Eleições: o que é da responsabilidade da Igreja?
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A vida política está entre as preocupações da Igreja reforçadas após o Concílio Vaticano II. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes ensina que, sobre estas realidades, “devem resplandecer os princípios e as luzes que provêm de Cristo e que dirigirão os cristãos e iluminarão todos os homens na busca da solução para tantos e tão complexos problemas”. Mas neste período eleitoral, pode aparecer o questionamento de até onde a Igreja deve ir.
“Resplandecer os princípios e as luzes que provêm de Cristo”, talvez seja um indicativo para este questionamento. Para as eleições gerais no Brasil, várias são as iniciativas que visam contribuir para a formação de consciência cidadã, dando luzes e princípios para bem escolher em quem votar.
O bispo de Santa Cruz do Sul (RS), Aloísio Alberto Dilli, destaca a política como exercício do bem comum, recordando a fala do papa Francisco de que a política é uma das formas por excelência da caridade, sendo esta uma orientação geral e o sentido de como a Igreja deve entrar na política.
“Nós, evidentemente, não nos manifestamos em público em termos partidários, porque essa questão precisa sim acontecer no momento concreto do voto, mas é a pessoa, na sua liberdade, que, orientada por princípios gerais de política, se expressa concretamente dentro da eleição, dentro de um partido”, explica.
O bispo também ressalta: “nesse sentido, é claro que nós não devemos também assumir candidaturas. A Igreja orienta que o clero não tome uma candidatura porque ele vai possivelmente dividir sua comunidade. E nós temos que ser pessoas de unidade, de paz, de conciliação”, afirma. Ele pondera ainda que, “dentro da realidade nós também vamos ter que nos definir por um candidato que pertencerá a um determinado partido”, considerando a hora do voto.
Dom Aloísio Dilli ainda explica que a Igreja ensina a olhar toda a realidade humana, também na política, a partir do Evangelho. “E dentro do Evangelho nós temos como centro o mandamento do amor e em decorrência a defesa da vida, a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, o direito de todas as pessoas a uma vida digna, as injustiças temos que condenar, a corrupção que temos que condenar”, enumera.
Entre as várias iniciativas eclesiais voltadas para as eleições, destaca-se a cartilha de orientação política preparada pelo regional Sul 2 da CNBB (baixe aqui). No material, retoma-se que a Igreja é chamada a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu”, como ensina o Documento de Aparecida.
Em artigo publicado no portal da CNBB, dom Vital Corbellini recorda as indicações contidas no material e ressalta o papel da Igreja no processo político. Em cinco pontos, a Igreja:
Incentiva os fiéis para que interajam em relação às eleições e que participem da política como algo essencial para a transformação da sociedade
Aprecia as pessoas que se dedicam ao bem da nação, ao serviço das pessoas
Elabora textos para conscientizar eleitores sobre a responsabilidade do voto
Promove iniciativas em paróquias e dioceses a respeito de debates sobre os candidatos e programas, além da formação de consciência política dos leigos e leigas
Colaborou no empenho em moralizar as campanhas políticas com elaboração da lei contra a corrupção eleitoral e da Lei da Ficha Limpa
Outra iniciativa de repercussão nacional é a Campanha da arquidiocese de Aparecida (SP) e do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida “Eu sou o Brasil Ético”.
“Este projeto direciona nosso olhar para a vida do povo. Queremos mais respeito pelo povo, mais vida, mais dignidade, mais emprego, mais pão na mesa e também mais participação de todos na vida social. Este ano eleitoral não é e não será igual aos outros. Diante de toda esta manifestação sobre corrupção que vimos entrar em evidência, está comprovado que a nossa política deve e pode melhorar. Quero convidar todo o povo brasileiro a acreditar no voto!”, escreveu o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes na apresentação da campanha.
Entre as várias indicações e reflexões contidas no material, há um capítulo dedicado às orientações normativas sobre condutas e posturas assumidas pela instituição e seus meios de comunicação. O objetivo é evitar confusão de conceitos e entendimento em relação à presença de candidatos, por exemplo, no Santuário.
Os meios de comunicação do Santuário (TV e rádio Aparecida e portal A12.com) são impedidos de mostrar rostos políticos eleitos ou em disputa eleitoral nas missas e eventos, exceto em necessidade de cobertura jornalística, além convite para participação especial em programas de TV. Atenção também é dada para discursos e falas, tanto em celebrações, quanto em redes sociais e entrevistas à imprensa.
Sobre as redes sociais, a orientação é que os Missionários Redentoristas não declarem em suas redes sociais pessoais o apoio a determinado partido ou político. “Orienta-se ainda o cuidado com os discursos nas mídias digitais, bem como com o compartilhamento de informações e marcações em fotos e eventos”, encontra-se no texto. Fonte: http://www.cnbb.org.br
A política é um bem – Cristão/católico não desanima!
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Dom Antônio Emídio Vilar, Bispo de São João da Boa Vista (SP)
“Política é a forma mais perfeita da caridade!”
A POLÍTICA BRASILEIRA: – Embora sejam poucos os bons exemplos de quem a exerce, não há dúvida de que, na essência, ela é UM BEM PARA TODOS. Sim, porque política é, originalmente, um modo de pensar e conviver em sociedade, com um objetivo saudável e comunitário, isto é, o BEM DA PESSOA HUMANA EM SOCIEDADE, o BEM COMUM (João XXIII, Pacem in terris, 54; Gaudium et Spes, 26). Daí que, na política, não importa a diversidade de pensamentos ou posição, o que importa é o objetivo para o bem comum. Por isso já se disse que política é a convivência sadia dos pensamentos/manifestações contrários. O importante é que sempre brote em nós o desejo de um bem, UMA EXIGÊNCIA DE VALORIZAÇÃO DO OUTRO, como pessoa humana, IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS (Catecismo da Igreja Católica, 1700).
Quando pensamos no nosso Brasil, nosso desejo não pode ser outro, a não ser de manter RELAÇÕES JUSTAS E FRATERNAS entre pessoas e grupos, de redescobrirem, de conversarem e de se indignarem com os desvios de conduta que, tristemente, terminam em corrupção, com a certeza da impunidade. Contudo, NÃO DEVEMOS DESANIMAR, MAS REANIMAR, fazer reflorescer o desejo de boas condutas pessoais e sociais que nos sustentam como bandeira da esperança e da liberdade humanas/ cristã, que fundamentam o espírito de uma verdadeira democracia.
POLÍTICA NÃO É UMA PROFISSÃO E NEM UMA HERANÇA FAMILIAR. Lamentavelmente, são muitos os profissionais políticos, mas carregamos um certo grau de culpa, pois somos nós que os elegemos. Precisamos considerar que, se reelegermos um candidato que se tornou profissional da política, estaremos afastando-nos do exercício do bem comum. Nenhum político servirá ao bem comum ou retomará o bom propósito, se continuarmos neste provinciano, colonial, falido e corrupto sistema político de eleger “salvadores da pátria”, “coronéis modernos”, pessoas mal-intencionadas, que discursam apenas para a ocasião e prometem o que não podem cumprir.
A MUDANÇA NO SISTEMA POLÍTICO, TRIBUTÁRIO, JURÍDICO, temas tão delicados e complexos, não passa apenas pelos que são eleitos, mas está inserida NA ATITUDE CIDADÃ de cada um de nós, que precisa educar-se para fazer da vida um serviço ao outro, na participação em trabalhos sociais e comunitários, que nos tornam verdadeiros agentes de transformação. É preciso, ainda, abrirmos espaços e descobrirmos momentos reais para atuarmos na vida pública de nossa Cidade, Estado e País. Faz-se necessária a participação nos Conselhos municipais, nas reuniões da Câmara Municipal, acompanhando discussões e votações no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa, bem como fiscalizando os governos estadual e federal.
Nós, bispos, iniciamos a nossa mensagem da 56ª Assembleia geral da CNBB ao povo brasileiro, com a citação aos Hebreus (10, 23): “Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer”, por acreditarmos que as PRÓXIMAS ELEIÇÕES NOS PROVOCAM E DESAFIAM a termos esperança e a darmos razão de nossa fé como discípulos missionários. É o momento propício para que firmemos nossa posição e expressemos nosso “BASTA” àqueles que se servem da vida pública, através da política. Cristo Jesus nos chama a vivermos a vida pública à luz do Evangelho. Esse deve ser o nosso lema.
NÃO PODEMOS CAIR NO ENGANO DE ACREDITAR QUE VOTAR É APENAS MAIS UMA OBRIGAÇÃO E QUE NOSSO VOTO POUCO OU NADA ADIANTA.
É GRAVE OMISSÃO dizermos ou pensarmos: estou tão desacreditado que vou votar nulo ou em branco. Uma conduta enganosa assim só contribui para os mal-intencionados (João Paulo II, Christifideles laici, 42). Estejamos atentos para não corrermos o risco de apenas ficar reclamando depois, pois, se não nos interessarmos por participar da política agora, ela acabará sendo usada por pessoas que não se preocuparão com o bem comum, mas com seus interesses particulares, o que, inevitavelmente, gerará mais CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE.
A escolha daqueles que dirigem os nossos destinos na vida pública, tem que ser baseada em princípios cristãos. Precisamos de pessoas que incentivem o bem comum, promovam a vida desde o seu início até seu término natural e fortaleçam as organizações sociais, principalmente as que são modelo de serviço ao outro, de construção de comunidades verdadeiramente solidárias, de EXEMPLO DE VIDA CRISTÃ.
Por isso, com a consciência alicerçada nos princípios cristãos, VAMOS ELEGER PESSOAS QUE:
1 – Reconheçam e promovam O VALOR DA PESSOA HUMANA. Se possível, políticos que pertençam à nossa região, cuja família e trajetória de vida conhecemos. Esse pertencimento é fundamental para manter a retidão na vida pública e sabermos quem é de fato este candidato. Nesse sentido, as redes sociais e canais de consulta da internet podem ser aliados valiosos para nossa decisão.
2 – Saibam educar-se PARA TRABALHAR EM CONJUNTO. Queremos governos que respeitem a liberdade e a criatividade das pessoas, que valorizem as iniciativas sociais e que respondam às necessidades cotidianas. Não queremos governantes que acreditam que cabe somente a eles decidir o que é bom para todos.
3 – Candidatam-se porque possuem UMA TRAJETÓRIA DE VIDA PESSOAL comprometida com a superação da pobreza, com a educação, a saúde, a moradia, o saneamento básico, a promoção da vida e ao meio-ambiente. Não compram votos e nem barganham votos e licitações públicas, para depois recuperarem o que gastaram ou simplesmente enriquecerem-se ilegalmente.
Para eleger esse tipo de pessoa vamos:
1 – Observar se o candidato representa e apresenta apenas o interesse de um grupo ou partido ou se pretende, com projetos, promover políticas que beneficiam a todos. O bom governante governa para todos e não faz campanha com dinheiro de empresas na TROCA DE FAVORES, nem se propõe a comprar seu voto.
2 – Se os candidatos têm “ficha limpa”, sem processo judicial, e que não estejam na lista da “Lava-Jato” ou de alguma outra operação policial, especialmente de ofensa à “coisa” pública. O HOMEM PÚBLICO DEVE TER HONESTIDADE (idoneidade moral), ser coerente em sua postura e não mudar frequentemente de partido.
3 – VOTAR NÃO PARA AGRADAR ALGUÉM, mas em pessoas que possam representar você na utilização do seu dinheiro na educação, saúde, criação de empregos, promoção humana e social. Devemos tomar muito cuidado com os arrogantes, populistas, demagogos e bajuladores, os quais não inspiram confiança.
(cf. CNBB, Sul 2. (2018). Cartilha de Orientação Política. Os cristãos e as eleições, 2018. e CNBB – Doc. 91, 2010)
Por isso, queiramos ou não, precisamos da política. Ela faz parte da nossa vida. É irracional pensarmos que, para derrotar a crise política, basta estarmos contra alguém, ou à espera de um “salvador da pátria”, ou ainda negar a sua existência, que é pior ainda. Afinal, o que teríamos em comum para modificar? Não estaremos agindo contra um inimigo, mas por um bem comum maior, desejado e perseguido.
Sabemos que poucos candidatos terão os atributos anteriormente elencados, mas busquemos votar naqueles que mais se aproximarem do ideal cristão e que estimulem, durante o mandato, suas qualidades para diminuir suas limitações.
Cada um de nós é corresponsável pelos destinos de nossa cidade, de nosso Estado, de nosso País.
