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No livro "Disritmia", escritor e jornalista conta histórias de muita gente
O jornalista e escritor Ronald Lincoln segura seu livro, "Disritmia" - Arquivo pessoal
Entrei atrasada em uma conversa lotada da Flip, a tempo de ouvir Ronald Lincoln responder a perguntas que me irritaram em tempo recorde.
Quem aquela senhora achava que era pra julgar pessoas de forma tão altiva, como se o sucesso do jovem escritor demonstrasse que qualquer outro que também nasceu e viveu na favela, mas se desvirtuou do caminho da retidão moral e da licitude, teve escolha de ser diferente?
Mas quem sou eu para achar que podia entender a realidade que também nunca foi a minha e me sentir no direito de julgar os julgamentos alheios?
Sinto-me um pouco mais à vontade para fazer isso depois de ter lido Disritmia, o livro de estreia do jornalista Ronald Lincoln: um jovem negro, cria do Jacarezinho, no Rio de Janeiro.
"Disritmia" (ed. Malê) é um verdadeiro alterador de ritmo. Cada conto sobre histórias ficcionais ou não de sua vivência periférica pesa um absurdo e se entranha na gente como luto. Não é possível ser a mesma pessoa depois da sua leitura. Não é possível ver o mundo do mesmo jeito depois de vê-lo pelos olhos de Ronald.
Em 16 contos, o autor nos leva para dentro de casas, escolas, hospital, ônibus, campos de futebol, e faz pessoas que têm escolha o tempo todo entenderem que existe muita gente que realmente não tem. Na quarta capa do seu livro, Rodrigo Santos diz que se trata da "história dos meus, dos seus, contada por um dos nossos". Percebi a potência que isso tem lendo o livro de Ronald, porque, mesmo nas histórias que, de certa forma, já vi sendo contadas no jornal, faltava um sentimento de pertencimento que só entendi nas suas.
Queria ter tido contato com uma obra assim ainda na adolescência, antes de formar os preconceitos que minha classe social, minha cor, meus privilégios lapidaram em mim. Demorei anos a entender quanta bobagem eu pensava antes de entrar na faculdade. Tive que ir atrás de tudo aquilo que não chegaria a mim de outra forma e enfrentar a irritação da minha bolha quando passei a não concordar mais com ela.
Acredito que escrever move o mundo e, depois de ler "Disritmia", acredito mais.
Morte sem Tabu: Por que o título "Disritmia", que dá nome ao livro e a um dos contos?
O conto que dá nome ao livro foi inspirado na música famosa do Martinho da Vila, na ideia da mulher que tem o poder de hipnotizar, de tirar a disritmia e curar seu nego. Mas a palavra tem significado amplo e dialogou com a ideia da vida no limite, das mudanças bruscas de direção, das disritmias dos outros contos.
Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia Pra fugir do mundo Pretendo também me embrenhar no emaranhado Desses seus cabelos Preciso transfundir seu sangue Pro meu coração, que é tão vagabundo. Martinho da Vila, na música "Disritmia"
Morte sem Tabu: Você já tinha publicado contos antes. Como surgiu a ideia do livro?
Foi um convite da Malê, do meu editor Vagner Amaro, depois que publicamos um dos contos na antologia "O Movimento Leve". Eu já tinha alguns outros contos e achei que pudesse fazer um mosaico de personagens favelados, transmitindo sentimentos através da literatura.
Morte sem Tabu: Eu costumo dizer que pensar sobre a morte é privilégio de quem não convive com ela o tempo todo. Seu livro é um livro sobre a morte rondando a vida?
Ronald Lincoln: Todo favelado tem um diálogo, uma negociação diária com a morte. Você sai de casa com risco de tiroteio, volta para casa e não está seguro. É uma morte que não é natural, ela vem do elemento social.
Quem mora na favela está diante da morte a todo tempo. Todo mundo tem uma história sobre uma situação em que achou que poderia morrer e escapou por um triz. Eu trago isso no "Teoria da Relatividade", quando o traficante diz que aceita a morte desde que seja de forma honrada; no "Jogador Caro", quando o protagonista reflete sobre quantas vezes imaginou as formas violentas pelas quais poderia morrer, mesmo sendo um prodígio no futebol, uma pessoa que ascendeu financeiramente e teoricamente estaria mais distante dessa realidade.
O primeiro conto do livro, "Intruso no Ciep", é uma reflexão sobre o que é certo e errado para defender a vida de alguém. Em outras histórias, reflito sobre o amor no limite da privação de liberdade, de quem está dentro e fora de uma penitenciária. Escolhi o conto "Rian enganou a morte" para fechar o livro, porque é uma metáfora de todas as personagens, sobre a luta para viver em plenitude. Se necessário, vai ter desenrolo com a morte. Mesmo os que partem, de alguma forma, subvertem a vida.
Umas das referências para esse último conto foi um curta da Pixar, em que um ciclista está numa corrida e se depara com a morte e dá um jeito de enganá-la. Também me pegou muito a morte, como personagem do livro Pulp, do Bukowski. Ela é sedutora e elegante e contrata o detetive, que é protagonista, para solucionar um caso.
Morte sem Tabu: "Tia, nem tive tempo de dizer meu nome, a senhora não deve lembrar, porque me chamou de menino direto. (...) A arma era de verdade não, só que precisava levar um dinheiro pra casa, dar um levante, as criança precisa comer". Esse é o recado deixado por um homem que assalta um ônibus no conto "Bilhete", um dos que mais me tocou, porque eu acreditei na genuinidade da justificativa daquele personagem. Você humanizou quem a gente só vê ser tratado como bandido.
Ronald Lincoln: Esse foi o primeiro conto que publiquei, no concurso para jovens escritores negros da Editora Malê, em 2017. Você pescou no livro a ideia da raiz desse conto. Eu cresci no morro do Jacarezinho, com pais que sempre trabalharam apesar de terem crescido em pobreza extrema. São exceção. Poderia ter dado tudo errado também, seria natural diante da condição de quem cresce em morro. Mas essa estrutura familiar me deu um degrau a mais de acesso. Minha família que ainda mora no morro fica muito feliz, meus amigos também me dão moral. Mas eu sei que sou exceção. Eu não consigo ver os amigos que cresceram comigo como pessoas diferentes na essência. Entendo que não tiveram as mesmas oportunidades, a estrutura. Essa falta motiva decisões abruptas na vida, como a do personagem principal.
E a dona Nilma [a "tia" para quem o bilhete é deixado] é uma mulher conservadora, fala em um tom religioso por diversas vezes, mas no fim ela faz uma oração pelo ladrão. É um tipo de olhar comum na favela, mais humano. Ela sabe o que é ter criança com fome.
Morte sem Tabu: O título "Quase da Família" diz muita coisa. Nesse conto, em que você se inspira na primeira morte por Covid no Brasil, a empregada doméstica Celina, contaminada pelos patrões, também morre? Ou ela pode ir pra Guapimirim realizar seu sonho de viver bem?
Ronald Lincoln: Para mim, ela morre. Até por respeito à história real da mulher que morreu no início da pandemia, uma das primeiras com covid, se não me engano. Mas deixei em aberto para o leitor decidir. Teve gente que me mandou mensagem indignada com o final. Mas eu costumo dizer que, de certa forma, a Celina se libertou daquela família, conseguiu olhar para si. Nesse sentido, ela venceu.
Guapimirim foi uma cidade que visitei quando estava escrevendo e me cativou muito. Ela fica relativamente próxima do Rio, mas é bucólica, cheia de cachoeiras, num outro ritmo. E fiquei refletindo que gostaria demais de morar num lugar como Guapi, criar meu filho com calma, perto das águas, do mato, mas na melhor das hipóteses acho que só seria possível numa aposentadoria. Algo meio Racionais MC's quando canta: "às vezes eu acho que todo preto como eu só quer um terreno no mato só seu". A Celina é muita gente.
Morte sem Tabu: O que é verdade ou não em Imperatriz Furiosa, o conto sobre uma passista que é assediada enquanto trabalha em um casamento, pelo próprio noivo que a contrata?
Ronald Lincoln: Esse conto surgiu de uma reportagem que escrevi para o UOL, em 2017, sobre passistas de escolas do Rio. Estava rolando uma polêmica sobre Globeleza, hiperssexualização. Daí eu fui ouvir um grupo de passistas que debatiam feminismo, assédio, racismo e direitos trabalhistas no meio do samba. Uma delas, contou que foi assediada por um noivo num casamento. Ela deu a negativa e seguiu o show com a bateria. Esse recorte me deu o impulso para explorar as nuances do trabalho da passista e sobre maternidade negra também.
Morte sem Tabu: "Nós é bom, mas não é bombom". Você que criou essa frase? O que ela significa?
Ronald Lincoln: Não criei, não. É uma expressão que o pessoal usa bastante no subúrbio. Ela é versátil. Tem o tom de brincadeira, mas também de aviso de que o personagem não é de levar desaforo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Erradicação da pobreza e da marginalização só se fará – como expressão do respeito à pessoa humana – com o exercício do direito social ao trabalho
Por Luiz Sergio Fernandes de Souza
Além de comer, o homem tem outras necessidades. Essa é a compreensão popular de Mateus 4,4 (“o ser humano não vive só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”), na Bíblia, com outro significado, o do triunfo de Jesus sobre a tentação, sabedor de que a fome física a que fora submetido por 40 dias no deserto era a prova de que guardaria no coração os ensinamentos de Javé.
A precariedade do homem diante da fome está bem representada na oração que Jesus ensinou aos discípulos: “Pai, santificado seja teu nome; venha teu reino; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Lucas 11,2-3). O sofrimento imposto a quem tem fome surge nas frases “comer o pão que o diabo amassou” e “na casa em que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”; e a importância do trabalho para a subsistência, nas expressões “ganhar o pão” e “colocar o pão na mesa”, que remetem a Gênesis 3,19: “Você vai ter de comer o pão com o suor do rosto”.
“Fazer pão grande”, no linguajar dos antigos, é viver no ócio, o que se põe em desacordo com a proposta de Paulo na Carta aos Tessalonicenses, quando o apóstolo, após exaltar a tradição do trabalho, recomenda que todo irmão se afaste de quem vive sem fazer nada, pois nós não recebemos de graça o pão que comemos (2Ts 3,6-8). “Pão-duro”, por sua vez, é o indivíduo sovina, cabendo lembrar que a avareza é um dos sete pecados capitais, oposta à generosidade e à compaixão, mais que virtudes, deveres cristãos.
O versículo “quem doa ao pobre empresta a Javé, que lhe dará a recompensa” (Provérbios 19,17) traz para muitos, senão a expectativa da retribuição divina, certo alívio de consciência. Afinal, é difícil conviver com a miséria, que parece nos apontar o dedo, indicando uma espécie de responsabilidade coletiva. Importa – no dizer do padre Bruno-Marie Duffé, em entrevista ao jornal vaticano L’Osservatore Romano – “o olhar que oferecemos antes da ajuda material a quem precisa”, o que é diferente de “ter a consciência tranquila”, sentimento voltado para si mesmo, esclarece o padre.
