Papa Francisco expulsa padre chileno acusado de abuso sexual de crianças
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SANTIAGO (Reuters) - O papa Francisco expulsou no sábado um padre chileno que está sendo investigado em um caso envolvendo abuso sexual de crianças, segundo reportagem da mídia local, em meio a um crescente escândalo de abusos que abalou a Igreja Católica.
A Arquidiocese de Santiago disse que o papa decidiu exonerar o reverendo Cristian Precht, informou o jornal local El Mercurio.
Precht era um ex-chefe do grupo de direitos humanos do Vicariato de Solidariedade da Igreja que na década de 1980 desafiou o ex-ditador Augusto Pinochet a acabar com a prática de tortura no Chile.
Desde então, o conhecido líder religioso chileno foi acusado de abuso sexual como parte da investigação de denúncias contra membros da comunidade religiosa dos Irmãos Maristas.
Precht negou anteriormente as acusações.
O anúncio do papa Francisco ocorre no momento em que a polícia chilena faz operações em escritórios da Igreja em todo o país andino em busca de novos casos de abuso sexual ou provas de que funcionários da Igreja ocultaram o abuso das autoridades.
Reportagem de Dave Sherwood. Fonte: https://br.reuters.com
CARMELITAS: Ver com os olhos de Deus
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Frei Joseph Chalmers, O. Carm. Ex- Prior Geral da Ordem do Carmo.
No documento pós-sinodal Vita Consacrata, o papa João Paulo II afirma: “No início de seu ministério, na sinagoga de Nazaré, Jesus anuncia que o Espírito o consagrou para evangelizar os pobres, proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor (cf. Lc 4,16-19). Assumindo a missão do Senhor como sua, a Igreja proclama o Evangelho a todo homem e mulher comprometendo-se com sua salvação integral. Mas com especial atenção, numa opção realmente preferencial, ela se volta para aqueles que suportam grande fraqueza e, portanto, são carentes. ‘Os pobres’, em diversos estados de aflição, são os oprimidos, aqueles às margens da sociedade, os anciãos, os enfermos, os jovens, qualquer um e todos que sejam considerados e tratados como ‘os últimos’. A opção pelos pobres é inerente à própria estrutura do amor vivido em Cristo. Portanto, todos os discípulos de Cristo são fiéis a esta opção. Mas aqueles que desejam seguir o Senhor mais de perto, imitando suas atitudes, sentir-se-ão envolvidos de modo muito especial. A sinceridade de sua resposta ao amor de Cristo os levará a viver uma vida de pobreza e a abraçar a causa do pobre. De acordo com o carisma, para cada instituto, isto significa adotar um modo de vida simples e austero, tanto como indivíduo quanto como comunidade. Fortalecidas por esse testemunho vivo e, de certa forma, consistente com sua opção de vida e mantendo sua independência diante das ideologias políticas, as pessoas consagradas serão capazes de denunciar as injustiças cometidas contra tantos filhos e filhas de Deus e a comprometerem-se com a promoção da justiça na sociedade onde trabalham” (VC 82).
Fiéis às Escrituras, a Igreja e a Ordem fizeram a opção preferencial pelos pobres porque Cristo foi enviado para levar a Boa Nova aos pobres (Lc 4,18). Não podemos permanecer insensíveis diante do apelo dos pobres (cf. Ex 22, 22.26; Eclo 21,5). Um compromisso com a Justiça e a Paz significa, necessariamente, fazer algo concreto pelos pobres mas também exige fazer perguntas. Por que existe essa situação? O que podemos fazer? Obviamente as razões para a situação de pobreza de tantos no mundo e as razões para a falta da verdadeira paz são extremamente complexas. Esta opção preferencial vem de uma vocação contemplativa. “A autêntica jornada contemplativa nos permite descobrir nossa própria fragilidade, nossa fraqueza, nossa pobreza, - em suma, o nada da natureza humana: tudo é graça. Através dessa experiência, crescemos em solidariedade com aqueles que vivem em situação de privação e de injustiça. Quando nos permitimos ser desafiados pelos pobres e oprimidos, somos gradualmente transformados e começamos a ver o mundo com os olhos de Deus e a amar o mundo com seu coração. Com Deus, ouvimos o clamor dos pobres e nos empenhamos em partilhar o cuidado, o interesse e a compaixão Divina pelos mais pobres e menores.
Isso nos leva a profetizar diante dos excessos do individualismo e do subjetivismo que vemos na mentalidade de hoje – diante das muitas formas de injustiça e de opressão dos indivíduos e dos povos” (Ratio, 43).
A razão fundamental para a existência de tanta pobreza no mundo está nas profundezas do coração humano. É um grande erro culpar apenas os outros por esta situação, porque cada um de nós tem alguma responsabilidade. O compromisso com a Justiça e a Paz deve estar de mãos dadas com o processo contemplativo de assumir a vontade de Cristo, de forma que nosso serviço aos pobres não se torne um modo sutil de fazer com que os pobres nos sirvam. O coração humano é muito ambíguo e, para servir de acordo com a vontade e o coração de Deus, devemos nos submeter à purificação profunda, que é uma parte íntima do processo contemplativo (Tg 4,8; Hb 4,12-13).
Cúpula da Basílica de São Pedro
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Subir até a Cúpula da Basílica de São Pedro ou San Pietro em Roma é algo imperdível. Certo que precisa de um pouco de preparo físico, mas vale muito a pena. Dica: Vá logo cedo e não pegue fila, assim você pode subir no seu ritmo sem ter uma fila de pessoas atrás de você. Muito melhor!
A Cúpula é tão grande e alta que pode ser vista praticamente de toda parte da cidade. Onde você estiver, basta olhar ao redor e procurar que a avistará.
Il Cupolone, como é chamada carinhosamente pelos romanos.
São 133 metros de altura, e apenas 551 degraus até o topo, mas você tem a escolha de pagar um pouquinho a mais e pegar o elevador, dali serão apenas mais 320 degraus…
A escolha é sua: pode pagar 8 euros e fazer todos os 551 degraus ou então pagar 10 euros e fazer somente 320. Eu já fiz mais de dez vezes e escolho sempre fazer com o elevador, pagando um pouquinho a mais. Melhor opção!
Os ingressos são vendidos somente na hora. Não existe venda on line.
A entrada é do lado direito da Basílica (se estiver olhando para ela).
Se você acha que não vai conseguir subir tantos degraus ou não gosta de lugares estreitos por algum motivo, vá pelo menos até onde o elevador te leva. Descendo do elevador você pode entrar na Cúpula e ter a oportunidade de ficar pertinho dos mosaicos da Cúpula da Basílica de São Pedro e ainda olhando para baixo você vê os visitantes lá embaixo dentro da Basílica, incrível.
Muito interessante: Quando você estiver fazendo a visita dentro da Basílica olhe para a Cúpula e veja aquelas lindíssimas pinturas, depois quando subir e chegar ali, pasme… Você vai descobrir que não são pinturas e sim enormes painéis de mosaico, de uma perfeição incrível. É maravilhoso!
em muita gente que sobe somente até onde vai o elevador e pode apreciar também uma bela vista, mas não de 360°.
Aqueles com mais idade, fobia de locais muito fechados ou problemas de saúde, melhor ficar por ali mesmo, afinal 320 degraus não é pra qualquer um… Tem um café e uma lojinha de souvenir ali para esperar enquanto os mais ousados da família encaram os degraus.
Vai encarar?
Então vamos subir a Cúpula da Basílica de São Pedro ou San Pietro em Roma. Tome fôlego, agora começa a grande aventura…
Entrou não tem como voltar atrás, pois a escada é super estreita e quando está chegando ao fim as paredes vão ficando curvadas, acompanhando a forma da cúpula. Existem alguns poucos espaços onde você pode parar e pegar fôlego, por isso indico sempre ir bem cedo, pois assim não terá fila atrás de você e vai poder parar quando quiser. Dica de quem vive em Roma e já subiu muitas vezes!