Concluo essa minha pequena reflexão com as tão eloquentes palavras do Papa Francisco: “Há necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e reconciliação.”
(Mensagem vídeo do papa Francisco aos participantes no encontro de políticos católicos organizado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL), 03/12/2017). Fonte: http://www.cnbb.org.br
Globais aderem ao desafio #EleNão no Instagram e chamam para ato
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O movimento começou com a cantora Daniela Mercury desafiando a colega Anitta a se manifestar a respeito da candidatura de Bolsonaro
Após a cantora Daniela Mercury dar início a um novo movimento contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, desafiando a colega Anitta a se manifestar a favor da hashtag #EleNão, o movimento ganhou força entre as artistas , inclusive entre as globais.
Nathália Dill, Sophie Charlotte, Leticia Sabatella e Letícia Colin foram algumas da primeiras atrizes da Rede Globo que aderiram ao movimento. Elas postaram vídeos nesta segunda-feira 24 em suas redes sociais do Instagram, justificando o porquê de não votarem no ex-militar, convidando a todos a participarem dos atos contra Bolsonaro, marcados para o próximo sábado, 29, em várias cidades do País, e desafiando outras colegas do mundo artístico a gravarem um vídeo em apoio a hashtag #EleNão.
No domingo, 23, Anita gravou um vídeo em sua rede social do Instagram em resposta ao desafio de Mercury. Ela esclareceu que nunca foi apoiadora da candidatura de Bolsonaro e manifestou seu apoio a hashtag. Além disso, passou o desafio adiante, para as colegas da música a Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Preta Gil.
"Quero aproveitar essa oportunidade para deixar claro de uma vez por todas a vocês, se ainda não ficou, que eu não apoio o candidato Bolsonaro. Eu também quero deixar claro que em momento nenhum eu desmereci a hashtag."
Segundo a cantora, ela quis mostrar que para além da hashtag há outras formas de se manifestar, no dia-a-dia, contra preconceito, racismo, machismo, homofobia e em favor das minorias.
Até o final da tarde desta segunda 24, nenhuma das três cantoras desafiadas por Anitta havia postado vídeo em suas redes sociais levando o movimento adiante.
Mesmo assim, o movimento vem tomando corpo com outras mulheres como a produtora cultural Paula Lavigne, e as cantoras Céu, Maria Gadú, Marília Mendonça, Teresa Cristina, entre outras. Fonte: www.cartacapital.com.br
"Pela Democracia, pelo Brasil". Manifesto contra candidatura de Jair Bolsonaro
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Um grupo que inclui artistas, advogados, ativistas e empresários articula um manifesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro. O documento intitulado “Pela democracia, pelo Brasil” não indica apoio à candidatura do PT nem de qualquer um dos adversários do deputado, mas afirma ser necessário um movimento contra o projeto antidemocrático do candidato do PSL.
“É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós”, diz o texto.
O documento diz que o País já teve em Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello“outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política”, mas que acabaram levando o Brasil ao “desastre”.
“Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários”, diz outro trecho do manifesto. A informação é de Renata Agostini, publicada por O Estado de S. Paulo, 23-09-2018.
Versão preliminar do manifesto, obtido pelo Estado, conta com cerca de 150 nomes, entre eles os de Maria Alice Setúbal, educadora e acionista do Itaú Unibanco; do economista Bernard Appy; do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura; de Caetano Veloso e Paula Lavigne; do advogado e professor da FGV Oscar Vilhena; e do médico Drauzio Varella.
Caetano e Paula Lavigne declararam apoio a Ciro Gomes (PDT) nesta eleição. Maria Alice Setúbal e Guilherme Leal já atuaram ao lado de Marina Silva (Rede) em pleitos passados, mas não tê m papel na campanha atual da ex-senadora.
O manifesto ficará hospedado num site próprio do movimento. A lista ficará aberta para quem quiser incluir a assinatura.
O documento foi fechado na quinta-feira pelas mãos de um grupo de amigos, entre eles o advogado José Marcelo Zacchi. O texto foi sendo circulado em grupos de Whatsapp a partir de sexta e ganhando adesões ao longo do fim de semana.
Segundo Zacchi, o objetivo é reunir vozes que representem diversos segmentos da sociedade e possam mobilizar esses setores. “É sobre repudiar um projeto que nos parece contrário aos princípios democráticos”, diz. “É um chamado para quem vota em quem quer que seja, mas está dentro do campo democrático”.
Eis a íntegra do manifesto.
Pela Democracia, pelo Brasil
Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.
Como todos os brasileiros e brasileiras sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.
Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.
Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público.
Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas côrtes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.
Conhecemos amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na sociedade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Em momento de crise, é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.
Esta clareza nos move a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.
É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.
Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.
Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser.
Assinam este manifesto
Adriana Lisboa
Alê Youssef
Alessandra Negrini
Alessandra Orofino
Alexandre Brasil Fonseca
Alexandre Nero
Alexandre Schneider
Alice Braga
Amon Barros
Ana Carolina Evangelista
Ana Helena Altenfelder
Ana Moser
Ana Toni
André Corradi Moreira Luthier
Andre Degenszajn
André Fischer
André Pereira de Carvalho
Andre Perosa
André Vallias
Andrea Alvarez
Andrea Barata Ribeiro
Andrea Calabi
Andrea Magri
Andreia Horta
Anete Abramowicz
Anna Penido
Antonia Pelegrino
Antonio Grassi
Antônio Nóbrega
Antônio Prata
Ariovaldo Ramos
Arnaldo Antunes
Aron Zylberman
Ary Oswaldo Mattos Filho
Astrid Fontenelle de Brito
Aurea Vieira
Bárbara Musumeci Mourão
Beatriz Bracher
Bel Coelho
Bel Melo
Bela Gil
Belisario dos Santos Junior
Bernard Appy
Beto Vasconcelos
Beto Verissimo
Bia Barbosa
Binho Marques
Braulio Mantovani
Bruno Carazza dos Santos
Bruno Torturra
Cadão Volpato
Caetano Veloso
Caio Magri
Camila Pitanga
Carlos Mello
Carlos Nobre
Carlos Pitchu
Carolina Bueno
Carolina Kotscho
Cazé Pecini
Celia Cruz
Celso Athayde
Celso Lafer
Cesar Callegari
Chico Buarque
Cicero Araujo
Ciro Biderman
Claudia Abreu
Claudia Costin
Cláudio Couto
Clemente Ganz Lucio
Clemir Fernandes
Cléo Regina Todaro Santos de Miranda
Daniel Augusto
Daniel Cerqueira
Daniel De Bonis
Daniel Ganjaman
Daniela Bianchi
Daniela Di Bonito Mônaco de Moraes
Daniela Frozi
Daniela Gleiser
Danilo Miranda
Danilo Santos de Miranda
Dario Guarita Neto
Dario Menezes
Débora Lamm
Denis Mizne
Dira Paes
Doriam Borges
Drauzio Varella
Edson Fernando de Almeida
Eduardo Calil Ohana
Eduardo Marques
Eliane Dias
Eliane Giardini
Elisandro Lotin de Souza
Enrique Diaz
Estevão Ciavatta
Esther Solano
Eugenia Moreyra
Eugenio Bucci
Fabiana Luci de Oliveira
Fabiana Pereira
Fabio Feldman
Felipe Roseno
Fernand Alphen
Fernanda Abreu
Fernanda Thompson
Fernanda Torres
Fernando Abrucio
Fernando Burgos
Fernando Grostein Andrade
Fernando Meirelles
Fernando Morais
Flávia Gusmão Eid
Flávia Lacerda
Flávio Conrado
Flavio Tavares de Lyra
Floriano de Azevedo Marques Neto
Francisco Sandro Rodrigues Holanda
Franklin Feder
Gabriel Feltran
Galeno Amorim
George Avelino Filho
Gerorgiana Goes
Gilberto Dimenstein
Gisele Froes
Glória Kalil
Gregorio Duvivier
Gui Amabis
Guilherme Casarões
Guilherme Leal
Guilherme Werneck
Haroldo Torres
Heitor Dhalia
Helder Vasconcelos
Helio Santos
Helivete Ribeiro
Heloisa Buarque de Holanda
Heloísa Perisse
Henri Philippe Reichstul
Henrique Silveira
Hugo Possolo
Humberto Dantas
Ilona Szábo
Ilza Jorge
Inês Lafer
Ivam Cabral
Ivanir dos Santos
Jailson Silva
Joana Jabace
João Biehl
Joaquim Falcao
Joel Zeferino
Jorge Abrahao
Jorge Hage
Jorge Romano
Jorge Schwartz
José Marcelo Zacchi
Juana Kweitel
Juca Kfouri
Julia Michaels
Juliana Braga de Mattos
Juliana Sakai
Jurandir Freire Costa
Jussara Silveira
Jussara Silveira
Karina Buhr
Karine Carvalho
Katia Maia
Laerte
Lauro Gonzales
Leandra Leal
Leonardo Letelier
Leticia Colin
Lilia Schwarcz
Luana Lobo
Luciana Guimarães
Lucio Maia
Luedji Luna
Luis Bolognesi
Luiz Armando Badin
Luiz Camillo Osorio
Luiz Eduardo Soares
Luiz Felipe de Alencastro
Luiz Nascimento
Luiz Ruffato
Luiza Lima
Lusmarina Campos Garcia
Malak Poppovic
Mano Brown
Manoela Miklos
Marcelo Behar
Marcelo Burgos Santos
Marcelo Furtado
Marcelo Issa
Marcelo Masagão
Marcelo Rubens Paiva
Marcia Pereira das Neves
Márcio Tavares Amaral
Marco Antônio Carvalho Teixeira
Marcos Cavalcanti
Marcos Fernandes
Marcos Flaksman
Marcos Fuchs
Marcos Joaquim Alves
Marcos Rolin
Marcus Vinícius Faustini
Maria Alice Setubal
Maria Arminda do Nascimento Arruda
Maria da Glória Bonelli
Maria de Medicis
Maria Filomena Gregori
Maria Gadu
Maria Ignez Barbosa
Maria Martha Cassiolato
Maria Stella Gregori
Maria Victoria Benevides
Mariana Lacorte Camponez do Brasil
Mariana Pamplona
Marília Librandi
Marina Dias Werneck
Marina Person
Mário Aquino Alves
Mário Monzoni
Marisa Moreira Salles
Mariza Abreu
Marta de Senna
Mary Camargo Neves Lafer
Mel Lisboa
Melina Risso
Michael Haradon
Miguel Lago
Miguel Reale Jr.
Milton Hatoum
Miriam Krenzinger
Monica Almeida
Monica Franco
Monique evelle
Myrian Porto
Naercio Menezes Filho
Natacha Costa
Numa Ciro
Oded Grajew
Oscar Vilhena
Otávio Dias
Pablo Nunes
Pally Siqueira
Paloma Duarte
Patrícia Pilar
Paula Lavigne
Paulinho Moska
Paulo André
Paulo Barreto
Paulo Borges
Paulo Furquim
Paulo Miklos
Pedro Abramovay
Pedro Meira Monteiro
Pedro Mendes da Rocha
Pedro Paulo Poppovic
Pedro Strozenberg
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Philip Yang
Pierpaolo Bottini
Pilar Lacerda
Priscila Cruz
Rafael Alcadipani
Rafael Parente
Raul Santiago
Regina Braga
Renata Motta
Renato Janine Ribeiro
Renato Sergio de Lima
Rica Amabis
Ricardo Abramovay
Ricardo Borges Martins
Ricardo Chaves
Ricardo Henriques
Ricardo Lisias
Ricardo Sennes
Ricardo Teperman
Ricardo Young
Roberta Maiorana
Roberta Martinelli
Roberto Andres
Roberto Amorim
Roberto Waack
Rodrigo Martins Constante
Ronaldo Lemos
Rubens Barbosa
Rubens Naves
Rudi Rocha
Ruth Goldberg
Samira Bueno
Sarah Oliveira
Sergio Abranches
Sergio Leitão
Sergio Miletto
Silvia Noronha dos Santos
Silvia Ramos
Silvia Taques Bittencourt
Silvio Eid
Sueli Carneiro
Tadeu Jungle
Tadeu Valadares
Tainá Müller
Talita Todaro Santos de Miranda
Tasso Azevedo
Tati Bernardi
Theo Dias
Thiago Amparo
Thiago Lacerda
To Brandileone
Tulipa Ruiz
Valeria Macedo
Valerie Tomsic
Valmir Ortega
Valter Roberto Silverio
Valter Silvério
Vanessa Elias de Oliveira
Vera Iaconelli
Vítor Marchetti
Vítor Oliveira
Wagner Moura
Walter Casagrande Jr
Walter Salles
Washington Olivetto
Wilson Simoninha
Xis
Xixo Mauricio Piragino
Zeca Camargo
Zuza Homem de Mello
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
PT e Ciro não tem plano de fazer confisco de ganhos como boato
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Enganoso
O texto ficou detido no projeto e omite que ele não avançou na Câmara dos Deputados e acabou sendo arquivado em 2007.
