MISSA DE ELIAS: LUTAR PELA JUSTIÇA E DEFENDER OS POBRES.
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COMENTÁRIO
Boa noite!
Nesta Missa iremos entrar na espiritualidade profética a partir da história de Elias em defesa de Nabot.
Hoje, queremos rezar............. (Falar as intenções do dia ou da comunidade.
O rei Acab queria que Nabot lhe vendesse um terreno que ficava perto da propriedade do rei. Mas Nabot não quis. O rei ficou muito triste com a recusa de Nabot. Então, Jezabel apoiando-se nos assim chamados "direitos do rei" (cf. 1Sam 8,11-17), mandou matar Nabot e roubou dele o terreno para entregá-lo ao rei Acab. Quando Acab foi tomar posse do terreno de Nabot, Elias aparece para denunciar o Rei.
Na história do povo de Deus os profetas eram homens escolhidos por Ele para serem canais da manifestação de sua vontade. Durante muito tempo, eles foram instrumentos de Deus a favor dos pobres. “Se eles se calarem, as pedras falarão”, disse Jesus sobre a missão dos discípulos.
De pé, vamos iniciar a Santa Missa cantando!
Primeira leitura. 1Reis 21,15-26.
Comentário.
Elias atua em defesa de Nabot, um agricultor, cujos direitos tinham sido desrespeitados pela rainha Jezabel e pelo rei Acab.
Ouçamos com atenção a palavra de Deus.
15Quando Jezabel ouviu que Nabot tinha sido apedrejado e que estava morto, disse a Acab: "Levanta-te e vai tomar posse da vinha de Nabot de Jezrael, que ele não quis te ceder por seu preço em dinheiro; pois Nabot já não vive: está morto." 16Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer à vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse. 17Então a palavra de Iahweh foi dirigida a Elias, o tesbita, nestes termos: 18"Levanta-te e desce ao encontro de Acab, rei de Israel, que está em Samaria. Ele se encontra na vinha de Nabot, aonde desceu para dela tomar posse. 19Isto lhe dirás: Assim fala Iahweh: Mataste e ainda por cima roubas! Por isso, assim fala Iahweh: No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, os cães lamberão também o teu."
20Acab disse a Elias: "Então me apanhaste, meu inimigo!" Elias respondeu: "Sim, apanhei-te. Porque te deixaste subornar para fazer o que é mau aos olhos de Iahweh, 21farei cair sobre ti a desgraça: varrerei a tua raça, exterminarei os varões da casa de Acab, ligados ou livres em Israel. 22Farei com tua casa como fiz com as de Jeroboão, filho de Nabat, e de Baasa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste Israel pecar. 23(Também contra Jezabel Iahweh pronunciou uma sentença: 'Os cães devorarão Jezabel no campo de Jezrael.')
24A pessoa da família de Acab que morrer na cidade será devorada pelos cães; e quem morrer no campo será comido pelas aves do céu." 25De fato, não houve ninguém que, como Acab, se tenha vendido para fazer o que desagrada a Iahweh, porque a isso o incitava sua mulher Jezabel. 26Agiu de um modo extremamente abominável, cultuando os ídolos, como fizeram os amorreus que Iahweh expulsara de diante dos filhos de Israel.
Palavra do Senhor
SALMO DE MEDITAÇÃO.
Salmo 128: O lar abençoado por Deus.
(Salmo de Romaria que o povo rezava no tempo de Elias)
Todos: Feliz todo aquele que teme o Senhor e anda em seus caminhos.
1-Do trabalho de tuas mãos comerás, tranquilo e feliz: tua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do teu lar; teus filhos, como rebentos de oliveira, ao redor de tua mesa.
2-Assim será abençoado quem teme o Senhor. Que o Senhor te abençoe de Sião, que possas ver a prosperidade de Jerusalém.
3-Todos os dias de tua vida; que possas ver os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!
EVANGELHO.
Comentário.
O programa de Jesus é programa de justiça em favor dos pobres e oprimidos. Ouçamos!
Leitura do Evangelho: Lucas 4,16-22
16Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e, segundo seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. 17Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde está escrito: 18O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos 19e para proclamar um ano de graça do Senhor. 20Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no, atentos. 21Então começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura". 22Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca.
Palavra da Salvação.
PRECES
1-Para que, a exemplo de Santo Elias, Pai e Guia do Carmelo, possamos viver na presença de Deus e refazer a nossa história a partir da Boa Nova de Jesus Cristo, rezemos.
Senhor, atendei a nossa prece.
2-Para que, o exemplo de partilha da viúva de sarepta, nos inspire a vivermos uma fé solidária e comprometida com os menos favorecidos, rezemos.
3- Para que, as nossas ações sejam coerentes com a fé que professamos no Deus vivo e verdadeiro do Profeta Elias, rezemos.
4- Para que, em nossas noites escuras, não percamos de vista a presença amorosa do nosso Bom Deus, rezemos.
5- Para que, na agitação do dia a dia, tenhamos a coragem de silenciar para ouvir a voz de Deus, rezemos.
6- Para que, inspirados em Santo Elias- O Profeta, não fechemos os olhos diante das injustiças sociais, rezemos ao Senhor.
Textos para ajudar na homilia/ Reflexão.
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1Reis 21,15-24: Lutar pela justiça e defender os pobres
1 Reis 21,17-29
Elias atua em defesa de Nabot, um agricultor, cujos direitos tinham sido desrespeitados pela rainha Jezabel e pelo rei Acab. Acab queria que Nabot lhe vendesse um terreno que ficava perto da propriedade do rei. Mas Nabot não quis. O rei ficou muito triste com a recusa de Nabot. Então, Jezabel apoiando-se nos assim chamados "direitos do rei" (cf. 1Sam 8,11-17), mandou matar Nabot e roubou dele o terreno para entregá-lo ao rei Acab. Quando Acab foi tomar posse do terreno de Nabot, Elias aparece e fulmina a sentença de Deus: " Você matou, e ainda por cima está roubando? Por isso, assim diz Javé: No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o seu". Elias não tem medo de denunciar o rei, como transparece neste diálogo. Acab disse a Elias: "Então, meu inimigo, você me surpreendeu?" Elias deu o troco na hora e respondeu: "Sim, eu surpreendi você. Pois você se deixou subornar para fazer o que Javé reprova. Por isso, farei cair sobre você a desgraça. Vou deixá-lo sem descendência, vou exterminar todo israelita da sua família. Javé também pronunciou uma sentença contra Jezabel: Os cães devorarão Jezabel no campo de Jezrael". Elias não é um profeta da corte como Natã e outros antes dele. Ele age em plena liberdade a partir da experiência que ele mesmo tem de Deus. A mesma liberdade transparece na carta de Elias para o rei Jorão (2Crôn 21,12-15). Qual a raiz da liberdade que existe em nós carmelitas? Será que é aquela mesma liberdade que nasce da experiência de Deus vivo?
EVANGELHO: Lucas 4,16-21 O programa de Jesus é programa de justiça
DOMINGO 16 DE JULHO- 2023. SOLENE COMEMORAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO-SOLENIDADE
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A nossa comunidade celebra hoje a Solenidade da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo- A Senhora do Santo Escapulário, mãe e protetora dos carmelitas.
A Ordem do Carmo nasceu no início do séc. XIII, com o título de Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Esta invocação, que exprime o conjunto de benefícios recebidos da nossa Padroeira, começou a celebrar-se com toda a solenidade no séc. XIV na Inglaterra, expandindo-se rapidamente por toda a Ordem, até se tornar a festa principal e mais solene.
De pé, vamos receber o presidente da celebração (-------------------------) o ministro da eucaristia, os ministros da palavra e os coroinhas....................................... Cantemos!
ANTÍFONA DE ENTRADA (Is 35, 2)
Foi-lhe dada à glória do Líbano, e a formosura do Carmelo e do Sáron; verão a glória do Senhor e a beleza do nosso Deus.
ORAÇÃO COLETA
Venha em nossa ajuda, Senhor, a poderosa intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, para que, protegidos pelo seu auxílio, cheguemos ao verdadeiro monte da salvação, Jesus Cristo Nosso Senhor. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
PRIMEIRA LEITURA (1 Reis 18, 42b-45)
Elias orou no monte Carmelo e o céu fez cair a chuva Leitura do Primeiro Livro dos Reis Naqueles dias, Elias foi ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se em terra e pôs a cabeça entre os joelhos. Depois disse ao seu servo: «Sobe e olha em direção ao mar». O servo subiu, olhou e disse: «Não há nada». Elias ordenou-lhe: «Volta sete vezes». À sétima vez, o servo exclamou: «Do lado do mar vem subindo uma nuvenzinha, tão pequena como a palma da mão». Elias ordenou-lhe: «Vai dizer a Acab: ‘Manda atrelar os cavalos e desce, para que a chuva te não detenha’». Num instante o céu se cobriu de nuvens, soprou o vento e caiu uma forte chuvada. Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 14 (15), 1.2-3.4
Refrão: Chamai-nos, ó Virgem Maria, e seguiremos os vossos passos.
1-Quem habitará, Senhor, no vosso santuário, quem descansará na vossa montanha sagrada?
2-O que vive sem mancha e pratica a justiça e diz a verdade que tem no seu coração,
3-O que não usa a língua para levantar calúnias e não faz o mal ao seu próximo nem ultraja o seu semelhante.
4-O que tem por desprezível o ímpio mas estima os que temem o Senhor.
SEGUNDA LEITURA (Gal 4, 4-7)
«Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abbá ! Pai !». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus. Palavra do Senhor.
SEQUÊNCIA
Flor do Carmelo, Videira florescente, Esplendor do Céu, Virgem Mãe, singular. Doce Mãe, Mas sempre Virgem, Aos teus filhos Dá teus favores, Ó Estrela do mar.
ALELUIA (Lc 11, 28)
Refrão: Aleluia Repete-se
Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Refrão
EVANGELHO (JO 19, 25-27)
«Eis o teu filho... Eis a tua Mãe» ✠ Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predilecto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Palavra da salvação.
PRECES
Celebrante: Irmãos caríssimos, neste tempo de pandemia, elevemos a oração da nossa comunidade a Deus Pai, para que nos conceda a graça de viver como seus filhos devotos na prática da caridade fraterna, empenhando a nossa vida na vivência cristã tendo como exemplo a flor do Carmelo. Rezemos.
Todos: Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós
Leitor: Pelo Papa Francisco, pelo nosso Bispo ...................., Pelo nosso Padre......................para que o Senhor lhes infunda com abundância os dons de suas graças para que possam dirigir-nos no caminho da justiça e santidade, roguemos a Senhora do Lugar.
Leitor: Pelos devotos e devotas de Nossa Senhora do Carmo, para que seja um sinal do Evangelho na Igreja Sinodal, roguemos a Virgem do Escapulário.
Leitor: Para que nós; revestidos com o Santo Escapulário, sejamos fiéis a nossa vocação de seguidores de Jesus Cristo tomando como modelos a vida do profeta Elias e de nossa Mãe e Irmã, a Senhora do Carmo, Roguemos.
Leitor: Para que nós, revestidos do Santo Escapulário, busquemos força e ânimo frente aos diversos desafios com a mesma confiança da Senhora do Carmo. Roguemos.
PREFÁCIO. A maternidade espiritual de Maria.
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Corações ao alto.
O nosso coração está em Deus.
Demos graças ao Senhor nosso Deus.
É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai Santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, e louvar-Vos, bendizer-Vos e glorificar-Vos na solenidade da Virgem Maria, Mãe do Carmelo. Ela acolheu e conservou fielmente a vossa palavra, e, perseverando em oração com os Apóstolos, foi associada de modo admirável ao mistério da salvação e constituída mãe espiritual de todos os homens. Agora, velando pelos irmãos do seu Filho com amor materno, brilha como sinal de esperança segura e de consolação para nós que peregrinamos para o monte da vossa glória. Nela, como em imagem perfeita, já contemplamos o que desejamos e esperamos na Igreja. Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz: Santo, Santo, Santo...
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lc 2, 19.
Maria guardava todas estas palavras, meditando-as em seu coração.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Renovados pelo sacramento do vosso Corpo e Sangue, nós Vos pedimos, Senhor, que o dom inefável da vossa graça nos fortaleça, e, entregues aos cuidados da bem-aventurada Virgem Maria, nos faça fiéis imitadores das suas virtudes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
BÊNÇÃO FINAL
Deus, Pai de bondade, encha de alegria a vossa vida na celebração da festa de Nossa Senhora do Carmo.
Amém.
Deus conceda a todos os Carmelitas e a quantos levam o escapulário do Carmo a graça de meditar e proclamar a Palavra, a exemplo de Maria.
Amém
Deus vos faça sentir na hora da morte, a proteção maternal da Virgem Maria para que, purificados do pecado, possais gozar eternamente da sua companhia na comunhão dos santos.
Amém.
Abençoe-vos Deus todo-poderoso Pai, Filho e Espírito Santo.
Amém
CONSAGRAÇÃO DA CASA À NOSSA DO CARMO.
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Por Frei Petrônio de Miranda, O Carm.
Mãe dos Carmelitas e de todos os fiéis, especialmente dos que vestem o Santo Escapulário, nós vos escolhemos como protetora desta casa e desta cidade.
Dignai-vos mostrar nesta família e nesta cidade, a vossa proteção como outrora mostrastes à Ordem do Carmo. Preservai esta casa do incêndio, dos ladrões, da inundação, dos raios, das tempestades, da violência, do ódio, da inveja, da desunião, dos vícios e de todos os males que afetam o corpo e a alma destes vossos filhos e filhas.
Rainha excelsa e Mãe amável do Carmelo, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso amparo e laço de aliança entre vós e os vossos filhos e filhas. Dai-nos a fé que tivestes na palavra de Deus, e o amor que nutristes para com o vosso Filho, e atendei a nossa oração. (Faz um pedido).
Senhora do Carmo, cobri com o vosso manto os motoristas, os jovens e as crianças, e rogai por todos que moram nesta casa e na nossa cidade. Amém
Nota de pesar – Sr. Osvaldo Martins, ex- prior da Ordem Terceira do Carmo de Salvador-BA.