Na perspectiva de promover a pessoa e a dignidade humanas, convém dizer que, embora meritória a filantropia – o trabalho realizado por ONGs, organizações sociais, associações e entidades de assistência, assim como a iniciativa individual e espontânea de quem dá trocado nas calçadas e semáforos –, fundamental é resgatar o ser humano, ao que não bastam a entrega de alimentos nem a contribuição feita em dinheiro, donativo que, embora seja um dever cristão, muitas pessoas têm certo pudor de reconhecer como “esmola”, talvez porque, no fundo, não vejam tanta dignidade nele.
Na Carta aos Tessalonicenses, Paulo aconselha reserva diante dos que vivem no ócio. “A essas pessoas recomendamos e pedimos, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente para ganhar o próprio pão.” Não devemos tratá-las como inimigas, mas corrigi-las como irmãos (2Ts 3,12-15). Dar alimento a quem está na rua é necessário, mas insuficiente. O Estado é laico, mas compartilha com o cristão a ideia de fraternidade (1 João 4,20-21 e Constituição federal, CF, preâmbulo). O valor social do trabalho, um dos fundamentos da República (art. 1.º, IV, da CF), não transige com políticas públicas que desconsiderem a inclusão da população marginalizada no mercado de trabalho, a exigir investimentos em saúde, formação profissional e geração de emprego.
A erradicação da pobreza e da marginalização, um dos objetivos essenciais da República (art. 3.º, III, da CF), só se fará – como expressão do respeito à pessoa humana (art. 1.º, III, da CF) – com o exercício do direito social ao trabalho (art. 6.º da CF). São grandes os desafios, pois quem vive em situação de rua tem elaborações muito particulares sobre si próprio e sua condição. Por isso, o poder público haverá de dialogar com os diversos setores da sociedade, e não procrastinar, com paliativos, o desfecho trágico desta crise humanitária. Muitos são os instrumentos de promoção da justiça social aptos a pôr em prática o dever de eficiência imposto à administração pública (art. 37 da CF), o que depende da ação política.
Segundo o Censo de 2022, há 589 mil imóveis vazios na cidade de São Paulo. O IBGE ainda não divulgou o número de pessoas que vivem nas ruas, apenas o somatório nas cidades do País, da ordem de 220 mil, situação incompatível com a função social da propriedade (art. 5.º, XXIII, da CF), o direito à moradia (6.º da CF) e a política urbana, cujas regras impõem o aproveitamento adequado dos espaços da cidade (art. 182 da CF). Como forma de desestimular o abuso do direito de propriedade, além da progressividade das alíquotas do IPTU e, sucessivamente, da desapropriação mediante pagamento em títulos da dívida pública (art. 182, § 4.º, II e III, da CF), a legislação prevê a arrecadação do imóvel abandonado, com perda da propriedade (artigos 1275, III, e 1276 do Código Civil).
Em resumo, de um lado estão as pessoas abandonadas, principalmente nas ruas do Centro de São Paulo, de outro, imóveis abandonados na região (33 mil, conforme o Censo do IBGE de 2010). Trata-se de afetar à destinação pública aquilo que é de ninguém e, ainda, democratizar e requalificar espaços hoje ocupados por lideranças dos movimentos de moradia popular, que somavam em 2021, apenas na região central, 48 prédios, consoante dados da imprensa, todos em precárias condições de uso e segurança. Ao mesmo tempo, é preciso dar o “pão do espírito”, ou seja, a instrução, preparando os moradores dessas novas unidades para a gestão de condomínio.
*PROFESSOR DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DA PUC/SP, MESTRE E DOUTOR EM DIREITO PELA USP, ESCRITOR, É DESEMBARGADOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO Fonte: https://www.estadao.com.br
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Somos a civilização da falsificação da imagem que interpretava os fatos. Um milhão de fotos vale mais que uma palavra de honra. E como vende. E como funciona
Por Eugênio Bucci
A credibilidade da fotografia entrou numa espécie de fadiga do material. Não há mais como não duvidar da autoridade daquela imagem realista que se abria diante dos nossos olhos como se fosse a prova definitiva de um acontecimento. Uma foto, muitas vezes, é um embuste.
Tempos atrás, quando as câmeras ainda se valiam de filmes para registrar um instante, o negativo era reverenciado como se fosse a verdade em pessoa. Acreditava-se que naquele pequeno rolo de triacetato de celulose estavam impressos fragmentos genuínos da História, um documento tão confiável quanto um caco de cerâmica de civilizações extintas, um manuscrito autêntico de um escritor célebre, um dente de dinossauro. Hoje, a conversa mudou. Estão aí as evidências escarradas de que as fotografias mentem.
Hoje, os processos químicos que “revelavam” o filme num ritual de alquimia sob luz vermelha deram lugar aos arquivos de computador que, em um segundo, oferecem visões de pura epifania escópica: um rosto de mulher com olhos de ressaca, os destroços de um hospital bombardeado em Gaza, uma galáxia distante que lembra um carro alegórico na Marquês de Sapucaí. São alumbramentos arrebatadores, mas muitas vezes são balela. O papa Francisco, um tanto garboso, desfila com um impermeável branco típico de um bilionário passeando nos Alpes: falso. Donald Trump algemado, de cara enfezada: fake.
Os vídeos também aprenderam a mentir. Desabridamente. Na semana passada, a OpenAI, empresa dedicada a sintetizar, promover e difundir ferramentas de Inteligência Artificial, anunciou seu novo brinquedo, chamado Sora. A partir de comandos de texto (os tais prompts), a máquina cria filmetes exatos, fortes, convincentes, em altíssima resolução – e fajutos. As produções visuais do Sora não refletem realidade nenhuma. Aliás, nem sequer prometem refletir – são apenas peças de ficção que podem ser confeccionadas sem o auxílio de seres humanos.
Alguém vai dizer, então, que vivemos um paradoxo: nunca antes na história deste país, e de todos os outros, tantas imagens circularam por tantos meios simultâneos para aplacar tanta avidez de tantas plateias de uma vez só; ao mesmo tempo, nunca esteve tão em xeque a confiabilidade da invenção popularizada por Louis Daguerre e seu daguerreótipo de placas de prata. Os nudes e reels enchem o ar de euforia consumista, mas a explosão das falsificações fotográficas deveria nos fazer pensar. O nosso problema é que pouca gente corre o risco de pensar.
Régis Debray escreveu certa vez que somos a primeira civilização autorizada a acreditar em seus olhos. Ocorre que a esperança dessa civilização depende de sua capacidade de duvidar das telas eletrônicas. Sim, é paradoxal. O conforto de crer cegamente nos próprios olhos equivale a uma sentença de morte da civilização. A tragédia política do nosso tempo tem que ver com isso: massas viciadas no gozo do olhar não pensam, não gostam de pensar, apenas adoram seus bezerros de ouro digitais e idolatram seus tiranos, ridículos tiranos.
O mais interessante de tudo é que, já no tempo em que tomávamos os retratos como a expressão legítima da verdade objetiva (a lente, afinal, sempre foi chamada de “objetiva”), as coisas não eram bem assim. Uma foto não era somente o decalque do real. Acima disso, era uma opinião sobre o real, na melhor das hipóteses.
A câmera – que hoje está embutida nos chips minúsculos de qualquer celular barato – descende de um dispositivo ótico que ajudava os pintores do século 17 a serem mais verossímeis em seus traços. Era a “câmara escura”, uma ferramenta a serviço de um ponto de vista. A “câmara escura” tinha a forma de caixote avantajado, no qual a luz só entrava por um pequeno orifício. O exíguo filete de luz projetava, na parede oposta, a cena que se passava do lado de fora. Sozinho dentro do caixote, o artista riscava sobre o que via projetado e, desse modo, reproduzia com precisão as linhas da natureza.
Com o tempo, esse caixote passou por adaptações diversas, diminuiu de tamanho e incorporou lentes. Quando finalmente a fotografia foi inventada, o pintor foi substituído por um mecanismo artificial feito de materiais fotossensíveis. Depois disso, a revolução digital substituiu o filme químico por chips. Então, no século 21, a Inteligência Artificial substituiu o fotógrafo pelos prompts e aposentou a cena externa, dispensou os fatos.
Mesmo assim, o poder sedutor da fotografia segue intacto. Quem liga para os fatos? Somos a civilização da falsificação da imagem que interpretava os fatos. Um milhão de fotos vale mais que uma palavra de honra. E como vende. E como funciona.
Platão dizia que o pensamento só é pensamento quando consegue ir além dos sentidos, como a visão ou a audição. Segundo ele, ninguém alcançaria a verdade pelos olhos, mas pela razão. Nisso consistia a passagem necessária da doxa (a mera impressão pessoal) para a episteme (o conhecimento). O velho filósofo não estava certo em tudo o que escreveu, mas, nesse ponto, merece sem lembrado – ainda que em vão.
*JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP Fonte: https://www.estadao.com.br
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Urge investigar causas da alta de suicídios entre os brasileiros nesse estrato
Estudantes usam celular durante intervalo das aulas em colégio de Almirante Tamandaré (PR) - Mathilde Missioneiro/Folhapress
Levantamento de dados do SUS de 2011 a 2022, feito pela Fiocruz Bahia em parceria com a Universidade Harvard, confirma a tendência de aumento de suicídios e autolesões entre os jovens brasileiros.
A taxa de pessoas entre 10 e 25 que se tiraram a própria vida teve alta anual de 6% no período, e o ritmo foi de 29% ao ano nos casos daqueles que se mutilaram.
Ainda que possam refletir uma queda na provável subnotificação desses episódios, os percentuais se mostram alarmantes.
Na população em geral, o crescimento foi menor, de 3,7% e 21%, respectivamente. O índice de autolesões reportadas entre jovens de 10 a 24 anos é espantoso, com salto de 10,7 por 100 mil habitantes em 2011 para 158,5 em 2022.
O Ministério da Saúde também emitiu alerta em 2022. Entre 2016 e 2021, a taxa de suicídios no estrato de 10 a 14 anos subiu 45% e, no de 15 a 19 anos, 49,3% —ante alta de 17,8% na população brasileira.
Urge investigar as causas desse fenômeno, e fatores socioeconômicos estão naturalmente entre as hipóteses. Sabe-se que países de média e baixa renda concentram os casos de jovens que se matam.
Globalmente, há aumento de ocorrências de transtornos psicológicos nessa faixa etária, registrado em países como Reino Unido, Estados Unidos e França.
No Brasil, pesquisa do Datafolha de 2022 mostrou que 8 em cada 10 indivíduos entre 15 a 29 anos haviam apresentado recentemente algum problema de saúde mental, como depressão, ansiedade e dificuldade de concentração.
A ciência ainda não estabeleceu uma relação causal direta, mas suspeita-se que as novas tecnologias desempenhem papel relevante nesse panorama.
A prática do bullying, antes restrita ao ambiente escolar, prolonga-se na internet. A profusão de informações e a pressão por aprovação nas redes sociais alimentam a ansiedade e o vício nas plataformas.