Ufa! Depois dos 320 degraus, você chegou…
Pode me dizer se valeu a pena ?
Agora e só aproveitar o prazer desta vista espetacular!
Dá para caminhar ao redor de toda a cúpula. Você pode ver o interessante formato da Piazza San Pietro, que simboliza dois braços abraçando o povo que está na praça, o Colunato de Bernini. Estas duas fotos acima fiz para vocês verem como é lindo, seja pela manhã seja no fim da tarde já com a luz do pôr do sol.
Você poderá ver também todo o Vaticano e seus jardins além do Castelo Sant’Angelo, e toda a bela Roma. Fonte: www.voupraroma.com
Católicos rejeitam a afirmação dos bispos de que padres gays são uma causa de abuso sexual
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Católicos rejeitam a afirmação dos bispos de que padres gays são uma causa de abuso sexual
Comentários recentes de vários bispos norte-americanos que tentaram ligar a homossexualidade ao abuso sexual cometido pelo clero. Apresentamos comentários de católicos que ou contrariam as afirmações desses bispos ou que ofereceram uma outra avaliação. A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 04-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Duas vozes deram respostas imediatas à carta do bispo de Madison, Robert Morlino, na qual disse que os padres gays estão "causando grande devastação na vinha do Senhor", segundo o National Catholic Reporter.
Todd Salzman, teólogo da Creighton University em Omaha, rejeitou as tentativas de associar a identidade sexual e o abuso, dizendo que tais alegações "se desviaram fundamentalmente da questão do poder e das estruturas de poder na igreja, e o abuso de poder que requer uma reforma fundamental". A questão principal, disse ele, é o "pecado estrutural do abuso de poder", não a ética sexual.
Marianne Duddy-Burke, diretora executiva da DignityUSA, chamou essa associação de "uma tentativa repugnante de reforçar a atitude da igreja institucional de lavar as mãos sobre o abuso sexual de crianças".
Para Duddy-Buker, essa tentativa vem de funcionários da Igreja indispostos a "assumir qualquer responsabilidade por um problema que está sobre suas cabeças."
O padre James Martin, S.J., autor do livro sobre questões LGBT na Igreja Building a Bridge (Construindo uma Ponte, em tradução livre), escreveu a respeito do tema dos padres gays para a America Magazine. Martin reconheceu que, seguindo-se as novas revelações sobre abuso sexual, os católicos "têm o direito de estar zangados", mas escreveu: "a intensidade do ódio e o nível de raiva direcionados aos padres gays não tem precedentes em minha memória". Martincontinuou:
"Este ódio atualmente está sendo instigado por alguns líderes influentes e comentaristas da igreja, se não for controlado, nos levará a um lugar de grande escuridão, caracterizado por um ódio crescente contra indivíduos inocentes, a condenação de um grupo inteiro de pessoas e uma distração dos verdadeiros problemas latentes a esta crise de abuso sexual."
"Há muitas coisas que precisam ser abordadas quando se trata de abuso sexual por parte do clero... O que não é necessário é a demonização dos padres gays. O que não é necessário é mais ódio."
Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, desafiou as políticas do Vaticano que impediriam os homossexuais de entrar no seminário. Disse ele ao Crux:
"Curiosamente, o que estamos descobrindo é que essa política encoraja as pessoas a mentirem... Se um homem se sente chamado ao sacerdócio, ele racionalizará que não deveria admitir sua sexualidade... Os líderes institucionais querem promover uma mensagem de que homens gays não deveriam existir no sacerdócio... Então, eles não oferecem exemplos saudáveis e santos de padres gays que vivem seu celibato de maneira efetiva."
Durante uma coletiva de imprensa no recente Encontro Mundial das Famílias na Irlanda, DeBernardo perguntou num painel composto por um sobrevivente de abuso e três especialistas na área o que eles pensaram da hipótese de que os padres gays eram a causa do abuso. Todos os quatro painelistas condenaram essa teoria.
Em um editorial sobre como os líderes da Igreja podem responder à crise dos abusos sexuais, os editores do National Catholic Reporter se dirigiram ao tratamento dos líderes da Igreja em relação à homossexualidade:
"[...] insistimos que os bispos, os líderes da igreja, recusem e refutem o argumento que surge daqueles que afirmam que a homossexualidade no sacerdócio está na raiz do problema do abuso sexual. O fato - e estudos estabeleceram o fato - é que o ataque a crianças dentro da estrutura da igreja não é mais produto da cultura gay do que o ataque a crianças dentro das famílias, onde a maioria ocorre, é produto da cultura heterossexual. O problema é uma doença, e a mais notável das ofensas à comunidade católica foi a estratégia deliberada dos bispos para encobrir esses crimes impensáveis."
Nathan Schneider, escrevendo na America Magazine, não apenas rejeitou falsas caracterizações de padres gays, mas também afirma positivamente o papel que as pessoas LGBT desempenharam em sua vida de fé: "[...] inúmeras vezes, as pessoas que salvaram minha fé quando ela estava à beira do abismo eram pessoas LGBT. Suspeito que isso não seja um acidente. Não posso ter certeza, mas creio que tenha sido a experiência de marginalização e sua humanidade contra isso que me ajudou a ver onde Deus está... As pessoas que salvaram minha fé quando ela estava à beira do abismo eram pessoas LGBT."
Schneider acrescentou: "Em certo sentido, há alguma verdade que o problema do abuso tem a ver com um problema de homossexualidade. É o problema de uma homossexualidade reprimida, negativista, imatura que se descobriu um pouco depois do Concílio Vaticano II, mas não foi capaz de ir além disso."
A questão dos homens gays no sacerdócio precisa ser resolvida em breve para que os líderes da igreja possam se concentrar nas causas reais da crise dos abusos e para que nenhum dano adicional chegue às pessoas LGBT. É por isso que é vital que os católicos falem publicamente sobre sua apreciação e gratidão pelos padres gays, contrapondo onde e como for possível as narrativas homofóbicas promovidas por Morlino e seus pares. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
DOM ORANI: Carta de solidariedade ao Papa Francisco
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Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
São Sebastião do Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2018
Santo Padre Papa Francisco,
Com filial reverência, dirijo-me, muito cordialmente, a V. Santidade a fim de lhe expressar, mais especialmente, minha proximidade, comunhão e oração ante notícias midiáticas sensacionalistas recentes que parecem visar a desestabilização da unidade da Igreja, atingindo, inclusive, o maior sinal visível dessa unidade, que é o ministério petrino no qual, hoje, serve V. Santidade, querido Papa Francisco.
Tenho a certeza da fé que Cristo, Nosso Senhor escolheu Pedro – e seus sucessores – para estar à frente da Sua Igreja e confirmar seus irmãos na fé (cf. Mt 16,17-19; Lc 22,31-32 e Jo 21,15-18). Não há dúvida de que Pedro foi o escolhido pelo Senhor para conduzir a Igreja, enquanto bispo de Roma. Dessa verdade até mesmo o historiador reformado Justo L. Gonzáles, muito usado nos estudos da História da Igreja em comunidades evangélicas, após referir-se ao fim historicamente incerto dos demais apóstolos, afirma a respeito de Pedro: “De todas as tradições, provavelmente a que é mais difícil de pôr em dúvida é a que afirma que Pedro esteve em Roma e que sofreu o martírio nessa cidade durante a perseguição de Nero. Este fato encontra testemunhos fidedignos em vários escritores cristãos dos fins dos primeiros séculos e de todo o século segundo e, portanto, deve ser aceito como historicamente certo.” (A Era dos Mártires. 13ª reimpressão. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 40-41. v. 1. Coleção: Uma História Ilustrada do Cristianismo).
Ora, isso que o historiador confirma em seu trabalho, faz parte da Tradição da Igreja, de modo que, no fim do século I, tendo surgido um litígio entre os fiéis de Corinto, o bispo de Roma, São Clemente, lhes escreveu uma carta autoritária: “Se alguns não obedecem ao que Deus mandou por nosso intermédio, saibam que incorrem em falta e em perigo muito grave” (c. 69).
