A lei vale para plataformas digitais
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STF decide que provedores estrangeiros devem entregar dados requisitados pela Justiça, como qualquer empresa local
No dia 23 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que as autoridades nacionais podem solicitar dados diretamente a provedores de internet estrangeiros que prestam serviços no Brasil. Ao ratificar a constitucionalidade do art. 11 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), a decisão do Supremo assegura um ponto fundamental do Estado Democrático de Direito. Todas as plataformas digitais e empresas de tecnologia que atuam no País, mesmo que suas sedes ou seus provedores estejam situados no exterior, se sujeitam à lei brasileira.
A autora da ação, uma federação de empresas de tecnologia, defendia que o acesso judicial a dados de usuários da internet por provedores sediados no exterior deveria, necessariamente, seguir os trâmites previstos no Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT, em inglês), assinado entre o Brasil e os Estados Unidos. O argumento da ação era um tanto absurdo. Tentava-se usar um acordo de cooperação entre dois países, firmado precisamente para facilitar investigações criminais, como uma forma de dificultar o acesso da Justiça brasileira a dados relacionados a serviços prestados no País.
Corretamente, o MLAT prevê que as solicitações relativas a questões penais devem passar por uma autoridade central designada por cada país; no caso do Brasil, o Ministério da Justiça. Essa sistemática, que se aplica a informações e eventos ocorridos no exterior, é o reconhecimento da soberania de cada país sobre seu respectivo território.
No entanto, a hipótese de solicitação de dados analisada pelo STF era diferente, referindo-se a fatos ocorridos no Brasil. E aqui está a importância do Marco Civil da Internet, que define quando atos praticados no mundo digital estão sujeitos à jurisdição brasileira. Segundo o art. 11 da Lei 12.965/2014, toda operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros e dados feita por provedores de conexão ou de aplicações de internet, “em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional”, deverá respeitar “a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros”.
Atuando como terceiro interessado na ação, a empresa Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, defendeu no STF que o MLAT seria o “procedimento correto” para obtenção de dados controlados por empresas norte-americanas. É realmente peculiar que uma empresa que atua tão intensamente no País (são cerca de 116 milhões de contas no Facebook, 99 milhões de perfis no Instagram e 147 milhões de usuários de WhatsApp no Brasil) pretenda que a Justiça brasileira, ao precisar de algum dado relativo a essas contas, tenha de recorrer a um acordo de cooperação internacional.
Seja qual for o setor de atuação, toda empresa que opera no Brasil está sujeita à lei e à jurisdição brasileiras. Tentar escapar dessa realidade (ou limitar sua incidência) não é apenas uma manobra judicial pouco honrosa. Representa um desrespeito ao País. Fonte: https://www.estadao.com.br
Suprema Corte dos EUA pode mudar a internet para sempre; entenda
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Juízes americanos podem responsabilizar Big Techs pelo conteúdo impulsionado pelos algoritmos de suas plataformas
A Suprema Corte americana começou a analisar um caso que pode mudar a cara da internet. Os pais de Nohemi Gonzalez, uma universitária de 23 anos que morreu num ataque terrorista em Paris, estão processando o YouTube. Seus advogados alegam que os três responsáveis pelo ataque no Teatro Bataclan, em 2015, foram radicalizados após assistirem a uma série de vídeos recomendados pelo site e produzidos pelo Estado Islâmico.
A praxe da Corte americana é de escolher os casos que julgará. Ela não é obrigada a aceitar nenhum, mas, sempre que considera haver uma questão constitucional importante, entra no debate. Os advogados submetem aos nove juízes seus argumentos por escrito e, depois, são convidados a sessões de sustentação oral. É quando os ministros têm a oportunidade de compreender melhor como cada lado vê o tema em debate. A primeira sessão foi na última terça-feira, 21.
O que está sendo testado é a seção 230 do Ato das Telecomunicações, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Bill Clinton, em 1996. Em essência, a lei definiu que uma empresa com presença na web não poderia ser responsabilizada pelo que dizem usuários que publicam em seus sites. Em 1996, poucos sites ofereciam espaços para comentários. Havia também espaços de discussão, fóruns, começando a se popularizar. Não existiam ainda blogs, muito menos redes e algoritmos.
Ao falar de algoritmos, a partir de que momento as gigantes da tecnologia passam a ser responsáveis pelo que recomendam?
E esse é o argumento da família Gonzalez. A lei pode proteger o YouTube de coisas que o EI tenha publicado. A partir do momento em que o YouTube pinça um vídeo para sugerir a quem assiste, aí o exercício de expressão não é mais dos terroristas. O YouTube, como qualquer outro serviço baseado em algoritmos, se exprime através das escolhas de conteúdo que faz. O responsável pela seleção não é quem produziu o conteúdo. É o YouTube. Ou o Twitter. Ou o Facebook.
Mas alguns dos ministros exprimiram dúvidas. Afinal, mecanismos de seleção de conteúdo baseados em algoritmos tornaram a internet viável. Tornar as empresas responsáveis pelo que seus algoritmos recomendam não poderia abrir uma imensa onda de processos que trariam impactos econômicos inimagináveis?
A pergunta, que os juízes parecem estar fazendo, é onde está a linha divisória. Por óbvio, outras indústrias são responsáveis pelos danos que suas decisões internas causam. Ao falar de algoritmos, a partir de que momento as gigantes da tecnologia passam a ser responsáveis? A Suprema Corte tomará uma decisão este ano – e a decisão pode, inclusive, ser não decidir nada. Por enquanto. Fonte: https://www.estadao.com.br
As culpas pela tragédia
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Saída é valorizar dimensão ambiental do planejamento urbano e territorial
Nadia Somekh
Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR), é professora emérita da Universidade Mackenzie
Barra do Sahy soterrada, ao menos 48 mortos (47 em São Sebastião e 1 em Ubatuba), 36 desaparecidos, cerca de 2.500 pessoas desalojadas ou desabrigadas, veranistas ilhados na praia da Baleia e o âncora da TV criticando o prefeito por não ter avisado a população dos morros.
O que poderia ter sido feito? O problema não é acionar sirenes em momentos da emergência, como o que ocorre agora no litoral norte paulista. O problema é o histórico processo de urbanização de nosso país que não dá lugar na regulação urbanística para os mais pobres e vulneráveis, agravado agora pela escalada das mudanças climáticas.
De acordo com o IBGE, o Brasil tinha em 2010 (dado mais recente), em 872 municípios mapeados, uma população aproximada de 8,2 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco, abrigadas em cerca de 1,5 milhão de moradias permanentes.
A maior parte das áreas de risco está localizada na costa leste do país justamente pelo fato de a ocupação do território ter se concentrado no litoral, mais suscetível à ocorrência de desastres naturais, associados à ocupação de encostas íngremes, topos de morros e cursos de água, conforme ressaltado por pesquisadores do Instituto Geológico.
Por sua vez, o 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já alertava que, sem mitigação do aumento da temperatura global, os maiores castigados pelas mudanças climáticas serão provavelmente os países tropicais, como o Brasil.
Sirenes serão insuficientes se dependermos apenas delas para que catástrofes como esta não se repitam nos próximos verões, com inundações, deslizamentos, colapso de serviços públicos em cidades e quedas de barreiras e isolamentos em estradas. E sobretudo gente morta.
Se houvesse uma política habitacional para a população mais carente, tal tragédia não teria acontecido. Sem essa política, onde a população vai morar? Onde é irregular, onde é ilegal; enfim, para onde foi empurrada pela especulação imobiliária em razão do preço da terra. Essas pessoas só conseguem algum tipo de abrigo, nada digno, em locais de risco.
É preciso ainda valorizar a dimensão ambiental do planejamento urbano e territorial em consequência das mudanças climáticas, como ressaltado em manifesto aos candidatos nas eleições de 2022 lançado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e mais seis entidades representativas dos arquitetos e urbanistas brasileiros. A Carta aos Candidatos propôs uma agenda que priorize a qualidade e o cuidado com a vida da população brasileira.
O momento é propício para colocar essa agenda em prática. Todos os municípios com mais de 20 mil habitantes estão, por dever legal, revendo seus planos diretores, considerando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Nova Agenda Urbana e o pacto climático do Acordo de Paris.
A arquitetura e o urbanismo têm muito a contribuir com as revisões dos planos diretores, ajudando prefeitos, vereadores e comunidades na definição dos territórios seguros para as habitações dos mais pobres, reconhecendo a intensidade das alterações climáticas, em busca de maior justiça e resiliência para as cidades brasileiras. Nessa perspectiva, a continuidade da integração das autoridades públicas vista nos últimos dias será essencial. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Tragédia no litoral de SP: sobe para 48 o número de mortos; mais de 40 estão desaparecidos
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Tragédia no litoral de SP: sobe para 48 o número de mortos; mais de 40 estão desaparecidos
Buscas se concentram na costa sul de São Sebastião, cidade mais afetada pelo temporal que devastou a região. Bombeiros registraram novo deslizamento de terra em Juquehy, sem vítimas.
