Sofia Loren: ''O papa me deu um rosário. Graças a ele, sinto a fé novamente perto de mim''
- Detalhes
“Depois que você o vê e o escuta, você realmente tem vontade de viver e de acreditar, acreditar, acreditar.” A reportagem é de Gelsomino Del Guercio, publicada em Aleteia, 21-06-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sofia Loren está dando um novo vigor à sua fé, graças a uma pessoa verdadeiramente especial. E essa pessoa é o Papa Francisco.
Em uma entrevista à revista Famiglia Cristiana (21 de junho), Loren confessa que é “religiosa e praticante um pouco do meu jeito. Todos os domingos eu vejo o papa na televisão”.
De Bergoglio, ela gosta, acima de tudo, “da serenidade e daquele seu modo de falar que lhe transmite segurança. Depois que você o vê e o escuta, você realmente tem vontade de viver e de acreditar, acreditar, acreditar. Esse papa ajuda muito a fé das pessoas”.
A atriz, ícone da beleza mediterrânea, em uma entrevista à revista Oggi (maio de 2014), havia expressado pela primeira vez o desejo de se encontrar com Bergoglio: “O presente mais bonito para o meu próximo aniversário? Um telefonema do Papa Francisco. Digo a vocês, se eu o ouço ao telefone, desmaio!”.
A audiência privada
Foram necessários três anos para realizar esse encontro. Loren havia revelado em uma entrevista ao Corriere della Sera (24 de setembro de 2017), indicando o terço que usava no pescoço: “Este rosário que eu estou usando foi ele quem me deu há um mês. Estávamos em audiência privada no Vaticano, com a minha irmã Maria, com Alessandra, uma de suas filhas. Foi muito, muito emocionante.”
Na mesma entrevista, a atriz também revelou um detalhe muito íntimo, ligado a seu marido. O jornalista perguntou: “Seu marido repousa em Magenta: Vai visitá-lo?”. Ela respondeu:
“Sempre. Milão não é de passagem para mim, mas tenho muitos amigos lá e, depois, estão os sobrinhos, as irmãs de Carlo. Vou com a esperança de estar um pouco tranquila com ele mais uma vez e de rezar e agradecê-lo sempre.” Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
E VIVA O BRASIL!...
- Detalhes
Duas cartas em favor de Gustavo Gutiérrez
- Detalhes
"Apesar disso, existem aqueles que ainda suspeitam da ortodoxia da teologia da libertação, Gustavo não foi autorizado a dar palestras em sua cidade natal Lima, outros dizem que felizmente a teologia da libertação já morreu, embora Gustavo responda com humor que aquele que é seu pai, eles não o convidaram para o enterro...". O comentário é de Víctor Codina, SJ, teólogo, em carta publicada por Centro Cristianisme i Justícia, 11-06-2018.
Eis a carta.
Em 9 de Março de 1984, o teólogo alemão Karl Rahner de 80 anos, foi hospitalizado em Innsbruck por uma grave deficiência circulatória. Ali, do hospital, escreveu uma carta à Conferência Episcopal Peruana em favor de Gustavo Gutiérrez e da teologia da libertação. No dia 30 de março, Rahner faleceu. Este último escrito é como o seu testamento teológico.
Meses depois, em 6 de agosto de 1984, o cardeal Josef Ratzinger, Prefeito da Doutrina da Fé, publicou um documento muito crítico sobre a teologia da libertação, no qual, embora não cite nenhum nome, a figura de Gustavo Gutiérrez , seu iniciador, foi seriamente questionado.
Passaram-se 34 anos e Papa Francisco em 29 maio de 2018 escreveu uma carta para Gustavo Gutierrez para felicitá-lo por ocasião do seu 90º aniversário no dia 8 de junho deste ano. Nesta carta, Francisco agradece a Deus e a Gustavo "pelo tanto que contribuiu com a Igreja e a humanidade, por meio de seu serviço teológico e de seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade”.
O que aconteceu neste período de tempo? Gustavo - agora dominicano - durante estes anos respondeu aos questionamentos e acusações que ele fez sobre o uso das ciências sociais, e especialmente o marxismo, em sua teologia, explicou suas reivindicações, mas não reverteu suas intuições e ele aprofundou seu pensamento sobre o Deus da vida, a opção pelos insignificantes, a desumana e anti-evangélica pobreza atual, perguntou onde dormirão os pobres, apresentou a figura exemplar de Bartolomé de Las Casas que foi em busca de os pobres de Jesus Cristo, procurou beber do próprio poço da realidade de lágrimas e do sangue dos pobres e orientou a sua teologia para a evangelização e para a Igreja.
Apesar disso, existem aqueles que ainda suspeitam da ortodoxia da teologia da libertação, Gustavo não foi autorizado a dar palestras em sua cidade natal Lima, outros dizem que felizmente a teologia da libertação já morreu, embora Gustavo responda com humor que aquele que é seu pai, eles não o convidaram para o enterro...
O que esses críticos pensarão depois deste testemunho positivo e fraterno de Francisco sobre Gustavo Gutiérrez e seu trabalho teológico à serviço da Igreja e da humanidade? Será que o velho Bento XVI, alojado em um mosteiro contemplativo da Cidade do Vaticano, ouviu falar sobre esta carta de reabilitação de Gustavo?
Em qualquer caso, deve-se afirmar que o velho Rahner era muito lúcido e nobre, embora a teologia de Gustavo fosse muito diferente da dele e no fundo ele a questionou. E que a Igreja, no meio de suas noites escuras e der seus invernos eclesiais e embora pareça que Jesus está dormindo no barco, é conduzida pelo Espírito do Senhor a uma verdade cada vez mais plena. E que ouvir o clamor dos pobres é sinal de garantia evangélica para a teologia. Obrigado, Francisco e parabéns, Gustavo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
*Mística e Profecia no Carmelo: As Monjas
- Detalhes
Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL.
(Este trabalho contou com a preciosa colaboração de Irmã Maria Madalena da Cruz, do Carmelo de Brasília, e Irmã Maristella do Espírito Santo, do Carmelo de Montes Claros, ambos Carmelos da Associação São José, no Brasil)
SOLIDARIEDADE: REFAZER O RELACIONAMENTO HUMANO
A solidariedade é algo muito próprio de nosso carisma. Esta palavra que vem do latim “Solidare” e significa solidificar, é para nós um impulso a um ideal necessário e urgente na humanidade atual e onde exista uma comunidade. Somos relação, nascemos de uma relação e somos chamados a uma gama de relacionamentos, por isso devemos aprender a nos relacionar, pois é na relação que vão se solidificando os valores essenciais da vida.
Se isto acontece inevitavelmente com cada pessoa, parece que a nós, onde tocou a graça de um chamado a uma comunidade como monjas carmelitas contemplativas, estes relacionamentos se revestem de uma essência que ilumina todo o sentido de nossa vida. É o mandamento do amor, amai-vos uns aos outros, vendo em nossas Irmãs o rosto concreto diante do qual devemos manifestar esse amor, elas são o nosso “próximo mais próximo”. Os nossos relacionamentos se fazem e se refazem neste Amor com que Deus nos amou e “nos juntou aqui”! Pois, peculiarmente, por vivermos sempre num mesmo mosteiro com as mesmas Irmãs, temos um vasto terreno para, na solidariedade, refazermos continuamente esses relacionamentos. “Todas hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar”, é este o ideal no qual se constrói e se reconstrói a comunidade.
Aqui as margens de erros, de fragilidades, de pecados, de diferenças existem e têm que nos levar a esta solidariedade umas com as outras. Isto requer duas atitudes importantes:
- acreditar na importância do relacionamento;
- ser solidárias e misericordiosas como Cristo foi conosco descendo às nossas fraquezas.
Como construir e refazer os relacionamentos dentro da comunidade?
- Trabalhando na formação para o diálogo;
- Criando ambiente de amor que gere confiança e liberdade para sermos quem somos, conhecer a nós mesmas e às outras, valorizando seus dons e fazendo-os frutificar, sem nunca desistir diante das dificuldades dos relacionamentos, nem deixar interromper nem romper o diálogo;
- Exercitando a paciência e o sentido do rezar juntas diante do que não está em nossas mãos resolver;
- Protegendo e defendendo o andamento de todo o grupo diante dos problemas.
