A última foto de Bento XVI?
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Apesar do frio e bem agasalhado com um cachecol e um gorro branco, Bento XVI sai para desmentir as declarações de seu irmão, que afirmou que ele praticamente não tem mais condições de se movimentar. E ele faz isso com uma imagem publicada nas redes sociais por Francesco Grana, do jornal Il Fatto Quotidiano. A reportagem é de Religión Digital, 20-02-2018. A tradução é de André Langer.
Na foto, o Papa emérito aparece sentado em um banco, ao lado de Grana e outra pessoa, em uma imagem muito distante daquela que teve que ser desmentida pelo Vaticano na semana passada, e que apresentava um Ratzinger imobilizado, com uma “doença paralisante”, e sem poder se comunicar. A imagem está sendo reproduzida através dos jornalistas destacados em Roma.
Santa Sé desmente que Bento XVI tenha uma doença paralisante
Bento XVI não pode caminhar, nem se levantar sozinho. “Meu irmão sofre uma doença debilitante”, segundo seu irmão, Georg Ratzinger. Afirmações que foram desmentidas oficialmente pela Sala de Imprensa do Vaticano. A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 15-02-2018. A tradução é do Cepat.
“As supostas notícias de uma doença debilitante ou degenerativa são falsas”, esclareceu a Sala de Imprensa do Vaticano. “Dentro de dois meses, Bento XVI completará 91 anos e, como ele mesmo disse recentemente, sente o peso dos anos, como é normal nesta idade”, acrescentou.
Em uma entrevista a Neue Post, e que havia sido publicada pela versão alemã Vatican News, o irmão padre confirmava o que todos pensavam quando o Papa eméritoescreveu, na semana passada, ao Corriere della Sera: estamos assistindo aos últimos dias do pontífice alemão.
Por causa de seu estado de saúde, Ratzinger se vê obrigado a “recorrer à cadeira de rodas”, e sua saúde vai se apagando lentamente, segundo seu irmão. “A maior inquietação é que a paralisia acabe chegando em seu coração, e então tudo poderia acabar velozmente”, afirmou Georg.
“Rezo todos os dias para pedir a Deus a graça de uma boa morte, em um bom momento, para mim e para meu irmão. Ambos temos este grande desejo”, acrescentou. Georg Ratzinger, quatro anos mais velho que seu irmão, estava prevendo visitar Bento XVIno dia 8 de abril, uma semana antes de seus 91 anos (no dia 16), “mas é muito tempo, quem sabe o que acontecerá até então”.
Apesar de tudo, os dois irmãos falam por telefone com certa assiduidade. Perguntado sobre isso, o porta-voz vaticano, Greg Burke, não quis fazer comentários, embora tenha se remetido à carta que o próprio Papa emérito enviou, na semana passada, ao Corriere, e na qual falava de seu “último trecho do caminho” e o declive de suas forças físicas. No último domingo, completaram-se cinco anos do anúncio da histórica renúncia de Bento XVI, que se efetivou no dia 28 desse mês. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
*22 de fevereiro - Cátedra de S. Pedro
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Ao instituir sua Igreja sobre a profissão de fé do Apóstolo Pedro, Nosso Senhor lhe afirmou: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus. Tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus. E tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus” (Mt 16,19).
De acordo com São Leão Magno, Pedro tornou-se, então, pela força do próprio ministério que lhe foi conferido pelo Senhor, o guia de todos aqueles que têm a Cristo como chefe supremo.
Deus dignou-se conceder a esse homem uma grande e admirável participação no seu poder (Cf. Leitura patrística de hoje na Liturgia das Horas, pp. 1452-1454). O próprio Jesus nos atesta que, ao professar a fé na sua divindade e messianidade, Pedro não o fez por mero poder humano, mas por revelação do Pai que está nos céus (Cf. Mt 16,16-17).
É esta mesma inspiração e assistência divina que acompanha a Pedro e seus sucessores no múnus de ensinar as coisas da fé a todos os discípulos do Senhor. Assim diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC): “Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos Apóstolos, Cristo, que é a Verdade, quis tornar a Igreja participante de sua própria infalibilidade. Pelo sentido sobrenatural da fé, o povo de Deus adere infalivelmente à fé, guiado pelo Magistério vivo da Igreja” (CIC 889).
Mais tarde, diz o mesmo Catecismo: “Goza desta infalibilidade o Romano Pontífice, chefe do Colégio dos Bispos, por força de seu cargo, quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de doutrina que concerne à fé ou aos costumes (...). Quando a Igreja propõe alguma coisa a crer como sendo revelada por Deus, como ensinamento de Cristo, é preciso aderir na obediência da fé a tais definições, pois a infalibilidade tem a mesma extensão que o próprio depósito da revelação divina” (Cf. CIC 891).
O que nós chamamos de “Cátedra de São Pedro” é este poder concedido ao Apóstolo de confirmar na fé todos os que são de Cristo, como diz hoje a antífona do Cântico Evangélico das Laudes (Cf. Lc 22,32). Cátedra significa literalmente a cadeira na qual se senta aquele que tem a autoridade de Juiz ou de Mestre.
A Igreja de São Pedro, na cidade de Roma, dispõe de uma grande Cátedra, que é símbolo do magistério universal, colocada no coração da grande nave central. Esta foi concebida pelo grande arquiteto Lorenzo Bernini, trabalho que lhe foi confiado pelo Papa Alexandre VII, em 1663. Simboliza o Magistério supremo dos papas, Magistério infalível a partir das palavras do próprio Senhor.
O Papa João Paulo I, que governou a Igreja por apenas 32 dias em 1978, em sua grande simplicidade, deixou-nos uma definição popular desta Cátedra nas suas palavras: “Eu sou pecador, como todos os meus irmãos na fé. Não desejo que me chamem de ‘Sua Santidade’, nem quero que me tenham por infalível. Mas devo ensinar, sem erro, na mais absoluta fidelidade a Cristo, somente aquilo que o próprio Cristo me autoriza. Um dos meus irmãos no episcopado me sussurrou, quando eu tentava esquivar-me do cargo: ‘Coragem, Cardeal Luciani! Quando o Senhor nos dá um fardo, dá-nos também a força de carregá-lo’. Outro me disse: ‘Coragem, pois em todo mundo há tantas pessoas que rezam pelo novo papa’. Por isso, eu aceitei, e espero que todos vocês me ajudem com as suas orações, a fim de que, no meu testemunho da fé, mesmo que eu não tenha a sapientiam cordis (sabedoria de coração) do Papa João, e nem a grande cultura teológica do Papa Paulo, eu possa, assistido pelo Espírito Santo, servir de coração a Igreja” (Alocução do dia da eleição de João Paulo I, na Praça São Pedro).
É o apelo que deixamos a todos nesta festa: oremos sempre pelo Santo Padre. Assim nós o ajudaremos a governar e a servir a Igreja.
*(Reflexão do padre Paulo de Souza OSB, Mosteiro de São Geraldo, São Paulo). Fonte: www.facebook.com/vaticannews.pt
RETIRO DO PAPA: Oitava meditação: "Crer em Deus é, portanto, crer na misericórdia"
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Padre José Tolentino Mendonça, sacerdote português convidado pelo Papa Francisco para pregar o retiro anual da Cúria Romana, fala na sua oitava meditação sobre o poder restaurador da misericórdia de Deus.
“De verdade é importante a experiência de relação que ali se manifesta – parábola do filho prodigo – e se recompõe. (...) temos a oportunidade de observar as nossas mesmas passagens, externas e interiores, e de olhar com profundidade a nossa história.” Assim inicia, Padre José Tolentino Mendonça, sacerdote português que está pregando o retiro ao Papa e seus colaboradores.
Na meditação sobre a parábola do filho prodigo, quando se refere ao filho mais novo Padre Jose fala que “é uma história que nos pega dentro. E nesse espelho tem tudo: o desejo de liberdade do filho mais jovem, os seus sonhos sem fundamento, os passos falsos, a fantasia da onipotência, a sua incapacidade de reconciliar desejos e leis. Com um resultado previsível: o vazio e a solidão. Se descobrira completamente sozinho”.
Fazendo uma comparação, o filho mais velho, segundo o pregador ressalta que ele tem “a dificuldade de viver a fraternidade, a recusa de alegrar-se do bem do outro, e a incapacidade de viver a lógica da misericórdia. Não consegue resolver a relação com seu irmão, ainda cheia de agressividade, com uma barreira e violência. E nem mesmo a relação com o Pai é totalmente integrada: ele nutre ainda a expectativa da recompensa.”
“No filho mais velho não é o problema com a lei, mas com a generosidade do amor. E isto é uma das doenças dos desejos”. E afirma que todos nós somos também assim: contradições de sentimentos. E esta completa ambivalência humana, é o maior elogio da misericórdia de Deus, que a parábola, ilumina.”
