Festa dos Santos Anjos da Guarda - 2 de outubro
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Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus, que na vossa misteriosa providência mandais os vossos Anjos para guardar-nos, concedei que nos defendam de todos os perigos e gozemos eternamente do seu convívio. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho - Mateus 18,1-5.10
1 Naquele momento, os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram: "Quem é o maior no Reino do Céu?" 2 Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles, 3 e disse: "Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu. 4 Quem se abaixa, e se torna como essa criança, esse é o maior no Reino do Céu. 5 E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe."
(6 "Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar. 7 Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai do homem que causa escândalo! 8 Se a sua mão ou o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrar para a vida sem uma das mãos, ou sem um dos pés, do que ter as duas mãos ou os dois pés, e ser lançado no fogo eterno. 9 E se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrar para a vida com um olho só, do que ter os dois olhos, e ser jogado no inferno de fogo.")
10 "Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu.
3) Reflexão Mateus 18,1-5.10 (Mc 9,33-37)
O evangelho de hoje traz um texto tirado do Sermão da Comunidade (Mt 18,1-35), no qual Mateus reúne frases de Jesus para ajudar as comunidades do fim do primeiro século a superar os dois problemas que elas enfrentavam naquele momento, a saber, a saída dos pequenos por causa do escândalo de alguns (Mt 18,1-14) e a necessidade de diálogo para superar os conflitos internos (Mt 18,15-35). O Sermão da Comunidade aborda vários assuntos: o exercício do poder na comunidade (Mt 18,1-4), o escândalo que exclui os pequenos (Mt 18,5-11), a obrigação de lutar pela retorno dos pequenos (Mt 18,12-14), a correção fraterna (Mt 18,15-18), a oração (Mt 18,19-20) e o perdão (Mt 18,21-35). O acento cai na acolhida e na reconciliação, pois o fundamento da fraternidade é o amor gratuito de Deus que nos acolhe e perdoa. Só assim a comunidade será um sinal do Reino.
No Evangelho de hoje vamos meditar aquela parte que fala do acolhimento a ser dado aos pequenos. A expressão, os pequenos não se refere só às criança crianças, mas sim às pessoas sem importância na sociedade, inclusive as crianças. Jesus pede que os pequenos estejam no centro das preocupações da comunidade, pois "o Pai não quer que um só destes pequenos se perca" (Mt 18,14).
Mateus 18,1: A pergunta dos discípulos que provocou o ensinamento de Jesus
Os discípulos querem saber quem é o maior no Reino. Só o fato de alguém fazer esta pergunta mostra que ele não entendeu bem a mensagem de Jesus. A resposta de Jesus, isto é, o Sermão da Comunidade todo inteiro, é para fazer entender que entre os seguidores e as seguidoras de Jesus deve vigorar o espírito de serviço, doação, perdão, reconciliação e amor gratuito, sem buscar o próprio interesse.
Mateus 18,2-5: O critério básico: o menor é o maior.
“Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles”, Os discípulos querem um critério para poder medir a importância das pessoas na comunidade. Jesus responde que o critério é a criança! Criança não tem importância social, não pertence ao mundo dos grandes. Os discípulos, em vez de crescerem para cima e para o centro, devem crescer para baixo e para a periferia! Assim serão os maiores no Reino! E o motivo é este: “Quem recebe a um destes pequenos, recebe a mim!” O amor de Jesus pelos pequenos não tem explicação. Criança não tem mérito, é amada pelos pais e por todos por ser criança. É a pura gratuidade do amor de Deus que aqui se manifesta e pede para ser imitada na comunidade pelos que acreditam em Jesus
Mateus 18,6-9: Não escandalizar os pequenos.
O evangelho de hoje omite estes versículos de 6 a 9 e continua no versículo 10. Damos uma breve chave de leitura para estes versículos 6 a 9. Escandalizar os pequenos significa: ser motivo pelo qual os pequenos percam a fé em Deus e abandonem a comunidade. A insistência demasiada em normas e observâncias, como faziam alguns fariseus, afastava os pequenos, pois já não encontravam a prática libertadora trazida por Jesus. Diante disso, Mateus conservou frases bem fortes de Jesus, como aquela da pedra de moinho amarrada no pescoço e aquela outra: “Ai daquele ou daquela que for causa de escândalo!” Sinal de que naquele tempo os pequenos já não se identificavam mais com a comunidade e procuravam outros abrigos. E hoje? Só no Brasil, por ano, são em torno de um milhão de pessoas que abandonam as igrejas históricas e migram para as pentecostais. E são os pobres que fazem esta transição. Se eles saem, é porque os pobres, os pequenos, já não se sentem em casa na nossa casa! Qual o motivo? Para evitar este escândalo, Jesus manda cortar mão ou pé e arrancar o olho. Estas afirmações de Jesus não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas significam que se deve ser muito exigente no combate ao escândalo que afasta os pequenos. Não podemos permitir, de forma nenhuma, que os pequenos se sintam marginalizados na nossa comunidade. Pois neste caso a comunidade já não seria um sinal do Reino de Deus. Não seria de Jesus Cristo. Não seria cristã
Mateus 18,10: Os anjos dos pequenos na presença do Pai
"Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu”. Hoje, às vezes, se ouve alguém perguntar: “Será que os anjos existem? Será que não é um elemento da cultura persa, onde os judeus viveram tantos séculos durante o exílio da Babilônia?” É possível que seja. Mas isto não é o X da questão, não é a questão principal. Na Bíblia, o anjo tem um outro significado. Há textos em que se fala do Anjo de Javé ou Anjo de Deus e de repente se fala de Deus. Troca um pelo outro (Gn 18,1-2.9.10.13.16: cf Jz 13,3.18). Na Bíblia, anjo é o rosto de Javé voltado para nós. Anjo de guarda é o rosto de Deus voltado para mim, para você! É a expressão personalizada da convicção mais profunda da nossa fé, a saber, que Deus está conosco, comigo, sempre! É uma maneira de concretizar o amor e a presença de Deus na nossa vida, até nos mínimos detalhes.
4) Para um confronto pessoal
1) Os pequenos são acolhidos na nossa comunidade?. As pessoas mais pobres do bairro participam da nossa comunidade?
2) Anjos de Deus, Anjo de Guarda. Muitas vezes, o Anjo de Deus é a pessoa que ajuda outra pessoa. Existem muitos anjos e anjas na sua vida?
5) Oração final
Foste tu que criaste minhas entranhas e me teceste no seio de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste maravilhoso; são admiráveis as tuas obras. (Sl 138, 13-14)
Quarta-feira, 30 de setembro-2019. 26ª Domingo do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,57-62)
57 Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde quer que fores." 58 Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." 59 Jesus disse a outro: "Siga-me." Esse respondeu: "Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai." 60 Jesus respondeu: "Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus." 61 Outro ainda lhe disse: "Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa." 62 Mas Jesus lhe respondeu: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus."
3) Reflexão Lucas 9,57-62
No evangelho de hoje continua a longa e dura caminhada de Jesus desde periferia lá da Galileia para a capital. Saindo da Galileia, Jesus entra na Samaria e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Mas outros se aproximam e se apresentam para seguir Jesus. No início da sua atividade pastoral, lá na Galileia, Jesus havia chamado três pessoas: Pedro, Tiago e João (Lc 5,8-11). Aqui na Samaria, também são três que se apresentam ou são chamados. Nas respostas de Jesus, transparece quais as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus.
Lucas 9,56-58: O primeiro dos três novos discípulos
“Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde quer que fores." Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." A esta primeira pessoa que quer ser discípulo, Jesus pede o despojamento total de tudo: não ter onde reclinar a cabeça, nem buscar uma falsa segurança onde reclinar o pensamento da cabeça.
Lucas 9,59-60: O segundo dos três novos discípulos
“Jesus disse a outro: Siga-me. Esse respondeu: Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai." Jesus respondeu: Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus." A esta segunda pessoa chamada por Jesus para segui-lo, Jesus pede para deixar que os mortos enterrem seus mortos. Trata-se de um provérbio popular usado para dizer: deixe para lá as coisas do passado. Não perca tempo com o que já passou e olhe para a frente. Depois de ter descoberto a vida nova em Jesus, o discípulo não deve perder tempo com o que já passou.
Lucas 9,61-62: O terceiro dos três novos discípulos
“Outro ainda lhe disse: Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa. Mas Jesus lhe respondeu: Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus". A esta terceira pessoa chamada para ser discípulo, Jesus pede para romper com os laços familiares. Em outra ocasião ele tinha dito: “Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26; Mt 10,37). Jesus é mais exigente que o profeta Elias que permitiu que Eliseu despedir-se dos seus pais (1Rs 19,19-21). Significa também romper com os laços nacionalistas da raça e com a estrutura da família patriarcal.
São três exigências fundamentais apresentadas como condição para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus: (1) abandonar os bens materiais, (2) não se agarrar aos bens pessoais vividos e acumulados no passado, e (3) romper com os laços familiares. Na realidade, ninguém, nem mesmo querendo, pode romper com os laços familiares, nem com as coisas vividas no passado. O que se exige é saber reintegrar tudo (bens materiais, vida pessoal e vida familiar) de maneira nova em torno do novo eixo que é Jesus e a Boa Nova de Deus que ele nos trouxe.
Jesus, ele mesmo, viveu e realizou o que pedia dos seus seguidores e seguidoras. Com a sua decisão de subir para Jerusalém Jesus revela qual é o seu projeto. A sua viagem a Jerusalém (Lc 9,51 a 19,27) é apresentada como assunção (Lc 9,51), êxodo (Lc 9,31) ou travessia (Lc 17,11). Chegando em Jerusalém, ele realiza o êxodo, a assunção ou a travessia definitiva deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Só uma pessoa verdadeiramente livre poderia realizá-lo, pois um tal êxodo supõe a entrega radical da própria vida pelo irmãos (Lc 23,44-46; 24,51). Este é o êxodo, a travessia, a assunção que as comunidades devem realizar para levar adiante o projeto de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1) Compare cada uma das três exigências com a sua própria vida?
2) Quais os problemas que apareceram em sua vida como consequência da decisão que tomou de seguir Jesus?
5) Oração final
Senhor, tu me examinas e me conheces, sabes quando me sento e quando me levanto. Penetras de longe meus pensamentos, distingues meu caminho e meu descanso, sabes todas as minhas trilhas. (Sl 138, 1-3)
Festa dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael - 29 de setembro
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1) Oração
Ó Deus, que organizais de modo admirável o serviço dos Anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos na terra por aqueles que vos servem no céu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Jo 1,47-51)
47Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.48Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira.49Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel.50Jesus replicou-lhe: Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta.51E ajuntou: Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.
3) Reflexão João 1, 47-51
O evangelho de hoje na festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael traz o diálogo entre Jesus e Natanael, no qual aparece a frase: "Eu lhes garanto: vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Esta frase ajuda a esclarecer algo a respeito dos arcanjos, cuja festa hoje celebramos.
João 1,47-49: A conversa entre Jesus e Natanael
Foi Filipe que levou Natanael até Jesus (Jo 1,45-46). Natanael tinha exclamado: "De Nazaré pode vir coisa boa?" Natanael era de Caná, que ficava perto de Nazaré. Ao ver Natanael, Jesus diz: "Eis um israelita autêntico, sem falsidade!" E afirma que já o conhecia quando estava debaixo da figueira. Como é que Natanael podia ser um "israelita autêntico" se ele não aceitava Jesus como messias? Natanael "estava debaixo da figueira". A figueira era o símbolo de Israel (cf. Mq 4,4; Zc 3,10; 1Rs 5,5). "Estar debaixo da figueira" era o mesmo que ser fiel ao projeto do Deus de Israel. Israelita autêntico é aquele que sabe desfazer-se das suas próprias ideias quando percebe que estas estão em desacordo com o projeto de Deus. O israelita que não está disposto a fazer esta conversão não é autêntico nem honesto. Natanael é autêntico. Ele esperava o messias de acordo com o ensinamento oficial da época, conforme o qual o Messias viria de Belém na Judéia. O Messias não podia vir de Nazaré na Galileia (Jo 7,41-42.52). Por isso, Natanael resistia em aceitar Jesus como messias. Mas o encontro com Jesus ajudou-o a perceber que o projeto de Deus nem sempre é do jeito que a pessoa imagina ou deseja. Natanael reconhece o seu engano, muda de idéia, aceita Jesus como messias e confessa: "Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!"
