquanto assentos “para brancos” permaneciam vazios.
A mobilização já vinha sendo pensada, quando, em 1955, em Montgomery, cidade do Alabama, a sra. Rosa Parks, costureira, decidiu entrar pela porta da frente e sentar-se em um dos bancos reservados “para brancos”. Quando tentaram retirá-la, argumentou que estava cansada e os bancos, vazios, mas apenas obteve como resposta ser atirada do ônibus para fora, processada e condenada por violar a lei, no caso, da segregação racial em transportes públicos. Ciente da força econômica representada pela comunidade negra como usuária do transporte público, que dependia das passagens que pagavam para seguir operando, foi organizado um boicote aos ônibus, liderado pessoalmente por Martin Luther King, ainda jovem. Iniciado quando Rosa Parks sofreu condenação, a população negra deixou de tomar ônibus, indo e voltando do trabalho apenas a pé. Multidões de trabalhadores negros e negras tomavam a beira das estradas e ruas, em grupos, saindo mais cedo de casa e voltando mais tarde, pelo tempo para deslocamento. O boicote durou mais de um ano, sendo interrompido apenas pela Suprema Corte que decidiu que era inconstitucional a segregação racial nos transportes públicos. Mais uma vez a conquista do direito pela mobilização e pela mudança da lei tiveram sucesso.
Esses dois exemplos indicam mobilizações havidas cerca de dez anos antes de 1968, e que haviam impulsionado o combate ao racismo pela via pacífica. Ou melhor, como inspirado em Mahatma Gandhi e, ele mesmo, em Henry Thoreau, pela via da desobediência civil e pela resistência não violenta, advinda da tradição indiana. A conjunção do pensamento de Thoreau com a tradição indiana foi obra de Gandhi com largo e duradouro impacto. Contextualizando, trata-se da influência de Gandhi na primeira metade do século XX, que tantas vezes jejuou pela independência da Índia do domínio britânico, liderando o povo indiano para que a resistência se fizesse sem violência.
Nos anos 1960, à resistência não violenta juntou-se um adjetivo: ativa. Ou seja, não se tratava de um pacifismo inerte, ou de uma ação não violenta passiva. A liderança de Martin Luther King foi marcada por essa disposição, reunindo em torno do combate ao racismo uma diversidade de participações: cristãos e não cristãos, ateus, políticos, gente que despertava para o poder da mobilização. Não à toa o poder de sua liderança atraiu o ódio mortal daqueles que o viam como impedimento à continuidade do racismo e da segregação racial, da guerra no Vietnã.
O que parecia um movimento em lento amadurecimento desde antes da Segunda Guerra Mundial, mais concentrado a partir do fim dos anos 1940, fortalecido e conquistando vitórias nos anos 1950, vê, em 1968, o assassinato de Luther King e de Kennedy, seu interlocutor na política partidária, como um momento terrível.
Mais ainda, os ecos da resistência não violenta gandhiana inspiravam toda a luta contra a guerra no Vietnã, além da influência da cultura indiana sobre o pensamento que levou a 1968, fossem as batas indianas na vestimenta, mais exteriores, fossem práticas como a meditação, o yoga, o uso de incensos fora das igrejas, a música tanto no meio hippie como em meio à juventude em geral. Beatles e seu guru, que depois pateticamente chamaram the fool on the hill, Ravi Shankar e sua cítara que então encantava, deixando as filhas Norah Jones e Anoushka Shankar para deleite dos ouvidos do século XXI.
Ciente da força econômica representada pela comunidade negra como usuária do transporte público, que dependia das passagens que pagavam para seguir operando, foi organizado um boicote aos ônibus, liderado pessoalmente por Martin Luther King, ainda jovem.
Mas em meio a toda a inovação e contracultura de 1968, pairavam também outras abordagens contra o racismo, que acharam espaço com o assassinato de Luther King. Foram muitas forças coletivas, algumas a citar de modo particular. A Nação do Islã, que primeiramente acolheu Malcolm X quando era jovem presidiário, promovido a seu principal líder, para depois assassiná-lo, em 1965, quando, desencantado com os rumos da organização, decidiu pregar o Islã sem violência, estava pronta para seguir a proposta que vinha de antes, de separação absoluta entre brancos e negros, com a primazia negra e masculina obtida pela via da violência. O Partido dos Panteras Negras, de orientação marxista, aliado ao Partido Comunista, em pleno auge da Guerra Fria, pregando a ação armada como via de libertação racial, ao mesmo tempo que se impõe na propagação de imagens identitárias indeléveis, como o cabelo black power, une-se a outros grupos, especialmente nos campi universitários, em manifestações violentas, em 1968, obtiveram novos seguidores, que traziam o rancor da oportunidade histórica perdida com o assassinato de Martin Luther King. Angela Davis, atualmente professora universitária centrada em questões de gênero e raça, tornou-se o nome mais lembrado dos Panteras.
