Um sacerdote armênio-católico é morto em emboscada na Síria
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Padre Ibrahim Hanna Bidu foi assassinado por dois homens com tiros de arma de fogo quando se dirigia de automóvel à localidade de Deir ez-Zor, situada no distrito de Busayr, para verificar as condições de uma igreja armênia. A emboscada teria sido reivindicada pelo autoproclamado "Estado Islâmico" (EI)
Cidade do Vaticano
Oriente Médio. Um sacerdote armênio-católico foi morto numa emboscada no noroeste da Síria, região sob controle das forças curdo-sírias. É o que informa a agência oficial armênia Armenpress e outros meios de comunicação e fontes locais da agência Ansa.
Trata-se de Pe. Ibrahim Hanna Bidu, sacerdote da comunidade armênia-católica de Qamshili. Ele foi assassinado por dois homens com tiros de arma de fogo quando se dirigia de automóvel à localidade de Deir ez-Zor, situada no distrito de Busayr, para verificar as condições de uma igreja armênia. Segundo a agência Ansa, a emboscada teria sido reivindicada pelo autoproclamado “Estado Islâmico” (EI). Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira, 12 de novembro-2019. 32ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 7-10)
Naquele tempo, disse Jesus: 7Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à mesa? 8E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu? 9E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação? 10Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz uma parábola que só se encontra no evangelho de Lucas, sem paralelo nos outros evangelhos. A parábola quer ensinar que nossa vida deve caracterizar-se pela atitude de serviço. Ela começa com três perguntas e, no fim, Jesus mesmo dá a resposta.
Lucas 17,7-9: As três perguntas de Jesus
Trata-se de três perguntas tiradas da vida de cada dia, para as quais os ouvintes já adivinhavam a resposta. As perguntas são formuladas de tal maneira que elas reenviam cada ouvinte a consultar sua própria experiência e, a partir dela, dar a sua resposta. A primeira pergunta: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa?” Todo mundo responderá: “Não!” Segunda pergunta: “Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber?” Todo mundo responderá: “Sim! Claro!” Terceira pergunta: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” Todo mundo responderá: “Não!” Pela maneira de Jesus fazer as perguntas, a gente já percebe em que direção ele quer orientar nosso pensamento. Ele quer que sejamos servidores uns dos outros.
Lucas 17,10: A resposta de Jesus
No fim, Jesus mesmo tira a conclusão que já estava implícita nas perguntas: “Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer". Jesus, ele mesmo, deu o exemplo quando disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). O serviço é um tema do agrado de Lucas. O serviço representa a forma como os pobres do tempo de Jesus, os anawim, esperavam o Messias: não como Messias glorioso rei, sumo sacerdote ou juiz, mas como o Servo de Javé, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Maria, a mãe de Jesus, se apresentou ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Em Nazaré, Jesus se apresenta como o Servo, descrito por Isaías (Lc 4,18-19 e Is 61,1-2). No batismo e no transfiguração, ele foi confirmado pelo Pai que cita as palavras dirigidas por Deus ao mesmo Servo (Lc 3,22; 9,35 e Is 42,1). Aos seus seguidores Jesus pede: “Quem quer ser o primeiro seja o servo de todos” (Mt 20,27). Servos inúteis! É a definição do cristão. Paulo fala disso aos membros da comunidade de Corinto quando escreve: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer” (1Cor 1,6-7). Paulo e Apolo nada são; são apenas instrumentos, “servidores”. O que vale é o próprio Deus, só Ele! (1Cor 3,7).
Servir e ser servido. Aqui, neste texto, o servo serve ao senhor, e não, o senhor ao servo. Mas em outro texto de Jesus se diz o contrário: “Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Neste texto, é o senhor que serve ao servo, e não o servo ao senhor. No primeiro texto, Jesus falava do presente. No segundo texto, Jesus estava falando do futuro. Este contraste é uma outra maneira para dizer: ganha a vida que está disposto a perdê-la por amor a Jesus e ao Evangelho (Mt 10,39; 16,25. Quem serve a Deus nesta vida presente, Deus servirá a ele na vida futura!
4) Para um confronto pessoal
1) Como defino minha vida?
2) Faça para você as mesmas três perguntas de Jesus? Será que vivo como um servo inútil?
5) Oração final
O Senhor conhece os dias dos inocentes, eterna será sua herança. O Senhor firma os passos do homem, sustenta aquele cujo caminho lhe agrada. (Sl 36, 18.23)
Segunda-feira, 11 de novembro-2019. 32ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 1-6)
Naquele tempo, 1Jesus disse também a seus discípulos: É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! 2Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos. 3Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe. 4Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás. 5Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé! 6Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 17,1-6
O evangelho de hoje traz três palavras distintas de Jesus: uma sobre como evitar o escândalo dos pequenos, outra sobre a importância do perdão e uma terceira sobre o tamanho da fé em Deus que devemos ter.
Lucas 17,1-2: Primeira palavra: evitar o escândalo
“Jesus disse a seus discípulos: "É inevitável que aconteçam escândalos, mas, ai daquele que produz escândalos! Seria melhor para ele que lhe amarrassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que escandalizar um desses pequeninos”. Escândalo é aquilo que faz a pessoa tropeçar e cair. No nível da fé significa aquilo que desvia a pessoa do bom caminho. Escandalizar os pequenos é ser motivo pelo qual os pequenos se desviem e percam a fé em Deus. Quem faz isto recebe a seguinte sentença: “Corda no pescoço amarrada numa pedra de moinho para ser jogado no fundo do mar!” Por que tanta severidade? É porque Jesus se identifica com os pequenos, os pobres. (Mt 25,40.45). São os seus preferidos, os primeiros destinatários da Boa Nova (cf. Lc 4,18). Quem toca neles, toca em Jesus! Ao longo dos séculos, muitas vezes, nós cristãos pelo nosso modo de viver a fé fomos motivo pelo qual os pequenos se afastaram da igreja e procuraram outras religiões. Já não conseguiam crer, como dizia o apóstolo na carta aos romanos, citando o profeta Isaías: "Por causa de vocês, o nome de Deus é blasfemado entre os pagãos." (Rm 2,24; Is 52,5; Ez 36,22). Até onde nós temos culpa? Será que merecemos a corda no pescoço?
Lucas 17,3-4: Segunda palavra: Perdoar o irmão
“Prestem atenção! Se o seu irmão peca contra você, chame a atenção dele. Se ele se arrepender, perdoe. Se ele pecar contra você sete vezes num só dia, e sete vezes vier a você, dizendo: 'Estou arrependido', você deve perdoá-lo”. Sete vezes por dia! Não é pouco! Jesus pede muito! No evangelho de Mateus, ele diz que devemos perdoar até setenta vezes sete! (Mt 18,22). O perdão e a reconciliação são um dos assuntos em que Jesus mais insiste. A graça de poder perdoar as pessoas e reconcilia-las entre si e com Deus foi dada a Pedro (Mt 16,19), aos apóstolos (Jo 20,23) e à comunidade (Mt 18,18). A parábola sobre a necessidade de perdoar o próximo não deixa dúvida: se não perdoarmos aos irmãos, não podemos receber o perdão de Deus (Mt 18,22-35; 6,12.15; Mc 11,26). Pois não há proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que devemos oferecer ao próximo. O perdão com que Deus nos perdoa gratuitamente é como dez mil talentos comparados com cem denários (Mt 18,23-35). A Bíblia de Jerusalém fez o cálculo: dez mil talentos são 174 toneladas de ouro; cem denários não passam de 30 gramas de ouro.
Lucas 17,5-6: Terceira palavra: Aumentar em nós a fé
“Os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!" O Senhor respondeu: "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: 'Arranque-se daí, e plante-se no mar'. E ela obedeceria a vocês”. Neste contexto de Lucas, a pergunta dos apóstolos aparece como motivada pela ordem de Jesus de perdoar até sete vezes por dia ao irmão ou à irmã que pecar contra nós. Não é fácil perdoar. O coração fica magoado, e a razão arruma mil motivos para não perdoar. Só com muita fé em Deus é possível chegarmos ao ponto de ter um amor tão grande que ele nos torne capazes de perdoar até sete vezes por dia ao irmão que peca contra nós. Humanamente falando, aos olhos do mundo, perdoar assim é loucura e escândalo, mas para nós tal atitude é expressão da sabedoria divina que nos perdoa infinitamente mais. Dizia Paulo: “Nós anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. (1Cor 1,23) .
4) Para um confronto pessoal
1) Na minha vida, alguma vez, já fui motivo de escândalo par o meu próximo? Ou alguma vez, os outros foram motivo de escândalo para mim?
2) Será que sou capaz de perdoar sete vezes por dia ao irmão ou à irmã que me ofende sete vezes por dia?
5) Oração final
Cantai em sua honra, tocai para ele, recordai todos os seus milagres. Gloriai-vos do seu santo nome, alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. (Sl 104, 2-3)
17 de novembro, Dia Mundial dos Pobres. A centralidade dos pobres na igreja
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"Para a fé cristã, a pobreza e a marginalização não são apenas uma questão sócio-política e ética (justiça social), mas também e mais radicalmente uma questão espiritual que diz respeito à nossa relação com Deus (salvação)", escreve Francisco de Aquino Júnior, presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE, professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
Eis o artigo.
No final do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015-2016), o papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no penúltimo domingo do tempo litúrgico. Seu objetivo é recuperar e reavivar na Igreja “um elemento requintadamente evangélico, isto é, a predileção de Jesus pelos pobres” para que “as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carentes” [1].
Se isso é um aspecto constitutivo e essencial da revelação e da fé cristãs, como se pode comprovar na Sagrada Escritura e em toda a Tradição da Igreja, torna-se ainda mais relevante, urgente e prioritário em nosso tempo, dados o crescimento da desigualdade social e a situação dramática e desesperadora em que vivem tantos filhos e filhas de Deus em nosso mundo.
Para ajudar as comunidades, pastorais, movimentos e organismos da Igreja do Brasil a celebrar o III Dia Mundial dos Pobres (17/11/2019), apresentaremos alguns dados que ajudam a compreender as dimensões e proporções da pobreza no Brasil e no mundo, destacaremos com Francisco o “vínculo indissolúvel entre nossa fé e os pobres” (EG 48) e indicaremos alguns aspectos do compromisso da Igreja com os pobres.
I – Dimensões e proporções da pobreza
A pobreza é a característica mais determinante, gritante e escandalosa de nossa sociedade. Antes de tudo pela dimensão e proporção que adquiriu: São milhões de pessoas que vivem em condições sub-humanas, carecendo das condições materiais básicas de sobrevivência. E, mais ainda, por ser algo produzido e lucrativo: não é um fenômeno natural, fruto do acaso ou do destino, mas fruto de opções políticas e econômicas, consequência natural da riqueza ou acumulação de bens.
Se isso caracteriza a maioria das sociedades que conhecemos, a ponto de ser naturalizado por muita gente (“sempre foi assim”), adquiriu em nossa sociedade dimensões e proporções incomparáveis e escandalosas:
Situação mundial: enquanto a América do Norte e a Europa têm apenas 18,6% da população e concentram 67,1% de toda riqueza global, a África e a América do Sul têm 20,3% da população e detém apenas 11,1% da riqueza [2]; apenas 147 companhias controlam 40% da riqueza total do mundo [3]; enquanto 8,6% da população detém 85,3% de toda a riqueza no mundo, 69,8% da população pobre detém apenas 2,9% da riqueza [4]; 0,7% da população mundial detém 46% da riqueza total do mundo, enquanto 73,2% da população detém apenas 2,4% da riqueza; 1% da população tem mais riqueza do que os 99% restante; 8 indivíduos detém a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo; entre 1998 e 2011, a renda dos 10% mais pobres aumenta cerca de 65 dólares, enquanto a renda de 1% mais rico aumentou cerca de 11.800 dólares (182 vezes mais) [5].