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Nós, Província Carmelitana Fluminense, e Comissão para Ordem Terceira do Carmo, nos solidarizamos com os irmãos (as) do Sodalício do Carmo de Salvador-Ba, seus familiares e amigos pela Páscoa do nosso grande carmelita, sr. Osvaldo Martins. Para quem não sabe, foi ele que reorganizou a OTC de Salvador/BA, quando da intervenção da Província e, logo em seguida, foi eleito prior, missão esta que exerceu por vários mandatos.
Com o seu jeito simples, conseguiu reerguer aquele sodalício e incentivar o cultivo pela devoção a Nossa Senhora do Carmo.
Deus na sua infinita misericórdia, a Virgem do Carmo, Santo Elias juntamente com a glória celestes dos seus santos e santas carmelitas, o acolha.
Pela Província- Ordem Terceira do Carmo- Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Delegado Provincial e Paulo Daher.
A ORAÇÃO NO CARMELO
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Mariano Cera
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
Na Vida dos Padres do deserto se conta este episódio. Um dia um jovem monge pediu ao velho mestre: “Por que estás sempre rezando? A oração é tão importante assim para ti?” Então o bom mestre leva o jovem à fonte, lhe segura a cabeça e coloca-a dentro d‘água, segurando-a forte, enquanto o jovem se debatia... Finalmente o tira para fora já meio asfixiado e lhe pergunta: “Enquanto estavas debaixo d‘água, qual a coisa que mais desejavas?” Responde o jovem: “Queria respirar!” Então, concluiu o velho mestre: “Assim é para mim. Orar se tornou a respiração da minha vida”.
“À fórmula da nossa existência falta algo, que nossa ilusória auto-suficiência não dá: necessitamos de um suplemento de causalidade providencial; necessitamos de Deus, de conversar com Ele, de encontrar Nele aquela segurança, aquela plenitude que nos pode vir somente da sua concomitante bondade. É preciso rezar para viver” (Paulo VI).
O ser humano tem necessidade de rezar, porque tem absoluta necessidade de Deus. Necessita de Deus para preencher de eternidade seu vazio existencial e assim, atenuar sua angustiante e misteriosa saudade.
"Senhor, ensina-nos a orar". Este é apenas um dos muitos pedidos que os apóstolos fazem ao Mestre. Mas, nesse pedido, está o ser humano de todos os tempos exprimindo um profundo desejo de seu coração.
A oração nos coloca em contato com Deus, cria uma comunhão, um face a face, um coração-a-coração, no qual a riqueza de Deus se derrama sobre a miséria da criatura e a faz definitivamente feliz. Eis porque a oração sempre foi considerada uma necessidade fundamental do ser humano de todo tempo e em qualquer lugar.
A oração é um fenômeno primário da vida religiosa. Todo crente sente a necessidade de comunicar-se com Deus. Por isso, a oração se encontra em todas as religiões teístas como ato fundamental da vida religiosa.
Nas religiões primitivas, segundo F. Heiler, a oração é a expressão imediata de experiências profundas que possuem origem no sentimento de necessidade, de gratidão. É o livre derramar-se de um devoto, que no diálogo com um Outro, mais ou menos Absoluto, extravasa suas angústias, confessa seus pecados, confia os próprios desejos, dá prova de sua dedicação ou de sua gratidão.
As pesquisas da psicologia religiosa sobre o fenômeno da oração mostram que a atividade de orar é o ato de toda a pessoa humana que se dirige a um Absoluto. Esta atividade exige entrar em si mesmo, distanciar-se das coisas ordinárias e, ao mesmo tempo, provoca um movimento e uma abertura em direção do Outro, que se expressa num diálogo.[1]
No mundo de hoje, onde o ser humano, estressado pelas múltiplas tarefas e preso a mil problemas, percebe-se sozinho, experimentando a falta de comunicação. Então ele ou ela pode preencher sua solidão pela oração e dialogar com Deus, a quem vê como um Amigo.
Pela oração, Deus volta a ser a resposta das interrogações existenciais, o significado para compreender nossa própria existência, para nos descobrirmos como seres espirituais.
Neste contexto de nova religiosidade, a oração se torna o meio da união, a resposta dialógica, o ponto de encontro, o momento silencioso.
[1]ANCILLI E., La Preghiera, dois volumes, Città Nuova 1988, 1°, pg. 15.
Declaramos que a presente pesquisa, na primeira parte, depende muito destes dois volumes que apresentam uma riqueza sobre o desenvolvimento da oração. Algumas vezes tomamos o texto literalmente.
O PRESBÍTERO RELIGIOSO: UMA QUESTÃO DISPUTADA.
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Frei Victor Octávio Kruger Júnior, O. Carm. In Memoriam
A partir do século XII com o aparecimento dos MENDICANTES, o que é uma revolução na vida religiosa, percebe-se duas formas no exercício do ministério ordenado.
O ministério ordenado é então desempenhado:
na estabilidade de um local,
dirige-se exclusivamente a fiéis cristãos,
define-se pela relação com o bispo.,
sua tarefa é predominantemente litúrgica.
Com as ordens mendicantes, os religiosos são ministros destinados à pregação ambulante, evangelizadores, que se orienta aos que estão à margem da Igreja ( infiéis, hereges, pagãos ... ) e sua vida se caracteriza pela relação de fraternidade ( e não de hierarquia ).
Assim, a diferença entre presbítero diocesano e religioso presbítero não é só uma questão de espiritualidade distinta mas uma concepção diferente de ministério.
No entanto o decreto do Vaticano II Presbyterorum Ordinis aplainou a diferença, equiparando todo ministério ordenado na Igreja ao do presbítero diocesano, isto é, a partir do episcopado, portanto não se admite a existência de um presbítero que não pertença ao presbitério de nenhum bispo, ou seja, um ministério presbiteral desconectado de uma Igreja local, de uma diocese. O primeiro milênio da história do cristianismo corresponde ao ministério ordenado, uma concepção
PNEUMATOLÓGICO-ECLESIAL.
Os elementos que configuram a ordenação são: comunidade guiada pelo Espírito Santo que escolhe seu candidato dentro do seu seio;
os bispos das Igrejas vizinhas reconhecendo a legitimidade da ação e das qualidades do candidato, conferindo o Espírito Santo pela oração e imposição das mãos;
tudo isso como resposta ao Espírito às necessidades de uma Igreja local.
É A ORDENAÇÃO RELATIVA.
No segundo milênio, o ministério presbiteral é identificado por uma concepção CRISTOLÓGICO – INDIVIDUALISTA-SACERDOTALIZANTE.
O indivíduo recebe de Cristo, pela oração e imposição das mãos do bispo o PODER de ORDEM e se torna um outro Cristo, capaz de realizar as ações de Cristo nos sacramentos;
em nenhum momento se visibiliza a intermediação de uma comunidade eclesial movida pelo Espírito Santo.
O ponto de partida dessa concepção é o fato jurídico da ORDENAÇÃO VÁLIDA, independentemente do quadro eclesial.
No primeiro milênio é ordenado quem preside a comunidade e ordena-se para presidi-la em sua vida e, portanto, também em sua celebração.
No segundo milênio, o ministro é ordenado para receber o PODER DE ORDEM, abstraindo de uma comunidade concreta, embora venha a servir a uma comunidade. É A ORDENAÇÃO ABSOLUTA.
A ordenação de religiosos quase se torna comum no Ocidente a partir do Século XII, quando a vida monástica e as fraternidades mendicantes, originalmente não clericais, acabam clericalizando-se, permanecendo dentro da lógica cristológico-individualista-sacerdotalizante.
Poder presidir a celebração da eucaristia é uma boa obra que eleva o mérito dos religiosos presbíteros e também uma honra que alimenta seu prestígio perante os fiéis em comparação com os SIMPLES RELIGIOSOS.
Uma das soluções apresentadas seria pensar a ação dos religiosos presbíteros no sentido de presbíteros destinados à PASTORAL EXTRAORDINÁRIA , não à PASTORAL PAROQUIAL que seria a ORDINÁRIA.
Não há, pois, razão para tomar o padre diocesano como modelo do padre religioso, nem tampouco para fundamentar teologicamente os 2 tipos de ministério de forma igual.
Considerando que o segundo milênio de cristianismo definiu o presbítero a partir de seu PODER sobre o Corpo Eucarístico de Cristo, ( presbiterado presidencial local ) o ponto de partida para outro caminho de solução seriam os casos de presidência da eucaristia por não-bispos e não-presbíteros, já acontecidos na Igreja ( Didaché sec. I e a Tradição Apostólica de Hipólito de Roma séc. III ) como: eremitas e monges por sua exímia santidade;
os profetas e doutores itinerantes que tendo animado, pela exortação, ensino da doutrina e testemunho de vida, a vida das comunidades, presidam sua celebração eucarística ( presbiterado profético-itinerante ) o presbiterado itinerante volta a ter sentido com o surgimento do movimento itinerante da Idade Média;
os confessores, aqueles que nas perseguições contra os cristãos deram testemunho de fé diante dos tribunais (presbiterado martirial ).
A proximidade do martírio constituía, pois, o cristão em presbítero, sem necessidade de qualquer celebração litúrgica.
O fim das perseguições e a estruturação jurídica mais rígida da Igreja da era constantiniana trouxe consigo o desaparecimento desse modelo de presbiterato.
A posterior evolução no sentido da sacerdotalização do ministério presbiteral leva à perda da relação entre o ministério litúrgico e os ministérios da direção ou da Palavra: o litúrgico-eucarístico passa a ocupar o primeiro lugar na compreensão do ministério eclesial, a partir do qual se compreende todos os outros serviços.
O presbiterado do religioso tem por base sua ação profética e itinerante de animar as comunidades pela pregação da Palavra, levando-as a um afervoramento espiritual. Portanto não seria apropriado ao ministério do religioso presbítero assumir paróquias e funções mais ou menos estáveis numa diocese.
Como conseqüências possíveis estaria a valorização da vocação religiosa, enquanto tal, não enquanto forma de acesso à ordenação presbiteral.
Essa valorização teria conseqüências para os Institutos masculinos compostos de presbíteros e irmãos, solucionando de vez a diferença de graus entre os 2 grupos e favorecendo a fraternidade.
O IRMÂO não poderia mais ser considerado o “minus habens”, mais aquele que percebe que para o exercício dos ministérios a que se dedica, não há necessidade da ordenação e por isso não se candidata a ela.
Os Institutos poderiam se dedicar com muito mais afinco a seus carismas específicos, livres das ADMINISTRAÇÕES PAROQUIAIS. A VIDA RELIGIOSA MASCULINA VOLTARIA À SUA INSPIRAÇÃO ORIGINAL DE MOBILIDADE, AUDÁCIA, PIONEIRISMO.
Domingo 16 de abril-2023. Ordenação Presbiteral de Frei Jefferson e Frei Lucas, Carmelitas .
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Ao vivo direto da Basílica do Carmo, São Paulo
Domingo da Misericórdia: Convite.
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Amanhã dia 16- Domingo da Misericórdia- Santa Missa e Encontro da Ordem Terceira do Carmo na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro/RJ (Próxima dos Arcos da Lapa-Centro) com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo.
Programação:
8h, Santa Missa
9h, Encontro com o Sodalício.
Contamos com a sua presença! Para participar da Ordem Terceira do Carmo no Rio de Janeiro, entre em contato com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, através do whatsapp: 98291-7139.
O Poder na Espiritualidade Carmelitana
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Província Carmelitana Fluminense.
Assembleia Eletiva da Comissão Provincial
para Ordem Terceira do Carmo.
De 17-19 de março-2023 no
Convento do Carmo, São Paulo
Tema: O Poder na Espiritualidade Carmelitana
Contexto sociocultural
A Autoridade, sem dúvida alguma, é um conceito dissonante para a nossa mentalidade, principalmente para a realidade corrupta e corrompida do poder da política no Brasil. Na Bíblia e na espiritualidade carmelitana o poder-autoridade é qualificado como graça de Deus e vocação desde as primeiras linhas espirituais da primeira comunidade cristã e da Regra da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventura Virgem Maria do Monte Carmelo.
A relação tradicional superior- súdito, é posta diante do visor do julgamento pela mentalidade caraterística da nossa época, que se caracteriza pela forte acentuação que se põe sobre a liberdade da pessoa e no desejo de reencontrar no indivíduo as últimas raízes do seu agir evitando qualquer formalismo. Por outra parte, cresceu no indivíduo a consciência da sua interdependência com relação aos outros seres humanos, não somente no pequeno mundo, onde estava acostumado a viver, mas também num mundo mais amplo, globalizado, no diálogo entre as culturas, as classes sociais, as nações, as economias.
(O Poder aprofunda as suas raízes no Ágape Divino
e é expressão de amor. Ef 4,7.11-16)).
O "Poder Sagrado" na Igreja, mistério de comunhão
A Autoridade ou o poder de dar uma ordem, de pretender que seja cumprida, na Igreja e, portanto, em um Sodalício da Ordem Terceira do Carmo, tem uma componente mística, que está relacionada com o Mistério da Igreja e em última análise, com o Mistério do Deus-Trindade.
Dentro de um Sodalício, e em conformidade com o carisma carmelitano, a autoridade de superior procede do Espírito do Senhor em união com a hierarquia (Prior, Delegado Provincial, Padre Provincial e Prior Geral da Ordem do Carmo).
O ofício de governar ou organizar um Sodalício traz consigo a exigência de competência e responsabilidade do Prior e seu conselho, de fazer convergir as suas ações, os seus dons e seus projetos comuns de vida espiritual e de missão da comunidade. É um ofício de unidade, de comunhão, mesmo no sentido da visibilidade e da real eficiência, seja embora a nível dos indivíduos, da comunidade, mas também da Paróquia, Diocese ou da Província Carmelitana de Santo Elias
A Autoridade no Carmelo
O grupo de eremitas, "moradores do Monte Carmelo junto à Fonte", apresenta-se logo sob o signo da Autoridade-Obediência: estão sob a obediência de Brocardo e desejam exprimir a sua voluntária e total "obediência" a Cristo Jesus, reconhecendo-Lhe a "Soberania" universal (Regra 1 e 2), sacramentalmente manifestada na sua Igreja e nos seus Pastores. Desde o início procuram a aprovação da Igreja. "Alberto, por graça de Deus chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados filhos Brocardo e outros eremitas, que vivem debaixo da sua obediência junto à Fonte, no Monte Carmelo, saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo" (Regra 1).