Sentimos nascer em nossa comunidade, como algo que quase não nos damos conta, a maturidade de acolher o outro como ele é e uma preocupação recíproca de sermos família, de ver que a outra é verdadeiramente minha irmã. Isto torna sólida a Comunidade. Se não damos importância aos nossos relacionamentos e deixamos, mesmo dentro de uma vida claustral, que nossas Irmãs se isolem, que nossas Irmãs não frutifiquem seus dons a serviço da comunidade, que nossas Irmãs não tenham direito de errar e fazer a experiência do perdão e do recomeçar, podemos perder a sensibilidade diante da enfermidade, da crise, do trauma que certamente encontramos dentro de nossas comunidades. Assim por falta de solidariedade nos relacionamentos podemos matar o espírito em nome da lei.
Nisto abrimos caminho para seguirmos o Mestre no amor: sentindo-nos amadas e amando como somos amadas! “É necessário aos que servem a Deus, apoiarem-se mutuamente para irem em frente.”[1] Este apoio mútuo tem seu alicerce no conhecimento mútuo. É a partir daí que se constrói o edifício do verdadeiro amor, pois se não nos deixamos conhecer - quem somos e como somos - como damos ao outro a chance de amar-nos? Como amarmos o que não conhecemos? Isto fez Jesus quando se encarnou, quis descer até nós para ter um encontro conosco no profundo de nossa miséria, não veio encontrar-nos somente nos nossos dons e talentos, mas nos nossos pecados; veio para aqueles que precisam de médico; e aí refaz toda a pessoa, refazendo a saúde do corpo e da alma, sem deixar de acrescentar como dom maior a “restauração do relacionamento com Deus”. Nisto temos luz e caminho a imitar o Mestre, descer às fraquezas de nossas Irmãs para que, refazendo nossos relacionamentos, possamos experimentar a essência do verdadeiro amor.
Como construir e refazer os relacionamentos fora da comunidade?
Toda a mística e profecia de nossa vida contemplativa, ou seja, a oração de amizade e intimidade e o anúncio desta união com Deus, refulgirão de nossos claustros quando se puder dizer de nós: “vede como se amam!” A partir de nosso testemunho estaremos dando uma boa contribuição à solidariedade, mas também podemos criar meios de refazer relacionamentos extra-muros através do aconselhamento que efetuamos em nossos atendimentos, cartas e outros meios que o Senhor pode nos proporcionar, sem ferir o que é específico de nossa vocação.
*II-Congresso ALACAR. Tema: Mística e Profecia no Carmelo. BOGOTÁ, COLOMBIA. OUTUBRO 2009- Na experiência e na vivência das monjas, por Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL
[1] V 7,22
Os jovens que não gostam do papa Francisco
- Detalhes
Cresce entre seminaristas e padre novatos uma resistência ao discurso de tolerância do pontífice, que defende aceitação a divorciados e homossexuais. A reportagem é de Paulo Germano, publicada por GaúchaZH, 15-06-2018.
– Não conheço um único seminarista que goste dele. A frase escapou baixinho, em tom deprimido, da boca de um influente bispo católico. Conversávamos sobre a aceitação do papa Francisco entre os padres mais jovens. Esse bispo, que é profundo conhecedor da realidade clerical da Igreja, disse que a aceitação é ridícula. Nula, praticamente.
Eu, na minha ignorância, achava justamente o contrário: que os jovens seriam mais abertos ao discurso de tolerância e renovação de Francisco. Telefonei, então, para outras duas autoridades da Igreja no Estado. Por receio de provocar mal-estar, não toparam se identificar, mas confirmaram essa resistência ao Papa e foram além.
Disseram que a rejeição não se limita a seminaristas e padres novatos: ela cresce também nos movimentos jovens, com leigos indignados com a recepção de Francisco aos divorciados e homossexuais.
– Ele é muito respeitado em setores mais laicos da sociedade. Dentro da Igreja, a popularidade é maior entre os mais velhos – disse um dos sacerdotes, e eu quase tive um ataque cardíaco.
Os jovens, incrivelmente, não lideram mais vanguarda alguma. Pelo contrário, lideram a retaguarda, o atraso, o anacronismo. O frei Luiz Carlos Susin, teólogo de 68 anos e admirador do papa Francisco, costuma dizer que a geração dele transgrediu tanto que, para muitos jovens de hoje, a forma mais genuína de transgredir é retrocedendo. Faz sentido.
Na cultura, a geração do frei Susin é a de Maio de 68. Na Igreja, é a do Concílio Vaticano II. Ao contrário dos concílios anteriores – preocupados mais em elencar pecados e definir dogmas sobre moral e fé –, a assembleia que se estendeu de 1962 a 1965 foi resumida assim pelo papa João XXIII:
"A Igreja sempre se opôs a erros, muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor as necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações".
Não é genial? E não é justamente o que o papa Francisco aplica? A clemência em vez do castigo, o acolhimento em vez da repulsa. Francisco, aliás, irrita seus detratores ao criticar publicamente o clericalismo – corrente que insiste em botar o clero, os padres, o sacerdócio (que representa menos de 0,00000000001% dos católicos) à frente dos leigos, dos fiéis, do rebanho inteiro (que representa mais de 99,99999999999% dos católicos).
– O Papa entende, como o Concílio Vaticano II entendeu, que as pessoas precisam discernir e decidir muita coisa por conta própria. Não pode o padre decidir tudo por elas, ter sempre a última palavra. Isso é clericalismo. O oposto disso é acreditar na autonomia das consciências – disse o frei Susin quando liguei para ele na quinta-feira (14).
As instituições existem para ajudar o homem, não para subjugá-lo. Se a instituição não ajuda, não é o homem que deve mudar; é ela.
Isso me fez lembrar a história – real, acredite – de um neonazista americano que tatuou no braço um versículo do Antigo Testamento que condena a homossexualidade: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é" (Levítico 18:22). Esqueceu-se, claro, que, no capítulo seguinte, o mesmo livro condena a tatuagem: "Não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós" (Levítico 19:28).
Quer dizer, se você leva ao pé da letra o que foi escrito há milhares de anos, daqui a pouco vai estar defendendo a escravidão, a execução de mulheres adúlteras e o açoite como pena ideal para bandido. Jesus Cristo, aliás, vem para quebrar essa lógica do Deus violento: sua tendência é incluir todos, perdoar todos, acreditar em todos.
No Evangelho de Mateus, uma passagem espetacular é quando Jesus cura um doente num sábado. Os fariseus, sempre tentando sabotá-lo, perguntam se ele acha mesmo correto fazer aquilo – já que o sábado, em nome de Deus, deve servir somente ao descanso. Jesus responde com uma pergunta: o homem foi criado para o sábado, ou o sábado foi criado para o homem?
Ou seja: a lei deve existir para servir ao homem, não para subjugá-lo. As instituições existem para nos fazerem crescer, para nos fazerem felizes, livres, autônomos. Se a instituição não ajuda, bem, não é o homem que deve mudar; é ela. Por isso, o papa Francisco vem mudando a Igreja, porque é um profundo conhecedor do que Jesus pregava.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Padres da Austrália desobedecem às novas leis de quebrar o sigilo da confissão, diz arcebispo
- Detalhes
'Os políticos podem mudar a lei, mas não podemos mudar a natureza da confissão'. A reportagem é de Rose Gamble, publicada por The Tablet, 15-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen. O arcebispo de Adelaide afirmou que a Igreja não irá aderir às novas leis que obrigam padres informados sobre abuso infantil dentro do confessionário a relatarem aquilo que ouviram à polícia.
Sob as novas leis definidas para entrar em vigor em outubro no Sul da Austrália, padres que falharem em denunciar abuso de criança à polícia serão multados em até US $10.000 (cerca de R$28 mil, nde).
"Os políticos podem mudar a lei, mas não podemos mudar a natureza da confissão, que é um encontro sagrado entre um penitente, alguém buscando perdão e um padre que representa Cristo”, disse o bispo Greg O'Kelly, arcebispo interino de Adelaide, a rádio ABC Adelaide em 15 de junho.
"Não nos afeta. Temos um entendimento em relação ao sigilo da confissão que é do domínio do sagrado”, continuou.
"O direito canônico estabelece que ‘é absolutamente proibido um confessor trair de alguma forma um penitente em palavras ou em qualquer forma e por qualquer motivo’", acrescentou.