E afirma ainda, que “ dentro de nós, em verdade não existem somente coisas bonitas, harmoniosas e resolvidas. Dentro de nos existem sentimentos sufocados, tantas coisas que devem se tornar claras, doenças, inúmeros fios para se conectarem. Existem sofrimentos, âmbitos que devem ser reconciliados, memorias e fissuras que se devem deixar Deus curar.
A pergunta é: a que ponto nos deixamos reconciliar? Mas reconciliar profundamente, com a lógica do Evangelho, e no mais profundo de nós?”
Reforçando ainda mais a importância da misericórdia, afirma que “este excesso de amor que Deus nos ensina, está em condições de resgatar-nos. Cada um de nós possui uma riqueza interior, um mundo de possibilidades, mas também limites com os quais, em um caminho de conversão, é necessário confrontar-se”.
Comparando os desejos, afirma eu os errados, ou como define de “os desejos soltos – uma realidade que o nosso tempo promove – desencadeia em nós movimentos errados e irresponsáveis, a pura inconstância, o hedonismo e um rodamoinho enganador”. E que os verdadeiros “ao invés, é assinalado com uma carência, uma insatisfação, de uma sede que vem de um principio dinâmico e projetivo. I desejo é literalmente insaciável, pois aspira a isto que não pode ser possuído: o senso. Assim, o desejo no se sacia: se aprofunda.”
Quando chega especificamente na figura do Pai –na parábola- reflete o poder curador da sua misericórdia. O Pai sabe que “tem dois filhos e entende que deve relacionar-se com eles de modo diferente, reservar a a cada um, olhares diferentes”, cada um com os seus desejos. Nesta reflexão sobre o Pai, Padre Jose diz:
“Jesus não perde tempo explicando a razão porque o filho mais jovem quer ir embora, mas que o Pai aceita o espaço que o filho pretende, acolhe o risco da sua liberdade, e simplesmente o ama. E que depois no seu retorno, cobre de beijos aquela vida infeliz, e a faz totalmente amável”.
E não somente os desejos do filho mais novo deve ser curado pela misericórdia, diz o pregador, mas também os do seu primogênito. “O Pai vai ao seu encontro. O Pai da dignidade a indignação do filho mais velho, vai escuta-lo, sai, desce para busca-lo. Essa misericórdia de escutar os outros até o fim. E a misericórdia gera uma das mais belas declarações de amor que um Pai possa dedicar ao filho: ‘Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é teu” (Lc 15,31).
Para concluir, afirma sobre a misericórdia: “A misericórdia é isso. Um dever a qual ninguém nos obriga, mas uma obrigação que nasce da esperança. É o bem mais precioso e deve ser vitoriosa sobre todas as mortes. Quem crê que a misericórdia seja fácil, é porque nunca a viveu e nem a experimentou. A misericórdia está entre as coisas mais exigentes e empenhativas. Porem não tem vida sem misericórdia. A misericórdia é um dos atos soberanos de Deus. Crer em Deus é, portanto, crer na misericórdia”. Fonte: http://www.vaticannews.va
QUINTA 22: Festa da Cátedra de São Pedro
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Hoje a Igreja celebra a festa da Cátedra de São Pedro, um convite a recordar as palavras de Jesus: “E Eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”(Cf.Mt 16,18).
Pe Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
Hoje a Igreja celebra a festa da Cátedra de São Pedro. É uma comemoração que remonta ao século IV recordando o primado e a autoridade de São Pedro, primeiro Papa da Igreja Católica.
Esta festa nos recorda da autoridade dada por Jesus a Pedro, quando diz: “E Eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”(Cf.Mt 16,18). Porém esta autoridade concedida a Pedro, nos recorda que primeiro ele realizou a sua profissão de fé ao dizer “Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo” (Cf. Mt 16,16).
A palavra “cátedra” significa assento ou trono e é a raiz da palavra catedral, igreja onde governa o bispo. Cada diocese no mundo existe uma catedral, de onde o bispo, que é a autoridade máxima naquela igreja local, deve conduzir com caridade o povo a ele confiado. O Papa é o bispo de Roma, governa esta diocese, de onde confirma e une toda Igreja no ministério petrino.
A Cátedra que está na Basílica de São Pedro, em Roma, foi dada de presente ao Papa João VIII pelo Rei Carlos, de França, conhecido como o calvo. Ela foi dada ao papa por ocasião da coroação do rei como imperador romano no ocidente. E esta cátedra é conservada como uma relíquia, em uma composição barroca, obra do artista Gian Lorenzo Bernini construída entre 1656 e 1665.
Esta esplendida imagem artística de Bernini, que se vê da entrada da Basílica de São Pedro, é feita de bronze e decorada com um relevo escrito “traditio clavum”, ou seja, “entrega de chaves”, e da o nome ao altar que se encontra abaixo de “altar da cátedra”.
Ela é sustentada por quatro grandes imagens de bronze, que representam grandes doutores da Igreja, Santo Agostinho e Santo Ambrósio da Igreja Latina e Santo Atanásio e São João Crisostómo da Igreja Oriental.
Sobre a cátedra aparece reluzente um grande sol de alabastro, rodeado de anjos dourados que embelezam uma imagem do Espírito Santo em uma vidraça no formato de pomba de 1.62 cm de envergadura. Esta belíssima imagem representa que na condução da Igreja, por meio do Papa, está o próprio Espírito. Um grande detalhe é que é a única vidraça colorida dentro da basílica.
Neste dia de festa a basílica recebe milhares de peregrinos que vem para venerar a imagem de São Pedro e rezar pelo Papa, além das diversas orações realizadas em todas as dioceses do mundo. O “altar da cátedra” permanece iluminado durante todo o dia. Dezenas de velas rodeiam o monumento, e se celebram varias missas ao longo do dia, encerrando com a missa do Cabido de São Pedro.
Recordemos de sempre rezarmos pelo Papa Francisco, como ele mesmo sempre nos pede, de modo especial hoje no qual celebramos esta grande festa. Rezemos por ele, e por todas as suas intenções. Fonte: http://www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: Sétima meditação: "Beber da própria sede"
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"O grande obstáculo para a vida de Deus dentro de nós não é a fragilidade ou a fraqueza, mas a dureza e a rigidez. Não é a vulnerabilidade e a humilhação, mas seu contrário: o orgulho, a autossuficiência, a auto justificação, o isolamento, a violência, o delírio de poder", afirma o sacerdote português.Cidade do Vaticano
“Jamais é positivo que a Igreja fique falando sozinha, ou que se isole numa torre de marfim. Ela é mestra, mas é também discípula, também aprendiz e em busca da verdade.” É uma das afirmações do pregador dos Exercícios Espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana, Pe. José Tolentino Mendonça, na sétima meditação, na tarde desta quarta-feira (21/02), intitulada “Beber da própria sede”. Iniciado no domingo, o Retiro Espiritual de Quaresma, em andamento na Casa Divino Mestre de Ariccia, nas proximidades de Roma, prosseguirá até a próxima sexta-feira.
Desenvolvida em sete pontos, na introdução à meditação vespertina o sacerdote português advertiu que com grande facilidade nos tornamos custódios do sagrado, ao invés de pessoas em busca do sagrado. Agimos como administradores, ao invés de considerar-nos exploradores, interrogantes e apaixonados.
Fé cristã, experiência de nomadismo
Feita tal consideração, lembrou que a fé bíblica, a nossa fé cristã, é uma experiência de nomadismo. Alguns cientistas estão lançando o alarme: a doença do Séc. XXI será o sedentarismo, afirmou, questionando se não devemos nos perguntar se o sedentarismo não é também espiritual. Quase sem dar-nos conta, tornamo-nos guias de peregrinos, mas não mais peregrinamos.
“ Temos sempre a caridade na boca, mas de há muito perdemos o sentido da gratuidade e da oblação.”
Aquela palavra inicial que Deus diz a Abraão – “Deixa a tua terra, a tua parentela e a casa de teu pai rumo à terra que te indicarei” – é a mesma que Ele diz à Igreja do nosso tempo e a cada um de nós. “O lugar preferencial em que a fé se inscreve é existir-em-construção”, disse o pregador dos Exercícios.
Segundo Pe. José Tolentino, para que isso seja possível devemos aprender a beber da nossa sede. Isto é, “devemos ousar valorizá-la mais espiritualmente”.
Acolher no vazio a voz de Deus
Uma das ameaças que mais desafiou o Povo de Deus em sua caminhada rumo à Terra Prometida foi precisamente a sede, lembrou ele. Mesmo quando experimentamos a vida como um vazio, acrescentou, o grande desafio é acolher nele a voz de Deus.
Como ensina o Mestre Eckhart, Deus fala na posse e na privação. Aliás, na privação muitas vezes se entende melhor a sua voz. Se a sede nos perturba ou nos devora, façamos um caminho.
A fé não resolve a sede, advertiu. Muitas vezes a intensifica, a leva ao descoberto e, em algumas circunstâncias, a torna ainda mais dramática.
“ A fé nos ajuda a ver na sede uma forma de caminho e de oração.”
