Nossa Senhora do Carmo, uma das devoções mais antigas e amadas
- Detalhes
Hoje, 16 de julho, é a festa litúrgica de Nossa Senhora do Carmo. Uma antiga devoção que remonta aos profetas da Bíblia. Grandes comemorações em Roma e em várias cidades da Itália.
Cidade do Vaticano
O culto mariano, caso único entre os cultos dos santos, tem suas raízes nove séculos antes do nascimento de Maria. O primeiro profeta de Israel, Elias, morando no Monte Carmelo teve a visão da vinda da Bem-Aventurada Virgem. Viu que ela se elevava em uma pequena nuvem, trazendo uma chuva providencial que salvaria Israel de uma grande seca. É um dos cultos mais antigos da Roma cristã, assim como a Ordem Carmelita que está ligada ao que foi escrito na Bíblia, quando se conta que Elias recebeu a profecia do Mistério da Virgem e Mãe sobre o nascimento do Filho de Deus. Já no primeiro século, os eremitas que se retiraram no Monte construíram uma capelinha dedicada à Nossa Senhora. “Tradicionalmente os carmelitas estão ligados à Nossa Senhora – explica padre Agostino Farcas, pároco da Igreja de Santa Maria do Carmo no bairro Mostacciano de Roma – mas também a Elias, ou seja à capacidade como a do profeta de ouvir a Deus”.
“ O Senhor disse-lhe: ‘Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor’. Então o Senhor passou. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa ”
A iconografia popular
Segundo a iconografia popular, Nossa Senhora do Carmo não leva Jesus no colo, mas estende os braços oferecendo o escapulário. A imagem refere-se à aparição de Nossa Senhora em 16 de julho de 1251 ao carmelita São Simão Stok, entregando-lheu um escapulário e revelando-lhe os privilégios ligados ao culto.
“Não é um amuleto ou um talismã – prossegue padre Agostino – mas um sinal de salvação. Significa estar cobertos pela sua graça, pelos seus dons. Se hoje dizemos ‘quero o escapulário’, acreditamos receber este sinal de salvação que nos leva às virtudes de Maria, nos ajuda a tentar viver como ela”.
As Confrarias intituladas a Nossa Senhora do Carmo
Com o tempo as Confrarias intituladas a Nossa Senhora do Carmo e a favor de alguns papas que lhe concederam privilégios espirituais, fez com que aumentasse a devoção popular.
Em 1623, um decreto da Congregação do Índice, consagrava a “Tradição do Sábado”, ou seja a ajuda que Nossa Senhora do Carmo concede neste dia aos seus devotos mortos na graça de Deus para alcançar a plenitude do amor divino.
Imagem encontrada no Tibre
As origens do culto em Roma remontam a 1535. Naquele ano, alguns marinheiros encontraram na foz do rio Tibre, perto de Fiumicino, a imagem de Nossa Senhora do Carmo que depois foi transportada para a igreja de S. Crisóstomo. Desde então Nossa Senhora do Carmo foi chamada “De Noantri”, ou “Fiumarola”, em recordação do lugar onde foi encontrada. Provavelmente, sem exagerar, a festa no bairro Trastevere é a maior de toda a cidade de Roma.
Nossa Senhora do Carmo no bairro Trastevere
A imagem de Nossa Senhora do Carmo está conservada na igreja de Santa Ágata no bairro Trastevere. Segundo a iconografia clássica, não leva Menino Jesus no colo, mas estende os braços para baixo e está vestida como uma carmelita terciária. Na igreja, algumas vitrinas expõem as preciosas vestes de seda celestes, brancas e amarelas e três mantôs doados pela princesa Bianca Caracciolo di Fiorino. Além das vestes doadas pela princesa, as roupas custodiadas pelas irmãs de São Pascoal são doações de pessoas de todas as condições sociais. Uma das últimas remonta a 1970 e foi doada por um grupo de costureiras que trabalharam por três anos. A coleção é formada por algumas coroas de prata e de metal usadas na procissão e decoradas com pedras preciosas.
João Paulo II e Nossa Senhora do Carmo
Todos conhecem a grande devoção de São João Paulo II pela Virgem Maria. Abaixo apresentamos uma passagem dedicada à Nossa Senhora do Carmo, escrita pelo Pontífice: “Reconcilia os irmãos em um abraço fraterno; que desapareçam os ódios e os rancores, que se superem as divisões e as barreiras, que se unam as rupturas e curem as feridas”. Fonte: www.vaticannews.va
15º Domingo do Tempo Comum – Ano B: A Cartilha do Missionário.
- Detalhes
A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum recorda-nos que Deus atua no mundo através dos homens e mulheres que Ele chama e envia como testemunhas do seu projeto de salvação. Esses “enviados” devem ter como grande prioridade a fidelidade ao projeto de Deus e não a defesa dos seus próprios interesses ou privilégios.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo do profeta Amós. Escolhido, chamado e enviado por Deus, o profeta vive para propor aos homens – com verdade e coerência – os projetos e os sonhos de Deus para o mundo. Atuando com total liberdade, o profeta não se deixa manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos seus próprios interesses pessoais.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
No Evangelho, Jesus envia os discípulos em missão. Essa missão – que está no prolongamento da própria missão de Jesus – consiste em anunciar o Reino e em lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de ser feliz. Antes da partida dos discípulos, Jesus dá-lhes algumas instruções acerca da forma de realizar a missão… Convida-os especialmente à pobreza, à simplicidade, ao despojamento dos bens materiais.
EVANGELHO: (Mc 6,7-13) ATUALIZAÇÃO
- Como é que Deus age, hoje, no mundo? A resposta que o Evangelho deste domingo dá é: através desses discípulos que aceitaram responder positivamente ao chamamento de Jesus e embarcaram na aventura do “Reino”. Eles continuam hoje no mundo a obra de Jesus e anunciam – com palavras e com gestos – esse mundo novo de felicidade sem fim que Deus quer oferecer aos homens.
- Atenção: Jesus não chama apenas um grupo de “especialistas” para o seguir e para dar testemunho do “Reino”. Os “doze” representam a totalidade do Povo de Deus. É a totalidade do Povo de Deus (os “doze”) que é enviada, a fim de continuar a obra de Jesus no meio dos homens e anunciar-lhes o “Reino”. Tenho consciência de que isto me diz respeito e que eu pertenço à comunidade que Jesus envia em missão?
- Qual é a missão dos discípulos de Jesus? É lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de ser feliz. Hoje há estruturas que geram guerra, violência, terror, morte: a missão dos discípulos de Jesus é contestá-las e desmontá-las; hoje há “valores” (apresentados como o “último grito” da moda, do avanço cultural ou científico) que geram escravidão, opressão, sofrimento: a missão dos discípulos de Jesus é recusá-los e denunciá-los; hoje há esquemas de exploração (disfarçados de sistemas econômicos geradores de bem estar) que geram miséria, marginalização, debilidade, exclusão: a missão dos discípulos de Jesus é combatê-los. A proposta libertadora de Jesus tem de estar presente (através dos discípulos) em qualquer lado onde houver um irmão vítima da escravidão e da injustiça. É isso que eu procuro fazer?
- As advertências de Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e de despojamento significam, em primeiro lugar, que o discípulo nunca deve fazer dos bens materiais a sua prioridade fundamental. Se o discípulo estiver obcecado pelo “ter”, tornar-se-á escravo dos bens, acomodar-se-á e não terá espaço nem disponibilidade para se lançar na aventura do anúncio do Reino. Por outro lado, o discípulo que erige os bens materiais como a prioridade da sua vida sentirá sempre a tentação de se calar, de não incomodar os poderosos, a fim de preservar os seus interesses econômicos e os seus benefícios particulares.
- As advertências de Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e de despojamento significam também o desapego das ideias e preconceitos, dos hábitos e costumes, das paixões e afetos que podem constituir um obstáculo para a missão de anunciar o Reino.
- As palavras de Jesus recomendam ainda aos discípulos que atuam por um tempo prolongado num determinado lugar, a moderação e o agradecimento para com aqueles que os acolhem. Quem é recebido numa casa ou num lugar como hóspede, deve converter-se numa bênção para essa casa e comportar-se com sobriedade, equilíbrio e maturidade.
- Com frequência os discípulos de Jesus têm de lidar com a oposição e a recusa da proposta que eles testemunham. É um facto que deve ser visto com normalidade e compreensão. No entanto, quando isto suceder, é missão dos discípulos alertar os implicados para a gravidade da recusa. Quem recusa as propostas de Deus, deve estar plenamente consciente de que está a perder oportunidades únicas e a afastar-se da sua realização plena, da vida verdadeira.
*LEIA AO LADO A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE NA PALAVRA- EVANGELHO DO DIA.
DE PREGADOR DE RETIRO DO PAPA A BISPO: Pe. José Tolentino
- Detalhes
Pe. José Tolentino: “Papa Francisco é um pastor com o cheiro do rebanho”
A ordenação episcopal do novo arquivista e bibliotecário da Santa Sé terá lugar a 28 de julho no Mosteiro dos jerónimos, em Lisboa.
Domingos Pinto-Lisboa
“O Papa Francisco pede a todos nós e pede à igreja uma conversão ao Evangelho, e isso é sempre uma redescoberta daquilo que é essencial, daquilo que é o mais profundo”, diz à VATICAN NEWS D. José Tolentino Mendonça.
O sacerdote madeirense foi nomeado pelo papa no passado dia 26 de julho novo arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica, elevando-o ainda à dignidade de arcebispo.
O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa que orientou este ano o retiro de Quaresma do Papa Francisco e da Cúria Romana, vai ser ordenado bispo no próximo dia 28 deste mês, no Mosteiro dos Jerónimos.
Uma celebração que será presidida pelo cardeal patriarca de Lisboa e que terá como bispos co-ordenantes o cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal.
Sobre a sua nomeação, D. José Tolentino Mendonça diz que “foi uma surpresa muito grande o convite do Santo Padre”, mas que acolhe “com sentido de obediência e de entusiasmo pelo desafio que ele me fez”.
Já no contexto da sua nova missão na igreja, que terá início a 1 de setembro, o padre português lembra que “uma biblioteca é um lugar onde o futuro encontra as suas raízes”, e isso é muito importante para “a história da igreja, mas também para a história da própria humanidade”.
O futuro prelado acentua a “cultura como uma aliada natural da própria fé e do dinamismo da Evangelização”, e alerta para o grande perigo que é sempre um certo reducionismo” neste contexto do diálogo fé e cultura.
“O mundo atual tem muita sede e penso que o Papa Francisco nos tem ajudado muito a valorizar a sede que há no coração humano”, sublinha.
Ao portal da Santa Sé, D. José Tolentino Mendonça lança ainda um olhar para o pontificado de Francisco, e deixa uma palavra de “gratidão a Deus por nos ter dado um Pastor, um Pedro que está próximo do rebanho e que traz consigo o cheiro das ovelhas”. Fonte: https://www.vaticannews.va
LEVANDO MARIA COMO GUIA: Aprender a escutar Deus nos clamores da vida, tendo como guia a Mãe de Jesus.