Bispo O'Kelly disse que a Igreja não tinha sido notificada da mudança até a quinta-feira (14 de junho). A legislação foi sancionada no ano passado. A lei faz parte da resposta do governo australiano do sul à Comissão Real para Respostas Institucionais a Casos de Abuso Sexual Infantil, lançado pelo procurador-geral Vickie Chapman na terça-feira.
"Onde há provas claras para indiciar um ministro da religião... não se conseguiu cumprir os requisitos de informação obrigatórios. Assim, o assunto precisa ser investigado pelas autoridades, com medidas efetivas - incluindo acusação - tomada conforme a necessidade do caso”, diz um comunicado divulgado pelo porta-voz do departamento do procurador-geral.
A cidade de Camberra deve seguir a decisão da Austrália do Sul após o governo da capital da nação votar para abolir o sigilo do confessionário para casos de abuso infantil a partir de março.
Mark Coleridge, o arcebispo de Brisbane e presidente da conferência de bispos católicos australiano, descreveu a mudança como "prematuro e imprudente, aparentemente motivado por um desejo de penalizar a Igreja Católica, sem considerar devidamente a ramificações da decisão". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sem pecado: igreja abre as portas dentro de bar na Zona Portuária
- Detalhes
Culto evangélico é realizado em espaço boêmio e fiéis podem beber depois de sermões
RIO - “Na nova terra, o negro não vai ter corrente e o nosso índio vai ser visto como gente; na nova terra, o negro, o índio e o mulato, o branco e todos vão comer no mesmo prato”. Ao som de violão e batucadas no atabaque, esse cântico, entoado no bairro da Saúde, na Zona Portuária, embala o louvor de 20 fiéis dentro de um bar. Sim, o culto dominical da Nossa Igreja Brasileira, uma denominação evangélica Batista que nasceu há dois meses, acontece dentro da Casa Porto, um point boêmio do Largo São Francisco da Prainha. O pastor Marco Davi, de 52 anos, é pragmático ao explicar por que escolheu um lugar tão inusitado para seus sermões: o aluguel do espaço é quase simbólico, ele paga apenas R$ 100 para ajudar na faxina pós-orações.
Na hora do encontro, porém, nada de álcool — os engradados de cerveja e demais bebidas ficam numa sala ao lado. Durante a acolhida, feita em um espaço onde costumam ocorrer os shows durante a tarde e a noite, o pastor oferece apenas café, biscoitos e bolo de fubá. Depois dos sermões, o destino dos fiéis é livre: quem quiser pode cair à vontade na gandaia, nas festas promovidas pela Casa Porto. Inclusive provando os drinques da casa.
A igreja mais progressista de Marco tem atraído fiéis como a professora Evelyn da Luz, de 37 anos, que deixou de frequentar um templo em Vila Isabel em busca de maior liberdade e reconhecimento. O motivo foi um ataque que sofreu nas redes sociais, feito por uma pastora da igreja, por causa de uma foto em que Evelyn aparecia pulando carnaval. Agora, a professora, e sua filha de 8 anos, se encontraram na nova denominação.
— Passei por situações desagradáveis e postei essa foto porque queria celebrar a vida. Fiquei super mal com o ataque. Uma amiga entrou em contato comigo, tomamos um café, e ela falou do início dessa igreja. Eu quero poder adorar Deus sem doutrina de isso ou aquilo. Agora me sinto muito bem com os irmãos que compartilham da mesma opinião que eu — diz Evelyn.
SERMÕES SOBRE JESUS E NEGRITUDE
Dono da Casa Porto, Raphael Vidal já esteve presente em dois cultos e contou ter gostado muito do que viu:
— Conheci o pastor quando ele estava numa mesa, bebendo, comendo, e curtindo um samba. Já estive presente duas vezes como ouvinte e gostei muito da perspectiva dele da leitura da Bíblia. Vi uma oficina de abayomi (bonecas africanas) e fiquei surpreso.
Antes de parar no bar, a igreja, que nasceu em um culto da Igreja Batista Memorial da Tijuca, em 20 de novembro do ano passado, Dia da Consciência Negra, realizou cultos no Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN) e também em outro bar, na Lapa. Na Zona Portuária, o púlpito é aberto para pedidos de oração e agradecimentos. Já os sermões, bem específicos e na contramão das linhas evangélicas conservadoras, costumam falar de liberdade de escolha, de respeito ao diferente, de negritude e, claro, de Jesus Cristo.
— Não é exatamente uma proposta de uma igreja negra, não queremos polarizar, mas, como 80% dos nossos ritmos são de origem africana, isso acaba atraindo muitos negros. E o nosso discurso é progressista também, fala dos ancestrais e da questão da mulher, o que não é comum nas igrejas evangélicas. Nosso desejo é que a cultura brasileira seja a nossa identidade — diz o pastor Marco.
Nascido em Teresópolis, Marco foi criado na Igreja Batista e, aos 18 anos, veio para o Rio fazer seminário. Formado em Teologia em 1991, ele foi morar em São Paulo. Durante um congresso de evangelização em Minas Gerais, em 2003, passou a questionar por que os negros não apareciam nas igrejas evangélicas. Ele pediu que os negros presentes ao evento levantassem, provocando, segundo Marco, comoção.
— Onde eu cresci o pecado era preto, e os ritmos africanos eram demonizados. Ao mesmo tempo, a teologia negra estava crescendo no Brasil, mas eu nunca tinha entrado nela de cabeça — conta o pastor.
O viés de valorização dos negros tem agradado em cheio o técnico em eletrotécnica Anderson Luiz, morador de Caxias.
— Fui criado em uma Igreja Batista em Jardim Gramacho, mas só há quatro anos comecei a me reconhecer como uma pessoa negra. É uma coisa que o Marco chama de "batismo negro". Eu sempre falava que era pardo, às vezes, branco… Fonte: https://oglobo.globo.com
11º Domingo do Tempo Comum: Importância do pequeno
- Detalhes
José Antonio Pagola, t teólogo espanhol
Eis o texto
Ao cristianismo causou muito dano, ao longo dos séculos, o triunfalismo, a sede de poder e o afã de impor-se aos seus adversários. Todavia há cristãos que anseiam por uma Igreja poderosa que encha os templos, conquiste as ruas e imponha a sua religião a toda a sociedade.
Temos de voltar a ler duas pequenas parábolas em que Jesus deixa claro que a tarefa dos seus seguidores não é construir uma religião poderosa, mas pôr-se a serviço do projeto humanizador do Pai (o reino de Deus), semeando pequenas “sementes” de Evangelho e introduzindo-se na sociedade como pequeno “fermento” de vida humana.
A primeira parábola fala de um grão de mostarda que se semeia num terreno. Que tem de especial esta semente? Que é a menor de todas, mas, quando cresce, converte-se num arbusto maior que as restantes. O projeto do Pai tem um início muito humilde, mas a sua força transformadora não a podemos agora nem imaginar.
A atividade de Jesus na Galileia semeando gestos de bondade e de justiça não é nada grandiosa ou espetacular: nem em Roma nem no Templo de Jerusalém são conscientes do que está acontecendo. O trabalho que realizam hoje os seus seguidores é insignificante: os centros de poder o ignoram.
Inclusive, os mesmos cristãos podem pensar que é inútil trabalhar por um mundo melhor: o ser humano volta uma e outra vez a cometer os mesmos horrores de sempre. Não somos capazes de captar o lento crescimento do reino de Deus.
A segunda parábola fala de uma mulher que introduz um pouco de levedura numa massa grande de farinha. Sem que ninguém saiba como, a levedura vai trabalhando silenciosamente a massa até fermentá-la inteiramente.
Assim sucede com o projeto humanizador de Deus. Uma vez que é introduzido no mundo, vai transformando profundamente a história humana. Deus não atua impondo-se de fora. Humaniza o mundo atraindo as consciências dos seus filhos para uma vida mais digna, justa e fraterna.
Temos de confiar em Jesus. O reino de Deus sempre é algo humilde e pequeno nos seus começos, mas Deus está já trabalhando entre nós promovendo a solidariedade, o desejo de verdade e de justiça, o desejo de um mundo mais feliz. Temos de colaborar com Ele seguindo Jesus.