Por Leo Nicolini, André Catto, Fábio Titto, Thaís Matos e Mônica Mariotti, g1 Vale do Paraíba e região
Equipes de resgate retomaram nesta terça-feira (21) a busca por vítimas após o temporal que devastou o Litoral Norte de São Paulo no fim de semana. O balanço das prefeituras aponta 48 mortes (47 em São Sebastião e uma em Ubatuba). O último balanço do governo estadual confirma 44 mortes em todo o litoral.
O número de desaparecidos não foi atualizado ainda, mas, mais cedo, estava em 49. Os trabalhos acontecem especialmente em bairros da costa sul da cidade de São Sebastião, como a Vila do Sahy, área que concentra a maioria das vítimas da tragédia.
Resgate
As buscas são feitas por bombeiros, agentes da Defesa Civil e os próprios moradores. No domingo, helicópteros da PM tiveram dificuldade para chegar nos pontos mais críticos devido ao mau tempo. O Exército enviou aeronaves para ajudar nos trabalhos. A operação envolve mais de 600 pessoas.
TEMPORAL EM SP: Saiba quem são os mortos
Uma das vítimas é uma menina de 7 anos que morreu soterrada após a sua casa ser destruída por uma pedra de duas toneladas durante o temporal em Ubatuba. Em São Sebastião, uma mulher de 35 anos morreu depois que a casa dela foi atingida por uma árvore.
Em São Sebastião, uma criança de 2 anos foi salva após ter ficado horas sob os escombros. Equipes também resgataram uma mulher em trabalho de parto que estava isolada — mãe e bebê passam bem.
Em Juquehy, outro bairro bastante afetado pelas chuvas, o Corpo de Bombeiros registrou um novo deslizamento de terra de segunda para terça, mas sem registro de vítimas.
Veja a situação das estradas na região:
Com a liberação da Rio-Santos até a Barra do Sahy e para aproveitar que a chuva parou momentaneamente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pediu que os turistas que desceram ao litoral para o carnaval deixem a região para aliviar a pressão nas áreas mais afetadas. Já voltou a chover na região e a previsão é de mais chuva nos próximos dias. (Veja detalhes sobre a previsão do tempo mais abaixo.)
Os mercados chegaram a ter filas de clientes preocupados em estocar mantimentos. Enfrentando falta de água potável, limitação na venda de combustíveis e escassez de alimentos, moradores relatam que encontraram um litro de água sendo vendido por R$ 40: "Um absurdo".
Saída do litoral
Por conta da situação das estradas e do fluxo intenso de veículos tentando deixar o litoral, os turistas têm enfrentado trânsito intenso.
Trecho da Rio-Santos é liberado e turistas começam a deixar o Litoral Norte
Entre as praias de Maresias e Toque Toque, em São Sebastião, o cenário na estrada é similar ao de uma operação de guerra, segundo relatos das repórteres Mônica Mariotti e Thais Matos, do g1.
De um lado da estrada, carros de passeio com famílias encaravam uma jornada sem previsão de término pelas estradas do litoral, totalmente congestionadas. As ruas ainda seguiam alagadas e cobertas de lama, tornando o trânsito escorregadio e perigoso.
Do outro lado da estrada, na descida para o litoral, a via era ocupada por caminhões do Exército, retroescavadeiras, caçambas de terra e entulho, além de veículos de operadoras de telefonia.
Na saída de Caraguatatuba, outra cidade litorânea, para a Rodovia dos Tamoios, o anda e para dos veículos era constante. A via era a única acessível para quem tentava deixar o Litoral Norte.
Isolados, turistas chegaram a gastar até R$ 30 mil por voo para deixar o local de helicóptero. Enviados ao local, os repórteres André Catto e Fábio Tito, do g1 registraram um desses resgates no heliponto próximo à Vila do Sahy, uma das mais atingidas.
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Turistas pagam até R$ 30 mil para deixar litoral norte de helicóptero
Caos
Na costa sul de São Sebastião, moradores ficaram ilhados e aguardam a chegada de doações e atendimento médico. Com os deslizamentos, diversas casas foram arrastadas e levadas pela terra. Muitos locais tiveram o abastecimento de água, luz e internet prejudicado.
Chuvas causam estragos no Litoral Norte de São Paulo
O número de desalojados e desabrigados no litoral paulista não foi divulgado, mas, em todo o estado de São Paulo, o governo informou que há 1.730 desalojados (que precisaram deixar suas casas e foram para a residência de amigos ou parentes) e 766 desabrigados (que perderam as suas casas e não têm para onde ir) em decorrência das chuvas.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, decretou estado de calamidade em Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba.
Previsão de mais chuva
Nesta terça-feira, deve chover novamente em São Sebastião. Ao g1, o meteorologista Diego Souza, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), informou que está mantida a condição de pancadas de chuvas no litoral, mas com menos intensidade para os próximos dois dias.
“Volumes iguais ao que observamos possivelmente não ocorrerão nos próximos dois dias, mas não podemos dar certeza ainda, porque continua a previsão de chuva local com volumes significativos.
Chuva anormal
De acordo com o meteorologista, nesta época do ano, chove mais mesmo, mas o volume foi anormal. “O sistema de baixa pressão gera ventos intensos que ajudam a acumular água do oceano e dificultar escoamento dos rios. Tivemos também maior volume de maré, o que tornou mais difícil que a água escoasse de forma mais rápida para o oceano, contribuindo com os processos de inundação no litoral”, explicou Diego Souza.
Atuação do governo
Desde domingo (19), o governador Tarcísio de Freitas está em São Sebastião. Ele mudou temporariamente o gabinete dele para a cidade, enquanto a situação crítica persistir. Um comitê de gerenciamento de ações foi montado para atender aos desabrigados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também esteve em São Sebastião. Ele se comprometeu a implementar um programa habitacional para as vítimas da chuva e disse que o governo federal está à disposição para atuar nas áreas atingidas. Fonte: https://g1.globo.com
Jornalismo – o resgate do conteúdo.
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Jornalismo – o resgate do conteúdo
O papel da informação no conturbado momento nacional mostra uma coisa: o jornalismo está mais vivo do que nunca. Exatamente por isso é que mudar é preciso
Por Carlos Alberto Di Franco
O jornalismo está fustigado não apenas por uma crise grave. Vive uma mudança cultural vertiginosa. A revolução digital é um processo disruptivo. Quebra todos os moldes e exige uma forte reinvenção pessoal e corporativa.
O jornalismo vai morrer? Não. Nunca se consumiu tanta informação como na atualidade. O modelo de negócios está na UTI. A publicidade tradicional evaporou. E não voltará. Além disso, perdemos o domínio da narrativa. A pressão pela conquista da atenção dos consumidores, o frenesi da audiência, a necessidade inescapável de aumentar a carteira de assinaturas e o esforço de fidelização tiram, e muito, o sono e, frequentemente, o foco: o conteúdo de qualidade.
O cenário do consumo de informação preocupa. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Vamos aos fatos: 54% das pessoas evitam ativamente o noticiário no Brasil. Quase metade daqueles que diziam fugir das notícias, no mundo e também entre nós, alegava que estava esgotada do noticiário de política e sobre covid-19. Excessivo baixo-astral.
Os dados estão no artigo da professora Ana Brambilla no Orbis Media Review, que dissecou o último relatório global sobre jornalismo digital do Reuters Institute divulgado em junho do ano passado. De lá para cá, nada mudou. Suscita preocupação. Mas também pode abrir uma avenida de iniciativas transformadoras.
Além disso, o modo de produzir informação e o diálogo com o consumidor romperam o modelo tradicional. As pessoas rejeitam intermediações – dos partidos, das igrejas, das corporações, dos veículos de comunicação.
O que fazer? Olhar para trás? Tentar fazer mudanças cosméticas? Não. Precisamos olhar para a frente, mudar de verdade e descobrir incríveis oportunidades.
Mas é preciso, previamente, fazer uma autocrítica corajosa a respeito do modo como vemos o mundo e dialogamos com ele.
Qual é o nosso mundo? Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos. Lembra-se disso, amigo leitor? Lá estavam nossas lembranças, nossos registros afetivos, nossa saudade. Muitas vezes abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. As relações afetivas estão sucumbindo à coletiva solidão digital.
Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será?
Não creio, sinceramente. Penso haver uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma perigosa doença que contamina redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento.
É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história.
Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.
A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência. Além disso, os consumidores estão cansados do baixo-astral da imprensa. O cidadão que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.
Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo. E redescobrir uma verdade constantemente negligenciada: o bom jornalismo é sempre um trabalho de garimpagem.
O papel da informação no conturbado momento nacional mostra uma coisa: o jornalismo está mais vivo do que nunca. Exatamente por isso é que mudar é preciso.
*JORNALISTA/ E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www.estadao.com.br
Litoral de SP conta 40 mortos nas chuvas históricas.
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Equipes formadas por uma força-tarefa continuam buscas nos locais afetados
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chega a São Sebastião nesta segunda (20) - Bruno Santos/Folhapress
Francisco Lima Neto Paulo Eduardo Dias
SÃO PAULO
As chuvas históricas que atingem cidades do litoral de São Paulo desde sábado (18) já deixaram 40 mortos, sendo 39 em São Sebastião e um Ubatuba. Sete corpos (dois homens adultos, duas mulheres adultas e três crianças) já foram identificados e liberados para sepultamento.
