Por que o padre Júlio Lancellotti é cancelado e amado nas ruas de SP
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Vizinhos, amigo, oposição e especialistas opinam sobre o personagem central na questão da população de rua na capital paulista
SÃO PAULO
Sempre tem alguém disposto a uma conversa descontraída nas portas de botecos, mercadinhos e sobrados das ruas com trânsito calmo entre a Mooca e o Belenzinho, na zona leste de São Paulo. Mas o ar fica pesado quando a pergunta é sobre o vizinho Júlio Lancellotti, 75.
Xingamentos são frequentes nos diálogos sobre o padre responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo, onde concentra o seu trabalho de assistência à população de rua.
"Eu falo desse desgraçado, que passa aqui na frente, não vale bosta! [Ele] encheu isso aqui de morador de rua", diz Robert Freire Friedrich, 56. O comerciante conta que sua lanchonete foi invadida e saqueada há dois meses. Ele viu tudo da janela do andar de cima, onde mora com a família.
Em duas visitas às ruas nos arredores da paróquia, a Folha conversou com moradores, trabalhadores, empreendedores locais e pessoas assistidas pelo padre.
Assim como Friedrich, a maior parte da vizinhança atribui ao pároco responsabilidade pela presença de dependentes químicos, furtos, sujeira e desvalorização de imóveis comuns às cenas abertas de uso de crack, as ditas cracolândias.
Argumentos parecidos com os do vereador Rubinho Nunes (União), autor de um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mira organizações de assistência à população de rua.
O vereador negou à reportagem que o padre seja o alvo da medida, mas atribuiu ao pároco responsabilidade pelo problema devido a uma atuação que, segundo ele, é indisciplinada e contribui para a permanência dos assistidos em condição degradante.
Questionamentos à conduta moral do pároco também costumam municiar opositores. Há duas semanas a Arquidiocese de São Paulo arquivou denúncia do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), que tinha como base um vídeo que retrata um homem se masturbando.
É a segunda vez que o material, sem autenticidade comprovada, é utilizado. Em 2020, o então candidato à prefeitura Arthur do Val, o Mamãe Falei, fez denúncia idêntica à Igreja Católica, que não encontrou indícios de crime. Nunes e Mamãe Falei foram do MBL, criado em 2014 para defender o impeachment de Dilma Rousseff.
Nas duas conversas que teve com a reportagem sobre o que seu detratores dizem, Lancellotti resumiu seu sentimento em uma frase. "Eu me sinto um padre cancelado."
Eu me sinto um padre cancelado
Júlio Lancellotti
padre responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo
Laura Muller Machado, coordenadora do Núcleo População em Situação de Rua do Insper, defende a estratégia de Lancellotti. Ela diz que a aproximação feita por ele, com base no afeto, é o único meio de resgatar quem está à margem.
Afirma que não é o padre o responsável pela explosão da população de rua, fenômeno crescente no mundo que ela vê como uma epidemia de rupturas nos relacionamentos. "Antes [da pobreza e da dependência química], há um trauma muito forte na relação dessa pessoa com a família", diz.
Faltam, porém, políticas públicas que integrem o trabalho das diversas organizações que atuam nesse segmento, além de estudos para medir a efetividade desse trabalho, diz Machado. Lacunas que aumentam a insatisfação popular. "O trabalho do padre Júlio é importante, mas é uma gota no oceano."
Vivendo nas calçadas desde 2016, o ajudante de pedreiro Rodrigo Ribeiro, 40, exemplifica esse relato. Saiu de casa para dar fim às brigas com a família. Da maconha ao crack, usou todo tipo de droga. "Hoje eu estou limpo", conta.
O café da manhã oferecido na paróquia e o almoço em um centro de acolhimento da prefeitura o "fortalecem" nos dias em que procura algum bico. Emprego, porém, só com endereço fixo. "Eu precisava de vaga num albergue, tomar banho, trocar de roupa e guardar minhas ferramentas", diz, apontando para a mochila.
Admiradores também estão presentes na vizinhança, apesar de em menor número.
Bárbara Santos, 28, inaugurou há poucos meses um sofisticado salão de beleza onde atende a clientela de alta renda do entorno. Convive diariamente com pessoas que dormem na porta.
"Eu trabalho e moro muito perto [da paróquia] e não atrapalha em nada a minha vida", diz a empresária. "Alguns clientes ficam com medo, mas se eu tivesse de escolher, eu não gostaria que esse trabalho parasse porque é importante para as pessoas que precisam de ajuda."
Apesar de conviver com o problema, a jovem empresária não está no grupo que, segundo o psicanalista Christian Dunker, encontrou nas manifestações de ódio uma fuga para os três estágios de sofrimento psicológico que acometem quem se depara com a miséria e a degradação nas ruas: angústia, culpa e medo.
Dunker considera que a postura de herói de tragédia grega de Lancellotti, consciente de que está condenado ao fracasso, e seu discurso de combate à aporofobia –a aversão aos pobres– fazem dele um personagem que confronta valores contemporâneos, como o desejo de sucesso pessoal.
"É como se algumas pessoas se perguntassem: como assim os desejos dele não estão ligados ao sucesso? Isso é um dilema", diz Dunker. "[As denúncias contra o padre] querem mostrar que sua verdadeira intenção é opaca, que os desejos mais nobres procedem da nossa humanidade."
Diretor de Programas do Instituto de Estudos da Religião, o teólogo e pastor Ronilso Pacheco classifica o desconforto gerado por Lancellotti como coerente com uma sociedade de indivíduos que moldam a religião aos valores mais radicalizados do capitalismo, em especial a meritocracia.
"Essa parcela não acha justo que pessoas que vivem sem trabalho e regras tenham acesso aos direitos humanos", comenta o teólogo.
Política é elemento central para entender a rejeição a Lancellotti. O padre está assumidamente no campo progressista, contrariando a inclinação majoritária da vizinhança conservadora.
Na seção eleitoral da Mooca, dos 120 mil votos válidos, quase 70 mil (58,5%) foram para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição nacional para Lula (PT) em 2022.
Professor de gestão de políticas públicas da USP, Pablo Ortellado estuda a polarização no Brasil. Ele diz que o padre é uma típica figura capturada pelos dois espectros. Enquanto a esquerda o associa à sua visão de mundo e o admira por isso, a direita o vê com desconfiança.
"A questão da cracolândia é incômoda e uma CPI é uma forma de dizer que este é um problema criado pela esquerda", avalia Ortellado.
Ressentimentos com a política levam a outra crítica frequente ao padre: a de que a função da igreja tem sido desvirtuada pela sua militância.
É comum que atribuam às ligações políticas do padre poderes superiores aos dos seus pares.
José Carlos, 65, nasceu no bairro e, na infância, foi coroinha na São Miguel Arcanjo. Acusa o pároco de ter afastado a comunidade da igreja, eliminando tradições e fazendo da paróquia um palanque político.
"O que incomoda é a política", reclama o morador. "Eu gostaria de saber o porquê dessa diferença em relação a outros padres."
O que incomoda é a política. Eu gostaria de saber o porquê dessa diferença em relação a outros padres
José Carlos
Morador da região
Lancellotti tem, de fato, autoridade comparável à de poucos, mas isso em nada tem a ver com sua fama, segundo a Arquidiocese de SP. São suas funções na estrutura da Igreja Católica que conferem a ele certa autonomia.
Além de responsável pelo seu território paroquial, Lancellotti é vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. O cargo faz dele a pessoa de confiança do arcebispo Dom Odilo Scherer para coordenar as ações voltadas aos fiéis em situação de rua em toda a área da Arquidiocese, que compreende aproximadamente o centro expandido da capital.
Na tarefa confiada a ele, portanto, o vigário faz as vezes do bispo.
Especialista na hagiografia, ramo da história da igreja que descreve a vida dos santos, Lancellotti é um padre mais tradicional do que pensam seus críticos, afirma o coordenador do secretariado de pastoral da Arquidiocese, padre Tarcísio Marques Mesquita.
Embora seja mais frequentemente visto nas reuniões diárias com moradores de rua para distribuição de doações no pátio com bancos de madeira e imagem de bronze da Irmã Dulce, Lancellotti celebra missas nas quais faz questão de manter ritos litúrgicos antigos, como a queima do incenso.
Mesquita, 64, é confidente do colega de batina há 43 anos. Vez ou outra, sai da sua paróquia no Tatuapé para buscar o amigo no Belenzinho —Lancellotti não dirige– para um café com bolo.
Às vezes, a viagem é esticada até o centro, para distribuição de doações. "Esse é o tipo de passeio que o Júlio pede para fazer."
Mesquita enxerga o amigo como incompreendido por grande parte dos fiéis e isolado até mesmo entre o clero devido às falas duras, que refletem sua angústia e indignação.