Cinquenta anos depois, 1968 não acabou. As lutas pela dignidade humana que antecederam o icônico ano fazem-se necessárias como jamais o foram, no Brasil e no mundo. Não apenas pelo que ressurge, como por tudo que se vê a desprezar a história, dela tentando fazer terra arrasada e, de 2018, um marco incivilizatório, ignorando os cinquenta anos que o precederam e, mais distante, os cinquenta anteriores a 1968, que o prepararam. O que se contará de 2018 daqui a meio século? Será o ressurgir do que parecia derrotado, ovos ainda mais terríveis que a serpente terá gerado, ou haverá uma fresta por onde caminhar e encontrar novas conquistas que dignifiquem o ser humano? Fonte: https://jornal.usp.br
Mortes de negros na periferia resultam de escolhas históricas de governo
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Pesquisa aponta alto número de jovens negros assassinados como reflexo das políticas de exclusão no processo de segregação urbana
Era para ser uma segunda-feira como qualquer outra na vida da assistente social Cláudia Rosalina Adão. Mas, naquela manhã, no caminho de seu trabalho ela se deparou com três corpos juntos ao meio-fio. Eram jovens e negros que, desde a madrugada anterior, já faziam parte de uma estatística: eram números e nada mais na contabilidade do poder público. A cena motivou Cláudia a estudar o fenômeno das mortes de jovens negros na cidade de São Paulo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), resultando no estudo de mestrado Território de morte – homicídio, raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo.
“O que mais chamou minha atenção foi a ‘indiferença’ das pessoas que por ali passavam”, lembra Cláudia, ressaltando que, não bastasse o descaso de alguns, outros comentavam que ‘foi feita a justiça’. Outras pessoas sequer comentavam ou observavam e seguiam normalmente seu caminho”, lamenta. “Foi quando decidi melhor compreender os motivos que levaram aqueles jovens à morte”, conta a pesquisadora.
Origens históricas
Cláudia é assistente social num Centro Social Marista, localizado no bairro União e Vila Nova, em São Miguel Paulista, na zona leste da cidade de São Paulo. E foi no trajeto para seu trabalho que ela presenciou os corpos. Ao estudar o problema na EACH, sob orientação do professor Dennis de Oliveira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ela pôde constatar que esta triste situação não teve início nos tempos recentes, mas desde os períodos pré e pós-abolição.
Em sua pesquisa, Cláudia revela que as origens desse problema resultam das escolhas do poder público. “Quais as chances de se encontrar três corpos de jovens negros em Higienópolis, por exemplo?”, questiona a pesquisadora. “Se somarmos a pobreza e o perfil racial aos assassinatos teremos a origem de uma articulação que contribuiu decisivamente no processo de periferização de nossa cidade”, afirma Cláudia, enfatizando que “o estopim foi nos anos antes e depois da abolição”. Além disso, segundo a pesquisadora, houve também todo um processo de imigração que incentivou a vinda de estrangeiros, principalmente europeus, para trabalharem nas fazendas como colonos e nos centros urbanos. “Já havia ali um processo de ‘branqueamento’ pelo qual nosso país passa até hoje. Naquele período, 90% dos postos de trabalho eram destinados aos recém-chegados do continente europeu”, afirma Cláudia.
Mortes numerosas de jovens negros na cidade de São Paulo são investigadas em estudo de mestrado de Cláudia. De 2003 a 2014, mais de 20 mil negros foram assassinados.
Números alarmantes
Os números sobre as estatísticas das mortes dos jovens negros em São Paulo, na opinião de Cláudia, são “alarmantes”. Ela cita o Mapa da Violência, uma das fontes de seu estudo, que é totalmente bibliográfico. De acordo com o Mapa, entre os anos de 2003 e 2014, houve no Brasil uma queda no número de homicídios por armas de fogo da população branca e um aumento de vítimas da população negra, representando uma queda de 26,1% no segmento branco e um aumento de 46,9% no negro. No total, o número de homicídios referentes ao mesmo período (2003 a 2014) foi em torno de 13 mil brancos e mais de 20 mil negros.
Cláudia lembra ainda que os números relacionados às mortes de jovens negros somente foram contabilizados a partir de 1996. “E isso graças às reivindicações dos movimentos sociais negros”, enfatiza. Segundo a pesquisadora, os locais com maior incidência são os extremos da cidade, principalmente nas zonas sul e leste da cidade. “Em geral são mortos pela segurança pública ou pela dinâmica da Política de Drogas”, acredita.
Eram todos negros
Em um dos capítulos de seu trabalho, Cláudia cita o caso de cinco jovens negros assassinados que foi veiculado na imprensa de uma forma que ela considera banalizada. “Optei por citar seus nomes, suas origens, se estudavam ou trabalhavam”, conta. Ao analisar a forma de veiculação dos assassinatos, ela percebeu que um dos pontos mais enfatizados era se o jovem tinha ou não passagem pela polícia. “Há pouca importância para os históricos de vida. Por isso resolvi descrevê-los como jovens que tinham uma vida normal.”
Apesar de sua pesquisa ser bibliográfica, Cláudia visitou diversos centros sociais nas periferias onde participou de palestras. Também participou de debates sobre o tema em escolas públicas. “A maioria dessas pessoas sequer imaginam que temos diante de nós um problema que teve sua origem em nossa história!”, enfatiza. Os dados de seu estudo foram obtidos do Mapa da Vulnerabilidade, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do Instituto Sou da Paz e das Delegacias Seccionais da Polícia Civil de São Paulo.
