O ser erótico de Jesus
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"Contemplar a força erótica de Jesus, a partir de uma ótica universal, nos faz pensar onde hoje ele se encontra. Se uma das dimensões do Eros é a atração pelos corpos, temos que aceitar que no caso de Jesus os corpos que o atraíam eram os pobres, os famintos, os prisioneiros, os publicanos, as viúvas, os leprosos, os cegos, os coxos", escreve Ademir Guedes Azevedo, padre, missionário passionista e mestrando em teologia fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.
Eis o artigo.
Já escrevi em outros artigos sobre a energia erótica. Trata-se de uma força espetacular que cada um possui. O Eros não pode ser reduzido à ideia de desejo carnal. É o impulso vital de estar com outra parte que nos complete e nos traga sentido para viver. É o antídoto para a depressão, para o vírus da autorreferência que a atual sociedade do cansaço gerou. Mas não é apenas isso.
A tradição filosófica de matriz grega ensinou que o Eros está diretamente ligado à instrumentalização do outro para a satisfação do desejo sexual. Por outro lado, a tradição judaica sublinha o encontro de duas partes opostas (homem e mulher) que se completam. No relato da criação, Deus viu que algo estava faltando: criou uma companheira para o homem. Assim, ambos passaram a se desejar de tal forma que seria absurdo um viver sem o outro. Eles se completam pelo Eros que Deus pôs dentro de cada um deles. Desde então, são destinados a se desejarem para sempre.
Porém, para o cristianismo o Eros não é nem a satisfação do desejo sexual (mundo grego) nem para completar as partes opostas (mundo judaico). Isto só entendemos a partir do modo de agir de Jesus, o qual inaugura outra perspectiva. Ele purifica o Eros de todo interesse de instrumentalização do corpo humano a partir da compaixão. Veja-se aqui o caso do bom samaritano: ele enfaixa as feridas e cuida do corpo do outro com óleo. Com Jesus, o corpo do outro é para ser cuidado, é um fim em si mesmo, nunca um meio para alcançar um simples prazer sexual, como faziam os gregos em seus famosos banquetes. A energia erótica de Jesus o conduz rumo a uma alteridade universal. Ele se encontra com homens, mulheres, judeus, pagãos, gentios, pecadores, enfim toda a humanidade. Falar do ser erótico de Jesus significa contemplarmos um coração universal, onde há espaço para todos. O Ágape (a cruz), contudo, é a concretização do impulso erótico de Jesus de Nazaré.
O aspecto erótico que vemos em Jesus vai muito mais além do que estamos habituados a pensar. O seu grande desejo incontrolável, ou seja, aquilo que ele pensava dia e noite sem conseguir desapegar-se e que foi sua única paixão; ou então, para usar uma expressão conhecida, “o seu primeiro amor” foi absolutamente este: O Reino de Deus que seria instaurado unicamente no fazer e viver a vontade do seu Pai do céu. Jesus era fissurado, louco, apaixonado, gamado exclusivamente nisso. Para Ele, toda a sua existência, desejos e amor maior era trabalhar para isso. Em uma passagem do Evangelho, vemos como Ele se apresenta possuído por sua energia erótica, ao afirmar: “Eu vim para trazer fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse em chamas!” (Lc 12, 49). Esse fogo é o Reino de Deus, o projeto libertador inédito, que não se confundia com nenhuma forma de império até então existente.
O Eros que Jesus traz em seu ser é um divisor de águas. Se para os gregos, sempre o corpo do outro era usado para o prazer sexual, critério decisivo no assim chamado inebriamento divino, Jesus ao contrário usa o seu Eros para dar o próprio corpo para a salvação de todos. Sua energia erótica ultrapassa qualquer interesse pessoal.
Contemplar a força erótica de Jesus, a partir de uma ótica universal, nos faz pensar onde hoje ele se encontra. Se uma das dimensões do Eros é a atração pelos corpos, temos que aceitar que no caso de Jesus os corpos que o atraíam eram os pobres, os famintos, os prisioneiros, os publicanos, as viúvas, os leprosos, os cegos, os coxos. Foram estes os corpos que ele mesmo quis desejar de modo preferencial. O ser erótico de Jesus o fez mover-se para a compaixão com essas categorias sempre abandonadas por sua sociedade. Para irmos mais a fundo, era o Espírito Santo que nutria o Eros de Jesus. A partir daqui podemos entender melhor o programa de vida dele, narrado por Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4,18).
O que temos que aprender é que não existe ágape sem Eros, uma vez que este é o desejo incontrolável para servir e ser solidário. Você já refletiu sobre o poder de sua energia erótica? Como você a usa? Que tal aprender a usá-la a partir de Jesus de Nazaré? O mundo seria bem melhor, sem dúvidas! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
1ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO -A. Sexta-feira, 17 de janeiro-2020. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 2, 1-12)
1Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. 2E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. 3Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. 4Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. 5Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: "Filho, os teus pecados estão perdoados". 6Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: 7"Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus". 8Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: "Por que pensais assim em vossos corações? 9O que é mais fácil: dizer ao paralítico: 'os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, pega a tua cama e anda'? 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados disse ele ao paralítico: 11eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!" 12O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: "Nunca vimos uma coisa assim". - Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Em Mc 1,1-15, Marcos mostrou como a Boa Nova de Deus deve ser preparada e divulgada. Em Mc 1,16-45, mostrou qual o objetivo da Boa Nova e qual a missão da comunidade. Agora, em Mc 2,1 a 3,6, aparece o efeito do anúncio da Boa Nova. Uma comunidade fiel ao evangelho vive valores que contrastam com os interesses da sociedade envolvente. Por isso, um dos efeitos do anúncio da Boa Nova é o conflito com aqueles que defendem os interesses da sociedade. Marcos recolhe cinco conflitos que o anúncio da Boa Nova de Deus trouxe para Jesus.
Nos anos 70, época em que ele escreve o seu evangelho, havia muitos conflitos na vida das comunidades, mas elas nem sempre sabiam como comportar-se diante das acusações que vinham da parte das autoridades romanas e dos líderes judeus. Este conjunto de cinco conflitos de Mc 2,1 a 3,6 servia como uma espécie de cartilha para orientar as comunidades, tanto as de ontem como de hoje. Pois o conflito não é um acidente de percurso, mas sim parte integrante da caminhada.
Eis os esquema dos cincos conflitos que Marcos conservou no seu evangelho:
TEXTOS |
ADVERSÁRIOS DE JESUS |
CAUSA DO CONFLITO |
1º conflito: Mc 2,1-12 2º conflito: Mc 2,13-17 3º conflito: Mc 2,18-22 4º conflito: Mc 2,23-28 5º conflito: Mc 3,1-6 |
Escribas escribas dos fariseus discípulos de João e fariseus fariseus fariseus e herodianos |
perdão dos pecados comer com pecadores prática do jejum observância do sábado cura em dia de sábado |
A solidariedade dos amigos consegue o perdão dos pecados para o paralítico. Jesus está de volta em Cafarnaum. Juntou muita gente na porta da casa. Ele acolhe a todos e começa a ensinar. Ensinar, falar de Deus, era o que Jesus mais fazia. Chega um paralítico, carregado por quatro pessoas. Jesus é a única esperança deles. Eles não hesitam em subir no telhado e tirar as telhas. Deve ter sido uma casa pobre, barraco coberto de folhas. Eles descem o homem em frente a Jesus. Jesus, vendo a fé deles, diz ao paralítico: Teus pecados estão perdoados! Naquele tempo, o povo achava que defeitos físicos (paralítico) fossem castigo de Deus por algum pecado. Os doutores ensinavam que tal pessoa ficava impura e tornava-se incapaz de aproximar-se de Deus. Por isso, os doentes, os pobres, os paralíticos, sentiam-se rejeitados por Deus! Mas Jesus não pensava assim. Aquela fé tão grande era um sinal evidente de que o paralítico estava sendo acolhido por Deus. Por isso, ele declarou: Teus pecados estão perdoados! Ou seja: “Você não está afastado de Deus!” Com esta afirmação Jesus negou que a paralisia fosse um castigo pelo pecado do homem.
Jesus é acusado de blasfêmia pelos donos do poder. A afirmação de Jesus era contrária ao catecismo da época. Não combinava com a ideia que eles tinham de Deus. Por isso, reagem e acusam Jesus: Ele blasfema! Para eles, só Deus podia perdoar os pecados. E só o sacerdote podia declarar alguém perdoado e purificado. Como é que Jesus, homem sem estudo, leigo, simples carpinteiro, podia declarar as pessoas perdoadas e purificadas dos pecados? E havia ainda um outro motivo que os levava a criticar Jesus. Eles devem ter pensado: “Se for verdade o que esse Jesus está falando, nós vamos perder nosso poder! Vamos perder também nossa fonte de renda”.
Curando, Jesus prova que ele tem poder de perdoar os pecados. Jesus percebeu a crítica. Por isso, pergunta: O que é mais fácil dizer: ‘Teus pecados estão perdoados!’ ou: ‘Levanta-te e anda!’? É muito mais fácil dizer: “Teus pecados estão perdoados”. Pois ninguém pode verificar se de fato o pecado foi ou não foi perdoado. Mas se digo: “Levanta-te e anda!”, aí todos podem verificar se tenho ou não esse poder de curar. Por isso, para mostrar que tinha o poder de perdoar os pecados em nome de Deus, Jesus disse ao paralítico: Levanta-te, toma teu leito e vá para casa! Curou o homem! Assim através de um milagre provou que a paralisia do homem não era um castigo de Deus, e mostrou que a fé dos pobres é uma prova de que Deus os acolhe no seu amor.
A mensagem do milagre e a reação do povo. O paralítico se levanta, pega seu leito, começa a andar, e todos dizem: Nunca vimos coisa igual! Este milagre revelou três coisas muito importantes: 1) As doenças das pessoas não são castigo pelos pecados. 2) Jesus abre um novo caminho para chegar até Deus. Aquilo que o sistema chamava de impureza já não era empecilho para as pessoas se aproximarem de Deus. 3) O rosto de Deus revelado através da atitude de Jesus era diferente do rosto severo do Deus revelado pela atitude dos doutores.
Isto lembra a fala de um drogado que se recuperou e agora participa de uma comunidade em Curitiba, Brasil. Ele disse: “Fui criado na religião católica. Deixei de participar. Meus pais eram muito praticantes e queriam que nós, os filhos, fôssemos como eles. A gente era obrigada a ir à igreja sempre, todos os domingos e festas. E quando não ia, eles diziam: "Deus castiga!” Eu ia a contragosto, e quando fiquei adulto, fui deixando aos poucos. Eu não gostava do Deus dos meus pais. Não conseguia entender como Deus, criador do mundo, ficasse em cima de mim, menino da roça, ameaçando com castigo e inferno. Eu gostava mais do Deus do meu tio que não pisava na igreja mas que, todos os dias, sem falta, comprava o dobro de pão, de que ele mesmo precisava, para dar para os pobres!"
4) Para um confronto pessoal
1) Você gostou do Deus do tio ou do Deus dos pais daquele ex-drogado?
2) Qual o rosto de Deus que transparece para os outros através do meu comportamento?
5) Oração final
O que nós ouvimos, o que aprendemos, o que nossos pais nos contaram não ocultaremos a seus filhos; mas vamos contar à geração seguinte as glórias do SENHOR, o seu poder e os prodígios que operou. (Sl 77, 3-4)
1ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO -A. Quinta-feira, 16 de janeiro-2020. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 1, 40-45)
Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: "Se queres tens o poder de curar-me". 41Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: "Eu quero: fica curado!" 42No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. 43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando com firmeza: "Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!" 45Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Acolhendo e curando o leproso Jesus revela um novo rosto de Deus. Um leproso chegou perto de Jesus. Era um excluído, impuro. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele grita: Se queres, podes curar-me! Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta você querer para eu ficar curado!” A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu te acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado! O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocasse num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.