São falsas as mensagens que circulam no WhatsApp dizendo ao PT o projeto de confisco da poupança e que é automaticamente o caso do candidato ao partido, Fernando Haddad, ou mesmo Ciro Gomes (PDT).
A mensagem que faz circular o boato o Projeto de Lei n ° 137, de 2004, procedeu com o deputado federal Nazareno Fonteles (PT-PI), comparando ao confisco da poupança idealizado pela ministra Zélia Cardoso de Melo sem governo Fernando Collor, em 1990.
O texto saiu detido de projeto e omite informações - principalmente, o fato de que ele não avançou na Câmara dos Deputados e acabou arquivado em 2007. A mensagem também deixa de informar que os planos de governo de Haddad e de Ciro não incluem O presente projeto anual de 2004.
O projeto de Fonts propunha o estabelecimento, por um período de sete anos, de um valor máximo de consumo por pessoa e da “Poupança Fraterna”. O limite de gastos reais é o mesmo que o valor per capita do ano anterior. Para uma ideia, levando-se o resultado do ano passado , o valor seria de R $ 12.680 mensais em 2018.
Todo o rendimento que ultrapasse os limites de um depósito de uma conta especial de poupança, uma “Poupança Fraterna”. Os valores foram devolvidos, com juros e em parcelas, nos últimos 14 anos após o período de sete anos. Até a data, os recursos foram investidos em programas de incentivo a cooperativas, micro e pequenas empresas, programas de trabalho especiais nas áreas de saúde, nutrição e educação e programas de desenvolvimento tecnológico.
O projeto parou logo na primeira comissão em tramitação na Câmara, uma Comissão de Finanças e Tributação. O então deputado Max Rosenmann (PMDB-PR), que morreu em 2008, foi relator do projeto na comissão. Em 2005, ele elaborou um projeto ao invés do projeto , pedindo o seu arquivamento, o queem oficialidade em 2007 . Fonteles foi deputado federal até 2014 e não voltou a apresentar projetos com este teor.
Na campanha eleitoral deste ano, o plano de governo de Haddad não tem nada que se assemelhe ao projeto apresentado há 14 anos por Fonteles. Uma palavra “consumo”, por exemplo, aparece 20 vezes no plano do petista. Os últimos resultados foram apresentados em 2004. Bem ao contrário, a ativação do consumo foi apresentada como um pilar do plano de desenvolvimento. “A estruturação do novo projeto de desenvolvimento da nova e da capacidade de produção e consumo”, diz o plano do PT.
O plano de Ciro Gomestambém não tem nenhuma proposta que é pareça com o projeto de Fonteles. O candidato do PDT propõe algo diferente, que é uma redução de impostos sobre o consumo (PIS / COFINS e ICMS).
Quando tramite na Câmara, o projeto também foi objeto de boatos, como no portal G1 . Em 2014, voltou a circular um confisco de futuro com o projeto como base. Nesta ocasião, o “ Boatos.org ” desmentiu uma peça de desinformação. Fonte: https://projetocomprova.com.br
“Haddad está no segundo turno, Bolsonaro ainda não”, diz estatístico de campanhas
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Paulo Guimarães, que atua em 13 Estados nesta eleição, ainda enxerga Alckmin ou Ciro contra o PT: "O voto branco e nulo diminuiu e foi maciçamente para Bolsonaro. Historicamente esse voto não é dele"
O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) não para de subir nas pesquisas de intenção de voto desde que foi vítima de um atentado no início de setembro, mas seu lugar no segundo turno ainda não está garantido, diz o estatístico Paulo Guimarães. Conhecido como "guru" de campanhas por ajudar a eleger, entre outros casos considerados impossíveis, o hoje candidato ao Senado César Maia (DEM) à prefeitura do Rio de Janeiro em 1992, Guimarães acompanha a eleição por meio de grupos controle de eleitores, atuando em 13 Estados nesta eleição. Presta consultoria, entre outras, à campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), que ele põe ao lado de Ciro Gomes (PDT) no páreo pela vaga que muitos já dão como garantida para Bolsonaro no segundo turno.
O desafio de adversários mais ao centro, segundo ele, é se provar melhores adversários contra o PT de Fernando Haddad e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O voto que veio [para Bolsonaro] após a facada é de um contingente puto contra o sistema. O voto branco e nulo diminuiu drasticamente e foi exclusiva e maciçamente para o Bolsonaro. Historicamente esse voto não é dele", diz o estatístico na entrevista que segue abaixo.
Pergunta. O que é possível dizer neste momento sobre o desfecho do primeiro turno?
Resposta. O Haddad vai para o segundo turno. Era muito difícil o candidato do Lula não estar no segundo turno, e isso tem se confirmado pelas tendências. O Lula é um apoiador muito forte. Muita gente confundiu o apoio dele ao Haddad presidente com o apoio ao Haddad prefeito de São Paulo. Quem sabe do buraco da minha rua é o prefeito, o ex-prefeito, o candidato a prefeito. O presidente fica longe, distante. O governador está um pouco mais próximo, mas quem está muito próximo é um ex-prefeito, um prefeito atual.
- Bolsonaro lidera as pesquisas desde o início da campanha e não para de crescer. Por que não está garantido?
- O voto dele não é de competência, é de protesto, de ódio ao outro lado. A maior fidelização entre os candidatos é a do Bolsonaro, mas tem uma parte muito flutuante ali ainda, que está lá pelo ódio. Se o eleitor perceber que pode ganhar do PT sem o ódio, ele pode mudar. Mas, para isso, tem de aparecer um desses outros candidatos de centro com uma votação que dê esperança ao eleitor. E isso vai ser decidido nos últimos três dias. Se um desses de centro chegar [ao final da corrida eleitoral] com 15% e o Bolsonaro com 25%, é possível.
- É possível prever um cenário assim mesmo diante do crescimento de Bolsonaro nas pesquisas?
- As chances deles aumentam com o crescimento nas pesquisas, mas pode mudar muita coisa se o Bolsonaro não se mostrar competitivo contra o PT no segundo turno. Eu já vi [Celso] Russomanno a três dias da eleição com 11 pontos na frente de [José] Serra e Haddad [na eleição pela Prefeitura de São Paulo em 2012], e os dois passaram à frente. Se ninguém aglutinar, os votos vão para o Bolsonaro por conta do ódio ao PT. Se alguém do centro aparecer bem posicionado, vai atrair os votos úteis. Ainda é um pouco cedo para se pensar num quadro definitivo. Mas eu apostaria que o Haddad está no segundo turno, e a outra vaga tem de ser disputada por Ciro, Geraldo e Bolsonaro.
- Alckmin consegue tirar voto de Bolsonaro?
- Qualquer um consegue. Dezesseis por cento dos votos do Bolsonaro são do PT. Haddad vai tirar votos de Bolsonaro, do eleitor pobre do Nordeste. Da mesma maneira que, se Bolsonaro se consolidar como a única força contra o PT, ele vai tirar votos de Geraldo, do centro. Se o Geraldo se mantém solto [do grupo de candidatos empatados nas pesquisas], é uma briga entre eles dois para ver quem vai enfrentar o PT no segundo turno. A simulação de segundo turno com Haddad crescendo... Tem uma linha toda de centro que pode explorar isso, mas as campanhas de uma maneira geral foram muito ruins. Com exceção à do [Henrique] Meirelles.
- Por que a campanha do Meirelles (MDB) não emplaca?
- Por causa do [presidente Michel] Temer. As pesquisas mostram que, se Meirelles não estivesse com Temer, teria mais votos. Falei isso desde o princípio. O Alckmin atingiu seu auge de 10% quando bateu no Temer e o Temer retrucou. O campo vencedor da eleição é o de oposição ao Temer. E ninguém explorou isso, só a Marina [Silva, Rede] no lançamento da candidatura dela. Por isso ela saiu à frente daquele bloco. Agora é um campo político: PT e anti-PT.
- P.O argumento dos tucanos pelo voto útil tem poder de atrair eleitores?
- O voto útil tem uma hora certa de acontecer, para quem quer que seja. Um candidato não precisa passar o outro para ter voto útil, mas apenas mostrar uma recuperação. Pelo tempo de tevê e por aglutinar uma parte do centro, que é maior do que o ódio da direita e o ódio da esquerda, Alckmin teria mais chance de voto útil no final —votos inicialmente do [João] Amoêdo, do Meirelles. Isso é histórico. Na eleição que o Geraldo perdeu [para Lula, em 2006], ele teve nove ou dez pontos a mais do que as últimas pesquisas indicavam. Foi uma surpresa muito grande ele passar da casa dos 40%. Nas últimas pesquisas oficiais, o Aécio [Neves, em 2014] cresceu muito nos últimos dois dias, contra a Marina. Esse voto conservador sempre esteve do lado não do PSDB, mas desse centro de conciliação.
- O atentado contra Bolsonaroforçou a campanha de Alckmin a interromper as críticas que fazia para desconstruir o adversário. Já dá para dizer que foi um evento crucial na corrida presidencial?
- É preciso aguardar o fim da eleição para dizer isso. Nós fazemos um trabalho de grupo controle. No dia da facada, o único que perdia votos era o Bolsonaro. Aí veio a facada, nós paramos o campo, e ele foi para 22% [no Ibope]. Ele não recebeu esses votos do eleitor do Alckmin ou da Marina, foi basicamente dos brancos e nulos e dos indecisos, pela comoção, como a Marina teve aquela enxurrada de votos [em 2014], que também não eram dela, porque o avião [que levava o então cabeça de chapa do PSB, Eduardo Campos] caiu. O povo do Brasil é assim, é coração. “Se deram uma facada nele, ele deve ser bom”. Nas pesquisas oficiais, ele cresceu 2%. Mas se o Alvaro Dias (Podemos), que tem menor rejeição, tivesse levado uma facada, ele teria crescido muito mais.
- Você diz que esses votos não são de Bolsonaro. São de quem?
- O voto que veio após a facada é de um contingente putocontra o sistema. O voto branco e nulo diminuiu drasticamente e foi exclusiva e maciçamente para o Bolsonaro. Historicamente esse voto não é dele, e tenderia a voltar para o estágio inicial conforme o efeito fosse diminuindo, mas ele ainda está no hospital. A facada não deu a esse candidato nenhum atributo de voto, mas a comoção pode ir até o fim da eleição ou não. A Marina desmorona toda eleição porque ela não tem atributos de voto: firmeza, experiência, competência, autoridade, coragem. São 36 atributos de votos que compõem um candidato a presidente da República. Não sou eu que estou julgando a Marina, é isso que o eleitor fala. Ela tem imagem de guerreira, uma mulher de origem muito pobre, batalhadora, mas isso não é atributo de voto. Ela também ficou marcada por ficar quatro anos sem marcar um atributo.
- É de se esperar, então, que Bolsonaro perca algum do espaço ganhado nos últimos dias?
- A Marina teve muito mais [intenção de voto] do que ele tem hoje, subiu 31 pontos e chegou a 37% [em 2014]. A esse ponto, o Aécio não estava sequer no debate. A comoção se dissipou e ela ficou com 21%, ele [o senador tucano] foi para o segundo turno. Ainda é cedo. Hoje se aposta muito mais no Bolsonaro porque ele está à frente. Mas nas últimas eleições das capitais, apenas três candidatos que saíram na frente ganharam, entre eles o ACM Neto (DEM) e o Marcelo Crivella (PRB). Todos os outros saíram muito de trás. O [prefeito de Porto Alegre, Nelson] Marquezan (PSDB) largou com 3,6%. Quem sai à frente tem o ônus de ser a maior mira de todo mundo, e também carrega os votos do eleitor desatento, que indica o voto nele porque é o candidato mais comentado. Quando ele começa a prestar atenção, percebe que não é isso que ele queria.
- E Bolsonaro, não tem mais para onde crescer?