Em meados do século III, S. Cipriano, bispo de Cartago, chamava a cátedra de Roma de “‘cátedra de Pedro’, a Igreja principal, donde se origina a unidade sacerdotal (isto é, a unidade dos bispos)” (epist. 55, 14).
É certo haver alguns que, tentando fundamentar-se em Gl 2,11-14, tenham a pretensão de resistir, hoje, ao Papa ou mesmo de enfrentá-lo como se o referido trecho bíblico lhes desse aval. Na verdade, não compactuamos com tal postura, por duas grandes razões: 1) pela Escritura e pela Tradição, como vimos, não é possível servir a Cristo, em Sua Igreja, sem estar em plena comunhão com o Sucessor de Pedro. 2) podemos observar que, em suas cartas, São Paulo, longe de se opor, conserva sempre especial respeito pela pessoa de São Pedro: 1Cor 9,5: “(...) como os outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas”; Gl 1,18: “Depois de passados três anos, subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e permaneci com ele durante 15 dias”; 1Cor 15,3-5: “Desde o princípio vos ensinei o que aprendi: que Cristo morreu..., ressurgiu e foi visto por Cefas e depois pelos 11”.
De modo que tendo considerado o episódio de Antioquia e os demais textos paulinos, conclui o racionalista Alfred Loisy: a atitude de São Paulo “atesta ter sido Pedro o chefe do serviço evangélico, o homem com o qual era preciso entrar em acordo, sob pena de trabalhar em vão” (Les Evangiles Synoptiques 14). Segundo escreve o estudioso luterano G. Bornkamm, “para ser justo diremos que não há motivo para formular uma tal acusação”. A passagem de Gl trata “da unidade dos cristãos de origem judaica e provenientes do paganismo numa comunidade mista. Cefas (Pedro) e Tiago não devem, portanto, ser acusados de deslealdade, e os judeu-cristãos de Antioquia, com os caracteres de um Barnabé, certamente não arremessaram no mar toda a sua compreensão do Evangelho libertador da Lei” (E. Cothenet. A Epístola aos Gálatas. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 34). Quem viu ou vê aí um álibi para acusar ou questionar o Papa, engana-se.
De resto, Santo Padre, todos os Papas, de um ou de outro modo, sofreram críticas e perseguições, nem João Paulo I, em apenas 33 dias de Pontificado, escapou da sanha acusatória. Se perseguiram o Mestre com toda sorte de sofrimentos físicos e morais, com seus ministros não será diferente, em graus diversos, de modo que tais sofrimentos toquem também os que mais estão perto. Só Deus e os verdadeiros irmãos podem estar próximos de nós nas horas em que somos traídos por um dos 12, um dos membros do Colégio Apostólico. Foi a triste realidade a que o Senhor esteve submisso. Conosco não é, nem poderia ser, diferente. Carregamos um pouco da Cruz de Cristo!
Santo Padre, termino com as palavras de carinho filial com as quais comecei esta mensagem: sinta o meu incondicional apoio, minha proximidade espiritual e humana. Tenha-me como um filho devotado, na graça divina, que o bispo de Roma pode ter sempre ao seu lado, especialmente em tempos de mar revolto que parecem ameaçar a Igreja de Cristo.
Nesta oportunidade, Santo Padre, transmita, também, minha afetuosa e fraterna proximidade ao meu irmão no Episcopado e no Colégio Cardinalício, Sua Eminência, o Senhor Cardeal Pietro Parolin, DD., secretário de Estado de Vossa Santidade. Esteja ele certo de minha oração e amizade.
Colocando-me ao vosso inteiro dispor, suplico-lhe, Santo Padre, vossa bênção apostólica extensiva a todo o povo de Deus desta Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Vosso devotado filho, no Senhor,
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: http://arqrio.org
A BÍBLIA NA VIDA: As Santas Mulheres
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A BÍBLIA NA VIDA: O louvor de Davi
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Santuário de Lourdes denuncia artista que apareceu nua no meio de uma procissão
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Os próprios peregrinos se apressaram em tampar Déborah de Robertis, que se exibiu na Gruta das Aparições sem roupa, com as mãos em posição de reza e a cabeça coberta por um véu azul
O santuário francês de Nossa Senhora de Lourdes anunciou no último domingo que apresentou uma denúncia formal contra a artista franco-luxemburguesa Déborah de Robertis. A mulher, de 34 anos, se despiu na Gruta das Aparições durante um ato religioso dois dias antes, especificamente no transcurso de uma procissão na tarde da sexta-feira. De Robertis apareceu nua diante da imagem da Virgem, com as mãos em posição de reza e a cabeça coberta com um véu azul, conforme noticiou o semanário Le Journal du Dimanche. Imediatamente, vários peregrinos se aproximaram para tentar tampá-la. “No sábado, 1º de setembro, descobrimos que se tratou de um ato premeditado, vinculado a uma intenção supostamente artística”, denunciou o Santuário em nota.
Depois de receber vários telefonemas de testemunhas, a polícia acabou detendo a artista, que será julgada em maio de 2019 pelo delito de exibição sexual, segundo relatou o promotor da localidade de Tarbes à emissora Europe 1. Além disso, o Santuário condenou este tipo de ato exibicionista e deplorou a ação realizada pela artista, qualificando-a “como um vilipêndio à consciência religiosa e à liberdade de culto”. A instituição também pediu desculpas aos peregrinos presentes naquele momento e principalmente às “famílias com crianças”.
De Robertis, que já protagonizou outros “atos de exibicionismo” semelhantes no passado, escreveu uma mensagem no Twitter citando uma passagem da Bíblia junto com uma imagem do seu ato na sexta-feira. Também divulgou no YouTube um vídeo que foi censurado, conforme anunciou ela mesma no Twitter. A Justiça a intimou a depor em outubro passado por fatos ocorridos no Museu do Louvre de Paris. Naquele caso, De Robertis foi posta em liberdade, já que ficou decidido que se tratava de um “ato militante e artístico” com o objetivo de questionar o lugar das mulheres na história da arte.
A artista francesa também se despiu em janeiro de 2016 no Museu d’Orsay, em Paris, diante da tela Olympia, de Édouard Manet, com a intenção de recriar a obra ao vivo. De Robertis foi detida por exibicionismo sexual, embora tenha salientado que apenas fez uma “performance artística”. Fonte: https://brasil.elpais.com
A ORDEM DO CARMO NO SUL-12
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Igreja ferida
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"Os pastores com pele de cordeiro se revelaram verdadeiros lobos, atacando numerosos membros do 'rebanho', submetendo de forma particular as pessoas mais vulneráveis, como meninas e meninos, adolescentes, jovens e dependentes. A retórica do “chamado ou vocação, em lugar de um serviço ao povo de Deus, foi o mecanismo utilizado para exercer um poder efetivo e simbólico perverso e corrosivo", escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais.
Eis o artigo.
A Igreja Católica está universalmente ferida. Um vírus a corrói a partir das próprias entranhas e desde longas décadas. De um lado, emergem e clamam por justiça as centenas e milhares de vítimas de abusos por parte de tantos pastores que, em lugar de cuidar e garantir a proteção do “rebanho”, usaram as pessoas para satisfazer seus próprios instintos. De outro lado, alguns de entre os próprios pastores tratam de instrumentalizar tais fatos, misturando-os com boatos, contra o Pastor Supremo, o Papa Francisco. O pecado e o crime associa-se à difamação com fins nada evangélicos. Aliados aos expoentes da extrema direita, os pombos se transformam em corvos, para bloquear toda e qualquer mudança de rumo na Igreja. Trazem à tona o saudosismo do luxo ostensivo, do liturgismo formal, da solenidade principesca, da idumentária imponente, do dogma fossilizado e doutrinário... O saudosismo de uma Igreja medieval com poder e influência na sociedade.