O lado positivo do aumento de casos notificados de suicídios e autolesões entre jovens é o estímulo à conscientização e à prevenção por parte das famílias e do Estado.
O poder público deve direcionar atenção em saúde mental para esse estrato, assim como incrementar a educação midiática nas escolas, para que os alunos aprendam a lidar com as novas tecnologias. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Por Carolina Delboni
Tem assunto que parece missão impossível, que você não tem ideia por onde começar. Tem assunto que dá pesadelo e outros que você quer passar longe, certo? Pois é, mas quando a gente não fala, a internet fala. Já pensou sobre isso?
Sabe aquela música da Pitty que diz: "Pane no sistema, alguém me desconfigurou"? É exatamente assim que muitos pais se sentem, quando precisam ter conversas difíceis com seus filhos. Assuntos como puberdade, sexo, gravidez na adolescência, pornografia e identidade de gênero são tópicos frequentemente evitados porque geram desconforto tanto para os pais quanto para os filhos.
Mas com tanta informação disponível nas redes sociais e nas conversas entre amigos, os adolescentes rapidamente encontram tudo e mais um pouco numa simples busca. Acabam se deparando não só com os temas que pesquisavam, como com muito - muito - conteúdo que não deveriam ter acesso.
Pensa que a internet é uma grande casa, cheia de quartos e cômodos todos sem portas. Entra quem quer, a hora que quer e vê o que os olhos são capazes de ver. Basicamente isso. E quando pais e responsáveis legais optam por não conversarem sobre os assuntos mais cabeludos, é lá que os adolescentes vão buscar informação - quer você queira ou não.
E a adolescência é um período cheio de curiosidades e descobertas, portanto, eles vão buscar informação - em algum lugar. Ficar sem resposta ou no vácuo, como dizem, não é uma alternativa. Claro que as conversas entre os colegas são super bem-vindas, mas muitas vezes os amigos têm o mesmo aprofundamento de informação do que seu filho e/ ou filha.
As fontes de pesquisa também costumam ser as mesmas: redes sociais e influenciadores. E veja, como o próprio nome diz são pessoas que falam e fazem coisas para influenciar outras, mesmo que não seja intencional. Estamos falando de uma geração que usa as redes para buscar informação. Eles não acessam jornais ou canais de mídias confiáveis. Eles buscam semelhantes.
Segundo estudo da TIC Kids Online, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2022, 71% dos jovens entrevistados buscam as redes para fazer pesquisa, inclusive para a escola. Outros 32% buscaram a internet para saber ou conversar sobre vivências ruins que passaram, pode ser um sentimento ou alguma situação mais traumática. Mas e aí, o que fazer ou como fazer? Competir com as redes sociais não é um caminho, mas andar ao lado dela sim. O que eu estou querendo dizer?
Converse com seu adolescente. "Ah, mas é impossível, ele nunca quer falar". Pode ser que ele não queira sentar e bater um papo cabeça com você, algo mais formal, mas procure trazer os temas de maneira mais solta, descontraída. Não, você não vai fazer piada sobre coisas sérias, mas vai puxar o assunto de forma mais suave, contando um caso, algo que você leu, viu nas redes sociais, enfim, usando mais a linguagem do adolescente do que a sua, que é adulta.
Conversar de maneira aberta e informativa pode fortalecer os laços familiares e preparar o terreno para mais diálogos difíceis no futuro. Mesmo que discutir sobre sexo possa ser desconfortável, é importante vencer os obstáculos culturais, religiosos e pessoais para começar essa conversa. Comece aos poucos. Por onde você dá conta.
1 e 2. Sexo e Gravidez na adolescência
Ensinar sobre sexualidade é fundamental para proteger nossos jovens. Isso inclui dar informações corretas e criar um ambiente onde eles possam falar sobre assuntos sensíveis sem medo e/ ou vergonha. A gravidez na adolescência, por exemplo, é outro assunto sério que continua sendo uma pauta urgente.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) do IBGE, mostram que quase um terço dos jovens de 13 a 15 anos já iniciaram sua vida sexual e menos estão usando preservativos. Segundo a OMS, 30% das meninas adolescentes que engravidam dizem não ter tido informação alguma. Isso destaca a necessidade inadiável de conversar sobre sexo e como se prevenir de riscos, como as doenças sexualmente transmitidas.
Conforme pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil tem uma das maiores taxas de gravidez em adolescentes entre 14 a 19 anos. Isso mostra o quanto é importante ensinar sobre prevenção e incentivar visitas regulares ao médico para orientação especializada. E isso vale para os meninos também.
Meninos precisam entender sobre o próprio corpo e o corpo do outro. Precisam aprender sobre a camisinha antes de terem que usá-la, precisam fazer visitas regulares a um médico. Precisam saber sobre menstruação. Sobre coisas que acontecem no corpo das meninas para respeitá-las.
3. Pornografia na adolescência
Outro assunto espinhoso, mas que precisa ser abordado porque tem inúmeros riscos. Estudos mostram que os jovens têm contato cada vez mais cedo com a pornografia. Um levantamento com 9.250 pré-adolescentes, com idades entre 10 e 14 anos, revelou que 14,5% dos jovens entrevistados no Equador (a menor taxa) e 33% na Bélgica (a maior) já tiveram contato com pornografia nessa faixa etária.
O estudo, publicado no jornal científico Journal of Adolescent Health, em julho de 2021, concentrou-se especialmente em moradores de áreas mais pobres desses países. Uma das razões apontadas é a popularização dos celulares, que alavancou a quantidade e a variedade desse tipo de conteúdo - além de ter facilitado o acesso, não apenas por adolescentes, mas para crianças também. Preocupante? Muito. O que fazer?
A melhor maneira de lidar ainda é a conversa, mas aqui elas devem ser educativas e positivas, onde se explique a diferença entre a pornografia e a realidade, se fale sobre sexualidade, toque e afeto de maneira respeitosa e verdadeira como partes importantes da experiência sexual humana.
4. Identidade de gênero
Abordar temas como sexualidade e identidade de gênero com os filhos pode ser desafiador, mas também é uma oportunidade para refletir sobre as transformações sociais e culturais atuais. Conforme o artigo "Gênero vs Sexualidade", publicado pela Unicef Brasil, a identidade de gênero relaciona-se ao modo como o indivíduo se reconhece em relação ao seu corpo, não se limitando necessariamente ao sexo biológico.
Há pessoas que, embora nascidas biologicamente em um gênero específico, identificam-se com outro desde a infância. Por outro lado, a sexualidade diz respeito às atrações afetivas e sexuais, podendo ser direcionada as pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto, ou de ambos, caracterizando, respectivamente, as orientações homossexual, heterossexual e bissexual.
A nova geração está à frente de um movimento pela aceitação da diversidade de gênero e expressões sexuais de forma inclusiva, desprovida de julgamentos e respeitosa. Os jovens estão redefinindo padrões sociais, valorizando a liberdade de ser e amar. Para os pais, este processo envolve aprender e dialogar de maneira aberta, buscando fortalecer a relação com os filhos e promover um ambiente de apoio, onde eles possam explorar sua identidade e sexualidade de maneira segura. Nesse contexto, profissionais da psicologia podem oferecer suporte essencial, auxiliando na criação de espaços seguros para essas conversas.
5. Cigarro eletrônico na adolescência
A questão do consumo de cigarros eletrônicos, ou vapes, também requer atenção. Apesar da proibição de venda no Brasil, a aquisição ilegal desses dispositivos persiste. Dados da pesquisa PeNSE de 2019 indicam que aproximadamente 16,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já experimentaram cigarro eletrônico.
Os pais devem buscar informações sobre os riscos associados ao uso desses dispositivos, incluindo o potencial para dependência pela presença de nicotina, que pode prejudicar o desenvolvimento cerebral dos jovens. Recentemente, a Anvisa reforçou a proibição dos cigarros eletrônicos, incluindo restrições à publicidade e divulgação. Uma compreensão aprofundada sobre a popularidade dos vapes pode capacitar os pais a orientar seus filhos para tomadas de decisão mais seguras, incentivando alternativas saudáveis.
6.Bebidas alcoólicas na adolescência
O aumento no consumo de álcool entre adolescentes é outro tema. A pesquisa PeNSE mostrou um crescimento na taxa de consumo de 61,4% para 63,3% desde 2015, com quase um terço dos jovens iniciando o consumo antes dos 14 anos. A fiscalização da venda de bebidas alcoólicas para menores ainda enfrenta desafios, especialmente nas plataformas digitais pelos aplicativos de entrega que vendem bebida alcóolica para essa faixa etária sem nenhum recurso de segurança extra.
Na adolescência, a bebida alcóolica não só representa a transgressão como é um código da vida adulta e "crescer" é outro desejo desta faixa etária. Portanto, aqui os pais têm apenas uma alternativa: falar abertamente sobre o tema. A bebida é proibida para menores de 18 anos, isso é Lei e eles precisam saber. Mas e se beberem escondido, o que também precisam saber? É importante orientar sobre consequências do consumo excessivo, a vulnerabilidade que a pessoa se encontra neste estado físico, o que fazer, a quem pedir ajuda, enfim, aqui vale a transparência no assunto e não o moralismo.
7.Uso excessivo das telas
Quando a pandemia nos forçou a adaptar nossas rotinas, incluindo a escola em casa, as crianças e adolescentes acabaram passando mais tempo do que nunca em frente às telas. Pesquisas, incluindo uma da UFMG, apontaram que até mesmo as crianças chegaram a ficar até quatro horas diárias conectadas, enquanto muitos adolescentes excederam a orientação de duas horas de tela por dia.
O impacto potencial desse aumento no uso de telas vai desde o risco de dependência até questões de autoimagem, exacerbadas pelos filtros e padrões irreais propagados nas redes sociais. Uma pesquisa da Dove sobre Autoestima em 2021, revelou que 84% das meninas de 13 anos já tinham usado algum filtro nas fotos, antes de publicá-las. A pesquisa também informou que 78% delas já tinham tentado mudar ou esconder alguma parte indesejada do corpo antes de postar uma foto nas redes.
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Os pais podem promover em casa, uma "cidadania digital", incentivando um equilíbrio entre o mundo online e as experiências fora da tela, e discutindo de maneira educativa os impactos das redes sociais na autoestima.
8. Efeitos das redes sociais
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Internet de Oxford, apresentou o impacto do uso excessivo das redes sociais na satisfação de vida dos adolescentes. Com uma amostra de cerca de 84 mil pessoas, constatou-se uma redução no contentamento entre os jovens, evidenciando o desafio de navegar nesse mar de aprovações virtuais durante um período importante de autoconhecimento. Além disso, uma pesquisa estadunidense sobre comportamento nas redes sociais, indica que o engajamento intenso em algumas plataformas digitais pode provocar tiques nervosos em crianças.
Diante dessas descobertas, é fundamental que os pais monitorem e incentivem um equilíbrio entre a vida online e as experiências fora da tela, mas destacando a importância de interações pessoais.