Em nenhuma etapa o caminho espiritual nos impermeabiliza da vulnerabilidade, da qual devemos ter consciência. Carregamos nosso tesouro em vasos de argila – nos recorda São Paulo, frisou Pe. José Tolentino. Somos por isso chamados a viver o dom de Deus até o fim, na fragilidade, da fraqueza, na tentação e na sede, afirmou.
Os problemas que vivemos podem variar de gênero, podem mudar de frequência, mas nos acompanharão sempre. As tentações existirão sempre. O que muda, num processo de maturação humana e espiritual, é o nosso modo de acolhê-las, a sabedoria ao interpretá-las, a liberdade interior que desfaz os determinismos. É como se a sede nos humanizasse e constituísse um caminho de amadurecimento espiritual, disse ainda.
Na sede, a verdadeira experiência espiritual
O pregador dos Exercícios Espirituais lembrou ainda que o Apóstolo Paulo testemunha a fé como uma hipótese: quando sou fraco, então é que sou forte. A fé resiste e se aprofunda nas necessidades, nas angústias, nas afrontas, nos sofrimentos, ou seja, dentro de uma existência atacada pela sede. Naturalmente, é um paradoxo, afirmou, “mas é aí que se realiza a verdadeira experiência espiritual.
O grande obstáculo para a vida de Deus dentro de nós não é a fragilidade ou a fraqueza, mas a dureza e a rigidez. Não é a vulnerabilidade e a humilhação, mas seu contrário: o orgulho, a autossuficiência, a autojustificação, o isolamento, a violência, o delírio de poder. A força da qual realmente precisamos, a graça de que necessitamos, não é nossa, mas de Cristo, afirmou Pe. José Tolentino acrescentando que se nos dispormos à escuta, “a sede pode ser um mestre precioso da vida interior.” Fonte: http://www.vaticannews.va
Dom Orani conclama cariocas a unirem-se contra a violência que assola o Estado
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Em meio à escalada de violência pela qual passa o país, a Igreja no Brasil lançou recentemente a Campanha da Fraternidade 2018 com o tema “Fraternidade e Superação da Violência”. O fato é que a temática foi escolhida ainda em 2016, quando o Brasil teve recordes de mortes violentas, como homicídios e latrocínios. Foram cerca de 62 mil vítimas, o equivalente a 168 por dia, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Em 2017, os dados não relevaram estatísticas diferentes, a não ser o aumento no número de assassinatos, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública. No primeiro semestre foram cerca de 1800 homicídios a mais do que no mesmo período em 2016, indicando uma severa crise na segurança pública do país. Tal crise foi vivenciada já no início de 2018, após a onda de violência registrada no Estado do Rio de Janeiro, no período do carnaval. Houve arrastões, assaltos, roubos, além do registro de mortes.
Após a série de ataques, o presidente Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Com a medida as Forças Armadas assumem a responsabilidade do comando das Polícias Militar e Civil no Estado. A decisão passa pelo crivo do Congresso Nacional. Segundo o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, o decreto é uma nova tentativa de fazer com que a ordem e a segurança aconteçam no estado.
“Claro que isso vai passar ainda pelo Congresso Nacional, pela aprovação do Senado e da Câmara, como é normal quando é algo relativo à Constituição. Dessa vez, será de maneira um pouco diferenciada. Se até agora temos a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – medida que ocorre em casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em graves situações de perturbação da ordem –, com a atuação das Forças Armadas, a partir de agora teremos um interventor na segurança pública e todas as questões estaduais estarão sujeitas a essa intervenção, afirma dom Orani.
O cardeal espera que a medida seja uma renovação dos vários componentes do militarismo e estima que a mesma ajude às forças que não dependem do estado para que todos trabalhem em conjunto para que se tenha “dias melhores, paz e liberdade de ir e vir na cidade”. “Esperamos que seja um momento especial, que muitas questões sejam resolvidas, questões essas que já estão se acumulando há anos. Creio que essas tentativas de intervenção já existiram há muito tempo, seja através das invasões nas comunidades ou com o GLO que já está presente. Porém, vendo as coisas piorarem cada vez mais, essa é uma atitude, recente, nova e extraordinária”, garante o bispo.
Superação da violência
Na busca de caminhos para a Superação da Violência, tema da CF 2018, dom Orani lançou uma carta pastoral, na qual fala a todos que estão preocupados com a violência e buscam soluções para o problema. No texto o bispo conclama a todos, especialmente os cariocas, para que se unam no tempo quaresmal à Igreja e em todo o Brasil, para trabalhar a favor da superação da violência.
Na carta, dom Orani afirma que o enfrentamento da violência é feito através de vários caminhos. O primeiro deles, segundo o bispo, é a tomada de consciência de que a violência não se encontra apenas fora de “nós”. Ele afirma que a mesma já tomou conta de cada pessoa. O segundo caminho, ainda de acordo com o bispo, seria a denúncia de todas as formas de violência, suas causas e consequências. “Não há como calar. Não há como manter-se afastado das vítimas, consolando-se com o fato de a violência não ter nos atingido. Se um irmão sofre, todos sofrem com ele, pois nós todos, lembra-nos o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, somos irmãos”, enfatiza. Fonte: http://cnbb.net.br
RETIRO DO PAPA: Sexta meditação: "A sede de lágrimas que devemos aprender"
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O sacerdote Tolentino Mendonça continuou a série de pregações ao Papa e seus colaboradores. "As lágrimas podem nos tornar santos, depois de humanos", afirmou.
Cidade do Vaticano
Na localidade de Ariccia, ao sul de Roma, o Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria prosseguem os exercícios espirituais até sábado (24/02). Na manhã desta quarta-feira (21/02), o pregador, Pe. Tolentino Mendonça, propôs uma meditação intitulada “As lágrimas que falam de uma sede”, inspirada na presença feminina no Evangelho.
As mulheres nos abrem o Evangelho
Padre Tolentino ressaltou que as mulheres, na narração evangélica, se expressam quase sempre com gestos. Dedicam-se ao serviço, não competem pela liderança; estão ‘com’ Jesus e fazem de seu destino o próprio. ‘Servem’, que na gramática de Jesus, é o verbo mais nobre.
“ Com esta linguagem, evangelizam com o modo dos periféricos, dos simples, dos últimos ”
Uma espécie de sede
Curiosamente, no Evangelho de Lucas, um dos elementos que une as personagens femininas são as lágrimas: todas choram, expressando emoções, conflitos, alegrias, solidão ou feridas. Nos Evangelhos, Cristo também chora, assumindo a nossa condição e todas as lágrimas do mundo. Elas explicam a nossa sede de vida, de desejo; de relação. São a linha divisória que distingue os seres que sabem tudo dos seres que não sabem nada. São aquilo que pode nos tornar santos depois de humanos.
As lágrimas da mulher sem nome
O Evangelho de Lucas apresenta uma mulher que chora e ensina a chorar: uma intrusa, discípula anônima que segue o Mestre confiante que Ele a protegerá. Aparece sem ser convidada, unge e chora aos pés de Jesus. Não teve medo, mas suas lágrimas ‘contavam sua história’, como afirma o escritor Roland Barthes. Nosso choro não revela apenas a intensidade da nossa dor, mas a natureza de nossa sensibilidade pois chorando, nos dirigimos sempre a alguém. É a sede do próximo que nos leva a chorar.
“ As lágrimas suplicam a presença de um amigo capaz de acolher nossa intimidade sem palavras e abraçar a nossa vida, sem julgar ”
Vê esta mulher?
Prosseguindo a meditação, Pe. Tolentino afirmou que o pranto da mulher intrusa era um ‘dilúvio’: ela banhou os pés de Jesus, os enxugou com os cabelos, os beijou e perfumou”. Em uma palavra, ‘tocou’ Jesus.
“ Como sacerdotes, muitas vezes tomamos distância da religiosidade popular que se expressa com lágrimas e afetividade, considerando-a uma forma de devoção ‘primitiva’; ou às vezes nem a notamos ”
“É difícil perceber a religião dos simples, baseada em gestos e não em ideias. A religião dos pastores pode ser perfeita em termos formais, teologicamente impecável, mas é ascética, impessoal, atuada com eficiência... mas não comove, não chega às lágrimas... vai com o ‘piloto automático’”.
“Repete-se conosco – concluiu o pregador – o que aconteceu com o fariseu: convidamos Jesus a entrar em nossa casa, mas não somos disponíveis a celebrar com Ele aquela forma radical de hospitalidade que é o amor”. Fonte: http://www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: Quinta meditação: "A sede de Jesus"
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A sede de Jesus é a sede de dar água viva, a sede de conceder à Igreja o dom da água viva.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana prosseguem os exercícios espirituais na Casa Divino Mestre, em Ariccia.
“A sede de Jesus” foi o tema proposto na quinta meditação pelo pregador do retiro, Pe. José Tolentino de Mendonça, na tarde desta terça-feira (20/02).
