EVANGELHO DO DIA-32º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Quarta-feira, 11 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 11-19)
11Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galiléia. 12Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: 13Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! 14Jesus viu-os e disse-lhes: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E quando eles iam andando, ficaram curados. 15Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. 16Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. 17Jesus lhe disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove? 18Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?! 19E acrescentou: Levanta-te e vai, tua fé te salvou. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 17,11-19
No Evangelho de hoje, Lucas conta como Jesus curou dez leprosos, mas um só veio agradecer. E este era um samaritano! A gratidão é um outro tema muito próprio de Lucas: viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28.38; 5,25.26; 7,16; 13,13; 17,15.18; 18,43; 19,37; etc). O Evangelho de Lucas traz vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém
Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galiléia para poder chegar em Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos, dados nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua viagem até Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram. Continua a longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião fechada sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no acolhimento dado aos dez leprosos.
Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos
Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Era marginalizado e desprezado, sem o direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, os leprosos deviam andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados, gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na comunidade. Não podiam aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.
Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura
Jesus reponde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exigia muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção ao sacerdote. E aconteceu que, enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura. Ficaram purificados. Esta cura evoca a história da purificação de Naaman da Síria (2Rs 5,9-10). O profeta Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman tinha de crer na palavra do profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos sacerdotes. Eles tinham de crer na palavra de Jesus.
Lucas 17,15-16: Reação do samaritano
“Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.” Por que os outros não voltaram? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia a tendência de observar a lei para poder merecer ou conquistar a justiça. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Talvez seja por isso que não agradeceram o benefício recebido. Na parábola do evangelho de ontem, Jesus tinha formulado a pergunta sobre a gratidão: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” (Lc 17,9) E a resposta era: “Não!” O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito, nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida!
Lucas 17,17-19: A observação final de Jesus
Jesus estranhou: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para Jesus, agradecer os outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição aos judeus. Hoje são os pobres, que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós através do irmão e da irmã.
A acolhida dada aos samaritanos no evangelho de Lucas. Para Lucas, o lugar que Jesus dava aos samaritanos é o mesmo que as comunidades deviam reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois, para os judeus, samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém, nem participar do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
4) Para um confronto pessoal
1-E você, costuma agradecer às pessoas? Agradece por convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou esquece?
2-Viver na gratidão é um sinal da presença do Reino no meio de nós. Como transmitir para os outros a importância de viver na gratidão e na gratuidade?
5) Oração final
O Senhor é o meu pastor, nada me falta. Ele me faz descansar em verdes prados, a águas tranqüilas me conduz. (Sl 22)
Ladrões roubam barco, se arrependem e resgatam padre após jogá-lo na água
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Segundo depoimento do próprio padre, os bandidos voltaram 15 minutos após o assalto e evitaram que ele morresse afogado no rio
Um assalto realizado em região ribeirinha no Pará terminou de forma inusitada. O padre Mateus Tavares dos Santos, da paróquia de São Sebastião da Boa Vista, na ilha do Marajó, foi abordado por bandidos enquanto viajava de barco para realizar uma missa em uma vila rural do município. Os criminosos, chamados de piratas na região, roubaram a embarcação e os pertences do religioso, incluindo a mochila com os itens para a relização da missa. Em seguida, mandaram ele tirar seu colete salva vidas e pular na água. Mas se arrependeram e voltaram para resgatá-lo minutos depois.
As primeiras notícias divulgadas pela imprensa local informavam que o padre foi salvo por moradores locais. No entanto, o próprio contou à polícia que foram os assaltantes que salvaram sua vida.
Segundo ele, ao perceber que estava ficando sem forças e logo se afogaria, ele começou a orar. Foi então que percebeu que um barco estava se aproximando: eram os bandidos, perguntando se ele era mesmo padre. Com a resposta positiva, um dos assaltantes deu a mão ao religioso. Outro bandido do grupo disse ao padre para segurar em uma pequena embarcação que passava pelo local e pediu ao piloto que conduzisse o religioso até a margem. Já na vila o padre foi socorrido pela comunidade. A Polícia Civil está investigando o caso. Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com
EVANGELHO DO DIA-32º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Terça-feira, 10 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 17, 7-10)
Naquele tempo, disse Jesus: 7Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à mesa? 8E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu? 9E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação? 10Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz uma parábola que só se encontra no evangelho de Lucas, sem paralelo nos outros evangelhos. A parábola quer ensinar que nossa vida deve caracterizar-se pela atitude de serviço. Ela começa com três perguntas e, no fim, Jesus mesmo dá a resposta.
Lucas 17,7-9: As três perguntas de Jesus
Trata-se de três perguntas tiradas da vida de cada dia, para as quais os ouvintes já adivinhavam a resposta. As perguntas são formuladas de tal maneira que elas reenviam cada ouvinte a consultar sua própria experiência e, a partir dela, dar a sua resposta. A primeira pergunta: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa?” Todo mundo responderá: “Não!” Segunda pergunta: “Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber?” Todo mundo responderá: “Sim! Claro!” Terceira pergunta: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” Todo mundo responderá: “Não!” Pela maneira de Jesus fazer as perguntas, a gente já percebe em que direção ele quer orientar nosso pensamento. Ele quer que sejamos servidores uns dos outros.
Lucas 17,10: A resposta de Jesus
No fim, Jesus mesmo tira a conclusão que já estava implícita nas perguntas: “Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer". Jesus, ele mesmo, deu o exemplo quando disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). O serviço é um tema do agrado de Lucas. O serviço representa a forma como os pobres do tempo de Jesus, os anawim, esperavam o Messias: não como Messias glorioso rei, sumo sacerdote ou juiz, mas como o Servo de Javé, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Maria, a mãe de Jesus, se apresentou ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Em Nazaré, Jesus se apresenta como o Servo, descrito por Isaías (Lc 4,18-19 e Is 61,1-2). No batismo e no transfiguração, ele foi confirmado pelo Pai que cita as palavras dirigidas por Deus ao mesmo Servo (Lc 3,22; 9,35 e Is 42,1). Aos seus seguidores Jesus pede: “Quem quer ser o primeiro seja o servo de todos” (Mt 20,27). Servos inúteis! É a definição do cristão. Paulo fala disso aos membros da comunidade de Corinto quando escreve: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer” (1Cor 1,6-7). Paulo e Apolo nada são; são apenas instrumentos, “servidores”. O que vale é o próprio Deus, só Ele! (1Cor 3,7).
Servir e ser servido. Aqui, neste texto, o servo serve ao senhor, e não, o senhor ao servo. Mas em outro texto de Jesus se diz o contrário: “Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Neste texto, é o senhor que serve ao servo, e não o servo ao senhor. No primeiro texto, Jesus falava do presente. No segundo texto, Jesus estava falando do futuro. Este contraste é uma outra maneira para dizer: ganha a vida que está disposto a perdê-la por amor a Jesus e ao Evangelho (Mt 10,39; 16,25. Quem serve a Deus nesta vida presente, Deus servirá a ele na vida futura!
4) Para um confronto pessoal
1) Como defino minha vida?
2) Faça para você as mesmas três perguntas de Jesus? Será que vivo como um servo inútil?
5) Oração final
O Senhor conhece os dias dos inocentes, eterna será sua herança. O Senhor firma os passos do homem, sustenta aquele cujo caminho lhe agrada. (Sl 36, 18.23)
32º Domingo do Tempo Comum - Ano A: Um Olhar de Sabedoria
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A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum convida-nos à vigilância. Recorda-nos que a segunda vinda do Senhor Jesus está no horizonte final da história humana; devemos, portanto, caminhar pela vida sempre atentos ao Senhor que vem e com o coração preparado para o acolher.