“E a pesquisa foi publicada em um livro”, comemora a pesquisadora. A obra tem o mesmo título do estudo, Territórios de morte – homicídio, raça e vulnerabilidade social, e foi lançada no início deste ano pela Editora Novas Edições Acadêmicas. Fonte: https://jornal.usp.br
O 20 de novembro e o negro no Brasil de hoje
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De todos os africanos transportados para as Américas através do tráfico atlântico entre os séculos XVI e XIX, cerca de 40% deles tiveram o Brasil como país de destinação. De acordo com os resultados do último censo populacional realizado pelo IBGE em 2010, a população negra, isto é, preta e parda, constitui hoje cerca de 51% da população total, ou seja, 100 milhões de brasileiros e brasileiras em termos absolutos. O que faz do Brasil o maior país da população negra das Américas, e mesmo em relação à África dita Negra, o Brasil só perde da Nigéria, que é o país mais populoso da África Subsaariana.
Mas qual é o lugar que essa população negra ocupa no Brasil de hoje depois de 130 anos da abolição da escravatura? Responderia que este lugar entrou no processo afirmativo de sua construção somente a partir dos últimos vinte anos no máximo. Se depois da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil oficial tivesse desde já iniciado o processo de inclusão dos ex-escravizados africanos e seus descendentes no mundo livre e no mercado de trabalho capitalista nascente, a situação do negro no Brasil de 2018 seria certamente diferente em termos de inclusão social. Nada foi feito, pois o negro liberto foi abandonado à sua própria sorte e as desigualdades herdadas da escravidão se aprofundaram diante de um racismo sui generis encoberto pela ideologia de democracia racial. Trata-se de um quadro de desigualdades raciais acumuladas nos últimos mais de trezentos anos que nenhuma política seria capaz de aniquilar em apenas duas ou três décadas de experiência de políticas afirmativas. Por isso, a invisibilidade do negro, ou melhor, sua sub-representação em diversos setores da vida nacional que exigem comando e responsabilidade vinculados a uma formação superior, ou universitária e técnica, de boa qualidade é ainda patente.
Era preciso começar a partir de algum momento, em vez de ficar eternamente preso ao mito de democracia racial que congelou a mobilidade social do negro nesses 130 anos da abolição. O início é como todos os inícios, geralmente lento, pois encontra em seu caminho hesitações, resistências e inércia das ideologias anteriores. Mas, de qualquer modo, se começou sem recuo, como se pode perceber hoje em algumas áreas como a Educação. As universidades que adotaram políticas de cotas para ingresso de negros e indígenas tiveram nos últimos dez anos um número de alunos negros e indígenas proporcionalmente superior ao de todos os negros que ingressaram em suas escolas durante quase um século da criação da universidade brasileira. Dizer que essas políticas são paliativas, como ouvi tantas vezes, não condiz com o progresso de inclusão observável e inegável. Certo, concordamos todos que é preciso melhorar o nível da escola pública, realidade à qual ninguém se contrapõe, apesar da consciência de que a escola pública não melhorará amanhã diante dos lobbys dos donos das escolas privadas e da falta da mobilização da sociedade civil brasileira em todas as suas classes sociais para mudá-la.
A data de 13 de maio é sem dúvida uma data histórica importante, pois milhares de pessoas morreram para conseguir essa abolição jurídica, que não se concretizou em abolição material, o que faz dela uma data ambígua. Na versão oficial da abolição, coloca-se o acento sobre o abolicionismo, mas se apaga ao mesmo tempo a memória do que veio antes e depois. Nesse sentido, a abolição está inscrita, mas esvaziada de sentido. A Lei Áurea de 13 de maio de 1888 é apresentada como grandeza da nação, mas a realidade social dos negros depois desta lei fica desconhecida. Visto deste ponto de vista, o discurso abolicionista tem um conteúdo paternalista. A questão do negro tal como colocada hoje se apoia sobre uma constatação: o tráfico e a escravidão ocupam uma posição marginal na história nacional. No entanto, a história e a cultura dos escravizados são constitutivas da história coletiva como o são o tráfico e a escravidão. Ora, a história nacional não integra ou pouco integra os relatos de sofrimento, da resistência, do silêncio e participação.
Se depois da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil oficial tivesse desde já iniciado o processo de inclusão dos ex-escravizados africanos e seus descendentes no mundo livre e no mercado de trabalho capitalista nascente, a situação do negro no Brasil de 2018 seria certamente diferente em termos de inclusão social.
A abolição da escravatura é apresentada como um evento do qual a República pode legitimamente se orgulhar. Mas a celebração da data até hoje tenta fazer esquecer a longa história do tráfico e da escravidão para insistir apenas sobre a ação de certos abolicionistas e marginalizar as resistências dos escravizados. A mim me parece que a celebração acompanha-se de uma oposição sempre atualizada de duas memórias: memória da escravidão negativamente associada aos escravistas e a memória da abolição positivamente associada à nação brasileira. No entanto, as duas memórias deveriam dialogar para se projetar no presente e no futuro do negro, ou se constituindo numa única memória partilhada.
A proposta de transformar 20 de novembro em data da consciência negra partiu da iniciativa do saudoso poeta Oliveira Silveira, do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, e virou uma iniciativa do Movimento Negro como um todo a partir do início da década de 70. Através do trabalho das entidades negras, essa proposta ganhou força em todo o País, e gradativamente passou a ser reconhecida pela mídia e pela sociedade em geral. Zumbi dos Palmares foi reconhecido oficialmente, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, como herói negro dos brasileiros. Hoje, o dia 20 de novembro é comemorado universalmente em todo o País, sendo considerado feriado oficial em vários estados e dezenas de municípios. Em vez de comemorar 13 de maio, data em que a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravatura, o Movimento Negro prefere simbolicamente se concentrar na data de 20 de novembro, que tem a ver com a luta para a segunda e verdadeira abolição da escravatura. Por isso, novembro se transformou nacionalmente em mês da Consciência Negra. Ninguém se ilude ao acreditar que todos os problemas da população negra se resolvem em 20 de novembro, mas trata-se de um mês que tem um profundo sentido simbólico e político no processo de sensibilização, politização e conscientização sobre as práticas racistas e as consequentes desigualdades que dificultam a plena inclusão do Segmento Negro na sociedade brasileira. Fonte: https://jornal.usp.br
Passageiro passa mal dentro de avião e morre na Bahia
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Caso aconteceu na cidade de Vitória da Conquista, região sudoeste do estado. Homem chegou a ser atendido pelo Samu, mas não resistiu.