O total de pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas, chega a 2.496. Os desaparecidos somam 40, mas os números ainda devem aumentar, já que há relatos de que pessoas estariam sob os escombros de estruturas que cederam.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estão em São Sebastião nesta segunda, acompanhados do prefeito Felipe Augusto (PSDB).
Lula pediu que não sejam mais construídas casas em encostas de morros, a fim de evitar novas tragédias, e ressaltou a importância da parceria entre os governos —federal, estadual e municipal—, independentemente de questões partidárias.
"Nós estamos juntos. Ele [Tarcísio] tem obrigação de governar o estado de São Paulo, este aqui [prefeito de São Sebastião] tem obrigação de governar a cidade, e eu tenho obrigação de governar o país. Se cada um ficar trabalhando sozinho, nossa capacidade de rendimento é muito menor. E é por isso que precisamos estar juntos, compartilhar as coisas boas e as coisas ruins. Juntos seremos muito mais fortes", disse o presidente.
O governador mais uma vez pediu que os turistas que estejam seguros não tentem voltar retornar para a cidade de São Paulo, já que há riscos e uma série de bloqueios em estradas. Ele afirmou, ainda, que a reconstrução das rodovias, afetadas por quedas de barreiras em diversos trechos, vai levar tempo.
"A grande via de deslocamento será a Rio-Santos e a Tamoios. A recuperação da Mogi-Bertioga vai levar um tempo maior, porque temos um trecho bastante erodido. A recuperação da Rio-Santos, de Boiçucanga em direção ao sul pode levar um tempo enorme, a gente não sabe nem dizer", disse Tarcísio.
"A gente contabilizou mais de dez pontos de bloqueio. Em alguns pontos a gente não sabe exatamente o que sobrou da rodovia. É um volume de terra tão grande que se deslocou que a gente até levanta a hipótese de a rodovia ter sido arrastada junto, de não existir mais", acrescentou. O gabinete do governador foi transferido temporariamente para São Sebastião.
Lula afirmou que uma das prioridades do governo é recuperar a Rio-Santos. O presidente também pediu que a Prefeitura de São Sebastião indique um terreno seguro para construir moradias e transferir os moradores que têm casas em área de risco.
As equipes de socorro, compostas por diversos órgãos, estão no segundo dia de buscas por sobreviventes e desaparecidos. No domingo, uma das resgatadas em São Sebastião foi uma mulher em trabalho de parto —ela e o bebê passam bem.
O trabalho de resgate é feito por uma força-tarefa com mais de 500 agentes, entre servidores das forças de segurança e equipes do governo estadual, das Forças Armadas, da Polícia Federal e da Prefeitura de São Sebastião, além de voluntários. Todos seguem empenhados para localização, resgate, salvamento e identificação das vítimas.
Os esforços no atendimento às vítimas começaram no domingo e seguem de forma ininterrupta, com o apoio de 53 viaturas do Corpo de Bombeiros, dois cães especializados na busca de pessoas, 31 maquinários, sete helicópteros Águia do Comando de Aviação da Polícia Militar e outras duas aeronaves do Exército. Mais três helicópteros Águia deverão chegar ainda nesta segunda para auxiliar nos trabalhos.
As operadoras de celular confirmaram no domingo, no final do dia, que os sistemas de telefonia e internet nas cidades do litoral norte sofrem com instabilidade porque as redes foram danificadas pelas chuvas, quedas de árvores e deslizamentos, o que prejudica o contato e dificulta ainda mais a situação.
Além da dificuldade de comunicação, a população enfrenta desabastecimento de água.
Segundo o governo do estado, as concessionárias trabalham para restabelecer os serviços essenciais o mais rápido possível.
Diversas rodovias tiveram sérios problemas estruturais causados por erosões, quedas de barreiras e de árvores e deslizamentos. A Defesa Civil estadual orientou a população a não se deslocar para o litoral norte até que a situação esteja controlada.
O recorde de chuva que atingiu o litoral norte de São Paulo desde sábado deixou também um rastro de destruição, com dezenas de casas que solaparam, muita lama e vias intransitáveis, o que atrapalha as ações de resgate. De acordo com a Defesa Civil do estado, além das mortes já confirmadas, o número de desalojados subiu para 1.730, e o de desabrigados, para 766.
Entre os mortos há uma criança de 7 anos, vítima de um deslizamento de terra em Ubatuba. Os outros mortos são de São Sebastião, a cidade mais afetada pelo temporal —a maioria na Barra do Sahy, além de Juquehy, Camburi, e Boiçucanga.
De acordo com o governo do estado, em menos de 24 horas o acumulado de chuva ultrapassou os 600 mm em alguns pontos do litoral. As áreas mais atingidas estão entre Bertioga (683 mm) e São Sebastião (627 mm). Tais índices pluviométricos são dos maiores já registrados no país em curto período e em situação não decorrente de ciclone tropical.
O Corpo de Bombeiros informou que recebeu, até a tarde de domingo, um número recorde de chamadas para socorro —apenas para São Sebastião foram 481 solicitações.
No início da noite deste domingo, o governador Tarcísio decretou estado de calamidade pública para as cidades de Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, todas no litoral norte de São Paulo, além de Bertioga.
A cidade de São Sebastião foi a mais afetada pelos temporais. Os bairros de Barra do Sahy e Juquehy estão isolados em razão das quedas de barreiras ao longo da rodovia.
A Polícia Civil e a Superintendência da Polícia Técnico Científica reforçaram os efetivos na região para dar mais celeridade aos trabalhos de polícia Judiciária e de identificação das vítimas.
Uma equipe com 40 servidores entre peritos e auxiliares atuará no IML (Instituto Médico Legal) de Caraguatatuba. Outros 12 papiloscopistas do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt trabalharão em apoio aos profissionais no IML de Caraguatatuba e no Serviço de Verificação de Óbitos de Ubatuba.
CONFIRA A SITUAÇÃO EM CADA CIDADE
SÃO SEBASTIÃO
A Prefeitura de São Sebastião (197 km de SP) decretou estado de calamidade pública. A programação do Carnaval foi cancelada no município.
Uma das vítimas é Fabiana de Freitas Sá, 40, coordenadora do Programa Criança Feliz. Ela morreu após a casa em que morava, na estrada da Maquinha, em Boiçucanga, desabar.
À Folha, o prefeito de São Sebastião disse que, após as chuvas, a cidade ficou totalmente ilhada, sendo impossível chegar por estrada, pois todas estavam interditadas.
"Diversas casas desmoronaram, muitas pessoas ainda estão debaixo dos escombros. As equipes de busca e salvamento não estão conseguindo acessar diversos locais. A situação é muito caótica."
Segundo o prefeito, a região mais afetada é a Barra do Sahy. Disse, ainda, que, 80% do bairro Toque Toque foi destruído.
UBATUBA
Durante a madrugada de domingo, um deslizamento de terra fez com que uma pedra atingisse uma casa na rua Benedito Alves da Silva, no bairro Estufa, em Ubatuba (220 km de SP). Uma criança de sete anos que estava no imóvel morreu na hora, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
A cidade registrou 335 mm de chuva, segundo a Defesa Civil.
BERTIOGA
Bertioga foi a cidade que registrou o maior volume de chuvas. Segundo a Defesa Civil, foram 687 mm em 24 horas. Diversos pontos de alagamentos se formaram, inclusive na Riviera de São Lourenço, bairro de alto padrão.
Em comunicado nas redes sociais, a Prefeitura de Bertioga afirmou que as atrações de Carnaval foram adiadas.
CARAGUATATUBA
Em Caraguatatuba também houve alagamentos. A cidade registrou acumulado de 395 mm. Diversas famílias desalojadas foram abrigadas em espaços públicos ou casas de parentes.
Equipes da prefeitura trabalharam ao longo do domingo em ações de limpeza das ruas, retirada de árvores caídas e desobstrução de valas, além de limpeza de rios, como Guaxinduba e Itororó, para melhorar o escoamento da água e reduzir os alagamentos.
ILHABELA
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) colocou a região sul do arquipélago em estado de atenção devido às fortes chuvas que atingiram a cidade. Em 18 horas, choveu 337 mm no local, segundo o governo do estado.
A Defesa Civil registrou deslizamentos de terra, alagamentos e quedas de galhos e postes da rede elétrica. Há monitoramento nas áreas de risco.
O abastecimento de água na cidade foi interrompido. A prefeitura pede para que a população evite desperdiçar água até a normalização do sistema.
GUARUJÁ
A chuva também causou estragos no Guarujá, na Baixada Santista. Na região do Jardim Acapulco —um condomínio de alto padrão—, ruas e casas ficaram alagadas.
Segundo a prefeitura, foram registrados quase 400 mm de chuva na cidade, ultrapassando a previsão de 234 mm para todo o mês de fevereiro e alcançando o maior índice da série histórica nos últimos 70 anos.
MOGI-BERTIOGA INTERDITADA
A rodovia Mogi-Bertioga (SP-98) está interditada desde a 0h30 de domingo, na altura do km 82, em Biritiba Mirim, devido ao rompimento de uma tubulação e consequente erosão causados pelas fortes chuvas que atingiram a região. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Bandido influenciador? Homem armado rouba carro e faz live para mostrar crime
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SÃO PAULO
Imagina se a moda pega? Um homem armado resolveu abrir uma live no momento em que roubava carros e aterrorizava motoristas no Rio de Janeiro. O vídeo tem repercutido nas redes sociais.
