RECEITA DO PADRE...
- Detalhes
#Província300: Dez constantes da nossa história como desafios para nós Carmelitas do século XXI
- Detalhes
Frei Carlos Mesters, O. Carm
Olhando a nossa história toda, desde o início no Monte Carmelo, desde a vinda para Europa em 1238, desde a reforma de João Soreth no século XV, desde a vinda para o Brasil em 1580, desde a restauração no começo do século XX, aparecem umas constantes, uns pontos comuns nas várias épocas que merecem nossas atenção e que podem ajudar para descobrir os desafios para nós, pois neles se revela algo do rumo do Espírito de Deus para nós.
Assinalo aqui as seguintes dez constantes que aparecem ao longo da nossa história. Existe um certo desdobramento ou repetição entre eles, mas o enfoque de cada um é diferente:
- A vontade de estar em dia com a Igreja que se renova, atentos aos Sinais dos Tempos,
- A tensão entre contemplação e serviço ao povo, desde Simão Stock e Nicola o Francês
- Criatividade e entusiasmo que cativa a juventude
- Cultivar o que é próprio do Carmelo e não perder a identidade
- Acentuar a dimensão comunitária e a dimensão de Família Carmelitana
- Aprofundar e reler sempre de novo o ideal do Profeta Elias: Mística e Profecia
- Aprofundar e atualizar a devoção a Maria: ouvir, meditar e praticar a Palavra
- Ser fiel à origem Mendicante
- Não ter medo de reconhecer os erros e limitações, viver em conversão permanente.
O resumo de tudo: Viver em Obséquio de Jesus Cristo
Penso que cada um destes dez pontos deve merecer nossa atenção para descobrir os desafios de Deus no começo deste novo milênio, para a nossa presença e missão aqui no Brasil, onde chegamos faz apenas um pouco mais de 400 anos, e em Moça,bique, onde o ardor missionário nos levou a irradiar a presença do Carmelo. Em cada uma destas constantes podemos e devemos perguntar:
- Como foi que isto aconteceu no passado?
- Como podemos dar continuidade?
Segue uma primeira tentativa de recolher alguns sinais de como no passado procuramos responder aos desafios dentro destas dez constantes da nossa história:
A vontade de estar em dia com a Igreja que se renova: atentos aos Sinais dos Tempos.
Desde o seu mais remoto início, mesmo antes de receber a Regra, os Carmelitas procuravam sintonizar com a Igreja que se renovava, e buscavam estar dentro do rumo do Espírito de Deus. Buscavam farejar e seguir os “sinais dos tempos e lugares”. Não tiveram medo de tomar decisões ousadas para dar continuidade à sua missão:
- Abandonar Europa e ir para a Terra Santa
- Desejo de estar com a Igreja, pois queriam ter uma Regra aprovada por Alberto e pelo Papa.
- Assumir a forma mendicante de Vida Religiosa desde o início
- Abandonar o Monte Carmelo para vir à Europa para dar continuidade à Missão, mesmo sem saber bem como seria.
- As várias reformas que surgiram em praticamente todos os séculos até hoje
- Mesmo sendo eremitas assumem ser missionários a pedido da Igreja.
- Sair de Portugal para o Brasil: viagem ao desconhecido da Terra de Santa Cruz: viagem de três meses, sem celular nem rádio.
Tensão entre contemplação e serviço ao povo, desde os tempos de Simão Stock e Nicola o Francês
Os Carmelitas, mesmo sendo eremitas, não viviam separados nem alienados da realidade do mundo, mas procuravam servir ao povo. Nunca deixamos para trás nossa origem que é o Monte Carmelo: cada comunidade é desafiada a ser um “Pequeno Carmelo” que acolhe e faz a pessoa sentir e experimentas os mesmos valores que marcavam a vida dos primeiros frades no Monte Carmelo.
- O lugar geográfico deu origem ao nosso nome: “Carmelitas” e não “Albertinos”.
- Quando voltam para a Europa, eles entram nas cidades para poder servir ao povo e souberam encontrar e recriar nas cidades o deserto do Carmelo.
- O Monte Carmelo deixou de ser apenas um lugar geográfico para tornar-se um ideal de vida.
- A escolha dos lugares levava em conta o ideal de vida orante, conforme pede a própria Regra.
- A preocupação em seguir a Reforma de Touraine aqui no Brasil
- O surgimento hoje de dois eremitérios no Brasil
- Até hoje definimos nossa vida como “Fraternidade Orante no meio do Povo”.
Criatividade, coragem e entusiasmo que cativa a juventude
Aqui temos uma característica que chama atenção até hoje e nos desafia: é a criatividade na maneira de ser fiel às duas exigências do carisma: mística e Profecia, oração e missão, fraternidade contemplativa e serviço ao povo.
- O lugar onde os primeiros carmelitas construíram os conventos logo depois que vieram para a Europa.
- Depois de menos de 70 anos (de 1238 a 1300) criaram mais de 160 conventos em toda a Europa. Sinal de muito entusiasmo e criatividade.
- Tendo 200 frades em Portugal, eles têm a coragem de seguir o rumo da Igreja e aceitam o pedido de enviar quatro frades para uma terra totalmente desconhecida. De 1580 a 1635, em mais ou menos cinqüenta anos, os quatro frades souberam aumentar o número até 200 frades no Brasil. Sinal de que souberam apresentar o ideal carmelitano para a juventude destas épocas.
- As várias formas de presença aqui no Brasil, tão diferente de Portugal. Deixaram um rastro da sua presença na Amazônia, até hoje.
- No fim do século XIX, atendendo ao pedido do Papa e do Padre geral, vieram os frades da Espanha, da Alemanha, da Holanda e da América do Norte. A decisão na Holanda foi tomada em quatro dias e um grupo de seis frades veio para o totalmente desconhecido.