O sacerdote português iniciou a meditação com um trecho do Evangelho de João em que Jesus, após ter sido pregado na cruz, diz: “Tenho sede.” Os Padres da Igreja interpretaram essa sede de Jesus sobretudo como “sede corporal”, não dando muito valor ao sentido metafórico contido nessa declaração.
“A sede física documentava de forma convincente que Jesus era de carne e osso como toda pessoa”, mas tinha sede “da salvação dos homens”.
A sede da samaritana e a sede de Jesus
No encontro com a samaritana, Jesus pede água, mas é ele quem dá de beber e promete-lhe a “água viva”. A samaritana não entende imediatamente as palavras de Jesus, “as interpreta como sede física, mas desde o início Jesus dava um sentido espiritual”.
“O seu desejo sempre visava outra sede”, conforme explicou à samaritana: «Se você conhecesse o dom de Deus, e quem lhe está pedindo de beber, você é que lhe pediria. E ele daria a você água viva.»
Segundo Pe. Tolentino, “a sede Jesus parece se extinguir somente quando ele se proclama fonte de água viva e abre à promessa do dom do Espírito”.
“A sede é o selo do cumprimento de sua obra e, ao mesmo tempo, do forte desejo de doar o Espírito, verdadeira água viva capaz de saciar radicalmente a sede do coração humano.”
O pregador do retiro explicou que a sede da qual Jesus fala é uma sede existencial que se extingue, quando a nossa vida se converge em direção ao Senhor.
“Ter sede, é ter sede Dele. Somos chamados a viver de uma centralidade cristológica: sair de nós mesmos para buscar em Cristo aquela água que sacia a nossa sede, vencendo a tentação da autorreferencialidade que nos deixa doentes e tiraniza”.
“A sede de Jesus é a sede de dar água viva, a sede de conceder à Igreja o dom da água viva. Para os fiéis, a sede de água viva é a sede de aprofundamento da fé, sede de penetrar no mistério de Jesus, sede do Espírito. Para Jesus, a sede é o desejo de comunicar todos esses dons.”
A sede de Jesus revela a sede humana
Segundo Pe. Tolentino, “a sede de Jesus ilumina e responde à sede de Deus à falta de sentido e verdade, ao desejo de todo ser humano de ser salvo, mesmo que seja um desejo oculto ou enterrado debaixo dos detritos existenciais”.
O “Tenho sede”, proclamado por Jesus, envolve a Igreja de todos os tempos, em particular a nossa.
A esse propósito, o sacerdote português citou como exemplo Madre Teresa de Calcutá, que em 10 de setembro de 1946, a bordo de um trem que ligava Siliguri a Darjeeling, na Índia, viveu uma forte experiência espiritual: “de forma quase física sentiu a sede de Jesus que a chamava a dar a vida a serviço da sede dos pobres e rejeitados, dos últimos dos últimos. O coração e a alma das Missionárias da Caridade é somente este: a sede do coração de Jesus escondido no pobre.”
Acolher o Espírito, dom da sede
O Espírito continua nos fazendo ouvir a voz de Jesus que nos diz: “Tenho sede!”
“Ele é o dinamismo do Ressuscitado em nós. O Espírito é a continuação dessa história, uma continuação que não é repetida, não é sempre a mesma. É a fantasia do Espírito, a sua criatividade que difunde em nós dons diferentes, carismas diferentes, competências complementares a fim de construirmos o Reino de Deus onde quer que estejamos.”
O Espírito “é a força motriz da vida da Igreja e da vida de todo cristão. Por isso, precisamos do Espírito Santo e devemos redescobrir a fé em seu poder. Muitas vezes o Espírito Santo permanece completamente esquecido. Devemos redescobrir o Espírito Santo, porque sem Ele a Igreja é somente memória, o que fazemos é somente uma recordação do que foi. É o Espírito que diz: o cristianismo é também presente e futuro”, disse Pe. Tolentino.
“Somos chamados a viver na esperança toda situação da vida. Às vezes, somos uma Igreja em que falta a vivacidade do Espírito, a juventude do Espírito. É o Espírito que nos dá o sentido de plenitude, o sentido da missão e que nos torna uma Igreja em saída.” Fonte: http://www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: Quarta meditação: "A sede de nada que faz adoecer"
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Nesta terça-feira (20/02), o pregador dos exercícios espirituais, Pe. José Tolentino Mendonça, refletiu sobre o contrário da sede: a preguiça - a 'atonia' da alma - e seus efeitos.
Cidade do Vaticano
Prosseguem na Casa Divino Mestre, em Ariccia, os exercícios espirituais do Papa Francisco e de seus colaboradores da Cúria. Na manhã desta terça-feira (20/02), o pregador do retiro, Pe. José Tolentino Mendonça, propôs uma meditação intitulada “Esta sede de nada que nos faz adoecer”.
O contrário da sede é a preguiça – disse o sacerdote. Quando perdemos a curiosidade e nos fechamos ao inédito ficamos apáticos e começamos a ver a vida com indiferença. Por sua vez, a sede nos ensina a arte de procurar, de aprender, colaborar, a paixão de servir.
“ Quando renunciamos à sede, começamos a morrer ”
Existem muitos sofrimentos escondidos cujas origens devemos descobrir e que segundo o pregador, se escondem no mistério da solidão humana.
Quando nos sentimos em ‘burnout’
Um dos problemas mais comuns hoje é o chamado ‘burnout’: sentir-se em curto-circuito, esvaziado de energias físicas e mentais. Este esgotamento emocional é definido por alguns como ‘síndrome do bom samaritano desiludido’ e atinge muitas pessoas que fazem da ajuda e da cura do próximo sua ocupação principal. Como os sacerdotes.
Pe. Tolentino mencionou uma pesquisa realizada entre o clero da Diocese de Pádua (Itália), que apontou que os sacerdotes com maior risco de burnout são os jovens (25-29 anos) e os mais idosos, com mais de 70 anos. Dentre as causas deste mal-estar, estão o peso excessivo das expectativas (pessoais e dos outros), a ausência de uma vida espiritual, o temor do juízo, a exposição demasiada a situações humanas difíceis, pouca solidariedade entre os sacerdotes, incapacidade de se comunicar...
Quando nos sentimos amados como pessoas, amparados com afeto e acompanhamento, sabendo que nosso trabalho interessa, envolve e apaixona, temos a certeza de existir. Mas quando nos sentimos abandonados, incompreendidos e com o coração ferido por dores que não sabemos curar, temos a impressão de não contar nada para ninguém.
“Fica só um vazio, uma ‘cratera’ existencial a ser preenchida com angústias e mundanidades: álcool, redes sociais, consumismo ou hiperatividade ”
A este respeito, o padre lembrou que somos todos diferentes, cada um com sua beleza e fragilidades. A beleza humana é aceitar-se como somos; não viver nos sonhos ou ilusões, na raiva e na tristeza. Ter o direito de ser o que somos... e seremos amados por Deus e preciosos a seus olhos.
Jonas ou a necessária terapia do desejo
Recorrer à terapia do humor para satisfazer o desejo: o livro bíblico de Jonas nos faz sorrir salutarmente de nós mesmos, ao invés de dramatizar. Ele nos diz que a sabedoria está nos anunciadores de esperança e não nos apocalíticos pregadores de tragédias.
A anatomia da tristeza
‘Um dos sinônimos da preguiça, a ‘atonia’ da alma, é a tristeza’, afirmou o pregador.
“ Nem sempre o problema é o excesso de atividade, mas atividades mal vividas, sem motivação adequada, sem a espiritualidade que a torna desejável ” Em relação à pastoral, a preguiça pode ter diferentes origens: insistir em projetos irrealizáveis; não aceitar a evolução dos processos; perder o contato real com as pessoas, não saber esperar, querer dominar o ritmo da vida... A ansiedade de obter resultados imediatos... a sensação de fracasso, de ser criticado, de cruz.
Aprendam de mim: ‘vem’
Pe. Tolentino concluiu sua meditação relacionando a nossa sede ‘de água’ com a palavra que revela a necessidade profunda, íntima e dolorosa ‘vem’, que a Igreja experimenta com a chegada no Espírito. Nesta palavra está o sinal de tudo o que precisamos, a razão de nossa esperança e ao mesmo tempo, a razão de nosso fracasso, cansaço... e a necessidade de superar tudo isso em Deus. Fonte: http://www.vaticannews.va
O RETIRO DO PAPA: 3ª meditação: escutar a própria sede é interpretar o desejo que temos em nós
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Nós batizados formamos uma comunidade de desejosos? Os cristãos têm sonhos? A Igreja é um laboratório do Espírito onde nossos filhos e filhas profetizam, nossos anciãos têm sonhos e nossos jovens constroem novas visões, não somente religiosas? - pergunta o pregador, Pe. José Tolentino.
