Jovens abusados por padres revelam seus dramas pela primeira vez
- Detalhes
Eles são testemunhas do escândalo que chegou ao Vaticano e provocou a renúncia do bispo que protegia os pedófilos
Por João Batista Jr., Adriana Dias Lopes e Edoardo Ghirotto
O pecado abjeto foi premeditado em detalhes. Após celebrar uma missa na zona rural de Araras, cidade a 180 quilômetros de São Paulo, o padre Pedro Leandro Ricardo convidou o coroinha Ednan Aparecido Vieira, então com 17 anos, para dormir na casa paroquial. A desculpa: estar a postos no dia seguinte para ajudá-lo na missa do domingo de manhã. Embora soubesse que não haveria mais ninguém na residência, o menino jamais desconfiaria que estava prestes a cair em uma arapuca. Chegando ao local, o clima começou a ficar estranho com as perguntas do anfitrião, que só queria saber da vida íntima do garoto. Tinha namorada? Qual era seu tipo físico preferido de menina?
Passado um tempo, o homem se retirou para tomar banho e a jovem visita ficou vendo TV na sala. Na sequência, começou o inferno. O padre, então com 32 anos, revelou suas verdadeiras intenções ao aparecer na sala vestido apenas com uma cueca samba-canção. Seu estado de excitação marcava o tecido da peça. Começou a se masturbar e pediu que o adolescente fizesse sexo oral nele. Ao ouvir a recusa, avançou para cima do menino e começou a tocar suas partes íntimas, tentando forçar a relação. Em estado de choque, Ednan nada fez em um primeiro momento, até que conseguiu reunir coragem para se levantar e interromper o ataque. No dia seguinte, o padre celebrou a missa na Paróquia São Francisco de Assis como se nada tivesse acontecido. Mesmo traumatizado, o coroinha fez normalmente o trabalho na celebração, auxiliando o monstro que havia tentado molestá-lo na noite anterior. Uma semana depois, o padre dispensou os serviços do rapaz. O jovem era órfão de pai, e a mãe fazia parte do grupo de catequistas da paróquia. Devido a essa influência religiosa, Ednan servia a igreja havia dez anos com devoção. “Padre Leandro era como um pai para mim”, conta.
O relato do ex-coroinha faz parte de um dos maiores escândalos da história recente da Igreja Católica brasileira. Padre Leandro tem atualmente 50 anos. As barbaridades que cometeu nas sombras durante décadas só começaram a ficar conhecidas nos últimos meses. Ednan integra o grupo de seis pessoas — três homens, duas trans e uma mulher — que o denunciaram. Nesta reportagem de VEJA, pela primeira vez, elas revelam seus dramas. Até pouco tempo atrás, o clérigo era conhecido apenas como um líder carismático que cuidava de seu rebanho na periferia de Araras. Sua verdadeira face foi revelada em dezembro de 2018, quando a advogada Talitha Camargo da Fonseca e o produtor audiovisual José Eduardo Milani enviaram um dossiê de 68 páginas ao Vaticano para denunciá-lo, incluindo relatos das vítimas, que são representadas por Talitha. Todas prestaram depoimento há duas semanas na Polícia Civil de São Paulo.
Segundo elas, Leandro contava com a proteção de dom Vilson Dias de Oliveira, bispo emérito da Diocese de Limeira, jurisdição que representa dezesseis cidades do interior de São Paulo. Sem a intervenção das autoridades eclesiásticas de fora do país, que obedecem a uma diretriz do papa Francisco, tais crimes poderiam permanecer impunes. Agora, há uma esperança de que os malfeitos tenham consequências. Dois meses após o Vaticano receber o calhamaço com as denúncias, Leandro acabou afastado das funções de padre e de reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua e está impedido de celebrar missas até a conclusão da investigação. Mas continua recebendo cerca de 9 000 reais, entre salário e benefícios. O bispo Vilson, que o protegia, renunciou ao cargo quando o escândalo veio à tona. “Ele cansou de receber denúncias a respeito do padre Leandro, mas nunca fez nada”, diz a advogada Talitha.
Regra no Brasil e no exterior por muito tempo, a tática de acobertamento tem uma chance real de ser banida. Em fevereiro deste ano, o papa Francisco abriu um evento destinado a discutir o abuso sexual contra menores cometido por membros do clero. Para o encontro, denominado “A proteção de menores na Igreja”, o pontífice convocou 114 presidentes de conferências episcopais, como a CNBB, cardeais e embaixadores. Em uma atitude ainda mais ousada, Francisco estendeu o convite a vítimas de padres, na esperança de que seus depoimentos sensibilizem o clero para que ações de combate àquelas práticas alcancem, de modo muito contundente, as dioceses. Três meses depois, publicou um motu proprio (carta emitida diretamente pelo papa que modifica a legislação interna da Igreja), no qual torna obrigatório que padres e religiosos denunciem às autoridades eclesiásticas suspeitas de casos de abusos sexuais. Até então, os clérigos levavam adiante essas histórias de acordo com sua consciência pessoal.
O motu proprio desburocratizou o mecanismo das denúncias. Estabeleceu que em cada diocese exista um “sistema de comunicação” destinado apenas a receber as queixas — as instituições têm até um ano para criá-lo. Se a vítima quiser que a denúncia siga diretamente para a Congregação da Doutrina da Fé, será enviada, sem questionamento. Esse tipo de mecanismo já existia em alguns países, como Estados Unidos, mas o papa agora quer tornar a iniciativa obrigatória em todo o mundo. O motu proprio determinou ainda que os padres e religiosos são obrigados a denunciar qualquer suspeita. Os leigos que trabalham para a Igreja são também encorajados a relatar casos de abuso e assédio. As investigações precisam garantir a confidencialidade dos envolvidos e durar até noventa dias. A Igreja deve fornecer assistência médica, terapêutica e psicológica às vítimas. Uma das maiores críticas ao documento é não trazer nenhuma orientação para que os episódios sejam reportados às autoridades civis. Hoje, quando uma vítima procura a Igreja para relatar um caso de abuso, a entidade não tem a obrigação de relatá-lo à polícia para que ela o investigue. A Justiça comum, portanto, muitas vezes não toma conhecimento sobre atrocidades ocorridas nos meandros das paróquias.
A rigor, as regras da Igreja para um crime de pedofilia são universais e valem para casos que envolvam pessoas abusadas com idade inferior a 18 anos. A denúncia pode ser feita por qualquer pessoa — a própria vítima ou não. O caso deve ser relatado ao superior do clérigo acusado. Se o criminoso for o padre, por exemplo, deve-se falar com o bispo. A autoridade que recebeu a denúncia ouve o acusado. Se considerar a história verídica, ela seguirá para o Tribunal Eclesiástico.
No escândalo de Araras, o bispo Vilson Dias de Oliveira não deu andamento às denúncias que estavam sob sua jurisdição. Além do envolvimento de Leandro, há vítimas dos padres Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. O dossiê enviado ao Vaticano não trata apenas de pedofilia. Há indícios fortes ali também de uma espécie de “mensalinho do abuso”. As vítimas afirmam que o bispo exigia propinas dos párocos de conduta condenável para deixá-los atuar sem ser investigados. A prática teria rendido dividendos visíveis. Vilson possui dez imóveis registrados em seu nome, todos em São Paulo. Metade deles na cidade de Guaíra e os outros em Itanhaém, no litoral sul paulista. Em uma avaliação conservadora, a soma do patrimônio supera a marca de 1,5 milhão de reais. É o verdadeiro milagre da multiplicação imobiliária. Procurado por VEJA, o bispo disse, por meio de seu advogado, que não cometeu condutas ilícitas. Acusado de abuso contra Paula Vallentin e de ter assediado Mariele da Silva Dibbern, Felipe Negro negou os crimes. “Essas denúncias não conferem”, limitou-se a dizer. O advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento falou em nome do padre Leandro: “Das seis pessoas, apenas duas foram ouvidas na delegacia competente para apurar o caso, e as outras quatro foram levadas até outra delegacia, onde foram ouvidas à revelia deste defensor, violando-se o direito de ampla defesa de meu cliente”. O defensor também refuta a história do “mensalinho do abuso”. “O padre Leandro nunca fez nenhum pagamento a dom Vilson”, afirma.
De acordo com as denúncias, o modus operandi dos três sacerdotes é muito similar. A maioria das vítimas nasceu em família pobre e desestruturada — e tinha a Igreja como esteio. Ou seja, os religiosos escolhiam a dedo as pessoas mais frágeis. No começo dos anos 2000, o bairro Jardim Ometto, na periferia da cidade, não tinha ruas asfaltadas nem quadras poliesportivas. Eram comuns assaltos, e pontos de venda de drogas funcionavam no local sem que os traficantes fossem importunados. “A paróquia representava a nossa única fonte de lazer, onde fazíamos amizade e passávamos o tempo”, conta S.M.C. Sua mãe trabalhava como faxineira de uma igreja. De tão humilde, dependia da ajuda da paróquia para fazer todas as refeições. Ele era órfão de pai e projetou no padre a figura paterna. Quando Carlos Alberto avançou o sinal, o adolescente não teve forças para reagir. “Ele me molestou, me tocou e me torturou psicologicamente durante um ano, todos os fins de semana. Dizia que, se eu contasse, seria expulso da igreja, me tornaria um bandido por ser pobre e não ter pai.”
A cartilha do padre Leandro também incluía terror psicológico, com a diferença de que os abusos começaram em incursões de Kombi para rezas na zona rural ou dentro da sacristia. Enquanto estava ao volante do carro, ele pedia às vítimas que se sentassem ao seu lado — e aproveitava para passar a mão nas pernas e no pênis dos garotos. Na sacristia, fazia questão de ver meninos tirando a roupa para usar a túnica de coroinha. Não raro, “ajudava” a vítima a vestir-se para poder tocar em seu corpo. Tempos depois, o padre adotou a tecnologia para assediar fiéis. Uma troca de mensagens por WhatsApp mostra Leandro falando sobre nudes com um rapaz.
SEM CONFISSÃO – O padre Felipe Negro: “Essas denúncias não conferem”
O religioso mantém há anos um relacionamento amoroso com o padre Diego Rodrigo, natural de Araras. “Eu presenciei Leandro e Diego se beijando na sacristia e namorando na cama dentro da casa paroquial”, diz a ex-ajudante-geral da igreja Ivone Aparecida Ferreira. Quando Leandro percebeu que a senhora que trabalhava fazia 21 anos para a entidade tinha visto o que não devia, começou a persegui-la. “Ele me expulsou da igreja e eu caí em depressão”, conta Ivone. O padre costuma mover ações contra as pessoas que denunciam seu comportamento. Já processou seis fiéis de sua igreja, alguns por emitirem comentários negativos a seu respeito no Facebook. “Parece uma defesa legítima, mas é uma estratégia de intimidação”, diz a advogada Talitha Camargo da Fonseca. “Em uma comunidade pobre, poucos têm como bancar advogado para brigar nos tribunais.” Apaixonado por luxos, Leandro fez em 2013 uma procissão para Nossa Senhora Aparecida que ficou na história de Americana. Na ocasião, a santa surgiu carregada por um Corvette vermelho conversível. Ninguém sabe até hoje de onde veio o carro e quem pagou. O mesmo padre é acusado de não ter prestado contas da venda de uma chácara que pertencia à Basílica Santo Antônio de Pádua, arrematada por 1,1 milhão de reais.
Do ponto de vista teológico, a pedofilia é um delito no qual se transgride o sexto mandamento, de “não pecar contra a castidade”. Do ponto de vista da humanidade, trata-se de uma monstruosidade. Por séculos, o que se fez foi, no máximo, reportar os crimes ao Vaticano sem nenhuma consequência aos acusados. Os clérigos só começaram a sofrer algum tipo de sanção, ainda que pequena, de pouquíssimo tempo para cá, quando os casos saíram dos muros da Santa Sé, tornando-se públicos. O primeiro episódio de grandes proporções ocorreu em 2002, com a história do cardeal americano Bernard Law, que encobriu crimes sexuais de padres entre 1984 e 2002. O ato de omissão foi divulgado pelo The Boston Globe. Após o escândalo vir à tona, Law se viu obrigado a apresentar sua renúncia como arcebispo de Boston, mas João Paulo II o enviou para Roma e o nomeou, em 2004, vigário da Basílica de Santa Maria Maggiore, uma das mais importantes da capital italiana. Law viveu seus últimos anos no Vaticano. A história foi contada no filme Spotlight, vencedor do Oscar em 2016. Ainda assim, o problema continua grave nos EUA. De acordo com levantamento encomendado pela Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, cerca de 5% dos padres americanos cometem atos de abuso. No Brasil, não há estatísticas semelhantes. Mas estima-se que a porcentagem não seja muito diferente.