Atividades que dispensam a conexão à internet, como passeios ao ar livre, práticas esportivas ou o simples ato de assistir a um programa de TV em família, podem enriquecer a realidade dos jovens, mostrando que ela pode ser tão ou mais legal do que o universo digital.
9.Os transtornos mentais na adolescência
A última década registrou um aumento nos casos de ansiedade, depressão, automutilação e tentativas de suicídio entre os jovens, ressaltando a importância da atenção à saúde mental nesta faixa etária. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil tem uma das maiores prevalências de depressão entre adolescentes na América Latina. Tanto que iniciativas como a campanha Setembro Amarelo reforçam a necessidade de cuidado com o bem-estar emocional, em um período já marcado por intensas transformações hormonais e sociais.
Um estudo feito pelo Unicef em 2022 apontou que metade dos adolescentes já sentiu necessidade de buscar ajuda para questões de saúde mental, evidenciando uma lacuna no acesso a recursos de apoio. Paralelamente, o Brasil também ocupa a segunda posição mundial em casos de burnout entre adultos, o que pode comprometer a capacidade desses de oferecer o suporte necessário aos jovens em casa.
Esta crescente prevalência de transtornos mentais tanto em adultos quanto em jovens e crianças chama atenção para a importância de promover hábitos saudáveis e um espaço emocional equilibrado. Não é uma tarefa fácil. É uma prática diária. Até porque a presença de uma rede de apoio familiar, que propicie diálogo aberto e acolhimento, se faz cada vez mais necessária para que se enfrente estes desafios.
Encorajar conversas sobre saúde mental, estimular a resiliência e apoiar a busca por recursos internos são passos importantes para superar adversidades com mais leveza e bem-estar.
10. Saúde Mental
Promover a saúde mental dos filhos adolescentes envolve também compreender os desafios únicos enfrentados por esta geração imersa em um mundo onde bullying, cyberbullying, depressão, ansiedade, esgotamento e crises existenciais são prevalentes.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, revelou que um terço dos estudantes de 13 a 17 anos frequentemente se sentem tristes, e mais de 20% questionam o valor da vida.
A importância de escutar ativamente e validar as emoções dos jovens não pode ser subestimada. E mais uma vez, batendo na tecla, é preciso que os pais cultivem a resiliência e o bem-estar emocional dentro de casa, para prevenir o agravamento de questões de saúde mental porque lá fora eles vão ter de enfrentar problemas, cedo ou mais tarde.
Incentive seus filhos a falarem sobre o que estão sentindo, mas garanta que eles terão o seu suporte. Vale lembrar que não precisamos ter todas as respostas. Mas abrir espaços para um diálogo possível é um jeito sábio de guiar e manter uma relação de confiança. A postura encoraja os filhos a compartilharem suas dúvidas e experiências, sabendo que serão recebidos com carinho e sem julgamentos. Fonte: https://www.estadao.com.br
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Visão de Baby do Brasil, estritamente religiosa, é na verdade um instrumento para analisar o mundo
Ivete Sangalo e Baby do Brasil protagonizaram diálogo inusitado no carnaval — Foto: Reprodução
Fernando Gabeira
Jornalista e escritor
Baby do Brasil pautou o debate de carnaval. Atenção, todos: estamos em Apocalipse, o arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos, procurem o Senhor! Houve contestação imediata de Ivete Sangalo, mas essas palavras — apocalipse e arrebatamento — têm força até para invadir um alegre carnaval.
Ambas são expressões religiosas. Arrebatamento é o resgate dos fiéis antes de tudo acabar. Gosto também de Armagedom, a batalha decisiva entre as forças do bem e do mal. Quem sabe não aparece num trio elétrico do próximo carnaval? Apocalipse, arrebatamento, Armagedom e talvez Megido, o lugar onde as tropas se concentram para a batalha?
Dá música, e o apocalipse pode ser cantado de ponta a ponta no Brasil. Estamos em apocalipse, Valdemar, a PF fechou o cerco contra Bolsonaro. Estamos em apocalipse, anunciam as lojas para divulgar suas liquidações de verão.
Estamos em apocalipse, dirão alguns ecologistas, avaliando os dados das mudanças climáticas. Em apocalipse estão também os moradores de Maceió, com a cidade afundando pela exploração de sal-gema e, ao mesmo tempo, investindo R$ 8 milhões no carnaval do Rio para promover o prefeito e Arthur Lira.
Já tivemos uma visão mais branda de apocalipse no livro de Umberto Eco “Apocalípticos e integrados”. Ali se discutia a posição sobre a cultura de massa. Apocalípticos viam nela uma decadência, como a Escola de Frankfurt. Otimistas, como Marshall McLuhan, viam novas possibilidades graças à integração que criaria uma aldeia global.
Depois disso, veio a internet. O apocalipse agora é diferente. Fake news, ataque a reputações, golpes na democracia. No princípio, havia muita esperança: não se tratava mais de um espectador passivo, mas de alguém que interage com as notícias. O mundo avançaria.
Creio que Baby tocou num ponto interessante, sem perceber que sua visão, estritamente religiosa, é na verdade um instrumento para analisar o mundo. Vejo apocalípticos entre a torcida do Flamengo; a do Corinthians no momento está cheia deles; eles estão por toda parte.
Se falo sobre a profecia de Baby com certa leveza, é porque ela nos dá entre cinco e dez anos para o arrebatamento. Isso coincide mais ou menos com minha expectativa de vida. De certa forma, em termos pessoais, o apocalipse é inevitável: está dentro do prazo.
A orientação dela é procurar o Senhor, garantir a vida depois da morte. Tenho minhas dúvidas quanto a isso. Possivelmente, o apocalipse virá, e restarão na face do planeta apenas máquinas remoendo incessantemente os antigos pensamentos humanos, reelaborando ao infinito nossas loucuras, produzindo artificialmente novos apocalipses, arrebatamentos, armagedons e, se possível, novos carnavais.
De qualquer forma, apesar das críticas que sofreu, Baby merece agradecimentos. O que teríamos para falar de pessoas pulando e cantando num calor infernal? Alegorias, comissão de frente, harmonia e samba-enredo?
Além do mais, de cinco a dez anos é um tempo razoável. Imaginem se muitos tivessem apenas esse horizonte de vida? Os punks eram meio sombrios porque não viam futuro. O grito de Baby nos abre caminho pelo menos para viver o presente, sabendo que estamos simplesmente driblando suas profecias, talvez macetando o apocalipse, como defendeu Ivete Sangalo.
Minha única participação no carnaval foi documentar o desfile do bloco Loucura Suburbana. O samba-enredo é uma defesa da loucura. Se alguém gritasse ali no Engenho de Dentro que estamos em apocalipse, procurem o Senhor, seria possível perguntar “mas qual senhor?”, se há tantos sambando entre nós. Estamos em apocalipse? Mas isso já foi há tanto tempo, Baby. Estamos cantando precisamente para esquecer. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Em meio à aglomeração e música alta, golpistas apostam em diferentes estratégias para conseguir dinheiro
O carnaval é uma das festas mais populares do Brasil e reúne multidões nas ruas de todo o País durante dias. Contudo, apesar de o feriado remeter a um momento de alegria, descontração e comemoração, é comum a ocorrência de fraudes e de golpes financeiros.
É na aglomeração, em meio a música alta e muito movimento, que golpistas furtam celulares e apostam em outras estratégias para conseguir dinheiro durante um momento de distração. Confira quais são os mais comuns e fique atento para curtir as festas em segurança.
Troca de cartões de crédito ou débito
Esta é uma das práticas mais comuns durante o Carnaval. Ao realizar a compra de algum produto, o golpista entrega a maquininha para a vítima digitar a senha do cartão de crédito ou débito. Em um momento de distração do cliente, ele se aproveita para olhar e memorizar a senha que está sendo digitada.
Ao finalizar a compra, o cartão é trocado pelo golpista por outro similar, e isso pode passar despercebido pelo consumidor.
“É preciso prestar muita atenção ao realizar os pagamentos, principalmente na rua. Essa é a principal forma de evitar ser vítima desse golpe. Confira também se houve alguma cobrança extra pelo aplicativo da sua instituição financeira”, comenta Dárcio Dias, gerente de Prevenção a Fraudes do Sicoob.
Golpe da maquininha
Não aceite realizar pagamentos se o visor da maquininha estiver danificado. Quando o aparelho se encontra nesse estado, você corre o risco de passar um valor superior ao combinado sem perceber, como R$ 100,00 ou R$ 1000,00 em vez de R$ 10,00.
Para maior segurança, peça o comprovante ou habilite seu banco a enviar notificações dos gastos.
Cuidado com a exposição do cartão
Ao deixar o cartão solto no bolso ou na bolsa, ele se torna mais exposto, o que facilita que o golpista se aproxime com alguma maquininha, por exemplo, e, de forma discreta, faça uma cobrança sem que a vítima perceba.
Neste caso, é recomendável desabilitar a função de pagamento por aproximação e guardar o cartão com maior segurança, como dentro da carteira ou de uma pochete.
Falsa segunda tentativa de pagamento
O golpista pode fingir que a transação foi interrompida e solicitar uma segunda operação. Nesse caso, corre-se o risco de que ele digite um valor diferente sem que o cliente perceba e realize um segundo pagamento ou digite um preço superior ao combinado.
Falsas promoções
Diversas empresas promovem ofertas durante o Carnaval e golpistas aproveitam para se passar por elas e roubar dinheiro e dados de clientes. Alguns bancos, por exemplo, emitiram alertas sobre possíveis mensagens falsas.
“Pix De Carnaval” do Nubank
Em janeiro, o Nubank (ROXO24) informou sobre a disseminação do chamado “Pix de Carnaval”, uma fraude sendo realizada através do aplicativo de mensagens Whatsapp.
“A mensagem pede que os usuários entrem em um link, respondam um questionário e encaminhem esse link para seus contatos no Whatsapp em troca de um Pix de até R$ 500,00”, disse o banco em nota disponível no site oficial da instituição.
Este é um caso clássico de phishing, a prática de “pescar” um usuário de internet para que ele clique em um link e assim roubar dados e até induzi-lo a realizar pagamentos.
Para evitar essa fraude, é importante não confiar em mensagens de procedência duvidosa e sempre verificar a autenticidade do remetente. Fonte: https://einvestidor.estadao.com.br
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Existe uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem
Por Carlos Alberto Di Franco
O jornalismo profissional tem sido muito criticado. Trata-se de algo que está relacionado com dois fenômenos de grande atualidade: a disrupção digital e a polarização da sociedade. O jornalismo precisa recuperar a capacidade de reportar o factual e renovar seu diálogo com os consumidores da informação.
A força da mídia social é indiscutível. Transmite aos seus usuários uma sensação de protagonismo extremamente sedutora. Mas reforça a polarização na medida em que gera bolhas impermeáveis ao diálogo.
Creio que o jornalismo profissional, plenamente inserido no espaço digital, é indispensável. Precisa, por óbvio, fazer autocrítica, recuperar alguns valores e investir em renovação. Mas sua importância é imensa. Não existe um único assunto relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo profissional. Os temas das nossas conversas são, frequentemente, determinados pelo noticiário e pela opinião dos jornais.