- Detalhes
Frei Carlos Mesters, O. Carm
Não basta escutar a Palavra de Deus. É preciso colocá-la em prática. E, neste ponto, temos como mestra e guia Maria, a Mãe de Jesus:
“Enquanto Jesus dizia essas coisas, uma mulher levantou a voz no meio da multidão, e lhe disse: "Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram." Jesus respondeu: "Mais felizes são aqueles, que ouvem a palavra de Deus e a põe em prática." (Lc 11,27-28)
A Bíblia fala pouco da Mãe de Jesus. Só sete livros a mencionam: Gálatas (Gl 4,4), Marcos Mc 3,20-21.31-35), Lucas (Lc 1 e 2; 11,17), Atos (At 1,13), Mateus (Mt 1 e 2), João (Jo 2,1-13; 19.25-26) e Apocalipse (Apc 12,1-17). Ela mesma fala menos ainda. Cinco destes sete livros só falam sobre Maria, mas ela mesma não fala. Ela só fala em dois livros: Lucas e João. E, mesmo estes dois, conservam apenas sete palavras de Maria. Nada mais!
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus!" (Lc 1,46)
4ª Palavra: "Meu filho porque fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48).
5º Palavra: "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)
6ª Palavra: “Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
7ª Palavra: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)
Os Evangelhos apresentam a Mãe de Jesus como mulher silenciosa. Apenas sete palavras! É a prática do silêncio que capacita as pessoas para escutar a Palavra de Deus nos fatos da vida. O que mais nos falta hoje é o silêncio. Não é fácil fazer silêncio. Não é fácil escutar. Às vezes, alguém nos chama, mas não escutamos. Muito barulho, não só ao redor, mas também dentro de nós. Outras vezes, o chamado é muito fraco, um gemido apenas, ou vem de alguém que chama com um gesto que não foi entendido. Condição para poder escutar é saber fazer silêncio, sobretudo dentro de nós.
Cada uma daquelas sete palavras da Mãe de Jesus nos faz saber como ela fazia para escutar os apelos de Deus, mesmo lá onde não havia palavras, mas apenas o silêncio de uma situação humana pedindo socorro. Além disso, tanto Lucas quanto João, ambos oferecem uma chave importante para entender o relacionamento de Maria com a Palavra de Deus.
Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades e apresenta Maria como modelo. Na maneira de Maria relacionar-se com a Palavra de Deus, vê Lucas a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: descobri-la, escutá-la, acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entende ou quando ela a faz sofrer. A chave para isto nos é dada no elogio à sua mãe: Feliz quem ouve e pratica a Palavra (Lc 11,27).
João costuma descrever os fatos sob dupla dimensão: histórico-literal e simbólico-espiritual. Assim, os dois episódios que falam da Mãe de Jesus, as bodas de Caná (Jo 2,1-5), e ao pé da Cruz (Jo 19,25-27), são história e símbolo ao mesmo tempo. Para João, a Mãe de Jesus é símbolo do Antigo Testamento. Ela aguarda a chegada do Novo e contribui para que o Novo chegue. Ela é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Nos dois episódios, em Caná e ao pé da cruz, veremos a história e o símbolo.
Vamos ver as sete palavras para aprender como escutar os apelos de Deus e colocá-los em prática.
1ª Palavra. "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
A palavra do anjo Gabriel era transparente, não deixava dúvida. Dizia claramente o que Deus estava pedindo a Maria, a saber: ser a mãe do Messias, daquele que viria realizar as promessas dos profetas, a esperança de todo o povo. Maior missão e glória não eram possíveis imaginar para uma moça daquela época.
Maria não se exalta, nem se sente privilegiada. Ela escuta o apelo de Deus, confronta-o com a sua condição humana e pergunta a si mesma: “Como pode ser isso, se eu não conheço homem algum!”
Não é falta de fé, nem medo, nem recusa, nem falsa humildade. Mas realismo humilde, sem exaltação. Maria não quer ser a causa de que o plano de Deus corra perigo de fracassar devido às limitações da sua condição humana, pois dentro da situação concreta em que ela se encontrava, a proposta do anjo não poderia ser realizada: “Não conheço homem algum!”.
2ª Palavra. "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
O anjo esclarece:
“O Espírito Santo descerá sobre ti!” Esclarecida pelo anjo, Maria não hesita nem volta atrás, mas se oferece: “Eis aqui a serva do Senhor!” Ela se faz a empregada de Deus. Ela sabe que isto vai trazer muitos problemas para a sua vida. Pois como explicar a gravidez ao povo de Nazaré? Ninguém iria acreditar nela. Como explicá-la a José, seu prometido esposo? Ela correria o perigo de ser apedrejada.
Apesar de todas estas dificuldades reais, Maria se entrega à ação da Palavra de Deus: “Faça-se em mim segundo a tua palavra!” Ela não pensa em si mesma, nem se fecha dentro do seu mundo. O que conta não é o bem-estar dela mesma, nem as suas aspirações pessoais, mas, sim, ser um instrumento eficaz na realização do plano de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!”
3ª Palavra. "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador!" (Lc 1,46)
Estamos diante de uma das experiências humanas mais bonitas e mais comuns que se possa imaginar. Duas donas de casa, Maria e Isabel, ambas grávidas, se encontram e conversam entre si sobre as coisas da vida. Isabel elogia a fé de Maria, e Maria responde louvando e agradecendo a Deus: “Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador!”.
Do começo ao fim, o Cântico de Maria está permeado de frases vindas dos salmos. Neste cântico, ela se revela como alguém que sabe de cor a Bíblia, sobretudo os salmos. De tanto rezar e meditar os salmos, quando ela mesma se dirige a Deus, usa palavras e frases dos salmos para expressar seus próprios sentimentos, pedidos e louvores a Deus.
No Cântico, ela se revela também como alguém que tem consciência clara da situação social e política em que se encontra o seu povo. A Mãe de Jesus conhece as pretensões dos soberbos (Lc 1,51), a ganância dos ricos (Lc 1,53) e a opressão que os poderosos exercem sobre os pequenos, os humildes (Lc 1,52). Ela se faz porta-voz da esperança dos pequenos (Lc 1,54-55).
Unir o conhecimento da realidade com a leitura orante e constante da Bíblia é a chave que abriu os olhos do coração de Maria para poder escutar os apelos de Deus, dentro da realidade da vida do seu povo, e dentro das coisas mais comuns da sua vida.
4ª Palavra. "Meu filho porque fez isso conosco? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)
Romaria anual até a Jerusalém. Três ou quatro dias de viagem. Famílias inteiras caminhando. Muita gente! Em Jerusalém triplica a população. As crianças pequenas vão com os pais. Os jovens de doze anos para cima se agrupam entre parentes e pessoas mais achegadas do povoado. No regresso a Nazaré, Maria e José se dão conta de que Jesus não estava com os parentes, nem com as pessoas mais achegadas. Susto, medo e sofrimento. Imediatamente, voltam para Jerusalém à procura do menino.
Depois de três dias de busca, eles o encontram no Templo, sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. Menino inteligente! Emoção muito grande para os pais. Mas Maria não esconde seu sofrimento, sua preocupação e sua decepção: "Meu filho, por que fez isso conosco? Olhe, seu pai e eu, aflitos, te procurávamos". Maria não tem medo de dizer o que pensa e de perguntar pelo motivo das coisas que ela não entende e a fazem sofrer.
Jesus responde: “Por que me procuravam? Então, não sabiam que devo estar na casa do meu Pai!” Resposta enigmática! Antes, Maria já não tinha entendido a atitude do filho, e nem agora ela entende a palavra dele. Jesus não dá explicação do seu comportamento e parece minimizar o sofrimento da mãe.
Maria silencia diante do mistério. Não deve ter sido fácil. Mas mesmo silenciando, ela continua buscando o sentido da palavra que ela não entendeu. “Ela conservava no coração todas estas coisas” (Lc 2, 19.51).
Este é o caminho para chegar à compreensão e aceitação da Palavra de Deus: ruminá-la, meditá-la, até obter o entendimento que esclarece o caminho.
5ª Palavra. "Eles não tem mais vinho!" (Jo 2,3)
A história.
Na descrição das bodas da Caná, a Mãe de Jesus aparece como mulher atenta aos problemas dos outros. Ela percebe o problema do casal: “Eles não têm mais vinho!” Falta de bebida na festa de casamento num povoado pequeno da área rural da Galiléia era um problema sério que comprometia o bom nome dos noivos. Maria é uma presença atenciosa. Despreocupada de si mesma, ela é capaz de perceber o problema dos outros, pois quem vive fechado em si mesmo, não percebe o sofrimento calado do irmão e da irmã.
O símbolo. Como símbolo e porta-voz do Antigo Testamento (AT), da história do seu povo, a Mãe de Jesus percebe e reconhece os limites do Primeiro Testamento: “Eles não tem mais vinho!” A economia da salvação do AT tinha esgotado todos os seus recursos e já não era capaz de realizar o grande sonho, alimentado pelos profetas, a saber: as Bodas entre Deus e seu povo (cf. Os 11,21; Is 54,4-8).
A Mãe de Jesus constata e reconhece os limites do AT. Sem vinho a festa do casamento corre perigo de fracassar. Maria recorre a Jesus, pois em Jesus chegou a possibilidade oferecida por Deus para superar os limites e realizar, finalmente, as promessas da união entre Deus e seu povo.
6ª Palavra. “Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
A história.
A Mãe de Jesus é apresentada como uma pessoa que não só percebe o problema dos noivos, mas também toma a iniciativa concreta para solucioná-lo. Ela recorre a Jesus. Jesus responde: “Mulher, o que há entre mim e ti? Minha hora ainda não chegou”. A resposta parecia uma recusa. Mas Maria não a entendeu como uma recusa. Pelo contrário, imediatamente ela se dirige aos empregados e diz: “Fazei tudo o que ele vos disser!” Não basta constatar o problema. É preciso contribuir para a sua solução. Não basta ouvir a Palavra de Deus. É preciso colocá-la em prática.
O símbolo. Jesus responde: “Mulher, o que há entre mim e ti? Minha hora ainda não chegou”. A resposta de Jesus verbaliza um grave problema que existia nas comunidades, no fim do primeiro século, época em que João escreve o seu Evangelho, a saber: Qual é mesmo a relação entre o Antigo Testamento (AT) e o Novo Testamento (NT), e como se realiza a transição? Pois, havia cristãos que consideravam o AT como superado e aceitavam só os textos do NT.
As palavras de Maria aos empregados iluminam o problema: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. O próprio AT manda olhar para, além de si mesmo, e encontra sua plena realização em Jesus. O recado final do AT é este: “Fazei tudo o que ele vos disser!” Quem se fecha na sua própria história, impede a chegada do futuro. Ele se fecha na letra que mata. É o espírito de Jesus que dá vida plena à letra (2 Cor 3,6).
“Minha hora ainda não chegou!” A realização plena das promessas do AT se realizará através da “hora” de Jesus, isto é, sua morte e ressurreição que transformarão a água da vida em vinho para a festa definitiva das núpcias do Cordeiro (cf Apc 19,7; 21,1.9).