A diversidade do chamado.
Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam o chamado dos primeiros discípulos de maneira muito mais resumida: Jesus passa na praia, chama Pedro e André. Logo depois, chama Tiago e João (Mc 1,16-20). O evangelho de João tem um outro jeito de descrever o início da primeira comunidade que se formou ao redor de Jesus. Ele traz histórias bem mais concretas. O que chama a atenção é a variedade dos chamados e dos encontros das pessoas entre si e com Jesus. Deste modo, João ensina como se deve fazer para iniciar uma comunidade. É através de contatos e convites pessoais, até hoje! A uns, Jesus chamou diretamente (Jo 1,43). A outros, indiretamente (Jo 1,41-42). Num dia, chamou dois discípulos de João Batista (Jo 1,39). No dia seguinte, chamou Filipe que, por sua vez, chamou Natanael (Jo 1,45). Nenhum chamado se repete, porque cada pessoa é diferente. A gente nunca esquece os chamados e encontros importantes que marcam a vida da gente. Lembra até a hora e o dia (Jo 1,39).
João 1,50-51: Os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem
A confissão de Natanael é apenas o começo. Quem for fiel, verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Experimentará que Jesus é a nova ligação entre Deus e nós, seres humanos. É a realização do sonho de Jacó (Gn 28,10-22).
Os anjos subindo e descendo a escada
Hoje é a festa dos três arcanjos: Gabriel, Rafael e Miguel. Gabriel explicava ao profeta Daniel o significado das visões (Dn 8,16; 9,21). Foi o mesmo anjo Gabriel que levou a mensagem de Deus a Isabel (Lc 1,19) e a Maria, a mãe de Jesus (Lc 1,26). Seu nome significa “Deus é forte”. Rafael aparece no livro de Tobias. Ele acompanhou a Tobias, filho de Tobit e Ana, na viagem e o protegeu de todos os perigos. Ajudou Tobias a livrar Sara de um mau espírito e a curar Tobit, o pai, da cegueira. Seu nome significa “Deus cura”. Miguel ajudou o profeta Daniel nas suas lutas e dificuldades (Dn 10,13.21; 12,1). A carta de Judas diz que Miguel disputou com o diabo o corpo de Moisés (Jd 1,9). Foi Miguel que venceu o satanás, derrubando-o do céu e jogando-o no inferno (Ap 12,7). Seu nome significa “Quem é como Deus!” A palavra anjo significa mensageiro. Ele traz uma mensagem de Deus. Na Bíblia, a natureza inteira pode ser mensageira de Deus, revelando o amor de Deus por nós (Sl 104,4). O anjo pode ser o próprio Deus, enquanto volta a sua face para nós e nos revela a sua presença amorosa.
4) Para um confronto pessoal
1-Você já teve um encontro marcante na sua vida? Como foi que descobriu a chamada de Deus aí dentro?
2-Você já se interessou alguma vez, como Filipe, em chamar uma outra pessoa para participar da comunidade?
5) Oração final
Eu vos louvarei de todo o coração, Senhor, porque ouvistes as minhas palavras. Na presença dos anjos eu vos cantarei. Ante vosso santo templo prostrar-me-ei, e louvarei o vosso nome, pela vossa bondade e fidelidade. (Sl 137, 1-2)
Gelo no pênis, exorcismo e medo; os padres gays silenciados pela Igreja no Brasil
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Vitor Hugo Brandalise
De São Paulo para a BBC News Brasil
Para os padres que conversaram com a reportagem, a Igreja Católica no Brasil tem avançado pouco em relação às questões de moral sexual
No meio da noite, num seminário católico em São Paulo, um aspirante a padre se martirizava: "Em nome de Jesus, demônio da homossexualidade, saia de mim!". Deitado em sua cama no quarto que dividia com dois religiosos, Rafael*, de 20 anos, apertava as unhas nas palmas das mãos até quase machucar, e rezava sem parar. Insone, caminhava até o banheiro e, esbravejando e chorando, agredia o seu órgão sexual e o envolvia em cubos de gelo. Deitava no chão gelado ou, em outros momentos, ficava sob a ducha fria até amanhecer, rezando e suplicando. "Espírito inimigo, manifestação do Mal. Saia de mim!"
As orações e suplícios eram parte de um ritual noturno que o seminarista chamava de "exorcismo da homossexualidade". Nessas noites, Rafael pedia para deixar de ser uma pessoa "desordenada", como documentos da Igreja Católica definem os homens e mulheres gays. "Senhor, me cura de toda tendência homossexual", rezava o estudante, que chegara à capital paulista dois anos antes.
Desde as primeiras lições recebidas ao entrar num seminário diocesano, em 1994, Rafael sentiu o peso de uma contradição até hoje insuperável nas regras da Igreja: há anos, seus líderes afirmam que a homossexualidade é "contrária à lei natural" e que homens com "tendências homossexuais fortemente radicadas" não podem ser padres.
Para Rafael, o tormento aumentava após os retiros anuais de seu seminário, no interior paulista. Na frente de plateias repletas de seminaristas, padres reforçavam a ideia de que a homossexualidade seria uma "doença", um "fruto da ação do mal".
A ideia de viver sob uma condição a ser "curada" acompanhou Rafael por muito tempo. Nove anos depois das noites de exorcismo no seminário, já ordenado sacerdote, ele anotou em uma espécie de carta, endereçada a Deus: "Cansei de fingir ser quem eu não sou. Quero descansar", relembrou Rafael, hoje um padre na periferia de São Paulo, "por favor, Deus, me leve. Prefiro a morte".
Solidão
As histórias dos padres gays são vividas em segredo, discutidas apenas entre eles, tratadas em guetos dentro das congregações, sob o medo de perseguição e de caça às bruxas. Ou, apenas, em solidão.
Não há uma estatística oficial sobre o número de padres católicos homossexuais no Brasil. No país, dentre 27 mil padres, não há nenhum que esteja atualmente exercendo o sacerdócio e que tenha assumido a homossexualidade em público. Nos Estados Unidos, pouco mais de dez já falaram publicamente sobre sua orientação sexual.
Dezenas de padres gays brasileiros e pesquisadores do tema estimam, entretanto, que o número de homossexuais entre os sacerdotes do país é significativo. Padres, formadores de sacerdotes e estudiosos ouvidos pela reportagem estimam, informalmente, que existam ao menos 30% de homens gays no clero.
Um padre gay no Ceará disse à BBC News Brasil que, em sua ordem religiosa no Nordeste, "pelo menos 80%" dos colegas têm essa orientação. Um seminarista disse à reportagem que, em sua turma de 40 estudantes no interior de São Paulo, 30 seriam homossexuais. E uma pesquisadora que estuda um monastério católico no Nordeste afirma que, lá, "90% do clero é gay".
Seis padres e seminaristas homossexuais de cinco Estados brasileiros aceitaram compartilhar suas histórias, ao longo de um mês, com a reportagem da BBC News Brasil. Todos pediram anonimato, por receio de punições. Mesmo que vivam o celibato, como pede a doutrina católica, se os seus superiores considerarem que têm orientação sexual inadequada, eles podem ser expulsos da Igreja.
Como disse um padre da Bahia antes de aceitar conceder a entrevista, "minha vida depende desse anonimato". Do contrário, ele poderia perder não só o emprego, mas a casa, o plano de saúde, a aposentadoria e amigos. Teria que deixar a paróquia que hoje lidera, no interior baiano, com "uma sacola de roupas velhas", poucas centenas de reais na conta bancária e sem ideia do que fazer depois.
No fogo cruzado, os padres gays
Nos últimos anos, as discussões sobre como lidar com os padres homossexuais dentro da Igreja aumentaram. Em 2013, respondendo a uma pergunta sobre a influência de sacerdotes gays no Vaticano, o papa Francisco disse sua famosa frase "Quem sou eu para julgar?" — uma fala que trouxe esperança a todos os católicos LGBTs.
No ano seguinte, no Sínodo sobre a Família, o papa fez uma referência direta aos "dons e qualidades" dos homossexuais e perguntou se a Igreja "seria capaz de acolher" essas pessoas. O trecho não conseguiu a quantidade necessária de votos de bispos para constar do documento final do encontro, mas foi recebido como uma nova maneira de tratar do tema.
A reação em setores tradicionalistas católicos foi forte. A tentativa de maior abertura teria tido influência em uma campanha contra o papa que se agravou com a acusação de que Francisco teria acobertado ou tolerado abusos sexuais de menores cometidos pelo ex-cardeal americano Theodore E. McCarrick (posteriormente expulso da Igreja pelo papa).
Em uma carta aberta, um ex-embaixador do Vaticano em Washington, Carlo Maria Viganò, chegou a pedir a renúncia do papa e denunciou uma "máfia rosa" que agiria na Santa Sé. Segundo Viganò, esse grupo pregaria mais poder para o clero homossexual e encobriria casos de pedofilia.
Dezenas de estudos feitos em vários países jamais encontraram relação entre ser gay e abusar sexualmente de crianças. Ainda assim, bispos e cardeais desses mesmos setores tradicionalistas insistem em apontar os padres homossexuais como a causa do problema dentro da Igreja.
Nas manifestações seguintes sobre o clero gay, o próprio papa pareceu se tornar mais crítico. Ele disse, em maio de 2018, que a homossexualidade está "na moda" e que "é melhor que deixem o sacerdócio a continuarem a viver uma vida dupla".
Por fim, em nova abertura, em setembro, Francisco recebeu o padre jesuíta James Martin, um defensor da causa gay entre os sacerdotes. A reunião foi vista como novo sinal de apoio do pontífice à acolhida de homossexuais.
Brasil
No Brasil, o posicionamento da Igreja Católica é idêntico à tradição do Vaticano. Em resposta a questionamentos da BBC News Brasil sobre quem pode se tornar padre, o arcebispo-primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, citou a última instrução publicada pela Igreja, em 2005 — a que fala que não se pode "admitir nos seminários e ordens sagradas aqueles que praticam a homossexualidade", apresentam "tendências homossexuais profundamente radicadas" ou "apoiam a chamada 'cultura gay'".
O texto que a Arquidiocese-primaz do Brasil cita passou a valer nos primeiros meses do papado de Joseph Ratzinger, o Bento 16, e é o mais restritivo em relação aos gays.
A instrução repete normas que já apareciam no Catecismo da Igreja (conjunto de regras da doutrina católica para todos os países), escrito pelo próprio Ratzinger, então cardeal, em 1986 — quando era o líder da Congregação para a Doutrina da Fé, entidade do Vaticano responsável por defender a tradição e as ideias teológicas da Igreja. Vigente ainda hoje, esse é o texto que define pessoas gays como "objetivamente desordenadas".
No meio dos embates na Santa Sé e nas igrejas nacionais estão os padres gays — que recebem calados os impactos das disputas entre os setores tradicionalistas e progressistas da Igreja, e de grupos de fiéis fora dela.
Como disse um padre gay do interior da Bahia, querer avançar na discussão sobre a acolhida do clero gay na Igreja, neste momento de divisão, é "pedir para ser apedrejado". "Há uma sensação de que, com Francisco, é agora ou nunca (para mudanças). Mas, como na doutrina nada muda, ao mesmo tempo em que há mais integrantes do clero querendo falar, a angústia só aumenta, por não se sentirem seguros para isso."