Reintegrar os excluídos na convivência fraterna. Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver novamente. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico. Jesus obrigou o leproso a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.
O leproso anuncia o bem que Jesus fez a ele, e Jesus se torna um excluído. Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por que? É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião pública daquele tempo, Jesus, ele mesmo, era agora um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!
Resumindo. Tanto nos anos 70, época em que Marcos escreve, como hoje, época em que nós vivemos, era e continua sendo importante ter diante de nós modelos de como viver e anunciar a Boa Nova de Deus e de como avaliar a nossa missão. Nos versículos 16 a 45 do primeiro capítulo do seu evangelho, Marcos descreve a missão da comunidade e apresenta oito critérios para as comunidades do seu tempo poderem avaliar a sua missão. Eis o esquema:
TEXTO |
ATIVIDADE DE JESUS |
OBJETIVO DA MISSÃO |
1. Marcos 1,16-20 |
Jesus chama os primeiros discípulos |
formar comunidade |
2. Marcos 1,21-22 |
o povo fica admirado com o ensino |
criar consciência crítica |
3. Marcos 1,23-28 |
Jesus expulsa um demônio |
combater o poder do mal |
4. Marcos 1,29-31 |
a cura da sogra de Pedro |
restaurar a vida para o serviço |
5. Marcos 1,32-34 |
a cura de doentes e endemoninhados |
acolher os marginalizados |
6. Marcos 1,35 |
Jesus levanta cedo para rezar |
ficar unido ao Pai |
7. Marcos 1,36-39 |
Jesus segue em frente no anúncio |
não se fechar nos resultados |
8. Marcos 1,40-45 |
a cura um leproso |
reintegrar os excluídos |
4) Para um confronto pessoal
1) Anunciar a Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. Qual o testemunho que você dá?
2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isto traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus. Já tive esta coragem?
5) Oração final
Vinde, prostrados adoremos, de joelhos diante do Senhor que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós o povo sob seu governo, o rebanho que ele conduz. (Sl 94, 6-7)
1ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO -A. Quarta-feira, 15 de janeiro-2020. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 1, 29-39)
Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. 31E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los.
32À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. 33A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era.
35De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37Quando o encontraram, disseram: "Todos estão te procurando". 38Jesus respondeu: "Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim". 39E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios. - Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Jesus restaura a vida para o serviço. Depois de participar da celebração do sábado na sinagoga, Jesus entrou na casa de Pedro e curou a sogra dele. A cura fez com ela se colocasse de pé e, com a saúde e a dignidade recuperadas, começasse a servir as pessoas. Jesus não só cura a pessoa, mas cura para que a pessoa se coloque a serviço da vida.
Jesus acolhe os marginalizados. Ao cair da tarde, terminado o sábado na hora do aparecimento da primeira estrela no céu, Jesus acolhe e cura os doentes e os possessos que o povo tinha trazido. Os doentes e possessos eram as pessoas mais marginalizadas naquela época. Elas não tinham a quem recorrer. Ficavam entregues à caridade pública. Além disso, a religião as considerava impuras. Elas não podiam participar na comunidade. Era como se Deus as rejeitasse e as excluísse. Jesus as acolhe. Assim, aparece em que consiste a Boa Nova de Deus e o que ela quer atingir na vida da gente: acolher os marginalizados e os excluídos, e reintegrá-los na convivência da comunidade.
Permanecer unido ao Pai pela oração. Jesus aparece rezando. Ele faz um esforço muito grande para ter o tempo e o ambiente apropriado para rezar. Levantou mais cedo que os outros e foi para um lugar deserto, para poder estar a sós com Deus. Muitas vezes, os evangelhos nos falam da oração de Jesus no silêncio (Mt 14,22-23; Mc 1,35; Lc 5,15-16; 3,21-22). É através da oração que ele mantém viva em si a consciência da sua missão.
Manter viva a consciência da missão e não se fechar no resultado já obtido. Jesus se tornou conhecido. Todos iam atrás dele. Esta publicidade agradou aos discípulos. Eles vão em busca de Jesus para levá-lo de volta junto do povo que o procurava, e lhe dizem: Todos te procuram. Pensavam que Jesus fosse atender ao convite. Engano deles! Jesus não atendeu e disse: Vamos para outros lugares. Foi para isto que eu vim! Eles devem ter estranhado! Jesus não era como eles o imaginavam. Jesus tem uma consciência muito clara da sua missão e quer transmiti-la aos discípulos. Não quer que eles se fechem no resultado já obtido. Não devem olhar para trás. Como Jesus, devem manter bem viva a consciência da sua missão. É a missão recebida do Pai que deve orientá-los na tomada das decisões.
Foi para isto que eu vim! Este foi o primeiro mal-entendido entre Jesus e os discípulos. Por ora, é apenas uma pequena divergência. Mais adiante no evangelho de Marcos, este mal-entendido, apesar das muitas advertências de Jesus, vai crescer e chegar a uma quase ruptura entre Jesus e os discípulos (cf. Mc 8,14-21.32-33; 9,32;14,27). Hoje também existem mal-entendidos sobre o rumo do anúncio da Boa Nova. Marcos ajuda a prestar atenção nas divergências, para não permitir que elas cresçam até à ruptura.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus não veio para ser servido mas para servir. A sogra de Pedro começou a servir. E eu, faço da minha vida um serviço a Deus e aos irmãos e às irmãs?
2) Jesus mantinha a consciência da sua missão através da oração. E a minha oração?
5) Oração final
Povos todos, louvai o SENHOR, nações todas, dai-lhe glória; porque forte é seu amor para conosco e a fidelidade do SENHOR dura para sempre. (Sl 116)
Evangélicos podem desbancar católicos no Brasil em pouco mais de uma década
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Pesquisador do IBGE projeta que já em 2022 seguidores do papa devem ser menos de 50% da população
Quando se diz "uma carola que virou crente", a ambulante Maria Aparecida dos Santos, 43, não deixa de ser uma boa metáfora para o Brasil.
Assim como essa ex-"tiete do João Paulo 2º" (na definição da própria) que há 15 anos migrou para a Assembleia de Deus, o país vive há três décadas uma transição religiosa que poderá, em 12 anos, destronar o catolicismo —os tais "carolas"— como a maior fé nacional.
Após cinco séculos de predomínio da Santa Sé, vem aí a era da maioria evangélica —os "crentes". A previsão é de José Eustáquio Alves, doutor e pesquisador em demografia.
Entre 1991 e 2010, os católicos caíam 1% ao ano, e os evangélicos cresciam 0,7%. Segundo Alves, são várias as indicações de que a queda do primeiro grupo passou para 1,2% nos últimos anos, a e a subida do segundo, para 0,8%. Se aplicar estas taxas num modelo de projeção geométrica, diz o demógrafo, chegamos a essa projeção.
De 2010 para cá, o tropeço seria ainda maior. Hoje, católicos são metade do país, segundo pesquisa Datafolha feita nos últimos dias 5 e 6 de dezembro. E foram os evangélicos que melhor ocuparam esse espaço vago, seguidos por pessoas que se declaram de outras religiões ou sem nenhuma delas (este grupo, no período, expandiu-se em torno de 0,4% por ano).
Alves, que se aposentou neste ano do IBGE, projeta que a partir de 2022, o ano em que o país comemora sua independência, os seguidores do Vaticano devem encolher para menos de 50% e, dez anos depois, seriam 38,6% da população. Já os evangélicos alcançariam em 2032 a marca dos 39,8%. Ou seja, superariam os irmãos de fé cristã.
Esse segmento, a mais veloz locomotiva dos protestantes, um movimento que se separou da Igreja Católica meio milênio atrás, teria então maioria simples, mas não absoluta —mais do que a metade populacional.
"Não sei se este crescimento vai continuar. Não existe nenhum determinismo nesta questão", diz Alves. "Mas é uma possibilidade que está aberta, e os evangélicos podem, sim, ser maioria absoluta lá pelos idos de 2050. O futuro dirá?"
De tão dinâmica, essa placa tectônica de fé fez o próprio pesquisador reajustar suas expectativas. Em artigo de 2017, Alves calculou que evangélicos ultrapassariam católicos até 2040. Esse deslocamento demográfico aligeirou, contudo, o que o levou a antecipar essa tendência em alguns anos.
Para o pesquisador, palavras-chave para essa aceleração: ativismo evangélico, passividade católica e maior interação entre igrejas evangélicas e política. E pode colocar nessa equação o apoio em massa dos maiores líderes do segmento ao presidenciável Jair Bolsonaro em 2018.
Três décadas bastaram para o Brasil perder um monopólio relativamente estável desde a chegada dos portugueses —que celebraram a primeira missa por aqui em 26 de abril de 1500, quatro dias após desembarcarem.
"A Igreja Católica participou do projeto de colonização e cresceu muito se fortalecendo junto às populações rurais, com baixa mobilidade social e com pouco dinamismo", afirma Alves.
O primeiro censo demográfico nacional, de 147 anos atrás, num território ainda sob auspícios imperiais, revelou que 99,7% da população (quase 10 milhões de pessoas) se curvava à Santa Sé.
É claro que é preciso certa cautela para se debruçar sobre esses dados, diz o pesquisador. "Em 1872, éramos uma monarquia, e a católica era a religião oficial. Outras religiosidades eram perseguidas ou bastante controladas. Por exemplo, todos os escravos foram definidos como católicos, sem ter chance de escolhas. As crenças indígenas também não apareceram."
Para Clemir Fernandes, pastor batista e sociólogo do Iser (Instituto de Estudos da Religião), outro cuidado a ser tomado diz respeito ao potencial de dilatação dos evangélicos. "Todos os movimentos têm tetos de crescimento, pois estão em interação com muitos outros."
Cravar se o grupo religioso vai ou não ser majoritário no país entra no terreno da futurologia, afirma. Mas comparações com fenômenos vizinhos seriam possíveis.
Fernandes lembra da Coreia do Sul. O país tem um número significativo de pessoas sem quaisquer filiações religiosas (56%, segundo censo de 2015). O maior bloco de fé é o protestante, com quase 20%, excedendo budistas e católicos.
Essa dianteira, contudo, se estabilizou, aponta o sociólogo. "Nos anos 1980 e 1990, evangélicos sul-coreanos aumentaram em taxas muito elevadas. Já nos anos 2000 isso arrefeceu, e a Igreja Católica voltou a crescer."
Para ele, são multicausais os fatores que levaram evangélicos ao atual patamar no Brasil. Se pararmos para pensar, o grupo propulsionou sua presença a partir da redemocratização, "quando a sociedade tradicionalmente católica passa por mudanças, e havia espaço para novas possibilidades, incluindo novas crenças".
Fora que a oratória evangélica, sobretudo a neopentecostal, parece ser o número dos nossos tempos, diz Fernandes. "A pregação católica é mais coletivista, e o mundo se tornou mais individualista, procurando resolver problemas de maneira mais individual. A evangélica tem uma pregação que conjuga esse tipo de apelo."
E ela atende também a tempos mais apegados à customização. "Essas igrejas têm uma diversidade enorme de discursos diferenciados para movimentos, tribos e classes sociais. Tem para todos os gostos, e é bom que se diga sempre, até para LGBTs, o que não acontece tanto no mundo católico, de certa homogeneidade."
Uma senhora com mais de dois milênios, a Igreja Católica pode ser mais lenta para se adaptar a novas realidades, mas não dá para menosprezar uma tradição de séculos, e parada ela também não está. A Renovação Carismática dos católicos é um bom exemplo de reação, segundo Fernandes.