O papa Bento XVI foi o primeiro a adotar uma postura mais firme em relação a clérigos pedófilos. Em 2010, o pontífice alemão incluiu leigos nos tribunais eclesiásticos que julgariam os casos de abusos. Ao longo de seu pontificado, pelo menos 400 padres acabaram expulsos. A medida de Bento XVI foi surpreendente, porque ele próprio se envolveu em um episódio nebuloso. Entre 1996 e 1998, a Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida pelo então cardeal Ratzinger, órgão destinado a investigar e punir os desvios, recebeu inúmeros alertas de bispos dos Estados Unidos em relação aos crimes do padre Lawrence Murphy. O sacerdote abusou de 200 meninos surdos no Estado de Wisconsin. O Vaticano pouco fez.
Em junho de 2016, VEJA denunciou o caso do padre Fabiano Santos Gonzaga. O religioso atacou um adolescente de 15 anos, portador de deficiência mental, no vestiário do Caldas Termas Clube, no interior de Goiás. Gonzaga beijou o menor na boca e segurou seu pênis. Quando o jovem se desvencilhou, o padre bloqueou a porta e o forçou a praticar sexo oral. Levado à Justiça, foi condenado a quinze anos de prisão em regime fechado. Recentemente, a Justiça o transferiu para uma Apac em Araxá (MG). Gonzaga está suspenso de ordens, ou seja, não pode presidir ou celebrar nenhum sacramento nem administrar ou exercer cargo algum na Igreja. Também não recebe salário. O processo eclesiástico do padre está em andamento. Por ora, encontra-se no Tribunal Arquidiocesano, onde é feita a fase de instrução. Após a conclusão da etapa, o caso será enviado para julgamento na Santa Sé. A sentença cabe ao Vaticano. Em situações semelhantes, a Igreja tem demonstrado uma lentidão maior que a Justiça dos homens.
O afastamento do padre Leandro pegou a comunidade do interior paulista de surpresa. Isso porque ocorreu mais de quinze anos após a primeira denúncia. Depois da renúncia de dom Vilson da Diocese de Limeira, o arcebispo dom Orlando Brandes afirmou que o colega pode, sim, celebrar missas em igrejas de outras dioceses se for convidado. Dom Vilson está sendo investigado pela Polícia Civil por extorsão, enriquecimento ilícito e por acobertar os casos de abuso sexual cometidos pelo padre Leandro. “Ao final, demonstraremos a verdade dos fatos”, diz o advogado do bispo, Virgílio Ribeiro. As sequelas nas vítimas são como tatuagens ardendo na alma. Ednan Aparecido Vieira, por exemplo, sofre de síndrome do pânico e tem taquicardia cada vez que relembra o abuso. Hoje, aos 35 anos, o ex-coroinha diz que continua acreditando em Deus. Mas tem ódio de sacerdotes. “A imagem do padre vindo para cima de mim nunca saiu da minha cabeça”, conta. A Igreja avançou contra essas monstruosidades praticadas por homens que deveriam ser líderes espirituais e se aproveitaram dessa condição para molestar crianças. Mas ainda há um longo caminho para expurgar todos os seus pecados.
“Saiu do banheiro de cueca e veio na minha direção”
“Era coroinha e andava de carro com o padre Pedro Leandro Ricardo para os trabalhos da igreja. Um dia, ele começou a esbarrar a mão na minha perna, e eu achava que poderia ser brincadeira. Em um sábado, convidou-me para dormir na casa paroquial porque iríamos celebrar missa no domingo. Fiquei sozinho com ele. O padre perguntava se eu tinha namorada, se eu era virgem… No meio da conversa, abriu um vinho e pediu que eu bebesse. Eu tinha 17 anos. Tomou quase a garrafa inteira. Depois, foi ao banho. Quando voltou, vestia apenas uma cueca samba-canção. O pênis estava ereto, marcando o tecido. Veio em direção ao sofá, começou a se masturbar e pediu que eu fizesse sexo oral nele. Mesmo com a minha recusa, começou a acariciar meu pênis. Fiquei em choque e me levantei. Não fizemos nada. Não consegui dormir, de pânico. No dia seguinte, na missa, só lembrava da imagem dele vindo para cima de mim.”
“Enquanto eu vestia a túnica de coroinha, o padre aproveitava para me tocar”
“O padre Pedro Leandro Ricardo me olhava de forma diferente. Eu tinha 16 anos, quando ainda não me entendia como uma mulher transexual. Como meu pai havia morrido, achava que o pároco tinha carinho por mim. Ele começou a ficar ao meu lado enquanto eu vestia a túnica de coroinha. Depois, passou a me ajudar com as vestes para tocar o meu corpo, com a desculpa de desamassar o tecido. Um dia, abriu as minhas pernas e segurou as minhas coxas. Dei um berro na sacristia e saí correndo. Meu corpo tremia. Na hora, lembrei do abuso sexual que havia sofrido aos 3 anos do meu padrasto. Após o episódio, o Leandro me tirou das atividades da igreja. Tempos depois, já com 18 anos, quando fui estudar no seminário, tive um caso com outro padre, o Felipe Negro. ‘Quem não tem padrinho morre pagão’, ele me dizia. Eu era pobre, e o padre me oferecia dinheiro para comprar roupa. Em troca, tinha de transar com ele. Seminário é uma fábrica de pervertidos: há sexo, coação, abuso de poder… Desisti de ser padre. Meus abusadores percebiam meus trejeitos femininos, eu era uma presa mais fácil. Hoje sou uma mulher trans e, apesar de tudo, não perdi minha fé em Deus.”
“Enquanto dirigia, o padre pegou no meu pênis”
“Minhas duas irmãs mais velhas morreram por problemas de saúde e minha família ficou muito apegada à igreja. Nós nos sentíamos acolhidos, protegidos. Fui por muitos anos coroinha da Paróquia São Francisco de Assis, na periferia de Araras. Quando o padre Pedro Leandro Ricardo assumiu a igreja, em 2002, mantive minha rotina de ajudar nas missões na zona rural. Na época, eu tinha 16 anos. Em um de nossos primeiros encontros, ele elogiou meu corpo e meu visual. No carro, esbarrou na minha perna. Depois, celebrou a missa como se nada tivesse acontecido. Na volta, porém, foi mais direto: enquanto dirigia, pegou no meu pênis. Tivemos uma discussão feia dentro do carro. No dia seguinte, enquanto eu vestia a túnica de coroinha da missa de domingo, Leandro disse que não precisava mais de mim. Como não pôde avançar no abuso, ele me expulsou da igreja. O monstro não conseguiu o que queria e me tirou a base da minha vida social. Por medo, não contei aos meus pais. Eles amavam a igreja, e eu não quis desapontá-los. Segue assim até hoje. Fiquei com sequelas e cheguei a tomar remédio para síndrome do pânico.”
“Ele me masturbava e dizia que isso era normal”
S.M.C., 37 anos, psicólogo e gestor de segurança; morador de Arara“Meu pai morreu quando eu tinha menos de 2 anos e minha mãe trabalhava como faxineira na igreja. Eu vivia ali dentro. Fui coroinha e sonhava em ser padre. O padre Carlos Alberto da Rocha era para mim uma figura paterna. Meu martírio começou aos 16 anos. Eu o ajudava nas missas e, muitas vezes, dormia na casa paroquial, pois estudava em outra cidade. Quase toda noite, durante um ano, ele me molestou (chora). O padre tocava meu pênis, me masturbava. Minha primeira ejaculação foi resultado de uma experiência de medo, forçada, nojenta. O padre dizia que aquilo era normal e fazia ameaças. Dizia que, se eu abandonasse a Igreja, iria virar um bandido por ser pobre. E também que ninguém acreditaria na minha palavra porque não tinha pai (chora). Pouco antes de morrer de câncer, minha mãe me disse, deitada na cama: ‘Sorte que o padre vai cuidar de você’ (chora muito). Ela foi embora sem saber que seu ídolo era um monstro. Quando comecei a trancar a porta do quarto e interrompi os abusos, Carlos Alberto me tirou da paróquia. Passados alguns meses, quando eu era seminarista, foi a vez de o padre Pedro Leandro Ricardo me atacar. Dentro de uma Kombi, a caminho de uma missa, ele pôs a mão em meu pênis. Resisti ao ataque e, uma semana depois, ele veio me dizer que eu havia ‘interpretado errado’. Abandonei o sonho de ser padre. Hoje sou casado, tenho uma filha de 3 anos. Minha mulher não sabe de nada.”
“O padre ofereceu um emprego e me chamou para tomar vinho”
“O padre Felipe Negro era novo na paróquia quando me mandou um ‘oi’ no Facebook. Eu tinha 16 anos. Ele começou a conversar comigo e perguntou se eu trabalhava. Venho de uma família pobre e estava buscando emprego. Felipe me prometeu que eu seria sua secretária. Um dia, sugeriu que fôssemos jantar. Ficava me perguntando se eu tomava bebidas alcoólicas e me oferecia coisas caras. Prometia celular ou roupas de marca se eu topasse um encontro. Concordei em jantar na sua casa, na esperança de arrumar o emprego. Fomos pegar uma pizza. Comemos e tomamos vinho. Ele não falou nada sobre o trabalho. Não aconteceu nada entre nós, e ele me levou de carro de volta para casa. O padre me chamava de ‘anjo’, ‘linda’ e ‘amor’. Dizia que queria repetir o encontro porque aquela tinha sido uma noite muito agradável. Foi aí que me dei conta de que a conversa não tinha nada a ver com emprego. Meus pais conversaram bastante comigo e disseram que o padre estava mal-intencionado. Senti muita vergonha e uma tristeza imensa. Agora somos só eu e Deus. Para a igreja não vou mais. Nunca mais vou ver um padre com bons olhos.”
Colaboraram Guilherme Novelli e Giulio Ferrari
Fonte: https://veja.abril.com.br
Quinta-feira, 11 de julho-2019. 14ª SEMANA DO TEMPO COMUM. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 10, 7-15)
7Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai! 9Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, 10nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento. 11Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida. 12Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. 13Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós. 14Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés. 15Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.
3) Reflexão Mateus 10,7-15
O evangelho de hoje traz a segunda parte do envio dos discípulos. Ontem vimos a insistência de Jesus em dirigir-se primeiro para as ovelhas perdidas de Israel. Hoje, veremos as instruções concretas de como realizar a missão.
Mateus 10,7: O objetivo da missão: revelar a presença do Reino.
“Vão e anunciem: O Reino do Céu está próximo”. O objetivo principal é anunciar a proximidade do Reino. Aqui está a novidade trazida por Jesus. Para os outros judeus ainda faltava muito para o Reino poder chegar. Só chegaria, depois que eles tivessem realizado a sua parte. A chegada do Reino dependia do esforço deles. Para os fariseus, por exemplo, o Reino só chegaria quando a observância da Lei fosse perfeita. Para os Essênios, quando o país fosse purificado. Jesus pensa diferente. Ele tem outra maneira de ler os fatos. Ele diz que o prazo já se esgotou (Mc 1,15). Quando ele diz que o Reino está próximo ou que o Reino chegou, Jesus não quer dizer que o Reino estava chegando só naquele momento, mas sim que já estava aí, independentemente do esforço feito pelo povo. Aquilo que todos esperavam, já estava presente no meio do povo, gratuitamente, mas o povo não o sabia, nem o percebia (cf. Lc 17,21). Jesus o percebeu! Pois ele lia a realidade com um olhar diferente. E é esta presença escondida do Reino no meio do povo, que ele vai revelar e anunciar aos pobres da sua terra (Lc 4,18). Esta é a semente de mostarda que vai receber a chuva da sua palavra e o calor do seu amor.
Mateus 10,8: Os sinais da presença do Reino: acolher os excluídos.
Como anunciar a presença do Reino? Só por meio de palavras e discursos? Não! Os sinais da presença do Reino são antes de tudo gestos concretos, realizados de graça: “Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça”. Isto significa que os discípulos devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica tanto a religião como a sociedade excludente, e aponta saídas concretas.
Mateus 10,9-10: Não levar nada no caminho
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada: “Não levem nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento”. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz (Mc 10,13), mostra que confia no povo. Acredita que vai ser acolhido, que vai poder participar da vida e do trabalho do povo do lugar e que vai poder sobreviver com aquilo que receberá em troca, pois o operário direito ao seu alimento. Isto significa que os discípulos devem confiar na partilha Por meio desta prática eles criticam as leis de exclusão e resgatam os antigos valores da convivência comunitária.