"Ele trabalha há anos com um problema que, em vez de melhorar, recrudesce", diz. "Acho que é preciso melhorar o diálogo, mas é difícil dialogar com gente que abre a janela do carro, grita 'padre veado', e vai embora." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Mulher conquista pretendente na missa, em SC, após vídeo viral de 11 milhões de views 'nunca vou te esquecer'
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Thalía Mara, 'a menina que filmou o moço da igreja', e Marcelo Guarnieri começaram a se relacionar depois de uma publicação no TikTok
À esquerda, o flagra de Thalía durante a missa; à direita, ela e Marcelo em um jantar, dias depois — Foto: Captura de tela
Por O Globo — Rio de Janeiro
Uma história para lá de fofa tem dado o que falar nas redes sociais desde que um vídeo, feito em uma igreja católica, viralizou no TikTok com 11,3 milhões de visualizações. Tudo começou no último domingo, dia 28, quando a jovem Thalía Mara filmou um rapaz, até então desconhecido, assistindo à missa na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
O fiel em questão — que aparece distraído nas imagens ao som da música "Never Forget You", da banda britânica Noisettes — é Marcelo Guarnieri. "Para o homem que eu vi na igreja e não sei se verei novamente, que Deus te ilumine e te proteja", escreveu Thalía, junto a um emoji de coração.
A novela "amores da igreja", como o episódio foi apelidado por Marcelo, ganhou um novo capítulo já no dia seguinte, segunda-feira, quando ele recebeu o vídeo feito por Thalía, via WhatsApp, por meio de um colega.
O empresário, que sequer tinha perfil no TikTok, logo tratou de criar uma conta na plataforma para avisar à garota — e aos milhares de internautas que torciam pelo casal na postagem — ser ele o "rapaz da igreja". A partir daí, não demorou muito para que o primeiro encontro saísse.
Já na quarta-feira, os dois saíram para jantar em um restaurante de Balneário Camboriú, com direito a buquê de flores e comida japonesa. Desde então, a dupla tem feito questão de manter os seguidores informados sobre cada novidade da relação.
Até o pai de Guarnieri entrou na onda e declarou torcida ao casal em um vídeo publicado no perfil do filho, que já acumula 56 mil seguidores na rede social. "Graças a Deus, eu acho que ele desencalha agora. Vamos torcer para que dê certo", brincou
Com 39,8 mil seguidores no TikTok, Thalía também faz questão de responder a muitas das centenas de perguntas feitas diariamente nos comentários de seus vídeos. No post mais recente publicado no perfil da jovem, na tarde deste sábado, ela contou aos internautas que os dois têm um encontro marcado com a família dela no próximo domingo, dia 4.
"A gente se vê quase todos os dias. Quase sempre ele me manda uma mensagem dizendo 'cheguei', sem eu saber, e está lá embaixo [na porta do prédio de Thalía] me esperando. Estamos muito bem. Amanhã de manhã, vamos à missa juntos. Quem estiver por lá e quiser nos conhecer, será muito bem-vindo", afirmou. Fonte: https://oglobo.globo.com
Conheça o livro 'Nossa Senhora do Barraco', em que travesti vira profeta da favela
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Romance da argentina Gabriela Cabezón Cámara é o assunto da semana no Painel das Letras
SÃO PAULO
Uma protagonista travesti, que mora numa favela argentina, passa de repente a receber visões da Virgem Maria. E assim começa a fazer milagres que mudam a vida de todo mundo ali.
Esse é um gostinho do que oferece o romance "Nossa Senhora do Barraco", da premiada escritora argentina Gabriela Cabezón Cámara, um romance que mistura violentamente o sagrado e o profano.
A obra é o assunto da semana no Painel das Letras, série semanal produzida pela TV Folha e apresentada pelo colunista e editor Walter Porto, que indica livros de ficção e não ficção que acabaram de ser lançados.
Os vídeos são publicados todas as quintas-feiras nas redes sociais e no canal da Folha no YouTube. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Liberdade ameaçada
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O cerceamento da liberdade de expressão está presente nas escolas e nas universidades, nas empresas e na mídia, no governo e nas instituições democráticas
Há uma liberdade que determina a fronteira entre os regimes democráticos e os autoritários; cidadãos livres e súditos do Estado; países onde o poder do governo é limitado e nações nas quais reinam governos despóticos. Essa liberdade é a mãe de todas as liberdades; seu nome é liberdade de expressão. Há ditaduras que toleram a liberdade econômica, assim como existem governos autoritários que mantêm o verniz de fachada democrática por meio de realização de eleições. Mas nenhum regime antiliberal tolera a liberdade de expressão.
A liberdade de expressão é o pilar central da democracia. Por isso, ela é atacada por populistas, governos autoritários e movimentos antiliberais. O principal sinal da ausência da plena liberdade de expressão é o medo que reina no País. O cerceamento da liberdade de pensamento e de opinião está presente nas escolas e nas universidades, nas empresas e na mídia, no governo e nas instituições democráticas que deveriam defendê-la.
O pensamento crítico vem sendo sufocado nas universidades. Em vez de serem um local para aprender a conviver com a diversidade de opinião e a respeitar a pluralidade de ideias, colaboram para transformar alunos em cidadãos intolerantes e incapazes de aceitar o contraditório. Professores são impedidos de dar aula e palestrantes são barrados de falar, quando suas ideias e opiniões conflitam com os mantras antiliberais das seitas identitárias, da cartilha política do populismo autoritário e do mantra dos extremistas. Sem civilidade, tolerância e respeito, a liberdade de expressão é decepada e a democracia morre.
No setor privado, a liberdade de expressão deveria ser tratada como um ativo imprescindível para estimular o debate de ideias inovadoras. Mas, quando se levanta temas “perigosos” que resvalam em assuntos de cultura e de comportamento, a liberdade de expressão é cerceada. O descuido de um comentário pode levar à demissão de funcionários da empresa e corte de verba publicitária de veículos e de eventos que não estejam alinhados com o mantra do “politicamente correto”. A imprensa livre, que é a alma da verdadeira democracia, está cada vez mais aparelhada por pseudojornalistas que ignoram os fatos e a busca da verdade para temperar as notícias com suas preferências partidárias e ideológicas. Jornalistas sérios temem exercer a sua profissão e ser demitidos ou cancelados pela turba de censores extremistas.
Neste momento em que a liberdade de expressão está sendo sistematicamente violentada pela ignorância, intolerância e obscurantismo dos antiliberais, cabe às instituições agirem de maneira contundente para defendê-la. Mas o que estamos a assistir é ao lamentável espetáculo dos detentores do poder se comportando como inquisidores, em vez de defensores da liberdade. O governo alimenta a polarização política com seu discurso ideológico e sectário e intimida os críticos de seus projetos, como revelou a truculência contra os opositores do “Projeto de Lei das Fake News”.
O Supremo Tribunal Federal (STF) censura a liberdade de expressão ao decidir que veículos de imprensa podem ser punidos por declarações inverídicas de seus entrevistados. A decisão fere frontalmente os artigos 5 e 220 da Constituição, que garantem o direito pleno de liberdade de expressão, opinião e pensamento. De fato, o eixo central que norteou a Constituição de 1988 foi o repúdio absoluto à censura e a determinação dos constituintes de garantir plenamente os direitos individuais e a liberdade de expressão. Se Ulysses Guimarães, o pai da “Constituição Cidadã”, ressuscitasse, ficaria perplexo de ver o Supremo Tribunal Federal recorrer a um inquérito indigno de um regime democrático. A abertura de inquéritos por supostos crimes de opinião tornou-se um mecanismo inquisitório. A manutenção por prazo indeterminado e o objetivo indefinido do inquérito, a negação dos direitos de plena defesa dos acusados e as decisões arbitrárias ad hoc e sob o manto de sigilo do STF representam uma clara violação dos direitos individuais, da liberdade de expressão e dos fundamentos do Estado de Direito.
Não podemos nos calar ou tratar com indiferença os ataques à liberdade de expressão. Está na hora de agirmos e nos mobilizarmos para evitar que seitas de extremistas e governos populistas usem a democracia para cerceá-la. Defender a liberdade de expressão tornou-se a questão mais urgente para as nações democráticas. Ela é a representação máxima dos valores centrais da nossa civilização: a tolerância, o respeito, a civilidade, assim como o Estado de Direito, a democracia, o livre mercado e os direitos individuais. O assalto à liberdade de expressão é o primeiro passo para transformar um país democrático numa democracia de fachada.
Todas as vezes em que as democracias baixam a guarda e negligenciam a defesa da liberdade de expressão, os países são destruídos pelo populismo e ditaduras. Os nossos filhos e netos não merecem viver novamente esse pesadelo por causa da nossa falta de coragem de defender a liberdade de expressão.
*CIENTISTA POLÍTICO, AUTOR DO LIVRO ‘10 MANDAMENTOS – DO BRASIL QUE SOMOS PARA O PAÍS QUE QUEREMOS’, FOI CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Fonte: https://www.estadao.com.br
Carros são esmagados por caminhões durante operação pare e siga na BR-153; criança morreu
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Segundo a polícia, outros ocupantes dos veículos ficaram presos nas ferragens e foram socorridos. Caso aconteceu em José Bonifácio (SP) na tarde desta terça-feira (30).
Carros foram esmagados por caminhões na BR-153, em José Bonifácio (SP); criança morreu — Foto: Arquivo pessoal
Por g1 Rio Preto e Araçatuba
Carros são esmagados por caminhões na BR-153 em José Bonifácio; criança morreu
Dois carros foram esmagados por dois caminhões na altura do quilômetro 114 da BR-153, em José Bonifácio, no interior de São Paulo, no fim da manhã desta terça-feira (30). Uma criança de sete anos morreu no local.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o trecho da rodovia operava em sistema pare e siga. Seguindo as orientações de trânsito, um caminhão-tanque parou na pista, seguido por dois carros. Na sequência, um rodotrem bateu na traseira dos carros, que foram esmagados.