"O declínio seria muito maior se não fosse a atuação forte dessa corrente em meios de comunicação, com um estilo de pregação e uma estética litúrgica muito parecidos com os pentecostais e neopentecostais, segmento que mais cresce no mundo evangélico."
Maria Aparecida, nossa "ex-carola" que hoje segue a pentecostal Assembleia de Deus, ama ouvir Marcelo Rossi e outros padres cantores, marca dos carismáticos. Também foi com a cara "deste novo papa aí", Francisco, que lidera a Igreja desde 2013. "Ele é fofinho, o anterior [Bento 16] era mais chatola", diz.
Batizada evangélica numa piscina dentro de uma igreja que não existe mais, Maria conta que virar crente foi a melhor coisa que aconteceu para sua vida. "Mas não tenho birra com os católicos, não. Se eles são maioria, se é a gente, o que importa é o Senhor nosso Deus ser soberano. Amém?". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
1ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO-A. EVANGELHO DO DIA: Terça-feira, 14 de janeiro-2020. Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1-Oração
Inspire em sua bondade paterna, ó Senhor, os pensamentos e propósitos do seu povo em oração, para ver o que ele tem que fazer e ter força para fazer o que ele viu. Por Cristo Nosso Senhor.
2-Lendo o Evangelho (Marcos 1, 21-28)
Naquele momento, na cidade de Cafarnaum, Jesus, que entrou na sinagoga no sábado, começou a ensinar. E ficaram maravilhados com o ensino dele, porque ele os ensinou como alguém que tem autoridade e não gosta de escribas.
Então, um homem que estava na sinagoga, possuído por um espírito imundo, gritou: "O que tem a ver conosco, Jesus de Nazaré? Você veio nos arruinar! Eu sei quem você é: o santo de Deus ”. E Jesus o repreendeu: “Cale a boca! Saia desse homem. " E o espírito imundo, despedaçando-o e gritando alto, saiu dele.
Todos ficaram apavorados, tanto que se perguntaram: "O que é isso? Uma nova doutrina ensinada com autoridade. Ele até comanda espíritos imundos e eles lhe obedecem! "
Sua fama se espalhou imediatamente por toda a Galileia. Palavra da Salvação.
3- Reflexão
A sequência dos evangelhos dos dias desta semana
O evangelho de ontem informava sobre a primeira atividade de Jesus: chamou quatro pessoas para formar comunidade com ele (Mc 1,16-20). O evangelho hoje descreve a admiração do povo diante do ensinamento de Jesus (Mt 1,21-22) e o primeiro milagre expulsando um demônio (Mt 1,23-28). O evangelho de amanhã narra a cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31), a cura de muitos doentes (Mc 1,32-34) e a oração de Jesus num lugar isolado (Mc 1.35-39). Marcos recolheu estes episódios, que eram transmitidos oralmente nas comunidades, e os uniu entre si como tijolos numa parede. Nos anos 70, ano em que ele escreve, as Comunidades necessitavam de orientação. Descrevendo como foi o início da atividade de Jesus, Marcos indicava como elas deviam fazer para anunciar a Boa Nova. Marcos faz catequese contando para as comunidades os acontecimentos da vida de Jesus.
Jesus ensina com autoridade, diferente dos escribas. A primeira coisa que o povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar, que impressiona. Por este seu jeito diferente, Jesus cria consciência crítica no povo com relação às autoridades religiosas da época. O povo percebe, compara e diz: Ele ensina com autoridade, diferente dos escribas. Os escribas da época ensinavam citando autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua experiência de Deus e da vida. Sua palavra tem raíz no coração.
Vieste para nos destruir! Em Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um demônio. Jesus combate e expulsa o poder do mal que tomava conta das pessoas e as alienava de si mesmas. O possesso gritava: “Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” O homem repetia o ensinamento oficial que apresentava o messias como “Santo de Deus”, isto é, como um Sumo Sacerdote, ou como rei, juíz, doutor ou general. Hoje também, muita gente vive alienada de si mesma, enganada pelo poder dos meios de comunicação, da propaganda do comércio. Repete o que ouve dizer. Vive escrava do consumismo, oprimida pelas prestações em dinheiro, ameaçada pelos cobradores. Muitos acham que sua vida ainda não é como deveria ser se eles não puderem comprar aquilo que a propaganda anuncia e recomenda.
Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!” O espírito sacudiu o homem, deu um grande grito e saiu dele. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a consciência e a liberdade. Faz a pessoa recuperar o seu perfeito juízo (cf. Mc 5,15). Não é nem era fácil, nem ontem, nem hoje, fazer com que a pessoa comece a pensar e atuar diferentemente da ideologia oficial.
Ensinamento novo! Ele manda até nos espíritos impuros. Os dois primeiros sinais da Boa Nova que o povo percebe em Jesus, são estes: o seu jeito diferente de ensinar as coisas de Deus, e o seu poder sobre os espíritos impuros. Jesus abre um novo caminho para o povo conseguir a pureza. Naquele tempo, uma pessoa declarada impura já não podia comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida por Deus a Abraão. Ela teria que purificar-se primeiro. Esta e muitas outras leis e normas dificultavam a vida do povo e marginalizavam muita gente como impura, longe de Deus. Agora, purificadas pelo contato com Jesus, as pessoas impuras podiam comparecer novamente na presença de Deus. Era uma grande Boa Notícia para eles!
4) Per um confronto pessoal
1) Será que posso dizer: “Eu sou plenamente livre, senhor de mim mesmo”? Se não o posso dizer de mim mesmo, então algo em mim é possesso por outros poderes. Como faço para expulsar este poder estranho?
2) Hoje muita gente não vive, mas é vivido. Não pensa, mas é pensado pelos meios de comunicação. Já não tem pensamento crítico. Já não é dono de si mesmo. Como expulsar este “demônio”?
5-Oração final
Ó Senhor, nosso Deus, quão grande é o seu nome em toda a terra! O que é homem, porque você se lembra disso, por que você cuida do filho do homem? (Sl 8)
“O Novo Papa”: um cheiro de enxofre no Vaticano
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Entre escândalos e intrigas de poder no Vaticano, a série The New Pope (O Novo Papa, em tradução livre), do diretor italiano Paolo Sorrentino – dá continuidade a The Young Pope, que entrará no ar a partir de 13 de janeiro no Canal+ – propõe um profundo questionamento sobre o mal, o pecado e o combate espiritual. A reportagem é de Marie-Lucile Kubacki, publicada por La Vie, 09-01-2020. A tradução é de André Langer.
O mal não é bonito. Ele pode adornar-se com o traje da sedução, às vezes, mas sob as sombras dele, seu rosto real é triste, repulsivo e assustador. É exatamente o que Paolo Sorrentino mostra na série O Novo Papa, que será transmitida a partir de 13 de janeiro no Canal+. Esta sequência de The Young Pope começa com o coma em que o muito conservador Papa Pio XIII da primeira temporada, encarnado por um indecifrável Jude Law, entra após um transplante de coração. Ao mesmo tempo, o todo-poderoso cardeal secretário de Estado, Angelo Voiello (interpretado por Silvio Orlando, verdadeira star na Itália), descobre um vídeo em que um novo califa islâmico declara guerra aos cristãos, enquanto o escândalo da pedofilia na Igreja Católica nunca para de crescer. Sozinho diante do abismo, empurrado por um estranho empresário, ele decide convocar um conclave.
Mas quem pode suceder o fascinante papa de ferro, sob cujas janelas multidões de fãs idólatras vigiam dia e noite, enquanto sua respiração é transmitida ao vivo pelo rádio? A guerra de sucessão começa. Angelo Voiello se veria trocando o roxo pelo arminho, mas na realidade não é uma unanimidade entre os outros cardeais. A maioria deles o considera muito perigoso, aquele que, ao longo dos anos na Secretaria de Estado, não demonstrou piedade, acumulando dossiês sobre cada um deles. Há também o cardeal Hernandez. O homem (também interpretado por Silvio Orlandi) é – detalhe altamente cômico – o sósia perfeito de Voiello, com um par de óculos de tartaruga e uma verruga na bochecha. Mas parece estar imune à cobertura dos abusos...
O terceiro papável possível, o misantropo John Brannox (John Malkovitch), um aristocrata inglês fã de John Henry Newman, conhecido por ter causado a passagem de uma grande quantidade de anglicanos à Igreja Católica Romana. Mas o artista, com um visual acentuado pelo uso do khol e um personagem parecido com uma diva, não se dignou a fazer o deslocamento até o local do conclave. Enquanto nem Hernandez nem Voiello conseguiram ganhar a maioria, Voiello lançou rapidamente: “Os cardeais adoram papas fracos”. E, portanto, é um homem quase desconhecido que aparece na janela, Francisco II.
The New Pope é de uma normalidade desorientadora. Ele gagueja com voz aguda quando perguntado se aceita o encargo. Enquanto todo mundo ri dissimuladamente, imaginando como será fácil manipulá-lo, o novo pontífice tira todo mundo do caminho, interpretando o radical franciscano. E é um festival feliniano de vestes marrons, bloqueando o caminho das cozinhas para os cardeais que estão sendo presos, enquanto os sem-teto ocupam seus lugares no refeitório e as caravanas de migrantes entram no Vaticano. Adorado pela mídia e odiado pela cúria, Francisco II morre poucas semanas após sua eleição, brutalmente e em circunstâncias misteriosas, abrindo caminho para um segundo conclave.
Escaldados por esse precedente, os cardeais da cúria querem reforçar seu controle. E, para isso, decidem ir ‘pescar’ eles mesmos seu “homem”: o melancólico Sir John Brannox. Entrincheirado com seus pais na mansão da família, ele se veste com um roupão de seda, assombrado pela lembrança de seu irmão gêmeo Adam, um padre como ele, que todo mundo preferia a ele. No meio de retratos de família, eles lhe garantem que seria um excelente papa...
Esteta místico, intelectual de outra era, mas acima de tudo prisioneiro de sua melancolia e de sua ferida por sempre ter visto seus pais preferirem seu irmão a ele, convencido de que Deus não o ama, mas completamente vulnerável à lisonja, Brannox é uma presa ideal. Ele se torna João Paulo III, exceto por uma pista – cuidado, spoiler: a que ele deu a Lenny Belardo, Pio XIII, sempre mergulhado no coma, embora esteja ficando sempre mais leve.
Devemos entendê-lo a partir deste resumo: O Novo Papa não tem nenhuma pretensão de realismo. Trata-se de uma ficção, e esse viés é plenamente assumido – ao contrário do filme Os Dois Papas, de Fernando Meirelles, transmitido pela Netflix pouco antes do Natal. Assim, a estética oscila entre punk-rock, renascentista e gótico, trágico e burlesco. A inspiração de Paolo Sorrentino empresta de Pier Paolo Pasolini – como ele, prefere um “cinema de poesia” a um “cinema de prosa” e, como ele, recorre a tomadas fixas apoiadas, trabalhadas como mesas –, de Federico Fellini – o filme é atravessado por ambientes de festas carnavalescas vagamente perturbadoras – e de William Shakespeare – tanto no tratamento dos temas do poder, da misantropia e da traição quanto no tom tragicômico e na arte do macabro.
Além disso, o diretor não hesita em puxar todas as cordas do escândalo: hipocrisia e homossexualidade ativa de alguns prelados, fraude financeira no mais alto nível, assédio sexual entre freiras, ameaças, pressões e chantagem estão no jogo. Se, de acordo com a fórmula de São Francisco de Sales, “là ou Il y a de l’homme, Il y a de l’hommerie” (onde há homem, há baixezas), a baixeza eclesial e vaticana é amplamente explorada, em alguns episódios, a ponto de causar desconforto e náusea. Assim, para tentar argumentar com o governo italiano, determinado a acabar com os privilégios fiscais da Igreja, um cardeal organiza uma orgia com um diplomata, um financista mafioso e uma jovem prostituta, naquilo que parece uma capela onde a cocaína foi colocada no altar.