- A formação dada era totalmente deficiente (frei Timóteo) e mesmo assim de dentro dos frades renasce a criatividade que começa a reler o carisma e dá lição a quem já pensa saber tudo.
- Hoje se constata a mesma criatividade entre os formandos nossos na América Latina, África e Ásia (Timor Leste)
Cultivar o que é próprio do Carmelo e não perder a identidade
A história do Carmelo no Brasil é um testemunho desta fidelidade dos frades ao que temos de próprio. Olhando o gênero das atividades, eles se dedicam à pastoral comum, mas insistem no que nos é próprio:
- Devoção a Nossa Senhora, Escapulário, (Minas, Amazonas, Pará)
- Devoção ao Senhor dos Sete Passos,
- Práticas próprias para vários momentos do ano litúrgico: Statio,
- Novenas, uma iniciativa começada com os carmelitas.
- Acentuar a dimensão comunitária e a dimensão de Família Carmelitana
Nascemos como um grupo leigo
- A dimensão comunitária e muito forte na Regra
- Éramos eremitas que viviam em comunidade
3.As iniciativas são tomadas sempre em comunidade, em grupos. Havia o exercício participativo da autoridade, próprio dos Mendicantes e que se reflete na nossa Regra.
- Desde a reforma de João Soreth já se abre para leigos e leigas
- No Brasil temos a criação das Ordens Terceiras em vários lugares.
- Além disso, a partir dos frades e ligados a eles, surgiram Ordens Terceiras em toda parte.
- Surgem muitas congregações religiosas femininas, e a partir das Congregações há muita colaboração em nível de Família.
- É importante o esforço OC-OCD que nasceu aqui e que está sendo retomado para a toda a Ordem.
- A pintura em Recife une todas as ordens ao redor da fonte de Elias.
Aprofundar e reler sempre de novo o ideal do Profeta Elias: Mística e Profecia
- Renasce sempre em todas as épocas, mas sobretudo hoje a dupla dimensão Mística e Profecia que nos marca desde o começo.
- Neste ponto, no século XX, o Carmelo da América Latina deu uma grande contribuição para renovar a visão que tínhamos do profeta Elias como modelo de Vida Carmelitana. Veja a Ratio
- A ONG KARIT da Espanha, inspirada na figura do Profeta Elias.
- Na liturgia tínhamos orações diárias especiais ao Profeta Elias
- A iconografia do Carmelo no Brasil.
Aprofundar e atualizar a devoção a Maria: ouvir, meditar e praticar a Palavra
- Carmelo Bíblia o preferido das jovens e dos jovens
- Trabalho bíblico com as comunidades
- Devoção a Nossa Senhora, sobretudo por meio do Escapulário
- Festas e orações próprias
- As imagens e festas nas nossas igrejas
Ser fiel à origem Mendicante
Esta origem está dentro de nós e sempre levanta a cabeça. Surgimos numa época de mudança política e social na Idade Média. Surgimos para estar do lado dos Menores para fazer com que a riqueza da tradição orante da Igreja, através da nossa fidelidade, chegasse a ajudar o povo das cidades.
Os mendicantes se caracterizam por uma
* Vivência fraterna muito forte que não tem abade, mas tem prior;
* Itinerância e disponibilidade que gera mobilidade para o serviço aos pobres;
* Espiritualidade muito forte que irradia;
* Partilha que tem tudo em comum.
- Na América Latina, o que mais tem é pobre e empobrecimento. Já houve várias iniciativa da parte dos grupos Mendicantes (franciscanos, dominicanos, carmelitas, mercedários e outros) para ver como esta raiz comum nos pode ajudar a ser mais fiéis ao que Deus pede de nós hoje aqui nestas nossas terras.
- Em Roma, por iniciativa do nosso Padre Geral Joseph Chalmers, começou um movimento de encontros entre os Superiores Gerais das várias Ordens Mendicantes.
- No início, devido ao desejo de poder servir melhor ao povo, os mendicantes se clericalizaram. Hoje, penso que devemos pensar em desclericalizar para poder encontrar novos formas de serviço ao povo de acordo com o que a Realidade e a Igreja estão pedindo.
Não ter medo de reconhecer os erros e limitação e viver em conversão permanente.
Erramos muito ao longo dos séculos, em parte devido às limitações inerentes à visão da Igreja que funcionava como quadro de referências para todas as atividades:
- Conversão: expulsão da TFP
- Aceitação de negros
- Releitura dos Santos e das Santas
- Abandono da visão colonialista
Resumo de tudo: Viver em Obséquio de Jesus Cristo
No fim, o que renasce em todo carmelita é o desejo de, como Maria, meditar dia e noite na Lei do Senhor; como Elias, ser um testemunho ambulante do Deus vivo e, assim, viver sempre mais em obséquio de Jesus e deixar que o Reino de Deus tome conta de toda a nossa vida.
OLHAR DO DIA: Carmo da Lapa/RJ.
- Detalhes
Pe. Ricardo Nunes, da Diocese de Jaboticabal/SP- Ex-Frade Carmelita- e Frei Carlos Mesters, em visita ao Carmo da Lapa, Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 17 de maio-2019.