Um passageiro que estava a bordo de um avião que sairia de Vitória da Conquista, na região sudoeste da Bahia, em direção a Guaraulhos (SP) morreu após passar mal dentro da aeronave.
O caso aconteceu na quarta-feira (14), no voo 2268. Segundo informações da Passaredo Linhas Aéreas, o passageiro passou mal na aeronave ainda em solo. Ele foi atendido por bombeiros do aeroporto, e em seguida, por profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Apesar das manobras, o passageiro foi a óbito.
A Passaredo informou que lamenta o ocorrido e está prestando todo o apoio necessário. A causa da morte não foi revelada. Fonte: https://g1.globo.com
Criança é morta pelo pai ao tentar defender a mãe durante briga em Ibateguara, AL
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Menino de oito anos levou tiro de espingarda ao ficar na frente da mãe para evitar que ela fosse morta.
Uma criança de oito anos foi morta com um tiro de espingarda nesta segunda-feira (12) durante uma briga entre os pais na zona rural do município de Ibateguara, na região da Zona da Mata de Alagoas.
De acordo com o segundo Batalhão da Polícia Militar (BPM), no momento da discussão, o pai da criança pegou a arma para atirar contra a mulher, quando a criança entrou na frente da mãe para tentar defendê-la.
A polícia faz buscas pelo pai da criança, que fugiu do local. Fonte: https://g1.globo.com
Homem atira em pastor no altar durante culto em Mogi, diz polícia
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Fiéis detiveram homem até a chegada da polícia. Segundo informações iniciais da PM, pastor foi baleado e socorrido para hospital da cidade, onde passa por cirurgia.
Um homem baleou um pastor durante um culto em Mogi das Cruzes. O disparo foi feito em direção ao altar, durante uma pregação na noite deste domingo (11). Ele foi detido pelos fiéis da igreja até a chegada de policiais militar.
De acordo com as informações iniciais da PM, o pastor foi socorrido para um hospital particular da cidade, onde passa por cirurgia e não corre risco de morte.
A igreja fica na Avenida Lothar Waldemar Hoenne, conhecida como Perimetral. Os fiéis relataram à PM que o homem fez dois disparos na direção do pastor. Após a chegada da polícia, o suspeito foi levado para o Hospital Luzia de Pinhho Melo, por causa dos ferimentos causados para contê-lo.
O homem disse aos policias, em um primeiro momento, que entrou na igreja para roubar, mas ainda vai prestar depoimento.
A polícia apreendeu a arma dele e levou ao 1º Distrito Policial, onde o caso é registrado neste domingo. Fonte: https://g1.globo.com
A CAMINHO DO MÉXICO...
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A CAMINHO DO MÉXICO... No Aeroporto de Santo Domingo, República Dominicana neste domingo, 11 de novembro-2018. (Dia 14 chegamos no Brasil se Deus quiser!) www.instagram.com/freipetronio
Voluntários ajudam bombeiros na busca por sobreviventes em desabamento de Niterói
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Cães farejadores auxiliaram no resgate de sete vítimas. Mobilização se manterá durante toda a madrugada.
Bombeiros e voluntários já trabalham a cerca de 15h na busca por sobreviventes do desabamento do Morro da Boa Esperança, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. As buscas vão continuar durante toda a noite deste sábado (10) e madrugada deste domingo (11).
Para isso, estão mobilizados 76 homens do Corpo de Bombeiros no local, além de voluntários, agentes da Guarda Municipal e da Polícia Militar. Moradores da comunidade também ajudam cedendo casas ou carregando alimentação e auxiliando os bombeiros com informações sobre a região.
A utilização de cães farejadores possibilitaram o resgate de sete das 11 pessoas encontradas nos escombros.
Na madrugada deste sábado (10), por volta das 4h, um maciço desmoronou soterrando dez imóveis, entre eles, uma pizzaria. Até às 19h deste sábado, dez pessoas morreram.
O trabalho de resgate começou logo cedo. Em meio ao barulho de pás e escavadeiras, de repente, os pedidos de silêncio na tentativa de encontrar as pessoas soterradas. Junto com os chamados dos bombeiros, a utilização dos cães.
"Essa ajuda e mobilização das pessoas está ajudando muito. Não só as equipes nas áreas mas também as equipes na retarguarda que estão dando suporte", explicou o comandante do Corpo de Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil, o coronel Roberto Robadey.