- Tem, mas em função do ódio, não dele. A rejeição dele é muito alta há algum tempo. À medida que o Lula fica mais odiado, que outros candidatos dizem que vão dar indulto para ele, o eleitor decide votar no Bolsonaro. O jogo hoje é muito mais político do que temático —de melhorar saúde, educação, segurança. As mulheres não votam no Bolsonaro, mas as mulheres pobres tendem a decidir o voto mais tarde. O país é absurdamente machista. O marido vai dizer em quem elas devem votar, principalmente nas classes mais baixas, das mulheres mais agredidas. O voto da mulher tem convergido para o voto do homem historicamente. Fonte: https://brasil.elpais.com
Um Cristianismo que se arma continua sendo cristão?
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Todo texto, retirado do seu contexto, torna-se pretexto para se dizer o que quiser.
Todo discurso que promove a violência não é ancorado nos ensinamentos de Jesus.
*Por Fabrício Veliq
Em tempos tão polarizados quanto este em que vivemos no nosso país, aliando-se à grande hegemonia cristã predominante em nosso contexto, é sempre possível que surjam discursos que não se coadunam com o Evangelho e, curiosamente, são suportados por bases bíblicas aleatórias. Contudo, algo que é sempre importante de se lembrar é de que todo texto, retirado do seu contexto, torna-se pretexto para se dizer o que quiser. Essa máxima, embora muito apreciada por todos que a ouvem, constantemente é negligenciada e usada para fazer diversos tipos de afirmativas de cunho cristão.
Dentre os diversos temas em voga em nosso país, recentemente o tema da violência surge com força, principalmente, em época eleitoral. Diante desse cenário, não é difícil encontrar os discursos que pregam a violência como solução para as questões da sociedade e da criminalidade. Frases como “tem que matar mesmo”; “bandido bom é bandido morto” etc são usadas por diversas pessoas que se dizem cristãs e, para justificar tais posições, tomam alguns versículos bíblicos aleatórios e fora de contextos. Os mais cotados são os textos do Pentateuco, em que está em voga a famosa lei de talião, do olho por olho e dente por dente e, nesse sentido, se alguém mata, tem que morrer e se alguém fere alguém deve ser ferido, bem como o texto do Novo Testamento, em que Jesus diz para Pedro para pegar em espadas no evento narrado em Lucas 22.
Que os textos do Antigo Testamento e a lei de talião não deveriam nem ser considerados para esse problema pelo viés cristão parece muito claro. Afinal, o ensinamento de Jesus segue justamente na contramão disso. “Eu, porém, vos digo” lido constantemente no sermão do monte, mostra o caráter de desvinculação proposto por Jesus das antigas ordenanças do Antigo Testamento. No lugar da lei de talião, deve-se reinar, a partir de agora, a lei do amor, “para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos” (Mt 5,45). Nessa nova proposta, a lei da vingança não faz mais sentido e, consequentemente, não deveria fazer parte do discurso cristão que, obviamente, deve seguir os ensinamentos de Jesus.
O texto de Lucas 22, por sua vez, é usado como tentativa para justificar a violência nos ensinamentos de Jesus. Seria como se dissesse: “tá vendo, Jesus mandou os discípulos se armarem e, por este motivo, nós também, cristãos, devemos ser a favor do porte de armas etc”. Fazer isso, todavia, é tirar o texto do seu contexto sem atentar que, se Jesus realmente tivesse dito isso no sentido literal estaria indo contra todo seu ensinamento para com seus discípulos ao longo dos 3 anos de convivência, o que tornaria o próprio Jesus um hipócrita, por estar fazendo algo que ele mesmo condenou anteriormente. Assim, pela própria coerência da pregação de Jesus, o texto deve ser lido em sua forma de parábola, significando que um novo tempo está por vir sobre os discípulos, um tempo de violência e perseguição contra eles, sendo necessário que estivessem preparados para resistir a isso, não com armas (afinal, 2 espadas para 11 homens mostraria Jesus como péssimo estrategista de guerra), mas com o próprio Evangelho.
Dessa forma, o texto de Lucas também não se sustenta quando usado para justificar o uso da violência, ou o porte de armas. Deve-se sempre lembrar que a palavra de Jesus e sua pregação sempre foram voltadas para o amor, sendo este, conforme nos diz a primeira carta de João, aquilo que o próprio Deus é.
Pelo exemplo de Jesus e pela narrativa evangélica, bem como tendo como base todo o Novo Testamento, a violência não se mostra como aquilo desejado por Deus para a conduta na sociedade. Seguir o exemplo de Cristo, assim, se mostra dirigir-se na contramão de qualquer discurso que a incita, sendo isto também parâmetro para dizer se algum discurso é ou não cristão.
Todo discurso que promove a violência não é ancorado nos ensinamentos de Jesus e todo aquele que o prega não compreendeu ainda a mensagem do Evangelho que liberta e vence, não pela força da violência, mas pela fraqueza do amor.
Em tempos de violência constante em nosso país, os/as cristãos/ãs não devem ser os que a propagam, antes aqueles/as que mostram que há outro caminho possível, em que a luta se dá de maneira diferente, não pelo uso das armas, mas pelos atos de amor consciente e engajado, denunciando as injustiças e as misérias, propondo um caminho que preze pela equidade de dignidade e condições para todos, de maneira que os vislumbres do Reino de Deus se faça presente na sociedade.
*Fabrício Veliq é teólogo. Doutor em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE) e Doctor in Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven) - Bélgica, formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG. Membro do grupo de pesquisa Fundamental and Political Theology em KU Leuven e dos Grupos de Pesquisa Estudos de Cristologia e Diversidade afetivo-sexual e Teologia da FAJE. Ministra cursos de teologia nos cursos de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana, no Centro de Formação e Cultura em Divinópolis, no Centro Loyola, em Belo Horizonte e é também professor voluntário no CITEP na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE). É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí, tanto presenciais, como online. Seu blog, caso queiram conhecer mais de seus textos, é www.fveliq.blogspot.com. Seu e-mail, caso queiram entrar em contato, é Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Fonte: http://domtotal.com
Autoritarismo, democracia e eleições
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Retomar, nessas eleições, a defesa da cidadania e dos direitos humanos é uma escolha histórica na direção da civilização e não do retorno à barbárie da ditadura
Há trinta anos que pesquisamos e analisamos no Núcleo de Estudos da Violência, NEV/ USP, os processos na sociedade brasileira que geram a violência nos seus mais diversos aspectos. Na década de 1980, quando esse Núcleo surgiu, havia um forte entusiasmo e otimismo diante da transição democrática, após 20 anos de ditadura militar. A retomada do governo civil trouxe a esperança de que os graves problemas que afetavam a população —autoritarismo, desigualdade, discriminação, racismo— seriam superados. A Constituição de 1988, sem dúvida, condensou as expectativas de construção de uma sociedade menos violenta, mais justa, democrática, graças também à renovação das instituições do Estado.
Muitas das pesquisas que desenvolvemos visaram as violações de direitos dos cidadãos, especialmente os negros, os jovens, as mulheres, os mais pobres, praticadas pelo próprio Estado — como as execuções sumárias, a tortura, os maus tratos nas prisões, as políticas públicas precárias para a imensa maioria constituída pelas brasileiras e brasileiros, sobretudo negros e pobres. Sempre defendemos que o aperfeiçoamento da democracia seria incontornável para conter a violência presente na sociedade e sobretudo a perpetrada pelo Estado. No entanto, durante décadas o aperfeiçoamento da democracia pareceu se limitar ao processo eleitoral, não incorporando na cidadania plena os negros e os pobres. Somente a partir dos anos 2000, vinte milhões de brasileiros foram finalmente retirados da pobreza extrema.
Tem sido flagrante a resistência à assimilação de práticas e rotinas democráticas pelas instituições, essenciais para o funcionamento da democracia (especialmente o poder judiciário, o ministério público, a polícia), decisivas para garantir o tratamento justo e igualitário dos cidadãos perante a lei, bem como a não discriminação dos negros, dos indígenas e de gênero.
No interior daquelas instituições, infelizmente ainda grassam o elitismo, o nepotismo, os cambalachos políticos, a seletividade nos procedimentos, a aversão às auditorias externas e a falta de transparência. Esses são alguns traços evidentes do ralo compromisso que essas instituições públicas tiveram e têm com o sistema democrático.
Como aprofundado em diversas pesquisas no Núcleo, aqui predomina um autoritarismo socialmente implantado —com raízes mais profundas do que as práticas determinadas pelas ditaduras de 1937 e de 1964— inscrito numa grande continuidade que marca a sociedade brasileira diretamente dependente dos sistemas de hierarquia implantados pelas classes dominantes brancas e reproduzido regulamente pela violência ilegal do Estado. Se desde a transição democrática a representação das classes populares através de eleições se ampliou, as relações de poder entre as classes sociais, fundadas no racismo estrutural, na desigualdade e na violência ilegal do Estado, não se alteraram.
Não surpreende, portanto, vermos surgir na atual campanha eleitoral concepções autoritárias e extremistas que oferecem soluções simplistas para nossos graves e complexos problemas sociais, sobretudo aqueles relacionados à violência. É extremamente preocupante para a nossa democracia que tais ideias, envoltas na apologia da violência, elogio da tortura e de torturadores, na incitação ao fuzilamento de opositores, com aquiescência por vezes das autoridades judiciais, encontrem ressonância entre muitos eleitores. Retomar, nesse pleito presidencial, a defesa da cidadania e dos direitos humanos é não só a única opção democrática possível como uma escolha histórica na direção da civilização e não do retorno à barbárie da ditadura de 1964.
Paulo Sérgio Pinheiro é pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência NEV/USP e ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, 2002-2003, no governo FHC.
Marcos César Alvarez é vice-coordenador do Núcleo de Estudos da Violência NEV/USP e professor Livre-docente do Departamento de Sociologia da USP.
Fonte: https://brasil.elpais.com
DEBATE DA TV APARECIDA: Perguntas dos bispos sintetizam questões que interessam a todos os brasileiros
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Guilherme Boulos (PSOL), Fernando Haddad (PT), Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmim (PSDB), ao final do debate realizado nesta quinta-feira, 20 de setembro, em Aparecida (SP), foram cumprimentados pelo cardeal Sergio da Rocha, presidente da CNBB, por dom Leonardo Steiner, secretário-geral e por todos os outros bispos que participaram do evento. Os presidenciáveis elogiaram a iniciativa da Conferência e responderam a todas questões colocadas. O debate foi realizado na forma de um programa de TV e no último bloco, sete bispos tiveram a ocasião de apresentar grandes questões da vida do brasileiro: superação da violência, gastos públicos com educação e saúde, desigualdade social, defesa da vida, diálogo e polarização política, defesa dos indígenas e povos tradicionais, agricultura familiar e agronegócio.
Candidato x candidato
Os dois blocos dos programa dedicados a perguntas feitas de um candidato para o outro foram marcados por algumas acusações e sinais de convergência de propostas. Ciro Gomes demonstrou ter proximidade com o quase todos os outros candidatos. Fernando Haddad lembrou os feitos dos governos Lula, enquanto Álvaro Dias o acusou de ter um discurso de ficção, sem realidade. Henrique Meirelles insistiu em sua competência para lidar com crises econômicas e Marina apresentou várias alternativas para que o País saia da esteira de governos do PT, do PSDB e do MDB para experimentar algo novo na política.
Guilherme Boulos falou de sua experiência em movimentos sociais pela moradia e propôs um Brasil que faça revisão sobre qual é a verdadeira polarização que existe, a quela provocada pela injustiça social simbolizada pela existência de meia dúzia de bilionários e milhões de pobres. O candidato Geral Alckmin acusou o PT de colocar o Brasil na situação atual e prometeu corrigir várias situações para que o País volte a crescer. Todos, exceto o candidato Meirelles, fizeram críticas ao governo atual.
Jornalistas católicos
Um dos blocos foi ocupado por um time de jornalistas que trabalha nas emissoras que participaram da produção e transmissão do debate: Rede Aparecida, Rede Vida, Rede Século 21, TV Evangelizar, TV Nazaré, TV Horizonte e TV Imaculada. Eles fizeram perguntas aos candidatos com temas variados: refugiados e migrantes, desemprego, urbanização, feminicídio, segurança pública, reforma política e trabalho infantil.
Os candidatos responderam de forma geral. Haddad disse que é preciso combater a intolerância e que é filho de migrantes; o candidato do MDB prometeu criar 10 milhões de emprego; Álvaro Dias falou de defesa das fronteiras; Ciro concordou com Boulos e disse que os grandes centros das cidades devem ser ocupados; Marina promete creches; Alckmin criticou excesso de partidos e Boulos disse que vai criar lista suja de empresas que exploram trabalho infantil.