Uma Igreja menos poderosa, mais desprovida de privilégios, mais pobre e mais próxima dos pobres, sempre será uma Igreja mais livre para semear sementes de evangelho, e mais humilde para viver no meio das pessoas como fermento de uma vida mais digna e fraterna. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
11º Domingo do Tempo Comum: A Vida que se esconde no pequeno
- Detalhes
Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No domingo anterior, vimos como Jesus formava uma nova família, com sua mãe, seus discípulos e discípulas e todos os que desejam viver na busca da justiça, da igualdade, na escuta da Palavra de Deus.
Neste domingo, a Liturgia oferece alguns dos ensinamentos de Jesus através das parábolas. Jesus fala com frequência por parábolas. É preciso lembrar que no tempo de Jesus a parábola era uma forma muito comum de explicar as escrituras, como o faziam os rabinos que contavam parábolas.
Hoje nos encontramos com duas parábolas, a primeira que é própria de Marcos e o grão de mostarda que aparece também nos outros evangelhos. São narrativas simples para escutar e se relacionam diretamente com a vida do povo, aquilo que vivem no dia a dia. Em geral são camponeses, conhecem o que significa trabalhar a terra, suas dificuldades e surpresas. Desde crianças, possivelmente sabem pela experiência o que é semear. Da mesma forma cada um dos ouvintes teve na sua mão um punhado de grãos de mostarda e sabe do que está falando Jesus pela sua experiência.
Jesus não se cansa de falar do Reino e procura para isso diferentes imagens, fáceis de entender, mas que abrem um mistério ilimitado. Passam os séculos da história da humanidade, e o Reino de Deus segue sendo um grande mistério indecifrável e que se desvela na originalidade e diferença de cada um e cada uma dos cristãos e cristãs do mundo inteiro.
Hoje diríamos que Jesus é um contemplativo da natureza, da vida, do agir das pessoas, assim como das injustiças, da marginalização, do desprezo do menor e aparentemente insignificante.
Deixando que a Palavra ecoe em nosso interior, o Reino de Deus é comparado a diferentes sementes semeadas num campo. O reino não é estático nem definido. A semente tem uma grande potência de vida, mas para isso deve estar semeada. Um punhado de sementes reservado, seja por medo, por insegurança, por desconfiança, não serve para nada.
No entanto, o desenvolvimento e a fecundidade dessa semente não dependem do semeador. Mas como isso acontece? Jesus deixa a pergunta aberta e, nela, o mistério que esconde algo tão simples e tão comum na vida dos camponeses.
Eles vivem a experiência, mas possivelmente nunca se perguntaram como é possível que de uma “semente vai brotando e crescendo”. Fica a pergunta aberta, sem resposta imediata: “como isso acontece?”.
Através das parábolas Jesus apresenta a vitalidade do reino. A primeira ressalta sua força vital. A semente cresce no silêncio quase despercebido sem estar preocupado pelos êxitos, pelas conquistas ou pelos fracassos. Isto é próprio do ser humano que procura frutos de consolo, autossatisfação, triunfo! Mas Jesus está demonstrando que no Reino não é assim. Crescerá de outra forma, não seguindo nossos cálculos ou desejos escondidos, mas além do semeador.
Ele deve semear e o Reino crescerá, mas sua tarefa é semear sempre e, no momento apropriado, “a semente vai brotando e crescendo”, porque “a terra produz fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou". O semeador fará a colheita quando seja necessário e antes observará com assomo o misterioso e atrativo crescimento.
Na segunda parábola, descreve uma realidade paradoxal. A mostarda é algo aparentemente insignificante, mas quando começa a vida não tem limites. Para ela não há fronteiras, procura sempre a vida. Fica disponível e aberto a todos os que passem pelo caminho. “É a menor de todas as sementes da terra” e “cresce e torna-se maior que todas as plantas”.
Através destas parábolas Jesus oferece uma mensagem de esperança e de ânimo para os discípulos e discípulas e posteriormente na comunidade primitiva. E qual é a mensagem que dirige a nossas comunidades, a cada um e cada uma de nós neste momento?
No meio da crise, ele nos chama a continuar sua caminhada, a não parar, não ficar sufocados pelos problemas, mesmo sem ver os resultados, a continuar trabalhando no projeto de Deus.
As parábolas que lemos hoje buscam ajudar a superar e iluminar as crises da caminhada. É uma exortação à fé e à esperança. O Reino cresce silenciosamente e nos começos é tão pequeno como um grão de mostarda semeado na terra, mas apesar de ser a menor de todas as sementes, é a maior de todas as plantas!
Assim acontece com o mistério do Reino do qual participamos semeando, sem fronteiras e sem desprezar nenhuma pessoa pela sua condição ou situação social, religiosa ou ainda cultural.
Estas parábolas são um convite que nos chama a descobrir o que já está crescendo lentamente, florescendo silenciosamente, e até dando fruto do reino ao nosso redor.
Neste momento podemos perguntar-nos: que sinais há de vida, de solidariedade e audácia ao nosso redor que nos convidam a arriscar nossos passos em favor da paz, da justiça e da vida sem desprezar nenhuma condição humana?
Oração
Semente do reino
Como se arriscará
o camponês a semear
sem ver já todo o trigal
no punho apertado
cheio de sementes?
Como olhar a terra
com olhos de esperança
sem ver já o bosque
nas sementes aladas
de carvalho levadas
pelo vento?
Como sonhará
o jovem casal
sem sentir
já no embrião
todos os risos
e as brincadeiras
dos filhos?
Como entregar-se
pelo pequeno,
sem ver com olhos novos
a utopia do Reino
no brotar germinal
que apenas rompe
a casca do medo?
Benjamin González Buelta.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
TREZENA-2018: 13º Dia.
- Detalhes
Santo Antônio de Pádua, o doutor evangélico
- Detalhes
Hoje, 13 de junho, a Igreja celebra a memória de um dos grandes santos. Santo Antônio é muito venerado não somente na Europa como também nas Américas e demais continentes.
Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
Santo Antônio de Pádua no Brasil tornou-se muito famoso por ser considerado o “santo casamenteiro”, sendo acorrido especialmente neste período pelas pessoas que desejam se casar. É uma devoção, porém Santo Antônio vai muito mais além do que permanecer no inconsciente coletivo como aquele que resolve dificuldades amorosas, mas a sua vida é um testemunho latente de discípulado de Cristo por meio da pregação para os dias de hoje.
Bibliografia
Santo António nasceu em Portugal, em Lisboa, em 1195. Uma tradição indica a data de 15 de agosto. Ele era filho do nobre Martino de 'Buglioni e Donna Maria Taveira. Sua casa ficava a poucos metros da catedral. Ele foi batizado com o nome de Fernando. Acima de tudo, pela mediocridade moral, a superficialidade e a corrupção da sociedade se sentiu animado a entrar no mosteiro agostiniano de São Vicente, fora dos muros de Lisboa, para viver o ideal evangélico sem concessões, entre os agostinianos.
Fernando morou em São Vicente por cerca de dois anos. Então, incomodado com as contínuas visitas de amigos, pediu para mudar para outro lugar, sempre dentro da ordem agostiniana. Assim, Antônio fez sua primeira grande jornada, cerca de 230 quilômetros, o que separava Lisboa separada Coimbra, então a capital de Portugal. Tinha 17 anos, e chegou em um ambiente onde viveu com uma grande comunidade de cerca de 70 membros para o curso de 8 anos, de 1212 a 1220. Estes foram anos importantes para a formação humana e intelectual do Santo, que podia contar com professores talentosos e com uma biblioteca rica e atualizada.
Estudos e mudança
Fernando dedicou-se completamente ao estudo das ciências humanas e teológicas. Os anos passados em Santa Cruz de Coimbra deixaram um traço profundo na fisionomia psicológica e no processo existencial do futuro apóstolo. Foi ordenado sacerdote provavelmente no ano de 1220. Em setembro de 1220, Fernando deixou os agostinianos para vestir a túnica grossa e marrom dos franciscanos. Neste momento abandonou o antigo nome do batismo para se chamar “Antônio”. Depois de estudar a regra franciscana, partiu para o Marrocos. Porém após ser acometido de uma enfermidade, teve que retornar a sua terra natal. No caminho de retorno devido a uma tempestade e ventos contrários, o navio foi arrastado para a distante Sicília, e permaneceu ali por dois anos.
