Polícia identifica atirador que matou 4 durante missa na Catedral de Campinas
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Euler Fernando Grandolpho chegou a igreja com duas armas e se sentou entre fiéis antes de abrir fogo; ele se matou após a chegada da polícia
A Polícia Civil identificou na tarde desta terça-feira (11) a identidade do atirador que matou quatro pessoas durante uma missa na Catedral Metropolitana de Campinas (SP). Trata-se de Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, que tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) registrada em Valinhos, cidade vizinha.
Após o crime matar quatro pessoas e deixar outras quatro feridas, o atirador se matou. De acordo com informações iniciais da polícia, Euler era analista de sistemas. De acordo com o G1, o delegado do 1º Distrito Policial, Hamilton Caviola Filho, viu imagens do circuito de segurança dentro da igreja no momento da ação, e estima estima pelo menos 20 disparos. “Ele sentou a uns dez metros para a frente da porta. Ele não entrou atirando, primeiro ele senta em um banco”, afirma.
Segundo o delegado, logo após a entrada do atirador, três pessoas sentaram no banco atrás dele e foram as primeiras a serem atingidas. Entre elas, uma morreu. “Ele usou uma arma, mas estava com duas. Motivação a gente só vai saber quando identificar, para saber o histórico dele. Ele [atirador] parou, pensou e executou o plano que tinha na cabeça”, diz o delegado.
Feridos – Equipes do Samu e do Corpo de Bombeiros foram enviadas ao local, por volta das 13h20, para atender aos feridos. A informação inicial é de que Jandira Prado Monteiro, de 65 anos, teve lesões em uma das mãos e tórax e foi socorrida ao Hospital Mário Gatti, mas está fora de risco.
Para o mesmo hospital municipal foi encaminhado Heleno Severo Alves, de 84, que foi atingido por dois disparos nas regiões do tórax e abdômen e passará por cirurgia. O estado dele é grave.
Maria de Fátima Frazão Ferreira, de 68 anos, foi levada ao Hospital de Clínicas da Unicamp após ser baleada em uma das pernas e o quadro de saúde dela é estável, segundo a unidade.
O quarto ferido é um homem, de 64 anos, que foi atingido por dois tiros de raspão e foi socorrido ao Hospital Beneficência Portuguesa. A assessoria informou à EPTV que ele já recebeu alta. Fonte: http://bahia.ba
MÍDIAS SOCIAIS: WhatsApp anuncia os celulares em que o app deixará de funcionar em 2019
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O WhatsApp, o aplicativo de mensagens mais usado no mundo, é atualizado constantemente. E acaba de publicar sua habitual "lista negra" de celulares em que o serviço não estará disponível a partir de 1º de janeiro.
A empresa, que tem mais de 1,5 bilhão de usuários, já indicou no passado que prefere se concentrar nas "plataformas de telefonia móvel usadas pela grande maioria das pessoas". É por isso que a companhia disse que quem utiliza o sistema operacional Nokia S40 só terá acesso ao aplicativo até 31 de dezembro de 2018, de acordo com o blog da empresa.
O S40 é um software que foi desenvolvido pela empresa finlandesa Nokia em 1999 e que, segundo a companhia, passou a ser usado "em centenas de milhões" de celulares. Entre eles, estão o Nokia 206 e 208, Nokia 301, Nokia 515 e grande parte da série Nokia Asha C3, X2 e X3. Esses dispositivos ainda são vendidos como alternativa aos smartphones mais famosos em diversas lojas e sites.
O caso do iPhone 4
O WhatsApp também adiantou algumas mudanças que vão afetar quem tem um celular emblemático da Apple: o iPhone 4. E, embora ainda seja compatível com esse dispositivo, em breve vai deixar de ser. O aplicativo não permite mais a criação de novas contas a usuários que tenham esse modelo de iPhone ou qualquer outro que funcione com o iOS 7 ou outra versão anterior do software da Apple.
"O WhatsApp para iPhone requer [um sistema operacional] iOS 8 ou posterior. No iOS 7.1.2, não é mais possível criar novas contas ou verificar contas existentes. Se o WhatsApp já estiver ativo no seu dispositivo, você poderá usá-lo até 1º de fevereiro de 2020. O iOS 6 ou anteriores não são mais compatíveis", diz o site da empresa. "Para uma melhor experiência, recomendamos a utilização da versão mais recente do iOS disponível no seu telefone. Visite a página de ajuda da Apple para saber como atualizar o software do seu iPhone."
Android 2.3.7
O caso dos celulares que utilizam o sistema operacional Android 2.3.7 (e versões anteriores) é muito semelhante ao do iOS 7.1.2: só podem usar o WhatsApp até 1º de fevereiro de 2020.
Segundo dados do Google, existem cerca de 6 bilhões de celulares no mundo que rodam com Android 2.3.7 ou uma versão anterior do sistema operacional.
Também conhecido como Gingerbread, o Android 2.3.7 foi lançado em dezembro de 2010 junto com o Nexus S, um smartphone fabricado pela Samsung. Seu sucessor, o Android 3.0 Honeycomb (ou "favo de mel") foi lançado em fevereiro de 2011.
Se você quiser continuar usando o WhatsApp, será necessário atualizar seu sistema operacional. Fonte: https://www.bbc.com
Mãe dá à luz na sala de espera de hospital no RJ.
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Mãe dá à luz na sala de espera de hospital no RJ.
Mulher pariu no chão da Emergência do Pedro II nesta segunda-feira (10).
Vídeo que circula nas redes sociais mostra uma mulher dando à luz no chão da Emergência do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. O parto foi na madrugada desta segunda-feira (10).
Nas imagens, a mãe, sentada no piso, tenta fazer o bebê, uma menina, chorar. Somente quando a criança já está no colo, aparece uma enfermeira.
O blog apurou que a mulher chegou à recepção do hospital, mas não tinha ninguém para atendê-la. Nesta segunda-feira, contaram funcionários, houve muitas faltas na equipe.
A mãe, Paula, decidiu batizar a filha de Vitória, porque ela demorou a chorar. A Secretaria Municipal de Saúde disse que vai apurar o que aconteceu. Fonte: https://g1.globo.com
Mãe de 6 filhos é morta a facadas pelo companheiro no DF
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Mãe de 6 filhos é morta a facadas pelo companheiro no DF
O crime ocorreu no apartamento do casal, na madrugada desta segunda-feira (10/12). Polícia investiga o caso
Uma mulher foi morta a facadas por volta de 4h30 desta segunda-feira (10/12), na QNM 20 de Ceilândia Norte. O principal suspeito do crime é o companheiro da vítima. O crime ocorreu no apartamento do casal. Segundo informações preliminares, a mulher tinha seis filhos e a briga foi motivada por um celular.