Local e cobertura
O debate foi realizado na área principal do Centro de Eventos P. Vítor Coelho de Almeida, situado no pátio do Santuário Nacional de Aparecida. Comandados pelo P. Evaldo César, durante mais de seis meses de muita preparação, foram mobilizados mais de 150 profissionais realizar o evento.
Jornalistas dos principais veículos do País estiveram em Aparecida escaladas pelos seus veículos para acompanharem os sete principais candidatos à presidência da República. Eles foram atendidos antes do início do debate na área externa do centro de eventos.
Outros bispos
O cardeal Odilo Scherer, fez a primeira pergunta geral para todos os candidatos sobre democracia e corrupção, e além dele, também estava em Aparecida dom João Inácio Muller, bispo de Lorena.
Avaliação
Cardeal Sergio da Rocha, que fez a abertura do debate, considerou: “penso que podemos ressaltar que foi atingido, muito bem, o objetivo que foi proposto: conhecer melhor os candidatos, mas a partir de questões que o povo brasileiro sente e que a própria CNBB está expressando“. Ele ainda ressaltou a simbologia do lugar. Aparecida é um centro de peregrinação católica que atrai milhões de pessoas, durante todo o ano. E ainda que não seja uma cidade de fácil acesso com transporte aéreo, os candidatos fizeram questão de estarem presentes.
“Os bispos, atentos à realidade brasileira, trouxeram questões que não são somente de interesse estritamente da Igreja, mas de toda a população“, disse. O presidente da CNBB também lembrou que a participação dos jornalistas católicos ajudou a apresentar aos candidatos várias realidades importantes que merecem uma palavra de cada um deles e que “expressa o diálogo dos candidatos com a própria Igreja. Claro que é um diálogo aberto, como se queria, um diálogo com o conjunto da população brasileira, mas particularmente voltado para os cristãos católicos, aqueles que participam da vida da nossa Igreja, e que têm suas preocupações, suas questões“.
Dom Sergio conclui: “Eu creio que os bispos conseguiram interpretar muito bem os grandes anseios, as grandes preocupações do povo brasileiro e que precisam estar no programa de governo de quem vai ser eleito“. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Suplicy lidera as intenções de voto para o Senado em São Paulo, aponta IBOPE
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A pesquisa IBOPE divulgada na quarta-feira, 19, apontou Eduardo Suplicy, do PT, como um dos favoritos ao senado paulista, o candidato aparece com 29%; seguido por Mário Covas do Podemos, 14%; Major Olimpio, do PSL, 12% e Mara Gabrilli, do PSDB, 10%.
Tripoli, do PSDB, aparece com 7%; Maurren Maggi, do PSB, tem 9%, enquanto Cidinha, do MDB, tem 6%. Jilmar Tato, do PT; Silvia Ferraro, do PSOL e Antonio Neto, do PDT, têm 3% cada.
Dra. Eliana Ferreira, do PSTU; Educador Daniel Cara, do PSOL e Kaled, do Democrata Cristão, aparecem com 2%. Mancha, do PSTU; Marcelo Barbieri, do MDB; Diogo da Luz, do Novo; Nivaldo Orlandi, do PCO; Pedro Henrique de Cristo da Rede e Jair Andreoni, do PRTB; têm 1%. Moira Lázaro Mandato Coletivo da Rede não pontuou.
Branco/Nulo para a primeira vaga reapresentam 21%, para a segunda vaga 28%. Não sabem ou Não responderam representam 43%.
A pesquisa ouviu 1.512 eleitores de todas as regiões do estado, com 16 anos ou mais, entre os dias 16 a 18 de setembro. A margem de erro foi de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TRE: SP-01925/2018; no TSE: BR-01526/2018. O nível de confiança utilizado é de 95%. Fonte: http://www.bandnewsfm.com.br
Nesta quinta, 20 de setembro, CNBB promove debate entre os presidenciáveis na TV
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove, nesta quinta-feira, 20 de setembro, um debate entre os principais candidatos à presidência da República nas eleições de 2018. A participação segue a Lei Eleitoral que estabelece as regras da campanha e que determina que as emissoras de rádio e TV são obrigadas a convidar para os debates os candidatos dos partidos que tiverem no mínimo 5 parlamentares no Congresso Nacional, entre deputados e senadores. Quanto aos demais candidatos, as emissoras têm autonomia para convidar ou não (Artigo 46 da Lei 13.488/2017).
Estão confirmados no debate, sete candidatos: Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meireles (MDB) e Marina Silva (Rede). Participam como entrevistadores: jornalistas das emissoras católicas e bispos. A condução do debate é de responsabilidade da jornalista Joyce Ribeiro.
Formato
O debate terá cinco blocos.
PRIMEIRO BLOCO
A mediadora fará a abertura, discorrendo sobre as emissoras que estão transmitindo. Em seguida, vai citar os nomes dos candidatos que estão presentes e os que não compareceram ao encontro. Na sequência, o GC (Gerador de Caracteres) cita os nomes dos outros candidatos sem representação na Câmara dos Deputados e que não participarão do debate.
Palavra do presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha.
A primeira pergunta – destinada a todos os candidatos, que terão 2 minutos – será feita por cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
SEGUNDO BLOCO
Possibilidade de confronto direto entre os candidatos, com tema livre. O mediador vai sortear o candidato que irá perguntar e o outro que responderá. A pergunta deverá ser feita em até 30 segundos, com resposta em 2 minutos, réplica em 1 minuto e meio e tréplica em 1 minuto.
TERCEIRO BLOCO
As perguntas serão feitas por jornalistas das emissoras de inspiração católica, parceiras no debate. Os temas serão definidos previamente e as perguntas pré-definidas pela organização do debate. Será feito um sorteio na hora para definir qual candidato irá responder, no tempo máximo de dois minutos.
QUARTO BLOCO
Será aberta nova possibilidade de confronto direto entre os candidatos, com tema livre. O mediador fará o sorteio do candidato que irá perguntar e de outro para responder. A pergunta deverá ser feita em até 30 segundos, com resposta em dois minutos, réplica em 1 minuto 30 segundos e tréplica em 1 minuto.
QUINTO BLOCO
As perguntas, com temas referentes as grandes linhas de trabalho da Igreja, na linha social, serão feitas por bispos membros do Conselho Pastoral e indicados pela CNBB, sendo um bispo para cada candidato. O mediador vai sortear na hora o candidato que irá responder. A pergunta será feita em até 30 segundos e as respostas em 2 minutos. Neste bloco também serão feitas as considerações finais de cada candidato, sendo que cada um terá 1 minuto. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Eleições: Dom Gilson Andrade oferece sete critérios para preparar o voto
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Neste ano de eleições, os bispos do Brasil vêm oferecendo vários subsídios e indicações que podem contribuir para os fiéis brasileiros tomarem consciência e escolherem bem aqueles que estarão à serviço do povo nos próximos quatro anos. O bispo coadjutor de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva, é um dos que pretende ajudar no discernimento do voto. Ele oferece sete critérios, em formas de perguntas para “questionar-nos pessoalmente sobre o exercício desse ato de cidadania”.
Seus apontamentos chamam atenção para propostas, vida pregressa, valores, cargo pleiteado e competência dos candidatos. Também questiona se cada uma acompanhou o pronunciamento dos bispos acerca das eleições.
“Diante do atual contexto da vida pública do país, alguns podem se deixar levar por um certo desalento ou desconfiança diante do valor do seu voto. Como cidadãos interessados pelo bem de todas as pessoas queremos valorizar ainda mais esse direito que nos é assegurado”, sugere dom Gilson.
Recordando a exortação apostólica do papa Francisco Evangelii Gaudium, dom Gilson ensina que “vota bem quem vota com critérios inspirados no bem comum e nos valores do Evangelho, afinal ‘uma fé autêntica comporta sempre um desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela’”.
Dom Gilson chama atenção ainda que, depois de rezar e refletir sobre a atuação nas próximas eleições, é preciso ajudar também “amigos e amigas, pessoas de nossas famílias e de nossas comunidades a fazerem o mesmo, assumindo cada um, à luz da fé, a sua responsabilidade pelo futuro da nossa amada nação”.
Eis os critérios sugeridos por dom Gilson Andrade:
1) sei dizer se as propostas do partido do meu suposto candidato correspondem à visão de bem comum coerente com os valores evangélicos?
2) Procurei saber sobre a vida pregressa do meu candidato para verificar se realmente merece a confiança do meu voto, afinal lutamos tanto para a aprovação da chamada Lei da Ficha Limpa?
3) Ele defende os valores da vida desde a fecundação até a morte natural, da família conforme o projeto de Deus, da liberdade religiosa, do respeito aos direitos humanos, da saúde, da educação, da moradia e da preservação do meio ambiente?
4) Ele tem clareza acerca do cargo que ocupará e de suas funções?
5) O meu candidato está mais preocupado com um bom marketing de sua imagem na campanha ou em apresentar propostas realistas para os grandes problemas sociais do país?
6) Se ele está há muito tempo na política, demonstrou-se competente no exercício dos seus mandatos ou simplesmente fez da política uma profissão?
7) Procurei acompanhar os pronunciamentos dos bispos acerca das eleições 2018, a fim de esclarecer-me melhor sobre o processo eleitoral?
Debate de Aparecida
O Debate de Aparecida, promovido pela CNBB, terá uma ferramenta de interatividade por meio das redes sociais. Na próxima quinta-feira, 20 de setembro, às 21h30, além da transmissão por emissoras católicas de TV, Rádio e Internet, haverá monitoramento em tempo real da hashtag oficial do debate: #DebateAparecida.
Por meio de parceria entre a TV Aparecida e o Twitter, haverá um contador do número de menções à hashtag. O público ainda poderá interagir durante a transmissão, via Periscope, com o perfil @tvaparecida.
O debate com presidenciáveis acontece na arena do Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida, no Santuário Nacional em Aparecida (SP), será transmitido pelas emissoras católicas de TV e Rádio, além de portais de internet.
O critério de escolha dos candidatos que vão participar do Debate de Aparecida seguiu o que prevê a Lei eleitoral. De acordo com a legislação, é obrigatório o convite aos candidatos dos partidos que tiverem representação no Congresso Nacional, no mínimo cinco parlamentares.
Representantes de oito partidos políticos confirmaram a presença de seus candidatos no Debate de Aparecida no dia 20 de setembro no Santuário Nacional. Alkimin e Marina ainda não confirmaram presença. O prazo termina hoje. Os candidatos confirmados são Guilherme Boulos (PSOL), Fernando Haddad (PT), Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB). Cabo Daciolo (Patriota) não confirmou presença alegando outros compromissos. Jair Bolsonaro (PSL) que já havia confirmado presença, devido ao atentado que sofreu, em função de recomendação médica, não deve comparecer.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
O "voto católico" em Jair Bolsonaro e a instrumentalização da fé
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"Qual a coerência ética e moral de justificar o voto em Jair Bolsonaro, em razão de sua suposta defesa de valores evangélicos como 'a vida', se tal defesa restringe-se apenas a defesa da vida do nascituro ante a questão da descriminalização do aborto, mas desconsidera uma gama de outras formas de atentado à vida, como as inúmeras apresentadas neste texto? A defesa da vida é uma postura integral. Ou defendemos todas as vidas de todas as pessoas, em todos os seus estágios e independentemente de suas condições socioeconômicas, ou não defendemos a vida, mas barganhamos seu direito, o direito de viver e viver com abundância".
O comentário é de Danillo Silva, mestre e doutorando em Letras/Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Sergipe, professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (IFAL) e de Linguística e Linguística Aplicada do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Católico leigo, tem se dedicado ao serviço pastoral de formação e ensino na Arquidiocese de Aracaju, Sergipe, desde 2007, atuando sobretudo em temas relacionados à doutrina e à espiritualidade católicas em diálogo com os desafios sociais e políticos do tempo presente.
Eis o artigo.
A ninguém é permitido invocar exclusivamente em favor da própria opinião a autoridade da Igreja. Mas proporem sempre esclarecer-se mutuamente, num diálogo sincero, salvaguardando a caridade recíproca e atentos, antes de tudo, ao bem comum (GS 43).