Situação brasileira: De 2016 para 2017 o número de pobres que vivem com até 406 reais por mês passou de 52,8 para 54,8 milhões (2 milhões a mais!) e o número de pessoas que vivem na extrema pobreza com até 140 reais por mês passou de 13,5 para 15,2 milhões de pessoas (quase 2 milhões a mais!); percentual de pobreza por regiões: nordeste (44,8%), sudeste (17,4%), sul (12,8%); quase metade da população das regiões norte e nordeste tem rendimento mensal de até meio salário mínimo; entre 2014 e 2017 o número de pessoas sem ocupação passou de 6,9% para 12,5% da população (6,2 milhões de pessoas a mais!); 40,88% da população vive de trabalho informal; os brancos ganham, em média, 72,5% mais que pretos e pardos e os homens 29,7% mais que as mulheres [6]; estudos parciais de 2015 estimavam mais de 100 mil pessoas vivendo em situação de rua no Brasil [7]...
Convém advertir com Francisco que “os pobres não são número” e não podem ser reduzidos a dados estatísticos [8]. Por trás desses dados, como tem recordado as conferências dos bispos da América Latina [9], estão pessoas com rostos concretos, vidas destroçadas: camponeses, indígenas, negros, mulheres, população em situação de rua, desempregados e subempregados, moradores de favelas e periferias, vítimas do tráfico, mães desesperadas, jovens pobres e negros, migrantes, população LGBT... São números escritos com lágrimas e sangue. Dados que ecoam como grito desesperado e silenciado de milhões de seres humanos que nos provocam, convocam e obrigam...
II – A igreja e os pobres
Se ninguém pode/deve ficar indiferente à situação de pobreza e miséria de que é vítima grande parte da população do Brasil e do mundo (senso de humanidade), muito menos podem ficar indiferentes os crentes em geral e os cristãos em particular (fé religiosa). Nem por humanidade nem por fé religiosa podemos aceitar o decreto de morte a tantos filhos/as de Deus e, consequentemente, “lavar as mãos” e nos desresponsabilizarmos de sua vida e de seu destino. É questão de “vida ou morte” para vítimas. E é questão de salvação ou de perdição para todos.
O papa Francisco, em fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, tem insistido, com toda a Tradição cristã, no “vínculo indissolúvel entre nossa fé e os pobres” (EG 48). Ficar “surdo” ao clamor dos pobres, “coloca-nos contra a vontade do Pai e de seu Projeto”. Não se deve esquecer jamais que “a falta de solidariedade nas suas necessidades, influi diretamente sobre nossa relação com Deus” (EG 187).
Na mensagem que escreveu para o III Dia Mundial dos Pobres, Francisco recorda que a “descrição da ação de Deus em favor dos pobres” constitui um “refrão permanente da Sagrada Escritura” e, referindo-se a Mt 25, 40, afirma que “esquivar-se dessa identificação [com o pobre] equivale a ludibriar o Evangelho e diluir a revelação”. No centro do Evangelho do Reino está a Bem-aventurança aos pobres: “Bem-aventurados vós, os pobres” (Lc 6, 20). Jesus “inaugurou, mas confiou-nos, a nós seus discípulos, a tarefa de lhe dar seguimento, com a responsabilidade de dar esperança aos pobres. Sobretudo num período como o nosso, é preciso reanimar a esperança e restabelecer a confiança. É um programa que a comunidade cristã não pode subestimar. Disso depende a credibilidade do nosso anúncio e do testemunho dos cristãos” [10]. Aqui está o “critério-chave de autenticidade eclesial” (EG 195) com base no qual “a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo” [11].
Para a fé cristã, a pobreza e a marginalização não são apenas uma questão sócio-política e ética (justiça social), mas também e mais radicalmente uma questão espiritual que diz respeito à nossa relação com Deus (salvação). “A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática” [12]. E é critério escatológico para medir a adesão ou rejeição de um povo ou de uma sociedade ao Deus que se revela na história de Israel e na vida de Jesus Cristo (Cf. Lc 10, 25-7; Mt 25, 1-40). De modo que os pobres e marginalizados são tanto os “juízes da vida democrática de uma nação” [13], quanto o “protocolo com base no qual seremos julgados” [14] ou o “passaporte para o paraíso” [15].
III – Compromisso com os pobres
Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, Francisco afirma que “uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois de nossa passagem por ela” (EG 183). E em sua mensagem para o III Dia mundial dos Pobres insiste em não nos afastarmos do “Corpo do Senhor que sofre neles”, mas “tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização”. E recorda que “a promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua vitalidade histórica. O amor que dá vida à fé em Jesus não permite que seus discípulos se fechem num individualismo asfixiador, oculto nas pregas duma intimidade espiritual, sem qualquer influxo na vida social” [16].
Mas não há receita para o compromisso com os pobres. Nem existe uma única forma de compromisso com os pobres. Implica proximidade e escuta, acompanhamento e partilha espiritual, assistência em suas necessidades imediatas, luta por seus direitos e pela transformação da sociedade... E as referências em nossa tradição eclesial são muitas e diversas: de Francisco de Assis, Vicente de Paula, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce a Oscar Romero, Helder Câmara, Ezequiel Ramin, Pedro Casaldáliga etc.; dos serviços de visita e assistência imediata aos necessitados às pastorais e aos organismos sociais que acompanham os pobres em suas lutas e organizações populares; da solidariedade cotidiana à luta pela transformação da sociedade.
Didaticamente, podemos indicar com Francisco quatro aspectos fundamentais do compromisso com os pobres [17]: 1) proximidade física e esforço de socorrê-los em suas necessidades; 2) cuidado espiritual e assistência religiosa; 3) vivência e fortalecimento da cultura da solidariedade e 4) enfrentamento das causas estruturais da pobreza e da injustiça no mundo através das lutas e organizações populares.
Importa ter presente que o compromisso com os pobres “envolve tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos” (EG 188); passa tanto pelos gestos pessoais e comunitários de solidariedade, quanto pelas lutas por direitos e pela transformação da sociedade.
E importa recordar que o compromisso com os pobres é tarefa de todos na Igreja: “Ninguém deveria dizer que se mantém longe dos pobres porque suas opções de vida implicam prestar mais atenção a outras incumbências”; “ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social” (EG, 201). “Todos os cristãos, incluindo os pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor”, unindo-se, nesta tarefa, às “demais Igrejas e comunidades eclesiais” (EG, 183). “Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e da promoção dos pobres” (EG, 187). Uma comunidade que não se compromete criativamente com a causa dos pobres, “facilmente acabará submersa pelo mundanismo espiritual, dissimulado em práticas religiosas, reuniões infecundas ou discursos vazios” (EG, 207).
Notas:
[1] PAPA FRANCISCO. Mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres (19/11/2017).
[2] Cf. POCHMANN, M. Desigualdade econômica no Brasil. São Paulo: Ideias & Letras, 2015, p. 50s.
[3] Cf. Ibidem, p. 57.
[4] Cf. Ibidem, p. 62s.
[5] Cf. DOWBOR, L. A era do capital improdutivo. São Paulo: Outras Palavras, 2017, p. 27ss.
[6] Cf. AGENCIA DE NOTICIAS IBGE. Síntese de Indicadores Sociais.
[7] Cf. IPEA. Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil.
[8] PAPA FRANCISCO. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres.
[9] Cf. Puebla (31-39), Santo Domingo (178), Aparecida (402).
[10] PAPA FRANCISCO. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres. Op. cit.
[11] PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte. São Paulo: Paulinas, 2002, n 49.
[12] CNBB. Exigências éticas da ordem democrática. São Paulo: Paulinas, 1989, n. 72.
[13] Ibidem.
[14] PAPA FRANCISCO. Via-sacra com os jovens na XXXI Jornada Mundial da Juventude na Polônia (29/07/2016).
[15] PAPA FRANCISCO. Homilia no I Dia Mundial dos Pobres (19/11/2017). Disponível em:
[16] PAPA FRANCISCO. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres. Op. cit.
[17] Cf. AQUINO JÚNIOR, Francisco de. Pastoral Social: Dimensão socioestrutural da caridade cristã. Brasília: CNBB, 2016, p. 51-55. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
32º Domingo do Tempo Comum (Lc 20, 27-38): *Os Carmelitas e a Ressurreição
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“Regra e Ressurreição”, um assunto intrigante que pode ser analisada de várias maneiras. Neste momento, porém, não vamos abordar o assunto do ponto de vista científica ou histórica mas vamos à procura de elementos que esclarecem se a espiritualidade da Regra tem que ver algo com a Ressurreição de Jesus e com a Liturgia ressurreccional da Ordem.
Aprofundando o primeiro motivo podemos dizer que na visão da Regra o oratório era destinado à celebração em comum da Eucaristia sendo ao mesmo tempo o lugar onde os irmãos se reuniam todos os dias de manhã cedo (14).
A respeito disto o Carmelita Kees Waaijman escreve no seu livro O Espaço Místico do Carmelo:
"Os antigos monges do deserto celebravam a Eucaristia uma vez por semana. No século XIII era diferente. A maioria das comunidades religiosas juntava-se todos os dias para a Eucaristia. A reunião diária dá uma estrutura rítmica à vida. O facto de se juntarem diariamente, de manhã cedo, ao crepúsculo, dá ao dia um ritmo básico. O nascer do sol que conquista a noite deve ter sido intuitivamente entendido como sinal do Ressuscitado”
O encontro dos irmãos tinha uma dimensão litúrgica. O facto de virem todos juntos para a Eucaristia lembra a Ressurreição. A Eucaristia, afinal de contas, começa lá onde o Senhor nos una num só redil. Ele convida-nos a escutar a sua palavra para que ela nos toque, forme o desejo no nosso coração e nos faça procurar a Sua presença. Ele convida-nos a tomar o seu corpo e sangue, para nos lembrarmos d'Ele e nos identificarmos com Ele, para que entremos na sua morte e sejamos encontrados pelo próprio Deus.
A Eucaristia radicaliza o acto de sair de nós próprios: não somos nós quem vimos: mas somos conduzidos, conduzidos para a vastidão do Mundo e para a profundeza da Morte para sermos encontrados, para sermos unidos.
Esta é a perspectiva mística do facto de se reunir para a celebração da Eucaristia. Este movimento místico está lindamente representado através das palavras ‘de manhã cedo’, palavras que evocam a marcha silenciosa de Maria Madalena até ao túmulo: ‘No primeiro dia da semana, ainda era escuro, Maria de Mágdala foi ao túmulo de manhã cedo...' (João 20:1). De manhã cedo os Carmelitas reúnem-se no oratório, no CENTRO (das celas) por ninguém ocupado. Como a noiva do Cântico dos Cânticos, também eles, enquanto ainda é noite, procuram Aquele a quem as suas almas amam.
À procura do amor através da escuridão da noite segue-se a experiência da Páscoa na escuta da voz suave: 'Maria' (João 20:16), o querido nome pronunciado por aquele que é amado pela alma. Segue-se a resposta não menos terna: 'Rabbuni' (João 20:16). Esta é a Páscoa do amor, a profundidade mística da Eucaristia. Aqui está o coração do Carmelo" (Kees Waaijman, De mystieke ruimte van de Karmel, 101).
É impressionante que Kees Waaijman dando um comentário sobre a Regra, acaba por chegar à Ressurreição que durante séculos era comemorada diariamente na liturgia dos Carmelitas. Quase se poderia dizer que a Ressurreição de Jesus é inerente à Regra e integrada nela e que a união com Christus Ressurgens, com Cristo Ressurgindo, se encontra explicitada na antiga liturgia.
Outras referências
- Aos Domingos (o dia da Ressurreição do Senhor) ou noutros dias quando necessário, reuni-vos para tratar da observância da vida comum e do bem espiritual das pessoas. (15)
Podemos perguntar porque no dia da Ressurreição os Carmelitas devem tratar da observância da vida comum, do bem espiritual das pessoas e porque devem corrigir nesse dia, caritate media, com a caridade no meio, eventuais erros dos seus irmãos.