O caso foi registrado como feminicídio pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). Segundo a PCDF, Wdson Luiz Santos de Souza, 23 anos, desferiu diversas facadas em Mônica Benvindo da Costa, 26.
Após atacar a companheira, ele fugiu. Porém, retornou em seguida, quando ela era socorrida por familiares, e deferiu mais três facadas na mulher, de acordo com o delegado-chefe da 15ª DP, André Luís da Costa Leite. A faca, objeto do crime, foi apreendida.
A PCDF informou que o suspeito tem passagem por porte e uso de drogas e não há registros de Lei Maria da Penha (violência doméstica) envolvendo o casal. Fonte: www.metropoles.com
Doze pessoas morrem em tentativa de assalto a dois bancos no Ceará
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Seis dos mortos seriam pessoas que estavam como reféns dos bandidos. Tentativa de assalto a duas agências bancárias, uma do Banco do Brasil e outra do Bradesco, em Milagres, a 482,7 km de Fortaleza, terminou com pelo menos 12 mortos na madrugada desta sexta-feira (7). Segundo apuração da Rádio O POVO/CBN Cariri, pelo menos 30 criminosos participaram da ação e fizeram reféns.
A Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Perícia Forense (antigo IML) da cidade de Juazeiro do Norte, que recolheu os corpos, chegou a informar que 13 pessoas morreram no tiroteio. No entanto, em nota, a Secretaria de Segurança do Estado confirmou que foram 12 óbitos até agora.
As agências ficam uma de frente para a outra na rua Presidente Vargas, Centro de Milagres. Informações dão conta que, dos 10 mortos, seis seriam reféns. Os suspeitos fugiram sem levar dinheiro dos bancos.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o grupo criminoso roubou um caminhão, que foi usado para interditar a BR-116, no quilômetro 495, que fica entre os municípios de Brejo Santo e Milagres. O bloqueio seria para atrasar a chegada da Polícia à Cidade. A via está parcialmente liberada, conforme a PRF informou ao O POVO Online às 8h50min, mas o veículo ainda se encontra no local.
Conforme relatos de pessoas que moram próximo aos estabelecimentos bancários, a troca de tiros foi intensa e deixou vários feridos, além dos óbitos. Dez pessoas teriam dado entrada no Hospital Municipal Nossa Senhora dos Milagres. No Município o clima é de medo.
Equipes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) foram acionadas para o local por volta das 2h30min, conforme o major Cavalcante. No momento que o grupamento chegou os criminosos trocavam tiros com a Polícia Militar (PM).
Diligências estão em andamento para localizar o restante da quadrilha. De acordo com o major Cavalcante, o grupo criminoso se dividiu entre cercar o destacamento policial da região e bloquear a rodovia. Fonte: www.correio24horas.com.br
SEXTA-FEIRA 7: Avaliar 2018...
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Filho manda matar o pai, mãe ajuda a acobertar e os dois são presos em velório
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O pai foi encontrado na sala de sua residência semi-decapitado
Um homem de 58 anos identificado como Adijalmo Alves da Silva foi assassinado na noite do último sábado (1º), dentro de sua casa, no Bairro Vila Esperança, em Marcelândia (710 km de Cuiabá). Um dia depois, durante o velório da vítima, seu filho, de 18 anos, e a esposa, de 51 anos, foram presos. O jovem, acusado de matar o pai, e a mulher acusada de acobertar o filho.
Adijalmo foi encontrado na sala de sua residência, semi-decapitado. Próximo ao corpo dele foram encontradas uma faca, com muito sangue, e uma enxada, ferramentas utilizadas no crime.
A Polícia Judiciária Civil de Marcelândia foi acionada e, em menos de 24 horas, resolveu o caso, identificando seis pessoas que participaram do crime.
A princípio, o filho e a esposa da vítima disseram que estavam na igreja no momento do assassinato, afirmando que teriam retornado meia-hora depois e encontrado Adijalmo já sem vida.
Porém, as investigações apontavam que o depoimento dos dois não batia com a cena do crime, visto que não havia sinal de arrombamento na casa e as armas que teriam sido utilizadas eram todas da própria residência. Além disso, ele teriam demorado para chamar a polícia – pois a perícia apontou que Adijalmo já estava morto algumas horas depois que as equipes chegaram à casa.
Os dois acabaram presos no velório da vítima e o filho confessou ter mandado matar o pai. Segundo a Polícia Civil, o jovem planejou o assassinato com sua companheira, uma adolescente de 17 anos. Os dois ainda contaram com a ajuda de mais dois adolescentes, que mostraram a casa onde o homicídio seria cometido ao executor, uma terceira pessoa que ainda não foi encontrada.
A esposa da vítima não estava na casa quando tudo aconteceu, porém, mesmo depois de saber a verdade, seguiu confirmando a versão do filho. O jovem, que é usuário de drogas, disse à polícia que teria mandado matar o pai porque os dois viviam se desentendendo devido ao suposto comportamento agressivo de Adijalmo com toda a família.
A esposa, o filho e a nora da vítima estão detidos na Delegacia de Polícia de Marcelândia. O suspeito de ser o executor, de 22 anos, está foragido.
Os dois adolescentes que teriam mostrado a casa ainda estão à solta, visto que suas participações ainda não foram totalmente elucidadas. Os três são primos da companheira do filho da vítima. Fonte: https://olivre.com.br
Terça-feira 4: Avaliar o ano 2018.
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FREI ALBERTO: A Família
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"A família é sagrada porque é família". Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
Michelle Obama, uma viagem trepidante
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De um humilde bairro de Chicago à Casa Branca. Michelle Obama repassa sua emocionante biografia num esperado livro de memórias, no qual convivem a combativa aluna de Direito, a mãe estressada de primeira viagem e a primeira-dama dos EUA.
Michelle Obama começou a processar o ocorrido desde que seu marido, Barack Obama, cogitou a possibilidade de disputar a presidência até a fria manhã de inverno (20 de janeiro de 2017) em que subiu numa limusine com Melania Trump e a acompanhou à posse do novo presidente dos Estados Unidos. “Comparo esses anos à experiência de sermos disparados por um canhão. Com tudo o que passava voando ao nosso lado a mil quilômetros por hora, enquanto nos limitávamos a nos agarrar como se a nossa vida dependesse disso”, conta, dias antes do lançamento oficial da sua esperada autobiografia. Aos 54 anos, sente que sua vida continua progredindo. Não pensa em parar. Em sua nova casa, num bairro tranquilo e luxuoso de Washington, o tempo começa a parecer diferente. Descalça e de bermudas, um de seus trajes favoritos para se sentir à vontade, desfruta das coisas simples. Ainda não pode sair à rua sem seguranças, mas gestos cotidianos, como preparar um sanduíche de queijo e degustá-lo sozinha no jardim, a fazem lembrar que sua nova vida já é um fato. “Por sorte, nestes dois últimos anos pude respirar mais tranquila”, acrescenta. Foi justamente em seu novo lar onde sentiu que tinha muitas coisas para contar e decidiu começar a escrever. Em Minha História (Objetiva), uma biografia com mais de 500 páginas, ajusta contas com o passado, desde que era uma aluna negra numa elegante universidade majoritariamente branca, até sua vida como mãe estressada de primeira viagem e os oito anos como primeira-dama dos Estados Unidos.