Em um dos veículos, com placas de Ubarana, havia dois ocupantes. Eles foram socorridos e levados à Santa Casa de José Bonifácio, ainda de acordo com a PRF. Segundo o hospital, o estado de saúde deles é considerado estável. Ambos foram encaminhados ao Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto (SP).
Um menino de 7 anos que estava no outro carro, com placas de Promissão (SP), morreu no local. A identidade dele não foi divulgada. Um casal estava no mesmo veículo e ficou preso nas ferragens por mais de uma hora.
Eles também foram levados e internados na Santa Casa. Conforme o hospital, a mulher está em estado grave, com várias fraturas, e foi entubada. Já o homem apresenta um trauma no tórax. Ambos foram encaminhados ao HB de Rio Preto.
A pista foi liberada na tarde desta terça-feira, segundo a PRF. Em nota, a Triunfo Transbrasiliana, concessionária que administra a rodovia informou que toda a rodovia é devidamente sinalizada seguindo todas as normas técnicas, inclusive, nas operações pare e siga. Fonte: https://g1.globo.com
Influenciadora digital de 37 anos morre vítima de dengue no Paraná
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Aline Barone Barbosa morava em Siqueira Campos. Secretaria municipal de saúde apura se mulher contraiu dengue na cidade ou em viagem a Curitiba. Estado registra alta no número de casos.
Por g1 PR e RPC Ponta Grossa
A empresária e influenciadora digital Aline Barone Barbosa, de 37 anos, morreu vítima de uma complicação cardíaca provocada por dengue. A informação foi confirmada pela secretaria municipal de Siqueira Campos, no norte pioneiro do Paraná, onde a mulher morava.
O falecimento aconteceu na sexta-feira (26) em um hospital da cidade de Jacarezinho, também no norte do estado, 12 horas após ela ser internada.
Aline Barbosa morava em Siqueira Campos — Foto: Arquivo pessoal
De acordo com o setor municipal de epidemiologia de Siqueira Campos, no final de semana anterior Aline viajou a Curitiba.
Na segunda-feira (22) ela começou a ter sintomas de gripe forte, na quinta (25) foi levada ao hospital de Siqueira Campos e logo foi transferida para o hospital de Jacarezinho, onde morreu na sexta (26).
Agora, a equipe de epidemiologia apura se o caso foi "autóctone", ou seja, contraído na cidade onde ela morava, ou se foi "importado", de Curitiba.
Aline foi sepultada no sábado (27) em Siqueira Campos. Ela deixou uma filha de 22 anos.
Casos de dengue no Paraná
O total de casos de dengue vêm subindo no Paraná nas últimas semanas.
No último boletim da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), divulgado no dia 23 de janeiro, foram indicados 3.911 novos casos e três óbitos causados pela doença em uma semana.
Uma mulher de 39 anos morreu em Mariluz, no noroeste do Paraná, um homem de 58 anos em Cornélio Procópio, no norte pioneiro, e um idoso de 82 anos em Cambé, no norte do estado.
O documento também indicava que outras 14 mortes registradas em janeiro estavam sob investigação.
Neste período epidemiológico da dengue, que iniciou em julho de 2023, o Paraná soma mais de 16.693 casos e pelo menos cinco óbitos confirmados.
Segundo a Sesa, dos 399 municípios do estado, 279, de todas as regiões, possuem casos de dengue confirmados.
Um novo boletim deve ser emitido nesta terça-feira (30).
Combate ao mosquito
A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que também pode causar outras doenças como zika e chikungunya.
A Sesa alerta para a necessidade de estar atento a possíveis criadouros do mosquito, eliminando locais de risco e evitando a propagação das doenças. Veja mais recomendações de combate à dengue. Fonte: https://g1.globo.com
O poder de uma sociedade unida
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35 anos da volta das diretas para presidente e 30 anos do real servem para lembrar que brasileiros são capazes de feitos extraordinários quando se unem em torno de objetivos comuns
Em 2024, completam-se 35 anos da retomada das eleições diretas para o cargo de presidente da República no País e 30 anos do Plano Real. Ambos os marcos históricos revelam, inequivocamente, que a sociedade brasileira é capaz de feitos extraordinários quando decide se unir em torno de propósitos comuns; quando é capaz de reconhecer que há questões de interesse nacional que se impõem às diferenças político-ideológicas que possa haver entre os cidadãos – de resto um atributo próprio de qualquer democracia vibrante.
Essa união dos cidadãos para reaver um direito político elementar e recuperar o valor de sua moeda, com o fim da hiperinflação, não surgiu por geração espontânea nem de longe foi obra do acaso. Tampouco derivou de diferenças essenciais entre o povo brasileiro de então – meados das décadas de 1980 e 1990, respectivamente – e o de hoje. O povo brasileiro segue o mesmo, com todas as suas potências e limitações.
O que, então, houve de diferente na mobilização da sociedade para superar um dos últimos resquícios da ditadura militar e para derrotar a inflação que havia décadas corroía a renda dos brasileiros, ampliava desigualdades e, como se não bastasse, desviava a atenção da Nação de outras questões tão ou mais graves? A resposta é simples: líderes políticos à altura dos desafios de seu tempo.
A redemocratização do País e, consequentemente, a retomada do direito de voto direto para a Presidência da República decorreram de um longo processo de negociações políticas e engajamento social que decerto teria outro desfecho não fossem a liderança e o espírito público de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, entre outros, àquela época.
De igual modo, o Brasil dificilmente teria vencido a hiperinflação sem que Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso tivessem a visão digna de estadistas de que aquele problema obstava o enfrentamento de todos os outros. E não só: sem que ambos os presidentes tivessem sido capazes de montar uma equipe altamente qualificada, dadas as credenciais técnicas e republicanas de seus membros, para auxiliá-los naquela faina. Destaca-se, por fim, a capacidade de comunicação de Fernando Henrique para dialogar com todos os cidadãos em termos compreensíveis, a fim de dar-lhes a dimensão do desafio a ser enfrentado e dos sacrifícios que haveriam de ser feitos em nome daquele objetivo coletivo.
As eleições indiretas e a hiperinflação ficaram para trás e, neste ano, a sociedade tem razões de sobra para celebrar ambas as conquistas: há eleições livres e periódicas no País e a inflação já não assombra os brasileiros como há mais de três décadas. Isso não significa, por óbvio, que não haja desafios tão ou mais prementes do que aqueles a demandar, hoje, a atenção coletiva. Desigualdades persistem em níveis obscenos, malgrado avanços pontuais nos últimos anos. A educação pública segue negligenciada, em particular o ensino básico. O medo da violência paralisa quase todos os brasileiros. A lista é longa.
O que parece não haver mais são estadistas imbuídos de um interesse genuíno de, mais uma vez, unir os brasileiros e concertar soluções para cada uma dessas mazelas. Os dois presidentes mais populares da história recente do País, Lula da Silva e Jair Bolsonaro, vivem de insuflar a cizânia entre os brasileiros, fazendo crer, cada um a seu feitio, que adversários políticos são inimigos a serem alijados do debate público. Ao contrário de unir os cidadãos em torno de propósitos comuns, tanto Lula como Bolsonaro reforçam o tribalismo – a união entre os que veem o País e o mundo pelas mesmas lentes – e a exclusão de quem pensa diferente.
Não haverá progresso enquanto novas lideranças não se erguerem inspiradas por espírito público e senso de união; e os cidadãos se deixarem seduzir pelo discurso populista, agrupando-se em identidades políticas estreitas e inflexíveis. Tanto pior no contexto em que crenças particulares, cada vez mais, se sobrepõem à verdade factual. Fonte: https://www.estadao.com.br
Jacobina chora a perda de Minita Montenegro: Artesã e poetisa de coração generoso
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A cidade de Jacobina foi envolvida por uma tristeza profunda na noite desta sexta-feira (26/01), com a notícia do falecimento da estimada artesã e poetisa, Minita Montenegro, aos 76 anos de idade.
O início da noite testemunhou a chegada de Minita à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jacobina, enfrentando sintomas de diarreia e dores abdominais. Rapidamente encaminhada para a sala vermelha, destinada a casos graves, Minita passou por procedimentos emergenciais na tentativa de reverter seu quadro clínico. Contudo, mesmo com a autorização para transferência para uma unidade hospitalar com suporte de terapia intensiva, o destino se mostrou implacável quando a ambulância chegou para conduzi-la ao Hospital Regional, culminando em seu falecimento.
Minita Montenegro, nascida em 8 de julho de 1947, no povoado de Tamboril, município de Morro do Chapéu, tornou-se parte integrante de Jacobina em 1961, construindo uma vida sólida ao longo de mais de 60 anos. Sua família, composta pelos filhos Fabiano Montenegro Sousa, Nara Rúbia Montenegro Souza e Edson José Montenegro Sousa, além de netos, testemunhou seu comprometimento com a comunidade.
No ano passado, Minita Montenegro recebeu o honroso título de Cidadã Jacobinense da Câmara Municipal, reconhecimento merecido por sua dedicação e impacto positivo na região. Seu legado vai além das fronteiras da cidade, abraçando a voz das minorias e defendendo incansavelmente os menos favorecidos por meio de diversas campanhas sociais.
A voz marcante de Minita ecoava pelas emissoras de rádio de Jacobina, sendo uma referência constante na promoção de campanhas solidárias para auxiliar os mais necessitados. Sua abnegação a levava às periferias da cidade, percorrendo-as na garupa de uma moto para distribuir cestas básicas, medicamentos e, acima de tudo, palavras de amor e conforto.