Com a proximidade do pleito eleitoral de 2018 e, com ele, o início da corrida presidencial, os católicos do Brasil se veem às voltas na hora de escolherem seus representantes. Velhos modelos elitistas, corrupção legitimada, apatia e nanismo político, propostas utópicas, protofascismo. Enfim, o cenário é desolador e, longe de encher os olhos, traz ainda outros desafios cruciais relativos ao complexo discernimento de candidatos ou candidatas que estejam afinados com as premissas da fé católica, especialmente naqueles pontos mais delicados, para a opinião pública, acerca de sua doutrina moral, a exemplo da despenalização do aborto e do avanço de direitos sociais de minorias sexuais e de gênero.
Embora tenha começado por aí, não trago nenhuma fórmula pronta ou cartilha de como fazer um “voto católico”, uma vez que quando adentramos o terreno da consciência e suas escolhas éticas e morais estamos sempre diante de um chamado particular à liberdade e à responsabilidade. Em quem votar? Qual candidato tem propostas mais alinhadas à fé católica e suas premissas? O que me choca, como pessoa humana, como católico e educador implicado na defesa de direitos humanos, é que para muitos dos meus irmãos e irmãs na fé, a resposta a essas perguntas tem o nome de Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL). Vejam que me detenho não na escolha de seu nome para a presidência simplesmente, o que já seria naturalmente contraditório, mas que isto seja feito sob argumentos religiosos.
Afora toda a sua fracassada trajetória parlamentar, marcada pela ausência de projetos para a população que tenham nascido da escuta do povo e de suas demandas, o que era de se esperar de alguém que há 27 anos recebe dinheiro público para isso; e sem falar na ausência de um projeto de governo concreto e detalhado para o Brasil, enquanto candidato, o que fica claro pelo amontoado de frases feitas e expressões vagas que compõem seu projeto de governo1, chamam a atenção do mundo inteiro uma carreira política e trajetória de campanha calcadas no discurso de ódio, na fala vexatória, nas piadas criminosas, nos inúmeros gestos de apologia à violência e na insolente esquizofrenia em relação a páginas hediondas e nefastas da história do Brasil, as quais ainda nem bem superamos, a exemplo da ditadura militar.
Em cada nova declaração, entrevista, debate, ainda quando não fala – a exemplo da cena viral em que ensina uma criança a fazer menção a uma arma com as mãos – sua bestialidade choca e aterroriza os pensamentos dos que vislumbram o que, infelizmente, pode nos atingir no dia da apuração. E sim, tanta violência encontra eco e voto numa parcela considerável de eleitores brasileiros, fenômeno complexo e multifatorial que basicamente se alimenta das insatisfações econômicas de determinados grupos sociais histórica e injustamente privilegiadas, da sensação generalizada de insegurança e impunidade, da decepção com a cena política tradicional, dentre tantos outros.
Que haja quem vote em Bolsonaro me parece tristemente compreensível, afinal, estamos no Brasil, país massiva e estruturalmente racista, machista e elitista. Seus apoiadores encontraram, enfim, quem “tenha coragem de dizer a verdade” na qual eles creem e, por isso, por essa “sinceridade” torna o candidato do PSL “o mito” de seus eleitores, em geral, adultos jovens e bem escolarizados. Agora, que haja cristãos católicos fazendo sua escolha pelo referido presidenciável e, pior, supostamente baseando-se em imperativos categóricos de consciência apoiados na fé católica ou no dorso de sua doutrina para justificar sua decisão é, sem sombra de dúvidas, uma desonestidade intelectual sintomática. Tal fato aponta para onde têm rumado as perspectivas de muitos católicos cujas consciências, enamoradas de certo farisaísmo rigorista e sectário, deixam-se contaminar com filosofias ultrarradicais que beiram o fascismo. Não é de se espantar que sejam esses mesmos grupos, em alguns casos, a rejeitar as transformações eclesiais instauradas pelo Concílio Vaticano II, a criticar a cruzada de Francisco contra o clericalismo e outras formas de conservadorismo estéril, a pôr em dúvida as posições e a autoridade pastoral e magisterial das comissões episcopais das igrejas particulares, a exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB.
É intensa a pressão que tais grupos exercem no meio religioso a fim de coagirem as consciência de seus pares, esquecendo-se porém que a Igreja reconhece que, diante de suas escolhas, inclusive políticas “(...) todos os homens devem estar livres de coação, quer por parte dos indivíduos, quer dos grupos sociais ou qualquer autoridade humana; e de tal modo que, em matéria religiosa, ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência, nem impedido, dentro dos devidos limites, de proceder segundo a mesma, em particular e em público, só ou associado com outros” (DH 2).
Enquanto tal pressão, muitas vezes dotada de tom apocalíptico e condenatório, busca na autoridade da Igreja, ou de alguns de seus setores, justificação ante ao acovardamento que lhes impõe não assumirem, sem subterfúgios, os valores que lhes movem a consciência e o voto, acabam por instrumentalizar a Igreja, a qual “não quer, de maneira nenhuma, imiscuir-se no governo da cidade terrena. E não reclama para si nenhuma outra autoridade se não a de, com a ajuda de Deus, estar a serviço dos homens pela caridade e pelo serviço fiel” (DH 12). Embora isso não lhe tire o múnus de oferecer luz sobre fatos de quaisquer ordens, o que, de certo, é coisa muito diversa.
Escolher um candidato que recentemente defendeu, em rede nacional, a omissão do Poder Executivo ante a exploração gerada pela disparidade de salários entre homense mulheres nas mesmas funções no mercado de trabalho2 e se dizer em fidelidade ao Magistério da Igreja, é ignorar que esta está sensível e solidária aos excluídos nas dinâmicas sociais onde “os povos oprimidos pela fome interpelam os povos mais ricos. As mulheres, onde ainda não a alcançaram, a paridade de direito e de fato com os homens. Os operários e os camponeses querem não apenas ganhar o necessário para viver, mas desenvolver, graças ao trabalho, as próprias qualidades; mais ainda, querem participar na organização da vida social e política” (GS 9).
Ainda nessa direção, o apoio irrestrito à reforma trabalhista recentemente aprovada pelo Legislativo brasileiro3, a qual trouxe grandes prejuízos e retrocessos para os trabalhadores e trabalhadoras de todo país, bem como suas colocações sobre o tema apontam a identificação de Bolsonaro com os detentores do poder nas relações de trabalho, sua indiferença ante a precarização das condições de vida dessas pessoas “criadas a imagem e semelhança de Deus” (Gn 1: 4) Tal postura anti-evangélica e nem de longe católica, é um exemplo cabal do que constata o Papa Emérito Bento XVI, na sua Carta Encíclica Caritas in Veritate: “infelizmente a corrupção e a ilegalidadeestão presentes no comportamento dos sujeitos sociais e políticos dos países ricos, antigos e novos, como nos próprios países pobres. No número de quantos não respeitem os direitos humanos dos trabalhadores, contam-se, às vezes, grandes empresas transnacionais e também grupos de produção local” (CV 22).
Nessa mesma prática de instrumentalização dos ensinamentos da Igreja em favor de suas convicções pessoais, os católicos que apoiam tal candidatura em nome de sua fé, ignoram de forma irresponsável que um governo de inspiração teocrática, como proposto pelo candidato social liberal e inscrito no slogan de sua coalisão “Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!”, traz consequências perversas próprias do atrelamento entre o poder temporal e o poder religioso, como testemunha a história do mundo. Além disso, tal pressuposto rompe com a longa trajetória da doutrina católica pela defesa de um estado laico, da liberdade religiosa, do diálogo inter-religioso e da cooperação solidária e caritativa entre os que creem e os que não creem. Assim, solapam o ensinamento de que “a Igreja proclama sinceramente que todos os homens, crentes e não-crentes, devem contribuir para a reta construção do mundo em que vivem em comum (...), deplora, por isso, a discriminação que certos governantes introduzem entre crentes e não-crentes, com o desconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa” (GS 21).
Como se não bastassem as distorções até aqui apresentadas, incorrem em erro grave ao indicarem como opção mais adequada de voto, em suposta exigência de valores cristãos, um candidato que não apenas declara-se publicamente favorável à liberação do porte de arma por civis e à revogação do Estatuto do Desarmamento4 aprovado em 2015, assunto vencido no país em referendo realizado em 2005, o qual aprovou com 63% o desarmamento, amplamente apoiado pela Igreja Católica, como também faz apologia ao uso da truculência e da violência por parte da força policial do Estado como forma de combate aos índices de criminalidade. Tais posições divergem frontalmente do ensinamento da Igreja ao sustentar que “a produção e o comércio de armas afetam o bem comum das nações e da comunidade internacional. Por isso, as autoridades públicas têm o direito e o dever de regulamentá-los. A busca de interesses privados ou coletivos a curto prazo não pode legitimar empreendimentos que fomentem a violência e os conflitos entre as nações e que comprometam a ordem jurídica internacional.” (CIC 2316).
Como afirma o Catecismo da Igreja Católica, “as injustiças, as desigualdades excessivas e ordem econômica ou social, a inveja, a desconfiança e o orgulho que grassam entre os homens e as nações ameaçam sem cessar a paz e causam as guerras. Tudo o que for feito para vencer essas desordens contribui para edificar a paz e evitar a guerra” (CIC 2317). Certamente, a conduta, os discursos e o modo de encarar a violência urbanaexpressa abertamente pelo candidato do PSL à presidência5, num sem-número de ocasiões e declarações, distam léguas da perspectiva complexa e sociologicamente abalizada que subsidia a visão da Igreja sobre tais realidades.
Infelizmente, ao encobrirem suas convicções políticas nefastas de suposta religiosidade e respeito à sã doutrina, esses irmãos esquecem-se de que “a atuação cristã dos leigos no social e no político não deve ser considerada ministério, mas serviço cristão ao mundo na perspectiva do Reino” (Doc. n° 105 CNBB) que é sempre um lugar de justiça, caridade e amor. Desse modo, ignoram que “a participação consciente e decisiva dos cristãos em movimentos sociais, entidades de classe (sindicatos), partidos políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se num inestimável serviço à humanidade e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus” (Doc. n° 105 CNBB).
No bojo dos discursos proto-facistas de Bolsonaro está também a ridicularização das prerrogativas éticas e legais dos direitos humanos6, desprezando a trajetória de luta popular para sua efetivação, especialmente em países tão marcados por desigualdades sociais e fragilidade democrática como o Brasil, bem como a identificação equivocada e fraudulenta dessa conquista social com o que expressam jargões populares como “direitos de bandido” ou o trocadilho “direitos humanos para humanos direitos”. Exemplo disso são, além da minimização criminosa das inúmeras violações de direitos humanos das quais o Estado Brasileiro foi algoz ou cúmplice, depois do Golpe de 647, a apologia à tortura8, ao estupro9, a defesa da pena de morte10 e da prisão perpétua11, da castração química12, de políticas de exclusão para refugiados13 e a consideração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)14, ganho imensurável para a democracia brasileira, um entrave ao cumprimento da lei e da ordem.
A revelia dessas reflexões, eleitores de Bolsonaro que supostamente se fiam em sua fé católica, estrategicamente, ou por ignorância doutrinária, preferem considerar nulas constatações magisteriais como as do texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, as quais refletem que “em algumas assembleias ou assembleias legislativas aprovam leis injustas contra os direitos humanos e a vontade popular, precisamente por não estarem perto de seus representados, nem saberem dialogar e escutar seus cidadãos. Em alguns países tem aumentado a repressão, a violação a direitos humanos, inclusive o direito à liberdade religiosa, à liberdade de expressão e à liberdade de ensino, assim como o desprezo à objeção de consciência” (DA 79 e 80).
Nesse mesmo documento, a Igreja, ao analisar o contexto social e eclesial dos países da América Latina e do Caribe, dados seus controversos processos de formação histórica afirma: “como discípulos e missionários a serviço da vida, acompanhamos os povos indígenas e originários no fortalecimento de suas identidades e organizações próprias, na defesa do território, na educação bilíngue e na defesa de seus direitos” (DA 531). Tal empenho missionário da Igreja certamente encontraria como entrave a ignorância e a crueldade das posições políticas de um possível governo de Jair Bolsonaro, para quem as questões de demarcação de terras de povos originários, dentre outras demandas, não passa de uma besteira inventada e utilizada como massa de manobra pela “esquerda” para desperdiçar dinheiro com a Fundação Nacional do Índio, a Funai15.