Minha História foi colocada à venda na terça-feira em 34 países. A biografia de Michelle Obama, pela qual a Penguin Random House pagou um valor superior a 60 milhões de dólares (224 milhões de reais), terá uma segunda parte, assinada por seu marido, e será publicada no ano que vem. Markus Dohle, CEO do grupo editorial, que negociou pessoalmente a compra de direitos, brincou com os funcionários dias antes do anúncio afirmando que haviam ficado com os bolsos vazios. É que o ex-casal presidencial se transformou em um símbolo que gera muito dinheiro. Recebem valores de seis dígitos por participar de conferências e debates, e meses atrás assinaram um contrato exclusivo com a Netflix para produzir documentários e filmes. Todos os olhares estão agora em Michelle. Suas campanhas em defesa de uma dieta saudável para melhorar a saúde infantil fizeram com que 45 milhões de crianças se alimentem de maneira saudável nos colégios e 11 milhões pratiquem alguma atividade física; são apenas uma amostra do que seria capaz de gerir se tivesse poder. As pesquisas em seu país a colocam como um dos personagens públicos mais valorizados, mas a senhora Obama esclarece dúvidas em sua biografia. Não, não pensa em se dedicar à política: “Não tenho a menor intenção de concorrer a um cargo público. Nunca”. Claro que, algumas vezes, negativas tão firmes tendem a significar o contrário. Como cidadã e membro do Partido Democrata, lhe preocupa o rumo tomado pelos Estados Unidos. Não suporta a tensão política que leva a uma “divisão tribal entre vermelhos e azuis” e a ideia de que devemos escolher um lado e apoiá-lo até o final.
Envolvida na divulgação do livro, a autora respondeu várias perguntas por e-mail, evitando qualquer assunto minimamente político e temas que não estão no livro. De antemão especificou que não falaria de Donald Trump, ainda que nas memórias o descreva como o típico “aproveitador” e “a materialização mais feia do poder”. Acostumada desde criança a enfrentar essa máxima ancestral da comunidade negra que afirma que você deve ser bom em dobro para chegar à metade da distância, Michelle mantém a esperança diante da adversidade política. Pessoalmente confia na força das instituições e encoraja a votar maciçamente como elemento imprescindível para apoiar a mudança.
Michelle Robinson (Chicago, 1964) cresceu no South Side, um bairro humilde de maioria negra. Ela se define como ambiciosa, teimosa, alguém que pode chegar a levantar a voz quando se irrita e até, como reconhece que fazia quando criança com seu irmão, usar os punhos se for preciso. Claro que o tempo e a experiência aplacaram seu caráter, ainda que diante dos problemas continue procurando respostas concretas. Cresceu e se educou no que denomina o “som do esforço” inculcado por sua tia Robbie, sua exigente professora de piano com quem dividiam a casa, cada família em um andar. “Robbie foi um exemplo importante para mim. Em minhas memórias conto que às vezes discutíamos. Quando comecei com as aulas de piano, tinha quatro ou cinco anos, mas, mesmo sendo pequena, não conseguia gostar de seu método de ensino. Tinha minhas próprias ideias sobre como aprender as escalas e os acordes, pulava de uma parte do livro a outra e aprendia música de ouvido. Mas Robbie estava empenhada em que eu deveria seguir seu caminho, de modo que, a cada poucos dias, a teimosa garota e sua igualmente obstinada professora diminuíam suas diferenças diante do piano da segunda”. Com o passar do tempo, descobriu que aquela experiência foi o período em que começou a desenvolver sua própria voz, uma fase que fazia parte de um processo que considera absolutamente decisivo à pessoa que chegou a ser: “Nas décadas seguintes precisei aprender a utilizar minha voz em inúmeros cenários, do bairro com seus valentões às classes universitárias, passando pelas salas de reuniões dos escritórios de advocacia e as praças e estádios do mundo. E me dei conta de como tive sorte de ter pais e professores, pessoas como Robbie, que não me fizeram calar. Pelo contrário, me permitiram desenvolver e utilizar minha voz. Espero que os pais fomentem esses valores em seus próprios filhos. E espero que ninguém, especialmente as jovens, jamais tenha medo de fazer ouvir sua voz”.
“Precisei aprender a usar minha voz em inúmeros lugares, do bairro com seus valentões às classes universitárias e as praças do mundo”
Pertencer à minoria afro-americana marcou sua vida, mas aprendeu a viver com isso. Desde criança sentiu que sempre precisava vencer batalhas. “Vocês ficarão sabendo” se transformou em algo assim como seu lema frente à adversidade. Foi uma aluna de destaque. Nos colégios em que estudou fez parte das crianças que eram separadas do restante para conseguir melhor rendimento, uma ideia que reconhece como “controversa”. E se endividou como muitos jovens americanos para poder pagar a faculdade de advocacia em Harvard. “Com o tempo cheguei a avaliar que minha educação não teve nada de mágico. Eu não tinha nenhum gênio e tesouro particular. Não era um prodígio de nenhuma forma. Simplesmente, me esforcei muito em dar o melhor de mim mesma. Como minha mãe gosta de dizer, em minha cidade existem milhares de Michelles por todos os lados, meninas e meninos com talento, diligentes, honestos e genuínos que se preocupam pelas coisas. Eles também poderiam ter sido presidentes, presidentas, primeiras-damas e primeiros-cavalheiros. Minha mãe não o diz como piada ou por gentileza. Minha vida deu muitas voltas. Acabei sendo a primeira-dama dos EUA, de maneira que minha história se tornou pública, mas em meu bairro existe mais de uma criança cuja história orgulharia a todos nós”, afirma.