O verdadeiro jornalismo não deve ser antinada. Mas também não pode ser neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório. Por isso os jornais são fustigados pelos que, à esquerda e à direita, desenham projetos autoritários de poder. Basta ver o crescente desconforto do atual governo.
O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas, algumas com forte radicalização, exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, aquelas que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais.
O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da política nacional, embora momentaneamente comprometidos por graves e surpreendentes equívocos do Judiciário, só são possíveis graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião pública informada.
Poucas coisas podem ter o mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários públicos corruptos, sobre os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu poder, que traem os valores e os princípios democráticos. Políticos e governantes com desvios de conduta odeiam os jornais. Mas eles são, de longe, os grandes parceiros da sociedade, a alma da democracia.
Navega-se freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perdem-se contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será?
Não creio, sinceramente. Penso que existe uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e o fascínio do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem brilho e sem alma é uma perigosa doença que pode contaminar redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, ético.
É preciso contar boas histórias. E apurar com verdadeiro empenho de isenção. A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: a falta de planejamento e a obsessão de editores com o fechamento.
Análise, interpretação e um bom texto, em qualquer plataforma, sempre vão ter interessados. O segredo é a qualidade.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www.estadao.com.br
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Vizinhos, amigo, oposição e especialistas opinam sobre o personagem central na questão da população de rua na capital paulista
SÃO PAULO
Sempre tem alguém disposto a uma conversa descontraída nas portas de botecos, mercadinhos e sobrados das ruas com trânsito calmo entre a Mooca e o Belenzinho, na zona leste de São Paulo. Mas o ar fica pesado quando a pergunta é sobre o vizinho Júlio Lancellotti, 75.
Xingamentos são frequentes nos diálogos sobre o padre responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo, onde concentra o seu trabalho de assistência à população de rua.
"Eu falo desse desgraçado, que passa aqui na frente, não vale bosta! [Ele] encheu isso aqui de morador de rua", diz Robert Freire Friedrich, 56. O comerciante conta que sua lanchonete foi invadida e saqueada há dois meses. Ele viu tudo da janela do andar de cima, onde mora com a família.
Em duas visitas às ruas nos arredores da paróquia, a Folha conversou com moradores, trabalhadores, empreendedores locais e pessoas assistidas pelo padre.
Assim como Friedrich, a maior parte da vizinhança atribui ao pároco responsabilidade pela presença de dependentes químicos, furtos, sujeira e desvalorização de imóveis comuns às cenas abertas de uso de crack, as ditas cracolândias.
Argumentos parecidos com os do vereador Rubinho Nunes (União), autor de um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mira organizações de assistência à população de rua.
O vereador negou à reportagem que o padre seja o alvo da medida, mas atribuiu ao pároco responsabilidade pelo problema devido a uma atuação que, segundo ele, é indisciplinada e contribui para a permanência dos assistidos em condição degradante.
Questionamentos à conduta moral do pároco também costumam municiar opositores. Há duas semanas a Arquidiocese de São Paulo arquivou denúncia do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), que tinha como base um vídeo que retrata um homem se masturbando.
É a segunda vez que o material, sem autenticidade comprovada, é utilizado. Em 2020, o então candidato à prefeitura Arthur do Val, o Mamãe Falei, fez denúncia idêntica à Igreja Católica, que não encontrou indícios de crime. Nunes e Mamãe Falei foram do MBL, criado em 2014 para defender o impeachment de Dilma Rousseff.
Nas duas conversas que teve com a reportagem sobre o que seu detratores dizem, Lancellotti resumiu seu sentimento em uma frase. "Eu me sinto um padre cancelado."
Eu me sinto um padre cancelado
Júlio Lancellotti
padre responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo
Laura Muller Machado, coordenadora do Núcleo População em Situação de Rua do Insper, defende a estratégia de Lancellotti. Ela diz que a aproximação feita por ele, com base no afeto, é o único meio de resgatar quem está à margem.
Afirma que não é o padre o responsável pela explosão da população de rua, fenômeno crescente no mundo que ela vê como uma epidemia de rupturas nos relacionamentos. "Antes [da pobreza e da dependência química], há um trauma muito forte na relação dessa pessoa com a família", diz.
Faltam, porém, políticas públicas que integrem o trabalho das diversas organizações que atuam nesse segmento, além de estudos para medir a efetividade desse trabalho, diz Machado. Lacunas que aumentam a insatisfação popular. "O trabalho do padre Júlio é importante, mas é uma gota no oceano."
Vivendo nas calçadas desde 2016, o ajudante de pedreiro Rodrigo Ribeiro, 40, exemplifica esse relato. Saiu de casa para dar fim às brigas com a família. Da maconha ao crack, usou todo tipo de droga. "Hoje eu estou limpo", conta.
O café da manhã oferecido na paróquia e o almoço em um centro de acolhimento da prefeitura o "fortalecem" nos dias em que procura algum bico. Emprego, porém, só com endereço fixo. "Eu precisava de vaga num albergue, tomar banho, trocar de roupa e guardar minhas ferramentas", diz, apontando para a mochila.
Admiradores também estão presentes na vizinhança, apesar de em menor número.
Bárbara Santos, 28, inaugurou há poucos meses um sofisticado salão de beleza onde atende a clientela de alta renda do entorno. Convive diariamente com pessoas que dormem na porta.
"Eu trabalho e moro muito perto [da paróquia] e não atrapalha em nada a minha vida", diz a empresária. "Alguns clientes ficam com medo, mas se eu tivesse de escolher, eu não gostaria que esse trabalho parasse porque é importante para as pessoas que precisam de ajuda."
Apesar de conviver com o problema, a jovem empresária não está no grupo que, segundo o psicanalista Christian Dunker, encontrou nas manifestações de ódio uma fuga para os três estágios de sofrimento psicológico que acometem quem se depara com a miséria e a degradação nas ruas: angústia, culpa e medo.
Dunker considera que a postura de herói de tragédia grega de Lancellotti, consciente de que está condenado ao fracasso, e seu discurso de combate à aporofobia –a aversão aos pobres– fazem dele um personagem que confronta valores contemporâneos, como o desejo de sucesso pessoal.
"É como se algumas pessoas se perguntassem: como assim os desejos dele não estão ligados ao sucesso? Isso é um dilema", diz Dunker. "[As denúncias contra o padre] querem mostrar que sua verdadeira intenção é opaca, que os desejos mais nobres procedem da nossa humanidade."
Diretor de Programas do Instituto de Estudos da Religião, o teólogo e pastor Ronilso Pacheco classifica o desconforto gerado por Lancellotti como coerente com uma sociedade de indivíduos que moldam a religião aos valores mais radicalizados do capitalismo, em especial a meritocracia.
"Essa parcela não acha justo que pessoas que vivem sem trabalho e regras tenham acesso aos direitos humanos", comenta o teólogo.
Política é elemento central para entender a rejeição a Lancellotti. O padre está assumidamente no campo progressista, contrariando a inclinação majoritária da vizinhança conservadora.
Na seção eleitoral da Mooca, dos 120 mil votos válidos, quase 70 mil (58,5%) foram para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição nacional para Lula (PT) em 2022.
Professor de gestão de políticas públicas da USP, Pablo Ortellado estuda a polarização no Brasil. Ele diz que o padre é uma típica figura capturada pelos dois espectros. Enquanto a esquerda o associa à sua visão de mundo e o admira por isso, a direita o vê com desconfiança.
"A questão da cracolândia é incômoda e uma CPI é uma forma de dizer que este é um problema criado pela esquerda", avalia Ortellado.
Ressentimentos com a política levam a outra crítica frequente ao padre: a de que a função da igreja tem sido desvirtuada pela sua militância.
É comum que atribuam às ligações políticas do padre poderes superiores aos dos seus pares.
José Carlos, 65, nasceu no bairro e, na infância, foi coroinha na São Miguel Arcanjo. Acusa o pároco de ter afastado a comunidade da igreja, eliminando tradições e fazendo da paróquia um palanque político.
"O que incomoda é a política", reclama o morador. "Eu gostaria de saber o porquê dessa diferença em relação a outros padres."
O que incomoda é a política. Eu gostaria de saber o porquê dessa diferença em relação a outros padres
José Carlos
Morador da região
Lancellotti tem, de fato, autoridade comparável à de poucos, mas isso em nada tem a ver com sua fama, segundo a Arquidiocese de SP. São suas funções na estrutura da Igreja Católica que conferem a ele certa autonomia.
Além de responsável pelo seu território paroquial, Lancellotti é vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. O cargo faz dele a pessoa de confiança do arcebispo Dom Odilo Scherer para coordenar as ações voltadas aos fiéis em situação de rua em toda a área da Arquidiocese, que compreende aproximadamente o centro expandido da capital.
Na tarefa confiada a ele, portanto, o vigário faz as vezes do bispo.
Especialista na hagiografia, ramo da história da igreja que descreve a vida dos santos, Lancellotti é um padre mais tradicional do que pensam seus críticos, afirma o coordenador do secretariado de pastoral da Arquidiocese, padre Tarcísio Marques Mesquita.
Embora seja mais frequentemente visto nas reuniões diárias com moradores de rua para distribuição de doações no pátio com bancos de madeira e imagem de bronze da Irmã Dulce, Lancellotti celebra missas nas quais faz questão de manter ritos litúrgicos antigos, como a queima do incenso.
Mesquita, 64, é confidente do colega de batina há 43 anos. Vez ou outra, sai da sua paróquia no Tatuapé para buscar o amigo no Belenzinho —Lancellotti não dirige– para um café com bolo.
Às vezes, a viagem é esticada até o centro, para distribuição de doações. "Esse é o tipo de passeio que o Júlio pede para fazer."
Mesquita enxerga o amigo como incompreendido por grande parte dos fiéis e isolado até mesmo entre o clero devido às falas duras, que refletem sua angústia e indignação.
"Ele trabalha há anos com um problema que, em vez de melhorar, recrudesce", diz. "Acho que é preciso melhorar o diálogo, mas é difícil dialogar com gente que abre a janela do carro, grita 'padre veado', e vai embora." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Thalía Mara, 'a menina que filmou o moço da igreja', e Marcelo Guarnieri começaram a se relacionar depois de uma publicação no TikTok
À esquerda, o flagra de Thalía durante a missa; à direita, ela e Marcelo em um jantar, dias depois — Foto: Captura de tela
Por O Globo — Rio de Janeiro
Uma história para lá de fofa tem dado o que falar nas redes sociais desde que um vídeo, feito em uma igreja católica, viralizou no TikTok com 11,3 milhões de visualizações. Tudo começou no último domingo, dia 28, quando a jovem Thalía Mara filmou um rapaz, até então desconhecido, assistindo à missa na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
O fiel em questão — que aparece distraído nas imagens ao som da música "Never Forget You", da banda britânica Noisettes — é Marcelo Guarnieri. "Para o homem que eu vi na igreja e não sei se verei novamente, que Deus te ilumine e te proteja", escreveu Thalía, junto a um emoji de coração.