Cidade do Vaticano
“Há em nossas culturas e, ao mesmo tempo, em nossas Igrejas, um déficit de desejo. Quando se percebe, no momento atual, o emergir, e em escala cada vez maior, de sujeitos sem desejo, isso deve levar-nos a uma autocrítica eclesial.” É uma constatação e uma das afirmações candentes contidas na meditação vespertina do pregador dos Exercícios Espirituais, Pe. José Tolentino de Mendonça, propostos ao Papa e à Cúria Romana em Ariccia, nas proximidades de Roma, cujo Retiro Espiritual de Quaresma prosseguirá até o próximo sábado. Tratou-se da terceira meditação, após a primeira da tarde de domingo e a seguinte da manhã desta segunda-feira (19/02/2018).
O infinito do desejo é desejo de infinito
Intitulada “Dei-me conta de ser sedento”, a meditação da tarde desta segunda-feira articulou-se em quatro pontos, concluindo-se com a "oração da sede".
Perder o medo de reconhecer nossa sede
O pregador partiu de quatro verbos – irrigar, fecundar, germinar – para falar inicialmente de um processo de revitalização do terreno qual metáfora da nossa vida. Tendo advertido que a transformação não se dá se impermeabilizamos a vida em sua crosta, afirmou que devemos perder o medo de reconhecer a nossa sede e o nosso ser sedento.
Na meteorologia se usa uma tabela, o Índice de Palmer, para medir a intensidade da seca em seus vários estágios, afirmou. E a intensidade da seca espiritual, como se mede? – perguntou-se o pregador dos Exercícios.
“Intelectualizamos demasiadamente a fé. Construímos um fenomenal castelo de abstrações”, observou. “Preocupamo-nos mais com a credibilidade racional da experiência de fé do que com a sua credibilidade existencial, antropológica e afetiva”, constatou.
“ Ocupamo-nos mais da razão do que do sentimento. Deixamos para trás a riqueza do nosso mundo emocional. ”
Feitas tais constatações, citou o teólogo canadense Bernard Lonergan, que evocava a necessidade de olhar mais, na construção doutrinal, para o significado das nossas emoções. Em suas considerações sobre o estado da nossa sede recorreu à literatura, que nos é de auxílio, ressaltou.
Escritores e poetas são importantes mestres espirituais
Em nossos dias assistimos cada vez mais a utilização da literatura ao fazer teologia, afirmou, acrescentando que hoje estamos compreendendo melhor que os escritores e os poetas são mestres espirituais importantes. Após destacar que as obras literárias podem ser de grande utilidade em nosso caminho de maturação interior, frisou que uma das razões fundamentais é que “a vida espiritual progride somente quando é uma revisitação da existência em sua totalidade, em sua diversidade.
Para tal citou, entre outros, a escritora brasileira Clarice Lispector, a qual, com a força de uma declaração autobiográfica, narra a tomada de consciência da intensidade de sua sede.
Falar de sede é falar da existência real e não da ficção de nós mesmos à qual muitas vezes nos adequamos. E iluminar uma experiência, mais que um conceito, acrescentou Pe. José Tolentino, advertindo em seguida para a dificuldade que podemos ter até mesmo de reconhecer o nosso ser sedento.
Desejo da verdade, beleza e bondade
Escutar a própria sede é interpretar o desejo existente em nós. Desejo incessante da verdade, da beleza e da bondade que faltam. O pregador dos Exercícios Espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana advertiu ainda que devemos distinguir o desejo de uma mera necessidade, que se aplaca e se satisfaz com a posse de um objeto. Não confundamos desejo com as necessidades. A necessidade é uma carência contingente do sujeito. O infinito do desejo é desejo de infinito.
Citou a revisitação ao “discurso platônico do desejo em chave mística” feita por Simone Weil, para quem, não é o nosso desejo que alcança Deus: “se permanecemos sedentos e desejosos, é Deus mesmo que desce em nossa humanidade para preencher o nosso desejo de plenitude”.
Enquanto desejamos objetos, quaisquer que sejam; enquanto deixamos que a nos mover seja a busca das coisas, carreiras, títulos, honorificências, nosso desejar não é ainda um verdadeiro desejar.
“ O desejo genuíno tem início quando ele se formula, nem mais nem menos, como pura abertura ao outro. ”
Hoje se torna cada vez mais claro que as sociedades capitalistas, organizadas em torno do consumo, que exploram avidamente as compulsões de satisfação de necessidades induzidas pela publicidade, estão na prática removendo a sede e o desejo tipicamente humanos, fazendo com que a vida perca seu horizonte, afirmou taxativamente Pe. José Tolentino.
Voltando seu olhar para a vida da Igreja, tais constatações serviram para o pregador dos Exercícios Espirituais propor as seguintes interpelações:
“Nós batizados formamos uma comunidade de desejosos? Os cristãos têm sonhos? A Igreja é um laboratório do Espírito onde, como no oráculo de Joel (3,1), nossos filhos e filhas profetizam, nossos anciãos têm sonhos e nossos jovens constroem novas visões, não somente religiosas, mas também novas compreensões culturais, econômicas, científicas e sociais?”
Questões mais contundentes
Tais interrogações foram propedêuticas a algumas questões mais contundentes: A Igreja tem fome e sede de justiça (Mt 5,6)? Os cristãos esperam realmente, segundo a promessa, “novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pd 3,13)?
Sede de Deus
No último ponto da meditação vespertina desta segunda-feira, no qual tratou da sede de Deus, o sacerdote português frisou que “talvez nós cristãos, e em particular nós pastores, devemos valorizar mais a espiritualidade da sede, mais que as estruturas”. “Nós cristãos e em particular nós pastores”, prosseguiu, “devemos melhor reconciliar-nos com nossa vulnerabilidade”.
Por fim, destacou que o “Papa Francisco nos recorda que uma das piores tentações é a autossuficiência e a autorreferência”. Abraçar a própria vulnerabilidade é aceder ao desejo de ser reconhecidos e tocados por Jesus.
Oração da sede
“Ensina-me, Senhor, a beber da mesma sede de Ti, como quem se alimenta mesmo na penumbra do frescor da fonte”... “Que esta sede se faça mapa e viagem palavra acesa e gesto que prepara a mesa sobre a qual se partilha o dom.” “E quando darei de beber a Teus filhos seja não porque possuo a água mas porque como eles sei o que é a sede”. Fonte: http://www.vaticannews.va
Jesus era tatuado?
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Hoje, as igrejas consideram as tatuagens algo mundano. Um texto do livro do Apocalipse, no entanto, pode indicar que até Jesus tinha uma tatuagem. O artigo é de Juan Arias, jornalista, publicado por El País, 14-02-2018.
Eis o artigo.
O Carnaval brasileiro revelou, com a exposição prazerosa e sensual da nudez, que o país foi contagiado pela febre das tatuagens, as quais nestes dias apareceram ainda mais à luz do sol. O que poucos tatuados sabem é que essa prática tem origem sagrada, para conseguir um contato com os deuses.
Desde que começou a enterrar seus mortos, o Homo sapiens é fascinado pelo mistério do além. Daí o costume de enterrar os falecidos com joias e comida. A primeira tatuagem conhecida remonta a 5.000 anos: está na pele de um pastor congelado descoberto na fronteira entre Itália e Áustria com marcas no joelho e nas costas.
Hoje, as igrejas consideram as tatuagens algo mundano que teria sido proibido na Bíblia. Um texto do livro do Apocalipse, no entanto, pode indicar que até Jesus tinha uma tatuagem.
No Brasil, o gosto pelas tatuagens começou a preocupar as igrejas evangélicas uma vez que, no Levítico 19:28, se lê textualmente: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós”, o que equivaleria a proibir as tatuagens. O que esse texto indica, no entanto, é que o povo do Israel, o primeiro a praticar uma religião monoteísta, considerava as tatuagens como uma prática dos pagãos filisteus que os crentes no Deus único não deveriam imitar.
Os crentes que conhecem melhor a Bíblia encontraram, porém, no Livro do Apocalipse, capítulo 19, versículo 16, um texto segundo o qual Jesus teria uma tatuagem em sua perna. O trecho, segundo tradução do original da Bíblia de Jerusalém, fala do cavaleiro do Apocalipse, o Cristo, que tem “escrito um nome em seu manto e em sua coxa: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores”. Assim, os crentes se sentirão livres para tatuar sua pele se o próprio Cristo o fazia.
Vários teólogos evangélicos especialistas em estudos bíblicos, como Armando Taranto Neto e Carlos Augusto Vailatti, vieram a público explicar que pode se tratar de uma tradução errônea do original grego, que diria o seguinte: “No manto, isto é, sobre a nádega, tem o nome escrito…”. Nesse caso a tatuagem estaria no manto, à altura da perna, e não na pele de Jesus.