Nos três ramos carmelitas; Ordem Primeira, Ordem Segunda e Ordem Terceira, a Autoridade está orientada para o bem e o serviço da própria Igreja e, mais diretamente, para o serviço daqueles fiéis que com a profissão religiosa abraçam a vida e a santidade da Igreja na Forma de Vida carmelita, aprovada canonicamente pela própria Igreja. (Regra da OTC Nº 12)
Homem da Unidade e do Carisma da Ordem.
Santo Inácio da Antioquia na sua Carta aos Cristãos de Filadélfia chamava o responsável por uma Comunidade pelo nome de "Homem determinado à Unidade", governado pela preocupação com a unidade. Homem da unidade, seja das pessoas, seja das várias instâncias e funções da comunidade - no nosso caso, da comunidade do Sodalício.
O bem do Sodalício- que é a primeira e indispensável contribuição para a missão da Igreja- é o Carisma Carmelitano vivido e testemunhado nos diversos Sodalícios da Província Carmelitana Fluminense através dos irmãos e irmãs que, livremente-repito- LIVREMENTE- através dos Votos Perpétuos ou Solenes (OTC-Regra Nº 14) assumem publicamente viver a espiritualidade sob a orientação ou autoridade de um Prior ( a ). Em outras palavras, viver em comunidade é, na verdade, viver todos juntos a vontade de Deus seguindo a orientação do dom do Carisma carmelitano sob a autoridade do Prior e seu Conselho. Portanto, a autoridade consolida a unidade da Ordem Terceira do Carmo em cada um dos Sodalícios é baseada sobre a caridade e a cooperação harmoniosa na luta pelo ideal que nos propusemos através da nossa consagração pelos votos.
O Prior da Ordem Terceira do Carmo ( a ) não é o guardião do status quo, que procura não incomodar os irmãos que estão dormindo ou que se limita a atender eventuais iniciativas de cada um em particular. Ele, consciente de que ao centro da comunidade está presente Cristo com o seu Evangelho, coloca-se ao serviço da vontade de Deus e dos irmãos, guiando-os à obediência a Cristo por meio do diálogo e oportuno discernimento, embora deixando firme a sua autoridade de decidir e ordenar o que se deve fazer. O Prior é no Sodalício estímulo a viver o nosso Carisma e é sinal e estímulo de união.
Estilo de exercício da Autoridade: Um olhar Bíblico sobre o Poder. (1Cor 12,4-11. 28).
A teologia da Autoridade tem as suas consequências quanto ao estilo de exercício: é o estilo de Deus, manifestado em Cristo Jesus. "Fazer as vezes de Deus", ser dóceis à sua vontade, expressar o amor paternal de Deus defronte aos religiosos confiados aos nossos cuidados pessoais, isto é um compromisso ascético-místico de conformação com a caridade de Deus Pai, que trata como a "filhos", no seu modo de respeitar a dignidade e a liberdade do homem (Câns. 617-619- Cân. 617 - Os Superiores desempenhem seu ofício e exerçam seu poder de acordo com o direito universal e com o direito próprio- Pode-se mesmo pensar numa "Espiritualidade da Autoridade".
Perguntas para reflexão.
1- Que lugar o Carisma Carmelita ocupa no exercício da minha relação com a autoridade do Sodalício?
2- Estou consciente da importância e da missão do prior e seu concelho no Sodalício?
3- Após este olhar sobre o poder a partir da Bíblia, dos Documentos da Igreja e da Espiritualidade Carmelitana, quem melhor representa para exercer a missão ao longo dos próximos 3 anos na Comissão Provincial para Ordem Terceira do Carmo?
Espiritualidade Carmelitana: A Oração
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A oração contemplativa
Os místicos nos ensinam que nesta etapa da vida de oração, o cristão é inteiramente transformado no amor de Deus que habita nele. Os sentidos, a mente, todas as aptidões foram purificadas pelo fogo do amor.
Todas as coisas revelam, na sua transparência, a presença divina.
O preço da contemplação é a noite escura dos sentidos e do espírito. Somos transformados em Deus. Agora não oramos mais, mas toda a nossa vida é um ato de oração, é sacramento da ação de Deus na história humana.
A luz da sua palavra penetra em nós sem encontrar resistência. Mesmo empenhados na complexidade dos nossos serviços pastorais, não conseguimos viver se não para amar, por amor e no amor. Tudo é dom de Deus.[1]
A oração como vida[2]
Todo movimento em direção a Deus – aspiração, murmúrio, desejo, alegria, hesitação – é sempre uma oração. A oração é antes de tudo tarefa do coração: consiste no querer sempre, e acima de tudo, a vontade de Deus. O verdadeiro caminho da oração é a vida. Uma oração contínua é uma vida inteiramente voltada ao serviço de Deus.
É o amor que dá consistência e unidade à vida. Ação e contemplação não são mais que dois momentos de um mesmo e único amor.
“Jesus, que minha vida seja uma oração contínua; que nada possa distrair-me de ti: nem minhas ocupações, nem minhas alegrias, nem meus sofrimentos... que Isabel desapareça e permaneça apenas Jesus”.[3]
A oração é contínua quando o amor é contínuo. O amor é contínuo quando é único e total. Entendida desta maneira, a oração é sempre possível em qualquer circunstância e em meio a qualquer ocupação. Para um cristão que ama verdadeiramente o Senhor, seria impossível interrompê-la, como seria impossível interromper a respiração. E assim, se compreende como todos, também aqueles que vivem entre os afazeres do mundo, podem cumprir a palavra do Evangelho: “Precisamos rezar sempre”.
O cristão não reza somente quando se dirige a Deus direta e imediatamente com suas práticas devocionais. Mas toda vez que pratica o bem por amor a Deus, não importando suas obrigações, em qualquer obra de apostolado, de caridade, de penitência, de humildade e de serviço oculto.
Vista assim, a oração não se apresenta mais como uma fórmula exterior, uma ação à margem da vida, nem sobreposta a ela, nem como um ato intermitente, mas se revela como o hábito mais necessário da pessoa. Quando o Senhor convidava os apóstolos a orar incessantemente, já dava uma clara indicação a respeito da natureza da oração, cuja essência, para um cristão, se identifica com a própria essência da vida.
Quando a vida é um canto de amor, nossa oração nunca termina.[4]
“A vida do Carmelo é uma união perene com Deus, desde a manhã até a noite e da noite até a manhã. Se não fosse Ele a encher nossas celas e nossos claustros, como tudo seria vazio!”[5]
[1] FREI BETTO, La preghiera nell’azione, EDB 1977, pg. 66-68.
[2] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 34-35. Também VALABEK R. M. Sarete raggianti, Roma 1993, pg. 31-33: FREI BETTO, op.cit., pg. 20-29.
[3] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L.45.
[4] ANCILLI E., op.cit. v.1°, pg. 35.
[5] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L. 179.
Carmelitas: Capítulo Provincial 2023.
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Província Carmelitana Fluminense.
Oração pelo Capítulo Provincial 2023.
23-27 de janeiro em Jundiaí, São Paulo.
Senhor nosso Deus, Pai de Jesus Cristo, fonte de todo bem, que fizeste nascer o Carmelo para ser neste mundo em transformação uma expressão viva e radiante da tua presença.
Neste tempo de preparação para o nosso Capítulo Provincial, em nome de Jesus, em cujo obséquio queremos viver, nós te pedimos encarecidamente:
Vem caminhar conosco como caminhaste com os discípulos de Emaús e faz-nos experimentar, no dia a dia da nossa vida, a força da tua ressurreição, para que possamos ser sal da terra e luz do mundo.
Vem conversar conosco, como conversaste com a Samaritana perto do poço, para que a conversa entre nós sobre o Capítulo Provincial, faça aparecer rumos e pistas novas para a nossa missão.
Vem sentar conosco, para conversar com o povo, sobretudo com os pobres e marginalizados, para que neste tempo de preparação para o Capítulo Provincial, nos ajudemos mutuamente a descobrir e assumir os teus apelos neste mundo em transformação.
Vem conviver conosco como Jesus conviveu trinta anos com o povo de Nazaré, para que assim nos ensines como viver e anunciar aos pobres a Boa Nova do Reino e a libertação aos oprimidos.
Vem ser nosso caminho, nossa verdade, nossa vida, para que, com a ajuda de Jesus e de Maria sua Mãe, possamos ser “uma paixão por Deus pela humanidade na fraternidade”.
Tudo isso, ó Pai, nós te pedimos, pela intercessão de todos os Santos e Santas do Carmelo que, junto com Maria e Jesus, intercedem por nós e por toda a Família Carmelitana,
Tu que vives e reinas com o Filho e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém!
RELEVÂNCIA DE TERESA D’ÁVILA E DE JOÃO DA CRUZ PARA A ESPIRITUALIDADE CARMELITANA HOJE.
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Como indivíduos, cada um de nós tem seu próprio jeito de viver o Evangelho, como uma resposta pessoal ao chamado de Cristo para segui-lo. As grandes tradições espirituais – carmelitana, franciscana, jesuíta, dominicana – evoluíram durante centenas de anos e ainda estão em processo de evolução. A tradição carmelitana nos oferece um lar e o meio que nos ajudam a nos tornarmos aquilo que Deus sabe que poderemos ser. Se as grandes tradições espirituais falharem em seu desenvolvimento e não forem mais capazes de dar assistência às pessoas em seu seguimento de Cristo dentro das circunstâncias de cada nova era, então elas morrerão e vão dar lugar a novos movimentos.
As fontes da espiritualidade carmelitana são o Evangelho, que é a lei suprema para todos os religiosos (cf. Perfectae Caritatis, 2), seguido da Regra e das Constituições, e pelas figuras do profeta Elias e de Nossa Senhora. Santa Teresa e São João da Cruz foram formados e alimentados nessa tradição espiritual. Eles não surgiram do nada. Eles desenvolveram a tradição, mas esta certamente não começou com eles, nem parou de evoluir após a morte deles. A popularidade de Teresa e de João vai além da Igreja Católica e muito além das fronteiras do cristianismo. Para compreender tal relevância, precisamos nos voltar brevemente para algumas tendências contemporâneas.
Parece que hoje vivemos num mundo sem esperança. Nosso mundo está devastado por guerras, declaradas ou não-oficiais. Dois terços da humanidade vivem numa pobreza miserável enquanto uma minoria tem muito. Muitos morrem de fome, enquanto a indústria que mais cresce no Ocidente é a que investe no combate à obesidade. O secularismo cresce com toda força, pelo menos no ocidente. A norma é um ateísmo prático. O ateísmo intelectual do século XIX produziu uma vaidade no imaginário humano. Acreditava-se que os seres humanos tinham atingido a maturidade e que não precisavam mais de Deus. Não havia mais necessidade da existência de um ser divino para preencher o vazio no conhecimento humano. Acreditava-se intensamente que os seres humanos logo seriam capazes de fazê-lo. Essa segurança foi abalada por todas as guerras em que nosso mundo se envolveu, no terrorismo, e nos eventos como a tsunami na Ásia, que demonstram que os seres humanos são muito pequenos quando comparados aos atos poderosos da natureza.
A ciência, a tecnologia e a rápida industrialização do ocidente falharam em realizar suas promessas. As descobertas científicas são excitantes e têm produzido mais bens de consumo do que nunca. Pela internet podemos nos comunicar quase que instantaneamente com pessoas a milhares de quilômetros. Contudo parece que perdemos nossa alma. O valor é medido pelo que podemos produzir. As drogas, como tentativa dolorosa de fuga da realidade, são um grande problema, pelo menos nas sociedades ocidentais. No entanto, em meio ao desespero, houve um novo aumento no interesse pela espiritualidade e não na religião institucional. Podemos ver um exemplo desse interesse pela espiritualidade na enorme publicidade dada à morte e ao funeral do Papa João Paulo II, assim como ao Conclave que se seguiu.
Os anos 60 e 70 viram uma revolução nas sociedades ocidentais. Muitos jovens decidiram “cair fora”, rejeitando os pseudo-valores do consumismo. Os jovens do ocidente passaram a ter um grande interesse pelo misticismo oriental. As formas mais exuberantes de revolução desapareceram, mas permanece uma inquietação, uma sede, uma fome de Deus. João da Cruz e Teresa falam à fome de tantas pessoas pelo Absoluto. Os dois apresentam um Deus transcendente que, ao mesmo tempo, está muito perto de nós. Eles não apresentam um caminho fácil, mas a maioria das pessoas não acredita em respostas fáceis. João e Teresa nos dizem a verdade – se vale a pena possuir alguma coisa, ela exige o sofrimento. Os dois reafirmam a mensagem do Evangelho – “Busquem o Reino de Deus, e Deus dará a vocês essas coisas em acréscimo” (Mt 6,33; Lc 12,31); “Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24; 17,33; Jo 12,25).
TERESA, JOÃO E A ESPIRITUALIDADE CARMELITANA
Na vida e nos escritos de Teresa e de João, vemos que a vida espiritual não está dissociada da vida real. A espiritualidade carmelitana, com suas raízes na Regra e na experiência dos eremitas no Monte Carmelo, deu origem a muitos movimentos nos 800 anos de sua existência. A maioria desses movimentos enfatizou a contemplação e Teresa e João são autoridades renomadas nesta área. Os dois falam da possibilidade de experimentar o divino e do caminho que deve ser seguido rumo à oração.