Seis ânforas cheias de água, cada uma com cem litros, foram transformadas em vinho, vinho bom. Seiscentos litros de vinho para uma festa que já estava no fim. O que fizeram com o vinho que sobrou? Estamos bebendo até hoje!
7ª Palavra. O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)
A história.
A mãe de Jesus está em pé junto à cruz do filho. Ela não fala. Mas o seu silêncio é mais eloquente que mil palavras! Ela é apoio silencioso ao filho na hora suprema da sua missão. Enfrenta a noite escura da Cruz, e aguarda a madrugada da ressurreição.
O símbolo. Na hora da morte, é o "Discípulo Amado" que acolhe a Mãe de Jesus em sua casa. O Discípulo Amado é a nova Comunidade que cresceu ao redor de Jesus, é o filho que nasceu do Antigo Testamento. A pedido de Jesus, o filho, o Novo Testamento, recebe a Mãe, o Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos, pois o Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.
Traduzido para hoje, isto quer dizer: a fé não se entende sem a vida. Seria um prédio sem fundamento. E a vida sem a fé ficaria incompleta. Seria uma árvore sem fruto. Este é objetivo deste nosso retiro.
O silêncio orante de Jesus
- Detalhes
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Todo silêncio contém um segredo oculto: indescritível e inaferrável a partir da razão humana. Ao contrário do mutismo, que não passa de um pseudosilêncio (encerrado em si mesmo e fechado ao diálogo com o outro, desértico, árido e estéril, às vezes destilando veneno, um “gueto impenetrável” que representa a recusa de toda e qualquer comunicação) – o verdadeiro silêncio contém o mistério da Palavra. Calam-se todas as palavras (no plural, com minúscula), para que possa falar a Palavra (no singular, com maiúscula). Jesus Cristo, o “Verbo que se fez carne e armou sua tenda entre nós” é a Revelação de Deus, em seu infinito amor e misericórdia.
Disso resulta que sua mensagem – em gestos ou palavras que, de tão concretas, visíveis e palpáveis, mais parecem gestos – nasça, cresça, se desenvolva e ganhe autoridade no terreno fecundo do silêncio. Somente este silêncio de escuta e contemplação, sempre atento, reverente e respeitoso diante dos desígnios do Pai, poderá engendrar a Palavra viva, livre, libertadora e criativa. A Palavra que renova e anima, conforta e confere novo vigor ao exausto caminheiro. Na visão do teólogo italiano Bruno Forte, por exemplo, enquanto Jesus é a “Palavra Encarnada” e o Espírito Santo o “Encontro”, o Pai continua sendo o “Silêncio”, indefinível e insondável ao conhecimento científico.
E de fato, o silêncio na vida de Jesus nos impressiona e comove. O profeta de Nazaré proclama a Boa Notícia do Evangelho somente em idade já relativamente adulta, após 30 anos de silenciosa meditação. Mas antes disso, retira-se por 40 dias e 40 noites ao silêncio ermo mas habitado do deserto, onde deverá ser tentado pelo demônio. Criação literária ou não, a simbologia dos 40 dias e 40 noites reflete o poder místico e espiritual do “estar a sós consigo mesmo e com Deus”.
Em seguida, durante seu ministério público itinerante, por diversas vezes Jesus dribla a multidão e os próprios discípulos para retirar-se à montanha, novamente ao deserto ou a um lugar à parte, numa prática permanente de escuta e oração. Impressiona igualmente o silêncio de toda a família de Nazaré, onde Maria, como sublinha o evangelista Lucas por duas vezes “conservava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2, 19.51). José, por sua vez, embora sempre pronto a ouvir os anjos de Deus e por-se em marcha para defender a família, jamais profere uma palavra.
Entre tantos momentos de silêncio, são emblemáticos o momento de oração no Horto das Oliveiras (ou Getsêmani), antes de ser preso e conduzido aos tribunais, como também a atitude de “escrever no chão com o dedo”, no episódio da mulher surpreendida em adultério (Jo 8, 1-11). Neste último caso, Jesus se interpõe entre os fariseus e doutores da lei (juízes) e a acusada (réu). O silêncio de Jesus, que se limita a “escreve no chão” revela-se um verdadeiro espelho para a consciência de todos os presentes. Espelho ainda mais evidente diante das palavras gestadas por esse silêncio: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”. Enquanto Jesus “continua a escrever no chão”, os ouvintes “foram se retirando um a um, a começar pelos mais velhos”.
Silêncio que, além de interpelar a consciência dos próprios doutores da lei e fariseus, inverte os papéis desse, digamos, tribunal improvisado. Se, de um lado, os acusadores (juízes) se convertem em réus, de outro, a acusada (réu) torna-se uma espécie de juíza, mesmo sem proferir qualquer palavra. O silêncio possui este segredo: transmite sentimentos e emoções que as palavras são incapazes de expressar. Outras vezes converte-se em lágrimas, olhares, sorrisos, abraços, gestos, toques... Todos mais eloquentes que qualquer palavra! O final da história é expressivamente comovente: “Eu também não te condeno; podes ir, e nã peques mais”, conclui o Mestre. Palavras de carne e osso, diríamos! Jesus não legitima o pecado, não lhe é cúmplice... Mas acolhe e absolve a pecadora arependida.
Roma, Itália, 18 de setembro de 2014
O relacionamento pessoal com Deus
- Detalhes
Frei Joseph Chalmers O. Carm.
O relacionamento pessoal com Deus é um conceito central para a jornada espiritual. Os escritores bíblicos usaram muitas metáforas pra descrever o relacionamento humano/divino e a realidade humana mais próxima foi a do matrimônio. Para crescermos em nosso relacionamento com Deus, vale a pena tentar aprender algo do desenvolvimento normal de um relacionamento humano. Penso que o processo espiritual no matrimônio e na vida consagrada é o mesmo, com exceção dos meios para alcançar o objetivo. A vida humana é uma escola de amor. Se não aprendermos a amar, mesmo que realizemos grandes coisas aos olhos do mundo, somos como um bronze que soa ou um címbalo que tine (1Cor 13,1). Pelo número de matrimônios que terminam em divórcio podemos compreender que aprender a amar não é fácil.
A oração é o portão pelo qual entramos no relacionamento com Deus e o caminho para manter viva a chama no relacionamento. Oração é comunicação com Deus. Marido e mulher não podem crescer em seu amor sem uma comunicação contínua. As regras que regulam os relacionamentos humanos também podem ser aplicadas ao relacionamento com Deus. A tentação quanto a oração é vê-la como um dever a ser realizado em vez de um caminho para se comunicar com Deus. Se fosse meramente uma obrigação, seria bem simples. Bastaria dizer as palavras certas ou preencher o tempo necessário. A oração é algo mais. Ela deve nos transformar. Se não acontece transformação alguma, algo não está certo com nossa oração ou com nossa vida.
O objetivo da vida espiritual é bem simples: tornar-se como Deus, ser capaz de ver a criação como Deus a vê e a amá-la como Deus ama. As vocações particulares (família, vida consagrada etc) são caminhos diferentes para alcançar os mesmos objetivos. Toda estrada deve ser um modo para aprendermos como Deus ama.
O relacionamento humano, compreendido como um modelo para o desenvolvimento de nosso relacionamento com Deus, tem seus limites. Cristo é muito mais do que um amigo. Ele é o único que pode nos restaurar e nos transformar totalmente, levando-nos à nossa plenitude. Num relacionamento humano normal, se um lado decide não continuar uma amizade, não há nada mais a ser dito ou feito. No entanto, Deus nos persegue continuamente porque só Deus sabe qual é nosso bem final.
Deus nos procura e nos convida a entrar mais profundamente no mistério da vida da Trindade. Somente em Deus podemos encontrar a resposta ao nosso próprio mistério. A oração começa com o convite que Deus nos apresenta de diferentes maneiras. Deus sempre tem muitos recursos. Deus vem a nós quer estejamos num bom lugar ou não. Deus nos chama desse lugar e nos convida a começar uma jornada na companhia divina. Se recusarmos, Deus repete o convite continuamente de modos diferentes. Deus nunca desiste de nós. Quando não respondemos positivamente, Deus nos guia delicadamente. Todo relacionamento é diferente, mas podemos aprender algo com as experiências alheias.
A oração é um relacionamento com Deus. Somos chamados a sermos amigos íntimos de Deus, em e através de Jesus Cristo. Não é fácil dar permissão a outra pessoa para entrar em nossas vidas e dar a essa pessoa a liberdade de percorrer os corredores de nosso coração, mas uma amizade profunda exige isso. Jesus Cristo quis nos transformar. O processo de transformação é longo e muitas vezes árduo. Deus nunca desiste de nós, mas devemos fazer nossa parte para que o grande trabalho de transformação seja realizado plenamente.
Na espiritualidade carmelitana, Maria é venerada como Mãe e Irmã. Ela nos ajuda, nos alimenta e nos acompanha em nossa jornada pela vida. Seu papel é acima de tudo nos ajudar a entrar e a crescer em nosso relacionamento com Deus. Não devemos apenas admirar seus privilégios. De certa forma, eles nos apontam para nosso próprio futuro. Maria pode nos ajudar mais facilmente se estivermos abertos à sua presença em nossas vidas.
*Do livro, O Som do Silêncio, de Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral da Ordem do Carmo.
A devoção do Santo Escapulário.
- Detalhes
Dom Vital Wilderink O. Carm.
SIMBOLISMO MARIANO
Se perguntar-nos a uma pessoa que traz o bentinho, qual é a razão deste seu proceder, a resposta poderá variar, mas, em última análise, acentuará sempre uma relação entre o Escapulário e a Virgem Maria, E, de fato, tal relação existe. Mais ainda: é ela que dá ao Escapulário o seu valor específico. O Escapulário é símbolo da devoção mariana. A atração que ele exerce sobre o mundo católico, encontra a sua principal justificação na sua índole mariana.
Existe, infelizmente, muito ignorância acerca do Escapulário. Assim há pessoas que atribuem ao Escapulário uma força mágica, como se fosse um amuleto, ou então, vêem nele um salvo-conduto com que podemos entrar no céu, mesmo sem a veste nupcial. (1) No extremo oposto encontramos uma corrente que não oculta a sua aversão da devoção do Escapulário, como em geral de todas devoções particulares, ordens terceiras e confrarias. Tudo isto forma, segundo a sua opinião, um obstáculo para as almas que desejam aprofundar a sua vida de graça. De fato, não podemos negar que uma acumulação de devoções, de fitas, opas e medalhas facilmente enredam a alma na sua vida espiritual. O homem é demasiadamente limitado para aprofundar a sua vida cristã através de muitas devoções. Em si, porém, uma devoção, aprovada pela Igreja, é para isto um ótimo meio.
O que deu origem a tantas falsas apreciações do Escapulário, que vão da superstição até o desprezo, foi o desconhecimento do seu simbolismo. É numa parte desta riqueza, que queremos fixar a nossa atenção no presente artigo.