Mateus 10,11-13: Partilhar a paz na comunidade.
Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas devem procurar uma pessoa de Paz e permanecer nesta casa. Isto é, devem conviver de maneira estável. Assim, por meio desta nova prática, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano, e anunciam um novo modelo de convivência. Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem gritar: O Reino chegou! Anunciar o Reino não consiste, em primeiro lugar, em ensinar verdades e doutrinas, mas sim em provocar a uma nova maneira fraterna de viver e de conviver a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai e Mãe de todos e de todas.
Mateus 10,14-15: A severidade da ameaça.
Como entender esta ameaça tão severa? É que Jesus não veio trazer uma coisa totalmente nova. Ele veio resgatar os valores comunitários do passado: a hospitalidade, a partilha, a comunhão de mesa, a acolhida aos excluídos. Isto explica a severidade contra os que recusam a mensagem. Pois eles não recusam algo novo, mas sim o seu próprio passado, a sua própria cultura e sabedoria! A pedagogia de Jesus tem por objetivo desenterrar a memória, resgatar a sabedoria do povo, reconstruir a comunidade, renovar a Aliança, refazer a vida.
4) Para um confronto pessoal
1) Como realizar hoje a recomendação de não levar nada no caminho quando se vai em missão?
2) Jesus manda procurar uma pessoa de paz, para poder viver na casa dela. Quais seria hoje uma pessoa de paz a quem nos dirigir no anúncio da Boa Nova?
5) Oração final
Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha. Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou. (Sl 79, 15-16)
*Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, Mensagem do Prior Geral.
- Detalhes
Frei Fernando Millán Romeral, O.Carm. Prior Geral
Queridos irmãos e irmãs da família carmelitana, aproxima-se a solenidade de Nossa Senhora do Carmo e, por isso, quero enviar uma cordial felicitação a todos vocês que, de um modo ou de outro, fazem parte da família do Carmelo. Nesta data, não só recordamos e celebramos a Mãe do Senhor com a bela invocação do Carmelo, mas também nos sentimos parte de uma família que, com sua identidade particular, vive sua fé a serviço da Igreja e da humanidade.
Este ano minha felicitação tem um tom especial, porque, depois de doze de anos de serviço à Ordem como Prior Geral, deixarei este posto no Capítulo Geral que celebraremos em Sassone (Roma, Itália), de 09 a 29 de setembro. É esta a primeira mensagem que lhes desejo enviar este ano: que todos (religiosos, monjas contemplativas, religiosas de vida ativa, terceiros, leigos dos diversos grupos, etc.) nos unamos verdadeiramente em oração para que o Capítulo Geral seja um tempo de graça, de reflexão profunda, de discernimento e de fraternidade. O tema que escolhemos para o nosso Capítulo, como já o sabem, é: “Vós sois minhas testemunhas” (Is 43,10); de uma geração à outra: “chamados a ser fiéis ao nosso carisma carmelitano”. Tal tema foi escolhido em virtude de que, nestes últimos decênios, a Ordem tem crescido muito geograficamente, o que é uma verdadeira bênção e um motivo de alegria para todos nós. Porém, estas missões ou novas presenças contém em si um desafio, sobretudo no que se refere à formação dos futuros carmelitas, uma formação que deverá combinar o específico das culturas locais com a tradição mais genuína da Ordem, à qual devemos ser fiéis e da qual devemos ser transmissores.
Trata-se, sem dúvida, de um desafio fascinante, mas também complexo. Além disso, é uma grande responsabilidade com a qual devemos nos confrontar com muita seriedade, dado que disto dependerão, em grande medida, as configurações e a validade do Carmelo do século XXI. Por isso é importante que o Capítulo reflita, entre outras coisas, este problema em profundidade, com critérios evangélicos, seriedade e generosidade.
O Capítulo também terá a tarefa, indicada no Capítulo de 2013, de revisar as Constituições. Como já repeti várias vezes, não se trata de elaborar novas Constituições, mas de incluir alguns aspectos que estavam ausentes e que fomos tomando conhecimento com o tempo, ou de acrescentar algumas referências aos últimos documentos oficiais da Igreja, ou de aperfeiçoar melhor alguns números que, com o passar do tempo, tornaram-se obsoletos ou insuficientes frente às novas problemáticas e desafios da nossa sociedade.
Não é necessário destacar a importância deste trabalho. As Constituições não são somente um instrumento jurídico ou administrativo, mas devem mostrar o que somos e, ainda mais, o que queremos ser. Não são normas vazias e desencarnadas, fruto de um legalismo antiquado, mas mostram o nosso humilde empenho de viver como carmelitas do século XXI que, com alegria, generosidade e criatividade, se colocam ao serviço da Igreja e da evangelização. Ademais, embora as Constituições se refiram diretamente aos religiosos, influenciam também, de certo modo, na vitalidade de toda a família carmelitana.
Outrossim, o Capítulo deverá eleger os irmãos que animarão a vida da Ordem no próximo sexênio. Desde já, nos colocamos numa atitude de generosa e afetuosa colaboração com os irmãos que serão eleitos para este delicado trabalho e que assumirão o encargo de dirigir a Ordem para que seja sempre mais fiel à sua missão e ao carisma recebido.
Em não poucas ocasiões já coloquei em evidência a importância da nossa estrutura capitular, própria das ordens mendicantes. Não é só uma modalidade de organização ou de administração (tão válida quanto outras), mas leva consigo toda uma “cultura capitular” e, ainda mais, uma “espiritualidade capitular”. Esta dinâmica capitular porta inclusive uma teologia, uma forma de entender os sinais dos tempos nos quais Deus se manifesta, uma forma de compreender o discernimento espiritual, a autoridade, a sinodalidade, etc.
Por isso, nas festividades que estamos para celebrar, tenham muito em conta esta intenção diante daquela que é Mãe e Irmã, na presença da Estrela do Mar, que nos tem guiado e acompanhado durante estes oito séculos e que, sem dúvida, continuará a fazê-lo agora que entramos no terceiro milênio, cheio de desafios, de necessidades de todo tipo e também de esperanças. Da oração sincera e fraterna de todos nós dependerá em grande parte o êxito de nosso Capítulo Geral.
Gostaria de aproveitar esta ocasião para compartilhar com vocês alguns sentimentos ao terminar meu período como Prior Geral da Ordem. Permitam-me esta nota pessoal sem grandes pretensões e feita em tom fraterno e informal.
Se tivesse que destacar o que sinto neste momento, a palavra que melhor exprimiria seria “gratidão”. Gratidão ao Senhor por me ter chamado ao Carmelo e pela ocasião e grande honra de servir aos irmãos em âmbito internacional, gratidão pelas belas experiências de fraternidade, de missão, de serviço e de solidariedade que tive a oportunidade de conhecer durante estes anos. Confesso a vocês que, sem negar os problemas, as necessidades e as dificuldades ocorridas neste período, não poucas vezes me senti profundamente orgulhoso de ser carmelita e de pertencer a esta família. Não quero citar nenhuma experiência concreta (seriam tantas!), mas posso lhes dizer que muitos carmelitas, com o seu trabalho generoso, alegre, simples, sem muita publicidade e quase anônimo, me edificaram e enriqueceram, ajudaram-me a prosseguir o caminho e a renovar minha vocação. Por todos eles, pelas nossas irmãs contemplativas, pelas religiosas de vida ativa que se dedicam ao ensino, às missões, aos enfermos, pelos nossos leigos que muitas vezes vivem com grande esperança e generosidade a sua pertença ao Carmelo… vale a pena continuar a semear e a crescer como carmelitas do século XXI.
Gostaria também de pedir desculpas àqueles que em algum momento se sentiram decepcionados ou que esperavam algo diferente. Quem me conhece bem, sabe que este pedido de perdão não é um formalismo, um gênero literário que se utiliza sempre no fim de uma missão, mas que o digo de todo coração.
O Carmelo segue processos diferentes nas várias partes do mundo onde nos encontramos. Enquanto a Ásia tornou-se a maior zona geográfica da Ordem, a Europa e a América do Norte se veem imersas num processo de falta de vocações e de diminuição alarmante de nossas províncias que já dura várias décadas. A América Latina continua crescendo num ritmo estável e as jovens presenças da África, não obstante sua fragilidade, vão se consolidando e deixando entrever um futuro bastante promissor.
Em cada caso, a estratégia da Ordem deve ser diferente. O governo geral não pode agir só a partir dos critérios ou da conjuntura de uma determinada região geográfica. Seria frustrante nos deixar levar pelo pessimismo, ignorando que existem regiões do mundo no qual o Carmelo cresce com muita pujança. Seria irresponsável ignorar que existem carências e dificuldades pela falta de pessoal e que isso supõe a restruturação das nossas presenças em outras zonas do mundo. Ainda que a Cúria esteja em Roma, na Itália, na Europa… é a Cúria de toda a Ordem, em sua riqueza e diversidade.
Todavia, em qualquer caso, devemos manter um estilo evangélico, próprio de homens de fé que agem movidos por outros valores. Com muita humildade, realismo, coragem e esperança nos sintamos orgulhosos e agradecidos por esta internacionalidade, pela diversidade de línguas e culturas, que consideramos uma benção e uma riqueza enorme, e assumamos desafio de oferecer e compartilhar o carisma carmelitano com todos.
Neste sentido, procurei durante estes anos manter um sadio equilíbrio entre a presença ativa em Roma e a presença nas periferias da Ordem – para usar uma expressão tão amada pelo Papa Francisco – , da qual a vida eclesial pode ser vista com outras sensibilidades, com acentos e outros matizes, coisa que, sem dúvida, enriquece e completa o nosso serviço à Igreja universal. Por isso, pude contar com a ajuda inestimável dos diversos conselheiros e do Pe. Christian Körner, Vice-Geral, que tem mantido com grande generosidade e eficiência a atividade propriamente curial. Também têm servido de grande ajuda para manter este contato com as diversas realidades vivas da família carmelitana, tanto o Procurador Geral como o Delegado para as Monjas, o Webmaster e a Postuladora Geral. A todos eles a minha mais sincera gratidão.
Enfim, e como costumo fazer todos os anos, gostaria de recordar alguns aniversários que celebramos este ano, que não deixam de ser significativos, acerca da nossa história e identidade, sobretudo no que se refere à dimensão mariana do carisma, e que, por sua vez, nos projetam em direção a um futuro cheio de desafios.
Em primeiro lugar, quero mencionar o primeiro centenário da coroação canônica da imagem da Virgem do Carmo (Nossa Senhora do Carmo) do Recife, que ao mesmo tempo foi nomeada Patrona da cidade e da Província Eclesiástica de Pernambuco, no Nordeste do Brasil. Creio que não exagero ao dizer que se trata da festa da Senhora do Carmo com maior afluência de fiéis no mundo. Cada ano, na solenidade do dia 16, centenas de milhares de pessoas participam das celebrações e da procissão e honram à Virgem do Carmo com grande devoção. A poucos quilômetros de Recife se encontra o convento de Olinda, considerado a primeira fundação carmelitana do continente americano, do qual celebramos solenemente faz alguns anos, o restauro e a re-dedicação.
Esta profunda conexão entre a missão e uma sadia devoção mariana deve motivar-nos a continuar o trabalho cotidiano nesta mesma linha. A piedade popular mariana não pode nos distrair da missão fundamental do cristão de anunciar a boa notícia da salvação; esta piedade – se é autêntica – nos envia, nos interpela, nos lança a ser testemunhas vivas do Evangelho e a vivê-lo com gratidão e generosidade.
Parabéns à Província Carmelitana Pernambucana e a todo o Carmelo brasileiro por este centenário. Que Nossa Mãe do Carmelo faça crescer a Ordem e a família carmelitana nessas terras.