Algumas cenas são chocantes, mas mesmo as provocações mais delirantes de Sorrentino contêm questões que parecem muito verdadeiras. Um papa que não pode mais exercer seu ministério porque é incapaz de fazê-lo – como Pio XIII, em coma indefinido – deixa de sê-lo? Até que ponto um santo pode ser um grande pecador? Qual é a fronteira entre o pecado e a corrupção? Deus “ama” alguns papas mais do que a outros? O que era idolatria (na primeira temporada, Pio XIII recusou as fotos e os objetos à sua semelhança, o que apenas aumentou em dez vezes o fascínio por sua pessoa)? Precisamos de santos para governar a Igreja? Qual é o preço espiritual dos ajustes diplomáticos e políticos necessários no governo da Igreja? Até que ponto o papa deve se envolver na política?
A série mostra claramente o limite de um papa que é prisioneiro demais de sua história pessoal e de suas fragilidades, por exemplo. Assim, Brannox, sobre quem não sabemos se ele tem mais de Caim ou de Abel no drama familiar que o viu perder o irmão, recusa-se a enfrentar sua história tanto quanto a fazer política, uma arte que ele julga muito pequeno-burguesa. “As virtudes cristãs são poéticas, defende-se, citando o cardeal Newman: a delicadeza e a graça, a compaixão e a modéstia. Onde reina a vulgaridade, os sentimentos servem à retórica: a raiva, a indignação, a emulação em espírito de luta. Temos que nos elevar, seguir a poesia e deixar a retórica para os outros”. “Receio que Newman não seja suficiente”, retruca-lhe seu conselheiro. “O mundo está mais uma vez confirmando que não se importa com a poesia, continua Brannox. Mas eu não sou o mundo”.
De fato, essa recusa em sujar as mãos ao enfrentar as “coisas humanas” leva-o a se deixar manipular por cortesãos mais corruptos do que os outros – “o verdadeiro papa é aquele que conhece os segredos do papa”, afirma cinicamente um deles. E a confessar esta terrível admissão de fraqueza: “Para salvar meu pontificado instável, pus os pés no jardim do pecado, fingindo não entender nada, mas eu sei”.
O pecado, no entanto, não é reservado ao Vaticano. Se for representado simbolicamente por uma espécie de pequeno verme que atravessa a tela de tempos em tempos, ou por personagens claramente malignos como o luciferiano “Essence”, um clérigo glabro e viscoso, Sorrentino também aparece nesse elegante advogado rico que, através de um paroquiano corrupto, compra os serviços de Esther (Ludivine Sagnier), uma jovem mãe à beira da ruína financeira, para que ela se torne a “assistente sexual” de seu filho, que sofre de pesadas malformações de nascimento: “Você é uma santa, Esther, declarou-lhe enquanto assinava um cheque. “Eu sou uma prostituta”, responde esta última. “Você sabe a diferença entre uma santa e uma prostituta, Esther? – Não. – Não há nenhuma”.
A força de Sorrentino vem da recusa do maniqueísmo. Às vezes, são os maiores pecadores que oferecem as melhores surpresas. É o caso do maquiavélico e temido político Voiello – aquele que cinicamente declara: “São necessários ratos como eu para preparar o terreno fértil para a santidade” – e que, com total discrição, cuida de um jovem tetraplégico que ele considera como o guardião de sua alma. Isso dá origem a uma cena avassaladora, quando Voiello, visitando seu pai espiritual, surdo e cego, instalado no meio de uma estufa, apresenta seu protegido, com um nó na garganta: “Como você, eu gosto das flores, e hoje eu te trouxe a mais linda de todas”.
Pelo fato de que não busca tornar “verdadeiro” – muito poucas referências explícitas a fatos históricos, exceto a morte de João Paulo I e a homenagem tragicômica ao atual Papa Francisco, através do personagem de Francisco II, que é uma espécie de caricatura burlesca de Bergoglio – e, principalmente, por não ter medo de tocar no sobrenatural, Paolo Sorrentino assina, mais do que uma grande série sobre os mistérios do poder no Vaticano, uma obra poética e profunda sobre o mal e o combate espiritual. Um mergulho metafísico no abismo da alma humana, ofegante como um filme de suspense, servido por planos cuidadosos e um elenco dos sonhos: além de John Malkovitch, Jude Law, Silvio Orlando e Ludivine Sagnier, já mencionados, encontramos Cécile de France, Sharon Stone e Marylin Manson, que competem em charme e graça. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos e 10% não têm religião, diz Datafolha
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Pesquisa também aponta que mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% entre os católicos. Levantamento foi feito nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado.
Pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (13) pelo jornal "Folha de S.Paulo" aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Ainda de acordo com o levantamento, as mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% entre os católicos.
A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Religião dos brasileiros
Católica: 50%
Evangélica: 31%
Não tem religião: 10%
Espírita: 3%
Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2%
Outra: 2%
Ateu: 1%
Judaica: 0,3%
Religião por sexo
Católicos:
Mulher: 51%
Homem: 49%
Evangélicos:
Mulher: 58%
Homem: 42%
Religião por cor
Católicos:
Parda: 41%
Branca: 36%
Preta: 14%
Amarela: 2%
Indígena: 2%
Outras: 4%
Evangélicos:
Parda: 43%
Branca: 30%
Preta: 16%
Amarela: 3%
Indígena: 2%
Outras: 5%
Religião por idade
Católicos:
16 a 24 anos: 13%
25 a 34 anos: 17%
35 a 44 anos: 18%
45 a 59 anos: 26%
60 anos ou mais: 25%
Evangélicos:
16 a 24 anos: 19%
25 a 34 anos: 21%
35 a 44 anos: 22%
45 a 59 anos: 23%
60 anos ou mais: 16%
Religião por escolaridade
Católicos
Fundamental: 38%
Médio: 42%
Superior: 20%
Evangélicos
Fundamental: 35%
Médio: 49%
Superior: 15%
Renda
Católicos
Até 2 salários mínimos: 46%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 9%
Mais de 10 salários mínimos: 2%
Evangélicos
Até 2 salários mínimos: 48%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 7%
Mais de 10 salários mínimos: 2%
Região do país
Católicos
Sudeste: 45%
Sul: 53%
Nordeste: 59%
Centro-Oeste: 49%
Norte: 50%
Evangélicos
Sudeste: 32%
Sul: 30%
Nordeste: 27%
Centro-Oeste: 33%
Norte: 39%
Fonte: https://g1.globo.com
BATISMO DO SENHOR-AO VIVO/RJ: Santa Missa do Batismo do Senhor, com Frei Petrônio de Miranda
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BATISMO DO SENHOR-AO VIVO/RJ: Santa Missa do Batismo do Senhor, com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, direto da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, Rio de Janeiro. 12 de janeiro-2020.
DOMINGO DO BATISMO DO SENHOR: “Na festa do Batismo de Jesus redescubramos nosso Batismo”. Papa Francisco
“Na festa do Batismo de Jesus redescobrimos o nosso Batismo. Como Jesus é o Filho amado do Pai, também nós renascido da água e do Espírito Santo sabemos ser filhos amados, objeto da complacência de Deus, irmãos de tantos outros irmãos, investidos de uma grande missão para testemunhar e anunciar a todos os homens o amor sem limites do Pai”: disse o Papa no Angelus este domingo (12/01), festa do Batismo do Senhor
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Maria Santíssima nos ajude a compreender sempre mais o dom do Batismo e a vivê-lo com coerência nas situações de todos os dias”: foi o pedido do Papa à Virgem Santa, na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, ao meio-dia deste domingo (12/01), com milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.
“Mais uma vez tive a alegria de batizar algumas crianças, na festa de hoje do Batismo do Senhor. Rezemos por elas e por suas famílias”, disse Francisco. Efetivamente, pouco antes, o Santo Padre tinha acabado de presidir à santa missa na Festa do Batismo do Senhor, celebrada na Capela Sistina, com o rito do Batismo das crianças: ao todo, foram 32 crianças batizadas, 15 meninas e 17 meninos.
Deus é Santo, seus caminhos não são os nossos
O Pontífice ressaltou que a liturgia deste ano nos propõe o evento do batismo de Jesus narrado pelo Evangelho segundo São Mateus (3,13-17). O evangelista descreve o diálogo entre Jesus, que pede o batismo, e João Batista, que quer negar-se a fazê-lo e observa: “Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?”
O Santo Padre observou que esta decisão de Jesus surpreende o Batista: “de fato, o Messias não precisa ser purificado; é Ele, ao invés, que purifica. Mas Deus é o Santo, seus caminhos não são os nossos, e Jesus é o Caminho de Deus, um caminho imprevisível”, ressaltou.
Jesus veio superar a distância entre o homem e Deus
João havia declarado que entre ele e Jesus existia uma distância abissal, insuperável. “Eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias” (Mt 3,11), dissera. “Mas o Filho de Deus – continuou o Papa – veio justamente para superar a distância entre o homem e Deus. Se Jesus é totalmente da parte de Deus, é também totalmente da parte do homem, e reúne aquilo que estava dividido”.
Por isso, explicou Francisco, Jesus replica a João: “Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça”.
Solidariedade com o homem frágil e pecador
“O Messias pede para ser batizado, a fim de que se cumpra toda justiça, isto é, se realize o desígnio do Pai que passa pelo caminho da obediência filial e da solidariedade com o homem frágil e pecador. É o caminho da humildade e da plena proximidade de Deus a seus filhos.”
O Pontífice observou que também o profeta Isaias anuncia a justiça do Servo de Deus, que realiza a sua missão no mundo com um estilo contrário ao espírito mundano: “Ele não clamará, não levantará a voz, não fará ouvir a sua voz nas ruas, não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha bruxuleante” (42,2-3). Em seguida, o Pontífice acrescentou:
“É a atitude da mansidão, da simplicidade, do respeito, da moderação e do não fazer alarde, que se requer também hoje aos discípulos do Senhor. Na ação missionária a comunidade cristã é chamada a ir ao encontro dos outros sempre propondo e não impondo, dando testemunho, partilhando a vida concreta das pessoas.”
Testemunhar e anunciar o amor sem limites de Deus
Assim que Jesus foi batizado no rio Jordão, os céus se abriram e desceu sobre Ele o Espírito Santo como uma pomba, enquanto do alto ressoou uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem coloquei a minha complacência”, frisou o Papa citando a passagem de Mt 3,17.
“Na festa do Batismo de Jesus redescobrimos o nosso Batismo. Como Jesus é o Filho amado do Pai, também nós renascido da água e do Espírito Santo sabemos ser filhos amados, objeto da complacência de Deus, irmãos de tantos outros irmãos, investidos de uma grande missão para testemunhar e anunciar a todos os homens o amor sem limites do Pai.”
Na saudação aos vários grupos de fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro, o Pontífice saudou, entre outros, os jovens do Movimento dos Focolarinos provenientes do Brasil, Colômbia, Paraguai e Coreia, vindos a Roma para um curso de formação há cem anos do nascimento da Serva de Deus Chiara Lubich. Fonte: https://www.vaticannews.va
Festa do Batismo do Senhor – Ano A. Domingo 12.
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A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.
EVANGELHO (Mt 3,13-17)
O símbolo da pomba não é imediatamente claro…
Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da atividade que Jesus vai iniciar.
Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1)… Sugere-se, dessa forma, que Jesus é o Filho de Deus… Mas acrescenta-se, para que não haja equívocos: a sua missão não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).
A cena do batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
Além desta catequese sobre Jesus, o Filho de Deus, o texto sugere outras duas linhas importantes quanto à definição da identidade de Jesus. Uma delas apresenta Jesus como o novo libertador:
O batismo de Jesus no Jordão recorda a passagem do Mar Vermelho e estabelece um novo paralelo entre Jesus e Moisés… Jesus é o novo Moisés, revestido do Espírito de Deus, para conduzir o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade. A outra linha torna-se patente no diálogo entre João e Jesus: se João reconhece humildemente a sua inferioridade e a sua condição de percursor, é porque Jesus é esse Messias esperado, da descendência de David.
ATUALIZAÇÃO
No episódio do batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para os libertar e para os inserir numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica… É bonita esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao mundo, que pede a esse Filho que Se solidarize com as dores e limitações dos homens, e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los chegar à vida em plenitude. Aquilo que nos é pedido é que correspondamos ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso batismo, comprometemo-nos com esse projeto… Temos, depois disso, renovado diariamente o nosso compromisso e percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus nos veio propor?
A celebração do batismo do Senhor leva-nos até Jesus que assume plenamente a sua condição de “Filho” e que Se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projeto do Pai de dar vida ao homem. É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha relação com Deus? O projeto de Deus é, para mim, mais importante de que os meus projetos pessoais ou do que os desafios que o mundo me faz?
O episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?
No batismo, Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projeto libertador do Pai. Eu, que no batismo aderi a Jesus e recebi o Espírito que me capacitou para a missão, tenho sido uma testemunha séria e comprometida desse programa em que Jesus Se empenhou e pelo qual Ele deu a vida?
*Leia o Evangelho na íntegra. Clique no link ao lado- EVANGELHO DO DIA.
BATISMO DO SENHOR. Domingo, 12 de janeiro-2020.
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Frei Jorge Van Kampen, Carmelita. In Memoriam. (*17/04/1932 + 08/08/2013)
A pregação do Evangelho aos pagãos, no início, parecia um trabalho sem resultado, mas Jesus vai mostrar, que a conversão é uma caminhada contínua. Por isso vai entrar na fila para ser batizado por João. Assim mostrará, que a humanidade é o caminho do perdão e da conversão. Desta maneira buscamos a justiça e a reforma da própria vida.
A palavra “justifica” nos faz pensar num julgamento, sentença judicial. Tribunal da justiça, mas na Bíblia esta palavra significa agir com retidão, fazer o que se diz. Assim pode contar com esta pessoa; ela se dispõe para defender a integridade da pessoa, porque ela se sente deprimida. Encontra-se uma preocupação com a lealdade da pessoa.
Liturgia da Palavra de Deus. (Is. 1-4 e 6-7; At. 10, 34-38; Mat. 3, 13-17).
Jesus não necessita do batismo de João. Ele é o próprio Salvador, e deseja, que todos procuram o acolhimento e o perdão. O batismo de Jesus é revestir-se do Espírito Santo e a Paz.
Reflexão
Senhor, Pai de todos os homens, nós Vos agradecemos, porque estivestes tão perto de nós em Jesus Cristo: simples e realmente encomendado por nossa causa. Fazei a nossa vida. Como Ele viveu. Fazei-nos pedras vivas do Vosso Reino, que permanecerão até a vida eterna. Amém
Resposta à Palavra de Deus.
João batizava aqueles, que viveram para ouvi-lo. Assim demonstravam o seu propósito de começar uma vida nova e mais justa. O sacramento do Batismo nos compromete com Cristo para segui-lo e emita-lo.
Fala de Edir Macedo de que Espírito Santo quer dinheiro foi tirada de contexto, diz Universal
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'Ele quer que você nos ajude a pagar as nossas contas', diz o líder religioso
A Igreja Universal do Reino de Deus afirma que o vídeo no qual o bispo Edir Macedo diz a fiéis "não creio que o Espírito Santo queira palmas, ele quer que você nos ajude a pagar as nossas contas" exibe uma fala retirada de contexto e "serve apenas ao preconceito religioso contra a Universal e seus 7 milhões de fiéis e simpatizantes no Brasil".
"Eu não creio que o Espírito Santo queira palmas. Ele quer que você nos ajude a pagar as nossas contas. Amém? Ele quer que você bata a mão no bolso", diz o líder religioso na vídeo.
A Universal reconhece a veracidade da fala. "Trata-se de um vídeo antigo, de 2018", afirma a instituição, fundada por Macedo.
O conteúdo circulou a internet nesta sexta (10), sendo compartilhado por perfis como Haddad Debochado (128,8 mil seguidores) e pelo youtuber Felipe Neto (10,2 milhões de seguidores).
Procurada para comentar o vídeo, a Universal enviou à coluna a resposta abaixo:
"Trata-se de um vídeo antigo, de 2018. A fala, retirada de seu contexto, serve apenas ao preconceito religioso contra a Igreja Universal do Reino de Deus e seus 7 milhões de fiéis e simpatizantes no Brasil. O dízimo não é uma doutrina da Universal, mas um ensinamento bíblico. Quem devolve o dízimo, o faz por obediência à palavra de Deus. Nem aqueles que têm ódio da Universal e dos demais cristãos, nem o jornal 'Folha de S. Paulo' precisam se sentir obrigados a praticar a fé cristã, mas não têm o direito de debochar quem opta por obedecer às sagradas escrituras." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
BATISMO DO SENHOR: “O céu se abriu”. Domingo, 12 de janeiro.
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Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: «Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?» Jesus, porém, lhe respondeu: «Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça.» E João concordou.
Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz, dizendo: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada.» Leitura do Evangelho de Mateus, capítulo 3,13-17 (Correspondente à celebração do Batismo de Jesus, ciclo A do Ano Litúrgico). O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
“O céu se abriu”
Há poucos dias celebramos o Natal, o nascimento de Jesus, sua presença no meio de nós, e neste domingo a liturgia convida-nos a celebrar o Batismo de Jesus. Com este relato inicia-se a vida pública de Jesus. Abandona sua cidade, seus conhecidos, sua terra e dirige-se ao Jordão, onde João está batizando: “Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele”.
Jesus teve que percorrer quase cem quilômetros para ir ao encontro de João. Não temos muitos dados sobre esta viagem, mas cada um dos evangelistas descreve o batismo como um fato crucial no começo do evangelho. Jesus já tinha ouvido falar do Batista e possivelmente conhecia a importância da sua pregação no deserto da Judeia e seu chamado à conversão. “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.” Ele já tinha sido anunciado pelo profeta Isaías como a voz que grita no deserto: “Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”
A chegada do Messias era largamente esperada e desejada porque ele seria o Libertador do poder do inimigo e do adversário e os transformaria numa grande nação.
Jesus abandona sua terra, aquilo que é conhecido, para ir ao encontro do novo, para cumprir uma missão que irá descobrindo durante sua vida. Neste simples gesto de Jesus, cada um e cada uma de nós somos chamados a seguir seu exemplo: deixar aquilo que é conhecido e seguro para ir ao encontro do desconhecido, na busca da vontade do Pai, depositando nele nossa confiança e fidelidade. A atitude de Jesus converte-se assim no modelo a seguir!
“Jesus saiu da água” e “o céu se abriu”. O evangelista deixa claro que depois de ser batizado acontece uma realidade nova, surpreendente. Jesus sai da água e nesse momento o céu se abriu. Os céus abertos significam esperança no Antigo Testamento. Lembremos o texto de Isaías,“Quem dera rasgasses o céu para descer! Diante de ti as montanhas se derreteriam” (Is 63 19). Em Jesus os céus se rasgam e o céu desce! Ele é assim o depositário da voz do Pai para os homens e as mulheres, destruindo para sempre a separação entre Deus e os homens. Já não há mais distância.
Para escutar a voz do Pai sobre nossas vidas e sobre a vida de tantas pessoas que estão ao nosso redor, devemos fazer silêncio interior. Por isso, neste domingo, somos convidados a escutar essa voz silenciosa mas potente, que deposita em cada pessoa humana sua paternidade amorosa, confiando-lhe uma missão única e intransferível. Como Jesus, deixemo-nos conduzir pelo Espírito que nos faz nascer de novo e sinala o caminho que nos leva à vida plena. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Legionários de Cristo, dados chocantes: em 80 anos foram abusados 175 menores
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Ele era uma mente criminosa refinada e era descrito como uma espécie de demônio, um corruptor nato. A primeira denúncia de abusos contra o padre Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo, chegou ao Vaticano em 1997, mas foi imediatamente encoberta. Ninguém queria ouvir as vítimas. Assim como todas as outras notificações que vieram mais tarde. A blindagem ao padre Maciel na cúpula do Vaticano era muito alta, começando pelos cardeais Stanislaw Dziwisz e Angelo Sodano. A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 23-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foram necessárias várias tentativas, incluindo um confronto entre Sodano e Ratzinger que, ao contrário, era favorável a prosseguir e punir Maciel, para chegar à intervenção na congregação e sancionar o octogenário padre mexicano, mesmo que ele nunca tenha sido reduzido ao estado laico. Só lhe foi ordenado de se retirar para a vida privada. Era 2006 e ele morreu de câncer em 2008, na Flórida, cercado por sua segunda esposa e filha. Sim, porque Maciel também teve uma primeira esposa, casada com um nome falso e com quem teve dois filhos, ambos abusados.
Os detalhes
O caso mais abominável de abusos que já ocorreu na Igreja na época moderna, apenas hoje, depois de tanto tempo, é revelado e tornado público em detalhes. A congregação em uma espécie de revelação, liberou tudo o que era anteriormente secreto. Maciel sozinho estuprou 60 menores. Mas ele não era o único que abusava dentro da ordem. As vítimas menores de idade confirmadas desde a década de 1950, quando a estrutura foi fundada, são 175 para um total de 33 padres envolvidos.
O que tornou possível esse massacre foi o sistema de sujeição psicológica e de lavagem cerebral dos meninos que o padre Maciel havia instituído, criando sigilo e controle em todos os níveis, até criar um sistema monstruoso: aqueles que entravam eram obrigados a cortar o contato com o exterior. Até os noticiários eram depurados das notícias consideradas inconvenientes e, naturalmente, os contatos com as famílias de origem eram filtrados. Correio, e-mail, telefonemas. Nesse clima, amadureceram também desvios e crimes. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Bispo católico alemão acolhe ideia de paróquia conjunta com luteranos
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A respeito da ordenação das mulheres, o bispo Heiner Wilmer disse: 'Estou muito interessado em participar de uma discussão aberta e estou animado para ver em que direção o Espírito Santo nos guiará.'
6 de janeiro de 2020 - 17h55 EST
JOSHUA ECKSTEIN / UNSPLASH
Por Martin M. Barillas
HANOVER, Alemanha, 6 de janeiro de 2020 ( LifeSiteNews ) - O bispo católico alemão Heiner Wilmer recebeu uma sugestão do bispo luterano de que um dia poderiam ser formadas paróquias “ecumênicas” católico-luteranas.
O bispo luterano evangélico Ralf Meister, de Hannover, disse recentemente: "Muitos não perguntam mais se alguém é protestante ou católico, mas apenas se ele é cristão", ao mesmo tempo em que sugere a criação de paróquias que alojem católicos e luteranos sob o mesmo teto .
O bispo católico Wilmer, de Hildesheim, acolheu a idéia dizendo: "Acredito firmemente que há uma conexão muito maior do que a separação entre as duas principais igrejas alemãs".
De acordo com a agência de notícias luterana EPD , o bispo Wilmer disse : "Como cristãos, todos somos chamados a testemunhar e pregar o Evangelho".