Uma das ações dessas equipes de retaguarda foi a preparação das torres de iluminação que foram instaladas no local do desabamento para auxiliar nas buscas durante a noite/madrugada deste domingo. Fonte: https://g1.globo.com
El éxodo de centroamericanos crece mientras Guatemala y México lo reprimen
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Después de pedir durante varias horas a las autoridades guatemaltecas que les dejaran cruzar la frontera en paz, que les abrieran el portón amarillo de rejas y les permitieran avanzar hacia México, lo único que recibieron por respuestas los cientos de migrantes que forman parte de segundo bloque de la caravana, fueron negativas. No es posible, les respondían los jefes del contingente de policías antidisturbios que custodiaba el paso. Pero la determinación de los centroamericanos que integran el grupo, en su mayoría hondureños, fue mayor que la advertencia de las autoridades. La fuerza de los migrantes derribó el portón, la muchedumbre avanzó con euforia y los agentes lanzaron gases lacrimógenos para intentar detenerlos. En respuesta, lo migrantes lanzaron piedras, palos y botellas en contra de los policías. Como saldo de este primero conato, un par de decenas de heridos —entre ellos varios agentes y muchos migrantes— y una gran satisfacción de la carava por haber vencido el primer obstáculo de la jornada en su intentó por entrar a México.El reportaje es de Alberto Pradilla, publicado por Plaza Pública, 28-10-2018.
El segundo obstáculo —las fuerzas de seguridad mexicanas— no fue superado. El portón blanco de rejas ubicado a la mitad del puente Rodolfo Robles, el cual custodia la puerta de ingreso a México, no pudo ser derribado. Decenas de agentes antidisturbios de la policía federal mexicana, con el apoyo de un helicóptero y decenas de lanchas en las aguas del río Suchiate, impidieron el paso de los migrantes. Gases lacrimógenos y balas de goma fueron lanzadas desde el puente, el aíre y el agua en contra de los centroamericanos. Un hondureño de unos 26 años, identificado por sus compañeros como Henry Días Reyes, falleció por las heridas causas en la cabeza supuestamente por las balas de goma lanzadas por los guardias mexicanos. Al menos 30 migrantesmás fueron atendidos por los cuerpos de socorro guatemaltecos con síntomas de intoxicación por los gases y heridas y golpes causados por las balas de goma.
La caravana debió retroceder. Golpeados, física y emocionalmente, los cientos de centroamericanos se instalaron en la plaza de Tecún Umán, el pueblo guatemalteco donde se habían concentrado desde el pasado viernes y en el que tomaron fuerzas para continuar el viaje hacia México. En las próximas horas tienen previsto analizar la situación y definir las acciones a emprender para continuar el viaje.
El incidente del domingo ha sido el incidente más lamentable registrado desde el 13 de octubre cuando el primer grupo de la carava migrante salió de San Pedro Sula, Honduras. Y Henry Días Reyes, uno de los miles de huidos de la pobreza y la violencia, la primera víctima del éxodo.
“Para hacer prevalecer el orden constitucional”, el gobierno decretó “alerta amarilla institucional” en Tecún Umán, y dejó “la seguridad y el orden del municipio” en manos del Ejército y la Policía Nacional Civil. Además, ordenó el cierre de los comercios y la venta de gasolina “a migrantes hondureños”; y recomendó a los lugareños no salir de sus viviendas y “evitar la confrontación con los migrantes”.
Otros centroamericanos, en su mayoría salvadoreños, un tercer grupo de migrantespartió la mañana del domingo 28 de octubre de San Salvador, con el objetivo de unirse a la caravana madre que desde hace una semana avanza por territorio mexicano. Se trata, según medios salvadoreños, de un grupo de unas 300 personas, que busca cruzar la frontera guatemalteca de Pedro de Alvarado y luego seguir por la capital hasta llegar a Tecún Umán.
Bienvenida policial: “Estás en tu casa”
Mientras tanto, el gobierno del presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, ha recibido al éxodo centroamericano con acciones simbólicas y contradicciones. El viernes 19, la caravana fue reprimida con gases lacrimógenos en el puente fronterizo Rodolfo Robles, bajo un enorme cartel que decía “Bienvenidos a México”. Política de “puertas abiertas”, había anunciado el embajador en Guatemala, Luis Manuel López Moreno, minutos antes. El sábado 27, el recibimiento fue también uniformado. Lo ofreció un retén de la Policía Federal, acompañado por agentes del Instituto Nacional de Migración, que bloqueó el paso a los caminantes en la salida de Arriaga, camino a San Pedro Tapanatepec. 44 kilómetros de ruta.
“Estás en tu casa” es el nombre del plan propuesto por el Ejecutivo de Peña Nietopara los que abandonen la caravana, desistan de seguir hacia Estados Unidos y se entreguen en Migración. En teoría, tendrán acceso a sanidad, vivienda, trabajo temporal. Pero antes deberán pasar por Migración. La misma institución que mantiene encerrados en la Feria Internacional Mesoamericana de Tapachula a más de 1,700 personas. Los mismos que creyeron las promesas del Gobierno mexicano en el puente y los rezagados, pequeños grupos que trataron de alcanzar la cabecera y fueron interceptados, por no estar protegidos por la gran marcha.
“Estás en tu casa”, con una barrera policial impidiendo el paso; una alegoría de hospitalidad.
“Estás en tu casa” es una oferta que se limita a Chiapas y Oaxaca. Los dos estados más pobres de México. Cualquier cosa para que la larga marcha no llegue a la capital y, sobre todo, no prosiga su tránsito hacia Estados Unidos.