Responsável pelas discussões que podem promover mudanças na Igreja no país, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou, por sua vez, que não foram feitas nos últimos anos e nem estão sendo feitas atualmente, em suas assembleias internas, discussões sobre os sacerdotes homossexuais.
Muitos desses padres oscilam entre os lampejos de abertura de Francisco, a postura distante da Igreja Católica no Brasil e a franca agressividade dos setores ultratradicionalistas. E vivem suas trajetórias em silêncio, no dia a dia das paróquias do interior e das grandes cidades brasileiras, sem revelar quem eles realmente são.
Nunca em dois
Aspirantes a padres aprendem como funciona o armário católico ainda no seminário. Muitas das normas dessas casas de formação só existem para combater as "tendências homossexuais" entre os seminaristas, como relembra o padre Rafael, hoje aos 45 anos, em uma conversa com a BBC News Brasil na cozinha da casa simples onde vive, perto de sua paróquia em São Paulo.
Andar em duplas pelos corredores e pátios à noite, por exemplo, era visto com maus olhos. Os dormitórios eram compartilhados, sempre, entre três ou cinco seminaristas. "Nunca duas, nunca quatro pessoas. Era uma regra que todos entendiam: para evitar a formação de casais", conta o padre. "Mas o que acabava inibindo eram as amizades."
Assistir ao telejornal depois do jantar, ou ir ao cinema, só se os seminaristas estivessem em números ímpares. "Provoca um clima tenso, não é natural, tranquilo. Sempre há olhos em você. E isso se prolonga por sete, oito anos", diz um outro seminarista.
Dois seminaristas com quem a reportagem conversou (um de Minas Gerais e outro do Piauí) relataram regras semelhantes em suas rotinas. "Quem vai achar que esse é um bom ambiente para uma pessoa ter uma formação sentimental saudável?", questiona o padre Rafael. "É importante ter um bom desenvolvimento afetivo para ficar bem consigo e depois poder servir bem aos fiéis. Não é essa a razão de ser da igreja?"
Dos seus anos de formação, Rafael traz também a sensação de culpa. Segundo o catecismo da Igreja, a masturbação é considerada pecado grave, por representar um ato sexual cujo fim não é a reprodução. Se envolvesse pensamentos homossexuais, tratava-se de "manifestação do demônio" — uma "sensação horrível", define Rafael, e sobre a qual não podia falar com ninguém, por medo de ser expulso.
Nesse período da juventude, entre os 20 e os 25 anos, o seminarista considerou estratégias diversas para combater esse "mal": além das aplicações de gelo na genitália, quis ter um cinto de castidade ("achava que um cadeado resolveria") e decidiu deixar de comer seus pratos preferidos ("uma ideia de purificação contra o prazer").
Um outro padre gay, Aurélio*, hoje pároco numa cidade média no interior da Bahia, conta que em seu seminário, no início dos anos 2000, santos católicos "bem-sucedidos" em reprimir a sexualidade eram citados como exemplos a seguir. São Francisco de Assis, contavam os formadores, se atirava nos espinhos de uma roseira quando sentia impulsos sexuais fortes demais, ou na neve.
Aos 20 anos, Aurélio acreditou que a privação do sono seria uma boa forma de frear seus desejos (fortes naquele tempo, segundo ele conta). "Me obrigava a dormir três horas por noite, no máximo. Fazia trabalhos de graça, virava noites, me cansava muito. Achava que, se eu estivesse bem desgastado, não teria desejos", contou o padre. Como resultado, perdeu mais de 10 quilos e, numa manhã, caiu de cama e durante dias não pôde se levantar.
Um alívio possível, nesse contexto, era a confissão. "Eu chegava a ir de roupão ao confessionário. Saía do banho morrendo de culpa por ter tido prazer sexual sozinho", relembra o padre Rafael. "Era um alívio incompleto. Não sentia confiança no padre confessor, não falava das minhas fantasias com receio de ser perseguido. Logo depois me sentia culpado de novo. A sexualidade era esse inferno, de dia e de noite. Um terror."
Nas aulas sobre a doutrina, as dúvidas se multiplicavam. "A masturbação, um pecado grave? Honestamente, Deus está preocupado se você está se tocando? E aí vai ao confessionário e não fala que tratou mal o pobre, que manchou a imagem de alguém… O único pecado era a sexualidade", afirma Rafael. "E satanizei esse meu lado. Percebi que tinha a 'tendência' e fiquei pirado. Lembro do dia em que falei para mim mesmo: 'Meu Deus, estou desconfiado de que sou gay. Nem mereço estar vivo'."
Em seu seminário, Rafael ouviu pela primeira vez uma expressão comum nesse meio: as "amizades particulares", como os superiores chamavam os relacionamentos entre jovens que eles acreditavam serem gays.
"'Não podemos ceder a amizades particulares', eles falavam, uma regra sempre repetida", conta Rafael. "Era uma forma de dizer que a proximidade entre amigos estava descambando para a 'anormalidade'. Eu vivi isso. Tinha meu melhor amigo e ouvíamos críticas: 'Olha quem vem lá, uma amizade particular…'"
Como Rafael estava decidido a viver o celibato, e também a afastar suspeitas de que desrespeitava essa regra, ele se distanciava das pessoas com quem tinha afinidade. "A consequência é que os seminários formam jovens adultos muito imaturos emocionalmente."
Por que insistir em ser padre?
Rafael terminou sua formação em 2002 e, uma vez ordenado, encontrou durante algum tempo relativa paz. Viver em celibato é um desafio para qualquer padre, ele dizia a si próprio, seja ele gay ou heterossexual.
A ideia de uma "igreja para os pobres" era o que o atraía, e Rafael, como os padres que aceitaram contar suas histórias nesta reportagem, não duvidava de ter ouvido o "chamado". Não questionava, enfim, o que a Igreja Católica chama de vocação.
"Sentia que tinha o que é necessário para ser um bom sacerdote. Nunca duvidei disso. A Igreja que me atrai é a que está com o povo, que se doa, ajuda as pessoas, vai ao encontro de quem precisa. A Igreja que prepara para enfrentar a vida e não a que vira as costas para o diferente", diz. "É a ideia que me mantém nela até hoje, mesmo que não me aceite plenamente."
Dedicado, o padre Rafael galgou posições dentro de sua diocese, que o colocou em uma relação de autoridade sobre outros padres. Foi quando voltou a sentir o peso da contradição em relação à instituição que abraçara. "Eu me perguntava: como posso ser responsável por essa estrutura toda e sentir atração por homens? Está errado, eu sou errado. Deus vai me castigar, vai descontar nas minhas iniciativas pastorais, algo muito ruim vai acontecer."
Um dia, um frequentador de uma paróquia sob sua responsabilidade passou a se dizer possuído pelo demônio. Para Rafael, a culpa era sua, da sua sexualidade e de seus sentimentos "desordenados". "Nessa época, começaram a surgir feridas no meu corpo, que eu procurava esconder e que demoraram meses para sarar."
O padre havia tentado fazer terapia com uma psicóloga indicada pela Igreja. Mas a experiência não foi boa. Quando ousou falar de sua orientação sexual, a reação da profissional foi perguntar: "Sério?" E relatou como, um tempo antes, havia "curado" um senhor de suas "tendências". Recomendada pela Igreja, a psicóloga era adepta da "terapia de conversão", a chamada "cura gay". Rafael escreveu nessa época as linhas em que dizia preferir morrer.
"Pensei: o que vou fazer? Então descobri os sites pornô, fiquei viciado em pornografia, vídeos de sexo entre homens todo dia, a culpa só aumentava… Não aguentava mais, e orei pela minha morte."
Meses depois, os poucos amigos com quem passou a falar sobre o assunto insistiram para que ele tentasse novamente a terapia. Recebeu a indicação de um outro padre, psicólogo, que atendia dentro de uma congregação. Desta vez, a abordagem foi outra.
"A primeira frase que disse pra ele foi: 'Eu reconheço que tenho uma tendência homossexual, mas não aceito'. E a primeira coisa que ele falou foi: 'Mas como você vai ser feliz, se você não se aceita?'", conta.
"Cara, ele me quebrou as pernas. Que diferença. Joguei fora um livro que eu estava lendo, coisa pesadíssima, chamado Batalha pela Normalidade Sexual — que normalidade é essa, meu amigo? Mas foi só ali que comecei a entender. Tomei consciência dos meus mecanismos, de como eu jogava tudo para baixo do tapete, do problema que é não falar sobre o que se sente… Comecei a me aceitar."
Ao receber ajuda deste outro padre psicólogo, que lhe disse ter atendido outras dezenas de sacerdotes com angústias parecidas,
Rafael percebeu uma outra faceta do armário católico: entre os padres, ele não é secreto de forma alguma. Todos sabem da existência de homossexuais no clero — a questão é que não se pode falar disso publicamente. "É a própria definição de tabu."
Uma situação inesperada vivida nessa época, em meados de 2012, contribuiu para o processo de aceitação do padre Rafael. Em uma viagem, ele encontrou um superior, um bispo conhecido seu, que o olhou de um jeito novo.
"Ele deu em cima de mim. O bispo se aproximou, me deu um beijo na orelha. Fiquei sem reação, eu não o conhecia há muito tempo, mas simpatizava com ele e não quis afastá-lo. Deixei que ele me tocasse, toquei nele. Ficou nisso. Ele era uma autoridade, não fiquei à vontade para nada mais. Olha, eu tento viver o celibato, mas há momentos de tentação. Esse foi um", conta.
"Fiquei achando que aquilo podia ser uma desgraça na minha vida, que eu podia ficar traumatizado. Mas foi o contrário: senti uma libertação. Comecei a raciocinar: se eu, que sou um pobre miserável, com responsabilidades medianas na Igreja, sinto esse tipo atração e fico me culpando… Vem esse cara, com centenas abaixo dele, e também sente. Não vou me culpar mais. Vou ficar tranquilo, se é para me masturbar, vou me masturbar, vou fazer minha terapia... Eu sou o que sou."
A partir daí, aos 38 anos, começa o período que o padre Rafael chama de "libertação". "A tranquilidade de entender que não era só comigo me ajudou muito, diminuí a pornografia, a masturbação. As coisas deixaram de ter proporções enormes na minha vida, como tinham antes. E deixei de me culpar pelo prazer."
É uma liberdade ainda precária, diz ele — pois, embora já tenha saído do armário para si próprio e alguns amigos padres mais próximos, não o fez publicamente.
Para Rafael, o assédio do bispo foi uma prova do que ele já intuía. A presença de gays extrapola os seminários e paróquias, e avança pela hierarquia da Igreja, que finge que a questão não existe.
O clero gay
Durante boa parte da história da Igreja Católica, a presença ou mesmo a predominância de padres gays não representou problema algum. Na verdade, era um fato encarado com indiferença pelos papas, como afirmou o autor britânico Andrew Sullivan, que escreve sobre homossexualidade, política e religião, em artigo publicado na New York Magazine no ano passado.
Havia inquietação com a vida sexual em geral, mas não com a questão específica da homossexualidade, desde que se respeitasse o celibato, escreve Sullivan. Para ilustrar essa maior tolerância, ele cita registros históricos de padres e monges que, nos séculos 11 e 12, enviavam poemas de amor uns aos outros. Não há notícias de que tenham sido perseguidos.
Nessa época, em um exemplo da menor importância que se dava ao tema, o papa Leão 9º recusou um pedido de proibição expressa da homossexualidade no clero, em 1051. Na justificativa, o líder católico disse que o problema seria se o sexo homossexual fosse "uma prática antiga, ou praticado com muitos homens" e aceitou que falhas eventuais fossem perdoadas.