425 ANOS: OTC da Esplanada-02
- Detalhes
425 ANOS: OTC da Esplanada-01
- Detalhes
Congresso da Ordem Terceira do Carmo em Aparecida/SP. 3-4 de agosto-2019. Tema: A Fraternidade em Obséquio de Jesus Cristo. Texto-02
- Detalhes
A VIDA COMUNITÁRIA NO CARMELO TERESIANO
Salvador Ros García
Se perguntássemos a santa Teresa que experiência ela teve de vida comunitária, e como esta influenciou em sua vida espiritual, ela começaria, com quase certeza, respondendo-nos que não teve mestres, nem formadores, nem amigos que nela introduzissem: “Eu não encontrei mestre - digo confessor que me entendesse -, embora procurasse durante vinte anos, depois do que estou a dizer. Isto fez-me muito dano e voltar muitas vezes atrás e até de todo me perder” (V 4,7). “Creio que se tivesse tido mestre ou pessoa que me avisasse para fugir das ocasiões...” (V 4,9). “Todo mal estava em não poder eu furtar-me de todas as ocasiões e nos confessores que ajudavam pouco (V 6,4). “Grande mal é ver-se sozinha uma alma entre tantos perigos (...) Porque para cair tinha muitos amigos que me ajudassem; mas para levantar-me via-me tão só que agora me espanto ao ver que nem sempre estava por terra, e louvo a misericórdia de Deus, pois só ele me estendia a mão” (V 7, 20-22).
Como se vê, a lembrança da falta de um orientador é uma constante, semelhante a uma fibra solta e dolorida que pulsa no interior do seu relato biográfico. Essa carência foi real: se observarmos o resumo que ela própria faz de seu noviciado e da comunidade da Encarnação, nos damos conta que não menciona, em nenhum momento, o nome de uma mestra ou de uma priora que lhe tenha marcado significadamente. Somente recorda-se de uma amiga passageira e ninguém mais (cf. V 3,2; 4,1): nem os amigos que a acompanharam, nem sequer um sacerdote dentre os mais de 15 confessores que frequentaram o Mosteiro da Encarnação e que a ajudaram. Isso durou quase 20 anos (dos 20 aos 39 de idade) até que, por fim, aparece alguem disposto a estender-lhe a mão. É Francisco de Salcedo, um leigo, ao que chama “o cavaleiro santo”, e de quem exclama emocionada e agradecida: “que grande coisa é entender uma alma”
Apesar disso, o panorama não foi tão obscuro como parece. Ela mesma revela, em seguida, uma confidência surpreendente: “uma coisa posso dizer com verdade: Sua majestade (Deus) foi sempre meu mestre. Seja Ele bendito! Muita confusão é para mim poder dizer isto com verdade” (V 12,6). Disse isso em meio ao que é mais amargoso do relato da sua experiência de solidão e carência, em um constraste tão chamativo que se torna intencional, justamente para acentuar ainda mais este segundo plano que é a fonte de seu carisma e de seu magistério.
A experiência na encarnação (1535-1562)
Quando, na madrugada de 02 de novembro de 1535, Teresa saiu da casa paterna para ser monja no Convento da Encarnação, “onde estava aquela minha amiga” (V 4,1), tal convento se encontrava em livre expansão demográfica, num processo de crescimento de mais de 30 professas em 1536, de 65 em 1545, de mais de 150 em 1562, até chegar inclusive a 180[1]. Contrariamente, as rendas comuns estavam em diminuição e eram mal administradas, tornando-se insuficientes para satisfazer a necessidade daquele mundo heterogênio e crescente. Como consequência, o mosteiro oferecia um espetáculo chocante: de um lado as monjas pobres, do refeitório e dormitório comum, que passavam fome, e de outro, as senhoras privilegiadas, que dispunham de recursos próprios e que viviam magnificamente em suas celas de aluguel vitalício, com capacidade para manter criadas, talvez alguma escrava, alojar parentes e com um estilo de vida exatamente igual ao secular[2].
Diante de tal situação de pobreza comunitária, em contraste com a riqueza individual de algumas, uma alternativa encontrada era a de amenizar a superpopulação do mosteiro através de saídas frequentes, às vezes de longa duração, motivada por aparente mendicância, por imperativos de gratidão ou expectativas de ajuda que não sempre se cumpriam. Isto era possível porque no Convento da Encarnação “não se prometia clausura” (V 4,5). Consequentemente, a dependência afetiva gravitava mais em torno da vida extra-conventual, o que tornava impossível a vida comunitária intra-conventual. De fato, as próprias constituições do mosteiro manifestam também estas mesmas carências, comuns à mentalidade da época: não se tinha em conta o número de monjas nem os critérios de idoneidade para a vida comum; a oração mental não se apresentava como ato da comunidade; não existia a recreação comunitária nem se prescreviam outros encontros para o diálogo fraterno[3].
Obrigada ou de boa vontade, Teresa se viu envolvida nesse ambiente e viveu esta realidade: passou longos momentos no locutório a falar com algum cavaleiro da aristocracia local (V 7,7); esteve fora do mosteiro durante a prolongada e aguda enfermidade que a deixou paralítica aos seus 25 anos, e que a fez acorrer à curandeira famosa de Becedas, por-se em contato com o sacerdote enfeitiçado, convencer-se da miséria da medicina de seu tempo e de que podiam mais os terapeutas do céu, em especial o valoroso São José (V 6,5-8). Falecido o seu pai em 1543, Teresa teve que tomar conta de sua irmã Joana, que residiu com ela até seu casamento; foram frequentes as estadas na casa de seu tio Francisco Alvarez de Cepeda; fez com Joana uma peregrinação votiva a Guadalupe, com desvios bem aproveitados; esteve anos e anos com sua amiga íntima dona Guiomar de Ulloa; teve que ir a Toledo, por ordens do Provincial para consolar a aristocrata viúva dona Luisa de la Cerda (V 34-35). Com tudo, deve-se dizer que tais saídas tornaram-se proveitosas, pois graças a elas pôde entrar em contato com ideias e personagens decisivos: São Pedro de Alcântara, São Francisco de Borja, etc.
