Direito à defesa sim, ao esquecimento não
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Está criada para Jair Bolsonaro a obrigação de fornecer explicações amplas e cabais à Nação. Não há como esquecer os eventos que o envolvem direta ou indiretamente
Por Antonio Cláudio Mariz de Oliveira
O ex-presidente Jair Bolsonaro teria dito: “Me esqueçam, já tem outro governando o País”. Imitou o também ex-mandatário João Figueiredo, quando, 40 anos atrás, pediu que o esquecessem. Ambos apelaram para o esquecimento, não desejavam ser lembrados. Talvez soubessem que boas lembranças deles não se teria. Não importam as razões desse desejo. Elas são pessoais, absolutamente subjetivas.
No entanto, há uma diferença marcante entre os dois que nos impede de esquecer o último deles a deixar o comando do Brasil: ele tentou, segundo fortíssimos indícios, destruir a democracia. O outro passou para a História como responsável pela chamada abertura democrática. Ambos com a mesma origem, mas Figueiredo, talvez premido por circunstâncias impositivas, tomou o caminho da legalidade institucional.
Os fatos já em parte revelados exigem uma apuração meticulosa e abrangente para determinar as responsabilidades criminais dos envolvidos. São eventos que não podem ser olvidados, assim como os seus protagonistas não podem ficar à margem da lei, esquecidos.
Nós, advogados criminais, sabemos que no início das investigações, quando ainda não se conhece por completo o quadro probatório, para certos casos a estratégia é simplesmente o acusado negar a autoria ou se manter em silêncio. Pode usar evasivas, alegar uma amnésia temporária, seletiva. Essa tática se justifica sob o aspecto jurídico, pois o suspeito não conhece os fatos colhidos ou a colher contra si, não podendo, pois, contestá-los ou até afirmá-los. Há um preceito universal que reza não estar ninguém obrigado a fazer prova contra si. Essa é a base do direito outorgado ao acusado de ficar em silêncio ou de só depor com pleno conhecimento dos elementos probatórios existentes.
No entanto, é diversa a situação do ex-presidente. Ao analisar as circunstâncias amplamente divulgadas de uma articulação engendrada no ambiente íntimo do Planalto, que se estendeu para outras plagas, verifica-se que foram armazenadas informações suficientes para formar um painel indiciário e, mesmo, probatório suficiente para um juízo de certeza quanto à ocorrência dos eventos.
Esta articulação, pelo que foi revelado, atingiu as altas esferas governamentais, incluindo gabinetes militares, mas não sensibilizou os quartéis.
Assim sendo, em relação a alguns fatos comprovados, não há como o investigado mor, a quem as armações golpistas beneficiariam, limitar-se a afirmar estar sendo vítima de perseguição e que as imputações são invencionices. Há evidências de que ao menos ele tinha plena ciência das manobras pré-golpistas. Caso ele não esclareça alguns dados concretos, especialmente aqueles registrados em mensagens e em vídeos, crescerão as suspeitas de sua conivência com a tentativa de ruptura institucional.
Está, pois, criada para Jair Bolsonaro a obrigação de fornecer explicações amplas e cabais à Nação. Não há como esquecer os eventos que o envolvem direta ou indiretamente.
O seu dever para com o povo tem origem nos pleitos eleitorais que disputou, pois com eles criou um vínculo que não pode ser rompido pelo silêncio com os seus eleitores e mesmo com a parcela que não o apoiou, afinal ele foi o presidente da República. O País exige uma posição clara, esclarecedora e verdadeira. Não falar ou apenas negar constitui um deboche, podendo até parecer reconhecimento de culpa. Caso a queira admitir, que o faça explicitamente. Caso continue a negar, que justifique as evidências e esclareça as dúvidas.
Não pode continuar a se dizer vítima de uma implacável perseguição. Este seu posicionamento está criando uma grave consequência. Poderá aumentar o clima de discórdia implantado por ele mesmo no seio da sociedade. Embora muitos de seus decepcionados correligionários viram o mito se desfazer, tantos outros não. Estes ainda creem no Messias e aderem à sua ladainha persecutória. Nesse ponto reside o mal, pois estes seus seguidores, tomados pela intolerância raivosa e até pelo ódio, fazem uma irracional defesa do grande guia, pois entendem estar ele a caminho do calvário.
Este segmento acometido pela cegueira não só verbaliza a sua ira feroz, como já a transmitiu por ações concretas, como se viu em 8 de janeiro do ano passado, em alguns episódios isolados e que poderão se repetir com intensidade em face da crença de que o mártir está sendo sacrificado.
Talvez não seja uma utopia, um devaneio piegas e pueril esperar que, em face da gravidade de sua situação pessoal, mude de discurso e de atitude e sinalize para a concórdia nacional, acalme os seus furiosos e reconheça os seus erros.
De qualquer forma, independentemente de sua atitude, a ele deve ser garantido o pleno exercício do sagrado direito de defesa. Mas não deve ser atendido o seu desejo ao esquecimento, pois isso equivaleria a esquecer os desassossegos, as intranquilidades e reais padecimentos impostos ao povo e à Nação. Equivaleria a que se renunciasse à justiça que deve ser realizada e deve prevalecer.
*ADVOGADO Fonte: https://www.estadao.com.br
Papa: Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade
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Os "animais selvagens" que temos no coração, ou seja, as paixões desordenadas de vários tipos, podem levar ao risco de sermos dilacerados interiormente; enquanto os anjos recordam as boas inspirações divinas que "acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, o sabor do Céu".
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Ir ao deserto para perceber a presença dos "animais selvagens" e anjos em nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.
Em síntese, esse foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro em um dia ensolarado e temperatura amena, para o Angelus neste I Domingo da Quaresma.
"Animais selvagens e anjos", companhias de Jesus no deserto e também nossas
O Evangelho de Marcos - que inspirou a reflexão de Francisco - narra que Jesus «ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás», e também nós - observou o Papa - "somos convidados na Quaresma a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade"
A leitura narra que "animais selvagens e anjos" eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, em um sentido simbólico - explicou o Papa - "são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos."
E explica então, o sentido desses "animais selvagens":
Na vida espiritual podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas nos sugestionam, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar.
Os "animais" alojados em nossa alma
E Francisco diz ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma:
Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo. É interessante: não se esquecer dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais “selvagens” e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma nos ajuda a entrar no deserto interior para corrigir essas coisas.
O "serviço" em oposição à "posse"
Mas junto com Jesus no deserto, além dos "animais selvagens", estavam também os anjos, "mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem". E segundo o Evangelho, sua característica "é o serviço":
Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente.
Retirar-se ao deserto e ouvir Deus que fala no coração
Assim, ao darmos os primeiros passos no caminho quaresmal, o Papa propõe que nos façamos duas perguntas:
Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os “animais selvagens” que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o “deserto”, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?
Ao concluir, o Papa pediu "que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma." Fonte: https://www.vaticannews.va
Pela 1ª vez, histórica Catedral de St. Patrick, em NY, realiza funeral de mulher trans
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Homenagem a Cecilia Gentili ocorre em espaço cuja história é marcada por embates entre LGBT+ e a Igreja Católica
Pessoas em luto carregam o caixão da ativista trans Cecilia Gentili após o funeral, em Nova York - Sarah Blesener - 15.fev.24/The New York Times
Liam Stack
NOVA YORK | THE NEW YORK TIMES
Os bancos da Catedral de Saint Patrick estavam lotados na última quinta-feira (15) para um evento sem precedentes: o funeral de Cecilia Gentili, uma ativista e atriz transgênero, ex-profissional do sexo e autodeclarada ateia. A homenagem foi tanto uma celebração de sua vida quanto um teatro político.
Mais de mil pessoas, centenas das quais eram trans, chegaram com roupas ousadas —minissaias brilhantes e tops de alcinha, meias-arrastão, estolas de pele suntuosas, pelo menos uma, inclusive, feita de notas de US$ 100. Cartões de missa e uma foto perto do altar mostravam Gentili cercada pelas palavras espanholas para "travesti", "prostituta", "abençoada" e "mãe" acima do texto do Salmo 25.
O fato de a Catedral de St. Patrick receber o funeral de uma ativista trans conhecida por sua defesa em prol de profissionais do sexo, pessoas transgênero e pessoas vivendo com HIV, pode surpreender alguns.
Há pouco mais de uma geração, durante o auge da crise da Aids, a catedral foi um ponto de conflito entre ativistas gays e a Igreja Católica, cuja oposição à homossexualidade e ao uso de preservativos enfureceu a comunidade. A imponente construção neogótica tornou-se palco de protestos que chamaram a atenção da mídia nos quais ativistas se acorrentavam aos bancos e se deitavam nos corredores.
A igreja suavizou seu tom sobre essas questões nos últimos anos, e o cardeal atual de Nova York, Timothy Dolan, disse que a igreja deveria ser mais acolhedora com as pessoas gays.
Joseph Zwilling, porta-voz da Arquidiocese Católica Romana de Nova York, não respondeu a perguntas sobre se a igreja estava ciente do histórico de Gentili quando concordou em receber seu funeral.
Na quarta-feira (14), Zwilling disse que "se um pedido de funeral de um católico chega, a catedral faz o possível para acomodar".
A cidade de Nova York abriga aproximadamente uma dúzia de paróquias católicas amigáveis aos gays, mas a Catedral de Saint Patrick, sede da arquidiocese, não é uma delas.