Anos depois, em 1059, o papa Alexandre 2º também reagiu com distanciamento a proposta semelhante e não a atendeu, como apontou o historiador da Universidade de Yale John Boswell, no livro Christianity, Social Tolerance and Homossexuality (Cristianidade, Tolerância Social e Homossexualidade, publicado em 1980).
Uma mudança crucial veio no século 13, quando São Tomás de Aquino, nos apontamentos mais tarde reunidos em sua Suma Teológica, denunciou atos homossexuais como sendo "contra a natureza", e classificou a relação entre pessoas do mesmo sexo como "pecado mais grave" do que a violação ou o adultério.
A partir dali, o tabu em relação ao tema prosperou. A prática sexual, segundo Tomás de Aquino, teria de se restringir ao casamento e à procriação.
A Igreja abraçou esse ideário. É o que sustenta, ainda hoje, a doutrina escrita por Ratzinger em 1986.
Silêncio
Por mais que tenham se tornado a voz oficial do catolicismo nos séculos seguintes, as bases colocadas por Tomás de Aquino não levaram à diminuição dos padres gays.
"O que ela fez foi provocar um silenciamento e um mergulho na clandestinidade, que vemos até hoje", diz a BBC News Brasil o padre e teólogo inglês James Alison, que é gay e escreveu Fé Além do Ressentimento - Fragmentos Católicos em Voz Gay (Ed. É Realizações).
Formado pela Universidade de Oxford, Alison viveu no Brasil durante dez anos — entre 1987 e 1990 (quando fez um doutorado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte) e, mais tarde, entre 2008 e 2014, em São Paulo —, e estuda a relação de homossexualidade e clero pelo mundo.
"É um silêncio que favorece o ambiente de medo e impede uma vida emocional adulta, honesta e transparente", disse ele. "Ele impede o que chamamos de 'parrhesia', ou ousadia da palavra livre que é tão importante para passar a mensagem do evangelho."
Numa noite de domingo, após um dia de trabalho em sua paróquia na Bahia, o padre Aurélio, hoje aos 36 anos, reflete sobre como um ideal de masculinidade imposto pela Igreja obriga sacerdotes a uma "vida de aparências". "É desolador viver fingindo. No meu caso, lamentavelmente, em muitos momentos coloquei máscaras para poder continuar."
Como resultado, ele diz, muitos padres agem com pouca naturalidade. "Será que eu tenho algum trejeito, será que estou andando direitinho, estou pregando com muitos gestos? A minha voz é afeminada? Já passei por isso e colegas me perguntam o mesmo. Você fica o tempo todo preocupado, atrapalhado", disse.
"E me faz sentir desonesto. Muitas vezes aparecem rapazes desesperados, chorando, falando que não se aceitam como gays. Dá vontade de partilhar: eu passei por isso, tem caminhos para a aceitação. Mas não tenho coragem."
Durante a formação, Aurélio tentou três vezes falar sobre o tema aos padres-professores, e foi recebido com frieza. "Contando parece até engraçado, mas dava muita raiva. Eu dizia que não conseguia mais viver, e eles me mandavam rezar uma penitência."
Na quarta tentativa de se abrir, um formador o escutou. Os dois caminhavam em um passeio a uma praia e, após um comentário deste padre sobre uma mulher bonita, Aurélio tomou coragem para dizer que não sentia nada por ela.
"Ele olhou para mim, para ela, e perguntou: 'você não acha ela bonita?' E eu: 'acho, mas eu não gosto de mulher desse jeito'. Aí ele me chamou para sentar na areia com ele e conversamos. Lembro até hoje das palavras dele: obrigado por confiar e partilhar. E aí eu chorei, fiquei emocionado porque ele acolheu e, através de uma brincadeira, consegui falar a verdade", relembra.
"Depois ele passou a perguntar sobre meus sentimentos. Me viu como alguém que poderia ajudá-lo a entender a homossexualidade, para acompanhar outros seminaristas. Um padre bem resolvido com a sua orientação, disposto a ajudar os outros a entenderem a sua. São esses padres, gays ou héteros, os que salvam a Igreja."
'Orientação sexual bem definida'
Nos últimos anos de seminário, Aurélio ficou mais destemido — "mais eu mesmo", diz — e passou a questionar alguns dogmas. "O formador falava dos desafios a enfrentar, porque mulheres dão em cima dos padres nas paróquias. Mas e os padres gays, por que não se falava dos desejos deles? Eu levantava a mão e perguntava. Fui reprovado, fiquei dois anos a mais no seminário porque não me liberavam. Parecia cuidado comigo, mas era temor, achavam que eu não seria discreto."
Em seu relatório final, no espaço destinado à orientação sexual, Aurélio escreveu a verdade — homossexual. O mesmo padre com quem ele se assumiu pela primeira vez o chamou num canto e disse que, se não alterasse aquilo, teria problemas. O padre sugeria colocar "heterossexual". O jovem insistiu, e chegaram a um meio termo: "Aurélio tem uma orientação sexual bem definida". Assim ficou.
Aurélio ordenou-se em meados dos anos 2000 e, conhecido em seu meio pelo interesse na temática homossexual em discussões e estudos, acabou ficando isolado. Ele descumpriu a mais importante regra do armário católico: o verdadeiro pecado é não esconder.
Escolhido para ser vigário (um dos padres subordinados a um pároco) em uma cidade pequena, ele logo notou que sua fama o precedia. "Sabiam que eu era gay, e muitos eram também. O preconceito não era em relação à minha orientação. Mas eles achavam que minha postura mais 'combativa' chamaria a atenção para eles também. Fui sendo rejeitado."
Padre Aurélio passou a beber duas, três garrafas de vinho por dia. "Hoje eu vejo que era carência, não só do desejo, mas de não ter com quem conversar. Eu bebia todos os dias, me sentia inferior por ser homossexual e isolado por essa minha bendita transparência."
Aurélio recebeu uma visita do bispo de sua região, que ouvira que ele precisava de ajuda. "Mas eu não consegui me abrir. O que eu fiz foi pedir para ser internado em uma clínica de desintoxicação do alcoolismo."
Depois de três meses, ele voltou ao serviço e, com a ajuda do mesmo bispo, conseguiu uma transferência para o interior da Bahia — passou a servir em uma paróquia de fiéis fervorosos, ele conta, com orgulho.
Padre Aurélio, hoje, afirma trabalhar até 15 horas por dia, e sabe que se trata de uma espécie de fuga. "Meu normal é me sobrecarregar de serviço, creio que por medo da solidão", desabafa. O excesso de carga horária tem ainda um outro motivo. "Acredito que nós, homossexuais, somos capazes de acolher bem outros marginalizados." Seus horários de escuta na paróquia, ele conta, estão sempre cheios.
Ainda que não fale sobre sua sexualidade em público, Aurélio é um padre que se expõe um pouco mais — em uma reunião com seus superiores, por exemplo, indicou dois pontos para serem incluídos nas formações: homossexualidade no clero e o sofrimento psíquico dos sacerdotes. "Nenhum deles foi escolhido. Decidiram tratar de direito canônico."
As tentativas de trazer o assunto à tona, porém, levaram Aurélio a ser procurado — sempre discretamente — por jovens aspirantes a padres ou outros sacerdotes, angustiados com sua orientação sexual. "Mostra uma falha na formação, porque eles enganam seus orientadores."
Aos jovens que o procuram, ele dá a orientação de que não guardem para si. No entanto, ressalva, é preciso avaliar o interlocutor. "Quando eu sei que o superior é inclusivo, eu oriento a conversar sem medo. Já tem outros que eu digo 'Por favor, não fale para ele. Se falar, com certeza vai ser expulso.' Nesses casos eu falo para partilhar com uma psicóloga, por fora."
Nas mãos dos bispos
A regra geral de rejeitar candidatos gays é muitas vezes ignorada por bispos e reitores, dizem pesquisadores da homossexualidade no clero.
"Na prática, há bom senso de alguns desses superiores, desses bispos, que priorizam a capacidade de trabalho e a fidelidade à vocação ao rigor da doutrina. Ou seja, discordam da norma", disse o padre e teólogo Élio Gasda, professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte, que comanda um grupo de estudos de diversidade católica.
A escassez de padres e um compromisso de comportar-se "com discrição" são outros motivos pelos quais às vezes a regra caduca, explica o teólogo. "Uma última possibilidade, remota, mas possível, é que o bispo e ou o formador do seminário também sejam homoafetivos. Então há uma espécie de 'dificuldade moral' da autoridade em recusar homossexuais."
É preciso considerar, ainda, particularidades geracionais no que diz respeito ao "armário católico".
De acordo com um formador de seminaristas, que não quis se identificar, muitos têm rompido o silêncio, pelo menos dentro dos muros das escolas de padres.
"Houve mudanças de cinco anos para cá. Por exemplo: presenciei entrevistas em que o jovem trouxe logo de cara: 'Sou gay e quero ser padre'. Falou sem rodeios, sorriu e cruzou os braços, esperando uma resposta do superior", contou esse formador, que vive em um convento em São Paulo.
"Nesse caso, ele passou por uma entrevista muito rigorosa, disse estar disposto ao celibato e foi aprovado. Está aí, no segundo ano de formação", acrescentou.
Para um outro seminarista, de Minas Gerais, que teve uma experiência positiva ao revelar de cara sua orientação ao superior, a preocupação é "com a fachada".
"A reação do meu orientador foi marcar uma conversa com um bispo, no dia seguinte. Fui até lá, o bispo me ouviu, agradeceu a franqueza e me disse pra seguir em frente", contou o estudante, de 27 anos. "E falou que meu orientador me ensinaria 'como agir'. Entendi que só não podia ter escândalo. A ideia é dissimular, para não perder a fé das senhorinhas devotas."
Clandestinidade e injustiça
Como se trata de assunto clandestino, há tratamentos desiguais e injustiças. Todas as pessoas ouvidas pela reportagem da BBC News Brasil conhecem seminaristas que foram expulsos por serem afeminados, ou por terem tido experiências sexuais — as chamadas "recaídas" (que, tanto para padres quanto para estudantes, não são suficientes, por si só, para justificar um afastamento, desde que sejam confessadas a um superior).
Um desses estudantes, que teve de mudar de seminário por causa de seus "trejeitos", define o mês de dezembro, quando os jovens são reavaliados, como um tempo de "caça às bruxas". "Uns anos atrás, cinco foram convidados a sair. Eu fui um deles. Perseguir os que consideram mais afeminados, além de injusto, favorece o fingimento, as pessoas enrustidas e homófobas."
Esse seminarista, hoje aos 29 anos, não se esquece de como a homossexualidade era tratada pelo seu formador no seminário do qual foi expulso, no Piauí. "Ele dizia que 'homossexual tende sempre a olhar para a virilha dos outros homens e, por isso, não se concentram e trabalham mal'. Nas semanas seguintes, eu olhava para o teto, via uma viga de madeira, me enxergava pendurado nela pelo pescoço. Mexeu muito comigo."
Hoje, em geral, um jovem entra para o seminário no Brasil depois de completar 18 anos. Até os anos 1980, era mais comum que adolescentes no meio da puberdade fossem chamados pela Igreja. Como resultado, padres mais velhos, hoje na faixa dos 60 anos, viveram desde mais cedo em um ambiente de repressão.
No dia da entrevista com Aurélio, em meados de novembro, um padre na faixa dos 60 anos o havia procurado para conversar. "Era um desses irmãos que considero 'perigosos', porque nunca se assumiram nem para si próprios e têm muito preconceito. E nesse dia ele quis se abrir. Achei triste que em tanto tempo de sacerdócio ele nunca encontrou alguém para falar sobre isso", conta. Homossexuais homofóbicos, diz o padre, em consonância com o que afirmam pesquisadores, são numerosos na Igreja. "É uma das consequências da repressão. Eles querem combater no outro o que odeiam e consideram um mal em si próprios."