No começo das imagens, ele aparece já ao vivo ordenando que um motorista saísse de um carro branco. O assaltante também pega um cordão do homem antes de entrar no carro e sair em velocidade.
Na sequência, continua em live e dando 'salves' para quem o assistia. "Vou pegar outro agora", avisou antes de fazer um novo assalto. Dessa outra pessoa, ele pega o carro e o telefone.
Procurada, a Polícia Civil afirmou que o homem já foi identificado e que ele já teria quatro passagens criminais em sua ficha.
"A 35ª DP (Campo Grande) instaurou um inquérito para investigar o caso. O homem foi identificado e, a partir de representação da autoridade policial, foi expedido mandado de prisão temporária contra ele. Diligências estão sendo feitas para localizá-lo", diz a nota.
Enquanto isso, setores de inteligência da unidade, da 34ª DP (Bangu) e da 36ª DP (Santa Cruz) realizam pesquisas para localizar as possíveis vítimas para que elas sejam ouvidas. Fonte: https://f5.folha.uol.com.br
Rio tem homicídios e roubos de veículo em queda, mas aumento nas mortes em confronto e nos golpes
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Segundo dados do ISP, foram 252 pessoas mortas, menor número para janeiro desde o início da série histórica, em 1991. Já os estelionatos tiveram média de 351 registros por dia no primeiro mês do ano
Por Giampaolo Morgado Braga — Rio de Janeiro
O primeiro mês de 2023 registrou no Estado do Rio o menor número de homicídios dolosos para janeiro desde o início da série histórica, em 1991. Foram 252 vítimas, redução de 0,8% em relação a janeiro do ano passado. Na contramão do índice, as mortes em confronto com a polícia subiram 2% no mês passado, na comparação com o mesmo mês de 2022. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) nesta quinta-feira.
Outro índice que apresentou queda em janeiro deste ano foi o roubo de veículo. Em janeiro, houve 1.816 registros, queda de 2,6% quando comparado ao mesmo mês de 2022. No último dia 13, O GLOBO mostrou que o crime teve uma explosão no último trimestre do ano passado, crescendo 39% em relação ao mesmo período de 2021. Os criminosos passaram a pedir até via Pix o pagamento do resgate por carros roubados.
O total de roubos também teve redução em janeiro deste ano: foram 8.055 ocorrências, uma queda de 7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já os crimes menos violentos, como furtos e estelionatos, apresentaram no primeiro mês de 2023 uma tendência de alta.
Os furtos subiram 19% no mês passado, na comparação com 2022. Já os golpes cresceram 6% no estado, chegando a 10.876 registros nos primeiros 31 dias deste ano, média de 351 casos por dia. Fonte: https://oglobo.globo.com
Mais de 41,2 mil pessoas já foram confirmadas mortas na Turquia e na Síria
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Equipes de resgate da Turquia dizem que vozes ainda são ouvidas sob os escombros
Dez dias após devastador tremor de terra, ainda há esperança de encontrar mais sobreviventes
Por O Globo e agências internacionais — Ancara
Passados dez dias do terremoto devastador que atingiu a Turquia e a Síria, as equipes de resgate ainda mantêm esperanças de encontrar sobreviventes. Na noite desta terça-feira, vozes ainda eram ouvidas sob os escombros de prédios que desabaram após o tremor de terra de magnitude 7.8. Mais de 41,2 mil pessoas já foram confirmadas mortas na Turquia e na Síria e as histórias de resiliência têm ficado mais raras.
Em Kahramanmaraş, na última noite, uma equipe de resgate encontrou um novo sinal de vida sob os destroços. A ajuda humanitária começou a trabalhar imediatamente para tentar salvar mais um sobrevivente.
Um vídeo compartilhado pelo jornal Sabah mostra um grupo que usava capacetes com lanternas e equipamentos para cortar o concreto tentando chegar até a vítima.
O Ministério da Defesa Nacional da Turquia também compartilhou um resgate feito durante a última noite. As imagens mostram Fatma Güngör, de 77 anos, sendo retirada com vida dos escombros em Adıyaman.
"Nosso pessoal do Comando do Estaleiro Gölcük, que tem apoiado os esforços de busca e resgate em Adıyaman, resgatou uma cidadã de 77 anos chamada Fatma Güngör dos destroços 212 horas após o terremoto. Todos somos um", disse o ministério.
Essas cenas, no entanto, devem se tornar mais raras de agora em diante. Nesta terça, a UNICEF disse que o número de crianças mortas após o terremoto "continuará a crescer".
De acordo com a rede de televisão CNN, os esforços devem passar por uma mudança nos próximos dias. As operações de resgate vão dar lugar às ações de recuperação das áreas degradadas.
Pior desastre natural em 100 anos
Os devastadores terremotos que atingiram a Turquia e a Síria foram o "pior desastre natural na região europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) em um século", disse Hans Kluge, diretor regional da entidade para a Europa.
— Ainda estamos aprendendo sobre sua magnitude. Seu verdadeiro custo ainda não é conhecido — disse Kluge durante uma entrevista coletiva.
A Região Europeia da OMS inclui 53 países europeus e da Ásia Central, incluindo a Turquia. Fonte: https://oglobo.globo.com
Número de armas para uso pessoal no país dispara e chega a quase 3 milhões
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Parcela nas mãos de CACs também aumentou, passando de 27% para 42,5%
SÃO PAULO
Levantamento publicado nesta segunda-feira (13) pelo Instituto Sou da Paz aponta que o número de armas nas mãos dos civis disparou durante o governo de Jair Bolsonaro e chegou a 2.965.439 ao fim de 2022.
Esse número é mais que o dobro do dado de 2018, quando havia 1.320.582 armas de fogo nas mãos de civis.
Os dados foram colhidos por meio da Lei de Acesso à Informação e analisados pelos institutos Sou da Paz e Igarapé.
Foram consideradas as armas pessoais ou particulares pertencentes a CACs (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores), cidadãos comuns com registro para defesa pessoal, caçadores de subsistência, servidores civis (como policiais e guardas civis) com prerrogativa de porte e que compraram armas para uso pessoal e membros de instituições militares (policiais militares, bombeiros militares etc.) que compraram armas para uso pessoal.
"A gente vive o resultado de uma política de quatro anos de facilitação de acesso às armas. É um conjunto de normas, decretos e portarias desses anos que aumentaram a quantidade de armas para os cidadãos e CACs, e também a potência dessas armas", diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. "O presidente Bolsonaro mais de uma vez se posicionou para as pessoas comprarem fuzil e não feijão. Por isso, o resultado só corrobora o que se viu acontecer nesses anos."
Logo depois de assumir a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que todas as armas no país sejam registradas no sistema da PF, conhecido como Sinarm (Sistema Nacional de Armas). O texto deu 60 dias para o cadastro, contados a partir do dia 1° de fevereiro.
O cadastramento atinge grupos que possuem armas cadastradas no Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), do Exército, como os CACs. A medida vale para quem obteve arma a partir de maio de 2019, já no governo de Bolsonaro.
Além do aumento na quantidade, o Instituto Sou da Paz chama a atenção para a mudança de perfil desses registros.
Em 2018, quase metade do acervo de armas pessoais então existente pertencia a membros de instituições militares (47%). O restante do acervo particular era praticamente dividido entre os registros na PF (de armas pertencentes a civis, com 26%) e registros pertencentes a CACs (27%).
No fim de 2022, essa proporção se inverteu com o crescimento da categoria de CACs, que passou a ter 42,5% do total de armas particulares no país.
Em números absolutos, as armas de CACs registradas em 2018 eram 59.417, passando para 78.048 em 2019, 125.306 em 2020, 223.894 em 2021 e 431.137 em 2022.
O porte de trânsito garante ao CAC o direito de andar com a arma do local de guarda até o clube de tiro ou de caça. Entretanto, houve uma mudança com o decreto publicado no governo Lula, e a arma terá que ser transportada desmuniciada (sem munição).
Antes, a arma poderia estar municiada, o que, segundo especialistas, virou um porte de armas camuflado. Como a Folha mostrou, os caçadores, atiradores e colecionadores aproveitavam os decretos armamentistas publicados por Bolsonaro para andarem armados mesmo quando não estavam a caminho dos locais de prática de tiro ou caça.
Uma série de mudanças na política armamentista ocorreu com a publicação do decreto no primeiro dia do governo Lula. O texto suspendeu, por exemplo, em um primeiro momento, a aquisição de arma de fogo de uso restrito para CACs e estabeleceu um quantitativo menor de armas de uso permitido que podem ser adquiridas.
A suspensão irá ocorrer até a entrada em vigor de uma nova regulamentação do Estatuto do Desarmamento. O decreto institui um grupo que fará esse trabalho em até 60 dias. Há uma sugestão do grupo de transição da Justiça e Segurança Pública de dar mais poder à PF e esvaziar o poder do Exército.