Seus encontros, fruto das saídas do convento, somados a sua sensibilidade às correntes reformistas, possibilitaram a gestação e o nascimento da ideia reformadora (cf. V 32,10). Todavia, não se deve esquecer que foi do Carmelo da Encarnação que veio a inspiração aos textos institucionais primitivos, bem como as próprias monjas que alimentaram as primeiras fundações descalças. Mesmo assim, essa herança ou elementos de continuidade não podem encobrir os muitos outros aspectos transcendentais que dotaram o projeto teresiano de um espírito novo e inconciliável com o vivido na encarnação – espírito e mosteiro que, sem dúvida, traumatizaram Teresa, apesar das contínuas desculpas que demonstra sem cessar (cf. V 37,9-10).
[1] Segundo dados da própria autora: cf . F 2,1; carta a uma aspirante, fim de maio de 1581,2.
[2] Remetemos à documentação publicada por O. STEGGINK, «Santa Teresa y el Carmelo femenino anterior», en Experiencia y realismo en Santa Teresa y San Juan de la Cruz,Madrid 1974, pp. 70-98; ID., Arraigo e innovación, Madrid 1976, pp. 51-68; T. ÁLVAREZ, «La visita del Padre Rubeo a las Carmelitas de la Encarnación de Ávila (1567)», en Monte Carmelo 86 (1978) 5-48; 269-280.
[3] Texto publicado por SILVERIO DE SANTA TERESA, «Constituciones del convento de la Encarnación de Ávila que se observaban viviendo allí Santa Teresa de Jesús», em Biblioteca Mística Carmelitana (= BMC), t. 9, pp. 481-523.
BISPO CARMELITA NA 57ª ASSEMBLEIA DA CNBB: Dom Wilmar Santin falou dos desafios da atuação eclesial na região amazônica
- Detalhes
Dom Wilmar Santin, bispo prelado de Itaituba (PA), foi o convidado do meeting point (oportunidade de contato com os bispos por meio de abordagens temáticas adicionais à programação oficial da Assembleia da CNBB) desta sexta-feira, 3 de maio.
Com o tema “Novos ministérios na realidade amazônica – rumo ao Sínodo 2019”, dom Wilmar abordou questões relativas ao Sínodo dos Bispos sobre a Pan-Amazônia, convocado pelo Papa Francisco em outubro de 2017 e que acontecerá em outubro deste ano, envolvendo a Igreja dos nove países que compõem a região.
O ponto central do assunto se refere à necessidade da existência dos ministérios leigos na Amazônia, justamente pela falta de ministros ordenados numa região com extensa área geográfica e longa distância entre as localidades, normalmente de difícil acesso.
“O tema dos ministérios é fundamental na Igreja em toda a Amazônia, pela falta de ministros ordenados, o que faz com que os leigos participem”, afirmou o Bispo Prelado de Itaituba.
Documento da CNBB – O documento 62 da CNBB, intitulado “Missão e ministério dos cristãos leigos e leigas”, de 1999, trata exatamente das novas formas de atuação laical, em cooperação com as atividades eclesiais. Segundo dom Wilmar, há quatro tipos de ministérios previstos: o reconhecido, o confiado, o instituído e o ordenado.
– reconhecido: é aquele que existe como serviço para a comunidade e que não tem um rito próprio de instituição.;
– confiado: quando já se tem um gesto litúrgico simples ou uma forma canônica, como os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, com mandato oficial, feito dentro da missa, sendo que o bispo ou o padre aceita enviar determinada pessoa como ministro.
– instituído: função conferida pela Igreja por meio do chamado rito de instituição, como o acolitato e o leitorado.
– ordenados: são os três graus previstos no sacramento da Ordem: diaconato, presbiterado e episcopado.
Fundamento bíblico – Dom Wilmar relembrou que a Sagrada Escritura mostra, no relato do livro dos Atos dos Apóstolos, que o primeiro ministério a ser instituído pela comunidade foi o diaconato, no episódio em que se percebeu que as viúvas gregas não estavam recebendo a devida atenção e, por isso, escolheram sete homens para ajudar a lhes dar a assistência necessária.
“Sobretudo após o Concílio Vaticano II é que se colocou ênfase no ministério dos leigos, uma igreja toda ministerial, com ministros da liturgia, da Palavra, do batismo, das exéquias, do matrimônio, entre outros, como parte integrante das várias comunidades. A origem de todo ministério é sempre o Espírito Santo, que suscita carismas e pessoas para algum serviço, não sendo, no entanto, algo para proveito próprio mas sim para o bem da comunidade, como afirma São Paulo no capitulo 12 de sua carta aos Coríntios”, relembrou D. Wilmar.
Experiência amazônica – Segundo o bispo, há alguns anos, numa das reuniões do clero de Itaituba, no Pará, questionou-se por que os padres não têm condições de dar a assistência pastoral e espiritual que deveriam. O religioso conta que chegaram à conclusão de que o número de padres é reduzidíssimo, com muitas comunidades a serem atendidas, distâncias imensas e estradas e acessos em péssimo estado.
“Assim, havia a necessidade de se ter leigos que desempenhassem bem sua função e decidiu-se que a ênfase seria formar bons ministros da Palavra entre os índios da etnia mundurucu, numa localidade em que vivem 14 mil deles, no Alto Tapajós, divisa com o Mato Grosso”, informou o bispo.
O bispo conta que após quatro anos de formação, em novembro de 2017, instituiu 24 ministros da Palavra (20 homens e 4 mulheres) e, em março deste ano, coincidentemente mais 24 (5 mulheres e 19 homens). “Isso me remete ao relato de Atos, capítulo 2, quando os apóstolos começaram oficialmente a pregação no dia de Pentecostes e o povo dizia: ‘nós ouvimos as maravilhas de Deus em nossa própria língua’”, disse. Ele orgulha-se de hoje ter 48 ministros da Palavra, que celebram em sua própria língua nativa. O próximo, segundo dom Wilmar, será preparar ministros do Batismo e do Matrimônio.