No dia 8 de maio de 1221 foi para Assis para participar de um dos capítulos da ordem, era um entre muitos naquele momento. Quando quase todos os conventuais partiram, Antônio foi notado por Frei Graziano, ministro provincial da Romagna. Sabendo que o jovem frade também era padre, pediu que ele o acompanhasse. Seus dias transcorreram em oração, meditação e humilde serviço aos confrades. Durante este período o Santo pode amadurecer sua vocação franciscana, aprofundar a experiência missionária abruptamente interrompida, revigorar o compromisso ascético, refinar-se na contemplação.
Descoberta do dom
Em setembro de 1222, as ordenações sacerdotais dos religiosos dominicanos e franciscanos foram realizadas em Forlì. Antes de o grupo de ordenandos ir à catedral da cidade receber as ordens sagradas do bispo Alberto, era habitual dirigir um sermão aos candidatos. Mas ninguém havia sido escolhido antecipadamente e, portanto, nenhum dos padres presentes havia se preparado. Quando chegou a hora de falar em público, todos se recusaram a improvisar o sermão. Só o superior de Montepaolo conhecia bem as habilidades de Antônio. Diante da insistência do superior, ele tomou a palavra.
À medida que o discurso se desdobrou em um latim retumbante, as expressões tornaram-se mais quentes e mais atraentes, originais e excitantes. Ele revelou, mesmo contra o desejo, a profunda cultura bíblica, a espiritualidade envolvente. Assim, Santo Antônio começou sua missão de pregador na Romagna. Ele falava com o povo, compartilhando sua existência humilde e atormentada, alternando o compromisso de catequização com o trabalho pacificador, atendia confissões, confrontado-se pessoalmente ou publicamente com os defensores das heresias.
Após o período de Forlì, depois de ser convidado pelos superiores para pregar nas cidades e vilarejos da Romagna, no final de 1223, Antonio também foi convidado a ensinar teologia em Bolonha. Por dois anos, ele ensinou as verdades básicas da fé ao clero e aos leigos. Começava com a leitura do texto sagrado para chegar a uma interpretação que desafiava e falava à fé e à vida do público. Santo Antônio é, portanto, o primeiro professor de teologia da ordem franciscana recém nascida.
Foi por ocasião do capítulo geral de 1230, que ocorreu durante a transladação dos restos mortais de Francisco para a nova basílica erguida em sua honra, que Frei Antônio de Lisboa foi liberado das posições de governo da ordem. Por causa da grande estima que gozava entre os superiores da Ordem Menor, ele recebeu o novo papel de "pregador geral", com a faculdade de ir livremente onde ele considerasse apropriado, e escolhido, com outros seis confrades, para representar a Ordem no Papa Gregório IX.
Pádua
Em Pádua, Antônio fez algumas viagens relativamente curtas: a primeira, entre 1229 e 1230; a segunda, entre 1230 e 1231, durante o qual ele morreu precocemente. Somado os dois períodos chegamos a uns 12 meses máximo. Os Sermões Antonianos foram considerados como as mais notáveis obras literárias de natureza religiosa compilada em Pádua durante a Idade Média.
De sermão em sermão espalhou-se a fama do que estava acontecendo em Pádua, causando um aumento contínuo de peregrinos. Uma multidão incessante se reunia em torno de seu confessionário. Era impossível enfrentá-los, embora alguns dos irmãos sacerdotes e uma série de sacerdotes da cidade tentassem aliviar tal fadiga. Ele so poderia esperar que diminuísse o fluxo dos penitentes ao anoitecer. Alguns voltaram ao sacramento da confissão, declarando que uma aparição os levara à confissão e a mudar suas vidas.
Morte do santo
No final da primavera de 1231, Antônio foi acometido de uma doença. Colocado em uma carroça puxada por bois, ele foi transportado para Pádua, onde pediu permissão para morrer. No entanto, na Arcella, uma aldeia na periferia da cidade, veio a falecer. Ele respirou, murmurando: "Eu vejo o meu Senhor". Era sexta-feira, 13 de junho. Ele tinha 36 anos de idade.
O Santo foi sepultado em Pádua, na pequena igreja de Santa Maria Mater Domini, o refúgio espiritual do Santo nos períodos de intensa atividade apostólica.
No final do funeral festivo, o corpo do santo foi enterrado na pequena igreja do convento franciscano da cidade. Provavelmente não enterrado, mas sim um pouco "levantado", para que os devotos, cada vez mais frequentes e numerosos, pudessem ver e tocar o túmulo-arca. Um ano depois de sua morte, a fama dos muitos prodígios realizados convenceu Gregório IX a queimar as etapas do processo canônico e proclama-lo Santo em 30 de maio de 1232, apenas 11 meses depois de sua morte. A igreja fez justiça à sua doutrina, proclamando-o em 1946 "doutor da igreja universal", com o título de Doctor Evangelicus.
Sermão sobre a caridade
Bento XVI citando Um pequeno trecho de um dos sermões de Santo Antônio disse: "A caridade é a alma da fé, torna-a viva; sem amor, a fé morre "( Sermones Dominicales et Festivi II, Messaggero, Padova 1979, p.37). “ Somente uma alma que ora pode progredir na vida espiritual: este é o objeto privilegiado da pregação de Santo Antônio. ”
Ele conhece bem os defeitos da natureza humana, nossa tendência a cair em pecado, por isso ele continuamente nos incita a lutar contra a inclinação à ganância, orgulho, impureza e praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, humildade e obediência, de castidade e pureza. No início do século XIII, no contexto do renascimento das cidades e do florescimento do comércio, cresceu o número de pessoas insensíveis às necessidades dos pobres. Por esta razão, Antônio convida repetidamente os fiéis a pensar na verdadeira riqueza, a do coração, que fazendo bom e misericordioso, acumula tesouros para o céu. "Ó povo rico - então ele exorta - faz amigos ... os pobres, os acolhe em seus lares: eles serão os pobres, para recebê-lo nos tabernáculos eternos, onde há a beleza da paz, a confiança da segurança e o opulento quietude da saciedade eterna.
“ Antônio, na escola de Francisco, sempre coloca Cristo no centro da vida e do pensamento, da ação e da pregação ”
Esta é outra característica típica da teologia franciscana: o cristocentrismo. Ele contempla de bom grado, e convida a contemplar, os mistérios da humanidade do Senhor, o homem Jesus, de um modo particular, o mistério da Natividade, Deus que se fez Criança, entregou-se em nossas mãos: um mistério que desperta sentimentos de amor e gratidão para com a bondade divina.” Fonte: www.vaticannews.va
Igreja Universal vence o MPF no tribunal
- Detalhes
Para o relator do processo, desembargador federal Ricardo Perlingeiro, o caso envolve 'sensível embate entre liberdade religiosa e liberdade de expressão'
Por ADRIANA CRUZ
Rio - Um debate e tanto. O Tribunal Regional Federal 2 negou o pedido de liminar do Ministério Público Federal para ter acesso a dados dos responsáveis pela publicação no Youtube, no Canal da Igreja Universal. Na ação civil pública, o MPF alega que a Igreja veicula conteúdo ofensivo aos praticantes de religiões de matriz africana. O órgão quer a retirada dos vídeos do ar. Mas o relator do processo, desembargador federal Ricardo Perlingeiro, o caso envolve 'sensível embate entre liberdade religiosa e liberdade de expressão'.
Já MPF sustenta que os vídeos 'ofendem, disseminam preconceito, intolerância, discriminação e difundem o ódio, a hostilidade, o desprezo e a violência'. Argumenta também que os responsáveis pelas postagens teriam violado o direito de proteção à consciência e às crenças dos praticantes das religiões afro-brasileiras e que a lei (marco civil que regula o uso da internet) garante o acesso aos registros e a retirada do conteúdo da rede. O mérito da questão ainda será julgado. A conferir. Fonte: https://justicaecidadania.odia.ig.com.br
Ataques maciços ao cardeal Ravasi que twita o Evangelho
- Detalhes
Nunca em sua vida o cardeal Gianfranco Ravasi, 75 anos, um estudioso bíblico e presidente do Conselho do Vaticano para a Cultura, tinha se encontrado em mar aberto e no meio de uma tempestade de críticas, como aconteceu com ele ontem por causa de um tweet que mais bíblico não poderia ser: "Fui estrangeiro e vocês não me acolheram” (Mt 25,43) #Aquarius." A informação é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 12-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Aquela palavra de Jesus trazida pelo Evangelho de Mateus provocou a aprovação de alguns, mas também a ira de muitos. "Quantos migrantes o Vaticano acolheu?" é uma das respostas polêmicas à frase escrita na web pelo cardeal. Outra: "Vocês poderiam acolhê-los em suas paróquias e coberturas e contar com a caridade e providência divina, o povo italiano já deu o que podia e precisa pensar nas suas vítimas do terremoto, desempregados e indigentes." Há quem arriscou versos: "Fui italiano e vocês me massacraram com os impostos obrigando-me a demitir os meus funcionários". Com a variante: “Fui italiano e vocês me arruinaram com as deslocalizações das empresas”.