Sobre este assunto, e nomeadamente sobre a similitude e reciprocidade que são necessárias para poder corrigir os outros com caridade diz Kees Waaijman:
"Convergência e reciprocidade soam mais profundamente quando colocadas no contexto do amor do Ressuscitado. A Eucaristia no dia da Ressurreição, a referência ao amor de Maria Madalena, a reunião dos apóstolos no primeiro dia da semana e o aparecimento, no meio deles, d'Aquele que ressuscitou – tudo isto centraliza o capítulo no contexto do amor d'Aquele que ressuscitou e se entregou na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue…” (Kees Waaijman, De mystieke ruimte van de Karmel, 114).
O oratório deve ser construído no meio das celas.
Por dois motivos o oratório tem que ver algo com a Ressurreição. Em primeiro lugar porque nele deve ser celebrada a Eucaristia que é como é sabido o memorial da Ressurreição de Jesus.
O segundo motivo provém do facto de que o primeiro oratório era dedicado a Maria, uma das primeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus que, no contexto das festas a Ela dedicadas, era vista pelos antigos carmelitas como penhor escatológico e promessa duma nova vida após a morte.
*INTERCAB 23 A 31 DE JULHO DE 2005- RIO DE JANEIRO: DIMENSÃO CELEBRATIVA DA VIDA NO CARMELO A REGRA E A RESSURREIÇÃO.
Sexta-feira, 8 de novembro-2019. 31ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 16, 1-8)
Naquele tempo, 1Jesus disse também a seus discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens. 2Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens. 3O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. 4Já sei o que fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego. 5Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves a meu patrão? 6Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinquenta. 7Depois perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve: oitenta. 8E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz uma parábola que trata da administração dos bens e que só existe no evangelho de Lucas. Ela costuma ser chamada A parábola do administrador desonesto. Parábola desconcertante. Lucas diz: “O Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza”. O Senhor é o próprio Jesus e não o administrador. Como é que Jesus podia elogiar um empregado corrupto?
Lucas 16,1-2: O administrador é ameaçado de despejo
“Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. Então o chamou, e lhe disse: 'O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador”. O exemplo, tirado do mundo do comércio e do trabalho, fala por si. Alude à corrupção que existia. O patrão descobriu a corrupção e decidiu demitir o administrador desonesta. Este, de repente, se vê numa situação de emergência obrigado pelas circunstâncias imprevistas a encontrar uma saída para poder sobreviver. Quando Deus se faz presente na vida de uma pessoa, aí, de repente, tudo muda e a pessoa entra numa situação de emergência. Ela terá que tomar uma decisão e encontrar uma saída.
Lucas 16,3-4: O que fazer? Qual a saída?
“Então o administrador começou a refletir: 'O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”. Ele começa a refletir para descobrir uma saída. Analisa, uma por uma, as possíveis alternativas: cavar ou trabalhar na roça para sobreviver, ele acha que para isso não tem força. Para mendigar, sente vergonha. Ele analisa as coisas. Calcula bem as possíveis alternativas. “Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa”. Trata-se de garantir o seu futuro. O administrador desonesto é coerente dentro do seu modo de pensar e de viver.
Lucas 16,5-7: Execução da solução encontrada
“E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: 'Quanto é que você deve ao patrão?' Ele respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinqüenta'. Depois perguntou a outro: 'E você, quanto está devendo?' Ele respondeu: 'Cem sacas de trigo'. O administrador disse: 'Pegue a sua conta, e escreva oitenta". Dentro da sua total falta de ética o administrador foi coerente. O critério da sua ação não é a honestidade e a justiça, nem o bem do patrão do qual ele depende para viver e sobreviver, mas é o próprio interesse. Ele quer a garantia de ter alguém que o receba em sua casa.
Lucas 16,8: O Senhor elogiou o administrador desonesto
E agora vem a conclusão desconcertante: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz”. A palavra Senhor indica Jesus, e não o patrão, o homem rico. Este jamais iria elogiar um empregado que foi desonesto com ele no serviço e que, agora, roubou mais 50 barris de óleo e 20 sacas de trigo! Na parábola, quem faz o elogio é Jesus. Elogiou não porque roubou, mas porque soube ter presença de espírito. Soube calcular bem as coisas e encontrar uma saída, quando de repente se viu desempregado. Assim como os filhos deste mundo sabem ser espertos nas suas coisas, assim os filhos de luz deveriam aprender deles a ser espertos na solução dos seus problemas, usando os critérios do Reino e não os critérios deste mundo. “Sejam espertos como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16).
4) Para um confronto pessoal
1) Sou coerente?
2) Qual o critério que uso na solução dos meus problemas?
5) Oração final
Uma só coisa pedi ao Senhor, só isto desejo: poder morar na casa do Senhor
todos os dias da minha vida; poder gozar da suavidade do Senhor e contemplar seu santuário. (Sl 26, 4)
Frei Fernando Bezerra, O. Carm, do Carmo de Angra dos Reis/RJ: Convite Vocacional
Quinta-feira, 7 de novembro-2019. 31ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 15, 1-10)
Naquele tempo, 1Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. 2Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida! 3Então lhes propôs a seguinte parábola: 4Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 5E depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, 6e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. 7Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. 8Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma delas, não acende a lâmpada, varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la? 9E tendo-a encontrado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, achei a dracma que tinha perdido. 10Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Luca 15,1-10
O evangelho de hoje traz a primeira de três parábolas ligadas entre si pela mesma palavra. Tratam de três coisas perdidas: ovelha perdida (Lc 15,3-7), moeda perdida (Lc 15,8-10), e filho perdido (Lc 15.11-32). As três parábola são dirigidas para os fariseus e os doutores da lei que criticavam Jesus (Lc 15,1-3). Isto é, são dirigidas para o fariseu ou para o doutor da lei que existe em cada um de nós.
Lucas 15,1-3: Os destinatários das parábolas
Estes três primeiros versos descrevem o contexto em que foram pronunciadas as três parábolas: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus”.: De um lado, se encontram os cobradores de impostos e os pecadores; do outro lado, os fariseus e os doutores da lei. Lucas diz com um pouco de exagero: “Todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar”. Algo em Jesus os atraía. É a palavra de Jesus que os atrai (cf Is 50,4). Eles querem ouvi-lo. Sinal de que não se sentem condenados, mas sim acolhidos por ele. A crítica dos fariseus e escribas é esta: "Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!". No envio dos setenta e dois discípulos (Lc 10,1-9), Jesus tinha mandado acolher os excluídos, os doentes e possessos (Mt 10,8; Lc 10,9) e praticar a comunhão de mesa (Lc 10,8).
Lucas 15,4: Parábola da ovelha perdida
A parábola da ovelha perdida começa com uma pergunta: "Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?” Antes de ele mesmo dar a resposta, Jesus deve ter olhado os ouvintes para ver como responderiam. A pergunta é formulada de tal maneira que a resposta só pode ser positiva: “Sim, ele vai atrás da ovelha perdida!” E você, como responderia? Você deixaria as noventa e nove ovelhas no campo para ir atrás de uma única que se perdeu? Quem faria isso? Provavelmente, a maioria terá respondido: “Jesus, aqui entre nós, ninguém faria uma coisa tão absurda. Diz o provérbio: “Melhor um passarinho na mão do que dez voando!”
Lucas 15,5-7: Jesus interpreta a parábola da ovelha perdida
Ora, na parábola o dono das ovelhas faz o que ninguém faria: larga tudo e vai atrás da ovelha perdida. Só Deus mesmo para tomar uma tal atitude! Jesus quer que o fariseu ou o escriba que existe em nós, em mim, tome consciência. Os fariseus e os escribas abandonavam os pecadores e os excluíam. Eles nunca iriam atrás da ovelha perdida. Deixariam que ela se perdesse no deserto. Eles preferem as noventa e nove que não se perderam. Mas Jesus se coloca na pele da ovelha que se perdeu e que, naquele contexto da religião oficial, cairia no desespero, sem esperança de ser acolhida. Jesus faz saber a eles e a nós: “Se por acaso você se sentir perdido, pecador, lembre-se que, para Deus, você vale mais que as noventa e nove outras ovelhas. Deus vai atrás de você. E caso você se converter, saiba que “no céu haverá mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão."
Lucas 15,8-10: Parábola da moeda perdida
A segunda parábola: "Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontra a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: 'Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido'. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte". Deus fica alegre conosco. Os anjos ficam alegres conosco. A parábola era para comunicar esperança a quem estava ameaçado de desespero pela religião oficial. Esta mensagem evoca o que Deus nos diz no livro do profeta Isaías: “Eu te gravei na palma da minha mão!” (Is 49,16). “Tu és precioso aos meus olhos, eu te amo!” (Is 43,4)
4) Para um confronto pessoal
1) Você andaria atrás da ovelha perdida?
2) Você acha que a igreja de hoje é fiel a esta parábola de Jesus?
5) Oração final
Procurai o Senhor e o seu poder, não cesseis de buscar sua face. Lembrai-vos dos milagres que fez, dos seus prodígios e dos julgamentos que proferiu. (Sl 104, 4-5)
Quarta-feira, 6 de novembro-2019. 31ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 25-33)
Naquele tempo, 25Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes: 26Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo. 28Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? 29Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, 30dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar. 31Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? 32De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz. 33Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 14,25-33 (Mt 10,37-38)
O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.
Lucas 14,25: Exemplo de catequese
O evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é, fala para todos, inclusive para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.
Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai e mãe
Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram leva-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a cruz
“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galiléia. Muitas outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)
Lucas 14,28-32: Duas parábolas
As duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado
A conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a idéia de optar e de assumir o que já é por nascimento.
4) Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?
5) Oração final
O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é quem defende a minha vida; a quem temerei? (Sl 26, 1)
Terça-feira, 5 de novembro-2019. 31ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 15-24)
Naquele tempo, 15A estas palavras, disse a Jesus um dos convidados: Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus! 16Respondeu-lhe Jesus: Um homem deu uma grande ceia e convidou muitas pessoas. 17E à hora da ceia, enviou seu servo para dizer aos convidados: Vinde, tudo já está preparado. 18Mas todos, um a um, começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um terreno e preciso sair para vê-lo; rogo-te me dês por escusado. 19Disse outro: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te me dês por escusado. 20Disse também um outro: Casei-me e por isso não posso ir. 21Voltou o servo e referiu isto a seu senhor. Então, irado, o pai de família disse a seu servo: Sai, sem demora, pelas praças e pelas ruas da cidade e introduz aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. 22Disse o servo: Senhor, está feito como ordenaste e ainda há lugar. 23O senhor ordenou: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga todos a entrar, para que se encha a minha casa. 24Pois vos digo: nenhum daqueles homens, que foram convidados, provará a minha ceia.
3) Reflexão Lucas 14,15-24
O evangelho de hoje continua a reflexão em torno de assuntos ligados à mesa e à refeição. Jesus conta a parábola do banquete. Muita gente tinha sido convidada, mas a maioria não veio. O dono da festa ficou indignado com a desistência dos convidados e mandou chamar os pobres, os aleijados, os cegos, os mancos. Mesmo assim sobrava lugar. Então, mandou convidar todo mundo, até que a casa ficasse cheia. Esta parábola era uma luz para comunidades do tempo de Lucas.
* Nas comunidades do tempo de Lucas havia cristãos, vindos do judaísmo e cristãos, vindos da gentilidade, chamados de pagãos. Apesar das diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de partilha e de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Mas havia muitas dificuldades, pois os judeus normas de pureza legal que os impediam de comer com os pagãos. Mesmo depois de terem entrado na comunidade cristã, alguns deles mantinham o costume antigo de não sentar à mesma mesa com um pagão. Assim, Pedro teve conflitos na comunidade de Jerusalém, por ter entrado na casa de Cornélio, um pagão, e ter comido com ele (At 11,3). Em vista desta problemática das comunidades, Lucas conservou uma série de palavras de Jesus a respeito da comunhão de mesa (Lc 14,1-24). A parábola que aqui meditamos é um retrato do que estava acontecendo nas comunidades.