A equipe do presidente sugeriu que a PF passe a ser responsável pela concessão de registro e pela autorização para aquisição de armas para CACs. Atualmente, esse papel é do Exército. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
12 de fevereiro-2023. 6º Domingo do Tempo Comum
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Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Neste domingo, 12 de fevereiro, na Liturgia da Palavra da Missa do 6º Domingo do Tempo Comum (cf. Mt 5,17-37), continuando a leitura do Sermão da Montanha (capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho segundo Mateus), Jesus declara que não veio abolir a Lei (os Mandamentos) e os Profetas e proclama a necessidade de observar os Mandamentos sempre indo além da própria letra: “Eu não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. É preciso obedecer, praticar, ensinar. Porém, o Mestre faz uma afirmação que deve ser o critério para o entendimento e o verdadeiro cumprimento: “se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos céus”.
Jesus cita alguns mandamentos no trecho apresentado para este domingo: “não matarás”, “não cometerás adultério”, “não jurarás falso”. Mas, não se trata apenas de observar os Mandamentos como se fossem leis externas. Jesus insiste para que os mandamentos se tornem estilo de vida. Ele vive o que o Salmo 119 proclama: “Como poderá o jovem manter puro o seu caminho? Observando as tuas palavras… Por isso amo teus mandamentos, mais que o ouro, o ouro mais fino. São admiráveis os teus ensinamentos: por isso, minha alma os observa” (Sl 119,9.127.129). Certamente, Jesus exortava para que não houvesse hipocrisia na relação com os mandamentos. Quer evitar um cumprimento mínimo, quase como tirando tais proibições tudo era permitido. Ao contrário, Ele ensina o verdadeiro caminho da justiça. Não apenas “não matar”, mas nem sequer desrespeitar o outro, tratá-lo como se fosse inferior ou descartável; não apenas não cometer adultério, mas também não tratar a mulher como objeto manipulável; não apenas jurar falso, mas também nunca jurar por qualquer que seja a realidade. Os seguidores de Jesus não precisam jurar: o céu, a terra, Jerusalém, e até a nossa cabeça, tudo pertence ao Senhor e a partir de nossa comunhão com Ele, tudo pertence a nós.
A compreensão dos mandamentos como estilo de vida dos seguidores de Jesus se completa com duas reflexões: a primeira com a continuação do texto do Sermão da Montanha. Em Mt 5,38-48, que será lido no 7º Domingo do Tempo Comum, Jesus nos oferece exemplos concretos do seu ensinamento: jamais “olho por olho e dente por dente”. É preciso perdoar, não responder o mal com o mal. É preciso agir em favor do outro com mais disponibilidade e antecipando a caridade. É o que Jesus diz em relação a ir além, a um plus: não somente dar a túnica, mas também o manto; não só andar um quilômetro, mas dois; dar a quem pede e não se negar ao empréstimo. Mas, nenhum mandamento no contexto do Sermão da Montanha é tão exigente e grave do que amar os inimigos. É um mandamento que só podemos observar se temos o Espírito de Jesus, isto é, se aceitamos o seu convite: tornar a nossa justiça maior do que a dos fariseus. Que isso seja possível, Jesus mesmo, não somente nos dá a força que vem do alto, o Espírito Santo, mas Ele mesmo é o paradigma. Essa é uma verdade de fé que, unida ao dogma da Trindade de Pessoas e ao evento da encarnação do Verbo, formam a tríade dogmática por excelência. Refiro-me à presença do Espírito no fiel seguidor de Jesus. Sim, Ele nos deu seu Espírito prometido (cf. At 2,1-21; Jo 14,16-18.26; 15,26; 16,7-11.13-15).
A segunda reflexão é a síntese dos mandamentos no mandamento do amor que ele deixou (cf. Jo 13,34-35). Sim, Jesus exige que a nossa justiça seja maior, porque Ele mesmo a praticou: Ele nos amou por primeiro, afirma São João na sua primeira carta (cf. 1Jo 4,19). E ainda: “Nisto está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Portanto, a justiça maior é a misericórdia divina, Deus que nos ama porque é Amor. Fonte: https://www.cnbb.org.br
WhatsApp fica com mais cara de Instagram em nova atualização; veja novidades
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Aplicativo anunciou novos recursos para os status, ferramenta similar aos stories da rede social
Uma nova atualização do WhatsApp, anunciada nesta terça-feira (7), deixa os status ainda mais parecidos com os stories do Instagram.
O recurso permite o compartilhamento de imagens e vídeos em um mural aberto aos contatos. Como na rede social irmã, as publicações desaparecem após 24 horas.
Na atualização, o usuário poderá controlar quem pode ver os status, reagir com emojis e compartilhar mensagens de voz.
Com o seletor de público exclusivo, o app ganha um reforço de privacidade ao permitir que o usuário decida quem poderá visualizar seus status. A seleção mais recente será salva e usada como o padrão para a próxima publicação.
É possível escolher três opções de público: "Meus contatos", "Meus contatos exceto…" e "Compartilhar somente com…". Nas duas últimas opções, o usuário decide para quais contatos os status serão liberados ou ocultados.
A nova atualização também permite que o usuário grave e publique um áudio de até 30 segundos e reaja a outros status com até oito emojis.
Além disso, os contatos que tiverem alguma atualização no status exibirão um círculo verde em volta da foto de perfil, análogo ao Instagram.
Esse círculo ficará visível na lista de conversas (a página principal do app), de participantes de grupos e nas informações de contato.
Outro recurso que estará disponível no WhatsApp é a prévia de links nos status. Quando o usuário publicar um link, automaticamente uma prévia visual será exibida. Segundo a empresa, isso dá aos contatos uma ideia mais clara sobre o conteúdo do link antes de eles clicarem.
A atualização será disponibilizada gradualmente a partir desta terça e deve chegar a todos os usuários nas próximas semanas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Homem é morto a tiro após marcar encontro por aplicativo em São Paulo
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Vítima foi abordada por dois criminosos enquanto aguardava pela suposta mulher com quem havia combinado
Um homem de 58 anos foi morto com um tiro na cabeça, na noite desta segunda-feira (6), depois de ser abordado por criminosos, no Jardim taipas, zona norte de São Paulo.
A vítima, segundo a Polícia Civil, tinha marcado um encontro com uma mulher via aplicativo de relacionamentos. Ele foi abordado quando esperava por ela.
O homem estava dentro do carro na rua Matheus Fantini quando dois suspeitos apareceram e anunciaram um assalto. A vítima tentou fugir, mas foi baleada na mão e na cabeça.
O veículo que ele dirigia ficou desgovernado e parou ao bater no muro de uma casa. O nome do homem não foi divulgado pela polícia, e ninguém foi preso.
Segundo a Polícia Civil, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) ouviu a ex-companheira da vítima, que afirmou que ele passou a marcar encontros com garotas usando aplicativos de relacionamento e, ontem, ele tinha marcado com uma mulher naquela região do Jaraguá.
Ainda de acordo com a polícia, imagens de câmeras de segurança foram localizadas e serão analisadas para tentar chegar aos autores do crime.
Segundo o DHPP, se, ao longo das investigações, for verificado que se trata de um latrocínio, o crime será investigado pelo DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Os crimes praticados a partir de encontros marcados por aplicativos têm sido cada vez mais comuns na capital paulista.
No dia 1º de janeiro, um empresário de 43 anos foi sequestrado e perdeu R$ 1,1 milhão em São Paulo depois de marcar um encontro por aplicativo com uma mulher. Ao chegar ao local combinado, ele foi abordado por três homens e teve o valor transferido de sua conta bancária, além de sofrer tortura por cerca de 17 horas.
A vítima foi libertada somente no dia seguinte, após a Polícia Militar receber uma denúncia e encontrá-la sob o poder de um dos criminosos. Dois suspeitos foram presos e não há informação se o valor subtraído foi recuperado.
Levantamento aponta que 9 em cada 10 sequestros em São Paulo são "golpes do Tinder". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Terremoto: mortos passam de 5 mil, enquanto buscas por desaparecidos continuam
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Pelo menos 3.432 pessoas morreram em 10 províncias turcas, com mais de 21.100 feridos, de acordo com os últimos números das autoridades turcas divulgados nesta terça-feira. Já na Síria, o número de mortos é de ao menos 1.598, com cerca de 1.450 feridos.
O número de mortos na Turquia devido ao forte terremoto de magnitude 7.8 na segunda-feira, 6, aumentou para 3.432. Os feridos são 21.103, enquanto os prédios destruídos pelo tremor de magnitude 7.8 chegam a 5.775 prédios. Já o número de mortos na Síria subiu para 1.598, com cerca de 1.450 feridos.
A chefe de emergências da Organização Mundial da Saúde para a Europa, Catherine Smallwood, afirmou que o número de mortos pode subir para mais de 20.000, “pois sempre acontece a mesma coisa com terremotos: os relatórios iniciais do número de pessoas mortas ou feridas aumentam significativamente na semana seguinte.”
Equipes de resgate correram nesta terça-feira para resgatar sobreviventes dos escombros de milhares de edifícios derrubados pelo terremoto, com a descoberta de mais corpos elevando o número de mortos para mais de 5 mil.
Países ao redor do mundo enviaram equipes para ajudar nos esforços de resgate, mas um dia após o terremoto, o número de equipes de emergência no solo permaneceu pequeno, com seus esforços impedidos por baixas temperaturas e pelos quase 200 tremores secundários, que tornaram as buscas perigosas, devido às estruturas instáveis.