Ceyenne Doroshow, que organizou o funeral, disse que os amigos de Gentili —que morreu em 6 de fevereiro aos 52 anos— queriam que o velório fosse na Catedral de Saint Patrick porque "é um ícone, assim como ela". Mas Doroshow acrescentou que não mencionou que Gentili era trans ao planejar com a igreja.
"Eu meio que mantive isso em segredo."
A morte de Gentili ocorreu em um momento politicamente tenso para pessoas trans, à medida que estados em todo o país restringem seu acesso aos cuidados de saúde e serviços públicos.
Grupos religiosos têm desempenhado um papel ativo nesses esforços, mas ao mesmo tempo o papa Francisco deu passos em direção à inclusão, dizendo em 2023 que pessoas trans podem ser batizadas, servir como padrinhos e ser testemunhas em casamentos na igreja.
Zwilling disse que não sabia se Gentili havia frequentado missas na catedral, ou se outras pessoas trans haviam tido seus funerais lá. Mas ele disse que "um funeral é uma das obras de misericórdia corporais", uma parte do ensinamento católico que a igreja descreveu como "um modelo de como devemos tratar todos os outros, como se fossem Cristo disfarçado".
As observações do padre não abordaram os detalhes da vida de Gentili. Quando o serviço começou, o padre Edward Dougherty disse que era a maior multidão que ele havia visto desde o domingo de Páscoa. Esse comentário provocou a primeira de várias rodadas de aplausos.
Em determinado momento, um amigo de Gentili subiu ao púlpito para rezar pelo acesso aos cuidados de saúde que afirmam sua identidade de gênero. Em outro momento, uma pessoa ofuscou um padre que cantava "Ave Maria", mudando a letra para "Ave Cecilia". Em seguida, ela dançou pelos corredores, lenços vermelhos girando ao seu redor.
Várias pessoas que compareceram a uma missa na catedral horas depois disseram que estavam satisfeitas pela igreja neogótica ter sediado o funeral de Gentili.
Carlos Nunez, 43, que mora em Manhattan e trabalha em atendimento ao cliente, disse que achou o funeral apropriado. "Por que não?", questionou ele. "Todo mundo tem o direito de ir à igreja. Todo mundo é filho de Deus."
Michael Minogue, 67, disse que reconsiderou algumas de suas próprias opiniões depois que um amigo morreu de Aids na década de 1980. Ele disse que achou benevolente por parte da igreja e das pessoas em luto que Gentili tenha tido seu funeral na catedral. "Isso significa um pouco mais de tolerância de ambos os lados."
Gentili era ateia, mas sua peça de uma mulher só, "Red Ink", explorava seus encontros com o divino em lugares inesperados.
Em uma entrevista em 2023, ela disse que "nunca teve oportunidades de experimentar uma fé que a acolhesse plenamente" como pessoa trans, mas recentemente começou a frequentar cultos em várias igrejas novamente.
O reverendo James Martin, um conhecido escritor jesuíta que defende uma abordagem mais inclusiva da igreja, disse que era "maravilhoso" a Catedral de Saint Patrick ter concordado em realizar o funeral de Gentili. "É um lembrete poderoso, durante a Quaresma, de que as pessoas LGBTQ+ são tão parte da igreja quanto qualquer outra pessoa", disse ele. "Eu me pergunto se isso teria acontecido há uma geração."
Na época, a crise da Aids em Nova York mergulhou as relações conturbadas da igreja com a comunidade gay e trans da cidade em um novo patamar.
No final dos anos 1980, o cardeal John O'Connor, líder da arquidiocese, proibiu um grupo católico gay de se reunir em sua igreja e disse que a Aids era transmitida por "aberrações sexuais ou abuso de drogas". Ele também afirmou que o conselho de usar preservativos para interromper a propagação da doença era baseado em mentiras.
Em 1989, mais de 4.000 pessoas protestaram do lado de fora da Catedral de Saint Patrick, e os manifestantes entoaram cânticos e se acorrentaram aos bancos dentro da igreja. A polícia prendeu 111 pessoas durante o protesto, que se tornou um marco na história da comunidade gay da cidade.
Os organizadores do funeral de Gentili disseram que esperavam que ele fosse lembrado como um momento igualmente importante para a comunidade.
E, enquanto os carregadores levavam o caixão de Gentili de volta pelo corredor no final do culto, os cânticos ecoaram novamente pela nave da Catedral de Saint Patrick. "Cecília! Cecília! Cecília!". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
LEIA A MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2024 “FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL”
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O Papa Francisco enviou a já tradicional mensagem por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade. O pontífice manifestou o desejo de que a CF, “uma vez mais”, auxilie as pessoas e comunidades do Brasil “no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência”. O texto enviado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por ocasião da abertura da campanha foi divulgado hoje, 14 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas.
Em sua mensagem, Francisco une-se ao episcopado brasileiro em ação de graças pelos 60 anos da campanha celebrada em âmbito nacional e destaca do tema o convite a, como irmãos e irmãs, “construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas”.
A CF 2024 tem como tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23, 8). Seu objetivo geral é despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos.
Confira a mensagem do Papa para a CF 2024 na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs do Brasil,
Ao iniciarmos, com jejum, penitência e oração, a caminhada quaresmal, uno-me aos meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil num hino de ação de graças ao Altíssimo pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade, um itinerário de conversão que une fé e vida, espiritualidade e compromisso fraterno, amor a Deus e amor ao próximo, especialmente àquele mais fragilizado e necessitado de atenção. Este percurso é proposto cada ano à Igreja no Brasil e a todas as pessoas de boa vontade desta querida nação.
Neste ano, com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23, 8), os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Fratelli Tutti, que assinei em Assis, no dia 3 de outubro de 2020, véspera da memória litúrgica de São Francisco.
Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas.
Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos àqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a “todo ser vivo” (FT 59), vencendo fronteiras e superando “as barreiras da geografia e do espaço” (FT 1).
Desejo que a Igreja no Brasil obtenha bons frutos nesse caminho quaresmal e faço votos que a Campanha da Fraternidade, uma vez mais, auxilie às pessoas e comunidades dessa querida nação no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência.
Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, e como penhor de abundantes graças celestes, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham pela fraternidade universal, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.
Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2024, festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo.
Franciscus
Fonte: https://www.cnbb.org.br
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2024: INTRODUÇÃO GERAL (PARTE 1)
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Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar de Belém (PA)
O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e Amizade social” e tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O seu objetivo geral é contribuir para nos despertar sobre o valor e a beleza da Fraternidade humana, promovendo e fortalecendo a experiência da Amizade Social. Esse objetivo nos desafia a superar a cultura da indiferença para com os outros, que nos torna como que portadores do mal da cegueira, da insensibilidade nos proporcionando uma atitude de descaso diante das necessidades alheias.
O tema da Amizade social nos convida a refletir sobre as causas dos conflitos, a hostilidade na relações humanas e a agressividade interpessoal. Onde não há a experiência da amizade, pode haver não somente a indiferença, mas também a violência. São dois graves males.
O tema da CF 2024 nos convida a promover abertos vínculos de amizade, capazes de estimular a comunhão, a reconciliação entre as pessoas e o espírito fraterno favorecendo a promoção do bem comum. Dessa forma a amizade autêntica não é um bem privado e fechado entre duas pessoas ou mais, mais tem uma responsabilidade social. A experiência da amizade aberta estimula a construção de pontes entre pessoas e grupos. É dessa forma que fomentamos o desafio do diálogo que promove a cultura do encontro.
Palavras chaves da CF 2024
O texto base da CF deste ano nos apresenta uma lista de palavras chaves que nos ajuda didaticamente a melhor compreender os horizontes, o conteúdo e a sensibilidade do tema Amizade Social. Falamos muito de amizade genericamente, mas associada ao adjetivo “social” não é comum. Portanto, o tema da CF deste ano nos estimula a pensar a necessidade da abertura da experiência da amizade, que se opõe à experiência daquela fechada, intimista, defensiva, com barreira, indiferente à sua dimensão social.
O tema da CF 2024 nos fala de acolhida, compaixão, comunidade, diálogo, convivência, empatia… A autêntica experiência de Amizade tem a sua fonte no Amor e este, por sua natureza, é sempre aberto, sensível, compassivo, empático, benfazejo. A fonte da amizade não é egoísta, mesquinha, fechada, seletiva.
O tema da CF 2024 nos convida a pensar e nos treinar na importância da proximidade, da acolhida incondicional, do intercâmbio de dons, pois todos somos portadores de riquezas. Isso só é possível se a experiência da amizade for aberta. Quando dois amigos ou um grupo se fecha na amizade, se empobrece e, dessa forma, não contribui para o bem comum porque esqueceu da sua dimensão social. A família é o primeiro grupo natural de experiência de amizade chamada a abrir-se às necessidades dos outros. Por isso, em geral, aprendemos a ser solidário no seio familiar, pois a sociedade é uma rede de famílias.
O tema da CF 2024 nos desafia a estimular o desenvolvimento integral que é consequência da consciência ativa da corresponsabilidade para com a promoção da paz e da justiça. O desenvolvimento integral implica também o esforço em vista da dilatação do coração, ou seja, da dimensão socioafetiva. Quem não desenvolveu sua dimensão socioafetiva, lamentavelmente, terá sempre dificuldade de relacionamento com os outros e de abertura sem fronteira, sendo capaz de pensar na “família humana”, na “fraternidade universal”, na “civilização do amor e da paz”.