A primeira leitura apresenta-nos a "sabedoria", dom gratuito e incondicional de Deus para o homem. É um caso paradigmático da forma como Deus se preocupa com a felicidade do homem e põe à disposição dos seus filhos a fonte de onde jorra a vida definitiva. Ao homem resta estar atento, vigilante e disponível para acolher, em cada instante, a vida e a salvação que Deus lhe oferece.
Na segunda leitura, Paulo garante aos cristãos de Tessalônica que Cristo virá de novo para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo; todo aquele que tiver aderido a Jesus e se tiver identificado com Ele irá ao encontro do Senhor e permanecerá com Ele para sempre.
O Evangelho lembra-nos que "estar preparado" para acolher o Senhor que vem significa viver dia a dia na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com os valores do Reino. Com o exemplo das cinco jovens "insensatas" que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino.
Primeira leitura - Sab 6,12-16
Ambiente
O "Livro da Sabedoria" é o mais recente de todos os livros do Antigo Testamento (aparece durante a primeira metade do séc. I a.C.). O seu autor - um judeu de língua grega, provavelmente nascido e educado na Diáspora (Alexandria?) - exprimindo-se em termos e concepções do mundo helénico, faz o elogio da "sabedoria" israelita, traça o quadro da sorte que espera o justo e o ímpio no mais-além e descreve (com exemplos tirados da história do Êxodo) as sortes diversas que tiveram os pagãos (idólatras) e os hebreus (fiéis a Jahwéh).
O seu objetivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no paganismo, na idolatria, na imoralidade), convida-os a redescobrirem a fé dos pais e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o absurdo da idolatria e a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus... Para uns e para outros, só Jahwéh garante a verdadeira "sabedoria" e a verdadeira felicidade.
O texto que nos é proposto pertence à segunda parte do livro (cf. Sab 6,1-9,18). Aí, o autor do livro coloca na boca do rei Salomão (embora o nome do rei nunca seja referido explicitamente) o "elogio da sabedoria". Dirigindo-se aos outros reis, Salomão convida-os a acolher a "sabedoria" (cf. Sab 6,11), pois ela é bela, inalterável e garante a imortalidade e o reinado eterno.
O que é esta "sabedoria" de que aqui se fala? A "sabedoria" é a arte de bem viver, de ser feliz. Consta de um conjunto de princípios práticos, de normas de comportamento deduzidas da reflexão e da experiência, destinadas a orientar o homem sobre a forma de conduzir-se na vida do dia a dia. O objetivo dessas normas é proporcionar ao homem uma vida harmoniosa, equilibrada, ordenada, cheia de êxitos.
No entanto, a reflexão israelita acabou por identificar a "sabedoria" com a Torah (Lei de Deus). Ser "sábio" é - para a reflexão judaica da época em que o "Livro da Sabedoria" apareceu - cumprir integralmente os mandamentos da Lei. Na "sabedoria"/Torah, revelada por Jahwéh, está o caminho para ter êxito, para ultrapassar os obstáculos que a vida traz e para ser feliz.
É neste contexto que devemos entender este convite à "sabedoria".
Mensagem
A "sabedoria" não é, na perspectiva do autor do texto, algo de misterioso, e de oculto, que o homem tem dificuldade em encontrar... Ela brilha com brilho inalterável e atraente, que prende o olhar de quem a procura. Não é preciso correr atrás dela, com cuidado e fadiga, trilhando caminhos difíceis ou procurando em lugares recônditos e sombrios... Basta sentir interesse por ela, amá-la, desejá-la, que ela imediatamente se fará presente, oferecendo a vida e a felicidade a todos os que anseiam por ela. Quem ama a "sabedoria" facilmente "tropeça" nela, nas circunstâncias mais comuns da vida do dia a dia: à porta da casa, nos caminhos e até na intimidade dos próprios pensamentos... Para que a "sabedoria" ilumine a vida do homem, só é preciso disponibilidade para a acolher.
Atualização
A "sabedoria" de que o autor da primeira leitura fala é um dom de Deus para que o homem saiba conduzir a sua vida ao encontro da verdadeira vida e da verdadeira felicidade. Deus não é um adversário do homem, com ciúmes do homem, preocupado em impedir a felicidade e a realização do homem; mas é um Deus cheio de amor, preocupado em proporcionar ao homem todas as possibilidades de ser feliz e de se realizar plenamente. A nossa leitura convida-nos a ver em Deus esse Pai cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, sempre disposto a oferecer-lhes os seus dons e a conduzi-los para a vida e para a salvação; e convida-nos a uma atenção contínua, a fim de detectarmos e acolhermos esses dons que, a cada instante, Deus nos oferece.
O que é decisivo para que o homem tenha acesso pleno aos dons de Deus é a sua disponibilidade para acolher e para aceitar esses dons... Deus coloca os seus dons à disposição do homem, de forma gratuita e incondicional; ao homem é pedido apenas que não se feche no seu egoísmo e na sua autossuficiências, mas abra o seu coração à graça que Deus lhe oferece.
Evangelho Mt 25,1-13
Nós, os cristãos do séc. XXI, não somos significativamente diferentes dos cristãos que integravam a comunidade de Mateus... Também percorremos um caminho de altos e baixos, em que os momentos de entusiasmo e de compromisso alternam com os momentos de instalação, de comodismo, de adormecimento, de pouco empenho. As dificuldades da caminhada, os apelos do mundo, a monotonia, a nossa fragilidade levam-nos, frequentemente, a esquecer os valores do Reino e a correr atrás de valores efémeros, que parecem garantir-nos a felicidade e só nos arrastam para caminhos de escravidão e de frustração. O Evangelho deste domingo lembra-nos que a segunda vinda do Senhor deve estar sempre no horizonte final da nossa existência e que não podemos alienar os valores do Evangelho, pois só eles nos mantêm identificados com esse Senhor Jesus que há-de voltar para nos oferecer a vida plena e definitiva. Enquanto caminhamos nesta terra devemos, pois, manter-nos atentos e vigilantes, fiéis aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com esse Reino que Ele nos mandou construir.
"Estar preparado" não significa, contudo, ter a "alminha" limpa e sem mancha, para que, quando nos encontrarmos com o Senhor, Ele não tenha nenhuma falta não confessada a apontar-nos e nos leve para o céu... Mas significa, sobretudo, vivermos dia a dia, de forma comprometida e entusiasta, o nosso compromisso baptismal. "Estar preparado" passa por descobrirmos dia a dia os projetos de Deus para nós e para o mundo e procurar concretizá-los, com alegria e entusiasmo; "estar preparado" passa por fazermos da nossa vida, em cada instante, um dom aos irmãos, no serviço, na partilha, no amor, ao jeito de Jesus.
Embora o nosso texto se refira, primordialmente, ao nosso encontro final com Jesus, todos nós temos consciência de que esse momento não será o nosso único encontro com o Senhor... Jesus vem ao nosso encontro todos os dias e reclama o nosso empenho e o nosso compromisso na construção de um mundo novo - o mundo do Reino. Ele faz ecoar o seu apelo na Palavra de Deus que nos questiona, na miséria de um pobre que nos interpela, no pedido de socorro de um homem escravizado, na solidão de um velho carente de amor e de afeto, no sofrimento de um doente terminal abandonado por todos, no grito aflito de quem sofre a injustiça e a violência, no olhar dolorido de um imigrante, no corpo esquelético de uma criança com fome, nas lágrimas do oprimido... O Evangelho deste domingo avisa-nos que não podemos instalar-nos no nosso egoísmo e na nossa autossuficiência e recusar-nos a escutar os apelos do Senhor.