Em segundo lugar, quero destacar que, como já sabem das comunicações oficiais da Ordem, estão começando as comemorações do oitavo centenário da morte de Santo Ângelo da Sicília, para o qual foram organizadas uma série de celebrações religiosas e culturais que se desenvolverão nos próximos meses. Santo Ângelo é, sem dúvida, uma das figuras significativas dos primeiros tempos da história de nossa Ordem. Por conta da escassez de dados que possuímos da sua vida, sabemos que, com toda probabilidade, veio da Terra Santa (também é conhecido como Santo Ângelo de Jerusalém) e dedicou a própria vida à pregação. Também se costuma vinculá-lo, inclusive iconograficamente, a São Domingo de Gusmão e São Francisco de Assis, pondo em evidência a inserção do Carmelo entre as ordens mendicantes. Este ano celebramos também os 50 anos da restauração da Província Britânica, uma das mais antigas da Ordem e suprimida no século XVI, no momento do cisma nos tempos de Henrique VIII. Por este motivo, celebrarei a Solenidade da Mãe do Carmelo em Aleysford e, depois, em Gales, um dos lugares onde os carmelitas irlandeses iniciaram os trabalhos de restauração. A Província, conhecida agora como Brittania Maioris, é dedicada à Assunção da Virgem Maria, o mistério mariano que nos recorda que a Senhora nos precede no caminho, que é penhor e garantia do chamado universal à salvação. Nos países de minoria católica, mas também em todo o mundo, a Igreja nos pede hoje um esforço para viver a nossa devoção mariana com autenticidade, sensibilidade ecumênica e com a mesma humildade que tornou Maria quem ela é (Lc 1,48-49). Talvez nestes países se faça realidade, de modo mais perceptível, que Deus age no pequeno e que só a partir deste se pode construir o seu Reino. Por esse motivo, quero parabenizar a Província Britânica por este aniversário e a Província da Irlanda que, com generosidade, embarcou nesta aventura de restaurar o Carmelo na Grã-Bretanha.
Por último, quero fazer menção à celebração dos 25 anos da beatificação de Isidoro Bakanja, o jovem congolês que foi brutalmente golpeado por haver recusado renunciar a sua fé e retirar o escapulário da Mãe do Carmelo que levava ao pescoço e que era para ele um sinal tangível da fé que professava. Esse escapulário, que era para ele uma recordação do seu batismo, o levou à atitude verdadeiramente heroica de perdoar quem lhe havia ferido mortalmente, e, além disso, levou-o, definitivamente, ao sublime testemunho da caridade evangélica elevada ao máximo grau, o martírio. O seu testemunho, proposto à Igreja há 25 anos na solene cerimônia de beatificação em Roma, deve continuar a ser para nós hoje uma verdadeira fonte de inspiração. Os humildes, como Isidoro, nos mostram aquilo que é mais genuíno e mais autêntico da nossa devoção mariana.
Em 2020 será um novo Prior Geral quem assinará esta carta por ocasião da festa da Mãe do Carmelo, nossa Mãe e Irmã, a Domina Loci que está no centro das nossas vidas, nos inspira e nos encoraja a viver o carisma carmelitano ao serviço do Evangelho, do povo de Deus e de toda a humanidade.
Desde agora lhe desejamos todo bem e um frutuoso serviço à família do Carmelo. Colocamos sob a proteção materna de Maria tanto o capítulo Geral como o próximo sexênio. Ela saberá nos guiar com doçura e afeto e, como Stella Maris, nos mostrará o caminho da salvação ao qual ela, Maria de Nazaré, entregou a sua inteira vida.
Um forte abraço a todos. Felicidades!
* Tradução de Frei José Cláudio Alencar Batista, O, Carm, da Província Carmelitana Pernambucana.
Paróquia virtual: intenções de oração podem ser solicitadas por rede social na Itália
- Detalhes
A iniciativa é da diocese de Livorno através da sua página no Facebook. Os fiéis podem enviar o pedido ao “Mosteiro Invísivel” que será dirigido ao Instituto religioso das Carmelitas Descalças de Antignano.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A diocese de Livorno, cidade toscana na Itália, há cerca de um ano oferece a possibilidade dos fiéis enviarem pedidos de oração por todas as situações de sofrimento e de dificuldade. A iniciativa da paróquia virtual ganhou até um nome: “Mosteiro Invisível”, pois as intenções são enviadas à Ordem Religiosa das Carmelitas Descalças de Antignano (Livorno).
As intenções de oração podem ser solicitadas pelo próprio perfil da diocese no Facebook (basta procurar “Diocesi Livorno” ou “Parrocchia virtuale della diocese di Livorno”, em língua italiana). Os pedidos, porém, também podem ser enviados através de mensagens privadas. A iniciativa tem chamado muito a atenção dos fiéis que se encontram em situações difíceis e precisam de oração e proximidade espiritual.
As freiras do Mosteiro, segundo a diocese, periodicamente recebem com muito prazer as intenções e rezam para todos que solicitam. Através da superiora, a Irmã Gabriella, as freiras se comprometem de orar incessantemente por todos os pedidos enviados e encaminhados diretamente a elas.
Curson online e gratuito sobre amor conjugal
Com as novas mídias, a diocese também inova ao oferecer um curso online e gratuito via Skype sobre o amor conjugal. O percurso foi oferecido no primeiro semestre deste ano, através de cinco encontros virtuais, dirigido a casais de namorados ou casados interessados no crescimento espiritual e em compreender de maneira mais profunda o desenho de Deus sobre o homem, a mulher e a família. Fonte: www.vaticannews.va
AO VIVO- 2º DIA DA NOVENA DE NOSSA SENHORA DO CARMO/RJ
- Detalhes
Igreja do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. Presidente da celebração, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
Circuito de trem é novidade para peregrinos no Santuário de Aparecida
- Detalhes
Circuito de trem é novidade para peregrinos no Santuário de Aparecida
Monotrilho percorre trajeto de 1,4km em 15 minutos
RIO - Peregrinos e devotos que pretendem visitar o Santuário de Aparecida encontrarão um jeito mais confortável de fazer o Caminho do Rosário. O Trem do Devoto, monotrilho elétrico que percorre o trajeto, começou a operar nesta sexta-feira (05/07). Segundo Fábio Cardoso, gerente operacional, ele foi pensado como opção de retorno para quem percorreu o caminho a pé.
- O intuito é que a pessoa continue fazendo o caminho a pé, para poder ir meditando os mistérios do terço, que estão pelo trajeto, mas que depois volte pelo trenzinho. É possível, claro, fazer ida e volta com ele, mas essa é uma opção mais voltada para quem tem dificuldade de locomoção, idosos e crianças - explica.
O monotrilho elétrico vai percorrer um trajeto total de 1,4 km, em cerca de 15 minutos. São duas locomotivas com cinco vagões, que atendem ao máximo de 60 pessoas por trecho. O itinerário passa pelos pelas 128 esculturas do caminho. O embarque e o desembarque podem ser feitos na estação Cidade do Romeiro e na Porto Itaguaçú.
- Pensamos em conceito mais retrô, baseado em uma locomotiva antiga do século XIX, o que acaba oferecendo uma experiência diferenciada ao visitante - conta Cardoso.
O ingresso custa R$10 por trecho. Idosos e crianças pagam meia, mediante apresentação de documento com foto. O trem funciona de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h; aos sábados, das 8h às 18h; e aos domingos, das 8h às 16h.
Conheça o Caminho do Rosário
O Caminho do Rosário foi inaugurado em outubro de 2018 mostrando 20 cenários que retratam os mistérios do rosário da religião católica. O percurso é feito por um extenso calçadão construído às margens do Rio Paraíba, que faz a ligação entre a Cidade do Romeiro, um Centro Comercial localizado próximo ao Santuário Nacional, ao Porto do Itaguaçu, local do encontro da Imagem de Nossa Senhora.
- Durante a construção desse espaço já se pensava em ter algum meio de transporte que facilitasse o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção, como idosos e deficientes físicos, por exemplo - comenta Fábio.
A implantação e operação do trem está a cargo da Bontur, que já opera os Bondinhos Aéreos, ligando o Santuário Nacional ao Morro do Cruzeiro. Fonte: https://oglobo.globo.com
Segunda-feira, 8 de julho. 14ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído, enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 9, 18-26)
18Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: Senhor, minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.19Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.20Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.21Dizia consigo: Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei curada.22Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada instantaneamente.23Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:24Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles, porém, zombavam dele.25Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se.26Esta notícia espalhou-se por toda a região.
3) Reflexão - Mateus 9,18-26
O evangelho de hoje nos leva a meditar dois milagres de Jesus em favor de duas mulheres. O primeiro foi em favor de uma senhora, considerada impura por causa de uma hemorragia irregular que já durava doze anos. O outro, em favor de uma menina que acabava de falecer. Conforme a mentalidade daquela época, qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada impura e quem tocasse nela também ficava impura. Sangue e morte eram fatores de exclusão! Por isso, aquelas duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da participação na comunidade. Quem nelas tocasse também estaria impura, impedida de participar na comunidade, e já não poderia relacionar-se com Deus. Para poder ser readmitida na plena participação comunitária teria de fazer o rito de purificação, prescrito pelas normas da lei. Ora, curando através da fé a impureza daquela senhora, Jesus abriu um novo caminho para Deus que já não dependia dos ritos de purificação, controlados pelos sacerdotes. Ressuscitando a menina, venceu o poder da morte e abriu um novo horizonte para a vida.
Mateus 9,18-19: A morte da menina.
Enquanto Jesus ainda estava falando, um chefe do lugar vem interceder pela filha que acabava de morrer. Ele pede que Jesus venha e imponha a mão na menina, “e ela viverá”. O chefe crê que Jesus tem o poder de devolver a vida à filha. Sinal de muita fé em Jesus da parte do pai da menina. Jesus se levanta e vai com ele levando consigo os discípulos. Este é o ponto de partida para os dois episódios que seguem: a cura da mulher com doze anos de hemorragia e a ressurreição da menina. O evangelho de Marcos traz os mesmos dois episódios, mas com muitos detalhes: o chefe se chamava Jairo e era um dos chefes da sinagoga. A menina ainda não estava morta, e tinha doze anos, etc (Mc 5,21-43). Mateus abreviou a narração tão viva de Marcos.
Mateus 9,20-21: A situação da mulher.
Durante a caminhada para a casa do chefe, uma mulher que sofria doze anos de hemorragia irregular aproxima-se de Jesus em busca de cura. Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída, pois, como dissemos, naquele tempo o sangue tornava a pessoa impura. Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua economia com os médicos e, em vez de ficar melhor, ficou pior (Mc 5,25-26). Ela tinha ouvido falar de Jesus (Mc 5,27). Por isso, nasceu nela uma nova esperança. Dizia consigo: “Se ao menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O catecismo da época mandava dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará impuro”. A mulher pensava exatamente o contrário! Sinal de muita coragem. Sinal de que as mulheres não concordavam com tudo o que as autoridades religiosas ensinavam. O ensinamento dos fariseus e dos escribas não conseguia controlar o pensamento do povo! Graças a Deus! A mulher aproximou-se por de trás de Jesus, tocou na roupa dele, e ficou curada.
Mateus 9,22. A palavra iluminadora de Jesus
Jesus voltando-se e vendo a mulher declara: “Coragem, minha filha, sua fé curou você!” Frase curta, mas que deixa transparecer três pontos muito importantes: (1) Dizendo “Minha filha”, Jesus acolhe a mulher na nova comunidade, que se formava ao seu redor. Ela já não é uma excluída. (2) Aquilo que ela esperava e acreditava aconteceu de fato. Ela ficou curada. Prova de que o catecismo das autoridades religiosas não estava correta e que em Jesus se abriu um novo caminho para as pessoas poderem obter a pureza exigida pela lei e entrar em contato com Deus. (3) Jesus reconhece que, sem a fé daquela senhora, ele não poderia ter feito o milagre. A cura não foi um rito mágico, mas um ato de fé.
Mateus 9,23-24: Na casa de chefe.
Em seguida, Jesus vai para a casa do chefe. Ao ver o alvoroço dos que faziam luto pela morte da menina, mandou que todo mundo saísse. Dizia: “A criança não morreu. Está dormindo!”. O pessoal deu risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está dormindo ou quando está morta. Para eles, a morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar! É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que não conseguem crer que para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc 1,37). As palavras de Jesus têm ainda um significado mais profundo. A situação das comunidades do tempo de Mateus parecia uma situação de morte. Elas também tinham que ouvir: “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!”
Mateus 9,25-26: A ressurreição da menina.
Jesus não deu importância à risada do povo. Ele esperou até que todos saíssem da casa. Aí ele entrou, tomou a criança pela mão e ela se levantou. Marcos conservou as palavras de Jesus: “Talita kúmi!”, o que quer dizer: Menina, levanta-te (Mc 5,41). A notícia espalhou-se por toda aquela região. Fez o povo acreditar que Jesus é o Senhor da vida que vence a morte.
4) Para um confronto pessoal
1-Hoje, quais as categorias de pessoas que se sentem excluídas da participação na comunidade cristã? Quais os fatores que hoje causam a exclusão de tantas pessoas e lhes dificultam a vida tanto na família como na sociedade?
2-“A criança não morreu. Está dormindo!” “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” Esta é a mensagem do evangelho de hoje. O que ela diz para mim? Sou daqueles que dão risada?