Fenômenos a serem rejeitados
A partir da contemplação do vasto horizonte positivo do tema da CF 2024, podemos imaginar, por outro lado também, um universo de males a serem rejeitados e combatidos porque promovem o adoecimento da sociedade. Um dos primeiros males é a cegueira; esse mal nos proporciona a indiferença às realidades que estão a nossa frente e ao nosso lado. Segundo o sociólogo Zigmunt Baumam, em sua obra a Cegueira moral, “a negligência moral está crescendo em alcance e intensidade, a demanda por analgésicos aumenta cada vez mais, e o consumo de tranquilizantes morais se transforma em vício. Por conseguinte, uma insensibilidade moral induzida e manipulada se torna uma compulsão ou uma “segunda natureza”: uma condição permanente e quase universal – e as dores são despidas de seu papel salutar de prevenir, alertar e mobilizar. Com as dores morais aliviadas antes de se tornarem verdadeiramente perturbadoras e preocupantes, a teia de vínculos humanos tecida com os fios da moral torna-se cada vez mais débil e frágil, vindo a descosturar-se.” (BAUMAN, Zigmunt… Cegueira moral, 2014, p. 181). Uma sociedade que padece do mal do “anestesiamento socioafetivo” jaz na insensibilidade; isso significa a ausência da semente da necessidade dos outros.
No mundo da “cegueira moral” a experiência das amizades é fechada, intimista, isolada, segura (defensiva), internamente prazerosa, mas insensível à dor dos outros. Essa experiência de amizade é intolerante a qualquer forma de incômodo. A abertura à experiência do incômodo é uma natural consequência da sociabilidade.
Um grupo que vive a experiência da amizade sem a dimensão social e senso de bem comum, facilmente cai em atitudes extremistas rejeitando todos aqueles que não tem afinidade com seus interesses. Dessa forma estimulam a rejeição, o preconceito, a segregação, a injúria étnica, cultural e ou religiosa, promovendo a inimizade e os conflitos. Assim nascem as guerras entre povos, alicerçadas na intolerância religiosa, no nacionalismo que alimenta a xenofobia.
A origem do tema “amizade social”
O tema da Campanha da Fraternidade de 2024 é inspirado na Carta Encíclica Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social – do Papa Francisco – publicada no ano 2020. Num mundo marcado por múltiplas formas de violências, grupos fechados e tendências extremistas (ideológicas, políticas, religiosas), somos chamados a promover a experiência da Amizade aberta que ultrapassa barreiras e promove o diálogo, a solidariedade, a comunhão, a compaixão, a justiça, a paz e a harmonia entre as pessoas.
Nessa encíclica (Fratelli Tutti= todos irmãos) o Papa lança para a humanidade um sonho: “entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras” (FT,6). François Lyotard (1924-1998), sociólogo francês, nos anos 70 em sua obra “O pós-moderno” já alertava o mundo sobre surgimento de uma nova sensibilidade marcada pelo fenômeno do desaparecimento dos grandes sonhos batizando essa nova era de pós-modernidade (cf. LYOTARD, 1998. p. 26). Ele se referia às grandes correntes filosóficas (iluminismo, positivismo, comunismo etc). No campo das relações humanas a sensibilidade pós-moderna faz pouco caso com o conteúdo e a dinâmicas das relações interpessoais. O que mais se deseja não é a promoção de senhos mais é o «haurir satisfação» (cf. BAUMAN, Ética pós-moderna…,115-127). O intimismo interpessoal leva as pessoas a se fecharem no mundo do prazer e a não pensar em outras dimensões. É a “amizade” que gera escravidão.
O Papa Francisco, persiste em seu sonho dizendo: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade… Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos. Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” (FT,8).
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
O que o tema “amizade social” me provoca?
Por que a experiência da “amizade social” exige desenvolvimento humano?
Qual é o grande sonho do Papa Francisco presente no número 8 da Fratelli Tutti e por que é tão importante? Fonte: https://www.cnbb.org.br
Papa Francisco diz não temer cisma entre católicos após bênção a casais LGBTQIA+
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Evangelho é para santificar a todos, não para separar quais pecadores podem ou não podem estar na igreja, diz pontífice
SÃO PAULO
A autorização da bênção a casais do mesmo sexo, aprovada pelo papa Francisco em meados de dezembro, continua reverberando no Vaticano. Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, o pontífice disse não temer um cisma na Igreja Católica após a decisão provocar ira entre setores conservadores.
Francisco, 87, minimizou as críticas e disse que a possibilidade de um cisma é ventilada somente por pequenos grupos ideológicos. "Devemos deixá-los à vontade e seguir em frente... e olhar para o futuro", disse o papa, sem especificar a quais grupos se referia, na entrevista publicada nesta segunda-feira (29).
A autorização concedida pela igreja vem provocando fraturas na comunidade católica e motivando debates, com bispos em alguns países se recusando a permitir que seus sacerdotes implementem a bênção a casais LGBTQIA+. A resistência é maior em países da África, onde a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo pode levar à prisão ou até mesmo à pena de morte em algumas regiões.
Francisco disse estar confiante de que até os críticos mais ferrenhos acabem entendendo os propósitos da medida. Em seguida, emendou que os católicos no continente africano são "um caso à parte". "Para eles, a homossexualidade é algo 'ruim' do ponto de vista cultural. Eles não a toleram", afirmou. "Mas, em geral, confio que gradualmente todos chegarão a um acordo com o espírito da declaração."
A declaração em questão, conhecida por seu título em latim Fiducia Supplicans (confiança suplicante), foi divulgada em 18 de dezembro. Desde então, o Vaticano tem se esforçado para enfatizar que as bênçãos não representam "absolvição" de atos homossexuais —que a igreja considera pecados— e que não devem ser vistas como algo equivalente ao sacramento do matrimônio, exclusivo para casais heterossexuais.
Mas mesmo um esclarecimento divulgado no começo do mês pelo escritório doutrinário do Vaticano não foi suficiente para arrefecer as críticas feitas pelos bispos na África. Líderes da igreja no continente emitiram uma carta dizendo que a decisão havia causado "inquietação na mente de muitos" e que não poderia ser aplicada devido ao contexto cultural na região.
Desde que foi eleito pelos cardeais há dez anos, Francisco tem tentado tornar a doutrina católica mais acolhedora para pessoas que se sentem excluídas, como membros da comunidade LGBTQIA+, mas sem mudar nenhuma parte do ensinamento da igreja sobre questões morais.
"[Os críticos] me perguntam como é possível [a bênção a casais do mesmo sexo]. Eu respondo: o Evangelho é para santificar a todos. É claro, desde que haja boa vontade. [...] Somos todos pecadores: então por que fazer uma lista de pecadores que podem entrar na igreja e outra lista de pecadores que não podem estar na igreja? Isso não é o Evangelho", disse o papa ao La Stampa.
A declaração que autoriza a bênção foi emitida pelo departamento doutrinário do Vaticano e aprovada pelo papa. Embora a abertura de Francisco à prática tenha sido bem recebida por muitos, conservadores disseram que isso poderia abalar os fundamentos da fé e até levar a um cisma na igreja.
A África não foi a única a receber mal a nova orientação doutrinária. Houve resistência também na América Latina e nos Estados Unidos. Em dezembro, após as primeiras críticas, o papa já havia alertado contra o que chamou de posições ideológicas inflexíveis e que, segundo ele, podem impedir a Igreja Católica de enxergar a realidade e avançar.
Questionado sobre a sua saúde, o papa disse que sente dores, mas que está melhor e se sente bem. A saúde de Francisco vem se deteriorando nos últimos anos, forçando-o a viajar em uma cadeira de rodas e fomentando especulações sobre uma possível renúncia sua à liderança da Igreja Católica. Em 2021, ele foi submetido a uma cirurgia no cólon e, no ano passado, foi hospitalizado duas vezes, numa delas para uma operação no abdômen.
Em relação à guerra entre Israel e Hamas, o papa manifestou temor de um agravamento no conflito e disse que a "verdadeira paz" não se materializará até que uma solução de dois Estados seja implementada.
Francisco, que é argentino, ainda confirmou que está programado um encontro com o presidente de seu país natal, Javier Milei. A expectativa sobre uma visita do líder da Igreja Católica à Argentina é ampla, e já foram feitos inúmeros apelos. Durante a campanha, Milei fez uma série de ataques verbais ao papa e chegou a chamá-lo de "representante do mal na Terra", mas suavizou o tom à medida que se aproximavam as eleições que o elegeram. O encontro deve ocorrer em fevereiro no Vaticano, segundo o que Francisco disse na entrevista, por ocasião da canonização de Mama Antula, considerada a mãe espiritual da Argentina. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Por que pastores estão se demitindo nos EUA?
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Em 2022, cerca de 42% deles pensaram em abandonar a atividade, segundo pesquisa
Sasha Freemind na Unsplash
Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros
Na semana passada, um interlocutor compartilhou comigo o desabafo de um pastor presbiteriano dos EUA que começa assim: "No domingo passado, preguei meu último sermão como pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Arlington Heights (um subúrbio de Chicago). Tomei a decisão de não apenas deixar meu cargo como líder da equipe pastoral mas de abandonar o pastorado por completo. Já não tenho o desejo de servir como pastor na igreja".
Ele não está sozinho. Em 2022, 42% dos pastores dos Estados Unidos pensaram em abandonar sua função e quase metade daqueles com até 45 anos considerou essa possibilidade. Os dados são do Barna Group, um instituto que pesquisa fé e cultura.