Desconfiança e estigma
Além do estigma da homossexualidade numa instituição que não a tolera, padres gays vêm sofrendo com as tentativas de associá-los às crises de abusos sexuais — que, especialmente desde o início dos anos 2000, são revelados com frequência aterradora dentro da Igreja Católica.
Padre Rafael conta ter lido recentemente um artigo, em uma revista de uma comunidade católica conservadora, que fazia associação entre homossexualidade e pedofilia. "Fiquei revoltado. Eu sou gay, não sou pedófilo."
Diversas pesquisas descartam a relação entre homossexualidade e abuso sexual de menores. No que diz respeito aos padres, não é diferente, segundo o maior estudo sobre esse tipo de crime dentro da Igreja, publicado em 2011 pelo John Jay College of Criminal Justice, instituto da Universidade de Nova York, reconhecido pelos cursos e pesquisas na área criminal e forense.
Apesar das evidências contrárias, segundo pesquisadores, culpar padres gays por abusos sexuais é conveniente. "Em parte, porque eles não podem vir a público para se defender. São uma escolha fácil para bode expiatório", diz James Alison. "A sociedade não fica sabendo de seus exemplos positivos, que eles podem ser homossexuais e celibatários e servir suas paróquias tão bem quanto os heterossexuais."
A cultura do silêncio pode ter outro efeito, além de impedir que padres gays se defendam. Ela pode, aí sim, ajudar a acobertar crimes de pedofilia, de acordo com pesquisadores.
"O mecanismo é o seguinte: aqueles que têm medo de serem expostos como gays são facilmente chantageáveis por aqueles que têm culpa em matéria grave", afirma Alison. "Como o encobrimento é a regra do jogo, não há capacidade para se distinguir publicamente entre o que seria um comportamento adulto e legítimo pela lei civil, mesmo que irregular no sistema clerical, do que, por outro lado, seria um comportamento patológico e criminoso."
O medo de serem expostos é tão grande que alguns padres gays, ao serem contatados pela reportagem da BBC News Brasil, desconfiavam ou entravam em pânico. Um historiador, que se dispôs a ajudar nesta reportagem, levou a um padre, do interior de Pernambuco, a proposta da entrevista. A reação não foi boa, contou depois.
"De início, ele ficou numa perplexidade prestes a se tornar pânico. Disse que, se não fôssemos amigos, iria pensar que eu estava fazendo alguma manobra para extorqui-lo. E terminou a conversa pedindo-me para 'calar acerca das fraquezas alheias'".
Por que há tantos gays no clero?
A intenção de ajudar pessoas marginalizadas, assim como eles, e a necessidade de fugir de pressões sociais e familiares, são apontadas por pesquisadores como algumas das razões pelas quais existem tantos gays no clero, em comparação à porcentagem na população total — cerca de 10%, no Brasil, segundo estimativas.
Padre gay de 43 anos, Alexandre* se lembra de, na infância e adolescência, sentir um senso de "deslocamento profundo" e identificação com as pessoas "excluídas".
"A gente sabe o que é se sentir 'diferente'. Acho que isso me levou a ficar sensível, a olhar o outro com mais compaixão, e a vida religiosa tem essa característica de não desistir das pessoas", afirma ele, que é pároco em uma cidade média do Ceará. "Fui criado em um lugar pobre, via muita gente sofrendo e queria ajudar."
Além dessa motivação, o padre conta que, a partir da puberdade, passou a ver no seminário um refúgio para um desejo que não conseguia aceitar em si próprio.
"Sentia um grande sofrimento, um conflito interno intenso, então busquei o que achava ser um ambiente de pureza, santo, sadio. No fundo, acreditava que nesse lugar eu não teria mais desejo. Mas o desejo não sumia, pelo contrário. Era uma inquietação constante, e com a qual não entendia como lidar."
Castidade
Todo sacerdote católico precisa enfrentar o celibato, e aqueles que aceitaram falar nesta reportagem dizem "viver a castidade". Alguns padres gays entrevistados reconheceram ter descumprido seus votos e que, quando isso aconteceu, conversaram com seus superiores e escolheram voltar à vida celibatária.
Alexandre afirma nunca ter feito sexo antes de ter entrado para o seminário. "Passou o primeiro ano, o segundo, fui ficando curioso e tive uma primeira experiência com outro homem. Entrei numa crise profunda. Porque até então nunca tinha beijado outro homem, nunca tinha tido relação íntima. Fiquei cheio de culpa, um 'meu Deus, como eu pude?'. E achei que automaticamente tinha que sair do seminário."
Ele decidiu falar com o seu formador. "Para minha surpresa, ele recebeu bem. Disse que recaídas aconteceriam mais vezes. Ele tinha razão, e eu não me arrependo das vezes em que fiz. Precisava saber como eu me sentia em relação a isso, até para poder escolher meu caminho, se seguia na vida religiosa ou não."
Ciente do bem que lhe fez falar do que sentia ao superior, padre Alexandre sugere a criação de uma Pastoral LGBT em sua região. "Um lugar onde essas pessoas possam desabafar, partilhar os sofrimentos, as angústias", diz. "Vai ser um escândalo, porque o pensamento aqui é muito conservador."
Uma pastoral LGBT
Houve iniciativas nas últimas décadas de criar espaços dentro das igrejas para os fiéis LGBT. Geralmente, basta unir os termos "pastoral", como a Igreja chama seus trabalhos sociais nas comunidades, e "diversidade", para provocar reações.
Vinte e cinco anos atrás, um pároco paulista foi notícia por criar em Campinas o que a imprensa chamou de "pastoral gay". Professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, o padre José Trasferetti concretizou, em 1995, o que o padre Alexandre sugere que exista no Ceará: um projeto de acolhida de cidadãos LGBT — no caso de Trasferetti, com base na paróquia de São Geraldo Magela, na periferia da cidade do interior paulista.
"Perto da paróquia havia duas casas de homossexuais e travestis. Fiz amizade com eles e passei a visitá-los, e eles passaram também a ir às missas", afirma Trasferetti, em uma conversa por email. Na época, ele falava em "cidadania homossexual", expressão ainda atual, segundo ele. "É simplesmente a possibilidade de viverem normalmente na sociedade, sem violência, repressão e ignorância."
Como tudo o que envolve trabalhar com gays na Igreja, a reação foi forte. "Pressão psicológica para não dar entrevistas, não escrever ou dar aulas sobre esses temas. Um militar descobriu meu telefone, me ofendeu e várias vezes ameaçou me matar", contou Trasferetti.
Durante cinco anos, o padre Trasferetti tocou a pastoral. "Continuei minha jornada sem medo". Ele interrompeu esse trabalho em 1999, ao mudar de igreja. Hoje, o padre defende uma ação mais ampla em relação ao público gay, sem que passe necessariamente por uma pastoral específica. "O que precisa ficar claro é que a ação pastoral para o público LGBT é perfeitamente possível e está dentro da doutrina da Igreja."
Embora veja evolução em relação a movimentos LGBT fora do ambiente religioso, Trasferetti afirma que a Igreja no país, como instituição, avançou pouco. "A Igreja Católica no Brasil é muito comprometida com as questões sociais. Entretanto, em questões de moral sexual, a prática e o discurso continuam os mesmos dos anos 1940 e 1950."
No Brasil, negação
Confrontadas com a questão, igrejas de outros países promovem discussões sobre a homossexualidade. Na Alemanha, por exemplo, a conferência local de bispos católicos decidiu, em setembro, abordar a moral sexual, o celibato, e a bênção a casais gays.
Um outro exemplo é a Igreja suíça. Em 2006, ano seguinte à publicação da instrução de Bento 16 que proíbe padres gays, os bispos suíços se manifestaram sobre o tema. Em texto, deixaram claro que padres e estudantes héteros e gays convivem em seus seminários e dioceses e que cada um se "respeita como homens e coirmãos".
"Nós decidimos viver a castidade independentemente de nossa orientação sexual. Por isso, no âmago de nossas reflexões sobre o acesso ao sacerdócio, não há questão de orientação sexual, mas a disponibilidade de seguir Cristo de maneira coerente", diz o texto.
No Brasil, a CNBB — entidade responsável por elaborar as diretrizes da Igreja no país — afirma não ter planos de discutir a homossexualidade no clero. Por email, o vice-presidente da entidade e arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, reafirmou a instrução do Vaticano. "A questão da homossexualidade é séria e deve ser abordada desde o início do itinerário formativo dos candidatos às ordens sacras. Urge um processo adequado de discernimento."
Questionado sobre se padres brasileiros que queiram falar de sua orientação sexual publicamente teriam respaldo de seus superiores, Spengler diz que "se um padre vai ao encontro de seu bispo e apresenta a dificuldade de observar a castidade, o bispo tem o dever de fazer o possível para auxiliá-lo". Ele ressalta que todo padre precisa "ser capaz de estar à vontade consigo mesmo".
Para alguns pesquisadores ouvidos pela reportagem, a postura da Igreja no país é ainda mais tradicionalista do que a do Vaticano, em relação ao tema. "Diria que a Santa Sé é menos conservadora, pois mais ciente da necessidade de avançar no tema", diz o teólogo gay James Alison.
Em entrevista por email, o arcebispo-primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, falou sobre o tratamento a ser dado aos padres gays, já que as regras da Igreja os condenam.
"Cada um deverá 'renunciar a si mesmo'. Mudam as lutas, mas o objetivo é o mesmo: buscar uma profunda maturidade afetiva, capaz de levar a pessoa à correta relação com os homens e as mulheres. O que não pode é acomodar-se, buscando justificativas para viver segundo as próprias regras", disse dom Krieger.
Questionado sobre por que, segundo os padres homossexuais, o assunto é silenciado dentro da Igreja, Krieger defende o debate. "Não creio que esse seja um tema para ser tratado em auditórios de TV. Mas pode e deve ser tratado em reuniões de bispos, de sacerdotes e de seminaristas."
'Tu é gay, não é?'
Enquanto a Igreja não se move, um jovem padre gay de uma cidadezinha no interior da Bahia passou a falar de homofobia em suas missas. Foi bem recebido pelos fiéis, segundo o relato dele, André*.
"Sempre que acontece algum caso de preconceito, incluo uma reflexão sobre isso. Falo da importância de não machucar ou discriminar as pessoas LGBT. Os fiéis ficam acesos, porque é uma realidade muito próxima deles", afirma o sacerdote, a cujas missas comparecem em média 500 fiéis todo domingo.
No ano passado, após uma celebração, André se surpreendeu com o comentário de uma mulher. Mãe de um rapaz perseguido na escola por ser gay, ela queria agradecer a ele. "Olhe, padre, eu e meu marido o acolhemos, mas temos muito medo de como vai ser a vida dele. Então eu agradeço ao senhor que a nossa igreja esteja respeitando. Nos ajuda a entender que nosso filho é um dom de Deus e isso não depende se ele gosta de homem ou mulher."
A mulher o abraçou e, antes de sair, virou-se para o sacerdote: "Padre, queria te perguntar faz tempo. Tu é gay, não é?" "Sou", respondeu André, surpreso. "A bênção, padre. Com a gente da tua igreja tu pode contar", se despediu a mulher, e não voltou a tocar no assunto.
André teve uma trajetória mais rara do que a de boa parte dos aspirantes a padre: no seminário, ele foi incentivado pelo seu formador a falar de sua sexualidade. "Um dia, eu estava falando das minhas angústias, e ele me disse o contrário do que eu esperava: 'Olhe, acredito que falar disso é a sua missão, falar para a Igreja, para a sociedade, que é possível ser homoafetivo e viver sua vocação'", lembra padre André, com um sorriso no rosto.
O jovem sacerdote se diz esperançoso em relação a uma transformação na Igreja. "Não quero ser um 'profeta dos gays', e sim um profeta da vida católica, que aceita a todos. Acredito que a mudança da Igreja não virá de cima, e sim das bases, e creio que elas estão se abrindo, sim."