Sua biografia, narrada cronologicamente, não traz detalhes íntimos. Quando seu sonho parecia ter se realizado, após se formar em Harvard e ser contratada por um importante escritório de advocacia no 47° andar de um edifício em Chicago, onde trabalhou por um tempo como chefa de seu futuro esposo e recebia um bom salário, decidiu deixar o emprego movida por sua vocação do serviço público. Na época já havia se apaixonado pelo brilhante advogado com quem dividia escritório. Marian, sua mãe e conselheira, costumava alertá-la quando tinha dúvidas: “Primeiro ganhe dinheiro e depois se preocupe com sua felicidade”. E ela seguiu o conselho ao pé da letra. Começou a trabalhar como diretora de uma organização sem fins lucrativos, que ajudava jovens a desenvolver uma carreira profissional, e como vice-diretora de um hospital melhorando o acesso à saúde das classes mais desfavorecidas. Após se casar, vestida de branco sob os acordes de You and I (We Can Conquer the World) [Eu e Você (podemos conquistar o mundo), de Stevie Wonder, começou a consolidar um “nós” tão sólido como eterno.
“Quero me assegurar que as pessoas saibam que o casamento pode ser extremamente difícil e extremamente gratificante”
Sincera e algumas vezes politicamente incorreta, relata sem problemas, bem ao estilo da narrativa americana, a relação com seu marido, do primeiro beijo às discussões cotidianas motivadas por esperanças infrutíferas na hora do jantar. “Tentei ser a mais sincera possível. Sei que muita gente acha que eu e Barack somos um exemplo de relação pela qual vale a pena lutar. Nós dois valorizamos que achem isso, mas também quero me certificar que as pessoas saibam que o casamento pode ser extremamente difícil e extremamente gratificante, e que na maioria dos casos você não pode ter uma coisa sem a outra. Não quero que as pessoas vejam fotos de nós dois nos abraçando atrás das estantes e sorrindo juntos sob o brilho dos holofotes e pensem que conseguimos somente estalando os dedos. Eu comparo essa situação às redes sociais. O que vemos nas notícias que publicamos são os momentos especiais da vida de outras pessoas, as festas, as férias e os beijos em uma cesta de balão, mas não vemos as dificuldades, as longas conversas e o esforço que custa avançar para se entender mutuamente. E justamente aí se formam os vínculos verdadeiros entre duas pessoas. Pensei que era meu dever, especialmente diante dos casais jovens, contar nossa história com mais detalhes”.
Desde que se conheceram, Barack Obama se destacava por seu brilhantismo. As empresas o disputavam, mas ele parecia mais interessado pelos direitos civis e a organização comunitária. Foi professor de direito na Universidade de Chicago e diretor da revista Harvard Law Review antes de ser eleito como senador pelo Partido Democrata no Estado de Illinois. A vida do casal foi regida pelo mantra de que a igualdade é importante, mas todo o peso da maternidade caiu sobre ela, uma situação que se agravou quando seu marido entrou de cabeça na política, o que a obrigou a retroceder em suas ambições e se transformar na mulher de um político com toda a carga de solidão que isso acarreta. No final de 2006, quando chegou o grande momento e surgiu a possibilidade de disputar a presidência, ocorreram cenas de brigas e lágrimas pela repercussão que a decisão teria sobre sua família. Ele queria se candidatar e ela não queria que ele o fizesse, mas a decisão final ficou nas mãos dela. A política ganhou. A família precisou se mudar de Chicago a Washington e ela se transformou na primeira-dama, um trabalho que oficialmente não existe, mas acabou lhe dando uma plataforma de conhecimento e contatos que nunca teria imaginado. “Conheci pessoas que considero superficiais e hipócritas, e outras (professoras, esposas de militares...) cujos espírito é tão profundo e forte que se torna espantoso”.
Durante dois mandatos presidenciais foi enaltecida como a mulher mais poderosa do mundo e elevada à categoria de mulher negra mal-humorada. Posou sorridente com pessoas que insultavam seu marido, mas que ainda assim desejavam uma recordação. Durante oito anos morou na Casa Branca e sua vida foi submetida a uma exposição permanente. Dormia em uma cama com lençóis italianos; tinha maquiadora, cabeleireira e assessora pessoal sobre como se vestir. Viajava em uma caravana de veículos que nem sequer parava nos faróis, se esqueceu do que significava fazer compras, as refeições eram preparadas por uma equipe de chefs de fama internacional, mas em todo esse delírio tentou não perder as perspectivas. Como terapia, optou por manter seu eterno grupo de amigas, mães de Chicago às quais se refere como um porto seguro de sabedoria feminina. “Quando nos mudamos para a Casa Branca, sabia que continuaria precisando do apoio delas. Foram meu ancoradouro. Costumava convidá-las, especialmente se precisava de uma lufada de ar fresco, e por isso vinham a atos públicos como se fossem as brincadeiras de procurar ovos de Páscoa e festas de Natal. Vinham quando eu precisava falar. Às vezes me sentava e conversava com uma amiga durante horas, do almoço ao jantar. Não passávamos o tempo falando de política e do que se passava no mundo, costumávamos conversar sobre nossas famílias, nossos altos e baixos e esperanças sobre o futuro, que eram os assuntos que sempre haviam nos conectado. Às vezes comentavam como era estranho estar naquela casa tão bonita e com tanta história e conversar como se estivéssemos em nossa cozinha de Chicago em uma tarde de sábado”.
Graças às 500 páginas do livro sabemos, entre outras coisas, que é uma fanática da organização, que odeia o tabaco, que suas filhas nasceram por fecundação in vitro e como era a cama que dividia com Barack quando eram namorados. “Não acho que é benéfico para ninguém retocar sua história; nem a mim, nem a ele, nem a nenhuma das pessoas às quais gostaria que minha biografia chegasse. Não acho que ninguém deva se envergonhar de sua vida, particularmente os que precisaram lutar. Todos passamos por crises de confiança. Os problemas de fertilidade são comuns. Fracassar, duvidar de si mesmo, sentir-se vulnerável são experiências que nos tornam humanos. Ao refletir, descobri que a essência de minha história, o centro do meu processo de chegar a ser, era definida por meus momentos de luta. Essa foi a razão pela qual decidi contar minha vida”.
Ao longo de sua biografia deixa bem clara a separação familiar de poderes que se instalou durante os oito anos que morou na Casa Branca, tanto que quase parece que soube da morte de Bin Laden ao mesmo tempo que o restante do mundo. Obama fechado em seu escritório, reunido, revisando relatórios... e ela ocupada com sua horta nos jardins da Casa Branca, um de seus principais projetos, e, como sempre, vigiando a educação de suas filhas, Malia e Sasha, tentando evitar que o fato de seu pai ser o presidente dos EUA interferisse muito em sua relação com os jovens de sua idade.