A história das jovens "insensatas" que se esqueceram do essencial faz-nos pensar na questão das prioridades... É fácil irmos "na onda", preocuparmo-nos com o imediato, o visível, o efémero (o dinheiro, o poder, a influência, a imagem, o êxito, a beleza, os triunfos humanos...) e negligenciarmos os valores autênticos. Mateus, com algum dramatismo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino. O objetivo da catequese de Mateus não é dizer-nos que, se não nos portarmos bem, Deus nos castiga com o inferno; mas é alertar-nos para a seriedade com que devemos avaliar as nossas opções, de forma a não perdermos oportunidades para nos realizarmos e para chegarmos à felicidade plena e definitiva.
*Leia a reflexão na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.
Camarões, libertado o cardeal Tumi
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A notícia da libertação foi confirmada por dom Kleda, bispo de Douala. O cardeal, de 90 anos, foi sequestrado ontem por um grupo de homens armados na região noroeste entre as cidades de Kumba e Bamenda, capital da região.
Gabriella Ceraso – Vatican News
Foi confirmada a libertação do cardeal Christian Wiyghan Tumi, 90 anos, arcebispo emérito de Douala (Camarões) e primeiro purpurado camaronês. Segundo o arcebispo Douala, dom Samuel Kleda, o purpurado foi libertado, embora ainda não tenha voltado para casa. O sequestro começou ontem à tarde pelas mãos de um comando armado, na estrada entre Bamenda e Kumbo.
Também envolvido no sequestro o rei de Kumbo, o Fon de Nso, uma autoridade moral tradicional. Elie Smith, um colaborador próximo ao cardeal, conseguiu contatar os sequestradores por telefone e obter algumas informações: o responsável pela ação armada teria sido o general dos Ambazonianos (separatistas anglófonos da problemática região de Ambazônia, no sudoeste do país) que se intitula Chaomao, um ex-pastor. Notícias também foram confirmadas por membros da família do rei de Kumbo.
As razões do sequestro podem ser encontradas no encorajamento dado pelo cardeal às crianças para irem à escola. Há alguns dias atrás, de fato, um grupo armado sequestrou alguns professores que tinham sido libertados ontem, 5 de novembro. No último dia 24 de outubro, oito crianças foram mortas num ataque armado à escola bilingue internacional Madre Francisca. O Papa Francisco expressou o seu pesar por este triste evento, apelando para o fim da violência e pedindo a garantia da educação e do futuro dos jovens.
O cardeal Tumi, nascido em 15 de outubro de 1930 em Kikaikelaki, na então paróquia de Kumbo, hoje diocese, como bispo e depois cardeal, esteve sempre na vanguarda das dificuldades do território situado no extremo norte de Camarões, na fronteira com o Chade, quase esquecido pelas autoridades centrais, e da pobreza, à qual se somam as profundas divisões étnicas nesta área. Por ter promovido a paz após o início da crise no norte e sudoeste de Camarões, e por ter lutado contra a discriminação contra a minoria de língua inglesa em Camarões (cerca de 20% da população), o cardeal Christian Tumi recebeu o Prêmio Nelson Mandela em julho de 2019. Fonte: https://www.vaticannews.va
EVANGELHO DO DIA-31º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Sexta-feira, 6 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita
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1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 16, 1-8)
Naquele tempo, 1Jesus disse também a seus discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens. 2Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens. 3O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. 4Já sei o que fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego. 5Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves a meu patrão? 6Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinquenta. 7Depois perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve: oitenta. 8E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz uma parábola que trata da administração dos bens e que só existe no evangelho de Lucas. Ela costuma ser chamada A parábola do administrador desonesto. Parábola desconcertante. Lucas diz: “O Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza”. O Senhor é o próprio Jesus e não o administrador. Como é que Jesus podia elogiar um empregado corrupto?
Lucas 16,1-2: O administrador é ameaçado de despejo
“Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. Então o chamou, e lhe disse: 'O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador”. O exemplo, tirado do mundo do comércio e do trabalho, fala por si. Alude à corrupção que existia. O patrão descobriu a corrupção e decidiu demitir o administrador desonesta. Este, de repente, se vê numa situação de emergência obrigado pelas circunstâncias imprevistas a encontrar uma saída para poder sobreviver. Quando Deus se faz presente na vida de uma pessoa, aí, de repente, tudo muda e a pessoa entra numa situação de emergência. Ela terá que tomar uma decisão e encontrar uma saída.
Lucas 16,3-4: O que fazer? Qual a saída?
“Então o administrador começou a refletir: 'O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”. Ele começa a refletir para descobrir uma saída. Analisa, uma por uma, as possíveis alternativas: cavar ou trabalhar na roça para sobreviver, ele acha que para isso não tem força. Para mendigar, sente vergonha. Ele analisa as coisas. Calcula bem as possíveis alternativas. “Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa”. Trata-se de garantir o seu futuro. O administrador desonesto é coerente dentro do seu modo de pensar e de viver.
Lucas 16,5-7: Execução da solução encontrada
“E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: 'Quanto é que você deve ao patrão?' Ele respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinqüenta'. Depois perguntou a outro: 'E você, quanto está devendo?' Ele respondeu: 'Cem sacas de trigo'. O administrador disse: 'Pegue a sua conta, e escreva oitenta". Dentro da sua total falta de ética o administrador foi coerente. O critério da sua ação não é a honestidade e a justiça, nem o bem do patrão do qual ele depende para viver e sobreviver, mas é o próprio interesse. Ele quer a garantia de ter alguém que o receba em sua casa.
Lucas 16,8: O Senhor elogiou o administrador desonesto
E agora vem a conclusão desconcertante: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz”. A palavra Senhor indica Jesus, e não o patrão, o homem rico. Este jamais iria elogiar um empregado que foi desonesto com ele no serviço e que, agora, roubou mais 50 barris de óleo e 20 sacas de trigo! Na parábola, quem faz o elogio é Jesus. Elogiou não porque roubou, mas porque soube ter presença de espírito. Soube calcular bem as coisas e encontrar uma saída, quando de repente se viu desempregado. Assim como os filhos deste mundo sabem ser espertos nas suas coisas, assim os filhos de luz deveriam aprender deles a ser espertos na solução dos seus problemas, usando os critérios do Reino e não os critérios deste mundo. “Sejam espertos como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16).
4) Para um confronto pessoal
1) Sou coerente?
2) Qual o critério que uso na solução dos meus problemas?
5) Oração final
Uma só coisa pedi ao Senhor, só isto desejo: poder morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida; poder gozar da suavidade do Senhor e contemplar seu santuário. (Sl 26, 4)
'Fui chamado de comunista e condenado como um terrorista, mas não guardo mágoa': Falamos com o padre expulso pela ditadura
- Detalhes
Por William Helal Filho
Padre Vito Miracapillo dá entrevista ao chegar em Recife para visita, em 2012 | Foto de Hans von Manteuffel/Agência O GLOBO
Ele foi pivô de um episódio triste da História do Brasil. No último dia 29 de outubro, resgatamos neste blog os acontecimentos até a expulsão do Padre Vito Miracapillo, durante a ditadura militar, após ele se negar a rezar uma missa para celebrar o Dia da Independência do país, no município de Ribeirão, na Zona da Mata Pernambucana, há 40 anos. Para o sacerdote italiano, não havia por que a celebrar a independência de um povo que vivia na miséria e não podia escolher seus governantes. Agora, voltamos ao assunto para publicar uma entrevista exclusiva com o Padre Vito.
Durante a conversa por telefone, o religioso de 72 anos, que hoje atua na Diocese de Úmbria, na Itália, contou como foi a dura perseguição que sofreu de políticos e latifundiários em 1980, mas se mostrou feliz ao dizer que o povo esteve a seu lado e que, ainda hoje, quando volta à Zona da Mata, é recebido com festa. O italiano nutre o desejo de voltar a morar no Brasil. "O Nordeste é minha casa", diz ele.
As autoridades não toleraram quando o senhor se recusou a rezar uma missa em homenagem ao Dia da Independência, em 1980, e ainda criticou a falta de independência do povo. Por que o senhor decidiu fazer isso?