O HOMEM E O SÍMBOLO
Um estudante Brasileiro, ao passar pelas ruas de Roma, viu-se, de repente, em face de uma bandeira da sua pátria. Tal vista causou nele como que um choque elétrico e, ele quedou-se imóvel a fitar o “querido símbolo da Terra, da amada Terra do Brasil”. Enquanto o nosso estudante estava ali, imerso num mundo variado de sentimentos e lembranças, passavam outras pessoas pelo mesmo local. Estas lançavam um olhar curioso sobre a bandeira e continuavam, desinteressados, o seu caminho. Para elas aquela bandeira não era mais que uma das muitas que existe no mundo.
Em todos os tempos e em todos os lugares, o homem sentiu a necessidade de exprimir as suas ideias e intenções por meio de um símbolo. Esta necessidade, aliás, lança as suas raízes na própria natureza humana. O homem graças à sua alma, é capaz de desenvolver uma atividade espiritual. Porém, quando se trata de manifestar a sua experiência interior, ele necessita do seu corpo e do mundo material que o rodeia. Poder de expressão dentro da esfera espiritual, o homem não possui. Podemos portanto dizer que na atividade especificamente humana, há sempre um valor simbólico. Na sua linguagem, nos seus gestos, mesmo no seu silêncio esconde-se e, ao mesmo tempo, manifesta-se sempre o seu mundo interior.
Para dar corpo à sua alma, o homem utiliza também as coisas materiais existentes fora dele. A matéria torna-se então, por assim dizer, a “tradução” das ideias e intenções humanas. Deste modo ela recebe uma certa dignidade, ela é de certa maneira humanizada. Isto já demonstra que o símbolo como símbolo existe apenas dependentemente do homem, da sua atual experiência interior. Recordemo-nos do estudante brasileiro. Para ele a bandeira existia formalmente como símbolo, ao passo que o interesse das pessoas estrangeiras não passava de estético.
O poder humano de criar símbolos não é ilimitado. Entre o símbolo e o simbolizado já devem existir certos pontos de contato, um certo parentesco. (2) O pelicano foi sempre indicado como símbolo do amor de Cristo, que quer, que seja a razão que o motivou. É claro que um falcão, p. ex., não serviria senão a um simbolismo oposto.
A necessidade de dar figura à sua experiência espiritual, o homem a sente de modo particular na sua relação para com Deus e todas as coisas religiosas. Por isto podemos compreender, porque os místicos, embora cientes da sua incapacidade de exprimir o inexprimível, usam tantas vezes de imagens nupciais.
Não é, pois, de admirar que o Carmelo, já desde muitos séculos, possua um símbolo da sua vida mariana. Teremos ainda ocasião de ver, quais são as razões que deram origem ao simbolismo mariana do Escapulário.
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
Certamente não era uma época tranquila, aquela do século XIII, que viu desembarcar nos portos da Europa ocidental os primeiros Carmelitas. A vida social via-se sujeita a profundas transformações. Enquanto o feudalismo dos séculos anteriores desaparecia pouco a pouco, formavam-se no mesmo ritmo as famosas corporações medievais. Tais transformações não se limitaram ao exterior, mas influenciaram profundamente o modo de pensar e todas as manifestações da cultura medieval.
Durante a época feudalista, desenrolava-se a vida do homem em torno dos castelos. Somente assim podia-se levar uma vida segura. Afora os habitantes dos castelos, os barões, não existia uma classe que podia chamar-se independente. A independência daqueles fundava-se na possessão de terras. O simples lavrador e o artesão não podiam apelar para o seu trabalho a fim de valer-se dos seus direitos. Para proteger a sua vida e a das suas famílias contra perigos de várias espécies, eles punham-se debaixo da proteção do senhor de um castelo. Este se lhes declarava protetor, caso se colocasse com todos os seus haveres aos seu serviço. Gravuras medievais conservaram para a posteridade a bela cerimônia com que se confirmava tal contrato. O vassalo ajoelhava-se perante o seu senhor, colocava as suas mãos nas do barão e prometia-lhe fidelidade. Em seguida, o senhor feudal cobria com o seu manto ao seu novo vassalo, significando com este gesto que ele era aceito na sua família. (3) Daí em diante o vassalo usava os brasões do seu senhor, que constituíam para ele como que o título dos direitos que o barão lhe havia concedido em forma de privilégios.
Pouco a pouco os artífices começaram a agrupar-se em cidades. O trabalho manual passou por um lento processo de especialização, motivando assim a origem das diversas corporações profissionais. Os direitos individuais, que antes se fundavam no poder e na proteção dos senhores feudais, encontravam agora uma base mais sólida no trabalho manual dentro das corporações para defender os seus direitos e para granjear novos privilégios, cada corporação tinha o seu representante junto ao soberano, na pessoa do seu chefe. Mudanças idênticas àquelas da sociedade medieval, operavam-se dentro da Igreja. A obra de S. Francisco e S. Domingos dava nova vida à Igreja. Enquanto as antigas ordens monásticas se caracterizavam pela possessão de terras, as ordens mendicantes baseavam a sua vida na atividade entre o povo. Isto dava-lhes direito de pedir esmolas.
Era, pois, este o aspecto que a Igreja e a sociedade apresentavam, quando os monges o Carmelo chegaram à Europa. Devido ao seu caráter eremítico, a Ordem não recebia acolhida muito benévola da parte do povo. O Prior Geral Simão Stock via com clareza que a continuação do antigo teor de vida significaria a morte da Ordem. Sem perder de vista o fim específico da Ordem, que é a vida contemplativa, o santo Geral trabalhou muito para dar uma nova estrutura ao Carmelo, que satisfizesse às exigência da vida européia. Em 1254, o para Inocêncio IV deu aos Carmelitas licença de pregar e ouvir confissões. No início, porém, eles encontraram no exercício deste ministério muita oposição da parte dos bispos e do clero secular.
É evidente que, estando os padres mais em contato com o povo, a espiritualidade carmelitana recebia uma profunda influência do novo ambiente. De modo particular salientam-se as características desta época na vida mariana da Ordem. A Ordem gloriava-se de trazer o título de Nossa Senhora do Carmo. De algum modo podemos avaliar o que significava isto para o medievo, quando nos lembramos da relação que existia entre o vassalo e o senhor feudal. Ora, a Ordem que pertencia a Nossa Senhora, encontrava-se em perigo. Ataques de várias espécies, ameaçavam até tirar-lhe a existência. O superior geral dirige-se à Patrona da Sua Ordem, suplicando-lhe com insistência um privilégio especial, que pusesse termo a esta oposição. A virgem Maria aparece, então, a Simão Stock, rodeada de anjos. E, dando-lhe o Escapulário da Ordem.
Na figura da virgem Maria, reconhecemos facilmente a senhora feudal da Idade Média. Porém, nota-se também claramente a influência da mentalidade corporativa. Nossa Senhora o privilégio com o Escapulário, que fazia parte essencial do hábito carmelitano. Assim como os direitos do artesão se fundavam no trabalho dentro da sua corporação, de igual modo a vida dentro da Ordem do Carmo era requerida para a participação no privilégio mariano.
Passada a Idade Média, o simbolismo do Escapulário perdeu muitas das suas características medievais, para receber influências de outras épocas.
Típicas são as variações do século XVII. Conhecemos na história esta época como o século do absolutismo dos reis, principalmente franceses e espanhóis. Criou-se uma nova mentalidade cujos vestígios encontramos ainda na devoção mariana, como a compreendia um S. Luís Grignon de Montfort. A Virgem Maria era antes de tudo uma soberana em face da qual o devoto se considerava um servo, ou mesmo um prisioneiro e um escravo. Tal concepção oferece-nos o livro que o Carmelita turonense, Matias de S. João, escreveu sobre a devoção do Escapulário. Para ele, o Escapulário é considerado como vínculo que nos prende ao serviço da Virgem, um escudo que usamos na malícia espiritual, onde somo chefiados por nossa Imperatriz celeste. O P. Matias de São João já não acentua tanto a índole corporativa do Escapulário, como o fazia o medievo. Para este último o Escapulário era em primeiro o distintivo da Ordem do Carmo, portanto, de uma Ordem muito mariana. Somente mediante a vida mariana de que o Escapulário era o símbolo.
HÁBITO MARIANO
Apesar das muitas variações que a mentalidade das diversas épocas teceu em torno do simbolismo do Escapulário, este permaneceu intacto quanto ao essencial. O Escapulário é sempre símbolo da proteção da Virgem Maria sobre aquelas almas que, de modo total e permanente, a Ela se consagram.
Precisamos mais a relação entre Maria santíssima e o seu devoto, simbolizada pelo Escapulário, podemos dizer que os Carmelitas sempre consideraram Maria como sua Mãe. Já as constituições de 1357, oferecem-nos um testemunho explicito desta tradição do Carmelo. (5) Entre as respostas que o frade há de dar às perguntas acerca da origem e do caráter da Ordem, encontramos uma, segundo a qual a Virgem Maria foi ao Carmelo para visitar seus filhos. Certamente, tudo isto não passará de lenda. Porém, haverá testemunho mais vivo desta consciência dos Carmelitas de serem filhos de Maria? Mesmo o P. Matias de S. João, apesar das suas tendências regalistas, não pôde deixar de dizer que o Escapulário “nos eleva à qualidade não apenas de servo e de doméstico da Virgem santa, mas também aquela de seu irmão e de seu filho adotivo.” (6) E, finalmente, o nosso tempo ouve ainda ressoar a exclamação de S. Teresa de Lisieux, como que confirmando a tradição mariana do Carmelo.
A nossa consagração total à Virgem Mãe como filhos seus, simbolizada pelo Escapulário, é certamente a forma ideal da piedade mariana. Não é, pois, sem razão que Pio XII concede à devoção do Escapulário uma certa primazia. Isto justifica-se mais ainda porque a devoção do Escapulário tem o dom de intensificar e facilitar a nossa vida mariana. Não falamos agora do simbolismo do Escapulário, como fruto específico da mentalidade medieval. Antes somos de opinião que, como tal, ele terá pouco valor prático para o homem moderno, principalmente no Novo Mundo, cuja história desconhece o regime feudal. A espontaneidade é uma das qualidade indispensáveis ao símbolo. Ora, o simbolismo do Escapulário é de tal plasticidade, que deixa largo espaço para as preferências do ambiente e do indivíduo.
Devemos lembrar-nos que o Escapulário, como hábito carmelitano, é uma veste. A índole mariana desta veste provém do caráter mariano da Ordem do Carmo. Tal índole consolidou-se pela tradição multissecular da Ordem, segundo a qual a própria Virgem Maria entregou o Escapulário ao sexto prior geral, como sinal de predileção. Não é, pois, de admirar que o Escapulário já bem depressa, veio a ser chamado “hábito mariano” ou “ veste de Maria.” E cremos que o Escapulário, considerado sob este aspecto, conserva viva uma profunda significação, também para o mundo moderno.
Poderíamos comprar o Escapulário com um uniforme, que indica a função e a dignidade da pessoa que a veste. Poderíamos, ainda, pensar no papel fundamental da veste que é o de proteger o homem contra a concupiscência e as inclemência do clima. Facilmente pode-se relacionar estas condições com a proteção que a Virgem Maria exerce sobre aqueles que trazem o seu hábito.