Jacobina perde uma grande mulher, e o mundo se despede de um ser humano iluminado, alguém que semeou a bondade sem olhar a quem. Vá com Deus, Minita Montenegro. Chegou a sua vez de descansar. O seu legado continuará a brilhar nas vidas daqueles que foram tocados por sua generosidade e compaixão. Fonte: https://www.jacobina24horas.com.br
Carnaval de Salvador reverencia blocos afro e terá encontro de trios
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Abertura da festa, na praça Castro Alves, contará com desfiles de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê, que completa 50 anos
Desfile do Ilê Aiyê, bloco afro que completa 50 anos, no Caranaval 2018 - Fafá Araújo /SecultBA
SALVADOR
O centro de Salvador será o coração da festa em 8 de fevereiro, abertura oficial do Carnaval. Nas primeiras horas da tarde, foliões virão das ruas Chile, Carlos Gomes, avenida Sete e ladeira da Montanha, vias históricas que serão como artérias que pulsam em direção à praça Castro Alves.
De um lado da praça, estarão as estátuas de Dodô e Osmar, inventores do trio elétrico e de Gregório de Matos, o boca do inferno. Do outro, o busto de Castro Alves, poeta dos escravos, com sua mão espalmada. Em todos os lados, estará a memória de Moraes Moreira, símbolo daquele pedaço da cidade.
O pôr do sol vai emoldurar o horizonte quando Ivete Sangalo, BaianaSystem, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê darão início ao Carnaval de um jeito que ele costumava terminar: com um encontro de trios elétricos.
Em 2024, Salvador vai reverenciar suas tradições. A cidade vai celebrar os 50 anos do Ilê Aiyê, primeiro e mais importante bloco afro da capital baiana, símbolo de resistência na cultura e na política.
Os Commanches do Pelô também completam meio século de avenida, o Olodum faz 45. Daniela Mercury rememora 40 anos de carreira no mesmo ano em que os foliões recordam os 30 anos da canção de Tonho Matéria que foi sucesso seminal do pagodão baiano.
A expectativa é de ruas lotadas, representando o ápice de um verão que já é um dos mais movimentados dos últimos anos e que deve atrair aproximadamente 800 mil turistas, injetando cerca de R$ 2 bilhões na economia da cidade.
Oficialmente, o Carnaval começa em 8 de fevereiro e se estende por sete dias até a Quarta-Feira de Cinzas. Na prática, contudo, uma conurbação de datas festivas resultará em um calendário com festas de rua entre 1º e 14 de fevereiro.
A festa antecipada começa no primeiro dia do mês, com a Lavagem de Itapuã, e prossegue com a Festa de Iemanjá, que desde o raiar do dia tomará as ruas do Rio Vermelho em 2 de fevereiro, saudando a rainha dos mares.
No fim de semana anterior ao Carnaval, os bairros de Ondina e Barra serão palco dos desfiles pré-carnavalescos Fuzuê e Furdunço.
No sábado (3), as ruas abrirão alas para grupos culturais e folclóricos de Salvador, Recôncavo e Baixo-sul, dentre eles as Caretas de Cairu, a Chegança dos Marujos, a Barquinha de Bom Jesus dos Pobres e o grupo cultural Zambiapunga.
No dia seguinte, será a vez do Furdunço com o desfile de minitrios. Participam bandas como Olodum, Psirico, Jammil e o cantor Gerônimo, mas o ponto alto é a já tradicional apresentação da BaianaSystem, um dos desfiles mais concorridos do período festivo em Salvador.
No domingo (4), o centro protagoniza o Banho de Mar à Fantasia, que percorrerá as ruas do centro antigo da cidade até a Praia da Preguiça.
A Melhor Segunda-Feira do Mundo, ensaio liderado por Xanddy Harmonia, toma a avenida no dia seguinte. Na terça, será o dia de Leo Santana comandar um trio elétrico no mesmo trajeto com o seu Pipoco. Na quarta, saem os trios e entram as bandas de fanfarra. E a festa oficial ainda nem começou.
A partir da abertura, na quinta, com a entrega simbólica das chaves da cidade para o Rei Momo, o Carnaval se espalha pelos circuitos Barra-Ondina, Campo Grande, Pelourinho e Nordeste de Amaralina, além de shows espalhados por diversos bairros da cidade.
Este ano, a homenagem à cultura afro-brasileira dará o tom da festa e estará presente nos desfiles e na decoração dos circuitos. O governo do estado celebra os 50 anos dos blocos afro com o tema Nossa Energia É Ancestral. A prefeitura, por sua vez, escolheu como tema Salvador Capital Afro.
"Estou muito feliz porque finalmente Salvador está assumindo a sua cara preta. É muito bonito dizer que aqui é a Roma Negra, mas chegar nos eventos e parecer que estamos em uma cidade europeia. O bloco afro não é só Carnaval", afirmou Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê.
No sábado de Carnaval, a saída do Ilê no Curuzu, bairro da liberdade, promete ser um dos pontos altos da festa. Outros blocos como o Cortejo Afro, Didá, Muzenza, Malê Debalê e o afoxé Filhos de Gandhy também ganham as ruas nos circuitos do Campo Grande e Barra-Ondina.
Ao todo, serão 700 atrações nos circuitos oficiais da festa e mais 400 apresentações em palcos nos bairros. Um dos destaques será o retorno de Gilberto Gil aos trios elétricos. O ex-ministro da Cultura conduzirá um desfile junto com a atual ministra da pasta, Margareth Menezes, e o cantor Chico César, que foi secretário de Cultura na Paraíba. A iniciativa foi batizada de Trio da Cultura.
Artistas como Daniela Mercury, Ludmilla, Carlinhos Brown, Durval Lelys, Saulo, Luiz Caldas, Armandinho Baby do Brasil e bandas como Timbalada e Araketu também desfilam sem cordas e abadás nos principais circuitos da cidade.
A praça Castro Alves, coração da festa, terá show de Pitty e uma apresentação conjunta de Davi Moraes e Pepeu Gomes no pôr do sol.
A festa encerra na quarta-feira (14) com desfiles de Bell Marques e Carlinhos Brown. Idealizador do arrastão na Quarta-Feira de Cinzas, Brown pretende unir integrantes do Ilê Aiyê, Olodum e Apaches do Tororó junto a 500 percussionistas para celebrar a cultura afro-baiana. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A morte segundo Nelson
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Nelson Rodrigues tinha um caso de amor com a morte, óbvio nas suas muitas frases sobre ela
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Sobre o furto, há dias, do busto de Nelson Rodrigues no Cemitério São João Batista, arrisquei aqui que ele veria nisto uma consagração. Houve quem duvidasse. Mas Nelson tinha uma relação especial com a morte. Eis algumas de suas grandes frases sobre ela.
"A morte é anterior a si mesma. Começa antes, muito antes. É todo um lento, suave, maravilhoso processo. O sujeito já começou a morrer e não sabe." "Morrer significa, em última análise, um pouco de vocação. Há vivos tão pouco militantes que temos vontade de lhes enviar coroas." "Na hora de morrer, e quando sabe que está morrendo, todo homem tem um olhar de contínuo." "O sujeito procura esquecer que o homem é também o seu próprio cadáver." "Há na morte por intoxicação alimentar um inevitável toque humorístico, que humilha o cadáver e compromete o velório."
"Há em qualquer infância uma antologia de mortos." "A morte natural é própria dos medíocres. O medíocre morre de gripe, de pneumonia ou da empada que matou o guarda. Já o grande homem morre tragicamente. Veja Lincoln, Gandhi, Kennedy." "Há uma inteligência da morte, assim como há uma bondade da morte. O que vai morrer já olha as coisas, as pessoas, com a doçura do último olhar. Eu diria que é a saudade antes do adeus." "Nada mais falso do que o medo de morrer, e eu diria que fazemos tudo para morrer o mais depressa possível. Os nossos hábitos, os nossos usos, os nossos vícios, as nossas irritações mal disfarçam a vontade, a urgência, a fome da morte."
"A solidão do morto não começa no túmulo. Para qualquer morto, a pior forma de solidão é a capela. As pessoas abandonam o velório e vão tomar cafezinho, refrigerantes, comer sanduíches. A morte tem por fundo um alarido de xícaras e pires." "Não há morto canastrão. Vestido de noivo, com sapatos engraxados, todo morto tem a face, o ríctus, o perfil do grande ator."
Não são lindas de morrer? Fone: https://www1.folha.uol.com.br
Chuvas interditam trecho da Via Dutra no Rio; veja rotas alternativas à rodovia
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Temporais danificaram a pista de subida da Serra das Araras, interrompendo o tráfego para SP
Fechamento da Rodovia Presidente Dutra realizada na altura de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, neste domingo (21) - Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress
RIO DE JANEIRO
As fortes chuvas que atingiram o estado do Rio de Janeiro neste domingo (21) danificaram a pista de subida da Serra das Araras da rodovia Presidente Dutra, que liga a capital fluminense a São Paulo, interrompendo o tráfego na pista rumo à capital paulista.
Desde o fim da manhã, a pista de descida, rumo ao Rio de Janeiro, vem operando em sistema de pare e siga, com mudança no sentido do tráfego a cada 60 minutos e passagem dos veículos em comboio. Caminhões cegonha ou com mais de nove eixos estão impedidos de passar.