A novela "amores da igreja", como o episódio foi apelidado por Marcelo, ganhou um novo capítulo já no dia seguinte, segunda-feira, quando ele recebeu o vídeo feito por Thalía, via WhatsApp, por meio de um colega.
O empresário, que sequer tinha perfil no TikTok, logo tratou de criar uma conta na plataforma para avisar à garota — e aos milhares de internautas que torciam pelo casal na postagem — ser ele o "rapaz da igreja". A partir daí, não demorou muito para que o primeiro encontro saísse.
Já na quarta-feira, os dois saíram para jantar em um restaurante de Balneário Camboriú, com direito a buquê de flores e comida japonesa. Desde então, a dupla tem feito questão de manter os seguidores informados sobre cada novidade da relação.
Até o pai de Guarnieri entrou na onda e declarou torcida ao casal em um vídeo publicado no perfil do filho, que já acumula 56 mil seguidores na rede social. "Graças a Deus, eu acho que ele desencalha agora. Vamos torcer para que dê certo", brincou
Com 39,8 mil seguidores no TikTok, Thalía também faz questão de responder a muitas das centenas de perguntas feitas diariamente nos comentários de seus vídeos. No post mais recente publicado no perfil da jovem, na tarde deste sábado, ela contou aos internautas que os dois têm um encontro marcado com a família dela no próximo domingo, dia 4.
"A gente se vê quase todos os dias. Quase sempre ele me manda uma mensagem dizendo 'cheguei', sem eu saber, e está lá embaixo [na porta do prédio de Thalía] me esperando. Estamos muito bem. Amanhã de manhã, vamos à missa juntos. Quem estiver por lá e quiser nos conhecer, será muito bem-vindo", afirmou. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Romance da argentina Gabriela Cabezón Cámara é o assunto da semana no Painel das Letras
SÃO PAULO
Uma protagonista travesti, que mora numa favela argentina, passa de repente a receber visões da Virgem Maria. E assim começa a fazer milagres que mudam a vida de todo mundo ali.
Esse é um gostinho do que oferece o romance "Nossa Senhora do Barraco", da premiada escritora argentina Gabriela Cabezón Cámara, um romance que mistura violentamente o sagrado e o profano.
A obra é o assunto da semana no Painel das Letras, série semanal produzida pela TV Folha e apresentada pelo colunista e editor Walter Porto, que indica livros de ficção e não ficção que acabaram de ser lançados.
Os vídeos são publicados todas as quintas-feiras nas redes sociais e no canal da Folha no YouTube. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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O cerceamento da liberdade de expressão está presente nas escolas e nas universidades, nas empresas e na mídia, no governo e nas instituições democráticas
Há uma liberdade que determina a fronteira entre os regimes democráticos e os autoritários; cidadãos livres e súditos do Estado; países onde o poder do governo é limitado e nações nas quais reinam governos despóticos. Essa liberdade é a mãe de todas as liberdades; seu nome é liberdade de expressão. Há ditaduras que toleram a liberdade econômica, assim como existem governos autoritários que mantêm o verniz de fachada democrática por meio de realização de eleições. Mas nenhum regime antiliberal tolera a liberdade de expressão.
A liberdade de expressão é o pilar central da democracia. Por isso, ela é atacada por populistas, governos autoritários e movimentos antiliberais. O principal sinal da ausência da plena liberdade de expressão é o medo que reina no País. O cerceamento da liberdade de pensamento e de opinião está presente nas escolas e nas universidades, nas empresas e na mídia, no governo e nas instituições democráticas que deveriam defendê-la.
O pensamento crítico vem sendo sufocado nas universidades. Em vez de serem um local para aprender a conviver com a diversidade de opinião e a respeitar a pluralidade de ideias, colaboram para transformar alunos em cidadãos intolerantes e incapazes de aceitar o contraditório. Professores são impedidos de dar aula e palestrantes são barrados de falar, quando suas ideias e opiniões conflitam com os mantras antiliberais das seitas identitárias, da cartilha política do populismo autoritário e do mantra dos extremistas. Sem civilidade, tolerância e respeito, a liberdade de expressão é decepada e a democracia morre.
No setor privado, a liberdade de expressão deveria ser tratada como um ativo imprescindível para estimular o debate de ideias inovadoras. Mas, quando se levanta temas “perigosos” que resvalam em assuntos de cultura e de comportamento, a liberdade de expressão é cerceada. O descuido de um comentário pode levar à demissão de funcionários da empresa e corte de verba publicitária de veículos e de eventos que não estejam alinhados com o mantra do “politicamente correto”. A imprensa livre, que é a alma da verdadeira democracia, está cada vez mais aparelhada por pseudojornalistas que ignoram os fatos e a busca da verdade para temperar as notícias com suas preferências partidárias e ideológicas. Jornalistas sérios temem exercer a sua profissão e ser demitidos ou cancelados pela turba de censores extremistas.
Neste momento em que a liberdade de expressão está sendo sistematicamente violentada pela ignorância, intolerância e obscurantismo dos antiliberais, cabe às instituições agirem de maneira contundente para defendê-la. Mas o que estamos a assistir é ao lamentável espetáculo dos detentores do poder se comportando como inquisidores, em vez de defensores da liberdade. O governo alimenta a polarização política com seu discurso ideológico e sectário e intimida os críticos de seus projetos, como revelou a truculência contra os opositores do “Projeto de Lei das Fake News”.
O Supremo Tribunal Federal (STF) censura a liberdade de expressão ao decidir que veículos de imprensa podem ser punidos por declarações inverídicas de seus entrevistados. A decisão fere frontalmente os artigos 5 e 220 da Constituição, que garantem o direito pleno de liberdade de expressão, opinião e pensamento. De fato, o eixo central que norteou a Constituição de 1988 foi o repúdio absoluto à censura e a determinação dos constituintes de garantir plenamente os direitos individuais e a liberdade de expressão. Se Ulysses Guimarães, o pai da “Constituição Cidadã”, ressuscitasse, ficaria perplexo de ver o Supremo Tribunal Federal recorrer a um inquérito indigno de um regime democrático. A abertura de inquéritos por supostos crimes de opinião tornou-se um mecanismo inquisitório. A manutenção por prazo indeterminado e o objetivo indefinido do inquérito, a negação dos direitos de plena defesa dos acusados e as decisões arbitrárias ad hoc e sob o manto de sigilo do STF representam uma clara violação dos direitos individuais, da liberdade de expressão e dos fundamentos do Estado de Direito.
Não podemos nos calar ou tratar com indiferença os ataques à liberdade de expressão. Está na hora de agirmos e nos mobilizarmos para evitar que seitas de extremistas e governos populistas usem a democracia para cerceá-la. Defender a liberdade de expressão tornou-se a questão mais urgente para as nações democráticas. Ela é a representação máxima dos valores centrais da nossa civilização: a tolerância, o respeito, a civilidade, assim como o Estado de Direito, a democracia, o livre mercado e os direitos individuais. O assalto à liberdade de expressão é o primeiro passo para transformar um país democrático numa democracia de fachada.
Todas as vezes em que as democracias baixam a guarda e negligenciam a defesa da liberdade de expressão, os países são destruídos pelo populismo e ditaduras. Os nossos filhos e netos não merecem viver novamente esse pesadelo por causa da nossa falta de coragem de defender a liberdade de expressão.
*CIENTISTA POLÍTICO, AUTOR DO LIVRO ‘10 MANDAMENTOS – DO BRASIL QUE SOMOS PARA O PAÍS QUE QUEREMOS’, FOI CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Fonte: https://www.estadao.com.br
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Segundo a polícia, outros ocupantes dos veículos ficaram presos nas ferragens e foram socorridos. Caso aconteceu em José Bonifácio (SP) na tarde desta terça-feira (30).
Carros foram esmagados por caminhões na BR-153, em José Bonifácio (SP); criança morreu — Foto: Arquivo pessoal
Por g1 Rio Preto e Araçatuba
Carros são esmagados por caminhões na BR-153 em José Bonifácio; criança morreu
Dois carros foram esmagados por dois caminhões na altura do quilômetro 114 da BR-153, em José Bonifácio, no interior de São Paulo, no fim da manhã desta terça-feira (30). Uma criança de sete anos morreu no local.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o trecho da rodovia operava em sistema pare e siga. Seguindo as orientações de trânsito, um caminhão-tanque parou na pista, seguido por dois carros. Na sequência, um rodotrem bateu na traseira dos carros, que foram esmagados.
Em um dos veículos, com placas de Ubarana, havia dois ocupantes. Eles foram socorridos e levados à Santa Casa de José Bonifácio, ainda de acordo com a PRF. Segundo o hospital, o estado de saúde deles é considerado estável. Ambos foram encaminhados ao Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto (SP).
Um menino de 7 anos que estava no outro carro, com placas de Promissão (SP), morreu no local. A identidade dele não foi divulgada. Um casal estava no mesmo veículo e ficou preso nas ferragens por mais de uma hora.
Eles também foram levados e internados na Santa Casa. Conforme o hospital, a mulher está em estado grave, com várias fraturas, e foi entubada. Já o homem apresenta um trauma no tórax. Ambos foram encaminhados ao HB de Rio Preto.
A pista foi liberada na tarde desta terça-feira, segundo a PRF. Em nota, a Triunfo Transbrasiliana, concessionária que administra a rodovia informou que toda a rodovia é devidamente sinalizada seguindo todas as normas técnicas, inclusive, nas operações pare e siga. Fonte: https://g1.globo.com
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Aline Barone Barbosa morava em Siqueira Campos. Secretaria municipal de saúde apura se mulher contraiu dengue na cidade ou em viagem a Curitiba. Estado registra alta no número de casos.
Por g1 PR e RPC Ponta Grossa
A empresária e influenciadora digital Aline Barone Barbosa, de 37 anos, morreu vítima de uma complicação cardíaca provocada por dengue. A informação foi confirmada pela secretaria municipal de Siqueira Campos, no norte pioneiro do Paraná, onde a mulher morava.
O falecimento aconteceu na sexta-feira (26) em um hospital da cidade de Jacarezinho, também no norte do estado, 12 horas após ela ser internada.
Aline Barbosa morava em Siqueira Campos — Foto: Arquivo pessoal
De acordo com o setor municipal de epidemiologia de Siqueira Campos, no final de semana anterior Aline viajou a Curitiba.
Na segunda-feira (22) ela começou a ter sintomas de gripe forte, na quinta (25) foi levada ao hospital de Siqueira Campos e logo foi transferida para o hospital de Jacarezinho, onde morreu na sexta (26).
Agora, a equipe de epidemiologia apura se o caso foi "autóctone", ou seja, contraído na cidade onde ela morava, ou se foi "importado", de Curitiba.
Aline foi sepultada no sábado (27) em Siqueira Campos. Ela deixou uma filha de 22 anos.
Casos de dengue no Paraná
O total de casos de dengue vêm subindo no Paraná nas últimas semanas.