5) Oração final
Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente. Grande é o Senhor e sumamente louvável, insondável é a sua grandeza. (Sl 144, 2-3)
DEVOÇÃO CARMELITANA: LADAINHA
- Detalhes
(Antes da Ladainha, cantar um canto a Nossa Senhora do Carmo enquanto o Padre incensa a imagem)
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, ouvi-nos
Cristo, atendei-nos
Deus Pai do céu, tende piedade de nós
Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós
Mãe de Jesus Cristo, Rogai por nós.
Mãe da Igreja, Rogai por nós.
Mãe e Senhora do Carmelo, Rogai por nós.
Santa Maria do Monte Carmelo, Intercedei por nós
Modelo da família carmelitana, Rogai por nós.
Flor do Carmelo, Rogai por nós.
Estrela do Mar, Rogai por nós.
Nossa Senhora da Subida do Monte Carmelo, Intercedei por nós
Espelho da justiça, Rogai por nós.
Rainha dos Mártires Carmelitas, Rogai por nós.
Rainha de todos os Santos, Rogai por nós.
Rainha do Carmelo, Intercedei por nós
Rainha do Santo Escapulário, Rogai por nós.
Nossa Senhora do Carmo, nossa consolação na hora da morte, Rogai por nós
Nossa Senhora do Carmo, modelo dos missionários, Rogai por nós.
Nossa Senhora do Carmo, perfeito modelo da Boa Nova, Intercedei por nós
Por aqueles desempregados e abandonados, Rogai por nós.
Por aqueles no leito de dor, Rogai por nós
Pelo nosso Santo Padre, o Papa Francisco e seus pastores, Rogai por nós.
Pela nossa comunidade, Intercedei por nós
Pela família carmelitana e os devotos do Escapulário, Rogai por nós.
Pela paz e justiça social em nosso país, Rogai por nós.
Pela paz na cidade do Rio de Janeiro, Rogai por nós.
Pelos devotos do Escapulário, Intercedei por nós
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
Padre: Rogai por nós, Flor e Esplendor do Carmelo.
Todos: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
OREMOS: Venha em nossa ajuda, Senhor, a intercessão da gloriosa e bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo. Concedei-nos, por sua intercessão, chegarmos à verdadeira montanha, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amém.
O SIMBOLISMO DO ESCAPULÁRIO, OU BENTINHO DO CARMO
- Detalhes
Frei Angelino Wisssink O. Carm. In Memoriam
O Escapulário do Carmo é um Sacramental muito simples e a nossa vida religiosa deve ser também muito simples como simples foi a vida de Nossa Senhora, venerada através do Escapulário! Deus não nos chama para coisas maravilhosas! Jesus quer que nós sejamos humildes; “aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” disse Jesus! A simplicidade e a humildade de nossa vida devem caracterizar-se pelo cumprimento fiel de nossos deveres cotidianos e fazer tudo com amor; tudo quanto fazemos com amor é grande perante Deus!
O Escapulário do Carmo, colocado no pescoço, toca no meu corpo e isto faz lembrar uma realidade: eu sou o que sou realmente neste momento histórico e concreto de minha vida, neste lugar, nesta família e no convívio das pessoas que amo! Não devo imaginar um mundo abstrato como se eu estivesse vivendo no tempo de Cristo ou como se eu fosse uma pessoa importante, um governador por exemplo etc.!
O Escapulário do Carmo é composto de dois pedacinhos de pano, presos por um cordão; uma parte pende no peito e outra nas costas; isto significa que devo olhar para frente, isto é, para o meu futuro, para o meu destino eterno, o céu! No céu, o Deus que adoraremos, no dizer de São João Evangelista, é Amor; e um amor profundo que existe no Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo! Este amor é tão grande que no modo de pensar humano, transborda para fora, dando origem a este universo maravilhoso, que saiu do seio da SS. Trindade, que é a criatura humana, homem e mulher, feitos a sua imagem e semelhança, feitas também para conhecê-lo e amá-lo! Deus quer que a sua criatura predileta, homem e mulher, se voltem para Ele e para sempre!
Com o Escapulário em frente, no peito, olhando para o futuro, para o nosso destino eterno, devemos animar-nos e não cruzar os nossos braços e descansar; pelo contrário, como Jesus nos ensinou, devemos amar a Deus e manifestar este amor fazendo o bem aos nossos semelhantes, exatamente porque somos uma imagem de Deus!
E com o Escapulário nas costas, devemos também olhar para trás, isto é, para o nosso passado! É bom meditar sobre a História da Salvação e ver a Misericórdia de Deus sobre o seu povo no Antigo Testamento e bem interpretar a vida de Cristo e a vida da Igreja! Meditar também na minha própria vida, na minha história para ver o que sou e o que poderia ter sido se tivesse cooperado com a Graça de Deus!
Madre Teresa das prostitutas
- Detalhes
É possível perdoar? Na Suécia, quando era criança, foi vítima de abusos e, ao fugir de casa, acabou caindo na rede de prostituição e também no vício do álcool e das drogas. Foi vítima de violências! Hoje, milhares de pessoas a chamam "Anjo das prostitutas de Malmskillnadsgatan", uma das ruas no centro de Estocolmo. Às vezes a chamam até de "Madre Teresa das prostitutas". Eis a história de Elise Lindqvist e do mistério do perdão
Charlotta Smeds - Cidade do Vaticano
Quando você a encontra, nasce espontaneamente a pergunta: Como isso é possível? Como é possível que esta mulher, que, desde a infância na Suécia, passou por acontecimentos tão dramáticos, agora demonstra um olhar que transmite profunda paz e alegria?
Quero conhecer o Papa
Encontrei Elise Lindqvist ao chegar a Roma: ela veio para cumprimentar o Papa ao término de uma “Audiência” no fim de maio. Ela tinha apenas um desejo: "Quero agradecer ao Papa Francisco pela sua luta contra o tráfico de seres humanos".
Elise Lindqvist tem a mesma idade do Papa: ambos nasceram em 1936. Ela também tem a sua mesma determinação incansável, contida em um corpo de apenas 1 metro e 50. Para poder dar melhor a mão a Francisco, após a Audiência, Elise subiu no pequeno degrau da grade.
"Ouvi falar que você, - disse-lhe o Papa - faz um trabalho maravilhoso!"
Ele se referia às noites que Elise dedicava para dar apoio e conforto às mulheres de rua de Estocolmo. Há mais de 20 anos, ela busca dar-lhes apoio, como uma mãe, recordando-lhes que há uma vida além da rua.
Ela sabe muito bem disso, porque também foi uma elas.
Infância dramática
Elise Lindqvist nasceu em uma pequena aldeia sueca. A partir dos 5 anos de idade, os abusos sexuais passaram a fazer parte da sua vida diária. Ela frisa que não foi o pai que abusou dela, mas as pessoas próximas da família. Espantada, obedecia, ciente de que tudo isso fazia parte do que as crianças deviam suportar: "Quando me convidavam para comer na casa deles, eu já sabia o preço que devia pagar. Depois, saía correndo, ameaçada de morte se eu contasse a alguém".
O maior sofrimento para Elise era o de não poder confiar em nenhum adulto: ela foi abandonada por todos aqueles que a deviam defender. Até a mãe virava o rosto, quando os homens a levavam para o outro quarto. Na escola, o professor mandava os alunos sair para o recreio, enquanto lhe dizia: "Elise, fique aqui!"
Seu pai era o único que, às vezes, a pegava no colo e lhe dizia: "minha filhinha"! Ao invés, por todos os outros, era penalizada por ser "feia e estúpida".
"Acho que, sem aquelas poucas palavras de ternura do meu pai, eu não teria sobrevivido". No entanto, com a morte do pai, quando Elise tinha apenas 10 anos, sua vida se tornou bem mais dura. O novo companheiro da mãe fazia abuso de álcool e a agredia continuamente: "Certa vez, ele apontou a espingarda para mim e eu, com apenas dez anos, o implorei para que atirasse, porque não queria mais viver".
Mas, a arma estava descarregada e o homem atirou em vão: "O Senhor queria que eu vivesse, apesar de ainda não saber nada sobre a Sua existência".
"Como você é bonita!"
Aos quatorze anos, Elise foge de casa e chega a uma cidade, onde uma boa família cuida dela: "Quando a mãe de família me despiu, na primeira noite, pensei, resignada, que tudo continuaria aqui também. Ao invés, ela apenas me despiu, somente para me lavar, e o fez de modo muito gentil".
Elise, naquele momento da sua história, torna-se muito séria: "O que acontece comigo agora é o que acontece com milhares de meninas hoje. Os rufiões reconhecem as vítimas perfeitas e sabem pegá-las". No caso de Elise, porém, foi uma mulher que, certo dia, se aproximou dela e lhe disse: "Como você é bonita...".
"Aquela senhora era belíssima! Ninguém, até então, jamais me havia dito que eu era "bonita"; e, em um piscar de olhos, me submeti totalmente a ela e teria feito qualquer coisa por ela. Eu a chamava "mãe" e ela me comprava roupas e produtos de beleza. Um dia, disse-me que eu deveria trabalhar para ela, vendendo meu corpo para seus clientes. Eu tinha 16 anos e obedeci".
Elise não se lembra, exatamente, quantos anos teve que trabalhar para aquela senhora. Lembra-se apenas como parou, depois de ter sido violentada de modo cruel por um cliente. Voltou para casa e disse à sua patroa que não aguentava mais aquela vida de prostituição.
"Tive sorte! Hoje, se uma moça recusar prostituir-se, corre o risco de ser assassinada e seu corpo desaparece para sempre. No entanto, minha patroa abriu a porta e me jogou escada abaixo, dizendo: "Você não tem mais nada para fazer aqui".
Desde então, Elise começou a viver como uma sem-teto, procurando comida nos latões de lixo da rua: "Só tinha relações destrutivas e acabava em mãos de homens violentos. Então, buscava refúgio somente em misturas de álcool e drogas e, assim, caía, cada vez mais, em uma dependência desesperadora”.
A luz de Jesus
Olho para ela e vejo um rosto que expressa somente paz e alegria. Não há sinais da sua história dramática, nenhuma amargura nem rancor.
"Em 1994, fui internada em um centro de reabilitação. Todos tinham medo de mim. Quando alguém se aproximava, dava chutes; se via um homem, cuspia na cara e dizia palavrões. Eu sentia somente raiva".
Elise conta como as pessoas se comportavam de modo estranho naquele centro: "Todos sorriam. No início, pensei que, certamente, tinha caído em um hospício. Aqueles sorrisos eram provocantes... Depois, comecei a pensar que o motivo daqueles sorrisos era, sem dúvida, devido ao uso de substâncias químicas fantásticas; por isso, comecei a pedir-lhes aquelas "drogas" que usavam”.
Pelo contrário! Ao invés de drogas, aquelas pessoas levaram Elise a uma Capela e começaram a rezar por ela. Desconfiada e fechada em si mesmo, Elise assistia tudo, sem saber o que estavam fazendo ao seu redor.
"Eu não sabia nada sobre Deus e o que era oração; para mim, a Igreja era um lugar de morte".
Em certo momento, aconteceu o que ela descreve como uma "intervenção sobrenatural": Tive a sensação física de tomar um banho, mas um banho de luz e paz. Jesus era o único que me podia curar, pois eu era um caso humano perdido. Dito e feito. Naquele momento, eu “nasci”. Hoje, quando perguntam a minha idade, respondo "25", porque, há 25 anos, Jesus me deu a vida e comecei a caminhar no seu amor".
Nenhuma cura sem perdão
Alguns meses depois, quando estava acostumada a ver com novos olhos, dando os primeiros passos em seu caminho de fé, o diretor espiritual de Elise lhe diz, em confidência, que deveria dar um passo a mais: devia perdoar!
"Então, reagi, novamente, predominada por uma grande raiva. Como ele ousava pretender que eu devia perdoar o mal que tantas pessoas me fizeram? Nestas alturas, Elise conta que lhe explicaram que ela jamais poderia sarar sem perdoar.
"Foi um processo longo e doloroso, sempre na Capela rezando, recordando a lista de nomes. Por fim, consegui perdoar minha mãe, que não me amou nem me defendeu. Percebi que ela não estava em condições e, por sua vez, também era uma vítima”.
Anjo das prostitutas
Por mais de 20 anos, Elise Lindqvist utiliza sua experiência dramática para ajudar outras mulheres: "A primeira vez que saí, à noite, fui à famosa rua das prostitutas em Estocolmo, Malmskillnadsgatan. Ali, revivi meu passado, mas percebi que era bem naquele lugar que eu devia trabalhar".