Não há previsão para liberação total da pista, e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) pede que os motoristas busquem alternativas à Serra das Araras.
No sentido São Paulo, veículos devem viajar pela BR-040 (Rio-Juiz de Fora) até Três Rios, de onde devem seguir para a BR-393 até Volta Redonda e, de lá, pegar a Dutra. Veículos leves podem subir para a Dutra em Angra dos Reis ou pegar estradas estaduais para atingir a rodovia na altura de Piraí, depois da interdição.
Quem estiver indo para o Rio precisa fazer o caminho contrário. Veículos pesados devem acessar a BR-393 em Volta Redonda e, depois, a BR-040 em Três Rios. Veículos leves devem optar por sair da Dutra em Barra Mansa rumo a Angra dos Reis.
É a segunda interdição de estrada de acesso ao Rio após temporais este mês. Na semana passada, trecho da BR-040 em Duque de Caxias foi interditado por alagamento, deixando motoristas por cerca de dez horas parados à espera de solução.
No decorrer do dia, a concessionária abriu desvios no canteiro central e uma faixa reversível para conseguir desafogar o tráfego. A empresa entrou na mira do governo estadual, que prometeu acionar o governo federal cobrando soluções para o problema.
INMET EMITE ALERTA DE CHUVAS INTENSAS PARA 9 ESTADOS
Neste domingo, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu alertas de chuvas intensas em duas grandes áreas que abrangem nove estados brasileiros. O alerta prevê riscos de corte de energia elétrica, queda de galhos ou árvores, alagamentos e descargas elétricas.
Um deles abrange uma área que vai do norte do Rio de Janeiro ao sul da Bahia, se estendendo até a região do Triângulo Mineiro, no oeste de Minas Gerais. O outro envolve o norte de Mato Grosso, sul do Pará e partes dos estados de Rondônia, Amazonas e Acre.
O Inmet recomenda que, em caso de rajadas de ventos, os cidadãos evitem se abrigar debaixo de árvores ou estacionar perto de torres de transmissão de energia ou placas de propaganda. Se possível, diz, é bom desligar aparelhos elétricos ou quadros gerais de energia de casa.
Em São Paulo, as fortes chuvas que atingiram todo o estado desde a última quinta (18) já deixaram quatro mortos e 492 pessoas desabrigadas. Segundo a Defesa Civil, 15 municípios foram mais severamente afetados pelos temporais.
A previsão é de que as chuvas continuem em todo o estado nos próximos dias. Neste domingo (21), há condições para precipitações a qualquer momento do dia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ele levou tiro e conta só ter descoberto bala na cabeça após 4 dias: ‘Doeu mesmo ao tirar os pontos’
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Ele levou tiro e conta só ter descoberto bala na cabeça após 4 dias: ‘Doeu mesmo ao tirar os pontos’
Quando passava réveillon no litoral do Rio, rapaz achou que tinha levado uma pedrada, mas só teve o projétil extraído quando já estava em Juiz de Fora, sua cidade natal
Recuperação tem sido boa, diz o jovem, que pretende estudar Medicina Foto: Arquivo Pessoal/Mateus Facio
Por Aline Reskalla
Era por volta de 18h30 do dia 31 de dezembro quando o estudante mineiro Mateus Facio, de 21 anos, que curtia a praia com os amigos em Cabo Frio (RJ), sentiu uma pancada na cabeça. Com o impacto, ele sentou no chão e, junto com o grupo, tentou localizar o que pensava ser a pedra que o atingira. Os rapazes não encontraram pedra nenhuma e concluíram que o objeto teria sido encoberto pela areia.
O pequeno sangramento logo estancou, e Mateus seguiu com os planos para a noite: passar o réveillon em Búzios, cidade vizinha a Cabo Frio. Ele foi para o apartamento, tomou banho, se aprontou e partiu para a balada, onde curtiu a virada do ano e “tomou todas”, conforme relata. No dia seguinte, ainda passou o dia em outra praia próxima.
O estudante conta que só foi descobrir que havia levado, na verdade, um tiro na cabeça quatro dias depois, quando já estava em casa, no município mineiro de Juiz de Fora. Ele mesmo quem dirigiu de Cabo Frio a Juiz de Fora, no dia 2.
Foram sete horas de viagem para uma distância de 300 km, tempo maior que o normal devido ao congestionamento típico dessa época nas estradas.
“Voltei dia 2 porque tinha que trabalhar no dia 3″, afirma Facio. “Eu estava normal. Foi só no dia 4 que meu braço começou a ter movimentos involuntários, se mexendo sozinho. Achamos aquilo estranho e fomos ao médico. Como aparentemente era uma convulsão, ele pediu ressonância e aí descobrimos.”
Era um projétil de 9 mm, alojado no crânio. “O que me disseram é que o cérebro percebeu que havia um corpo estranho naquele local, que estava começando a afetar o sistema nervoso, por isso a convulsão”, conta.
Ele foi imediatamente encaminhado para Unidade de Tratamento Intensivo do hospital, onde passou por um procedimento para retirada da bala. “Minha mãe ficou dois dias sem dormir depois que descobriu, só chorava. Ninguém acreditava que aquilo tinha acontecido.”
Segundo ele, a hipótese mais provável é que alguém tenha dado um tiro para o alto, pois o projétil atingiu a parte de cima da cabeça. “É a única explicação. O tiro veio de longe, num ângulo de 180º”.
O estudante, que deixou o curso de Administração de Empresas e vai cursar Medicina este ano, disse que agora tem dois aniversários: 4 de janeiro e 17 de maio, data em que nasceu. “Nasci de novo. Parece que não senti a gravidade do que aconteceu até agora. Só doeu mesmo quando tirei os pontos.”
“Parte dela penetrou no cérebro. Isso causou compressão da região e os movimentos involuntários no braço”, afirmou ao Jornal Nacional, da TV Globo, Flávio Falcometa, responsável pela extração da bala na cabeça do jovem. Segundo o médico, por uma distância de poucos milímetros o projétil não causou um dano mais grave.
O Estadão não conseguiu contato com o cirurgião. O rapaz teve alta três dias após a cirurgia e já leva uma vida praticamente normal. Fonte: https://www.estadao.com.br
Igreja e Estado
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Teses persecutórias contaminam debate sobre a tributação de pastores evangélicos
Fachada do prédio da Receita Federal, em Brasília (DF) - Antonio Molina/Folhapress
Sob Jair Bolsonaro (PL), a Receita Federal editou norma publicada em agosto de 2022 que ampliava a isenção tributária para ministros de confissão religiosa. Naquele mesmo mês, em seu primeiro ato de campanha pela reeleição, o então mandatário disse a lideranças religiosas que a medida encerrava uma "perseguição" às igrejas.
O ato do fisco —ali indevidamente politizado— disciplinava a interpretação de um dispositivo da lei 8.212/91 que libera da cobrança de contribuição ao INSS valores recebidos por padres, pastores e congêneres, desde que as somas tenham relação com a atividade religiosa e não dependam da natureza e da quantidade de trabalho.
Ao longo dos anos, divergências na leitura desse dispositivo provocaram um contencioso entre entidades, em particular ligadas aos evangélicos, e a Receita, para a qual o texto era utilizado como brecha para distribuir remunerações variadas aos pastores.
Em 2015, chegou-se a aprovar um adendo na lei para orientar a interpretação das condições para o benefício tributário. Não foi o bastante para pacificar a questão, o que levou o fisco a editar o ato do ano retrasado.
Nesta semana, no entanto, a Receita decidiu suspender aquela norma, provocando reações raivosas de expoentes da bancada de parlamentares evangélicos do Congresso Nacional —que optaram por tratar o caso como um confronto entre a igreja e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"É um ato político do governo da esquerda, que quer voltar à velha prática da chantagem", declarou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), correligionário de Bolsonaro.
A Receita atribuiu sua medida a um processo sobre o caso em curso no Tribunal de Contas da União (TCU); a corte divulgou nota para esclarecer que ainda não tomou decisão definitiva. Em qualquer hipótese, não se justifica partidarizar uma deliberação técnica.
Desde 1946, as Constituições brasileiras têm fixado limites à taxação das igrejas. O alcance desse princípio deve estar disciplinado na legislação, e seu cumprimento precisa ser monitorado por órgãos de Estado —garantidos, é claro, os canais de defesa e contestação.
Do ponto de vista da justiça tributária, a demanda por mais benefícios para templos e ministros dificilmente será defensável. O apelo a teses persecutórias, farsescas vindas de uma bancada politicamente poderosa, só avilta o debate.
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Por que a chuva que deixou 11 mortos foi tão intensa no Rio? Entenda
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Passagem de frente fria tem ligação com formação de temporal que atingiu a capital fluminense e cidades do entorno
O temporal que atingiu cidades do Rio de Janeiro, e na sexta-feira já tinha afetado cidades paulistas, ocorreu em razão do avanço de uma frente fria. O deslocamento encontrou uma área de baixa pressão, de acordo com explicação do meteorologista Heráclito Alves, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), favorecendo as fortes chuvas. No Rio, onze morreram; em São Paulo, houve duas mortes.
“Esses temporais no Sudeste entre a noite de sexta-feira e a noite de ontem (sábado) já estavam previstos desde a semana passada”, explicou Alves. O resultado da frente fria com a área de baixa pressão, acrescentou, “é a formação de nuvens de temporais e muita chuva”.