“Quando sua vida é uma vitrine - sua forma de falar e sua forma de criar seus filhos -, é preciso ter algo em que se refugiar. Usei meu passado”
Ao longo de sua vida, Marian, sua mãe, a quem levou para morar com eles na Casa Branca, foi o esteio no qual se apoiou sempre que precisava se ausentar para acompanhar o presidente em viagens oficiais e visitar famílias que acabavam de perder tudo o que tinham arrasadas por um furacão e acompanhar em um funeral os pais das crianças assassinadas após um tiroteio em um colégio. Somente sua mãe parecia se livrar dos rigores impostos pelo serviço de segurança. Ela gostava de se sentar para conversar com os empregados da residência presidencial e sair para passear sem a pressão da popularidade. Os Obama foram a família presidencial número 44. Nessa época, quando olhava as fotos das pessoas que haviam consagrado sua vida à política (os Clinton, os Gore, os Bush), se perguntava se viviam felizes e seus sorrisos eram autênticos. Agora que sua foto ocupa o mesmo lugar de seus predecessores, aprendeu a relativizar as coisas. Já não analisa minuciosamente seus conjuntos e não se sente julgada o tempo todo. Ela e seu marido deixaram de se chamar Potus e Flotus (nomes em código para os agentes de segurança). “Cresci como uma menina da classe trabalhadora, criada por bons pais. Esperava que minha família e sua comunidade se sentissem orgulhosos de mim. Muitas vezes cheguei a ser a única mulher negra da reunião, e me transformei em uma pessoa que se esforçava por definir a si mesma ao mesmo tempo em que dividia seu casamento com sua carreira profissional e suas duas filhas. Eu me encontrei em situações que jamais havia imaginado, abrindo caminho pelo mundo através de muitas tentativas e erros”, acrescenta. “Enquanto estive na Casa Branca, nunca esqueci de nada disso, e acho que foi o que me ajudou a suportar muitas das dificuldades que cruzaram meu caminho. Quando toda sua vida é uma vitrine, sua forma de falar e seu aspecto, sua forma de criar seus filhos e de se comportar, é preciso ter algo onde se refugiar. Meu passado serviu como refúgio”.
Histórias e personagens se sucedem ao longo das páginas, como o momento em que conheceu seu admirado Nelson Mandela, e uma nota sobre sua viagem à Europa e seu encontro com a rainha Elizabeth II, a quem abraçou carinhosamente, rompendo anos de protocolo, enquanto conversavam sobre a vontade que as duas tinham de tirar os sapatos. É difícil colocar toda uma vida em um volume. Cada um sentirá falta de novos detalhes. Em suas memórias não aborda muitas das decisões políticas de seu marido, mas também não diz nada a respeito, por exemplo, da viagem a Johannesburgo para o enterro do presidente do país no qual estiveram presidentes de outros Governos. Vendo a série de fotografias desse dia, parece que ela não gostou muito da selfie que seu marido fez com o primeiro-ministro britânico David Cameron e a primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt.
Michelle Obama sempre pensou que tinha um plano. Qual é o seu agora?
“Tirei um tempo para pensar. Sabia que, quando saíssemos da Casa Branca, precisaria relaxar e processar o que acabávamos de viver. Em relação ao que virá, ainda não fiz muitos planos concretos. Evidentemente, Barack e eu estamos ligados ao serviço público. Faz parte de nosso DNA. Consequentemente, dedicaremos muito tempo a trabalhar para melhorar a vida das pessoas dentro e fora dos Estados Unidos. Através de nosso trabalho com a Fundação Obama procuramos motivar uma nova geração de líderes de todo o mundo, e em outubro apresentarei uma iniciativa chamada Global Girls Alliance [Aliança Mundial de Garotas] dirigida a empoderar as adolescentes através da educação. Nesse momento existem no mundo 98 milhões de meninas adolescentes sem escolarização. São jovens brilhares e trabalhadoras com um potencial infinito. Só precisam da oportunidade de receber educação, de maneira que possam transformar promessa em realidade. É um assunto que me apaixona e me deixa esperançosa em trabalhar”. Por enquanto, se sente feliz com sua biografia. Fonte: https://brasil.elpais.com
CACHOEIRA: Provérbio Popular
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O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ-Direto da cidade de Cachoeira/BA- registra uma senhora falando sobre um provérbio popular; “Passarinho que canta muito caga no ninho”.
Combate ao racismo em 1968: 50 antes e 50 depois
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Roseli Fischmann é professora livre-docente sênior da Faculdade de Educação (FE-USP)
A longa trajetória rumo à conquista dos direitos humanos, e especificamente dos direitos civis, teve em 1968 um de seus principais marcos, sublinhado, especialmente em solo norte-americano, por acontecimentos dramáticos. Os assassinatos do doutor Martin Luther King Jr., em 4 de abril de 1968, e do senador Robert Kennedy, em 5 de junho de 1968, banharam com sangue uma luta múltipla, diversa, que já vira antes (e, infelizmente, continuaria a ver depois) ser derramado sangue de tantos que tiveram suas vidas ceifadas.
King e Kennedy compartilharam a luta pelos direitos civis, mas também (ou exatamente por isso) uma confiança no pacifismo que fez com que se opusessem, por exemplo, à guerra no Vietnã. Colocar o foco sobre o assassinato de Luther King, assim, é tratar de uma determinada vertente do combate ao racismo, diferente da adotada por Malcolm X ou pelos Panteras Negras. Nesse sentido, Bob Kennedy tinha proximidade com Luther King na abordagem, diferindo dele, porém, por atuar no contexto do Estado norte-americano, como senador, na escuta dos movimentos sociais de então, que tinham, em King, uma de suas mais notáveis lideranças.
Ao mesmo tempo, trazer ao centro da reflexão a liderança do dr. King é reconhecer que 1968 aconteceu, nos ganhos e nas perdas, como resultado de árduo trabalho realizado nas décadas anteriores por movimentos sociais contra o racismo, que se estruturaram em diferentes organizações, com pautas de mobilização criadas e desenvolvidas coletivamente. Semelhantes pautas reconheciam o caráter histórico do combate ao racismo e, por isso, as dificuldades ali implicadas, em especial a importância de trabalho contínuo, que deveria perdurar, sendo suas conquistas graduais, levando à definição de prioridades para cada momento.
Como é sabido, Martin Luther King Jr. era pastor da Igreja Batista. O estudo de suas prédicas e discursos demonstra a trajetória de um líder que vai se renovando ao longo do caminho, pelo caminhar que um pouco escolhe e outro tanto é levado a fazer (para lembrar Antonio Machado). De modo sumário, suas primeiras falas trazem forte entonação religiosa que, aos poucos, vai sendo matizada pela perspectiva mais especificamente ética para chegar finalmente à abordagem dos direitos civis. São exemplos de como uma visão religiosa pode evoluir, em abrangência, para a compreensão e prática de como dialogar com o Estado laico, como se propõem a ser, por sua Constituição, os Estados Unidos da América.