A sua obra consiste em ser uma presença materna constante: uma pessoa que ouve, abraça, leva algo para beber e oferece roupas para aquecer as noites frias de inverno.
"Para mim, o prêmio mais lindo é conseguir salvar uma mulher de rua! Mas, a minha presença serve, sobretudo, para levar consolação e coragem; fazer-lhes entender que alguém as ama e que não estão sozinhas. Elas me chamam "mamãe".”
Em 18 de outubro de 2016, por ocasião do Dia europeu contra o Tráfico de seres humanos, Elise foi convidada para falar diante do Parlamento Europeu. Em seu discurso aos parlamentares, recordou as responsabilidades das Instituições: adotar resoluções concretas que eliminem totalmente o tráfico de seres humanos, visto que todos os Estados-Membros estão cientes deste problema.
"Terminei meu discurso dizendo que voltaria, quando completasse 90 anos, para ver se tinham mantido a palavra sobre o compromisso assumido".
Ao atravessar a Praça São Pedro, no final da Audiência, perguntei-lhe por que estava coxeando? E ela me respondeu de relance: "Foi um empurrão que me deram, tempo atrás, em uma escada rolante. Para algumas pessoas, a minha presença em meio às prostitutas incomoda". Fonte: www.vaticannews.va
Coroa de imagem de santa é furtada de igreja na Rocinha com a ajuda de um chinelo
- Detalhes
Adorno de ferro e níquel estava na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem há 80 anos
Leticia Lopes
RIO — Religiosos e fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha, Zona Sul do Rio, tentam encontrar a coroa da santa padroeira da igreja, furtada no último sábado. Trazido de Portugal, o objeto de ferro banhado a níquel estava na paróquia há 80 anos, quando a igreja ainda era uma capela de Ipanema.
Quem percebeu a falta da coroa foi frei Felipe Carretta, um dos religiosos da paróquia.
— No sábado de manhã, por volta das 10h, eu olhei a imagem, e ela já estava sem a coroa. Ela fica no alto, a quase três metros de altura. Não tem como alguém chegar e pegar tão facilmente — lembra.
De acordo com o religioso, imagens de câmeras de segurança da igreja mostram um homem jogando um chinelo na santa por cerca de 20 minutos até a coroa cair. Para facilitar o furto, ele subiu em um banco da igreja. Ainda segundo o frei, depois conseguir derrubar o objeto de 30cm de altura que adorna a santa, o homem colocou a coroa em uma mochila, reposicionou o banco no lugar e foi embora.
A paróquia completou 80 anos no ano passado, quando a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem foi restaurada. O processo de recuperação foi caro. Apenas o reparo da coroa custou cerca de R$ 2 mil. De acordo com frei Felipe, ele só pôde ser realizado com a ajuda dos fiéis.
— Ela não é de ouro, não tem valor monetário. O que fica para gente é o valor sentimental. Estamos numa mobilização na comunidade para tentar encontrá-la — diz.
Em sua página no Facebook, a paróquia comunicou o furto aos fiéis e pediu a ajuda da comunidade. Fonte: https://oglobo.globo.com
Quarta-feira, 3. Festa de São Tomé.
- Detalhes
1) Oração
Deus todo-poderoso, Concedei-nos celebrar com alegria a festa do apóstolo São Tomé, para que sejamos sempre sustentados por sua proteção e tenhamos a vida pela fé no Cristo que ele reconheceu como Senhor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Jo 20, 24-29)
24 Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos disseram para ele: "Nós vimos o Senhor." Tomé disse: "Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei." 26 Uma semana depois, os discípulos estavam reunidos de novo. Dessa vez, Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: "A paz esteja com vocês." 27 Depois disse a Tomé: "Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé." 28 Tomé respondeu a Jesus: "Meu Senhor e meu Deus!" 29 Jesus disse: "Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem ter visto."
3) Reflexão
Hoje, na festa de São Tomé, o evangelho coloca diante de nós o encontro de Jesus ressuscitado com o apóstolo Tomé que queria ver para poder crer. Foi por isso que muitos o chamam de incrédulo Tomé. Na realidade, a mensagem deste evangelho é bem diferente. É muito mais profunda e atual.
João 20,24-25: A dúvida de Tomé
Tomé, um dos doze, não estava presente quando Jesus apareceu aos discípulos na semana anterior. Tomé não crê no testemunho dos outros que diziam: “Nós vimos o Senhor”. Ele coloca condições: "Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei". Tomé é exigente. Quer ver para crer! Ele não quer um milagre para poder crer. Não! Ele quer ver os sinais nas mãos, nos pés e no lado. Ele não crê num Jesus glorioso, desligado do Jesus humano que sofreu na cruz. No tempo em que João escreve, fim do primeiro século, havia pessoas que não aceitavam a vinda do Filho de Deus na carne (2Jo 7; 1Jo 4,2-3). Eram os gnósticos que desprezavam a matéria e o corpo. É para criticar os gnósticos que o evangelho de João traz a preocupação de Tome em “ver para crer”. A dúvida de Tomé também deixa transparecer como era difícil crer na ressurreição!
João 20,26-27: Não seja incrédulo, mas tenha fé
O texto diz “seis dias depois”. Isto significa que Tomé foi capaz de sustentar sua opinião durante uma semana inteira contra o testemunho dos outros apóstolos. Cabeçudo mesmo! Graças a Deus, para nós! Assim, seis dias depois, durante a reunião da comunidade, eles têm novamente uma experiência profunda da presença de Jesus ressuscitado no meio deles. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: "A Paz esteja com vocês!" O que chama a atenção é a bondade de Jesus. Ele não critica nem xinga a incredulidade de Tomé, mas aceita o desafio e diz: "Tomé, vem cá colocar seu dedo nas feridas!". Jesus confirma a convicção de Tomé e das comunidades, a saber: o ressuscitado glorioso é o crucificado torturado! O Jesus que está na comunidade, não é um Jesus glorioso que não teria mais nada em comum com a nossa vida de gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra e ele traz no corpo as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater, que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós. É neste Cristo que Tomé acredita, e nós também!
João 20,28-29: Felizes os que não viram e creram
Com ele digamos: "Meu Senhor e meu Deus!" Esta entrega de Tomé é a atitude ideal da fé. E Jesus completa com a mensagem final: "Você acreditou porque viu! Felizes os que não viram e no entanto creram!" Com esta frase, Jesus declara felizes a todos nós que estamos nesta mesma condição: sem termos visto acreditamos que o Jesus que está no nosso meio, é o mesmo que morreu crucificado!
O envio: "Como o Pai me enviou, eu envio vocês!" É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai (Jo 20,21). Aqui, na segunda aparição, Jesus repete: "A paz esteja com vocês!" Esta repetição acentua a importância da Paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz, significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos deu. Em seguida, Jesus comunicou o poder de perdoar os pecados: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!". O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam. Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No evangelho de Mateus é dado também a Pedro (Mt 16,19). Aqui se percebe que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é comunidade cristã. Numa palavra, nossa missão é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
4) Para um confronto pessoal
1) Na sociedade de hoje, as divergências e tensões de raça, classe, religião, gênero e cultura são enormes e crescem cada dia. Como realizar hoje a missão da reconciliação?
2) Na sua família e na sua comunidade existe alguma semente de mostarda que aponta para uma sociedade reconciliada?
5) Oração final
Povos todos, louvai o Senhor, nações todas, dai-lhe glória; porque forte é seu amor para conosco e a fidelidade do Senhor dura para sempre. (Sl 116, 1-2)
Vocação, espiritualidade e carisma
- Detalhes
Vocação, espiritualidade e carisma
*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm
A título de corolário é oportuno insistir na íntima ligação que existe entre vocação, espiritualidade e carisma, embora cada um desses três termos acentue determinados aspectos de uma realidade única que é a relação do ser humano com Deus, relação que atinge o núcleo da existência humana. Na vida prática, é feita com certa facilidade a passagem de uma expressão para outra. Assim fala-se indistintamente de espiritualidade, vocação e carisma do Carmelo. Como já foi observado anteriormente, a nossa reflexão se move na perspectiva judaico-cristã que supõe a fé na intervenção histórica do Deus transcendente. A espiritualidade cristã aparece como a resposta humana à iniciativa divina: o que abre o horizonte da vocação. Em religiões não-cristãs, principalmente na Ásia, não se coloca geralmente, um Absoluto fora da consciência e independente do desejo humano. Assim o monge hinduísta não segue uma vocação, ele é alguém que viu, experimentou, viveu o real. É o caminho da imanência que, como vimos, possui aspectos positivos porquanto, também, na espiritualidade cristã, reconhece-se uma aspiração antropológica para uma plenitude, uma tendência do espírito para a totalidade do ser. Há, portanto, uma estrutura psico-espiritual preexistente, embora seja difícil definir a essência dessa capacidade humana de acolher a gratuidade do chamado de Deus.
“Espiritualidade” é uma palavra que, conforme o dicionário Houaiss, aparece no vocabulário da língua portuguesa no século XV. O significado da expressão original em latim spiritualitas - como também o adjetivo spiritualis - passou por uma evolução.[1] Remonta à palavra hebraica ruah que na Bíblia tem vários sentidos conforme o contexto. Em grego e latim é traduzida por pneuma/spiritus. Quando atribuida a Deus ruah indica o sopro ou espírito de Deus enquanto atua na criação: o espírito de Deus cria e recria, liberta, salva. O ser humano arrastado pelo força do demônio, é transformado: “O Espírito socorre nossa fraqueza ... E aquele que sonda os corações sabe o que o Espírito pretende quando suplica pelos consagrados de acordo com Deus” (Rm 8, 26-27). Nesta libertação fundamental do homem, o papel de Jesus é central: “Ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,8). É nesta perspectiva que Paulo descreve a tensão de luta entre espírito e carne. Na carta aos gálatas Paulo descreve as obras da carne em oposição aos frutos do Espírito (Gl 5,16-24). Ao homem espiritual opõe-se o homem carnal. A palavra spiritualitas, como substantivo, aparece raramente para indicar esse processo de transformação do homem que não é dispensado da própria colaboração para progredir nessa caminhada a fim de atingir a meta final.
Na Idade Média, por influência do dualismo do pensamento grego, a palavra spiritus é cada vez mais reservada para significar a esfera luminosa das coisas celestiais em oposição à escuridão da realidade material, corporal, natural. Este deslocamento do significado vai se estendendo também do ponto de vista sociológico: poder da Igreja versus poder civil, clero-leigos, bens espirituais-bens materiais. Espiritualidade é o terreno do coração, da interioridade, das intenções da vontade. São expressões em que as acentuações afetivas e psicológicas desempenham um papel muito importante. Nos séculos XVI e XVII essa mudança do significado chega a reservar o qualificativo espiritual às pessoas que levam uma vida cristã mais profunda. Devido à íntima ligação entre as expressões espiritualidade e mística, e ao fato de certos místicos serem acusados de quietismo, a desconfiança em relação à mística foi abrangendo também a espiritualidade. O conflito entre Bossuet e Fénelon, este último suspeito de quietismo, fez praticamente desaparecer, até o fim do século XIX, o uso da palavra. espiritualidade, para voltar nos primeiros decênios do século seguinte. É dessa época que datam algumas publicações científicas sobre espiritualidade de autores católicos, principalmente na França. É também neste país que, em 1928, é publicado o primeiro fascículo do conhecido Dictionnaire de spiritualité. Reservada ao âmbito católico, a palavra transborda, na segunda metade do século XX, o leito da Igreja católica estendendo-se a tudo o que diz respeito à “vida espiritual” em qualquer visão religiosa mesmo independente de quadros institucionais. O que, sem dúvida, favorece o diálogo sobre espiritualidade, mas, ao mesmo tempo, dificulta uma definição do seu objeto. A publicação de uma grandiosa enciclopédia, iniciada nos Estados Unidos a partir de 1985, intitulada World Spirituality, pode manifestar que nem a espiritualidade escapou do processo de globalização.[2] Nós vamos na perspectiva da espiritualidade judaico-cristã que supõe.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
[1] Cf. Kees Waaijman, o.c. pp. 358-363.
[2] Ver a crítica de Kees Waaijman ao projeto dos redatores da enciclopédia World Spirituality, o.c. pp.3-5.
Arcebispo de Indianápolis defende demissão de professor gay casado civilmente
- Detalhes
O arcebispo de Indianápolis, nos Estados Unidos, disse nessa quinta-feira que suas ordens para que duas escolas de Ensino Médio católicas da cidade demitissem professores gays visavam a sustentar o ensino da Igreja sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não sobre a orientação sexual. A reportagem é de America, 27-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O arcebispo Charles Thomps disse durante uma coletiva de imprensa que não buscou informações sobre os casamentos que envolvem os professores, mas teve que responder ao que chamou de “situação pública” dos empregados das escolas católicas que não seguem a doutrina da Igreja.