O que está em jogo? Antes de mais nada um fato real e incontestável: milhares de pessoas, no interior das próprias estruturas eclesiais, sofreram abusos inaceitáveis. Os pastores com pele de cordeiro se revelaram verdadeiros lobos, atacando numerosos membros do “rebanho”, submetendo de forma particular as pessoas mais vulneráveis, como meninas e meninos, adolescentes, jovens e dependentes. A retórica do “chamado ou vocação, em lugar de um serviço ao povo de Deus, foi o mecanismo utilizado para exercer um poder efetivo e simbólico perverso e corrosivo. Feridas e cicatrizes dessa tirania em nome de Deus são denunciadas em várias partes do mundo. Tudo isso dentro de um corporativismo clerical (ou clericalismo), em que os membros tentam proteger-se reciprocamente. Daí a fusão nefasta e altamente danosa entre silêncio, cumplicidade, imunidade, influência e carreirismo. Mutatis mutandis, trata-se dos mesmos ingredientes que hoje fazem avançar os representantes, os grupos e os partidos de extrema direita em diferentes partes do globo. O poder em nome de Deus se une ao poder em nome do povo – para fechar as portas, as fronteiras e as leis aos “sem vez e sem voz”. Como o Papa Francisco vem fazendo com insistência, as vítimas de tantos abusosmerecem um profundo e sincero pedido de perdão por que de toda a Igreja que, como repete o Pontífice, “não foi capaz de agir com pronta decisão para defender o “rebanho” dos lobos que o devoravam.
Mas está em jogo, além disso, um ataque frontal ao modo como o atual Pontífice tem procurado conduzir a “barca de Pedro”. Os conservadores saudosistas e retrógrados não suportam a presença de um Papa que, em lugar de pompas, privilégios e um toque de majestade, retorna à simplicidade límpida e transparente da fonte evangélica, onde a água é mais cristalina. Melhor dizendo, não suportam as páginas contundentes dos relatos bíblicos, notadamente os livros proféticos, onde o Deus de Israel , no Antigo Testamento, privilegia com clareza “o pobre, a viúva e o estrangeiro”. E o Pai de Jesus Cristo, no Novo Testamento, mostra predileção particular pelos “pobres, oprimidos, prisioneiros, indefesos, prostitutas, excluídos, pecadores” – como o Bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro daquela que se perdeu.
Os que os incomoda é justamente a retomada da prática de Jesus: beber do Evangelho. Vem à memória o episódio do Grande Inquisidor na obra do escritor russo Dostoiévski. Os Irmãos Karamazov. O retorno de Jesus perturba o status quo, interpela os estabelecidos, comporta mudança de atitude, exige conversão. O retorno à denúncia corajosa e profética diante das injustiças e das assimetrias socioeconômicas, de uma “economia que mata”, bem como do modo como são rechaçados os migrantes e refugiados que, em fuga da própria terra natal, buscam desesperadamente uma nova pátria. Da mesma forma que a corte e o palácio, a cúria e a hierarquia eclesial sempre temeram a voz dos profetas. Pior ainda quando se juntam e se fundem os dois poderes, temporal e espiritual. Não raro, juntos ou separadamente, perseguiram, fizeram calar e mataram os opositores.
Um grupo expressivo, no interior da própria hierarquia da Igreja, não quer saber de um verdadeiro pastor. Prefere um príncipe, com tudo o que isso significa de requinte, sofisticação e custos. Enquanto o pastor, pelo simples fato de sê-lo, questiona e interpela atitudes e privilégios duvidosos, a presença do príncipe no pico da pirâmide justifica e legitima o comportamento e os benesses dos demais príncipes que, na cúria romana e nas cúrias de toda a Igreja, se agarram com unhas e dentes a um modo de vida, ao mesmo tempo, longe do povo que chamam de “rebanho”, e longe das pegadas de Jesus de Nazaré. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
A BÍBLIA NA VIDA: O Povo de Deus
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O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ- direto do Rio de Janeiro- fala sobre o povo de Deus, da série; A Bíblia na vida, neste mês da Bíblia-2018. E-mail do Frei Petrônio para contato- críticas ou sugestões de temas. Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. FACE: www.facebook.com/freipetros SITE: www.olharjornalistico.com.br TWITTER: www.twitter.com/freipetronio Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 3 de setembro-2018.
Quem está por trás da manobra contra Francisco. Artigo de Alberto Melloni
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Quem está por trás da manobra contra Francisco. Artigo de Alberto Melloni
“Atacar o Papa Francisco no fim da sua viagem irlandesa, seis dias após a carta ao povo de Deus, a um mês da retirada do barrete cardinalício de McCarrick, antes da chegada do novo substituto e do retorno do secretário de Estado, esconde um desígnio: que não tem nada a ver com a pedofilia, mas sim com a tentativa de soldar o integrismo antibergogliano com o fundamentalismo político católico.” A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha. O artigo foi publicado por La Repubblica, 27-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O fato de que um velho prelado, furioso por não ter feito carreira, alimente ressentimento em relação ao papa é o “ABC” do catolicismo romano. O fato de ele usar os jornais para se vingar é um déjà vu, desde os tempos em que o cardeal Ottavianiconfidenciou documentos a Indro Montanelli para difamar o Papa João XXIII. Portanto, o fato de que um núncio – Dom Carlo Maria Viganò – decida informar de modo pouco diplomático que o Papa Francisco teria ignorado as suas denúncias e lhe peça que renuncie não deveria surpreender.
De fato, é a confirmação de um dado preocupante. Na seleção dos candidatos ao episcopado, foram escolhidos homens desprovidos dos dotes espirituais e da estabilidade psicológica requeridos. Assim, entre aqueles que governaram as dioceses com os padres pedófilos, muitos se tornaram cúmplices de luvas brancas dos crimes. Entre aqueles que serviram à Santa Sé, alguns se revelaram homúnculos disponíveis a “joguinhos” como esse de Viganò, que, pela sua pontualidade sórdida e mafiosa, é impossível crer que não tenha sido planejado, orquestrado e temporizado. Não por ele, mas por alguém que escolheu fazer dele um Corvo de batina.
Escolha não casual. Em 1º de outubro de 2011, quando Bento XVI nomeou o cardeal Giuseppe Bertello como governador da Cidade do Vaticano, não lhe fez um favor: diplomata de imensa experiência, dotado de um tato político único na infinita crise italiana, Bertello tinha a estatura para fazer bem diferente.
Mas o papa – que preferia um amigo “confidente” a um secretário de Estado – conservou a lealdade do cardeal Bertone e “usou” Bertello para curar aquele último e comentado resíduo de poder temporal. Escolha inteligente: mas que cortava o caminho de Viganò, que, após um período na Nigéria e 10 anos na Secretaria de Estado em Roma, tinha passado justamente pela secretaria-geral do Governatorato, convencido de poder escalar a sua cúpula e se tornar cardeal.
Ainda na primavera de 2011, Viganò tinha farejado um ar de rebelião ao seu redor e escreveu aos superiores explicando que eles eram os culpados de uma má gestão, que queriam bloquear a carreira a que ele se sentia chamado e enviá-lo novamente a ser núncio, em uma sede de prestígio, mas longe da sua cobertura.
E, com efeito, em 19 de outubro de 2011, Bento XVI nomeou Viganò como núncio nos Estados Unidos. Cem dias depois, com a publicação daquelas suas cartas de acusação, começava a compra e venda de documentos do apartamento papal que recebeu o nome de Vatileaks.
Em Washington, no entanto, Viganò deve ter se consolado, pensando que Franciscoo premiaria por aqueles seus passos. E dobrou a aposta, trazendo novas denúncias. Mas não: Francisco esperou que ele tivesse a idade para a aposentadoria, despediu-o do serviço e, em vez de lhe deixar o apartamento que o monsenhor tinha resguardado no Vaticano, informou-o que ele podia voltar para a diocese.
Haveria o suficiente para explicar um gesto vingativo, mas autodestrutivo (se Viganòsabia mais do que todos, mais do que todos se calou).