Teresa e João faziam parte de um amplo movimento, mais forte na Espanha, que enfatizava a chamada “oração intelectual”. Sabemos que surgiram todos os tipos de problemas com este movimento e que isso incluiu a Inquisição. Ocasionalmente, Teresa e João eram denunciados a este órgão por seus inimigos mas nada sério veio das acusações, embora os dois tivessem que ser cautelosos. Apesar dos perigos, Teresa e João não podiam ignorar o chamado. Eles estavam respondendo com seus corações Àquele que os amava. A definição de Teresa de oração intelectual era muito simples e, ao mesmo tempo, muito profunda: “não é nada mais do que uma partilha íntima entre amigos; significa dedicar freqüentemente um tempo para estar a sós com Ele, aquele que sabemos que nos ama” (Vida 8,5). João escreve: “Aquele que foge da oração, foge de tudo que é bom” (Outras Máximas, 11).
Através da história da Ordem, é inquestionável que a contemplação sempre foi compreendida como o coração do carisma carmelitano. O Institutio Primorum Monachorum, que por centenas de anos foi o documento de formação para todos os jovens carmelitanos, diz: “O objetivo desta vida é duplo: Uma parte adquirimos através de nossos próprios esforços e pelo exercício das virtudes, com a ajuda da graça divina. Significa oferecer a Deus um coração que é sagrado e puro da verdadeira mancha do pecado. Alcançamos este objetivo quando somos perfeitos e ‘no Carit’, isto é, escondidos naquela caridade que o Homem Sábio cita, ‘O amor cobre ofensas’ (Pr 10,12). ... O outro objetivo da vida nos é dado como dom gratuito de Deus; ou seja, não apenas após a morte mas nesta vida mortal, para saborear algo no coração e experimentar na mente o poder da presença divina e a doçura da glória celestial” (Livro 1, cap. 3).
Santa Teresa e São João da Cruz foram bem formados na tradição carmelitana e lembraram a Ordem de sua inspiração inicial, como o fizeram todas as outras reformas através da história da Ordem. Ocasionalmente a Contemplação foi definida de diferentes maneiras e essas formas de compreendê-la estiveram mais ou menos em contato com a realidade das vidas dos verdadeiros carmelitanos. Na atual apresentação do carisma carmelitano, a Ordem diz o seguinte: “Os carmelitas buscam viver sua obediência a Jesus Cristo pelo compromisso de buscar a face do Deus vivo (a dimensão contemplativa da vida), pela fraternidade e pelo serviço no meio do povo” (Const. 14). Outro artigo da Constituição diz: “A tradição da Ordem sempre interpretou a Regra e o carisma fundador como expressões da dimensão contemplativa da vida e os grandes mestres espirituais da Família Carmelitana sempre retornaram a esta vocação contemplativa” (Const. 17). O mesmo artigo das Constituições assim descreve a contemplação: “uma experiência transformadora do irresistível amor de Deus. Esse amor nos esvazia de nossos modos humanos limitados e imperfeitos de pensar, amar e comportar-se, transformando-os em modos divinos” (Const. 17).
A Ratio esclarece o papel da contemplação no carisma da Ordem: A dimensão contemplativa não é meramente aquela dos elementos de nosso carisma (oração, fraternidade e serviço): é o elemento dinâmico que os unifica.
Na oração nos abrimos para Deus, que, por sua ação, nos transforma gradualmente através de todos os grandes e pequenos eventos de nossas vidas. Esse processo de transformação permite que participemos e experimentemos relacionamentos fraternos autênticos; nos coloca prontos para servir, capazes de compaixão e de solidariedade, e nos dá a capacidade de colocar diante do Pai as aspirações, as angústias, as esperanças e as súplicas do povo.
A fraternidade é o campo de provas da autenticidade da transformação que está acontecendo dentro de nós (Ratio 23). A Ratio continua: Através dessa transformação gradual e contínua em Cristo, que se realiza em nós pelo Espírito, Deus nos leva para si mesmo numa jornada interior que nos tira das margens dispersivas da vida para o âmago interior de nosso ser, onde ele vive e nos une a si mesmo.
O processo interior que leva ao desenvolvimento da dimensão contemplativa nos ajuda a adquirir uma atitude de abertura à presença de Deus na vida, nos ensina a ver o mundo com os olhos de Deus e nos inspira a buscar, reconhecer, amar e servir a Deus naqueles que estão ao nosso redor (Ratio 24).
Algumas pessoas vêem dificuldades entre o modo como as Constituições e a Ratio compreendem o carisma. Eu, pessoalmente, não vejo. O deserto foi usado muitas vezes como eufemismo para a jornada da contemplação (cf. Living Flame B, 3,38).
A JORNADA ESPIRITUAL
O teste crucial que revela o progresso em nossa jornada espiritual está em percebermos se estamos nos tornando seres humanos melhores: “A fraternidade é o campo de provas da autenticidade da transformação que está acontecendo dentro de nós (Ratio 23). Isso também fica claro em Santa Teresa. Não podemos progredir na vida de oração a menos que melhoremos no amor a Deus e num amor muito prático pelo próximo (cf. Caminho, 4). Teresa nunca buscou progredir na vida espiritual ou na oração. Ela buscou o progresso no amor a Deus e ao próximo. Ela escreveu: “quando vejo pessoas tentando descobrir que tipo de oração estão experimentando e completamente envolvidas em suas orações que parecem ter medo de mover-se, ou de entregar-se a um pensamento momentâneo, para que não percam o mínimo nível de ternura e de devoção que sentiram, percebo que compreendem muito pouco a estrada para a realização da união. Eles acham que tudo se resume nisso. Mas não, irmãs, não; o Senhor deseja obras” (Castelo Interior 5, 3, 12). João diz em uma de suas máximas: “Aquele que não ama seu próximo abomina Deus” (Outras Máximas, 9).
Um dos problemas de estudar Teresa e João é que seus ensinamentos foram escondidos sob camadas de interpretação, especialmente de forma sutil na tradução por teólogos que impuseram suas próprias idéias de como um santo deveria ser. Teresa saiu-se melhor do que João nesse processo porque sua personalidade brilhava mais claramente através de seus escritos. João da Cruz tem sido apresentado como uma personalidade melancólica, sombria, cujo desejo parece ser escapar deste mundo. Contudo, recentemente, um biógrafo em inglês descobriu uma figura diferente: “... um ser humano que se apaixonou por Deus no mundo. Descobri um homem que é realmente santo, mas não porque escapou do mundo. Descobri um homem que descobriu em sua vida que a santidade significava buscar e encontrar Deus neste mundo em que vivemos. Era um homem para quem a Encarnação da Palavra de Deus em Jesus significou a consagração do mundo e da história. Para Frei João, Deus fala no tempo, na vida, no mundo” (Richard Hardy, The Search for Nothing, Intro, p. 3).
ORAÇÃO
Deus, que busca um relacionamento de amor com o ser humano, é central aos escritos de Teresa e João. Eles vêem a oração como um meio privilegiado de comunicação com Deus. Um traço forte de suas vidas e escritos é o intenso relacionamento que têm com Deus e a possibilidade que oferecem a qualquer pessoa que busca a Deus em alcançá-lo.
Qual é o objetivo da oração? Não seria melhor gastar nosso tempo no proveitoso trabalho apostólico? Esse é um problema específico que você enfrentará quando entra no trabalho apostólico em tempo integral. A oração é “vacare Deo”, ou seja, perder tempo com Deus, e rapidamente rezar pode parecer uma completa perda de tempo. O apostolado muitas vezes lhe dará muitas certezas e será mais atraente do que a oração. Algumas pessoas sentem-se mais atraídas pela vida tranqüila do que pelos apostolados atarefados. Existem comunidades eremitas na Ordem. Por favor não tenha nenhuma noção romântica sobre permanecer rezando em sua cela o dia inteiro. Esses homens e mulheres trabalham duro. A maioria de nós está completamente envolvida no mundo engajados em apostolados ativos. Nossas Constituições deixam claro qual é o principal objetivo de nosso trabalho: “Fiéis à herança espiritual da Ordem, devemos canalizar nossos diversos trabalhos para o objetivo de promover a busca de Deus e a vida de oração” (Const. 95).
Teresa resistiu ao encontro pessoal com Deus na oração. Ela teve medo de encontrar Deus na oração pessoal porque pensava que sua vida era má (Vida, 6). Contudo, ela tentou manter a aparência exterior da virtude e todos a estimavam. Existe um paradoxo comum de que quanto mais nos aproximamos de Deus, pior parecemos. Os santos não se comparam com outras pessoas mas olham para si mesmos à luz do amor de Deus por eles. Eles percebem que sua contribuição é pequena diante do amor que Deus tem por eles. O fato de que muitas vezes parecemos piorar ao nos aproximarmos de Deus não significa que estejamos piorando. Paradoxalmente, quase sempre significa que estamos melhorando. Parece que estamos piorando porque somos capazes de suportar uma luz mais forte e a luz do amor de Deus está nos mostrando como realmente somos. Assim aprendemos nossa grande necessidade de Deus. Como Santa Teresa escreveu sobre a oração, devemos ter uma determinação muito determinada para não desistirmos independente do que aconteça (Caminho da Perfeição, 21).
Nossa tendência é julgar a oração através de nossos sentimentos. Pensamos que nossa oração foi boa quando estamos em paz ou quando sentimos um verdadeiro crescimento na fé. Sentimos que a oração foi ruim quando nos distraímos ou fomos incomodados. No entanto, não podemos julgar nosso relacionamento com Deus através de nossos sentimentos. O único modo de julgar é através de nossa vida exterior. A primeira carta de João deixa claro: “Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’, e no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). A verdadeira oração se reflete em nossas ações. A oração não é um luxo nas vidas atarefadas dos cristãos ativos. Ela é essencial, porque é pela oração que nos relacionamos com Deus. A relação correta entre oração e prática não é que a prática seja muito mais importante e a oração a ajude. Ao contrário, a oração é sumamente importante e a prática é seu teste.
Rezamos porque Deus de alguma maneira toca nossas vidas. Desejamos rezar porque Deus nos chama e a oração é a nossa resposta. A oração é um mistério porque é um encontro pessoal com o Mistério Último. Deus sempre inicia esse encontro pessoal. Deus alcança o grande abismo que existe entre Ele e sua criação através de seu Filho. Contudo, já que a oração é encontro pessoal ou diálogo, ela exige de nós algum esforço em resposta. Em primeiro lugar, devemos fazer o esforço de ouvir a Deus e nosso esforço sempre é sustentado pela graça de Deus. Nosso esforço de ouvir e de responder ao que Deus nos fala é uma questão tanto de cabeça quanto de coração. Devemos nos esforçar para conhecer Deus. Podemos chegar a conhecer alguma coisa de Deus através da leitura da Bíblia, da teologia e da espiritualidade. É isso o que acontece, humanamente falando, no primeiro estágio de um relacionamento pessoal.
Quando começamos a rezar seriamente, nosso amor por Deus geralmente não é muito forte. Por isso precisamos construí-lo através da leitura, etc. Acima de tudo, dando tempo a Deus. Quanto tempo? As Constituições dizem: “A oração silenciosa é de grande ajuda no desenvolvimento de um espírito de contemplação; por isso devemos praticá-la diariamente por um período de tempo” (Const. 80).
O silêncio é uma virtude muito importante para os carmelitas. A Regra nos ensina que o silêncio é um modo de cultivar a justiça (Regra 21). Palavras e ações que não venham de um coração silencioso levam à injustiça e simplesmente acrescentam problemas ao mundo e não uma solução. Silêncio não significa sentar em nossos quartos estudando sem ouvir música. Isso não é silêncio, é estudo. Devemos ter uma prática sólida de oração diária na qual o silêncio é um elemento importante. A lectio divina é uma prática santificada por muitos séculos de uso. Nesse método, existe tempo para a leitura, tempo para meditação sobre o que lemos, tempo para responder ao que lemos e, por fim, tempo de deixar a Bíblia de lado e abandonar até mesmo nossas palavras e pensamentos sagrados, permitindo que a Palavra de Deus se apodere de nossos corações. Permitimos que Deus nos fale no silêncio ou nos defendemos contra Deus? O que é falso dentro de nós detesta o silêncio porque o silêncio o coloca em foco e então sempre haverá a tentação de preencher o silêncio com palavras e pensamentos. Qualquer coisa servirá, desde que nos distraia deste terrível silêncio! Para que qualquer tipo de oração, que fazemos diariamente, seja realmente eficaz no caminho da transformação, deve incluir longos períodos de silêncio.
Precisamos aprender como nos tornarmos silenciosos. O primeiro fruto da oração autêntica é o auto-conhecimento, que sempre permanece uma parte essencial da vida espiritual saudável (Castelo Interior, 1, 2, 8-9). Não podemos conhecer Deus sem aprender muito sobre nós mesmos e, quase sempre, isso é muito doloroso. Quando refletimos sobre alguns fatos dolorosos sobre nós mesmos, devemos tentar fazer alguma coisa para transformá-los. Nossa oração não será boa se nos recusarmos a desistir de algum pecado. “Não importa quão elevada nossa contemplação possa ser, procure sempre começar e terminar sua oração com o conhecimento de nós mesmos” (C. 39,5)
No começo na oração, tentamos aprender quem é Deus. Usamos nossa cabeça, nossa inteligência para que nossa compreensão possa alimentar nossos corações e assim possamos amar a Deus. Esse é o caminho da meditação, que é estritamente discurso e não oração, mas que é uma preparação essencial para a verdadeira oração. A verdadeira oração começa quando nossos corações estão em comunicação com o coração de Deus. Teresa nos lembra que o importante na oração é “não pensar muito e sim amar muito” (Castelo Interior, 4, 1, 7; Foundations, 5,2). Se formos fiéis a Deus na oração e na vida diária, provavelmente acharemos muito fácil rezar depois de algum tempo. Compreendemos que não precisamos de muita preparação para deixar que nossos corações falem ao coração de Deus. Com o tempo, pouca ou nenhuma preparação imediata através da meditação será necessária para a oração – assim que nos colocarmos em oração, entraremos imediatamente num diálogo com Deus. Contudo, às vezes, será muito difícil rezar.