Já o padre Rafael, como diz na sala de sua casa na periferia de São Paulo, é menos otimista. Anos atrás, como acontece a muitos padres jovens, ele tinha a ambição de ser bispo. Hoje, descarta essa possibilidade. Como bispo, teria de assumir um discurso repressivo contra a homossexualidade, o que para ele seria uma violência. "Tenho pena dos bispos que são obrigados a reproduzir essa cultura."
Ao contar sua história, Rafael interrompeu o relato em três momentos, emocionado. "Para mim, estou fora do armário. Para a Igreja, não. Talvez ela nunca queira me ver do lado de fora, esse é um desgosto com que eu tenho de conviver", disse. Apesar disso, o padre Rafael não tem a intenção de deixar o sacerdócio, parte constitutiva da sua identidade. "Sou uma prova da incoerência da Igreja. Sou padre, sou gay, amo quem eu sou."
*Os nomes dos padres foram alterados, para proteger suas identidades. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese
'Terremoto no Vaticano': o escândalo de corrupção que levou à 'renúncia' de um dos cardeais mais poderosos da Igreja Católica.
- Detalhes
Cardeal Giovanni Angelo Becciu, uma das figuras de maior escalão dentro do Vaticano, renunciou inesperadamente ao seu cargo e título, anunciou a Santa Sé. Mas por quê?
Um novo escândalo abala o coração da Igreja Católica.
O cardeal Giovanni Angelo Becciu, uma das figuras de maior importância dentro do Vaticano, renunciou inesperadamente ao seu cargo e título, anunciou a Santa Sé na quinta-feira (24/09).
"O Santo Padre aceitou a renúncia do cargo de Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e dos Direitos do Cardeal, apresentada por Sua Eminência o Cardeal Giovanni Angelo Becciu", afirmou o lacônico comunicado.
Mas em um movimento inesperado, o cardeal revelou à imprensa italiana que sua renúncia não havia sido voluntária, mas ocorreu a pedido do Papa Francisco, pelas denúncias de corrupção que pesam contra ele.
Becciu disse que foi pressionado pela Santa Sé sob a suspeita de que "ele havia dado dinheiro da Igreja a seus irmãos", algo que negou categoricamente. "Não roubei um euro. Não estou sob investigação, mas se me mandarem a julgamento, vou me defender", disse ele.
Em uma coletiva de imprensa na sexta-feira (25/09), Becciu disse que seu impeachment veio "como um raio vindo do nada" e que o papa "estava sofrendo" quando deu a notícia. "Tudo é surreal. Até ontem me sentia um amigo do Papa, o fiel executor do Papa", disse ele.
"Então o Papa me disse que não tinha mais fé em mim porque recebeu um relatório dos magistrados de que cometi um ato de apropriação indébita", acrescentou. Renúncias deste nível do Vaticano são extremamente raras e a Santa Sé fez poucos esclarecimentos em sua declaração divulgada na noite de quinta-feira.
Quem é o cardeal Becciu?
O cardeal Becciu era um colaborador próximo de Francisco e anteriormente havia ocupado um cargo importante na Secretaria de Estado do Vaticano.
No entanto, seu processo de "fritura" começou depois que foi revelado que ele esteve envolvido na compra de um prédio de luxo em Londres com fundos da Igreja.
Desde então, essa transação tem sido objeto de uma investigação financeira.
Becciu foi durante anos um "diplomata de carreira" do Vaticano: de 2011 a 2018 exerceu o poderoso papel de substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, aproximando-se do Papa, com quem tinha encontros quase que diários.
Foi Francisco quem o nomeou cardeal em 2018, quando Becciu assumiu um novo cargo à frente do departamento que se encarrega de nomear os novos santos e beatos da Igreja.
Outro escândalo no Vaticano
Análise por Mark Lowen, correspondente da BBC em Roma
"Eu disse ao Papa: por que você está fazendo isso comigo na frente de todo o mundo?"
As palavras angustiadas são de um dos cardeais mais importantes da Igreja Católica, agora demitido e destituído de seu direito de eleger o próximo papa.
Giovanni Angelo Becciu serviu como subsecretário de Estado, uma função com acesso ilimitado ao Papa Francisco, e mais tarde foi chefe do departamento que escolhe futuros santos.
Mas na noite de quinta-feira, ele foi chamado para uma reunião supostamente tensa com seu chefe.
O cardeal Becciu havia dado o sinal verde para uma controversa compra de um imóvel em Londres por $ 232 milhões com fundos da Igreja, incluindo dinheiro de esmolas.
Outros relatos alegam que ele sustentava um hospital romano em ruínas que empregava sua sobrinha. "O Santo Padre explicou que dei favores a meus irmãos e seus negócios com dinheiro da Igreja ... mas tenho certeza de que não pratiquei nenhum crime", disse ele ao jornal italiano Domani.
Mas suas palavras não foram suficientes. O que aconteceu foi chamado de "um terremoto no Vaticano".
Sua demissão pode parecer dissimulada, mas é um lembrete de que o escândalo e a corrupção que assolam governos em todo o mundo também atingem os mais altos escalões da Santa Sé.
E o negócio imobiliário em Londres?
Foi durante seu tempo como substituto para assuntos gerais que o religioso esteve envolvido em um negócio de uma propriedade de luxo em uma área rica de Londres. A compra de um edifício residencial na Sloane Avenue foi feita com dinheiro da Igreja, por meio de fundos offshore e de empresas, segundo documentos oficiais.
Cinco funcionários do Vaticano foram suspensos no ano passado após uma operação e policiais apreenderam documentos e computadores. Então, em junho, o empresário italiano Gianluigi Torzi foi preso pela polícia do Vaticano sob suspeita de extorsão e peculato.
No início deste ano, o cardeal Becciu defendeu a compra. "Foi feito um investimento em um prédio. Foi uma ocasião boa e oportuna, que hoje muita gente nos inveja", disse em fevereiro.
Ele também negou que o dinheiro arrecadado para os pobres tenha sido usado no negócio.
Por que só agora?
A imprensa italiana considera que a saída repentina do cardeal pode estar relacionada não apenas à propriedade de Londres.
Em sua entrevista na sexta-feira, o cardeal disse que o papa também o confrontou sobre o dinheiro da Igreja que ele deu para negócios administrados por seus irmãos.
Uma cooperativa na Sardenha, comandada pelo irmão de Becciu, Tonino, prestou ajuda a migrantes e o cardeal disse que todo o dinheiro foi contabilizado. Outros fundos foram usados para renovar o edifício da Santa Sé em Cuba.
Reportagens da imprensa italiana também sugerem que o Papa estava descontente com o uso dos fundos dos pobres para outros investimentos. No ano passado, o semanário italiano L'Espresso publicou uma reportagem da autoridade anticorrupção do Vaticano sobre investimentos especulativos no valor de US$ 725 milhões.
O cardeal Becciu manterá seu título, apesar de sua renúncia da congregação. No entanto, ele perde seu direito de escolher o próximo papa. Atualmente, dos 219 cardeais da Igreja Católica, 121 são votantes.
O último cardeal a renunciar seu direito de voto foi o escocês Keith O'Brien, que renunciou em 2013 em meio a um escândalo sexual. Ele morreu cinco anos depois. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese
Dia da Bíblia: O Papa e a Bíblia
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26º Domingo do Tempo Comum- Dia da Bíblia. Domingo, 27 de setembro-2020.
26º Domingo do Tempo Comum - Ano A: Um Olhar
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A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou e que quer propor a todos os homens. Diante da proposta de Deus, nós podemos assumir duas atitudes: ou dizer "sim" a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com Deus - um compromisso que signifique um empenho real e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.
EVANGELHO - Mt 21,28-32: Atualização
Antes de mais, a parábola dos dois filhos chamados para trabalhar "na vinha" do pai sugere que, na perspectiva de Deus, todos os seus filhos são iguais e têm a mesma responsabilidade na construção do Reino. Deus tem um projeto para o mundo e quer ver todos os seus filhos - sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, de formação intelectual - implicados na concretização desse projeto. Ninguém está dispensado de colaborar com Deus na construção de um mundo mais humano, mais justo, mais verdadeiro, mais fraterno. Tenho consciência de que também eu sou chamado a trabalhar na vinha de Deus?
Diante do chamamento de Deus, há dois tipos de resposta... Há aqueles que escutam o chamamento de Deus, mas não são capazes de vencer o imobilismo, a preguiça, o comodismo, o egoísmo, a autossuficiência e não vão trabalhar para a vinha (mesmo que tenham dito "sim" a Deus e tenham sido batizados); e há aqueles que acolhem o chamamento de Deus e que lhe respondem de forma generosa. De que lado estou eu? Estou disposto a comprometer-me com Deus, a aceitar os seus desafios, a empenhar-me na construção de um mundo mais bonito e mais feliz, ou prefiro demitir-me das minhas responsabilidades e renunciar a ter um papel ativo no projeto criador e salvador que Deus tem para os homens e para o mundo?
O que é que significa, exatamente, dizer "sim" a Deus? É ser batizado ou crismado? É casar na igreja? É fazer parte de uma pastoral qualquer da paróquia? É fazer parte da equipa que gere dinheiro para a Igreja? É ter feito votos num qualquer instituto religioso? É ir todos os dias à missa e rezar diariamente a Liturgia das Horas? Atenção: na parábola apresentada por Jesus, não chega dizer um "sim" inicial a Deus; mas é preciso que esse "sim" inicial se confirme, depois, num verdadeiro empenho na "vinha" do Senhor. Ou seja: não bastam palavras e declarações de boas intenções; é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz. Como me situo face a isto: sou um cristão "de registo", que tem o nome nos livros da paróquia, ou sou um cristão "de facto", que dia a dia procura acolher a novidade de Deus, perceber os seus desafios, responder aos seus apelos e colaborar com Ele na construção de uma nova terra, de justiça, de paz, de fraternidade, de felicidade para todos os homens?
Nas nossas comunidades cristãs aparecem, com alguma frequência, pessoas que sabem tudo sobre Deus, que se consideram família privilegiada de Deus, mas que desprezam esses irmãos que não têm um comportamento "religiosamente correto" ou que não cumprem estritamente as regras do "bom comportamento" cristão... Atenção: não temos qualquer autoridade para catalogar as pessoas, para as excluir e marginalizar... Na perspectiva de Deus, o importante não é que alguém se tenha afastado ou que tenha assumido comportamentos marginais e escandalosos; o essencial é que tenha acolhido o chamamento de Deus e que tenha aceitado trabalhar "na vinha". A este propósito, Jesus diz algo de inaudito aos "santos" príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo: "os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o Reino de Deus". Hoje, que é que isto significa? Hoje, quem são os "vós"? Hoje, quem são os "publicanos e mulheres de má vida"?
*Leia o Evangelho na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.
Pecadores públicos e prostitutas são melhores do que as pessoas devotas
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Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 26º Domingo do Tempo Comum, 27 de setembro de 2020 (Mateus 21,28-32). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
No templo de Jerusalém, Jesus está rodeado pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo, que detestam esse rabi e profeta proveniente da Galileia, que narra um rosto de Deus tão estranho às suas categorias. Por isso, põem-no à prova, perguntando-lhe com que autoridade ele ensina e opera curas.
Jesus, em resposta, pergunta-lhes se o batismo de João vinha do céu ou dos homens. E, diante do silêncio constrangedor deles, conclui: “Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas” (Mt 21,27).
Nesse ponto, ele profere a primeira de três parábolas centradas na rejeição oposta pelos líderes religiosos de Israel àqueles que Deus enviou para anunciar a sua salvação.
Um homem tem dois filhos: pede ao primeiro que vá trabalhar na vinha, e ele, após ter consentido em palavras, não faz o que disse. O outro responde negativamente, mas depois, arrependendo-se, vai ao trabalho. Foi o segundo que fez a vontade do pai, admitem os interlocutores de Jesus. E ele comenta: “Os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”.