Sábado, 27 de octubre. 6.00 horas. Carretera entre Arriaga (Chiapas) y San Pedro Tapanatepec (Oaxaca)
La marcha lleva dos horas caminando, pero se detiene en el puente Arenas. Delante, una barrera de antimotines. El comisionado de Policía, Benjamín Grajeda, dice que su cometido es explicar el plan “Estás en tu casa” a los caminantes. Pudieron hacerlo en Arriaga, donde la caravana pasó la noche anterior. O en San Pedro Tapanatepec, hacia donde se dirigía la caminata. Pero no. Optaron por bloquear el paso y exhibir su fuerza. Es como un aviso. Que nadie esté tranquilo. Que sepan que, en cualquier momento, la policía mexicana puede interrumpir el camino de estos hombres y mujeres cada vez más cansados, sedientos, hambrientos, doloridos.
La marcha ha comenzado en la noche, alumbrados únicamente por las luces de las patrullas que dirigen el tráfico.
Ante la policía, la caravana se sienta. No quieren enfrentamientos ni disturbios. Tienen fresco el recuerdo del puente entre Guatemala y México. Las piedras. Las bombas lacrimógenas. El terror ante el avance de los antimotines. Con la marcha detenida, puede observarse nuevamente la magnitud del éxodo. Son cientos, miles, los que permanecen en el arcén, pacientes. La mayoría son hondureños, pero también los hay guatemaltecos, salvadoreños, nicaragüenses...
Dos horas y media después, tras una negociación entre autoridades y representantes de los migrantes, la marcha se reanuda. Han perdido dos horas y media. No es un dato irrelevante. Dos horas en la madrugada, cuando el sol todavía no quema, son dos horas sin tanto riesgo de deshidratación o insolación. Dos horas de caminata a partir del mediodía son dos horas a 40 grados, sin sombra para cobijarse, asfixiados.
“No entendemos por qué no la podían dar en Arriaga. Están poniendo en riesgo a niños, niñas, gente que va en el camino”, dice Juan José Zepeda Bermúdez, comisionado de los Derechos Humanos en el Estado de Chiapas. Explica que las organizaciones presentes emitieron medidas cautelares verbales y solicitaron una negociación. El acuerdo es ambiguo. En principio, el Gobierno podrá instalar una mesa informativa en el lugar en el que la caravana acampe, explicando las bondades de “Estás en tu casa”. Los migrantes, sin embargo, quieren que el diálogo se desarrolle en Ciudad de México. Porque no están de acuerdo con los términos de la oferta. Quieren, al menos, que los planes temporales de residencia y trabajo se extiendan a todo el territorio mexicano. No han tenido respuesta. Estamos ante otro “impasse”. Esto ocurre poco antes de la división estatal entre Chiapas y Oaxaca. Poco después veremos el cartel de bienvenida al segundo estado mexicano que transitaremos. Quizás esto se convierta en costumbre, y a cada nueva administración que se visite aparezca un contingente policial.
Hacer una oferta de acogida cortando la vía con decenas de agentes con casos y escudos suena a posición negociadora. A un mensaje claro: “no crean que tienen opciones para elegir”.
Si la propuesta tiene validez únicamente para Chiapas y Oaxaca, podemos prever que, al abandonar este estado, encontraremos algún otro comité de bienvenida.
Son las 8.30 y la caravana reanuda su tránsito.
Sábado 27. 19.00 horas. San Pedro Tacanatepec (Oaxaca).
Asamblea ante la iglesia de San Pedro Tapanatepec. El municipio, humilde, con edificios dañados desde el terrible sismo de 2017, casi en ruinas. Según organizaciones de Derechos Humanos presentes en el lugar, se han corrido rumores, hay sospecha entre la población autóctona. Algunos comercios están cerrados, no porque sea sábado, sino porque no se fían de los migrantes. El ambiente es más pesado que en jornadas anteriores. Rostros cansados. Se percibe hastío. Es normal, terriblemente normal.
La larga marcha ya tiene su propia dinámica. Los primeros, los que llegan en aventón, levantan sus champas con plásticos negros. En unos minutos, el parque, la cancha de baloncesto, la iglesia, son estancias del enorme campo de refugiados itinerante. Hay gente durmiendo, gente haciendo cola para recibir un plato de comida, gente aguardando para poder ducharse. La caravana es un ser vivo.
Margarita Núñez toma el megáfono.
Pregunta si el grupo quiere continuar o si prefiere descansar un día.
“¡Seguimos!”, es la respuesta (masculina) unánime.
Núñez se muestra contrariada. Recuerda que hay mujeres caminando solas con sus hijos. Dos, tres, cuatro chiquillos. Que no tienen tanta facilidad para subirse a los tráileres o camiones en posturas inverosímiles. Que hay hombres que se adelantan, toman los carros y dejan a las mujeres en la carretera, caminando. Que los doctores dicen que al menos 1,200 de los caminantes tienen llagas en los pies y deberían guardar reposo.
“¡Seguimos!”, gritan algunos
“¡El lunes!”, responden otros.
Una asamblea nocturna, sin apenas luz, con hombres y mujeres exhaustos, no es el lugar más eficaz para tomar decisiones.
“¡México si! ¡México no!”, en mitad de la discusión (debate, no hay acritud, solo cansancio), se escucha la voz de una niña. Repite frases que ha escuchado antes, que no vienen al caso, pero que a ella le divierten. Tiene tres años y medio, dice María Joaquina, su mamá, de 19 años y de Choluteca. Esto es muy serio, pero para ella, aferrada a los hombros de su madre, con cara pícara, puede entenderse como un juego.