A jornada espiritual é o processo onde somos transformados em Deus. Observemos cuidadosamente que o verbo está na voz passiva, i. e., nós não realizamos a transformação, este é um trabalho apenas de Deus. Não está dentro de nossa capacidade. Não podemos simplesmente nos transformar por mais que tentemos, por mais penitência que façamos, por mais boas ações que pratiquemos, por mais comunhões que acumulemos. Nunca podemos nos tornar santos por mais que façamos. Apenas Deus pode nos santificar. Nossa tarefa consiste simplesmente em consentir a presença e a ação de Deus em nossas vidas – uma tarefa muito difícil, muito mais difícil do que qualquer obrigação auto-imposta.
A Regra assume o ritmo da lectio divina, que leva à contemplação. Podemos decidir ler a Palavra de Deus e a refletir sobre ela. Nossa resposta à Palavra geralmente é espontânea e fruto do que aconteceu antes, mas ainda estamos no controle. A oração contemplativa acontece para nós. Não temos controle quando se torna oração contemplativa. Esta é a ação transformadora de Deus dentro de nós e, de certa forma, somos colocados para dormir enquanto Deus, o grande Médico, opera bem dentro de nós para transformar os espaços vazios de nossos corações na imagem do Cristo. O processo de contemplação continua no dia a dia, mas alcança seu ponto alto na oração contemplativa. Ele não pode ser alcançado, apenas recebido: “Tão delicado é este repouso interior que, geralmente, se o desejarmos ou tentarmos experimentá-lo, ele não será experimentado; porque, como digo, ele realiza seu trabalho quando a alma está mais descansada e mais livre de cuidado; ele é como o ar que escapa ao tentarmos prendê-lo em nossas mãos” (Noite Escura, 19.6). A princípio a contemplação é tão vaga e gentil que o indivíduo normalmente não percebe que algo incomum está acontecendo. Em algumas pessoas essa consciência cresce muito e podemos ver os resultados desta consciência contemplativa na abundância da literatura mística através dos séculos.
A contemplação não é uma recompensa que Deus dá a algumas almas excepcionalmente santas por suas virtudes. João da Cruz diz que a contemplação começa quando Deus guia a alma para uma noite escura (Noite Escura 1,1). Portanto, a contemplação não é uma recompensa pela santidade mas uma necessidade para tornar-se santo porque as várias fases da noite escura nos purificam de tudo que não é Deus. A contemplação é um processo de transformação gradual em Cristo. Como carmelitas, os leigos virão ao nosso encontro para falar sobre problemas na oração. Eles esperam que nós tenhamos conhecimento desse tipo de coisa a partir da experiência pessoal.
Deus destrói o que é falso dentro de nós e cura as feridas emocionais de uma vida toda através da Noite Escura, o famoso exemplo usado por São João da Cruz. Os métodos de Deus não são os nossos e os pensamentos de Deus não são nossos pensamentos. Muitas vezes Deus coloca nossas idéias sobre a jornada espiritual de cabeça para baixo e de trás para frente. O modo como Deus age pode ir contra qualquer coisa que possamos imaginar e quando isso acontece, as coisas podem parecer realmente muito escuras.
A transformação não é apenas uma mudança de uma ou duas circunstâncias exteriores. É uma mudança profunda do que nos motiva diariamente. Nossa motivação muitas vezes está escondida de nós mas determina como agimos e reagimos durante o dia. É essa motivação que deve ser purificada em algum momento de nossa jornada. Nosso comportamento exterior pode ser angelical ou uma crucificação para nós mesmos e/ou para os outros, mas realmente não podemos mudar muito até mudarmos a raiz do problema. Muitas vezes é necessário mudar o comportamento exterior, mas nenhuma mudança será duradoura a menos que o motivo subjacente também seja modificado. Este último é muito mais difícil.
O falso eu é o modo que cada um de nós busca para se defender do ataque daquilo que pensamos ser o “eu”. Para que a transformação aconteça, devemos cooperar, devemos abandonar este falso eu, devemos morrer verdadeiramente para que recebamos a vida em abundância. Isso envolve uma luta contínua contra toda manifestação do falso eu, que invade todo aspecto de nossas vidas: emocional, intelectual, social e até mesmo espiritual. O sacramento da Reconciliação e a direção espiritual são muito úteis no caminho para a transformação. Se estivermos presos numa rede de pecado, essa ajuda é essencial. Contudo, o falso eu é muito sutil e sua primeira defesa é nos assegurar de que ele não existe. Temos todos os tipos de métodos para racionalizar nosso comportamento. A falha é sempre da outra pessoa. No entanto, nossas próprias emoções podem nos dizer muito. Se experimentamos agitação emocional, eis um sinal seguro de que o problema está dentro de nós e precisamos olhar para aquilo que estamos tentando evitar, ganhar ou agarrar. Geralmente nossa atitude é de que nunca somos culpados por nada e por isso, nunca temos que refletir sobre nosso comportamento. O único modo de ficarmos conscientes da presença do falso eu é permitindo que ele venha à tona em silêncio. Ele vem à tona em nossos comentários interiores ou mesmo num vago sentimento de inquietude que nos constrange com o silêncio. Podemos facilmente ignorar isso voltando a ser ativo na oração ou através do trabalho, por isso precisamos estar vigilantes para não reprimirmos o que Deus está nos dizendo.
É importante lembrar as palavras do sábio:
“Meu filho, se você se apresenta para servir ao Senhor, prepare-se para a provação. Tenha coração reto, seja constante e não se desvie no tempo da adversidade. Una-se ao Senhor e não se separe, para que você seja exaltado no último dia. Aceite tudo o que lhe acontecer, e seja paciente nas situações dolorosas, porque o ouro é provado no fogo e as pessoas escolhidas, no forno da humilhação. Confie no Senhor, e ele o ajudará; seja reto o seu caminho, e espere no Senhor” (Eclo 2,1-6).
A razão desse teste é que precisamos ser purificados para que sejamos capazes de servir aos outros com o coração puro. Contudo, não iniciamos a jornada com um coração puro. Isso é um processo gradual. Muitas vezes nossa oração estará seca, mas isso não significa que Deus não esteja falando conosco. Normalmente Deus fala fora do tempo de oração, no nosso dia a dia. O processo contemplativo é muito mais amplo do que o tempo que dedicamos à oração, mas não podemos afirmar que somos contemplativos, a menos que ficar um tempo a sós com Deus seja uma parte importante de nossas vidas. É durante esse período que Deus purifica gradualmente nossos sentidos espirituais para que sejamos capazes de discernir a voz de Deus em meio às muitas outras vozes que ouvimos a cada dia. Às vezes Deus nos diz palavras de consolo, mas outras vezes Deus nos aponta algo que precisa ser modificado. É vital que aceitemos isso e façamos algo a esse respeito, do contrário não haverá crescimento. É claro que nosso falso eu usará todos os tipos de argumentos razoáveis para que não haja mudança. Devemos permitir que qualquer emoção forte se acalme e depois perguntar a nós mesmos o que podemos aprender com o que foi dito ou com o que percebemos sobre nós mesmos. É útil perguntar porque essas emoções fortes surgiram. Desse modo, gradualmente, nos desprenderemos de nossas próprias opiniões, de nosso jeito de fazer as coisas e seremos capazes de discernir o que Deus está nos dizendo.
O coração humano é muito sutil e requer uma profunda purificação. Esse é o propósito da jornada contemplativa e da noite escura. Ao crescermos mais e mais à semelhança de Cristo, aprendemos a nos ver como realmente somos. Esse é o dom de Deus e o resultado da ação purificadora e transformadora de Deus dentro do ser humano.
Nossa vocação carmelitana é muito profunda. Somos chamados a servir as pessoas em comunidades contemplativas. Ao respondermos ao chamado de Cristo para segui-lo, nos comprometemos a assumir sua visão e valores. Mas logo percebemos que somos incapazes de viver de acordo com nossos ideais por nosso própria conta. Ao amadurecermos em nosso relacionamento com Deus, damos espaço para que Deus nos purifique para que possamos começar a ver como Deus vê e amar como Deus ama. Esse jeito de ver e de amar é doloroso para o ser humano porque requer uma transformação radical do coração. O clamor dos pobres vai penetrar em nossas defesas e nossa resposta, libertada da distorção do falso “eu”, virá de um coração puro. O Papa João Paulo II nos lembra que, “o Cristo encontrado na contemplação é o mesmo que vive e sofre nos pobres” (VC, 82).
A contemplação é um dom puro de Deus. Como a salvação, ela não pode ser merecida. Deus não é um ídolo que podemos controlar através do ritual certo. Não podemos forçar Deus a nos conceder o dom da contemplação.
Nos estágios finais da contemplação, somos ligados a Deus de tal modo que as palavras não podem expressar e que nossa compreensão não pode alcançar: “Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem o coração humano concebeu o que Deus preparou para aqueles que O amam” (2Cor 9).
O conhecimento que adquirimos pela contemplação é do tipo que nunca poderíamos aprender com anos de estudo ou de reflexão. Deus confere um verdadeiro conhecimento de si mesmo a nossos corações. Só podemos fazer tudo que está ao nosso alcance para nos prepararmos pela fidelidade à oração e acima de tudo demonstrando nosso amor por Deus amando ativamente nosso próximo.
A contemplação ou a oração mística não deve ser confundida com o fenômeno das visões ou êxtases ou locuções ou com qualquer outra coisa que tenhamos lido. Esses são os efeitos num número muito pequeno de pessoas do poder do amor de Deus crescendo dentro delas. Para a maioria das pessoas, o processo de transformação acontece na escuridão.
O CAMINHO PARA A PERFEIÇÃO CRISTÃ
Existem fundamentalmente dois modos diferentes para a perfeição da vida cristã? Apenas alguns são chamados a percorrer o caminho místico? Nem Teresa nem João respondem diretamente essas questões mas podemos encontrar uma ou duas alusões em seus escritos. Todos nós fomos chamados à santidade. Cada um de nós foi chamado a ser santo de modo único para contribuirmos com o esplendor do Corpo de Cristo. Só porque não podemos ser santos como Nossa Senhora, não significa que possamos dar vez à mediocridade. O primeiro mandamento é que amemos o Senhor, nosso Deus, com todo nosso ser. Os místicos nos mostram do que o espírito humano é capaz quando impregnado do Espírito Santo. Nenhum de nós pode alcançar os níveis de santidade de São João da Cruz ou de Santa Teresa d’Ávila, mas cada um de nós pode desenvolver ao máximo nosso próprio potencial humano e esse é o trabalho de Deus, mas devemos cooperar com graça.
Acredito que existe apenas um caminho para a perfeição da vida cristã. Devemos permitir que Deus, que faz em nós sua morada, assuma gradualmente o controle de nossas vidas até que Ele seja tudo em todos. Quanto a nós, devemos nos conscientizar de nossa pobreza, de nossa incapacidade e deixar que Deus assuma. Não podemos alcançar a santidade sozinhos. Deus é nossa santidade. Não existem dois caminhos. Se existissem dois caminhos para a perfeição cristã, então uma grande parte dos escritos de Santa Teresa e, virtualmente, tudo que João da Cruz escreveu, seriam interessantes a partir de um ponto de vista literário, mas seriam irrelevantes para a maioria de nós. Contudo, se existe apenas um caminho, então podemos descobrir em Teresa e em João os princípios básicos para cooperar com Deus neste grande trabalho de transformação e de purificação do espírito humano.
Existem vários elementos da espiritualidade carmelitana que não mencionei porque a totalidade da espiritualidade carmelitana não se limita a esses dois santos. Se você deseja saber qual a hora do vôo da Ibéria de Madri para Roma amanhã, você vai procurar o horário dos vôos e não o horário dos trens. Não espere encontrar tudo em Teresa e João. Não é necessário encontrar uma citação de Teresa ou de João para tudo que queremos fazer ou dizer. Contudo, os dois são de grande importância para a espiritualidade carmelitana hoje e para seu desenvolvimento futuro. Devemos ser homens e mulheres de oração. Como dizem nossas Constituições: “Desde o princípio, a Ordem Carmelitana assumiu uma vida de oração e um apostolado de oração. A oração é o centro de nossas vidas e a comunidade autêntica e o ministério brotam desta fonte” (Con. 64).
Teresa e João não pretendiam escrever a palavra final sobre a oração, mas o que escreveram é um ensinamento seguro e isso foi reconhecido por toda a Igreja quando eles foram declarados doutores da Igreja. Hoje, muitas pessoas buscam a Deus porque suas almas estão famintas devido ao secularismo moderno. Elas não estão buscando nos lugares tradicionais, isto é, dentro da religião institucional. O Capítulo Geral de 1995 desafiou a Ordem a mudar-se para o novo “areópago”, os novos mercados do mundo. A busca pela espiritualidade acontece muitas vezes no mundo da internet. Devemos estar lá e em outros lugares novos, com nossa espiritualidade que tem enriquecido tantas pessoas nos últimos 800 anos. Contudo, o que importa acima de tudo é que nós mesmos vivamos esta espiritualidade. Teresa e João não conheciam nada sobre nosso mundo atual, mas seus escritos permanecem atuais.
“Meu Bem-amado, as montanhas, os vales solitários
as ilhas estranhas, os rios sonoros, o sussurro das brisas amorosas,
a noite tranqüila, na hora do raiar do dia,
a música silenciosa, a solidão sonora, a ceia que recria e o amor inflamado”.
(Cântico Espiritual, 14-15).
Dom Wilmar Santin: quando um doce de abóbora é especial
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“A vida é um livro que deve ser foleado página a página, sem que se consulte o índice” (Coelho Neto). A narração da história de vida de dom Wilmar Santin, bispo da prelazia de Itaituba. E nos conta um pouco da sua história.
Dom Wilmar Santin, bispo da prelazia de Itaituba – Vatican News
Uma das coisas mais encantadoras e prazerosas da vida é recordar as belas e edificantes experiências. Particularmente, me é apaixonante recordar os tempos de criança. Se olho para minha infância, vejo que fui muito feliz, apesar de todas as dificuldades que a vida nos impôs.