Com essas palavras, Jesus coloca a própria missão em estreita relação com a de João, seu mestre e precursor: rejeitar um é também rejeitar o outro (cf. Mt 11,16-19). Ele também revela que a salvação só pode ser acolhida por quem está disponível a retornar para Deus, arrependendo-se do mal feito e abandonando os próprios caminhos de pecado.
Nesse sentido, vale a pena analisar mais profundamente o sentido do ditado paradoxal: “Os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” dirigido por Jesus aos homens religiosos do seu tempo e, com eles, a cada um de nós.
Jesus sabia muito bem que todas as pessoas são pecadoras, se é verdade que o justo peca sete vezes por dia (cf. Pv 24,16): mas qual é o motivo da sua preferência pela companhia dos pecadores públicos, reconhecidos como tais pelos homens e mulheres? Quem peca às escondidas nunca é incitado à conversão por uma repreensão que lhe venha de outros, porque continua sendo estimado por aquilo que aparece exteriormente da sua pessoa: essa é a doença da maioria das pessoas, entre as quais se destacam as devotas, que desprezam os outros por considerá-los imersos no pecado, enquanto agradecem a Deus pela sua pretensa justiça (cf. Lc 18,9-14).
Em vez disso, quem é um pecador público se encontra constantemente exposto à crítica alheia e, desse modo, é induzido a um desejo de mudança: no arrependimento que nasce de um “coração despedaçado” (Sl 34,19), ele pode se tornar sensível à presença de Deus, aquele Deus que não quer a morte do pecador, mas antes que se converta e viva (cf. Ez 18,23).
É precisamente por força dessa consciência que Jesus amava se sentar à mesa com os pecadores manifestos, compartilhar com eles esse gesto de extrema comunhão. Seu comportamento revela o coração de Deus, mostra a atitude de Deus para com o pecador, e, por isso, ele é contestado pelos homens religiosos, que primeiro tentam escandalizar os seus discípulos: “Por que vosso mestre come com os publicanos e pecadores?” (Mt 9,11), depois o acusam diretamente: “É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19).
Mas a amizade de Jesus com as pessoas menos estimadas dentro da sociedade, a sua cordial simpatia pelas prostitutas e pecadores ignora o desprezo daqueles que se sentem melhores do que os pecadores manifestos, simplesmente porque não querem ou não sabem se reconhecer pecadores como eles...
Sim, o verdadeiro milagre – maior do que ressuscitar os mortos, dizia Isaac, o Sírio – consiste em se reconhecer pecador: somos nós os publicanos, somos nós as prostitutas! É realmente um esforço vão esconder dos outros o próprio pecado: bastaria reconhecê-lo conscientemente, para descobrir que Deus já está lá e nos pede apenas que aceitemos que ele o cubra com a sua inesgotável misericórdia. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Crise no Vaticano: crescem as dúvidas sobre o governo da Igreja e o sofrimento dos católicos
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Nessa quinta-feira, 24, Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, segundo um comunicado da Santa Sé, ouviu do Papa Francisco o seguinte: aceito “a renúncia ao cargo de Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e aos direitos ligados ao Cardinalato”. Ou seja, o ex-substituto da Secretaria de Estado, durante anos muito próximo do pontífice, não apenas não é mais prefeito, mas também não tem mais os direitos de um cardeal. O comentário é de Luis Badilla, publicado por Il Sismografo, 24-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A notícia é incrível, surpreendente e dolorosa. Esses fatos recentes, comunicados com a conhecida, habitual, pouca ou pobre transparência vaticana, causam um grande sofrimento no mundo dos católicos, do chamado “Santo Povo de Deus”.
É preciso dizer a verdade e não usar a discrição como pretexto para não esclarecer logo o que está acontecendo há algum tempo no Vaticano. É preciso lembrar, por exemplo, que há meses já houve dois “prefeitos” que mantêm o título, mas são pessoas sob sindicância, que não podem assinar nada e, em alguns momentos, sequer entrar no próprio escritório.
Trata-se do prefeito da Prefeitura da Casa Papal, George Gaenswein, e o cardeal Angelo Comastri, arcipreste da Basílica Papal de São Pedro, presidente da Fábrica de São Pedro e vigário geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano e para as Vilas Pontifícias de Castelgandolfo.
Rumores asseguram que o papa teria bloqueado a questão da “corrupção” nos contratos da Fábrica, que ele mesmo denunciou publicamente, e teria, depois, pedido desculpas ao cardeal Comastri.
Agora, a essas situações delicadas, soma-se o caso de Angelo Becciu. O cardeal prefeito vai embora do dicastério e perde os direitos do cardinalato. Não é mais cardeal eleitor, mas permanece como purpurado. Nunca antes se havia visto tal situação. O cardeal britânico da Escócia, Keith Michael Patrick O’Brien, perdeu os direitos cardinalícios devido aos escândalos sexuais aos quais foi associado com acusações graves, mas continuou cardeal (20 de março de 2015).
A pergunta que os católicos fazem nestas horas é uma só: o que está acontecendo na cúpula vaticana e no pontificado do Papa Francisco? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sexta-feira, 25 de setembro-2019. 25ª Domingo do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,18-22)
18Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou? 19Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.20Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.21Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.22Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.
3) Reflexão Lucas 9,18-22
O evangelho de hoje retoma o mesmo assunto do evangelho de ontem: a opinião do povo sobre Jesus. Ontem, era a partir de Herodes. Hoje, é o próprio Jesus que faz um levantamento da opinião púbica e os apóstolos respondem dando a mesma opinião de ontem. Em seguida, vem o primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Lucas 9,18: A pergunta de Jesus depois da oração.
“Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: Quem dizem as multidões que eu sou?". No evangelho de Lucas, em várias oportunidades importantes e decisivas Jesus aparece rezando: no batismo quando assume sua missão (Lc 3,21); nos 40 dias no deserto, quando vence as tentações do diabo com a luz da Palavra de Deus (Lc 4,1-13); na noite antes de escolher os doze apóstolos (Lc 6,12); na transfiguração, quando com Moisés e Elias conversa sobre a paixão em Jerusalém (Lc 9,29); no horto, quando enfrenta a agonia (Lc 22,39-46); na cruz, quando pede perdão pelo soldado (Lc 23,34) e entrega o espírito a Deus (Lc 23,46).
Lucas 9,19: A opinião do povo sobre Jesus
“Eles responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou." Como Herodes, muitos achavam que João Batista tivesse ressuscitado em Jesus. Era crença comum que o profeta Elias devia voltar (Mt 17,10-13; Mc 9,11-12; Ml 3,23-24; Eclo 48,10). E todos alimentavam a esperança da vinda do profeta prometido por Moisés (Dt 18,15). Resposta insuficientes.
Lucas 9,20: A pergunta de Jesus aos discípulos.
Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O Messias de Deus!” Pedro reconhece que Jesus é aquele que o povo está esperando e que vem realizar as promessas. Lucas omite a reação de Pedro tentando dissuadir Jesus de seguir pelo caminho da cruz e omite também a dura crítica de Jesus a Pedro (Mc 8,32-33; Mt 16,22-23).
Lucas 9,21: A proibição de revelar que Jesus é o Messias de Deus
“Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém”. Eles estão proibidos de revelar ao povo que Jesus é o Messias de Deus. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, como já vimos, todos esperavam a vinda do Messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, outros como doutor, guerreiro, juiz, ou profeta! Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Continuará cego, como Pedro, trocando gente por árvore (cf. Mc 8,24). Pois sem a cruz é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus. Por isso, Jesus insiste novamente na Cruz e faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição.
Lucas 9,22: O segundo anúncio da paixão
E Jesus acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia". A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galileia até Jerusalém. O Caminho do seguimento é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A cruz não é um acidente de percurso, mas faz parte deste caminho. Pois num mundo, organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios, e sofre.
4) Para um confronto pessoal
1- Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, o Jesus mais comum no modo de pensar do povo?
2-Como a propaganda interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair na arapuca da propaganda? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir o projeto de Jesus?
5) Oração final
Bendito seja o Senhor, meu rochedo, meu benfeitor e meu refúgio, minha cidadela e meu libertador, meu escudo e meu asilo (Sl 144, 1-2)
Quinta-feira, 24 de setembro-2019. 25ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,7-9) (Mc 6,14-16)
7O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que Jesus fazia e ficou perplexo. Uns diziam: É João que ressurgiu dos mortos; outros: É Elias que apareceu; 8e ainda outros: É um dos antigos profetas que ressuscitou. 9Mas Herodes dizia: Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas? E procurava ocasião de vê-lo.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a reação de Herodes diante da pregação de Jesus. Herodes não sabe situar Jesus. Ele já tinha matado João Batista e agora quer ver Jesus de perto. Ameaças aparecem no Horizonte.
Lucas 9,7-8: Quem é Jesus?
O texto começa com um balanço das opiniões do povo e de Herodes sobre Jesus. Alguns associavam Jesus com João Batista e Elias. Outro o identificavam como um Profeta, isto é, como alguém que fala em nome de Deus, que tem a coragem de denunciar as injustiças dos poderosos e que sabe animar a esperança dos pequenos. É o profeta anunciado no Antigo Testamento como um novo Moisés (Dt 18,15). São as mesmas opiniões que o próprio Jesus vai colher dos discípulos quando perguntou: "Quem dizem as multidões que eu sou?" (Lc 9,18). As pessoas procuravam compreender Jesus a partir das coisas que elas mesmas conheciam, acreditavam e esperavam. Tentavam enquadrá-lo dentro dos critérios familiares do Antigo Testamento com suas profecias e esperanças, e da Tradição dos Antigos com suas leis. Mas eram critérios insuficientes. Jesus não cabia lá dentro. Ele era maior!
Lucas 9,9: Herodes quer ver Jesus
“Então Herodes disse: "Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?" E queria ver Jesus”. Herodes, homem supersticioso e sem escrúpulo, reconhece ser ele o assassino de João Batista. Agora ele quer ver Jesus. Lucas sugere assim que ameaças começam a aparecer no horizonte da pregação de Jesus. Herodes não teve medo de matar João. Também não terá medo de matar Jesus. Por outro lado, Jesus, também não tem medo de Herodes. Quando lhe disseram que Herodes procurava prendê-lo, mandou dizer: “Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho” (Lc 13,32). Herodes não tem poder sobre Jesus. Quando na hora da paixão, Pilatos manda Jesus para ser investigado por Herodes, Jesus lhe dá nenhuma resposta (Lc 23,9). Herodes não merecia resposta.
De pai para filho
Às vezes se confundem os três Herodes que viveram naquela época, pois os três aparecem no Novo Testamento com o mesmo nome: 1) Herodes, chamado o Grande, governou sobre toda a Palestina de 37 a 4 antes de Cristo. Ele aparece no nascimento de Jesus(Mt 2,1). Matou as crianças de Belém(Mt 2,16). 2) Herodes, chamado Antipas, governou sobre a Galiléia de 4 antes a 39 depois de Cristo. Ele aparece na morte de Jesus(Lc 23,7). Matou João Batista(Mc 6,14-29). 3) Herodes, chamado Agripa, governou sobre toda a Palestina de 41 a 44 depois de Cristo. Aparece nos Atos dos Apóstolos(At 12,1.20). Matou o apóstolo Tiago(At 12,2).
Quando Jesus tinha mais ou menos quatro anos, morreu o rei Herodes. Aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16). O território dele foi dividido entre os filhos. Arquelau, um dos seus filhos, recebeu o governo sobre a Judéia. Ele era menos inteligente que o pai, mas mais violento . Só na tomada de posse dele, foram massacradas em torno de 3000 pessoas na praça do Templo! O evangelho de Mateus informa que Maria e José, quando souberam que este Arquelau tinha assumido o governo da Judéia, tiveram medo de voltar para lá e foram morar em Nazaré, na Galiléia (Mt 2,22), governada por um outro filho de Herodes, chamado Herodes Antipas (Lc 3,1). Este Antipas ficou mais de 40 anos. Durante todos os trinta e três anos que Jesus viveu nunca houve mudança de governo na Galiléia.