“Além disso, tivemos temperaturas muito altas ontem, o tempo muito abafado, o que ajudou ainda mais a intensificar as chuvas. Por isso, em alguns lugares, tivemos temporais com muito volume de chuva em pouco tempo e isso traz transtornos tremendos”, ressaltou.
A estação meteorológica de Anchieta atingiu o acumulado de 259,2 milímetros de chuva no período de 24 horas, o recorde em toda a série histórica do Sistema Alerta Rio (desde 1997) naquela estação meteorológica. O acumulado foi aproximadamente 40% maior do que a média histórica de janeiro naquela região - em apenas um dia choveu 138,4% da média de janeiro.
No Rio, a prefeitura decreto estado de emergência em decorrência dos estragos provocados na cidade. A Avenida Brasil chegou a ficar totalmente bloqueada, tendo sido liberada somente no início da tarde deste domingo. O temporal foi mais intenso em bairros da zona norte e nas cidades da Baixada Fluminense.
Onde aconteceram as mortes pela chuva no Rio?
- Em Ricardo de Albuquerque, um homem foi vítima de um desabamento provocado por um deslizamento de terra, na madrugada deste domingo, na Rua Moraes Pinheiro.
- Em Acari, uma mulher adulta foi encontrada morta na Rua Matura, 279, possivelmente vítima de afogamento.
- Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, outra vítima feminina foi resgatada em um rio, próximo à Rua General Rondon. Na mesma cidade, um homem foi à obito por afogamento na Rua Patricia Cristina, em Vila São Luis.
- Em São João de Meriti, também na Baixada, um homem foi vítima de uma descarga elétrica na Rua Neuza. Na mesma cidade, autoridades registraram um afogamento.
- Em Comendador Soares, próximo à passarela da Rua Bernardino Melo, outro homem foi resgatado sem vida por militares, com sinais de afogamento.
- Em Belford Roxo, outra morte foi registrada.
- Em Duque de Caxias, houve três mortes. Um homem foi vítima de descarga elétrica na Rua Marquês de Paranaguá e outro morreu pela mesma razão na Rua Dona Alice Viterbo, em São Bento. A terceira vítima foi uma mulher atingida por um soterramento na Estrada de Botafogo.
O meteorologista acredita que, a partir de agora, a tendência seja de redução da intensidade de chuva ao longo da semana, com o deslocamento da área de baixa pressão para o oceano.
Na sexta-feira, o temporal deixou duas pessoas mortes em São Paulo. Um idoso morreu após um soterramento em São Bernardo do Campo. Além dele, uma criança morreu quando uma enxurrada atingiu um veículo na cidade de Juquitiba, no interior. Na semana passada, um homem de 62 anos morreu eletrocutado ao ser atingido por um fio durante um temporal em Moema, na zona sul da capital paulista. Fonte: https://www.estadao.com.br
Vereador, pra que te quero
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Câmara Municipal de Rio e São Paulo é povoada por políticos capazes de confundir números primos com o número de parentes
Câmara de Vereadores do Rio — Foto: Luis Ernesto Magalhães
Sempre me pergunto: o que Carlos Bolsonaro pensa sobre moradia popular? Qual sua posição a respeito da mobilidade urbana? Será que é a favor ou contra a ampliação das calçadas em zonas centrais? Ninguém sabe, ninguém viu. Curiosamente, nesse caso ele está limpo. A culpa não lhe cabe diretamente (jamais pensei que o inocentaria alguma vez), mas pertence, sim, ao sistema eleitoral e ao próprio eleitor, quando não dá importância ao cargo de vereador em metrópoles como Rio ou São Paulo.
Enquanto se cai na gaiatice de Deus, pátria e família evangélica, a Câmara Municipal das duas cidades é povoada por políticos capazes de confundir números primos com o número de parentes apaniguados (parece o caso do governador de Santa Catarina). Por trás das fake news de Damares e assemelhados — crianças com dentes arrancados para sexo oral ou a “mamadeira de piroca” —, entre outras razões escusas, se esconde a estratégia de poluir o ambiente com preconceitos para fugir a temas administrativos mais elaborados. O professor da turma, reprovado nas provas de oficialato, já expressou seus conhecimentos - 4% negativos + 5% positivos = 9% positivos. Ah, Jair.
O número de habitantes no Rio — 6,2 milhões, pelo Censo de 2022 —, ou em São Paulo — 11,5 milhões, também pelo IBGE —, além de igualar ou superar a população de países inteiros — Paraguai ou Portugal —, revela a complexidade dos temas colocados na mesa. Não adianta rezar, porque não será o santo a inspirar soluções para as cracolândias.
Basta uma comparação: só a população paulistana equivale à de 2.354 municípios brasileiros — o que nos faz lembrar: em nenhum outro momento da História humana ocorreu tamanha concentração de almas num único espaço. Por certo, gigantismo populacional — ainda mais em cidades do Terceiro Mundo — resulta em problemas cuja solução não deveria ser respondida com esgares voluntariosos, orientados pelo preconceito ideológico. Portugal, o país da moda no Brasil, extinguiu já há alguns anos seus lixões, enquanto no Rio ou em São Paulo a prosaica coleta seletiva de lixo é questão para o futuro, adiada até a chegada da vida eterna. Não fossem catadores autônomos, abrigados em cooperativas ou ONGs odiadas pela extrema direita, a reciclagem de papel, latas de alumínio, vidros e garrafas PET, a depender de visão estratégica da maioria dos vereadores, estaria na expectativa de um inesperado milagre.
Até o momento, a polarização política é exercida por bolsonaristas e petistas como campo de luta e tema para as próximas eleições municipais. Numa tentativa de repetir o embate do pleito presidencial, as duas forças buscam levar o debate a uma escolha entre extrema direita e esquerda. De novo, é a estratégia de sujar o ambiente com fake news. Ou até de recorrer a estratagemas mais inusitados. Temos de lembrar que o Bolsonaro de melhores sinapses, o senador Flávio, posto diante de problemas municipais, preferiu desmaiar ao vivo e em cores, no colo da deputada Jandira Feghali, a responder a uma pergunta mais sofisticada durante um debate pela prefeitura carioca.
As duas metrópoles enfrentam há anos questões com moradia — problema agravado ainda pela pandemia. Nova York, internacionalmente conhecida por ser cidade comunista, e muito rica, testou ao longo de várias gestões propostas urbanísticas para enfrentar o problema. Uma delas, na administração de Michael Bloomberg, permitiu que novos empreendimentos em áreas nobres pudessem ter mais andares. A contrapartida: o prédio deveria contar com blocos de apartamentos populares oferecidos pela prefeitura dentro de um programa de aluguéis sociais (mais baratos), destinados às classes pobres da população.
Nova York tem outras experiências na área habitacional. Com a chegada do home office, e o esvaziamento das grandes lajes corporativas, para desespero dos bancos e dos magnatas da tecnologia, proprietários de parte de Manhattan, discute-se o reaproveitamento do que foram imensos escritórios. Muitos devem ser transformados em edifícios residenciais — e, de novo, os legisladores da cidade colocam a questão do uso social na discussão.
Em São Paulo, a afamada Câmara Municipal refez o plano diretor dando permissão para construir gigantescos prédios nas áreas onde antes havia casas, a maioria delas com comércio de rua. Durante a discussão, não se falou em contrapartida social, como fizeram os nova-iorquinos.
Em tempo: Bloomberg proibiu o uso de buzina na cidade. Além de pagar do próprio bolso o almoço de seus assessores. Fonte: https://oglobo.globo.com
O que podemos aprender com a prática do padre Júlio?
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Política pública deve fortalecer o acolhimento e ajudar na construção da autonomia
Padre Júlio Lancellotti em homenagem pelos mais de 40 anos dedicados aos direitos humanos - Marlene Bergamo/Folhapress
Mestre em Economia Aplicada pela USP, é professora do Insper e foi secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo
O que tem causado o aumento recorde de pessoas em situação de rua?
Como relatei na última coluna, sabemos que os estados brasileiros com o maior número de pessoas em situação de rua por habitante são os mais ricos, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, enquanto os mais pobres têm menor incidência, segundo o Cadastro Único do governo federal.
Sabemos também, a partir dos relatórios da Rede de Política Social Europeia, que a população em situação de rua cresceu 15% ao ano na Alemanha e 14% na Inglaterra.
Por último, sabemos que no Brasil a taxa de crescimento da população em situação de rua é de 12% ao ano (um crescimento gradativo desde 2012) e que o comportamento da pobreza, aqui entendida como o perfil dos beneficiários do Bolsa Família, é muito diferente. Numa rota de oscilação entre altas e baixas, o número de famílias com menos de R$ 218,00 per capita foi de 14,6 milhões em 2012 para 14,2 milhões no ano passado.
É possível que estejamos frente a um fenômeno de histerese, a tendência de um sistema conservar suas propriedades na ausência do estímulo que as gerou. Uma vez que houve um agravo na pobreza, em 2019 e em 2021, as pessoas que passaram a ficar na rua não conseguiram reverter a situação no período, mesmo com o recuo geral da pobreza.
Dados indicam que antes de irem para a rua, essas pessoas tinham casa e família, e que alguma ruptura as levou a essa condição. Um censo realizado pela cidade de São Paulo com a população em situação de rua em 2021 mostrou que 50,2% das pessoas vivenciaram algum rompimento de vínculo com a sua comunidade, como conflitos familiares e separações motivadas por diferentes causas, antes de irem para a rua.