Lucas 14,15: Feliz quem come o pão no Reino de Deus
Jesus tinha acabado de contar duas parábolas: uma, sobre a escolha dos lugares (Lc 14,7-11), e outra, sobre a escolha dos convidados (Lc 14,12-14). Ouvindo estas parábolas, alguém que estava à mesa com Jesus deve ter percebido o alcance do ensinamento de Jesus e disse: "Feliz quem come o pão no Reino de Deus!". Os judeus comparavam o tempo futuro do Messias a um banquete, marcado pela fartura, pela gratidão e pela comunhão (Is 25,6; 55,1-2; Sl 22,27). A fome, a pobreza e a carestia faziam o povo esperar, para o futuro, aquilo que não podiam obter no presente. A esperança dos bens messiânicos, comumente experimentadas nos banquetes, era projetada para o final dos tempos.
Lucas 14,16-20: O grande jantar está pronto
Jesus responde com uma parábola. "Um homem estava dando um grande jantar e convidou muita gente". Mas os deveres de cada dia impedem os convidados de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso vê-lo!” O segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O terceiro: “Casei. Não posso ir!”. Dentro das normas e costumes da época, aquelas pessoas tinham o direito de recusar o convite (cf. Dt 20,5-7).
Lucas 14,21-22: O convite permanece de pé
O dono da festa fica indignado com a recusa. No fundo, quem está indignado é o próprio Jesus, pois as normas da estrita observância da lei reduziam o espaço para o povo viver a gratuidade de um convite amigo que gerava fraternidade e partilha. Aí, o dono da festa mandou os empregados convidar os pobres, os cegos, os aleijados e os mancos. Os que, normalmente, eram excluídos como impuros, agora são convidados para sentar-se à mesa do banquete.
Lucas 14,23-24: Ainda tem lugar
A sala não ficou cheia. Ainda havia lugar. Então, o dono da casa manda convidar os que andam pelo caminhos e trilhas. São os pagãos. Eles também são convidados para sentar-se à mesa. Assim, no banquete da parábola de Jesus, sentam todos juntos na mesma mesa, judeus e pagãos. No tempo de Lucas havia muitos problemas que impediam a realização deste ideal da mesa comum. Por meio da parábola, Lucas mostra que a prática da comunhão de mesa vinha do próprio Jesus.
Depois da destruição de Jerusalém, no ano 70, os fariseus assumiram a liderança nas sinagogas, exigindo o cumprimento rígido das normas que os identificavam como povo judeu. Os judeus que se convertiam ao cristianismo eram vistos como uma ameaça, pois eles derrubavam os muros que separavam Israel dos outros povos. Os fariseus tentavam obrigá-los a abandonar a fé em Jesus. Como não o conseguiam, os expulsavam das sinagogas. Tudo isto provocou uma lenta e progressiva separação entre judeus e cristãos e era fonte de muito sofrimento, sobretudo, para os judeus convertidos (Rm 9,1-5). Na parábola, Lucas deixa bem claro que estes judeus convertidos não eram infiéis ao seu povo. Pelo contrário! Eles são os convidados que não recusaram o convite. Eles são os verdadeiros continuadores de Israel. Infiéis foram os que recusaram o convite e não quiseram reconhecer em Jesus o Messias (Lc 22,66; At 13,27).
4) Para um confronto pessoal
- Quais as pessoas que normalmente são convidadas e quais as que não são convidadas para as nossas festas?
- Quais os motivos que hoje limitam a participação das pessoas na sociedade e na igreja? E quais os motivos que alguns alegam para se excluir da comunidade? Será que são motivos justos?
5) Oração final
As obras do Senhor são esplendor e beleza; sua justiça dura para sempre. Deixou uma lembrança dos seus prodígios: o Senhor é piedade e ternura. (Sl 110, 3-4)
No Amazonas, missão salesiana se transforma em 'cidade dos índios'
- Detalhes
Indígenas se declaram católicos, mas afirmam que igreja ainda não fez autocrítica sobre erros do passado
Fabiano MaisonnaveLalo de Almeida
IAUARETÊ (AM)
Ex-aluno do internato salesiano de Iauaretê, na fronteira do Brasil com a Colômbia, o indígena tucano Arlindo Maia passava o fim de semana enclausurado toda vez que era flagrado conversando na sua língua nativa em vez de português. A punição era simbolizada por um pequeno chaveiro.
“Quando um colega me pegava falando na minha língua, ele entregava o chaveiro. Aí, como castigo, eu tinha de ficar o fim de semana no estudo ou no dormitório. Na outra segunda-feira, eu tinha de procurar outro aluno. Quem estivesse com o chaveiro na sexta-feira, ficava de castigo”, conta Maia, do povo tucano, hoje ministro da capela da comunidade São Miguel, uma das dez comunidades de Iauaretê.
“Posso até confessar, com 54 anos, que demos final a esse chaveiro aí. Foi no ano da minha formatura. Peguei o chaveiro, achei outro colega e disse: ‘Bora enterrar essa porra’. Se você cavar atrás da carpintaria, deve estar lá agora, tem de chamar um arqueólogo”, relembra, às gargalhadas. Ele se internou por cinco anos a partir de 1975, aos 11 anos, e depois se formou como técnico agrícola, em Manaus.
Moradores assistem a uma missa em uma capela no distrito de Iauaretê, comunidade indígena de São Gabriel da Cachoeira (AM). As celebrações, onde os indígenas chegaram a cantar em latim, atualmente incorporam músicas tradicionais
Criada em 1915, a missão salesiana na região de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste amazônico, transformou a vida de milhares de indígenas da região. Financiados em parte pelo governo federal, os religiosos impuseram o catolicismo, a língua portuguesa e mudanças nos hábitos tradicionais, como a migração da moradia em malocas coletivas para pequenas casas familiares.
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“Os salesianos, novos bandeirantes, puseram-se a devassar aquelas matas e a alindar a alma daqueles índios”, escreveu Soares d’Azevedo, no livro “Pelo Rio Mar”, de 1933. “Souberam radicar o índio, instruí-lo e catequizá-lo, fazer dele um elemento útil à pátria.”
“Os salesianos tinham projetos de educação propostos por dom Bosco, mas chegaram aqui sem esse projeto educativo. Eles vieram impondo”, afirma o padre diocesano indígena Domingos Lana, 51, sobre a atuação da congregação fundada em 1859 por são João Bosco, na Itália.
“O que prejudicou foi isso. Vieram aqui para executar o programa do governo brasileiro, que era tornar o índio membro da sociedade nacional”, afirma Lana, do povo tariano e nascido em Iauaretê. Em 2006, ele pediu afastamento do sacerdócio ao se recusar a ser transferido para uma paróquia longe do Alto Rio Negro.
TUCANO E RAP
Ainda em funcionamento, a missão salesiana em Iauaretê, que comemorou 90 anos em agosto, revisou seus métodos a partir dos anos 1980, aproximando-se do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), segundo o livro “Cidade do Índio”, do antropólogo Geraldo Andrello.
No final dessa década o internato, que tinha capacidade para 250 crianças por ano, fechou as portas. Parte de suas instalações é usada pela escola estadual São Miguel, que paga R$ 5.651,50 de aluguel mensal aos salesianos e tem uma irmã da congregação como coordenadora pedagógica.
Hoje, a rotina da missão salesiana é outra. Durante o oratório no pátio da imponente igreja matriz, os alto-falantes tocam rap enquanto adolescentes jogam basquete. Em reunião recente da Pastoral da Família, uma irmã salesiana estimulava os pais a ensinar mitos e línguas indígenas em casa.
Na procissão de Nossa Senhora Aparecida, na tarde do último dia 11, o ministro falou em tucano, a língua franca dos povos do Alto Rio Negro, antes de levar a imagem até a igreja matriz. As missas, onde os indígenas chegaram a cantar em latim, atualmente incorporam músicas tradicionais.
Em termos religiosos, a hegemonia católica permanece. Além da igreja matriz, há capelas nas dez comunidades, quase todas com nome de origem católica, como Aparecida e Dom Bosco. Recentemente, um pastor tentou se instalar em Iauaretê, mas deixou a região após sofrer oposição do clérigo salesiano.
A missão conta com dois padres, um italiano, que estava em viagem quando a reportagem esteve em Iauaretê, e outro da etnia dessana, que se recusou a ser entrevistado.
Envolvido nas atividades paroquiais, o padre Domingos diz que hoje as prioridades são a Pastoral da Família, o combate ao alcoolismo —o problema social mais citado pelos moradores— e a formação de lideranças católicas.
SEM AUTOCRÍTICA
Mesmo se declarando católicos e com crescente presença no clérigo, os indígenas cobram um reconhecimento maior da igreja pela atuação no passado. Líder da Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauarete (Coidi), o tucano Jaciel Freitas, 44, criticou o fato de que as recentes celebrações dos 90 anos da missão em Iauaretê não incluíram nenhuma autocrítica.
“Fiquei um pouco chateado que eles não falaram do lado negativo, só o positivo. Eu não perdoo as ofensas que nossos avós levavam, eles apanharam mesmo. Nós perdemos muitas coisas com eles, mas aprendemos muitas coisas também.”
“Eu gostaria que um padre estrangeiro reconhecesse: ‘Nós, infelizmente, erramos’. Isso me dói ainda”, diz Maia.
A missão provocou também um desafio demográfico. Desde que foi criada, passou a atrair famílias indígenas ao longo dos rios Uaupés e Papuri, esvaziando várias comunidades. O crescimento populacional se acelerou após o fechamento do internato, quando várias famílias se mudaram para que seus filhos continuassem estudando em Iauaretê.
Segundo o censo mais recente, de 2017, o distrito tinha 2.570 moradores. É a maior comunidade da Terra Indígena Alto Rio Negro e a única com luz elétrica por 24 horas, graças a uma usina termelétrica. Além disso, conta com a via principal pavimentada, caminhão de lixo, sinal de TV, ambulância, mercados, restaurante, pista de pouso e até 3G —graças a uma torre de celular do lado colombiano.
A meio caminho “entre a comunidade ribeirinha e a cidade”, na definição de Andrello, o tamanho populacional dificulta a produção de alimentos, explica a tariana Almerinda Ramos de Lima, diretora da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), principal entidade não governamental da região.
Ex-interna e “católica até morrer”, Lima explica que a pesca e a caça escassearam com o crescimento populacional. Outro problema, diz ela, é a roça. Em busca de espaço, as famílias fazem o plantio em locais acessíveis por meio de caminhadas de até quatro horas. “As terras aqui são ácidas, arenosas.”
Em consequência, as famílias recorrem à comida industrializada. A proteína mais comum é frango congelado produzido no Sul do país. O embarque no barco é em São Gabriel da Cachoeira, uma viagem que dura cerca de 14 horas de barco com motor de potência média e inclui um trabalhoso transbordo para superar uma cachoeira do rio Uaupés.
SÍNODO
Apesar do recente Sínodo da Amazônia, o tema foi pouco debatido em Iauaretê. Entre os entrevistados pela Folha, apenas o padre Domingos disse ter participado de debates preparativos para o encontro.
Ideias como ordenamento de homens casados e maior participação de mulheres são bem aceitos, mas há ressalvas sobre a incorporação de rituais indígenas pela Igreja Católica.
“Pra mim, não vale fazer isso dentro da igreja. É da nossa tradição, faziam mais nas festas de confraternização. Se antes falavam que era coisa do demônio, como é que hoje levam pra dentro da igreja? É melhor deixar separado”, diz Freitas, coordenador da Coidi.
Já autorizado a dar a comunhão, Arlindo Lima diz que se sente capaz de assumir outras tarefas caso —o sínodo propôs a ordenação de homens casados. “Estamos avançando, já temos muitos padres indígenas. Se esse avanço é por causa do chaveiro, eu não sei dizer”, disse, novamente rindo. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Casal é preso por extorquir família de padre em Curvelo; vítimas já tinham entregado R$ 140 mil
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Padre Elberth Antônio Fernandes Tolentino morreu em dezembro de 2018; mulher procurou a família dizendo ter um filho com ele e que estaria novamente grávida do sacerdote.