Desde 1975, quando assumi a paróquia em Ribeirão, eu ficava incomodado com a festa da independência na cidade. A polícia distribuía folhetos pedindo para denunciar quem não quisesse participar. Mas os filhos dos ricos nunca participavam, e os pobres, que mal tinham o que comer, se viam obrigados a comprar as roupas para o desfile e passar quatro horas desfilando debaixo do sol. Muitos desmaiavam. Nenhuma autoridade aparecia na missa que me pediam para celebrar. No meu quinto ano, o lema da Semana da Independência seria "Somos todos livres" e, mais uma vez, me pediram para celebrar a missa. Mas eu escrevi dizendo que não podia rezar a missa "na hora e na forma" que eles queriam naquele domingo. Porque, aos domingos, eu celebrava três missas: na igreja, numa usina e num engenho, para ficar perto do povo. Escrevi também que não poderia rezar uma missa pela independência de um povo que não era independente.
A partir daí, como as autoridades reagiram?
O Severino Cavalcanti (então deputado estadual) passou a me perseguir, pediu a abertura de um processo contra mim. Inventaram todo tipo de mentiras com meu nome. Diziam que eu estava ligado a Moscou, que todos os dias recebia mensagens da União Soviética. Mas não tinha nem telefone na cidade, na época. Eles diziam que eu estava contra o Papa e que eu não era católico, me chamavam de comunista, de subversivo. Mas o povo sempre esteve do meu lado, contra os usineiros.
No dia 2 de outubro de 1980, a Matriz de Riberão recebia uma missa em seu favor quando os fazendeiros chegaram para interrompoer. Como foi aquilo?
A igreja estava lotada de clérigos, políticos, jornalistas e moradores. Havia cerca de cinco mil pessoas na praça, do lado de fora. Mas logo no início da missa, chegaram umas 90 pessoas armadas, entre fazendeiros e capangas. Em certo momento, cerca de 30 deles entraram na igreja, agredindo padres e jornalistas. Meu advogado me pegou pelo braço e me levou para a sacristia. Ele disse: "cuidado, estão querendo te matar". Mas um delegado que não era ligado a nenhum latifundiário entrou com um batalhão de soldados e gritou para os fazendeiros: "Saiam da igreja, ou então abrimos fogo". Àquela altura, os 60 que ficaram lá fora já estavam cercados pela multidão. Se houvesse um tiro, seria uma chacina. Depois, tive que sair de Ribeirão.
Por que os fazendeiros eram contra o senhor?
Nossa igreja estava do lado do povo, que vivia em condições de fome, trabalhando o tempo todo e sendo maltratado por soldados, capangas e patrões. A paróquia assumiu a luta de 400 pessoas que deveriam receber uma área de uma usina de cana-de-açúcar em troca de salários não pagos. Eram pessoas que resistiram a anos de intimidação e torturas por parte de gente que não queria pagar o que devia àquelas famílias na miséria. Nosso trabalho deu força a esses trabalhadores, o que gerou desagrado para muitos proprietários de terra na região.
O presidente João Figueiredo decretou sua expulsão no dia 15 de outubro, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a decisão no dia 17, para analisar um pedido de habeas corpus da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em seu nome. Como foi esse período?
Eu estava na cúria de Dom Helder Câmara, em Recife, quando os policiais chegaram, no dia 17, para me levar ao aeroporto (antes da suspensão do decreto). As pessoas souberam pelo rádio e cercaram a cúria, gritavam "O Brasil está contigo, Padre Vito". O aeroporto estava lotado com cerca de 700 de pessoas protestando. Para subir no avião, os policiais fizeram um corredor pra eu passar, mas havia sempre pessoas cantando por mim. No Rio, cinco agentes vieram me prender no avião e me levaram a um subterrâneo do Galeão. Havia dezenas de militares do lado de fora, para me dar imagem de terrorista ou subversivo. Depois de dois dias, fui para Brasília, esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre minha expulsão, mas os 11 ministros negaram o pedido da minha defesa para não ser expulso (no dia 30). Fui condenado por atentado a segurança nacional, como se eu fosse um terrorista.
O padre Vito Miracapillo reza missa no Rio, em outubro de 1980 | Foto de Jorge Peter/Agência O GLOBO
E de lá para cá, como tem sido sua relação com o Brasil?
Em 1993, o presidente Itamar Franco anulou minha expulsão, e pude entrar no país como turista. Naquele mesmo ano, fui recebido por uma multidão que me acolheu no aeroporto, uma grande festa. Eu desejava voltar de vez para o Brasil, mas meu bispo na Itália não permitia. Mesmo assim, de lá para cá, estive no Brasil uma vez por ano, ou a cada dois anos, para passar férias na Zona da Mata. Quando chego, as crianças me abraçam porque seus avós contaram minha história. Fui chamado de comunista e condenado como um terrorista, mas não guardo mágoa nem dos capangas dos fazendeiros que me perseguiram. Quando voltei, em 1993, nos abraçamos, estava tudo perdoado. O Nordeste é minha casa, onde todo mundo me conhece e faz festa quando nos encontramos. Eu ainda voltaria, mas vamos ver o que acontece.
E como o senhor vê a situação do Brasil hoje?
Estive aí em novembro passado e vi que a situação não está muito boa, o povo está voltando à miséria, acho que o povo está sendo deixado na pobreza mais uma vez. A situação no mundo todo está delicada, e até o Papa Francisco está sendo chamado de comunista. Estamos sob ditadura da informática. O fato é que a minoria das pessoas tem grande parte da renda do mundo. A pobreza está aumentando em muitas partes do planeta, com a desigualdade.
De volta a Ribeirão em 1993, o Padre Vito celebra missa em praça pública | Foto de Pedro Luiz/Agência O GLOBO
EVANGELHO DO DIA-31º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Quinta-feira, 5 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 15, 1-10)
Naquele tempo, 1Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. 2Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida! 3Então lhes propôs a seguinte parábola: 4Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 5E depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, 6e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. 7Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. 8Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma delas, não acende a lâmpada, varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la? 9E tendo-a encontrado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, achei a dracma que tinha perdido. 10Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Luca 15,1-10
O evangelho de hoje traz a primeira de três parábolas ligadas entre si pela mesma palavra. Tratam de três coisas perdidas: ovelha perdida (Lc 15,3-7), moeda perdida (Lc 15,8-10), e filho perdido (Lc 15.11-32). As três parábola são dirigidas para os fariseus e os doutores da lei que criticavam Jesus (Lc 15,1-3). Isto é, são dirigidas para o fariseu ou para o doutor da lei que existe em cada um de nós.
Lucas 15,1-3: Os destinatários das parábolas
Estes três primeiros versos descrevem o contexto em que foram pronunciadas as três parábolas: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus”.: De um lado, se encontram os cobradores de impostos e os pecadores; do outro lado, os fariseus e os doutores da lei. Lucas diz com um pouco de exagero: “Todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar”. Algo em Jesus os atraía. É a palavra de Jesus que os atrai (cf Is 50,4). Eles querem ouvi-lo. Sinal de que não se sentem condenados, mas sim acolhidos por ele. A crítica dos fariseus e escribas é esta: "Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!". No envio dos setenta e dois discípulos (Lc 10,1-9), Jesus tinha mandado acolher os excluídos, os doentes e possessos (Mt 10,8; Lc 10,9) e praticar a comunhão de mesa (Lc 10,8).
Lucas 15,4: Parábola da ovelha perdida
A parábola da ovelha perdida começa com uma pergunta: "Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?” Antes de ele mesmo dar a resposta, Jesus deve ter olhado os ouvintes para ver como responderiam. A pergunta é formulada de tal maneira que a resposta só pode ser positiva: “Sim, ele vai atrás da ovelha perdida!” E você, como responderia? Você deixaria as noventa e nove ovelhas no campo para ir atrás de uma única que se perdeu? Quem faria isso? Provavelmente, a maioria terá respondido: “Jesus, aqui entre nós, ninguém faria uma coisa tão absurda. Diz o provérbio: “Melhor um passarinho na mão do que dez voando!”