Por fim, dom Wilmar afirmou que a ideia de um dia ter ministros ordenados indígenas recebeu do Papa Francisco a seguinte resposta: ‘Vocês, da Amazônia, têm uma missão muito grande de dar uma demonstração ao mundo de que é possível usufruir das riquezas da Amazônia sem destruir’. Então, lutar para preservar a Amazônia não é ser contra o governo e sim ser a favor da casa comum, a favor do povo e a favor do Brasil”, concluiu.
Por padre José Ferreira Filho
Fonte: http://www.cnbb.org.br
CARMO DA ESPLANDA: 425 Anos.
- Detalhes
CONVITE: 425 Anos da Ordem Terceira do Carmo da Esplanada/SP. Missa com Frei Evaldo Xavier, O.Carm no próximo domingo, dia 5 de maio-2019, às 17hs.
NOVICIADO DOS CARMELITAS: Missa
- Detalhes
OCD: Situação do Carmelo na Venezuela
- Detalhes
Com o significativo título de “Venezuela, um país para chorar”, recebemos há alguns dias uma carta do Delegado Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços naquele país – Frei Daniel Rodríguez, ocd –, na qual nos dava informações sobre a situação de emergência que está vivendo a Venezuela e como os carmelitas estão tentando ajudar os mais afetados pela crise.
Na carta, Frei Daniel ressaltava o fundamento moral e espiritual da “noite” político-social na qual o país se encontra mergulhado. De acordo com nosso irmão, a situação pode ser qualificada como de “anarquia voraz”, na qual o crime e a delinquência avançam em meio a uma sociedade cada vez mais empobrecida, sem que se veja saída para uma situação na qual falta um sustento digno a tantos, enquanto escasseiam alimentos e medicamentos, bem como outros meios para poder viver uma vida digna.
Diante desse panorama desolador, nossos irmãos e irmãs tratam de desdobrar-se para ajudar os demais, mesmo que também tenham que suportar algumas penúrias: falta o combustível mínimo, necessário até para cozinhar; os cortes de luz são contínuos e prolongados, razão pela qual nossas Irmãs de Maracaibo, por exemplo, não podem utilizar ventiladores elétricos para aliviar temperaturas de 42° a 50°.
Da Cúria Geral, assim como da família carmelitano-teresiana de países como Colômbia, Brasil, Panamá, República Dominicana, Peru, Chile, Espanha, Argentina e do CITeS (Ávila), nossos irmãos venezuelanos têm recebido ajudas dos mais diversos tipos, as quais permitiram distribuir alimentos e medicamentos aos mais desfavorecidos. O Carmelo Secular mantém aberto um refeitório em Mérida, no bairro pobre de El Salado, mas só pode oferecer um prato de comida semanal. Fonte: http://www.carmelitaniscalzi.com
ILHA DA GIPÓIA: Pascoela.
- Detalhes
A caminho da Ilha da Gipóia- em Angra dos Reis/RJ- para a Pascoela dos Carmelitas regional Rio; Lapa, Vicente de Carvalho e Angra dos Reis. Segunda-feira, 29 de abril-2019.
MISSÃO EM DIAMANTINA-MG: 260 Anos da OTC
- Detalhes
DIAMANTINA-MG: (Sábado, 27 de abril-2019). Missão em preparação dos 260 Anos da Ordem Terceira do Carmo de Diamantina-MG no mês de maio.
FRATERNIDADE: A GRATUIDADE DO ABSOLUTO GERA A TERNURA
- Detalhes
(Congresso da Ordem Terceira do Carmo em Aparecida/SP. Dias 3 e 4 de agosto-2019. Tema: A Fraternidade em Obséquio de Jesus Cristo).
*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm
Os três temas: Absoluto, Fraternidade e Missão estão interligados, inclusive na prática da nossa vida. O Absoluto de Deus quando entra na nossa vida leva à Fraternidade. Poderíamos dizer: na medida em que descobrimos o Absoluto de Deus que nos acolhe, acontece em nós um processo de ternura. As interrogações que nos levam à descoberta do mistério do Absoluto de Deus sempre se referem ao amor. Ao amor universal, amor pelo mundo, pela humanidade e, principalmente, amor àqueles que são excluídos do acolhimento.
No fundo a opção pelos pões esconde uma carga muito grande de ternura. Não simplesmente uma ternura que definimos em termos de emotividade. É uma ternura que vai penetrando em todas as fibras do ser da pessoa, na medida em que descobre o Absoluto como alguém que acolhe, e não como alguém que é conquistado. A conquista nunca desperta para a ternura, o acolhimento sim. Isto inclusive em termos de afetividade humana, e em termos psicológicos. Então, a dinâmica da interrogação é sempre a dinâmica do amor divino e do amor humano. É a dinâmica da comunhão, da fraternidade. Isto faz suscitar uma história que revela o amor de Deus que se manifestou em Jesus Cristo. No livro, Oração do tempo Presente, rezávamos: “ Jesus, ternura para a terra, que o vosso retorno cantemos”. É precisamente a ternura do Absoluto, que acolhe, faz existir, cria , sustenta e leva ao cumprimento todas as histórias parciais, incompletas e imperfeitas que nós nos contamos reciprocamente. É Jesus, manifestação do Absoluto de Deus, que leva essas histórias ao seu cumprimento.
Quando u me subtraio ao mundo das relações humanas que tornam uma vida humana autêntica, caio num silêncio terrível, num silêncio que nega qualquer coisa, porque é uma total ausência de história para contar. É precisamente a imagem do mal. É a negação de Deus que através de Jesus Cristo no Espírito Santo é uma palavra viva, um amor partilhado. O amor sempre quer a felicidade do outro. Sem o Absoluto do Mistério de Deus pode haver simpatia, ms isto não quer dizer que eu tenha ternura pela pessoa. Porque a ternura é o desejo inexorável de afirmar o outro. Isto a gente vê até no aspecto biológico no mundo animal: a ternura da mãe gata que caça e traz o ratinho vivo para os filhotes irem aprendendo a caçar. Isto é para afirmá-los. Afirmar o frágil.