Movido por um ímpeto missionário pleno de compromisso social e respeito à dignidade da pessoa, o ensinamento Magistério afirma que “a Igreja denuncia a prática da discriminação e do racismo em suas diferentes expressões, pois ofende no mais profundo a dignidade das pessoas humanas ‘criada a imagem e semelhança de Deus’” (DA 533). Indo além, sustenta que se vê preocupada com o fato de que “poucos afro-americanos cheguem à educação superior, sem a qual se torna mais difícil seu acesso as esferas de decisão na sociedade. (...) a Igreja se faz solidária aos afro-americanos nas reivindicações pelas defesas de seus territórios, na afirmação de seus direitos, de sua cidadania, nos projetos próprios de desenvolvimento e consciência de negritude” (DA 533). Diante dessas asserções, parece ridículo que alguém, em nome da doutrina católica, apoie um candidato que em suas declarações minimiza a presença estrutural do racismo no Brasil e de suas consequências e que ainda seja capaz de, em tom jocoso, ridicularizar pessoas quilombolas durante eventos públicos16.
Diante de tais fatos, não fica complicado entender que, como parte de seu múnus na terra, a “Igreja defende os autênticos valores culturais de todos os povos, especialmente os oprimidos, indefesos e marginalizados, diante da força avassaladora das estruturas de pecado na sociedade moderna (SD 243)”, estruturas essas facilmente nomeadas como racismo, sexismo, misoginia, homofobia, transfobia, intolerância religiosa, trabalho escravo contemporâneo, corrupção, dentre tantos outros.
A essa altura de nossas reflexões, pergunto-lhes: qual a coerência ética e moral de justificar o voto em Jair Bolsonaro, em razão de sua suposta defesa de valores evangélicos como “a vida”, se tal defesa restringe-se apenas a defesa da vida do nascituro ante a questão da descriminalização do aborto (para a qual não há nenhuma menção ou posicionamento em seu projeto de governo), mas desconsidera uma gama de outras formas de atentado à vida, como as inúmeras apresentadas neste texto? A defesa da vida é uma postura integral. Ou defendemos todas as vidas de todas as pessoas, em todos os seus estágios e independentemente de suas condições socioeconômicas, ou não defendemos a vida, mas barganhamos seu direito, o direito de viver e viver com abundância, como nos prometeu Jesus (Cf. Jo 10: 10), outorgando-lhe apenas aos que passam no crivo de nossa moral, por tantas vezes corporativista e farisaica, sobretudo em relação a alguns temas, em especial os da moral sexual, como fazem alguns sites que se arvoram subsídio para o tal “voto católico”, ao estabelecerem critérios unilaterais e fechados para essa complexa escolha pessoal que carece de iluminação e não de dogmatismo obscurantista.
Há ainda os que recorrem às polarizações políticas há muito questionáveis, a exemplo dos binômios “esquerda” x “direita”, “progressistas” x “conservadores” para, num gesto maniqueísta, identificarem de um lado toda a fonte do mal terreno, ou uma estrutura propriamente satânica; e do outro, valores de inspiração cristã, moralmente aceitáveis em cujo o ideário estaria a presença da verdade do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, respectivamente. Ledo engano! Não é de hoje que o Magistério, em especial a Doutrina Social, que não é um pacote ideológico fechado, afasta tentativas de partidarização da Igreja ou de eleição de uma orientação política específica e exclusiva que seja representante de seu pensamento. O que a Igreja espera de nós, cristãos leigos e leigas, em especial, é o acurado discernimento dos sinais dos tempos para nossas escolhas pessoais na vida política, assumindo a globalidade e a integridade da mensagem salvífica, sem exclusivismos que escondem, na verdade, nossas identificações pessoais e ideológicas, sob véu de uma fidelidade de conveniência.
Mas, em quem votar? É a pergunta que dispara a angústia de tantos católicos e católicas que, infelizmente, não aprenderam o caminho da reflexão madura, o exame de consciência e a capacidade de discernimento em suas comunidades pastorais, mas esperam uma indicação, um “cabresto santo” que as guie para a “escolha certa”. Independentemente de qual rosto apareça na urna quando o botão verde for pressionado pelos católicos de todo Brasil, estou convicto de que é falaciosa e fraudulenta uma escolha por Jair Bolsonaro que se queira justificada pela fé ou doutrina católicas.
Para muitos, é no princípio da teologia moral do “mal menor”, transposto para a esfera política, o qual posicionaria um mal menor na categoria do bem ante a escolha obrigatória entre males diferentes, que esses irmãos e irmãs católicos vão buscar descanso para suas consciências ante esta contraditória escolha política. Ora, nessas circunstâncias não há como se esquecer das palavras da filósofa judia Hannah Arendtacerca do julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann: “sua consciência ficou efetivamente tranquila quanto ele viu o zelo e o empenho com que a ‘boa sociedade’ de todas as partes reagia ao que ele fazia. Ele não precisava ‘cerrar os ouvidos para a voz da consciência’, como diz o preceito, não porque ele não tivesse nenhuma consciência, mas porque sua consciência falava com a ‘voz respeitável’, com a voz da sociedade respeitável à sua volta (Arendt, 1999, p. 143)”.
Assim, considerar a escolha do candidato do PSL como válida sob esse princípio, em obediência à fé católica, ou seja, considerar essa escolha um “mal menor” é atestar a nossa incapacidade, como povo católico, de discernimento e indignação, sensibilidades profundamente cristãs, ante a banalidade do mal, da qual nos alertou Hannah Aredent, que hoje se nos apresenta “repleta de sentenças prontas, baseadas em uma lógica autoexplicativa, desencadeada em raciocínios dedutivos, mas que, todavia, andavam [andam] em descompasso com o percurso da própria realidade” (Assy, 2001, p. 139, alteração minha).
Apesar de todo esse contexto, faço aqui minha profissão de fé na Divina Providênciaque guia misteriosamente os passos do Povo de Deus através da História, na qual já testemunhamos tantos desertos, covas de leões, gólgotas, mas em todas essas situações venceu o Senhor da Vida e da Igreja. Crendo nele, rezo e creio com Hannah Arendt: “(...) mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na terra” (Arendt, 1987, p. 7).
Abreviaturas
DH Dignitatis humanae. Declaração sobre liberdade religiosa. Documentos do Concílio Vaticano II.
GS Gaudium et spes. Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje. Documentos do Concílio Vaticano II.
CV Caritas in veritate. Carta Encíclica do Sumo Pontífice Bento XVI sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade.
CIC Catcismo da Igreja Católica.
Documento nº 105 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre Cristãos Leigas e Leigos na Igreja e na Sociedade.
DA Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.
SD Documento de Santo Domingo. Texto conclusivo da IV Conferência do Episcopado Latino-Americano.
Notas
[1] Plano de governo do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL). Acesso em: 10 set. 2018.
[2] Entrevista concedida por Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional na Rede Globo. Acessado em: 10 de set. 2018.
[3] Disponível em: Saiba como votou cada deputado no texto-base da reforma trabalhista. Acesso em: 10 de set. 2018.
[4] Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1326319.pdf>. Acesso em: 10 de set. 2018.
[5] Disponível em: A estratégia de Bolsonaro para diminuir a violência é dobrar o número de mortes por policiais. Acesso em: 10 set. 2018.
[6] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1TkZPqHJhlE>. Acesso em: 10 set. 2018.
[7] Exemplo do reconhecimento das atrocidades e crimes cometidos durante a ditadura militar no Brasil é a condenação do Estado Brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em sentença proferida em 15 de março de 2018. Acesso em: 10 set. 2018.
[8] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=G5TiUmiF6ls>. Acesso em: 10 set. 2018.
[9] Disponível em: "Não estupro porque você não merece", diz Bolsonaro a Maria do Rosário. Acesso em: 10 set. 2018.
[10] Posição em rota de colisão com a recente alteração aprovada pelo Papa Francisco no Catecismo da Igreja Católica que passa a considerar a pena de morte inadmissível em quaisquer casos. Acesso em: 11 set. 2018.
[11] Disponível em: Bolsonaro fala sobre pena de Morte e prisão perpétua. Acesso em: 10 set. 2018.
[12] Disponível em: Bolsonaro fala sobre castração química. Acesso em: 10 set. 2018.
[13] Enquanto o candidato tem a pecha de considerar tais pessoas em situação extrema de vulnerabilidade emocional, social e política como “escória do mundo”. Acesso em 10 de set. 2018. A Igreja Católica, no pleno exercício do mandato missionário de Jesus e em fidelidade a sua Doutrina Social propõe e confirma inciativas como a Pastoral dos Refugiados, além de promover subsídios de formação pastoral para a acolhida desses irmãos. Acesso em 10 set. 2018.
[14] Disponível em <Jair Bolsonaro fala sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente> Acesso em: 10 set. 2018.
[15] Disponível em: <Políticas Indígenas - Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Deputado Jair Bolsonaro (PP - RJ)>. Acesso em 10 set. 2018.
[16] Disponível em: <Afrodescendentes de quilombos 'não servem nem para procriar', diz Bolsonaro no clube Hebraica do Rio>. Acesso em: 10 set. 2018.
Referências
Arendt, Hannah. Homens em tempos sombrios. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
ASSY, bethânia. Eichmann, banalidade do mal e pensamento em Hannah Arendt. In: MORAES, Eduardo J.; BIGNOTTO, Newton (Orgs.). Hannah Arendt: diálogos, reflexões, memórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001a. p. 136-165
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Como conversar e entender os eleitores de Bolsonaro?
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Por Carol Scorce
Para especialistas, o ódio disseminado nas redes tem como pano de fundo o uso político de um afeto comum a todos: o medo
Um discurso não é apenas a fala de uma pessoa, mas o que essa fala cria em um contexto. É comum, em especial na discussão feita dentro das redes sociais, encontrar comentários que dizem respeito ao contexto político carregados de ofensas, palavrões e intimidações. É o discurso de ódio emergindo na crista de uma onda conservadora que avança em todo o mundo.
Em tempos de eleições, é oportuno falar, como pondera o professor da USP e psicanalista Cristhian Dunker, sobre a função política dos afetos. É verdade que a agressividade e o conservadorismo não são prerrogativas de apenas um ou outro político, ou do seu respectivo discurso político. Este ano, no entanto, o candidato à presidência pelo Partido Social Liberal, Jair Bolsonaro, possui a maior fatia do sermão reacionário.
A cientista política e professora da PUC-SP Rose Segurado, acredita que assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro responde ao fenômeno do homem comum que se viu contemplado nos espaços das novas mídias, em especial nas redes sociais, por questões que de modo geral o “politicamente correto” não permite.
É verdade que eleição após eleição cresce o debate político feito dentro das mídias digitais. Na mesma medida o candidato e seu respectivo discurso têm força nas redes sociais. Segundo o DataFolha, entre os eleitores do deputado federal com acesso à internet, 87% têm conta no Facebook, e 40% deles dizem compartilhar noticiário político-eleitoral na plataforma; 93% têm conta no WhatsApp, e 43% declaram disseminar o conteúdo.
Também segundo o DataFolha, 60% dos eleitores de Bolsonaro têm entre 16 e 34 anos. Desses, 30% têm menos de 24 anos. Justamente os mais novos são o que estão entrando pela primeira vez no debate sobre política.
“No final, é uma fala cheia de desinformação e preconceito, e extremamente perigosa para uma democracia. Não se fala hoje que o Holocausto foi uma coisa boa, mas nas redes tem gente propagando isso. Isso é feito para ancorar o ódio e a dominação contra determinados sujeitos da sociedade.” Fonte: www.cartacapital.com.br
Grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” publica carta contra o ódio, a violência e a intolerância
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O grupo de Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”, que alcançou um milhão de integrantes em menos de uma semana, publicou e enviou para a imprensa uma carta atacando a campanha de ódio do ex-capitão.
Eis a carta.
O Brasil vive um momento especialmente dramático de sua história. Nas eleições mais conturbadas após o fim da Ditadura civil militar, assistimos à perigosa afirmação, por um dos candidatos à Presidência, de princípios antidemocráticos, expressos num discurso fundado no ódio, na intolerância e na violência.
Se a posição deste candidato era pública, tendo sido reiteradamente manifesta ao longo dos 27 anos em que vem atuando na Câmara Federal, causa perplexidade a adesão a tais princípios por parte significativa da sociedade brasileira.
O tratamento desrespeitoso dirigido às mulheres, aos negros, indígenas, homossexuais, o culto à violência, a agressão contra adversários, a defesa da tortura e de torturadores, constituem manifestações que devem ser combatidas por aqueles que acreditam nos princípios civilizatórios que possibilitam a existência de uma sociedade democrática e plural.
Neste contexto, nós, mulheres, vítimas de agressões e desqualificações por parte deste candidato, viemos à público expressar nosso mais veemente repúdio aos princípios por ele defendidos, conclamando a população brasileira a se unir na defesa da democracia, contra o fascismo e a barbárie.