Eventos drásticos podem ter ocorrido nesses núcleos familiares, gerando rompimentos tão agudos quanto. No entanto, essas situações não acontecem desde sempre? Havia menos ruptura familiar ou havia mais espaço de acolhimento? O que mudou para a situação alcançar esse patamar?
Em capítulo do livro "Tinha uma pedra no meio do caminho: invisíveis em situação de rua", o padre Júlio Lancellotti escreve: "temos a intolerância da política, a intolerância na retórica do ódio. Mas há uma retórica do ódio que está sendo internalizada e se explicita no relacionamento humano, na incapacidade de conviver."
Talvez estejamos perdendo a força da rede de apoio e da convivência, em especial entre as famílias mais vulneráveis. Em caso de separação, uma pessoa rica provavelmente irá morar sozinha. Uma pessoa pobre não tem como recorrer a essa alternativa.
A principal prática de Júlio Lancellotti é ofertar acolhimento e pertencimento. Grande parte de sua atuação envolve comida e alojamento, mas também a reconstrução de vínculos com a família e com a sociedade. Esses passos são, sem dúvida, primordiais para a recuperação de uma pessoa. Ao acolher, ele abre espaço para que o cidadão se encaminhe para a autonomia.
A política pública deveria começar com uma equação semelhante, de fortalecer o acolhimento, o atendimento de saúde e o apoio à reinserção familiar para, então, auxiliar na construção de uma vida nova independente. Não aprender com o padre é perder tempo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Guia de turismo, pastor e músico: quem são as vítimas do acidente com 25 mortos na BA
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Guia de turismo, pastor e músico: quem são as vítimas do acidente com 25 mortos na BA
Caminhão bateu de frente em ônibus de turismo que voltada da Praia de Guarajuba, no litoral do estado
Vítimas do acidente entre ônibus de turismo e caminhão na Bahia — Foto: Reprodução
Por
Ana Clara Serafim* Júlia Cople, Pâmela Dias e Paulo Assad — Rio de Janeiro
Uma guia de turismo, um presbítero, uma diaconisa e um músico são algumas das vítimas do acidente entre um micro-ônibus e um caminhão que transportava mangas, na noite deste domingo, na BR-324, em trecho da cidade do São José do Jacuípe, no norte da Bahia. A colisão frontal aconteceu quando o veículo que transportava passageiros voltava de uma excursão à praia de Guarajuba.
Entre as vítimas identificadas até o momento está a guia turística Michele Silva, de 30 anos. A informação foi confirmada por João Daniel da Conceição, advogado da família da vítima, que é dona da empresa Naldo Transportes, responsável pelo ônibus que fazia a viagem.
De acordo com o advogado, Michele agendava as excursões e fazia os contratos. O pai era o dono da empresa, mas eles tinham uma relação comercial. Ainda segundo da Conceição, a documentação do veículo estava em dia, e o ônibus havia passado por uma vistoria da agência reguladora há menos de 30 dias. Quem dirigia o ônibus no momento do acidente era João Nilson, que também faleceu.
ACIDENTE COM 25 MORTOS NA BA
Ao menos 25 pessoas morreram em um acidente envolvendo um caminhão carregado de manga e um ônibus de turismo, na noite de domingo, na BR-324, em trecho da cidade do São José do Jacuípe, no norte da Bahia, a cerca de 290 km de Salvador.
O acidente aconteceu por volta das 22h30, no km 381, próximo da cidade de Gavião, no sentido de Jacobina.
O coletivo estava fazendo o trajeto de Guarajuba para Jacobina. Um dos feridos foi levado para o hospital da cidade de Capim Grosso e as outras cinco para uma unidade de saúde de Nova Fátima.
Eles faziam esses percursos quase que mensalmente entre grupos de amigos que se unia para conhecer praias. No Ano Novo, por exemplo, foram para outra cidade: Morro de São Paulo.
Presbítero e esposa também estavam no ônibus
Uma família que frequentava a Assembleia de Deus Madureira Jacobina também está entre as vítimas. Os três familiares, identificados por amigos nas redes sociais como presbítero Erivaldo, diaconisa Tatiane e o filho, Emanuel, são descritos como "uma família abençoada, de Deus".
A igreja que frequentavam, Assembleia de Deus Madureira Jacobina, publicou uma nota de pesar nas redes sociais. Fiéis e amigos que compartilhavam a fé com a família deixaram mensagens de luto nos perfis da congregação.
"Pb. Erivaldo, Dca. Tatiane, Emanuel. Deixaram Registrado nesse Ministério, em nosso convívio a sua História! Fiés dizimistas, ofertantes, ajudadores, comprometidos, empenhados, servos do Senhor. Só nos resta estarmos juntos em oração por todas as famílias enlutadas nesse momento de dor, lágrimas e luto!", compartilhou o pastor Mickael Lima, amigo da família.
Saxofonista fez último show no Réveillon
O saxofonista Gleidson Andrade também está entre as vítimas fatais. Ele tocava na banda do cantor Davi Lucca, com quem fez show no Réveillon. Autodeclarado flamenguista, o último post de Gleidson foi tocando saxofone.
Em seu perfil nas redes sociais, Davi Luccas prestou homenagem ao amigo, que o acompanhava na carreira desde 2018.
"Meu amigo agora tá com papai do céu. Foi uma das melhores pessoas que eu tive o prazer de conhecer. Meu irmão da vida, do trabalho, da carreira, de sonhos. Estava comigo desde o início em 2018 até o nosso último show no Réveillon... Te amo irmão, obrigado por sempre acreditar em mim", escreveu o cantor.
Casal e duas filhas voltavam de Guarajuba no ônibus
Quatro membros da família Grassi estavam no ônibus que colidiu com o caminhão no acidente. O casal, Amarilia Lima Grassi e Edmilson Alencar dos Santos, junto com duas filhas, Sabrina e Maysa Grassi, estavam a bordo. Maysa Grassi foi encaminhada para uma unidade de saúde e está internada, porém, os outros familiares morreram no local do acidente.
Nas redes sociais, as fotos do fim de semana da jovem Sabrina Grassi na Praia de Guarajuba ainda estão disponíveis para os seguidores. A jovem andava a cavalo e compartilhava registros da rotina com o esporte, que dividia com a irmã, Maysa Grassi.
Em um perfil, outra filha do casal, Aíla Grassi, afirma estar de luto pelos familiares e sem condições de falar a respeito.
Acidente na BR-324
Segundo a Brigada Voluntária Anjos Jacuípenses, entre as vítimas fatais — 21 passageiros do ônibus e três pessoas que estavam no caminhão — há uma gestante. Outras seis ficaram feridas.
O coletivo estava fazendo o trajeto de Guarajuba para Jacobina. Um dos feridos foi levado para o hospital da cidade de Capim Grosso e as outras cinco para uma unidade de saúde de Nova Fátima.
Não há detalhes sobre o estado de saúde delas e informações sobre o que causou a colisão.
Segundo policiais civis da 16ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Jacobina) exames perícias serão realizados no local do acidente e em seguida, serão feitas as identificações das vítimas.
As vítimas do acidente terão um velório coletivo, segundo divulgado pela Prefeitura de Jacobina, cidade próxima ao local da colisão. Um decreto também estabeleceu luto de três dias no município.
"A Prefeitura reitera que já iniciou a organização para um velório coletivo com previsão de acontecer na sede do Ginásio de Esportes municipal. As equipes que integram a gestão estão providenciando os encaminhamentos junto às Funerárias visando agilizar a liberação e a transferência dos corpos para Jacobina", disse a prefeitura por meio de nota.
Funcionários do município também foram destacados para dar suporte às famílias das vítimas do acidente, segundo a nota.
Leia a nota do Corpo de Bombeiros:
Bombeiros militares da 2a CIA BM em Juazeiro, pertencente ao 9° BBM, em Juazeiro, atenderam uma ocorrência que deixou 25 mortos na BR 324, na altura da cidade de Gavião. Após o resgate, os corpos foram entregues aos cuidados do Departamento de Polícia Técnica (DPT), para identificação e demais procedimentos legais. Fonte: https://oglobo.globo.com
Pastor morre após ser picado por jararaca em área de mata perto de onde morava em SC
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Evandro José Matteussi foi surpreendido pelo animal antes da virada do ano. Morte cerebral foi confirmada pela família.
Pastor de SC fica em estado grave no hospital após ser picado por jararaca — Foto: Arquivo Pessoal
Por Caroline Borges, Ana Carolina Metzger, g1 SC e NSC
Um homem de 42 anos morreu nesta sexta-feira (5) após ser picado por uma cobra jararaca em Agrolândia, no Vale do Itajaí. Evandro José Matteussi era pastor de uma igreja na região e foi surpreendido pelo animal em uma área de mata perto de casa antes da virada do ano.
O homem estava internado em estado grave desde então. A confirmação sobre a morte cerebral foi informada por familiares ao g1. O velório será na Associação Desportiva Industrial Rex, em Braço do Trombudo, na mesma região, onde a vítima era pastor.
Após ser picado, o pastor foi até o Hospital de Agrolândia, recebeu soro, mas no dia seguinte sofreu uma convulsão e foi transferido ao Hospital Regional do Alto Vale, em Rio do Sul, na mesma região, para fazer uma tomografia.