Esse fenômeno vem sendo chamado de "The Great Pastor Resignation" (a grande onda de demissão de pastores, em tradução livre). Tornou-se mais conhecido quando o jornal The New York Times publicou uma entrevista com Dan White Jr, um ex-pastor que hoje coordena o centro Kineo para cuidar de pastores vivendo crises de burnout.
White pastoreava uma igreja batista pequena no estado de Nova York quando foi diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (Tept), o mesmo quadro neurológico de quem vive por muito tempo em zonas de guerra.
Pastores são líderes, mas, na prática, é como se eles fossem empregados de todos os membros de suas comunidades de fé, e essa pressão afeta o convívio familiar.
Além disso, os muitos escândalos noticiados pela mídia nas últimas décadas afetaram a imagem pública dos pastores. Em vez de serem vistos como pessoas que oferecem cuidado, hoje são percebidos com desconfiança. "Eu tinha muita idealização em relação ao meu trabalho", diz White, "e comecei a ter vergonha de contar que era pastor".
Mas a tensão nas igrejas se multiplicou por causa da polarização política e da pandemia de Covid-19.
"Percebemos que as redes sociais, os canais de TV a cabo e a disputa política têm tido mais impacto na formação e orientação de nossas congregações do que nossos próprios sermões", avalia White.
Isso também acontece aqui? As últimas eleições presidenciais deixaram feridas abertas entre membros de igrejas. Muitos deixaram de chamar uns aos outros de irmãos e irmãs em Cristo para usar termos como "comunista", "fascista" ou "assassino de bebês".
Interlocutores falam sobre pastores que temem desapontar e serem acusados por seus pares e congregantes por "ter pouca fé". Mas igrejas evitam falar publicamente sobre problemas de saúde mental entre pastores.
Considerando esse quadro de falta de dados, peço licença aos outros leitores para convidar pastores e pastoras a compartilhar anonimamente suas histórias sobre os desafios atuais de seu trabalho pelo email Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Como a loucura mudou a história
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Livro mostra efeitos de transtornos e doenças mentais sobre governantes
A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 24 de setembro de 2023, para ilustrar a coluna de Hélio Schwartsman - Annette Schwartsman
Idi Amin Dada foi um dos mais brutais ditadores da África, continente pródigo em ditaduras brutais. Governou Uganda nos anos 70, quando mandou torturar e matar uns 300 mil. Tomou várias decisões com base em caprichos que depois prejudicaram seu governo. Gostava de atribuir a si mesmo títulos grandiosos como "senhor de todos os animais da terra e peixes dos mares". Idi Amin era louco? E Hitler? Stálin? Putin? Trump?
As imbricações entre loucura e poder são uma constante na história da humanidade. Estudo de 2006 mostra que quase a metade dos presidentes americanos experimentaram problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e abuso de substâncias. E não necessariamente para o mal. Abraham Lincoln, tido como um dos melhores se não o melhor líder do país, lidava com uma depressão importante.
O psicólogo Christopher Ferguson conta essas e muitas outras anedotas em "Como a Loucura Mudou a História". Eu sabia que o imperador Heliogábalo era estranho, mas não tão estranho. O livro, contudo, é bem mais do que um compêndio de fofocas históricas. Ferguson discute a própria noção de saúde mental.
Embora utilizemos o termo "loucura" com liberalidade na linguagem do dia a dia, é preciso distinguir as doenças mentais, que fazem com que um indivíduo altere seus comportamentos, dos transtornos de personalidade, que são características que definem a própria identidade da pessoa. Embora ambos possam afetar os poderosos, são os segundos que marcam os tiranos mais destrutivos. O destaque aqui é a tríade sombria, a combinação de narcisismo, psicopatia e maquiavelismo, que aparece em Hitler e Mao. Acrescente uma boa dose de paranoia à tríade e você obtém um Stálin.
Já afastando-se das lideranças políticas, Ferguson pincela algumas das loucuras da própria sociedade, incluindo religião, pânicos morais, lacrações e cancelamentos, além, é claro, de votar em certos tipos de malucos.
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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
56 Anos de Graças e Bênçãos de Deus...
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(15 de setembro de 1967. 15 de setembro de 2023, 56 anos de bênçãos de Deus).
CHUVAS NO SUL. Rezemos... Ajudemos.
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Nós, Frei Petrônio e Frei João Carlos, O. Carm, estamos em Missão estes dias aqui em Eldorado do Sul- Grande Porto Alegre/RS, onde temos uma Paróquia Carmelita. É assustador a passagem do ciclone extratropical- até o momento 41 mortos- e milhares de famílias desabrigadas.
Uma cidade chamada Muçum, foi completamente destruída. Ainda há nove desaparecidos. O informe da Defesa Civil aponta que 79 municípios gaúchos são afetados pela chuva, contabilizando 7 mil desabrigados e 3.575 desalojados. Na manhã de hoje, dia 7, o Governo federal reconheceu estado de calamidade de 79 cidades no RS. Pedimos a todos orações neste momento de luto em toda Arquidiocese de Porto Alegre.
Vida é dom e compromisso!
Solidariedade é virtude e valor profundamente humano. Iluminada pela fé cristã expressa cuidado, atenção e serviço. Exortamos - e pedimos! - a quem tem condições, auxiliar as cidades mais atingidas pela tragédia provocada pelas chuvas nestes dias, em nosso Rio Grande do Sul.
Neste momento, material de construção, ou reconstrução, é o mais urgente. É também possível colaborar por meio de doação em dinheiro, por meio de conta bancária específica, em nome do Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre - Cáritas Arquidiocesana: Banco Banrisul, Agência 0834, conta corrente: 06.102966.0-6. PIX CNPJ: 92.679.935/0001-64.
Que o Senhor recompense a todos que colaborarem não com o dobro, mas com a medida do Evangelho: "cem vezes mais..."
Dom Jaime Spengler
Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre
Cáritas Arquidiocesana - Mensageiro da Caridade. Fonte: https://www.facebook.com/arquipoa
Mongólia: a imagem de Nossa Senhora encontrada no lixo
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O Papa Francisco, do lado de fora da Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Ulan Bator, se encontrou com uma mulher que achou a estátua de Nossa Senhora, "Mãe do Céu", no lixo.
Thulio Fonseca - Vatican News
Antes do inicio do encontro com a comunidade católica, o Santo Padre foi ao encontro da Sra. Tsetsege, mãe de onze filhos em um "ger" (habitação característica do povo da Mongólia). Ela conta que encontrou uma bela estátua de madeira esculpida com as feições de uma bonita mulher em um depósito de lixo. Inicialmente, não percebeu que se tratava da Virgem Imaculada. Ao voltar para casa, ela disse para a família: "Essa linda senhora quis vir morar na minha tenda". E depois, quando percebeu de quem se tratava, a mulher entregou a estátua à comunidade católica, que a exibiu em uma paróquia local.
A história da estátua da Virgem Maria foi então contada ao Cardeal Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator, e ele mesmo concluiu:
"Imediatamente pensei que a Virgem Maria queria nos dizer algo por meio desse achado. Como aquela estátua tinha ido parar no lixão, já que, especialmente naquela parte do país, há pouquíssimos católicos? Então pensei que o Senhor, por meio de sua Santa Mãe, se faz presente nas situações mais extremas para nos dizer o quanto ele está próximo de cada um de nós."
O Cardeal Marengo também enfatizou que a Virgem "está sempre pronta para nos encontrar, mesmo em lugares de desespero, de descarte, de dor, de abandono". "Também falei sobre a estátua com o Santo Padre quando o visitei com uma pequena delegação de monges budistas da Mongólia: mostrei-lhe uma imagem e ele ficou muito satisfeito".
Em seu discurso durante o encontro com os Bispos, Sacerdotes, Missionários, Consagrados, Consagradas e Agentes da Pastoral, o Santo Padre destacou a importância da presença de Nossa Senhora em meio aquela pequena comunidade:
“Neste caminho de discípulos-missionários, tendes um apoio seguro: a nossa Mãe celeste, que quis dar-vos um sinal palpável da sua presença discreta e solícita ao deixar que se encontrasse a sua imagem numa lixeira. Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus.”
Ao final do encontro o Papa Francisco abençoou a imagem de Nossa Senhora, venerada como "Mãe do Céu", que desde o dia 08 de dezembro de 2022 foi entronizada na Catedral de Ulan Bator. Fonte: https://www.vaticannews.va
CARMO DO RIO TEM NOVO VICARIATO
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Com a presença de Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, tivemos a Missa que marcou a história do Carmo na Vila Kosmos-Vicente de Carvalho/RJ.
A partir deste sábado, 2 de setembro-2023, a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo- até então pertencente ao Vicariato Suburbano- faz parte agora do Leopoldina.
Histórico:
O Vicariato Episcopal Leopoldina foi criado por Decreto passado na Cúria aos 21 de novembro de 1966, na festa da Apresentação de Maria Santíssima, e assinado pelo Emmo. Cardeal D. Jaime de Barros Câmara.
Abrange a área da grande Leopoldina. Seus principais bairros são: Ilha do Governador, Bonsucesso, Benfica, Higienópolis, Ramos, Olaria, Penha, Penha Circular, Brás de Pina, Vila da Penha, Vista alegre, Parada de Lucas, Cordovil, Pavuna (Parque Colúmbia), Irajá, Jardim América, Vigário Geral e Maré.