Tive a graça de nascer numa família numerosa. Sim, considero este fato um privilégio e uma verdadeira graça de Deus. Éramos 9 filhos = 5 x 4 para os homens. Por uma fatalidade, o mais velho morreu num acidente automobilístico aos 28 anos. Portanto, há mais de 45 anos somos em 8, ou seja, 4 homens e 4 mulheres.
Meu pai era marceneiro e carpinteiro. Órfão de mãe com um ano de idade e de pai aos 9 anos. Foi criado por uma virtuosa e santa madrasta. Desde pequeno teve que trabalhar. Foi um pai muito rígido com os filhos e amabilíssimo com os netos. Gostava muito de futebol e era palmeirense, portanto não negava sua origem italiana. Cresci indo com ele assistir jogos do Nova Londrina Esporte Clube. Ele por décadas fez parte da diretoria do time. Como católico praticante, exigia que os filhos participassem da missa dominicalmente. Por mais de 30 anos foi ministro extraordinário da Eucaristia. Despediu-se serenamente deste mundo aos 85 anos.
A minha mãe é uma guerreira, dotada de uma força e disposição incríveis. Além de se dedicar aos 9 filhos, encontrava tempo para costurar para fora e fazer permanente nos cabelos das mulheres para ajudar nas despesas da casa. Também foi empreendedora: teve bazar, mercearia e funerária. Era incansável em fazer, duas ou três vezes por semana, o pão caseiro mais gostoso da cidade pra alimentar a “renca” de filhos. Não nos deixava comer pão quente. Dizia que dava dor de barriga. Uma vez eu lhe disse que isso não era verdade, porque a gente comia arroz e feijão quentes e não dava dor de barriga. Ela ponderou que pão era massa. Na “tampa” retruquei: “Mãe, a gente come macarrão quente, que é massa, e não dá dor de barriga!” Ela me disse: “Ah, não sei! Você está perguntando demais, mas que comer pão quente dá dor de barriga, dá!”
Por muito tempo fiquei matutando esta convicção da minha mãe sobre o pão quente. Fiquei observando e pensando. Por fim cheguei à conclusão de que realmente comer pão quente dá dor de barriga, mas não porque o pão está quente e sim porque é muito gostoso, por isso a pessoa come muito além do normal, se empanturra e como consequência passa mal. Eu com 10 anos, se a mãe deixasse, eu comeria pelo menos dois pães inteiros, ou seja, a quantidade de pão destinada para a família toda no café da manhã.
Nunca passamos fome, mas o dinheiro era escasso. Tempos de crise braba! A vontade de ir ao cinema para assistir aos famosos bangue-bangues do Velho Oeste era enorme. Como não recordar os filmes: “O dólar furado” com Giugliano Gemma? ou “Os três homens em conflito - O Bom, o Mau e o Feio” com Clint Eastwood, Lee van Cleef e Eli Wallach? Como esquecer os filmes do Zorro com o índio Tonto? e do Tarzan? do Gordo e Magro ou Mazzaropi? Os nossos heróis cinematográficos eram: Roy Rogers, Henry Fonda, John Wayne, Burt Lancaster, Kirk Douglas, ... Entretanto, o melhor de tudo era depois ir brincar de “mocinho”. Como éramos felizes com tão pouco!!!! Um cabo de vassoura colocado entre as pernas “virava” um cavalo, qualquer pequeno pedaço de pau podia virar um revólver! Todo mundo dava tiro à vontade, as balas nunca acabavam e ninguém morria: só matava! O grande escritor e orador Cícero diria: “O tempora! O mores” (Ó tempos! Ó costumes!) Eu, porém, digo “Ó tempos encantadores e experiências inesquecíveis!!!”
Ao repassar na memória aqueles tempos magníficos, os meus lábios começam a recitar espontaneamente o início da poesia “Meus oito anos”:
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Os poetas românticos, como Casemiro de Abreu nesta poesia, foram geniais e se eternizaram. Basta mencionar Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo... para ter a confirmação da genialidade dos românticos. Por falar em poetas românticos, recordo que o Romantismo foi introduzido no Brasil por Gonçalves Magalhães, em 1836, com o livro "Suspiros poéticos e saudades.
É certo que o Romantismo brasileiro foi marcado por um certo exagero sentimental. Os românticos souberam despertar a emoção e a ação do leitor e da leitora ao idealizarem o amor e o saudosismo, ao valorizarem o nacionalismo e colocando em destaque a figura do índio como herói, quesito este em que o grande José de Alencar se sobressaiu com as obras: “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”. Até hoje o romantismo está presente com maior ou menor intensidade na cultura e mentalidade dos brasileiros.
Mas a realidade da infância não foi só de sonhos e alegrias: foi dura e às vezes também cruel! Que sentimento de frustração era o de ter vontade imensa de ir a cinema e não ter o dinheiro para a entrada. Que sensação horrível era “sentir as lombrigas assanhadas” ao ver doces e sorvetes, mas não poder comprá-los por falta do “baioque”, como dizia a mãe ao nos contar como o nono Foletto chamava a grana. A mãe nos colocou em sintonia com a tradição familiar contando as histórias de sua infância e das peripécias de seu pai e irmãos. Repetiu muitas vezes o que o nono dizia, em dialeto vêneto, quando os comerciantes queriam comprar fiado a sua produção de banha: “Vien il baioque e via la banha! Senza baioque prima, la banha non va!” (“Venha o dinheiro e vai a banha, sem dinheiro primeiro, a banha não vai”). Só entregava a banha quando o dinheiro estava na sua mão. Certamente ele tinha sido enganado algumas vezes pra não confiar nos compradores. A vida é mestra e nos ensina!
Nós nos virávamos como podíamos pra arrumar alguns trocados. Íamos derriçar e colher café, à “panha” de algodão, carpir, escolher e separar grãos de café na cooperativa, engraxar sapatos, ... Nós catávamos mamona, deixávamos secar no pátio e depois recolhíamos grão por grão manualmente colocando-os numa lata de um litro. Quando a lata estava cheia, íamos vender no seu Severino Troian por um cruzeiro. Dava pra comprar um picolé. Ah! como eram deliciosos aqueles picolés! Quando a colheita era maior, dava pra comprar um ingresso para o cinema. Que felicidade!
Quantas vezes fiquei desejando comer os doces que eram vendidos no bar São João do Seu Vitório Zoletti, em frente de casa e não tinha nem um cruzeiro. Havia um doce de abóbora em forma de coração. Como era saboroso! Lembro que eu sabia as todas orações rezadas por um católico, menos a Ave Maria. Rezávamos um terço do rosário todas as noites em família. Portanto, eu repetia 50 vezes esta oração diariamente e nada de decorar. Sabia rezar junto com os pais e irmãos, mas não conseguia rezar sozinho. Até hoje não sei qual era o porquê do bloqueio, mas não tinha jeito de aprender a principal oração dedicada à Mãe de Deus. Um dia meu pai me prometeu dar um cruzeiro se aprendesse de cor a principal oração dedicada à Virgem Maria. Ah! num instantinho aprendi. Cheguei e disse:
- “Pai, o senhor me prometeu dar um cruzeiro se eu aprendesse de cor a Ave Maria e agora eu sei.”
- “Eu prometi e eu cumpro o que prometo. Porém, reze primeiro pra eu ter a certeza de que você sabe tudo direitinho sem pular nada ou embaralhar”, contestou.
Rezei sem me atrapalhar, ele me deu a nota de um cruzeiro, que tinha a imagem do Almirante Tamandaré, e eu todo feliz corri até o Bar São João comprar o saboroso doce de abóbora em forma de coração. Deu pra comprar dois! Que alegria! Que felicidade! É só eu recordar aquele momento tão especial, e logo me dá água na boca!
O tempo passou, crescemos e a vida se transformou. Os gostos mudaram, muitas coisas que “adorávamos” foram pouco a pouco ficando para trás. Passaram-se os anos e as novas atividades foram nos engolindo. É raro nos lembrarmos dos picolés, dos doces, dos mocinhos, dos filmes... Tudo isso deixou de ser uma necessidade para nós!
Quando voltei a morar em Paranavaí, já com mais de 32 anos, constantemente eu ia para Graciosa visitar os confrades do seminário. Nestas idas, algumas vezes visitava o Seu Manoel Jó. Ele era um nordestino do sertãozão da Paraíba com uma incrível sabedoria popular, adquirida no dia-a-dia com as experiências e dificuldades da vida. Conversar com o seu Manoel era para mim ocasião de prazer e de enriquecimento pessoal ouvindo as experiências e conhecimentos daquele sertanejo paraibano. Quase a vida toda ele trabalhou na roça, mas, quando as forças já não eram as mesmas, e a idade começava a pesar, ele comprou um bar para continuar ganhando o pão de cada dia.
Certa vez fui encontrá-lo no seu bar. Ficamos conversamos, dando risadas com seus causos e experiências. De repente olho para as prateleiras. Vejo potes transparentes de vidros cheios de doces. Fui vendo os potes com pirulitos, com balas de diversos tipos, com paçoquinhas, pés de moleque, ... e de repente meus olhos se fixaram extasiados no pote que continha os inigualáveis doces de abóbora formato de coração. Aflorou-me na memória os tempos de criança, fiquei com uma vontade imensa de comer aquela delícia feita de abóbora. Comentei que fazia uns 20 ou mais anos que não via o meu doce preferido em forma de coração. Claro que pedi um. Seu Manoel se levantou e foi buscar a “divina” iguaria. Não o comi: devorei-o! Foi tamanha a minha voracidade que o Seu Manoel pegou mais um e me deu. Num instantinho também desapareceu na minha boca.
Quando fui pagar os doces. Seu Manoel me disse:
- “Não vou cobrar não. Nunca vi alguém comer um doce de abóbora com tanto gosto como desta vez. Fiquei tão feliz que nem tenho coragem de cobrar”.
Ao repassar esses fatos da minha infância apareceu na minha memória o texto do Apóstolo Paulo: “11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. 12Agora nós vemos em espelho e de maneira confusa; mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13,11-12).
Não sou mais criança, mas tenho que reconhecer que, com meus 70 anos, aquelas experiências dos tempos de criança foram importantes para me ajudar a ser aquilo que sou hoje. Sou grato a Deus por ter me proporcionado uma infância tão feliz! Só recordo as coisas boas e edificantes, as ruins ou foram incorporadas na minha experiência me fortalecendo ou já as esqueci.
Concluo com as primeiras duas estrofes e a conclusão de uma das poesias publicadas por Gonçalves de Magalhães em Suspiros poéticos e saudades ao introduzir o movimento artístico cultural denominado Romantismo no Brasil em 1836.
A INFÂNCIA
Oh minha infância! Oh estação de flores!
De inocente ilusão alva saudosa!
Inda hoje te apresentas
Ante mim, como a imagem deleitosa
De um sonho que encantou-me a fantasia,
Ou como a aurora de um formoso dia.
Oh da infância atrativos lisonjeiros!
Mentirosos afetos!
Com que prazer amigos passageiros,
Inúmeros, na infância contraímos!
E quão fáceis após os repelimos,
De ligeiras palavras agastados.
...........
Oh quão perto a velhice está da infância!
E quão perto da infância a morte adeja!
Wilmar Santin
Itaituba, 15 de novembro de 2022. Fonte: https://www.vaticannews.va
NOTA DE FALECIMENTO. Frei Carlos André Bezerra de Lima, O. Carm
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Comunicamos com pesar o falecimento do Frei Carlos André Bezerra de Lima, Delegado para a Ordem Terceira do Carmo. Nascido em 1º de maio de 1990 no estado do Ceará, Frei Carlos André ingressou no Postulando da Ordem do Carmo em 2012, em Mogi das Cruzes (SP); e, no ano seguinte, foi para o Noviciado, em Belo Horizonte (MG), onde cursou filosofia na Faculdade Jesuíta. Já o curso de Teologia, o religioso cursou na Faculdade de São Bento (SP). Em 2019, realizou sua Profissão Solene dos Votos de Pobreza, Castidade e Obediência, na Ordem do Carmo, na Igreja da Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo, em Mogi das Cruzes (SP). Sua ordenação sacerdotal ocorreu em 08 de dezembro de 2020, na Solenidade da Imaculada Conceição de Maria.
Que sua alma descanse na eterna glória, junto a Deus, a Virgem Maria e todos os santos!
12 de agosto- O Santo do Dia: Beato Isidoro Bakanja
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“O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o hábito de Maria, o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Não tem importância que eu morra. Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei desde o Céu muito por ele” (Beato Isidoro Bakanja).
Isidoro Bakanja nasceu em torno de 1885, no antigo Congo Belga, África. Converteu-se ao Cristianismo em 1906. No dia 6 de maio de 1906, aos 21 anos de idade, foi batizado, sendo o primeiro cristão da sua região. No baptismo, recebeu de presente um Rosário e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, que nunca mais deixou de usar. Chamavam-no de o “leigo do Escapulário”.
Isidoro trabalhava na plantação de um colonizador belga, ateu, que não gostava de africanos convertidos. Dizia que rezavam demais e que perdiam tempo. A raiva do patrão foi crescendo e mandou que Isidoro lançasse fora o Escapulário. Isidoro recusou. Por isso foi chicoteado até ao ponto de as suas costas se transformarem numa chaga viva. A ferida infeccionou e, ao longo de seis meses, Isidoro viveu um verdadeiro calvário de sofrimentos. Morreu com o Rosário nas mãos e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo no seu pescoço, no dia 15 de Agosto de 1909. Perdoou ao seu algoz e prometeu rezar por ele quando ingressasse no céu. O Papa João Paulo II beatificou-o em 1994 e chamou-o de “mártir do Escapulário”.