No imenso redemoinho da web os poucos que defendem Ravasi polemizam com o católico Matteo Salvini postando a foto que o retrata diante do Duomo, acenando com o terço, ou convidando a ler o Evangelho do evangelista seu homônimo que reproduz a frase de Jesus twittada pelo cardeal. Ontem, também se manifestou outro cardeal italiano, Francesco Montenegro, que tem mais competência sobre o assunto: é arcebispo de Agrigento (a ilha de Lampedusa pertence à sua diocese) e presidente da Cáritas italiana. Montenegro definiu de "uma derrota da política" a decisão do ministro Salvini de fechar os portos italianos: "A Europa deve dar-se conta de que ninguém pode parar esses fluxos, que são epocais, e não será fechando portos e empurrando responsabilidades que vai ser encontrada uma solução. Devemos nos preparar para um mundo multiétnico e não fechar portas e janelas". Fonte: www.ihu.unisinos.br
TERÇA-FEIRA: TREZENA-2018: 12º Dia.
- Detalhes
O Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista/RJ - NA RODOVIA PRESIDENTE DUTRA- reza a Trezena de Santo Antônio baseada no livro, “Santo Antônio de Pádua, homem do Evangelho, confidente do povo, de Frei Luís S. Turra, capuchinho. Leia o roteiro da Trezena. Clique aqui: http://www.olharjornalistico.com.br/index.php/video-cast/11117-trezena-de-santo-antonio Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 12 de junho-208.
10º DOMINGO COMUM: Um Olhar
- Detalhes
Frei Carlos Mesters, O. Carm e Francisco Oronino
(Leituras: Gn 3,9-15 /Sl 129 (130) /2Cor 4,13-5,1 /Mc 3,20-35)
A primeira leitura da celebração de hoje traz o ensinamento central de toda a Bíblia. A questão é: entre a verdade que vem de Deus e a mentira que vem da serpente, por que o ser humano faz a opção pela mentira? E não assume suas responsabilidades diante do que fez. Quando Deus interroga “por acaso comeste do fruto da árvore que eu te proibi de comer?”, o homem não assume a verdade nem pede perdão por ter desobedecido a Deus. Simplesmente coloca a culpa na mulher. O texto conclui lembrando que, ao longo da história, haverá sempre uma luta entre os filhos da mulher contra os filhos da serpente. Sempre haverá conflito entre os que aceitam a verdade de Deus contra os que seguem e as mentiras das inúmeras serpentes que foram surgindo na caminhada da humanidade. Na celebração de hoje, as leituras pedem discernimento: de que lado eu me coloco? Vivo segundo o Espírito de Deus ou sigo os espíritos mundanos?
O Evangelho mostra que em Jesus se manifesta o Espírito de Deus. Agindo segundo este Espírito, Jesus traz a todos a mensagem da vida que vem de Deus. Muita gente se reúne em busca dos gestos e das palavras de Jesus. Ao mesmo tempo, aumentam as resistências. Os parentes de Jesus saem lá de Nazaré e querem trazê-lo de volta para casa amarrado. Pensavam que Jesus tinha ficado louco! Já os escribas e doutores da Lei, tentando desmoralizar Jesus frente ao povo. Acusam-no de estar possuído de um espírito impuro, chamado de Belzebu. São acusações graves que buscam deslegitimar a Boa Nova trazida por Jesus. Aqui está o pecado contra o Espírito Santo. Peca quem atribui ao demônio as palavras e os gestos libertadores que vem de Deus, através da ação de Jesus!
Então Jesus chama o povo e fala diretamente. Ele acusa os doutores da lei de estarem manipulando a Palavra de Deus. Eles deturpam a pregação de Jesus, transformando o bem em mal e o mal em bem. Invertem tudo! Quem ensina desta forma, não pode querem o bem do povo. E, diante da resistência de seus próprios parentes, Jesus acolhe o povo que estava sentado ao seu redor e ensina: “quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe!” A verdadeira família de Jesus são as pessoas que se tornam filhos e filhas da Verdade através do Batismo. Nós somos hoje a família de Jesus.
DOMINGO, 10 DE JUNHO: 10º Domingo do Tempo Comum – Ano B.
- Detalhes
ATUALIZAÇÃO. (EVANGELHO – Mc 3,20-35)
O tema principal do texto do Evangelho deste domingo – sobre a identidade de Jesus – mostra que desde o início do cristianismo os cristãos sentiram necessidade de responder à pergunta: “Quem é Jesus?”. Ainda hoje, na ação pastoral da Igreja, sobretudo nas catequeses, é importante que todos os cristãos conheçam a identidade de Jesus, até mesmo para poderem estabelecer com ele uma relação personalizada.
Fazer parte da família de Jesus é a vocação fundamental dos cristãos de todos os tempos. Por isso, são chamados a formar comunidade, que está centrada na pessoa de Jesus e que tem como única missão fazer a vontade de Deus em todas as circunstâncias da vida. É a isso que chama o Evangelho quando Jesus apresenta a sua verdadeira família: é quem faz a vontade de Deus e toma lugar ao redor de Jesus.
O método para estabelecer uma relação de familiaridade com Jesus passa necessariamente por seguir o seu exemplo: é Ele o primeiro a fazer a vontade de Deus, mesmo quando isso acarreta incompreensão e rejeição do seu ministério. O cristão continua no mundo a missão de Jesus e tem como único horizonte fazer a vontade de Deus; esta é uma das petições do Pai Nosso, a oração que Jesus ensina a rezar: «Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu».
Quando o cristão se decide a seguir Jesus, isso implica necessariamente que renuncie ao mal. Desde o primeiro momento da vida cristã, os cristãos são chamados a renunciar o mal.
LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE AO LADO NO LINK- EVANGELHO DO DIA.
“Outra” Celebração do Corpo de Cristo
- Detalhes
"Em Jesus, os adolescentes completaram sua Páscoa - passagem da Morte à Ressurreição - e celebramos sua presença no meio de nós. Foi uma verdadeira experiência de Fé na Vida. Foi “outra” Celebração do Corpo de Cristo, no corpo dos adolescentes mortos e ressuscitados. Éramos uma Comunidade de verdadeiros Irmãos e Irmãs, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré", escreve Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), professor aposentado de Filosofia (UFG), 30-05-2018.
Eis o artigo.
Jesus de Nazaré foi “morador de rua” antes de nascer. No seio de sua mãe Maria e com seu pai José, perambulou nas ruas de Belém até encontrar um estábulo que abriu as portas para que sua mãe pudesse dá-Lo à luz. Nasceu como “sem-teto” numa manjedoura: “não havia lugar para eles dentro de casa” (Lc 2,7). Anunciou a Boa Notícia do seu nascimento aos pastores, os “sem-terra” da época: “eu anuncio a vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). Foi migrante no Egito, fugindo de Herodes, um rei ganancioso e assassino. Foi operário (marceneiro) na oficina de seu pai José.
Em sua vida pública, Jesus de Nazaré “andou por toda parte fazendo o bem” (At 10,18). Esteve sempre ao lado dos pobres e “descartados” da sociedade: os leprosos, os mendigos e outros. Nunca morou em palácios ou mansões. Nunca sentou numa cátedra, a não ser a “cátedra” na qual recebeu a “coroa de espinhos”. Sua presença na casa de Zaqueu e seu encontro com o jovem rico provocaram neles uma tomada de posição: Zaqueu se converteu e mudou radicalmente de vida; o jovem rico - diante das exigências da proposta de Jesus - não teve a coragem de segui-lo e “foi embora triste” (Mt 19,22). Foi acusado de ser “subversivo”: “achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo” (Lc 23,2). Foi preso, torturado e morto na cruz: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Venceu a morte e ressuscitou: “Ele não está aqui, ressuscitou!” (Lc 24,6).