Está dividido em 7 foranias, compreendendo 42 paróquias, 1 Santuário Mariano e 93 capelas. Das paróquias, 33 são administradas pelos padres diocesanos e 09 por religiosos.
Sua complexidade, entre outras peculiaridades, se dá por ser uma área do município do Rio de Janeiro, onde a vulnerabilidade e o risco social são bastante expressivos. Entretanto, apesar da complexidade, o Vicariato Leopoldina tem um histórico de evangelização e desafios inerentes à realidade do território. Fonte: https://arqrio.org.br. Fotos: Rosemiro Magalhães. Divulgação: www.olharjornalistico.com.br
Governo da Nicarágua declara a ordem dos jesuítas ilegal no país e confisca bens
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O governo da Nicarágua declarou nesta quarta-feira, 23 de agosto que a ordem religiosa dos jesuítas é ilegal e ordenou o confisco de todas as suas propriedades. Comunicado da Província Centro-Americana da Companhia de Jesus.
Vatican News
A medida foi tomada uma semana depois que o governo do presidente Daniel Ortega confiscou a Universidade da América Central, administrada pelos jesuítas na Nicarágua, argumentando que ela era um "centro de terrorismo".
A ordem de confisco publicada nesta quarta-feira alega que a ordem dos jesuítas não havia cumprido com a declaração de impostos.
Foi a última de uma série de ações cada vez mais autoritárias do governo nicaraguense contra a Igreja Católica e figuras da oposição. A ordem dos jesuítas condenou essas últimas medidas.
Em um comunicado a Província Centro-Americana da Companhia de Jesus, fala de agressão injustificada e contínua, em um contexto de total indefensabilidade e aterrorização da população nicaraguense.
O Estado da Nicarágua, - lê-se no comunicado - através do Ministério do Interior, por meio do Acordo Ministerial N.105-2023, publicado nesta quarta-feira, cancelou o status legal da Associação da Companhia de Jesus na Nicarágua e estabeleceu que a Procuradoria Geral da República transferia ao Estado os bens imóveis e móveis da mesma.
Segundo o comunicado a decisão foi tomada sem qualquer registro dos procedimentos administrativos estabelecidos por lei. Como aconteceu na maioria dos mais de três mil casos semelhantes de cancelamento de personalidade jurídica realizados pelo regime desde 2018, esse acordo foi realizado sem dar aos jesuítas uma oportunidade de legítima defesa e sem uma instância judicial imparcial para julgar e interromper esses abusos de autoridade totalmente injustificados e arbitrários.
Antes da publicação do Acordo Ministerial N.105-2023, o governo já havia retirado um dos bens da Associação Companhia de Jesus da Nicarágua: a residência onde alguns de seus membros moravam em Manágua. Nessa ocasião, além da ocupação da propriedade, os habitantes foram despejados sem lhes dar tempo razoável para recolher e retirar seus pertences pessoais.
A Província Centro-Americana da Companhia de Jesus, condena essa nova agressão contra os jesuítas da Nicarágua. Considera que ela faz parte de um contexto nacional de repressão sistemática qualificada como "crimes contra a humanidade" pelo grupo de especialistas em direitos humanos sobre a Nicarágua formado pelas Nações Unidas.
Confirma que tudo isso tem como objetivo o pleno estabelecimento de um regime totalitário.
O presidente e a vice-presidente da Nicarágua são responsáveis por, no mínimo, impedir a existência de condições de independência e neutralidade do poder judiciário que lhe permita tomar medidas para impedi-los, revertê-los e sancioná-los.
A Província Centro-Americana da Companhia de Jesus pede ao casal presidencial:
cesse a repressão;
aceitem a busca de uma solução racional na qual prevaleçam a verdade, a justiça, o diálogo, o respeito aos direitos humanos e o Estado de Direito;
respeitem a liberdade e a total integridade dos jesuítas e das pessoas que colaboram com eles ou com quem eles colaboram;
une-se às milhares de vítimas nicaraguenses que aguardam e esperam justiça e reparação pelos danos que o atual governo da Nicarágua está causando;
e enfim, agradece os inúmeros sinais de reconhecimento, apoio e solidariedade que têm recebido diante desses crescentes ultrajes. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: o sinal da cruz é o abraço de Deus que jamais nos abandona
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Na Solenidade da Santíssima Trindade, o Papa falou da "comunhão de amor" que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo numa única família na qual a Igreja deve se espelhar.
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
O Papa rezou o Angelus com milhares de fiéis na Praça São Pedro neste Domingo em que a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade.
O Evangelho é extraído do diálogo de Jesus com Nicodemos, membro do Sinédrio. Apaixonado pelo mistério de Deus, Nicodemos reconhece em Jesus um mestre divino e, sem que o vejam, vai falar com Ele. Jesus o ouve e lhe revela o coração do mistério, dizendo que Deus amou tão profundamente a humanidade a ponto de enviar o seu Filho ao mundo. Jesus, portanto, o Filho, nos fala do Pai e do seu amor imenso.
Francisco ressaltou a relação familiar de Pai e Filho. "É uma imagem familiar que, se pensarmos, desequilibra o nosso imaginário sobre Deus. A própria palavra 'Deus', com efeito, nos sugere uma realidade singular, majestosa e distante, enquanto ouvir falar de um Pai e de um Filho nos leva de volta para casa."
Para o Pontífice, podemos pensar Deus através da imagem de uma família reunida à mesa, onde se compartilha a vida, já que a mesa é ao mesmo tempo um altar, símbolo com o qual alguns ícones representam a Trindade.
“Mas não é somente uma imagem, é uma realidade! É realidade porque o Espírito Santo nos faz degustar a presença de Deus: presença próxima, compassiva e terna. O Espírito Santo faz conosco o mesmo que Jesus faz com Nicodemos: nos introduz no mistério do novo nascimento, nos revela o coração do Pai e nos torna partícipes da própria vida de Deus.”
Sinal da cruz: abraço de amor
O convite, portanto, explicou o Papa, é estar à mesa com Deus para compartilhar o seu amor. Isto é o que acontece em cada Missa, no altar do banquete eucarístico, onde Jesus se oferece ao Pai e se oferece por nós.
"Sim, irmãos e irmãs, o nosso Deus é comunhão de amor: assim Jesus nos revelou. E sabem como podemos fazer para recordá-lo? Com o gesto mais simples que aprendemos desde crianças: o sinal da cruz. Traçando a cruz sobre o nosso corpo nos recordamos quanto Deus nos amou, a ponto de dar a vida por nós; e repetimos a nós mesmos que o seu amor nos envolve completamente, de cima a baixo, da esquerda à direita, como um abraço que jamais nos abandona. E, ao mesmo tempo, nos comprometemos a testemunhar Deus-amor, criando comunhão em seu nome."
Amar de modo familiar
Antes de concluir, Francisco propôs algumas perguntas aos fiéis: Testemunhamos Deus-amor? Ou Deus-amor se tornou, por sua vez, um conceito, algo já conhecido, que não estimula e não provoca mais a vida? Se Deus é amor, as nossas comunidades o testemunham? Sabem amar? São famílias? Mantemos a porta sempre aberta, sabemos acolher a todos, ressalto todos, como irmãos e irmãs? Oferecemos a todos o alimento do perdão de Deus e o vinho da alegria evangélica? Respira-se uma atmosfera doméstica ou parecemos mais um escritório ou um lugar reservado onde entram somente os eleitos?
"Que Maria nos ajude a viver a Igreja como aquela casa em que se ama de modo familiar, a glória de Deus Pai e Filho e Espírito Santo", foi a exortação final do Pontífice. Fonte: https://www.vaticannews.va
REMÉDIO PARA O SUICÍDIO DE SACERDOTES
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Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni (MG)
Todas as vezes que um padre se auto extermina muitos comentários são feitos. Quase sempre se procura um culpado. O encontro de um culpado parece que conforta e se parece com a atitude de Pilatos de lavar as mãos e não se comprometer. Quem é o culpado? O Bispo? Os superiores? O presbitério? O Sacerdote? A família? A Igreja? O sistema? Os questionamentos seguem quase sempre sem respostas geradoras de vida. Os fatos vão se repetindo.
Raramente se fala de um modo de viver que leva à morte ou à vida. É preciso ao longo da vida encontrar o jeito de viver que esteja em sintonia com a alegria vocacional. Um modo de viver que faz o coração arder e os pés se colocarem a caminho (cf. Lc 24,32-33). Esse modo de viver não se constrói de uma hora para outra.
Um modo de viver que não esteja em sintonia com o Projeto vocacional gera crises, culpabilizações, reclamações e arrefecimento do ardor do coração. Tudo parece estar errado e isso não gera vínculo dos vinhateiros com a vinha e principalmente com seu proprietário. Muitas vezes prepara-se para proteger dos perigos externos, mas esquece-se dos inimigos internos. Fervilham-se no interior muitos males, pois é de dentro do coração que eles vem (cf. Mt 15,19).
Recentemente o Papa Francisco, falando aos Bispos do Regional Leste 2 da CNBB na Visita Ad Limina, disse que não é possível formar presbíteros da mesma forma que se formava há 30 anos. Não é possível formar bem, se não permitir aos seminaristas mostrarem seus corações fragilizados, suas marcas da história e suas inseguranças. Como limpar o interior se não se pode abrir, por medo de punição, ou temor das portas se fecharem? O mesmo vale para os sacerdotes, os quais escondem suas dificuldades por medo de punição, ou rejeição. John Powell em seu livro “Por Que Tenho Medo de Lhe Dizer Quem Sou?” diz que, ao revelar a alguém o seu interior, o ouvinte pode não gostar e rejeitar a pessoa. A rejeição é sempre um sentimento que impede crescimento. É necessário um processo que gere confiança.