Por exemplo, no início de sua vida pública tratava a discriminação racial como pecado, em especial no mandamento cristão de “amar ao próximo como a si mesmo”. Assim, o combate ao racismo seria um dever dos cristãos, o gesto imprescindível e irrenunciável para proteger os irmãos pecadores racistas de si mesmos, para que não mais pecassem.
Com o tempo e a ampliação dos grupos a quem se dirigia, não apenas da igreja da qual era pastor, nem somente de cristãos, atinge um patamar de discurso que expressa a sua própria consciência ampliada. O combate ao racismo se coloca para ele não mais (ou não mais apenas) como um “dever de cristão”, mas passa a ser encarado e tratado como direito civil. A transição que faz, então, é de tratar a discriminação racial não mais, ou não apenas como pecado, mas na categoria que lhe cabe: como crime.
A menção anterior às décadas que prepararam o ano de 1968 e às que o sucederam pode agora ser exemplificada, assim como o sentido de haver uma pauta de reivindicações e uma lista de prioridades no combate ao racismo nos Estados Unidos. Dentre as prioridades, à educação das crianças foi atribuído o primeiro lugar, acompanhado pelo direito de ir e vir, ligado ao direito ao trabalho.
Como se sabe, a segregação racial vigorou como lei em muitos estados norte-americanos, restos e sequelas do final da escravidão a que chegaram por meio de guerra civil. Ora, o regime segregacionista estabelecia que houvesse escolas para crianças brancas e escolas para crianças negras, rigidamente separadas, sem qualquer exceção. Sucede que para algumas crianças negras, estudar na escola que lhe era permitido pela segregação, significava viajar para outra cidade, independentemente de sua idade ou condição física e psicológica. Contra esse estado de coisas, a família de Linda Brown, então uma menina de sete anos, decidiu lutar.
Matriculada em uma escola “para negros”, Linda seguiu no início daquele ano letivo, em setembro de 1950, levada por seu pai, Oliver Leon Brown, pastor da Igreja Afro-Metodista Episcopal, para a escola “para brancos”, próximo à sua casa, com toda a naturalidade. Sendo impedida de frequentar a escola “legalmente”, nesse caso, pela lei da segregação racial, seu pai decidiu entrar com processo na Justiça, que ficou historicamente conhecido como Brown v. Board of Education of Topeka, Kansas. Foi apoiado pela National Association for the Advancement of Colored People – NAACP, cujos advogados o representaram. Observe-se que a NAACP era uma das muitas associações que se organizaram em torno do combate ao racismo pela via judicial, e que se ligavam aos grupos liderados por Luther King. Finalmente, em 1954, os litigantes chegaram à Suprema Corte norte-americana, que acolheu o caso, dando vitória à família Brown. Em sua decisão, a Suprema Corte reconheceu que toda criança tem o direito de ir à escola pública em condições de igualdade às demais, sem qualquer obstáculo ou empecilho, sem qualquer discriminação, vitória essa que impôs o fim da segregação racial nas escolas de todo o território norte-americano. Era, de fato, a primeira quebra na segregação racial, obtida junto à Justiça, portanto por meios pacíficos, reconhecendo a possibilidade de mudança nas leis, mudança no Estado.
O segundo exemplo refere-se à mobilização havida para o fim da segregação racial no transporte público, praticada mediante separação de lugares nos ônibus, ficando para os negros os assentos no fundo do veículo, em número bem menor do que os assentos reservados, na frente e no meio, para os brancos. Na prática, era frequente que os negros e negras viajassem amontados, em pé, enquanto assentos “para brancos” permaneciam vazios.
A mobilização já vinha sendo pensada, quando, em 1955, em Montgomery, cidade do Alabama, a sra. Rosa Parks, costureira, decidiu entrar pela porta da frente e sentar-se em um dos bancos reservados “para brancos”. Quando tentaram retirá-la, argumentou que estava cansada e os bancos, vazios, mas apenas obteve como resposta ser atirada do ônibus para fora, processada e condenada por violar a lei, no caso, da segregação racial em transportes públicos. Ciente da força econômica representada pela comunidade negra como usuária do transporte público, que dependia das passagens que pagavam para seguir operando, foi organizado um boicote aos ônibus, liderado pessoalmente por Martin Luther King, ainda jovem. Iniciado quando Rosa Parks sofreu condenação, a população negra deixou de tomar ônibus, indo e voltando do trabalho apenas a pé. Multidões de trabalhadores negros e negras tomavam a beira das estradas e ruas, em grupos, saindo mais cedo de casa e voltando mais tarde, pelo tempo para deslocamento. O boicote durou mais de um ano, sendo interrompido apenas pela Suprema Corte que decidiu que era inconstitucional a segregação racial nos transportes públicos. Mais uma vez a conquista do direito pela mobilização e pela mudança da lei tiveram sucesso.
Esses dois exemplos indicam mobilizações havidas cerca de dez anos antes de 1968, e que haviam impulsionado o combate ao racismo pela via pacífica. Ou melhor, como inspirado em Mahatma Gandhi e, ele mesmo, em Henry Thoreau, pela via da desobediência civil e pela resistência não violenta, advinda da tradição indiana. A conjunção do pensamento de Thoreau com a tradição indiana foi obra de Gandhi com largo e duradouro impacto. Contextualizando, trata-se da influência de Gandhi na primeira metade do século XX, que tantas vezes jejuou pela independência da Índia do domínio britânico, liderando o povo indiano para que a resistência se fizesse sem violência.
Nos anos 1960, à resistência não violenta juntou-se um adjetivo: ativa. Ou seja, não se tratava de um pacifismo inerte, ou de uma ação não violenta passiva. A liderança de Martin Luther King foi marcada por essa disposição, reunindo em torno do combate ao racismo uma diversidade de participações: cristãos e não cristãos, ateus, políticos, gente que despertava para o poder da mobilização. Não à toa o poder de sua liderança atraiu o ódio mortal daqueles que o viam como impedimento à continuidade do racismo e da segregação racial, da guerra no Vietnã.
O que parecia um movimento em lento amadurecimento desde antes da Segunda Guerra Mundial, mais concentrado a partir do fim dos anos 1940, fortalecido e conquistando vitórias nos anos 1950, vê, em 1968, o assassinato de Luther King e de Kennedy, seu interlocutor na política partidária, como um momento terrível.
Mais ainda, os ecos da resistência não violenta gandhiana inspiravam toda a luta contra a guerra no Vietnã, além da influência da cultura indiana sobre o pensamento que levou a 1968, fossem as batas indianas na vestimenta, mais exteriores, fossem práticas como a meditação, o yoga, o uso de incensos fora das igrejas, a música tanto no meio hippie como em meio à juventude em geral. Beatles e seu guru, que depois pateticamente chamaram the fool on the hill, Ravi Shankar e sua cítara que então encantava, deixando as filhas Norah Jones e Anoushka Shankar para deleite dos ouvidos do século XXI.