Mas o que está claro é que alguém fez de um frango um Corvo. Atacar o Papa Francisco no fim da sua viagem irlandesa, a seis dias após da carta ao povo de Deus, a um mês da retirada do barrete cardinalício de McCarrick, antes da chegada do novo substituto e do retorno do secretário de Estado, esconde um desígnio: que não tem nada a ver com a pedofilia, mas sim com a tentativa de soldar o integrismo antibergogliano com o fundamentalismo político católico. Isto é, o mundo dos tradicionalistas ligados ao cardeal Burke, que decidiu passar das dubia às calumniae, apostando na possibilidade de agir como bloqueio em um futuro conclave. E o mundo da “direita religiosa” estadunidense e europeia, que, a partir daquela grande mancha negra entre Munique e Budapeste, entre Gdańsk e Roma, sonha em desmantelar a Europa da paz para fazer com que ela retorne para a terra dos Deuses da Guerra.
Quem conferiu ao frango o papel de Corvo queria medir o efeito de uma tempestade midiática não contra Francisco, mas contra o Colégio Cardinalício, o episcopado, os teólogos. Depois, veremos... Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
O Vaticano sob um golpe hollywoodiano
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"Também é uma questão de poder. As velhas posições de poder não existem mais. Quando um padre modesto do Laos é escolhido para ser cardeal, inclusive com os privilégios para escolher o próximo Papa, ao invés de um bispo de uma cidade grande e rica, a velha balança de poder é jogada fora. A Igreja já está num outro lugar. A maioria dos cardeais do futuro conclave já foram escolhidos por Francisco, para que, depois dele, seu sucessor seja Francisco II", escreve Francesco Sisci, sinólogo italiano, professor da Renmin University of China, em artigo publicado por Settimana News, 29-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Eis o artigo.
Era uma vez, quando tramas eram tramas, e lutas aconteciam com capas e facas, se colocava veneno na sopa ou no chá de ervas antes de dormir. Ou havia o barulho dos punhais nos corredores. Ou ainda, uma insurreição da população e ele, em seu traje branco, era expulso para Avignon ou para um mosteiro eremita nas montanhas, como Celestino V no século 13, o século de Dante, o Papa do gran rifiuto, a grande abdicação, o único na história milenar do papado até o episódio de Bento XVI, cinco anos atrás.
Essas eram as histórias do Vaticano, e depois do quase todo-poderoso Estado Papal. Agora, as histórias são coreografadas, planejadas, e coordenadas como em um filme de Hollywood, com divulgação da mídia em todos os idiomas. O tempora, o mores; é o costume do tempo, no fim das contas.
Atualmente, o desenrolar da trama é o que segue, começando alguns anos atrás, quando Bento XVI ainda não tinha renunciado.
Muitos dos segredos de suas câmaras sagradas vazaram. O mordomo foi declarado culpado, mas talvez ele não tenha sido o único. O Papa Bento XVI renunciou, e outro Papa, Francisco, foi eleito, mesmo que seu nome tenha surpreendido a Cúria e muitas pessoas poderosas.
E então, muitas coisas aconteceram. Um cardeal rompeu o voto de silêncio em uma conversa com o Papa. Outro cardeal foi forçado a renunciar após um escândalo de abuso sexual. Um núncio, a voz e a mente do Papa no exterior, divulgou segredos de meias-verdades e pediu ao Papa que renunciasse; escritores liberais acusaram a Igreja Católica de ser um sindicato criminoso.
Você pode preencher as lacunas como quiser, como em um conto de espionagem fantasioso e angustiante. Ou você pode se valer de elementos da realidade. Bem-vindo à nova teoria da conspiração do século 21, que se parece muito com aquelas da Idade Média.
Para focar nos acontecimentos mais recentes, olhando os noticiários, se parece com um filme hollywoodiano sobre escândalo corporativo onde o vilão, se sentindo contrariado, pede ao seu chefe que se demita, pois ele "também sabia". Pode soar como desrespeito ou loucura tratar da Santa Igreja de 2000 anos de idade desse modo, mas é assim que soam as palavras do arcebispo conservador Carlo Maria Viganò, que alega que o Papa Francisco sabia e encobriu o escândalo de abuso sexual que está ruindo em pedaços a Igreja Católica mundialmente.
Ex-núncio do Vaticano nos Estados Unidos, Viganò, numa longa carta a Francisco, publicada domingo em alguns dos maiores canais conservadores e antagônicos americanos, trouxe o árduo problema do abuso de crianças na Igreja Católica para um estágio completamente novo. Viganò, pela primeira vez desde que o problema foi levantado há cerca de quinze anos atrás, envolveu o Papa no escândalo, aberta e diretamente, alegando que o pontífice sabia dos trespasses e dos crimes do Cardeal Theodore McCarrick com crianças e seminaristas. Fazendo isso, ele forneceu a prova que faltava de que esses não eram incidentes isolados, mas que a Igreja inteira, inclusive seu líder, o Papa, estava envolvido.
As alegações vieram justamente durante a visita de Francisco à Irlanda, onde ele, em um santuário, clamava pelo "perdão do Senhor" pelos escândalos.
Enquanto o Papa rezava por perdão, Viganò pedia sua renúncia: "Nesse momento extremamente dramático para a Igreja, ele deve reconhecer seus erros e, mantendo o proclamado princípio de tolerância zero, Papa Francisco deve ser o primeiro a dar um bom exemplo aos Cardeais e aos Bispos que acobertaram os abusos de McCarrick e renunciar juntamente de todos eles".
Viganò declara que ele, pessoalmente, denunciou McCarrick ao Papa Francisco e que, durante todo esse tempo, Francisco não fez nada em relação ao caso. Viganòtambém esteve envolvido num escândalo passado do Vaticano que, supostamente, teria sido decisivo para a renúncia do Papa Bento XVI.
Todo esse drama - a pontualidade, a cobertura de imprensa, a publicidade - faz com que pareça que a Igreja Católica se tornou americana, como nunca na história. Os Estados Unidos, de fato, dominam os compromissos da Igreja Católica de maneira indiscutível.
Isso não acontece por que os EUA são a maior força atual, nem por causa da quantia nas doações dos católicos americanos para os fiéis ao redor do mundo, mas porque os problemas provindos da Igreja Católica Americana se tornaram o assunto principal da Igreja universal.
O exemplo óbvio é o escândalo de abuso sexual de crianças, mas também podemos citar as controvérsias sobre a Amoris Laetitia, trabalho pelo qual o Papa tentou mudar a atitude da Igreja em relação ao casamento e sacramentos.
Esses assuntos têm ditado os compromissos da Igreja nos últimos anos, e por causa da natureza dessa ferida no seu corpo e da descrença profunda que isso gerou, levará muito mais tempo, possivelmente décadas, para sará-la e superá-la.
Desse modo, enquanto os EUA têm uma influência gigantesca no ‘mundo Igreja Católica’, parece estar surgindo um distanciamento entre Roma e o país norte-americano. Massimo Faggioli argumentou recentemente que Roma parece incapaz de se comunicar efetivamente com os Estados Unidos, e há uma diferença cultural considerável entre os dois.
Isso deve ser porque, como a Igreja Católica Americana nos disse, "Nós, americanos, costumávamos obedecer a tudo o que Roma dizia e nunca contrariávamos. Agora, também queremos uma voz". Esse parece ser o plano de fundo da análise de David Gibson.
Mas estaria o Papa Francisco interessado em intervir, como sugere Gibson? Papa Francisco procura converter pessoas, não as dispensar. Ele quer leigos envolvidos com a Igreja, não um novo clericalismo que substitua o antigo.
Podemos considerar sua reforma da Cúria como um exemplo disso. Papa Francisconão se movimentou com planos ou projetos. Ele mudou as coisas e alterou os cargos, motivado pela reza e pela meditação, sempre pensando que tinha o dever de alinhar a Igreja com Jesus e assim ele a transformaria, como disse Antonio Spadaro numa coletiva recente em Roma.