Atrás de um sacerdote ou de um agente religioso está um ser humano com todas as vicissitudes, mazelas e virtudes da “natureza” humana. O modo de estar no mundo depende dos condicionamentos e das estruturas originárias em que cada um edificou a sua forma de existir para si mesmo e para os outros. Ainda que a graça de Deus atue na fragilidade de uma pessoa, a ação de Deus vai sempre supor o conjunto estrutural humano que carrega este dom. E quando há um processo de adoecimento estrutural humano-psíquico-afetivo-social e ético, o arcabouço religioso não se sustenta (“a graça supõe a natureza”) e fica comprometida a liberdade verdadeira no seguimento ao projeto de Cristo na aposta vocacional. Não se trata, portanto de ausência de Deus, ou distanciamento dele.
Um modo de viver sacerdotal sem vínculo com o presbitério, sem comunhão, sem cuidado da saúde física, emocional, relacional e espiritual conduz para a morte. E isto tem se tornado o grande desafio para a nossa missão de Bispos Pastores enquanto cuidadores do rebanho, desde a formação inicial até a permanente. Gerar confiança e ajudar a curar os corações é um caminho que não se pode dar por descontado. Necessário também é evitar aquilo que precisa ser escondido.
Kant (citado pelo filósofo brasileiro Mário Cortella em uma de suas palestras em seu canal no Youtube, 20/02/2020), refletindo sobre ética e integridade, não querendo abolir a privacidade interior de ninguém, disse que tudo o que não se puder contar aos outros não se deve fazer. Porque daí começa ambiguidade da vida dupla (aquela com a qual eu me apresento a todos e aquela oposta e contraditória que só eu sei que vivo). Nosso eu, quando escondido, adoece fugindo do real. As satisfações criadas pelo imaginário distanciam-se da realidade, colocam a pessoa no mundo irreal e vão matando aos poucos.
Por um lado, ilumina-se o papel da Formação Sacerdotal e Religiosa como lugar da percepção dos indícios do adoecimento da pessoa, cujas manifestações já se anunciam nos jogos e artimanhas psicológicas de defesa e escondimento. A Formação precisa assumir, em parceria com os profissionais da área e outras instituições da saúde mental, a tarefa curadora de ressignificação das experiências existenciais, possíveis causas das depressões escondidas, pois, se jogadas para debaixo do tapete, está aberto o caminho para que, uma vez fora das paredes protetoras da Instituição, o futuro sacerdote ou religioso se perca sozinho no embate com o mundo real que é cruel e acaba por expor as fragilidades de um indivíduo.
Por outro lado, no cuidado da saúde relacional é preciso criar relações que edificam. Nunca se deve iniciar um relacionamento que não pode ser revelado aos outros. Relações mal direcionadas podem matar, sejam elas com pessoas, com as coisas, com os bens materiais, com o poder, com as ilusões imaginárias e até consigo mesmo.
Um sacerdote não terá boa saúde vocacional se deixar-se ser atraído por situações de pessoas maldosas que usam as redes sociais ou outros meios para viciar, extorquir, difamar e desconstruir um projeto vocacional que foi construído ao longo de muitos anos. Esses predadores estão especialmente escondidos nas redes sociais escolhendo vítimas e esperando a hora certa para as atacar. Muitas vezes quando se percebe já se caiu na armadilha. Nestas situações a impossibilidade de pagar o exigido, a dor e a vergonha aparecem e aumenta o risco de querer se esconder ainda mais, até mesmo eliminando a vida.
O problema do suicídio vem de longa data. O suicídio é a culminância de um processo de adoecimento que vai tornando a vida um peso intransponível para a pessoa que lida com suas dificuldades, esmagada pela impossibilidade de sair do sofrimento. Não é uma escolha racional livre e descontaminada. É a única forma viável dentro da lógica de um coração adoecido para abortar o sofrimento e, quem sabe, ser feliz, ainda que depois da morte.
Talvez não consigamos resolver o problema do suicídio de uma vez para sempre como gostaríamos, mas é preciso melhorar a baixa imunidade especialmente dos líderes espirituais e o remédio para essa melhoria é criar relações sadias consigo mesmo, com o presbitério, com a família, com as pessoas, com a Igreja e com Deus, através de um bom enfrentamento das próprias limitações e ilusionismos de falsas seguranças ainda no período da formação, o que deveria ser o papel da dimensão humano-afetiva da formação presbiteral e religiosa. Além do mais é preciso sair da mesquinhez que aprisiona e não deixa o sacerdócio crescer. Nossas pragas diárias, como as do Egito, são um grito para que deixemos nosso sacerdócio ir para servirmos ao Senhor. Moisés falava ao Faraó para deixar o povo ir. É preciso libertar-se das escravidões e deixar o sacerdócio ir, pois o caminho é longo. É preciso tomar consciência que se está escravo. Escravidão tem cura. Assim, livres e radiantes, será sempre prazeroso viver a vocação até mesmo no sofrimento por causa do Evangelho. Os riscos e problemas continuarão a existir, mas haverá um sentido para a vida que conduzirá para o crescimento. Todos serão beneficiados com essa luz que se acenderá.
A leveza da Cruz é encontrada no amor. Cristo encontrou a leveza de seu sofrimento confiando no Pai e na alegria da redenção. Ver a humanidade toda redimida lhe trouxe grande alegria. Podemos dizer que Ele viveu a alegria da Cruz. Encarnação e Redenção são mistérios que nos permitem equilibrar e desequilibrar entre passado e futuro. Dar passos é sempre correr o risco de se equilibrar e se desequilibrar. É seguir com os corações ardendo no presente enquanto se faz e ama o caminho que leva para o amanhã, mesmo que seja um caminho com muitas surpresas e obstáculos. Fonte: https://www.cnbb.org.br
NOTA DE FALECIMENTO DE UM SEMINARISTA DA DIOCESE DE LORENA/SP.
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COMUNICADO DA DIOCESE DE LORENA
Lamentamos profundamente este momento de dor em que nossa Diocese vive, após a Páscoa do nosso irmão Yorran. Ele estava em estágio pastoral na Diocese de Jardim/MS, um período proposto dentro da etapa de formação, após concluir o período do discipulado/filosofia.
Fomos surpreendidos com a triste notícia de seu falecimento, quando participávamos da 85° Assembleia dos bispos do Regional Sul 1 no Mosteiro de Itaici, na Cidade de Indaiatuba-SP.
Solidarizamo-nos de modo particular com sua mãe, a Sra. Maria Gorete e a todos os familiares e amigos próximos. Rogamos a Jesus, Bom Pastor e a sua Mãe, a Senhora da Piedade, que nos conforte e nos console neste momento de dor. "Eu sou a Ressureição e a Vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá!" (Jo 11, 25).
Em comunhão fraterna e preces,
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias,
Bispo Diocesano de Lorena.
Lorena, 01 de junho de 2023. Fonte: https://www.facebook.com/Domwladimir
Mensagem e notícias das mídias sociais sobre a morte:
Que dor terrível! Meu Deus ainda não consigo acreditar! Meu amigo Yorran você se foi de uma forma que só Deus sabe o porque. Mais o que eu sei é que você cumpriu com sua missão mesmo que tão curta, mais que você viveu intensamente. Sempre acreditei e rezei por você e por sua vocação.
Você sempre demonstrou isso na sua forma de ser e fazer as coisas, principalmente aquelas relacionadas a Deus e a Igreja. Você se entregou de corpo e alma pela Igreja. Foi um jovem de muita responsabilidade e personalidade. Por onde você passou só fez amizades e só procurou fazer o bem. Você não chegou a realizar o seu maior desejo aqui neste mundo que era o de ser padre, mais tenho certeza que mesmo como seminarista você fez e realizou muito mais em favor da Igreja e do povo de Deus.
Todas as pessoas que te conheceu e conviveu com você sabe o quanto amou a Igreja e o chamado que Deus lhe fez. Você fez a diferença no mundo e isso incomodou, causou inveja, perseguição... Com vocação e com vida humana não se brinca. Como alguém que reza e trabalha pelas vocações estou muito triste e inconformado.
Não tenho mais palavras para expressar meus sentimentos de dor e desolação. Peço a Deus, a Nossa Senhora e a São José que me de forças e que que possa consolar meu coração, o coração de sua mãe e de todos os seus amigos e familiares nesse momento tão difícil. Deus te dê o descanso eterno e interceda por nós meu eterno amigo!
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Prestamos aqui nossa solidariedade a família e amigos do Seminarista Yorran Moreira, da Diocese de Lorena, que foi encontrado sem vida em sua casa em Cachoeira Paulista .
Yorran estava cursando teologia , se preparando para ser Padre Católico.
Procuramos o assessor de comunicação da diocese, mas não conseguimos contato. A diocese de Lorena ainda não se pronunciou.