O destino do homem é a sua felicidade. Isto já sabíamos pela Filosofia e Teologia Escolástica. É a exigência da felicidade do outro que define o dinamismo fundamental daquele que faz a experiência do Absoluto. Se não existisse a felicidade seria até injusto gerar, dar à luz. Gerar seria ameaçar com uma frustração inimaginável, seria ameaçar com uma dor sufocante. É uma negaça da ternura porque não se deseja a afirmação do outro. Portanto é a negação se de mesmo. O olhar para o outro deveria ser sempre de ternura, deveria traduzir o desejo de afira-lo. Se isto não acontece sempre na nossa vida é porque somos inconscientes ou maldosos. É isto que geralmente acontece. O outro permanece ou se torna um estranho. Quem se ocupa com a educação de crianças e jovens sabe das conseqüências que isso produz, inclusive no campo psicológico. Em Itaguaí começamos um trabalho com meninos de rua e já podemos ver as conseqüência dessa ausência de ternura. São estranhos e nunca descobriram a ternura tão necessária que a pessoa deve ter consigo mesma.
Essa ternura não é alguma coisa abstrata. Ela tem expressões humanas, biológicas, por exemplo a paternidade e a maternidade. A ternura de uma mãe diz respeito ao destino e à felicidade da criança. É uma paixão pelo futuro do filho que está presente, um relacionamento humano carregado de ternura. Esta perspectiva se estabiliza na vida da pessoa como herança do relacionamento com o pai e a mãe, na ternura que a criança tem consigo mesma enquanto cresce. Quando não tem essa herança, a criança cresce estranha a si mesma e se debate sempre em busca de uma identidade própria. Isto se reflete na segurança e alegria de viver. Só temos uma identidade se nos afeiçoamos a ela. Isto vale para mós individualmente como pessoas humanas, no campo psicológico. Mas também não posso ter uma identidade de carmelita, se não tenho afeição, ternura por esta identidade.
FRATERNIDADE: EXPERIÊNCIA DA TERNURA DE JESUS CRISTO
Esta ternura que decore da descoberta do Absoluto, em nós, deve transformar-se poço inesgotável de consciência e de liberdade. Isto tem conseqüências e aplicação para nossa vocação religiosa e carmelita. A nossa vocação carmelitana nunca pode ser um anexo à nossa vida humana e cristã. A vocação surgida num momento histórico vai ser integrada à minha própria vida humana e cristã. Uma separação entre as duas desfaz a mensagem da nossa vida para os outros.
A nossa vida fraterna está intimamente ligada à vivencia do Absoluto. O absoluto deve ser algo presente na minha vida, porque sem esta presença não há possibilidade de ternura e a perspectiva do futuro seria fruto de uma imaginação. Tudo se torna abstrato. Quando a nossa Regra diz que devemos viver em obséquio de Jesus Cristo, supõe uma presença que aconteceu na história. E há tantas afirmações na Bíblia que confirmam esta presença: “( Jô 15, 5 ). “ Tudo foi feito por meio dele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele. “( Jô 1,3 ) Não tenhamos pudor para aplicar isso também à própria vida, às capacidades que a gente em e inclusive à nossa realidade humana com todas as potencialidades e riquezas que nela existe. “ Tudo foi feito por meio de...” Apliquemos isso às nossas realizações, ao bem que eventualmente fazemos e espalhamos ao nosso redor. “ Tudo foi feito por ele” “ E a Palavra, o Verbo se fez carne” ( Jô 1, 14 ). É um fato do passado, do tempo em que aconteceu, mas é um fato que permanece presente e é um presente que eu posso abraçar.
O Absoluto está presente como um destino que é iniciativa , que é graça. O destino presente é Jesus Cristo. E se o homem conhece Jesus Cristo, acontece nele a ternura, a segurança, a alegria. ,Às vezes encontramos pessoas tão simples, mas que têm essa ternura que brota do conhecimento do Absoluto em Jesus Cristo. Fora da consciência da presença de Jesus Cristo pode haver riso, pode haver risada, mas não pode haver alegria. É o que dizia São Paulo: “ Alegrai-vos no Senhor, eu insisto, alegrai-vos. O senhor está perto” ( Fl 4, 4 ). E não é simplesmente a alegria de um dia bonito que a gente tem, quando levanta de manhã e o sol brilha. Sem excluir isto, não é isto. É algo permanente. “A vida eterna é esta: que eles conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro e àquele que enviaste, Jesus Cristo”... ( Jô. 17, 3 ) Jesus, pouco antes de começar a sua agonia no Horto das Oliveiras, dizia: “ Continuo a dizer estas coisas para que eles possuam toda a minha alegria” ( Jô 17, 13 ). E mesmo sendo pecadores – e com a gente descobre que é pecador! – a alegria continua nossa herança. É a alegria do perdão. A dor pelo pecado já é o início da alegria.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: ORAÇÃO, UM BUQUÊ DE FLORES
- Detalhes
Santa Teresa de Jesus.
“Habituar-se à solidão é grande coisa para a oração e, sendo esta o fundamento desta casa, é necessário por todos os meios afeiçoarmo-nos ao que mais a favorece” (C. 4,9) ... “Todos sabem que sois religiosas e que tendes vida de oração. Grande mal é que pessoas tão obrigadas a. não falar senão de Deus, tenham por licito usar de dissimulação em tais circunstâncias, a não ser alguma vez para conseguir maior bem. Este é o vosso trato e o vosso modo de falar. Quem quiser ter relação convosco, aprenda-o, se não, guardai-vos de aprender vós o seu. Se vos julgarem grosseiras, pouco perdereis. Se hipócritas, ainda menos. Saireis ganhando, porque não virá procurar-vos senão quem souber a vossa língua.