A força simbolizante do Escapulário, como veste mariana, pode atingir maiores profundezas. Como nenhuma outra, a verte está intimamente ligada a toda a personalidade do homem. A sagrada Escritura oferece-nos disto muitos exemplos. Na profecia de Isaias ouvimos cantar a Igreja, a Esposa de Cristo: “Rejubilo-me no Senhor...porque me revestiu do hábito da salvação”. (8) E quando S. Paulo quer exortar aos fiéis de levar uma vida realmente cristã, ele exclama repetidas vezes: “Revesti-vos do homem novo”. (9) Não será difícil transferir estas comparações para o simbolismo do Escapulário. Quando nos revestimos da veste de Maria, queremos simbolizar com este gesto a nossa consagração à Mãe de Deus, que é também nossa Mãe. Esta entrega total atingirá o mais íntimo do nosso ser. Toda a nossa vida encontrará a sua inspiração em Maria e será assim profundamente Cristã. Sendo o Escapulário símbolo de uma vida mariana, compreende-se melhor o motivo do seu uso constante e ininterrupto.
No nosso mundo atual, que apresenta um aspecto assaz triste, presenciamos uma renovação da piedade mariana. Feliz presságio! O nascimento de Maria marcou o início da nossa salvação. Deus quis que a figura da Virgem se destacasse na história da salvação do mundo e de cada um de nós em particular. Cumpre-nos a nós tomar consciência viva desta verdade e, por conseguinte, introduzir Maria na nossa vida pessoal. Seja o, Escapulário o símbolo da realização deste intento!
AS PROMESSAS
A devoção do Escapulário consta de outro elemento, que merece um estudo especial. Referimo-nos às promessas, Nossa Senhora do Carmo seria uma desconhecida para a grande maioria dos fiéis, destes que agora com tanta piedade a veneram, visto que são as promessas que constituem o motivo por que tantos cristãos se revestem do Escapulário. Muitos viram neste motivo um egoísmo estreito, outros temeram o perigo de graves abusos. Perdia-se, porém, de vista a devoção do Escapulário em toda a sua plenitude. Esquecia-se de que o Escapulário é penhor de promessas em virtude da vida mariana que ele simboliza. Quando se separam estes dois elementos correlativos, facilmente se forma uma idéia errada da nossa devoção. Foi efetivamente a noção falsa da devoção que deu origem a muitas controvérsias. Esta oposição, que a devoção do Escapulário encontrou no decorrer dos séculos, não atacava a veracidade das visões, mas visava mostrar a ausência de base doutrinal. Pois, como alhures já observamos, não é autenticidade histórica que confere às promessas o seu verdadeiro valor. «Não se trata, diz pio XII, de uma coisa de somenos importância, mas de conseguir a vida eterna». É evidente que a verdade de tal promessa não pode depender de manuscritos mediáveis. Temos aqui uma questão religiosa cuja solução compete à teologia, não a investigações históricas. Quem, pois pretende defender a historicidade das visões com o fim de salvaguardar o valor das promessas, comete um grave erro e nega implicitamente o fundamento teológico das mesmas. Não negamos ser a história das visões de um grande valor. A experiência nos ensina que ela exerce sobre os fiéis uma grande atração e força de estímulo. Além disto, a narrativa das visões possui uma veracidade que supera a sua historicidade discutida. Tal veracidade é inerente a todas as lendas marianas que a Idade Média nos legou. Pois estas não são frutos de mera fantasia popular, mas exprimem na sua forma simples e comovente uma grande realidade, qual é a mediação universal da Virgem Maria.
O OBJETO DAS PROMESSAS
Em conformidade com a tradição, costuma-se distinguir, como anexas ao Escapulário, duas promessas: a preservação do fogo eterno e um auxílio especial da virgem às almas dos seus devotos, que ainda se encontram no purgatório. Para poder julgar acerca do valor teológico das promessas, veremos brevemente como elas se apresentam nas diversas fontes.
A terminologia com que vem enunciada a grande promessa, feita a S. Simão Stock, conservou durante os séculos, uma grande uniformidade. As variantes relatam apenas diferenças acidentais, que facilmente se reduzem ao texto. O objeto da promessa consiste, portanto, na preservação do fogo infernal, ou seja, na consecução da vida eterna. Visto que a morte em estado de graça é condição necessária para obter a felicidade eterna, o objetivo imediato da promessa é a graça da perseverança final. Por esta razão é que alguns autores consideram o Escapulário como sinal de predestinação.
Explicitamente a promessa refere-se apenas à hora da morte. No entanto, não podemos restringir a intervenção da Virgem Mãe a determinado momento. Entre a vida celeste e a vida terrena do cristão existe uma relação muito íntima. A vida eterna lança as suas raízes na vida presente. Quando alguém obtém a felicidade eterna, deve isto a um plano da divina Providência, que já à sua vida terrena dá uma direção definitiva.
Não podemos limitar a ação co-redentora de Maria aos últimos instantes da nossa vida mortal, porque ela faz parte do plano que a divina Providência traçou para a nossa vida. Que tal plano existe também na vida de grandes pecadores que somente se convertem no leito da morte, faz-nos ver a profunda significação de um antigo provérbio português: Deus escreve direito por linhas tortas.
Maiores dificuldades encontramos ao determinar o objeto do Privilégio Sabatino. Na sua versão mais conhecida, a tradição nos narra que a virgem apareceu ao Papa João XXII e lhe disse que haveria de livrar do Purgatório os confrades do Escapulário, no primeiro sábado depois da morte. Como condição exigiu que cada um guardasse a castidade conforme o próprio estado de vida.
Outros autores procuram evitar esta dificuldade e seguem um outro texto, não menos antigo, que traz «subito» em vez de «sabbato». Segundo eles, portanto, trata-se de um erro tipográfico. Uma outra variante encontramos em alguns documentos subsequentes: substituem o «sabbato» por «quantocius». Um exemplo ainda recente dá-nos o breve apostólico de Pio XII do ano de 1950. Escreve o santo Padre: «E certamente a Mãe piedosíssima, conforme aquela tradição chamada de Privilégio Sabatino, não deixará de interceder junto a Deus por seus filhos, quando no Purgatório estiverem a expiar seus pecados, a fim de que alcancem quanto antes a pátria eterna». Nota-se que a idéia da liberação, realizada pela virgem Maria desapareceu, para dar lugar a uma intercessão espiritual junto de Deus. Esta visita da Virgem ao Purgatório constituía para os teólogos do século XVII um outro ponto de discussão.
Quando os Papas, iteradas vezes, aprovaram o Privilégio Sabatino, não fizeram outra coisa senão confirmar a doutrina da Igreja sobre mediação universal de Maria Santíssima, que não somente diz respeito à Igreja militante, mas também à Igreja padecente. É esta a idéia central do Privilégio Sabatino, que, em si, é alheia aos pontos discutidos. A questão do sábado é um reflexo de uma profunda convicção medieval, segundo a qual o sábado era um dia consagrado, de modo especial, à Mãe de Deus. S. Pedro Damião (1007-1072) nos conta que já no seu tempo, em todos os sábados, se celebrava um missa em honra de Maria Santíssima.
É notável que alguns autores não falam da grande promessa, mas mencionam apenas o Privilégio Sabatino. Isto se explica pela relação íntima que existe entre as duas promessas. é evidente que o Privilégio Sabatino já pressupõe a grande promessa, ou seja, a preservação do fogo eterno. De outra parte, a grande promessa é só plenamente realizada, quando a alma é livrada do Purgatório. Visto que o Privilégio Sabatino não acrescenta nada de essencialmente novo à grande promessa, a sua significação consiste em entender e explicar ele a grande promessa em favor de todos os fiéis, que pela recepção do Escapulário, se afiliaram à Ordem carmelitana.
Quando o Privilégio Sabatino exige como condição, a guarda da castidade conforme o estado de vida de cada um, não podemos concluir daí que qualquer transgressão exclui o devoto da participação da promessa mariana. Neste caso, a devoção do Escapulário já não seria mais «acomodada na sua própria simplicidade à índole de todas as pessoas». O que dissemos da grande promessa, vale também para o Privilégio Sabatino: não podemos restringir a determinado momento a intervenção salvifica de Maria. Se alguém, pois, caiu em pecado, receberá, por intercessão de Maria, a graça de fazer a devida penitência, para que de novo possa participar das suas promessas.
Surge agora uma pergunta: Afinal, que de extraordinário contém as promessas principalmente aquela feita a S. Simão Stock? Conta-se que S. Pio X disse, certa feita, que estava pronto a canonizar qualquer religioso que tivesse observado fielmente a regra e as constituições do seu instituto. O mesmo ele poderia ter afirmado de qualquer pessoa, que, durante a sua vida tivesse realizado o ideal cristão.
Certamente não se trata de uma especial economia de salvação. A ação co-redentora de Maria Santíssima não existe fora da economia da graça, instaurada por Cristo. No entanto, não podemos esquecer que a perseverança final é uma graça que não podemos merecer. Daí se pode avaliar o grande valor do auxílio e da proteção da Virgem, que, nestes privilégios nos são prometidos. Graças a este auxílio especial nos será dada a força de viver constantemente conforme o espírito do Escapulário e, depois desta vida, gozar a felicidade eterna.
AS CONTROVÉRSIAS
Não será inútil esboçar o cenário histórico da oposição, que a devoção do Escapulário encontrou, principalmente nos séculos XVII e XVIII. Como qualquer ciência deve a sua origem à existência de problemas, de igual forma, a teologia do Escapulário começou a formar-se como uma tentativa de resolver as dificuldades que se faziam contra a nossa devoção. Conhecendo estas controvérsias, compreender-se-á com maior clareza o que nos diz a doutrina católica sobre a devoção do Escapulário e, especialmente, sobre o valor das promessas.
No início do século XVII, a devoção já atingira uma grande florescência entre os fiéis. Tal incremento admirável explica-se como uma reação do espírito católico contra a pseudo-reforma protestante. Para a Igreja Maria é a «cheia de graça», a criatura em que a graça divina obteve uma vitória completa. O triunfo desta graça foi tal que conferiu a Maria um papel ativo na obra redentora de Cristo. A doutrina protestante, porém, nega a maternidade espiritual de Maria na ordem sobrenatural, como nega também a verdadeira vida da graça e, por conseguinte, rejeita o culto mariano da Igreja Católica.
Na Idade Média, esta adição teria sido de toda supérflua, visto que a noção de privilégio já pressupunha a idéia de uma vida a serviço do protetor. (8) Devemos, porém, lembrar-nos que a convivência social do século XVII já não tinha mais aquele caráter feudal da época medieval e, por conseguinte, a palavra «privilégio» tinha perdido a sua significação profunda.