Por fim, Jesus de Nazaré enviou o Espírito Santo, o Amor de Deus, aos discípulos: “assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês, recebam o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). Eles perderam o medo, abriram as portas do lugar onde se encontravam e saíram anunciando a Boa Notícia de Jesus (o Reino de Deus) e denunciando tudo o que é contrário a essa Boa Notícia, até sofrerem o martírio.
É esse Jesus que continua presente hoje, que vive entre nós e caminha conosco: “eis que eu estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 20); “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles” (Mt 18,20).
É esse Jesus que - no dia 25 de maio passado, no Jardim Europa, em Goiânia - na pessoa de 9 irmãos nossos adolescentes (todos pobres e a maioria negros) - morreu carbonizado e seu nome era: Daniel, Douglas Matheus, Elias, Elizeu, Gabriel, Johny, Lucas, Lucas Ranyel e Wallace. É esse Jesus que - no dia 30 do mesmo mês - vivo e ressuscitado, estava presente no Ato Público (em frente ao 7º Batalhão da Polícia Militar, onde se encontra o Centro de Internação Provisória), em memória dos adolescentes mortos, denunciando o Estado de Goiás como o responsável pela barbárie praticada e partilhando a dor das mães e familiares.
“Eles prenderam meu filho vivo e me devolveram um pedaço de carvão” (uma mãe). “Meu filho foi preso por 157 (roubo) e sabe qual foi a pena dele? A morte. Isso de internação é uma mentira” (outra mãe).
No Ato, éramos muitas pessoas presentes: crianças, adolescentes, jovens adultos e idosos. Estávamos lá não só em nome pessoal, mas também em nome das Entidades que representávamos: Associações e Conselhos de Profissionais, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Movimentos Sociais Populares, Foruns de Defesa e Promoção de Direitos Humanos, Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB-GO), Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil e outras.
Em círculo, ao redor de ramalhetes de flores e mensagens escritas, “cheios e cheias de Ira e tristeza” - como Jesus quando, com seu olhar, fixava os fariseus e partidários de Herodes (cf. Mc 2,5) - expressamos, do mais profundo do coração, os nossos sinceros sentimentos de solidariedade às mães e familiares dos adolescentes mortos, partilhando sua dor e seu sofrimento, com falas, cantos e orações (muitas pessoas choravam). Gritávamos o nome dos adolescentes mortos e todos e todas em coro respondíamos: “presente”.
Em Jesus, os adolescentes completaram sua Páscoa - passagem da Morte à Ressurreição - e celebramos sua presença no meio de nós. Foi uma verdadeira experiência de Fé na Vida. Foi “outra” Celebração do Corpo de Cristo, no corpo dos adolescentes mortos e ressuscitados. Éramos uma Comunidade de verdadeiros Irmãos e Irmãs, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. Fizemos o que Jesus teria feito e o que nosso irmão, o Papa Francisco - estando em Goiânia - faria.
Pessoalmente - sem nunca perder a esperança - nessa trágica história, a exemplo de Jesus de Nazaré, dois fatos deixaram-me “cheio de ira e tristeza”. Primeiro fato: constatar que no Ato Público, eu era o único Padre presente (sei que alguns Padres - embora poucos - queriam participar, mas não puderam por motivo justo). Constatar também que não havia ninguém representando oficialmente a Paróquia local e ninguém (nem bispo, nem padre, nem outro agente de pastoral) representando oficialmente a Arquidiocese de Goiânia.
Segundo fato: constatar que a Arquidiocese - além de não ter feito nenhuma Nota Oficial de denúncia dos responsáveis por essa barbárie e de solidariedade às famílias dos adolescentes mortos - na Missa Solene da Festa do Corpo de Cristo (Praça Cívica - Setor Central), não fez nenhuma referência à tragédia acontecida e nenhuma oração no momento das preces. Deve ter sido para não “desagradar” ou “ofender” as autoridades presentes! Que hipocrisia! Que farisaísmo!
Não é esse um comportamento que trai Jesus na pessoa dos adolescentes queimados e dos pobres, como fez Judas? Não é esse um comportamento de conivência com os Herodes e Pilatos de hoje?
Um livro, publicado depois do Concílio Vaticano II, pergunta: “será que os católicos são ainda cristãos?”. Felizmente, baseado na minha longa experiência de convivência com o povo, posso afirmar que - entre os católicos e católicas pobres - existem muitos verdadeiros cristãos e cristãs, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, santos e santas de Deus. De qualquer forma, vale a pena refletirmos!
Termino com o testemunho da avó (70 anos) do adolescente D.P.C. (15 anos), único sobrevivente do incêndio, que teve o braço esquerdo amputado em consequência das queimaduras sofridas e que ainda se encontra em grave estado de saúde. O testemunho é mais uma prova de que os menores infratores precisam de políticas públicas e de programas socioeducativos que suscitem neles a autoestima, a responsabilidade e o desejo de buscar - cada vez mais - o verdadeiro sentido da vida. Eles não precisam de Centros de Internação, que são verdadeiras cadeias ou, pior, depósitos de “lixo humano”.
Diz a avó: “D.P.C. (que na escola tinha notas boas, gostava de tocar violino e, antes da internação, vinha praticando aulas) mandou uma cartinha para mim falando que estava rezando todos os dias para voltar para casa logo, para voltar para as aulas dele, para as coisinhas dele” (O Popular, 05/06/18, p. 13). Meditemos! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Os novos "ídolos católicos"
- Detalhes
"A idolatria gera fechamento em si mesmo, logo fechamento à vontade de Deus e, também, opressão e exclusão do próximo mediante a formação de pequenos grupos de iniciados nos cultos idolátricos", escreve Matheus da Silva Bernardes, doutorando em Teologia Sistemática pela FAJE - MG, mestre em Teologia Sistemática pela antiga Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. Assunção e graduado em Teologia pela PUC-Chile.
Eis o artigo.
RESUMO
O presente texto apresenta uma breve reflexão sobre a atitude idolátrica de alguns setores ultraconservadores católicos; atitude que não corresponde às exigências que a história do começo do século XXI impõe aos discípulos e discípulas de Jesus Cristo. A noção de idolatria é tomada de J. Sobrino, que apresenta o Deus do Reino e da vida em uma relação duélica com o anti-Reino e os ídolos da morte.
***
Talvez seja muito cedo ainda para fazer especulações e tirar conclusões do que está acontecendo no Brasil nas últimas semanas com a greve dos caminhoneiros. De fato, não só nas últimas semanas, mas nos últimos anos. Não se pode restringir esses acontecimentos somente ao âmbito nacional: a Nicarágua também atravessa uma paralisação do transporte de carga com consequências trágicas; o povo venezuelano parece ter perdido fôlego para restabelecer o diálogo democrático depois das últimas eleições e a economia do país afunda a cada hora que passa; toda esperança de mudança do novo governo argentino ficou somente na promessa.
Isso por citar somente exemplo dos vizinhos latino-americanos. Nesta mesma semana, a Itália enfrenta mais uma das tantas crises políticas que vem passando desde o final da Segunda Guerra Mundial, cujas consequências podem afetar não só o país, mas toda a Zona do Euro e, portanto, todo o mundo. A catástrofe humanitária no Oriente Médio, especialmente na Síria não tem previsão para acabar. O diálogo entre Estados Unidose Coreia do Norte permanece pendente. Ainda está o flagelo dos imigrantes do norte da África e Oriente Médio e dos países centro-americanos que sonham com uma vida melhor nos países do Norte, mas o que encontram é exploração e, não poucas vezes, morte. Para finalizar, o extremismo de ideias e práticas vai se disseminando por todo o mundo e não há exemplo melhor que o caricaturesco presidente norte-americano.
Evidentemente, há muito mais para ser analisado e refletido, até mesmo o esdrúxulo retrocesso pedido de intervenção militar que invade algumas manifestações no Brasil. Mas esse não é o objetivo desta reflexão. A intenção é pensar sobre a atitude dos católicos e católicas diante de toda essa complexidade.
Em um texto iluminador, o arcebispo e os bispos auxiliares de Belo Horizonte afirmam que o país passa por um “Tempo de aprendizado e mudanças”. Trata-se de um texto iluminador, sobretudo pela esperança que traz ao afirmar que, mediante humildade e sabedoria, mas sobretudo mediante uma verdadeira conversão, um “rumo novo, no horizonte da justiça e da paz” surge. Entretanto, os senhores Bispos reforçam que a conditio sine qua non para o surgimento desse novo horizonte é a verdadeira conversão.