Na província de Hatay, a sudoeste do epicentro do terremoto, as autoridades dizem que cerca de 1.500 prédios foram destruídos e muitas pessoas relataram que parentes ficaram presos sob os escombros sem ajuda ou chegada de equipes de resgate. Nas áreas onde as equipes trabalhavam, aplausos ocasionais irromperam durante a noite enquanto os sobreviventes eram retirados dos escombros.
O terremoto, que teve como centro a província de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, fez com que moradores de Damasco e Beirute corressem para as ruas e foi sentido até no Cairo. A organização de ajuda médica Médicos Sem Fronteiras confirmou na terça-feira que um de seus funcionários estava entre os mortos depois que sua casa na província de Idlib, na Síria, desabou, e que outros perderam familiares.
Na província de Hatay, na Turquia, milhares de pessoas se abrigaram em centros esportivos ou salões de feiras, enquanto outras passaram a noite do lado de fora, enroladas em cobertores ao redor de fogueiras. Um navio da Marinha atracou na terça-feira no porto da província de Iskenderun, onde um hospital desabou, para transportar sobreviventes que precisam de cuidados médicos para a cidade vizinha de Mersin. Uma fumaça espessa e negra subiu de outra área do porto, onde os bombeiros ainda não conseguiram apagar um incêndio que começou entre os contêineres que foram derrubados pelo terremoto.
Na cidade turca de Gaziantep, capital provincial a cerca de 33 quilômetros do epicentro, as pessoas se refugiaram em shoppings, estádios, mesquitas e centros comunitários.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou sete dias de luto nacional. As autoridades temem que o número de mortos continue subindo enquanto as equipes de resgate procuram sobreviventes entre emaranhados de metal e concreto espalhados pela região assolada pela guerra civil de 12 anos na Síria e pela crise de refugiados.
Nas últimas promessas de ajuda internacional, o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol disse que estava se preparando para enviar rapidamente uma equipe de busca e resgate de 60 pessoas, bem como suprimentos médicos.
A missão enviada pelo governo da Grécia inclui 21 bombeiros da unidade de emergência EMAK, 2 cães de resgate e um veículo especial de missão de resgate. Também voando com eles estão um oficial do Corpo de Bombeiros especializado em apoiar prédios desabados, 5 médicos de emergência do sistema de emergência de ambulâncias EKAV e o presidente da Organização de Planejamento e Proteção Antissísmica da Grécia, Efthymios Lekkas.
O governo do Paquistão enviou um voo com suprimentos de socorro e uma equipe de busca e resgate de 50 membros na terça-feira, e disse que haverá voos diários de ajuda para a Síria e a Turquia a partir de quarta-feira.
A Índia disse que enviaria duas equipes de busca e resgate, incluindo cães especialmente treinados e pessoal médico. O presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para Erdogan para expressar condolências e oferecer assistência ao aliado da OTAN. A Casa Branca disse que estava enviando equipes de busca e resgate para apoiar os esforços da Turquia.
O terremoto acumulou mais miséria em uma região que passou por um tremendo sofrimento na última década. Do lado sírio, a área afetada é dividida entre o território controlado pelo governo e o último enclave controlado pela oposição do país, cercado por forças do governo apoiadas pela Rússia. A Turquia é o lar de milhões de refugiados da guerra civil síria. No enclave controlado pelos rebeldes, centenas de famílias permaneceram presas nos escombros, disse a organização de emergência da oposição conhecida como Capacetes Brancos em um comunicado. A área abriga cerca de 4 milhões de pessoas deslocadas de outras partes do país pela guerra. Muitos vivem em prédios já danificados por bombardeios militares. Centros médicos sobrecarregados rapidamente se encheram de feridos.
*Com informações de Agências de notícias. Fonte: https://www.vaticannews.va
Como Glória Maria foi de repórter a personagem da televisão brasileira
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Carismática e com uma incrível capacidade de comunicação, ela foi uma repórter que crescia naturalmente na tela
Mauricio Stycer
SÃO PAULO
Em mais de cinco décadas de carreira, sempre na Globo, Glória Maria, morta nesta terça-feira (2) aos 73 anos vítima de um câncer, escreveu uma história muito rara no jornalismo. Tornou-se uma referência para diferentes faixas de público e, mais incomum ainda, para colegas e profissionais do meio.
Carismática, curiosa, com muito jogo de cintura e uma incrível capacidade de comunicação, Glória foi uma repórter que crescia naturalmente na tela. Sem muitas referências anteriores a ela, criou um estilo próprio, reconhecível.
Glória se profissionalizou na década de 1970, no momento em que a Globo começou a se tornar o principal canal de TV do país. O investimento da emissora em jornalismo foi um dos grandes acertos deste período. Nasceram, então, três programas que até hoje estão no ar —Jornal Nacional, desde 1969, Globo Repórter e Fantástico, ambos iniciados em 1973.
A geração da qual Glória faz parte está até hoje no imaginário de quem assistiu à Globo naquela década. É uma época de investimento também em correspondentes internacionais, como Sandra Passarinho, Helio Costa, Lucas Mendes, Silio Boccanera e Roberto Feith, entre outros, que cumpriram carreiras marcantes e igualmente originais.
No caso de Glória, havia um elemento a mais. Ela era uma mulher negra de origem humilde. Filha de um alfaiate e uma dona de casa, nunca passou fome, "mas era tudo contadinho", conforme contou a Nina Lemos, da revista TPM.
A televisão entra na nossa casa, a gente se acostuma com ela e nem sempre se dá conta do que estamos vendo. Os muitos depoimentos sobre a jornalista mostram isso. É notável como ela representou tantas coisas diferentes e não óbvias para tantas pessoas. Isso é uma qualidade incrível para um profissional de imprensa.
O depoimento do músico Emicida é impressionante. "Glória Maria é uma das maiores referências de possibilidade que esse país já viu", disse. É uma percepção importante, sobre um papel que ela não precisou enunciar em voz alta —uma repórter negra na tela da TV.
Só em 2019, com a publicação da biografia de Roberto Marinho escrita por Leonêncio Nossa, "O Poder Está no Ar", o romance entre Glória e José Roberto, filho caçula do empresário, ganhou ares públicos. "Papai foi tranquilo. Gostava dela, tinha admiração por ela. Mas eu senti o preconceito no Rio quando estava na companhia dela em lugares públicos. Aqui as classes sociais são apartadas", afirma.
No ano seguinte, em entrevista a Pedro Bial, Glória tratou abertamente da história e falou sobre racismo. "Quando você nasce negro, e eu não sou mulatinha, sou negra mesmo, sou preta, você aprende a reconhecer isso a 30 quilômetros de distância. Você sabe onde está um racista."
Uma parte da fama de Glória foi adquirida em reportagens "de risco", aventuras em que expôs sua imagem em situações aparentemente fora de controle. É uma etapa da carreira em que a repórter se torna também personagem, transmitindo uma aura heroica.
São sempre lembradas as reportagens para o Fantástico, como um voo que simula gravidade zero na qual ela encarna o espírito do programa, "o show da vida", ou ainda uma caminhada entre dois balões no ar que fez no Domingão do Faustão.
Na última fase da carreira, quando deixa o Fantástico, onde também foi apresentadora, e passa a integrar a equipe do Globo Repórter, Glória se tornou famosa entre as novas gerações.
É um período em que o Globo Repórter, já sem a mesma relevância e sob a sombra do Profissão Repórter, se especializa em temas como saúde, qualidade de vida, ecologia e turismo. Eis que Glória Maria vira personagem de piadas na internet. Vira meme.
Foi assim, em 2013, quando o programa comemorava 40 anos de vida. Glória Maria foi ao Vietnã, fazer uma reportagem muito bem produzida, mas panorâmica e superficial. A certa altura, num cais, a repórter toma um tombo cinematográfico. "Caí bonito", diz. Como escrevi à época, a cena poderia ter sido cortada pela edição, mas não foi. Também virou meme.
O mesmo aconteceu em 2016, numa viagem à Jamaica. Ao participar de um ritual rastafári, experimentou maconha: "Recusar nem pensar. Seria um desrespeito à tradição", avisou, inundando as redes sociais com imagens engraçadas do momento em que inala a erva de um cachimbo.
É uma fase de enorme popularidade e que mostra Gloria Maria sintonizada com os tempos atuais. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Filho mandou mensagem de áudio após ônibus tombar em MG: ‘Mãe, não fica preocupada, mas eu tive um acidente’.
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Damiana Januário recebeu mensagem do filho bem cedo, dizendo que estava no hospital. Família conta que ele fez uma vaquinha para conseguir viajar e disputar a competição.
Por Carla Sant’Anna, Jefferson Monteiro, Rogério Coutinho e Thaís Espírito Santo*, g1 Rio e TV Globo
Um dos jogadores do time de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mandou uma mensagem de áudio para a mãe logo após o ônibus onde estava tombar de uma ponte na BR-116, em Minas Gerais, na madrugada desta segunda-feira (30).
Juan Manoel, de 18 anos, queria tranquilizar a mãe, Damiana Januário. Até a última atualização desta reportagem, não havia informações a respeito do estado de saúde do jovem. O acidente deixou 29 feridos e quatro mortos.