Para defender essa tradução do original grego, alguns pastores evangélicos desempoeiraram a edição crítica em quatro volumes do exegeta inglês Henry Alford, que data de meados do século XIX e que defende que o segundo kai no texto do Apocalipse, que em grego significa “e”, seria um kai “exegético”, que poderia significar “isto é”. A tatuagem não estaria no manto “e” na coxa de Cristo, mas “no manto, isto é, na altura da coxa”. Outros recordam que o livro do Apocalipse é uma obra simbólica e não histórica e, portanto, deve ser lido em sentido figurado e não literal, como o trecho que diz que seu olhar era “de fogo”.
Alguns pastores evangélicos estão procurando um ponto intermediário. Esforçam-se para não proibir as tatuagens de seus fiéis como supostamente pede a Bíblia, porque equivaleria a perder muitos devotos: a febre das tatuagens, especialmente nos jovens, parece irrefreável. Assim, em vez de proibir as tatuagens, estão orientando seus fiéis a, em vez de usar motivos mundanos ou eróticos, dar preferência a temas evangélicos, como “Jesus salva” ou “Deus me deu isto”, frases que vemos também escritas em carros e caminhões.
Muitos pastores ignoram a origem sagrada das tatuagens. Por exemplo, no Antigo Egito, há três mil anos, a tatuagem, que se fazia com agulhas de ouro, só era permitida às sacerdotisas. Algumas múmias aparecem tatuadas com temas relacionados à deusa da fertilidade. Na famosa múmia da sacerdotisa Amunet, encontrada em Tebas, pode-se observar uma tatuagem na região pélvica baixa.
Ao longo da história, as tatuagens foram perdendo o caráter sagrado para adquirir outros significados. Entre os romanos, eram usadas também para indicar hierarquia. Tatuavam-se os escravos para mostrar que eram propriedade de seu dono. Esse aspecto negativo foi recuperado nos tempos modernos, durante o nazismo, quando os condenados aos campos de concentração recebiam marcas no braço.
No Ocidente, durante a Idade Média, as tatuagens foram proibidas e punidas pela Igreja Católica, que só as permitia aos soldados das Cruzadas a fim de reconhecê-los caso morressem no campo de batalha. Hoje, tanto católicos como evangélicos começam a ser menos rigorosos na proibição das tatuagens, embora ambas as igrejas não queiram nem ouvir falar do texto do Apocalipse que daria a entender que também Jesus estava tatuado.
“Até aí poderíamos chegar!”, parecem querer dizer, e talvez não lhes falte razão. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Bispo critica intervenção que “avilta militares e traz sofrimento aos pobres”.
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"Trabalhei 24 anos na Baixada Fluminense como primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias. Discordo de intervenções que aviltam militares e trazem angústia e sofrimento aos pobres, em sua maioria de origem africana. A tarefa constitucional dos militares é outra, também a solução!", diz Dom Mauro Morelli em sua página no Twitter.
A reportagem é publicada por Brasil 247, 18-02-2018.
O bispo católico Dom Mauro Morelli criticou a intervenção na Segurança Públicano Rio de Janeiro. Para Dom Morelli, a tarefa constitucional dos militares é outra, "e também a solução".
"Trabalhei 24 anos na Baixada Fluminense como primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias. Discordo de intervenções que aviltam militares e trazem angústia e sofrimento aos pobres, em sua maioria de origem africana. A tarefa constitucional dos militares é outra, também a solução!", diz o religioso em sua página no Twitter.
"Alguém contesta meu tweet afirmando que somente os bandidos sofrem com intervenção...santa ingenuidade ou malícia refinada! Não faço discurso teórico ou demagógico. Se o problema do Brasil fosse bandido ou marginal das favelas ou "comunidade"...até que o bicho não seria tão feio!", escreve.
"Quem não é branco nas noites da Baixada corre risco de vida, tamanho o preconceito da sociedade escravocrata e racista. Se houvesse raça superior, seria a raça negra. Com 300 anos de escravidão e tantos séculos de discriminação, seu gingado é insuperável", diz dom Morelli. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
RETIRO DO PAPA: Primeira meditação da Quaresma 2018: "Aprender a 'desaprender'"
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De autoria do sacerdote português José Tolentino de Mendonça, e intitulada “Aprendizes do estupor”, a reflexão propôs citações de Simone Weil, Eduardo Galiano, Tolstoj e Fernando Pessoa.
Cidade do Vaticano
Como anunciado por ele mesmo após a oração do Angelus e com seu tuíte do dia, o Papa Francisco deixou o Vaticano domingo (18/02/2018) e se dirigiu a Ariccia, sudeste de Roma, aonde por uma semana, permanecerá em retiro espiritual.
O micro-ônibus do Vaticano deixou a Casa Santa Marta às 16h, levando o Papa e seus colaboradores mais próximos para a casa dos padres Paulinos ‘Divino Mestre’, aonde até sábado, (24/02) serão feitos os exercícios espirituais de Quaresma.
A primeira meditação, por obra do sacerdote português José Tolentino de Mendonça, teve como título “Aprendizes do estupor”, sugerido pelo Evangelho de João.
No texto, Jesus diz à samaritana apenas três palavras: “Dá-me de beber”. Assim como ela se surpreende com tal pedido, nós também ficamos desconcertados – antecipou o pregador – porque estas são as palavras que Jesus dirige a nós:
“ Dá-me o que tem, abre seu coração, dá-me o que é ”
O cansaço de Jesus
Deste estupor, a meditação passa ao ‘cansaço de Jesus’ e ao nosso. Podemos entender o diálogo de Jesus com a samaritana somente se mantivermos diante dos olhos o dom sem limites que Jesus faz de si na cruz. Em ambas as circunstâncias, o sol diz que é meio-dia, a hora sexta. É a hora central do dia, o meio do tempo, que marca o antes e o depois. Não é simplesmente a indicação cronológica, mas o símbolo da passagem de Jesus em nós. Por isso, explicou o sacerdote, mesmo que o relógio assinale outro horário, muitas vezes é meio-dia em nossas vidas. Cada vez que nascemos é meio-dia.
Ele veio nos procurar
Quando Jesus pede ‘Dá-me de beber’, a sua sede não se materializa na água. É uma sede maior. É sede de alcançar as nossas sedes, de entrar em contato com os nossos desertos, com nossas feridas. Nós devemos nos comportar com confiança. Temos que nos reconhecer como ‘chamados’.
Conhecer o dom de Deus
É o Senhor que toma a iniciativa de vir ao encontro de nós. Ele chega antes ao poço. Quando a samaritana entra em cena, Jesus já está lá, sentado. Quanto maior é o nosso desejo, o de Deus é sempre maior. Citando um trecho do ‘Livro dos abraços’ do escritor uruguaio Eduardo Galiano, Padre Tolentino completou:
“ Deus sabe que nós estamos aqui ”
Nossa oração sobe até Deus
Com novas citações, de Tolstoj a Fernando Pessoa, a meditação sugeriu os participantes a “desaprender”:
“Desaprendamos para aprender aquela graça que tornará possível a vida dentro de nós. Desaprendamos para aprender até que ponto Deus é a nossa raiz, o nosso tempo, a nossa atenção, a nossa contemplação, a nossa companhia, a nossa palavra, o nosso segredo, a nossa escuta, a nossa água e a nossa sede”.
Concluindo, Pe. Tolentino exortou os participantes:
“Digamos no nosso íntimo, com toda a verdade de que somos capazes: ‘Senhor, estou aqui à espera do nada’, ‘Senhor, estou aqui à espera do nada’. Ou seja, estou apenas à espera de ti, à espera do que és, à espera do que me dás’. Fonte: http://www.vaticannews.va
RETIRO DO PAPA: Segunda meditação da Quaresma: "A ciência da sede"
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Na Casa "Divino Mestre" de Ariccia, Papa Francisco e seus colaboradores participam dos Exercícios Espirituais de autoria do sacerdote português José Tolentino de Mendonça e intitulados “Aprendizes do estupor”.
Cidade do Vaticano.
Durante toda esta semana, o Papa Francisco se encontra em Ariccia, nas proximidades de Roma, para os Exercícios Espirituais de Quaresma. Até o próximo domingo (25/02/2018), estão suspensas todas as audiências públicas do Santo Padre, inclusive a Audiência Geral de quarta-feira, e as homilias na Casa Santa Marta.
Na manhã de segunda-feira, após as orações, o Pontífice e os colaboradores prosseguiram o retiro iniciado no domingo. Este ano, pela primeira vez, o pregador vem de Portugal.
A segunda meditação proposta pelo Pe. José Tolentino de Mendonça ao Papa e aos seus colaboradores foi dedicada ao tema “A ciência da sede”.
O tema foi inspirado na última frase pronunciada por Jesus no livro do Apocalipse (Ap 22, 17), “Quem tem sede, venha”.
O sacerdote português alternou citações bíblicas a obras de teólogos, escritores, poetas e dramaturgos como Milan Kundera, Padre Henri de Lubac, Emily Dickinson, Eugène Ionesco, Saint-Exupéry.