Em um exame, os médicos constataram que o pastor tinha um coágulo no cérebro e, por isso, passou por cirurgia. Conforme Marilda Matteussi Pacher, irmã do pastor, depois do procedimento os médicos perceberam que o sangue não circulava na região.
"Parece que, depois da cirurgia, o veneno da cobra voltou com 'mais força' para o corpo dele", disse a irmã.
Em nota, a família mencionou os profissionais de saúde que tentaram salvar o pastor. "Agradecemos a equipe médica do Hospital Regional que, com muito amor, recebeu nosso irmão e fizeram o possível ao alcance deles. E os familiares agradecem também todas as pessoas que de todos os lugares que oraram por ele".
A jararaca é uma espécie de cobra peçonhenta que costuma estar envolvida em acidentes com humanos. Ela costuma dar o bote sempre que se sente ameaçada (veja abaixo o que fazer se for picado pelo animal).
Matteussi morava em Agrolândia, mas era pastor na Igreja Deus é Amor, em Braço do Trombudo, na mesma região. Não há informações atualizadas sobre o sepultamento.
Cobra em Florianópolis
Na quarta-feira (3), um filhote de jararaca foi resgatado em uma casa em Florianópolis. O réptil estava nos fundos de uma máquina de lavar na área de serviço do local, informou o Corpo de Bombeiros Militar.
O que fazer em caso de picada?
Caso seja picado por uma cobra, não se deve amarrar o local. O torniquete pode aumentar o risco de necrosar o local e resultar até em amputação;
não se deve cortar o local, fazer perfurações ou sucção;
o local da picada deve ser lavado com água e sabão;
a vítima deve ser levada o mais rápido possível ao hospital;
é importante tentar identificar a serpente (pode ser por foto, se possível) pois isso facilitará para escolha do soro antiofídico a ser aplicado. Fonte: https://g1.globo.com
Me recuso a perder a esperança
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Sentimento cigano, a esperança nunca vem para ficar; tudo o que podemos fazer é tentar segurá-la pelo maior tempo possível
Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.
Neste ano que vai embora, a esperança tentou ir embora junto. Ou será que fomos nós a afugentá-la? Já começou no 8 de janeiro, quando homens atacaram com paus e pedras a imberbe democracia. Lembro da hora em que minha esperança fugiu sem dizer se voltava: foi quando um deles mostrou a bunda enrolada em uma bandeira —como é feia a face glútea da ignorância.
Não sei bem quando a minha esperança reapareceu, mas me lembro de senti-la ao meu lado meses depois ao ver uma garota cruzar o Círculo Polar Ártico sozinha a bordo de uma embarcação de nome Sardinha. Se dois bíceps tão finos e um veleiro tão frágil podem enfrentar o mar revolto, quantas coisas uma população de 8 bilhões de pessoas não podem enfrentar juntas?
Pena que nem sempre 8 bilhões de pessoas estão juntas, como a guerra logo veio para lembrar. Um certo horror, que julgávamos enterrado, reapareceu na estrela de Davi pichada de forma antissemita numa porta, em bebês feitos de refém, em hospitais bombardeados, em 8.000 crianças palestinas mortas, em outras sendo amputadas sem anestesia, na fome sendo usada como arma de guerra, no mundo assistindo a isso calado. Sem falar nos outros conflitos.
Nem os donos das esperanças mais aguerridas foram capazes de mantê-las por esses meses. E a minha só deu as caras (para sumir logo depois) quando uma refém desta mesma guerra, recém liberta, virou para o seu algoz, apertou sua mão e disse: shalom.
"O punho uma vez foi uma mão aberta e dedos", escreveu o poeta Yehuda Amichai, conterrâneo desta mesma refém, uns anos antes.
"Para escrever um poema que não seja político / devo escutar os pássaros / mas para escutar os pássaros / é preciso que cesse o bombardeio", escreveu o palestino Marwan Marhoul.
A poesia não salva a humanidade, não salva o leitor, não salva sequer o poeta, mas às vezes a sua beleza pode salvar o minuto. E é na trégua dos minutos que a esperança reaparece.
Sentimento cigano, a esperança nunca vem para ficar. Tudo o que podemos fazer é tentar segurá-la pelo maior tempo possível. Como a respiração de um mergulhador, o peito se expandindo, se exercitando para tirar o máximo do pouco que se tem.
Agora em novembro, quase perdi de vez a esperança ao acompanhar uma mesa de negociações que decidia a temperatura da Terra e, portanto, se será viável a vida neste calejado planeta.
Por alguns dias pensei que estávamos fritos, totalmente vendidos para os produtores de petróleo que sediavam o encontro e já começavam a redigir um acordo drástico, mas então uma criança invadiu com um cartaz a mesa da ONU e o representante de um país insular que poderá ser engolido pela água levantou a voz "não desceremos silenciosamente aos nossos túmulos aquosos!", e as negociações foram interrompidas para serem retomadas em melhores termos (ainda que bem longe dos ideais).
Quando tudo parece perdido, há sempre uma pessoa que aparece com um discurso, um aperto de mão, um poema, um cartaz, um veleiro, uma perspectiva, um grito, uma proposta, um aceno, uma escola de dança em uma terra devastada. Não sei se acredito na humanidade, mas ainda acredito nas pessoas.
Pode parecer inocência tentar manter alguma esperança (e é mesmo), mas qual o sentido de viver sem ela? Que nesta virada de ano esse sentimento duro de agarrar esteja com você. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A pressão estética do Natal no Instagram.
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A pressão estética do Natal no Instagram
No padrão em meio às diferenças não há solidão. Pelo contrário, há sempre gente reunida e feliz, ou pelo menos sorridente
Jill Wellington por Pixabay
Escrevo diretamente de um passado não muito distante, mais precisamente do dia 25 de dezembro. Deitada na cama às 8h35 da noite, abro o Instagram e me deparo com um feed inteiro de ensaios natalinos dos mais diversos. Gente de todas as cores e de tantos lugares do mundo, celebridades e anônimos, de Hollywood ao Pará, das Kardashians à Joelma.
São galerias inteiras de fotos. Afinal, apenas um registro não daria conta de mostrar todos os ângulos de cada Natal. Passeio por Natais alheios como Ebanezer Scrooge, o vilão herói de Dickens, que, acompanhado de seus próprios fantasmas, viaja por Natais passados, presentes e futuros, observando a uma certa distância, vendo sem ser visto. Ao contrário de Scrooge, cujo amargor da vida havia se transformado em desprezo pela data, meu olhar não vem carregado de nenhum sentimento em particular. Observo sem nenhuma predisposição ao que vejo, com o intuito apenas de preencher a monotonia desses minutos pré-sono, mas logo passo a me interessar pelo padrão que surge em meio às diferenças.
Nas fotos, não há solidão. Pelo contrário, há sempre gente reunida e feliz, ou pelo menos sorridente. Famílias de sangue ou de afinidade, apertadas no espaço da tela, vestidas de roupas bonitas, invariavelmente em tons de vermelho, verde ou dourado. Crianças arrumadas com laços de fita como presentes. Todos calçados, claro. As mulheres de salto alto para andar pela sala de casa. Uma árvore ao fundo, presentes no canto da foto, uma mesa posta com a louça especial, talvez até uns guardanapos de pano. Coisa fina.
Impossível não estabelecer uma comparação entre os ângulos natalinos alheios e os meus. Me transporto então para a minha própria ceia, horas antes, e que agora me parece tão diferente das que vejo no telefone. É verdade, foi um Natal improvisado. Estamos viajando e viagens não permitem rigidez de tradições (não que eu as tenha para início de conversa). A ceia foi pedida no restaurante da esquina e apresentada na mesa em travessas de alumínio, afinal, estamos num Airbnb e qualquer um sabe que Airbnb que se preze não tem nem meia travessa sobrando pra servir qualquer coisa. A comida em si foi servida em pratos brancos, finos não por serem chiques, mas por serem de espessura mínima, desses que uma batida de garfo mais vigorosa é capaz de partir ao meio. Por fim, amigos conversando na cozinha, cada um tomando vinho numa taça de forma e tamanho diferentes, e crianças vestidas sem qualquer coordenação de cores. Nenhum salto alto à vista.
Por um instante me perguntei se não estava fazendo errado essa coisa de Natal. Será que estou estragando as memórias dos meus filhos por não ter montado um Natal digno de sessão de fotos da revista Caras? Será que um dia terei um Natal digno da blogueira que nas horas vagas finjo ser?
As dúvidas só duram mesmo um instante. Lembro rapidamente que a vida em nada se assemelha aos recortes do Instagram. E que por trás dos retratos posados há de tudo. Da alegria bagunçada à perfeição triste e todo o espectro de tretas e delícias que possa existir entre um polo e outro. Penso que o Natal é apenas mais um catalisador da pressão estética desta rede social que, hora ou outra, descamba pra obsolescência, quando coletivamente percebermos que imagem não é tudo.
Por aqui, tiramos poucas fotos. Afinal, não havia nada extremamente instagramável e a atenção estava voltada para o momento, as pessoas, a comida. E apesar da falta de preocupação estética (ou talvez por causa dela) foi uma noite absolutamente feliz.
Agora me resta esperar as fotos de Ano Novo. Dos corpos perfeitos desfilando biquínis caros em praias paradisíacas. Mas desta vez já estou vacinada contra a pressão fotográfica das festas de fim de ano (e sabendo que jamais estarei à altura) deixarei o telefone fora do quarto antes de ir dormir. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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