Outra oposição, mais acerba, provinha de ambientes mais ou menos heterodoxos. Entre estes enumeramos os jansenistas e vários católicos, que se dedicavam ao estudo crítico da história eclesiástica. Enquanto as controvérsias com as autoridades eclesiásticas versavam acerca da interpretação católica da devoção, estes novos adversários eram mais radicais, porque atacavam a devoção na sua totalidade. Pretendiam eles voltar a um cristianismo mais puro como dos primeiros séculos, rejeitando todas as formas de piedade aparecidas em tempos posteriores. A crítica histórica do fim do século XVII estava profundamente impregnada do espírito geométrico e crítico de Descartes. O terreno sobre o qual ela se exercia com preferência era aquele da piedade popular, das lendas, das relíquias, das indulgências e das orações medievais. Os historiadores pensavam que deviam sacrificar tudo à verdade histórica, mesmo a piedade. (10) Voltar às fontes do cristianismo é, em si, uma tendência muito louvável. Não se pode esquecer, porém, que a letra da Sagrada Escritura e a antiga tradição necessitam de um contexto, que é o espírito da Igreja viva. A igreja não é um monumento histórico, mas uma realidade viva, social e, ao mesmo tempo, pessoal. É, pois, um grave erro querer eliminar todas as formas de piedade que, durante séculos, produziram para os fiéis tão opimos frutos. Tais devoções contém como que um epítome de toda a religião e uma norma prática para vida de perfeição. Quando se rejeitam as devoções aprovadas pela Igreja, facilmente se chega a rejeitar também os valores autenticamente cristãos nelas expressas. Tal aconteceu no protestantismo, como também no jansenismo. Não é, pois, de admirar, que no jansenismo, se tenha perdido a genuína noção do cristianismo. A religião dos filhos de Deus mudou-se numa religião de justiça e de temor. A caridade já não era mais para os jansistas o «vínculo da perfeição» (Col. 3,14) mas, sim, a austeridade ascética. Lógica era, portanto, a sua atitude perante as diversas devoções marianas, tanto recomendadas pela Igreja. Não será necessário descrever por longo a sua oposição neste particular.
As controvérsias foram para os teólogos um estímulo para aprofundar o seu conhecimento da devoção do Escapulário. Assim é que, desde os meados do século XVII, começam a aparecer diversas obras de caráter científico sobre a nossa devoção. O êxito das controvérsias foi a aprovação definitiva da devoção do Escapulário. Esta foi dada por Bento XIII quando inseriu na liturgia da Igreja a festa de Nossa Senhora do Carmo, cuja celebração fora proibida em 1628, nas Igrejas não-carmelitanas.
Também hoje em dia há uma oposição contra a devoção do Escapulário. Em geral, funda-se esta oposição no pretexto de um renovamento litúrgico. Certamente não podemos senão aplaudir a tendência da espiritualidade moderna de encontrar na liturgia uma fonte para a vida espiritual. Esta tendência, aliás, é sobejamente confirmada pelas reformas litúrgicas que, desde S. Pio X, a Igreja vem fazendo e que – esperemos – ainda hão de continuar. Porém, isto não é motivo para eliminar as múltiplas formas de piedade, não estritamente litúrgicas. Entre a liturgia e a devoção do Escapulário não pode haver repugnância. Ambas podem unir-se numa síntese de vida verdadeiramente cristã.
Limitamo-nos no presente estudo, quase unicamente, a considerar as promessas sob o seu aspecto material. A fim de não ultrapassar os limites de uma artigo de revista, deixaremos a exposição teológica para uma próxima ocasião.
Padres não têm experiência para preparar pessoas para o casamento, constata cardeal
- Detalhes
Os padres não têm credibilidade quando se trata de formar pessoas para o casamento, de acordo com o principal clérigo irlandês no Vaticano. A reportagem é do Irish Times, 04-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Kevin Farrell, prefeito (chefe) do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano, disse, em Dublin, que “os padres não são as melhores pessoas para formar outras pessoas para o casamento”.
“Eles não têm credibilidade. Eles nunca viveram a experiência. Eles podem saber de teologia moral, teologia dogmática na teoria, mas daí a colocá-la em prática todos os dias... Eles não têm a experiência.”
O clericalismo está morto, disse ainda o cardeal que está por trás do Encontro Mundial das Famílias em Dublin no próximo mês, “não porque tenhamos feito algo para matá-lo, mas por causa dos números”. Em Dallas, onde ele foi bispo de 2007 a 2016, “temos um milhão e meio de católicos e 75 padres, com uma taxa de 45% a 50% de frequência. Esses 75 padres não vão se interessar em organizar encontros de preparação para o casamento”, disse.
“Temos que nos preocupar com os 99%, com os batizados, e não nos preocupar com as outras coisas pelas quais estivemos obcecados.” A arquidiocese de Dublin, com uma população de 1,15 milhão de católicos, tem 413 padres diocesanos e religiosos.
O cardeal Farrell falou em uma entrevista com a Intercom, uma revista publicada pelos bispos católicos da Irlanda. “A base de toda a vida humana é a família, mas, em alguns países, a Igreja é muito clerical”, afirmou.
Mas há “países onde os leigos dirigem a Igreja. Na minha própria experiência como bispo de Dallas, nós tínhamos um padre em uma paróquia onde 10.000 pessoas participavam da missa no fim de semana. Temos paróquias com um orçamento anual de 20 milhões de dólares. Nenhum padre poderá administrar uma paróquia dessa magnitude sem leigos competentes”.
No Vaticano, o Papa Francisco “se dá conta de que a Cúria Romana está sobrecarregada de clérigos, e não deveria ser assim. Funções administrativas dentro da Igreja podem ser feitas por qualquer pessoa. Elas têm sido feitas principalmente por padres, mas também podem ser feitas por leigos”.
No que se refere às mulheres, o Papa Francisco, “pela primeira vez na história da Igreja”, nomeou-as como consultoras da Congregação para a Doutrina da Fé, “que é, quer se goste ou não, a ‘usina central’ do Vaticano”. Ele também nomeou três mulheres para altos cargos no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, disse o cardeal. “Francisco, despercebidamente, tem colocado mulheres em posições de poder gradualmente”, afirmou.
Quanto à ordenação de mulheres, o cardeal Farrell perguntou: “Queremos transformá-las em clérigos? Nós não. Elas têm que ser pessoas do mundo que vivem no mundo”. Nenhuma das mulheres que ocupam altos cargos no Vaticano eram “membros consagradas de comunidades leigas. São mulheres casadas”.
Em sua opinião, “a ordenação de mulheres não é verdadeiramente uma solução para a Igreja, porque, se você simplesmente ordenar mulheres, você as isolará, se você continuar o sistema, se você não mudar as estruturas”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Paulo Gustavo se defende após piada com Jesus Cristo
- Detalhes
O humorista foi acusado de desrespeitar a bíblia por conta da brincadeira e questionou os internautas sobre o ódio destilado nos comentários do seu perfil
Paulo Gustavo publicou um verdadeiro textão nas redes sociais para se defender das críticas que recebeu após uma piada com a Bíblia e Jesus Cristo em seu Instagram.
“Se Jesus fosse vivo hoje, de carne e osso, poderia sim estar no show do Pabllo Vittar, tal como em qualquer outro show, de qualquer outro artista. Isto porque ele foi quem entendeu que todos eram iguais, merecedores do mesmo respeito, do mesmo amor, independente de condição, cor, ou gênero”, desabafou o artista.
O humorista foi acusado de desrespeitar a bíblia por conta da brincadeira e questionou os internautas sobre o ódio destilado nos comentários do seu perfil. “Vocês acham mesmo que com toda essa raiva, vocês estão seguindo os mandamentos de Deus?”.
Toda polêmica foi causada por conta de uma fala do artista na peça ‘Minha Vida em Marte’, onde o comediante vive um padre e pede: “Casa eu e meu marido?”. Como resposta, ouve um sonoro “Não pode”.
E o personagem de Paulo Gustavo responde: “Quem escreveu essa Bíblia está desatualizado. Se Jesus Cristo fosse vivo, estaria no show de Pablo Vittar. Está todo mundo indo, menino. Quem está mandando a gente para cá, eu, Pabllo Vittar? Hoje em dia está nascendo um monte de bi, gente fluída. Quem está mandando os fluídos para cá? É Deus, então por que eu não posso casar na igreja? Casa logo eu, deixa de ser bobo, larga disso”. Fonte: http://bahia.ba/entretenimento
Evangélica apanha de companheiro por ele não aceitar sua nova religião
- Detalhes
Mais um caso de violência doméstica foi registrado em Várzea Grande na noite dessa
Mais um caso de violência doméstica foi registrado em Várzea Grande/ MT na noite dessa quarta-feira (04). Desta vez, uma mulher de 26 anos foi agredida pelo companheiro, de 30 anos, por ele não aceitar o fato de ela ter se tornado evangélica.
Conforme o boletim de ocorrência, ao chegar ao local a vítima disse aos policiais que o suspeito é seu convivente e que, ao chegar em casa nessa quarta-feira (04), foi agredida pelo suspeito “por motivo de intolerância religiosa”.
“De acordo com a vítima, esta mudou de religião e, devido a isto, vem sofrendo constantes ameaças por parte do suspeito, e que nesta noite foi a primeira vez que o mesmo lhe agrediu com socos, vindo a lhe agredir a face”, consta no boletim de ocorrência.
A vítima também contou que o companheiro agrediu o filho do casal, de cinco anos. Os policiais relataram no boletim que era perceptível que o suspeito apresentava sinais de embriaguez e que ele resistiu à prisão, precisando ser algemado.
A mulher disse que o companheiro ainda ameaçou o vizinho que tentou ajudá-la, vindo a arrombar o portão da casa do vizinho com um chute, causando-lhe um corte no pé esquerdo. O vizinho se comprometeu a também registrar um boletim na delegacia contra o suspeito.
O homem foi encaminhado para a Central de Flagrantes para resguardar a segurança da mulher e deverá ser indiciado por lesão corporal e ameaça. Fonte: https://www.olivre.com.br
MONJAS CARMELITAS DE JABOTICABAL/SP: Convite.
- Detalhes
Mês de julho é mês de Nossa Mãe Santíssima do Carmo.
Venha participar, amanhã dia 05 de julho retorno das Imagens da Peregrinação de Nossa Senhora do Carmo e Coroação da sua Imagem. Será às 19:30 horas no Mosteiro "Flos Carmeli". Vamos juntos agradecer e pedir à Senhora do Carmo que abençoe a todos nós e as nossas famílias.
Ó vinde cristãos louvar a Maria, com hino singelo e terna alegria. Flor do Carmelo nossa alegria, salve, salve Maria! Fonte: Face:
O encontro do cardeal Raymundo Damasceno Assis com Bento XVI
- Detalhes
Na ocasião, o Papa emérito foi presenteado com uma antologia completa em português de suas Pregações, Homilias, Discursos, Catequeses e Mensagens do Papa Bento XVI para o Ano Litúrgico Anos A, B e C e Solenidades.
Cidade do Vaticano
No final da tarde de segunda-feira, 2 de julho, o cardeal Raymundo Damasceno Assis visitou o Papa emérito Bento XVI nos Jardins Vaticanos.
“Nos acolheu nos Jardins do Vaticano, perto da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Assentou-se num banco e eu e outros que me acompanhavam ficamos sentados ao seu lado. Escutou a todos com muita paciência e afeto paternal. O encontro durou cerca de meia hora”, contou Dom Damasceno ao Vatican News.