Por Valdivan Veloso, G1 Grande Minas
Um casal foi preso nessa terça-feira (26) suspeito de extorquir a família de um padre em Curvelo, região Central de Minas. De acordo com a Polícia Civil, o padre Elberth Antônio Fernandes Tolentino, de 45 anos, morreu em dezembro de 2018, vítima de um infarto, mas a família passou a ser pressionada por uma mulher de 35 anos, que alegava ter um filho com o sacerdote.
"Esta mulher procurou a família cerca de um mês após o falecimento do padre Elberth. Ela alegou que manteve um relacionamento de muitos anos e, além de ter um filho, estava grávida de outra criança que seria do padre. Ela se apresentou como juíza de direito e conseguiu convencer uma irmã de que o padre tinha uma mala onde estavam guardadas algumas coisas que comprovariam o relacionamento", explica o delegado Robert Carvalhais.
A irmã do padre concordou em encontrar com a mulher na residência de familiares onde localizaram uma mala com R$ 140 mil, junto aos pertences do sacerdote. "Eles se encontraram em Sete Lagoas, mas a mulher estava acompanhada de um homem de 54 anos, que disse ser um policial que já tinha feito segurança para ela. Todos seguiram para a casa de familiares em Diamantina. Durante a conversa, a autora afirmou que levaria o dinheiro para periciar. A família permitiu, acreditando que a mulher era mesmo uma juíza", diz o delegado.
A polícia informou que dias após levar o dinheiro, a mulher voltou a procurar a irmã do padre pedindo para ver um apartamento. "Porém, este apartamento pertence à irmã do sacerdote. Não tem ligação nenhuma ao padre. Diante da negativa dos familiares, a suspeita passou a mudar o tom da conversa afirmando que iria tornar o caso público".
Familiares procuraram a ajuda de um advogado que orientou a família a encenar uma doação do apartamento. "Nesta terça-feira, quando os documentos eram assinados em uma padaria no Centro da cidade, o advogado acionou a Polícia Civil e nós prendemos o casal em flagrante. Eles foram autuados por extorsão qualificada".
No flagrante foram recuperados R$ 5 mil que estavam com um dos autores, uma caminhonete que foi paga com parte do dinheiro do padre e ainda R$ 45 mil que estavam escondidos na residência do casal A polícia informou também que o homem preso já possui passagem por posse de arma de fogo e a mulher responde a dois processos por estelionato na cidade de Corinto. Os dois foram entregues à delegacia. Fonte: https://g1.globo.com
Segunda-feira, 4 de novembro-2019. 31ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 12-14)
Naquele tempo, 12Dizia igualmente ao que o tinha convidado: Quando deres alguma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos. Porque, por sua vez, eles te convidarão e assim te retribuirão. 13Mas, quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje dá continuidade ao ensinamento que Jesus estava dando em torno de vários assuntos, todos ligados à mesa e à refeição: uma cura durante a refeição (Lc 14,1-6); um conselho para não ocupar logo os primeiros lugares (Lc 14,7-12); um conselho para convidar os excluídos (Lc 14,12-14). Esta organização das palavras de Jesus em torno de uma determinada palavra, como mesa ou refeição, ajuda a perceber o método usado pelos primeiros cristãos para guardar na memória as palavras de Jesus
Lucas 14,12: Convite interesseiro
Jesus está jantando na casa de um fariseu que o tinha convidado (Lc 14,1). O convite para o jantar é o assunto do ensinamento do evangelho de hoje. Existem vários tipos de convite: convites interesseiros em benefício de si mesmo e convites desinteressados em benefício dos outros. Jesus diz: "Quando você der um almoço ou jantar, não convide amigos, nem irmãos, nem parentes, nem vizinhos ricos. Porque esses irão, em troca, convidar você. E isso será para você recompensa”. O costume normal do povo era este: para almoçar ou jantar eles convidavam amigos, irmãos e parentes. Pois sentar à mesa com pessoas desconhecidas ninguém fazia. Comunhão de mesa só com gente amiga! Este era o costume entre os judeus. É este também o nosso costume até hoje. Jesus pensa diferente e manda fazer convites desinteressados que ninguém costuma fazer.
Lucas 14,13-14: Convite desinteressado
Jesus diz: “Quando você der uma festa, convide pobres, aleijados, mancos e cegos”. Jesus manda romper o círculo fechado e pede para convidar os excluídos: pobres, aleijados, mancos, cegos. Este não era o costume e, até hoje, ninguém faz isso. Mas Jesus insiste: “Convida esse pessoal!” Por que? Porque no convite desinteressado, dirigido a pessoas excluídas e marginalizadas, existe uma fonte de felicidade: “Então você será feliz! Porque eles não lhe podem retribuir”. Felicidade estranha, diferente! Você será feliz porque eles não podem retribuir. É a felicidade que nasce do fato de você ter feito um gesto de gratuidade total. Um gesto de amor que quer o bem do outro e para o outro, sem esperar nada em troca. É a felicidade de quem faz as coisas gratuitamente, sem querer nenhuma retribuição. Jesus diz que esta felicidade é a semente da felicidade que Deus vai dar na ressurreição. Ressurreição, não só no fim da história, mas já desde agora. Agir assim já é uma ressurreição!
É o Reino acontecendo. O conselho que Jesus nos dá no evangelho de hoje evoca o envio dos setenta e dois discípulos para a missão de anunciar o Reino (Lc 10,1-9). Entre as várias recomendações dadas naquela ocasião como sinais da presença do Reino, estão (1) a comunhão de mesa e (2) a acolhida aos excluídos: “Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: O Reino de Deus chegou!” (Lc 10,8-9) Aqui, nestas recomendações, Jesus manda transgredir aquelas normas de pureza legal que impediam a convivência fraterna.
4) Para um confronto pessoal
1) Convite interesseiro e convite desinteressado: qual dos dois acontece mais na minha vida?
2) Se você fizesse só convites desinteressados, isto lhe traria dificuldades? Quais?
5) Oração final
Senhor, meu coração não se orgulha e meu olhar não é soberbo; não ando atrás de coisas grandes, superiores às minhas forças. Antes, me acalmo e tranqüilizo, como criança desmamada no colo da mãe, como criança desmamada é minha alma. (Sl 130, 1-2)
Cursos sobre finanças para evangélicos são a nova face da segmentação na área de investimento
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Com citações da Bíblia, aulas na internet e em igrejas ensinam a sair do vermelho, acertar as contas e ter vida mais próspera
Ana Paula Ribeiro
Cuidar e ganhar dinheiro com base nos preceitos de Deus. Essa é a proposta de um dos cursos da Universidade da Família, uma entidade educacional voltada a todas as denominações evangélicas com sede em Pompeia, no interior paulista. Quem participa das aulas de estudos financeiros bíblicos tem contato com mandamentos que não diferem muito do que é transmitido nos tradicionais cursos de educação financeira: organizar o orçamento doméstico, traçar uma estratégia para sair das dívidas e estabelecer metas financeiras . A diferença é que as explicações são apoiadas em trechos da Bíblia .
— Dentro do povo evangélico, o dinheiro pode ser visto como impuro. Não é. O problema é deixar o dinheiro ser o nosso senhor. Nesse caso, a questão não é ter pouco ou muito, mas como administrá-lo — diz Paulo Cesar Maximiano, diretor da Universidade da Família.
Não existe um levantamento sobre o número de igrejas que oferecem cursos semelhantes no país, mas o público potencial é a fatia crescente de evangélicos na população brasileira, que já chega a 30%. Um dos argumentos usados pelo diretor da Universidade da Família é que o fiel, ao gerir melhor o próprio dinheiro, pode ajudar o próximo e aumentar as contribuições à entidade que frequenta.
O estudo financeiro bíblico oferecido no interior paulista usa a metodologia Crown (coroa, em inglês), criada nos anos 1970 nos Estados Unidos por lideranças cristãs e adaptada para o Brasil em 2002. De acordo com a Crown, 2.350 versículos (subdivisões dos textos bíblicos) tratam de finanças e administração.
A capixaba Mirna Borges, coach financeira desde 2016, conta com quase 200 mil seguidores no Instagram, outros 900 mil no YouTube e é parceira do canal do banco BTG Digital. Depois de fazer o curso da Universidade da Família, ela decidiu mostrar aos seus seguidores os paralelos entre a educação financeira e os trechos bíblicos aprendidos na Crown.
— Eu sentia falta de unir meu conhecimento de educação financeira à palavra de Deus. Algumas pessoas pararam de me seguir, criticaram ou me ofenderam quando comecei com esses estudos, mas quero mostrar que é possível ter uma vida próspera e também orientada pela palavra — diz Mirna.
Demanda alta
Uma das igrejas que abre espaço para essas aulas é a Igreja Batista do Povo (IBP), em São Paulo, que passou de poucos interessados, até 2015, para cerca de 150 alunos ao ano desde então.
— Foi um aumento causado por questões sociais, pela crise. E, do nosso lado, vem a preocupação com as famílias. Uma das principais causas do divórcio é a presença de problemas financeiros nesses lares — explica Rafael Gadelha, pastor responsável pela área das famílias na IBP, lembrando que também há um curso voltado para a educação financeira de crianças e adolescentes.
Ao início e ao fim de cada aula, é feita uma oração. Também há espaço para que cada participante faça um pedido para ser contemplado nas preces dos demais fiéis do grupo — e não necessariamente precisa ser relacionado às finanças pessoais. Todos também são convidados a ler e decorar os versículos da Bíblia relacionados a finanças que permeiam cada capítulo.
— O objetivo é chegar àquele Dia D, ou seja, não tardar para pagar e sair das dívidas. E poder começar a poupar. A ideia é: junte agora e compre depois — explica Leandro Oliveira, um dos instrutores do curso, acrescentando que evitar as dívidas faz parte de um dos salmos da Bíblia.
Pastor investidor
O pastor Leandro Barreto, fundador da Igreja Poiema, com sede em Taubaté, no interior paulista, diz que o objetivo da iniciativa é mostrar aos fiéis que eles podem ter uma vida próspera. Ele mesmo passou a ser um investidor, mas adota uma estratégia considerada pela maioria dos especialistas da área de altíssimo risco.
— Tenho tudo em renda variável, 70% em ações e 30% em fundos imobiliários — conta Barreto, ressaltando que não dá conselhos sobre em que investir, mas sobre a importância de aprender a lidar com o dinheiro.
Os cursos financeiros para evangélicos são apenas mais um tipo de segmentação na crescente indústria de planejamento de investimentos no atual cenário de queda dos juros de aplicações de renda fixa. Jayme Carvalho, responsável pela área jurídica da Planejar, associação que reúne planejadores financeiros, lembra que não há uma regulamentação para pessoas ou instituições que oferecem educação financeira. Portanto, é preciso ter cuidado sobre quem dá os conselhos e quais realmente fazem sentido para quem escuta.
— A atividade do educador, planejador ou coach financeiro não tem regulamentação específica, então alguns profissionais fazem a prova para ter o certificado CFP (de planejador financeiro). Mas só quem tem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode orientar sobre onde investir — alerta Carvalho. Fonte: https://oglobo.globo.com
Carismáticos católicos se aproximam de evangélicos nos ritos e em Bolsonaro
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Carismáticos católicos se aproximam de evangélicos nos ritos e em Bolsonaro
Há 50 anos no Brasil, grupo hoje forma um bloco mais conservador do que a média do núcleo católico brasileiro
Anna Virginia Balloussier
CACHOEIRA PAULISTA (SP)
À primeira vista, quem é de fora pode se confundir. A RCC (Renovação Carismática Católica), que em 2019 completou 50 anos no Brasil, tem tantos pontos de confluência com o evangelismo pentecostal que gera dúvidas sobre sua natureza religiosa.
Vide comentários como este em redes sociais: "Carismático é um católico que não tem coragem de ser evangélico".