"Às 6 horas da manhã, ele já falando: ‘mãe, não fica preocupada, mas eu tive um acidente’. Como assim você teve um acidente? Você não estava jogando? Você não falou que estava vindo embora?", disse Damiana.
"Para mim, o acidente dele não era de ônibus. Eu nem imaginava que era de ônibus que ele teve um acidente, para mim ele estava jogando”, completou.
O acidente com o ônibus que trazia jogadores do Vila Maria Helena Futebol Clube, time amador de Duque de Caxias, aconteceu durante a madrugada desta segunda-feira (30) e deixou 29 pessoas feridas e outras quatro mortas.
Os nomes das vítimas não foram divulgados até a última atualização desta reportagem.
Damiana busca informações sobre o estado de saúde do filho. Quando ele mandou a mensagem, ele tinha poucas informações sobre a queda da ponte, que tem dez metros de altura.
“Foi o ônibus, entendeu? Virou. Foram várias voltas. Eu falei: ‘e aí, como está o pessoal?’ Ele falou: ‘mãe, eu não sei se morreu gente e onde está a pessoa que estava nos treinando’”, contou a mãe de Juan.
Ela contou ainda que o medo tomou conta da família após um fim de semana de conquistas.
“Ele se locomoveu, se moveu, para conseguir ir para esse campeonato lá. Ele é um moleque batalhador, sonhador, e agora de repente foram para lá, foram campeões, isso aqui é a boa notícia, que eles foram campeões, voltando com uma alegria e, de repente, traz essa tristeza para nós, os pais”, disse Fabrício Moura, padrasto do Juan.
Vaquinha para viagem
A família de Juan conta que os jogadores e os parentes fizeram uma vaquinha para bancar a viagem até Minas Gerais e participar do torneio. Eles viajaram na quarta (25), à noite.
“Ele falou: ‘mãe, eu quero viajar para jogar’. Eu falei: ‘eu não tenho condições’. Ele pegou, pediu no Facebook, WhatsApp. Muita gente ajudou para que ele pudesse ir. Sobrou dinheiro para poder lanchar, fazer alguma coisa. Eu falei: ‘meu filho, vai com Deus, volta com Deus’. Ele falou: ‘mãe, ganhamos’. Ele todo feliz”, disse Damiana.
A mãe do atleta está aliviada que o filho está bem, mas lamenta pelas vítimas.
“Eu estou triste, porque meu filho está lá e eu não sei o que tá acontecendo, entendeu? Ele falou: ‘mãe, eu estou bem. Eu tomei ponto. Tem uns amigos meus que não sei para onde está, os que estão aqui perto, o pai do menino ia lá para poder buscar’. Só que ninguém tomou alta, ninguém teve alta, então provavelmente ele também está lá. Tem muita gente machucada, ele falou que o treinador dele não sabe para onde está. E a gente está aqui, esperando notícia”, afirmou Damiana.
Na noite de domingo (29), os meninos do time estavam voltando com o troféu da competição. Os bombeiros foram chamados às 2h51 da madrugada desta segunda, depois que o ônibus caiu da ponte sobre o Rio Angu e ficou de cabeça para baixo.
No veículo, estavam 28 adolescentes, quatro adultos da comissão técnica e o motorista. Três adolescentes e um adulto morreram. As outras pessoas estão em hospitais da região.
O Hospital São Salvador informou que, dos 24 pacientes levados para a unidade, quatro estão sob cuidados especiais. Um deles passou por cirurgia e está internado na UTI. Outro está sendo operado, e um terceiro espera por cirurgia. A quarta vítima está internada em uma unidade para pacientes críticos. O estado de saúde dos outros 20 pacientes não foi divulgado.
A Casa de Caridade Leopoldinense confirmou que cinco adolescentes deram entrada por volta das 6h30 da manhã, mas não divulgou o estado de saúde deles.
A TV Globo tentou contato com a LG Turismo, mas não conseguiu retorno até a última atualização desta reportagem. Fonte: https://g1.globo.com
A dimensão dos crimes contra os Yanomamis
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Surgem indícios de que a catástrofe não foi causada apenas por descaso ou incompetência do governo Bolsonaro, mas por omissões criminosas, fraudes, obstruções e corrupção
Por Notas & Informações
A tragédia humanitária dos Yanomamis é chocante, mas não surpreendente. Sem dúvida, toda a sociedade brasileira precisa fazer um exame de consciência em relação ao abandono histórico dos povos originários. Mas surgem indícios de que o governo Jair Bolsonaro descumpriu deliberada e criminosamente suas obrigações legais para com os Yanomamis.
Desde 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma ação relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, vinha baixando decisões que obrigavam o governo a ampliar a proteção aos Yanomamis, incluindo um plano de expulsão de garimpeiros e madeireiros atuando ilegalmente na reserva e medidas de segurança sanitária e alimentar. Segundo nota do gabinete do relator emitida na última quinta-feira, 26, “as operações, sobretudo as mais recentes, não seguiram o planejamento aprovado pelo STF e ocorreram deficiências”. A Corte ainda “detectou descumprimento de determinações judiciais e indícios de prestação de informações falsas à Justiça”.
A presença de mineradores ilegais tem sido uma constante desde a remarcação do território, em 1992. O Ministério Público Federal (MPF) de Roraima já havia ajuizado em 2017 uma ação civil pública pleiteando a colocação de três bases etnoambientais da Funai nas reservas Yanomamis. Mas, mesmo após a sentença judicial, essas determinações nunca foram devidamente cumpridas. Com o enfraquecimento dos órgãos de apoio indígena e de combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro, o garimpo cresceu ainda mais.
Após as decisões do STF, um plano de atuação chegou a ser apresentado, mas nunca foi aplicado. “A linha de atuação do Ibama previa o combate nos rios e com o uso de aeronaves e poderia erradicar o garimpo em seis meses. Jamais foi aplicado”, disse ao Estadão Alisson Marugal, procurador da República em Roraima. “Muito pelo contrário, diversas vezes o Ibama em Brasília impediu que o plano fosse aplicado.” Segundo ele, “o governo fez operações para não funcionar”. Foram só três ciclos, com duração de cinco a dez dias, sobre apenas 9 dos 400 pontos de garimpo ilegal.
Começam a vir à tona também indícios de corrupção. Conforme reportou a Folha de S. Paulo, relatórios preliminares de uma operação da Funai realizada em 2019 apontam uma suposta relação próxima entre integrantes do Exército que atuavam em Roraima e o garimpo ilegal. Os relatos sugerem que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva, muitos com relação de parentesco com os garimpeiros, vazavam informações de operações de combate à atividade ilegal e permitiam a circulação de ouro e droga mediante pagamento de propina. Os documentos também apontam para a atuação de integrantes do PCC no transporte de drogas e de minerais ilegais. A operação mapeou 3 pistas de pouso clandestinas, 14 clareiras abertas para pouso e decolagem de helicópteros, 36 garimpos, balsas ou acampamentos, 4 bordéis e 41 frequências de rádio utilizadas para comunicação. Mas, apesar de todas essas evidências, nada foi investigado.
A gestão de saúde da área Yanomami é investigada por desvio no uso de verba para a compra de remédios. O MPF suspeita que só 30% dos mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo distrito sanitário indígena local, sob ingerência do Ministério da Saúde, teriam sido devidamente entregues. Segundo os procuradores, o desvio de medicamentos vermífugos, por exemplo, impossibilitou que 10 mil crianças, das cerca de 13 mil previstas, recebessem o tratamento devido.
Em 1998, o então deputado federal Jair Bolsonaro fez uma acusação às Forças Armadas: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Com a sua pusilanimidade característica, acrescentou: “Se bem que não prego que façam a mesma coisa com o índio brasileiro”. Quem dera só pregasse e não fizesse. Mas omissão também é crime, e a dizimação a que os Yanomamis foram submetidos sob o seu governo não pode passar impune. Fonte: https://www.estadao.com.br
Hanseníase: Brasil é um dos países com maior número de casos da doença, alerta OMS
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença persiste como 'um problema sério' em 14 países de África, Ásia e América Latina.
Por AFP — Rio de Janeiro
Assiba, de 27 anos, luta contra a hanseníase Fundação Raoul Follereau / Reprodução
Apesar dos tratamentos existentes, a hanseníase continua a infectar milhares de pessoas todos os anos, especialmente em países pobres. Embora pesquisas estejam sendo feitas, poucos laboratórios dedicam recursos a ela. Em 2022, cerca de 216.000 casos foram detectados em todo o mundo, especialmente no Brasil e na Índia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e persiste como "um problema sério" em 14 países de África, Ásia e América Latina.
Os números podem ser apenas a ponta do iceberg, segundo o médico Bertrand Cauchoix, especialista na doença da Fundação Raoul Follereau, na França,
“Sabemos o número de doentes rastreados, mas não contamos os esquecidos, os não detectados, que poderiam ser muito mais numerosos”, explica.
A haseníase é ser uma das 20 doenças tropicais que a OMS considera negligenciadas. Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a doença, que é transmissível, ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente muito graves.
Favorecida pela promiscuidade e pelas precárias condições de vida, a doença tem um período de incubação muito longo, de até 20 anos, ao qual se acrescenta um atraso no diagnóstico, durante o qual a doença pode continuar a infectar pessoas próximas. Há décadas existe um tratamento médico baseado em três antibióticos.