Ciente da força econômica representada pela comunidade negra como usuária do transporte público, que dependia das passagens que pagavam para seguir operando, foi organizado um boicote aos ônibus, liderado pessoalmente por Martin Luther King, ainda jovem.
Mas em meio a toda a inovação e contracultura de 1968, pairavam também outras abordagens contra o racismo, que acharam espaço com o assassinato de Luther King. Foram muitas forças coletivas, algumas a citar de modo particular. A Nação do Islã, que primeiramente acolheu Malcolm X quando era jovem presidiário, promovido a seu principal líder, para depois assassiná-lo, em 1965, quando, desencantado com os rumos da organização, decidiu pregar o Islã sem violência, estava pronta para seguir a proposta que vinha de antes, de separação absoluta entre brancos e negros, com a primazia negra e masculina obtida pela via da violência. O Partido dos Panteras Negras, de orientação marxista, aliado ao Partido Comunista, em pleno auge da Guerra Fria, pregando a ação armada como via de libertação racial, ao mesmo tempo que se impõe na propagação de imagens identitárias indeléveis, como o cabelo black power, une-se a outros grupos, especialmente nos campi universitários, em manifestações violentas, em 1968, obtiveram novos seguidores, que traziam o rancor da oportunidade histórica perdida com o assassinato de Martin Luther King. Angela Davis, atualmente professora universitária centrada em questões de gênero e raça, tornou-se o nome mais lembrado dos Panteras.
Cinquenta anos depois, 1968 não acabou. As lutas pela dignidade humana que antecederam o icônico ano fazem-se necessárias como jamais o foram, no Brasil e no mundo. Não apenas pelo que ressurge, como por tudo que se vê a desprezar a história, dela tentando fazer terra arrasada e, de 2018, um marco incivilizatório, ignorando os cinquenta anos que o precederam e, mais distante, os cinquenta anteriores a 1968, que o prepararam. O que se contará de 2018 daqui a meio século? Será o ressurgir do que parecia derrotado, ovos ainda mais terríveis que a serpente terá gerado, ou haverá uma fresta por onde caminhar e encontrar novas conquistas que dignifiquem o ser humano? Fonte: https://jornal.usp.br
Mortes de negros na periferia resultam de escolhas históricas de governo
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Pesquisa aponta alto número de jovens negros assassinados como reflexo das políticas de exclusão no processo de segregação urbana
Era para ser uma segunda-feira como qualquer outra na vida da assistente social Cláudia Rosalina Adão. Mas, naquela manhã, no caminho de seu trabalho ela se deparou com três corpos juntos ao meio-fio. Eram jovens e negros que, desde a madrugada anterior, já faziam parte de uma estatística: eram números e nada mais na contabilidade do poder público. A cena motivou Cláudia a estudar o fenômeno das mortes de jovens negros na cidade de São Paulo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), resultando no estudo de mestrado Território de morte – homicídio, raça e vulnerabilidade social na cidade de São Paulo.
“O que mais chamou minha atenção foi a ‘indiferença’ das pessoas que por ali passavam”, lembra Cláudia, ressaltando que, não bastasse o descaso de alguns, outros comentavam que ‘foi feita a justiça’. Outras pessoas sequer comentavam ou observavam e seguiam normalmente seu caminho”, lamenta. “Foi quando decidi melhor compreender os motivos que levaram aqueles jovens à morte”, conta a pesquisadora.
Origens históricas
Cláudia é assistente social num Centro Social Marista, localizado no bairro União e Vila Nova, em São Miguel Paulista, na zona leste da cidade de São Paulo. E foi no trajeto para seu trabalho que ela presenciou os corpos. Ao estudar o problema na EACH, sob orientação do professor Dennis de Oliveira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ela pôde constatar que esta triste situação não teve início nos tempos recentes, mas desde os períodos pré e pós-abolição.
Em sua pesquisa, Cláudia revela que as origens desse problema resultam das escolhas do poder público. “Quais as chances de se encontrar três corpos de jovens negros em Higienópolis, por exemplo?”, questiona a pesquisadora. “Se somarmos a pobreza e o perfil racial aos assassinatos teremos a origem de uma articulação que contribuiu decisivamente no processo de periferização de nossa cidade”, afirma Cláudia, enfatizando que “o estopim foi nos anos antes e depois da abolição”. Além disso, segundo a pesquisadora, houve também todo um processo de imigração que incentivou a vinda de estrangeiros, principalmente europeus, para trabalharem nas fazendas como colonos e nos centros urbanos. “Já havia ali um processo de ‘branqueamento’ pelo qual nosso país passa até hoje. Naquele período, 90% dos postos de trabalho eram destinados aos recém-chegados do continente europeu”, afirma Cláudia.
Mortes numerosas de jovens negros na cidade de São Paulo são investigadas em estudo de mestrado de Cláudia. De 2003 a 2014, mais de 20 mil negros foram assassinados.
Números alarmantes
Os números sobre as estatísticas das mortes dos jovens negros em São Paulo, na opinião de Cláudia, são “alarmantes”. Ela cita o Mapa da Violência, uma das fontes de seu estudo, que é totalmente bibliográfico. De acordo com o Mapa, entre os anos de 2003 e 2014, houve no Brasil uma queda no número de homicídios por armas de fogo da população branca e um aumento de vítimas da população negra, representando uma queda de 26,1% no segmento branco e um aumento de 46,9% no negro. No total, o número de homicídios referentes ao mesmo período (2003 a 2014) foi em torno de 13 mil brancos e mais de 20 mil negros.
Cláudia lembra ainda que os números relacionados às mortes de jovens negros somente foram contabilizados a partir de 1996. “E isso graças às reivindicações dos movimentos sociais negros”, enfatiza. Segundo a pesquisadora, os locais com maior incidência são os extremos da cidade, principalmente nas zonas sul e leste da cidade. “Em geral são mortos pela segurança pública ou pela dinâmica da Política de Drogas”, acredita.
Eram todos negros
Em um dos capítulos de seu trabalho, Cláudia cita o caso de cinco jovens negros assassinados que foi veiculado na imprensa de uma forma que ela considera banalizada. “Optei por citar seus nomes, suas origens, se estudavam ou trabalhavam”, conta. Ao analisar a forma de veiculação dos assassinatos, ela percebeu que um dos pontos mais enfatizados era se o jovem tinha ou não passagem pela polícia. “Há pouca importância para os históricos de vida. Por isso resolvi descrevê-los como jovens que tinham uma vida normal.”