Somos muitas, para além de UM MILHÃO que integra este grupo. Defendemos candidatos e candidatas distintas, dos mais diferentes matizes político- ideológicos. Temos experiências e visões de mundo diversas, assim como são distintas nossas idades, orientação sexual, identidades étnico-raciais e de gênero, classe social, regiões do país em que vivemos, posições religiosas, escolaridade e atividade profissional.
Na verdade, nos constituímos como coletivo a partir de uma causa comum, expressa nesta carta: a rejeição à prática política do candidato e aos princípios que a regem. Nos constituímos nas redes sociais, unidas numa corrente crescente e ativa, pela necessidade de tornar pública nossa posição no exercício da cidadania e participação, a partir da identidade feminina que nos congrega.
Nós, mulheres, historicamente inferiorizadas e marginalizadas, sujeitas a toda sorte de violência e desrespeito, recusamos hoje o silêncio e a submissão, herdeiras de uma luta há muito travada por mulheres que nos antecederam.
Somos aquelas que constituem a maioria do eleitorado brasileiro, ainda que sub-representadas na política partidária. Somos aquelas que, gestando e alimentado novas vidas, defendemos o direito de todos e todas a uma vida digna.
Somos aquelas que, temendo pelas nossas vidas, pelas vidas de nossos filhos, filhas, companheiros e companheiras, diante da violência que assola e corrói a sociedade brasileira, somos contra a liberação do porte de armas, que só irá piorar o já dramático quadro atual.
Somos aquelas que, recebendo salários inferiores, com menor chance de contratação e progressão nos espaços de trabalho, entendemos que cabe aos governantes, à semelhança do que já ocorre em muitos países, construir políticas de igualdade salarial entre homens e mulheres.
Somos aquelas que, vítimas de assédio, estupro, agressão e feminicídio, defendemos o direito à liberdade no exercício da vida afetiva e sexual, demandando do Estado proteção e punição aos crimes contra nós cometidos.
Somos aquelas que protestam contra a perseguição e violência contra a população LGBTQ, porque entendemos que cada ser humano tem direito a viver sua identidade de gênero e orientação sexual.
Somos aquelas que se insurgem contra todas as formas de racismo e xenofobia, que defendem um país social e racialmente mais justo e igualitário, que respeite as diferenças e valorize as ancestralidades.
Somos aquelas que combatem o falso moralismo e a censura às expressões artísticas, que defendem a livre manifestação estética, o acesso à cultura em suas múltiplas manifestações.
Somos aquelas que defendem o acesso à informação e a uma educação sexual responsável, através de livros, filmes e materiais que eduquem as crianças e jovens para o mundo contemporâneo.
Somos aquelas que defendem o diálogo e parceria com escolas, professores e professoras na educação de nossos filhos e filhas, sustentados na laicidade, no aprendizado da ética, da cidadania e dos direitos humanos.
Somos aquelas que querem um país com políticas sustentáveis, que respeitem e protejam o meio ambiente e os animais, que garanta o direito à terra pelas populações tradicionais que nela vivem e trabalham.
Somos muitas, somos milhões, somos:
#MULHERES UNIDAS CONTRA BOLSONARO
CONTRA O ÓDIO, A VIOLÊNCIA E A INTOLERÂNCIA
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Por que há mulheres que votam em Bolsonaro?
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Por Carol Castro
Pela família, pelos valores cristãos, pelos cidadãos de bem: o discurso simples e conservador do candidato convence até quem sofre com o machismo
“Empoderamento feminino se dá com arma na mão de cidadão de bem”. “Só um candidato preocupado de verdade com a violência contra a mulher propõe castração química para estupradores”. “Sou contra a ideologia de gênero – vai ensinar filho meu a ser gay na escola?”.
Essas frases todas foram retiradas de vídeos gravados e publicados por mulheres em apoio ao candidato Jair Bolsonaro, do PSL. Elas fazem parte de uma fatia pequena do eleitorado feminino: só 17% declaram voto a ele.
E deixam estarrecidas outras 49% que não votariam de jeito nenhum no candidato, de acordo com os números apurados nas últimas pesquisas. O histórico de falas agressivas às mulheres corrobora a rejeição. As mais famosas: “não te estupraria porque você não merece”, para a deputada Maria do Rosário, e "tenho cinco filhos. Quatro foram homens e na quinta dei uma fraquejada".
Nenhum desses exemplos faz as eleitoras do candidato mudarem de ideia – veem como brincadeira ou culpam Maria do Rosário por ter iniciado o bate-boca. “Elas acham que às vezes ele não usa filtro por ser muito sincero. Então isso é até positivo, como se fosse um candidato honesto, por não se deixar levar pelo marketing eleitoral”, explica Esther Solano, cientista política e professora da Unifesp, que realizou pesquisa com eleitores de Bolsonaro. “Em casos polêmicos, veem como manipulação da imprensa. Como se as notícias fossem distorcidas, descontextualizadas”, conta.
São, em geral, mulheres conservadoras, apegadas aos valores cristãos. Não à toa a expressão “cidadão de bem” quase sempre aparece em algum momento do discurso delas. “Não é incoerente uma mulher ser machista. Porque não é só questão de gênero - é sobre estrutura de poder. Mas nem todas as pessoas têm essa consciência, esse despertar de como o machismo molda a sociedade”, afirma a cientista política Thatiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Não que neguem o machismo. Segundo Solano, entre as entrevistadas, todas elas concordaram: o Brasil é um país machista. Ainda assim, diziam-se antifeministas. “Elas acham que as feministas são muito exageradas, querem ter privilégios quando falam em direitos e causam muitos problemas. A ideia é que, sem elas, seria mais fácil lutar com calma e tranquilidade. É uma contra narrativa, que culpa o feminismo”, explica Solano. Fonte: www.cartacapital.com.br
Um milhão de mulheres contra Bolsonaro: a rejeição toma forma nas redes
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Grupo no Facebook consegue 10.000 novos pedidos de participação por minuto de eleitoras indignadas. Elas querem, agora, levar a insatisfação para as ruas
A rejeição do eleitorado feminino ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), refletida em todas as pesquisas e que no último Datafolha, do dia 10 de setembro, chegou a 49%, se materializou nas últimas duas semanas como um grupo massivo de debate político no Facebook. O "Mulheres unidas contra Bolsonaro" já conta mobilizou mais de um milhão e meio de usuárias da rede social e, a cada minuto, recebe 10.000 novos pedidos de participação. Para os usuários que não são membros do grupo, o número visível de participantes é menor —860 mil na última atualização desta reportagem—, porque reflete apenas o número de perfis que realmente estão ativos nos debates do mesmo (os demais estão esperando autorização para participar ou ainda não responderam o convite feito pelas demais), conforme explicou a EL PAÍS um porta-voz do Facebook.
"Destinado à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores", de acordo com a descrição do Facebook, o grupo nasceu com a intenção de agregar os discursos de eleitoras indignadas com os posicionamentos do presidenciável em relação aos direitos das mulheres, explica Ludimilla Teixeira, publicitária baiana de 36 anos, uma das criadoras. "Percebia nas minhas próprias redes muitas amigas comentando e criticando essas posturas, então decidimos unir todas essas mulheres e criar um fato político para mostrar que grande parte da população não é favorável a essa candidatura", conta.
Isso aconteceu na quinta-feira, 30 de agosto. 24 horas depois, o grupo, exclusivamente feminino, já chegava a 600.000 participantes. O rápido crescimento já se desdobrou na convocatória de uma manifestação contra o candidato, em 29 de setembro, em São Paulo, que já conta com 40.000 confirmações de assistência. O objetivo, asseguram as administradoras do grupo, é realizar atos similares em outras cidades do país. Como reação, nesta quarta-feira, um outro grupo chamou a atenção no Facebook: "Mulheres unidas a Favor de Bolsonaro", com cerca de 38.000 participantes, mas que, curiosamente, foi criado e é administrado por um grupo de homens.
Na plataforma da rede social, as postagens do grupo contra Bolsonaro criticam não apenas as propostas do candidato, como a flexibilização do acesso a armas, mas principalmente suas declarações em relação à brecha salarial de gênero —o candidato acredita que a equiparação no sistema privado não é competência política do Estado e seu gabinete, conforme adiantou o Valor Econômico, paga menos às mulheres— e seus comentários violentos contra repórteres e colegas políticas. "Um país sério de verdade jamais permitiria que esse cidadão falasse as barbaridades que falou. Cadê o Ministério Público? Cadê os órgãos de defesa das mulheres?", questiona Teixeira em relação à frase "não te estupraria porque você não merece", dita à deputada Maria do Rosário.
O grupo se define como apartidário ("A única bandeira é ser anti-Bolsonaro", diz Teixeira), mas existem postagens fixas sobre os demais candidatos à presidência, nos quais as simpatizantes de cada um podem publicar informações sobre eles e suas propostas. "Acredito que muitas indecisas decidiram em quem votar com base nessas discussões online", comenta a publicitária.
Com um perfil de participantes que vai desde adolescentes até senhoras que, por lei, já não precisariam mais votar, o grupo é espaço de discussão de mulheres que enfrentam familiares e amigos na tentativa de combater o voto ao que consideram "um candidato nefasto". "Meu marido é um coronel militar que vai votar nele. Já não sei mais o que fazer, só penso em rasgar o título de eleitor dele ou esconder seus documentos para que ele não possa votar", conta uma professora de 62 anos, que prefere não se identificar.
As participantes definem o grupo como um "elo de ligação", um espaço de reunião onde elas pudessem debater política livremente, sem ser silenciadas. "Porque quando fazíamos postagens individuais, sempre havia mansplaining (explicação masculina), homens nos atacando com termos chulos, assédio. Há casos até de usuários que tiraram print de fotos das meninas e espalharam por aí, éramos atacadas pelos seguidores de Bolsonaro, que são bastante agressivos. Faltava esse espaço para debate", conta Teixeira.
Também são muitas as postagens de usuárias que desabafam sobre violência doméstica e relações abusivas e de mulheres trans que agradecem por terem encontrado um “espaço solidário”. "Sinto que o Brasil todo está lá. É muito maior do que só um grupo contra Bolsonaro", afirma a publicitária, que destaca que as participantes "não são contra a pessoa" do presidenciável. "Ele é um ser humano que merece respeito. Inclusive, lamentamos muito o ocorrido [referindo-se ao ataque à faca sofrido por Bolsonaro no dia 6 de setembro]. Não somos favoráveis a nenhum tipo de violência ou discurso de ódio, queremos vencê-lo nas urnas".
Foi justamente depois desse atentado que o candidato registrou um crescimento entre três e dois pontos percentuais na intenção de voto feminino, de acordo com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope, respectivamente. "O esfaqueamento mobilizou parte dos eleitores indecisos, principalmente as mulheres, que se solidarizaram com o candidato", avalia a antropóloga e cientista social Rosana Pinheiro-Machado.
Por outro lado, a cientista política acredita que o ataque foi também a "faísca" para que mais mulheres se mobilizassem contra Bolsonaro. "A mensagem sobre o voto feminino como faixa de contenção contra ele já vinha circulando e esse atentado disparou o medo de que se gerasse mais simpatia pelo candidato e que levasse a uma vitória sua no primeiro turno".
Para além das eleições
Pinheiro-Machado considera que o movimento de "mulheres unidas contra Bolsonaro" pode ter o mesmo impacto no Brasil que a marcha das mulheres contra Trump nos Estados Unidos, mas matiza que, para isso, o milhão de participantes do grupo virtual tem que se traduzir nas ruas para que se possa gerar um fato político relevante. "Desde a primavera feminista, quem consegue se organizar hoje no Brasil são basicamente as mulheres", diz.
E as organizadoras e participantes da plataforma na rede social não pretendem parar. Elas contam que já consideram mudar o nome do grupo depois das eleições para se tornar, de fato, um movimento que promova rodas de conversa, debates e outras ações em prol dos direitos das mulheres. "Não são só as eleições, temos uma série de pautas pelas quais lutar, como contra o Estatuto do Nascituro [PL 5069/13, que dificultará o acesso ao aborto em casos de estupro], ou a favor da criação de uma lei para criminalizar o assédio", afirma Teixeira. Fonte: https://brasil.elpais.com
ELEIÇÕES-2018: Nova pesquisa
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Novo Datafolha: Bolsonaro vai a 26%; Haddad e Ciro têm 13%; Alckmin, 9%. Fonte: www1.folha.uol.com.br
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