Apesar de muita gente, inclusive nacos mais tradicionalistas do Vaticano, pensar parecido, o movimento ganhou simpatia interna ao modernizar celebrações numa igreja que só a partir dos anos 1960 deixou de rezar missas em latim, com o sacerdote em geral de costas para os fiéis.
Símbolos da RCC no país, padres cantores e liturgias mais animadas se fortalecem como contraofensiva à retração católica diante do avanço de igrejas evangélicas. Afinal, uma fé que nos anos 1980 monopolizava a religiosidade verde-amarela, com nove em cada dez brasileiros se curvando à Santa Sé, agora caiu para a metade da população, e a queda deve continuar nos próximos anos.
Os mesmos líderes carismáticos que atualizaram os ritos da igreja hoje formam um bloco mais conservador do que a média do núcleo católico brasileiro. E têm mais apreço de Jair Bolsonaro do que a cúpula da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), vista pelo presidente e seu entorno como uma chaga esquerdista.
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Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro, um católico com esposa, filhos e diversos aliados evangélicos, chegou a classificar a entidade que reúne o bispado nacional como "a parte podre da Igreja Católica".
Bolsonaro vê com ressalvas a CNBB, que foi uma pedra no caminho da reforma da Previdência e apoiou o Sínodo para a Amazônia, um mal-estar para o governo. Já com lideranças carismáticas a relação é mais amigável.
Assim que venceu a eleição, o presidente visitou a Canção Nova, em Cachoeira Paulista, cidade que também abriga o escritório do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Nacionais), o órgão que tanto enervou o governo com dados que mostravam a escalada das queimadas na Amazônia.
Já neste que é um dos maiores braços da RCC brasileira, o céu foi de brigadeiro. Bolsonaro ouviu do monsenhor Jonas Abib, fundador da comunidade, que "o Brasil tem o presidente que precisava ter". Na sua vez de discursar, disse que, ao elegê-lo, o país "deu o recado que quer, não quer este progressismo todo que pregam por aí".
A bancada católica pode não ser tão midiática quanto seu par evangélico, mas zela pelos mesmos valores "família" (leia-se contra o aborto e causas LGBTI) e tem forte DNA carismático. Em setembro, Bolsonaro indicou para vice-líder do governo um de seus expoentes, Eros Biondini (Pros-MG), cantor cristão que entoa versos como "com solo de guitarra e a batera no ritmo de Deus".
Biondini é cria do Ministério Fé e Política, braço da RCC que incentiva fiéis fora do clero a entrarem na política. Para ele, pautas como "a da defesa da vida" unem católicos e evangélicos no Congresso e dão uma capa conservadora aos carismáticos que batem ponto em Brasília.
No mês passado, a Folha foi à sede da Canção Nova, e outras semelhanças com o movimento pentecostal e neopentecostal ficaram evidentes. Na TV homônima ao movimento, um apresentador falava em "repreender o demônio", esse coisa-ruim "com uma imaginação doentia". A linguagem é típica de igrejas como a Universal.
Na missa do dia, o padre pregou a necessidade de combater "aquele velho dizer do politicamente correto", que comparou a um vírus que "vai se debruçando em discursos como o de que é preciso combater a intolerância". Algo que poderia muito bem sair de um guia de introdução ao bolsonarismo.
A RCC nasceu nos EUA em 1967, dois anos antes de aportar no Brasil, e a princípio foi recebida de cara feia por boa parte da igreja. Essa má vontade se reduziu a uma minoria. Hoje, populariza-se com padres jovens como Fábio de Melo e acampamentos como o Curadas Para Amar, "cujo objeto é levar as participantes a trilharem um caminho de cura interior".
Em 2011, a reportagem acompanhou na cidade o PHN (Por Hoje Não), camping anual com milhares de jovens em Cachoeira Paulista, e por lá viu iniciativas como funkeiros cristãos que adaptavam a "Dança do Créu", hit da época, para "céééééu, céééééu, bate na palma da mão quem tem Jesus no coração".
A informalidade é um traço que os avizinha a evangélicos, mas não se pode olhar "simplesmente da perspectiva de disputar rebanho, número de convertidos, coisas desse tipo", diz o padre Wagner Ferreira da Silva, vice-presidente da Canção Nova.
Carioca que frequentava grupos de oração na mesma Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em que Bolsonaro se formou militar, o clérigo diz que é uma "questão de coerência" a igreja se posicionar ante os que "assumem posturas contrárias ao Evangelho", daí tantos conservadores entre os carismáticos.
"Alguns nos acham conservadores, outros o contrário disso, porque somos alegres, batemos palma", contemporiza Francisco Júnior (PSD-GO), presidente da frente católica na Câmara. "Muitos nos acham pentecostais demais, porque exercemos os dons, orações em línguas, toda aquela situação."
Falar em idiomas estranhos, algo comum entre nichos evangélicos, é tido como uma capacidade milagrosa cedida a alguns cristãos. Está na Bíblia: "Estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios, falarão novas línguas".
Já o dom de falar com Jair Bolsonaro, que muitos carismáticos possuem, não é universal no grupo, afirma o deputado. Internamente, "alguns concordam mais, outros se irritam mais. O corte transversal é característico da Igreja. Temos bom relacionamento com presidente, mas não direto".
No ano passado, o então presidenciável do PSL teve seu apoio porque, como disse Júnior a um jornal de seu estado, “tudo o que defendo é o contrário das propostas do petismo". Fonte: www1.folha.uol.com.br
AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. Festa de Todos os Santos e Santas de Deus.
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AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO. Festa de Todos os Santos e Santas de Deus. Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. Domingo, 3 de novembro-2019. www.instagram.com/freipetronio
Dia de Finados: momento de rezar pelos fiéis defuntos que estão na eternidade
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Reverência, lembrança, saudade daqueles que não estão mais entre nós. O Dia dos Fiéis Defuntos, mais conhecido como dia de Finados é celebrado pelos católicos para lembrar daqueles dos fieis defuntos que foram morar na eternidade, e, consequentemente rezar por aqueles que padecem no purgatório.
Muitos gostam de visitar os cemitérios para deixar flores, acender velas por seus mortos, outros preferem assistir a Santa Missa ou apenas fazer uma oração/prece. O importante nesse momento não é o ritual ou a forma, mas a lembrança que habita o coração de todo ser humano.
O dia de finados, celebrado neste sábado, 2 de novembro, não é para ser um dia triste, mas um dia para olhar para trás e lembrar dos bons momentos que ficaram registrados no coração. Mas também é momento para refletir o que se professa todos os Domingos no Credo: “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. Afinal, o curso natural da vida é a morte. Para os cristãos, essa passagem para a vida eterna, na qual estaremos em plena comunhão com Deus.
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, gravou uma mensagem especial de esperança e fé para o dia dos fiéis defuntos.
“No dia de finados, dediquemos a oração a pessoas já falecidas reavivando nossa fé. Permaneçamos assim em comunhão com os que nos precederam na experiência da morte certos de que nos reencontraremos pela Graça de Deus Pai”, ressalta em um trecho do vídeo (disponível no final da matéria).
Em um artigo publicado no portal da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, explica que desde a época do cristianismo primitivo os cristãos rezavam por seus mortos, em especial pelos mártires, no local onde estes eram frequentemente enterrados: nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma.
“A oração pelos que já morreram é uma prática de várias religiões e que o cristianismo manteve. Documentos e monumentos dos primeiros séculos da nossa era já testemunham a prática entre os cristãos. Há túmulos cristãos dos séculos II e III que trazem orações pelos falecidos ou inscrições como: ‘Que cada amigo que veja isso reze por mim’”, destaca no texto.
Ainda de acordo com artigo de dom Orani, o costume de rezar pelos mortos foi sendo introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica. “O principal responsável pela instituição de uma data específica dedicada à alma dos mortos foi o monge beneditino Odilo da Abadia Beneditina de Cluny, na França”.
O catecismo da Igreja Católica diz que graças a Cristo, a morte tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente “morto com Cristo”, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este “morrer com Cristo” e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor. (§1010)
Visitas aos cemitérios
Em todo o Brasil, os cemitérios recebem milhares de pessoas que farão visitas aos seus entes queridos. Celebrações eucarísticas durante todo o dia estão programadas. Esta prática está grafada no parágrafo 2300 do Catecismo: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal (Tb 1,16-18) que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo”. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, vai celebrar a Santa Missa, às 9h, no cemitério Parque da Colina, no bairro Nova Cintra, em BH.
Sepultura e cremação
Desde outubro de 2016, a Igreja católica no mundo passou a adotar uma nova instrução da Congregação para a Doutrina da Fé sobre propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas no caso de cremação. A instrução ‘Ad resurgendum cum Christo’ da Congregação para a Doutrina da Fé foi apresentada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller. Segundo o documento, “a prática da cremação difundiu-se bastante em muitas Nações e, ao mesmo tempo, difundem-se também novas ideias contrastantes com a fé da Igreja”.
Código de Direito Canônico
A norma eclesiástica vigente em matéria de cremação de cadáveres é regulada pelo Código de Direito Canônico: “A Igreja recomenda vivamente que se conserve o piedoso costume de sepultar os corpos dos defuntos; mas não proíbe a cremação, a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.
Conservação as cinzas
“Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica”.
Segundo o documento, a conservação das cinzas em casa não é consentida. Somente em casos de circunstâncias graves e excepcionais, o Ordinário, de acordo com a CNBB ou o Sínodo dos Bispos das Igrejas Orientais, poderá autorizar a conservação das cinzas em casa. As cinzas, no entanto, não podem ser divididas entre os vários núcleos familiares e deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de conservação das mesmas.
Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos.
“Espera-se que esta nova Instrução possa fazer com que os fiéis cristãos tenham mais consciência de sua dignidade de filhos de Deus. Estamos diante de um novo desafio para evangelização da morte”, disse o Cardeal Müller, no lançamento da instrução ainda em 2016. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Quando eu morrer...
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Cemitério São João Batista/RJ. Neste cemitério, além dos frades carmelitas; Nuno e Bento, estão sepultados diversas personalidades, como José de Alencar, Cândido Portinari, Carmem Miranda, Tom Jobim, Santos Dumont, Vinícius de Moraes, Chacrinha, Clara Nunes, Cazuza, Elke Maravilha, Dias Gomes, Cazuza, Irineu Marinho, Olavo Bilac, Marcelo Caetano Presidente de Portugal, Santos-Dumont, nove ex-presidentes da República entre outros. www.olharjornalistico.com.br
Vida Comunitária: alguns elementos antropológicos e psicogrupais.
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Vida Comunitária: alguns elementos antropológicos e psicogrupais.
Pe. Edenio Valle, SVD
Introdução
Neste texto pretendo apresentar alguns elementos da chamada Psicologia social de grupo, com a intenção de ajudar as comunidades religiosas a considerarem com mais realismo e propriedade o que se passa em seu interior.
Quem conhece por dentro a realidade das comunidades religiosas sabe que essas são atravessadas pelas mesmas tensões que caracterizam qualquer outro grupo humano. Essas podem até superar as existentes em outros grupos pelo fato de se proporem como meta a busca de um sentido espiritual mais exigente ( missão e partilha ) em uma instituição e estilo de vida centrados nos valores do Evangelho do Reino no seguimento de Jesus. .
Para entender essa aparente contradição entre um ideal tão elevado e uma realidade freqüentemente tão humana é importante conhecer melhor algo do que acontece em grupos humanos. A presente reflexão quer ser uma ajuda nessa direção. Conhecer melhor a realidade de um grupo não é uma garantia imediata para o amadurecimento das relações que aí se estabelecem, mas pode colaborar no sentido de tornar mais verdadeiros os objetivos que a Vida Religiosa se propõe como uma comunidade de discípulos/as de Jesus pautada pela comunhão, pelo respeito mútuo e pela solidariedade que tanta falta fazem à sociedade humana hoje ainda mais marcada pelo subjetivismo, pela massificação e o hedonismo consumista.