Mathias Duck, capelão paraguaio de 44 anos, já conhecia a hanseníase por ter trabalhado em um hospital dedicado a pacientes com a doença. Mas quando ele mesmo foi diagnosticado, em 2010, levou "três anos para poder falar sobre livremente", conforme disse à AFP. Para Duck, seis meses de tratamento foram suficientes:
— Tive muita sorte porque fui diagnosticado e tratado a tempo, sem sequelas.
Mas o tratamento pode ser mais longo, até 12 meses, o que dificulta o acompanhamento em países sem um sistema de saúde adequado.
— É preciso infraestrutura com cuidadores para dispensar os remédios, isso demanda recursos — lembra Alexandra Aubry, professora de biologia e especialista em hanseníase do Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas (CIMI) de Paris.
'Não há dinheiro para a lepra'
Os antibióticos existentes são doados pela fundação do laboratório suíço Novartis, que os fabrica, através da OMS. Por isso, Bertrand Cauchoix aponta "um risco de tensões muito grandes" caso ocorram problemas na linha de produção desses antibióticos.
Em geral, os laboratórios farmacêuticos não se esforçam para produzir novas moléculas que sejam mais fáceis de administrar.
— Não há dinheiro para a hanseníase, apenas doações de caridade — lamenta Cauchoix.
Na verdade, a doença está quase ausente nos países ocidentais e se espalha em um número limitado de pacientes em países que não podiam pagar novos medicamentos caros.
Em seu laboratório de pesquisas em Paris, um dos poucos no mundo capaz de testar essa bactéria, Alexandra Aubry avalia a eficácia de cada novo antibiótico que chega ao mercado para tratar outras doenças.
— Tentamos identificar associações de antibióticos. Tentamos todas as formas possíveis de simplificar para tratamentos mais curtos, por exemplo, uma vez por mês durante seis meses — explica Aubry.
Há também projetos de vacinas, cada vez mais raros porque também faltam verbas.
— É muito complicado ter financiamento para isso. Para avaliar a eficácia de uma vacina, é preciso acompanhar a população vacinada por 10 ou 15 anos — lembra Aubry.
— Se compararmos com o que aconteceu com a covid-19, realmente é apenas uma gota no oceano — acrescenta o padre Duck, que também apela a mais investigação e vontade política em todo o mundo para erradicar a doença. Fonte: https://oglobo.globo.com
Covid ainda mata tanto quanto homicídios no Brasil
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É preciso também desbolsonarizar a saúde
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
SÃO PAULO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) discute na sexta-feira que vem se a Covid ainda é uma "Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional" (ESPII), o maior nível de alerta e, em tese, de engajamento legal e dedicação mundiais na lida com um desastre sanitário, entre eles epidemias. Foi no 30 de janeiro de 2020 que a Covid se tornou uma ESPII.
Cientistas dizem pelo mundo que seria cedo decretar o fim da emergência mundial, se por mais não fosse porque a doença vai fazer uma desgraça na China, que deu cabo de sua política de "Covid zero" e vai ter muita infecção e morte.
Caso determine o fim da ESPII, a OMS não quereria dizer que a pandemia acabou, embora tal decisão tivesse algumas consequências práticas. Teria efeito simbólico?
Talvez não. Como parece intuitivo, o mundo já faz algum tempo se adaptou à Covid, se fartou de saber do vírus ou de se preocupar com ele. Em países como o Brasil, a doença se tornou de certo modo invisível desde meados do ano passado e ainda mais agora. Tornou-se tão invisível quanto os mais velhos e mais fracos.
No último mês, a Covid matou 3.938 pessoas, 131 por dia, pelos registros oficiais. No auge do horror, em abril de 2021, chegou a matar mais de 85 mil pessoas em 30 dias.
Mesmo com esses números reduzidos, a Covid ainda mata tanto quanto assassinos (a média de homicídios em 2021, dado mais recente, foi de 130 por dia).
A doença pode parecer invisível, menos para os doentes e suas famílias, porque mata majoritariamente pessoas mais velhas ou que também já padecem de outro mal, ainda e sempre doenças do coração e diabetes, na maior parte (em São Paulo, 73% dos mortos tinham comorbidades).
No último trimestre, 81% dos mortos de Covid no estado de São Paulo tinham mais de 60 anos (65% tinham mais de 70 anos). Cerca de 85% dos mortos por gripe/pneumonia em 2019 e 2020 tinham mais de 60.
Como já se escreveu nestas colunas, é como se Covid tivesse se tornado uma grande gripe assassina, em especial de velhos, que se dá de barato que morram, tal como um Bolsonaro o faria. Em São Paulo, a Covid matou mais de 1 de cada 40 dos indivíduos com mais de 70 anos.
A vacinação tornou a morte de pessoas mais jovens muito improvável, é verdade. Apesar de Jair Bolsonaro e de generais e coronéis do Exército, que comandaram a ocupação bozista do ministério da Saúde, a vacinação avançou, graças ao SUS e à maioria de estados e cidades.
Na aplicação das duas primeiras doses ou equivalente, o Brasil foi tão bem quanto França, Alemanha, Itália e Espanha (ou melhor), por exemplo. Mas fica bem abaixo na dose de reforço (57% da população, abaixo dos países europeus grandes). O caso dos Estados Unidos é uma vergonha.
Vacinar, pois, ainda é necessário, até como parte de uma grande campanha de regeneração nacional, de informação e de atendimento de saúde, de divulgação de qualquer tipo de vacina, programas prejudicados por causa dos degenerados bolsonaristas.
Além dessa obviedade, há outras três, esquecidas ou aceitas como um dado da natureza.
Quase 60% das pessoas que tiveram Covid continuam a ter sintomas um trimestre depois da infecção aguda. Muitas delas, nem temos ideias de quantas, ficaram com sequelas incapacitantes ou graves de outra maneira. Famílias estão dilaceradas também porque perderam quem as sustentasse, mães, pais ou avós. É preciso cuidar dessa gente.
A outra desgraça é a da educação. Parece assunto tão velho, cediço, tedioso de tão repetido. É novíssimo, porém, pois quase tudo está por fazer.
Ainda nas prioridades, é preciso desbolsonarizar a saúde e levar Bolsonaro e seus generais e coronéis à Justiça. Sem anistia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O Brasil precisa de um exorcismo
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Como pessoas comuns se tornam monstros, mesmo que movidas por suas melhores intenções?
Por Nelson Motta — Rio de Janeiro
Não bastam as reformas política, tributária, administrativa, ambiental, nem mesmo a reforma psiquiátrica, o Brasil se tornou um caso de exorcismo. Não de um exorcista circense de igreja de subúrbio, mas de uma legião deles, de veteranos barra-pesada como o do filme, e tantos da vida real, que realmente sabem enfrentar demônios.
Quando o exorcista pergunta quem é o demônio que está no corpo do possuído, uma voz cavernosa rosna exalando um hálito fétido: “Meu nome é legião.” E é mesmo uma milícia de demônios que ocupa aquele corpo, e, como se sabe, a maior esperteza do demônio é nos convencer de que não existe. Talvez não com esse nome, ou espírito maligno, obsessor, encosto, do que quiserem chamar, mas é impossível negar a presença do mal no mundo.
Essa é a grande questão dos que têm fé na bondade, justiça e compaixão divina e na perfeição da Criação: como então explicar as manifestações explícitas do mal físico, mental e espiritual, pessoal e coletivo, em nosso mundo e em nosso cotidiano desde a alvorada da Humanidade?
A força do mal domina, de Caim a Calígula e Hitler a tiranos e soldados sanguinários, inquisidores, torturadores sádicos, até o médico estuprador e o assassino de Marielle Franco. O mal está entre nós, em nós, e sem aceitar isso o bem não faz sentido.
Todo mundo tem o bem e o mal em si, uns mais outros menos, de um e de outro: é da condição humana. E ao longo da vida um vai prevalecendo sobre o outro, ou o outro sobre o um. Como o ser humano é “o homem e suas circunstâncias” (filósofo Ortega y Gasset), o bem e o mal estão em permanente batalha em cada um de nós, e agora pior do que nunca, nas multidões sem rosto. Foi o que a filósofa Hannah Arendt analisou em “A banalidade do mal” a partir do nazismo e do genocídio.
Como pessoas comuns se tornam monstros, movidas por suas melhores intenções, tomadas por uma fé cega que as controla e impulsiona? Comportamentos mentais que nem Freud, Jung e Lacan, juntos, podem explicar ou justificar, fora das patologias.
No Brasil, são poucos os ateus raiz, geral acredita em um Deus, ou vários, ou em forças superiores, ou entidades, em qualquer coisa maior e mais poderosa do que nós, portanto incompreensível pela razão, só pela fé naqueles a quem podemos apelar em caso de necessidade, de quem esperamos proteção e satisfação de nossos desejos, e quem, como nosso criador, é o responsável por nossas ações e destino.
Estamos vivendo um verdadeiro “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, com fanáticos, cangaceiros e fazendeiros de celular, que dão atualidade à frase clássica do pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784), “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, complementada pelo filósofo de Ipanema Millôr Fernandes: “No Brasil, é o primeiro.” Fonte: https://oglobo.globo.com
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