Oração
Senhor nosso Deus, fonte e origem de toda a vida, que destes a força do vosso Espírito ao bem-aventurado jovem mártir Beato Isidoro Bakanja para que no martírio proclamasse o amor pelo Escapulário e a fidelidade do perdão, concedei-nos, por sua intercessão, viver sempre fiéis à vossa Igreja e descobrir em cada acontecimento da vida a força e a proteção de Maria nossa Mãe. Fonte: https://caminhoscarmelitas.com
Quarta-feira, 6 de julho. 14º Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 10, 1-7)
1Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade. 2Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. 3Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. 4Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 5Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem entrareis em Samaria; 6ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel. 7Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
3) Reflexão Mateus 10,1-7
No capítulo 10 do Evangelho de Mateus começa o segundo grande discurso, o Sermão da Missão. Mateus organizou o seu evangelho como uma nova edição da Lei de Deus ou como um novo “pentateuco” com seus cinco livros. Por isso, o seu evangelho traz cinco grande discursos ou ensinamentos de Jesus, seguidos por partes narrativas, nas quais ele descreve como Jesus praticava o que tinha ensinado nos discursos. Eis o esquema:
Introdução: nascimento e preparação do Messias (Mt 1 a 4)
- Sermão da Montanha: a porta de entrada no Reino (Mt 5 a 7)
Narrativa Mt 8 e 9
- Sermão da Missão: como anunciar e irradiar o Reino (Mt 10)
Narrativa Mt 11 e 12
- Sermão das Parábolas: o mistério do Reino presente na vida (Mt 13)
Narrativa Mt 14 a 17
- Sermão da Comunidade: a nova maneira de conviver no Reino (Mt 18)
Narrativa 19 a 23
- Sermão da vinda futura do Reino: a utopia que sustenta a esperança (Mt 24 e 25)
Conclusão: paixão, morte e ressurreição (Mt 26 a 28).
* O evangelho de hoje traz o início do Sermão da Missão, no qual se acentuam três assuntos: (1) o chamado dos discípulos (Mt 10,1); (2) a lista dos nomes dos doze apóstolos que vão ser os destinatários do sermão da missão (Mt 10,2-4); (3) o envio dos doze (Mt 10,5-7).
Mateus 10,1: O chamado dos doze discípulos
Mateus já tinha falado do chamado dos discípulos (Mt 4,18-22; 9,9). Aqui, no começo do Sermão da Missão, ele traz um resumo: “Então Jesus chamou seus discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritos maus, e para curar qualquer tipo de doença e enfermidade”. A tarefa ou missão do discípulo é seguir Jesus, o Mestre, formando comunidade com ele e realizando a mesma missão de Jesus: expulsar os espíritos maus, curar qualquer tipo de doença e enfermidade. No evangelho de Marcos, eles recebem a mesma dupla missão, formulada com outras palavras: Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,14-15). 1) Estar com ele, isto é, formar comunidade, na qual Jesus é o eixo. 2) Pregar e ter poder para expulsar demônio, isto é, anunciar a Boa Nova e combater o poder do mal que estraga a vida do povo e aliena as pessoas. Lucas diz que Jesus rezou a noite toda e, no dia seguinte, chamou os discípulos. Rezou a Deus para saber a quem escolher (Lc 6,12-13).
Mateus 10,2-4: A lista dos nomes dos doze apóstolos.
Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento. Por exemplo, Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também tinha o nome de Levi (Mc 2,14), que é outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete têm nome que vem do tempo dos patriarcas. Dois se chamam Simão; dois, Tiago; dois, Judas; um, Levi! Só tem um com nome grego: Filipe. Isto revela o desejo do povo de refazer a história desde o começo! Seria como hoje numa família bem brasileira, na qual todos os filhos têm nomes do tempo dos índios Raoni, Ubiratan, Jussara, etc, e só têm nome americano Washington. Vale a pena pensar nos nomes que hoje damos para os filhos. Como eles, cada um de nós é chamado por Deus pelo nome.
Mateus 10,5-7: O envio ou missão dos doze apóstolos para as ovelhas perdidas de Israel.
Depois de ter enumerado os nomes dos doze, Jesus os envia com estas recomendações: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Vão e anunciem: O Reino do Céu está próximo”. Nesta única frase há uma tripla insistência em mostrar que a preferência da missão é para com a casa de Israel: (1) Não tomar o caminho dos pagãos, (2) não entrar nas cidades samaritanas, (3) ir primeiro para as ovelhas perdidas de Israel. Aqui transparece uma resposta à dúvida dos primeiros cristãos em torno da abertura para os pagãos. Paulo, que afirmava com tanta firmeza a abertura para os pagãos, concorda em dizer que a Boa Nova trazida por Jesus devia ser anunciada primeiro aos judeus e, depois, aos pagãos (Rom 9,1 a 11,36; cf. At 1,8; 11,3; 13,46; 15,1.5.23-29). Mais adiante, no mesmo evangelho de Mateus, na conversa de Jesus com a mulher cananéia, acontecerá a abertura para os pagãos (Mt 15,21-29).
O envio dos apóstolos para todos os povos. Depois da ressurreição de Jesus, há vários episódios do envio dos apóstolos não só para os judeus, mas para todos os povos. Em Mateus: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estarei com convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). Em Marcos: “Ide por todo mundo, proclamai a Boa Nova a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado” (Mc 15-16). Em Lucas: "Assim está escrito: O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. E vocês são testemunhas disso. (Lc 24,46-48; At 1,8) João resume tudo nesta frase: “Como Pai me enviou, eu envio vocês!” (Jo 20,21) :
4) Para um confronto pessoal
- Você já pensou no significado do seu nome? Já perguntou a seus pais por que motivo lhe deram o nome que você tem? Você gosta do seu nome?
- Jesus chama os discípulos. O seu chamado tem uma dupla finalidade: formar comunidade e ir em missão. Como vivo esta dupla finalidade na minha vida?
5) Oração final
Recorrei ao Senhor e ao seu poder, procurai continuamente sua face. Recordai as maravilhas que operou
14 de junho-Santo Eliseu: O Profeta Eliseu e a tradição do Carmelo
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Dom Frei WilmarSantin, O.Carm.
Na Bíblia
O ciclo de Eliseu (2Rs 2-9.13,1-10) está ligado com o de Elias. A vocação de Eliseu está colocada após a teofania do Horeb (1Rs 19,16-21). Segundo a ordem divina, ele é aquele que deve suceder ao Tesbita. Por isso torna-se seu servidor e discípulo (2Rs 2,1-18). Pelo fato de acompanhar e ser testemunha do rapto de Elias, Eliseu herda o duplo espírito do Tesbita (2Rs 2,1-18). O carro e os cavalos que raptaram Elias constituem a escolta invisível de Eliseu (2Rs 6,17). Numerosos milagres e prodígios exaltam “o homem de Deus”, o taumaturgo a serviço dos pobres e que intervém na política. Morto, o seu cadáver ressuscita um morto (2Rs 13,20-21). No livro do Eclesiástico, o seu elogio segue o do seu mestre (Eclo 48,12-14) e recorda o dom do espírito de Elias que recebeu durante o rapto. Entre as suas obras maravilhosas é indicada a ressurreição de um morto após a sua morte. A cura de Naamã, o Sírio, é recordada no Evangelho (Lc 4,27), também depois de recordar Elias.
Por duas vezes a Bíblia menciona a estada de Eliseu no Monte Carmelo: para lá ele se retira após o episódio dos meninos devorados pelos ursos (2Rs 2,25) e ali a sunamita vai encontrá-lo para suplicar-lhe que devolva a vida ao seu filho (2Rs 4,25). Uma gruta com dois patamares era considerada como a “casa de Eliseu”, aquela onde ele recebeu a visita da sunamita. Ali foi construída uma laura (cenóbio) bizantina conhecida como Mosteiro de S. Eliseu.
Nascimento de Eliseu
O provincial carmelita da Catalunha, Felipe Ribot (+ 1392), recorda o prodígio que acompanhou o nascimento de Eliseu, assim como foi contado por Isidoro de Sevilha e Pedro Comestor: “ao nascimento de Eliseu um dos novilhos de ouro adorados pelos filhos de Israel mugiu atravessando o jardim de Eliseu. Um sacerdote do Senhor o escutou em Jerusalém e, inspirado por Deus, proclamou: ‘nasceu em Israel um profeta que destruirá todos os ídolos esculpidos e fundidos”. Só João de Hornby, carmelita inglês do século XIV, indica que Eliseu era descendente de Arão, como Elias, enquanto que a Vitae Prophetarum e Isidoro mencionam “a tribo de Rubem”.
Eliseu, figura de Cristo
Como Elias, Eliseu é apresentado pelos Padres da Igreja como figura de Cristo enquanto taumaturgo. Já Orígenes chamava Cristo “o Eliseu espiritual que purifica no mistério batismal os homens cobertos pela sujeira da lepra” (Hom. sobre Lucas 33,5). Eliseu estendendo-se sobre o menino anuncia a Encarnação de Cristo que se faz pequeno para salvar-nos. O vaso novo lançado com sal na água (episódio amplamente desenvolvido pelos Padres Latinos), o sal que purifica as águas, o machado recuperado, são figuras de Cristo. Multiplicando os pães de cevada para cem pessoas, iluminando os olhos do seu servo e cegando os de seus inimigos, curando Naamã com o banho no rio Jordão, Eliseu é ainda figura do Messias. A ressurreição de um morto ao contato com os seus ossos prefigura da descida de Cristo aos infernos para dar vida aos mortos. No sermão 128 de Cesário, a viúva libertada da sua indigência, graças ao milagre operado por Eliseu, prefigura a Igreja libertada do pecado à vinda do Salvador; a sunamita estéril, que concebe pela oração de Eliseu, é também figura da Igreja estéril antes da vinda de Cristo. Igualmente João Baconthorp (+ 1348) faz o paralelo entre os milagres de Elias e de Eliseu com os de Jesus (Speculum 2).
Eliseu, modelo do monge
Numerosos Padres da Igreja atestam a virgindade de Eliseu seguindo a de Elias. Para São Jerônimo “na Lei antiga, a fecundidade era objeto de bênção. Mas pouco a pouco entretanto, na medida em que a messe se torna mais abundante, foi enviado um ceifador: Elias que foi virgem. Eliseu também o foi, como do mesmo modo os filhos dos profetas” (Ep. 22). Os carmelitas medievais reproduziram estas linhas insistindo sobre o fato que Elias e Eliseu foram os primeiros a consagrarem-se a Deus na virgindade. Pe. Daniel da Virgem (+ 1678) explica que o celibato honra e imita por antecipação a Virgem Maria: “Eliseu conheceu antecipadamente e imitou a pureza da Virgem Mãe de Deus” (Vida de Santo Eliseu, pref.).
A oração tem um papel primordial na vida de Eliseu: é a fonte dos milagres que o Senhor faz através dele. No texto bíblico, isto é expresso explicitamente através da ressurreição do filho da sunamita, por isto o Senhor abre os olhos do seu servo para cegar os arameus. Os Padres da Igreja acentuam ainda mais o papel da oração: ele obtém um filho para a sunamita, faz submergir o machado caído na água do rio Jordão. Assim através de Eliseu os carmelitas fazem jorrar o seu apostolado pelo colóquio com Deus.
A renúncia inicial de Eliseu, que sacrifica os bois e o arado antes de seguir Elias, é um exemplo de exortação para se afastar das preocupações mundanas (Jerônimo, Ep. 71,3). A recusa dos presentes de Naamã fornece aos Padres um belo exemplo de afastamento dos bens. Para Cassiano, Eliseu é um dos fundadores do monaquismo e, de modo especial, um mestre da pobreza (Inst. 7, 14,2).
Amona (século IV), discípulo de Antonio o Grande, canta todos aqueles que obedeceram aos seus pais, cumprindo a sua vontade com a obediência perfeita em tudo. Eliseu é um dele (Ep. 18). Isaías de Scete (+ 491) exorta à obediência com o exemplo de Eliseu (Asceticon 7). A homilia bizantina mais freqüentemente indicada para a festa de Santo Elias é um comentário sobre o Profeta Elias, o Tesbita, atribuída a São João Damasceno, sem dúvida provém do ambiente monástico. A menção de Eliseu põe em relevo a sua ligação total a Elias: “Tendo deixado tudo, casa, campos, bois, ele o segue, servindo-lhe em tudo e totalmente ligado à sua pessoa. Elias, que viveu dali em diante com Eliseu a quem havia também consagrado profeta segundo um oráculo divino, estava dia após dias reunido com ele sob o mesmo teto, compartilhando o mesmo estilo de vida, absolutamente inseparáveis”.
Atanásio de Alexandria, na vida de Antão, mostra que Eliseu via Giezi distante e as forças que o protegiam porque o seu coração era puro, escopo de toda ascensão monástica. João Baconthorp considera em Eliseu o carmelita aplicado à contemplação que “vê” Deus, destinado a trazer no seu coração a chama ardente e irradiante e a palavra de vida, como Maria, e a imitação de Elias e de Eliseu que viveram a vida contemplativa no Carmelo (Laus 2,2). Pe. Daniel da Virgem na suaVida do Santo Profeta Eliseu reassume os papéis respectivos de Elias e de Eliseu: “Inaugurando a vida religiosa, monástica e eremita, Elias a plantou, Eliseu depois a irriga e grandemente a divulga”.
Eliseu, discípulo de Elias
Nas Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo e em numerosos escritos patrísticos seja do Oriente como do Ocidente, Eliseu está constantemente presente como discípulo de Elias, seu filho espiritual, seu herdeiro. Jacques de Saroug (449-521), autor de sete discursos em métrica que representam longamente a figura de Eliseu e a sua mensagem, utiliza diversos epítetos. Igualmente Máximo de Torino (+ 408/423), de quem duas homilias se referem a Eliseu: “Porque se admirar que os anjos, que levaram o mestre, levam o discípulo (…)? De fato ele mesmo é o filho espiritual de Elias, herdeiro da sua santidade” (Sermão 84). Os Diálogos do Papa Gregório Magno muitas fazem eco às façanhas de Eliseu. Se a “rubrica prima” das Constituições de 1289 se contenta de justapor Elias e Eliseu, João de Cheminot, depois João de Venette especificam que Eliseu é “discípulo” de Elias. Porém as Constituições de 1357 foram assim modificadas: “A partir do Profeta Elias e de Eliseu, seu discípulo”.