No último boletim da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), divulgado no dia 23 de janeiro, foram indicados 3.911 novos casos e três óbitos causados pela doença em uma semana.
Uma mulher de 39 anos morreu em Mariluz, no noroeste do Paraná, um homem de 58 anos em Cornélio Procópio, no norte pioneiro, e um idoso de 82 anos em Cambé, no norte do estado.
O documento também indicava que outras 14 mortes registradas em janeiro estavam sob investigação.
Neste período epidemiológico da dengue, que iniciou em julho de 2023, o Paraná soma mais de 16.693 casos e pelo menos cinco óbitos confirmados.
Segundo a Sesa, dos 399 municípios do estado, 279, de todas as regiões, possuem casos de dengue confirmados.
Um novo boletim deve ser emitido nesta terça-feira (30).
Combate ao mosquito
A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que também pode causar outras doenças como zika e chikungunya.
A Sesa alerta para a necessidade de estar atento a possíveis criadouros do mosquito, eliminando locais de risco e evitando a propagação das doenças. Veja mais recomendações de combate à dengue. Fonte: https://g1.globo.com
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35 anos da volta das diretas para presidente e 30 anos do real servem para lembrar que brasileiros são capazes de feitos extraordinários quando se unem em torno de objetivos comuns
Em 2024, completam-se 35 anos da retomada das eleições diretas para o cargo de presidente da República no País e 30 anos do Plano Real. Ambos os marcos históricos revelam, inequivocamente, que a sociedade brasileira é capaz de feitos extraordinários quando decide se unir em torno de propósitos comuns; quando é capaz de reconhecer que há questões de interesse nacional que se impõem às diferenças político-ideológicas que possa haver entre os cidadãos – de resto um atributo próprio de qualquer democracia vibrante.
Essa união dos cidadãos para reaver um direito político elementar e recuperar o valor de sua moeda, com o fim da hiperinflação, não surgiu por geração espontânea nem de longe foi obra do acaso. Tampouco derivou de diferenças essenciais entre o povo brasileiro de então – meados das décadas de 1980 e 1990, respectivamente – e o de hoje. O povo brasileiro segue o mesmo, com todas as suas potências e limitações.
O que, então, houve de diferente na mobilização da sociedade para superar um dos últimos resquícios da ditadura militar e para derrotar a inflação que havia décadas corroía a renda dos brasileiros, ampliava desigualdades e, como se não bastasse, desviava a atenção da Nação de outras questões tão ou mais graves? A resposta é simples: líderes políticos à altura dos desafios de seu tempo.
A redemocratização do País e, consequentemente, a retomada do direito de voto direto para a Presidência da República decorreram de um longo processo de negociações políticas e engajamento social que decerto teria outro desfecho não fossem a liderança e o espírito público de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, entre outros, àquela época.
De igual modo, o Brasil dificilmente teria vencido a hiperinflação sem que Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso tivessem a visão digna de estadistas de que aquele problema obstava o enfrentamento de todos os outros. E não só: sem que ambos os presidentes tivessem sido capazes de montar uma equipe altamente qualificada, dadas as credenciais técnicas e republicanas de seus membros, para auxiliá-los naquela faina. Destaca-se, por fim, a capacidade de comunicação de Fernando Henrique para dialogar com todos os cidadãos em termos compreensíveis, a fim de dar-lhes a dimensão do desafio a ser enfrentado e dos sacrifícios que haveriam de ser feitos em nome daquele objetivo coletivo.
As eleições indiretas e a hiperinflação ficaram para trás e, neste ano, a sociedade tem razões de sobra para celebrar ambas as conquistas: há eleições livres e periódicas no País e a inflação já não assombra os brasileiros como há mais de três décadas. Isso não significa, por óbvio, que não haja desafios tão ou mais prementes do que aqueles a demandar, hoje, a atenção coletiva. Desigualdades persistem em níveis obscenos, malgrado avanços pontuais nos últimos anos. A educação pública segue negligenciada, em particular o ensino básico. O medo da violência paralisa quase todos os brasileiros. A lista é longa.
O que parece não haver mais são estadistas imbuídos de um interesse genuíno de, mais uma vez, unir os brasileiros e concertar soluções para cada uma dessas mazelas. Os dois presidentes mais populares da história recente do País, Lula da Silva e Jair Bolsonaro, vivem de insuflar a cizânia entre os brasileiros, fazendo crer, cada um a seu feitio, que adversários políticos são inimigos a serem alijados do debate público. Ao contrário de unir os cidadãos em torno de propósitos comuns, tanto Lula como Bolsonaro reforçam o tribalismo – a união entre os que veem o País e o mundo pelas mesmas lentes – e a exclusão de quem pensa diferente.
Não haverá progresso enquanto novas lideranças não se erguerem inspiradas por espírito público e senso de união; e os cidadãos se deixarem seduzir pelo discurso populista, agrupando-se em identidades políticas estreitas e inflexíveis. Tanto pior no contexto em que crenças particulares, cada vez mais, se sobrepõem à verdade factual. Fonte: https://www.estadao.com.br
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A cidade de Jacobina foi envolvida por uma tristeza profunda na noite desta sexta-feira (26/01), com a notícia do falecimento da estimada artesã e poetisa, Minita Montenegro, aos 76 anos de idade.
O início da noite testemunhou a chegada de Minita à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jacobina, enfrentando sintomas de diarreia e dores abdominais. Rapidamente encaminhada para a sala vermelha, destinada a casos graves, Minita passou por procedimentos emergenciais na tentativa de reverter seu quadro clínico. Contudo, mesmo com a autorização para transferência para uma unidade hospitalar com suporte de terapia intensiva, o destino se mostrou implacável quando a ambulância chegou para conduzi-la ao Hospital Regional, culminando em seu falecimento.
Minita Montenegro, nascida em 8 de julho de 1947, no povoado de Tamboril, município de Morro do Chapéu, tornou-se parte integrante de Jacobina em 1961, construindo uma vida sólida ao longo de mais de 60 anos. Sua família, composta pelos filhos Fabiano Montenegro Sousa, Nara Rúbia Montenegro Souza e Edson José Montenegro Sousa, além de netos, testemunhou seu comprometimento com a comunidade.
No ano passado, Minita Montenegro recebeu o honroso título de Cidadã Jacobinense da Câmara Municipal, reconhecimento merecido por sua dedicação e impacto positivo na região. Seu legado vai além das fronteiras da cidade, abraçando a voz das minorias e defendendo incansavelmente os menos favorecidos por meio de diversas campanhas sociais.
A voz marcante de Minita ecoava pelas emissoras de rádio de Jacobina, sendo uma referência constante na promoção de campanhas solidárias para auxiliar os mais necessitados. Sua abnegação a levava às periferias da cidade, percorrendo-as na garupa de uma moto para distribuir cestas básicas, medicamentos e, acima de tudo, palavras de amor e conforto.
Jacobina perde uma grande mulher, e o mundo se despede de um ser humano iluminado, alguém que semeou a bondade sem olhar a quem. Vá com Deus, Minita Montenegro. Chegou a sua vez de descansar. O seu legado continuará a brilhar nas vidas daqueles que foram tocados por sua generosidade e compaixão. Fonte: https://www.jacobina24horas.com.br
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Abertura da festa, na praça Castro Alves, contará com desfiles de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê, que completa 50 anos
Desfile do Ilê Aiyê, bloco afro que completa 50 anos, no Caranaval 2018 - Fafá Araújo /SecultBA
SALVADOR
O centro de Salvador será o coração da festa em 8 de fevereiro, abertura oficial do Carnaval. Nas primeiras horas da tarde, foliões virão das ruas Chile, Carlos Gomes, avenida Sete e ladeira da Montanha, vias históricas que serão como artérias que pulsam em direção à praça Castro Alves.
De um lado da praça, estarão as estátuas de Dodô e Osmar, inventores do trio elétrico e de Gregório de Matos, o boca do inferno. Do outro, o busto de Castro Alves, poeta dos escravos, com sua mão espalmada. Em todos os lados, estará a memória de Moraes Moreira, símbolo daquele pedaço da cidade.
O pôr do sol vai emoldurar o horizonte quando Ivete Sangalo, BaianaSystem, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê darão início ao Carnaval de um jeito que ele costumava terminar: com um encontro de trios elétricos.
Em 2024, Salvador vai reverenciar suas tradições. A cidade vai celebrar os 50 anos do Ilê Aiyê, primeiro e mais importante bloco afro da capital baiana, símbolo de resistência na cultura e na política.
Os Commanches do Pelô também completam meio século de avenida, o Olodum faz 45. Daniela Mercury rememora 40 anos de carreira no mesmo ano em que os foliões recordam os 30 anos da canção de Tonho Matéria que foi sucesso seminal do pagodão baiano.
A expectativa é de ruas lotadas, representando o ápice de um verão que já é um dos mais movimentados dos últimos anos e que deve atrair aproximadamente 800 mil turistas, injetando cerca de R$ 2 bilhões na economia da cidade.
Oficialmente, o Carnaval começa em 8 de fevereiro e se estende por sete dias até a Quarta-Feira de Cinzas. Na prática, contudo, uma conurbação de datas festivas resultará em um calendário com festas de rua entre 1º e 14 de fevereiro.
A festa antecipada começa no primeiro dia do mês, com a Lavagem de Itapuã, e prossegue com a Festa de Iemanjá, que desde o raiar do dia tomará as ruas do Rio Vermelho em 2 de fevereiro, saudando a rainha dos mares.
No fim de semana anterior ao Carnaval, os bairros de Ondina e Barra serão palco dos desfiles pré-carnavalescos Fuzuê e Furdunço.
No sábado (3), as ruas abrirão alas para grupos culturais e folclóricos de Salvador, Recôncavo e Baixo-sul, dentre eles as Caretas de Cairu, a Chegança dos Marujos, a Barquinha de Bom Jesus dos Pobres e o grupo cultural Zambiapunga.
No dia seguinte, será a vez do Furdunço com o desfile de minitrios. Participam bandas como Olodum, Psirico, Jammil e o cantor Gerônimo, mas o ponto alto é a já tradicional apresentação da BaianaSystem, um dos desfiles mais concorridos do período festivo em Salvador.
No domingo (4), o centro protagoniza o Banho de Mar à Fantasia, que percorrerá as ruas do centro antigo da cidade até a Praia da Preguiça.
A Melhor Segunda-Feira do Mundo, ensaio liderado por Xanddy Harmonia, toma a avenida no dia seguinte. Na terça, será o dia de Leo Santana comandar um trio elétrico no mesmo trajeto com o seu Pipoco. Na quarta, saem os trios e entram as bandas de fanfarra. E a festa oficial ainda nem começou.
A partir da abertura, na quinta, com a entrega simbólica das chaves da cidade para o Rei Momo, o Carnaval se espalha pelos circuitos Barra-Ondina, Campo Grande, Pelourinho e Nordeste de Amaralina, além de shows espalhados por diversos bairros da cidade.