Dom Damasceno estava acompanhado pelos professores Rudy Albino de Assunção (e familiares) e Gilcemar Hohemberger - autores dos livros sobre o Papa emérito -, além de membros da Editora Molokai. Bento XVI foi presenteado com a coleção de livros com suas homilias traduzidas para o português.
A Molokai é a primeira editora no Brasil a lançar o Homiliário completo de Bento XVI: Um Caminho de Fé Antigo e Sempre Novo reúne os quatro tomos que representam um verdadeiro legado do pontificado de Bento XVI, compondo, em certo sentido, a mais importante obra do Papa Alemão.
O "Homiliário" é a antologia completa das Pregações, Homilias, Discursos, Catequeses e Mensagens do Papa Bento XVI para o Ano Litúrgico Anos A, B e C e Solenidades.
Fonte: https://www.vaticannews.va
*VATICANO II: OBSERVAÇÕES ÚTEIS PARA ENTENDER O CONCÍLIO
- Detalhes
O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi solenemente inaugurado pelo Papa João XXIII (1958-1963) no dia 11 de outubro de 1962, na presença de 2.540 Padres conciliares, dos 2.908 que teriam o direito de participação2. Anunciado em janeiro de 1959, convocado oficialmente em dezembro de 1961, o Concílio, 21° Ecumênico na contagem da Igreja Católica Romana, foi longamente preparado, em duas fases sucessivas. Na intenção do idoso pontífice, deveria servir tanto para o aggiornamento (renovação) da Igreja quanto para o estabelecimento de um diálogo, por parte dela, com as demais tradições cristãs. Na primeira fase, chamada ante-preparatória (1959-1960), foram consultados todos os bispos católicos espalhados pelo mundo, os superiores religiosos das ordens e congregações clericais isentas e as faculdades e institutos de teologia. Durante a fase preparatória (19601962), comissões trabalhando em estrito segredo e nem sempre levando em conta as sugestões recolhidas, prepararam 73 documentos, que a Cúria Romana acreditava seriam aceitos e votados pelo episcopado mundial em apenas um período de trabalho, aquele aberto em 1962.
Com o Concílio aberto verificou-se que os bispos não estavam dispostos a votar o que a Cúria preparara. Em função disso os trabalhos extenderam-se por 4 anos, alternando períodos em que todos os bispos eram convocados para discutir e votar, em Roma, os documentos que eles mesmos, com o auxílio dos peritos, começaram a redigir e períodos, chamados de intersessões, em que somente as comissões trabalhavam. Para uma visão geral sobre o Vaticano II e os demais Concílio, recomendo ALBERIGO, G. (org.). História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1995. Para a leitura das constituições e decretos do Concílio, ver Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. Foram já publicados no Brasil, pela Ed. Vozes, os 2 primeiros volumes da História do Vaticano II, resultantes do projeto internacional de pesquisa dirigido por G. Alberigo. 2São de direito Padres conciliares, com voz e voto, o papa, os cardeais, mesmo os não-bispos, todos os arcebispos e bispos (residenciais, titulares, eméritos), os prelados não-bispos, quando exercendo alguma jurisdição (isto é, governando alguma parcela do povo cristão) e os superiores maiores das ordens e congregações clericais isentas.
O 1° Período ocorreu de 11 de outubro a 8 de dezembro de 1962. O 2°, de 29 de setembro a 4 de dezembro de 1963. O 3°, de 16 de setembro a 21 de novembro de 1964 e o 4° e último, de 14 de setembro a 8 de dezembro de 1965. Na fase preparatória Dom Helder foi nomeado consultor da Comissão dos “Bispos e Governo das Dioceses”. Durante o Concílio foi eleito em 1963 para a Comissão do “Apostolado dos Leigos”, encarregada de redigir um esquema sobre as relações entre a Igreja e o mundo contemporâneo (Esquema XVII, depois XIII) transformado finalmente na Constituição pastoral Gaudium et spes. Cada período do Concílio foi aberto e, excetuando-se o 1° Período, também fechado com uma solene cerimônia chamada Sessio publica (Sessão pública). Outras cerimônias do gênero foram convocadas em ocasião da promulgação, pelo Papa e os Padres conciliares, dos documentos mais importantes.
O Vaticano II produziu 16 textos, assim distribuídos: 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações, além da “Mensagem dos padres conciliares à humanidade”, de 20 de outubro de 1962 e sete textos lidos, mas não votados, apresentados na sessão do dia 8 de dezembro de 1965, entre eles um dirigidos às mulheres e outro aos jovens. As sessões de trabalho eram chamadas Congregationes generales (Congregações gerais), e eram realizadas com a presença apenas dos Padres conciliares (bispos e demais prelados a eles equiparados), sendo admitidos sem direito de intervenção os peritos, os observadores não católicos e os chamados “auditores” leigos. O mais rigorosos segredo deveria ser mantido por todos os presentes. Interrompido pela morte do Papa João, em junho de 1963, o prosseguimento do Concílio foi imediatamente confirmado por Paulo VI, logo após sua eleição. O novo pontífice procurou dar ao Concílio uma condução mais ágil, nomeando quatro Legados, chamados Moderadores, mas não mexeu em profundidade na organização deixada por João XXIII. Daí os choques constantes entre três dos Moderadores, a presidência de honra, exercida por 10 cardeais e a secretaria geral, em mãos do arcebispo Pericle Felice. LVI Dom Helder Câmara
Circulares Conciliares LVII
Com o tempo formou-se uma clara maioria de bispos que apoiavam a atualização da Igreja, e uma pequena minoria, que opunha-se a tudo. Entre os brasileiros, que durante o Concílio chegaram a somar 240 com direito a comparecer, apenas 222 efetivamente estiveram presentes em um ou mais dos momentos em Roma (220 bispos e prelados, 1 abade nullius e 1 superior geral, o dos Franciscanos)
*Dom Helder Câmara. Obras Completas Volume I/Tomo1. Vaticano II: Correspondência Conciliar Circulares à Família do São Joaquim 1962 – 1964.
Conselho de cardeais propõe consulta a leigos e religiosos para a nomeação de bispos
- Detalhes
Com um espírito de "saudável descentralização", o Conselho de Cardeais, o chamado C9, terminou no último dia 14 a sua vigésima reunião iniciada na segunda-feira 12 de junho, para estudar a possibilidade de transferir alguns poderes dos dicastérios romanos para bispos locais ou conferências episcopais. A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa-Vatican Insider, 14-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Há casos especiais em vários Dicastérios da Cúria que estão aguardando em Roma e não precisariam necessariamente esperar" podendo ser resolvidos rapidamente nas Igrejas locais, disse o porta-voz vaticano Greg Burke, em uma coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano sobre o andamento do encontro.
O Papa participou de todas as reuniões (exceto pela audiência geral da manhã do último dia), enquanto esteve ausente o cardeal de Boston, Sean O'Malley, em convalescência devido a uma pequena cirurgia ortopédica. "Ele estará presente no Consistório de 29 de Junho", garantiu Burke, ressaltando que: "As sessões de trabalho foram dedicados a aprofundar as formas com que a Cúria Romana poderia melhor servir as Igrejas locais. Este é um dos principais objetivos da C9". Em especial, as reflexões dos nove cardeais conselheiros focaram-se no tema de uma consulta mais ampla, abrangendo membros da vida consagrada e das ordens religiosas e laicas, para os candidatos propostos para nomeação a bispo. "É algo que já está acontecendo, mas queremos ampliar ainda mais", evidenciou o porta-voz.
Também foi analisada a proposta de transferir da Congregação para o Clero na Conferência episcopal, o exame e a autorização para ordenar padre um diácono permanente não casado; a passagem para um novo casamento de um diácono permanente viúvo; a demanda de acesso à ordenação sacerdotal de um diácono permanente viúvo.
Sob a lente do Conselho que auxilia o Papa na reforma e no governo da Igreja, também passaram vários Dicastérios da Cúria, começando com a Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide). Depois foram estudados e relidos os textos a serem submetidos ao Papa sobre os Conselhos Pontifícios para o Diálogo Interreligioso e para os Textos Legislativos, a Congregação para as Igrejas Orientais, e os três tribunais: a Penitenciaria Apostólica, o Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e o Tribunal da Rota Romana.
Como é de praxe em todas as reuniões, o cardeal australiano George Pell apresentou uma atualização sobre o trabalho da Secretaria de Economia da qual é prefeito. "Uma atenção especial - relatou Burke - foi dada aos passos dados no processo de planejamento dos recursos econômicos e no monitoramento dos planos financeiros para o primeiro trimestre de 2017, que substancialmente confirmaram, com poucas exceções, os números do orçamento. Em suma, "vamos começar o processo de orçamento para o ano de 2018 e o monitoramento para o segundo trimestre de 2017".
Nada foi falado sobre os recentes inquéritos na Austrália sobre os supostos abusos atribuídos ao cardeal Pell, que foram iniciados após a publicação, em meados de maio, de diversos artigos e de um livro. "Evidentemente não foi um assunto abordado nas reuniões, não faz parte da agenda", atalhou o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano.
Na agenda, ao contrário, estava prevista a intervenção do Prefeito da Secretaria de Comunicações, monsenhor Dario Edoardo Viganò, que apresentou um relatório sobre a situação da reforma do sistema de comunicação da Santa Sé, ilustrou o desempenho econômico e operacional do Dicastério, mostrando os resultados. "Resultados positivos" esclareceu o porta-voz vaticano. Viganò, em seguida, explicou os projetos em fase de conclusão do novo sistema de comunicação, em consonância com o que foi especificado pelo Papa em seu discurso na primeira plenária do Dicastério, em 4 de maio passado.
Greg Burke, por sua vez, respondeu a uma pergunta sobre a carta que circulou no dia anterior no Vaticano, na qual o decano do Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, solicitava a todos os cardeais residentes em Roma que indicassem a data e o lugar onde estarão durante as férias de verão, ainda mais no caso de uma ausência prolongada de Roma. Esse tipo de "disponibilidade" cardinalícia já estava em vigor no Vaticano, mas não vinha sendo usada há mais de 30 anos. Para Greg Burke é, no entanto, "uma boa tradição que deve ser mantida".
A próxima reunião do Conselho de Cardeais, a vigésima primeira, será realizada nos dias 11, 12 e 13 de setembro de 2017. O Papa Francisco "chegará um pouco 'atrasado", pois estará retornando justamente no dia 11 de uma viagem para a Colômbia, brincou Burke: "Ele estará com jet lag, mas ainda assim quer participar". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
MISSA COM FREI PETRÔNIO: Convite.
- Detalhes
Por que a Igreja celebra São Pedro e São Paulo no mesmo dia?
- Detalhes
fatos que vão te ajudar a entender isso
No dia 29 de junho, a Igreja celebra a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Entretanto há algumas dúvidas sobre as razões da festa de ambos os apóstolos ser celebrada no mesmo dia.
Abaixo, apresentamos 7 fatos que vão te ajudar a entender isso?
Santo Agostinho de Hipona expressou que eram São Pedro e São Paulo eram “um só”
Em um sermão do ano 395, o Doutor da Igreja, Santo Agostinho de Hipona, expressou que São Pedro e São Paulo, “na realidade, eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos”.