Eliseu, o discípulo por excelência
Eliseu não é discípulo de Elias somente. Seguindo a tradição hebraica que se encontra nas Vitae prophetarum, na introdução de São Jerônimo em seu Comentário ao livro de Jonas e algum outro escrito patrístico, Jonas seria o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado pelo profeta e que se tornou discípulo de Elias: “Jonas, depois da sua morte, foi ressuscitado pelo profeta Elias: o seguiu, sofreu com ele e, por sua obediência ao profeta, mereceu receber do dom da profecia” (Sinassário árabe jacobita de 22 de setembro). João Baconthorp conhecia esta tradição que provém de São Jerônimo. João de Cheminot, seguindo Felipe Ribot, indica como primeiro discípulo o servo que Elias deixou em Bersabéia, quando fugia de Jesabel (1Rs 19, 3). Este servo é aquele que Elias enviou ao cume do Monte Carmelo para observar a chegada da chuva (1Rs 18, 43).
Segundo as Vitae prophetarum, Abdias, o intendente de Acab que escondeu os cem profetas em grupos de cinqüenta, enviado por Acazias, (1Rs 18, 3-4) tornou-se discípulo de Elias. Teodoro Bar-Koni, autor nestoriano do século VIII, especifica que ele recebeu o dom da profecia após ter seguido Elias. Os carmelitas medievais enumeram Abdias entre os grandes discípulos de Elias.
Felipe Ribot é o único carmelita do século XIV a mencionar o profeta Miquéias como discípulo de Elias. Para Cheminot e Ribot, Eliseu ocupa o primeiro lugar no grupo dos discípulos do Profeta Elias.
O duplo espírito de Elias
Eliseu é o sucessor de Elias que recebeu o seu duplo espírito, quando viu seu rapto (2Rs 2, 9-13). De acordo com uma tradição hebraica, Eliseu realizou 16 milagres, enquanto que Elias havia feito 8. A partir do século XII, Ruperto de Deutz fez o mesmo cálculo (A Vitória do Verbo de Deus). Para São Jerônimo, o duplo espírito se manifesta com os milagres maiores. Para Felipe Ribot, o duplo espírito é o dom da profecia que consente prever o futuro e o dom dos milagres: «Eis porque lhe dá a direção do magistério espiritual de todos os religiosos que tinha instituído.Como sinal disto, ele deu a Eliseu o seu hábito como sinal distintivo do seu instituto, deixando-lhe o seu manto, quando foi levado ao céu» (nº 149). A partir do século XVI, outros – como Pedro da Mãe de Deus, carmelita descalço holandês – vêem no duplo espírito o espírito da contemplação e da ação: «Os discípulos do Carmelo (…) estão obrigados por vocação a pedir sempre a Deus o duplo espírito de Elias (…), isto é, o espírito de oração e de ação, o verdadeiro espírito do Carmelo» (As Flores do Carmelo).
Santa Teresa de Ávila evoca juntos Elias e Eliseu numa poesia: «Seguindo o Pai Elias, nós combatemos a nós mesmas, com a sua coragem e o seu zelo, ó Monjas do Carmelo. Após ter renunciado a nosso prazer, busquemos o forte Espírito de Eliseu, ó Monjas do Carmelo» (Caminho para o céu). Notemos que na sua correspondência ou nas Relações, Santa Teresa designa frequentemente com o nome de Eliseu o seu caro filho, Pe. Jerônimo Gracián.
Em Lisieux, Santa Teresa do Menino Jesus, que morava na cela Santo Eliseu do dormitório Santo Elias, muito naturalmente alude ao duplo do espírito: «Recordando-me da oração de Eliseu ao seu pai Elias, quando ele ousou pedir-lhe o dobro do seu espírito, me apresentei diante dos Anjos e dos santos, e lhe disse (…) ouso pedir-lhes que me concedam o dobro do vosso amor» (Ms B 4r).
Prior dos filhos dos profetas
O apologista São Justino se refere ao episódio do ferro do machado caído na água que Eliseu fez boiar com um pedaço de madeira (2Rs 6, 1-7). Onde o texto bíblico diz simplesmente que os filhos dos profetas queriam construir um lugar de moradia, Justino precisa que estes estavam cortando a madeira destinada pra construir «a casa para aqueles que queriam repetir e meditar a lei e os preceitos de Deus» (Diálogo com Trifão, 86). Esta paráfrase se tornará no século XIII o coração da Regra dos carmelitas que se consideram os sucessores dos filhos dos profetas para «meditar dia e noite na lei do Senhor».
Gerado à vida pelo Espírito de Elias, Eliseu pode por sua vez gerar filhos, chamados na Bíblia de «filhos dos profetas». Teodoreto de Ciro apresenta Eliseu à testa do «coro» dos profetas que o consideravam como «prior» deles (Quaest4 Re 6, 19).
Felipe Ribot mostra como Eliseu é reconhecido «pai» dos filhos dos profetas: «Vendo Eliseu revestido do hábito de Elias, reconheciam que estava repleto do espírito de Elias e o receberam imediatamente como pai deles e mestre no lugar de Elias» (nº 149). Ele ensina aos filhos dos profetas, dá a eles ordens, organiza a comunidade religiosa instituída por Elias. Igualmente para João Soreth, após a ascensão de Elias, os filhos dos profetas «o veneraram, como superior deles, porque substituía Elias no governo dos eremitas».
Os caçoadores de Eliseu
Segundo a Haggadah, os caçoadores de Eliseu não são meninos, mas adultos que se comportam como meninos tolos. O número de pessoas devoradas pelos dois ursos corresponde então aos 42 sacrifícios ofertados por Balac (Nm 23). Os Padres Latinos não se referiram a esta tradição e dão uma interpretação anti-hebraica: Vespasiano e Tito – os dois ursos – aniquilaram Jerusalém 42 anos após a Paixão de Cristo, escarnecido pelos hebreus. Por outro lado o grito «sobe, careca» é um insulto a Elias para transformar em chacota o seu rapto. João Baconthorppensa nos detratores da Ordem: Eliseu ensina o respeito devido à antiguidade da Ordem como para cada forma de velhice (Laus 2, 1).
A sepultura de Eliseu
Um tradição hebraica tardia, bem atestada na Patrística (Jerônimo, Egéria, Anônimo de Piacenza, Isidoro de Sevilha, Beda o Venerável), localiza a tumba de Eliseu em Sebaste na Samaria, com as tumbas de Abdias e de João Batista. Os carmelitas da Idade Média (João de Cheminot, Speculum 1; João de Hildesheim,Diálogo) conheciam esta tradição. A sepultura de Eliseu foi violada por Juliano o Apóstata no século IV. Parte dos ossos foi transferida para Alexandria e para Constantinopla, e dali para Ravenna em 718 e colocada na igreja de São Lourenço. No Capítulo Geral de 1369, autorizou-se a Ordem a fazer investimento econômico para obter as relíquias de Eliseu. A igreja foi destruída em 1603 e se ignora a sorte das relíquias, entretanto se mostra na igreja de Santo Apolinário a cabeça de Santo Eliseu.
Culto litúrgico
O primeiro decreto oficial aprovando a festa de Santo Eliseu para o dia 14 de junho, data na qual o profeta é festejado no rito bizantino, se encontra nas Constituições de 1369. Foi promulgada no Capítulo Geral de Florença de 1399. Em 1564 se adicionou uma oitava à celebração da festa. No calendário da Reforma Teresiana, em 1609, a memória de Eliseu recebe a categoria de festa de primeira classe, mas em 1617 foi reduzida à condição de segunda classe, com oitava, e depois abandonada em 1909. As Constituições O. Carm. de 1971 determinavam: “Com oportuna solenidade sejam celebradas as festas dos pais da Ordem Elias e Eliseu, do protetor S. José e dos nossos santos” (nº 72). Mas na reforma litúrgica de 1972, Eliseu foi excluído do calendário dos dois ramos do Carmelo. Por solicitação dos Carmelitas da Antiga Observância, a re-introdução da memória de Santo Eliseu foi aceita pela Sagrada Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos em 1992.
Conclusão
Elias e Eliseu são considerados o ponto de partida de uma sucessão ininterrupta de monges no Antigo Testamento e depois no Novo Testamento, antes de serem mais simplesmente os inspiradores dos Carmelitas dos quais estes querem ser seus imitadores e ainda mais seus filhos. A devoção ao profeta Eliseu conheceu um eclipse de uns 30 anos após o Concílio Vaticano II: a reforma litúrgica do Próprio do Carmelo não conservou a sua festa, as Constituições O. Carm. (1971) e as dos Carmelitas Descalços (1991) nomeiam o profeta Elias somente quando se referem à tradição bíblica da Ordem. Por sorte, diversos estudos o recolocaram no seu lugar (Carmel 1994/1). As Constituições O. Carm. de 1995 dizem: “O Carmelo celebra, com especial devoção, os seus Santos, colhendo neles a expressão mais viva e genuína do carisma e da espiritualidade da Ordem ao longo dos séculos. Com particular solenidade, sejam celebradas a festividade de Santo Elias Profeta, a memória de S. Eliseu Profeta e as festas dos protectores da Ordem, a saber, S. José, S. Joaquim e Santa Ana” (nº 88).
De fato o Carmelo reconhece como seus inspiradores, não só o Tesbita, mas juntos Elias e Eliseu, porque nesta mesma relação se manifesta o carisma do Carmelo.
EVANGELHO DO DIA-11ª SEMANA DO TEMPO COMUM. Segunda-feira, 13 de junho-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo, e como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 5, 38-42)
Naquele tempo disse Jesus: 38Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 39Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. 40Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. 41Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. 42Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado. 43Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.
3) Reflexão - Mt 5, 38-42
O evangelho de hoje faz parte de uma pequena unidade literária que vai desde Mt 5,17 até Mt 5,48, na qual se descreve como passar da antiga justiça dos fariseus (Mt 5,20) para a nova justiça do Reino de Deus (Mt 5,48). Descreve como subir a Montanha das Bem-aventuranças, de onde Jesus anunciou a nova Lei do Amor. O grande desejo dos fariseus era alcançar a justiça, ser justo diante de Deus. Este é também o desejo de todos nós. Justo é aquele ou aquela que consegue viver no lugar onde Deus o quer. Os fariseus se esforçavam para alcançar a justiça através da observância estrita da Lei. Pensavam que era pelo próprio esforço que poderiam chegar até o lugar onde Deus os queria, Jesus toma posição diante desta prática e anuncia a nova justiça que deve ultrapassar a justiça dos fariseus (Mt 5,20). No evangelho de hoje estamos quase chegando no topo da montanha. Falta pouco. O topo é descrita com a frase: “Sede perfeito como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), que meditaremos no evangelho de amanhã. Vejamos de perto este último degrau que nos falta para chegar ao topo da Montanha, da qual São João da Cruz diz: “Aqui reinam o silêncio e o amor”.
Mateus 5,38: Olho por olho, dente por dente
Jesus cita um texto da Lei antiga dizendo: "Vocês ouviram o que foi dito: Olho por olho e dente por dente!”. Ele abreviou o texto. O texto inteiro dizia: ”Vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,23-25). Como nos casos anteriores, também aqui Jesus faz uma releitura inteiramente nova. O princípio “olho por olho, dente por dente” estava na raiz da interpretação que os escribas faziam da lei. Este princípio deve ser subvertido, pois ele perverte e estraga o relacionamento entre as pessoas e com Deus.
Mateus 5,39ª: Não retribuir o mal com o mal
Jesus afirma exatamente o contrário: “Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês”. Diante de uma violência recebida, nossa reação natural é pagar o outro com a mesma moeda. A vingança pede “olho por olho, dente por dente”. Jesus pede para retribuir o mal não com o mal, mas com o bem. Pois, se não soubermos superar a violência recebida, a espiral da violência tomará conta de tudo e já não haverá mais saída. Lameque dizia: “Por uma ferida recebida, eu matarei um homem, e por uma cicatriz matarei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete” (Gn 4,24). Foi por causa desta vingança extremada que tudo terminou na confusão da Torre de Babel (Gn 11,1-9). Fiel ao ensinamento de Jesus, Paulo escreve na carta aos Romanos: “Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem”. (Rm 12,17.21). Para poder ter esta atitude é necessário ter muita fé na possibilidade da recuperação do ser humano. Como fazer isto na prática. Jesus oferece 4 exemplos concretos.
Mateus 5,39b-42: Os quatro exemplos para superar a espiral da violência
Jesus diz: “Pelo contrário: (1) se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda! (2) Se alguém faz um processo para tomar de você a túnica, deixe também o manto! (3) Se alguém obriga você a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele. (4) Dê a quem lhe pedir, e não vire as costas a quem lhe pedir emprestado.” (Mt 5,40-42). Como entender estas quatro afirmações? Jesus mesmo nos ofereceu uma ajuda de como devemos entendê-las. Quando o soldado lhe deu uma bofetada numa face, ele não ofereceu a outra. Pelo contrário, ele reagiu energicamente: "Se falei mal, mostre o que há de mal. Mas se falei bem, por que você bate em mim?" (Jo 18,23) Jesus não ensina passividade. São Paulo acredita que, retribuindo o mal com o bem, “você fará o outro corar de vergonha” (Rm 12,20). Esta fé na possibilidade da recuperação do ser humano só é possível a partir de uma raiz que nasce da total gratuidade do amor criador que Deus mostrou para conosco na vida e nas atitudes de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1) Você já sentiu alguma vez uma raiva tão grande de querer aplicar a vingança “olho por olho, dente por dente”? Como fez para supera-la?
2) Será que a convivência comunitária hoje na igreja favorece a ter em nós o amor criador que Jesus sugere no evangelho de hoje?
5) Oração final
Senhor, ouvi minhas palavras, escutai meus gemidos. Atendei à voz de minha prece, ó meu rei, ó meu Deus. É a vós que eu invoco, Senhor. (Sl 5, 2-4)
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