Lideranças da Cathedral High School anunciaram no domingo que estavam rescindindo o contrato do professor para evitar uma divisão com a arquidiocese, que custaria à escola o seu status de organização sem fins lucrativos e a sua possibilidade de celebrar a missa no local. Essa decisão veio apenas alguns dias depois que Thompson emitiu um decreto dizendo que a arquidiocese não reconheceria mais a Escola Preparatória Jesuíta Brebeuf como católica, porque ela insistia em manter um professor que está em um casamento com uma pessoa do mesmo sexo.
“Não se trata de uma caça às bruxas. Não vamos atrás dessas situações”, disse Thompson. “Quando elas são trazidas à minha atenção, é minha responsabilidade, meu dever, supervisionar a vida da fé, especialmente para as nossas testemunhas ministeriais.”
A arquidiocese exige que todos os professores, conselheiros de orientação e administradores das escolas católicas assinem contratos de trabalho que reconheçam que são considerados ministros que devem seguir os ensinamentos da Igreja.
As ações de Thompson provocaram abaixo-assinados online de protesto e debates nas mídias sociais. Os opositores planejaram um protesto de oração nessa quinta-feira, do lado de fora dos escritórios da arquidiocese, perto do centro de Indianápolis.
Thompson defendeu nessa quinta-feira que não estava se concentrando nos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, ignorando os empregados da escola que moram juntos ou que se divorciaram e se casaram novamente sem receber a nulidade da Igreja. Ele disse que as lideranças da Igreja ajudariam os empregados a dar passos para viverem de acordo com os ensinamentos católicos.
“Trata-se da situação de vida, não da orientação”, disse Thompson. “Faríamos a mesma coisa se fosse alguém em coabitação.”
Tanto a Cathedral quanto a Brebeuf são filiadas a ordens religiosas e não são dirigidas diretamente pela arquidiocese. A Roncalli High School, de Indianápolis, administrada pela arquidiocese, demitiu ou suspendeu duas conselheiras de orientação no ano passado, por estarem em casamentos com pessoas do mesmo sexo. As mulheres impetraram denúncias federais de discriminação no emprego e disseram que pretendem entrar com ações judiciais.
Todas as três escolas recebem um financiamento significativo por meio do programa devouchers para escolas particulares de Indiana. A Cathedral, por exemplo, recebeu cerca de 1,1 milhão de dólares no último ano letivo em financiamento de vouchers para cerca de um quinto de seus 1.100 alunos, de acordo com um relatório do Departamento de Educação do Estado.
Em fevereiro, a câmara dos deputados de Indiana, dominada pelos republicanos, rejeitou uma proposta de um legislador democrata e ex-aluno da Roncalli de impedir que o dinheiro dos vouchers fosse para escolas particulares que discriminem empregados e estudantes gays.
Gina Fleming, superintendente das escolas da Arquidiocese de Indianápolis, ressaltou que o dinheiro dos vouchers não é direcionado às escolas pelos funcionários do Estado.
“É a família que recebe os dólares desses vouchers que ajudam a pagar as suas mensalidades, a sua educação e a formação nas nossas escolas”, disse ela. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Canonização de Irmã Dulce e mais quatro beatos será no dia 13 de outubro
- Detalhes
Durante o Consistório Ordinário Público realizado na manhã desta segunda-feira, o Santo Padre anunciou que os beatos serão canonizados, no Vaticano, durante o Sínodo para a Amazônia.
O Papa Francisco presidiu, nesta segunda-feira (1º/07), na Sala Clementina, no Vaticano, o Consistório Ordinário Público para a Canonização de cinco Beatos, dentre os quais Irmã Dulce Lopes Pontes.
Durante o Consistório, o Santo Padre anunciou a data de canonização dos cinco beatos. Será no domingo, 13 de outubro próximo.
Além de Irmã Dulce, serão canonizados os seguintes beatos: John Henry Newman, cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri na Inglaterra; Giuseppina Vannini (no século Giuditta Adelaide Agata), fundadora das Filhas de São Camilo; Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família e Margherita Bays, Virgem, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Fonte: www.vaticannews.va
Terça-feira, 2 de julho. 13ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, pela vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 8, 23-27)
23Então Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam. 24E eis que houve grande agitação no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, estava dormindo. 25Os discípulos se aproximaram e o acordaram, dizendo: "Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!" 26Jesus respondeu: "Por que vocês têm medo, homens de pouca fé?" E, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e tudo ficou calmo. 27Os homens ficaram admirados e disseram: "Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?"
3) Reflexão
Mateus escreve para as comunidades de judeus convertidos dos anos setenta que se sentiam como um barquinho perdido no mar revolto da vida, sem muita esperança de poder alcançar o porto desejado. Jesus parecia estar dormindo no barco, pois não aparecia para elas nenhum poder divino para salvá-las da perseguição. Em vista desta situação de angústia e desespero, Mateus recolheu vários episódios da vida de Jesus para ajudar as comunidades a descobrir, no meio da aparente ausência, a acolhedora e poderoso presença de Jesus vencedor que domina o mar (Mt 8,23-27), que vence e expulsa o poder do mal (Mt 9,28-34) e que tem poder de perdoar os pecados (Mt 9,1-8). Com outras palavras, Mateus quer comunicar esperança e sugerir que não há motivo para as comunidades terem medo. Este é o motivo do relato da tempestade acalmada do evangelho de hoje.
Mateus 8,23: O ponto de partida: entrar no barco.
Mateus segue o evangelho de Marcos, mas o abrevia e o ajeita dentro do novo esquema que ele adotou. Em Marcos, o dia foi pesado de muito trabalho. Terminado o discurso das parábolas (Mc 4,3-34), os discípulos levaram Jesus no barco e, de tão cansado que estava, Jesus dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38). O texto de Mateus é bem mais breve. Ele apenas diz que Jesus entrou no barco e os discípulos o acompanhavam. Jesus é o Mestre, os discípulos seguem o mestre.
Mateus 8,24-25: A situação desesperadora: “Estamos afundando!”
O lago da Galiléia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles achavam que iam afundar, então a situação era perigosa mesmo! Mas Jesus nem sequer acorda, e continua dormindo. Eles gritam: "Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!" Em Mateus, o sono profundo de Jesus não é só sinal de cansaço. É também expressão da confiança tranqüila de Jesus em Deus. O contraste entre a atitude de Jesus e dos discípulos é grande!
Mateus 8,26: A reação de Jesus: “Por que vocês têm medo?”
Jesus acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos discípulos. Ele se dirige a eles e diz: “Por que vocês têm medo? Homens de pouca fé!” Em seguida, ele se levanta, ameaça os ventos e o mar, e tudo fica calmo. A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega na casa de um amigo e o cachorro, preso na corrente, ao lado do dono, late muito contra você. Mas você não precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O episódio da tempestade acalmada evoca o êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Jesus refaz o êxodo. Evoca ainda o profeta Isaías que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2). Por fim, o episódio da tempestade acalmada evoca e realiza a profecia anunciada no Salmo 107:
23 Desciam de navio pelo mar, comerciando na imensidão das águas.
24 Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.
25 Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.
26 Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na desgraça.
27 Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.
28 Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.
29 Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram.
30 Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado. (Sl 107,23-30)
Mateus 8,27: O espanto dos discípulos: “Quem é este homem?”
Jesus perguntou: “Por que vocês têm medo?” Os discípulos não sabem o que responder. Admirados, se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento obedecem?” Apesar da longa convivência com Jesus, ainda não sabem direito quem ele é. Jesus parece um estranho para eles! Quem é este homem?
Quem é este homem? Quem é Jesus para nós, para mim? Esta deve ser a pergunta que nos leva a continuar a leitura do Evangelho, todos os dias, com o desejo de conhecer sempre melhor o significado e o alcance da pessoa de Jesus para a nossa vida. É desta pergunta que nasceu a cristologia. Ela nasceu, não de altas considerações teológicas, mas sim do desejo dos primeiros cristãos de encontrar sempre novos nomes e títulos para expressar o que Jesus significava para eles. São dezenas os nomes, títulos e atributos, desde carpinteiro até filho de Deus, que Jesus recebe: Messias, Cristo, Senhor, Filho amado, Santo de Deus, Nazareno, Filho do Homem, Noivo, Filho de Deus, Filho do Deus altíssimo, Carpinteiro, Filho de Maria, Profeta, Mestre, Filho de Davi, Rabboni, Bendito o que vem em nome do Senhor, Filho, Pastor, Pão da vida, Ressurreição, Luz do mundo, Caminho, Verdade, Vida, Videira, Rei dos judeus, Rei de Israel, etc., etc. Cada nome, cada imagem, é uma tentativa para expressar o que Jesus significava para eles. Mas um nome, por mais bonito que seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de Jesus. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior, ultrapassa tudo! Ele não pode ser enquadrado. O amor capta, a cabeça, não! É a partir da experiência viva do amor que os nomes, os títulos e as imagens recebem o seu pleno sentido. Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?
4) Para um confronto pessoal
1-Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em que Mateus escreveu o seu evangelho? Qual é hoje o mar agitado para nós? Alguma vez, as águas agitadas do mar da vida já ameaçaram afogar você? O que te salvou
2-Quem é Jesus para mim? Qual o nome de Jesus que melhor expressa minha fé e meu amor?
5) Oração final
Uma geração conta à outra as tuas obras, anuncia tuas maravilhas. Proclama o esplendor glorioso da tua majestade e narram teus prodígios. (Sl 144, 4-5)
Segunda-feira, 1º de julho. 13ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, pela vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da vossa verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 8,18-22)
18Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago. 19Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. 20Respondeu Jesus: As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. 21Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai. 22Jesus, porém, lhe respondeu: Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos.
3) Reflexão
Durante três semanas, meditamos os capítulos 5 a 8 do evangelho de Mateus. Dando seqüência à meditação do capítulo 8, o evangelho de hoje trata das condições do seguimento de Jesus. Jesus decidiu ir para o outro lado do lago e uma pessoa pediu para poder segui-lo (Mt 8,18-22).
Mateus 8,18: Jesus manda passar para o outro lado do lago
Jesus tinha acolhido e curado todos os doentes que o povo havia trazido até ele (Mt 8,16). Muita gente juntou-se ao redor dele. À vista desta multidão, Jesus decidiu ir para a outra margem do lago. No evangelho de Marcos, do qual Mateus tirou grande parte das suas informações, o contexto é outro. Jesus acabava de terminar o discurso das parábolas (Mc 4,3-34) e dizia: “Vamos para o outro lado!” (Mc 4,35), e, do jeito que ele estava no barco, de onde tinha feito o discurso (cf. Mc 4,1-2), os discípulos o levaram para o outro lado. De tão cansado que estava, Jesus deitou e dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38).
Mateus 8,19: Um doutor da Lei quer seguir Jesus
No momento em que Jesus decide fazer a travessia do lago, um doutor da lei se aproxima e diz: "Mestre, eu te seguirei aonde quer que fores”. Um texto paralelo de Lucas (Lc 9,57-62) trata do mesmo assunto, mas de um jeito um pouco diferente. Conforme Lucas, Jesus tinha decidido ir para Jerusalém onde seria preso e morto. Tomando o rumo de Jerusalém, ele entrou no território da Samaria (Lc 9,51-52), onde três pessoas pedem para poder segui-lo (Lc 9,57.59.61). Em Mateus, que escreve para judeus convertidos, a pessoa que quer seguir Jesus é um doutor da lei. Mateus acentua o fato de uma autoridade dos judeus reconhecer o valor de Jesus e pedir para ser discípulo. Em Lucas, que escreve para pagãos convertidos, as pessoas que querem seguir Jesus são samaritanos. Lucas acentua a abertura ecumênica de Jesus que aceita também não judeus como discípulos.
Mateus 8,20: A resposta da Jesus ao doutor da Lei
A resposta de Jesus é idêntica tanto em Mateus como em Lucas, e é uma resposta muito exigente que não deixa dúvidas: "As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça". Quem quer ser discípulo de Jesus deve saber o que faz. Deve examinar as exigências e calcular bem, antes de tomar uma decisão (cf. Lc 14,28-32). “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vocês, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).
Mateus 8,21: Um discípulo pede para poder enterrar o falecido pai
Em seguida, alguém que já era discípulo pede licença para poder enterrar seu falecido pai: "Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai". Com outras palavras, ele pede que Jesus adie a travessia do lago para depois do enterro do pai. Enterrar os pais era um dever sagrado dos filhos (cf Tb 4,3-4).