Lucas 15,5-7: Jesus interpreta a parábola da ovelha perdida
Ora, na parábola o dono das ovelhas faz o que ninguém faria: larga tudo e vai atrás da ovelha perdida. Só Deus mesmo para tomar uma tal atitude! Jesus quer que o fariseu ou o escriba que existe em nós, em mim, tome consciência. Os fariseus e os escribas abandonavam os pecadores e os excluíam. Eles nunca iriam atrás da ovelha perdida. Deixariam que ela se perdesse no deserto. Eles preferem as noventa e nove que não se perderam. Mas Jesus se coloca na pele da ovelha que se perdeu e que, naquele contexto da religião oficial, cairia no desespero, sem esperança de ser acolhida. Jesus faz saber a eles e a nós: “Se por acaso você se sentir perdido, pecador, lembre-se que, para Deus, você vale mais que as noventa e nove outras ovelhas. Deus vai atrás de você. E caso você se converter, saiba que “no céu haverá mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão."
Lucas 15,8-10: Parábola da moeda perdida
A segunda parábola: "Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontra a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: 'Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido'. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte". Deus fica alegre conosco. Os anjos ficam alegres conosco. A parábola era para comunicar esperança a quem estava ameaçado de desespero pela religião oficial. Esta mensagem evoca o que Deus nos diz no livro do profeta Isaías: “Eu te gravei na palma da minha mão!” (Is 49,16). “Tu és precioso aos meus olhos, eu te amo!” (Is 43,4)
4) Para um confronto pessoal
1) Você andaria atrás da ovelha perdida?
2) Você acha que a igreja de hoje é fiel a esta parábola de Jesus?
5) Oração final
Procurai o Senhor e o seu poder, não cesseis de buscar sua face. Lembrai-vos dos milagres que fez, dos seus prodígios e dos julgamentos que proferiu. (Sl 104, 4-5)
EVANGELHO DO DIA-31º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Quarta-feira, 4 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 25-33)
Naquele tempo, 25Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes: 26Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo. 28Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? 29Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, 30dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar. 31Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? 32De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz. 33Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. - Palavra da salvação.
3) Reflexão Lucas 14,25-33 (Mt 10,37-38)
O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.
Lucas 14,25: Exemplo de catequese
O evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é, fala para todos, inclusive para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.
Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai e mãe
Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram leva-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a cruz
“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galiléia. Muitas outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)
Lucas 14,28-32: Duas parábolas
As duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado
A conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a idéia de optar e de assumir o que já é por nascimento.
4) Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?
5) Oração final
O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é quem defende a minha vida; a quem temerei? (Sl 26, 1)
EVANGELHO DO DIA-31º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Segunda-feira, 3 de novembro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 12-14)
Naquele tempo, 12Dizia igualmente ao que o tinha convidado: Quando deres alguma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos. Porque, por sua vez, eles te convidarão e assim te retribuirão. 13Mas, quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje dá continuidade ao ensinamento que Jesus estava dando em torno de vários assuntos, todos ligados à mesa e à refeição: uma cura durante a refeição (Lc 14,1-6); um conselho para não ocupar logo os primeiros lugares (Lc 14,7-12); um conselho para convidar os excluídos (Lc 14,12-14). Esta organização das palavras de Jesus em torno de uma determinada palavra, como mesa ou refeição, ajuda a perceber o método usado pelos primeiros cristãos para guardar na memória as palavras de Jesus
Lucas 14,12: Convite interesseiro
Jesus está jantando na casa de um fariseu que o tinha convidado (Lc 14,1). O convite para o jantar é o assunto do ensinamento do evangelho de hoje. Existem vários tipos de convite: convites interesseiros em benefício de si mesmo e convites desinteressados em benefício dos outros. Jesus diz: "Quando você der um almoço ou jantar, não convide amigos, nem irmãos, nem parentes, nem vizinhos ricos. Porque esses irão, em troca, convidar você. E isso será para você recompensa”. O costume normal do povo era este: para almoçar ou jantar eles convidavam amigos, irmãos e parentes. Pois sentar à mesa com pessoas desconhecidas ninguém fazia. Comunhão de mesa só com gente amiga! Este era o costume entre os judeus. É este também o nosso costume até hoje. Jesus pensa diferente e manda fazer convites desinteressados que ninguém costuma fazer.
Lucas 14,13-14: Convite desinteressado
Jesus diz: “Quando você der uma festa, convide pobres, aleijados, mancos e cegos”. Jesus manda romper o círculo fechado e pede para convidar os excluídos: pobres, aleijados, mancos, cegos. Este não era o costume e, até hoje, ninguém faz isso. Mas Jesus insiste: “Convida esse pessoal!” Por que? Porque no convite desinteressado, dirigido a pessoas excluídas e marginalizadas, existe uma fonte de felicidade: “Então você será feliz! Porque eles não lhe podem retribuir”. Felicidade estranha, diferente! Você será feliz porque eles não podem retribuir. É a felicidade que nasce do fato de você ter feito um gesto de gratuidade total. Um gesto de amor que quer o bem do outro e para o outro, sem esperar nada em troca. É a felicidade de quem faz as coisas gratuitamente, sem querer nenhuma retribuição. Jesus diz que esta felicidade é a semente da felicidade que Deus vai dar na ressurreição. Ressurreição, não só no fim da história, mas já desde agora. Agir assim já é uma ressurreição!
É o Reino acontecendo. O conselho que Jesus nos dá no evangelho de hoje evoca o envio dos setenta e dois discípulos para a missão de anunciar o Reino (Lc 10,1-9). Entre as várias recomendações dadas naquela ocasião como sinais da presença do Reino, estão (1) a comunhão de mesa e (2) a acolhida aos excluídos: “Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: O Reino de Deus chegou!” (Lc 10,8-9) Aqui, nestas recomendações, Jesus manda transgredir aquelas normas de pureza legal que impediam a convivência fraterna.
4) Para um confronto pessoal
1) Convite interesseiro e convite desinteressado: qual dos dois acontece mais na minha vida?
2) Se você fizesse só convites desinteressados, isto lhe traria dificuldades? Quais?
5) Oração final
Senhor, meu coração não se orgulha e meu olhar não é soberbo; não ando atrás de coisas grandes, superiores às minhas forças. Antes, me acalmo e tranquilizo, como criança desmamada no colo da mãe, como criança desmamada é minha alma. (Sl 130, 1-2)
RECORDAR OS QUE PARTIRAM À LUZ DA RESSURREIÇÃO
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Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul
Ao iniciarmos o mês de novembro, nós fazemos memória ou celebramos o dia dos finados. Este ano, esse dia marcado pela dor e esperança, nós celebraremos também tendo presente as milhares de pessoas e famílias que perderam seus entes queridos por causa da pandemia do COVID19.
Mesmo com certas restrições, muitos irão ao cemitério, ou participarão da celebração litúrgica na comunidade ou nos cemitérios, manifestando um gesto piedoso para com os amigos e parentes que partiram deste mundo, mas continuam presentes na nossa memória e, por que não dizer, continuarão para sempre fazendo parte da nossa vida, até o momento ou hora de concluirmos a nossa jornada.
No dia dos finados, independentemente de professarmos ou não uma fé, de termos ou não uma religião, paira uma sombra, porque não se encara a morte dos outros sem pensar na própria. A morte é para todos, mas pranteada segundo as culturas e religiões. Emotivamente é impossível não sentir a dor da separação, nem é justo pedir a alguém para não chorar pelo luto e pela dor causada pela perda de um familiar ou um amigo, mesmo se o fato é vivido à luz da fé. Podemos ver a morte como uma injustiça, embora saibamos que é inevitável, como uma ruptura com as seguranças que fomos criando ao longo da nossa vida, ou como uma separação dos afetos mais importantes que preenchem o nosso cotidiano.