Mas tudo isso traz alguns problemas pela frente. Se os Estados Unidos com sua voz e interesses dominam Roma, mas Roma não consegue se comunicar com os Estados Unidos, isso cria uma situação muito desequilibrada que pode virar toda a Igreja de cabeça para baixo.
O outro problema é ainda maior. O Papa está fazendo incursões na Ásia pela primeira vez em toda a história, e a Igreja Católica está expandindo sua causa na África. Mas esses lugares têm pouco, ou não têm, interesse nas controvérsias do abuso de crianças ou de ética sexual. Como poderiam estes interesses viver lado a lado? Eles não irão se chocar?
Em seguida, implícito nisso, há uma série de outros problemas. O abuso de crianças e a ética sexual são problemas difíceis para católicos e protestantes nos Estados Unidos e na Europa. Eles movimentam políticas, e revivem velhas tensões entre católicos e protestantes. Se o Papa administrar mal a situação, muitos católicos abandonarão sua fé. Se ele administrar bem, pelo contrário, poderá abrir caminhos para uma boa reconciliação cristã.
Mas em outros lugares, a competição é com os muçulmanos, ou com os budistas, ou com os hindus, ou mesmo com regimes opressivos. Isso é, se os Estados Unidos querem uma voz em Roma e isso trazer compromissos legítimos e importantes para Roma, esses compromissos estarão indo ao contrário do que Igreja está enfrentando em outras partes do mundo. E isso terá um impacto importante nesses lugares. As sensibilidades sobre a Ásia e a África são muito diferentes para Roma e para os Estados Unidos.
Para manter a Igreja unida, a ideia não é apenas a necessidade de resolver os escândalos de abuso sexual, mas se afastar de uma Igreja que talvez esteja demasiadamente absorvida pelas partes inferiores do corpo e ir em direção a uma Igreja que alcance os não-católicos e os pobres. Sobre os compromissos, alguns na Igreja não gostam de um Papa preocupado com imigrantes ou com a paz, eles preferem mantê-lo concentrado em sexo.
Também é uma questão de poder. As velhas posições de poder não existem mais. Quando um padre modesto do Laos é escolhido para ser cardeal, inclusive com os privilégios para escolher o próximo Papa, ao invés de um bispo de uma cidade grande e rica, a velha balança de poder é jogada fora. A Igreja já está num outro lugar. A maioria dos cardeais do futuro conclave já foram escolhidos por Francisco, para que, depois dele, seu sucessor seja Francisco II.
E o golpe é ilógico. Você não gosta do Papa? Faça como o arcebispo Lefebvre nos anos 70, ou como muitos antes dele, estabeleça sua própria ordem sagrada e seus próprios padres e parta com eles de Roma.
Mas pedir a renúncia do Papa num artigo de jornal?! Isso nunca aconteceu em 2000 anos de história - você não pode ser conservador e querer inovar tanto a tradição ao mesmo tempo. Não podem acontecer ambas as coisas; não funciona. Se você insiste em agir contra o Papa, pegue seu veneno, ou seu punhal… e entre na fila. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Caso Viganò: defensores de Francisco também querem clareza. O papa sabia ou não?
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Máxima confusão dentro e fora da Igreja. A agência Ansa divulgou a notícia, atribuída a estreitos colaboradores papais, de que Francisco está “amargurado, mas não pensa na renúncia”. Para o Vaticano, um gol contra clamoroso em termos de comunicação. Por outro lado, o Avvenire, jornal da Conferência Episcopal Italiana (CEI), desmentiu furiosamente: “Ele não está amargurado, trabalha como sempre, é uma não notícia, uma maquinação”. Assim teriam assegurado algumas “fontes vaticanas credenciadas”. A reportagem é de Marco Politi, publicada em Il Fatto Quotidiano, 29-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A impressão é de que a Santa Sé não sabe como se mover depois do prato envenenado da carta do ex-núncio Carlo Viganò. Enquanto isso, na mídia, especialmente na televisão, foi transmitida a mensagem de que Viganò, em 2013, advertiu Francisco sobre os abusos sexuais de menores cometidos pelo cardeal McCarrick. Não é verdade.
Em nenhum ponto do seu longo texto o ex-núncio afirma isso. Fala-se apenas da conduta escandalosa de McCarrick com seminaristas e padres adultos. É uma diferença específica, mas, em uma guerra – como aquela que há anos contrapõe a facção ultraconservadora à linha de Bergoglio –, a ambiguidade da mensagem é desejada e estudada. E Viganò alcançou o seu efeito venenoso.
A opinião pública está desorientada, e o carisma de Francisco corre o risco de ser rompido. Voltando de Dublin na noite de domingo, o pontífice disse no avião aos jornalistas sobre o texto Viganò: “Leiam vocês cuidadosamente... vocês têm a capacidade jornalística suficiente para tirar conclusões... Eu gostaria que a maturidade profissional de vocês faça esse trabalho”.
Um jesuíta estadunidense, jornalista de longa data, brilhante analista de questões vaticanas e religiosas, fez isso. Ele se chama Tom Reese, dirigiu durante sete anos a prestigiosa revista dos jesuítas estadunidenses America (afastado por imposição da Congregação para a Doutrina da Fé em 2005), comentarista do igualmente conhecido National Catholic Reporter, por dois anos presidente da estadunidense“Comissão para a Liberdade Religiosa Internacional” por nomeação de Obama. Sua abordagem é pragmática, muito estadunidense e, por isso, eminentemente realista.
Ok, diz Reese em síntese, é possível contra-atacar Viganò polemicamente. Pode-se dizer que ele é um adversário do papa e da sua exortação apostólica Amoris laetitia, como o cardeal Raymond Burke. Pode-se desenterrar o seu passado (na Itália, vieram à tona péssimas histórias de milhões enviados ao exterior e de miseráveis disputas pela herança paterna com a irmã). Pode-se dizer, observa Reese, que, como núncio vaticano nos Estados Unidos, ele não se distinguiu em uma luta intrépida pela transparência sobre os abusos sexuais, ou, melhor, documentos processuais relativos à Diocese de Minneapolis revelam uma carta de Viganò em que ele “comunica a um bispo auxiliar que detenha uma investigação contra o arcebispo local e destrua as provas”.
Ok, podem-se encontrar os furos de muitas afirmações da sua carta. E até se pode dizer que ele é um funcionário frustrado nas suas expectativas de carreira. Mas, na história, muitas “gargantas profundas” são funcionários frustrados. Esse não é o ponto.
Moral da história: não se pode contornar algumas afirmações cruciais de Viganò. São verdadeiras ou não? Elas dizem respeito a João Paulo II, Bento XVI, dois secretários de Estado vaticanos.
Em todo o caso, enfatiza o jesuíta Reese, o fato é que Viganò defende ter falado com o Papa Francisco sobre McCarrick em junho de 2013. O Pe. Reese, notoriamente defensor da linha reformista de Bergoglio, tira as conclusões: “Como o papa é o única outra testemunha desse encontro, somente ele pode confirmar ou negar aquilo que Viganò disse. Recusar-se a responder a essa questão não reforça a sua credibilidade”.
Os seus colaboradores deveriam aconselhá-lo a esclarecer imediatamente o caso. A resposta, continua Reese, poderia ter sido: “Não, Viganò não disse isso ao papa”. Ou: “Ele disse isso ao papa, mas não há registros sobre as supostas proibições impostas (a McCarrick) por parte de Bento XVI. O papa desconsiderou as acusações de Viganò, porque o ex-núncio tinha contra ele uma história de acusações infundadas. E, lembrem-se, foi Francisco quem ordenou que McCarrick passasse o resto de sua vida em oração e em penitência, e retirou o seu barrete vermelho”. E, deve-se especificar, ele abriu um processo eclesiástico contra ele.
No entanto, não se pode calar. Reese conclui: “Assim como cada diocese dos Estados Unidos precisa prestar contas de modo total e transparente dos abusos sexuais clericais e da resposta de cada diocese, assim também o Vaticano deve revelar o que sabia, quando soube e o que fez ou deixou de fazer. Nada menos do que isso dará início à restauração da credibilidade da Igreja Católica”.