Ele acrescentou: “Como podemos caminhar juntos no cuidado pastoral é uma pergunta apropriada e importante para o futuro. Certamente continuaremos a lidar com isso no ecumenismo. ”
O bispo luterano Meister sugeriu que um projeto para as duas igrejas poderia alcançar "o estabelecimento de congregações puramente ecumênicas". Esse pode ser um objetivo distante, disse Meister, "mas você ainda pode expressá-lo".
No que diz respeito à realidade da fusão de congregações, Meister disse que não sabia como elas seriam constituídas: "Nós não estamos tão distantes e temos nossas diferenças, por exemplo, na última ceia [Abendmahl]".
A Igreja Evangélica Luterana celebra os “casamentos” do mesmo sexo e também “ordena” as mulheres a funções ministeriais. A antecessora de Meister em Hannover foi Margot Käßmann.
O bispo Wilmer esteve entre os bispos alemães que defendiam a modificação das regras relativas ao sacerdócio celibatário, questionando assim a longa tradição do celibato sacerdotal no rito latino da Igreja.
Ele disse ao Hannoversche Allgemeine Zeitung em 2018, por exemplo, que o futuro poderá ver " outras formas de vida [sacerdotal] que já temos hoje , por exemplo, com pastores protestantes casados que se convertem à Igreja Católica".
O celibato "poderia desenvolver um poder mais radiante se certos grupos de pessoas fossem isentos", disse ele.
Aparentemente, Wilmer está entusiasmado com o atual "caminho sinodal" da Igreja alemã para a reforma. Wilmer foi nomeado para sua diocese pelo papa Francisco e assumiu a sede em 2018.
Com relação à “ordenação” das mulheres ao sacerdócio , Wilmer tem uma mente aberta, dizendo ao serviço de notícias católico alemão: “Estou muito interessado em participar de uma discussão aberta e estou animado para ver em que direção o Espírito Santo nos conduzirá. . ”
Ele vê uma necessidade de reforma da disciplina do celibato no sacerdócio, argumentando que muitos sacerdotes são solitários.
Wilmer disse em 2019 que espera que o atual caminho sinodal entre os bispos alemães introduza "uma nova maneira de pensar na igreja", mesmo que reconheça que as mudanças podem levar tempo: "Pode levar mais tempo do que algumas pessoas gostariam, mas Estou confiante."
Wilmer ficou conhecido internacionalmente quando disse em uma entrevista ao diário Kölner Stadt-Anzeiger, com referência à crise de abuso sexual: "Eu acho que o abuso de poder está no DNA da igreja".
É necessária uma profunda reforma da Igreja, disse Wilmer, enquanto sugere que uma nova teologia pode ser necessária: os católicos, disse ele, deveriam dizer "adeus" à alegação de que " a Igreja em si mesma é pura e imaculada ".
"Até agora, no entanto, não tínhamos idéia de quais consequências isso deve ter para a teologia."
Ele disse ao jornal que os católicos devem entender que sua "igreja santa" é "também uma igreja pecaminosa". Sugerindo que existam "estruturas do mal" na Igreja, além de indivíduos pecaminosos, ele disse que o controle sobre o poder dentro da Igreja é preciso.
"Precisamos de separação de poderes."
Uma inspiração para o pensamento de Wilmer é o ex-padre católico de 79 anos, Eugen Drewermann. Ele é o autor de Kleriker: Psychogramm eines Ideals ( Clero: Psicograma de um ideal ), que questionou a própria idéia de um clero celibatário. O bispo disse por sua inspiração : “Eugen Drewermann é um profeta de nosso tempo que é incompreendido pela Igreja.”
Após um longo debate com os bispos alemães sobre seus controversos livros e declarações, Drewerman foi proibido de pregar e também impedido de lecionar no seminário católico de Paderborn nos anos 90. O então cardeal Joseph Ratzinger escreveu uma carta na época ao bispo de Drewermann para expressar preocupação com o autor controverso, que acabou sendo suspenso do sacerdócio. Em 2005, ele anunciou em um programa de televisão que estava deixando a Igreja Católica.
Maike Hickson contribuiu para este relatório.
Fonte: https://www.lifesitenews.com
Fake news e escândalos: a mídia católica de direita ataca o papa Francisco
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Tradicionalistas, especialmente do clero dos EUA, utilizam os mesmos métodos da direita alt-right para atacar as reformas do papa jesuíta
*Por Lucas Ferraz
Após o mais recente escândalo financeiro no Vaticano, referente aos investimentos milionários realizados pela Santa Sé em imóveis em Londres que estão sendo investigados por suspeita de corrupção, o papa Francisco nomeou, em novembro, um novo responsável para a secretaria da Economia, um dos cargos mais importantes na cúpula da Igreja.
O escolhido foi o padre jesuíta (mesma ordem religiosa do pontífice) Antonio Guerrero Alves, um espanhol que substitui o cardeal George Pell, que, nomeado por Francisco, já estava afastado do cargo por enfrentar na Justiça da Austrália um processo por abuso sexual de menores.
Conhecido entre os pares como um padre simples e obediente, Guerrero (o primeiro a assumir o cargo sem ter um título de arcebispo) será um homem de confiança do papa, conforme se leu na maior parte da imprensa católica. O objetivo é tentar sanar uma das áreas mais sensíveis, origem de inúmeros escândalos envolvendo o dinheiro da Igreja.
Para uma parte minoritária da mídia especializada, a indicação feita por Jorge Mario Bergoglio diz muito mais. O site norte-americano LifeSiteNews, um dos estandartes da ala conservadora católica, escreveu no início de dezembro que a escolha de Guerrero era mais um movimento dos jesuítas num possível golpe em andamento dentro do Vaticano – que seria promovido pelos aliados de Bergoglio.
Em tom conspiratório e citando o que chamou de passado tirano da ordem religiosa, o site não apresentou prova ou documento, fiando-se unicamente nos jesuítas que ascenderam a cargos no pontificado do argentino (nunca os membros da ordem ocuparam tantos cargos de comando na estrutura da Santa Sé). O texto, assinado pela sua correspondente em Roma, é exemplar da postura agressiva da mídia opositora, afinada com a ala tradicionalista, que vem aumentando o tom nos últimos anos (recorrendo a técnicas da direita populista) e passou claramente a incomodar Francisco e seu círculo direto.
Essa oposição existe desde a escolha de Bergoglio como papa, em março de 2013, e é majoritariamente ligada ao clero norte-americano, mas há adeptos na Itália, em países do Leste Europeu e na América Latina.
“Antes não tínhamos essa situação de liberdade, ela existe também porque o papa Francisco a criou. Temos que nos acostumar com essa ideia, pois abriu um capítulo novo na história da Igreja”, afirmou à Agência Pública Massimo Faggioli, professor de teologia histórica da Universidade Villanova, nos Estados Unidos.
Frequente colaborador de revistas católicas liberais, Faggioli lembra que a mídia especializada conservadora começou uma campanha contra o Santo Padre três ou quatro meses depois de sua posse. Os motivos, ressalta, eram pueris: o fato de o papa ser jesuíta e latino-americano, dois ineditismos em mais de 2 mil anos de história da instituição. O professor diz que a crítica aberta de cardeais e bispos começou após o movimento da mídia.
“Todos os papas desde o Concílio Vaticano II vêm sendo atacados pelos tradicionalistas, mas a ferocidade e intensidade da oposição contra Francisco é uma das características mais notáveis do seu pontificado”, afirma o jornalista e escritor inglês Austen Ivereigh.
Autor de dois livros sobre Francisco e seu papado (uma biografia publicada em 2015 e outro, que saiu há menos de dois meses, sobre a agenda reformista e as dificuldades encontradas pelo argentino na condução da Igreja), Ivereigh é alvo frequente dos grupos e jornalistas tradicionalistas por ser considerado simpático ao argentino.
“O modus operandi é muito parecido com a mídia alt-right, como Breitbart [site de notícias de extrema direita dos EUA], para alimentar a indignação, retratando implacavelmente quase tudo o que o papa faz como rendição ao liberalismo e à modernidade. O objetivo é escandalizar. Tudo é lido através do mesmo filtro, e os princípios tradicionais do jornalismo, da apuração, não se aplicam. A única coisa que importa é fornecer uma narrativa para alimentar o medo e o preconceito.”
O medo e o preconceito estiveram presentes na cobertura do Sínodo da Amazônia, que, encerrado no final de outubro, entre outras considerações, propôs a ordenação de homens casados como sacerdotes nos lugares mais remotos da floresta – a decisão final caberá ao papa, mas a proposta acendeu inúmeras polêmicas entre os tradicionalistas, que consideraram a medida uma ameaça à existência do celibato.
Um dos pontos questionados pela mídia conservadora foi a proposta – repetida por Bergoglio várias vezes durante o evento – de dar um “rosto amazônico à Igreja”, abrindo-a à cultura e aos costumes dos índios. Também causou repulsa nesses grupos o uso de imagens indígenas durante o evento, o que gerou acusações de paganismo. Pequenas estátuas de madeiras que representavam uma indígena nua e grávida passaram a ser atacadas e chamadas pelos tradicionalistas de Pachamama (que significa Mãe Terra, uma figura indígena andina, mas os objetos que estavam em Roma foram produzidos por um artista de Manaus).
O tom preconceituoso de alguns jornalistas com os indígenas (menções a infanticídios e outras coisas do gênero) gerou embates abertos entre as alas conservadora e progressista durante os briefings diários realizados pela Sala de Imprensa do Vaticano. Um dos repórteres, o inglês Christopher Lamb, correspondente em Roma da revista semanal inglesa The Tablet, especializada no mundo católico, fez um pedido público de desculpa aos índios amazônicos pelos “comentários racistas e humilhantes por parte da mídia católica”.
As estátuas foram usadas numa cerimônia nos jardins do Vaticano, na presença do papa, e depois expostas numa igreja ao lado da basílica de São Pedro, de onde elas foram roubadas e jogadas no rio Tibre, que corta a capital italiana, por católicos tradicionalistas. A ação foi elogiada por veículos conservadores – um site italiano chegou a escrever que “justiça foi feita”. Algumas das estátuas foram recuperadas, e o Vaticano condenou a ação no seu site de notícias, classificando o gesto de “violento e intolerante”.
“Em nome da tradição e da doutrina foi jogada fora, com desprezo, uma efígie da maternidade e da sacralidade da vida.” O texto, assinado por Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério (similar a ministério) da Comunicação da Santa Sé, criticou também “o ódio espalhado pelas redes sociais”.
Dias depois, um dos responsáveis pela ação se apresentou – também na rede: era o austríaco Alexander Tschugguel, um católico tradicionalista de 26 anos. Ele estava em Roma participando de eventos contra o sínodo e admitiu ter roubado as imagens porque elas eram pagãs e afrontavam os católicos. Tschugguel foi depois defendido pelos opositores de Francisco.
Após a confissão, o austríaco viajou para os Estados Unidos para participar de eventos realizados pela ala tradicionalista, como a TFP (Tradição, Família e Propriedade), o site LifeSiteNews e o acadêmico Taylor Marshall, um ex-protestante convertido ao catolicismo que bajula o presidente dos EUA, Donald Trump, na mesma medida em que ataca Francisco. No encontro com Tschugguel no mês passado, os dois apareceram no Texas segurando um rifle em protesto ao pedido de maior controle sobre armas por setores progressistas da Igreja americana.