O Senhor Jesus, que sendo Filho de Deus, viveu a nossa condição humana da dor e da morte, nos trouxe uma nova luz de vida, marcada pela ressurreição na Páscoa. E a ressurreição de Cristo é a lente através da qual cada um pode ler a vida e a morte. Mas o Senhor Jesus também nos apontou o caminho da esperança, e nele a morte não terá a última palavra. Por isso, podemos dizer a cada dia: Queremos viver Senhor, oferecendo a ti a nossa vida; como o pão e o vinho, oferecidos sobre o altar do sacrifício eucarístico.
Ó Deus de infinita misericórdia, que acolhes nos teus braços as almas redimidas pelo sangue do teu Filho Jesus, com teu amor de Pai misericordioso, acolhe os nossos entes queridos, que concluíram a peregrinação sobre esta terra. Senhor, com a fé e a esperança que acendeste no nosso coração de filhos e filhas, te pedimos, que as almas dos nossos familiares, amigos e conhecidos, possam contemplar a glória da tua face, habitando eternamente na tua casa. Dá-lhes, Senhor, o descanso eterno. E a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém. Fonte: https://www.cnbb.org.br
DIA DE FINADOS
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Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
“Aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola”
A solenidade de “Todos os Santos” é celebrada no dia 1º de novembro e no dia seguinte acontece a “Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos”. São duas celebrações próximas que oferecem uma oportunidade para meditar sobre o sentido da vida eterna e sobre a morte.
A vida eterna é um tema que interessa? Buscar a santidade é projeto que encanta? O prefácio da missa de “Todos os Santos” assim reza: “Festejamos, hoje, a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente vosso louvor. Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinado na penumbra da fé. Contemplamos, alegres, na vossa luz, tantos membros da Igreja, que nos dais como exemplo e intercessão”.
A solenidade não se refere a um grupo restrito de eleitos, ou somente aos reconhecidos formalmente como santos. Mas indica para aquela “multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Apocalipse 7,9). Chegaram na presença de Deus porque procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade divina.
Mas para que serve o nosso louvor aos santos? Eles não precisam mais de nós, pois já estão na presença eterna de Deus e o contemplam face a face. A solenidade de “Todos os Santos” é necessária para os peregrinos deste mundo para fazer arder neles o desejo de viver na intimidade com Deus. O caminho da santidade não se caracteriza em realizar obras extraordinárias, nem possuir dons e carismas excepcionais. Mas é sobretudo, ouvir Jesus e segui-lo sem desanimar nas dificuldades. Jesus convidou os discípulos a confiarem nele, a renunciarem a si mesmos, em tomarem a cruz, em serem generosos que nem a semente que morre para gerar mais vida, em viverem amando. Todo o caminho da santidade tem a marca da cruz que conduz à glória.
No Dia de Finados o nosso olhar se dirige ao rosto daqueles que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. O prefácio da missa do dia reza: “E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola”. Este é o modo cristão de vivenciar Finados, pois é dia de olhar para o Cristo ressuscitado e renovar a fé na vida eterna. Viver o dia num misto de tristeza e esperança.
Visitar o cemitério para rezar pelas pessoas queridas que nos deixaram, é quase como que fazer uma visita a elas para manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para as sentir próximos, recordar vivências, e expressar cuidado. A visita é uma forma de conservar a experiência de suas vidas. Um artigo do credo cristão professa a “comunhão dos santos”, isto é, o vínculo estreito dos que peregrinam nesta terra e os irmãos que já alcançaram a eternidade. Vínculo que a morte não rompeu.
Finados coloca o tema quase proibido da morte. Temos dificuldade abordá-lo, mesmo que a morte faça parte do cotidiano. Se por um lado os cemitérios apontam para fim da jornada terrena, são também espaços que revelam esperanças como indicam as inscrições dos túmulos.
A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos nos dizem que somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também levar uma vida a partir da esperança. Visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem a fé na vida eterna. É precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Santidade e martírio – algumas noções básicas
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Armando Alexandre dos Santos
Jornalista profissional e historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Nos primeiros tempos do Cristianismo, somente eram venerados como Santos ou Santas pessoas que tivessem derramado o seu sangue confessando a Fé em Jesus Cristo. Em outros termos, os mártires. O martírio, na prática, constituía a mais evidente manifestação da santidade. Identificava-se quase com ela. Mártir é palavra de origem grega, que significa testemunho; mártir era quem dava testemunho heroico e definitivo de Jesus Cristo, selando esse testemunho com seu próprio sangue.
Passados, porém, os três primeiros séculos de história da Igreja, séculos esses que se caracterizaram por um quase contínuo estado de perseguição, novas formas de manifestação da santidade foram, pouco a pouco, se afirmando. Não mais apenas pela morte, mas também pela vida virtuosa, com a prática constante das virtudes em grau heroico, se entendeu que podia ser feita a confissão da Fé em Jesus Cristo e se podia dar testemunho do Filho de Deus. Passaram, então, a ser venerados santos e santas não mártires. No caso dos homens, eram geralmente chamados “confessores”, porque confessavam a Fé. No das mulheres, dependendo de sua condição, eram virgens, matronas ou viúvas. O calendário litúrgico da Igreja registra pessoas de todas essas condições.
Os santos, além de intercessores junto ao trono de Deus, são modelos propostos pela Igreja à admiração e imitação dos fiéis. Nas últimas décadas, a Santa Sé tem procurado apresentar, aos fiéis das mais diversas condições, a Santidade como um ideal possível de ser atingido, e não mais como algo tão difícil e inacessível que somente por via de exceção poderia ser alcançado.
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) - disse o Senhor, não apenas a seus Apóstolos e a uns poucos escolhidos, mas à imensa multidão que acorreu a ouvir o Sermão da Montanha.
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) - disse o Senhor, não apenas a seus Apóstolos e a uns poucos escolhidos, mas à imensa multidão que acorreu a ouvir o Sermão da Montanha. A Igreja sempre entendeu, por isso, que o chamado à mais excelsa perfeição, aquela que têm como modelo o próprio Pai, era dirigido à generalidade dos fiéis.
Assim se pronunciou, por exemplo, o Papa Pio XI: “´Esta é a vontade de Deus, diz São Paulo, a vossa santificação´ (I Tess 4,3); e qual deva ser essa santificação, declarou-o o mesmo Senhor: `Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito` (Mt 5,48). Não se creia, pois, que o convite seja feito apenas a algumas poucas almas privilegiadas, e que os outros possam se contentar com um grau inferior de virtude. Pelo contrário, como se patenteia pelo teor das palavras, a lei é universal e não admite exceção” (Encíclica Rerum omnium perturbationem, de 26/1/1923).
No mesmo sentido, afirmou textualmente a Constituição Lumen Gentium que “todos os fiéis, de qualquer condição e estado, fortalecidos com tantos e tão poderosos meios de salvação, são chamados pelo Senhor, cada um pelo seu caminho, para a perfeição daquela santidade com a que é perfeito o próprio Pai” (n. 11).
Não somente pela via dos conselhos, seguida habitualmente pelas almas consagradas, mas também pela via dos preceitos, a qual todos, sem exceção, podem trilhar, a perfeição é sempre um ideal atingível, para o qual temos a própria palavra do Senhor a nos convidar.