Limitar-se a gritar o complô contra Francisco ou a dar doutas interpretações eclesiológicas às suas declarações não compreende o perigo em que se encontra toda a estratégia do Papa Bergoglio. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
“FRANCISCO: CULPADO!”
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Pe. António Teixeira
Querido Papa Francisco:
na verdade, és culpado!
És culpado por seres um homem e não seres um anjo!
És culpado porque tens a humildade de aceitar que erras e de pedir perdão. Pedir perdão por ti e por nós. E isso para muitos é inadmissível.
És culpado porque desejavam fosses um juiz é um canonista e és exemplo e testemunho de misericórdia.
És culpado pois que abandonaste a tradição de morares em palácios e escolheres viver no meios das pessoas.
Culpado porque deixaste a sumptuosidade de S. João de Latrão e elegestes a pobreza das prisões, dos orfanatos, dos asilos e das casas de recuperação de adições.
Sim és culpado!
Deixaste de beijar os pés “perfumados” das eminências e beijas os pés “sujos” de condenados, mulheres, doentes, de outras confissões religiosas, de “diferentes”!
És condenado porque abriste as portas aos “recasados” e porque diante de temas dolorosos e pendentes respondes simplesmente: “quem sou eu para julgar?”.
És condenado porque assumes a tua fragilidade, pedindo que rezem por ti, quando muitos exigem que sejas dogmático , intolerante e rubricista.
Papa Francisco és culpado por tantos e tantos corações ditos “infiéis”, “excomungados” e “impuros” tenham redescoberto o rosto belo de Cristo ternura e misericórdia.
És culpado porque “chamas as coisas pelos nomes” e não te retrais de lembrar aos bispos que não sejam pastores de aeroporto mas sim gente com “cheiro a ovelha”.
Culpado porque rasgaste as páginas da intolerância, dos moralismos estéreis e impiedosos e nos ofereceste a beleza da compaixão, da ternura e da frontalidade.
És culpado porque nos abristes não tanto os olhos, a inteligência e a razão mas, sobretudo, o coração.
És culpado por quereres carregar a Cruz da Igreja em vez de desviares o olhar, seres indiferente às dores e às lágrimas dos homens do nosso tempo.
És culpado porque não suportas os crimes hediondos feitos em nome de Deus e por aqueles que falam de Deus mas vivem contra Ele.
Culpado porque buscas a verdade e a justiça, abraçadas pela misericórdia, em vez de silenciar, esconder, minimizar ou ignorar.
És culpado porque deixaste de querer uma Igreja de privilégios e mordomias, de glórias e poderá mundanos e nos ensinas a força do serviço, a riqueza do lava-pés e a a grandiosidade da simplicidade.
Papa Francisco deixa que te culpem destes “crimes”. Sabes que ao teu lado estão incontáveis és homens e mulheres que, como tu, não são anjos, são frágeis, pecadores, esperando que Cristo olhe por nós e para nós.
Sabe que contigo está uma enorme “procissão” de corações que por ti rezam a cada instante, por ti dariam a própria vida, te seguem como ovelhas que confiam no pastor.
Foi Cristo quem te colocou ao leme desta “barca” naufraga que é a Igreja.
É Cristo quem te dará as forças para prosseguir esse caminho de “culpabilidade” que tanto bem fez ao mundo e à Igreja.
Querido Papa Francisco obrigado por seres culpado pela beleza da Igreja sonhada por Jesus.
VOCAÇÃO E TRADIÇÃO: Frei Petrônio
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Quem é o arcebispo Carlo Maria Viganò?
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Teólogos contemporâneos dizem que certas controvérsias ecoam políticas do Vaticanode séculos passados.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 28-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Acusações explosivas de corrupção e má conduta contra altos funcionários do Vaticano na mídia local. Os nomes dos supostos envolvidos estão publicados online, desencadeando debates e investigações acalorados.
Isso foi em janeiro de 2012.
Cartas do arcebispo Carlo Maria Viganò escritas no início de 2011, mas publicadas naquele mês por uma emissora de televisão italiana, tornaram-se as origens do chamado escândalo "Vatileaks".
Esta e outras controvérsias que envolveram o prelado nos últimos anos ecoam na divulgação e reação à publicação de uma carta de 11 páginas de Viganò, em 26 de agosto, que acusa dezenas de oficiais do alto escalão da igreja de encobrimento a respeito de alegações de abuso sexual contra o ex-cardeal Theodore McCarrick, incluindo que o papa Francisco ignorou essas alegações e sabia das sanções contra ele. Na carta, Viganò pediu que Francisco renunciasse.
O fato de um arcebispo ter feito tais acusações públicas contra um papa em exercício, bem como contra um papa emérito, Bento XVI, é sem precedentes na igreja moderna, disse Massimo Faggioli, teólogo e historiador da Igreja da Villanova University. Para uma situação semelhante, seria preciso voltar para o século XV, no fim da Idade Média.
"Isso é algo do qual não me lembro nos últimos quatro, cinco, seis séculos", disse ele.
Faggioli apontou paralelos entre a recente carta de Viganò e suas controvérsias passadas - sua publicação enquanto Francisco se aproximava do fim de sua visita à Irlanda, imitando a divulgação da notícia da reunião do papa com Kim Davis após sua viagem de 2015 aos EUA - mas argumentou que o motivo pode ser traçado até a negação de um solidéu vermelho de cardeal ao arcebispo.
"Realmente não é sobre McCarrick; trata-se de uma velha história que começa sete ou oito anos atrás. Ele se tornou um arcebispo extremamente descontente", disse Faggioli.
Ascensão ao Vaticano
Nascido no norte da Itália em uma família rica, Viganò foi ordenado padre em 1968. Cinco anos depois, ele entrou para o corpo diplomático do Vaticano, onde ocupou posições em embaixadas na Grã-Bretanha e no Iraque. Trabalhou mais de uma década (1978-89) na Secretaria de Estado do Vaticano antes de passar os próximos três anos como observador permanente do Vaticano no Conselho da Europa, em Estrasburgo, França. Viganò foi nomeado arcebispo em 1992 pelo papa João Paulo II, que o nomeou núncio apostólico na Nigéria.
Durante grande parte de seus primeiros anos em Roma, Viganò manteve um comportamento discreto, trabalhando principalmente nos bastidores, disse John Thavis, ex-chefe do escritório de Roma do Catholic News Service, que trabalhou em Roma de 1983 a 2012.
Esse comportamento discreto estendeu-se a sua nomeação, em 2009, para um cargo de alto escalão como secretário-geral da governadoria do Estado da Cidade do Vaticano. Lá ele ganhou uma reputação por suas habilidades como reformador financeiro. Ele também enfrentou tensões internas e críticas pelo que alguns viam como microgerenciamento.
Em 2010, e-mails anônimos circularam entre cardeais e embaixadas do Vaticano alegando nepotismo de Viganò na carreira de seu sobrinho, Carlo Maria Polvani, que também trabalhou dentro da Secretaria de Estado do Vaticano. Um comentário no jornal italiano Il Giornale, também anônimo, sugeriu que Viganò tentou controlar os serviços de segurança do Vaticano.
Apesar de ter escrito a Bento XVI pedindo que mantivesse sua posição, Viganò foi nomeado, em 19 de outubro de 2011, como núncio apostólico nos EUA, sucedendo o arcebispo Pietro Sambi, que morreu no início daquele ano. O movimento foi visto como uma negação às suas esperanças de eventualmente ser nomeado presidente do Estado da Cidade do Vaticano e, com isso, ser elevado a cardeal.
Menos de três meses depois, o nome de Viganò apareceu novamente na imprensa italiana.
Em janeiro de 2012, um noticiário de televisão italiano intitulado "Os Intocáveis" detalhou cartas que Viganò escreveu a Bento XVI e a seu Secretário de Estado Tarcisio Bertone alegando corrupção financeira e "abuso de poder" e, entre outras coisas, que o chefe dos Museus do Vaticano estava envolvido em falsificação.