Ambos foram martirizados em Roma
Foram detidos na prisão Mamertina, também chamada Tullianum, localizada no foro romano da Roma Antiga. Além disso, foram martirizados nessa mesma cidade, possivelmente por ordem do imperador Nero.
São Pedro passou seus últimos anos em Roma liderando a Igreja. Seu martírio aconteceu no ano 64. Foi crucificado de cabeça para baixo, a pedido próprio, por não se considerar digno de morrer como seu Senhor. Foi enterrado na colina do Vaticano e a Basílica de São Pedro está construída sobre seu túmulo. São Paulo foi preso e levado a Roma, onde foi decapitado no ano 67. Está enterrado em Roma, na Basílica de São Paulo Extramuros.
São fundadores da Igreja de Roma
Na homilia da Solenidade de São Pedro e São Paulo em 2012, o Papa Bento XVI assegurou que “a sua ligação como irmãos na fé adquiriu um significado particular em Roma. De fato, a comunidade cristã desta Cidade viu neles uma espécie de antítese dos mitológicos Rómulo e Remo, os irmãos a quem se atribui a fundação de Roma”.
São padroeiros de Roma e representantes do Evangelho
Na mesma homilia, o Santo Padre chamou esses dois apóstolos de padroeiros principais da Igreja de Roma. “Desde sempre a tradição cristã tem considerado São Pedro e São Paulo inseparáveis: na verdade, juntos, representam todo o Evangelho de Cristo”, detalhou Bento XVI.
São a versão contrária de Caim e Abel
O Santo Padre também apresentou um paralelismo oposto com a irmandade apresentada no Antigo Testamento entre Caim e Abel.
“Enquanto nestes vemos o efeito do pecado pelo qual Caim mata Abel, Pedro e Paulo, apesar de serem humanamente bastante diferentes, e não obstante os conflitos que não faltaram no seu mútuo relacionamento, realizaram um modo novo e autenticamente evangélico de serem irmãos, tornando possível precisamente pela graça do Evangelho de Cristo que neles operava”, relatou o Santo Padre Bento XVI.
Porque Pedro é a “rocha”
São Pedro foi escolhido por Cristo, que disse? “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Ele, humildemente, aceitou a missão de ser “a rocha” da Igreja e apascentar o rebanho de Deus, apesar de suas fragilidades humanas.
Os Atos dos Apóstolos ilustram seu papel como líder da Igreja depois da Ressurreição e Ascenção de Cristo. Pedro dirigiu os apóstolos como o primeiro Papa e assegurou que os discípulos mantivessem a verdadeira fé.
São Paulo também é coluna do edifício espiritual da Igreja
São Paulo foi o apóstolo dos gentios. Antes de sua conversão, era chamado Saulo, mas depois de seu encontro com Cristo e conversão, continuou seguindo para Damasco, onde foi batizado e recuperou a visão. Adotou o nome de Paulo e passou o resto de sua vida pregando o Evangelho sem descanso às nações do mundo mediterrâneo.
“A iconografia tradicional apresenta São Paulo com a espada, e sabemos que esta representa o instrumento do seu martírio. Mas, repassando os escritos do Apóstolo dos Gentios, descobrimos que a imagem da espada se refere a toda a sua missão de evangelizador. Por exemplo, quando já sentia aproximar-se a morte, escreve a Timóteo: ‘Combati o bom combate’ (2Tm 4,7); aqui não se trata seguramente do combate de um comandante, mas daquele de um arauto da Palavra de Deus, fiel a Cristo e à sua Igreja, por quem se consumou totalmente. Por isso mesmo, o Senhor lhe deu a coroa de glória e colocou-o, juntamente com Pedro, como coluna no edifício espiritual da Igreja”, expressou Bento XVI em sua homilia. Fonte: https://pt.aleteia.org
OS DOIS PAPAS... Os novos cardeais.
- Detalhes
Exposição sobre Dom Paulo sofre ameaça: 'Não vão nos impedir'
- Detalhes
Defensores de "intervenção militar" foram até a Assembleia Legislativa paulista, onde era realizado ato solene para divulgar o evento. A informação foi publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 27-06-2018.
Os responsáveis pela exposição sobre Dom Paulo Evaristo Arns, que será inaugurada em 14 de julho, em São Paulo, registraram nesta quarta-feira (27) boletim de ocorrência diante de ameaça ocorrida ontem durante ato na Assembleia Legislativa. Segundo eles, um grupo de pessoas, defensoras de uma "intervenção militar", chegou a afirmar que a exposição "não vai durar três dias".
A "Ocupação Dom Paulo Evaristo Arns" será realizada no Centro Cultural dos Correios, região central da capital paulista, de 14 de julho a 16 de setembro. Ontem, para divulgar o evento, foi realizado ato solene na Assembleia, organizado pelo deputado Carlos Giannazi (Psol) e com a presença dos vereadores Toninho Vespoli (Psol) e Eduardo Suplicy (PT), entre outros. Nenhum manifestante foi identificado.
"Diante de algumas manifestações que defendem a volta de um regime autoritário, que traz consigo os desmandos que já assistimos recentemente na história do Brasil, não podemos deixar de nos indignar com tamanha violência", afirmam os coordenadores e curadores da exposição. A nota é assinada pelas jornalistas Evanize Sydow e Marilda Ferri, autoras da biografia Dom Paulo – Um homem amado e perseguido (Expressão Popular), relançado em 2017, e por Paulo Pedrini, da Pastoral Operária.
"Nenhum ato de violência nos impedirá de levar adiante o legado de dom Paulo. Coragem! Esperança sempre!", acrescentam, citando expressões usadas pelo religioso, que morreu em dezembro de 2016.
Eles afirmam ainda que a ocupação "é um ato de coragem e resistência, que envolve uma equipe de mais de 60 pessoas trabalhando dia e noite para que o evento seja uma oportunidade de apresentar, especialmente para jovens, de forma lúdica e interativa, conceitos importantes para qualquer sociedade: o respeito à democracia e aos direitos humanos, que tanto dom Paulo defendeu". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
São Pedro e São Paulo: apóstolos fieis e modelos de vida para os cristãos de hoje
- Detalhes
Dom José Valmor Cesar Teixeira, Bispo diocesano de São José dos Campos, SP.
Em pleno mês de junho, época das festas populares no Brasil, diversos santos são homenageados: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo, estes dois últimos exaltados no dia 29. “Também recordamos com muito carinho a figura do papa, hoje Francisco, sucessor de Pedro e Vigário de Cristo. Proponho a vida e a obra de São Pedro e São Paulo como ensinamento para todos os cristãos de hoje”, afirma o bispo de São José dos Campos, dom José Valmor Cesar Teixeira.
Segundo dom José Valmor, Pedro foi escolhido por Jesus para exercer uma particular missão: aquela de guiar e sustentar a primeira comunidade. O bispo explica que no evangelho de Mateus, Jesus confia a Igreja a Pedro: “Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 17-19).
É neste mesmo primado que o bispo de São José dos Campos afirma que a Igreja reconhece no papa, de cujos símbolos, as chaves e o anel do pescador. Tais apetrechos imediatamente remetem à figura do apóstolo. “Humaníssimo na sua fragilidade, Pedro é, como os outros apóstolos, desanimado no momento terrível da condenação e agonia de Jesus, chegando à negação do Senhor. Mas depois de sua ‘conversão total’ a Jesus, o mesmo faz com que receba o abraço da misericórdia”, diz o bispo.
Depois de Pentecostes, segundo o bispo, o apóstolo consagrou toda a sua vida, até o martírio em uma cruz. “A Pedro é atribuído o primeiro milagre depois da ressurreição de Jesus, na porta do Templo e ainda, é atribuída a ele, a primeira conversão de um pagão, o Centurião Cornélio”, conta. Nas perseguições sofreu a prisão por testemunhar Jesus e a sua salvação. “Foi missionário de Jesus e do seu Evangelho em Jerusalém, na Palestina, em Antioquia, em Corinto, em Roma”, afirma dom José Valmor.
Pedro morre mártir sob o imperador Nero, no ano de 67 d.C., e seus restos mortais foram depositados no cemitério que havia na colina do Vaticano. Na época, o imperador Constantino construiu a primeira igreja sobre o túmulo do apóstolo. “O papa Dâmaso diz que Pedro e Paulo são cidadãos romanos por causa do martírio em Roma”, afirma o bispo.
São Paulo, de perseguidor a apóstolo das nações
De acordo com dom José Valmor, Paulo encontra Jesus de modo misterioso, depois de anos de perseguição contra a Igreja. “Encontra Jesus no caminho de Damasco e depois de uma formação inicial cristã, torna-se o grande discípulo missionário do mestre, em todos os lugares possíveis”, diz.
Com o apóstolo, o bispo afirma que a Igreja se descobre, para todos os efeitos, missionária, aberta aos pagãos, aberta a todos os povos, raças e línguas. “Homem convertido, trabalhador corajoso, inteligente, de grande cultura, excelente orador, Paulo abandona as suas seguranças e coloca-as constantemente em missão”, diz.
Paulo é todo e em tudo dedicado à missão evangelizadora. As suas viagens o levaram à Arábia, Grécia, Turquia, Itália. Em Roma, virou prisioneiro por causa da fé, mas continuou a evangelizar, ainda que em meio a muitas dificuldades. Como Pedro, morre mártir, provavelmente no ano de 67 d.C. “Suas 13 cartas, inseridas no cânon do Novo Testamento, são bases doutrinais essenciais do Cristianismo e uma referência imprescindível para os cristãos de todas as épocas históricas e de todos os continentes”, afirma dom José Valmor.
O apóstolo foi condenado à morte por um tribunal romano, porque era cristão. Foi decapitado, diz-se que em 29 de junho do ano 67 d.C, porque era cidadão romano e por isso não podia ser crucificado. “São Paulo mártir, santo, apóstolo, missionário, escritor, evangelizador, corajoso e constante, é exemplo para cada um de nós, nos tempos que vivemos”, finaliza o bispo. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Papa aceita renúncia de mais dois bispos chilenos
- Detalhes
O Papa Francisco aceitou as renúncias do bispo de Rancagua, dom Alejandro Goić Karmelić, e do bispo de Talca, dom Horacio del Carmen Valenzuela Abarca.
Cidade do Vaticano
Nesta quinta-feira (28/06), o Papa Francisco aceitou a renúncia ao governo pastoral da Diocese de Rancagua, no Chile, apresentada por dom Alejandro Goić Karmelić, nomeando administrador apostólico sede vacante et ad nutum Sanctae Sedis dessa diocese, dom Luis Fernando Ramos Pérez, bispo auxiliar de Santiago.
O Papa também aceitou a renúncia ao governo pastoral da Diocese chilena de Talca, apresentada por dom Horacio del Carmen Valenzuela Abarca, nomeando administrado apostólico sede vacante et ad nutum Sanctae Sedis dessa diocese, dom Galo Fernández Villaseca, bispo auxiliar de Santiago. Fonte: https://www.vaticannews.va
Pág. 236 de 646