Este ano, a homenagem à cultura afro-brasileira dará o tom da festa e estará presente nos desfiles e na decoração dos circuitos. O governo do estado celebra os 50 anos dos blocos afro com o tema Nossa Energia É Ancestral. A prefeitura, por sua vez, escolheu como tema Salvador Capital Afro.
"Estou muito feliz porque finalmente Salvador está assumindo a sua cara preta. É muito bonito dizer que aqui é a Roma Negra, mas chegar nos eventos e parecer que estamos em uma cidade europeia. O bloco afro não é só Carnaval", afirmou Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê.
No sábado de Carnaval, a saída do Ilê no Curuzu, bairro da liberdade, promete ser um dos pontos altos da festa. Outros blocos como o Cortejo Afro, Didá, Muzenza, Malê Debalê e o afoxé Filhos de Gandhy também ganham as ruas nos circuitos do Campo Grande e Barra-Ondina.
Ao todo, serão 700 atrações nos circuitos oficiais da festa e mais 400 apresentações em palcos nos bairros. Um dos destaques será o retorno de Gilberto Gil aos trios elétricos. O ex-ministro da Cultura conduzirá um desfile junto com a atual ministra da pasta, Margareth Menezes, e o cantor Chico César, que foi secretário de Cultura na Paraíba. A iniciativa foi batizada de Trio da Cultura.
Artistas como Daniela Mercury, Ludmilla, Carlinhos Brown, Durval Lelys, Saulo, Luiz Caldas, Armandinho Baby do Brasil e bandas como Timbalada e Araketu também desfilam sem cordas e abadás nos principais circuitos da cidade.
A praça Castro Alves, coração da festa, terá show de Pitty e uma apresentação conjunta de Davi Moraes e Pepeu Gomes no pôr do sol.
A festa encerra na quarta-feira (14) com desfiles de Bell Marques e Carlinhos Brown. Idealizador do arrastão na Quarta-Feira de Cinzas, Brown pretende unir integrantes do Ilê Aiyê, Olodum e Apaches do Tororó junto a 500 percussionistas para celebrar a cultura afro-baiana. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Nelson Rodrigues tinha um caso de amor com a morte, óbvio nas suas muitas frases sobre ela
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Sobre o furto, há dias, do busto de Nelson Rodrigues no Cemitério São João Batista, arrisquei aqui que ele veria nisto uma consagração. Houve quem duvidasse. Mas Nelson tinha uma relação especial com a morte. Eis algumas de suas grandes frases sobre ela.
"A morte é anterior a si mesma. Começa antes, muito antes. É todo um lento, suave, maravilhoso processo. O sujeito já começou a morrer e não sabe." "Morrer significa, em última análise, um pouco de vocação. Há vivos tão pouco militantes que temos vontade de lhes enviar coroas." "Na hora de morrer, e quando sabe que está morrendo, todo homem tem um olhar de contínuo." "O sujeito procura esquecer que o homem é também o seu próprio cadáver." "Há na morte por intoxicação alimentar um inevitável toque humorístico, que humilha o cadáver e compromete o velório."
"Há em qualquer infância uma antologia de mortos." "A morte natural é própria dos medíocres. O medíocre morre de gripe, de pneumonia ou da empada que matou o guarda. Já o grande homem morre tragicamente. Veja Lincoln, Gandhi, Kennedy." "Há uma inteligência da morte, assim como há uma bondade da morte. O que vai morrer já olha as coisas, as pessoas, com a doçura do último olhar. Eu diria que é a saudade antes do adeus." "Nada mais falso do que o medo de morrer, e eu diria que fazemos tudo para morrer o mais depressa possível. Os nossos hábitos, os nossos usos, os nossos vícios, as nossas irritações mal disfarçam a vontade, a urgência, a fome da morte."
"A solidão do morto não começa no túmulo. Para qualquer morto, a pior forma de solidão é a capela. As pessoas abandonam o velório e vão tomar cafezinho, refrigerantes, comer sanduíches. A morte tem por fundo um alarido de xícaras e pires." "Não há morto canastrão. Vestido de noivo, com sapatos engraxados, todo morto tem a face, o ríctus, o perfil do grande ator."
Não são lindas de morrer? Fone: https://www1.folha.uol.com.br
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Temporais danificaram a pista de subida da Serra das Araras, interrompendo o tráfego para SP
Fechamento da Rodovia Presidente Dutra realizada na altura de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, neste domingo (21) - Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress
RIO DE JANEIRO
As fortes chuvas que atingiram o estado do Rio de Janeiro neste domingo (21) danificaram a pista de subida da Serra das Araras da rodovia Presidente Dutra, que liga a capital fluminense a São Paulo, interrompendo o tráfego na pista rumo à capital paulista.
Desde o fim da manhã, a pista de descida, rumo ao Rio de Janeiro, vem operando em sistema de pare e siga, com mudança no sentido do tráfego a cada 60 minutos e passagem dos veículos em comboio. Caminhões cegonha ou com mais de nove eixos estão impedidos de passar.
Não há previsão para liberação total da pista, e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) pede que os motoristas busquem alternativas à Serra das Araras.
No sentido São Paulo, veículos devem viajar pela BR-040 (Rio-Juiz de Fora) até Três Rios, de onde devem seguir para a BR-393 até Volta Redonda e, de lá, pegar a Dutra. Veículos leves podem subir para a Dutra em Angra dos Reis ou pegar estradas estaduais para atingir a rodovia na altura de Piraí, depois da interdição.
Quem estiver indo para o Rio precisa fazer o caminho contrário. Veículos pesados devem acessar a BR-393 em Volta Redonda e, depois, a BR-040 em Três Rios. Veículos leves devem optar por sair da Dutra em Barra Mansa rumo a Angra dos Reis.
É a segunda interdição de estrada de acesso ao Rio após temporais este mês. Na semana passada, trecho da BR-040 em Duque de Caxias foi interditado por alagamento, deixando motoristas por cerca de dez horas parados à espera de solução.
No decorrer do dia, a concessionária abriu desvios no canteiro central e uma faixa reversível para conseguir desafogar o tráfego. A empresa entrou na mira do governo estadual, que prometeu acionar o governo federal cobrando soluções para o problema.
INMET EMITE ALERTA DE CHUVAS INTENSAS PARA 9 ESTADOS
Neste domingo, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu alertas de chuvas intensas em duas grandes áreas que abrangem nove estados brasileiros. O alerta prevê riscos de corte de energia elétrica, queda de galhos ou árvores, alagamentos e descargas elétricas.
Um deles abrange uma área que vai do norte do Rio de Janeiro ao sul da Bahia, se estendendo até a região do Triângulo Mineiro, no oeste de Minas Gerais. O outro envolve o norte de Mato Grosso, sul do Pará e partes dos estados de Rondônia, Amazonas e Acre.
O Inmet recomenda que, em caso de rajadas de ventos, os cidadãos evitem se abrigar debaixo de árvores ou estacionar perto de torres de transmissão de energia ou placas de propaganda. Se possível, diz, é bom desligar aparelhos elétricos ou quadros gerais de energia de casa.
Em São Paulo, as fortes chuvas que atingiram todo o estado desde a última quinta (18) já deixaram quatro mortos e 492 pessoas desabrigadas. Segundo a Defesa Civil, 15 municípios foram mais severamente afetados pelos temporais.
A previsão é de que as chuvas continuem em todo o estado nos próximos dias. Neste domingo (21), há condições para precipitações a qualquer momento do dia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ele levou tiro e conta só ter descoberto bala na cabeça após 4 dias: ‘Doeu mesmo ao tirar os pontos’
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Ele levou tiro e conta só ter descoberto bala na cabeça após 4 dias: ‘Doeu mesmo ao tirar os pontos’
Quando passava réveillon no litoral do Rio, rapaz achou que tinha levado uma pedrada, mas só teve o projétil extraído quando já estava em Juiz de Fora, sua cidade natal
Recuperação tem sido boa, diz o jovem, que pretende estudar Medicina Foto: Arquivo Pessoal/Mateus Facio
Por Aline Reskalla
Era por volta de 18h30 do dia 31 de dezembro quando o estudante mineiro Mateus Facio, de 21 anos, que curtia a praia com os amigos em Cabo Frio (RJ), sentiu uma pancada na cabeça. Com o impacto, ele sentou no chão e, junto com o grupo, tentou localizar o que pensava ser a pedra que o atingira. Os rapazes não encontraram pedra nenhuma e concluíram que o objeto teria sido encoberto pela areia.
O pequeno sangramento logo estancou, e Mateus seguiu com os planos para a noite: passar o réveillon em Búzios, cidade vizinha a Cabo Frio. Ele foi para o apartamento, tomou banho, se aprontou e partiu para a balada, onde curtiu a virada do ano e “tomou todas”, conforme relata. No dia seguinte, ainda passou o dia em outra praia próxima.
O estudante conta que só foi descobrir que havia levado, na verdade, um tiro na cabeça quatro dias depois, quando já estava em casa, no município mineiro de Juiz de Fora. Ele mesmo quem dirigiu de Cabo Frio a Juiz de Fora, no dia 2.
Foram sete horas de viagem para uma distância de 300 km, tempo maior que o normal devido ao congestionamento típico dessa época nas estradas.
“Voltei dia 2 porque tinha que trabalhar no dia 3″, afirma Facio. “Eu estava normal. Foi só no dia 4 que meu braço começou a ter movimentos involuntários, se mexendo sozinho. Achamos aquilo estranho e fomos ao médico. Como aparentemente era uma convulsão, ele pediu ressonância e aí descobrimos.”
Era um projétil de 9 mm, alojado no crânio. “O que me disseram é que o cérebro percebeu que havia um corpo estranho naquele local, que estava começando a afetar o sistema nervoso, por isso a convulsão”, conta.
Ele foi imediatamente encaminhado para Unidade de Tratamento Intensivo do hospital, onde passou por um procedimento para retirada da bala. “Minha mãe ficou dois dias sem dormir depois que descobriu, só chorava. Ninguém acreditava que aquilo tinha acontecido.”
Segundo ele, a hipótese mais provável é que alguém tenha dado um tiro para o alto, pois o projétil atingiu a parte de cima da cabeça. “É a única explicação. O tiro veio de longe, num ângulo de 180º”.
O estudante, que deixou o curso de Administração de Empresas e vai cursar Medicina este ano, disse que agora tem dois aniversários: 4 de janeiro e 17 de maio, data em que nasceu. “Nasci de novo. Parece que não senti a gravidade do que aconteceu até agora. Só doeu mesmo quando tirei os pontos.”
“Parte dela penetrou no cérebro. Isso causou compressão da região e os movimentos involuntários no braço”, afirmou ao Jornal Nacional, da TV Globo, Flávio Falcometa, responsável pela extração da bala na cabeça do jovem. Segundo o médico, por uma distância de poucos milímetros o projétil não causou um dano mais grave.
O Estadão não conseguiu contato com o cirurgião. O rapaz teve alta três dias após a cirurgia e já leva uma vida praticamente normal. Fonte: https://www.estadao.com.br
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