No trecho do Apocalipse, as palavras usadas são “quem tem sede”, “quem quiser” – expressões que se referem a nós, afirmou Pe. Tolentino. “Estamos tão próximos da fonte e vamos para tão longe, perdidos em desertos, em busca da torrente que nos mate a sede e ignorando assim ‘o dom que Deus tem para nos dar’.”
A dor da nossa sede
Não é fácil reconhecer que sentimos sede, prosseguiu o sacerdote, “porque a sede é uma dor que se descobre pouco a pouco dentro de nós”, por trás das nossas habituais narrações defensivas ou idealizadas.
Há uma violência no mundo e em nós mesmos que vem da sede, do medo da sede, do pânico de não ter as condições de sobrevivência garantidas. “Nós nos revoltamos uns contra os outros. A dor da nossa sede é a dor da vulnerabilidade extrema, quando os nossos limites nos comprimem.”
O sacerdote português citou o consumismo dos centros comerciais, mas ressaltou que não devemos nos esquecer que existe também um consumismo na vida espiritual. As sociedades que impõem o consumo como critério de felicidade transformam o desejo numa armadilha.
O objeto do nosso desejo é uma entidade ausente, um objeto inesgotável. O Senhor, porém, não cessa de nos dizer: «Quem tem sede, venha; quem quiser, tome de graça da água da vida».
O caminho da nossa sede
Para o Pe. Tolentino, existem muitos modos de enganar as necessidades que nos dão vida e adotar uma atitude de evasão espiritual sem jamais, porém, se conscientizar de que estamos em fuga.
Também aqui, como em outros âmbitos da vida, afimou, a verdadeira conversão não consistirá em belas teorias, mas em decisões que resultem de uma efetiva conscientização das nossas necessidades.
Nem que fosse um único copo de água
O trecho do Apocalipse volta ao final da medtiação. «Quem tiver sede, venha …» Certamente não bebemos para matar a sede. Jesus sabe que um simples copo de água que damos ou recebemos não é algo banal. É um gesto que dialoga com dimensões profundas da existência, porque vai ao encontro daquela sede que está presente em todo ser humano, e é sede de relação, de aceitação e de amor.
“Carregamos conosco tantas sedes. A sede é um patrimônio biográfico que somos chamados a reconhecer e do qual somos gratos. Depositemos em Deus a nossa sede.” Fonte: http://www.vaticannews.va
O RETIRO DO PAPA: Papa Francisco inicia retiro orientado por padre e poeta português
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Tolentino Mendonça vai fazer o “Elogio da Sede” no retiro que decorre em Roma até dia 23 de Fevereiro. A procura destes exercícios espirituais marcados pelo silêncio tem vindo a aumentar entre os leigos.
A capacidade de perguntar e de questionar certezas enraizadas está presente no pontificado de Francisco como na poesia e na obra de José Tolentino Mendonça. Surpreenderá assim apenas os mais distraídos a escolha do padre-poeta português para orientar o retiro espiritual do Papa, de hoje a 23 de Fevereiro, em Ariccia, nos arredores de Roma.
O mote para esta reflexão alargada à cúria romana será “Aprendizes do espanto”, a partir do qual o também vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) refletirá sobre “O Elogio da Sede”, tema que diz ser transversal a crentes e não crentes e que se subdividirá, ao longo do seis dias, em meditações como “Percebi que estava sedento”, “Esta sede de nada”, “As lágrimas contam uma sede” e “Ouvir a sede das periferias”, entre outras.
Biblista e investigador, além de poeta e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura, Tolentino Mendonça desafiava ainda há meses os leitores do seu último livro, Pequeno Caminho das Grandes Perguntas (Quetzal, Setembro de 2017), a sentarem-se num banco de jardim com tempo para encarar as grandes perguntas que nos precedem a todos, avisando logo à partida que as respostas são o que menos interessa nessa viagem sentada, cujo objectivo seria então arranjar espaço para o silêncio e para o espanto.
Afinal, como escrevia Tolentino Mendonça em meados do ano passado, numa das suas habituais crónicas no semanário Expresso, “viagem não é só movimento” e “a arte de parar é uma aprendizagem indispensável à sobrevivência”. Da poesia ao ensaio, a sua obra é atravessada, na opinião do padre jesuíta Vasco Pinto de Magalhães, “pelo tom da meditação e da procura de olhar a realidade com olhos de ver”. O jesuíta recuperou assim depressa do espanto de ver um português chamado a orientar a meditação do Papa, tanto mais que Tolentino “é respeitado internacionalmente pelas suas intervenções no campo da cultura e pertence a uma comissão pontifícia”, não sendo, portanto, “um desconhecido do Vaticano”.
Habituado a orientar diversos retiros espirituais, o padre jesuíta da Companhia de Jesus não arrisca antecipar o que poderá resultar deste retiro daquele que é o primeiro jesuíta a comandar a Igreja Católica. “Não estamos a falar de um concílio nem de um sínodo mas de uma experiência mais pessoal e espiritual, embora estejamos a falar de encontros que não são feitos para fugir da realidade mas para a agarrar com tempo e com espaço. Nesse sentido, poder-se-á esperar que esta paragem sirva para avaliar, ponderar, corrigir e tomar decisões para o futuro com novos compromissos”, contextualiza, admitindo que o Papa aproveite para “ganhar uma certa consciência da comunidade e para acertar o passo com ela”.
Numa altura em que, dentro da Igreja, têm vindo a agudizar-se as tensões entre os sectores conservadores e progressistas, com o Papa a ser acusado de heresia pelos primeiros e de não ter força para imprimir as mudanças necessárias pelos segundos, a escolha de Tolentino Mendonça foi criticada mais ou menos a coberto do anonimato pelos que consideraram que com a escolha de “um padre LGBT”, o Papa estava a abrir as portas da Igreja à “teologia queer”.
O efeito Scorsese
Numa sociedade marcada pela omnipresença de ecrãs que exigem conectividade a tempo inteiro, a procura de retiros espirituais tem vindo a aumentar, dentro e fora da Igreja. “Numa altura em que ninguém tem tempo para nada, é terapêutico arranjar um espaço de reflexão de tranquilidade”, diz Vasco Pinto de Magalhães, orientador de vários encontros com fundo religioso e com figurinos adaptados a perfis tão distintos como casais, jovens universitários ou empresários.
A Companhia de Jesus, instituto religioso da Igreja Católica, fundado por Santo Inácio de Loyola em 1540 — e da qual faz parte o Papa Francisco —, promove em Portugal vários exercícios espirituais nas três casas de retiros de que dispõe, em Braga, Sintra e Coimbra. Com uma duração que pode variar entre três e oito dias, a procura destes exercícios de silêncio feitos em grupo — espécie de “ginástica espiritual” — tem vindo a aumentar, sobretudo depois da estreia em Portugal do filme Silêncio, de Martin Scorsese. “A estreia do filme coincidiu com o início do nosso gabinete de comunicação e com uma maior preocupação em divulgar melhor as nossas atividades. Não sei qual das causas terá contribuído mais para este aumento da procura”, ressalva o padre jesuíta Pedro Rocha Mendes.
No somatório das três casas, 1890 pessoas frequentaram estes exercícios de recolhimento. Destas, apenas 463 eram religiosos e sacerdotes, repartindo-se os restantes entre estudantes, jovens casais, empresários ou simplesmente pessoas à procura de orientação por estarem em vias de tomar uma grande decisão nas suas vidas. “O objetivo é que estas pessoas contemplem o horizonte da sua vida e considerem as várias hipóteses que têm para a viver”, explica Pedro Rocha Mendes, especificando que a introspecção, a oração, o silêncio e a meditação sobre temas como liberdade e livre arbítrio estão presentes em todos os retiros, independentemente do perfil de pessoas a que se destinam.
As composições de Händel, Bach ou Vivaldi podem servir de fundo sonoro em vários momentos destes retiros, bem como as palavras de poetas como Herberto Helder ou Daniel Faria. Ser crente não é um requisito obrigatório para participar nestes retiros, cujos preços podem variar entre os 50 e os 150 euros, mas, como sublinha o padre jesuíta, “é muito difícil que alguém cruze esta experiência não tendo fé ou pelo menos não deseje fazer a experiência cristã da fé”. A dimensão cristã está, de resto, presente em todos os retiros, cuja proposta inclui a oração como veículo para “um encontro concreto com Jesus para que daí resulte inspiração para a vida e para as escolhas do dia-a-dia”. Fonte: http://publico.uol.com.br
DOMINGO, 18: "Quaresma é um tempo de penitência, mas não de tristeza". Papa Francisco.
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Antes de rezar o Angelus, Francisco frisou que "somente Deus pode nos dar a verdadeira felicidade: é inútil perder tempo procurando-a em outros lugares, em riquezas, prazeres, poder ou carreira".
Cidade do Vaticano
Sob muita chuva, mas com a Praça São Pedro repleta de fiéis, turistas e romanos, o Papa Francisco rezou a este domingo (18/02/ 2018) e a precedeu com algumas palavras de reflexão sobre a Quaresma.