É impossível uma pessoa que não sabe o árabe gostar de entreter-se longamente com quem só fala árabe. Nem vos cansarão, nem vos farão dano. Do contrário, ficaríeis muito prejudicadas tendo de aprender nova língua. Nisto iria todo o vosso tempo. Não podeis calcular como eu. que o sei, por experiência, quanto prejudica a alma. Para se aprender uma língua, esquece-se n outra e vive-se num perpetuo desassossego. O que muito convém para este caminho é paz e tranqüilidade na alma. Se os que falarem convosco quiserem aprender vossa linguagem, contai-lhes as riquezas que se ganham em aprendê-las. Disto não vos canseis. Insisti com piedade e amor, fazendo também oração para que lhes seja proveitoso” (C. 20, 4-6)... “Quando chegardes a ele, refleti e procurai compreender com quem ides falar, ou com quem estais falando. Mil vidas das nossas não bastariam para acabarmos de entender como merece ser tratado este Senhor. Em sua presença tremem os anjos. Ele tudo governa, tudo pode. Seu querer é realizar.
Não faleis com Deus pensando em outras coisas. Isto vem de não compreender o que é oração mental. Penso que o deixo assaz explicado: praza ao Senhor que o saibamos pôr em prática. Amém.” (C. 22, 7.8)... “A primeira coisa que nos ensina Sua Majestade é que a alma se recolha a sós, na solidão. Assim fazia ele sempre que orava, não por necessidade, mas para nosso ensinamento. Já se disse: é intolerável falar ao mesmo tempo a Deus e ao mundo. É o que fazemos quando estamos a rezar e a escutar, por outro lado, o que se fala em torno de nós, ou a pensar no que nos vem à cabeça, sem domínio de nós mesmos. Excetuo certos tempos em que, por indisposições naturais estados em tensão ou dores de cabeça, nada se consegue, por mais que se faça.
Há também dias em que Deus permite desabarem grandes tempestades sobre seus servos para maior bem de suas almas. Embora se aflijam e procurem aquietar-se, não o conseguem. Por mais que se estorcem, não prestam atenção ao que dizem, não fixam o intelecto. Este parece vítima de uma grande agitação, de tal modo anda desbaratado. Pela aflição que da, quem se acha neste estado, verá que não é culpa sua. Não se aflija, porque é pior. Nem se canse em querer dar juízo a quem por então não o tem, isto é, o seu próprio entendimento. Reze como puder, e até nem reze. Como enferma procure dar alívio a sua alma. Ocupe-se em outras obras virtuosas. Este aviso é para pessoas que cuidam da própria santificação.
Já se convenceram de que não devem, a um tempo, falar com Deus e com o mundo. Em tal caso, o que podemos fazer de nossa parte é buscar solidão. E praza a Deus que isto baste, para entendermos que estamos na presença do Senhor e que ele responde aos nossos pedidos. Pensais que está calado, porque não o ouvimos? Bem que ele fala ao coração, quando de oração lhe rezamos. Nunca o Mestre fica tão longe do discípulo que seja necessário gritar. Fica pertinho” (C. 24,4)... “A oração é entender o que falamos, e com quem falamos, e quem somos nós que ousamos falar a tão grande Senhor. Oração mental é pensar nisto e em outros assuntos semelhantes, como por exemplo, no pouco que fizemos no serviço de Deus e no muito que somos obrigados a fazer. Não vos espanteis com o nome, nem imagineis que seja algo complicado.
Oração vocal é rezar o Pai-nosso e a Ave-maria ou qualquer outra oração que quiserdes. Mas, se não for acompanhada da oração mental, que música desafinada vai produzir? Até as palavras nem sempre sairão certas. Nestes dois modos de orar, com o favor de Deus podemos também fazer alguma coisa. Na contemplação, de que falei acima, nada absolutamente está em nossas mãos. Sua Majestade é quem tudo faz, é obra sua, transcende nossa natureza.” (C. 25,3)
... “Há certas pessoas que vejo muito curiosas por saber qual o grau de sua oração, tão encapotadas, ao rezar, que parece não ousam mexer-se. nem agir com o pensamento, pelo receio de perder um pouquinho do gosto e da devoção. Vejo que pouco entendem do caminho por onde se alcança a união. Pensam que o essencial está nessas exterioridades. Não irmãs, não é assim. O Senhor quer obras. Se vês uma enferma a quem podes dar algum alivio, não tenhas receio de perder a tua devoção e compadecer-te dela. E se lhe sobrevêm alguma dor, doa-te como se a sentisses em ti. Se for preciso, faze jejum para lhe dar de comer. Não tanto com os olhos nela, quanto porque sabes que teu Senhor o quer assim: Esta é a verdadeira união com a vontade de Deus. Se vires louvar muito a uma pessoa, alegra-te mais do que se te louvassem a ti. Verdadeiramente, é fácil para quem é humilde, pois até sente confusão quando é louvado. Esta alegria de que se entendam as virtudes das irmãs é muito meritória, e ainda sentir, como se fora nossa, alguma falta sua, procurando encobri-la”. (5 M. 3,11)
#PROVÍNCIA300
- Detalhes
Nos próximos dias temos novidades sobre a celebração dos 300 anos da nossa Província. Além do logo- com algumas mudanças feitas pelo Frei Eduardo e sua equipe da Montessori – temos também um concurso musical para a escolha de 10 músicas carmelitas para o lançamento de um CD, com o tema: #PROVÍNCIA300. O objetivo é envolver as nossas paróquias- Grupos de cantos- conventos e a Ordem Terceira e óbvio, tornar os 300 anos assunto das mídias sociais com a #PROVINCIA300. Aguardem o edital e outras novidades.