Apesar de sua pesquisa ser bibliográfica, Cláudia visitou diversos centros sociais nas periferias onde participou de palestras. Também participou de debates sobre o tema em escolas públicas. “A maioria dessas pessoas sequer imaginam que temos diante de nós um problema que teve sua origem em nossa história!”, enfatiza. Os dados de seu estudo foram obtidos do Mapa da Vulnerabilidade, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do Instituto Sou da Paz e das Delegacias Seccionais da Polícia Civil de São Paulo.
“E a pesquisa foi publicada em um livro”, comemora a pesquisadora. A obra tem o mesmo título do estudo, Territórios de morte – homicídio, raça e vulnerabilidade social, e foi lançada no início deste ano pela Editora Novas Edições Acadêmicas. Fonte: https://jornal.usp.br
O 20 de novembro e o negro no Brasil de hoje
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De todos os africanos transportados para as Américas através do tráfico atlântico entre os séculos XVI e XIX, cerca de 40% deles tiveram o Brasil como país de destinação. De acordo com os resultados do último censo populacional realizado pelo IBGE em 2010, a população negra, isto é, preta e parda, constitui hoje cerca de 51% da população total, ou seja, 100 milhões de brasileiros e brasileiras em termos absolutos. O que faz do Brasil o maior país da população negra das Américas, e mesmo em relação à África dita Negra, o Brasil só perde da Nigéria, que é o país mais populoso da África Subsaariana.
Mas qual é o lugar que essa população negra ocupa no Brasil de hoje depois de 130 anos da abolição da escravatura? Responderia que este lugar entrou no processo afirmativo de sua construção somente a partir dos últimos vinte anos no máximo. Se depois da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil oficial tivesse desde já iniciado o processo de inclusão dos ex-escravizados africanos e seus descendentes no mundo livre e no mercado de trabalho capitalista nascente, a situação do negro no Brasil de 2018 seria certamente diferente em termos de inclusão social. Nada foi feito, pois o negro liberto foi abandonado à sua própria sorte e as desigualdades herdadas da escravidão se aprofundaram diante de um racismo sui generis encoberto pela ideologia de democracia racial. Trata-se de um quadro de desigualdades raciais acumuladas nos últimos mais de trezentos anos que nenhuma política seria capaz de aniquilar em apenas duas ou três décadas de experiência de políticas afirmativas. Por isso, a invisibilidade do negro, ou melhor, sua sub-representação em diversos setores da vida nacional que exigem comando e responsabilidade vinculados a uma formação superior, ou universitária e técnica, de boa qualidade é ainda patente.
Era preciso começar a partir de algum momento, em vez de ficar eternamente preso ao mito de democracia racial que congelou a mobilidade social do negro nesses 130 anos da abolição. O início é como todos os inícios, geralmente lento, pois encontra em seu caminho hesitações, resistências e inércia das ideologias anteriores. Mas, de qualquer modo, se começou sem recuo, como se pode perceber hoje em algumas áreas como a Educação. As universidades que adotaram políticas de cotas para ingresso de negros e indígenas tiveram nos últimos dez anos um número de alunos negros e indígenas proporcionalmente superior ao de todos os negros que ingressaram em suas escolas durante quase um século da criação da universidade brasileira. Dizer que essas políticas são paliativas, como ouvi tantas vezes, não condiz com o progresso de inclusão observável e inegável. Certo, concordamos todos que é preciso melhorar o nível da escola pública, realidade à qual ninguém se contrapõe, apesar da consciência de que a escola pública não melhorará amanhã diante dos lobbys dos donos das escolas privadas e da falta da mobilização da sociedade civil brasileira em todas as suas classes sociais para mudá-la.
A data de 13 de maio é sem dúvida uma data histórica importante, pois milhares de pessoas morreram para conseguir essa abolição jurídica, que não se concretizou em abolição material, o que faz dela uma data ambígua. Na versão oficial da abolição, coloca-se o acento sobre o abolicionismo, mas se apaga ao mesmo tempo a memória do que veio antes e depois. Nesse sentido, a abolição está inscrita, mas esvaziada de sentido. A Lei Áurea de 13 de maio de 1888 é apresentada como grandeza da nação, mas a realidade social dos negros depois desta lei fica desconhecida. Visto deste ponto de vista, o discurso abolicionista tem um conteúdo paternalista. A questão do negro tal como colocada hoje se apoia sobre uma constatação: o tráfico e a escravidão ocupam uma posição marginal na história nacional. No entanto, a história e a cultura dos escravizados são constitutivas da história coletiva como o são o tráfico e a escravidão. Ora, a história nacional não integra ou pouco integra os relatos de sofrimento, da resistência, do silêncio e participação.
Se depois da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil oficial tivesse desde já iniciado o processo de inclusão dos ex-escravizados africanos e seus descendentes no mundo livre e no mercado de trabalho capitalista nascente, a situação do negro no Brasil de 2018 seria certamente diferente em termos de inclusão social.
A abolição da escravatura é apresentada como um evento do qual a República pode legitimamente se orgulhar. Mas a celebração da data até hoje tenta fazer esquecer a longa história do tráfico e da escravidão para insistir apenas sobre a ação de certos abolicionistas e marginalizar as resistências dos escravizados. A mim me parece que a celebração acompanha-se de uma oposição sempre atualizada de duas memórias: memória da escravidão negativamente associada aos escravistas e a memória da abolição positivamente associada à nação brasileira. No entanto, as duas memórias deveriam dialogar para se projetar no presente e no futuro do negro, ou se constituindo numa única memória partilhada.
A proposta de transformar 20 de novembro em data da consciência negra partiu da iniciativa do saudoso poeta Oliveira Silveira, do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, e virou uma iniciativa do Movimento Negro como um todo a partir do início da década de 70. Através do trabalho das entidades negras, essa proposta ganhou força em todo o País, e gradativamente passou a ser reconhecida pela mídia e pela sociedade em geral. Zumbi dos Palmares foi reconhecido oficialmente, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, como herói negro dos brasileiros. Hoje, o dia 20 de novembro é comemorado universalmente em todo o País, sendo considerado feriado oficial em vários estados e dezenas de municípios. Em vez de comemorar 13 de maio, data em que a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravatura, o Movimento Negro prefere simbolicamente se concentrar na data de 20 de novembro, que tem a ver com a luta para a segunda e verdadeira abolição da escravatura. Por isso, novembro se transformou nacionalmente em mês da Consciência Negra. Ninguém se ilude ao acreditar que todos os problemas da população negra se resolvem em 20 de novembro, mas trata-se de um mês que tem um profundo sentido simbólico e político no processo de sensibilização, politização e conscientização sobre as práticas racistas e as consequentes desigualdades que dificultam a plena inclusão do Segmento Negro na sociedade brasileira. Fonte: https://jornal.usp.br
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