Llegan a un compromiso. Saldrán a las tres de la madrugada del domingo. Habrá varias furgonetas donadas por unas religiosas ocupadas exclusivamente por madres con sus hijos. No podrán ir sus maridos. Si quieres que tu marido te acompañe, deberás caminar. Los recursos son escasos. La alternativa es caminar seis, ocho, diez horas, bajo el terrible sol de Oaxaca.
Nueva propuesta. Qué hacer al llegar a Ciudad de México. Imaginemos a este ejército de derrotados caminando por las grandes avenidas de la capital. El shock emocional. Serán los migrantes clandestinos transitando a plena luz del día en una de las ciudades más grandes del mundo. Para ello hay que organizarse. El consenso: pedir a Carlos Aguiar Retes, nuevo arzobispo de México, una homilía en la Basílica de Guadalupe como recibimiento. Esto sí sería hospitalidad y no los antimotines.
La asamblea concluye. Se sale a las 3.
Todo está a punto de trastocarse, una vez más.
Sábado 27. Algún momento de la noche. San Pedro Tapanatepec (Oaxaca)
Nadie explica cómo comenzó el relajo. Pasadas las ocho de la noche hay ambiente agitado, gente corriendo, confusión. Los medios se han marchado. Las organizaciones de Derechos Humanos se han marchado. Algo ocurre. Un hombre es acusado del robo de un bebé. Es perseguido y golpeado.
Logra ponerse a salvo. No hay versión oficial, pero los migrantes consultados concuerdan en un relato. Al parecer, se dio un pleito por un plato de comida. Alguien no quiso guardar la fila. Alguien se lo recriminó. Comenzó un conato de pelea. Una tercera persona gritó que se intentaron robarse un bebé. Y se organizó el caos.
El campo de refugiados itinerante es un universo de hombres y mujeres exhaustos, doloridos, hambrientos. Los recursos son escasos. Vienen con el dolor cargado desde casa. Proceden de contextos violentos, muy violentos. Son víctimas con dos semanas de tránsito a sus espaldas.
Decisión de urgencia. No se caminará el domingo. Hay que reorganizarse. Evitar nuevos conflictos. O, al menos, prepararse para gestionarlos. Es imposible que los conflictos no estallen en este microcosmos de hombres y mujeres agotados.
Domingo 29. 10 de la mañana. San Pedro Tapanatepec (Oaxaca). “No hubo robo de niños ni niños perdidos”, dice María Amparo Ramírez, de Ocotepeque. Habla ante la prensa frente a la parroquia convertida en refugio. En su interior comienza la misa. Su intervención viene acompaña por los primeros cánticos religiosos.
“Lo de anoche no fue parte de la caravana”, repite.
“Fue un caos mandado. Se provocó el pleito. Pasó por un chisme y golpearon a un joven. Se logró controlar la situación y no pasó a más”, dice Alexander Martínez, nicaragüense. Explica que se ha puesto en marcha un comité de seguridad. Que a los responsables se les pondrá en manos de las autoridades.
Que haya relajo es un terror para el grueso de la caravana. Recuerdan el puente. Creen que puede perjudicarles. Tienen miedo de lo que determinados medios de comunicación puedan decir de ellos. Existe una realidad inapelable: poco, muy poco ha pasado, si tomamos en cuenta que este es un campo de refugiados itinerante de personas exhaustas, hambrientas, desesperadas y víctimas de la violencia.
Jeff Valenzuela, integrante de Pueblo Sin Fronteras, explica que los migrantes han organizado un servicio de seguridad. Más de 300 personas se han sumado como voluntarias. Ante cada nueva dificultad, diferentes modos de estructurarse.
Próximo destino: Juchitán.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
O QUE FAZER EM SANTO DOMINGO, CAPITAL DA REPÚBLICA DOMINICANA.
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Confesso que quando viajei à República Dominicananão esperava encontrar muito o que fazer em Santo Domingo, afinal, a maior parte dos brasileiros que visita o país vai atrás das praias de Punta Cana.
Mas foi um grande engano. Achei foi muito interessante, pois adoro ser surpreendido com um destino que menosprezo. A capital dominicana me encantou desde o primeiro dos três dias que fiquei ali. Deu pra fazer passeios históricos, conhecer belezas naturais e praias paradisíacas do Caribe.
Quem visita Santo Domingo normalmente é levado primeiramente à Zona Colonial, afinal, estamos na primeira cidade das Américas. Ainda com boa parte das muralhas que protegiam a cidade nos tempos de colônia de pé, o bairro é bem conservado e tem passado constantemente por restaurações e urbanização.
O ponto inicial é o Parque Colón, uma praça em homenagem a Cristóvão Colombo, que descobriu a América ao desembarcar nessa região. Bem em frente à estátua do desbravador, fica a Basilica Catedral de Santa María la Menor, chamada também de Catedral de Santo Domingo ou Catedral Primada das Américas, por ter sido a primeira do continente. Ela é aberta à visitação e seu interior é bem interessante.
Na praça também fica a parada do Chu Chu Colonial, uma espécie de “trenzinho da alegria” que percorre as principais ruas do centro antigo contando sua história e mostrando os principais prédios e monumentos. Não é barato (US$12), mas enriqueceu bastante minha visita.