Herodes o Grande, o pai de Herodes Antipas, tinha construído a cidade de Cesaréia Marítima, inaugurada em no ano 15 antes de Cristo. Era o novo porto de escoamento dos produtos da região. Devia competir com o grande porto de Tiro no Norte e, assim, ajudar a desenvolver o comércio na Samaria e na Galiléia. Por isso, já desde os tempos de Herodes o Grande, a produção agrícola na Galiléia começava a orientar-se não mais a partir das necessidades das famílias como era antes, mas sim a partir das exigências do mercado. Este processo de mudança na economia continuou durante todo o governo de Herodes Antipas, mais de quarenta anos, e encontrou nele um organizador eficiente. Todos estes governantes eram subservientes. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era Roma, o Império.
4) Para um confronto pessoal
1) É perguntar sempre: quem é Jesus para mim?
2) Herodes quer ver Jesus. Era curiosidade mórbida e supersticiosa. Outros querem ver Jesus porque querem encontrar um sentido para a vida. E eu qual a motivação que me empurra para ver e encontrar Jesus?
5) Oração final
Cumulai-vos desde a manhã com as vossas misericórdias, para exultarmos alegres em toda a nossa vida. Que o beneplácito do Senhor, nosso Deus, repouse sobre nós. Favorecei as obras de nossas mãos. Sim, fazei prosperar o trabalho de nossas mãos (Sl 89, 14.17)
Terça-feira, 22 de setembro-2019. 25ª Domingo do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 8,19-21)
Naquele tempo, 19A mãe e os irmãos de Jesus foram procurá-lo, mas não podiam chegar-se a ele por causa da multidão. 20Foi-lhe avisado: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam ver-te. 21Ele lhes disse: Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a palavra de Deus e a observam.
3) Reflexão Lucas 8,19-21 (Mc 3,31-35)
O evangelho de hoje traz o episódio em que os parentes de Jesus, inclusive sua mãe, quiseram conversar com ele, mas Jesus não lhes deu atenção. Jesus teve problemas com a família. Às vezes, a família ajuda a viver o evangelho e a participar da comunidade. Outras vezes, ela atrapalha. Assim foi com Jesus e assim é conosco.
Lucas 8,19-20: A família procura Jesus
Os parentes chegam na casa onde Jesus estava. Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40 quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não entram, pois havia muita gente, mas mandam recado: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver". Conforme o evangelho de Marcos, os parentes não querem ver Jesus. Eles querem é levá-lo de volta para casa (Mc 3,32). Achavam que Jesus tinha enlouquecido (Mc 3,21). Provavelmente, estavam com medo, pois conforme a história informa, havia uma vigilância muito grande da parte dos romanos com relação a todos que, de uma ou de outra maneira, tinha liderança popular (cf. At 5,36-39). Em Nazaré na serra seria mais seguro do que na cidade de Cafarnaum.
Lucas 8,21: A resposta de Jesus
A reação de Jesus é firme: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática." Em Marcos a reação de Jesus é mais concreta. Marcos diz: “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,34-35). Jesus alargou a família! Ele não permite que a família o afaste da missão: nem a família (Jo 7,3-6), nem Pedro (Mc 8,33), nem os discípulos (Mc 1,36-38), nem Herodes (Lc 13,32), nem ninguém (Jo 10,18).
É a palavra de Deus que cria a nova família ao redor de Jesus: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.". Um bom comentário deste episódio é o que diz o evangelho de João no prólogo: “A Palavra estava no mundo, o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a conheceu. Ela veio para a sua casa, mas os seus não a receberam. Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que a receberam, isto é, àqueles que acreditam no seu nome. Estes não nasceram do sangue, nem do impulso da carne, nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus. E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (João 1,10-14). A família, os parentes, não entenderam Jesus (Jo 7,3-5; Mc 3,21), não fazem parte da nova família. Só fazem parte da nova comunidade aqueles e aquelas que recebem a Palavra, isto é, que acreditam em Jesus. Estes nascem de Deus e formam a Família de Deus.
A situação da família no tempo de Jesus.
No tempo de Jesus, tanto a conjuntura política, social e econômica como a ideologia religiosa, tudo conspirava para o enfraquecimento dos valores centrais do clã, da comunidade. A preocupação com os problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se, novamente, na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se para a grande família, para a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria família tentou apoderar-se dele, reagiu e alargou a família (Mc 3,33-35). Criou comunidade.
Os irmãos e as irmãs de Jesus
A expressão “irmãos e irmãs de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
4) Para um confronto pessoal
- A família ajuda ou dificulta a sua participação na comunidade cristã?
- Como você assume o seu compromisso na comunidade cristã sem prejudicar nem a família e nem a comunidade?
5) Oração final
Escolhi o caminho da verdade, impus-me os vossos decretos. Ensinai-me a observar a vossa lei e a guardá-la de todo o coração. (Sl 118, 30.34)
Bandidos invadem basílica e furtam dinheiro da missa no Rio de Janeiro
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Caso aconteceu no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte da cidade. Eles quebraram o vitral da basílica e arrombaram o cofre dos donativos
Bandidos invadiram a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes e roubaram uma grande quantia em dinheiro na madrugada deste domingo (20) no Rio de Janeiro. De acordo com as informações da própria igreja, o dinheiro iria servir para a realização da Missa das Almas.
Trata-se portanto de dinheiro dos donativos que a igreja recebe. Esse dinheiro estava em um cofre. De acordo com as informações, os bandidos quebraram o vitral de Santa Terezinha, entraram, arrombaram o cofre e levaram todo o dinheiro.
Essa basílica fica no Boulevard 28 de setembro, no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O próprio pároco da igreja, Walter Mário, confirmou a ocorrência do caso neste domingo (20) em seu facebook oficial.
“Vamos rezar pela convenção desses bandidos”, disse o pároco. Nos comentários do post, no entanto, muita gente não parecia demonstrar muita vontade de ter compaixão. Não faltaram palavrões para descrever o ato dos bandidos.
Mas o fato é que não se sabe se foram bandidos ou se foi uma pessoa só. Na verdade, a própria igreja ainda não divulgou a quantia exata que esses bandidos levaram. Em nota, a Polícia Militar do Rio de Janeiro disse que está investigando o caso.
Basílica do Rio de Janeiro
Essa basílica em questão é uma das mais antigas da região. Ela foi construída em 1949. Desde 1990 ela é tombada pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC). Como tratou-se de um ato de roubo com vandalismo, a pena para os bandidos pode aumentar.
Nos últimos dois anos ao menos 10 templos religiosos do Rio de Janeiro presenciaram assaltos, roubos e furtos. A maioria desses crimes não chega a passar por uma resolução. Não se sabe, no entanto, se todos os casos possam ter alguma relação entre si. Fonte: https://brasil123.com.br
Bispos pedem proteção do Pantanal: há um grito que não quer e não pode se calar
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"É preciso conter e apagar o fogo que vai avançando com poder destruidor, e assim salvar o Pantanal", escrevem os bispos dos Regionais Oeste 1 e Oeste 2 da CNBB.
Vatican News
Através de uma carta aberta, os Regionais Oeste 1 e Oeste 2 da CNBB registram profunda preocupação com as queimadas no Pantanal.
“Manifestamos nossa solidariedade e compromisso com todos que estão sensibilizados e envolvidos com a causa ambiental: militares, bombeiros, brigadistas, servidores e voluntários, bem como os irmãos e irmãs ribeirinhos, pantaneiros e indígenas, que dependem diretamente deste bioma para sua sobrevivência”.
Na região, há cinco dioceses pantaneiras: Corumbá/MS, Jardim/MS, Coxim/MS, São Luiz de Cáceres/MT e Rondonópolis/Guiratinga/MT.
Pedido de socorro
Os bispos lamentam o “desmonte das instâncias de fiscalização e punição” e denunciam “as providências insuficientes e tardias que favorecem este incêndio sem controle e que está queimando tudo e matando a Vida”.
“Há um pedido de socorro, um grito que não quer e não pode se calar, dos humanos sensíveis e conscientes, das comunidades tradicionais, das populações indígenas, da terra, dos animais, das aves, das águas, das plantas, da vegetação nativa, de árvores centenárias. E um clamor para que os povos tradicionais sejam valorizados e apoiados, a fim de continuarem sendo agentes de proteção e cuidado da natureza.”
Os prelados se dirigem às autoridades para reivindicar empenho e mobilização “com a máxima urgência” e que seja feita uma investigação séria, responsabilizando e punindo os possíveis culpados com a reparação justa e necessária pelos danos causados.
“As ações emergenciais são necessárias, mas não bastam; é preciso desenvolver e aplicar políticas públicas sérias de prevenção e de proteção a curto, médio e longo prazo.”
É preciso salvar o Pantanal
Os bispos concluem reiterando o comprometimento da Igreja, que “se une num forte grito pela defesa, promoção e cuidado com a Vida, em todas as suas formas e expressões”.
“É preciso conter e apagar o fogo que vai avançando com poder destruidor, e assim salvar o Pantanal.”
A carta se encerra com uma citação do Papa Francisco: ”Hoje, a voz da criação incita-nos, alarmada, a regressar ao lugar certo na ordem natural, lembrando-nos que somos parte, não patrões da rede interligada da vida”. Fonte: https://www.vaticannews.va
ANGRA DOS REIS/AO VIVO: Santa Missa do 25º Domingo do Tempo Comum
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O Frei Petrônio de Miranda, O. Carm- Direto da Igreja Conventual dos Carmelitas-de Angra dos Reis/RJ, celebra a Santa Missa do 25º Domingo do Tempo Comum. Angra, 20 de setembro-2020.
O Silêncio Bíblico: No mês da Bíblia...
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O SILÊNCIO BÍBLICO... "No muito falar, muito a pecar". Pense nisso e feche esta matraca! Eremitério Fonte de Elias, Alto do Rio das Pedras em Lídice, distrito do Rio Claro/RJ. Sábado, 9 de setembro-2020.
Sem saber que estava ao vivo, pastor agride mulher em live
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No vídeo é possível ouvir o barulho de um tapa em algo e xingamentos do pastor a uma mulher - que seria sua esposa - que o auxiliava na transmissão
Pastor xinga mulher sem saber que estava ao vivo em live (Foto: Reprodução)
Um vídeo com o trecho de uma transmissão ao vivo de um pastor vem causando revolta nas redes sociais. Sem saber que já estava ao vivo, ele se levanta, dá um tapa em algo e xinga a mulher que o está auxiliando.
Segundo publicações especializadas em notícias gospéis, o homem que aparece no vídeo é o pastor Edson Araújo, da igreja Deus é Amor, de São Paulo. Já a mulher seria a esposa dele, identificada como Debora.
Ela já havia iniciado a transmissão quando ele, incomodado com o ângulo da câmera, se levanta. É possível ouvir o barulho de um tapa e ver que a câmera balança. Não fica claro se o tapa foi nela ou em um objeto. No entanto, a agressão verbal é nítida.
"Que saco, merda. Arruma as coisas direito, imbecil. Arruma o negócio direito", esbraveja ele. Em seguida o pastor volta a sentar e inicia a live. “Aceitem a paz do senhor", diz.
O vídeo no site O Fuxico Gospel conta com cerca de 15 mil visualizações. Nas redes sociais, no entanto, vem sendo publicado em vários perfis no Instagram e no Facebook. No perfil Calvinista, são quase 40 mil visualizações.
Marie Claire não localizou o pastor para que comentasse o ocorrido. Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com
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