Marshall é autor de um livro intitulado Infiltração: o plano de destruir a Igreja por dentro, em que cita teorias da conspiração entre comunistas, liberais e até a máfia para subverter a Igreja Católica por dentro. A obra foi publicada por uma editora que pertence à gigante americana EWTN, sigla de Eternal Word Television Network, a maior emissora católica do mundo e principal representante do conservadorismo cristão. Sua programação é retransmitida para mais de 6 mil afiliadas em 145 países e inclui jornais, rádios e sites.
Fundada no Alabama em 1981 por uma religiosa conhecida como Mãe Angélica, já falecida, a EWTN é considerada nos EUA a “Fox News” do mundo católico. Defensora de bandeiras pró-vida (contra o aborto e o feminismo, por exemplo), a rede apoia Trump desde a campanha presidencial de 2016.
Além de receber doações do clero norte-americano, a EWTN é a principal fonte de informação para mais de 60% de seus bispos, segundo pesquisa feita pelo episcopado local. A maior parte das doações recebidas pelo grupo vem de milionários e de grupos que apoiam pautas conservadoras, conforme mostrou neste ano uma série de reportagens do site National Catholic Reporter, publicação americana de viés progressista.
Geopolítica apocalíptica
Em 2017, a revista jesuíta La Civiltà Cattolica, editada pelo padre italiano Antonio Spadaro, considerado um confidente do papa Francisco, publicou um duro artigo – Spadaro era coautor – contra os católicos ultraconservadores dos EUA, acusando-os de uma aliança de “ódio” com Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, apontado na publicação como o “defensor de uma geopolítica apocalíptica”. O papa, como já ficou claro na atuação de políticos próximos a Bannon (um ex-coroinha), como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o italiano Matteo Salvini, é alvo dessa agenda.
Procurado, Spadaro não quis comentar o assunto. O artigo afirmava que os católicos radicais se baseavam numa interpretação literal da Bíblia que não os deixava “muito longe” dos jihadistas e que o objetivo era levar “influência religiosa para a esfera política”. Exemplos nos Estados Unidos não faltam: um desses sites, Church Militant, tem um braço de operação de base católica, intitulada “Resistance”, que se apresenta em luta contra as “heresias e abusos” que se infiltraram na igreja.
“Houve uma aliança informal. É um grupo misto, com diferenças nos detalhes, mas a mesma finalidade: são contrários a Francisco e tentam deslegitimá-lo”, afirma o professor Massimo Faggioli. “Nos Estados Unidos, essa crítica é fruto de uma Igreja doente, trata-se de uma expressão de ódio. Não é uma questão de liberdade de expressão.”
Na Itália, cuja relação umbilical com o Vaticano a tornou conhecidamente internamente como “o jardim da igreja”, também há uma profusão de sites, blogs e jornais especializados contrários ao papa, embora todos sejam modestos em comparação à EWTN. Há muitos apoiadores, como o jornal Avvenire, que, editado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), endossa abertamente a agenda do pontífice em temas como imigração e a defesa do meio ambiente.
“O Vaticano parece preocupado, pois essa força na internet provoca impacto na opinião pública”, afirma Roberto de Mattei, presidente da Fondazione Lepanto e protagonista do ultraconservadorismo italiano. Responsável pela agência de notícias Corrispondenza Romana, De Mattei reconhece o “óbvio” paralelo entre o mundo político e religioso.
O italiano Giuseppe Rusconi, jornalista vaticanista responsável pelo blog Rosso Porpora, é outro crítico da agenda de Bergoglio. Durante o sínodo, ele questionou a abertura da Igreja com os povos indígenas, já que algumas etnias ainda praticariam infanticídio em casos específicos.
“Não sou um crítico prejudicial. Há uma crítica hostil, que não considera Bergoglio um verdadeiro papa, sem condições para o cargo”, diz Rusconi. “Não é o meu caso. Eu o critico pela maneira de comunicar; ele é um que fala de qualquer assunto e muitas vezes se expõe demais. É um papa que reage por instinto.”
A divisão central no papado de Francisco, e que vaticanistas ressaltam como fundamental para entender a fratura atual na Igreja Católica, remonta ao Concílio Vaticano II, que, realizado na primeira metade da década de 1960, ainda hoje não foi completamente implementado.
Seu objetivo era modernizar a Igreja, aposentando velhos ritos e abrindo o catolicismo para o diálogo com outras religiões e para a inculturação, que pode ser definida como o esforço da Igreja para fazer penetrar sua mensagem em determinado meio, desde que conciliável com o Evangelho. Como se viu no Sínodo da Amazônia, há uma ala que vê com ressalvas e até rejeita propostas de inculturação (indígenas e outros povos) como as propostas desde o concílio. Os críticos de Bergoglio afirmam que ele dá muita importância a aspectos do Concílio Vaticano II que não ganharam a mesma atenção de antecessores como Bento XVI e João Paulo II.
O temor dos tradicionalistas, particularmente forte no clero dos Estados Unidos, é de a Igreja se abrir demasiado ao mundo (como deseja o papa) e perder sua essência. Por isso, muitos o acusam de desvirtuar a doutrina católica.
Para Agostino Giovagnoli, professor de história contemporânea da Universidade Católica do Sacro Cuore, o tradicionalismo católico demonstra uma “contradição clamorosa” por ser uma oposição frágil, sem substância. Para ele, os verdadeiros opositores do papa estão fora, e não dentro da Igreja. “Na Itália, hoje, o principal expoente contra Francisco é Matteo Salvini, não há nenhum cardeal ou padre nessa posição. Ocorre o mesmo nos Estados Unidos: o opositor é Trump.”
Direita populista na América Latina
A atuação da mídia conservadora, ou anticonciliar, como muitos se referem a ela em Roma, vem ganhando terreno também na América Latina – e parte dela recorre às mesmas táticas da direita populista.
O golpe na Bolívia contra Evo Morales, em novembro, evidenciou o ódio de católicos tradicionalistas (e evangélicos) contra a Pachamama, figura reconhecida na Constituição elaborada pelo primeiro indígena a presidir o país. Um dos líderes do golpe boliviano é o empresário Luis Fernando Camacho, expoente local do conservadorismo católico e com conexões latino-americanas. No Brasil, a presença do debate religioso – sobretudo nas redes sociais – ganhou projeção sob o governo Bolsonaro. Alguns dos protagonistas tiveram relevância com o bolsonarismo, como é o caso de Bernardo Küster, um youtuber que fez campanha contra o Sínodo da Amazônia. Ele esteve em Roma durante o evento, credenciado pelo Centro Dom Bosco, uma instituição do Rio de Janeiro que promove cursos na internet.
Além de municiar os repórteres norte-americanos com supostas informações sobre o “comunismo” no Brasil e o financiamento de organizações internacionais consideradas “esquerdistas”, ele se dedicou a questionar o sínodo, alegando ser parte de uma conspiração “socialista” promovida por defensores da Teologia da Libertação, como o cardeal brasileiro dom Claudio Hummes, bispo emérito de São Paulo e relator da assembleia.
Na internet, vídeos do Centro Dom Bosco exibem depoimentos como o de um ex-evangélico que conta ter se convertido ao catolicismo graças a Olavo de Carvalho, ideólogo do bolsonarismo, ou mesmo do padre Paulo Ricardo, vigário de Cuiabá (MT) e apoiador declarado do governo (no início do ano, o sacerdote gravou um vídeo defendendo o direito da população de adquirir armas).
O tom é o mesmo de instituições como a TFP (fundada no Brasil e apoiadora do golpe de 1964, que depois criou braços na Europa e nos Estados Unidos) e do instituto que leva o nome de seu fundador, Plínio Corrêa de Oliveira. A TFP tem organizado atos e palestras contra Francisco e atrai bolsonaristas.
A gigante norte-americana EWTN tem um pé no Brasil por meio da ACI Digital, versão brasileira do grupo peruano ACI Prensa, presente na Europa, na África e nos Estados Unidos e dirigida pelo jornalista peruano Alejandro Bermúdez.
Baseado em Denver, no Colorado, Bermúdez, um laico consagrado (que não tem as funções de padre, mas vive como tal, inclusive adotando o celibato) há 29 anos, é membro do Sodalício de Vida Cristã, grupo católico conservador que sofreu intervenção do Vaticano após uma série de denúncias de abusos sexuais e morais contra seus integrantes. Comentarista da EWTN, que incorporou a ACI Prensa em 2014, Bermúdez faz questão de se distanciar dos sites radicais (como LifeSiteNews e Church Militant) e de agitadores como Küster.
Ele condenou os abusos cometidos no Sodalício e disse que desde 2015 é o único membro da organização que trabalha na ACI Prensa, ressaltando que as duas não têm nenhuma relação. Para o peruano, o LifeSiteNews “não produz jornalismo”, além de ser “profundamente carente de profissionalismo”. Sobre as grandes doações recebidas pela EWTN, Bermúdez diz que não responde por ela, mas observa que a soma das doações é menor que as destinadas pelo megainvestidor George Soros e sua Open Society para instituições liberais ou progressistas.
“Falar em mídia que está contra o papa é algo simplista e incorreto. Os que são mais favoráveis ao papa provavelmente dizem que minha agência o ataca. Não é verdade. Somos uma agência católica, logo papista”, conta.
Bermúdez reconhece ser crítico de alguns burocratas da Santa Sé. “Essa dicotomia [no debate] é impulsionada por aqueles que dizem representar Francisco e inclusive por alguns dicastérios do Vaticano. É uma divisão que terá influência no futuro da Igreja.”
Como o Sodalício de Vida Cristã, outro grupo ultraconservador alvo de intervenção do Vaticano é o brasileiro Arautos do Evangelho, que, fundado há vinte anos pelo monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, chegou a reunir mais de 3 mil pessoas. Os arautos foram alvo recente de investigação – também jornalística – por abuso sexual e maus-tratos contra os seguidores. Vídeos divulgados mostram até um dos integrantes pregando num culto a morte de Bergoglio. O grupo conta com o apoio de veículos especializados como a Gaudium Press, que reivindica ser a primeira agência de notícias católicas do Brasil.
O jornalista Austen Ivereigh lembra que uma das praxes da mídia conservadora é “identificar linhas-duras na hierarquia da Igreja, mesmo que eles sejam obscuros”, e transformá-los em guardiões da doutrina e da tradição católica. Alguns dos religiosos que atuam abertamente contra o papa – caso dos cardeais Raymond Burke, norte-americano, e Walter Brandmüller, alemão, além do bispo Athanasius Schneider, do Cazaquistão, mas ordenado sacerdote no Brasil – são figuras constantes na programação das redes oposicionistas. Fonte:
“Eles criam uma espécie de magistério paralelo para combater o do papa”, acrescenta Ivereigh. Segundo ele, esses grupos são barulhentos e bem financiados e não podem ser superestimados, já que o objetivo é “criar escândalos e confusão”.
A Sala de Imprensa do Vaticano não quis comentar o assunto, pois ele “pede uma leitura da situação que vai além da nossa competência”. Fonte: https://www.cartacapital.com.br
EVANGELHO DO DIA – TEMPO DO NATAL: Sexta-feira, 10 de janeiro-2020. - Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus todo-poderoso, que o Natal do Salvador do mundo, manifestado pela luz da estrela, sempre refulja e cresça em nossas vidas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 5, 12-16)
12Estando ele numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Vendo Jesus, lançou-se com o rosto por terra e lhe suplicou: Senhor, se queres, podes limpar-me. 13Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero; sê purificado! No mesmo instante desapareceu dele a lepra. 14Ordenou-lhe Jesus que o não contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: Vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu, para lhes servir de testemunho. 15Entretanto, espalhava-se mais e mais a sua fama e concorriam grandes multidões para o ouvir e ser curadas das suas enfermidades. 16Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar.
3) Reflexão - Lc 5, 12-16
Um leproso chega perto de Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: Se queres, podes curar-me! Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!” A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu te acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado!