Inspirado no Evangelho de Marcos, Francisco propôs os três temas mencionados na leitura do dia: tentação, conversão e Boa Nova.
Assim como Jesus se preparou 40 dias no deserto, posto à prova por Satanás, para vencer as tentações nós devemos fazer o nosso ‘treinamento’ espiritual, disse o Papa.
“Somos chamados a enfrentar o mal mediante a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de derrotá-lo em nosso dia a dia. Infelizmente, o mal está à obra em nossa existência e ao nosso redor, aonde existem violências, negação do próximo, fechamentos, guerras e injustiças”.
Boa Nova exige do homem conversão e fé
“Em nossa vida, precisamos sempre de conversão; não somos suficientemente orientados a Deus e devemos continuamente dirigir nossa mente e nosso coração a Ele. Para isto, é preciso ter a coragem de rechaçar tudo o que nos conduz fora do caminho, os falsos valores que atraem o nosso egoísmo”.
Frisando que “a Quaresma é um tempo de penitência, mas não de tristeza”, o Papa lembrou que é um compromisso alegre e sério para nos despojarmos de nosso egoísmo e de velhos ranços, e renovarmo-nos na graça do Batismo.
“ Somente Deus pode nos dar a verdadeira felicidade: é inútil perder tempo procurando-a em outros lugares, em riquezas, prazeres, poderes, carreira. ”
"O reino de Deus é a realização de todas as nossas aspirações mais profundas e autênticas porque é, ao mesmo tempo, salvação do homem e glória de Deus”.
O apelo de Jesus à conversão.
“Que Maria Santíssima nos ajude a viver esta Quaresma com fidelidade à Palavra de Deus e com oração incessante, como fez Jesus no deserto. Não é impossível! Trata-se de viver os dias desejando intensamente acolher o amor que vem de Deus e que quer transformar nossa vida e o mundo inteiro!”. Fonte: http://www.vaticannews.va
Pedro Casaldáliga: 90 anos de vida, 50 do “bispo do povo”
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Tão mistificado por sua luta pelos pobres brasileiros como prisioneiro do “irmão Parkinson”, o espanhol mais admirado do mundo católico vive recluso em Mato Grosso.
A reportagem é de Tom C. Avendaño, publicada por El País, 15-02-2018.
A última vez que Pedro Casaldáliga, o bispo do povo segundo seus numerosos partidários e o bispo vermelho para seus cáusticos inimigos, apareceu diante de uma multidão poucos esperavam vê-lo. Era julho de 2016 e não estava claro se dessa vez o religioso claretiano, de 88 anos, iria participar da Romaria dos Mártires da Caminhada, um evento quinquenal que ele criou em 1986, quando era bispo desta região selvática do Estado de Mato Grosso. A Romaria é realizada a 268 quilômetros de São Félix do Araguaia, o município onde ele vive, e não se sabia se aguentaria os incômodos de tamanha viagem. Mas havia aceitado a contragosto ir de avião, e não de ônibus, como até então costumava viajar pelo país (para ir, segundo suas palavras, "à altura do povo"), de modo que aí estava esse catalão, discretamente disposto a ver a cerimônia de inauguração. Banhado em aplausos e flashes de celulares, o morador espanhol mais célebre do Brasil não disse uma palavra. Em parte, pode-se imaginar, porque não tinha ido dar uma homilia; em parte, pelos estragos que foi causando em suas habilidades motoras o que ele chama de "o irmão Parkinson". Vendo-o, frágil, calado, prostrado em sua cadeira de rodas, qualquer coisa que tivesse dito teria soado como uma despedida.
Desde então, o mundo soube pouco dele, como ele do mundo. "A política local, a estatal ou a nacional, ele já não acompanha muito", admite por telefone o padre Ivo, um dos quatro agostinianos que se organizam para atender nas 24 horas do dia o bispo emérito em sua casa de São Félix do Araguaia. Mantêm-no em forma com a rotina: cuidados físicos pela manhã e leitura do correio –eletrônico ou tradicional– pela tarde. "Não responde todas as mensagens porque já lhe custa muito falar, mas as pessoas as mandam, cheias de carinho, sem esperar uma resposta. São quase como uma deferência", acrescenta Ivo.
Assim, meio custodiado e meio mistificado, faz aniversário esta semana um dos homens espanhóis mais admirados do mundo católico. Em sua casa de sempre em São Félix do Araguaia, um município de pouco mais de 10.500 habitantes ao qual só se chega depois de 16 horas de estrada de terra desde o aeroporto mais próximo, o de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Aqui se encontra este sacerdote de Montjuïc desde que chegou ao Brasil como missionário em 1968, fugindo de uma Espanha congelada pelo franquismo. Em 1971 foi nomeado primeiro bispo da diocese e converteu sua casa, pequena, rural e pobre, na sede.
Foi entre essas quatro paredes que Casaldáliga começou a dar mostras de sua espetacular adesão aos ensinamentos do Evangelho, sobretudo o de se identificar com os mais desfavorecidos. E neste lado do Brasil selvático os mais desfavorecidos são centenas de milhares de camponeses sem-terra, pobres, analfabetos e oprimidos por coronéis e políticos. Assim, ele rezava missa para os moradores no quintal de sua casa, entre as galinhas, e à noite, deixava sua porta principal aberta para o caso de alguém sem casa precisar usar uma cama que sempre estava disponível. Andava de jeans e chinelos e tinha duas mudas de cada roupa. Quando tinha que se reunir com o Episcopado em Brasília, ia de ônibus, em uma viagem de três dias, porque era o meio de transporte de sua gente. Seu lema era inegociável: "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar".
Anos depois se lembraria de como no início, em sua diocese, "faltava tudo: em saúde, educação, administração e justiça; faltava, sobretudo, no povo a consciência dos próprios direitos e a coragem e a possibilidade de reclamar". Decidiu que esse era o caminho a seguir. Construiu escolas, ambulatórios e se colocou ao lado dos camponeses sem-terra. Foi acusado repetidas vezes de interessar-se demais pelos problemas "materiais" dos pobres. Ele respondia que não concebia "a dicotomia entre evangelização e promoção humana".
Essas ideias progressistas lhe renderam seguidores que o cultuavam nas ruas e um ódio desenfreado em várias instituições. Ele se posicionou em favor dos indígenas da Amazônia, que para os interessados em se enriquecer eram os mais fáceis de expulsar de cada território: aliou-se aos xavante de Marãiwatsédé para retirar grandes produtores rurais de suas áreas e aos tapirapé e os carajá, e isto o levou a se confrontar com os latifundiários e as multinacionais e a ditadura militar. Viu como pistoleiros matavam seus companheiros – a conclusão habitual dos conflitos nesta região – e ele mesmo teve que viver escondido em um mês de 2012 por ameaças de morte. Rejeitou andar com escolta: "Eu a aceitarei quando for oferecida também a todos os camponeses de minha diocese ameaçados de morte como eu", disse.
O Vaticano o convocou em 1988 para que desse explicações por tanta proximidade dateologia da libertação e para que visitasse o Papa João Paulo II, como deveria ter feito uma vez a cada cinco anos, segundo o Código do Direito Canônico. Apresentou-se em camisa, sem anel e com um colar indígena no pescoço. Esclareceu ao Pontífice: "Estou disposto a dar minha vida por [São] Pedro [fundador da Igreja Católica], mas pelo Vaticano é outra coisa". Ao sair do encontro, fez um resumo à imprensa: "Me escutou e não me deu uma reprimenda. Poderia ter feito isso, como nós podemos também fazer com ele". E ponderou: "O Espírito Santo tem duas asas e a Igreja gosta mais de cortar a da esquerda".
Em 2003, Casaldáliga completou 75 anos, idade a partir da qual um bispo pode se aposentar. O Vaticano o substituiu de imediato. "Se o bispo que me suceder desejar seguir nosso trabalho de entrega aos mais pobres, eu poderia ficar com ele como sacerdote; do contrário, procurarei outro lugar onde possa terminar meus dias ao lado dos mais esquecidos", insistiu então. Se a pressa se devia a que fora fácil encontrar um substituto, não deram nenhuma indicação disso. Não voltaram a se manifestar até janeiro de 2005, quando anunciaram que já tinham substituto e que Casaldáligadeveria abandonar a diocese. Ele se negou e ficou trabalhando, com seu substituto e depois com o seguinte.
Pedro Casaldáliga faz 90 anos na casa de sempre e no município de sempre, mas o restante não é o de sempre. A região do Araguaia se transformou, entre escândalos políticos, em uma das principais áreas de plantações de soja do Mato Grosso: ou seja, parte das terras dos indígenas e dos camponeses está nas mãos das grandes produtores agrícolas e de seus produtos químicos. Talvez não se possa fazer nada contra isso. Casaldáliga perdeu essa batalha. Mas quando uma pessoa dedicou sua vida inteira à luta, ganhar ou perder é secundário. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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