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Hoje o dia amanheceu triste, ainda não estou acreditando, vou guardar de você, momentos lindos em que ia em sua casa e você criança abrindo a porta pra mim todo sorridente e guardar também esses últimos momentos que estivemos juntos na igreja, você deixará saudades Yiorran, está com Deus agora
JUNHO: MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
O mês de junho é um período especial para a Igreja, pois é dedicado de maneira particular ao Sagrado Coração de Jesus. É um momento de profunda devoção, reflexão e renovação espiritual, no qual somos convidados a contemplar o amor infinito de Jesus Cristo por cada um de nós. No dia 24 de junho, celebraremos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
É uma tradição nas paróquias reunirmo-nos toda primeira sexta-feira de cada mês para recordar e venerar o Sagrado Coração de Jesus. Durante esses encontros, o grupo do Apostolado da Oração se reúne para um momento de profunda Adoração Eucarística, seguido pela celebração da Santa Missa, onde rendemos graças ao amor inesgotável do Sagrado Coração de Jesus. É um tempo especial de reflexão, oração e renovação da nossa devoção ao nosso amado Salvador.
O Sagrado Coração de Jesus representa o amor misericordioso e compassivo de nosso Salvador. É um símbolo do amor divino que arde em seu coração, transbordando graça e salvação para toda a humanidade. É um convite para nos aproximarmos desse amor incondicional e permitirmos que ele transforme nossas vidas.
Ao meditarmos sobre o Sagrado Coração de Jesus, somos chamados a refletir sobre alguns aspectos essenciais de nossa fé.
Primeiramente, o Sagrado Coração nos recorda o sacrifício supremo de Jesus na cruz. Ele entregou sua vida por nós, oferecendo-se como um sacrifício perfeito para a remissão dos nossos pecados. Esse gesto de amor e redenção é um testemunho da profundidade do amor de Deus por nós e nos convida a responder a esse amor com gratidão e conversão.
Em segundo lugar, o Sagrado Coração de Jesus nos ensina sobre a misericórdia divina. Jesus, em seu coração compassivo, acolhe a todos, independentemente de seus erros, falhas ou pecados. Ele está sempre disposto a perdoar, curar e restaurar aqueles que se aproximam dele com um coração contrito. Essa misericórdia inesgotável nos convida a buscar o perdão e a reconciliação em nossas vidas, bem como a estender o mesmo amor misericordioso aos outros.
Além disso, o Sagrado Coração de Jesus nos convida a responder a esse amor com generosidade e serviço aos outros. Ao contemplar o Coração de Jesus, somos inspirados a imitar suas virtudes, como a humildade, a compaixão e a caridade. O Sagrado Coração nos chama a amar e servir nossos irmãos e irmãs, especialmente, os mais necessitados e marginalizados da sociedade.
Durante o mês de junho, podemos cultivar uma devoção especial ao Sagrado Coração de Jesus, por meio de várias práticas espirituais. A participação na Santa Missa, a adoração ao Santíssimo Sacramento e a recitação das orações tradicionais, como a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus, são maneiras de nos aproximar dessa devoção e mergulhar na graça abundante que emana do coração de Cristo.
Neste mês, convido a todos a abrir seus corações ao amor de Jesus, a se deixar transformar por sua misericórdia e a responder com generosidade aos apelos de seu Sagrado Coração. Que possamos renovar nosso compromisso de seguir a Cristo, de ser seus discípulos autênticos e de compartilhar seu amor com o mundo.
Que o mês do Sagrado Coração de Jesus seja um tempo de encontro pessoal com o amor divino, de conversão e de crescimento espiritual. Que a chama desse amor arda em nossos corações e nos inspire a viver uma vida de santidade e serviço, sempre guiados pelo exemplo do Sagrado Coração de Jesus.
Saudações em Cristo! Fonte: https://www.cnbb.org.br
JUNHO – MÊS DEDICADO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O mês de junho é um mês especial para a Igreja, do mesmo modo que o mês de maio. No mês de junho, além de ser dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, que terá a solenidade no dia 16, celebraremos Corpus Christi, no dia 8, e, ainda, o dia do Imaculado Coração de Maria. Além de outros santos populares desse mês como Santo Antônio, São Pedro e São Paulo e São João Batista. Com isso, no mês de junho, acontecem as tradicionais festas juninas, por isso, é um mês especial para a Igreja e para todos nós.
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus é uma data móvel, ou seja, nem sempre ocorre no dia 16 de junho, mas sim na segunda sexta-feira, após a solenidade de Corpus Christi. A solenidade do Sagrado Coração de Jesus é uma das três solenidades do Tempo Comum. De certa maneira, uma está ligada à outra, ou até mesmo uma complementa a outra, pois o Sagrado Coração de Jesus brota do amor do Pai, a Santíssima Trindade é plena comunhão de amor, e a Solenidade de Corpus Christi é Jesus feito carne que vem a nós, que em total prova de amor se entregou por nós na Cruz.
Durante esse mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, intensifiquemos as nossas orações pelo clero, diáconos, padres e bispos, para que sejam bons servidores do evangelho e busquem a santidade segundo o coração de Jesus. Normalmente, as primeiras sextas-feiras de cada mês ao longo do ano são dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus, quando acontece a adoração ao Santíssimo Sacramento e celebração da Santa Missa. O movimento do Apostolado da Oração se reúne e realiza a Hora Santa, rezando por todo o clero. Por isso, ao longo de todo esse mês de junho, somos convidados a pedir ao Sagrado Coração de Jesus por todo o clero e que todos os padres perseverem em seu chamado e possam amar os fiéis a eles confiados, do mesmo modo que Jesus amou. Dedicamos nesse dia a nossa oração pela santificação do clero.
No dia dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, somos convidados a preparar em nossa paróquia a Hora Santa e, logo após, a celebração Eucarística. Podemos realizar uma hora santa vocacional pedindo ao Sagrado Coração de Jesus que não faltem sacerdotes para levarem adiante a mensagem de salvação e rezar pela perseverança daqueles que abraçaram a vocação. Quem é do Apostolado da Oração tem uma grande missão, rezar pela Igreja e pedir a Jesus que sopre o “vento” novo do Espírito Santo em toda a Igreja para que ela se renove a cada dia. Em toda comunidade, deve haver o grupo do Apostolado da Oração, pois ele fortalece a comunidade, além de rezar por todos. Seria interessante também a cada ano aumentar os membros do Apostolado. Quem é membro do Apostolado da Oração é também discípulo e missionário de Jesus e tem a missão, sobretudo, de conseguir novos membros para o movimento.
Da ferida aberta pela lança do soldado, jorram sangue e água e esse sangue e água brotam para a vida eterna. Em cada Eucaristia, celebramos o mistério da paixão e morte de Jesus e esse sangue se torna alimento que nos garante a vida eterna. Esse sangue e essa água saem do lado esquerdo de Jesus, lado do coração, lado do amor, que Ele nutria por cada um de nós, por isso somos chamados a amar o próximo do mesmo modo que Ele nos amou. Façamos do nosso coração um espaço sagrado também, onde só entrem coisas boas e transmitamos do mesmo modo tudo de bom aos outros.
O dia do Sagrado Coração de Jesus deve consistir no louvor ao amor íntimo de Jesus pelos homens, na adoração ao coração que mais ama. A partir do coração de Jesus, se abrem as portas do céu e a partir desse coração, nasceu a Igreja primitiva. Esta devoção teria sido pedida pelo próprio Jesus Cristo, por intermédio de aparições à Santa Margarida Maria Alacoque, em meados do século XVII.
Além do Apostolado da Oração que deve ser acompanhado e incentivado, temos também, nessa mesma espiritualidade o grupo do “Movimento Eucarístico Jovem” (MEJ) que está se expandindo cada vez mais. Procure o seu pároco, converse com ele e veja a possibilidade de implementar ou incentivar mais esses movimentos e, no futuro, os jovens do MEJ podem se tornar membros do Apostolado da Oração, e dessa forma terá uma continuidade, assim como outros movimentos e pastorais da Igreja. As pastorais precisam ter continuidade e a Igreja precisa continuar a missão dada por Jesus.
No dia da solenidade do Sagrado Coração de Jesus é propício para renovar os votos daqueles que já fazem parte do Apostolado da Oração e do MEJ e realizar o envio dos novos membros. Na verdade, aqueles que fazem parte do Apostolado da Oração e do MEJ, recebem uma missão, que é rezar pela Igreja e pelos presbitérios e religiosos.
O mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus é uma oportunidade de aprofundarmos a nossa fé para que o amor de Jesus que brota do seu coração inunde a Igreja e toda a terra. A humanidade está precisando de mais amor e menos guerra, e somente conseguiremos a paz se nos prostrarmos em oração diante do Sagrado Coração de Jesus, pois somente por meio da oração conseguiremos a paz e alcançaremos as graças que queremos.
No dia do Sagrado Coração de Jesus é dia de oração mundial pela santificação do clero. Rezemos para que todos os padres tenham o coração semelhante ao coração de Jesus. Que possamos “amar como Jesus amou”. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Campanha de vacinação contra gripe é prorrogada no Rio, com apenas 20% da população vacinada
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Todas as pessoas a partir de seis meses de idade podem se vacinar até o final do inverno
Por Mayra Castro* — Rio de Janeiro
Vacinação contra a gripe drive thru nos postos do Detran. Na foto, o posto do Detran da Rua Haddock Lobo, na Tijuca. Márcia Foletto / Agência O Globo
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) prorrogou a campanha de vacinação contra a influenza na cidade do Rio, que terminaria na quarta-feira, dia 31. O foco também é alcançar os grupos prioritários, mais vulneráveis às doenças respiratórias comuns no inverno, além de ampliar a cobertura da população, já que apenas 20% foram vacinados, longe da meta de 90%. A vacina, que pode ser tomada por qualquer pessoa com seis meses ou mais, previne contra os casos graves e complicações resultantes da gripe, principalmente em crianças e idosos. Com o prazo ampliado, o imunizante pode ser aplicado até o fim do inverno.