- São muitos os objetivos, motivações e interesses que podem levar as pessoas a se organizarem em grupos dos mais diversos tipos. Ninguém pode viver sem estar de alguma maneira ligado a algum tipo de grupo. Isto é algo natural e necessário. De um modo geral tendemos a não prestar muita atenção ao que se passa em algo aparentemente tão “natural” ao qual fomos habituados desde a mais tenra infância já no seio de nossas famílias e culturas de origem. No entanto, os grupos humanos não são uma mera conseqüência das necessidades fisiológicas da sobrevivência de nossa espécie, como quer a Psicologia Evolucionária hoje em moda, por mais que essas pesem. Eles são construídos culturalmente a partir de uma complexa série de outras necessidades de natureza psicológica, social e cultural. São uma imposição também das necessidades econômicas. Nascem de interesses individuais, alguns extremamente narcisistas, que se contrapõem no dia a dia da vida grupal, tornando tensa a convivência. A dinâmica normal de um grupo é, por isto, marcada por um jogo sutil de forças que se atraem e se opõem. É nesse subsolo cheio de ambigüidades e aparências enganosas que se estabelece a trama afetiva dos processos reais de um grupo.
- O que os grupos humanos proclamam ser nem sempre bate com o que eles são de fato, psicossocialmente falando. Se tudo no jogo grupal fosse e saudável, as coisas não seriam tão sinuosas e contraditórias quanto são de fato. Freud mostrou que a família – o mais natural dos grupos, possui uma vida subterrânea, inconsciente, carregada de uma afetividade ambígua e instintiva que parece ter uma dinâmica bem distinta da que proclamam nossos idéias e ideais, especialmente quando infantilizados e não personalizados ). Os membros do grupo são capazes de sentir, captar e assimilar, quase que por osmose, as insinuações que vêm desse subsolo. Ter ou não consciência desse processo subjacente depende em grande parte da maior ou menor maturidade afetiva e interrelacional do grupo enquanto tal mas também do amadurecimento de seus componentes tomados individualmente. Trata-se de um clima emocional que resulta do que os participantes percebem dentro de si mesmos e transmitem uns aos outros em um sistema de sucessivos “feed backs”, reforçando em cada um a necessidade de encontrar alguma sintonia com os ventos que sopram no ambiente e que não raro são contrários. O clima grupal resulta, assim, largamente da projeção dos anseios, defesas e emoções subjetivas dos membros, embora esses estados subjetivos estejam ligados a certas situações, ações e reações objetivas ligadas a fatos externos que servem como causa deslanchadora dos sentimentos coletivos. A afetividade grupal é assim, a um só tempo, de natureza afetiva pessoal ( subjetiva ) e de cunho psicossocial ( objetiva ). É a essa luz que devemos nos perguntar a respeito da qualidade psicoafetiva de nossas comunidades religiosas reais.
Ela tem também duas outras raízes de grande peso que não abordaremos aqui por falta de tempo: ela possui uma base bioquímica e neuropsicológica de enorme repercussão sobre o comportamento individual e coletivo e sobre ela pesam, também, elementos culturais diversos como os costumes, as crenças e os valores éticos, políticos e religiosos que influenciam o grupo. e a socieadade.
- A dinâmica afetiva do grupo costuma ser intensa; possui memória e mecanismos reativos próprios que são mais que a mera soma do que é sentido, dito ou proclamado pelo conjunto dos participantes. Não devemos, contudo, conceber essa afetividade como se fosse uma entidade psicológica que subsiste por se mesma quase que mágica e/ou metafisicamente. De um modo geral, pode-se afirmar que a afetividade costuma exercer nos grupos humanos um papel maior que as duas outras dimensões constitutivas do clima grupal: a cognitiva ( os processos da razão ) e a conativa ( a relativa à ação prática ). Em certas circunstâncias, o jogo afetivo grupal chega a parecer gozar de uma verdadeira autonomia como se tivesse vida própria. De fato, porém, ele reflete não só o que vai nas emoções e sentimentos dos membros do grupo e só pode ser compreendido em sua inteireza quando associamos esses elementos e motivações mais profundos aos demais processos que constituem o todo da personalidade de cada um e do grupo. Há aqui elementos estáveis e outros que têm duração passageira e podem se exacerbar positiva ou negativamente mas se situam sempre dentro das balizas do que é humano.
- Além disto, não podemos olvidar que os grupos humanos, mesmo os mais amadurecidos e sintônicos, estão sempre submetidos a dois outros fatores, um muito amplo e, outro, extremamente concreto. Em primeiro lugar, eles experimentam todas as limitações próprias à incomunicação que os seres humanos vivem, na radical incompletude de seu existir. Esse fator tem uma influência nem sempre levada em conta pelas comunidades religiosas. Mas, em segundo lugar, as pressões, influências e tensões próprias a cada época. Não à toa se fala muito na unidimensionalidade do sistema neo-capitalista que nos envolve institucional e engole ideologicamente. Essa funciona como a grande tenaz que prende os indivíduos e os grupos nas garras do “stress” econômico, político e social, conduzindo-os a reações fortes e inesperadas. Além do mais, provoca reações religiosas como as que assistimos nos países islâmicos ( homens bombas ) e que levam milhões de brasileiros a buscar arrimo grupal e solução para seus males pessoas no neo-pntcostalismo que nos foi presenteado pelo baixo protestantismo carismático de massa.
É importante lembrar, ademais, que os grupos ( os carmelitas, por exemplo ) têm uma história. Ou seja, eles também vêem de um processo: evoluíram, regrediram, retrocederam e avançaram psicoafetiva e comportamentalmente ao longo dos tempos, mudando suas feições e características, devido às vivências e acontecimentos experimentados ao longo do tempo e dos quais guardam memória, mesmo que não consciente. Mas – fato fundamenta – há uma identidade por baixo de todos esses processos. Como a vida de uma pessoa, também essa identidade existe em função dos altos e baixos que a comunidade viveu. Só captando essas alternâncias é que podemos entender a gênese, a estrutura e as funções que caracterizam o modo peculiar de ser e de reagir desse ou daquele grupo.
- No momento cresce na Vida Consagrada a consciência da importância da comunidade e da vivência grupal para a realização do que a Vida Religiosa se propõe no presente momento de sua história. Estamos em busca de uma nova figura histórica. Por essa razão nossas concepções a respeito da vida em comunidade já não são tão homogêneas quanto o eram no passado. Tomamos consciência de que um grupo de pessoas que, por razões religiosas profundas, se propõe viver segundo um estilo de vida, valores e objetivos marcados pelo ideal evangélico não permanece sempre o mesmo e precisa amadurecer psicossocialmente se quiser tornar real o ideal carismático profundo que o constituiu em um passado mais remoto e que hoje é buscado de maneiras social e culturais bem diversas.. Constata-se hoje nas congregações um grande desejo de tornar mais “verdadeira” a unidade e a amizade que deveriam ser um sinal evangélico para o mundo dividido que nos cerca. Do desejo ideal à concretização, porém, percebemos cada vez mais que vai uma enorme diferença. Daí a urgência sentida por muitos de métodos mais acurados de análise dos processos e mecanismos que se dão no seio de nossos grupos de vida e trabalho. Essa é uma condição sine qua non para a concretização do que tão belamente dizem os documentos da Igreja e as Constituições de nossas várias famílias religiosas.
CARMELITAS: VIVER EM OBSÉQUIO DE JESUS CRISTO
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Frei Bruno Secondin O. Carm. In Memoriam
No Carmelo sempre estivemos convencidos da centralidade do seguimento do Senhor pela nossa vida. E com os novos comentários da Regra a cristologia tem sido melhor entendida e interpretada. E o cristocentrismo foi interpretado de maneira nova e mais inspiradora em comparação com a primeira. Sobretudo o sentido da frase inicial: “Viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo fielmente de coração puro e consciência reta” (R 2) foi melhor precisado. É a chamada à norma suprema irrenunciável, que deve tudo guiar e filtrar. As várias prescrições da Regra são a aplicação prática e séria do seguimento.
- Seguir e não imitar: temos prestado pouca atenção a este aspecto. E no entanto é importante, no contexto da nossa Regra. Naquele momento era intensa a religiosidade da imitação, da lembrança literal e biográfica. Pensemos no que fez São Francisco e na religiosidade popular do 1200. O Carmelo, ao invés, quis penetrar dinamicamente na identidade e sabedoria do Mestre. Trata-se de um encontro na fé e no amor, na contemplação e na partilha mútua da mesma causa e da mesma meta. Seguimento exige adesão interior, empenho aberto, adaptação e criatividade, diversificação, etc.
- Uma comunidade de discípulos irmãos é a primeira consequência: não uma comunidade para fazer alguma coisa, ligada a uma obra a fazer funcionar. Mas um discipulado que se vive em várias modalidades, seguindo o Mestre, e cadenciando o tempo de acordo com o grande mistério da salvação. Veja-se o ritmo da ascese e o do combate: estão ligados à Páscoa e às exigências do Batismo (Páscoa pessoal).
- Viver em Cristo: encontramos algumas vezes esta expressão (R 1; 18; 20). Não se trata de uma indicação genérica, mas de um valor intenso. Isto quer dizer habitar na Palavra para ser impregnados e habitados pela Palavra (R 10; 19; 22) em todas as situações da vida. E, de fato, a Regra é como uma grande lectio divina, que traduz em decisões práticas, coerentes, toda a sabedoria da Palavra.
- Viver na presença sacramental de Cristo: sobretudo na celebração da Missa se mostra-se isto central e fonte de um dinamismo transformador, excepcional. Para lá devem, cada dia vir juntos (com-venire debeatis) e de lá apreender forma e estilo nos relacionamentos mútuos. Mas podemos reconhecer que há ainda outros sinais “sacramentais”, que se ressaltam: antes de tudo os irmãos e a sua participação viva no projeto (propositum); as autoridades constituídas (o prior, o patriarca, os santos padres...) são mediação e epifania de uma presença de Cristo, que se deve acolher e amar; mas a própria estrutura do lugar é de um certo modo revelação de uma presença a ser amada e respeitada (cf. o templo no centro).
- Esperar a volta do Senhor: é um elemento muito importante na espiritualidade daquele tempo. E por isto havia tantas formas de devoção para salvar a própria alma no momento do juízo final. Na Regra este medo e esta forma de preocupação têm outro registro. Trata-se de uma espera vivida com fidelidade serena, de coração vigilante e transparência em tudo. Mas a espera da chegada definitiva torna-se sobretudo princípio inspirador para não absolutizar as normas e os resultados. Estímulo para uma identidade flexível e até mesmo nômade. “O quotidiano mover-se” até à Capela é sinal antropológico e topográfico de um caminhar rumo ao último encontro, totalmente transfigurados pela Palavra, pela Páscoa e pela fraternidade, pela sobriedade e pela vigilância.
- Uma cristologia aberta a novas experiências: justamente a falta de formas devocionais evidentes (num contexto muito fanático por devoções) e a atenção aos valores vitais da cristologia (Palavra, Páscoa, luta espiritual, serviço, fraternidade, etc.) indicam um caminho cristológico aberto e personalizado. O Carmelo que padroniza em algumas imagens a sua cristologia (p.ex. o Menino, o Mestre, flagelado, crucificado, eucarístico, Sagrado Coração) não é conforme à Regra. Quando, ao invés, sabe fazer sintonia da variedade de respostas e de símbolos, de figuras e leituras de Cristo, aí então é fiel ao propositum.
À luz da Palavra. Uma preciosa confirmação desta cristologia no-la oferece o Evangelho de João: estou pensando no momento de se formar o primeiro grupo de discípulos (Jo 1, 35-51). Para completeza seria necessário incluir também as afirmações “cristológicas” do Batista. Normalmente lemos nesta página o processo vocacional: não está aí toda a verdade desta narrativa.