Mateus 8,22: A resposta de Jesus
Novamente, a resposta de Jesus é muito exigente. Jesus não adiou sua viagem para o outro lado do lago e diz ao discípulo: "Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos”. Quando Elias chamou Eliseu, ele permitiu que Eliseu voltasse para casa para despedir-se dos pais (1Reis 19,20). Jesus é bem mais exigente. Para entender todo o alcance da resposta de Jesus convém lembrar que a expressão Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos era um provérbio popular usado pelo povo para significar que não se deve gastar energia em coisas que não tem futuro e que não tem nada a ver com a vida. Um provérbio assim não pode ser tomado ao pé da letra. Deve-se olhar o objetivo com que foi usado. Assim, aqui no nosso caso, por meio do provérbio Jesus acentua a exigência radical da vida nova para qual ele chama as pessoas e que exige abandonar tudo para poder seguir Jesus. Descreve as exigências do seguimento de Jesus.
Seguir Jesus. Como os rabinos da época, Jesus reúne discípulos e discípulas. Todos eles "seguem Jesus". Seguir era o termo que se usava para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. Para os primeiros cristãos, Seguir Jesus significava três coisas muito importantes, ligadas entre si:
- Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era o modelo a ser imitado e recriado na vida do discípulo e da discípula (Jo 13,13-15). A convivência diária permitia um confronto constante. Na "escola de Jesus" só se ensinava uma única matéria: o Reino, e este Reino se reconhecia na vida e na prática de Jesus.
- Participar do destino do Mestre:. Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e "estar com ele nas sua provações" (Lc 22,28), inclusive nas perseguições (Mt 10,24-25) e na cruz (Lc 14,27). Devia estar disposto a morrer com ele (Jo 11,16).
- Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, à luz da ressurreição, o seguimento assume esta terceira dimensão: "Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Trata-se da dimensão mística do seguimento, fruto da ação do Espírito. Os cristãos procuravam refazer em suas vidas o caminho de Jesus que tinha morrido em defesa da vida e foi ressuscitado pelo poder de Deus (Fl 3,10-11).
4) Para um confronto pessoal
1) Ser discípulo, discípula, de Jesus. Seguir Jesus. Como estou vivendo o seguimento de Jesus?
2) As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. Como viver hoje esta exigência de Jesus?
5) Oração final
Compreendei bem isto, vós que vos esqueceis de Deus: não suceda que eu vos arrebate e não haja quem vos salve. Honra-me quem oferece um sacrifício de louvor; ao que procede retamente, a este eu mostrarei a salvação de Deus. (Sl 49, 22-23)
Quinta-feira, 27 de junho-2019. 12ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que formais no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7, 21-29)
21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 22Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? 23E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! 24Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína. 28Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina. 29Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.
3) Reflexão - Mt 7,21-29
O Evangelho de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha: (1) não basta falar e cantar, é preciso viver e praticar (Mt 7,21-23). (2) A comunidade construída em cima do fundamento da nova Lei do Sermão da Montanha ficará em pé na hora da tempestade (Mt 7,24-27). (3) O resultado das palavras de Jesus nas pessoas é uma consciência mais crítica com relação aos líderes religiosos, os escribas (Mt 7,28-29).
Este final do Sermão da Montanha desenvolve algumas oposições ou contradições que continuam atuais até nos dias de hoje: (1) Há pessoas que falam continuamente de Deus, mas se esquecem de fazer a vontade de Deus; usam o nome de Jesus, mas não traduzem em vida sua relação com o Senhor (Mt 7,21). (2) Há pessoas que vivem na ilusão de estarem trabalhando para o Senhor, mas no dia do encontro definitivo com Ele, descobrem, tragicamente, que nunca o conheceram (Mt 7,22-23). As duas parábolas finais do Sermão da Montanha, da casa construída sobre a rocha (Mt 7,24-25) e da casa construída sobre a areia (Mt 7,26-27), ilustram estas contradições. Por meio delas Mateus denuncia e, ao mesmo tempo, tenta corrigir a separação entre fé e vida, entre falar e fazer, entre ensinar e praticar.
Mateus 7,21: Não basta falar, é preciso praticar
O importante não é falar bonito sobre Deus ou saber explicar bem a Bíblia para os outros, mas é fazer a vontade do Pai e, assim, ser uma revelação do seu rosto e da sua presença no mundo. A mesma recomendação foi dada por Jesus àquela mulher que elogiou Maria, sua mãe. Jesus respondeu: “Felizes os que ouvem a Palavra e a põem em prática” (Lc 11,28).
Mateus 7,22-23: Os dons devem estar a serviço do Reino, da comunidade.
Havia pessoas com dons extraordinários como, por exemplo, o dom da profecia, do exorcismo, das curas, mas elas usavam os dons para si mesmas, fora do contexto da comunidade. No julgamento, elas ouvirão uma sentença dura de Jesus: "Afastem-se de mim vocês que praticam a iniqüidade!". Iniqüidade é o oposto de justiça. É fazer com Jesus o que alguns doutores faziam com a lei: ensinavam mas não praticavam (Mt 23,3). Paulo dirá a mesma coisa com outras palavras e argumentos: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria”. (1Cor 13,2-3).
Mateus 7,24-27: A parábola da casa na rocha.
Ouvir e praticar, esta é a conclusão final do Sermão da Montanha. Muita gente procurava sua segurança nos dons extraordinários ou nas observâncias. Mas a segurança verdadeira não vem do prestígio nem das observâncias, não vem de nada disso. Ela vem de Deus! Vem do amor de Deus que nos amou primeiro (1Jo 4,19). Seu amor por nós, manifestado em Jesus ultrapassa tudo (Rom 8,38-39). Deus se torna fonte de segurança, quando procuramos praticar a sua vontade. Aí, Ele será a rocha que nos sustenta na hora das dificuldades e das tempestades.
Mateus 7,28-29: Ensinar com autoridade
O evangelista encerra o Sermão da Montanha dizendo que a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, porque "ele ensinava com autoridade, e não como os escribas". O resultado do ensino de Jesus é a consciência mais crítica do povo com relação às autoridades religiosas da época. Suas palavras simples e claras brotavam da sua experiência de Deus, da sua vida entregue ao Projeto do Pai. O povo estava admirado e aprovava os ensinamentos de Jesus.
Comunidade: casa na rocha
No livro dos Salmos, frequentemente encontramos a expressão: “Deus é a minha rocha e a minha fortaleza... Meus Deus, rocha minha, meu refúgio, meu escudo, força que me salva...”(Sl 18,3). Ele é a defesa e a força de quem nele acredita e busca a justiça (Sl 18,21.24). As pessoas que confiam neste Deus, tornam-se, por sua vez, uma rocha para os outros. Assim, o profeta Isaías faz um convite ao povo que estava no cativeiro: "Vocês que estão à procura da justiça e que buscam a Deus! Olhem para a rocha da qual foram talhados, para a pedreira da qual foram extraídos. Olhem para Abraão, seu pai, e para Sara, sua mãe” (Is 51,1-2). O profeta pede para o povo não esquecer o passado. O povo deve lembrar como Abraão e Sara pela fé em Deus se tornaram rocha, começo do povo de Deus. Olhando para esta rocha, o povo devia criar coragem para lutar e sair do cativeiro. Do mesmo modo, Mateus exorta as comunidades para que tenham como alicerce a mesma rocha (Mt 7,24-25) e possam, dessa maneira, elas mesmas ser rocha para fortalecer os seus irmãos e irmãs na fé. Este é o sentido do nome que Jesus deu a Pedro: “Você é Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Esta é a vocação das primeiras comunidades, chamadas a unir-se a Jesus, a pedra viva, para tornarem-se, também elas, pedras vivas pela escuta e pela prática da Palavra (Pd 2,4-10; 2,5; Ef 2,19-22).
4) Para um confronto pessoal
1) Como a nossa comunidade equilibra oração e ação, louvor e prática, falar e fazer, ensinar e praticar? O que deve melhorar na nossa comunidade, para que ela seja rocha, casa segura e acolhedora para todos?
2) Qual a rocha que sustenta a nossa Comunidade? Qual o ponto em que Jesus mais insiste?
5) Oração final
Ajudai-nos, ó Deus salvador, pela glória de vosso nome; livrai-nos e perdoai-nos os nossos pecados pelo amor de vosso nome. (Sl 78, 9)
Quarta-feira, 26 de junho-2019. 12ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que formais no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7, 15-20)
15Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. 16Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? 17Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. 18Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. 19Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 20Pelos seus frutos os conhecereis.
3) Reflexão - Mt 7,15-20
Estamos chegando às recomendações finais do Sermão da Montanha. Comparando o evangelho de Mateus com o de Marcos percebe-se uma grande diferença na maneira de os dois apresentarem o ensinamento de Jesus. Mateus insiste mais no conteúdo do ensinamento e o organizou em cinco grande discursos, dos quais o Sermão da Montanha é o primeiro (Mt 5 a 7). Marcos, por mais de quinze vezes, diz que Jesus ensinava, mas raramente diz o que ele ensinava. Apesar destas diferenças, os dois concordam num ponto: Jesus ensinava muito. Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). Mateus se interessava pelo conteúdo. Será que Marcos não se interessava pelo conteúdo? Depende do que entendemos por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de comunicar verdades para o povo aprender de memória. O conteúdo não está só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de Jesus se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Ela, a pessoa, é a raiz do conteúdo. A bondade e o amor que transparecem nas palavras e gestos de Jesus fazem parte do conteúdo. São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado. Não convence e não à conversão.
As recomendações finais e o resultado do Sermão da Montanha na consciência do povo ocupam o evangelho de hoje (Mt 7,15-20) e o de amanhã (Mt 7,21-29). (A seqüência dos evangelhos diários da semana nem sempre é a mesma dos próprios evangelhos.)
Mateus 7,13-14: Escolher o caminho certo
Mateus 7,15-20: O profeta se conhece pelos frutos
Mateus 7,21-23: Não só falar, também praticar
Mateus 7,24-27: Construir a casa na rocha
Mateus 7,28-29: A nova consciência do povo
Mateus 7,15-16ª : Cuidado com os falsos profetas
No tempo de Jesus, havia profetas de todo tipo, pessoas que anunciavam mensagens apocalípticas para envolver o povo nos vários movimentos daquela época: essênios, fariseus, zelotes e outros (cf. At 5,36-37). No tempo em que Mateus escreve também havia profetas que anunciavam mensagens diferentes da mensagem proclamada pelas comunidades. As cartas de Paulo mencionam estes movimentos e tendências (cf 1Cor 12,3; Gal 1,7-9; 2,11-14;6,12). Não deve ter sido fácil para as comunidades fazer o discernimento dos espíritos. Daí a importância das palavras de Jesus sobre os falsos profetas. A advertência de Jesus é muito forte: "Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. A mesma imagem é usada quando Jesus envia os discípulos e as discípulas para a missão: “Mando vocês como cordeiros no meio de lobos” (Mt 10,16 e Lc 10,3). A oposição entre lobo voraz e manso cordeiro é irreconciliável, a não ser que o lobo se converta e perca a sua agressividade como sugere o profeta Isaías (Is 11,6; 65,25). O que importa aqui no nossos texto é o dom do discernimento. Não é fácil discernir os espíritos. Às vezes, acontece que interesses pessoais ou grupais levam as pessoas a proclamar como falsos aqueles profetas que anunciam a verdade que incomoda. Isto aconteceu com o próprio Jesus. Ele foi eliminado e morto como falso profeta pelas autoridades religiosas da época. De vez em quando, o mesmo aconteceu e continua acontecendo na nossa igreja.
Mateus 7,16b-20 : A comparação da árvore e seus frutos
Para ajudar no discernimento dos espíritos, Jesus usa a comparação do fruto: “Vocês os conhecerão pelos frutos”. Um critério semelhante já tinha sido sugerido pelo livro do Deuteronômio (Dt 18,21-22). E Jesus acrescenta: “Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos, será cortada e jogada no fogo”. No evangelho de João, Jesus completa a comparação: “Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda. O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados." (Jo 15,2.4.6)
4) Para um confronto pessoal
1) Falsos profetas! Conhece algum caso em que uma pessoa boa e honesta que proclamava uma verdade incômoda foi condenada como falso profeta?
2) A julgar pelos frutos da árvore da sua vida pessoal, como você se define: falso ou verdadeiro?
5) Oração final
Desvia meu olhar para eu não ver as vaidades, faze-me viver no teu caminho. Eis que desejo teus preceitos; pela tua justiça conserva-me a vida. (Sl 118, 37.40)
Pág. 222 de 665