De acordo com dados da secretaria, foram mais de 1,3 milhão de doses aplicadas, mas a meta de alcançar 90% do público-alvo não foi batida, com apenas 36%. Os grupos prioritários incluem idosos, trabalhadores de saúde, gestantes, puérperas, crianças e trabalhadores de educação. Desde 2021, há uma queda na vacinação contra a gripe nesses grupos.
A faixa etária que mais se imunizou foi entre 50 e 59 anos, ao passo em que o menor número foi de 6 meses a 2 anos de idade. O grupo mais vacinado foi o de idosos, com mais de 500 mil doses aplicadas, seguido da população geral e de pessoas com comorbidades, enquanto o grupo menos alcançado foi de indígenas.
A vacina está disponível em todas as clínicas da família, centros municipais de saúde e no Super Centro Carioca da Vacinação.
*Mayra Castro sob supervisão de Carolina Heringer Fonte: https://oglobo.globo.com
A ORAÇÃO NO CARMELO: Variedade da oração
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Falando das várias formas de oração, podemos distinguir a oração pública ou litúrgica e a oração particular. Considerada na sua ‘expressão’, a oração pode ser mental ou vocal.
A oração litúrgica
Esta foi sempre reconhecida como a oração por excelência, a ação sagrada da Igreja unida à História Sagrada. É na ação litúrgica que a Palavra de Deus está presente em todo o seu mistério de força criadora, redentora, santificadora. Esta é a fé.
Na ação litúrgica se anuncia constantemente o retorno de Cristo e a realização de todas as promessas. Esta é a esperança.
Finalmente, na liturgia o mistério do amor de Jesus está presente no Sacrifício eucarístico. Eis a caridade.[1]
A colaboração da Igreja em Cristo se dá nas três grandes ações litúrgicas: a Santa Missa, a administração dos Sacramentos, a recitação da Liturgia das Horas.
Todo cristão é chamado a participar destas distintas ações litúrgicas para dar à sua oração não apenas um caráter privado, mas também uma dimensão social, comunitária, eclesial, que dará frutos na medida do empenho pessoal.[2]
A oração individual
Para que a participação na ação litúrgica da Igreja dê frutos, é necessário uma intervenção "pessoal", uma verdadeira atividade humana que nos permita descobrir o sentido das ações litúrgicas e que nos faça tirar delas o melhor fruto possível.
A Igreja insiste na importância das práticas pessoais ‘de piedade’, como a oração da manhã e da tarde, a oração do Terço, etc.[3]
A oração verbal e mental
“Não é necessário entender essa distinção como se existisse diferença absoluta e essencial entre as duas..., mas no sentido de que o ser humano pode se dedicar a Deus e às verdades divinas somente com a mente, em perfeito silêncio..., mas pode também expressar seus conceitos e sentimentos com palavras. Para que sua vida espiritual seja perfeita, o ser humano necessita das duas formas de oração”.[4]
Santa Teresa explica melhor quando diz que a oração não é verbal ou mental pelo fato da boca estar aberta ou fechada, pois a oração mental também pode terminar em um diálogo. Por isso seria melhor dizer que a oração vocal é aquela que se faz usando uma fórmula pré-estabelecida, enquanto que a mental é aquela que se faz espontaneamente, expressando sentimentos que brotam do coração.[5]
A mais bela de todas as orações verbais é o Pai Nosso, que brotou da ternura do coração do Senhor. “Algumas vezes, quando meu espírito se encontra numa aridez tão grande que é impossível fazer um pensamento para unir-me ao bom Deus, rezo lentamente um Pai Nosso e depois a saudação do Angelus. Estas orações me arrebatam, nutrem a minha alma bem mais que se as tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes”.[6]
Brenninger nos diz que o valor e a eficácia da oração verbal depende, antes de tudo, da devoção interior. Mas se pode aumentar:
- da origem da oração: o Pai Nosso que nos foi ensinado por Jesus supera em eficiência e em dignidade todas as outras;
- da santidade daquele que reza: quanto mais santidade possui a alma, tanto mais seu louvor e sua súplica são preciosos aos olhos de Deus;
- da companhia dos outros: o Senhor disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20).[7]
Oração mental é aquela que se faz espontaneamente, que não se prende a fórmulas pré-estabelecidas. É uma oração mais pessoal, na qual transparecem mais as características, as tendências, as necessidades da pessoa. Santa Teresa insiste no caráter afetivo desta oração. Ela afirma que o que deve guiar a razão é que a alma perceba o amor de Deus e responda a este amor falando intimamente com Ele.[8]
Podemos praticar mais a oração mental durante as ocupações cotidianas, o que coincide mais ou menos, com o exercício da “presença de Deus” (veja na pg. ).
Este exercício da "presença de Deus" é fundamental, porque é ele que mantém a alma conscientemente unida a Deus. Este exercício é, ao mesmo tempo, recolhimento interior e ruptura com as coisas do mundo que nos distraem. A presença de Deus constitui na essência de toda verdadeira oração: é a própria oração difundida por toda vida e virtualmente operante em toda ela.[9]
A oração contemplativa
Os místicos nos ensinam que nesta etapa da vida de oração, o cristão é inteiramente transformado no amor de Deus que habita nele. Os sentidos, a mente, todas as aptidões foram purificadas pelo fogo do amor.
Todas as coisas revelam, na sua transparência, a presença divina.
O preço da contemplação é a noite escura dos sentidos e do espírito. Somos transformados em Deus. Agora não oramos mais, mas toda a nossa vida é um ato de oração, é sacramento da ação de Deus na história humana.
A luz da sua palavra penetra em nós sem encontrar resistência. Mesmo empenhados na complexidade dos nossos serviços pastorais, não conseguimos viver se não para amar, por amor e no amor. Tudo é dom de Deus.[10]
A oração como vida[11]
Todo movimento em direção a Deus – aspiração, murmúrio, desejo, alegria, hesitação – é sempre uma oração. A oração é antes de tudo tarefa do coração: consiste no querer sempre, e acima de tudo, a vontade de Deus. O verdadeiro caminho da oração é a vida. Uma oração contínua é uma vida inteiramente voltada ao serviço de Deus.
É o amor que dá consistência e unidade à vida. Ação e contemplação não são mais que dois momentos de um mesmo e único amor.
“Jesus, que minha vida seja uma oração contínua; que nada possa distrair-me de ti: nem minhas ocupações, nem minhas alegrias, nem meus sofrimentos... que Isabel desapareça e permaneça apenas Jesus”.[12]
A oração é contínua quando o amor é contínuo. O amor é contínuo quando é único e total. Entendida desta maneira, a oração é sempre possível em qualquer circunstância e em meio a qualquer ocupação. Para um cristão que ama verdadeiramente o Senhor, seria impossível interrompê-la, como seria impossível interromper a respiração. E assim, se compreende como todos, também aqueles que vivem entre os afazeres do mundo, podem cumprir a palavra do Evangelho: “Precisamos rezar sempre”.
O cristão não reza somente quando se dirige a Deus direta e imediatamente com suas práticas devocionais. Mas toda vez que pratica o bem por amor a Deus, não importando suas obrigações, em qualquer obra de apostolado, de caridade, de penitência, de humildade e de serviço oculto.
Vista assim, a oração não se apresenta mais como uma fórmula exterior, uma ação à margem da vida, nem sobreposta a ela, nem como um ato intermitente, mas se revela como o hábito mais necessário da pessoa. Quando o Senhor convidava os apóstolos a orar incessantemente, já dava uma clara indicação a respeito da natureza da oração, cuja essência, para um cristão, se identifica com a própria essência da vida.
Quando a vida é um canto de amor, nossa oração nunca termina.[13]
“A vida do Carmelo é uma união perene com Deus, desde a manhã até a noite e da noite até a manhã. Se não fosse Ele a encher nossas celas e nossos claustros, como tudo seria vazio!”[14]
[1] CALATI B., Il metodo monastico della preghiera, in ANCILLI E. op.cit., V. 1°, pg. 245-249.
[2] AA.VV., La preghiera liturgica, Teresianum Roma 1964.
[3] ANCILLI E., op. cit. 1°v., pg. 31-32.
[4] BRENNINGER G., Dottrina spirituale del Carmelo, Roma 1952, pg. 646.
[5] S. Teresa de Jesus., Opere, C. 22,24,25; M. I, 1,7.
[6] S. Teresa do Menino Jesus, Gli Scritti, n.318.
[7] BRENNINGER E. op.cit., v.1°, pg. 34.
[8] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 33-34.
[9] ANCILLI E., op. cit., v.1°, pg. 34.
[10] FREI BETTO, La preghiera nell’azione, EDB 1977, pg. 66-68.
[11] ANCILLI E. op.cit., v.1°, pg. 34-35. Também VALABEK R. M. Sarete raggianti, Roma 1993, pg. 31-33: FREI BETTO, op.cit., pg. 20-29.
[12] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L.45.
[13] ANCILLI E., op.cit. v.1°, pg. 35.
[14] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITÁ, Scritti, L. 179.
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