Inicialmente a equipe reunida aqui no Rio na última terça 23, pensou em um prêmio de 3.000 para o 1º colocado, 2.000 para o segundo e 1.000 para o terceiro e as 10 melhores músicas vão fazer parte do CD dos 300.
COMENTÁRIO DA REGRA DO CARMO: Do Silêncio profético e do controle da língua.
- Detalhes
O silêncio no Carmelo
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Regra do Carmo, número 21: O silêncio, caminho para a prática da justiça.
Saber escutar o grito dos silenciados
O Texto da Regra
O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que é nele que se deve trabalhar. E como afirma o profeta: a justiça é cultivada pelo silêncio. E ainda: no silêncio e na esperança estará a força de vocês.
Por isso, determinamos que, depois da recitação das completas, guardem o silêncio até depois da Hora Primeira do dia seguinte. Fora desse tempo, embora a observância do silêncio não seja tão rigorosa, com tanto mais cuidado abstenham-se do muito falar, porque, conforme está escrito e não menos ensina a experiência: No muito falar não faltará o pecado; e: Quem fala sem refletir sentirá um mal-estar; e ainda: Quem fala em demasia prejudica a sua alma; e o Senhor no Evangelho: De toda palavra inútil que os homens disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça.
1- Um pouco de história: sobre o silêncio no Monte Carmelo e na Regra do Carmo
Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana?
Comparando o texto escrito por Alberto em 1207 com o texto aprovado pelo Papa Inocêncio IV em 1247, a gente nota uma diferença. Alberto dizia que se devia observar um silêncio estrito desde a oração das Vésperas no fim da tarde até à Hora Terceira do dia seguinte. O texto definitivo, aprovado pelo Papa, encurtou o tempo do silêncio estrito. Agora é desde a oração do Completório à noite até à Hora Primeira do dia seguinte. O motivo deste abrandamento do silêncio estrito deve ter sido a atividade pastoral, o contato com o povo. Mas continua a pergunta: qual o silêncio que a Regra pede e recomenda?
Há muitos tipos de silêncio: o silêncio de uma sala de estudo ou de uma biblioteca; o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da noite ou da madrugada; o silêncio da natureza, o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado e amordaçado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta, o silêncio de .... Qual o silêncio que a Regra pede e recomenda? Vejamos:
2- O ponto de partida: o controle da língua que conduz ao silêncio profético
Como nos números anteriores sobre as armas espirituais (Rc 18 e 19) e sobre o trabalho (Rc 20), assim também aqui no número sobre o silêncio (Rc 21), a Regra sintetiza e canaliza o rio rico e caudaloso da tradição monástica e eremítica do passado e a faz passar pelo jardim do Carmelo situado nas periferias das cidades no meio dos "menores" (pobres), para que o irrigue e produza frutos de justiça, de fraternidade e de santidade a serviço da Igreja e do povo.
O número 21 da Regra sobre o silêncio tem três partes: 1) Descreve o valor do silêncio;
2) Organiza o silêncio; 3) Recomenda a prática do silêncio.
O Valor do silêncio
Na primeira parte, usando frases da Bíblia, a Regra começa lembrando a recomendação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em silêncio (Rc 20). Em seguida, para descrever o valor do silêncio, ela cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Isto significa que o silêncio recomendado pela Regra tem a ver com a Bíblia: a sua origem está nos profetas. É um silêncio profético! Trata-se de um silêncio que é muito mais do que só ausência de barulho ou de falatório. Conforme as duas fraes do profeta Isaías, o silêncio tem a ver com a prática da justiça, com a esperança e a resistência (força). Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias.
Este silêncio profético tem dois aspectos, expressos nas duas frases de Isaías. A primeira frase diz que o cultivo do silêncio gera justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. A segunda frase do profeta sugere o contrário. Em vez de esforço ativo em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus.
A Institucionalização do silêncio
A segunda parte do número 21 da Regra descreve a organização do silêncio. Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do Carmelo. Na Regra, a organização ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, é silenciosa. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas. Acontece, independente de nós. O dia já é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio profético.
A recomendação do silêncio
A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve como a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, Alberto aponta os perigos do muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a recomendar o cultivo do silêncio ou o controle da língua, como sendo o caminho para se chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. A Regra diz: Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, com o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça. De um lado, o pecado, a morte. Do outro lado, a justiça, a vida. O muito falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.
Como se vê, no fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça que é fruto do silêncio e diz: Cada um procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça. É o silêncio profético!
3- Ponto de chegada: o silêncio profético que enfrenta a morte e conduz à vida
Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e diante da violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão frequente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira citação de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Este cultivo consiste num trabalho ativo nosso que faz silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, do diz-que-diz, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça. Faz nascer a visão justa das coisas. Gera em nós a justiça.
Na hora em que se desmantela dentro da cabeça da gente o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro da gente. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda citação do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança e produz a força da resistência. Dá força para a gente aguentar a situação de morte, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Como diz o poeta: Faz escuro mas eu canto. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição.
Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Trata-se da experiência mística. Por exemplo: Salmo 37,7 diz: Descansa em Javé e nele espera. Literalmente se diz: Esvazia-te diante de Javé e agüenta firme. A palavra esperar (agüentar), sugere a atitude da mulher em dores de parto. Ela agüenta firme, porque sabe que vai nascer vida nova, apesar das muitas dores.
Lamentação 3,26 diz: É bom esperar em silêncio a salvação de Javé. É a mesma experiência da certeza que vem de Deus. Não sai de frente de Deus, porque sabe que vai ser atendido.
Este mesmo silêncio foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Disto falaremos no subsídio do Círculo 18. O mesmo silêncio aconteceu na vida de Maria e na vida dos Santos e Santas Carmelitas. Sobre isto meditaremos no subsídio do Círculo 19.
Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra tem dois aspectos, expressos pelas duas frases de Isaías. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
Pág. 541 de 664