Em sua carta a Bertone, Viganò disse que ele (Bertone) quebrou sua promessa de permitir que ele se tornasse presidente da governadoria do Estado da Cidade do Vaticano depois que o cardeal Giovanni Lajolo se aposentou.
Uma declaração, de fevereiro daquele ano, de Lajolo e do então cardeal Giuseppe Bertello disse que as cartas de Viganò continham alegações baseadas em "avaliações errôneas" ou "temores sem o apoio de prova" e, finalmente, determinou que as acusações eram "infundadas".
Através das cartas do Vatileaks, Viganò se retratou como um delator e um mártir, disse Thavis, mas muitos dentro do Vaticano questionaram a credibilidade do arcebispo.
Série de alegações controversas
Enquanto Viganò chegou aos EUA com pouca reputação ideológica, disse Thavis, ele se tornou visto como uma voz relativamente conservadora. Em seus primeiros meses, os bispos William Lori, Samuel Aquila e Salvatore Cordileone - todos os três considerados agressivos "guerreiros da cultura" - foram indicados para arquidioceses em Baltimore, Denver e San Francisco, respectivamente. No final do mandato de Viganò em abril de 2016, o escritor conservador George Wiegel chamou-o de "o melhor núncio que tivemos até agora".
"O arcebispo compreendeu que não havia uma retirada honrosa do que alguns pesarosamente chamaram de 'guerras culturais'. Ele sabia quem havia declarado guerra a quem; que a Igreja não tinha sido o agressor nessa luta; e que a batalha tinha de ser travada, com as ferramentas da razão e da persuasão", escreveu Wiegel.
A participação de Viganò na Marcha pelo Casamento atraiu críticas para o diplomata, que participava de um evento político doméstico. O mesmo aconteceu com o acordo de um encontro durante a visita de Francisco de setembro de 2015 entre o papa e Davis, uma funcionária do condado de Kentucky que cumpriu cinco dias de prisão no início do mês por se recusar a emitir licenças de casamento para casais do mesmo sexo devido a suas crenças cristãs.
Embora a reunião tenha ocorrido em 24 de setembro, horas após o discurso de Francisco para o congresso, as notícias foram divulgadas três dias após a viagem e lançaram uma sombra sobre o que foi anunciado como uma visita bem-sucedida. Da mesma forma, a carta de Viganò foi publicada no último dia do papa na Irlanda.
"Parece quase que projetado para ofuscar o papa, enfraquecer o papa publicamente em um momento em que ele está tentando enviar uma mensagem muito diferente", disse Thavis sobre o momento dos dois eventos.
Notícias mais tarde retrataram Francisco como furioso com Viganò por causa da reunião de Davis, e imediatamente mandaram chamar o embaixador para Roma. Quatro meses depois de apresentar sua renúncia em janeiro de 2016, como é obrigatório aos 75 anos, Viganò foi substituído pelo arcebispo francês Christophe Pierre.
Em julho daquele ano, o nome de Viganò apareceu em documentos divulgados como parte de uma investigação criminal na arquidiocese de St. Paul-Minneapolis: um memorando do delegado da arquidiocese para um ambiente seguro alegou que Viganòcomo núncio, em abril de 2014, ordenou que dois bispos auxiliares rapidamente arquivassem um inquérito sobre a alegada má conduta sexual com homens adultos do arcebispo John Nienstedt.
De acordo com o memorando, escrito pelo padre Dan Griffith, a investigação de uma firma de advocacia de St. Paul sobre as alegações encontrou evidências "convincentes" contra Nienstedt e autoridades arquidiocesanas concordaram que o arcebispo deveria renunciar. Depois que os bispos auxiliares Lee Piché e Andrew Cozzens repassaram as descobertas a Viganò, o embaixador teria conversado com Nienstedt, que, segundo o memorando, "pode ter convencido o núncio de que as alegações contra ele eram todas falsas" e parte de uma conspiração em resposta a sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O memorando afirma que Viganò então ordenou que a investigação fosse encerrada rapidamente e que os bispos auxiliares destruíssem uma carta que escreveram para ele objetando sua decisão e afirmando que "seria vista, e com razão, como um encobrimento".
Em um comunicado emitido ao Catholic World Report e vários outros portais na segunda-feira, 27 de agosto, Viganò reagiu contra as alegações do memorando escrevendo: "Estas acusações - alegando que ordenei aos dois bispos auxiliares de Minneapolis encerrar a investigação sobre a vida do arcebispo John C. Nienstedt - são falsas".
Viganò disse que sugeriu a Piché e Cozzens que Nienstedt fosse entrevistado antes que a investigação explorasse uma alegação de que ele tinha um caso com um membro da Guarda Suíça. Ele acrescentou que não ordenou que nenhum documento fosse destruído, mas instruiu Piché a "remover do computador e dos arquivos arquidiocesanos" a carta dos bispos a ele "afirmando falsamente que eu sugeri que a investigação fosse interrompida".
Após notícias sobre o memorando publicado, Viganò disse que foi informado que o papa ordenou que o núncio dos EUA, Pierre, deveria iniciar uma investigação sobre sua conduta imediatamente e reportou ao tribunal encarregado de julgar os bispos por possível encobrimento de abuso sexual. Viganò disse que Jeffrey Lena, um advogado americano que trabalhava para a Santa Sé, encontrou documentação na Congregação para os Bispos "provando que minha conduta tinha sido absolutamente correta", com Lena e a nunciatura apostólica dos EUA escrevendo relatórios exonerando Viganò.
Ele acrescentou que informou a Sala de Imprensa do Vaticano, Pierre e o arcebispo Bernard Hebda sobre os relatórios, mas não obteve resposta deles.
Declarações de clericalismo clássico
Quanto à última carta de Viganò, os historiadores da igreja a veem como uma continuação das traições e brigas internas nos mais altos escalões da igreja, que já vem de longa data, mas dentro de um novo contexto: isto é, abertamente, onde a comunidade católica mais ampla a assiste publicamente em tempo real.
"É como se os Bórgia e os Médici tivessem contas no Twitter", disse Christopher Bellitto, professor de história da igreja da Kean University, em Union, New Jersey.
Bellitto descreveu a história dos primeiros conselhos da igreja do quarto ao sétimo século, repleta de "relatos de pessoas gritando umas com as outras, atirando coisas umas nas outras, lutando umas com as outras, puxando a barba uma da outra". Muitas das cartas de Paulo, acrescentou, constituem pedidos para que os primeiros cristãos parem de brigar uns com os outros. Em um ponto durante o Grande Cisma, no final do século XIV, eclodiram escaramuças entre militares alinhados com o papa em Roma e o papa em Avignon, na França.
Como em muitos outros conflitos da igreja no passado, a carta de Viganò equivale a uma luta pelo poder, disse ele. É como se os Bórgia e os Médici tivessem contas no Twitter - Christopher Bellitto, professor de história da Igreja
"A maior narrativa aqui é que Viganò está, na verdade, demonstrando exatamente o que Francisco diz ser o maior problema, que é o clericalismo", disse Bellitto ao NCR.
Faggioli, o teólogo de Villanova, considerou que Viganò estava aproveitando as divisões na Igreja dos EUA sobre guerras culturais e o pontificado de Francisco, assim como a mídia católica que alimentava esses debates, para acertar as contas pessoais.
"Sua insatisfação realmente é com o Vaticano que o expulsou em 2011 fazendo duas coisas: a primeira, negando-lhe o chapéu vermelho de cardeal; e segundo, expatriando-o para os Estados Unidos", disse ele.
Bellitto disse que, enquanto Viganò está jogando um jogo antigo, viu Franciscorecusando-se a comentar a carta, em resposta a perguntas a bordo do avião papal, como uma recusa do papa em se envolver. "Viganò está jogando, é um jogo que tem 2.000 anos e Francisco está dizendo: 'Eu não estou jogando, tenho outras coisas para fazer'", disse Bellitto.
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