- Múltiplos títulos dados a Jesus: notemos que há uma dezena de títulos diversos dados pelos discípulos para indicar o que encontraram e o que querem comunicar. Começa João Batista por chamá-lo “Cordeiro de Deus”. Depois os dois discípulos o chamam de “Mestre” (Natanael também dirá o mesmo). André fala dele a Simão e o chama de “Messias”. Filipe o descreve como “Aquele sobre quem escreveram Moisés e os profetas”; e acrescenta dados anagráficos: “Jesus, filho de José de Nazaré”. Natanael , enfim, o admira como “Filho de Deus e Rei de Israel”. Mas até Jesus mesmo se dá um título: “O Filho do homem”. Poderemos ainda acrescentar alguns títulos dados pelo Batista um pouco antes: “Aquele que existia primeiro; o habitado pelo Espírito”, “o que batiza no Espírito” (v. 33s).
- Ser discípulos para João é uma caminhada para a verdade, uma descoberta progressiva, que se torna uma confissão proclamada. Cada um contribui com a sua sensibilidade mais aberta (o Batista e André) ou mais tradicional (Natanael e Filipe). Não se trata de afirmações teóricas, de palavras já confeccionadas, que se repetem. Trata-se de uma convicção amadurecida por dentro, conservando e refletindo, interpretando. A fé que anima a comunidade nutre-se e se consolida com o caminho de fé de cada um.
- Fruto dos microprocessos pessoais de reflexão e discernimento, de assombro e dúvida é a nova comunidade. Quem encontrou alguma coisa que o “tocou” por dentro comunica-o de maneira pessoal e convicta. A primeira carta de João também ainda recorda este processo de verificação e de comunicação (cf. 1Jo 1,1-4)
- Na Regra podemos também ver que não se impõem títulos que vinculam, quanto, de preferência, horizontes em cuja direção perscrutar. Depois cada um, conforme os carismas, encontra as suas preferências de imagens e de destaques. Prova disto são os nossos grandes Santos com a variedade de linguagem cristológica. É um modelo aberto, que nós também devemos assumir em vista de uma resposta pessoal e não repetitiva.
- Na formação justamente é necessário oferecer aos jovens a possibilidade de um encontro direto e pessoal, de uma resposta pessoal e original, não puramente repetitiva ou devocional. E cada um deve tornar-se mediação para o outro, seja com as palavras, seja com os gestos, para um aprofundamento e um encontro direto e iluminador (pensemos em Cefas-Pedro e em Natanael).
- Até mesmo os próprios votos devem ser lidos e apresentados como um seguimento de Cristo pobre, casto, obediente, mas também orante e missionário. Então não haverá setores para controlar com escrúpulo, com medo de pecar. Mas serão modalidades de seguimento e de adesão conformadora, como diz a VC: “A vida consagrada constitui memória viva do modo de existir e de agir de Jesus como Verbo Encarnado diante do Pai e diante dos irmãos” (VC 22). Aí está em jogo a diferença entre um comportar-se como “religioso” e uma maturidade de “crente”: dentro deve amadurecer a “confissão” de fé.
Trabalho pessoal e em grupo:
1-Conseguimos reconhecer este tipo de cristologia na Regra?
2-Sabemos formar para uma adesão profunda e conformadora no seguimento, ou preferimos antes formas devocionais e práticas de piedade?
3-O texto de João que é que sugere para a nossa formação?
CARMELITAS: A Oração Silenciosa
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A Ratio nos diz que a oração é essencialmente um relacionamento pessoal, um diálogo entre Deus e o ser humano. Somos convidados a cultivá-la e a encontrar tempo e espaço para estarmos com o Senhor. A amizade só pode crescer através “da freqüente compatibilidade com Aquele que nos ama” (Santa Teresa d’Ávila – Livro da Vida 8,5) (Ratio 31). A Ratio continua dizendo que além de todas as questões da forma da oração, o importante é cultivar um relacionamento profundo com Cristo. Ela cita Santa Teresa mais uma vez dizendo que a oração perfeita “não consiste em muito pensar, e sim em muito amar” (Fundações 5,2; Castelo Interior 4, 1, 7) (Ratio). As Constituições nos lembram que: “A oração em silêncio é de grande ajuda no desenvolvimento de um espírito de contemplação. Portanto, devemos praticá-la diariamente por um período de tempo apropriado” (Art. 80).
Então o que é a oração em silêncio e o que é um período de tempo apropriado? Nossas vidas são muito agitadas, mas precisamos estabelecer prioridades. A oração é absolutamente essencial. O período de tempo depende do relacionamento da pessoa com Deus e, até certo ponto, depende da criatividade em encontrar espaço e tempo.
Todo relacionamento tem seu próprio ritmo. Geralmente, após um período de tempo, um relacionamento tende a ser menos complicado quando as duas pessoas se acostumam com o jeito uma da outra. Quando você não conhece bem uma pessoa, é difícil sentar em silêncio com ela. Temos a tendência de conversar. Ao conhecermos melhor a pessoa, o relacionamento torna-se mais fácil e sentar-se no silêncio amistoso torna-se normal e agradável. Quando entramos em harmonia com o outro podemos começar a ler seu silêncio. Trata-se de um relacionamento íntimo. O silêncio pode ser mais eloqüente do que muitas palavras.
É muito normal que no decorrer do tempo nossa oração se torne mais e mais simples. Pode ser que já tenhamos uma palavra que resuma tudo que queremos dizer a Deus. Dizer essa palavra significa milhares de coisas. Jesus abriu seu coração a seus discípulos e partilhou conosco o nome especial que tinha para Deus. Esse nome é “Abba”. Essa palavra contém todo relacionamento de Jesus com o Pai. É muito útil trabalhar nossa própria estenografia com Deus para que possamos lembrar durante o dia da presença constante de Deus conosco ao repetirmos uma simples palavra ou frase.
Cada relacionamento com o Senhor é diferente. Se você aproveita o máximo em sentar-se e conversar com o Senhor, ou de meditar sobre um tema, ou de ler e pensar sobre uma passagem da Escritura, ou de refletir sobre um livro espiritual, isso é bom. Por favor, continue a fazer isso. No entanto, podem existir momentos numa jornada de oração quando a pessoa se torna um pouco confusa e procura para onde ir. Também é comum ser levado ao silêncio durante a oração e, a princípio, isso pode parecer estranho e assustador. Não sabemos o que fazer e temos a sensação de estarmos perdendo tempo. A grande tentação é deixar de lado a oração porque não podemos mais encontrar o consolo que tivemos e ceder à sensação de perda de tempo. Como Santa Teresa d’Ávila, insisto que você não ceda a essa tentação e tenha uma “determinação muito determinada” de agarrar-se à oração especialmente quando ela não está de acordo com os seus planos.
É uma experiência muito comum passar por períodos prolongados de aridez na oração. Mais uma vez sentimos como se estivéssemos desistindo ou chateados. Sentimos que Deus foi embora não deixando endereço. Se, de alguma forma, mesmo no meio da confusão e da aridez, estamos convencidos do valor da oração, devemos apenas nos sentar na poeira e esperar por Deus. Em ocasiões muito estranhas em que um pensamento santo flutua sobre o rio de nossa consciência, temos a tendência de nos precipitarmos sobre ele e sufocá-lo, exaurindo-o por estarmos ressecados. No entanto, existe outra forma de lidar com esses pensamentos santos ocasionais. Não importa o quanto possam parecer santos, eles são nossos pensamentos, por isso subtende-se que deixamos que eles venham ou não. Se esses pensamentos forem verdadeiramente de Deus, retornarão em outro momento.
Existem muitos métodos de esperar por Deus no silêncio. Gostaria de propor um método de oração que pode fazer com que o silêncio seja muito produtivo e que pode nos ajudar a esperar por Deus no silêncio. Trata-se de um método de oração cristão baseado na rica tradição contemplativa e, especialmente, num livro clássico dessa tradição, “A Nuvem do Não-Saber”, um escrito anônimo do século XIV. Não estou sugerindo que devemos deixar de lado outras formas pessoais de oração, mas esse método pode aprofundar esses outros métodos e torná-los mais produtivos. O mais importante para esse tipo de oração é estar convencido de que Deus não está longe, mas muito perto. Deus faz sua morada em nós (cf. Jo 14,23).
Esse método de oração pode ser chamado de oração do silêncio ou de oração do desejo porque, no silêncio, nos voltamos para Deus com nosso desejo. Ele também foi chamado de oração em segredo, seguindo o conselho de Jesus para entramos em nosso quarto e rezarmos ao Pai ocultamente (M 6,6). A primeira fase dessa oração é encontrar um local adequado onde as interrupções sejam reduzidas ao mínimo. Depois se coloque numa posição confortável que você possa manter durante todo tempo da oração. Recomenda-se um mínimo de 20 minutos. Pode-se começar essa oração com uma pequena leitura da Bíblia. Não é hora de pensar no significado das palavras. Esse tipo de meditação fica para outra hora. Agora é hora de simplesmente estar na presença de Deus e de consentir na ação divina com nossa intenção. Então, com os olhos fechados, introduza gentilmente uma palavra sagrada em seu coração. Uma palavra sagrada é aquela que tem um grande significado para você em seu relacionamento contínuo com Deus. A palavra sagrada deve ser sagrada para você. De acordo com o ensinamento de “A Nuvem do Não Saber”, é melhor que essa palavra seja breve, de uma sílaba se possível. Sugiro algumas palavras: “Deus, Senhor, Amor, Jesus, Espírito, Pai, Maria, Sim”. Escolha uma palavra significativa para você. Talvez você pense em uma, se pedir a ajuda de Deus.
Quando peço que você introduza uma palavra sagrada no seu coração, não estou sugerindo que você a pronuncie com seus lábios, ou mesmo mentalmente, mas acolha-a dentro de você sem pensar em seu significado. Não é necessário forçar a palavra sagrada. Ela deve ser muito gentil. A palavra sagrada não é um mantra a ser repetido constantemente. A palavra concentra nosso desejo e sempre a usamos do mesmo modo simplesmente voltando nosso coração para o Senhor assim que percebemos que estamos distraídos. Essa é uma oração de intenção e não de atenção. Nossa intenção é estar na presença de Deus e consentir na ação divina em nossas vidas. A palavra sagrada expressa essa intenção e, assim, quanto tomamos consciência de que estamos pensando em algo diferente, podemos decidir se continuamos com a distração por ser mais interessante, ou se voltamos nossa intenção para a presença de Deus e consentimos com aquilo que Deus quer realizar em nós. Voltamos nosso coração para Deus pelo uso da palavra sagrada. Ela é um símbolo de nossa intenção. Não é necessário repeti-la freqüentemente, apenas quando desejamos voltar nosso coração para Deus.
Durante essa oração, não é hora de conversar com Deus usando belas palavras ou mesmo de ter pensamentos santos, mesmo se pensamos que são inspirações de Deus. É melhor deixar essas coisas para outro momento. Nosso silêncio e nosso desejo valem mais do que palavras.
Através da palavra que escolhemos, expressamos nosso desejo e nossa intenção de permanecer na presença de Deus e de consentir com a ação divina purificante e transformadora. Voltamos para a palavra sagrada, que é o símbolo de nossa intenção e de nosso desejo, apenas quando tomamos consciência de estarmos envolvidos em algo diferente.
A oração consiste simplesmente em estar na presença de Deus sem pensar em nada em especial. Se você compreende como estar em silêncio com outra pessoa sem pensar ou fazer algo em especial, então você será capaz de compreender do que trata a oração. Nem todas as pessoas se adaptam a esse método de oração. Se você sentir um chamado interior para um silêncio maior, ele pode ajudá-lo.
No final do período que você decidiu dedicar à oração, talvez você possa dizer um Pai Nosso ou outra oração lentamente. É bom permanecer em silêncio por alguns momentos para se preparar para levar o fruto de sua oração para sua vida pessoal.
(Convido você a rezar agora e usar brevemente esse método de oração em segredo. Fique à vontade e entre na sala secreta de seu coração onde Deus mora. Para marcar o final do tempo de oração recitarei lentamente uma oração comum. Esse é o momento de reajustar-se ao momento presente).
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