Se preferir, você pode percorrer a pé as principais atrações. Prefira fazer ao menos o fácil circuito do quadrilátero das ruas El Conde, Las Damas, Emiliano Tejera e voltando à praça pela Arzobispo Meriño. Ainda na praça, dá pra conhecer o Museo del Tabaco e o Museo de Ambar, uma resina fóssil muito usada na produção de joias.
Seguindo pela Calle Las Damas, você passará por diversas igrejas e museus, entre eles a última residência de Colombo, o Panteón Nacional, o Museo de las Casas Reales (no edifício que abrigava a Corte Real) e Alcázar de Diego Colón (palácio do irmão de Cristóvão Colombo), que fica na grande Plaza de España.
A Calle Arzobispo Meriño é uma das mais fotogênicas e tem lojinhas e um museu de chocolatecom degustações e até brigadeiro (um pouco diferente do nosso).
Se ainda tiver tempo por aqui, a rua paralela, a Calle Hostos, guarda as imponentes ruínas do Hospital San Nicolás de Bari, o primeiro construído nas Américas.
Na mesma rua, dá pra avistar uma subidinha em curva à direita cheia de casinhas coloridas. Embora estivesse em reforma quando eu a visitei, ela foi cenário de vários filmes, como O Poderoso Chefão II (que recriou aqui uma rua de Havanna) e O Bom Pastor, com Robert De Niro e Matt Damon e Angelina Jolie.
Seguindo mais um pouco, após a subida, chega-se às ruínas do Monasterio de San Francisco, hoje usadas para espetáculos musicais a céu aberto e outros eventos culturais.
Se o Centro Histórico já chama a atenção durante o dia, à noite ele se transforma. Suas ruazinhas são tomadas por jovens e turistas e vários daqueles prédios históricos que passaram despercebidos com a luz do sol abrem as portas e revelam modernos e animados bares e restaurantes. A rua com as melhores opções é a Calle El Conde, bem perto da Plaza Colón.
LOS TRES OJOS
Em plena região central de Santo Domingo fica o Parque Monumento Natural Cueva Los Tres Ojos, uma grande área verde protegida. Apesar da vegetação exuberante, o que atrai milhares de visitantes são as três cavernas com lagos subterrâneos de águas azuis e um quarto lago, acessível apenas de barco.
A estrutura é super bacana, com escadarias que levam os visitantes pra “debaixo da terra”. Logo na entrada, você se depara com o Lago de Azufre, pra mim o mais bonito dos tres ojos.
A visita continua pelos lagos De Las Damas e La Nevera. Nesse último, cujo nome já dá a noção do frio de sua água, parte um barco/balsa que leva até o último lago descoberto, o Los Zaramagullones. É preciso pagar RD$ 25 para o transporte (cerca de US$ 0,50).
Ao chegar a esse lago, agora descoberto, você perceberá que o tom azul da água dá cor a um surpreendente verde. Uma espécie de pier permite que o visitante chegue mais próximo da água, onde é possível inclusive alimentar os peixes com pedacinhos de pães dados por guias que estão ali em busca de alguns trocados.
Embora você seja cercado por guias logo que desembarca na entrada do parque, eles não são imprescindíveis. Dá facilmente pra fazer o percurso por conta própria em cerca de 30min. Mas se você quiser conhecer melhor a formação das cavernas e a origem da água azulada que brota dentro delas, pode valer a pena
FARO A COLÓN
O “Farol de Colombo” fica próximo do Los Tres Ojos, separados pelo Parque Mirador del Este, outra importante área verde da capital dominicana. Embora sua construção tenha começado em 1948, só foi oficialmente inaugurado em 1992, para celebrar os 500 anos do descobrimento da América, mesmo ano em que o país recebeu a visita do Papa João Paulo II (o “papamóvel” usado na época fica exposto do lado de fora).
A ideia do enorme prédio em formato de cruz com mais de 800m de comprimento é contar a história dos países americanos, além de sediar exposições esporádicas. Mas o que chama a atenção mesmo é o fato do Faro a Colón guardar os restos mortais de Cristóvão Colombo. Essa história é meio polêmica, uma vez que os espanhóis dizem que eles estão em Sevilha
BOCA CHICA
Boca Chica é um município da grande Santo Domingo a cerca de 30min de carro do centro. E é ali que fica uma das melhores praias da região.
Apesar de existir um acesso à praia com areia e barraquinhas, a maior atração ali são os beach clubs suspensos em piers com escadinhas para o mar azul cristalino (saiba tudo).
MALECÓN
O Malecón de Santo Domingo é o calçadão da orla da cidade que, embora fique de frente para o Mar do Caribe, não tem areia nem praia. O que dá pra fazer por aqui é uma caminhada. A maior faixa do malecón fica no bairro de Gascue, famoso por abrigar as principais redes hoteleiras internacionais e seus cassinos. Se você gosta de uma jogatina, vale a pena a visita.
REGIÃO MAIS MODERNA
Percebi que os dominicanos adoram falar dos shoppings. Não sei se eles são novidade por ali ou se eles gostam mesmo é de fugir do calorão caribenho dentro do ar condicionado. Foi então que fui conhecer o Ágora Mall, um dos mais famosos da cidade
Eu não indicaria, a menos que você realmente goste de shoppings. Ele é como qualquer centro de compras brasileiro. Se decidir ir, na praça de alimentação existe uma área com mesinhas ao ar livre, com uma vista simpática de Santo Domingo. Embora esse tópico tenha o título “Região Mais Moderna”, há pouco pra se fazer por aqui além do shopping. Fonte: www.essemundoenosso.com.br
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