Não se tratam de palavras novas: o Papa Francisco (EG n.182, MV n.19) repete insistentemente na verdadeira conversão [1], inclusive o texto conclusivo da Conferência Geral de Medellín, que completa 50 anos em 2018, já mencionava essa verdadeira conversão enfaticamente (Justiça n.04, Pastoral das Elites n.13) [2]. Qual conversão? A resposta evidente seria a conversão a Deus. Mas dado o primado da realidade é mister se perguntar: conversão a qual Deus? Essa mesma pergunta se fez Jon Sobrino em seus livros Jesús en América Latina (1982) [3] e Jesus, o Libertador (1996) [4], pergunta que não perdeu sua vigência; até mais, a pergunta se impõe a todos os homens e mulheres de boa-vontade no começo do século XXI, especialmente aos discípulos e discípulos de Jesus Cristo.
A conversão é ao Deus do Reino, ao Deus da vida que está não só em uma relação dialética com o anti-Reino e os ídolos da morte, mas em uma real relação duélica (SOBRINO, 1996, p. 189). O primeiro ídolo da morte que duela com o Deus da vida é a riqueza, a concentração absurda da riqueza em um mundo que segue, à risca, a cartilha neoliberal (SOBRINO, 1996, p. 271-272). Tanto o texto dos bispos da capital mineira, como o Papa Francisco coincidem que é fundamental vencer práticas que visam somente o lucro e o enriquecimento de poucos em detrimento de muitos (EG n.56). O ídolo da concentração da riqueza já fez e continua a fazer inúmeras vítimas pelo mundo afora. As catástrofes humanitárias que muitos assistem consternados não são outra coisa que o culto sacrifical ao ídolo da concentração da riqueza, unido também ao ídolo do poder político, que mereceria uma análise própria, mas como não é o objetivo deste não será feita.
Por outro lado, pensando especialmente na atitude dos católicos e católicas diante das crises mencionadas, não seria possível identificar outros ídolos que impedem a conversão ao Deus do Reino, ao Deus da vida anunciado por Jesus de Nazaré?
O Cristianismo, como diversos autores já o demonstraram, somente pode ser vivido com o olhar no Reino de Deus e os pés no chão da história. Toda e qualquer prática cristã que remete somente a um eschaton ideologizado (SOBRINO, 1996, p.164-166) e retira os pés da história, corre o risco de ser tornar em ídolo alienante. Infelizmente, isso é o que se constata no discurso ultra conversador de alguns padres e, para uma tristeza ainda maior, de jovens que invadem a internet e, a partir dela, as comunidades católicas.
O ídolo não é outra coisa senão a absolutização de uma realidade criada (SOBRINO, 1996, p. 272-273), inclusive a absolutização da interpretação de trechos da Escrituracomo se tem feito com 1Cor 11,2-6, no qual São Paulo acaba se enrolando em uma argumentação tomadas de mestres fariseus e acaba caindo em uma nova forma de subjugar a mulher ao homem. O uso piedoso e modesto do véu, como tem se difundido acaba se convertendo em um ídolo impedindo a verdadeira conversão ao Deus do Reino, o Deus da vida. Sem querer entrar em toda discussão sobre o machismo explícito na prática do uso do véu, identifica-se aqui uma absolutização de uma realidade criada, logo a criação de um ídolo.
O mesmo acontece com o uso de correntes que enfatiza uma forma de devoção, criada pelo ser humano dentro de um contexto histórico concreto muito distante do atual; as coleções de relíquias que mais remetem à Idade Média que à atualidade, a leitura de coletâneas de orações, inclusive em latim, e até práticas litúrgicas, que estão longe de expressar a eclesialidade intrínseca e necessária à Liturgia, são criações do ser humano, portanto também possuem o potencial de se converterem em ídolos. O que dizer das inúmeras práticas piedosas, como a reza do terço da misericórdia sempre às 15h, que possui mais características de rituais mágicos que expressão de uma prática espiritual cristã.
O rito que sacia a voracidade de todos esses ídolos sacrifica a própria pessoa do idólatra. Trata-se de um auto sacrifício, porém estéril. A entrega da própria vida, como a entrega de Jesus Cristo na cruz, se realiza para que outros tenham vida; Jesus dá sua vida para dar vida. No entanto, o culto a esses ídolos não gera nenhuma vida. Entretanto, esse culto estéril não é o único; há um culto de exclusão muito semelhante ao que os contemporâneos de Jesus, mais especificamente os fariseus e os escribas (mestres da lei) realização (SOBRINO, 1996, p. 259-262). Eles prestavam um culto impecável à lei de Deus, contudo não ao Deus da lei que é o mesmo Deus do Reino e da vida que faz com que sua justiça supere toda lei positiva, especialmente para defender a liberdade do ser humano. A separação idolátrica entre puro e impuro persistiu por séculos a fio no seio da Igreja, por exemplo com os cátaros, mas parece persistir culto que hoje se presta a normas da liturgias e ao Direito Canônico e se esquece que ambos estão a serviço da vida do ser humano e não ao contrário, assim como “o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado” (Mc 2,27).
Essa tendência idolátrica não deixa nem a sexualidade impune; não a idolatra a partir do hedonismo, mas a partir do puritanismo. O rito sacrificial realizado a este ídolo imola a própria pessoa já que a torna incapaz de captar toda profundidade de significado da sexualidade humana, que não só fonte de um prazer considerado ilícito, mas caminho para a própria pessoal, uma vez exige abertura ao outro, exige alteridade. O puritanismo praticado por alguns setores católicos está mais ocupado em se preservar do que se doar e, portanto, doar vida (SOBRINO, 1982, p. 195-202).
Enfim, há um sem-número de práticas que católicos e católicas têm realizado e são criações – para não dizer invenções – humanas e, portanto, podem se tornar ídolos. A idolatria impede a verdadeira conversão para o Deus do Reino, o Deus da vida. A conversão, em primeiro lugar, é obra do Espírito no coração dos homens e mulheres que lhe são dóceis; a verdadeira conversão gera disponibilidade para cumprir a vontade de Deus e misericórdia para com o próximo. A idolatria gera fechamento em si mesmo, logo fechamento à vontade de Deus e, também, opressão e exclusão do próximo mediante a formação de pequenos grupos de iniciados nos cultos idolátricos.
Diante da grave situação social e política pela qual o Brasil e o mundo passam, os católicos e católicas não podem se dar o direito de cair na idolatria. O Deus do Reino, o Deus da vida anunciado por Jesus de Nazaré não quer pequenos grupos de iniciados em ritos ocultos e idolátricos aguardando o final dos tempos; o compromisso social e político pertence ao Evangelho e à sua vivência (SOBRINO, 1996, p. 131-136). Uma verdadeira espiritualidade católica exige comprometimento com o acontecer social e político, sobretudo porque um novo horizonte de justiça e paz somente irá surgir com os pés postos na história.
É urgente que os católicos e católicas se reúnam para que, inspirados pela práxis de Jesus de Nazaré em favor dos mais pobres, as vítimas que morrem por causa da idolatria do acúmulo da riqueza, aprendam mais sobre a vida em sociedade, a vida política, a importância da participação democrática de todos e as responsabilidades inerentes a essa participação e, sobretudo, à liberdade do ser humano. Não é hora de se reunirem só para idolatrarem seus véus, suas correntes, suas relíquias, suas práticas medievais e seu puritanismo. É hora de partilhar solidariamente “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (GS n.01).
Notas:
[1] CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO, Conclusões de Medellín, São Paulo: Paulinas, 1987.
[2] PAPA FRANCISCO, A Alegria do Evangelho, São Paulo: Edições Loyola, 2013; O rosto da misericórdia, São Paulo: Edições Loyola, 2015.
[3] SOBRINO, J., Jesús en América Latina, Santander: Editorial Sal Terrae, 1ª edición, 1982.
[4] SOBRINO, J., Jesus, o Libertador: a história de Jesus de Nazaré, 2ª edição, Petrópolis: Vozes, 1996. Ainda que o texto original espanhol tenha sido publicado em 1991 pela UCA, no presente texto, seguir-se-á a edição citada. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Pág. 251 de 664