O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.
Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Ele reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.
Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. O Evangelho de Marcos informa que esta proibição não adiantou nada. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos (Mc 1,45). Por que? É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo, agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. E Marcos mostra ainda que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele (Mc 1,45). Subversão total!
O duplo recado que Lucas e Marcos dão às comunidades do seu tempo e a todos nós é este: 1) anunciar a Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isto traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.
4) Para confronto pessoal
1) Para ajudar o próximo, Jesus transgrediu a lei da pureza. Existem hoje leis na igreja que dificultam ou impedem a prática do amor ao próximo?
2) O leproso para poder ser curdo teve coragem a opinião pública do seu tempo. E eu?
5) Oração final
Louva, ó Jerusalém, ao Senhor; louva o teu Deus, ó Sião, porque ele reforçou os ferrolhos de tuas portas, e abençoou teus filhos em teu seio. (Sl 147)
Supremo derruba censura a especial de Natal do Porta dos Fundos
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A Netflix, que veicula a produção, acionou o STF mais cedo contra a decisão
BRASÍLIA
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, suspendeu na noite desta quinta (9) a decisão da Justiça do Rio de Janeiro que censurou o Especial de Natal do Porta dos Fundos.
A Netflix, que veicula o especial do humorístico, acionou o STF mais cedo contra a decisão do desembargador Benedicto Abicair, desta quarta-feira (8), alegando que ela desrespeitou julgamentos anteriores do tribunal ao impor “restrições inconstitucionais à liberdade de expressão, de criação e de desenvolvimento artístico”.
O relator da reclamação é o ministro Gilmar Mendes, mas, como o STF está em recesso, o pedido de liminar (decisão provisória) da Netflix foi analisado por Toffoli.
"Não se descuida da relevância do respeito à fé cristã (assim como de todas as demais crenças religiosas ou a ausência dela). Não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2.000 anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros", afirmou Toffoli.
Segundo o ministro, o plenário do STF já se debruçou sobre o tema da liberdade de expressão ressaltando "a plenitude do exercício da liberdade de expressão como decorrência imanente da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmação/potencialização de outras liberdades constitucionais".
O especial do Porta dos Fundos retrata um Jesus gay (Gregorio Duvivier, colunista da Folha) que se relaciona com Orlando (Fábio Porchat). Há várias ações na Justiça contra a Netflix ajuizadas por líderes religiosos que afirmam se sentir ofendidos.
O desembargador Abicair censurou o programa a pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, para a qual o especial violou a fé, a honra e a dignidade de milhões de católicos brasileiros, ultrapassando os limites da liberdade de expressão prevista na Constituição.
De acordo com a Netflix, em decisões anteriores o Supremo estabeleceu três pilares que devem guiar o Judiciário em conflitos desse tipo.
São eles: 1) a liberdade de expressão tem preferência sobre outros direitos fundamentais que colidam com ela, 2) é vedada qualquer forma de censura de natureza política, ideológica e artística, e 3) o Estado não pode fixar quaisquer condicionamentos e restrições relacionados ao exercício da liberdade de expressão que não os previstos expressamente na própria Constituição.
“Realmente, impôs-se um controle sobre conteúdos artísticos que, a pretexto de conferir prevalência às liberdades religiosas, importou em verdadeira retirada de conteúdo audiovisual disponibilizado a público específico”, afirmou a Netflix na reclamação.
“Isso constitui patente censura prévia emanada do Poder Judiciário a veículo de comunicação social que dissemina conteúdo artístico [...].”
Um dos argumentos do desembargador Abicair para censurar o especial é que a suspensão da veiculação é mais adequada e benéfica “não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã”.
A Netflix, por outro lado, argumenta que o direito fundamental à liberdade de expressão não se presta necessariamente à proteção de opiniões que são objeto de concordância de um grupo majoritário da sociedade.
“A simples circunstância de que a maioria da população brasileira é cristã não representa fundamento suficiente para suspender a exibição de um conteúdo artístico que incomoda este grupo majoritário. Até porque a obra audiovisual questionada não afirma nada. Vale-se do humor e de elementos obviamente ficcionais para apresentar uma visão sobre aspectos da sexualidade humana”, diz a empresa. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O relato bíblico da criação: entre o fundamentalismo e a população LGBT
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Por Luís Corrêa Lima *
Um dos principais pilares do credo cristão é a fé em Deus, o criador do céu e da terra. Isso inclui o mundo, a natureza e o ser humano como criação divina, a obra de um ser poderoso e bom, projetado para brilhar Sua glória e compartilhar Sua vida. O relato bíblico da criação, contido nos primeiros capítulos da Bíblia, marcou a tradição judaico-cristã e a cultura humana. No começo de tudo, não é o caos, mas o próprio Deus. Pela Sua palavra vêm a luz, as estrelas, as águas, os continentes e a vida. A humanidade vem do sopro divino sobre a matéria, constituindo-se como imagem e semelhança divinas e guardiã da criação. Nesse relato, muitas gerações encontraram significado na vida, felicidade, família, civilização, normas que governam a sociedade e também no trato com o mal e a morte.
Com o tempo, surgiram perguntas sobre certos pontos: a criação do universo em seis dias, a terra veio antes do sol e das estrelas, o homem veio direto do pó da terra e a mulher saiu da costela do homem . Também foi questionada a dominação masculina sobre a mulher (“você será atraído pelo seu marido e ele o dominará” - Gênesis 3:16).
Em resposta a essas perguntas, um apego intransigente à letra do texto bíblico, o fundamentalismo, foi gerado no final do século XIX e no início do século XX. A Palavra de Deus, inspirada por Ele, deveria estar livre de erros e deve ser interpretada literalmente em todos os seus detalhes. Para aqueles que ousaram questioná-lo em nome da razão, o dilema foi levantado há muito tempo: "você acredita ou pensa". Esse pool ideológico afastou muitas pessoas da intenção correta da religião cristã.
Felizmente, a evolução da ciência e da sociedade também levou os cristãos a ler os textos sagrados de outra maneira, libertando-os do dilema perverso. Com o papa Pio XII e mais tarde com o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica assimilou métodos científicos de interpretação da Bíblia, incorporando a ajuda de várias ciências, da arqueologia à literatura. O leitor contemporâneo deve buscar o significado que os autores sagrados, sob certas circunstâncias, de acordo com as condições de seu tempo e cultura, pretendem expressar usando modos ou gêneros literários então utilizados. É preciso levar em consideração as maneiras apropriadas de sentir e narrar em uso em seu tempo, bem como as maneiras pelas quais as relações entre os homens naquela época eram empregadas. Foi assim que a Palavra de Deus chegou até nós: não ditada por Ele, mas inspirada,
O fundamentalismo não deixou de existir e ter muita força. Hoje, porém, a Igreja alerta para seu risco: ao recusar qualquer pesquisa questionadora ou crítica, coloca na vida dos fiéis uma falsa certeza, confundindo as limitações humanas da mensagem bíblica com a substância divina dessa mensagem. Isso implica implicitamente uma forma de "suicídio de pensamento". Contra a evidência, os cristãos fundamentalistas continuam alegando que o mundo foi feito em seis dias, a mulher veio da costela do homem e deve ser dominada por ele.
Hoje surge outra questão: a realidade da população LGBT que se tornou visível no mundo contemporâneo. É necessário aprofundar a reflexão sobre a criação do ser humano na dualidade do homem e da mulher. Sem negar essa dualidade original e seu valor, deve-se notar que nem todas as pessoas são heterossexuais e nem todas se identificam com o sexo que lhes é atribuído no nascimento. Esta não é uma escolha deles, mas algo constitutivo de seu ser, com componentes biológicos e psicossociais. São rostos da complexa diversidade entre homens e mulheres, que não podem ser simplificados em uma leitura superficial e grosseira. Não pode ser imposto a todos que vivem como heterossexuais e identificados com o sexo ao nascer.
Também nesta complexa diversidade, o ser humano permanece criação divina, obra de um ser poderoso e bom, destinado a brilhar Sua glória e a participar de Sua vida.
* Luís Corrêa Lima é padre jesuíta e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ele trabalha com pesquisas sobre gênero e diversidade sexual, e sobre o acompanhamento espiritual de pessoas LGBT.
Fonte: http://rainbowcatholics.org
Bispos brasileiros silenciam após violência contra grupo Porta dos Fundos
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Extremistas de direita no Brasil jogaram bombas nos escritórios de um grupo de comédia criticado pelo lançamento de um especial de Natal na Netflix, no qual fica implícito que Jesus é gay. Ninguém ficou ferido no ataque, que ainda está sendo investigado pela polícia, mas a violência ocorreu após protestos em massa contra o vídeo, “A Primeira Tentação de Cristo”. O comentário é de Robert Shine, publicado por New Ways Ministry, 05-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os críticos incluíam os bispos do Brasil, que usaram uma linguagem calorosa para condenar o vídeo. Até agora, nenhum líder da Igreja do Brasil condenou o ataque.
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Daniel Foote, embaixador dos EUA no Zâmbia, citou o Papa Francisco em uma declaração crítica às leis da nação que criminalizam a homossexualidade. Foote, que é lembrado pelos seus comentários pró-LGBTQ, escreveu, em parte:
“Eu concordo que essa questão deve ser completamente decidida pelos zambianos. Vocês são abençoados com uma diversidade de denominações cristãs e, embora eu entenda que muitos não são católicos, permitam-me citar o Papa Francisco. Ele tem falado repetidamente sobre a necessidade de que a sua Igreja acolha e ame todas as pessoas, independentemente da orientação sexual. Em 2016, o papa disse: ‘Quando uma pessoa chegar diante de Jesus, Jesus certamente não dirá: ‘Vá embora porque você é homossexual’.”
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Um senador estadual de Indiana, EUA, está novamente tentando impedir que escolas particulares que discriminam pessoas LGBTQ recebam fundos de vouchers estaduais, um esforço desencadeado pela demissão de funcionários por parte da Arquidiocese de Indianápolis.
O senador J. D. Ford, democrata, apresentou seu projeto de lei na sessão deste ano. Embora ele tenha tentado fazer isso antes, desta vez ele conta com o apoio da superintendente Jennifer McCormick, a autoridade máxima em educação em Indiana. É improvável que o projeto seja aprovado na legislatura estadual controlada pelos republicanos. A Roncalli High School, em Indianápolis, que até agora demitiu três funcionários em disputas relacionadas às questões LGBTQ, recebeu 1,5 milhão de dólares em financiamento do Estado em 2018.
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A Global Network of Rainbow Catholics postou uma reflexão sobre a criação, as questões LGBTQ e o fundamentalismo escrita pelo padre jesuíta Luís Corrêa Lima, professor brasileiro que pesquisa gênero e sexualidade. Corrêa também atua no ministério LGBTQ. Você pode ler a reflexão dele, que também está disponível em espanhol e em português, aqui [em inglês].
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“Thanks Be to Pod”, um podcast cristão progressista, apresentou um episódio com a católica queer Maria Michonski, que falou sobre como ela sente “continuamente uma atração pelo catolicismo e seus ritos” e que, “em última análise, separando a sua identidade católica da Igreja institucional, Maria é capaz de conciliar sua sexualidade com o seu catolicismo”. Para ouvir o episódio, clique aqui [em inglês].
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O DignityUSA respondeu ao documento final do Sínodo sobre a Amazônia, comparando-o a uma “bolsa com várias coisas misturadas”, sendo “notável” no modo como aborda questões de ecologia e economia, mas ficando aquém do esperado em relação a questões de gênero e sexualidade, especificamente pelo fato de as delegadas mulheres não poderem votar e pelo fato de banir homens gays do sacerdócio. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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