No século XVII, o Papa Urbano VIII (1625-1634) proibiu que pessoas não beatificadas ou canonizadas pela Santa Sé recebessem qualquer tipo de culto público e fixou normas muito estritas para o trâmite dos processos de beatificação e canonização. Tais normas, que hoje poderiam parecer extremadamente rigorosas, eram sem dúvida necessárias no contexto em que foram estabelecidas, para introduzir uma indispensável disciplina onde, antes, havia uma situação anômica e que requeria urgente normatização. Durante séculos vigoraram, em toda a Igreja, as normas sábias que aquele Pontífice fixou, e produziram admiráveis efeitos. Mas, mudados os tempos, julgou a sabedoria da Igreja mais conforme à necessidade desses tempos apresentar em maior número, e com maior variedade, modelos de santidade aos fieis de todas as condições, permitindo assim que, pela via da exemplaridade, mais acessível se tornasse a santidade, de acordo com a frase latina “verba movent, exempla trahunt” (as palavras movem, os exemplos arrastam).
Com esse escopo, o Papa João Paulo II, recentemente canonizado, promulgou, em 1983, a Constituição Apostólica Divinus perfectionis Magister, na qual estabeleceu novas regras para os processos de beatificação e canonização, que em princípio conservaram no essencial todo o antigo rigor, mas abrandaram e suavizaram um tanto exigências secundárias e acidentais, que tinham sido necessárias no passado, mas cuja prática, pouco a pouco, acabara produzindo um formalismo por vezes excessivo e até mesmo impeditivo de que muitos processos fossem abertos ou que, tendo sido abertos, chegassem a bom termo. Fonte: https://www.a12.com
Padre é baleado em frente a igreja ortodoxa em Lyon, na França, e um suspeito é preso
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Caso acontece dois dias depois do atentado na Basílica de Notre Dame, em Nice. Polícia francesa prende terceiro suspeito de envolvimento no ataque em Nice, enquanto Macron tenta aplacar mal-estar com muçulmanos
Pessoas deixam homenagens em frente à Basílica de Notre Dame, em Nice, onde três pessoas foram mortas em um ataque a faca Foto: VALERY HACHE / AFP
O Globo e agências internacionais
PARIS — Um padre da Igreja Ortodoxa Grega foi baleado no momento em que fechava as portas de sua igreja, na tarde deste sábado, em Lyon, na França. O caso acontece dois dias depois do ataque a faca que deixou três mortos em Nice, no Sul do país.
Segundo a polícia francesa, um suspeito foi preso horas depois. A polícia não conseguiu confirmar se o detido era o atirador, que fugiu da igreja após os disparos. Autoridades locais e promotores disseram que ainda não está claro quais foram os motivos do ataque.
De acordo com o jornal Le Monde, o agressor atirou duas vezes contra o clérigo antes de fugir. A polícia informou que o estado de saúde do padre é grave e que ele precisou receber atendimento de urgência no local. A área foi isolada rapidamente pela corporação e o Ministério do Interior emitiu um alerta sobre a operação.
Ainda não se sabe se o caso tem alguma ligação com o atentado em Nice nem se houve motivações religiosas. O ataque acontece em um momento em que a França vive uma tensão interna devido aos casos recentes de atentados envolvendo islamistas radicais. Em 17 de outubro, o professor de Geografia e História Samuel Paty foi decapitado por um extremista de origem chechena após mostrar caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse que ainda não sabia de todas as circunstâncias do incidente, mas afirmou que uma reunião de emergência será realizada pelo governo.
— Ainda não tenho informações específicas sobre as circunstâncias. Preciso lhes dizer que vocês devem contar com toda a determinação do governo para permitir que cada um e todos pratiquem o seu culto em total segurança e em total liberdade. A nossa vontade é forte: a nossa determinação não se debilitará — afirmou. Segundo o jornal Le Figaro, o padre é como Nicolas K., de 52 ans. Ele é pai de três filhos e foi atingido no abdome.
Nos últimos dias, o governo de Emmanuel Macron vem intensificando seus esforços contra possíveis novos atentados terroristas, em meio ao final do julgamento dos autores do atentado de 2015 que deixou 12 mortos na sede do semanário satírico Charlie Hebdo, onde as caricaturas de Maomé foram originalmente publicadas.
A defesa feita por Macron da publicação das caricaturas, em nome da liberdade de expressão, após o assassinato do professor, provocou reações em países de maioria muçulmana. O Islã não permite que Maomé e outros profetas sejam retratados, porque considera que isso é idolatria.
Neste sábado, a polícia informou que uma terceira pessoa foi presa por suspeita de envolvimento no ataque em Nice, onde na quinta-feira um tunisiano de 21 anos, que chegou à França naquele mesmo dia, matou as três pessoas dentro da Basílica de Notre-Dame.
Entre os mortos estava a brasileira Simone Barreto Silva, que morava no país havia quase 30 anos. O agressor foi identificado como Brahim Aouissaoui, que deixou seu país em 18 de setembro e chegou à Itália pouco depois, em um barco que atracou no porto da ilha de Lampedusa. A Tunísia informou que, no país, ele não era fichado como militante radical.
A segunda prisão relacionada ao atentado ocorreu ainda na quinta-feira. Um homem de 47 anos foi detido depois ter sido visto ao lado de Aouissaoui em imagens de câmeras de segurança de Nice. Aouissaoui também está preso, mas permanece sob custódia no hospital, em estado grave, depois de ter sido baleado.
O terceiro suspeito foi detido na noite de sexta-feira, durante uma operação de buscas na residência do segundo suspeito. Ele é um homem de 33 anos cuja identidade ainda não foi revelada. A polícia tenta apurar qual o papel dele no caso.
Macron fala à al-Jazeera
Macron tentou neste sábado aliviar a tensão com o público muçulmano com uma entrevista à rede de TV al-Jazeera. Ele buscou se contrapor ao que considera que é uma interpretação errônea de suas recentes declarações sobre o Islã e explicar o modelo laico do Estado e do ensino francês.
— As reações do mundo muçulmano ocorreram devido a muitas mentiras e ao fato de que as pessoas entenderam que sou a favor dessas caricaturas — disse Macron. — Sou a favor de podermos escrever, pensar e desenhar livremente no meu país pois considero isso importante, representa um direito e as nossas liberdades.
O mandatário também fez uma publicação em árabe no Twiter afirmando não ter "problemas com nenhuma religião" e que todos os credos "são praticados livremente" no país.
"Ao contrário de muito do que tenho ouvido e visto nas redes sociais nos últimos dias, nosso país não tem problemas com nenhuma religião. Todas essas religiões são praticadas livremente na nossa terra. Não há estigmatização: a França está comprometida com a paz e com a convivência", escreveu.
Macron também conversou com o Papa Francisco na sexta-feira e, segundo seu porta-voz, discutiu a importância da liberdade de expressão e do diálogo entre as religiões.
— Ele afirmou que continuaria a lutar contra o extremismo para que todos os franceses pudessem expressar sua fé em paz e sem medo — disse o porta-voz.
Investigação italiana
Promotores na cidade siciliana de Palermo, na Itália, estão investigando a passagem do autor do atentado em Nice por Lampedusa, incluindo pessoas com as quais ele teria entrado em contato. Depois de Lampedusa, ele ficou 14 dias em um centro de quarentena em Bari. Lá, recebeu uma ordem de expulsão da Itália, mas teria ido para Palermo antes de viajar para Nice.
O irmão do autor do atentado, Yassine, que mora em Sfax, na Tunísia, disse à AFP que ninguém teve informação sobre Aouissaoui até quarta-feira passada, quando ele ligou para a família.
— Ele nos disse que foi para a França porque era mais fácil encontrar trabalho lá — disse Yassine, que explicou que o irmão se voltou para a religião há dois anos. Fonte: https://oglobo.globo.com
Domingo 1º de Novembro: Festa de Todos os santos e santas: A alegria da santidade
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A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho da Solenidade de Todos os Santos e Santas - Ciclo A, que corresponde ao texto de Mateus 5,1-12.“Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12)
Eis o comentário.
À luz do Evangelho, alegria e santidade, não se dissociam; ao contrário, implicam-se mutuamente.
A alegria é um sentimento central da santidade cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
Alegria que brota do interior e é um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom nos faz filhos(as) de Deus, capazes de viver e saborear sua santidade e bondade.
Não é correto que os cristãos associem, com tanta frequência, a fé à dor, à renúncia, à mortificação, mas à alegria, à vida em plenitude.
A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria de Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que reforça o seguimento. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco).
A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos discípulos. Alegria que é contagiosa e tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos alegres porque Jesus está vivo, mas porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é também a alegria de Jesus.
Os Santos e Santas, por viverem profundamente no amor de Deus, são testemunhas da alegria.
Este amor é o que nos faz sair de nós mesmos, reencontrar-nos e viver em sintonia com outros. E aqui está o “peso” do amor, o vigor da alegria. O amor que Deus nos tem desperta a alegria e esta motiva, dá energia, gera confiança. O amor é o princípio que ordena a vida e a alegria irradia harmonia e bem-estar àqueles que nos rodeiam. Quem vive a partir da alegria, vive a partir do essencial e sabe discernir o autêntico das aparências e o útil do supérfluo. A alegria mantém alta a utopia e não se cansa em sua irradiação. Seguimos o conselho agostiniano: “A felicidade consiste em tomar com alegria o que a vida nos dá, e deixar com a mesma alegria o que ela nos tira”.
Quem é transparente e coerente transmite alegria em seu falar e em seu agir. Costumamos dizer: “alegrar a casa”, “alegrar a cor”, “alegrar o fogo”... ou seja, dar-lhe vida.
Desse modo, alegria confunde-se com plenitude, com vida em cheio, com entusiasmo, com a sabedoria que permite harmonizar tudo isso com a nossa fragilidade, com as nossas feridas e dores, perdas e desencontros, erros e tristezas.
Ser testemunhas e profetas da alegria constitui a essência da santidade cristã.
O profeta da alegria, longe de fugir dos conflitos da vida, os enfrenta e os integra com sentido. Não tem fronteiras, não exclui gênero, classe social, cor, língua, religião, não descarta o aparentemente inútil. Por isso, sua vida e sua palavra querem ser anúncio e compromisso de concórdia e comunhão nos conflitos, unindo pontos, integrando diferenças, curando feridas. Sua presença alegre desmonta a hipocrisia, as ambições, a intolerância, o preconceito...
Quem vive a santidade na alegria se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar...
No pensamento hebraico, quando se diz que uma pessoa é santa não significa que ela seja apenas virtuosa, que tenha um comportamento ético impecável, mas, sim, que essa pessoa é diferente, é “outra”, que manifesta sua alteridade no mundo, revela uma maneira original de viver, uma outra maneira de amar.
Significa uma pessoa que introduz amor onde há ódio, que revela a paciência onde existe intransigência, que manifesta compreensão onde existe revolta, comunica paz onde existe a violência, deixa transparecer uma presença alegre onde impera a tristeza.
É assim que a santidade está ao alcance de todos aqueles e aquelas que reconhecem sua própria finitude e desejam ser transformados pelo amor que é maior e os faz plenamente humanos. Ser santo(a) não é para campeões de perfeição, mas para pecadores que se reconhecem como tais e se deixam conduzir pelas asas da Graça de Deus e pelo clamor que vem da alteridade desfigurada de todo aquele(a) que sofre e necessita cuidado e atenção.
“Ser santo(a)” é sermos dóceis para “nos deixar conduzir” pelos impulsos de Deus, por onde muitas vezes não sabemos e não entendemos. Seus caminhos não são os nossos caminhos. Ser santo(a) é “arriscar-nos” em Deus; é navegar no oceano da gratuidade, da compaixão, da solidariedade...
Nesta atitude de “deixar-nos conduzir” é que entramos no fluxo da Santidade de Deus, nos atrevendo a planar sobre ela para mobilizar todas as possibilidades da nossa existência.
Essa é a nossa essência: em Deus, somos todos(as) santos(as).
Nesse sentido, as bem-aventuranças des-velam o verdadeiro rosto do(a) santo(a). Quem é ditoso(a)? Quem é bem aventurado(a)? Quem é feliz? As bem-aventuranças são a exposição mais exigente e, ao mesmo tempo mais fascinante, da mensagem e da “intenção de Cristo”.
Não temos de pensar somente nos “santos e santas” canonizados(as), nem naqueles que viveram virtudes heroicas, mas em todos os homens e mulheres que descobriram a marca do divino neles(as) mesmos(as), e sentiram-se impulsionados(as) a viver com intensa humanidade. Ser santos(a) é ser humano por excelência.
Não se trata de nos fixar nos méritos de pessoas extraordinárias, mas de reconhecer a presença de Deus, que é o único Santo, em cada um de nós. Assim, no chamado à santidade, aspiramos somente a sermos cada dia mais humanos, ativando o amor que Deus derramou em nosso ser.
Para humanizar nosso tempo, os(as) santos(as) revelam atitudes e critérios que nos fazem mergulhar de cheio nos desafios e problemas que afligem grande parte da humanidade. Os(as) santos(as), de hoje e de sempre, não são encontrados nos pacíficos ambientes dos templos ou dentro dos limites da instituição eclesial, mas nas encruzilhadas da pobreza e da injustiça, nas “periferias existenciais”, em perigosa proximidade com o mundo da violência e da marginalidade, em situações de risco, onde a luz do amor brilhará mais do que nunca.
Quem são esses Santos e Santas que celebramos cada ano e que são multidões ao longo dos tempos?
Santas e Santos desconhecidos, mínimos, ocultos, simples, com biografia que não aparecem na Wikipédia. Pessoas anônimas que estão presentes em todos os lugares, como fermento na massa, despertando esperança em tempos difíceis.
Numa cultura de morte e de violência como a nossa, as Santas e os Santos são os anônimos que arriscam suas vidas na defesa daqueles que não tem voz, agindo como samaritanos em favor da vida. Sua presença faz toda a diferença. Santa diferença!
Para meditar na oração:
O melhor modo de rezar as bem-aventuranças é seguir um dos “modos de orar” proposto por Santo Inácio, ou seja: “Contemplar o significado de cada palavra da oração” (EE. 249).
* Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe viver a dinâmica das bem-aventuranças. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Quinta-feira, 30 de setembro-2020. EVANGELHO DO DIA-30º DOMINGO DO TEMPO COMUM. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 1-6)
1Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam. 2Havia ali um homem hidrópico. 3Jesus dirigiu-se aos doutores da lei e aos fariseus: É permitido ou não fazer curas no dia de sábado? 4Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5Depois, dirigindo-se a eles, disse: Qual de vós que, se lhe cair o jumento ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado? 6A isto nada lhe podiam replicar.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.
Lucas 14,1: O convite em dia de sábado
“Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.
Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?
Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?" Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4).
Lucas 14,4-6: A cura
Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?" Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorres a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso” . Pois diante da evidência não há argumento que a negue.
4) Para um confronto pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?
5) Oração final
Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. (Sl 110, 1-2)
Quinta-feira 29- AO VIVO- Angra dos Reis/RJ. Dia de Adoração, Caridade e Confissão no Carmo
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Homem invade missa na Basílica de Nice, na França, e mata três pessoas a facadas
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Três pessoas morreram, ao menos uma delas decapitada, e várias ficaram feridas nesta quinta-feira na cidade francesa de Nice em um ataque a faca na Basílica de Notre-Dame, no centro da cidade. O agressor, que foi baleado pela polícia, teria gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande) diversas vezes antes de ser preso
Um oficial de segurança guarda a área após ataque com faca na basílica de Notre-Dame, em Nice, França Foto: ERIC GAILLARD / REUTERS
Fonte: https://oglobo.globo.com
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